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Angra do Heroísmo, 21 de Julho de 2011
VULNERABILIDADE SOCIAL, COMUNIDADES E PERCEPÇÃO DO
RISCO
José Manuel Mendes
Centro de Estudos Sociais
Observatório do Risco
Centro de
Estudos
Sociais –
Universidade
de Coimbra
jomendes@ces.uc.pt
- W O R K S H O P –” D O E N V O L V I M E N T O À P A R T I C I P A Ç Ã O : O P A P E L D A
C O M U N I C A Ç Ã O N A G E S T Ã O D E R I S C O S ”
Estrutura da apresentação
1 – A sociedade do risco e a regulação do risco
2 – Para além da preparação e da contingência: o
Paradigma da Segurança Estrutural das
Populações
3– Considerações teóricas: vulnerabilidade,
resiliência e comunidades
4 – Vulnerabilidade social em Portugal
5 – Dados do inquérito nacional
6 - Conclusões
Centro de
Estudos
Sociais –
Universidade
de Coimbra
Centro de
Estudos
Sociais –
Faculdade de
Economia da
Universidade
de Coimbra
1 - O conceito de fortuna, a confiança e a regulação pelos Estados
Tendo a modernidade substituído o conceito defortuna pelo conceito de risco, o contexto deconfiança alargou-se, assim como o papel doEstado na sua regulação (Giddens, 1991;Luhmann,1993).
Há que estudar os regimes de regulação do risco(Hood, Rothstein, Baldwin, 2001) e as suasadaptações à necessidade de cooperaçãotransnacional face à globalização dos riscos.
Centro de
Estudos
Sociais –
Faculdade de
Economia da
Universidade
de Coimbra
1 - O conceito de fortuna, a confiança e a regulação pelos Estados
Segundo Ulrick Beck (2001): "States must de-nationalise and trans-nationalise themselves forthe sake of their own national interest, that is,relinquish sovereignty, in order, in a globalisedworld, to deal with their national problems".
Esta é para Beck uma tendência inelutável noâmbito do que chama de sociedade do riscomundial (1999;1992).
Dada a heterogeneidade e a interactividade da vulnerabilidade social, as políticas públicas devem ser multiescalares e atenderem à diferenciação espacial
A necessidade de rever os paradigmas dominantes de análise dos desastres e enfatizar a importância dos seguintes factores:
- planeamento estrutural pré-eventos e cartografia social das populações vulneráveis
- incluir nos modelos de planeamento as desigualdades sociais e os direitos de cidadania
2 – Para Além da Preparação e da Contingência: O Paradigma daSegurança Estrutural das Populações
Centro de
Estudos
Sociais –
Faculdade de
Economia da
Universidade
de Coimbra
1 - Que tipo de técnicas, instrumentos e
instituições governamentais são mais relevantes para se atender ao bem-estar dos cidadãos, e quais os objectos de conhecimento e os tipos de intervenção a definir para manter a segurança das populações.
2 - O quadro de análise deve ser o de longo prazo, que atenda ao aprovisionamento de saúde pública e à diminuição da pobreza, em vez de respostas e acções marcadas pela urgência, o curto prazo e a mitigação e limitação
dos danos.
2 – PARADIGMA DE SEGURANÇA DAS POPULAÇÕES(Baseado em LAKOFF, 2006)
Centro de
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Sociais –
Faculdade de
Economia da
Universidade
de Coimbra
3 - Atenção aos factores estruturais e às suas dimensões espaciais, que exigem um planeamento e um âmbito de actuação bem definido das entidades públicas
4 - Uma intervenção sustentada quanto ao bem-estar das populações
5 - Considerar as condições de vida dos seres humanos como membros de um colectivo social e o direito de integração e de realização de uma cidadania plena
2 – PARADIGMA DE SEGURANÇA DAS POPULAÇÕES(Baseado em LAKOFF, 2006)
Centro de
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Sociais –
Faculdade de
Economia da
Universidade
de Coimbra
- O risco e os desastres são construídos socialmente e devem, por conseguinte, ser estudados nos contextos em que ocorrem(Rodriguez, 2005)
- O impacto dos desastres difere não só quanto à exposição aos perigos mas também devido aos processos sociais, políticos e económicos que gerem a vulnerabilidade social (Hejmans, 2004)
- As populações mais vulneráveis são as que vivem num estado de emergência permanente devido à suas características sociais (Cutter, 2003)
3 – Considerações teóricas
As estruturas sociais como um paradigma causal
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Sociais –
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de Coimbra
A literatura sobre a vulnerabilidade social
subestima as dinâmicas autónomas e específicas
relacionadas com a resiliência social e a
capacidade de recuperação das comunidades
locais, das famílias e dos indivíduos.
