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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO
PLANO NACIONAL DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO
BÁSICA – PARFOR
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIENCIAS HUMANAS
FACULDADE DE HISTÓRIA
HORLEANDRO SOUZA BARREIRA
MIGRAÇÃO, ECONOMIA E SOCIEDADE NA VILA CRUZEIRO DO SUL DE 1990
A 2013 NO MUNICIPIO DE ITUPIRANGA-PA
MARABA – PA
2014/2
2
HORLEANDRO SOUZA BARREIRA
MIGRAÇÃO, ECONOMIA E SOCIEDADE NA VILA CRUZEIRO DO SUL DE 1990
A 2013 NO MUNICIPIO DE ITUPIRANGA-PA
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Curso de Graduação em
Licenciatura Plena em História pela
Universidade Federal do Pará e
PARFOR como forma de obtenção de
grau de licenciado.
Professora Orientadora: Drª Edilza Joana
Oliveira Fontes
MARABA – PA
2014/2
3
HORLEANDRO SOUZA BARREIRA
MIGRAÇÃO, ECONOMIA E SOCIEDADE NA VILA CRUZEIRO DO SUL DE 1990
A 2013 NO MUNICIPIO DE ITUPIRANGA-PA.
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Curso de Graduação em
Licenciatura Plena em História pela
Universidade Federal do Pará e
PARFOR como forma de obtenção de
grau de licenciado.
Marabá, ____ de ____________ de __________.
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________
Professor (a)
Presidente da Banca Examinadora
________________________________________________
Professor (a)
Membro da banca examinadora
DATA DA AVALIAÇÃO ___/___/______. Aluno regularmente matriculado no curso de
Formação de Professores da Educação Básica – PARFOR/UFPA turma ______ Campus
Universitário de Marabá- PA.
4
DEDICATÓRIA
A Deus por minha existência, a meus amados pais pela crença no potencial de seu filho, aos
adoráveis amigos Rosivânia Franco, Josilene Ribeiro e Arnaldo Barbosa Rodrigues, aos meus
familiares que sempre me apoiaram nos momentos que precisei, aos meus professores, em
especial Leila Mourão, Pere Petitt e Edilza Fontes. Dedico este estudo.
5
AGRADECIMENTOS
A DEUS...
Que me concedeu a vida e sabedoria, oportunizando vivenciar esse momento tão especial.
AOS PROFESSORES...
Pelas sugestões apresentadas, orientações e informações da qual sou grato e sentir-me
preparado para o mercado de trabalho.
AOS MEUS FAMILIARES...
Que tão pacientes sentiram minha ausência e nunca reclamaram apenas me incentivaram e
apoiaram em todos os momentos.
AOS COLEGAS DE CURSO...
Pela amizade da qual levarei para toda vida.
A UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ; GOVERNO FEDERAL – PARFOR
A todos que, direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho.
Sinceramente, muito obrigado!
6
Você vai... Vai à busca... E eu vim! Pra mim foi um desafio...estou colhendo hoje, o que
eu plantei ontem e com certeza eu vou colher amanhã, o que estou plantando hoje!
Nem sempre a gente planta coisas boas... Más... Nós somos humanos e temos que ir
em busca do que a gente quer.
(Deusilene de Carvalho Silva, migrante)
7
RESUMO
Esta pesquisa tem como intuito descrever sobre “Migração, Economia e Sociedade na Vila
Cruzeiro do Sul de 1990 a 2013 no município de Itupiranga – PA” com objetivo de
compreender mais sobre as contribuições que a migração proporcionou nesta Vila e suas
transformações ao longo da história destacando suas influências políticas, sociais e
econômicas em seu processo histórico até ser inserida na lista dos novos municípios que serão
criados no estado do Pará. A necessidade de estarmos pesquisando sobre a importância e
contribuição da migração é justamente por entendermos que o mundo atual foi moldado em
grande parte pelos impactos culturais, sociais e econômicos provocados pela migração de
populações de uma região para outra. A metodologia da presente pesquisa provém de um
estudo bibliográfico e de campo, dentro das abordagens qualitativa quantitativas do tipo
exploratória, em que realizamos uma pesquisa de campo com migrantes que chegaram a Vila
de Cruzeiro do Sul e alguns dos políticos que se elegeram como vereadores com perguntas
previamente elaborados, na sequência fizemos um levantamento através de leituras em livros,
revistas, artigos, dentre outros materiais, procurando desenvolver nossa observação, análises e
conclusões a respeito do tema e, por fim, a elaboração deste trabalho de conclusão de curso.
Os teóricos que embasaram este estudo, entre outros, são: Pimentel (2007), Thompson (2001),
Nunes (2005), Costa (1996), Castro (2003), Cancela (2010), Filho, Júnior e Neto (2001) e
Revel (2010). Contribuições bem significativas para que tivéssemos a informações adequadas
na elaboração e finalização deste trabalho de conclusão de curso. Nossas conclusões são que
os fluxos migratórios são fundamentais para formação de novas vilas, comunidades, cidades e
estados, com relação à Vila de Cruzeiro do Sul a procura pela terra, emprego em madeireiras
foram principais para atrair um número bem grande de famílias que ali chegaram fazendo
com que se destacasse no município de Itupiranga como a principal vila.
Palavras-chave: Migração, Influências, Política e sociedade.
8
ABSTRACT
This research is aiming describe on "Migration, Economics and Society in Vila Cruzeiro do
Sul from 1990 to 2013 in the city of Itupiranga - PA" in order to understand describe about
the contributions that migration provided in this village and its transformations throughout
history highlighting their political influence, social and economic conditions in its historical
process to be added to the list of new municipalities to be created in the state of Pará. The
need we are researching the importance and contribution of migration is precisely because we
believe that the world today was shaped largely by cultural, social and economic impacts
caused by the migration of people from one region to another. The methodology of this
research comes from a literature study and field, within the quantitative qualitative approaches
exploratory, where we conducted a field research with migrants who arrived in the Southern
Cross Village and some of the politicians who were elected as councilors with questions
prepared in advance, following a survey done by reading in books, magazines, articles, among
other materials, trying to develop our observation, analysis and conclusions on the subject and
finally design the course conclusion work. Theoretical that supported this study, among
others, are: Pimentel (2007), Thompson (2001), Nunes (2005), Costa (1996), Castro (2003),
Cancela (2010), Son, Junior and Neto (2001) and Revel (2010) and significant contributions
to that we had the appropriate information in the preparation and completion of this course
conclusion work. Our conclusions are that migration flows are essential for formation of new
villages, communities, cities and states, in relation to the Southern Cross Village of demand
for land, employment in logging were key to attract a very large number of families who
arrived making them stand out in Itupiranga municipality as the main village.
Keywords: Migration. Influences. Policy. Society.
9
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO………………………………………………………….…………………..10
1. O DEBATE DE MIGRAÇÃO NA HISTORIOGRAFIA DA AMAZÔNIA
CONTEMPORÂNEA............................................................................................16
1.1. Contribuições da migração na formação da população amazônica................19
1.2. A importância da migração na formação da Vila Cruzeiro do Sul no município de
Itupiranga-Pa...................................................................................23
2. A IMPORTÂNCIA DO PODER POLÍTICO PARA A SOCIEDADE..................29
2.1. A ausência do Poder Político na Vila Cruzeiro do Sul no município de
Itupiranga-Pa..........................................................................................................32
2.2. A influência e participação política na Vila Cruzeiro do Sul de 1990 a 2013 no
município de Itupiranga-Pa............................................................................34
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................38
REFERÊNCIAS..........................................................................................................41
ANEXOS.....................................................................................................................42
APÊNDICES...............................................................................................................51
10
INTRODUÇÃO
As últimas décadas do século XX foram marcadas pela mobilidade populacional no
Brasil em que todo cenário se transforma no momento em que o homem começa a provocar
mudanças e com isso passa a vivenciar o processo migratório. A presente pesquisa tem como
temática: “Migração, Economia e Sociedade na Vila Cruzeiro do Sul de 1990 a 2013 no
município de Itupiranga-Pa”, com objetivo de descrever sobre as contribuições que a
migração proporcionou nesta Vila e suas transformações ao longo da história destacando as
influências políticas no período de 1990 a 2013. Neste sentido, temos a compreensão de que
os fluxos migratórios para a formação de vilas, cidades e grandes centros urbanos são muito
importantes durante suas formações e que a Vila Cruzeiro do Sul foi criada e formada, hoje é
uma das principais vilas na lista a se tornar um dos novos municípios do Estado do Pará.
O interesse em pesquisar esta temática parte do entendimento de que os movimentos
populacionais são, hoje, um elemento importante para melhor refletir sobre as tendências
relacionadas ao desenvolvimento de uma vila, um povoado, uma cidade ou até mesmo um
estado ou nação. Desta forma, temos a clareza que a presente pesquisa despertou nosso
interesse justamente por esta dinâmica e podermos compreender sobre a importância da
migração na formação e distribuição equilibrada da população por todo um determinado
território.
A necessidade de estarmos pesquisando sobre a importância e contribuição da
migração é justamente por entendermos que o mundo atual foi moldado em grande parte pelos
impactos culturais, sociais e econômicos provocados pela migração de populações de uma
região para outra. O Brasil é um exemplo desta afirmação, em face da forte influência da
emigração europeia e da emigração forçada de africanos. Assim, no momento em que
estaremos descrevendo sobre as migrações ocorridas na Vila Cruzeiro do Sul no município de
Itupiranga no Sudeste do Pará irá proporcionar exploração e ampliação de conhecimentos e
fatos que ocorreram para que esta Vila viesse a tornar-se uma das principais do referido
município.
As contribuições proporcionadas pela presente pesquisa perpassam pela identificação
e compreensão do que sejam migrações e suas reais contribuições para formação de vila,
cidades, municípios e até mesmo grandes nações. Contudo, se entende que as reais
11
contribuições serão adotadas na futura prática profissional como historiadores preocupados
com as transformações ocorridas no cenário local, municipal, regional, estadual e nacional.
Desta forma, temos a compreensão de que as principais contribuições desta pesquisa e de
podermos vivenciar situações práticas de aprendizagem em que estaremos conhecendo muito
mais sobre a importância da migração na formação das populações e comparar teoria e prática
como futuros profissionais de história para que no momento de assumirmos nossa docência
termos elementos que embasem nossa prática pedagógica.
A importância desta pesquisa está voltada para as observações e análises nas
entrevistas realizadas com alguns migrantes que chegaram a Vila Cruzeiro do Sul e deram
suas contribuições na formação da referida Vila. Assim, se pretende através desta pesquisa
descrever sobre o processo migratório, assim também as influências políticas para que a
mesma viesse a tornar-se uma das principais vilas do município de Itupiranga no estado do
Pará.
Ao considerar a temática estudada, foi definido como objetivo geral compreender o
processo migratório, econômico e social na formação de Cruzeiro do Sul e suas influências
políticas no período de 1990 a 2013. Para que se tivesse uma melhor especificação deste
processo de formação, foram elaborados os seguintes objetivos específicos: a) compreender a
importância do processo migratório na formação da Vila Cruzeiro do Sul; b) identificar as
contribuições politicas para Vila Cruzeiro no período de 1990 a 2013; c) descrever as
transformações da Vila através do processo migratório da região. As questões que nortearam a
pesquisa para que tivéssemos um melhor caminho a ser seguido foram: 1) Como podemos
definir o que é o conceito de migração? 2) Quais as principais contribuições do processo
migratório na formação da Vila de Cruzeiro do Sul? 3) Quais as influências e contribuições
políticas ocorreram no período de 1990 e 2013 para que a Vila venha ter sua emancipação
política?
Os teóricos que embasaram este estudo, entre outros, são: Pimentel (2007), Thompson
(2001), Nunes (2005), Costa (1996), Castro (2003), Cancela (2010), Fontes e Meireles (2012),
Filho, Júnior e Neto (2001) e Revel (2010) contribuições bem significativas para que
tivéssemos a informações adequadas na elaboração e finalização deste trabalho de conclusão
de curso.
As entrevistas realizadas nesta pesquisa foram com alguns migrantes que chegam a
Vila Cruzeiro do Sul com objetivos diferentes e vindos de diversos estados brasileiros sendo
que 03 vieram do estado do Maranhão, 01 do Piauí, 01 do Espirito Santo e 01 de Minas
Gerais ambos chegam do ano de 1974 a 1999 com intuito de conseguirem terras para
12
agricultura, pecuária, outros chegam à busca de trabalhos na educação e na Serraria dos
Irmãos Carneiros.
Com o intuito de compreender o processo de migração, economia e sociedade ocorrido
na Vila de Cruzeiro do Sul de 1990 a 2013 no município de Itupiranga sudeste do Pará foi
necessário que realizássemos esta pesquisa de campo em que iremos realizar as análises e
discussões sobre a mesma a seguir.
Tentaremos, ainda que enquanto ensaio, compreender a origem dos migrantes
considerando que a grande maioria são oriundos dos seguintes Estados: Maranhão, Piauí,
Minas Gerais e Espírito Santo Tocantins e Bahia, de modo geral todos tinham seus objetivos
diferentes, porém com alguns pontos em comum devido à procura daquele povoado com a
informação de que tinha muita terra e prosperidade de dias melhores. Assim, tivemos o
entendimento de que ambos chegaram a Vila Cruzeiro do Sul com intuito de buscarem
conquistas, trabalhos e esperança de melhores dias para suas famílias.
