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DIRECTOR JORGE CASTILHO | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado (DE53742006MPC) ANO III N.º 57 (II série) 10 a 23 de Setembro de 2008 1 euro (iva incluído) Telef.: 239 854 150 Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA Portugal sem Esperanças mas com ouro DESPORTO PÁG. 6 SAÚDE DIZ VITAL MOREIRA PÁG. 7 PÁG. 17 Lucas Pires inspirou Constituição de 1976 Transplantes cocleares: Coimbra na liderança PÁG. 2 PÁG. 3 POLÉMICA PÁG. 11 a 13 PÁG. 14 Ex-Vice pede demissão de Carlos Encarnação Reunião internacional debate problemas dos mais idosos EXPOVITA SÉNIOR EM CONÍMBRIGA SÓCRATES EUFÓRICO COM A EDUCAÇÃO Ministra alerta para eventuais abusos de algumas escolas Veto provoca divórcio entre PS e Cavaco O confronto entre o ex-Vice Presidente da Câmara de Coimbra, Horácio Pina Prata, e o Presidente, Carlos Encarnação, conheceu ontem mais um episódio, com Pina Prata a exortar Encarnação a que abandone a autarquia, acusando-o de não ter condições para liderar a cidade e a Região. Pina Prata foi ainda mais longe, afirmando que Encarnação “deveria ponderar a sua saída antes de acabar por destruir as entidades e esta cidade”. Carlos Encarnação escusou-se a comentar mais este violento ataque do seu colega de partido. PÁG. 2

O Centro - n.º 57 – 10.09.2008

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Page 1: O Centro - n.º 57 – 10.09.2008

DIRECTOR JORGE CASTILHO

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |Autorizado a circular em invólucrode plástico fechado (DE53742006MPC)

ANO III N.º 57 (II série) 10 a 23 de Setembro de 2008 � 1 euro (iva incluído)

Telef.: 239 854 150Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA

Portugal semEsperançasmascom ouro

DESPORTO

PÁG. 6

SAÚDE DIZ VITAL MOREIRA

PÁG. 7PÁG. 17

Lucas PiresinspirouConstituiçãode 1976

Transplantescocleares:Coimbrana liderança

PÁG. 2

PÁG. 3

POLÉMICA

PÁG. 11 a 13

PÁG. 14

Ex-Vice pede demissãode Carlos Encarnação Reunião internacional

debate problemasdos mais idosos

EXPOVITA SÉNIOR EM CONÍMBRIGA

SÓCRATES EUFÓRICO COM A EDUCAÇÃO

Ministra alerta para eventuaisabusos de algumas escolas

Veto provocadivórcioentre PSe Cavaco

O confronto entre o ex-Vice Presidente da Câmara de Coimbra, Horácio PinaPrata, e o Presidente, Carlos Encarnação, conheceu ontem mais um episódio,com Pina Prata a exortar Encarnação a que abandone a autarquia, acusando-ode não ter condições para liderar a cidade e a Região.Pina Prata foi ainda mais longe, afirmando que Encarnação “deveria ponderara sua saída antes de acabar por destruir as entidades e esta cidade”.Carlos Encarnação escusou-se a comentar mais este violento ataquedo seu colega de partido. PÁG. 2

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2 10 A 23 DE SETEMBRO DE 2008COIMBRA

Director: Jorge Castilho(Carteira Profissional n.º 99)

Propriedade: AudimprensaNif: 501 863 109

Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho

Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930

Composição e montagem: AudimprensaRua da Sofia, 95, 3.º - 3000-390 CoimbraTelefone: 239 854 150 - Fax: 239 854 154

e-mail: [email protected]

Impressão: CIC - CORAZEOliveira de AzeméisDepósito legal n.º 250930/06

Tiragem: 10.000 exemplares

O vereador social-democrata da Câma-ra de Coimbra Pina Prata desafiou ontem(terça-feira) o presidente Carlos Encarna-ção, também do PSD, a abandonar a au-tarquia, acusando-o de não ter condiçõespara liderar a cidade e a região.

Na reunião quinzenal da CâmaraMunicipal, após ter feito várias críti-cas à gestão de Carlos Encarnação,Horácio Pina Prata disse que o Presi-dente, que assumiu este ano pretendercandidatar-se a um terceiro mandato,em 2009, “deveria ponderar a sua saí-da antes de acabar por destruir as en-tidades e esta cidade”.

Encarnação, segundo o vereador, “re-vela ter vindo a perder capacidades deliderar uma cidade e região”.

Pina Prata foi Vice-Presidente daCâmara de Coimbra até ao Verão de2006, quando, devido a divergências po-líticas com Encarnação, no seio do PSD,

CONFRONTO AGRAVA-SE NA CÂMARA DE COIMBRA

Pina Prata desafia Encarnaçãoa abandonar a presidência

este o fez substituir no cargo pelo verea-dor João Rebelo.

Há alguns meses, Pina Prata anunciouestar disponível para protagonizar umacandidatura alternativa à Câmara deCoimbra nas próximas autárquicas.

O processo de instalação da CoimbraInovação Parque (iParque) e a anuncia-da construção de uma central térmica deciclo combinado em Taveiro, aprovadaem Agosto pela maioria PSD-CDS-PPMe pela CDU, foram algumas situaçõescriticadas pelo antigo “número dois” doexecutivo.

Na sua opinião, formalizada num do-cumento distribuído aos jornalistas, es-tes “são claros exemplos” de que o pre-sidente da Câmara “revela desnorte efalta de democracia”.

Aludiu ainda a “incongruências e con-tradições no urbanismo”, associadas,designadamente, às diferentes decisões

camarárias sobre o traçado urbano dometro ligeiro de superfície previsto paraa zona da Solum e Casa Branca.

Anteontem (segunda-feira), a assem-bleia-geral da iParque rejeitou o nomedo médico Nuno Freitas, presidente daagência de desenvolvimento regionalCoimbraVita, para o conselho de admi-nistração daquela sociedade lideradapela autarquia, accionista maioritário, logoseguida da CoimbraVita, com 20 por cen-to do capital.

Ontem, no final da sessão da Câma-ra, Carlos Encarnação optou por nãocomentar as acusações de Pina Prata.

“Não dou qualquer valor às declara-ções do engenheiro Pina Prata”, disseaos jornalistas.

Por outro lado, Carlos Encarnaçãoreiterou à agência Lusa que, por serPresidente da Assembleia Geral daiParque, não participou pessoalmente,

com o seu voto, na recusa do nome deNuno Freitas, aprovada pela maioriados accionistas, incluindo o represen-tante do município.

O Presidente da Câmara, recordandoque é também Presidente da Assembleia-Geral da CoimbraVita, sublinhou ter apoi-ado este ano a eleição de Nuno Freitaspara Presidente do Conselho de Admi-nistração desta entidade.

Vereador da autarquia no primeiromandato de Encarnação na Câmarade Coimbra (2001-2005) e antigo pre-sidente do Instituto da Droga e da To-xicodependência (IDT), Nuno Freitasassume que tem “divergências políti-cas” com Carlos Encarnação no seiodo PSD.

A CoimbraVita deverá tomar aindaesta semana uma posição sobre a recu-sa do nome proposto como seu repre-sentante na administração da iParque.

LEI PROVOCA “DIVÓRCIO” ENTRE CAVACO SILVA E PS

PR pede aos portuguesespara não ficarem por “deturpações”e lerem mensagem que enviou à AR

O Presidente da República pediu on-tem (terça-feira) a “quem quiser conhe-cer as verdadeiras razões” do veto à Leido Divórcio e não ficar por “deturpações”que tenham sido ditas ou escritas, paraconsultar a mensagem que foi enviada ao

Parlamento. “Peço aos portugueses queleiam na íntegra o que escrevi e enviei àAssembleia da República”, afirmou o che-fe de Estado, Aníbal Cavaco Silva, quan-do questionado pelos jornalistas sobre asalterações que o PS anunciou que irá in-troduzir à nova Lei do Divórcio.

Cavaco Silva, que começou por dizeraos jornalistas que o Presidente da Re-pública “não faz comentários sobre ques-tões partidárias”, acabou, contudo, porfalar sobre o seu veto à Lei do Divórcio,pedindo para que a mensagem que en-viou à Assembleia da República quandodevolveu o diploma seja lida na íntegra.

“Quem quiser conhecer as verdadei-ras razões do veto do Presidente da Re-pública e não ficar por eventuais detur-pações que tenham sido ditas ou escri-tas deve consultar a página da Internetda Presidência que tem lá a mensagemque enviei à Assembleia da República naíntegra”, disse.

“É isso que peço aos portugueses”,acrescentou ainda Cavaco Silva, que fa-lava aos jornalistas à saída da cerimóniade apresentação do Prémio Champali-

maud de Visão 2008.O líder parlamentar do PS, Alberto

Martins, assumiu segunda-feira divergên-cias com o Presidente da República so-bre a lei do divórcio e afirmou que emPortugal acabará a violação culposa dosdeveres conjugais como motivo de dis-solução do casamento.

“O grupo parlamentar do PS vai man-ter no essencial o seu projecto de lei.Mantemos a ideia de que a dissoluçãodo casamento é independente da culpa”,sublinhou o líder da bancada socialista.

As declarações de Alberto Martinsforam proferidas após uma reunião dadirecção do grupo parlamentar do PS, naqual ficou decidido que os socialistasmanterão grande parte do seu projectode lei sobre o divórcio, diploma que foialvo de veto político por parte do chefede Estado.

Face aos motivos invocados pelo Pre-sidente da República para vetar o diplo-ma referente à lei do divórcio, AlbertoMartins adiantou que os socialistas estãoapenas dispostos a fazer “uma aclaraçãode um preceito relativo aos créditos de

compensação em caso de divórcio”.“Trata-se de casos em que a mulher,

ou o homem, abandona a sua vida pro-fissional para cuidar dos filhos e com issofaz uma contribuição significativa para avida em comum. Se houver dissoluçãodo casamento, quem fez essa opção terádireito a uma compensação”, precisouAlberto Martins.

No entanto, sublinhou Alberto Martins,“todos os restantes artigos do diploma,cerca de 50, o PS vai mantê-los”.

Hoje, no debate parlamentar que seseguiu à leitura da mensagem que Ca-vaco Silva enviou à Assembleia, AlbertoMartins reiterou que os socialistas estãoem desacordo com o Presidente da Re-pública em relação às concepções defamília, casamento e divórcio, apenas semostrando disponível para “aclarar” nalei o preceito referente à compensação.

“Vamos aclarar o ponto relativo à com-pensação de crédito. Mas não se tratada ideia primária e abusiva de estarmosagora a contar os tostões que cada umdeu nos anos de casamento”, frisou o lí-der da bancada socialista.

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310 A 23 DE SETEMBRO DE 2008 NACIONAL

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Cada um destes distritos é repre-sentado por um elemento (remeten-do para o respectivo património his-tórico, arquitectónico ou natural).

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ma tão original, está a desabrochar,simbolizando o crescente desenvolvi-mento desta Região Centro de Portu-gal, tão rica de potencialidades, de His-tória, de Cultura, de património arqui-tectónico, de deslumbrantes paisagens(desde as praias magníficas até às ser-ras imponentes) e, ainda, de gente hos-pitaleira e trabalhadora.

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“EXPOVITA SÉNIOR” ENTRE OS PRÓXIMOS DIAS 25 E 27, EM CONÍMBRIGA

Debate internacional sobre problemas dos idosos“Expovita Sénior” é a designação da

iniciativa internacional que vai decorrerem Conímbriga entre os próximos dias25 e 27, visando analisar as diversas ver-tentes da problemática da populaçãomais idosa.

Tendo como presidente da comissãoorganizadora Salvador Massano Cardo-so, Professor da Faculdade de Medici-na da Universidade de Coimbra, a “Ex-povita Sénior”, segundo os seus promo-tores, “será dedicada às problemáticasdo envelhecimento da população eapresentará tripla dimensão: formativa,científica e empresarial”.

As sessões decorrerão no auditóriodo Museu Monográfico de Conímbriga,espeando-se a participação, entre ou-tras entidades, do Ministro do Trabalhoe Solidariedade, do Alto Comissariadopara a Saúde, da presidente da Comis-são de Saúde da Assembleia da Repú-blica, além dos principais representan-tes da administração pública, IPSSs,grupos empresariais, etc. ligadas ao sec-tor dos cuidados continuados e do apoio

aos idosos.Segundo os organizadores, “o ob-

jectivo é marcar a actualidade infor-mativa, promovendo a discussão des-te tema a nível nacional, nas suasmúltiplas valências”.

Assim, o programa da “ExpovitaSénior” é composto por uma confe-rência internacional sobre telemedici-na, uma mostra empresarial e institu-cional e mesas redondas.

O primeiro dia, 25 de Setembro, serádedicado à conferência científica inter-nacional, estando previstas intervençõesquer presenciais quer por videoconfe-rência, envolvendo representantes dasautoridades de saúde da Inglaterra, Itá-lia, França, Suécia e EUA.

O primeiro painel, a decorrer na ma-nhã do dia 26 de Setembro, terá comotema “Envelhecer com Ética” e conta-rá com a participação de Agostinho Al-meida Santos, Alfredo Reis, AnabelaMota Pinto, Fernanda Cravidão, Kali-dás Barreto Mário Ruivo e Rui Nunes.A moderação está a cargo do jornalista

Jorge Castilho.“Arte de Envelhecer” é o título do

segundo painel do dia 26 e terá comoparticipantes convidados: Adília Alarcão,António Arnaut, Agustin Casales, JoséRibeiro Ferreira, Maria Pedroso Limae Mário Silva. O moderador será o jor-nalista Lino Vinhal.

No dia 27 o debate continua com maisduas mesas redondas. Da parte da ma-nhã o tema em discussão será “Enve-lhecimento activo - Turismo de Saúde/Turismo Ambiental”. José Leitão Ferrei-ra, padre Idalino Simões, João Fernan-des, Joel Almeida, Luísa Cunha Vaz,Pedro Machado, Polybio Serra e Silva eLuís Oliveira serão os intervenientes. Amoderação será assegurada pelo jorna-lista Soares Rebelo.

À tarde o tema em debate será “Polí-tica para o Envelhecimento” e contarácom a participação de Helena Saldanha,Henrique Fernandes, Jaime Ramos, InêsGuerreiro, Manuel Lemos, Vasco Costae Hernâni Caniço. A moderação caberáao jornalista João Luís Campos.

A “Expovita Sénior” é uma organiza-ção conjunta da ANAI – AssociaçãoNacional de Apoio ao Idoso, ASP – As-sociação Saúde em Português, CEFOP-LAC – Centro de Formação e Liga deAmigos de Conimbriga, EUTAP – Eu-ropean Telemedecine Project Commit-tee, EUTAP Industry Council StrategicBusiness Series, Fundação Bissaya Bar-reto, Hospital da Misericórdia da Mea-lhada, INATEL, INVESVITA, e Speci-al Interest Groups & Chapters Teleme-dicine, a que poderão ainda juntar-seoutras instituições.

De acordo com os organizadores,“concluídos os trabalhos, a Expovita Sé-nior pretende apresentar um documen-to, que designa por Declaração de Co-nimbriga, síntese dos temas debatidos,avançando com propostas concretascom vista a aumentar a qualidade devida da população nesta faixa etária eos serviços prestados pela administra-ção pública e as empresas, promoven-do ainda o empreendorismo e novasbolsas de emprego”.

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4 10 A 23 DE SETEMBRO DE 2008MUNDO ANIMAL

Salvador St.AubynMascarenhasMédico Veteriná[email protected]

A Leishmaniose canina é uma doençaincontornável no panorama das doenças queafectam os cães na zona da bacia do Mon-dego, sendo endémica nesta região. Afectageralmente cães com mais de um ano deidade. Além disso é uma zoonose, ou seja, étransmissível ao homem, principalmente àspessoas imunodeficientes.

O agente responsável por esta doençaé a Leishmania, um protozoário que étransmitido normalmente entre o animalinfectado e o são por um mosquito que éconhecido por mosca de areia, apesar denão ser mosca nenhuma, mas sim ummosquito muito pequenino que se chamaPhlebotomus perniciosus, pelo nome,um mau mosquito.

O simples contacto entre um animal in-fectado e um são não transmite a doença, anão ser que se misture o sangue dos doisanimais, que é o que o mosquito faz. Estemosquito reproduz-se em solos húmidoscontendo matéria orgânica e durante osmeses quentes do ano. A sua actividadenormalmente restringe-se a um raio de cer-ca de 1km da zona de reprodução e atacaos nossos animais ao crepúsculo (segundo

Desde o passado dia 1 de Julho, a apli-cação de um microchip é obrigatória paratodos os cães nascidos após essa data.

A Identificação Electrónica é um dosmeios usados desde há 15 anos no conti-nente europeu para diminuir a perda ouroubo de cães e gatos, consistindo nacolocação, sob a pele do animal, de ummicrochip com um número de identifica-ção único no mundo, registado em umabase de dados que tem o seu contacto.

Muito eficaz em caso de furtos ouperdas de animais, o microchip tem asdimensões aproximadas de um bago dearroz, não constituindo incómodo para oanimal. Podem ser colocados em cães,gatos, animais exóticos e aves.

O método consiste na introdução, soba pele do animal, de um microchip con-tendo um código de identificação de lei-tura óptica, o qual passará a constar deuma base de dados nacional, onde cons-tará também a identificação do seu de-tentor. É impossível a sua detecção eremoção (excepto com o uso de um lei-tor próprio).

Existem duas bases de dados presen-temente em Portugal:

1- Uma base de dados do Sindicatodos Médicos Veterinários (SIRA). Quan-do desaparece um animal, o dono ou oveterinário assistente comunica ao Sin-dicato dos Médicos Veterinários e esteemite uma circular com o número do chip

Obrigatória a colocação de chipem todos os cães nascidosdepois de 1 de Julho

e os dados do animal desaparecido a to-das as clínicas veterinárias, tornando as-sim impossível a passagem indetectadado animal por elas.

2- Um outra base criada pelo Estado,que é o Sistema de Identificação de Ca-ninos e Felinos (SICAFE).

A SICAFE foi criada pelo Decreto-Lei n.º 313/2003, no âmbito do qual seestabelece a obrigatoriedade de identifi-cação electrónica de cães e gatos e oseu registo numa base de dados nacio-nal: Condição que se tornou obrigatória,a partir de Julho de 2004, para todos oscães utilizados na caça bem como oscães perigosos ou potencialmente peri-gosos e os cães em exposição, para finscomerciais ou lucrativos, em estabeleci-mentos de venda, locais de criação, fei-ras, concursos, provas funcionais, publi-

cidade ou similares.Pretende-se, assim, estabelecer, de

forma inequívoca, a relação entre o ani-mal e o detentor, tendo como principalobjectivo a prevenção do abandono deanimais.

Além disso, possui objectivos sanitá-rios, visando a defesa da saúde públicaatravés do controlo das populações ca-ninas e felinas; jurídicos, no sentido deresponsabilizar detentores por danos queos animais possam causar; e zootécni-

A Leishmaniose Caninaa wikipédia, naqueles instantes em que o céupróximo ao horizonte, no poente ou no nas-cente, toma uma cor gradiente, entre o azuldo dia e o escuro da noite).

