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revista da espm • ano 19 • edição 87 • nº2 • março/abril 2013 • r$ 28,00 O investidor não sai por aí rasgando dinheiro Cassio Spina Vá com a faca nos dentes! Flávio Jansen O negócio é acreditar! Carlos Alberto dos Santos Entrevistas O grande sonho dos brasileiros EMPREENDEDORISMO Pequenos investimentos, grandes ideias! 10 dicas de quem chegou lá... Velocidade máxima A hora e a vez de empreender Qual é o perfil do empreendedor? Você sabe com quem está falando? Valores compartilhados Caminhos alternativos Empreendedor social: paradoxos do espírito capitalista Artigos Genialidade, sabedoria e empreendedorismo A arte de equilibrar liberdade e controle Espetáculo empresarial Repertório em rede: você está apto a empreender? Empresas in vitro Liderança: como armar nossas velas Artigos Mesa-redonda

Aceleradoras - Velocidade máxima

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Aceleradoras ajudam jovens empresas a atingir patamares relevantes de crescimento com modelos de alto impacto, construídos por meio de testes de ideia e produtos entre potenciais clientes, além da orientação de executivos e empreendedores experientes

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r e v i s t a d a e s p m • a n o 1 9 • e d i ç ã o 8 7 • n º 2 • m a r ç o / a b r i l 2 0 1 3 • r $ 2 8 , 0 0

O investidor não sai por aí rasgando dinheiroCassio Spina

Vá com a faca nos dentes!Flávio Jansen

O negócio é acreditar!Carlos Alberto dos Santos

Entrevistas

O grande sonho dos brasileirosEMPREENDEDORISMO

Pequenos investimentos, grandes ideias!

10 dicas de quem chegou lá...

Velocidade máxima

A hora e a vez de empreender

Qual é o perfil do empreendedor?

Você sabe com quem está falando?

Valores compartilhados

Caminhos alternativos

Empreendedor social: paradoxos do espírito capitalista

Artigos

Genialidade, sabedoria e empreendedorismo

A arte de equilibrar liberdade e controle

Espetáculo empresarial

Repertório em rede: você está apto a empreender?

Empresas in vitro

Liderança: como armar nossas velas

Artigos

Mesa-redonda

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Aceleradoras ajudam jovens empresas a atingir patamares relevantes de crescimento com modelos de alto impacto, construídos por meio de testes de ideia e produtos entre potenciais clientes, além da orientação de executivos e empreendedores experientes

N os ú lt imos anos, o empreendedorismo brasileiro tem mudado de cara. No passado, as empresas eram criadas por necessidade. Muitas vezes, os profissionais, com difi-

culdade na recolocação, não tinham outra escolha senão criar seu próprio negócio. Mas esse cenário vem sofrendo mudanças sensíveis no Brasil. Vários jovens qualificados e com alta empregabilidade têm escolhido o empreendedorismo como opção de carreira. Parte desse estímulo vem do mercado americano, com suas histórias de sucesso e o amplo acesso à informação que a internet oferece.

O empreendedorismo digital, aquele que é viabiliza-do pela tecnologia e que une o marketing à tecnologia, vem recebendo atenção cada vez maior, no cenário nacional. Marc Andreessen, criador do Netscape e de diversas outras empresas que ajudaram a viabilizar a internet como a conhecemos, diz que o software está engolindo o mundo. Essa afirmação pode ser analisada em diversos níveis, mas, basicamente, Andreessen mostra o poder que os algoritmos e aplicações on-line detêm hoje. Imaginemos, por um segundo, o que o carro que dirige sozinho do Google pode fazer com o mercado de transportes. Toda a indústria poderá ser modificada com um software. E é justamente nessa oportunidade que os novos empreendedores digitais brasileiros estão apostando.