Conforme Cancela (2010) afirma:
(...) a expectativa das pessoas que migram é encontrar melhores condições de vida,
uma nova terra para viver e trabalhar, um novo mundo onde possa fazer fortuna ou
escapar dos problemas que as afligiam no lugar de origem (p. 108-109).
De fato, durante as entrevistas realizadas tivemos essa compreensão de que todos os
migrantes que chegaram para a Vila Cruzeiro do Sul eram por melhores condições de vida
devido às informações de que a comunidade tinha muita terra para plantar, criar e
prosperidade de uma nova terra.
Como declara a professora Deusilene C. Silva:
“Os meus pais vieram em busca de uma vida melhor, porque eles moravam lá
sempre trabalhando em fazenda. Como o irmão dele já tinha vindo embora pra cá e
chegou lá contando que o Pará era o melhor lugar do mundo pra se viver, convenceu
meu pai a vir”. Neste sentido, temos a compreensão de que tais motivos foram bem
pertinentes para que as demais famílias ali chegassem e começassem a formar a Vila
de Cruzeiro do Sul.
É importante dizer que os anos que tais migrantes chegaram são relevantes, pois
contribuíram significativamente com esta pesquisa, pois, em 1974 chega o senhor Isnaldo O.
Gomes, em 1988 Abrão Martins chega com sua família e no período de 1993 a 1999 chegam
às famílias de Deusilene C. Silva, Farley C. Machado, Aldeires B. Rosa e Reginaldo Silva.
Desta forma, podemos descrever que tais migrantes foram fundamentais para que tivéssemos
informações e declarações de como aconteceu o processo migratório na Vila Cruzeiro do Sul.
13
É importante dizer que os motivos que trouxeram os migrantes para a Vila
contribuindo para o processo de povoamento e surgimento da mesma e que a procura pela
terra é um dos principais motivos que as famílias ali chegaram com intenção de adquirirem
um pedaço de chão para plantar e criar, seguidos da procura por emprego na Serraria dos
Irmãos Carneiro que na época era a principal atividade econômica da região a extração de
produtos vegetais da floresta e que existiam em abundância, famílias e mais famílias
chegavam com esperança de emprego.
Conforme declara Farley C. Machado em entrevista:
Nós chegamos a morar ali próximo de Marabá, numa vila pertinho da Vila Santa Fé,
moramos ali alguns meses apenas. Meu pai comprou uma terra próximo da Santa Fé,
mais pra lá um pouco chamado de Café. Café porque tem um rio chamado Café.
Comprou lá 10 alqueires, daí teve que sair também por que não tinha escola por perto.
Assim como Farley declara, as demais famílias também começam a chegar ao
território do sul Pará que atraia as pessoas com informações de muita terra, emprego e
prosperidade para todos. É importante também destacar com o inicio da Serraria dos Irmãos
Carneiro na Vila atraiu muitas famílias devido a grande extração de madeira atingiu uma
produção que exigia turnos durante o dia e a noite como declara Reginaldo Silva:
CONCREM já existia uma firma que trabalhava com laminados também estava
contratando muito para fornecer matéria prima para Tramontina, logo depois a
Serraria Irmãos Carneiro chegou para contratar. Em Dezembro de 2000 consegui
fichamento na Serraria chegando a ter mais de 600 funcionários. Sendo que em 2005 a
Serraria parou de funcionar por conta de fiscalização do IBAMA.
Desta forma, percebemos que a atividade madeireira na região contribuiu
significativamente para atrair muitas famílias que chegavam com interesse em arrumar
emprego para seus familiares e ao mesmo tempo conseguirem um pedaço de terra para plantar
e criar.
Os entrevistados destacam as principais características da região e Vila Cruzeiro do
Sul na época que chegaram declarando que o acesso pelas estradas e vicinais eram muito
difícil, na realidade não existia estradas e sim muitos buracos e poeira demais no verão e lama
no inverno. O transporte que existia eram principalmente os carros madeireiros e aos poucos
que os carros de linha (transporte alternativo) começavam a entrar nas vicinais. As escolas
eram poucas e com o aumento da população o poder público precisou criar mais escolas para
atender a demandas de alunos existentes. Uma das principais características destacadas pelos
entrevistados foi sobre a abundância de terra existente no território da Vila sendo iniciada
sobre cruzamento de quatro vicinais que davam acesso a Itupiranga, Marabá e outros
municípios.
14
Em 1999 quando cheguei só tinha professor Osmir e professora Rosilma e no resto
do ano substituí na turma. No ano de 2000 já deu uma crescida rápida que isto aqui
cresceu. Como uma vez o Benjamim disse: “que as outras cidades crescem como um
carrinho de mão e aqui cresce como um avião”. Por que aqui teve uma explosão
demográfica muito rápida. Em 99 tinha apenas quatro turmas, em 2000 teve um
número quase dobrado de turmas a Secretaria de Educação mandou o professor
Carlos Cardoso pra assumir a direção da escola e ele veio com sua esposa Vilma.
(FARLEY).
Compreende-se então que a população aumentou consideravelmente sendo
considerado pelo gestor municipal da época Benjamim Tasca reeleito em 2012, um
crescimento muito rápido sendo necessário o aumento de mais salas de aulas e uma direção
para a Escola Municipal Jose Inocente Júnior sendo que o senhor Carlos Cardoso passou a ser
o diretor.
De modo geral informamos que 83% dos entrevistados declararam que o poder
político influenciou positivamente na criação do Projeto de Emancipação da Vila e que
Cruzeiro do Sul consta na relação dos próximos municípios do estado do Pará e apenas 17%
informaram que os políticos não têm tanto interesse na emancipação da Vila devido alguns
pertencer a grupos de grandes fazendeiros e pecuaristas que são contra tal emancipação.
Assim, podemos compreender que os representantes políticos (vereadores) que já foram
eleitos e os atuais demonstram um interesse muito grande principalmente porque desejam
disputar as eleições na Vila.
Os entrevistados declararam as principais mudanças ocorridas no período de 1990 a
2013 foram que com o fechamento da Serraria dos Irmãos Carneiro principal fonte econômica
da época muitas famílias foram embora, devido ao desemprego ter sido muito alto. Assim, o
fluxo de extração de madeira diminuiu consideravelmente sabendo-se que ainda existe a
exploração e extração de madeira nas madeireiras escondidas na mata. A vila cresceu
consideravelmente tendo muitas lojas, bancos, cooperativas e associações, mas que precisam
que o poder político administrativo esteja mais presente devido à sede do município
Itupiranga ser muito longe e ficam isolados tendo que a Vila seja dominada pelo poder dos
mais fortes (fazendeiros, pecuaristas, donos de lojas, dentre outros).
A pesquisa será estruturada em dois distintos capítulos os quais procuram contemplar
as intenções constantes da mesma. No primeiro capítulo é descrito conceitos, contribuições e
importância da migração na formação de populações, especificamente na Vila Cruzeiro do
Sul.
No segundo capítulo será apresentado a importância do poder político para a sociedade
em sua formação e viabilização de políticas públicas a que venha favorecer o crescimento de
um povo. Ainda neste capitulo, o primeiro sub. tópico será descrito sobre a ausência do poder
15
politico na Vila de Cruzeiro do Sul e no segundo sub. tópico será apresentado à influência e
participação politica na referida vila durante o período de 1990 a 2013. Ainda, a metodologia
da pesquisa em que serão destacados os demonstrativos da mesma, assim como: dados,
análises e discussões com intuito de compreendermos melhor como aconteceu o processo
migratório, econômico e social na formação de Cruzeiro do Sul no município de Itupiranga-
Pa.
Na parte final deste trabalho de conclusão de curso será descrito as considerações
finais, referências e anexos com intuito de concluir e chegar a possíveis respostas sobre os
questionamentos iniciais.
16
CAPITULO 1: O DEBATE DE MIGRAÇÃO NA HISTORIOGRAFIA DA
AMAZÔNIA CONTEMPORÂNEA.
A história da evolução e transformações da espécie humana no planeta Terra já vem
sendo marcada há mais de 2,5 milhões de anos, pois no momento que o homem passou a se
entender como pessoa humana e perceber que não estava sozinho iniciou seu processo de
migração, ou seja, passou a ir e vim para onde achar que deve ir.
Uma migração é toda movimentação (ou deslocamento) da população que ocorre de
um lugar (de origem) para outro (destino), e que implica uma mudança de residência habitual
no caso das pessoas ou de habitat no caso das espécies animais. Neste sentido, podemos
compreender a migração como a forma que o homem descobriu para ir resolver e transformar
tudo aquilo que lhe convier.
Segundo Cancela (2010) descreve:
Se pararmos por um momento para pensar que os primeiros indivíduos de nossa
espécie – Homo Sapiens – se desenvolveram no continente africano e, a partir de lá,
colonizaram todo o globo terrestre, cruzando mares e oceanos, teremos a exata
dimensão da aventura migratória dos seres humanos (p. 9).
Contudo, de acordo as descrições da autora podem compreender que esse Homo
Sapiens, mesmo sem entender começou a realizar o seu fluxo migratório, justamente pela
necessidade que sentia de sair para buscar caminhos que ainda desconhecia e aqueles que já
conheciam em busca de algo que lhe convinha. Neste sentido, o homem passou a usufruir da
migração e a partir daí, começa a transformar os espaços que descobria.
A migração é um fenômeno presente ao longo de toda a história da humanidade.
Diversas culturas e religiões têm como referência algum tipo de migração, como é o caso do
êxodo do povo judeu do Egito. As causas das migrações humanas podem ser políticas,
econômicas, por catástrofes naturais, etc. A autora descreve ainda sobre o processo migratório
no Brasil:
Moramos em um país de migrantes. Para cá vieram portugueses, africanos, alemães,
italianos, espanhóis, japoneses, entre outros. Da mesma forma, brasileiros imigrantes
estão presentes em quase todos os países do mundo. Estima-se que cerca de 100
milhões de pessoas ou 2% da população do globo viva longe de seus países de
origem (p. 10).
O que podemos compreender nesta citação, é que nosso País é um território extenso e
diverso, assim também uma terra rica em recursos naturais que desde o seu descobrimento em
1.500 vem despertando o interesse em migrantes que chegam a todo o momento para explorar
seus recursos naturais e em alguns casos acabam se instaurando e formando diversas
comunidades, vilas, cidades, dentre outros. Sabe-se também que atualmente, os brasileiros são
17
imigrantes em muitos outros países, pois desde que o homem entendeu que pode migrar e
imigrar os fluxos migratórios foram sendo constituídos e a cada dia cresce mais e mais,
fazendo com que a população mundial cresça numa proporção sem medida.
Quando a sociedade moderna introduziu a máquina como instrumento de trabalho, no
final do século XVIII, e absolutizou a propriedade privada, estava reforçando a raiz geradora
da atual mobilidade humana, o que aparece especificamente nas migrações em que
destacamos: êxodo rural, exploração do trabalho de homens, mulheres e crianças, crescimento
e inchaço das cidades com periferias que confinam os excluídos sem a mínima infraestrutura
de esgotos, transporte, habitação, trabalho, escolas e de serviços comunitários básicos.
De outra parte, o século XIX possibilitou um aumento demográfico, seja pela ausência
de guerras, seja pelo progresso econômico, seja pelo transporte fruo da revolução industrial,
que alteraram profundamente o processo produtivo de então, fortalecendo as cidades surgidas
ao redor de fábricas e portos; introduzindo a agricultura empresarial (deixando a de
subsistência e artesanal em segundo plano) e iniciando o processo de globalização econômica.
Neste sentido, o Brasil apresentou saldos migratórios positivos durante esses séculos
em que ficou marcado na história desde o final do século XIX ao início do século XX.
Atualmente, entretanto, os fluxos migratórios são preferencialmente das regiões em
desenvolvimento para as já desenvolvidas e o Brasil não foge a regra geral, nas últimas
décadas, o país tem absorvido menos imigrantes do que tem perdido emigrantes para os
demais países do mundo.
Partindo desse contexto, corroborando com Fontes (2012), podemos perceber que o
processo migratório, político e econômico de alguns municípios do estado Pará como Abel
Figueiredo e Itupiranga foram resultado da construção da rodovia Transamazônica, que teve
uma grande participação de migrantes vindos de vários estados vizinhos como Maranhão,
Ceará e Espírito Santo, cujos vinham acreditando que haveria terras para todos O Governo
Federal para fortalecer o processo migratório na região informava em rádios, televisão que
haveria “terras sem homem para homens sem terras”, essa frase era o carro chefe da
propaganda do governo para atrair famílias para região.
18
Figura 1: Inicio da construção da Transamazônica nas proximidades de Itupiranga Pará Inicio de 70 tem como perspectiva mostra como ocorreu a abertura da estra que
vira ser frequentada pelos migrantes chegar a Vila Cruzeiro do Sul antiga 4 Bocas https://www.google.com.br/ Acesso em 28\01\2014
De acordo Saquet apud Cancela 2010, descreve:
O território significa natureza e sociedade, economia, politica e cultura; ideia e
matéria, identidades e representantes; apropriação, dominação e controle; des-
continuidade; conexão e redes; domínio e subordinação; degradação e proteção
ambiental; terra, formas espaciais e relações do poder; diversidade e unidade (p. 96).
