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O trabalho infantil no Nordeste brasileiro e sua relação com as convenções 138 e 182 da OIT – Organização Internacional do Trabalho. Jodelse Dias Duarte 1 RESUMO O artigo aqui apresentado visa demonstrar sucintamente como se processa a exploração de crianças e adolescentes no Nordeste brasileiro, em face à condição de miserabilidade em que vive o povo nordestino e a falta de perspectivas de qualidade de vida melhor, baseando-se principalmente nas Convenções Nº.138 e 182 da OIT e suas relações com as condições de trabalho infantil na Região Nordeste do Brasil, com vistas à total abolição do trabalho infantil, em todas as suas formas e meios. Palavras-chave: Exploração. Abolição. Proibição. Trabalho infantil. Nordeste brasileiro. OIT. ABSTRACT The article here presented seeks to demonstrate succinctly as it is processed the children's exploration and adolescents in the Brazilian Northeast, in face to the miserableness condition in that lives the Northeastern people and the lack of perspectives of quality of better life, basing mainly on the Conventions Nº.138 and 182 of OIT and their relationships with the conditions of infantile work in the Northeast Area of Brazil, with views to total abolition of the infantile work, in all their forms and means. Key Words: Exploration. Abolition. Prohibition. Infantile work. Brazilian northeast. OIT. INTRODUÇÃO 1 Pedagogo, Especialista, Bacharelando em Direito – UNEB - Campus XV. [email protected]

O Trabalho Infantil No Nordeste Brasileiro E Sua RelaçãO Com As ConvençõEs 138 E 182 Da Oit – OrganizaçãO Internacional Do Trabalho

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The article here presented seeks to demonstrate succinctly as it is processed the children's exploration and adolescents in the Brazilian Northeast, in face to the miserableness condition in that lives the Northeastern people.Article presented as partial evaluation of Direito do Trabalho I .

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Page 1: O Trabalho Infantil No Nordeste Brasileiro E Sua RelaçãO Com As ConvençõEs 138 E 182 Da Oit – OrganizaçãO Internacional Do Trabalho

O trabalho infantil no Nordeste brasileiro e sua relação com as convenções 138 e 182 da OIT – Organização Internacional do Trabalho.

Jodelse Dias Duarte1

RESUMO

O artigo aqui apresentado visa demonstrar sucintamente como se processa a exploração de crianças e adolescentes no Nordeste brasileiro, em face à condição de miserabilidade em que vive o povo nordestino e a falta de perspectivas de qualidade de vida melhor, baseando-se principalmente nas Convenções Nº.138 e 182 da OIT e suas relações com as condições de trabalho infantil na Região Nordeste do Brasil, com vistas à total abolição do trabalho infantil, em todas as suas formas e meios. Palavras-chave: Exploração. Abolição. Proibição. Trabalho infantil. Nordeste brasileiro. OIT.

ABSTRACT

The article here presented seeks to demonstrate succinctly as it is processed the children's exploration and adolescents in the Brazilian Northeast, in face to the miserableness condition in that lives the Northeastern people and the lack of perspectives of quality of better life, basing mainly on the Conventions Nº.138 and 182 of OIT and their relationships with the conditions of infantile work in the Northeast Area of Brazil, with views to total abolition of the infantile work, in all their forms and means.

Key Words: Exploration. Abolition. Prohibition. Infantile work. Brazilian northeast. OIT.

INTRODUÇÃO

Em meados do séc. XIX, com o advento da industrialização nas fábricas inglesas tornou

desnecessário o emprego da força muscular para a produção industrial, abrindo a

possibilidade de uso de mão-de-obra feminina e infantil. A necessidade de trabalhar

passou a ocupar o tempo do brinquedo e do trabalho doméstico livre.

A situação da exploração do trabalho infantil era de tal gravidade em meados do séc.

XIX, que, era empregado o trabalho de cerca de 30 000 crianças, só nas manufaturas

metalúrgicas em Birmingham, Inglaterra.

