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Alvo Potter e o Caçador de Destinos

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Esta obra não me pertence. Apenas estou trazendo a Obra para que ela se torne famosa. Site Oficial: http://alvopottervgcardoso.blogspot.com.br/ Capítulos Online: http://alvopottervgcardoso.blogspot.com.br/p/capitulos.html

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Alvo Pottere o Caçador de Destinos

Por V. G. Cardoso, baseado no universo e personagens de J. K. Rowling

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Porque a magia ainda não terminou, porque ainda há histórias a serem narradas, porque o gosto pela leitura de Harry Potter ainda

aflora a pele e porque uma legião de pessoas não pode ficar sozinha sem o bruxo que elas mais adoram.

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Dezenove anos se passaram desde a batalha que silenciara o inimigo número um da comunidade bruxa. Deste período os bruxos espalhados pelo mundo podem se gabar de uma

sociedade de aparente paz e calmaria.

Uma nova geração de bruxos e bruxas começa a surgir. Aprendendo feitiços e predições, e em meio a esta está o

filho do renomado Harry Potter. Alvo Potter, junto com sua prima Rosa Weasley e com seu esquivo melhor amigo, Escórpio Malfoy (isso mesmo Escórpio Malfoy) devera

embarcar em sua primeira aventura contra um conhecido vilão que tenta com toda sua genialidade e potencial espalhar o caos e trazer de volta a vida o impiedoso e

nefasto Lorde Voldemort.

Sumário

Um: A Rua dos EncanadoresDois: A Decisão do Chapéu Seletor

Três: Encontro de ProfessoresQuatro: O Memorial de Hogwarts

Cinco: McNaught e SilvanoSeis: O Sentimento que Ainda Habita a Sonserina

Sete: O Artesão EsquecidoOito: O Conto do Bruxo Linguarudo

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Nove: Sonserina vs. Lufa-LufaDez: O Segredo de McNaught

Onze: Férias em HogwartsDoze: As Investigações de Rosa

Treze: O Amigo das CorujasCatorze: O Exulto da Cobra

Quinze: Plano FalívelDezesseis: Segredos Descobertos

Dezessete: A Jogada de Furius e a Vingança de Mylor Dezoito: O Caçador de Destinos

Dezenove: O Fim da Sociedade da SerpenteVinte: O Presente do Velho Weasley

Capítulo UmA Rua dos Encanadores

muitos quilômetros longe da sede do governo trouxa e do Ministério da Magia, a mesma névoa que afligia os londrinos que vagavam pelas ruas semi-escurecidas também comprimia as

janelas e cacos de vidros das habitações abandonadas que se estendiam por toda a Rua dos Encanadores.

AMesmo sendo fim de tarde a escuridão já vagava pelas cidades de todo

o país, inclusive aquela, que mergulhava em um depressivo e sombrio silêncio cortado apenas pelo som das águas do rio onde peixes e pequenas formas de vida carregavam quilos de poluição e elementos tóxicos. Todas as habitações ao seu redor não demonstravam a existência de nenhum morador atual, mesmo que há anos atrás várias pessoas já houvessem constituído famílias inteiras naquelas paredes.

Na calçada irregular pilhas e pilhas de lixo e caixas de papelão se amontoavam a cada metro quadrado, onde famílias inteiras de ratos e ratazanas procriavam e se alimentavam a todo instante. Dentro de outra

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caixa de papelão uma pequena matilha esquelética se abrigava inconfortavelmente da chuva.

Vindo do extremo sul da Rua dos Encanadores, sem demonstrar nenhum tipo de aborrecimento com relação ao mau tempo e ao frio, um jovem homem bem trajado se desviava das muralhas de lixo. Seu sapato; bem lustrado; parecia saber exatamente onde pisar, desviando completamente dos “excrementos” deixados pelos animais.

A Rua dos Encanadores não era o primeiro local que Malcolm Baddock desejava visitar após um longo dia de trabalhos no Departamento de Transportes Mágicos. Mas ele havia se comprometido com seus “companheiros” a nunca ignorar o chamado e se encontrar na sede da sociedade que ele se filiou poucos meses antes de ter sido aprovado no exame de aparatação e de ter ingressado no Ministério. Claro, não era um local agradável, mas a sede de uma organização secreta não poderia ser em qualquer lugar próximo ao Caldeirão Furado, deveria ser um local que chamasse pouca atenção, mesmo estando camuflado por um mísero Feitiço Fidelius.

Quando Baddock passou perto do papelão junto à matilha, os cãezinhos que moravam ali latiram tentando afugentar a má aura que rodeava o bruxo. Eram apenas cães, mas que podiam sentir muitos cheiros além dos que um humano sentia entre eles o cheiro de magia.

– Calem-se! – resmungou Baddock chutando a caixa de papelão e arremessando os cães alguns centímetros para perto do rio poluído. Ele sacou a varinha e a apontou para os cães, fazendo com que faíscas azuis brotassem da varinha e ricocheteassem contra o chão, dispersando os animais de perto do terreno abandonado. – Finalmente cheguei. Ah cara! Com certeza estou atrasado. O Sr Yaxley não vai gostar nada disso. “Sem atrasos nas próximas reuniões, ou pode custar caro para você.”

Baddock se adiantou e retirou do bolso do smoking um pedaço úmido e surrado de pergaminho. Não havia nada escrito nele, mas ele sabia que aquilo servia como uma chave, que desativaria temporariamente o efeito do Feitiço Fidelius, e que o possibilitaria de chegar à sede.

Ele fitou o pedaço de pergaminho e pousou a ponta da varinha sobre esse.

“Aparecium” murmurou, fazendo com que pequenas palavras escritas a mão surgissem meio desbotadas e fora de foco, contudo Baddock conseguia distingui-las e assim lê-las.

A Sociedade da Serpente. Sede localizada na Rua dos Encanadores, número quinze, Londres.

O chão começou a tremer, mas não um tremor como de um terremoto colossal, apenas como se uma banda de música soasse seu mais novo sucesso tendo várias caixas de som espalhadas pelos cantos, todas no último volume e tendo uma legião de fãs histéricos cantando e pulando. As caixas de papelão tombavam para os lados e as pilhas de lixo se desmoronavam, fazendo com que ratos e ratazanas fugissem para algum

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lugar seguro e assim, passando por entre os sapatos de Baddock. Esses já não pisavam mais na calçada irregular e sim em um luxuoso caminho de mármore negro que se estendia dos pés de Baddock até as escadas de uma casa.

Exatamente, uma casa havia se erguido de debaixo da terra até atingir a altura de dois... três... quatro andares. A casa não era muito grande em largura, mas era bastante comprida. Era mais alta que suas vizinhas, as de número catorze e dezesseis. Duas gárgulas foram esculpidas em cada extremidade da casa. Seus olhos brilhantes fitavam a Rua dos Encanadores de maneira sombria e colossal. O gramado estava milimetricamente aparado por igual, tendo cada centímetro de grama minuciosamente o mesmo tamanho e a mesma distância um do outro. Baddock engoliu em seco e se aproximou cuidadosamente da porta de latão revestida com tinta escura e protegida magicamente com todos os feitiços de proteção que um duende esquisito e cleptomaníaco conseguiram conjurar. Não foi nenhuma surpresa para Baddock ver um crânio esculpido no centro da porta. Era uma maneira eficaz de dizer para os vizinhos “Dê o fora!” Não que esses o conseguissem ver, mas também era um modo de proteger a sede da Sociedade da Serpente.

Baddock se aproximou da entrada e esperou que a sentinela encantada se pronunciasse, e ela o fez. A cobra encantada que também fora esculpida na porta ao redor da cabeça do crânio, começou a se remexer e se enroscar envolta da figura de latão presa na porta.

– Quem pede passsagem? – soou a voz fina e sinistra que Baddock imaginou vir da cobra sentinela. – Amigo, ou inimigo? Membro, ou intruso?

– Malcolm Baddock.– Tem o anel de passsagem? Ssse o tiver, coloque na fechadura correta

e pode passsar.Malcolm retirou do mesmo bolso que guardava o pergaminho, um anel

prateado do tamanho de um galeão. Ele tinha duas iniciais gravadas “SS”, que representavam as iniciais da sociedade, mas que para despistar os enxeridos e curiosos, os membros da Sociedade da Serpente apenas alegavam ser uma homenagem ao famoso Salazar Slytherin.

Baddock estudou cuidadosamente as fechaduras da porta. Não era apenas uma, como das portas convencionais, mas sim cinco. Uma engenhosa maneira de retardar os invasores, inventada pelo mesmo duende cleptomaníaco. Mas para aqueles que já a conheciam era apenas mais um pretexto para se chegar atrasado. Eram cinco fechaduras, sendo que apenas quatro estavam totalmente amostras, a quinta estava escondida dentro da boca do crânio empalhado, não era a coisa mais agradável a se fazer, mas era o único meio de se entrar na sede. Os outros fariam com que uma complicada série de maldições e azarações recaíssem sobre a pobre vítima, o que não era o caso de Baddock.

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O bruxo pressionou seu anel prateado contra a fechadura oculta por entre os dentes brilhantes e prateado do crânio e esperou que as engrenagens e trancas se abrissem possibilitando sua passagem.

– Ssseja bem vindo, Sssr. Baddock – ecoou o chacoalhar da cobra.A porta finalmente se abriu revelando um estreito vestíbulo que se

ligava a três corredores. Por muito tempo aquela propriedade permaneceu desocupada e desmobiliada, mas agora servia para mais que apenas a sede da Sociedade da Serpente, era à base de operações do grupo e servia também de moradia para aqueles que não podiam se expor demais na sociedade ou que nasceram em outros países.

Quando Baddock deixou o vestíbulo empoeirado desejoso a chegar o mais rápido possível a sala de reuniões, ele se deparou com uma sala de estar bastante movimentada. Alguns bruxos mal vestidos, com trapos envoltos no corpo, com cheiro de cerveja e pizza, jogavam cartas ao redor de uma mesa de armar. Outro grupo de bruxos, esses um pouco mais bem vestidos e aparentemente apreciadores de uma boa higiene, desenhava mapas e rabiscava anotações em rolos de pergaminhos estendidos por entre a sala mal iluminada.

A maioria daqueles homens eram os novatos da Sociedade da Serpente, homens e mulheres que acabaram de se alistar para o grupo e que não tinham muita voz dentro da organização. Baddock sabia o que era estar naquele lado, não era nada aconchegante ter de dividir o quarto com dois ou mais colegas que podem vir a te trair no dia seguinte por uma vaga como conselheiro. E Baddock havia se alistado durante os tempos mais sombrios para as organizações contra os interesses ministeriais. A Sociedade da Serpente nasceu cinco anos após a Batalha de Hogwarts, no ápice da carreira de ministro de Kingsley Shacklebolt, e no mesmo de Harry Potter como Chefe do Quartel-General dos Aurores. Não era a melhor ora para se começar um clube secreto revolucionário.

– Noite, Malcolm – disse uma voz tristonha e infeliz às costas de Baddock.

– Como vai, Bruno? – grunhiu Baddock, parando próximo ao arco de dava para as escadas que interligavam toda a casa. – Com foi sua missão em Liverpool?

– Um fracasso. Nunca acreditei que poderíamos achar alguma coisa no museu dos Beatles. Um fracasso... Mas por que vocês cismam em me chamar pelo primeiro nome? Todos na minha família, todos os grandiosos, sempre foram chamados pelo sobrenome: Avery.

– Talvez por que você não seja um grandioso – retrucou Baddock um tanto gozador, mas sabendo que aquilo tocaria Bruno Avery.

Bruno era o típico bruxo que desde que nascera fora envolto pela sombra do nome que carregava: Avery. Bruno é sobrinho do Comensal da Morte que assim como ele carregava o nome Avery, o pai de bruno Gastão, também era um seguidor do Lorde das Trevas, mas diferente do meio irmão mais novo, não era tão forte e não servia de grandes

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interesses para o Lorde das Trevas. Bruno entrou para Hogwarts no mesmo ano da queda definitiva do Lorde Voldemort, tendo a escola como um segundo lar, Bruno tentou se mostrar um garoto malvado e detentor de um nome de assassinos, mas o máximo que conseguiu foi ser tachado como palhaço bobalhão.

Naquela noite Bruno se mostrava muito magro, o que não era diferente por entre a maioria dos novatos, seus cabelos longos escorriam por seu rosto sujo e feio. Ele vestia um bermudão que pertencera a um antigo membro muito mais gordo que Bruno, o que obrigava a ele dobrar várias vezes as bainha e mesmo assim continuar a parecer que usava uma calça comprida. Seu abdômen magricela estava oculto por uma camisa sem mangas bastante suja e surrada. Era assim que a maioria dos novatos se vestia como mendigos imundos, mas caso conseguissem se promover a membros honorários poderia melhorar de vida e muito possivelmente sair daquele chiqueiro. Contudo Baddock gostava de Bruno Avery. Acreditava que ele poderia ser um bom membro honorário, pois já o conhecia desde Hogwarts, o garotinho travesso que suspendia os inimigos no ar e mergulhava suas calças em bombas de bosta, mas que era muito fiel junto a seus companheiros.

– E quanto à reunião? – perguntou Baddock interessado, colocando a mão sobre o ombro de Bruno e o convidando a um passeio até o quarto andar onde ficava a sala que Baddock ansiava chegar. – Alguém importante já chegou?

– Apenas o ranzinza do Plochos, o Acrusto Underwood e Serena Tyranicus, se você pode chamá-los de importante.

– É o melhor lixo entre o emaranhado de porcarias do Ministério – riu Baddock ao chegar ao segundo andar que servia como refeitório para os membros da sociedade. Várias mesas foram espalhadas rentes as paredes que entrevam por entre corredores, quartos e saletas, tomando todo o andar. – Plochos é nosso informante de dentro do Gringotes, ele mesmo não faz grande coisa lá, mas pode nos trazer informações valiosas. Acrusto é membro do Departamento de Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas, tem a mesma importância que eu dentro da sociedade: trazer o máximo de informações que julgar importante; impedir que qualquer membro do Ministério tente nos investigar e liderar missões junto aos novatos. Serena é quem poderia se rotular como nossa vice-presidente. É a que ocupa o maior cargo ministerial ao comparar comigo e com Acrusto. Ela está dentro do Departamento de Mistérios e só perde para o Sr Yaxley que é nosso fundador e líder supremo. Não que eu goste dele, mas é preciso que alguém tome conta de tudo que gire por baixo, “se é que você me entende”... Daqui sigo sozinho.

O quarto andar era proibido a qualquer um que não fosse membro definitivo da Sociedade da Serpente. Somente aqueles que haviam se mostrado dignos para o Sr Yaxley poderiam andar pelo quarto andar. Que

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era um local que o Sr Yaxley mantinha com total zelo e cuidado. Era no quarto andar que ficavam os aposentos dos membros mais fortes da Sociedade da Serpente, eram os dois maiores quartos da casa, porém infelizmente os dois estavam ocupados. O Sr Yaxley era dono da propriedade e um dos dois fiéis do Feitiço Fidelius, e quem ocupava um dos quartos. O outro era ocupado por Acrusto Underwood, que se negava a morar em outro lugar já que tinha uma casa com comida e roupa lavada de graça, um avarento por natureza. Felizmente, não havia muita diferença entre gostos dentro daquela casa na Rua dos Encanadores, pois a grande maioria dos membros da sociedade um dia pertenceu a casa Sonserina. Mas não era isso que impedia que as brigas e discussões tomassem conta do ambiente. Muito pelo contrário elas eram muito costumeiras, já que todos os membros eram extremamente egoístas e sempre esperavam que no final das contas fossem eles os favorecidos.

As paredes do quarto andar eram as únicas que possuíam quadros vindos dos tempos dos antigos moradores. Os demais da casa eram pôsteres vindos junto com os novatos e se limitavam a habitar o primeiro andar. A maioria dos quadros estava colocada no corredor que levava a sala de reuniões. Eram retratos pintados a óleo de homens e mulheres de todas as idades. Alguns velhos outros bem novos – o mais novo era de um garotinho loiro que brincava de galope em uma vassoura encantada. Baddock ficava admirando todos aqueles em suas molduras, todos pertencentes à mesma família, pois em suas identificações desbotadas, todos possuíam o mesmo sobrenome: Yaxley.

Malcolm ficou imaginando o que teria acontecido com o verdadeiro Loquácio Yaxley para ele ter o retrato rasgado. O mesmo acontecia com uma das filhas de Lisandra Yaxley, que não possuía retrato junto às irmãs.

Era uma experiência nada encantadora, estar ali junto aos retratos de pessoas que Baddock não conhecia e ficar se perguntando o que elas fizeram para merecer tal lugar de destaque. Baddock também percebeu que os quadros estavam incompletos, só iam até a sexta geração da família Yaxley, percebeu que os filhos de Emma Yaxley e de seu irmão Hélio Yaxley eram representados como duas criançinhas, mesmo tendo nascido no final do século anterior.

No final do corredor de retratos estava à escura e densa porta de roble que dava para a sala de reuniões. Baddock sabia que há muitos anos – no tempo em que o Sr Yaxley morava naquela casa com seus irmãos e seus pais – aquela era a biblioteca particular da família. Mas que naquela noite estava sendo usada como sala de reuniões da Sociedade da Serpente e Baddock tremia só de pensar em como seria recebido pelos outros conselheiros perante seu atraso. Seu coração batia mais forte conforme sua mão se elevava até alcançar a maçaneta da porta. Ela estava fria, mas mesmo assim Baddock a girou.

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A biblioteca era o local mais bem iluminado de toda a Casa dos Yaxley. Tinha três abajures em cima da lareira que ficava na parede oposta a da entrada. Havia uma mesa de madeira de carvalho ao centro da biblioteca onde foram distribuídas seis cadeiras ao seu redor, cinco estavam ocupadas. Em cada cabeceira estava sentado um homem, um mais feio que o outro. Ao lado direito do homem mais próximo á lareira estava uma mulher de cabelos castanhos um tanto desgrenhados e uma expressão psicopata estampada em sua cara esquelética. No lado esquerdo do homem estava um duendezinho cinzento e ranzinha, que fitava Baddock com seus olinhos pretos e gananciosos. Na cadeira ocupada ao lado do homem magricela de nariz torto e cicatrizes no rosto estava outro homem alto e forte. Este era o menos elegante da sala. Vestia bermuda e tênis Nike, com uma camisa esportiva, cabeleira castanho claro e barba escura.

– Está atrasado, Baddock – afirmou o Sr Yaxley do outro lado da sala. – Se me lembro bem, pedi para que nenhum de vocês se atrasasse em nossas reuniões. Se me lembro bem, foi a Sociedade da Serpente que lhe ajudou a chegar a onde está.

– Sim, Sr Yaxley. Sei que foi o senhor que me levou até meu cargo no Ministério, estarei sempre de bom grato. Mas meu fardo, meu trabalho no ministério também exige meu comprometimento. Infelizmente me atrasei, mas prometo que...

– Relaxe – disse Yaxley erguendo sua mão e silenciando os soluços de Baddock. – Não vou te matar somente por causa de um atraso. Mas que não se repita.

– Podemos finalmente começar? – resmungou a mulher ao lado de Yaxley que Baddock reconheceu como a desprezível Serena Tyranicus. – Tenho outros assuntos pendentes a tratar depois de nossa reunião.

– Depois que os anos passam e as aventuras diminuem a Sociedade da Serpente começa a se tornar de segundo plano – debochou Acrusto se remexendo na cabeceira e inclinando o copo por cima da mesa para poder encarar melhor Serena Tyranicus. – Estou certo, Ser?

– Cale a boca, Underwood – retrucou Serena por entre os dentes. – Deveria estar pensando em seus estúpidos animaizinhos em vez de minha pessoa. Já disse que você não faz meu tipo.

– Humpf – tossiu o duende remexendo-se em sua cadeira. – Acho que essa discussão amorosa já rendeu o suficiente. Seria um belo momento para os dois fecharem suas enormes matracas e prestarem atenção no que Yaxley tem a nos dizer. Afinal foi ele que convocou esta reunião.

– Não me venha dizer o que devo fazer. Seu duende asqueroso! – rugiu Serena mostrando a varinha para o duende Plochos.

– Eu concordo com nosso amiguinho cinza – disse o homem de barba que Baddock conhecia como Rúbo Wilfruss.

– Que ótimo – adiantou Yaxley impedindo que Plochos pudesse contra argumentar.

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Dentro do conselho da Sociedade da Serpente eram constantes as discussões e interrupções já que todos ali se odiavam e imaginavam como tendo o companheiro ao lado como maior inimigo. Da última vez, Plochos e Baddock estavam discutindo como dois adolescentes, um ameaçando e xingando a mãe do outro, em quanto Acrusto e Serena praticamente travavam um duelo a mão armada.

– Como devem saber a duas semanas atrás eu liderei dois novatos em uma missão de campo – prosseguiu Yaxley impedindo que qualquer conselheiro pudesse interrompê-lo. – É claro que tinha outras intenções além de apenas estudar o povoado de Budleigh Bugmoreton com dois de nossos novatos. Em um povoado trouxa podemos encontrar famílias bruxas, ou algum bruxo em especial aproveitando suas merecidas férias.

– Quer dizer que foi atrás de mais alguém para nossa organização? – quis saber Plochos um tanto interessado.

– Encontrou Lúcio Malfoy! – exclamou Serena bastante esperançosa, pois ela sempre acreditou que Lúcio Malfoy era mais capaz que Yaxley para liderar a sociedade. – Finalmente encontrou alguém que possa nos guiar para nosso objetivo!

Yaxley fuzilou Serena, com seu antigo olhar assassino, mas que hoje mal assustava pessoas como Serena Tyranicus que sabia o que o velho bruxo havia feito durante a Batalha de Hogwarts.

– Sei que você sempre preferiu que fosse Lúcio Malfoy quem presidisse esta mesa. Mas igual a mim, Lúcio não acreditou novamente que o Lorde das Trevas fora derrotado. Eu também não cometerei o mesmo erro em poupar esforços para fazê-lo ressurgir novamente. Lúcio sumiu no mundo depois que a mulher e o filho o taxaram de psicótico e deixaram de apoiar suas idéias conquistadoras. Não acredito que ele esteja vivo. E diferente de você Serena, eu não moverei um dedo para encontrá-lo.

A reunião prosseguiu. Yaxley continuou contando como conseguiu chegar até o povoado trouxa e como teve de utilizar sua especialidade, a Maldição Império, para poder permanecer invisível. Volta e meia um membro do conselho se manifestava, impedindo do bruxo continuar e geralmente iniciando uma discussão. Mas o que podia se ver era que Yaxley estava muito mais paciente do que de costume.

–... Como ia dizendo, consegui aprisionar o bruxo em questão – prosseguiu Yaxley após discutir veementemente com Acrusto sobre os meios que ele usou para chegar ao tal bruxo. – E ele está aqui mesmo, dentro destas paredes. Aprisionado em uma prisão a muito já usada por um Comensal da Morte conhecido meu.

– Então – Baddock limpou a garganta e tomou coragem para interromper Yaxley – o que fez com esse prisioneiro? Onde ele está?

– Que bom que perguntou – disse Yaxley lançando a Baddock um sorriso sem humor e desnecessário. Ele tirou de dentro da manga sua varinha e a apontou para um baú que estava atrás de Baddock junto às antigas estantes vazias da biblioteca.

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O baú começou a levitar, chegando a uns quinze centímetros do chão. Depois ele continuou a subir até ser cuidadosamente colocado por Yaxley em cima da mesa de reuniões. Dava para sentir a ansiedade dentro de cada um dos conselheiros. Todos estavam bastante inquietos com a idéia de a Sociedade da Serpente ter um prisioneiro escondido dentro de sua sede. E como uma pessoa normal poderia estar sendo mantida presa dentro de um baú.

– Quem está ai dentro? – perguntou Rúbo Wilfruss assim que Yaxley quebrou o feitiço e o baú jazia em cima da mesa.

– Logo sua ansiedade será extinta, Rúbo. Apenas espere para ver...Com um aceno de varinha, Yaxley arrombou o cadeado do baú fazendo

com que sua tampa chicoteasse o ar e caísse do outro lado. Serena deu um salto para poder ver quem estava dentro do baú, mas este parecia ser encantado, pois do lado de dentro existia uma espécie de abismo que conduzia até um chão branco onde um homem dormia.

– Você se lembra deste, Baddock? – perguntou Yaxley apontando para o baú encantado com a ponta da varinha.

– Se não me engano – começou Baddock analisando todas as sete trancas e os compartimentos que existiam ao redor do baú. – Com certeza! Este baú foi usado por Bartolomeu Crouch Júnior para aprisionar Olho-Tonto Moody durante meu primeiro ano em Hogwarts. Mas como o conseguiu? Pensei que Dumbledore o tivesse mandado para o Armazém Secreto do Ministério da Magia.

– E mandou – afirmou Yaxley admirando o próprio objeto como se só em mencioná-lo já fosse algo de sumo importância. – Durante meus dias como chefe do Departamento de Execução das Leis da Magia, consegui que este baú fosse liberado e que eu o tivesse em meu poder. Nunca se sabe quando teremos de possuir um prisioneiro secretamente.

– Mas quem é ele! – berrou Serena impacientemente. – Como vou saber que você não seqüestrou alguém como o secretário de Alfredo Blishwick. Aquele traidor do Benedito Diggory.

– Não, Serena. Não seqüestrei ninguém ligado ao Ministério – defendeu-se Yaxley. – Contudo, admito que este homem seja de suma importância para que as atividades da Sociedade da Serpente possam prosseguir.

– Diga o nome! – exigiu Plochos.– Já disse que não importa! – urrou Yaxley apontando, ligeiramente, a

varinha para o duende. – Mas, se quiser vê-lo mais de perto e se assegurar de que não é Bento Diggory, pode ver.

Yaxley apontou a varinha para dentro do baú e disse “Levicorpus”.O corpo do prisioneiro começou a ser suspenso no ar, e em cerca de

cinco minutos ele chegou até o centro da sala de reuniões. Mesmo tendo Yaxley quebrado e feitiço de levitação o homem continuou flutuando no ar, prezo em um transe muito profundo. Sua pele estava sem cor e seus

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cabelos muito brancos e sem vida. Seus ossos se mostravam muito fracos dando ao homem uma aparência de cadáver.

– Ele ainda está... vivo? – perguntou Baddock um tanto assustado.– Está – respondeu Yaxley bastante inocentemente. – E é justamente

por isso que convoquei esta reunião. Assim que encontrei com nosso prisioneiro lancei nele uma série de complicados feitiços que aprendi com o Lorde das Trevas. São feitiços que enfraquecem nossos inimigos em quanto nós ficamos cada vez mais fortes. Infelizmente, para que esses feitiços possam ser lançados o inimigo deve sustentar a posição de prisioneiro de guerra. Era o que fazíamos com todos aqueles que eram pegos pelos seqüestradores. Serena deva saber do que estou falando.

A bruxa de esquelética assentiu. Serena fora mantida refém pelos seqüestradores por um ano, até seus pais pagarem sua fiança que custou cerca de cem galeões.

O prisioneiro continuava suspenso no ar em quanto os conselheiros da Sociedade da Serpente continuavam a discutir o porquê de Yaxley tê-lo mantido ali e naquelas condições miseráveis.

– Basta saber que a morte deste homem será de grande importância para que a Sociedade da Serpente possa continuar a dar seguimento a suas atividades – Yaxley se mostrava extremamente ansioso conforma falava. – Não faz mais sentido ficar convocando mais novatos para nossa organização se ficarmos empacados neste local. Se tudo correr como planejo, a maioria dos novatos será dispensada e finalmente a casa de minha família deixará de ser um albergue. – ele olhou para as paredes da casa com tristeza nos olhos.

– Todos os novatos? – repetiu Baddock pensando no amigo, Bruno Avery. – Alguns poderiam nos ajudar se fossem promovidos a membros honorários.

– A Sociedade da Serpente terá de se dissolver por algum tempo se quiser continuar a existir – explicou Yaxley com toda a paciência que lhe existia. – Nós nos fortificamos mais do que eu imaginava e agora chegou a hora de nos desvencilharmos daqueles que não nos servirem. Muitos irão se decepcionar, mas não é hora para isso... Saibam que quando lancei o Feitiço de Balanço neste homem, já arquitetei para que um de nós o mate.

– Você – pigarreou Plochos sem animação. – Você sempre fica com a diversão.

– Não, Sr de Floumatass – respondeu Yaxley num tom de ofendido. – Com disse um de nós... que não sou eu, irá matar este homem.

– S-sou eu – murmurou Acrusto do outro lado da mesa. Ele demonstrava um enorme número de cacoetes, piscando os olhos e apertando os dedos das mãos freneticamente. – Eu soube o dia todo que faria algo diferente. Sentia-me diferente o dia todo.

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– Acrusto, se está com gases, por favor, vá ao banheiro – zombou Yaxley sem animação. – Não é você o assassino de que disse. A pessoa que irá matá-lo é muito mais forte que você.

– Então sou eu – gemeu Serena num tom de desdém.– Também não, querida.– Sei que sou eu! – urrou Acrusto sacando a varinha e a apontando para

o corpo inconsciente do prisioneiro. – Sou eu. Tem de ser eu! Posso provar apenas me de a chance de... Avada...

– Expelliarmus! – berrou Yaxley girando o punho direito e arremessando a varinha de Acrusto contra uma estante vazia. – Tão teimoso. Avada Kedavra.

Um lampejo verde brotou da varinha de Yaxley clareando todos os cantos da sala de reuniões até finalmente se chocar com a figura surpresa de Acrusto. Ao se chocar com o lampejo verde, o corpo do bruxo caiu inerte no chão frio da biblioteca, morto.

– Você... ficou... louco! – berrou Plochos saltando de sua cadeira tentando se espreitar em direção a porta. – Como pode matar um de nós?! Um conselheiro!

– O conselho está suspenso – após dizer isso Yaxley apontou a varinha para o duende lançando na criatura cinza um jato de luz alaranjado. – Serena, sinto muito, mas você não me é mais necessária. Obliviate.

Os olhos de Serena saíram de orbita, suas sobrancelhas relaxaram e uma expressão de despreocupação e tranqüilidade tomou sua face. Baddock sabia que a mulher acabara de ter a mente alterada.

– Rúbo, eu sinto muito, mas sua incompetência finalmente será paga – outro lampejo verde irrompeu da varinha de Yaxley até atingir o corpo de Rúbo, que caiu para trás de sua cadeira.

Restavam somente Yaxley e Baddock conscientes na biblioteca da Casa dos Yaxley. Baddock suava frio, estava esperando ser locauteado pela Maldição da Morte de Yaxley a qualquer momento, mas o outro bruxo parecia ter finalizado seu trabalho.

– N-não vai m-me matar? – parecia a única frase lógica que poderia sair de Baddock. Ele tentava não mostrar seu nervosismo, mas era inevitável demonstrar seu medo.

– Não prestou atenção no que eu disse, prestou? – perguntou Yaxley com uma naturalidade de dar medo. Como se nada houvesse acontecido minutos antes. –... um de nós... que não sou eu, irá matar este homem. Se todos os nossos outros conselheiros não estão em condições de cometer um assassinato, o que você me diz?

– Mas, por quê? – continuou Baddock com medo de fazer com que o companheiro mudasse de idéia. – Por que agiu tão bruscamente com eles. Talvez se tivesse apagado a memória de todos como fez com Serena... E por que você não fez com a Serena, o que fez com os demais?

– Porque Serena tem mais nome no Ministério do que qualquer um de vocês. Porque a morte de um membro do Departamento de Mistérios

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alertaria o Ministério de uma forma muito mais intensa que a morte de um mísero membro do Departamento de Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas. Afinal é muito comum que membros deste departamento acabem mortos através de acidentes com as criaturas que examinam.

– Mas e Plochos? Os duendes ficarão irados se souberem que um membro de seu clã foi morto por um bruxo.

– Não é a primeira vez que isso acontece – explicou Yaxley com menos paciência. – Plochos era um duende desprezível e odiado por todos os seus irmãos. Mas isso não é o caso, pois Plochos não está morto, ainda. Não, em nosso amigo duende lancei um Feitiço Trava-Língua. Até porque se for necessário, é muito mais comum um acidente no quarto do St. Mungus do que encontrarem um duende morto.

– Mas e quanto a Rúbo. Ele servia apenas de bode expiatório. Servia apenas para desvencilhar o ministério do verdadeiro cominho até a Sociedade da Serpente. Ele fazia com que os inspetores do ministério acreditassem que Sociedade da Serpente é apenas um nome bonito de uma loja de poções falsas...

– E é exatamente por isso que eu o matei – explicou Yaxley já sem paciência. Baddock concluiu que o companheiro ponderou o máximo as perguntas dele, e que esta seria a última. – Ninguém vai dar falta dele no mundo da magia. E não vamos mais precisar de um bode expiatório, por isso que eu estarei dissolvendo todos os novatos. Agora a Sociedade da Serpente se resume a nós, Malcolm. Se tudo correr como desejo, nós alcançaremos a glória. Caso contrário, prepare-se para se mudar para Azkaban.

Baddock engoliu em seco e assentiu. Sabia que não poderia negar o pedido de alguém que acabara de poupar sua vida. Para Yaxley seria extremamente fácil apontar sua varinha para Baddock e lançar a Maldição da Morte. Mas Baddock já sabia que os riscos de acabar em Azkaban eram grandes, ele já os conhecia desde o momento em que ele se alistou na sociedade.

– Muito bem – disse Yaxley em um tom de alivio, como se já esperasse que Baddock desistisse. Ele alisou a varinha e a apontou para o prisioneiro que começou a girar no ar até que seus olhos apagados encontrassem os de Baddock. – Tudo o que tem que fazer é lançar a Maldição da Morte nele, Malcolm. Sabe qual é, e sabe qual é o requisito mínimo necessário para poder realizá-lo com êxito. Você tem que querer matá-lo.

Tremendo, Baddock levou a mão direita ao bolso lateral de sua calça e retirou delicadamente sua varinha de dentro da calça. O suor escorria friamente por sua testa, seus olhos iam desde a expressão fria de Yaxley até a face apagada do prisioneiro.

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– Faça, Malcolm – gritou Yaxley levantando-se inquietamente de sua cadeira. – Sabe o que deve fazer e tem os meios necessários! Então faça! AGORA!

– Avada Kedavra! – berrou Baddock com uma mistura de medo e ódio por sua voz rouca.

O feixe de luz verde irrompeu velozmente da varinha de Baddock clareando a sala ainda mais do que quando Yaxley o fez. O corpo morto do prisioneiro rapidamente quebrou o Feitiço de Levitação lançado por Yaxley. Seu corpo gelado cauí sobre a mesa que não suportou seu peso somado ao do baú e se estraçalhou sobre o tapete que existia sobre suas pernas.

– Muito bem, Malcolm – resmungou Yaxley por entre os dentes, admirando os corpos gelados dos defuntos e as figuras inconscientes de Plochos e Serena. – A partir de hoje a Sociedade da Serpente se resume a nós. Não irei admitir falhas suas; jovem. Afinal, espero ter escolhido bem, quando te escolhi no lugar de Serena. E por favor, chame aquele seu amiguinho, Bruno Avery, para limpar essa sujeira.

Baddock abaixou a cabeça e respondeu amargamente. – Não vai se decepcionar comigo, Sr Yaxley.Neste momento, do lado de fora da Casa dos Yaxley sobre a Rua dos

Encanadores e sobre toda a Londres – a chuva caiu.

Capítulo DoisA Decisão do Chapéu Seletor

outono chegara de repente naquele ano. O dia primeiro de setembro amanheceu de uma forma dourada e brilhante, como moedas de galeões escorrendo pelas mãos. Porém tanto a

meteorologia trouxa quanto o Sistema de Controle e Observação Climática dos Bruxos, já haviam alertado a possibilidade do aparecimento de nuvens carregadas e de pancadas de chuva. Contudo nada poderia desanimar o jovem Alvo Potter, que caminhava junto a seus pais e seus irmãos pelas calçadas da poluída Londres, que era obrigada a suportar a fumaça lançada pelos canos de descarga dos carros que cruzavam as ruas próximas a estação de Kings Cross.

O

Duas grandes gaiolas cores de outro fosco deslizavam pela parte bamba do carrinho puxado pela pequena família que chegava a estação. Uma delas era marrom escuro como casco de árvore velha, era a coruja de Tiago Potter, a antiga Nobby, a qual Tiago tratava com muito zelo. A outra era cinza como fumaça, e um tanto rechonchuda, possivelmente por culpa dos ratos que ela caçara em quanto passava as férias de verão n’ A Toca. Esta era a de Alvo, a qual ainda não possuía um nome.

Talvez a única coisa que pudesse desanimar Alvo Potter era a morte precoce de seu avô Weasley que tivera um simples infarto poucas semanas antes do embarque à Hogwarts. Alvo ainda estava inconformado com a morte do avô. Pensava como era possível que tantos bruxos

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vivessem mais de cem anos – ao exemplo de sua querida tia-bisavó Muriel que possuía inexplicavelmente cento e vinte e sete anos – e seu avô, que era um bruxo bom e excepcional, morrera a partir de um simples infarto. Mas aquilo não assombrava a mente de Alvo naquela manhã de primeiro de setembro, somente uma coisa rondava sua cabeça, a chegada a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Contudo com isso outro pensamento começou a atormentar sua mente inocente, a seleção...

– Não vai demorar muito, e você também irá – disse Harry Potter para sua filha mais nova, Lílian, que agarrava sua mão em quanto chorava pela plataforma.

– Dois anos – fungou a menina de cabelos ruivos. – Quero ir agora!Volta e meia os passageiros olhavam curiosos para as corujas da família

Potter, o que divertia Alvo, que já estava acostumado em ser perseguido pelos olhares daqueles que não tinham conhecimento do mundo bruxo.

Porém o irmão mais velho de Alvo, Tiago, não estava preocupado se os trouxas olhavam ou não suas corujas. Somente uma coisa o interessava, retomar a discussão que ele e Alvo haviam encerrado no carro da família. A qual já se estendera por todas as férias.

– Não quero ir! – chorava Alvo cerrando os punhos e fuzilando Tiago com o olhar. – Não quero ir para a Sonserina!

– Tiago, dá um tempo! – pediu Gina já familiarizada com as discussões entre os dois filhos.

– Eu só disse que ele talvez fosse – afirmou Tiago tentando se defender, mas sem conseguir ocultar seu riso de implicância. – Não vejo problema nisso. Ele talvez vá para a Sonse...

Sem pensar duas vezes, Gina lançou ao filho mais velho seu famoso olhar severo de desaprovação. Tiago, por sua vez – já familiarizado com tal olhar – calou-se. A família Potter já se aproximava da barreira encantada que dividia as estações. Tiago olhou por cima do ombro para o irmão mais novo e lançou-lhe, ligeiramente, um sorriso provocante. Ele apanhou o carrinho que a mãe levava e saiu correndo, atravessando a barreira e separando-se, momentaneamente, do resto da família.

– Vocês vão escrever para mim, não vão? – perguntou Alvo rapidamente aos pais, aproveitando a momentânea ausência de Tiago.

– Todo dia, se você quiser – respondeu Gina lançando a Alvo seu sorriso confortante, porém bastante acalorado.

– Todo dia não – replicou rapidamente Alvo, já ciente das intenções da mãe de mandar uma coruja carregada de cartas por dia. – O Tiago diz que a maioria dos alunos recebe carta de casa mais ou menos uma vez por mês.

– Escrevemos para Tiago três vezes por semana no ano passado – contestou Gina ainda com esperanças de persuadir o filho até ele aceitar em receber cartas do Largo Grimmauld duas vezes por dia.

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– E você não acredite em tudo que ele lhe disser sobre Hogwarts – acrescentou Harry verificando rapidamente o horário no grande relógio da estação. – Ele gosta de brincar, o seu irmão.

Juntos, eles empurraram o outro carrinho com mais força e assim, ganharam mais velocidade em direção a barreira encantada. Alvo fez uma careta quando estavam muito próximos da formação de pedras, mas assim como no ano anterior quando Alvo foi embarcar Tiago para seu primeiro ano na escola, a colisão não ocorreu. Ele apenas deslizou sobre a barreira e quando abriu os olhos já estava na plataforma nove e meia, frente a frente com a locomotiva carmesim que transportava os alunos até Hogwarts. Estava difícil distinguir os rostos das famílias que se movimentavam de um lado a outro da plataforma, culpa da densa fumaça clara que saia do Expresso Hogwarts. Fumaça que já havia engolido Tiago.

– Onde eles estão? – perguntou Alvo, ansioso, apertando os olhos para tentar distinguir os vultos que avançavam desordenadamente pela plataforma.

– Nós os acharemos – tranqüilizou-o Gina, repousando sua mão direita sobre o ombro de Alvo.

Infelizmente, o vapor era mais denso do que Alvo imaginava e a cada instante ficava mais difícil identificar quem passava à sua frente. Ele pensou ter ouvido a voz do padrinho e futuro professor de Herbologia, Neville Longbottom, mas sabia que esse já estava na escola de Hogwarts. Também pensou ter ouvido a voz de Molly e Lúcia Weasley, as filhas do tio Percy, discutindo uma com a outra sobre o que seria mais interessante de se fazer nas férias de Natal. Molly já era aluna de Hogwarts, cursava seu quinto ano, sendo uma das Weasley que quebraram a tradição da família e acabara sendo selecionada em outra casa que não a Grifinória. Mas o aborrecimento da quebra da tradição fora pouco, e se extinguira totalmente quando Molly fora convidada para se tornar monitora da Corvinal. Lúcia por outro lado ainda não havia alcançado idade suficiente para ingressar em Hogwarts, assim como Lílian ele teria de aguardar mais alguns anos quando finalmente realizaria o sonho de toda a criança bruxa.

– Acho que são eles, Al. – disse Gina, de repente.Quatro pessoas que estavam paradas próximas ao último vagão

emergiram da densa névoa clara. Seus rostos ficaram um bom tempo escondidos por essa, mas quando eles chegaram bem próximos de Alvo, seus rostos ganharam forma e Alvo pode, em fim, reconhecê-los.

– Oi – disse timidamente Alvo, mas extremamente aliviado.Rosa Weasley já estava vestida com as recém-compradas vestes negras

e longas de Hogwarts. Ela deu a Alvo um grande sorriso.– Nervosa? – sussurrou Alvo ao pé do ouvido de Rosa em quanto seus

pais conversavam sobre um esquisito Feitiço Supersensorial, muito útil para ser usado para enganar examinadores trouxas.

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– Um pouco – admitiu Rosa com cuidado, temendo que seu pai a ouvisse. – Para meu pai só existe a Grifinória, embora muitos digam que eu me daria bem na Corvinal.

– Mas você é brilhante! – exclamou Alvo um pouco impressionado. – Como poderia não se dar bem na Corvinal, a casa dos geniozinhos iguais a você?

– Para você é fácil falar – bufou Rosa dando de ombros. – Acho que a Corvinal seria muita pressão. Não é tão fácil como quando se é da Grifinória. Você tem que saber de tudo! Talvez a Grifinória não fosse de um todo ruim. Afinal, minha mãe foi da Grifinória e hoje é o que é.

– Eu também não sei para onde quero ir – aceitou Hugo, o irmão mais novo de Rosa. – Papai sempre diz que seus filhos nasceram para ser da Grifinória, e eu a acho muito legal, mas... Também me sinto atraído pelas outras casas, exceto a Sonserina! Eu acho que tenho um pouco de Corvinal em mim, e me agrada muito o jeito de ser de um lufalufino.

– Tomara que você não tenha problemas – disse Alvo sorrindo.– Você que o diga, não é maninho – riu Lílian ingenuamente. – Até

agora não sabe se quer ir par a Grifinória ou se para a Sonserina...– Até você, Lílian! – exclamou Alvo completamente surpreso. – Se não

bastasse o Tiago, agora você também vai implicar comigo?!– Não, maninho. Até por que, se você se tornasse um sonserino, eu

também ficaria em dúvida de para onde quero ir.Alvo e Lílian sempre foram muito amigos. A menina sempre gostava de

imitar o jeito dos irmãos e suas ações, mas as de Alvo do que as de Tiago, as quais ela chamava de “coisas de gente bobinha”.

– Bem, para mim, o que for será! – afirmou Hugo sorrindo para os primos.

– Se você não for para a Grifinória, nós o deserdaremos – afirmou o tio Rony ao ouvir a parte final da frase de Hugo –, mas não estou pressionando ninguém.

– Rony! – gritou a tia Hermione lançando um olhar de fúria e humor ao marido.

Lílian e Hugo riram, mas Alvo e Rosa gelaram. A idéia de serem deserdados pelos pais poderia persegui-los tanto quanto a falsa história da luta contra um dragão para serem aceitos em Hogwarts.

– Ele não está falando sério – disseram a tia Hermione e Gina, tentando acalmar seus respectivos filhos, mas o tio Rony já não estava mais interessado na antiga discussão. Ele chamara a atenção de Harry com seus olhos, mas sem que soubesse também chamou a de Alvo. O tio Rony fez um sinal com sua cabeça para um ponto a alguns metros atrás deles. A fumaça havia se dissipado ligeiramente, agora eles já podiam distinguir as pessoas mais afastadas.

– Vejam só quem está ali.Alvo se endireitou e pode ver uma família de três membros a uns

cinqüenta metros à frente deles. Um homem alto de cabelos loiros estava

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com a mão sobre o ombro de uma criança, mais ou menos da idade de Alvo, fisicamente parecido com o primeiro, aparentemente era seu filho. E ao lado dos dois estava uma mulher de cabelos negros também muito alta. Se Alvo não os conhecesse afirmaria que era uma família de vampiros, mas ele sabia que se tratava da família de Draco Malfoy. Família a qual Alvo não via muitas vezes. Foram poucas as ocasiões que ele se encontrara com os Malfoy, mas tinha uma vaga lembrança de quem era quem.

– Então aquele é o pequeno Escórpio – comentou o tio Rony entre sussurros. – Não deixe de superá-lo em todos os exames, Rosinha.

– Rony, pelo amor de Deus – bradou a tia Hermione seriamente, mas sem conseguir esconder sua vontade de rir. – Não tente indispor os dois antes mesmo de entrarem para a escola!

– Você tem razão, desculpe – mas ainda acrescentou –, mas não fique muito amiga dele, Rosinha. Vovô Weasley nunca perdoaria se você casasse com um sangue-puro.

– Ei!Tiago reaparecera. Não estava mais com sua mala ou com sua coruja,

possivelmente já os havia embarcado no trem. Ele bufava tentando tomar ar, aparentemente ele havia corrido um longo caminho e estava louco para contar suas novidades.

– Teddy está lá atrás – disse ele ainda sem fôlego, apoiando sobre as gordas nuvens de fumaça que voltaram a tomar a plataforma. – Acabei de ver! E adivinhem o que ele está fazendo? – mesmo sem fôlego ele estava disposto a contar a todos – Se agarrando com a Vitória!

Tiago se mostrou um pouco desapontado com a falta de reação dos adultos, contudo as crianças se mostraram bastante atraídas pela notícia, principalmente Lílian, que se mostrava radiante com o novo fato.

– O nosso Teddy! Teddy Lupin! Agarrando a nossa Vitória! Nossa prima! E perguntei a Teddy que é que ele estava fazendo...

– Você interrompeu os dois? – indagou Gina. – Você é igualzinho ao Rony...

–... e ele disse que tinha vindo se despedir dela! E depois me disse para dar o fora. Ele está agarrando ela! – repetiu.

– Ah, – gemeu Lílian em um tom de fantasia – seria ótimo se os dois se casassem! Então o Teddy ia realmente fazer parte da nossa família!

– Ele já aparece para jantar quatro vezes por semana – lembrou Harry, imaginando às vezes em que Ted aparecia no número doze do Largo Grimmauld esperando que a família o acolhesse para o jantar. – Por que não o convidamos para morar de uma vez conosco?

– É! – concordou alegremente Tiago, e acrescentou. – Eu não me importo de dividir o quarto com o Alvo... Teddy poderia ficar com o meu!

– Não – retorquiu Harry firmemente, sem pensar duas vezes, tendo a imagem dos dois filhos empunhando as varinhas um contra o outro. – Você e Al só dividirão um quarto quando eu quiser ter a casa demolida.

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Alvo girou os olhos. Já imaginava que o pai vetaria a idéia de ter os dois filhos dividindo o mesmo quarto. Seria algo legal, mas Alvo usaria unhas e dentes para ficar com a cama de cima do beliche...

– São quase onze horas, é melhor embarcar.– Não se esqueça de transmitir a Neville o nosso carinho! – recomendou

Gina em quanto abraçava Tiago.– Mamãe! – chorou ele. – Não posso transmitir carinho a um professor!– Mas você conhece Neville... – Alvo percebeu que esse pedido também

valia para ele.– Aqui fora, sim, mas, na escola ele é o Prof Longbottom, não é? Não

posso entrar na aula de Herbologia falando em carinho... Ele balançou a cabeça para a mãe e chamuscou um carinhoso pontapé

em Alvo.– A gente se vê, Al. Cuidado com os testrálios. – Pensei que eles fossem invisíveis – lacrimejou Alvo. – Você disse que

eram invisíveis!Tiago rui. Finalmente cedeu aos braços da mãe e permitiu que ela o

beijasse, rapidamente ele abraçou o pai e saltou para dentro do Expresso Hogwarts. Ele acenou e saiu correndo pelo trem a procura de seu grupo de amigos, sem olhar par trás.

– Não precisa se preocupar com os testrálios – tranqüilizou Harry virando-se para Alvo. – São criaturas meigas, não têm nada de apavorante. E de qualquer modo, você não irá de carruagem, irá de barco.

Alvo sabia que este seria um assunto a ser discutido somente no ano seguinte. Ele também permitiu que a mãe o beijasse, mas fora menos conservador que Tiago, gostava de quando recebia carinho dos pais.

– Vejo vocês no Natal – disse ela lutando para conter as lágrimas.– Tchau, Al – disse Harry deixando que Alvo envolvesse seu corpo com

seus bracinhos magros. – Não esqueça que Hagrid o convidou para tomar chá na próxima sexta-feira. Não se meta com Pirraça. Não duele com ninguém até aprender como se faz. E não deixe Tiago enrolar você.

– E se eu for para Sonserina? – insistiu alvo, esperando ouvir uma resposta do pai que realmente o confortasse. Seu sussurro foi apenas para Harry e este percebeu que somente aquele momento realmente mostrava todo o real medo e a insegurança de Alvo.

Harry se agachou e ficou na mesma altura que Alvo – o rosto de Harry ficou ligeiramente abaixo do filho – ambos os olhos verdes herdados de Lílian Evans estavam fixos um no outro, nada mais importava.

– Alvo Severo – murmurou Harry, de modo que somente Gina pudesse ouvir além de Alvo. Gina que por sua vez fingia acenar para a sobrinha, mas na verdade estava bem atenta a tudo o que Harry dizia. –, nós lhe demos o nome de dois diretores de Hogwarts. Um deles era da Sonserina, e provavelmente foi o homem mais corajoso que já conheci.

– Mas me diga...

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–... então, a Sonserina terá ganhado um excelente estudante, não é mesmo? Não faz diferença para nós, Al. Mas, se fizer para você, poderá escolher a Grifinória em vez da Sonserina. O Chapéu Seletor leva em consideração a sua escolha.

– Sério?– Levou comigo – admitiu finalmente Harry. Pela primeira vez ele havia

contado seu segredo para algum filho. Alvo ficara perplexo em saber que o pai havia escolhido não ir para a

Sonserina. Sempre imaginava Harry Potter como a personificação do grifinório perfeito, mas agora que sabia que o pai poderia ter acabado sendo selecionado para a casa da serpente... O choque de Alvo fora tanto que ele percebera que seu pai também notara que sua face tomou uma expressão de assombro. Era uma revelação talvez inimaginável, mas que agora Alvo sabia que ocorrera.

Agora, no entanto, Alvo não tinha muito tempo para refletir sobre a verdade revelada sobre o passado de Harry. Já estava na hora do trem partir e ele permanecia na plataforma. Alvo pulou no vagão em quanto, outros pais ainda beijavam seus filhos já embarcados ou davam recomendações de última hora. Às costas de Alvo, Gina fechou a porta do compartimento sem nenhuma dificuldade. Porém, para surpresa ou espanto de Alvo, um grande número de estudantes se aglomeravam ou se penduravam nas janelas. A maioria dos rostos não estava voltada para seus parentes e familiares e sim para um bruxo que embarcava seus filhos na locomotiva vermelha. Harry.

– Por que eles estão todos nos encarando? – perguntou Alvo assim que ele se juntou a Rosa que se esticava para olhar seus colegas de Hogwarts.

– Não se preocupe – articulou o tio Rony. – É comigo. Sou excepcionalmente famoso.

Alvo e Rosa riram, assim como Hugo e Lílian na plataforma. As rodas do Expresso Hogwarts começavam a se mover, obrigando a

Alvo acompanhar o pai apenas com seus olhos verdes, já que esse, assim como o resto de seus parentes e toda a Londres, se distanciava cada vez mais dele. Alvo percebeu que Harry continuava a acenar, mesmo quando o vagão de Alvo já estava distante dele. Essa foi à última visão de Alvo antes de o trem dar sua primeira curva e varrer todo o país da visão do garoto.

– Vamos, Al – disse Rosa puxando Alvo pela manga da camisa. – Vamos procurar uma cabine.

Alvo assentiu. Mas estava bastante complicado de se encontrar uma cabine vazia. Todas elas estavam apinhadas de estudantes falantes e risonhos, ansiosos para conversar com seus amigos, contar sobre as férias... Inclusive a cabine de Tiago estava lotada. Ele e mais cinco amigos riam e conversavam animadamente, e Alvo agradeceu,

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timidamente, pelo irmão não tê-lo visto, pois fatalmente ele iria aproveitar a ausência dos pais para atormentar Alvo novamente.

Alvo e Rosa passaram por uma cabine, aparentemente vazia, somente um garoto de cabelos loiros a ocupava. Porém, Alvo tomou coragem e se manteve de boca fechada, não alertou Rosa de que acabaram de passar por uma cabine vazia, afinal ele havia percebido que o garoto que a ocupava era o mesmo que chamara a atenção do tio Rony na plataforma. Quem a ocupava era Escórpio Malfoy.

– É – disse Rosa desanimada abrindo a porta de uma cabine no segundo vagão. – Acho que só sobrou esta...

Ela indicou com a cabeça para a cabine que acabara de abrir. Aparentemente era a única vazia em todo o Expresso Hogwarts. Nos últimos anos, a quantidade de alunos em Hogwarts quase que dobrara. Segundo a tia Hermione, que ainda mantinha algumas relações profissionais com a escola – geralmente averiguando as condições de Hogwarts perante a lei – ela afirmava que a razão pela qual o número de alunos se multiplicara era qual a quantidade de filhos que os antigos alunos de Hogwarts tiveram fora maior que a estimada pelos diretores e professores. Além do mais, ainda existia a lenda de que os mecânicos da escola, que cuidavam da manutenção do Expresso Hogwarts, gostariam de acoplar mais dois vagões na locomotiva.

– Seria muito legal se Vitória e Teddy contraíssem um relacionamento mais sério – disse Rosa alguns minutos depois que eles se estabeleceram na cabine. – Nós conhecemos o jeito luxuoso e arrogante de Vitória e acho que Teddy seria muito bom para ela. Talvez ele a fizesse desgrudar do espelho.

– O único problema é que a tia Fleur considera o Teddy um vagabundo – acrescentou Alvo meio desanimado. – Mas isso não é verdade. Disseram-me que desde que ele foi contratado pelo tio Jorge para trabalhar na filial da loja em Hogsmeade, ele tem trabalhado como um condenado! E ele ainda está à procura de testes para os times de Quadribol da Inglaterra. Já imaginou o Teddy jogando no Puddlemere United?!

– Me agradaria mais se ele defendesse os Chudley Cannons – contestou Rosa. Ela e Hugo herdaram a paixão pelos Chudley, mesmo Rosa detestando Quadribol, mas segundo ela “os Chudley Cannons são mais do que Quadribol”.

As horas iam passando e a viagem até Hogwarts ia se tornando cada vez mais entediante. Não que fosse ruim ou que não tivesse nada para fazer, muito pelo contrário, mas para Alvo era massacrante ter de esperar pela seleção, ainda mais depois da revelação de seu pai na plataforma.

A idéia de Harry ter pedido ao Chapéu Seletor para não ir para a Sonserina, atormentava a Alvo mais do que todas as piadas e provocações feitas por Tiago ao longo do verão. Será que Harry teria sido colocado na

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Sonserina se não o tivesse pedido? Era a pergunta que martelava a mente de Alvo a cada minuto que se passava. Sua mente trabalhava arduamente a procura de uma resposta convincente. Alvo concluiu que nunca pensaria novamente como estava fazendo naqueles longos momentos, nem mesmos durante os exames finais da escola.

– Você está bem, Al? – perguntou Rosa poucos momentos antes do grupo de amigos de Tiago entrarem na cabine para darem suas boas vindas.

– Achamos que vocês estavam muito solitários então resolvemos fazer uma visitinha – contou Tiago sentando-se ao lado de Alvo e cruzando as pernas na poltrona oposta. – Não se preocupem, pedimos para Horácio tomar conta de nossa cabine, vocês sabem, Hogwarts está ficando muito cheia.

Junto a Tiago estavam: Sabrina Hildegard uma sextanista da grifinória – ela tinha longos cabelos ruivos como o dos Weasley, e sempre carregava uma pluma sobre seus cabelos ondulados – ao lado de Sabrina estava Ralf Dolohov, secundarista da Sonserina, ele e Tiago haviam ingressado em Hogwarts no ano anterior. Inicialmente Alvo havia imaginado que Tiago só havia criado laços de amizade com Ralf por causa de seu tamanho – Ralf seria um bom guarda costas – mas depois de um tempo, Alvo percebeu que Ralf não era o típico sonserino, e sim aquele que seguiu a linhagem sanguínea de sua família. E ao lado direito de Ralf estava Eduardo Jones, do terceiro ano. Jones, como o chamavam, era um dos membros do clube extracurricular de Tiago que vestia as vestes da Lufa-Lufa. Jones tinha cabelos loiros e ondulados, além de um sorriso atraente que deu arrepios em Rosa.

– Como está nossa futura colega grifinória? – perguntou Tiago se voltando para Rosa, mas sem conseguir não completar. – E nosso sonserinozinho?

Alvo corou. Queria xingar Tiago de todos os nomes que aprendera com Monstro em quanto o elfo se castigava, queria também reclamar de sua escolha com relação à Sonserina, mas a presença de Ralf naquele momento impediu que Alvo pudesse o fazer.

– Pare, Tiago – advertiu Ralf, abaixando os pés do amigo e sentando-se ao lado de Rosa, podendo encarar Alvo frente a frente. – Não se intimide com tudo o que seu irmão te diz, Alvo. Não vou lhe dizer que a Sonserina é a casa mais amável do mundo, mas ela sabe tratar bem seus membros. O único problema é se você for filho de trouxas. – acrescentou.

– Veja o Ralf, por exemplo – disse Sabrina Hildegard juntando-se aos companheiros. – Primeiro eles tentam encontrar algum bruxo que carregue seu sobrenome. Como Ralf tinha dois sobrenomes, a situação ficou mais complicada, mas se eles concluírem que você é filho de trouxas... – ela passou a mão sobre o pescoço como se esse estivesse sendo ameaçado por lâminas bem afiadas.

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– Espere! – protestou Tiago saltando da poltrona e encarando seus companheiros. – Vocês estão encorajando Alvo a se juntar aos sonserinos? – ele fez uma pausa, limpou a garganta e acrescentou. – N-não que eu me importe. Mas é que...

– Nós já entendemos – interrompeu Eduardo Jones lançando uma piscadela para Sabrina. Eduardo diferente dos demais continuava em pé, encostado na porta da cabine que permanecera aberta.

– É... bem... – gaguejou Tiago dirigindo-se para fora da cabine. – Só queríamos dar-lhes as boas vindas à Hogwarts. Então, já podemos ir?

– Se quiser que vá – disse Ralf passando os braços por trás da cabeça e recostando-os na parede às suas costas. – Não vou a lugar algum. Aqui está divertido.

– Concordo – disse Sabrina.– Bem, eu não vou deixar Horácio sozinho – afirmou Tiago dando as

costas para os quatro. – Jones, você me segue?Eduardo não respondeu, apenas seguiu Tiago de volta a suas cabines

de origem.– Ele está morrendo de medo que Alvo não vá para a Grifinória –

concluiu Rosa retirando de sua mochila um exemplar de Hogwarts, uma história.

O restante da viagem a bordo do Expresso Hogwarts parecera passar tão rápido como se fosse um sonho. Ao meio dia a velha bruxa do carrinho de doces passara pela cabine onde estavam Alvo, Rosa, Ralf e Sabrina. Os quatro não pouparam esforços para gastar as moedas douradas e prateadas que seus pais haviam lhe dado. Em questão de minutos a cabine dos quatro estava apinhada de doces e balas. Durante algumas horas o céu ficava coberto por escuras nuvens de chuva, que volta e meia despejavam suas águas sobre a lataria vermelha do trem. Felizmente, conforme o dia chegava ao fim e o crepúsculo começava a perder lugar para a escuridão total, a pesada chuva que acompanhava o trem desde o início das montanhas começava a se transformar em uma leva garoa, que mal molhava as folhas das árvores das montanhas escuras.

– Próxima parada, estação final de Hogsmeade. – ecoou a voz do maquinista através das paredes encantadas do trem.

– É melhor nos apressarmos – disse Alvo já vestido com as vestes da escola.

– Eu recomendo que vocês saiam logo – aconselhou Ralf abrindo a porta da cabine e dando passagem para Sabrina. Eles voltariam até a cabine de Tiago, onde estavam seus pertences. – Aquilo ali vai ficar lotado rapidinho.

Mesmo que Alvo quisesse seguir o conselho de Ralf, não pode. Rosa tivera alguma dificuldade em guardar todos os livros que havia tirado da mochila para ler durante a viagem.

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– Pode ir na frente, Al – dizia Rosa espremendo seu exemplar de Voando com Vampiros junto a uma antiga edição da Transfiguração, hoje.

– Não tem problema. Eu esperei onze anos para chegar a Hogwarts. Mais alguns minutos não farão diferença.

Com muito esforço, Rosa e Alvo conseguiram guardar todos os livros da menina dentro da mochila.

Quando Alvo colocou seus pés sobre o concreto úmido e gelado da plataforma de Hogsmeade sentiu como se sua vida acabasse de mudar. Como se ele não carregasse mais o peso do nome Potter, como se as pessoas fossem parar de apontar para ele e gritar “O filho de Harry Potter”. Ele sentia que a partir daquele momento quando apontassem para ele iriam gritar “Veja é Alvo Potter”. Alvo se sentia forte, grandioso, como se pela primeira vez na vida ele pudesse controlar sozinho o caminho que suas pernas fossem traçar. Contudo, quando ele finalmente tomou consciência de que deveria se juntar ao grupo de primeiranistas que já se aglomeravam junto ao lampião que o guarda caça de Hogwarts carregava, uma voz bem familiar soou pelos ouvidos de Alvo.

– Estou de esperando na sala comunal com duas cervejas amanteigadas – disse Tiago já fora do term. A mochila sobre um ombro e seus olhos fixos em Alvo, de um modo que este nunca vira antes – Isso é claro se você não se juntar a Sonserina.

Tiago esperava que Alvo pulasse em cima dele e começasse a socar sua cara, mas ele apenas sorriu para o irmão e ajeitou a mochila sobre os ombros.

– Não me importo – retrucou Alvo inocentemente.– Como? – perguntou Tiago mais chocado do que nunca. – Quer dizer

que eu perdi metade do meu tempo de férias zombando de você para agora você dizer que não se importa!

– Sim. Depois do que o pai disse na plataforma eu não me importo em ser selecionado para a Sonserina ou para a Grifinória.

– E o que o pai te falou que fez com que você mudasse tão rapidamente de idéia? – Tiago estava imaginando que Harry havia dito ao filho o mesmo que a ele no ano anterior. Que não era mais mágico ser da Grifinória do que da Lufa-Lufa ou da Corvinal, ou até mesmo da própria Sonserina.

– Disse que o Chapéu Seletor leva em consideração a sua escolha, e que ele me mandaria para a Grifinória caso fosse meu desejo e que o chapéu não me obrigaria a ser um sonserino se eu não quisesse. – Alvo esforçou-se para não contar a Tiago sobre a parte em que seu pai havia dito que escolhera a Grifinória. Alvo sabia que Harry possuía um bom motivo para não querer contar a Tiago sobre seu segredo, e que não seria ele, Alvo, que o revelaria para Tiago.

– Te vejo no Salão Principal, Al – disse Tiago quase que em um sussurro, endireitando a mochila sobre seus ombros e dando as costas para o irmão mais novo.

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– Pode contar com isso – afirmou Alvo sorrindo para as costas do irmão. – Ah, Tiago!

O irmão mais velho de Alvo deteve-se por um instante.– Não era para você estar usando os óculos que a mamãe mandou?– Não enche – disse Tiago por cima do ombro.Alvo teve de correr para não se perder do grupo de primeiranistas.

Hagrid, o gigante e guarda caça da escola, já havia contornado a plataforma de Hogsmeade e já explicava aos novos alunos como deveriam utilizar os barcos da escola.

–... Então, nada de mais de quatro alunos por barco – alertava o gigante para os primeiranistas. – Não quero que nenhum de vocês vá nadar com a Lula Gigante. Ela está brava há alguns dias, não sabemos por quê. Mas vamos controlá-la não precisam se preocupar.

– Como se eu fosse – murmurou um garoto dentuço de cabelos negros próximo à Alvo.

O jovem Potter já sabia como chegaria à escola de magia. Os barcos deslizariam pelas águas negras do Lago Negro até a outra extremidade da escola, onde por fim os alunos novos caminhariam até os portões do Salão Principal onde aguardariam até o início da cerimônia de seleção. Alvo escolheu um barco que estava ocupado por alguém que ele conhecia: no caso, seu primo Luís Weasley que diferente dele não estava nem um pouco preocupado com a cerimônia de seleção.

– E ai, Al! – bradou Luís assim que Alvo se sentou na borda do barco de madeira. – Sempre soube que ao vivo era bem mais atraente que através de fotos.

Luís indicou com a cabeça a estrutura medieval do castelo de Hogwarts. Alvo se maravilhou com a arquitetura da escola, com o modo como o castelo escalava a montanha que o sustentava, de forma majestosa e segura. As janelinhas refletiam as luzes internas de Hogwarts que por sua vez eram refletidas pelas águas do Lago Negro que balançavam conforme o vento gélido ordenava.

– Se estão todos prontos... – gritou Hagrid já sentado em seu barco magicamente fortificado – VAMOS!

Ao soar da voz de Hagrid os barcos encantados da escola começaram a deslizar pelas águas do lago que cercava a escola. Quando Alvo finalmente baixou os olhos do castelo para os alunos que o acompanhavam na travessia se deparou com duas garotas bem diferentes uma da outra. À frente de Alvo estava uma menina bastante bonita de pele escura e cabelos negros, chamada Emília Jenkins. Ao lado de Emília estava outra garota, porém esta tinha pele pálida, braceletes prateados, sapatos estilo punk e um cordão que Alvo imaginava vir da mesma coleção que o amuleto mágico que ficava envolto ao pescoço de Luna Lovegood.

Mas outra coisa incandescente chamou mais a atenção de Alvo de que os milhares de janelinhas do castelo de Hogwarts. Alguns metros além da

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beira do Lago Negro, além da orla próxima a Floresta Proibida, uma criaturazinha luminosa brilhava no galho de uma árvore. Não parecia ser uma criatura muito diferente de um morcego, tinha as mesmas características, porém era bem maior que um comum. Além do mais a criaturazinha estava brilhando junto à árvore.

Mas tudo isso foi apenas por um breve momento. Rapidamente a criatura prateada desapareceu. Como se sua presença fosse detectada e isso lhe custasse à vida. Quando Alvo concluiu que não avistaria mais nenhuma criatura luminosa, baixou seus olhos sobre as águas dançantes do lago por alguns segundo, mas tão rápido quanto a primeira outra criatura incandescente surgiu na orla da Floresta Negra.

Assim como a outra, esta criatura possuía uma cor prateada e florescente. Sua luz refletia nas árvores ao seu redor. Ela era bem maior que a anterior, do tamanho de um veado, mas Alvo concluiu que não era um, pois não havia galhada como o patrono de seu pai. A criatura continuava brilhando junto às árvores da Floresta Negra, contudo, algo a mais chamou a atenção de Alvo. A criatura não estava admirando a beleza do castelo de Hogwarts assim como os primeiranistas e o morcego incandescente. Essa, por sua vez, mirava em um aluno em especial da mesma forma que os estudantes e os pais na plataforma encaravam Harry. A criatura iluminada estava observando Alvo.

– Cuidado com as cabeças! – alertou Hagrid quando os barcos atingiram a outra extremidade.

Por um instante Alvo desviou seu olhar da criatura luminosa para poder desembarcar do barco. Pisar na terra molhada pertencente aos terrenos da Hogwarts era algo que Alvo aguardava há muito tempo, e que agora era a mais pura realidade. Contudo quando ele voltou seu olhar para a orla próxima a floresta a procura da criatura, deparou-se apenas com as árvores gigantescas que cercavam os terrenos da escola.

– Todos os alunos, por favor, sigam-me! – berrava Hagrid guiando os primeiranistas por uma espécie de túnel subterrâneo feito de pedras. A cabeça do gigante batia no teto de pedras a todo o tempo, mas em momento algum Hagrid se mostrava irritado com tal fato.

Ele parou de repente tateando o teto com o cabo de seu guarda-chuva cor de rosa. Como se estivesse procurando uma passagem secreta, Hagrid encostou o cabo enferrujado em todas as pedras em um raio de um metro. Finalmente o gigante encontrou a passagem desejada. Quando encostou o cabo do guarda-chuva da pedra desejada, essa começou a se mover e a formar uma íngreme escada de pedra e limo que dava para o pátio de entrada da escola.

– Subam e esperem até o professor Longbottom tomar frente ao grupo – ordenou Hagrid abrindo caminho entre os estudantes para liberar a passagem. – Ele irá levá-los até o Salão Principal para a hora mais esperada da noite.

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Como ele era um dos últimos da fila, demorou um pouco até que Alvo pudesse chegar mais perto da escada. Porém ele queria fazer algo antes de subir as escadas.

– Oi, Hagrid! – exclamou Alvo se aproximando da figura corpulenta do guarda caça.

– Alvo! Há quanto tempos nós não nos víamos! – Hagrid parecia um bebê chorão. Enxugando timidamente as lágrimas que brotavam dos seus olhos ele encarou Alvo. – Não te vejo desde março passado, e veja como você cresceu!

Mesmo estando mais alto que há um ano atrás, Alvo sabia que para Hagrid ele sempre pareceria um menininho de dez anos.

– Eu também estava com saudades de você, Hagrid – disse Alvo pouco antes de ser envolto pelos braços gordos de Hagrid. – O... o que aconteceu para você ficar tão sumido?

– Você sabe que a Profª McGonagall deixou seu cargo, como diretora, este ano. Então, quando se é um professor um tanto desastrado e que cuida de criaturas do mundo da magia... Bem, tem que mostrar uma boa primeira impressão para o novo diretor – ele estudou Alvo com seus olhos miúdos, tentando ler as emoções de Alvo através de sua face. – Rápido, Alvo! – gritou o gigante batendo com os braços no teto do túnel. – Suba logo, rápido se não você perde a passagem!

Sem pensar duas vezes Alvo pulou o mais alto que pode, esticando as pernas ao máximo para atingir o topo das escadas o mais rápido possível. Ele pulou umas três ou quatro vezes até finalmente repousar sobre o gramado fofo e úmido do pátio de entrada.

Alvo estava encantado em estar dentro do castelo de Hogwarts. A única vez que estivera dentro do castelo fora quando seu pai levara a família para dar um passeio pelo estabelecimento, para conhecer alguma parte da escola antes dos onze anos de idade. Muita coisa parecia diferente de quatro anos antes quando Alvo esteve ali. O Pátio de Entrada parecia ter sido restaurado, tendo as estátuas ao redor da fonte do pátio, mais belas e suntuosas. As ervas que cresciam entre os azulejos haviam sido podadas e a única coisa velha que se encontrava no pátio era a figura carrancuda e desanimada do Sr Filch.

Alvo só reconheceu o zelador da escola, pois esse se enquadrava em todas as características que seus parentes haviam lhe concedido. Um homem velho, de aparência fria e rabugenta. Cabelos sujos quebradiços, pele enrugada e sua gata que sempre estava juto dele, Madame Nor-r-ra. Filch aninhava a gata como se fosse um bebê, tomando cuidado para não machucar o animal, ele se mostrava pouco interessado em olhar para os alunos novos.

Poucos minutos depois dos primeiranistas terem se reunido em frente às grandes portas de carvalho que davam para o hall de entrada, um homem da mesma idade que o pai de Alvo, face rosada e um sorriso um tanto abobalhado, as abriu com um estalo e veio receber os alunos novos.

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– Bem vindo, alunos – disse a figura simpática do Prof Longbottom. Esse não precisou de nenhuma característica para ser reconhecido por Alvo, pois ele conhecia bem o rosto bobo do padrinho. Neville vestia vestes surradas e marrons, um chapéu cônico remendado em sua aba e botas de escalada, como se estivesse pronto para afundar os dois pés na terra molhada.

Os múrmuros cessaram no instante em que o professor de Herbologia começou a falar. A atenção era geral em quanto o silêncio era cortado apenas pela voz suave do professor.

– Bem, o banquete de início de ano será realizado em alguns instantes, mas antes de vocês se sentarem em uma de nossas mesas, será realizada a cerimônia de seleção. A cerimônia de seleção, como muitos já devem saber, consiste basicamente em selecionar vocês em uma de nossas quatro casas: Grifinória, Lufa-Lufa, Corvinal e Sonserina. A Seleção é muito importante, pois enquanto vocês estiverem em Hogwarts suas casas serão como suas famílias. Seus colegas serão seus amigos, e seus parentes. Contudo, nem tudo são flores aqui em Hogwarts. Aqui, como em todo estabelecimento, existem regras, se quebrarem alguma regra da escola sua casa perderá pontos. Porém, se vocês obtiverem algum triunfo na escola digno de um prêmio, sua casa ganhará pontos. No final do ano, a casa que tiver mais pontos ganhará a Taça das Casas.

– Então nós não teremos de enfrentar um trasgo para sermos aceitos na escola! – gritou um garoto no meio do grupo.

– Não, o senhor pode ficar relaxado. Ninguém terá de enfrentar nada para ser aceito pela escola – riu o Prof Longbottom. – Vocês já foram aceitos, não tem mais volta. Vocês terão de suportar Hogwarts e Hogwarts terá de suportar vocês. Mas, eh, fiquem tranqüilos, nós faremos tudo para que vocês possam chamar este castelo de lar.

O Prof Longbottom deu as costas para os primeiranistas e, os guiou pelo interior do castelo até chegarem próximos às grandes portas de carvalho que davam para o Salão Principal. As luzes vindas dos candelabros e tochas ao redor da entrada para o salão refletiam-se nas bordas e nos desenhos esculpidos nas portas. Eram imagens bonitas e únicas que mudavam de hora em hora.

– Se estiverem preparados... Sigam-me – com um aceno de mão o Prof Longbottom abriu as portas que davam para o Salão Principal.

Os zumbidos e vozes antes contidos pelas portas de carvalho se espalharam por toda a escola no momento em que o professor Longbottom abriu as portas. A luminosidade do Salão Principal era infinitas vezes maiores que a dos corredores que Alvo acabara de passar. Ele concluiu que o Salão Principal era muitas vezes maior que a antiga casa da Rua dos Alfeneiros que um dia acolheu Harry Potter e que hoje, já reformada, acolhia a família do primo de Harry, Dudley Dursley.

O Prof Longbottom levou o grupo de calouros até um tablado que separava a mesa dos professores das outras quatro grandes mesas das

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casas da escola. Eram muitas coisas para se ver em pouco tempo. Rapidamente, Alvo levantou a cabeça para poder admirar o teto encantado do Salão Principal, que mostrava um céu estrelado e uma lua pronta para minguar. Depois Alvo observou as quatro mesas de Hogwarts, apinhadas de estudantes ansiosos para o início da seleção. Por um momento, Alvo sentiu que era observado por alguém e não era para menos. Tiago Potter estava junto a seus amigos grifinórios falando e rindo, mas seus olhos estavam fixos na figura magricela do irmão. Por um instante Alvo se sentiu encabulado, mas logo sua atenção foi desviada pela voz do professor Longbottom.

– Antes do início da cerimônia de seleção – dizia o professor em quanto as conversas cessavam e os murmúrios morriam – a diretora Servilia Crouch quer dizer algumas palavras. Diretora...

Longbottom fez uma tímida reverência para a diretora que apenas lançou-lhe um simpático sorriso antes de se erguer de sua nobre cadeira de diretora. Servilia Crouch era uma mulher que aparentava ter seus cinqüenta anos de idade, mas Alvo sabia que ela possuía mais, pois graças às poções e atributos genéticos dos bruxos é possível você aparentar muito menos de sua idade natural. A diretora Crouch possuía algumas rugas em sua face – nem tantas como sua antecessora, a Profª McGonagall que se sentava ao seu lado – Servilia possuía cabelos negros envoltos em um forte coque, com ligeiras mechas calvas que ela tentava arduamente esconder.

– Boa noite, a todos vocês, principalmente aos alunos novos que estão se juntando a nós aqui em Hogwarts pela primeira vez. A vocês primeiranistas, o meu: “boas vindas”. E aos antigos, sejam bem vindos de volta. Bem, como muitos de vocês já devem saber através do Profeta Diário e das demais revistas bruxas, este será, assim como o de alguns de vocês, o meu primeiro ano aqui em Hogwarts. É com muita honra que substituo a Profª Minerva McGonagall como diretora de Hogwarts. Minerva – como pode ver – não nos deixou por completo, pois ela concordou em continuar educando-os na didática de Transfiguração e me auxiliando como vice-diretora.

“Bem, como diretora da escola é meu dever informar aos primeiranistas, e relembrar aos alunos antigos, que é estritamente proibido a ida de alunos aos arredores da Floresta Proibida sem a autorização e o acompanhamento de um professor ou responsável. Afinal como o próprio nome já diz, a floresta é proibida. Também devo informar-lhes que é proibido o uso de feitiços nos corredores durante os intervalos das aulas. E, o nosso zelador o Sr Filch, me pediu para lembrar-lhes que qualquer artefato que tenha ligações com a loja de brincadeiras Gemialidades Weasley, que possa fornecer qualquer tipo de transtorno ou rebuliço dentro da escola é proibido e corre um sério risco de ser confiscado pelos professores e funcionários.”

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“Antes de iniciarmos a seleção, gostaria de apresentá-los aos novos professores de Hogwarts. Por favor, professores novos, levantem-se.”

Cinco professores levantaram-se de suas cadeiras. Alvo havia prestado atenção somente em dois, que desde o momento que ele entrou no Salão Principal, estavam envoltos em uma complicada discussão que Alvo nem se quer poderia imaginar qual era.

– Da esquerda para a direita – começou a diretora Crouch apresentando os professores. – Alunos deixem-me apresentá-los ao seu novo professore de Defesa contra as Artes das Trevas, professor Mylor Otacílio Silvano. Ao seu lado, está o professor da nova didática de Artes dos Trouxas, professor Epibalsa McNaught. Depois estão seus novos professores da arte de mancia, professor R. J. H. King, para Tecnomancia e o professor Herberto Margolyes como professor de Geomancia. E por último, mas não menos importante, nós teremos a presença da professora Julieta Knowles Revalvier, como professora de Literatura Mágica.

“Por último, gostaria que minha colega, professora McGonagall dissesse algumas palavras para vocês. Não gostaria que Minerva passasse a noite toda calada.”

A diretora Crouch se silenciou por debaixo de fortes aplausos dos estudantes, em seguida a professora McGonagall começou seu discurso agora não mais como diretora da escola.

– Uma boa noite a todos – disse a Profª McGonagall para todos os presentes. – Serei rápida e breve, pois tenho certeza de que todos estão ansiosos com a seleção. Gostaria apenas de lembrar-lhes que não sou mais sua diretora, mas que inda posso colocá-los em detenção e tirar pontos de suas casas. Obrigada.

Assim como a diretora, McGonagall se silenciou por baixo de aplausos dos estudantes, contudo estes foram menos animadores que os da diretora.

Alvo percebera que Servilia e McGonagall tinham bastante em comum. Sendo duas senhoras muito gentis, porém severas com quem se deve. Alvo não gostaria de encontrar as duas irritadas, sendo ele o motivo de tal irritação.

Pouco depois dos discursos de Crouch e McGonagall, a nova monitora da Corvinal, sua prima Molly, levara até o topo do tablado à frente dos primeiranistas, um banco de quatro pernas e um chapéu cônico velho. Alvo sabia exatamente o que ia acontecer em seguida. O Chapéu Seletor iria cantar uma música – em geral relacionada à amizade e a dificuldade em selecionar os alunos – e depois a seleção se iniciaria, com o Prof Longbottom chamando os primeiranistas e repousando o velho chapéu cônico sobre suas cabeças.

Porém após os discursos da diretora e da professora de Transfiguração, Alvo desligou-se completamente da cerimônia de seleção. Seus pensamentos flutuavam desordenadamente. Ele não sabia o que fazer e qual caminho seguir. Queria usar tudo àquilo que o pai havia dito na

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plataforma, mas e se ele escolhesse o caminho errado. E se ele escolhesse a Grifinória e no final das contas essa fosse a errada.

Não! Pensou Alvo com todas as forças. A Grifinória não podia ser o caminho errado, era a casa que seu pai freqüentara que sua mãe freqüentara, seus avós, tios e tias... Mas muitos dos novos Weasley não haviam seguido o caminho grifinório. Vitória e Dominique eram da Lufa-Lufa e Luís estava determinado a seguir a mesma. Molly era da Corvinal e Rosa fatalmente seria enviada para a mesma, e se Alvo acabasse se saindo melhor em outra casa?

– Luís Weasley – chamou o Prof Longbottom trazendo Alvo de volta a si.O Chapéu Seletor demorou um pouco para decidir em que casa por o

primo de Alvo, e nesse meio tempo, ele percebeu quais outras crianças já haviam sido selecionadas.

Um garotinho risonho de cabelos castanhos, chamado Cameron Creevey havia sido selecionado para a Grifinória. Emília Jenkins, a garota que havia cruzado o Lago Negro junto a Alvo havia sido enviada para a Corvinal assim como Irene Mcmillan.

– LUFA-LUFA! – rugiu o Chapéu Seletor para alívio de Luís que já estava começando a tremer por debaixo da aba do chapéu.

– Eugênio Finnigan.– Grifinória! – a mesa de Tiago explodiu em vivas, assim como havia

feito antes com Cameron Creevey.– Ísis Cresswell. – Corvinal! – anunciou o chapéu, e logo em seguida Ísis saiu correndo

em direção à mesa do lado esquerdo a Alvo. Que ainda vibrava com a seleção da menina.

– Valerie Rosier.– Sonserina!– Isaac Prewett.Aquele nome fez com que Alvo prestasse realmente atenção na seleção.

Prewett, Alvo já ouvira aquele nome antes, mas de onde vinha? Uma parte adormecida de seu cérebro começara a trabalhar arduamente a procura de algo que se encaixasse com o nome.

– O relógio? – murmurou Alvo lembrando-se do velho relógio de seu pai que antes pertencera ao irmão mais velho da vovó Weasley. Mas Isaac não poderia ser seu parente, pois o tio-avô de Alvo, Fábio, havia sido morto durante a Primeira Guerra Bruxa, assim como seu irmão.

– Sonserina! – gritou o chapéu liberando o garoto de cabelos ruivos.– Lívio Black.Ouvir aquele nome foi quase que tomar uma descarga elétrica. Alvo

sabia bastante sobre a família Black, sendo que ele morava na antiga casa da linhagem. Mas Alvo tinha certeza de que após a morte precoce do padrinho do seu pai, Sirius Black, o nome havia sido extinto, pois ele era o último a carregar o nome Black, e como Sirius não havia procriado, era óbvio que a família Black havia sido extinta pelo lado masculino, mas...

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Ele estava ali, o garoto chamado Lívio carregava o nome Black e não podia ser apenas coincidência.

– Corvinal! – anunciou o chapéu.Depois de Lívio, Lana Longbottom foi chamada para ser selecionada.

Cuidadosamente o professor de Herbologia repousou o Chapéu Seletor sobre os cabelos da filha sem antes desejar-la sorte. Alvo conhecia Lana, geralmente via a garota brincando nas escadarias do Caldeirão Furado na companhia de seus irmãos mais novos.

– Grifinória! – anunciou o chapéu para alívio de Lana, e de seu pai também.

Antônio Zabini se tornou um sonserino, porém Alberto Stebbins foi escolhido para se juntar à mesa da Lufa-Lufa, a do lado direito à Alvo.

Perseu Flint também foi selecionado para a Sonserina, assim como seu irmão gêmeo Teseu. Já Henry Thomas foi selecionado para a Grifinória do modo como desejava.

– Escórpio Malfoy – chamou o Prof Longbottom, despertando qualquer um que não estivesse interessado na seleção.

Escórpio parecia mais pálido do que quando Alvo o vira na plataforma e dentro do Expresso Hogwarts. Assim como Alvo, Escórpio herdara um nome muito famoso dentre os bruxos e assim como Potter, todos os membros da família de Escórpio vieram da mesma casa há séculos. Alvo não conseguia imaginar o porquê do nervosismo de Escórpio, pois assim como seu pai, sua mãe e todos os antigos membros da família Malfoy, ele seria selecionado para a Sonserina...

– Grifinória! – bradou o Chapéu Seletor.Não houve aplausos por parte dos membros da Grifinória. Alvo não

sabia se eles estavam surpresos demais pela decisão final do chapéu ou se estavam com muita raiva e nojo de terem de conviver com um membro da família Malfoy, que por gerações humilhou e perseguiu os membros da Grifinória.

Escórpio também não se mostrava diferente. Ele continuara sentado no banco de madeira de quatro pés mesmo depois de ter sido selecionado. O choque de não ter sido colocado na Sonserina o consumia de dentro para fora, impossibilitando seu cérebro de pensar ou de comandar qualquer um de seus músculos. Escórpio só saiu da cadeira quando o Prof Longbottom chamou o nome de Morgana Hallterman.

– Alvo Potter.Novamente o salão permaneceu em total silêncio. Assim como

Escórpio, Alvo chamou bastante atenção entre alunos e professores. – Longbottom disse: Potter?– É sim! É o filho de Harry Potter!– Shh! Cale a boca! Agora será selecionado outro filho de Harry Potter.Todos os comentários não eram para Alvo, e sim para O Filho de Harry

Potter. Aquilo foi consumindo Alvo por dentro, ser o filho de Harry Potter não era apenas o que ele queria, ele queria que as pessoas começassem a

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reconhecê-lo por seu nome e não por ser filho de um dos maiores bruxos dos tempos atuais.

A última coisa que Alvo conseguiu ver antes do Prof Longbottom deixar o chapéu recair sobre seus olhos, foi um salão cheio de alunos espichando os pescoços para tentar ver o rumo da seleção de Alvo. Olhos arregalados sem ao menos piscar, e vários grifinórios já cantando vitória.

– Potter, Alvo. Sim. Admito que eu anseie em poder observar esta mente – disse o Chapéu Seletor em um sussurrou, mas que podia ser ouvido, pois o salão estava em total silêncio. – Você é o quinto Potter que vem sob meu tecido, e o quarto a se submeter a meu julgamento. Quase cinqüenta anos se passaram, três gerações de Potter e vocês são sempre difíceis de classificar.

Eu não tenho que ser igual ao meu pai. Pensou Alvo ingenuamente sem se lembrar que o chapéu estava sobre sua cabeça. Ser um grifinório não é meu dever. “... poderá escolher a Grifinória em vez da Sonserina.” As palavras de Harry ecoavam nos ouvidos de Alvo, como se o pai estivesse o seu lado as repetindo.

– Sentimentos denunciadores, Potter – disse o chapéu. – Você seria grandioso em qualquer uma das quatro casas, mas será? Talvez... Lufa-Lufa?

Não! Tudo, tudo menos a Lufa-Lufa! Pensou Alvo com todas as forças que ainda lhe restavam. Eu posso ser grandioso em qualquer uma das casas, mas eu serei grandioso de outro jeito: do meu jeito.

– Hmm. Interessante, Potter. Se assim deseja... – o Chapéu Seletor fez uma pausa proposital, como se quisesse matar alguém do coração. – Sonserina!

A mesa na extremidade direita à Alvo explodiu em festa. Era como uma compensação mais que satisfatória para os sonserinos, um Malfoy por um Potter. Um nome mais famoso e de mais expressão. Por outro lado, a mesa da Grifinória parecia se preparar para um funeral. Suas caras nunca demonstraram maior desapontamento e sensação de perda do que naquele momento.

Contudo, dentro de Alvo, uma mistura de sensações e emoções invadia seu corpo. Sua mente e seu coração pareciam estar em constante conflito. Ele não sabia se sorria ou se chorava. Se ele deveria corria para fora da escola ou se aceitava as boas vindas da Sonserina. Somente uma opção lhe ocorreu quando o Prof Longbottom retirou o Chapéu Seletor de seus cabelos escuros.

– É tão ruim ser da Sonserina? – perguntou Alvo para Neville que se mostrava tão surpreso quanto o restante da escola.

Neville encarou Alvo com seus olhos simpáticos e amistosos. Quase nada passava pela mente de Neville, nenhuma resposta que pudesse agradar completamente Alvo. Então, como um leve sopro, Longbottom deixou seus olhos recaírem sobre o afilhado assustado e enfim respondeu:

– Não.

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Capítulo TrêsEncontro de Professores

esde os tempos de Armando Dippet como diretor de Hogwarts havia uma comemoração particular entre os diretores das casas da escola. Com o fim do mandato do Prof Dippet e a posse de

Alvo Dumbledore, a reunião se estendeu para além dos diretores de casas. Além destes, outros professores convidados pelo diretor poderiam compartilhar dos comes e bebes; distribuídos na festa particular. Porém durante o ano em que Severo Snape foi diretor nenhuma festa ou reunião fora marcada. Os tempos de guerra e desconfiança entre os professores impediram que qualquer comemoração fosse organizada. Contudo naquele ano, durante o novo regime estudantil de Servilia Crouch a comemoração de início de ano foi mantida. Além dela e dos diretores de casas foram também convidados, o Prof Longbottom, o Prof Silvano, Prof Finch-Fletchley e a Profª Gertrudes Knossos de Runas Antigas. As reuniões geralmente aconteciam no escritório do diretor, mas devido ao número de convidados, achou-se mais agradável que a reunião dos professores acontecesse na Sala Precisa no sétimo andar. Onde os professores poderiam ter mais conforto e privacidade, sem correr nenhum risco de serem surpreendidos por um aluno perdido.

D

Para poder entrar na Sala Precisa a diretora Crouch e os demais professores deveria pensar em como precisavam de um lugar para poder conversar com os outros colegas, sem se preocupar com os alunos e onde poderiam comer e beber sem culpa. Servilia não teve dificuldade para achar a Sala Precisa. Em seus tempos de estudante ela utilizara a Sala Precisa várias vezes. Quando ela queria esconder sua Cleansweep Cinco das outras garotas para que essas não a gozassem pelo fato de Servilia treinar para o Quadribol e quando a atual diretora usava a sala para praticar feitiços com seu grupo de amigos sonserinos.

Quando a diretora chegou à Sala Precisa deparou-se com largas mesas repletas de comidas e bebidas, principalmente vinhos e cidras. Servilia agradeceu por não ter se fartado de comida durante o Banquete de Início de Ano. As paredes da Sala Precisa estavam cobertas por tapeçarias com as cores das casas da escola e com os emblemas respectivos de cada uma. Algumas mesas e cadeiras de prata foram espalhadas pela sala, além de uma antiga vitrola encantada que repousava sobre uma bancada e soava as melodias da antiga banda bruxa Caldeirão Explosivo, liderada pela cantora Selena Bichwitck.

A cada dez minutos um professor chegava a Sala Precisa. Para não levantar suspeitas entre os alunos, os professores combinaram de não chegarem todos juntos. Neville contou que a mesma tática era usada por

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ele e por seus colegas durante os tempos de reunião da Armada de Dumbledore.

Primeiro chegou a Profª McGonagall na companhia do Prof Flitwick. Em seguida Horácio Slughorn adentrou na Sala Precisa em uma animada conversa com a Profª Knossos. Poucos minutos depois o professor Finch-Fletchley de Estudos dos Trouxas chegou sozinho à Sala Precisa. E dez minutos depois o Prof Longbottom e a Profª Vector chegaram para a comemoração. A Profª Vector de Aritmancia havia sido selecionada como diretora da casa Lufa-Lufa depois que a professora Sprout se aposentou. Por último chegou Mylor Silvano, o único professor novato que fora convidado para a reunião dos professores. Foi idéia de Neville chamar o novo professor já que ele e Mylor tinham uma antiga amizade, formada durante seus tempos como membros do Quartel-General dos Aurores.

Cada professor se juntou perto de uma mesa de comida para discutir e conversar sobre as novas dos tempos de férias e sobre demais assuntos que geralmente variavam entre Quadribol, política e feitiços.

– Divino este banquete, Servilia! – suspirou o Prof Flitwick servindo-se de mais uma porção de salgadinhos. – Onde os encomendou? Não como algo tão... prazeroso e novo há algum tempo.

– Encomendei de uma nova loja gourmet que inaugurou no Beco Diagonal. É bom saber que foi aprovado – a diretora Crouch sabia que teria de encomendar os comes e bebes, afinal, segundo as famosas Leis de Gamp, comida é uma das cindo exceções sobre a Transfiguração Elementar.

– A quanto não nos vemos, Mylor? – perguntou o Prof Longbottom de outro extremo da Sala Precisa.

– Há uns cinco anos – respondeu o Prof Silvano. – A última vez que te vi foi quando nós pedimos demissão do quartel general dos Aurores. Daí você veio para Hogwarts e eu comecei minha viagem ao redor do mundo.

– E quanto à seleção deste ano, hein? – começou o Prof Finch-Fletchley chamando a atenção de todos os presentes – Acredito que este ano o Chapéu Seletor surpreendeu a todos. E não estou me referindo a sua canção habitual.

– De fato! – exclamou o Prof Slughorn levantando os braços e os abanando como se estivesse torcendo loucamente – Hoje fui presenteado com algo que nunca pude imaginar que aconteceria! Um Potter, em minha casa! E justamente o parente de minha querida Lílian Evans! Alvo Potter, na Sonserina!

– É verdade, Horácio. Tenho que admitir que fiquei bastante surpreso quando o chapéu decretou que Potter seria um sonserino. – aceitou o Prof Flitwick ajeitando seus óculos dourados, colocando-os bem ao centro de sua carinha redonda – Contudo é verdade que fiquei decepcionado com o veredicto do chapéu com relação a um dos primos de Alvo Potter. É verdade, esperava que Rosa Weasley se juntasse a minha casa este ano, afinal, ela é filha de Hermione Granger!

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– Mas em compensação é filha de Rony Weasley, também. – completou a Prof McGonagall de maneira irônica.

– Sim. Creio que o sangue grifinório de Rony contou mais que a inteligência de Hermione. – disse Neville servindo-se de cidra sabor uva.

– Mas, – começou a Profª Vector sentando-se na mesa mais próxima aos professores e servindo-se de um pedaço de pernil – acredito que todos os papais que lecionam aqui em Hogwarts não poderão ficar chateados. Afinal, sua filha mais velha, Neville, seguiu seus passos e juntou-se a Grifinória. O mesmo fez seu filho, Inácio, professor Finch-Fletchley, porém seguindo o caminho da Lufa-Lufa.

– Sim. Mas admito que fiquei surpreendido quando Neville anunciou os nomes Black e Prewett. – disse Justino para os demais – Não sabia que estas famílias ainda possuíam descendentes homens que possuíssem seu nome. Já era de meu conhecimento que os Blacks ainda possuíam descendentes vivos, porém com outros nomes como Malfoy, Potter e Crouch. Assim como os Prewett tem relações com os Weasley, mas carregar o nome original?

– Isso se dá à ligação de Lívio e Isaac com parentes abortados. – explicou Flitwick – Lívio é bisneto de Mário Black, neto do Prof Fineus Black, porém como Mário era um aborto não teve sua árvore genealógica divulgada junto ao restante da família. Isaac, por sua vez, tem parentesco com um tal de Geraldo Prewett. Geraldo era filho de Inácio e Lucretia Prewett, tendo relações familiares tanto com a família Weasley quanto com a Black, respectivamente. Geraldo teve uma vida bem melhor que a de Mário, e aparentemente, se profissionalizou como contador trouxa. Ambos os parentes abortos dos garotos tiveram filhos, porém somente a mais nova de Geraldo foi aceita em Hogwarts. Deve se lembrar da jovem Mafalda Prewett, Minerva. Ela foi aceita em Hogwarts a uns vinte e tantos anos.

– É verdade, Filio. – confirmou McGonagall bastante interessada nas histórias que ela não conhecia – Mafalda era uma aluna brilhante, um tanto inconveniente e respondona, mas e que explica as relações de Isaac com a Sonserina.

– PELAS BARBAS DE MERLIM! – berrou o Prof Slughorn derrubando seu vinho dos elfos no chão e levando as mãos à cabeça – Como pude me esquecer de Mafalda! Lecionei para ela a partir de seu terceiro ano, ela era realmente brilhante, sempre com as respostas na ponta da língua. Era tão inteligente quanto a Srtª Granger...

– Filio, – murmurou Servilia Crouch para o professor de Feitiços – os Lestrange também tem relações com a família Black, correto?

– Sim. – respondeu Flitwick firmemente – Rodolfo Lestrange se casou com Belatriz Black, filha de Cygnus e Druella Black. Mas por que a pergunta, Servilia? Ah, sim, o jovem de nome Agamenon. Creio que ele se juntou a Grifinória.

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– Termos um Lestrange na Grifinória já é bastante surpreendente, mas – Servilia fez uma pausa em quanto tomava um gole de seu vinho – o que mais me surpreende é termos um Lestrange de volta a Hogwarts! Com isso é possível? O garoto não é filho de Rodolfo, é?

– Não. – respondeu rapidamente Mylor Silvano, já consciente de que Neville também já sabia a resposta – Ele é filho de Rabastan Lestrange. Recapturado há alguns anos.

– Mas como Rabastan ou seu filho, voltaram à Inglaterra bem debaixo do nariz do ministério? – Servilia continuava perplexa – Como, depois de tudo que Rabastan e seu irmão fizeram, como ele pode voltar?

– O Ministério pode ser lento e injusto, mas não é burro. – afirmou Neville – Eu e Mylor sabemos um pouco mais sobre este caso. Os Lestrange voltaram à Inglaterra há dez anos, em nosso tempo ainda como aurores, o escândalo fora tamanho que até o ministro Shacklebolt teve de se envolver.

“Pouco antes do término da Batalha de Hogwarts, Rabastan Lestrange deu-se por vencido e concluiu que aquela era uma guerra que os seguidores de Voldemort não ganhariam. Pouco antes de Harry se entregar a Voldemort e de este supostamente o assassinar. Rabastan disse a seu irmão que não voltaria à Hogwarts, que ele fugiria para a França e que estava disposto a levar Rodolfo e Belatriz com ele. Porém, Rodolfo era orgulhoso, e sua esposa não menos. Ele disse a Rabastan que em momento algum abandonaria o Lorde das Trevas. Já Rabastan não estava disposto a voltar para Azkaban por uma terceira vez. Rodolfo, por sua vez renegou Rabastan, e o excluiu da família Lestrange, pois afirmava que ele, Rabastan, havia abandonado seu irmão e seus ideais. Bem, sabemos o que aconteceu com Rodolfo e Belatriz. Um apodrece em Azkaban em quanto a outra repousa no sono profundo.”

“Quando percebeu que já estava velho e com medo de levar o nome para o túmulo com ele, Rabastan decidiu se casar e procriar com alguma bruxa de sangue-puro. Três anos após o casamento com a bruxa francesa Charlotte Asset, Rabastan teve um filho.”

– Daí veio Agamenon. – concluiu Justino.– Sim. Mas desmentindo o julgamento final de Rodolfo Lestrange,

Rabastan não havia abandonado seus ideais. Sua esposa Charlotte queria que Agamenon estudasse em Beauxbatons, mas Rabastan era tão orgulhoso quanto o irmão e a cunhada. Ele não queria que um Lestrange fosse tratado como qualquer um em Beauxbatons. Então Rabastan mandou uma carta ao ministro pedindo que Charlotte e Agamenon pudessem voltar à Inglaterra e desfrutar de toda a fortuna e bens que Rabastan herdou de seus pais. Mas, em troca, Rabastan se submeteria ao julgamento perante a Suprema Corte dos Bruxos e aceitaria qualquer que fosse sua decisão final.

“Obviamente, Rabastan foi condenado à prisão perpétua em Azkaban, e morreu um ano após ser condenado.”

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Mesmo depois da expulsão dos dementadores da prisão bruxa e da criação de um Sistema de Guarda de Azkaban, a prisão dos bruxos continuava a ser um dos piores lugares para se passar uns dias. A condição de vida ainda era horripilante, e muitos dos prisioneiros ainda enlouqueciam ou morriam.

– Filio, você que é bom com os nomes de seus alunos – disse a Profª Vector – A primeiranista Ísis Cresswell, é parente de Dirk Cresswell, o bruxo assassinado por seqüestradores?

– Sim, Septina. A Srtª Cresswell é sua neta. Ela é filha de Gabriel Cresswell, um menino brilhante. Acabou seguindo a carreira de Auror, diferente da do pai.

– E quanto a Valerie Rosier, Horácio. – perguntou a Profª Knossos interessada – Ela foi selecionada para sua casa, não é?

– De raspão! – exclamou Slughorn – Assim como o restante de meus alunos novos, exceto Potter, foi o que mais demorou sobre o Chapéu Seletor.

– Valerie é filha de Evan Rosier? – perguntou Minerva McGonagall.– Sua neta. – respondeu Mylor logo após ter devorado uma costela –

Evan é muito velho para ter uma filha da idade de Valerie. O filho de Evan, Miguel nunca teve passagem por Hogwarts. A mulher de Evan Rosier percebeu que após a morte do marido, a Grã-Bretanha não era mais um lugar seguro para eles. Seriam perseguidos e Miguel seria discriminado pelos colegas em Hogwarts. Sendo assim ela se mudou com o filho também para a França. Miguel se formou em Beauxbatons e por lá se casou e constituiu sua família.

– Mas por que voltar para a Grã-Bretanha? – indagou Servilia – Se já não bastasse Lestrange, os Rosier também resolveram voltar!

– Assim como Rabastan, Miguel não queria que os filhos fossem mais um dentre tantos os estudantes da escola francesa. Ele também sabia que os Rosier tinham um nome forte aqui na Inglaterra, então, mudou-se com sua família para cá. É verdade que tanto Rosier quanto Lestrange fizeram atrocidades no passado, mas temos de reconhecer que estes têm apego por suas raízes.

– Ainda não acredito que Alvo foi para a Sonserina. – afirmou Neville em um sussurro quase que imperceptível, mas que chamou a atenção dos demais presentes – Nada contra sua casa, Horácio. – completou rapidamente ao ver a expressão de desaprovação que tomou a face de Slughorn – Mas é que ele é meu afilhado e, ele parecia tão surpreso. Perguntou-me se era ser ruim ser da Sonserina e eu disse que não, só que...

– É claro que não é ruim ser da Sonserina! – bradou Slughorn revoltado – Minha casa não pertence apenas a assassinos sanguinários! Não admito que falem isso!

– Entendo, Horácio. – Neville tentava se defender da melhor maneira que podia, queria não aborrecer ainda mais o professor de poções que se

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mostrava bastante alterado – Só me preocupo com o envolvimento de Alvo com um crescente número de parentes de Comensais da Morte ou de aliados a eles. Temos Lestrange, Rosier, Malfoy, Zabini, Dolohov...

– Os irmãos Nott, quinto e segundo ano... – acrescentou Flitwick.– Além de Melissa Goyle, do terceiro ano... – complementou a Profª

Vector.– Os gêmeos filhos de Marcos Flint. – arrematou Mylor lembrando-se da

seleção.– Basta! BASTA! – berrou o Prof Slughorn arremessando sua taça de

hidromel envelhecido contra uma parede de espelhos oposta a ele – Será que vocês ficaram loucos?! Fascinados com a idéia de que meus alunos são amantes das Artes das Trevas e que sempre carregam consigo um exemplar de As Dez Maldições mais Terríveis do Mundo. Se me lembro bem, nem Marcos Flint nem Teodoro Nott eram Comensais da Morte. E nem Escórpio Malfoy nem Agamenon Lestrange pertencem a minha casa! Minerva... – Slughorn começou a soluçar e depois de repousar sua cabeça sobre o ombro de Minerva desabou em lágrimas desesperadoras – Eles acham que somos maus, Minerva. Acham que não sabemos como educar nossos alunos...

– Não acho que o nome seja um motivo para tentarem caçar Potter. Isso nunca aconteceu e espero que nunca aconteça. – disse Servilia tentando consolar o professor bêbado de poções – E vocês não viram a empolgação dos sonserinos quando Potter se juntou a eles? Não parecia a atitude de um grupo que está prestes a cometer um assassinato.

– É verdade.– Desculpe-nos, Horácio. – pediu Neville colocando a mão sobre o

ombro macio e flácido de Slughorn – Não queríamos ferir seus sentimentos. E tenho certeza de que Alvo estará em ótimas mãos.

Os outros professores concordaram e assim se encerrou a festa dos professores do início do ano letivo. A diretora Crouch pediu para que McGonagall encaminhasse Slughorn até seus aposentos no intuito de impedir que qualquer um encontrasse o professor de poções bêbado e mergulhado em lágrimas.

Já era muito tarde da noite quando Servilia voltou a seu escritório. Mesmo tendo passado das duas da madrugada a diretora não estava disposta a mergulhar por debaixo de suas cobertas. Afinal de contas, no dia seguinte não haveria aulas, e ela poderia passar toda a manhã tranquilamente em seus aposentos aproveitando ao máximo seu novo conjunto de roupas de cama e de seu novo pijama sueco. Mas ainda havia muito a se fazer antes de Servilia ir se deitar, como diziam os ditados trouxas, a noite é uma criança, e a diretora a aproveitaria ao máximo.

Servilia olhou para as paredes de seu escritório. Todos os antigos diretores dormiam pesadamente em suas suntuosas cadeiras, mas toda sua divindade era destruída pelos sonoros dos roncos de cada diretor,

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sem exceção. Servilia tinha afeição por cinco diretores e diretoras da escola. Newton Scamander era um dos bruxos que Servilia se orgulhava de chamar de ídolo. Seu conhecimento e fascinação pelas criaturas do mundo da magia empolgavam a diretora Crouch desde menina. Fineus Black era bisavô de Servilia e ela o idolatrava mais do que qual quer um. Sua herança – tanto cultural quanto monetária – encantava Servilia mais do que qualquer outra coisa. Era algo que ela sempre gostava de dizer para seus colegas irritantes “Sou bisneta do diretor Fineus Black”. Não havia possibilidades de Alvo Dumbledore não estar na lista de favoritos da atual diretora. O bruxo de barba branca como a neve e de oclinhos de meia-lua era motivo de exemplo para Servilia, que sempre se imaginava, um dia, sendo tão famosa e poderosa quanto ele. Severo Snape também não estava de fora, mesmo sendo mais jovem que a diretora, ele era como a personificação da coragem e da inteligência, segundo Servilia. Afinal de contas, uma pessoa que conseguiu enganar o Lorde das Trevas por tanto tempo não poderia deixar de ser comparado aos mais velhos e sábios. Por último, a diretora que Servilia Crouch mais gostava e que segundo ela poderia ser uma das melhores era ela mesma. Crouch sempre achou que era uma das melhores em tudo que fazia – não foi para menos que o Chapéu Seletor a enviou para a Sonserina – porém, Servilia acreditava que ela poderia ser a mais sábia e mais respeitada diretora de Hogwarts.

Servilia deslizou leve e delicadamente a ponta se seus dedos pela fria madeira lustrosa de sua nova mesa de diretora. Ela se lembrou do dia em que foi promovida a Chefe do Quartel-General dos Aurores, com certeza ela tivera mais ação ali do que agora comandando um mar de jovens, mas sua vida estava mais safa e um mundaréu de jovens adolescentes era ação suficiente por um tempo. Mas não por muito tempo, ou até o fim de sua vida, Servilia sonhava ainda mais alto e com a aproximação da aposentadoria do ministro Shacklebolt...

– Agora, estou prestes a chegar aonde o pobrezinho do Bartô nunca chegou: ser Ministra da Magia. Em poucos anos Shacklebolt renunciará ao cargo e eu sou uma de suas possíveis escolhas, pelo menos estou na lista do Profeta Diário. Sei que ele gostaria que fosse Potter, mas... Harry ainda não tem peito ou cabeça para comandar o mundo bruxo como ministro. Seria loucura.

Servilia debruçou sobre seus braços e olhou discretamente para as fotos móveis sobre sua mesa. Haviam três, todas relacionadas à sua família. Na da direita, Servilia estava muito mais jovem, cerca de dezesseis anos. Ela carregava sua vassoura sobre os ombros em quanto os irmãos quase não reparavam na boba Charis Crouch, implorando para que os filhos sorrissem para a foto.

Bartô já havia se formado em Hogwarts e exibia seu diploma de conclusão do curso de aparatação com muito orgulho nas mãos, contudo seu sorriso era muito forçado e bobo, parecia que ele estava mais desesperado para ir ao banheiro do que sorrindo para uma foto. Não era

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muito comum ver Bartô rindo, ele era um homem rígido e fiel as regras, que acreditava muito mais no poder da razão que o das emoções. Ao meio estava Servilia, a única que sorria para a mãe feliz e radiante. Ela carregava seu uniforme de capitã da equipe de Quadribol da Sonserina bem dobrado em uma das mãos, em quanto a outra equilibrava a vassoura e o troféu de campeão da temporada de Quadribol de Hogwarts. E à esquerda estava a irmã do meio de Servilia, Calista Crouch que era um ano mais velha, que Servilia. Calista mal dava importância para a fotografia, apenas fitava o resultado de seus N. I. E. M.s e a foto de seu namorado da época, o primo de Lúcio Malfoy – que agora repousa no mausoléu da família Malfoy – o arrogante e sempre bem perfumado Jápeto Malfoy.

A outra foto era dos pais de Servilia. Ela sempre imaginava como tendo os pais mais maravilhosos do mundo, mas com o passar dos anos e do amadurecimento de seu cérebro, ela descobriu que seu pai, Caspar Crouch, não era tão maravilhoso e justo como a figura paterna de seu pai – o avô de Servilia – Montgomery Crouch. Caspar era um sonegador do Ministério, que sempre tentou tomar proveito dos outros e desviar uma verba ou outra dos cofres ministeriais para dentro do próprio bolso. Quando finalmente foi pego e condenado, Caspar já não servia de mais nada para o Ministério. Já era o fim de sua vida e nada mais poderia ser feito para reparar seus danos. Em troca de seu nome permanecer limpo e que seu segredo nunca fosse revelado, Caspar abriria mão de sua cadeira na Suprema Corte dos Bruxos e devolveria ao Ministério sessenta por cento de tudo que possuía. Mesmo sabendo que o pai fora um ladrão que desviava verbas, Servilia nunca o odiou. Pelo contrário, sempre esteve do seu lado até o fim de sua vida. Sua mãe Charis, era a típica dona de casa que sempre se preocupava com o bem estar dos filhos, embora sempre mostrasse ter uma gratidão maior por Calista. Servilia, de qualquer forma, só possuía boas lembranças da mãe e nunca pensou em outra emoção para compartilhar com a mãe a não ser o amor.

A última foto era da própria Servilia. Ela estava apertando a mão do antigo Ministro da Magia, Pio Thicknesse. Era o momento de sua promoção a Chefe do Quartel-General dos Aurores. Servilia detestava Thicknesse, sabia que ele trabalhava para Voldemort e que seu regime ministerial seria brutal e repleto de terror, mas ele – ou o Lorde das Trevas – confiava em Servilia e acreditava que ela poderia não ser um empecilho para seus planos. Ambos estavam errados, Servilia sempre criava problemas para os Comensais da Morte, defendeu e ajudou Harry Potter durante e depois da guerra, sendo ela a aprisionar vários Comensais. Porém, Servilia via aquela foto como um momento de glória pessoal. Sem nenhuma insinuação ou guerra.

– Lorotas na cabeça, Servilia? – perguntou uma voz lenta e grave, que Servilia identificou como sendo a voz do Chapéu Seletor – Você ainda é a Crouch mais difícil que classifiquei.

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– Quanto a minha cabeça estou ótima. Só um pouco zonza por causa do vinho. – respondeu firmemente Servilia, sem se deixar enrolar pela voz melancólica do chapéu – Mas quanto a minha seleção, não vejo por que teria sido difícil de me classificar. Afinal sempre demonstrei todos os requisitos para ser aceita na Sonserina.

– Cada casa não possui requisitos e sim características que mais se assemelham a de seus fundadores originais. Quando disse que você foi difícil, significa que você possuía todas as emoções das quatro casas e eu sabia que você se daria bem em qualquer uma. – o Chapéu se mostrava firme e dogmático, como se tentasse esclarecer melhor o passado sombrio de Servilia.

– Então, por que a Sonserina? Por que não outra casa como Corvinal ou Grifinória?

– O nome pesa. – soprou levemente o Chapéu Seletor como algo muito simples de se responder – Às vezes eu me deixo levar pelo nome de quem está sobre minha aba.

– Às vezes. – repetiu Servilia em tom de gozação – Hoje você provou que somente às vezes você se leva pelo nome do aluno.

– De forma alguma. – respondeu veementemente o Chapéu Seletor – Este ano somente li os pensamentos dos alunos e os classifique de acordo com cada um. Sei que se refere a minhas surpresas deste ano, mas eu sei o que se passava sobre as mentes de Potter, Malfoy e Lestrange. E nenhum deles possuía os requisitos necessários para ser escolhido para a casa que imaginavam. É verdade que Potter demonstrava muita coragem, audácia e cavalheirismo, mas possuía ainda mais ambição, astúcia, determinação do que as qualidades de um grifinório. Lestrange provavelmente nunca tomou conhecimento do passado tenebroso do pai por muitos anos, pois foi difícil detectar as características de um sonserino nele. Vi muito mais coragem que ambição, mais audácia que astúcia. E se você percebeu o garoto Lestrange não se mostrou decepcionado com meu veredicto final. Não mais que o Prof Flitwick quando não coloquei a menina Weasley na Corvinal.

– E quanto a Escórpio Malfoy?– Malfoy era completamente o oposto de Potter. Em quanto o menino

Potter queria ter o nome em um patamar mais alto que o do pai, Malfoy queria apenas ser aceito pela família. Queria mostrar que podia mais do que os outros acreditavam, que ele poderia ser um bom bruxo sem precisar esmagar os companheiros. Pensamentos de um grifinório.

– E... – Servilia esperou alguns segundos, limpou a garganta e então prosseguiu – Quando você disse que o nome pesa... Quando foi que você selecionou um aluno por causa de seu nome, e não por suas emoções?

– Foi a mais ou menos quarenta anos. O garoto em questão estava muito ansioso, foi difícil de decidir por causa de tamanho nervosismo, a maioria de seus pensamentos estavam sendo bloqueados, não muito diferente do que Potter tentou fazer. O nome dele era Régulo Black, foi

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selecionado para a Sonserina, mas eu ainda me pergunto se foi o certo a fazer. A família Black, assim como a Malfoy, tem um longo currículo de membros pertencentes à Sonserina. No ano anterior eu já havia selecionado o outro filho de Walburga e Orion Black para a Grifinória, e tinha medo que ambos os pais invadissem a escola e me lançassem nas chamas. Então selecionei o mais novo para a Sonserina. Mas acredito que Régulo teria sido mais grandioso se eu o tivesse mandado para a Lufa-Lufa ou para a Grifinória.

– Mas você é imune ao fogo. – afirmou Servilia.– Sim. Mas meu tecido fica formigando e eu odeio quando isso

acontece.Já havia se passado duas horas desde que Servilia havia voltado da

festa dos professores, mas ainda havia uma coisa que ela gostaria de fazer antes de mergulhar sobre suas cobertas. Porém ela não o fez de imediato. Outra voz, também bastante conhecida pela diretora, soou as suas costas. Ela parecia tão real que Servilia até se assustou, mas o dono desta não se passava de um mero retrato.

– Como vai, Srª Diretora? – perguntou Alvo Dumbledore amigavelmente.

– Vou bem, professor. Ainda tenho alguns papéis para organizar, mas estou muito bem.

– Ah, os papéis! – suspirou Dumbledore – O maior pesadelo de qualquer diretor. Organizar e organizar toneladas e toneladas de papéis com as fichas, status sanguíneo, árvore genealógica, habilidades mágicas, notas antigas, pedidos de detenção... Isso me tomou algum tempo e... Ah, parece que a reunião dos professores sobreviveu ao tempo.

– Sim. É uma tradição que nós, professores, agradecemos muito por existir. É uma hora que nós deixamos de nos olhar como colegas e nos vemos como amigos, bruxos experientes que conversam sobre suas expectativas sobre o ano que se inicia...

– Está a salvo. – disse uma voz sinistra e pesada, que Servilia reconheceu como sendo do retrato de Severo Snape, que pendia a suas costas – Está a sal...

Snape se calou quando percebeu a presença da diretora no gabinete. Possivelmente, era mais uma de suas tramóias junto ao diretor Dumbledore. Ambos tinham inúmeros quadros espalhados pelo mundo da magia, incluindo os locais mais importantes como o gabinete do Ministro da Magia. Mesmo Snape tendo mostrado espanto ao encontrar Servilia, Dumbledore continuou a sorrir para a bruxa com uma naturalidade, até que sinistra.

– Acho que deveríamos nos encontrar depois, Dumbledore. – aconselhou Snape sem tirar os olhos de Servilia – Está muito tarde, não seria oportuno...

– Se minha presença o incomoda, Prof Snape, pode dizer diretamente. Sem mais desculpas.

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– Não acho que uma novata como você poderia dar ordens a alguém como eu. – resmungou Snape por entre os dentes. Seus negros olhos fitavam cansativamente Servilia, quase sem piscar – Seu legado de bem feitorias não é tão longo quanto o meu. Além do mais, é Dumbledore quem dita às regras.

– Ora, Severo. – riu Dumbledore mirando o retrato do colega diretor – Não diga isso como se eu fosse um ditador. Quanto a Servilia... Acredito que ela não será um obstáculo para nossas atividades, afinal não estamos fazendo nada que possa nos colocar em detenção.

– Então, quem está a salvo? – perguntou Servilia inquieta – O que vocês estão tramando? E por que enviar Snape?

– Há muitas respostas que somente o tempo poderá dar-lhe, Servilia. – afirmou Dumbledore ainda com seu sorriso nada natural – Porém há outras que posso lhe responder. Primeiramente, como sabe que Severo se referiu a alguém e não a algo quando disse que está a salvo? Bem, seu raciocínio dedutivo realmente é muito aguçado, pois realmente nos referimos a alguém. Há algum tempo percebi uma incomum perturbação ao redor de alguns membros do Ministério e resolvi investigar, através de meus quadros. Somente Severo sabe o resultado de minhas investigações, mas posso adiantar-te que em um futuro elas se entrelaçaram com certo xará meu.

– Alvo Potter. – sussurrou Servilia convicta de que o antigo diretor se referia ao filho de Harry Potter.

– Você acredita que somente o filho de Harry é xará meu? – perguntou Dumbledore ironicamente – Dê uma volta pelo Departamento de Jogos e Esportes Mágicos, informe-se sobre Alvo Ocklebell.

– Sei que não se refere à Ocklebell, professor. – respondeu Servilia firmemente – Conheço Alvo Ocklebell e posso afirmar que você não teria nenhum interesse naquele biruta.

– Dumbledore – interrompeu Snape – Ande logo com isso, Crouch pode ser ingênua e distraída, mas sei que não é idiota.

– Ótimo. – sorriu o diretor levantando-se de sua cadeira e ajeitando os oclinhos de meia lua sobre seu nariz torto – Sim, Servilia. Alvo Potter está prestes a provar sua verdadeira coragem e habilidade com feitiços. Não será uma tarefa tão complicada quanto à de Harry em seu primeiro ano, nem seu oponente será tão engenhoso quanto Voldemort, mas será um bom teste para o garoto.

– Teste! – repetiu Servilia em um tom bravo de desaprovação – Chama isso de teste, Dumbledore! Potter pode morrer se enfrentar um bruxo mais experiente. O garoto não sabe nem estuporar alguém!

– E este é seu dever, Servilia. – disse Dumbledore – Alvo está em Hogwarts para aprender a se defender. E posteriormente, enfrentar outros bruxos.

– Mas isso não é algo que se aprende da noite para o dia! – urrou Servilia avançando e ficando cara a cara com a pintura de Dumbledore –

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Magia não é nada que se possa aprender de um dia para o outro. É um estudo de anos e que custará muito de Potter! E de qualquer um!

– E é você que deve ensinar aos jovens como o fazer. – afirmou Snape firmemente – Reclama de que Potter não sabe se defender, quando ensiná-lo é dever seu. Além disso, Harry Potter derrotou o Lorde das Trevas com apenas um ano... Quanto de magia uma criança já sabe nesta idade.

– Vocês mais do que ninguém sabem que Harry só sobreviveu por causa da magia lançada por Lílian Evans! Ela salvou Harry de Voldemort. Lílian, uma bruxa já formada e ciente da magia.

– Severo, lembra-se da noite em que Harry entrou em Hogwarts? – perguntou Dumbledore tentando mudar de assunto – Lembra-se que os elfos prepararam um fantástico pudim de claras e ganso ensopado? Ah, foi na noite em que o Prof Silvano Kettleburn nos contava como havia perdido seu indicador direito enfrentado um dente-de-víbora do Peru, se lembra?

– Não. – Ah é verdade. – suspirou Dumbledore – Você estava do outro lado da

mesa, conversando com... o Prof Quirrell. Pobre Quirino, uma mente perturbada. Se assim posso julgá-lo. Quirino morreu naquele ano, sabe Servilia?

– Já sei aonde você quer chegar, professor...– Quirino foi possuído pelo Lorde Voldemort, claro, ele o domou como

uma mascote. Foi no final do ano que Quirino morreu, foi derrotado por Harry Potter que... Não podia tocá-lo.

– Mas, era Harry Potter, Dumbledore. – insistia a diretora – Não seu filho. Alvo com certeza não gostaria de ser comparado com o pai em tudo que faz. Alvo gostará de ser ele mesmo, sem ter de viver grudado à sombra do pai.

– Você está certa, Servilia. – admitiu Dumbledore fazendo menção em deixar sua moldura – Por hora, não há nada que Potter possa fazer, mas em breve ele enfrentará esse inimigo e só seu próprio mérito dirá se ele será vitorioso ou não.

– Só espero que não haja nenhum assassinato durante meu primeiro ano de mandato.

Ao fim da discussão, Dumbledore e Snape deixaram seus respectivos quadros de Hogwarts. Servilia, por sua vez continuara em pé no centro de seu gabinete, observando as molduras vazias de seus antecessores. Ela passou levemente seu dedo sobre a tela pintada a óleo de Dumbledore e sentia um frescor e uma sensação de coragem tomar todo seu corpo. Era como uma injeção de ânimo e coragem às veias de Servilia. A diretora não parecia sentir medo ou sono, ela simplesmente sentia que tudo daria certo.

Quando o sol começou a dar seus primeiros sinais de chegada, anunciando que a manhã estava prestes a começar, Servilia Crouch

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retirou sua cabeça de dentro da Penseira deixada por Dumbledore. Em seu testamento, Alvo Dumbledore deixou como patrimônio da escola seus inúmeros objetos metálicos e de latão barulhentos e a Penseira. Assim como os objetos de latão, a Penseira era guardada no gabinete do diretor. Servilia já havia depositado algumas de suas lembranças sobre a solução líquida contida na Penseira. A luz azulada vinda da Penseira iluminava o rosto da diretora. Ela revivera um momento muito tenebroso de sua vida, um momento que ela ainda se perguntava se havia feito a coisa certa.

– Eles estão mortos. – chorou ela tocando a ponta de sua varinha na solução líquida da Penseira – Não serviu de nada. Mas por que eu sinto medo da garota? Ela nunca o conheceu, nem nunca vai saber o que ouve. Hoje eu estou por cima deles, e estou a alguns passos de me tornar Ministra da Magia. Só há uma coisa...

Ela apontou a varinha para a própria cabeça e retirou uma película prateada iluminada e a misturou a solução da Penseira. Servilia mergulhou a cabeça na Penseira e começou a deixar aquele mundo monótono para chegar a outro nada distante. Ela flutuou lentamente pelas paredes quentes do Salão Principal. Tão lentamente quanto antes, Servilia pressionou os dois pés sobre o mármore do salão da escola. Ela olhou para os cantos e deparou-se com a cena mais confusa da noite para a diretora. A poucos metros da diretora, estava um garoto magricela de cabelos negros e olhos cobertos pelo tecido negro do Chapéu Seletor. Em poucos momentos, novamente, Servilia ouviu a voz dura e precisa do Chapéu Seletor. Seu veredicto final ecoou novamente nos ouvido de Servilia. E novamente ela presenciou o momento em que o Chapéu Seletor gritou para todo o Salão Principal: “Sonserina!”.

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Capítulo QuatroO Memorial de Hogwarts

or mais torturante que possa parecer o nome de Rosa Weasley foi um dos últimos a ser chamado. Mesmo que a grande maioria dos presentes acreditasse que Rosa seria selecionada para a

Corvinal, o Chapéu Seletor continuou a arrasar corações e a selecionou para a Grifinória.

PAlvo ficou feliz que Rosa tivesse continuado a tradição dos Weasley em

pertencer a Grifinória, mas por um breve momento ele ficou chateado, pois um dos motivos de ele ter cedido em não pedir para o chapéu para mandá-lo para a Grifinória fora o fato de acreditar que Rosa fatalmente seria mandada para a Corvinal.

Finalmente o banquete da festa de início de ano fora servido, e Alvo teve de se conter para não parecer um esfomeado. Havia muita comida espalhada pela mesa da Sonserina. Desde pratos que ele já estava familiarizado e os adorava, até combinações que ele não arriscava em experimentar. A cada momento os fantasmas de Hogwarts começavam a aparecer para se juntar à festança, e Alvo pode notar que o Barão Sangrento, o fantasma da Sonserina, estava muito mais feliz do que quando era mencionado nas histórias contadas pelos parentes de Alvo sobre os fantasmas. Isso se devia a um fato que acontecera poucos anos após a Batalha de Hogwarts. Em uma noite sombria, onde a chuva castigava os terrenos da escola, a Dama Cinzenta chamou o Barão Sangrento para uma conversa nos arredores do segundo andar. Helena Ravenclaw estava disposta a perdoar o Barão Sangrento, perdoá-lo pelo fim trágico que levou o amor louco do barão pela dama. Desde então o Barão Sangrento não carrega mais suas correntes fantasmagóricas para cima e para baixo. Segundo o que os ex-alunos de Hogwarts contavam, as correntes branco-pérola do barão sumiram no exato instante em que a Dama Cinzenta o perdoou.

