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VII Congresso Iberoamericano de Informática Educativa 363
ETC: UMA PROPOSTA DE EDITOR DE TEXTO COLETIVO NA WEB1
Profª. Dra. Patricia Alejandra Behar pbehar@terra.com.br
Msc. Silvia Meirelles Leite Daisy Schneider
Maria Carolina Colombo Maira Bernardi
Núcleo de Tecnologia Digital aplicada à Educação - NUTED
Faculdade de Educação - FACED Pós-Graduação em Informática na Educação – PGIE
Pós-Graduação em Educação - PPGEDU Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS
RESUMO A idéia de desenvolver o Editor de Texto Coletivo surgiu a partir da necessidade de criar e construir textos coletivos com alunos de graduação e de pós-graduação da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Brasil. A opção para esse desenvolvimento foi baseada em GNU/LINUX, refletindo o interesse do grupo em utilizar uma plataforma como produto de software livre. A implementação deste Editor foi apoiada no ROODA_DEVEL, que é um Framework para Construção de Plataformas de Educação à Distância. O presente estudo traz os princípios educacionais e técnicos que fundamentam o ETC (versão atual 1.0), suas funcionalidades e uma breve descrição das experiências realizadas - que transcenderam “as paredes” da Universidade e se estenderam em escolas de Ensino Fundamental e Médio. Finalizando, apresentam-se as considerações em relação ao desenvolvimento e aplicação da ferramenta. Palavras-chave: editor coletivo, ambiente virtual de aprendizagem, software livre. 1. Introdução
O ETC é um editor de texto coletivo desenvolvido no final de 2001 pelo NUTED -
Núcleo de Tecnologia Digital aplicada à Educação, da Faculdade de Educação, da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Este se encontra na sua segunda versão
(disponível em http://www.nuted.edu.ufrgs.br/etc2) e tem como objetivo propiciar a escrita
coletiva/cooperativa através da Web. A necessidade da construção desta ferramenta surgiu
das dificuldades observadas na elaboração de trabalhos coletivos, mais precisamente nos
cursos à distância, por meio da rede. O desenvolvimento desta ferramenta teve como base
o software EQUITEXT, editor para escrita colaborativa via Web construído por uma
equipe do Programa de Pós-Graduação em Informática na Educação (PGIE/UFRGS)
(Rizzi et al., 2000; Seixas et al., 2000). Entretanto, a partir de escolhas de caráter técnico,
optou-se pela construção de uma nova ferramenta construída sobre o ROODA_DEVEL.
Trata-se de um framework para Construção de Plataformas de Educação à Distância que
teve sua origem na construção do ROODA – Rede cOOperativa De Aprendizagem
1Este trabalho conta com o apoio financeiro da FAPERGS (Projeto de Pesquisa: ROODA), CNPq e DA UFRGS (Projeto de Pesquisa: Desenvolvimento de Ambientes Virtuais de Aprendizagem e metodologia didático-pedagógica para Educação à Distância da UFRGS-Brasil), disponível em http://www.nuted.edu.ufrgs.br.
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(disponível em http://rooda.edu.ufrgs.br). O ETC é desenvolvido dentro da filosofia do
Software Livre, propiciando que qualquer pessoa possa utilizá-lo, bem como contribuir
com o código fonte ou adaptá-lo às suas necessidades.
Como se trata de um editor de texto coletivo, é preciso definir neste estudo o que se
entende por este conceito. O chamado “coletivo” depende do tipo de interação que é
mantido. Neste caso, trata-se da interação interindividual ocorrida entre os participantes de
uma atividade, qual seja, a elaboração conjunta de um texto dentro dos pressupostos
piagetianos (Piaget, 1973). Cabe enfatizar que a fundamentação teórica do presente artigo
foi baseada na teoria piagetiana, conforme a definição dos tipos de interação ocorridos
entre os sujeitos. Já os conceitos que envolvem a produção de textos coletivos e a
polifonia, usam como base a teoria bakhtiniana (Bakhtin, 2000).
A metodologia utilizada para a construção deste estudo consistiu na busca dos
autores que fariam o embasamento teórico da ferramenta, bem como a sua
aplicação/avaliação nos Cursos de Pós-Graduação em Educação e em Informática na
Educação, mais especificamente, na disciplina “Ambientes de Aprendizagem
Computacionais” e no Curso de Pedagogia da Faculdade de Educação, na disciplina
“EDU3375 - O Computador na Educação”, durante os anos letivos 2002 e 2003. A partir
destas experiências, iniciou-se a coleta de dados, tendo como finalidade realizar um
levantamento em relação à interface do ETC e a possível necessidade de adaptar e/ou
construir novas funcionalidades para a ferramenta.