1Pedagogo, Especialista, Bacharelando em Direito – UNEB - Campus XV. [email protected]

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Empregavam-se crianças de 6 e até de 4 anos, ocupadas pelo mesmo número de horas

dos adultos ou mais, nas olarias da Grã-Bretanha, pelos idos de 1866 com uma

exaustiva jornada de trabalho que durava das 5 horas da manhã até às 8 horas da noite.

A mão-de-obra feminina e infantil, era preferida pelos patrões porque, além de ser mais

barata, não reclamava tanto pelos seus direitos. A dureza do trabalho, aliada à má

alimentação e ao próprio local ser sujo, barulhento e cansativo, facilmente as crianças

adoeciam e se espalhavam doenças entre elas.

Eça de Queiroz fez essa observação sobre o trabalho infantil em Portugal “A criança de

sete a dez anos já conduz os bois, guarda o gado, apanha a lenha, acarreta, sacha,

colabora na lavoura. Tem a altura de uma enxada e a utilidade de um homem. Sai de

madrugada e volta à noite” 2.

No Brasil, não obstante o Século XIX não ter sido uma época de grande

desenvolvimento industrial, como na Europa, a mão de obra infantil era largamente

utilizada na lavoura e no comércio. No século XX, quando começou a se desenvolver o

parque industrial brasileiro, as condições não eram tão diferentes quanto na Europa.

Ainda assim, herdamos essa característica funesta, que ainda prevalece não só nas

grandes cidades, mas pelos rincões do Brasil afora, principalmente na Região Nordeste.

CAPÍTULO 1: O TRABALHO INFANTIL NO NORDESTE BRASILEIRO E

SUA RELAÇÃO COM AS CONVENÇÕES 138 E 182 DA OIT –

ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO

1.1 Considerações gerais sobre a Convenção Nº. 138 da OIT

Visando a total abolição do trabalho infantil em diversos seguimentos operacionais na

cidade, no campo e no mar, a Conferência Geral da Organização Internacional do

Trabalho, convencionou que essas proposições se revestissem da forma de uma

convenção internacional, a ser adotada pelos países membros, ficou então, essa

convenção com a seguinte redação em seu Artigo 2°,

“Todo Estado-membro que ratificar esta Convenção especificará, em declaração anexa à sua ratificação, uma idade mínima para admissão a emprego ou trabalho em seu território e em meios de transporte registrados em seu território; ressalvado o disposto nos artigos 4º a 8º desta Convenção, nenhuma pessoa com idade inferior a essa idade será admitida a emprego ou trabalho em qualquer ocupação” 3.

2 Obras de Eça de Queiroz, vol. III, Lello e Irmão-Editores, Porto, Portugal, 1958.3 http://www.oitbrasil.org.br/info/download/conv_138.pdf. Acesso em 21.09.2009

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A idade a que se refere este artigo está explicitada no Artigo 3º da referida convenção,

onde

“Não será inferior a dezoito anos a idade mínima para admissão a qualquer tipo de emprego ou trabalho que, por sua natureza ou circunstância em que é executado, possa prejudicar a saúde, a segurança e a moral do jovem “4.

Essa convenção foi aprovada em 27/06/1973. No Brasil, foi promulgada pelo Decreto

4.134 de 15/02/2002.

Embora exista dentro do contexto desta Convenção, situações nas quais se permite a

realização do trabalho infantil por menores de dezoito anos, a nossa Constituição

Federal, fonte normativa nacional, já dispõe em Art. 7°, XXXIII, o zelo pelas condições

em que serão aplicáveis as normas referentes ao trabalho infantil, que em sua redação

enfatiza a “proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e

de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a

partir de quatorze anos”.5

Existe em paralelo à norma geral de proibição, existe permissão excepcional para o

trabalho infantil artístico, em casos individuais, a menores de catorze anos, mediante

autorização da autoridade competente, que fixará os tipos de trabalho e suas condições

especiais.