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Sociais –
Universidade
de Coimbra
3 – Considerações teóricas
Resiliência social: "a capacidade intrínseca para um sistema, uma comunidade e uma sociedade afectadas por um choque ou stress adaptarem-se e sobreviverem, alterando os seus hábitos não essenciais e reconstruindo-se" (Manyena 2006).
Necessidade de uma abordagem estrutural e sistémica, que vá para além da simples análise e redução da vulnerabilidade
(Weichselgartnen and Bertens, 2000; Pelling, 2003; Resilience Alliance, 2005; UNISDR, 2005).
Centro de
Estudos
Sociais –
Universidade
de Coimbra
3 – Considerações teóricas
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Sociais –
Universidade
de Coimbra
3 – Considerações teóricas
Comunidades emergentes no pós-desastre
● Comunidades terapêuticas/altruísticas
● Comunidades corrosivas
● Comunidades voláteis
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Sociais –
Universidade
de Coimbra
3 – Considerações teóricas
Comunidades terapêuticas ou altruísticas
● Desastres naturais
● Crises de tipo consensual
● Solidariedade
● Cooperação
● Empatia
● Definição colectiva da situação
● Comunidade de "sofredores"
● Fechamento e certeza
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3 – Considerações teóricas
Comunidades corrosivas
● Desastres tecnológicos ou natecno
● Crises de tipo conflitual
● Incerteza
● Ausência de consenso
● Controvérsias
● Sem definição colectiva da situação
● Recreancy (culpa; falta de confiança)
● Litigação judicial
● Falta de fechamento
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Estudos
Sociais –
Universidade
de Coimbra
3 – Considerações teóricas
Comunidades voláteis
● Para além das comunidades altruísticas ou corrosivas
● Desastres como dramas humanos voláteis
que combinam forças destrutivas e criativas nos
momentos históricos de transformação social
(Gunter and S. Kroll-Smith, 2006)
● Desastres como catalizadores da mudança
social (Quarantelli, 1987)
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Estudos
Sociais –
Universidade
de Coimbra
3 – Considerações teóricas
Desastres e mudança social
● O capital de cidadania dos desastres e a confiança cívica
● Acção local
– Politização do luto e da dor
– Trauma e os afectados: o sofrimento
na base da política
(Fassin; Rechtman, 2007)
● A questão da memória
– Memória local vs memória oficial
– O enquadramento dos acontecimentos
Vulnerabilidade social – nível de resiliência e de
resistência sociais dos indivíduos e das comunidades
quando expostos a processos e acontecimentos
perigosos. Integra duas componentes: a criticidade
e a capacidade de suporte.
Criticidade – As características e comportamentos
dos indivíduos que podem contribuir para a ruptura
do sistema e os recursos da comunidade para
responder ou lidar com cenários catastróficos.
Capacidade de suporte – conjunto de
infraestruturas territoriais que permitem à
comunidade reagir em caso de desastre ou
catástrofe.
Centro de
Estudos
Sociais –
Universidade
de Coimbra
4 – Vulnerabilidade social em Portugal
Centro de
Estudos
Sociais –
Universidade
de Coimbra
4 – Vulnerabilidade social em Portugal
Um nova medida da vulnerabilidade social(primeira etapa)
Vulnerabilidade Social (VS) =
(Criticidade) x (Capacidade de Suporte)
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Estudos
Sociais –
Universidade
de Coimbra
4 – Vulnerabilidade social em Portugal
Estudos de caso em Portugal:
Vulnerabilidade social municipal tendo como referência o espaço nacional.
Vulnerabilidade social das freguesias tendo como referência uma amostra de sete municípios da Região Centro de Portugal.
4 – Vulnerabilidade social em Portugal
Factores da criticidade (escala nacional)
Factores Nome%
variação explicada
1 Estrutura demográfica 29
2 Capacidade económica 19
3 Condições das habitações 10
4 Estrutura socioprofissional 7
5 Rendimento mínimo de inserção 6
6 Dinâmica económica 5
Criticidade Municipal (escala nacional
4 – Vulnerabilidade social em Portugal
Capacidade de suporte (escala nacional)
Factores Nome
%variação explicada
1 Dinamismo económico e ambiental 31
2 Corpos de bombeiros 17
3 Capacidade logística 12
4 Farmácias por 10 000 habitantes 10
Capacidade de suporte municipal (escala nacional )
Centro de
Estudos
Sociais –
Universidade
de Coimbra
4 – Vulnerabilidade social em Portugal
Um nova medida da vulnerabilidade social(primeira etapa)
Vulnerabilidade Social (VS) =
(Criticidade) x (Capacidade de Suporte)
A Vulnerabilidade social em Portugal
5 – Dados do Inquérito Nacional: a percepção do risco e aconfiança nas instituições
5 – Dados do Inquérito Nacional
Inquérito a uma amostra representativa da população
portuguesa maior de 18 anos residente em Portugal
continental.