Portanto, nesta abordagem são apresentados os conceitos-chave que fundamentam o
ETC, os recursos utilizados para sua implementação, as suas funcionalidades e algumas
experiências desenvolvidas até então. Ao final, são descritos os trabalhos atuais e
apontadas algumas questões norteadoras para futuros estudos em relação à estrutura do
próprio software e propostas teórico-metodológicas de sua concepção.
2. Construindo textos coletivos
Neste estudo define-se texto coletivo como uma rede de saberes em movimento,
visto que está em constante alteração. Ele produz e é produzido por meio dos múltiplos
saberes em construção, das múltiplas culturas entrelaçadas nessa rede. Logo, é “bordado”
pelos vários autores que o constituem, manifestando-se de maneira aberta e dinâmica na
coletividade. Também pode ser atravessado por diferentes linguagens, dependendo dos
recursos usados e do meio de propagação.
VII Congresso Iberoamericano de Informática Educativa 365
De acordo com Lévy (1999), o texto, dentro de um sentido mais amplo, pode incluir
sons e imagens. Neste artigo, refere-se à palavra “texto” enquanto processo, sendo
enfatizada a utilização das tecnologias digitais, especificamente o ETC. O texto acessado
caracteriza-se por sua mobilidade, possibilitando, a cada leitura, a construção de diferentes
caminhos. No texto coletivo, podem participar vários autores contribuindo a partir de uma
postura ativa2 sobre os temas trabalhados. Quando essa premissa é acompanhada pela
utilização das tecnologias digitais, tem-se o encontro entre os participantes caracterizado
por uma dinâmica própria, podendo fazer parte dessa dinâmica a coordenação das ações na
estruturação do texto. A partir disso, o debate em torno do que está sendo construído e das
reformulações decorrentes compõem o processo de construção coletiva.
O ETC propõe aos participantes uma relação lingüística aberta pela reconstrução
constante da palavra do outro, sendo possível a interferência entre os sujeitos envolvidos
na escrita e na interpretação desta. Essa postura ilustra o caráter criativo da palavra, de
maneira que as contribuições trazidas para o texto são construções individuais/coletivas
(Bakhtin, 2000). Esta rede de contribuições permite o acontecimento de uma reconstrução
e, até mesmo, de uma reavaliação contínua do processo de escrita de cada um dos sujeitos
envolvidos. Assim, o texto caracteriza-se por ser passível de mudanças e transformações,
ganhando novos encaminhamentos conforme as contribuições vão sendo inseridas.
O processo de construção de textos coletivos traz como fator relevante a polifonia,
sendo caracterizada pela multiplicidade de vozes presentes no processo de comunicação
verbal (Bakhtin, 2000). Por essa razão, a ação do sujeito, colocando-se como “proprietário”
da escrita, não condiz com a concepção de texto coletivo proposta, na qual o objetivo é a
efetivação das trocas entre os participantes e a construção conjunta. A parceria com os
outros sujeitos na escrita pode permitir uma valorização do processo coletivo de
construção, favorecendo a crítica e a autonomia nas (re)criações. As prováveis mudanças
no processo de construção coletiva do texto têm como finalidade a produção a partir de
diferentes pontos de vista, admitindo aos sujeitos novas perspectivas diante de suas
contribuições, o que ocorre por meio da auto-organização de idéias promovidas nessa
construção conjunta. O texto coletivo emerge da interação entre os participantes, sendo
construídos novos conhecimentos.
O espaço criado pelo ETC para construção de textos coletivos possibilita condições
de ação e reflexão entre os sujeitos, promovendo a transformação de cada um e destes em
2 A postura ativa remete a apropriação da palavra do outro, emprestando um novo sentido dentro de outros contextos (Bakhtin, 2000).
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relação ao grupo. As múltiplas trocas favorecem a escrita dinâmica e não pré-idealizada
(soma de parágrafos construídos isoladamente) pelos interagentes e, por essa razão,
prevêem uma diferenciada organização da estrutura coletiva. Esta organização não
significa impor ordens de contribuição como um após o outro, mas uma intervenção aberta,
adaptada à estrutura criada pelos participantes, possibilitando formas pertinentes de se
fazer uso das contribuições. Para tanto, enfoca-se a necessidade de oportunizar condições à
interação entre os participantes através do próprio Editor.