1.2 Considerações gerais sobre a Convenção Nº. 182 da OIT.

Essa convenção procura complementar os dispositivos da Convenção Nº 138, que

estabelece a idade mínima para que se possa autorizar o trabalho infantil, enfatizando,

porém, que existem formas de trabalho infantil muito piores das mais diversas possíveis

de se imaginar para uma criança; enfatiza também, a importância da educação

fundamental e gratuita e a necessidade de retirar a criança da labuta diária dessas formas

degradantes de trabalho, procurando promover sua reabilitação e integração social e,

procurar atacar o cerne maior do problema: a necessidade de suas famílias. Essa

convenção segundo a redação do seu Art. 3º, diz que,

“Para os fins desta Convenção, a expressão as piores formas de trabalho infantil compreende:(a) todas as formas de escravidão ou práticas análogas à escravidão, como venda e tráfico de crianças, sujeição por dívida, servidão, trabalho forçado

4 http://www.oitbrasil.org.br/info/download/conv_138.pdf. Acesso em 21.09.20095 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acesso em 21.09.2009

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ou compulsório, inclusive recrutamento forçado ou compulsório de crianças para serem utilizadas em conflitos armados;(b) utilização, demanda e oferta de criança para fins de prostituição, produção de material pornográfico ou espetáculos pornográficos;(c) utilização, demanda e oferta de criança para atividades ilícitas, particularmente para a produção e tráfico de drogas conforme definidos nos tratados internacionais pertinentes;(d) trabalhos que, por sua natureza ou pelas circunstâncias em que sãoexecutados, são susceptíveis de prejudicar a saúde, a segurança e a moral da criança.”6

Essa convenção entrou em vigor em19 de novembro de 2000, mas, só foi no Brasil,

promulgada pelo Decreto 3.597de 12/09/20007. O Brasil, através do DECRETO Nº

6.4818, de 12 de junho de 2008, elenca 89 (oitenta e nove) formas de trabalhos

prejudiciais à saúde e à segurança  e 04 (quatro) formas de trabalho prejudiciais à

moralidade das crianças.

1.3 O trabalho infantil no nordeste brasileiro

A zona rural do Nordeste é a área do país com o maior índice de trabalho infantil. No

Nordeste brasileiro, existe uma cena comum no interior das casas de produção de

farinha de mandioca, onde as famílias descascam, raspam e torram a mandioca na

maioria das vezes, com a exploração do trabalho infantil. O combate ao trabalho infantil

é para o Governo brasileiro uma questão de direitos humanos. O tema está na agenda da

política social do País, constituindo um desafio tanto para o Governo quanto para a

sociedade.

Segundo Rodrigues9, no Nordeste brasileiro, as crianças e adolescentes estão presentes

em mais de 11 atividades. Destas, a colheita da cana-de-açúcar é a principal atividade

onde o trabalho infantil está envolvido. O mesmo panorama odioso se descortina nos

sisais da Bahia; na cultura do fumo em Alagoas; na colheita da uva em Pernambuco e

Rio Grande do Norte; nas salinas do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte; nas cerâmicas

de Alagoas, Rio Grande do Norte, Bahia, Pernambuco, Piauí, Sergipe e Maranhão; e nas

pedreiras de Pernambuco, Alagoas, Bahia, Rio Grande do Norte, Paraíba e Piauí.

O Governo brasileiro procura se adequar às normas referendadas na Convenção Nº.182

da OIT, envidando esforços para inserção das crianças e adolescentes em programas que

6 http://www.oitbrasil.org.br/info/download/conv_182.pdf. Acesso em 21.09.2009.7 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6481.htm. acesso em 21.09.2009.8 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6481.htm. Acesso em 21.09.2009.9 RODRIGUES, João Gaspar. Trabalho infantil ou escravo? . Jus Navigandi, Teresina, ano 1, n. 6, fev. 1997. Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1662. Acesso em 18.08.2009.

