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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA
CCMNº 700157274722006/CÍVEL
EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. SENTENÇA ARBITRAL. OMISSÃO DA PESSOA DO AVALISTA QUE CONSTAVA NA NOTA PROMISSÓRIA. ORIGEM DA DÍVIDA. ILEGITIMIDADE DA PARTE. MANTIDA.O avalista de nota promissória transacionada em Tribunal Arbitral é parte ilegítima para responder a processo de execução lastreado no referido título, uma vez que o acordo de arbitragem foi realizado tão-somente entre credor e devedor principal. Não houve qualquer participação do avalista, tampouco seu nome constou do novo ajuste. Nesses termos, é de ser mantida a sentença que julgou procedente a exceção de pré-executividade por reconhecer que o avalista excipiente é parte ilegítima para figurar no pólo passivo da ação de execução.RECURSO DESPROVIDO.
APELAÇÃO CÍVEL VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL
Nº 70015727472 COMARCA DE FARROUPILHA
LAIR BORTOLOZZO ZUCCO APELANTE
DORVALINO AGUSTI APELADO
A C Ó R D Ã O
Vistos, relatados e discutidos os autos.
Acordam os Desembargadores integrantes da Vigésima Câmara
Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar provimento
ao recurso.
Custas na forma da lei.
Participaram do julgamento, além do signatário, o eminente
Senhor Desembargador José Aquino Flôres de Camargo, como Presidente, e o
eminente Senhor Desembargador Glênio José Wasserstein Hekman, como
Revisor.
Porto Alegre, 12 de julho de 2006.
Desembargador Carlos Cini Marchionatti, Relator.
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CCMNº 700157274722006/CÍVEL
R E L A T Ó R I O
Trata-se de recurso de apelação interposto por LAIR
BORTOLOZZO ZUCCO à vista da respeitável sentença de fls. 90-4, que
resultou na procedência da exceção de pré-executividade oposta por
DORVALINO AGUSTI e extinção da ação de execução. A douta magistrada de
primeiro grau acolheu a questão preliminar de ilegitimidade passiva argüida
pelo excipiente e extinguiu a ação de execução, condenando a excepta ao
pagamento das custas processuais e honorários advocatícios de R$1.000,00,
suspensos em face da concessão do benefício da AJG.
A apelante diz ter ajuizado de execução lastreada em título
executivo extrajudicial (notas promissórias), no valor de R$13.138,90, contra o
apelado, pois ele figura como avalista do Sr. Elói Antônio Augusti (devedor
principal) no referido título de crédito.
Refere ter feito uma mediação com o devedor principal perante o
Tribunal de Mediação (juízo arbitral) na cidade de Farroupilha, quando
estipularam um novo modo de pagamento. Nesse ato, o avalista da nota
promissória não constou do termo lavrado entre as partes perante o referido
Tribunal. Ocorre que, alega, o devedor principal não satisfez toda a dívida.
Assim, diz que pretende, na presente ação de execução, conferir ineficácia a
decisão do tribunal arbitral – ante o descumprimento do termo pelo devedor
principal – e revalidar o título de crédito original. Deste modo, a obrigação do
avalista se manteria íntegra e legitimaria a execução ora extinta.
Defende não ter havido novação da dívida perante o juízo arbitral;
que a decisão ali proferida apenas confirmou a obrigação original, ratificando-a
implicitamente.
Requer o provimento do recurso e a reversão da decisão de
primeiro grau.
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Recebido o recurso à fl. 101, com contra-razões (fls. 103-10), os
autos foram remetidos ao Tribunal em 12.06.06 (fl. 111) e vieram conclusos à
minha Relatoria em 21.06.06 (fl. 112). Portanto, nesta primeira oportunidade,
encaminho os autos à douta Revisão e peço dia para julgamento.
É o breve relatório.
V O T O
Eminentes Colegas: recebo o recurso de apelação porquanto
presentes os pressupostos recursais de admissibilidade. No entanto, declino
desde logo que meu voto é pela manutenção da respeitável sentença proferida
pela douta magistrada, Dra. CAROLINA GRANZOTTO.
Nos termos da Lei nº 9.307/96, as pessoas capazes de contratar
poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos
patrimoniais disponíveis (art. 1º), observadas as seguintes diretrizes gerais:
“Art. 2º A arbitragem poderá ser de direito ou de eqüidade, a critério das partes.§1º Poderão as partes escolher, livremente, as regras de direito que serão
aplicadas na arbitragem, desde que não haja violação aos bons costumes e à ordem pública.
§2º Poderão, também, as partes convencionar que a arbitragem se realize com base nos princípios gerais de direito, nos usos e costumes e nas regras internacionais de comércio.”