A Leishmania ao entrar no corpo do cãoatravés da picada do mosquito e ser fagoci-tado pelos glóbulos brancos, vai-se multipli-car dentro deles e destruí-los provocandono animal a doença. O período de incuba-ção pode ir de 3 meses a muitos anos.

Os sintomas observados num cão afec-tado pela Leishmaniose são vários e podemaparecer isolados ou em conjunto:

Desde a simples descamação da pele(caspa); peladas à volta dos olhos que seestendem ao nariz e às orelhas; feridas quedemoram a cicatrizar, principalmente nosmembros; conjuntivite; unhas muito cresci-das, apesar de o animal passear em terrenoque normalmente desgasta as unhas; hiper-trofia dos gânglios linfáticos, sangramentopelo nariz; artrite em vários membros; faltade apetite e emagrecimento progressivo;animais que passam a beber muito maiságua que o normal (quando já há insuficiên-cia renal); diarreia e anemia.

O diagnóstico da doença normalmente é

feito através de análises do sangue. Exis-tem uns testes rápidos, semelhantes aos tes-tes da gravidez, mas que depois deverão serconfirmados através de uma análise labora-torial mais precisa.

A doença no cão não tem cura,Mas tem controlo se o animal ainda não

tiver lesões irreversíveis de órgãos impor-tantes, como os rins e o fígado.

Mas mesmo depois de controlada a do-ença, o animal deverá periodicamenteefectuar análises, e além disso há uma me-dicação que terá de ser feita em toda a suavida restante.

O tratamento é feito ou através de injec-ções subcutâneas diárias de Glucantime,durante um mês, ou pela administração doMilteforam, através da comida, também di-ariamente e por um mês. Ao mesmo tem-po, o seu amigo de quatro patas deverá re-ceber todos os dias comprimidos de allopu-rinol (que em medicina humana servem paratratar a gota mas também impede a Leish-mania de se multiplicar nos cães), por todaa vida, em maior ou menor dose, consoanteo estado da doença.

Não existe uma prevenção cem por cen-

to eficaz contra a Leishmaniose, visto ain-da não haver uma vacina na Europa paraesta doença.

O que se deve fazer é aplicar um repe-lente de mosquitos no animal, como a colei-ra Scalibor que apresenta uma duração de6 meses e as pipetas mensais de Pulvex eAdvantix. Os animais afectados devemtambém usar um repelente para evitar asua reinfecção e também que infectemos outros.

Aconselhamos o despiste anual daLeishmaniose ao seu companheiro caninoquando ele vai fazer as suas vacinas anu-ais, porque a chave para o combate dadoença está no seu diagnóstico precoce,mesmo antes de apresentar sintomas, parapoder ser controlada, porque senão serátarde demais para um amigo que nos dámuitas alegrias.

Por fim, depois de todo esse quadro ne-gro, posso dizer-vos que temos muitos paci-entes que têm a Leishmaniose controlada eboa qualidade de vida, apesar de sua pro-vecta idade, como é o caso do Lord, umpastor alemão em que ele e o dono são osmelhores amigos.

O tamanho do pequeno chipcomparado com grãos de arroz

cos, visando um eficaz controlo da cria-ção e comercialização dos animais.

A identificação deve ser efectuada apartir dos 3 meses de idade do animal(entre os 3 e os 6 meses quando se tratade um animal jovem) e só pode ser efec-tuada por um médico veterinário.

Depois de identificado o animal, omédico veterinário deve preencher umaficha de registo e o boletim sanitário doanimal.

Animal identificado é animal protegido.

Com o chip o cão fica mais seguro e os donos mais tranquilos

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510 A 23 DE SETEMBRO DE 2008 CULTURA

Rui Namorado(professor universitário)

http://ograndezoo.blogspot.com

Os conceitos nebulosos nunca abando-naram a cena política internacional, masquando há uma crise mais grave eles reto-mam um viço mais intenso. É o que está aacontecer com a crise russo-georgiana.

Passou a falar-se muito no “ocidente”,bem como na “comunidade internacional”.Vi diversos representantes dos USA e daUnião Europeia, a afirmar que a “comuni-dade internacional” acha isto e aquilo, ouque o “ocidente” pensa desta ou daquelamaneira. Para além de se poder discutir apropriedade e o sentido de cada um dessesconceitos, na circunstância concreta eles sãoapenas conceitos-propaganda que têm comoprincipal função suscitar a ideia de que asposições dos USA e da União Europeia nãosão apenas de uns e outra, mas são umaespécie de consenso mundial partilhado pe-los povos do mundo.

Mas pode perguntar-se: em que cir-cunstâncias outros povos e outros paísesdelegaram nesses porta-vozes a legitimi-dade para difundirem como universaisessas posições?

E, no entanto, para não falar na invasãodo Iraque, decidida contra a lei internacio-nal com base em mentiras hoje universal-mente conhecidas como tais, qualquer cri-ança com bom senso teria percebido, quan-do os USA e a União Europeia decretaram

A guerra e a paz

a amputação da Sérvia, reconhecendo a in-dependência do Kosovo ao arrepio do direi-to internacional, que se estava a legitimar(ou até a estimular) procedimentos idênti-cos em casos semelhantes.

Ainda por cima, a Geórgia (país com aterceira maior força de ocupação no Ira-que) atacou brutalmente a capital da Os-sétia do Sul, arrasando uma parte da cida-de, rompendo um status quo com mais deuma dezena de anos, protegido por umaforça de manutenção de paz russa, legiti-mada pela comunidade internacional coma concordância da Geórgia.

Basta que pensemos o que significaria,em termos de credibilidade internacional ede dignidade política, o facto de os russosterem aceite a reocupação violenta da Os-sétia sem reagirem, deixando que se rom-pesse pelo uso da força a situação existen-te. Os USA e a União Europeia teriam fica-do de braços cruzados se a Sérvia tivesseinvadido o Kosovo, quando este se decla-rou unilateralmente independente?

Se misturarmos esta questão com o es-cudo antimíssil, que está a ser preparado

pelos USA na Europa Oriental, fica claroque há aqui um perfume de política imperialque sublinha pelo seu primarismo a via de-sastrada seguida pelo “bushismo” agonizantee mostra como a União Europeia está hojecarecida de políticos capazes de lhe dese-nharem um perfil autónomo na cena inter-nacional.

E é particularmente triste verificar que,pelo menos neste campo, a InternacionalSocialista, como suporte de uma visão pró-pria da conjuntura mundial, parece não existir.

Muito se pode especular sobre os cálcu-los manhosos das lideranças georgianas ounorte-americanas para levarem a acabouma provocação tão grosseira nesta oca-sião. Será que o crucial foi aproveitar estesmeses, que Bush ainda tem, para fechardossiers ou para deixar aos vindouros he-ranças envenenadas?

Enfim, a paz ficou mais distantes e Gor-bachov já alertou para um risco de guerraque se julgava esconjurado pelo fim da“guerra fria”.

Afeganistão, Iraque, Kosovo, Geórgia,Palestina são epifenómenos da injustiça que

ainda predomina no mundo actual, gerandoconflitos que depois se não encerram nemresolvem.

O desastre das administrações “bushis-tas”, a anemia política da União Europeia,as saudades imperiais da Rússia, o produti-vismo nacionalista chinês e a leveza estra-tégica de alguns países emergentes, fizeramo mundo recuar em termos civilizacionaisna última década, mergulhando-o em guer-ras parcelares e parecendo ressuscitar o ris-co da guerra global.

A esquerda socialista, a InternacionalSocialista, se não quiser correr o risco de setornar definitivamente irrelevante, não podecontinuar politicamente anémica na arenainternacional. Tem que construir uma políti-ca própria e autónoma de paz e de liberda-de. Não podemos continuar a deixar-nosguiar pela dialéctica cega dos poderes defacto dos impérios económicos, encabeça-da politicamente por oligarquias broncas ereaccionárias.

Caminhar para a liberdade e para a auto-determinação de todos os povos, através deuma via pacífica, subordinada ao direito in-ternacional e a uma ética de convivênciauniversal, é uma opção muito difícil, mas nãotem alternativa. E se os povos e os paísesse relacionarem com mais justiça e comrespeito pela liberdade de todos eles, numquadro geopolítico solidário, os caminhosdifíceis ficarão mais fáceis.

Se continuarmos aprisionados em bata-lhas de propaganda que são caricaturas darealidade, ofendem a inteligência e acica-tam ódios e ressentimentos, só podemos comrealismo esperar do futuro o pior.

Decorre depois de amanhã (sexta-feira),pelas 17 horas, no Jardim Botânico da Uni-versidade de Coimbra, o lançamento da obraintitulada “A mesma origem nocturna. Es-culturas de Rui Chafes no Jardim Botâni-co”. O livro é o catálogo da exposição como mesmo nome, patente no Jardim Botâni-co até à próxima segunda feira (dia 15).Paraa Directora do Jardim Botânico, HelenaFreitas, a referida exposição “conjuga a be-leza das obras de arte de Rui Chafes com ariqueza também artística de uma naturezatrabalhada pela mão do Homem. O queparecia um desafio difícil de concretizar naausência física dos objectos, foi conseguidopelo modo extraordinário e espontâneocomo o escultor encontrava cada recantonatural mais apropriado para partilhar o en-cantamento de uma simbiose imediata coma sua obra”

Por seu turno, Delfim Sardo sustenta que“a sensação de quem caminha pelo JardimBotânico é a de que estas obras sempre aliestiveram, que pertencem à estrutura vee-mentemente racional do Jardim, que cum-

UNIVERSIDADE DE COIMBRA PUBLICA CATÁLOGO

Esculturas de Rui Chafes no Jardim Botânico

prem uma função: a de se definirem comomomentos assertivos e dúcteis ao longo damovimentação peripatética para a qual osjardins em geral são edificados”.Também oPró-Reitor António Filipe Pimentel conside-ra que “Chafes é, de momento, através dasua obra, como o rapaz de bronze da histo-riazinha de Sophia, o génio tutelar deste jar-dim. Com a sua presença reforçando a per-pétua metáfora que ele mesmo constitui

sobre a indeclinável complementaridadeentre razão e emoção”.

Rui Chafes nasceu em Lisboa em 1966.Estudou Escultura na Universidade Lisboaem meados da década de 80 e, entre 1990 e1992, frequentou a Kunstakademie de Düs-seldorf, na Alemanha. Actualmente, vive etrabalha em Lisboa. Expondo regularmentedesde meados da década de 80, cedo con-solidou um percurso que conta já com múl-

tiplas exposições em Portugal e no estran-geiro. Em Portugal, já expôs individualmen-te em algumas das mais importantes insti-tuições e muitas obras suas integram osmais relevantes acervos públicos e priva-dos, como a Colecção Berardo e os doMuseu de Serralves, do Centro de ArteModerna da Fundação Calouste Gulbenki-an, do Museu do Chiado, do Centro de Ar-tes Visuais, da Fundação Ellipse, da FLAD,da Caixa Geral de Depósitos e do BancoPrivado Português. No estrangeiro, expôsindividualmente em instituições como oS.M.A.K. (Gent, Bélgica), o Museum Fo-lkwang (Essen, Alemanha), o Nikolaj Co-penhagen Contemporary Art Center (Co-penhaga, Dinamarca), a Fondazione Volu-me! (Roma, Itália) e a Fundação Eva Kla-bin (Rio de Janeiro, Brasil), e diversas obrassuas integram os acervos de museus comoo S.M.A.K. (Gent, Bélgica), o MuseumFolkwang (Essen, Alemanha), o Museumvoor Moderne Kunst (Arnhem, Holanda) eo Museo Nacional Centro de Arte ReinaSofia (Madrid, Espanha).

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6 10 A 23 DE SETEMBRO DE 2008INTERNACIONAL

Fiodor Lukyanov *

* in revista A Rússia na Política Global

A «guerra de 5 dias» entre a Geórgia e aRússia significa o início de uma nova etapado desenvolvimento no espaço da ex-URSSe vai influir, com certeza, na política global.A concorrência geopolítica pela herançasoviética, que começou logo após o fim da«guerra fria», acaba de receber uma fortecomponente militar. Moscovo – pronta ecapaz de recorrer a uso de força fora dassuas fronteiras – é uma nova realidade. Etodos os seus parceiros – tanto os paísesvizinhos, como as principais potências mun-diais – ver-se-ão obrigados a procuraremrespostas para esta situação.

ENTRE NATO E RÚSSIA

Aos Estados vizinhos da Rússia coloca-se a questão de como garantir a sua própriasegurança. Exitem apenas duas variantes:

– Optar pela protecção de grandes po-tências fora da região. E tentar receber de-las não apenas uma protecção ideológicaou política, que já são abundantes, mas sim,plenas garantias de segurança.

– Concluir acordos e tratados com aRússia com vista a receber as garantias deMoscovo. Com isto prevenir-se contra ame-aças externas e evitar uma deterioração dasrelações com o poderoso vizinho.

Quanto à primeira opção, o parceiro maisnatural podia ser a NATO. Mas os aconte-cimentos dos últimos meses mostram que

Novos tempos no espaço pós-soviéticomesmo uma pressão máxima dos EUA éincapaz de desfazer os receios dos alia-dos europeus. As grandes potências eu-ropeias procuram evitar, custe o que cus-tar, envolver-se em quaisquer conflitos epreferem não se aproximar da Geórgia eda Ucrânia contra a vontade de Mosco-vo. Depois da guerra na Ossétia do Sul,que deflagrou em 8 de Agosto, no primei-ro dia das Olimpíadas em Pequim, estasdisposições irão ganhar força.

Pelos vistos, a única força capaz de dargarantias aos Estados Independentes se-riam os EUA. É sobejamente conhecidoque os EUA estão sobrecarregados deobrigações militares. Mas a necessidadede mostrar ao mundo o seu papel de «par-ceiro de jovens democracias» e de únicasuperpotência pode fazer agir Washing-ton. Teríamos, sem dúvida, um cenário deconfrontação dos EUA com a Rússia, oque agrada a alguns Estados da EuropaCentral e de Leste. E, talvez, à Ucrânia.Semelhante cenário não pode ser excluí-do se John McCain ganhar as eleiçõespresidenciais em Novembro.

Com excepção da Ucrânia, que aber-tamente tomou o lado da Geórgia, os res-tantes Estados Independentes têm manti-do silêncio nestes últimos dias. Não emi-tir uma opinião nestes momentos é com-preensível. Por um lado, todos os vizinhosreceiam a Rússia (já que ficaram com al-guns bons bocados da terra nuclear russadepois da desintegração da URSS). Poroutro, opinar contra Moscovo é prenhede piorar as relações, o que agora já temsignificado diferente.

Adapatar-se à nova situação, surgidaagora no espaço pós-soviético, vai levar al-gum tempo.Aqui muito dependerá de Mos-covo. Daí em diante, a Rússia será levadaem linha de conta mais a sério, o que influi-rá na política de segurança, no posiciona-mento político e nas decisões estratégicasno sector de energia.

A segunda variante, que se abre à Co-munidade dos Estados Independentes(CEI), poderia significar um reforço e mes-mo um alargamento da Organização doTratado para Segurança Colectiva (da qualfazem parte: Arménia, Bielorrússia, Caza-quistão, Quirguízia, Rússia e Uzbequistão).Ela pode adquirir os contornos de uma ali-ança político-militar regional. Mas o dese-jo russo de ampliar o espaço de influênciapode esbarrar contra a oposição dos EUAe, possivelmente, da China. Pequim temmuitos interesses na Ásia Central.

E DEPOIS

A importância e o significado das últi-mas semanas ultrapassam o quadro doespaço pós-soviético e levantam váriasquestões fundamentais. Os dirigentes rus-sos falam sobre a necessidade de um novosistema de segurança no espaço que vai«de Vancouver a Vladivostok», já que asinstituições internacionais existentes sãouma herança da época passada.

O desenvolvimento posterior é possívelem duas direcções. Ou se assiste a umafragmentação do espaço em blocos políti-co-militares concorrentes, com consequên-cias daí decorrentes, ou se aprovam prin-

cípios gerais de garantia da estabilidade.No entanto, há de reconhecer o baixo ní-vel de confiança dos participantes num se-melhante diálogo. Mais ainda, é inevitávelum resfriamento das relações da Rússiacom o Ocidente.

Os EUA, sem dúvida, estão aborrecidoscom o acontecimento, que constitui, na ver-dade, mais um grande fracasso de GeorgeW. Bush. (Os EUA treinaram e estimula-ram o exército georgiano que empreendeuuma ofensiva fracassada contra a capitalda Ossétia do Sul separatista). E Moscovo,pelos vistos, não travará qualquer diálogocom Washington até à saída da presenteadministração norte-americana.

A acção da UE vai ficar paralisada nadirecção russa. A Comissão Europeia já temo mandato necessário para negociar comMoscovo um novo tratado base, mas o am-biente não contribui para um rápido enten-dimento. Mesmo depois de preparado, odocumento deverá ser ratificado pelos par-lamentos de todos os países membros daUE. E é fácil adivinhar como será a decisãode deputados polacos ou estonianos.

Mas, numa perspectiva a longo prazo, éinevitável encetar uma séria conversa so-bre as questões estratégicas. Diferentementedo período de «guerra fria», a confrontaçãoentre a Rússia e o Ocidente já não esgota apolítica mundial. Nem influi na dinâmica dodesenvolvimento dos países com peso es-tratégico: a China e a Índia. É a evoluçãonaquela parte do globo que irá determinar amarcha dos acontecimentos no espaço eu-roatlântico.

O “capitão” Manuel Fernandes, Miguel Veloso e Rui Patrício foram on-tem (terça-feira) unânimes ao manifestarem a sua “tristeza e frustração”por Portugal estar fora do Europeu de futebol de sub-21, após o 2-2 com aRepública da Irlanda.

À saída do Estádio dos Barreiros, no Funchal, Manuel Fernandes dissesentir “uma grande frustração, não só por este jogo, mas também pelos doisjogos frente à Inglaterra”, em que Portugal empatou em casa e perdeu emWembley.

“Queríamos ao menos a vitória neste jogo, mas a vontade de marcar maisgolos, que eram necessários, tirou-nos discernimento”, disse o jogador doValência, de Espanha.

Por seu lado, o médio “leonino” Miguel Veloso disse que o empate “não seconsegue explicar, pois a equipa entrou bem e conseguiu marcar dois golosantes do intervalo”.

Rui Patrício, guarda-redes do Sporting, que saiu aos 28 minutos lesionado,também manifestou a sua “tristeza e frustração”, adiantando que a sua lesão“em princípio, não será grave”.

FUTEBOL SUB-21

Portugal perdeuas Esperanças

O Presidente da República, AníbalCavaco Silva, felicitou ontem (terça-fei-ra) os atletas Paralímpicos João PauloFernandes e António Marques pelasmedalhas de ouro e prata conquistadasem Pequim, na modalidade de boccia.

“As medalhas de ouro e de prata ob-tidas numa mesma competição são umfeito desportivo que muito orgulha osportugueses e em muito dignifica o des-porto nacional. Revelam também a ele-vada preparação física dos nossos atle-tas”, enalteceu Cavaco Silva, na men-sagem enviada aos dois elementos dacomitiva portuguesa.

