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FEVEREIRO 2011 n WWW.CRN.COM.BR 48 OPINIÃO ESTÁ NA HORA DA DISRUPÇÃO NO BRASIL F iquei muito feliz quando estive em um workshop para presidentes de grandes empresas no mês passado e ouvi um presidente falar que “no Brasil, faltam estraté- gias de inovação disruptiva”.   Eu vivo uma frustração muito grande com este assunto... Neste ano se marca o 15º aniversario da publicação do livro mais importante sobre negócios – O dilema de inovação, de Clayton Christensen. Este li- vro é fundamental para entender a inovação e também a evolução de negócios de forma geral. O livro comprova, por meio de dados e pesquisas profundas, que a evolução de negócios acontece de uma forma muito dife- rente que a intuitivamente entendida. Vamos associar a evolução de negócios com o aumento de desempenho. Cada tipo de negócio tem suas dimensões de perfor- mance. Por exemplo, a de um banco pode ser: acesso ao capital, reputação, abrangência de acesso etc. O livro comprovou que exis- tem três maneiras de inovar, e que a tercei- ra – inovação “disruptiva”  (a qual é menos conhecida e mal-compreendida) é que cria a possibilidade de sobrevivência e crescimen- to ao longo prazo. Estes três são: 1. Aumentar a performance por meio de me- lhorias incrementais (chamada, às vezes, de “inovação incremental”) 2. Aumentar a performance via “um grande salto”(chamada, às ve- zes, de inovação “breakthrough ou radical”) 3. Mudar as dimensões de performance (o tipo de inovação que Christensen chamou de inovação “disruptiva”) Existe uma enorme confusão entre a segunda e a terceira. Em nosso exemplo do banco, o aumento de números de agências será uma inovação incremental, pois ajuda a dimensão de “abrangência de acesso” em uma forma incremental. Fazer transações financeiras pela internet (o chamado “banking online”) é uma inovação “break- through” ou “radical”, pois ele melhora a dimensão de performance de “abrangência de acesso” em uma forma não-incremental. Porem a inovação “disuptiva” fundamentalmente muda a dimensão de competição e não aumenta a performance atual. Se, por exemplo, a website da rede social “Facebook” começa a oferecer a possibilidade de fazer transferências de dinheiro diretamente entre os membros, esta pode ser uma inovação disruptiva. Mas isto não melhora o de- sempenho das dimensões atuais (acesso ao capital, reputação, abran- gência de acesso) em comparação com as soluções atuais (agência, bank-line etc.). Ao contrário, cria uma dimensão de performance (a possibilidade de transferir dinheiro sem intermediário).  A segunda importante característica de uma inovação disruptiva é que ela utiliza assimetrias de motivações para conseguir conquistar mercados novos.  Se o Facebook oferecer a possibilidade de transferência de dinheiro entre os membros, inicialmen- te os bancos não terão muito interesse em atacar a oferta por duas razões: 1. Mercado: Os tipos de clientes aproveitando este oferta provavelmente não são o mercado alvo para um banco (por falta de CPF limpo, emprego formal ou custo alto do banco); 2. Lucratividade: A alta estrutura de custo do banco (que Facebook não terá) não faria o banco muito interessado em uma oferta com valores tão baixos. Esta “assimetria” facilita inovação dis- ruptiva, pois competidores atuais não têm motivação de atacar quando os piores clientes (e não-clientes) estão com uma proposta fun- damentalmente diferente que tem baixa lucratividade pelo ponto de vista do incumbente (no caso, o banco). Eles têm motivação de ataque quando seus melhores clientes têm ofertas que aumentam a perfor- mance nas dimensões existentes e também aumentam a lucratividade. Os problemas do Brasil são amplamente entendendo por todo o mundo. O Brasil tem um custo alto e ainda falta infraestrutura, edu- cação, saúde e segurança. Se as estratégias de inovação disruptiva foram empregadas teremos condições de ter um solto de progresso em estes fatores importantes. Por ter uma confusão entre inovação “radical o breakthrough” (que aumenta a performance atual) e ino- vação disruptiva (que muda as dimensões) existe a falta de estraté- gias adequados para disrupção. Sem uma formatação deliberada e especifica para disrupção o curso natural e de sustentar as dimen- sões de performance atuais. Esta na hora para disrupção no Brasil. Kip Garland é o fundador da innovationSEED - "Learning to Innovate" e escreve mensalmente em CRN Brasil. [email protected] Foto: Ricardo Benichio

Inovação Disruptiva

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Page 1: Inovação Disruptiva

fevereiro 2011 n www.crn.com.br48

opinião

Está na hora dadisrupção no Brasil

Fiquei muito feliz quando estive em um workshop para presidentes de grandes empresas no mês passado  e ouvi um presidente falar que “no Brasil, faltam estraté-gias de inovação disruptiva”.   

