View
90
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
Agroecologia vivida intensamente:
a trajetória de seu Saldanha
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 8 • nº2065
Jaguaribe
“... foi que nem diz a história...”
É com esse bordão que seu Saldanha imprime sua marca, ao nos dedicar apenas um minuto ou horas de conversas sobre a vida no semiárido. Agricultor desde sempre, ele nasceu na comunidade Caraúnas, no município de Jaguaribara (CE).Da infância, boas recordações, mas também as dificuldades.“Não tinha transporte e a gente se deslocava em animais. A gente morou sete anos na beira da antiga BR-116, que foi construída durante a seca de 1932”. E por falar em datas, sua memória é privilegiada. Em 1960, ele e sua família foram morar em Jaguaribe, na comunidade D'Arco, porque a família não tinha terra. “Quando se muda de um ambiente para outro, você vê as coisas diferente do que você via antes. Como a gente vivia do roçado, não dava pra sonhar com escola, com estudo. Quando eu ouvi as pessoas falando de estudo, comecei a me interessar. Eu só fui alfabetizado aos 21anos, no programa Mobral – Movimento Brasileiro de Alfabetização. Eu trabalhava de dia e estudava à noite”, recorda. Arrimo de família e com o pai cego, seu Saldanha não se deixou abater. Concluiu o segundo grau e depois foi fazer o curso de técnico agrícola nos anos 80. ‘Naquela época, a agricultura era feita toda com broca e queimadas. Eu queimava muito, era uma cultura tradicional. Ninguém sabia o mal que fazia à natureza. Mas tinha uma diferença: ninguém usava agrotóxicos ou adubos químicos”.
Outubro/2014
1959 – Aos 9 anos, muda-se para a
comunidade D'Arco, em Jaguaribe;
Durante a revolução verde
, usava veneno e praticava
monocultivo no verão
(plantava feijão);
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Ceará
Daí, seu Saldanha dispara: “ grande avanço dos venenos
foi durante a revolução verde, nos anos 70, estimulado
pelo governo. Quem não usava, era chamado de
atrasado, de ignorante. Os técnicos do governo
orientavam a gente a praticar a monocultura. Não se
tinha noção de que uma praga não ataca culturas
diferentes e a gente, inocentemente, comprava veneno.
Os mais usados eram o DDT e o BHC”. Seu Saldanha
aproveita pra contar que o DDT foi criado em 1934, no
início da II Guerra Mundial. Ele lembra que um de seus
irmãos teve sérios problemas de saúde por manusear
agrotóxicos. “Ele sentia fortes dores de cabeça e
vomitava muito”.
Após concluir o curso, seu Saldanha trabalhou com a
agricultura convencional, até que começou a participar
das reuniões do MPA – Movimento de Pequenos
Agricultores, em 2004. “Eu ouvia as pessoas falando de
uma forma diferente de cuidar da natureza, de plantar
sem prejudicar o meio ambiente. Era a agroecologia”.
O agroecologista – como gosta de ser chamado – foi
seduzido pelas práticas agroecológicas. Em 2008, ele
começou a acompanhar trilhas ecológicas que não são apenas passeios a fontes de
água, mas um olhar mais apurado para os recursos naturais e as intervenções – positivas
ou negativas – que a humanidade tem feito. As positivas, ele as torna símbolos. As
negativas são denunciadas. Há dois anos seu Saldanha tem acompanhado a trilha das
águas no município de Barreira, no Ceará, trazendo a reflexão do descaso que o poder
público tem com esses recursos naturais, denunciando a falta de coleta de lixo, as
queimadas, o uso de agrotóxicos, a falta de programas educativos que estimulem e
sensibilizem ao consumo consciente. “É preciso alertar as pessoas, é preciso
ecoalfabetizar o mundo”, diz. Atualmente, aproveitando sua facilidade com números,
ele nos conta: “este ano já realizamos 36 trilhas, que dá um total de 176 experiências
agroecológicas durante esses seis anos.”
E pelo visto, seu Saldanha espalhará seu bordão com a mesma velocidade que acredita
num mundo melhor a partir da agroecologia.
Realização Apoio
Nesse período, trabalhou na agricultura convencional, praticando inclusive a queimada.
2008 - Acontece a primeira trilha ecológica de forma organizada e ampliada para vários municípios.
Nesse período, trabalhou na agricultura convencional, praticando inclusive a queimada.
2008 - Acontece a primeira trilha ecológica de forma organizada e ampliada para vários municípios.
Recommended