View
376
Download
6
Category
Preview:
Citation preview
1
2 Outubro · 2015
3
Clivonei Roberto clivonei@canaonline.com.br
Luciana Paivaluciana@canaonline.com.br
CÁ ENTRE NÓS
Loucos por boas notícias
Corrêa Carvalho, diretor da Canaplan. Para
ele, a melhoria do cenário tende a “voltar a
girar a roda dos pequenos investimentos”,
além de movimentações de consolidação.
E no último dia 21 de outubro foi pu-
blicado o decreto nº 8.544/2015 sobre o
Programa de Incentivo à Inovação Tecnoló-
gica e Adensamento da Cadeia Produtiva de
Veículos Automotores, o Inovar-Auto. A par-
tir de agora, as empresas habilitadas no pro-
grama ficam autorizadas a terem alíquotas
do IPI menores para os veículos que adota-
rem motores flex, em que a relação de con-
sumo entre etanol hidratado e gasolina seja
superior a 75%, sem prejuízo da eficiência
energética da gasolina. Atualmente, essa re-
lação é de 70% na maioria dos carros flex.
Grande parte da imprensa adora di-
vulgar notícias negativas, não é o
nosso caso, vivemos à caça de boas
notícias. Ainda bem que elas começam a
aparecer. Na opinião de Dib Nunes, diretor
do Grupo IDEA, o setor deverá se recuperar
já a partir deste último trimestre. “O consu-
mo de açúcar está quase junto à disponibili-
dade de estoques. Podemos ter um ciclo vir-
tuoso em 2016.” Além disso, ele lembra que
os aumentos dos preços da gasolina estão
alavancando o consumo de etanol.
Alexandre Figliolino, diretor-comer-
cial do Itaú BBA, salienta que a recuperação
dos preços do açúcar no mercado mundial,
e o aumento dos preços dos combustíveis,
irão ajudar, e muito, as empresas do setor
sucroenergético.
A Consultoria Canaplan informou que
a safra 2015/16 na região Centro-Sul deve
fechar com produtividade média de 85 to-
neladas de cana por hectare; na safra pas-
sada a média foi de 74 toneladas. “Com o
aumento de produtividade por hectare nes-
te ano, os custos de produção de etanol e
açúcar estão em patamares melhores e mais
competitivos. Será um período de oportu-
nidade de geração de caixa”, diz Luiz Carlos
Capa
Plantar canaé uma arte!
Holofote- Quais os impactos do
clima sobre a safra 2015/16
Tendências- Integridade e confiança
nas cadeias de fornecimento
alimentar: da conformidade
à vantagem competitiva
ÍNDICE
Insectshow- É preciso agir rápido
para controlar a broca
Nordeste- El Niño: uma
ameaça para a
safra do Nordeste
Editores: Luciana Paivaluciana@canaonline.com.br
Clivonei Roberto clivonei@canaonline.com.br
Redação: Adair SobczackJornalistaadair@canaonline.com.br
Leonardo RuizJornalistaleonardo@canaonline.com.br
MarketingRegina Baldin
Comercialcomercial@canaonline.com.br
Editor gráficoThiago Gallo
Nutrição- Meiosi MPB com Crotalária
Inovação- Palha Flex
Tecnologia Industrial- Floculação: passado, presente
e futuro... O que fazer?
Economia- Os títulos de dívida atrelados
ao dólar americano para
empresas exportadoras
Sustentabilidade- 50% menos acidentes
nas estradas
Aproveite melhor suanavegação clicando em:
Áudio LinkFotosVídeo
Entre em contato:Opiniões, dúvidas e sugestões sobre a re-vista CanaOnline serão muito bem-vindas:Redação: Rua João Pasqualin, 248, cj 22Cep 14090-420 – Ribeirão Preto, SPTelefones: (16) 3627-4502 / 3421-9074Email: luciana@canaonline.com.br
www.canaonline.com.br
CanaOnline é uma publicaçãodigital da Paiva& Baldin Editora
HOLOFOTE
7
a estiagem prolongada, apesar
da boa chuva de setembro. In-
clusive paramos o plantio de vi-
veiro por conta da estiagem. A
nossa produtividade de-
verá ficar na faixa de 84
toneladas por hectare,
considerando média
ponderada. Na mé-
dia aritmética de 5
cortes, na faixa de 87
t/ha. Mas já alcança-
mos até mais de 100
t/ha. Tivemos clima
desfavorável nos dois
últimos anos e tam-
bém envelhecemos um pouco o nosso ca-
navial [por conta de uma expansão], que
hoje está na faixa de 3,6 anos de idade.
Nazareno Hilário Gonçalves, diretor
agrícola da Usina Alta Mogiana
Região de Ribeirão Preto
A região de Ribeirão Preto, nessa safra,
foi a que teve menos chuva que as
outras áreas canaviei-
ras. Em 2015/16
sofreu mais por-
que choveu me-
nos do que em
outras regiões.
Com relação à
20 milhões de toneladas de cana bis
O clima está favorecendo a brotação
de soqueiras. Se continuar assim,
não teremos as já tradicionais quedas de
produtividade, embora os canaviais este-
jam com idade mais avançada. Teremos
uns 20 milhões de toneladas de cana bis e
a safra deverá se reiniciar em março. Não
creio em atraso da próxima safra, o que
há é um pequeno atraso na moagem des-
ta safra, que deverá se acentuar se as chu-
vas se intensificarem devido ao fenômeno
El Niño. Com o aumento de produtivida-
de por hectare neste ano,
os custos de produção
de etanol e açúcar es-
tão em patamares me-
lhores e mais
competitivos.
Dib Nunes,
diretor do
Grupo IDEA
Estiagem
Em São Joaquim da Barra, onde fica a
Usina Alta Mogiana, as frentes frias não
têm conseguido chegar. Exceto a do mês
de setembro. Estamos passando por um
período de estresse hídrico acentuado, di-
ferente de outras regiões, como de Piraci-
caba para baixo. Quanto ao Efeito El Niño,
estamos em zona de transição. As chuvas
não têm chegado na forma que gostaría-
mos, por isso temos sofrido bastante com
8 Outubro · 2015
média de renovação, também está menor.
Mesmo uma região importante, rica, pro-
dutiva, está sentindo as dificuldades. O se-
tor não teria como fugir disso.
Luiz Carlos Corrêa Carvalho,
diretor da Canaplan
Ventos e cana tombada
A influência do clima é acentuada e
nesta safra está levando à entrega de
uma cana com qualidade de açúcar me-
nor do que a prevista. Tivemos ventanias
terríveis que fizeram com que a cana tom-
basse. E cana tombada significa cana en-
raizada, que volta a vegetar e para vegetar
consome açúcar. Tivemos também o flo-
rescimento da cana. Para emitir a flor, ela
precisa de açúcar e consome açúcar para
produzir a flor. Também houve uma chuva
fora de época. Isso provoca um efeito de
diluição do açúcar contido na cana. Mas
as chuvas que tivemos até agora tendem
a ajudar a produtividade da próxima safra.
Qualquer tipo de
chuva é bem-
vindo, mesmo
que ela caia no
meio da safra. Não podemos ter uma vi-
são de curto prazo. A cana, uma vez plan-
tada, o produtor vive com ela por cinco,
seis anos.
Ericson Marino, consultor
Quando se fala de clima, “tudo depende”
Quando se tem chuvas
abundantes em setem-
bro e um calor escaldante em
outubro, o que dizer? Aí você
escuta: ‘a cana de final de sa-
fra vai crescer bastante, vamos
ganhar toneladas por
hectare’. Mas muitos
esquecem do flo-
rescimento, que
foi muito in-
tenso e mes-
mos as varie-
dades tardias,
que não flores-
cem, acabaram
florescendo, o que aumenta as impurezas
e derruba a qualidade. ‘Ah, mas você não
falou que se chovesse iria melhorar?’ Po-
rém, não é tão simples. Tudo depende: de-
pende do clima, de fenômenos naturais. É
tudo muito delicado. Pequenas variações
no começo da safra podem provocar um
absurdo de variação no final. Não é fácil
acertar.
Mário Gandini, diretor
agroindustrial da São Martinho
HOLOFOTE
9
Paraná terá mais ATR, mas será difícil ensacar tudo
Em maio passado, falei que o Paraná te-
ria em torno de 43 milhões de tonelada
de cana. Mas não imaginávamos que terí-
amos um inverno mais chuvoso com tem-
peraturas elevadas. Então devemos ter no
estado 45 milhões de toneladas, ou seja,
5% a mais de cana no Paraná. E a quali-
dade? Apesar de ter chovido, há expec-
tativa de toneladas a mais de ATR no Pa-
raná, também em 5%. O problema é se
vamos conseguir ensacar isso. As unida-
des tinham expectativa de fechar a safra
entre 20 e 30 de novembro. Mas agora já
está para o dia 20 de dezembro. Além dis-
so, em função do incremen-
to, devem ficar de 3 a 4 mi-
lhões de toneladas de cana
em pé. Não tem condi-
ção de moer tudo. Na mi-
nha região, em outubro, já
choveu 200 mm. Esta-
mos acostumados
com chuva por lá,
a safra é chuvosa,
mas desse jeito
começa a impe-
dir a moagem.
Com certeza,
o clima terá grande influência no Paraná
nessa safra.
Edson Girondi, diretor-gerente de
operações agrícolas da unidade
Santo Inácio, do Grupo Alto Alegre
Inverno molhado amenizou o florescimento
Em maio deste ano, apontamos algumas
visões, como florescimento, El Niño e
havia na época um questionamento se ha-
veria alguma possibilidade de queda na
produção. Falava-se que teríamos El Niño
fraco, que traria chuvas regulares. Hoje já
se fala em El Niño forte e com período que
tende a ser mais seco. Ou seja, a simples
ocorrência deste fenômeno não significa
um clima maravilhoso no Centro-Sul, com
chuvas, com se diz. Os primeiros meses do
ano foram de muitas dúvidas sobre como
seria o clima ao longo da safra. Agora, em
outubro, sabemos que houve muita chu-
va, tivemos vendavais por volta do final de
abril - que tiveram consequências na co-
lheitabilidade, aumentou grau de impu-
rezas -, mas o que tivemos mesmo nes-
sa safra foi sorte. A chuva no período do
inverno amenizou os
efeitos do floresci-
mento de maneira
impensada. Prati-
camente não houve
déficit hídrico. Isso
permitiu crescimen-
to grande, recupe-
ração da biomassa,
além de amenizar
o florescimento.
Nilceu Cardozo,
pesquisador
da Canaplan
10 Outubro · 2015
TENDÊNCIAS
sendo testados, à medida que a cadeias
de abastecimento, cada vez mais comple-
xas, revelam riscos de confiança alimen-
tar em escala industrial. E não são apenas
Integridade e confiança nascadeias de fornecimento alimentar:da conformidade à vantagem competitiva1Daniela Coco e 2Francisco Macedo
A indústria global de alimentos
nunca enfrentou tantos desafios.
Mecanismos de controle de co-
mércio e fornecimento de produtos estão
Doenças causadas pelo consumo de água e alimentos contaminados matam
2,2 milhões de pessoas por ano
11
empresas pequenas ou pouco sofisticadas
que estão se sentindo vulneráveis a ame-
aças na cadeia de valor alimentar. Um bre-
ve olhar sobre o noticiário recente mos-
tra uma imagem consistente dos riscos
que afetam até mesmo as empresas mais
respeitáveis.
Um escândalo recente, no qual cas-
cas de amendoim e amêndoas foram de-
tectadas em temperos à base de cominho,
levou à retirada de dezenas de produtos
das prateleiras dos supermercados nos Es-
tados Unidos e na Europa. Produtos con-
gelados à base de frutas silvestres foram
recolhidos na Austrália devido a temores
de contaminação por hepatite A. E “eco-
terroristas” têm chantageado a Nova Ze-
lândia e sua indústria de laticínios com a
ameaça de envenenar o leite infantil e ou-
tros tipos de leite em pó. Enquanto isso, o
problema da carne de cavalo usada como
carne moída continua a afligir a indústria
e, no Brasil, acompanhamos os escândalos
associados a adulteração do leite.
Escândalo: cascas de amendoim e amêndoas foram detectadas em temperos à base de cominho
12 Outubro · 2015
TENDÊNCIAS
Com a estimativa da Organização
Mundial de Saúde de que doenças cau-
sadas pelo consumo de água e alimentos
contaminados matam 2,2 milhões de pes-
soas por ano e a informação de que três
quartos das empresas de alimentos regis-
tram pelo menos um evento perturbador
por ano (BCI, 2013), fica claro por que os
países estão aumentando seu foco na re-
gulamentação da indústria de alimentos.
As falhas de segurança alimentar fa-
zem os governos aumentarem seus es-
forços de regulamentação, e esses esfor-
ços são muitas vezes complementados
pelo aumento da fiscalização e de san-
ções, multas e penalidades. Não surpreen-
de que essa regulamentação esteja sendo
motivo de preocupação. A 18ª Pesqui-
sa Anual Global com CEOs da PwC mos-
trou que 78% dos líderes executivos estão
mais preocupados com os impactos nega-
tivos das novas regras e as ameaças que
elas podem representar para os negócios
como, por exemplo, o aumento dos custos
de produção.
Além da regulamentação
As empresas de alimentos, embora
lidem com uma vasta gama de demandas,
reconhecem a necessidade de uma trans-
Uma das exigências dos consumidores é em relação ao bem-estar animal
13
parência maior em suas cadeias de forne-
cimento para atender a essas novas nor-
mas regulatórias e dar aos consumidores
confiança em seus produtos. No entan-
to, adequar-se à mudança regulatória é
apenas o começo: conquistar a confian-
ça exige muito mais. A legislação só defi-
ne normas mínimas, mas os consumidores
esperam que a comida que adquirem seja
segura e de qualidade - uma expectativa
que tende a crescer à medida que aumen-
tam o conhecimento, a consciência e as
exigências dos consumidores sobre ques-
tões como origem dos alimentos, bem-es-
tar animal, sustentabilidade, entre outros.
Embora as empresas de alimentos
levem a qualidade, a segurança dos ali-
mentos e a gestão de recalls muito a sério,
a natureza das cadeias de abastecimento
atuais exige uma abordagem mais estraté-
gica em toda a cadeia de valor. Essa abor-
dagem estratégica – que a PwC chama de
Food Trust – vai cumprir a promessa da
marca, proteger a reputação, melhorar a
eficiência, reduzir custos, limitar proble-
mas e permitir uma resposta mais eficaz
às crises.
A mudança regulatória atual é uma
oportunidade de reavaliar e fortalecer a
segurança dos alimentos e a resiliência da
cadeia de abastecimento. E isso irá con-
tribuir para que a empresa cumpra a pro-
Com nova lei haverá o direito de pedir o recall de alimentos contaminados
14 Outubro · 2015
messa feita aos consumidores de vender
alimentos seguros, nos quais eles podem
confiar.
A maior reforma
relacionada à segurança
dos alimentos em 70 anos
A mais importante reforma a afetar
a indústria global de alimentos em déca-
das é a Lei de Modernização da Segurança
Alimentar (FSMA), promulgada nos Esta-
dos Unidos em 2011 e com efeitos para as
empresas do setor a partir deste ano. Duas
tendências-chave contribuíram para tor-
nar as cadeias de abastecimento mais vul-
neráveis a problemas nos EUA e em outras
economias desenvolvidas: a centralização
da produção de alimentos (o que quer di-
zer isso?) e a distribuição e o crescimento
rápido das importações provenientes de
países onde as normas de segurança ou
a aplicação das leis são mais fracas. É isso
que a FSMA pretende resolver.