Com esse intuito o Governo Federal começou a divulgar em toda mídia nacional
colocando todo território amazônico de portas abertas para que os migrantes de todas as partes
do Brasil e do mundo chegassem aqui para usufruir e se apropriarem dos recursos naturais
existente na Amazônia. Dessa forma, as migrações no contexto do território do sudeste
Paraense com dinâmicas bem expressivas para época. A respeito desta dinâmica Cancela
(2010) descreve:
A dinâmica agraria da microrregião de Marabá ate a criação do Território Sudeste do
Pará se deu articulada a diversas frentes de expansão do capital à região. De acordo
com a política de construção do Território Sudeste do Pará, ele é visto como unidade
e assim é considerado para as ações de desenvolvimento para ele planejadas (p. 97).
Podemos compreender perfeitamente de que forma aconteceu à dinâmica de ocupação
do território paraense com as migrações sendo viabilizada por ações de desenvolvimento do
Governo Federal a microrregião de Marabá é criada e expandindo cada vez mais a cada
migrante ou famílias migrantes que aqui chegavam.
19
Figura 2: Traçado da Rodovia Transamazônica. (Veja 24/06/1970. 32p. il. color.),
http://www.revistageonorte.ufam.edu.br/attachments/article/14/RODOVIA%20TRANSAMAZ%C3%94NICA%20FAL%C3%8ANCIA%20DE%20UM%20GRANDE%20PROJETO%20
GEOPOL%C3%8DTICO.pdf acesso dia 24/07/2014.
As migrações para o que hoje é considerado o Território do Pará – formado por sete
municípios: Marabá, Itupiranga, Eldorado dos Carajás, São Domingos do Araguaia,
Parauapebas, Nova Ipixuna e São João do Araguaia – merecem destaque, do ponto de vista
social, econômico e político, por possibilitarem, entre outros aspectos, a formação de uma
densidade populacional no campo, que organizou politicamente ao longo da história de luta
pela terra no território, expressa pela atuação de sindicatos, de associações e de cooperativas,
atrelados a movimentos sociais do campo, como a Federação dos Trabalhadores na
Agricultura (FETAGRI) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), entre
outros (CANCELA, 2010, p. 97).
1.1. Contribuições da migração na formação da população amazônica.
O Pará é o terceiro destino migratório do país, legiões de esperançosos trabalhadores
ou ferozes aventureiros o buscam, atraídos por suas bugigangas tecnológicas e de capital
intensivo, “os grandes projetos”. Como efeito perverso de uma lógica perversa, boa parte dos
imigrantes chega de outros estados sem família, sem regras, sem limites, dispostos ao
enriquecimento, de qualquer maneira, por isso sem trazer família (que virá se derem certo),
prontos para a loteria da fronteira, atrasada no tempo em relação às partes modernas do país e
do mundo (SCHMINK & WOOD, 2012).
O fenômeno migratório é social, assume a dimensão de classe social, que estaria
respondendo aos processos social, econômico e político ao migrar. As migrações internas são
20
sempre historicamente condicionadas, sendo o resultado de um processo global de mudança,
do qual elas não devem ser separadas (SINGER, 1980, p. 217).
As políticas públicas voltadas para a Amazônia nos últimos quarenta anos
promoveram transformações que afetaram o modo de vida de muitas populações que antes
lidavam com o extrativismo e tinham nos rios um meio natural de locomoção e de
sobrevivência. Tais transformações se aceleraram a partir da década de 1960 com a abertura
de estradas e as políticas públicas que pretendiam promover a ocupação e o desenvolvimento
da Amazônia. A ideia que serviu de ponto de partida para essas ações do Governo Federal,
sobretudo na vigência do Regime Militar de 1964 a 1985, baseava-se no princípio de que a
Amazônia era um grande “espaço vazio”, necessitando ser povoada e integrada ao resto do
país.
Sobre as promoções do Governo Federal e incentivos fiscais visando atrair o capital
privado para a região para desenvolver a Amazônia, Schmink & Wood (2012) descrevem:
O militar, então no poder a quase uma década, pôs-se a povoar a região e a explorar
seus recursos naturais por meio de uma serie de esquemas de desenvolvimento,
amplamente divulgados. O governo federal promoveu créditos e incentivos fiscais,
visando atrair o capital privado para a região e financiar a construção da rodovia
Transamazônica – uma estrada não pavimentada que se estendia por cerca de cinco
mil quilômetros, partindo do Maranhão e Pará no leste, cruzando a inexplorada bacia
amazônica, chegando ate o estado do Acre no extremo oeste, na fronteira com a
Bolívia (p. 35).
Com essa intenção o governo federal promoveu ações e incentivos para atrair os
migrantes de todas as partes do Brasil e do mundo para a Amazônia, tais incentivos seriam
impostos menor e em alguns casos isenção total. Neste sentido, para que empresas, imigrantes
pudessem chegar até aqui seria necessária à abertura de rodovias e assim surge a construção
da rodovia Transamazônica que vem ligar o extremo norte ao oeste brasileiro.
Esse pressuposto não levou em consideração as especificidades da sua natureza, das
sub-regiões que constituem o seu imenso território e da própria história das populações que lá
viviam. Não se tratava, portanto, de um “espaço vazio”, mas de uma região com baixa
densidade populacional. Ao mesmo tempo, ganhavam força os objetivos geopolíticos de
também efetivar a ocupação da região, que estaria ameaçada por interesses internacionais.
Note-se que 63% da bacia hidrográfica amazônica se encontram no Brasil, bem
como 60% da floresta amazônica. O bioma amazônico cobre 49,3% do território
brasileiro, sendo o de maior extensão no país. Depreende-se, assim, a fundamental
relevância da Amazônia para o desenvolvimento do Brasil e dos países amazônicos
para sua inserção regional e mundial. (SOARES, 2003, p. 3).
Como podemos perceber o território amazônico sempre despertou o interesse do
governo federal principalmente pela sua enorme extensão e diversidade de recursos naturais
21
que poderiam lhe render muitos lucros. Assim, as imigrações iniciaram a partir do momento
que as rodovias, em especial a Transamazônica começou a ser construída viabilizando as
primeiras vilas, povoados e depois cidades amazônicas.
A descoberta de minério de ferro em Carajás em 1967 tornou o município de Marabá
uma área de interesse estratégico para o governo federal. A cidade deveria dar suporte ao
trabalho de exploração da mina no sentido de oferecer serviços e mão-de-obra. Com início da
construção da rodovia Transamazônica facilitou o fluxo migratório na região, em função da
falta de terrenos disponíveis e do custo elevado dos aluguéis à população migrante começou a
ocupar os terrenos próximos ao bairro.
A história recente dessa parte da Amazônia – sudeste do estado do Pará – é marcada
pelos movimentos e trajetórias individuais e coletivas de migrantes, portadores de
expectativas e necessidades diversas e conformadores de territórios distintos, por vezes,
concorrentes. Mais do que a ocupação física de novos espaços do território nacional, a
segunda metade do século XX, nesta região, foi o espaço da urdidura de trajetórias de vidas,
experiências sociais e imaginários. E também um território de possibilidades e alteridades. A
política oficial de ocupação da Amazônia, a partir da década de 1960, foi fundada em
interesses de controle geopolítico e de exploração econômica do território, foi adotada
medidas que visavam integrá-la ao mercado nacional capitalista, sob a hegemonia do centro-
sul do País, mas que se articulava com estratégias de distensão social noutras regiões
brasileiras.
Por meio do projeto Operação Amazônia e das iniciativas relacionadas, órgãos
federais encorajaram investidores brasileiros a se habilitarem às vantagens fiscais e
creditícias oferecidas. As politicas de desenvolvimento da Amazônia, por isso,
tornaram-se um meio pelo qual o regime militar buscou reconstruir a ampla aliança
política que outrora o tinha alçado a poder. De maneira similar, para se contrapor à
acusação de entreguismo ao capital estrangeiro, preocupações geopolíticas
proporcionaram a justificativa para o extraordinário plano de desenvolvimento
(SCHMINK & WOOD, 2012, p. 50-51).
Neste sentido, o Projeto de Operação Amazônia para integrar e desenvolvê-la sempre
foram interesse do governo federal, viabilizando vantagens fiscais, ou seja, para algumas
empresas e imigrantes isentavam os mesmos para que pudessem chegar e instaurarem suas
empresas de exploração dos recursos naturais. Assim, podemos compreender de que o plano
do governo deu certo e até os dias de hoje a Amazônia é explorada cada vez mais a colocando
numa situação grave e podendo ser totalmente devastada e seus recursos extintos.
Em 1953, o Presidente Vargas criou a Superintendência do Plano de Valorização
Econômica da Amazônia (SPVEA), visando implementar programas de desenvolvimento
financiados por um fundo especial designado pela Constituição de 1946. Sob o governo
22
Vargas e seu sucessor, Juscelino Kubitschek, a SPVEA alcançou apenas algumas de suas
metas. A mais importante delas foi à construção da rodovia Belém-Brasília (1956-1960), que
possibilitou a primeira conexão por terra entre a capital e o sul do Brasil. Outras estradas
financiadas pela SPVEA ligaram comunidades dentro da região, como a estrada concluída em
1965 que conectou Itacoatiara à cidade de Manaus (SCHMINK & WOOD, 2012).
A construção da rodovia Transamazônica nasce a partir de uma combinação de fatores
que culminaram na abertura da mesma, ligando o litoral nordestino à floresta Amazônica. A
construção da BR-230, por exemplo, proporcionaria uma forma de comunicação dentro da
região amazônica, distinguindo da realidade anterior à construção da rodovia, um ambiente
tolhido, que não conseguia fazer escoar suas riquezas, desde minerais até a produção agrícola.
Uma das funções básicas atribuídas aos meios de comunicação é possibilitar o
desenvolvimento econômico, outras funções podem igualmente ser-lhes atribuídas, como unir
os diferentes pontos regionais, viabilizar a integração nacional e ocupar os espaços
Amazônicos.
Dentre os planos de estabelecer políticas territoriais na Amazônia, estavam o processo
de ocupação das áreas às margens da estrada Transamazônica tornando-se políticas de atração
populacional, através de projetos institucionais de colonização, políticas essas dirigidas
preferencialmente às populações nordestinas.
A presença de nordestinos nos núcleos colônias agrícolas se intensifica,
principalmente a partir de 1877 em razão da estiagem que atingiu o nordeste
brasileiro. 17 A seca que assolou as províncias de Ceará, Piauí, Pernambuco,
Alagoas, Sergipe, Rio Grande do Norte e Maranhão, e que nos dizeres de José
Joaquim do Carmo “esterilizou a terra, empobreceu e lançou na miséria o homem”,
18 motivou o deslocamento de uma grande quantidade de retirantes para a
Amazônia. A administração provincial do Pará procurou aliar os interesses da região
com a necessidade de garantir abrigo aos que desejassem migrar para o Pará. No
entanto, observamos nos pronunciamentos do governo provincial a necessidade de
regular e controlar a migração nordestina. Em pronunciamento apresentado a
Assembleia Legislativa o Presidente do Pará destaca “a necessidade de regularizar o
serviço, dando lhe certa organização” (NUNES, 2006, p. 04).
As rodovias planejadas e “implementadas”, segundo os discursos de resolver os
empecilhos já citados, também favoreciam a circulação, abastecimento e ocupação nas
fronteiras do Brasil, na qual se projetou a Perimetral Norte que se conecta com a
Transamazônica pelas rodovias secundárias, o entusiasmo com a abertura da Transamazônica
é expresso por, da seguinte forma melhoramento da importação e exportação dos produtos
econômicos.
Desde a segunda metade do século XIX até a segunda década de XX, a castanha-do-
pará foi pelo seu valor total, o terceiro produto mais importante das exportações da
Amazônia brasileira, somente superado pelas de borracha e de cacau (PETIT, 2003,
p. 50).
23
A criação de novos municípios, em 1961, adicionou ainda outra dimensão às
transformações em curso. No Sul do Pará, uma parte do município de Conceição do Araguaia
tornou-se Santana do Araguaia, e São Félix do Xingu foi separado de Altamira. O processo
de desmembramento de antigos municípios em vários menores foi importante porque a
criação de novas burocracias e orçamentos municipais se traduzia em novos recursos
disponibilizados para a patronagem política, incluindo a distribuição de empregos urbanos
que proviam modestas, mas estáveis, remunerações monetárias. Serviços e empregos em
recém-criados municípios, tais como em Gurupá, Limoeiro do Ajuru e São Félix do Xingu,
atraíram pessoas das áreas rurais circunvizinhas (SCHMINK & WOOD, 2012).
O propósito de desenvolver a região Amazônica que teve inúmeras cidades que foram
assoladas pela crise da borracha e de outras economias que tiveram períodos curtos de
esplendor. Uma dessas cidades é Altamira e Marabá dentre outras, que viveu o apogeu da
borracha e depois se tornou pobre e decadente, e passou a ser interligada pela BR 230 -
Transamazônica que resultou em grandes polos econômicos da região.
Contudo, os objetivos do governo federal foram atingidos, pois os imigrantes aqui
chegaram iniciando o processo migratório da Amazônia em que milhares municípios
paraenses surgiram e com eles em 1948, o município de Itupiranga surge no cenário paraense
emancipando em 14 de Julho do referido ano, sendo um dos grandes municípios e prósperos
do estado do Pará.
1.2. A importância da migração na formação da vila cruzeiro do sul no município de
Itupiranga – PA.
Como definir a história política da Vila Cruzeiro do Sul, localizado no município de
Itupiranga, sudeste do estado do Pará, um tema de grande importância para conhecer,
inclusive as propostas de emancipação da Vila Cruzeiro do Sul para construir um novo
município, a qual é o 5º da lista dos novos municípios brasileiros e paraenses.