No caso dos autos, dívida é representada por nota promissória
avalizada (fl. 24). Ocorre que essa dívida foi objeto de transação arbitral que
resultou no seguinte ajustamento: o devedor principal (ELÓI ANTÔNIO
AUGUSTI) pagaria ao credor (LAIR BORTOLOZZO ZUCCO) sessenta (60)
parcelas de R$100,00 até novembro de 2002 (fls. 27-31).
Saliente-se que a mediação foi feita apenas entre as partes
principais da obrigação. Não houve qualquer menção à figura do avalista
(DORVALINO AGUSTI), que também não participou das mencionadas
negociações.
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Assim, estipulou-se validamente nova forma de pagamento da
dívida original assumida por ELÓI ANTÔNIO AUGUSTI em face de LAIR
BORTOLOZZO ZUCCO.
Considerando que não houve a participação do avalista - que
anteriormente constava de forma expressa da nota promissória ora executada -
estimo não haver mais a possibilidade de se constituir a obrigação acessória
original.
O Direito Civil prevê a possibilidade de as partes realizarem
transação no intuito de propiciar mais rápida e eficazmente a paz social. Aliás,
esse é o espírito do instituto da transação, segundo o qual, “é lícito às partes
interessadas – buscar prevenir ou terminar litígios – mediante concessões
mútuas” (art. 840 do CCB/02).
Entretanto, veja-se que o Direito Civil não se restringe a instituir
uma prerrogativa às partes. Ao lado dessa prerrogativa, estabelece também
algumas restrições ao exercício do direito de transação. Dentre elas, destaco:
“Art. 843. A transação interpreta-se restritivamente, e por ela não se transmitem, apenas se declaram ou reconhecem direitos.”
“Art. 844. A transação não aproveita, nem prejudica senão aos que nela intervierem, ainda que diga respeito a coisa indivisível.
§ 1o Se for concluída entre o credor e o devedor, desobrigará o fiador.”
Com efeito, à vista dessa disciplina legal, considero que a decisão
recorrida deve ser mantida por seus próprios e jurídicos fundamentos, uma vez
que – de fato – o caso dos autos subsume-se à hipótese legal do §1º do art.
844 do CPC com perfeição.
Empregando interpretação restritiva à transação realizada entre
devedor principal e credor – a qual omitiu, por alguma circunstância, a pessoa
do avalista – reputo que a negociação havida entre eles não pode ser oposta
ao fiador originário. Deve, pois, restringir seus efeitos e exigibilidade aos
intervenientes da mediação.
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Até mesmo porque a pretensão do apelante, da forma como veio
deduzida, não procede.
O fato de o devedor principal não ter satisfeito o acordo que
assumiu perante o Tribunal Arbitral não revalida a nota promissória anterior, em
que figurava o avalista, uma vez que o compromisso arbitral não foi assumido
com a sua participação.
Quando as partes deixaram de incluir o avalista na mediação
arbitral, a obrigação secundária (de garantia) se extinguiu, não sendo viável –
em sede de execução, que pressupõe título líquido, certo e exigível – discutir-
se a validade da referida nota promissória.
Veja-se que, depois de ter assumido o compromisso arbitral, o
único título executivo que lhe resta é a nova obrigação assumida perante o
Tribunal Arbitral. Assim, em não sendo desconstituída a validade da referida
transação arbitral, é de ser mantida a posição perfilhada na r. sentença de
primeiro grau que desobriga o fiador que não participou do novo ajuste.
Por outro lado, apenas como argumentação de apoio, quisesse o
apelante discutir a validade da referida transação arbitral, a sede da ação
executiva não é o foro próprio.
Nos termos do art. 33 da Lei de Arbitragem, a parte interessada
poderá pleitear ao órgão do Poder Judiciário competente a decretação da
nulidade da sentença arbitral, nos casos previstos na Lei. Sendo que, nos
termos do §1º do art. 33, a demanda para a decretação de nulidade da
sentença arbitral seguirá o procedimento comum, previsto no Código de
Processo Civil, e deverá ser proposta no prazo de até noventa dias após o
recebimento da notificação da sentença arbitral ou de seu aditamento.
Isso posto, nego provimento ao recurso e mantenho a decisão
recorrida por seus próprios e jurídicos fundamentos.
É o voto.
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Desembargador Glênio José Wasserstein Hekman – De acordo.
Desembargador José Aquino Flôres de Camargo – De acordo.
DES. JOSÉ AQUINO FLÔRES DE CAMARGO - Presidente - Apelação Cível
nº 70015727472, Comarca de Farroupilha: "NEGARAM PROVIMENTO.
UNÂNIME."
Juíza de Direito da Sentença: Drª Carolina Granzotto.
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