O custo para iniciar uma empresa digital é extrema-mente baixo. Praticamente, tudo o que é tecnicamente necessário hoje está na nuvem, esse conceito amplo que designa as aplicações que ficam hospedadas em

grandes data centers ao redor do mundo e fornecem uma gama enorme de recursos.

Desde softwares de CRM até o seu e-mail pessoal, tudo está indo para a nuvem. E essa nuvem que provê aplicações para nós brasileiros é a mesma de que dispõem os empreendedores americanos, russos e de qualquer outro lugar do mundo. Ao nivelarmos o acesso à tecnologia, libertamos a nossa capacidade criativa. Basicamente, um brasileiro poderá criar a próxima empresa que vai mudar a cara do mundo.

Já criamos, nos anos recentes, vários exemplos de empresas puramente digitais no Brasil. Algumas de-las já possuem considerável relevância na economia, como Buscapé, Peixe Urbano, Netshoes, Apontador e tantas outras. Mas estamos apenas no começo dessa jornada. Ainda temos poucas empresas baseadas em tecnologia com faturamentos expressivos (acima de R$ 100 milhões por ano, por exemplo), assim como poucas têm atuação global.

Ao mesmo tempo, estamos criando diversas novas empresas digitais, diariamente, contando com o talento desses jovens que buscam algo diferente em suas carreiras. Como fazer esse processo ganhar a velocidade de que precisamos para levar a economia

Velocidade máxima

Por Pedro Waengertner

Ao nivelarmos o acesso à tecnologia, libertamos a nossa capacidade criativa. Um brasileiro poderá criar a próxima empresa que vai mudar a cara do mundo

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brasileira a um novo patamar, no qual o conhecimento se torna o impulsionador do crescimento?

A resposta para essa pergunta não é simples, mas eu arriscaria resumir em uma palavra: ecossistema. Sim, acredito que a palavra ecossistema já esteja um tanto batida, mas não encontro melhor definição. Somente quando todos os envolvidos na cadeia trabalharem em conjunto, conseguiremos criar empresas digitais com a velocidade e a qualidade que precisamos.

É necessário que a burocracia e os impostos sejam reduzidos. Também é fundamental que as instituições de ensino formem seus estudantes nos conceitos ne-cessários, assim como precisamos de uma cadeia de fornecedores aptos a trabalhar com esses negócios. Esses jovens CEOs precisam contratar pessoas dis-postas (e empolgadas) a trabalhar nessas empresas, além de contar com o apoio de outros empreendedores na mesma situação.

A boa notícia é que estamos andando a passos lar-gos nessa direção. Não só estamos vendo um interesse

crescente por parte do governo em fomentar a eco-nomia digital, mas também presenciamos a criação de diversos eventos e cursos ajudando a capacitar os novos empresários em todo o Brasil.

É nesse contexto que surgem as aceleradoras, um conceito relativamente novo, surgido em 2005, nos Estados Unidos, e que vem se desdobrando rapida-mente em todos os países do mundo.

Uma aceleradora tem a responsabilidade de apoiar os novos empresários no desafio de transformar a sua ideia em uma empresa de impacto. Diferentemente de uma incubadora, que apoia empresas em estágio muito inicial, oferecendo infraestr utura, alguma mentoria, e não necessariamente cobrando resulta-dos no curto prazo, uma aceleradora trabalha com um espaço curto de tempo em que tem o desafio de entregar ao mercado um negócio viável para investi-mentos e pronta para o crescimento.

Nos Estados Unidos, várias das empresas que hoje conhecemos e até usamos no dia a dia surgiram em

Marc Andreessen, criador do Netscape e de diversas outras empresas virtuais: ”O software está engolindo o mundo”

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aceleradoras. O AirBNB, que viabiliza a hospedagem em casas e apartamentos particulares ao redor do mundo, e o Dropbox, que ajuda com o armazenamento e com-partilhamento de nossos arquivos na nuvem (sempre a nuvem...), são exemplos que foram acelerados. Esta última está avaliada, atualmente, em U$ 4 bilhões. Esta é, precisamente, a proposta de valor das aceleradoras: criar empresas de alto impacto.