A nova lei dá à Food and Drug Ad-
ministration (FDA) uma vasta e reforçada
gama de poderes de controle, como o di-
reito de pedir o recall de alimentos con-
taminados e responsabilizar todos os par-
ticipantes de cada etapa da cadeia de
abastecimento. A nova lei altera o regime
de segurança dos alimentos, desviando o
foco da regulamentação da resposta (re-
gulamentação da resposta?) para a preven-
ção. Com isso, as empresas agora precisam
TENDÊNCIAS
Nos EUA, 60% das frutas e dos legumes frescos são importados; se não tiverem e se não cumprirem a conformidade da lei, poderão ser barrados na fronteira
15
1Gerente de Agribusiness da PwC Brasil
2Sócio da PwC Brasil
tomar medidas preventivas adicionais.
Uma parte muito importante da le-
gislação destina-se a empresas que expor-
tam para os EUA, uma vez que dá autori-
dade à FDA de garantir que as mercadorias
importadas pelo país cumprem as mes-
mas normas de conformidade que os ali-
mentos lá produzidos. Isso significa que,
se não atender às normas regulatórias
dos EUA, um produto pode ser barrado
na fronteira. Como a FDA estima que cer-
ca de 15% de todos os alimentos consu-
midos nos EUA são importados – inclusi-
ve 60% das frutas e dos legumes frescos –,
as consequências serão de amplo alcance.
A FSMA, desse modo, terá um efeito
cascata, elevando os padrões das cadeias
de abastecimento de todo o mundo. Sedia-
das nos EUA ou não, as empresas precisam
estar familiarizadas com essas exigências
caso forneçam qualquer produto alimen-
tar para os EUA. As empresas norte-ame-
ricanas tentarão melhorar a visão das suas
cadeias de suprimentos para reforçar a sua
conformidade e tranquilizar os clientes.
Por onde começar agora
As empresas de alimentos que pre-
tendem ser ou se manter como líderes de
mercado podem começar revendo suas
estratégias para as cadeias de abasteci-
mento, planos para evitar interrupções e
quebra de integridade, os programas de
treinamento e o plano de marketing estra-
tégico. As empresas precisam garantir não
só que estão de acordo com as novas re-
gulamentações e exigências de mercado,
mas devem ir além disso, para conquistar
a confiança dos seus clientes e dos clien-
tes dos seus clientes, com uma verdadeira
visão de cadeia de valor.
16 Outubro · 2015
INSECTSHOW
É preciso agir rápido para controlar a broca
Devido à intensificação dos pro-
cessos de colheita mecanizada,
o reinado da broca-da-cana-de
-açúcar (Diatrea saccharalis) continua in-
tocado. É comum encontrar canaviais com
A BROCA AINDA REINA NOS
CANAVIAIS, MAS NOVO
INSETICIDA DA SYNGENTA
PROMETE FAZER A DIFERENÇA
NESSE CENÁRIO, OFERECENDO
MAIOR RAPIDEZ DE CONTROLE E
RESIDUAL CONTRA A PRAGA
Leonardo Ruiz
Estimativas apontam que, a cada 1% de colmos atacados, há perda de até 35 kg de açúcar e de 30 litros de etanol por hectare
AR
QU
IVO
CA
NA
ON
LIN
E
17
altos índices de infestação dessa praga,
com valores que variam entre 3% a 10%. E
o prejuízo é grande. Quando jovem, a la-
garta alimenta-se das folhas para depois
penetrar pelas partes mais moles do col-
mo. Nesse momento, ela abre galerias de
baixo para cima, que podem ser longitudi-
nais ou transversais. Os danos diretos cau-
sados pela abertura dessas galerias pas-
sam pela perda de peso, morte da gema
apical da planta, enraizamento aéreo, ger-
minação das gemais laterais, até o tomba-
mento da cana pelo vento (caso as gale-
rias forem transversais). Em canas novas, a
broca pode causar também o secamento
dos ponteiros e a morte da planta (dano
conhecido como “coração morto”). Esti-
mativas apontam que, a cada 1% de col-
mos atacados, há perda de até 35 kg de
açúcar e de 30 litros de etanol por hectare.
Porém, não é apenas no campo que
a broca causa problemas. Na indústria, ela
também é responsável por vários impac-
tos negativos, como sobre o rendimento
industrial e na qualidade do produto fi-
nal, especificamente do açúcar, que tem
sua coloração alterada. Isso acontece por-
que as galerias criadas pela praga são por-
tas de entrada de microrganismos, como
fungos e bactérias. A inversão de sacaro-
se e as infecções nas dornas de fermen-
tação também estão entre os danos indi-
retos causados pela abertura das galerias.
Rapidez no controle
faz a diferença
Devido a esse alto poder destruti-
vo, é necessário, portanto, que o produtor
faça um controle rápido e eficaz, de prefe-
rência, antes que a broca se instale dentro
do colmo, para impedir a criação das ga-
lerias. Visando ajudá-lo nesse objetivo, a
Syngenta lançou, no final de setembro, em
evento realizado no Hotel Mont Blanc, em
Ribeirão Preto, SP, sua mais nova solução
para o controle efetivo da broca da cana:
o inseticida Ampligo. Lupércio Garcia, da
área de desenvolvimento técnico de mer-
cado da Syngenta, afirma que o produto é
um largaticida de ótimo custo-benefício,
Lupércio Garcia: “Definitivamente, o Ampligo é a melhor solução do mercado no combate à broca da cana-de-açúcar”
AR
QU
IVO
CA
NA
ON
LIN
E
18 Outubro · 2015
que controla a broca em todos os estágios
em que ela se encontra fora do colmo da
planta. “O Ampligo é, definitivamente, a
melhor solução do mercado no combate
à broca-da-cana-de-açúcar, pois, além dos
benefícios citados, ele age rápido, possui
longo residual e conta com alta eficiência,
mesmo em brocas maiores.”
Para Geraldo Papa, professor de en-
tomologia da Universidade Estadual Pau-
lista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP),
Campus de Ilha Solteira, a ampla janela de
aplicação do produto é outra grande van-
tagem do Ampligo. “Como o controle não
fica restrito a lagartas de 1 cm, o timing
de aplicação ficou maior, o que traz mais
segurança para o agricultor, que terá me-
nos chances de errar a janela e perder a
aplicação.”
Um dos aspectos levados em con-
ta na criação do Ampligo foi em relação à
seletividade. Segundo o consultor Santin
Gravena, é importante que um inseticida
seja seletivo, não só aos inimigos naturais,
mas também a toda microfauna existente
no canavial, como a comunidade dos ar-
INSECTSHOW
DIV
ULG
AÇ
ÃO
SYN
GEN
TA
19
LançamentoAmpligo
trópodes (insetos e aranhas). “Nesse cená-
rio, o Ampligo se destaca como uma ex-
celente solução, pois foi comprovado que,
com apenas um dia após a aplicação do
produto, já não há impacto ou influência
do mesmo sobre os inimigos naturais.”
Todos os benefícios do Ampligo
ocorrem devido à sua fórmula inovado-
ra, que combina dois modos de ação, por
contato e ingestão, por meio das molécu-
las Lambda-cialotrina e Clorantranilipro-
le, que, juntas, promovem ação imediata
e por muito mais tempo. “Esse modo de
ação resulta em maior rapidez de controle
e residual contra as brocas. Além disso, ele
possibilita menor risco de desenvolvimen-
to de resistência”, afirma Lupércio Garcia.
Ele explica que a Lambda-cialotrina
aumenta o estímulo das células nervosas,
causando descontrole das atividades, en-
quanto a Clorantraniliprole libera íons de
cálcio dentro das células musculares, cau-
sando contração e inibição da atividade
muscular. “Juntos, esses fatores fazem com
que haja paralisia da broca, interrupção da
alimentação e posterior morte.”
DIV
ULG
AÇ
ÃO
SYN
GEN
TA
20 Outubro · 2015
Clivonei Roberto
FENÔMENO CLIMÁTICO PODE AUMENTAR AINDA
MAIS A SECA NA REGIÃO E REDUZIR A PRODUÇÃO
El Niño: uma ameaça para a safra do Nordeste
NORDESTE
“Apreensão”. Esse é o sentimen-
to das usinas e dos produtores
de cana-de-açúcar do Nordes-
te para o transcorrer da safra 2015/16. Para
Pedro Robério, presidente do Sindaçúcar
-AL (Sindicato da Indústria do Açúcar e do
Álcool de Alagoas) - estado que mais pro-
duz cana na região -, é grande a expectativa
não apenas para o desdobramento da atual
crise do setor sucroenergético, como para
as consequências do fenômeno El Niño
para a região Nordeste, podendo aumen-
tar ainda mais a estiagem já enfrentada.
Segundo ele, considerando a atual
conjuntura, o sindicato estima que ocor-
rerá em AL uma retração na produção
de cana em torno de 10% em compara-
ção com a safra anterior. “Sem considerar
o efeito do El Niño”, acrescenta. “Levan-
do em conta a ocorrência de baixa pre-
21
cipitação nos últimos meses da corrente
safra, o fator clima será um elemento pon-
derável nos resultados finais deste ciclo”,
completa.
A safra 2015/16 em Alagoas come-
çou na segunda quinzena de agosto, com
a Usina Santo Antônio, seguida pela Usina
Camaragibe, em 1º de setembro. Segundo
ele, a expectativa é de que 20 unidades in-
dustriais atuem neste ciclo em AL.
Neste início de safra, a estimativa de
moagem em Alagoas é de 21 milhões de
toneladas, com uma produção de 1,750
milhão de toneladas de açúcar e de 50 mi-
lhões de litros de etanol. Fora a contribui-
ção na geração energética, uma vez que
cinco usinas do estado exportam energia.
Redução da previsão
de moagem em PE
Em Pernambuco, as condições climá-
ticas também terão forte influência sobre
o resultado final da safra. Segundo Renato
Cunha, presidente do Sindaçúcar-PE (Sin-
dicato da Indústria de Fabricação de Eta-
nol e Açúcar de Pernambuco), a previsão
de safra – inicialmente estimada em 15,6
milhões de toneladas de cana – está sen-
do revista para baixo. “Deveremos ter uma
redução de pelo menos 10%.”
“Recém-iniciada, a safra será marca-
da por um verão muito forte, com caracte-
rísticas de El Niño, com muita chuva no Sul
e pouca no Nordeste.”
Alexandre Andrade Lima, presidente
Pedro Robério: “o fator clima será um elemento ponderável nos resultados finais deste ciclo”
22 Outubro · 2015
da AFCP (Associação dos Fornecedores de
Cana de Pernambuco) e da Unida (União
Nordestina dos Produtores de Cana), con-
corda que o fenômeno El Niño terá grande
influência negativa na safra 2015/16. “Já se
instalou e vai diminuir a nossa produção”,
lamenta. Ele faz uma projeção ainda mais
alarmante: acredita que nos maiores esta-
dos produtores da região, Pernambuco e
Alagoas, a redução pode chegar a 20%, de-
pendendo da severidade do El Niño. Quan-
to à produção de cana no Nordeste, prevê
uma redução média de aproximadamente
15%. “Um pena, já que os preços dos pro-
dutos neste ano estão bem melhores em
comparação com o ano passado”, ressalta.
Ao todo, 18 unidades irão proces-
sar cana no ciclo 2015/16 em PE. “Este ano
aumentou mais duas unidades (Cruangi e
Pedrosa). A Usina Cruangi, por exemplo,
foi reaberta por meio de uma cooperativa
de fornecedores de cana (a COAF), da qual
sou presidente”, relata Lima.
Segundo Cunha, a safra 2015/16 em
Pernambuco deverá ter viés mais alcoo-
leiro, reflexo da melhoria da remuneração
do etanol. Além disso, nas regiões Norte
e Nordeste as unidades deverão produzir
mais etanol do que na safra passada: nes-
te ciclo a previsão do mix de produção no
Norte/Nordeste é de 53,17% para etanol e
46,83% para açúcar, ante 50,97% para eta-
nol e 49,03% para açúcar na safra 2014/15.
Para o presidente do Sindaçúcar-PE,
os preços começaram a desenhar um ce-
nário melhor, porém ainda insuficiente
para cobrir os déficits acumulados dos úl-
timos anos, considerando as dívidas e pas-
sivos contraídos pelas empresas.
“O setor precisa ainda de uma polí-
tica pública que premie as externalidades
do etanol, inclusive por meio do aumen-
to da CIDE sobre a gasolina. Inclusive em
sintonia com a COP 21, o governo preci-
sa valorizar os biocombustíveis e criar um
imposto ambiental sobre os combustíveis
El Nino pode aumentar ainda mais a estiagem no Nordeste
NORDESTE
23
Renato Cunha: a safra será mais alcooleira em Pernambuco
que acarretam maior ônus am-
biental, como a gasolina”, frisa
Cunha, destacando que tal medida de va-
lorização do etanol traria grande estímulo
aos municípios do país que têm economia
beneficiada pelo setor sucroenergético.
Somente no Nordeste, cerca de 220 muni-
cípios são muito impactados pela ativida-
de canavieira, segundo ele.
Paraíba
O estado foi o primeiro do Nordeste
a começar a safra 2015/16. Segundo Ed-
mundo Barbosa, presidente do Sindálcool
-PB (Sindicato da Indústria de Fabricação
de Álcool e Açúcar da Paraíba), as usinas
paraibanas começaram a safra em 15 de
julho. “Sempre somos o primeiro estado
a começar porque as condições de matu-
ração da cana favorecem, além da grande
necessidade neste ano de as empresas fa-
zerem caixa.” Ao todo, oito unidades vão
moer cana no estado neste ciclo, sendo
que as maiores unidades são as usinas Ja-
pungu e Biosev.
Como acontece com os outros esta-
dos da região, ele relata que o
clima também está castigando
os produtores e as usinas de
cana-de-açúcar paraibanas.
“Esperávamos chegar a
7 milhões de toneladas, mas
estamos vendo que a falta de
chuva, que vem desde o iní-
cio da safra está comprome-
tendo muito a produção. Ao
invés de termos crescimento,
Alexandre Lima: El Niño pode provocar redução média de
aproximadamente 15% na safra de cana no Nordeste
24 Outubro · 2015
Para Edmundo Barbosa, é uma vitória para o setor sucroenergético a redução do ICMS em alguns estados nordestinos
prevemos uma redução de 10% em rela-
ção à safra passada”, diz o presidente do
Sindálcool-PB.
Mudanças do ICMS
Em Alagoas, a previsão do mix de
produção é de que 65% da cana seja desti-
nada para produzir açúcar e 35% para eta-
nol. “Tradicionalmente o Estado de Alago-
as é mais açucareiro, pelas condições de
mercado, proximidade das usinas ao por-
to e da estrutura portuária destinada ao
açúcar. Contudo, a partir de
2016 poderá haver uma in-
flexão para o etanol em face
da redução de alíquota do
ICMS (Imposto sobre Circu-
lação de Mercadorias e Ser-
viços) deste a partir de janei-
ro do próximo ano”, diz Pedro Robério.
A redução foi aprovada no início de
outubro pela Assembleia Legislativa de
Alagoas, ao diminuir a alíquota de 25%
para 23% sobre o biocombustível, além de
elevar a alíquota do ICMS sobre a gasoli-
na em 2%.