Portugal conquistou ontem as duas pri-meiras medalhas nos Jogos ParalímpicosPequim2008, com João Paulo Fernandesa repetir o ouro conseguido em Atenas2004no torneio de boccia (BC1) e António

JOGOS PARALÍMPICOS DE PEQUIM

Cavaco Silva enaltecemedalhasde portugueses

Marques a ficar com a medalha de prata.João Paulo Fernandes venceu Antó-

nio Marques no jogo para atribuição doouro por 8-1 (2-0, 2-0, 4-0 e 0-1).

Cavaco Silva renovou os parabéns aosatletas e formulou “desejos sinceros defelicidades pessoais e desportivas”.

“Em meu nome pessoal e em nomede todos os portugueses quero felicitaros atletas João Paulo Fernandes e Antó-nio Marques pelos resultados hoje obti-das nos Jogos Paralímpicos Pe-quim2008”.

Esta foi a segunda vez na história dosJogos Paralímpicos que dois atletas por-tugueses se defrontaram na final de umtorneio de boccia.

Nos Jogos Paralímpicos Sidnei2000,José Macedo venceu Armando Costa nafinal do torneio de boccia BC2.

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710 A 23 DE SETEMBRO DE 2008 NACIONAL

AFIRMA VITAL MOREIRA EM HOMENAGEM NA TOCHA

Lucas Pires foi um dos inspiradoresda Constituição de 1976

Francisco Lucas Pires terá sido umdos inspiradores da Constituição de 1976.Esta surpreendente afirmação foi feitapor Vital Moreira no passado sábado, naTocha, na homenagem que ali juntou ele-vado número de amigos, colegas e ad-miradores de Lucas Pires, para além deseus familiares.

De acordo com Vital Moreira, os tex-tos então escritos por Lucas Pires (seucolega na Faculdade de Direito da Uni-versidade de Coimbra) terão inspiradouma boa parte da Constituição de 1976.

A homenagem a Lucas Pires, por oca-sião do 10.º aniversário da sua morte,incluiu uma interessante essão de debate

sobre o seu pensamento e obra, política ejurídica, com dois painéis em que intervi-eram destacadas figuras nacionais.

Na sessão usou ainda da palavra umdos filhos de Lucas Pires, numa inter-venção naturalmente emotiva e muitoaplaudida.

A homenagem - que teve em Júlio de

Oliveira e Manuel Queiró dois dos mais em-prenhados organizadores - terminou com umjantar de convívio, em que voltaram a ou-vir-se muitas alusões à vida e obra de Fran-cisco Lucas Pires, unanimemente reconhe-cido como uma figura de craveira internaci-onal, cuja morte prematura muito empobre-ceu Portugal e a Europa.

Júlio Oliveira, Manuel Queiró, Vital Moreira e Rui Moura Ramos Aspecto parcial da vasta assistência

EDIÇÃO DO MUSEU FERROVIÁRIO

Fotos de Varela Pècurtoem colecção de postais

Correspondência de última hora podia ser colocada no próprio comboio-correio,como mostra esta curiosa fotografia de Varela Pècurto - uma das várias desteautor que faz parte da colecção de postais ilustrados e marcadores de livroseditados pela Fundação do Museu Nacional Ferroviário. Mais uma distinção para onosso Colaborador, que ainda há pouco teve imagens suas em edição de selos.

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8 10 A 23 DE SETEMBRO DE 2008OPINIÃO

A LEI DAS ARMAS

A alteração da lei avulsa das armas, pro-posta por Rui Pereira, de forma a facilitar aprisão preventiva, trouxe-me à memóriaGuerra Junqueiro, que, numa crítica mor-daz ao podAer político da época, dizia queeste tinha entrado em catalepsia ambulante,não se lembrando de onde vem, onde está epara onde vai. É o que se passa com esteGoverno. A política legislativa na área cri-minal perdeu seriedade, rigor científico, har-monização sistémica e não mostra preocu-pação pelo impacto negativo das leis apro-vadas. Legisla-se em função de casos con-cretos. Tão depressa se dá uma machada-da na prisão preventiva, apertando os seuspressupostos e dificultando a sua aplicação,como aconteceu com as leis penais ao darum voto de confiança aos criminosos e es-quecendo as vítimas, como, com o mesmoà-vontade, a propósito da lei das armas, seconsidera que a solução passa, de novo, pelaprisão preventiva, que, diga-se, já estava pre-vista no diploma avulso. (...)

Rui RangelCorreio da Manhã (3/Set/2008)

IRRESPONSABILIDADEDOS JUÍZES

(...) a irresponsabilidade dos juízes, de quese falava, não era assim, havia a possibilida-de de pedir uma indemnização em caso dehaver dolo, ou seja, intencionalidade, numerro. O Governo acrescentou ao dolo a ne-gligência ou erro grosseiro. Como muito bemdisse o Presidente da República no seu veto,isto poderá não só levar a um aumento dalitigância, com os cidadãos a pôr processosa juízes de cada vez que achem que a coisanão lhes correu bem, como à criação de umapressão psicológica tremenda sobre os juí-zes, que estarão mais preocupados em au-todefender-se e em fazer uma decisão for-malmente correcta do que procurar profe-rir uma decisão justa e verdadeira. Os juí-zes são homens...

Rui RangelDN (7/Set/2008)

NÃO HÁ RAPAZES MAUS

Finalmente alguém se lembrou de que nãohá rapazes maus e que a resposta à “ondade criminalidade” que por aí anda é falar aocoração dos assaltantes e apelar ao seu ci-vismo. A ideia foi de Augusto Cymbrom,presidente da Associação Nacional dosRevendedores de Combustíveis (ANA-REC).

À saída, ontem, de uma reunião no MAIsobre a segurança das bombas de gasolina,vinha tão decepcionado e descrente do Go-verno que achou que era altura de experi-mentar a sua própria solução e, apelando àboa índole dos assaltantes, lembrou-lhes que“não compensa assaltar bombas de gasoli-na” e que devem meter a mão na consciên-cia e pensar que, ao fazerem assaltos, “alémde prejudicarem a empresa detentora doposto, estão a pôr em causa postos de tra-balho”. Por fim, deixou-lhes um bom con-selho: “Deixem de assaltar e vão trabalhar,que é melhor”. (...)

Manuel António PinaJN (4/Set/2008)

REGRESSO ÀS AULAS

(...) É o regresso às aulas, mas volto aperguntar a que escolas e a que aulas. To-dos os anos assistimos ao mesmo espectá-culo: a professores sem emprego, escolassem professores, atrasos na abertura de al-gumas instituições e essa coisa absurda daconstante mudança de planos curricularese a inerente necessidade de compra de no-vos livros.

Para já não falar do extraordinário con-dicionamento ideológico – e portanto da fal-ta de liberdade – que vem sendo exercidosobre os professores (quem não se lembrados sucessivos episódios absurdos ocorri-dos este ano e o ano passado contra profes-sores apenas por terem exercido direitos deliberdade de expressão e de manifestação).E é claro, há agora uma politizadíssima ava-liação dos professores.

Paula Teixeira da CruzCorreio da Manhã (4/Set/2008)

CENSURA DO SÉC. XXI

(...) de acordo com o pensamento ideo-logicamente certificado, ‘ser de direita’ é ser--se nada menos que saudosista, reaccioná-rio e tirano, como se não houvesse partidosde direita em todos os países civilizados.Outro exemplo: questionar a transparênciae justiça na atribuição do Rendimento Míni-mo é ser-se desumano e insensível, comose a solidariedade e as preocupações soci-ais não fossem compatíveis com rigor e equi-dade. Tão-pouco se pode falar de valoriza-ção do mérito e reconhecimento do esfor-ço, pois significa ser-se capitalista liberal,como se o igualitarismo não fosse o maiorinimigo da igualdade (...)

Teresa CaeiroCorreio da Manhã (2/Set/2008)

RELIGIÃO NO SÉC. XXI

(...) Os dados estão aí, quando se con-sidera “a geopolítica da fé”. Há um pro-gresso fulgurante do islão, com 1300 mi-lhões de fiéis, ultrapassando o númerodos católicos, e do neo-protestantismo –sobretudo do evangelismo pentecostal,“centrado na adesão pessoal, no milagree no cuidado da cura espiritual” –, commilhões de conversões na África, naÁsia e na América Latina e que será “agrande religião do século XXI (maioritá-ria a partir de 2050)”.

A Europa constitui a excepção.Mas, mesmo aqui, atente-se, porexemplo, nas declarações dos políti-cos, impressionantes. “O pensamentodas Luzes quis fazer-nos crer que oprogresso irresistível da humanidadeera sinónimo da extinção das religiões.Que erro!” (Tony Blair). “Foram asreligiões que primeiro nos ensinaramos princípios da moral universal” (Ni-colas Sarkozy). “A cooperação entreas nações, as religiões e as culturas,é a base do Estado russo”(Dimitri Med-vedev). Cer tamente , t ra ta-se deagradar aos eleitores, mas, por ou-tro lado, reflectindo uma atençãocrescente ao papel das religiões nas

sociedades actuais.De qualquer modo, mesmo na Euro-

pa, apesar da continuidade do processoda secularização, a fé não desapareceue o ateísmo confesso é minoritário.

Segundo a sondagem sobre os valo-res dos europeus (European Values Sur-vey), 6% declaram-se ateus, 31% não-religiosos e 57% religiosos. Dizem acre-ditar em Deus 69%, ainda que só 40%lhe atribuam carácter pessoal, pois 30%concebem-no como uma força vital. En-tre os católicos, 53% acreditam na vidadepois da morte. O que está em causa ésobretudo a religião institucional, no qua-dro de uma individualização da fé, mui-tas vezes em autogestão. (...)

Anselmo BorgesDN (6/Set/2008)

CRIMINALIDADEE INSEGURANÇA

A criminalidade e a insegurança não sãouma e a mesma coisa. Nem as melhoresleis, os bons governos ou as administraçõesmais eficazes acabam com a criminalida-de, mas podem reduzir ao mínimo a inse-gurança que ela provoca no cidadão co-mum. E donde vem, afinal, a nossa maiorinsegurança colectiva? Vem da escassafiabilidade daqueles que, sucessivamente,foram detendo o poder de decidir nestasmatérias e do visível desnorte que se apo-dera dos responsáveis políticos, não tantopelos factos como pela interpretação que

lhes é dada. A nossa insegurança real temsobretudo a ver com más leis, maus gover-nos e mau exercício da Justiça. E isso, infe-lizmente, não é sazonal.

Outra questão é a criminalidade strictosensu, cujas interpretações são outra con-tradição pegada. Será que estamos perantefenómenos novos? Valia a pena pensar, porexemplo, na inevitável internacionalizaçãodas actividades criminosas, facilitada poruma política irresponsável de portas escan-caradas e um clima geral de impunidade.Mas é igualmente grave o facto de se ter,irreflectidamente, procedido ao acantona-mento em bairros urbanos e suburbanos deum nó górdio de problemas sociais, cultu-rais e étnicos. Como é desastrosa e imorala opção política de distribuir subsídios, sob aforma de rendimento de inserção, fomen-tando, em muitos casos, a marginalidade

NELSON DOURADO

Nelson Évora, com a Medalha de Ouro conquistada no triplo salto, nos JogosOlímpicos de Pequim, foi a figura que mais destaque e mais referências mereceunos jornais portugueses. Aqui fica uma bela imagem da vitória. (Foto LUSA)

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910 A 23 DE SETEMBRO DE 2008 OPINIÃO

como um modo de vida possível. Que Go-verno se vangloria, além do nosso, com ocrescimento dessa clientela, sem ser obri-gado a prestar contas, a explicar critérios, aclarificar objectivos, a apresentar resultados?Outra vergonha... (...)

Maria José Nogueira PintoDN (4/Set/2008)

PACTO DE SILÊNCIO

Chegou-me, há dias, a notícia de que te-ria sido proposto um pacto de silêncio, ou deunidade e silêncio, para todos os militantesdo PSD. Pensei tratar-se de uma brinca-deira. Proposto, ainda para mais, por quemfoi. Pacto de silêncio? Pacto de unidade?Agora? Para esta liderança? Porquê?

Porque é que a actual presidente do PSDhá-de ter direito a esse pacto e outros não otiveram? Porque estamos perto de eleições?Então e em 2005, quando o PPD/PSD tevede enfrentar José Sócrates e Jorge Sam-paio, não era mais natural esse pacto, mes-mo em cima de eleições? Então, quandooutros estão no poder, vale tudo para os dei-tar abaixo e, quando estão os nossos, vai depacto e de pedido para todos se calarem. Éextraordinário!

Com franqueza, essa proposta até me-noriza de algum modo a presidente do PSD.Eu estou de acordo em que se dê tempo. Eo tempo a que qualquer nova liderança temdireito, para se poder afirmar, ainda não pas-sou. Eu, até pela formação católica que te-nho, procuro não fazer aos outros o que nãogosto que me façam a mim. Mas algumoutro líder anterior do PSD teve direito aum pacto desses? Nem quem agora o pro-põe, Marcelo Rebelo de Sousa.

Por mim, não aceito a proposta de pacto.Mas pratico, e continuarei a praticar duran-te o devido tempo, aquilo que se pretendiacom a sua celebração. (...)

Pedro Santana LopesSol (6/Set/2008)

NENHUM SILÊNCIOÉ INOCENTE

(...) A Universidade de Verão parece, nalógica deste panorama, a contra-regra doPontal; digamos: um sinédrio intelectual egrave, destinado a inculcar em cem ansio-sos moços o breviário da “social-democra-cia” à portuguesa. A coisa é notoriamenteconfusa. E a identidade dos “professores”uma barafunda pegada, repleta de narcisis-mos perversos e de nervosas ambições.

Não sei se os meus pios leitores imagi-nam a natureza dos discursos de Pacheco ede Leonor Beleza, de António Borges e dogeneral Garcia Leandro, sem omitir, claro!,o inimitável António Vitorino, socialista e tudo,sobretudo nos dias ímpares. Quase todosos nomeados são directamente responsá-veis pelo estado a que chegou o País. Partedo descrédito da acção política a eles sedeve. O nosso desalento deixou de ceder aqualquer apelo cívico, e as nossas emoçõesmais asseadas foram letalmente atingidas.A casta que tomou conta da Pátria deviaser condenada por indignidade nacional.Chega a ser infame a lista das prebendas,das reformas sumptuosas, das funções acu-

muladas, dos duplos e triplos vencimentosauferidos por uma gente desprezível, queentre si partilha o bolo, num macabro trânsi-to de interesses.

Os cem jovens que assistem ao concla-ve de Castelo de Vide vão, com aqueles“professores”, aprender – o quê? Osexemplos não são virtuosos.

Baptista-BastosDN (3/Set/2008)

O OCEANO MORENO

(...) São do domínio público as actuais polí-ticas americanas em relação à segurança dosseus interesses africanos, embora a semânti-ca dos noticiários talvez exceda a realidadedos moldes de presença militar em vista.

A solidariedade das soberanias africanasmais atentas, o apego que demonstram ànoção de poder que recolheram da sobera-nia colonial, a crescente consciência do po-der funcional que lhes dá a posse de recur-sos vitais para as economias avançadas, devecontrariar reforços dos unilateralismos queas rodeiam.

De qualquer modo, a evidência das ne-cessidades da segurança seria mais bemservida não pelo unilateralismo mais uma vezem exercício mas pela visão do interessecomum de todas as soberanias envolvidas,dentro de um consciente movimento reno-vado de segurança tranquila e participadado Atlântico.

Portugal estará sempre necessariamen-te envolvido, em termos de meditar seria-mente sobre a preservação da sua voz acti-va e respeitada no processo.

Adriano MoreiraDN (2/Set/2008)

SR. ANTÓNIO CARPINTEIRO

O sítio onde moro em Lisboa é uma al-deia. Tem merceariazinhas, lojecas, cabe-leireiros pequenos, uma constelação de res-taurantezitos, sapateiros, costureiras, cape-listas. Não o habitam pessoas ricas, o quese percebe pelos automóveis, pela roupa,pelas caras. Toda a gente se conhece. Hápombos a sujarem os tejadilhos

(ainda bem que as vacas não voam)gatos à Stuart Carvalhais e, no que res-

peita ao meu quarteirão, do algeroz paracima sou o melhor escritor. Ignoro se sa-bem o que faço, julgo que têm uma ideiavaga. Há quem me trate por senhor doutore quem me trate por senhor António. Pre-firo senhor António: afinal de contas souum carpinteiro.

(...) Ando a escrever um livro que nãofaço a menor ideia quando acabarei: são tãodifíceis as palavras e demorei anos a darconta disso. Ao princípio era canja. Até agente perceber que há uma diferença entreescrever bem e escrever mal: então come-ça a angústia. Um pouco mais tarde perce-be-se que há uma diferença, ainda maior,entre escrever bem e obra-prima: então aaflição é completa. De forma que aqui andoeu, de caneta na mão, na minha aldeia nocentro da cidade em que acabado o jantarmulheres da vida, travestis. Bares de alter-ne perto, com uma fila de taxis à espera:tudo isso cheira a miséria rasca. Onde pára

aquela que morava no alto da cidade? Numdegrau à espera? Nasci de uma mulher ehá ocasiões em que me esqueço disso. De-via lembrar-me o tempo inteiro. (...)

António Lobo AntunesVisão

IRRESPONSABILIDADEPSEUDOMODERNA

(...) Foi no consulado de José Sócratesque, pela primeira vez no Portugal moder-no, o número de óbitos ultrapassou o de nas-cimentos, em 2007. Assim, excluindo movi-mentos migratórios, a população nacionalestá em acelerada decadência. Este factoestrutural é, sem dúvida, o mais influente ecrucial da situação actual. As suas conse-quências culturais, sociais, psicológicas, eco-nómicas, mesmo históricas e nacionais, se-rão enormes. Até naqueles temas mais mes-quinhos, financeiros ou tecnológicos, quecostumam preocupar o Governo, os impac-tos se sentirão.

Todos conhecem bem o drama do finan-ciamento da Segurança Social, que resultadirectamente daqui. Mas há muito mais.Deve compreender-se que quando a popu-lação está em queda muito do que sabemosda sociedade muda de natureza e inverte aorientação. O que significa “crescimentoeconómico” se a população cai? Valerá apena fazer investimentos produtivos nummercado em contracção? Para quê novosaeroportos ou ferrovias com menos gente?

Com a população a descer, o preço dosimóveis cairá por ausência de procura e osector da construção terá de se reconverterpara a demolição de casas crescentementedevolutas. Até a Bolsa terá dificuldade emsubir num país em decadência. Os custos fi-xos ganham importância e o Orçamento doEstado aumenta o peso. Na agricultura abun-dam os baldios, faltam os braços para traba-lhar, como as bocas para comer. Tudo temde ser reconvertido para a desertificação: me-nos polícias e militares, com menos cidadãospara proteger; menos contribuintes, mas tam-bém menos fiscais de finanças. (...)

João César das NevesDN (8/Set/2008)

TERRAMOTODE LONGA DURAÇÃO

(...) A transformação do trabalhador nummero factor de produção e a transforma-ção do imigrante em criminoso ou cidadão-fachada, esvaziado de toda a sua identidadecultural, são as duas fracturas tectónicasonde está a ser gerado o terramoto social epolítico que vai assolar a Europa nas próxi-mas décadas.

