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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA CCM Nº 70015727472 2006/CÍVEL EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. SENTENÇA ARBITRAL. OMISSÃO DA PESSOA DO AVALISTA QUE CONSTAVA NA NOTA PROMISSÓRIA. ORIGEM DA DÍVIDA. ILEGITIMIDADE DA PARTE. MANTIDA. O avalista de nota promissória transacionada em Tribunal Arbitral é parte ilegítima para responder a processo de execução lastreado no referido título, uma vez que o acordo de arbitragem foi realizado tão- somente entre credor e devedor principal. Não houve qualquer participação do avalista, tampouco seu nome constou do novo ajuste. Nesses termos, é de ser mantida a sentença que julgou procedente a exceção de pré-executividade por reconhecer que o avalista excipiente é parte ilegítima para figurar no pólo passivo da ação de execução. RECURSO DESPROVIDO. APELAÇÃO CÍVEL VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL Nº 70015727472 COMARCA DE FARROUPILHA LAIR BORTOLOZZO ZUCCO APELANTE DORVALINO AGUSTI APELADO ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos. Acordam os Desembargadores integrantes da Vigésima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar provimento ao recurso. Custas na forma da lei. Participaram do julgamento, além do signatário, o eminente Senhor Desembargador José Aquino Flôres de 1

Apel. cível 70015727472

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CCMNº 700157274722006/CÍVEL

EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. SENTENÇA ARBITRAL. OMISSÃO DA PESSOA DO AVALISTA QUE CONSTAVA NA NOTA PROMISSÓRIA. ORIGEM DA DÍVIDA. ILEGITIMIDADE DA PARTE. MANTIDA.O avalista de nota promissória transacionada em Tribunal Arbitral é parte ilegítima para responder a processo de execução lastreado no referido título, uma vez que o acordo de arbitragem foi realizado tão-somente entre credor e devedor principal. Não houve qualquer participação do avalista, tampouco seu nome constou do novo ajuste. Nesses termos, é de ser mantida a sentença que julgou procedente a exceção de pré-executividade por reconhecer que o avalista excipiente é parte ilegítima para figurar no pólo passivo da ação de execução.RECURSO DESPROVIDO.

APELAÇÃO CÍVEL VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL

Nº 70015727472 COMARCA DE FARROUPILHA

LAIR BORTOLOZZO ZUCCO APELANTE

DORVALINO AGUSTI APELADO

A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos os autos.

Acordam os Desembargadores integrantes da Vigésima Câmara

Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar provimento

ao recurso.

Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, além do signatário, o eminente

Senhor Desembargador José Aquino Flôres de Camargo, como Presidente, e o

eminente Senhor Desembargador Glênio José Wasserstein Hekman, como

Revisor.

Porto Alegre, 12 de julho de 2006.

Desembargador Carlos Cini Marchionatti, Relator.

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R E L A T Ó R I O

Trata-se de recurso de apelação interposto por LAIR

BORTOLOZZO ZUCCO à vista da respeitável sentença de fls. 90-4, que

resultou na procedência da exceção de pré-executividade oposta por

DORVALINO AGUSTI e extinção da ação de execução. A douta magistrada de

primeiro grau acolheu a questão preliminar de ilegitimidade passiva argüida

pelo excipiente e extinguiu a ação de execução, condenando a excepta ao

pagamento das custas processuais e honorários advocatícios de R$1.000,00,

suspensos em face da concessão do benefício da AJG.

A apelante diz ter ajuizado de execução lastreada em título

executivo extrajudicial (notas promissórias), no valor de R$13.138,90, contra o

apelado, pois ele figura como avalista do Sr. Elói Antônio Augusti (devedor

principal) no referido título de crédito.

Refere ter feito uma mediação com o devedor principal perante o

Tribunal de Mediação (juízo arbitral) na cidade de Farroupilha, quando

estipularam um novo modo de pagamento. Nesse ato, o avalista da nota

promissória não constou do termo lavrado entre as partes perante o referido

Tribunal. Ocorre que, alega, o devedor principal não satisfez toda a dívida.

Assim, diz que pretende, na presente ação de execução, conferir ineficácia a

decisão do tribunal arbitral – ante o descumprimento do termo pelo devedor

principal – e revalidar o título de crédito original. Deste modo, a obrigação do

avalista se manteria íntegra e legitimaria a execução ora extinta.

Defende não ter havido novação da dívida perante o juízo arbitral;

que a decisão ali proferida apenas confirmou a obrigação original, ratificando-a

implicitamente.

Requer o provimento do recurso e a reversão da decisão de

primeiro grau.

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Recebido o recurso à fl. 101, com contra-razões (fls. 103-10), os

autos foram remetidos ao Tribunal em 12.06.06 (fl. 111) e vieram conclusos à

minha Relatoria em 21.06.06 (fl. 112). Portanto, nesta primeira oportunidade,

encaminho os autos à douta Revisão e peço dia para julgamento.

É o breve relatório.

V O T O

Eminentes Colegas: recebo o recurso de apelação porquanto

presentes os pressupostos recursais de admissibilidade. No entanto, declino

desde logo que meu voto é pela manutenção da respeitável sentença proferida

pela douta magistrada, Dra. CAROLINA GRANZOTTO.