A colonização da Amazônia no início da década de 70 estava centrada na integração
econômica e de desenvolvimento regional tornando-se uma estratégia sobre o domínio de
território.
O plano seguinte formulado pelo governo, o Programa Estratégico de Governo
(1968 a 1970), mantém basicamente as diretrizes contidas no Plano Decenal, no
tocante às políticas territoriais. Assim, permanece a ênfase à necessidade de
‘‘integração nacional’’, com medidas específicas para a ação regional na Amazônia,
principalmente, destacando-se a atenção especial à estratégia de desenvolvimento
24
regional com base na concentração das medidas governamentais em ‘‘polos’’
selecionados. (COSTA, 1996, p. 63).
No cenário em que as tomadas de políticas territoriais estavam sendo o marco do
governo, a aplicação de projetos de desenvolvimento intensivo extensivo do capitalismo na
indústria e agricultura, transformou a Amazônia em fronteira do capitalismo brasileiro e
estrangeiro. Provocou uma espécie de reintegração da Amazônia na economia capitalista, e a
diversificação da economia no setor da agropecuária, do extrativismo e da mineração (IANNI,
1979, p. 121).
Na Amazônia, o que tem ocorrido ao longo do tempo é um processo de colonização
que atraiu mão-de-obra excedente de outros estados e favoreceu a concentração fundiária, e
de renda, além da expansão do setor agropecuário em grande escala. Esse processo acaba
impedindo que a reforma agrária aconteça, embora em alguns casos tenha acontecido como
resposta às pressões dos agricultores sem terra.
A transferência de contingente populacional atendia a uma demanda social, questão
esta que estava presente principalmente no Sul e no Nordeste do Brasil, nas quais os conflitos
sociais no campo eram latentes. Dentro desta migração dirigida pelo INCRA acreditava-se na
promoção da tão almejada justiça social proposta no Estatuto da Terra.
Competia, também, ao INCRA o exercício de demarcação das terras, ou seja, depois
que os colonos eram assentados em determinada região, cabia-lhe a tarefa de identificar as
famílias e emitir, inicialmente, o título provisório e, posteriormente, o título definitivo de
posse de propriedade. Mas, o processo de regularização das terras não era fácil, assim como
ocorreu o processo de demarcação, pois na demarcação o INCRA deveria identificar e
reconhecer as terras devolutas, indígenas, invadidas, ocupadas, griladas, frequentemente no
ato de realização da definição do perímetro das terras está presentes os interesses de cada
setor envolvido e devido a isso era quase inevitável certas mudanças. Os conflitos armados
“envolveram indígenas e posseiros, por um lado, os grileiros, jagunços e pistoleiros, por
outro”.
Diante dessa perspectiva politica e social é que foi criada Vila Cruzeiro do Sul,
Distrito do município de Itupiranga a qual a Vila é popularmente conhecida como Vila Quatro
Bocas. Trata-se de uma antiga área da União com partes predominadas ao INCRA. Fundada
no ano de 1991, em consequência da exploração da madeira, pecuária e a reforma agrária.
Origina-se o nome pelo fato de serem construídas as primeiras casas da Vila em quatro
estradas em forma de um cruzeiro, por tanto a vila distrital denomina-se Cruzeiro do Sul.
25
Antes da fundação da Vila, existia a exploração da Castanha - do - Pará, pele de animais e em
seguida a exploração da madeira.
Figura 3: Construção da Transamazônica nas proximidades de Itupiranga Pará - Expansão da Transamazônica nas proximidades da floresta https://www.google.com.br/ Acesso em
28\01\2014.
Situado a noroeste da cidade de Itupiranga, o acesso se dá pela estrada do rio preto,
ficando 176 km de Itupiranga e 186 km de Marabá, 160 km para Parauapebas, 350 km para
São Felix do Xingu e 205 km para Novo Repartimento. Cruzeiro do Sul conta
aproximadamente com 18 mil habitantes (IBGE, 2010) dividido entre a sede da vila e a zona
rural. Segundo o Funcionário do INCRA, senhor Raimundo Farias relata que a área de
Cruzeiro do Sul fazia parte da União Federativa que ficava conhecida como área de posseiros
(pessoas que chegava e pegava um pedaço de terra sem título), tendo como fator toda área foi
apossada por migrantes do estado do Maranhão, Tocantins, Goiás, Espírito Santo, Ceará
dentre outros.
O INCRA só passou a atuar nessa área, quando já estava formado politicamente o
assentamento local, sendo que os agricultores tinha livre arbítrio de escolher os locais para
construções de casas do projeto administrado pelo INCRA. Como e o caso do assentamento
da PA Buritirana, PA Frutão, PA Volta Grande, PA Volta Do Itapira pé, PA Bandeirante, PA
Cabanagem, PA Maravilha, PA Cupu, PA Estrela do Norte e PA Serra Azul, conforme figura
abaixo:
26
Figura 4: Fonte dada pelo INCRA-Mapa demográfico das PAS, na Proximidade de Vila Cruzeiro do Sul.
A principal fonte de economia da Vila Cruzeiro do Sul é produção agrícola e pecuária,
sendo que produção agrícola familiar é composta por arroz, feijão, milho, mandioca, banana,
café, cupuaçu, maracujá, açaí e outros. Podemos perceber que era como um jogo
político/econômico, essa realidade ainda se encontra presente até hoje nas áreas rurais
proposta pelo INCRA com seus diversos projetos para favorecer o “colono” que subentende
como o cultivo agrícola e pecuário, como fomento e habitação, administrada pelo sistema
brasileiro econômico.
A importância da migração populacional e o interesse econômico que se vem
acontecendo na Amazônia desde o início de século XIX até 1970, sendo que na criação da
Vila Cruzeiro do Sul, distrito de Itupiranga no sudeste do Pará ocorreu também à evolução da
economia, sendo que essa evolução foi causada pelo consumo da extração da castanha, da
produtividade agrícola familiar e a movimentação pecuária, com esses e outros produtos que
também se subdivide com o decorrer da queda dos produtos que ocorre anualmente, que
servia como fonte de renda local tornando-se o capital vegetal natural uma grande estabilidade
na construção estrutural para a população da Vila Cruzeiro do Sul.
O objetivo de várias famílias era construir uma nova cultura familiar dentre essas e
outra perspectiva, e em diferentes momentos históricos, mais ou menos pautados pela coleta
de castanha, agricultura, pecuária e atividades de extração e beneficiamento de madeira.
Conforme dados fornecidos pela ADEPARA (Agencia de Defesa Agropecuária do
Pará), a Vila Cruzeiro do Sul consta uma quantidade de 3.193 de propriedade de terra 425.037
cabeças de bovinos cadastrada no escritório, observa-se que baseando na estatística entre as
cidades de Itupiranga, Marabá e Novo Repartimento, o município de Itupiranga está como
27
uma estimativa de 817 propriedades de terras e 106.072 de bovinos existentes, sendo na
perspectiva de 24,95% na questão propriedade terrestre e pecuária.
A Vila Cruzeiro do Sul é caracterizada como zona rural, distante cerca de duzentos
quilometro da sede municipal. É o maior curral eleitoral de Itupiranga, e tornou-se
um caso especial para o estudo de práticas coronelista no município de Itupiranga
(CARNEIRO, 2003, p. 43).
Diante de tais pressupostos, o autor pretende descrever o domínio político existente na
Vila de Cruzeiro do Sul no período eleitoral, pois os grandes proprietários de terras,
fazendeiros e agricultores juntam-se as lideranças políticas e elegendo os representantes
políticos tais como: vereadores e prefeitos conforme acordo políticos. Assim, temos o
entendimento de que o voto de cabresto ainda existe naquela Vila devido à região existir um
número muito alto de eleitores do município de Itupiranga.
Não seria surpresa se falássemos que o dono do local onde funciona a escola
municipal é o neocoronel “Dominguinhos”, sendo que o local alugado para o poder
executivo não oferecia o mínimo de estrutura para o ensino-aprendizado.
(CARNEIRO 2003 pág. 47).
De fato, tais práticas sempre foram cotidianas na pequena Vila de Cruzeiro do Sul
como forma de domínio político e econômico, pois apenas aqueles que tinham influência e
poder.
Figura 5: Desenvolvimento do espaço terrestre da Vila Cruzeiro do Sul - Vista aérea de Vila Cruzeiro do Sul, 28/01/2014.
28
A economia da Vila Cruzeiro do Sul é constituída pela pecuária, agricultura e um
comércio bem movimentado como: lojas, supermercados, açougues, laticínios, farmácias,
fazendas, oficinas de motos carros, postos de combustíveis, Casa da Roça e Santa Fé vendem
materiais para toda população local, existe ainda clínicas de odontologia, laboratório de
exames médicos, posto de saúde, escritórios de contabilidades, dentre outros. Assim, podemos
perceber que este distrito de Itupiranga possui sua própria independência econômica, faltando
apenas sua emancipação politica.
29
CAPÍTULO 2: A IMPORTÂNCIA DO PODER POLÍTICO PARA SOCIEDADE
DE CRUZEIRO DO SUL.
O termo Política deriva do adjetivo grego Pólis (politikós), que significa tudo o que se
refere à cidade e, consequentemente, o que é urbano, civil e público. Na sua origem o termo
Política assume uma significação mais comum de arte ou ciência do governo, com intenções
descritivas e/ ou normativas. Como podemos perceber o termo política está ligado diretamente
ao ser humano, que precisa entender e poder usufruir do seu poder político, ou seja, está
contribuindo com suas opiniões acerca de tudo aquilo que está ao seu redor. No âmbito deste
significado, o termo Política é, também, utilizado para designar obras dedicadas ao estudo da
esfera de atividade humana que se refere às coisas do Estado. Em certa medida é uma
influência da obra Política de Aristóteles, o primeiro grande marco na abordagem da natureza,
funções e divisão do Estado.
Segundo Marx (1983) o termo Política incorpora o sentido de conflito ou luta de
classes. Com isto, ocorre um deslocamento ontológico da abordagem Política da esfera
pública para a sociedade diferenciada socialmente. A esfera pública passa a ser concebida
como realidade determinada pelo conflito ou luta de classes. Assim, entendemos que a
política desde que foi compreendida pelo homem passou a ser vivenciada cotidianamente, ou
seja, o homem passa a dominar tudo aquilo que tiver na linha de seus interesses.
Política pode ser definida como o campo de práxis e o conjunto de meios que permite
aos homens alcançarem os objetivos desejados. Para alcançar estes objetivos a Política lança
mão do poder, isto é, de uma relação entre sujeitos, dos quais um (ou alguns) impõe ao outro
(ou outros) a própria vontade e determina o seu comportamento. Forma-se o poder político,
ou seja, uma forma específica de poder, que se distingue do poder que o homem exerce sobre
a natureza e de outras formas de poder que o homem exerce sobre outros homens (poder
paterno, poder despótico, etc.). O poder político na tradição clássica ocorre apenas nas formas
corretas de Governo. Nas formas viciadas o poder político é exercido em benefício dos
governantes, o que significa um poder não político.
Bobbio, descreve:
(...) o que caracteriza o poder político é a exclusividade do uso da força em relação à
totalidade dos grupos que atuam num determinado contexto social. Exclusividade
esta que é o resultado de um processo de monopolização da posse e uso dos meios
com que se pode exercer a coação física. Este processo de monopolização
acompanha o processo de incriminação e punição de todos os atos de violência que
não sejam executados por pessoas autorizadas pelos detentores e beneficiários de tal
monopólio (1992, p. 956).
30
O Estado, na perspectiva liberal, é concebido como uma empresa institucional de
caráter político. Um aparelho político-administrativo que leva avante, em certa medida e com
êxito, a pretensão do monopólio da coerção física como ato legítimo, com vistas ao
cumprimento das leis em um determinado território. Enquanto a perspectiva liberal oculta o
fato de que o monopólio da coerção física é relativa a um determinado grupo social, o
marxismo parte justamente deste ponto no tocante a sua concepção de Estado.
O Estado, na perspectiva marxista, é concebido como um instrumento da classe
poderosa economicamente para que a mesma possa tornar-se a classe dominante
politicamente, de forma a adquirir os meios fundamentais para dominar e explorar a classe
oprimida. O poder político sob uma hegemonia social busca alcançar a exclusividade, isto é,
não permitir, no âmbito de seu domínio, a formação de grupos armados independentes ou de
infiltrações ou agressões oriundas do exterior, bem como de debelar ou dispersar os que
porventura vierem a se formar; a universalidade, isto é, a capacidade que têm os detentores do
poder político de tomar decisões legítimas e eficazes para toda a coletividade, no que diz
respeito à distribuição e destinação dos recursos materiais e culturais; a inclusividade, isto é, a
possibilidade de intervir, de modo imperativo, em todas as esferas possíveis da atividade dos
membros do grupo e de encaminhar tal atividade ao fim desejado ou de desviá-la de um fim
não desejado, por meio de instrumentos de ordenamento jurídico (Bobbio, 1992, p. 957).
Ao se identificar o elemento específico da Política pelos meios de que ela se serve,
caem as definições teleológicas da Política, ou seja, definições que se apoiam numa
articulação necessária entre o fato e sua causa final, ou, ainda, pelo fim ou fins que ela
persegue. Os fins que se pretende alcançar pela ação dos agentes políticos são aqueles que, em
cada situação, são considerados primordiais para uma determinada classe ou grupo social, ou
para amplos setores sociais: em épocas de lutas sociais e civis, por exemplo, o fim poderá ser
a unidade do Estado, a concórdia, a paz, a ordem pública, etc.; em tempos de paz interna e
externa, o fim poderá ser o bem-estar; em tempos de opressão por parte de um Governo
despótico, o fim poderá ser a conquista dos direitos civis e políticos.