Nesta abordagem, a interação é vista como um processo complexo de trocas e
significações, por meio do qual o sujeito modifica-se, constituindo uma nova realidade. É
através das interações que o sujeito desencadeia um processo interno de construção,
possibilitando às pessoas compartilhar idéias e gerar novas interações. Quando este
processo ocorre entre duas ou mais pessoas, pode-se chegar a constituir situações de
cooperação. Esta pressupõe a coordenação das operações de dois ou mais sujeitos, isto é,
operações efetuadas em comum ou em correspondência recíproca com um mesmo
objetivo, não podendo ser resumida a um acontecimento estático (Piaget, 1973).
Entende-se que a construção coletiva de um texto calcada na cooperação é regida
pelo equilíbrio e pela coordenação dos pontos de vista. No entanto, a condição necessária
para esse equilíbrio é a presença de uma escala comum de valores, através da qual os
sujeitos podem compreender os signos utilizados pelo grupo. Não se pode considerar o
resultado de um texto coletivo como um aglomerado de informações, mas como um todo
correspondente, recíproco e complementar, produto de inúmeras trocas e transformações.
Tais interações interindividuais compreendem uma relação entre os sujeitos envolvidos e
com o objeto de estudo, além do contato com a ferramenta virtual. Dentro deste quadro, as
concepções apresentadas até o presente momento fundamentam a construção do ETC,
contribuindo também para entendimento das experiências citadas brevemente na seção 5.
3. Aspectos técnicos do ETC3
O ETC utilizou como base para seu desenvolvimento, conforme dito anteriormente,
o editor de texto coletivo EQUITEXT (http://www.equitext.pgie.ufrgs.br), implementado
na linguagem PERL. Um dos objetivos do NUTED é desenvolver uma ferramenta que
possa utilizar os recursos síncronos e assíncronos de uma plataforma de EAD, neste caso o
ROODA. Conclui-se, que seria muito trabalhoso manter o código fonte do EQUITEXT de
forma a compatibilizá-lo com o ROODA, construindo um novo sistema.
3 Agradecemos as contribuições feitas pelo pesquisador do NUTED Alexandre Lessa Azevedo.
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A escolha do ambiente de programação deve-se também ao interesse do grupo em
trabalhar dentro da filosofia do Software Livre, mais especificamente, com a linguagem
PHP. Também se utiliza o sistema de gerenciamento de banco de dados relacional (SGBD)
MySQL e o servidor Web Apache. Estes, por terem o código fonte aberto, não possuem
custo de licença, são estáveis e independentes de plataforma. A linguagem PHP possui
ainda outras vantagens como: simplicidade, velocidade, segurança (provê vários níveis de
segurança facilmente configuráveis) e estabilidade (utiliza seu próprio sistema de
administração e possui um método sofisticado para lidar com variáveis).
O ETC foi programado utilizando-se o framework ROODA_DEVEL (Behar, 2002),
que auxilia o processo de construção de plataformas que apóiam a Educação à Distância.
Em outras palavras, é uma biblioteca de classes em PHP, pronta para uso, reunidas para
estabelecer um padrão de desenvolvimento, acopladas a um wrapper objeto-relacional.
Assim, são reunidas diversas funcionalidades comuns à maioria dos ambientes virtuais de
aprendizagem, dentre elas: classes para autenticação de usuários, gerenciamento de grupos,
diferenciação de papéis dentro de um grupo e ferramentas básicas de comunicação. Esta
ferramenta tem como objetivo reduzir o tempo de programação deste tipo de software
agregando, ainda, flexibilidade e robustez.
Existe uma camada de abstração entre a plataforma educacional e o ETC, por meio
das classes do ROODA_DEVEL. Desta forma, se houver necessidade de se acoplar a
ferramenta dentro de uma outra plataforma, basta apenas alterar a interface do ETC, para
que o mesmo mantenha uma identidade estética com a nova plataforma. Sendo assim,
pode-se definir o ETC como sendo dividido em duas partes: uma ferramenta, constituída
por classes que implementam as regras de negócios e, uma plataforma, que lhe possibilita
rodar como um sistema independente.