Alvo queria perguntar a Isaac Prewett qual era sua relação com a família Weasley, mas ele, Alvo, era um dos alunos mais rodeados pelos demais. Todos os colegas mais velhos de Alvo se esticavam e debruçavam sobre a mesa da Sonserina para poder ouvir mais sobre as histórias do filho de Harry Potter. Alvo até entendia a curiosidade geral, sabia como era raro que alguém pudesse contar veridicamente o que acontecera com Harry, mas volta e meia, Alvo era obrigado a utilizar fatos que ele lera nos livros do pai, pois ele mesmo não sabia se era verdade ou não.

– É verdade que seu pai tem um hipogrifo tatuado no peitoril? – quis saber uma quintanista bastante interessada no assunto.

– Não. Ele não tem nenhuma tatuagem. – respondeu Alvo para desânimo da garota – Acho quem isso foi só um boato que espalharam na época que ele prestava o sexto ano aqui em Hogwarts. Se não me falha a memória, foi minha mãe que o inventou.

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Com tantas perguntas a serem respondidas, Alvo quase não tinha tempo para levar seu jantar à boca. Era torturante estar sentado à frente de um banquete digno de reis e não poder aproveitar nada. Porém Alvo se interessava pelas perguntas quando estas se distanciavam de Harry Potter e se voltavam para ele próprio. Alvo ficava muito mais feliz e grato quando os colegas sonserinos perguntavam sobre sua vida, e não sobre os antigos feitos do pai. Foi naquele instante que Alvo percebeu que ele possuía as características de um sonserino, pois Alvo queria que o foco de todas as perguntas fosse sempre ele, e não sobre o pai famoso.

O melhor passatempo dos sonserinos no dia do banquete de início de ano era perguntar e averiguar a árvore genealógica dos primeiranistas. Entre perguntas e especulações a frase “Isso significa que somos primos” era a mais comum vinda dos sonserinos. Afinal, as famílias de puros-sangues sempre optavam por seus filhos e filhas se relacionassem com outros bruxos puros-sangues, sendo inevitável que essas famílias sempre possuíssem laços umas com as outras.

– Prewett... Prewett... Prewett. Esse nome me é familiar. – garantiu Tibério Nott estudando os cabelos ruivos e a pele sardenta de Isaac – Prewett, Weasley. Tenho certeza de que ambas as famílias tem laços genealógicos.

– Bem, tem sim. – admitiu Isaac sorridente – Uma das filhas de um dos irmãos de meu bisavô se casou com um Weasley. Seu nome é Molly. Ela já me visitou uma ou duas vezes junto ao marido, mas isso foi só em quanto meu avô ainda estava vivo. Eles não eram muito próximos então era raro um visitar o outro.

Aquilo acertou Alvo como se alguém estivesse lançado nele uma Azaração Ferreteante. Sua mente ficou clara como água e todos os seus pensamentos se organizaram rapidamente dando a possibilidade de Alvo raciocinar ligeiramente. A vovó Weasley já havia mencionado uma vez que ela possuía um primo aborto filho do irmão de seu pai. Como esse primo não fora incluído no mundo mágico, seus pais acharam melhor que seu contato com o mundo bruxo fosse o menor possível. Os pais desse primo aborto, Inácio e Lucretia, não tratavam mal esse filho – como a maioria das famílias de puros-sangues fazia – eles o matricularam em uma escola trouxa e o deixaram viver sua vida comum, sem nenhum poder mágico. Quando mais adulto esse primo da vovó Weasley voltou a procurá-la quando descobriu que sua filha mais nova havia sido aceita em Hogwarts. Depois desta procura, a vovó Weasley se aproximou um pouco mais desse primo, mas depois de sua morte as famílias voltaram a quase nunca se comunicar.

Por um momento Alvo ficou calado. Não esperava encontrar um primo em seu primeiro dia de Hogwarts. Aquilo parecia um tanto assustador e ele tinha medo de a reação de Isaac ser negativa, mas mesmo assim ele tentou.

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– Isaac – o sussurrou de um modo quase imperceptível – essa Molly é minha avó.

Isaac não respondeu. Parecia que ele havia tomado uma descarga elétrica que o impossibilitara de falar. Ele deixara o garfo cair no chão e só o ecoar do metal batendo no mármore fez com que ele despertasse do transe.

– Pelas cuecas de Merlim! – berrou ele derramando seu suco de abóbora sobre a mesa da Sonserina, deixando o líquido percorrer toda a madeira até cair do outro lado, onde estava Nott. – Minha primeira noite em Hogwarts e... Já tenho um primo famoso!

– Olha aboca, Prewett. – resmungou Nott fazendo referência a expressão de Isaac – E olha que lambança! Eu ainda não aprendi o Feitiço Anti-Mancha.

Quando a cera das milhares de velas que cobriam o teto do Salão Principal começaram a derreter sobre as cabeças dos alunos, a diretora Crouch tomou conhecimento que o banquete estava próximo do fim. Mesmo sendo apenas meia noite, a diretora possuía compromissos inadiáveis, que só poderiam ser realizados com o fim da comemoração.

– Bem, – começou ela erguendo-se uma última vez de sua cadeira como diretora e encarando os estudantes em suas respectivas mesas – que noite, hein? Antes de nos despedirmos e rumarmos para nossos aposentos a fim de testarmos os novos Feitiços de Relaxamento que lançaram sobre nossas camas, gostaria que todos nos uníssemos para relembrar uma antiga tradição da escola que não se é repetida há algum tempo. Pensem na música que mais gostem e cantem a hino de Hogwarts!

Entre sussurros de desaprovação e cansaço, os Hogwartianos se levantaram das mesas prontos para cantar o hino da escola. Alvo não esperava que fosse obrigado a cantar o hino em seu primeiro ano. Como dizia a tia Hermione, a cantoria do hino de Hogwarts fora esquecida através dos anos, que era raro que um diretor se lembrasse de ordenar que os alunos o fizessem. Mas de um jeito ou de outro, a diretora Crouch havia se lembrado desse, e os alunos deveriam cantá-lo.

A Profª Crouch retirou sua varinha de dentro de suas grossas e negras vestes e Alvo se encantou com a graciosidade do artefato. A varinha não era muito regular como a dele, lembrava a antiga varinha de Belatriz Lestrange que ele vira uma vez, largada em um armário cheio de tralhas da casa do tio Rony e da tia Hermione. A diretora começou a apontar a varinha de um lado para o outro, como se espantasse um enxame de abelhas raivosas. Em poucos instantes, uma longa fita de cetim tão leve e frágil quanto à pura neve que cai dos céus se formou à cima das cabeças dos professores.

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– Com ritmo, por favor. – ela respirou profundamente e começou a comandar os alunos como um maestro conduz seus subordinados para que juntos pudessem apresentar um espetáculo aceitável.

“Hogwarts, Hogwarts, Hoggy Warty Hogwarts,Nos ensine algo, por favor,Quer sejamos velhos e calvosQuer moços de pernas raladas,Temos as cabeças precisadasDe idéias interessantesPois estão ocas e cheias de ar,Moscas mortas e fios de cotão.Nos ensine o que vale a penaFaça lembrar o que já esquecemosFaça o melhor, faremos o resto,Estudaremos até o cérebro desmanchar"

Nenhum aluno de Hogwarts terminou de cantar o hino no mesmo tempo. Primeiro terminaram os professores, que de uma maneira excepcional cantaram a melodia da escola com uma perfeição sobre-humana. Em quanto isso os alunos mais velhos ainda cantavam a primeira parte do canto. A grande maioria dos novatos nem ao menos tentou cantar a melodia, com exceção de Rosa, os primeiranistas apenas repetiam alguns refrões ditos pelos mais velhos.

Mesmo por baixo de uma cantoria desigual e desuniforme, a diretora Crouch pareceu satisfeita com o resultado final da melodia. Ela fez uma ligeira reverência final para os estudantes, e os liberou para que pudessem seguir para seus dormitórios.

– Primeiranistas sonserinos, sigam-me. – ordenou o monitor da Sonserina sem muito ânimo. Alvo identificou o monitor parrudo, com rosto desanimado de furão como o irmão mais velho de Tibério Nott – O caminho até as masmorras não é nada muito fácil. Vocês terão de prestar atenção se não quiserem se perder em nossas masmorras.

– Muito confortante. – murmurou Isaac perto de Alvo – Até que fui com a cara do Tibério, mas ele e o irmão não se parecem em nada! Tibério é até social, mas esse tal Bruto é a personificação do desânimo!

– Não o julgue mal. Todos nós estamos cansados, talvez ele como monitor esteja mais cansado do que...

Alvo foi interrompido pela visão de um grifinório aparentemente histérico em chamar sua atenção. Do outro lado do Salão Principal, Tiago saltava de um pé a outro balançando as mãos rapidamente tentando chamar a atenção do irmão mais novo. Alvo não poderia imaginar quais eram as intenções de Tiago, mas não tardou em se aproximar do irmão para averiguar.

– Al, o q... o que aconteceu? – gaguejava Tiago apontando freneticamente para o exato posto onde há algumas horas atrás estava o banco de quatro pés com o Chapéu Seletor – O que você fez para... – ele

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encheu os pulmões com ar para finalmente falar o que parecia ser inacreditável – Ser mandado para a Sonserina! Por quê? O pai não havia dito que o Chapéu Seletor não o mandaria para a Sonserina se você não o quisesse? Ele não disse que você poderia escolher a Grifinória?!

– Sim, ele disse. Mas eu não o fiz. – retrucou decididamente Alvo, porém em um tom tão natural que dava até calafrios – Eu percebi que eu poderia fazer mais que simplesmente escolher.

– Mas por que a Sonserina? – Tiago continuava impaciente, e mesmo sem ter controle sobre seus atos ele agarrou os ombros de Alvo com toda a sua força, como se esperasse que o irmão fugisse com medo.

– C-calma, irmãozão! – gritou Alvo tentando se desvencilhar das garras de Tiago que o prendiam cada vez mais – Esse é o lado mandão dele! – gritou Alvo para ninguém – deve ser o sangue de mamãe fervendo o cérebro.

– Sonserina! – rangeu Tiago entre os dentes. Seus olhos não paravam de tremer, como se a raiva começasse a domar seu corpo e ele lutasse contra ela ao mesmo tempo em que segurava Alvo – Alvo, com tantas casas, a S...

– Sonserina! – completou Alvo já sem paciência – A mesma Sonserina que você repetiu o verão inteiro. Aquela da música “Alvo, Alvo, Alvo. Cuidado com o que pensa com o que você vai sentir, ou sem querer na Sonserina você vai cair!” Ela lhe é familiar?

– Epa! – contestou rapidamente Tiago, soltando suas mãos dos ombros retorcidos de Alvo e o fuzilando com o olhar – Não jogue a responsabilidade para mim. Como se fosse eu o responsável por você estar na Sonserina. Como se eu estivesse o atiçando.

– Em momento algum eu o disse.– Espere... Você disse que podia escolher e... Você não escolheu a

Sonserina para implicar com Escórpio Malfoy, não é? Você não quis ir para a Sonserina porque Escórpio foi para a Grifinória, não é verdade?

Alvo revirou os olhos.– Em momento algum pensei em Malfoy. Deixe-me em paz, ok? Se

Malfoy ocupa sua casa não é problema meu! Como eu poderia adivinhar que Malfoy seria enviado para a Grifinória, ah? Como poderia saber que o Chapéu Seletor faria tantas extravagâncias esse ano?

– Eu não desgrudei os olhos de você um momento sequer, Al. – admitiu Tiago dando um passo para trás – Desde que você entrou no salão. Eu te estudei a cada passo. Vi seus olhos brilharem quando Escórpio foi para a Grifinória. E escolher a Sonserina por causa de um capricho... Isso afeta toda a sua vida educacional!

– Não é um capricho! – berrou Alvo vermelho. Seus olhos tentavam desviar das fuziladas lançadas por Tiago, mas ele queria mirar no irmão da mesma forma, porém, os olhos míopes de Tiago pareciam ter mais facilidade em espingardear Alvo sendo poucos centímetros mais altos – E eu não escolhi a Sonserina! O Chapéu quis assim.

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– Mas o pai disse para você...– Eu não quis escolher, Tiago! Pensei que era mais safo que isso! – Alvo

bufava sem nem ter conhecimento deste. Seus punhos estavam cerrados com tanta força que esses latejavam de tanta dor, mas Alvo nem se quer tinha consciência de seus atos – Vai ver o chapéu não queria que eu fosse para a Grifinória. E simples entender!

– Eu não queria me separar de você! – fora como descarregar inúmeras bagagens das costas de Tiago. Como se ele estivesse carregando sozinho toda A Toca sobre seus ombros e então a soltar. – Eu não queria que você fosse para a Sonserina.

– Não? – Alvo não parecia surpreso, ele olhava para o irmão em um tom gozador – Não me pareceu o verão inteiro que você quisesse que eu não fosse para a Sonserina. Todas as músicas, todas as piadas...

– Talvez, somente talvez, eu tenha exagerado, mas... Eu só queria te amolar, Alvo. Tem hobbie melhor para um irmão mais velho que chatear o mais novo? Isso é para impedir que você zombe de mim. Como fez quando soube que não fui aceito para o time da Grifinória. Afinal de contas, eu sempre o farei e irei, hein?

Alvo girou novamente os olhos. Seus músculos estavam mais relaxados e calmos, ele não queria mais fuzilar o irmão, apenas abraçá-lo.

–Esqueça. – pediu Alvo estendendo a mão para Tiago – Não há mais nada que possamos fazer para mudar o passado. Os tempos são outros. Outra coisa que foi dita pelo pai na plataforma foi que caso eu me tornasse um sonserino, que a casa haveria ganhado um excelente estudante. Você ainda pode ser o chefe e capitão da Grifinória, correto? Tem poder para isso. Enquanto isso, eu uso minha magia para controlar a Sonserina, e em breve seremos os manda-chuvas de Hogwarts. O que me diz, ah? O poder sempre junto aos Potter.

Tiago olhou alegremente para o irmão. Ainda se sentia chateado por não podê-lo acompanhar até a Torre da Grifinória, mas timidamente ele aceitou o cumprimento de Alvo, agarrando seu braço e o abraçando discretamente.

– Seu vermezinho... Seu poder de persuasão é realmente bom. Tem certeza de que posso confiar no que disse?

Alvo encolheu a cabeça sobre os ombros.– Claro que não. – Alvo deu as costas para o irmão e começou a seguir o

caminho antes traçado por Bruto Nott, mas por outro breve momento ele se deteve – Mas, Tiago. Não conte para o papai nem para a mamãe, tá bom? Eu gostaria de dizer-lhes eu mesmo. Se você o fizer... posso mencionar em minha carta que você nem retirou os óculos que a mãe te deu da caixa.

– Cale a boca, seu pequeno verme sonserino. – riu Tiago também dando as costas para o irmão e seguindo o caminho oposto ao de Alvo.

Quando os irmãos Potter haviam terminado sua discreta discussão às portas do Salão Principal, o grupo de primeiranistas sonserinos guiados

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por Bruto Nott e sua parceira monitora já estava bem distante de seu ponto de partida. Alvo sabia que caminho deveria tomar para chegar até as masmorras – algumas horas cercado por sonserinos lhe proporcionou ganhar tal conhecimento – mas dentro delas, Alvo estaria tão perdido quanto um rato em um labirinto. Para não se perder completamente do grupo, Alvo começou a correr pelos corredores desesperadamente, ansiando que não chegasse depois do grupo de calouros. Ele podia ouvir as vozes dos alunos mais velhos que já seguiam para seus dormitórios, suas vozes continuavam altas e alegres, em quanto seus passos pareciam lerdos e pesados, mas Alvo estava preocupado em encontrar seus companheiros e não mais algum conhecido.

Para alívio do sonserino, Alvo encontrou o grupo de novatos quando estes começavam a descer as escadas de caracol que davam para as terríveis e escuras masmorras. Rápida e discretamente, Alvo se postou ao final da fila de primeiranistas, podendo enxergar apenas a ponta do chapéu cônico que Bruto usava para se identificar como monitor. Alvo tentou abrir espaço entre os primeiranistas, tentando encontrar Isaac Prewett ou algum outro colega que ele fizera amizade durante o banquete, mas um trio de sonserinas batia o pé e usavam todas as suas armas para impedir que Alvo as passasse.

Era o grupo mais distinto de amigas que Alvo poderia imaginar encontrar em Hogwarts. Ele sabia que assim como a gangue de Draco Malfoy, outras completamente desiguais se espalhavam pela escola. Geralmente um dos membros do grupo se intitulava o líder, e na maioria das vezes ele era o mais esperto de todos. Junto deste, sempre estavam seus amoladores, aqueles que sempre se viam como subordinados e tinham como principal característica apenas elogiar o dito líder. E para completar sempre, sempre havia algum aluno tipo guarda-costas. Aquele gordo ou forte que sempre gostava de resolver seus problemas a partir de brigas e que possuía apenas dois neurônios ativos.

Discretamente, Alvo estudou a fisionomia das garotas e rapidamente conseguiu discriminá-las através do que viu pela seleção. A garota do meio possuía cabelos longos e oleosos que escorriam por seus ombros; até formarem uma linha reta milimetricamente igual. Seus olhos eram marrons como chocolates ao leite causando atrações até em Alvo, mas ele pode pressentir que a garota não poderia ser flor que se cheirasse. Alvo a reconheceu como Valerie Rosier, uma garota extremamente atraente, com seu sorriso quase que perfeito e seus olhos hipnotizantes, mas Alvo percebeu durante o banquete que Rosier possuía um gênio forte, que gostava de mandar e que possuía um temperamento instável. Não muito diferente de como seu pai havia descrito o temperamento de Draco Malfoy. À esquerda de Rosier estava uma garota muito alta e forte. Ela possuía farelos de comida em suas vestes e um cabelo castanho um tanto despenteado. Alvo lembrou rapidamente o nome da menina, Isla Montague. À direita estava uma menina de cabelos longos e escuros que

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escorriam pelos ombros e, diferente dos de Valerie, formavam uma reta bastante desigual. Héstia Pucey parecia estar muito concentrada em decorar o caminho pelas masmorras para dar passagem à Alvo. Ele então desistiu de avançar e continuou a seguir os monitores atrás das três garotas.

– É muito importante que vocês prestem atenção em que portas estão entrando. – aconselhou a monitora sonserina por cima do ombro – Há inúmeras passagens que dão para todo e qualquer canto da escola. Fiquem atentos!

Neste exato momento ela guiava o grupo de primeiranista por um corredor repleto de portas de todos os lados, tamanhos e espessuras. Depois os monitores seguiram por mais um lance de largas escadas negras e escorregadias até pararem em um corredor vazio, sem nenhuma armadura ou passagem, somente um quadro de uma cobra metálica enorme, esculpido na parede oposta.

– Quer fazer as honras? – perguntou Bruto de uma forma caridosa a colega monitora.

A garota de cabelos crespos e loiros arregaçou as mangas bravamente, fazendo várias dobras até que estas passassem por sua mão. Em seu dedo indicador estava fixado um grande anel prateado com uma pedra de esmeralda cravado em seu centro. A monitora mostrou o anel aos primeiranistas e os tranqüilizou, falando que dentro de alguns minutos todos possuiriam os seus.

– Ele é como uma chave. Se o perderem, ficarão trancados fora da sala comunal, e demora até fabricarem outro parecido. – alertou a monitora dando as costas para os alunos do primeiro ano e encarando a serpente como se esperasse que ela abrisse a porta sozinha.

– Quem essstá ai? – perguntou uma voz fria e sinistra que ecoou melancolicamente pelos ouvidos de Alvo. Por mais assustador que pudesse parecer, Alvo teve de se conformar quando percebeu que o chiado vinha do quadro da cobra.

– Flora Palmer. Sonserina, quintanista. – apresentou-se a monitora.– E Bruto Nott. Sonserino, também quintanista.– E essesss pirralhos? – insistiu a cobra estudando os primeiranistas

através de seu olho cego.– Eles são nossos primeiranistas, Hamm... Nós nos responsabilizamos

por eles. – gaguejou Bruto.Relutante, o retrato da cobra permitiu que Flora Palmer pudesse cravar

sua esmeralda no olho cego da serpente. Conforme Flora girava o punho, por trás do quadro metálico, uma série de complicados ruídos, estrondos e cliques podiam ser ouvidos pelos primeiranistas.

– Sssenha? – pediu a cobra ingenuamente, como se nada houvesse acontecido.

– Humpf. – bufou Bruto socando discretamente a parede de pedras ao seu lado – Linhagem Pura.

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Finalmente, com um estrondo e um baque pesado a porta se abriu. A sala comunal da Sonserina não era muito mais calorosa que o

restante das masmorras. É verdade que as labaredas verdes que dançavam na chaminé davam uma sensação maior de aconchego, mas mesmo assim o frio era constante. A sala comunal da Sonserina também contava com um grande e gótico conjunto mobiliário que Alvo imaginara que havia sido vendido pelo Conde Drácula. Os sofás que contornavam a chaminé eram negros e com grossos botões de caveiras; havia várias cortinas verdes com o símbolo da casa gravado em cada uma. Nas paredes havia inúmeras pinturas a óleo de bruxos e bruxas descendentes de Salazar Slytherin, além de uma enorme pintura com o retrato do fundador. Também encostados nas paredes estavam grandes armários de madeira negra que chegavam a tocar o teto. Mesmo com o passar dos anos, a sala comunal da Sonserina continuava com os ares e uma decoração dos tempos medievais.

– O dormitório feminino fica nos primeiros andares daquelas escadas à direita e o dos meninos à esquerda. – informou Flora Palmer em quanto os primeiranistas se agrupavam em torno do centro da sala comunal – O café da manhã será servido a partir das sete horas da manhã e tem duração até as onze.

– Amanhã todos vocês terão o dia livre. – completou Bruto Nott para a alegria dos alunos de primeiro ano – Podem explorar os terrenos o quanto quiserem, mas meu conselho é não se meterem com Pirraça.

– O poltergeist? – perguntou uma voz feminina no fim do aglomerado de alunos.

– O próprio. – afirmou Bruto balançando a cabeça – Filch está a cada ano mais caduco em função dele e o Barão Sangrento não suporta mais ter de ser chamado para controlar aquela peste.

Com isso o grupo de primeiranistas sonserinos foi liberado para seguir para seus dormitórios ou ficar e aproveitar a primeira noite na sala comunal. Os alunos mais velhos não demonstravam o mínimo interesse em se recolherem para seus dormitórios. Eles andavam de um lado para o outro conversando e se divertindo. Em uma mesa mais ao centro da sala comunal, três alunos estavam debruçados no plano redondo tentando sintonizar um antigo rádio-bruxo em alguma estação que tocasse alguma música agradável. No outro extremo da sala havia uma enorme porta de pinheiro com grandes maçanetas de prata. Alvo não sabia o que estava acontecendo por trás desta porta, mas pode deduzir que era algo barulhento, pois estrondos repetitivos e chiados de metal se chocando contra uma superfície sólida podiam ser ouvidos mesmo com todo o tumulto da sala principal.

Os olhos e músculos de Alvo latejavam, sua vontade de seguir o conselho da diretora Crouch em ir para seu dormitório e testar os novos Feitiços de Relaxamento lançados sobre as camas, era tentadora. Quando ele fez menção em subir às escadas se surpreendeu com o grande

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número de colegas primeiranistas que também o fizeram. Somente um pequeno grupo de novos sonserinos permaneceu na sala comunal. A maioria deles possuía irmãos ou irmãs, primos ou primas mais velhos e já enturmados entre os sonserinos. Os demais primeiranistas seguiam em uma caça implacável para conseguir os melhores quartos reservados a eles. De repente, Alvo sentiu um forte aperto no ombro direito e sentiu seu corpo ser puxado para trás. Em menos de dez segundo ele havia sido empurrado para dentro de um dos dormitórios pela figura maliciosa de Isaac Prewett.

Depois de piscar várias vezes os olhos para que estes se adaptassem a nova claridade do dormitório, Alvo percebeu que perto deste a sala comunal era um excelente lugar para se morar. O dormitório masculino da Sonserina era um lugar grande, frio e macabro, mas que com o tempo poderia ser tornar um lugar aconchegante para se dormir. O chão parecia ser submerso em quanto o teto era baixo e iluminado por lanternas em formas de sinistras gárgulas; várias cabeças empalhadas de criaturas das trevas e elfos domésticos eram ostentadas como prêmios de grandes e vitoriosas caçadas; as janelas, que refletiam a luz submersa da lua, eram bem grossas e com vitrais de bruxos ostentando grandes vitórias contra criaturas gigantescas e contra trouxas aparentemente idiotas. As camas eram grandes e confortáveis, imaculadamente arrumadas e engomadas. Cortinas verdes escorriam pelas bases das camas possibilitando que aquele que estivesse na cama pudesse se esconder dos demais companheiros.

– Eu também me assustei. – admitiu Isaac ao perceber que a atenção de Alvo também fora chamada pela estranha e irregular cabeça de elfo entalhada poucos centímetros à cima do banheiro – Eles levam tudo muito a sério.

– Mas é melhor se acostumar. Meu pai, disse que nos dormitórios do quarto ano há cabeças de dragão reais! – disse um alto e loiro que Alvo não havia notado. – Ah, desculpem, Pritchard... Lucas Pritchard.

Lucas saiu de perto de sua inocente cama e se dirigiu ao encontro de Alvo e Isaac. Timidamente Lucas estendeu a mão para os dois e sem pestanejar apertou a dos dois companheiros. Lucas era alguns centímetros mais alto que Alvo, possuía cabelos loiros arrepiados e um sorriso malicioso no rosto. Alvo pensou que Lucas era um exímio jogador de xadrez, pois ele os encarou como um jogador que estava prestes a dar xeque-mate no oponente e Alvo conhecia este olhar, já o vira várias vezes vindo do tio Rony e de Rosa, durante as frustradas tentativas de Alvo em vencê-los em uma partida de xadrez de bruxo.

– Vocês não precisam se apresentar. Já ouvi bastante a respeito de vocês, principalmente do magricela. Alvo Potter, não é? – Lucas lançou outro olhar de jogador de xadrez para Alvo pouco antes de voltar a desfazer seu malão – Não é difícil identificá-lo, Alvo. Como dizem você é igual ao seu pai, quando criança, e eu já vi várias fotos dele. Agradeço

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isso a meu pai, ele é escritor e tem de escrever livros e livros sobre a recente História da Magia. Humpf, recente... Quero dizer de cem anos até hoje. E o ruivo, simples... Não é um Weasley porque nunca viverei para ver um na Sonserina. Logicamente, você deve ser o famoso Prewett, estou certo?

– Famoso? – repetiu Isaac, abobalhadamente.– Qualquer um que tenha laços familiares com os Potter podem se

chamar por famosos. Diferente de você Prewett eu tenho uma boa mente e uma memória fotográfica. Se alguém como você, por exemplo, me pedisse para passar o molho de churrasco eu me lembraria de seu rosto por, no mínimo, uma semana. Ou seja, tão sedo não me esquecerei que estava ao seu lado durante o banquete de início de ano e que você contou para Alvo e para Nott sobre sua árvore genealógica.

Naquele momento Alvo concluiu que Lucas poderia ser um bom amigo, sempre disposto a enfrentar qualquer linha de frente para proteger um companheiro, contudo percebeu que ele era um tipo de pessoa que sempre gosta de fazer as coisas da maneira correta. Sempre tentando agir dentro das regras e das leis, mas que não pensaria duas vezes antes de sacrificar todos os seus peões para poder proteger o rei.

Antes que Isaac pudesse fazer novas, longas e difíceis perguntas para Luca, a porta do dormitório se abriu. Dois meninos bem distintos entraram sorrateiramente no quarto. O primeiro era quase tão alto quanto Lucas, tinha cabelo negro e ralo e pele negra. O outro era dentuço e feio, possuía um par de olhos meio esbugalhados e um sorriso – mesmo que amigável – muito desagradável.

– Tem espaço sobrando? – perguntou o garoto negro olhando freneticamente para as duas camas ainda arrumadas.

– Dois galeões por pessoa. – disse Isaac dando um salto e estendendo a mão para os novos companheiros – É a taxa.

O garoto negro revirou os olhos e fingiu não ter percebido a presença de Isaac. Alvo notou que o menino moreno não se dirigia a Isaac ou Lucas, e sim a ele, Alvo.

– Digam seus nomes e espalhem sua bagunça. – respondeu Alvo abrindo o seu malão e jogando seus pares de meias, dentro do criado mudo chato ao lado de sua cama.

– Zabini. – respondeu o garoto em tom rígido – Antônio Zabini.– E eu sou Perseu. Perseu Flint. – disse o dentuço.Rapidamente Alvo estudou a fisionomia dos dois novos colegas de

dormitório e não demorou muito para ele perceber as semelhanças entre os dois primeiranistas e seus respectivos pais. Antônio tinha a mesma aparência severa e rígida de seu pai, Blásio. Seus olhos negros eram tão observadores quanto os de Lucas, mas Alvo tivera certeza de que sua memória não era tão fotográfica quanto à do jogador de xadrez. Já Perseu era praticamente a cópia de seu nem tão brilhante pai Marcos. Alvo conhecia bem a história de Marcos Flint, o aluno brigão que repetira o

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ano em Hogwarts e que tivera uma rápida passagem pelos Falmouth Falcons. Marcos fora banido do Quadribol profissional por ter adaptado sua vassoura para que esta pudesse, eventualmente, estuporar seus adversários. A primeira vista, Perseu não parecia ser do tipo tão estúpido como o pai e diferente de seu gêmeo Teseu, ele se mostrava amigável, mas bastante bobo.

Como Alvo imaginara, ele e seus colegas de quarto não mergulharam imediatamente para debaixo de suas cobertas. Os cinco sonserinos se mostraram muito curiosos e entusiasmados em saber como era a vida do outro. A troca de informações ocorrera demasiadamente bem – até melhor do que Alvo imaginara – pois sabia das antigas rivalidades entre algumas das famílias dos presentes.

Durante as primeiras horas no dormitório da Sonserina, Alvo pode saber sobre a primeira explosão mágica de Isaac. O garoto de cabelos cor de fogo contara aos amigos como destruíra a louça de sua mãe e quão feliz deixou seu falecido avô quando ele descobriu que o neto herdara habilidades mágicas. Antônio contou sem dificuldades como era sua vida na Mansão Zabini. Depois de alguns anos, os pais de Antônio finalmente conseguiram se instalar em suas duas mansões: uma na Grã-Bretanha e outra na França. “Para minha mãe não perder o contato com meus avós.” Lucas não tardou em explicar como era exaustiva a vida de seu pai em relatar os mais recentes acontecimentos do século. Ele disse que o pai passava a maior parte do tempo sentado junto a uma máquina de escrever encantada. Mesmo assim Lucas acrescentou que ele e o pai possuíam uma relação amigável e que pelo menos duas vezes por ano eles saiam para viajar juntos. Perseu se mostrou muito alegre em relatar sobre suas experiências quando criança, sua primeira explosão mágica e a primeira vez em que ele montou na antiga vassoura do pai. Porém, Perseu não parecia estar satisfeito por estar contando histórias sobre ele, e sim, por ter conquistado novos amigos logo em seu primeiro dia em Hogwarts. Por um breve momento, Alvo notou que Perseu não era muito amigo de seu irmão gêmeo, pois ele raramente mencionava seu nome, preferia rotulá-lo apenas como “meu irmão”, bem diferente de como Alvo fazia, sempre dizendo os nomes de Tiago e Lílian.

Sem sombra de dúvidas nenhuma história foi mais aguardada e mais bem seguida pelos ouvidos dos sonserinos do que a de Alvo. Ele contara como era difícil ser filho do famoso Harry Potter, de como era chato ser sempre apontado como o filho de Harry, mas também de como ele gostava de ser filho do Menino Que Sobreviveu. Alvo também contou como era ser filho de um ex-membro das Harpias de Holyhead. Contara que geralmente a mãe conseguia entradas no camarote para assistir os jogos oficiais da Liga de Quadribol, embora ele geralmente não os visse junto de Gina, pois ela tinha sua cadeira cativa junto aos repórteres do Profeta Diário.

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Já era bem tarde quando as luzes do dormitório dos garotos da Sonserina finalmente se apagaram. Com uma sensação de prazer que nunca havia sentido antes, Alvo cobriu-se com o grande lençol verde de sua cama, e em menos de dez minutos já havia adormecido.

Na manhã seguinte Alvo acordou realmente cedo. Seu dormitório era iluminado apenas por uma fria e tímida lâmpada de uma das gárgulas. Nenhum outro companheiro sonserino estava acordado, mas Alvo sabia que era praticamente impossível que alguém pudesse acordar às cinco da manhã depois de ter ido dormir quase que as três.

Mesmo depois de desperto Alvo não queria sair de sua cama. O aconchego do travesseiro o dominava e impedia que ele encontrasse forças para se levantar. O mesmo fazia os lençóis que o dominavam tão fragilmente. Por fim alguns minutos depois de acordado, Alvo tomou coragem e saltou para fora da cama. Seus pés descalços tocaram a madeira fria do dormitório fazendo todo o corpo do garoto formigar.

Lentamente, Alvo se dirigiu até seu malão e poupando suas forçar retirou um conjunto casual de roupas bem do fundo da mala. No regulamento de Hogwarts os alunos e alunas não poderiam utilizar vestes trouxas nos corredores durante o período de aulas, porém nada os impedia de usá-las nos final de semana e, assim como naquela manhã, nos dias de folga e nos feriados.

Bem diferente da noite anterior, a sala comunal da Sonserina estava tomada por um incomum e monótono silêncio. A estrutura gótica medieval ainda dava certos arrepios na nuca de Alvo, mas conforme ele se movia pelos aposentos, estudava os retratos dos descendentes de Slytherin e alisava as esculturas decorativas, seu medo e arrepios começavam a se dissipar, assim como já havia feito o fogo na chaminé.

Aproveitando o aparente silêncio e solidão, Alvo decidiu que aquele seria a melhor hora para escrever para os pais. Ele queria se assegurar que seria o primeiro a relatar para os pais os acontecimentos da noite anterior. Claro que Alvo os pouparia da discussão entre ele e Tiago, mas escreveria sobre a insatisfação do irmão.

Silenciosamente Alvo espreitou pela sala comunal abrindo e fechando todos os grandes armários espalhados pela sala comunal. A maioria deles continha objetos para auxiliar os alunos no preparo de seus deveres de casa. Havia desde tubos de ensaio para poções até livros de feitiços e encantamentos. Porém sem muito esforço Alvo encontrou em um canto remoto de um dos armários um pergaminho ainda limpo, um tinteiro fechado e uma pena recém comprada.

Alvo dirigiu-se até uma mesa remota em um dos cantos da sala comunal. Rapidamente ele desenrolou o pergaminho e o espalhou pela mesa, da mesma forma ele destampou o tinteiro e não tardou em mergulhar a pena sobre esse.

Caros papai e mamãe

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Cheguei são e salvo à Hogwarts e foi ótimo! Era como se todos os meus sonhos se tornassem reais ao mesmo tempo. Vi o professor Longbottom, mas não tive oportunidade de falar com ele. Já Hagrid, esse sim, eu pude falar com ele pouco antes de chegar à escola.

Mesmo tendo tido somente uma noite aqui na escola eu já fiz alguns novos amigos e todos são muito legais.

Quanto à seleção, poso dizer que os alunos e professores tiveram algumas surpresas com relação aos primeiranistas. Alguns novos estudantes, assim como Luís, não revelaram nenhuma surpresa, mas outros, como Escórpio Malfoy, foram uma grande surpresa. Feliz ou infelizmente eu também fui uma das surpresas.

Pensei muito no que você me disse na plataforma, pai, e cheguei à conclusão de que poderia deixar o Chapéu Seletor me selecionar segundo o meu eu interior. Bem lá vai... sou um SONSERINO!

É verdade, eu também fiquei surpreso quando ouvi o chapéu o anunciar, mas depois compreendi que você estava certo pai e não é mais mágico ser da Grifinória do que da Sonserina. Depois de todos os anos que vocês passaram fora de Hogwarts, acho que a Sonserina mudou um pouco desde então. Claro que ainda há muita rivalidade e sentimentos “puros”, mas acho que posso sobreviver.

Quanto à reação dos nossos tios e tias, não me surpreenderia se o tio Rony não me reconhecesse mais como sobrinho, mas se Tiago me aceitou como sendo da Sonserina, não vejo por que o tio Rony não o faça.

Abraços e beijos, Alvo.Depois de reler a carta que havia escrito Alvo convenceu-se de que ela

já estava demasiadamente boa e bastante esclarecedora. Cuidadosamente ele dobrou a carta e a guardou em um envelope, depois o selou e guardou-o no bolso da calça jeans disposto a levá-la em segurança até o Corujal.

Conforme a manhã tomava conta da paisagem externa de Hogwarts o calor possuía os corredores e salas do castelo. Era uma manhã agradável típico de um outono deleitoso. Alvo não imaginava que os corredores de Hogwarts parecessem dez vezes maiores quando não estavam abarrotados de estudantes e dominados por um silêncio incomum. Quando deixou as escadas de caracol que davam para fora das masmorras Alvo encontrou a figura espectral do Barão Sangrento flutuando pelos cantos de uma maneira bastante monótona. Ele sussurrava alguma melodia que Alvo interpretou como um dos sucessos da antiga banda as Esquisitonas. Quando o viu, O Barão Sangrento limitou-se a acenar com a cabeça branco-pérola para Alvo, que o retribuiu.

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Volta e meia, Alvo encontrava um ou dois elfos domésticos esfregando as paredes e o mármore dos corredores de uma forma tão satisfeita que nem parecia que executavam tarefas domésticas. Alvo se lembrou do velho e enrugado elfo doméstico do número doze do Largo Grimmauld, Monstro. Por um breve momento, Alvo sentiu saudades da expressão ranzinza, porém respeitável do elfo. Monstro pertencia originalmente a Harry Potter, o elfo estava incluído no testamento do padrinho de Harry, Sirius Black. Monstro, porém, servia prazerosamente a esposa de seu amo e seus filhos. Entretanto detestava quando era obrigado a viajar junto aos Potter em seu carro trouxa. Monstro deveria ser transportado em uma cadeirinha infantil que a muito pertencera aos filhos de Harry. Ele alegava que aquela era a única maneira de os trouxas não perceberem sua verdadeira forma. Mesmo protestando, Monstro aceitava utilizar o equipamento, afinal é dever de um elfo sempre seguir as ordens de seus amos.

O Corujal ficava no alto da Torre Oeste. Um lugar circular revestido por pedras brutas e firmes, sempre varrido pelos fortes e gélidos ventos que se infiltravam pelas grandes janelas de pedra, todas sem nenhuma proteção de vidro. O chão era áspero, coberto por excrementos de corujas, ratos mortos e por tufos de palha e de penas soltas que deslizavam de um lado para o outro, levados sem rumo pelo vento. Fora difícil para Alvo localizar sua coruja sem nome no meio de centenas e mais centenas de corujas de diferentes tamanhos, cores e formas, todas sonolentas e cansadas, cochilando nos poleiros cobertos de palha e caca. Alvo acordou sua coruja cinzenta com um carinho entre suas penas, fazendo a coruja arregalar seus olhinhos escuros e despertar uma coruja de igreja, sua colega de poleiro. Não foi fácil acordar a coruja orgulhosa e sonolenta, muito mais difícil fora convencer ela aceitar que o garoto amarrasse o bilhete para seus pais em sua garra. Porém tudo ficara mais fácil quando Alvo ameaçou pedir a uma coruja da escola para realizar a tarefa. Relutante a coruja estendeu sua garra negra e antes de partir deu uma carinhosa bicada em Alvo e decolou.

Quando Alvo saiu do Corujal, em direção à Sala de Troféus, desejando poder desfrutar algumas horas junto aos troféus e condecorações douradas que Hogwarts havia conquistado com o passar dos anos, algo chamou a atenção de Alvo, poucos metros do fim da Torre Oeste. Era uma espécie de estátua, cuidadosamente colocada em um vão, protegido do tumulto dos alunos que, fatalmente, esbarrariam em danificariam seu corpo escultural. Diferente das outras estátuas de Hogwarts que geralmente era feitas de pedras de mármore ou latão, aquela era completamente banhada pelo mais valioso e magnífico ouro. Ela era uma espécie de bruxo, muito parecido com Harry Potter, que bradava uma varinha com orgulho, como se acabara de ganhar uma dura e complicada batalha. Aos pés da estátua de ouro estava uma espécie de bloco de concreto, o qual possuía uma placa de bronze fixada com pequenas

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pedras preciosas similares a opalas, onde nomes de vários bruxos estavam gravados como uma homenagem. Alvo leu o que estava escrito.

Memorial de HogwartsHomenagem aos bruxos e bruxas que morreram durante a busca pela verdadeira paz

Alvo baixou os olhos para os nomes dos bruxos e bruxas mortos durante a Batalha de Hogwarts. Não reconheceu a maioria, somente o do falecido tio Fred – o irmão gêmeo do tio Jorge – o de Remo e Ninfadora Lupin, os pais de Ted Lupin, o nome do ex-diretor de Hogwarts, o qual Alvo herdara o nome, Severo Snape, além dos sobrenomes que Alvo reconhecera dos seus novos colegas, como Creevey.

Porém algo de diferente tomou controle sobre os pensamentos de Alvo. Ele teve uma súbita vontade de tocar na placa de bronze do Memorial de Hogwarts. Sentir os entalhes dos nomes sobre seus dedos. Sentir o frio da placa inanimada, apossar de seu corpo quente para provocar uma sensação até então desconhecida.

Sem ter controle sobre suas atitudes, Alvo agachou-se, ficando no mesmo nível do bloco de concreto, e, quase em um estado de transe, começou a esticar o braço magricelo em direção a placa de bronze. Seu coração começou a bater em um ritmo muito mais acelerado, como se suas glândulas supra-renais disparassem enlouquecidamente litros de adrenalina em seu sangue. Seu estômago se contorceu todo, podendo chegar ao tamanho do punho de Alvo. Depois de tantas sensações diferentes Alvo finalmente tocou na placa.

... Era como se não houvesse mais razão ou emoção. Como se não

existisse mais diferenças entre luz e trevas, entre certo ou errado. Tudo estava escuro, mas ao mesmo tempo estava claro. Nenhuma idéia passava pela mente do garoto, mas no mesmo instante todas o perseguiam. Alvo não conseguia enxergar nada a sua frente, exceto uma inocente e fraca luz dourado que brilhava a uma distância muito grande.

Em um último ato desesperado Alvo começou a mexer seus braços e pernas, tentando nadar até a Luz que brilhava fragilmente. Sabia que estava mergulhado em algum tipo de líquido, mas ele não sabia quais eram suas propriedades mágicas, somente sabia que elas existiam, pois ele estava respirando. Com todas as forças que possuía Alvo agitou os pés e as mãos fazendo com que seu corpo começasse a se mover naquele universo vazio em direção a Luz. Alvo não tinha certeza de que aquela Luz o levaria de volta para o terreno de Hogwarts, mas sabia que nada poderia ser pior do que aquele sombrio vácuo. A cada segundo a Luz se dilatava clareando ainda mais outro vazio que Alvo não enxergava, mas que já se mostrava muito melhor do que aquele. Finalmente, depois do que pareceram várias décadas, Alvo pode encostar-se à frágil Luz. Não fora muito diferente de tocar na placa de bronze do Memorial de Hogwarts, mas desta vez tudo clareou, do mesmo modo de quando se

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ascende uma luz no meio da madrugada. Alvo se sentiu como uma pessoa cega, mas sabia que não havia perdido o dom da visão, ou podia?

Quando Alvo abriu os olhos encontrou-se no exato local onde estava há minutos atrás, mas não havia nenhum memorial. Também já não era mais dia, era uma noite fria e sinistra e o garoto podia sentir que aquela noite não era qualquer uma. Gritos e estrondos tomavam os ouvidos de Alvo vindos de todas as direções. Olhou pela janela para a estrutura do Corujal e encontrou uma construção em chamas com centenas, se não milhares, de corujas voando a seu redor. Estampidos e rajadas de luzes verdes e vermelhas brotavam de todos os lados e seguindo a todas as direções imagináveis. Alvo se apressou e correu pelo castelo de Hogwarts, desesperado...

Alvo estava vivendo as emoções da Batalha de Hogwarts! Bruxos e bruxas, alunos e professores lutando contra Comensais da Morte às portas da escola. Feitiços, gritos, palavrões e apelos tomavam conta do ambiente nada agradável. Alvo se movia por um emaranhado de poeira e dor. Era muito difícil para ele vivenciar os momentos da histórica batalha que acontecera nos terrenos e corredores da escola de Hogwarts.

Mais distante de seu encontro, Alvo pode ver um jovem Prof Longbottom duelando arduamente contra um Comensal da Morte encapuzado. Neville esquivava de todas as maldições lançadas pelo comensal com tamanha destreza e habilidade. Com um golpe certeiro, Neville lançou um Feitiço Estuporante bem no nariz do comensal, fazendo-o desabar desacordado.

Algo na mente de Alvo o indicava que ele não era real, que nenhum estudante ou inimigo poderia vê-lo ou feri-lo, mas Alvo não queria correr o risco de ser locauteado por uma Maldição da Morte, então o garoto começou a andar com muito cuidado rente às paredes e pilastras das estruturas de Hogwarts. Alvo esperava escondido atrás das pilastras, sempre espiando para ver se poderia prosseguir sem ser surpreendido por um duelo em andamento. Alvo não sabia para onde deveria ir, qual era o caminho correto para voltar a seu respectivo tempo, mas ele simplesmente aproveitou a situação para vivenciar alguns momentos daquela batalha história, espreitando por entre as paredes, e observando os duelos e vitórias.

– Engula seus malditos feitiços, seu Comensal filho de uma... – berrou o Prof Flitwick dando combate a um comensal mascarado próximo às portas de entrada.

Alvo sempre ouviu os bruxos mais velhos dizerem que o Prof Flitwick sempre fora um exímio duelista, e naquele momento Alvo pode tirar a prova. Todos os feitiços lançados pelo Comensal da Morte eram facilmente repelidos por Flitwick. Maldições eram lançadas aleatoriamente pelo comensal desesperado. Ele se mostrava bastante nervoso com o andamento de seu duelo com o professor.

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– Tome isso! Relaxo! – bradou Flitwick acenando rapidamente com a varinha para a face encapuzada do comensal e fazendo sua máscara cair. – Há quanto tempo, Furius. Pensei que você ficaria escondido no Ministério. Sempre soube que você não tinha aptidão para feitiços e duelos.

– Cale-se, mestiço! – ordenou Furius Yaxley erguendo bruscamente a varinha para Flitwick e lançando-lhe azarações e maldições aleatórias – Sempre fui excelente em feitiços. Por isso recebi o reconhecimento do Lorde das Trevas.

– Se é tão bom assim, por que você não consegue derrotar um velho como eu? – zombou Flitwick com total controle sobre a situação.

Aquilo parecia ter atingido bruscamente Yaxley, pois Alvo percebeu que seus feitiços causavam muito mais estragos nas paredes que atingiam. Yaxley esquivava para todos os lados em quanto Flitwick continuava fincado no mesmo ponto, somente utilizando o feitiço Protego para defender-se das maldições lançadas pelo comensal.

– Jugson, Rowle! – gritava Yaxley tentando chamar a atenção de dois comensais que se aproximavam das portas de entrada – Cuidem deste duende infeliz.

– Covarde! – resmungou Flitwick lançando feitiços agora contra os dois Comensais da Morte que se aproximavam pelo sul.

Alvo por sua vez seguiu Yaxley por entre os corredores e escadas de Hogwarts. Volta e meia o bruxo era interrompido por estudantes que o retardavam e o obrigavam há perder mais tempo. Porém Yaxley se mostrava apreensivo e ansioso. Corria loucamente pelos corredores sendo muito difícil de Alvo o acompanhar. Finalmente o bruxo chegou ao ponto de partida de Alvo, aonde ele começara sua jornada pelo tempo e onde hoje estava o Memorial de Hogwarts.

Havia três alunos de Hogwarts voltando do Corujal, as mãos e os pijamas sujos de tinta e penas. Alvo concluiu que os três haviam enviado uma carta aos Aurores, chamando-os para ajudar no combate, o que não agradou à Yaxley.

Quando os três estudantes perceberam a presença do comensal, sacaram rapidamente suas varinhas e as apontaram para o peitoril de Yaxley. Nenhum dos três se mostrou ameaçado ou amedrontado, muito pelo contrário, os três encaravam o comensal de igual, ansiosos para o início do duelo.

– Os pestinhas deveriam ter evacuado como o resto dos menores de idade. – disse Yaxley em tom de gozação, a varinha erguida para o primeiro dos garotos.

– Já possuímos conhecimentos mágicos mais do que necessários para poder te derrotar! – bradou o primeiro dos estudantes fixando friamente a varinha no peito esquerdo de Yaxley – Fomos trinados pelo próprio Harry Potter, e podemos derrotá-lo sim! Viva a Armada de Dumbledore!

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– Acalme-se, Colin. – chiou o garoto poucos centímetros atrás de Colin Creevey. Ele era bem alto, possuía cabelos ralos, porém rebeldes, e por um momento Alvo pode reconhecê-lo.

– Não podemos nos acanhar, Mylor. Temos de lutar! Expelliarmus! Facilmente Yaxley repeliu o feitiço de Colin, fazendo-o explodir um

pedaço do mármore a alguns centímetros dos três. O atual professor de Defesa contra as Artes das Trevas, Mylor Silvano se mostrava o mais acovardado dos três. Seus punhos estavam cerrados em volta de sua varinha bamba em quanto um de seus olhos se fechava com todas as forças que lhe restavam.

– Realmente, só alguém trinado por Potter poderia lançar um Expelliarmus durante um duelo como esse. É muita ousadia sua se opor a mim, sangue-ruim. – resmungou Yaxley lançando a Colin um sorriso falso e medonho – Farei com você o que gostaria de fazer com toda essa escória trouxa. Avada Kedavra.

Um lampejo verde irrompeu da varinha de Yaxley locauteando Colin e o arremessando vários metros para trás. A figura espectral de Alvo correu em direção ao cadáver do estudante no mesmo momento em que o terceiro garoto lançava uma azaração em Yaxley.

– Não, Jaquito! – gritou Mylor pondo-se à frente do garoto chamado Jaquito Peakes, impedindo que este prosseguisse com o duelo – Chame ajuda, precisamos tirar o corpo de Colin daqui.

– Mas Mylor...– Faça! – Mylor lançou a Peakes um olhar molhado de ira e insatisfação.

Seu rosto estava encharcado pelas grossas lágrimas que brilhavam e escorriam de seus olhos – Ele insultou os trouxas. Não pode ficar em pune! Ele vai pagar pela morte de Colin... E EU QUE O FAREI PAGAR!

Mylor lançou um potente feitiço dourado que arremessou Yaxley do solo fazendo-o cair de costas vários metros de distância. Pelo lado oposto, Peakes correu a toda velocidade escada abaixo sem desgrudar os olhos do amigo que ele deixara para trás. Friamente, Mylor enxugou as lágrimas do rosto e encarou Yaxley como seu igual, da mesma maneira que Colin havia feito momentos antes de ser assassinado. Conforme o comensal se recompunha, Mylor preparava-se para o início de seu duelo, murmurando feitiços secretos e frases de incentivo para si próprio.

– Acha, que pode realmente me matar? – perguntou debochadamente Yaxley.

– Não. – assentiu Mylor sem desgrudar os olhos do oponente – Pelo menos não hoje, mas sei que voltaremos a nos encontrar e então teremos nosso verdadeiro duelo. Você torturou minha mãe, acusou-a de ter roubado a magia de outro bruxo. Invadiu minha escola, ameaçou meus colegas e matou meu amigo. Não vou deixar você ficar em pune.

– Você acredita muito em si próprio. Uma qualidade sonserina, eu tenho de admitir. Mas sei que você é tão medíocre quanto seu papai. Enfrente-me, mestiço.

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Alvo percebeu que Yaxley e Mylor berraram feitiços ao mesmo tempo, mas algo impediu que seus gritos chegassem aos ouvidos de Alvo. Novamente o garoto sentiu seu estômago ser puxado para trás causando-lhe uma terrível sensação de enjôo. As imagens se dissiparam rapidamente, como água em brasa. Uma grossa camada de fumaça invadiu as narinas e a boca de Alvo. E com um forte puxão, como se toda a pressão do mundo estivesse recaindo sobre Alvo, ele caiu sentado no mármore frio do corredor próximo a Torre Oeste, à frente da estátua que simbolizava o Memorial de Hogwarts e com uma figura espectral e fantasmagórica flutuando ao seu lado.

Alvo não se mexera, continuava a encarar a figura transparente do fantasma espectral que flutuava ao seu lado. Assim como Alvo, o fantasma se mostrava muito cansado e fraco, fazia todo o esforço possível para continuar visível à Alvo. O fantasma não se mostrava tão velho quanto os demais que flutuavam por Hogwarts. Ele era muito mais novo que o Barão Sangrento ou o Frei Gorducho, o fantasma da Lufa-Lufa. Seus cabelos eram curtos e despenteados e naquele momento assumiam a habitual tonalidade branco-pérola de todos os fantasmas. Alvo também notou que o fantasma vestia roupas casuais, muito similares a um par de pijamas, mas que poderiam ser confundidas facilmente com roupas para o lar.

– Eu vi. – ecoou uma voz fúnebre e distante que Alvo identificou como vinda do fantasma. Ele não mexia os lábios para formar palavras, somente abria a boca e permitia que uma voz oca saísse por esta – Você estava morrendo. Mais um instante naquele mundo e...

O fantasma relaxou os ombros e acenou com a cabeça para a placa de bronze. No instante seguinte ele mergulhou abobalhadamente ao encontro do Memorial de Hogwarts, sumindo da vista de Alvo.

– Então lhe devo a vida. – afirmou Alvo para a estátua.No mesmo instante Alvo baixou seus olhos sobre a placa de bronze,

mas não havia mais nenhum nome gravado nela. Letras aleatórias surgiam magicamente na estrutura de bronze. Lentamente elas se organizaram e formaram uma frase.

Você deveria ter mais cuidado, Alvo Potter.Depois que Alvo leu a frase seu corpo todo estremeceu. Como o

fantasma poderia ter conhecimento de quem ele era? Não se assuste. Formou-se a frase tranqüilizando Alvo. Nós fantasmas

temos uma visão mais ampla que a dos vivos. Se bem que ainda não posso me chamar fantasma.

– O q... Q-quem é você? – gaguejou Alvo ainda tremendo.Sou o espectro do garoto que você acabou de ver morrer. Sou Colin

Creevey, Alvo. E por algum motivo minha alma ficou presa neste terreno e a placa fez com que você revivesse o momento de minha morte. Mas isso quase causou a sua.

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– Por que? Quais são os domínios mágicos desta placa de bronze? Isso não é somente um memorial em homenagem aos mortos na Batalha de Hogwarts?

Sim, mas se eu realmente aprendi algo durante minha estadia em Hogwarts é que nunca se pode ter certeza das propriedades mágicas de um objeto. Principalmente se este estiver guardado nestes terrenos. Quem poderia imaginar que existiria uma câmara secreta no banheiro das meninas!

– Mas, por que eu estava morrendo? Não senti nada durante o tempo em que fiquei no passado.

Como já mencionei, Alvo, não tenho certeza de nada. Mas posso afirmar que já podia ver sua fonte de vida diminuindo. Mais uns minutos e...

– Você disse, Creevey, correto? O mesmo Creevey de Cameron Creevey?!

Bem, Alvo, como pode ver morri com dezesseis anos... Ou será que foram quinze? Não sei, o tempo aqui no mundo dos fantasmas é diferente do dos vivos. Mas se me lembro bem, eu tinha um irmão mais novo – ou mais velho – e possivelmente ele gerou uma família depois de minha morte.

– Mas, isso que aconteceu comigo, bem, não vai acontecer de novo, vai? E também não com outras pessoas, elas também podem ter esse tipo de visão?

Creio que não. Mas assim espero, pois não terei forças para salvar mais estudantes. Só em te salvar quase que evaporei.

– Bem, então, mais uma vez, obrigado por salvar minha vida. – Alvo pôs-se de pé e sorriu para a estátua de ouro do Memorial de Hogwarts – Foi legal conhecer você, Colin Creevey. Espero poder vê-lo de novo, mas em uma situação mais agradável.

Também foi bom conhecer você, Alvo Potter... A propósito, você é filho de Harry Potter, mas com que garota?

Alvo revirou os olhos e respondeu para o fantasma:– Gina Weasley.Quando Alvo regressou ao térreo do castelo de Hogwarts notou que

havia perdido mais tempo viajando entre as dimensões do que imaginava. Quando Alvo havia deixado a sala comunal da Sonserina, ele espiara o relógio colossal próximo ao retrato de Salazar Slytherin, e esse marcava seis e dez da manhã. Agora o Salão Principal estava abarrotado de estudantes, e sua grande maioria já terminando o café da manhã. Rapidamente Alvo percorreu com os olhos a mesa da Sonserina e viu que seus amigos já terminavam o café – se estar brincando com os ovos e as salsichas, pode significar terminavam. Depois Alvo percorreu os olhos pela mesa da Grifinória e encontrou sua prima Rosa sentada junto a Tiago, que fazia uma imitação exagerada do que pareceu a Alvo do professor Slughorn. Porém nenhum destes grupos chamou mais a

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atenção de Alvo do que os dois grifinórios desanimados que mal tocavam em seu café no outro extremo da mesa.

Naquele momento, Alvo lembrou-se do que seu pai uma vez havia lhe dito no número doze do Largo Grimmauld. Era o final da primeira semana das férias de verão de Tiago. O irmão mais velho de Alvo ainda se mostrava bastante animado com relação ao seu ano anterior e com as notas que recebera em seus exames. Fora a primeira vez que Tiago teve a brilhante idéia de começar a molestar Alvo sobre sua seleção na escola. Alvo havia se aborrecido e corrido para o quarto, onde ficara trancado por, pelo menos, meia hora. Harry havia aberto a porta magicamente, e começou a entreter Alvo com alguns truques de levitação. Harry enfeitiçou a estátua que Alvo possuía de seu ídolo do Puddlemere United, Graham Seagood, fazendo-a flutuar pelo quarto para delírio de Alvo e ira do mini-artilheiro.

– Se, você for para a Sonserina, isso não vai significar que você não poderá ter amigos das outras casas. – as palavras de Harry ecoavam pela mente de Alvo – Você pode ser um mediador entre as casas, e eu acho isso muito legal! Se quiser pode usar minha vida acadêmica como exemplo. Luna Lovegood era da Corvinal, Cedrico Diggory era da Lufa-Lufa. Eu só não possuía amigos sonserinos porque... Bem, você sabe o que os sonserinos pensavam de mim.

Para Alvo, ser um mediador entre as casas era um título que lhe cairia bem. Assim como seu pai, a idéia de ter amigos em ambas às casas agradava a Alvo. Mas ele não queria ter amigos fáceis, queria conquistar a confiança e a amizade de pessoas especiais, mas que poderiam ser-lhe muito fiéis. Conquistar amigos na sonserina não foi uma tarefa nada difícil. Alvo já poderia afirmar que todos os seus colegas de quarto poderiam ser considerados amigos. Alvo também tinha certeza de que não seria nada difícil se enturmar com os corvinalinos e lufalufanos, afinal suas casas não possuíam nenhuma rivalidade pessoal. Mas, Alvo sabia que não seria nada fácil conquistar novas amizades na Grifinória. Mesmo tendo seu irmão e sua prima na casa, seria difícil para ele se enturmar com os rivais grifinórios, mas essa era uma briga que Alvo gostaria de participar.

Ingenuamente, Alvo se dirigiu ao outro extremo da mesa onde na noite anterior fora ocupada pelos grifinórios e que hoje era ocupada por membros de três das quatro casas de Hogwarts. Nenhum dos dois meninos loiros se mostrava muito interessado em terminar a refeição preparada pelos elfos domésticos da escola. Os dois ainda se mostravam bastantes insatisfeitos com o rumo de sua vida acadêmica depois da noite anterior, quando foram designados pelo Chapéu Seletor a ocupar um lugar na casa que não se identificava com seus respectivos nomes.

– Posso me juntar a vocês? – perguntou Alvo inocentemente.Quando Escórpio Malfoy ergueu os olhos para retrucar grosseiramente

a quem havia feito a pergunta, se assustou. Não teve como responder a

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Alvo, seus olhos arregalaram como se ele estivesse vendo o fantasma de seu bisavô. Sua pele pálida novamente perdeu a pouca cor lhe existia. Agamenon Lestrange dera um salto ao perceber quem estava ao seu lado. O garfo que levara comida a sua boca somente uma vez agora jazia no chão. Assim como Escórpio, Agamenon arregalou os olhos como se fosse a figura fantasmagoria de seu pai que havia falado com ele. Em suma, Alvo imaginara que a reação dos dois fosse pior.

– O que quer aqui...? – Escórpio não sabia se referia a Alvo como seu pai fazia com Harry, chamando-o somente de “Potter” ou se o chamava pelo primeiro nome. Escórpio então não disse nenhum dos dois, o que não alterou o sentido de sua frase.

– Simplesmente quero tomar café. Acordei muito tarde e não tive a oportunidade de comer. – mentiu.

– E por que não vai se juntar a seus amigos sonserinos? – Escórpio fazia todo o esforço possível para se manter autoritário e enjoado somente com a presença de Alvo, mas ele não o fazia tão bem quanto seu pai.

– Eles já estão demasiadamente entretidos, e acho que minha presença poderia ser mais bem aproveitada em outro lugar, com outro grupo.

– Pra mim tanto faz. – sussurrou Agamenon Lestrange tocando em seus ovos fritos com as garras de um novo garfo que havia se materializado.

– Tudo bem. – bufou Escórpio. Desde que foram selecionados para a Grifinória, Agamenon Lestrange e

Escórpio Malfoy não se prenderam a uma conversa onde pudessem trocar mais que duas palavras. A maioria das respostas dadas pelos garotos eram um mero “sim” ou um frio “não”. Da parte de Agamenon, ele respondia as perguntas desta forma porque o restante de seus colegas não se dava ao trabalho de dirigir-se a ele com propostas melhores de conversa. Já Escórpio se mostrava frio a qualquer um que tentasse se aproximar dele. Escórpio se sentia prejudicado e solitário e o único que melhor o entendia era Agamenon. Assim um era o que mais conversava com o outro, mesmo que essas conversas fossem rápidas e desinteressantes.

– Por que acha que eu e Escórpio precisamos mais de você do que qualquer outro primeiranista? – perguntou Agamenon de repente, mas um tanto entediado.

– Simplesmente porque acho. Meu pai aconselhou-me a fazer novas amizades, principalmente com aqueles que não são de minha casa. Com esses eu tenho mais tempo para interagir do que com os demais, então no tempo que me resta acho que deveria me dedicar a reforçar meus laços de amizade com outros. E também porque acho horrível, vocês já serem perseguidos por seus próprios companheiros de casa. Sim, vi o que Eugênio Finnigan fez com vocês durante o jantar de ontem. Já eu, não acho que vocês devam pagar pelos er... pelas ações feitas por outras pessoas, se é que me entendem.

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– Vindo de você, sonserino, isso é bem confortante. – debochou Escórpio.

– Eu me sinto melhor ouvindo isso. – afirmou Agamenon fuzilando Escórpio com o olhar e lançando um fragmento de um sorriso à Alvo – Ter um Lestrange e um Malfoy na Grifinória é tão anormal quanto...

– Ter um Potter na Sonserina. – completou rapidamente Alvo.Naquele momento Agamenon e Escórpio perceberam o que Alvo já

havia percebido no momento em que entrou no Salão Principal e que reparou os dois grifinórios cabisbaixos. Eles viram que Alvo também estava em um lugar que, aparentemente, não era bem vindo. Que Alvo também estava sofrendo por não estar na casa de seus pais, mas que ele, diferente de Escórpio e Agamenon, estava tentando buscar seu espaço junto ao outros. Alvo estava tentando se adaptar a Sonserina.

– Acreditem, se Eugênio Finnigan tivesse sido selecionado para a Sonserina, o que não seria muito difícil, ele seria perseguido pelos mais velhos de uma maneira pior do que ele está fazendo com vocês. – afirmou Alvo retribuindo o sorriso de Agamenon – E isso só por que ele é filho de um dos que ajudou a derrubar Voldemort.

– Você foi amolado? – perguntou Agamenon curioso.– Não. – respondeu Alvo firmemente – Mas acho que só não fui por que

sou filho de quem sou e os sonserinos atribuíram isso como uma vitória. Duvido que se me chamasse Alvo Weasley não seria ridicularizado pelos quintanistas.

– Obrigado.– Você não tem nada o que agradecer. – opôs-se Escórpio fitando Alvo

sem piscar – Eles são quem não deveriam nos irritar. – ele apontou com a cabeça para o grupo de grifinórios em volta de Eugênio Finnigan – Nós não fizemos nada de errado. Nós podemos mostrar a eles como um verdadeiro grifinório age. Nós não estamos aqui porque somos escória, estamos aqui porque somos muito mais corajosos e fiéis que os demais. Por isso somos grifinórios, e não há como negar!

– Acredita mesmo no que disse? – perguntou Alvo revirando os olhos.– S-sim. – gaguejou Escórpio depois que realmente tomou

conhecimento de tudo o que falou. Aquela foi a primeira vez que Escórpio Malfoy admitiu ser um grifinório

e mostrou a outra pessoa seu verdadeiro sonho, mudar a visão geral de um grifinório. Mostrar a todos que um grifinório é, além de tudo, a personificação da coragem, e por muitas vezes mais tarde, Escórpio mostraria a seus amigos que ele, mais do que ninguém, é dotado de extrema coragem.

– Esse foi um café muito produtivo. – afirmou Alvo quando finalmente terminou de beber seu suco de abóbora.

– Eu que o diga. – murmurou Escórpio revirando os olhos, ainda incrédulo com as próprias palavras.

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– Mas, Alvo você se juntou conosco somente porque quis quebrar as barreiras entre as casas? – perguntou Agamenon.

– Talvez. – respondeu Alvo acidamente – Eu também gosto de escandalizar com uma Hogwarts aparentemente em paz. Ter um Potter amigo de um Lestrange e de um Malfoy, ambos da Grifinória, é algo que com certeza colocaria a escola de pernas para o ar.

– Acho que não ouvi bem, Potter, você empregou a palavra, amigos? – desta vez Escórpio tentara imitar o pai chamando Alvo pelo sobrenome com o mesmo tom enjoativo, mas do modo como Escórpio havia dito, saiu mais em um tom cômico.

– Não ouviu bem, Escórpio. – respondeu Alvo lançando um furtivo sorriso – Não vejo outro adjetivo se não “amigos” para caracterizar a ambos.

– Creio que “amigos” é uma palavra muito forte, talvez... – Escórpio se calou por alguns segundos, fitando Alvo com desdém, depois prosseguiu – Sei que tenho sentimentos fortes por você, Potter. Mas ainda não posso afirmar se são bons ou ruins. Não posso afirmar se quero te estuporar pelas costas ou te chamar de amigo...

Alvo considerou que vindo de Escórpio, aquilo significava que poderiam sim ser bons amigos.

– E quanto a você? – perguntou Alvo se voltando para Agamenon.– De minha parte tudo bem. – respondeu o garoto loiro sorrindo –

Também me agrada esse clima tempestuoso e animado. E se vamos escandalizar com Hogwarts... deveríamos no juntar no almoço.

Alvo retribuiu o sorriso de Agamenon, aceitando o convite. E sem surpresa para ninguém, eles o fizeram.

Capítulo CincoMcNaught e Silvano

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resto do dia livre de Alvo não foi nada surpreendente ou interessante. Depois do café, Alvo se juntou a seus amigos sonserinos que não tardaram em explorar por completo os

corredores e passagens de Hogwarts. Alvo sabia que muitas passagens secretas da escola foram trancadas ou bloqueadas durante o regime ditador de Severo Snape. Os Comensais da Morte trancaram todas as passagens que conheciam para evitar uma fuga ou invasão de bruxos pela ou para a escola. Porém os garotos sonserinos descobriram uma passagem secreta atrás da estátua de Sir Abraxamagos, uma estátua de um bruxo corcunda e magricela que segurava um mapa e um lampião. Infelizmente o grupo de sonserinos não teve oportunidade de seguir com sua exploração ao entorno da figura de Sir Abraxamagos. Um grupo de grifinórios, liderados por Eugênio Finnigan, um garoto de franjinha e rosto vermelho, se aproximava dos sonserinos exploradores. Junto de Eugênio estavam Cameron Creevey, Henry Thomas e Euan Coote.

O

Os quatro falavam alto, lançavam piadas e riam abobalhadamente, somente Cameron se mostrava contra certas piadas e implicâncias. Eugênio se intitulava o líder da gangue, a qual era a que mais atormentava Escórpio e Agamenon por eles não terem sido selecionados para a Sonserina e acabarem sendo “largados” na Grifinória.

Quando os dois grupos se encontraram as gargalhadas e risos cessaram. Os grifinórios focaram bem os sonserinos, todos se mostrando muito insatisfeitos com o encontro. Alvo deu um passo à frente e encarou Eugênio da mesma forma fria que ele o encarava.

– Potter parece gostar de se misturar com os fracassados. – riu Eugênio se exibindo para os amigos – Primeiro se junta a Sonserina, e agora se torna amigo destes sonserinos.

– Quero ver repetir isso quando eu encher essa sua boca de murros. – retrucou Antônio entre os dentes, erguendo um dos punhos para Eugênio, ameaçadoramente. Assim como os outros quatro, Antônio se mostrou bem ofendido, mas foi o único a ter coragem para retrucar.

– Não vale a pena se meter com esses caras agora, Eugênio. – aconselhou Cameron pondo-se ao lado de Eugênio – É o primeiro dia, não deveríamos nos meter em confusão. Afinal, não seria nada bom sermos os primeiros a tirar pontos da Grifinória.

– Ok. Mas não pense que isso acaba aqui, Zabini. – retorquiu Eugênio continuando a seguir seu caminho – Nenhum sonserino me ameaça e fica por isso mesmo.

– Não tenho medo. – respondeu Antônio da mesma maneira rude, porém corajosa. Antônio seguiu os grifinórios com os olhos até que eles saíssem de sua vista.

– Obrigado por nos defender, Antônio. – disse Perseu dando um leve soco no ombro de Antônio.

– Eu não precisaria defendê-los se vocês já o fizessem. – retrucou Antônio chateado – Sabem por que Eugênio Finnigan atormenta tanto

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Malfoy e Lestrange? Porque eles não o enfrentam, aceitam as provocações. Se vocês não retrucarem, essas pessoas tipo Eugênio Finnigan continuarão a azucrinar vocês.

Depois daquele dia Antônio começou a olhar seus companheiros de dormitório com outros olhos. Ele acreditava que, assim como ele, Alvo era um garoto brigão que não levava desaforos para casa (o que ele não levava, mas utilizava outros meios, que não somente brigas com contestar seus ofensores). Antônio continuou a falar e brincar com os amigos, mas era muito mais fácil vê-lo andando com a trupe de Teseu Flint ou com a de Valerie Rosier do que com eles.

Durante o final de tarde, quase na hora do jantar, Alvo se atreveu a explorar a famosa e rica biblioteca de Hogwarts. Não foi supressa nenhuma encontrar sua prima Rosa Weasley sentada em um dos bancos da biblioteca lendo uma antiga e grande fábula do mundo da magia. Lentamente Alvo se aproximou da prima e começou a puxar assunto com ela, foi ai que Alvo recebeu uma insatisfatória revelação.

– VOCÊ VAI TER AULAS NO SEGUNDO ANO! – gritou Alvo esquecendo completamente de onde se encontrava e chamando a atenção de Madame Pince, a bibliotecária.

– Não são todas as aulas, Al. – murmurou ela levando Alvo para outro canto da biblioteca tentando despistar a bibliotecária furiosa – Meu orientador, o senhor Cornélio Tottill, concluiu que eu já possuía conhecimento suficiente para pular um ano em História da Magia, Runas Antigas e Literatura Mágica.

– Runas Antigas?– Minha mãe tem uma vasta coleção de livros de runas. – explicou Rosa

com a maior naturalidade – Eu não tinha nada para fazer durante o verão, então decidi explorar os extensos horizontes das runas. Já aprendi um bocado e o Sr Tottill considerou que meus conhecimentos já eram suficientes para estudar no segundo ano, também.

Não era o que Alvo esperava. Para ele História da Magia e Literatura Mágica seriam matérias monótonas e desinteressantes, onde ele (assim como seu pai e o tio Rony faziam com a tia Hermione) simplesmente copiaria os deveres de Rosa e torceria para lembrar o mínimo possível para passar nos exames.

Aquela notícia do adiantamento de Rosa atormentou Alvo por algumas semanas, mas depois de um tempo ele percebeu que poderia fazê-lo com outra pessoa. E que seria difícil copiar as anotações de Rosa durante a aula já que ele terá Literatura Mágica e História da Magia com a Corvinal.

Antes de dormir Alvo deu uma última olhada em seu horário. No dia seguinte teria Herbologia depois do café, depois era Artes dos Trouxas, junto com a Grifinória e assim terminariam as aulas antes do almoço, depois teria Tecnomancia com vários alunos de outros anos. Alvo queria continuar a ler sua programação acadêmica, mas seus olhos já não o

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deixavam. Suas pálpebras começavam a pesar e o fato de ter de acordar cedo na manhã seguinte o fez obedecer-las. Alvo retirou seu anel de passagem e o depositou cuidadosamente sobre seu criado mudo. Já vestido com seu pijama, Alvo mergulhou ansiosamente por baixo de suas cobertas e em poucos minutos adormeceu.

Naquela noite Alvo teve um sonho bastante estranho, se não o mais estranho que ele já tivera em seus onze anos de vida. Alvo se espremia por dentro de uma árvore com alguma dificuldade, mas em vez de se deparar com o interior dela ele se encontrou em uma espécie de vestíbulo subterrâneo com colunas de pedra o sustentando e raízes de árvores por todos os lados. Desviando cuidadosamente das raízes que bloqueavam seu caminho, Alvo demorou uns cinco a dez minutos para atravessar completamente o vestíbulo. Na outra extremidade do vestíbulo não havia nenhuma porta, mas sim um grande arco de pedra com inscrições antigas que Alvo acreditou serem runas. Alvo atravessou o arco sem pensar duas vezes e este lhe levou a uma espécie de santuário.

Assim como o vestíbulo o santuário também possuía colunas de pedra e raízes expostas, porém estas se preservavam encostadas nas paredes sem bloquear a passagem. No outro extremo do santuário havia uma espécie de caixão luminoso que refletia uma luz tão poderosa e cegante quanto a luz do Sol. Ao centro do santuário estavam dois homens e Alvo pode perceber que eles discutiam. O mais velho e mais alto se mostrava bastante autoritário, berrando e agitando os braços contra o mais novo.

– Você está demorando demais! Não temos a eternidade! Expliquei-lhe o que deveria ser feito!

– Mas ainda não pude ganhar a confiança dele. – dizia o mais jovem tentando se defender – Preciso de mais tempo... Ele é mais cabeça dura que nós imaginávamos.

O mais velho balançou a cabeça negativamente. Por um momento, Alvo teve a impressão de que o mais novo o observava, mas Alvo não conseguia identificar sua fisionomia, estava tudo muito escuro e borrado, com exceção do caixão luminoso.

– Vá embora. – ordenou o mais velho para o subordinado.O mais novo se encolheu fazendo uma abobalhada reverência para o

chefe e se foi como fumaça.– Abri... Reunir... Voltar... Ressuscitar... Sangue... Linhagem... – eram

as palavras que saiam aleatoriamente da boca torta do bruxo mais velho.Alvo queria perguntar o que o bruxo queria dizer e também quem ele

era de verdade, mas as palavras não saiam de sua boca. Por mais que seus lábios mexessem sua voz permanecia guardada dentro de si, como se estivesse demasiadamente acovardada do outro indivíduo.

– Somente você... – foram as últimas palavras ditas pelo homem antes que tudo se transformassem em borrões negros e nebulosos que fizeram com que o sonho de Alvo fosse indistintamente interrompido.

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Rapidamente Alvo abriu os olhos como se estivesse se libertado de um terrível pesadelo. Mais lentamente, o garoto se sentou na cama e percebeu que o pijama e a roupa de cama estavam completamente encharcados de suor. A testa e o pescoço de Alvo suavam frio. Do outro lado do dormitório, Isaac e Perseu olhavam assustados para Alvo. Este retrucava o olhar de susto que dominara o dormitório.

– Você está bem? – perguntou Isaac desviando o olhar de Alvo e mirando em seus sapatos.

– E por que não estaria? – retrucou Alvo deixando a cama e se dirigindo a seu malão para pegar suas novas vestes.

– Olhe para sua cama, Al. – disse Perseu ainda assustado – Seu pijama... Você estava se contorcendo, gemendo de dor. Nós tentamos fazer você acordar, mas... Nada. Parecia que você estava recebendo uma Cruciatus.

Alvo estudou novamente a cama encharcada e seu pijama fedorento. Fora apenas um sonho comum, ele pensou, colocando as vestes nos ombros e rumando para o banheiro de mármore negro de seu dormitório. O que mais pode ter acontecido? Primeiro o memorial e agora isso. É muito emoção para meu primeiro dia.

– Quer que agente te espere? – perguntou Perseu já menos pálido.– Estou bem, pessoal. Juro. Podem ir para o Salão Principal, não vou

demorar.Dito isso ele se trancou no banheiro e tratou de retirar o pijama

fedorento e suado e atirá-lo com estilo dentro do cesto de roupas sujas, imitando um trouxa muito famoso nos Estados Unidos que jogava um jogo chamado basquetebol. Quando finalmente vestiu-se com as vestes negras e verdes da Sonserina, Alvo pôs-se à frente do grande espelho do banheiro, o qual possuía duas serpentes de prata ao seu contorno, o que lembrava alguns dos banheiros do Largo Grimmauld que possuíam o mesmo desenho.

– Verde me cai bem. – concluiu Alvo mirando seu reflexo no espelho – Realça meus olhos.

Menos de dez minutos depois Alvo já se encontrava no Salão Principal e dessa vez ele não quis de reunir a seus novos amigos grifinórios, Escórpio e Agamenon, neste café, Alvo se juntou a um grupo de sonserinos que já comiam seus respectivos cafés. Havia alguns alunos mais velhos – quinto e sexto anos – mas a maioria deles eram primeiranistas. Alvo se sentou entre Bruto Nott e Nicolas Higgs o goleiro titular do time de Quadribol da Sonserina e o irmão mais velho de Ana Higgs, do terceiro ano.

– Finalmente tive o prazer de conhecer o famoso Alvo Potter. – disse Nicolas dando um leve soco no ombro de Alvo – É pura sorte da Sonserina, ter um Potter aqui justamente em um ano de tanta carência.

– Carência? – repetiu Alvo em quanto se servia com alguns bacons e ovos.

– Sim, nosso time de quadribol está realmente com carência de novos jogadores. Estamos somente no osso. De nossos sete titulares do ano

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anterior só sobraram três. Eu, nosso novo capitão Erico Laughalot e Demelza Willians. Conto com você como apanhador. A herança de Harry Potter brilhando na Sonserina.

– Ah, Nicolas...– Nico. – interrompeu o garoto – Detesto esse nome. Use meu apelido,

Ok?– Ah, Nico, eu não sei se percebeu, mas... Eu não estou herdando muito

bem o legado de meu pai. Eu estou na Sonserina.– Vamos Nico, pare de pressionar o garoto – disse Bruto encarando o

colega mais velho – Potter nem se quer subiu em uma vassoura, imagino. – ele lançou um olhar furtivo à Alvo – Nós temos muitos bons apanhadores, não precisamos depender de um novato.

– Está doido para conseguir uma vaga. – concluiu Nico encarando Bruto com superioridade – Erico só lhe chamará para a equipe se estiver envenenado. Sou dez vezes mais goleiro que você.

– Só por mais este ano. – retrucou Bruto entre os dentes – E olhe como fala comigo, Higgs!

– Ah, é verdade! Você pode tirar pontos de sua própria casa. Muito esperto, pirralho!

Antes que Bruto e Nico começassem uma guerra de comida, algo em especial chamou a atenção da grande maioria dos presentes do Salão Principal. Uma nuvem cinzenta de corujas imergiu para o Salão Principal. As corujas planavam docilmente pelo salão agitando suas asas com a maior calma possível, sem temer um choque com as paredes do salão ou entre elas. Alvo ficou admirado com tamanho entrosamento das corujas, que planavam para cima e para baixo pousando nos ombros de seus donos ou lançando a eles suas encomendas. Alvo olhou ansiosamente para uma nuvem cinzenta como uma de chuva, na esperança de encontrar sua coruja ainda sem nome e para sua alegria lá estava ela. A coruja cinza e rechonchuda planava com certa dificuldade ao meio de tantas outras em boa forma física. Em seu bico negro estava uma carta meio bamba com alguns dizeres, os quais Alvo reconheceu a caligrafia de sua mãe, a qual ele herdara de certa forma, principalmente as curvas dos “V”s.

Quando sua coruja finalmente aterrissou ao seu lado, Alvo rapidamente retirou a carta de seu bico, mas antes de abri-la, ele reparou que a coruja possuía duas marcas mais claras ao redor dos olhos, que lembravam os antigos óculos do vovô Weasley. Alvo nunca havia reparado nas duas marcas de sua coruja, nem mesmo no dia em que seu pai havia comprado-a no Beco Diagonal.

– Muito bem, mas acho que você tem de perder alguns quilos. – disse Alvo alisando as penas cinzentas da coruja – Vá para o Corujal, mas não coma muitos ratos. A propósito já é hora de você ter um nome, então... – Alvo estudou a fisionomia da coruja, a qual lembrava muito seu falecido

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avô poucos anos antes de morrer. Barriguda, meio careca e com óculos bem redondos – Arthur. Ou melhor, Artie. Para ficar mais curto.

Alvo achou uma boa idéia homenagear o falecido avô batizando sua coruja com o mesmo nome, mas Alvo usaria mais freqüentemente seu apelido, e ele não era o primeiro a fazer isso. Nobby, a coruja de Tiago, na verdade se chamava Norberto, o presente dado por Hagrid no décimo primeiro aniversário do irmão. Hagrid parecia fanático em batizar animais com o nome de Norberto, afinal seu falecido dragão não poderia usar aquele nome, pois era fêmea. A coruja de Luís também era reconhecida pelo apelido: Frank era muito mais comum que Franchesco. E ainda havia o pequeno projeto de coruja do tio Rony, Píchi.

– Vá, Artie, e trate de malhar um pouco. – dito isso Alvo despachou sua coruja e se voltou para a carta dos pais. Rapidamente ele rasgou o envelope e pôs-se a ler o que sua mãe havia escrito.

Querido Alvo,Estamos todos muito orgulhosos por você ter sido selecionado para a

Sonserina. Nós três aqui de casa lhe felicitamos. É uma honra para os bruxos serem selecionados para a Sonserina, uma casa que evoluiu muito durante os anos e que não deve ter suas ervas daninhas destacadas. Não tenha medo da Sonserina, Al, alguns dos grandes bruxos vêm dela, assim como Severo Snape.

Quanto aos seus tios e tias, todos aceitaram perfeitamente bem o fato de você não ter sido selecionado para a Grifinória. Parece que essa nova geração tem como missão espalhar o nome Weasley pelas outras casas. Porém, tenho que dizer que o que menos se adaptou a essa idéia de um sonserino na família foi seu tio Rony, mas com o tempo nós – principalmente sua tia Hermione – estamos remodelando seu jeito de encarar os sonserinos e garanto que durante as férias de Natal ele já o trate como o velho Alvo de sempre.

Mas, querido, tenho uma noticia que pode não lhe agradar como um todo. Depois da morte de seu avô nós – os adultos – temos pensado em qual será o futuro d’ Toca daqui para frente. Ela é muito grande para sua avó morar sozinha e estamos pensando e pôr-la à venda.

Sei que é uma situação chata, para todos nós, já que você praticamente cresceu na Toca. Mas essa também não é a única opção. Também pensamos em trazer uma das famílias Weasley para voltar a morar na Toca. No momento temos seu tio Jorge e seu tio Rony, mas essa possibilidade é muito remota. E por último ainda há a possibilidade de trazermos mais dois parentes para morar na Toca com sua avó. Temos a tia Muriel, que volta em poucas semanas do Marrocos e seu tio-avô Elias – lembra-se dele, Al? O irmão mais novo do papai, você o viu no enterro. Ele sempre gostou de bebidas.

Bem, ainda temos muito que pensar, mas prometo mantê-lo informado. Por hora, parabéns pela seleção e aproveite sua estadia em Hogwarts.

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Beijos.Gina e Harry.Alvo guardou a carta de sua mãe dentro do bolso de suas vestes, mas

algo em seu peito pareceu sugar toda a felicidade em saber que seus familiares haviam aceitado sua seleção. O fato de haver a possibilidade da venda d’ A Toda incomodara muito a Alvo. Assim como sua mãe havia escrito, ele praticamente crescera entre o galinheiro e a estrutura torta e mal acabada da casa. E assim, como poderiam vendê-la de uma hora para outra. Quantas gerações de Weasley haviam morado naquela habitação que se vendida muito possivelmente seria demolida por seu novo dono. Mas ainda havia a possibilidade de chamar o tio Elias. Alvo não o conhecia muito bem. Só o vira duas vezes desde que nascera. Uma durante o aniversário de casamento dos avós de Alvo e outra durante o enterro do vovô Weasley. Mas esta era muito remota, pois Elias, segundo os tios de Alvo, estava viajando pelo mundo há décadas com sua família e fatalmente não aceitaria voltar em definitivo para a Inglaterra.

Antes que Alvo pudesse abandonar seu café e rumar pesadamente até a mesa da Grifinória para contar sobre a possível venda da Toca algo em especial chamou sua atenção. Ao lado de Nico Higgs jazia um exemplar ainda embrulhado do Profeta Diário. Alvo estudou com atenção as três fotos que se mexiam na primeira página.

– Nico, eu posso dar uma olhada em seu jornal? – perguntou Alvo timidamente.

– Claro, sem problema, Potter. Só não destrua a parte de esportes. É o que mais me interessa, quero saber qual foi o resultado do jogo dos Falcons.

Cuidadosamente, Alvo retirou o exemplar de Nico de dentro de sua proteção. Alvo nunca ligara muito para as reportagens do Profeta, principalmente as que estavam ligadas a Rita Skeeter. Geralmente ele gostava apenas de ver as fotos se mexendo de uma manchete para outra, e às vezes ele folheava os comentários feitos por sua mãe na coluna de esportes. Sem interrupções, Alvo pôs-se a ler a manchete:

Recentes Acontecimentos Provocam Intrigas no MinistérioDepois de três semanas de procura, os Aurores do Ministério da Magia encontraram um

dos membros desaparecidos do Departamento de Mistérios em uma residência trouxa.Desde o início da penúltima semana de agosto, membros do Quartel-

General dos Aurores procuram Serena Tyranicus, 42, bruxa Inominável que exerce seu trabalho no Departamento de Mistérios. Serena Tyranicus, desaparecida desde a primeira semana de agosto, foi encontrada no povoado trouxa de Budleigh Bugmoreton, completamente inconsciente. Segundo as investigações do inspetor chefe do Ministério da Magia, Sr Simon Wilkes, a Srtª Tyranicus foi enfeitiçada por um poderoso bruxo, capaz de produzir um perfeito Feitiço da Memória. Segundo o Sr Wilkes, a Srtª Tyranicus não possui mais nenhuma lembrança dos últimos trinta anos. Nossa repórter Rita Skeeter

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averiguou as datas de nascimento da Srtª Tyranicus e soube: ela não se lembra de nada depois de seus dez anos!

Mas também existem outros fatos que pioram a situação do Ministério: o banco Gringotes, prestou queixa aos Aurores com relação ao desaparecimento de um de seus funcionários. O duende Plochos de Floumatass, também misteriosamente sumido, foi encontrado por coincidência no mesmo recinto que a Srtª Tyranicus.

“Ainda temos muito que averiguar, mas não encontramos nenhum registro que possa ligar a Srtª Tyranicus com o Sr de Floumatass. Nem mesmo amigos das vítimas puderam relatar laços entre os dois.” Foi a declaração do inspetor Wilkes.

Porém nossa repórter Rita Skeeter averiguou ainda mais fundo e descobriu um fato que pode ligar a Srtª Tyranicus ao Sr de Floumatass.

Outro membro ministerial, o senhor Acrusto Underwood, 42, membro do Departamento para a Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas, foi encontrado morto nas proximidades do interior da Bélgica há cinco dias, com marcas de agressão de criaturas sem capacidade de inteligência.

“É comum que alguns de nossos membros morram durante ‘pesquisas de campo’, se assim posso chamar.” Disse o chefe do departamento, Amos Diggory, 64, a pouco promovido ao cargo “Acrusto não recebeu nenhuma missão para estar naquela área, o que indica que ele estava lá por conta própria. Quanto à espécie que o atacou, isso é com o pessoal da autópsia.”

Quanto a isto fica a dúvida se o Sr Diggory, depois de tantos anos de vida, ainda possui competência para dirigir um departamento tão respeitável quanto este. E segundo nossas fontes, o Sr Underwood sim estava em uma missão ministerial como alega um documento que prova que Underwood estava a serviço do Ministério quando viajou para a Bélgica.

O que leva a ligar o Sr Underwood com as demais vítimas? A verdade é que Acrusto possuía uma antiga relação com Tyranicus, pois ambos cursaram Hogwarts em épocas parecidas e ambos começaram no mesmo departamento no Ministério. Já com relação ao duende, Underwood era responsável por certificar que as finanças de seu departamento estavam corretas e suas contas em dia, o que levava a um contato com o Sr de Floumatass, visto que esse trabalhava no banco dos bruxos.

Quando perguntado sobre o caso, o auror responsável pelo caso Underwood, o Sr Roland Weasley, 37, se mostrou muito impaciente com nossa repórter Rita Skeeter.

“Se Diggory disse que Underwood estava viajando a Bélgica por conta própria é por que estava! Confio em Amos, e sei que ele é muito mais honesto que certos repórteres do Profeta. Esse tal documento está sendo analisado por peritos para confirmar se é ou não falso”.

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Quanto aos corpos inertes de Serena Tyranicus e Plochos de Floumatass, ambos se encontram em quartos separados e vigiados por aurores no Hospital St. Mungos para Doenças e Acidentes Mágicos.

Nós, repórteres do Profeta Diário, nos comprometemos com vocês, leitores, que iremos mantê-los informados com o desenrolar dos casos. Afinal fomos nós que “clareamos” o caminho dos Aurores ministeriais.

Depois de ler e reler o artigo algumas vezes, Alvo teve vontade de rasgá-lo e atirá-lo na lareira da sala comunal. Como o Ministério poderia errar de uma maneira tão brutal? Alvo sabia que Rita Skeeter não prestava, e que qualquer “não” na visão da repórter poderia significar um escândalo internacional. Talvez o fato de saber que a reportagem possuía um dedo de Skeeter havia deixado Alvo ainda mais irritado. E como pôde escrever o nome do tio Rony errado? Ronald é completamente diferente de Roland. Essa não fora a primeira vez que isso acontecia com membros da família Weasley quando apareciam no Profeta Diário. Em 1994, quando a Marca Negra aparecera durante a Copa Mundial de Quadribol, o vovô Weasley havia dado uma declaração aos repórteres e eles lhe nomearam como Arnold Weasley. Alvo conhecia a história, pois já a ouvira várias vezes vindas do tio Percy ou de seu próprio pai, geralmente eles tocavam neste assunto quando Rita Skeeter publicava algum artigo que ofendesse ou humilhasse amigos deles.

Discretamente, Alvo percorreu com os olhos a mesa da Grifinória. Assim como ele Tiago havia lido o Profeta, e por sua aparência também não havia gostado do que lera. Pendurado ao ombro de Tiago estava Fred Weasley, o filho mais velho do tio Jorge que recebera o nome do falecido tio Fred, e que cursava o terceiro ano em Hogwarts. Fred – assim como sua irmã Rosana, Vitória e Luís – era membro do grupo dos Weasley que não herdara os cabelos cor de fogo como o resto da família. Os cabelos negros e pele morena foram transmitidos pelos genes de sua mãe, Angelina Weasley. Alvo simpatizava muito com a tia Angelina. Assim como sua mãe, Angelina também fizera parte de um time de Quadribol: os Flechas de Appleby, mas ao contrário de Gina seu contrato com o time fora muito rápido. Depois que noivara com o tio Jorge, Angelina deixou o time para preparar o casamento e logo depois se surpreendeu com sua gravidez que gerou Fred, um ano após o casório.

Mesmo depois de ter lido o artigo do Profeta Diário, Alvo estava decidido a contar para o irmão sobre a possível venda da Toca, mas isso não foi possível. Mau Alvo se levantara de sua cadeira, o garoto fora engolido por seus amigos primeiranistas que o guiaram quase que às cegas para fora do Salão Principal em direção às estufas de Hogwarts, onde se realizaria a primeira aula do ano.

Eram poucas as classes em Hogwarts que permitiam que todos os alunos das quatro casas trocassem conhecimentos juntos e ao mesmo tempo, Herbologia era uma delas. As estufas de Herbologia eram muito quentes e abafadas – geralmente proporcionavam horas de tontura e

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náuseas ao seus ocupantes que eram submetidos a altas temperaturas e um odor raramente agradável – mas as estufas eram bem amplas, o suficiente para abrigar uma grande quantidade de estudantes. Além de Herbologia; Transfiguração, Feitiços e Tecnomancia possuíam grandes salas de aula capazes de suportar grandes quantidades de jovens bruxos. Já Poções, Estudos dos Trouxas e as demais matérias não disponibilizavam de grandes bases estudantis, sendo obrigadas a dividir os grupos de estudantes em dois.

Quando Alvo – cercado pelo grupo de primeiranistas formado por: Isaac Prewett, Lucas Pritchard e Perseu Flint – finalmente chegou à estufa de Herbologia número um, deparou-se com um Prof Longbottom distraído, fitando um estranho cacto cinzento que, no lugar de espinhos, possuía esquisitas pústulas. O professor Neville ergueu os olhos e cumprimentou Alvo pelo primeiro nome, diferente de como fizera com os demais. Alvo conhecia e admirava a história do Prof Longbottom, de como um garotinho bobo e gorducho se transformara em um poderoso bruxo. Alvo sabia que fora Neville que liderara uma forte oposição contra o Lorde das Trevas e seus comensais professores que lecionaram em Hogwarts na época em que Voldemort tomara o Ministério e possuía Hogwarts nas mãos. Fora Neville que corajosamente se opôs ao próprio Voldemort, sendo ele que decepara a cabeça da cobra de estimação do Lorde, Nagini, cortando o último laço de Voldemort com a imortalidade. Mas não fora todo esse encanto e admiração que impedira que Alvo se colocasse em um dos cantos mais longes do professor, já que ele não era um dos melhores em Herbologia e tinha medo que o padrinho o selecionasse para responder suas perguntas.

– Bom dia, alunos. – disse o Prof Longbottom deixando seu estranho cacto de lado e erguendo os olhos para sua turma – Bem, essa será sua primeira aula de Herbologia – e a primeira aula do ano, que hilário – então, teremos de estudar o básico da Herbologia, hoje. Herbologia é, antes de mais nada, eh, o estudo de ervas. Ervas são eh, basicamente raízes, plantas e quase tudo que está ligado ao mundo vegetal. Nessa estufa iremos aprender tudo o que possa se disser sobre o estudo das ervas, eh, plantas. Foi assim que comecei. – Neville abriu os braços alegremente e, acidentalmente, acertou brutalmente um dos menores vasos perto de seu corpo fazendo-o voar para fora da mesa, lançar terra úmida e adubo sobre seus papéis e anotações e se espatifar contra outro vaso de outra planta dez vezes o tamanho de Alvo, que chegava a tocar o teto da estufa. – Bem com eu ia dizendo... As ervas, as raízes, são a base de muitos dos mais fundamentais elementos da magia. Poções, medicina, fabricação de varinhas e até pratica de certos feitiços, tudo isso depende de um competente e correto cultivo e processamento de plantas mágicas. Como por exemplo... Algum de vocês pode me dizer o nome de uma espécie de vegetal muito raro e capaz de ajudar os bruxos, principalmente os adolescentes, a se livrarem corretamente das acnes?

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Foram poucos os alunos que se arriscaram em erguer os braços para responder a pergunta do Prof Longbottom, sua maioria pertencia a Corvinal – a casa daqueles que consideram a educação e a inteligência a base de uma sociedade produtiva. Além destes dois lufalufinos, Inácio Finch-Fletchley e Morgana Hallterman e três grifinórios, Rosa, Agamenon e Lana Longbottom, se comprometeram em responder a pergunta do professor.

Pela primeira vez desde que chegara a Hogwarts Alvo pode prestar atenção na filha mais velha do professor de Herbologia. Alvo e Lana se conheciam a algum tempo – desde que Alvo nascera – eles geralmente se encontravam quando os Potter iam visitar os Longbottom no Caldeirão Furado ou visse versa, porém no Largo Grimmauld. Lana não tinha muito a ver com seu pai, ela herdara somente o mesmo tom de cabelo e o rosto rosado, mas tanto o resto de sua aparência quanto seu caráter era muito semelhante ao de sua mãe, Ana. Lana se mostrara muito amiga de Rosa Weasley, ela não era tão brilhante quanto à amiga, mas era tão estudiosa quanto ela.

– Sr Lestrange, correto? – perguntou Neville dando a palavra a Agamenon.

“Sim”, assentiu o grifinório em um sussurro quase que inaudível.– Diga-nos, Sr Lestrange, qual é o nome da espécie em questão?– Bubotúberas, senhor. – respondeu Agamenon.– Muito bem, dez pontos para a Grifinória. – bradou o professor para a

alegria dos grifinórios presentes, principalmente para a de Agamenon que, mesmo sendo perturbado por seus colegas de casa, conquistara os primeiros pontos para sua casa – As bubotúberas são plantas muito raras de se encontrar no mundo da magia. Elas têm um sistema de camuflagem muito complicado de se entender, mesmo contendo um odor não muito agradável. O pus das bubotúberas é muito valioso para a confecção de poções e medicamentos, como eu já disse no combate a acne. Mas vamos guardar o pus das bubotúberas para os alunos do quarto ano.

O Prof Longbottom arriscou uma risada boba, mas que não surgiu muito efeito sobre sua classe.

– Bem, hoje nós não estudaremos sobre as bubotúberas, mas sim sobre as diversas aplicações de um dos recursos vegetais mais humildes e raros do nosso mundo. Um parente distante das bubotúberas. Um vegetal proveniente do clã – se assim posso chamar – das esclofulárias. Alguém arrisca um palpite de onde ela se encontre?

Mais alunos levaram suas mãos ao ar desta vez, e Alvo foi uma delas, porém o Prof Longbottom se limitou a olhar poucos centímetros à sua direita.

– Sim, Srtª Weasley?– A planta em questão, professor, se encontra poucos centímetros do

senhor, em cima de suas anotações sobre o Visgo do Diabo. – respondeu Rosa com um leve tom de superioridade.

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– Correto. E a senhorita sabe qual nome damos a ela?– Mimbulus Mimbletonia, senhor.– Excelente! Quinze pontos para a Grifinória. As Mimbulus Mimbletonia

são parentes distantes das bubotúberas, ambas, segundo os mais velhos e experientes herbologistas, possuem ligações estreitas com outro clã de vegetais já extintos. Os clabotúberos. Ou seja, poderíamos dizer que as bubotúberas e as esclofulárias seriam primas de segundo grau...

Com o passar do tempo a voz engraçada vinda do Prof Longbottom, os nomes, assuntos desinteressantes sobre Herbologia e o calor proveniente da atmosfera da estufa fizeram com que Alvo ficasse cada vez mais sonolento. Para não começar a fechar seus olhos por definitivo, Alvo mergulhou sua mão dentro de sua mochila e retirou um pedaço de pergaminho, sua pena e um tinteiro e começou a relatar rapidamente tudo o que o professor dizia sobre a replantação da Mimbulus Mimbletonia.

Uns quinze a vinte minutos depois algo vistoso e úmido chamou a atenção de Alvo. De uma planta do tamanho de um salgueiro, plantada do lado de fora da estufa, esticava uma vinha similar a uma pequena serpente, para dentro da estufa por entre a janela mais perto de Alvo. Por um momento o garoto acreditou que a vinha vistosa se esticava em sua direção, mas por outro breve momento ele percebeu que ela se arrastava pela terra da estufa número um até o tornozelo de Irene Mcmillan, que estava demasiadamente preocupada em escrever corretamente os nomes ditados por Longbottom para perceber que algo se contorcia em sua perna.

– AH! – gritou Irene com todas as forças que possuía deixando sua pena cair no chão e derramando um pouco de tinta sobre a mesa da estufa – Mas o que...? Tira isso de mim, TIRA, TIRA, TIRA!

Neville pareceu acordar de um sono hipnótico. Com um salto desajeitado deixou a cabeceira da grande mesa da estufa e se pôs alguns centímetros de distância de onde Irene se encontrava. Por um instante, Neville ignorou completamente a situação em que Irene se encontrava e começou a estudar a vinha que se contorcia na altura da batata da perna de Irene.

– Acalme-se, Srtª Mcmillan. É uma Ditamínea, uma vinha rara que tem proporções muito importantes. É um sinal de boa sorte...

– Não me importa! – berrou ela em tom de desaprovação – Só quero que tire isso de minha perna, JÁ!

Neville deu um salto desengonçado para mais perto de Irene. Rapidamente ele sacou a varinha e a apontou tremulamente para a vinha que se contorcia na perna da garota. Por uns instantes Alvo teve a impressão de que o padrinho esquecera completamente que era ele quem estava no controle sobre a classe. Em quanto, Irene berrava, como uma condenada, o professor se mostrava como um aluno desorientado que

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recebia uma bronca de sua professora por ter atiçado fogo nos cabelos de uma aluna.

– Deixe-me ver o nome do feitiço, eh... Mil Ervas Européias... Capítulo Quatro... Ditamínea... Ah, lembrei! Redeodomus.

A ponta da varinha de Neville pareceu iluminar-se brevemente, como se um vaga-lume tivesse se iluminado por alguns segundos. Quando atingida pelo leve feixe de luz vindo da varinha do professor, a vinha da Ditamínea soltou-se rapidamente da perna de Irene e voltou a toda velocidade – mais rápido do que Alvo imaginava que conseguiria – para perto de seu tronco original.

– Uma experiência agradável, Srtª Mcmillan. – afirmou inocentemente o Prof Longbottom voltando à cabeceira da mesa – Muitos bruxos passam a vida esperando que uma vinha de Ditamínea agarre sua perna. Como disse é um sinal de sorte. Podem perguntar a Profª Trelawney, ela lhes garantirá. Contudo não imagino o porquê desta vinha de Ditamínea estar aqui nesta estufa. Somente alunos do terceiro ano têm acesso aos vasos. As vinhas de Ditamínea podem ser perigosas quando atingem a idade adulta.

– O quê?! – pigarreou Irene olhando de sua perna para a face abobalhada do professor – Ela poderia ter-me...

– Não se preocupe. Aqui em Hogwarts nós não cultivamos vinhas adultas. Quando atingem sua faze de metamorfose, sua raiz é devidamente colhida, suas propriedades curativas são transformadas em poções e a Essência de Ditamno e ela, enfim, é replantada na parte mais longínqua da Floresta Proibida.

Passados trinta ou quarenta minutos de explicações sobre as propriedades da Mimbulus Mimbletonia e da Ditamínea, a aula de Herbologia finalmente chegara ao fim. Alvo se detivera alguns instantes dentro da estufa. Alegara a seus amigos que perdera sua pena e que demoraria um pouco mais dentro da estufa, mas na verdade, Alvo queria apenas ficar um tempo a sós com Neville. O que demorou um pouco, pois Lana se mostrava relutante em abandonar a estufa.

– Aula muito interessante, professor. – disse Alvo em quanto se aproximava de Neville.

– Ora, Al. Não precisa de formalidades comigo fora dos tempos de aula. Sou seu parente, seu padrinho! A formalidade deve ser mantida somente quando eu assumir meu posto de professor e você o seu como aluno.

– Deve ser difícil para Lana ter que chamá-lo de senhor. – Ela vai se acostumar. Mas não duvido que não consiga controlar seu

impulso e levantar a mão para me pedir para passar o pão do café da manhã. – riu Neville.

– Neville, – começou Alvo em quanto seu padrinho desviava seu olhar rapidamente do afilhado e organizava suas anotações já muito sujas e borradas – só por curiosidade, o que você acha que trouxe a vinha de Ditamínea até essa estufa?

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Neville revirou os olhos para Alvo, depois os levou até a janela por aonde a vinha havia entrado. Ficou olhando-a por um instante, tentando imaginar uma resposta lógica para o afilhado até que finalmente ela lhe chegou.

– Natureza. – disse ele – Ventos, chuvas. Há vários motivos e ou ações que possam espalhar sementes de Ditamínea. Mas não acho que Irene Mcmillan fosse seu primeiro alvo.

– Como assim?– As Ditamíneas, como eu disse durante a aula, foram por muito tempo,

cultivadas por fabricantes de perfumes. Possivelmente o forte odor do perfume de Mcmillan tenha distraído a vinha e forçado-a a seguir um novo caminho. Mas por que a pergunta?

Desta vez foi Alvo que precisou de certo tempo para encontrar as palavras certas antes de dirigir-se ao professor.

– É que, por um momento... – ele se deteve quando viu a expressão curiosa vinda de Neville, mas por sorte – ou não – algo o interrompeu, desviando completamente a atenção do professor.

“Atrasado! Você está ATRASADO!” gritou uma voz aguda e infantil. Depois de alguns segundos, Alvo notou que a voz vinha do bolso do professor, mais especificamente de um relógio de bolso já muito desbotado que repousava por entre as vestes de Neville.

– O que é isso? – perguntou Alvo curioso enquanto Neville desativava o mecanismo do relógio.

– Isso? É como um despertador. Se parece muito com o do velho Dédalo Diggle. Eu ganhei de minha avó quando completei dezessete anos. Pertenceu a meu avô. Só fiz alguns reparos e remendos e... Pelas barbas de Merlim! Estamos realmente atrasados, Al. É melhor você correr para não perder sua próxima aula... De que é mesmo?

– Eh, Artes dos Trouxas.– McNaught... Quero dizer, Prof McNaught. – corrigiu Neville – Ele é

um bom professor. Vai gostar dele. Mesmo que seja excêntrico demais.Alvo demorou mais tempo para voltar ao castelo de Hogwarts do que

para deixá-lo. Quando finalmente chegou ao primeiro andar onde se encontrava a nova sala Artes dos Trouxas. Os corredores estavam apinhados de estudantes de várias casas, Alvo notou que em sua grande maioria se destacavam primeiranistas grifinórios e sonserinos e quartanistas lufalufinos e corvinalinos.

Ao centro de um grupo de quartanistas da Lufa-Lufa, destacava-se uma bela garota de cabelos ruivos com mechas loiras. Dominique Weasley se comportava de uma maneira muito semelhante à de sua irmã Vitória, porém Dominique era um pouco menos vaidosa que a irmã. Diferente de Vitória e Luís, Dominique havia herdado os cabelos ruivos do pai, mas a garota insistia em tingir seu cabelo com poções trouxas e bruxas para torná-lo o mais loiro possível. Com forte influência dos genes de veela

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vindos da tia Fleur, Dominique possuía uma grande tendência a se sentir a rainha do mundo e sua aparência sempre lembrava a de uma boneca.

Quando a viu, Alvo torceu para não ser percebido pela prima, não que ele e Dominique não se dessem bem, muito pelo contrário – a garota possuía um dom para atrair amigos e repelir inimigos, mas Alvo não se via entretido por nenhum assunto que pudesse vir de Dominique, e a garota mostrava o mesmo com relação a Alvo. Por sorte sua prima estava muito entretida junto ao seu grupo de amigas para notar a presença de Alvo.

No final daquele mesmo corredor se encontrava a sala de Artes dos Trouxas. A primeira vista Alvo não encontrou nenhuma diferença com relação às demais salas de Hogwarts, exceto por uma frase entalhada com letras douradas chamativas no contorno do arco da porta. Lia-se “Se não sabes pintar, mistures algumas cores e digas que é Abstrato.”

Alvo não entendeu o que aquilo significava. Por mais que já houvesse visto pinturas trouxas de todas as formas – abstratas, simétricas, de formas ou pinturas de pessoas – não havia nada que pudesse ligar uma coisa à outra. As pinturas abstratas trouxas não possuíam muita lógica, porém geralmente há uma combinação de cores que seguem um padrão do artista. Nunca, somente um monte de borrões.

Cautelosamente Alvo abriu a porta de sala de Artes dos Trouxas, tomando cuidado para não chamar a atenção dos outros estudantes ou do Prof McNaught, mas esse não estava presente na sala. A zoeira e as conversas tomavam toda a sala e chegava aos ouvidos de Alvo somente como um zumbido forte e irritante.

A sala de Artes dos Trouxas era circular, com paredes cor de carvalho, muito ofuscadas quando postas ao lado dos belos quadros trouxas espalhados pela sala, e um teto similar ao do Salão Principal, com nuvens pomposas e brancas iguais as que flutuavam no céu sobre Hogwarts. Não havia mesas, somente quatro cadeiras distribuídas de forma circular e uma tela em branco para cada estudante. Alvo caminhou lentamente pela sala, admirando as telas pintadas pelos trouxas, muito diferentes das dos bruxos, que se mexiam, conversavam umas com as outras e podiam passear de uma moldura para a outra.

Alvo estava pensando em se juntar a seus colegas sonserinos durante a aula de Artes dos Trouxas, porém seus amigos não pareciam demonstrar o mesmo interesse que ele pelas obras trouxas. Não era de se esperar que típicos sonserinos se interessassem por quaisquer aulas que fossem relacionadas a trouxas. Mesmo depois de chegar a acreditar que a Sonserina houvesse mudado depois de anos, Alvo conseguiu descobrir que o sentimento de pureza sanguínea e de superioridade ainda enevoava a mente de certos alunos. Já Alvo, por sua vez, ainda era considerado o sonserino mais atípico de todos os tempos, por esta razão – talvez, ele se mostrasse muito mais interessado pela aquela didática que seus colegas.

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Ao dar as costas para os sonserinos Alvo deparou-se com seus melhores amigos grifinórios sentados no mesmo grupo, que por sorte, necessitava de mais um membro.

– Está livre? – perguntou Alvo para Rosa, Escórpio e Agamenon, porém sem aguardar resposta, sentando-se rapidamente na cadeira vazia.

– Na próxima vez, se não queria ouvir resposta, poupe saliva e sente-se logo, Potter. – respondeu Escórpio rispidamente fingindo estar muito interessado em sua tela branca. – Por que não se junta com seus amiguinhos serpentes?

– Porque prefiro passar a aula de Artes dos Trouxas com alguém que realmente se interesse por ela. – retorquiu Alvo ainda com seu mesmo tom amigável – Será muito mais produtivo para minha vida acadêmica se eu me juntar com Rosa e Agamenon do que com Isaac Prewett e Lucas Pritchard.

– Então está se juntando conosco somente por que acha que assim tirará uma nota dez fácil? – perguntou Rosa em tom de ofensa.

– Claro que não. – respondeu Alvo rapidamente – Somente acho que será muito mais produtivo para nós se nos juntarmos.

– Espere ai! – guinchou Escórpio encarando Alvo por cima de sua tela – Por que não me incluiu dentro de suas expectativas acadêmicas? Acha que sou tão cego com relação a artes que não posso distinguir vermelho de roxo?

– Não sabia que gostava de artes. – disseram Alvo e Agamenon ao mesmo tempo.

– Pois deveria saber mais sobre mim antes de...Porém Escórpio foi interrompido pelo estrondo que veio de trás da

escrivaninha do professor. A porta que dava para uma pequena salinha de tijolos se escancarou abrutalhadamente, e dela saiu um homem tão alto e loiro que Alvo pensou estar vendo a versão masculina da tia Fleur.

O Prof McNaught era exatamente com Neville havia relatado... excêntrico. Seus cabelos loiros ondulados faziam Alvo se lembrar de um oceano tempestuoso, porém magnífico, com marolas graciosas e ordenadas. Seus dentes retos e brancos eram tão perfeitos e brilhantes que faziam com que quem os fitasse piscar. Alvo pensou se seu pai e o tio Rony se sentiram do mesmo modo como ele se sentia quando tiveram sua primeira aula com Gilderoy Lockhart, completamente menosprezado pela beleza assustadora do professor e ao mesmo tempo enjoado e irritado com tamanha falta de humildade.

– Bom dia, queridos alunos. – exclamou o Prof McNaught lançando um elegante e cegante sorriso – Meu nome, com todos devem saber, é Epibalsa McNaught. Membro do Comitê Organizador de Eventos e Cerimônias Mágicas, fundador da Academia de Artes Plásticas dos Bruxos e escritor de vários Best-Sellers sobre o mundo das artes como: Uma Visão Crítica sobre a Arte das Artes e Como Transformar um

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Ignorante em um Novo Picasso. Picasso como devem saber é um famoso pintor trouxa.

“Bem, as artes em geral são consideradas maneiras de expressão, muitas vezes sentimentos ou pontos de vista do próprio artista, mas também podem refletir o que a de mais profundo dentro do coração do pintor.”

“Existem milhares de diferenças entre as Artes dos Trouxas e as Artes dos Bruxos – ou como nós chamamos Artes Convencionais. Por exemplo, uma tela, pintada por um bruxo pode conter muitos dos mesmos elementos das feitas por trouxas, mas os primeiros possuem o conhecimento de técnicas e manobras que os últimos desconhecem.”

“Para um bruxo é extremamente fácil criar uma obra aceitável se este possuir um conhecimento básico com certas poções artísticas como a Multicolores e a Essência de Tintas ou também em feitiços, muito úteis para criar vida a suas artes. Geralmente é isso que as torna tão... vivas.”

“Mas os trouxas não possuem conhecimentos relativos ao preparo de poções – o máximo que podem fazer é um fantástico suco de groselha – e nunca terão sabedoria na área de feitiços. Então, como eles poderão criar obras tão perfeitas como esta que está atrás de mim?”

O professor apontou com o polegar para uma pintura de uma mulher bonita e sorridente, pendurada cuidadosamente na parede atrás de sua escrivaninha. Alvo apertou um pouco os olhos para poder ler as letrinhas gravadas na pequena plaquinha dourada presa em sua moldura. “Monalisa” lia-se.

– Professor! – exclamou Cameron Creevey no fundo da sala, agitando seu braço direito de forma desesperada – Como o senhor conseguiu trazer a Monalisa para Hogwarts? E agora que eu estou percebendo, o senhor possui várias obras famosas nesta sala! Como as conseguiu?

– Sr Creevey – disse McNaught lançando a Cameron um sorriso elegante, porém provocante – Existe algo chamado Cópia Inocente. É quando um artista, como quem vos fala – faz uma réplica de uma obra sem fins lucrativos. É como se você baixar algumas músicas via Internet para colocar em seu iphone.

Muitos dos estudantes ficaram sem entender a explicação do professor. Para os bruxos saber sobre Internet é algo que custaria muito a eles. Sendo muito mais fácil aprender a Teoria da Relatividade do que sobre o misterioso mundo da Internet.

– Sei que para a maioria dos bruxos é difícil assimilar quando falo sobre Internet, perdão. A Cópia Inocente seria, mais ou menos, como fabricar poções sem fins lucrativos. Contudo as obras presentes nesta sala não pertencem somente a trouxas famosos como Picasso e Debret ou a mim mesmo. Algumas pertencem a outros bruxos que, assim como eu, apreciam as Artes dos Trouxas. Agora se puderem abrir seus livros na página oito poderemos...

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Alvo perdeu a linha do raciocínio pouco depois de pegar seu exemplar de Um Estudo Rápido das Artes Trouxas de Estefânia Whirlkiss. O garoto ficou folheando as páginas admirando as obras contidas nos livros. Algumas eram realmente bonitas em quanto outras atiçavam a criatividade e a curiosidade de Alvo ao extremo. Porém quase no final da aula, faltando poucos minutos para a sineta tocar, o movimento brusco de Rosa erguendo seu braço para chamar a atenção do professor fez com que Alvo retornasse para a aula de artes.

– Professor, segundo as palavras de Estefânia Whirlkiss, todo artista, trouxa ou bruxo, possui uma fase pessoal. Como um lema próprio...

– Comesse com um pincel e tinta – interrompeu o Prof McNaught sentando-se majestosamente em sua cadeira, olhando para o teto encantado da sala e entrelaçando uma pena esverdeada entre seus dedos – depois passe para uma aquarela. Finalmente você poderá criar uma obra prima. Este é meu “lema pessoal”, Srtª Weasley.

– Desculpe-me, senhor. – pigarreou Rosa envergonhada – Mas o que eu ia perguntar era: de quem é aquela frase escrita na porta da sala de aula?

McNaught não se mostrou descontente com o passa-fora recebido de Rosa, muito pelo contrário. O sorriso glamoroso e o olhar hipnotizante baixaram sobre Rosa e com um sussurro quase inaudível ele a respondeu.

– Jeremias Smith. Filho de Helga Hufflepuff, e meu antecessor como professor de Artes dos Trouxas. Jeremias lecionou aqui em Hogwarts em quanto sua mãe ainda era uma das diretoras da escola. Após a saída de Salazar Slytherin da coordenação de Hogwarts, os outros três fundadores puderam finalmente colocar suas idéias de integração entre trouxas e bruxos em prática. Os filhos de Gryffindor e Hufflepuff se tornaram professores. Jeremias de Artes dos Trouxas e Gordon Gryffindor de Defesa contra as Artes das Trevas.

“Depois de alguns anos Jeremias deixou Hogwarts quando um dos herdeiros de Slytherin usurpou a diretoria da escola e demitiu todos os funcionários contratados pelos outros três fundadores e principalmente seus familiares. Jeremias Smith aproveitou sua demissão para aprofundar-se sobre as artes em geral. Ele é considerado um dos mais famosos bruxos que se especializou em Artes dos Trouxas."

Poucos segundos após o fim da breve explicação do Prof McNaught sobre Jeremias Smith e sineta soou estrondosamente anunciando o termino das aulas antes do almoço.

Que Alvo iria almoçar com seus colegas sonserinos era fato, mas ele preferiria caminhar pelos corredores da escola junto de seus amigos grifinórios.

– Ainda bem que só temos aulas com McNaught às segundas. – resmungou Escórpio em quanto os quatro deixavam a sala de Artes dos Trouxas e se misturavam com os alunos do quarto ano que saiam da aula de Estudos dos Trouxas – Se eu tivesse que aturar aquela voz nada

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miserável e aquelas roupas aparatosas que mais parecem de bobos da corte da Idade Média eu iria vomitar!

– Isso se chama inveja. – contestou Rosa abraçada aos livros de arte – Todas as explicações dele sobre as artes foram... Fantásticas! O modo dele andar, de falar, de ensinar sobre esse assunto tão amplo e polêmico que são as artes. Isso tudo é...

– Fantástico. – interromperam Alvo e Agamenon ao mesmo tempo em um único tom de gozação.

– Mas a aula dele em si não é muito diferente da dos demais. Não há nada de tão diferente no modo de ensino de McNaught que o torne tão arrebatador. É um professor comum. – disse Agamenon sério.

– Esperem até ele começar a pintar quadros durante as aulas. – retrucou Rosa excitada – Será que ele chamará as alunas para servirem de modelo?

– Se ele te chamar será somente para recriar o desenho de um duende ruivo e sardento. – disse Escórpio junto a uma risada irritante que rapidamente se perdeu junto ao barulho das conversas dos demais estudantes.

– Pelo menos eu servirei para alguma coisa! – bradou Rosa se mostrava irritada, e completou – Diferente de certo garoto loiro que mal sabe pintar revistas infantis.

Rosa ficou muito ofendida com as palavras de Escórpio. A garota mal olhou para o rosto dele em quanto os quatro desciam as escadas para chegar ao Salão Principal. Quando eles abriram as grandes portas do salão, Rosa irrompeu a toda velocidade até um canto da mesa da Grifinória, onde sua melhor amiga Lana Longbottom já começava a almoçar. Já Alvo se dirigiu a mesa da Sonserina. Com um aceno de mão ele se despediu de Escórpio e Agamenon que rumaram à direção oposta até se sentarem em seus costumeiros cantos vazios na mesa da Grifinória.

Diferentemente das outras didáticas de Hogwarts, Tecnomancia dispunha de um complicado sistema de organização entre as classes, tal sistema que possibilitava que alunos de diferentes casas pudessem se juntar em uma única classe.

A aula daquela segunda-feira dispunha de primeranistas sonserina, terceiranistas grifinórios, sextanistas lufalufinos e secundaristas corvinalinos. Alvo se sentou no canto esquerdo da sala, que mais lembrava uma mini-biblioteca, com estantes apinhadas de livros cobrindo todas as paredes e diferentes objetos circulares de ferro pendurados no teto. Em cima da escrivaninha do Prof King estava um rolo novo de pergaminho, dois tinteiros tampados e um globo terrestre, porém com muito mais ilhas e extensões demográficas que o dos trouxas. Alvo concluiu que aquele globo continha também grande parte das vilas e cidades bruxas.

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– Posso me sentar aqui? – perguntou alguém as costas de Alvo. Sua voz lembrou a do setimanista Nico Higgs, mas quando Alvo se virou deparou-se com um garoto completamente diferente que o goleiro da Sonserina.

O garoto que chamou a Alvo era alto, cabelos castanhos e ondulados, similares ao do professor McNaught, porém muito menos lisos e radiantes. Ele possuía um sorriso cortês e educado e acima de seu nariz, dois olhos profundos e castanhos.

– Pode. – disse Alvo um tanto amedrontado, com medo de dizer não a um sextanista.

– Não precisa ter medo de mim. – tranqüilizou o garoto mais velho esticando a mão para cumprimentar Alvo – Ethan Humberstone, Lufa-Lufa o apanhador da equipe de quadribol. E você deve ser Alvo Potter, eu estou certo? A escola toda fala muito de você.

– E isso é bom? – Depende. – respondeu Ethan ainda sorrindo – Depende de como você

quer que seu nome seja espalhado. Com um monte de mentiras e chamando-o apenas de “O Filho de Harry Potter” ou somente com verdades e méritos seus. – ele abaixou seus olhos sobre a cabeleira negra de Alvo e depois sobre seus olhos verdes – Você é quem decide.

– Você parece saber muito sobre este assunto. – disse Alvo menos amedrontado – Teve algum problema com isso.

– Claro que não! – exclamou uma voz atrás dos dois garotos. Fred Weasley esticou seu corpo por cima de sua carteira para colocar-se entre Alvo e Ethan. – Ethan nunca teve problemas com nada! É o aluno perfeito, em todas as matérias o orgulho dos professores. O mais notável lufalufino desde Cedrico Diggory.

– Não me compare com Diggory! – exclamou Ethan aborrecido, como se já tivesse feito este pedido mil vezes, mas os amigos insistissem em provocá-lo. – Eu sou muito diferente de Cedrico. Ele sim era um aluno notável, eu ainda tenho muito que aprender.

– Notável humildade. Talvez seja o que falte em nosso querido professor de Artes dos Trouxas. Ah, Ethan, Sabrina e Tiago pediram para informá-lo de outro encontro.

– Fale baixo! – advertiu Ethan indicando Alvo com a cabeça – Ele não deve ser informado! Não faz parte de Você Sabe o Que!

– Alvo tem o mesmo sangue que Tiago. – tranqüilizou Fred sorrindo – E, de certa forma, tem um pouco do meu sangue também. E mesmo que ele descubra sobre Você Sabe o Que, não sairá falando para todos sobre isto. Sabe de nossa arma secreta contra a Sonserina. Temos nosso “Agente Infiltrado”.

– Boa tarde, classe. – disse a voz calorosa e rígida do Prof King, um bruxo de meia idade, cabelos negros com tons grisalhos, óculos fundo de garrafa em forma de casco de tartaruga e cabeça em forma quadricular – Sou o professor Rabelo Júpiter Harrison King. Sim, meu nome é o nome de um astro e o mesmo que a forma romana de Zeus, eu já conheço todas

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as piadinhas, então me poupem das mesmas. Contudo fico feliz em saber que vocês escolheram Tecnomancia como eletiva deste horário.. Vou logo alertando de que não será uma matéria mais fácil que Runas Antigas, mas o esforço será satisfatório para suas vidas futuras...

Quando o Prof King disse aquelas palavras, Alvo percebeu que os olhos de Ethan Humberstone brilharam. Naquele momento, Alvo descobriu que Ethan não gostava de ser comparado com Cedrico Diggory porque aquilo certamente menosprezava seus desejos mais ocultos. Ethan na verdade tentava a todo custo superar Diggory em todas as categorias acadêmicas.

Já eram cinco horas daquela tarde de segunda-feira quando Alvo chegou ao terceiro andar para sua primeira aula de Defesa contra as Artes das Trevas com o professor Mylor Silvano.

Silvano parecia ser um bom professor, muitos dos alunos mais velhos que já tiveram aulas com ele elogiavam suas lições e seu modo de encarar as Artes das Trevas como um inseto que necessitava ser dedetizado. Quando a sineta soou anunciando o início das aulas das cinco horas, o professor foi receber os grifinórios e os sonserinos ao pé das escadas que levavam a sua sala particular.

A sala de Defesa contra as Artes das Trevas estava da mesma forma de que Alvo havia visto anos atrás quando Harry o levara para conhecer as instalações. Várias janelas iluminavam as carteiras dos estudantes, as quais ainda continham restos de chicletes e feijõezinhos de todos os sabores grudados em embaixo das taboas. Porém havia algo de diferente. Quando Alvo estivera naquela sala, as paredes estavam cobertas por pôsteres de bruxos famosos, instrumentos de latão e barris de água, muito diferente do modo que a sala se encontrava. Havia esqueletos de criaturas mágicas pendurados em paredes e no teto; dois globos de ferro, similares ao do Prof King, rodavam pela sala imitando os movimentos da Terra naquele instante; objetos usados por aurores estavam espalhados tanto pelas prateleiras quanto pela mesa do professor, e havia uma horripilante cabeça de gnomo empalhada em uma das mesas.

– Boa tarde a todos. – disse o Prof Silvano com sua voz grave e ressoante.

– Boa tarde; professor. – retribuiu a classe.– Sejam todos bem vindos à sala de Defesa contra as Artes das Trevas. –

disse o professor cordialmente – Nesta sala farei com que vocês testem suas habilidades de magia defensiva e ofensiva. Estudaremos dos princípios dos feitiços usados em duelos até criaturas das trevas. Mas antes, creio que um estudo rápido e básico sobre as Artes das Trevas seja o suficiente para os senhores terem uma idéia do que iremos enfrentar.