A Política não tem fins perpetuamente estabelecidos e, muito menos, um fim que os
englobe a todos e que possa ser considerado como o seu único fim. Os fins da Política variam
de acordo com os interesses de classes, o tempo e as circunstâncias. Esta rejeição do critério
teleológico não significa que não se possa falar de um fim mínimo na Política.
A própria leitura de Maquiavel (1999) nos indica como fim básico da política a ordem
pública nas relações internas, a defesa da integridade nacional de um Estado em relação a
outros Estados e a proteção do povo em face dos poderosos. Este fim é o fim mínimo porque
31
é condição necessária para a consecução de todos os demais fins, conciliável, portanto, com
eles. Mesmo um estado de “desordem social” desencadeado por um partido ou movimento
revolucionário não é o seu objetivo final, mas um objetivo conjuntural necessário para a
mudança da ordem social e política vigente e criação de uma nova ordem.
A superação das concepções teleológicas de Política acarreta, ainda, a superação de
recomendações políticas prescritivas, isto é, que não definem o que é concreta e normalmente
a Política, mas indicam como é que ela deveria ser para ser uma boa Política. Obviamente, tal
superação tende a valorizar a ação concreta conduzida pelos atores políticos em aliança e/ou
conflito, no cotidiano, onde a práxis se realiza.
Finalmente é necessário superar as definições de Política que a concebem como uma
forma de prática de poder que não tem outro fim senão o próprio poder, isto é, onde o poder é
um fim em si mesmo. A concepção de Política que concebe o exercício do poder pelo poder
decorre, por um lado, do fato de que não há um objetivo específico da política que se
convertesse em um guia da ação política, do outro, da própria construção de uma
representação subjetiva de quem ocupa o poder e de quem teoriza esta ocupação,
relativizando/banalizando a importância do poder de forma a sacrificar o seu sentido público e
instrumentaliza-lo por meio de uma ação volta da para os seus próprios interesses pessoais ou
corporativos.
Caso o fim da Política fosse realmente o poder pelo poder, de nada serviria a Política.
Esta concepção de política, que se materializa na prática do homem político “maquiavélico”,
busca respaldo por meio de uma leitura parcial e deturpada de Maquiavel.
Maquiavel exemplifica isto quando afirma que:
Nas ações de todos os homens, sobretudo dos príncipes, quando não há tribunal à
qual recorrer, deve-se considerar o resultado. Assim, um príncipe deve conquistar e
manter um Estado. Os meios serão sempre considerados honrados e por todos
louvados (Maquiavel, 1999, p. 108).
Do ponto de vista da Moral a recomendação de Maquiavel não vale, já que uma ação,
para ser julgada moralmente boa, pode ser praticada com o único fim de cumprir o próprio
dever. O critério do seu julgamento, neste caso, seria o da ética da convicção, geralmente
usado para julgar as ações individuais. O critério do seu julgamento, neste caso, seria o da
ética da responsabilidade que se usa ordinariamente para julgar ações de grupo, ou praticadas
por um indivíduo, mas em nome e por conta do próprio grupo, seja ele a classe, o povo, a
nação, a Igreja, o partido.
32
2.1 A ausência do poder político na vila cruzeiro do sul no município de Itupiranga –
PA.
É sabido que o poder é uma das formas que o homem encontrou para monopolizar os
setores da sociedade. Neste caso, o poder político é exercido pelos governantes, no Brasil a
forma de poder político é proporcionada pelo sistema de governo a Democracia, em que a
população passa por momento de voto secreto para eleger seus governantes.
Debater as questões referentes ao jogo político, com ênfase nas suas configurações e
reconfigurações, é também uma forma de entendermos a constituição política e
social acerca dos discursos em favor do desmembramento do território de São João
do Araguaia e da posterior emancipação de Abel Figueiredo do Município de Bom
Jesus do Tocantins (FONTES, MALHEIROS e MESQUITA, 2012, p. 75).
Neste caso, podemos perceber o poder político e vivenciado através das lutas pela
emancipação dos municípios do estado do Pará com intuito de assumirem o comando das
forças políticas naqueles territórios. Assim, podemos compreender que o poder político é
fundamental para que os grupos políticos venhas dominar os territórios e determinarem suas
devidas formas de governo de um povo.
A Vila Cruzeiro do sul começa e vivenciar uma grande estabilidade na construção
estrutural para a população da Vila Cruzeiro do Sul, pois no ano de 1990 já se tinha uma
escola para garantir os estudos das crianças de famílias migrantes.
Esta situação era constante nos anos 70 com a construção da rodovia Transamazônica esse
afastamento era constante, então tornava como fator principal a falta de produtividade, pois os
colonos tinham que plantar produtos como se fosse para pagar as terras dadas pelo INCRA,
pois a produtividade era passada de certa forma “50%” dada ao INCRA, que repassava para o
Banco do Brasil. Podemos perceber que era como um jogo politico econômico. Acontece que
essa realidade ainda se encontra presente até hoje nas áreas rurais proposta pelo INCRA com
seus diversos projetos para favorecer o “colono” que subentende como o cultivo agrícola e
pecuário, como fomento e habitação que era administrada pelo sistema brasileiro e
econômico.
Diante do exposto podemos perceber que a Vila já se encontrava bem desenvolvida e
que muitas ações e necessidades que as pessoas precisavam era necessárias que tivessem um
grupo político, ou seja, líderes que viabilizasse ações, serviços básicos a população para que
ambos pudessem ter seus direitos garantidos pela Lei.
Em certos momentos ocorre esse processo onde o poder aquisitivo predomina muito
no cotidiano do poder político e familiar de Cruzeiro do Sul, pois a ideologia política e um
33
jogo onde os próprios supostos “coronéis” são as pessoas em que os políticos si apoiam, com
interesse em patrocínio (dinheiro) para os gastos da sua própria politica, pois até então em
alguns casos que prefeitos não têm dinheiro o suficiente para banca sua política, então se une
com os empresários em torno de patrocínio, e muitas das vezes os funcionários apoiam por
motivo de seu patrão então tenho isso como um jogo que a própria população tem seu direito
de escolha mediante todos esses processos como por exemplos pessoas que apostam muito
alto pelo seu Prefeito como teve casos de pessoas apostarem motos, fazendas, gados, carros e
ETC.
Não seria surpresa se falássemos que o dono do local onde funciona a escola
municipal é o neocoronel “Dominguinhos”, sendo que o local alugado para o poder
executivo não oferecia o mínimo de estrutura para o ensino-aprendizado.
(CARNEIRO 2003 p. 47).
Esse controle político na época na Vila de Cruzeiro do Sul era bastante perceptível
aonde apenas às pessoas que detinham algum tipo de poder econômico, conforme descrito
pelo autor o senhor Dominguinhos uma influência política da Vila fazendo com que se
compreendessem atitudes de antigos coronéis vivenciados ao longo da história brasileira.
Assim, podemos perceber o tamanho da Vila na época conforme imagem a seguir.
Figura 6: Vista aérea da Escola de Vila Cruzeiro do Sul - fotógrafo desconhecido, 28/01/2014.
Contudo, diante de tais fatos o poder político que acontecia na Vila de Cruzeiro do Sul
intervia diretamente na contratação de funcionários para compor o quadro da escola o que
predominava era o voto de cabresto, ou seja, se a pessoa votasse no candidato teria a vaga,
caso contrário ficaria desempregado. As diversas outras atividades trabalhistas existentes
atualmente na Vila são: lojas, supermercados, açougues, laticínios, farmácias, fazendas,
34
oficinas de motos carros, postos de combustíveis, entres outros com a Casa da Roça e Santa
Fé que são empresas que vendem materiais para saúde do gado, a economia local sendo que
também existem clínicas de odontologia, laboratório de exames médicos, posto de saúde,
escritórios de contabilidades.
Figura 7: Algumas lojas com aumento economia da Vila de Cruzeiro do Sul – Foto de Jonas Souza Barreira.
Assim, a vida política da Vila Cruzeiro do Sul aconteceu a partir do interesse de
alguns políticos que se iniciaram o processo de “desenvolvimento” estrutural e econômico da
Vila, sendo que não foram tão influentes as decisões políticas no início, pois, foi somente no
ano de 2005 que a política local se torna um fator primordial na vida de cada família e de cada
religião local como um todo.
Contudo, a Vila Cruzeiro do Sul também passava por dificuldades de transportes
terrestres, devido sua localização estando a mais de 200 (duzentos) quilômetros da sede do
município de Itupiranga, as urgências da comunidade precisavam ser enviado ao município
vizinho, ou seja, era mais fácil chegar a Marabá do que em Itupiranga, pois a principal
dificuldade era o acesso devido às estradas que não se tinha um acesso muito difícil
acontecimentos marcados na década de 90.
2.2 A influência e participação política na vila cruzeiro do sul de 1990 a 2013 no
município de Itupiranga-PA
Os processos de criação de novos Estados brasileiros passam por diferentes trajetórias
ao longo da história da formação do território brasileiro. Ação de atores se materializa em
fortes discursos ligados aos territórios emancipacionistas, tendo como elemento, a base
territorial e a constituição de sua identidade.
35
A Vila foi fundada em 1990, em consequência da exploração da madeira, pecuária e
reforma agrária. Origina-se o nome pelo fato de serem construídas as primeiras casas da Vila
em quatro estradas em forma de um cruzeiro, portanto a Vila distrital denomina-se Cruzeiro
do Sul.
A Amazônia por sua grande dimensão geografica estabelece essas novas formas
reivindicatórias onde é composta por Unidades Federativas com grandes extensões territoriais
(Estados Amazonas e Pará) onde ultimamente esses discursos ganham força. Além da
extensão territorial a densidade demográfica, as diferenças regionais estabelecem uma coesão
do discurso emancipacionista, que devem ser levadas em conta dentro do contexto territorial
brasileiro, onde o tema espacial passa a ser um elemento chave na constituição da
representatividade parlamentar ligada a interesses políticos de origem até mesmo nacional ou
local.
Em Marabá, as forças deflagradas pela abertura de novas estradas atuaram
diferentemente. As terras às quais se chegava pelo rio Tocantins, tanto rio acima
como abaixo de Marabá, já haviam sido ocupadas por pequenos agricultores e
pecuaristas do Nordeste. Ao contrario dos caboclões amazônicos, esses imigrantes
estabeleceram-se em terras desocupadas mais distantes dos rios (SCHMINK &
WOOD, 2012, p. 208-209).
Com tais ações apresentadas pelo Governo Federal na ocasião da colonização e
ocupação da Amazônia iniciaram o processo de aberturas de rodovias para que viabilizassem
a vinda de migrantes para região. Diante de tais pressupostos, alguns imigrantes não
ocuparam as terras próximo ao rio Tocantins, adentraram esse território e foram formando as
“Vilas”.
A Vila de Cruzeiro do Sul na ocasião de sua ocupação era chamada de 4 (quatro)
bocas, por ficar localizada em quatro vicinais formando uma rotatória de estradas e bem no
centro começaram a ser erguidas as primeiras casas. Assim, podemos perceber que aquela
pequena vila aos poucos vai crescendo numa proporção gigantesca até chegar aos anos 90
com uma população bem considerada e ser inserida na relação dos novos municípios
paraenses. É importante dizer, que tais conquistas aconteceram de forma lenta e aos poucos os
imigrantes começaram a se organizar e elegem representantes políticos para viabilizarem
diante do poder legislativo e executivo melhorias para a Vila.
A política se constitui em torno de lideranças, não em torno de partidos. As
lideranças têm em volta de si os nichos econômicos, que estabeleceram discursos
particulares de diferenciação ou de rejeição de etnicidade (FONTES, MALHEIROS
e MESQUITA, 2012, p. 138).
De fato, a política se constitui por lideranças que são escolhidas pelos grupos sociais e
que estes tem a função de representar os demais frente ao poder político executivo, judiciário
36
e legislativo. Com relação à temática descrita nesta pesquisa às influências políticas na Vila
de Cruzeiro do Sul, distrito de Itupiranga-Pa foi fundamental para que esta viesse está inserida
na relação de criação dos novos municípios paraense.
As influências que citamos acima são conquistas realizadas ao longo da história de
formação populacional daquela Vila e que gostaríamos de destacar algumas delas que
consideramos importantes para o que representa atualmente a Vila de Cruzeiro do Sul no
cenário paraense.
A Lei nº 005/97 – De 28 de Fevereiro de 1997, dispõe sobre a regularização do
Sistema de fornecimento de água e energia dos Distritos e Vilas do município de Itupiranga
na gestão do Prefeito Benjamim Tasca, uma conquista para Vila da qual toda população
necessita de infraestrutura para ter melhor qualidade de vida.
Em 2002 por meio do Processo nº 000878/2002 – elaborado pela Comissão Pró-
Emancipação do Distrito de Cruzeiro do Sul do Pará tendo como presidente Sr. Waldivino
Pereira da Silva, Giovani Martins Dias (1º secretario), Domingos Martins dos Santos
(Tesoureiro – morador da Vila) juntamente com mais 06 assinaturas de moradores da época.