Como em Alagoas, outros estados
do Nordeste tiveram mudança da alíquo-
ta do ICMS, beneficiando o etanol. Em Per-
nambuco, a Assembleia Legislativa apro-
vou a redução da alíquota do ICMS sobre
Tradicionalmente, o Nordeste é mais açucareiro; a partir de 2016 poderá haver uma inflexão para o etanol em face da redução de alíquota do ICMS em alguns estados
NORDESTE
25
26 Outubro · 2015
o etanol de 25% para 23%, e o aumen-
to do ICMS sobre a gasolina de 27% para
29%. As novas alíquotas também entram
em vigor em janeiro.
Na Paraíba, a alteração do ICMS foi
aprovada no início de setembro pela As-
sembleia Legislativa, passando de 25%
para 23% sobre o etanol e de 27% para
29% sobre a gasolina. “Foi uma grande vi-
tória para o setor sucroenergético do esta-
do”, diz Barbosa.
Além disso, segundo ele, a Paraíba
pode se tornar o primeiro estado do país a
ter uma lei que estabelece regras especí-
ficas para o abastecimento de veículos da
frota pública com etanol ou biodiesel por
serem combustíveis não fósseis. Trata-se
de um Projeto de Lei que começou a tra-
mitar em outubro na Assembleia Legisla-
tiva paraibana.
Reativação de usinas: “a redenção”POR MEIO DO COOPERATIVISMO, USINAS VOLTAM A MOER,
ESPALHANDO ESPERANÇA E RENDA EM PERNAMBUCO E ALAGOAS
Em Pernambuco, Usina Pumaty voltou a moer na safra passada
Alexandre Andrade Lima, presi-
dente da AFCP (Associação dos
Fornecedores de Cana de Per-
nambuco) e da Unida (União Nordes-
tina dos Produtores de Cana), diz que
na safra 2015/16 a perspectiva é de que
NORDESTE
27
nenhuma outra unidade sucroenergéti-
ca do estado de Pernambuco feche as
portas, principalmente porque os pre-
ços estão mais remuneradores. No en-
tanto, se a atual política econômica do
país mantiver o mesmo ritmo, novas
usinas poderão ter suas atividades pa-
ralisadas com o tempo.
Apesar de ter alguns canais di-
retos de interlocução política, como o
presidente do Senado, Renan Calhei-
ros, e o Ministro de Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior, Armando
Monteiro Neto, o setor sucroenergéti-
co do Nordeste, assim como todas as
demais atividades econômicas do país,
enfrenta um momento de difícil articu-
lação em Brasília. “Ninguém consegue
articular com o Congresso e com o go-
verno federal. Estive com a presidente
Dilma para cobrar a subvenção da cana
do Nordeste. Ela nos prometeu pagar,
mas até agora nada. Faremos um pro-
testo da próxima vez que ela estiver na
região”, afirma Lima.
Por outro lado, no Nordeste há
certo otimismo por conta dos esforços
que têm resultado na reativação de uni-
dades que haviam fechado na região.
Pedro Robério, presidente do Sindaçú-
car-AL, lembra que em Alagoas “temos
no presente momento o caso da reati-
vação da Usina Uruba.”
Ao falar sobre o trabalho que tem
resultado na reabertura de unidades,
Lima destaca que o cooperativismo é
Alexandre Lima com o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, na ocasião da reativação da Usina Cruangi em setembro
28 Outubro · 2015
a única saída dos fornecedores. “Sem
ele, estaremos fadados a desaparecer.
A reabertura das usinas por cooperati-
vas de fornecedores de cana é a reden-
ção da nossa classe. Estamos cansados
de moer cana para algumas usinas que
não pagam pela nossa matéria-prima.
Além disso, cartelizam com outras uni-
dades para não comprarem cana com
preços maiores dos fornecedores. Foi
então que em Pernambuco, por meio
de cooperativas dos fornecedores, já
reabrimos duas unidades; em Alagoas,
mais uma”, afirma.
Em Pernambuco, Lima diz que a
articulação que tem resultado na rea-
tivação de usinas está positivamente na
contramão do que acontece em nível
nacional no setor. “Estamos quebrando
paradigmas. Isto porque reabrimos usi-
nas no Estado, por meio de cooperati-
vas de fornecedores de cana, a exemplo
do que aconteceu com as usinas Cruan-
gi (a partir da safra passada) e Pumaty
(na safra atual).”
E em Alagoas o mesmo começa a
ocorrer, salienta Lima, seguindo igual
caminho feito em PE, já que a Coope-
rativa dos Produtores Rurais do Vale de
Satuba (Coopervales), arrendou a usina
Uruba, localizada no município de Ata-
laia. A unidade industrial deverá entrar
em funcionamento na primeira quinze-
na de novembro. De acordo com o pre-
sidente da Coopervales, Túlio Acioly
Tenório, inicialmente cerca de 1.500
postos de trabalho diretos serão rea-
bertos. “Quando estiver a todo vapor, a
Uruba vai empregar aproximadamente
três mil pessoas no campo e na indús-
tria. Isso vai mudar a economia nos mu-
nicípios do entorno da usina.” A previ-
são de faturamento na safra 2015/2016
é de R$ 77 milhões.
Em Alagoas, Usina Uruba voltará a moer nesta safra
NORDESTE
29
30 Outubro · 2015
Plantio mecanizado de cana: processo em evolução
CAPA
31
Plantar cana é uma arte!
DOMINAR A ARTE DE PLANTAR CANA É
FUNDAMENTAL PARA A SAÚDE FINANCEIRA
DA ATIVIDADE SUCROENERGÉTICA
32 Outubro · 2015
CAPA
Luciana Paiva, Clivonei Roberto e Leonardo Ruiz
Nesse mar de gráficos, dados e
planilhas que apontam unidades
sucroenergéticas no vermelho,
com saúde financeira crítica, em recupe-
ração judicial ou até fechadas, aparecem
pequenas ilhas de prosperidade. São algu-
mas usinas e produtores que, claro, estão
apertados com a crise, mas não “sangram”
como a maioria.
Especialista no assunto, Alexan-
dre Figliolino, diretor-comercial do Itaú
BBA, salienta que o principal fator que faz
com que essas unidades destoem da re-
alidade do setor é que elas sabem plan-
tar cana. “Quem domina a arte de plantar,
reduz o custo ao utilizar menor quantida-
de de mudas, obtém índice menor de fa-
lhas de brotação, cana com mais perfilhos,
canavial com mais rigor, maior produtivi-
dade, longevidade e quantidade de açú-
car. Tudo isso reflete positivamente no cai-
xa da empresa.”
Desde que a cana começou a ser cul-
tivada no Brasil, há quase 500 anos, a for-
mação dos canaviais se dá por meio de
toletes de cana, cortados com tamanho
próximo a 35 centímetros, que são espar-
ramados nas linhas sulcadas no solo trata-
do. O trabalho, também em quase toda a
existência canavieira nas terras brasileiras
Desde que a cana começou a ser cultivada no Brasil, há quase 500 anos, a formação dos canaviais se dá por meio de toletes de cana
33
foi realizado de forma manual.
Para Edson Girondi, gerente agríco-
la da Unidade Santo Inácio, localizada no
município de Santo Inácio, PR, e perten-
cente do Grupo Alto Alegre, é justamen-
te o plantio manual, aquele sistema em
que o trabalhador pega a cana e coloca
no sulco, o melhor plantio que já existiu,
já começa a ser raridade. De acordo com
dados do Centro de Tecnologia Canaviei-
ra (CTC), em 2009, o plantio mecanizado
de cana era de 32,6%, e em 2015, chega a
76,7%. O crescimento se deu mais por fal-
ta de mão de obra para realizar a opera-
ção e pela necessidade de agilizar a tarefa
do que pela eficiência das máquinas.
o que utiliza menor quantidade de mudas,
não machuca as gemas da cana, apresenta
maior pegamento e menos falhas na linha.
Mas Girondi sabe que não é mais
possível a cultura canavieira se desenvol-
ver distante da mecanização e diz que, há
pouco mais de 10 anos, o plantio de cana
manual era quase que unanimidade, hoje,
Plantio manual, considerado o melhor
Mecanização atropelada
Paulo Roberto Artioli, produtor de
cana e diretor agrícola da Tecnocana, de
Macatuba, SP, observa que a mecanização
nos canaviais começou pelo fim do pro-
cesso, ou seja, pela colheita, o certo se-
ria começar pelo plantio. “Principalmente
para cumprimos as exigências ambientais
34 Outubro · 2015
Na questão da mecanização, o
setor foi atropelado pelo governo,
segundo Luiz Carlos Corrêa Carvalho,
diretor da Canaplan
CAPA
contra a queima, investi-
mos na mecanização da
colheita, e não estrutu-
ramos a entrada da máquina no plantio.
Não fizemos isso, hoje temos o sistema
de colheita mais evoluído que o do plan-
tio”, observa. Segundo o CTC, nesta safra
2015/16, o corte mecanizado deve chegar
a 97% do total dos canaviais do Centro-
Sul do Brasil.
Para Luiz Carlos Corrêa Carvalho, di-
retor da Canaplan, o setor foi atropela-
do pelo governo, principalmente em São
Paulo, o que acabou determinando o rit-
mo de mudança do processo. “A colheita
atropelou o plantio e com o plantio atro-
pelado, digamos assim, não deu tempo de
preparar a lógica deste processo de modo
a ter maior eficiência em suas operações.
O plantio tem que estar casado com a co-
lheita. A forma, o desenho do canavial
para a colheita é feito no plantio.”
De acordo com a Canaplan, o cus-
to de plantio de cana por hectare varia
de acordo com as operações realizadas
na fundação do canavial e com os insu-
mos utilizados, no entanto os valores mé-
dios do Centro/Sul permanecem entre R$
6.000,00 e 7.000,00 por hectare. Para Ar-
tioli, além do alto custo, o problema au-
menta em decorrência da baixa eficiência
do plantio mecanizado. “Precisa melhorar
muito a tecnologia de plantio. É um absur-
do utilizar cerca de 20 toneladas de cana
por hectare. Estamos jogando dinheiro no
sulco”, salienta Artioli sobre a quantidade
de cana-tolete que a plantadora esparra-
ma nas linhas da cana.
Carvalho observa que a correção do
processo acontecerá com o tempo, sen-
do melhorado ano a ano. Mas como a
cana é cultivada em ciclo longo, demora
mais para que isso aconteça. Segundo ele,
um gargalo do plantio não está na práti-
ca em si, mas na sistematização do terre-
no, no planejamento para que sejam áreas
mais longas, para que a máquina faça me-
nos movimentos de ida e volta e se tenha
maior eficiência. Segundo Carvalho, a crise
também impacta no processo de aperfei-
çoamento do plantio das plantadoras de
35
cana. “A recuperação é mais longa, lenta,
em função das dificuldades que se tem.”
Tecnologia no
caminho da evolução
Para atender as necessidades dos
clientes, as empresas de máquinas e im-
plementos agrícolas, como a DMB, de Ser-
tãozinho, SP, têm investido no aprimora-
mento da tecnologia de plantio de cana.
Auro Pardinho, gerente de marketing da
DMB, destaca a plantadora Automatizada
PCP 6000 que foi desenvolvida por dois
anos e lançada em 2014. Ele explica que
essa máquina é equipada com uma estei-
ra com ângulo invertido e com um enco-
der que permite calibrar a velocidade da
mesma em RPM (rotação por minuto). As-
sim, a plantadora devolve para a caçam-
ba o excesso de mudas da esteira, fazen-
do com que apenas os rebolos presentes
nas taliscas sejam distribuídos nos sulcos
de plantio.
Pardinho salienta que os clientes da
DMB têm conseguido, com a plantadora
automatizada, diminuir até 5 toneladas de
mudas por hectare, dependendo da varie-
dade e da idade da muda, sempre fazen-
do a comparação com o plantio conven-
cional de uma mesma variedade. Dá como
exemplo o caso da Usina Ipiranga, no in-
terior paulista, que possui três unidades.
Com o uso da plantadora Automatizada
PCP 6000 DMB, já realiza plantio com 12 t/
Pardinho salienta que os clientes da DMB têm conseguido, com a plantadora automatizada, diminuir até 5 toneladas de mudas por hectare
36 Outubro · 2015
CAPA
ha de mudas por máquina. “Isso significa
que se a empresa tem 15 mil hectares para
plantar no ano, nas três usinas do grupo,
e se fosse plantar todos esses 15 mil com
esta máquina, iria economizar 45 mil tone-
ladas de cana”, calcula Pardinho.
Outro ganho que se verifica é a redu-
ção de gasto com o transporte de mudas
para as áreas de plantio, o que implica em
economia de combustível, uma vez que o
volume de mudas utilizado é menor.
A máquina, observa Pardinho, tem
um sistema de distribuição de cana que
não deixa falha. “Com o homem operan-
do é comum se encontrar falha. Talvez o
gasto excessivo de cana nas plantado-
ras se deva à tentativa de minimizar estas
falhas. Por outro lado, quando se coloca
quantidade exagerada de cana não é ga-
rantia de que vai ter um canavial perfeito,
uma vez que se pode ter o nascimento de
muitos indivíduos que vão competir pelo
mesmo espaço. Com mudas de qualidade
e na quantidade certa, se tem um canavial
com mais vigor.”
Outro ganho obtido é a redução do
Plantadora PCP 6000 automatizada DMB tem chamado a atenção do setor
37
número de operadores por máquina. Se
no equipamento convencional se tem um
tratorista e um operador para a plantado-
ra, o sistema automatizado requer apenas
do tratorista. Pardinho explica ainda que,
embora seja um equipamento automati-
zado, tem um sistema muito simples e que
apresentou, ao longo deste primeiro ano
de utilização, uma grande confiabilidade.
A plantadora Automatizada PCP
6000 DMB também está fazendo a dife-
rença na Usina Rio Vermelho, de Junquei-
rópolis, SP, cujo plantio era realizado por
distribuidoras. Segundo o gerente agríco-
la da Usina, Luis Fernando Foresti, foram
realizados testes com diversos equipa-
mentos. Porém, a empresa acabou deci-
dindo pela máquina da DMB.
“A plantadora da DMB nos surpreen-
deu pela simplicidade e eficiência na tra-
tativa dos parâmetros necessários ao plan-
tio. Em 2014, compramos duas unidades
para certificar o desempenho e qualidade
do plantio realizado por este equipamen-
to. Agora, em 2015, investimos em mais
oito unidades, devido ao fato de termos
comprovado que a plantadora atende to-
das as nossas necessidades. Para nós, a
qualidade do plantio realizado pela Plan-
tadora PCP 6000 automatizada é um dos
seus destaques. A possibilidade de con-
trole do gasto de mudas é também um
grande diferencial”, afirma Foresti.
Para o consultor Luis Antonio Belli-
Funcionários corrigindo falhas de plantio mecanizado
38 Outubro · 2015
CAPA
ni, coordenador do GMEC (Grupo de Mo-
tomecanização do Setor Sucroenergético),
enquanto a colheita mecanizada de cana é
um tema bem consolidado, o plantio me-
canizado ainda está engatinhando. “Ainda
não teve evolução importante. É ativida-
de custosa, que demanda muda demais.
O produtor é obrigado a adotar, até por-
que falta mão de obra em algumas regi-
ões, mas a qualidade não chega ‘aos pés’
do plantio manual”, diz o consultor. No
entanto, ele enxerga que a plantadora au-
tomatizada da DMB já traz alguns avanços
quanto à qualidade de produção de mu-
das pela automação do sistema de plan-
tio. “A automatização do plantio permite
que se tenha qualidade maior e economia
da quantidade de gemas utilizada.”