“As Artes das Trevas, como o próprio nome já diz, são artes, feitiços, poções e encantamentos que de alguma forma causam dor, sofrimento e desespero a quem as recebe. Há muitos anos, a Grã-Bretanha, e outros países do globo, podem gozar de um sistema pacífico. Talvez possamos

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agradecer ao ministro da magia e a certo auror por tal calmaria. – Alvo sentiu como se vários olhos repousassem sobre sua cabeça, o que não era uma sensação muito agradável – Mas, considerar que a atual paz irá durar para sempre é burrice. Será? Pergunto eu a vocês. Será que mesmo depois de tantos exemplos atribuídos durante os anos, os bruxos e bruxas ainda poderão acreditar que a paz é algo permanente? Quem, alunos, quem poderia imaginar que anos após a derrota de Gerardo Grindelwanld outro bruxo das trevas, com idéias mais diabólicas e um coração mais frio do que o de Grindelwanld, poderia chegar a assumir o controle do mundo bruxo.”

“Sim, caros alunos. Vocês são muito jovens para compreenderem o tamanho de estrago, interno e externo causado pelas ações diabólicas de Tom Riddle, vulgo Lorde das Trevas.”

“Somente os bruxos que beiram a minha idade são capazes de relatar-lhes genuinamente o que acontecera há dezenove anos quando Riddle e seus queridos Comensais da Morte tomaram o poder. E escutem o que digo, suas velhas e gagás bisavós podem relatar-lhes sobre os fatos de melhor maneira que qualquer bruxo ou bruxa medíocre e idiota que trabalha no Profeta! Não estou dizendo que todos que trabalham no Profeta Diário são hipócritas, Merlim que me perdoe. Tenho amigos infiltrados no Profeta. Já devem ter ouvido seus pais falarem sobre Ernesto Mcmillan, subdiretor do Profeta, o cargo mais alto depois do de editor chefe.”

“Bem, perdão. Voltando para nossa aula. As Artes das Trevas, geralmente, para serem bem executadas necessitam de algo de seu arquiteto. Sangue, dor, perdas psicológicas. Existe uma magia rara, muito conhecida entre os bruxos após a derrota de Voldemort – esse nome fez com que metade da classe sentisse calafrios nas espinhas, ainda não era comum pronunciar o pseudônimo de Riddle em voz alta. – Uma arte que possibilita fragmentar a alma do bruxo. Em minha época como estudante não se falava dela em sala, mas hoje creio que é necessário que vocês tomem conhecimento dela. Alguém sabe de qual estou falando?”

Várias mãos se erguerem, inclusive as de Rosa, Escórpio e Agamenon, porém uma em questão chamou mais a atenção do Prof Silvano. Uma comprida e magrela mão erguida bobamente no ar, disposta a chamar a atenção do professor, mas torcendo para que não fosse notada.

– Sim, Sr Potter. – disse o Prof Silvano olhando fixamente para Alvo com seus olhos cinzentos.

– Horcrux. – respondeu.– Muito bem, Sr Potter. Você mais do que ninguém deveria saber sobre

esta. Entrementes, não me arrependo de acrescentar quinze pontos para a Sonserina. Creio, Sr Potter, que o senhor pode explicar, brevemente como Voldemort.. digo, Riddle, dividiu sua alma e criou sete Horcrux, estou certo?

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Alvo estremeceu. Não esperava que uma inocente resposta provocasse uma longa explicação sobre como um dos mais terríveis bruxos de todos os tempos realizou um dos atos mais diabólicos e desleais do mundo.

– Não. – respondeu Alvo num sussurro.– Não? – repetiu o professor quase que estupefato – Talvez tenha

esperado demais de você, rapaz... Sim, Srtª Weasley?– Tom Riddle começou a criar suas Horcruxes a partir do momento em

que ele rompeu sua alma pela primeira vez. Isto é, matando uma pessoa. Somente um bruxo da Grécia Antiga conseguiu criar uma Horcrux – Herpo, o sujo. Mas Riddle tinha muito mais medo da morte que este bruxo, então ele criou sete. Seu diário pessoal, o anel de Servolo Gaunt – o qual também o pertencia por hereditariedade, o medalhão de Salazar Slytherin, a taça de Helga Hufflepuff, o diadema de Rowena Ravenclaw, sua cobra Nagini e involuntariamente a alma de Harry Potter.

– Excelente explicação, Srtª Weasley, excelente. Cinqüenta pontos para a Grifinória. – disse Silvano – Como vocês mesmo podem perceber até mesmo os bruxos das trevas não conseguiam criar Horcruxes, porque é uma arte das trevas que além de requerer muita técnica e habilidade de quem a pratica solicita de um sangue tão frio, de um coração tão morto que são poucas as pessoas que conseguem fazê-la. Porém, vocês ainda têm muito que estudar antes de chegar a um estudo aprofundado sobre as Artes das Trevas. Esperem até o sétimo ano. Hoje, iremos estudar um dos feitiços mais básicos, porém mais importante da magia defensiva. Levante-se, vamos estudar o Expelliarmus.

Em segundos toda a turma estava de pé, e com um aceno de varinha, o Prof Silvano fez com que todas as carteiras sumissem das salas.

– Hoje nós treinaremos o Feitiço de Desarmamento em um boneco de treino, na próxima aula nos formaremos duplas para prosseguir com o aprendizado do feitiço. – o professor se virou e começou a remexer um estojo de couro de dragão de sua mesa.

Ele retirou um bonequinho de madeira, similar aos pequenos soldadinhos de chumbo pertencentes a coleção de Alvo. O professor colocou o boneco no centro da sala e pediu para que os alunos se afastassem.

“Engorgio” disse o professor apontando a varinha para o bonequinho que, com um estalo, se transformou em um grande boneco de madeira com um símbolo redondo que lembrava um alvo.

– Feitiço de Ingurgitamento. – disse o professor indicando com o polegar para o boneco – Aprenderemos sobre ele no segundo ano, mas agora quero que formem uma fila e treinem o feitiço Expelliarmus no boneco. Assim vejam.

Silvano pôs-se à frente da classe e apontou sua varinha elegantemente para o peito do boneco-alvo. Ele encheu os pulmões e gritou:

– Expelliarmus!

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Alvo prestou atenção em cada movimento da varinha de Silvano. Como ele a balançou para lançar o feitiço e como o último acertara fortemente o boneco-alvo fazendo a balbuciar pela sala, permitindo que sua falsa varinha de madeira fosse arremessada por alguns metros.

– Não espero que os senhores tenham total êxito hoje – afirmou honestamente o Prof Silvano –, porém se conseguirem retirar a varinha da mão do boneco, eu os parabenizarei. Primeiro, eh, Sr Thomas.

Como o Prof Silvano previu os primeiros alunos a experimentarem o Feitiço de Desarmamento não obtiveram muito sucesso. Henry Thomas, Cameron Creevey e Euan Coote nem ameaçaram o boneco de madeira do professor. Não foi muito diferente com Isaac Prewett que somente conseguiu que o boneco balançasse os braços. Somente Escórpio Malfoy conseguiu um resultado satisfatório dentre os primeiros vinte alunos que tentaram o Expelliarmus. Somente ele conseguiu que a varinha do boneco-alvo fosse retirada de suas mãos frias.

Só restava Lana Longbottom à frente de Alvo, o que aumentara seu nervosismo. Porém, Lana se mostrava ainda mais nervosa que os demais, tremendo muito e gaguejando palavras nada parecidas com o feitiço.

– Expelliarmus! – chorou ela gesticulando rápida e abobalhadamente para o boneco. Sua varinha fora arremessada de sua mão rodopiando e caindo com um estalo poucos centímetros do Prof Silvano. Lana encolheu os ombros, envergonhada e dirigiu-se timidamente para perto do professor, ansiosa em pegar sua varinha e se esconder no fundo da sala.

– Figueira – disse o Prof Silvano ao pegar a varinha de Lana e examiná-la minuciosamente. – Com núcleo de pelo da calda de unicórnio. Uma boa varinha, Srtª Longbottom, ela te escolheu?

– Tecnicamente não – disse Lana tremendo. – Eu a ganhei de meu pai. Pertenceu à minha avó.

– Notável – disse Silvano sorrindo para Lana e devolvendo-lhe a varinha. – É uma tradição na família Longbottom os pais darem as varinhas dos antigos membros aos filhos, eu estou correto?

– Sim.– Não é algo que os fabricantes de varinhas aconselhem, mas

geralmente isso pode dar certo. Outras vezes não, como foi o caso de seu querido professor de Herbologia. Mas, ah, vejamos... Sr Potter, sua vez.

Alvo estremeceu, porém já estava ciente de que teria que enfrentar a turma e praticar o Feitiço de Desarmamento. Mas e se ele nem conseguisse mover o boneco, e se seu desempenho fosse pior que o de Lana? Se Escórpio e os outros grifinórios rissem dele por ser muito pior em feitiços que seu velho pai. Alvo já havia desapontado o Prof Silvano antes, sua garganta enrolara quando ele estava prestes a demonstrar que sabia bastante sobre as Horcruxes, o garoto não estava disposto a falhar novamente...

Alvo cerrou seus dedos ao redor de sua varinha com toda a sua força – fora tanta que minutos depois o garoto não conseguiria fechar a mão

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direita por algum tempo – ergueu o braço de forma elegante, porém brutal. Encheu os pulmões com mais vontade do que o professor e finalmente berrou:

– EXPELLIARMUS! Houve um estrondo. O boneco-alvo do professor Silvano estremeceu,

cuspiu algumas engrenagens de seu arsenal e foi arremessado alguns metros de distância. Sua falsa varinha rodopiou e acertou uma caixa de vidro do professor fazendo cacos se espalhar pelo chão.

– Impressionante – garantiu o Prof Silvano de boca aberta, admirando o estrago que Alvo havia proporcionada em sua sala como se o garoto houvesse preparado-lhe uma festa surpresa. – Geralmente eu o colocaria em detenção por quase destruir minha sala, mas como seu feitiço foi um sucesso. Quarenta pontos para a Sonserina. Bem, como vocês vêem tenho muito trabalho há fazer entes da próxima aula. Estão liberados. Leiam o capítulo dois de seu livro e pratiquem o Feitiço de Desarmamento em algum lugar seguro e livre de vidros... Certo, Sr Potter? Se quiserem um conselho, usem o antigo ginásio da escola, fica do outro lado do castelo. Lá encontrarão bonecos-alvo e um bom espaço para treinarem.

Enquanto saia da sala de Defesa contra as Artes das Trevas junto a seus amigos, Alvo se sentiu notavelmente feliz. Não só por ter executado o Feitiço de Desarmamento de maneira fantástica, mas também por ter sido o melhor da classe a fazê-lo, melhor até que Malfoy.

Capítulo SeisO Sentimento que Ainda Habita a Sonserina

primeira quinta-feira de Alvo em Hogwarts amanheceu cinza e triste. O vento que colidia com as grandes árvores da Floresta Proibida também se chocava com as janelas da escola

provocando um leve sentimento de insegurança entre os alunos. Na quarta-feira anterior, a grande maioria dos rádios dos alunos de Hogwarts deixou de reproduzir em alto e bom som as costumeiras músicas para sintonizar nos canais climáticos. Provavelmente a rádio filial ao Sistema de Controle e Observação Climática dos Bruxos nunca havia recebido tantos pontos na audiência quanto naquele dia. Toda essa sensação de desespero e preocupação dava-se a proximidade com os testes para as equipes de Quadribol.

A

A grande maioria dos primeiranistas sonserinos se mostrava bastante inquieta com relação aos testes. Muitos estavam extremamente ansiosos com a proximidade das datas em quanto outros ainda receavam um possível vexame. Alvo estava entre as duas metades da Sonserina. Ele estava bastante ansioso como a maioria de seus amigos, mas também se mostrava apreensivo. Felizmente Alvo – e o resto dos primeiranistas das outras casas, teria aula de Vôo com o professor Sabino Towler naquela

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quinta-feira. Porém, Alvo preferiria mil vezes planar em uma vassoura seca do que em uma encharcada como fizera Tiago no ano anterior e acabara quase sendo levado à ala Hospitalar.

Durante aquela primeira semana em Hogwarts, Alvo ainda não chegara ao pondo de implorar pela rápida chegada das férias de Natal. Por em quanto, Hogwarts estava o acolhendo extremamente bem, contudo, finalmente chegara o dia de que Alvo menos esperava: sua primeira aula de História da Magia.

Alvo já havia sido alertado por muitas fontes seguras – seu pai, seu irmão e o tio Rony – para não esperar nada de animador ou emocionante das aulas do Prof Binns. Talvez seu único consolo fosse que poderia, assim como seu pai fazia com a tia Hermione, copiar as anotações de Rosa. Porém Alvo já não esperava mais poder por seu plano em prática. Rosa teria História da Magia no segundo ano e a Sonserina faria par com a Corvinal durante esta didática, o que não era tão mal.

A sala de História da Magia ficava no primeiro andar, o que impossibilitava que Alvo chegasse atrasado já que ele poderia usar a passagem secreta de Válter Aragon que ligava as masmorras com um dos corredores do primeiro andar.

Quando ele chegou à sala de História da Magia, o Prof Binns flutuava a poucos centímetros do chão observando a lousa negra sem nenhuma anotação. A maioria dos estudantes já presentes pertencia a Corvinal. Não era de costume de um membro dessa casa se atrasar para seus compromissos, principalmente se este estiver ligado ao aprendizado.

Alvo subiu alguns degraus que levavam a grandes fileiras de carteiras colocadas cuidadosamente em diagonal, o que permitia que todos os alunos pudessem assistir claramente às aulas e explicações do fantasmagórico professor. Alvo se sentou bem no meio de uma das fileiras intermediárias, junto à garota que viera com ele e Luís no barco da escola.

Ísis Cresswell estava com seu costumeiro colar esquisito e seus sapatos estilo punk. Ela usava bastante maquiagem, porém não muito chamativa – se é que ela conseguisse ser discreta. Porém Alvo e Ísis compartilharam de um bom diálogo em quanto o professor não iniciava a aula. Alvo se alegrou em saber que ela acompanhava fielmente as expedições de Luna e seu marido Rolf ao redor do mundo, embora ela, Ísis, diferente da filha do editor d’ O Pasquim, não acreditava em qualquer nova criatura apresentada pela revista, assim como os nargulés.

– Bom dia, classe – disse o Prof Binns com uma voz espectral e engraçada. – História da Magia. Uma didática que tem como principal e único intuito apresentar aos jovens bruxos uma explicação, ou melhor, um estudo aprofundado de todos os acontecimentos que envolvem o mundo mágico. Estudaremos, desde as revoluções entre duendes e bruxos da Idade Média até os confrontos da Idade Contemporânea envolvendo a tomada de Você-Sabe-Quem ao poder até sua derrota para

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Harry Potter. Se os senhores puderem me acompanhar, peguem seus livros e pergaminhos e copiem o que eu...

O Prof Binns foi interrompido pela chegada de um aluno atrasado que sem muitas cordialidades entrara desgovernadamente pela sala. Alvo rapidamente reconhecera seus cabelos longos e a fisionomia pálida, era Lívio Black, o garoto que misteriosamente carregava o sobrenome de alguns dos antepassados de Alvo.

Lívio não se pronunciou. Apenas se encaminhou até o Prof Binns e escreveu-lhe uma nota em um dos pergaminhos que equilibrava junto com sua mochila e alguns livros em baixo do braço. O Prof Binns pareceu entender o motivo do atraso de Lívio e somente balançou a cabeça indicando para que o garoto prosseguisse com seu caminho e prestasse atenção em suas explicações.

– Esse aí sim e estranho. – murmurou Ísis no pé do ouvido do Alvo – Nunca pronunciou uma só palavra. Dizem que é mudo, mas ainda há alguns corvinalinos que não acreditam nessa história.

– É verdade. – concordou Irene Mcmillan olhando para Alvo e para Ísis por cima do ombro – Eu acredito que ele seja mudo. Owen Khan diz que toda noite depois de jantar ele vai para a sala de Defesa contra as Artes das Trevas para treinar feitiços não verbais com o Prof Silvano, e...

Porém Irene se interrompeu com a aproximação de Lívio, que chegava cada vez mais perto de Alvo, até sentar-se do seu lado direito.

Alvo rapidamente fingiu estar copiando as anotações do Prof Binns, mas aquela não era uma boa desculpa. O professor parecia completamente desorientado, em quanto escrevia anotações com seu giz fantasmagórico sobre, o que parecia anotações muito mais antigas, o que proporcionava uma grande confusão entre as letras e os emblemas desenhados por Binns. Talvez fosse necessário comprar um apagador fantasma, mas onde encontrar um? Alvo então abaixou seus olhos para as anotações escritas nas carteiras pelos antigos alunos do Prof Binns. “Na dúvida, apenas diga: REVOLUÇÃO DOS DUENDES” ou “Rebelião dos Gigantes é a resposta para tudo”.

Porém Alvo não se conteve. Tinha que tirar a prova se Lívio era ou não mudo ou se era apenas tímido...

– Oi. – disse Alvo em um sussurrou para não chamar a atenção do Prof Binns, que mergulhara em uma confusa explicação sobre a Idade Média das Trevas – Sou Alvo Potter, e você é?

Alvo esperou até Lívio escrever algo em um pedaço de pergaminho. Depois o garoto passou a nota para ele e finalmente Alvo leu:

Prazer, Alvo. Sou Lívio Black.– Por que se comunica através de notas, Lívio? – quis saber Alvo sem

muita cerimônia. O garoto estava cada vez mais curioso.Sou mudo. Escreveu. Algumas pessoas não acreditam nisso, inventam

histórias de que tenho voz fina, que não sei falar ou que fui acertado por um Feitiço Silenciador mal executado, mas eu nasci sem minhas cordas

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vocais o que me impossibilita de me comunicar através da voz. Mas não tem problema, entre falar e ser um bruxo, ainda escolheria a segunda.

– E quanto a esse nome: Black? Pensei que esse nome havia sido extinto. – Alvo sabia que ainda existiam muitos descendentes dos Black (ele era a prova viva), mas o nome em si, deveria ter sido esquecido.

Até o ano passado eu nem sabia que meu nome era tão famoso. Segundo o Prof Longbottom, meu bisavô, Mário Black, era filho de bruxos, porém não desenvolvera nenhum poder mágico. Meu avô e meu pai sabiam fazer alguns truques de magia, porém não o suficiente para serem aceitos na escola. Parece que somente eu tive capacidade para ser aceito em Hogwarts.

– Mas como soube que você era um bruxo? Além de sua primeira magia involuntária, como soube de Hogwarts?

No meu décimo primeiro aniversário, o Prof Longbottom foi até minha casa para me entregar a carta da escola. Meu pai ficou um pouco desconfiado, mas depois ele se convenceu.

Alvo sorriu para Lívio, percebeu que ele era uma boa pessoa. Sempre disposto a botar a mão no fogo pelos amigos. No final das contas, aquela foi uma boa aula de História da Magia, não que Alvo tivesse entendido o que o Prof Binns escrevera sobre os confrontos entre homens trouxas e bruxos, mas porque aquele seria o início de uma longa amizade entre Alvo e Lívio.

Nas demais aulas de Alvo na quinta-feira; não ocorreu nada de muito interessante. Estudos dos Trouxas com o Prof Finch-Fletchley, fora uma aula agradável, já que não exigiu muito de Alvo, a melhor parte fora quando o professor prometera aos alunos que na próxima semana eles praticariam um esporte muito popular entre os trouxas, o futebol. Depois do almoço Alvo teve de descer até as masmorras para sua primeira aula de Poções, o que poderia ter sido muito pior se ele não fosse filho de Harry Potter, que lhe proporcionou horas e mais horas de elogios e cumprimentos vindos do Prof Slughorn.

Finalmente acabara o quarto tempo e Alvo e os outros primeiranistas se encaminhavam até o campo de Quadribol onde teriam sua primeira aula de Vôo. Para a felicidade de Alvo a chuva que castigara os terrenos da escola durante o almoço e por boa parte dos dois tempos seguintes parecia ter-se extinguido, porém ainda era forte e gelado o vento que cortava e bagunçava os cabelos dele.

– Como foi História da Magia, Al? – perguntou Rosa quando ela e Agamenon se juntaram a Alvo e Isaac no caminho para o campo.

– Bem, foi muito, eh, esclarecedor. – gaguejou ele.– Você não prestou atenção em nada do que o Prof Binns disse, não foi?

– Rosa parecia ofendida, porém nada surpresa.– Não me surpreenderia. – debochou Agamenon.

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– Talvez ele tivesse prestado mais atenção se não tivesse ficado a aula inteira conversando com Black. – revelou Isaac em quando os quatro se aproximavam da entrada para o campo de Quadribol.

– Você falou com Lívio Black! – exclamou Rosa admiravelmente ansiosa – Como ele é? Venho tentando me aproximar dele para pesquisar mais sobre seu parentesco com a família Black, mas ele parece um cofre! Nunca fala!

– Ele é mudo – concluiu de uma vez. – E bastante tímido. Se você quiser se enturmar com Lívio não pode simplesmente chegar atropelando o garoto com perguntas. Tem que ir graduadamente. E, afinal, como foi sua aula de História da Magia?

– Excelente – mentiu Rosa. – Aprendi bastante sobre o período da fundação de Hogwarts.

– Tem certeza, Srtª Granger? – perguntou Agamenon rindo.– Ok, vocês venceram! Foi horrível! O Prof Binns ficou me chamando de

Srtª Granger o tempo todo. Sou parecida com minha mãe, mas não o suficiente para que ele cisme em me chamar assim. Mas como soube disso?

– Ralf Dolohov. Ele pode ser um leal informante, se você souber como persuadi-lo – acrescentou Alvo rindo da prima. – Agradeça ao Isaac e a seus Sapos de Chocolate. Mas, onde está Escórpio?

– Ele vai demorar. – respondeu Rosa em um tom seco.– Percebeu como ele e Eugênio Finnigan, trocaram olhares furtivos

durante toda a aula de Poções? – perguntou Agamenon.– Sim. – responderam Alvo e Isaac em uníssono.– Então, durante a aula de Geomancia, – explicou Agamenon – Eugênio

supostamente previu que um garoto loiro cairia da vassoura.– E o que tem de mais nisso? – Depois ele disse: “E esse babaca depois vai rachar o crânio se juntar a

seu vovozinho salafrário.” – Agamenon imitou a foz de Eugênio quase que perfeitamente de modo que Alvo pode sentir como se o próprio Eugênio o tivesse dito naquele momento – Escórpio xingou Finnigan e lançou um Feitiço de Desarmamento tão forte quanto o seu, Al. Margolyes reteve os dois do Pátio de Transfiguração e retirou setenta pontos da Grifinória. Francamente se esses dois não se aquietarem a Grifinória vai à ruína.

– Escórpio deveria simplesmente ignorá-lo – disse Rosa ainda com sua seca. – Essa atitude infantil de Eugênio não deveria ser levada em conta.

– Eu apóio Malfoy... Que estranho falar isso – disse Isaac, encarando Rosa. – Se alguém xingasse a mim e a meu avô receberia um belo de um Feitiço Estuporante na cara.

– Pena que você mal sabe lançar um Expelliarmus em um boneco. – disse Alvo em tom de gozação.

O campo de quadribol estava muito mais feio que de costume. As arquibancadas que durante as partidas oficias da escola eram cobertas por lonas das quatro casas de Hogwarts e que suportavam vários alunos

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pulando e gritando sobre seus suportes, naquela tarde de quinta-feira mostrava apenas seu esqueleto. Somente inúmeras estacas de madeira cruzadas uma sobre outra sustentando as arquibancadas. A grama, sempre bem aparada e milimetricamente igual, se mostrava muito machucada, com pontos irregulares e alagados, porém nada que desanimasse o Prof Sabino.

Sabino Towler não era um bruxo velho, era membro mais novo do corpo docente de Hogwarts, somando apenas trinta e um anos, muito diferente da antiga professora de vôo, Madame Hooch. Sabino vestia suas costumeiras vestes azuladas com tons de cinza, com o escudo de Hogwarts gravado em seu peito esquerdo. Aquelas também eram suas vestes de árbitro das partidas do Campeonato de Quadribol da escola. Ao lado das botas de chuva do Prof Sabino uma pequena maleta retangular, também com o escudo de Hogwarts gravado, repousava sobre a grama úmida. Poucos metros mais distantes do professor encontravam-se cerca de cinqüenta vassouras da marca Nimbus 2010 deitadas sobre a grama. O Prof Sabino fez um gesto com as mãos pedindo para que os destros se colocassem ao lado esquerdo de cada vassoura, e que os canhotos ao lado direito.

– A aula de Vôo – começou o Prof Towler ajeitando os cabelos negros retirando-os de cima de seus olhos cinzentos. – Uma aula prática, o que pode ser bom para aqueles que não se familiarizam com livros, mas ruim para os sedentários. Serei mais explícito para aqueles alunos nascidos trouxas, seria como sua costumeira aula de Educação Física. Sim, eu sei bastante sobre o mundo trouxa. Então, já que é uma aula prática, podem montar em suas vassouras e... O que pensa que está fazendo Sr Marsten? – exclamou o professor para Kevin Marsten, um nascido-trouxa da Corvinal – Não é assim que um bruxo sobe em uma vassoura. Pelos céus! Estiquem sua mão dominante e digam “Em Pé!”

– Em Pé! – gritaram milhares de vozes em tempos e tons diferentes, fazendo os ouvidos de Alvo zumbir.

A vassoura de Alvo deu um saltou para sua mão direita e ele rapidamente a agarrou com força. Pelo canto do olho Alvo olhou para a vassoura de Rosa que somente roçavam em sua perna em quanto ela repetia a ordem dita pelo professor. A de Isaac continuava imóvel no chão, em quanto à de Agamenon subia até metade do caminho, mas voltava para sua posição inicial.

Além de Alvo poucos alunos conseguiram agarrar suas vassouras na primeira tentativa. Além dele, Antônio Zabini e Valeria Rosier da Sonserina seguravam suas vassouras com louvor. José Goldstein da Corvinal conseguira que sua vassoura chegasse à sua mão esquerda em sua segunda tentativa, assim como Lívio que achava aquilo uma grande brincadeira. E um único membro da Lufa-Lufa conseguiu que sua vassoura chegasse à sua mão antes da décima tentativa, Luís Weasley.

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Depois que todos os alunos conseguiram que suas vassouras chegassem à suas mãos – o que demorou nada menos que vinte minutos – o Prof Sabino, mostrou-lhes como montar em suas vassouras sem escorregar em pleno vôo pela outra extremidade. Em seguida passou pelas fileiras mistas de alunos corrigindo suas posições e suas maneiras de segurar os cabos. Alvo ficou satisfeito por não ter sido corrigido pelo professor.

– A chuva – urrou o professor olhando para o céu nebuloso e ameaçador – não pode atrapalhar uma partida de quadribol. Geralmente as melhores partidas de quadribol ocorrem quando as vassouras estão molhadas e as gotas que caiem do céu chocam-se com os olhos dos jogadores. Como devem saber a Copa Mundial de Quadribol de setenta foi celebrada na China por baixo de um mês de chuvas arrasadoras. A final entre Sérvia e Austrália foi realizada tendo o campo como uma verdadeira lagoa natural com uma infestação grindylows. Bem. Quando eu apitar, dêem um forte impulso com ambos os pés e inclinem um corpo formando um ângulo de vinte graus. Planem por alguns minutos pouco acima de minha cabeça e voltem imediatamente após meu sinal. Curvem o corpo para trás para parar. Ao meu sinal... três... dois... um...

Alvo mordeu seu lábio com força. Contraiu os dedos contra o cabo da vassoura, dobrou os joelhos desesperadamente e tomou impulso. A vassoura deu um pinote e começou a planar poucos centímetros a cima do chão. A grama começava a se tornar um borrão esverdeado em quanto os colegas de Alvo se transformavam em vultos multicoloridos e berrantes. Alvo não conseguiu distinguir os conselhos gritados pelos alunos ou as advertências lançadas pelo professor. Precisava tomar distância do chão caso não quisesse se chocar com as pilastras das arquibancadas ou com outro estudante, mas aquele vento gélido batendo em sua cabeça e empurrando suas vestes e seus cabelos para o lado oposto estavam desconcentrando o garoto. “Pra cima!” pensou Alvo nervoso, torcendo para que a Nimbus 2010 obedecesse a seus comandos mentais como algumas vassouras mais modernas. Nada aconteceu.

“Ok, terá de ser no manual.” Pensou em quanto se aproximava rapidamente da arquibancada da Lufa-Lufa. Alvo tinha pouco tempo para pensar em um modo de ganhar altitude e impedir um choque brutal com as ameaçadoras (e cada vez mais rígidas) estacas de madeira. Então ele se lembrou dos conselhos ditos por Tiago no jantar de terça-feira: Forme um ângulo de noventa graus para levantar. Como última alternativa antes de se jogar para fora da vassoura e se arrebentar contra a grama úmida e enlameada, Alvo levantou o corpo e finalmente compreendeu seu erro, não eram suas mãos, sozinhas que guiavam a vassoura, e sim todo seu corpo. Felizmente Alvo conseguiu desviar da arquibancada da Lufa-Lufa. Quando finalmente estava com total controle sobre a vassoura percebeu como era magnífico estar a quilômetros de distância do campo de Quadribol, apertando os olhos para tentar distinguir os pequenos pontinhos turvos que se amontoavam junto ao meio de campo. Alvo

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empurrou o cabo da vassoura para baixo e inclinou o tronco para frente, tentando ganhar velocidade para chegar ao ponto que o Prof Sabino havia indicado.

– É melhor continuar ai em cima, Potter! – urrou o Prof Sabino erguendo os punhos para Alvo – Deveria ficar em detenção! Turma, o que estão fazendo aqui em baixo? O show de Potter já acabou, podem... Cuidado!

Towler se atirou no chão poucos segundos antes de um vulto veloz cruzar seu caminho. O vulto parecia voar tão bem quanto Alvo, se não melhor, fazendo manobras que Alvo não arriscaria em seu primeiro vôo. Porém quando o vulto negro se aproximou de Alvo, e esse pode ver a cabeleira loira se aproximando, seu estômago embrulhou.

Escórpio fora diminuindo sua velocidade de maneira que em segundos ele e Alvo pudessem olhar um para a cara do outro. Alvo se sentiu mal, perdera todo o brilho que havia conquistado poucos minutos antes, quando conseguiu executar sua primeira manobra de quadribol com perfeição. Agora Escórpio aparecia como um jato e roubava toda a atenção da turma.

– Desculpe atrapalhar sua apresentação, Potter. – disse Escórpio com ironia – Mas achei que você gostaria de companhia aqui em cima.

– Onde aprendeu a voar assim? – perguntou.– Inveja? – perguntou Escórpio, porém sem dar chance de Alvo

responder. O garoto loiro mergulhou com a vassoura em direção ao centro do campo, no mesmo momento em que o resto da turma começava a voar de um lado para o outro. Malfoy aterrissou graciosamente ao lado do Prof Sabino. E mesmo tento que suportar sua cara de desaprovação, Escórpio começou a falar, o que mais pareciam desculpas por seus modos.

Poucos minutos depois, cerca de quinze a vinte, o Prof Towler soou seu apito novamente chamando todos os estudantes de volta ao gramado. Alvo fez um gesto brusco e inclinou o corpo para frente no mesmo momento em que, com as mãos, forçou sua vassoura a mergulhar. De certo ponto de vista, Alvo fizera um bom vôo, mesmo sendo sua primeira tentativa de vôo a mais de dez centímetros do chão. Porém o garoto não se mostrava tão eufórico ou admirado como ficaram seus outros amigos que também nunca haviam conseguido planar.

– Muito bem. – começou o Prof Towler em quanto os estudantes aterrissavam ao seu redor – Vocês foram muito bem para sua primeira aula, mas, espero que na próxima semana não tenhamos nenhuma gracinha, correto, Sr Malfoy?

– Sem problemas, senhor – respondeu Malfoy sorrindo para o professor. Alvo notara que pela primeira vez vira o sorriso verdadeiro de Escórpio, e por um momento ele se esqueceu de toda a ira que sentira pelo amigo ter roubado seu brilho durante a aula.

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Depois de guardar sua vassoura no armário do campo de quadribol, Alvo estava convencido de que iria junto a seus amigos Rosa, Agamenon, Lívio e Isaac para o Salão Principal conversar antes do início do banquete. Ele estava convicto que precisaria se alimentar bem para poder prestar atenção na aula de Astronomia com a Profª Aurora Sinistra. Mas, antes que ele pudesse deixar o campo a voz rouca do Prof Sabino o chamou, pedindo para que ele o esperasse.

– Vão à frente - disse ele para os amigos. – Eu encontro vocês no Salão Principal em vinte minutos.

– Potter – disse o Prof Sabino olhando fixamente para Alvo. – Foi um bom vôo, o que você nos proporcionou há alguns minutos. Talvez um dos melhores que vi hoje.

– Um dos melhores – repetiu Alvo em um sussurro como se aquilo fosse o mesmo que um xingamento.

– Se refere ao vôo demonstrado pelo Sr Malfoy, eu diria para não se incomodar. A família Malfoy possui um nome muito influente dentro do Ministério da Magia. Mesmo depois de tudo o que aconteceu – completou o professor rapidamente. – E aposto meu pequeno salário de que Draco Malfoy conseguiu burlar alguma lei que permitisse que seu filho pudesse praticar vôo sendo menor de idade. Não se preocupe. Se Malfoy “acabou” com seu show, foi somente hoje. Você e ele têm habilidades muito semelhantes e com um pouco mais de treino creio que em um futuro próximo ambos terão os mesmos pontos fortes e fracos. E se você se preocupa com sua vaga na equipe de quadribol da Sonserina fique despreocupado. Já treinei todos os garotos e garotas e nenhum deles, nenhum consegue fazer o mesmo que fez hoje. Isso se você quiser ser apanhador como seu pai, estou certo?

Alvo assentiu.– Então vá. Precisa estar de barriga cheia se quiser passar a noite

acordado em quanto aprende alguma coisa sobre Astronomia.

Já era quase uma e meia da manhã quando finalmente a Profª Sinistra liberou a turma. Alvo estava completamente esgotado, mas gostara de ficar acordado até tarde, pelo menos fazendo algo que ele gostava de fazer quando não tinha nada a ser feito. Olhar as estrelas. Claro que era muito mais agradável olhar as estrelas bem de perto, com a ajuda dos potentes telescópios da Profª Sinistra e os divãs colocados perto deles para que os alunos pudessem se ajeitar melhor em quanto redirecionavam o telescópio de um lado para o outro. Porém a aula teria sido muito mais prazerosa se Perseu não ficasse perguntando a Alvo, a cada dez minutos, sobre qual estrela a professora se referia.

– Você acha que sua prima Rosa já tem par para fazer a tarefa de casa? – perguntou Isaac à Alvo em quanto ele girava seu anel de passagem sobre o olho da serpente sentinela da passagem para a sala comunal da Sonserina – Sangue Puro.

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– Resssposta errada! – sibilou a serpente prateada para Isaac – Sssem ssenha não entra!

– Mas...– Você disse a senha errada. O certo é... Linhagem Pura. – corrigiu Alvo

em quanto à serpente destrancava a passagem e os garotos a atravessavam – As senhas só são trocadas no final de cada mês.

– Sério?! – perguntou Isaac constrangido – O idiota do Tibério Nott disse que trocavam todas as quita-feiras! Já estava me preparando para anotá-las em um pedaço de pergaminho.

– Acho que isso não é uma boa idéia. – garantiu Perseu atirando-se no sofá negro com pequenas caveiras prateadas no lugar dos botões.

– É verdade. – apoiou Alvo – No terceiro ano de meu pai em Hogwarts, o Prof Longbottom anotou todas as senhas do retrato em um pergaminho, e depois as perdeu! Foi fácil para Sirius Black, na época um fugitivo, entrar na sala comunal.

– Não sou estúpido o suficiente para fazer isso.– Eu não teria tanta certeza. – concluiu uma voz fria, mal humorada e

feminina vinda de trás dos garotos – Não me surpreenderia se uma escória como você entregasse se anel e nossas senhas para um sangue-ruim qualquer.

Valerie Rosier estava em pé atrás do sofá junto de suas duas capangas irritantes, Héstia Pucey e Isla Montague.

Com alguns dias de convivência Alvo pode distinguir bem o papel de cada uma dentro da gangue de Rosier. Héstia não era forte ou ameaçadora, muito pelo contrário, ela era tão magra quanto um graveto, porém escondia muito bem sua inteligência por debaixo de sua cara feita de mármore. Héstia tinha o “dom” de espalhar uma notícia em segundos e conseguia humilhar qualquer um somente com argumentos inteligentes. Muito diferente de Isla Montague que mal conseguia escrever seu nome completo em um pergaminho. Isla contava com sua ameaçadora expressão de raiva e suas grandes mãos capazes de fazer um sextanista perder o fôlego, se acertado no estômago. Valerie era a mais bonita e encantadora das três colegas, tinha cabelos e olhos negros quase que perfeitos, e possuía bastante inteligência. Talvez fosse por isso que Valerie fora selecionada para a Sonserina, pois assim como a serpente, consegue camuflar seu veneno perfeitamente dentro de suas presas e atacar no momento em que se mostra mais dócil.

– Quem você pensa que é para me chamar assim? – perguntou Isaac saltando da poltrona e fechando os punhos com raiva.

– Valerie Cristina Rosier – respondeu ela com desdém. – Sangue mais puro que o seu, evidentemente.

– Como?– Sei bastante sobre seu sangue, Prewett – Valerie sorriu. – Ora, você

não tem vergonha de seu vovozinho abortado, tem?

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Com um gesto brusco Isaac sacou sua varinha e a apontou tremulamente para a barriga de Valerie. Suas narinas contraíram-se como as de um dragão pronto para atacar sua próxima presa. Naquele momento Alvo – que junto a Perseu já haviam se levantado para apoiar Isaac – percebeu que Isaac estava pronto para cumprir o que prometera a Alvo, Rosa e Agamenon poucos minutos antes da aula de Vôo.

– Diga mais uma palavra sobre meu avô – ameaçou tremulo – ou sobre qualquer membro da minha família... Que eu te acerto com um feitiço!

– Que galante – disse Valerie ainda sorrindo. – Mas, antes de me acertar com algum feitiço, você não deveria aprender como fazê-lo? Ou você é tão abortado quanto seu...

– Expelliarmus! – berrou Isaac.– Incarcerous! – berrou Valerie.O Feitiço de Desarmamento lançado por Isaac se mostrou muito mais

completo e potente que o lançado por ele no boneco-alvo do Prof Silvano durante a aula de Defesa contra as Artes das Trevas. O feitiço foi tão perfeito que Alvo pensou que se o professor estivesse presente acrescentaria dez pontos a casa, antes de retirar-lhe cem e colocar Isaac em detenção. Porém o Expelliarmus lançado por Isaac colidiu com o feitiço lançado por Valerie fazendo-os mudarem de rota. O feitiço de Isaac acertou em cheio o peito de Pucey fazendo a garota ser arremessada dez metros para trás em quanto sua varinha era atirada para o canto oposto, já o de feitiço de Valerie acertou Perseu que caíra com um forte baque no tapete da sala comunal em quanto tentava se desamarras das cordas conjuradas por Rosier.

– Isla, faça alguma coisa! – ordenou Valerie desesperada – Leve Héstia para a Ala Hospitalar e conte o que Prewett fez!

– Não ouse fazer isso! – bradou Alvo, que até então estava ajudando Perseu a se desamarrar. O garoto deu um salto e apontou sua varinha para as costas de Montague, fazendo a garota gelar de medo. – Não dê mais um passo.

– Quem é você para dar ordens a minha colega?! – urrou Valerie irritada.

– Sou Alvo Severo Potter. – disse Alvo imitando Valerie, o que irritou muito a garota – Mente e coração muito mais puros que o seu, evidentemente.

– Você não tem direito de aplicar a palavra, “puro”, a nada que vier de sua família medíocre! – afirmou Valerie ainda irritada. – Bando de indignos!

– Indignos? – repetiu Alvo.– Sim, Potter... Indignos! – estresiu Valerie ainda sorrindo – Ou

esquecera que a casa Sonserina é somente para aqueles que possuem o sangue completamente puro! Creio que você e Prewett não podem usar a expressão, “puro”, junto a seus nomes.

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– Porque somos traidores do sangue – disse Alvo como se aquilo fosse mais uma pergunta de um ridículo teste. – Então, Rosier, explique-me o que é um traidor do sangue, em seu ponto de vista.

– Traidores do sangue, – disse Valerie com nojo da própria boca, como se acabara de falar inúmeros palavrões e palavras asquerosas – são bruxos que se associam a seres de linhagem inferior. Trouxas, abortos, centauros, sangues-ruins e mestiços!

– Então, sugere que eu e Isaac saiamos da Sonserina porque nos associamos a pessoas de linhagem inferior. Ok. Quer que guardemos um lugar na Lufa-Lufa para você? – indagou Alvo em tom de deboche.

– O que quer dizer com isso, Potter?– Digo, Rosier, que se as pessoas associadas a trouxas, mestiços e

abortos não são dignas da Sonserina, então você e toda sua linhagem Rosier deveria abandonar esta casa. Afinal, seu honroso avô se associou a Voldemort, um mestiço. Então, segundo seus argumentos, você, seu avozinho Evan e todo o resto são traidores do sangue.

Valerie sentiu como seu o mundo desabasse sobre seus ombros. Depois de tantos anos usando aquele argumento para ridicularizar e humilhar os bruxos e trouxas de linhagem inferior finalmente a garota ouvira de seu próprio colega de classe, que segundo a mesma não era digna de estar na casa que tanto amava. Valerie poderia sair correndo para seu dormitório naquele exato instante, mas quilo não era típico dela. A garota continuou parada como uma estátua no mesmo lugar onde ficara durante toda a discussão com Alvo Potter... Alvo Potter, aquele garoto com certeza significaria algo na vida de Valerie. Fora o primeiro menino, ou melhor, o primeiro bruxo a contestar tudo o que Valerie afirmava. O primeiro a, sem utilizar argumentos próprios ou ofensivos, lançar o nome Rosier na lama e o misturar com todos os que, segundo Valerie, eram considerados escória.

– O que está havendo aqui? – perguntou Flora Palmer ao descer as escadas que levavam para os dormitórios ainda de pijama. Bruto Nott, seu colega monitor a acompanhava, também trajando seu pijama.

– Nada de mais – respondeu Valerie de forma fria e oca, como se as palavras houvessem saído de sua boca sem seu conhecimento.

– Nada de mais! – bradou Bruto tomando a frente e pondo-se à frente de Valerie e Alvo – Temos um... O que é isso! Por Merlim! Temos um garoto amarrado e outra desacordada, e você me diz que, não é “nada de mais”! Flora, vamos levá-los para a diretora Crouch.

– Está louco, Bruto! – exclamou Flora juntando-se ao monitor – Já passa das duas da manhã! Nunca que a diretora nos atenderia a esta hora.

– Tudo bem – disse Bruto relaxando seus músculos. – Mas eu quero os quatro aqui na sala comunal antes do café, vamos levá-los para ver a diretora. E caso eu não os encontre aqui às seis da manhã, juro que tirarei muitos pontos da Sonserina. Agora vocês subam para seus

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dormitórios e não mudem a trajetória. Flora e eu vamos cuidar desses dois.

Alvo, Isaac, Isla e Valerie subiram as escadas de pedra negra que davam para os dormitórios monotonamente sem trocar olhares com ninguém. Valerie e Isla dobraram a direita e seguiram em direção ao dormitório feminino em quanto Alvo e Isaac seguiram para o masculino.

Alvo entrou em seu dormitório decidido a mergulhar sobre sua cama e só abrir os olhos no dia seguinte, quando teria um encontro nada casual com a diretora, os monitores e Valerie Rosier. Porém, sentado em sua cama com seu costumeiro sorriso malicioso, encontrava-se Lucas Pritchard. Ele abriu ainda mais seu sorriso e então perguntou:

– Eu cochilei um pouco. Será que pode repetir como você deu um fora em Rosier para mim?

Ser guiado para fora da sala comunal por dois monitores em direção ao escritório da diretora Crouch pela manhã, acompanhado de um de seus melhores amigos e duas garotas que na noite anterior ele quase estuporara fora uma das piores situações de Alvo em Hogwarts. Talvez, ficasse atrás somente de quando ele fora transportado para outra dimensão pelo Memorial de Hogwarts e quando ele e Valerie trocaram prosas nada amigáveis na noite anterior.

Bruto Nott guiava os quatro sonserinos pelas masmorras como um carcereiro levando os penitenciários para tomar banho de sol. Ele continha bruscamente o seu sorriso, mas dentro de si ele se sentia um dos melhores monitores que Hogwarts já possuíra. Bruto era muito diferente de seu irmão mais novo, Tibério, mesmo sendo criado em uma família como a dos Nott que não seguia rigorosamente as regras e sendo filho de uma Parkinson – Pansy Parkinson, no caso, sempre muito autoritária e temperamental – Bruto gostava de seguir estritamente as regras. O que lembrava a Alvo seu tio Percy, outro leal seguidor das leis.

– Sr Filch, – disse Bruto cordialmente quando saiu das masmorras junto com sua colega e seus prisioneiros – desculpe-me pedi-lo para encaminhar-se até as masmorras tão cedo, mas nós não sabemos qual é a senha do escritório da diretora. E necessitamos encaminhar esses quatro para ela.

– Pelo menos foi você quem me chamou, Bruto – respondeu Filch em um tom que Alvo nunca imaginara ouvir do zelador. Filch tratava Bruto com respeito, retribuindo a cordialidade dada pelo monitor. – É um prazer encaminhar esses moleques para o que pode ser uma dura detenção. Principalmente se... Não me diga! Tão cedo em detenção, Potter. Vou logo avisando, você pode estar na Sonserina, mas ainda é cria de eu pai. Terei o maior prazer em aplicar suas detenções pessoalmente.

– Certo, Sr Filch – interrompeu Bruto pedindo para que Filch os guiasse até a sala da diretora.

– É uma senha complicada, sabe. – afirmou Filch quando os sete se encontravam perto da gárgula que guardava a passagem para a sala da

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diretora – Preferia as do Prof Dumbledore e da Profª McGonagall, mas... “Toujours pur”.

A gárgula ganhou vida no instante em que Filch pronunciou a senha. Assim a criatura de pedra saltou para o lado no mesmo instante em que a parede de trás dividia-se em duas. Por fim surgiu uma grande escadaria de caracol, muito maior da que dava para as masmorras. Alvo e o grupo de sonserinos guiados por Filch não necessitaram subir pelas escadas já que a mesma os erguia em direção aos aposentos de Crouch como uma escada rolante.

– Obrigado, Sr Filch. Daqui sigo eu... Quero dizer, nós. – corrigiu Bruto no instante em que Flora beliscou seu braço. Alvo pode detectar a palavra “Puxa-Saco”, escondida entre a tossida de Isaac.

Bruto bateu na porta de carvalho com aldrava em forma de grifo, e esta se abriu silenciosa e automaticamente, dando para o gabinete da diretora.

Claro que aquele não era o momento mais oportuno, mas Alvo não pode deixar de reparar em cada detalhe da grande e volumosa sala circular da Profª Crouch. Havia vários instrumentos prateados em forma de latão piando e girando, provocando sons de todas as tonalidades. As paredes, cobertas de retratos dos antigos diretores da escola proporcionavam a Alvo uma estranha sensação de Déjà vu, com vários rostos sonolentos de homens e mulheres trajando vestes ilustres. Havia a grande escrivaninha da diretora, com seus pés de garra e detalhes dourados. Pousado sobre a prateleira atrás da escrivaninha estava o Chapéu Seletor, descansando sobre suas abas e seus entalhes. E, a poucos metros da escrivaninha da diretora, sobre uma mesa de prata, rodeada por espelhos sujos, e descascados estava ela: a Penseira do Prof Dumbledore, deixada de herança para a escola para que todos os outros diretores pudessem reviver suas lembranças durante os tempos de folga.

– Bom dia, senhora diretora – disse Bruto fazendo uma desajeitada reverência para a Profª Crouch. – Perdoe-nos por acordá-la tão cedo, mas nós preferimos atormentá-la com esse problema hoje de manhã do que ontem pela madrugada.

– Obrigada por seu discernimento, Sr Nott. Mas o que temos aqui? – perguntou a diretora estudando as fisionomias dos quatro estudantes retidos. – Todos da mesma casa e do mesmo ano. Temos as senhoritas Isla Montague e Valerie Rosier e os senhores Isaac Prewett e, que surpresa, Alvo Potter. Ocorrência...

– A ocorrência – começou Flora Palmer pondo-se à frente de Bruto no momento em que ele começaria a explicar sobre a discussão da noite anterior – é que estes quatro sonserinos discutiram noite passada em plena sala comunal aos berros. Também foram constatados por nós, os monitores, e por algumas testemunhas presentes no momento, que o Sr Prewett e a Srtª Rosier – seus olhos deixaram a diretora e recaíram sobre Isaac e Valerie – utilizaram suas varinhas para agredir um ao outro. Feliz

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ou infelizmente os feitiços ricochetearam um no outro e acertaram outros dois estudantes, o Sr Perseu Flint e a Srtª Héstia Pucey. Ambos passam bem.

– Obrigado, Srtª Palmer. – disse Crouch com um gesto de agradecimento – Creio que a senhorita e o Sr Nott já podem se retirar de meus aposentos e seguirem para o Salão Principal. Acrescentarei vinte pontos para cada um. Sua casa necessitará de muitos pontos para recuperar os futuros pontos perdidos – ela fuzilou os quatro com seu olhar macabro e seu sorriso ameaçador.

– Bem – começou ela assim que Bruto e Flora deixaram o gabinete – quero ouvir a versão de cada um de vocês. Se os senhores não se importarem – ela olhou para Alvo e Isaac – damas primeiro.

Valerie começou a contar para a diretora Crouch o que acontecera, o que, segundo ela, começara somente a partir de um ingênuo comentário feito por ela a Isla que fora mal interpretado por Isaac. A garota de cabelos negros enfatizou várias vezes a ira de Isaac sempre que Valerie mencionava o nome do avô, e que se Isaac tinha vergonha de possuir um parente abortado – o que deixou o garoto com as orelhas fumegando – e que ele não deveria colocar o nome do avô em conversar sobre sangue-puro e sangue sujo. Depois Isla teve a bondade de acrescentar como Isaac estava furioso quando acertou Héstia de propósito – Montague em momento algum se lembrou de contar a diretora sobre o feitiço lançado por Valerie – e depois contou como Alvo fora grosseiro e ameaçador quando apontou a varinha para suas costas impedindo que ela socorresse a amiga. Por fim Valerie resumiu em poucas palavras – esquecendo de contar a diretora sobre suas teorias sobre sangues puros e traidores do sangue – como discutira com Alvo. “Ele humilhou o nome de meus antepassados.” Disse Valerie com rispidez lançando a Alvo um olhar de raiva.

– Muito bem – bufou a Profª Crouch impaciente. – Agora os senhores podem começar.

Alvo e Isaac contaram à diretora o que realmente aconteceu, o que proporcionou menos tempo trancado no gabinete da diretora. Isaac começou contando como Valerie e suas amigas haviam se referido a seu avô e a sua família, disse – com uma pequena mentira – que só usara o feitiço para proteger Perseu que fora brutalmente atingido pelo feitiço de Valerie. Depois Alvo explicou mais detalhadamente o porquê de ter impedido que Isla levasse Héstia Pucey para a ala Hospitalar. “Valerie havia dito para que ela incriminasse somente Isaac. E fora apenas um Feitiço de Desarmamento, nada que pudesse atormentar Madame Pomfrey.” Por fim Alvo relatou, também mais rapidamente, sobre como fora sua discussão com Valerie, e Alvo, não se esquecera de aludir os pensamentos de Valerie sobre a pureza de sangue, e se explicou porque chamou o avô de Valerie de traidor do sangue.

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– Bem, parece que temos um impasse – declarou a diretora ainda com sua expressão severa. – Rosier e Montague dizem que os senhores começaram a discussão e os senhores dizem que foram elas. Francamente, vocês têm idéia de onde estão? Sabem que Hogwarts é uma fortaleza educacional, que permite que vocês aprendam sobre magia e interajam com outras pessoas? Ou ainda pensam que estão em um lugar onde os professores e monitores ainda possuem paciência para aturar suas briguinhas infantis e estão dispostos a limparem sua baba?! Vocês tiveram sorte, crianças, porque uma discussão boba dessas garantiria no mínimo três semanas de detenção e mais uns cem pontos a menos para suas casas para cada participante. Além de perderem o direito de se apresentar aos testes para a equipe de quadribol, no sábado.

“Todavia, vocês me encontraram em um momento de extrema generosidade.”

“Não os restringirei de participar dos testes porque já fui uma sonserina e tenho conhecimento da carência da equipe com certos jogadores. Contudo, serão retirados cento e cinqüenta pontos pela discussão de madrugada, perturbando o silêncio e o sono de seus colegas mais o uso de magia contra seus colegas. Agora...”

Crouch abriu uma de suas gavetas e vasculhou-a por alguns segundos. Finalmente a diretora retirou um rolo de pergaminho amassado, e pôs-se a escrever.

– Detenção – começou ela a ditar tudo o que escrevia no pergaminho. Aluna: Srtª Isla Roberta Montague

Professor encarregado da detenção: Sabino Towler.Data: 9 de setembro, segunda-feira.

Hora: Nove e meia da noiteDepois anotou o nome de Valerie.

Aluna: Srtª Valerie Cristina RosierProfessor encarregado da detenção: Septina Vector

Data: 9 de setembro, segunda-feira e 13 de setembro, sexta-feiraHora: Nove e meia da noite

– Por que eu terei duas detenções em quanto Isla só uma?! – contestou Valerie indignada.

– Porque, diferente da Srtª Montague, a senhorita utilizou feitiços fora da sala de aula. O que só é permitido quando no intuito da prática de deveres de casa – a diretora apoiou-se na mesa e olhou bem no fundo dos olhos de Valerie. – O que eu não creio que fora o caso. Mas fique tranqüila, o Sr Prewett receberá da mesma dose – e com isso começou a redigir o castigo de Isaac.

Aluno: Sr Isaac Geraldo PrewettProfessor encarregado da detenção: Mylor Silvano

Data: 10 de setembro, terça-feira e 12 de setembro, quinta-feiraHora: Oito e meia da noite

Por fim Servilia Crouch anotou a detenção de Alvo.

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Aluno: Sr Alvo Severo PotterProfessor encarregado da detenção: Horácio Slughorn

Data: 12 de setembro, quinta-feiraHora: Oito e meia da noite

No final das contas o pior que acontecera para Alvo fora perder os pontos relativos para a Sonserina, mas pelo menos ele cumpriria a detenção com um professor que evidentemente não o colocaria para realizar tarefas brutais ou irritantes visto que o Prof Slughorn adorava o pai de Alvo e tinha muito apresso pelo rapaz.

– Agora saiam da minha sala, não ousem repetir o feito – ordenou a diretora erguendo-se de sua cadeira e deixando a escrivaninha – e se dêem por satisfeitos.

Capítulo SeteUm Artesão Esquecido

inalmente chegara o dia que Alvo e todos os primeiranistas ansiavam. Nem mesmo a detenção que ele deveria cumprir na sala do Prof Slughorn na terça-feira ou a quantidade absurda de

deveres passados pela Profª McGonagall e pelo Prof Silvano poderia desanimar Alvo. Até porque ele estava se saindo muito bem com o Feitiço de Desarmamento, conseguia arremessar a varinha de Escórpio para longe do colega, porém o mesmo também conseguia fazê-lo. E com relação aos deveres de transformação, bem, nada que umas horas ao lado de Rosa não resolvessem. Alvo estava tendo algumas dificuldades em transformar uma pêra em uma maçã.

F

A manhã de sábado nascera da mesma forma que a de quinta-feira quando Alvo teve sua primeira aula de Vôo com o Prof Sabino Towler. As nuvens se aglomeravam por todo o céu provocando trovoadas ameaçadoras e pancadas de chuva a qualquer momento. O vento soprava forte, mas isso agradava a Alvo, seria uma oportunidade de ele tentar uma nova manobra que ele treinara na sexta-feira em seu tempo livre. Ele e Tiago tentavam uma manobra muito utilizada pela mãe durante seus tempos como jogadora. A “Cominação Ginevra” era uma boa manobra para enganar o outro apanhador, e tanto Alvo quanto Tiago a trabalharam muito.

“Se dominarmos essa manobra” – disse Tiago quando ele e Alvo treinavam no campo de quadribol pela tarde “não terá para ninguém nos testes!”. Porém Tiago possuía um problema que Alvo desconhecia. Na

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Sonserina faltavam bons jogadores para preencher o espaço que Alvo gostaria para ele, muito diferente da Grifinória, onde sobravam jogadores para ocupar cada posição. Entretanto, o problema que atormentava Tiago fora o mesmo que chegara a irritar Alvo, certo garoto loiro que Tiago gostava de referir-se como “Aquele Diabrete Loiro”.

Escórpio Malfoy dava mais dor de cabeça a Tiago do que a Alvo. Claro que como Escórpio era um ano mais novo que Tiago e passava boa parte do seu tempo junto a Alvo – o que o daria mais chances de superá-lo – mas o que estava em jogo era a honra de Tiago. Para ele seria muito melhor ser esbofeteado por um trasgo do que perder a vaga no time da Grifinória por causa de um Malfoy. E a fama de Escórpio como garoto maravilha estava crescendo entre os primeiranistas. O que diminuía as brincadeiras e xingamentos ditos por boa parte dos grifinórios – exceto por Eugênio Finnigan e seus amigos que ainda cismavam com ele.

Erico Laughalot estava em pé no centro do campo de quadribol com a mesma pose e o mesmo olhar superior do Prof Sabino na quinta feira. Erico assumira o posto de capitão da equipe naquele ano e gostaria de manter o bom percentual de vitórias dos anos anteriores, quando a equipe era comandada por Eustáquio Birch. Ao lado de Erico estavam os outros dois antigos jogadores da equipe da Sonserina já confirmados para a próxima temporada: Nico Higgs e Demelza Willians.

Quando Alvo e Isaac chegaram ao campo encontraram o capitão e seus auxiliares encarando um grande amontoado de alunos com vestes verdes se engalfinhando para conseguir as melhores vassouras. Gritos, berros, e palavrões eram ouvidos a cada segundo. Alvo viu Bruto Nott abandonar toda a sua cordialidade e gentileza e empurrar um aluno do segundo ano para trás para se apoderar de sua Nimbus. Mas tudo aquilo fez Alvo se lembrar que não estava na Corvinal e sim na Sonserina onde todos querem se exibir mais do que o outro.

– Potter – gritou a voz de Erico Laughalot no centro do campo. – Vem aqui.

Alvo deixou Isaac mergulhar no tumulto e seguiu para perto do capitão.– Potter, pelo que ouvi dizendo – começou Erico lançando a Alvo seu

sorriso galante e hipnótico – seu desempenho na aula do Towler foi excepcional para um primeiranista. – Alvo começou a ficar vermelho e teve vontade de dar um soco em seu estômago – Tome – disse Erico entregando a Alvo sua própria vassoura. – É uma Firebolt.

– Não posso aceitar – afirmou Alvo envergonhado. – Você precisa dela para comandar os testes!

– Não estou te presenteando com ela, garoto. Estou emprestando. Além do mais, posso usar a vassoura de Demelza. Ela não se importa.

Alvo abriu um largo e, não menos que, esquisito sorriso. O qual contagiou Erico, Demelza e Nico como catapora, fazendo os três alunos mais velhos rirem. O que Alvo não soube se era bom ou ruim.

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– Muito bem – gritou Erico para os alunos em quanto Alvo se juntava ao aglomerado de primeiranistas. – Começaremos com testes básicos. Quero que me mostrem como vocês pilotam suas vassouras. Dividirei vocês em grupos de cinco, e quero que voem em círculos pelo campo. Ok?

Os primeiros grupos eram formados por calouros, porém Erico impediu que Alvo se juntasse a eles. O que foi uma boa decisão, já que a grande maioria mal conseguira dar o impulso. Alvo ouvia gritos de gozação e incentivo a cada primeiranista que se desprendia de sua vassoura e caia com um baque sobre a grama – agora melhor aparada. O quinto grupo era um grupo misto, composto por alunos do primeiro e segundo ano, no qual Isaac estava presente. Talvez tivesse sido o primeiro grupo a completar uma volta pelo campo, sendo que alguns estudantes deixaram suas vassouras pelo caminho.

O sexto grupo era formado por garotas. As garotas mais bobas e sem noção que Alvo já conhecera. Uma estava tão preocupada em seduzir Erico que acabara chocando-se com uma das balizas, antes que ela pudesse notar que estava fora do curso.

O sétimo grupo era composto todo ele por alunos do sétimo ano dispostos a arriscar ao máximo com as manobras mais perigosas e extrovertidas do mundo do Quadribol. Alvo se impressionou muito com a habilidade da maioria dos alunos que olhavam para a gravidade e zombavam dela com manobras completamente incríveis. Porém Alvo e o restante dos alunos ainda não testados não conseguiram abafar as gargalhadas quando um garoto tentara executar uma Finta de Wronski, mas acabara colidindo com o chão provocando um forte e surdo baque e o som de um estalo que significava que a vassoura do garoto havia se partido.

– Próximo grupo! – anunciou Erico – Sara Aubrey; Ana Higgs, Bruto Nott, Tibério Nott e Alvo Potter.

Estava na hora. Alvo imitou seus outros colegas e montou na vassoura. Tentou imaginar que aquela era apenas mais uma aula de vôo, que ele só necessitava completar uma volta pelo campo e estaria tudo acabado. Bruto olhou para Alvo e lançou-lhe um sorriso de boa sorte. O mesmo não se pode dizer de Ana Higgs, a irmã mais nova de Nico, do terceiro ano. Ela emburrou a cara e abaixou sua cabeça para sua vassoura. Alvo fechou os nós dos dedos entre o cabo negro da Firebolt de Laughalot e ao sinal do capitão ele deu um impulso, disparando...

A Firebolt ainda era muito melhor que Nimbus 2010, sua cauda era mais macia e seu cabo mais rígido, permitindo que a quem voar sobre ela executar manobras com muito menos esforço e com mais leveza. Quando Alvo deu-se por si, percebeu que liderava o grupo de sonserinos, voando entre as arquibancadas, agora muito menos assustadoras que durante a sula de Sabino Towler.

Alvo parecia não acreditar no que via. Nunca poderia imaginar que chegaria tão perto de seu pai. Ele estaria se igualando ao pai e ganhando

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o posto de mais novo apanhador do século vinte e um? Alvo estava cada vez mais confiante que a vaga de apanhador era dele. Não tem para ninguém. Pensou ele em quanto contornava a arquibancada dos professores. Lá embaixo, Alvo pode ver o contorno de Erico e de Demelza, ambos seguindo com o olhar os cinco sonserinos planando de um lado para o outro, Nico, por outro lado, estava lançando azarações no gramado em quanto afugentava dois alunos da Corvinal e um da Grifinória que tentavam espiar os testes do rival.

– Muito bem! – urrou Erico para os sonserinos depois que todos os estudantes já haviam completado a tarefa. Naquele momento o número de estudantes há serem testados havia diminuído drasticamente – Agora vamos partir para os treinos mais rigorosos. Começando por uma área que domino modesta parte bem, a artilharia.

Alvo ficou esperando na arquibancada durante uma hora e meia até todos os testes para artilheiros e batedores acabarem. Particularmente, Alvo simpatizara com um garoto e uma garota que fizeram o teste para artilheiro. Cadu Branstone e Eva Lee se mostraram muito velozes e ariscos dando muito dificuldade a Erico e Demelza que tentavam bloqueá-los. Os batedores também deram dor de cabeça aos examinadores. Stuart Beetlebrick era um garoto moreno e parrudo, que conseguira criar uma cratera na arquibancada a poucos centímetros de onde Alvo se encontrara, em quanto Estevão Murdock, um setimanista baixo e gordinho, possuía uma pontaria capaz de derrubar um trasgo de uma vassoura.

– Apanhadores! – urrou Erico chamando meia dúzia de garotos e garotas de diferentes idades para o centro de campo – Sua tarefa é simples. Vocês somente deverão pegar o pomo. Quem pegar fica com a vaga – dito isso Erico estendeu sua mão mostrando uma pequena bolinha dourada brilhante que batia suas asinhas de beija-flor, inquieto. No momento em que Erico abriu a mão, a bolinha saltou para cima e se perdeu da vista dos candidatos a apanhadores.

– Boa sorte, Potter! – berrou uma voz da arquibancada. Alvo não se conteve e espiou pelo canto de olho. Na arquibancada da Grifinória encontrava-se Rosa, Agamenon, Ralf Dolohov e Escórpio, que acompanhava os testes para a equipe da Sonserina de pé, debruçado na proteção de madeira.

– Arrebenta com eles, Alvo! – incentivou Isaac sentado em uma maca improvisada em quanto à enfermeira, Madame Pomfrey, cuidava do braço que ele deslocara durante o treino para batedor.

– Muito bem... – gritou Erico piscando para Alvo. – Vão!Os seis apanhadores subiram. Um seguindo a direção oposto do outro.

Alvo se concentrou em esperar encontrar algum pontinho de luz dourada voando pelo campo em quanto ele se deslocada de um lado para o outro. De repente ele viu Sara Aubrey mergulhando bruscamente para a direita. Ela viu o pomo, pensou.

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Botando toda força e fé na Firebolt de Erico, Alvo também mergulhou para a direita seguindo o rastro deixado por Aubrey. Sara parecia estar montada em uma máquina voadora dez vezes, mais rápida, que a de Alvo. Embora a terceiranista estivesse montada em uma Nimbus 2001, Sara fazia parecer que aquele era o novo protótipo de Devlin Whitehorn, o criador da linha de vassouras Nimbus. Naquele momento Sara Aubrey era o maior desafio de Alvo, o único empecilho que poderia colocá-lo fora da equipe. Afinal, os outros quatro competidores pareciam abelhas tontas ao redor de um copo transbordando de mel.

Alvo conseguira se aproximar de Sara, agora os longos cabelos castanhos da garota já podiam ser distinguidos por Alvo. Mas ao olhar para frente, Alvo não encontrara nenhum pomo. Será que ela está somente tramando alguma finta para cima de mim? Perguntou-se Alvo. Porém por uma fração de segundos, Alvo pode vê-lo. Lá estava a poucos metros de distância de Rosa. O pomo de ouro se debatendo e zumbindo próximo à arquibancada da Grifinória, e Sara pronta para atacar.

– Não posso deixar ela me seguir – murmurou Alvo encarando Sara que parecia decidida a seguir seu plano. Estava na hora de Alvo utilizar seu ás escondido. Alvo não poderia apostar corrida com Sara, a garota conseguia transformar qualquer vassoura em um jato veloz. Alvo estava decidido. Ele usaria a Cominação Ginevra.

Alvo deu um encontrão com Sara, precisava chamar a atenção da garota. Depois a espremeu contra as arquibancadas. Por fim mergulhou para baixo, como se estivesse certo de que o pomo estava sobre seus pés. Como planejado Sara o seguiu fielmente, torcendo os dedos contra o cabo de sua vassoura no mesmo momento que a haste balançava de um lado para o outro como um leme. Alvo fintou para a direita, torcendo que a garota continuasse a segui-lo, e ela o fez. Finalmente Alvo estava disposto em encerrar a manobra. Para isso, ele precisava fazer com que Sara acreditasse que era necessário que ambos fizessem uma Finta de Wronski. Alvo inclinou a Firebolt ainda mais para baixo, e Sara fez o mesmo com sua Nimbus 2001. Estava óbvio que a garota estava utilizando a famosa (e bem conhecida por Alvo) “Perseguição Seagood”. Marca do craque do Puddlemere United, que consistia em somente perseguir o apanhador adversário e quando ambos estiverem prontos para agarrar o pomo, tirar o adversário da jogada.

Quando os dois estavam prontos para executar a Finta de Wronski, Alvo deu um puxão na vassoura fazendo-a dar um pinote para cima e deixar Sara chocar-se com o chão. Porém a garota era habilidosa montada na vassoura, e por um triz conseguiu evitar um choque brutal com o chão. Sara escorregou para fora da vassoura e rolou desgovernadamente pela grama, deixando o caminho livre para Alvo capturar o pomo.

Uma hora depois dos testes Alvo descera até a cozinha de Hogwarts na companhia de Erico e Cadu Branstone. Erico estava disposto a organizar

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uma comemoração particular na sala comunal para aqueles que fizeram os testes para a equipe.

– Aprendi o caminho até as cozinhas ano passado – comentou Erico para Alvo quando eles chegaram a um corredor repleto de grandes pinturas de frutas e refeições saborosas. – Eu e Eustáquio Birch ficávamos até tarde treinando algumas manobras e acabamos esquecendo o jantar. Ele sabia da passagem desde o segundo ano... E mais ali na frente fica o dormitório dos sangues ruins.

Alvo entendera que Erico se referia ao dormitório da Lufa-Lufa.Os três sonserinos se postaram à frente de uma grande pintura de uma

fruteira. Alvo pensou estar olhando para mais uma das pinturas trouxas do Prof McNaught, mas logo percebeu que não se tratava de uma obra de arte vinda de trouxas assim que Erico estendeu sua mão e fez cócegas na abissal pêra verde que desandou a chorar de tanto rir.

Alvo pensou que ele estava adentrando a um Salão Principal subterrâneo, repleto de tachos, panelas de todos os tamanhos e formas, feitas de latão cobrindo boa parte das paredes de pedra clara. Do outro lado um enorme fogão de tijolos era banhado por baldes e baldes d’água lançados por um grupo de elfos que tentava apagar suas calorosas e alegres chamas. Exatamente no mesmo lugar onde deveriam estar no salão à cima, havia quatro grandes mesas de madeira no mesmo estilo que as que estavam no Salão Principal, exceto que as que estavam na cozinha não possuíam as bandeiras de suas respectivas casas. Aquilo deu a Alvo uma idéia de como eram servidas as comidas durante os banquetes da escola.

– O que vocês humanos estão fazendo na minha cozinha! – urrou um velho gordo elfo doméstico, balançando seu punho contra os sonserinos. Seus olhos eram pequenos e negros, como grandes caroços de feijão. Suas orelhas de abano chegavam a tocar seu sujo, úmido e chamuscado avental de cozinha – Bowy, já pediu a senhora diretora para proibir o acesso de estudantes à cozinha de Bowy. Os alunos desconcentram os elfos e exploram Bowy. Depois Bowy que é rabugento. Mas, Bowy só quer zelar pelos elfos.

– Você é muito ousado, elfo! – rugiu Erico lançando a Bowy um olhar superior. – Você deveria se castigar por insultar seus senhores desta forma! Se meu elfo me afrontasse desta forma já estaria se debatendo contra o armário.

– Mas Bowy já não se espanca por causa dos humanos! – retrucou o elfo amarrando a cara. – Bowy é um elfo livre, que não deve mais nada aos antigos donos! Aqueles desprezíveis...

De repente, Erico se precipitou contra Bowy esbofeteando o rosto do elfo. Bowy caiu a alguns metros dos garotos, o que se assemelhava a uma bola de carne moída caindo no chão. Mas o que impressionou a Alvo – mais do que a atitude horripilante do colega – foi o distintivo que se

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soltou do avental de Bowy. Um distintivo circular que rolou pelo chão da cozinha até recostar sobre o tênis de Alvo.

– Nós só queremos alguma comida – disse Cadu ignorando completamente a figura velha e murcha de Bowy. – Vamos fazer uma festa e queremos alguns doces.

Um amontoado de elfos correu destrambelhadamente pela cozinha, cada um com um prato transbordando de comida, prontos para entregar para Erico e Cadu. Alvo não soube dizer se os elfos estavam felizes em ajudar os três sonserinos ou se estavam com medo de serem esbofeteados por Erico.

– Vamos, Alvo – disse Cadu quando ele e Erico saiam da cozinha com os braços cobertos por pilhas de guloseimas.

– Ah, me dêem mais dois minutos. Preciso pegar uns, eh, Bolos de Caldeirão. Prometi para Ralf que os levaria – mentiu.

– Ok – respondeu Erico. – Nos vemos na sala comunal, senhor apanhador.

– Não foi certo o que Erico fez com você – murmurou Alvo depois que os outros deixaram a cozinha e aproximando-se de Bowy que ainda estava esparramado no chão. – Mesmo sendo amigo dele, não concordo com sua atitude.

– V-v-vocês, hu-humanos... Todos iguais – fungou o elfo levantando-se com um salto e com um movimento brusco enxugou o rosto e seu comprido nariz de cenoura no avental.

– Eu tenho um elfo, e trato-o muito bem – afirmou Alvo lembrando-se que nunca brigara ou forçara Monstro a se castigar, embora o elfo às vezes o fizesse às escondidas. – Sempre tratei Monstro bem. Nunca pensara em algum dia o agredir.

– Bowy já trabalhou com o Monstro – choramingou o elfo ainda emburrado. – Um elfo agradável, mas Bowy nuca sabia o que falar com Monstro. Monstro, quando chegou à Hogwarts, só fazia reclamar do senhor dele. Mas depois de um tempo, Bowy percebeu que Monstro havia se transformado. Somente venerava seu senhor. Você deve ser bom para poder transformar Monstro daquela maneira. Você deve ser um humano bom. Bowy nunca venerou o ex-senhor dele.

– A quem você serviu, Bowy? – quis saber Alvo. O distintivo palpitando em sua mão.

– Augusto Rookwood, e o restante de sua família – disse Bowy com uma voz repleta de nojo e ira, como se aquele fosse um nome amaldiçoado. – Servi a família Rookwood desde que nasci, e minha mãe também, e a mãe dela. Nunca nenhum elfo do sangue de Bowy havia sido libertado pelos Rookwood, até chegar à vez de Bowy. Mas isso... – a voz do elfo falhou – Isso foi bom.

– Eu achei isso. Caiu de seu avental – disse Alvo entregando a Bowy seu distintivo azul berrante com letras amarelas bem chamativas. – Não sabia que elfos apoiavam a F. A. L. E.

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– Me de isso! – exclamou Bowy agarrando a mão de Alvo e tomando o distintivo do garoto – Elfos não deveriam apoiar frentes de libertação. Elfos gostam de trabalhar, e Bowy gosta de trabalhar. Mas depois de ter sido liberto pelo ex-senhor de Bowy, Bowy decidiu apoiar a organização que visa melhores condições de trabalho. E Bowy aceitou depois que um grupo de alunos atormentou à Bowy e aos outros elfos para entrarem na organização. Somente Bowy e outro elfo aceitaram. Mas os outros não podem saber! Bowy perderia seu comando na cozinha. E trabalhar nas cozinhas de Hogwarts é tudo que Bowy deseja fazer até o fim de sua vida.

– Mas por que você perderia seu comando aqui, se eles descobrirem?– Os demais elfos não aceitam aqueles que são contra o regime

trabalhista dos elfos. Bowy não que ser olhado com diferença pelos outros elfos como nós fazíamos com o velho Dobby.

– Que outro elfo aceitou entrar para a F. A. L. E.? – perguntou Alvo.Bowy ergueu seu braço enrugado e cheio de pelancas e o apontou para

um elfo apoiado sobre uma enorme pia lotada de tachos e panelas sujos de comida.

– O nome dela é Winky, meu senhor – disse Bowy agora menos resmungão. – Ela chegou aqui um ano antes de Bowy. Nunca foi bem vista pelos outros elfos, mas, por alguma razão, desde que a Profª Crouch chegou à Hogwarts, os outros elfos mudaram seu comportamento com Winky. É um mistério.

Winky trabalhara durante boa parte de sua vida para a família Crouch, até ter sido acusada de ter conjurado a Marca Negra durante a última Copa Mundial de Quadribol celebrada na Inglaterra. O antigo dono dela, o Sr Bartolomeu Crouch, libertou Winky, como um modo para castigar o elfo. Depois Winky foi inocentada, mas o Sr Crouch já havia sido assassinado. Há alguns anos a diretora Servilia Crouch deixara Winky decidir se queria voltar a trabalhar com os Crouch ou se continuaria em Hogwarts. Winky ainda estava inconformada com a morte de Dobby, o único elfo que tratara Winky bem durante seus primeiros anos em Hogwarts. Winky disse que, segundo ela, trabalhar em Hogwarts era uma maneira de agradecer a Dobby, já que o elfo adorava trabalhar na escola.

– Foi um prazer conhecê-lo, Bowy – disse Alvo apertando a mão do elfo. – A propósito, me chamo Alvo, Alvo Potter. E me desculpe mais uma vez pelo comportamento do meu amigo.

– Bowy nunca cumprimentara um bruxo antes, Alvo Potter! – exclamou Bowy mostrando sua coleção de dentes amarelos e sujos em uma tentativa de sorrir. – Alvo Potter parece ser um homem bom! Alvo Potter pode visitar a cozinha de Bowy quando quiser!

No café da manhã do dia seguinte, Alvo contou a Rosa e Escórpio o que acontecera na cozinha na noite anterior. Rosa ficou chocada com tudo o que descobrira sobre a atitude arrogante de Erico, prometera convocar uma reunião urgente com os outros membros do F. A. L. E. e se possível

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comunicar pessoalmente à diretora Crouch em seu gabinete. Escórpio por outro lado ficou mais interessado em saber mais sobre a relação do elfo Bowy com Augusto Rookwood. Alvo explicara que Bowy mal pronunciava o nome do antigo mestre sem demonstrar nojo em suas palavras e completara que duvidava muito que Bowy estaria disposto a passar uma tarde junto a um Malfoy; famosos pelas cozinhas graças às histórias contadas por Dobby, e conversar abertamente sobre os tratos que sofria nas mãos de Rookwood.

– Você acha que Rookwood ordenou que Bowy cumprisse tarefas ligadas a... Voldemort? – perguntou Rosa temerosa pouco antes de levar uma colher de sopa de legumes à boca.

– Aposto que sim – garantiu Alvo devorando mais um pedaço de seu sanduíche. – Monstro já me contara que seguira várias ordens de Belatriz Lestrange e dos demais Blacks ligados a Voldemort. Não me surpreenderia se um comensal como Rookwood ordenasse que seu elfo estuporasse alguns trouxas por ele.

– E quando ele chegou a Hogwarts? – perguntou Escórpio comendo seu mingau.

– Pelo que deu a entender, pouco antes da Batalha no Departamento de Mistérios. Você conhece bem essa, não é, Escórpio?

– Cale a boca, Potter – bufou Escórpio irritado.– Agamenon está se enturmando mais – afirmou Rosa forçando os

garotos a mudarem de assunto. – Agradeça ao Prof Slughorn por isso. Desde que ele apresentou Agamenon a Tiago os dois começaram a se tratar melhor.

– E por que o velho Slughorn estaria interessado em Agamenon? – perguntou Escórpio deixando mingau escorrer pelo canto de sua boca.

– Francamente, Escórpio! – exclamou Rosa – Agamenon é seu parceiro na aula de Poções. Até agora você não reparou que ele é brilhante?

– Ei! Eu só tive uma aula com ele. Potter viu que nossas poções e a dele não se diferenciavam muito. Estou certo?

Alvo assentiu.– Sua Poção de Esquecimento fez nascerem espinhas na cobaia do Prof

Slughorn – afirmou Rosa com tom de superioridade.– E a sua fez Slughorn se lembrar onde colocara as chaves de sua sala –

retrucou Alvo bebendo uma golada de suco de abóbora.

Os dias foram passando e Alvo se acostumava cada vez mais com seus horários ao fim de cada semana. Ele havia melhorado bastante nos feitiços de transformação, porém a nova tarefa passada pela Profª McGonagall – transformar um tomate em uma banana – estava atormentando a cabeça de Alvo, pois ele ainda poderia fazer molho para pizza com sua fruta recém-transfigurada. Durante as aulas de Feitiços, e Defesa contra as Artes das Trevas, Alvo se sentia a estrela da turma, mesmo sendo a pena de Rosa a flutuar mais auto nas aulas de Feitiços,

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Alvo se contentava com seu bom aproveitamento com o Feitiço de Levitação. Nas aulas de Defesa contra as Artes das Trevas ele era um dos primeiros alunos a desarmar o Prof Silvano que agora se utilizava como alvo da turma, o que era perigoso quando um ou outro aluno dizia o feitiço errado e acabava lançando o professor contra a parede oposta. Como prometido, na quinta-feira o Prof Finch-Fletchley organizou uma partida de futebol trouxa entre os alunos da Sonserina e da Lufa-Lufa. Alvo achara que seria um esporte mais fácil que o quadribol, afinal só era necessário chutar a bola, mas no final das contas o time da Sonserina foi arrasado pelo da Lufa-Lufa por seis a um, com três gols de Inácio Finch-Fletchley e o gol de honra da Sonserina marcado por Isaac.

Nem mesmo a detenção na sala do Prof Slughorn conseguiu estragar a segunda semana de Alvo em Hogwarts. Depois de jantar Alvo seguiu seu costumeiro caminho até as masmorras, porém não seguiu o corredor que levava a sala comunal e sim desceu até um túnel mal iluminado coberto por pedras, similar ao que ele seguira com Hagrid no dia em que chegara à escola. O Prof Slughorn recebeu Alvo como se esse estivesse apenas o visitando. O professor ofereceu a Alvo suco de abóbora e alguns bolos de Caldeirão que ele guardava secretamente escondendo-os da Profª Vector que cismara em colocar o professor em forma.

– Septina diz que não devo fugir de minha dieta – disse Slughorn oferecendo a Alvo uma caixa bem camuflada com pedaços de pergaminho. – Mas quem resiste a essas tentações em, meu rapaz! Mas isso é uma detenção, correto? Todavia não quero fazer com que você se desgaste muito, afinal você fez uma boa poção hoje de manhã, foi muito esperto usando raiz de mandrágora, meu rapaz. Uma boa poção. Só quero que limpe alguns tubos de ensaio, depois pode voltar para sua sala comunal.

Em quanto Alvo mergulhava os tubos de ensaio em um balde de latão com uma solução especialmente preparada pelo Prof Slughorn para dissolver impurezas mágicas, como restos de bezoar amassados e resíduos de poções fracassadas, o Prof Slughorn contava a Alvo suas histórias com seus mais queridos alunos. Todos expostos em uma galeria de retratos sobre uma grande prateleira que Slughorn zelava com muito carinho.

– Você já deve ter ouvido falar de Guga Jones, ex-capitã das Harpias de Holyhead – disse Slughorn indicando com seu gordo indicador a foto de uma atraente jogadora de quadribol. – Ingressos grátis nos melhores lugares.

– Eu a conheci – disse Alvo muito concentrado e dissolver um fragmento de algo gosmento de verde de um tubo de ensaio. – Ela e mamãe jogaram juntas por meia temporada. Antes de Jones se aposentar.

– Ah, é verdade! Sua mãe, a Srtª Weasley, muito hábil com poções e quadribol – desta vez o professor apontou para outra foto, mais ao topo. Alvo ergueu os olhos por um momento e pode ver a foto em que o

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professor de Poções sorria orgulhosamente entre os tios e os pais de Alvo. – Todos meus... alunos, é claro. Lecionei para cada um deles. Embora, acredito-me, que o jovem Wheatherby não possuía a mesma aptidão para poções que seus outros companheiros.

Slughorn se referia ao tio Rony que já declarara várias vezes que mal sabia como conseguira boas notas de aprovação nos N. I. E. M.s de Poções.

Quando Alvo voltou para a sala comunal deparou-se com um Isaac resmungão, indignado por ter sido forçado pelo Prof Silvano a limpar e proteger de traças todos os livros que possuía.

– Ele é maluco! – bradou o garoto ruivo quando ele e Alvo subiram pelas escadas em direção aos dormitórios. – Silvano tem milhares de livros. Milhares! Alguns com oitocentas páginas, ou mais! Sabia que ele não me pediria somente para escrever feitiços no quadro como fizera na terça-feira. Limpar seus livros contra traças! Juro que serei um bom menino até que aquele fanático por leitura saia de Hogwarts.

Outubro deixara Hogwarts da mesma maneira que chegara, com dias muito frios de sol fraco e gelado com tardes insuportavelmente cinzas e para completar dias chuvosos e frios, o que geralmente forçava a Hagrid dar sua aula de Trato das Criaturas Mágicas dentro do grande celeiro de pedras que ele montara há alguns anos. Mesmo que o professor gigante não gostasse de não poder usufruir dos muitos hectares da Floresta Negra para mostrar aos alunos os mais esquisitos e perigosos vermes que possuía, Hagrid dava seu jeito de trazer suas lesmas amareladas lançadoras de pus para dentro do celeiro e essa fora a tarefa dos primeiranistas sonserinos e grifinórios naquela sexta-feira do Dia das Bruxas.

Hagrid espalhara grandes barris de uma mistura de carne moída, pedaços de vermes menores; ervas emprestadas do Prof Longbottom e uma borrifada de sangue de cabra. Depois guiou os primeiranistas sonserinos e grifinórios até uma pequena ilhota dentro da Floresta Negra, onde Hagrid hospedara suas lesmas fedorentas desde o início do ano. Sempre à frente, empurrando seu carrinho de mão lotado com barris de comida, Hagrid apontava para vários cantos da floresta, indicando onde os animais gostavam de se esconder.

– Ali, mais a oeste, encontra-se uma tribo de centauros – disse Hagrid contornando um enorme carvalho com certa dificuldade por causa do carrinho de mão. – Se não me engano esta tribo em questão é liderada pelo centauro Firenze. Um centauro muito honroso. Chegou a ser professor em Hogwarts durante alguns anos. E ali está a árvore mais antiga da Floresta Proibida. Reza a lenda de que ela fora plantada pelo próprio Merlim em pessoa – Hagrid soltou uma gargalhada. – E aqui estamos. Coloquem suas luvas e metam a mão nos barris, queremos que as lesmas sintam o cheiro da comida.

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– E por que queremos isso? – perguntou Rosier mostrando profunda insatisfação com a tarefa.

– Porque este é o único meio que vejo das lesmas seguirem o caminho até o celeiro. Se elas sentirem o cheiro forte da carne espalhada por uma trilha até o celeiro, chegará tão rápido que poderemos estudar sobre elas na próxima semana.

– É eu não posso perder! – resmungou Montague mergulhando sua luva na mistura feita por Hagrid.

– Que nojo! – chorou Pucey fechando os olhos lacrimejantes. – Isso fede tanto.

– É, não sei como um bichão como esse poderia não sentir um cheiro como este! – exclamou Escórpio bastante insatisfeito em ter que mergulhar suas novas luvas de couro de dragão na mistura fedorenta de carne. – Afinal, por que queremos que esses bichos nos sigam até o celeiro? Será que Hagrid não ficou satisfeito quando Creevey perdeu o controle sobre aquelazinha e o pus jorrou para todo o jardim da cabana?

– Hagrid gosta desses animais – disse Rosa defendendo o amigo gigante, porém amarrando a cara quando mergulhou suas mãos no barril. – Para ele quanto maior e mais perigoso, bem, eh, mais adorável. Hagrid já criou desde tronquilhos e pufosos até bebês dragão e acromântulas. Alvo sabe como é, não sabe, Al?

– Ah? – gemeu Alvo, disperso. Alvo estava interessado na árvore apontada por Hagrid como a mais

velha da Floresta Negra. Foi como se Alvo já estivesse passado por ali – o que era verdade já que Hagrid guiava a turma para a ilhota cercada por água enlameada desde a primeira semana de outubro – mas Alvo sentia como se já estivesse visto aquela árvore sozinho, sem a companhia do professor. Mesmo que somente em um sonho...

–Ei, Potter! Será que dá para mergulhar suas mãozinhas em nosso jantar? – quis saber Escórpio irritado.

– Desculpe.Depois que a ilhota das lesmas amarelas que soltam pus e boa parte

dos arredores da Floresta Proibida já estavam empesteados pelo forte cheiro do sangue de cabra e da carne estragada. Hagrid levou a turma de volta para o celeiro onde todos, com muito prazer, lançaram suas luvas em um grande tanque de pedras polidas, para que repousassem sobre a água e eliminassem o cheiro da carne. Assim que as luvas voltaram a seus habituais odores, Hagrid liberou os alunos a pegarem suas mochilas e mergulharem por debaixo de uma triste e sonolenta chuva que caia sobre os terrenos da escola.

– Alvo, Rosa, poderia dar uma palavrinha com vocês? – pediu Hagrid abrindo espaço entre os alunos que deixavam o celeiro, seguindo em direção aos estábulos onde ele guardava alguns hipogrifos, unicórnios e criaturas híbridas que Alvo não se incomodara em continuar sem saber seus nomes.

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Rosa e Alvo falaram para Escórpio seguir seu caminho até a classe de Defesa contra as Artes das Trevas.

– Vocês parecem ter se enturmado bem, hum – disse Hagrid lançando a um hipogrifo o cadáver de uma doninha. – Principalmente com Malfoy, o que é claro, me surpreendeu.

– Escórpio não é dos piores – disse Alvo admirando o hipogrifo estraçalhar os restos da doninha com seu afiado bico. – Acredite, por baixo daquela carapaça loira que ele chama de cabelo, existe um garoto legal que só quer mostrar seu valor.

– Alvo está certo – confirmou Rosa sem poder impedir que um sorriso tomasse seu rosto. – Por mais que eu tenha vontade de socar o rosto dele algumas vezes, Escórpio pode ser muito mais legal do que Eugênio e Henry.

– Eu acho ótimo que vocês estejam se dando bem – murmurou Hagrid agachando-se para poder ver melhor os rostos radiantes de Alvo e Rosa. – Espere, Rivaldo! Você já comeu sua doninha! Não pode sair do regime que a Profª Minerva lhe passou.

O hipogrifo que Hagrid acabara de alimentar bicava a juba do professor e piava tentando alcançar as outras doninhas na mão de Hagrid.

– Bom, era só isso. Mal posso esperar para ver vocês três se metendo em confusão como seus pais faziam – Hagrid soltou novamente uma gargalhada e deu um tapinha – o que mais pareceu um empurrão – no ombro de Alvo.

Porém, quando Alvo e Rosa saíram do celeiro uma voz, aparentemente chocada soou sobre o ouvido dos dois. Alvo e Rosa deram um salto e encontraram um garoto com os cabelos colados ao rosto e as vestes encharcadas por causa da chuva.

– É verdade tudo o que vocês falaram de mim? – perguntou Escórpio quase chorando de alegria. – E se meu cabelo é uma carapaça loira, Potter, como você chama esse seu capacete negro.

A aula de Defesa contra as Artes das Trevas transcorria exatamente como o Prof Silvano planejava. A grande maioria dos alunos já dominava o Feitiço de Desarmamento pelo menos de maneira aceitável, o que impulsionou o professor a seguir adiante com sua matéria. O Prof Silvano começou suas explicações sobre os males e os bens das Azarações, e como de costume pediu para que os alunos formassem duplas e treinassem a Azaração de Impedimento uns nos outros.

– Não daria muito certo utilizar o boneco – explicou o professor quando as duplas já estavam formadas – a Azaração de Impedimento fica muito melhor explícita quando utilizada em pessoas. Se utilizar o boneco, seria o mesmo que um Feitiço de Levitação. E não quero que gastem todo o seu talento e não deixem nada para a aula do Prof Flitwick.

Foi muito mais fácil para Alvo lançar as azarações em Escórpio quando os dois não estavam competindo para ver quem forçava o outro a bater o cocuruto mais vezes no teto. A aula de Defesa contra as Artes das Trevas

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em si foi uma grande brincadeira, ver um amontoado de alunos subindo e descendo como penas presas a seguir as ordens do vento durante um vendaval. Porém para desgosto da grande maioria dos alunos que, assim com Alvo e Escórpio, conseguiam ser erguidos e erguer seus companheiros, a aula de Defesa contra as Artes das Trevas, assim como as demais que ocupavam o último tempo da sexta-feira, foram forçadas a terminar mais cedo por causa do banquete do Dia das Bruxas.

– Fiquem tranqüilos. Na segunda-feira teremos uma aula teórica sobre Azarações.

Sobre as vaias e gritos de indignação a aula de Defesa contra as Artes das Trevas chegara ao fim. Alvo, Escórpio e Rosa, seguiram juntos até o Hall de Entrada, quando Rosa e Escórpio se separaram de Alvo e seguiram para a Torre da Grifinória, em quanto o garoto seguira na companhia de seus outros amigos, esses sonserinos, Isaac, Lucas e Perseu até as masmorras.

Quando Alvo chegou ao Salão Principal, mais ou menos às oito horas, acompanhado do resto dos alunos da Sonserina, deparou-se com uma infinidade de abóboras com entalhes de olhos e bocas flutuando de um lado para o outro junto às velas do salão. Alvo teve de desviar a cabeça de um morcego desnorteado que voava em círculos, próximo às portas de carvalho, tentando se juntar a sua nuvem negra de criaturas pequenas e medonhas. Os pratos de ouro se encheram com o jantar, delícias já típicas das noites de Hogwarts, porém, naquela noite havia uma quantidade muito maior de doces e porcarias.

– Minha mãe me aconselharia a não comer muitos doces – disse Isaac lambendo os beiços com os olhos fixos no jantar. – Ela é dentista, sabe. Mas que se dane! Sou bruxo, posso concertar meus dentes com magia!

Conforme Alvo se empanturrava de batatas assadas e Sapos de Chocolate, o restante o Salão Principal mergulhava em uma onde de gritos estampidos e zoeira. Faíscas multicoloridas saiam das varinhas de vários alunos que experimentavam a nova leva de Varinhas de Alcaçuz que estouravam formando flores de suspiro que planavam pelo ar agitado do salão. Nem mesmo os professores conseguiam manter sua serenidade educacional junto a toda aquela desordem vinda dos estudantes das Casas. Quando Alvo olhou para a mesa dos professores encontrou o Prof Slughorn misturando inúmeros sucos formando uma fumegante bebida cor de barro. A Profª Revalvier recitava histórias assombrosas para o Prof McNaught que as ouvia com atenção. Somente uma cadeira se mostrava vazia, apenas um professor não se mostrava presente durante a festa do Dia das Bruxas – com exceção do Prof Binns que mal saia de sua sala de aula. O Prof Silvano não se apresentara no Salão Principal, o que intrigou Alvo, pois o professor de Defesa contra as Artes das Trevas se mostrava muito bem durante sua aula à tarde, ele não podia estar doente.

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– Perseu, Alvo... Topam uma partida de Snape Explosivo? – propôs Isaac ao perceber o grande interesse dos dois garotos pelas cartas pentagonais.

Alvo abria várias caixas de Sapos de Chocolate recolhendo as figurinhas de dentro das embalagens e somente mordendo as patas traseiras do sapo para impedir um rebuliço de sapinhos molengas e saltitantes pulando pela mesa do Sonserina em quanto seu chocolate derretia sem controle. Depois que a pirâmide de cartas feita por Perseu explodiu, fazendo com que os cabelos negros chamuscassem, os três garotos se deram por satisfeitos e estavam prestes a iniciar a partida quando Alvo gritou:

– Onde esta? – gritou ele em quanto apalpava suas vestes nervosamente a procura de algo de grande importância. – Onde está minha varinha?

Alvo ficara em estado de choque. Ele não parava de apalpar as vestes torcendo para que a varinha caísse no chão com um baque, mas nada acontecera. Alvo mordia os lábios com tanta força que já podia sentir seu tecido romper e o sangue escorrer pelo canto da boca. Não era pelos galeões investidos por seu pai há dois meses na loja do Sr Olivaras, mas porque Alvo se sentia bem utilizando a varinha de teixo e fibra de coração de dragão – embora Alvo não espalhasse para todo mundo o núcleo, pois já era muito legal os outros zombarem de seu nome, ASP. O nome em inglês para áspide, uma cobra venenosa. Porém Alvo sentia que era mais forte com sua varinha de coração de dragão do que com qualquer outra já que ela o escolhera, então realmente existia uma ligação forte entre eles.

– Ela deve ter caído na sala comunal – disse Perseu tentando tranqüilizar um Alvo Potter completamente desesperado. – Quando você trocou de roupa.

– Ok – suspirou Alvo quando finalmente deu-se conta de que não carregava a varinha. – Vou até a sala comunal, se não estiver lá vou até a sala de Defesa contra as Artes das Trevas. Deve estar em um desses lugares.

Alvo saltou da mesa da Sonserina e correu para fora do Salão Principal, querendo chegar o mais rápido possível na sala comunal e encontrar sua varinha repousada sobre o chão escuro de seu dormitório e assim ainda sobraria tempo para ele voltar para o final da festa. Porém, nada disso aconteceu.

Alvo revirou todo seu dormitório a procura de sua varinha, mas não a encontrava de forma alguma. Revirou os travesseiros e lençóis, mudou o malão de lugar, fuçou o cesto de roupas sujas – nada muito diferente que enfiar a mão no barril de carne estragada que Hagrid fizera para as lesmas na aula de Trato das Criaturas Mágicas.

Convencido de que não encontraria nada em seu dormitório – exceto mais um pé de meia de Perseu – Alvo seguiu para a sala de Defesa contra as Artes das Trevas. Com certeza o Prof Silvano o permitiria entrar em

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sua sala caso Alvo explicasse o motivo de tal desespero, possivelmente o professor até ajudaria o garoto a procurar pela varinha.

Quando Alvo finalmente chegou ao terceiro andar – com o coração batendo aceleradamente devido à correria de Alvo pelos corredores e escadas da escola – estava pronto para bater na porta da sala de Defesa contra as Artes das Trevas e pedir permissão ao Prof Silvano para vasculhar sua sala de aula; mas quando ele chegou à frente da porta da sala de aula, percebeu que esta já estava aberta. Somente um filete se mostrava aberto e Alvo não teve bom senso de bater, mesmo assim. Abriu a porta com todo o cuidado, torcendo para não provocar nenhum ruído. A horripilante cabeça de gnomo o fitava de maneira assombrosa. Andando na ponta dos pés Alvo começou a vasculhar a sala de aula até que...

Lá estava sua varinha de teixo e núcleo de coração de dragão, recostada ao pé da mesa do Prof Silvano. Alvo devia ter deixado a varinha cair pouco depois de Escórpio ter lançado-lhe sua última Azaração de Impedimento. Alvo estava tão disperso do restante do mundo com o fato de Escórpio finalmente ter deixado de tratar Alvo como um rival que ele não percebera que não carregava sua varinha.

Alvo estava convencido que, agora já apossado de sua varinha, o melhor era voltar para o Salão Principal e aproveitar os últimos minutos da festa do Dia das Bruxas. Porém algo chamou sua atenção, e não foram os objetos de latão do Prof Silvano que brilhavam a luz do luar nem mesmo a cabeça de gnomo que o encarava, mas sim um grito de ira que seguira de um estampido. O bom senso diria, ou melhor, berraria para que Alvo deixasse a curiosidade de lado e corresse em disparada para o Salão Principal. Mas Alvo não era daqueles que gostava de sempre ouvir sua voz interior.

Ele apontou sua varinha para a porta da sala do Prof Silvano e sussurrou o feitiço que ele aprendera há pouco tempo, não com o Prof Flitwick, mas sim com um membro de certa organização de brincalhões. Alvo se concentrou e disse o feitiço que seu irmão o ensinara “Amplifiato”.

A voz do Prof Silvano irrompeu pelos ouvidos de Alvo com se o próprio professor a dissesse bem ao seu lado. Ele parecia tenso, sua voz estava muito nervosa e repleta de pausas. Parecia que o professor estava muito cansado, ou assustado com sigo mesmo.

– D-desculpe-me, Epibalsa – implorou Silvano com a voz ainda nervosa.– Tudo bem – disse a voz do Prof McNaught como se tudo não passasse

de uma brincadeira. – Eu o importunei demais... E não foi a primeira vez que fui estuporado. Bem, sei quando perdi uma causa, não quer procurar o tesouro comigo, devo voltar ao banquete...

– Não! – gritou Silvano para alívio de Alvo que já se preparava para correr. – Desculpe meu comportamento, é que já tive muitas más experiências com parceiros. Você sabe que passei alguns anos viajando, digo que foi para aprimorar minhas habilidades mágicas, mas na verdade

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estava procurando mais pistas sobre Ambratorix. Em meu quinto ano de exploração, encontrei um bruxo da Letônia chamado Guntis Dombrovskis. Um homem de meia idade, meio caduco, mas cheio de ambições, só que seu cérebro trabalhava tão bem quanto seu inglês. Ele me lançou uma Maldição da Morte, mas acabou o acertando sem querer. Além desse, outros vieram e me apunhalaram pelas costas. Mas você, Epibalsa, se mostrou mais digno que eles todos. E possui uma prova que me fez realmente acreditar em você.

– Então, o que você sabe sobre Albrieco Cadoco Ambratorix que eu não sei? – perguntou o professor de Artes dos Trouxas puxando uma cadeira e se sentando sobre esta.

– Bem, que Ambratorix era um artesão medieval, qualquer um sabe, até Dombrovskis sabia, e o fato de que ele vagou por muitos anos neste mundo, também não seria nenhuma surpresa para qualquer apreciador de livros medievais. Talvez o que poucos saibam é que Ambratorix possuiu várias relações com bruxas e trouxas durante sua passagem por nosso mundo. Ele possuía várias faces e pseudônimos, algo muito comum junto aqueles que dominam o mundo das poções com certa facilidade. E que possui facilidade no preparo da Poção Polissuco. Rezam lendas de que a grande maioria de famílias mestiças e de puro sangue possui ligações com Ambratorix. Segundo as lendas, a mais importante de todas elas é a Peverell.

“Pelo que parece: somente nós dois sabemos que Ambratorix gostava de inventar objetos que desafiassem as leis da magia. Ele ficava meses, trancado em seus esconderijos, utilizando os mais variados gêneros de magia, artes proibidas e poções sem nenhuma regulamentação para criar sua arte. O que lhe rendeu alguns anos, acossado e prezo em Azkaban.”

“Agora, o que somente eu sei. Depois de anos fugindo e sendo prezo pelas autoridades mágicas do mundo todo, os Doze Membros da Corte Real de Bruxos – o conselho de maior poder e influência da Inglaterra nos tempos medievais, formado pelos bruxos de sangue puro e donos de grandes riquezas, que recebiam a maior ordem política – decidiram que seria melhor condecorar Ambratorix com a Ordem de Merlim.”

“Segundo um dos membros da Corte Real de Bruxos – um nobre cavaleiro de sangue-puro nomeado pelo próprio rei Artur – seria mais benéfico para a Inglaterra se eles possuíssem o controle sobre Ambratorix, presenteando-o com títulos de nobreza e honrarias mágicas. Mas na verdade a Corte queria somente que Ambratorix se transformasse em um fornecedor de armas e conhecimentos da magia, empregado somente a lecionar para cavaleiros nascido-trouxas e para o próprio rei.”

“Ambratorix não era tão tolo quanto a Corte acreditava ser. Ele não se iludiu com os privilégios recebidos da Corte Real de Bruxos. Pouco depois de receber a Ordem de Merlim, Ambratorix sumiu do mundo, sem deixar rastro.”

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“Foi difícil pesquisar mais sobre esse período da vida de Ambratorix, mas segundo as lendas e contos contados pelos mais velhos bruxos de cada povoado da Europa Ocidental – foi durante este período que Ambratorix construiu sua maior obra de arte. O portal que desafiava todas as leis da magia e da natureza. Depois daquilo Ambratorix nunca mais foi o mesmo bruxo extrovertido e brincalhão que o mundo medieval conheceu. Dizem às lendas que Ambratorix entregou parte de sua alma à Morte para poder realizar seu sonho e assim roubar algumas propriedades da própria.”

“Depois de muitos séculos, Ambratorix conseguiu criar o Olho entre os Mundos. Algo que nunca foi visto, ou testado, mas que, segundo as crendices pode realizar uma magia que até então era considerada impossível. Trazer os mortos de volta a vida.”

“Se você quiser saber mais sobre ele procure: O Conto do Bruxo Linguarudo. É um conto infantil, mas que segundo os velhos bruxos, fora criado para homenagear o velho Ambratorix. Ou então procure por seu mais conhecido codinome, O...”

– Mylor! – bradou McNaught espantado, interrompendo bruscamente o Prof Silvano – Tem alguém nos ouvindo.

Alvo gelou. Não tinha a menor vontade de sair da sala no mesmo passo lento e cauteloso que chegara. Alvo apontou a varinha para a porta da sala de aula e ordenou que a porta se abrisse. Ela o fez no mesmo momento em que a voz do Prof McNaught cortava o ar com um “Alohomora” que fez com que a porta da sala do Prof Silvano se escancarasse com força. Porém McNaught e Silvano não viram nada além do final do tecido das vestes de Alvo roçar pela porta aberta.

Alvo correu pelos corredores do terceiro andar e pelas escadas encantadas como um condenado. Temendo que os professores McNaught e Silvano aparecessem em uma das escadas ou topassem com Alvo. Seu coração começou a diminuir o número de batimentos conforme os alunos da Grifinória e da Corvinal começavam a deixar o Salão Principal e a ocupar as escadas em direção a suas respectivas torres. Alvo se misturou entre um grupo de alunas corvinalinas do segundo ano e depois se juntou a fila de sonserinos que deixava o Salão Principal.

O garoto havia perdido boa parte da festa do Dia das Bruxas, descobrira que seu professor de Defesa contra as Artes das Trevas e o de Artes dos Trouxas estavam armando um plano para encontrar um artefato de um bruxo medieval que podia trazer os mortos de volta a vida e quase fora pego por ambos. O que poderia custar-lhe a vida. Porém, naquele momento, ele estava misturado junto com seus amigos. Naquele momento, Alvo estava a salvo.

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Capítulo OitoO Conto do Bruxo Linguarudo

i! Olha o caminho, Alvo! – exclamou Sabrina Hildegard, quando ela e Alvo se chocaram às portas do Salão Principal, no sábado pela manhã. Rolos de pergaminho deixaram os

braços de Sabrina e se espalharam pelo chão de mármore fazendo que as predições astronômicas de Sabrina ficassem expostas para os demais estudantes.

–E– Desculpe, ah, Sabrina – disse um Alvo sonolento agachando-se para

ajudar a garota sardenta e ruiva com uma pena roxa berrante presa aos cabelos a recolher seu material de Adivinhação. – Dever de casa?

– Guarde logo isso! – chiou a garota saltando sobre os pergaminhos e os escondendo debaixo dos braços. – Ninguém pode saber que estas predições são falsas! Gosto de Adivinhação, mas...

Alvo parou de prestar atenção. Ergueu-se lentamente e seguiu seu rumo até o Salão Principal, deixando Sabrina sozinha no chão.

Aquela fora a pior noite de Alvo desde que ele chegara a Hogwarts. Ele ficara demasiadamente assustado com a idéia de seus professores estarem tramando algo secreto e misterioso dentro das paredes de Hogwarts e bem debaixo do nariz da Profª Crouch. Alvo mal conseguira pregar o olho, ficara a noite toda criando especulações sobre o que ouvira na noite anterior, quando descobrira os reais planos dos professores. E sempre que cochilava, Alvo era levado para o enigmático santuário subterrâneo onde os dois sinistros homens conversavam sobre a luz cegante do caixão luminoso.

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– Você está com uma cara horrível! – bradou Rosa quando Alvo se juntou a ela e a Escórpio para tomar café.

– Obrigado.– É sério, Alvo. Você dormiu está noite?Alvo não se conteve e começou a explicar para os dois amigos o motivo

de sua insônia. Contara nos mínimos detalhes, como e porque ele se encontrava na sala de Defesa contra as Artes das Trevas na noite anterior e colocou muitas ênfases nos nomes, objetos e fatos históricos ditos por Silvano e McNaught. Depois que Alvo terminou de relatar sua experiência noturna – o que lhe custou boa parte do café – o garoto ficou cercado pelos rostos chocados e sem cor de Rosa e Escórpio. Rosa deixara seu café da manhã de lado de uma maneira tão bruta que derramara suco de abóbora na mesa, mas ela nem o percebeu. Escórpio, por sua vez, perdera a pouca cor se seu rosto continha, seus únicos movimentos eram de suas pupilas ao piscar.

– Isso... Isso é impossível! – exclamou Rosa completamente surpresa.– Não ouviu o que eu disse! – retrucou Alvo ofendido. – Acha que estou

mentindo? O que acha que eu ganharia contando isso?– Não é para você ficar desse jeito – resmungou Rosa abaixando a voz. –

Só que, é Hogwarts, um dos lugares mais seguros do mundo. Todos os livros dizem isso...

– Você mais do que ninguém deveria saber que Hogwarts já não é mais tão segura quanto quando era a centenas de anos – interrompeu Alvo cerrando os dedos contra o garfo de prata. – Uma pessoa culta como você deveria saber que depois da batalha de dezenove anos atrás as defesas da escola já não são mais as mesas! Pergunte a Ralf, ou passe pela orla da floresta nas manhãs de quinta-feira, se você encontrar o pai dele, pergunte porque ele trabalha aqui! Ele é quem fortifica as barreiras mágicas da escola. Todos deveriam saber disso, Rosa, ou qualquer um que leia Hogwarts, uma História.

– Só estou dizendo... – Rosa gaguejava muito, nunca fora contestada por alguém como fora por Alvo. Suas orelhas estavam vermelhas. – Alvo, você não devia estar na sala do Prof Silvano. Era para você estar na festa do Dia das Bruxas.

– Você está os defendendo? – Alvo se erguera. Toda sua moleza e cansaço haviam abandonado seu corpo, ele fuzilava Rosa com o olhar. – Então sugere que fiquemos de braços cruzados!

– Não estou defendendo-os! – chorou Rosa com os olhos molhados com uma expressão de vergonha. – Só não consigo imaginar nossos professores envolvidos em algo desta proporção!

– Mas Hogwarts não é um lugar protegido de professores malucos e cretinos – afirmou Escórpio dando de ombros. – Voldemort esteve aqui durante um ano, possuindo outro cara, mas dá no mesmo. Depois teve a tal da Umbridge, os Carrow e ainda teve o lobisomem. Vocês não sabem do que papai me contou sobre...

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– Não chame Remo de cretino! – urrou Alvo socando a mesa. Os olhos de todo o salão se voltaram para o garoto, que poucos

segundos depois de ter esmurrado a madeira da mesa deu-se conta de como estava descontrolado e como tratara seus amigos, somente uma palavra pode sair de sua boca.

– Desculpem-me – sussurrou Alvo voltando para sua cadeira, o rosto mais vermelho que as orelhas de Rosa. – Desculpem-me. Eu dormi mal esta noite, e toda essa história de Silvano e McNaught... Eu não sei o que fazer...

– Conte a Crouch! – disse Rosa como se aquilo fosse a questão mais fácil de uma prova.

– Não! – contestou Alvo. – Não tenho provas. É a minha palavra contra a de dois professores. Crouch pode achar que estou mentindo ou que quero chamar atenção de todos. E Silvano e McNaught sabem que alguém os espionou, e se eu começar a contar isso a todos, vão saber que fui eu! Estarei morto por uma semana!

– Logo vocês, filho de quem são, até agora não pensaram o mesmo que eu? – Escórpio parecia perplexo com a falta de imaginação de Alvo e Rosa. – Pense no que seus pais fariam. E eu duvido que a resposta seja: contar a diretora. Eles começariam a fuçar cada detalhe sobre os dois e investigariam por conta própria! Vocês são realmente muito cegos! Temos a oportunidade de nos metermos em uma aventura tão perigosa e importante quanto a que seus pais se metiam. Vocês não querem ser tão grandiosos quanto eles?

Aquilo acertou Alvo como um balaço bem no centro de seu estômago. Como ele, filho de Harry Potter, não pensara em seguir os feitos de seu famoso pai e começar a investigar sobre os professores suspeitos. E o que mais surpreendeu Alvo foi que a idéia de começar uma meticulosa investigação sobre Silvano e McNaught partiu de Escórpio. Porém, pouco depois, Alvo percebeu que aquela era uma oportunidade de ouro para Escórpio mostrar ao mundo que ele está no lado do bem, diferente do restante dos Malfoy, sempre fieis servos do lado das trevas.

– Essa não é a coisa mais lógica a se fazer – afirmou Rosa com ar de desdém.

– Mas essa é a coisa que você quer fazer – contestou Escórpio com um sorriso furtivo.

– M-mas, como sugerem que investiguemos os dois? – perguntou Rosa começando a gostar da idéia. – Não sabemos nada sobre Ambratorix... Nunca ouvi falar dele em lugar algum. Nenhum livro de História da Magia Medieval ou Contemporânea.

– Podemos procurar sobre O Conto do Bruxo Linguarudo – começou Alvo. Os neurônios trabalhando cada segundo mais acelerados, radiantes com a possibilidade de acabar se metendo em uma aventura digna de um Potter. – Silvano disse que os antigos magos inventaram essa história em homenagem a Ambratorix.

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– Nunca ouvi falar desse – disse Escórpio no momento em que reconquistou a vontade de terminar suas batatas assadas. – Minha avó é uma exímia contadora de histórias. Todas as noites ela me punha para dormir ao som de um conto infantil. O Bruxo e o Caldeirão Saltitante, As Crônicas das Verruguentas e Narigudas Velhas Resmungonas, Babbitty, a Coelha e seu Toco Gargalhante e meus favoritos O Coração peludo do Mago e O Conto dos Três Irmãos.

– Que horror! – exclamou Rosa emburrando a cara. – O Coração peludo do Mago é uma história horrenda. Prefiro a Fonte da Sorte... A superação das três irmãs e o final feliz de Amata e do Cavalheiro Azarado...

– Isso não vem ao caso – interrompeu Escórpio grosseiro. – Além do mais, hoje em dia gosto mais de ler histórias verazes que contos de fadas. Algo como Aventuras de um Auror e Histórias Verídicas de Dragões e Caçadores de Dragões.

– Acabaram de discutir sobre contos de fadas e histórias de dragões? – quis saber Alvo bufando. – Se vamos investigar sobre um bruxo medieval – Alvo abaixou mais a voz, obrigando Rosa e Escórpio a inclinar o tronco sobre a mesa para poder ouvi-lo – devemos ir à biblioteca.

Quando Alvo, Escórpio e Rosa chegaram à biblioteca se depararam com estantes e estantes de livros, organizados minuciosamente pela bibliotecária, Madame Pince, espremidos um contra os outros como se tentassem se proteger do frio que pairava na escola naquele primeiro de novembro. Não era muito comum a biblioteca estar cheia em uma manhã de sábado como aquela, porém pelo que podia se ver, muitos alunos, assim como Alvo, acumularam mais deveres de casa do que deveriam e a vontade de terminá-los antes das primeiras partidas do Campeonato de Quadribol era grande.

Madame Pince estava sentada em sua habitual cadeira acolchoada, rabiscando algumas palavras e desenhos em um pedaço de pergaminho estendido em sua mesinha desconfortável.

– Queremos olhar a seção da Era Medieval – anunciou Rosa educadamente para a bibliotecária.

– Como quiserem – retrucou Madame Pince friamente, ansiosa para que os garotos a deixassem. Bruscamente ela tampara o pergaminho com um dos braços. – Só não façam rebuliços.

Pelo canto do olho Alvo pode ver um singelo coração mal desenhado e torto, entrelaçado por dois nomes. Um deles era Irma Pince.

Por mais que Alvo, Escórpio e Rosa remexessem os livros de Literatura Mágica e de Contos Medievais, nada fora encontrado sobre Ambratorix ou sobre O Conto do Bruxo Linguarudo. Por mais fartos de informações que os livros de Hogwarts pudessem ser, nenhum deles se referia ao artesão problemático citado pelo Prof Silvano na noite anterior.

– Ok. Dou-me por vencido! – resmungou Alvo fechando com força o exemplar de Histórias Infantis para Crianças Infantis, o que despertou Madame Pince de seu transe apaixonado fazendo a bibliotecária fuzilar

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Alvo com seus negros olhos de besouro. – Não existe nada sobre esse Conto do Sei lá Quem! Se Silvano queria dar alguma pista a McNaught errou completamente de história!

– Ei, olhe isso! – chiou Escórpio entregando a Alvo e Rosa, um exemplar de As Vinte Histórias mais antigas dos Bruxos.

– Não sei se notou, – disse Alvo depois de ler o título do capítulo – mas não estamos interessados no epílogo de O dia das Bruxas dos Duendes.

– Olhe somente o número da página – ordenou Escórpio como se aquilo fosse a coisa mais óbvia a se fazer.

– Quinhentos e trinta e três – disse Rosa.– Ótimo. Agora virem a página – continuou o garoto assim que os

amigos fizeram o que ele ordenara e se depararam com a introdução d’ O Conto dos Três Irmãos. – Estão vendo agora? Página quinhentos e sessenta e cinco. O que está mostrando que...

–... uma história foi arrancada – completou Rosa analisando os restos das páginas rasgadas do livro infantil. – Se Madame Pince descobre ela...

– O que vai acontecer? – quis saber uma voz autoritária e fanfarrona atrás dos três. Alvo ficara tão assustado que dera um salto e como ato reflexo, esticou o braço forçando Rosa, que segurava o livro, a fechá-lo para impedir que o estranho visse.

– Tiago Sirius Potter, não me assuste desta maneira! – rugiu Rosa socando o braço de Tiago que, junto com seu melhor amigo Ralf, trocavam risadas da situação.

– Não resisti ao impulso e quis saber o que vocês três estavam tramando na biblioteca em pleno sábado – disse Tiago tentando conter o riso.

– Está frio – disse Escórpio rispidamente. – Não há nada para se fazer lá fora.

– Obrigado por meter seu nariz melquento e sujo aonde não é chamado! – urrou Tiago lançando a Escórpio um olhar de ira e ódio. Tiago, ainda não suportava saber que teria conviver com Escórpio por mais cinco anos debaixo do mesmo teto. O que provocava vários xingamentos e implicâncias. Tiago fazia um trabalho que até então estava limitado ao grupo de Finnigan, mas que agora possuía um integrante mais forte e mais ameaçador.

– Fica frio Einstein – interrompeu Alvo coçando o nariz, fazendo referência aos óculos que Tiago, por alguma circunstância milagrosa, carregava junto ao rosto. – Escórpio só está me ajudando nos deveres de Literatura Mágica.

– Tanto faz – o retrucou agarrando os óculos bruscamente e enfiando-os no bolso lateral de sua calça.

– A visão de Tiago está cada vez pior – disse Ralf sorrindo batendo levemente com suas grandes mãos de jogadores de rúgbi nas costas de Tiago. – Cada dia fica mais difícil não os usar. Francamente, eu não vejo nenhum problema com os óculos.

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– Mas eu ainda posso ver alguns, Ralfidilo – Tiago continuava com seu tom aborrecido, uma de suas mãos apertava o entorno dos óculos com raiva. – Eu os detesto! Fico parecendo um “nerd” completo!

– Fique tranqüilo, irmãozão, pois isso eu sei que você nunca será – admitiu Alvo em tom de gozação. – Mas afinal, o que você faz na biblioteca em pleno sábado? – Alvo tentava iludir Tiago o máximo possível, impedindo que esse quisesse saber o que ele, Escórpio e Rosa estavam realmente tramando.

– O mesmo que a maioria dos demais aqui, pequeno explosivim. Dever de casa atrasado. O que me lembra... – Tiago mudara completamente o tom de sua voz para uma forma gentil e amigável. Seus olhos baixaram sobre Rosa. – Priminha querida, já disse que você está formidável hoje?

– Pare de bajulações – respondeu Rosa desconfiada. – O que quer?– Somente suas anotações da aula do Binns. Você sabe que tenho

dificuldades com todos aqueles nomes de duendes esquisitos.– Se você prestasse atenção nos nomes dos duendes, não teria

problemas em distinguir Hósis, o sanguinário de Hóris, o culto – disse Rosa com desdém.

– Exatamente – falou Tiago com impaciência. – Vai passar-me as anotações ou não?

– Vou – Rosa parecia desanimada e decepcionada, porém cedendo à pressão de Tiago, pois sabia que aquela era uma guerra já perdida. – Mas assim você não vai saber nenhum nome ou data que o professor pedir para os exames finais.

– Rosinha, Rosinha... – Tiago sorria de uma maneira maliciosa como se já houvera arquitetado várias maneiras de se sair bem nos exames do professor fantasma. – Não sei se percebeu as anotações dos antigos alunos nas carteiras. A maioria delas está protegida por um Feitiço Anti-Limpeza. Teddy me ensinou todas as manhas ano passado. A maioria das anotações tem a marca dele e dos Malignos...

– Isso é colar! – disse Rosa com convicção. – Hmm, de certa forma, mas é! O que significa que é contra o regulamento de Hogwarts.

– Se eles fossem tão bons já teriam trocado as carteiras – sussurrou Escórpio por trás de As Vinte Histórias mais antigas dos Bruxos.

– Por mais que isso me irrite, – começou Tiago encarando Escórpio, ainda encolhida atrás do livro – tenho de concordar com o Diabrete Loirinho. Seria mais fácil evitar as colas se Crouch, no mínimo, trocasse as carteiras.

– Fantástico! – bufou Rosa bastante desanimada. – Finalmente vocês encontram algo em comum e dedicam isto a falar mal da diretora! Quer mais alguma anotação?

– Não me julgue como um oportunista, Rosinha. Mas se porventura conseguiu resumir a história de Revalvier... Não me lembro de metade das frases ditas por ela.

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– Aquele balaço que Cícero Hutchins lhe acertou deve ter provocado algum surto de amnésia – debochou Ralf dando de ombros. – Até eu decorei a história que a Profª Revalvier contou sobre O Lambedor de Sapatos.

– A Profª Revalvier contou uma história para vocês? – perguntou Alvo interessado. – Durante a aula!

– Na verdade, a história foi parte da aula – comentou Ralf aparentemente cansado de ter que explicar isso para todo aluno mais novo que lhe fazia esta pergunta. – Por que a pergunta? A Profª Revalvier ainda não lhes contou nada?

– Não. Ela somente nos explicou detalhadamente, o que nos proporcionou horas de sonolência, a importância dos contos infantis para o enriquecimento da cultura dos bruxos. Mas, creio que na próxima aula ela comesse com algum assunto mais interessante.

Naquele momento, em quanto Tiago e Ralf se distanciavam para uma mesa mais ao norte da biblioteca, onde começaram uma desanimada discussão sobre as melhores maneiras de resolver o questionário solicitado pelo Prof King, e Rosa e Escórpio voltavam a estudar os resquícios das páginas arrancadas do livro que ele encontrara, Alvo se distanciara completamente da biblioteca. Estava muito concentrado em seu novo plano para dar atenção, mas teria que esperar até quarta...

Os dias que se seguiram foram de fortes ventos e muito frio. A temporada de casacões e cachecóis chegara a Grã-Bretanha e a grande maioria dos estudantes e professores não pensavam duas vezes antes de se enrolarem em quilos de panos coloridos e formosos. Mas não havia frio neste mundo que impedisse Erico Laughalot de comandar os treinos para o jogo contra a Lufa-Lufa. Naquele ano, as primeiras rodadas preliminares estavam marcadas para acontecer antes do Natal. O primeiro jogo estava marcado para o próximo domingo. Depois o jogo contra a Corvinal seria na última semana em Hogwarts antes das férias e das carruagens partirem com os estudantes que passariam o Natal com suas famílias. Por último antes da faze final, o clássico contra a Grifinória encerraria a primeira faze.

– Vamos usar a formação dragão contra a Lufa-Lufa – gritava Erico para seus comandados durante o treino da terça-feira, o qual livrara Alvo do final da aula de Geomancia, com o Prof Margolyes. – Somos mais rápidos do que eles, e podemos impedir qualquer manobra que realizem. Stuart, Estevão! Quero que marquem os artilheiros corpo a corpo. Não dêem nenhuma brecha! Demelza, Cadu! Vamos usar manobras rápidas e com muito jogo de equipe para cima dos batedores deles!

O vento empurrava Alvo para trás a cada segundo que ele estava montado na Nimbus 2010 emprestada pela escola. Mesmo tendo de se concentrar em executar com perfeição, ou o mais próximo disso, as manobras que Erico ordenava – Alvo ainda se lembrava de como fora fácil utilizar a Firebolt de Erico. As curvas podiam ser feitas de maneira mais

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suave de forma que Alvo pudesse ganhar vantagem sobre seu adversário. Que, no jogo contra a Lufa-Lufa, seria o queridinho dos professores e arrasador de corações femininos, o Sr Perfeito Ethan Humberstone. Por mais que Ethan e Alvo se dessem bem nas aulas de Tecnomancia e durante as refeições (quando Alvo se juntava com os Malignos) – Alvo não parava de imaginar que, se fosse necessário ou somente divertido, Ethan usaria toda a força contida em seus braços para derrubá-lo de sua vassoura e fazê-lo passar a maior vergonha de sua vida. A qual superaria até a tragédia no Natal quando Alvo possuía seis anos e ele “acidentalmente” lançou uma pequena labareda flamejante nos cabelos perfeitos e encantadores da prima Vitória com o auxílio da varinha do tio Jorge.

No fim do treino Alvo, e o restante dos outros membros da equipe da Sonserina, estavam parecendo animais que acabaram de sair de um chiqueiro após correr uma maratona de vinte quilômetros. O suor que escorria das testas e dos pescoços de cada membro da equipe que ao se juntar ao odor nada agradável da lama criara um novo e fedorento odor pior que os excrementos das criaturas de Hagrid. A mesma lama que se unira de maneira inconfortável às vestes que, depois de poucas horas sendo esfregada na terra úmida do campo de Quadribol, deixara de possuir sua habitual tonalidade verde. Depois daquele treino exaustivo e das brincadeiras que os jogadores fizeram assim que Erico encerrou o treino, nada poderia alegrar mais Alvo do que um banho.

– Ei, Alvo! Espere ai! – gritou uma voz ansiosa que, segundo Alvo, retardaria em mais alguns minutos seu caloroso e merecido banho.

Sem muito entusiasmo e ainda cheirando a carne podre, Alvo se virou para Erico que corria pelo gramado com um fôlego e uma disposição de invejar qualquer atleta.

– Acho que se quisermos ter vantagem sobre Ethan Humberstone no jogo de domingo... Nossa única chance será se repetirmos a mesma tática dos treinos – afirmou o capitão da equipe com convicção.

– Como?– A vassoura, Alvo! – exclamou Erico sorrindo. Uma solitária gota de

suor escorria por seu rosto entusiasmado. – Se quiser ter vantagem sobre o traidor, você deverá estar montado em algo melhor que a Nimbus.

Traidor era a maneira carinhosa de que os sonserinos tratavam os puros-sangues da Lufa-Lufa na presença de Alvo, visto que muitos parentes dele eram ligados a trouxas e a casa em questão. Isto devia a crescente popularidade de Alvo dentro da Sonserina e seu atual posto como apanhador da casa.

Quanto à proposta feita por Erico, Alvo sabia que seu capitão não estava querendo, somente, que Alvo tivesse mais facilidade para manejar sua vassoura. Erico queria que sua equipe fosse a mais perfeita entre as quatro. E que a maneira como ele abordou Alvo fora uma forma delicada de dizer “Ethan é mais rápido e melhor que você, então precisará de toda

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a ajuda possível!”, o que era verdade, mas Erico queria que a auto-estima de Alvo fosse a maior possível.

– Tudo bem. Mas e você? – Alvo se fingiu de interessado, mas não estava nem ligando para as explicações de Erico. Ele ainda estava radiante em saber que estaria montado em uma das vassouras ainda mais velozes daqueles tempos e que assim seria mais simples demonstrar um bom desempenho no jogo. Mas Alvo só estava preocupado em não demonstrar toda sua felicidade tão facilmente para Erico. Alvo torcia para não estar enrubescido.