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minimizem a utilização destes indivíduos na força laboral, através da implantação do

chamado

“ “Programa Brasil Criança Cidadã”, que é composto pelo "Programa de Erradicação do Trabalho Infantil" (PETI), este com especial atenção ao trabalho em zonas rurais, e ao trabalho infantil executado em atividades perigosas, penosas, insalubres ou degradantes. O PETI é um programa de transferência direta de renda do Governo Federal para famílias de crianças e adolescentes envolvidos no trabalho precoce e está sob a responsabilidade do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome”10.

Outros programas do Governo de cunho social tais como o “Bolsa Escola”, e a “Bolsa

Família”, são de vital importância para a continuidade do Programa de Erradicação do

Trabalho Infantil, pois sabe-se que

“O trabalho infantil teve redução entre os domicílios que recebem dinheiro de programa social em 2006, segundo mostra o suplemento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre as pessoas com até 17 anos de idade, a pesquisa observou que o nível de ocupação foi maior para os domicílios em que houve recebimento de dinheiro de programa (14,4%), contra 9,6% observado nos domicílios onde não houve recebimento. ”11

Dessa forma, observa-se claramente que o maior problema da utilização de mão de obra

infantil nos diversos seguimentos da sociedade vem realmente a ser a baixa renda das

famílias, que muitas vezes utiliza esse subterfúgio para ter ao menos um prato de

comida por dia. A situação é ainda mais gritante no Nordeste brasileiro, haja vista que

“No Brasil, em 2008, havia 92,5 milhões de pessoas com cinco anos ou mais

de idade ocupadas, destas, 4,5 milhões tinham de 5 a 17 anos de idade,

sendo 993 mil delas crianças de 5 a 13 anos. A região Nordeste apresentava

a maior proporção de pessoas de 5 a 17 anos de idade ocupadas, 12,3% (1,7

milhão).”12

Existem cidades inteiras no interior do Nordeste brasileiro, cuja renda per capita

melhorou consubstancialmente, fazendo girar a economia, que praticamente estava

estagnada pelas extremas condições de pobreza dos cidadãos.

Mesmo com a implantação desses programas de cunho social, na tentativa de

erradicação do trabalho infantil, ainda há muito que ser feito, para que esses indivíduos

10 RIBEIRO, Gaysita Schaan. O trabalho infanto-juvenil proibido: prevenção e erradicação. Jus Navigandi. Teresina, ano 13, n.2195.jul.2009. Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=13093. Acesso em 22.09.2009. 11http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2008/03/28/ pnad_trabalho_infantil_cai_onde_ha_verba_social_1247131.html. Acesso em 22.09.2009.12 http://www.ecodebate.com.br/2009/09/19/pnad-2008-trabalho-infantil-diminui-mas-ainda-e-realidade-para-993-mil-criancas-de-5-a-13-anos/. Acesso em 22.09.2009.

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sejam de fato inseridos na sociedade e para que tenham pelo menos a esperança de um

futuro melhor.

REFERÊNCIAS

http://www.ecodebate.com.br/2009/09/19/pnad-2008-trabalho-infantil-diminui-mas-ainda-e-realidade-para-993-mil-criancas-de-5-a-13-anos/. Acesso em 22.09.2009.

http://www.oitbrasil.org.br/info/download/conv_138.pdf. Acesso em 21.09.2009

http://www.oitbrasil.org.br/info/download/conv_182.pdf

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acesso em 21.09.2009

http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2008/03/28/pnad_trabalho_infantil_cai_onde_ha_verba_social_1247131.html. Acesso em 22.09.2009.

QUEIROZ, Eça de. Obras de Eça de Queiroz, vol. III, Lello e Irmão-Editores, Porto, Portugal, 1958.

RIBEIRO, Gaysita Schaan. O trabalho infanto-juvenil proibido: prevenção e erradicação. Jus Navigandi. Teresina, ano 13, n.2195. jul.2009. Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=13093. Acesso em 22.09.2009.

RODRIGUES, João Gaspar. Trabalho infantil ou escravo? . Jus Navigandi, Teresina, ano 1, n. 6, fev. 1997. Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1662. Acesso em 18.08.2009.