Vão surgir novas formas de protesto so-cial desconhecidas no século XX. A vulne-rabilidade do Estado será visível em muitasdelas, tal como aconteceu com a greve decamionistas, vulnerabilidade reconhecida porum primeiro-ministro cuja eventual ignorân-cia da história contemporânea foi compen-sada pela intuição política: foi a greve decamionistas que precipitou a queda do go-verno de Salvador Allende.

A quem beneficiará o fim de um sindi-calismo independente e o agravamento ca-

ótico do protesto social? Exclusivamenteao Clube dos Bilionários, os 1125 indivídu-os cuja riqueza é igual ao produto internobruto dos países onde vive 59% da popula-ção mundial. (...)

Boaventura Sousa SantosVisão

ELEIÇÕES AMERICANAS

De quatro em quatro anos, os analis-tas portugueses discutem as eleiçõesamericanas e, como é óbvio, influenci-am decisivamente o seu resultado. Ne-nhum sociólogo responsável deixou deregistar, aqui há tempos, a célebre cróni-ca de Luís Delgado, intitulada Eu votoBush, e a responsabilidade que essa co-rajosa declaração de voto teve na vitóriado actual presidente. Menos bem suce-dida, mas igualmente ousada, foi, há qua-tro anos, a iniciativa do vespertino ACapital. O jornal, entretanto extinto (eninguém me convence de que a sua ex-tinção não teve mãozinha da CIA), anun-ciou que iria adoptar uma linha editorialque defendia a derrota de George W.Bush. Hoje, sou eu que me encontro naposição de comunicar aos americanos aminha intenção de voto. É uma honra,tanto para mim como para eles.

A verdade é que não tenho inten-ção de votar em ninguém. Já encon-tro sérias dificuldades para decidir emquem votar no meu próprio país, quan-to mais nos outros. Além disso, aocontrário da generalidade das pesso-as de esquerda, eu não quero queBarack Obama ganhe as eleições.Quero que Barack Obama seja Pre-sidente – o que não é bem a mesmacoisa, como Al Gore bem sabe. (...)

Ricardo Araújo PereiraVisão

ESQUECER OS AMIGOS

(...) Há uns sites de bem-fazer na net,uma coisa chamada “Click to Give”, quetodas as manhãs nos recordam a nossaobrigação de clicar para lá porque, a par-tir desse nosso simples gesto, podemos aju-dar crianças a ter livros, ou o Planeta aser mais verde, ou mulheres necessitadasa fazerem mamografias, ou os animais aserem mais bem tratados, ou mil outrascoisas urgentes. Pelo menos é o que nosdizem. E nós acreditamos, claro. E clica-mos. Todos os dias. Sem faltar um.

Devia haver uma coisa parecida em re-lação aos nossos amigos.

Assim que abríssemos o computador, logouma organização qualquer se encarregavade nos enviar a lista de todos os amigos dequem não nos poderíamos esquecer nunca,nem um só dia, e a gente clicava, clicava, epor cada vez que clicasse o amigo recebiade nós a palavra necessária, e a certeza deque, nem que fosse pelo espaço de um se-gundo, tínhamos pensado nele.

E sempre que arranjamos tempo para pen-sar num amigo - nem que seja por um segun-do – tornamo-nos melhores pessoas. (...)

Alice VieiraJN (31/08/2008)

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10 10 A 23 DE SETEMBRO DE 2008CRÓNICA

A OUTRA FACEDO ESPELHO

José Henrique Dias*

[email protected]

LOUSÃ - Nelson Fernandes

arte em café

* Professor universitário

Conversa inacabada...

Acabei de desligar. Estava a pensar ir até à praiacom as crianças, mas agora estou a hesitar. Não ébem hesitar. Debato-me comigo, com esta fúria queme fica por estar presa a ti e ao mesmo tempo saberque tenho de partir. Tempo de fechar a concha.

Será que eu, eu que perdi o sentido das própriasfronteiras, borderline que sou da minha realidade paracomigo, eu que passei todo este tempo, todo este nos-so tempo a tentar esquecer que na realidade, paraalém do amor, das vivências intensificadas dos mo-mentos juntos, tão poucos afinal, será que eu, Fran-cisco, alguma vez fui mesmo tua em ti? Que estás adizer-me quando dizes que me amas? Bem sei que háas palavras. Usa-las como ninguém.Com elas fosteminando uma a uma as minhas resistências e mesmoagora, nesta hora em que me disponho a sair, sim,Francisco, isto não pode continuar, as tuas palavrasbatem em mim, ecoam nas planícies de todo o meuser, banham-se nos rios em chamas do meu corpo arecordar, as tuas belas palavras, meu amor, como mesai tão naturalmente o meu amor, as tuas palavrassempre reinventadas estão em minhas mãos comorosas de fantasia de freira clarissa, respiro-as e ape-tece-me adormecer para não perder o aroma das so-noridades, esse milagre, sim, verdadeiro de me trans-formares em ti por um momento e eu gosto de deixarde ser eu para sermos nós e ouvir-te dizer amor. Queparvoíce!...

Mal desliguei, a dizer-me que seria a última vezque atendia, no instante seguinte, menos que a du-ração de um segundo, estava a pedir dentro de mimvolta a ligar querido, a querer de novo a tua voz eas tuas palavras, para me alimentarem, que eu sin-to que morro se tu não vens e não me digas queisso não é deste tempo, quero lá saber do que é ounão é deste tempo, quero ser exactamente comosou, tua sem poder ser, sabendo que não posso serpara além dos breves dias de alguns encontros queainda por cima terminam sempre mal, porque a mi-nha angústia de ter de regressar a casa e saber quetu vais para o outro lado dissolve a alegria da tuapresença, continua a sede e a fome e o medo de teperder quando tanto quero que te vás embora paraeu deixar de te pensar de uma certa maneira que éo saber que não és meu. Apetece-me dizer umaasneira. Ao menos uma vez deixa-me dizer, acabalá com esse timbre de árbitro das elegâncias. Estoucansada da tua perfeição. Falas da minha solidão edizes que a solidão é o Poder. Suponho que lesteisso em Sade. Ou talvez seja uma fala de Eurídiceem O Inferno, do Santareno. Os subtextos de quesempre falas com essa espécie de inteligência sa-tânica. Aquela história dos chamados “amantes dia-bólicos”, Ian Brady e Myra Hindley. Crime, ideolo-gia e amor. As peças do processo na peça de San-tareno. Transpostos no mito de Orfeu e Eurídice.Porque me lembrei disto agora? Teremos um amorsádico e fascista? Dói pensar, como dizes. Tenssempre um bom pensador para refúgio. Ou pensa-mentos em busca de pensador.

Não vale a pena. Eu sei que o amor recusa todasas racionalidades, bem tentaste ensinar-me esta coi-sa absurda mas eu não aprendo, não quero apren-der, tu sabes, tu sabes sempre porque dizes certascoisas de uma certa maneira, como naquele poema

em que falavas de vencedor e vencida, ou teria sidocoisa e objecto que não quero ser?, na rima fácilcom que sempre constróis os venenos que me ti-ram a capacidade de reagir à desventura. Não, issonão, não me coisificas. Sou uma pessoa. Livre. Àsvezes tenho-te medo…

Estive a ouvir uma canção de Caetano Veloso.Parecia que falava para mim. No masculino mas erapara mim. Onde rebenta a solidão, o abandono? Nãosei porque faço estas transposições. A irremediávelromântica que conferes com um sorriso que eu seique é mais de ternura que de pena, mas é que soumesmo assim. Onde está o Poder?...

As crianças estão ali sentadas à espera que as leveaté à praia. Talvez me faça bem olhar o mar. Sempregostei de me prender nas ondas e deixar nus os pésna areia para um vínculo que vem do fundo da memó-ria. Vou preparar-lhes um lanchito. Adoram sentar-secomigo na areia a partilharem a gulodice das peque-nas sandes que sabem a Mãe. Dizem-no tantas vezesque acabei por acreditar. Não fora os meus filhos e jáestaria longe. Onde me levasse a aventura. O vento.Se calhar caminharia para ti. Em direcção ao longe ea miragem. A nada.

Custa muito ser mulher neste dia. Que disparate!,é bom ser mulher, não queria mesmo ser como tu.Governar a agressividade do cromossoma ípsilon,como dizes.

Não aguentas que te fale do passado, do meu pas-sado, cortas o discurso com ciúmes de um tempoque te não pertenceu, como não suportas que te faleda tua vida, sequer manifeste a dor que me fica sete penso aí onde estás, como estarás, não será queme mentes? Como sempre te disse não suporto sa-ber-te partilhado, dividido. Não consigo pensar-mesegunda. Tenho vocação de número um. Agora digomesmo o palavrão. Não voltes a ligar. Definitiva-mente, não quero ouvir-te. Depois, como tu dizes,nessa lógica assustadora do teu infernal pensamen-to, estamos irremediavelmente adiados e acabamosa falar de amor. Como agora. Não voltes a ligar-me.Desculpa, mas não vou atender…

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,A essa hora dos mágicos cansaços,Quando a noite de manso se avizinha,E me prendesses toda nos teus braços...

…Não atendo. És tu, Francisco, não queria levar otelemóvel para a praia e não havia meio de ligares.Tinha uma vaga esperança. Sou mesmo doida. Estavaa ler uns sonetos da Florbela. Sei o que pensas, masque queres, sou mulher, acho que entendo. E não meimporta essa diferença que marcas entre ser poetisa eser poeta, no feminino.

Estás bem, querida?Pareço que flutuo. És mesmo o meu veneno lento.

Ouve:

Quando me lembra: esse sabor que tinhaA tua boca... o eco dos teus passos...O teu riso de fonte... os teus abraços...Os teus beijos... a tua mão na minha...

Quando vens ver-me? Acho que não aguento. Ardo.

Se tu viesses quando, linda e louca,Traça as linhas dulcíssimas dum beijoE é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...Quando os olhos se me cerram de desejo...E os meus braços se estendem para ti...

Pois, querida, a Florbela. Já o disse uma vez: haverásempre quem goste de pirolito e quem goste de cham-panhe.

Não sei o que é pirolito...Claro, não tens idade. Uma água chilra. Em garrafa

de pescoço estrangulado e a boca sufocada por umberlinde...

Aprende a gostar de champanhe.

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1110 A 23 DE SETEMBRO DE 2008 FOTOGRAPHARTE

JAMAICA Fotos de Dinis Manuel Alves

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12 10 A 23 DE SETEMBRO DE 2008LOUSÃ

Começa amanhã (quinta-feira, dia 11)na Vila da Lousã, a 19.ª Mostra Nacio-nal de Artesanato e Festival de Gastro-nomia da Serra da Lousã, que se prolon-ga até domingo, dia 14.

Trata-se de um certame já bem im-plantado a nível regional e que começa ater também reputação em termos nacio-nais. E isto porque procura mostrar a ge-nuinidade das tradições artesanais por-tuguesas, de Norte a Sul do País. Cesta-ria, bordados, trabalho em tear ou crivo,rendas de bilros, lenços de namorados,tanoaria, instrumentos musicais popula-res, olaria tradicional e barro figurativo,ourivesaria, trabalhos em madeira, recu-peração de mobiliário antigo, estanho,trabalhos em xisto, escultura, peneiras ecrivos, etc. são algumas das muitas ar-tes e ofícios que se podem ali apreciar, a

DE AMANHÃ ATÉ AO PRÓXIMO DOMINGO

Mostra Nacional de Artesanato e justificam visita à Vila da Lousã

Para estimular o apetite dos leitores,a seguir deixamos as ementas com algu-mas das iguarias que podem ser saborea-das na Lousã até ao próximo domingo.

Se outras razões não houvesse (e hámuitas, como noutro local se refere), agastronomia, por si só, bem justificava avisita à Lousã.

GERL, GRUPOETNOGRÁFICO DA REGIÃODA LOUSÃ

Sexta-feira – Lombo Assado comCastanhas

Sábado – Cabrito à SerranaDomingo – Galinha AvinhadaPratos Confeccionados: Chanfana

Lousanense. Sarrabulho. Bacalhau c/Migas e Batata a Murro. Bucho Reche-ado. Entremeada c/ Arroz de Feijão

Petiscos: Peixinhos da Horta. Pata-niscas de Bacalhau. Punheta de Baca-lhau. Filhós. Orelha de Porco ensalsada.Pipis. Enchidos. Queijo de Cabra

Sobremesas: Tigelada. Leite-Creme.Arroz Doce. Fruta

RANCHO INFANTILESTRELINHASDA PONTE DO AREAL

Quinta-feira – Sopa à Tia Joaquina.Chanfana c/ Batata cozida. Arroz deFeijão

Sexta-feira – Sopa à Tia Joaquina.Sarrabulho c/ Batata cozida. Migas c/ Pa-taniscas de Bacalhau

maior parte delas com os próprios arte-sãos a trabalhar no local, de molde a queos visitantes fiquem a conhecer as técni-cas e esclareçam dúvidas.

Mas outra vertente muito aliciantedesta realização é a gastronomia, que vaiestar presente através das colectivida-des locais, que recriam os sabores danossa meninice e da nossa ruralidade,mas também com representações deoutras zonas do País, que proporcionamapetitosas “viagens” a lugares e a sabo-res deliciosos, como é o caso, por exem-plo, dos doces conventuais de Alcobaça,de Tentúgal ou de Tomar, dos Ovos Mo-les de Aveiro, dos sabores da Ilha daMadeira, e ainda o fumeiro, o pão e oqueijo das terras altas do Maciço Cen-tral e da Beira Alta / Trás os Montes,entre outros.

De comer e “chorar por mais”!SábadoSopa à Tia Joaquina. Entremeada c/

Migas. Arroz de FeijãoDomingoCaldo Verde. Migas c/ Sarrabulho.

Chanfana c/ Batata cozida

Petiscos: Orelha cozida ensalsada.Bolos de bacalhau. Sardinha Albardada.Moelas. Pataniscas de Bacalhau.

Sobremesas: Arroz Doce. Tigelada

ASSOCIAÇÃO RECREATIVA,CULTURAL E SOCIALDAS GÂNDARAS

Quinta-feira – JantarPrato do Dia – Arroz de Feijão c/ En-

tremeadaSexta-feira – AlmoçoPrato do Dia – Bacalhau c/ todosSexta-feira – JantarPrato do Dia – Carne de porco à Por-

tuguesaSábado – AlmoçoPrato do Dia – Bacalhau à LagareiroSábado – JantarPrato do Dia – Arroz de Pato à Gan-

darinhoDomingo – AlmoçoPrato do Dia – Arroz a correr c/ Ja-

quinzinhosDomingo – Jantar(a definir no dia)Entradas e Petiscos:Azeitonas; Broa caseira; Orelheira;

Sardinha Albardada; Sardinha em Mo-lho de Escabeche; Pataniscas

Pratos confeccionados: Sarrabulhoà Serrana. Entremeada. Chanfana

Acompanhamentos: Batata cozida;Migas; Papas de Milho.

Sobremesas: Arroz Doce. Salada deFruta. Filhós

RANCHO FOLCLÓRICOE ETNOGRÁFICODE VILARINHO

Quinta-feiraCaldo Verde. Chanfana à moda de

Vilarinho. Arroz de Feijão à moda do Ran-chinho c/ Entremeada ou Entrecosto gre-lhado. Sarrabulho c/ Arroz de Feijão

Sexta-feiraCaldo Verde. Migas Serranas c/ Ba-

calhau assado, Entrecosto ou Entreme-ada. Chanfana à moda de Vilarinho

SábadoCaldo Verde. Chanfana à moda de

Vilarinho. Migas Serranas c/ Bacalhauassado. Arroz de Feijão à moda do Ran-chinho c/ Entremeada ou Entrecosto gre-lhado. Sarrabulho à Lousanense. Sardi-nha assada.

DomingoCaldo Verde. Migas Serranas c/ Ba-

calhau assado, Entrecosto ou Entreme-ada. Sarrabulho à Lousanense. Chanfa-na à moda de Vilarinho

Petiscos: Orelheira de Porco Ensal-sada. Queijinhos de Ovelha. Sardinha emMolho de Escabeche. Pataniscas deBacalhau. Bifanas

Sobremesas: Melão. Arroz Doce.Tigelada Lousanense

CLUBE ACADÉMICODAS GÂNDARAS

Quinta-feira – Jantar: Sopa à nossatasquinha. Arroz à Tia Juliana c/ entre-meada ou costeleta grelhada e migas.Pescadinha Frita à D.ª Ana

Sexta-feira – AlmoçoCaldo verde à Gandarinho. Chanfa-

na. Sarrabulho das Gândaras. Febras fri-tas c/ arroz de legumes e salada

Sexta-feira – JantarCaldo verde à Gandarinho. Sarrabu-

lho à moda do Académico Gandarinhoc/ batata cozida e migas. Sardinha assa-da c/ batata com pele e salada

Sábado – AlmoçoSopa Serrana. Chanfana. Sarrabulho

das Gândaras. Feijoada GandarinhaSábado – JantarSopa Serrana. Chanfana à Manga, c/

batata cozida e migas. Bacalhau c/ ba-tata a murro

Domingo – AlmoçoSopa à Currião. Chanfana. Sarrabu-

lho das Gândaras. Favas estufadas c/Entrecosto

Domingo – JantarSopa à Currião. Sarrabulho ou Chan-

fana, c/ batata cozida e migas. Bacalhaucozido c/ grão e ovo

Petiscos e Lanches: Picapau; Os-sos Cozidos; Negritos Grelhados; Pre-sunto no Espeto; Chouriço assado no ál-cool; Bolinhos de Bacalhau

Sobremesas: Arroz Doce. Leite-cre-me. Puré de Maçã c/ Canela à moda dacozinheira. Melão

A serra da Lousã proporciona paisagens magníficas, como a do Casteloe a da Senhora da Piedade

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1310 A 23 DE SETEMBRO DE 2008 LOUSÃ

Festival de Gastronomia

Para animar ainda mais a festa, foielaborado um Programa onde a músicaportuguesa tem lugar de destaque, coma presença de um dos seus grandes ex-poentes – Pedro Barroso. Mas haverámúsica para todos os gostos, desde asConcertinas da Serra da Lousã ao Fol-clore com o ETNOXISTO, passandopela “música dixie” – para além das ron-das das tasquinhas com grupos de carizpopular, que certamente animarão oscomensais.

De sublinhar que a Lousã, para alémdo Festival, tem muito mais para ofere-cer aos visitantes.

Assim, existe uma diversificada ofer-ta gastronómica, onde pontuam pratosdedicados à caça e pesca, ao javali, aoveado e ao cabrito, servidos em restau-rantes que já se habituaram a correspon-der às exigências dos gastrónomos (comoé o caso, por exemplo, do Restaurante“O Burgo”, premiado recentemente como prémio “Garfo de Ouro”).

A Vila tem uma diversificada ofertahoteleira, em que se destacam o MeliáPalácio da Lousã, Boutique Hotel, de 4*,a Pousada da Juventude (recentementeinaugurada), e ainda as unidades de Tu-rismo no Espaço Rural e o Parque de

Campismo de Serpins, mesmo ao ladodo Rio Ceira;

Destaque merecem também as suasAldeias do Xisto (Candal, Casal Novo,Cerdeira, Chiqueiro e Talasnal) encas-toadas na Serra da Lousã, à sombra defrondosos soutos e pinhais e onde se podesentir o suave aroma da urze, da car-queja, da alfazema ou do rosmaninho, econtemplar a Natureza em estado puro.