Na Santo Inácio:
preocupação com detalhes
Edson Girondi, gerente agrícola da
Unidade Santo Inácio, conta que, como a
realidade do setor passou a ser o plantio
mecanizado, a resposta da empresa foi fa-
zê-lo da melhor forma. Para isso, investiu
em treinamento das equipes. “No come-
ço houve muitas falhas, teve gasto gran-
de de mudas, mas graças aos treinamen-
tos, esse sistema foi aperfeiçoado.” Houve
também cuidado com os detalhes, como
a escolha da variedade com melhor res-
posta de brotação no plantio mecanizado,
a seleção das pessoas certas para fazer o
plantio mecanicamente etc.
O resultado satisfaz Girondi. “Evolu-
ímos de forma tal que hoje estamos com
Unidade Santo Inácio: todo cuidado com o plantio da cana
39
o mesmo percentual de falha em relação
ao plantio manual: 5%. Bem diferente de
quando as máquinas começaram a reali-
zar o plantio na usina, quando o índice de
falhas era de cerca de 30%. No campo da
Santo Inácio, ao se olhar, não se vê dife-
rença entre o plantio mecanizado e o ma-
nual”, ressalta. Na unidade, o plantio me-
canizado ainda está na casa de 50%. Mas
Girondi acredita que, por volta de mais
dois ou três anos, isso vai se aproximar de
90% e até chegar a 100%.
Na Santo Inácio, a quantidade de
mudas utilizadas por hectare fica entre 16
e 17 toneladas, a média do setor com plan-
tio mecanizado é de 20 toneladas. Para Gi-
rondi, esse alto volume deve-se mais ao
fato de a muda ser colhida com máqui-
na. “Ela leva uma ‘surra’ e depois jogamos
essa muda no sulco e queremos que ela
brote.” Portanto, é imprescindível que se
colha bem a muda, além da escolha cer-
ta da variedade, de um plantio na hora
correta (com umidade) e do treinamento
da equipe. “Se fizer isso, já está com 70%
do caminho andado para se ter uma área
bem plantada.”
Para ele, o preparo da área é essen-
cial para o plantio. Precisa ter um solo to-
talmente destorroado. “A área pode até ser
canteirizada, com entrelinhas da sulcação
e sem mexer no solo, mas a linha que vai
receber a cana tem que estar com o solo
totalmente destorroado, bem solto e fofo.
Senão, o índice de falhas será maior ainda.”
A recomendação técnica da aduba-
ção na Alto Alegre é a mesma, mas a colo-
cação do adubo no fundo do sulco requer
cuidado. “Com a plantadora que temos, o
adubo cai junto com a cana. Fizemos uma
adaptação, em que o adubo vai de 5 a 10
cm abaixo do tolete, para que não haja in-
terferência. É que quando se usa adubo
com cloreto de potássio, esse cloro é pre-
judicial à brotação da cana. Se distanciá
-lo, se tem melhor performance na brota-
ção.” Esse é um dos pontos de sucesso do
processo na Santo Inácio. Outro diferen-
cial, conta Girondi, é que, quando as plan-
tadoras chegaram à unidade, deixavam
a cana cair no sulco num ângulo de 45
graus, que é como geralmente as máqui-
nas fazem. “Hoje colocamos a cana deita-
da, ficando na horizontal dentro do sulco.
Isso diminui a recobrição, o que é outro
ponto positivo.”
“Evoluímos de forma tal que hoje estamos com o mesmo percentual de falha em relação ao plantio manual: 5%”, diz Girondi
40 Outubro · 2015
“O maior desafio na busca da cana dos três
dígitos é conseguir plantar bem”, salienta Hilário
CAPA
O plantio bem-feito é crucial
para a cana de três dígitos
Na Usina Alta Mogiana, em São Jo-
aquim da Barra, SP, o plantio é considera-
do fator preponderante para a obtenção
de produtividade na casa de 100 tonela-
das por hectare, a chamada cana de três
dígitos. O diretor agrícola, Nazareno Hilá-
rio Gonçalves, diz que o maior desafio na
busca da cana dos três dígitos é conseguir
plantar bem. A Alta Mogiana já teve pro-
dutividade acima de 100 toneladas, mas
nesta safra, a produtividade será de 84,
sendo que a média de cinco cortes é de
87 toneladas por hectare.
Para alcançar esse objetivo, Hilário
salienta que tudo começa na origem da
muda. Tem que ter um viveiro bem-feito.
É essencial plantar com muda sadia. “Por
isso, temos adotado a tecnologia de MPB.
Além disso, fazer reforma de modo a co-
locar as variedades adequadas para cada
ambiente de produção.
Esse é o alicerce de um
canavial bem-feito.” As-
sociado a isso, é preci-
so fazer o plantio em um
período de condições cli-
máticas favoráveis. Mas
não está fácil aliar plantio
e clima, principalmente fora de janeiro, fe-
vereiro e março.
Antes de plantar, o preparo de solo
é visto como de extrema importância na
Alta Mogiana. Segundo Hilário, a usina
busca um bom preparo visando a colhei-
ta, mas realizando o mínimo preparo pos-
sível. “Tanto para o caso específico do MPB
(muda pré-brotada) como para as áreas
plantadas no método convencional, esta-
mos fazendo um preparo localizado, que
é uma canteirização. Nossa empresa bus-
ca revolver o solo o mínimo possível como
princípio. Mesmo assim, também fazemos
um nivelamento, preparando as áreas para
o processo de colheita, que é 100% me-
canizada na Alta Mogiana.” Na unidade, o
plantio também já é 100% mecanizado.
O plantio mecanizado, segundo ele,
está satisfatório, mas ainda precisa evoluir.
“Consumimos ainda um volume significa-
tivo de mudas que poderiam ser indus-
41
42 Outubro · 2015
trializadas. Precisamos produzir mais açú-
car por área total, onde entra o MPB, uma
vez que não se utiliza grandes áreas como
viveiro.” Atualmente, a plantadora mecani-
zada convencional da Alta Mogiana utili-
za entre 18 e 20 toneladas, o que Hilário
acredita ser volume excessivamente alto.
“Isso precisa mudar.”
Dificuldades para realizar
o plantio bem-feito
O Grupo Santa Isabel, de Novo Ho-
rizonte, SP, possui duas unidades produ-
toras, uma em Novo Horizonte e outra
em Mendonça, distante 50 quilômetros
uma da outra. A área de plantio anual é
de aproximadamente 11 mil hectares e,
segundo Wilson Agapito, gerente de mo-
tomecanização, o grupo adota como cro-
nograma ideal de plantio o período de fe-
vereiro a maio.
Agapito conta que, atualmente, não
tem sido fácil realizar um plantio bem-fei-
to. Isso se deve às operações mecaniza-
das, às alterações climáticas e, principal-
mente, à qualidade da mão de obra. Ele
reconhece que na questão de máquinas,
os fabricantes estão em constante evolu-
ção, trabalho realizado em parceria com
os profissionais do setor. Para ele, o pro-
blema do plantio começa pela colheita
mecanizada de cana-muda, que gera tole-
Realizar um plantio sem falhas é a meta do setor
CAPA
43
44 Outubro · 2015
CAPA
tes/gemas com alto índice de danos.
O profissional elege a baixa qualifi-
cação da mão de obra como a maior di-
ficuldade. Para sanar o problema, a Usina
Santa Isabel busca constantemente difun-
dir informação e conhecimento, realiza
treinamentos constantes e faz supervisão
com follow-up. Mesmo assim, ainda rea-
liza parte de seu plantio de forma manu-
al. “ O plantio mecanizado é muito restri-
to à condição climática (umidade do solo)
e tombamento da muda, por isso temos
que manter outras formas para o plantio.”
Para driblar a condição climática, traba-
lham também com o plantio de Meiosi.
E a receita para alcançar como resul-
tado um plantio com poucas falhas, boa
produtividade e longevidade, de acordo
com Agapito, é: realizar um planejamen-
to inicial das atividades com muito crité-
rio, envolvendo o preparo de solo para co-
lheita mecanizada; época de plantio; tipo
de plantio com opção de alteração caso
a condição climática no momento seja
desfavorável; bloco a ser plantado visan-
do épocas de colheita; variedades a serem
plantadas com mudas sadias com viveiro
próximo à área de plantio; e qualificação
de mão de obra envolvida.
A Santa Isabel trabalha com toletes
entre 40 a 45 cm, com no mínimo 3 ge-
mas por tolete e em média de 6 a 7 toletes
por metro e velocidade de plantio contro-
lada para que esse número de toletes seja
uniforme. “No plantio mecanizado não se
deve aceitar falhas na brotação. O que ge-
ralmente observa-se é o foco na quanti-
dade de área plantada e a qualidade fica
em segundo plano, situação que não deve
ocorrer”, salienta Agapito.
“No plantio mecanizado não se deve aceitar falhas na brotação”, diz Agapito
45
Sugestões para o
plantio bem-feito
Plantar cana-de-açúcar requer hoje
um verdadeiro projeto de engenharia, afir-
ma Dib Nunes Jr, diretor do Grupo IDEA.
Segundo ele, tudo começa com um plane-
jamento da área. “Tem de analisar primeiro
todas as características do terreno para fa-
zer a sistematização, de modo a fazer tra-
çados adequados à colheita mecanizada.”
O plantio exige todo um trabalho de
logística e conservação do solo. Depois
disso, orienta Dib, o produtor precisa co-
nhecer a qualidade do solo, em termos de
fertilidade, e relacionar os dados com o
clima da região, compondo o ambiente de
produção. “Tendo o ambiente de produ-
ção, posso preparar, com um ano de an-
tecedência pelo menos, viveiros de mu-
das com variedades mais adequadas para
aquela condição.”
No ano seguinte, inicia-se o trabalho
de preparo do solo, que pode ser feito de
Cana-planta na Usina Santa Isabel: dedicação para obter um canavial com menos falhas
Dib dá boas dicas para o plantio bem-feito
46 Outubro · 2015
CAPA
diversas formas, de acordo com Dib. “De-
pendendo do relevo, tem que fazer prepa-
ro com glifosato. Em áreas de maior de-
clividade, a indicação é fazer o preparo
reduzido do solo e devem ser plantadas
em períodos menos chuvosos.”
Entretanto, nem sempre é possível
realizar o preparo reduzido de uma área,
porque muitas vezes a fertilidade do solo
tem que ser corrigida ou as pragas presen-
tes precisam ser combatidas. “Sendo as-
sim, será preciso adotar o preparo conven-
cional, em que entra gradagem, aração, e
até subsolagem do solo para combater
pragas e corrigir a fertilidade.” Também
tem ganhado espaço outra modalidade
de preparo de solo, relacionada ao prepa-
ro profundo da área e que é indicada para
fazer a canteirização.
Existem várias modalidades de plan-
tio. “Tem algumas empresas que estão fa-
zendo planejamento de plantio em áre-
as de reforma com bastante antecedência.
Em alguns casos, é recomendado o enter-
rio da torta de filtro onde será feita a sul-
cação. Seria plantar a torta de filtro, como
faz o Grupo São Martinho”, relata Dib.
O consultor afirma que para se al-
cançar o plantio bem-feito é necessário
atender o melhor período de temperatu-
ra e umidade para a cana-de-açúcar, en-
tre outubro e final de abril. O setor realiza
o plantio de cana-de-ano (plantada en-
tre outubro e novembro) e de ano-e-meio
(plantada entre janeiro a abril). De acordo
com Dib, atualmente a maior concentra-
ção de plantio é de cana de ano-e-meio
(60%). Depois vem a cana de inverno, que
é plantada entre final de maio até o final
de agosto ou meados de setembro (30%).
Já de meados de setembro ao final do ano
se planta a cana-de-ano. “O certo é tentar
concentrar o plantio na época mais favo-
rável para a germinação da cana, que se-
ria o período úmido e quente. O mais re-
comendado no Centro-Sul vai do final de
janeiro ao final de abril. Entretanto, pra-
ticamente devido ao tamanho das áreas,
planta-se cana durante o ano todo.”
Dentre as modalidades de plantio,
são três as mais utilizadas: o plantio ma-
nual tradicional, o mecanizado, e o hí-
brido (que retira a muda das máquinas e
47
distribui manualmente). Dib lembra que
as variedades devem ser inseridas den-
tro de uma logística de colheita, mas não
só com relação ao ambiente de produção.
Em cada modalidade de plantio, deve-se
observar com cuidado a idade das mudas
utilizadas e a retirada das mesmas, para
não serem machucadas pela máquina.
Para a colheita da cana-muda, ob-
serva Dib, o canavial deve ter entre 8 e 11
meses de idade, além de ser de primeiro
corte. Na retirada das mudas prestar mui-
O plantio exige todo um trabalho de logística e conservação do solo
Deve-se cobrir com quantidade não exagerada de terra – em torno de 10 cm
48 Outubro · 2015
ta atenção para a segmentação dos tole-
tes, que de preferência, devem medir de
30 e 35 cm de comprimento. Os facões pi-
cadores dos colmos devem ser frequente-
mente trocados para serem amolados. O
esmagamento das mudas e as rachaduras
provocadas pelas lâminas sem corte são,
seguramente, uma das maiores causas de
podridões com graves consequências para
a boa brotação das mudas.
Para proteger as gemas, os ponteiros
e folhas da cana não devem ser retiradas,
pois uma vez presentes servem de colchão
amortecedor e proteção para os colmos e
gemas no processo de corte pelas colhe-
doras. As folhas protegem as gemas tanto
quanto o emborrachamento das máqui-
Para proteger a gema da cana, na hora da colheita da muda, deve-se emborrachar partes da colhedora
nas, que também é muito importante.
O consultor alerta que a sulcação
não deve ser rasa e nem realizada em solo
com excesso de umidade sob pena de ha-
ver envidramento e impermeabilização do
solo. O sulco em forma de V é prejudicial,
pois os toletes se sobrepõem formando
bolsas de ar que impedem a boa brota-
ção. Deve-se buscar o formato trapezoi-
dal. Muita atenção com o alinhamento das
cabeceiras do talhão ao plantar a cana.
Além disso, ao plantar a cana é necessário
observar a umidade, cobrir com quantida-
de não exagerada de terra – em torno de
10 cm -, e em solo bem destorroado.
Esses passos são fundamentais para
dominar a arte de plantar cana.
CAPA
49
O sulco em forma de V é prejudicial, pois os toletes se sobrepõem formando bolsas de ar que impedem a boa brotação
Arroz com feijãobem-feito não é o suficiente
Para Paulo Rodrigues, produtor de
cana na região de Guariba, SP, não é
só a tecnologia de plantio que pre-
cisa evoluir, deixando de consumir de 15 a
20 toneladas de muda por hectare. O setor
precisa aumentar a produtividade e tam-
bém a quantidade de açúcar total recupe-
rável (ATR).
O produtor lembra que, há 25 anos, a
beterraba açucareira, produzia menos açú-
car por hectare do que a cana, mas hoje
já produz de 16 a 17 toneladas de açúcar Paulo Rodrigues e MPB produzida em sua fazenda
50 Outubro · 2015
por hectare em área total, enquanto que a
cana produz em média 12 toneladas. “Nos
próximos 10 anos, a beterraba deve alcan-
çar 20 toneladas de açúcar por área total.
O nosso grande desafio é conseguir este
mesmo feito.”
Paulo observa, que para o setor ven-
cer esse desafio, não dá mais para se con-
formar com a velha máxima de que usi-
nas e produtores devem “fazer o arroz
com feijão bem-feito”. “Está mais do que
na hora de colocar um ovo ou um quiabo
nessa mistura, porque só com arroz com
feijão bem-feito está difícil de sobreviver”,
afirma.
