Se alguem te ferir a face direita

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"Se alguém te ferir a face

direita"O Evangelho Segundo o Espiritismo

Capítulo XIIItens 7 a 9

“Vós tendes ouvido o que se disse: Olho por olho e dente por dente. Eu, porém, digo-vos, que não resistais ao mal; mas se alguém vos ferir na face direita, oferecei-lhe também a outra;...”

“... e ao que vos quer demandar em juízo, e vos tirar a túnica, largai-lhe também a capa; e se alguém vos obrigar a andar mil passos com ele, ide mais outros dois mil. Dai a quem vos pede, e não volteis as costas ao que deseja que lhe empresteis.” (Mateus, 5:38 a 42)

O que significa oferecer a outra face?

Não resistir ao mal, significa não investir contra ele, no esforço de combatê-lo, com a mesma vibração, revidando da mesma maneira ou com mais violência,...

... mas vencê-lo de forma pacífica, demonstrando não acolhê-lo em si.

A grande maioria dos homens, ainda hoje, mesmo os que pretendem serem discípulos de Jesus, que o amam, têm grande dificuldade em aceitar essa postura moral,...

... tão impregnada ainda está neles, a ideia do ponto de honra, fruto do orgulho, do egoísmo e do exagerado personalismo.

Por isso mesmo, aquele que busca colocar aos valores espirituais acima dos valores materiais, sabe ser muito mais difícil, pela sua imperfeição moral, exigindo muito mais coragem, suportar um insulto ao invés de revidá-lo.

Quem consegue enxergar a imortalidade do Espírito, na sua trajetória evolutiva, através das reencarnações, tem melhores condições de entender esses preceitos de Jesus, ...

... porque percebe as consequências do revide, da vingança, que perpetuam o mal nos homens e na Terra.

Jesus é o maior exemplo da coragem do não revidar, não só na prisão e na crucificação, como durante sua vida.

Certo que não se pode tomar ao pé da letra “mas se alguém vos ferir na face direita, oferecei-lhe também a outra”, visto que isso condenaria qualquer repressão deixando o campo livre para os que se comprazem no mal, em prejuízo dos que desejam o bem.

Não, o mal deve ser combatido, quem prejudica o outro deve receber a pena correspondente, a fim de reeducar-se, confinados em locais de ajuda, de estudo, de trabalho, o que ainda se está longe de ser praticado na Terra.

O próprio instinto de conservação e de sobrevivência leva a homem a defender-se das agressões.

Jesus não condenou a defesa, mas sim a vingança, que iguala ou rebaixa a condição espiritual da vítima ao agressor.

Oferecer a outra face significa não revidar, não exaltar a ofensa, dando-lhe uma importância que ela não tem, recebendo-a com humildade, ...

... porque, ou ela reflete uma verdade, e então, não é ofensa para ser um aviso benéfico,...

... ou é imerecida, sendo uma inverdade, devendo ser desprezada.

A lei da evolução, por si só, nos mostra que é preferível ser ferido do que ferir, ser ofendido do que ofender, ser enganado do que enganar, suportar uma injustiça do que ser injusto, ser arruinado do que arruinar, ...

... porque, então está-se preparando um futuro melhor, sem dívidas a pagar, com méritos a receber e mais tranquilidade interior.

Por isso, “a fé na vida futura e na justiça de Deus, que jamais deixa o mal impune, é a única que nos pode dar a força de suportar, pacientemente, os atentados aos nossos interesses e ao nosso amor-próprio....

... Eis por que vos dizemos, incessantemente: voltai os vossos olhos para o futuro; quanto mais vos elevardes, pelo pensamento, acima do material, menos sereis feridos pelas coisas da Terra.”

Essa certeza faz com que os acontecimentos e situações desagradáveis ou de dores sejam entendidos como obstáculos a serem vencidos, oportunidades de prática dos ensinos de Jesus,...

... e ao invés de provocar desesperos ou revolta, provocam sentimentos doces e suaves de humildade, de resignação, de libertação de imperfeições e a pessoa se sente mais próxima de Deus, da paz e da felicidade.

Assim devem ser vistas as agressões de alguém que se desequilibrou, talvez com alguma atitude infeliz de nossa parte, em um presente ou em um passado próximo ou remoto.

Quem assim analisa, é capaz de perdoar ou até nem sentir-se ofendido, sentindo piedade pelo ofensor, que passará a receber, no mínimo, suas preces a seu favor.

Joanna de Angelis

Em sua obra "Jesus e o Evangelho", no capítulo sobre a vingança, Joanna nos esclarece para não resistirmos ao mal que nos queiram fazer.

Oferecer a outra face significa não se colocar na posição de vítima, pois isso representa uma "patologia do Ego insubordinado" que não aceita a dor como crescimento e acredita-se como injustiçado diante das circunstâncias.

Apresentar a outra face é não vingar-se, não retribuir o mal com o mal, salvaguardando o direito de defesa, desde que defender-se não se confunda com revanche.

Nos dias atuais, torna-se trabalhoso resistir às provocações alheias, tendo em vista o cultivo crescente de nossa personalidade e fatalmente de nosso orgulho.

Somos assaltados diariamente com sugestões de falsa superioridade e ilusória vaidade que nos cegam o discernimento.

Daí, nutrimos fantasias de privilegio, considerando-nos melhores do que os nossos semelhantes, exaltados pelo excesso de amor próprio. Façamos um autoexame e busquemos nosso real valor.

Este valor depende da conscientização de que somos criaturas divinas marcadas pela necessidade de progresso.

Com isso, muitas vezes, os golpes desferidos pelos nossos irmãos de jornada são sinalizadores da necessidade de mudança interior, de nossa reformulação de posturas e atitudes.

Para isso, é preciso estarmos dispostos a assumir a crítica externa, de que não reagir seria sinal de covardia.

Jesus nos disse que o reino dos céus, ou seja, a paz de consciência, é dos mansos e pacíficos. A mansuetude pressupõe passividade e é essa confusão que faz com que acreditemos que "oferecer a outra face" significa covardia.

Como seguidores do Cristo, Joanna nos diz que nossa tarefa atual está em realizar a maior soma de bem possível, em apaziguar discórdias, em sermos àqueles trabalhadores lúcidos da mensagem do mestre.

É preciso nos habituarmos as palavras doces, aos gestos nobres, a leveza dos sentimentos sublimes, reconstruindo assim nossa natureza real - a natureza divina.

A opção pelo jugo leve e pelo amor do Cristo nos é lícita e necessária, como o único meio de permanecermos nos estado real de dignificação pessoal e coletiva.

Reflexão final

Muita paz!