Julieta Knowles Revalvier se formou em Hogwarts há vinte e cinco anos. Assim que conseguiu seu diploma a jovem bruxa foi aprovada no Ministério da Magia no ramo mais insignificante e mais mal pago do Departamento de Execução das Leis da Magia e usava seu tempo livre para aperfeiçoar suas artes dramaturgas na Academia Bruxa de Arte Dramática ou ABAD. Aos vinte anos Julieta declarou para o mundo e mais importante, para seus pais, que sua paixão era, na verdade, os contos, mágicos e trouxas. O que gerou certa insatisfação do Sr Revalvier que esperava que a filha seguisse uma “carreira de verdade”, que gerasse uma boa renda e futuramente uma família. Aos vinte e dois anos Revalvier publicou seu primeiro livro: “As Crônicas dos Irmãos Moore”. Após dez anos de fama e sucesso Julieta foi obrigada pela Suprema Corte dos Bruxos a parar de publicar livros infantis, graças às acusações da renomada Beatrix Bloxam que alegava que Julieta copiara algumas de suas histórias de contos trouxas e que, involuntariamente quebrara o Estatuto Internacional de Sigilo em Magia. Beatrix alegava que Julieta “copiava as histórias e trocava os nomes, além de revelar detalhes sigilosos sobre o mundo bruxo aos trouxas”. Julieta foi condenada a não publicar mais nenhum livro. Abalada a bruxa se mudou para a Argentina, onde passou alguns anos em retiro. Depois de muito tempo aproveitando o pouco de dinheiro que ainda lhe restava; Julieta Revalvier fora convidada pela diretora Crouch a voltar a Hogwarts, desta vez lecionando uma didática que possuía tudo o que ela sempre amara... Histórias.

Aquela seria a oportunidade de ouro para Alvo desvendar todos os mistérios que envolviam O Conto do Bruxo Linguarudo. Mesmo que o Prof Silvano ou o Prof McNaught houvessem rasgado a história de todos os livros de Hogwarts, ambos não poderiam calar uma sábia da literatura como Revalvier sem cometer um assassinato. O que não seria nada aconselhável. Mesmo que a professora não possuísse interesses em narrar à história medieval, Alvo usaria todas suas habilidades de persuasão para convencer a professora a fazê-lo, o que seria mais difícil sem a ajuda de seus amigos Rosa e Escórpio, que não participariam da aula já que a Grifinória faria par com a Lufa-Lufa em outra didática. Porém para alívio de Alvo, ele não precisaria lançar a professora seus olhos magoados nem fazer beicinho, já que seus planos eram semelhantes aos da Profª Revalvier...

A classe de Literatura Mágica ficava em nada mais, nada menos, que em uma pequena sala semicircular imitando a forma de funil da classe de

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História da Magia, anexada por uma portinhola à parte traseira da biblioteca. A sala era iluminada por fileiras de janelas côncavas, alinhadas em uma das partes curvas da sala. A nova, e única, professora de Literatura Mágica, Julieta Revalvier, estava sentada em sua miúda escrivaninha, lendo atenciosamente as entrelinhas de um livro de páginas amarelas, semelhantes a papiro. Seus olhos percorriam cada palavra digitada no papiro de forma tão lenta e cautelosa que muitos dos alunos que entravam na sala mal poderiam perceber que a professora estava lendo. Seu par de óculos para leitura estava meticulosamente pressionado conta seu levemente arrebitado nariz, em quanto seus belos cabelos loiros tocavam os ombros da mulher miúda e magra. Por alguns segundos Alvo imaginou que a professora poderia fazer parte de uma colônia de sereianos, caso possuísse guelras.

– Você de novo, Potter! – exclamou Ísis Cresswell quando ela se sentou ao lado de Alvo na sexta fileira de cadeiras. – Melhor eu me preparar se ficarmos nos esbarrando em cada aula que a Sonserina e a Corvinal fizerem juntas.

Alvo considerou aquilo um elogio – o que também poderia ser encaixado como um flerte de Ísis. Mas logo em seguida Alvo tirou seu foco de Ísis e o passou para o garoto de cabelos longos que acabara de entrar na sala de Literatura Mágica carregando rolos extras de pergaminho. Alvo se sobressaltou, ergueu o braço direito fazendo menção para que Lívio Black se sentasse ao seu lado. Naquele precioso, ou humilhante, momento a Profª Revalvier fechou seu livro de mil anos e ergueu seus olhos azuis da cor do mar para a turma.

– Conseguem ver? – perguntou a professora em um tom amigável baixando seus olhos vagos sobre a turma e erguendo com sua mão magrela seu livro feito de papiro. – Eis comigo uma das obras mais raras e fascinantes da história do mundo da magia. Uma obra prima, digna de ser chamada de best-seller, caso fosse escrita nos tempos atuais. O Cântico. Uma obra sem quaisquer registros sobre seu verdadeiro autor, mas capaz de tocar profundamente seus corações e suas almas. O Cântico consegue revelar-lhes um reino intocável, forjado por pedras soltas e desiguais. Um reino que mesmo pronto nunca foi encontrado ou utilizado por uma única alma pura humana. Como pode? Vocês crêem que uma fortaleza como essa poderia ser destruída por uma simples poeira? A poeira do tempo é uma das mais poderosas armas naturais. Não há matéria, líquida ou sólida, não há objeto, jóias ou barro que possam superá-lo. Somente um dom é capaz de seguir imortal, a palavra e a rima afinal, nunca, se sempre cultivadas, chegaram a seu final.

A Profª Revalvier suspirou, e com o corpo cansado e frágil, como se acabasse de lutar contra um trasgo, repousou o livro sobre sua escrivaninha. Os alunos não sabiam se aplaudiam ou se mergulhavam em lágrimas. Por fim tomaram a melhor das decisões, permaneceram em silêncio.

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– Um trecho retirado das últimas páginas do livro – afirmou a professora com uma voz mais rígida, comum em professores. – Como disse, não há nenhuma informação sobre o autor. Não se sabe em que época, ou em que língua original fora escrita. Mas, como o próprio autor escreveu, sua obra conseguiu superar a poeira do tempo através das rimas e das palavras contidas nela. Não se sabe quem há começou, mas até hoje a festa continua. Em quanto existir música nesta festa e pessoas dispostas a dançá-la, a festa nunca irá acabar. Qual é a fortaleza descrita? Quem a forjou? Por que as pessoas a perderam de vista? Está, talvez, pode ser a prova de que O Cântico é uma obra mais velha do que nossas cabeças consigam imaginar...

Alvo olhou discretamente para seus dois colegas ao seu lado. Ísis possuía meio pergaminho lotado de belas palavras escritas por sua caligrafia feminina. Lívio também possuía boa parte de seu pergaminho escrito, porém com uma letra não tão formosa quanto à de Ísis. Alvo sabia que deveria estar escrevendo algo, mas na verdade não sabia exatamente o que escrever. Pelo canto do olho Alvo espiou mais à frente. Lucas era outro aluno que escrevia rapidamente em seu pergaminho, mas ele logo se tranqüilizou quando percebeu um dragão junto às palavras do amigo.

– O mundo mágico é muito, muito antigo. O que torna as histórias e contos mágicos ainda mais antigos. O que, de um ponto de vista literário, é bom, pois enriquece cada história com mais detalhes, costumes e gostos de sua época original – continuou Revalvier, fazendo gestos para os vários livros empilhados sobre as prateleiras da sala de aula. – Nunca poderíamos estudar toda a história envolvendo a Literatura Mágica em tão pouco tempo. Um estudo detalhado sobre tal custaria no mínimo duas vidas! O que talvez não fosse o suficiente... Nós não iremos desvendar nem dois décimos de todas as obras existentes. Iremos aprofundar-nos, nos diferentes universos criados para nós. Explicitando datas e eras a fim de especificar os tempos de que elas provêem. Há muitas pessoas, bruxas e trouxas, que acham que literatura é algo vago. E que um livro não é nada mais do que palavras escritas aleatoriamente para divertir as pessoas ditas “chatas”. Aqueles que dizem isso são pessoas hipócritas, desafortunadas e sem cultura, que nunca foram apresentadas a verdadeiras obras literárias, as quais possuem o poder de criar novos mundos e usar nossas mentes como um projetor invisível. Essas pessoas são seres limitados a “A raposa e o sapo” ou “A Varinha e o Caldeirão”. Com sorte, eu farei com que vocês, alunos, mergulhem com satisfação dentro de cada parágrafo contido nos livros. Talvez, as histórias aqui apresentadas se misturem com nossas vidas sem emoção ou vice versa. E não me refiro somente aos livros da Seção Reservada que precisam ser acorrentados para não saltarem em suas cabeças.

Uma breve marola de risadas silenciosas e respeitosas invadiu os ouvidos da professora, que as retribuiu com um sorriso ameno.

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– Começaremos nossas aventuras literárias a partir das menores, porém mais importantes formas de contos e histórias. Ao em vez de iniciarmos nossas aulas com uma famosa festa, como O Cântico, ou um clássico literário, começaremos com algo mais accessível a suas mentes iniciantes ou até ignorantes. Necessito de voluntários! Alguém se arrisca a revelar-nos qual é seu conto favorito de infância?

Naquele momento Alvo estava pronto para botar seu plano em prática. Ele queria ser o primeiro caso o conto que ele planejava lançar a professora fosse longo. E Alvo não queria ser interrompido pela sineta. Porém algo que Alvo não acrescentara em seus planos ocorreu. A quantidade de alunos que se voluntariaram a revelar suas histórias favoritas era muito maior do que o garoto imaginara. Talvez a Profª Revalvier nem notasse o braço ansioso e apreensivo de Alvo.

– As Crônicas das Verruguentas e Narigudas Velhas Resmungonas – disse Irene com as bochechas enrubescidas. – Era minha favorita, quando pequena.

– Uma antiga história sobre três envelhecidas mestras da magia que levavam condimentos mágicos para uma feira trouxa. Um excelente exemplo, Srtª Mcmillan. Mais algum?

– Eu gostava de João e o Pé de Feijão. Sabem: do menino que encontra feijões mágicos e acaba na casa de um gigante – disse timidamente Kevin Marsten, o menino nascido-trouxa da Corvinal. – Também tem As Viagens de Gulliver.

– Estes são exemplos clássicos da literatura trouxa, Sr Marsten – afirmou a professora sorrindo. – Belos exemplos de que a magia está presente nos contos dos trouxas. Como vocês podem ver, a literatura é, também, uma maneira de integração entre este mundo e o mundo trouxa.

– Isso só prova que trouxas não têm criatividade – rangeu Héstia Pucey para outra garota da Sonserina. – Não conheço histórias bruxas que os copiem. Afinal, não há nada que mereça ser copiado.

Vários outros descreveram à classe seus contos favoritos. A grande maioria era familiar aos ouvidos das crianças com conhecimento do mundo bruxo, mas algumas outras passavam completamente despercebidas por Alvo. Mas o que mais estava irritando Alvo era que, por mais que ele esticasse seu braço – o que provocaria dores no dia seguinte – a Profª Revalvier mal o notava. Mais parecia que ela o ignorava de propósito.

– A Fonte da Sorte – disse Ísis terminando a bateria de contos exclamados e berrados pelos alunos.

– Uma notável menção a um dos contos do muito conhecido escritor Beedle, o Bardo. De fato, todas as menções feitas por vocês são de famosos contos muito populares entre a comunidade bruxa. E o que mais nos agrada é que cada um possui sua maneira de contar os contos para quem os ouve. Cada bruxo ou bruxa possui uma versão nova de cada conto. Geralmente passada de geração há geração...

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Alvo sentiu que aquela era sua deixa. Mais um segundo e a Profª Revalvier poderia se perder novamente dentro de cada linha dos livros que ela conhecia. Sem rodeios, Alvo se precipitou e ergueu bruscamente seu braço. Aquela seria sua última tentativa de chamar a atenção da professora...

– Sim, Sr Potter.– Professora, há alguns anos, um conhecido de meu pai mencionou uma

história muito antiga e rara de se encontrar – mentiu. – Ele havia sim tomado algumas doses a mais de uísque de fogo, mas acredito que tal conto seja verídico. Professora, talvez a senhora pudesse nos contar algo sobre O Conto do Bruxo Linguarudo?

O rosto de Revalvier se iluminou como se depois de muito tempo algum aluno finalmente tivesse coragem em pronunciar as palavras que a professora tanto sonhava em ouvir. Cordialmente, Revalvier se encostou a sua escrivaninha e começou a percorrer com o olhar os livros que ela continha em sua sala.

– Como você mesmo disse, Sr Potter, O Conto do Bruxo Linguarudo é, de fato, um conto muito raro de seu ouvir falar. Existem muitas formas de contar esta história. Existem mentiras envolvendo este conto, além de palavras de baixo calão. Mas no final das contas todas partem do mesmo princípio e sempre terminam no mesmo fim. Não fui muito familiarizada a este conto, Sr Potter, mas não é por isso que eu o desconheço. Assim como O Cântico, o autor de O Conto do Bruxo Linguarudo é desconhecido. Todavia existem lendas de que o próprio Bruxo Linguarudo foi quem a escreveu. Mas não gostaria de misturar fatos reais com lendas urbanas. São várias as maneiras de iniciar esta narrativa. Eu, Julieta Revalvier, prefiro esta:

“Há muitos anos um bruxo, ainda na flor da idade, vagava sem nenhum rumo por uma estrada de terra ao raiar do dia. Aquele bruxo era um renomado artesão que fora agraciado por divindades a possuir o dom de criar qualquer objeto, desde fundir metais a construir varinhas e vassouras. Ninguém sabia seu verdadeiro nome. A cada parada em cada cidade ele se identificava como uma pessoa diferente. Seu aclamado dom possibilitara ao artesão o preparo de poções com perfeição. Sua principal arma era a Poção de Troca Temporária de Personalidade Humana, ou como se diz, Poção Polissuco. Porém esse artesão não poderia ser envolto somente com auras agraciadas e divinas. Um de seus maiores pecados eram a avareza e o egoísmo. E seu pior habito era o incontrolável desejo de contar aos outros, o que deveria ser segredo de seus confidentes. Sua notável habilidade de fofocar gerou, entre os bruxos que o conheciam através de seus trabalhos artesanais ou balísticos, o apelido de O Bruxo Linguarudo. Como o artesão vagava de cidade em cidade, sem tempo fixo ou data certa de despedida, ele era um homem solitário, mas muito bem camuflado, pois como os deuses gregos costumavam fazer – e o artesão seguia suas regras como um devoto segue seus mandamentos – o artesão

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costumava passar sua estadia em cada vila com uma mulher diferente. O único problema era que ele geralmente a engravidava. Porém certa vez o artesão acabou se apaixonando por uma trouxa que pouco ligava por suas artes de modelar. A trouxa já estava de data marcada para esposar com um poderoso duque, mas nada que pudesse irritar o artesão, que loucamente utilizou de toda sua experiência para encantar a jovem. Quando finalmente conseguiu que a jovem se apaixonasse por ele, o boato de que ele estava tentando conquistar a bela jovem chegou aos ouvidos do duque, fazendo com que pela primeira vez o artesão sentisse de seu próprio veneno. Louco por ter sido traído pela mulher que um dia ele amara, o duque resolveu se vingar do artesão e da jovem de uma só vez, já que não possuía mais nenhum sentimento pela tal o duque resolveu envenená-la. Louco o artesão jurou vingança ao duque e assim deixou a cidade em busca de alguma magia que pudesse enfim, trazer sua amada de volta a vida. “E foi nesta estrada de terra suntuosa e esburacada que o artesão desacreditado e envolto por uma sede de vingança descobriu um meio de realizar seu sonho de trazer a jovem de volta.”

“Já eram seis e meia da manhã, após aquela longa caminhada sem destino, quando o artesão caiu no chão desacreditado da vida. Ele não esperava nunca mais voltar a encontrar sua amada. Louco por ter sido enganado por um duque desonesto e indigno de esposar-se com uma doce e honorável dama como a que ambos disputavam, o artesão deitou-se no chão de terra imitando um morto. E assim esperara para que a morte o abrasasse após alguns dias sem água ou comida. Como o bruxo artesão previra, ao fim da segunda noite deitado naquela terra esquecida por Deus, a Morte apareceu na espreita como um abutre à espera de sua comida. Seus braços esqueléticos se esticaram para abraçar o artesão por uma última vez, porém o bruxo continuava lúcido e aproveitou a oportunidade para abordar a Morte cara a cara. Sem mais nenhum medo, sem nenhuma preocupação.”

“Revoltada por ter sido enganada por um mero mortal, a Morte quis humilhar o bruxo e brincar com sua mente, forçando-o a reviver os momentos que ele passara junto de sua amada dama. Quando o homem já estava próximo de um colapso nervoso a Morte resolveu fazê-lo sofrer ainda mais. Ela estava convencida a prender o homem em sua forma viva para ele vagar pelo resto da eternidade sozinho, somente revivendo mentalmente como fora bom estar com sua dama. A Morte então começou a ludibriar e encher a mente do artesão desesperado de mentiras. Ela alegou que poderia aprimorar as habilidades do artesão fazendo com que ele pudesse construir algo nunca antes imaginado, bastando receber apenas um presente vindo do artesão. Esse, porém, não queria perder a oportunidade de realizar suas vontades e desejos. Então ele pediu a Morte à habilidade de criar um objeto, ou um portal, capaz de trazer de volta aqueles queridos já levados por ela. Relutante, a Morte

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acabou aceitando o pedido. Mas sem contar ao artesão, acabou levando o pedido ao pé da letra, concedendo-o o poder de construir a ferramenta, mas não de usá-la. Como troca de favores a Morte recebeu seu presente após realizar o desejo do artesão. Em troca, a Morte recebera parte da alma do bruxo, condenando-o a vagar pelo mundo dos vivos até que sua obra fosse completada.”

“Se passados anos, a notícia de que o artesão retornava para matar o duque que fora tão severo com ele se espalhara por vários reinos. Pelo que se sabe fora o artesão quem provocara a avalanche que levara a carruagem do duque e de sua nova família, mas isso são apenas hipóteses.”

“Décadas se passaram, e quando percebera que somente quando terminada sua obra poderia partir, o artesão dedicou cada segundo de sua existência imortal trabalhando no que ele batizara como Olho entre os Mundos. Mas, infelizmente, por conta de sua irresistível vontade de gabar-se de si próprio e de mentir esposar-se com as filhas dos donos de fazendas, o artesão ganhou muito foco junto aos nomes de bruxos a serem seqüestrados ou assassinados, mas nenhum caçador de recompensas conseguiu aprisioná-lo. Finalmente o artesão sem nome verdadeiro conseguiu completar sua obra. A ferramenta hexagonal em forma de caixão capaz de trazer os mortos de volta à vida e contrariar todas as leis da magia estava pronta. Todavia, no último segundo, quando o artesão estava próximo de ativar a máquina e trazer sua mulher de volta, a Morte apareceu, pronta para levá-lo. Como último suspiro de vida, o artesão selou sua obra, de certa maneira que impedia os mais ousados de abri-la. Somente as pessoas certas e de coração puro poderiam utilizar da obra do artesão. Segundo as lendas que envolvem este conto, somente um bruxo ou bruxa que possua o mesmo sangue que o artesão pode usufruir do poder do Olho.”

Ao fim da detalhada explicação da Profª Revalvier, a turma toda repousou em um mórbido silêncio. Mas nenhum aluno ficara mais calado até o fim da aula do que Alvo. Estava mais calado do que Lívio. Alvo ficara processando cada informação dita por Silvano a McNaught e cada parágrafo ditado pela professora com relação ao conto do artesão que desafiara a morte. O qual Alvo, diferente dos bruxos dos tempos antigos, sabia seu nome. Era Albrieco Ambratorix.

Tudo fazia sentido naquele momento – o que fazia a idéia de ter dois professores conspirando secretamente embaixo do teto de Hogwarts ficar cada vez mais assustadora. E algo mais incomodava Alvo. Segundo o Prof Silvano, Ambratorix engravidara várias mulheres de sangue-puro – o que também fora dito pela Profª Revalvier – e que uma das famílias que possuíam ligações com o bruxo medieval era a Peverell, a família estritamente relacionada à’ O Conto dos Três Irmãos e as Relíquias da Morte. Mas ainda havia algo que incomodava o subconsciente de Alvo. Alguma ligação milenar que o escapava naquele momento. Porém Alvo

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concluiu que não fazia muita importância. Naquele momento ele aguardava ansiosamente o soar da sineta para poder contar tudo o que ouvira da Profª Revalvier à Rosa e Escórpio.

Capítulo NoveSonserina vs. Lufa-Lufa

otter! Malfoy! E Weasley, também! Silêncio! – resmungou a Profª Minerva para Alvo, Escórpio e Rosa durante a aula de Transfiguração daquela quarta-feira. A Profª McGonagall

ensinava aos alunos da Sonserina e da Grifinória como transformar um morango em uma batata. Porém Alvo tentava, a cada momento em que a professora fazia uma pausa para demonstrar aos alunos como executar o feitiço com perfeição, para evitar que o morango se transformasse em batatas fritas, contar aos amigos todas as informações que ele recebera da Profª Revalvier, em quanto ela inocentemente recitava o conto de Ambratorix para a turma. Alvo sabia que aquele não era o momento mais oportuno para contar aos dois tudo o que ele descobrira, mas Alvo sabia que, até o fim da tarde, seria o único momento que os três passariam juntos. Afinal era quase uma lei Alvo comparecer no campo de Quadribol ao final de suas aulas para os extras e importantíssimos treinos que Erico havia programado nos últimos dias antes do jogo de estréia da Sonserina no domingo. E Alvo não teria de se preocupar com seu parceiro de trabalho, já que Lucas estava demasiadamente entretido com a tarefa de

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transformação para prestar atenção no que o amigo estava cochichando. Ainda mais sendo com grifinórios.

– Meu morango já foi transfigurado, professora – alegava Rosa tentando mudar a atenção da Profª McGonagall do grupo de Rosa para o de outros alunos com dificuldade em realizar a tarefa.

– Estou vendo, Srtª Weasley. Mas o de Potter e o de Malfoy ainda são meros morangos – disse a professora, relutante. – O de Potter poderia ser usado para fazer um milk-shake! E o de Malfoy não serviria para nada! Sugiro que os senhores falem menos e concentrem-se mais em seus feitiços... Finnigan, seu morango possui patas!

A cada palavra que Alvo dizia a Escórpio e a Rosa sobre o conto de Ambratorix, a expressão de cada um mudava de forma drástica. A cada segundo Escórpio ficava mais entusiasmado com a oportunidade de estar prestes a mergulhar de cabeça em uma aventura mortal. Já Rosa ficava cada vez mais horrorizada e espantada. Talvez pelo fato de ter sido Alvo a descobrir tudo sobre a história do artesão misterioso e não ela; talvez por perceber que realmente professores conspiravam secretamente em Hogwarts, e um deles ela admirava perdidamente, ou que a história de Ambratorix se tornava cada vez mais sinistra, horrenda e capaz de transformar drasticamente o atual equilíbrio de paz que pairava sobre o mundo da magia.

– Então é isso, não é? Temos de embarcar nessa! – afirmava Escórpio eufórico, porém com plena consciência de suas palavras.

– Sr Malfoy! – bradou a Profª Minerva – Se não fechar sua boca e realizar a tarefa que eu mandei... Eu lhe transformarei em um furão!

– Já chega – bufou Rosa apontando sua varinha para o morango de Cameron. – Corpus Mutare.

A fruta de Cameron Creevey começou a mudar de forma. Não da maneira que a professora McGonagall esperava, transformando a fruta em um legume, mas sim fazendo com que o nobre e inocente morango se transformasse em um morangueiro tão grande que tocava o teto da sala de Transfiguração. Alguns alunos de ambas as casas saltaram de suas carteiras à medida que o revolto morangueiro atirava suas frutas na cabeça dos estudantes.

– Agora teremos privacidade para conversar – disse Rosa com desdém, admirando sua travessura, orgulhosa.

– Creevey, o que fez? – bradou a Profª McGonagall desviando dos morangos que o morangueiro lançava em direção a seu chapéu cônico. Cameron, por outro lado, se mostrava assustado e acovardado. Gritava para a professora que não fizera nada, que seu morango somente havia mudado de forma sem que ele notasse. O que era a pura verdade. – Deve ter sido uma reação a grande quantidade de feitiços que o senhor lançou no morango. Srtª Longbottom, chame seu pai... Digo, o Prof Longbottom! Diga que é um caso de urgência. Posso acalmar este morangueiro, mas não destruí-lo.

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– O que está havendo? – perguntou uma voz engraçada e ao mesmo tempo sarcástica às costas da professora.

Pirraça, o poltergeist espreitava perto da porta da sala de aula. Como uma formiga atraída por açúcar, Pirraça chegara rapidamente à sala de Transfiguração ao ouvir um zumbido de tumulto. Com uma pirueta, o poltergeist mergulhou e apanhou alguns morangos do chão e começou a lançá-los contra o quadro negro e contra alguns alunos.

– Prewett! Ache o Sr Filch! Peça para que ele chame o Barão Sangrento – urrava a professora, entre feitiços que ela lançava no morangueiro e advertências ditas a Pirraça. – Você será aprisionado nas masmorras! Farei com que a Profª Crouch o puna!

– Minerva McGonagall. A gatinha que tem medo de altura. Venha me pegar, para depois me castigar! – cantava Pirraça para provocar a professora.

– Não podia simplesmente explodir algo? – perguntou Escórpio desviando com seu livro de transfiguração os morangos lançados por Pirraça e pelo Morangueiro Revoltado.

– Achei que não fugiria do controle! – Rosa estava enrubescendo cada vez mais. Suas orelhas estavam tão vermelhas quanto os morangos atirados como balas pelo poltergeist. – Então, o que faremos com relação ao Prof Silvano e ao Prof McNaught? Ainda acho que deveríamos contar a Profª Crouch.

– Não existe esta alternativa – repetiu mais uma vez Alvo.– E o que você pretende fazer, Sherlock Homes? – perguntou Rosa

irritada.– Sugiro darmos um tempo. Esperar Silvano e McNaught darem o

próximo passo.– Então quer deixar os dois seguirem impune até que um ressuscite

Voldemort e o outro Grindelwanld – retrucou Escórpio irônico.– Disse para não cutucarmos demais a ferida. Não deixar de observá-la.

Acho melhor não darmos a nossos queridos professores mais motivos para desconfiar de nós – Alvo abaixou sua voz. – Já foi muito arriscado ouvir a conversa dos dois. Será melhor que eles acreditem que na verdade foi somente o vento quem provocou o barulho na noite do Dia das Bruxas. Em minha opinião, deveríamos somente ficar observando-os com mais atenção, mas sem dar muita bandeira.

– Tem certeza do que está falando, Potter. Não quero voltar para casa gelado em cima de uma mesa.

– Se me conhece só um pouquinho... – começou Alvo erguendo o olhar para Escórpio e rebatendo uma chuva de morangos com seu exemplar de Guia de Transfiguração para Iniciantes. – Já deveria ter percebido os mil motivos que dei para não confiar no que digo.

Os últimos quarenta minutos a aula de Transfiguração foram suspensos a partir do momento em que o Barão Sangrento atravessou as paredes da sala de aula a todo vapor berrando xingamentos e ameaças para Pirraça,

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que se encolhera em um canto da sala atrás do Morangueiro Revoltado. Já haviam contado a Alvo que o único ser no mundo, vivo ou morto, capaz de controlar o poltergeist irritante e inconveniente era o Barão Sangrento. Mas nunca contaram a Alvo como ele o fazia. E pelo jeito não era nada muito agradável de ver, pois os alunos foram evacuados pelo Sr Filch e pela Profª McGonagall para fora da sala. Poucos minutos depois o Prof Longbottom adentrou a sala disposto a controlar o Morangueiro sem danificá-lo, pois o professor ainda possuía esperanças de cultivar uma espécie bela como aquela em suas estufas.

Os treinos realizados por Erico naquela quarta-feira não foram muito diferentes dos realizados nos dias anteriores. Porém algo alegrava o capitão. Segundo ele, um grande fã da rádio filial do Sistema de Controle e Observação Climática dos Bruxos, o domingo seria de sol, porém com fortes rajadas de vento frio e possíveis trombas d’água – algo muito comum no inverno – similar ao que se apresentava naquela quarta-feira. Erico reforçou sua impecável formação dragão, e corrigiu os erros de posicionamento de seus companheiros. Alvo, como de costume, fora observado pelos olhos atentos a detalhes de Demelza e de uma admiradora que ele desconhecia.

Mesmo tendo perdido sua vaga na equipe da Sonserina, Sara Aubrey não demonstrava nenhum sinal de inveja. Alvo concluíra que, ou ela não guardava mágoas dele ou a terceiranista era uma excelente atriz e esperava o melhor momento para envenenar o suco de abóbora matinal do apanhador. Alvo preferia à primeira.

A manhã de domingo amanheceu da maneira que Erico Laughalot tanto ansiava. O sol brilhava sem muitas forças e o céu se assemelhava a uma imensidão azul, mas continha nuvens carregadas em forma de algodão que tampavam a grande bola de fogo que clareava todo o país. Mesmo com a primeira vitória da Grifinória no dia anterior, Erico se mostrava inabalável. O que surpreendia a todos, principalmente aos grifinórios de seu ano que precisavam de muita criatividade para irritar o capitão.

Já na hora do café os nervos já se mostravam a flor da pele de todos os estudantes e professores. Os alunos da Lufa-Lufa, guiados pela Profª Vector (que depois de muitos anos retirou sua antiga túnica amarela de seu armário, porém esta ainda continha um desagradável cheiro de naftalina) ensaiavam gritos de guerra e canções para desnortear os adversários a todo volume, o que provocou alguns conflitos entre os alunos do sétimo ano da Sonserina com os eufóricos da Lufa-Lufa. Se não fosse o Prof Longbottom, Nico Higgs teria sido esmurrado no nariz por Daniel Fincher, o batedor da Lufa-Lufa. Enquanto os alunos do último ano trocavam xingamentos e murros, o Prof Slughorn se mostrava inalterável, desfilando pela mesa da Sonserina com suas vestes verdes de linho e seu sorriso bobo. A cada membro da equipe, Slughorn abraçava com entusiasmo e sussurrava alguma coisa ao pé de seu olvido.

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– Deve estar oferecendo notas extras por boa conduta – resmungou Isaac ajeitando seu distintivo colorido que umas garotas da sonserina distribuíam pelo Salão Principal. – Ele deveria ganhar a Ordem de Merlim por “bajulações sonserinas”.

– Alvo meu rapaz! – exclamou o alegre professor de Poções puxando Alvo pela manga de seu uniforme de Quadribol e o envolvendo em seus braços fofos. – Um bom jogo para você, meu garoto. Quem sabe se a Sonserina ganhar hoje eu me alegre tanto que me esqueça do seu dever de casa e do Sr Prescott. – Slughorn sorriu para Isaac, mesmo depois de ter errado seu nome.

– Obrigado, senhor! – exclamou Isaac saltando para fora de sua cadeira e agarrando a mão de Slughorn. – Tenho certeza de que nosso amigo, Alvo, não irá nos decepcionar hoje!

– Do que está falando, Prescott? – perguntou Slughorn parecendo ofendido. O professor lançou outro sorriso a Alvo e seguiu para perto de Demelza e Cadu que conversavam a poucos metros dele.

– Meu nome é tão complicado de ser dito?– Não. Manias de nosso chefe de casa.– Bom, se ele mantiver a promessa... Ótimo, sou o Sr Prescott! Então,

Alvo, mantenha o foco e pense neste distintivo que tive de comprar – Isaac apontou com o indicador para o distintivo que brilhava sobre suas vestes.

Pela primeira vez Alvo prestou mais atenção no que diziam as letras prateadas que saltavam de um lado para o outro no distintivo de Isaac.

Vamos arrasar! Vamos ganhar!E aqueles malditos lufalufinos detonar!

Depois o distintivo dava uma pirueta fazendo com que as palavras dessem lugar a uma maliciosa cobra enroscada sobre um texugo velho e acabado.

– Custou um sicle – afirmou Isaac em tom de orgulho.Com toda aquela agitação os alunos e professores mal notaram a

revoada de corujas que avançou pelo Salão Principal entregando as correspondências aos alunos de Hogwarts. Alvo imaginava que a costumeira carta matutina que sua mãe enviava contivesse votos de boa sorte para o jogo de estréia. Mas quando Artie, a coruja cinzenta e gorducha de Alvo aterrissou próximo ao prato do café dele, algo o dizia que o que continha na carta era muito mais que apenas votos de boa sorte. Relutante e curioso, Alvo rasgou o envelope e abriu a carta escrita por sua mãe.

Querido, AlvoO Natal está se aproximando e com isso você deve decidir se vai ou não

voltar para casa para passar o feriado conosco. Sugiro que não tarde em fazê-lo, pois se ainda for como era em meu tempo, a Profª McGonagall não vai gostar nada de receber seu bilhete em cima da hora. Imagino que

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está pergunta fosse facilmente respondida por você. “Sim mamãe, quero passar o feriado com você, já que estou morrendo de saudades.” Mas creio que já está na hora de você saber exatamente o que está acontecendo aqui fora, Al. Seu pai e eu estávamos protelando ao máximo dar-lhe está notícia, mas como o feriado se aproxima... Bem, acho que está na hora de você, seu irmão e seus primos saberem de tudo...

Não houve nenhum sucesso em tentar trazer sua tia-bisavó Muriel para morar n’ A Toca com sua avó. Pode acreditar, foi uma decisão que alegrou muito seus tios. Seu tio-avô Elias mal deu sinal de vida. Enviamos todas as nossas corujas com cartas urgentes para ele, mas sempre foi muito difícil de encontrar seu tio-avô. Ele deve estar viajando pelo mundo com sua família. O que dá grande trabalho às corujas para localizá-lo.

Antes que você se descabele com esta informação, quero que saiba que fora muito difícil para todos nós, os adultos é claro, chegar a esta decisão. Espero com o coração apertado que não fique muito abalado com a notícia, mas... Nós resolvemos vender A Toca.

Colocamos o aviso de venda a alguns meses em jornais trouxas e no Profeta (não imagino que nenhum de vocês leia a seção de classificados). Há alguns dias recebemos uma proposta muito boa de uma família trouxa disposta a pagar uma boa quantia pelo terreno. Não sei se o que seu tio Percy disse foi verdade, mas a família trouxas esta disposta a derrubar A Toca para levantar uma casa nova. Pelo menos o pomar ficará intacto.

Estou lhe contando tudo isso porque está em nossos planos esvaziar A Toca durante o feriado. Será nosso último Natal lá, mas eu e seu pai iremos entender se você preferir ficar ai em Hogwarts para não ter de sofrer mais do que já deve estar sofrendo.

Mil beijos em suas bochechinhasGinaPS: Seu pai me contou que hoje será seu primeiro jogo de quadribol

como apanhador da Sonserina. Então boa sorte, querido, e capture esse pomo como um Potter faz.

Alvo mal teve estômago para se alegrar com o desejo de sorte de sua mãe. Seu corpo havia desabado como se ele fosse obrigado a carregar todo o equipamento da equipe da Sonserina em suas costas mais seus componentes. Como os adultos chegaram à decisão de vender algo tão precioso para Alvo quanto A Toca, que atravessou várias gerações junto à família Weasley. E ainda vender para sangues-ruins como o dessa família trouxa miserável que teria a ousadia de derrubar A Toca. E onde se enfiava esse tal de tio Elias, que mal dava as caras para saber como ia seu irmão. Talvez ele não fosse realmente o melhor bruxo a tomar conta d’ A Toca. Talvez ele fosse uma dessas pessoas que venderia a casa somente para comprar uma garrafa de hidromel. Revoltado, Alvo amassou a carta de sua mãe com raiva e a jogou em um canto fazendo Artie piar assustado e levantar vôo desesperadamente. Depois de ver sua

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coruja voar para longe dele, Alvo espichou o pescoço para ver se os outros Weasley também haviam recebido suas cartas.

Na mesa ainda festeira da Lufa-Lufa, Vitória, Dominique e Luís trocavam cotoveladas para tentar ler a carta que a tia Fleur havia escrito em quanto se debulhava em lágrimas. Na mesa da Corvinal, Molly lia atentamente cada parágrafo rígido que sua mãe, a tia Audrey, havia escrito pouco antes de sair para seu trabalho no Ministério. Já na mesa da Grifinória, Alvo pode ver com clarividência Rosa levar as mãos à boca em quanto seus olhos enchiam-se de água. Também era possível ver a cara de ira de Tiago em quanto Fred lia em voz alta a carta que a tia Hermione enviara.

– Vamos, Al! Está na hora! – alertou Erico puxando Alvo pelo ombro e o levando para o meio da multidão de alunos e professores que deixavam o Salão Principal em direção ao campo de Quadribol.

Alvo mal pode prestar atenção nas últimas instruções que Erico lhe dizia pelo canto do ouvido enquanto os dois mergulhavam na aglomeração de eufóricos alunos que cantavam, provocavam e gritavam pelos corredores da escola. Alvo só pensava na carta enviada por sua mãe. Na injustiça que os adultos cometeram ao resolver vender a casa sem ao menos pedir a opinião dos mais novos. Alvo estava decidido em enviar uma carta para a mãe dizendo que de maneira alguma iria passar o Natal destruindo tudo o que o vovô Weasley levara a vida construindo...

Mas Alvo deveria espantar aqueles pensamentos, nem que por alguns momentos. Ele deveria se focar somente nas instruções e táticas passadas por Erico durante os meses anteriores. Alvo não poderia decepcionar os sonserinos depois de tudo...

Enquanto Alvo atravessava o caminho de terra que levava ao campo de Quadribol. Algumas figuras incomuns começavam a aproximar-se dele à medida que o grupo de estudantes passava pelas portas da cabana de Hagrid. Alvo comprimiu os olhos para enxergar as seis figuras que caminhavam na contramão em direção ao apanhador. Possivelmente os estudantes seriam vaiados pelos sonserinos que passavam ao seu redor, porém os cinco grifinórios estariam seguros enquanto andassem junto à figura gigantesca do Prof Hagrid.

– Viemos desejar-lhe boa sorte, pequeno explosivim – disse Tiago ao aproximar-se do irmão mais novo. – Já que a Grifinória ganhou ontem, não temos com o que nos preocupar. Infelizmente, não pude fazer nada além de torcer.

– Arrebenta com eles, Al! – exclamou Agamenon sorrindo.– Anseio que a partida não demore muito – disse Rosa ainda atordoada

após ler a carta enviada por sua mãe. – Digo, ah, boa sorte.– Espero que não quebre nenhum osso, Potter! – resmungou Escórpio

sorrindo abobalhadamente. – Significa boa sorte, no quadribol... Deveria saber disso.

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– Confesso que nunca, nunquinha em minha vida eu torci pela Sonserina, Al – afirmou Hagrid sério. – Mas por você eu abro uma exceção. Mas não me peça para não ficar feliz quando acertarem um balaço naquele tal de Laughalot. Como professor não eu posso dizer nada contra o rapaz, mas como guarda-caça eu posso afirmar que ele não é um sujeito muito amigável.

– Tudo bem – assentiu Alvo, lembrando-se de como Erico tratou Bowy, o elfo doméstico da cozinha no dia dos testes. – Me sinto bem melhor sabendo que vocês estão torcendo por mim. Alegra-me muito depois de saber que venderão a Toca.

Hagrid pigarreou.– Ah, Agamenon, Malfoy... Acho que deveríamos ir pegando alguns

lugares. Sendo como sou as pessoas não gostam muito que eu fique na primeira fila.

– É, também acho que seja uma boa – garantiu Agamenon se adiantando e deixando Alvo, Rosa e Tiago sozinhos. – Estaremos guardando lugares para vocês.

– Você já soube? – perguntou Tiago quando Hagrid, Escórpio e Agamenon entraram no campo.

– Todos nós já soubemos, irmão – Alvo se mostrava impaciente. – Quer dizer, fomos os últimos a sermos informados da venda. Até Lílian e Hugo souberam antes de nós. Ficamos em último plano.

– Eles só não queriam nos magoar – disse Rosa tentando defender os parentes.

– E agora estou radiante! – exclamou Alvo debochando. – Que diferença faz se nos avisassem depois de terem colocado a Toca a venda? E por que não nos perguntaram o que achávamos da venda?

– Não faria diferença o que achamos ou deixamos de achar – comentou Tiago.

– Então estão dispostos a passarem o Natal desmanchando a casa no mesmo instante em que a vovó chora pelos cantos. Dizendo que foi a poeira! – a cada minuto a quantidade de alunos diminuía. Alvo estava começando a se atrasar.

– Não dissemos que o faríamos! – protestou Rosa.– É verdade, Alvo-fofoqueiro. Nenhum de nós tem a mínia intenção de

sair de Hogwarts nas férias – Tiago se mostrava firme, como se tentasse mostrar a Alvo que ele era o mais velho. – Nem Luís, nem Dominique, Fred ou Molly estão interessados em deixar a escola. Somente Vitória terá de voltar para a Toca, pois foi intimada pela tia Fleur a passar o Natal com a família.

– Ela tem medo que Teddy de um pulinho aqui na escola para se agarrar com sua filhinha perfeita. Diz que é melhor ter Vitória sob seus olhos – contou Rosa baixinho.

– Potter, o que está fazendo?! – berrou Demelza correndo a toda velocidade e agarrando o braço de Alvo como um esfomeado quando

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encontra um prato de comida. – Erico está quase tendo um ataque do coração. E você está aqui com esses... – por um instante Alvo, Rosa e Tiago estavam esperando ouvir a palavra “traidores do sangue” ser ditas por Demelza, porém ela se conteve. – Vamos logo!

Demelza guiou Alvo até o vestiário da Sonserina, um lugar não muito diferente dos habituais refúgios dos garotos serpentes. As paredes eram de pedra polida. Os bancos e as pias eram negros com detalhes prateados e com serpentes da mesma cor espalhadas por todas as quinas do recinto. Em cima dos bancos deveriam estar as vestes completas com todos os equipamentos dos jogadores, naquele momento, porém só continham dois pares de vestes. Um menor, o de Alvo, e outro maior, o de Demelza.

– Aqui está seu apanhador! – exclamou Demelza apontando com o indicador para Alvo.

– Onde você... Não importa... Hoje, ah... – Erico suava frio, a todo o momento ele abanava o pescoço molhado com uma das mãos. – Está na hora. E espero o máximo de vocês, caras...

– E garota – completou Demelza ofendida.– E garota – repetiu. – Hoje é o grande dia, nós treinamos arduamente e

hoje...– Já sabemos o que vai dizer – disseram Nico e Demelza ao mesmo

tempo. – É, capitão. Eustáquio disse a mesma coisa nos anos anteriores.– Mas os outros não o ouviram! – Erico bateu o pé. – Esse é o melhor

ano para a Sonserina. Eustáquio venceu ano retrasado, mas nos outros foi vice. Não quero voltar para casa com os grifinórios apontando o dedo para mim. Vamos vencer!

Mas seu olhar não mostrava tanta convicção.– Rápido, peguem suas vassouras! – e com um salto, Erico se lançou

para sua Nimbus 2010. Seu olhar caiu sobre a Firebolt. – Ela é sua hoje, Potter.

Alvo terminou de abotoar suas vestes e correu para a Firebolt. Antes de sair do vestiário, Alvo encarou cada jogador com bastante atenção. A cada vez que um membro da equipe se aproximava, Alvo estudava sua aparência para saber se a sensação que ele estava sentindo era normal. Queria saber se os demais alunos também sentiam o mesmo nó no estômago que ele sentia. Era uma sensação estranha, como se um grupo de grifinórios houvessem sabotado seu suco de abóbora e colocado algumas gotas de Poção de Enjôo no suco matinal. Mas não havia mais escapatória. Alvo demonstrara que herdara o dom dos Potter de dominar a vassoura como um peão domina seu cavalo. Aquele era o primeiro jogo da temporada, mas que também influenciava a Taça das Casas. Se a Sonserina ganhasse o primeiro jogo contra a Lufa-Lufa alcançaria a primeira posição, superando a Corvinal que somara o maior numero de pontos até aquele domingo de novembro.

Pela primeira vez Alvo entrava no campo de Quadribol de Hogwarts e via exatamente o que fora descrito por seus pais e tios. As arquibancadas

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que já haviam sido magras, esqueléticas e assustadoras tomavam uma aparência festiva com bandeiras e bandeirolas das equipes sendo abanadas de um lado para o outro animando ainda mais a festa dos torcedores. Os alunos das quatro casas estavam muito mais animados do que de costume, embora os da Grifinória e Corvinal fizessem apenas o papel de frios críticos esportivos. Os professores começavam a tomar seus lugares e seus convidados também. Entre o Prof Slughorn e a Profª McGonagall, o Maligno Eduardo Jones dava as boas vindas aos torcedores segurando o megafone próximo aos seus lábios.

“E ai vem o time da Sonserina” começou Eduardo sobre os gritos eufóricos dos sonserinos e das vaias dos lufalufinos. “O capitão e artilheiro Laughalot, seguido por seus dois companheiros de posição Willians e Branstone. Mais atrás os batedores Murdock e Beetlebrick. Por último e não menos importante, o goleiro Higgs e o primeiranista mais popular da casa, Potter!”

As arquibancadas sonserinas ensaiaram um cântico para Alvo, mas o tumulto era tanto que Alvo mal pode distinguir seu nome.

Poucos minutos depois a equipe da Lufa-Lufa chegou ao campo para partida. Seus uniformes amarelos deslizavam pela grama rala e bem aparada do estádio de Hogwarts. Naquele momento os papéis se inverteram. A torcida da Lufa-Lufa que cantava os nomes dos jogadores enquanto a da Sonserina vaiava. Geralmente o uniforme da Lufa-Lufa causava náuseas aos oponentes quando a luz do sol radiante tocava nestes. Naquele domingo, para sorte de Erico e de todo o time sonserino, o sol estava encoberto por nuvens algodão que lançavam uma leve cortina d’água sobre o campo.

“Ai está o time da Lufa-Lufa” gritou Eduardo, desta vez, mais entusiasmado. “O capitão Summers, seguido da belíssima artilheira Templeton, os McLeod, Fincher, Alderton e nosso apanhador... Humberstone!”

– Capitães – disse o Prof Towler pedindo que os capitães de cada equipe dessem um passo à frente. – Eu quero um jogo limpo. Sem faltas ou ossos fraturados. Entendido? Apertem-se as mãos.

Laughalot e Summers não tiveram nenhum problema do tipo, um tentar fraturar os dedos do adversário. Simplesmente apertaram as mãos sem nenhuma cerimônia. Pelo rabo do olho, no mesmo momento em que os capitães voltavam para junto de suas equipes, Alvo espiou sua torcida. Isaac, Ralf, Perseu, Lucas e até mesmo Antônio abanavam suas flâmulas e bandeiras verdes e prateadas pelos ares. Do outro lado da arquibancada verde e prata, os Nott discutiam táticas de jogo para o Sr Filch que somente balançava a cabeça positivamente. Por um segundo, antes do Prof Towler ordenar que todos montassem em suas vassouras, Alvo se sentiu mais confiante. Sentiu como se ele fosse três vezes maior que Humberstone, e que esse fosse tão desnorteado e fora de si quanto um diabrete.

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– Ao soar do apito – bradou o professor e árbitro chutando a familiar caixa retangular libertando os dois balaços e o pequenino pomo de ouro. Towler colocou cuidadosamente seu apito prateado na boca e agarrou a maior das bolas do Quadribol, a goles. – Três... Dois... Um...

Alvo não conseguiu ouvir o soar do apito do Prof Sabino. Os gritos eufóricos vindos das arquibancadas se misturaram com o pio vindo do projétil de prata. Quando o Prof Towler lançou a goles no ar todos os jogadores levantaram vôo. Alvo foi o último a deixar o chão, mas logo pode sentir a velocidade da Firebolt emprestada, pois rapidamente Alvo tomou distância e superou os dois batedores lufalufinos.

“A goles é lançada pelo Prof Sabino Towler; inicio de jogo! Laughalot rouba a bola de Templeton – mas não desanime Templeton. Você é mais jogadora e mais bonita do que ele, e...”

– Jones! – censurou a Profª McGonagall olhando furiosamente para Eduardo por trás de seus óculos.

“Desculpe Profª Minerva. Laughalot ainda com a bola. O passe para Branstone, e... Que falta de sorte do Summers. Ele estava perto de defender. Dez a zero para a Sonserina.”

O desanimo de Eduardo e da torcida lufalufina era facilmente visível. Porém Alvo estava a mil. Desviava dos balaços lançados pelos batedores da Lufa-Lufa que vinham como touros em direção ao apanhador. Ethan por outro lado não recebia tanta atenção de Murdock e de Beetlebrick, que estavam mais ocupados em marcar os artilheiros da Lufa-Lufa do que o próprio Humberstone.

“Willians com a goles. UAU! Que roubada de bola executada por McLeod... O passe foi feito para Templeton, a bola retorna para McLeod. Do outro lado Alderton pede a bola para o companheiro. VAMOS JUCA! OLHA O ALDERTON DESMARCADO! FANTÁSTICO...! GOL DA LUFA-LUFA!

Naquele momento não era só a alegria da Lufa-Lufa que aumentava. As nuvens de algodão começavam a se tornar cada vez mais escuras e a chuva, que antes era apenas uma leve umidade junto ao vento, começava a despencar em forma de grossas gotas d’água.

CHISPA. – foi o zumbido que Alvo ouviu próximo de sua orelha esquerda, antes de Eduardo Jones gritar:

“UAU! VOCÊS VIRAM ISSO? O balaço lançado por Fincher quase racha o crânio de Potter ao meio!”

– Isso é jogo perigoso! – Alvo ouviu Isaac gritar. – Expulsa ele! Faça alguma coisa Towler!

O jogo seguia e a Sonserina voltara a assumir a frente no marcador. O último grito de Eduardo fora para anunciar o quinto gol sonserino. Agora o marcador mostrava Sonserina: Cinqüenta; Lufa-Lufa: Trinta. A cada jogada desperdiçada e a cada defesa dos goleiros o jogo ficava mais truncado e agressivo. Ombro a ombro artilheiros e apanhadores disputavam um micro-espaço para tomarem a frente de seu adversário.

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Alvo estava na cola de Ethan. O sextanista voava para todos os cantos do campo a procura do pomo de ouro e Alvo o seguia firmemente. Assim como Erico havia assinalado, Alvo conseguia manejar a Firebolt muito melhor que a Nimbus, o que o dava alguma vantagem sobre Humberstone. Já o apanhador lufalufino possuía os braços mais longos que os de Alvo, facilitando a captura da pequena bolinha dourada.

“McLeod com o controle sobre a bola. Ele parece decidido a voar pelo campo todo com a posse da goles. Seu companheiros pedem que ele passe, mas ele os ignora. Laughalot tenta interceptá-lo, mas ele desvia! McLeod ainda domina a bola. Murdock tenta arremessar o balaço... VEJAM ISSO! ELE DESVIOU TAMBÉM. McLeod arremessa... GOL! GOL DA LUFA-LUFA QUE ENCOSTA NO PLACAR! Aprenda com os profissionais Higgs!

– Jones! – desta vez quem protestou foi o Prof Slughorn.O vento aumentava de força a cada instante, empurrando Alvo e Ethan

contra seus destinos. Ambas as vestes dos apanhadores eram puxadas com força pelas rajadas gélidas e raivosas. Os cabelos de Alvo caiam sobre seus olhos impossibilitando-o de ver os obstáculos a sua frente.

“Branstone com a posse... EI! CUIDADO POTTER!Cadu Branstone passara a todo vapor no lado esquerdo de Alvo e por

pouco os dois não se chocaram. O que causaria delírio aos lufalufinos.– Preste atenção no seu jogo, Alvo – aconselhou Ethan sorrindo para o

adversário.– Alvo, mantenha-se seguro! – berrou Nico tentado ajudar o

companheiro. – Só se mova quando necessário! Você é nosso apanhador! Não pode ser atacado sem necessidade.

Com esse conselho, que mais parecia uma bronca, vinda de Nico, Alvo deixou Ethan seguir em sua ronda pelo estádio enquanto ele se protegia dos balaços e dos batedores da Lufa-Lufa, Fincher e McLeod, que faziam todo o possível para arrebentar a vassoura (e o crânio) de Alvo.

– Faça alguma coisa juiz! – berrou Luís indignado quando o Prof Towler não marcou a falta de Demelza sobre a artilheira da Lufa-Lufa.

– Manda pro chuveiro! Cartão vermelho! – completava Morgana Hallterman.

– Morg, não existe cartão vermelho no Quadribol – explicava Inácio Finch-Fletchley para a amiga. – Não existe nem expulsão.

– Que injusto! – protestou Morgana fazendo beiço.“Bom, mesmo depois de claramente agredida por Willian, Templeton

continua com a posse da goles.”– Jones! – resmungou novamente o Prof Slughorn indignado com os

comentários desnecessários do narrador. – Você é pago para narrar o jogo!

“Tecnicamente, senhor, eu nem sou pago. Mas isso não vem ao caso! Alderton com a bola... O passe feito para McLeod e... OLHA O BALAÇO!

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Beetlebrick tenta uma marcação mais ofensiva par cima de McLeod. Talvez...

Porém Jones se calou ao perceber o olhar raivoso do professor de Poções.

As nuvens começavam a se unir e os relâmpagos e trovões enchiam os ouvidos dos jogadores e torcedores de medo. A chuva começara a castigar o gramado do campo. Formando poças de lama em várias regiões que antes era verdes e brilhosas. Alvo sentia suas vestes pesarem, o que dificultava mais ainda seu desempenho. A água que escorria por seus cabelos e chegava a seus olhos também não facilitava a vida do apanhador que, de tempos em tempos, era obrigado a levar a manga encharcada das vestes para tentar amenizar o incômodo provocado pela água.

“Laughalot passa o comando da bola para Willians. Willians desvia de seu marcador e está livre para executar o arremesso. Ela está prestes a... Sai fora, sua mosca chata! Ei, isso não é uma mosca! É O POMO! Ethan, ele está aqui!”

O grito de Jones fez com que todos os olhos, de todos os presentes no estádio, se voltarem para cima dos cabelos rebeldes e castanhos do locutor nada imparcial.

Alvo utilizou de toda sua habilidade sobre a vassoura para dar um giro de cento e oitenta graus que animou a torcida sonserina que se protegia da chuva por baixo de suas bandeiras e cartazes. Alvo perdera todo seu medo de ser atingido pelos balaços lançados pelos batedores rivais. Ele se movimentava como um gato arisco, desviando de tudo e de todos. Alvo passou a poucos centímetros da artilheira da Lufa-Lufa, Fiera Templeton, que só tivera tempo de soltar um gritinho nervoso quando as vestes molhadas de Alvo chicotearam seus óculos. Fincher e McLeod pareciam duas abelhas a procura de sua presa. A velocidade da Firebolt de Erico era mil vezes superior a das vassouras dos batedores, que só tinham tempo de desviar o rosto molhado do vulto verde que era Alvo. Em questão de segundos, o apanhador sonserina trocava empurrões com o êmulo lufalufino. Alvo e Ethan se encaravam e olhavam para a bolinha sem rumo que voava de um lado para o outro sobre as cabeças dos professores.

– Dessa vez não, Alvo! – exclamou Ethan, flexionando seu corpo para frente tentando ganhar mais velocidade. Naquele momento os dois apanhadores estavam a favor do vento, o que aumentava a velocidade dos dois em dez vezes, o que fez com que o coração de Alvo batesse dez vezes, mais rápido.

“Humberstone e Potter, ombro a ombro, disputam a frente em direção ao pomo. Humberstone na frente... Não, Potter... Humberstone... Quer saber, acompanhem vocês mesmos.”

O pomo estava próximo ao chapéu amarelo berrante da Profª Vector, que batia palmas alegremente para Humberstone que chegava cada vez

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pais perto dela. Quando os dois apanhadores estavam chegando mais e mais próximos da professora de Aritmancia, sua aparência alegre deixou rapidamente sua face assim como a cor que continha. A professora fez uma careta e mergulhou o rosto junto às coxas. A bolinha dourada girou e subiu, ganhando mais altitude. Alvo e Ethan a seguiam incansavelmente. Alvo se precipitara e esticara o braço em direção ao pomo, mas ainda não conseguia tocá-lo. Só havia uma chance, ele teria de saltar por cima de sua vassoura e torcer para cair em alguma coisa fofa. Porém não foi bem isso que aconteceu...

Quando Alvo estava prestes a executar sua manobra arriscada, várias coisas aconteceram ao mesmo tempo. Estevão Murdock deu um encontrão tão forte em Ethan que não só deslocou o apanhador de sua vassoura como também acertou Alvo. Ele, por sinal, acabara de saltar de sua vassoura esticando seu braço direito com todas as forças que continha. Assim que Ethan e Estevão se chocaram com o braço de Alvo o garoto sentiu como se esse fosse lançado nas chamas. Uma dor incondicional tomou seus ossos impedindo Alvo de raciocinar. Seu último movimento antes de cair bruscamente no meio dos torcedores da Corvinal foi fechar a mão direita, torcendo...

Alvo estava com os olhos e as mãos fechadas. O braço direito provocava uma sessão de dores que mal fazia Alvo ponderar. Porém algo a mais fez com que a dor de seu braço parecesse um pequeno inconveniente, e não fora a vergonha de estar sobre os vários olhares dos corvinalinos espantados com sua manobra arriscada e sim o pequenino objeto que vibrava por entre seus dedos dormentes. Lentamente Alvo começou abrir sua mão, mesmo que isso ainda o causasse certas dores. Mas tudo fora compensado quando o pomo de ouro abrira suas asinhas e planara a poucos centímetros de sua pele.

A exclamação desanimada de Eduardo e o apito final do Prof Towler mal foram ouvidos por Alvo que ficara perdido sobre os gritos de exclamação, euforia e alegria vindos da arquibancada da Sonserina.

Dois corvinalinos do quinto ano levantaram Alvo com certa falta de cuidado, o que fez com que seu braço direito vibrasse de dor. Logo em seguida Erico e Nico aterrissaram na arquibancada da Corvinal abrindo espaço entre os primeiranistas sem nenhuma cerimônia e indo direto para Alvo.

– Você o pegou! – exclamou Nico, tão alegre que, mal conseguiu formar uma frase.

– PEGUEI! – respondeu Alvo não muito diferente.– Nós vencemos, Alvo! VENCEMOS! – bradava Erico completamente

fora de sintonia no meio dos corvinalinos.– Sim, mas... Sua vassoura... Cai de sua vassoura!– Não importa! – Erico parecia ter tomado uma injeção de alegria. –

Nossa primeira vitória! Estamos na ponta!

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Aquele momento ficou gravado na mente de Alvo por várias noites. Sempre que ele montava em uma vassoura, se lembrava da sensação de ser o herói da Sonserina. De como fora bom ter seu nome gritado por vários alunos de diferentes idades. De como foi bom erguer o pomo de ouro molhado mesmo estando com o braço quebrado. Alvo demorara muito a esquecer aquele momento de glória. Uma glória que estava voltada somente para ele.

Capítulo Dez O Segredo de McNaught

ma hora depois da vitória da Sonserina sobre a Lufa-Lufa (o que levara a casa a assumir a primeira colocação tanto do Campeonato de Quadribol quanto da Taça das Casas) Alvo

estava deitado em uma cama na Ala Hospitalar sobre os cuidados de Madame Pomfrey, que ainda reclamava pela demora do rapaz a ser levado à enfermaria. Alvo ficara um bom tempo entre seus colegas de casa depois do jogo. Mesmo com o braço dolorido, o apanhador – e recente herói sonserino, se divertiu cantando com seus colegas pelos corredores da escola.

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– Isso foi muito irresponsável de sua parte, Potter! E sua também Laughalot! – vozeava Madame Pomfrey enquanto atravessava as camas

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impecavelmente arrumadas até chagar à que Alvo ocupava. Atrás dela sua ajudante das horas vagas, Sara Aubrey trazia consigo uma bandeja de prata com uma garrafa contendo um líquido transparente e um copo de cerâmica. – Ah, obrigada, Aubrey. Tome isso Potter... Se vocês quiserem ficar em minha enfermaria tratem de se apresentarem de maneira mais, limpa – Madame Pomfrey fazia referência aos uniformes molhados e cobertos de lama dos jogadores. – Eh, Humberstone, isso, segure a tala de Fincher.

– Ei! – protestou Cadu, irritado, elevando sua voz a uma tonalidade que desagradava muito Madame Pomfrey. – Humberstone também está tão imundo quanto nós!

– Ele pelo menos está ajudando! Diferente de você, Sr Branstone! E pare de gemer Fincher! Só deslocou o ombro.

– Só! – repetiu o batedor surpreso.– Eca! – resmungou Alvo contendo a vontade de cuspir o líquido servido

por Sara. – Isso tem gosto de xixi de trasgo!– Já provou xixi de trasgo? – Sara parecia completamente fora do

contesto caótico e desorientado que se encontrava a enfermaria. – Feche os olhos e tome tudo de um gole só. Esse remédio possui um efeito mais rápido do que os demais. Em três dias seu braço já estará bom.

– Três dias! – gritou Laughalot entre os empurrões de Madame Pomfrey forçando ele e o resto do time a deixarem as instalações. – Nós começaremos os treinos para o jogo contra a Corvinal depois de amanhã!

– Mas não vamos mesmo! – afirmou Demelza que mesmo sendo mais nova e possuindo alguns centímetros a menos que Erico; dispunha de grande força nos braços, capaz de arremessar a cabeça do capitão com a mesma força que ela arremessava a goles.

– Vai passar a noite aqui, está entendido, Potter?– Sim, senhora – respondeu rapidamente, não querendo contrariar a

enfermeira.Se alguém perguntasse a Alvo qual era a melhor coisa para dissipar o

estresse ganho durante um jogo de quadribol, o jovem sonserino lhe responderia: dormir na enfermaria. As camas impecavelmente aquecidas eram dez vezes mais confortáveis que as dos dormitórios. Como se os Feitiços de Relaxamento lançados sobre estas fosse muito mais potente que os lançados sobre as camas dos dormitórios sonserinos. Os travesseiros (eram dois por cama) eram tão fofos que Alvo tinha a impressão de estar afundando a cabeça em dois tufos de algodão egípcio. O que era muito mais confortável do que dormir sobre tufos de feno rodeado por famílias de galinhas nada simpáticas. Alvo já vivera esta experiência cinco anos antes de completar idade suficiente para ingressar à Hogwarts, quando ele, Tiago e Lílian passaram as férias na Toca e acabaram cochilando na granja depois de brincarem de pique esconde. Nem mesmo a tipóia colocada por Sara em seu braço direito

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nem as doses do remédio que Madame Pomfrey obrigava Alvo a tomar poderiam impedir que o garoto tivesse sua melhor noite de sono.

O colega de enfermaria de Alvo era ninguém menos que Daniel Fincher, o batedor da Lufa-Lufa que tentara quebrar a cabeça de Alvo lançando um balaço errante certeiro que, por sorte, passara a poucos centímetros de sua orelha. Fincher se mostrava muito frio com relação a Alvo. Sempre que o primeiranista tentava iniciar uma conversa com o batedor do sétimo ano, ele desviava o rosto para a saída da enfermaria e olhava para além das janelas. Seu olhar se perdia por entre as árvores da Floresta Negra. Talvez toda aquela antipatia de Fincher dava-se por sua condição como nascido-trouxa. Daniel nunca fora bem tratado pelos sonserinos. Sempre que seus colegas da casa verde se referiam a ele era através de adjetivos preconceituosos como “sangue-ruim” ou “sangue-sujo”. Mesmo que Alvo não tivesse intenções de chamar Fincher por esses nomes, o batedor considerava o fato de Alvo ser da Sonserina como um motivo para considerá-lo um inimigo.

Às sete horas da noite, Madame Pomfrey percorreu a enfermaria checando a tipóia de Alvo, a tala de Daniel e fechando as cortinas, impedindo que a luz do luar clareasse o mármore ilustrado da instalação. Madame Pomfrey era muito rígida com relação às regras. As que ela mais gostava eram as do silêncio obrigatório e do toque de recolher às oito horas. A enfermeira detestava visitas inesperadas. No final da tarde, quando um grupo de lufalufinas risonhas entrou na enfermaria dispostas a entregar uma caixa de bombons para Fincher, Madame Pomfrey irrompeu de seu escritório pedindo para que as garotas se retirassem da enfermaria alegando que o grupo causava muito rebuliço. E pediu para que todas aguardassem a saída de Fincher, no dia seguinte.

– Quando as luzes apagarem, eu não quero ouvir um pio dos senhores – ordenou a enfermeira, mesmo que nenhum dos presentes houvesse trocado prosas.

Andar por Hogwarts com uma tipóia no braço não é nada muito confortante. A mochila de Alvo parecia dobrar de peso quando o garoto a colocava obre o ombro do braço bom. Ter de escrever usando a mão esquerda também não era muito bom. Sendo destro, Alvo tivera grande dificuldade em escrever com a outra mão, o que formava garranchos muito piores que suas letras habituais. Dependendo da aula (e também do professor) Alvo era poupado de escrever com a mão ruim e somente assistia às aulas práticas enquanto uma pena encantada escrevia para ele. Fora assim durante as aulas do Prof Slughorn, onde Alvo não tivera grandes participações na extraordinária poção preparada por Agamenon. Escórpio também não colaborou muito, somente lutara bravamente contra os olhos de sapo. O Prof Flitwick também liberara Alvo de escrever e de lançar feitiços assim que percebeu que o feitiço Incendio lançado pela mão esquerda de Alvo poderia causar um tumulto generalizado que provocaria a interdição da sala de Feitiços e a

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cremação de todos os livros do professor. Já outros professores menos interessados nos acidentes de Quadribol obrigaram Alvo a dar seu melhor durante suas aulas. O Prof King não se comovera com o braço de Alvo, alegando que um braço ou uma perna fraturada são ossos do ofício de um jogador de quadribol. Ele mesmo já fraturara os dois braços e uma perna durante seus tempos como jogador da Grifinória.

Dezembro estava chegando e com ele a ansiedade das férias de Natal. Desde o dia primeiro, A Profª McGonagall distribuía as listas para os alunos escreverem se ficariam ou o não na escola durante o feriado. Alvo não tardou em escrever seu nome junto aqueles que passariam o natal em Hogwarts. Para sua alegria seu amigo Lucas ficaria na escola durante o feriado, o que era bom já que a grande maioria dos sonserinos escolhera passar o Natal o mais longe possível do castelo.

– Eu e minha família passaremos o Natal em Nova York – disse Isaac para Alvo quando eles, Lucas e Perseu se encaminhavam para a aula de Herbologia. – Papai conseguiu passagens com o pessoal do trabalho dele. Assim poderemos ficar com minha tia Mafalda e com a família dela no feriado. Ela se mudou para os Estados Unidos quando o marido dela conseguiu uma vaga no Ministério da Magia Americano.

– E você, Perseu? – perguntou Alvo. – O que vai fazer nas férias?– Nada. Ficarei em casa – respondeu ele sem muita animação. – Minha

mãe gosta de passar o Natal junto da família. Então eu terei de ir à Sheffield para passar o Natal com meus avós.

– E você, Lucas... Por que ficará em Hogwarts? – perguntou Isaac interessado. Todos já sabiam o motivo de Alvo para ele não querer sair do castelo, por isso seus amigos tentavam não tocar no assunto.

– Meu pai – respondeu. – Ele não está na Inglaterra. Foi pesquisar sobre a tumba de um faraó esquisito no Egito. Então não tenho autorização para deixar o castelo.

Mesmo com o frio que pairava sobre toda Hogwarts as estufas se mantinham quentes e, por algum motivo misterioso, muito mais aconchegante do que antes. Não era pela nova espécie que o Prof Longbottom cultivava com todo o cuidado que deixava as estufas com esse ar de aconchego. O Morangueiro Revoltado continuava com os nervos a flor do casco. Volta e meia, alguns morangos eram lançados contra alunos dispersos que mal tinham tempo de desviar das frutas utilizadas como balas. Sempre que Alvo passava pelo Morangueiro Revoltado junto de Escórpio e de Rosa, os dois garotos não perdiam tempo em lembrar Rosa do grande estrago que ela causara ao transformar o morango de Cameron em uma árvore com problemas de temperamento. Outra aluna que desprezava a nova aquisição de Neville era Irene. A jovem corvinalina sempre olhava para o chão e para as paredes das estufas a procura de vinhas perdidas que pudessem repetir os feitos da vinha da Ditamínea. Sempre que o morangueiro lançava uma leva de morangos sobre a estufa número um, Irene se encolhia

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procurando o causador de tamanho rebuliço, temendo que suas pernas fossem presas novamente.

A pior experiência de Alvo naquele primeiro de dezembro fora quando ele, acompanhado de Escórpio e Rosa, deixou a sala de Artes dos Trouxas em direção ao Salão Principal para almoçar. Alvo e Escórpio mal prestaram atenção no que o Prof McNaught explicara sobre cores simétricas e assimétricas. A maior parte do tempo eles travavam guerras fictícias com suas varinhas o que, ocasionalmente provocava uma chuva de prata vinda de uma delas. O que irritava muito Rosa que não acreditava como os dois poderiam ser tão infantis e como poderiam ter tanto descaso com um professor tão fantástico como McNaught.

– Rosinha, eu não sei se está lembrada, mas este homem está tramando algo suspeitíssimo! – chiou Alvo às portas do Salão Principal.

– Suspeito ou não ele ainda é fantástico. Quero dizer, gosto de Artes dos Trouxas. E quem te deu permissão para me chamar de Rosinha?! – reclamou Rosa com as orelhas enrubescendo. – Só meu pai me chama assim.

– Será mesmo que Alvo Potter pode ser tão retardado quanto o pai? – perguntou uma voz feminina e gozadora às suas costas.

– Cuide de sua vida – resmungou Alvo dando de ombros para Rosier e suas amigas.

– Nós tentamos, Potter-Áspide – retrucou Pucey irônica, utilizando o novo apelido inventado pelo grupo de Finnigan. – Mas como podemos fazer isto em segurança se seu pai mal consegue comandar os aurores?

– É verdade – concordou Montague com uma espécie de ronronado. – Sempre ouvi bastante sobre Harry Potter. Mas pelo que diz o Profeta, Harry Potter é um daqueles que lança feitiços para depois saber quem são suas vítimas – e riu estranhamente como aquilo fosse algo que ela gostasse muito de fazer.

– Se realmente sabe alguma coisa sobre o tio Harry, deveria saber que o Profeta Diário não é seu melhor informante – alegou Rosa relembrando as reportagens mentirosas e confusas escritas no jornal na época que o então ministro Cornélio Fudge não aceitava a volta do Lorde das Trevas. Tachando Harry de mentiroso.

– Melhor não se meter, Weasley – interrompeu Rosier erguendo sua mão pedindo para que Rosa se silenciasse. – Não somos nós que estamos dizendo isso, Potter-Áspide. É o Profeta.

Rosier enfiou a mão dentro de sua mochila e retirou um recorte da edição matutina do Profeta Diário. A reportagem contava com a foto de Harry com o tio Rony, ambos em pé junto ao ministro Shacklebolt. Alvo então leu a reportagem, com Rosa e Escórpio fungando sobre seus ombros.

Invasão em St. Mungus e desordem entre Aurores. Assim começa a semana no Ministério.

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Discussões e prisões de inocentes assombram ministro e aurores. Será o fim dos ditos tempos de paz?

Há três meses o Profeta Diário anunciou em primeira mão que um esquadrão do Quartel-General dos Aurores declarou a descoberta do cativeiro trouxa onde foram encontradas as vítimas de um seqüestro até então desconhecido pelos aurores. O Sr Plochos de Floumatass e a Srtª Serena Tyranicus foram encontrados em uma residência trouxa nos arredores do povoado de Budleigh Bugmoreton, ambas as vítimas estavam sobre efeitos de poderosos feitiços e maldições. Desde então o senhor Simon Wilkes, inspetor chefe ministerial, aceitou o pedido feito por T. J. Garland, nosso colunista de segurança, para manter nossos leitores informados de um caso que poderia abalar drasticamente nosso atual período de paz. A cada semana o inspetor Wilkes divulgava uma nota sobre os bastidores de tal episódio. Sua nota era analisada por nossos melhores repórteres e editores e enfim tal nota era propalada para os senhores leitores. Porém a última nota apregoada pelo Sr Wilkes na semana passada fora tão bombástica e tão esclarecedora que gerou um rebuliço entre nossos editores e repórteres que resolveram transformar esta nota em matéria de primeira página.

No último dia vinte e quatro de novembro o inspetor Wilkes enviou uma nota a nosso colunista, o Sr Garland, notificando o falecimento da Srtª Tyranicus e do Sr de Floumatass. Após a divulgação do óbito das vitimas do seqüestro misterioso, nossa sempre atenta repórter Rita Skeeter nos divulgou a informação de que o Quartel-General dos Aurores havia aberto um inquérito para averiguar a morte dos enfermos. O auror Ronald Weasley (o qual já havia dado declarações nada satisfatórias na primeira vez que lhes informamos sobre o atual estado do Sr de Floumatass e da Srtª Tyranicus) liderou um grupo de aurores a procura de provas sobre a maneira em que os pacientes do St Mungos foram assassinados. Foram descobertos vestígios de uma poção muitíssimo perigosa e dificílima de ser preparada chamada Febre de Dragão misturada junto aos medicamentos do Sr de Floumatass. O duende faleceu no dia vinte e três de novembro às nove horas da manhã. Já a Srtª Tyranicus fora encontrada asfixiada por um visgo do diabo, que antes avaliado como uma vinha de Ditamínea. Tal acontecimento nos faz lembrar o trágico assassinado de outro Inominável no St Mungus. O Sr Broderico Bode, que morreu em 1996, vítima do mesmo crime. Serena Tyranicus faleceu no mesmo dia vinte e três de novembro ao meio dia.

Até então os aurores fizeram bem seu trabalho. Mas foi a partir daí que o Quartel-General, liderado pelo renomado herói do mundo moderno Harry Potter, começa a meter os pés pelas mãos.

O primeiro suspeito a chamado para depor fora o curandeiro responsável pelos pacientes assassinados. Depois os aurores chamaram o chefe da segurança e encarregado de inspecionar todos os presentes e pacotes enviados aos pacientes, o qual declarara o visgo entregue no

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quarto da Srtª Tyranicus como uma vinha. Após dois dias de investigações muito duvidosas o curandeiro Teobaldo Chambers, 39, recebeu ordem de prisão dos aurores e fora enviado a Azkaban sendo condenado por envenenamento de um duende e assassinato de um membro ministerial.

Após muito rebuliço proveniente dos curandeiros do St Mungos, revoltados pela prisão precipitada do colega, O Quartel-General dos Aurores resolveu iniciar novas investigações sobre o assassinato dos dois pacientes. Finalmente o Sr Potter e o Sr Weasley chegaram ao real arquiteto de ambos os assassinatos. Depois de uma meticulosa investigação em todas as lojas vendedoras de poções e ingredientes para poções, a Auror Raquel Burke, 25, fora quem localizou a loja que vendera a poção Febre de Dragão para o suspeito. Traçando a rota do assassino até a loja em questão, localizada na Travessa do Tranco, os aurores chegaram à moradia do assassino do Sr de Floumatass e da Srtª Tyranicus.

Bruno Gastão Avery, 31, fora encontrado em sua residência e levado para depor pela auror Raquel Burke, pelo subchefe do Quartel-General, Ronald Weasley e pelo chefe do Quartel-General dos Aurores, Harry Potter. O Sr Avery é ninguém menos que o filho de Gastão Clarêncio Avery, bruxo condenado a Azkaban pelos crimes de tortura a trouxas e de afiliação aos seguidores d’Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado e sobrinho de Gaspar Cornélio Avery, Comensal da Morte atualmente preso em Azkaban. Posteriormente Bruno Avery confessou ter praticado o crime contra o duende e contra a Inominável, porém deixou um mistério rondando a cabeça confusa de Harry Potter. Segundo o Sr Avery, outro bruxo lhe ofereceu cem galeões pela morte de Plochos de Floumatass e de Serena Tyranicus.

No dia vinte e sete de novembro, o curandeiro do St Mungos, Teobaldo Chambers fora solto da prisão dos bruxos, recebendo a quantia de setenta galeões do ministro Shacklebolt como indenização e pedido de desculpas pelo equivoco dos aurores.

O trabalho dos aurores ainda não terminou. Cabe a eles procurarem pelo mandante do crime que pagara a Bruno Avery para cometer os assassinatos. Mas fica a dúvida se o jovem Sr Potter é realmente capaz de comandar um departamento tão importante como o dos Aurores. Não podemos negar que Harry Potter é um bruxo dotado de extrema habilidade em lançar feitiços e azarações, mas será que ele também é tão bom assim para preencher papeladas e aplicar as leis?

Assim que Alvo terminara de ler o artigo recortado do Profeta, Rosier arrancou o pedaço de papel, mal recortado e o devolvera para o fundo de sua mochila.

– Está vendo, Potter? – perguntou Rosier sobre os risos irritantes de Pucey e Montague. – Não somos nós que estamos falando sobre seu pai. O próprio Profeta está alertando sobre ele. E ainda dizem que ele pode

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ser o novo ministro! É sério, se um Potter chegar a ser ministro um me mundo deste país!

– Olha como fala do meu pai! – bradou Alvo levando a mão ao bolso e cerrando o punho contra sua varinha. Porém quando viu que Valerie e as amigas faziam o mesmo, Alvo se conteve. – Se não fosse por meu pai nenhum de nós estaria vivo! Nem mesmo seu pai e sua mãe que nada fizeram durante a guerra!

– Meus pais fizeram muita coisa! – protestou Rosier apertando sua varinha, mas sem medo de atacar. – Meus pais eram corajosos! Lutaram bravamente na nas repressões de Voldemort na França...

– Mentira! Metade de sua corja Rosier era aliada a Voldemort! E Hoje tentam mostrar que estão de nosso lado – interrompeu Alvo ignorando as caretas feitas por Rosa, Héstia de Isla. – Se não fosse meu pai, o seu já deveria estaria morto. E sua mãe não deve ser uma daquelas que gosta de uma confusão...

– O que está havendo? – perguntou uma voz galante e jovial vinda de dentro do Salão Principal. – Ah, por Debret! É uma discussão. Por favor, garotos, não o façam. Já pensou se Picasso se revoltasse sempre que falassem mal de suas obras?

O Prof McNaught estava ao lado de Rosa, que não conseguia conter suas risadinhas apaixonadas. Ele alisava os cabelos loiros angelicais e sorria para Alvo e Rosier que estavam perto de iniciarem uma briga. Alvo nunca estivera tão próximo do professor de Artes dos Trouxas. O mais perto de McNaught que Alvo já chegara fora quando eles estavam separados por quatro fileiras de alunas, risonhas e deslumbradas. E agora sabendo que o professor tramava uma arriscada revolução e que certo dia quase pegara Alvo o espionando, ele não se animava muito de estar tão perto de McNaught.

– Não sei qual é o motivo da discussão, mas aconselho que os senhores a esqueçam, sigam para o salão e encham suas barrigas de comida. A propósito, Potter. Gostei muito de sua obra de agora pouco, muito criativa.

– E a minha, professor? – perguntou Rosa subindo na ponta dos pés para chegar o mais próximo possível do roso quase perfeito de McNaught.

– Também, Srtª Weasley. – ele lançou uma piscadela que quase fez Rosa desmaiar. – Uma obra notável, que despertou o amor meu coração.

– Obrigada.– Vamos então! – disse Escórpio puxando Alvo e Rosa para dentro do

Salão Principal. A última coisa que Escórpio esperava ouvir do Prof McNaught era um elogio por seu desenho de palitos.

Na semana seguinte a quase briga de Alvo com Rosier, Hagrid convidara a ele, Escórpio e Rosa para tomar um chá em sua cabana. Estava muito frio e Alvo não poupou esforços para vestir-se com o máximo de agasalhos que ele podia colocar sobre suas vestes. O que

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alegraria muito sua mãe. A tipóia já havia sido retirada de seu braço e os exercícios das aulas e os treinos de quadribol voltaram a todo vapor. Relutantes os jogadores da Sonserina voltaram a treinar sob o comando de Erico que estava muito mais rigoroso com seus comandados depois da vitória sobre a Lufa-Lufa. O vento soprava forte sobre o rosto de Alvo e era muito difícil se comunicar com seus companheiros, pois sempre que se abria a boca uma rajada de vento (que mais parecia uma enxurrada de gelo) penetrava rapidamente por seu corpo gerando fortes dores de garganta.

Já era final de tarde quando Alvo, Escórpio e Rosa se encontraram na Ponte Suspensa para visitarem a cabana de Hagrid. O domingo amanhecera nublado, mas sem previsões de chuva. Mesmo que ainda fossem seis horas o céu já era tomado pelas cores negras da noite e as tochas e candelabros de Hogwarts já estavam acesos a algum tempo.

– Demoraram – disse Alvo aos amigos.– O Prof Slughorn não queria nos deixar sair – contou Rosa cuspindo os

pelos soltos de seu cachecol vermelho e dourado. – Ele estava muito relutante. Disse que era perigoso que nós saíssemos à noite.

– Ai eu pedi para Rosa distraí-lo e fiz com que uma armadura começasse a se debater contra a parede – disse Escórpio com orgulho do feito. – Slughorn nos deixou em paz e, bem... Estamos aqui.

– Brilhante! – exclamou Alvo enquanto os três desciam as escadarias de pedra em direção a cabana do professor e guarda-caça.

Quando os três chegaram à cabana Rosa bateu fortemente na grande porta de madeira. Houve um latido abafado, que Alvo imaginou ser de Rolino (o cão mastim napolitano que Hagrid comprara pouco depois de seu antigo cachorro, Canino, falecer de velhice) e depois o arrastar de uma cadeira seguida por passos pesados.

– Já vai! – gritou Hagrid aparentemente apressado. Quando o gigante abriu a porta seu rosto se iluminou e um sorriso apareceu entre a barba escura do guarda-caça. – Olá, Al, Rosa... e veja, o jovem Malfoy concordou em vir!

– E exatamente por que eu não o faria, professor? – quis saber Escórpio um tanto envergonhado no instante em que os três jovens entravam na cabana.

– Primeiro: não precisa me chamar de professor – disse Hagrid sorrindo para o garoto de cabelos loiros. – Aqui somos apenas amigos. Segundo: eu dei aulas para seu pai e sua mãe e tenho certeza de que não estava na lista de seus professores favoritos. Talvez Snape estivesse. Mas eu nunca. Imaginei que você fosse igual a eles.

Escórpio lançou a Hagrid um sorriso tanto forçado. Alvo não sabia exatamente o motivo, mas Escórpio não falava muito sobre seus pais. Talvez porque nenhum de seus amigos (mesmo que fossem esses poucos) não tivesse muita simpatia pelos antigos membros da família Malfoy. O pouco que Alvo sabia sobre o pai de Escórpio não fora dito pelo amigo,

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mas sim pelo tio Gui que geralmente mencionava o nome de Draco quando falava sobre seu trabalho no Gringotes. “Mesmo sendo quem é não imagino que Draco tire proveito de seu posto no banco.” ou “Ontem vi Malfoy junto ao duende encarregado pelos cofres dos Lestrange e dos Crouch. Achei melhor não me meter.”. E Alvo nada sabia sobre a mãe de Escórpio, somente que seu nome era Astoria.

– Então como estão indo os testes do quadribol, Al?– Muito bem! – exclamou Alvo servindo-se do grande bule de chá

preparado por Hagrid. – Agora sem aquela droga de tipóia, Erico Laughalot voltou com os treinos. Modesta parte eu estou bem melhor...

Um forte piado e o tinir de barras de ferro tomaram os ouvidos de Alvo, Escórpio e Rosa. A cada segundo o barulho ficava mais alto e Hagrid mais nervoso. Rolino que até então cheirava os sapatos de Rosa, saltou para o colo de Escórpio, amedrontado. O que quase fez com que o garoto caísse de sua cadeira.

– O que tem ali, Hagrid? – perguntou Rosa apontando para um lençol muito remendado sobre o que parecia uma gaiola.

– N-nada! – Hagrid estava tão nervoso que mal conseguia se servir de chá. – Querem um bolo? Eu preparei agora...

– Hagrid, você não sabe mentir – falou Alvo disposto a puxar o lençol a força.

– Não estou mentindo! – contrapôs Hagrid.– Está! – insistiu Rosa. – Hagrid, você não comprou nenhum animal, ah,

exótico, comprou?– Não comprei nada... Tudo bem, eu ganhei essa beleza. Mais cedo ou

mais tarde vocês descobririam mesmo – Hagrid se levantou de sua cadeira e pegou com suas grandes mãos a gaiola coberta pelo lençol remendado. – Quem me deu fora a diretora uma bruxa velha... Ela disse que faltava espaço em sua casinha e que ficou sabendo eu era a pessoa ideal para cuidar dela nesta região.

Por dentro Alvo não ficou feliz de saber que quem presenteara Hagrid fora uma bruxa estranha. O que não eliminava a possibilidade do amigo estar carregando um bebê acromântula.

Com um forte puxão, Hagrid tirou o lençol com força revelando o animal que Alvo menos esperava encontrar na cabana do amigo. O animal que por muito pouco não fez Alvo chorar de alegria.

– Isto é... Ela é... – Rosa estava sem fala. Mal conseguia formar uma frase com sentido, o que não era comum para ela.

– Uma fênix – completou Escórpio tão estupefato quanto seus amigos.Não era uma fênix qualquer. Era uma fênix de cauda larga e

chamuscaste, com penetrantes e saltados olhos negros que piscavam loucamente. Sua plumagem era em tons de fogo, mas sua crina era azulada, como as das labaredas do fogo crepitante.

– C... como a conseguiu? – perguntou Alvo ainda titubeante.

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– Eu a comprei, como já disse, mas fora quase que dada – soluçou Hagrid tanto emocionado. – Eu estava no Três Vassouras quando uma mulher se interessou por mim e quis saber se eu estava interessado em comprar o ovo. Ela era suspeita, parecia metade duende e trasgo ao mesmo tempo. Pelo preço que comprei parecia uma pechincha, ela parecia estar doida para se livrar da fênix. E eu não podia deixar o coitadinho do ovo nas mãos daquela gárgula quadrada! Ela seria maltratada, então a trouxe comigo... Mas Filch descobriu que eu estava a guardando aqui em minha cabana quando ouviu o ovo rachar e a fênix cantar. Ele me delatou para a diretora que confiscou o ovo de mim.

Hagrid pegou um lenço, que mais parecia uma fronha de travesseiro e assuou o nariz nela.

– Não acreditei quando a diretora me devolveu minha pequenina Faísca, esse é o nome dela, sabem? Pois não produziu nada que não fosse uma faiscazinha – soluçava Hagrid limpando uma lágrima com seu dedo gorducho. – Foi em outubro. Faísca havia queimado e a professora não soube o que fazer. Ela não era muito boa com criaturas mágicas, sabem? Daí ela achou melhor eu cuidar dela.

– Isso mostra que a diretora confia em você – disse Rosa para animar o amigo grandalhão.

– Sim – soluçou Hagrid em resposta.Alvo, Escórpio e Rosa sabiam que comeriam somente as sobras do

jantar já que passaram bastante tempo conversando com Hagrid e apreciando Faísca. O que gerou inveja em Rolino que sempre que tinha uma brecha lambia o rosto de um dos três jovens antes de lançar um latido.

Hagrid já se despedia dos três quando um forte estrondo pode se ouvir vindo da Floresta Negra. Os quatro se voltaram para a escuridão que tomava conta da floresta, esperando talvez ouvir o galopar dos centauros ou o rugir de outra fera. Porém só o que se ouviam eram mais estampidos e disparos semelhantes a tiros.

– O que está havendo? – Hagrid se precipitara para a orla da floresta. – Não são os centauros. Isso não é barulho de flechas. Parece um duelo.

Um grito de desespero pode ser ouvido pelos três. O pânico tomou completamente Alvo, Escórpio, Hagrid e Rosa. Os olhos de todos estavam muito arregalados, esperando alguma precipitação vinda da floresta. Mas nada acontecia.

– Temos que entrar! – bradou Alvo sacando sua varinha.– Perdeu o juízo, Alvo! – Hagrid parecia muito surpreso. – Não pode

entrar na floresta!– Não podemos entrar na floresta, desacompanhado. – completou

Escórpio.– É melhor chamar ajuda! – disse Hagrid relutante em aceitar a idéia de

uma aventura pela Floreta Negra.

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– Não há tempo. Pode haver alguém em perigo. E você é professor, pode nos levar para a floresta quando quiser!

– E ninguém conhece esta floreta como você, Hagrid – falou Rosa encorajando Hagrid a aceitar a exploração à floresta.

– E ainda tem o Grope! – exclamou Alvo se adiantando para dentro da floresta. – Não tem quem possa nos fazer mal.

– Ótimo, mas alguém fica aqui.– Por que? – perguntaram Alvo, Escórpio e Rosa juntos. – Ah, é verdade.

Caso aconteça alguma coisa conosco é melhor estar alguém a salvo para poder chamar ajuda.

– Eu indico a Rosa! – bradou Escórpio apontando para a amiga.– Que machista! – resmungou Rosa em tom de ofendida. – Sei mais

feitiços que você, Malfoy!– Acho que não precisamos de encantamentos básicos. Precisaremos de

magia defensiva e nenhum primeiranista é melhor que eu ou Potter neste assunto, estou errado?

– Não – concordou Alvo.– Então está feito – disse Hagrid armando-se com uma espécie de arco,

seu guarda-chuva cor de rosa estava preso ao cinto de couro. – Rosa, você fica aqui com Rolino. Se não voltarmos em uma hora você chama a diretora e o máximo de professores que conseguir.

Rosa assentiu apreensiva. – Vocês sabem pelo menos o Feitiço de Luz, não sabem? – Rosa mal

acreditara quando os dois garotos negaram. – Francamente, que heróis são vocês. Estudamos isso em novembro com o Prof Flitwick...

– Rosa! – gritaram Alvo e Escórpio.– Ok. Somente digam “Lumus”.“Lumus” repetiram Alvo e Escórpio fazendo com que a ponta de suas

varinhas iluminasse, clareando alguns metros à frente.– Uma hora – repetiu Hagrid penetrando entre os galhos das árvores na

Floresta Proibida. Pela primeira vez Alvo sentiu medo em entrar na Floresta Proibida. Das

outras vezes em que o sonserino penetrara por entre os galhos e raízes da floresta era dia, podia-se ver o movimento dos galhos e das criaturas que corriam de um lado para o outro e além do mais ele estava acompanhado por mais de duas pessoas. Claro, Hagrid era a única pessoa que conhecia a floresta como a palma de sua mão. Volta e meia o professor passeava por entre as árvores da floresta a procura de seu meio-irmão gigante. Grope morava a alguns quilômetros da orla da floresta proibida. Sua moradia não era nada exuberante, somente alguns restos de brinquedos e equipamentos velhos jogados em uma pilha amontoada próxima às árvores. Quase todo dia Hagrid levava comida para seu irmão, que retribuía batendo palmas e gritando seu nome.

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– O acha de chamarmos Grope? – perguntou Alvo saltando de uma raiz para outra quando os três bruxos já estavam absolutamente envoltos nas trevas da floresta. – Ele mora aqui perto, não é?

– Sim, mas... Ah, Grope não está mais sozinho. Ele tem uma companheira...

– Uma namorada – exclamou Alvo tão alto que um animal voador levantou vôo assustado.

– Sim – conformou Hagrid encabulado. – O nome dela é Frochka, uma giganta das montanhas. É bem maior que ele, mas parecem se entender bem. Frochka gosta de ficar fazendo suas jóias enquanto Grope procura comida.

– Uma giganta fazendo jóias? – Escórpio se mostrava muito surpreso.– Jóias... Armas. Deve ser a mesma coisa na língua dos gigantes.– Amor, blharg, eu quero, blharg, algumas lanças para me, blharg,

enfeitar! – brincou Escórpio tentando animar seus companheiros, mas sem sucesso.

Novos estalos e estampidos tomaram os ouvidos dos três. A cada segundo mais altos, o que significava que eles estavam mais próximos da vítima ou do inimigo.

– Preparem suas varinhas garotos! – urrou Hagrid arrancando com as próprias mãos uma árvore do solo e a jogando pala longe. – Nosso destino é logo ali!

– Como você sabe? – perguntou Escórpio apontando sua varinha para onde Hagrid assinalara.

– ABAIXEM! PARA TRÁS DAQUELA ÁRVORE! – Hagrid agarrou Alvo e o lançou na direção de Escórpio fazendo com que os dois jovens caíssem um sobre o outro. O professor de Trato das Criaturas Mágicas levou sua enorme mão ao guarda-chuva cor-de-rosa e o abriu, como se estivesse esperando cair um temporal, porém este na horizontal.

– Alarme f... – uma rajada de pedras atingiu o guarda-chuva de Hagrid em cheio. Mas o gigante estava atento e não fraquejou. Repeliu as pedras como se utilizasse um Feitiço Escudo e em seguida voltou a guardas sua peça.

– Armadilhas – sussurrou Alvo levantando-se.– Sim, e das boas. Faremos uma mudança de planos – Hagrid se virou

para os dois garotos e começou a sussurrar como um soldado em frente à frota inimiga. – Se algo der errado, lancem centelhas vermelhas de sua varinha. É o sinal de perigo. Rosa deve estar atenta aos céus. Depois disso procurem um lugar seguro e se protejam.

– Hagrid, o que é aquilo? – Alvo apontava para um monte de pedras esculpidas a alguns metros dos três. Era uma pilha muito íngreme e colossal, como uma estalagmite gigante. Inquieto, Alvo tentou se aproximar das pedras lentamente com a varinha em punho, cauteloso com relação a novas armadilhas.

– Potter, está louco?! – advertiu Escórpio pouco atrás.

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– Tem alguém ali – Alvo indicou com a ponta luminosa da varinha por entre as pedras.

Ele fez com que a luz projetada pela varinha aumentasse de força, para clarear mais alguns metros. Quando a luz incidiu entre as pedras em forma de estalagmite, o rosto da figura caída sobre as pedras se tornou mais nítido. Ele não estava morto, mas era apenas questão de tempo.

– Prof McNaught! – exclamou Alvo se antecipando para perto do professor, cruzando um riacho ribeirinho que contornava as pedras. Mas conforme Alvo chegava mais perto de McNaught, mais tinha dúvidas se aquele realmente era seu professor.

Os cabelos loiros angelicais estavam muito desgrenhados e com tufos negros brotando da sua raiz. O rosto estava mais jovem, porém mais acabado do que a do belo professor conquistador. Os olhos azuis capazes de despertar o amor de uma viúva cuja capacidade de amar falecera junto com seu marido já não se mostravam mais tão belos quanto antes. Sua tonalidade mudava de cor tornando-se cada vez mais escuros até assumirem um tom de castanho. As vestes eram as mesmas que McNaught usava quando desfilava pelos corredores da escola, rodeado por suas admiradoras, mas naquele momento elas estavam mais folgadas e completamente rasgadas. Além de estarem cobertas de sangue. Seu rosto e seu corpo estavam cobertos por cortes profundos e dolorosos. O homem perdia muito sangue.

– Intruso – murmurou Escórpio quando chegou ao lado de Alvo. Hagrid pouco atrás.

– Cuidado – gemeu o intruso em tom de ultimato – É uma emboscada.Quando o intruso terminara sua frase o vento chocara-se contra Alvo,

Escórpio e Hagrid com a força de um tornado. E era quase isto que se formavam poucos metros dos três. Uma miniatura de um tornado crescia puxando os três para perto dele. Areia, terra e lama se fundiam tornando o vento mais assustador. A tempestade de areia formada pelo tornado feria os olhos e a pele. Alvo já sentia seu corpo ser levado pelo tornado. Seus pés começaram a deslizar pela terra, arrastando consigo algumas pedrinhas e poeira. Sua grande aventura terminaria naquele instante, e não havia nada a ser feito...

– Ainda não, Al! – gritou Hagrid para Alvo. Sua voz abafada chegou aos ouvidos do garoto no mesmo momento em que a mão de Hagrid agarrou seu ombro e o puxou para trás, colocando-o cuidadosamente ao lado de Escórpio atrás do casacão de toupeira de Hagrid, aonde o vento do tornado não chegava.

– Mas e você? – perguntou Alvo preocupado com o amigo grandalhão.– Esse ventinho não é forte o suficiente para me derrubar! – gritou

Hagrid com desdém. E como se essas fossem as palavras mágicas o tornado evaporou, mas não as armadilhas.

Tentáculos vindos das árvores, de todos os tamanhos e grossuras irromperam o ar como chicotes prontos para punir uma centena de

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pessoas. Hagrid endireitou o arco e o carregou com uma dúzia de flechas, disparando-as contra as inocentes árvores vítimas das maldições lançadas sobre elas.

Mesmo com as flechas lançadas por Hagrid e pelos feitiços que Alvo e Escórpio conjuravam de maneira aleatória, os tentáculos continuavam a atiçar os três, cortando o ar e acertando sem piedade a pele dos bruxos.

– Vou lançar as centelhas vermelhas! – disse Escórpio pouco depois de ter o rosto cortado por um tentáculo. – Periculum.

Assim que Escórpio terminou de pronunciar o feitiço um tentáculo acertou sua perna fazendo com que ele cambaleasse, o que impediu que as centelhas vermelhas tomassem os céus. A rajada de luz vermelha se perdeu por entre as árvores da Floresta Negra até sumir da vista.

– A-ALVO! – chamou Hagrid desesperado, despertando a atenção de Alvo, que lutava contra um tentáculo assassino que cortava suas roupas como navalha.

Alvo se virou rapidamente para Hagrid e o que vira fora algo tão assustador que fez com que seu coração batesse mais rápido do que nunca antes. Hagrid estava tomado por tentáculos que se enroscavam em suas pernas e em seus braços com todas as forças mágicas que haviam obtido. A barba de Hagrid estava encoberta por dois tentáculos que tentavam asfixiar o professor de todas as maneiras. Alvo irrompera em choque, afastando todos os tentáculos que se aproximavam dele com azarações e feitiços errantes. Primeiramente Alvo tentou se livrar dos tentáculos que enforcavam seu amigo com as mãos, mas depois de conseguir um ferimento nada agradável ele resolveu utilizar os métodos mágicos.

– Não se mova! – ordenou Alvo apontando sua varinha para os tentáculos – Diffindo!

Alvo repetiu o Feitiço do Corte em todos os tentáculos presos a Hagrid. Em questão de segundos os braços e pernas do gigante já estavam livres, e sua traquéia desobstruída. Hagrid cauí de joelhos sobre a terra e então disse:

– Obrigado, Al – disse ele lentamente tentando recuperar o ar. – Estou te devendo uma.

– Potter! – gritou Escórpio desesperado, mancando para junto de Alvo e Hagrid com uma mão na perna esquerda que sangrava e a outra apontando para entre as árvores. – Aranhas! Aranhas Gigantes!

Alvo teve de apertar os olhos para distinguir os borrões negros que chegavam por entre os arbustos e as árvores da floreta. Uma dúzia de aranhas de tamanho sobrenatural avançava pesadamente em direção aos três. Suas pinças batiam contra o chão com raiva e ira, igual quando fizeram com Harry e o tio Rony no segundo ano deles, todas famintas e lideradas por Aragogue. Desta fez, seus netos eram quem estavam presentes no ataque, seus vários olhos negros fixados nas três figuras invasoras. O intruso que tomara a forma do Prof McNaught gemia de

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medo, tentando se afastar ao máximo dos aracnídeos famintos. Mas as aranhas pareciam ignorar sua forma decadente e desesperada.

– Hagrid – falou Alvo esperando que ele tivesse uma longa amizade com os netos de sua aranha de estimação.

– Posso tentar – afirmou Hagrid como se tivesse lido os pensamentos de Alvo. – Parem! Sou eu Rúbeo Hagrid, o criador de Aragogue! Respeitem sua memória e não avancem!

A maior aranha entre as muitas que se aproximavam tomou a frente do bando ainda batendo as pinças contra o chão. Ele começou a dizer algumas coisas, mas que foram muito difíceis de entender por causa do barulho das demais aracnídeas.

– Eu sou Moragogue! – apresentou-se o aracnídeo gigante. – Primogênito de Ferogue, o rei de nossa colônia. Sou o próximo na linhagem real. E não aceito ordens de humanos! Nem mesmo daquele que criou meu avô!

As aranhas voltaram a avançar cada vez mais violentas e com mais sede de sangue. Alvo e Escórpio se entreolharam no mesmo momento em que Hagrid armava novamente seu arco.

– Vocês não são como Aragogue – murmurava ele irritado. – Ele era bom. Vocês não!

– Sabe algum feitiço? – perguntou Escórpio suando frio.– Uma vez eu ouvi o nome de um... Mas não sei se dará certo! – Alvo

tremia até a espinha. A varinha apontada para Moragogue de maneira ameaçadora. Conforme as aranhas avançavam a coragem tomava mais o corpo de Alvo. Suas pernas não estavam mais bambas e seus braços estavam rígidos. Melhor morrer lutando. Pensou ele quando Hagrid lançou a primeira flecha.

Alvo encheu os pulmões e gritou com todas as forças:– Arania Exumai!Quatro aranhas foram lançadas para longe, o que encheu o coração de

Moragogue de raiva.– Você irá pagar, humano asqueroso! – rugiu a aranha investindo contra

Alvo. Com um giro e um chute, Alvo acertara a cabeça do príncipe das

aranhas, que gritou e caiu inerte.A batalha com as aranhas estava chegando ao fim. Eram poucas as

netas e netos de Aragogue, liderados pelo príncipe conquistador, Moragogue, que ainda eram visíveis. Quando as flechas de Hagrid acabaram, ele começou a distribuir socos e pontapés para cada aranha que chegasse perto demais de seu alcance.

“Eles não são como Aragogue!” exclamava Hagrid indignado “Não merecem o mesmo tratamento”.

Mas para a surpresa de Alvo, a vítima de seu poderoso chute não havia sido locauteada por completo. Moragogue recobrara os sentidos e avançara a todo pano em direção ao humano que o humilhara na frente

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de seus irmãos e irmãs. Suas presas estavam banhadas de veneno. A ira e o ódio tomavam seus olhos. As pinças voltaram a se debater contra o chão. Finalmente ele avançou.

– Morra humano! – Moragogue estava tão próximo de Alvo que dava para sentir sua respiração ofegante. Mas no último segundo antes da aranha se chocar contra o sonserino outro ser havia empurrado Alvo em outra direção. Fazendo com que a presa de Moragogue ficasse a salvo e esse novo ser fosse encoberto pela aranha peluda.

– Tira isso de mim! Tira! – gritou Escórpio desesperado após salvar Alvo do ataque do príncipe aracnídeo.

– Humano tolo! Não era sua hora de morrer, mas já que se meteu entre mim e minha presa... Este será seu fim!

– Arania Exumai! – gritou Alvo, mas para sua surpresa nada ocorreu. Escórpio continuava sobre o domínio da aranha com sede de vingança. E todos os feitiços que Alvo lançava contra seu inimigo ricocheteavam contra o corpo de Moragogue sem surtir efeito.

– Hagrid, Potter! Ajudem-me! – as presas de Moragogue estavam mais próximas do rosto de Escórpio, o veneno escorrendo pela boca em direção ao garoto.

Chispa!Uma flecha em alta velocidade cortara o ar e passara tão próximo de

Alvo que ele sentiu uma brisa perto de sua orelha pouco antes de um fio de seu cabelo escuro cair sobre as folhas secas. A flecha atingiu em cheio Moragogue, que com um suspiro de indignação tombou para a direita liberando Escórpio de seu domínio. Alvo girou nos tornozelos para poder ver quem salvara a vida de Escórpio. Quem fora o arqueiro que lançara a flecha certeira que passara a um milímetro de sua orelha...

– Firenze! – exclamou Hagrid conforme o centauro se aproximava dos três humanos guiando seu grupo de homens cavalo.

– Como vai, Rúbeo? – disse o centauro Firenze com sua voz calma e aconchegante, o arco que salvara Escórpio já preso em suas costas. – Estão vendo. Eu disse que a luz de Vênus incidindo a leste era o sinal de alguém em perigo.

– Como chegaram até aqui? – perguntou Hagrid se recompondo do ataque das aranhas.

– Uma luz incomum em Vênus incidindo a leste era o sinal de alguém em perigo – repetiu Firenze com naturalidade, seus olhos percorriam a chacina de aranhas.

– Já sabemos disso! – afirmou Escórpio.– Também percebemos uma luz vermelha vinda desta direção – afirmou

outro centauro detrás de Firenze. Este possuía cabelos e barba avermelhada, além de uma longa cauda que tocava o solo.

– Ah, como vai, Ronan? – Hagrid sorriu para o segundo centauro, o chamado Ronan, que olhava apreensivamente para os dois garotos. – Ah, estes são Escórpio Malfoy e Alvo...

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– Dumbledore? – pigarreou outro centauro. Ele era o menor entre os cinco ali presentes. Sua cabeleira era loira e rebelde com uma barbicha bifurcada e uma calda inquieta.

– Não, Garano. Alvo Potter.– Filho de Harry Potter? – sugeriu Firenze se aproximando de Alvo.

Seus olhos negros estudaram Alvo com cuidado parando sobre seus olhos verdes. Seu rosto se iluminou.

– Sim – assentiu Alvo, envergonhado.– Firenze, veja! – exclamou Garano que galopara até onde o falso Prof

McNaught estava caído. – Este humano está morrendo!– Quem ele é? – perguntou Ronan recostando o intruso nas pedras da

grande estalagmite.– Não sabemos – disse Alvo ajudando os centauros. – Achávamos que

era nosso professor... Sabem lá do castelo. Mas ele está muito diferente.– Como teus amigos lhe chamam, jovem humano? – perguntou Ronan

para o intruso.– Foi tudo minha culpa! – afirmou o intruso culpando-se. Seus olhos

saltavam das órbitas e sua boca espumava. Uma gota de saliva escorria pelo canto de sua boca, até cair sobre suas vestes rasgadas. – Foi tudo minha culpa! Eu... eu fiz uma burrada! Se eu não tivesse me juntado, todos estariam vivos. A culpa foi minha!

– Como te chamas! – insistiu Ronan batendo os cascos.– Malcolm Prisco Baddock – respondeu o homem mais tranquilamente.

– Membro do Departamento de Transportes Mágicos... Ah, como vai Sr Weasley. – Baddock olhou para Ronan como se ele fosse um dos Weasley que trabalhavam no ministério, talvez o cabelo vermelho o tenha ajudado. – Já vou preparar sua papelada sobre o contrabando de tapetes voadores no sul da Turquia. Pode informar a seu superior que a papelada estará em suas mãos no fim do dia.

Seus olhos voltaram a sair de órbita. Baddock começou a tagarelar com Firenze como se ele fosse o Ministro da Magia, contando como estava o processo contra Bahir Rashid, um bruxo que fora apanhado contrabandeando tapetes voadores no norte a Ásia. Poucos minutos depois eles voltaram ao lugar, fixando-se em Alvo.

– Preciso falar com alguém. Preciso confessar todos os meus erros... Se não fosse por mim... Vocês correm perigo, e a culpa é minha! – Baddock gaguejava, mal formava suas frases. Mas a cada sílaba que saia de sua boca, mais aqueles que estavam à sua volta se interessavam pelo que ele dizia. – Eu o matei! Matei um homem indefeso, o meu chefe não disse quem era, mas eu o matei mesmo assim!

– Está falando de Dagoberto Snowyowl, chefe de seu departamento? – perguntou Escórpio ignorando a dor provocada por sua perna.

– Não, Sr Malfoy – protestou Baddock voltando a falar normalmente. Ele não parecia se dirigir a Escórpio, mas sim a seu pai. – O Sr Snowyowl me pediu para depositar esta quantia em seu cofre. Fomos companheiros

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de casa, Draco. Pensei que você facilitaria minha vida. Evitando que eu passe por toda aquela burocracia dos duendes.

– Senhor, não fale – pediu outro centauro. Ele era o mais pesado dos cinco, com uma barriguinha nada charmosa, sua barba era irregular e os cabelos eram tão negros quanto os olhos.

– Eu fiz uma... idiotice – afirmou Baddock. – Todos... Mortos por minha causa... Serena, Rúbo, Acrusto é até o Plochos... mortos... Ele... voltará... Artes das Trevas... esquecidas... Potter... abrir... Lorde Voldemort... Ele o trará de volta!

– Quem trará Voldemort de volta? – o coração de Alvo disparou. O garoto nem ligou quando os centauros e Hagrid torceram os rostos quando Alvo pronunciou o nome do Lorde das Trevas. Ele estava mais preocupado em ouvir o que Baddock relatava.

– O Comensal da Morte – chiou Baddock. – Preciso falar com a diretora Crouch!

– Precisamos levá-lo para o castelo – interveio Hagrid se aproximando do grupo de centauros. – Aqui ele pode acabar se infeccionando.

– Levá-lo desta forma pode causar uma hemorragia interna – falou o centauro barrigudo. Seus dedos eram enrolados por entre sua barba negra. – Sei disso, sou curandeiro. Temos de removê-lo em uma maca.

– Não me deixem morrer! – suplicou Baddock lacrimejando. – Conseguem levá-lo para a cabana? – perguntou Alvo, uma idéia

aflorava em sua mente. – Posso ir até o castelo e chamar ajuda. Será mais fácil para Madama Pomfrey tratar dele na cabana do que aqui. Você, Sr Centauro-Curandeiro...

–... Varenze... – disse o centauro se apresentando.–... Sr Varenze. Preciso que você transporte esse homem até a cabana

de Hagrid, mas também gostaria que cuidasse da perna de meu amigo – Alvo encarou a perna ensangüentada de Escórpio. – Eu o devo uma.

Sem demora, Varenze ordenou que o centauro mais jovem, Garano e o outro (que até então não se pronunciara) voltassem a sua tribo e trouxessem uma maca para transportar Baddock. Depois ele se encaminhou para Escórpio e somente com as ervas que encontrara naquela redondeza, conseguiu fabricar um remédio para estancar o sangue.

– Como pretende chegar à Hogwarts? – perguntou Firenze quando Alvo se dirigia com Hagrid para fora da floreta.

– Correndo – afirmou Alvo.– Que tal dar uma cavalgada?Montar em um centauro não é nada fácil. Não há sela para poder se

equilibrar nem um domador disposto a ajudá-lo. Se não fosse por Hagrid que erguera Alvo como um bebê, o garoto não teria conseguido. Porém galopar em cima de um centauro é muito melhor do que em um cavalo comum. Não há tensão com relação os movimentos do animal, pois todos são muito bem orquestrados pela parte humana do centauro. Volta e meia

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Firenze se excedia um pouco empinando e saltando distâncias muito longas. Mas Firenze se mantinha cortês e sempre pedia desculpas a seu passageiro quando percebia que Alvo estava desgostoso. Os cabelos do centauro também eram muito mais magníficos do que os de um cavalo comum. Sempre que a luz do luar incidia sobre a nuca de Firenze seus cabelos brilhavam e atingiam uma tonalidade prateada, como se fosse uma esponja de aço.

– Quem tentaria matar o tal Baddock? – perguntou Alvo à Firenze que estava muito compenetrado em seu trajeto.

– No mundo dos humanos existem muitas rivalidades, Alvo Potter – afirmou Firenze calmamente. Seus olhos deixaram o caminho por um instante e se voltaram para as estrelas. – Muitos homens são tomados e deixam ser manipulados por uma emoção muito perigosa. A ganância, a sede por poder. Quando um humano é tomado por este sentimento ele mal é capaz de raciocinar. Mataria seu melhor amigo se necessário. Talvez, o tal Baddock seja uma vítima de sua própria ganância.

– Como você fala parece que somente os humanos podem ser tomados pelo poder. Centauros também podem ter uma sede como esta em questão, estou correto? – pensou Alvo em voz alta.

– Sim – concordou.Por um momento os dois permaneceram em silêncio. Somente o

barulho dos cascos de Firenze chocando-se contra o solo chegava aos ouvidos de Alvo.

– Centauros não são criaturas abençoadas com o dom de serem imunes aos sentimentos que em quantidade se tornam maléficos – afirmou Firenze depois de certo tempo calado. – Eu tinha um amigo, Agouro, ele era de minha tribo. Seu modo de ver este e os outros mundos sempre fora diferente do meu. Depois que eu voltei de Hogwarts ele foi um dos poucos centauros que não aprovavam meu retorno. Nós brigamos, e Agouro, depois de derrotado, partiu de nossa tribo. Ele formou um novo grupo. Um grupo que nem quanto Urano brilhar mais que os demais planetas; poderá ter compaixão pelos humanos. Agouro não perdoa os feitos dos humanos no passado. A ditadura, os assassinatos a sangue frio...

Firenze começara a relatar a Alvo todos os antigos feitos deste centauro, Agouro, ao longo do passado. Firenze estava completamente aturdido pelas lembranças do antigo companheiro. O transe do passado encobrira seus olhos, mas por sorte o restante de seu corpo permanecia no presente, impedindo um choque do centauro e de Alvo com as árvores. Somente quando um uivo de alegria fez com que o chão tremesse, Firenze voltou completamente à realidade.

– Lobisomem? – perguntou Alvo assustado.– Possivelmente – disse Firenze. – Desde a batalha que corrompera

Hogwarts, desde que Mercúrio começou a ter seu hemisfério sul mais

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brilhante que o de Marte, existe um boato de que um lobisomem estava perdido entre as muitas e muitas árvores da floresta.

Por um segundo Alvo pensou em Remo Lupin, o pai de Ted que morrera durante a Batalha de Hogwarts. Naquele segundo Alvo teve esperanças de que Remo fosse o lobisomem perdido, mas depois concluiu que era impossível, pois seu pai havia visto o cadáver de Remo no Salão Principal e que havia testemunhas de seu duelo com o Comensal da Morte Antônio Dolohov, tio de Ralf.

– Alvo! – exclamou Rosa quando Alvo e Firenze chegaram à cabana de Hagrid. Rosa estava pronta para voltar ao castelo. Já se passava de uma hora. – Onde estão Escórpio e Hagrid? E quem é esse centauro?

– Rosa, Firenze. Firenze, Rosa... – apresentou a amiga ao centauro que salvara a vida de Escórpio. – Ele nos ajudou muito quando chegamos à emboscada. Escórpio e Hagrid estão bem, estão trazendo um homem junto com o resto do bando de centauros de Firenze. O que me lembra... Rosa, preciso que esquente um pouco d’água, arrume a cama de Hagrid e fique atenta à floreta. Assim que os centauros chegaram deixe que Varenze coloque o tal de Malcolm na cama. Estou indo chamar Crouch e Madame Pomfrey.

Rosa assentiu e correu para dentro da cabana.– Firenze, se importa de me deixar no castelo? – Será uma honra, Alvo Potter. Há muitos anos que não volto para o

castelo de Hogwarts – Firenze esticou o pescoço e admirou as janelinhas iluminadas que brilhavam pelas paredes do castelo.

Firenze levou a metade do tempo que Alvo levaria para chegar ao castelo. Passar pela Ponte Suspensa não fora nada fácil. Alvo teve de se encolher sobre as costas de Firenze para se manter seguro. Alguns alunos que ainda vagavam pela parte externa da escola se assustaram com o homem-cavalo que percorria o pátio com um aluno montado sobre ele. Alvo pode ver Estevão Murdock cutucar um amigo e apontar para Alvo e para Firenze quando eles passaram pelo vestíbulo do Salão Principal.

– Tudo bem, daqui eu sigo sozinho. Obrigado pela... – Alvo pensou em dizer “carona”, mas depois achou que isso ofenderia o centauro. – Obrigado por tudo.

– Disponha, Alvo Potter – Firenze faz uma reverência para Alvo e se dirigiu para um pessegueiro, onde colheu algumas frutas e as devorou rapidamente. Alvo imaginou qual seria a reação do Morangueiro Revoltado se o centauro fizesse o mesmo com suas frutas.

Alvo disparou pelos corredores de Hogwarts sem tomar conhecimento de quem ou de que ele deixava para trás. Geralmente quando ele se chocava com algum ser animado um uivo de dor ou de raiva cortava o ar com ferocidade e ecoava por todo o castelo, mas Alvo mal entendia o que aqueles gritos significavam. Ele corria com tanta vontade que não se importava com quantos alunos ele deixava para trás, caídos no chão. O

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que seria uma boa tática para os jogos de futebol organizados pelo Prof Finch-Fletchley. Foi o que Alvo pensou após derrubar Cameron Creevey assim que ele saltou três degraus para não gastar tempo. Os quadros dos bruxos, bruxas, videntes e arqueólogos censuravam a atitude de Alvo, mas o garoto só entendeu quando um cavaleiro desastrado e apócrifo começou a gritar para Alvo de maneira eufórica e competitiva.

– Isto é o máximo que tu consegues dar, jovem plebeu? – gritou a pintura do cavalheiro Sir Cadogan avançando por vários quadros tentando vencer Alvo em uma competição de corrida imaginária. – Um cavalheiro veraz e hábil consegue alcançar maiores velocidades somente com a ajuda de um modesto potro.

Sem dar importância aos argumentos importunos lançados por Sir Cadogan para que seu oponente perdesse o foco de seu caminho, Alvo seguiu uma bateria de escadas em direção ao gabinete da diretora.

“Ó jovem sem espírito competitivo!” reclamou Sir Cadogan quando Alvo abandonou sua competição ao subir a bateria de escadas. “Em minha próxima oportunidade mostrarei a ti, plebeu, todos os atributos esportivos que Sir Cadogan goza.”

Finalmente Alvo chegara ao pedestal onde a gárgula protetora da passagem que levava ao gabinete da Profª Crouch ficava. O garoto estava pronto para subir as escadas de caracol que davam para o gabinete, mas Alvo esquecera-se de algo de grande importância. A senha que liberava a passagem e que impediria que a gárgula bloqueasse o portal.

– Eu não sei a senha! – repetiu Alvo inquieto para a gárgula sentinela. – Somente tenho que falar com a Profª Crouch imediatamente! É assunto de vida ou morte!

– Lamento meu jovem, mas sem senha não entra! – informou a gárgula persistente. – Se quer falar com a diretora... Diga-me a senha!

Foi então que um estalo fez com que Alvo se lembrasse de algo dito por Filch no dia em que ele, junto de Bruto e Flora, escoltou Alvo, Isaac, Valerie e Isla para o gabinete da diretora esperançoso para que a diretora aplicasse uma severa punição nos garotos. Filch reclamara que a nova senha de Crouch era muito mais complicada que a dos antigos diretores, mas sem muita cerimônia ele a dissera com rispidez. Era uma palavra complicada, mas que Alvo conhecia há muito tempo. Gravada sobre o brasão da família Black, o que acentuava a ligação da família Crouch com a família Black. Alvo só precisava dizer a frase que ele tanto lia na Sala das Tapeçarias do número doze do Largo Grimmauld para poder finalmente se encontrar com a diretora.

– “Toujours pur”! – exclamou Alvo, eufórico.– Senha incorreta – sibilou a gárgula imitando uma voz eletrônica.– Olhe sua gárgula imbecil. Eu preciso com urgência falar com a

diretora! E se você não liberar a passagem eu explodirei sua cabeça. – a gárgula não precisava saber que Alvo não sabia como explodir as coisas.

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Mas talvez se ele agitasse sua varinha com força algum resultado catastrófico ocorreria.

– Ali está ele, professora! – grunhiu uma voz rouca e seca vinda de trás de Alvo.

Filch vinha mancando pelo corredor gesticulando furiosamente para Alvo. Se espreitando sobre suas pernas estava a sempre atenta gata do zelador, Madame Nor-r-ra. Seus olhos amarelos estavam fixos em Alvo. O que fez com que uma onda elétrica tomasse seu corpo. O zelador resmungava para alguma professora que o seguia enquanto sua gata idolatrada ziguezagueava por suas pernas tortas.

“Aqui está nosso arruaceiro!” rezingou Filch ainda apontando para Alvo.

Detrás do zelador uma mulher de vestes longas cor de esmeralda que balançava sobre o mármore como um jacaré na espreita surgiu. Seus olhos severos estudavam Alvo por trás de seus óculos quadrados. Seu coque apertado parecia estar na mesma proporção rígida que a própria. Alvo esperava qualquer professora, menos a velha e prudente Minerva McGonagall. A professora sempre se mostrava severa com seus alunos, mas sempre era mais “amigável” com os grifinórios do que com os demais. Alvo temia que por ele ser um membro da Sonserina, sua compreensão fosse menos passiva quanto quando se tratava de um aluno de sua casa.

– Ele derrubou meia dúzia de alunos, Profª McGonagall – Filch mostrava satisfação em relatar as infrações de Alvo para a professora. – Estava correndo nos corredores, isso é contra as regras. Mísero sangue Potter!

– Já basta, Argo – interrompeu a Profª McGonagall erguendo uma das mãos para silenciar Filch. – Espero que Potter possua motivos muito fortes e convincentes para estar correndo pela escola como se fosse seguido por uma nuvem de dementadores.

O olhar de McGonagall só não era mais assustador do que o de Madame Nor-r-ra. A gata de Filch parecia ter perdido o interesse de piscar. Seus olhos estavam fixos em Alvo como se ele fosse um rato gigante que a felina pudesse abocanhar com um golpe só. Sua calda de escova balançava inquieta. Suas patas estavam flexionadas de maneira pronta para atacar. E sua língua deslizava de um canto ao outro de sua boca felpuda. Madame Nor-r-ra estava desejosa de ter Alvo como seu jantar.

– Professora, eu tenho que falar com a diretora Crouch – persistiu Alvo enfrentando o olhar ameaçador de McGonagall. – É um assunto muito delicado.

– Ora, se deseja relatar algo tão... extremo, quando isto, Potter, então diga a mim! Não sei se está lembrado, mas sou a vice-diretora.

Relutante, Alvo narrou para a Profª McGonagall e para Filch tudo o que ele, Escórpio e Hagrid passaram quando entraram na floresta para salvar

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o intruso chamado Malcolm Baddock. A expressão de McGonagall ficava mais chocada a cada palavra que deixava a boca de Alvo e chegava a seus ouvidos. Seu rosto enrugado perdia a cor e seu cenho estava o mais comprimido possível. Já Filch tomara uma aparência débil e cômica. A cada cinco palavras ditas por Alvo, o zelador dava a crer que entendia somente uma. Quando finalmente Filch convenceu-se de que não estava entendendo nada do que Alvo relatava, o zelador carrancudo, velho de cabelo opaco agachou-se para por sua amada gata no colo e começou a aninhá-la.

– O que está me dizendo, Potter, é muito grave – informou a Profª Minerva quando Alvo terminara de contar toda sua aventura à professor da Transfiguração. – Um invasor em Hogwarts! Forjando ser professor! Definitivamente o trabalho do Sr Dolohov não está sendo bem...

– Não! – protestou Alvo se lembrado de Dêniston Dolohov, o homem gorducho, pequeno, de cabelo fino e negro e com um tique nervoso na sobrancelha esquerda, que circulava por Hogwarts testando as novas proteções contra invasões trouxas que o mesmo inventava ou aperfeiçoava. – O pai de Ralf não têm culpa! O tal Baddock estava disfarçado de Prof McNaught, deve estar se passando por ele desde o início do ano. Parecia estar utilizando Poção Polissuco. Eu já vi as reações da metamorfose. Uma fez meu pai a utilizou para vasculhar um povoado trouxa e...

– Basta, Potter! – McGonagall estava intrigada, e ao mesmo tempo temerosa. A professora hesitou se colocando à frente de Alvo, se virando para a gárgula. – “Pudicitia Impeccabilem”!

A gárgula parecia feliz em poder liberar a passagem sem ter seus membros de pedra destruídos. McGonagall e Alvo saltaram para junto das escadas de caracol e esperaram, impacientes os degraus mágicos rodopiarem como uma escada rolante de um Shopping Center trouxa. Quando Alvo e McGonagall chegaram à porta de carvalho com aldrava em forma de grifo, a professora se adiantou passando a frente de Alvo a todo vapor. O garoto cambaleou quando a Profª Minerva o atingiu. Alvo esperava que sua professora de Transfiguração batesse na porta e esperasse que sua colega e diretora a atendesse, mas McGonagall não hesitou. Meteu a mão na maçaneta e escancarou a porta do escritório da Profª Crouch.

– Minerva?! – reclamou a diretora arregalando os olhos para a vice-diretora que se adiantara e, com passos largos, entrava sem consagrações pelo escritório. – Potter, o que estão... Que vestimenta é está Potter? O senhor está... Não vêem que estou em uma reunião?!

Alvo mal reparara, mas a diretora não estava sozinha. Em uma cadeira bem confortável, colocada cautelosamente bem à frente da escrivaninha da diretora, para que seu convidado não perdesse o foco da conversa, um homem estava sentado. Esticando o pescoço para poder ver quem eram os dois invasores, o homem pode mostras suas feições sarcásticas e

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gozadoras. Ele possuía cabelos castanhos e longos, um cavanhaque mal aparado e uma barbicha rebelde, seus olhos eram negros como um corvo e a maneira como ele prestava atenção nos fatos e detalhes ao seu redor, lembrava uma coruja, girando sua cabeça para observar tudo o que acontecia à sua volta.

– Servilia, desculpe-me pela intromissão... Este deve ser o novo professor que mencionou.

“Novo professor!”, pensou Alvo curioso.– Precisa saber o que Potter alega ter presenciado – a Profª McGonagall

começou a relatar a diretora tudo o que ela ouvira de Alvo. A expressão severa e amofinada Crouch foi deixando seu rosto aos poucos. No lugar destas o espanto tomou seu rosto. O cenho estava comprimido e seus olhos olhavam atentamente o movimento do maxilar de McGonagall. Uma veia em seu pescoço pulsava mais rápido. Crouch estava completamente assustada.

– Isto é, isto é... – a diretora parecia procurar palavras para poder formar uma frase com sentido. Uma gota de suor frio escorria por sua testa. – Inacreditável. Um professor falso. Alguém estava se passando por Epibalsa! Isto é o fim. Amanhã mesmo o ministério estará mandando uma bateria de aurores para revistar o castelo. Os repórteres do Profeta virão logo em seguida e não poderei impedi-los de entrar no castelo. Meu nome na capa do jornal... É um desastre!

– Professora! – gritou Alvo, impaciente. – Intruso ou não, tem um homem no leito de morte! Ele está muito mal. Os centauros na cabana de Hagrid não poderão fazer muita coisa somente com ervas e chás!

– Está certo, Potter – assentiu Crouch erguendo-se de sua cadeira e contornando sua escrivaninha em direção a seus os dois novos visitantes. – Minerva, eu quero que alerte Madame Pomfrey. Peça para que ela reúna o maior número de remédios e poções possíveis, depois que me encontre na Ponte Suspensa o mais rápido que puder. Artabano, – ela se voltou para o homem que presenciava atentamente tudo o que ocorria no gabinete – gostaria nossa conversa fosse menos tumultuada. Você se mostrou hábil a conquistar uma vaga dentro de nosso corpo docente. Está liberado a seguir. Pode usar minha chaminé se quiser...

– Eu posso ajudar – afirmou o homem chamado Artabano dando um salto de sua cadeira. – Como um bom tratador eu tenho certo entendimento sobre primeiros-socorros. Era uma espécie de pré-requisito.

– Excelente. Potter, - Crouch baixou seus olhos sobre Alvo. – quero que fique aqui. Quando tudo for resolvido quero ouvir detalhadamente – a diretora deu ênfase a esta palavra, como se tivesse certeza de que Alvo ocultara alguma informação para os professores – o que você tem a dizer sobre este lamentável fato.