Para ele, o sistema de mudas pré
-brotadas (MPB) pode ser uma pimenta
muito bem-vinda para aumentar a eficiên-
cia do arroz com feijão. “É uma alternati-
va muito interessante para a formação de
viveiro, área comercial ou mesmo para re-
plantio de falhas; para mim, um dos fato-
res que mais roubam produtividade”, diz
Paulo. Em sua fazenda Santa Izabel, em
Guariba, tem um núcleo de produção de
MPB, utilizada inclusive para cobrir falhas
na linha de cana.
Mudas sadias na Alta Mogiana
A Usina Alta Mogiana, em São Joa-
quim da Barra, SP, também está adotan-
do o sistema MPB para aumentar a eficiên-
A produção de MPB na Santa Izabel segue para a produção de viveiros e para cobrir falhas
CAPA
51
cia do plantio e reduzir custos. “ Buscamos
uma muda sadia por meio do MPB, e, as-
sim, implantar o canavial de forma menos
cara e mais eficaz”, diz Nazareno Hilário
Gonçalves, diretor agrícola.
Mais de 90% das mudas de MPB ma-
nuseadas pela para Alta Mogiana seguem
para a formação de viveiro secundário. A
empresa já destinou algumas mudas para
cobrir falhas de cana-soca em área comer-
cial, além de formar uma pequena área
comercial com mudas pré-brotadas. No
total, a unidade já plantou quase 2 mil
hectares com mudas MPB, plantadas 100%
com máquina, utilizando dois modelos di-
ferentes de transplantadoras existentes no
mercado.
“Fizemos MPB no ano passado em
300 hectares. Neste ano já colhemos al-
guma coisa em áreas de soca, mas ain-
da não tivemos colheita de MPB plantado
direto para colheita. Parece ser uma tec-
nologia promissora, “ diz Hilário, que es-
pera começar a colher benefícios com o
MPB em área comercial em 2017. “Se con-
seguirmos voltar à produtividade igual à
que tínhamos quando plantávamos ma-
nualmente já ficaremos satisfeitos.” A Alta
Plantio mecanizado de MPB na Alta Mogiana
52 Outubro · 2015
Mogiana já teve produtividade superior a
100 toneladas por hectare, mas nesta sa-
fra será de 84, sendo que a média de cin-
co cortes é de 87 toneladas por hectare.
Segundo ele, a Alta Mogiana tem inten-
são de investir em MPB em área comercial,
mas para isso, é preciso que haja redução
de preço. A empresa adquire as mudas de
vários fornecedores.
MPB na São Martinho
Na São Martinho, o sistema MPB
também tem sido uma aposta. A empresa
tem produção própria de muda pré-bro-
tada. Mário Gandini, diretor agroindustrial
da companhia, diz que o investimento em
mudas pré-brotadas visa a formação de
viveiros e replantio. “Entendemos que no
futuro essa tecnologia pode se estender
para a área comercial também. É um novo
mundo de plantio de cana.”
Para ele, o plantio vai mudar. Daqui
há 10 anos sobrará muito pouco do que
é feito atualmente, sendo que o MPB terá
contribuído muito para essa quebra de
paradigmas e aberto caminho para novas
tecnologias. “Ninguém mais vai se con-
formar de enterrar 15 toneladas de cana
ou mais para formar um canavial”, salien-
ta Marinho.
Plantio de MPB na São Martinho: produção própria das mudas
CAPA
53
54 Outubro · 2015
NUTRIÇÃO
Luciana Paiva
Meiosi MPB com Crotalária
Meiosi cana e Crotalária-juncea
O USO DE ADUBOS VERDES NA IMPLANTAÇÃO E RENOVAÇÃO
DOS CANAVIAIS JÁ É BASTANTE UTILIZADO; A PRÁTICA AGORA
É SEU USO NA MEIOSI COM MUDAS DE CANA PRÉ-BROTADAS
A cana-muda proveniente de mu-
das pré-brotadas (MPB) apresen-
ta alta sanidade, mais vigor, maior
perfilhamento e maior taxa de multiplica-
ção. Mas se elas forem tombadas em áre-
as que receberam adubação verde, o de-
sempenho será melhor ainda. Por isso, já
há várias iniciativas no setor de prática de
Meiosi, intercalando a MPB com culturas
que alimentam o solo.
José Aparecido Donizeti Carlos, di-
retor-comercial da Piraí Sementes, expli-
ca que a adubação verde é uma prática
agrícola milenar, que aumenta a capacida-
de produtiva do solo, melhorando os so-
los naturalmente pobres e conservando
DIV
ULG
AÇ
ÃO
PIR
AÍ
55
“São muitos os benefícios da adubação verde na implantação e renovação de canaviais”, afirma Donizeti
aqueles que já são produtivos. Consiste no
cultivo de plantas em rotação/sucessão/
consorciação com as culturas, que melho-
ram significativamente os atributos quími-
cos, físicos e biológicos do solo.
“Essas plantas, denominadas “Adu-
bos Verdes”, têm características reciclado-
ras, recuperadoras, protetoras, melhorado-
ras e condicionadoras de solo. Englobam
diversas espécies vegetais, porém a prefe-
rência pelas leguminosas está consagrada
também por sua capacidade de fixar nitro-
gênio direto da atmosfera, por simbiose”,
diz Donizeti.
Benefícios da adubação verde
O uso dos adubos verdes na implan-
tação e renovação dos canaviais já é bas-
tante utilizado, pois apresenta muitos be-
nefícios diretos:
• a) Proteção e cobertura do solo,
impedindo os efeitos da erosão e radia-
ção solar, e o desenvolvimento de ervas
daninhas;
• b) Rotação de culturas, intensifican-
do a vida biológica do solo e reduzindo a
incidência de nematóides fitoparasitos;
• c) Produção de biomassa, supri-
mento de matéria orgânica, aumento da
capacidade de armazenamento de água e
recuperação de solos degradados;
• d) Sistema radicular profundo, aju-
dando na descompactação, estruturação e
aeração do solo e reciclagem de nutrien-
tes lixiviados e liberação de fósforo fixado.
• e) Redução do assoreamento de
sulcos de plantio, evitando o
replantio;
• f) Fornecimento de
nitrogênio fixado direto da
atmosfera, reduzindo aduba-
ção nitrogenada do plantio;
• g) Permite o plantio
de cana-de-açúcar enquanto
aguarda a colheita de grãos,
como soja ou amendoim.
Segundo Donizeti, os
benefícios da adubação ver-
DIV
ULG
AÇ
ÃO
PIR
AÍ
56 Outubro · 2015
de na implantação e renovação do cana-
vial resultam em: ganho de produtividade
comprovada na pesquisa e na prática de
15 a 20 toneladas de colmos por hecta-
re; redução do custo de produção (com a
economia de adubos minerais devido à fi-
xação de nitrogênio e reciclagem de nu-
trientes); redução de nematicida, replan-
tio e conservação do solo; preservação do
solo (prolongando a sua capacidade pro-
dutiva graças às melhorias dos atributos
físico, químico e biológico).
Meiosi - MPB e Crotalária
“A adubação verde também pode ser
utilizada com sucesso na Meiosi, inclusive
com as mudas pré-brotadas (MPB), garan-
tindo todos os benefícios”, salienta Doni-
zeti, prática que vem se intensificando nos
últimos dois anos. No caso, o adubo verde
mais recomendado é a Crotalária-juncea.
Para a produção de massa vegetal,
deve ser plantada na primavera, quando
alcança 3 metros de altura e produz de 50
a 70 toneladas por hectare de massa ver-
de. Adiciona até 300 kg de nitrogênio por
hectare anualmente, por meio da fixação
biológica. O seu corte pode ser feito dois
meses após o plantio, sendo incorporada
ao solo ou deixada como cobertura morta.
Para aumentar a produção de massa vege-
tal, pode ser podada na época do flores-
DIV
ULG
AÇ
ÃO
PIR
AÍ
A Crotalária-juncea alcança até 3 metros de altura e produz de 50 a 70 toneladas por hectare de massa verde
NUTRIÇÃO
57
Na meiosi, primeiro planta-se as linhas com MPB
Rolo-faca em área com Crotalária-juncea
58 Outubro · 2015
cimento, na metade de sua altura, o que
promove grande brotação.
Donizeti explica que no uso da Cro-
talária com meiosi com MPB, em áreas
para formação de viveiros, deve-se pri-
meiro plantar as linhas com as mudas de
cana. Entre as linhas de cana, deixa-se um
espaço de 17 metros, onde será semeada
a Crotalária em solo já tratado com gesso,
calagem e outros corretivos, se necessá-
rio. Seu plantio não deve ser muito próxi-
mo às linhas de cana, para não sufocar as
mudas, já que a Crotalária-juncea alcança
em torno de 3 metros de altura. O plantio
da Crotalária acontece a partir de setem-
bro, mas, principalmente, entre outubro e
novembro. Nesse tempo, a cana já deverá
estar com uns quatro meses.
Para aproveitar melhor o potencial
de produção de massa, o mais recomen-
dado é realizar o manejo da Crotalária não
menos que 90 dias após a semeadura, in-
corporando-a ao solo, sulcando e entran-
do com o plantio dos toletes provenientes
da cana originada pelas mudas pré-bro-
tadas. A cana sadia terá seu desempenho
turbinado ao ser tombada em um solo re-
vigorado pela adubação verde.
Plantio sobre área canteirizada direta sobre Crotalária-juncea
NUTRIÇÃO
59
INOVAÇÃO
Clivonei Roberto
CTC INSTALA NA USINA FERRARI A
MAIOR PLANTA PARA PROCESSAMENTO
DE PALHA DO BRASIL, COM CAPACIDADE
DE 25 TONELADAS POR HORA OU
100 MIL TONELADAS POR SAFRA
Palha Flex
Um terço da energia da cana-de
-açúcar sempre foi desperdiçado.
Representada pela palha, folhas
verdes, ponteiros, essa parte da planta foi,
durante séculos, queimada para facilitar a
colheita manual do canavial. Mais recente-
mente, principalmente a partir da década
passada, a mecanização do corte de cana
ganhou fôlego, e a palha, as folhas e os
ponteiros, que antes viravam cinzas, co-
meçaram a ficar no canavial.
Esse material é bem-vindo para o
solo do ponto de vista agronômico, mas
sua quantidade abundante passou a tra-
zer problemas para a lavoura. Mudou o
ambiente de produção, ao influenciar, por
exemplo, na incidência de pragas e ervas
daninhas.
Mas o setor sucroenergético acor-
dou! Percebeu que a palha não é um re-
síduo, mas uma oportunidade de am-
pliar o faturamento do negócio. Não é à
toa que cada vez mais usinas e produto-
res de cana têm buscado adotar tecnolo-
gias de recolhimento e reaproveitamento
desta biomassa.
Pesquisadores, empresas e institui-
ções passaram a estudar o tema e a de-
senvolver soluções que pudessem viabili-
zar a biomassa como produto interessante
60 Outubro · 2015
para fornecedores de cana e usinas.
Diante deste desafio, o Centro de
Tecnologia Canavieira (CTC) assumiu po-
sição de ponta nos estudos com biomas-
sa de cana-de-açúcar no país, como é ca-
racterística da empresa, que há mais de
40 anos desenvolve e comercializa tecno-
logias inovadoras para o setor canaviei-
ro, agregando valor às diversas etapas do
processo e contribuindo com a evolução
sustentável do setor.
Da dedicação do CTC à biomas-
sa da cana-de-açúcar, nasceu uma ino-
vação tecnológica para o recolhimento e
processamento da palha: a tecnologia Pa-
lha Flex. Com conceito moderno e eficien-
te, a primeira planta com a tecnologia foi
inaugurada pelo CTC no último dia 30 de
setembro na Ferrari Agroindustrial, em Pi-
rassununga, SP.
“O Palha Flex é uma solução susten-
tável de produção de energia. Por meio
deste processo, as usinas terão a biomas-
sa necessária para a cogeração de ener-
gia elétrica adicional ou para produção de
Etanol de Segunda Geração (E2G)”, expli-
ca Viler Correa Janeiro, diretor de Negó-
cios do CTC.
O lançamento oficial ocorreu na pró-
pria Ferrari e contou com a presença de
várias lideranças do setor sucroenergético
e de representantes de unidades produto-
ras. O evento teve a palestra do diretor da
Cogen (Associação da Indústria de Coge-
ração de Energia), Leonardo Caio Filho, e o
público teve a oportunidade de fazer uma
Viler: “O Palha Flex é uma solução sustentável de produção de energia, seja para energia elétrica ou etanol 2G”
INOVAÇÃO
61
visita técnica guiada à planta de processa-
mento e recolhimento de palha.
Tecnologia inovadora
Para Jaime Finguerut, assessor téc-
nico do CTC, o setor sucroenergético já
está maduro para incorporar uma solução
como a Palha Flex. “Afinal, o Brasil vai pre-
cisar de mais energia, mas podemos su-
bir o nível de eficiência que geramos, em
geral.”
Na inauguração da planta com a tecnologia Palha Flex, na Usina Ferrari, o público participou de visita técnica à unidade industrial
Finguerut: “Quem investir em tecnologias como Palha Flex,
estará daqui a cinco safras anos-luz à frente das empresas
que ficarem esperando”
62 Outubro · 2015
Mas nesse cenário de crise, de onde
virão investimentos em tecnologias ino-
vadoras como essa? Segundo ele, de ime-
diato o capital virá das usinas que estão
melhor economicamente e estão com alta
produtividade. “Estimamos que pelo me-
nos 30 usinas no Brasil tenham condições
de fazer investimento hoje. E vão inves-
tes de receita. “A bioeletricidade é uma
oportunidade para o mercado. Há uma in-
certeza de preço para o futuro, mas é for-
ma de recuperar a rentabilidade.”
Segundo Viler, o projeto que resul-
tou na tecnologia Palha Flex sempre foi
prioritário para o CTC. “Hoje apenas uma
pequena quantidade da palha que é apro-
tir numa tecnologia que se mostra cada
vez mais interessante. Quem investir nes-
sa área, estará daqui a cinco safras anos-
luz à frente das empresas que ficarem
esperando.”
Na opinião de Viler, esse tipo de ino-
vação é o caminho da recuperação do se-
tor, pois está focado em buscar novas fon-
veitada. O potencial para usar como bio-
eletricidade ou como matéria-prima para
etanol celulósico é importante. Mas o se-
tor carecia de tecnologia deste nível vol-
tada ao aproveitamento da palha”, afirma.
Ele relata que a planta inaugurada
na Ferrari é o verdadeiro estado-da-arte
nessa área. “É um sistema completo, que
Alguns números sobre o potencial de geração de energia para recolhimento de palha
INOVAÇÃO
63
64 Outubro · 2015
se preocupa em otimizar custo, gerar bio-
massa de qualidade. Uma proposta muito
competitiva”, diz Viler.
A planta da Ferrari já é a maior planta
de processamento de palha instalada no
Brasil, segundo ele. Plantas maiores são
possíveis em relação à instalada na Fer-
rari, mas caso a caso deve ser estudado.
“Em algumas situações, economicamen-
te é mais viável, ao invés de instalar um
módulo desse - de 100 mil toneladas -, é
melhor instalar dois módulos em paralelo.
Assim se otimiza alguns processos.”