Eu vivo uma frustração muito grande com este assunto...

Neste ano se marca o 15º aniversario da publicação do livro mais importante sobre negócios – O dilema de inovação, de Clayton Christensen. Este li-vro é fundamental para entender a inovação e também a evolução de negócios de forma geral. O livro comprova, por meio de dados e pesquisas profundas, que a evolução de negócios acontece de uma forma muito dife-rente que a intuitivamente entendida. 

Vamos associar a evolução de negócios com o aumento de desempenho.  Cada tipo de negócio tem suas dimensões de perfor-mance.  Por exemplo, a de um banco pode ser: acesso ao capital, reputação, abrangência de acesso etc. O livro comprovou que exis-tem três maneiras de inovar, e que a tercei-ra – inovação “disruptiva”   (a qual é menos conhecida e mal-compreendida) é  que cria a possibilidade  de sobrevivência e crescimen-to ao longo prazo.  Estes três são: 1. Aumentar a performance por meio de me-lhorias incrementais (chamada, às vezes, de “inovação incremental”)2. Aumentar  a performance via “um grande salto”(chamada, às ve-zes, de inovação “breakthrough ou  radical”)3. Mudar as dimensões de performance (o tipo de inovação que Christensen chamou de inovação “disruptiva”)

Existe uma enorme confusão entre a segunda e a terceira.  Em nosso exemplo do banco, o aumento de números de agências será uma inovação incremental, pois ajuda a dimensão de “abrangência de acesso” em uma forma incremental.  Fazer transações financeiras pela internet (o chamado “banking online”) é uma inovação “break-through” ou  “radical”, pois ele melhora a dimensão de performance de “abrangência de acesso” em uma forma não-incremental.  Porem a inovação “disuptiva”  fundamentalmente muda a dimensão de competição e não aumenta a performance atual.  Se, por exemplo, a

website da rede social “Facebook” começa a oferecer a possibilidade de fazer transferências de dinheiro diretamente entre os membros, esta pode ser uma inovação disruptiva.  Mas isto não melhora o de-sempenho das dimensões atuais (acesso ao capital, reputação, abran-gência de acesso) em comparação com as soluções atuais (agência, bank-line etc.). Ao contrário, cria uma dimensão de performance (a possibilidade de transferir dinheiro sem intermediário).  

A segunda importante característica de uma inovação disruptiva é que ela utiliza assimetrias de motivações para conseguir conquistar mercados novos.  Se o Facebook oferecer a possibilidade de transferência de dinheiro entre os membros,  inicialmen-te os bancos não terão muito interesse em atacar a oferta por duas razões:1. Mercado: Os tipos de clientes aproveitando este oferta provavelmente não são o mercado alvo para um banco (por falta de CPF limpo, emprego formal ou custo alto do banco);2. Lucratividade: A alta estrutura de custo do banco (que Facebook não terá) não faria o banco muito interessado em uma oferta com valores tão baixos.

Esta “assimetria” facilita inovação dis-ruptiva, pois competidores atuais não têm motivação de atacar quando os piores clientes (e não-clientes) estão com uma proposta fun-

damentalmente diferente que tem baixa lucratividade pelo ponto de vista do incumbente (no caso, o banco). Eles têm motivação de ataque quando seus melhores clientes têm ofertas que aumentam a perfor-mance nas dimensões existentes e também aumentam a lucratividade. 

Os problemas do Brasil são amplamente entendendo por todo o mundo.  O Brasil tem um custo alto e ainda falta infraestrutura, edu-cação, saúde e segurança.  Se as estratégias de inovação disruptiva foram empregadas teremos condições de ter um solto de progresso em estes fatores importantes.  Por ter uma confusão entre inovação “radical o breakthrough” (que aumenta a performance atual) e ino-vação disruptiva (que muda as dimensões) existe a falta de estraté-gias adequados para  disrupção.  Sem uma formatação deliberada e especifica para disrupção o curso natural e de sustentar as dimen-sões de performance atuais.  Esta na hora para disrupção no Brasil.

Kip Garland é o fundador da innovationsEEd - "learning toinnovate" e escreve mensalmente em Crn [email protected]

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