View
1.420
Download
2
Category
Preview:
DESCRIPTION
Trabalho de curso sobre as relações e a interatividade entre estudantes EAD
Citation preview
Interatividade, tutoria e as relações interpessoais no Ambiente de
Aprendizagem.
O tema interatividade relacionado à afetividade e as relações pessoais consiste em
discussões que passaram desde filósofos da Grécia antiga, psicólogos, neurologistas a
estudiosos e autores modernos, alguns compartilhando e outros contestando a ideia de que
razão e emoção estão conectadas, apresentando uma dimensão importante quanto à
motivação, configurando-as como objeto de conhecimento.
Na modalidade de ensino a distância onde há a exigência de novas posturas e
posicionamentos entre os participantes, o foco da aprendizagem é o aluno, porém sem dúvida
o papel central é do tutor que deverá promover uma mediação racional, acompanhando,
incitando e orientando com esclarecimentos dos pontos de vistas teórico-pedagógicos e até
mesmo técnicos, oferecendo aprendizagem personalizada e ao mesmo tempo coletiva. Este
profissional apresenta muitos atributos comuns ao professor presencial, mas também um
conjunto de atitudes diferenciadas e designadas como condições facilitadoras na relação do
professor em relação ao aluno, como Rogers (1985) denomina nos termos seguintes: respeito,
confiança, aceitação, autenticidade e tolerância; necessárias num ambiente onde todos
aprendem através de leituras e participações em discussões, coletivamente e em colaboração.
Neste ensino, deve ser ressaltada a importância no processo de aprendizagem e não no
seu conteúdo, onde surgem estratégias de comunicação envolvendo múltiplas interações na
tentativa de resolver os paradoxos do ensino atual e administrar conflitos resultantes dos
diferentes ritmos e personalidades dos estudantes, exigindo do tutor um perfil denominado por
Lévy (1999) como “animador da inteligência coletiva dos grupos que estão ao seu encargo”,
sendo primordial fazer uso de intervenções cuidadosas, com o intuito de aproximar grupos e
motivá-los, principalmente na problemática que envolve o aluno silencioso, pois este talvez
ainda não tenha compreendido os conceitos de EAD em que a participação ativa e as regras
de convivência são essenciais para o seu desenvolvimento social, afetivo e intelectual.
Neste campo de atuação, a chave para o sucesso é a COMUNICAÇÃO, descrita em
suas diferentes formas por Moran (2007), onde destaca que na comunicação real ocorre a
interação ocasional, habitual ou profunda, utilizando as comunicações intrapessoais e
interpessoais, comunicações estas que ocorrem durante as atividades propostas e no ambiente
virtual. Com a exploração dos temas e durante as participações há a possibilidade de
organizar o pensamento e refletir, aceitar novas ideias e transformá-las em co-autoria,
reconhecer falhas e estreitar laços afetivos, mesmo em diferentes espaços geográficos.
Mas há uma divergência entre Moran e Vygotsky em relação ao como ocorrem as
comunicações: segundo Moran (2007), no campo intrapessoal é que se decide a comunicação,
é onde procuramos equilibrar nossas contradições e integrar corpo e mente, as sensações,
emoções, a razão e a intuição e no interpessoal buscamos o melhor de nós, procuramos o que
nos falta. Já para Vygotsky (1984), todas as funções no desenvolvimento do ser humano
aparecem primeiramente no nível social, interpessoal, depois no nível individual, intrapessoal,
favorecendo a aprendizagem coletiva em rede e ao mesmo tempo as aprendizagens
individuais. Mas o fato é que independente destas visões, precisamos nos comunicar para
expressar nossos pensamentos e aprender com o outro, pois cada ser humano aprende de um
jeito: absorve e metaboliza as informações de acordo com suas capacidades, felizmente não
somos todos iguais. E nesta organização do pensamento os sentimentos são afetados, porém
simultaneamente estes sentimentos modificam o pensar e as relações entre as pessoas.
O uso dos recursos digitais e materiais, principalmente o computador e a conexão da
web, são ferramentas valiosíssimas que facilitam e ampliam as oportunidades de crescimento
profissional do tutor e ajudam a intensificar vínculos afetivos necessários na promoção da
interatividade e nas comunicações interpessoais, pois todos têm igualdade de oportunidades
para se expressarem, mas o processo requer maturidade e autonomia por parte dos discentes.
Destaco as comunicações assíncronas e síncronas como subsídios importantes na
construção do conhecimento em EAD, pois ao serem bem utilizadas e com criatividade podem
auxiliar o tutor na manutenção do envolvimento do estudante no curso, como coloca Vygotsky
(1984), atuando como a origem e motor da aprendizagem neste seguimento, favorecendo o
desenvolvimento intelectual e as mudanças na aprendizagem como experiência social, de
interação pela linguagem e pela ação.
Considero a comunicação assíncrona como recurso valioso e vantajoso dos ambientes
virtuais, pois através deste recurso o estudo com reflexão e interatividade realmente se
completam, principalmente com o uso das listas de discussões, textos coletivos, diários virtuais,
glossários, fóruns e portfólios virtuais entre outros, acontecendo de fato uma aprendizagem
construtiva e colaborativa, principalmente nos fóruns, onde o tutor e alguns membros do grupo
utilizam questionamentos e provocações fazendo com que a réplica se transforme e seja
reconstruída com o surgimento de novos temas e novas regras além das pré-estabelecidas,
promovendo a apropriação de ideias e proporcionando momentos de coautoria, então as
mensagens se formam dando sentido aos fragmentos, modificando-se a cada novo contato ou
intervenção, formando um todo, transformando a participação individual em coletiva.
Contudo, as comunicações síncronas devido ao fato de caracterizar uma linguagem
informal utilizando mensagens curtas, podem auxiliar a estreitar os laços afetivos, segundo
Piaget (1954, 1981) a afetividade é funcional na inteligência, é a fonte de energia que a
cognição utiliza para seu funcionamento, onde o interesse e a compreensão são indissociáveis.
O fato é que a comunicação e a mediação do tutor com auxílio de ferramentas virtuais
propiciam e aumentam a interatividade no processo de aprendizagem em rede, através da
motivação e do acompanhamento sistemático da evolução dos alunos, mas vale lembrar que
“uma andorinha só não faz verão”, é necessário que o aluno esteja ativo em sua participação e
desenvolva não só autonomia, mas também autocrítica e senso de responsabilidade.
Referências
LÉVY, Piérre. Cibercultura. São Paulo: editora 34, 1999.
MORAN, José Manuel. Desafios na comunicação pessoal. 3ª edição, Paulinas, 2007, p.
43-50.
PIAGET, Jean. (1954) Intelligence and affectivity: their relationship during child
development. Annual Reviews, Palo Alto-CA, (ed. USA, 1981).
ROGERS, Carl (1985). Tornar-se Pessoa, 7ª edição, Lisboa, Moraes Editores.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.
Recommended