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Os três professores saíram em disparada para fora do gabinete de Crouch, deixando Alvo sozinho, tendo apenas os retratos dos antigos diretores de Hogwarts como companhia.

Durante algum tempo Alvo ficou andando em círculos pelo escritório da diretora Crouch. Ele observou seus objetos mágicos de latão, que se moviam, piavam e soltavam fumaça. Alguns demonstravam estar a muito sem uso, pois uma camada de poeira se estendia por toda sua superfície. Depois de ficar entediado de não fazer nada e de ser o único a não saber o que acontecia na cabana de Hagrid, Alvo se sentou na cadeira da diretora e começou a fingir que era ele quem mandava em Hogwarts. Em menos de cinco minutos três garotos imaginários da Grifinória haviam sido postos em detenção e seis sonserinas mais velhas havia ganhado pontos extras por elogiar os novos sapatos imaginários de Alvo. Mas foi quando o jovem sonserino começou a examinar as pinturas dos antigos diretores (alguns se sentiam incomodados de ter um aluno sozinho em seu antigo gabinete) que ele perdeu completamente seu interesse em saber o que acontecia na cabana do guarda-caça e seu tédio fora lançado a toda velocidade em uma enorme lata de lixo. Um homem magro de olhos e cabelos negros e sedosos, pele pálida, nariz torto o sondava como se esperasse ansiadamente um deslize para expulsá-lo da escola.

– O que está fazendo sozinho aqui, Potter? – perguntou o retrato do Prof Severo Snape com rispidez.

– A Profª Crouch pediu para que eu a aguardasse – falou Alvo, um tanto temeroso. – Ela quer ouvir minha versão do... – Alvo se conteve, não esperava que o antigo diretor fosse a melhor pessoa para desabafar. – Não ira arrancar nada de mim.

– Hum – pigarreou o retrato. – Já era hora de você voltar a este escritório. São todos iguais... Todos os Potter são sempre a mesma coisa. Todos são arruaceiros, quebram as regras, prejudicam aqueles que nada têm a ver com suas armações. Não perca seu tempo perguntando quem eu sou. Nem pergunte o porquê de eu ter tanto desprezo pelo nome Potter. Entretanto sua resposta foi mais honesta que a de seus parentes.

– O senhor está errado – silvou Alvo com veemência.– Não tente iludir-me. Sou muito mais safo do que você, jovem – Snape

fez uma pausa. – Tem sorte de não ter-me como seu diretor. McGonagall, Crouch, nenhuma das duas seria capaz de arrebatar a verdade de dentro de um Potter como eu. Sou o único que poderia conquistar algo que uma legião de professores tenta.

– Então, sorte a minha que você não é meu diretor – Alvo pensou em dizer que a sorte era por Snape estar morto e enterrado a mil quilômetros de distância dele. Mas então se lembrou do grande respeito que seu pai demonstrava quando mencionava o antigo professor de Poções. Lembrou-se também do que ele havia lhe dito na plataforma no dia primeiro de setembro. E de seu nome do meio, Severo, uma homenagem ao homem mais corajoso que Harry Potter conhecera.

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– É bom que pense assim – Snape ensaiou o que mais parecia um sorriso. – Seu pai não diria o mesmo. Talvez, mesmo eu sendo um retrato, diria que eu não teria problemas em arrancar alguns pontos da Grifinória. Também diria que eu protegia os sonserinos. Típico preconceito grifinório. E falsas alegações vindas de alguém que sempre vivera por baixo das asas de alguém mais forte. Deve pensar o mesmo. Que sua Grifinória ainda é injustiçada por nós da Sonserina.

– Não – disse Alvo, para espanto de Snape. – Nunca vi nossa Sonserina arquitetando maneiras de injustiçar a Grifinória. Talvez não seja isto que meu irmão mais velho diga. Mas é o que eu acho.

– Você não é da Grifinória? – Snape parecia não acreditar em seus ouvidos como se algum artista houvesse pintado em seu quadro ceras de ouvido mágicas.

– Não. Eu, Alvo Severo Potter, sou da Sonserina – Alvo sorriu para o retrato do diretor.

– Parece que eu errei meu conceito com relação à família Potter – Snape parecia desolado com a revelação. – Tal pai, tal filho. Pelo que vejo é mais que isso. Um Potter freqüentando minha casa. Algo, consideravelmente anormal.

– Eu não diria que “anormal” seria o adjetivo mais qualificado para me classificar como sendo da Sonserina – disse Alvo com perseverança. – Me identifico com a Sonserina. Talvez mais do que com a Grifinória. Tenho amigos em minha casa, e também nas demais. Acredito que eu seja um sonserino de sangue Potter. Aquele que pertence a uma casa, a muito vista com maus olhares, mas que não tolera certos títulos e rótulos utilizados por alguns de meus contemporâneos.

– Como? – quis saber Snape.– Como as variações de sangue-puro e “sangue-ruim” – Alvo mal notava,

mas geralmente, em seus pensamentos mais profundos e obscuros, ele utilizava a característica de “sangue-ruim” contra aqueles que lhe causavam dor e sofrimento. Assim como a família trouxa que demoliria a Toca.

– Nunca, repita estas palavras em minha presença, Potter! – rosnou Snape severamente. – Mesmo que pertença a minha casa não pode dar-se ao luxo de olhar para mim e dizer tudo o que pensa. Pode ser sonserino, mas ainda é um Potter! Tem bastante de seu pai ai dentro. É arrogante, egoísta! Quem sabe minha teoria sobre vocês não esteja tão incorreta. Mesmo sendo de casas distintas vocês ainda são Potter! E merecem uma atenção especial.

– O que quer dizer com isso?– Nada – sussurrou Snape como se acabasse de perceber que sua

língua o traíra. – Mais tarde saberá. E espero não ser por mim.Snape não pensou duas vezes antes de dar as costas para Alvo sem ao

menos se despedir. O retrato do diretor de cabelos sedosos deixou sua cadeira e abandonou seu quadro de Hogwarts. Novamente Alvo ficou

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sozinho, sem nenhum diretor que realmente valesse apena conhecer (o diretor Fineus Black não estava em seu costumeiro quadro).

Quando o ponteiro menor do relógio preso perto a escrivaninha da Profª Crouch se aproximava das dez horas na noite, Alvo estava convencido de que os outros haviam esquecido de que o garoto estava no gabinete da diretora. Provavelmente Madame Pomfrey havia curado o intruso e para comemorar todos os outros envolvidos haviam ido à cozinha para comemorar. Alvo gostaria de estar presente no banquete, pois sua barriga roncava de fome com tanta intensidade que o Chapéu Seletor, adormecido, parecia estar sendo incomodado por seu ranger. Já eram dez e vinte quando a porta do escritório de Crouch se abriu. A Profª McGonagall adentrara de cabeça baixa, seu chapéu cônico preso por entre suas garras felinas. Atrás dela estava a Profª Crouch, e mais atrás Rosa e Escórpio – que ainda mancava. Todos com uma aparência abalada e tristonha. Com certeza nenhum deles havia voltado de um banquete.

– Então, o que houve? – quis saber logo Alvo, curioso.Rosa desmanchara em lágrimas e Escórpio fora obrigado a ceder seu

ombro para que a garota pudesse chorar. McGonagall continuara calada e fria. Já Crouch fora a única que tivera coragem de encarar Alvo.

– Suas intenções foram nobres, Potter – Crouch falava em um tom mórbido. Segundo seus amigos, você lutou contra as armadilhas depositadas na floresta e contra as aranhas de maneira louvável. Você guiou os centauros e fez de todo o possível para salvar a vida de um estranho, o qual infringiu inúmeras leis e nos fizera de gaiatos se passando por um professor. Você, Potter, mostrou ter grande fibra moral, mas como pode ver... Foi um choque para todos nos presenciarmos o que presenciamos, mas... Malcolm Baddock, o intruso, está morto.

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Capítulo OnzeFérias em Hogwarts

notícia de que havia um intruso em Hogwarts disfarçado de Prof McNaught se espalhou pelo castelo mais rápido do que as vinhas natalinas às vésperas do feriado. Poucos sabiam sobre o tal

intruso, o bruxo Malcolm Baddock, funcionário do Ministério que pouco levantava suspeitas. As aulas de Artes dos Trouxas foram suspensas até a diretoria encontrar um substituto para o lugar do falso McNaught. Mas somente depois que se foi descoberto que havia um intruso na escola que várias informações chegaram aos ouvidos dos alunos. Os professores tentavam ocultar as partes mais intrigantes e problemáticas, mas Filch e o restante dos professores já faziam rondas noturnas à procura de um astuto ladrão que roubava o estoque de poções da sala do Prof Slughorn. Muitos ficaram intrigados e perturbados, imaginando por que a série de furtos de ingredientes de poções voltara a assombrar o castelo. Assim como fizera Bartolomeu Crouch Júnior quando se disfarçava de Prof Moody na mesma época em que Harry ingressava em seu quarto ano e se via no meio do Torneio Tribruxo. Os assaltos à sala do Prof Slughorn eram menos freqüentes do que os da sala do Prof Snape há vinte e três anos – e também não aconteciam quaisquer fatos anormais que alarmassem mais aos professores. Ninguém desconfiava do galante Prof McNaught, ele sempre se mostrava muito amistoso com seus colegas, principalmente com o Prof Silvano já que os dois tramavam algo suspeitíssimo.

A

Foi durante o intervalo na semana que antecedia os segundos jogos do Campeonato de Quadribol que uma aluna quartanista da Corvinal,

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Josefina Littleby – uma garota muito atenta a conversa dos outros e que nunca desperdiçava a oportunidade de se meter em uma fofoca, descobriu que uma safra de aurores e jornalistas do Profeta Diário chegaria à escola no final do dia. Assim como a diretora temia, seu nome já circulava nas páginas do jornal bruxo, que media todos seus esforços para encher suas páginas de notícias alarmantes (e muitas vezes falsas) sobre a própria diretora.

– Será que aquela víbora da Rita Skeeter aparecerá por aqui? – cochichou Rosa à Alvo e Escórpio durante uma conturbada aula de Feitiços. O Prof Flitwick pedira para que os alunos incendiassem pequenas pilhas de papel, mas o resultado obtido pelo professor fora sua pilha de livros, incendiados, e os cabelos de Héstia Pucey queimando depois de um feitiço errado lançado pela amiga Isla Montague.

– Não duvido nada – sibilou Escórpio enquanto Flitwick apagava o fogo que ardia o cocuruto de Héstia. – Me jogo no Poço dos Dementadores se ela não aparecer!

– Mas a Profª Crouch não pode simplesmente bani-la da escola? – chiou Alvo perto da orelha da prima.

– É mais complexo do que isso – riu Rosa incendiando mais uma pilha de papéis.

Eram poucas as pessoas que sabiam que a repórter jornalística, investigadora e autora de livros polêmicos, Rita Skeeter era um animago. Sua forma de besouro era pouco conhecida por entre os bruxos, facilitando seu trabalho como jornalista. Skeeter se transformava em besouro para xeretar nos lugares mais secretos e restritos do mundo. Era difícil manter um segredo quando se está em uma sala onde há entradas e buracos menores que a cabeça de um alfinete, mas onde um besouro astuto pode penetrar. Contudo, havia uma única bruxa no mundo da magia que conseguia intimidar Rita. A tia Hermione era uma das poucas bruxas que sabiam do segredo de Rita Skeeter, mas era a única que tirava proveito de tal. Hermione ameaçava entregar Rita ao Controle Nacional de Bruxos que se Convertem a Animagos, alegando que a jornalista poderia se hospedar em Azkaban caso fosse descoberta a ilegalidade de suas transformações. Suas matérias quase nunca se referiam a Hermione Weasley ou a seu departamento, caso contrário alguém poderia pisar “sem querer” em um besouro xereta.

Para a sorte de Escórpio, o garoto não teria de se atirar no Poço dos Dementadores; pois junto com a comissão de aurores, três repórteres e fotógrafos do Profeta Diário eram guiados ansiosamente por uma mulher magrela de cabelos ondulados loiros, dedos com unhas longas pintadas de vermelho vivo, dentes de ouro e com uma pena encantada que escrevia em um bloquinho tudo o que ela falava. Rita Skeeter fuçava cada corredor a procura de um aluno disposto a relatar a ela tudo o que sabiam sobre a invasão à Hogwarts.

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“Ele se mostrava esquivo, sinistro ou até... com um ar assassino?” queria saber Skeeter interessada a cada aluno que passava por ela, mesmo que esse não estivesse disposto a revelar nada. “Querida, você sabe se seu professor.. Hum... o intruso possuía alguma amizade especial?”

Melissa Goyle não tardou em revelar à Rita Skeeter que o falso McNaught ficara muito amigo do Prof Silvano, o que acabara com toda a calma e serenidade que o professor dispunha. Em poucos dias, enquanto Dêniston Dolohov e Hagrid guiavam o grupo de aurores pela Floresta Negra à procura de pistas sobre o autor a tentativa de assassinato de Baddock e do ataque a Hagrid, Alvo e Escórpio; Rita Skeeter e os demais membros do Profeta tentavam arrancar de todas as formas alguma informação do professor de Defesa Contra as Artes das Trevas. Silvano mal podia sair de sua sala sem ser rodeado por um ou dois repórteres.

– O senhor parece ser muito perspicaz – disse Skeeter analisando o Prof Silvano de cima a baixo por detrás de seus óculos pontudos. – Como um bruxo que ocupa uma vaga como professor de Defesa Contra as Artes das Trevas não conseguiu detectar que seu colega e amigo era nada mais nada menos que uma fraude? Não notou nenhum sinal que o entregasse? Não percebeu o forte bafo gerado pela Poção Polissuco? Dizem que tem um forte aroma de urina de duende.

Alvo também não conseguiu fugir dos repórteres do Profeta Diário. Quando ele saiu da aula de Geomancia, um repórter baixo de camisa pólo vermelha e um colete marrom, com uma pena prateada presa junto à orelha esquerda, arriscou abordar Alvo para tentar alguma declaração do jovem que se envolvera no ataque a Baddock.

Arsênio Cowley estava no ramo do jornalismo a mais de dez anos. O jornalista astuto começou como estagiário, fazia de tudo um pouco, desde entregar cafés para todos os andares da editora do Profeta Diário até se arriscar como examinador, tendo de chegar cada parágrafo escrito por seus superiores. Arsênio admirava todos os membros do jornal, mas não conseguia se conformar como o jovem Ernesto Mcmillan conseguira chegar ao topo do Profeta em tempo recorde, enquanto ele continuava a corrigir colunas sociais e entregar cubos de açúcar aos repórteres e redatores. Com dez anos de serviço Arsênio fora chamado pelo editor do Profeta Barnabás Cuffe para cobrir uma invasão de gnomos em residências trouxas. Na última terça-feira daquela semana, Arsênio fora indicado para se juntar a Rita Skeeter para investigar sobre a invasão à Hogwarts por um bruxo funcionário do ministério. Arsênio fora instruído a não deixar nenhum fato passar despercebido, e não voltar para a editora sem o depoimento de um dos envolvidos no escândalo.

Porém Alvo não estava nem um pouco interessado em dividir com um repórter sua experiência na floresta. Ele temia que o repórter distorcesse tudo o que ele falasse. Dando a entender que ele era um pobre garotinho incompreendido que tentava a todo custo chegar a um patamar mais

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elevado que o de seu pai famoso. Assim, quando Alvo viu o homem lhe chamando desesperadamente com a pena na orelha e um bloco de notas em uma das mãos, Alvo não pensou duas vezes antes de sair correndo pelos corredores como uma bola de canhão.

Os aurores também eram bem importunos. Na quinta-feira pela manhã, Hagrid teve de cancelar sua aula de Trato das Criaturas Mágicas com o segundo ano para poder prestar depoimento sobre o caso. Alvo aproveitou seu tempo livre, o qual seria ocupado pela aula de Vôo que os membros dos times não são obrigados a participar, para passar um tempo com seu irmão. Mas algo o incomodava. Se os aurores estavam averiguando cada ruela do castelo de Hogwarts e interrogando todos aqueles que estavam ligados ao assassinato de Malcolm Baddock, fatalmente Alvo seria chamado para depor. Porém a última coisa que ele queria fazer era relatar mais uma vez tudo o que acontecera com ele na noite de segunda-feira, ainda mais para dois aurores desconhecidos. Talvez se quem o interrogasse fosse um membro de sua família, Alvo tivesse mais liberdade para revelar a eles as partes que ele havia ocultado dos professores. Todavia nenhum parente auror de Alvo aparecera na escola. O auror que mais era próximo de Alvo era ninguém menos que Tito Hardcastle, um auror gorducho e estúpido de feições rígidas e muito chegado ao seu chefe.

Porém não foi Tito quem fora encarregado de interrogar a Alvo. O garoto estava no Salão Principal jogando Snap Explosivo com Tiago e Ralf quando dois aurores da mesma idade o abordaram. Um dos aurores era uma mulher. Tinha cabelos ruivos trançados que chegavam a tocar seus ombros. Um grampo de cabelo cor-de-rosa prendia firmemente uma de suas tranças, seus olhos eram verdes como de verduras frescas que acabavam de sair da terra. Suas vestes eram verdes esmeralda com listras combinado, o tecido parecia se fundir majestosamente em seu corpo escultural. A auror parecia ser uma jovem que acabara de sair de junto dos estagiários. Ao lado da bela auror estava um homem mais alto do que ela; tinha cabelos marrons como casca de madeira e grandes mãos rígidas. Seus olhos eram cinzentos como um dia de tempestade e seu rosto não poderia ser mais severo quanto àquele que aparentava naquele instante. Ele também não mostrava desleixo com relação em suas vestes. Elas deveriam ter sido escolhidas meticulosamente a dedo. As listras negras que se espalhavam pelas vestes combinavam com seu chapéu-coco negro. Ele também parecia não ter mais de trinta anos. Ambos se mostravam um par perfeito.

– Alvo Severo Potter – falou o auror em tom autoritário. – O senhor deverá nos acompanhar para depor sobre o assassinato do Sr Malcolm Prisco Baddock e da tentativa de assassinato dos senhores Rúbeo Hagrid, Escórpio Hipérion Malfoy e do seu próprio, Sr Potter.

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– E quem seriam os senhores? – intrometeu-se Tiago saltando de sua cadeira. Tiago sempre ficava alerta quando se encontrava com aurores que ele não conhecia.

– Não os primarei de apresentações, senhor Tiago Potter – falou a auror sorrindo para Tiago e para Alvo. – Sou Raquel Burke. E este é meu marido Patrice Burke.

– Meu pai escalou vocês para me interrogar?Raquel Burke, porém, não respondeu. A auror agachou-se até o

tamanho de Alvo e encarou seus olhos verdes. Antes de falar ela lhe lançou um sorriso.

– Você tem bastante de seus pais em você, jovenzinho – ela inclinou a cabeça e olhou através de Alvo. A Srª Burke fitava Tiago. – O senhor também, Tiago. Ambos com grande potencial. Espero que se juntem a nós no Q. G.

– Raquel – pigarreou o Sr Burke apontando para seu relógio.– Claro. Vamos, Alvo. Temos de cumprir com nossas ordens.O Sr e a Srª Burke guiaram Alvo até uma sala vazia no primeiro andar.

A sala, mesmo estando vazia naquele momento, parecia ser freqüentemente utilizada, pois não havia sinais de abandono. O único sinal de sujeira que Alvo conseguiu detectar fora uma leve película de poeira sobre o quadro-negro móvel. Nele, escrito em grandes letras de forma por um giz pequenino e frágil havia uma frase escrita, uma qual Alvo já ouvira várias vezes: “FUNDO DE APOIO A LIBERTAÇÃO DOS ELFOS”. Aquela era a sala que os membros da FALE usavam durante seus encontros semanais. Alvo vira uma lista recrutando novos membros presa no mural da sala comunal da Sonserina. Foram pouquíssimas as assinaturas recolhidas de membros da Sonserina, mas Alvo acreditava que a organização conseguira mais membros nas outras casas da escola.

– Sente-se – aludiu o Sr Burke para Alvo, pedindo que ele se sentasse em uma cadeira cuidadosamente colocada no centro da sala de aula.

Quando Alvo sentou-se na cadeira indicada pelo Sr Burke, o garoto sentiu o frio sol do fim do outono tocar sua pele por trás do vitral do deus grego Hermes, que flutuava de um lado ao outro recebendo e entregando mensagens divinas.

– Bem, Sr Potter, nós já coletamos os depoimentos do Sr Malfoy e do Sr Hagrid – contou a Srª Burke a Alvo. – Nosso colega Tito Hardcastle está neste momento se dirigindo à tribo do centauro Firenze para coletar seus depoimentos. Só nos resta interrogá-lo.

– Se já colheram tantas informações, por que necessitam saber o que um garoto idiota como eu viu? – perguntou Alvo relutante em revelar aos aurores tudo o que presenciara. – Já ouviram Escórpio. O que ele diz não é muito diferente do que eu tenho a lhes dizer.

– Mesmo assim temos de interrogá-lo – insistiu a Srª Burke com paciência.

– Hum – tossiu o Sr Burke revirando os olhos. – É igual ao pai.

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– Potter, nós precisamos ouvir tudo o que você sabe sobre o assassinato de Malcolm Baddock. Isto foi um acontecimento gravíssimo. Uma invasão ao castelo de Hogwarts, a tentativa de assassinato de dois alunos e de um professor, o assassinato de um homem cujas lembranças guardam respostas que nós desejamos obter e a possível ligação deste com a morte de outras quatro pessoas. Nós podemos resolver o caso ou chegar muito perto do real mandante. Podemos voltar a transmitir uma sensação de paz à população e finalmente calar a boca de bruxos e bruxas irritantes e mentirosos como aquela Skeeter!

As palavras da Srª Burke conseguiram confortar a Alvo. Ela parecia o tipo de pessoa que trabalhava arduamente para garantir o sossego e a paz dos outros. Ela não se irritara com a dificuldade de alcançar seu objetivo junto a Alvo. Raquel Burke conseguira driblar uma centena de obstáculos para poder arrumar o depoimento de Alvo, isso sem ao menos o ameaçar. Alvo estava disposto a revelar aos aurores boa parte do que acontecera na Floresta Negra, mas alguns os trechos que Alvo julgava importantíssimos, o garoto guardaria somente para si.

Alvo já estava na metade da história quando fora interrompido pelo abrir das portas. Ele contava ao Sr e a Srª Burke o momento em que a acromântula Moragogue e seu bando de irmãos e irmãs os atacava. Um homem de cabelos rebeldes; óculos redondos; e uma face mesclada entre severa e aventureira atravessou a porta a todo vapor e os Burke não pensaram duas vezes. Giraram nos tornozelos apressados para cumprimentar seu chefe.

– Raquel, Patrice. Quero que vocês dois vão à cabana de Hagrid e o peçam para que os leve até a tribo dos centauros. Foi burrice minha deixar Tito ir sozinho. Duvido que os centauros falem mais do que predições sobre os astros.

– E o garoto? – perguntou o Sr Burke.– Deixem que com ele eu me entendo – afirmou Harry Potter

autoritariamente. Ele agarrou uma das carteiras vazias da sala onde os membros da F. A. L. E. se reuniam e depositou-a à frente de Alvo. Quando Raquel e Patrice Burke deixaram a sala Harry não conteve seu sorriso e logo puxou o filho para entre seus braços. Já fazia algum tempo que os dois não se falavam que dirá se abraçavam. Alvo ficou abraçando seu pai por não menos de cinco minutos até que Harry o soltou.

– Como está? – perguntou Harry ao filho. – Não respondeu a carta de sua mãe. Ela estava irada. Ameaçou enviar-lhe dez berradores como presentes de Natal.

– Como eu poderia responder a mamãe se os aurores interceptaram todas as corujas? A escola está um caos. Nossas aulas são interrompidas, os corredores estão cheios de jornalistas e aurores, e nem me pergunte sobre Skeeter!

– E o Quadribol?

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– Estou bem. Só preferia não ter de usar a vassoura do capitão durante os jogos.

– Você é muito ansioso – afirmou Harry ainda sorrindo. – Espere até o Natal. Digamos, digamos apenas que seu presente virá voando do Largo Grimmauld – Harry lançou uma piscadela a Alvo, pouco antes de seu sorriso murchar e em seu rosto, uma expressão fria e atenta tomar sua face.

– Você não veio aqui somente para saber como eu estou, não é? – Alvo também já não mais sorria. Ele voltou lentamente para sua carteira, um tanto tristonho.

– Não, Alvo. Por mais que eu quisesse ficar aqui com você o dia todo conversando e brincando, meu trabalho me força a ser mais severo e focado – Harry se sentou na cadeira que ele retirara do meio das demais. Seus olhos estavam fixos em Alvo, como se ele pudesse ler sua mente apenas olhando por trás de seus óculos redondos. – Al, eu preciso que me conte sobre o atentado de segunda-feira. Raquel e Patrice já devem ter lhe dito como isto é de extrema importância, então espero que coopere...

Alvo se sentiu estranho. Nunca pensara em seu pai realmente como o chefe do Quartel General dos Aurores, até aquele momento. Ele sabia como era seu trabalho e conhecia seu escritório, mas nunca vira o pai em ação. Alvo sabia que estava diante de seu pai, o mesmo que assaltava a geladeira nas madrugadas e se encolhia por trás das almofadas quando Gina levantava a voz, mas naquele momento Alvo não estava diante de Harry Potter, o pai dedicado que sempre achava graça do feito dos filhos. Naquele instante, Alvo estava diante Harry Potter, o chefe de uma legião de aurores, disposto a descobrir a verdade mais oculta dentro de Alvo.

Harry sentia a mesma coisa. Nunca imaginara ver Alvo como ele via naquele momento. Não era mais

o Alvo Potter bobinho que ficava invocado com as implicâncias do irmão mais velho e que gostava de fingir ser um grande bruxo mestre do Quadribol. Harry via um Alvo Potter assustado e amedrontado. Uma testemunha que sobrevivera a um crime de maneira admirável quando se julga sua idade. Harry estava orgulhoso do filho, mas naquele momento ele só queria ouvir a verdade.

– Ok, você venceu – disse Alvo lançando um sorriso tanto envergonhado. – Vou ser mais breve em certos momentos e mais detalhado em outros.

Desta vez Alvo relatou precisamente o que ocorrera no interior da Floreta Proibida. Harry fora o primeiro bruxo a ouvir da boca de Alvo as súplicas e os segredos de Malcolm Baddock, que revelara ter matado o verdadeiro Epibalsa McNaught. Mas o momento em que Harry ficou mais absorto fora quando Alvo recitara as últimas palavras que ele ouvira de Baddock. Antes de ele implorar para permanecer vivo. Alvo relatou com precisão as palavras de Baddock com relação ao retorno de Voldemort. Ao fim, pai e filho ficaram calados. Um olhando para o outro, como se

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buscassem a resposta para suas dúvidas no olhar e nas expressões de cada um.

– Isso é possível, pai? – perguntou Alvo receoso.– Eu não sei – afirmou Harry com um suspiro. – Existem lendas, crenças

e mitos que poderiam comprovar as alegações de Baddock... Mas não existe veridicamente uma magia capaz de trazer os mortos de volta a vida, você sabe disso. Voldemort só voltou porque ele não estava realmente morto. Havia as Horcrux. Mas depois que eu o silenciei, não deveria existir nenhuma magia capaz de trazê-lo de volta.

Alvo pensou em revelar ao pai tudo sobre o que ele Rosa e Escórpio sabiam com relação ao Prof Silvano, mas algo dentro de sua mente o impediu. Ao invés disso outra coisa deixou sua boca.

– Pai, isso que eu te revelei agora, sabe, sobre Voldemort... Eu não contei a ninguém. Não sei se Escórpio e Hagrid contaram aos aurores durante o interrogatório, mas eu não o creio. Escórpio estava com a perna ensangüentada, com fortes dores e Hagrid, bem, eu acho que ele se interessaria mais se estivessem falando de outro bebê Fofo. Não sei por que não contei nada a McGonagall ou a Crouch, mas me senti melhor contando para você. Acha que eu errei?

– De forma alguma – falou Harry sorrindo. – Al, isso só mostra o que eu desconfiava. Você confia em mim. Mais do que na diretora ou em Raquel. Isso me deixa feliz. Mas se tem mais alguma coisa a me dizer, melhor que diga agora.

O coração de Alvo pesou. Como ele poderia trair o pai naquele momento? Como poderia não revelar das tramóias do professor? Mas sua mente permaneceu no comando de suas ações. Alvo permaneceu em silêncio.

– Ok. Acho que terminamos – disse Harry.– Por quanto tempo ficará aqui em Hogwarts? – quis saber Alvo com

esperanças de que seu pai visse seu jogo contra a Corvinal.– Vou embora amanhã de manhã. Com toda esta zoeira não posso deixa

o Quartel General somente com seu tio Rony. Ele ficaria mais pirado do que já é.

Por mais que Alvo desejasse que o feriado demorasse a chegar, o tempo parecia estar gozando de sua cara. O garoto mal notara que em questão de dias já era inverno. Os gramados verdes que rondavam todo o redor do castelo de Hogwarts já não eram mais vistos. Em seu lugar uma grossa camada de neve cobria todo o chão fazendo com que o frio – que já era comum – se tornasse cada minuto mais colossal. Foram poucos os professores que admitiram que suas aulas se transformassem em verdadeiras zorras durante a última semana. O Prof Flitwick deixara que os alunos brincassem com suas almofadas e seus objetos durante as aulas. Feitiços eram lançados a cada minuto e várias reações inesperadas aconteciam em menos de cinco minutos. Outro que não se importou em

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liberar seus alunos foi Neville. Em vez de preparar uma revisão entediante sobre tudo o que fora passado durante o primeiro semestre, o professor de Herbologia liberou a turma para explorar as estufas. Foram poucos os que não aproveitaram a folga dada pelo professor, a maioria eram garotas lideradas por Irene que passara a detestar o Morangueiro Revoltado, o qual que parecia sentir o mesmo pela garota. Sempre que ela passava com suas amigas, Emília Jenkins e Ísis Cresswell, o morangueiro disparava uma chuva de morangos mágicos sobre suas cabeças. Outros professores não aceitavam que os primeiranistas tivessem folga. A Profª McGonagall reforçou os tempos de Transfiguração e agora a turma devia transformar animais em objetos comuns. Alvo se saiu muito bem transfigurando um porco-espinho em um alfineteiro, diferente de Lucas Pritchard que transformara seu canário em um apontador com asas. Silvano também continuou com suas praticas de Azarações, porém o professor parecia muito mais irritado após uma semana assédio dos repórteres. Ao invés das aulas práticas de azarações tomarem todo o tempo das aulas, o Prof Silvano pediu dois rolos de pergaminho com os principais usos das Azarações e seus malefícios quando usadas incorretamente. Escórpio só faltou lançar uma maldição no professor quando ele exigiu dever de casa para depois das férias.

– Vou dizer que fui atacado por um explosivim – debochou o garoto, insatisfeito ao fim da aula. – Que ridículo! Dever de casa para depois das férias de Natal!

Porém o que mais chateou Alvo durante a última semana de aulas antes do feriado de Natal não foram os excessivos deveres de casa exigidos por Silvano ou as poções que ele tinha dificuldades em preparar (Rosa já o atormentava com relação aos exames), mas sim o jogo contra a Corvinal.

Fora a tarde mais fria de todo o ano. A neve e o vento pareciam não se entender, provocando nevascas que impediam que Alvo pudesse enxergar o pomo de ouro. O ar retumbava com ira dificultando a comunicação dos artilheiros sonserinos. As jogadas eram mal executadas e o placar da casa fora muito magro. Diferente da Corvinal que possuía jogadores capazes de executar jogadas individuais com precisão. Emília Jenkins mal notava a presença dos adversários. Ela desviava de Erico e de Demelza com tanta destreza que em questão de segundos marcava mais um gol para sua casa. Alvo amaldiçoava-se cada vez que confundia o pomo com um dos balaços. Suas mãos suavam e pareciam congelar no cabo da Firebolt. As vaias que vinham das arquibancadas pareciam estar em volume máximo, pois conseguiam chegar com clareza aos ouvidos dos jogadores. As torcidas estavam revoltadas com o que viam. Estava pior do que um jogo dos Chudley Cannons. E Alvo não conseguia fazer nada.

No fim a Corvinal ganhou com folga. O placar fora duzentos e quarenta a quarenta. Henrietta Pole, a apanhadora da Corvinal, contornou a arquibancada de sua casa festejando junto a seus colegas. Entre eles estavam o monitor Owen Khan, goleiro da equipe.

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Alvo estava irado com a derrota, mas não mais do que Erico Laughalot que berrava com o time ao entorno de estádio. A sorte da equipe era que a nevasca impedia que todas as frases ditas por Erico fossem ouvidas pelos demais.

– Nós não estamos em último. Ainda temos chances de nos classificarmos! – berrava Demelza sobre o ruído da multidão que marchava para fora do estádio. A artilheira estava vermelha de tanto gritar.

– Teremos de jogar com a sorte. E eu detesto isso! – Erico chutava os montes de neve ao seu redor, ignorando completamente o que seus companheiros diziam. – A Grifinória já está classificada. Que bando de filhos...

– Erico! – rugiu Demelza batendo o pé. Não existia nevasca no mundo mais forte que a voz da garota. – Acalme-se!

No sábado há tarde o castelo de Hogwarts já estava praticamente evacuado. Foram pouquíssimos os alunos que se mantiveram no castelo para as férias de Natal, em sua maioria os Weasley. Alvo nunca ficara tanto tempo com Luís e Fred quanto naquela noite. Os únicos sonserinos que fariam companhia a Alvo eram Lucas Pritchard, Ralf Dolohov, Chester Paulson, um setimanista, Carter Danforth, o melhor amigo sonserino de Ralf e Sara Aubrey. Não havia muita coisa a se fazer na sala comunal naquela noite. Os três garotos se revezaram jogando Snap Explosivo e Arranques e Brocas, sob o olhar distraído de Sara que prestava mais atenção em seu livro. A garota só deixou os três sozinhos na sala comunal quando percebeu que seria perigoso para ela permanecer na sala. Uma das brocas, um bisbilhoscópio quebrado do tamanho do punho da estátua de Sir Abraxamagos e tão pesado quanto, chegou a menos de dois centímetros de seu livro.

Já era quase meia noite quando Ralf, Lucas e Alvo decidiram parar com as brocas e as explosões. Dois quadros de herdeiros de Slytherin haviam ganhado como presente de Natal novas rachaduras em sua superfície e uma manta que cobria um dos sofás de couro negro teve de ser lançada à lareira para evitar um incêndio generalizado. Alvo se negou a deixar a sala comunal, alegando que gostaria de treinar mais suas jogadas com as brocas. Ele permaneceu na vazia e fria sala comunal depois de se despedir de Ralf e Lucas, que seguiram para seus respectivos dormitórios. Mas Alvo não tinha a intenção de permanecer treinando jogada alguma, ele fora suficientemente bem para ganhar de Ralf, na verdade Alvo queria tirar algumas histórias a limpo, a começar pelos furtos a sala de Slughorn, a tanto abafados. Alvo necessitava perguntar a alguém que tivesse livre circulação pelo castelo. Um amigo fantasma que há muito tempo ele não via. Alvo teria que cuidadosamente se dirigir à Torre Oeste, onde ficava o Memorial de Hogwarts, e onde poderia se encontrar com Colin Creevey.

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Pelo fato de não haver um considerável número de alunos no castelo, a vigilância nos corredores, feita por Filch e por sua gata assustadora, era menos rigorosa, o que permitiu a Alvo desfilar pelo castelo com menos medo e apreensão de ser capturado pelo zelador. Alvo não se limitou a andar pelo castelo de pijamas. O sonserino se vestiu como uma longa capa negra que o cobria da cabeça aos pés. A única coisa que poderia denunciá-lo era o escudo do Puddlemere United gravado nas costas, mas Alvo tinha esperança de que ele não era o único aluno remanescente no colégio que torcesse para aquela equipe.

Alvo chegou com tranqüilidade até a Torre Oeste. Seus pés descalços vibravam com o frio do mármore dos corredores, mas ele não tivera tempo para se calçar. A cada vulto que se movia em algum corredor, Alvo se escondia atrás de alguma armadura ou estátua. O garoto ficou uns cinco minutos atrás da estátua de Prometeu, o biruta, quando uma enxurrada de cavaleiros fantasmas passou a todo vapor pelo corredor. Também era comum o aparecimento de ratos. Os roedores se espremiam nos cantos das paredes a procura de suas tocas. Alvo tentava evitar as patas dos roedores que não se importavam e escalar seus pés, mas ele sentia um leve arrepio atrás da nunca, pois acreditava que os ratos estavam fugindo de uma predadora que, caso não capturasse um rato, ficaria satisfeita em alertar seu amado dono para que ele encontrasse Alvo fora da cama. Contudo, Alvo não teve o desprazer de esbarrar com a gata.

Quando ele chegou ao Memorial de Hogwarts, não havia nenhum fantasma ou roedor ao seu redor. A estátua de ouro brilhava como seu uma luz secreta incidisse sobre ela. Alvo se conteve a não mirar a placa de bronze, com receio de ser novamente transportado para outra dimensão.

– Colin! – chamou Alvo pelo canto da boca. – Colin você está ai! Sou eu Alvo. Alvo Potter! Preciso falar com você.

Porém não ouve resposta. Alvo ficou no silêncio, sem ao menos receber um “olá” do amigo

fantasma. Parecia que Colin havia embarcado em uma das carruagens e passado o Natal fora da escola. Desacreditado de que Colin estivesse disposto a conversar com ele, Alvo voltou lenta e tristonhamente para a sala comunal. Ele esperava obter algumas respostas do fantasma que, ou bem ou mal, poderia saber de alguma coisa, já que ele, diferente dos alunos, tinha livre acesso a todas as instalações do castelo.

Depois de muitos meses Alvo voltou a ter pesadelos. Desta vez ele caminhava sozinho pela Floresta Proibida, descalço e

vestido apenas com seu pijama. Não havia vento, as árvores e suas folhas permaneciam imóveis, sem sinal de vida ou de magia. Muitos bruxos e bruxas acreditam que as árvores são um dos seres que mais possuem habilidades mágicas. Alguns acreditam que algumas são hospedeiras de

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dríades, ninfas associadas ao carvalho, que nasciam junto com as árvores tornando-se apenas uma. Havia, há muitos séculos atrás, uma arte esquecida de se comunicar com as dríades, mas aqueles que a dominavam foram morrendo aos poucos e sem passar seus ensinamentos para outros bruxos ou bruxas.

Aos poucos as árvores se tornavam maiores e mais densas até que ele chegou novamente ao ponto onde Hagrid levava sua turma para estudar sobre as lesmas lançadoras de pus. Desta vez havia somente um homem perto da árvore e ao seu lado um grande morcego prateado que parecia lhe passar instruções. Alvo não entendia o que o morcego prateado falava com o outro homem, ele estava distante dos dois. Também não havia como identificar o bruxo, pois ele estava coberto por uma capa tão grande que mais parecia flutuar sozinha.

Quando o morcego terminou de orientar seu subordinado, o bruxo fez uma cortês reverência e partiu de volta, na direção do castelo. O morcego então se voltou para Alvo. O garoto não sabia se aquilo era real ou não. Não tinha certeza de se era somente um sonho, uma visão ou predição. Parecia mania dos Potter ter sonhos confusos que no final significavam algo de importante.

– Esta é apenas a forma que eu uso quando quero deixar meu esconderijo – afirmou o morcego com uma voz tenebrosa, fria e alarmante. – Este é apenas meu Patrono, Alvo Potter, sim eu posso conjurar um. E será muito bom que você me tema. Em breve nós encontraremos cara a cara e fatalmente serão seus últimos segundos vivo. Necessito de você para finalizar meu plano e receber minha merecida condecoração.

Alvo queria falar. Fazer uma centena de perguntas ao Patrono, mas sua voz parecia ter sumido. Fugido com tanto medo que o deixara surpreso.

– Você... – grunhiu Alvo com muita dificuldade. – Você que matou Baddock.

– Perspicaz – riu o Patrono debochando. – Ele não merecia viver. Eu deveria ter aprendido antes que: se você quer utilizar pessoas para lhe ajudar a cumprir seus objetivos, o melhor que se tem a fazer é controlá-las como marionetes!

O Patrono encarou Alvo como se estivesse se contendo para não avançar em seu pescoço. Assim que o animal prateado se dissipou, Alvo caiu no chão. Seu corpo ardia como se ele fosse queimado e eletrocutado ao mesmo tempo. Parecia que dez Comensais da Morte lhe lançavam Maldições Cruciatus sem dó ou piedade.

Alvo já estava convicto de que aquele seria seu último suspiro. Já aguardava ser abraçado pela morte assim como Ambratorix após terminar sua obra. Mas, de repente, a dor cessou.

Um brilho esverdeado florescente brotava de trás de uma árvore. Ela brilhava dez, não, cem vezes mais que o Patrono morcego. Por onde o brilho passava cresciam flores. O vento começou a agitar as árvores e

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Alvo começou a se encher de vida e de poder. O brilho se agrupava e se esticava, formando uma forma humana, como de uma mulher alta e magra, envolta em uma manta verde como os campos mais bem cuidados do mundo. Seu cabelo também era verde com um arco de gravetos e flores o enfeitando. Seu rosto era belo, mas muito severo. Sua aura mágica era muito mais forte do que de um bruxo comum, como se fosse uma fusão entre duas auras de grande poder.

– Levante-se, Alvo Severo Potter – ordenou a mulher verde em tom autoritário. – Segundo filho de Harry Tiago Potter e de Ginevra Molly Potter. Irmão de Tiago Sirius Potter e Lílian Luna Potter.

– Quem, ou o que, você é?– Sou uma dríade. Um espírito do bosque. Uma ninfa. Sou irmã de

todas as árvores do mundo. Cada uma contém sua própria dríade. Porém todas estão adormecidas, somente eu acordei de um sono de mais de três séculos. Mas a cada dia, uma possível ressurreição das dríades se torna menos possível. Nossa família está morrendo. Nossas forças estão se esgotando, nossas vinhas e nossos corações estão tão enterrados na terra que chegam ao ponto de desaparecer. Foram poucos os humanos dotados do conhecimento da comunicação conosco. Não é um dom que se ensina e sim que se conquista. Hoje, quase não há seres neste mundo que mereçam o direito de se comunicarem conosco. Somos espíritos dóceis, porém velhos e rabugentos. De muita dignidade. Não concedemos o dom da fala para qualquer um que possa vir a nos matar. Nós estamos a muito adormecidas. Mas por algum motivo incógnito, eu fui agraciada por alguma aura poderosa que me despertou de meu sono de séculos. Mas não me alegro com isso, Alvo Severo Potter. O tempo das dríades, náiades já se esgotou. Somos espíritos esquecidos.

– Você não tem idéia de quem a despertou? – perguntou Alvo.– Não há como eu saber. Minha magia é pouca e sozinha não sou capaz

de grandes feitos – afirmou ela aborrecida. Um líquido esverdeado como clorofila escorreu pelo canto do rosto belo da dríade. Ela estava desapontada consigo mesma. – Meu maior feito desde que fui despertada foi salvar sua vida, Alvo Severo Potter. Este lugar não é seguro para espíritos...

– Quer dizer que eu estou morto?! – gritou Alvo desesperado. – Sou um fantasma?!

– Não – silvou a dríade. – As mais antigas crenças dizem que quando sonhamos nossos espíritos deixam nossos corpos para vagarem pelo mundo. Revivendo o passado e, às vezes, mostram o futuro.

– Então, isso vai acontecer de novo?– Não – disse a dríade novamente. – Digamos que isto é apenas uma

reflexão. Mas será melhor que você nunca volte aqui como um espírito. Não poderei salvá-lo novamente. O melhor que pode fazer é acordar. Mas lembre-se: As batalhas de seu pai chegaram ao fim. Mas a partir de agora, as suas começam.

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Alvo queria falar mais com a dríade. Talvez o nome de Ambratorix fizesse com que ela se lembrasse de mais informações importantes. Mas antes que ele pudesse tomar forças para falar com dríade ele voltou para seu dormitório.

Suas roupas de cama estavam tão encharcadas que pareciam ter sido jogadas ao Lago Negro. O suor escorria por seu pescoço e por sua testa, as camas e os objetos espalhados pelo dormitório estavam turvos, como se a visão de Alvo fosse infinitamente pior do que a de seu pai. Aos poucos as figuras foram ficando cada vez mais nítidas. Porém Alvo perdera completamente o sono.

Ele se remexeu em sua cama procurando a melhor maneira de voltar a dormir. Passaram-se alguns minutos até que o garoto se convenceu de que não voltaria tão cedo a dormir. Alvo ficara sentado em sua cama úmida de suor, relembrando seu pesadelo, onde ele fora torturado por um Patrono misterioso que dava instruções a um homem encapuzado e logo depois fora salvo por uma dríade tristonha que lhe informava que começariam novas batalhas e que ele seria o centro de muitas. As batalhas de seu pai chegaram ao fim. Mas a partir de agora, as suas começam.

As palavras da dríade martelavam sua cabeça como informações de um teste importantíssimo. Elas se repetiam várias e várias vezes, cada vez mais agudas. Como se o espírito do bosque estivesse novamente se comunicando com ele.

De repente Alvo deu um salto tão assustado que caiu de sua cama. Como um grito abafado de suplico. Ele espiou atentamente ao redor do dormitório às escuras. Nada se movia A exceção de Lucas que se remexia incansavelmente em sua cama. O companheiro de dormitório de Alvo não havia sido desperto com o grito que preenchera o ar e chegara retumbando aos ouvidos de Alvo. Depois o garoto ouviu um chamado. Baixo e oco, como se seu autor não quisesse ser apanhado por mais ninguém.

Alvo Potter. Alvo arregalou os olhos surpreso. Um garoto de mais ou menos

dezesseis anos, de cabelos bem penteados e roupa de dormir, flutuava a poucos centímetros do chão com sua coloração branco-pérola. O fantasma abriu sua boca e formou com os lábios o nome de Alvo. Pouco depois o som do chamamento chegou aos ouvidos do rapaz.

O fantasma indicou com a cabeça a porta que levava às escadarias que davam para a sala comunal. Sem cerimônias o fantasma atravessou a porta sem olhar para trás, ficando apenas na esperança de que Alvo o seguisse.

Alvo hesitou. Saltou para perto de seu malão e retirou um roupão aconchegante e verde, que lhe encobria apenas os joelhos. O garoto apresou-se e meteu a mão na maçaneta e desceu as escadas correndo, saltando os degraus três em três, para poupar tempo.

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– Olá – sussurrou Alvo chegando à sala comunal. – Olá... Tem alguém ai? Bruxo, bruxa... Fantasma?

Ninguém respondeu. Alvo estava quase convicto de que todo aquele rebuliço de gritos e chamamentos fora apenas o fruto de sua imaginação. Coisas que um garoto que mal dormira inventara graças a sua imaginação fértil. Alvo já estava voltando para o dormitório quando uma figura embaçada chamou sua atenção. Ela estava sentada em um dos sofás de couro negro espiando o crepitar da brasa esverdeada que sobrara na lareira fria. O fantasma de Colin Creevey girou o pescoço até chegar a Alvo. Então ele piscou.

– Olá, Alvo. Desculpe pela minha maneira de te chamar. Ainda tenho dificuldades em me comunicar com os vivos.

– Ah, Colin, não tem importância – disse Alvo se aproximando do fantasma. – Eu gosto de ser acordado de madrugada te maneira suspensiva. Como vai?

– Morto – respondeu Colin meio chocho.Mas Colin estava diferente de quando encontrou Alvo pela primeira

vez, estava mais “sólido”. Há três meses quando Colin salvou Alvo de uma morte inter dimensional, o fantasma do estudante estava quase que transparente, sua foz era fina e arrastada. Desta vez, Colin se comunicava como qualquer outro fantasma de Hogwarts. Era apenas a forma branco-pérola de um bruxo já morto.

– Você está diferente.– De fato – assentiu Colin. – Há noite eu me sinto mais forte. Mais

fantasmagórico. Arrisco a dizer que me sinto mais neste mundo do que naquele que estava aprisionado junto ao memorial. Talvez seja uma modificação do estado de espectro ao de fantasma. Mas me diga, você esteve em minha área mais cedo. O que queria?

Alvo poderia enrolar o fantasma, dizer que queria conversar, pois não se encontrava com o espectro há algum tempo, mas decidiu ser mais direto.

– Colin, ah, estão acontecendo coisas estranhas na escola – disse Alvo com certo receio de encarar o fantasma. – Professores falsos, assaltos as salas, mortes... Eu, eu queria saber se você, alguma vez viu alguém roubando a sala do Prof Slughorn, ou algum desconhecido perambulando pela redondeza.

– Sim, eu vi – afirmou Colin com toda a naturalidade do mundo. – Fui eu quem, de certa forma, alertei a diretora sobre os assaltos. Quando a pessoas esquisitas, não. Nunca vi ninguém pelos terrenos, mas já percebi movimentos estranhos na floresta. Seres adormecidos, despertos. E uma luz incomum incidindo a orla durante as madrugadas... Isso lhe responde?

Alvo assentiu.Então era verdade. Realmente existia um Patrono de algum invasor

rondando pelos terrenos da escola. O Patrono do assassino de Baddock

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que penetrara nos sonhos de Alvo e quase o matara se não fosse pela intervenção da dríade. O bloqueio de Hogwarts havia sido perfurado por algum bruxo que, secretamente também tramava uma conspiração. Talvez ele também quisesse o Olho entre os Mundos, e a julgar pelo modo como ele abordara a Alvo, com certeza tal bruxo não pretendia reviver um membro da Ordem da Fênix.

– Como, “de certa forma”, você alertou a diretora sobre os furtos a sala de Slughorn? – perguntou Alvo.

Colin permaneceu, alguns segundos, em silêncio. Seus olhos branco-pérola observavam a brasa verde que murchava entre o carvão, cada vez mais fraca e impotente.

– Na hora certa você saberá, Alvo – disse o fantasma como se escolhesse cuidadosamente as palavras. – Digamos que fiz alguns amigos... O que acha de “O Aluno da Batalha Final”?

– O que?– Estou pensando em um nome de fantasma. Sabe? Como “Barão

Sangrento”, “Nick-Quase-Sem-Cabeça” ou “Frei Gorducho”... – Colin analisava Alvo, que fazia cara de desentendido. – Eu queria um nome maneiro. Pensei em “O Aluno da Batalha Final”.

– Muito longo – disse Alvo franzindo o cenho. – E não é tão impactante quanto “Barão Sangrento”.

Colin condescendeu.– Imagina algo melhor? – Olhando para você, não tenho muitas idéias, mas... Você lutou em

uma batalha...– Onde fui morto – completou Colin tristonhamente.– Isso não importa! – exclamou Alvo. – Você lutou. Isso já o torna

alguém de considerável honra. Bem, eu tenho um nome em mente... Se não gostar não ria – Alvo fez uma pausa, engoliu em seco e prosseguiu. – O que você acha de “O Espectro Guerreiro”?

Colin parou, e pensou. Seu corpo fantasma ficara inquieto no sofá, o que fazia com que o fantasma afundasse alguns centímetros do estofamento. Quando a cintura de Colin estava omitida pelo couro do sofá, o fantasma deu um salto.

– Perfeito! – gritou o fantasma abrindo um espectral e feliz sorriso. – “O Espectro Guerreiro”!

– Bom, assim fica dado seu presente de Natal – Alvo apontou para o relógio da sala comunal que indicava que já era Natal. – Feliz Natal, Colin.

– Feliz Natal, Alvo. Eu só não... – ele mostrou as mãos vazias. – Não tenho nada para lhe oferecer.

– Não precisa. Quer dizer... Bem, desde que Nick-Quase-Sem-Cabeça foi aceito no clube Caça Sem Cabeça, a Grifinória não tem mais fantasma. Não sei qual foi sua casa em Hogwarts, mas...

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– Quer que eu peça para ser o novo fantasma da casa – completou Colin como se já esperasse ouvir aquele pedido de alguém, mas para sua surpresa, o pedido fora feito por um sonserino. – Mas, você é da Sonserina. Vocês detestam a Grifinória. Sei disso.

– Mas não sou um sonserino convencional. Digamos apenas que não me enquadro aos padrões – Alvo encolheu os ombros. – E além do mais, boa parte de minha família fez ou faz parte da Grifinória. E sei que eles detestam não ter um fantasma próprio. Todas as outras casas têm. Alguns achavam que seu novo fantasma seria o velho Prof Dumbledore, mas foi em vão. Tiago e Sabrina me contaram que sempre que um fantasma barbudo vagava pelos corredores ele era parado. E eu tive a oportunidade de conhecer um fantasma que se enquadra nos perfis da Grifinória! E além do mais, lhe batizei com um nome fantasmagórico que fará até o Barão lhe respeitar. O que seria um Barão seu seus guerreiros?

– Não sei – falou o Espectro Guerreiro coçando sua nuca. – Existe muito burocracia envolvendo fantasmas e casas... Nunca fui tímido, mas ainda não me sinto muito à-vontade tendo de encarar vocês, vivos, sendo eu um fantasma.

– Compreendo. E respeito – completou Alvo encarando o amigo fantasma. – Mas se você se interessar... Creio que os grifinórios ficariam felizes em terem um fantasma como você representando sua casa.

Alvo se despediu de Colin e seguiu para as escadas que levavam aos dormitórios. Ele olhou por trás do ombro e viu o fantasma sair alegremente da sala comunal. Colin estava feliz com o novo nome.

Alvo acordou na manhã de Natal com o forte cheiro de ganso ensopado, peixada fresca, ovos estrelados, pernil, um dedo gordo com unas mal cortadas e uma voz de rã aguda e rouca tomando seus ouvidos. Quando o garoto abriu os olhos deparou-se com duas criaturazinhas encolhidas ao redor de sua cama, ambas segurando bandejas de prata com um verdadeiro banquete à mostra. A criatura mais gorda estava vestida com um avental sujo vermelho vivo, com sinos natalinos e vinhas espalhadas por entre as várias dobras e buracos chamuscados. A mais magra estava com seu habitual traste velho amarrado com vários nós como uma toga. Os dois elfos se esforçavam para mostrar um sorriso agradável, mas tudo que conseguiam era exibirem seus dentes tortos amarelos e mal cuidados.

– Monstro... Bowy! – exclamou Alvo erguendo-se de sua cama e sentando no colchão, – O que, o que estão fazendo?

– Feliz Natal, mestre Alvo – disse Monstro dando uma cotovelada em Bowy e tomando a frente. O elfo doméstico dos Potter fez uma reverência cortês. Seu nariz pontudo chegou a tocar a sua bandeja de prata.

– Feliz Natal, Alvo Potter! – soluçou Bowy amarrando a cara para Monstro. – O senhor dorme ali como uma pedra, Alvo Potter. Parece que está desacordado. O senhor age com se a comida do café nunca esfriasse. O senhor é muito otimista, Alvo Potter.

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– Ah, obrigado? – Alvo se mostrava atordoado. Esfregando os olhos para poder enxergar melhor os dois elfos.

Bowy se adiantou repousando sua bandeja sobre o criado mudo. Arrastando o vazo escuro com uma rosa negra que pousava ali desde que Alvo chegara ao dormitório.

– Bowy preparou seu café, Alvo Potter – disse ele com orgulho do próprio feito. – Bowy escolheu a dedo cada tempero e ingrediente. Temos pernil, ovos estrelados, Bolos de Caldeirão e Bruxas de Aveia.

– Monstro preparou sua especialidade, mestre Alvo – grunhiu Monstro colocando sua bandeja no colo de Alvo. – Ganso ensopado e peixada fresca. Acompanhado de suco de abóbora e barras de chocolate, feitas a mão.

Alvo sorriu para os dois elfos. Mas a idéia de ter de comer os dois cafés preparados pelos elfos o atormentava. Erico o lançaria aos braços do Salgueiro Lutador se voltasse das férias e deparasse com seu apanhador com alguns quilos a mais. Alvo, Monstro e Bowy chegaram a um comum entendimento, onde ele, Alvo, comeria metade de cada banquete.

– Espero que tenha você gostado, Alvo Potter – falou Bowy ansioso.– Estava formidável. E o seu também, Monstro – acrescentou o garoto

antes que seu elfo manifestasse quaisquer sinais de irritação.– Monstro foi instruído por sua mestra a avisar-lhe que seus presentes

se encontram junto com os do mestre Tiago e da mestra Rosa na Torre da Grifinória – informou o elfo com cordialidade. – Após o jantar, meus senhores irão se comunicar com você, mestre Tiago e mestra Rosa na sala comunal da Grifinória através da Rede de Flu... Ah, já ia me esquecendo. A mestra Hermione – Alvo percebeu que Monstro fizera grande esforço para pronunciar aquele nome. Ele ainda não se conformava em ter de chamar a tia Hermione de mestra – ordenou que eu entregasse esta encomenda. Ela pediu que você use-o durante o dia de Natal. Ela gosta muito de ornamentações.

Alvo tomou o embrulho de Monstro. Ao desembrulhá-lo deparou-se com um gorro verde pomposo feito de lã, com sinos que, ao menor sinal de movimento, disparavam a tocar canções natalinas.

– Bom, devo seguir até o dormitório do mestre Tiago e da mestra Rosa. Não se esqueça mestre Alvo... Depois do jantar. E não tente abrir seus presentes sem a companhia de seu irmão e sua prima. Monstro estará de olho. Lamento. Ordens de minha senhora.

Monstro estalou os dedos e desaparatou. Deixando Alvo e Bowy sozinhos.

– Ah, já é minha hora, Alvo Potter. Sem minha presença não haverá banquete de Natal. Espero que tenha gostado de minha comida – Bowy se arrastou até os restos deixados por Alvo e prometera que os guardaria para quando Alvo estivesse com fome.

– Espere ai, Bowy! – exclamou Alvo saltando da cama e mergulhando por baixo da cama de Isaac, onde o amigo largara um par de meias

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exageradamente extravagantes e multicoloridas, que a avó havia tricotado para ele, mas que encolhera após a lavagem feita pelos elfos da limpeza. – Para você – e estendeu o par inútil.

– Um presente, Alvo Potter – chorou Bowy agarrando o par e o guardando no bolso do avental, junto com seu distintivo da F. A. L. E. – Feliz Natal, senhor.

Bowy também estalou os dedos e sumiu com um crepito. Deixando um aroma de biscoitos com gotas de chocolate e salmão defumado.

Alvo deixou a sala comunal junto com seu único amigo remanescente da Sonserina. Ele e Lucas seguiam para o Salão Principal, mas Alvo somente o seguia para não deixar o amigo sozinho.

Mesmo abrigando poucos alunos, o castelo de Hogwarts estava bem enfeitado com bolas de Natal, árvores bem enfeitadas, visgos presos entre as janelas e armaduras de cavalheiros enfeitiçadas para cantas canções de Natal sempre que um aluno passava perto delas. Alvo tentava balançar o mínimo sua cabeça para não fazer com que seu gorro natalino começasse a cantar. Mas ele não tinha muito com que se preocupar. Quase todos seus amigos não estavam no castelo, e os mais velhos se revezavam entre fugir e caçar visgos.

Ao chegar às portas do Salão Principal, Alvo se deparou com seu irmão e sua prima chegando ao salão junto de Fred e Sabrina Hildegard. O sonserino deduziu que os dois já haviam sido visitados por Monstro, pois também usavam o gorro encantado da tia Hermione. Fred também.

– Encantador – sibilou Fred revirando os olhos indicando o gorro com o polegar.

– Eu os acho fofos – disse Sabrina sorrindo. Seus dedos alisavam a pena lilás que levava em seus cabelos vermelhos. – Queria que minha mãe tricotasse um desses para mim.

– Pode ficar! – riu Fred.– Você não vai passá-lo adiante! – reclamou Rosa batendo pé.– Ok, foi só uma brincadeira – Fred estava escarlate.– Ei, Al. Acredito que seu estômago esteja mais do que bem estofado –

disse Tiago para o irmão. – O que acha de dar um pulinho na Torre da Grifinória para abrir nossos presentes? Monstro me ameaçou se eu tentasse espiar um deles.

– Mentira – sibilou Rosa.– Ora, não o proteja – resmungou Tiago. – Então, vai ou não? Não me

force a utilizar uma Maldição Imperius em você.– Mas eu estou com Lucas – disse Alvo olhando por trás do ombro para

o amigo que ficara calado até então.– Deixe Pritchard com Ralf e vamos!Alvo continuou olhando para Lucas. O jovem, por sua vez, apenas deu

de ombros e seguiu para dentro do Salão Principal. Mas Alvo pode ouvir Lucas murmurando maldições, baixinho para Tiago e para o restante dos Grifinórios.

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Fora a primeira vez que Alvo subira até a Torre da Grifinória. Mesmo que Tiago, Rosa e Escórpio o encorajassem a segui-los a sala comunal, Alvo não tinha coragem de se deparar com um bando de grifinórios mais velhos, que fatalmente não achariam sua presença agradável, só pelo fato dele ser membro da Sonserina.

“Mas tem o Ralf. Ele nunca foi barrado ou chateado” contava Tiago sempre que Alvo parava na entrada para a torre, à frente do retrato da mulher Gorda.

“A história de Ralf é mais longa do que a nossa. Existem vários motivos para ele ter sido aceito. Diferente de mim” contestava Alvo.

– Você é meu irmão. E filho de Harry Potter. Só um idiota se meteria a besta com você.

– Não, obrigado – era sempre a resposta definitiva de Alvo. Mas naquele dia era diferente. A sala comunal estaria vazia. Assim

como os sonserinos, os grifinórios não fizeram questão de ficar no colégio para passar o Natal. Foram poucos os que permaneceram e em sua maioria eles, pelo menos, simpatizavam com Alvo (ou fingiam muito bem). Sabrina Hildegard tivera de ficar na escola, pois seus pais, ambos, funcionários de alto escalão no Ministério, foram convidados a se reunirem com os integrantes dos ministérios da França e do Leste Europeu para esclarecer últimos os tópicos do Torneio Tribruxo de daqui dois anos. Junto com ela três garotos e duas garotas de diferentes anos e o restante dos Weasley da Grifinória permaneceram no castelo.

– Luzes Florescentes – disseram Rosa e Tiago em uníssono.– Mais é claro – riu a Mulher Gorda girando as fechaduras de seu

quadro e permitindo a passagem dos garotos. – Violeta me visitará de noite. Ela disse que traria vinho.

A sala comunal da grifinória era uma sala cilíndrica e espaçosa que seguia o compasso das paredes da Torre Oeste. O chão era coberto por um carpete vermelho, combinando com as cortinas da mesma. Poltronas fofas e aconchegantes estavam cuidadosamente arrumadas ao redor de uma lareira um pouco maior do que a da Sonserina. O fogo que lá crepitava, era vermelho vivo, como a chama de uma fênix. Mais para o canto havia duas escadas, que diferente das da sonserina que giravam como caracol, eram retas e levavam ao dormitório feminino e ao masculino.

Quando os três entraram na sala houve um estampido e Monstro se materializou à frente dos três garotos. Uma forma grande e peluda – que Alvo acreditava ser uma almofada – saltou do sofá com um forte miado e se escondeu entre as pernas de Rosa. O gato arranhava o ar ameaçadoramente, tentando afastar-se de Monstro.

– Magia de elfos – disse Tiago inspirando o ar com prazer. Como se Monstro trouxesse consigo o aroma de um perfume exuberante como os da tia Fleur, de Vitória e Dominique. – Nunca me canso disso.

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– Esse é o gato de Sabrina – afirmou Rosa colocando o animal peludo cor de fogo no colo. – Peludinho. Ele gosta de mim. Queria ganhar um animal para o ano que vem. Sabe... Você tem Artie; Tiago tem Nobby, Luís tem Frank. Até Fred com aquele rato dele. Fred detesta o Peludinho. Vive ameaçando Sabrina de que vai transformá-lo em pufe para os pés. Mas eu quero um gatinho meu! Quem sabe eu arranjo uma amiga para você. Peludinho?

– Mestre Alvo. Mestre Tiago. Mestra Rosa – interrompeu Monstro com sua voz rouca de velho. – Todos estão presentes e dispostos a arrancarem os embrulhos que Monstro demorou tanto a preparar. Feliz Natal, meus mestres.

Monstro estalou os dedos e o aroma, o ar e a iluminação da sala comunal mudaram. As luzes vindas das velas presas aos candelabros oscilaram. Uma corrente de vento gélida circulou pela sala como se uma barreira de proteção houvesse sido removida da árvore onde estavam os presentes dos três. O aroma mudou de cheiro do eucalipto e brasa que deixava a lareira para o de chocolate quente, perfumes franceses, e plástico novo.

Alvo não perdeu tempo. Abriu caminho entre Tiago e Rosa e mergulhou de cabeça na maioria dos presentes com seu nome. Ele tateava às cegas, procurando algum indício do presente que seu pai dera a entender que comprara. Talvez o cabo polido e imaculado da vassoura nova. Ou a piaçava milimetricamente medida, sem imperfeições ou buracos vazios. Mas Alvo não encontrou nada. O máximo que conseguiu foi um corte no dedo quando o rato de Fred o mordeu. Alvo xingou baixinho e deu um murro no pelo cinzento do rato.

Talvez ele o tenha esquecido? Pensou Alvo levando o dedo ensangüentado a boca. Enquanto ele sentia o gosto de ferro de seu sangue ele procurava os motivos mais lógicos para não ter recebido o presente.

– Monstro, - começou Alvo levantando-se no momento em que Rosa e Tiago começavam a rasgar os papéis de seus presentes – o pai e a mãe lhe entregaram todos os presentes destinados a mim a Tiago e a Rosa?

– Todos, mestre Alvo – afirmou o elfo que acompanhava os garotos abrindo seus presentes. – Monstro os trouxe na calada da noite. Um por um. O escritório do meu senhor Harry está vazio.

Um pouco menos animado Alvo se virou para seus presentes. Começou a rasgar os embrulhos festivos um por um. Ao som das canções cantadas pelo gorro da tia Hermione.

Alvo ganhara de sua vovó Weasley um cachecol verde limão junto com o famoso e tradicional suéter com um grande “A” tricotado a mão por ela. O tio Gui e a tia Fleur lhe deram outro bonequinho de membros do Puddlemere United. O goleiro David Abercrombie. O tio Rony lhe enviou um clássico da literatura ligada ao Quadribol, o “Voando com os Canhões.”, que ele afirma ser útil para qualquer iniciante do quadribol. A

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tia Hermione foi mais a fundo. Ela lhe dera um livro que poderia ajudar a Alvo a se defender dos feitiços errados lançados por seus colegas. “Um guia de autoproteção contra Feitiços Acidentais.”. Tio Fred e tai Angelina lhe enviaram um pacote com Sapos de Chocolate, uma nova safra de Feijõezinhos de Todos os Sabores – agora com sabores de sangue, caramelo em calda, feijão lima-limão e gelatina tutti-frutti quebra-queixo – e um bisbilhoscópio junto com um cartão escrito pelo tio. “Nunca se sabe quando um Potter precisa de um desses.” Hagrid lhe enviara um balde de latão com uma quantidade absurda de bolinhos com gotas de chocolate. Alvo não precisaria mais ter de se preocupar com as refeições se os mantivesse em segurança. Mas o garoto teria que amolecê-los o máximo, pois cada bolinho poderia fazer um estrago maior do que um balaço. O único presente enviado por seus pais fora um bolinha de vidro do tamanho de uma grande bola de gude. Uma fumaça branca como leite girava tentando se libertar de sua prisão de vidro. Alvo tateou a superfície desenhada de vidro do Lembrol com desânimo. Ele não ganhara uma vassoura...

O almoço do dia de Natal fora o mais vazio de Alvo na escola. Quando ele, Tiago e Rosa chegaram ao Salão Principal, se depararam com as quatro mesas recostadas nas paredes. A mesa dos professores havia desaparecido e os educadores estavam misturados junto aos alunos. Quando os três chegaram ao salão, acompanhados de um pequeno grupo de outros alunos que chegavam para almoçar, a diretora Crouch se ergueu de seu lugar, ao lado de Slughorn e de Vector, e deu as boas-vindas aos alunos.

– Feliz Natal – disse a diretora com um sorriso incomum. – Somos inexplicavelmente poucos. Achei melhor unir as mesas em uma só. Sentem-se.

A grande mesa exposta por Crouch já estava parcialmente ocupada. Os professores Crouch, McGonagall, Flitwick, Slughorn, Hagrid, Knossos, Vector e Sinistra ocupavam seus respectivos lugares, assim como Madame Pomfrey, Madame Pince, que despira seu chapéu cônico verde-musgo pontudo e deixara a mostra seus cabelos lisos e Argo Filch, o zelador que deixara suas surradas e velhas vestes de trabalho cinza gris e vestira um terno marrom cheio de remendos e imperfeições. Madame Nor-r-ra se enroscava em suas pernas. Junto a seu filho, em uma conversa animada com muitos gestos e socos na mesa, estava Dêniston Dolohov, o funcionário da escola responsável por suas defesas contra invasores não-bruxos. Alvo nunca vira Dênis pessoalmente, somente quando via o bruxo baixinho perambulando pelos terrenos da escola. Dênis parecia muito mais alegre visto pessoalmente. Ele perto de Ralf, Carter Danforth e de Lucas parecia mais um aluno da escola. Os demais alunos que Alvo não conhecia baseavam-se em três secundaristas da Lufa-Lufa, um corvinalino muito assustado em ter de ficar tão perto de

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Filch, duas garotas sardentas e risonhas da Grifinória e três garotos magrelos da mesma.

Alvo, Rosa e Tiago se juntaram ao restante de seus primos. Os Weasley estavam reunidos no centro da mesa. Hagrid estava próximo do grupo, assim como Sabrina que parecia bem alegre com as canções que o professor murmurava. Todos os Weasley se mostravam bem enérgicos, falando alto e fazendo brincadeiras um com os outros. Luís prendera Fred em uma conversa animada sobre os Detonadores, o esquadrão de bruxos guardiões similares aos aurores, mas que atuavam nos países mais brutos e gélidos da Europa. Molly falava rapidamente com Dominique gesticulando rápido com as mãos. Volta e meia uma das garotas tampava a boca com uma das mãos ou abafava seus risinhos.

Logo que se sentou ao lado de Tiago e de Luís, Alvo avançou em uma tigela com um punhado de Penas de Açúcar. Alvo já havia comido algumas das guloseimas enviadas por seus parentes, mas seu apetite estava cada vez maior. Nada como estar em faze de crescimento. Tiago perecia também estar com tanta fome quanto o irmão. Em poucos segundos seu prato já estava cheio de balas e chocolates.

– Bem, foi uma surpresa saber que seriamos tão poucos a passarmos o Natal aqui em Hogwarts – comentou a Profª Servilia erguendo-se de sua cadeira e interrompendo sua conversa com a Profª Vector. A diretora estava sendo modesta, ou até falsa, pois sabia que após os recentes acontecimentos na escola os pais não pensariam duas vezes em mandar berradores para seus filhos caso eles escolhessem permanecer na escola. O Profeta falara muito sobre a invasão ao colégio, e muitos pais só ficaram satisfeitos quando o ministro Shacklebolt assegurou que uma frota de aurores patrulharia os terrenos durante as primeiras semanas do segundo trimestre. – Espero que apreciem nossa ceia. Bon appétit.

Em uma fração de segundo todos os presentes no Salão Principal avançaram em direção as travessas de comida. Alvo não pensou duas vezes em rechear seu prato com costelas, ovos, ensopados e batatas assadas. Sua taça de ouro não estava cheia com o costumeiro Suco de Abóbora, mas sim com uma bebida de aspecto leitoso e bem calorosa. Quando Alvo a bebeu sentiu seu corpo aquecer, o que ajudava muito quando se levava em conta que o país estava preso em uma onda de ventos gélidos e nevascas.

Quando Alvo terminava suas batatas assadas e se dirigia para a sopa de ervilhas, as portas do salão se abriram e uma mulher magra; com grandes óculos que aumentavam o tamanho de seus olhos em dez vezes – estes que piscava como os de uma coruja – entrou deslizando pelo mármore do Salão Principal. Seu vestido era extravagante e misterioso. Com paetês espalhados por sua superfície junto com broches, vários cordões que envolviam seu pescoço e dezenas de pulseiras presas sobre os braços. Alvo reconheceu a professora no exato momento em que ela entrou. Ela era a Profª Sibila Trelawney, vidente e mestra em

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adivinhações. Mesmo que se mostrasse como uma maluca, Alvo sempre fora alertado com relação às predições da professora. Algumas eram bem doidinhas, que dificilmente poderiam se realizar, mas outras estavam realmente marcadas para acontecer.

– Que bom que decidiu se juntar a nós, Sibila! – disse a Profª Crouch sorrindo para a colega.

– Meu atraso foi proposital, diretora – disse Trelawney com um sussurro tímido e agudo. – Ontem à noite, enquanto consultava minha bola de cristal, pouco depois de ter terminado meu solitário jantar, previ que algo aconteceria e que eu deveria me atrasar para o banquete. Ela estava certa, se eu não me atrasasse, talvez não visse a bela chuva de cristais de gelo que vi. Também foi previsto que a senhora, diretora, diria suas ultimas palavras em francês. Antes de servir-se com sua sopa de legumes.

Ninguém contestou a professora, mas desde que Servilia ordenara que os presentes avançassem em sua comida, a diretora só havia comido tripas.

Fora muito estranho ter de almoçar com a Profª Sibila. Uma mulher imprevisível que de momento em momento tinha predições catastróficas sobre os presentes.

– Gertrudes, não! Você não pode se servir com mais uísque de fogo. Será a décima terceira pessoa a fazê-lo... Meu pobre rapaz, eu vejo que se você comer este doce terá um futuro tenebroso – afirmou para Chester Paulson a maior vítima de suas predições. Segundo a bruxa, Chester correria grande perigo se comesse mais um Bolo de Caldeirão.

Mas para a surpresa da maioria dos presentes no Salão Principal para o banquete de Natal fora o correio extra que irrompera pelos vitrais do salão. Várias corujas de diversos tamanhos e cores voavam pelo salão energicamente. A que mais chamou a atenção de Alvo fora uma coruja negra como a noite, de penas grossas e compactas, amontoadas de maneira hostil. Os olhos eram amarelos como os de um falcão, mas um tanto inofensivos. A ave estava abatida, como se voasse por muitos dias sem comer ou beber. A coruja pousou ao lado de Alvo, deixou sua encomenda e ficou encarando o cálice com a bebida quente do garoto.

– Pode beber – disse Alvo levando o cálice ao bico da coruja que aceitou sem modéstia. – Eu não te conheço. Conheço?

Depois de bicar a bebida de Alvo a coruja negra girou a cabeça em direção ao pacote que ela enviara. Estava endereçado a Alvo e também a Rosa.

– Prima, vem cá! – exclamou Alvo chamando Rosa para perto dele. A garota se levantou de seu lugar e com um salto chegou ao lado do primo. – É de Escórpio.

Alvo desembrulhou o pacote que continha duas barras de chocolate meio amargo e alguns Feijõezinhos de Todos os Sabores. Junto aos doces, havia um bilhete.

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Enviei Galdino para Hogwarts a fim de entregar-lhes seus presentes. Não tenho muito que fazer aqui em casa, então vocês podem escrever para mim? Não é tão legal jogar Snap Explosivo com meu elfo doméstico.

Feliz NatalEscórpioPS: Podem dar alguma comida para minha coruja? Ele está viajando há

bastante tempo e duvido que se alimente bem.– O Diabrete Malfoy lhe enviou um presente? – sibilou Tiago um tanto

intrigado. – Deveríamos fazer alguns testes antes de vocês comerem o que está ai. Quem sabe o que a família Malfoy pode ter posto junto aos caramelos.

– Não enche – rosnou Alvo, dando uma dentada na barra de chocolate enviada por Escórpio.

Tiago estava prestes a começar uma sessão de implicâncias com o irmão. Mas ambos voltaram suas atenções para um grupo de nada menos de cinco corujas que arduamente traziam um grande pacote para a mesa. Alvo sentiu tanta curiosidade em saber para quem era a encomenda que mal notara que a ave que guiava o bando era uma velha conhecida coruja de celeiro com muitas viagens nas costas. Quando ele percebeu a presença da ave de penas marrom-claras e face branca, Alvo deu um salto, com os olhos presos no pacote. Matilda, a ave dos Potter batia suas asas com energia planando junto ao grupo de corujas que deixou cuidadosamente o pacote nas mãos de Alvo. No bico de Matilda havia uma carta, mas esse não se endereçava a Alvo, mas sim a Tiago.

Sob o olhar curioso de alunos e professores que dispensaram sua ceia para olhar o correio, Alvo notou um pequeno bilhete escrito em papel carta cor de rosa, com letras grandes e redondas.

Não conte nada a Lílian!Ela não sabe que lhe enviamos o presente. Também não precisa se

preocupar com seu irmão. Sabemos exatamente como calar sua revolta.Feliz Natal e aproveite sua nova vassoura de corrida, o mais novo nome

em vassouras como disse sua mãe, espero que ajude nos jogos.Um abraçoHarryAlvo não tivera como se conter. Tentar disfarçar sua alegria junto ao

restante da escola. Um sorriso esperançoso e contente tomou seu rosto sem rodeios. Alvo rasgou a embalagem e se deparou com o projétil mais belo que ele já havia visto em sua vida. Ela era mais bem formada do que a Firebolt. O cabo não era reto, o que ajudava o manejo e a deslocação quando montado nela. Era de amieiro, sem quais quer imperfeições, também continha um número de prata que Alvo entendeu como sendo seu número de fabricação, juto com sua marca “Thunderstorm” e o nome de seu dono, no caso o de Alvo. A piaçava era negra com detalhes em

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prata. O que possibilitava que a vassoura atingisse a marca de 260/km em menos de dez segundos. Além de possuir um sistema de telepatia facilitando o arrojo de seu dono e um sistema mais moderno e quase infalível de freios.

– É a nova Thunderstorm! – exclamou Fred antes de pedir permissão a Alvo para acariciar a vassoura.

– Não tente sabotá-la! – gritou Ralf abrindo espaço entre as desinteiriçadas Dominique e Molly.

– Uma vassoura, hum? De que modelo é? – quis saber o Prof Flitwick ajeitando seus óculos para analisar melhor os detalhes da Thunderstorm de Alvo.

– Thunderstorm – disse Alvo com desdém. Ele mal notara, mas a única pessoa que não dera importância para o presente fora seu irmão, que lia e relia atentamente a carta que viera junto com Matilda.

– Precisará mais do que uma vassoura boa para nos ganhar, Potter – disse a Profª McGonagall com certo temor na voz. Seus olhos não desgrudavam da vassoura.

– Ora. Vamos, Minerva. O que acha de fazermos uma aposta com relação ao próximo jogo da temporada? – perguntou a Profª Crouch sorrindo maliciosamente para a vice-diretora.

– Tenho fé em minha equipe, Servilia – afirmou McGonagall com um pigarro. – Estamos invictos! Mas não será por isso que irei apostar meu suado ordenado com você.

Alvo não entendeu o porquê de Tiago não ter ficado uma fera com o presente enviado a ele. Harry dissera na carta que sabia como conter a revolta do irmão, mas isso não foi o suficiente para conter a curiosidade de Alvo.

Depois do almoço Alvo, Rosa, Tiago, Luís e Ralf se dirigiram ao Pátio de Transfiguração onde se empenharam bastante em construir um boneco de neve. Não fora um boneco como outro qualquer. Fora um boneco que poderia atingir a mesma altura que um trasgo montanhês. Não fora difícil empilhar as bolas de neve ridiculamente grandes. Os cinco jovens usaram suas varinhas para colocar uma em cima da outra com precisão. A pior parte fora a construção do rosto do boneco de neve. A primeira idéia fora a prática da Azaração de Impedimento em um dos cinco para que esse chegasse ao mesmo nível que a menor bola de neve, uma vez que nenhum dos garotos fosse capaz de chegar a tal altitude. Luís perdera o jogo de azar proposto por Ralf. Um jogo nada complexo e com poucas regras, denominado “Pedra, Papel e Tesoura”. Alvo, Tiago, Rosa e Ralf tentaram fazer com que Luís atingisse a altura desejada, para que ele pudesse colocar os olhos de carvão e o nariz de cenoura, mas os outros quatro não conseguiram manter o lufalufino de maneira instável, o que provocou uma cambalhota e Luís suspenso pelos tornozelos no ar.

– Socorro! Não me deixem cair! – gritava Luís abanando as mãos com raiva. Seu rosto ficara muito vermelho e seu gorro caíra de sua cabeça. À

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medida que Alvo, Tiago, Rosa e Ralf riam sem parar os olhos de Luís se enchiam de lágrimas que escorriam por suas bochechas rosadas.

– Coloque a cenoura – gritou Alvo para o primo. – É tão difícil assim?– Ora, se é tão fácil assim, prenda-a você mesmo!Alvo assentiu. Aproveitou a oportunidade para estrear sua vassoura

nova. Ele montou na Thunderstorm e começou a dar voltas ao entorno do boneco de neve. Com uma risada cômica e um giro ainda mais gozador, Alvo tomou a cenoura da mão de Luís e a pressionou contra a superfície fofa do rosto do boneco.

– Da próxima vez você será o encarregado da cenoura, Al! – chiou Luís batendo as pernas pouco antes de tocar a superfície escorregadia do pátio.

Os cinco enfim entraram no castelo enquanto o sol se punha no horizonte com uma brilhante cor branco pálida. Deixaram que as suas capas de neve, gorros festivos e luvas fizessem seu rasto gotejante e escorregadio pelos corredores conforme o grupo faladeiro se aproximava do Salão Principal para um chocolate quente e lanche natalino. Alvo estava contente pela folga e pelo tempo passado em família. Propositadamente ele tinha evitado falar sobre a venda da Toca com os amigos. Ele ainda não se conformava em nunca mais poder passar as férias na fazenda da família Weasley ou dividir o quarto irregular com o irmão mais velho.

Quando eles chegaram ao Salão Principal, Alvo pediu para um elfo enrugado e tristonho que trouxesse as sobras do banquete preparado por Monstro e por Bowy. Quando os restos de seu café surgiram em pratos de ouro resplendentes, Alvo se perguntou como os elfos fizeram para conservar o calor da comida, pois parecia ter sido feita na hora.

– Poderíamos fazer isso mais vezes, não acham? – disse Luís por cima de seu chocolate quente com marshmallow. – É legal ter o castelo só nosso. Sem se preocupar com Filch ou com os horários. É muito mais legal ficar aqui do que passar as férias todas ouvindo Vitória falar do namorado e Dominique cantando as músicas d’ Os Estrondosos.

– Acho que qualquer coisa é melhor que ficar embrulhando tudo na Toca – disse Tiago sem muita animação. – Para onde a vovó Weasley vai depois da venda?

– Lá para casa – afirmou Rosa. – Só por uns tempos. Ela está procurando um apartamento pequeno em Londres. Algum lugar próximo do Largo Grimmauld.

– Está feito, não é? – perguntou Alvo melancólico. Os olhos baixos sobre o prato vazio. – Não tem mais volta. A Toca já não é mais nossa.

– Temos de encarar os fatos – disse Rosa de maneira compenetrada e firme. – Não dava para vovó morar lá. A granja, o celeiro, as hortaliças. Ela não é tão jovem para poder cuidar de tudo. E também se sentiria muito sozinha.

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– Ora bolas! Ainda temos o vampiro – exclamou Alvo franzindo o cenho desgostoso. – E ele ainda é bem parecido com o tio Rony. Poderíamos dar um dos quartos para ele, ao invés do sótão.

– E quem vai ficar com aquilo? – perguntou Luís catando os marshmallows de seu copo. – Melhor que não acabe no Chalé das Conchas.

– Claro que não, Luisinho – tranqüilizou Tiago lançando se malicioso sorriso. Todos já esperavam uma piada ou gozação. – Tio Rony e tia Hermione ofereceram o quarto de Rosa de bom grato. Eles não se incomodam de transferi-la para o quarto de Hugo. Como Alvo disse, ele ainda é bem parecido com o tio Rony. Talvez seja mais legal que você, Rosinha.

– Tiago Potter, não me provoque! Isso ainda é pouco para me tirar do sério. Além do mais, não há mais nada que caiba em nossa casa no Portal de Ferro.

– Vocês se acostumam – disse Alvo pouco mais animado. – Se eu aturo Tiago até hoje, logo, logo você e o vampiro estarão trocando maquiagens.

Após o jantar de Natal, Alvo, Rosa, Tiago e Fred subiram a todo vapor até a Torre da Grifinória. Já era quase sete e cinqüenta da noite e Monstro havia dito que a Toca faria ligação com o castelo aos oito em ponto. Os quatro jovens passaram pelo retrato da Mulher Gorda como balas, o que irritou o retrato da mulher e de sua amiga Violeta. Que bebiam alegremente e riam de qualquer coisa.

Os quatro chegaram à frente da chaminé com folga. O fogo dançava na madeira crepitante sozinho, sem nenhum sinal de nenhum membro da família Potter ou da família Weasley.

– Está vendo, Rosinha. Estamos adiantados. Mal pude me servir de mais pudim por sua pressa excessiva – resmungou Fred acariciando seu estômago magro.

– Deixe de reclamar – retrucou Rosa encarando o primo mais velho. – Não é o fim do mundo se você comeu quatro ou cinco pedaços de pudim. Não faz diferença. Você terá de entrar numa dieta de qualquer maneira.

– Faz diferença para mim! E não reclame, mamãe! Não sei para onde vai, mas nada do que como se acumula. Não sou gordo!

– Chii! Silêncio! – reclamou Alvo, os olhos fixos no fogo. – Olhem a chaminé. Olá, papai. Feliz Natal.

– Feliz Natal para você também, Al – disse Harry, Seu rosto saltara de entre a brasa crepitante e o fogo caloroso. – Para você também. Tiago, Rosa, Fred.

– Feliz Natal, pai – disse Tiago.– Feliz Natal, tio Harry – disseram Fred e Rosa juntos. – Como vão as

coisas ai na Toca. Espero que não tenha havido nenhuma explosão.– Fique tranqüila, Rosa. Nós sabemos nos comportar... Tudo está saindo

melhor do que o planejado. Claro, volta e meia algo sai dos conformes,

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mas se não saíssem qual seria a graça? Gostaram dos presentes? Monstro trouxe tudo diretinho? Ficamos até de madrugada enviando os pacotes.

– Adorei o cachecol e o suéter – disse Alvo. – O Lembrol, o goleiro em miniatura... Os doces estavam fantásticos! A Thunderstorm...

– Gostou mesmo? Espero que vocês cheguem pelo menos às finais. Nosso investimento em suas vitórias foi mais do que suficiente... E, espere, você comeu todos os doces?!

– Comi – respondeu ingenuamente. – Mas não conte à mamãe. Ela não entende que sou uma criança em fase de crescimento e preciso de mais do que legumes.

Harry passou um bocado de tempo discutindo com os filhos e os sobrinhos como estava à arrumação da Toca e colhendo informações sobre como permanecia Hogwarts. Geralmente a voz ao fundo de algum parente podia ser ouvida. O que gerava muitas risadas.

– Lílian e Hugo queriam falar com vocês – disse Harry. – Eles estão lá em cima com Andrômeda Tonks e Teddy. Eles fizeram a gentileza de virem para cá. É bom que eles estejam distraindo as crianças... Tá bom Gina, não vou deixar Lílian colocar o rosto no fogo. Esperem aí que a fila é grande para falar com vocês.

O rosto de Harry deixou o braseiro. Em seu lugar, a face chorosa da tia Hermione apareceu. Ela continha as lágrimas.

– Rosinha! – exclamou ela. – Feliz Natal, filha! A vocês também Alvo, Tiago e Fred. Como está ai em Hogwarts.

– Uma loucura, mas estamos nos virando bem – disse Tiago se aproximando da brasa. – Você mais do que ninguém deveria saber que Hogwarts nunca está tranqüila. E depois das férias teremos a visita dos aurores...

– É melhor que fique assim – cochichou ela. – Já estamos a par das situações ai em Hogwarts. Mas fico feliz em saber que estão bem.

– Nós somos duros na queda, tia Hermione. Ainda não existe bruxo que possa deter nosso sangue...

– Só um momentinho... Jorge largue esses biscoitos! Já disse que não são seus. O que? Não me interessa se Teddy está prestes a quebrar um recorde... Quantos ele já comeu?

O rosto de Hermione deixou a chaminé. No seu lugar apareceu o do tio Rony.

– Saudações da casa dos desesperados. Como estão vivendo a vida cercados por deveres de casa?

– Olá, papai – disse Rosa enrubescendo. – Como vocês estão? – Dadas as circunstâncias atuais, estamos bem. Dentre os chiliques de

Fleur ao ver Teddy e Vitória juntos e as brincadeiras idiotas de Jorge, estamos bem. Pelo menos isso alegra as crianças. Hugo e Ted ficam brincando de explodir as caixas velhas enquanto Lúcia, Lílian e Rosana se distraem com Andrômeda. E você, Rosinha? Esses brutamontes

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irresponsáveis estão lhe tratando bem? E Alvo-Serpente? Como está a casa Sonserina?

– Muito bem, obrigado – respondeu Alvo rapidamente.– Como estão os trabalhos ai? – quis saber Fred. – Já empacotaram

tudo?– A grande maioria. Está sendo um Natal magnífico. Carlinhos é quem

leva as caixas para o jardim, enquanto fica tagarelando com Harry sobre os dragões da Romênia. Suas tias são as responsáveis por embrulhar tudo e nos forçar a reviver nossas piores lembranças de infância... O que me lembra. Será que existe uma cama sobrando em seu dormitório sonserino? Está difícil de respirar aqui.

– Sim! – disse Alvo mais rápido ainda. – Pode vir pela Rede de Flu. Você fica na cama de Isaac, que é próxima a minha. Pode conhecer nosso dormitório e a casa de máquinas.

– Você vai ficar bem onde está, Ronald Weasley! – exigiu a voz autoritária da tia Audrey.

– Caramba, Audrey. Não posso nem mais brincar? Perdeu a noção de uma piada depois de tantas viagens com aqueles embaixadores chatos. Você é realmente o par perfeito de Percy... E não, Fleur. Não uso mais esse casaco. Pode se livrar disso.

O rosto do tio Rony foi substituído pelo do tio Jorge.– Que bom que aquele chato do Rony foi embora... Como está ai, filhão?

Pronto para arrasar os sonserinos no Quadribol? Sem ofensa, Alvo. Sabe como é, velha rivalidade grifinória.

– Não me importo. – Ok. Serei breve, pois Audrey e Fleur ainda farão ligação com o

dormitório da Corvinal e da Lufa-Lufa. Gostaria apenas de desejar feliz Natal a vocês. Desfrutem bem de meus presentes e se possível... Deixem Filch e sua escova de sapatos velha doidos. Em breve estarei fornecendo novos produtos para nossa filial em Hogsmeade. O jovem Lupin está encarregado dos carregamentos. Desfrutem de nossos novos logros... Ah, filho, sua mãe manda lembranças. Ela quem está consolando mamãe. Foi duro para velha Molly desfazer a coleção de fechaduras e de tomadas do papai. Ok, Gina, já estou indo... Já estou indo! Tchau, garotos!

O rosto de Jorge sumiu por entre as chamas e outro rosto, um mais radiante do que o comum, com olhos severos e amáveis explodiu em chamas a mil por hora. O rosto de Gina explodira junto a algumas novas labaredas que fizeram o rosto de Alvo arder e corar ao mesmo tempo.

– Olá garotos! Olá, Rosa! Feliz Natal! – disse Gina com um sorriso ainda mais radiante sobre a luz das chamas.

– Oi, mamãe. O que está acontecendo agora ai na Toca? – perguntou Alvo, o rosto ainda corado. – Parece estar havendo um tumulto.

– Vocês têm sorte de estarem em Hogwarts – bufou Gina olhando por trás do ombro. – Já era de se esperar que com tantos Weasley sob o mesmo teto algo fosse ocorrer. Parece que Teddy está passando mal.

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Jorge o persuadira a quebrar um recorde de comer biscoitos de chocolate. Mas acho que ele misturou alguma coisa a mais. Algum produto das Gemialidades. – a voz de Andrômeda e da tia Angelina puderam ser ouvidas. Elas gritavam com Ted e com Jorge, que não parava de rir. – Deixo essa nas mãos de Hermione. Mas fora isso está tudo bem. Gui e Rony estão esvaziando os quartos e cuidando dos animais. Andrômeda e Teddy ficam com as crianças, nós nos revezamos em consolar a mamãe e arrumar as coisas nas caixas corretas. Carlinhos e seu pai... Bem, eles cuidam das caixas. Seu pai tem sido ótimo. Muito útil e prestativo como nunca antes eu vira – Gina faz uma pausa. Sua imagem ficou borrada por alguns instantes. – Somente as camas ainda estão montadas. Ficaremos aqui até o final das férias. Pouco antes de irmos, nós desmontaremos as camas e juntaremos com o restante dos móveis. Como está sendo na Sonserina, Al? Eles estão lhe tratando mal? Tem se alimentado bem? E que história é essa de casa de máquinas? Quero você bem longe...

– Mãe! – protestou Alvo. – A casa de máquinas não é nada de mais. Serve para me manter aquecido e protegido do frio provocado pelas águas do Lago Negro. E todos nós comemos no mesmo lugar. O Salão Principal. Qual é! Vocês acham que o dormitório da Sonserina é um castelo subterrâneo de horrores. Não temos um salão para refeições particulares, caixões, câmaras de tortura ou fossos.

– Acalme-se, Al – disse Tiago dando um empurrãozinho no irmão.– É. Sabemos que vocês não possuem um fosso – completou Fred.– Quietos, os dois! – chiou Rosa.– Tudo bem, Rosa. Obrigada – disse Gina serenamente. – Sabe que

nunca estive ou pretendo estar na sala comunal da Sonserina. Tenho arrepios das partes mais sombrias das masmorras. Mas eles estão te tratando bem?

– Mais é claro, mamãe – assentiu Alvo. – Os sonserinos só implicam com os caras das outras casas. Gosto de estar lá.

– E você, Tiago?– Estou bem – respondeu. – Recebi a carta que papai enviou por

Matilda. Vocês são espertos.– Foi tolice sua tentar nos ludibriar. Somos mais arguciosos que você.

Seria muita ingenuidade se não notássemos algo como isso. Além do mais eu e seu pai fomos treinados a notar cada desarmonia em nosso lar. Seria patético o chefe do Quartel General dos Aurores não perceber o que seu filho mais velho fez. E fique feliz por ter recebido uma carta e não um berrador. E agradeça ao Alvo também. Se ele não tivesse ganhado a vassoura o estrago para seu lado teria sido muito maior.

– Ok – disse Tiago desanimado. – Mas como souberam de cara que fui eu? Por que não acharam que Monstro havia pegado, como fazia com as coisas da Srª Black para protegê-las de um destino terrível nas latas de lixo de Londres?

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– Porque Monstro não tem acesso ao escritório de seu pai sem ordens – respondeu Gina com firmeza. – Ele diferente de alguém, cumpre as ordens que lhe são dadas sem desobedecer.

– De certo ponto de vista.– Como quiser – retrucou Gina dando um basta no assunto. – Vovó

deseja-lhes um Feliz Natal. Para os joelhos dela, se agachar enfrente a lareira é um convite para dores diárias. Cuidem-se, ouviram?! Rosa, conto com você para fazer com que esses três andem na linha. Gostaria que inspecionasse suas comidas para ver se existe alguma coisa saudável nelas. Estudem bastante. E não procurem mais confusões.

– Mamãe, nós nunca procuramos confusões – disse Alvo dando de ombros. – São as confusões que nos encontram.

– Boa noite para vocês – sussurrou Gina. – Feliz Natal, e vão para suas camas, já é tarde.

– Tudo bem, mãe – disse Tiago.– É ninguém aqui gosta de dormir muito tarde mesmo – disse Fred com

desdém.– Boa noite para você também, tia Gina. De um abraço em Lílian e em

Hugo por mim – pediu Rosa.– Assim será feito.– Tchau, mãe – disse Alvo no instante em que o rosto de Gina sumia

entre a fumaça cinza escura do fogo. – É, estávamos certos quando quisemos ficar aqui. Alvo se atirou contra uma poltrona aconchegante. Tiago, Rosa e Fred fizeram o mesmo. O gato peludo de Sabrina fugiu rapidamente de perto de Fred e saltou no colo de Rosa.

– O que acham que eles farão com as coisas do vovô? – perguntou Fred depois de encarar Peludinho. – Vocês sabem; as coleções de artefatos trouxas, as roupas, e o Ford Anglia voador.

Fred mencionara o velho carro que pertencera ao Vovô Weasley e que passara uma boa temporada escondido na Floresta Proibida. Há dezenove anos ele fora uma grande dor de cabeça para dois Comensais da Morte que não conseguiram controlá-lo e acabaram presos em seu porta-malas. O carro fora encontrado por um grupo de aurores que conseguiram domá-lo. Desde então ele fora limpo e estacionado em sua antiga habitação, a garagem d’ A Toca. Onde o Vovô Weasley gastava horas e horas fazendo reparos e manutenções.

– Quem se importa? – acenou Tiago olhando para a brasa. – Só o vovô que se importava com aquelas coisas. Agora que ele morreu são apenas cacarecos.

– Tenho absoluta certeza de que ninguém ira jogá-los fora – disse Rosa convicta, levantando do sofá e se dirigindo as escadas que davam ao dormitório feminino. – O tio Harry não vai deixar que o façam. São as memórias do vovô. Acharam um meio de guardarem aquilo.

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Tiago olhou para Rosa, mas não encontrou palavras que descrevessem seus sentimentos. Fred preferiu olhar para fora da torre, mas Alvo sabia exatamente o que dizer.

– Eles acharam um lugar para a Toca? – disse ele irritado. – Preferiram vendê-la. Qualquer lugar que aceite as ferraduras será um bom lugar, ah? Qualquer desmontadora ficará com o Ford voador. Grande solução... E Tiago, – seus olhos deixaram Rosa e fixaram em Tiago, analisando-o. – o que a mamãe quis dizer com “... não perceber o que seu filho mais velho fez”? O que estava escrito naquela carta que Matilda trouxe?

– Não é da sua conta, Alvo-fofoqueiro – disse Tiago ajeitando seus odiáveis óculos. – Algo que fiz, mas que mamãe e papai já me perdoaram.

– E o que ela quis dizer com “Agradeça ao Alvo.”? – insistiu.– Já disse que não é da sua conta. – repetiu Tiago, desta vez mais

seriamente.– Vou lá para baixo – resmungou Alvo. – Vejo vocês amanhã.Ele se despediu dos parentes e seguiu em silêncio até as masmorras.

Sua cabeça latejava a cada pesado passo que dava conforme descia as escadas. E sua desconfiança com relação a Tiago cada vez mais aumentava.

Capítulo DozeAs Investigações de Rosa

lvo estava aproveitando bastante suas férias, sozinho em Hogwarts. Depois da discussão com Tiago na sala comunal da Grifinória, os dois irmãos se falaram menos do que antes do dia

de Natal. Alvo passou a maior parte de seu tempo na neve com seus amigos sonserinos. Ele descobriu bastante sobre Sara Aubrey e Carter Danforth. O melhor amigo de Ralf era um garoto obcecado por coleções. Ele colecionava tudo o que se podia imaginar. Desde figurinhas dos Sapos de Chocolate até rótulos antigos de cerveja amanteigada. Quando Ralf e Carter levaram Alvo e Lucas para jogar Snap Explosivo com as cartas de Carter – ele era o maior possuidor de figurinhas da Sonserina – Alvo pode conhecer a coleção de pedras do garoto. Uma fila de pedregulhos de todas as formas e tamanhos estavam expostas no entorno de sua cama e em seu criado mudo. Alvo gostou mais da coleção de fotos de Feitiços do Patrono do que das pedras bem polidas. Mesmo que Carter tivesse gostado da idéia de mostrar como ele limpava e polia suas pedras, Alvo ficou mais interessado em ver as fotos dos animais prateados. Ele procurou por algum Patrono parecido com o que ele vira em seu sonho. Mas o mais parecido com o morcego fora um pavão real.

A

Sara Aubrey era uma garota recatada que gostava de ficar lendo seus livros de histórias ou medicinais em um canto, sem ser interrompida. A garota sabia qualquer coisa sobre medicina bruxa, e arriscava alguns métodos trouxas. Alvo imaginou que Sara não havia sido selecionada para a Sonserina por causa de sua fascinação por pureza de sangue ou por

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detestar os nascidos-trouxas, mas sim por sua sede de grandeza. Sua bisavó era nascida-trouxa, seu avô Bertram sonserino e seu pai, Lepus Aubrey fora selecionado para a Corvinal porque pedira insistentemente para o Chapéu Seletor. Ele tinha vergonha da Sonserina e temia que fosse mal visto por seus amigos caso seguisse o caminho da casa da cobra. Já Sara acabou aceitando de bom grato a casa. E fora bem acolhida pelos sonserinos, embora a garota preferisse passar a maior parte de seu tempo estudando sobre medicina junto à Madame Pomfrey.

Por mais que Alvo desejasse ficar brincando na neve pelo resto do ano, com o passar do tempo e com o fim do ano, a temperatura começou a esquentar e os alunos começavam a voltar para o castelo...

Para um Potter, o tempo pode ser o melhor amigo ou o pior inimigo. Quando um deles está em uma situação tensa ou perigosa, o tempo os ajuda dando reflexos rápidos e segundos precisos para salvarem suas vidas e de seus amigos. Mas quando eles estão próximos a uma data indesejada, o tempo parece fazer o máximo para essa chegar o mais depressa possível. E com Alvo não foi diferente. Quanto mais ele rezava para a volta às aulas demorarem a chegar, mais essas se aproximavam.

Escórpio voltou a Hogwarts junto com a maioria dos estudantes que ainda estavam em suas casas. As carruagens puxadas pelos testrálios chegaram ao anoitecer de sábado. Ele, junto de um numeroso grupo de primeiranistas, chegou ensopado de neve derretida no vestíbulo do Salão Principal. Poças d’água se formavam ao redor dos alunos que não poupavam tempo para por o assunto em dia com seus amigos. Escórpio ficara em um canto calado. O único que estava disposto a falar com ele era Agamenon, mas ele estava muito ocupado junto de outros Malignos que chagavam das carruagens.

Quando Alvo, seguido de Rosa, encontrou o amigo em um canto, ele saltou para perto de Escórpio, agarrando a manga molhada do grifinório, lançando um saudoso sorriso à Malfoy.

– Como foi o Natal? – perguntou Rosa interessada.– Nada muito especial.– Aposto como foi melhor que o nosso – disse o risonho Alvo ajudando

Escórpio com as malas. Arrastando-as para dentro do Salão Principal.Escórpio contou para Alvo e Rosa como fora seu Natal na Mansão

Malfoy. Segundo os relatos de Escórpio, ele não fizera muito além de escrever para os amigos, ler livros de aventuras e andar pela mansão, sozinho, apenas tendo seu elfo doméstico lhe perguntando de minuto a minuto o que ele queria.

– Mas e seus pais? – indagou Rosa.Escórpio revirou os olhos. Segundo ele, seu pai, Draco, mal ficara em

casa no feriado. A maior parte do tempo o Sr Malfoy tivera de ficar trabalhando no Gringotes após um chamado urgente do duende chefe. Não era nada muito desafiador, que Draco não pudesse resolver em alguns dias, mas o homem não era muito festivo e preferia trabalhar a ter

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de forçar um sorriso falso para os convidados de sua esposa e de sua mãe. A Srª Malfoy reunira alguns amigos para passar a temporada festiva em sua mansão. Escórpio relatara que nenhum dos filhos dos amigos de Astoria eram pessoas agradáveis. O menos idiota fora um menino de oito anos que forçara Beredy, a elfa doméstica dos Malfoy, a quebrar um porta-retratos velho e consertá-lo várias vezes. Ao fim da noite a elfo mal conseguia dizer “Sim, meu amo.”

– Um bando de ricos esnobes. Mesmo que eu já tenha sido um... – completou Escórpio. – Mas vendo-os assim, parecem muito mais antipáticos.

O banquete de volta ás aulas foi bastante farto. Depois de uma maravilhosa ceia de Natal na companhia dos professores, as quatro mesas das casas voltaram a suas habituais localidades. Alvo se despediu de Rosa e Escórpio e seguiu para a mesa da Sonserina, onde seus amigos Perseu e Isaac já discutiam com Lucas sobre as férias fora do castelo.

A maior parte do tempo entre o banquete e o discurso da Profª Crouch fora preenchido por Isaac, que relatara com precisão como fora suas férias nos Estados Unidos com seus tios. Ele contou que o marido de sua tia Mafalda havia o levado para conhecer sua sala no ministério americano. Ele ensinou Isaac como jogar Trancabola, uma modalidade esportiva similar ao Quadribol, onde os jogadores deveriam levar uma goles modificada até a superfície de um caldeirão antes de essa explodir. Isaac mostrou o distintivo de um dos times de Trancabola mais famosos dos Estados Unidos, os Cadentes de Manhattan.

– Eles até tem uns times de Quadribol – disse Isaac aos sussurros ao perceber a movimentação da diretora na mesa dos professores. – Tio Arnaldo me levou para ver um jogo, mas foi horrível! Deixamos o estádio depois de dez horas de jogo. Claro, o gosto de tio Arnaldo por Quadribol nunca foi dos melhores. Ele escolheu o pior time americano para torcer. Seria como os Chudley Cannon, porém com sotaque.

Quando a Profª Crouch se ergueu de sua mesa, os múrmuros e conversas cessaram em segundos. O Salão Principal mergulhou em um mórbido silêncio. Cortado apenas pelo soar do vento e das gotas d’água chocando-se contra as janelas.

– Aqui estamos de volta – disse a Profª Crouch de uma maneira forçada, a diretora parecia exausta. – As férias se foram com tamanha rapidez. Agora espero que seus ouvidos estejam aguçados e dispostos a captarem todas as informações ditas pelos professores. Essa é a reta final. Pararemos somente para as férias de Páscoa, mas espero que vocês permaneçam atentos aos estudos para os exames...

“Infelizmente meu discurso não estará focado apenas às novidades implantadas na escola para essa nova etapa. Como vocês devem saber, nossa escola foi vítima de uma invasão e acredito que todos aqui tenham o direito de saber exatamente o que aconteceu pouco antes das férias de Natal. Nós professores, e os funcionários do Ministério; tentáramos

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impedir que vocês tomassem conhecimento dos reais acontecimentos que atormentaram nossas cabeças. Fui aconselhada pelo Ministro da Magia a não revelar-lhes as informações mais confidenciais. É difícil discriminar o que deve ser dividido e o que deve ser mantido em segredo. Pois bem...

Crouch respirou fundo encarando todos os estudantes. Esses olhavam atentamente a professora, suas orelhas ansiosas para receberem novas informações. Os olhos mal piscavam, todos recaídos sobre a diretora nada confortada em sua posição como mediadora entre o Ministério e os alunos.

– Um bruxo, associado às artes das trevas, tramou uma invasão em nosso colégio. Malcolm Baddock era funcionário do Ministério da Magia, mas acabou se aliando a forças negras e fora corrompido por pensamentos tenebrosos. Baddock burlou nossas leis da magia e por meio de uma série de assassinatos ocupou uma vaga como professor de Artes dos Trouxas. Durante sua estadia em Hogwarts, Baddock supriu-se com uma grande leva de Poção Polissuco, cujos ingredientes foram roubados de nossa despensa. Durante todo esse tempo, Malcolm Baddock se passou por Epibalsa McNaught, bruxo de extremas qualificações que acabara morto nas mãos desse assassino. Não sabemos quais eram as reais intenções de Baddock, pois caso ele quisesse tão arduamente se tornar professor, creio que uma simples entrevista de emprego bastasse – uma leva de risadas tomou o salão, mas fora rapidamente extinta.

– Tia Mafalda comentou sobre o caso – sussurrou Isaac ao pé da orelha de Alvo. – Ela e tio Arnaldo foram colegas do tal Baddock. Disseram que ele era apenas um garoto ranzinza, mas sem idéias conquistadoras e assassinas na mente, o que era comum naqueles dias. Eles disseram que Baddock estava na Sonserina somente porque detestava sangues-sujos. Segundo meus tios, este Baddock fora corrompido com pensamentos negros com o passar do tempo.

– Bem, visto que nosso professor de Artes dos Trouxas era nada menos que uma fraude, sou obrigada a informar-lhes que todas as classes de Artes dos Trouxas foram canceladas. Aqueles estudantes inscritos nessa aula estão isentos de prestar exames finais sobre a didática. Espero que no ano que vem possamos retomar nossas atividades com relação a essa didática, mas por hora...

“Também devo informar-lhes que atendendo aos pedidos dos pais e de membros ministeriais teremos alguns patrulheiros Aurores rondando por nossas terras para garantir a segurança de todos os presentes.”

“Mais uma coisa, antes que sigam para seus dormitórios. Uma nova didática será implantada em nossos horários. Esta seria propagada nos tempos livres de cada ano, mas com o fim das aulas de Artes dos Trouxas, digamos que os horários ficaram mais... flexíveis.”

“Há muitos anos, Hogwarts abrigou a didática de Aula das Corujas. Nosso único professor fora o senhor Santor Patrick Dagh, que lecionou a didática durante vinte anos. Em 1799, a então Ministra da Magia, Srtª

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Artemisa Lufkin, proibiu o estudo após ocorrentes denúncias de ataques de corujas a cidadãos trouxas de todo o país. Segundo a ministra, a aula estava ensinando aos alunos como atiçar as aves contra pessoas trouxas.”

“Hoje, o Ministro da Magia, liberou a reposição da didática em nossos horários de estudos. Por favor, assim que voltarem a seus dormitórios; peço para que os interessados se alistem na nova matéria. Para isso, necessitaremos de um professor capaz, que possa ensinar-los como cuidar de suas corujas sem provocar ataques a trouxas. Por favor, aplaudam o Prof Artabano Monomon, que aceitou a vaga como professor de Aula das Corujas.”

O homem que Alvo havia visto no gabinete da Profª Crouch antes do Natal se ergueu. Seus olhos negros de corvo estudavam os aplausos recebidos com muito prazer. Enquanto ajeitava os longos cabelos castanhos, o Prof Monomon lançou a todos seu sorriso maroto. Mostrando ser um bom rapaz.

Depois da apresentação do Prof Monomon o tempo pareceu pregar uma peça nada simpática em Alvo. Em um instante o garoto estava conversando com seus amigos descontraidamente sob a luz das velas do Salão Principal, no instante seguinte ele já descia as escadas que levavam às masmorras morrendo de sono, sendo forçado a cobrir a boca com uma das mãos para não mostrar seus bocejos. Em outro instante ele já estava de pijama envolto pelas mantas macias de sua cama. Alvo mal teve tempo de aproveitar seu sono, pois o tempo não estava satisfeito em roubar seu prazer. Para ele, Alvo, o sono não durara mais que dez minutos, pois em questão de instante já era acordado por Isaac chamando-o para o café. Alvo pensou estar sendo manipulado como um brinquedo, tendo o tempo como manipulador e gozando de poder decidir o rumo e a intensidade dos fatos. Em um momento Alvo já se via trinando para o jogo contra a Grifinória. Jogo decisivo que Erico fazia questão de se mostrar impecável. A derrota para a Corvinal parecia ter-lo o feito pirar de vez, mas as férias o proporcionaram um tempo maior para armar novas estratégias. Quando Alvo já estava satisfeito com o tempo acreditando que ele já havia terminado de brincar, foi surpreendido. Pois quando Alvo deu-se por si, já era quarta-feira e ele cochichava com Lívio e Ísis durante a aula do Prof Binns.

Já se passava uma semana do fim das férias e Alvo já estava exausto. A quantidade de deveres de casa exigidos pelos professores parecia multiplicar a cada dia. Com a aproximação dos exames, os professores determinavam o máximo de compromisso e atenção de cada um dos alunos.

Em cada matéria Alvo se mostrava distinto. Em Defesa contra as Artes das Trevas e Feitiços, Alvo era um dos melhores alunos. Os professores Silvano e Flitwick mal perdiam seu tempo explicando-lhe como deveriam ser executados os feitiços a serem aprendidos. Junto de Alvo, Rosa e

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Escórpio se mostravam igualmente capacitados a azarar ou se defender de qualquer inimigo. Em Transfiguração e Poções, Alvo não era um dos piores alunos, mas também não era dos melhores. Em Poções não havia estudante que superasse Agamenon. A maioria das aulas, o Prof Slughorn pedia que o jovem grifinório o ajudasse a inspecionar os alunos. Em Transfiguração eram Lucas e Rosa que comandavam as aulas. Mesmo tendo algumas dificuldades na transfiguração de frutas, Lucas se mostrou muito hábil em transformar alimentos em animais ou vice versa. As demais didáticas Alvo levava com um pé nas costas. Exceto História da Magia, mas para essa, Alvo poderia contar com a ajuda das respostas gravadas nas carteiras da sala de aula.

Na outra segunda-feira, após o regresso dos demais alunos à Hogwarts, a Aula de Corujas ainda não havia sido encaixada nos horários dos alunos de Hogwarts. Por ela ser opcional em seu primeiro semestre na escola; muitos alunos relutavam ainda em se alistar as aulas do Prof Monomon. Alvo ainda não decidira se participaria ou não da didática, não tinha absoluta certeza do que esperar da aula. Gostaria de saber qual era a melhor maneira de cuidar de Artie, mas tinha receio de mergulhar em um globo entediante quando as aulas avançassem para a parte teórica. Cuidar de uma coruja talvez fosse divertido, mas descrever em menos de cinco minutos todos os membros do intestino delgado da mesma seria muito chato.

No fim do café uma discussão rondou o pequeno grupo de quatro amigos que se distanciavam de suas respectivas mesas. Alvo e Agamenon começaram com uma conversa sobre as passagens secretas de Hogwarts. Como membro oficial dos Malignos, Agamenon já havia utilizado quase todas as entradas e saídas secretas desobstruídas da escola, exceto uma. O minúsculo túnel subterrâneo que dava à Casa dos Gritos. Construção a muito amaldiçoada pelos habitantes de Hogsmeade, que alegavam ouvir vários gritos uivos e barulhos de objetos sendo destruídos durante a noite. Nenhum Maligno até hoje havia um motivo demasiadamente concreto para se arriscar de tal forma, pois além de estar violando algumas regras de Hogwarts, o estudante também deveria arriscar sua integridade ao opor-se à imensa árvore que era o Salgueiro Lutador. Foram Ted Lupin, Ethan Humberstone e Sabrina Hildegard os únicos Malignos que tentaram atravessar a passagem. No segundo ano de Ted (o primeiro de Ethan e Sabrina), os jovens queriam desvendar o mistério da passagem e se aventurar pelo povoado de Hogsmeade, pois ainda não tinham permissão para fazê-lo. No final das contas Ted havia sido locauteado por alguns ramos do Salgueiro, enquanto Sabrina e Ethan tiveram cortes superficiais no rosto e nos braços, mas nada que estragasse a diversão e o prazer dos garotos.

– Então o faremos agora – disse Alvo a Escórpio, Agamenon e Lívio, já articulando como chegar ao túnel.

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– Segundo o relatado por Sabrina e Ethan, existe um nó específico que, caso seja tocado por qualquer objeto, transforma o Salgueiro Lutador em um mero Arbusto Dócil, capaz de deixar que qualquer um usufrua de sua passagem. – contou Agamenon, quando os quatro deixaram o vestíbulo do Salão Principal. – Mas Lívio não deveria estar em alguma aula junto da Lufa-Lufa?

Lívio remexeu por entre suas vestes e retirou um novíssimo e pequeno bloco de notas encadernado com couro de seu bolso. Fora o presente que seu velho e doente avô lhe dera de Natal. Um presente simples, mas útil que impedia Lívio de ter de carregar uma quantidade extra de rolos de pergaminhos.

Eu deveria estar na aula de Feitiços. Mas como ela é opcional para mim, e vocês parecem tão dispostos a mergulharem nessa arriscada brincadeira junto ao Salgueiro Lutador... Nada como me enturmar um pouco mais.

Realmente Lívio havia conquistado muitos mais amigos com o passar do tempo. Nenhum membro de sua casa continuara a caçoar de sua mudez. Em sua grande maioria, os corvinalinos o respeitavam e o tratavam como um igual. Somente precisavam de certa paciência quando estabeleciam um diálogo com Lívio. Seus melhores amigos consistiam em Kevin Marsten e José Goldstein. Um, assim como Lívio começava a se acostumar com o fato de estar em um mundo onde você pode levitar alguns objetos e alterar a forma de outros. E José servia como um mediador dos dois ao mundo da magia. O que era muito benéfico, ainda mais quando se necessitava passar pelo retrato da águia detentora da “chave” para acessar a sala comunal da Corvinal. A presença de Lívio nas aulas de Defesa contra as Artes das Trevas e Feitiços, também contribuía para sua integração com os demais alunos. Algumas garotas até arriscavam alguns suspiros encantados quando Lívio conseguia executar um feitiço não-verbal na primeira tentativa. Isso mostrava que as aulas noturnas com Flitwick e Silvano estavam dando bons resultados.

Os quatro deixaram o castelo em poucos minutos. Passaram rapidamente pela cabana de Hagrid que estava completamente apagada. A grossa porta de madeira oca fortemente trancada, todas as cortinhas arriadas sem deixar nenhum filete do sol frio da manhã entrar e sem nenhuma fumaça serpenteando para fora da chaminé. Alvo acreditou que Hagrid estava com algum grupo de alunos explorando a Floresta Proibida.

No caminho em direção ao Salgueiro Lutador, Alvo, Escórpio, Agamenon e Lívio também se depararam com Ethan Humberstone encostado sobre uma árvore com vários diagramas e pergaminhos espalhados desorganizadamente por seus pés. Ao lado de Ethan, uma garota de cabelos escuros com mechas cor rosa choque estava recostada sobre o ombro do lufalufino. Ela também fazia mapas estelares e diagramas cósmicos apoiando um grosso livro de Adivinhação sobre o

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colo. Seus olhos eram chamativos com uma tonalidade verde incomum, o nariz era levemente arrebitado e as unhas dos dedos eram pintadas com diferentes tonalidades de roxo.

– Laura Fawcett – sussurrou Agamenon ao ouvido de Alvo com se soubesse que ele a olhava. – Também faz parte dos Malignos. Digamos somente que, desde o início do mês passado, ela e Ethan estão andando cada vez mais juntos... Se você me entende.

– Ei, garotos! – gritou Ethan ao notar a presença dos quatro primeiranistas. – O que fazem aqui? Não deveriam estar estudando? – Ethan parecia levemente irritado com a presença dos garotos, mas como era muito educado conseguiu ocultar seus reais sentimentos.

– Temos o tempo vago – adiantou-se Alvo. – Nossos horários ainda não estão completos. A Aula das Corujas só começa a valer semana que vem. E você, não deveria estar estudando?

– E o que acha que estou fazendo? – gritou Ethan em tom de ofendido. – Eu e Laura temos uma leva de deveres de Adivinhação para depois de amanhã. É mais difícil do que parece calcular todos os alinhamentos planetários deste ano.

– Vocês primeiranistas tem sorte! – afirmou Fawcett virando a página de seu livro de Adivinhação. – Quando chegar ao terceiro ano e começarem a ter aulas com a Trelawney é que vão ver como Adivinhação é algo muito chato. E se preparem para ouvirem predições sobre sua morte a cada aula... Semana passada Amélia Panonia foi sentenciada a morrer ao ingerir um cálice de uísque de fogo quando completar vinte anos. Ela ficou arrasada. Chorou o dia todo e só ficou tranqüila quando a Profª McGonagall disse que todo ano alguém é sentenciado pela Coruja Velha – ela revirou os olhos para Ethan, que ria.

– No terceiro ano, Trelawney me disse que eu morreria aqui em Hogwarts, sentenciado pelo passado dos mais próximos. Não sei o que significa, mas início eu fiquei muito mal, mas logo mudei de idéia quando ela disse que Erminio Dingle seria asfixiado por bombas de bosta – Ethan continuava rindo. – Ela é uma biruta. Às vezes o Olho que Vê acerta sua predição. Mas é uma em um milhão... A propósito, o que vocês fazem aqui fora?

– Queremos investigar a passagem secreta do Salgueiro Lutador – disse Escórpio com desdém. Alvo por sua vez, quase esmurrou o nariz do amigo. Ele não deveria revelar suas reais intenções para Ethan e Laura tão abertamente.

– Ah, a passagem. Laura nunca esteve lá, esteve? – seus olhos caíram sobre a garota que negou com a cabeça. – É melhor serem cautelosos. Ficarei de olho em vocês caso a situação fuja do controle.

– Humpf. Era de se esperar que aquele texugo idiota do Alberto não saísse de sua toca – bufou Laura encarando Alvo, Escórpio, Agamenon e Lívio. – Aquele babaca é tímido o suficiente para nunca sair e se enturmar.

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– Está se referindo a Alberto Stebbins, da Lufa-Lufa? – perguntou Alvo.– Sim. Aquele parasita do meu primo que sempre fica em seu casulo.

Ele é filho de minha tia Semira – ela revirou os olhos. – Isso se deve porque Alberto é igual ao seu pai. Ambos da Lufa-Lufa, e ambos tímidos. Não sei como uma pessoa esperta como a tia Semira pode se apaixonar por um cara como Sam Stebbins. Assim como eu, ela era da Corvinal. E nós, as corvinalinas, sabemos onde estamos nos metendo.

– Considerarei isso um elogio – disse Ethan recolhendo o riso.– Bem, aproveitem o tempo juntos! – exclamou Alvo piscando para

Ethan.– Agente se vê mais tarde! – falou Agamenon, possivelmente se

referindo a alguma traquinagem dos Malignos pela madrugada.O Salgueiro Lutador fora plantado em Hogwarts no primeiro ano dos

avós paternos de Alvo. A árvore encantada servia como guardiã da passagem que ligava a escola à Casa dos Gritos, local onde o pai de Ted, Remo Lupin, se submetia a suas transformações de lobisomem toda lua cheia. No início, Remo era levado na companhia de Madame Pomfrey, que além de supervisionar as transformações do jovem, impedia que Remo voltasse ao colégio. Com o passar dos anos, os amigos de Remo, os Marotos, se encarregaram do acompanhar o amigo em suas transformações, uma vez que os outros três, Rabicho, Almofadinhas e Pontas haviam se convertido a animagos, de forma que pudessem ficar seguros durante a metamorfose do amigo Aluado. Mas, mesmo conhecendo todas as histórias que rondavam o Salgueiro Lutador – o guardião da passagem que levava a Casa dos Gritos e o maior temor de seu pai e seu tio Rony quando chocaram o Ford Anglia do vovô Weasley em seu segundo ano – Alvo ainda estava um pouco temeroso em ter de enfrentar a árvore. Ele não poderia amarelar naquele momento, ainda mais porque fora ele quem dera a idéia de averiguar a passagem. Afinal, nunca se sabe quando será necessária uma rota de fuga rápida para fora da escola.

– Ok. Vamos começar – disse Alvo. – Precisaremos de alguns gravetos para que nós possamos testar os nós do Salgueiro. Quem se candidata a ser nosso lenhador?

Surpreendentemente, Lívio não pensou duas vezes antes de se candidatar. Seria uma ótima oportunidade para ele treinar seu Feitiço de Corte não-verbal.

– Mas e se a passagem da árvore estiver novamente lacrada? – perguntou Escórpio estudando os ramos e raízes expostas do Salgueiro Lutador. – A grande maioria das passagens secretas da escola foi bloqueada há uns vinte anos atrás! E algumas ainda preservam suas proteções. O que faremos se nos depararmos com uma pilha de rochas bloqueando a passagem?

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– Simples, – disse Alvo – voltaremos. Nosso objetivo não é deixar Hogwarts, e sim saber se existe ou não uma passagem desbloqueada para a Casa dos Gritos.

– E para a sua informação, Escórpio, grande parte das passagens secretas foi reaberta por nós, estudantes – completou Agamenon com se fosse um experiente caçador de passagens e ruelas ocultas. – A cada ano um grupo descobre uma passagem nova e conta para os amigos, ou mesmo desvenda seu enigma e consegue desbloqueá-la. Estamos em Hogwarts! Tudo é encantado, e existem meios de reabrir as passagens. É só ter paciência e tempo a ser gasto. Ethan descobriu a passagem de Valenciano, o aventureiro a poucos metros da passagem da Bruxa Caolha. Essa é uma passagem selada por uma magia muito poderosa. Ted Lupin foi um dos que constatou que é quase impossível desvendar seu segredo. Quem a selou, realmente, fora um bruxo muito habilidoso.

Quando Lívio voltou com os gravetos, os garotos começaram sua cuidadosa aventura ao entorno do Salgueiro Lutador. Encolhidos como animais tentando se ocultar do predador, os primeiranistas se aproximavam cada vez mais das raízes e dos nós do Salgueiro Lutador. Escórpio ia à frente, segurando o maior galho, depois vinha Alvo, a varinha em punho detectando cada movimento em falso dos ganhos e das vinhas do Salgueiro. Atrás de Alvo era Lívio que seguia a espreita, carregando os galhos reservas, para caso o primeiro não dar conta do recado. Agamenon cuidava da retaguarda, assim como Alvo, ele vigiava as vinhas e os galhos da árvore, caso um desses notasse a presença dos estranhos.

– Já não deu para perceber que não é este?! – reclamou Alvo ao ver que Escórpio insistia em cutucar o mesmo nó do caule do Salgueiro Lutador.

– Ora se sabe qual é... Então por que você não o faz?! – retrucou Escórpio irritado.

Passaram-se alguns minutos enquanto Alvo e Escórpio discutiam sobre qual era o verdadeiro nó que liberava a passagem. A cada precipitação do Salgueiro Lutador, o grupo ficava imóvel, somente Alvo e Agamenon se movimentavam lentamente empunhando as varinhas. A cada nó descartado, as opções dos garotos iam diminuindo, assim como suas respectivas paciências.

– É o maior que tiver – disse Agamenon a Lívio que fazia sinal para uma raiz contorcida próxima a um dos galhos. – Assemelha-se a um daqueles gogós que um cara magro possui quanto atinge a puberdade. Mas ainda acho que Ethan e Sabrina estavam de costas para a Floresta quando o encontraram. Sabem, de frente para o castelo.

– Não foi isso que papai me contou – contradisse Alvo.– Querem ficar calados! – chiou Escórpio batendo em mais uma

imperfeição da árvore. Aquela, porém, revelou-se ser a mais incorreta de todas, pois deu um estalo no Salgueiro Lutador que fez com que um de

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seus menores galhos estapeasse o graveto de Escórpio, partindo-o ao meio.

– Preciso de outro, Black! – disse ele pedindo outro graveto a Lívio. – Esse é menor que o anterior. Precisamos nos aproximar mais um pouco.

– Talvez se...Mas as palavras de Alvo foram abafadas por um estalo tão agudo e

forte que chamou a atenção do Salgueiro Lutador. A árvore começou a se remexer e a esmurrar o chão de forma tão brava que todas suas folhas soltas e as gotículas d’água contidas em seus galhos fossem arremessadas para longe. O plano cauteloso de Alvo fora pelos ares. No lugar do cuidado e do silêncio o ar tomou-se por estrondos, estalos, gritos e xingamentos. Agamenon e Escórpio desandaram a lançar Feitiços de Corte e Estuporante contra os galhos que vinham a todo vapor contra seus corpos. Lívio, porém não teve tanta habilidade em se proteger com feitiços ofensivos não-verbais contra a árvore. Se não fosse por Alvo, que se jogara por cima do amigo tirando-o da área de alcance de um dos galhos mais rígidos e fortes do Salgueiro Lutador, o jovem Black teria sido triturado pela árvore enfeitiçada.