4. Funcionalidades do ETC
A unidade central de trabalho utilizada no ETC é o parágrafo, sendo que este pode
ser constituído de texto verbal ou imagem. Cada texto apresenta as identificações
cadastradas anteriormente pelos autores e um link, o qual possibilita a inserção de um
parágrafo. A partir disso, os participantes podem inserir novos parágrafos, criando um
documento seqüencial. No entanto, a interação deles com o texto não segue uma
linearidade, pois, a qualquer momento, os sujeitos podem inserir novos parágrafos, editar
ou mesmo excluí-los.
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Para acessar o ETC, o sujeito realiza um cadastro via Web, que lhe possibilita o uso
do ambiente. O ETC é organizado através de comunidades de aprendizagem, o que permite
ao sistema suportar vários grupos de trabalho distintos sem a necessidade de replicação da
plataforma, como mostra a Figura 1. Cada comunidade possui seus próprios textos que
podem ser acessados somente pelos participantes dessa comunidade. Quando o sujeito se
cadastra, ele faz parte de uma comunidade denominada “Geral”, juntamente com todos os
outros participantes da plataforma (Figura 2). Outra característica da versão atual do ETC,
é que ao inserir uma comunidade, o sujeito escolhe se vai ser necessário que outros
usuários peçam sua autorização para acessá-la ou se a inscrição será automática.
Ao entrar em uma comunidade, o sujeito tem acesso à lista de textos criados dentro
dela, podendo inserir o seu próprio texto ou pedir para participar de um já existente. Ao
optar por inserir um texto, ele se torna responsável pelo mesmo e, conseqüentemente, será
dele a decisão de aceitar ou não a inclusão de pedidos de outros sujeitos. Este é o único
privilégio que o criador do texto possui, pois todos os participantes podem inserir novos
parágrafos, editá-los e excluí-los.
Figura 1: Escolha/criação da Comunidade. Figura 2: Lista dos textos da comunidade geral
Ao acessar a produção, encontra-se o texto dividido em parágrafos por diferentes
caixas de texto de acordo com a última contribuição. No menu superior estão as opções:
versão final (a apresentação da produção em uma única caixa de texto, com a possibilidade
de download no formato HTML, PDF ou RTF como forma de manter uma cópia off-line
do documento), histórico (visualização de todas as inserções, edições e inclusões feitas até
o momento), atualizar (para visualizar as novas alterações caso o texto esteja sendo
construído de forma síncrona), mostrar/esconder comentários (estes podendo ser
visualizados abaixo do conteúdo do parágrafo) e voltar (acesso à tela com a lista dos textos
publicados pela comunidade em questão).
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Um dos recursos presentes no ETC é a inserção de comentários aos parágrafos
construídos, mostrado na Figura 3. O ETC oferece o sistema de comentários, com objetivo
de que os autores possam expressar suas opiniões em relação aos encaminhamentos do
texto e o processo de construção coletiva do mesmo, sem que essas estejam registradas no
próprio texto. Assim, os autores podem inserir comentários vinculados aos parágrafos e,
nesse sentido, as discussões são sempre orientadas a estas unidades de trabalho. Como não
existe propriedade sobre esta, oportuniza-se, dessa forma, um espaço para o conflito e a
negociação entre os participantes.
As alterações realizadas no documento são registradas pelo software, que mantém
um histórico sobre as mesmas. Logo, qualquer alteração faz parte da história da produção,
na medida em que pode ser revisitada pelos participantes, como é apresentado na Figura 4.
Logo, ao entender o texto enquanto processo, este não é constituído apenas pelos
parágrafos que se encontram no “ar” naquele momento, mas também por todos aqueles
que, em algum momento, fizeram parte do mesmo. Esses constituem a totalidade do
documento, modificando sua organização e possibilitando essas (re)construções. Nessa
perspectiva, entende-se que o “texto-processo” é constituído pelos diferentes enlaces
registrados na teia de sua produção.
O NUTED manteve em foco o aspecto dinâmico que o documento digital possui,
implementando na plataforma as ferramentas necessárias para manter essa sensação de
“movimentos na produção” que, efetivamente, ocorrem. Nessa linha, é possível interferir
na seqüencialidade do texto a cada edição ou exclusão de parágrafo, assim como na criação
de novos parágrafos entre aqueles já existentes. Tem-se a possibilidade de qualquer
participante realizar essas operações, mesmo não sendo seu autor. Como já foi destacado,
todo o processo de construção do texto fica arquivado no sistema, podendo ser acessado
pelos sujeitos através da ferramenta Histórico, o que é demonstrado na Figura 4.
Figura 3: Inserção de comentário no parágrafo do texto. Figura 4: Histórico do texto coletivo.