As aceleradoras possuem algumas diferenças na sua atuação, mas em geral seguem princípios semelhantes. As candidatas devem inscrever seus projetos e são esco-lhidas a partir de critérios específicos, que vão mudar de aceleradora para aceleradora. As poucas escolhidas rece-bem um valor em dinheiro, vários benefícios gratuitos e mentoria durante o período definido. Normalmente, o período é de três a seis meses, mas em alguns casos pode se estender a um ano.

Durante essa fase, as aceleradas devem validar seus modelos de negócio e colocar seu produto no ar, de modo a viabilizar o aprendizado rápido durante a aceleração. Em troca, a aceleradora fica com um percentual da empresa, que pode variar de 7% a 20%.

Normalmente, ideias em estágio inicial são de difí-cil avaliação. Qualquer previsão de faturamento não pode ser considerada com segurança, pois ainda não existe um histórico para comparação. Nessa fase, três pontos costumam chamar a atenção: o mercado esco-lhido, o draft da ideia e o time de empreendedores. Se o mercado escolhido não possui tamanho suficiente, por exemplo, dificilmente teremos uma empresa de alto impacto.

A ideia precisa ser interessante e explorar alguma necessidade ou oportunidade que ainda não esteja sendo explorada ou mal explorada. É claro que ainda será desenvolvida e trabalhada, mas é nesse aspecto que é possível identificar o quanto o empreendedor estudou o mercado e entendeu o que está propondo. Quanto ao time, é o item que mais pesa. Costuma-mos dizer que um time de primeira linha faz de uma ideia medíocre uma empresa de sucesso, mas um time inadequado não consegue alcançar o sucesso,

O AirBNB, que viabiliza a hospedagem em casas e apartamentos particulares ao redor do mundo, contou com a ajuda de uma aceleradora

Um time de primeira linha faz de uma ideia medíocre uma empresa de sucesso, mas um time inadequado não alcança o sucesso, mesmo com uma ideia genial

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mesmo com uma ideia genial. O time ideal de uma empresa digital normalmente tem uma pessoa focada em marketing e vendas, outra na área de tecnologia e um CEO com visão.

Ritmo aceleradoAo entrar em uma aceleradora, o primeiro desafio é entender o modelo de negócios. Qual é a proposta de valor? Quem é o cliente? Como a empresa vai ganhar di-nheiro? Essas são algumas das perguntas a que o modelo de negócio precisa responder. Muitas vezes, uma ideia parece boa quando a avaliamos rapidamente, mas, ao estudarmos a fundo o modelo de negócios, percebemos que a conta não fecha ou que esse não é um problema tão relevante a ponto de o cliente se disponibilizar a pagar. Nessa fase, as aceleradoras aproximam os empreende-dores de vários mentores que já passaram por situações semelhantes ou já atuam no mercado que a empresa bus-ca. É uma forma de aprendizado rápido. Muitas dúvidas surgem durante o processo. E essas dúvidas precisam ser transformadas em hipóteses e devidamente testadas (isso mesmo, com o velho e bom método científico).

O aprendizado é prioridade em uma aceleradora. Não se trata de acertar ou errar, mas de aprender rapi-

damente. E só se aprende indo a campo, conversando com os clientes e pondo seu produto no ar. Somente entendendo como o cliente pensa e trabalha é possível desenhar uma solução viável. É comum as empresas irem a campo e perceberem que suas ideias não são viáveis. Para uma aceleradora, isso não é ruim. Trata-se do processo de aprendizado. A partir daí, outras maneiras de atender aos clientes são pensadas ou vamos em busca de novos clientes. O termo para essas mudanças no modelo de negócios é pivotar. Algumas estatísticas mostram que uma empresa vai pivotar três vezes até encontrar o modelo de negócios que vai fazê-la crescer.