Ferrari agroindustrial
A Ferrari, por meio da tecnologia do
Palha Flex, será capaz de processar 100 mil
toneladas de biomassa adicionais durante
a safra, as quais, em termos médios, pode-
riam produzir energia elétrica para abaste-
cer uma cidade de aproximadamente 125
mil habitantes, praticamente o dobro da
cidade de Pirassununga, por exemplo.
Considerando o módulo de 100 mil
toneladas de palha/safra dimensiona-
do para a Ferrari Agroindustrial, o poten-
cial de geração é de 75 mil MWh de ener-
gia durante a safra. Também permite gerar
uma receita adicional para a usina na or-
dem de R$ 15 milhões por ano, levando
em conta o preço médio de R$ 200,00 por
MWh.
“O Palha Flex tem uma importân-
cia econômica muito grande, pois a palha
que até então ficava no campo será utili-
zada como matéria-prima para produção
de energia elétrica, aumentando a nossa
receita e contribuindo para a segurança
energética da região e do País”, afirma An-
tônio Previte, diretor administrativo-finan-
ceiro do Grupo Ferrari.
Há algum tempo esta unidade tem
cogeração instala-
da a partir do baga-
ço de cana. Antes de
iniciar as negociações
com o CTC e aderir à
tecnologia Palha Flex,
a empresa buscou al-
ternativa para iniciar
Segundo Previte, com o recolhimento da palha, a energia deverá representar de 15% a 20% do faturamento da Usina Ferrari
INOVAÇÃO
65
o recolhimento da palha e aumentar sua
produção de energia. “Visitamos várias
unidades que já faziam o recolhimento da
palha, além de outras que traziam cana in-
tegral para a indústria. Foi quando assisti-
mos no CTC a apresentação deste projeto.
Achamos interessante, fizemos o convênio
e temos certeza que acertamos na esco-
lha”, afirma Previte. A planta da usina re-
sultante da parceria com o CTC entrou em
operação em julho deste ano, um ano de-
pois do início das negociações.
A Ferrari realizou na indústria inves-
timentos na ordem de R$ 15 milhões. Já
para a agrícola, destinou R$ 10 milhões
(enfardamento, carretas e caminhões).
Ante a estes investimentos, a empresa pre-
vê ter um retorno rápido, com pay back de
dois anos.
Comparando com outras tecnolo-
gias, Previte enxerga algumas vantagens
no sistema Palha Flex, como a baixa quan-
tidade de mão de obra necessária para
operar a planta. “Esse número reduzido fa-
cilita encontrar pessoas qualificadas para
operá-la.”
“A planta é muito automatizada, bem
robusta, faz o descarregamento automáti-
co de dez fardos por vez. A ponte descar-
rega o fardo. Depois o sistema realiza o
desenfardamento, com retirada automáti-
ca do barbante. É feita a quebra do fardo.
Depois passa por uma peneira para retirar
a impureza, e depois por um picador para
deixar numa granulometria pequena para
facilitar a queima na caldeira”, explica.
Na indústria, equipamento retira os fardos do caminhão
66 Outubro · 2015
Já na agrícola, a Ferrari utilizou de
toda expertise do CTC para estabelecer o
padrão de recolhimento de palha e para a
escolha dos equipamentos. “Estamos dei-
xando por hectare na faixa de 6 a 7 to-
neladas de palha, segundo a recomenda-
ção para cada área, dependendo do tipo
de solo. O recolhimento varia entre 40% a
60% do que se pode trazer da palha que
está na lavoura.”
Além dos benefícios financeiros, ou-
tra vantagem que a Ferrari enxerga na re-
tirada da palha é agronômica. “Com a reti-
rada de parte da palha, alguns problemas
fitossanitários que têm sido verificados
passam a ser minimizados.”
A unidade tem duas frentes de reco-
lhimento de palha com dois conjuntos de
equipamentos em cada uma. No total, são
14 equipamentos, incluindo quatro enfar-
dadoras e duas carretas de recolhimento.
Antes da instalação da tecnologia do
CTC, a Ferrari cogerava uma faixa de 220
mil MW por safra, com moagem de 3,2 mi-
lhões de t de cana. Mas com o início da
utilização da palha, a usina passará a pro-
duzir de 295 a 300 mil MW/safra.
“A energia, sem o recolhimento da
palha, representa 10% do faturamento da
usina. Com a palha deverá representar de
15% a 20% do faturamento. Porém, repre-
senta 30% a 40% do EBITDA da empresa.
É muito significativo na geração de caixa.”
A área total com cana da Ferrari, en-
tre própria e de fornecedores, é de 42 mil
hectares, sendo 27,5 mil hectares da usina.
INOVAÇÃO
A Ferrari realizou na indústria investimentos na ordem de R$ 15 milhões
67
A previsão de moagem para este ano é de
3,2 milhões de toneladas. “Nessa primei-
ra safra de Palha Flex, como a planta co-
meçou no meio da safra, deveremos reco-
lher ao todo um total de 50 mil toneladas,
mas a planta é para 100 mil t/safra”, pon-
tua Previte.
Principais diferenciais
do Palha Flex
1. Flexibilidade – atende de forma
completa e diferenciada as principais ro-
tas de recolhimento de palha (em far-
dos; sistema de limpeza a seco ou siste-
ma híbrido);
2. Maior planta para processamento
de palha instalada no Brasil com capaci-
dade de 25 toneladas por hora ou 100 mil
toneladas por safra;
3. Integração Agroindustrial – solu-
ção que opera de forma otimizada a atua-
ção no campo e na indústria;
4. Melhor custo-benefício do mercado.
Planta de
processamento de fardos
Dada a atual crise de abastecimen-
to energético, esta seria uma importante
solução capaz de mudar o cenário enfren-
tado pelo país. “Ao desenvolver este pro-
jeto, vimos que o mercado necessitava de
uma tecnologia robusta e completa para o
processamento adequado dessa biomas-
sa”, finaliza Henrique D´Avila, especialista
de negócios do CTC.
A receita gerada a partir da energia
A Ferrari utilizou de toda expertise do CTC para estabelecer o padrão de recolhimento de palha e para a escolha dos equipamentos
68 Outubro · 2015
da biomassa pode parecer pouca, a prin-
cípio, mas nos últimos anos, para algumas
usinas que estão cogerando, essa fonte de
receita foi o principal produto que contri-
buiu para a margem EBITDA (lucro antes
de juros, impostos, depreciação e amor-
tização) de muitas usinas. “Por isso, está
perdendo dinheiro quem ainda não se vol-
tou para esta oportunidade”, frisa D’Ávila.
No entanto, segundo os levantamen-
tos do CTC, menos de 5% de toda essa pa-
lha disponível para recolhimento está sen-
do de fato aproveitada. “Em torno de 40
bilhões de toneladas de palha no Brasil
hoje poderiam estar sendo recolhidas de
maneira sustentável, mas não estão.”
Foi com o objetivo de capturar esta
oportunidade, que o CTC se debruçou nos
últimos anos a entregar soluções diferen-
ciadas ao mercado na área de recolhimen-
to de palha, originando a tecnologia Pa-
lha Flex.
Por que este nome? “Primeiro por-
que temos condições de oferecer tecnolo-
gia para as principais rotas de recolhimen-
to de palha. Tanto no sistema de limpeza a
seco, como na rota do enfardamento, em
que temos o primeiro projeto implemen-
tado com a Ferrari. Além disso, esta palha
recolhida também tem a flexibilidade para
ser utilizada nos principais mercados, tan-
to de cogeração de energia como de eta-
nol de segunda geração.”
O CTC oferece ao mercado, além do
sistema de limpeza a seco e da planta de
processamento de fardo, um sistema hí-
INOVAÇÃO
Tecnologia chamou a atenção dos visitantes
69
brido que nada mais é do que uma plan-
ta que integra os dois sistemas: parte da
palha é recolhida pelo sistema de limpe-
za a seco, e outra pelo sistema de proces-
samento de fardos. “A vantagem deste sis-
tema, que também pode ser aplicado em
grandes módulos, é que se consegue oti-
mizar alguns equipamentos.”
Rota do enfardamento
D’Ávila explica que a Rota do Enfar-
damento se trata de um projeto financia-
do pela FINEP e pelo BNDES (Banco Na-
cional de Desenvolvimento Econômico e
Social), dentro do programa PAISS Agríco-
la, o qual é sustentado sobre três pilares
de atuação:
* Recomendação Agronômica, para o
adequado aproveitamento da palha;
* Recomendações para as Operações
Agrícolas, para a maximização do rendi-
mento das operações e eficiência logística;
* Pacote Tecnológico Industrial,
constituído por um conjunto de equipa-
mentos e processos voltados ao proces-
samento da palha. Desde o recebimento,
condicionamento e limpeza, até o prepa-
ro dessa palha para que seja queimada de
forma adequada nas caldeiras, com efici-
ência superior.
Para embasar as recomendações que
oferece dentro deste projeto, o CTC de-
senvolve, desde 2012, ensaios em oito lo-
cais de diferentes regiões edafoclimáti-
cas, para avaliar o impacto da palha em
cada região. O resultado desse trabalho
foi a concepção de uma matriz de reco-
mendação agronômica para que, de fato,
se possa fazer uma recomendação especí-
fica para cada região, tendo em vista o re-
colhimento sustentável da palha.
Nas operações agrícolas, o CTC tam-
bém desenvolveu alguns trabalhos, inclu-
sive em parceria com a New Holland, dos
quais foi estruturado outro conjunto de
recomendações técnicas em áreas como:
- Impureza mineral – o teor de impu-
reza deve ser inferior a 10%, o que exige
regulagem das aleiradoras e sistematiza-
ção adequada das áreas;
- Enfardamento – indicação de não
se utilizar o pré-chopper, por não trazer
ganhos na densidade dos fardos, pois di-
ficulta a limpeza da palha na indústria e
D’Ávila: “Em torno de 40 bilhões de toneladas de palha no Brasil hoje poderiam estar sendo recolhidas de maneira sustentável”
70 Outubro · 2015
eleva custos (diminui rendimento agrícola,
aumenta custos de manutenção e o con-
sumo de combustível);
- Umidade – a palha não deve ser re-
colhida com umidade próxima de 15%, re-
comendando-se que seja deixada no cam-
po por 5 a 6 dias para secar. “Assim, se tem
um material com maior poder calorífico e
menor custo de logística, pois se transpor-
ta menos água.”
- Controle de tráfego – evitar o piso-
teio da linha, para não prejudicar a brotação.
Pacote tecnológico industrial
D’Ávila lembra que a planta instala-
da pelo CTC na Ferrari é totalmente ino-
vadora, desde a concepção, nível de au-
tomação, eficiência do descarregamento,
condicionamento e preparo dos fardos na
indústria. “É a planta com melhor relação
custo-benefício do mercado.”
O módulo instalado na usina Ferra-
ri, cuja capacidade para processamento de
25 toneladas/h ou 100 mil toneladas du-
rante a safra, para um ciclo de 4 mil horas,
tem vários benefícios que justificam o in-
vestimento em uma planta industrial des-
ta magnitude, segundo D’Ávila.
Ao explicar todo o funcionamento da
planta industrial, ele relata que, quando os
caminhões chegam à indústria, tem uma
ponte rolante que descarrega simultane-
amente dez fardos, destinando-os tanto
à mesa de recepção como a um armazém
que está dimensionado para 500 fardos.
No sistema, um caminhão é descarregado
em menos de 30 minutos pela ponte ro-
lante - uma ponte rolante pode substituir
até 4 carregadores.
Toda planta foi dimensionada para
trabalhar com baixo número de pessoas,
sendo totalmente operada por uma ou
duas pessoas por turno. Basicamente um
trabalhador para operar a ponte rolante e
outro para olhar todo o resto do processo.
“Enquanto que uma planta com a mesma
INOVAÇÃO
71
capacidade, se usa carregadora, por exem-
plo, precisa de 4 a 5 pessoas.”
A planta é dotada de um removedor
de barbante do fardo, totalmente automa-
tizado. Em seguida, o fardo é colocado na
moega. “O processo tem vários sensores
que garantem que a planta seja contínua,
com maior disponibilidade operacional.”
Depois, a palha é limpa na peneira
rotativa, dedicada a reduzir o volume de
terra que vai para a caldeira. Com a redu-
ção das impurezas, tem menor desgaste
dos equipamentos, principalmente da cal-
deira, com economia do custo de manu-
tenção. Economia estimada na ordem de
R$ 5,00 por tonelada de palha.
Na sequência, a palha passa por um
desenfardador, que dá uma quebrada ini-
cial nos fardos. A palha passa por um tritu-
rador, que deixa o material com uma gra-
nulometria adequada, garantindo maior
eficiência tanto na queima nas caldeiras
como no processo de produção de etanol
2G. No caso da Ferrari, 80% da granulo-
metria é de tamanho inferior a 12 mm. “Na
unidade, em função desta granulometria
adequada, houve um aumento de eficiên-
cia nas caldeiras na ordem de 1,5%.”
Custo e viabilidade
O CTC fez um benchmarking quanto
à estimativa de custos da tecnologia, com-
parando a planta instalada na Usina Ferrari,
com a tecnologia Palha Flex - que não usa
pré-chopper e tem uma indústria comple-
ta, com recepção, condicionamento, lim-
peza e trituração e capacidade de proces-
samento de 25 t/h -, com uma Usina “A”
– que utiliza o pré-chopper na agrícola e
possui uma indústria simples (carregado-
ra, trituração simplificada e processamen-
to na ordem de 8 t/h).
Na Ferrari, os custos médios ficaram
na ordem de R$ 90,00/ t de palha, sendo
dois terços destes custos da área agríco-
la e um terço da área industrial. Na Usina
72 Outubro · 2015
INOVAÇÃO
“A”, o custo final da matéria-prima foi de
R$ 110,00/t de palha. “A principal diferen-
ça foi na operação de enfardamento. Com
uso de pré-chopper, praticamente dobra-
ram os custos agrícolas da operação de
enfardamento. E como a indústria é sim-
ples, teve custo industrial um pouco infe-
rior”, relata D’Ávila.
Na relação do custo do bagaço equi-
valente, considerando uma palha com po-
der calorífico de 70% acima do bagaço, na
Ferrari o custo final foi de R$ 53,00/ tone-
lada de bagaço equivalente, enquanto na
usina “A” esse custo foi de R$ 65,00/ tone-
lada de bagaço equivalente.
Mas é viável investir em projeto de re-
colhimento de palha? “Fizemos uma análi-
se de viabilidade considerando um cenário
para cogeração de energia elétrica. Neste
cenário, a principais premissas que consi-
deramos é que a usina já tem capacidade
adicional de exportação de energia e não
consideramos investimentos adicionais em
cogeração e sim no sistema de recolhimen-
to de palha, para um módulo de 100 mil t,
com umidade de palha de 15%”, explica.
Fazendo uma conversão para cogera-
ção de 0,75 MWh por tonelada de palha,
com custo final desta palha de R$ 90,00/ to-
nelada, um custo de capital de 11%, e com
preço da energia variando de R$ 150,00 a
350,00 por MWh, se tem o seguinte:
- “Para este cenário, com preço de
energia a partir de R$ 200,00/ MWh já te-
mos indicadores econômicos interessan-
tes que justificariam investimentos em re-
colhimento de palha”;
- “Com preço de energia a R$ 150,00,
também há viabilidade, mas o pay back
não fica tão interessante em função do
investimento”.
Modelo de negócio do CTC
“Agora nosso desafio é multiplicar
essa tecnologia para outras usinas e regi-
ões”, diz D’Ávila. E interesse é o que não
deverá faltar. Já na solenidade de inau-
guração da tecnologia Palha Flex, na Usi-
na Ferrari, executivos de vários grupos
sucroenergéticos marcaram presença e
demonstraram muito interesse na solução.
