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AMEOPO MA E Rio de Janeiro - Bra$il - # 0048 - Maio de 2017 Quando criamos nos aproximamos do indizível do inevitável do infinito Nos alinhamos ao inesgotável ao irrevogável ao invisível Quando criamos nos alimentamos da força ávida da força ágil da poesia. Hudson Pereira facebook.com/hudsonstyle1 SELO EDITORIAL ilustra: Ben Carpenter [email protected] | fb.com\editoraoutrasdimensoes Força Poética A palavra abelha não pica, mas a palavra morte sim. Escrever 'sexo' não excita, e normalmente nem evoca uma imagem de relação sexual. Mas experimente escrever úmido, escrever rijo, escrever suado, e adicione as palavras coxas, seios, pescoço colocando-as lado a lado: não é preciso nem compor uma frase coerente para que imagens de sexo se formem por detrás dos seus olhos. A palavra olho, aliás, não enxerga. A palavra ouvido não escuta. E não importa quantas vezes se diga 'cheguei', se você não se mover de fato nunca chegará a lugar algum. Ler a palavra mar não molha, mas o conjunto de letras da palavra adeus às vezes encharca o rosto. Dizer eu te amo nunca mostra ao outro exatamente o que sentimos, mas ainda assim insistimos. Insistimos porque é a única maneira de existir. Porque se nenhuma palavra diz tudo que queremos dizer, e se há palavras que dizem mais do que pretendemos, sem elas não há como dizer coisa alguma. Porque uma palavra não é seu correspondente na realidade, mas ao mesmo tempo é. No fim, cada palavra dita é uma mensagem na garrafa lançada ao mar por um náufrago que não perde a esperança de encontrar o destinatário que irá resgatá-lo. Carina Destempero Entre os declarados e os que apenas desconfio Há alguns homens que me passariam ao fio De suas espadas empunhadas, firmes. Tomando-me de assalto, cena de filme... Mas se me cabe a escolha de a quem capitular É só sob teus olhos que desejo me desnudar. E, sendo fogo entre suas mãos, Espero que preencha meus vãos Quando deixarei de ser chama ardente? Quando sua língua me for mais quente... (Dy Eiterer) Batalha Campal Vai me ver com outros olhos ou com os olhos dos outros? Paulo Leminski

Ameopoema ediçao 0048

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AMEOPO MAE Rio de Janeiro - Bra$il - # 0048 - Maio de 2017

Quando criamos

nos aproximamos

do indizível

do inevitável

do infinito

Nos alinhamos

ao inesgotável

ao irrevogável

ao invisível

Quando criamos

nos alimentamos

da força ávida

da força ágil

da poesia.

Hudson Pereirafacebook.com/hudsonstyle1

SELO EDITORIAL

ilustra: Ben Carpenter

[email protected] | fb.com\editoraoutrasdimensoes

Força Poética A palavra abelha não pica, mas a palavra morte sim. Escrever 'sexo' não excita, e normalmente nem evoca uma imagem de relação sexual. Mas experimente escrever úmido, escrever rijo, escrever suado, e adicione as palavras coxas, seios, pescoço colocando-as lado a lado: não é preciso nem compor uma frase coerente para que imagens de sexo se formem por detrás dos seus olhos. A palavra olho, aliás, não enxerga. A palavra ouvido não escuta. E não importa quantas vezes se diga 'cheguei', se você não se mover de fato nunca chegará a lugar algum. Ler a palavra mar não molha, mas o conjunto de letras da palavra adeus às vezes encharca o rosto. Dizer eu te amo nunca mostra ao outro exatamente o que sentimos, mas ainda assim insistimos. Insistimos porque é a única maneira de existir. Porque se nenhuma palavra diz tudo que queremos dizer, e se há

palavras que dizem mais do que pretendemos, sem elas não há

como dizer coisa alguma. Porque uma palavra não é seu correspondente na realidade, mas ao mesmo

tempo é. No fim, cada pa lav ra d i ta é uma mensagem na garrafa lançada ao mar por um náufrago que não perde

a esperança de e n c o n t r a r o

destinatário que irá resgatá-lo.