Dados técnicos:
Tamanho da amostra: 1200 inquiridos
Nível de Confiança: 95%
Margem de erro: 3%
Distribuição na população: 50%
Data de aplicação: Setembro e Outubro de 2008
Empresa: Eurosondagem
Centre for
Social
Studies;
University
of Coimbra
(Portugal)
Durham, 10 May, 2011
Resultados
Perigosidades no concelho de
residência Média
Desv
-Padr
acidentes de viação 2,80 1,21
ondas de calor 2,77 1,17
vagas de frio 2,74 1,18
tempestades 2,68 1,04
incêndios florestais 2,67 1,24
seca 2,63 1,21
contaminação de rios 2,14 1,26
cheias e inundações 2,13 1,24
queda de árvores 2,12 1,08
afogamentos 1,98 1,14
incêndios urbanos 1,96 1,06
contaminação dos solos 1,94 1,16
contaminação da água para abastecimento 1,92 1,14
sismos 1,85 1,13
acidentes em fábricas 1,81 ,99
contaminação de alimentos 1,79 1,11
deslizamentos 1,79 1,02
contaminação do mar 1,77 1,16
derrocada de edifícios 1,77 1,05
incêndios locais de diversão 1,70 1,02
incêndios bombas de combustível 1,65 1,03
acidentes de comboio 1,65 1,00
incêndios estabelecimentos ensino ou saúde 1,64 1,00
epidemias 1,64 ,98
acidentes com embarcações 1,54 ,97
acidentes aéreos 1,51 ,94
rotura de barragens 1,48 ,98
tsunamis 1,45 ,96
Percepção do risco local
Perigosidades no país Média
Desv
-Padr
acidentes de viação 3,97 ,93
incêndios florestais 3,91 ,84
cheias e inundações 3,53 ,90
seca 3,49 ,97
tempestades 3,46 ,90
ondas de calor 3,35 ,97
contaminação de rios 3,30 1,05
afogamentos 3,28 ,96
vagas de frio 3,26 ,95
acidentes em fábricas 3,05 ,92
incêndios urbanos 3,02 ,95
contaminação do mar 3,00 1,19
queda de árvores 2,95 1,01
derrocada de edifícios 2,93 ,99
deslizamentos 2,75 1,03
contaminação dos solos 2,72 1,20
contaminação da água para abastecimento 2,69 1,17
acidentes de comboio 2,59 1,07
contaminação de alimentos 2,57 1,24
acidentes com embarcações 2,56 1,05
incêndios locais de diversão 2,53 1,19
sismos 2,48 1,17
rotura de barragens 2,36 1,24
incêndios bombas de combustível 2,30 1,24
incêndios estabelecimentos ensino ou saúde 2,29 1,21
acidentes aéreos 2,25 1,14
epidemias 2,22 1,20
tsunamis 2,03 1,21
Percepção do risco a nível nacional
5 – Dados do Inquérito Nacional
Pessoas afectadas por acontecimentos extremos que causaram
danos ou perdas:
N= 180
ou
14.4% do total da amostra
Acidente que o afectou mais
N %
Cheias e inundações 44 24,3
Acidentes de viação 40 22,3
Tempestades, trovoadas e chuvas intensas 33 18,1
Incêndios florestais 20 11,0
Incêndios urbanos em moradias, prédios ou outras habitações
10 5,6
Seca 7 3,9
Ondas de calor 5 2,8
Contaminação da água para abastecimento 3 1,9
Queda de árvores 3 1,7
Contaminação de produtos alimentares 3 1,7
Vagas de frio 3 1,6
Granizo 2 1,2
Geada 2 1,0
Incêndios ou acidentes em locais de diversão ou centros comerciais
1 ,7
Roturas de barragens e diques 1 ,7
Acidentes aéreos 1 ,4
Acidentes em fábricas devido a explosões, incêndios ou libertação de produtos
1 ,4
Deslizamentos de terras 1 ,4
Sismos ou abalos de terra 1 ,3
Total 180 100,0
Recebeu ajuda de alguém ou de alguma instituição
NSim (%)
Não (%) NS ou NR
Recebeu ajuda 140 23,4 66,010,6
Familiares 36 37,6 62,4
Vizinhos 31 47,4 52,6
Bombeiros 30 63,0 37,0
GNR 27 8,0 92,0
Câmara Municipal 27 5,6 94,4
Junta de Freguesia 27 3,8 96,2
5 – Dados do Inquérito Nacional
Confiança nas instituições
5 – Dados do Inquérito Nacional
Confiança nas instituições (fontes de informação)
5 – Dados do Inquérito Nacional
Equipamentos e bens de prevenção e resposta a situações de
emergência
65,8
13,4
33,9
41,4
35,2
4,2
6,9
0 10 20 30 40 50 60 70
Estojo de primeiros socorros
Extintor em casa
Extintor no prédio
Comida de reserva
Água de reserva
Alarme de incêndio
Alarme anti-intrusão
5 – Dados do Inquérito Nacional
Medidas de prevenção e resposta a situações de emergência
19,3
22,5
8,2
9,4
22,8
87,6
63,9
58,6
0 20 40 60 80 100
Percursos pré-definidos
Ponto de encontro da família
Curso de socorrismo
Assistência médica privada
Conhecimento telefone nacional de emergência
Conhecimento do telefone dos bombeiros
Conhecimento do telefone de forças policiais
Conhecimento do telefone da polícia municipal
- Os resultados mostram, contudo, que as actividades da autoridade nacional de protecção civil e, sobretudo do serviço municipal de protecção civil, e até a sua existência, são desconhecidas para uma percentagem significativa dos inquiridos.