Nos termos da Lei nº 9.307/96, as pessoas capazes de contratar

poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos

patrimoniais disponíveis (art. 1º), observadas as seguintes diretrizes gerais:

“Art. 2º A arbitragem poderá ser de direito ou de eqüidade, a critério das partes.§1º Poderão as partes escolher, livremente, as regras de direito que serão

aplicadas na arbitragem, desde que não haja violação aos bons costumes e à ordem pública.

§2º Poderão, também, as partes convencionar que a arbitragem se realize com base nos princípios gerais de direito, nos usos e costumes e nas regras internacionais de comércio.”

No caso dos autos, dívida é representada por nota promissória

avalizada (fl. 24). Ocorre que essa dívida foi objeto de transação arbitral que

resultou no seguinte ajustamento: o devedor principal (ELÓI ANTÔNIO

AUGUSTI) pagaria ao credor (LAIR BORTOLOZZO ZUCCO) sessenta (60)

parcelas de R$100,00 até novembro de 2002 (fls. 27-31).

Saliente-se que a mediação foi feita apenas entre as partes

principais da obrigação. Não houve qualquer menção à figura do avalista

(DORVALINO AGUSTI), que também não participou das mencionadas

negociações.

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Assim, estipulou-se validamente nova forma de pagamento da

dívida original assumida por ELÓI ANTÔNIO AUGUSTI em face de LAIR

BORTOLOZZO ZUCCO.

Considerando que não houve a participação do avalista - que

anteriormente constava de forma expressa da nota promissória ora executada -

estimo não haver mais a possibilidade de se constituir a obrigação acessória

original.

O Direito Civil prevê a possibilidade de as partes realizarem

transação no intuito de propiciar mais rápida e eficazmente a paz social. Aliás,

esse é o espírito do instituto da transação, segundo o qual, “é lícito às partes

interessadas – buscar prevenir ou terminar litígios – mediante concessões

mútuas” (art. 840 do CCB/02).

Entretanto, veja-se que o Direito Civil não se restringe a instituir

uma prerrogativa às partes. Ao lado dessa prerrogativa, estabelece também

algumas restrições ao exercício do direito de transação. Dentre elas, destaco:

“Art. 843. A transação interpreta-se restritivamente, e por ela não se transmitem, apenas se declaram ou reconhecem direitos.”

“Art. 844. A transação não aproveita, nem prejudica senão aos que nela intervierem, ainda que diga respeito a coisa indivisível.

§ 1o Se for concluída entre o credor e o devedor, desobrigará o fiador.”

Com efeito, à vista dessa disciplina legal, considero que a decisão

recorrida deve ser mantida por seus próprios e jurídicos fundamentos, uma vez

que – de fato – o caso dos autos subsume-se à hipótese legal do §1º do art.

844 do CPC com perfeição.

Empregando interpretação restritiva à transação realizada entre

devedor principal e credor – a qual omitiu, por alguma circunstância, a pessoa

do avalista – reputo que a negociação havida entre eles não pode ser oposta

ao fiador originário. Deve, pois, restringir seus efeitos e exigibilidade aos

intervenientes da mediação.

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Até mesmo porque a pretensão do apelante, da forma como veio

deduzida, não procede.

O fato de o devedor principal não ter satisfeito o acordo que

assumiu perante o Tribunal Arbitral não revalida a nota promissória anterior, em

que figurava o avalista, uma vez que o compromisso arbitral não foi assumido

com a sua participação.

Quando as partes deixaram de incluir o avalista na mediação

arbitral, a obrigação secundária (de garantia) se extinguiu, não sendo viável –

em sede de execução, que pressupõe título líquido, certo e exigível – discutir-

se a validade da referida nota promissória.

Veja-se que, depois de ter assumido o compromisso arbitral, o

único título executivo que lhe resta é a nova obrigação assumida perante o

Tribunal Arbitral. Assim, em não sendo desconstituída a validade da referida

transação arbitral, é de ser mantida a posição perfilhada na r. sentença de

primeiro grau que desobriga o fiador que não participou do novo ajuste.

Por outro lado, apenas como argumentação de apoio, quisesse o

apelante discutir a validade da referida transação arbitral, a sede da ação

executiva não é o foro próprio.

Nos termos do art. 33 da Lei de Arbitragem, a parte interessada

poderá pleitear ao órgão do Poder Judiciário competente a decretação da

nulidade da sentença arbitral, nos casos previstos na Lei. Sendo que, nos

termos do §1º do art. 33, a demanda para a decretação de nulidade da

sentença arbitral seguirá o procedimento comum, previsto no Código de

Processo Civil, e deverá ser proposta no prazo de até noventa dias após o

recebimento da notificação da sentença arbitral ou de seu aditamento.

Isso posto, nego provimento ao recurso e mantenho a decisão

recorrida por seus próprios e jurídicos fundamentos.

É o voto.

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Desembargador Glênio José Wasserstein Hekman – De acordo.

Desembargador José Aquino Flôres de Camargo – De acordo.

DES. JOSÉ AQUINO FLÔRES DE CAMARGO - Presidente - Apelação Cível

nº 70015727472, Comarca de Farroupilha: "NEGARAM PROVIMENTO.

UNÂNIME."

Juíza de Direito da Sentença: Drª Carolina Granzotto.

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