Carina Destempero

Entre os declarados e os que apenas desconfioHá alguns homens que me passariam ao fioDe suas espadas empunhadas, firmes.Tomando-me de assalto, cena de filme...Mas se me cabe a escolha de a quem capitularÉ só sob teus olhos que desejo me desnudar.

E, sendo fogo entre suas mãos,

Espero que preencha meus vãosQuando deixarei de ser chama ardente?Quando sua língua me for mais quente...

(Dy Eiterer)Batalha CampalVai me ver com outros olhos

ou com os olhos dos outros?Paulo Leminski

Rômulo Ferreira

Edição e Coordenação: Selo Editorial Outras Dimensões

Exemplares na pRAÇA: 1ooo exemplares. PIRATEIE!.tem grana sobrando: Financie novas edições e outros trabalhos

depositando qualquer valor em: Banco do Brasil(Rômulo Ferreira) Agência 0473-1 conta poup. 16197-7 (var. 51)

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cc _ [email protected]/ameopoema

AMEOPO MA

E

AMEOPO MA

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Capa: montagem digital sobre Grace Davison

Nesta edição: Ana Cristina César || || Michael Morris ||Dy Eiterer|| lu de oliveira || Hudson Pereira || Carina Destempero||

Editorial 1\2poemalu de oliveira

facebook.com/luisfelipe.oliveira.564 poema imagem:: Michael Morris

Eu vou te dar um poemaEsse poema fala do PROLIXO

do amor, do estar, do que é vivercom um animal te rondando

metade águia, metade porcoo capeta CAPITALISTA

sufocante alma de homossexualno dia 13 de julho segunda-feira de 8 graus

TUDO-CORTA vento vento ventobrisa boca boca boca

CONTINUA A TER RONDAR?

O menino feliz tinha uma barba cheia pequeno índio GRANDIOSO

Ô gente que coisa arte gentecoisartegente mantenho em mente

essa gente veio de repente amarelovermelho muito vermelho

relaxa...essas nordestinas cosmopolitas(Quantas vezes for necessário)

tudo leoa das grandes que alimentam família de muito leões

VOCÊ NÃO ME PEGA!QUEM É VOCÊ?

brisa errada, errante e cis que aparece negra ALTA NEGRA de vermelho bedelho negra

negra NÊÊÊÊÊÊÊÊgrAAAAAAAAAAAAAamiga,

BRISA CERTA RESTAQue atinge no que tange a vagante, errante,

militante ARTE;

COISA ARTE GENTE

Pergunto aqui se sou loucaQuem quer saberá dizer

Pergunto mais, se sou sãE ainda mais, se sou euQue uso o viés pra amar

E finjo fingir que finjoAdorar o fingimento

Fingindo que sou fingidaPergunto aqui meus senhores

quem é a loura donzelaque se chama Ana Cristina

E que se diz ser alguémÉ um fenômeno morOu é um lapso sutil?

Poeta, tradutora e crítica literária carioca, Ana Cristina César (1952-1983) é considerada uma das principais figuras femininas da geração mimeógrafo, com a publicação de edições independentes: “Cenas de Abril” e “Correspondência Completa”.Além dessas, outras obras: Luvas de Pelica (1980), Literatura não é documento (1980), A Teus Pés (1982), Inéditos e Dispersos (1985).Comete suicídio, aos 31 anos no Rio de Janeiro ao se atirar da janela de seu quarto.

‘‘Ana

CristinaCésar

é necessário dançar antes de morrera vida que baila... nos dá a dança , maldito trópico que dá câncer nas pessoas. esquecemos de olhar a lua pois a vida dança e tira a cadeira... olha lá o disco voador... olha lá a serpente com suas sete cabeças de prata esticadas nesta escadaria que não parece ter fim. estou diante dos jogos que a vida impôs:

1 - concorrência desleal2 - amores fluviais3 - superação de perdas4 - dias de sol direto nas costas5 - nervosismo sistemático e por último

vem; me alicia na cadência desta passagem... pago a porra deste trecho rodado. e sei:o salto é alto... a pedra fria que esperagritafreiaesperneia, caso a queda não soe perfeitacaso o músculo concentre outras vontades; ceda a dança de dançar sem sabera busca pelo fimque começa com a decisão

gritafreia embolado

ecoaecoaecoa