– Agamenon! Alvo! – ouviram-se os gritos de Ethan que corria junto de Laura em direção ao Salgueiro Lutador. – Venham para cá! Estupefaça!

O lufalufino e sua namorada corvinalina desandaram a lançar Feitiços Estuporantes e Explosivos contra os galhos e ramos enfurecidos. Com o tempo os seis estudantes começaram a se cansar de tanto fugir e berrar feitiços contra o Salgueiro Lutador. Agamenon tinha o rosto cortado por algumas vinhas e Lívio estava com as vestes rasgadas. Alvo se revezava entre proteger seus amigos e a si mesmo dos galhos avassaladores.

– Socorro! – gritou Laura. Um pesado tronco caíra poucos centímetros de onde ela estava. Forçando a garota a recuar.

Mas após um movimento em falso, depois de espantar um outro galho que se movia em direção a Laura, Alvo foi acertado por vários gravetos que se uniram na forma da articulação de uma mão de lutador e o golpearam com toda a força contra o caule do salgueiro.

A dor tomara as costelas de Alvo que deveriam ter se fragmentado em pequeninos pedaços de osso após o choque com o caule rígido e irregular do Salgueiro Lutador. Sua respiração ficara ofegante, mas seus olhos ainda conseguiam enxergar tudo o que acontecia com seus amigos. Possivelmente tenha sido a visão de Alvo que salvara sua vida e a dos demais naquela manhã, pois pouco depois de ser arremessado contra o caule, Alvo viu o nó que tanto ansiava encontrar. Nó que quase custara a vida de seus amigos. Alvo hesitou e deu um murro no nó marcado com um minúsculo “M” mal desenhado.

O Salgueiro Lutador parou de se mover no instante em que a mão sangrenta de Alvo esmurrou o nó. Parecia que a árvore havia sido congelada com um feitiço extremamente poderoso, pois nenhum de seus

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muitos galhos ou ramos parecia se mover. Nem mesmo as folhas se desprendiam mais da árvore.

– Estão todos bem? – perguntou Laura enquanto era ajudada por Ethan a se levantar.

– Gostou da aventura, Potter?! – gritou Escórpio muito irritado, esfregando o ferimento do braço que ele esfolara. – Já podemos voltar para o castelo!

– Ficou maluco? – respondeu Alvo também aos berros. – Depois de tudo o que passamos é isso que você faz? Dar as costas? Onde está sua coragem grifinória?

– Talvez o Chapéu Seletor tenha se enganado e eu não sirva para a Grifinória! – continuou Escórpio vermelho. – Ele estava delirando quando me selecionou! Deve ter confundido Escórpio Malfoy com Eutrópio Macavoy!

“Continuar discutindo assim não vai levar a nada!”, escreveu Lívio em seu bloco, Agamenon leu em voz alta. Sabíamos que correríamos certo risco, e todos concordamos em participar, Alvo não nos forçou a nada. E também acho que seria burrice voltar agora que acalmamos a fera.

– Ok. – bufou Escórpio dando-se por vencido. – Sigamos. Mas não contem comigo para explorar a Casa dos Gritos.

– Já disse que não o faremos!– O que você acha, Laura? – murmurou Ethan para sua namorada. –

Você nunca esteve lá embaixo. E se os seguirmos, nós poderemos estar batendo um recorde!

– Faço qualquer coisa para dar um tempo com os astros – riu Laura Fawcett seguindo o namorado e os primeiranistas para dentro do túnel subterrâneo.

– Ainda há alguns cascalhos aqui embaixo – disse Agamenon examinado o perímetro com sua varinha. – Mas está parecendo que a passagem permanece desbloqueada. Por acaso alguém temo fobia a aranhas? Existe um considerável número de aracnídeos aqui, mas acho que dá para espantá-las com a luz projetada pela varinha. Lumus.

Alvo ficou satisfeito que Rosa não estivesse presente, pois seu medo incondicional por aranhas teria empacado com o plano do sonserino. Escórpio também havia criado um considerável desprezo pelas aranhas após o ataque de Moragogue e seus irmãos no mês passado quando ele e o filho do líder da colônia ficaram frente a frente. Mas Alvo acreditava que Escórpio tivesse medo apenas das aranhas com mais de um metro de altura.

Por que vocês pararam de usar esta passagem? – escreveu Lívio pouco antes de o grupo entrar no túnel.

– Porque não precisávamos mais dela – explicou Ethan atenciosamente. – Teddy já tinha idade para ir a Hogsmeade e eu e Sabrina ficávamos muito bem sobre uma velha Capa da Invisibilidade que nós achamos próxima a passagem de Valenciano, o aventureiro.

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– Vocês têm uma Capa da Invisibilidade sobrando? – perguntou Alvo interessado.

– Desculpe, cara. Mas ela é exclusividade de membros – disse Ethan, o que fez com que Alvo se interessasse mais em se alistar o grupo de vagabundos e malandros que seu irmão pertencia.

– O que é aquilo? – perguntou Escórpio apontando para uma caixa vazia de bomba de bosta.

– É recente – disse Ethan se espremendo entre Lívio e Escórpio para analisar a embalagem como um perito. – Nós não somos os únicos a utilizar esta passagem. Alguém tem se infiltrado aqui durante um bom tempo. Vejam, está cheia de embalagens de produtos das Gemialidades Weasley.

Mais alguns passos à frente, onde o túnel que levava a Casa dos Gritos ficava menos compacto – o que aliviava um pouco os músculos – encontrava-se um acervo de pacotes e caixas de produtos contrabandeados da filial das Gemialidades Weasley. Havia caixas velhas e novas de produtos ainda no mercado e outros não mais comercializados nas prateleiras. Desenhos chamativos, anúncios rasgados e cobertos de poeira estavam empilhados pelos cantos do túnel, todos etiquetados cuidadosamente com uma caligrafia não muito bela com os nomes de cada produto. Alvo se interessou pelos Nugá Sangra-Nariz e pelo Pó Escurecedor Instantâneo do Peru.

– Isso cheira a alguém que tem livre acesso aos produtos da loja – disse Alvo passando o dedo pela camada de poeira que tomava algumas das caixas. – O que vocês acham... Teddy?

– Não. Teddy começou a trabalhar na loja ano passado – disse Laura. – Aqui tem produtos a muito não vistos nas lojas e franquias...

– Estão pensando o mesmo que eu? – perguntou Agamenon.– Acho que sim – concordou Laura.– Creio que poderiam dividir seus pensamentos conosco, já que nos

encontramos no mesmo barco... Ou buraco. – falou Alvo, curioso.– Parece, jovem Al, que nós descobrimos a secreta despensa de seu

querido e traiçoeiro primo Fred Weasley – disse Ethan com um sorriso prazeroso. – Bem, acho que nossa aventura termina aqui. Seria de bom grato se tudo o que aconteceu ficasse entre nós, entendem? Esse local não pertence ao perímetro de segurança de Dolohov. O que nos diz que estamos fora da escola. Não seria muito legal se McGonagall ou Crouch descobrissem que esta passagem tão importante está desbloqueada. E também seria interessante se Fred não soubesse que seu esconderijo de Bombas de Bosta, Kits Mata-Aula, Pântanos Portáteis e Foguetes Dispersores de Atenção fora descoberto... Talvez, nosso querido mestre em caos instantâneo e fugas rápidas de lugares nada suspeitos; fique muitíssimo aborrecido.

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Depois da se lavarem e de trocarem suas roupas sujas, suadas e rasgadas por novas limpas e impecáveis, os primeiranistas e os sextanistas metidos na exploração do túnel secreto guardado pelo Salgueiro Lutador e pelo descobrimento do acervo de produtos Weasley escondidos por Fred seguiram para suas respectivas aulas. Fora mais cansativo para Alvo assistir as aulas após o ocorrido pela manhã do que ele imaginava. Se não fosse por Ethan, suas inclinações para medicina e seu ilegal estoque de poções, Alvo não agüentaria passar o resto do dia com a dor provocada pelo choque com o salgueiro. De uma forma ou de outra, Alvo não podia ir a ala Hospitalar, pois Madame Pomfrey o afogaria com inúmeras perguntas de como ele conseguiu aqueles ferimentos. Alvo pensou em dizer “Caí da cama em cima de meu malão”, mas depois percebeu que aquela não seria uma desculpa muito convincente.

Mas Alvo não fora o único que aproveitara o tempo livre. Rosa havia desaparecido da vista de qualquer aluno ou professor. Mal aparecera no café da manhã e seu paradeiro era desconhecido. Por um momento alguns integrantes da família Weasley ficaram preocupados com o repentino sumiço da garota, mas logo foram tranqüilizados quando Ralf explicou detalhadamente o sistema de segurança de seu pai. Que além de impedir que qualquer intruso trouxa espreitasse por Hogwarts, sabia exatamente se algum aluno rompera seu bloqueio. Alvo quase deixou escapar que aquele sistema não era 100% confiável, mas ele fora astuto, pois no momento em que abriu a boca para falar percebeu que depois deveria responder a todos como sabia que o sistema reforçado de Dênis Dolohov não era fidedigno. O que provocaria uma bateria de perguntas sobre ele. Alvo estava prendendo com dificuldade as palavras em sua boca conforme a discussão prosseguia. Mas seu corpo relaxou quando sua prima chegou ao Salão Principal aos prantos.

Rosa sentou-se rapidamente sobre uma das cadeiras postas próximas à mesa da Grifinória e desandou a engolir brutalmente toda a comida ao seu redor. Os dentes mastigavam ferozmente a carne que era empurrada goela abaixo junto de goles e goles de suco de abóbora. Os olhos de todos os presentes na mesa da Grifinória recaíram sobre uma Rosa faminta e aparentemente despreocupada com sua boa postura e com sua classe. Seus olhos lacrimejavam conforme a comida era enfiada para dentro de seu corpo, mas Rosa se mostrava cada vez mais faminta, insaciável.

– Isso é que é ter etiqueta! – disse Luís, os olhos arregalados e fixos na prima.

– Por favor, se um dia me virem fazendo isso... – Vitória parecia estar próxima de uma sincope. – Me estuporem! Impeçam-me de prosseguir com um ato de tamanha brutalidade e vergonha como esse.

– Para onde será que vai toda esta comida? – Fred não se mostrava menos surpreso com a atitude de Rosa.

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– Rosa... – começou Alvo se adiantando, cautelosamente, para perto da garota. – Prima, você está bem?

Após ouvir as palavras de Alvo, Rosa parou de avançar com veracidade em cima de comida. Seus olhos arregalaram como se ela notasse um inseto deslizando por entre o frango. Pelo canto do olho a garota espiou as faces assustadas e curiosas de seus parentes e amigos. Quando ela percebeu que todos os olhares recaiam sobre seu ser esfomeado, suas orelhas e todo o seu rosto enrubesceram. Os olhos arregalaram de forma surpreendente pouco antes de o garfo cair de sua mão. Ela virou o rosto para os primos.

– O que estou fazendo? – disse ela como se somente agora tomasse consciência de seus atos.

– Está arruinando sua imagem perante toda a escola – disse Dominique sem rodeios. – Devorando a comida como uma fera esfomeada que não come há semanas.

– Não tomei café – disse Rosa, o rosto ainda vermelho. – Eu fiquei o dia revezando entre as aulas e a biblioteca. Descobri algo de grande importância... Meu estômago... Dói.

Os Weasley se entreolharam. – E essa descoberta envolve ganho excessivo de peso? – perguntou

Tiago forçando um sorriso. – Seus pais não gostaram nada se virem que a Rosinha voltou uma rosquinha.

– Já disse que passei o dia sem comer nada, Tiaguinho! – reclamou Rosa encarando o irmão mais velho de Alvo. Ela fez sinal para que o primo sonserino se aproximasse dela, Rosa começou a sussurrar. – Preciso que você e Escórpio estejam na biblioteca na hora do jantar. Gostaria que você o avisasse, pois não acredito que tenha tempo para me comunicar com ele. Estou uma pilha de nervos e falar com Escórpio está fora de cogitação, pelo menos por hora. Levem suprimentos, pois acredito que percamos algumas horas discutindo. É sobre... – sua voz abaixou mais um pouco – Ambratorix.

Assim como Rosa pedira, Alvo informara a Escórpio sobre as investigações da prima, e que a garota queria que os dois a encontrassem na biblioteca durante o jantar. Escórpio permaneceu um pouco apreensivo e incomodado, seus olhos estavam fixos em Alvo, mas sua mente parecia trabalhar rapidamente. Ele parou para protestar quando Alvo contou que Rosa poderia demorar algum tempo, mas sua voz foi abafada pelo som da sineta que anunciava a volta das aulas após o almoço. Alvo deveria estar na sala de Tecnomancia, mas o Prof King não ficaria chateado se ele chegasse cinco minutos atrasado.

– Pela cara dela deve ser algo importante – disse Alvo em passos largos. – Também já cansei de ficar parado. Após a morte de Baddock e todos os assaltos abafados pelos professores, não podemos ficar parados. O problema é que ainda não tenho um plano formulado para podermos pegar Silvano com a boca na botija. E mesmo que o tivéssemos não posso

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fazer nada antes do jogo contra a Grifinória... – Alvo se calou quando a face de Escórpio se converteu em uma feia careta, ele esperava que o amigo começasse a reclamar. Mas ele não o fez. – Não podemos deixar Silvano livre e... – ele se lembrou de seu sonho na véspera de Natal, sonho que somente ele sabia e que não fora confiado a ninguém. Lembrara do Patrono em forma de morcego que confessara ser do assassino de Baddock, da dríade que o salvara de uma morte colossal do forasteiro que se subordinou ao assassino do falso McNaught e do estranho distúrbio que a ninfa do bosque mencionara – Precisamos agir.

– Ok, Potter, já me convenceu – bradou Escórpio hesitando para o segundo andar. – Mas quero que arranje algumas Delícias Gasosas com aquele seu amigo elfo doméstico. Se vamos virar a noite conversando escondidos sobre o olhar daquele urubu que é Madame Pince, pelo menos quero desfrutar de boa comida.

Alvo sorriu quando seu corpo ficou paralisado frente ao vestíbulo que dava para o primeiro andar onde ficava a sala de Tecnomancia. Ele viu Escórpio saltar sobre os degraus até chegar ao segundo andar. Quando o amigo sumiu de sua vista, Alvo seguiu para sua monótona aula com o Prof King, ansioso pelo cair da noite.

Alvo e Escórpio se encontraram nos pés das escadas que davam para o terceiro andar pouco depois do início do banquete do jantar. Em uma das mãos Alvo carregava uma sacola com suprimentos caso os três, ele, Escórpio e Rosa, decidissem se aprofundar nas investigações sobre o artesão medieval. Não fora nada difícil conseguir algumas guloseimas e salgados na cozinha. Quando se é amigo do chefe, algumas sobras do almoço ou do lanche podem ser esquentadas instantaneamente com a magia dos elfos, o que faz parecer que acabara de ser cozinhadas. Porém Alvo não se atreveria a retornar as cozinhas próximo aos horários dos banquetes. A cozinha parecia um formigueiro desorganizado. Elfos domésticos de todos os tamanhos, sexos e pesos corriam de um lado ao outro com talas nas mãos, apressando os serviços para que todos os itens do cardápio fossem previamente colocados a disposição de alunos e professores. Bowy também não era o ser mais amigável quando estava em hora de trabalho. Mesmo sendo atencioso com Alvo, o elfo se atrapalhou muito conciliando os pedidos do amigo e as ordens que berrava para os outros elfos. A cada instrução dita errada ou cada alimento que passava do ponto, Bowy se castigava batendo com a cabeça em uma panela de latão bem desgasta. Alvo tentava evitar que o elfo prosseguisse com seu castigo, mas Bowy se mostrava firme em penitenciar-se.

Mas o mais complicado não fora conseguir suprimentos com Bowy, mas sim convencer Madame Pince a aceitar que os dois entrassem na biblioteca àquela hora da noite. A biblioteca não estava fechada, havia vários alunos circulando por entre as estantes e seções, mas o problema

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maior era a linha sete do parágrafo nove das novas regras da escola de Hogwarts que começaram a vigorar com a chegada de Crouch.

– Nenhum aluno ou aluna pode entrar na biblioteca sem um professor ou funcionário como supervisor da área em questão – Madame Pince recitou cautelosamente cada palavra da nova regra, muito útil para evitar invasões pela madrugada ou arruaceiros travessos dispostos a pregar uma pegadinha infeliz. – Como os senhores podem ver estou me retirando de meu posto para poder cear. Se vocês estão tão atolados com necessidades estudantis, voltem após o jantar. Provavelmente a Profª Knossos já estará em seu turno como monitora. Sou paga somente para trabalhar nos períodos da manhã e da tarde. Após o jantar e finais de semana não são minhas incumbências. E saibam que não estou disposta a gastar um segundo a mais de trabalho em meu tempo livre.

– Crouch não gostaria de saber que está negando passagem a dois alunos durante seu período de trabalho – disse Alvo astutamente.

– A Profª Crouch sabe exatamente o modo como trabalho – retrucou Madame Pince ainda serena, mas Alvo pode ver que uma veia em seu pescoço pulsava mais do que deveria. – Trabalho nesta escola a mais anos do que a soma das idades dos senhores. Caso a diretora não gostasse de meus métodos de vigilância já teria me orientado para como melhorar meus métodos trabalhistas. E dadas às circunstâncias – a bibliotecária fixou os olhos nos dois garotos, um sorriso maquiavélico tomou seu rosto – e considerados os alunos... Creio que a diretora não se importará que eu restrinja a passagem a vocês dois.

– É mais complexo do que isso... – começou Escórpio, mas fora interrompido.

– Concordo, Escórpio – disse Alvo ignorando a face irada do amigo. – Não importa quem nós sejamos ou deixamos de ser. Primeiro, conforme a senhora disse nenhum aluno pode entrar na biblioteca sem a presença de um professor ou funcionário... Pois bem, a senhora está bem à minha frente. Segundo, a senhora nos revelou que após o jantar a senhora está com o horário vago... Pois bem, ainda não terminou o jantar, mal começara. Então, dadas as circunstâncias é mais do que compreensível que a senhora, Madame Pince, nos permita entrar na biblioteca. Ou acha que faltam argumentos para eu me comunicar com a diretora Crouch em pessoa?

Madame Pince arregalou seus olhos ameaçadoramente para Alvo. A bibliotecária parecia estar a ponto de atacar o sonserino como um urubu ansioso para devorar a carniça. Seus olhinhos negros e ríspidos estavam pregados no rosto rosado de Alvo. Os nós dos dedos estavam pressionados em forma de punho de maneira tão forte que por mais dois segundos as afiadas unhas pintadas rasgariam sua pele.

– Coloquem seus nomes em meu pergaminho – falou Madame Pince encaminhando os dois para a escrivaninha principal da biblioteca. – Se

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vocês causarem algum tumulto, ou danificaram algum livro... Acho que me entenderam.

– Obrigado! – disse Alvo com um sorriso implicante após escrever seu nome no pergaminho de Irma Pince. Ele e Escórpio deram as costas para a bibliotecária que saíra arrastando o salto pela madeira corrida e seguiram para o canto onde Rosa marcara o encontro, uma seção pouco visitada pelos alunos, que mais continha alguns dados antigos sobre a escola, como nomes de antigos funcionários, contas quitadas e alguns históricos acadêmicos.

– Você é um garoto de sorte, Potter – disse Escórpio asperamente enquanto passavam por Jason Jordan, o melhor amigo de Tiago depois de Ralf, ambos dividiam o mesmo dormitório. – Teve sorte por ter contornado Madame Pince bem, mas juro, se você voltar a me interromper, eu lhe meterei um soco no nariz e uma azaração no estômago...

– Onde vocês estavam? – perguntou Rosa com um salto. A garota emergiu por trás de um anuário de 1825. O rosto estava ruborizado, mas sua aparência era de uma garota exausta, com duas leves olheiras sob os olhos. – Pensei que tivessem desistido de investigar Ambratorix.

– Tivemos um inconveniente com Madame Pince – afirmou Alvo olhando para o anuário que Rosa deixara de lado.

– Ah, é realmente bem velho – disse Rosa ao notar a atenção do primo pelo anuário. – Tem pessoas com sobrenomes bem antigos, há muito já extintos. Achei alguns parentes nossos por aqui. Veja!

Rosa apontou para uma foto muito desbotada de um jovem de dezessete ou dezoito anos, com cara de mal morado, sardas e cabelos engomados. Vestia vestes esverdeadas com o emblema de Hogwarts no peito esquerdo. Alvo não demorou muito para adivinhar que casa era aquela. Abaixo da foto um nome escrito com tinta prateada identificava o jovem esnobe como “Licorus Adele Black”, mais embaixo o nome de sua casa “Sonserina”.

– Descobri que ele tinha uma irmã que morreu muito jovem. Ela era mencionada em alguma página no jornal de 1817, indicando seu falecimento. Chamava-se Hester Black. Era um descendente bem distante – ela apontou para outra foto. Desta vez era de uma garota de cabelos curtos e tiara negra, pouca maquiagem e olhos misteriosos. – Magenta Tripe. Ela se casou com Licorus anos depois. Ai! Tudo bem, Srª Tripe! – Rosa tirou o dedo rapidamente assim que a foto da garota começou a reclamar da proximidade dela com o indicador de Rosa.

– Viemos para recordar fotos de nossos parentes? – perguntou Escórpio fechando o anuário com brutalidade. – Também sou um descendente dos Black! Se não sabem, minha avó fora uma Black. Mas não estou me remoendo ao passado. Precisamos nos focar no presente se quisermos viver o futuro.

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– Escórpio está certo. Devemos nos focar no assunto sobre Ambratorix – Rosa fez um sinal com a cabeça, pedindo que os dois a seguissem. – Por isso que passei o dia inteiro sumida. Tinha de terminar as pesquisas que comecei, e acho que nosso quebra-cabeça pode estar a um passo de ser terminado. Feito isso, só precisamos arrumar um modo de provarmos que Silvano está armando algo muito suspeito. Venham.

Rosa começou a despir a corda magicamente reforçada que diferenciava a Seção Reservada do restante da biblioteca. Com muita cautela, Rosa desbloqueou a passagem para o fundo da biblioteca.

– Sabe para onde está indo? – falou Escórpio espantado.– Claro que sei, cabeça de repolho! – chiou Rosa beliscando o ombro de

Escórpio. – Tenho a autorização da Profª Vector para usar a seção reservada – ela tirou um pedaço de pergaminho com a assinatura da professora de Aritmancia. – Há dois dias ela me autorizou a procurar sobre uma fórmula muito implexa, que resolveria um problema indagado na aula passada. A resposta está no livro A Dinâmica mais Absurda e Inquietante dos Números e suas Fórmulas. Foi por pura sorte que encontrei o livro que mencionava algo sobre Ambratorix. E...

Rosa se calou ao esbarrar na monitora da Sonserina. Flora Palmer estava distraída recostada sobre uma estante com os olhos fixos em um livro encadernado com couro legítimo. A garota de cabelos crespos olhou raivosamente para Rosa quando a primeiranista fez com que seu livro caísse no chão.

– Mestiça Imunda! – berrou Flora olhando para Rosa com o ódio transbordando de seus olhos castanhos. – Não olha por onde está andando?! Menos cinco pontos para Grifinória e...

– Oi, Flora! – interrompeu Alvo, pondo-se entre a prima e a monitora de sua casa.

– Ah, oi, Alvo. O que faz aqui? – perguntou ela ignorando completamente Rosa. – Pensei que fosse a única a procurar respostas mais completas sobre pesquisas da aula de Runas Antigas.

– Não estou aqui por causa de Runas Antigas, mas também procuro respostas por... – ele revirou os olhos – algo citado pelo Prof Silvano há alguns meses. Deu-me curiosidade de averiguar.

– Boa sorte – disse sorrindo.– Ela é maluca? – perguntou Rosa quando os três já haviam se

distanciado de Flora.– Não, mas os sonserinos concordaram em não xingar nenhum de vocês

na minha frente. Sou como um campo de força que os protege dos rótulos dados por meus camaradas da Sonserina. Posso garantir que não lhes farão mal na minha frente. Mas quando não estou por perto...

– Dispenso seu serviço como guarda-costas – resmungou Escórpio. – Sei me virar.

– Será que dá para vocês falarem baixo?! – chiou Rosa indignada com a falta de discernimento dos garotos em não falarem em voz baixa na

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biblioteca. Ela deu de ombros para os dois e retirou de uma das grandes estantes de madeira luxuosa e polida um grande livro de veludo negro com letras uniformes em relevo. Depois atirou o exemplar de “Anciões Medievais, um olhar crítico nas obras, criações e inovações técnicas dos Bruxos e Bruxas da Era Medieval” no colo de Alvo, virando-se para outra estante e puxando outro livro de grandes páginas amareladas, este era encadernado com capa de couro preto e bordas douradas. O exemplar de “Lendas e Crendices da Civilização Bruxa. O que você deve saber para não confundir Fatos de Mitos” fora parar nos braços de Escórpio, que por muito pouco na derrubara uma cuidadosa pilha de livros colocada por um terceiranista corvinalino que apertava os olhos para ler os parágrafos de um livro. – Só faltam os jornais – Rosa hesitou para o final da seção reservada onde exemplares e mais exemplares antigos do Profeta Diário e de outros jornais mais remotos estavam distribuídos nas prateleiras, cada uma com um número bordado com prata indicando o ano de sua publicação. Até onde Alvo pode ver, os exemplares contidos em Hogwarts margeavam o século catorze.

Rosa acionou um banquinho que quatro pernas que saiu correndo como um cão sem dono até a prateleira que ela selecionara. A prateleira de 1876. Depois a garota sumiu por entre os jornais que caiam de suas prateleiras e flutuavam em direção a outras, tentando organizar uma complicada ordem de fatos cronológicos e alfabéticos. Alvo pode ver um jornal com a foto de uma mulher de face infantil e debochada em forma de sapa deslizar por uma prateleira e recostar-se em outra. Aquela era a manchete sobre a nomeação de Dolores Umbridge como Alta Inquisidora de Hogwarts. Outra manchete que chamou a atenção de Alvo fora a de um exemplar muito desgasto com palavras borradas e rasgos nas pontas. O garoto teve de esticar o braço para poder agarrar a manchete que tinha como título:

Ministério Começa uma Nova Era pós GuerraMesmo fora do comando do mundo bruxo, Bartolomeu Crouch parece estar fazendo um

bom trabalho ao lado da Ministra da Magia, Emília Bagnold. Abaixo do título estava à foto de um homem com chapéu coco escuro e

bigode de escovinha, ao seu lado uma mulher magrinha e miúda de cabelos curtos e ondulados que acenava para o fotógrafo. Sob suas fotos havia seus respectivos nomes, Bartolomeu Crouch e Emília Bagnold, Ministra da Magia. Pouco abaixo das fotos de Crouch e Bagnold estavam as fotos de dois homens de aparência suspeita e funesta. Os dois se mostravam amofinados e com aspectos de homens sádicos. Pouco abaixo de suas respectivas imagens havia a legenda “Prova do sucesso do julgamento do Sr Crouch: Reinhard Lestrange e Rupert Wilkes, ambos os Comensais da Morte mais procurados foram mortos por aurores no último dia 17 de novembro. Lestrange era acusado da tortura e assassinato de Edgar Bones e seus familiares, já Wilkes pelo assassinato e esquartejamento de Beijo Fenwick” Alvo ficou observando as fotos

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perversas de Lestrange e Wilkes se contorcendo sobre seus aspectos assombrosos até que fora surpreendido pela voz de Rosa.

– Achei o que precisávamos – disse ela erguendo um jornal muito antigo. – Venham, e tragam os livros.

Rosa os levou até uma mesa retangular com quatro cadeiras e quatro pés, sendo que um estava em falso, fazendo com que a mesa cambaleasse cada vez que alguém se apoiasse em sua superfície. A garota tomou os livros das mãos de Alvo e de Escórpio e os depositou cuidadosamente sobre a mesa, encarou-os como se aquilo fosse um complicado enigma próximo de seu fim e depois se voltou para os dois meninos.

– Não foi nada fácil – disse Rosa com pesar, como se gastasse muita energia falando com os amigos. – Eu descobri este livro sem querer na seção errada, mas pude me aprofundar mais sobre alguns fatos que podem estar ligados aos planos de Silvano. Ele foi muito inteligente, trocando o livro de uma seção para outra nada a ver. Somente aqueles fiéis a ele saberiam aonde encontrar...

– Se o plano foi tão inteligente, como uma primeiranista pode achar o livro com tanta facilidade? – perguntou Alvo com um ar maroto.

– Não tinha pensado nisso – concordou Rosa abaixando os olhos para o par de livros. – Esta é uma obra de Fodere Nognussem, um historiador bruxo muito ligado as inovações bruxas e descobertas de novas magias e artefatos mágicos. Já passara por maus bocados, sendo ligado a objetos das trevas, mas nada que manchasse sua boa reputação. Neste livro ele descreve alguns dos inventos nunca antes vistos de jovens artesãos no final da Idade Média...

– Um deles era Ambratorix? – quis saber Escórpio inquieto.– Não, mas esse livro possui um trecho que acredito que se encaixe com

o perfil de Ambratorix, vejam... – Rosa tateou algumas páginas até passar da metade do livro de Nognussem. Dava para ver que o livro continha várias ilustrações de objetos fascinantes e obscuros, envoltos em muitos parágrafos digitados e alguns anexos feitos por outros bruxos. Alvo ficou vendo os desenhos passarem de página a página até que Rosa parou. – Aqui está, prestem atenção no que Fodere narrou:

“... Encantou-me muito o modo como o jovem Alun Garrow demonstrou seu Seqüenciador de Moléculas Anti Diabretes, foi um modo notável como ele usou partículas para acabar com as infestações, mas Garrow nunca será um grande artesão até que ponha em sua cabeça que necessita de um diário. Sem um diário nenhum artesão bruxo realmente poderá se chamar de tal. É nele que nós descrevemos nossa arte, corrigimos nossos erros e aperfeiçoamos o que pode ser aperfeiçoado. O Diário mostra o quão habilidoso é o artesão, e quanto mais páginas contidas nesse, mais destreza ele possui. São poucos os artesãos que atingiram minha marca de quinhentas páginas em Diário, alguns jovens do Vale Cossantte teriam potencial para me alcançar, mas ainda necessitam de alguns, ah... toques finais.”

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– Entenderam o que Feodre quis dizer? – perguntou Rosa após ler o parágrafo do livro. – Cada artesão experiente possui um diário onde ele anota todas suas invenções. E se Ambratorix possuísse um diário? Alguém com uma marca registrada como a dele não deixaria de seguir uma tradição tão respeitável como Feodre descreve.

– Mas Ambratorix não parecia o tipo de cara que respeita regras e tradições – disse Escórpio sério. – Para um homem que viveu tantas décadas, talvez tradições não fossem a melhor maneira para se camuflar em determinada década.

– Ou pode ser que não – interrompeu Alvo, alguma coisa muito importante voltara a tocar seu cérebro. – Há algum tempo, vocês lembram quando eu, Isaac, Rosier e Montague; discutimos? Eu fui designado a cumprir detenção com o Prof Slughorn e Isaac com Silvano. Isaac saiu reclamando que o Prof Silvano havia o feito limpar seus livros contra infestações de traças. Segundo Isaac, o Prof Silvano possui livros com mais de oitocentas páginas. E segundo Feodre quando mais páginas em um diário mais destreza tem o artesão. O que me dizem de um artesão que viveu durante séculos? Quantas páginas seu diário deve ter?

– Então, está querendo dizer... – Rosa parecia temerosa em continuar a frase, mas mesma tremendo ela prosseguiu. – Que o Prof Silvano tem em posse o Diário de Ambratorix. Onde deve estar revelado como utilizar o Olho entre os Mundos. Se isso for realmente verdade, será apenas questão de tempo até que ele localize o Olho e reviva quem quiser!

– Então necessitamos descobrir onde está o Olho entre os Mundos antes que Silvano e alertar os aurores para que possam, sei lá... Destruí-lo – disse Escórpio. – Mas onde ele esta? Se Ambratorix viveu por tanto tempo em diferentes partes do mundo, quem garante que o Olho entre os Mundos estará em nosso alcance?

– Também pesquisei sobre isso – Rosa afirmou abrindo o exemplar de Lendas e Crendices da Civilização Bruxa. O que você deve saber para não confundir Fatos de Mitos. – Segundo o autor, Maximino Ignilion, um importante e respeitado historiador, as lendas envolvendo um portal, ou o Olho entre os Mundos, persegue a humanidade há muitos anos. Segundo Ignilion, o bruxo que eventualmente construiu tal portal havia o escondido em um lugar de difícil acesso que há muitos anos fora de extrema importância e que marcara o início de uma era. Ignilion descreve o criador do Olho, ou Ambratorix, como um homem que conservava a pureza de sangue e a boa conduta, que sempre fora amigo de Salazar Slytherin e Rowena Ravenclaw. Ignilion deixa bem claro que não existe nenhum dado informando a veracidade de suas afirmações, mas segundo o historiador, Ambratorix havia escondido o Olho entre os Mundos no lugar que mais respeitava. Para Maximino Ignilion, o Olho entre os Mundos está...

– Na Floresta Proibida – disse Alvo instantaneamente sem controle sobre suas ações. As palavras apenas saíram de sua boca sem nenhuma

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ordem aparente de seu cérebro. Fora como um reflexo interno que o obrigara a revelar a informação a tanto contida dentro de si. Visto que os dois amigos grifinórios tinham os olhos focados nele, Alvo prosseguiu. – Está na Floresta Negra, escondido sobre a árvore que Hagrid disse ter sido plantada por Merlim. Venho sonhando com ela desde o início das aulas. Primeiro via uma figura conversando com outra, seu subordinado, o qual eu acredito que fosse Baddock. Mais tarde o mesmo Baddock fora assassinado poucos quilômetros da mesma. Ai, o sonho mudou. Eu vi o Patrono de um morcego, dando ordens a outro subordinado, depois ele me confessou ser o assassino de Baddock. E ai, – Alvo tomou fôlego, desabafar tudo aquilo estava exigindo muito do garoto – o Patrono, de alguma forma conseguiu me lançar uma maldição tão poderosa quanto a Cruciatus. Depois apareceu uma dríade, ela me alertou sobre a periculosidade daquele lugar. Disse para eu nunca mais voltar lá em meus sonhos. E isso nunca mais aconteceu, perdi a conexão... Rosa, Escórpio, será que não vêem? O Olho entre os Mundos, a obra-prima de Ambratorix, estava bem embaixo de nosso nariz o tempo todo!

– O que mais me surpreende é que você não nos revelou nada até agora! – reclamou Rosa em alto som, sem se importar de estar na biblioteca e de ter sua voz ampliada várias vezes. – Depois de tudo, de ter nos atiçado para esta loucura, você nos priva dessas informações!

– Desculpe, mas não sou um bom detetive – defendeu-se Alvo rapidamente. – Nunca li nenhum dos livros escritos sobre meu pai, sou um novato nesse ramo.

– Mas eu acredito que não nos contar tudo isso não fosse o mais lógico a se fazer! – Rosa estava tão vermelha quanto os cabelos de sua família.

– Acho que Potter não está redondamente incorreto – falou Escórpio para a surpresa dos outros dois. – Sendo filho de quem é não me surpreendo que ele guarde todas as informações para si e espere resolver o problema sozinho. Ganhando todo o crédito. Sendo o herói do ano.

– Não se trata de ganhar ou perder crédito! – retorquiu Alvo também enrubescendo. – Até então tais informações só serviriam para aumentar a preocupação de vocês dois! Acabaríamos metendo os pés pelas mãos. Daríamos mais bandeira para Silvano quando o plano na verdade é ser mantido incógnito. Veja por esse ângulo, Malfoy! Acredita que fui tão egoísta assim?

– Vendo dessa forma... – murmurou Rosa desabando em sua cadeira. Ela deitou sobre os braços e começou a remexer as folhas da obra de Maximino Ignilion sem entusiasmo. – Desculpe-me, Alvo. Acho que é falta de comida.

– Tome uns Bolos de Caldeirão – Alvo retirou de sua sacola um pedaço de bolo em forma de caldeirão borbulhante e o entregou para a prima, depois para Escórpio e em seguida meteu um na boca. – P-para que sevian os jolbais bo Profeta?

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– Besteira – sussurrou Rosa. – Um contava sobre um caso de um bruxo que enlouquecera procurando sobre uma relíquia que revivia os mortos, mas agora olhando bem, poderia ser a própria Pedra da Ressurreição. O outro era uma manchete de uma bruxa que desaparecera procurando pelo Olho entre os Mundos. Mas nada se compara a suas informações.

– Então é isso, devemos agir logo! – exclamou Escórpio metendo o último pedaço do Bolo de Caldeirão na boca. – Já temos tudo o nós que precisamos. Agora já podemos armar um plano para chegarmos à floresta e sabermos o que fazer quando nos depararmos com o Olho.

– Vamos armar um plano até a próxima segunda-feira – disse Alvo seriamente, seus olhos brilhavam conforme arquitetava alguma forma de chegar a seu objetivo. – Até lá já terá passado o jogo contra a Grifinória e estarei completamente engajado em resolver este dilema. Acham que conseguem pensar em algo para invadir a sala de Silvano?

– O que? – exclamaram Rosa e Escórpio ao mesmo tempo.– Claro. Se quisermos desvendar o Olho precisamos de seu manual, o

que tudo indica, está na sala do Prof Silvano. Se quisermos resolver esse problema e ainda sairmos vivos, precisamos arrombar a sala de nosso querido professor de Defesa contra as Artes das Trevas.

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Capítulo TrezeO Amigo das Corujas

quela não era a menor sala de aula de toda a Hogwarts, mas também não era nada confortável. Situada em um cubículo improvisado poucos metros do Corujal. Havia somente uma

janela imediatamente do lado esquerdo à mesa do professor, a qual ocupava quase todo o espaço à direita da porta de entrada. Poucas cadeiras e mesas foram colocadas a disposição dos alunos. As paredes eram de pedra com várias imperfeições e buracos incômodos, por onde alguns insetos circulavam com livre arbitro. Havia também vários poleiros de madeira abrigando algumas dúzias de diferentes tipos de corujas que descansavam nas sombras atrás da mesa do professor. E uma cortina de veludo cor vermelha cobrindo a extremidade da parede oposta a entrada. A sala mergulhava em um mórbido silêncio, cortado apenas pelo ranger dos móveis de madeira e o farfalhar da pena riscando o pergaminho postado na mesa do Prof Monomon. Aquele bruxo de sorriso maroto e cavanhaque por fazer com longos cabelos castanhos que lhe tocavam os ombros era o único indivíduo na taciturna. Sua expressão gozadora não estava amostra em seu rosto, que naquele momento parecia feito de mármore branco. Os olhos de corvo apenas seguiam a mão que escrevia de maneira quase que automática, preenchendo algumas papeladas.

A

Artabano Monomon era o segundo professor de Aula das Corujas que Hogwarts já tivera. O primeiro fora o professor Santor Patrick Dagh, um magricela meio caduco que se importava mais com o bem estar de suas corujas do que com o resto da humanidade. Famoso por ser o maior cultivador de corujas do mundo da magia; não era o melhor professor da escola e mostrava certo preconceito com todos os alunos que não pertencessem a casa Corvinal. Dagh fora demitido de Hogwarts após ser condenado por ordenar e orquestrar ataques de corujas a trouxas. Nenhumas das acusações foram muito concretas contra o professor, naquela época o Ministério tinha outros problemas mais importantes para se preocupar, Dagh havia discutido em alto e bom som no meio de sua aula com o diretor Dexter Fortescue e como eram poucos os alunos que mantinham interesse pela didática opcional não havia mais motivos para ela continuar em Hogwarts. Artabano, porém era mais jovem e bem

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diferente do ultrapassado Prof Dagh. Ele não era um louco que acreditava que as corujas eram encarnações dos Deus Hermes, dotadas de um conhecimento mirabolante capaz de decifrar circunstâncias que um humano não faria. Sim, acreditava que as corujas eram um dos animais mais fantásticos da terra e que existia uma grande diferença entre as corujas que o mundo trouxa conhecia e as que os bruxos conheciam. Os segundos as utilizam com muito mais freqüência e elas se mostram muito mais inteligentes.

Em seus tempos como aluno, Artabano se sobressaia entre seus colegas grifinórios em Trato das Criaturas Mágicas. O Prof Kettleburn sempre o elogiava, mesmo tendo de falar através de um rasgo torto que era sua boca. Nas demais matérias Artabano não era tão brilhante, mas conseguiu os N. O. M.s e N. I. E. M.s suficientes para ingressar no Ministério da Magia. Foi sofrido decorar todos os feitiços e criaturas das trevas que seus professores pediram nos exames, mas no final das contas ele se saiu bem melhor do que podia imaginar.

Aos poucos a sala revestida com pedras começara a se preencher com os alunos que se alistaram por livre e espontânea vontade. Alunos das quatro casas começavam a se misturar lentamente por entre as mesas daquela fatídica sala, devagar cada aluno se movia timidamente, receosos de quebrar aquele mórbido e desconfortável silêncio com o arrastar das cadeiras e o cair das mochilas no chão. Em minutos o som dos zumbidos e murmúrios fora se dissipando tornando a formar o silêncio cortado apenas pelo riscar da pena do Prof. Monomon. Alvo se lançou em uma cadeira junto a Perseu, Rosa e Escórpio. Seus olhos verdes estudaram as caras apreensivas dos alunos que se arrumavam prestes a assistir à primeira Aula das Corujas.

A maioria dos estudantes que compunha a turma pertencia a Corvinal, o que não era de se admirar, pois aquela era a casa que abrigava todos aqueles dispostos a trabalhar arduamente para alcançar a máxima sabedoria. Dentre eles estavam Irene Mcmillan e suas duas melhores amigas, Ísis Cresswell e Emília Jenkins, as quais raramente eram vistas separadas. Alvo não entendeu o porquê de Ísis e Emília terem se alistado naquela aula, Ísis possuía um rato de pele cinzenta com um raio pintado com tinta mágica em forma de raio chamado Titã, e Emília era dona de um gato em forma de escovão com cor amarelada denominado Cheesecake. Mas logo Alvo entendeu que o interesse das duas era na verdade cochichar com a amiga. Os membros presentes da Lufa-Lufa se baseavam em Alberto Stebbins, que se mostrava muito interessado em checar os nós de seus dedos, Luís junto de seus dois amigos Inácio Finch-Fletchley e Morgana Hallterman e mais meia dúzia de meninos e meninas. Os grifinórios também se mostravam presentes. A turma de Finnigan se sentara na segunda fileira de mesas, Lana Longbottom estava na primeira cadeira ao lado de uma garota de cabelos longos e castanhos em forma de ondas, Alvo a conhecia como Clara Entwhistle,

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uma garota tímida de sorriso singelo escondido por seu aparelho dental. Da parte da Sonserina, Alvo se surpreendeu em ver Antônio Zabini sentado a duas carteiras a seu lado, os olhos pregados no professor. Perseu também se mostrava muito compenetrado. Sua coruja, uma ave das montanhas muito mais acima do peso que Artie, mais parecia um filhote de leitão recoberto por penas. Ele não era o melhor dono de seu animal, mas tratava-o muito melhor do que seu irmão gêmeo Teseu, que mal se importava com a ave.

Um estalo irrompeu pela sala, vindo de um grande relógio cuco de madeira entalhado com figuras de corujas mensageiras com pequenas cartas com cor de amêndoa. Uma pequena corujinha feita de carvalho apareceu no lugar do cuco. Soltou um forte piado e deu duas piruetas no ar.

– Hora de dar aulas! Hora de dar aulas! Primeiro ano, antes de qualquer outro! Iniciantes na arte das corujas, melhor pegar leve! – depois pousou em seu recanto e voltou para dentro do relógio. Pausadamente o professor se ergueu de sua cadeira, ajeitou a túnica azul anil, olhou para a turma com seus olhos negros como corvo, respirou fundo e desandou a falar.

– Bom dia, alunos – disse o professor contornado sua escrivaninha e ficando a poucos centímetros da mesa de Lana e Clara Entwhistle. – Meu nome, como todos vocês já devem saber é Artabano Monomon. Sei que é um nome complicado, também concordo que minha família tinha um péssimo hábito de batizar seus filhos com nomes difíceis e complicados. O meu tem descendência persa. Onde meus pais foram buscá-lo... Bem, depois que morrerem, perguntem a eles. Eu não gosto muito de rótulos, em minha aula, tratarei vocês como iguais, direi seus primeiros nomes, sem senhor ou senhora. Até pediria para que fizessem o mesmo comigo, mas Artabano e Monomon não são nomes muito fáceis de pronunciar, então creio que “professor” será mais fácil. Ah, somente se tiverem curiosidade, Monomon têm ênfase na última silaba – o professor lançou seu sorriso maroto para os estudantes, que não se contiveram e arriscaram alguns risos após a demonstração de desagrado do Prof Monomon com seus nomes. – Bom, a Aula de Corujas em si consiste em um complemento da aula de Trato das Criaturas Mágicas. Um estudo aprofundado sobre estas aves tão importantes e magicamente complexas. No estudo do Trato das Criaturas Mágicas, as corujas não são bem aprofundadas, se não me engano existe apenas uma menção sobre elas no Livro Monstruoso dos Monstros. Elas não são tão hostis quanto as fadas mordentes, nem tão perigosas quanto Mortalhas Vivas, mas posso garantir que são mais inteligentes que as duas juntas.

“Em nossas aulas estudaremos como cuidar das corujas e cada engrenagem de seu corpo, foi dito por Nadira Gamp, notável membro da família Gamp com inclinações para o naturalismo, que as corujas são seres que vivem em perfeita harmonia com os bruxos, como um par

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perfeito. Disse que existem diferentes tipos de corujas, as menos dotadas acabaram se dividindo e foram acolhidas por trouxas, as mais bem dotadas permaneceram ligadas com a magia e com seus praticantes. O que a Srtª Gamp quis dizer é que as corujas conhecidas por bruxos são diferentes das conhecidas por trouxas. Nós as utilizamos para entregas de correspondências e muitas vezes são bem pesadas, já os trouxas as utilizam como um simples animais que merecem ser mostrados em uma gaiola apenas para admiração. Eles preferem usar pombos para entregar correspondências. Creio que alguns são chamados de pombos correio. Não tenho total certeza sobre os fatos, mas dizem que existe uma linha especial de pombos super-velozes chamados... Vejamos... Tifelones. Ainda preciso me aprofundar nas artes dos tifelones, mas ainda assim me sinto mais seguro utilizando as corujas... Sim?”

– Abbie Collins, professor – disse uma garota enrubescendo. – Prossiga – respondeu o Prof Monomon serenamente.– O nome correto, senhor, é telefone – corrigiu a garota enrubescendo

mais ainda. A cada palavra Abbie Collins colocava uma mecha do cabelo cor de mel para trás da orelha, envergonhada. Suas bochechas começavam a tomar a aparência de dois enormes morangos e seus olhos cor de chocolate seguiam todas as direções, exceto o professor. – E não são pombos super velozes. São dispositivos capazes de transmitir sons através de sinais elétricos nas vias eletrônicas. Ele transforma energia acústica em energia elétrica e visse versa, produzindo a fala e a ouvida.

– Interessante constatação, Abbie – disse o professor acariciando sua barba por fazer. – Não imaginava que os trouxas fossem tão complexos e avançados neste sentido. Mesmo assim ainda prefiro o bom e velho berrador para reclamar com certas pessoas e a Rede de Flu para conversar cara a cara com outras pessoas. Mas essa pode ser violada por membros do Ministério. Esses tais, telefones são extremamente seguros? Sem possibilidades de serem violados?

Abbie negou.– Muito bem. Dez pontos para a Lufa-Lufa, Abbie – o Prof Monomon

revirou os olhos, mas depois resolveu encarar Abbie de novo, para o nervosismo da aluna. – Você tem os pais trouxas. Algum parentesco com trouxas?

– Ambos meus pais são nascidos trouxas, professor. – confirmou a lufalufina.

– Muito bem. Como eu ia dizendo... Monomon continuou a explicar todos os prós e contras de terem-se

corujas como animais de estimação e entregadoras de correio (ainda que ele tenha citado mais fatores positivos que negativos). Conforme o professor prosseguia com suas explicações, a maioria dos alunos trabalhava rapidamente para transcrever em seus pergaminhos cada palavra dita pelo professor. Alvo se esforçava bastante para seguir as palavras que o Prof Monomon falava rapidamente, o que gerou certas

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tonturas. Ao seu lado Rosa parecia ter encantado sua mão para acompanhar o movimento labial de Monomon. Ela mordia o lábio inferior no mesmo tempo em que seus olhos checavam cada palavra já escrita. Alvo só conseguiu respirar quando o professor acabou suas explicações sobre o papel das corujas na sociedade e pediu para que seus alunos copiassem o desenho de uma coruja já desenhado no quadro negro.

– Se observarem bem, nossas corujas possuem uma estrutura mais arredondada e mais forte quando comparadas com as conhecidas por trouxas. Diz o magizoologista Galton Scamander, filho de Newton Scamander, que as corujas já foram enormes criaturas com a capacidade da fala humana. Na era paleozóica, as essas corujas gigantes constatadas pelo Sr Scamander eram consideradas os seres mais inteligentes da terra. Antes dos duendes, eram elas que ensinavam trasgos e furanzões a falar nossa língua. Acredita-se que com o passar das eras, as corujas foram diminuindo suas capacidades mágicas. À medida que o tempo fora passando, as corujas foram perdendo tamanho e a capacidade da fala. Disse Gulliver Pokeby, autor de “Por que não Morri ou Ouvir o Canto do Agoureiro”, que a capacidade de um animal voador de adquirir e perder suas habilidades mágicas se dá ao excessivo uso do Hipocampo de Eggebt. O Hipocampo de Eggebt é uma espécie de círculo invisível mágico que envolvia o animal voador mágico nos tempos paleozóicos. Quando usado demasiadamente sem plenos controles sobre o hipocampo, esse se dissolvia e rebaixava a zero o número de magia desta ave, afirma-se que foi isso o que aconteceu com algumas corujas. Segundo o Sr Pokeby, com a evolução e o domínio mágico das espécies, o Hipocampo de Eggebt deixou de ser vital para a vida mágica de aves. Por isso que nos dias de hoje um dragão tipo Dorso Cristado Norueguês não vai se rebaixar a uma galinha de celeiro caso cuspa fogo demais. Mas ainda acredita-se que alguma parte das corujas bruxas dos dias de hoje conservou algumas poucas habilidades de seus antepassados. Talvez isso explique sua superioridade mental com relação às parentas do mundo trouxa.

– Professor – disse Rosa após erguer sua mão.– Sim...– Rosa Weasley.– Prossiga Rosa. – pediu Monomon novamente sereno.– Como uma espécie paleozóica poderia atingir, digamos, o limite de

uso de seu Hipocampo de Eggebt? Talvez, se ele utilizasse de seus recursos mágicos para ações banais, querendo apenas mostras sua superioridade para os outros seres e animais.

– Uma notável avaliação, Rosa – disse Monomon analisando mentalmente a pergunta de Rosa. – Não devemos nos aprofundar demais nas insinuações envolventes ao Hipocampo de Eggebt. Sua menção fora somente para explicar-lhes como as corujas da atualidade ainda pode conter qualidades mágicas. Um estudo aprofundado do hipocampo

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levaria horas de debates e pontos não muito esclarecidos. Você seria mais afortunada se fizesse a mesma pergunta ao Prof King de Tecnomancia. Acredito que o Hipocampo de Eggebt se enquadra em algum assunto da matéria. Ou pode pesquisar em “Como podiam os Animais Voadores ser mais Inteligentes que Nós?”, outra publicação do Sr Pokeby.

“Mas não estamos aqui para estudar as etapas da evolução das corujas com o decorrer das eras envolventes em nosso mundo. Esse assunto será estudado somente no quinto ano. Acredito que começar com uma demonstração de toda a capacidade aerodinâmica das corujas para a primeira aula deve bastar. Melhor que explicar será mostrar a vocês como as corujas fazem em diferentes situações quando deparadas com mudanças climáticas ou barreiras imprevistas. Também acredito que melhor que apenas utilizar meia dúzia de corujas da escola, demonstrar a vocês como suas corujas fazem deve ser mais esclarecedor. Se me permitem, gostaria de convidar todas as corujas dos senhores presentes para se juntarem a nossa classe. Por favor, coloquem seus poleiros encima de suas mesas para um belo fim de nossa apresentação... Pois bem, se já estiverem prontos. Três... – Monomon enfiou a mão direita dentro da túnica azul anil e retirou sua varinha, um projétil reto de mais ou menos vinte e três centímetros com uma leve inclinação em sua base – Dois... – o professor ergueu o braço acima da cabeça – UM!

A varinha erguida do Prof Monomon emitiu um agudo estalo que tomou os ouvidos de todos os presentes. No mesmo momento as cortinas de veludo vermelho se desprenderam de seu dossel, deslizando pela parede e caindo graciosamente pelo chão. Porém nem Alvo nem nenhum outro aluno tiveram tempo para admirar a cortina se desprendendo de sua base, pois assim que essa caiu, uma enorme variedade de poleiros guardados por corujas de todas as formas, cores e tamanhos surgiu tomando toda a atenção dos estudantes. Todos aqueles olhos negros voltados para eles sem piscar ou desviar. De costas, o Prof Monomon esbanjava um prazeroso e satisfeito sorriso, como se alegrasse de poder revelar a todos os presentes todas as criaturas ocultas sobre a cortina avermelhada.

– Venham, planem! Libertem-se de seus poleiros e mostrem a nós toda sua graciosidade! – o professor gritava de costas para as corujas ainda esbanjando grande prazer e felicidade. Seus olhos brilhavam conforme as corujas deixavam seus poleiros e começavam a rodopiar aleatoriamente pela sala de aula. – Agora seguindo meu comando, ok? – perguntou como se houvesse uma conexão telepática entre ele e todas aquelas corujas. – Formação Aerodinâmica Trinta e Dois, Coloração Monocromática!

As corujas se organizaram como uma grande lança voadora que rodopiava pelo teto da sala. Monomon as redigia como um maestro ou um sinalizador de aviões. Seus braços se contorciam de maneira que Alvo nunca imaginara que fosse possível de se realizar. As corujas estavam organizadas por suas cores. As mais escuras na ponta, sinalizando o poder ofensivo da grande lança formada por elas, a frente de todas

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estava à grande bola redonda de gordura coberta de penas que era a coruja de Perseu. Ao seu lado além de uma graciosa coruja das ravinas estava Galdino, a coruja de Escórpio que dava frenéticas bicadas na pata da coruja de Perseu ordenando que ela fosse mais rápida. Artie estava mais atrás, sua cor acinzentada fazia com que ele ocupasse quase que a metade da grande lança orquestrada pelo Prof Monomon. A coruja se mostrava muito mais leve e aplumada do que da última vez que Alvo a vira (há dois dias quando despachara uma carta para o Largo Grimmauld). Diferente da coruja de Perseu, Artie não era bicado por nenhuma de suas colegas, muito pelo contrário, ele executava facilmente cada ordem dada pelo professor.

– O mergulho... Rodopio! Excelente. Agora, lufalufinos, levantem-se e estendam o braço direito – pediu o professor com os olhos vidrados no bando de corujas que voava por sua sala. – Ótimo, agora suas corujas irão pousar neles suavemente – a varinha do professor produziu um novo estalo. Dessa vez dez corujas se desprenderam da formação de lança e rodopiaram até os braços de seus donos. Sob as exclamações e vivas dos lufalufinos, o Prof Monomon prosseguiu com sua demonstração pedindo que os alunos da Grifinória fizessem o mesmo. Houve um novo estalo e mais algumas corujas deixaram a formação para pousarem nos braços de seus respectivos donos. Em seguida foram os alunos da Sonserina a estenderem seus braços e receberem suas corujas como plumas ou flocos de neve. Alvo ficou observando Artie agitar suas asas conforme se aproximava do braço do dono. A coruja cinzenta piscou e girou a cabeça quando suas garras fixaram-se na manga de suas vestes. Alvo também não pode deixar de rir, assim como o restante da turma, quando a coruja negra e redonda de Perseu ignorou as ordens de seu dono e do Prof Monomon, pousando na cabeça e não no braço de Perseu, soltando baforadas demonstrando estar exausta.

– Bom, com a exceção da coruja de Perseu acho que todas fizeram um bom trabalho, não é? – comentou Monomon alisando a as penas de uma coruja albina tão singela e delicada que fazia a coruja branca de Irene parecer um monte de cinzas. – Ótimo Amálie. Você quer comida, ah? Pode pegar – Monomon levou o braço até uma tigela prateada com pequenos cubos de carne.

– Excelente, agora que todos já vimos como as corujas têm facilidade a serem orquestradas e de efetuarem corretamente as ordens que lhe são dadas, podemos aprender um pouco mais sobre como cuidar melhor delas. Acho que serviria para você, Perseu. Sua coruja não parece estar sendo muito bem cuidada – disse o professor para delírio da turma. A coruja negra continuava insistentemente na cabeça de seu dono. – A primeira parte do corpo de uma coruja que deve ser estudado com atenção é o bico. Como manter o bico de uma coruja limpo e livre de espécies nocivas? Podem notar que dentro do estojo distribuído a vocês

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pela direção da escola existe uma espécie de escova de dente super fina com duas cerdas, uma em cada extremidade, estou correto?

– Sim, senhor – garantiu Rosa mostrando ao professor sua escovinha de prata reluzente. Alvo olhou para o objeto com certa curiosidade, ele mal tivera vontade a abrir o estojo distribuído pela Profª McGonagall durante o almoço.

– Muito bem. Agora quero que umedeçam a escova e passem-na delicadamente sobre a extremidade interna do bico de suas corujas. Para aqueles que não possuem sua própria sugiro que tomem a liberdade de escolher uma das minhas.

Alvo seguiu com olhar Rosa, Ísis, Emília e José se adiantarem e escolherem algumas das corujas expostas em seus poleiros de madeira situados nas paredes de pedra irregular. Rosa trouxe no ombro uma pequenina coruja das montanhas cor parda de grandes olhos amarelos luminosos que mais faziam lembrar um par de faróis de carro acesos no meio da madrugada. Ela era pouco maior que Píchi, a minúscula coruja do tio Rony. Assim como Rosa, a coruja parecia se identificar bastante com a dona. Todas as ordens dadas pela garota eram rapidamente executadas por sua coruja emprestada, desde pular para seu poleiro até abrir o bico para a escovação ordenada pelo Prof Monomon.

Parecia fácil escovar o bico de Artie. A coruja cinzenta batizada como nome do falecido avô se não se mostrava nada apreensiva com o fato de ter uma pequena escova de dentes quase sendo enfiada por sua goela. Alvo tentava ser o mais cuidadoso e delicado o possível. Ele sentia a respiração da coruja ficar mais acelerada conforme ele aumentava a velocidade como escovava os cantos do bico.

O Prof Monomon também estava inquieto. O homem de cabelos longos circulava pela sala observando o modo como seus alunos executavam a tarefa prescrevida. A cada grupo de alunos, Monomon se intrometia no modo como os estudantes limpavam as impurezas do bico de suas aves. Alvo teve de se segurar para não soltar uma estridente gargalhada quando o professor agarrou o braço de Finnigan alegando que ele estava sufocando sua coruja. Também fora cômico quando a coruja de Euan Coote ficou enfezada com o modo como o grifinório escovava suas bochechas. A velha ave levantou vôo e começou da derrubar algumas estatuetas do professor em forma de corujas raras provenientes do norte europeu.

– Isto é bem divertido – afirmou Rosa escovando o bico de sua corujinha suavemente, sabendo exatamente onde escovar com mais precisão ou mais força e onde ser mais delicada e doce.

– É um tanto que monótono – disse Escórpio lutando com Galdino que se esquivava da pequena escova de prata com duas cerdas. A coruja do amigo agarrava a ferramenta com força e piava com vigor ao mesmo tempo em que abanava suas asas ameaçadoramente. – E perigoso – completou.

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Alvo se descuidou da escova quando começou a rir da luta entre Escórpio para escovar o bico de Galdino. O objeto de prata deslizou por sua mão e encostou-se a alguma parte de dentro do bico de Artie que provocara a coruja. Ele girou a cabeça com força e com muita dificuldade soltou um forte e ensurdecedor piado. Todos os olhos se voltaram para mesa onde estavam Escórpio, Alvo, Perseu e Rosa, mas desta vez eles não o fizeram para apreciar mais uma situação cômica entre o jovem Flint e sua bolinha de penas. Artie se remexia irritado, arranhando a base de seu poleiro. O Prof Monomon partiu em direção a mesa de Alvo, enquanto o garoto tentava acalmar sua ave.

– Vai passar. Calma! – gritava ele tentando amenizar a dor de sua coruja. – Fique calmo, Artie... Ai! Meu dedo!

A coruja acabara de dar uma bicada no indicador de Alvo. Mas não fora como as bicadas que o sonserino recebia de sua coruja após ela lhe entregar uma carta e ser liberada para caçar ratos. Aquela não fora uma bicada carinhosa que dizia “obrigado, mestre.”, mas sim “tome isso, seu verme!”. O sangue escorria por seu dedo, e por algum motivo a dor se espalhara por seu corpo com mais velocidade e argúcia do que antes. Seu corpo esquentara, sua pele começara a ficar avermelhada e sua visão turva. Quando o professor chegou a sua mesa as únicas palavras que conseguiram sair de sua boca fora:

– Artie, primeiro... Eu, não.Lá de longe a voz de Finnigan e as risadas seus amigos puderam ser

ouvidas por Alvo mesmo naquela situação. No mesmo momento em que o Prof Monomon apontava a varinha para a goela de Artie cantando um feitiço para desinflamá-la, as piadas vindas de Finnigan e de Thomas puderam ser ouvidas por todos.

– Potter é um frouxo – riu Eugênio espichando o pescoço para ver a dor de Alvo e rir dessa.

– Só uma com bicadinha dessa e ele começa a chora – comentou Henry Thomas acompanhando o amigo. – O que vai ser a próxima, Potter? Vai chamar a mamãe quando um verme morder seu polegar.

– Cale a boca, Sr Thomas! – ordenou o Prof Monomon de maneira autoritária e brava. – Potter pode ter pegado uma infecção com essa bicada. E para sua informação, seu energúmeno: vermes não possuem dentes!

Mesmo após a resposta do professor que um dia já fora um dos melhores alunos de Trado das Criaturas Mágicas de sua época, Henry não se comoveu e continuou a rir de sua própria piada como se tivesse orgulho desta.

– O que está sentindo, Potter? – quis saber o Prof Monomon com impaciência.

– Está doendo. Como se estivesse inchado e ao mesmo tempo estivesse tocando no fogo. Arde muito.

– Venha cá!

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O professor abriu caminho por entre as carteiras e levou Alvo para trás de sua escrivaninha. O professor sentou-se em sua cadeira e retirou de uma de suas desorganizadas gavetas um par de óculos que faziam com que o singelo par da Profª Trelawney parecesse de brinquedos em miniatura. Com olhos do tamanho de bolas de futebol, o professor examinou o dedo inflamado de Alvo. Um estranho e incomum brilho tomou seus olhos escuros. Esses ficaram vidrados no sangue vermelho vivo de Alvo que Monomon mal notara que começara a apertá-lo com mais força do que deveria.

– Professor? – gemeu Alvo.Monomon o encarou, mas rapidamente voltou para o sangue. Seu dedo

espichado passou pelo líquido avermelhado, fazendo com que boa parte do sangue escorresse para o dedo do professor. Sem rodeios Monomon levou o dedo ensangüentado a boca. Seus lábios se contraiam e relaxavam conforme o sangue com gosto de ferro tomava a superfície de sua língua. Um sorriso tomou seu rosto, mas não era seu costumeiro sorriso maroto, mas sim um sorriso excêntrico, medonho e até um pouco maquiavélico. Seus dentes sujos de sangue ficaram expostos conforme o professor soltava uma abafada gargalhada sinistra.

– Algo de errado, senhor? – insistiu Alvo com o dedo latejando. – Ah, o quê? – Monomon parecia ter despertado de seu sono

maquiavelista. Os olhos piscaram normalmente e o brilho em seu olhar desapareceu como água em chapa quente. – Eh, fique tranqüilo, Alvo. Não infeccionou. Apenas coloque essa atadura para não se sujar de sangue e, ai sim, infeccionar.

Monomon lançou outro sorriso à Alvo. Desta vez não fora seu sorriso maroto e felizmente também não foi seu maligno, mas sim um sorriso tenso e nervoso. Como se as coisas houvessem saído de seu controle, mas que com alguns pequenos ajustes podia voltar à normalidade. O professor de Aula das Corujas deu um tapinha na mão de Alvo e pediu que ele voltasse a sua carteira. O Prof Monomon se ergueu de sua cadeira (agora sem seus exorbitantes óculos) e voltou a falar com a turma sobre as melhores maneiras de se escovar o bico de uma coruja.

Alvo voltou para seu lugar sobre o olhar curioso de Rosa e Escórpio. A mão esquerda segurava o dedo direito que ainda latejava. Era assim que seu pai se sentia quando a cicatriz formigava? Aquela incomum sensação de que algo estava errado dominado seus pensamentos tão rapidamente era muito incômoda e Alvo não estava acostumado em ter tantos pensamentos conturbadores rondando seu cérebro. Por que o Prof Monomon ficara tão feliz e interessado quando levou o sangue de Alvo aos lábios? Com certeza não era por sua secreta fascinação por gosto de ferro. Também não era provável que o professor fosse meio vampiro ou que adorasse os antigos pirulitos sabor sangue da Dedosdemel. E qual era daquele sorriso macabro? Alvo imaginara que o professor era um

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homem legal que gostava de interagir com os alunos apenas como amigos, bem diferente de Snape.

Ainda com aquela incômoda imagem do professor soltando sua malévola gargalhada exibindo seus dentes sujos de sangue, utilizando aqueles enormes óculos e com a nauseante sensação de que as coisas estavam prestes a tomar um rumo nada amigável, Alvo se voltou para Artie que para de piar inquietamente. A coruja bicou levemente seu polegar esquerdo como se pedisse desculpas.

Bastante temeroso e apreensivo, Alvo voltou a prestar atenção no Prof Monomon e em suas explicações sobre os bons tratos com relação às corujas. Algumas palavras do Patrono morcego e da dríade voltaram a sua cabeça, assim como a expressão de felicidade e o brilho nos olhos do professor de Aula das Corujas. Alvo voltou a escrever em seu pergaminho, seu dedo ainda latejava.

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Capítulo CatorzeO Exulto da Cobra

lvo acabara de acordar de supetão no sofá negro próximo a lareira da sala comunal da Sonserina. Ao olhar para os lados deparou se com Isaac deitado com os pés cobertos apenas com

suas meias com pares diferentes e seu Livro Padrão de Feitiços: 1ª Série apoiado em sua cabeça como um travesseiro. Na outra poltrona, Lucas estava sentado na poltrona, porém com os olhos fechados. Sua pena repousava irregularmente sobre suas anotações sobre as propriedades vitais das presas de cobra para uma poção de Essências de Bolhas. Alvo remexeu seu corpo e percebeu que não sentia o braço direito, pois este se encontrava em uma posição completamente incômoda e em questão de segundos começara a formigar. Os três amigos ficaram até tarde colocando seus deveres de casa em dia. Alvo nem reparara, mas ele ainda trajava as vestes verdes do time de quadribol, pois não tivera tempo de se trocar após o “importantíssimo e fundamental” treino extra, proposto pelo capitão Erico Laughalot. A equipe estava realmente focada para vencer sua grande rival naquele sábado, e o capitão não desperdiçara nenhum segundo do treino sem berrar instruções e novas táticas ofensivas para seus colegas para que o jogo transcorresse como o desejado. Diferente da equipe de quadribol, Alvo não mostrava o mesmo entusiasmo para completar sua lista interminável de deveres de casa atrasados. Depois do almoço em um ligeiro tempo vago, Alvo adiantou metade de seus deveres de Defesa contra as Artes das Trevas com Escórpio e Rosa no Salão Principal. Mesmo temendo e detestando o Prof Silvano, Alvo ainda teria de se preocupar e realizar todas as tarefas que o professor ordenava, sendo ele um revolucionário de alta periculosidade ou não. Após o jantar ele, Lucas e Isaac terminaram os deveres de Transfiguração sobre o Feitiço de Troca de Odor. Alvo e Lucas conseguiram mudar o odor de algumas peras para se camuflarem como batatas assadas. Já Isaac teve algumas dificuldades com o feitiço e desistiu após explodir duas peras e sujar toda sua redação sobre a Lua com suco de pêra. Os deveres de Feitiços foram os mais fáceis, e os três sonserinos mostraram destreza em executar o Feitiço do Empurrão em algumas almofadas (no final os três ficaram competindo para ver quem arremessava a almofada mais próxima da casa de máquinas).

A

Mas o pior para Alvo não fora ver que sua redação sobre a Lua era incompatível com a de Lucas em alguns sentidos. Alvo acordara de mais um pesadelo, mas desta vez não fazia menção ao Olho entre os Mundos ou a misteriosa dríade que lhe salvara há umas semanas. Desta vez Alvo se encontrava em uma sala, onde várias pessoas com rostos difusos o observavam, em silêncio. Depois tudo se dissolveu e ele estava na sala do

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Prof Monomon. Ele utilizava seus enormes óculos de aumento e analisava com cuidado uma substância avermelhada por entre seus dedos. Ele estava com sangue nas mãos, e um sangue que Alvo rapidamente reconheceu como seu. O professor soltava sua maligna risada como se o sangue de Alvo valesse mais que uma pilha de galeões. Mais uma vez as imagens mudaram e um enorme animal voador negro das ravinas pairava sobre o castelo de Hogwarts com uma carta no bico. De alguma forma Alvo havia montado na criatura, e ao olhar para baixo o garoto se arrependeu de tê-lo feito, mesmo sabendo que aquilo era um sonho. A ave começara a planar pelos terrenos da escola até, para o alívio de Alvo, pousar perto da orla da Floresta Negra, onde largara a carta e se perdera na escuridão da noite.

Depois de ficar encarando o fogo esverdeado se apagando na lareira agora fria da sala comunal, Alvo chegara à conclusão que seria de boa índole acordar os amigos e encaminhá-los para suas respectivas camas em seu dormitório.

Alvo acordou primeiro Lucas. – Por Merlim, mas que... Ah, Alvo. – disse Lucas ainda meio grogue.

Seu pergaminho com sua pena e o tinteiro escorregaram por suas pernas e caíram no tapete – Diziam que dava má sorte acordar um homem que dorme em sono profundo.

– É, mas prefiro me arriscar. – respondeu Alvo em um tom não muito amigável – Diga isso para a Trelawney, talvez ela goste. Você estava todo torto. – disse em um tom mais calmo tentando não parecer arrogante.

Depois Alvo seguiu para Isaac.– Para, mãe... Mais cinco minutos... Já terminei meu dever de

Astronomia... – bocejou Isaac abrindo os olhos lentamente – Eh... quem... – sua mão escorregou para o bolso onde ele guardava a varinha – Ah, é você, Al. Puxa, é realmente cedo. Já está na hora do jogo?

– Não – respondeu com frieza. – São ainda duas da manhã. Nós cochilamos enquanto terminávamos os deveres de Slughorn e Flitwick.

Os três amigos recolheram seus respectivos materiais, lentamente com os olhos ainda turvos e cansados. A imagem dos livros estava turva e confusa. Alvo lamentou as chamas verdes que dançavam pela lareira já terem se apagado. O que dificultou a ação dos três sonserinos em reagrupar seus pertences sem nenhuma troca.

– Vamos logo! – reclamou Isaac calçando seus pés cobertos apenas por suas meias. – Quero dormir logo para acordar logo! Hoje é o grande dia, Alvo. Nossa glória ou nossa decadência depende de seu bom rendimento montado na vassoura.

– Nada como uma injeção de ânimo como essa – falou Lucas saltando para as escadas que davam para o dormitório.

– Me sinto bem melhor sabendo que você me apóia assim, Isaac – disse Alvo com certo sarcasmo seco. – Acredito em que sua grande vontade em meu bom desenvolvimento não se daria por sua aposta com Agamenon e

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pela possível vista grossa que o Prof Slughorn fará com seus deveres de casa.

– Não me leve a mal, Alvo – articulou Isaac meio esquivo. – Torço por nossa casa ser vitoriosa. Comprei até mais um broche daquelas garotas idiotas. Mas não posso deixar de ficar mais nervoso e ansioso já que outras coisas estão em jogo. Apostei seis galeões com Agamenon, e estou em extasie para ganhar, caso contrário... Eu não tenho seis galeões! Quanto ao Slughorn... Bom, confio em minhas anotações sobre as presas de cobra, mas caso elas fossem corrigidas com menos rigor...

Isaac se calou ao entrar no dormitório. Por mais que Perseu e Antônio se mostrassem ferrados em seus sonhos, os amigos fizeram o máximo de esforço para não provocarem nenhum ruído incômodo. Embora fosse impossível provocar algum ruído mais incômodo que o ronco de Perseu.

Alvo trocou rapidamente suas vestes de quadribol por seu pijama. Antes que Isaac e Lucas o fizessem, ele já estava com a cabeça recostada em seu travesseiro e com o corpo envolto nos lençóis. Mais uma vez seu pesadelo com o Prof Monomon e com a ave gigante voltou a assombrar seus pensamentos. Não poderia estar ligado Monomon ao esquema revolucionário de Silvano e do estranho conjurador do Patrono morcego. Tentando varrer aqueles pensamentos de sua mente e voltando a pensar apenas nas instruções gritadas por Erico durante o último treino antes do jogo decisivo contra a Grifinória, Alvo fechou os olhos e, mesmo com certa dificuldade, adormeceu.

Hogwarts nunca estivera de maneira tão festiva e irrequieta. O jogo entre a Grifinória e a Sonserina seria naquele sábado e a escola já mergulhara de cabeça nas disputas, falsas predições, apostas e ameaças. A Sonserina necessitava de uma larga vitória contra os rivais grifinórios para poder manter aceso o sonho de garantir uma vaga para a final do Campeonato, além de torcer por uma improvável vitória da Lufa-Lufa, equipe que mesmo com bons jogadores não conseguiu muito mais que ser uma dor de cabeça. A casa do texugo não somara nenhuma vitória. Situação muito diferente da Grifinória. A casa fundada por Godrico Gryffindor estava invicta, com atuações próximas a perfeitas nos jogos contra Corvinal e Lufa-Lufa. Mesmo já estando largamente classificada, a casa não faria corpo mole frente aos sonserinos. Nada os alegraria mai do que acabar completamente com as chances da grande rival, derrotá-la em um jogo memorável e acabar decidindo o jogo final contra a Corvinal.

Ao chegar ao Salão Principal, Alvo foi recebido por um bando de sextanistas sonserinos alegres e festeiros, que agitavam bandeiras e flâmulas verdes e prateadas com enormes cobras desenhadas em cada uma delas. Foram vários os socos amigáveis em seus ombros, tapinhas gentis em suas costas e palavras de força e entusiasmo, muito mais acolhedoras e estimulantes que as ditas por Isaac na madrugada passada.

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Depois de se desvencilhar dos sextanistas, Alvo foi puxado por Erico que mal havia tocado em seu café.

– Como você está? – perguntou um tanto que presunçoso, analisando Alvo de cima a baixo como se fosse uma engrenagem de uma máquina não muito confiável.

– Bem. Muito bem, por sinal – garantiu Alvo inquieto.– Ótimo – disse Erico por entre um sorriso de alívio. – Já chequei cada

um de nós e nenhum sofreu nenhuma complicação durante a noite. Não temos motivos para perdermos.

– E a Grifinória?– Completa – afirmou Erico menos entusiasmado. – Tinha esperanças

que o batedor deles fosse barrado, estava bem acima do peso. Mas parece que o capitão acreditou que alguns quilos a mais serviriam para fazer com que ele se mostrasse mais ameaçador. Claro que isso não vai colar com a gente! E sua Thunderstorm?

– O que tem ela?– Não a deixou no armário de vassouras, deixou? – Erico parecia ter

certeza de que ouviria exatamente o que não gostaria.– Deixei, mas não vejo o que...– Alvo, você é o apanhador da Sonserina e possui uma das melhores

vassouras da escola! Não lhe ocorreu que algum sangue-ruim da Grifinória poderia simplesmente arrombar o armário e sabotar sua vassoura? Sei que você tem amigos e parentes na Grifinória, – completou rapidamente assim que Alvo abriu sua boca para retrucar – mas não acredite que por isso toda a Grifinória seja sua amiga. Você tem o que? Seis... Sete amigos grifinórios? Infelizmente a casa não se limita a isso. Foi imprudência sua deixar a vassoura tão vulnerável.

– Ok. Depois de tomar café vou verificar se nenhum grifinório transformou minha vassoura em palitos de dentes – garantiu Alvo, mas sem convencer Erico por completo.

Durante o café Alvo mal tocara em sua comida. A maior parte do tempo ele desperdiçara analisando os demais alunos em ritmo de festa. Primeiramente Alvo passou seus olhos pela mesa dos professores. Excepcionalmente naquele dia, o Prof Slughorn se sentava ao lado da diretora Crouch. Ambos antigos membros da casa Sonserina conversavam em um tom realmente baixo de forma bastante enérgica e com muitos gestos. Já a Prof McGonagall, que normalmente ocupava seu lugar como vice-diretora ao lado da Profª Crouch, estava ao lado de Neville, que tentava explicar mais detalhadamente alguns dos novos movimentos da equipe da Grifinória para a colega. Os demais professores que antigamente pertenceram a Corvinal ou Lufa-Lufa viam aquele jogo apenas como mais uma oportunidade para estreitar os laços esportivos entre as casas, sem expressar qualquer emoção e mostrando sua imparcialidade.

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Nas quatro grandes mesas das casas, diferentes expressões e emoções eram expostas por cada um dos alunos. Na mesa da Lufa-Lufa, Vitória era facilmente vista resplandecente entre suas amigas do sétimo ano discutindo baixo e soltando risinhos cada vez que um garoto passava por elas. As garotas mal se importavam com os ovos e bacons esfriando em seus pratos, elas estavam mais interessadas em contar cada músculo aparente dos alunos que se exibiam. Alvo ficou imaginando se a prima estaria fazendo a mesma coisa caso Ted Lupin ainda estivesse presente em Hogwarts. A atitude de Vitória não era muito diferente da de Dominique, mas sua irmã mais nova, ao invés de ficar olhando os garotos que chamavam sua atenção, chamava a atenção dos garotos ao seu redor, demonstrando um gosto muito rígido e específico com relação à aparência física de seus pretendentes. Diferente das irmãs, Luís conversava apenas com seus dois melhores amigos, Inácio e Morgana. Eles não prestavam atenção em ninguém que passava, apenas riam e conversavam de suas próprias conversas e próprias piadas (o que mais falava e gesticulava era, obviamente, Luís).

Na Corvinal Alvo não conhecia muitas outras pessoas, mas ficou vendo Lívio brincar com sua sopa tentando transfigurá-la em algo que Alvo ficou indeciso se era chá ou vinho. As três inseparáveis amigas: Irene, Ísis e Emília se mostravam tão resplandecentes quando Vitória. Completamente diferente de Molly que estudava seu silabário de Runas Antigas junto a Owen Khan ao mesmo tempo em que comia seu cereal.

Sem dúvida nenhuma a mesa mais festiva e despreocupada era a da Grifinória. Confetes e serpentinas doados anonimamente por um exclusivo possuidor de grandes artefatos da loja dos Weasley estavam espalhados por toda a mesa e por cima de algumas das comidas dos estudantes. Tiago, Fred, Agamenon e Jason Jordan pareciam ignorar completamente a presença da comida na mesa. Os três cantavam uma cantiga encorajadora para seus companheiros e humilhante para seus adversários sob uma coreografia nada complexa constituída por palmas e batuques em um ritmo irlandês. Alvo soube por fontes confiáveis que caso a Grifinória consagrasse-se vencedora do jogo daquele sábado, uma grande festa com bebidas vindas diretamente do bar Três Vassouras e alguns fogos de artifício também misteriosamente desviados da loja Weasley alegrariam ainda mais o espírito grifinório.

A saída para o campo de quadribol fora não menos tumultuada que a que acontecera nos demais jogos do decorrer do campeonato. Porém, as disputas e reclamações eram muito mais vorazes que nos outros dois jogos contra Lufa-Lufa e Corvinal. Novamente houvera brigas entre jogadores da Grifinória e da Sonserina. Erico começara, desde o vestíbulo do Salão Principal, a discutir com o capitão da Grifinória, Léo Kirke – um garoto musculoso de mãos maiores e mais brutas que as de Ralf e mesmo sendo um ano mais novo que Erico devia medir uns dez centímetros a mais que ele. Quando os dois começaram a se esmurrar o Prof Finch-

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Fletchley teve de apartar os dois antes que Kirke quebrasse Erico ao meio. As garotas também não escaparam da confusão. Uma das artilheiras da Grifinória, Anastácia Aston começou a discutir aos berros com Demelza quando a sonserina chamou suas amigas de sangues-ruins descaradas. Desta vez foi a Profª Sinistra quem teve de separar as duas garotas com a varinha em punho e descontando menos vinte pontos para cada casa.

Quando Alvo finalmente chegou ao vestiário sonserino, o que pareceu uma eternidade quando se é obrigado a andar mais devagar que uma tartaruga, visto que os alunos a sua frente estão mais preocupados em zombar dos outros que chegar a seu destino, ele não esperava receber nenhuma palavra confortante de seus amigos grifinórios como nos outros jogos. A figura de Rosa, Escórpio, Agamenon, Hagrid e de seus outros amigos fora se diluindo conforme os grifinórios se dirigiam para suas arquibancadas.

No vestiário, Alvo vestiu suas vestes lentamente, como se caso acelerasse o ritmo todo seu café voltasse de seu estômago. O que não seria difícil, pois seu grande nervosismo proporcionara grandes sensações de enjôo. Erico fora o mais rápido dos sete jogadores. Enquanto Alvo ainda despia a camisa, o capitão da Sonserina já estava devidamente vestido com suas roupas verdes prateadas sem nenhuma dobra ou imperfeição a mostra. Sem esperar que o restante de sua equipe ficasse pronta, Erico desandou a falar. Começou com a importância daquele jogo, de como a equipe da Grifinória era bem preparada e com bons jogadores, mas nunca deixou de ressaltar os sonserinos eram melhores.

– Vocês sabem o que fazer. O tempo está ao nosso favor e não teremos a desvantagem que tivemos contra a Corvinal. Se jogarem como jogaram ontem nos treinos não há dúvida que sairemos como vencedores. É vencer ou vencer. Precisamos ganhar este jogo para seguirmos com chances para as finais. Eles estão invictos... Que se dane! Temos a vantagem do tempo, são condições perfeitas para o nosso Quadribol.

Erico tinha razão. As condições climáticas daquele dia não poderiam ser mais distintas que no dia do jogo contra a Corvinal. Não haveria problemas com a visibilidade entre os jogadores. O sol aparecera meio fosco, um pouco encoberto por fofas nuvens em forma de algodões. Quase não ventava, e mesmo com a presença da grande bola de fogo estava mais frio que quente o que ajudaria ainda mais o bom funcionamento das jogadas minuciosamente idealizadas por Erico.

– Alvo, e sua vassoura? – quis saber Erico apertando os nós das mãos com nervosismo.

– Aqui está ela – disse o apanhador magricela ajustando finalmente as vestes em seu corpo desprovido de músculos. – Aparentemente não foi sabotada por ninguém.

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– Deixe-me ver – bradou Erico pegando a varinha por entre as vestes da escola já despidas e a apontando para a Thunderstorm.

– Pare de ser paranóico – reclamou Murdock rebatendo um balaço imaginário com seu bastão de madeira.

Sem dar importância, Erico passou a ponta de sua varinha pela Thunderstorm lentamente. A varinha começara a emitir um som semelhante ao de um detector de metais trouxa. A cada oscilação, Erico voltava ao ponto que despertara maior interesse de sua varinha. Ao completar o perímetro da vassoura ele falou com um alívio.

– Perfeita – falou o capitão guardando sua própria varinha por entre as vestes novamente. – A única agitação fora por causa do Feitiço de Telepatia. Está perfeita para o jogo. O que impede que você venha-me com desculpas esfarrapadas!

– Eu nunca o faria – mentiu Alvo dando de ombros.Desconfiado, Erico se virou para os demais.– Estamos todos prontos? – e sem esperar resposta bradou com todo o

ar de seus pulmões – Vamos!Quando o time da Sonserina deixou a comodidade dos vestiários, os

raios de sol foram rapidamente lançados para corpo e para os olhos de Alvo. Mesmo pálidos e fracos, os raios solares ainda eram bastante incômodos, mas Alvo não se preocupava com esses. Sua maior preocupação era com as pessoas que se aproximavam do centro do campo pelo lado oposto ao vestiário sonserino. Sete outras pessoas vestidas com vestes de quadribol vermelho sangue caminhavam pela grama bem aplainada como se desfilassem em uma passarela de moda, sobre os raios do sol que se mostravam meros refletores. As vestes serpenteavam pela grama verde de maneira, por mais incrível que pareça – homogênea. As botas cor marrom madeira pisavam com firmeza no gramado fofo. A equipe da Grifinória se aproximava cada vez mais dos sonserinos e do Prof Towler, que aguardava pacientemente a vinda das duas equipes.

Na arquibancada dos professores, gritando com o megafone grudado na boca estava o Maligno Eduardo Jones. Jones acabara de anunciar a escalação da equipe da Sonserina, que permanecera a mesma desde o início da competição. Após anunciar seu nome, Alvo ansiou para que Jones fosse mais imparcial naquele jogo do que quando narrara o jogo de sua própria casa. Porém suas esperanças diminuíram um pouco quando Jones começara a escalar a equipe da Grifinória, com muito mais força.

“... o capitão Léo Kirke, que conseguiu levar a Grifinória invicta para a grande final que será realizada no mês que vem. Ao seu lado os batedores, Weasley e Hutchins, seguidos pelos três artilheiros: o primeiranista Coote, a bela, mas não mais que Fiera Templeton, Anastácia Aston e sua amiga Révis Kennely. Por último a apanhadora e grande revelação deste campeonato Treena Johnston!”

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– Capitães, apertem as mãos – gritou o Prof Sabino com uma estranha careta, já prevendo o que iria acontecer.

Erico e Kirke apertaram suas mãos, todavia, diferente de como havia transcorrido nos demais jogos, os capitães pareciam estar em uma competição isolada para saber quem trituraria os ossos da mão do adversário primeiro. Desta vez Erico levou vantagem na disputa contra Léo Kirke, talvez somente porque Kirke utilizava sua mão esquerda, a qual não era sua boa.

– Já chega! – rosnou o professor por entre os dentes lançando a Erico e Léo um olhar de profunda desaprovação. – Quero que ambos os times apresentem um espetáculo limpo. Sem faltas, sem socos, palavrões e ameaças. Para suas vassouras!

Ao soar nada confortante do grito do professor Alvo montou na Thunderstorm, e era uma sensação muito boa. Durante todos seus dias como vivo, Alvo montara apenas em quatro tipos diferentes de vassouras. A primeira fora sua vassoura de brinquedo que suportava ficar apenas uns cinco centímetros acima do chão. Naquela vassoura, Alvo viveu sensacionais experiências, como jogador imaginário de Quadribol. Sempre com jogadas fantásticas, vários rodopios, mergulhos e capturas inacreditáveis de pomos de ouro fictícios. Sua segunda vassoura fora com a velha Nimbus 2000 de Ted Lupin que ele conseguira voar na primeira vez arrombando o armário que Ted a guardava e treinando secretamente durante a madrugada como sua mãe fazia. Mais tarde, Ted já emprestava a vassoura, mesmo que com certo receio, para que Alvo pudesse completar as competições improvisadas que os Weasley arranjavam nos fundos da Toca. Depois fora a Firebolt que Erico lhe cedera para os primeiros jogos. Mas nenhuma delas se comparava a Thunderstorm.

Nem mesmo a vassoura que proporcionara a Alvo suas mais fantásticas aventuras imaginárias poderia se comparar a sensação de estar montado na vassoura mais moderna e mais veloz daqueles tempos. Nem mesmo a vassoura em que Alvo planara pela primeira vez parecia mais graciosa e importante que a Thunderstorm, que parecia ser feita de plumas sendo bem mais fácil de manusear. Mesmo sendo muito rápida, a Firebolt parecia uma máquina ultrapassada bruta quando comparada com a Thunderstorm.

As arquibancadas vibravam e tremiam com o tamanho da gritaria e dos saltos de alegria vindos dos espectadores. Do lado da Grifinória, uma série de panos amarelos com detalhes em vermelho fora lançada sobre a arquibancada. Nela um faustoso e sagaz leão cor rubro corria de um lado para o outro afugentando e amedrontando uma frágil e insignificante cobra verde limo, após o ataque do leão, grande palavras se formavam magicamente a frase “Avante Grifinória”. Junto aos demais grifinórios, Alvo pode ver uns pontinhos que eram Rosa, Tiago, Agamenon, Sabrina e Jordan enfileirados ao lado do maior dos pontos que era Hagrid. Ao lado de Rosa, mostrando pouca euforia e vontade estava Escórpio. Seus olhos

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cinzentos como nuvens de tempestades arrasadoras escorregavam de um lado para o outro acompanhado a narração de mais uma saga de um dos aurores que descrevera suas peripécias em Aventuras de um Auror. Nas arquibancadas sonserinas metade dos torcedores utilizavam rosetas verdes com detalhes em prata com os dizeres “Reação Sonserina começa pra Valer” e “A Copa é Verde e Prata”, os cânticos e provocações aos compatriotas grifinórios saiam da garganta de cada um deles como uma orquestra muito bem redigida. As músicas derivadas do antigo clássico das arquibancadas sonserinas que era o “Weasley é nosso rei” agora eram voltadas para o batedor grifinório que herdara o sobrenome. Volta e meia a cantiga mudava para “Kirke é freguês”. Alvo contornara a arquibancada de sua casa e deparara-se com seus colegas de dormitório, juntos, observando os pontos verdes e vermelhos se dispersarem pelo campo. Fora estranho ver Filch, o zelador, na companhia de sua gata murcha entre os alunos engajado nos cânticos e torcidas.

“Os artilheiros se movimentam para o centro do campo e onde o Prof Sabino Towler já espera com a goles em mãos. O pomo de ouro e os balaços já foram soltos. Para aqueles não familiarizados com o Quadribol, o pomo de ouro vale cento e cinqüenta pontos além do termino do jogo. Os balaços são errantes e causam uma boa dor de cabeça quando acertados em cheio. Prof Towler ergue os braços... O apito soa... A goles é lançada... E começa o jogo!”

Como de costume os seis artilheiros mergulharam em direção a bola de couro lançada pelo árbitro. Révis Kennely levou a melhor dentre todos os demais, saindo do bolo de jogadores como um foguete avermelhado e incandescente. O rabo de cavalo loiro de Révis balançava no ar como um chicote sem rumo, pronto para acertar qualquer um que entrasse em sua zona de ataque. Kennely empinou sua Nimbus fugindo do balaço lançado por Estevão Murdock, cheio de efeito e veneno. Após desviar do ataque sonserino, Révis lançou a goles para sua melhor amiga, Anastácia Aston. A garota morena de pele mulata agarrou a goles com força e, ao mesmo tempo, acotovelou o ombro de Demelza que chegara próxima a ela disposta a arrancar a goles de seus braços.

“Aston consegue defender-se do ataque direto de Willians. Ela mergulha contra a nova investida da sonserina. Agora Willians é forçada a desvencilhar-se de Aston graças ao balaço lançado por Weasley. Aston gira seu corpo, se aproximando mais da baliza direita da Sonserina, cara a cara com Higgs... Arremesso... UUUUUUUUUU! Higgs defende com a ponta dos dedos.”

Os artilheiros sonserinos começavam a reorganizar a jogada sob a agitação e euforia do mar esverdeado de seus torcedores vibrando com a defesa de Nico, que estava demasiadamente escarlate.

Cadu Branstone estava a meio segundo de arremessar a goles com toda sua vontade e força quando fora bloqueado por Euan Coote que colidira

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com o quartanista de maneira tão brutal que chegara a espantar os torcedores em virtude de Euan ter apenas doze anos.

“O primeiranista Euan Coote consegue um bloqueio fenomenal para cima de Branstone. Deve ser muito ruim apanhar para um garoto do primeiro ano.”

Sob risadas da parte dos torcedores de Grifinória e Lufa-Lufa e de pesadas vaias dos montes sonserinos, Jones continuou narrando o jogo conforme os artilheiros grifinórios avançavam novamente contra as balizas protegidas por Nico.

“Veja a velocidade de Coote, agora já temos certeza do porquê de Kirke ter selecionado-o para sua equipe. O quadribol ferve no sangue dos Coote. Euan Coote passa a goles para Aston... Ela devolve para Coote que se abaixa para evitar o choque com o balaço lançado por Beetlebrick. Goles para Kennely... Caracas, que jogada! Kennely saltou por cima do capitão sonserino Laughalot para permanecer com a posse da bola. Révis se aproxima mais... GOL! GOL DA GRIFINÓRIA!

Révis girou sua vassoura para perto de sua melhor amiga e de Euan que comemoraram o primeiro gol marcado. O mar de estudantes da Grifinória berrava de alegria assim como a artilheira...

– Vaca!Foi o urro de Révis quando Demelza Willians passou ao seu lado e não

pensara suas vezes entes de lançar seu corpo contra o da garota da Grifinória.

– Willians! – advertiu o Prof Towler tentando manter sua voz em um tom audível já que as vaias vindas dos torcedores indignados da Grifinória enchiam os ouvidos de todos os presentes como um inconfundível e irritante zumbido.

– O que foi? – disse Demelza dissimulada. – Ela apareceu na minha frente.

O jogo continuara muito pegado e com um número razoavelmente elevado de faltas para ambos os lados. O Prof Towler teve de se meter entre Cadu e Fred que discutiam aos berros e, em alguns momentos, aos socos após o batedor grifinório ter lançado um balaço errante a poucos centímetros da piaçava da vassoura de Branstone.

– Pênalti para contra a Sonserina pela agressão gratuita ao adversário! – berrou o Prof Sabino agarrando a goles das mãos de Cadu e a arremessando em direção a Aston, a cobradora mais experiente de pênaltis da Grifinória.

“O árbitro lança a bola para Anastácia Aston cobrar o pênalti sofrido pela Grifinória. Todos os jogadores se amontoam ao redor das três balizas sonserinas protegidas por Nicolas Higgs. Agora o goleiro sonserino está sozinho. Será apenas ele e Aston... A artilheira se prepara para a cobrança... GOL! GOL DA GRIFINÓRIA! O placar agora marca Vinte a Zero para a casa dos leões.”

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Aquele resultado era o pior possível para a Sonserina. A casa de Alvo deveria abrir uma boa vantagem para a Grifinória caso haja uma vitória da Corvinal no jogo seguinte e conseqüentemente um empate entre as duas casas. Mas da maneira que o jogo transcorria seria muito difícil de tudo acabar bem. A Sonserina estava nervosa e aceitava com facilidade as provocações e ludíbrios vindos do adversário. Os jogadores, redigidos por Laughalot, pareciam mais preocupados em acertarem o estômago dos artilheiros do que roubarem a goles deles e marcarem o gol. Diferentemente da Grifinória, que levava o jogo como uma grande brincadeira, fazendo firulas e jogadas artísticas dando mais graça ao espetáculo. O que era mal visto pelos concorrentes. A cada jogada, a cada passe vindo da equipe da Grifinória, os jogadores da Sonserina perdiam mais a cabeça. As jogadas eram mal ensaiadas e as finalizações eram tão banais que o goleiro e capitão Kirke mal precisava agitar seus braços.

“GOL! Mais um gol para a Grifinória!” comentou Eduardo Jones quase engolindo o megafone. Pela primeira vez desde que assumira o posto como locutor dos jogos de quadribol, Jones havia conseguido passar mais de dez minutos sem ser advertido por qualquer professor. Naquele jogo, a Profª McGonagall estava distraída olhando para os alunos de sua casa que voavam quase que com perfeição. Volta e meia a diretora da casa Grifinória cochichava ao pé da orelha da Profª Crouch algum comentário malicioso ou implicante, pois a feição da diretora não era muito amigável após os comentários de McGonagall. Expressão muito semelhante a do Prof Slughorn que assistia ao jogo com um aspecto murcho de poucos amigos. “Grifinória agora na frente da Sonserina por quarenta a zero.”

– Tempo! Tempo! – pediu Erico agitando os braços chamando a atenção do Prof Towler, que ao avistar o artilheiro soou o apito, o que irritou a torcida grifinória.

Os jogadores da Sonserina se dirigiram a um canto do campo e se formaram em forma circular, diferente dos da Grifinória que permaneceram no ar, limitados a ouvirem algumas explanações de Léo Kirke.

– Quanto está? O placar, quanto está? – quis saber Alvo após desmontar de sua Thunderstorm.

– Quarenta a zero – informou Stuart, desanimado.– Precisamos nos reorganizar e focar apenas em nossos objetivos –

bradou Erico abrindo os braços e os agitando com energia. – Eles estão apenas nos ludibriando... E confesso que eu mesmo estou aceitando as chacotas... Vamos mudar para a formação “Trasgo e Marreta”. Murdock, Beetlebrick vocês serão as marretas, sabem o que fazer. Deixemos Branstone como o trasgo, ele é o mais veloz. Eu e Demelza nos revezamos como os auxiliadores...

– Vou precisar de alguém para me ajudar na defesa – disse Nico apontando para trás do ombro esquerdo, onde se encontrava as balizas. –

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Aquela peste do Coote é demasiadamente rápida! Se eles furarem a formação e arremessarem para ele, estamos perdidos.

– Eu te apoiarei – disse Demelza com veemência, segurando com mais firmeza o cabo de sua vassoura. Pelo canto de sua narina esquerda escorria um filete de sangue. Possivelmente viera de seu confronto com Aston, o que provocara o segundo pênalti.

– Excelente, voltemos para o jogo... Alvo! – Erico fez sinal para que os demais jogadores voltassem para cima. O capitão sonserino repousou sua mão esquerda (a direita estava agarrada a sua Firebolt) sobre o ombro de Alvo. Erico soltou um suspiro e desandou a falar. – Para mim isto é mais do que um jogo, Potter. E sei que é mais para você também. Voe com cuidado, e somente após nós tomarmos a frente do placar com trinta pontos de diferença avance para o pomo. Fique de olho no pomo e em Johnston. Aquela mestiça imunda é mais habilidosa do que aparenta. Não deixe seu sorriso lhe atrapalhar. Entendido?

Alvo assentiu.– Ótimo! Para cima, Potter! Temos um jogo para ganhar!Alvo canalizou todas as suas forças em seu impulso, e com a facilidade

aerodinâmica da Thunderstorm mais seu Feitiço da Telepatia, a vassoura dera um pinote tão veloz e artístico que Alvo chegara a uma altura mais elevada que a baliza do meio. O vento voltara a zumbir em seus ouvidos, no mesmo instante que o Prof Towler dava re-início a partida. A bola fora novamente lançada ao ar e os artilheiros mergulharam em direção a ela com ferocidade. Os comentários de Jones eram misturados ao zumbido do vento, o mesmo que embaraçava os cabelos de Alvo, sendo quase impossível de distinguir cada palavra dita pelo locutor de um simples berro. Assim, Alvo fora obrigado a espiar o jogo pelo canto do olho ao mesmo tempo em que procurava pelo brilho dourado do pomo.

Cadu desarmara Coote com tanta fúria e desejo de vingança que o primeiranista fora quase arremessado para fora do campo. Fred, no mesmo instante, lançara um balaço contra o artilheiro rival, mas Beetlebrick estava à espreita e aproveitou a oportunidade para contra atacar o batedor grifinório, lançando o mesmo balaço no estômago do primo de Alvo.

Branstone lançara rapidamente a goles para Erico, pouco antes de trombar violentamente contra Kennely, mas Cadu parecia estar a mil. A artilheira grifinória fora desafortunada ao trombar com o artilheiro. Cadu dera as costas para a garota e acabara atingindo seu rígido ombro com a face da menina, o que provocara uma seção de sangramento em seu nariz.

Erico devolvera a posse da goles para Cadu, que protegido por Murdock e Beetlebrick, avançara contra as balizas da Grifinória.

– Anastácia, dê um jeito no sangramento de Révis! – berrou Kirke socando em suas luvas tentando intimidar o artilheiro sonserino. Conforme Cadu se aproximava, Kirke socava as luvas com mais força e

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irritação, se assemelhando a um gorila. O goleiro, astutamente, se posicionou pouco abaixo da maior baliza, de maneira que pudesse defender os três aros, independente da direção que o artilheiro escolhesse.

“Branstone se aproxima cada vez mais das balizas protegidas por Kirke. Até agora, a Sonserina fora desafortunada em todas as sujas jogadas, mas parece que a nova formação ordenada por Laughalot, a “Trasgo e Marreta”, famosa por ser utilizada pelos jogadores dos Vagamundos de Wigtown em seus jogos mais mirabolantes, mostra-se muito eficiente. Branstone está frente a frente com Kirke, Murdock e Beetlebrick se afastam, mas ainda estão com a guarda levantada. Branstone arremessa... Que droga, na mosca! Branstone marca o primeiro gol para a Sonserina!”

O desânimo de Jones era eminente, mas a alegria dos espectadores da Sonserina a superava um milhão de vezes. As rosetas mágicas esverdeadas vibravam conforme os estudantes gritavam de felicidade. O coro “Kirke é Freguês” voltou a tomar os ouvidos de todos, o que irritava cada vez mais o capitão da Grifinória.

A Grifinória voltara com a posse da goles. Aston contivera o sangramento no nariz da amiga, mas que ainda se mostrava muito pálida. Anastácia conseguira ludibriar Erico e mergulhara a toda velocidade em direção a baliza direita, oposta a posição atual de Nico, que defendia a esquerda. Mas o lance mais fantástico, o qual levara a torcida sonserina ao delírio, fora quando Demelza conseguira executar com perfeição (o que é realmente muito difícil) o Faz-que-Vai da Transilvânia. Os nós de seus dedos se contorceram com vigor, o punho da artilheira se assemelhou a um martelo, o qual se dirigira brutalmente ao nariz de Anastácia. O Faz-que-Vai era muito difícil, um movimento em falso e a espetacular jogada poderia se transformar em uma violenta falta. No último segundo antes do choque, Demelza recuara o braço e mudara sua rota, em vez do nariz de Aston para a esférica goles.

“Fantástico!” Exclamou Jones bastante surpreso, assim como os demais. Seus comentários eram abafados pelo canto das arquibancadas sonserinas “Willians consegue executar com louvor o Faz-que-Vai da Transilvânia, inacreditável! Ela passa a goles para Cadu Branstone, que adianta mais um pouco para o capitão Laughalot.”

Alvo parara de ver o jogo. Do outro lado do estádio, Treena Johnston se movimentava em ziguezague por entre a quase inabitada arquibancada da Lufa-Lufa. “Ela avistou o pomo?”, pensou Alvo girando na Thunderstorm postando-se de frente para a arquibancada lufalufina. Erico pedira para que ele só capturasse o pomo quando a Sonserina assumisse a dianteira com mais trinta pontos que a Grifinória, mas e se Johnston agarrasse o pomo, eles perderiam, estariam fora. Alvo não hesitou, inclinou o corpo para frente e sua vassoura respondeu

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instantaneamente. Mais rápido, pediu, e a telepatia com a vassoura forçou a Thunderstorm a atingir uma velocidade descomunal.

“Vejam como Potter avança pelo campo! Realmente a Thunderstorm é a vassoura mais impressionante da atualidade. Por isso as seleções da Inglaterra, Bulgária, Irlanda, Peru, Estados Unidos e Brasil já enviaram longos pedidos de levas de vassoura para o Sr Icanor Stumper, dono das indústrias Tempestades de Vassouras & Cia. Caso alguém queria entrar em contato com o Sr Stumper, a revista “Que Vassoura?”divulgou o endereço de sua fábrica, basta enviar sua coruja para...”

– Jones! – censurou a Profª McGonagall olhando severamente para Eduardo. – Você é patrocinado pelas indústrias de Icanor Stumper? Volte ao jogo e pare de bancar o paspalhão!

“Ah, claro, professora... A bola volta para o controle de Willians, que recua para Branstone. A goles é lançada em profundidade para Laughalot. O capitão da Sonserina arremessa de longe... O que foi isso???? Uma jogada ensaiada ou pura sorte? A bola desviou em Willians que tirou Kirke completamente da jogada. A Sonserina marca seu segundo gol!”

– Pode marcar uma nova jogada, “O Desvio Laughalot”! – berrou Erico acenando para as arquibancadas que o aclamavam.

Alvo finalmente chegara às arquibancadas da Lufa-Lufa, onde Treena continuavam a ziguezaguear como uma mosca inconveniente sobre um prato de comida. O apanhador sonserino fitou a arquibancada procurando algum vestígio do pomo. Tinha que estar ali. Johnston estava sobrevoando aquela área há bastante tempo, não havia outra explicação, o pomo estava por ali.

– AGORA, Cícero! – berrou Treena girando sobre a vassoura e se afastando da arquibancada. No mesmo momento o batedor da grifinória, Cícero Hutchins, o mesmo que acertara um balaço errante em Tiago durante os testes para a equipe, saiu das sobras como uma ave. O bastão girava sobre seus dedos e um sorriso de aparente vitória tomava seu rosto.

– Acabou para você, Potter! – foram as últimas palavras que Alvo ouvira antes de Hutchins acertar uma martelada em um balaço errante que mudara sua trajetória no mesmo instante.

O balaço vinha na direção de Alvo em uma velocidade tão elevada que o garoto mal o pode o distinguir além de um borrão de coloração amarronzada. Aquele era o fim, o balaço o acertaria com toda a força de Hutchins bem no meio do estômago. Ele perderia os sentidos, todos os espectadores da sonserina o veriam cair da vassoura com expressões de tristeza e fúria enquanto os da Grifinória estariam rindo dele. Patético, era a palavra que Alvo se declarava. Fora patético ter confiado em Johnston mesmo depois de ter sido alertado por Erico. O que o capitão iria dizer? O baniria da equipe da Sonserina por ter sido tão patético.

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Desacreditado, Alvo só desejara não ser acertado com muita força pelo balaço, que ele pudesse escapar daquilo sem muitos hematomas, que tudo acabasse rápido e quando despertasse já estivesse deitado na confortante cama da Ala Hospitalar...

“Belas barbas de Merlim!” Foi o berro de Jones que poderia ter sido ouvido até pelos estudantes que estivessem nas masmorras de Hogwarts. “Potter acaba de executar um Giro da Preguiça após ter sido atraído por Treena Johnston para perto do alcance de Hutchins como fada mordente em Essência de Açúcar.”

Se não fosse pelo Feitiço de Telepatia que conectava a mente de Alvo com a Thunderstorm o sonserino estaria naquele momento locauteado no gramado do campo de Quadribol, muito provavelmente desacordado. Quando finalmente deu-se por si, Alvo notara que estava agarrado no cabo de sua vassoura como uma preguiça na hora de dormir. Suas mãos agarravam os braços envoltos pelas vestes verdes da Sonserina com toda a força e esperança que Alvo ainda continha. Suas unhas estavam não cravadas no pano das vestes e em sua pele que somente horas após o jogo as marcas das unhadas se dissipariam. Ainda com bastante receio Alvo abriu os olhos. Pela primeira, e última vez, Alvo viu o campo de quadribol de uma maneira... inusitada. Tudo estava de cabeça para baixo, como se a Terra tivesse mudado o céu com a terra. A pouca platéia da Lufa-Lufa esticava os pescoços para cima, observando Alvo ainda agarrado ao cabo da Thunderstorm.

– Isso é tão perigoso – gemeu Abbie Collins olhando por entre os dedos que tampavam seus olhos.

– Aquele ali é meu primo! – gritou Luís gesticulando e apontando para a figura cômica de Alvo.

– Dominique, você nunca nos disse que seu primo era mesmo bom no quadribol – falou uma das amigas de Dominique tal alto que Alvo pode ouvir. A garota nãos poupou esforços para se mostras atraente para ele.

“Ok. Desfaça isso!”, ordenou Alvo para a Thunderstorm. A vassoura girou sozinha, fazendo com que Alvo, sem dificuldades,

pudesse voltar a sua posição normal. “A goles é novamente roubada de Euan Coote, Willians lança a bola

para Laughalot que... Caramba, Erico Laughalot parece estar inspirado hoje. O artilheiro da Sonserina executa um Passe de Revés, que infelizmente devo admitir que fora esplêndido. Branstone com a goles, de volta para Willians... E mais um gol da Sonserina! O placar agora mostra cinqüenta a setenta para a Sonserina!”

Perfeito, a Sonserina estava a vinte pontos da Grifinória, mais um e Alvo poderia capturar o pomo. Os olhos verdes do apanhador circularam por todo o campo, volta e meia, eram ludibriados pela corrente do relógio de Stuart ou pelos brincos de Kennely. Mas logo depois Alvo o viu. A pequena bolinha dourada que era o pomo de ouro, em ziguezague por entre os estudantes e monitores da Corvinal, bem próximo a

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arquibancada dos professores. Alvo deu um pinote em sua vassoura e seguiu em direção ao pomo.

O jogo entre os artilheiros estava truncado. A goles mal conseguia passar do meio do campo sem que seu guardião fosse desarmado. Erico berrava instruções e alegava que necessitava de mais um gol. Os balaços riscavam o vento conforme os batedores se aproximavam do monte de jogadores. Sobre gritos desaforados todos os estudantes e professores puderam ver Murdock acertar a cara de Fred e arremessá-lo para fora de sua vassoura. O Prof Towler ameaçou levar o apito a boca, mas teve de desviar de Erico e Euan que mergulharam em sua direção.

– Não terá tanta sorte agora, Potter! – urrou Treena ao se aproximar de Alvo já próximo as arquibancadas da Corvinal. – Você teve sorte da outra vez, mas não é igual seu pai! Harry poderia se safar dessa quantas vezes fosse necessário, mas você cairá!

– Vamos ver! –gritou Alvo em resposta.As torcidas prendiam a respiração conforme os dos apanhadores se

aproximavam do pomo. Jones parara de narrar as disputas entre os artilheiros para descrever a emocionante corrida entre os apanhadores que se esbarravam pelas arquibancadas.

– Uma Thunderstorm, ah? – gritou Treena novamente. – Seu pai deve ter imaginado que somente com a melhor vassoura você poderia não ser humilhado perante toda a escola. Lembre-se, o homem vence a máquina!

– Cale a boca!O pomo virara para baixo, e os artilheiros também. Em questão de

segundos, Alvo e Treena já estavam a centímetros do chão. A apanhadora continuava a berrar insultos a Alvo, mas que eram abafados pelo forte vento que soprava em seus ouvidos.

– Vamos mais rápido, mais rápido! VAI, VAI, VAI! – berrou Alvo para a Thunderstorm que parecia ter atingido seu limite.

Esperançoso, Alvo estendeu o braço. O suave vento vindo do bater das asinhas do pomo já podia ser sentido por Alvo. As asas já roçavam em sua mão, ele só precisava agüentar por mais alguns segundos e cerrar o punho.

“Kennely passa a bola para Aston, que é desarmada por Laughalot... Os apanhadores se aproximam do pomo e Potter é quem tem a vantagem!” Jones não sabia agora se narrava o que os artilheiros ou o que os apanhadores faziam. Erico prendia a bola no braço direito disparando em direção as balizas grifinórias. Kirke, desesperado, deixara seu posto e partira com tudo em direção ao artilheiro, pronto para trombar com ele.

– Mais um pouco – choramingou Alvo esticando ao máximo seu braço direito.

“Laughalot lança a goles... Caramba, que soco. Mas a goles ainda tem chances de chegar ao aro da esquerda. O árbitro espera para saber qual será seu veredicto, mas com certeza Kirke levará uma bronca... E Potter

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e Johnston estão praticamente colados no pomo... A goles começa a descer...”

Alvo sentiu a superfície da bolinha por entre seus dedos...– PE... GOL! – foi a exclamação final de Eduardo Jones. No mesmo instante em que Alvo capturara o pomo a goles atravessara

o aro esquerdo da Grifinória. Sob o apito do Prof Sabino encerrando a partida e os berros e exclamações grosseiras e felizes de grifinórios e sonserinos, o jogo acabou. Os jogadores da Sonserina se uniram próximos a Alvo e Erico, os dois grandes heróis da partida. O capitão que ordenara o contra-ataque e marcara o último gol sonserino e o apanhador que efetuara uma manobra fantástica e capturara o pomo de ouro.

– Ganhamos, ganhamos! – berrava Estevão lançando seu bastão longe e abraçando Demelza, que enrubescera.

– Vencemos a Grifinória! – gritou Nico socando o ar. – E temos chances de chegar à final!

– Muito bem, Alvo! – falou Erico batendo nos ombros de Alvo e indicando o placar final do jogo: Grifinória, cinqüenta; Sonserina duzentos e trinta. – Você é igual seu pai.

– Não, Erico. Não sou... – falou Alvo sorrindo, mas a frase não saíra completa de sua boca. Ainda faltava um complemento, um desejo muito satisfatório e quase que real “Eu sou melhor”.

Capítulo QuinzePlano Falível

Sonserina está nas finais! – fora o grito de louvor de Nico Higgs no anoitecer de domingo ao chegar à sala comunal da Sonserina acompanhado de Cadu Branstone, Estevão –A

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Murdock e outros dois sextanistas. A sala comunal estava cheia de sonserinos nervosos e apreensivos com relação ao resultado do jogo entre Corvinal e Lufa-Lufa. Quando Nico chegou com seus amigos à sala comunal, todos os olhos se voltaram para ele. Assim que a notícia deixou seus lábios uma explosão de vivas tomou os ouvidos de Alvo, que terminada o dever de Astronomia sobre a Lua. No instante em que os sonserinos e sonserinas explodiram em vivas, Alvo pode perceber que Ralf, que estava ao seu lado fazendo seu dever de Runas Antigas, soltou uma leve exclamação, mas que Alvo não pode distinguir se fora de susto ou de alegria. Ralf afirmava que não gostava de quadribol, mas seu rosto não pode deixar de corar quando descobriu que a equipe havia avançado para a final do campeonato.

– Como foi o jogo? – perguntou Sara abraçando a capa de seu livro de medicina com mais força.

– Não foi dos piores – falou Cadu. – Tanto é que só terminou pouco depois do por do sol. Duzentos e oitenta a duzentos e dez. Por dois gols a mais, ficamos na frente.

– Os goleiros eram fracos – completou Nico com desdém. – Aquele babaca do Khan teve sorte de estar nevando durante nosso jogo. Em uma das jogadas, Templeton tentou zunir a goles, mas o goleiro acabou furando. Summers também não foi grande coisa, o que me faz pensar que algumas de suas defesas durante os jogos foram pura sorte. Por outro lado aquele Alderton mostrou ter uma mira eficaz, e Samanta Davies da Corvinal mostrou-se muito hábil e sagaz, mesmo sendo uma terceiranista que mais parece uma borboleta sem asas.

– E como terminou o jogo? – quis saber Carter Danforth piscando rápido.

– Pole e Humberstone estavam colados um no outro e o pomo estava um pouco à cima da cabeça do Dingle aqui – ele apontou para o garoto de óculos redondos com face sardenta e intelectualmente esnobe. – No final Humberstone fez um Passe de Plumpton, exibido.

– Nossa! Deve ter sido um belo jogo – suspirou Sara fazendo menção a voltar para seu recanto estudantil, o livro embaixo do braço.

– Isso é o que menos importa, Aubrey – gritou Nico para as acostas de Sara. – Estamos na final! Finalmente aqueles sangues-ruins da Lufa-Lufa fizeram algo que valesse a pena!

– Eu ouvi bem? Estamos nas finais? – perguntou Erico abobalhado descendo do dormitório dos garotos.

– Sim – confirmaram Nico, Cadu e Estevão em uníssono.– Caramba! – berrou ele saltando os degraus e socando o ar com

energia. Um alegre sorriso tomou seu rosto de maneira que Alvo ainda não tinha visto. – Perfeito! Teremos uma nova chance de ganhar da Grifinória, mas teremos de treinar duro para isso... Melhor já começar a organizar os dias de treinamentos, vou falar com o Prof Slughorn para reservar o campo antes que Kirke já o tenha feito...

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– Erico, seu paranóico, dá um tempo! – reclamou Nico irritado. – Já não foi o bastante nosso feito de ontem? Precisamos relaxar um pouco!

Não muito convencido Erico assentiu. Pouco depois da animação pela classificação ter se dissipado da sala comunal o capitão voltou para seu dormitório em passos pesados e sob múrmuros secretos. Ele ainda tinha expectativas de convencer o restante do time a comparecer a treinamentos noturnos extras.

– Comparado ao Eustáquio, Erico parece um inofensivo tronquilho – sussurrou Nico para Alvo assim que as vestes do capitão já não eram mais vistas. – Por Birch nós já estaríamos treinando desde já. Você teria o fígado arrancado e a pele virada do avesso caso discordasse. Mas no final das contas, ele sempre se dava bem.

Agora um pouco mais feliz por ter como capitão Erico e não Eustáquio Birch, Alvo voltou para seus deveres. O coro da torcida gritando seu nome não saia de sua mente.

A segunda-feira amanheceu nublosa. Às sete horas da manha uma pancada de chuva castigou o perímetro ao redor do castelo de Hogwarts. As janelas vibravam e rangiam com a quantidade de chuva que se chocava nelas. Mas para Alvo, toda aquela chuva e aquele frio pareciam estar dentro de seu estômago. Combinara com Rosa e Escórpio que bolariam um plano para pegarem o diário de Ambratorix da sala do Prof Silvano, mas com toda aquela agitação do quadribol e com os pesadelos, ele mal tivera tempo e paciência para pensar em como poderia se apossar do manual de instruções escrito pelo artesão.

Quando chegou ao Salão Principal para o café da manhã, Alvo teve vontade de se enfiar em qualquer canto da mesa da Sonserina e se misturar com os alunos mais velhos que ainda falavam da emocionante rodada do quadribol. Porém, antes que pudesse realmente deixar ser tentando por seu plano, a inconfundível voz autoritária de Rosa chegou a seus ouvidos. A prima, junto a Escórpio, estava sentada bem no meio da mesa da Grifinória. Seu braço esquerdo erguido tentando chamar a atenção dele.

Lentamente Alvo se dirigiu ao encontro dos amigos. Conforme ele passava, olhares zangados de grifinórios o seguiam. Todos encaravam com caras feias o apanhador sonserino que estragara sua comemoração. Não fora por causa da derrota que Fred, mesmo ainda com algumas dores estomacais, deixara de soltar seus fogos de artifício, mas a festa teria tido um gosto muito melhor com a eliminação definitiva da grande rival.

– Como está, Sr Apanhador? – perguntou Rosa sorrindo e dando uma palmadinha no ombro do primo. – Foi um belo jogo, Al. E não me refiro somente ao Giro da Preguiça. Fora mais como um todo. Fiquei feliz por você, mas nas finais será diferente...

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– Verdade – garantiu Escórpio desviando seus olhos do cereal e encarando Alvo. – Parei até com minha leitura para ver as quantas ia o jogo. Justamente na hora da, se assim poderei chamar, mais fantástica manobra do jogo. Sorte? Talvez...

– Tive ajuda da Thunderstorm – afirmou modestamente Alvo servindo-se de leite – Se não fosse por ela eu estaria na Ala Hospitalar sob intensa observação de Madame Pomfrey.

– Sorte, então que o tio Harry e a tia Gina lhe presentearam com a vassoura no Natal – falou Rosa tentando dar continuidade ao assunto Quadribol, mas ela estava visivelmente apreensiva. A garota mordia os lábios com firmeza e seus olhos não paravam de olhar para o vestíbulo do salão.

– Ok. Se você quer tanto falar de seu plano mirabolante, comesse antes que exploda! – exclamou Escórpio. Rosa parecia tentada a protelar por mais alguns segundos.

– Obrigada, Escórpio. Mas eu não queria falar nada entes que eles chegassem...

– Quem são eles? – perguntou Alvo, autoritário, mas parte de si já podia imaginar a quem Rosa se referia.

– Eu sei que nenhum de vocês, se quer, chegou a imaginar qualquer coisa sobre nosso... – ela abaixou a voz, forçando os garotos a se inclinarem um pouco mais adiante – nosso plano para furtar o diário de Ambratorix da sala do Prof Silvano. Ora, não venham com essas caras! Sei que nenhum dos dois pensou em nada! – Rosa lançou um olhar sinistro para os dois, como se dissesse “parem de mentir para si mesmos!”. – Mas eu pensei em algo. Fiquei a maior parte do tempo orquestrando uma maneira de entrarmos e sairmos da sala de Silvano sem sermos notados, mas... Não temos nenhuma Capa da Invisibilidade e sempre há rondas de vigias patrulhando as salas dos professores. Se considerarmos as circunstâncias, um plano que incluamos somente nós três torna-se inviável.

– O que você realmente quer dizer? – Alvo estava ficando mais nervoso com a complexibilidade do plano de Rosa. Ele temia que ela dissesse o que já esperava ouvir da prima.

– Espere ai, Potter – falou Escórpio rindo. – Ainda vai ficar melhor.– Analisei todas as possibilidades, mas não cheguei a nenhuma solução

lógica sem considerar esta opção. Sei que não é muito sua praia, mas...– Vejam queridos senhores e senhoras, ali está, a mais bela donzela de

Hogwarts. Minha querida e sábia prima Rosinha! – bradou Tiago em alta voz adentrando o Salão Principal seguido de uma bateria de outros estudantes de diferentes idades e casas. Alvo pode ver Fred e Eduardo Jones mais atrás do grupo, Ethan de braços dados com Laura Fawcett, Sabrina e Ralf logo a direita de Tiago, Agamenon que conversava com um garoto gorducho de bochechas rosadas e face intelectual chamado

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Horácio, um terceiranista da Corvinal, desafeto de Lucas, pois era considerado o melhor jogador de xadrez de Hogwarts.

– Fizemos umas apostas – falou Fred tomando a dianteira do grupo. – Ralf acredita que você quer se alistar para nosso grupinho extracurricular. Horácio crê que se meteu em alguma roubada e necessita de nossa... Vejamos: Jones, qual seria a melhor palavra?

– Experiência – complementou o locutor de jogos de Quadribol.– Exato... E necessita de nossa experiência para se safar dessa. – Caso queira se alistar para nosso grupo – começou Ethan ainda

agarrado com Laura – deverá passar por uma série de testes humilhantes, mas que nos divertem pra caramba! Tem o favorito de Tiago, que é o vôo lunático e suicida na vassoura... Foi mal, Tiago, mas eu tinha de falar – riu Ethan observando o olhar de censura de Tiago. – Ou a preferida de Laura, correr pela escola de pijamas imitando um grifo e cantando o hino dos Chudley Cannons. Mas acredito que poderemos lhe dar uma vantagem sem considerar os testes de Fred. Geralmente eles ocasionam algumas detenções, hematomas, choques com superfícies sólidas e... Se não me falha a memória, uma vez um garoto do segundo ano saiu com as calças flamejando, não foi?

Fred assentiu rindo.– Na verdade, o que queremos mesmo que vocês façam é um favor –

disse Rosa mostrando-se íntegra e inabalável, sem surpreender nenhum dos Malignos, que se agrupavam ao redor dos três primeiranistas – Precisamos pegar algo emprestado...

– Não tenho um grama de ouro! – falou logo Fred mostrando os bolsos vazios. – Mas se vocês quiserem uma amostra grátis da nova leva de Feijõezinhos de Todos os Sabores lá da loja, terei prazer em...

– Não queremos nada das Gemialidades! Ainda, não – ralhou Rosa com rispidez. – Precisamos dar uma olhada em um livro...

– Já tentou a biblioteca...– Dá um tempo Fred! – gritaram os Malignos juntos provocando um

estrondoso eco.– Um livro que está na posse do Prof Silvano! – disparou Rosa antes que

qualquer outro pudesse interrompê-la.Ralf engasgou com o pedaço de pão que colocara na boca, Sabrina

pigarreou e molhou Horácio com suco de abóbora. O restante dos Malignos limitou-se a olhar para Rosa com olhos bem arregalados, todos em exceção de Tiago, que olhava para Alvo de forma furtiva.

– Oh, oh, oh! – bufou Eduardo Jones juntando as mãos em forma de T, pedindo tempo. – Por que vocês querem arrombar a sala de Silvano para afanar uma droga de livro? São tão ruins em DCAT que precisam saquear o professor?

– Isso não se resumo apenas às aulas – falou Escórpio com rigidez.– E é muito complicado para nós explicarmos tudo a vocês agora –

completou Alvo, ainda tenso.

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– E nem poderíamos explicar – falou Rosa tomando novamente as rédeas da conversa. – Isso só complicaria ainda mais as coisas para vocês.

– Acha realmente que iremos trabalhar as cegas? – perguntou Laura colocando a mão sobre o queixo.

– Melhor não discutir – afirmou um lufalufino que Alvo não conhecia. – Vince Glover, muito prazer.

– Conte-nos ao menos o que vocês podem revelar-nos e que não seja de grande perigo – pediu Agamenon curioso.

– Ai é que está – interrompeu Alvo. – É difícil revelar as coisas se excluirmos as partes perigosas, mas... Rápido. Rosa, Escórpio, façamos um resumo da ópera.

Os três estudantes começaram a contar toda a história que envolvia o Prof Silvano, o falso Prof McNaught e todos os mistérios envolvendo Albrieco Ambratorix, terminando nas últimas constatações de Alvo sobre seus sonhos. Eles tiveram de explicar mais detalhadamente sobre todos os sonhos de Alvo e a menção de Hagrid sobre a árvore plantada por Merlim. Algumas partes foram fragmentadas, principalmente as revelações de Baddock durante a emboscada armada pelo conjurador do Patrono em forma de morcego. Tiago escutava astutamente e sua face mostrava que ele sabia que o irmão guardava algumas informações mais esclarecedoras e relevantes. Volta e meia, algum Maligno fazia alguma pergunta, mas nem todas puderam ser respondidas, pois nem mesmo eles tinham as respostas.

– Então deixa me ver se entendi tudo – falou Ethan imitando o gesto de Eduardo pedindo tempo. – Desde o início do ano letivo dois professores, sendo um deles um invasor, armam uma conspiração maquiavélica que pode matar a todos nós com um simples sopro, que envolve altas Artes das Trevas e um possível colapso mundial. E vocês três sabiam de tudo, e não lhes caíra revelar tudo à diretora?

– Eu insisti com esse argumento várias vezes – se defendeu Rosa.– Mas não tínhamos argumentos suficientes para incriminar um

professor – insistiu Alvo irritado, cerrando os punhos. – E se o Prof Silvano está disposto a provocar uma revolução que gerará uma incomensurável onda de caos, o que acham que ele faria com três primeiranistas enxeridos e uma bruxa com alguns anos já nas costas. Bastariam apenas quatro Maldições da Morte e menos quatro intrometidos para perturbá-lo.