Na Aldeia do Xisto, no Candal, existeuma Loja onde os visitantes podem ad-quirir os aromas e sabores percepciona-dos após um percurso a pé, de bicicleta

ou de carro, pelos caminhos e veredasda floresta;

Mas há ainda as praias fluviais da Sr.ªda Piedade, da Bogueira ou da Sr.ª daGraça, onde o turista poderá refrescar-se no fim dos seus passeios;

Além de tudo isto, existem os equipa-mento culturais e muitos recantos paradescobrir um pouco por toda Vila e portodo o Concelho.

Enfim, razões de sobra para uma visi-ta à Lousã e sua região durante os pró-ximos dias, desde amanhã, dia 11, atédomingo, dia 14.

RELAÇÃO DE TASQUINHAS

- GERL, Grupo Etnográfico da Região da Lousã- Rancho Infantil Estrelinhas da Ponte do Areal- Associação Recreativa, Cultural e Social das Gândaras- Rancho Folclórico e Etnográfico de Vilarinho- Clube Académico das Gândaras

RELAÇÃO DE STANDSCOM ESPECIALIDADES GASTRONÓMICAS

- Lousã – Talasnicos- Lousã – Licor Beirão- Alcobaça – Doçaria tradicional e Conventual e Bolos Secos- Leiria – Caipirinhas e Sumos Naturais- Mexilhoeira Grande (Algarve) – Frutos Secos caramelizados (amêndoa,

amendoim, etc.)- Aveiro – Ovos Moles- Sabugueiro (Serra da Estrela) – Queijos, Enchidos / Fumeiro, Pão de Cen-

teio, Vinho e Azeite- Mealhada – Doçaria tradicional- Representação da Casa da Madeira (especialidades da Ilha da Madeira:

doçaria, bebidas, sumos, etc.)- Arco de Baúlhe / Braga – Bolas de Carne- Figueira de Castelo Rodrigo – Queijo, Fumeiro, Doçaria- Tentúgal – Doçaria Conventual

Imagem do Melià Palácio da Lousã

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14 10 A 23 DE SETEMBRO DE 2008EDUCAÇÃO/ENSINO

O primeiro-ministro, José Sócrates,atribui os bons resultados obtidos noano passado no ensino básico e se-cundário às políticas que apostam naEducação, salientando que a escolapública receberá nos próximos me-ses o “maior investimento público desempre”.

O primeiro-ministro e a ministra daEducação, Maria de Lurdes Rodri-gues, apresentaram ontem (terça-fei-ra) perante os membros do Conselhode Escolas os resultados escolares doano lectivo 2007/08, segundo os quaisa taxa de chumbos no ensino básico esecundário atingiu este ano o valormais baixo da última década, com amaior diminuição a registar-se no ter-ceiro ciclo.

Sócrates destacou que a Educaçãotem este ano a oportunidade que espe-rava há muito tempo, realçando que“nos próximos meses o Estado vai in-vestir nas escolas 400 milhões de eu-ros para realizar o plano tecnológico”,um investimento “que nunca aconteceuno passado” e que permitirá instalarvídeo-vigilância, o cartão do aluno eequipar as escolas com material infor-mático, com quadros interactivos ecomputadores.

“Este ano, o investimento públicomais significativo em Portugal foi naescola pública”, disse José Sócrates,realçado que isto “exigiu pequenas al-terações no Orçamento de Estado parareforçar o orçamento do ministério daEducação”, além de um aumento em10 por cento em relação à verba reti-rada do Quadro Comunitário de Apoio(QCA).

Sócrates atribui melhoria dos resultados escolaresa políticas que apostam na Educação

- MINISTRA ALERTA PARA POSSÍVEIS ABUSOS DE ALGUMAS ESCOLASNAS EXIGÊNCIAS DE MATERIAL

“O investimento em Educação eCiência em anteriores QCA foi de 26por cento, quando agora é de 37 porcento”, sublinhou.

O primeiro-ministro salientou aindaque o Governo pretende “até 2015 re-qualificar todas as escolas secundári-as, para fazer com que a escola emPortugal seja um local aprazível”, deforma que estão neste momento a serelaborados os projectos de requalifica-ção de cerca de 70 escolas.

Ainda sem apresentar números de-finitivos, José Sócrates revelou quemais uma vez as escolas vão este anoter mais alunos, à semelhança do quevem a acontecer desde há três anos,

“o que nos diz que estivemos sempreno bom caminho para combater o in-sucesso escolar”.

“Ao longo destes anos fizemos mu-danças nem sempre bem compreendi-das, mas que hoje permitem que aosolhos da opinião pública os professo-res e a escola sejam mais bem vistos”,considerou.

De acordo com os dados ontem re-velados, no ano lectivo 2007/08 a me-lhoria de resultados verificou-se em to-dos os níveis de ensino, com os núme-ros da retenção a descerem até aos22,4 por cento no secundário (menos3,5 pontos percentuais do que no anoanterior) e a chegarem aos 8,3 por cen-

to no básico (menos 2,5).A maior queda registou-se no 9.º

ano, onde os chumbos caíram 7,5 porcento, ficando-se pelos 14,3. A diferen-ça pode ser explicada pela diminuiçãodas negativas no exame nacional deMatemática do 3.º ciclo, que baixaramquase 30 pontos percentuais.

“É um facto que os resultados me-lhoraram e isso significa que mais alu-nos têm um percurso escolar regular,que transitaram de ano. É isso que seespera das escolas, é isso que se es-pera dos professores, foi isso que asescolas e os professores fizeram nosúltimos anos: trabalhar intensamente,de uma forma diligente, esforçada, paramelhorar os resultados”, disse a minis-tra da Educação.

Maria de Lurdes Rodrigues salien-tou que “em resultado do aumento dospreços dos manuais escolares que severificou este ano o Ministério alargoumuito a Acção Social Escolar”.

“Não há memória de um tão grandealargamento: serão mais do que 700 milalunos que deverão beneficiar dos apoiospara aquisição dos manuais, portanto éuma despesa menos sentida, digamosassim, pelas famílias”, disse a Ministra,realçando que “é preciso que os pais es-tejam atentos” à listas de pedidos dematerial escolar pelas escolas.

“Há uma orientação consumista quedeve ser controlada pelos própriospais, que devem estar atentos àquiloque é razoável, que as crianças ne-cessitam efectivamente para o desen-volvimento das suas actividades esco-lares”, disse, admitindo que há casos“em que a escola pode exorbitar”.

A satisfação de Sócrates e da Ministra na reunião de ontemcom o Conselho de Escolas

Portugal investe em média cerca de4.200 euros por estudante, o que co-loca o país na 22.ª posição numa ta-bela com 33 países elaborada pela Or-ganização para a Cooperação e De-senvolvimento Económico (OCDE) eontem (terça-feira) divulgada.

Com dados referentes a 2005, e fei-ta a média de custo por aluno entre osensinos básico, secundário e superior,os Estados Unidos lideram o grupo

REVELA ESTUDO DA OCDE

Portugal é 22º no investimento por alunonum conjunto de 33 países

com cerca de 9.000 euros, seguidos daSuíça, Noruega, Áustria, Dinamarca eSuécia, com valores que variam entreos 8.500 e os 6.450 euros.

Em último lugar aparece o Brasil,que investe pouco mais de mil eurosano por aluno, antecedido por paísescomo a Estónia, Polónia, Eslováquia,Chile, México e Rússia, estados quegastam anualmente entre 2.700 e1.400 euros com cada estudante.

Por tempo passado nas aulas porcada aluno entre os sete e os 14 anos,o Chile lidera com quase 9.000 horas(o equivalente a permanecer 366 diasininterruptos na sala), enquanto a Es-tónia é quem estabelece o menor tem-po lectivo, com apenas 233 dias, ePortugal fica pelo meio da tabela, com291 dias.

A seguir aos chilenos, os alunos quemais tempo passam nas aulas são os

italianos, holandeses, australianos, ne-ozelandeses, franceses e mexicanos,com permanências que variam entreos 350 e os 312 dias.

Com menos tempo dedicado à es-cola, depois da Estónia aparece a Fin-lândia, Eslovénia, Noruega, Suécia,Coreia do Sul e Alemanha, com car-gas horárias que totalizam entre 237e 258 dias ininterruptos nos sete anosde escolaridade contabilizados.

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1510 A 23 DE SETEMBRO DE 2008 EDUCAÇÃO/ENSINO

* Professor do 3.º CEB/Secundário Dirigente do SPRC

Nelson Delgado *

OPINIÃO Dia 1 de Setembro,dia de desemprego

Por todo o país, o primeiro dia deSetembro passou a ser sinónimo de de-semprego.

O dia um de Setembro é, sem sombrade dúvida, um dia dramático para muitosmilhares de professores e respectivas fa-mílias. Esta é uma realidade que pareceescapar ao cinismo do primeiro-ministroe respectivo séquito, quando na comuni-cação social vêm trombetear que o go-verno e o Ministério da Educação não são“uma agência de emprego” e que o “tem-po das facilidades” para os professores ea escola é coisa que acabou.

Se, por estas afirmações, é óbvio quepara José Sócrates os 40 mil professo-res, que este ano não conseguiram colo-cação, estão a mais no sistema porqueos professores e as escolas inventaramlugares, alunos, insucesso escolar e difi-culdades de aprendizagem que não exis-tem; para muitos outros de nós, é tam-bém óbvio, que este dia 1 de Setembrorevela os resultados das opções políticaserradas, deliberadamente tomadas poreste governo em termos de Educação.

Parece que esta é uma fatalidadeque ano após ano se abate sobre a esco-la pública e á qual não escapatória pos-

sível. Mas não, não é. Contrariamenteao que José Sócrates nos pretende fazercrer, se as escolas estivessem a cumprira sua verdadeira missão, dois terços des-te 40 mil professores que ficaram semcontrato, teriam emprego.

Mais de metade destes professoresque agora são lançados no desempregonão reúne condições para ter subsídio dedesemprego. Cerca de 15 mil, que esti-veram contratados a recibos verdes pe-las câmaras e outras entidades, nas Ac-tividades de Enriquecimento Curricularno 1º Ciclo; recibos esses que são, aliás,ilegais. Mais de nove em cada dez des-tes desempregados têm habilitação pro-fissional específica para o ensino, signi-fica isto que foi o próprio estado que re-conheceu a necessidade de os formarnessa área e apostou na sua formação.Longe vão os tempos em que advoga-dos, arquitectos e outros podiam dar au-las por falta de professores com forma-ção profissional específica.

Há milhares de professores que traba-lharam anos e anos, alguns deles uma vidainteira, em regime de contrato a termo,sendo repetidamente utilizados pelo ME,revelando que fazem falta ao sistema e

que o país precisa de mais professores.Inverter este cenário dramático é pos-

sível? Sim, é.Se o governo criasse as condições

para que as escolas tivessem maisprojectos de combate ao insucessoescolar…

Se não tivesse aumentado os horáriode trabalho lectivo e assim reduzido onúmero de professores necessários…

Se não tivesse encerrado e fundidocegamente escolas…

Se reduzisse o número de alunospor turma…

Se houvesse um alargamento da rededo pré-escolar…

Se houvesse uma efectiva aposta naEducação Especial e nas crianças comnecessidades educativas especiais…

Se as condições de trabalho de pro-fessores e alunos fossem substancial-mente melhores…

Se este governo não se portasse comouma agência de desemprego, porque opaís precisa de mais professores paradar o salto que tanto se apregoa…

Pelo menos 190 professores foram víti-mas de alunos ou encarregados de educa-ção no passado ano lectivo. Agressões,ameaças, indisciplina e comportamentosdelinquentes atingiram docentes dos 20 aos69 anos.

Para alguns professores, Setembro é si-nónimo de regresso ao “local do crime”. Deacordo com o presidente da AssociaçãoNacional de Professores (ANP), João Gran-cho, cerca de 190 docentes procuraram aju-da na Linha SOS Professor, que amanhã(quinta-feira) faz dois anos, depois de se te-rem transformado em vítimas de alunos eencarregados de educação.

Não existe um perfil de docente que sejasinónimo de maiores probabilidades de seser vítima, garante a psicóloga Joana doCarmo. A idade, os anos de experiência ouo grau em que se lecciona influem pouco noresultado da má relação professor-aluno ouprofessor-encarregado de educação. Certoé que as mulheres são mais frequentemen-te o alvo de agressões.

De acordo com os dados da Linha SOSProfessor, dos 124 telefonemas recebidosaté Abril, 109 eram de professoras. No to-tal, foram denunciadas 45 situações de in-disciplina, 65 agressões verbais e 38 físicas.

A psicóloga da Linha SOS Professor su-blinha que “todas as situações são desgas-tantes para os docentes”: “existem situações

de grande intensidade mas menos frequen-tes e situações de baixa frequência mas commuita intensidade”.

“Um professor que tenha sofrido umaagressão de extrema violência em frente àescola, sendo vítima de uma bofetada, mur-ros ou puxões de cabelos, fica com sinto-mas de stress pós-traumatico”, explica.

Depois da agressão vive “constantementeangustiado” com a ideia de poder encontraro agressor, não conseguindo aproximar-sedo local do crime, exemplifica.

Obrigado a regressar à escola, o docentecomeça a ter sintomas como “tremores esensações de desmaio quando se aproximado recinto, não conseguindo ir sozinho aolocal”.

Até Março, uma em cada quatro cha-madas para a Linha dizia respeito a agres-sões físicas. Mas João Grancho garante que,comparando com o ano anterior, se verifi-cou “uma diminuição de comunicações deagressões e um acréscimo de situações deindisciplina”.

Quando a situação não é muito grave masé repetida - como acontece em quase me-tade dos casos relatados -, os docentes sen-tem ansiedade e depressão, acabando por“não aguentar e pôr baixa”, revela a psicó-loga.

No ano passado, a polémica em torno daaluna da Secundária Carolina Michaelis, no

Porto, que agrediu física e verbalmente aprofessora, por lhe ter tirado o telemóvelchamou a atenção da sociedade portugue-sa para a violência contra professores.

“Antes fazíamos de conta que estas situ-ações não existiam. Era difícil aceitar queos professores fossem agredidos nas esco-las”, explica o presidente da ANP.

“No 1º ciclo, os professores são mais ví-timas dos encarregados de educação do quedos alunos”, lembra João Grancho. A psi-cóloga lembra que são comportamentoscomo este que mais tarde transformam umaluno num agressor. São as conversas emcasa e a desvalorização do docente por partedos familiares que muitas vezes levam a quemais tarde o aluno não respeite o professorcomo autoridade na escola, diz.

“A desgraça que acontece nas escolastambém é um sinal do que se passa na soci-edade em geral, sendo que ninguém se trans-forma de um dia para o outro num alunoagressivo”, afirma o presidente da ANP,voltando a defender a necessidade de criarequipas multidisciplinares com professores,pais e psicólogos que façam um acompa-nhamento precoce dos jovens e famílias compercursos de vida mais complicados.

Algumas escolas das áreas metropolita-nas de Lisboa e do Porto continuam a seras zonas mais temidas por professores, queesta semana também começam as aulas.

NO PASSADO ANO LECTIVO

190 professores vítimas de alunose de encarregados de educação

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16 10 A 23 DE SETEMBRO DE 2008SAÚDE

MassanoCardoso

Há dias procurou-me uma senhora quejá não via há algum tempo. Desde nova quetem os seus achaques do foro psíquico, masnada de grave que possa pôr em causa asua vida familiar, apesar de ter já sofridoalguns revezes. As queixas eram as mes-mas de sempre, mas agora vinha com umapreocupação adicional que eu não estava acompreender bem, até que rapa da carteiraum conjunto de folhas A4 agrafadas e umafotocópia meio sumida e disse:

– O que é que o senhor Doutor achadisto?

Olhei, em primeiro lugar, para a fotocó-pia anúncio de uma técnica que desconhe-cia, “Electrossoma(!)”, ou qualquer coisa quevalha, capaz de “varrer todo o corpo”, e,deste modo, ficarmos a saber tudo o que sepassa no organismo. Além desta estranhatécnica, anunciava outras, nada ortodoxas,capazes de resolver muitos males. Indicavao nome do “técnico” e respectivos contac-tos. Passei, em seguida, para o maço defolhas que traduziam os resultados do “var-rimento intersticial”! Lia e lia, mas sem per-ceber bem o que é queria dizer. Muitos pa-râmetros tinham uma escala fixa, do géne-ro, superior a -10 a inferior a 10. Todos osdados apontavam para 0. Depois, apareci-am listagens do que deveria comer, que nãoera mais do que o elencar de regras básicasda nutrição e também recomendações parafazer exames convencionais – caso da gli-

“Bruxos e electrónica”...cemia, da colesterolemia e até colo-noscopia!

Disse-lhe:– Minha senhora! Não sei o que é

isto. Nunca na minha vida vi algo se-melhante! Confesso a minha ignorân-cia. Mas olhe que eu sou de opiniãoque é ainda melhor ir à velha bruxa.

Olhou para mim e afirmou:– O pior é esta artéria que está en-

tupida e não deixa o sangue chegarao cérebro.

Enquanto falava apontava com amão esquerda para o lado direito dopescoço.

– Mas quem é que disse isso?– Foi através desse exame.– Com este?! Para se chegar a

esse diagnóstico teria de fazer um exa-me adequado. Não vejo como é pos-sível terem chegado a esse diagnósti-co! Diga-me como é que lhe fizeramo exame.

– Colocaram-me dois fios na cabeça eoutros dois nos pulsos ligando-os a um com-putador. Passado pouco tempo começarama sair as folhas. Ando tão preocupada coma minha artéria entupida! É muito grave, nãoé?

– Já lhe disse que teria feito muito me-lhor se tivesse ido a uma “bruxa”, mas dasclássicas!

– Mas a minha nora já lá foi e sente-semuito melhor!

– Oh alminha de Deus! Neste mundoqualquer um e qualquer coisa pode curar,desde os bruxos, os pais, os amigos, os pa-dres, a N.ª Senhora de Fátima, a cabeleirei-

A linha SOS Voz Amiga, que apoia pes-soas em risco de suicídio, iniciou às 00:00 deontem (terça-feira) uma campanha de aten-dimento contínuo que vai durar 72 horas,associando-se assim ao Dia Mundial da Pre-venção do Suicídio.

“Os voluntários decidiram associar-sea este Dia [Mundial da Prevenção do Sui-cídio] fazendo uma jornada contínua deatendimento que fará com que a linha es-teja a funcionar até às 24:00 de quinta-feira”, explicou à Agência Lusa AfonsoFaria, responsável dos voluntários do SOSVoz Amiga.

O também membro da direcção da Liga

HOJE É DIA MUNDIAL DA PREVENÇÃO DO SUICÍDIO

SOS Voz Amiga com atendimento durante 72 horasPortuguesa de Higiene Mental explicou queesta iniciativa surge no âmbito do Dia Mun-dial da Prevenção do Suicídio, que se cele-bra hoje (quarta-feira), e pretende divulgaro trabalho realizado pela SOS Voz Amiga ealertar para o problema do suicídio, promo-vendo a prevenção e o debate.