Centro de
Estudos
Sociais –
Faculdade de
Economia da
Universidade
de Coimbra
5 – Dados do Inquérito Nacional
- Numa base meramente descritiva, 69.6% dos respondentes têm conhecimento dos avisos do Instituto de Metereologia, 40.5% dos alertas da Autoridade Nacional de Protecção Civil e 20.1% dos alertas do Serviço Municipal de Protecção Civil.
- 63.4% dos inquiridos activam estratégias de auto-protecção após os alertas da ANPC e 50% fazem-no para os avisos do IM.
- Os mais jovens, os com maior nível de instrução e os que habitam em habitações com melhores condições são os que declaram maiores níveis de conhecimento dos alertas.
Conhecimento dos avisos meteorológicos e dos alertas da
protecção civil
Centro de
Estudos
Sociais –
Faculdade de
Economia da
Universidade
de Coimbra
5 – Dados do Inquérito Nacional
- Em Portugal não há estudos
sistemáticos sobre as dinâmicas das
comunidades locais (capital social,
redes sociais, capacidade de
resistência e de resiliência dos
indivíduos, grupos e comunidades mais
vulneráveis; confiança cívica).
Centro de
Estudos
Sociais –
Universidade
de Coimbra
6 – Conclusões
Centro de
Estudos
Sociais da
Universidade
de Coimbra
- Quanto menos local é a escala de avaliação activada pelos respondentes, mais a percepção do risco depende do conhecimento geral e da capacidade de acesso às fontes de informação
- A proximidade com os riscos percepcionados acentua o papel das condições de vida, enquanto a distância desmaterializa a percepção do risco
- Contrariamente à tese da familiaridade (Borraz, 2008), os nossos resultados mostram o papel crucial da diferenciação territorial e da consciência da escala, tanto na intensidade dos riscos percepcionados como na activação de medidas de auto-protecção.
6 -Conclusões
Centro de
Estudos
Sociais –
Faculdade de
Economia da
Universidade
de Coimbra
- A incorporação das percepções e das práticas dos diferentes grupos sociais e territoriais é crucial no delineamento das políticas de prevenção e mitigação do risco
- O mais importante são os alertas precoces e o desenvolvimento de uma abordagem estrutural sobre a segurança das populações
6 -Conclusões
Centro de
Estudos
Sociais –
Faculdade de
Economia da
Universidade
de Coimbra
- Os elevados níveis de confiança nas instituições de emergência e socorro e de protecção civil, bem como o conhecimento dos avisos metereológicos e dos alertas da protecção civil, são indicadores sólidos de uma preocupação geral quanto aos perigos e às suas possíveis consequências
- O conhecimento dos cidadãos quanto aos perigos pode ser incorporado no desenho das políticas públicas relacionadas com a prevenção e mitigação dos desastres, articulado com os contributos técnicos e científicos interdisciplinares
6 -Conclusões
Centro de
Estudos
Sociais –
Faculdade de
Economia da
Universidade
de Coimbra
Os resultados mostram que é possível
estabelecer uma base sólida para a
implementação de uma cultura de
segurança estrutural das populações,
que promova epistemologias cívicas
relacionadas com o risco e a
governação do risco e a construção
de um mundo diversificado mas
comum.
Centro de
Estudos
Sociais –
Faculdade de
Economia da
Universidade
de Coimbra
6 -Conclusões
OBRIGADO!
José Manuel Mendes
jomendes@ces.uc.pt
Centro de Estudos Sociais
Observatório do Risco
Centro de
Estudos
Sociais da
Universidade
de Coimbra
http://www.ces.uc.pt/osiris/pages/pt/inicio.php
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