– Vendo por esse lado – apoiou Tiago.– Perfeito – resmungou Rosa um pouco descontente. – Bem, vocês já

foram apresentados aos fatos, e pelo jeito parece que acreditaram na maioria deles. O que já é muito bom. Agora precisamos chegar a uma conclusão de como invadir a sala do Prof Silvano sem sermos vistos...

– Até emprestaríamos nossa Capa da Invisibilidade se a Warton não tivesse dado mole e deixado Filch a confiscar – contou Fred indicando

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com o polegar para a última Maligna do grupo, outra que Alvo não conhecia.

– A Brenda fez o que?! – berrou Ethan arregalando os olhos e virando bruscamente para a garota loira de olhos grandes e redondos com óculos retangulares que se contorcia por entre suas vestes da Lufa-Lufa.

– Desculpe – chiou Brenda Warton amedrontada. – Foi aquela gata maldita da Madame Nor-r-ra. Estava caçando ratos e acabou mordendo a capa. Foi um gemido tão grande que Filch chegou tão rápido que mal dera tempo de me esconder.

– Hem – pigarreou Rosa batendo com seus dedos na mesa. – Não tem problema se Filch está ou não com sua capa. Já pensei em tudo, excluindo a possibilidade de termos uma Capa da Invisibilidade, o que tornaria tudo isso mais fácil. Pois bem, agiremos hoje, durante o primeiro intervalo depois do almoço. Eu estive observando a rotina do Prof Silvano, ele aproveita essa hora para ir à sala dos professores, ele é um grande admirador de Conhaque com Seiva de Laranja e manjar turco. Nesse meio tempo, enquanto Silvano está na sala dos professores, precisaremos esvaziar o corredor do terceiro andar que leva para a sala de DCAT.

– Lancemos Bombas de Bosta! – sugeriu Vince Glover.– Muito fedorento. Passaríamos mal antes mesmo de chegar à sala –

respondeu Escórpio sob o olhar pesado dos outros estudantes. Escórpio ainda era mal visto pelos demais alunos.

– Também já pensei nisso – sorriu Rosa. – Para chegar ao corredor em questão, os alunos podem chegar por três áreas. As escadarias, a Ponte Coberta e o saguão onde ficam as tapeçarias de Godofredo, o biruta. Também vamos atingir o Salão Principal, pois é onde a maioria dos estudantes e professores fica durante os intervalos, será a área mais difícil, mas creio que vocês conseguem. O que me lembra... Fred, – ela se voltou para o primo – precisaremos do máximo de produtos Weasley que você pode arranjar. Foguetes Dispersores de Atenção, Pó Escurecedor Instantâneo, Pântanos Portáteis... Em suma, tudo.

– Nunca diga que um produto Weasley não salvou o dia! – brincou Fred estalando os dedos. – Mas vou precisar de muito pessoal para organizar um mutirão devastador como esse.

– Pode ficar com quantos quiser. Só deixe dois para como sentinelas.– Sentinelas? – repetiu Ralf servindo-se de mais uma torrada.– Sim. Precisamos de dois de vocês para ficar monitorando Silvano

enquanto nos infiltramos pela sala. É bem arriscado, então pensem bem antes de escolher...

– Eu vou! – disse Tiago de supetão, apontando para o próprio peitoril. – Tenho a arma perfeita para ficar de olho nele. Mas talvez tenha alguns problemas.

– Que problemas? – Bem, essa minha ferramenta foi feita há bastante tempo e depois da

Batalha de Hogwarts... Ah, digamos que apresenta algumas falhas... Mas

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convenhamos, é uma relíquia que já nos ajudou bastante, e garanto quase noventa por cento de segurança.

Aquilo acertou Alvo como um balaço no pâncreas. Tiago se mostrou muito seguro de que possuía algum artefato extremamente raro, mas que poderia vigiar o Prof Silvano por toda a Hogwarts. Algo como um mapa que mostrasse sua localização, um mapa...

– Seu sacana! Mentiroso, duas caras, traiçoeiro! – urrou Alvo saltando da mesa gritando e xingando Tiago com os olhos saltados. – Como você pode? V-você o pegou, e ainda por cima nem me falou nada! Você pegou o Mapa do Maroto! Era sobre isso que mamãe se referia na noite de Natal quando ela estava na Rede de Flu.

– Touchê! Você me pegou – riu Tiago com as bochechas coradas. – É, Alvo fofoqueiro, finalmente você tomou o fio da trama e somou dois mais dois... Realmente, fiquei muito tentado quando vi o mapa no escritório de papai, largado em sua mesa. Não pude resistir, está no meu sangue. E, cá entre nós, você facilitou um pouco as coisas.

– Como é? – Alvo continuava gritando, o sangue fervia em suas veias – Eu nem sabia que você havia pegado o mapa. Como poderia ter ajudado-o?

– Thunderstorm – respondeu Tiago rapidamente. – Se você não tivesse entrado para o time da Sonserina e precisasse de uma vassoura nova, papai e mamãe não teriam uma desculpa para deixar o mapa comigo. Convenhamos, Al, você, quer queira quer não, me ajudou. Sei que isso te irrita, mas parece que veio bem a calhar. E além do mais, o mapa não servia mais para papai. Nada, ou ninguém em Hogwarts ainda lhe despertava interesse. O mapa estava largado, e eu apenas impedi que ele se esfolasse ou fosse danificado junto aos demais artefatos de auror do pai.

– Fala como se salvasse a pátria – resmungou Alvo voltando para seu lugar. – Mas como assim o Mapa do Maroto apresenta algumas falhas?

– Que bom que perguntou, maninho – Tiago remexeu nas vestes e retirou junto de sua varinha um pedaço de pergaminho velho, enrugado e sujo que mal chamaria a atenção de qualquer investigador, mas que quando usado de maneira correta, revelava-se um detalhado mapa de Hogwarts, que mostrava onde todos estavam e o que faziam. – Sempre o tenho em mãos. E quando Rosa nos contatou, eu não esperava que fosse um simples pedido de ajuda. Mas como eu ia dizendo... Bem, ele já não é mais como antes, vejam. Juro solenemente que não pretendo fazer nada de bom.

Ao toque da varinha de Tiago pequenas linhas com frases escritas a mão por uma caligrafia não muito clara começaram a brotar na superfície áspera do pergaminho do mapa. A primeira grande frase a se formar era grande e florescente, como uma apresentação dos donos originais do Mapa do Maroto.

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– Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontas – leu Agamenon em voz alta. – Quem são esses?

– Mestres, pequeno Lestrange – sussurrou Fred espreitando mais para poder espiar o mapa. – Sem eles Hogwarts não seria Hogwarts. E nem o mundo, pois eles foram mais que quatro grifinórios travessos. Menos o Rabicho, esse não...

Alvo sentiu uma pontada de orgulho aflorar em seu coração. Tiago também.

Mas o mapa não estava completamente desenhado. Como Tiago informara algumas áreas não estavam bem detalhadas em decorrência as mudanças ocorridas em Hogwarts após o período da guerra. Algumas áreas em branco continham instruções escritas em uma caligrafia diferente, talvez até pior que a da frase florescente. Os Marotos lamentam, mas a área em questão necessita ser redesenhada. Favor contatar os desenhistas oficiais, os Srs Almofadinhas e Pontas, para assistência técnica e re-mapeamento da área. Infelizmente nenhum dos desenhistas chefes do mapa poderia ser chamado para reformular o mapa. Alvo ficou contente em saber que seu avô e Sirius Black foram quem havia construído aquela relíquia inestimável (até então Alvo imaginava ter sido confeccionada por Remo Lupin). Mas agora nem Black nem seu avô poderiam ser engajados na trama, pois ambos já estavam mortos há muitos anos.

– A sala dos professores fora uma área bastante devastada – explicou Tiago apontando para uma das partes do mapa bem distante de onde estavam os nomes diminuídos dos Malignos, de Rosa, Alvo e Escórpio. – Teremos apenas meio minuto entre a passagem de Silvano da escada que leva da sala dos professores ao terceiro andar.

– Teremos de arriscar – falou Alvo com ardor.– Ok, mas alguém pensou em como nós vamos nos comunicar? –

perguntou Sabrina olhando de Rosa para Alvo e depois para Fred.– Realmente as Gemialidades Weasley são mais que uma loja de logros

– falou Fred revirando os olhos e retirando um catálogo de compras bem colorido e com imagens chamativas em movimento. – Senhoras e senhores deixem-me explicar sobre o Feitiço de Proteu e sua aplicação nos Mini Voldys Mofados inventados por meu pai, como uma pequena colaboração do tio Rony e da tia Hermione.

Fred desandou a explicar como funcionava o Feitiço de Proteu lançado por Jorge Weasley nas pequeninas miniaturas de borracha de um arrogante e cômico Lorde das Trevas. A miniatura de Voldemort possuía olhos saltados e braços curtos, com uma expressão ridiculamente maligna em sua face de borracha. Diferente do bruxo verdadeiro, o Mini Voldy Mofado possuía o desenho da Marca Negra sobre a nuca, e não no braço. Segundo o catálogo de Fred, para utilizar o boneco devia-se escrever a mensagem nos sapatos de Voldy e pressionar com força a Marca Negra, pensando nas outras pessoas que possuíam os outros Mini

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Mofados. Quando a mensagem aparecesse no sapato do outro bonequinho, a Marca Negra do outro boneco iria arder e seu dono seria alertado ao som de um infortuno e desaforado, porém alegre, insulto.

– Não os tenho em mãos agora – explicou Fred mostrando as mãos vazias. – Mas posso arranjar alguns até o almoço.

– Excelente! – exclamou Rosa com um gritinho.– Ei! Acho que devemos nomear nossa formação. – sugeriu Ralf

limpando os farelos de pão de suas vestes.– Que tal, O Fabuloso Bando de Alunos Malfeitores destruidores de

Professores Forjados e Idiotas muito Retardados? – sugeriu Jones sorrindo.

– Muito longo – contestou Laura. – Acho que Os Malignos e os Enxeridos.

– Obrigado – falou Alvo, escarlate.– Fora Teddy quem sugerira o nome, Malignos. Mas, acredito que posso

bolar algo legal – falou Ethan coçando os cabelos e olhando o teto encantado do salão. – Talvez... Não, isto é brega demais. Ah! O Esquadrão M.

– E de onde surgiu esse M? – perguntou Brenda Warton, agora menos esquiva de Ethan.

– Merlim! – bradou o apanhador da Lufa-Lufa. – Já que ninguém nos dará a Ordem de Merlim por nossos feitos, não custa nada nos auto-indicarmos para recebê-la. Nunca seriamos verdadeiramente condecorados por nossos feitos... Vejam o exemplo do pai de Tiago e Alvo. Qual foi a Ordem de Merlim que seu pai recebeu?

– Segunda Classe – falaram Alvo e Tiago ao mesmo tempo.– E meus pais Terceira Classe – completou Rosa.– Viram? E outros bruxos menos importantes e menos merecedores de

tal já foram nobilitados com a Primeira Classe.– Ok. Todos a favor de que nos intitulemos o Esquadrão M? –

perguntou Rosa impaciente. Todos levantaram suas mãos de acordo. – Pois bem, não importa de como nos chamamos, mas sim como devemos agir. Depois do almoço nós nos encontremos ás portas do salão. Fred, eu quero que já posicione já seus fogos e arranje os Mini Voldys Mofados. Teremos de acertar de primeira, pois não teremos uma segunda chance. Isso é tudo.

Os Malignos assentiram em silêncio, e se dispersaram pelo Salão Principal. Tiago deu uma piscadela para Alvo, que se dirigia para a mesa da Sonserina, mas sem nenhum apetite. Alvo parecia sentir o mesmo que seu irmão. Estava ansioso para poder por o plano de Rosa em ação depois do almoço, mas estava temeroso caso alguma coisa desse errado.

Alvo mal conseguiu prestar atenção nas aulas daquela segunda-feira. Durante a aula de Herbologia, Alvo mal tirara os olhos do relógio de pulso de Teseu Flint, o qual quando percebeu o interesse de Alvo em

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saber as horas não tardou em retirar-lo do pulso e lançá-lo para dentro de sua mochila. A total falta de atenção e de interesse dele provocou com que o pequeno ramo do Visgo do Diabo exposto pelo Prof Longbottom se enroscasse no dedo de Irene, o que provocara mais uma série de gritos histéricos da garota, que agora agitava a própria varinha contra o visgo.

– Vou largar Herbologia assim que puder! – chorou a garota, enquanto Neville contornava a mesa abobalhadamente, ajeitando seu chapéu cor de terra e apontando a varinha para o dedo de Irene.

– Fique calma, Srtª Mcmillan, basta eu usar o Feitiço da Luz – falou o professor acelerado.

– Ela parece uma para-raio de problemas – sussurrou Isaac ao pé da orelha de Alvo. Ele teve de segurar o riso.

As piores aulas do dia foram a das Corujas, e Defesa Contra as Artes das Trevas. Alvo ainda tinha certo receio do Prof Monomon, e mal conseguia encarar o Prof Silvano, já que ele e os amigos arquitetaram um plano para desmascará-lo. O que poderia acontecer se o professor acabasse estragando tudo? Se não quisesse tomar seu Conhaque com Seiva da Laranja naquele dia? Mas Alvo baniu esses pensamentos de sua mente com tanta força que arremessara a almofada que treinava o feitiço Estupefaça por cima da cabeça de Euan Coote, que considerou aquilo uma afronta. Mas que rapidamente fora acalmado por Finnigan que murmurara alguma coisa muito engraçada para o colega.

– Ele é muito sínico, você sabe, o Silvano? – falou Escórpio ao deixar o Salão Principal com Alvo após o almoço. Do lado de fora, Rosa e os Malignos já estavam agrupados. – Nos dando aulas para combater as forças das trevas quando ele mesmo é associado a elas. E ainda fala com um ódio descomunal, isso não te perturba?

– Bastante – acedeu Alvo. – Ele deve ser meio maluco (Meio! Foi o grasnido de Escórpio). Tá bom, completamente. Mas acho que ele tem alguns surtos, sabe? Ele viu o amigo ser assassinado bem na frente dele por um Comensal da Morte e agora se vê utilizando os mesmos meio que tal. Deve ser uma barra tudo isso.

– Estamos todos prontos! – afirmou Rosa com um pulinho, apertando nas duas mãos um bonequinho de cor cinza e capa negra. – Aqui está. Acho melhor ficar com você – e entregou o Mini Voldy Mofado a Alvo. Escórpio fez uma careta de negação.

– Está bem – falou Fred rápido rabiscando alguma coisa no pergaminho que carregava. – Matei a aula de Adivinhação e instalei tudo o que tinha nos quatro pontos...

– Você fez o que? – gemeu Rosa como se acabasse de ser insultada. – Nosso ponto principal não era fazer com que vocês matassem aulas!

– Tarde demais, Rosinha – prosseguiu Fred, sem dar muita importância. – Temos três Pântanos Portáteis espalhados pela Ponte Coberta. Vamos deixar essa área para Ralf e Sabrina. Contamos com seu grande potencial mágico, Agente Infiltrado – ele encarou Ralf. – Basta lançar o Incendio

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nos pavios e, puff! Tudo vira pântano! No saguão das tapeçarias coloquei algumas gramas de Pó Escurecedor do Peru além de Detonadores-Chamariz. Esses são para o Jones e o Vince. As escadarias são os mais complicados; então deixemos para alunas experientes e aplicadas em feitiços. Laura, Brenda, vocês terão em mãos Foguetes Dispersores de Atenção e Fogos Espontâneos. Brinquem bastante com as formas mais bizarras e, caso alguém tente fugir, metam-lhe um belo olho roxo com o Telescópio Esmurrador. Estão na passagem secreta do quadro dos videntes jogando Arranques e Brocas com uma bola de cristal. A senha é “Sem Clarividência”, muito oportuna. O Salão Principal é meu de Horácio e de Ethan. Faremos uma grande zoeira com tudo o que consegui de mais legal da loja. Acho que isso liberará a barra de vocês, garotos.

– Perfeito, você realmente é a mentezinha mais maligna e irreverente que Hogwarts já teve! – falou Brenda guardando seu Voldy Mofado no bolso das vestes.

– Realmente brilhante, Fred – disse Rosa, girando nos tornozelos e ficando frente a frente com Tiago. – Está com o Mapa do Maroto? – o primo assentiu. – Então você e Agamenon vão ficar na sala de Feitiços. Ela estará fechada até as três da tarde, então não há com o que preocupar. Qualquer um que tente se aproximar de nós, você já sabe o que fazer.

– Não vamos falhar! – exclamou Agamenon.– Ficarei de olhos em especial em Silvano. Se ele espirrar vocês

saberão aonde ele irá para pegar o lenço – falou Tiago pomposo.– Ótimo, vamos arregaçar as mangas e por nosso plano em prática! –

falou Alvo alto, antes que Rosa pudesse fazê-lo. – Iniciando operação Infiltração da Sala de DCAT!

Sabrina Hildegard e Ralf Dolohov foram relativamente rápidos em chegar à Ponte Coberta. Alguns alunos de diferentes anos transitavam pela ponte. Uns muito preocupados em manter os olhos fixos nos parágrafos de seus livros de Adivinhação enquanto outros perdiam seu tempo conversando sobre assuntos quase que irrelevantes. Ralf e Sabrina tentaram passar pela ponte com certa naturalidade, o que era difícil quando se tem de estar atento a todos os cantos à procura de um objeto, tanto quanto suspeito.

– Como foi que Fred os descreveu para você? – perguntou Ralf fingindo se agachar para pegar algum objeto imaginário que caíra de sua mão.

– Fred me disse que eles parecem um saco de compras feito de papelão bem pontudo – começou Sabrina levando as mãos ao queixo e olhando para o teto. – Na ponta existe uma espécie de erva, que é o pavio. E está preso em alguma coisa como uma raiz de orquídea bem forte agarrada ao galho de outra árvore.

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– Então já encontrei um – falou Ralf apontando com os quarenta centímetros de sua varinha de salgueiro com um núcleo muito duvidoso para um objeto oculto pela penumbra projetada pelo banco da ponte.

O Pântano Portátil estava compactado em uma espécie de sacola de compras muito gasta. A parte de baixo da sacola de papelão parecia estar úmida, mesmo estando camuflada por pinturas de várias cores. Pernas semelhantes a raízes saiam de sua superfície e se agarravam a uma dos pés do banco, com força.

– Devo incendiá-lo já? – Ralf olhou por cima do ombro e encontrou uma Sabrina ansiosa para ver o que guardava o Pântano Portátil – Tudo bem. Incendio!

Uma fagulha irrompeu da grossa varinha de Ralf, que mais se assemelhava a um bastão de quadribol, queimando a erva presa na ponta do Pântano Portátil.

Os dois Malignos se distanciaram um pouco de onde acabaram de incendiar o pântano. Após dois minutos, no exato momento em que dois secundaristas da Lufa-Lufa deixaram a ponte: houve uma explosão.

Um forte cheiro de fezes tomou as narinas de todos os ainda presentes na Ponte Coberta. Uma grossa e repugnante seiva cor de lodo com um insuportável cheiro de lixão começou a escorrer pelos cantos e despencar pelas estacas que sustentavam a ponte. Arbustos muito feios e grotescos brotaram por todos os lados, e um fora conjurado com tanta força que prendera um sextanista por entre sua folhagem.

Com os sapatos sujos lama e lodo, Ralf e Sabrina admiravam o feito. As mãos foram rapidamente colocadas no nariz, tampando as narinas e protegendo-os do forte odor vindo do pântano.

– Só faltam mais dois – falou Ralf com uma voz engraçada.– Espere um pouco – disse Sabrina prendendo a respiração e

escrevendo com sua pluma roxa nos sapatos de seu Mini Voldy Mofado.Fase um, completa. Ponte com cheiro de bosta!

– Malditos! Escória Bruxa! – rangeu o Mini Voldy Mofado no bolso de Eduardo Jones. Ele retirou cuidadosamente o boneco de dentro de suas vestes e leu atentamente a mensagem escrita por Sabrina Hildegard.

– Os pântanos foram acesos – falou ele para o colega de casa, Vince Glover.

– Maneiro! Sempre disse que Sabrina era fantástica. Mas ela nunca retornou meus convites para irmos ao Café de Madame Puddifoot.

– Triste coração partido. Realmente me toca seu amor não compreendido, Vince – debochou Jones, fazendo o sextanista corar. – Bem, Fred falou que escondeu o Pó do Peru e os Detonadores-Chamariz embaixo da estátua de Gabino Pollkeron... Melhor irmos sem chamar muita atenção. Não são muitos que reparam na estátua do biruta Pollkeron, mas é melhor prevenir que remediar.

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Os dois alunos da Lufa-Lufa hesitaram até a estátua de um astrônomo com expressão esdrúxula. A representação de seu cabelo fora feita de forma espetada como se ele nunca houvesse tentado alguma vez na vida penteá-los. A estátua expunha Gabino muito ensimesmado em ajustar impecavelmente seu telescópio.

– Devemos falar a senha – disse Jones apontando sua varinha para o programador do telescópio. – Cosmus Misterius.

As pequenas bolinhas de pedra que simulavam os planetas começaram a se mover como se fossem feitas de isopor. As oito bolinhas giraram várias vezes na superfície do telescópio até formarem um alinhamento perfeito entre os planetas. Nesse instante a estátua começou a se mover para a direita, revelando uma passagem muito apertada que talvez coubesse apenas um elfo doméstico gordinho, e que naquele momento estava bloqueada por sacolas etiquetadas como pedidos feitos às Gemialidades Weasley. Com um imenso sorriso, Jones agarrou as sacolas e em seguida jogou algumas no colo de Vince.

– Fique com os detonadores – falou ele enchendo a mão com Pó Escurecedor Instantâneo do Peru. – Vamos espalhar o caos!

Jones fez um movimento brusco e tacou um bocado de pó no chão. Assim que os grãozinhos negros e brilhantes de pó escurecedor tocaram no chão, uma consistente névoa negra tomou toda a área do saguão. Gritos de garotos e garotas chamando os nomes de seus companheiros e xingando alto tomaram o saguão. Alguns tateavam as paredes procurando o caminho para fora daquele fumacê. Ao longe, Jones pode ouvir os gritos de Godofredo, o biruta berrando para qualquer um que quisesse ouvir que seus olhos haviam sido arrancados por duendes de um pé só.

– Que baboseira é esta?! – urrou a Profª Knossos ao chegar ao saguão. – Quem foi o espertinho que resolveu pregar essa... Ah, meu Deus! Ratos!

Definitivamente, alguma coisa pequena corria por entre os cantos do saguão e esbarrava nos pés das vítimas do ataque de Eduardo, mas não eram ratos. Os Detonadores-Chamariz lançados por Vince Glover corriam por todos os lados lançando mais baforadas de fumaça no ar. Dessa vez elas tinham uma tonalidade esverdeada, como se elas fossem feitas de produtos tóxicos muito suspeitos.

– Jones, é você? – perguntou Vince alto ao esbarrar em um jovem aparentemente mais novo e mais magro que ele. A confusão era tamanha que mal se dava para ouvir seus pensamentos.

– Sou! Vamos dar o fora daqui! Por acaso você já aprendeu a como aparatar? – o terceiranista agarrou o ombro do sextanista corpulento que abria caminho por entre alunos e fumaça. Assim, conseguiram sair daquele emaranhado de desordem.

– Espere só um minuto – advertiu Jones suando. Ele retirou mais uma vez o Mini Voldy Mofado e escreveu em seu sapato.

Fase dois completa. Saguão das tapeçarias às cegas!

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Laura Fawcett e Brenda Warton receberam a mensagem de Jones e de Vince pouco depois de terem esvaziado o cofre protegido pela pintura dos videntes que jogavam Arranques e Brocas. Eles eram bem relapsos, embora há muitos anos mal conseguissem desgrudar os olhos da bola de cristal que acendia e apagava. Mas depois que dois alunos da Grifinória decidiram jogar o jogo das brocas próximo ao retrato, os videntes nunca mais foram os mesmos. O mais difícil fora chamar a atenção dos videntes entretidos em arremessar a bola de cristal de um lado para o outro lançando um emaranhado de feitiços, mas quando Laura gritou bem alto que iria encharcar a pintura a óleo, os videntes se aquietaram.

–... Agora Jones e Vince já terminaram no saguão – informou Brenda consultando seu bonequinho cinza. – A essa altura, Alvo, Rosa e Malfoy já devem estar se aproximando da sala de Defesa contra as Artes das Trevas. Ah, não. Lá vem um bando de sonserinas. Devemos nos esconder?

– Não precisa, já está tudo pronto! – falou Laura sacando a varinha. Brenda a acompanhou. – E será um deleite ter sonserinas como nossas primeiras vítimas. Ao meu sinal, certo? Um... Dois... Três!

– Incendio! – berraram as duas garotas em uníssono. Houve um enorme estrondo. Dos pavios dos Foguetes Dispersores de

Atenção, que Laura colocara nos corrimões das escadas que se moviam do segundo para o quarto andar, uma enxurrada de fogos de artifício de diferentes cores disparou para todas as direções. Enormes criaturas coloridas e fumegantes se formavam com a união dos fragmentos dos fogos. Um dragão estilo sueco, um basilisco com olhos verdes e uma língua inquieta, uma fênix cor de rosa e um enxame de diabretes multicoloridos e explosivos saltaram por entre as escadas lançando mais feixes de luzes. Laura comandou o enxame de diabretes para avançarem contra o grupo de sonserinas. As garotas começaram a gritar quando os foguinhos começaram a estourar em seus cabelos e a fumegarem suas vestes.

– Ei! Saída proibida por ai, Miller! – gritou Laura apontando o Telescópio Esmurrador para o rosto de uma garota sonserina que era duas vezes seu tamanho. Quando Laura disparou o gatilho uma luva de boxe brotou do telescópio como uma flor em solo fértil e em menos de dez segundos uma mancha roxa apareceu no rosto da garota chamada Miller, e ela caiu inconsciente no chão frio de mármore.

– Isso é muito legal! – gritou Brenda comandando a fênix cor-de-rosa. – Vou fazer um pedido de duas caixas para os Weasley! – remexendo com a varinha ela forçou a fênix a soltar um forte piado, o que se transformou em uma explosão de estalos e luzes.

– Vou abrir a outra caixa – falou Laura largando o dragão e correndo em direção a uma caixa azulada com um adesivo escrito com letras avermelhadas: “Cuidado, estes explosivos podem fazer vocês ficarem muito chocados!”.

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– Seus vermezinhos asquerosos! – grunhiu o Mini Voldy novamente. Fred e Ethan já haviam começado a lançar os produtos Weasley no Salão Principal.

Do térreo, um emaranhado de alunos começou a correr em direção as escadas. Quando viram que essas também estavam tomadas por fogos, eles se amontoaram em um canto. Alguns aplaudiam, riam e incentivavam o vandalismo proporcionado pelos Malignos. Outros se encolhiam em grupinhos choramingando alto. Melissa Goyle não perdeu tempo para pregar maldições nos arruaceiros, mas depois ficou encolhida em um canto após quase ter sido vítima do ataque de outro murro do Telescópio Esmurrador, desta vez lançado por Brenda, seu grande desafeto.

– Filch, o que você tem a dizer sobre isso? – berrou a Profª Crouch correndo para fora do Salão Principal junto de McGonagall, Longbottom e Flitwick, que segurava Horácio pela manga das vestes. A varinha em punho. – Quem está orquestrando essa baderna?!

– São eles, diretora! Aqueles moleques que venho falando para a senhora desde que começou o ano – gritou Filch rispidamente. Os pulmões velhos pareciam não acompanhar o ritmo acelerado do zelador. – Eu te mostrei a Capa da Invisibilidade que confisquei da garota semana passada!

– Avante, Ethan! Estou de botando para trás! – Fred passou por cima dos professores a toda velocidade. Montados em suas vassouras, ele e Ethan soltavam pequenas bombas que, ao explodir, soltavam várias fitinhas prateadas e flores de suspiro que serpenteavam pelo ar, e escorregavam para o colo dos alunos e professores.

– Weasley! Humberstone! – urrou Crouch apontando a varinha para os dois, mas sem conseguir neutralizá-los. – Parem com esse rebuliço agora! Vocês extrapolaram dessa vez! Estão encrencados!

– Desculpe-me, diretora. Mas teremos de continuar! – respondeu Fred com um sorriso sarcástico no roso. – Laura, já pode soltar!

A corvinalina desarrumou a caixa e deixou um grande cone listrado a mostra. Depois ela apontou a varinha para este que se abriu bruscamente. Um raio verde de luz emergiu do cone, clareando toda a extensão das escadas. Pinturas e retratos soltavam exclamações temerosas conforme as luzes foram tomando forma e consistência. Um suspiro coletivo soou de todos os presentes naquele espetáculo de fogos. Os dragões, basiliscos, diabretes e fênix haviam sidos apagados. Somente a forma de luz verde pairava no ar.

– Isso vai além do que eu imaginava – sussurrou a Profª Crouch boquiaberta.

– Esses garotos não sabem mais quais são seus limites – completou McGonagall endireitando os óculos quadrados.

– Isso é... Isso é... – gaguejou Neville, o rosto sujo de fuligem.

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A Marca Negra pairava no ar. O crânio esverdeado flutuava incandescente enquanto as escadas mudavam de lugar como se nada estivesse acontecendo. Fred e Ethan rodopiavam o crânio espectral olhando com desdém. Ethan lançou um beijo para Laura, que retribuiu com um sorriso tímido. A cobra no lugar da língua do crânio deslizou para fora da boca colossal. Quando estava próxima aos alunos e professores houve um novo estalo. O crânio mordeu a cobra o que provocou um grunhido similar a um riso gozador e uma nuvem de fumaça tomou o lugar da Marca Negra, um estranho cheiro de gengibre vestiu o ar.

A névoa se dissipou e novos fogos de artifício encheram os olhos de todos. Eles se agruparam e formaram um letreiro:

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nº45– Droga, Teddy! – reclamou Fred cruzando os braços! – Propaganda de

graça.– Malditos Weasley – grunhiu Filch mancando para mais perto a

exibição.– Bom, acho que terminamos por aqui! – gritou Ethan revirando os

olhos. – Brenda, você já pode mandar a mensagem.Professores e alunos encurralados. Fase três terminada. Agora é com

vocês, garotos!

Era estranho andar pelos corredores do terceiro andar quando esses estavam vazios, sem nenhum ruído ou murmuro. Aonde sempre se via alunos e alunas de todas as idades, tamanhos e gostos, andando de um lado para o outro conversando, praticando feitiços ou namorando agora se via uma área vazia e sem vida, que ampliava os passos de Alvo, Escórpio e Rosa fazendo-os ecoar para todos os cantos. Distantes estampidos, explosões e exclamações podiam ser ouvidas pelos três primeiranistas que corriam pelos cantos com a guarda alta. Os fogos e brincadeiras que os Malignos realizavam nas escadarias envolviam a mente de Alvo, fazendo-o querer estar presenciando aquele momento cômico, o que às vezes o fazia perder a concentração de seu foco principal: a sala do Prof Silvano.

Aquela calmaria fazia Alvo pensar se fora assim também durante o primeiro ano de seu pai em Hogwarts. Na época em que o terceiro andar era proibido aos alunos e onde um enorme cão de três cabeças, treinado por Hagrid e nomeado de Fofo, guardava a passagem que levava as câmaras que protegiam a Pedra Filosofal. Alvo não tinha muita certeza se

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gostava de todo aquele silêncio, mas de uma coisa ele estava certo. O plano de Rosa estava funcionando.

Muito próximos de seu destino final, o incômodo silêncio que possuíra o terceiro andar fora cortado por um insulto nada agradável vindo do Mini Voldy Mofado guardado nas vestes de Alvo. O crânio do boneco começara a arder, tentando chamar a atenção de Alvo. A pequena Marca Negra se agitava, conforme as palavras iam aparecendo nos sapatos do pequeno Voldemort, mas Alvo não se importara. Sabia que a mensagem era de seu irmão, e sabia sobre quem ele alertava, mas já era tarde demais...

– Como vão, Potter, Weasley e Malfoy? – perguntou debochado Eugênio Finnigan cruzando os braços e lançando a Alvo, Escórpio e Rosa um sorriso furtivo. – Meio cedo para estarem por estas bandas, não acham? Eu diria que é tudo muito suspeito.

– E o que você e seu grupo de imbecis estão fazendo aqui, Finnigan? – retorquiu Alvo emburrando a cara. Os nós de seus dedos contraíram-se com mais força ao redor do cabo de sua varinha.

– Você e seus amiguinhos deveriam prestar mais atenção onde estão falando e o que estão falando, Potter-Áspide – falou Henry Thomas rispidamente. – Na próxima vez que estiverem tramando invadir a sala de um professor, tentem não falar de modo que qualquer um possa ouvir.

– Está falando demais, Henry! – protestou Euan Coote encarando o amigo com severidade.

– O que vocês sabem? – quis saber Escórpio, que também cerrava o punho contra a varinha.

– O bastante para revelarmos tudo para que a diretora Crouch possa redigir uma carta com suas respectivas expulsões – Finnigan não pode deixar de escapar uma risada maldosa, que logo fora seguida por Henry e Euan. Cameron permanecia em absoluto silêncio. – Vocês realmente acharam que poderiam sair por ai brincando de heróis? Weasley e Malfoy realmente foram burros o suficiente para acreditar nas baboseiras que Potter-Áspide falou? Que Malfoy era idiota o suficiente para isso eu não duvidava, mas você Weasley!

– Potter-Áspide corrompeu você, Rosa – falou Euan menos desregrado. – Levou-a a crer e a pensar como uma sonserina. Manipulou sua mente para que acreditasse que o Prof Silvano é um assassino louco e psicótico.

– Ninguém revirou minha mente para que eu pensasse dessa forma – respondeu Rosa integra. – E se me derem licença temos um assunto a tratar.

– Vocês não vão a lugar nenhum! – berrou Finnigan irado. – Vamos neutralizar vocês e levarmos para a diretora! Agora: Henry, Euan, Cameron! Expelliarmus!

Os quatro grifinórios dispararam uma saraivada de Feitiços de Desarmamento contra Alvo, Escórpio e Rosa. Os três, por outro lado, se mantiveram a projetar um Feitiço Escudo para se protegerem.

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– Finnigan esqueceu que nós somos os melhores em Feitiços e DCAT? – disse Escórpio desfazendo o feitiço Protego. Ele mirou a varinha contra Euan Coote – Furnunculus!

Euan foi atingido pela azaração de Escórpio bem no meio da cara. Quando a azaração se chocou com sua face, Coote foi arremessado para trás e caiu com um baque surdo no chão, inconsciente. Ao se virara para ver o amigo, Cameron Creevey percebeu que o rosto de Euan estava infestado de enormes furúnculos inflamados cheios de pus.

– Glisseo – disse Rosa apontando para o degrau que Cameron pisava. O mármore áspero e irregular se tornou liso e escorregadio. Mal Cameron girou nos tornozelos e escorregou, também caindo no chão - Locomotor Mortis.

As pernas de Cameron se uniram como se fossem uma, e não se soltaram mais, parecendo que Rosa havia grudado uma na outra com uma cola super potente.

Alvo duelava com Henry e Eugênio ao mesmo tempo. Thomas parecia estar fazendo um sacrifício enorme para se manter no duelo. Seus feitiços pareciam estar perdendo a força a cada palavra que ele falava, e os feitiços lançados por Alvo causavam-lhe maiores danos agora do que durante o início do duelo. “Estupefaça” berrou Alvo. Uma rajada de luz vermelha irrompeu de sua varinha acertando o estômago de Henry com força, fazendo com que ele também caísse desacordado no chão.

– Maldito, Potter! – rangeu Eugênio ao ver seus companheiros abatidos. Ele e Alvo continuavam o duelo, sem nenhuma intervenção de Rosa ou Escórpio, que assistiam boquiabertos.

Eugênio melhorara bastante com seus feitiços e azarações, parecia ter praticado bastante com os bonecos-alvo da velha academia de ginástica de Hogwarts, como aconselhara o Prof Silvano. Diferente de Henry, Finnigan mantinha seus feitiços no mesmo parâmetro, o que dificultava cada vez mais as defesas de Alvo.

Aquele duelo já estava o cansando, e poderia por tudo a perder. Se ele demorasse mais tempo, Silvano voltaria da sala dos professores e toda a exposição dele e dos Malignos teria sido em vão. Alvo enrubesceu. Não deixaria que um bobão como Finnigan e sua turma pudessem acabar com seus planos. Mas ele precisava acabar logo com Eugênio, mas como fazê-lo. Uma leva de feitiços e maldições passara pela mente de Alvo. Ele poderia rasgar Eugênio ao meio com o feitiço Sectumsempra, mas o uso desse se tornara ilegal; desde suas aplicações malévolas durante a Segunda Grande Guerra. Alvo também poderia usar a Maldição Cruciatus... Não, não poderia fazer aquilo com um colega de escola, ainda mais na frente de Rosa e Escórpio.

– Desaugeo – gritou Alvo. Outro feixe de luz jorrou de sua varinha. Dessa vez o feitiço assumira uma coloração amarelada, como suco de abacaxi. O jorro disparou em alta velocidade e acertou Eugênio bem no nariz.

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Um uivo de dor tomou o terceiro andar. Eugênio se mantivera consciente e em pé, mas com os olhos fechados e as mãos comprimidas contra a boca. Quando Finnigan abaixou os braços, os três amigos puderam ver a eficiência do feitiço de Alvo. Os dentes de Eugênio ficaram mais graúdos, desiguais e maiores do que de costume. Finnigan não dispunha do sorriso mais encantador de Hogwarts, mas sob o efeito do feitiço de Alvo, seus dentes foram aumentando de tamanho consideravelmente, chegando a cortar seus lábios e tocar seu queixo.

– Estupefaça! – um terceiro feixe de luz brotou na varinha de Alvo a acertou novamente Eugênio, dessa vez colocando-o fora de combate.

– O que fazemos agora? – perguntou Rosa, apreensiva. Seus olhos moviam-se de Alvo para Escórpio, e vice versa.

– Vamos continuar – disse Escórpio com veemência, mostrando não ter nenhuma piedade dos colegas grifinórios.

– Rosa, eu acho melhor desfazer o feitiço de Eugênio. Escórpio, tome uns desses e me ajude a fazer com que eles os engulam – Alvo meteu a mão no bolso lateral de suas vestes e retirou um saquinho marrom enrolado com um barbante. Ele desamarrou o barbante e pegou quatro doces no formato de caramelos; estendeu a mão e entregou dois a Escórpio.

– E o que são? – perguntou o grifinório hesitando e se ajoelhando próximo a Cameron e Euan.

– Caramelos Incha-Língua – riu Alvo colocando um caramelo na boca de Henry. – Fred me deu o saquinho antes de nos separarmos. Garantirá que Finnigan e sua turma se mantenham de boca fechada por algum tempo.

– Brilhante.– Bom, aqui estamos, rapazes – disse Rosa alguns minutos mais tarde,

após terem escondido Eugênio, Cameron, Henry e Euan em um armário de vassouras. Os três estavam diante da porta que dava para a classe de Defesa Contra as Artes das Trevas. Rosa balançava a varinha por entre os dedos com os olhos fixos na porta de amendoeira envelhecida. – Acho que um simples feitiço deve bastar... Alohomora! – Rosa apontou sua varinha para a fechadura da porta que se abriu e os três primeiranistas saltaram para dentro da classe. – Colloportus – gritou a garota girando nos tornozelos, e a porta se fechou.

– Você já consegue efetuar o Feitiço do Fechamento com sucesso! – aclamou Alvo um tanto surpreso, mas com certa inveja.

– Será um dos feitiços exigidos pelo Prof Flitwick nos Exames Finais, Al. Ele já disse isso mais de dez vezes – Rosa revirou os olhos, encaminhando-se para as escadas que levavam para a sala particular elevada do Prof Silvano. – Você também poderia fazê-lo se não ficasse apenas treinando azarações e feitiços de combate baixinho com Escórpio. Se bem que você se mostrou muito hábil durante seu duelo com Finnigan. E executou o Feitiço dos Dentes Graúdos com precisão.

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– Ei! Não está se esquecendo de nada? – Escórpio parecia muito ofendido.

– Desculpe – disse Rosa baixinho utilizando o mesmo feitiço de antes para abrir a porta da sala particular de Silvano. – Você também foi muito bom com a Azaração de Furúnculos.

A sala particular do Prof Silvano era decorada exatamente como sua sala de aulas, somente com um detalhe de diferença. As paredes eram recobertas por estantes e mais estantes entulhadas de livros de diferentes cores, tamanhos e idades. Alvo pode supor que nenhum daqueles livros possuiria menos de seiscentas páginas. Além das estantes apinhadas de livros encontravam-se na sala vários objetos de proteção de um auror. O que mostrava que, mesmo tendo se demitido do cargo no Quartel General, Mylor Silvano continuava bastante píssico com a qualidade de sua segurança. Além de bisbilhoscópios e um Espelho de Inimigos (Alvo não conseguiu ver com clareza os rostos que se formavam no vidro) havia um par idêntico da cabeça de gnomo empalhada exposta no salão de baixo.

– Ele deve ter muito tempo livre para ler isso tudo – murmurou Escórpio boquiaberto apontando para as estantes.

– O que me lembra... – Alvo remexeu nas vestes e retirou seu Mini Voldy Mofado. – Escórpio... – Alvo arremessou o boneco para o amigo – escreva uma mensagem para Tiago e Agamenon. Diga que já cuidamos de Finnigan e dois outros e que estamos bem.

– Por que você não o faz, Potter? – mas ao notar o olhar de censura de Rosa, Escórpio pegou uma caneta esferográfica e rabiscou no sapato do boneco. – Só digo que, se estamos aqui, seu irmãozinho já deveria deduzir que já nos livramos de Finnigan, mas...

– Só escreva! – retorquiu Rosa inquieta. – Não creio que isto vá bastar, porém não custa tentar, eh... Accio Diário de Ambratorix.

Nada aconteceu.– Pois bem, Rosa – disse Alvo tanto decepcionado. – Teremos de fazer a

moda antiga mesmo. Sem mágicas.– Salafrário! Desgraçado! – rugiu o Mini Voldy Mofado. Alvo e Rosa

deram um salto e arregalaram os olhos, temendo que fosse um sinal de alerta de Tiago e Agamenon.

– Acalmem-se – disse Escórpio, os olhos deslizando pelas palavras gravadas nos sapatos da miniatura de Voldemort. – Silvano esta no sétimo andar. A barra está limpa.

– Isso nos dá mais uns minutos – falou Alvo aliviado.Os três primeiranistas desandaram a remexer as longas estantes de

madeira bem lustrada do Prof Silvano, que mais fazia sua sala parecer uma biblioteca particular. Seus livros eram bastante heterogêneos. Em sua grande maioria eram velhos e cobertos por uma grande quantidade de poeira, que transformava grandes nomes bordados com letras bem lustradas em partes de um relevo torto e inexplicável. Um dos piores

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livros que Silvano possuía era um exemplar muito mal cuidado de um guia de como atordoar trasgos montanheses e gigantes retardados. Alvo não pode ler o título do livro, mas esse estava em péssimas condições. Suas folhas eram agrupadas apenas por um frágil barbante que o impedia de se espalhar por toda a sala.

– Rosa, você é uma garota... – começou Escórpio encabulado, abrindo as gavetas da mesa do professor.

– Que bom que notou, Escórpio – respondeu Rosa, olhando para Escórpio por cima do ombro com uma expressão de incredulidade. Suas orelhas estavam vermelhas fumegantes. – O que foi que me denunciou? Minha maquiagem, meu cabelo, ou o fato de eu dormir no dormitório das garotas?

– Não foi isso que quis dizer – defendeu-se rapidamente encolhendo os ombros. – Sabe... Eu sei que você é uma garota. Não sou tão cego. O que quero dizer é que, como garota você deve ter um diário para escrever sobre suas coisas de garota... Na verdade eu... Bem, nós estamos procurando um diário então... Como ele deveria parecer.

Rosa, mais aliviada, prosseguiu:– Bom, como é um diário, não deve ser o primeiro livro à sua frente. Ele

deve estar escondido, e muito bem seguro. Por isso não funcionou o Feitiço Convocatório.

Alvo largou a estante em que procurava e voltou-se para a mesa retangular onde estavam expostos o Espelho de Inimigos e a cabeça empalhada de gnomo. Ao se aproximar do espelho, uma face turva apareceu no vidro. Era cabeluda de queixo quadrado e expressão arrepiante. Alvo o encarou por alguns instantes, mas depois se voltou para as gavetas.

Além de apaixonado por leitura, o Prof Silvano também era muito desorganizado. Pilhas de papeis de diferentes espessuras e tamanhos estavam empilhados desordenadamente sobre as divisórias da gaveta. Listas de presença, diários de notas, lista de material didático, relação com os nomes dos alunos espalhados por todos os compartimentos e cantos. Uns menos amassados que outros. Mesmo tendo uma grande quantidade de papéis para fuçar, Alvo encarou o desafio e começou a retirar os papeis da gaveta, elevando cada superfície, remexendo cada centímetro, talvez mais ao fundo...

– Achei! – gritou agarrando um livro de capa bordô bastante gasto, com vários arranhões e poros, além de uma camada de poeira que sujara toda a mão de Alvo. Em um canto, bordado em letras prateadas havia um nome bordado “A. C. Ambratorix”. Alvo retirou o pesado diário de Ambratorix da gaveta e o arremessou contra a mesa central do professor, fazendo Escórpio saltar bruscamente e bater com o cocuruto na quina da mesma. O diário era bem mais pesado do que aparentava, levantá-lo era quase como colocar Lílian no colo quando a garota tinha seis anos.

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Os três largaram seus postos e se depositaram ao redor do diário. Admirando-o como um objeto de inestimável valor, e que sinalizava que a missão fora bem sucedida.

– É meio pequeno – comentou Escórpio.– Feitiço Indetectável de Ocultação – sibilou Rosa sacando a varinha e a

apontando para o livro velho e gasto. – É semelhante ao Feitiço Indetectável de Extensão. Não adianta o quanto você folheie, vai parecer que nunca chega à última página. Muito engenhoso. Mas está bastante empoeirado. Tergeo – e a varinha de Rosa sugou a poeira contida no livro como um aspirador de pó.

– Ótimo, conseguimos o diário. Agora é melhor darmos no pé antes que nos encontremos com mais alguma surpresa – falou Alvo saltando para mais perto do diário. Ele queria estar em segurança na posse do livro. Folheá-lo para desvendar as invenções de Ambratorix, e para isso deveria deixar a sala do Prof Silvano, ainda vivo.

– Não podemos ir ainda – chiou Rosa avançando contra o livro. – Seria bastante suspeito o Prof Silvano chegar aqui e não achar o diário. Vou usar o feitiço Geminio para fazer uma falsa cópia. Não é uma maravilha, mas deve funcionar como distração por alguém tempo. O Prof Silvano parece não o utilizar por bastante tempo... Agora, Escórpio, mande uma mensagem para Tiago. Pergunte sobre a localização do Prof Silvano e diga que já estamos saindo daqui. Não devo demorar com o feitiço, mas devemos ir rápido antes que seja...

–... tarde demais – falou pausadamente uma voz masculina e grave às costas de Alvo, Escórpio e Rosa, fazendo com que os cabelos de suas respectivas nucas se eriçassem. Encarando os três sob a porta escancarada, com a varinha em punho estava o Prof Silvano, visivelmente aborrecido. – Acho que peguei vocês no flagra.

Capítulo DezesseisSegredos Descobertos

omo era possível que Silvano tivesse chegado à sala de Defesa contra as Artes das Trevas tão rapidamente, e sem ser descoberto pelo Mapa do Maroto? Primeiramente Alvo pensou

que o professor havia aparatado da sala dos professores para sua particular, mas depois se lembrou dos longos momentos em que a tia Hermione perdia explicando em vão para seu pai e para o tio Rony que estava bem claro em Hogwarts, uma história que era impossível para um bruxo ou bruxa aparatar dentro dos limites da escola. Mas tudo aquilo não importava. O que realmente importava era que Silvano estava ali, parado bem em sua frente, empunhando sua varinha em afronta, vendo que os três estavam na posse do secreto e revelador diário de Ambratorix, que continha todas as informações sobre seus inventos. Alvo

C

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tentou escorrer a mão para dentro de suas vestes, mais precisamente, para o bolso onde carregava a varinha de teixo com fibra de coração de dragão. Por que ele não poderia fazê-lo? Seu pai e seu tio já haviam enfrentado um professor antes. No segundo ano, Harry e Rony ameaçaram o, até então, Prof Lockhart para que ele não fugisse da escola e os ajudasse a libertar sua mãe da Câmara Secreta de Slytherin. Naquela época os dois garotos possuíam doze anos, não muito mais velhos que Alvo, que completaria doze anos em mais ou menos dois meses. Mas antes que sua mão escorregasse para dentro das vestes, Silvano agitou a varinha ameaçadoramente, mas sem lançar qualquer feitiço. Embora tenha sido suficiente para Rosa soltar um gritinho.

– Como você chegou aqui sem ser localizado...–... pelo Mapa do Maroto? – completou Silvano abrindo um sorriso

sarcástico. – Francamente, Potter, acha mesmo que somente seus planos funcionam? Eu sei quando estou sendo observado, já fui um auror. Os fogos de artifício lançados por Weasley e Humberstone chamaram minha atenção. E também instalei Feitiços Anti-Arrombamentos em minha estante e um Feitiço Sensor de Atividade Furtiva ao redor das duas portas, os quais dispararam. Então para não despertar a curiosidade se suas sentinelas e, também, para despistá-los, eu fui ao sétimo andar, mais precisamente nos arredores da Sala Precisa. Sabe, Potter, o mapa de seu avô não mostra aquela área. Fui ao sétimo andar e pensei como precisava de uma passagem para poder chegar à minha sala sem ser seguido. Então a sala se transformou em uma passagem secreta que me levou exatamente para a porta de entrada – ele indicou onde estava. – Acredito que seja meio tarde para sua sentinela mandar um comunicado.

– A Sala Precisa? – murmurou Rosa, como uma pergunta.– Sim, Srtª Weasley... Como você deve saber, a Sala Precisa foi

barbaramente destruída durante a Batalha de Hogwarts por um dos mais débeis alunos que esta escola já abrigou. Depois da batalha era fora obstada, não funcionava mais devido a sua queima total. Mas, como sempre imaginei, aquela sala é a mais preciosa e fantástica de todo o castelo. A Sala Precisa é como o coração de Hogwarts, ela demonstra os poderes da escola, como se fosse o representante de seus sentimentos aos alunos. Muitas vezes ela se bloqueia automaticamente, mas sempre sabe o que é o correto. Conforme Hogwarts fora se reconstruindo, a Sala Precisa também fora. Sozinha, ou como muitos pensam, com o auxilio da magia do castelo de Hogwarts. Quando o castelo fora reinaugurado, lá estava ela, prontinha novamente. E como dizia um grande mestre, “Hogwarts sempre ajudará aqueles que dela recorrerem”, mas por intermédio da Sala Precisa.

– Como você sabe tanto sobre o mapa? – quis saber Alvo angustiado.– Durante meio mês fui membro da Armada de Dumbledore, Potter.

Uma organização de alunos comandada por seu ilustríssimo pai – respondeu Silvano com tranqüilidade. – Colin Creevey ficou me

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atormentando o primeiro semestre inteiro para que nos inscrevêssemos para o clube. Eles foram ao pub Cabeça de Javali do velho Aberforth Dumbledore, o Colin e o Dênis. Depois do Natal, Colin voltou a falar das reuniões da Armada, e eu acabei aceitando, pois estava indo muito mal nas aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas. O que me leva ao mapa. Vi milhares de vezes seu pai espionando os outros Hogwartianos com o auxilio do Mapa do Maroto, sei como ele funciona e conheço suas limitações. Sabia que a Sala Precisa não era detectada. Daí, fora muito fácil.

– Engenhoso – admitiu Escórpio com um sopro.– E o que pretende fazer conosco agora? – continuou Alvo. – Nos matar?– Se eu os matasse estaria jogando anos de perigo e planos

astutamente orquestrados no lixo – Rosa soltou um pigarro, que Alvo entendeu como “Eu disse”. – Vocês são de vital importância para o bom funcionamento de meus conceitos. Realmente, devo admitir que chegaram muito mais longe do que eu imaginava. Somente com os poucos dados que revelei.

– O que quer dizer com isso? – Quero dizer, Potter, que desde a noite do Dia das Bruxas, quando

você invadiu minha sala, eu sabia que os três também estavam procurando pistas sobre Albrieco. Ora, não me velha com esta cara de elfo sem dono, Potter! – Silvano riu ao ver a expressão abalada de Alvo. – Você realmente acreditou que descobriu tudo com sua própria inteligência? Nenhum momento lhe ocorreu que a porta de minha sala estaria aberta propositalmente e impregnada de feitiços de segurança?

– Você armou tudo? – Alvo não conseguia esconder sua revolta. Não sabia se demonstrava raiva do professor ou curiosidade em descobrir como o mestre arquitetara tudo para que ele caísse em sua armadilha como um peixe perdido de seu cardume.

– Na tarde do Dia das Bruxas, após você e Malfoy terminarem suas Azarações de Impedimento, eu aproveitei sua momentânea distração para retirar sua varinha de sua mochila. Epibalsa, ou seja, quem quer fosse, já havia armado um encontro comigo para discutir se poderia ou não se engajar junto a mim para procurar mais pistas sobre Ambratorix. Então bastou que você deixasse o Salão Principal para eu começar a enrolar o falso Epibalsa até sua chegada – Silvano fez uma pausa, onde soltou um pesado suspiro. Depois levou a mão à cabeça, como se estivesse latejando bastante. – Fui muito displicente com relação ao McNaught... Mas ele tinha o emblema. Achei que fosse um dos nossos.

– Um dos nossos? – indagou Rosa arregalando as sobrancelhas.Silvano pareceu não a escutar. Enfiou a mão no bolso lateral das vestes

e retirou um broche revestido com ouro, esculpido com três varinhas de diferentes tamanhos em forma de “A”. Sobre a terceira, e menor varinha, a única em horizontal, repousava um Olho de Tigre meio avermelhado.

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– É a identificação dos seguidores de Ambratorix – disse ele tateando o broche. – É o símbolo dos Caçadores.

– Caçadores? – repetiu Escórpio sem entender.– A última informação que eu confiaria à Potter seria do pseudônimo

mais famoso de Ambratorix – Silvano revirou os olhos, até repousar sobre o diário. – Foi muito engenhoso de sua parte, Potter, perguntar sobre O Conto do Bruxo Linguarudo para Julieta. Mas, antes de Epibalsa notar sua presença, eu pretendia revelar o nome mais famoso que Ambratorix criara. Ele praticamente extinguira o nome, e passara a se chamar apenas d’ O Caçador de Destinos. Daí, seus seguidores e apoiadores se tornaram os Caçadores – Rosa soltou uma exclamação, abafada apenas por suas mãos que rapidamente cobriram a boca. – Você já sabe, não é Weasley?

– É assim que Maximino Ignilion rotula o aprendiz de Ravenclaw, e arquiteto chefe do castelo de Hogwarts.

– Ambratorix não fora aprendiz de Ravenclaw, embora essa lenda tenha se espalhado com grande velocidade. Mas sim. Ele construiu o castelo junto à Ravenclaw, e não como seu aprendiz.

– Mas como sabia que era eu naquela noite? – prosseguiu Alvo tentando não pensar muito no que acabara de ouvir. – Como sabia que não era outro aluno que entrara em sua sala?

– Primeiro porque nenhum outro aluno teria motivo para invadir a sala – respondeu o professor em tom de deboche. – Segundo, porque eu o vi. Potter, você sabe o que é aquilo?

Silvano apontava com a varinha para a cabeça empalhada de gnomo, repousada sobre a estante junto com o Espelho de Inimigos.

– Isto, Potter, é um Olheiro, também idéia de seu pai – completou presunçosamente. – No início, a idéia era de nós, os aurores, nos comunicarmos um com o outro, como com um Espelho de Dois Sentidos. Mas alguns de nós, aurores, precisávamos de um objeto para espionar os outros, sem que chamasse muita atenção. Fora Longbottom que sugeriu que todos tomassem a forma de simples objetos de decoração. Depois, o auror Sagremor conseguiu aperfeiçoar os espelhos para que eles funcionassem como nós desejávamos. Os Olheiros funcionam com um par. Um posicionado para o local onde queremos espiar, e o outro em nosso alcance, para podermos ver o que acontece. Quando vi que você estava em minha sala, estuporei Epibalsa para que ele não o visse, mas também tive meus motivos, acabara de ser insultado. Essa cabeça de gnomo era de grande importância para meu falecido avô. Fora o primeiro duende que ele acertara com uma Azaração Ferreteante, quando nossa fazenda fora atingida por uma infestação. Quando ele ficou muito velho e morreu, vovô empalhou sua cabeça e a depositou como troféu.

– Que coisa horrível – disse Rosa, como se planejasse criar uma subdivisão da FALE, para proteger os gnomos, rotulada GAGO, “Grupo de Apoio a Gnomos Obstinados”.

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– Mas por que seu interesse em mim? – bradou Alvo esvaziando os pulmões. – Primeiro rouba minha varinha para depois me espionar, ai começa a revelar para mim informações sobre seus planos maquiavélicos e narra à história de um artesão medieval amalucado e sobre uma história infantil. E sabe lá Deus como você descobriu que pedi as informações sobre o conto à Profª Revalvier!

– Depois de tudo, você deixou escapar as informações mais valiosas ditas por mim e por Julieta! – disse Silvano visivelmente desgostoso. – Foi-lhe dito, Potter, que o Caçador de Destinos costumava... Como posso dizer isso para jovens de onze anos? Costumava se assanhar para mulheres das vilas que freqüentava. E foi dito por mim que Ambratorix era parente dos irmãos Peverell. Engravidou a mãe de Antíoco, Cadmo e Ignoto! Vamos lá, Potter, você não é tão burro assim!

– Caramba, Al! – exclamou Rosa nervosa.– Verdade, Potter, até eu já sei do que ele está falando! – chiou

Escórpio.Alvo também já sabia, mas sua ficha não queria cair. A informação que

ele não conseguia se lembrar no dia em que a Profª Revalvier contara o conto sobre Ambratorix agora atormentava seu cérebro como nunca. Seu coração disparara e quase chegara à faringe de tanto pulsar. Não podia ser verdade! Alvo não queria que fosse verdade!

– Sim, Potter, – murmurou Silvano percebendo que Alvo assimilara suas informações – somente você poderá abrir o Olho entre os Mundos, porque você, Alvo Potter, é o bruxo de coração puro das lendas. Você é o último a ingressar no mundo bruxo. Você é o último herdeiro de Ambratorix. E aproveite em quanto pode – o professor riu. – Ano passado esse título pertencia ao seu irmão Tiago, e em um ano pertencerá a sua irmã Lílian. Fevereiro, o aniversário dela, não?

Alvo assentiu temeroso.– Por isso você não quer me matar – falou ele automaticamente. –

Porque eu sou aquele que pode destrancar a arma de Ambratorix para seu uso...

– Acredite, Potter. Eu tenho as resoluções para todos os problemas do mundo bruxo. Os aurores não são tão intimidadores e numerosos quando há anos atrás. É uma profissão de riscos, e muitos jovens estão percebendo isso. Nossos esforços são grandes, e aumentam a cada dia, mas...

– NÃO DIGA NOSSOS ESFORÇOS! – berrou Alvo irritado. Suas orelhas ficaram mais avermelhadas, graças a sua ligação com os Weasley. – Você não é mais um auror, mas continua falando como tal! Você é um assassino! Maluco, que quer utilizar magia negra para alcançar seus objetivos! Não vou fazer nada para você!

– Não sou assassino! – contestou Silvano furioso.– É! – respondeu Alvo por entre os dentes. – Você confessou que matou

o bruxo da Letônia!

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– Dombrovskis era um velho estúpido, com tique nervoso e problemas mentais. Nunca reparou que sua varinha estava quebrada. Quando tentou me matar pelas costas sua varinha partiu e o feitiço saiu pela culatra. Guntis se matou!

– Isso não justifica nada! – falou Alvo nada convencido.– Ótimo, Potter – Silvano avançou contra Alvo e agarrou seu braço com

excessiva força. – Vou levá-lo ao paradeiro do Olho entre os Mundos! Vocês também, Malfoy e Weasley! Sigam-me, se não quiseram sentir a raiva que guardo e os feitiços que sei lançar. Chamaram-me de assassino, e agora não merecem mais meu respeito. Rápido, para fora!

Os quatro deixaram a sala particular do Prof Silvano em passos largos e apressados. Silvano escondera a mão direita sobre a longa manga das vestes, para ocultar a varinha, empunhada contra os primeiranistas.

Com um aceno brusco, a porta da sala de Defesa Contra as Artes das Trevas se abriu, como se uma saraivada de alunos irrompessem para dentro da sala. Irritado, Silvano empurrou os três amigos para fora, olhando para os lados a procura de possíveis inconvenientes. Mas todos os alunos pareciam ainda estar sobre transe das estripulias de Fred e Pirraça não se mostrava presente.

– Mylor! Quem bom que te encontrei – falou o Prof Monomon saindo por detrás da porta escancarada. Tiago e Agamenon estavam presos pelas golas das vestes em suas mãos cuidadosas. – Surpreendi esses dois garotos tentando arrombar sua sala. Pensei que deveria levá-los direto para a diretora Crouch, mas antes acreditei que deveria ter seu consentimento. Ah, parece que você também está com alguns abacaxis nas mãos. Esses aí devem ter alguma ligação com a baderna que se encontra em nossa escola.

– Eh, eu acredito que sim, Artabano – falou Silvano preocupado. Seus olhos não desgrudavam da expressão ladina do colega. – Creio que devo levá-los para, eh, a diretora, como você disse...

– Nos desculpem – disse Agamenon tentando se desvencilhar das mãos do Prof Monomon. – Mas Silvano apareceu de repente na sala, não tínhamos o que fazer. Daí Tiago e eu corremos para ajudá-lo. Mas foi em vão.

– Já sabemos de tudo, e não os culpamos – tranqüilizou Alvo olhando a expressão aborrecida de Tiago.

– Então se vai levá-los para Crouch insisto que me deixe ir junto – insistiu Monomon. – Afinal, testemunhei a situação agressiva desses dois grifinórios o que pode reforçar a idéia de que todo esse rebuliço na escola não passa de uma distração para algo melhor planejado. Talvez outros alunos estejam invadindo as outras salas de professores. Já pensou no que pode ocorrer se certas poções de Slughorn caírem nas mãos de alunos arruaceiros como esses?

– Desculpe, Artabano. Mas persisto que eu leve-os sozinho – o suor começava a escorrer da testa de Silvano. Suas mãos ficaram geladas e a

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varinha tremia por baixo das vestes. – Obrigado por sua ajuda, mas acredito que sozinho eu possa resolver tudo – e deu as costas para o professor de Aula das Corujas.

– Impedimenta – Monomon largara Tiago e Agamenon e com um rápido puxão agarrara sua varinha e a apontara para as costas de Silvano. – Expelliarmus. Vocês dois, para dentro da sala! – ordenou para Tiago e Agamenon com uma voz sinistra. – Não tentem sári daí. E eu saberei se tentarem!

Tiago e Agamenon dispararam para dentro da sala, obedientes. – Colloportus! – foi o rangido de Monomon trancando os dois. – Agora o

assunto é com os quatro. Parece que o limite foi atingido e finalmente vocês descobriram tudo sobre o Caçador de Destinos.

– Prof Monomon, o senhor também! – choramingou Rosa, que sentia muito apresso pelo novo professor.

– Meu mestre está os esperando há muito tempo no santuário onde se esconde o Olho. Ele já está ficando impaciente de tanta demora. Por isso matou aquela peste de Malcolm Baddock – a voz de Monomon mudara. Seu habitual tom descontraído e amistoso tomara a forma de amedrontadora e cruel. – Vamos dar um pulinho perto da Torre Oeste. Gostaria de mostrar alguma coisa para vocês. Algo sobre aquele luxuoso e honroso memorial em homenagem aos mortos da Batalha de Hogwarts. Mas antes... Nisioculos.

Duas corujas de igreja cortaram os céus abrutalhadamente, mergulhando pelas janelas para dentro do castelo. Cada coruja deveria medir uns cinqüenta centímetros e possuíam coloração bem parda. As duas corujas pousaram – cada uma – em uma armadura diferente, ambas fixaram seus olhos na porta da sala do Prof Silvano.

– Que raio de feitiço é esse? – perguntou Escórpio indiscreto.– Essas corujas agora são minhas sentinelas – respondeu Monomon com

desprezo.

Alvo, Escórpio, Rosa, Silvano e Monomon subiram pesadamente até a Torre Oeste sem soltar nenhum pio. Em pouco menos de meia hora, Alvo descobriu que era o herdeiro misterioso de um artesão medieval poderosíssimo e que somente ele era capaz de libertar os poderes sombrios da criação mais curiosa e perigosa de seu ancestral. O Olho entre os Mundos assustava cada vez mais a Alvo. E estar sendo escoltado para junto do Memorial de Hogwarts que uma vez quase o matara não melhorara seu humor. Lá embaixo a zona criada por Fred e o restante dos Malignos já havia sido controlada. Alvo pode olhar de revés as professoras Crouch e McGonagall confiscando os produtos Weasley de Brenda e Laura, no mesmo momento em que Flitwick, Filch e Longbottom mantinham Fred, Ethan e Horácio presos em suas mãos. Pouco depois a Profª Knossos chegou ao patamar das escadas puxando Jones e Vince pelas orelhas. Em seguida o Prof Slughorn apareceu

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chorão, trazendo Sabrina e Ralf completamente desgostoso. Todos os Malignos haviam sido interceptados e Tiago e Agamenon estavam presos na sala de Defesa contra as Artes das Trevas sendo observados por duas corujas convocadas por Monomon. O mesmo que, por sinal, se revelara o novo subordinado do conjurador do Patrono em forma de morcego que assassinara Baddock e quase fizera o mesmo com a figura de Alvo no sonho.

– Aqui estamos – falou Monomon com um suspiro de absoluto prazer. – Meu mestre finalmente poderá alcançar suas metas. E eu, seu fiel seguidor, mostrarei ao mundo o que sou capaz de fazer.

Monomon enfrentou Silvano com os olhos. Depois soltou mais uma de suas horripilantes gargalhadas, agarrando o ombro de Alvo e o forçando a se aproximar mais do Memorial.

– Você, garoto – falou ele em uma rouquidão incomum. – Seu sangue é o que meu mestre anseia em encontrar. Você é o único que pode recapturar a Chave Matriz e abrir o Olho entre os Mundos.

– De que chave ele está falando? – perguntou Alvo encarando Silvano, que se mostrava bastante desacreditado. O professor negou com a cabeça.

– A Chave Matriz, moleque, que pode abrir o Olho e despertar todos os seres já repousados no sono profundo. Ou você achou que era apenas empurrar uma tranca? Não – os olhos sem luz de Monomon recaíram sobre a placa de bronze, onde estavam impressos os nomes dos mortos durante a batalha. – Está vendo as opalas? Retire-as!

– O senhor ficou louco?! – gritou Alvo. – Como espera que eu consiga?– Faça o que ordenei, Potter!Um forte vento gélido tomou o corredor, fazendo os vitrais e janelas

vibrarem. A cadeia de archotes e lampiões se apagou fazendo com que tudo mergulhasse em um sombrio breu. Tudo se tornou frio e escuro, as baforadas dos presentes se tornavam visíveis. Monomon ficou irritado e Alvo pode ver as pernas de Rosa e Escórpio tremerem. As suas estavam congeladas. Se ele não soubesse que estava em Hogwarts, teria certeza de que estava no Poço dos Dementadores, e que a ninhada estava bem próxima, gelando tudo ao seu redor.

– O que é aquilo? – gritou Escórpio com a voz bastante elevada. O indicador direito trêmulo apontando para a entrada do Corujal.

Uma figura prateada deslizava veloz e silenciosamente pelo chão. A cabeça abaixada, ocultando sua face medonha e espectral. Silvano agarrou os braços de Escórpio e Rosa, colocando-se à frente dos dois. Se ainda estivesse com a varinha...

– Largue o garoto agora! – ordenou a figura alarmante se movimentando pelo frio com facilidade. – Solte-o agora, Monomon!

– Nunca, fantasma desgraçado! – Colin?

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O fantasma de Colin Creevey finalmente revelou sua face abobalhada. Sua aparência estranhamente mais consistente e sólida. Sua voz ecoava com precisão, sem parecer um leve sussurro perdido em uma caverna como antigamente. O fantasma do garoto deslizou por entre Alvo e o Memorial de Hogwarts, fazendo cara feia para Monomon.

– O que você está fazendo aqui? – perguntou Alvo sem entender nada. – O que pretende fazer?

– Soube que você estava em perigo. Não podia deixar meu posto – disse Colin com vigor. – Fui designado para observá-lo pelos arredores do castelo. Eles sabiam que havia gente infiltrada em Hogwarts, mas eles não podiam indicar “quem”!

– Está falando de quem? – quis saber Alvo ainda tremendo.– Pense. Eu não posso mencionar seus nomes. Mas, você deve saber... –

sussurrou Colin sorrindo, o que não melhorou muito o momento importuno. – Eles estão te observando desde sempre. A corça na Floresta Negra. O meu chamado quando você estava desacordado junto ao Memorial. Seus nomes...

Snape e Dumbledore; pensou Alvo ligeiramente. Os retratos dos diretores haviam enviado Colin para vigiar Alvo durante todo seu primeiro ano. Desde o princípio Dumbledore e Snape desconfiavam da conspiração com relação à Ambratorix e em momento algum quiseram ajudá-lo. Deixaram que Alvo se arriscasse sozinho. Snape, nem tentara dar uma pista durante seu encontro com Alvo no escritório da Profª Crouch na noite em que Baddock fora assassinado. E Dumbledore, que Alvo mal conhecia o rosto, nunca fora capaz de dar um sinal de alerta.

– Basta, seu fantasma importuno! Não há nada que possa fazer para evitar! Você é um morto! Um nada neste mundo! – urrou Monomon, sua veia têmpora pulsava inquietantemente. – Eu mandei que retirasse as opalas! Imperio!

Alvo fora atingido com a Maldição Imperdoável sem ao menos ter tempo para tentar evitá-la. Seu corpo fora forçado a se agachar rente ao memorial como se ele fosse um fantoche de pano sem capacidade de se sustentar e, com muito custo, suas mãos começaram a se aproximar das opalas que prendiam a placa.

– Não, Alvo! – exclamou Colin agitando-se por entre Monomon, tentando fazê-lo perder o foco. – Sabe o que pode acontecer se você tocar na placa. Ela está ligada a você. Da última vez eu pude salvar sua vida, mas não garanto o mesmo sucesso agora.

– N-não – consigo – evitar! – rangeu Alvo por entre os dentes cerrados e uma expressão de quem comera algo e não gostara.

Os dedos se aproximavam da placa, das opalas. Quando finalmente Alvo tocou com o anulador sobre a primeira... nada aconteceu. Um frescor tomou seu corpo de maneira incondicional. E, curiosamente, Alvo conseguiu retirar as quatro pedras de opala que sustentavam a placa sem qualquer dificuldade. Como se essas fossem parafusos soltos.

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– Muito bem, moleque. A placa de bronze começou a brilhar. Um brilho tão intenso que chegou

a anular completamente a aparição sombria de Colin. Os archotes voltaram a se acender. Primeiro uma pequena labareda, que tremeluzia e voltava ao seu calor natural. O corpo de Alvo começou a aquecer e ele se sentia cada vez mais quente, mais forte, mais saudável e mais vivo. A placa também tremeluzia, começara a diminuir de tamanho, cada vez mais, até chegar a poder ser coberta pelos dedos de Alvo. A placa que continha os nomes dos heróis da Batalha de Hogwarts se transformara em uma jóia parecida com o broche do Prof Silvano. Possuía somente uma diferença, tinha o formato de uma chave.

– Me de! – resmungou Monomon agarrando a mão de Alvo e puxando brutalmente a Chave Matriz. Colocando-a dentro do bolso das vestes azuis riscadas de gris.

– O Memorial de Hogwarts, além de servir como homenagem aos mortos durante a guerra – começou Colin pausadamente, os olhos gravados em Alvo – também era a proteção da Chave Matriz do Olho entre os Mundos. Pouco antes do início do ano, o Prof Dumbledore me alertou de que eu deveria proteger a estátua de todas as formas possíveis. O que vocês presenciaram agora fora apenas um de meus truques. Dumbledore também disse a diretora Crouch aonde achar a placa e quais precauções deveria tomar. O Caçador de Destinos havia escondido a placa há muitos anos enquanto ainda construía a escola. Os antigos diretores possuíam um detalhado mapa com a arquitetura original da escola. Com entradas e passagens que nem mesmo o Mapa do Maroto conhece. Foi desse mapa que o Prof Dumbledore descobriu que haveria uma grande e segura sala onde ele poderia guardar a Pedra Filosofal. A placa estava guardada em uma passagem longínqua e escondida no alto de uma das torres mais misteriosas do castelo. Ninguém tem coragem de entrar e explorá-la. É uma torre oculta, escondida por um Feitiço da Invisibilidade que impossibilita sua locação. Os diretores a utilizam como despensa sendo que somente eles sabem seu verdadeiro paradeiro. Meu dever também era impedir que alguém a achasse sem querer. E ainda tinha aquele patrono morcego que você viu na Floresta Negra e em seus sonhos. Desde então, Snape e eu temos te observado, Alvo. Sabíamos que você era o objetivo principal, pois interpretamos as lendas e desvendamos o enigma. Tentamos evitar que você fosse apanhado... Eu falhei. Snape gastava muita de sua magia projetando os Patronos da corça para poder te vigiar. Mas somente isso não foi suficiente.

– Chega de histórias de arrependimento! – bradou Monomon sem achar o fio da conversa. – Vamos para a Floresta Proibida. Meu mestre nos aguarda, junto ao Olho entre os Mundos. Hoje a noite começará a Terceira Guerra Bruxa!

– Colin – ecoou a voz oca e grave do Prof Silvano.

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O fantasma de Colin flutuou para mais perto do antigo amigo. Seus olhos branco-pérola se encontraram com o de Silvano, visivelmente comovido. O fantasma limitou-se a sorrir, mostrando seus dentes também brancos.

– Você cresceu bastante, Mylor – falou Colin emotivo. – Mas, nunca deixará de ser o meu colega que veio comigo no Expresso Hogwarts, que quase começou a chorar quando eu voltei dos tempos petrificado e que, junto comigo, lutou bravamente na Batalha de Hogwarts.

Capítulo DezesseteA Jogada de Furius e a Vingança de Mylor

iferentemente de como Alvo esperava, Monomon não levou seu grupo de prisioneiros para fora do castelo. Após a confusão que resultou no arrepiante aparecimento do fantasma de Colin, da

revelação de que os dois antigos e mais famosos diretores de Hogwarts estavam o espionando e da transformação da placa de bronze do Memorial de Hogwarts na Chave Matriz que abriria o Olho entre os Mundos; Alvo esperava que o hostil professor da Aula das Corujas os levasse para a Floresta Proibida. Mas, primeiramente, Monomon encaminhou seus quatro prisioneiros para longe das escadarias, onde ainda se aglomeravam os Malignos tentando uma desculpa convincente para escaparem da expulsão de Hogwarts. Os cinco se dirigiam por entre corredores, escadas e passagens estreitas a uma parte do castelo de Hogwarts que Alvo só estivera uma vez na vida. Ficava perto do velho ginásio que uma vez o Prof Silvano recomendara aos alunos que o utilizassem para treinar o Feitiço de Desarmamento. Também era lá que numerosos vitrais novos, de recentes batalhas do mundo da magia podiam ser vistos. Alguns retratavam o Prof Dumbledore lutando contra seu antigo amigo, e muito possivelmente o primeiro bruxo a ser ressuscitado por Monomon, Gerardo Grindelwanld. Alvo também percebeu um dos vitrais com um enorme dragão cego, voando por cima do que parecia o Beco Diagonal, com três jovens a espreita em sua nuca.

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Era naquela parte remota e desabitada de Hogwarts que repousava a estátua de Sir Abraxamagos, o magricela com um lampião e um mapa que guardava uma passagem secreta que Alvo não conseguira desvendar em seu primeiro dia em Hogwarts porque fora abordado por Finnigan e seu bando.

– Em volta da estátua! – ordenou Monomon agressivo. Ele pegou a varinha de Silvano e tocou três vezes no mapa de pedra de Sir Abraxamagos. – Me Oriente.

Palavras surgiram no pedestal de pedra polida onde ficava a estátua de Sir Abraxamagos. Primeiramente, Alvo imaginou que a frase a se formar fosse “O meu fedor”, mas conforme as outras letras foram aparecendo no pedestal, ele concluiu definitivamente que não era inglês.

– Noli me sequi, auferor – disse Escórpio em voz alta, encarando Rosa, como se ela soubesse a resposta. – O que significa?

– Não me siga, estou perdido – disse o Prof Silvano tristonhamente. – É latim.

– O senhor fala latim? – suspirou Rosa impressionada.– Falo mais de setenta línguas diferentes – respondeu o professor com

um muxoxo desdém. – Eram ossos do ofício.– Calado! – rugiu Monomon por trás do ombro. Seus olhos estavam

fixos na passagem guardada por Sir Abraxamagos.O pedestal da estátua começou a se elevar, até a careca da figura tocar

no teto. Depois disso, a estátua começou a girar lentamente, como uma tranca tentando se abrir. Conforme girava, a estátua mudava de lugar, abrindo espaço para um pequeno e comprimido túnel subterrâneo, ligado a superfície por uma série de barras úmidas e escorregadias cobertas de limo.

– Vão à frente! – ordenou Monomon agitando a varinha para os quatro.Pesadamente, os quatro prisioneiros de Monomon seguiram sua ordem.

As barras eram bastante lisas, e o limo contido nelas facilitaria que qualquer um desajeitado pudesse escorregar e cair de costas no fundo do túnel. Alvo segurou com firmeza e cuidado cada barra de ferro coberta de limo. A passagem parecia não ser utilizada há bastante tempo, além da grande umidade e presença de insetos inconvenientes, algumas colônias de aranhas teciam suas teias nos cantos e nos espaços entre uma barra e outra. Escórpio quase escorregara por um lado quando fora surpreendido pelo grito assombrado de Rosa. Que se deparara com uma aranha próxima a seu cabelo.

– Fique calma, Weasley – tentou tranqüilizar o Prof Silvano com sua voz bonança e grave. – Esse tipo de aranha não contém nenhum veneno maligno ao ser humano. Sua picada não provoca sessões de dores, apenas um leve desconforto na região e uma irritante vontade de coçar.

– Isso me acalma muito, Senhor Fluente em Mais de Setenta Línguas! – retorquiu Rosa visivelmente inquieta. Além de estar bastante nervosa com a situação atual, não lhe agradara nada saber que o professor era

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fluente em mais línguas que sua mãe. Hermione era fluente em sessenta e sete línguas.

– Calados, seus paspalhos! – berrou Monomon bastante furioso, começando a seguir o grupo para o interior do túnel. O professor praguejava baixinho contra seus atuais prisioneiros, mas sua voz ríspida ecoava por todo túnel, impedindo seu segredo. – Se meu mestre for importunado com seu falatório, tenho certeza de que lançara uma centena de maldições contra seus corpos imundos.

– Você também é adorável, Artabano – debochou Silvano, impossibilitando de Alvo, Escórpio e Rosa de esconderem o riso.

– Seu tempo está acabando Mylor! – retorquiu Monomon. – Em seu lugar, não perderia tempo com frases infelizes e ofensoras.

– Sendo que você nunca as disse – continuou Silvano ignorando completamente Monomon.

– Já basta, insolente! – urrou Monomon, com fervura. Seu rosto tomou uma coloração rosa avermelhado. Sua veia têmpora pulsava incontroladamente, e seus olhos pareciam prestes a saltar de seu rosto. – Sua audácia realmente impossibilita de você ver o que ocorre ao seu redor. Você é meu prisioneiro, Silvano. E diferente de Potter, poderá muito bem servir como cadáver. Mas meu mestre insiste em mantê-lo vivo. Mas ouça, melhor que cale sua matraca ou não se dirija a mim. Posso não ter sido o melhor aluno de Flitwick nos tempos de Hogwarts, mas aprendi fora da escola como lançar uma Maldição Cruciatus em pessoas insolentes como você! Melhor tomar cuidado com o que diz. Francamente, você acreditava que poderia combater todas as forças das trevas, sozinho? Somente com a pura confiança de que os contos e mitos sobre um Caçador de Destinos existissem? Realmente passou por sua cabeça bastarda de que poderia impedir o Lorde das Trevas de retornar?

– Do que ele está falando? – perguntou Escórpio sem parar de caminhar pelo tortuoso, escorregadio e iluminado apenas por archotes frios e sem vida, túnel subterrâneo. – O senhor não pretende ressuscitar bruxos das trevas para tomar o poder do mundo.

– Foi o que fiz vocês acreditarem? – indagou Silvano ainda parecendo não conseguir distinguir as palavras de Monomon de um irritante zumbido. – Sou realmente um excepcional ator. Exatamente como Dumbledore me pediu...

– Dumbledore! – bradou Alvo levando as mãos aos cabelos. – Dumbledore é a peça chave para tudo que está acontecendo. Ele

sempre soube que tramavam contra o Ministério. Que mistérios açoitavam as lendas sobre Ambratorix, e que no final haveria uma ligação com a família Potter. Há muitos anos que Dumbledore já possui conhecimentos sobre as atividades de Baddock e dos outros membros de sua sociedade. Nenhum deles era tão bom ator quanto eu!

– Mas por que Dumbledore não agiu? Mesmo sendo um retrato ele poderia ter movimentado o Ministério contra esses revolucionários! –

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falou Rosa, que até então estava muito ocupada procurando possíveis colônias aracnídeas pelos cantos. – Ele poderia ter evitado a morte gente inocente. Eu vi Baddock confessar que assassinara o verdadeiro Prof McNaught. Se Dumbledore tivesse agido ele não estaria morto.

– Weasley, o que você mesmo disse, mas parece não ter encaixado em seus argumentos é exatamente o fato de Dumbledore ser apenas um retrato. E um muito engenhoso, eu devo admitir – respondeu Silvano como sendo apenas mais uma rotineira dúvida de aula. – Dumbledore perdeu o fio dos acontecimentos, quando os organizadores, e possivelmente, superiores de Baddock e dos outros começara a agir com mais cautela e fora do Ministério. Dumbledore nunca soube do seqüestro de McNaught. E só foi informado do estado dos outros membros do grupo de Baddock através do retrato de Dilys Derwent que entrou em contato quando a Inominável e o duende chegaram ao St. Mungus. A organização começou a agir fora do Ministério, onde Dumbledore possuiu menos quadros. Então começaram a penetrar em Hogwarts. Foram então que Snape tomara conhecimento dos planos.

– E para que Dumbledore estaria tão preocupado em permanecer anônimo e incapaz de revelar a verdade? – quis saber Alvo. Os olhos indo de Silvano a varinha ameaçadoramente apontada de Monomon.

– Primeiramente, porque o Prof Dumbledore não acha correto que um quadro tome partido nas decisões e acontecimentos do mundo bruxo. Uma atitude louvável – Monomon soltou um pigarro que mais parecia uma exclamação de “Caduco, imbecil”. – Depois, porque Dumbledore gostaria de ver seu progresso com relação à grande quantidade de fatos que lhe eram abordados.

– Mas porque todas as conspirações e atitudes giram em torno de mim? – chorou Alvo ligeiramente amedrontado. Escórpio estava a meio segundo de dizer o mesmo.

– Acredito que nem mesmo Dumbledore tenha essa resposta, Potter – respondeu Silvano, francamente. – Acredito que seu pai tenha feito a mesmo pergunta várias e várias vezes durante os anos, mesmo sendo quem é nos tempos atuais, ele ainda deve permanecer sem respostas. Algumas pessoas carregam um fardo que nem mesmo os mais sábios conseguem responder... Minha intenção, desde o princípio – Silvano mudou o tom de voz para um modo mais casual e menos sério – era apresentar a vocês o máximo de informação sobre Ambratorix, como fora pedido por Dumbledore. Quando vocês chegassem realmente perto do objetivo final, que era o diário, eu lhes guiaria para onde acredito que esteja o Olho e revelaria tudo o que já revelei. Infelizmente, nem mesmo eu ou Dumbledore ou Snape pudemos prever que outros bruxos, com intenções menos claras e benévolas, também estavam interessados em você, Potter. Se Artabano não se revelasse um traidor, não estaríamos passando por nada disso.

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– Agora, quieto, Mylor! – resmungou Monomon espetando com a ponta de sua varinha as costelas de Silvano. A cada instante Alvo sentia mais empatia pelo Prof Silvano e, ao mesmo tempo, se penalizava por ter chamado-o de assassino, quando na verdade ele tentava apenas aperfeiçoar suas habilidades, de uma maneira incomum, porém válida. Silvano parecia sentir os sentimentos de Alvo, já que, sem motivo algum, o professor começara a sorrir para os próprios sapatos. – Estamos nos aproximando de nosso destino. Meu mestre não gostará de perder tempo com seus argumentos implausíveis.

– Mas afinal de contas, para que raio de lugar você está nos levando? – resmungou Escórpio impaciente.

– Como pode notar, verme Malfoy, esse túnel subterrâneo nos leva para fora do castelo de Hogwarts – começou Monomon com seu típico tom de professor. – A passagem de Sir Abraxamagos é uma passagem inútil, como você e o resto de sua família – Rosa e Alvo tiveram de agarrar os braços de Escórpio para ele não avançar contra Monomon –, são raríssimos os bruxos que a conhecem e mais ainda os que a utilizam. Coincidentemente ou não, a passagem nos leva a um local bem próximo ao esconderijo do Olho entre os Mundos e de meu mestre.

Monomon e os outros quatro pararam próximos a uma passagem recoberta por raízes de árvores enormes, cascalhos e pedregulhos de diferentes tamanhos e espessuras. O professor da Aula das Corujas olhou para aquele entulho com indiferença, apontou a varinha de Silvano para o monte que bloqueava a passagem e urrou como todo o ar dos pulmões “Confringo”.

Em uma fração de meio segundo, o caminho bloqueado pelas pedras, cascalhos e raízes implodiu. Uma baforada de poeira e terra cobriu os corpos dos cinco bruxos ali presentes. A poeira grudava nos olhos forçando-os a lacrimejar. E um grande bocado de poeira invadira com tanta velocidade na boca de Alvo que ele mal pode notar o fato, somente fora obrigado a suportar uma longa sessão de tosses. A cada tosse Alvo sentia sua garganta ser arranhada por um felino muito mal educado.

– Não parem! – resmungou Monomon dando mais um cutucão nas costas de Silvano com a varinha. – Foi só uma explosãozinha.

Eles seguiram silenciosamente para fora da passagem, agora desbloqueada pelo feitiço de Monomon. Quando os cinco estavam a uma distância razoável do monte de escombros que se formara ao entorno da boca do túnel, Monomon agitou, desta vez sua própria varinha, com firmeza e gritou “Reparo”. Fazendo com que todas as pedras e cascalhos se unissem, e voltasse a bloquear a passagem, como se nada houvesse acontecido.

– Continuem andando para sudoeste – ordenou Monomon inabalável. – A passagem para o santuário do Olho entre os Mundos está logo à frente. Uns dez minutos e estaremos lá e... Ora, mas que m...

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Um brilho prateado incomum irrompeu por entre as árvores, velozmente. No início, Alvo imaginara ser um Feitiço da Luz, atingindo seu máximo, depois acreditou ser alguma criatura oculta da Floresta. Mas conforme o brilho se aproximava, Alvo pode ver que ele saltava de um lado para o outro, em direção ao grupo. O brilho começava a ganhar forma e volume, parecendo cada vez mais um animal incandescente. Ele se lembrou da noite em que chegara à Hogwarts, quando além do Patrono em forma de morcego, outra criatura também surgira. E naquele momento, Alvo pode distinguir melhor suas características. Na noite de sua chegada ele acreditara que fosse um cervo, mas agora estava claro o que o Patrono era.

– Uma corça – falou ele intencionalmente como um sopro.A corça andava pesadamente de um lado para o outro bloqueando a

passagem para além a sudoeste da Floresta. Alvo pode ver a veia têmpora de Monomon voltar a pulsar com vigor e ira. A cara do professor se embrulhara em uma careta. Ele tentou avançar, e a corça fincou as patas com firmeza no chão. Ela ameaçava o professor.

– Você é realmente bem astuto, hum? – gritou Monomon em um tom lunático. – Se enganou o Lorde das Trevas, realmente é um bruxo versátil em grande magia. Mesmo depois de morto consegue conjurar um patrono corpóreo.

– Devo isso a meu mestre – respondeu a voz de Severo Snape, vinda da corça.

Alvo levou um susto. Sabia que os Patronos dos bruxos serviam para mais que apenas defender seus conjuradores de Dementadores horrendos, sabia também que podiam servir para mandar mensagens de seus bruxos, alertando sobre algo ou apenas enviando uma mensagem. Alvo sabia que seu avô havia conjurado uma doninha e enviado-a para o Largo Grimmauld para avisar a seu pai, ao tio Rony e a tia Hermione que todos estavam bem, após a invasão no casamento do tio Gui e da tia Fleur. O mesmo que já havia recebido o patrono do ministro Shacklebolt, um lince, avisando sobre a caída do Ministério e sobre a morte do, até então, ministro Scrimgeour. Mas Alvo nunca fora informado que os Patronos poderiam ser enviados por seus conjuradores para serem como seus representantes pessoais. E Alvo também não acreditava que um bruxo já morto pudesse conjurar um Patrono. Mas ela estava lá, a corça de Snape estava novamente à sua frente, o mirando, mas dessa vez não era apenas ele, Alvo, que a observava.

– Está convicto de que Dumbledore e você estão a um passo à frente de meu mestre e do restante da Sociedade da Serpente? – perguntou Monomon superior ao patrono de Snape. – Acha que só porque conseguiu conjurar uma corça sendo apenas um retrato, pode me impedir de levá-los para meu mestre? Sabe, Snape, eu também sei conjurar patronos... Veja... Expecto Patrono.

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Sem nenhuma surpresa, uma coruja luminosa e rechonchuda, com o bico levemente retorcido e olhos miúdos esbranquiçados – fora conjurada da ponta da varinha de Monomon.

– É realmente incrível que um ser como você consiga lembrar-se de experiências felizes – zombou o patrono de Snape melancolicamente. – Em meu tempo como professor, você não era o mais brilhante de todos... Pelo menos, não em Poções, e segundo meus colegas, você somente tinha aptidão para Trato das Criaturas Mágicas. Receio que Percy Weasley era o melhor da turma, estou equivocado?

– As horas que está passando junto à Dumbledore devem estar fazendo mal a você, Snape – retrucou Monomon tentando não entrar na jogada de Snape. – A caduquice de Dumbledore está passando para você. Está se tornando tão sarcástico e debilóide quanto o velho.

Silvano fez uma careta em desaprovação, e o patrono de Snape arrastou as patas com fervura na terra escura da floresta.

– Ouse falar mal de Dumbledore mais uma vez eu... – rugiu a voz de Snape ferozmente. Mas depois o ex-diretor se calou, como se alguém o aconselhasse a manter-se calmo. – Existem dois gigantes sobre forte influência de Hogwarts. Hagrid era grande amigo e fiel seguidor de Dumbledore. Em um estalar de dedos, Grope e sua companheira Frochka estarão a caminho deste ponto. Ou acreditou que um fantasma e um patrono são minhas únicas ferramentas?

– E o que pretende com tudo isso? – perguntou Monomon mais calmo.– Meu dever é assegurar que Potter, Weasley, Malfoy e Silvano sigam

com vida – falou Snape severamente. – Não posso impedi-lo, pois assim, romperia com as virtudes de meu mentor. Apenas devo permanecer...

O patrono de Monomon saltou no ar, voando de rasante sob as cabeças de Alvo, Escórpio e Rosa. A coruja prateada girava em círculos ameaçadoramente, como um abutre a procura de sua carniça. Com uma manobra fenomenal, a ave deu um pinote e uma girada íngreme, mirando seu bico contra a corça de Snape e atacando...

Ambos os patronos, corça e coruja começaram a se engalfinhar de todas as maneiras possíveis. A coruja de Monomon voava astutamente em uma distância que impedia a corça de Snape de acertá-la. A cada mergulho calculista da coruja, a corça de Snape aproveitava para dar uma cabeçada com força ou uma patada letal. Conforme o andamento do duelo de patronos prosseguia cada criatura encantada parecia perder foco e forma. Pareciam mais fantasmagóricos e irreais, parecendo apenas um vapor incandescente.

– Potter! – berrou a voz de Snape vindo da corça que aos poucos se desmaterializava do meio da briga com a coruja de Monomon. A cada cavalgada, cabeçada e ataque, uma frase com a voz de Snape ecoava pela floresta – Mantenha seus amigos seguros! – cabeçada – Não de ouvidos a nada que esses malucos da Sociedade da Serpente lhe disserem... – coice

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– Não preste atenção em NADA! – chute – Esses dois querem corrompê-lo, Potter!

E com alento final, a corça desapareceu. Poucos segundos depois, Monomon ordenou que sua coruja também desaparecesse. Um sorriso triunfante tomou seu rosto melancólico e sombrio. Com uma imensa sensação de prazer e desdém, Monomon falou para as árvores da Floresta Proibida:

– Estão vendo? – berrava, como se esperasse que alguém surgisse das sombras aplaudindo sua vitória contra o patrono de Snape. Algo que incomodara a Alvo, Escórpio e Rosa, que esperavam que alguém surgisse. – Eu venci o poderoso Severo Snape! Eu venci aquele que enganou o Lorde das Trevas durante anos! Vamos logo, insolentes – ele se virou bruscamente para os quatro. – Meu mestre finalmente os verá.

Os cinco bruxos chegaram em menos de dez minutos a localidade onde ficavam as lesmas grudentas e mal cheirosas de Hagrid e a mais antiga árvore da Floresta Negra, a árvore presenteada por Merlim aos fundadores de Hogwarts. O primeiro ramo que originara toda aquela imensidão florestal que tomava todo o redor do castelo. Pouco antes da concretização dos desejos dos fundadores de Hogwarts, Rowena Ravenclaw, Merlim e o então arquiteto da escola se encontraram em uma clareira sombria a fria, sobre uma relva seca e desvirtuada. O mestre da natureza ou grande feiticeiro a fundadora da casa que levava seu nome e o fantástico artesão criador do Olho entre os Mundos, se encontraram para dar prosseguimento ao ritual de nascimento da primeira árvore que geraria toda a imensidão da floresta. Merlim depositou a pequena semente em seu monte de terra fofa e cavada, sob o olhar curioso de Ravenclaw e Ambratorix. O bruxo se ergueu pesadamente e tocou delicadamente com a ponta de seu cajado sobre o fruto recém plantado. Disse o grande mago em voz baixa, santificando o pequeno grão: “Ó virtuosa semente, plantada por vós nesse canteiro de vida e prosperidade. Banhai esta terra com seus filhos e filhas e abrigai a todos que necessitarem de ti.”. Depois Ravenclaw se aproximou da semente, tirando os cabelos da frente do rosto, e falou com um sussurro, como se fosse somente um segredo entre as duas: “Domai todas as feras que a ti perturbarão, ó nova boa aventurada. Protegei-nos dos malefícios que muitos rogam para vós. E abençoai vosso futuro tempo de aprendizado.” E se ergueu com glamour. Os olhos de Merlim e Ravenclaw baixaram sobre Ambratorix, olhares pesados e profundos.

– Não pretendes dizer nada a vosso fruto, engenhoso arquiteto? – perguntou Merlim sem esperanças.

Ambratorix alisou sua nova barba pomposa, robusta e cinza como uma pedra marinha. Ele olhou para a semente com seus olhos castanhos-cajus, não com um olhar respeitoso como o de Merlim ou Ravenclaw, mas um olhar egoísta e ambicioso, muito semelhante ao de Salazar Slytherin.

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– Bom, vejais caro Merlim – começou Ambratorix com uma voz rouca e abafada, apalpando a própria barriga –, o que eu poderia dizer para está semente? Deixais para mim, para meus dedicados homens e meus fiéis elfos, madeira suficiente para poder construir mais um cômodo descente nos aposentos de Madame Hufflepuff.

– Falastes como um velho amigo de Salazar – disse tristonhamente Ravenclaw, porém em tom de censura. – Estais há passar muito tempo com ele nas masmorras. O que tanto vasculham nos projetos das construções? Não estais a planejar junto com Salazar algo não aprovado por nós, está?

Ambratorix olhou apreensivo para Ravenclaw e depois para Merlim, enfim seus olhos fincaram-se nos bicos de seus sapatos, a única parte não coberta por sua barriga. Slytherin, seu antigo amigo e muitas vezes salvador, lhe dera muito ouro para permanecer em absoluto silêncio com relação à câmara que pretendia secretamente construir em uma das habitações do castelo. Slytherin fora extremamente claro que não queria que seus companheiros descobrissem dessa câmara que ele alegava ser para treinamento pessoal de seus alunos. Ambratorix possuía, claro, muitas perguntas para Salazar, mas o fundador lhe dera mais um bocado de ouro para assentir calado.

– Não esperava muito mais de tu, Albrieco – garantiu Merlim gozador. – Falou como um comerciante, interessado em seus lucros... Sei que isso não é um bom caminho, Rowena – acrescentou sob o olhar de Ravenclaw. – Vejamos... Brotai com força e vigor, vida e saúde! Venha minha adorável, apareça linda dríade!

E a dríade que aparecera no sonho de Alvo surgira do nada. Sorrindo, meio encabulada, ela parecia mais viva e disposta há muitos anos atrás. Ravenclaw fez uma reverência bastante formal, seguida por Ambratorix, meio desajeitado, chegando a uma distância bem menor que Ravenclaw, devido a sua grande barriga.

– Protegei essa árvore, ó nobre dríade – ordenou Merlim com veemência. – E multiplique seus familiares. Irmãos e irmãs, filhos e filhas. Protegei esta terra consagrada pela magia de Gryffindor, Ravenclaw, Hufflepuff e Slytherin – Merlim ignorou o pigarro proposital de Ambratorix, indignado pelo não reconhecimento de suas habilidades mágicas na construção do castelo.

– Farei – respondeu a dríade.– Perfeito! – bradou Merlim batendo palmas e sorrindo, seguido por

seus companheiros. – Agora, Rowena, eu acredito que vós possamos descrever ao vosso redator contratado sobre esta primeira estória sobre Hogwarts. Também me alegraria uma boa ceia com Godrico, Helga e Salazar. Teremos de convocá-los, não? E quanto a ti, Albrieco, também está convidado.

– Agradeço a tu, Merlim, o grandioso.– Basta de títulos – reclamou Merlim sorrindo.

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Mas o Caçador de Destinos desviara os olhos dos outros dois bruxos. Ambos estavam fixados na semente plantada há poucos instantes. Ambratorix gostava de desafios, por isso aceitara o pedido de Slytherin com relação à câmara, a árvore seria um excepcional local para proteger algum objeto de inestimável valor. Ela seria histórica. E Ambratorix precisava de uma fortaleza bastante segura para seu invento. Além do mais, seria um marco conseguir ultrapassar as defesas e encantos de Merlim, somente para criar um templo secreto, como o de Salazar, para seu valioso Olho entre os Mundos.

– Não vem, Ambratorix? – Ravenclaw gritou, vários passos à frente.– Mas é claro, Madame – o artesão respondeu pomposo. As idéias

aflorando em seu desenvolvido cérebro.– Finalmente chegamos! – suspirou o Prof Monomon vários séculos

depois do plantio da primeira árvore da Floresta Proibida. – Meu mestre os aguarda ansiosamente. Potter, venha mais para perto! É sempre um desafio para mim abrir esta passagem. Meu mestre disse que existe um bloqueio sanguíneo que não me permite fácil acesso ao esconderijo. Você, como descendente de Ambratorix, deve ser um dos poucos que pode abrir a passagem sem problemas, o que me diz?

– Mas eu não sei o que fazer? – alegou Alvo, desacreditado que fosse fazer alguma diferença.

– Vamos, moleque! Faça como fez no memorial! – bradou Monomon irritado, sua própria varinha era agitada com exaltação para o corpo magrelo de Alvo. – Toque na casca da árvore!

Temeroso, Alvo hesitou e colocou a mão na casca. Ele acreditava que ela estaria fria, como a maioria das demais da floresta, mas estava quente e ofegante. Como se sua respiração acelerasse, seu coração começasse a bater em um ritmo mais acelerado, como após o fim de uma maratona de vinte quilômetros. Alvo sentiu como se sua mão fosse coberta por outra, uma bem macia e confortável, como a mão de sua mãe. De repente, a casca da árvore começou a se dobrar e a se remexer, e uma inclinação bastante obtusa surgiu por entre os galhos. Alvo pode distinguir as curvas das narinas, a irregularidades dos olhos, as curvas das orelhas a espessura dos lábios da dríade que aparecera em seu sonho.

– Você ignorou meu alerta, Alvo Severo Potter! – exclamou a ninfa de forma clara. Alvo olhou para os lados, esperançoso que algum de seus amigos ou o Prof Silvano lhe desse alguma ajuda. Mas, nenhum deles parecia estar vendo a dríade. Parecia mais um sonho que realidade. – Eu só sou vista por quem desejo – falou ela como se lesse os pensamentos do garoto. – Eles não são as pessoas que merecem me ver. Você fora agraciado com esse dom. Pode me ver, pode me ouvir. Mas parece firme em ignorar a segunda.

– Não vim até aqui por livre e espontânea vontade! – afirmou Alvo defendendo-se. – Está vendo este cara com cavanhaque? Ele obrigou a mim e a meus amigos a virmos por um túnel secreto até essa localidade.

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Rosa e Escórpio sabem que você condenou minha presença aqui. E Rosa e Escórpio...

– São aqueles dois pouco atrás. Rosa Weasley, filha de Ronald Abílio Weasley e Hermione Jeane Weasley e Escórpio Hipérion Malfoy, filho de Draco Lúcio Malfoy e Astoria Selene Malfoy – narrou a dríade como se fosse abrigada. – Além deles se encontram Mylor...

– Chega! Eu os conheço! – bradou Alvo gesticulando com os braços. – Eu só quero saber como saio dessa enrascada. Snape me disse para que eu não desse ouvidos ao que eles disserem, e tenho receio do que podem dizer! Sei, também, que sua árvore guarda a passagem para o Olho entre os Mundos de Ambratorix, e eles precisam de mim para ativá-lo. Mas eu não quero fazê-lo! Não posso!

– Não me fale daquele homem, denominado Albrieco Cadoco Ambratorix! – falou a dríade tristonhamente. Seus olhos se encheram de lágrimas florescentes. – Ele violou as defesas de meu senhor Merlim. Cavou em minha terra e transformou minha árvore em uma espécie de porta oculta. Sei o que causou meu despertar! Fora ela. A obra de Albrieco Cadoco Ambratorix! E ela está mais forte do que nunca. Você não deve temê-la, Alvo Severo Potter. Mas não deve subestimá-la.

– Então está me dizendo que não tem problema se eu entrar em contato com o Olho? – insistiu Alvo bastante tenso.

– Eu não o disse – respondeu a dríade ainda bastante chorosa. – Mas Albrieco Ambratorix, mesmo sendo arrogante e egoísta, zelava por seus familiares. Ele não faria nada para te prejudicar... Mas eu não posso fazer mais nada por você, Alvo Severo Potter. Seu caminho está livre para suas próprias decisões. Escolha sabiamente, e meu desejo, e de muitos outros, que vocês sobrevivam ao encontro. Mas lembre-se é um desejo não uma predição.

– Pode liberar a passagem? E a dríade assentiu. Da mesma maneira que surgira, o rosto da dríade imergira para o

tronco da árvore. Seus olhos desapareceram, assim como sua boca, suas orelhas. Alvo já não via mais o gracioso e belo rosto da ninfa, somente a casca marrom e desbotada da árvore.

– Ah, meu Deus! – grunhiu Rosa levando as mãos à boca, ocultando uma exclamação. Escórpio continuava com os olhos fixos na árvore, assim como Silvano. Nenhum deles parecia ter percebido a presença da dríade, nem notado sua conversa com Alvo.

A árvore começara a se desdobrar, como se fosse um origami. Vinhas de azevinho e urtigas começaram a se empilhar ao redor da casca da árvore, que agora tinha a largura das portas do Salão Principal. As vinhas e urtigas se uniam fazendo um contorno gracioso e impecável, formando um arco bem longo. Arbustos de diferentes tonalidades e espessuras se acentuavam ao redor da árvore como um canteiro de uma casa bem hospedeira. Uma vinha bastante graúda de nogueira deslizou pelo chão

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coberto de folhas, chegando ao centro da porta e formando uma maçaneta bem torta e desgastada. Por fim, pétalas de hortênsias planaram ao redor de Alvo, rodando em círculos e parando na enorme porta feita de madeira encantada.

– São runas? – perguntou Rosa olhando curiosamente para as palavras formadas na porta. – Pois eu nunca as vi no Silabário de Spellman.

– Isso não é uma runa – verificou Escórpio apertando os olhos para distinguir melhor as formas das pétalas. – Posso identificar a primeira palavra! Posso ler tudo! É uma frase, e de bastante efeito. E fala sobre você, Potter!

Alvo, assim como os demais, não conseguira identificar nenhuma palavra formada pelas pétalas de hortênsia. Mas Escórpio parecia convicto de que poderia lê-las e não demorou a fazê-lo.

Ao fiel herdeiro do sangue arteiro.O caminho se abrirá sem nenhum desespero.À luz da Sulva, o escolhido a todos poderá despertarE suas dúvidas e desconfianças eu poderei desvendar.Alvo gelou até a espinha.– Bastante esclarecedor, não é Potter? – falou Silvano ignorando

completamente os olhares furtivos de Monomon, que fazia sinal para que ele se calasse e seguisse em diante, em direção ao santuário do Caçador de Destinos e de seu mestre. – O caminho se abrirá para você, sem restrições. Seu parente lhe aguarda. Seja o destino que ele escolhera bom ou ruim.

– E o que isso tem de esclarecedor? – resmungou Alvo aborrecido.– Calados! – urrou Monomon com a cara rosada. – Prossigam, sem

interrupções! Meu mestre está esperando para finalmente poder finalizar seu cobiça. Avante, Potter! Abra a passagem! A varinha!

Tremendo, Alvo escorregou a mão para dentro das vestes. Não tinha como fugir daquele destino ingrato que seu querido parente, que Dumbledore, Snape e os membros da tal Sociedade da Serpente prepararam para ele. Alvo tinha medo do desconhecido. Mais medo do que quando estava na plataforma pronto para embarcar no Expresso Hogwarts, com mais medo do que quando Tiago o atormentara sobre acordar com um testrálio invisível açoitando em sua cama. Mas agora tudo fazia sentido. Não o fato de ser o herdeiro do Caçador de Destinos, mas o porquê do Chapéu Seletor tê-lo colocado na Sonserina ao invés da Grifinória. Não fora porque ele pedira, como pensava Tiago, mas porque Alvo não tinha coragem suficiente para ser colocado na mesma casa que o pai. Com certeza Harry já teria entrado na gruta de Ambratorix, sem medo de poder morrer, ou mesmo já teria enfrentado Monomon antes, quando tivera a oportunidade. Tudo aquilo deixara Alvo mais fraco do que já estava, o fato de ter certeza de que era muito mais fraco que o pai. Que não poderia evitar um colapso mundial. E pior! Que ele seria o responsável por tudo.

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– Alohomora – grunhiu com uma voz chorona e abalada. Alvo se continha para não debulhar-se em lágrimas por causa de seu eminente fracasso em tentar se igualar ao pai.

Houve um lampejo de luz dourada, que se chocou imediatamente com a maçaneta da porta para a gruta do Caçador de Destinos. A reação fora imediata. A porta se abrira de tal maneira que as pétalas de hortênsia foram arremessadas para os lados brutalmente. Um frescor agradável com cheiro de pomar e verduras recém lavadas encheu o nariz de Alvo. Tudo aquilo poderia tê-lo feito se sentir mais forte e mais sagaz. Mas nada parecia surtir efeito contra seu próprio fracasso.

– Muito bem, Potter – falou Monomon satisfeito. – Agora prossigamos. Como já disse, meu mestre anseia em vê-lo...

Fora como mergulhar em um de seus mais penosos e dolorosos pesadelos. Alvo vagou novamente pelo vestíbulo subterrâneo com colunas de pedra que o sustentavam contra a terra batida e as raízes das árvores que caiam por todos os lados desordenadamente. Com o passar do tempo, a terra seca e socada fora modificada por placas rochosas bastante quentes e vibrantes. Alvo olhava para os lados com mais atenção. Notava detalhes que durante seus sonhos passavam despercebidos. Notara que as raízes das árvores se tornavam menos robustas e mais vivas, e também deixavam de se intrometerem no meio do caminho. Em menos de cinco metros, Alvo já tinha um rasgão nas vestes e alguns cortes no rosto e nas pernas. Situação não muito diferente de Rosa e Escórpio. O rosto e as vestes da prima estavam com alguns arranhões e espinhos presos em seus cabelos ruivos. Escórpio perdera completamente o controle sobre seus cabelos sempre bem lustrosos e engomados. Eles pareciam, mais do que nunca, um ninho de cacatuas.

– Sigam em frente – falou Monomon pausadamente, apontando com a varinha para os degraus inclinados mais alguns lances para baixo. Sua voz era mórbida e fria como a de um robô.

Os cinco desceram até uma área mais circular e espaçosa, bloqueada somente pelas pilastras que sustentavam a terra, espalhadas por todo o interior do esconderijo do Caçador de Destinos. Bem no canto, como Alvo vira durante seus pesadelos estava ele. O objeto hexagonal em forma de caixão, tão cobiçado por gerações e gerações de bruxos e bruxas. Ele era luminoso como Alvo já constatava, e possuía gravado em seu redor imagens de bruxos e bruxas gloriosos e vitoriosos. Junto de suas figuras esculpidas no Olho entre os Mundos estavam seus nomes. Algumas imagens de bruxos repetiam os sobre nomes, e um ou outro parecia ter sido repetido duas vezes. Havia bastantes imagens rotuladas com o sobrenome Peverell (possíveis parentes de Ignoto), depois havia uma breve listagem de bruxos com nome Black e Gaunt, seguidos por uma listagem de bruxos nominados Potter. Quando vira seu nome, o de seu irmão e de seu pai gravados no Olho entre os Mundos, Alvo congelara.

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Suas pernas já não o obedeciam. Pareciam ter criado raízes e se fixado por entre as pedras.

Próximo ao Olho entre os Mundos, de costas para os cinco bruxos que chegavam, estava um homem parrudo e bem alto. Seus cabelos loiros grisalhos escorriam por suas vestes surradas de gris. Era um rabo de cavalo firme que chegava a ocultar parte de sua face rabugenta e homicida. Ao ouvir os passos dos novos visitantes, o homem se virou.

Alvo reconheceu-o imediatamente de várias fotos de “Procurado” na sala de seu pai. Alvo não se lembrara de seu nome, mas sabia que ele era um Comensal da Morte. Era o mesmo bruxo responsável pelo assassinato de Colin que Alvo presenciara em sua desconfortável viagem proporcionada pelo Memorial de Hogwarts. Assim como ele, Silvano também reconhecera o bruxo de imediato. Sua face mudou. Seus olhos ficaram mais dogmáticos e vingativos. Ele estava diante do bruxo que assassinara seu amigo bem em sua frente.

– Meu senhor, aqui está como ordenado – sussurrou Monomon meio intimidado. – Da maneira como solicitara, eu trouxe o menino Potter ao senhor. Também com eles o garoto neto de Lúcio Malfoy, a menina Weasley e Mylor Silvano.

– Muito bem, Artabano – falou o Comensal da Morte com sua foz fúnebre. – Você realmente mostrou ser bem mais ágil que Baddock. Fui inteligente. Realmente, não me permito errar mais de uma vez. Foi sábio matar Baddock e lançar sobre você a Maldição Imperius... Eh, você trouxe a varinha de Silvano, não é? Pois bem, quebre-a.

E sem hesitar, Monomon partiu com o punho (e com uma leve ajuda do joelho esquerdo) a varinha do Prof Silvano em duas partes desiguais.

– Excepcional – concluiu o homem alto lançando um sorriso desagradável. – É sempre bom poder controlar as pessoas como marionetes. Você está com a Chave Matriz, Artabano? – e em seguida, Monomon retirou do bolso a chave de opalas que Alvo retirara do Memorial de Hogwarts. – Me entregue.

– Parece que conseguiu tudo o que queria, não é Yaxley! – rugiu Silvano furioso. Seus olhos iam de Yaxley para o Olho de Ambratorix.

– Ah, Mylor. Acredito que sim – afirmou Yaxley seguro. – E em poucos minutos concluirei todos os meus desejos... Mas claro, sei recompensar aqueles que me ajudam. Colocarei seu nome junto a todos aqueles integrados em meu plano. Ora, não faça essa cara de esfinge sem perguntas! É fato que você me ajudou a trazer Potter ao encontro do Olho. Sem você o garoto nunca teria o mínimo conhecimento sobre o Olho ou sobre o Caçador de Destinos.

– Mas como você teve acesso a todas essas informações? – quis saber Rosa bastante curiosa. Silvano olhou para ela surpreendido, e Monomon, irritado. Mas o segundo logo fora acalmado com um breve aceno de seu mestre.

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– É apenas uma garota curiosa e enxerida, Artabano – falou Yaxley com uma incomum calma. – Mas mais cedo ou mais tarde o mundo todo saberá como eu destruí as fortes pilastras de paz formadas por Potter e Shacklebolt. Em breve o mundo todo saberá como Furius Yaxley II enganou todo o mundo da magia e trouxe de volta a vida aquele que nuca deveria ter sido silenciado! Em breve, o Lorde das Trevas estará de volta! E eu, seu sempre fiel seguidor, serei, mais do que nunca, seu mais respeitado servo. Mas como você perguntou, garota, fora realmente complicado chegar aonde cheguei. Tudo começou a mais ou menos vinte anos, quando me dei por mim em pleno campo de batalha. De um lado via Madame Lestrange morta pelas mãos de uma traidora do sangue Weasley, do outro o Lorde das Trevas perdendo na briga contra Potter. Vi, Rookwood quase morto, assim como Jugson. Estendido e desarmado sem mais se mover, estava Pio Thicknesse: morto. Eu mesmo não estava em uma posição muito melhor. Caído, desarmado por um moleque de uma orelha só e outro com um corte de cabelo bastante esquisito.

“Aproveitei a dispersão dos aurores e dos demais quando Potter silenciou o Lorde das Trevas. Eu não poderia ficar caído ali, sem minha varinha. Não podia deixar-me levar pelos aurores para Azkaban. Deveria fazer a mesma coisa que Rabastan Lestrange fizera antes. Fugir, mas não fugir covardemente como ele, mas fugir com idéias para trazer mais uma vez meu milorde de volta a vida. E foi o que fiz. Nott tentou me acompanhar, mas eu sabia que com ele naquele estado, todo ensangüentado, logo alguém nos descobriria. Então eu o estuporei. Deixei-o como isca para os aurores. Daí, eu segui para a antiga casa de meus pais, na Rua dos Encanadores. Sempre tinha algumas recordações ruins da casa dos Yaxley, mas era o único lugar que eu tinha para me refugiar.”

“Cinco anos depois da morte do Lorde das Trevas eu comecei a me mexer. Não poderia ficar no anonimato como na primeira vez que meu milorde sucumbiu nas sombras. Também sabia que Malfoy planejava alguma coisa suspeita sobre meu senhor. Mas ele está morto, deve estar morto! Comecei a organizar uma sociedade com a missão para reviver o Lorde das Trevas, o grupo se nominava a Sociedade da Serpente. No início nós éramos muito poucos. Além de mim tinha Baddock, e mais dois bruxos que não duraram muito tempo. Nós fomos fortalecendo-nos e organizando as idéias, atingindo a mais alguns integrantes, e havia alguns de grande escalão ministerial. Até a noite em que eu fui até a vasta biblioteca de meu horrendo pai onde sempre havia as respostas para as perguntas de um bruxo de puro sangue e li história do Caçador de Destinos, eu sabia que era verdade, e era a única magia capaz de trazer meu senhor de volta.”

“Ficamos anos procurando por pistas do Olho de Ambratorix. Até que chegou a notícia de que dois nominados Caçadores iriam ingressar ao mesmo tempo como professores em Hogwarts. Primeiro investi em

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McNaught, pura sorte. Ele estava em casa, se preparando para o início do ano letivo. Eu arrombei a casa dele com Avery e Fog, um duende corretor de ações do Gringotes. Extraí todas as informações possíveis dele. Roubei roupas e livros. Já havia armado todo o plano. Infiltraria Baddock como McNaught em Hogwarts, faria com que ele se aproximasse de você, Silvano, e me colocasse na direção correta até Potter. Também seria seu dever neutralizar o garoto e trazê-lo para mim, com vida. Nem mesmo com o símbolo dos Caçadores, Baddock conseguiu ser útil. Tentou, primeira e unicamente, capturar o garoto com uma vinha de Ditamínea, idiota. Enquanto isso eu tecia minha vingança sozinho. Copiei a idéia de Malfoy e assassinei Serena com Visgo do Diabo no St. Mungus. Também misturei algumas doses extras de Febre de Dragão nos medicamentos de Plochos e o matei. Todos fracos. Também despachei o corpo de Acrusto para a Bélgica, falsificado e infiltrando uma carta ao Ministério dizendo que ele fora ordenado a comparecer ao país para cuidar de uma infestação de salamandras. E ainda consegui incriminar o jovem Avery por todos os crimes, utilizando a Maldição Imperius. E pensar que Baddock acreditava que ele poderia ser tornar um membro da Sociedade da Serpente.”

“O tempo passava com muita velocidade, e Baddock nada fazia. A última informação que me dera era de que Crouch estava procurando mais um professor para lecionar em Hogwarts. Era minha última cartada. Não precisava mais de ninguém para convencer Silvano, mas de alguém que pudesse observar a ele e a Potter de dentro da escola. Na mesma noite da entrevista de emprego, eu armei uma emboscada para matar a Baddock e a qualquer um que tentasse o salvá-lo. As aranhas fora a parte mais fácil. Fomos eu e Macnair quem conseguimos o apoio delas há vinte anos na luta contra Harry Potter. O pior foram os feitiços nas árvores, mas eu consegui o que queria. Baddock estava semi-morto devido ao Sectumsempra que lancei. E para meu deleite, quem veio tentar salvá-lo? Sim, você Potter! Mas meu feitiços já não estavam tão poderosos quanto antes. E você, essa escória Malfoy e seu amigo gigante conseguiram escapar.”

“Então, Artabano também apareceu na floresta. Ele estava mais interessado em se aventurar pela área a procura de aves do que ajudar a salvar a vida de Baddock. Eu aproveitei a situação e o subjuguei a uma de minhas especialidades. A Maldição Imperius me deu total controle sobre Monomon. Ele se tornou meu informante, e logo depois das férias se mostrou muito hábil, enfeitiçando o Salgueiro Lutador contra você e seus amigos. Entrementes, eu ficava aqui, em meu esconderijo me comunicando com você e com Artabano através de meu patrono e de seus sonhos. Se não fosse aquela dríade miserável você já seria meu! Então Monomon meu deu uma amostra de seu sangue, e confirmou todas as minhas expectativas. Quando eu espelhei o sangue pela superfície do caixão e as trancas começaram a se abrirem eu tive certeza... Certeza de

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que você era o herdeiro de Ambratorix e era quem abriria o Olho para mim! Agora venha, Potter! E concretize meus sonhos e os seus! Traga de volta da morte todos aqueles que nunca deveriam ter partido! Traga a todos os que você ama! VENHA, E ABRA O OLHO ENTRE OS MUNDOS!”

Yaxley soltou uma gargalhada colossal. Alvo não se sentiu nada melhor. O que ele queria dizer com traga de volt a vida todos aqueles que nunca deveriam ter partido? Tanto Yaxley quanto Silvano pareciam ter entendido o que Alvo pensava. Suas faces tomaram diferentes formas. Yaxley, vitorioso, como se acabasse de conseguir exatamente o que queria. E Silvano assustado, temendo que Alvo acabasse se estabanando e fazendo a escolha errada.

– Não ouvidos a ele Alvo! Não se lembra do que Snape lhe disse! Ele quer te enganar! – berrou Escórpio com todo o ar que lhe restava nos pulmões. Alvo piscou. O grito do amigo o trouxera de novo a realidade e também algo mais chamara a sua atenção. Fora a primeira vez que Escórpio o chamava pelo primeiro nome. A primeira vez que o chamara de Alvo. Mas Escórpio estava bastante abalado, o nome de seu avô estar sendo utilizando junto à palavra morto não lhe agradava muito. E Yaxley parecia muito certo de tudo o que dizia.

– Cale a boca, seu verme! – urrou Yaxley furioso. – Ou terá o mesmo destino que seu avô, desgraçado! A morte!

Algo se movia, ao lado esquerdo de Alvo, por entre suas vestes, onde ele guardava sua varinha. Lentamente, a mão negra do Prof Silvano escorria por entre os lados, envolvendo a base da varinha com núcleo de coração de dragão de Alvo. Enquanto Yaxley falava ruidoso sobre seus planos de conquistar o mundo ao lado de seu senhor, Silvano se mostrava atento, tentando impedir que o Comensal da Morte notasse suas intenções. Estava escuro, a única luz do recinto provinha do caixão dourado, então Yaxley poderia não ver com clarividência a mão de Silvano. De supetão, o Prof Silvano arrancou a varinha de dentro das vestes de Alvo e a apontou para o inimigo.

– Estupefaça! – berrou o professor apontando a varinha para Monomon. A ponta da varinha de Alvo clareou e um luminoso feixe de luz avermelhado brotou do artefato. Em uma velocidade incrível, digna de um feitiço conjurado por um auror, o feixe de luz atingiu o peitoril de Monomon, arremessando-o dois metros para trás. De modo que o professor controlado por Yaxley chocasse-se contra uma das pilastras de sustentação. Em seguida, Silvano mirou em Yaxley. – Estupefaça!

– Protego – respondeu Yaxley, projetando um escudo invisível que o protegera do feitiço de Silvano. – Avada Kedavra!

Silvano saltou para a esquerda, o lado oposto ao dos garotos. A maldição de Yaxley atingiu a pilastra oposta que segurava o teto, provocando uma explosão e um estrondo, fazendo alguns pedaços de terra caírem sobre as cabeças dos bruxos. Silvano revidou a Maldição da Morte lançada por Yaxley. Um lampejo cor de rosa, irrompeu da varinha

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de Alvo passando a poucos milímetros do rabo de cavalo de Yaxley. Atingido algumas placas de pedra do chão.

– Há vinte anos eu fiz uma promessa! – berrou Silvano esquivando de mais uma saraivada de feitiços e maldições de Yaxley. – Eu disse que voltaríamos a nos encontrar, e duelaríamos! Eu vingarei Colin. Eu vingarei a minha mãe, que você torturou acusando-a de ladra! Expulso!

– Belas palavras – debochou Yaxley, esquivando. – Avada Kedavra!A maldição de Yaxley novamente atingiu uma das pilastras, causando

outra explosão.– Não garotos! Para trás da pilastra. Se protejam! – advertiu Silvano

quando Rosa e Escórpio fizeram menção em avançar contra Yaxley.Os três primeiranistas correram para trás de uma pilastra ainda

intacta. No duelo, Silvano e Yaxley não paravam um instante se quer para respirar. De suas bocas saiam uma dúzia de feitiços e maldições misturados a palavrões e xingamentos. Parecia que os dois estavam redigindo um único feitiço para uma prova final.

Alvo olhava para os dois bruxos. Silvano estava na defensiva, tentando suportar com muita dificuldade os feitiços lançados por Yaxley. Se sua boca escorria um filete de sangue, e de sua testa também. As vestes estavam rasgadas e chamuscadas, devido à grande quantidade de feitiços flamejantes que disparavam da varinha de Yaxley. Alvo tinha de fazer alguma coisa. Mas o que? Ele era apenas um garoto comum do primeiro ano com poucos feitiços na bagagem. Ele mal fazia estuporar alguém, e as poucas azarações que conhecia não seriam suficientes para abater Yaxley. Mas Alvo não deu muita atenção para as circunstâncias. Imitando a ação do Prof Silvano, Alvo agarrou a varinha de salgueiro e núcleo de crina de Pégaso de Rosa. A prima soltou um gritinho agudo, mas que foi logo contido pela expressão fechada de Alvo.

– Padeça sob meus pés, mestiço! – rosnou Yaxley mudando a rota de uma das azarações multicoloridas de Silvano e lançando-lhe mais uma maldição. – Irei arrancar de sua cara este seu sorriso imundo. Crucio.

Aquela fora a gota d’água: ver o professor se contorcendo no chão de dor como ele um dia fizera, quando o mesmo bruxo das trevas lhe lançou a mesma maldição. Alvo saltou de trás da pilastra. A mão cerrada na varinha de Rosa, os olhos fixos em Yaxley. Ele ergueu o braço direito, os olhos bem abertos, o punho firme.

– Limpar.Da boca de Yaxley começaram a brotar bolhas de sabão cor de rosa. A

boca do Comensal da Morte começara a espumar de forma descontrolada, como se uma pia começasse a despejar loucamente água em uma solução espumosa, multiplicando a densidade do sabão ou como um cão com ataque de raiva. As bolas começaram a escorrer pelos lábios de Yaxley, o sufocando, mas deixando um adorável odor de rosas do campo se espalhar pelo ar.

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–Dec-tum-sem-pra – engasgou Yaxley apontando a varinha bamba para Silvano. O feitiço originalmente criado por Antônio Dolohov atingiu Silvano no peito esquerdo. Uma flama roxa cravou nas vestes do professor, fazendo-o cambalear para um lado. Os olhos fora de foco, sem conseguir manter-se erguido. – Sec-tum-sem-pra.

A maldição criada por Severo Snape em seus anos de escuridão e odiosidade irrompeu da varinha de Yaxley fervendo de ódio. A sorte de Silvano fora que metade de seu corpo era protegida por um pilar de rochas bem ásperas. Como se acabasse de ser esfaqueado vinte vezes por poderosas e ameaçadoras lâminas, Silvano desabou no chão. Largou a varinha de Alvo e repousou em silêncio. Nenhum músculo se movia. Ele estava frio...

Rosa e Escórpio saltaram para perto do corpo frio e ensangüentado do professor. A garota tremia da cabeça aos pés, seus olhos estavam inchados e bastante molhados por uma quantidade considerável de lágrimas. Escórpio parecia tenso, porém bastante corajoso.

– Incarcerous Humo – urrou Yaxley limpando o sabão cor de rosa da boca.

Ervas e vinhas brotaram por entre as rochas irregulares do santuário do Olho entre os Mundos. Desconfortavelmente, Rosa e Escórpio foram envoltos nas vinhas e ervas que se agarravam a seus braços e pernas. Uma das vinhas estava tão bem presa que o braço de Escórpio começou a mostrar uma tonalidade arroxeada.