“O acompanhamento que nós damos énaquele momento específico, tentando cen-trar-nos na pessoa e não nos problemas queela nos traz. O que procuramos é adiar umadecisão hipotética de suicídio e conseguirque as pessoas procurem apoio”, adiantouAfonso Faria.

O Centro SOS Voz Amiga nasceu em

1978 e foi a primeira linha telefónica deajuda em Portugal, tendo atendido atéhoje milhares de pessoas com apelos cau-sados pela solidão, pela doença, pela rup-tura nas relações familiares, pela toxico-dependência e pelos maus-tratos, cele-brando em Outubro o seu trigésimo ani-versário.

Só em 2007 esta linha recebeu 5.083chamadas de pessoas que estavam comproblemas conjugais, de solidão, medo,com dependências ou em risco de come-ter suicídio.

A ajuda é prestada por voluntários semqualquer remuneração, que recebem for-

mação de dois técnicos de saúde mental, sesubmetem a uma selecção inicial e rece-bem de forma continuada apoio e supervi-são destes técnicos.

A confidencialidade, o duplo anonimato(de quem telefona e do voluntário que aten-de) e a recusa em exercer qualquer pres-são religiosa, política ou ideológica são algu-mas das normas.

A linha, que está habitualmente dis-ponível entre as 16:00 e as 24:00 atra-vés dos contactos 213544545,912802669 e 963524660, estará dispo-nível durante estas 72 horas através dosmesmos números.

ra, a mulher-a-dias e até os médicos, quemdiria, não é verdade? Todos podem curar.São tantos os males que andam por aí! Equanto aos meios também: chazinhos, me-zinhas, palavras de ternura, um pouco deatenção, um bom conselho, um cristal, umaroma, uma música, um poema, um riso deuma criança, um bocadinho de amor, umapomadinha mágica, uma água santa, eu seilá que mais. Todos curam e tudo cura. Atéhá os que não têm doenças que depois pas-sam a ter e a seguir tiram-nas como coe-lhos das cartolas. Uns artistas! Este técnicodeve pertencer à nova irmandade da char-latanice que já usa a electrónica. Mal por

mal devia ter ido a uma bruxa maisclássica. São mais eficientes e não semetem a inventar obstruções das ar-térias!

Dois dias depois, uma notícia doDN dá conta de que o “bruxo deFafe”, que já foi considerado pelopresidente da autarquia “como umganho para o turismo da região”, talo número de pessoas que o procu-ram, vai abrir uma clínica com quar-tos para internamentos e sala de con-sultas para os “doentes espirituais”.Ainda segundo o relato, “as novasinstalações permitirão mais qualida-de no atendimento aos doentes es-pirituais e vão acabar com a desu-manidade de ter que curar pessoasem público e, às vezes, no chão”.Sim senhor! Isto é que é um bruxo!Mas não fica por aqui. Ciente do seupapel como cidadão, paga os seusimpostos como astrólogo, porque nas

Finanças não existe no Código das Acti-vidades Económicas o de bruxo. Acho queo senhor tem toda a razão. Vamos lá acontemplar no respectivo código a activi-dade da bruxaria e a seguir regulamentá-la. Deste modo, os falsos bruxos não se-riam desleais para com os verdadeiros, osgenuínos, porque, dêem a volta que qui-serem, nunca vai haver falta de clientelapara a bruxaria nacional.

Uma pergunta final: o que é acontece aosbruxos quando estão doentes? Vão ao mé-dico! São bruxos, mas não são parvos...

E eu que o diga porque já tratei alguns –melhor, algumas!

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1710 A 23 DE SETEMBRO DE 2008 SAÚDE

A Associação Portuguesa de Medica-mentos Genéricos (APOGEN) vai avaliarse a portaria que determina a baixa de 30por cento nos preços dos genéricos, publi-cada anteontem (segunda-feira), contrariaa Constituição e legislação comunitária porser potencialmente “descriminatória”.

A partir de 1 de Outubro apenas serãodispensados ao público medicamentos ge-néricos marcados com o novo preço.

Inalterados continuam os preços de re-ferência aprovados ou a aprovar até 15 deSetembro para que entrem em vigor emOutubro. O sistema de preços de referên-cia define a comparticipação do medica-mento pelo Estado e tem por base o preçomais elevado do medicamento genérico noconjunto dos fármacos com igual substân-cia activa, dosagem, forma farmacêutica evia de administração.

Em declarações à Agência Lusa, o pre-sidente da APOGEN, Paulo Lilaia, referiuque o conteúdo da portaria será avaliadocom o advogado da instituição, nomeada-mente a questão da baixa dos preços poderser “discriminatória”.

“Se há medicamentos iguais, devem des-cer o preço dos genéricos e não genéricos”,afirmou o responsável, referindo ainda anecessidade de confirmar se há ilegalida-des na decisão do Governo, por poder con-trariar a Constituição e a legislação comu-nitária.

No final desta semana ou início da próxi-ma, os associados da APOGEN deverãoreunir-se para definir eventuais acções.

Na portaria dos ministérios da Econo-mia e Saúde são recordadas as duas ante-riores reduções administrativas de preçosde medicamentos “justificadas pela priori-dade política atribuída ao objectivo de equi-líbrio das contas públicas”.

É ainda referida a “identificação de umnível de despesa pública em medicamentosque reflecte um nível de preços muito su-perior ao existente noutros países euro-peus”.

A nível de genéricos, lê-se na portaria, opreço praticado é superior aos de Espanha

Descida de preço dos medicamentos genéricosestá a provocar polémica

e França e vive-se uma “situação única naEuropa” em que a quota de mercado emvalor “é claramente superior” à quota emvolume.

A inversão destas quotas é “prioridade”para o Governo, que prevê ainda um cres-cimento anual da despesa com medicamen-tos em ambulatório de cinco por cento, ul-trapassando o estabelecido pelo Orçamen-to, que é de 2,9 por cento.

Com base nestes argumentos, o Gover-no determinou assim, a “título excepcional epor motivos de interesse público”, a dimi-nuição dos preços máximos de venda dosgenéricos.

Para Paulo Lilaia, “desde 1970/75 nuncao crescimento da despesa com medicamen-tos foi tão baixa como nos últimos anos, oque em grande parte foi provocado pelosgenéricos”.

“Não só pela entrada de genéricos nomercado, como pela descida do preço dereferência, o que em muitos casos obrigouos originadores [empresas de medicamen-tos de marca] a venderem ao preço do ge-nérico”, argumentou à Lusa.

O presidente da Associação Portuguesada Indústria Farmacêutica (Apifarma), JoãoAlmeida Lopes, por sua vez, voltou a insistirem que a descida de preços é uma “medidafortíssima, extremamente penalizadora paragrande número de empresas” associadas.

As empresas de genéricos terão queapresentar os novos preços até 18 de Se-tembro à Direcção-Geral das ActividadesEconómicas e à Autoridade Nacional doMedicamento. A partir do próximo dia 24não poderão fornecer genéricos às farmá-cias com preços que não incluam a descidade 30 por cento.

Para os dois responsáveis da indústriafarmacêutica, são prazos “apertados”.

“Os tempos são apertadíssimos, mas asempresas estão concentradas em fazer omáximo para cumprir a portaria. Não é fá-cil remarcar todos os produtos: é preciso pro-duzir etiquetas, verificar se estão correctase colocar as etiquetas nas embalagens”,

considerou o presidente da APOGEN.Para o responsável máximo da Apifar-

ma, é um “pesadelo logístico”: “As empre-sas não podem deixar de cumprir a lei, pormais difícil que seja. Os prazos são clara-mente apertados. Quando estamos a falarem remarcar as embalagens que estão nocircuito estamos a falar num pesadelo emtermos de logística”.

O responsáveis do sector têm referidoque a diminuição no preço irá ter impactonos investimentos das empresas de genéri-cos e levar a despedimentos.

EMPRESAS DIZEM QUE 5%DOS MEDICAMENTOSMANTERÃO O PREÇO

A APOGEN estima que apenas cincopor cento destes fármacos não baixarão depreço por estarem dentro das excepçõesdefinidas na portaria que estabelece os no-vos valores de venda.

O respectivo presidente, Paulo Lilaia, re-feriu a necessidade de cada empresa fazercontas para contabilizar quantos medica-mentos poderão manter o preço, mas refe-riu que estas excepções “não mudam o fun-damental”.

“Os problemas mantêm-se no mesmonível” para as empresas do sector devido à“descida drástica” de preço, disse.

Segundo a portaria publicada segunda-feira em Diário da República, a descida depreços dos medicamentos genéricos em 30por cento não afectará os fármacos quecustam menos de cinco euros e a diminui-ção não pode implicar que passem a custarmenos de metade do preço de referência.

O sistema de preços de referência defi-ne a comparticipação do medicamento peloEstado e tem por base o preço mais eleva-do do medicamento genérico no conjuntodos fármacos com igual substância activa,dosagem, forma farmacêutica e via de ad-ministração.

Segundo o director-geral da Generis,Paulo Moura, haverá “um número reduzi-díssimo” incluído na excepção dos cincoeuros.

Como empresa que mais genéricos co-mercializa no mercado português, a Gene-ris prevê que se esteja a falar em cerca detrês por cento dos medicamentos. Em cau-sa estarão, sobretudo, baixas dosagens defármacos.

Quanto às restantes excepções, o res-ponsável garantiu que o impacto, na prática,também será reduzido porque os preços devários medicamentos de marca tambémbaixaram aquando do aparecimento dosgenéricos, o que se traduziu em “preçosparecidos”.

“Esta foi uma forma de [a portaria] ten-tar minimizar uma situação, porque em al-guns casos os preços [dos genéricos] fica-vam tão absurdamente baixos, [que ficavam]mesmo abaixo do seu custo industrial”, ar-gumentou.

Outra crítica apontada por Paulo Moura éa de que a manutenção dos preços de refe-rência, um “bónus” para algumas empresas,afecta a poupança e os consumidores.

O responsável da Generis lamentou ain-da que tenha sido “esquecido” na versãofinal do documento que a descida de 30 porcento dos preços fosse deduzida da dimi-nuição ocorrida em Março último.

O Centro Hospitalar de Coimbra (CHC),ou Hospital dos Covões, assinalou ontem(terça-feira) a realização de 500 implantescocleares, desde 1985, realçando a directo-ra clínica, Deolinda Portelinha, que o custodestas cirurgias é assumido sobretudo pelainstituição.”A verba atribuída pela tutela nãopaga sequer o material”, declarou DeolindaPortelinha à agência Lusa.

A “única maneira” de o serviço de Otor-rinolaringologia do Hospital Geral de Coim-bra, unidade dos Covões que integra o CHC,manter os actuais resultados na aplicaçãodaquele método terapêutico é cobrir a “maiorparte” das despesas com verbas próprias.

Aquele serviço, dirigido por Carlos Ri-beiro, efectua entre 60 e 70 implantes co-

500 implantes cocleares no Hospital dos Covõescleares por ano, segundo a directora clínica.

Deolinda Portelinha revelou que as ver-bas atribuídas pelo Ministério da Saúde pararealizar estas cirurgias, em crianças e adul-tos, deverão em breve beneficiar de umarevisão.

“Há hoje um prejuízo real com estes im-plantes que o Hospital tem suportado”, la-mentou.

Ontem, com a realização da 500.ª destascirurgias, o CHC – entidade pública empre-sarial (EPE) presidida pelo médico Rui Pato– atinge “uma das mais importantes metasda excelência dos cuidados de saúde emCoimbra”.

“São meio milhar de doentes afectadospela surdez que foram reabilitados da sua

deficiência e que voltaram a ter uma vidanormal”, refere Rui Pato em comunicado.

O implante coclear consiste na aplicaçãode “um dispositivo electrónico que vai cap-tar os sons da fala e do meio ambiente efazer a estimulação directa do ouvido inter-no, vencendo a barreira da surdez”.

“Através deste equipamento, as criançase adultos com surdez profunda ou total têmacesso ao mundo dos sons e à comunica-ção oral”, salienta a nota.

O implante coclear foi realizado pela pri-meira vez em Portugal em 1985, no Hospi-tal dos Covões, tendo como cirurgiões Ma-nuel Filipe Rodrigues e Fernando Rodrigues.

A actual equipa, chefiada por Carlos Ri-beiro, assegura cerca de 90 por cento dos

implantes cocleares realizados em Portugal.Segundo a nota, “os resultados obtidos

situam-se ao nível dos melhores, na Europae no mundo.”

Os melhores resultados são obtidos emcrianças implantadas com menos de doisanos de idade.

“É uma tarefa multidisciplinar, que envol-ve uma vasta equipa, incluindo otorrinola-ringologistas, pediatras, radiologistas, enfer-meiros, técnicos de audiologia, terapeutasde fala, psicólogos e assistentes sociais, en-tre outros”, adianta.

O serviço de Otorrinolaringologia do CHCjá implantou doentes de todas as faixas etá-rias, desde os 16 meses aos 82 anos de ida-de, provenientes de todas as regiões do país.

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18 10 A 23 DE SETEMBRO DE 2008A PÁGINA DO MÁ[email protected]

Mário Martins

ANDO MESMO SEM TEMPO

Ainda não é hoje que consigo fa-zer o “balanço” das férias e partilharcom os leitores do blogue algumas opi-niões.

Tenho ideia de falar dos JogosOlímpicos (e do novo “herói”, o lan-çador Marco Fortes), de um dos livrosque li nas tardes de esplanada à bei-ra-mar (“Golpe de estádio”), do pra-zer de assistir descansado ao melhortelejornal português (o “Jornal das 9”,da SIC Notícias) e da redescobertade ler algumas reportagens de “ABola” com satisfação.

Tanta coisa... E a insegurança cres-cente nas ruas, os filhos de José Só-crates a estudar em colégio privado,o silêncio da líder do PSD, o “kitsh”das noites de Buarcos, a ida à óperano CAE Santana Lopes e o constantemau cheiro junto à estação elevatóriade esgotos na marginal da Figueira(que também lá tem uma placa a in-formar que foi Santana Lopes quem ainaugurou).

Não posso deixar de louvar o pro-fissionalismo do carteiro que honra osCTT ao longo da Avenida do Brasil elamentar a falta de “sentido comerci-al” de estabelecimentos que encerramàs 22 horas numa zona de férias oudaqueles que não deixam de fechar

A minha equipa (os juniores do Vigor)perdeu em Fala, com a Naval, por 2-1,na abertura do Campeonato Nacional da2.ª Divisão. Foi um “desafio entretido”mas nem sempre bem jogado.

Os figueirenses marcaram logo aos 4minutos. O empate chegou aos 9 minu-tos, de penalty, por Girão, após um lanceem que ficou o cartão vermelho por mos-trar (um avançado do Vigor foi agarra-do, na área da Naval, quando estava iso-lado...).

Na 2.ª parte, repetiu-se o “filme” jávisto: a Naval voltou a marcar no início,aos 50 minutos. E o marcador não maisse alterou.

O triunfo da equipa da Figueira acabapor ser natural, em resultado do poderiofísico e da maior experiência, já que aequipa acaba de descer da 1.ª divisão. Oempate, no entanto, também estaria cer-to, dada a capacidade de luta e entregada minha equipa.

A arbitragem, de uma equipa da AFCoimbra este ano promovida aos cam-peonatos nacionais, foi globalmente mo-desta, sem critério uniforme, tanto noaspecto técnico como no disciplinar. E

portas mesmo em Julho e Agosto.E da ida à “feira de Agosto”, no di-

zer de um dos funcionários, no Casi-no da Figueira, onde se assiste a es-pectáculo de qualidade pelo preço deum descafeinado.

Foram umas férias cheias, descan-sadas.

Falta-me ainda o tempo para falardelas com a tranquilidade exigida.

(publicado em 8/09)

REGRESSO ATRIBULADO

Não tem sido fácil o regresso ao tra-balho, após as (merecidas) férias.

Quando se trabalha sozinho é as-sim: está tudo por fazer – aquilo quedeixámos por fazer e o trabalho quese acumulou durante a ausência.

Não me queixo, até porque ao lon-go da vida tenho-me colocado o de-safio de ultrapassar constantemente oslimites. Já experimentei trabalhar to-dos os domingos durante quatro anosseguidos (fui um louco!), já experimen-tei trocar o maior jornal nacional porum jornal regional que ainda não exis-tia (todos me chamaram maluco...) e,agora, experimento “fazer” uma re-vista sozinho. Não me queixo, mas édesgastante.

(publicado em 5/09)

ENGENHEIRA FLORESTALNO INEM

Engenheira florestal torna-se asses-sora do INEM – Desde que a novadirecção do INEM (Instituto Nacio-nal de Emergência Médica), lideradapor Abílio Gomes, tomou posse, em Fe-

vereiro, que não param as contrata-ções milionárias para fazer assesso-ria à presidência. As controvérsiasinternas criam um clima de mal-estarentre os funcionários, que dizem quea instituição já tem profissionais paraessas funções. É o caso das admis-sões de uma engenheira florestal, deum médico interno de medicina, de umadvogado, de um administrativo e deum elemento para o Gabinete de Pla-neamento.

(in “Correio da Manhã” de hoje)COMENTÁRIO – Como agora

nascem tantos bebés nas estradas(que, como se sabe, são na sua maio-ria ladeadas por árvores)... talvez te-nha sido por isso que foi contratada aengenheira florestal

(publicado em 28/08)

SIC EM DIRECTO

Novidade no blogue: a partir de hoje,estão disponíveis as emissões em di-recto dos vários canais do “universoSIC”.

Para além disso, o “widget” permi-te acompanhar as últimas notícias, di-vididas por sectores, e ver alguns vi-deos.

Desfrute!(publicado em 26/08)

PENSAMENTO DE VERÃO

«Há em mim uma raiz anarquistaque me não deixa tolerar o poder. Soucontra ele porque degrada tudo: quemo exerce e quem o tolera». (MiguelTorga)

(publicado em 1/08)

O PARECERSOBRE O PROCESSOQUE ACONTECEUDEPOIS DA FRUTA

Citação 1:«O comunicado da SAD do Fu-

tebol Clube do Porto em resposta aoparecer de Freitas do Amaral é umapeça de alta comédia e um exce-lente retrato da mentalidade maisrasteira que por aí sobrevive.»

Citação 2:«Freitas é de tal forma cristali-

no na descrição das sucessivas gol-padas tentadas por Gonçalves Pe-reira que a carreira deste como ad-vogado e político só não está aca-bada se não houver um pingo devergonha nesta terra.»

(João Miguel Tavares,no “Diário de Notícias”)

Agora eu:De férias, não tenho acompanhado

como seria normal o desenvolvimentodeste caso.

Felizmente.Mesmo assim, ouvi noutro dia Gui-

lherme Aguiar a comentar o parecerde Freitas do Amaral. E não pude dei-xar de sorrir... Era como se eu, queaté gosto de andar de avião, quisessedar lições de navegação aérea a umpiloto experiente.

PS - Não se espantem com o títulodeste texto. Como estou para me irdeitar, lembrei-me da palavra “fruta”.E, então, saíu-me um título assim meio“marado”. Desculpem.

(publicado em 29/7)

A minha equipa: derrota na abertura do campeonato

com vários erros de julgamento, algunsdos quais da responsabilidade dos fiscais-de-linha.

Uma nota final para destacar que odesafio acabou com um remate do Vi-gor à baliza contrária e que o guarda-

redes da Naval já fazia “passar o tem-po” quando ainda faltava um quarto dehora para o fim do jogo.