O produto oferecido é outro ponto trabalhado pela aceleradora. As ideias são traduzidas em versões simplificadas dos seus produtos. Chamamos essa versão de MPV, ou Mínimo Produto Viável, que re-presenta o menor conjunto de funcionalidades que

O Dropbox, um serviço de armazenamento e compartilhamento de arquivos na nuvem, também foi acelerado e hoje vale US$ 4 bilhões

Uma aceleradora tem a responsabilidade de apoiar os novos empresários no desafio de transformar a sua ideia em uma empresa de impacto

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o cliente estaria disposto a pagar. Esse produto deve ser desenvolvido o quanto antes durante o processo e disponibilizado para os clientes, de preferência pagantes, usarem. É a partir do uso que entendemos o que funciona e o que precisa melhorar. Também é possível entender se as hipóteses levantadas anterior-mente se provam reais. É a hora da verdade.

Outro ponto fundamental do processo é a aquisição de clientes. Muitas vezes, os empreendedores pensam nas ideias e produtos, mas esquecem como vão adqui-rir novos clientes. Percebem, em muitos casos, que a forma que pensaram não vai funcionar e que precisam testar novas abordagens. Testes, testes e mais testes. E essas hipóteses devem ser postas em prática. Usar o Google Adwords é viável para este produto? Só saberemos se pusermos o produto à venda. Essa é a grande vantagem do produto digital: se uma estratégia de aquisição não funciona, rapidamente montamos outro formato e vamos ao mercado.

Ao final do processo de aceleração, cada empresa entrou em contato com diversos mentores, foi a campo, entendeu o mercado e pôs a sua primeira versão no ar. Muitas delas já estão vendendo, com faturamento real. A coroação da aceleração é o chamado Demo Day, o evento de apresentação das empresas aos potenciais investido-res. Nesse evento, cada empresa apresenta (geralmente, em cinco minutos) sua ideia a uma plateia. Chamamos essa apresentação de pitch, que mostra o que a empresa faz, seu mercado, como vende e, o mais importante, qual a tração já apresentada. Quanto mais tração, ou seja, vendas, clientes, parceiros etc., mais potencial aos olhos dos investidores.

Desde o final de 2012, a ESPM tem a sua própria aceleradora, a Aceleratech (www.aceleratech.com.br). O seu programa, de três meses, conta com aulas de professores da própria ESPM e mentoria de diversos executivos e empresários experientes. Conta com braços nos Estados Unidos e na Alemanha e possui diversos investidores aplicando capital a cada pro-cesso de aceleração, que acontece duas vezes ao ano. A aceleradora está sempre com as inscrições abertas para o próximo round, e conta com inscrições de pes-soas do Brasil inteiro, além de estrangeiros querendo empreender no Brasil.

A Aceleratech foi uma das oito escolhidas pelo governo no programa Startup Brasil, que aproxima

as aceleradoras dos incentivos públicos, aplicando, conjuntamente com o governo, capital nas jovens em-presas brasileiras. Acreditamos que as aceleradoras são grandes catalisadoras do ecossistema nacional de empreendedorismo e têm o potencial de criar as grandes empresas digitais que vão pôr o Brasil no ce-nário mundial da tecnologia e mudar a cara da nossa economia. Estamos certos de que, daqui a alguns anos, vamos olhar o espaço que as empresas brasileiras têm na nossa economia e veremos o grande impacto já obti-do pelos programas de aceleração na forma de grandes nomes no cenário nacional.

Pedro Waengertner Coordenador do Núcleo de Estudos e Negócios

em Marketing Digital e cofundador da Aceleratech

Criada no final de 2012 pela ESPM, a Aceleratech foi uma das oito escolhidas pelo governo no programa Startup Brasil, que aproxima as aceleradoras dos incentivos públicos, para aplicar capital nas jovens empresas brasileiras