– Expelliarmus – gritou Alvo agitando a varinha freneticamente. Mas nada aconteceu. Yaxley fora mais rápido e avançara contra Alvo. A mão direita ainda sustentando sua varinha, a esquerda estrangulava o pescoço do garoto.

– Você se acha muito espertinho, mestiço – murmurou Yaxley abespinhado. O Olho entre os Mundos parecia desfraldar de excitação. Sua luz estava mais intensa, seu calor irradiado mais forte. – Acha que pode sair por ai brincando de ser seu precioso papai. Prendendo bruxos como eu e saindo na primeira capa do Profeta a cada seis meses! Mas vou lhe contar um segredo, Alvo. Você não é seu pai! E irá morrer devido a sua grande ambição. Veste as vestes da Sonserina, mas não aparenta ter nenhuma das qualidades de um. Um sonserino pensa antes de agir, e nunca entregaria sua vida de maneira tão banal! Você só não padecerá em minhas mãos como seu professor porque preciso de você para abrir o Olho. Logo, logo você e seus amiguinhos poderão ser mais umas de minhas vítimas. Podem se juntar em uma coleção que tem como uma das figuras aquele fantasminha ignorante de sangue-ruim.

Yaxley retirou do bolso a Chave Matriz do Olho entre os Mundos. Atirou-a em direção ao caixão luminoso. A chave planou pelo ar majestosamente, deu dois rodopios e mergulhou para uma das trancas entre os nomes de Cadmo Peverell e Ignoto Peverell, os netos de Ambratorix. Quando a chave girou no cadeado ouve uma explosão de

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calor. Algo tão forte que obrigara a Yaxley soltar Alvo, pouco antes de ser arremessado alguns metros para mais longe do caixão.

– Venha, Alvo – murmurou uma voz desconhecida, mas bastante acolhedora.

Só posso estar delirando, pensou Alvo. Como o caixão poderia estar falando com ele? Mas o calor irradiado pelo Olho de Ambratorix parecia atrair a Alvo mais a cada segundo. Suas pernas estavam mais rígidas, seus olhos mais atentos, seu peito mais aberto para o desconhecido. A mesma sensação que ele sentira há muitos meses quando parecia forçado a tocar na placa de bronze voltou a aflorar em seu coração. Ele tinha de seguir. Tinha que entrar em contado com o Olho. Ele queria fazê-lo. Desvendar todos os mistérios que rondavam sua família e o artesão medieval. Alvo começou a caminhar. Já não se sentia mais fraco como antes, se sentia mais corajoso, mais vivo. Tinha certeza de que se quisesse poderia impedir que os planos trágicos de Yaxley se concretizassem, poderia evitar a volta de Voldemort, e poder voltar para casa, para sua família sorrindo...

Assim se sentido, Alvo avançou para o Olho entre os Mundos, para a obra prima de Albrieco Ambratorix, o Caçador de Destinos. E sem mais medo e desesperança ele abriu o caixão.

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Capítulo DezoitoO Caçador de Destinos

ra um campo. Decididamente Alvo estava em um campo. A brisa matutina despenteava seus cabelos escuros. Seu corpo magro parecia estar nu, mas não estava. Tão pouco estava trajado com

as vestes pretas e verdes da Sonserina. Alvo estava vestido com a camisa que mais gostava. Era uma de cor verde musgo, bem parecido com o limo de uma pedra ribeirinha. Sua jaqueta era azul, como o céu limpo sob sua cabeça. O jeans era bastante confortável, assim como os tênis escuros que ele tanto apreciava. Andava por uma estradinha torta de terra batida. A grama e relva cresciam ao seu redor, mas pareciam limitadas a não cobrir a estrada de terra batida que ele caminhava. Podia ouvir a batida do mar na terra, mas estava muito longe da costa para poder ouvir. Não era lógico. Também não parecia ser lógico ver andorinhas e diabretes voando curiosamente ao redor de uma toca de tatu. Tudo parecia bem estranho, assim como as ameixas dirigíveis que Alvo só vira de realce uma vez no jardim da casa do Sr Lovegood no alto da colina de Ottery St Catchpole. Nada naquele lugar parecia fazer sentido. Afinal de contas, Alvo nem sabia como havia chegado até lá. Lembrava-se apenas de realce de alguns fatos anteriores. De ter visto um homem bastante ferido, caído desacordado em uma gruta. De presenciar Rosa e Escórpio serem presos em um emaranhado de vinhas e ervas e de ter seu pescoço estrangulado por um bruxo alto de cabeleira loira.

E

Alvo continuou andando por aquela terra que parecia estar entre a Cidade dos Loucos e a Idiotalândia. Viu dois explosivins brigando entre si pelo que parecia uma barra de chocolate bastante suculenta. Mais para o leste, uma esfinge e uma manticora correndo atrás de um freesbie amarelo que parecia ser encantado. Um grupo de hipogrifos avermelhados passou de rasante cortando os céus como jatos, depois alguns hipocampos também passaram, mas bem mais lentos, como se admirassem aquele campo bastante inusitado.

As pernas de Alvo (que a muito pareciam ter pedido independência de seu cérebro) pararam abrutalhadamente em uma cerca de madeira e cimento que separava o exterior de uma construção bastante obtusa. No início Alvo desconfiara ligeiramente que aquilo era o resultado de uma

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combinação de desastre ecológico e uma dona de casa com mau gosto, mas depois concluiu que era uma casa.

Era uma moradia que tentava imitar o aconchego de um chalé, mas que não obtivera sucesso. As paredes eram bem claras, pareciam pintadas de maionese, porém algumas das partes eram cobertas pode desenhos de máquinas mirabolantes e criaturas extravagantes. Cabeças encolhidas estavam penduradas no varal da casa junto a algumas roupas, todas cantando em uníssono como um coral Odo, o herói. No telhado de madeira cônica havia um rombo de mais ou menos quatro metros, de onde uma luneta, aparentemente de um telescópio, irrompia apontada diretamente para o céu. A grama não fora aparada de maneira igual, tendo áreas com grande concentração de capim e outras com tufos de terra bastante maltratados. Alvo passou a mão pelo portão de madeira comida por cupins e esse automaticamente se abriu. O garoto não pode deixar de reparar na pequena plaquinha pintada a mão com tinta de árvores e pregos bastante enferrujados. “Morada de A. C. Ambratorix, o Caçador de Destinos. Favor identificar-se com o porteiro antes de entrar na residência. Obs.: Evitar contato visual com o papagaio.”

Alvo olhou para os lados e deparou-se exatamente com o que a placa informava. Um papagaio vesgo, empalhado vestido de porteiro repousava torto preso pelas pernas tortas em um vão da cerca. Ignorando-o, Alvo seguiu em frente, olhando bem para os lados, à procura de alguém.

Sentado em uma cadeira de madeira olhando sereno para o céu estava um homem, um pouco mais velho que Harry. Era magro e um tanto musculoso, como se ainda gostasse de levantar alguns quilos nos braços e correr pela estrada durante a alvorada. Vestia vestes de seda claras que mais se assemelhavam a um roupão, pois eram bem mais largas que seu corpo. Os cabelos eram bem parecidos com os de Alvo, porém eram muito, mas desgrenhados e rebeldes. Seus olhos eram castanhos-cajus e bastante sonhadores. Um dos dedos longos coçava o coro cabeludo. Ele estava pensando.

– Finalmente você apareceu, Alvo – falou o homem sem desgrudar os olhos dos céus. – Pensei que acabara preferindo brincar de freesbie com minha manticora e minha esfinge.

Alvo permaneceu calado.– Ora, deixe de cerimônias. Você é sempre bem vindo em minha casa –

o dedo continuava a coçar o cabelo, mas agora com mais vigor. – Afinal, é para isso que serve a família. Acolher uns aos outros.

– Sou da sua família? – perguntou Alvo de forma oca e temerosa. – Ou, você é da minha família?

– Um elo muito distante, eu devo admitir, mas sim. Somos parentes – E finalmente seus olhos desgrudaram do céu e se fixaram em Alvo. – Meu sangue corre em suas veias. Mesmo que seja menos de um por cento de seu sangue.

– V-você é Ambratorix – arriscou Alvo baixinho.

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– Na verdade não uso esse nome há milênios, mas sim. Sou – garantiu o homem sorrindo. – Sou mais conhecido como o Caçador de Destinos, mas também atendo por esse nome.

Alvo não podia deixar de esconder sua cara confusa.– Sei que tem muitas perguntas para mim – falou Ambratorix com

absoluta certeza. – Então vou começar, obviamente, do começo. Primeiro esclarecerei todos os mitos que envolvem meus contos, ok?

“Sim, me apaixonei por uma donzela, e sim, ela foi morta por um duque que também a amava. Não, eu não o assassinei, e não eu não era um cafajeste que engravidava uma mulher para cada vila. Minha história começa há muitos anos, mais do que eu gostaria de admitir. Depois da morte de minha amada donzela eu realmente desacreditei da vida. Vaguei pelo mundo decepcionado e pronto para morrer. Quando estava quase morto, a Morte veio me inspecionar. Mesmo querendo estar morro eu tinha medo da mesma. Tinha medo do desconhecido. E todas aquelas outras informações que sua professora lhe dera conferem. Eu tentei enganar a morte e fui enganado.”

“Aquela bandidinha esperta. Nunca tente blefar com um ser como a Morte. Ela me aprisionou na terra. E essa é a pior coisa que se pode fazer com um homem.” O Caçador de Destinos fez uma pausa. Sua face se tornara tristonha, como se fosse um fardo lembrar-se de seu passado. “Não há nada pior que viver em um mundo onde você não pode seguir junto com seus amigos. Com aqueles que você ama. É uma tortura, ver seus amigos e sua família morrerem e continuar vivo, incapaz de poder segui-los. É uma dor que nenhuma maldição pode recriar. Todos nós temos nossa hora, e a Morte me privara da minha. É como se o relógio nunca passasse das cinco horas, nunca chegando à noite. Sei que parece loucura, mas você ainda nem tem doze anos. Não entende do que falo.”

“Depois que metade de minha alma fora selada pela Morte eu não pude utilizar o mesmo nome. Com o tempo, Albrieco Ambratorix fora se extinguindo. Eu usei muitos outros nomes, não me lembro de todos, evidentemente. Mas acredito que Alun Garrow fora usado mais de uma vez. Ah, sim, foi.”

– E por que você se intitulou O Caçador de Destinos? – perguntou Alvo em um sopro. Não querendo interromper a história de Ambratorix, mas ele tinha que fazer aquela pergunta.

– Porque o destino é algo imprevisível. E que não se pode caçar – respondeu Ambratorix feliz. Seu rosto se iluminara como Alvo nunca antes vira em uma pessoa. – Por mais que você tente o destino nunca poderá ser domado. Eu tentei manipular o destino ao meu favor. Tentei mudá-lo, tentei caçá-lo. Quis trazer de volta alguém que o destino havia tirado de mim, e olhe o que acabei conseguindo – ele estendeu os braços. – É um paradoxo, eu sei, mas sem eles não haveria graça na descoberta ou na vida. Entende?

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– Mas por que você escondeu a Chave Matriz do Olho no Memorial da Batalha de Hogwarts? E por que quando eu toquei nele a placa me transportou para o passado, durante a batalha e para exatamente onde estava ocorrendo o assassinato de Colin?

– Bem, Alvo, quando ao fato específico de onde minha chave o levou ou para onde você fora levado, eu realmente não sei – afirmou Ambratorix, calculista. – Mas posso explicá-lo mais sobre a Chave Matriz. Primeiramente imaginei que uma simples chave fosse algo simples de mais para se achado ou procurado. Para meus seguidores, os Caçadores¸ acreditei que algo mais desafiador lhes serviria. Moldei um artefato que pudesse ser manipulado com extrema facilidade. Aqueles que desejassem obter a chave, para protegê-la contra os demais que tentavam possuí-la para seu próprio uso, iriam obter-la com mais facilidade. A Chave Matriz consiste basicamente e resumindo em termos bem simples para um garoto como você, em um artefato maleável e de fácil transformação. Ela pode ser uma simples placa de coloração fosca, ou um castiçal, ou até mesmo uma porta forte do banco Gringotes. Aqueles de sangue-puro, que quando digo isso não me refiro a status de mestiço ou sangue-impuro, ou parentes meus podem sentir-se beneficiados ou, de certa forma, revigorados por um poderoso feitiço de pronúncia imprópria que lancei. Caso aquele que entre em contato com a Chave Matriz possua os dois, bem... Ocasionalmente ele possa dar uma voltinha por entre as dimensões. O fato de ter parado bem na Batalha de Hogwarts, ham, vejamos... As inscrições sobre a batalha estavam na placa, não é? E havia um fantasma escondido no memorial, certo?

Ambratorix revirou os olhos, voltando-os para o céu. – BINGO! – exclamou Ambratorix saltando da cadeira que repousava, e

poucos segundos depois largou o corpo de volta à mesma. – O fantasma absorveu todos os efeitos do feitiço. Seu corpo espectral e a camada ectoplásmica da pessoa.. ou do morto, devem ter convertido o sistema paralelo da Grade da parte mais aguçada do córtex vertical e reprogramado a direção e ou o centro principal do portal...

– Pode traduzir o que disse em palavras simples? – chiou Alvo sem entender uma vírgula de que o homem dissera.

– Acredito, se não estou enganado, e raramente estou... De que seu amigo fantasma redirecionou o... trajeto que a Chave Matriz lhe encaminharia. Digamos que o fantasma mudou a direção de seu primeiro estalo de magia para a batalha.

– Ok, mas algo ainda me inquieta. Quais são, então, as verdades sobre o Olho entre os Mundos – perguntou Alvo menos nervoso.

– Inicialmente eu queria uma máquina que trouxesse de volta somente minha queria Beatriz. Depois, com mais raiva da Morte e iludido por minhas novas habilidades artísticas, eu queria criar um portal que pudesse trazer todos os meus entes queridos de volta a vida. Eu trabalhei por séculos nesse projeto. Infiltrei-me em grandes obras com diferentes

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nomes, tudo para ganhar mais ouro e despertar mais interesse para aqueles que quisessem patrocinar meus inventos. O maior de todos: o castelo de Hogwarts. Aquela fora minha segunda obra prima. Ravenclaw, Gryffindor, Hufflepuff e até Slytherin sempre foram muito hospedeiros comigo. E eu já conhecia Slytherin de longas datas. Mas naquela época eu já estava cego. Cego pelo egoísmo e pela vingança. Eu mal dava importância para os mais belos feitos do mundo. Enquanto Hufflepuff e Gryffindor ficavam maravilhados quando viam um aluno levitando uma pena eu ficava imaginando aquele mesmo levantando um saco de tijolos para facilitar minha obra. Quando Merlim, o grande e Ravenclaw olhavam com respeito para uma semente e uma dríade eu olhava para uma passagem secreta para meu precioso Olho. O único que pode ver, ou que acreditou ver, minha grande cobiça fora Slytherin. Ele me iludira com o que eu mais gostava: aventura e ouro. Fui eu quem construiu a Câmara Secreta. Às cegas, mas construí.

– Então o Olho entre os Mundos nunca poderia ressuscitar qualquer bruxo por qualquer motivo – falou Alvo ligando os fatos e acompanhando o raciocínio de Ambratorix. – Toda aquela dor e tudo o que Yaxley e sua Sociedade da Serpente fizeram fora em vão. Eles nunca trariam Voldemort de volta.

– Nunca – assentiu Ambratorix. – Pouco antes de a Morte levar-me, depois de eu ter concluído minha obra, eu selei o Olho entre os Mundos para apenas meus parentes, aqueles que tivessem meu sangue, pudessem usufruir do verdadeiro poder do Olho. Fiz isso para meu primogênito. Fruto de meu relacionamento com a única bruxa que mexeu com meu coração como fizera Beatriz. Deixei o Olho entre os Mundos para meu querido filho, Noto Peverell. Ele ficara com o sobrenome da mãe, sabe?

– Então, onde exatamente nós estamos?– Puxe por sua memória, Alvo – insistiu Ambratorix, esperançoso.– Eu... Quero dizer nós estamos no seu mundo, correto? Estamos dentro

do Olho entre os Mundos.O Caçador de Destinos sorriu.– Isso mesmo, Alvo. Aqui é meu mundo, o prêmio que a Morte deixou

para mim após o meu falecer. Ela não me levou para seu mundo, mas sim deixou uma área no Vácuo para mim. O meu mundo. Uma zona intermediária que passa despercebida pelos falecidos. Aqui faço o que eu quiser. Posso estar com quem eu quero. Falar com quem desejo. Desfrutar a eternidade com quem não pude antes... Embora existam algumas restrições.

– Então eu posso estar com quem eu quiser – falou Alvo entusiasmado. – Posso falar com aqueles que já morreram. Posso falar com os mortos!

– É mais complexo e mais belo que isso, mas não deixa de ser.– E como faço?

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– Basta mentalizar na pessoa que você deseja estar. E ela aparecerá. Caso você não saiba seu nome eu lhe direi, afinal eu sei tudo sobre esse mundo.

Alvo fechou bem forte seus dois olhos. Aquela era a oportunidade de uma vida. Poderia falar com todos aqueles que ele nunca pudera estar junto, fazer perguntas que nunca passaram por sua cabeça. Estar com pessoas muito especiais que nunca puderam sorrir para ele. Mas por quem começar. Já sei! Mentalizou Alvo com os nervos ferventes. Ele fechou os olhos com mais força. Quando os abriu deparou-se com quem desejara.

Era um homem e uma mulher. O homem era alto, na mesma estatura que seu pai, os mesmos cabelos, ao mesmo olhar maroto, os mesmo cabelos (porém mais rebeldes). Usava óculos e suéter e olhava para tudo como se já estivesse ali o tempo todo, mas que não tivesse sido notado. A mulher era muito bonita, e tinha uma ligeira semelhança com a irmã de Alvo. Tinha cabelos ruivos e um sorriso tão bondoso que parecia ser de um anjo. A mulher tinha o mesmo olhar que o homem, mas com uma diferença, eram os olhos de Alvo.

– Harry? Harry é você! Caramba, como está crescido! É uma pena que eu não possa estar com você. Puxa, você realmente parece comigo, e tem porte para jogador de Quadribol. Mas os olhos são diferentes, os olhos são seus, querida – falou Tiago Potter com firmeza. Seu corpo não parecia capaz de conter toda sua alegria e felicidade. Mas a mulher não estava tão fervente.

– Tiago, não seja precipitado. Este garoto, não é o Harry! – falou Lílian Potter analisando Alvo com os mesmos olhos verdes. – Ele nem tem cara de Harry. Embora verdadeiramente seja muito parecido com você, querido. Não, mas esse garoto tem cara de Alvo. É esse o seu nome, docinho. É Alvo?

Alvo assentiu. Também incapaz de conter a felicidade que era estar junto de seus avós paternos.

– Acho que não preciso dizer os nomes desses aí – falou Ambratorix próximo de Tiago e Lílian, que se limitavam a sorrir para o neto, como se não vissem o Caçador de Destinos.

Alvo fechou os olhos novamente. Dessa vez mentalizando em um homem gorducho, de cabelos ruivos e óculos redondos de casca de tartaruga.

– Ah, oi Alvo? O que está fazendo aqui? – perguntou Arthur Weasley sorrindo debilmente para o neto. – Não deveria estar sozinho aqui no Ministério. Ainda mais em meu departamento. Onde está a Gina? Garanto que deve estar uma fera procurando por você. Por Merlim, estou atrasado para o jantar! Molly deve estar preocupada.

Alvo teve o impulso de se agarrar no avô e de abraçá-lo como nunca fizera antes. Mas suas pernas não deixavam

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– Desculpe, Alvo. Mas como eu disse: há limitações – afirmou Ambratorix meio muxoxo. – Infelizmente nós não podemos tocá-los. Sei que é ruim.

Mas Alvo negou com a cabeça. Enxugou uma lágrima do olho e pensou mais um pouco. Não era nada ruim. Só de estar presente junto a aqueles três já era muito bom. Mas Alvo ainda podia mais. Com os olhos fechados, Alvo mentalizou em mais um grupo de pessoas, e logo eles surgiram.

Uma cópia idêntica do tio Jorge surgiu, porém com o par de orelhas. Uma mulher de cabelos rosa choque acompanhada de um homem muito parecido com Ted. Outro homem de cabelos longos e expressão marota e pomposa. Todos sorrindo para Alvo.

– Está sendo meio óbvio – resmungou Ambratorix colocando-se ao lado de Alvo.

Mas o garoto mal lhe dera atenção. Estava ocupado demais olhando para todos os outros quatro que se materializaram. O tio Fred Weasley sorria exatamente como seu irmão gêmeo, mas parecia levemente mais bobalhão. Os pais de Ted, Ninfadora e Remo Lupin também olhavam para Alvo, felizes, mas não conseguiam evitar e acabavam encarando um ao outro com amor. Sirius Black também estava bastante alegre. Parte da mão escondida no bolso, e uma leve feição de cão audaz no rosto.

– Tiago? Não, você não é o Tiago! Harry, é você? Também não. Mas que droga! E que raio de lugar é esse? Onde estão os outros? Onde estão Remo e Tonks, Olho-Tonto e Harry?

– Sirius Black! É você!– Brilhante, garoto! – bradou Sirius abrindo os braços. – Mas não sei

quem é você? Sabe onde está o Harry?– Não está limitado a aqueles que você conhece, sabe? – sussurrou

Ambratorix ao pé da orelha de Alvo.– Como assim?– Vejamos – ele estalou os dedos e oito idosos de aparência dócil e

carismática apareceram. Todos formando belos e perfeitos casais. Alvo notou que cada um dos casais ficara atrás de um determinado avô de Alvo, exceto um casal, que ficara mais próximo de Fred. Depois outros três homens apareceram.

– Esses são Charlus e Dorea Potter – narrou Ambratorix como se lesse uma lista de chamada. – Eles são os pais de seu avô Tiago. Conseqüentemente, são bisavós seus.

Charlus Potter era um bruxo calvo, apenas com alguns tufos grisalhos bem escuros. Tinha os mesmos olhos cor de avelã que seu filho e os mesmos que sua bisneta Lílian. Seu nariz era igual ao de Alvo, assim como os joelhos pequenos que sustentavam as pernas fracas e bambas. Ele usava um paletó cinza gris com uma gravata com as cores da Grifinória. Aquele era com certeza o pai de Tiago. Já sua mulher Dorea Potter era completamente diferente. Aparentava ser mais nova que Charlus, mas nada menos que um ou dois anos. Tinha cabelos loiros com

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riscas brancas, que ficavam bem atraentes a luz do sol ofuscante da terra do Caçador de Destinos. Tinha uma boca pequena bem parecida com a de Lílian, mas tinha os olhos amarronzados e escuros do irmão de Alvo. Ela vestia um vestido bastante casual, roupas largas e conservadoras em tom de caju, com um avental de cozinha e um sorriso materno.

– Os outros, ali ao lado de sua avó Lílian são: Basílio e Glenda Evans. – continuou Ambratorix indicando para o casal de idosos próximos à Lílian.

Basílio Evans se mostrava um homem autoritário e severo. Parecia ser o único bisavô de Alvo que possuísse cabelo. Esse que era impetuosamente ajustado por um repartido milimétrico a exatos quinze centímetros de sua orelha esquerda. Tinha os olhos verdes de Alvo e uma leve semelhança nas mãos, as quais carregavam uma pasta bastante surrada com o nome de um jornal trouxa bastante popular nos anos cinqüenta. Basílio também possuía um bigode de escovinha que ocultava todo seu lábio superior, mas Alvo ainda podia ver um tímido e tenso sorriso.

Glenda Evans possuía óculos semi-ovais, muito parecidos com os oclinhos de meia lua do Prof Dumbledore. Possuía cabelos ruivos muito claros, mas que já foram escuros e que clareavam com o passar de sua idade. Os olhinhos escuros fitavam Alvo por trás das finas lentes de vidro. Ela vestia um vestido certinho bastante comum de donas de casa que saiam para fazer compras nas feiras de hortaliças. Glenda não parava de admirar ao seu bisneto, mas não parecia fazer a mínima idéia de quem era ele. Apenas o fitava murmurando algo baixinho. “Lílian está fora naquela escola para pessoas especiais. Tomara que ela arranje algum namorado melhor que aquele menininho mal encarado do alto da Rua da Fiação. Os Snape não parecem muito afetuosos, hum. Nunca os convidaria para tomar chá aqui em casa. Não, não, não. Mas Petúnia parece estar mais bem encaminhada. Aquele Válter Dursley não me parece tão má pessoa, não, não. É um tanto gordinho, mas isso é bom. Sim, sim. Vai sempre proteger minha Tuninha. E Basílio parece ter gostado do Sr e da Srª Dursley. São boa gente, são sim.”

– Alvo, eu apresento-lhe Septimus e Cedrella Weasley – falou Ambratorix para Alvo indicando o casal junto ao vovô Weasley.

Alvo já vira a fotografia do biso Septimus várias vezes. Ele também não possuía muito cabelo, assim como Charlus, possuía alguns tufos de cabelo ruivo, próximos às orelhas. Septimus tinha uma cara bem amistosa, além de um olhar sábio e compenetrado, daí explicava o porquê de sua longa coleção de peças de xadrez e seu troféu de latão de “Campeão da Competição de Xadrez de Bruxo realizado em aliança com as Federações da Irlanda, da Irlanda do Norte e do País de Gales”. Cedrella Weasley não era muito familiar a Alvo, mas vê-la era como ver sua mãe alguns centímetros mais baixa e alguns quilos e anos a mais. Ela possuía cabelos cacheados e castanho-claros similares aos da família Longbottom e da família Crouch.

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– Aquiles e Perpétua Prewett – disse Ambratorix para o último casal de idosos. – Os pais de sua avó Molly.

Aquiles Prewett possuía cabelos ruivos como a grande maioria dos membros da família Prewett. Possuía óculos quadrados com couro de lagarto e uma expressão tão marota quanto à do Tiago, Sirius e Remo juntos. Ao seu lado estava Perpétua Prewett, vestida com um tweed verde como a grama e um sorriso infantil, e de certo modo até doentio.

– Os outros são seus tios-avôs – indagou o Caçador de Destinos mostrando para Alvo os três homens ruivos que também apareceram junto a todos os seus bisavôs e bisavós. – O mais velho é Abílio Weasley, irmão de Arthur e os outros dois são Fábio e Gideão Prewett, irmãos de sua avó.

Abílio Weasley era demasiadamente parecido com o vovô Weasley. Porém a tonalidade de seus cabelos ruivos era mais escura, e ele não usava óculos algum. Entretanto possuía um bigode razoavelmente longo. Fábio e Gideão pareciam irmãos gêmeos, mas só pareciam. Fábio era uns cinco centímetros mais alto que Gideão, o qual era ligeiramente mais gordo. Ambos dispunham de cabeleiras ruivas e rebeldes. Os dois vestiam o mesmo par de roupas. Camisas xadrez e longas calças de gris marrom.

– Está vendo Alvo? – disse Ambratorix pausadamente quando os parentes de Alvo finalmente notaram a presença dos demais. Tiago, Sirius e Remo começaram a relembrar dos tempos de escola, Charlus e Dorea estavam atentos as estripulias do filho e dos amigos, já bastante cientes de muitas delas. Tonks e Fred começaram uma animada discussão sobre os Metamorfomagos, o que dera uma brilhante idéia de um novo produto para sua loja junto ao irmão gêmeo (Alvo teria de contar para o tio Jorge sobre o plano para os Camaleões Comestíveis). Lílian se emocionava junto aos pais relembrando alguns fatos do passado. Fábio e Gideão falavam juntos para o vovô Weasley como era divertido derrotar Comensais da Morte. E Aquiles Prewett e sua esposa Perpétua foram envoltos na detalhada explicação de Abílio sobre como era horrível avistar o Sinistro, Septimus e Cedrella estavam de ouvidos abertos para cada exclamação exagerada do filho e censuravam certar palavras utilizadas pelo mesmo.

– Mamãe, ainda bem que você não estava no casamento do primo Franco – resmungou Abílio. – Depois que ele e Alice dançaram, eu tirei algumas flores do.. Ah, deixa para lá! Mas tia Augusta ficou bastante chocada. Se não fosse tio Otto acho que ela desmaiava. Creio que tia Callidora e tio Harfang fingiram que não me conheciam. Mas o tio Algie riu muito! Só parou quando tia Enid, ameaçou romper o casamento se ele não parasse de rir e me forçasse a utilizar o Contra-Feitiço!

– Está vendo o quão bom é este mundo?– Posso ficar mais tempo? – perguntou Alvo, ansioso. Preferindo mil e

uma vezes aquele descontraído mundo com seus parentes e amigos que o caótico duelo com Yaxley.

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– Infelizmente não, Alvo – falou Ambratorix tristonho. Ele também parecia estar se divertindo bastante junto a Alvo, e estando presente ao fato de que o parente teria de ir embora e de que ele voltaria a ficar sozinho em seu mundo, somente com a manticora e a esfinge, não o agradava muito. – Foi muito prazeroso o tempo que passamos aqui, Alvo. Você é um garoto esperto e até engraçado. Acredito que, em melhores circunstâncias, nós nos daríamos muito bem. Se me permite dizer, acho que você se assemelha um pouco comigo quando eu tinha sua idade. Mas este não é o seu mundo, Alvo. É o meu. O seu mundo está abalado e só você pode restaurar o equilíbrio momentaneamente. Você deve voltar, e explicar para todos o que aconteceu.

– Mas vou assim, sem mais nem menos? – Alvo estava realmente chateado por ter de deixar aquele mundo. – Depois de tudo o que aconteceu de tudo e todos que vi! Terei de voltar para um duelo que com certeza não posso vencer, desta forma?

– Você achou que eu lhe deixaria na mão? – Ambratorix ergueu uma das sobrancelhas e Alvo não pode deixar de escapar um sorriso fosco. – Você viu muito daqui, Alvo... E como parente seu não poderia deixá-lo voltar para a beira da morte. Além do mais, quero lhe dar um presente.

Ambratorix olhou para os céus como se esperasse que uma caixa retangular, embrulhada com papel celofane azul amarrado com uma fita comemorativa vermelha e um cartão de Natal, fosse aparecer do nada, piruetando por entre as nuvens. Quando Alvo baixou os olhos para onde todos seus parentes e conhecidos mortos estavam há poucos segundos reparou que todos haviam desaparecido. Aquela sensação de solidão e vazio o fez lembrar-se de sua família. De seus pais, de Lílian e de Tiago, além de todos seus tios e primos. Sentiu um aperto no peito, e se sentiu culpado que por um instante, preferiu abandonar a todos somente para ficar em um mundo menos caótico e maluco com um artesão biruta, porém sábio e imagens de parentes mortos, os quais ele não poderia tocar.

– Aqui está! Perfeito! – Ambratorix juntou as duas mãos próximo onde estava há alguns minutos Charlus Potter. À primeira vista Alvo imaginou que Ambratorix havia pegado o vento. Mas quando ele virou-se de lado, percebeu que era uma tira de ouro tão fina que podia enganar os olhos de um humano comum. – Vai ser divertido, hum? Não deve demorar mais de um minuto e quarenta e cinco segundos.

E assim, comprimiu a tira de ouro maciço como se fosse feito de papel de arroz japonês. Ele começou a dobrá-lo e apertá-lo como se fosse uma macinha para crianças.

– Pronto, aqui está! – exclamou Ambratorix indicando um galeão novinho em folha e, repentinamente, atirou-o para Alvo.

O garoto pegou a moeda de ouro graças a seus reflexos de quadribol. Era igual a qualquer outro galeão que ele já havia recebido. Alvo o tateou ingenuamente, imaginando em que ele iria gastar aquela moeda.

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– Não se atreva a trocar esta moeda por um pacote Super-Família de Varinhas de Alcaçuz! – ordenou Ambratorix como se lesse os pensamentos de Alvo. – Até porque nenhum bom lojista a aceitará. Veja em seu contorno, repare nos detalhes, como um bom artesão.

E Ambratorix estava certo. Nos galeões verdadeiros, em seu entorno, existem nomes e números gravados em sua beirada. Geralmente referiam-se ao nome do duende que cunhou a moeda e o número de sua fabricação. Mas aquela era diferente. Onde deveriam estar as informações técnicas do galeão estava escrito “De: A. C. Ambratorix/Para: A. S. Potter. Presente de nº 001. Para os momentos de mais dor e solidão”.

– E o que ele faz? – perguntou Alvo deslizando a moeda pelos dedos cumpridos das mãos.

– Ele lhe ajudará – respondeu o artesão rispidamente. – Quando você estiver sozinho, preocupado ou amedrontado ele te ajudará. É como uma injeção de ânimo e força portátil. Pode ajudar nos momentos mais sombrios. Também poderá te ajudar com relação a aqueles que você viu aqui.

– Poderei falar com eles novamente?– Eu não disse isso – falou Ambratorix comprimindo o cenho. – Já está

na hora de você ir...– Espere! – bradou Alvo pouco antes de guardar o falso galeão no bolso

de sua calça. – Só me tire mais uma dúvida. Não é para mim, é para um amigo – completou pensando que aquilo o ajudaria a ficar mais um segundinhos naquele mundo.

– Nobre. Pode perguntar.– Gostaria de saber, se você tem alguma informação sobre o avô de

meu amigo Escórpio. O nome dele é Lúcio Malfoy, saiu de casa há alguns anos, e muitos acham que ele morreu. Era um canalha, mas é avô de meu amigo... E acredito que ele não gostaria de saber, por fontes como Yaxley que na verdade o avô está morto.

– Malfoy, não é – Ambratorix começou a movimentar os dedos no ar como se estivesse diante de uma calculadora invisível que no lugar de números apresentava nomes. – Ahn-hã, como eu imaginava, é o filho de Abraxas Malfoy. Ora, vejamos. Abraxas Malfoy, seu irmão Demiurgo Malfoy, Jápeto Malfoy... Não, nenhum Lúcio. Isso pode ser bom, pode ser ruim...

– Ok, obrigado, Ambra! – sorriu Alvo, contagiando Ambratorix como se seu sorriso fosse como catapora.

– Ambra. Nunca me chamaram assim! Ok, boa viagem de volta, Al! E lembra-se que eu estarei de olho em você.

E estalando os dedos, Ambratorix sorriu pela última vez para Alvo. O garoto sentiu seus joelhos perderem a força, depois sentiu como se todo seu corpo flutuasse, como se ele, Alvo, fosse um boneco feito de areia.

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Capítulo Dezenove O Fim da Sociedade da Serpente

uando Alvo voltou para si estava novamente no santuário subterrâneo do Olho entre os Mundos de Albrieco Ambratorix, o Caçador de Destinos. Suas mãos estavam sobre o caixão

dourado que irradiava um calor insuportável. As mãos de Alvo estavam vermelhas como dois pimentões. Possivelmente ambas estariam torradas se o caixão não fosse mágico e Alvo teria de servi-las em um prato ornamentado para o café da manhã. Ele largou a superfície do caixão com energia. E sentiu as mãos vibrarem de excitação. Ele não estava normal. Tateou os bolsos. A varinha de Rosa fora colocada no bolso traseiro do lado esquerdo da calça (ele preferia aquele lado, pois achava mais fácil sacar a varinha, sendo ela estando no lado oposto a sua mão dominante). No bolso lateral do lado direito havia algo que não estava há pouco tempo atrás. Alvo não sabia quanto tempo se passara desde que se encontrara com Ambratorix. Ele meteu a mão direita dentro do bolso onde um incômodo objeto redondo e achatado repousava. Era dourado, com inscrições em quase todas as partes, também era quente, assim como o Olho entre os Mundos. Quando Alvo encostou-se à moeda sentiu os dedos formigarem novamente. Mas era um formigamento diferente, era estranho, mas era quase que bom. A moeda de Ambratorix estava ali, mesmo Alvo não tendo a mínima idéia de como ela chegara. Não se lembrava precisamente como fora seu encontro com o artesão. Lembrava das partes mais marcantes, de reaver todos os membros de sua família já falecidos. De desvendar os mistérios sobre o Caçador de Destinos junto ao próprio caçador. Também se lembrava do momento em que Ambratorix transformara um filete de ouro quase invisível em um galeão mágico. Lembrava de suas palavras. “Para os momentos de mais dor e solidão”. Talvez aquilo tivesse alguma coisa a ver com o presente momento de Alvo. Ele sentia dor. Dor por se sentir culpado de um possível colapso mundial que poderia acontecer por sua causa, mesmo sabendo que o Olho não despertaria bruxo algum. Sentia dor por todos aqueles falecidos por uma causa perdida. Sentia dor pelo verdadeiro Epibalsa McNaught, pelo curandeiro preso em Azkaban injustamente, e pelo Prof Silvano que Alvo não sabia se estava vivo ou morto. E sentia-se sozinho. Sabia que não podia enfrentar Yaxley frente a frente. Yaxley era um canalha, um patife, mas um patife que conhecia um número muito amplo de feitiços. Não havia como derrotá-lo. E sabe-se lá o que Yaxley faria quando descobrisse que todo seu esforço, todos seus riscos foram em vão. A exposição de seu grupo, a morte de seus companheiros (embora Alvo acreditasse que Yaxley não se importava muito com isso).

Q

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Como Alvo poderia vencê-lo? Ele estava sozinho. Rosa e Escórpio amordaçados por ervas e vinhas encantadas que os esmagavam cada vez mais. E ele, Alvo, nada podia fazer, a não ser esperar e pensar. Pensar em um jeito de virar a mesa a seu favor...

Olhou sobre o ombro para onde os outros bruxos estavam. Monomon estava desmaiado sobre os escombros da pilastra que se chocara. Silvano não estava nada melhor. Caído, sem demonstrar sinais vitais. Metade de seu tronco, sua cabeça e seus braços estavam ocultos por uma pilastra, que talvez houvesse salvado sua vida. A parte exposta, suas pernas e seus pés, estavam completamente perfurados com ferimentos graves e bastante sangrentos. Suas vestes se assemelhavam a velhos trapos de elfos. Tinha a aparência de um cadáver. Escórpio e Rosa pareciam estar suportando bem a maldição de Yaxley. Como verdadeiros grifinórios, eles se mostravam bravos em resistir aos apertos provocados pelas vinhas. Claro, seus braços e pernas estavam vermelhos e marcados, e em certos pontos gotas de sangue escorriam pelas vinhas. Mas sua situação não era das piores. Yaxley se recompunha rapidamente. Os cabelos estavam desgrenhados e despenteados. Havia um ligeiro corte em seu rosto e havia também um rasgão em sua manga direita. Ele se levantava, fulminando Alvo com seus olhos enlouquecedores. Não parecia a Yaxley que o encontro de Alvo com Ambratorix demorara tanto. Na verdade, parecia que nada havia ocorrido após a explosão de calor do caixão dourado.

– Por que você não o abriu?! – berrou Yaxley pegando sua varinha e apontando a distância para Alvo. – Por que o Olho não está aberto?! Por que não vejo meu milorde?!

– Seu milorde não poderá mais voltar – disse Alvo friamente. – Conversei com Ambratorix. Ele é bem legal. Na próxima vez que tentar trazê-lo de volta, Furius, pelo menos tente apostar em uma arma que realmente possa trazê-lo de volta!

– O que quer dizer?– Digo que o Olho entre os Mundos nunca poderia trazer Voldemort de

volta...– Como ousa pronunciar o nome do Lorde das Trevas, mestiço...?– O Olho de Albrieco fora criado apenas para seus herdeiros de sangue!

– exclamou Alvo. Algo parecia explodir de felicidade e de empolgação dentro dele. Uma das fontes de energia era seu coração, que estava aceleradíssimo, e a outra era a moeda de ouro presenteada pelo Caçador de Destinos, que vibrava sem parar. – Somente pessoas como eu poderiam utilizar seu verdadeiro poder. E é algo maravilhoso, Furius.

– Como ousa me chamar assim? – Furius Yaxley apontava a varinha para o nariz de Alvo, mais alguns passos e ele a tocaria no garoto, fazendo-o ficar vesgo para acompanhá-la. – Se o Olho não serve mais, não preciso mais de você. Você não me é mais útil, Potter! Então... MORRA! Avada Kedavra!

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Alvo desviara da maldição de Yaxley com tanta destreza que parecia ser colega auror de Silvano. Seu corpo se agitava de maneira tão energética e veloz que ele parecia um autêntico Detonador. Uma voz sussurrou em seu ouvido, uma voz masculina, bastante paternal.

– Eu usaria o feitiço Reducto nesse sem vergonha – falou a voz de Charlus Potter ao pé da orelha de Alvo.

O garoto olhou para o lado, mas não havia ninguém. Somente o inconsciente Prof Monomon.

– Reducto! – exclamou Alvo. A varinha em sua mão tremeu. Aonde Yaxley pisava houve um estrondo, como se ele acabasse de pisar em um dispositivo e duas dinamites explodissem. O comensal caiu, cambaleou, e com dificuldades, se recompôs.

– Esse cara não parece ser muito legal! – dessa vez era uma voz feminina. – Poderíamos brincar com ele um pouco. Use o Rictusempra nele. Beleza, Alvo? – era Ninfadora Lupin.

– Rictusempra – pronunciou Alvo. A ponta da varinha de Rosa ascendeu como se fosse um pisca-pisca natalino. O feitiço acertou Yaxley em cheio, e o bruxo não conseguiu parar de rir.

Meio abobalhado Yaxley se recompôs. Tentava morder os lábios para parar de dar gargalhadas, mas era impossível. Alvo pode imaginar que o Comensal da Morte estava corando. Mas sua atenção mudou quando Yaxley mirou-lhe a varinha e lançou novamente a maldição criada pelo colega Dolohov. Flamas roxas irromperam novamente de sua varinha. Alvo não teria muita escolha, não conseguiria repelir o feitiço. De muito não adiantara seu esforço, mas ele encarou o feitiço de peito aberto.

Talvez fosse sua coragem, ou a magia misteriosa que parecia se comunicar com ele através do presente de Ambratorix, mas o feitiço nada surtiu em Alvo. Ele se sentia como se tivesse sangue de gigante, força de trasgo e carapaça de explosivim. Era como se seu corpo fosse um tanque de guerra perfeito, e indestrutível. Alvo tinha certeza de que nada o poderia deter se ele continuasse a utilizar a magia da moeda. E seus parentes falecidos pareciam pensar o mesmo, pois não paravam de lhe passarem sugestões.

– Que risada irritante – falou uma voz idêntica a do tio Jorge, mas era a de seu irmão gêmeo Fred. – Use o Cara de Lesma nele. Vai ser uma lambança!

Alvo aceitou de bom grato a sugestão do tio Fred. Em certo tom gozador Alvo pronunciou as palavras “Cara de Lesma” e poucos segundos depois de Yaxley ter sido atingido pela azaração, não parava de cuspir enormes, gosmentas e lerdas lesmas.

– Como? – tossiu Yaxley completamente incrédulo. Estava sendo vencido por um garoto, muitos anos mais novo que ele, e era vencido por azarações e feitiços ridículos e que, em um verdadeiro duelo, não causariam grandes estragos. Lá estava Yaxley cuspindo lesmas cada vez maiores e mais gosmentas, sendo azarado por um garoto de onze anos.

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Que tipo de duelista ele era? Um duelista bem fraco, no mínimo. Yaxley estava muito pálido. A cada arroto, mais lesmas caiam de sua boca e sua face parecia mais branca que o mármore mais bem polido do mundo.

– Finalize com ele agora! – falou com entusiasmo uma voz semelhante a que Alvo ouvira de Abílio Weasley.

– Isso faça como nós! – gritaram Fábio e Gideão juntos. – Vai ver como é bom derrotar Comensais de Morte!

– Não, esta peste merece mais! É pior que o Ranhoso – disse Sirius Black incentivando Alvo a prosseguir com a apresentação cômica.

– Eu o faria. Faça como seu vozão, aqui! Faça esse bostinha pagar pelo que fizera – aconselhou Tiago Potter tão animado quanto o melhor amigo.

– Eu sugiro um feitiço bastante simples, meu rapaz – disse a voz de Remo Lupin para Alvo. – É de nível básico, fará com que ele pire de tanta coceira. Use o Pox.

Alvo assentiu. Por mais que estivesse sendo divertido lançar aquele mundaréu de azarações em Yaxley, algo o incomodava. Ele começara a sentir algumas fisgadas em seu peito esquerdo. No início era apenas um leve incômodo, mas com o passar do tempo, começara a se transformar em dor. Espalhava-se pelo seu corpo, o dominava aos poucos. Será que o efeito da maldição de Yaxley? Alvo se perguntou. Mas em seguida sentiu outra fisgada, desta vez na perna esquerda, onde guardava o galeão. A magia estava perdendo o efeito e Alvo começava a sentir o ônus de toda aquela explosão de magia. Deveria terminar aquilo logo.

– Pox. – gritou. No mesmo instante, bolinhas vermelhas de diferentes tamanhos e intensidades começaram a brotar pelo corpo de Yaxley. No nariz, nas pernas, nos braços e possivelmente nas áreas mais incômodas, particulares e difíceis de se coçar. Ele abandonara a varinha. Não tinha como atingir o garoto, e estava servindo apenas como a marionete de um espetáculo onde ele era o palhaço. Aquilo irritava Yaxley. O consumia, o deixava a beira de um ataque esquizofrênico. Yaxley detestava ser humilhado. – Diffindo – bradou Alvo apontando a varinha para as vinhas que prendiam seus amigos. Com um suspiro, Escórpio e Rosa se atiraram no chão de pedra da gruta, livres, salvos e com as veias e artérias livres para o sangue circular. – Acabou para você, Yaxley. Você não foi um grande desafio. Imaginava coisas piores. Acabou de uma vez, você foi derrotado. De novo. Expelliarmus!

Uma rajada de luz, vinte... Não, cem vezes mais forte que a lançada por Alvo em sua primeira aula de Defesa contra as Artes das Trevas como Prof Silvano disparou loucamente contra Yaxley. Era mais forte e mais veloz que um balaço errante, mais luminoso que as velas do Salão Principal, e mais poderoso que todos os feitiços que Alvo já havia lançado na vida. O Feitiço de Desarmamento acertou Yaxley em cheio. Não houvera tempo para se defender ou desviar. Um berro cortou o silêncio da noite sob a terra. Yaxley fora erguido do chão, atirado contra a

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parede, deixado desmaiado no chão. Ainda com as vestes sujas de baba e gosma de lesma e o corpo infestado de bolinhas vermelhas...

– Conseguiu, Alvo! – exclamou Rosa, sendo ajudada por Escórpio a levantar. – Venceu Yaxley, sozinho! Ajudou a restaurar a paz no mundo e... Alvo... Alvo!

– Alvo, o que está havendo! – berrou Escórpio correndo para acudi-lo.Alvo não conseguiu se sustentar. As pernas balbuciaram, a cabeça

parecia estourar de tanta dor. Sua visão ficou turva, deixando a miopia de Tiago no chinelo, tudo parecia rodar ao seu redor. Não via Rosa. Não via Escórpio. O peito ardeu em chamas mais do que nunca. Tudo ficou escuro...

Alvo não tinha a mínima idéia de por quanto tempo ficara desmaiado. Quando finalmente conseguiu abrir os olhos, não estava mais no santuário do Olho entre os Mundos. Não vestia mais suas vestes rasgadas e sujas de suor e sangue. Vestia um roupão de cetim bastante confortável com listras azuladas na vertical. Já era de manhã e o Sol brilhava com bastante intensidade clareando toda a Ala Hospitalar. Sua cabeça já não doía mais. Estava confortavelmente esparramada pelo travesseiro de penas de pavão na quinta cama do lado direito da enfermaria. Aos poucos sua visão fora melhorando. Já podia ver os desenhos da parte de trás da porta da Ala Hospitalar, e a bancada de doces, aparentemente a sua disposição, sua varinha de teixo, umas anotações velhas sobre Feitiços de Inflação e o galeão presenteado por Ambratorix. Já distinguia o contorno de Madame Pomfrey em sua sala folheando algum livro de medicina avançado. Via Sara Aubrey em um canto cochilando em uma poltrona, aparentemente bastante exausta. E vira também um homem. Ele estava sentado aos pés da cama de Alvo. Estava de costas, mas alguma coisa dizia que Alvo conhecia aqueles cabelos, aquelas roupas e aqueles aros de seus óculos. Ele segurava um dos pés de Alvo (o garoto também voltara a sentir seus membros). Segurava com delicadeza, mas também estava apreensivo.

Alvo tentou falar, mas só pode emitir alguns grunhidos. Felizmente fora o suficiente para chamar a atenção do homem.

– Graças a Deus! Você acordou, Al! Srtª Aubrey, veja, Alvo acordou! Madame Pomfrey, ele acordou! – gritava Harry em êxtase, o rosto completamente tomado por seu sorriso.

– Pelas barbas de Merlim! – exclamou Madame Pomfrey que deixara sua sala em uma velocidade incomum para alguém em sua idade, mas eram poucos os quer a conheciam. – Potter acordou antes do que planejara. Isso é bom! Está reagindo bem aos medicamentos.

– Quer que eu traga mais Vitamina de Titã, madame? – perguntou Sara prontamente eficiente.

– Por enquanto não, Aubrey. Não queremos que Potter desfaleça novamente, hum. Como se sente, rapaz? – e antes de qualquer resposta,

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Madame Pomfrey espremeu a mão na testa de Alvo, procurando qualquer sinal de febre. – Trinta e seis e meio... Hum...

– Como se sente, meu filho? – perguntou Harry se endireitando e agora segurando a mão de Alvo.

– Tonto – sussurrou Alvo. Finalmente percebera que sua velha inimiga de outras guerras havia voltado. A tipóia estava novamente em seu braço direito. – E enjoado. Como se tivesse tomado barris de Suco de Abóbora e comido duas pilhas de Bolos de Caldeirão. Depois tivesse sido surrado por dois trasgos montanheses.

– Bom – sussurrou Madame Pomfrey, o que deixou Alvo curioso. O que ela poderia ter achado bom dentre suas explicações.

– Na gruta... No santuário... – tentou Alvo, mas sua voz se perdia.– Já sabemos de tudo – afirmou Harry pausadamente. – Ou quase tudo.

Rosa, Escórpio, Tiago e todos seus amigos metidos em sua trama já nos narraram tudo. Afinal, já se passaram dois dias...

– Dois dias! – exclamou Alvo, mas logo se arrependeu de tê-lo feito. Um incômodo tomou a região de seu abdômen.

– Acho melhor deixarmo-nos a sós, Srtª Aubrey – falou Madame Pomfrey para a assistente. – Quero que veja à minha sala. E traga a ficha de Potter. Quero rever algumas coisas.

E as duas deixaram Alvo e Harry, pai e filho, sozinhos.– Como...– Te trouxeram para cá? – soltou Harry como se lesse os pensamentos

do filho. – Mini Voldys Mofados. Sua prima Rosa levara um bonequinho para o santuário do Olho e se comunicara com os demais. Por sorte, ou não, um deles estava em posse de Crouch. Ela ficou a par de situação de que Tiago e Agamenon Lestrange estavam aprisionados na sala de Defesa contra as Artes das Trevas e que vocês três, junto a Mylor, Yaxley e Artabano se encontravam em uma gruta secreta no meio da floresta. Rosa e Servilia se comunicaram através dos bonecos, até que ela, juntamente com Minerva, Neville e Flitwick chegaram ao santuário.

– E o que aconteceu com os outros? Silvano está morto? Yaxley e Artabano serão presos?

– Silvano felizmente não está morto – falou Harry para alívio de Alvo. – Está extremamente ferido, e seus danos não se restringem à parte externa de seu corpo. Seus órgãos também foram bastante afetados por uma maldição que eu só vi uma vez na vida. Ele ficara aqui durante algumas horas, mas depois fora encaminhado ao St. Mungus. Quanto a Artabano e Yaxley... Bom, Yaxley está encarcerado em uma sala no sétimo andar, e duvido que saia de lá por algum tempo, esperamos que pudesse depor e ser encaminhado para Azkaban assim que parar de vomitar lesmas. Artabano está esperando em outra sala, mas mais paciente. Parece que ele estava o tempo todo sob influência da Maldição Imperius, mas só o confirmaremos quando os aurores chegaram.

– Mas... Você está aqui!

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– Estou aqui como o pai do aluno que se submetera à grande risco, causara uma pane geral na escola de Hogwarts e acabara salvando o mundo de um colapso de escalas inimagináveis – Harry não pode deixar de sorrir novamente. – Não estou aqui como chefe dos aurores, mas sim como seu pai. Gina também está aqui. Mas pedi que fosse dormir um pouco no dormitório feminino da Grifinória, Rosa cedeu sua cama. Ela não desgrudara de você nem por um minuto, Al. Ela ficara os dois dias sem dormir... Então pedi que se deitasse um pouco, lhe faria bem.

– Mas, no final das contas, não serviu de nada – murmurou Alvo ainda fraco. – Yaxley nunca poderia ter concretizado seus planos. Tudo fora em vão.

– Como sabe disso, filho?– Papai, – Alvo soou em um tom mórbido e fúnebre. Sentia seu corpo

fraquejar novamente, mas ele tinha de ser forte. Tinha de narrar para o pai o que vira e aprendera – você me contou uma vez que vira seus pais algumas vezes, não é? Pois, então... Eu também os vi.

E pausadamente, ficando em silêncio por alguns momentos para permitir que seu pai assimilasse tudo, e para que ele mesmo não explodisse de tanto falar ou acabasse tendo um ataque do coração, Alvo contou para seu pai o que ele vira quando abrira o Olho entre os Mundos. Quando terminou não gostou muito do que vira. Harry perdera a cor de seu rosto, seu sorriso fora sumindo aos poucos e agora ele estava boquiaberto. A primeira coisa que passou pela cabeça de Alvo era que seu pai estava a ponto de gritar: “Madame Pomfrey, volte! Meu filho está louco! Muito louco!”. Mas Harry não o fez.

O chefe dos aurores baixou os olhos e por um instante a jarra com um dos remédios de Alvo se tornou muito interessante. Seus olhos verdes, os mesmo que Alvo vira em sua avó, dançavam de Alvo para a jarra. E, por várias vezes, a segunda demonstrava ser mais atraente.

– Não sou a pessoa certa para lhe dizer muito sobre isto, Al – concluiu Harry pesadamente. – O que posso lhe aconselhar a fazer é, assim que Madame Pomfrey o autorizar, é claro, se encaminhar ao escritório da diretora e conversar com dois diretores muito envolvidos nisso. A senha é Legados e Espólios. Deve ajudá-lo.

– E os outros? O que houve com Rosa, Escórpio, e os outros Ma... amigos de Tiago?

– Todos estão bem – afirmou Harry e uma descarga de energia positiva parecia passear pelo corpo de Alvo. – Rosa e Escórpio Malfoy ficaram uma noite e um dia aqui na enfermaria. Seus tios e o Sr e a Srª Malfoy estiveram aqui nesse meio tempo. Tivemos de manter seu tio Rony o mais distante de Draco. Ele alegava que Escórpio induzira sua Rosinha a uma jornada desconhecida e perigosa. Mas no final tudo acabou bem. Quanto a seu irmão e os amigos... Tiago e Agamenon Lestrange foram resgatados de seu cárcere um dia após seu encontro com Yaxley. Monomon ajudou a quebrar o feitiço que os mantinha presos, eles assim como todos os

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outros envolvidos no acidente com os produtos Weasley foram recompensados com condecorações e pontos extras como serviços prestados a comunidade. Você, Rosa e Escórpio também foram condecorados. E outros quatro garotos da Grifinória também foram encontrados escondidos em uma sala no terceiro andar.

Alvo sentiu sua pele corar.– Todos pareciam estar sob influência de azarações de diferentes

portes. Continuou Harry voltando a sorrir – Os filhos de Simas, Dino e Cadu parecem ser bons rapazes, mas acho que não vão muito com a sua cara, Al. Exceto o filho de Dênis Creevey, Cameron, não é? Ele mal conseguia falar quando eu entrei na enfermaria. É um garoto muito engraçado e inconveniente. Um fã e admirador meu. Parece meio deslocado do grupo de Finnigan. Você deveria olhá-lo com olhos diferentes, Al. É um bom rapaz. Mas devo admitir que as azarações eram muito boas. Rosa usou a das Pernas Presas, não foi?

Alvo assentiu.– E o que vai acontecer com o Olho entre os Mundos? – Você está igualzinho a mim, filho – murmurou Harry alisando a mão

de Alvo com os polegares. – Em meu primeiro ano, também lutei contra um bruxo muito mais velho que eu. Acabei todo arrebentado, em uma situação pior que a sua, acredite. E todas as conseqüências foram idênticas. Primeiro, tentamos abafar o caso, tratar apenas como um fato isolado do cotidiano. Tentar minimizar a grande maioria dos fatos... Fracasso! Sua batalha contra Yaxley na gruta de Ambratorix já se espalhara por toda a escola e amanhã deve sair no Profeta Vespertino. Quanto ao Olho, o destruímos. Ontem.

– Destruído! – gritou Alvo tentando se erguer da cama, e novamente se arrependeu no segundo seguinte. Alvo pode ouvir Madame Pomfrey resmungar alguma coisa em desaprovação. – Como puderam fazer isso! O Olho era...

– Segundo suas próprias explicações, um objeto nulo. Que não oferece riscos a ninguém. Porém o ministro da Magia acredita que ele já fora responsável por demais chacinas e matanças. Claro, seu poder verdadeiro é muito belo e nobre, mas somente nossos filhos e netos poderiam usufruí-lo. E não é algo nada bom Alvo, mexer com a Morte, ver quem só deveríamos ver em nossos sonhos e lembranças.

– Então, no final das contas, fora somente uma aventura boba que não servira para nada – falou Alvo muxoxo, revirando os olhos e concluindo que o pai estava certo. A jarra de remédio poderia ser algo interessantíssimo.

– Não servira para nada, Alvo, tem noção do que você fez?! – Harry estava absorto. – Ajudou a aprisionar um dos bruxos mais procurados de todos, impediu que uma sociedade desconhecida pelo Ministério continuasse suas atividades e desiludiu a população de um mito que a cega por milênios.

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– Bem, pelo menos tudo acabou. – Não. Por acaso não está vendo esta pilha de doces e guloseimas? –

Harry apontava alegre para o monte de doces ao lado da cama. – Seus amigos e fãs não pouparam tempo para mostrar sua admiração por seu feito no santuário. Madame Pomfrey quase teve de utilizar artifícios não recomendáveis pelo Contrato de Restrição a Magia em Bruxos do Período Escolar com o tamanho rebuliço. Você estava de coma, logicamente não viu ou ouviu ninguém, mas... Seus colegas da Sonserina chegavam aos montes para lhe prestar solidariedade. Mas acredito que o capitão de sua equipe estava mais interessado em saber quando você poderia voltar aos treinos. Suas primas e seus primos chegaram aqui nas primeiras horas da manhã de anteontem. Estavam cercados por bandos de amigos, logicamente. Tiago e seus amigos também chegaram juntos, mas Madame Pomfrey não parecia muito contente em vê-los... E um menino muito familiar a mim lhe deixou um pacote de Sapos de Chocolate. Gostaria de falar um pouco com esse tal de Lívio.

Alvo sorriu para o pai e reuniu forças para pegar alguns doces. O ver a expressão tristonha de cão sem dono de seu pai, ele atirou um pacote de feijõezinhos em seu colo.

– Obrigado – falou Harry retirando o lacre com os dentes. – Sua mãe não gostaria de saber que você devorou essa pilha, sozinho. Ela já a vira, claro. E o aconselharia a dividir um pouco com seus amigos.

Alegre, mas ainda com certas dores no braço preso a tipóia, Alvo devorou boa parte dos doces enviados por seus amigos. E antes de seu pai deixar a escola, Alvo deveria avisá-lo para ter cuidado com as palavras que usaria em sua conversa com Lívio. Também teria de preparar o pai para se comunicar através de notas, porque Harry ainda não sabia que Lívio era mudo.

Fora ótima sua segunda estava na Ala Hospitalar. Com o passar do tempo as dores foram diminuindo de tamanho e intensidade, e Alvo pode passar um bom tempo conversando com Sara, que ficava boa parte de seu tempo livre ajudando Madame Pomfrey com os alunos que apareciam aos montes vítimas de acidentes com feitiços mal executados. Os testes e exames estavam se aproximando e com isso um crescente número de alunos encantando objetos durante as aulas e nos intervalos, tentando memorizar aquela entonação ou aquele nome de encantamento aumentara consideravelmente. Com isso o número de acidentes aumentava.

Madame Pomfrey tinha de se desdobrar em duas. O que facilitara a Alvo, pois a enfermeira chefe era muito autoritária e rígida. Não adiantava Alvo implorar para ela deixar que alguns de seus amigos o viessem visitar ou que ela liberasse sua estadia da Ala Hospitalar. As camas eram excelentes, mas Alvo já estava cansado de tantos remédios, do tédio e de ter que estudar a matéria perdida sozinho. A enfermeira

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restringira a enfermaria para seus pais, os professores e a diretora, e os alunos enfermos que chegavam com galhos nascendo por entre as raízes de seus cabelos e cuspindo vermes e lesmas como Yaxley.

Mais três dias depois e Alvo finalmente fora autorizado por Madame Pomfrey a deixar a Ala Hospitalar. Ele despiu o roupão de cetim com listrar azuis e vestiu um novo par de vestes que um elfo doméstico se prontificou em trazer de seu dormitório. Mancando e ainda com a irritante tipóia, Alvo passou por Sara Aubrey e se despediu dela com um aceno. Sara tentou sorrir, mas estava muito ocupada removendo uma galhada da cabeça de um garoto de quinto ano da Lufa-Lufa. Alvo deu de costas para a ajudante de Madame Pomfrey certo de que faria de tudo para não ver Sara mais vestida com seu uniforme branco com o broche de “Aprendiz”. Pelo menos até o final do ano letivo.

A primeira coisa que fizera ao deixar o recanto entediante, porém acolhedor da Ala Hospitalar fora se encontrar com Escórpio e Rosa. Não fora difícil encontrá-los. O primeiro lugar onde Alvo imaginara que estariam fora exatamente onde estavam. Era a faia a beira do Lago Negro onde os três gostavam de fazer deveres de casa ou repassar as matérias já ensinadas pelos professores. Sim. Por várias vezes Alvo fora parado e cumprimentado por alunos de diferentes anos e casas (ele ficara escarlate quando duas garotas do segundo ano lhe deram um beijo nas bochechas, um em cada lado), mas finalmente conseguira chegar à faia onde estavam os melhores amigos. Rosa ainda possuía alguns curativos nos braços e nas pernas. Escórpio ficara com uma cicatriz no supercílio e utilizava uma bandagem na perna esquerda.

– Alvo! – exclamou Rosa atirando seu dever de Feitiços para longe correndo para abraçar o primo. – Você finalmente saiu da enfermaria. Alvo, nós tentamos falar com você, te visitar, tentamos mesmo, mas Madame Pomfrey restringiu a passagem de alunos...

– Já sei de tudo. Papai e mamãe já me deixaram a par das circunstâncias.

– Que bom.– Deixe um espaço para ele respirar, Rosa – falou Escórpio pondo-se de

pé e limpando a grama que grudara em suas vestes. – E pode largar ele. Os braços de Alvo não vão cair se você não continuar o abraçando. Eles não vão cair, não é?

– Creio que não, Malfoy – Alvo não pode deixar de soltar. – Brincadeira. Fico feliz que comece a me chamar pelo primeiro nome.

– Ah... Aquilo. Foi só no calor do momento... Não vá se acostumando com isso, Potter!

– Já chega! – pediu Rosa imperiosa. – Alvo, em nenhum estante Escórpio pensou em não chamá-lo pelo primeiro nome. A cada vez que me via perguntava se já tinha recebido alta.

Alvo sorriu.

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– Eh, eu, ah... Estava um pouco preocupado, algum problema? – chorou Escórpio ficando vermelho. O que era fácil tendo Escórpio uma pele pálida como a que tinha. – E então, o que aconteceu lá na gruta. Sabe, por um instante, depois que você abriu o Olho. Você ficou todo duro, paralisado, durou pouco tempo, mas depois você ficou... Sabe, brilhando. Parecia um bruxo já formado e tudo mais.

Alvo então narrou novamente o que acontecera com ele após abriu o caixão luminoso. Suas feições não foram muito melhores que a de seu pai, mas entre todas as perguntas e exclamações, Escórpio e Rosa até que reagiram bem presentes aos fatos de que Alvo falara com mais de uma dezena de bruxos mortos.

– Então papai falou para que eu fosse até a sala da Profª Crouch – finalizou Alvo já recostado na faia escondido por sua sombra. – Disse que ninguém melhor para me explicar todos os mínimos detalhes escondidos de todos que Dumbledore e Snape. Estou pensando em passar por lá depois do almoço. Acham que Crouch pode estar muito ocupada nessa hora? E quero ir sozinho – acrescentou ao ver a expressão de Escórpio.

– Ah, mas...– Vamos respeitá-lo, Escórpio! – bradou Rosa. – Alvo tem direito de

saber, ele mesmo, todas as verdades dos diretores. Afinal, foram eles que meteram Alvo nessa aventura macabra toda. Não fora isso que o fantasma disse?

Alvo assentiu. Lembrando-se que depois de todas as satisfações entre ele, Dumbledore e Snape, ainda teria de falar com Colin, que se revelara ser seu protetor espectral durante todo o ano.

– Então faça tudo o que tem de fazer logo, se não será esmagado pelas avalanches de deveres de casa que o Prof Tofty tem passado – disse Rosa voltando-se para os deveres.

– Prof Tofty? – repetiu Alvo, porém já ciente do que iria escutar.– Sim, Prof Tofty – ecoou Rosa sem tirar os olhos do livro. – A Profª

Crouch o chamou para ser o substituto do Prof Silvano até o fim do ano letivo. Ele é um dos examinadores que vem à Hogwarts nos períodos de N. O. M.’s e N. I. E. M.’s. Ele não será examinador este ano, claro. Mas é bem simpático.

– Uma múmia que fugira da pirâmide – disse Escórpio rindo. – Ele ficará até o final do ano, como Rosa disse. Sabe o que isso significa, não é? A maldição ataca novamente. Silvano fora para o Hospital St. Mungus por tempo indeterminado. Ou seja... Professor novo de DCAT no ano que vem!

Como planejava depois do almoço, Alvo se arrastou até a gárgula de pedra que bloqueava a passagem para o gabinete da diretora. Quando o viu, a gárgula soltou uma exclamação tão aguda que poderia ser ouvida até escondido na gruta de Ambratorix.

– Você não! – ela gritou. Alvo imaginou que se não fosse de pedra, suas penas teriam se eriçado de medo. – Por favor, não me exploda! Estou

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apenas prestando meu humilde serviço guardando a passagem até a sala da diretora Crouch! Eu até abriria a passagem para você, mas...

– Legados e Espólios. – Obrigada – suspirou a gárgula saltando para o lado, liberando a

passagem.De maneira cerimonial, Alvo bateu na aldrava em fora de grifo e a porta

se abriu sozinha, silenciosamente.Depois que havia despertado de sua coma, Alvo havia visto a diretora

Crouch somente uma vez. Quando ela, junto com os professores Longbottom, McGonagall, Slughorn e Flitwick havia se dirigido à Ala Hospitalar para um ligeiro interrogatório sobre as atividades ilícitas de Alvo junto com seus amigos nos túneis secretos de Hogwarts e sua possível ligação com o grande vandalismo que tomara a escola nos dias anteriores. Naquela ocasião a diretora estava menos pálida e chocada que há dois dias atrás, quando fora visitá-lo. Quando percebeu a presença de Alvo, Crouch soltou um ligeiro gemido. Ergueu os olhos para o garoto e disse de maneira exausta:

– Eles já o esperam, Potter – falou a diretora. Alvo já sabia quem eram eles. – Vou deixá-los a sós. Preciso de um cochilo... Suas estripulias me deram uma baita dor de cabeça.

E sem cerimônias, a Profª Crouch deixou seu gabinete. Deixando, pela segunda vez no ano letivo, Alvo sozinho, na companhia apenas dos retratos dos antigos diretores.

– Foi um grande feito seu, viu, meu jovem? – falou um bruxo caduco e careca de seu retrato.

– Concordo com você, Armando, concordo – falou uma bruxa, Dilys Derwent. – Um grande feito, menino. Digno de poucos.

– Sim rapaz, você honrou as cores de minha casa! – exclamou Fineus Black por entre os dentes. – É parente meu, não é? Já o vi em minha antiga casa.

Alvo assentiu.– Pois bem. Tem sangue dos grandiosos. Você terá um futuro próspero,

rapaz. Têm minha benção – e com um salto, Fineus Nigellus Black deixou seu quadro.

– Eles estão certos, Alvo – falou a voz serena de um velho.Alvo girou nos calcanhares e se postou a frente do retrato de um bruxo

de idade avançada, barba prateada que deslizava por suas vestes, e oclinhos dourados de meia lua. Dumbledore sorria, da mesma maneira que fazia quando percebia que Harry conseguira absorver uma informação importante sobre o passado de Voldemort, durante suas aulas secretas que ocorreram no decorrer do sexto ano do rapaz.

– Se saiu bem melhor do que imaginávamos – falou Severo Snape. Alvo já estava se acostumando com a foz grave e dogmática do antigo diretor.

– Não fiz nada sozinho – disse Alvo humildemente. – Se não fosse por meus amigos eu não estaria aqui. Foi Rosa que nos colocou no caminho

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certo para o diário e foi Escórpio que me acordou lá no santuário. Eu estava sendo iludido por Yaxley, ele me acordou.

– Eu avisei – pigarreou Snape.– Mas, por quê? – perguntou Alvo desesperado por informações. – Por

que desde o princípio vocês dois sabiam de tudo e se mantiveram calados. Mesmo sabendo que havia matança e perigo, por que não falaram nada?

– Sente-se, Alvo – ordenou Dumbledore indicando a uma cadeira de quatro pernas feita inteiramente de figueira, recostada por entre meia dúzia de objetos de latão brilhantes. – Há muitas informações a serem discutidas. E acredito que Madame Pomfrey não gostaria que você fizesse muito esforço em uma das pernas. Por favor...

Com dificuldades, Alvo empurrou a cadeira e a colocou no centro do gabinete. Onde ele poderia encarar Dumbledore e Snape.

– Bom, Alvo, se Severo me permitir gostaria de tomar a palavra. – Dumbledore olhou por cima dos oclinhos para o retrato de Snape. O diretor de nariz longo; cabelos sedosos e face mal encarada; fez um gesto com a cabeça, permitindo a Dumbledore de prosseguir. – Como já deve saber, Alvo, eu e Severo tivemos algumas participações por debaixo dos panos em sua peripécia até o santuário do Olho de Ambratorix. Desde algum tempo, pude perceber que três audaciosos e enigmáticos membros do Ministério da Magia perambulavam de mais pelos corredores da instituição. Alcançavam objetivos além de suas capacidades e saltavam obstáculos bem maiores que suas pernas. Decidi investigá-los. Tenho uma considerável quantidade de quadros espalhados pelo Ministério. Quim parece gostar de ter um velho como eu andando por entre os departamentos ministeriais. Ele acha que sou seus olhos secretos. Mas, logicamente, meus retratos não se restringem ao Ministério da Magia, e tenho amigos espalhados por pontos de grande importância no mundo bruxo.

“Consegui a informação de que Malcolm Baddock, Serena Tyranicus e Acrusto Underwood tinham estreitas ligações com uma sociedade secreta revolucionária denominada Sociedade da Serpente. Os membros da Sociedade da Serpente eram ágeis e cuidadosos, o que me intrigava, pois nenhum de seus membros parecia provido de grande inteligência ou capacidade de raciocínio lépido. Suas atividades eram orquestradas com rigor e quase sem deixar pistas. Como obra de um mestre em táticas de guerra e infiltração nos lugares mais importantes do mundo como sombras, inofensivas.”

“Pedi a Severo, que fosse ao seu quadro no Quartel General dos Aurores e me trouxesse uma lista, metafórica claro, com os nomes dos antigos servos de Voldemort que ainda não haviam sido capturados pelas forças superiores. Havia Rowle, suspeito pelo assassinato de duas famílias trouxas, estava presente na noite em que fui morto. É a prova viva de que existem pessoas com uma quantidade exagerada de

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músculos, mas uma cabeça tão vazia quanto o vácuo. Também tinha um pouco conhecido, mas que não passava despercebido de meus olhos chamado Pyrites, um maníaco, maníaco. Não tivera grande participação na última guerra, mas antes... Havia outros dois Olivine e Umber, também com passagens muito apagadas como servos de Voldemort, Severo pode descrevê-los melhor. Mas, dois chamaram minha atenção. Dois que mereciam verdadeira cautela. Um era Gaspar Avery e o outro Furius Yaxley.”

“Por sorte, Avery fora encontrado em um North Wembley, o que limitou minha busca por informações sobre Yaxley.”

“Realmente ele era cuidadoso e bom em articular planos de infiltração em locais públicos e de grande movimento sem despertar a atenção. Mas um dos membros da Sociedade da Serpente não era tão discreto como deveria. Uma noite testemunhei o Sr Underwood que alertava a Srtª Tyranicus sobre uma visita de alguns membros da sociedade a um museu de uma banda local em Liverpool. Também assinalara à companheira que Yaxley convocara uma reunião particular. Modesta parte, eu acredito que tive sorte de estar na hora certa no lugar certo. Desde então nunca mais vi quaisquer aparições dos membros mais importantes da Sociedade da Serpente pelo Ministério. Yaxley estava agindo”

– Tínhamos fortes provas que confirmavam que a Sociedade da Serpente estava a sua procura, Potter – falou Snape dando prosseguimento a explicação do mestre. Eles estavam atentos aos fatos apresentados de um pelo outro, e falavam como se fizessem parte de uma capela. – Dumbledore conhecia as lendas sobre O Caçador de Destinos e sabia que as linhas hereditárias chegavam a você e a sua família.

– Acreditávamos que Yaxley conseguira se infiltrar aqui em Hogwarts, e que de alguma forma sabia qual era o paradeiro do Olho entre os Mundos – disse Dumbledore. – Nós também precisávamos agir... Sugeri a Servilia que construísse uma estátua em homenagem aos bruxos e bruxas falecidos durante a batalha de vinte anos atrás. Ela fora realmente fantástica arranjando o ferreiro e o artista para cunhar a estátua, mas quanto à placa, eu tinha minhas sugestões. Precisava que a Chave Matriz para o Olho estivesse segura de Yaxley e seus partidários. Não disse a Servilia como conseguir a chave, mas a coloquei no caminho certo. Às vezes, ainda tenho minhas idéias que... Cá entre nós, ainda podem ser úteis. Também a aconselhei de contratar Mylor Silvano como professor de Defesa contra as Artes das Trevas. Eu sabia que ele conhecia as lendas sobre Albrieco e era um renomado auror. Estava viajando pelo mundo caçando pistas sobre as verdades do Caçador de Destinos, mas Servilia conseguiu localizá-lo. Assim que chegou à Hogwarts ele se encontrou comigo. Eu o botei a par da situação e lhe expliquei exatamente o que deveria fazer: que caso Yaxley e sua Sociedade da Serpente conseguissem levar a você para a gruta que ele estivesse junto

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para protegê-lo. Porém Mylor acreditou que deveria, por meios próprios, levar você e seus amigos para a gruta antes que outros o fizessem.

– Mas e Colin? – Alvo não conseguira conter as palavras dentre de sua boca. Elas simplesmente saíram, sem serem ordenadas.

– Fui eu – falou Snape, calculista. – Invoquei o fantasma de Creevey através de meu patrono. Não poderia, sozinho, ficar de olho em você. Tenho meus meios, mas o patrono era o mais seguro e mais garantido de sucesso. Chamei Creevey para ficar de olho em você nos lugares que eu não podia. Ele estava sempre presente, inclusive no dia em que esteve em contato com a placa no Memorial, durante seus pesadelos, quando saíra tarde da noite para visitar Hagrid e na tarde em que estava sob controle de Monomon. E fora ele que me alertara sobre os assaltos de Baddock aos estoques de Horácio.

– Mas por que ele não disse nada?– Porque fora ordenado a não o fazer – rosnou Snape rude. – Deixei as

ordens explícitas a Creevey que ele deveria se aproximar de você, mas sem levantar suspeitas de que o vigiava.

– Não pode ser verdade... – Alvo se continha. Então Colin mentira todo esse tempo. Salvara sua vida somente porque fora ordenado a ser seu guarda-costas espectral. Estava sempre presente nos momentos de dúvida, somente porque ele deveria continuar a atiçar Alvo para que ele não desistisse de continuar a procurar pelo Olho.

– Infelizmente, Alvo.. É verdade – falou Dumbledore pesadamente.– Mas por que não interferiram? Por que me deixaram sozinho para

morrer junto com meus amigos? Por que permitiram que o verdadeiro McNaught fosse morto? Por que deixaram que Silvano chegasse à beira da morte?

– Para te testar – revelou Snape sem a mínima consagração.– Para me TESTAR! – urrou Alvo saltando da cadeira, cerrando os

punhos e trincando os dentes, irritado. De uma maneira que ele nunca sentira durante todos aqueles anos. – Que esperassem até o final do ano para me testar! Eu prestarei os exames! Mas vocês permitiram a morte de um homem inocente, a tortura de outros tantos, SÓ PARA ME TESTAR!

– Era necessário, Alvo – afirmou Dumbledore ignorando a acesso de fúria de seu xará. – Você ainda não compreende, mas é mais poderoso que acredita. Está escrito que você será responsável por muitos feitos. A mensagem que a dríade lhe enviara é constituída da mais pura verdade. Seu destino está cravado como runas em templos antigos, como hieróglifos em tumbas egípcias.

– Quero falar com Colin – pediu Alvo largando-se novamente na cadeira. Ele sentia que mais um minuto em pé, ardendo de raiva, ele teria de ser levado em uma maca de volta à Ala Hospitalar de Madame Pomfrey.

– Severo – chamou Dumbledore –, você pode chamá-lo? Snape assentiu. E deixou o retrato.

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No meio tempo em que ficara sozinho no gabinete da Profª Crouch com Dumbledore, o professor de barba prateada e oclinhos de meia lua permaneceu em silêncio. O rosto conservava um sorriso tanto que forçado, mas era a melhor coisa que Alvo poderia observar naquele instante. Suas veias ainda pulsavam, seu coração batia acelerado. Os dois diretores permitiram que tudo aquilo, desde a morte de McNaught até o encontro com Yaxley na gruta, ocorressem somente para lhe testar. Alvo sempre admirara os dois diretores, sempre ouvia muito bem dos dois vindo de seu pai e seus tios (mais de Dumbledore que de Snape). E Colin... O fantasma se fizera de seu amigo, mas na verdade era apenas um servo de Snape. Um como outro qualquer cumprindo ordens de segui-lo e observá-lo. E tirando o ocorrido em setembro com o Memorial de Hogwarts, Colin não fizera muito mais que apenas colocar mais informações a serem decodificadas na mente de Alvo. Ele aparecera na noite de Natal, completamente enigmático e surgira também na tarde em que Alvo estava sobre comando de Monomon, mas não revelara nada verdadeiramente útil.

Atravessando a porta, como se ela não existisse, Colin flutuou para perto de Alvo, ainda tenso agarrando os braços da cadeira. O fantasma parecia bastante encabulado e tímido, e Alvo acreditava que, se seu corpo não fosse branco-pérola, ele estaria corando.

– Como desejado, Potter – bufou Snape cansado. – O fantasma de Creevey a sua disposição.

– Alvo...– Calma – exclamou Alvo interrompendo Colin que mal tivera tempo de

se explicar. – Só quero que me diga se é verdade ou não. Ok? Você fora ordenado a me vigiar? Estava nos lugares importantes, atendia aos meus chamados, por que eram ordens de Snape?

– Professor Snape – disseram Dumbledore e o próprio Snape juntos. Snape ainda teve tempo para murmurar algo como “É igual ao pai”.

– Alvo, antes de tudo...– Só me responda! – berrou Alvo sentindo o corpo arder novamente.

Suas orelhas estavam ficando rubras e seus músculos do braço protegido pela tipóia formigavam.

– Sim – sussurrou Colin triste. E continuou sem dar oportunidade do garoto de prosseguir com seu ataque de raiva. – Mas não estive do seu lado somente por isso! É verdade que o Prof Snape me pediu que eu o vigiasse, Alvo. Eu estava preso no memorial e ele se comunicou comigo através de sua corsa. Ele me pediu que ficasse de olho em você, e conforme minha metamorfose evoluísse que começasse a lhe seguir. Salvei você do Memorial, não apenas porque tinha ordens para fazê-lo, mas também porque você era o filho de um bruxo que eu admiro muito, e que era meu amigo. E você também é meu amigo hoje, Alvo! Você me acolheu, mesmo sendo um fantasma, de maneira que pouquíssimos bruxos fariam. Você me rebatizou como o Espectro Guerreiro, eu lhe devo

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o meu novo nome. Voltei a te ajudar no dia em que estivera em contato de novo com a Chave, não só porque eram ordens, mas porque você estava em perigo. Alertei ao Prof Snape e ele tomou as devidas providências. Você pode não saber, Alvo, mas desde o princípio tudo fora organizado com máxima cautela. O Prof Dumbledore conhecia os riscos e sabia como trabalhar contra Yaxley. Nós sabíamos o que deveríamos fazer e como fazer. Sim, nem tudo fora como planejávamos. Não esperávamos a morte de Baddock nem que você fosse levado ao encontro de Yaxley tão cedo...

Colin olhou para Dumbledore e para Snape, esperando que os diretores falassem algo que o ajudasse a melhorar seu posicionamento junto a Alvo. Mas nenhum dos dois fizera menção em interrompê-lo. Pareciam estar gostando do que ouviam.

– Desde o início foram mais que ordens, Alvo – finalizou Colin penosamente. – Mas não espero que você acredite em tudo rapidamente. Eu gostaria, mas não espero...

– Eu não o culpo, Colin – falou Alvo, já menos nervoso. Seus ossos e músculos agradeciam em coro. – Queria ouvir suas próprias palavras. A maneira como fui apresentado aos fatos foi... chocante.

Colin lançou a Alvo um espectral sorriso branco.– Então haverá mais como esta, correto? – disse Alvo, mas nem mesmo

ele entendeu o que saíra de sua boca. – Esta não foi a única enrascada que me meti. Ainda haverá mais com o passar dos anos.

– Se o céu continuar a ser azul, se o sol ainda nascer ao leste e se Sapos de Chocolate ainda forem tão deliciosos, sim – assentiu Dumbledore objetivamente. – Talvez, e que fique bem claro que isto é apenas uma suposição, o que você virá a enfrentar, se comparado com que o que seu pai enfrentou... Bem, digamos que a segunda poderá ser um passeio pelo parque.

Isso não melhorou o ânimo de Alvo.– Mas estou apenas supondo, Alvo – falou Dumbledore rápido, ainda

sorrindo como se acabara de dizer para uma criança que ela deverá ir ao dentista.

– Então, por hora, isso é tudo? – Alvo estava ansioso para deixar a sala da diretora antes que Dumbledore revelasse que ele deverá enfrentar um gigante daqui a um ano, reunir mais três relíquias da morte antes de Voldemort e derrotar uma infestação de fadas mordentes que se escondem atrás de um armário velho no Largo Grimmauld antes de tomar o café da manhã.

– Sim – suspirou Dumbledore. – Por hora – ele parecia satisfeito em dar ênfase a essa parte.

– Sr Creevey, agradeceria se pudesse encaminhar Potter a sua próxima aula – disse Snape recostando-se de forma a se mostrar superior em sua cadeira no retrato. – Ou faça como quiser. Os Potter não costumam seguir as regras mesmo... Mas isso não é mais problema meu.

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Colin assentiu amedrontado. O fantasma não faria o mínimo esforço para desobedecer a ordem do diretor. Colin não gostava de ter de falar muito com Snape, nuca gostou. Nem vivo, e muito menos agora depois de morto. Ele ainda sentia calafrios do assombroso retrato do diretor guardado na sala de Filch. Colin se despediu de Snape e Dumbledore, fez um aceno com a cabeça para Alvo e atravessou a porta de carvalho.

O garoto olhou novamente para os quadros dos diretores, os músculos do cérebro trabalhando com dificuldades, nada preocupados com os próximos dois tempos de aula com o Prof Slughorn.

Quando bateu a porta pode ouvir alguns fragmentos de uma conversa sigilosa, mas reveladora.

– Minhas teses ainda são mais solidas que as suas, mestre – falou Snape pensativo.

– Sim, mas minhas idéias ainda superam as suas, meu amigo – falou Dumbledore. – Não imaginava muito mais de Alvo. Ele se mostrou firme e leal a Colin. Como o pai faria.

– Ele é tanto quanto diferente de Harry – falou uma terceira voz intrometida. Era feminina e rígida.

– Só nas piores maneiras se assemelham, como sempre. Ele tem sangue Potter.

– Ora, Severo. Não comesse novamente! – implorou uma quarta voz, de um homem velho e rouco.

– Julgamento precipitado, Severo. O que eu já disse? – perguntou Dumbledore como se Snape fosse um menino de cinco anos que insistia em cutucar a narina esquerda. – Ele se saiu melhor que nós dois imaginávamos. Foi versátil.

– É arrogante. Eu o observei, e Creevey também. Igual ao pai.– Você avisará aos outros? – quis saber Dumbledore, como se Snape

fosse o detentor da última palavra.– Talvez sim. Talvez não. – Perfeito. Ah, Everardo, será que poderia chamar Servilia, por favor?

Nossa conversa com o jovem Potter já terminou.E fez se um silêncio por entre os retratos dos diretores. Sem falar, Alvo

desceu as escadas giratórias, sem ousar soltar um sussurrou se quer.

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Capítulo VinteO Presente do Velho Weasley

vida de Alvo após o encontro com os diretores Snape e Dumbledore se tornara bastante monótona e repleta de deveres de casa. O máximo que havia acontecido depois fora saber que

os aurores estiveram no castelo para garantir a transferência de Yaxley para Azkaban. A transferência ocorrera de madrugada, para impedir o contato do Comensal da Morte com os alunos. Alguns espalhavam a informação de que o Prof Slughorn havia esmurrado Yaxley antes de o prisioneiro deixar o castelo, mas logo tudo fora desmentido. Com a aproximação dos exames, a quantidade de deveres de casa exigidos pelos professores parecia duplicar a cada dia. As aulas deixavam de apresentar conteúdos novos e eram preenchidas completamente por revisões exageradas sobre cada assunto estudado no decorrer do ano. Alvo ainda se lembrava bem dos feitiços e azarações aprendidas no decorrer do ano nas aulas de Defesa contra as Artes das Trevas e Feitiços. Ele também se alegrou bastante quando conseguiu repetir a seqüência correta de feitiços de transformação que a Profª McGonagall pediu e também quando seu cacho de uvas criou asas e começou a apostar corrida com o de Rosa. Alvo tivera um rendimento aceitável em Poções. O Prof Slughorn pareceu bem satisfeito com a solução da Poção de Vigor que ele fizeram

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na última quarta-feira (não mais de quando Perseu não explodiu seu caldeirão ao misturar tripas de rã com raspas de garra de manticora, uma mistura perigosa). Embora Alvo acreditasse que se esquecera de mencionar um ou dois ingredientes importantes na formação de uma Poção da Lembrança.

As aulas com o Prof Tofty transcorriam de maneira razoável, mas com bons resultados. O Prof Tofty não apreciava tantas aulas práticas como o Prof Silvano. Talvez porque seu reumatismo não permitisse que ele se arriscasse como boneco de treino dos alunos, como Silvano fizera algumas vezes. E talvez porque durante uma aula noturna extra para treinar o Feitiço da Luz, Teseu Flint quase tivesse cegado Clara Entwhistle, ao apontar por acidente a varinha para a careca brilhante do professor, que mais pareceu um globo de discoteca. Outra aula que voltara às atividades com normalidades após o ocorrido na gruta de Ambratorix fora a Aula de Corujas. Alvo voltara amedrontado às aulas do Prof Monomon, que fora inocentado de quais quer ligações com Yaxley ou a Sociedade da Serpente, sendo comprovado que ele estava sob efeitos da maldição imperdoável.

Ao final da primeira aula após o ocorrido, Monomon pediu para que Alvo se mantivesse em seu lugar por mais alguns intentes. O professor de feição marota contornou sua mesinha por um pequeno espaço entre ela e a parede (a sala de aula parecia ter encolhido com o passar do tempo). Quando chegou perto de Alvo tentou lançar um sorriso amigável ao rapaz, mas depois de dois segundos percebeu que não estava funcionando.

– Alvo, o que eu tenho para falar com você é tanto quanto doloroso – suspirou o Prof Monomon de olhos baixos. Alvo agradecia por ele não estar usando suas enormes lentes de aumento. – Aparentemente eu perdi boa parte de meu primeiro semestre aqui em Hogwarts. Não me lembro muito bem de todo o ocorrido. As imagens são turvas e se assemelham mais a fleches, borrados. Parecidos com os de um sonho mal interpretado. Como já deve ter sido explicado a vocês eu fora amaldiçoado por Furius Yaxley logo em minha primeira noite. O que quero lhe dizer, Alvo é que... Se eu disse alguma coisa que lhe amedrontou, humilhou ou magoou, gostaria que ficasse bem claro que não foi dita pelo verdadeiro Artabano Monomon. Gostaria que não ficassem ressentimentos entre eu e seus amigos, porque aquele não era eu. Era um fantoche, controlado por Yaxley.

– Sim, professor – disse Alvo encarando Monomon com tristeza. – Acredito no senhor. Sei que as maldições de Yaxley são poderosas, já as senti na pele. Não guardo rancor.

– Obrigado. E... Eu gostaria de falar com Escórpio, também. Acredito que eu falei mais do que devia com ele – e vendo que o clima entre os dois não estava tão tenso quanto antes, voltou a sorrir. – Estou lhe esperando ano que vem, novamente em Aula das Corujas. Acredito que

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eu vá perder alguns alunos, mas conto com a participação de você e seus amigos.

E dando uma piscadela, voltou para sua mesa, bastante aliviado.

Alvo ficara satisfeito em saber que teria a tipóia retirada um dia antes de seu primeiro exame, História da Magia. Fora bom saber que teria os dois braços a disposição, tanto para as provas teóricas quanto para as práticas. Ao final de uma semana caótica e sobrecarregada de revisões atrasadas, feitiços memorizados de última hora e grupos de estudo recém formados, os exames finalmente começaram.

Os alunos do primeiro ano foram ordenados a se organizarem por entre as cadeiras distribuídas magicamente pelo Salão Principal em ordem alfabética. O sol atravessava as janelas e vitrais chegando aos cocurutos dos alunos. Alvo sentia as raízes de seus cabelos fritarem, e com elas os neurônios que continham as respostas mais valiosas dos exames. Não se escutava nada no Salão Principal, a exceção do farfalhar das penas riscando os pergaminhos e das tampas dos tinteiros sendo abertas. A Prof Vector fora encaminhada a inspecionar os primeiranistas durantes os exames teóricos. Antes das provas começarem ela passou sua varinha sobre cada aluno, como um detector de metais, e Alvo lembrou-se de Erico utilizando o mesmo feitiço para detectar algum inconveniente em sua Thunderstorm, meses atrás. A professora também fez o favor de lembrar pela enésima vez que os pergaminhos e as penas dos exames eram encantados com todos os Feitiços Anti-Cola que existiam.

Alvo achara os exames teóricos de DCAT e Herbologia fáceis, Transfiguração fora razoável, se levado em consideração que fora feito pela Profª McGonagall. Poções é que exigira um bom nível de conhecimento na distinção de certas ervas e seivas. Embora Alvo houvesse tido algumas dificuldades, acreditava que tivera um rendimento melhor que Demelza, que entrara aos prantos na sala comunal, rasgando a folha de perguntas de seu N. O. M. e tendo de ser aparada por duas de suas amigas. Fora estranho ver a artilheira naquele estado. Ela sempre era durona e mal encarada, mas vê-la naquele estado era inusitado.

Os testes práticos ocorriam às tardes, após a concretização dos teóricos. O Prof Flitwick chamara um aluno de cada vez à sua sala e os pedia que enfeitiçassem uma louça para que ela travasse um duelo entre garfos e facas. O pequenino professor acrescentava pontos para cada vez que um garfo perdia um dente e para cada vez que a faca ficava torta, mas subtraía mais alguns quando um prato se metia no meio do duelo e era estraçalhado. A Profª McGonagall reunira a turma em grupos de quatro e pedia para que cada aluno transformasse um pintinho em um determinado utensílio doméstico. Alvo entrara na sala de Transfiguração junto de Irene, Montague e Rosier. A professora pedira que Alvo transformasse o pintinho em uma xícara de chá e ele o fez com esplendor, mas não pode deixar de rir quando notara que Montague

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fizera uma espécie híbrida entre pintinho e saleiro. Em DCAT o Prof Tofty pedira que os alunos lançassem uma revoada de feitiços e azarações no mesmo boneco-alvo do Prof Silvano, enquanto ele anotava os êxitos e as imperfeições de cada um em sua prancheta.

– Impressionante meu caro Sr Potter! – exclamou o Prof Tofty quando Alvo fez com que o boneco-alvo cuspisse algumas engrenagens após um bom Feitiço Estuporante. – Realmente, impressionante. E acho que poderemos acrescentar mais uns cinqüenta pontos para a Sonserina por seus méritos. E digo em pró de todos os méritos. Não me sentiria bem se não fizesse nada com relação à sua soberba atuação no incidente de uns meses atrás. Uma fatalidade, mas você, meu garoto...

– O senhor sabe alguma coisa sobre o Prof Silvano, senhor? – perguntou Alvo, guardando a varinha no bolso e colocando a mochila sobre os ombros.

– Trágico, um lamentável fato trágico! – balbuciou o careca e corcunda professor concertando magicamente o boneco-alvo. – Mylor é um homem forte, mas fora covardemente brutalizado. Está em St. Mungus como deve saber. É um caso delicado, mas ele há de superar mais essa. É muito forte, diferentemente de quem vos fala.

O Prof Slughorn aguardava seus alunos do primeiro ano que iriam prestar os exames práticos de Poções, inquieto. Ele tartamudeava sozinho pulando de um pé a outro, observando por cima das cabeleiras dos alunos quais ingredientes eles adicionavam aos seus caldeirões durante o exame. Alvo teve a ligeira sensação de que Slughorn tivera um repentino acesso de tosse no mesmo instante em que ele adicionaria, incorretamente, sangue de lagarto em uma mistura que levaria lágrimas de lagarto. Agradecido, Alvo continuou em ajustar a temperatura e a intensidade do fogo, acreditando que conseguira fazer um exame prático de Poções melhor que o teórico. E isso o deixara feliz.

Mas ninguém em Hogwarts ficara tão feliz do que Erico Laughalot ao resultado final do campeonato de Quadribol. Quando Alvo tomara a dianteira na nova disputa contra Treena Johnston na caça contra o pomo de ouro, o artilheiro perdera completamente a noção do jogo. Estava sendo uma partida difícil, muito mais complicada taticamente do que a última realizada pelas duas casas já que desta vez a Grifinória entrara de maneira mais ofensiva, se preocupando menos com as férulas e mais com os resultados. Fora um jogo com menos faltas que o passado, mas com um levado número de gols. Nico e Kirke mal conseguiam evitar que a avalanche de artilheiros fosse bloqueada, pois, cada vez mais, eles chegavam às balizas com mais velocidade. Ambas torcidas se agitavam mais a cada jogada esplendorosa, a cada passe, desvio e gol. Jones mal conseguia narrar o jogo. A cada dez minutos ele era obrigado a conjurar um pouco de água e bebê-la, pois sua voz estava se esvaindo de seu corpo.

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Ao final de três horas de jogo, após sete pedidos de tempo, dois pênaltis (um para cada lado); quatrocentos e sessenta e cinco pontos feitos e o sol já se pondo no horizonte; Alvo cortou o vento gélido como uma vespa, deu um encontrão com Johnston, desviou do balaço lançado por seu primo Fred e, bem debaixo do nariz de Anastácia Aston, ele capturou o pomo.

A torcida da Sonserina explodiu em vivas e centelhas verdes e pratas irromperam das varinhas dos alunos mais velhos. Slughorn retirou o chapéu coco verde que usava e o arremessou para dentro do campo de quadribol. A Profª Crouch tentou conter-se sentada em sua cadeira ao lado de Jones, apenas aplaudindo a equipe vencedora. Mas dentro de si, por debaixo de toda aquela casca de professora bem comportada e imparcial, ela explodia em vivas e alegria, podendo até ter sido comparada a Slughorn que não parava de cantar abobalhadamente.

Ao descer de sua vassoura, Alvo fora logo envolto pelos braços suados de Erico que o agarraram e o espremeram contra o tecido verde das vestes do capitão. Em seguida, Cadu e Nico colocaram Alvo em seus ombros, elevando o apanhador que recebia os aplausos da torcida. O pomo estava ali, guardado por entre seus dedos agitando suas asas freneticamente, mas sendo contido com força.

Os fogos esverdeados vindos da arquibancada da Sonserina ganhavam mais intensidade e beleza conforme a noite caia. As luzes vindas das varinhas e das rosetas iluminavam o campo e se agitavam junto aos torcedores que teimavam em deixar o estádio. Sem sombra de dúvidas, a festa continuaria na sala comunal...

– Profª McGonagall, quando chegaram os resultados de nossos exames? – perguntou Rosa abaixando o braço lentamente, após chamar a atenção da Profª McGonagall que terminava a última aula de Transfiguração do ano.

– Amanhã, Srtª Weasley – respondeu a professora sem levantar os olhos de sua carta que ela redigia para alguém que ninguém conhecia. – Amanhã, antes de vocês embarcarem para as carruagens, cada um receberá suas respectivas notas de cada exame.

– Que droga! – chorou Isaac guardando um folheto entregue por McGonagall no início da aula. – Agora terei uma desculpa para acabar com minhas férias!

– Apenas para ressaltar mais uma vez – continuou a Prof McGonagall sem dar importância a Isaac –, as carruagens partiram ao soar do terceiro sinal da manhã. O que deve ocorrer as onze e cinqüenta em ponto. Digo isto porque ainda há alunos que insistem em permanecerem acordados após a festa de hoje à noite. Hogwarts os acolhe durante o ano letivo, como esse já acabara vocês já podem retornar para suas moradias.

Alvo sentira-se enjoado apenas por lembrar-se que não poderia passar suas férias mais na Toca.

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Alvo teve de apressar-se para deixar a sala comunal da Sonserina junto de seus colegas de dormitório. Os quatro deixaram as masmorras falando alto e contando piadas, relembrando de cada momento do ano que passara. Eles só pararam de falar quando chegaram às portas do Salão Principal já prontamente decorado para a festa de fim de ano. Bandeiras e bandeirolas azuis e prata com o escudo da Corvinal decoravam o Salão Principal, gerando um desconfortante tom gótico devido a suas cores escuras. Atrás da mesa dos professores estava a maior delas, com uma enorme águia pronta para levantar vôo. Mas nenhum dos corvinalinos esperava alcançar o bicampeonato naquele ano. Mesmo com todas as condecorações dos professores por seus grandes méritos educacionais durante o ano letivo, ninguém se surpreendeu quando a diretora Crouch anunciou a Lufa-Lufa como campeã do ano. A casa estivera o ano inteiro disputando o terceiro e o segundo lugar e devido ao elevado número de pontos que a Lufa-Lufa ganhara com o rebuliço causado no dia em que Alvo fora levado para a gruta de Ambratorix, ela disparara em primeiro lugar. Vince Glover, Brenda Warton, Eduardo Jones e Ethan Humberstone não paravam de trocar risos durante a cerimônia. Sim, a Grifinória possuía o mesmo número de integrantes causadores da agitação. Mas alguns pontos foram descontados da casa após um incidente no final do último jogo da temporada do quadribol.

A Sonserina ficara em terceiro lugar no campeonato das casas, mas mesmo assim os membros da casa explodiram em vivas quando a Profª Crouch entregara a taça de campeão do quadribol a Erico Laughalot, que desde que ganhara, não parava de exibir sua medalha de vencedor. Desde os tempos de McGonagall algumas regras do quadribol haviam sido mudadas. Desde o novo sistema de finais após os confrontos até a entrega da taça durante a festa de final de ano. Junto com Erico, Alvo encaminhara a taça para o centro da mesa sonserina, que não se importava de ostentar aquele troféu mesmo debaixo das tapeçarias agora redecoradas com as cores e o texugo da Lufa-Lufa.

Quando a festa terminou já era tarde da noite, e Alvo parecia desacreditado que conseguiria dormir com toda a ansiedade da partida do castelo naquela manhã. Junto com seus amigos e companheiros de equipe, ele deixara o Salão Principal após se despedir de Rosa e Escórpio e também de Colin, o Espectro Guerreiro, que aparecera timidamente quase no fim da festa.

As notas dos exames chegaram como a Prof McGonagall dissera, durante as primeiras horas da última manhã em Hogwarts. Quando acordou, Alvo notara um envelope lacrado com seu nome e com a assinatura da diretora recostado em seu criado mudo chato. Ele ficara realmente satisfeito em saber que concluíra seu primeiro ano em Hogwarts com boas notas. Sim, sua exclamação não fora tão exuberante quanto à de Isaac, que ficara saltando na cama e se jogando no meio dos

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travesseiros, só parando quando perdera o equilíbrio e caíra por entre as cortinas verdes de sua cama, fazendo com que elas se desprendessem da base.

– Precisamos alertar ao serviço de quatro que há um probleminha na cama S-3 do Sr Prewett, no segundo lance de dormitórios – falou Isaac abobalhadamente, se livrando das cortinas.

Alvo fechara o malão com dificuldades. A quantidade de roupas aumentara devido aos presentes que ele recebera no último dia 23 de março, seu aniversário. Ele guardara os livros, as vestes, o material de poções e sua carteira no malão, tirando apenas o suficiente para uma compra farta no carrinho de doces do Expresso Hogwarts.

Alvo tomara café junto de seus primos e amigos. E finalmente Escórpio fora permitido comer junto aos grifinórios sem ser alvo de olhares tortos e cochichos ofensivos. Talvez, após o ocorrido no santuário do Olho entre os Mundos, a popularidade de Escórpio tivesse aumentado ligeiramente.

– Tive bons resultados nos exames – falou Malfoy após repetir a dose de empanados. – Esperava ter mais sucesso em Tecnomancia, mas acredito que o Prof King não tenha dado notas muito maiores que as minhas.

– Fui a primeira da classe! – contou Rosa como se fosse grande surpresa. – Até nas turmas que estou no segundo ano. Os exames de Runas Antigas foram muito complicados, e eu quase pirei quando traduzi uma runa errada, mas a Profª Knossos, não me descontou muitos pontos por meu equívoco.

O grupo terminara o café ao soar do primeiro sinal. Alvo se lembrara que ao soar o terceiro ele já deveria estar na carruagem. Mas conforme ele arrastava seu malão para fora do Salão Principal, uma figura surpresa chamou usa atenção. Ele vestia uma jaqueta jeans meio surrada e calças bem descoladas e esportivas. Seus tênis eram confortáveis e novos e seus cabelos assumiam um tom castanho-caju naquele dia. Alvo encheu os pulmões para chamá-lo, mas antes que o pudesse, Tiago já o fizera.

– Teddy! – gritou largando seu malão no pé de Vince Glover e atirando a gaiola de sua coruja nos braços de Ralf. – O que faz aqui? Chegou meio tarde, pois já estamos de saída.

– Foi exatamente por isso que vim – falou Ted cumprimentando Alvo, Rosa e os antigos colegas de turma. – Sua mãe enviou uma mensagem para a loja pedindo que eu os acompanhasse até a estação. Foi até bom, que assim poderei me encontrar com minha...

– Teddy, mon amour! – gritou Vitória saindo por trás de um grupo de alunas da Lufa-Lufa e lançando-se aos braços do namorado. – Não sabia que veria me visitar! Se soubesse me arrumaria melhor. Vestiria um vestido mais novo! Por que não me avisou?

Ted parecia meio sem graça em dizer que não estava em Hogwarts somente por causa de sua namorada, mas ele inventou uma desculpa que parecia convencer Vitória.

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– Muito bem. Mas venha na carruagem comigo! – implorou Vitória exibindo seu encantador olhar. – Será tão romântico!

– T-tudo bem, eu acho – gaguejou Ted. Seus cabelos começaram a assumir uma coloração avermelhada, como se eles ficassem escarlate ao invés de suas bochechas. – Ah, as malas! Deixem algumas para mim. Tenho que ganhar mais músculos se quiser ser aceito para os testes que consegui para mim.

– Você terá testes para equipes de Quadribol! – exclamou Ethan parabenizando o melhor amigo. – Maneiro! E quais são? É bom que você dê seu melhor se for representar os Vespas!

– Fique tranqüilo, Ethan. Tenho testes para o Puddlemere United e o Rony me arranjou um nos Cannons.

Alvo e Rosa trocaram olhares. Ambos se lembraram da conversa que tiveram na vinda a Hogwarts antes da noite da seleção.

– Ah, Alvo mais uma coisa – Ted largou as malas que carregava e retirou de dentro da jaqueta um onióculos. – Gina me fez jurar que conseguiria uma foto sua com seus amigos. Ei, cara. Você não quer ver sua mãe zangada comigo, não é? Ela mencionou dementadores e a Cruciatus. Por favor, Al... Não tenha vergonha.

Alvo sentiu as bochechas arderem. E, diferente das de Ted, elas ficaram vermelhas. Ele olhou para Rosa, Escórpio, Isaac e Lucas e logo depois para Perseu e mais alguns Malignos que se amontoavam pelo Saguão de Entrada.

– Vamos, Al! – encorajou Rosa piscando.– Por mim, tanto faz – afirmou Escórpio.– Tá, me convenceram – e virou-se para os outros que se juntavam. – Ei!

Perseu! Sabrina! Agamenon! Cheguem mais!O grupo se amontoou ao seu redor, e Ted teve de dar muitos passos

para trás para poder enquadrar todos os presentes na foto. Quando Ted ajustou o onióculos todos gritaram “x” e o flash da máquina iluminou os rostos de todos. Fora um ano incrível.

Assim como quando estava embarcando no Expresso Hogwarts, Alvo também teve de lidar com uma densa camada de fumaça que escondia os pais e parentes dos alunos na plataforma. A viagem de volta a Londres parecera ser mais rápida que a que os levara para Hogwarts, talvez porque Alvo não estivesse tão nervoso. Talvez porque passar a maior parte do tempo brincando com seus amigos na cabine ou porque simplesmente era para ser mais rápida.

Quando as rodas do trem pararam, Alvo saiu da cabine do trem acompanhado de Escórpio, Rosa e Tiago. Eles se despediram de Isaac e Ralf, que seguiram para a esquerda, onde seus respectivos pais os aguardavam. Pouco antes de deixarem a locomotiva carmesim, Alvo reteve Escórpio por mais uns segundos, e pedira para que Rosa e Tiago seguissem. O irmão ficou meio apreensivo, mas Rosa o obrigou a sair do trem.

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Alvo guardara aquela informação até o final. Até o último momento em que estaria com Escórpio. Não sabia qual seria a reação de Escórpio. Se o garoto ira gostar ou não da informação. Caso ela o desagradasse, Alvo poderia dar as costas e correr para perto da família. O que seria bom caso Escórpio se enfurecesse e quisesse o azarar.

– O que eu quero lhe dizer é... Ah, tchau Irene, tchau Ísis! – falou Alvo quando as duas amigas acenaram para ele e deixaram o trem. – Bem, você se lembra que Yaxley falou na gruta que seu avô estava morto? É mentira. Quando estive com Ambratorix, pedi para ele averiguar se seu avô estava ou não morto. Não sei o quanto isso pode lhe afetar, mas lhe devia essa. Você me salvara duas vezes esse ano. Na floresta com as aranhas e Moragogue e na gruta. Só queria que soubesse que Lúcio Malfoy não está morto.

Escórpio abaixou os olhos. Parecia querer falar alguma coisa para Alvo, mas não sabia como fazê-lo. Era como se seu cérebro houvesse entrado em pane, e não soubesse fazer nada além de uma cara de bobo débil.

– Eh, o... Ob... O-obrigado, Alvo – gaguejou Escórpio ainda com uma cara retardada. – Obrigado, amigo.

E sem ser capaz de falar mais nada, Escórpio saltou para a plataforma, e se apressou para se esconder no meio da fumaça. Torcendo para que Alvo não o visse. Quando Escórpio encontrou sua elfa doméstica, no meio da multidão de pais, não tardou em pedir para que ela se apossasse de suas malas. “Meu senhor Escórpio está bem?” Perguntou Beredy, curiosa e preocupada com o estado de choque de seu senhor.

– Sim, Beredy. Apenas gostaria de estar junto de papai – falou Escórpio fazendo o que nunca fizera para a elfa. Sorrindo.

A brisa além do horizonte bagunçava o cabelo escuro de Alvo. Era como estar novamente no mundo intermediário de Ambratorix, mas Alvo sabia que aquilo era muito real. Alvo, Rosa e Tiago estavam sentados na grama que cobria os campos ao redor da Toca, sem fazer esforço para esconder seu grande desânimo. Rosa enrolava os cabelos nos dedos, despreocupada, mas bastante chateada e triste. Tiago parecia muito curioso em desvendar o trajeto que um grupo de formigas seguia. Enquanto Alvo arranhava o bico do tênis surrado, olhando pelo canto do olho para o sol matinal. Junto deles, Harry, Rony Hermione, Gina, Jorge, Gui, Fred, Lílian e Hugo estavam de pé conversando serenamente, mas também bastante desanimados.

– Estão vendo alguém? – perguntou Tiago deixando que as formigas seguissem sua trilha sem serem acompanhadas por seu olhar.

– Não. Eles devem estar atrasados – concluiu o tio Rony.– Trouxas idiotas – resmungou Alvo, porém alto demais.– Alvo Severo Potter! Onde está a educação que eu e seu pai lhe

demos? – grunhiu Gina desgostosa. Seus olhos foram de Alvo a Harry,

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mas que não a notara. Estava muito ocupado seguindo o ponteiro dos segundos de seu relógio.

– Só disse que para eles tanto faz – murmurou Alvo voltando ao tênis. – Eles já pagaram, não é? Não precisam ser pontuais. Tio Gui disse às dez horas, mas para eles não importa. Só precisam legalizar a compra e pegar a chave.

– E a nova casa da vovó? – quis saber Rosa olhando por cima do ombro para os pais. – Ela já arranjou onde morar não é?

– Está vendo, está vendo – murmurou Hermione meio sem jeito.– Talvez seja legal o novo apartamento da vovó! – falou Hugo tentando

animar os nervos, mas sem sucesso.– Não será como a Toca, priminho – falou Tiago bufando.Alvo sabia o que seu irmão sentia sem precisar perguntar quaisquer

coisas, dava para ler em sua testa. Estar sentado no jardim d’A Toca pela última vez, esperando que os novos donos chegassem e tomassem posse, parecia individualmente desanimador. E nada melhorou quando um Fusca Volkswagen volumoso cor de aço, com vários remendos manuais apareceu na estrada de terra, trotando e chacoalhando.

Era natural que Alvo sentisse repugnância dos trouxas que fossem se apossar d’ Toca, mas aqueles trouxas! Donos de um carro ultrapassado que mal se agüentava sozinho. Que estava em piores condições que o Ford Anglia. Como uma pessoa dona de um carro como aquele poderia ter conseguido dinheiro suficiente para comprar uma área como a da Toca.

– Aí vêm eles – falou o tio Jorge desapontado.Os três que estavam sentados no chão se levantaram e se arrumaram.

Batendo no tecido das roupas para forçar a terra batida de formar desenhos marrons e constrangedores nas vestes.

Harry olhou para o Fusca incrédulo. Depois olhou para Rony, que parecia ter percebido a mesma coisa.

– Os sensores de auror despertam mais uma vez – falou Gina apertando com mais força o braço do marido. – Sabia que o notaria também.

– O que? Do que estão falando? – perguntou Hermione.– Não é o mesmo carro que vimos quando nos encontramos no

escritório do Sr Torque para resolver os detalhes da compra – explicou Gui dando um passo à frente e apertando os olhos para ver melhor o motorista. Aparentemente, ele se alegrara com o que vira.

– Eles devem ter mesmo bastante dinheiro – comentou o tio Jorge. – Uma casa e um carro de uma leva só. Mas também, comprar esse carro. Deve ter sido barato.

O carro parou perto do grupo de Weasley. Ainda trotando e roncando, o morto esfriou e a porta do lado do motorista do Fusca Volkswagen se abriu. Um homem de estatura mediana, um pouco acima do peso, óculos redondo de couro de sapo, calças samba canção envoltos em um largo cinto de couro com uma fivela dourada e cabelos ruivos encaracolados,

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desceu do carro. “Ufa!” pensou Alvo. Pelo menos os donos da Toca continuariam a ser ruivos.

– Pela pior família de grindylow! Não pode ser verdade! – exclamou Gina boquiaberta.

O homem andou em passadas largas. Estendeu os braços como se esperasse que toda a família viesse em seu encontro para abraçá-lo. Alvo não gostou daquilo. Como aquele trouxa poderia ser tão idiota, como poderia ridicularizar os Weasley de maneira tão prosaica. Mas logo que começou a falar, Alvo teve realmente vontade de abraçá-lo.

– Agora é assim que vocês recebem seu tio?– Tio? – perguntou Lílian, chorona.– Ora, vamos Gina! Antigamente você mal podia me ver que saia

correndo pulando no meu colo. Jorge fazia o mesmo, mas estava mais ansioso para os presentes que eu trazia em minha mala. E agora é assim? Ficam me encarando como se eu estivesse varíola de dragão!

– Tio Elias, é você! – berrou o tio Rony saltando por entre Alvo e Tiago e agarrando Elias Weasley, o irmão mais novo do vovô Weasley, envolvendo em um abraço desesperado.

– Ora, Rony, cuidado! Não tenho mais a idade de antigamente! – falou Elias se desvencilhando do sobrinho e se aproximando para cumprimentar os outros. – E você deve ser o Harry Potter, não é? Ainda não fomos prontamente apresentados. Creio que na ocasião do casamento de Gui eu estava meio bêbado e no enterro de meu irmão não estava emocionalmente propenso a palavras. Elias Constantino Weasley, irmão mais novo de seu sogro Arthur... E vejam, só! Quem é esta linda dama que caiu aos encantos baratos de meu sobrinho?

– Hermione Weasley. Prazer, senhor – falou a tia Hermione recebendo um ilustre beijo do tio-avô Elias em sua mão. Rony ficara bastante envergonhado e com as orelhas fumegantes, preferindo se afundar ao lado do ombro da esposa.

– Mas, o que faz aqui? – perguntou Gui recebendo um caloroso abraço do tio, mas ainda chocado. – Achávamos que estava pelos arredores de Bristol. Não me diga que...

– Ora bolas.. Estou de mudança! Estou de volta a minha antiga casa! – Você vai morar na Toca?! – exclamaram Rosa e Alvo juntos.– Sim, crianças! – Mas, onde estão os Callaghans? – perguntou Gina olhando para o

horizonte, como se ainda esperasse que os verdadeiros compradores da Toca aparecessem.

– Bem, eu...– Querido, será que vai demorar muito ai fora? Estamos derretendo! –

reclamou uma voz feminina vinda de dentro do carro.– Papai, será que já podemos deixar o Fusca, Mabel está passando mal

– falou outra voz, dessa vez masculina.

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– Doug, Digory, quietos! – chiou outra mulher. – Sr Weasley as crianças...

– Ah, sim. Mil perdões, mil perdões, Ivone – e com um aceno de varinha, o tio Elias destrancou as portas do Fusca cor de aço.

A primeira coisa que veio a cabeça de Alvo fora “Maravilha, mais um carro encantado”. Sim, pois a quantidade de Weasley que saíram do carro era completamente desproporcional ao seu tamanho. Do lado do banco do carona saíra uma mulher não muito mais alta que a vovó Weasley. Ela era bem mais magra que a avó de Alvo, mas parecia que ambas vinham da mesma vila do interior do país. Vestia uma blusa de algodão bem frágil como suas pernas e um pulôver vermelho com seus cabelos sobre os ombros. Tinha olhos verdes-esmeralda e algumas sardas escondidas por entre suas duas covinhas elegantes. Do banco de trás, pelo lado direito saíram quatro pessoas. Aparentemente uma família completa. O primeiro a sair fora um homem alto, quase do mesmo tamanho que tio Gui, mas suas pernas eram maiores e mais desajeitadas que a do outro. Os cabelos eram curtos, repartidos exatamente a dezessete milímetros da sobrancelha esquerda. Vestia um paletó de cor de feno e sapatos, aparentemente de segunda mão. A mulher era meio centímetro mais baixa que ele. Cabelos ruivos bem vermelhos e óculos retangulares que escondiam um olhar perfeccionista. Ela parecia uma professora de matemática pronta para chegar a uma festa de família. Ao redor de suas pernas, duas crianças emburradas uma com a outra estavam imóveis como se fossem dois bonequinhos novos recém tirados da caixa. O primeiro e mais velho era risonho, e ligeiramente bobo. Não parava de rir da situação que se encontrava. Alvo acreditara que não seriam precisas as piadas do tio Jorge sobre trasgos para fazê-lo rir. O outro era frio e feio. Parecia ser adotado, pois não se assemelhava em nada com os dois adultos que o cercava. Mas assim como o pai, possuía um cabelo engomado e milimetricamente penteado, além da face calculista e racional da mãe.

Do lado esquerdo saíram três pessoas, e Alvo acreditara que acabara de ver a família mais legal do mundo sair de dentro do Volkswagen. O homem era ligeiramente semelhar ao tio Jorge, as únicas diferenças eram que seus cabelos chegavam a tocar na nuca e que ele não possuía um tampão extravagante no lugar onde estaria sua orelha. Ao seu lado estava a única pessoa que saíra do carro que não possuía cabelos ruivos. Eles eram cor de avelã, assim como seus olhos. Ela vestia roupas largas e confortáveis e uma sandália de duas tiras, mas não parecia muito feliz em usá-las (talvez preferisse estar usando chinelos ou estar mesmo descalça). E perto dela estava uma menina mais ou menos da idade de Alvo. Seus cabelos eram ruivos, mas em uma tonalidade que mais puxava para o castanho. Seu rosto parecia adaptável, pois cada traço que continha se tornava perfeito. Os olhos sonhadores analisando as pessoas ao seu redor, as sardas distribuídas ordenadamente por suas bochechas

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rosadas, sua boca pequena e doce e seus cabelos lisos, presos por uma tiara branca com desenhos de morangos faziam-na ficar cada vez mais linda.

– Família, deixe-me apresentar-los a minha família! – exclamou Elias chamando os Weasley que saíram do fusca para mais perto. – Minha ilustríssima esposa Elaine e meus filhos, o mais velho Barney e o mais novo Fábio. Juntamente com suas esposas, Ivone Chevalier e Mabel Cole, respectivamente. E meus tesouros, os pestinhas que eu mais adoro neste mundo. Meus netos, Jill, Digory e Douglas o caçula.

Durante uns cinco minutos o tempo parecia não passar, e Alvo acreditara que os cinco minutos pareceram duas horas. Os novos Weasley, parentes diretos do tio-avô Elias, se mostraram muito simpáticos durante as apresentações aos filhos e netos de Arthur Weasley.

– E onde está tia Molly? – perguntou Fábio Weasley, o filho mais novo de Elias.

– Ela está em Londres – contou Gina para o primo. – Como não sabíamos que vocês se mudariam para a Toca já nos programávamos para acomodá-la em outro apartamento na capital. Ela está completamente vazia – indicando com o polegar para a Toca. – Tem somente uns colchões infláveis e nossos suprimentos para hoje.

– Então vejo que teremos de despachar uma coruja para Molly chamando-a de volta à Toca e também haverá muito trabalho para descarregar tudo! – afirmou Elias entregando uma pesada mala para Fábio e uma mais leve a Harry.

– O que têm aqui? – perguntou Fábio, vermelho de tanto esforço que fazia para carregar a mala. – Chumbo? Todos os caldeirões de Barney? Um explosivim contrabandeado?

– Não, são as roupas de sua mãe e as de Ivone! E deixe de ser frouxo! – reclamou Elias. – O Harry aqui está carregando a geladeira e sua cama!

Harry não pode deixar de abaixar os olhos para a mala. Por uma fração de segundo, pode acreditar que Elias era um tanto pirado. Mas depois se lembrou que no mundo da magia quase tudo era possível.

– Mas diga, tio Elias – começou o tio Jorge conforme todos os Weasley ajudavam a levar toda a bagagem para dentro da Toca –, como conseguiu convencer os Callaghans a desistirem da compra?

– Negociação verbal, meu caro Jorge!– Quando ele diz Negociação Verbal, quer dizer negociação utilizando

feitiços verbais – corrigiu Barney, dando ênfase na penúltima palavra. – Ainda acho papai muito compulsivo. Acredito que se ele utilizasse do diálogo para cancelar a compra poderíamos ter obtido êxito sem a necessidade de utilizarmos o Feitiço da Perda de Memória Recente. Como diz o Estatuto dos Direitos dos Trouxas, página quinhentos e trinta e quatro, parágrafo quarenta e um, dígito quinto...

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– Ok, Barney, já o conhecemos! – interrompeu-o Jorge lançando mais algumas malas no colo de Barney Weasley, forçando-o a se calar. – Já temos o Percy para nos lembrarmos de todos os decretos e cláusulas do ministério.

– E como está Hogwarts? – perguntou a esposa de Fábio, Mabel. – Depois que começamos a viajar não tivemos mais notícias da escola... O que me lembra que devemos mandar uma carta à diretora para que Jill possa prestar sua avaliação, certo querida?

– Ela estudou em casa, o primeiro ano? – perguntou Harry, prestativo.– Sim. O Sr Weasley achara muito precipitado nossa volta para Londres

no início do ano. Acreditávamos que a venda da Toca acabaria não acontecendo, então eu e Fábio optamos por ensinar a Jill por nossa conta, só este ano.

– Meu Digory ainda irá completar onze anos no mês que vem – falou Ivone Weasley. – Não tivemos este pequeno contratempo com relação aos nossos. E Douglas só poderá ir para a escola no ano que vem.

– Seremos colegas de turma! – exclamaram Hugo e Lílian em uníssono. Douglas Weasley forçou um sorriso, bastante falso.

– O que é isso, Doug? Quer ir ao banheiro, querido? – perguntou sua avó e o garoto apenas balançou a cabeça negativamente.

– Vocês devem estar desempregados, não? – perguntou Gui quando finalmente todas as malas estavam recostadas na sala vazia d’ A Toca. – Ou conseguiram um trabalho à distância temporário?

– Sou Obliviador – contou Barney, pomposo. – Então sempre há algo para fazer, em algum lugar do mundo. Estou sempre na ativa. E Ivone é do Corpo de Padronização de Artefatos Mágicos Internacionais, então é fácil ter trabalho para casa.

– Eu estou parado – contou Fábio meio desgostoso. – Fui auror por alguns anos, mas deixei o emprego quando Jill nasceu. Mabel é da Comissão de Justificativas Dignas de Trouxas. Então, assim como Ivone, sempre há trabalho para casa.

– Ei, priminho – começou tio Jorge com um olhar maroto, como se acabasse de ouvir exatamente o que queria. – Estou com uma pequena dificuldade para arranjar pessoal para uma de minhas filiais em Hogsmeade. O jovem Lupin está se saindo bem, mas ele está com vontade de ser tornar jogador de Quadribol profissional e Vera é quem tem mais controle na loja do Beco Diagonal. Estou me desdobrando em dois. Se estiver interessado na vaga, mande seu currículo que entraremos em contato.

– E então crianças, o que acham de sobrevoarem comigo o povoado? – perguntou o tio-avô Elias para Alvo, Rosa, Tiago, Hugo, Lílian e Fred, baixinho.

– Mas como poderia fazê-lo? – retorquiu Fred.– Ora, meu Fusca é equipado com melhor nome em Feitiços de

Levitação e Aerodinâmica que existe. Em outras palavras, ele voa!

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– Assim como o Ford Anglia do vovô! – falou Rosa animada. – O senhor teve a mesma idéia que ele?

– Claro que não. Sou original! Seu avô Arthur é quem copiou minha idéia e a de Abílio. Sabem, crianças, seu tio-avô Abílio fora quem tivera a primeira idéia de móveis com levitação. Ele começara com sua bicicleta, ficava voando por Ottery St Catchpole nela vestindo uma capa vermelha para ninguém o descobrir. Mas tudo foi por água abaixo quando uma família de trouxas o avistou e o ministério apreendeu a bicicleta. Depois de anos eu e Abílio aperfeiçoamos o Fusca do papai, depois de quase pronto Arthur se interessou pelo carro. E quando comprou seu Ford Anglia, o complementou com parte de nossa tecnologia.

– Papai, ele está lá! – gritou Barney que olhava para fora da janela da sala. – O Ford Anglia está lá... E em boas condições. Digam um preço que eu o compro!

– Precisa de reparos – disse Harry se lembrando de todas as aventuras que passara junto ao Ford. A viagem proibida até Hogwarts que resultara no choque com o Salgueiro Lutador e a vez em que o carro o salvara das aranhas gigantes lideradas por Aragogue.

– Perfeito! É ainda melhor saber que há bastante coisa para botar em minha revista!

– Que revista? – perguntou Hermione, interessada.– A “Meu Motor” – falou Elias meio curioso em saber que Hermione não

conhecia sua revista própria. – É a última palavra em revista sobre mecânica bruxa e trouxa. Elaine, onde está o exemplar da próxima sessão? Quero mostrar a meus sobrinhos-netos como o tio-avô deles é famoso.

– Não faço a mínima idéia – afirmou Elaine.– Carambolas. E então crianças, o que me dizem do passeio?– Por mim, fechou! – exclamou Tiago.– Feito! – disseram os outros.– Eu não acho tecnicamente confiável que o Fusca agüente uma nova

viagem com esse grande número de passageiros – disse Douglas, calculista. – Podem me chamar de pessimista, mas acredito que seriam necessários mais alguns reparos do câmbio e no pistão. E a bobina não está muito boa. Vovô, eu creio que seria muito mais auspicioso se nós...

– Meu netinho querido, esperto como uma esfinge – Elias abraçou o neto, fazendo o possível para tapar a boca dele com uma de suas mãos. – Mas também fala como uma. O difícil é fazê-lo se calar.

Pausadamente, escoltados por uma crescente nuvem de poeira trazida pelo vento e pela fumaça do cano de descarga, o Fusca de Elias Weasley deslizou para fora da estrada. Fred berrou pela janela do passageiro quando Elias pôs o carro no ar, dirigindo em direção ao horizonte europeu. Com o som de acalorados risos de Digory e de Alvo e o grito de pavor feliz de Rosa. Elias pisou no acelerador, pisando bem fundo. As rodas giraram com mais força e o carro ganhou mais velocidade, voando

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como uma andorinha sobre o quintal d’A Toca e projetando sua sombra sobre a garagem e o Ford Anglia do vovô Weasley enquanto passava.

Os rangidos do carro e as gargalhadas das crianças podiam ser ouvidos longinquamente pelas pessoas trouxas, que olhavam para o céu procurando o causador de um distante e incomodante zumbido. Ninguém saberia que eram bruxos voando em um carro encantado que proporcionavam tão gostosas e delirantes gargalhadas. Gargalhadas de alegria que há muito tempo Alvo não soltava, e ele só se dera conta de onde estava quando começou a ver as construções luxuosas de Tower Hamlets.

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