Segundo Guilherme Leira, gerente
corporativo de tecnologia da BP Biocom-
bustíveis, uma proposta como essa é ex-
tremamente importante para o incremen-
to da geração de energia. “É agregar mais
combustível para produzir mais energia
com a mesma área plantada de cana-de
-açúcar. E com eficiência.”
A BP gera energia nas suas três uni-
dades, mas ainda não aproveita a palha.
Vídeo do sistema Palha Flex – apresentado na solenidade de inauguração da planta
73
De acordo com Leira, a companhia já tem
projeto para implementar o recolhimento
de palha ou a separação da palha nas uni-
dades. Atualmente, das 3 unidades da em-
presa, duas têm potencial instalado de ge-
ração de energia de 40 MW/h cada uma; e
na terceira unidade, o potencial é de apro-
ximadamente 80 MW/h.
A tecnologia Palha Flex é muito posi-
tiva para o setor sucroenergético, na opi-
nião de Gilmar Galon, gerente industrial
na Usina Pitangueiras. “É um projeto bem
‘engenheirado’, estruturado e completo,
que aumenta a viabilidade do aproveita-
mento da palha pela usina.”
Segundo ele, a Pitangueiras recolhe
palha desde o ano passado. “Essa matéria
incrementa muito a geração de energia.
E é muito bem-vinda ao sistema, porque
tem um poder calorífico melhor. A palha
é um verdadeiro ‘Viagra’ para a caldeira”,
compara. O sistema atual da Pitangueiras
recolhe 150 toneladas/dia de palha.
Para oferecer sua tecnologia ao mer-
cado, a proposta comercial do CTC se baseia
na construção de uma parceria estratégica
com um fabricante de equipamentos, com
capacidade de fabricar os principais equipa-
mentos para a planta industrial de proces-
samento de palha. “O CTC e esse parceiro
fariam parceria e conseguiríamos de fato en-
tregar desde a concepção do projeto, tecno-
logia, fabricação e fornecimento de equipa-
mentos. Assim seria possível oferecer todo
pacote de serviços, na modalidade chave na
mão, ou seja, entregar a planta operando ao
cliente. Este é o modelo de comercialização
nos próximos projetos”, relata Viler.
“Hoje já temos algumas parcerias
correntes, mas vamos ter um fornecedor
principal, que será nosso parceiro, mas ain-
da não podemos divulgar. É uma empresa
brasileira, que em breve vamos anunciar”,
conclui Viler.
Para Leira, a Palha Flex permite agregar mais combustível à usina para produzir mais energia com a mesma área plantada de cana-de-açúcar
Galon: “a palha é muito bem-vinda ao sistema, porque tem um poder calorífico melhor. É um verdadeiro ‘Viagra’ para a caldeira”
74 Outubro · 2015
Por Marcel Salmeron Lorenzi
SÃO MUITAS AS VARIÁVEIS QUE CAUSAM FLOCULAÇÃO NO LEVEDO, MAS
A TECNOLOGIA PERMITE CADA VEZ MAIS MINIMIZAR ESSE IMPACTO
Floculação: passado, presente e futuro... O que fazer?
TECNOLOGIA INDUSTRIAL
A fermentação é um processo microbiológico, dinâmico e interativo
Se olharmos para o histórico da fer-
mentação ao longo de muitos anos,
uma coisa é certa. Ocorrência de
Floculação. Desde o grau mais ameno até
condições drásticas que obrigam à substi-
tuição da levedura. Por quê?
75
Para responder a esta pergunta é
preciso primeiro ter o entendimento que
a fermentação é um processo microbioló-
gico, dinâmico e interativo. Dessa manei-
ra, as questões relativas à matéria-prima,
às leveduras e às condições operacionais
impactam diretamente na causa e manu-
tenção da floculação dentro do proces-
so fermentativo. E a solução ou redução
do problema também permeia essas três
interfaces fundamentais da produção do
etanol.
A partir disso, podemos dizer que a
floculação na levedura Saccharomyces ce-
revisiae depende, basicamente, de fatores
genéticos e ambientais.
Os fatores genéticos são responsá-
veis pela expressão e manutenção de uma
determinada característica. No caso des-
tas leveduras, existem genes responsáveis
pela expressão constitutiva e induzida.
Se a expressão for constitutiva a levedu-
ra manterá aquela característica indepen-
dentemente das alterações do meio. Aqui
se enquadra a situação de floculação irre-
versível, característica das leveduras flocu-
lantes em sua essência, formando agrupa-
mento de células (cachos com mais de 50
células) com falhas no desprendimento de
brotos e que não é possível reverter.
Agora, se a expressão gênica da le-
vedura for induzida, o meio poderá inter-
ferir diretamente na capacidade de flocu-
lação das células. Ou seja, são leveduras
com tendência a flocular, mas com carac-
terística reversível, formada pelo agrupa-
mento de células isoladas sem falhas no
desprendimento de brotos. E como o meio
pode interferir? Com a ocorrência de fato-
res estressantes como a falta de fontes de
nitrogênio e de outros minerais, que po-
dem levar à falha no desprendimento dos
brotos, ocasionando a formação de agru-
pamento de células.
Mas, se forem analisados com fre-
quência os diversos casos de floculação
nos processos fermentativos, será veri-
ficado que os fatores ambientais são os
principais responsáveis por originar esse
problema recorrente nas fermentações in-
dustriais. E, dentre os fatores mais impor-
tantes, a contaminação bacteriana na fer-
mentação é, disparada, a maior aliada da
floculação. E por quê?
A contaminação bacteriana nos pro-
cessos industriais é recorrente e nem sem-
pre as medidas de controle são efetivas.
Se forem consideradas as médias de con-
taminação nos clientes Fermentec no vi-
nho de fermentação são observados va-
lores elevados acima de 107 bastonetes/
mL. Como a parede celular bacteriana tem
afinidade pela parede celular da levedura,
explicada pela composição de proteínas,
carboidratos e de cargas atreladas, pode-
se dizer que a bactéria funciona como uma
“cola” para as células, aderindo às paredes
do levedo, formando agrupamentos ce-
lulares (Figura 1) causando floculação no
processo industrial. A Figura 2 mostra uma
76 Outubro · 2015
correlação significativa entre a floculação
e contaminação bacteriana em fermenta-
ções industriais monitoradas em um clien-
te Fermentec na safra 2014/2015.
Além da questão da contaminação
bacteriana, outro fator ambiental impor-
tante na causa de floculação no processo
industrial é o cálcio presente no mosto de
fermentação. Grandes concentrações des-
se elemento também favorecem a ocor-
rência de floculação, visto que sua cons-
tituição e sua carga positiva também tem
afinidade pela parede celular das levedu-
ras, agregando as células do levedo e in-
duzindo a ocorrência de floculação. Avalia-
ções de laboratório revelaram que valores
acima de 500ppm de cálcio no mosto já
podem levar a ocorrência de floculação.
Dentro do âmbito industrial os valores de
referência podem variar em função da di-
nâmica e condições do processo de fer-
TECNOLOGIA INDUSTRIAL
Figura 1. Microscopia eletrônica de varredura mostrando a floculação
causada por bactérias. É nítida a interação
Bactéria-Levedura
Figura 2. Correlação entre floculação e contaminação bacteriana no vinho. Fermentações industriais monitoradas em clientes Fermentec na safra 2014/2015
77
mentação e das particularidades das leve-
duras presentes no meio.
Estudos de biologia molecular têm
demonstrado que tanto a produção de
espuma quanto a floculação estão pos-
sivelmente relacionadas com polimorfis-
mos em genes responsáveis pela síntese
de proteínas extras celulares (Ex: AWA1,
DAN4, FLO) envolvidas com a adesão cé-
lula-célula, formação de biofilme, cresci-
mento invasivo e pseudohifa.
Tudo bem. Floculação é uma
realidade. Por que controlar?
A floculação deve ser controlada ou
solucionada porque impacta diretamen-
te no desempenho da fermentação e nas
condições operacionais do processo in-
dustrial. A levedura floculada acaba se-
dimentando e não se mantem uniforme-
mente distribuída no vinho. Isso acarreta
em dificuldades na fermentação relacio-
nadas com sobra de açúcar residual na
fermentação, maior tempo de fermenta-
ção e entupimento dos bicos de centrifu-
ga dificultando a concentração adequada
(acima de 70%) do levedo.
O impacto sobre a condição opera-
cional das centrífugas agrava ainda mais a
operação da fermentação, pois com a re-
dução da concentração do levedo há uma
maior recirculação de vinho no proces-
so industrial, aumentando o efeito tam-
ponante do meio e o tratamento do leve-
do com ácido, o que pode comprometer a
viabilidade da levedura e interferir ainda
mais no processo industrial. Dessa forma,
ao evitar a queda da viabilidade no tra-
tamento ácido da levedura, o tratamento
comprometido pode impactar em maior
dificuldade no controle das bactérias e
agravar a condição da contaminação na
fermentação. Se a contaminação do meio
fermentativo já estiver elevada (acima de
5 x 106 bastonetes/mL), a situação só fica-
rá cada vez mais grave, pois o processo irá
recircular cada vez mais bactérias. Por fim,
temos um ciclo vicioso e a falta de cuida-
dos adequados só tende a agravar os efei-
tos sistêmicos negativos da floculação.
Mas o que fazer?
O mais importante é identificar “a”
ou “as” possíveis causas e atuar de ma-
neira precisa para minimizar ou elimi-
nar o problema. Existem procedimentos e
metodologias rápidas de diagnóstico de
floculação que podem ser feitos em la-
boratório e que explicam de maneira efe-
tiva as causas da floculação no processo
industrial.
No processo industrial, quando a flo-
culação é do tipo reversível, a diminuição
do pH durante o tratamento ácido promo-
ve a desfloculação do levedo. Essa ação é
importante pois a redução do pH permite
que as interações entre as proteínas e car-
boidratos sejam quebradas. Dessa forma,
as interações da parede celular da levedu-
ra com os compostos do meio fermenta-
78 Outubro · 2015
tivo (como cálcio) e também bactérias fi-
cam fragilizadas e as células da levedura
se soltam, desfazendo os cachos. No caso
de uma contaminação elevada no meio, as
bactérias também ficam mais expostas a
ação do ácido no tratamento. Associado
à diminuição do pH no tratamento, que
deve ser feito com cautela para não pre-
judicar a viabilidade celular das leveduras,
o uso de antimicrobianos na fermentação
para redução da contaminação também é
uma ação muito importante para prevenir
a intensificação da floculação, além de mi-
nimizar as perdas significativas em açúca-
res redutores promovidas pelas bactérias
contaminantes.
Quando a floculação do proces-
so industrial for predominantemente do-
minada por uma floculação irreversível, a
situação é mais drástica. Nesse caso, a flo-
culação se deve à levedura (expressão gê-
nica constitutiva) e nada poderá reverter a
situação. Nesses casos é necessário reali-
zar a troca da levedura, removendo o le-
vedo floculante, limpar tanques e linhas e
introduzir novas leveduras (selecionadas
e/ou personalizadas) para recomeçar as
fermentações.
Entretanto, é muito frequente na in-
dústria uma floculação com causas sinér-
gicas de fatores ambientais e genéticos,
apresentando características reversíveis
(contaminação, cálcio elevado no mos-
to, deficiência de nitrogênio, etc.) e irre-
versíveis (levedura) de maneira combina-
da e simultânea. Essa condição dificulta a
identificação das reais causas, o que torna
o diagnóstico de floculação uma alterna-
tiva fundamental. Além disso, dentro des-
se cenário o monitoramento do processo
por cariotipagem torna-se ainda mais fun-
damental, pois é possível saber quais as
leveduras que estão no processo e qual a
proporção das leveduras potencialmente
floculantes. Nesses casos, o importante é
atuar na desfloculação das leveduras com
floculação reversível e adotar condições
operacionais para trabalhar com as leve-
duras floculantes dentro de limites aceitá-
veis. Os resultados do diagnóstico de flo-
culação são importantes nessa condição
para direcionar as ações com mais chan-
ce de sucesso.
Floculação, então,
é sempre ruim?
Nem sempre. Existem processos de
fermentação que não utilizam centrífugas
para separação do levedo, mas que preci-
sam recicla-lo entre as fermentações. Nes-
sas situações, embora não seja usual den-
tro da indústria da produção de etanol, a
existência de leveduras floculantes é fun-
damental para que as células sedimentem
nos tanques de decantação e seja feita a
separação das fases (vinho e levedo).
O que posso fazer para
prevenir a floculação?
Considerando os grandes volumes e
TECNOLOGIA INDUSTRIAL
79
todas as variáveis que constituem o pro-
cesso de fermentação na indústria, talvez
seja muito difícil chegar a floculação “zero”
ao longo de toda a safra, mas é importan-
te ressaltar que a atuação preventiva atra-
vés do uso de leveduras selecionadas e/
ou personalizadas, uso de mosto com boa
qualidade microbiológica (contaminação
até 102 bastonetes/mL e ausência de leve-
duras) e condições operacionais adequa-
das e controladas no tratamento do levedo
e na condução da fermentação, são pon-
tos importantes para mitigar a ocorrência
de floculação no processo industrial.
*Marcel Salmeron Lorenzi
Fermentec|Coordenador de Pes-
quisas na Indústria
REFERÊNCIASLOPES, M. L. & BASSO, L. C. LEVEDURAS CONTAMINANTES FORMADORAS DE COLÔNIAS RUGOSAS E SUAS IMPLICAÇÕES PARA O PROCESSO DE FERMENTAÇÃO ALCOÓLICA. RELATÓRIO ANUAL DE PESQUISAS FERMENTEC, 1998.LOPES, M.; PAULILLO, S. C. L.; ONGARELLI, M. G.; BASSO, L. C. & AMORIM, H. V. BACTÉRIAS, TEOR ELEVADO DE CÁLCIO NO MOSTO E LEVEDURAS FLOCULANTES, UMA COMBINAÇÃO PERIGOSA. RELATÓRIO ANUAL DE PESQUISAS FERMENTEC, 2001.FIGUEIREDO, C. & STAMBUK, B. HIDROFOBICIDADE DA PAREDE CELULAR E SUA RELAÇÃO COM A FLOCULAÇÃO E FORMAÇÃO DE ESPUMA POR LEVEDURAS ISOLADAS DE PROCESSOS INDUSTRIAIS DE PRODUÇÃO DE ETANOL. RELATÓRIO ANUAL DE PESQUISAS FERMENTEC, 2007.
80 Outubro · 2015
ECONOMIA
Os títulos de dívida atrelados ao dólar americano para empresas exportadoras
ACREDITA-SE QUE MAIS DE 50% DAS DÍVIDAS DO SETOR
BIOENERGÉTICO CANAVIEIRO SEJAM DENOMINADAS EM DÓLAR
81
Marcos Tulio Bullio, MBF Agribusiness
Muitas empresas exportado-
ras, das quais fazem parte uma
grande parcela das empresas do
setor bioenergético canavieiro, emitiram
títulos de dívida denominados em dólar,
supondo que, por serem exportadoras, es-
tavam protegidas da valorização da moe-
da americana frente ao real.
No entanto, aquela hipótese de pro-
teção natural não tem sido verificada na
prática. Os últimos eventos econômicos
de desvalorização do real frente ao dólar
americano e de forte baixa dos preços do
açúcar no mercado internacional desmon-
taram aquela crença.