Os representantes políticos que comporão a Comissão Municipal Pró-Emancipação da
Câmara Municipal de Itupiranga, aprovada na reunião ordinária dia 05 de abril de 2005 foram
os seguintes vereadores: Adelino Ribeiro Gonçalves Filho, Domingos Martins dos Santos
(morador da Vila), Edson Coelho Lara, Ivanildo Rodrigues Maracaípe, Lady Anne de Souza,
Nilton Moura Araújo, Osvaldo Rodrigues Salomão, Raimundo Marques dos Santos, Wanderil
de Jesus Ribeiro Lima, Marivan Oliveira Sousa (Prefeito em exercício).
Com as transformações ocorridas na Vila os representantes políticos começam a se
reunirem para criação do futuro município de Cruzeiro do Sul, assim através do ofício ao
Presidente da Câmara dos Deputados em 30/03/2005 – Enviado e recebido em 20/04/2005 na
presidência da câmara ao Exmº. Sr. Severino Cavalcante em Brasília – DF, os representantes
políticos que assinaram pela Comissão Pró-Criação de Municípios no Sul do Pará foram: João
Cardoso Silva (presidente), Raimundo Alves Silva Filho (vice-presidente) e Manoel Cordeiro
Neto (1º secretario).
Lei nº 002/2007 – Dispõe sobre o nome de Rua na Sede do Distrito de Cruzeiro do
Sul, ficando denominado os nomes das Avenidas, Ruas e Travessas da referida Vila em 10 de
março de 2008 assinada na presidência da Câmara Municipal de Vereadores o vereador
Wanderil de Jesus Ribeiro Lima. Neste sentido, percebemos que aos poucos Cruzeiro do Sul
ia sendo organizada conforme requer uma futura cidade paraense.
37
A Lei Municipal nº 005/2008 – Dispõe sobre denominar o nome do Cemitério da Vila
Distrital de Cruzeiro do Sul como “Cemitério Campo da Paz” na gestão do prefeito Adécimo
Gomes, mais uma influência e contribuição política para a Vila uma vez que já se encontrava
bem grande e precisa urgente de reforma no cemitério e denominação do mesmo.
O Projeto de Emenda Modificativa nº 01/2008 – Dispõe Emenda Modificativa aos art.
2º e 3º da Lei Municipal nº 24/07 de 06 de Dezembro de 2007 que fica limitada a quantidade
máxima de motocicletas autorizadas aos transportes de que trata esta Lei, sendo que Cruzeiro
do Sul ficou com 40 motos autorizadas a realizarem transporte de moto-táxi no referido
Distrito, o projeto foi assinada na presidência do vereador Wanderil de Jesus Ribeiro Lima.
Com tal projeto os serviços de transporte moto-táxi ficam regulamentado para circularem nas
ruas da Vila.
O Projeto de Lei nº 002/2009 – PL – Fica reconhecido como de utilidade pública para
o município de Itupiranga a Associação de Mulheres do Distrito de Cruzeiro do Sul, projeto
assinado na gestão do Prefeito Benjamim Tasca e responsável pelo requerimento do mesmo o
vereador Antônio Marruaz da Silva.
A Recuperação da iluminação pública na Vila Distrital de Cruzeiro do Sul de autoria
da vereadora Ildenizaura Silva Cabral por meio do Requerimento nº 015/2009 – (moradora da
Vila), uma contribuição bastante significativa para Cruzeiro do Sul.
O Projeto de Lei nº 005/2011 – Dispõe sobre a denominação do Campo de Futebol,
conhecido como Campo Batatal no Distrito de Cruzeiro do Sul passando a ser denominado
como “Felipe Moreira Rocha”, requerimento de autoria do vereador Elias Lopes da Cruz.
A Moção nº 002/2013 – A Câmara Municipal de Itupiranga faz inserir na ata dos seus
trabalhos, Moção de Apoio ao Distrito de Cruzeiro do Sul no município de Itupiranga-Pa, pela
implantação de uma agência Bancária no referido Distrito. A moção foi assinada na
presidência da câmara do vereador Raimundo Costa Oliveira (presidente), Jailton Santos da
Silva (vice-presidente), Elias Lopes da Cruz (1º secretário – morador do Distrito) e demais
vereadores: Ildenizaura da Silva Cabral (moradora do Distrito), Jhonnatan Baima
Vasconcelos, Manoel de Jesus Borges da Silva, Izaias Pereira Alves, Derimar Ferreira da
Silva, Nilton Moura Araújo, Wagno da Silva Godoy, Raimundo Nonato Meireles;
A vereadora Ildenizaura Silva Cabral eleita na última eleição de 2012 assume sua
representação na Câmara Municipal de Itupiranga apresentado um número bem considerado
de requerimentos no exercício de 2013 e que destacamos:
Requerimento nº 001/2013 – Solicitação de uma Sessão Itinerante na Vila de Cruzeiro
do Sul, juntamente com uma ação social com expedição de documentos: certidão de
38
nascimento, médicos, campanha de vacinação. Requerimento nº 002/2013 – Agilização das
obras de asfaltamento das ruas que estava previsto para a Vila de Cruzeiro do Sul.
Requerimento nº 025/2013 – Solicitação de construção de um Posto de Saúde avançado na
Vila Distrital de Cruzeiro do Sul. Requerimento nº 036/2013 – Solicitação de audiência
pública na Vila de Distrital de Cruzeiro do Sul. Requerimento nº 037/2013 – Solicitação de
agilidade e convocação da audiência pública na sede do município para discutir o problema
do desemprego. Requerimento nº 059/2013 – Solicitação de um aparelho de ultrassom para o
posto de saúde da Vila. Requerimento nº 060/2013 – Solicitação da construção de um posto
de arrecadação fiscal na divisa de Marabá e Itupiranga na região da Vila de Cruzeiro do Sul.
Requerimento nº 068/2013 – Construção de uma sala de informatização e arquivos dos
pacientes no posto de saúde da Vila. Requerimento nº 069/2013 – Providências que seja
implantado as torres de telefonia móvel na Vila. Requerimento nº 070/2013 – Construção de
uma sala de observação dos pacientes no posto de saúde da Vila. Requerimento nº 086/2013 –
Providências de carteiras escolares e móveis para as salas da diretoria e secretaria da Escola
Municipal Jose Inocente Júnior. Requerimento nº 109/2013 – Solicitação de lotes aos
moradores das pequenas vilas e assentamentos de Novo Progresso (Panelinha), PA Cinturão
Verde II, Vila Nova Jerusalém, PA Buritirana, Vila Casarão e Vila Batatal.
Diante das descrições acima citadas podemos perceber a participação de alguns
representantes políticos do município contribuindo com as transformações e desenvolvimento
da Vila de Cruzeiro do Sul, sabendo-se que os representantes da referida comunidade que
mais aparecem nos documentos oficiais da Câmara Municipal de Vereadores são o ex.
vereador Domingos Martins dos Santos, Elias Lopes da Cruz (atual presidente da câmara) e
vereadora que nesses últimos anos mais influenciou foi Idenizaura Silva Cabral.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O povoamento da Amazônia deu-se principalmente com ações desenvolvidas pelo
Governo Federal a partir da década de 1970 com abertura das principais rodovias federais,
sendo que a Construção da Rodovia Transamazônica – BR 230 contribuiu significativamente
para criação de muitos municípios paraenses e um dos principais resultados desta pesquisa foi
após muitas leituras em livros, revistas e artigos científicos e as entrevistas realizadas nos
permitem descrever que a Vila de Cruzeiro do Sul surge no município de Itupiranga através
do processo migratório existente a partir da década de 1980.
39
É sabido também que a partir do inicio das atividades madeireira desenvolvida
principalmente pela Serraria dos Irmãos Carneiro e CONCREM que trabalhavam com a
matéria prima existente na região castanheiras e celulose para laminados passaram a contratar
muitas pessoas atraindo um número muito grande de pessoas que chegavam todos os dias por
emprego na Serraria.
A notícia que naquele território denominado “Quatro Bocas” futuramente Cruzeiro do
Sul chegavam para muitos que existia um lugar que tinha muita terra e que o INCRA estava
dando terra para todos aqueles que ali chegavam. Dessa forma, compreendemos que Cruzeiro
do Sul pertence ao PA Buritirama um assentamento legalizado pelo INCRA através do titulo
de “Terra Legal” em que todas aquelas famílias que recebiam o crédito para construírem suas
casas, resolveram fazer naquele cruzamento sendo originado a Vila de Cruzeiro do Sul.
A pesquisa aponta também que a Vila hoje está mais organizada, com alguns
benefícios como bancos, lojas, escolas. Com relação ao poder político acreditam que ainda
existe um domínio de determinado grupo social que controla o poder econômico, politico e
social. A diferença de 1995 a 2013 em termos de agricultura não plantam quase mais nada, a
pecuária e a principal atividade econômica da região, hoje a economia de Cruzeiro do Sul
para os entrevistados tem um padrão excelente, sendo a pecuária a maior atividade econômica
e a Vila ter um movimento grande. A emancipação para Vila poderá contribuir com alguns
benefícios como bancos, representantes mais perto da sociedade devido à distância entre
Itupiranga e Marabá, não veem Cruzeiro do Sul expandir com a emancipação, podem esperar
um pequeno município, porém é melhor para algumas prioridades, vai melhorar em questão
de educação, saneamento básico, saúde, dentre outros.
O processo de migração, economia e sociedade na Vila de Cruzeiro do Sul no
município de Itupiranga no sudeste do Pará no período de 1990 a 2013 se deu muito rápido
devido a diversos fatores como procura pela terra, emprego na Serraria Irmão Carneiro,
formação de novas famílias, dentre outros foram fundamentais para a sua atual situação
demográfica para o município e estado do Pará.
A mobilidade da população, reflexo do novo momento histórico para a maioria das
famílias que chegavam naquela pequena comunidade para o que se percebe atualmente pode-
se afirmar que o processo migratório ocorreu de forma assustadora principalmente para o
poder político administrativo que não apresenta um plano de governo que venha atender as
reais necessidades da Vila devido à distância existente e o acesso para Itupiranga ser um dos
principais dificuldades das famílias que residem em Cruzeiro do Sul.
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Esta pesquisa nos permite concluir que o Distrito de Cruzeiro do Sul é uma antiga área
da União com partes predominadas ao INCRA, fundada em 1990, em consequência da
exploração da madeira, pecuária e a reforma agrária. Origina-se o nome pelo fato de serem
construídas as primeiras casas da Vila em quatro estradas em forma de um cruzeiro, portanto
a Vila distrital denominou-se Cruzeiro do Sul. Está localizado a noroeste da cidade de
Itupiranga – PA, o acesso dar-se-á pela estrada do Rio Preto, ficando a 176 km da sede de
Itupiranga e 186 km para Marabá, 160 km para Parauapebas, 350 km para São Félix do Xingu
e 205 km para Novo Repartimento. Atualmente o Distrito de Cruzeiro do Sul conta com
aproximadamente 18.000 habitantes, divididos entre a sede do Distrito e zona rural e sua
principal produção é agrícola e pecuária.
Através das diversas leituras e análises pudemos concluir também que o surgimento e
criação da Vila de Cruzeiro do Sul aconteceram devido ao fluxo migratório ter sido muito
grande devido à chegada de pessoas através de terras, emprego visando um futuro melhor para
eles e suas famílias. Neste sentido, temos o entendimento de que a Vila foi crescendo numa
proporção muito grande até chegar aos dias de hoje sendo uma das maiores do município de
Itupiranga.
O processo de emancipação da Vila de Cruzeiro do Sul (5º da lista) atualmente tramita
na ALEPA 51 propostas de criação de novos municípios, sendo que 24 deles estão prontos
para aprovação imediata, por cumprirem todas as novas exigências contidas no texto acatado
ontem pelos senadores. Em todo o País, estima-se em 410 novos municípios, elevando o
número de 5.980 cidades. O senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) destacou da tribuna, que a
aprovação vai beneficiar diversas localidades no interior do Estado. “O projeto não cria
despesas, porque o Fundo de Participação dos Municípios definido para o Estado vai ser o
mesmo”. Desta forma, podemos concluir que tal emancipação já passou pelo primeiro veto da
presidente Dilma sendo reinserido no cronograma de debates e análises pela Câmara Federal e
Senado para que seja alcançado sua emancipação os habitantes da Vila de Cruzeiro do Sul
ainda precisam esperar pelos tramites legais da burocracia brasileiro sabendo-se que vão
depender da representatividade de seus vereadores, deputados para irem conquistar o desejo
da maioria da população daquela comunidade.
Com relação à economia existente na Vila atualmente é restrita a atividade pecuária
em que um grupo seleto de grandes propriedades de extensas terras cria gados para
exportação e abate para consumo da região seguido de uma agricultura que ainda precisa de
incentivos tanto municipais, estaduais e federais, pois precisam de estradas para escoar seus
produtos para serem vendidos em outros municípios. Aquela Vila pacata e sem vida de antes
41
não existe mais fazendo com que seu comércio exista sem precisar de Itupiranga sua sede e
Marabá município mais próximo.
Contudo, a Vila já apresenta um comércio bem forte de lojas, supermercados, bancos,
lotérica, igrejas, duas escolas na sede e nas comunidades ciclo vizinhas para atender a
demanda de alunos que a cada ano só aumenta. Assim, temos a compreensão de que o
processo de migração foi fundamental para o surgimento e desenvolvimento desta Vila e
todas as famílias que residem sentem-se muito satisfeito com a realidade existente.