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Em resumo, o ETC possibilita na sua versão atual: (1) organização dos participantes
em comunidades; (2) criação de textos por qualquer sujeito cadastrado; (3) cadastro direto
através da Web; (4) inserção, edição e exclusão de textos verbais e imagens; (5) inclusão
de comentários aos parágrafos escritos em um texto; (6) verificação do histórico do texto;
(7) visualização da versão final a qualquer momento; (8) visualização da descrição dos
textos da comunidade que participa.
5. Experiências realizadas
Na busca por responder a demanda de uma formação comprometida com a qualidade
da aprendizagem, enfoca-se atividades que contemplem trabalhos coletivos, discussão em
grupo, cooperação e parcerias. Dentro desta perspectiva, foi desenvolvido o ETC que
procura oportunizar este tipo de construção coletiva de forma simples e prática. A partir do
uso corrente desta ferramenta, idealiza-se uma postura de respeito às reflexões entre/dos
sujeitos envolvidos, o que remete ao questionamento e à construção de novos saberes.
Essas questões servem como referência à aplicação do ETC com sujeitos de diferentes
faixas etárias. Assim, segue uma breve descrição das experiências realizadas até então,
tendo como objetivo situar o leitor neste contexto.
No Ensino Médio, o ETC foi usado por alunos durante aulas de Física realizadas
através do ROODA TEKTON (Moresco, 2003). Nessa experiência, pôde-se acompanhar o
processo reflexivo dos sujeitos participantes, provocando uma discussão interior e uma
aplicação sobre si mesmo do que aprenderam, segundo a escrita do outro. Especificamente,
nesta experiência, os alunos desenvolveram textos coletivos sobre os conceitos físicos
assimilados durante as aulas sobre as leis de Newton.
No Ensino Fundamental, foram realizadas duas experiências distintas de forma
síncrona e assíncrona com crianças durante o ano de 2002. A primeira, na 4ª série do
Colégio de Aplicação da UFRGS, na qual buscou-se um espaço em que os alunos
pudessem expor suas dúvidas e curiosidades através de uma história coletiva. A segunda
experiência foi realizada com oito crianças, alunos do 1º ano do Segundo Ciclo de uma
escola municipal de Porto Alegre/RS (Leite, 2003). Nesta, os participantes construíram
uma história sobre uma casa, colocaram as figuras dos moradores e da própria casa e
descreveram-nos. No decorrer destas experiências, procurou-se mostrar aos alunos que eles
poderiam escolher o local onde inserir suas contribuições, interferindo, assim, de forma
decisiva na seqüência do texto.
VII Congresso Iberoamericano de Informática Educativa 371
Outra experiência interessante deu-se com os alunos das disciplinas “EDU3375 – “O
Computador na Educação”4 (2002/2), “Ambientes de Aprendizagem Computacionais”5
(2002/1) e “Tecnologias da Informação e Comunicação aplicadas à Educação”6 (2003/1),
assim como no Projeto de Extensão “Tecnologias da Informação e da Comunicação: uma
proposta didático-pedagógica” (2003/1). Os dados coletados nessas disciplinas
oportunizaram levantamento dos erros e problemas de interface da ferramenta, levando em
conta os relatos dos alunos/professores. A proposta de trabalho dentro destes grupos teve
como temas iniciais: aprendizagem cooperativa, cooperação/colaboração, comunicação,
interação e novas formas de convívio e trabalho. Através das mesmas, o ETC foi um
potencializador na escrita coletiva assíncrona, possibilitando aos alunos/professores
administrar seu próprio tempo de escrita.
Com base nessas experiências, o ETC vem sofrendo alterações e ajustes buscando
sanar as dificuldades encontradas, bem como implementar sugestões baseadas na prática
dos alunos e professores.
6. Considerações “não” finais
Atualmente, está se iniciando o processo de integração do ETC à plataforma
ROODA/UFRGS7, de modo que ele seja acessado através do ambiente, utilizando os
recursos síncronos e assíncronos do mesmo e restrito aos sujeitos cadastrados no sistema.