As empresas exportadoras brasilei-
ras, regra geral, produzem commodities,
cujos preços são ditados pelo mercado in-
ternacional e tomados pelas empresas. As-
sim, o valor em dólares, que será realizado
pelas exportações, depende sempre desse
mercado. Ainda que, no final das contas,
a receita em reais aumente, o que se tem
notado é uma diminuição da receita em
dólar. E a suposta proteção fica bastante
prejudicada, senão anulada. Será necessá-
rio um volume muito maior de produtos
para amortizar a dívida e pagar os encar-
gos financeiros.
A empresa que emitiu títulos de dí-
vida denominados em dólar quando a co-
tação do açúcar estava em US$ 0,15 / libra
-peso, por exemplo, necessitava de 3.024
gramas para amortizar cada dólar da dívi-
da. Com o açúcar a US$ 0,12 / libra-peso,
necessita de 3.778 gramas para amortizar o
mesmo dólar da dívida. Ou seja, 25% a mais
de produtos. Esse é um crescimento real da
dívida. As despesas financeiras aumentarão
na mesma razão da dívida. Ou seja, tam-
bém exigirão mais produtos para serem li-
quidadas. O que se observa, no final, é um
crescimento real da dívida e de seu custo.
A conclusão é que não há proteção natural
para dívidas denominadas em dólar oriun-
das de exportação de commodities.
Dívida em dólares
Acredita-se que mais de 50% das dí-
vidas do setor bioenergético canavieiro
sejam denominadas em dólar. E a desvalo-
rização cambial faz crescer essa parcela e
coloca ainda mais pressão sobre a gestão
financeira das empresas do setor.
Para empresas exportadoras, gerar
um nível elevado de alavancagem finan-
ceira em dívidas atreladas ao dólar signi-
fica, aproximadamente, o mesmo que es-
pecular com derivativos cambiais. Ou seja,
pode levar ao mesmo efeito: insolvência.
Vale lembrar aqui os casos da Aracruz Ce-
lulose e da Sadia, que durante muito tem-
po especularam no mercado futuro da mo-
eda americana e, com o aprofundamento
da crise financeira internacional e a con-
sequente valorização do dólar no segun-
82 Outubro · 2015
É preciso mais gramas de açúcar para amortizar o mesmo dólar da dívida
do semestre de 2008, registraram perdas
financeiras irrecuperáveis. Ou seja, eram
empresas exportadoras que assumiram
contratos denominados em dólar e, no fi-
nal, percebeu-se que estavam desprotegi-
das do risco cambial.
Ou seja, tanto as empresas que emi-
tiram títulos de dívida denominados em
dólar como aquelas que realizaram ope-
rações com derivativos cambiais, no fi-
nal das contas estão se comprometendo
com o mesmo: entregar determinado vo-
lume de dólares aos credores ou investi-
dores. E o fim pode ser exatamente o mes-
mo para ambos os grupos de empresas.
Infelizmente.
ECONOMIA
83
84 Outubro · 2015
SUSTENTABILIDADE
50% menos acidentesnas estradas
UNIDADE BONFIM, DA RAÍZEN, É A PRIMEIRA USINA BRASILEIRA A
CONTAR COM UM SIMULADOR DE CAMINHÃO CANAVIEIRO. O OBJETIVO
É APRIMORAR A QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL DE SEUS MOTORISTAS
Texto: Leonardo Ruiz Fotos: Arquivo CanaOnline
O uso de simuladores para capa-
citação de pessoas é cada vez
mais comum no Brasil. Na avia-
ção, eles já são utilizados há anos, com o
objetivo de obter crédito de horas de trei-
namento em voo. A Agência Nacional de
Aviação Civil (ANAC) afirma que somen-
te nestes equipamentos é possível trei-
nar determinadas situações de pane em
voo com grande realismo, sem risco à vida
85
Simulador da Raízen está montado em uma cabine
real de um Mercedes-Benz modelo Axor, mesmo
caminhão utilizado em toda a frota do Grupo
dos profissionais. Além disso, a tecnologia
proporciona, ainda, economia de combus-
tível, o que influi diretamente no custo do
treinamento e no impacto ambiental.
Esse mesmo conceito será levado, a
partir de 2016, para aqueles que desejam
obter sua Carteira Nacional de Habilitação
(CNH). Ocorre que o Conselho Nacional
de Trânsito (Contran) publicou uma Reso-
lução que torna obrigatório o uso dos si-
muladores em todos os Estados brasileiros
a partir de 31 de dezembro deste ano. Os
aspirantes a motoristas deverão concluir
cinco horas/aula em um simulador, sendo
que pelo menos uma dessas horas/aula
terá de recriar um conteúdo noturno. Essa
etapa deverá ser concluída depois do cur-
so teórico e antes das aulas práticas. Ini-
cialmente, a exigência vale para quem qui-
ser ser habilitado na categoria B (carros de
passeio padrão). Posteriormente, também
terão que fazer aulas nos simuladores can-
didatos a habilitações de veículos comer-
ciais, como caminhões, ônibus e motos.
Uso de simuladores no
setor sucroenergético
No setor sucroenergético, a tecno-
logia começou a ser utilizada há poucos
anos, através do uso de simuladores de
colhedoras de cana. Essa nova forma de
capacitação foi essencial para que a pro-
dutividade dos canaviais não fosse preju-
dicada quando à mecanização da colhei-
ta de cana crua, que foi intensificada no
Estado de São Paulo devido à assinatura
do Protocolo Agroambiental. Ocorre que,
sem os simuladores, o processo de apren-
dizado de operadores de colhedoras pode
demandar altos custos para as usinas, pois
acidentes, quebras de equipamentos, pi-
soteio de soqueiras, entre outros proble-
mas, são comuns durante o treinamento.
Além disso, as empresas lidam com gas-
tos desnecessários, como perda de com-
bustível e rendimento, pois, muitas vezes,
o processo de colheita com uma colhedo-
86 Outubro · 2015
ra é parado para que o novo colaborador
possa aprender. Com o simulador, esses
problemas são praticamente sanados.
Esse novo conceito em capacitação
também fez as usinas perceberem que a
formação de profissionais está diretamen-
te ligada ao aumento de produtividade,
pois não adianta contar com equipamen-
tos de última geração e não possuir cola-
boradores que saibam tirar o máximo des-
sas máquinas. Uma das empresas que já
percebeu essa importância é a Raízen. O
diretor de Recursos Humanos (RH) para
o segmento de Energia, Açúcar e Etanol
da Companhia, Luís Carlos Veguin, afirma
que, somente no ano passado, foram in-
vestidos cerca de R$ 7 milhões em capaci-
tação. Ao todo, cerca de sete mil colabo-
radores, de diversas áreas, passaram por
treinamentos em 2014. A expectativa para
esse ano é ainda maior, já que, até setem-
bro, o número de capacitações já passou a
marca dos oito mil.
E mesmo o atual momento de difi-
culdades em que o setor se encontra não
atrapalhou a formação dos colaborares.
Segundo Veguin, a Raízen procura manter,
todos os anos, os mesmos níveis de inves-
timentos em formação. “O que precisamos
nos dias de hoje é de produtividade, que
só virá com a adoção de tecnologias ou
com profissionais mais bem preparados.”
50% menos acidentes
E uma das áreas em que a Raízen
tem investido grandemente na formação e
capacitação dos colaboradores é a logísti-
ca. No Polo Araraquara, por exemplo, que
congrega cinco usinas do Grupo (Bonfim,
Araraquara, Tamoio, Serra e Junqueira), a
Companhia adotou o Projeto “Rota da Ex-
celência”, a fim de aperfeiçoar e qualificar
o trabalho dos motoristas. Veguin explica
que, devido ao grande volume de trans-
porte desse Polo, a segurança se tornou
um dos principais pontos de preocupa-
ção. “Este é o segundo ano em que toda a
área de transporte do Polo Araraquara foi
internalizada, ou seja, não utilizamos ter-
ceirizados. Dessa forma, nos últimos anos,
iniciamos um longo trabalho que visa a
SUSTENTABILIDADE
Luís Carlos Veguin: “A capacitação do trabalhador ganha em segurança e qualificação de operação”
87
capacitação, formação e qualificação des-
ses trabalhadores.”
E a grande novidade dessa área en-
trou em funcionamento na Usina Bonfim,
localizada no município de Guariba, SP, no
último dia 28 de julho. Trata-se do primei-
ro simulador de Caminhão Canavieiro da
Companhia. O equipamento, pioneiro no
país para simulação das operações de um
caminhão de cana-de-açúcar, já capacitou,
até o momento, 620 motoristas do Polo
Araraquara.
Para a realização do projeto, a em-
presa contou com a parceria da Institui-
ção FABET - Fundação Adolpho Bósio de
Educação no Transporte, criada pelo SE-
TCOM, que atua na capacitação de mo-
toristas. Com relação aos investimentos,
estimasse que, somente no simulador, fo-
ram gastos cerca de R$ 320 mil. Porém, os
benefícios registrados até o momento já
mostraram a importância da adoção dessa
tecnologia. “Em pouco mais de dois me-
ses com o uso do simulador, foi possível
notar que incidentes envolvendo os cami-
nhões canavieiros caíram em 50% em re-
lação ao mesmo período do ano passado.
Além disso, casos envolvendo mortes se-
quer foram registrados”, afirma Veguin.
Para o Diretor de RH, esses dados
provam que, com o simulador, a capaci-
tação do trabalhador ganha em seguran-
ça e qualificação de operação, pois ele
treina os motoristas em sala, da maneira
mais realista possível, para que eles não
tenham dúvidas dos procedimentos que
devem adotar em cada situação, seja ela
rotineira ou excepcional. “Além de possi-
bilitar um treinamento personalizado, o si-
mulador de caminhão canavieiro garante
O projeto abre, ainda, a possibilidade de promoção para a função de instrutor aos motoristas canavieiros
88 Outubro · 2015
a segurança de praticar em off-road traje-
tos do dia a dia do profissional nos mais
variados cenários, com climas e terrenos
diferentes.”
Cortando os vícios
O diretor de RH da Raízen, Luís Car-
los Veguin, conta que, assim como todas
as pessoas que aprendem a dirigir um car-
ro com o pai ou amigo, os motoristas de
caminhão que não obtiveram um ensino
correto desde o começo também adqui-
rem certos vícios. “No simulador, é possí-
vel aprender da maneira correta. Porém,
caso já venha com algum costume de ou-
tra empresa, o instrutor, ou a própria má-
quina, conseguem identificar a falha e tra-
balhar para removê-la.”
Mas não são apenas os novos moto-
ristas que passam pela tecnologia. Aque-
les antigos de casa também precisar co-
brir sua cota. Na próxima entressafra, por
exemplo, 100% do quadro de motoris-
tas da Raízen voltarão para a sala de aula
para reciclagem e reforço do treinamento.
“Além disso, caso haja algum tipo de aci-
dente na estrada durante o período de sa-
fra, esse motorista volta, imediatamente,
para o simulador, a fim de treinar o movi-
mento que levou ao incidente. Ele só vol-
tará para a ativa quando tiver repetido
aquela situação dezenas de vezes, obten-
do 100% de eficiência.”
O projeto abre, ainda, a possibilida-
de de promoção para a função de instrutor
aos motoristas canavieiros. Estes profissio-
nais auxiliam nos treinamentos em sala de
aula, no monitoramento diário e fazem a
operação assistida de todos os participan-
tes em sua rotina de trabalho. “A operação
SUSTENTABILIDADE
Durante as entressafras, todos os motoristas da Raízen voltam para a sala de aula, para reciclagem e reforço do treinamento
89
assistida e o monitoramento permitem
ter um diagnóstico quanto à “dirigibilida-
de” de cada um, e a partir daí são traçados
treinamentos individualizados para o mo-
torista em questão, focando em manobras
repetitivas e na correção de eventuais fa-
lhas”, afirma o diretor de Recursos Huma-
nos da Raízen.
Simulador de ponta
O simulador da Raízen está mon-
tando em uma cabine real de um Mer-
cedes-Benz modelo Axor, mesmo cami-
nhão utilizado em toda a frota do Grupo.
O equipamento é ligado a um moderno
programa de computador desenvolvido
pela Simbra - Simuladores Brasil. O dire-
tor de RH da Raízen afirma que a simila-
ridade, tanto da máquina quanto da si-
mulação em si, é a principal vantagem do
simulador, que não pode ser visto como
um videogame, mas como um equipa-
mento verdadeiro. “Na vida real, se o mo-
torista se depara com uma curva fechada,
como ele irá proceder? Qual a velocida-
de ele deve estar? Qual marcha deve usar?
Caso ele faça a escolha errada, o resulta-
do pode ser um grave acidente. Dessa for-
ma, devido ao alto grau de semelhança da
tecnologia, o trabalhador poderá realizar
Todos os movimentos no simulador são monitorados, em tempo real, por um técnico que se encontra do lado de fora do caminhão
90 Outubro · 2015
essa curva dezenas de vezes no simulador
e com total segurança”, explica Veguin.
Outro ponto alto da tecnologia é o
fato de ela poder simular todas as pos-
sibilidades que o motorista poderá en-
contrar na rodovia, como chuva, granizo,
neve, neblina, direção noturna, tráfego in-
tenso, acidentes, falhas mecânicas e, até
mesmo, fechadas de outros veículos. Esses
efeitos na simulação são inseridos por um
técnico que se encontra do lado de fora
do caminhão, que também consegue ana-
lisar, em tempo real, cada movimento fei-
to pelo operador dentro da cabine. “En-
quanto o motorista passa pelo simulador,
um monitor acompanha todo seu treina-
mento, passando informações e apontan-
do cada falha, como se ele pisou no acele-
rador até o fundo ou freou bruscamente.”
No futuro, o simulador deve ficar
ainda mais realista, já que a intenção da
Raízen é adaptar a simulação aos ambien-
tes reais encontrados nas estradas do Polo
Araraquara. “Em alguns pontos das estra-
das da região costumam ter acidentes.
Dessa forma, queremos trazer esse trecho
para o equipamento. Até mesmo a entra-
da de alguma Usina, considerada de difí-
cil acesso, poderá ser recriada”, relata o di-
retor de RH. O objetivo da Companhia é
SUSTENTABILIDADE
No equipamento é possível simular todas as possibilidades que o motorista poderá encontrar na rodovia
91
que, ainda no próximo ano, mais seis si-
mulares sejam instalados, sendo um para
cada regional do Grupo. O investimento
será na casa dos R$ 2 milhões.
Tecnologia aprovada
O motorista Rodrigo Valdeir da Sil-
va, natural de Guariba, SP, se tornou um
colaborador da Raízen no início dessa sa-
fra. Motorista de caminhão há sete anos,
ele conta que o processo de treinamento
no simulador foi válido, pois muitos erros
que ele não sabia que possuía foram iden-
tificados e trabalhados. “Eu tinha mania de
andar com uma mão no volante e a outra
na marcha. O monitor viu e conseguiu me
corrigir.” Além disso, Silva conta que, em
todos os dias que vai para o simulador, ele
encontra um cenário diferente. “Uma vez é
chuva, outra é neblina. Assim, consigo vi-
venciar tudo o que encontrei dirigindo nas
estradas.” E, na próxima entressafra, já está
agendada uma nova carga de treinamen-
tos no Simulador. “Acho muito importan-
te voltar, pois assim não fico muito tempo
sem pegar no caminhão.”
“Com o simulador, muitos erros que ele não sabia que possuía foram identificados e trabalhados”, diz O motorista Rodrigo Valdeir da Silva
Vídeo
Recommended