Enfim, além disso, sob o ponto de vista acadêmico, os trabalhos que procurem discutir
este tema, podem constituir-se em importantes instrumentos para o aprimoramento dos
conhecimentos sobre as condições de vida das pessoas que vivem nos territórios rurais. Além
disso, podem contribuir de forma determinante para a reversão das tendências de
esvaziamento e fragilização socioeconômica destas regiões.
REFERÊNCIAS
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território e o poder. HUCITC e Edusp: São Paulo, 1996.
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Broni de. Na estrada da memória: a história do município de Abel Figueiredo Pará (1960-
2011). Belém: Paka – Tatu, 2012.
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MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Obras escolhidas. São Paulo: Editora Alfa-Omega, 1983.
42
NUNES, Francivaldo Alves. Migração Nordestina e a luta pela terra. XII Encontro
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SCHMINK, Marianne; WOOD, Charles H. Conflitos Sociais e a Formação da Amazônia.
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redes sociais. In: MARTES, A. C. B.; FLEISCHER, S. (Org.). Fronteiras cruzadas:
etnicidade, gênero e redes sociais. São Paulo: Paz e Terra, 2003.
PETIT, Pere. Chão de promessas. Elites políticas e transformações econômicas no Estado
do Pará pós-64. Belém: Paka-Tatu, 2003.
ANEXOS
ENTREVISTA UTILIZADA NA PESQUISA DE CAMPO
1. QUAL FOI O MOTIVO DA SUA VINDA PARA VILA CRUZEIRO DO SUL?
_________________________________________________________________________________
2. QUAL SUA CIDADE DE ORIGEM?
3. COMO FICOU SABENDO SOBRE A Vila Cruzeiro Do Sul?
_________________________________________________________________________________
4. DURANTE O TEMPO QUE MORAS NA VILA CRUZEIRO DO SUL O QUE VOCÊ ACHA QUE
MUDOU O PROCESSO ECONÔMICO?
_________________________________________________________________________________
5. QUAL SUA OPINIÃO SOBRE OS GOVERNOS ANTERIORES A 1990?
_________________________________________________________________________________
6. QUAL SUA IDÉIA SOBRE O GOVERNO ATUAL?
_________________________________________________________________________________
7. QUAL A PRINCIPAL FONTE DE RENDA QUE CIRCULA NO COMÉRCIO?
_________________________________________________________________________________
8. COMO O GOVERNO LOCAL E REGIONAL INTERFERE NO COMÉRCIO LOCAL?
43
_________________________________________________________________________________
9. A RENDA É COMPATÍVEL COM SEUS GASTOS?
_________________________________________________________________________________
COMO DEFINIRIA A SOCIEDADE DA VILA CRUZEIRO DO SUL PELO TEMPO QUE MORAS AQUI?
_________________________________________________________________________________
10. QUAL SUA OPINIÃO SOBRE O PROCESSO ELEITORAL NA VILA CRUZEIRO DO SUL?
INFLUENCIA SUA ECONOMIA?
_________________________________________________________________________________
11. QUAIS AS INTER-RELAÇÕES NA POPULAÇÃO DA VILA CRUZEIRO DO SUL?
________________________________________________________________________________
Entrevistas.
i) Deusilene de Carvalho Silva
Os meus pais vieram em busca de uma vida melhor, porque eles moravam lá sempre trabalhando em
fazenda. Como o irmão dele já tinha vindo embora pra cá e chegou lá contando que o Pará era o
melhor lugar do mundo pra se viver, convenceu meu pai a vir. (2013).
ii) Farlei da Cruz Machado
Venho de uma família baiana. Meu pai, minha mãe, meus irmãos, todos são baianos é... A gente veio
da cidade né... Itanhém, Bahia, próximo de Teixeira de Freitas é... Meu pai veio pra cá em busca de
melhorias né... Lá era uma terra já bem... Ele fabricava cachaça. Era feita da cana, com a terra já
estava um pouco... (gesticula) gasta, não tinha como crescer. Também, ele soube que aqui, o Pará
tinha muita terra e muita... Muita coisa a oferecer, ai ele resolveu (2013).
iii) Isnaldo Oliveira Gomes
O meu nome é Isnaldo Oliveira Gomes, eu nasci no município de Carlos Chagas em Minas Gerais.
Com nove anos nós fomos para o Espírito Santo, pra uma cidade de vinhático. De Vinhartico nós
mudamos pra Pinheiro... No Vinhartico eu fiz o 1º, 2º e 3º ano primário. Sempre eu morei em roça. É...
Aquele negócio! Caçar vida melhor. Depois que o pai morreu, ele deixou uma herança, eu fiquei de
menor, acabou a herança... E meus avôs moravam aqui e eu vim. Daí eu desenvolvi a trabalhar com
caminhão. Eu sempre fui invocado a trabalhar com caminhão, com máquina. Aprendi no carro que o
pai comprou. Aperfeiçoei em caminhão, em máquina pesada, trabalhei 15 anos de empregado. Em 15
anos eu consegui comprar meu próprio caminhão, que foi justamente aquele próprio Chevrollett que
eu tinha (2013).
iv) Rosirene Ribeiro
Digo sempre que nada é por acaso. Somos de Formoso do Araguaia – Estado do Tocantins, lá meu
esposo Ronaldo trabalhava também com comercio, ramo atacadista em geral. Já tinha vindo amigos
nossos pra cá e sempre falavam que precisavam de um comerciante que montasse e ficasse variedade
44
de preços...daí o desafio; viemos. Graças a Deus deu tudo certo, estamos já com 12 anos, e crescemos
muito e rápido tivemos muitas oportunidades e soubemos aproveita-las. (2014)
2. Documentos
i) Lei nº 005/97 regularização do sistema de fornecimento de água e energia elétrica dos
distritos e vilas do município de Itupiranga – Pará.
A lei acima citada, aprova e sanciona o sistema de fornecimento de água e energia elétrica. No
entanto, é importante dizer que o sistema de fornecimento de água nunca foi concluído nesta
localidade. No entanto o sistema de energia elétrica funciona desde sua implantação no ano de
2003.
ii) Processo nº 000878, de 14 de fevereiro de 2002 EMANCIPAÇÃO POLÍTICA
ADMINISTRATIVA DO DISTRITO DE CRUZEIRO DO SUL – ITUPIRANGA –
PARÁ.
O projeto acima citado, foi vetado pela presidenta Dilma Rulssef.
iii) Projeto de Lei nº 002/2009 criação da ASSOCIAÇÃO DE MULHERES DO DISTRITO
DE CRUZEIRO DO SUL. Em 10 de março de 2009.
A associação está paralisada por motivos não divulgados, até os dias atuais.
45
INTRODUÇÃO
A entrevista com a Srª Deusilene de Carvalho Silva foi realizada em duas etapas. Sendo que a
primeira etapa consistiu em uma conversa informal com o depoente e a apresentação da
metodologia do trabalho. Essa etapa foi realizada no dia 10 de maio às 14hs e durou cerca de
2hs e 30min.
A segunda etapa da entrevista aconteceu no dia 17 de maio às 15hs e durou 36min. Durante a
entrevista estava presente sua filha mais nova, uma criança de dez anos de idade, foi
solicitado que ela não interrompesse durante o diálogo.
A entrevista foi realizada na cozinha da depoente, um ambiente quente, porém, havia um
ventilador ligado. Estávamos frente a frente, em volta de uma mesa de madeira grande com
oito cadeiras. Foi utilizado um telefone celular com fone/microfone embutido pra fazer a
gravação.
A depoente expôs sua história de vida sem questionar às perguntas, estava um pouco nervosa
perante a gravação, mas isso não atrapalhou.
No decorrer da entrevista ela se emocionou ao contar seus sofrimentos, nesse momento pedi à
sua filha que trouxesse um copo com água para sua mãe.
Ao final, agradeci pela colaboração.
Dados do colaborador: Deusilene de Carvalho Silva
Data e local de nascimento: 14/04/1978 em Amarante - MA
Endereço atual: Rua Nossa Senhora de Aparecida nº 32
Bairro: Vila Cruzeiro do Sul Cidade: Itupiranga Estado: PA
Profissão atual: Professora/vice-diretora.
Entrevistador: Jonas Souza Barreira.
A entrevista com a Srª Deusilene de Carvalho Silva foi realizada em duas etapas. Sendo que a primeira
etapa consistiu em uma conversa informal com o depoente e a apresentação da metodologia do trabalho.
Essa etapa foi realizada no dia 10 de maio às 14h e durou cerca de 2h e 30min.
A segunda etapa da entrevista aconteceu no dia 17 de maio às 15hs e durou 36min. Durante a entrevista
estava presente sua filha mais nova, uma criança de dez anos de idade, foi solicitado que ela não
interrompesse durante o diálogo.
A entrevista foi realizada na cozinha da depoente, um ambiente quente, porém, havia um ventilador
ligado. Estávamos frente a frente, em volta de uma mesa de madeira grande com oito cadeiras. Foi
utilizado um telefone celular com fone/microfone embutido pra fazer a gravação.
A depoente expôs sua história de vida sem questionar às perguntas, estava um pouco nervosa perante a
gravação, mas isso não atrapalhou.
No decorrer da entrevista ela se emocionou ao contar seus sofrimentos, nesse momento pedi à sua filha
que trouxesse um copo com água para sua mãe.
Entrevistador: Conte sua história de vida?
Deusilene de Carvalho Silva: __Meu nome é Deusilene de Carvalho Silva, vim de Itupiranga pra Cruzeiro do Sul mais ou menos no ano de
1999. Antes quero falar um pouco da minha trajetória de vida.
Eu nasci no ano de 1978, em Amarante do Maranhão, não bem dentro da cidade do Amarante no Maranhão, mas digamos em uma zona
rural, e lá eu vivi por uns quatro ou cinco anos. Depois agente veio morar na cidade Amarante, e aos meus 7 anos meu pai decidiu vir pro
estado do Pará em busca de melhoria de vida.Quando ele veio agente foi morar numa fazenda, tinha uma escola próximo.
Entrevistador: Quantas pessoas são na sua família?
Deusilene de Carvalho Silva: __Meu pai, minha mãe, na época tinha meus irmãos Deusdete, Deusimar, Deusivaldo e Deusivania, os outros
nasceram depois. A gente ficou morando nessa fazenda por um tempo. Na seqüência, no ano seguinte o dono vendeu. Meu pai olhava o gado
Figura 1 Entrevistada
46
e pegava também algumas “diárias”, também conseguiu ganhar alguns gados, esses gados ele trocou em uma terra. É a qual agente tem até
hoje, há mais de 20 anos.
Entrevistador: Por que saíram do Maranhão?
Deusilene de Carvalho Silva: __ Os meus pais vieram em busca de uma vida melhor, porque eles moravam lá sempre trabalhando em
fazenda. Como o irmão dele já tinha vindo embora pra cá e chegou lá contando que o Pará era o melhor lugar do mundo pra se viver,
convenceu meu pai a vir.
Entrevistador: Vocês não tinham terra?
Deusilene de Carvalho Silva: __Não!... Morávamos nas fazendas dos outros, nas terras dos outros. Como os demais que ficaram por lá
vivem até hoje. Nessa seqüência que meu pai veio aqui pro Estado do Pará. Ele trabalhou um ano nessa fazenda, e o que ele adquiriu nesta
fazenda que foi alguns gados, ele trocou em uma terra, no ano seguinte nos mudamos para essa terra sem nada só pra uma barraquinha...
(se emociona). Na época a gente ficou lá morando, como os meus pais moram até hoje. Dificuldade
para estudar essa era a parte mais difícil. Como era muito longe pra estudar tinha que morar na
casa dos outros, mesmo sendo zona rural, longe um espaço um do outro. Pra estudar a gente tinha
que ficar na casa das pessoas.
Eu no ano de 87, pra estudar a 1ª série, eu tive que morar na casa de umas pessoas mais próximas
que era a Dona Domingas e Seu Henrique que eu passei a morar na casa deles.
Em 87 eu estudei a 1ª série na escola Tomé de Souza que, ainda existe essa escola que apesar de ser
do Estado nunca foi construída desde 87. Na época eu estudei com um professor chamado José
Humberto... E eu passei pra 2ª série em 88, eu fui morar em Cajazeiras. Com a minha avó nesse
período que eu fiquei lá é muito difícil morar com parente, eu fiquei uns seis meses com minha avó,
depois eu fiquei uns seis meses com minha tia, passei pra 3ª série, a escola reabriu e eu voltei pra
zona rural novamente, pra onde meu pai mora, fui morar com minha família, em 89 estudei a 3ª
série e passei pra 4ª em 90 e voltei pra Cajazeira de novo, estudei a 4ª série lá.
Entrevistador: Você trabalhava?
Deusilene de Carvalho Silva: __Não! Morava com minha avó nessa época e também era muito pequena. Em 90 estudei a 4ª série, em 91 a
5ª série, e 92, comecei a 6ª. Logo na seqüência eu vim pra Itupiranga morar na casa da professora Marli. Eu estudei 92, 93, 94, 95, 96 e 97
que foi o ano de conclusão do meu magistério. Eu estudei um pouco no Jarbas (escola) e a seqüência dos outros anos na Albertina Barreiros
(escola estadual), foi onde eu terminei o magistério.