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1910 A 23 DE SETEMBRO DE 2008 MÚSICA

Distorções

José Miguel [email protected]

Este ano as férias começaram da me-lhor maneira com uma ida ao Festival doSudoeste TMN, o que já não acontecia hácerca de 8 anos, na altura por causa dosPlacebo. Agora a minha atenção virava-se, sobretudo, para dois concertos: em pri-meiro para rever, pela última vez, o con-certo dos Xutos & Pontapés com a BigBand do Hot Club, mas, sobretudo, pelaactuação dos australianos Cut Copy. E asminhas elevadas expectativas não saíramfrustradas, porque assisti a duas grandesactuações, quer dos Xutos & Pontapés,quer dos Cut Copy, que nunca tinha vistoao vivo, mas de quem devoro os discos. Enem a curta duração do concerto, me de-siludiu. Foram cerca de 50 minutos a todoo gás, que terminaram com um “see youvery very soon” (vemo-nos muito, muitoem breve). Resta aguardar.

A semana passada fica marcada pelaestreia em disco dos Friendly Fires, umabanda britânica de quem já conhecia ostemas “On Board”, “Paris” e “Jump In ThePool”, que denotavam já o grande potenci-al desta banda de St. Albans. Este discohomónimo vem confirmar todas as expec-tativas criadas e eu não sou excepção. Aquifica uma sugestão a seguir com atenção.

É já no próximo domingo que o “circo”da “Sticky & Sweet Tour” passa por Por-tugal, num concerto já esgotado há cercade três meses, tendo sido vendidos 75 milbilhetes em menos de uma semana. Ape-sar de não ser um fã incondicional de

PARA SABER MAIS:

Cut Copy “Bright Like Neon Love” (V2)Cut Copy “In Ghost Colours” (Modular Records)Friendly Fires “Friendly Fires” (XL)Madonna “Hard Candy” (Warner Bros.)

www.myspace.com/cutcopywww.cutcopy.net

Madonna, gosto de muitos dos seus temas e estou mui-to ansioso pela actuação do próximo domingo.

www.myspace.com/friendlyfireswww.wearefriendlyfires.comwww.madonna.com

Cut Copy

Madonna

Sofia Ribeiro venceconcurso de jazz

A cantora portuguesa Sofia Ribeiro,30 anos, venceu no final de Agosto umconcurso internacional de jazz vocal naPolónia, uma competição que lhe valeuum prémio de dois mil euros.

O “Voicingers 2008”, cuja primeiraedição decorreu entre 29 e 31 de Agostoem Zory, na Polónia, teve como objecti-vo promover novas vozes do jazz vocalentre artistas com menos de 40 anos.

Sofia Ribeiro, licenciada em canto jazzpela Escola Superior de Música do Por-to, foi uma das doze finalistas para esteconcurso, ao lado de sete cantores pola-cos, duas cantoras francesas, uma ucra-niana e um artista da Turquia.

Além do prémio monetário, Sofia Ri-beiro tem já garantida uma digressão pelaPolónia em Maio de 2009, incluindo umapassagem pelo Easy Jazz Festival, emZory.

O júri do concurso foi presidido pelacantora norueguesa Karin Krog e inte-grou ainda Pascal Anquetil (editor darevista Jazzman) e o cantor polaco Jor-gos Skolias.

Sofia Ribeiro nasceu em Lisboa em1978, licenciou-se na ESMAE, onde tam-bém dá aulas, e editou até agora dois ál-buns, “Dança da Solidão” (2005) e“Orik” (2008), com o contrabaixista lu-xemburguês Marc Demuth.

Em 2005 venceu o segundo prémio daCompetição Internacional de JovensCantores de Jazz em Bruxelas e passoupela Berklee College of Music, em Bos-ton, Estados Unidos.

Actualmente frequenta o mestrado emcanto jazz no Conservatório de Paris.

No próximo dia 12 actuará no Jazz aoNorte, no Porto, em duo com o contra-baixista Marc Demuth.

Prémio Jovens MúsicosNove músicos, de entre 152 participan-

tes, venceram no passado sábado a 22ª edi-ção do Prémio Jovens Músicos 2008 (PMJ),organizado pela RDP Antena 2 e cujas pro-vas finais decorreram desde 2 de Setembrono Teatro Nacional de São Carlos.

Adriana Ferreira (Flauta, nível médio),Joana Gama (Piano, nível superior), Vladi-mir Tolpygo (Violino, nível superior), FilipeVieira Alves (Trombone, nível superior), An-tónio Sérgio Ramos Pacheco (Trompete,nível superior) foram os cinco solistas ven-cedores da edição deste ano do PMJ, indi-cou à Lusa o compositor Luís Tinoco, direc-tor do prémio.

Os prémios para solistas nas categoriasde Contrabaixo (nível médio) e Fagote (ní-vel superior) não foram atribuídos.

Na categoria de Música de Câmara, ní-vel médio, o prémio foi para o duo de pianoe violino Ensemble Talide, formado porMatilde Teixeira Loureiro (violino) e TaíssaPoliakova Pacheco Cunha (piano).

Os vencedores do prémio de Música deCâmara, nível superior, foram Helder Alves(saxofone) e Cândido Fernandes (piano),que compõem o duo XaSonaiP.

Em cada uma das modalidades, os ven-cedores ganham prémios pecuniários (omais elevado no valor de 2000 euros) e umabolsa de estudo da Gulbenkian.

Será ainda gravado um CD com anda-mentos de concerto (ou outras peças de re-pertório) interpretados pelos vencedores daedição de 2007 e da edição em curso.

Os nove músicos vencedores do PMJparticiparão a 25 de Setembro, às 22:00,no Concerto dos Laureados, que esteano se realiza pela primeira vez no Por-to, na Sala Suggia da Casa da Música,e que terá transmissão em directo naAntena 2 e em diferido, em data a anun-ciar, na RTP2.

Acompanhará os concertistas a Orques-tra Gulbenkian, dirigida pelo maestro Cesá-rio Bochmann.

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20 10 A 23 DE SETEMBRO DE 2008OPINIÃO

A MINHA ESTANTE

Maria Pinto*[email protected]

* Docente do ensino superior

“Tudo o que eu viEstou a partilhar contigoO que não viviHei-de inventar contigo...”

(“Encosta-te a mim”, Jorge Palma)

Não, não é uma história retirada dasmuitas que guardo na minha estante.Trata-se de um texto sobre a vida ousobre pedaços de vidas que gostariade partilhar com os meus leitores.

É a história de Marieta, bonita mu-lher-menina, de longos cabelos ne-gros, que pertencia a uma família nu-merosa, de fundas raízes tradicionais.Marieta era a quinta de dez irmãos,sendo por todos acarinhada de formamuito especial. Talvez pelo seu armeigo, pela forma como vivia a vida acantar. Aparentemente feliz.

Abraçava-a uma enorme mansão

secular, robusta, cercada de frondo-sas e sábias árvores, que tantas ve-zes ouviam os seus murmúrios, os seussilêncios e que lhe davam colo em seusramos para que Marieta pudesse sor-ver o desafio de outras paisagens...imensas... longínquas.

Assim se demorava horas a fio equando lhe perguntavam o motivo decertas ausências e atrasos, ela sorriasuavemente, permanecendo em silên-cio... feliz.

Marieta, ainda que toda ela refina-da e aprumada como ditavam as re-gras familiares, tinha um quê sem por-quê de força da natureza e de sensu-alidade que lhe dava, em certos mo-mentos, um toque de profunda impre-visibilidade, espelhado em seus olhose nos longos cabelos negros.

A história de Marietapenteada pelo vento...

A sua mansão castelar, tão sem fim,tão sempre cheia de gente, aborrecia--a. Murava-a. Marieta-solitude (as-sim lhe chamava o irmão mais velho)amava a liberdade e ansiava por cres-cer interiormente longe das “mura-lhas” que a cercavam.

Nas suas divagações por entre asárvores, quando sonhava com mundosoutros, foi-se apercebendo da suacrescente cumplicidade com o vento.Aquela outra força da natureza que adeixava ir por onde queria. Que lhepenteava os maravilhosos cabelos.Que a abraçava e soltava e lhe falavade liberdade. Uns dias brisa, outrosdias vento. Trazendo-lhe o perfumedas flores ou um turbilhão de folhasrevoltas. Também ele imprevisível.

Por vezes, Marieta intimidava-secom a sua imponência, com um gritomais assustador que pudesse amea-çar uma tempestade. Mas ela não vi-

nha. Pelo contrário, era o abraço for-te que a chamava, a doce toada que aembalava...

“Encosta-te a mimNós já vivemos cem mil anosEncosta-te a mim...Dá cabo dos teus desenganosNão queiras ver quem eu não souDeixa-me chegar...Enrosca-te a mim...”

Marieta-história-de-amor dormialongas sestas em seus braços, percor-rendo com ele tantos lugares e trocan-do uma infinidade de palavras longase lânguidas num beijo também semfim.

Ao sol-pôr, quando regressava acasa, Marieta cada vez mais se abs-

traía e distanciava e calava, ocupan-do-se agora em esculpir mentalmenteum rosto que ia imaginando. O rostodo seu amado, que lhe aparecia emtonalidades felizes e ao mesmo tem-po se dissipava e fugia, como se a hi-pótese de felicidade residisse numaespera eterna.

A Primavera acabava de se consu-mir e os longos e quentes dias de Ve-rão instalavam-se. Sufocantes. Semuma leve brisa, sem um toque de ven-to. Marieta secava, tal flor sedenta deágua e do frescor da natureza. Já nãoconseguia delinear o rosto do seuamor. Sentia-o. Apenas.

Um dia houve, nos finais do estio,em que ao sair de casa se arrepiou.Primeiro uma nuvem. Depois outra emais outra. Escuras. Em voo rápido,assustando o sol. O vento-seu-amigo-seu-amor lançou-se numa espécie devoragem, inquietando plantas e ani-mais, chamando outras nuvens de chu-va, trazendo consigo outros ventos etantas outras folhas desconhecidas deMarieta.

Eram sopros estranhos, fortes, quea fustigavam, despiam e desgrenha-vam. Marieta perdia-se. Desconhe-cia-se. Definhava. Sorvia o mar sal-gado que escorria de seus olhosd’água. Agora olhos de desespero. Ovento ria em grossas gargalhadas, rui-dosas como o forte bater da chuva.

Marieta encolhia-se por debaixo deum dos alpendres do casarão que erao seu e que neste momento mais seassemelhava a um gigante assustador.Estava aterrorizada com o que via,com a sua solidão, Marieta-solitude,lembrava-se agora... mas persistia emnão entrar em casa.

De súbito, o sol começou a raiar lálonge e as nuvens renderam-se ao seubrilho e foram desaparecendo no ho-rizonte. O vento aquietou. Apenas uma

leve brisa. Marieta distendeu o seucorpo dorido e tentou até sorrir. Talcomo acontecia noutros tempos, ovento-agora-brisa apertou-a contra opeito, sussurrando...

“Encosta-te a mimDesatinamos tantas vezesVizinha de mim...Sei que não seiÀs vezes entender o teu olharMas quero-te bemEncosta-te mim...”

Marieta tentou olhar o vento. Ha-via entre eles algo de novo que osafastava. Ele tentava pentear os seuscabelos mas já não conseguia. Ela des-conhecia-o. A canção parecia ter sa-bor a fim.

Marieta entrou em casa. Regres-sou ao seu espaço. Tudo se lhe depa-rava diferente. Os espaços, os chei-ros, o seu rosto. As ideias mistura-vam-se. Ia pensando que nada termi-na como começa. Nada permaneceigual. Afinal a sua atracção pelos de-sígnios da natureza, pelo vento e pe-las tempestades não era o grande de-safio da vida. Vinha-lhe agora à men-te a vontade de dar cor e vida e desa-fio aos momentos de quietude, de paze de tranquilidade. Sentiu como deve-ria ser bom viver a natureza sem terde a afrontar, sorvendo-a também nosseus momentos de descanso e de re-pouso.

Marieta tomou o seu banho habitual,nesse dia mais prolongado. Depois, pen-teou os longos cabelos com a sua esco-va de cerda, dando-lhes aquele jeito deque tanto gostava...

Esta pequena história irá ficar guar-dada na minha estante... para sempre.

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2110 A 23 DE SETEMBRO DE 2008 OPINIÃO

Renato Ávila

POIS...POIS...POIS...POIS...POIS...

Joséd’Encarnação

Afinal, quem são as vítimas?

Sábado, 2 de Agosto de 2008,Programa «Lugar ao Sul», dosempre oportuno Rafael Correia,um dos mais competentes reali-zadores radiofónicos da RDP(há muito que lhe devia ter sidoprestada justa homenagem!).

No meio da conversa comuma ‘vizinha’ alentejana, assima talhe de foice, como quem nãoquer a coisa, ela diz:

– Pois a Câmara, lá no planode urbanização dela ou lá o queé, descobriu que a minha casa,que já vem do tempo dos meusavós, estava no meio de umarua. E, vai daí, mudou-a lá maispara diante, pois então!

Aquela televisiva reportagem do as-salto a uma agência bancária da capitaldeixou-nos estarrecidos.

Durante os breves minutos, que pare-ceram séculos, retraímos ao máximo arespiração e os gestos na instintiva ten-tativa de suster o fatal golpe do gatilhodas armas que os criminosos encosta-vam às têmporas dos dois funcionáriosreféns.

Segundo os famigerados números dasestatísticas, em cada semana somos con-templados com uma média de dois des-tes perigosos eventos, para já não falar-mos dos assaltos a ourivesarias, bombasde gasolina e às residências dos cidadãos,incidentes esses que, pela frequência, jáse tornaram rotina.

Desta vez, estava em guarda um “sni-pper” policial que, in extremis, ousou ati-rar a matar para defender a vida dos ino-centes, das vítimas desta habitual e te-nebrosa forma de violência.

Infelizmente, na grande maioria doscasos, a polícia quando chega, já os meli-antes estão a salvo, os funcionários e uten-tes agredidos e o património depradado.

As forças de segurança chegaramtambém a tempo de frustrar o assalto àsinstalações duma empresa agrícola e, naperseguição aos criminosos que, na fuga,tentaram desfeiteá-las, tiveram a poucasorte de atingir mortalmente um apren-diz de salteador que o progenitor, impru-dentemente, pusera ao volante da viatu-ra em que debandavam.

O alarido não se fez esperar e, de talmaneira se projectou que, mais uma vez,ficámos com a estranha sensação de que,afinal, as vítimas não terão sido os assal-tados nem as forças de segurança, masos agressores, os criminosos.

E, se tal alarido não bastasse, ou atépor causa dele, o estado, tíbio e cerimo-nioso como sempre, muito solícita e ze-losamente começou por assestar as ba-terias da lei sobre quem, no cumprimen-to da sua nobilíssima missão, fez jus àsua qualidade de responsável pela segu-rança do cidadão indefeso.

Estas cenas vêm-se repetindo sempreque as forças da ordem têm de respon-der a preceito à força criminosa da mar-ginalidade.

Já começamos a ficar fartos destesdespropositados assomos de duvidosoproselitismo, destas tergiversações dopoder perante o crescente ataque da cri-

minalidade violenta.É, certamente, à sombra desta grita-

ria quase apologética do crime e na es-teira da demissão dos poderes constituí-dos que medram os poderes marginaisda corrupção e da violência.

Com esta desencontrada e psicóticamentalidade, o delinquente fica absolu-tamente convencido de que, ao exercera violência para subtrair e agredir, a lei oprotege contra a natural agressividade deautodefesa da vítima, contra a dureza dasforças de segurança e de que está com-pletamente à vontade no exercício damarginalidade a qual, em sumária análi-se, até parece deixar de o ser.

Neste quadro que, se não fosse dra-mático, afigurar-se-ia estupidamente ca-ricato, atrevemo-nos a perguntar a nóspróprios para que servem o disfarce e ocapuz, porque fogem os criminosos comtamanha presteza.

Tal como as coisas vão evoluindo nestepaís em que o direito dia a dia se abas-tarda com leis inconsequentes e alheiasà perigosa realidade em que vivemos,com uma justiça morosa e enredada em“rodrigos” processuais e excessos deburocrático garantismo, com umas for-ças de segurança mal equipadas e per-manentemente desacreditadas por tor-

pes e cretinos ataques de tenebrososmeandros à sombra de falsos humanis-mos e desautorizadas pela inépcia dumestado virtualmente moribundo, tudo seconjuga para que nos tornemos refénsdos criminosos.

Quando alguns deputados, em indeco-rosa jogada política, se servem desta pre-ocupante situação para arma de arre-messo, hemos de recordar-lhes ter sidoa Assembleia da República quem apro-vou as leis criminais que têm permitidoaos delinquentes presos pelas forças desegurança andarem à solta a coberto demedidas preventivas de duvidosa eficá-cia e que condenados de perigoso perfilse fiquem por metade da pena.

Enquanto o assassino, o ladrão, o de-linquente, o marginal se não convence-rem de que, na prática do crime corremsérios riscos, até o da própria vida, deque as penas são a doer e para cumprir,continuaremos a brincar aos polícias eladrões.

Com efeito, quando estes é que sãotomados por vítimas e os polícias porbandidos, ao cidadão já nem valerá apena gritar “ó da guarda!”

Resta-lhe fazer fogo ou pôr-se aofresco.

Se puder!

João PauloSimões

FILATELICAMENTE 5º Centenário da mortede D. Nuno Álvares Pereira

Selo de 15 centavos com sobtetaxade 40 centavos preto

Foi, se dúvida, uma figura importantís-sima da nossa História. Nasceu prova-velmente em 1360, tendo sido legitimadopouco tempo depois pelo rei D. Pedro I.Aos 13 anos, entrou para a corte de D.Fernando, como escudeiro da rainha, e ti-nha 16 anos quando casou com a jovemviúva D. Leonor Alvim, passando a mo-rar em Cabeceiras de Basto. Enviuvouem 1387, não voltando mais a casar.

Nuno Álvares Pereira teve um papeldecisivo após a morte do conde Andeiro,alinhando de imediato ao lado do Mestrede Avis. Conseguirá assim uma ascensãonotória e social. Com boas qualidadesmilitares, tanto do ponto de vista estraté-gico como da coragem individual e da ca-pacidade de condução de homens, lutouem várias escaramuças em Lisboa esten-dendo-se para o Alentejo, tendo sido a suaprimeira intervenção significativa na ba-talha dos Atoleiros.

Ao longo da sua carreira, recebeu vá-rios títulos e honras.

Herói tipicamente medieval, conciliouo espírito guerreiro com os mais exalta-dos sentimentos religiosos, com a cons-trução da Capela de S. Jorge em Aljubar-

rota, algumas igrejas no Alentejo e o Con-vento do Carmo em Lisboa.

(Baseado na “Nova EnciclopédiaLarousse” do Círculo de Leitores, nº 18)

Esta emissão de 1931, tem desenho egravura de Arnaldo Lourenço Fragosoinspirado no retrato de Nuno Álvares Pe-reira segundo a “Chronica do Condesta-bre”, Lisboa 1526, em gravura de madei-ra de autor desconhecido. A Casa da

Moeda fez a impressão tipográfica sobrepapel liso, e rugoso, em folhas de 100 se-los com denteado 11,5 e pondo a taxa emsegunda impressão.