Além disso, sentiu-se a necessidade de implementar um Controle de edição de parágrafos
para não permitir edição simultânea de um mesmo parágrafo, o que causaria cópias
inválidas (ou adulteradas). Para isso, faz-se uso de uma fila de edição, onde o primeiro da
fila é o “usuário” que está efetivamente editando o parágrafo e o restante aguarda por sua
vez. Com o decorrer do tempo (ou de um tempo pré-estabelecido), o primeiro passa a
oportunidade de editar o parágrafo para o próximo na fila. O procedimento é repetido até
que não haja mais fila (ou até a extinção da fila). Também, é preciso desenvolver um
recurso de notificações automatizadas de alterações do texto e de listas de pendências; uma
ferramenta de hierarquização dos tópicos principais (constituindo-se também em links para
facilitar a navegação através do texto) e, por fim, um quadro de avisos para
4 Disciplina, de caráter optativo, oferecida no curso de Pedagogia da UFRGS. 5Disciplina oferecida pelo Programa de Pós-Graduação em Educação e pelo Programa de Pós-Graduação em Informática na Educação da UFRGS. 6Disciplina do Curso de Especialização em Informática na Educação - ESPIE (2003/1) promovida pelo PGIE/UFRGS. Esse curso é realizado à distância, contando com alunos dos diferentes estados brasileiros. 7 Esta plataforma está sendo construída dentro do projeto Desenvolvimento de Ambientes Virtuais de aprendizagem e metodologia didático-pedagógica para educação à distância da UFRGS, que ganhou financiamento do CNPq e do Edital EAD UFRGS 03/2003 para desenvolvimento da plataforma institucional de EAD/UFRGS.
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organização/coordenação das ações dentro do grupo. Outro aspecto que faz parte das
atenções da equipe de desenvolvimento do NUTED está voltado para o design de uma
nova interface do ETC. Por último, cabe destacar uma ferramenta a ser incorporada à nova
versão, que é o sistema de co-links, que favorece a escrita coletiva de hipertextos
permitindo que qualquer usuário possa criar novos links associativos em um texto pré-
existente ou ainda acrescentar novos destinos a um link já criado, a ser desenvolvido em
parceria com o prof. Dr. Alex Primo, da Faculdade de Comunicação/UFRGS, e autor do
Projeto CO-LINKS (PRIMO, 2004).
Logo, acredita-se que o mais interessante é trazer para este debate o resultado das
experiências realizadas até então com esta ferramenta. Por conseqüência destas,
vislumbrou-se a possibilidade de realizar uma avaliação real e contínua de sua efetividade,
tendo como base o retorno dos sujeitos que vêm utilizando o ETC. Desse modo, foi
possível constatar a necessidade de implementação da série de funcionalidades citadas
anteriormente, que permitam, especialmente, facilitar o trabalho coletivo dos grupos ao
coordenarem de forma mais organizada suas ações e abrindo diversas possibilidades de
interação entre eles. Este é o primeiro passo de um longo caminho a percorrer, aperfeiçoar,
investigar e crescer, unindo a construção/criação de uma ferramenta e a sua validação em
campo.
7. Referências Bibliográficas Bakhtin, M. (2000). A Estética da Criação Verbal. 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes. Behar, P. et al (2003). ETC - Editor de Texto Coletivo - Um software livre para auxiliar a escrita coletiva através da Web. In: VI Workshop de Software Livre WSL2003 – Fórum Internacional de Software Livre. _____. (2002) ROODA DEVEL: Uma Proposta de Framework para a Construção de Plataformas de Educação à Distância. III Workshop de Software Livre WSL2002 - Fórum Internacional Software Livre. Disponível em: <http://www.cpad.pucrs.br/wsl2002>. _____. (2001) ROODA – Rede cOOperativa De Aprendizagem – Uma plataforma de suporte para aprendizagem à distância. Revista Informática na Educação: Teoria & Prática, Porto Alegre, 3 (2), 87-96. Lévy, P. (1999). Cibercultura. São Paulo: Editora 34. Leite, S. (2003) Criança na Internet: constituindo a coletividade em ambientes virtuais. Porto Alegre: UFRGS, 2003. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Moresco, S. F. (2003) A tomada de consciência dentro de uma proposta pedagógica de aprendizagem de Física. Porto Alegre: UFRGS, 2003. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Piaget, J. (1973) Estudos Sociológicos. Rio de Janeiro: Forense. Primo, Alex Fernando Teixeira et al. Co -Links: Proposta de uma nova tecnologia para a escrita coletiva de links multidirecionais. In: Compós 2004 - Encontro da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação, 2004, SP, 2004.
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Rizzi, C. B. et alli. (2000). Equitext: escrita colaborativa via Web. Disponível em: <http://equitext.pgie.ufrgs.br> Seixas, L. et al. (2000). Equitext: a helping tool for colaborative writing. In: Site 2000, San Diego.
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