No final de 96, eu engravidei da minha filha mais velha, Krisna. Quando eu comecei a estudar o 3º ano em 97, foi um ano muito difícil, sem
emprego, grávida, logo eu me separei do pai da minha filha, acabei descobrindo que não ia dar certo... Eu abri mão disso, não fui atrás,
quando fiquei grávida a gente brigava muito, de repente ele foi embora, alguns colegas falavam:
__Ah se fosse eu, iria atrás!
__É o pai da tua filha!
Não fui!... Optei por estudar, porque eu sabia que dali nasceria um fruto. Eu iria ter uma filha, eu ia me formar,... Eu ia trabalhar e criar
essa filha da melhor maneira possível...
Em setembro, a minha filha nasceu eu tive o apoio da turma, toda turma do 3º ano ficaram do meu lado o tempo inteiro fizeram um baby-
chá pra minha filha. Todas as coisas que uma criança tem direito ela teve. Em janeiro agente teve uma formatura, fomos pra São Luis.
Passamos uma semana passeando, curtindo!... Alguns queriam fazer festa e nós optamos por uma viagem porque era mais tranqüilo, mais
agradável.
Depois do nosso retorno teve um concurso público, ninguém da viagem passou porque ninguém estudou. Todos tinham acabados de
terminar o curso... Aquela euforia achava que sabiam tudo... Enfim... Não passou ninguém no concurso. Nós fizemos uma reunião na época
em que o Benjamim era prefeito. Ele disse que os concursados ficariam na zona urbana e os não concursados que quisessem ficariam na
zona rural...
Eu comecei a trabalhar foi o meu primeiro ano em 98. Eu trabalhei seis meses na escola Airton Sena... Eu fiquei lá por seis meses... Poucos
alunos. Mês de junho a escola fecha, pelo numero mínimo de aluno. Vim pra Itupiranga e o Paulinho (secretário de educação) me orientou:
__Deusilene leva as transferências. Os pais procuram um lugar e você vai ser transferida pra algum lugar.
Na seqüência, no período de férias em julho de 98. Surgiu a escola Mario Quintana, precisando de um professor, o professor de lá tinha
saído no mês de maio, eu fui pra essa escola no mês de julho...
Então eu conheci meu ex-esposo de uma família que me acolheu de braços abertos e lá eu trabalhei um ano e seis meses. O restante de 98 e
o inicio de 99 eu pedi pro Paulinho pra vir embora.
Ele disse:
__OK! Vou arrumar uma escola pra você ir.
Surgiu uma vaga aqui em Cruzeiro do Sul, em agosto de 99. Eu não queria vim porque as pessoas falavam que era longe que era de difícil
acesso, mas... Uma filha pra criar. Você vai!... Vai à busca! Você quer serviço!... E eu vim. Na época eu vim fiquei na casa de um professor
Osmir.
Entrevistador: Você já conhecia alguém nessa região?
Deusilene de Carvalho Silva: __Não conhecia ninguém, vim sem conhecer ninguém só vim orientada pelo colégio e professor que na época
e vim pra substituir ele aí eu fiquei na casa dele e substitui-o por seis meses.
Ele não quis mais voltar pra sala de aula por opção dele mesmo, que queria fazer uns cursos em Brasília, acabou que ele não fez esses
cursos.
Então eu fiquei 99, quando eu cheguei só tinha ele professor Osmir e professora Rosilma. Então no resto de 99 eu o substituí na turma. No
ano de 2000 já deu uma crescida rápida que isto aqui cresceu... Como uma vez o Benjamim disse: “que as outras cidades crescem como um
carrinho de mão e aqui cresce como um avião”. Por que aqui teve uma explosão demográfica muito rápida.
Figura 2 Pais da Entrevistada
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Em 99 tinha apenas quatro turmas, em 2000 teve um número quase dobrado de turmas. Em 2000 a Secretaria de Educação mandou o
professor Carlos Cardoso pra assumir a direção da escola e ele veio com sua esposa Vilma.
Entrevistador: Como a vila cresceu?
Deusilene de Carvalho Silva: __Acredito que foi o fluxo da madeireira. A serraria Irmãos Carneiros foi a época em que ela surgiu e isso fez
com que a Vila crescesse. Instalaram também a CONCREM que trabalhava com compensado. Isso deu uma explosão demográfica muito
grande e de repente surgiu aluno que ninguém sabe de onde.
Montaram a vila CONCREM e a Vila Cabeludo. Eram serraria e CONCREM funcionando 24 horas. A CONCREM funcionava tinha
funcionários á noite e durante o dia e isso fez com que crescesse.
Em 2000 ficou eu, como professora, a professora Rosilma, o professor Carlos, e Vilma, professora Nesina. No ano de 2000 foi também o
primeiro ano de 5ª série e só éramos nós três professores: Eu, Carlos e a professora Nesina, que davam aula nessa turma de 5ª série a noite,
mesmo com alunos menores de idade, fomos autorizados a dar aulas á noite com alunos de 11 e 12 anos que estavam na 5ª série. Não tinha
como montar uma turma durante o dia. No ano seguinte eles implantaram o modular.
Entrevistador: Como era a Vila antes da chegada da serraria e como ela ficou depois?
Deusilene de Carvalho Silva: __Quando eu cheguei já tinha serraria, em 99 ela já estava só no ano seguinte que deu essa explosão rápida
de muitos alunos.
Só tinha a rua principal e o comercial do João do Fumo e Seu Djalma. Só tinha esses dois comércios que eu consiga me lembrar.
Do lado de lá era mata e do lado de cá também. Em 2000 o Benjamim comprou aquela área de lá (aponta para o centro da Vila) Quando
ele comprou aquela área ele me deu um lote, eu fui a única professora a ganhar um lote do lado de lá. Dois anos depois ele comprou a área
daqui e loteou então cresceu com essa parceria do Benjamim. Ai logo foi enchendo de casas e separou a área da escola e deu um lote pra
cada funcionário.
Em 2002 teve o vestibular, agente começou estudar em agosto e ainda era modular aqui. Quando foi no inicio de 2003, o Paulinho disse que
era hora de desvincular o modular e implantar o regular, já que nós estávamos na faculdade. Porque na época eles colocavam o modular
alegando que nós só tínhamos o magistério e não podíamos trabalhar de 5ª a 8ª séries. Como já estava todo mundo... Tinha um grupo
grande. Então são vocês que estão na faculdade que vão assumir a 5ª série. Novamente voltou a ser regular como é até hoje.
Desde quando eu cheguei aqui eu fiquei trabalhando de 1ª a 4ª série em 99, em 2000 de 5ª a 8ª série á noite, e também o EJA. Por que
naquela época eu fui convidada pra ir pra Belém, fazer um treinamento de alfabetização solidaria. Nesse período eu estava graduando
comecei em 2002 e terminei em 2005 eu fiz um curso e letras pela UNAMA. Comecei a trabalhar nas turmas de 5ª a 8ª série Português,
Artes e Inglês...
Entrevistador: O que mudou na vila nesse período de 2003 a 2005, no período em que você se formou?
Deusilene de Carvalho Silva: __A única coisa que mudou foi a construção da escola, que demorou menos de Dois anos para construir essa
escola.
A escola foi inaugurada dia 9 de agosto de 2003. Antes funcionava uma sala próxima a antiga delegacia, uma sala na Igreja Católica, mas
duas salas construídas lá embaixo (aponta), onde hoje é a Igreja Católica, mais quatro salas lá onde eram do Seu Dominguinhos.
Entrevistador: Fale um pouco da sua vida familiar.
Deusilene de Carvalho Silva: __Os meus pais continuam morando lá até hoje. Em 98, quando eu fui pra Vila Juruna, trabalhar, eu conheci
o Ronaldo (ex - marido). Foi muito rápido não teve um processo de namorar seis meses, um ano, foi tudo muito rápido. Porque éramos dois
adultos, já sabiamos o que queríamos e combinamos de morar juntos, se der certo bem se não a gente separa. Eu fiquei morando com o
Ronaldo por seis meses lá, no ano seguinte a gente veio pra Cruzeiro do Sul. Na época ele não tinha escolaridade nenhuma, ele era
desistente da 2ª série e eu percebi o interesse dele por estudar. Eu fui a Itupiranga, lá tem um sistema que oferecia um provão de 1ª a 4ª
séries. Pra pessoas que tinham perdido documentação e pra pessoas que já estavam de idade e queriam avançar nos estudos. Eu fui lá
inscrevi o Ronaldo, peguei a lista de conteúdos e orientei-o. Deixei ele em Itupiranga estudando. Ele fez a prova tirou a média 8 ou 8,5.
A escola Albertina Barreiros deu um documento pra ele, que poderia entrar na 5ª série, através desse classificatório e de 5ª a 8ª série ele fez
no modular na Unidade Supletiva de Ensino. Ele se matriculou, trazia os livros e estudava em casa. Sempre que eu podia estava orientando
dentro das minhas possibilidades, ele fez Ensino Médio aqui no modular. Logo depois ele se formou e trabalhou na escola. Trabalhou como
vigia por um tempo, 2001 e 2002, a partir de 2003 ele foi promovido pra secretaria, trabalhou até 2007, foi na época em que nós nos
separamos e ele foi embora.
Nesse relacionamento tivemos uma filha... Uma benção (risos), que nasceu também no dia da inauguração dessa escola, a idade dela é a
idade dessa escola. É a Kailany, filha minha e dele, que nasceu no dia 9 de agosto de 2003. Quando nós nos separamos ela tinha quatro
anos. Hoje ela está com 10 a minha outra filha tinha nove anos, hoje vai fazer 16.
Tenho essa duas filhas, estou há mais de cinco anos sozinha, continuo trabalhando muito pra criar essas meninas. A mais velha já
concluindo o 3º ano do Ensino Médio, já está fazendo o curso de Pedagogia também, apesar da idade, de ter pouca idade teve essa
faculdade que deu essa oportunidade, abriu uma exceção pra pegar os alunos do 2º ano, ela começou no ano passado. Fez um teste que foi
uma redação. Pra entrar na faculdade tinha que fazer essa redação. Ela fez, foi classificada e está cursando desde 2012, começou em
agosto de 2012.
Vai concluir esse ano o 3º ano do ensino médio, já está fazendo o segundo período de Pedagogia, a outra tem 10 anos e já está fazendo a 5ª
série. Durante esse tempo, fiquei em 2005 e 2006, trabalhando na coordenação á convite do meu colega Arnaldo, que assumiu a direção da
escola, na época acabei saindo por problemas políticos, por não aceitar idéias de outras pessoas, eu tinha minha idéia própria,
principalmente partidária e isso me fez ficar fora da coordenação nos dois últimos anos da gestão do Arnaldo, na gestão do prefeito
Adécimo Gomes...
Na seqüência o Benjamim ganhou pra prefeito e a Cleide assumiu a direção do estado em 2008, e me convidou pra ser vice-diretora...
Fiquei 2008 e 2009 como vice. Mais uma vez por questões políticas, saí novamente, não foi bem política briga, mas política pra ajeitar a
vida dos outros e você ceder... Eu sou muito de ceder, se for pra te ajudar eu vou automaticamente, se eu puder ceder parte da minha carga
horária pra te ajudar eu faço. E na época eles tentaram ajudar a Ivonete, que... Entre aspas é um problema...
Então ficaram 2010 e 2011 quando foi em agosto de 2012, eu fui convidada pra assumir a direção do ensino médio, cedida pelo município
mais uma vez e... Pra mim foi um desafio... (respira fundo) como está sendo. Fiquei o restante de 2012, na vice-direção do ensino médio,
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esse ano, inicio de 2013, o Paulinho me convidou novamente e me perguntou se eu queria continuar, eu aceitei o desafio sabendo que lá não
havia professor de Português. O prédio não tem estrutura física adequada, lá é desumano... Mas é um desafio estar lá. No inicio do ano
trabalhei nas turmas do 1º e 3º ano nos meses de janeiro e março no total de 50 horas cada mês. Por incrível que pareça eu encontrei uma
colega aqui da escola aqui do fundamental, pra falar que isso não era trabalho voluntário isso tinha outro nome era “puxa-saquismo”.
Eu me pergunto:
__Eu vou “puxar-saco” de quem?E pra quê?... Eu não preciso disso!...
Eu vou puxar o saco de quem? Se eu sou a vice–diretora!... Isso não faz parte de mim, da minha pessoa, não concordo com essas coisas e eu
acho que as pessoas têm que serem humanas, saber ajudar as pessoas na hora certa, e eu fiz por amor. Alguns alunos questionaram:
__E as outras turmas?
Eu simplesmente não poderia trabalhar 340 horas, mas eu poderia trabalhar 50 horas durante dois meses. Enquanto um colega me criticou
eu tive mais de 60 alunos que me agradeceram... Alunos de paz!
Pra mim foi gratificante como pessoa, como ser humano, como profissional. Eu ouvi muitas criticas, mas eu fiquei “passada” de partir de
um colega que ta ali do teu lado... Assim como a gente ouve de outros colegas de nível diferente que são níveis 1 e 2, fundamental 1 e
fundamental 2, e por incrível que pareça num ambiente de trabalho, eu acredito que toda e qualquer escola exista divergências.
Muitas pessoas já se perguntaram, eu já ouvi comentários de terceiros:
__Por que não fulano?
E a Deusilene?
E a minha resposta foi:
__Eu estou colhendo hoje, o que eu plantei ontem e com certeza eu vou colher amanhã, o que estou plantando hoje!
Isso é tanto profissional quanto pessoal. Nem sempre a gente planta coisas boas... Más... Nós somos humanos e temos que ir em busca do
que a gente quer.