Foram emitidos 1.500.000 selos de $15preto, 1.500.000 selos de $25 verde,4.000.000 de selos de $40 laranja, 250.000selos de $75 carmim, 500.000 selos de1$25 azul e azul claro, e 250.000 selos de4$50 castanho e verde claro. Circularamde 1 de Novembro a 31 de Dezembro,mantendo-se a sua venda para fins filaté-licos, até 29 de Fevereiro de 1932.

Para que se aproveitassem as enormessobras de selos desta emissão, decretouo Governo, através da Portaria de 27 deJulho de 1933 que os selos do 5° centená-rio da morte de D. Nuno Alvares Pereirafossem sobretaxados com as taxas maisnecessárias. A sobretaxa a preto foi tipo-grafada na Casa da Moeda. Foram pos-tos em circulação 1.145.500 selos de $15s/40 laranja, 516.300 selos de $40 s/ 15preto, 894.600 selos de $40 s/ 25 verde,151.200 selos de $40 s/75 carmim, 245.600selos de $40 s/ 1$25 azul e azul claro, e159.500 selos de $40 s/ 4$50 castanho everde-claro. Foram retirados de circula-ção em 1 de Outubro de 1945.

In Carlos Kulber Selos de Portugal -Álbum II (1910 / 1953)

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22 10 A 23 DE SETEMBRO DE 2008OPINIÃO

José Soares

[email protected]

Por razões profissionais, estive ausentedo país durante 10 dias, mais precisamentena zona do Adriático. Agora uma zona adespertar para o turismo, foi até há poucotempo um teatro de guerra, onde os seusvestígios ainda recentes servem para os tu-ristas tirarem fotografias de prazer, ondemuitos perderam as suas vidas ou foramvítimas de grande sofrimento.

A zona a que me refiro é a da ex-Jugos-lávia que, com o seu desmantelamento, pro-vocou a guerra no que é hoje conhecidocomo: Croácia, Bósnia-Herzegovina, Mon-tenegro e Eslovénia (locais que visitei). Fa-ziam ainda parte da Jugoslávia, a Sérvia e aMacedónia.

No final desta visita, e de regresso à cal-maria nacional do nosso país, parecia quetinha entrado num país a ferro e fogo. Tiro-teio em Coimbra entre elementos da etniacigana; a Polícia apanha sete elementos e otribunal solta seis!? Polícia dispara sobre doiscidadãos brasileiros, matando um, que du-rante oito horas mantiveram várias pessoascomo reféns; assaltos a instituições bancá-rias registaram uma média de quatro pordia; adolescente morre em assalto onde

“Eu quero voltar para a ilha”

acompanhou o pai e o tio; GNR pára fune-ral para levar defunto a fazer uma autópsia.

Parafraseando uma personagem da nos-sa televisão, “eu quero voltar para a ilha”, eesta poderia ser a lindíssima ilha de Blede(Eslovénia), onde Tito (presidente da ex-Ju-goslávia) tinha um lindíssimo e bem situadopalácio de férias, que agora tive o privilégiode conhecer.

Portugal sempre foi um local seguro e acidade de Coimbra tinha na segurança uma

das suas marcas. Não é possível continuara tapar o Sol com a peneira. Coimbra estáinsegura. Acredito que a Polícia faz o quepode. Mas, para o cidadão comum, isso estámuito aquém do desejável. Depois, quandoprendem os causadores da violência urba-na, vê (e vimos) os juízes a soltarem-nos.Acredito que acharão o seu esforço ingló-rio, mas só espero que não desistam do seudever.

Apesar da conversa de alguns, sempre

os mesmos, sobre a integração das minori-as, a verdade é que há pessoas que pura esimplesmente não se querem integrar emcoisa nenhuma. Aproveitam todos os be-nefícios que a sociedade (todos nós) lhesoferece e, depois, retribui com violência,vandalismo e todo o tipo de criminalidade.Não se pode confundir a árvore com a flo-resta, pelo que os bons elementos dumacomunidade não podem ser prejudicadospelos seus maus elementos. Mas estes tam-bém não podem ter nos primeiros o seuporto de abrigo, após cometerem as suasmalfeitorias. Proteger criminosos tambémé crime e deve ser socialmente punido portoda a sociedade. A integração só se fazquando os próprios desejam ser integra-dos. Quando isso não acontece, só pode-mos assistir a conversa da treta. Que inte-gração poderá haver, quando uma minoriaimpõe a sua “cultura” marginal à maioria?A sociedade tem obrigação de protegeros mais fracos e combater os parasitas.As próprias comunidades minoritárias po-derão preservar as suas culturas e a suaidentidade, desde que as mesmas não fi-ram a sociedade onde estão integradas,pondo em causa a liberdade de todos. Étambém importante que a mesma socie-dade, reconheça casos de sucesso doselementos desses grupos ou etnias. Osbons exemplos serão a melhor forma deintegração das minorias.

[email protected]

CarlosEsperança

ponte europa

www.ponteeuropa.blogspot.com/

O ministro da Defesa de Itália, Igna-zio La Russa, afirmou que os militaresfascistas da chamada República de Saló(1943-1945), que combateram para im-pedir a entrada dos aliados, «merecemrespeito» porque lutaram para defendera pátria.

Quando um primata com funções deministro da Defesa, num país democrá-tico, é suficientemente boçal para reabi-litar o fascismo através dos militares que,contrariados ou não, se bateram por umdos mais ignóbeis sistemas políticos, nãoé um governante, é um solípede que ofen-de os democratas, um cretino que nãorespeita a República, um marginal semética nem escrúpulos.

Que um país da Comunidade Euro-peia possa ter à frente das suas For-ças Armadas um simpatizante de Mus-solini, um fascista ignóbil ou um anal-fabeto diplomado, é motivo de preocu-pação para os democratas e um peri-

go para as liberdades.A alarvidade de tão graves decla-

rações não pode passar impune pe-rante os dirigentes dos países euro-peus. Sarkozy tem uma palavra a di-zer. Os cidadãos dos países livres nãopodem deixar de exigir que a Itáliacorra com a lúgubre figura de um

Governo que já é, sem ele, pouco re-comendável.

Fascismo, nunca mais.

O QUE DIZ A DIREITAPORTUGUESA?

As principais praças norte-americanas

encerraram em forte alta, sustentadaspela convicção de que o resgate da Fan-nie Mae e da Freddie Mac pelo governonorte-americano estabilizará o sistemafinanceiro mundial, abalado por perdascom o crédito no valor de 507 mil mi-lhões de dólares.

Comentário: Quando um Governoultraliberal se sente na necessidade desalvar da bancarrota empresas privadas,obrigando todos os contribuintes a pagara derrocada, está a confessar a falênciado liberalismo económico. De forma elo-quente

ELEIÇÕES EM ANGOLA

A supremacia esmagadora do MPLAsobre a UNITA, com o desaparecimen-to de pequenos partidos, ultrapassou asexpectativas do Governo de Luanda.

O resultado foi pacífico, justo e ho-nesto, de acordo com insuspeitos analis-tas internacionais.

Cabe agora a José Eduardo dos San-tos ser comedido no mandato que lhe foiconferido e pôr cobro à corrupção, comoprometeu.

Daqui a quatro anos haverá de novoeleições.

Itália – Um imbecil no Governode Berlusconi

O ministro da Defesa de Itália, Ignazio La Russa (em primeiro plano)

Page 23: O Centro - n.º 57 – 10.09.2008

2310 A 23 DE SETEMBRO DE 2008 INTERNET

IDEIAS DIGITAIS

Inês AmaralDocente do Instituto Superior Miguel Torga

GOOGLE CHROME

CLIPMARKS

WALK SCORE

MYGAZINES

TWITTEREC

DEOLINDA

O Google e sempre o Google. A novidade agora é obrowser Google Chrome, ainda em versão beta eapenas disponível para Windows, para rivalizar com aMicrosoft e o seu Internet Explorer. Para fazer o do-wnload basta aceder ao site do Google e seguir o linkindicado.

«O Google Chrome é um browser criado paratornar a utilização da Web mais rápida, fácil e se-gura, com um design simples e sem obstáculos» é omote. Mas o primeiro obstáculo reside no facto de ape-nas estar disponível para Windows. Para os utilizado-res dos outros serviços do Google as vantagens sãoimensas, já que se verifica a integração plena num úni-co interface. Por aqui damos conta desta novidade, mascontinuamos a preferir o Flock.

GOOGLE CHROMEendereço: http://www.google.comcategoria: software

O serviço Clipmarks é uma óptima novidade paraquem gosta de guardar recortes. Trata-se de uma es-pécie de favoritos, mas alargado. Através deste siste-ma é possível seleccionar o que se pretende guardarde um documento – seja texto, imagem ou qualqueroutro tipo de elemento. E, à boa maneira Web 2.0, per-mite a partilha.

Para além de permitir recortar pedaços de documen-tos, o Clipmarks tem um sistema de organização porpastas temáticas. É possível comentar, ver os mais po-

pulares do site, adicionar amigos ou seleccionar outrosutilizadores como “guides”, o que permite ver sempreas suas actualizações. Um serviço imprescindível naera da “multi-informação” que é a Internet.

CLIPMARKSendereço: http://clipmarks.comcategoria: digital

Enquanto está online, é de aproveitar o site Mygazi-nes. Os autores deste espaço disponibilizam centenasde revistas passadas a scanner. Está lá tudo, desde aTime à The Economist.

O acesso é gratuito e sem registo. O site está per-manentemente actualizado, pelo que as revistas estãosempre na data certa. É possível não só ver a revistada semana ou do mês, tal como se pode consultar osarquivos. Os utilizadores que optarem por se regista-rem têm a possibilidade de guardar favoritos e subs-crever revistas, recebendo as novidades sempre quehá actualizações. Mas deverá ser sol de pouca dura,por isso é urgente uma consulta em breve.

MYGAZINESendereço: http://www.mygazines.comcategoria: imprensa

Gosta de andar a pé? Entãoesta sugestão é indicadapara si. O Walk Score é uma comunidade de amantesde caminhadas que indicam as melhores cidades parase andar a pé.

Os utilizadores apresentam a informação com índi-ces de interesse e dificuldade das caminhadas, apre-sentado o site essa informação cruzada com dados ge-ográficos e locais de interesse. Claro que está essenci-almente centrado nos Estados Unidos, no entanto ésempre um bom ponto de partida para quem quer mu-dar de estilo de vida.

WALK SCOREendereço: http://www.walkscore.comcategoria: estilo de vida

Os utilizadores habituais do Twitter têm agorauma nova ferramenta à sua disposição. Trata-se doTwitterec, um serviço que permite gravar a timeli-ne durante um período de 24 horas. Assim, é possí-vel recuperar tudo o que os utilizadores que seguempublicaram.

É uma espécie de vídeo à antiga já que evita pro-blemas como o facto do Twitter apenas lhe apre-sentar as últimas 10 páginas. Se “deixar a gravar”,pode ler tudo o que foi publicado num período má-ximo de 24 horas. Claro que os feeds RSS tambémresolvem o assunto...

TWITTEREC

endereço: http://www.twitterec.comcategoria: internet

Ainda não conhece Deolinda? Então vale a penavisitar o site deste original grupo lisboeta, que com-bina world music com fado, música portuguesa, bomgosto e um excelente humor. Online pode ouvir asmúsicas do álbum de estreia dos Deolinda, “Cançãoao lado”.

Com um layout muito interessante, o site apresen-ta textos, vídeos e a agenda de uma banda que mos-tra que é possível dançar o fado. Um espaço dife-rente, para ver e ouvir o bom gosto dos Deolinda.

DEOLINDA

endereço: http://www.deolinda.com.ptcategoria: música

Page 24: O Centro - n.º 57 – 10.09.2008

24 10 A 23 DE SETEMBRO DE 2008TELEVISÃO

PÚBLICA FRACÇÃO

Francisco [email protected]

FÉRIAS

Durante os dias de férias consegui vermais alguma televisão. Não que seja as-síduo espectador. Cada vez vejo menos,o que coloca em causa até a continuida-de destas crónicas. Seja como for lá fuivendo mais alguma coisa e não ganheipara o susto!

Chamem-lhe a “caixa que mudou o mun-do” ou outra coisa qualquer, mas o que éverdade é que a televisão é um poderosomeio de comunicação, com uma linguagemprópria que condiciona fortemente os seusconteúdos.

Dei por mim a ver televisão quando nãome apetecia fazer absolutamente mais nada.Mau sinal. Muito mau. Tenho para mim quea omnipresença televisiva a transformounum enorme tirano de que lentamente nosvamos tentando libertar.

Confio nas próximas gerações. Não con-fio na televisão em si. Ela contém vários

males que, sobretudo após o seu crescimen-to, não nos têm dado grande abertura paraacreditar nela.

Alguns programas e rubricas que nun-ca ou raramente tinha visto, deixaram-meperplexo. Eu vi (e ouvi!) as “tertúlias” quealastram nos programas populares dasmanhãs e tardes das “grandes” estaçõesnacionais. Recusava-me a acreditar noque me tinham dito sobre tais momentos,mas era tudo verdade e muito pior do queimaginava.

Sim, os “painéis” destas tertúlias sãomesmo capazes de falar sobre as maioresfutilidades durante uma quantidade de tem-po que parece interminável. Um retrato davida nacional ficcionada, sempre em tornode meia dúzia de grotescas e ocas persona-gens que, na realidade, não existem. Nadadaquilo existe. O que existe é o negócio emtorno daquela ficção. As revistas, os pro-gramas de televisão, e, por extensão, os lo-cais que alguns papalvos espectadores têmgosto em frequentar (e lá gastar os seuspoucos euros) porque “aquela gente” vai lá.Não vai, digo-vos eu. Ou antes, vai quandolhe pagam. E vão com fatinhos e sapatitoscedidos por diversas lojas que fazem partedo mesmo jogo.

Eu vi os “Morangos com Açúcar” (TVI)e o seu recente sucedâneo “Rebelde Way”

(SIC), séries dirigidas a adolescentes possi-velmente retardados já que o seu públicomais fiel está nas crianças entre os 7 e os13 anos. De qualquer forma, tempos de an-tena assustadores, onde os modelos apre-sentados incluem cenas do género “o Ve-rão está a acabar... vamos mas é curtir” eacaba tudo bêbado deitado no chão da sala.

Claro que estas séries merecem umaanálise muito mais cuidada, mas à primeiravista, para além destes comportamentos,encontramos coisas tão irreais e absurdas

como colégios de elite que gostam de aju-dar os pobrezinhos esforçados ...

Resumindo : sobra muito pouco tempopara se encontrar qualquer assunto tratadocom inteligência e bom gosto, o que não é amesma coisa que dizer fastidioso.

O VERÃO CRIMINAL

O Verão de 2008 era para ser o maisquente dos últimos trinta anos. Era! A co-municação social encarregou-se de nos pas-sar a informação, mas perante o desmoro-nar da expectativa não tentou desmontar asituação com quem tinha feito tais previsões.

Como não houve calor, não houve incên-dios. Não havendo incêndios lá se vai umaboa parte da matéria que ocupa normalmen-te os noticiários. Uma dor de cabeça paraos responsáveis. E agora? Que fazer?

Este ano a situação ficou para já resolvi-da: Jogos Olímpicos e Agosto violento. Restasaber até que ponto a televisão (todas asestações) ampliou a “onda de crimes”, talcomo todos os anos tem feito com a “ondade incêndios”. A discussão em torno desteassunto já começou. Por exemplo, num lon-go post do seu blogue “Arrastão”, DanielOliveira, um dos elementos do “Eixo do Mal”(SIC-Notícas), faz uma análise que tem ser-vido como base de debate acalorado, muitomais do que este insosso Verão. Aqui ficaum extracto:

“O jornalismo televisivo vive, antes demais, segundo as regras da televisão esó depois segundo as regras do jornalis-mo. Tem o ritmo frenético da televisão eaproxima-se o mais que pode da ficçãodas telenovelas. Precisa de criar narra-tivas próprias. E, como as telenovelas,para ter mercado cria mercado. Cria ne-cessidade e ansiedade. E quando sub-merge o país na sua própria narrativa,dá às pessoas mais do mesmo até esgo-tar o filão. Depois, o consumo será, comoé quase sempre, compulsivo: se as pes-soas estão com medo, dá-se-lhes pânico(é o que se fez com a criminalidade), seas pessoas estão animadas dá-se-lhe eu-foria (foi o que se fez com o Euro 2004ou Expo), se as pessoas estão desanima-

das dá-se-lhe a depressão (foi o que secomeçou por fazer com os Jogos Olím-picos). E assim cria uma sociedade ma-níaco-depressiva, que salta da euforiapara o desânimo absoluto.”

Discordo do Daniel Oliveira em muitacoisa, mas neste extracto do blogue eleacerta em cheio. E, como diz Rui Reini-nho na sua eterna e incontida irreverên-cia, “estamos todos a ficar bipolares, masninguém sabe o que é isso em Poiares”.Pois não. Nem em Poiares, nem em mui-tos outros locais. Por isto, que consciên-cia temos sobre a forma como estamosa viver? Não que a televisão não provi-dencie psiquiatras e psicólogos em nú-mero razoável para esclarecer as popu-lações de todos os Poiares do País. Sóque também eles passaram a fazer par-te do espectáculo e a contribuir, em al-guns casos, para o desenvolvimento datal sociedade maníaco-depressiva de quefala Daniel Oliveira. Possivelmente comalgum lucro, quem sabe. É natural. Nadahá de mais assustador do que não con-seguirmos compreendermo-nos a nóspróprios, sobre tudo quando temos cons-ciência disso.

Vem isto a propósito do debate organiza-do pela SIC (generalista... vejam só), queabdicou das suas pérolas novelísticas parafalar sobre a “onda de criminalidade”. Cla-ra de Sousa moderou, de uma forma nadamoderada, diga-se, pois chegou a deixarpassar a ideia da defesa do porte de arma

quase “à la Charlton Heston”. Os outrosparticipantes, para além de três vítimas queaceitaram dar a cara, foram o habitual trioque tem abrilhantado os finais do Jornal daNoite das quintas-feiras: o advogado Rogé-rio Alves, o criminalista Moita Flores e opsiquiatra José Gameiro. Assim apresenta-dos pela SIC...

Rogério Alves é o que tenta ser maisobjectivo e o que está menos na defensiva.Moita Flores continua eternamente a surgircomo criminalista, porque foi da Polícia Ju-diciária, mas entretanto é Presidente deCâmara e tem passado uma boa parte doseu tempo a escrever guiões para ficçãotelevisiva. José Gameiro, o psiquiatra, surgesempre com aquele ar de quem não sabequase nada sobre nada, espalhando dúvidassobre dúvidas, enquanto que com um olhardistante deixa no espectador aquela angús-tia que talvez só se resolva no divã do con-sultório.

Mais absurdo do que isto só o MárioCrespo na sua rábula sobre Angola, puxan-do do passaporte onde consta que há vinteanos foi impedido de lá entrar, perante o olharatónito do convidado (Pezarat Correia) queestava nos estúdios para falar sobre o mo-mento das eleições angolanas, embora, es-clareceu, já há anos que deixara de acom-panhar a vida daquele País!

Júlia Pinheiro e uma das “tertúlias”