1

Click here to load reader

Página7

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Página7

ABRIL DE 2008 - PÁGINA 7MEIO AMBIENTE

Há 16 anos em atividade em São Mateus, depósito de lixo se aproxima da sua capacidade máxima

Leandro de Paulo

POLÊMICA – Lagoa de chorume com vista geral do Aterro São João; atualmente ele mede 155 metros

Diariamente, o município de SãoPaulo produz cerca de 15 mil tonela-das de lixo. Para estocar esse volumede material são utilizados dois gran-des depósitos: o Aterro São João,administrado pela concessionáriaEcoUrbis Ambiental S/A, respon-sável pela área sudeste, e o AterroBandeirantes, pela Logística Am-biental de São Paulo S/A – Loga,que concentra a região noroeste.

O Aterro São João, localizado nokm 33 da Estrada de Sapopemba,em São Mateus, recebe diariamente7 mil toneladas de resíduos. Nele, olixo é armazenado em montes, for-mando uma camada de 5 metros delixo cobertos por 60 centímetros deterra. Atualmente, atinge sua capaci-dade máxima: 155 metros.

Desde sua criação, em 1992, oaterro traz muita polêmica para o lu-gar onde está fixado. Moradores daregião reclamam do mau cheiro pro-veniente do lixo, da contaminaçãodo solo e do córrego que passa pró-ximo à área. Segundo um comer-ciante, que preferiu não se identifi-car, antes do lixão ser implantandoo canal “tinha vida”. Após a instala-ção, até os peixes teriam morrido.

Uma outra reclamação apuradapelo Cidadão foi a falta de infra-

estrutura da estrada. Nela, trafegamcaminhões carregando toneladas delixo, causando rachaduras nas casasmais próximas. “Na época que im-plantaram o lixão, há 15 anos, fo-ram prometidas melhorias para obairro, como iluminação pública, se-gurança, creche, dentre outras coi-sas, porém não fizeram nada”, dizo mesmo comerciante que prefereo anonimato.

Segundo Vicente Cândido deOliveira, 43 anos, morador do bair-ro Limoeiro, o depósito de resí-duos interfere diretamente na vidados vizinhos. “Geralmente, à tar-de, há uma mudança de vento e estetraz um mau cheiro muito forte doaterro para o Limoeiro. Antes, nãoera assim”, diz Oliveira.

Porém, o aterro não incomoda atodos. “Cheiro, pode até ter, mas não

é alguma coisa que lhe deixe irritadoou com falta de ar. Eu mesmo nãopercebi nada de diferente”, diz o se-gurança Teófilo Moreira da Silva Fi-lho, 29 anos, que reside na estrada deSapopemba há nove anos.

Na madrugada de 13 de agostode 2007, houve um desmorona-mento de uma camada de lixo noAterro São João, causando o vaza-mento de gases que trouxeram um

mau cheiro forte por toda a região.Segundo moradores, o acidente sedeu pelo excesso de lixo, ou seja,colocaram mais do que a área podesuportar. Para alguns vizinhos, oque ocorreu foi uma espécie de ava-lanche, “a avalixo”, como dizem.

De acordo com a EcoUrbis, omau cheiro da região se deu pelodeslizamento ocorrido no dia 13 deagosto. O forte odor se estendeupor 15 dias, tempo no qual foramfeitos os trabalhos de reconforma-ção, resgatando a geometria origi-nal do aterro. As rachaduras ocorri-das nos imóveis não têm relaçãocom a passagem dos caminhões.Foram feitas vistorias nas edifica-ções que estão próximas ao aterro enão se constatou qualquer anoma-lia provocada por tráfego local.

Ainda segundo a EcoUrbis, oaterro inicialmente era administra-do pela Prefeitura de São Paulo. Aconcessionária o assumiu em 2004.O contrato atual não resgata pro-postas feitas pelo governo munici-pal no ano de inauguração do ater-ro. Hoje, a EcoUrbis está resgatan-do e assumindo as pendências am-bientais legais. Quanto ao eventoocorrido em 13 de agosto de 2007,os relatórios estão em fase final,portanto, ainda não há uma respos-ta oficial.

EcoUrbis quer instalar mais um depósito

DISCUSSÃO – Em frente à Prefeitura de São Paulo, faixa reivindica tratamento do lixo

Dayane Cunha

A concessionária EcoUrbis Am-biental S/A apresentou no dia 9 denovembro do ano passado, em au-diência pública, o projeto do em-preendimento Central de Trata-mento de Resíduos Leste (CLT),que a empresa deseja instalar ao ladodo Aterro São João, localizado emSão Mateus, Zona Leste de SãoPaulo. Manifestantes da comunida-de estiveram no local e protestaram.

O Aterro São João começou aoperar em 1992 e recebeu até maiode 2007 mais de 27 milhões de to-neladas de resíduos. Ele ficou inati-vo desde o desmoronamento delixo, ocorrido em 13 de agosto de2007, e só voltou a funcionar noinício de 2008. O gerente do local,Leonardo Marques Rezende Tava-res, afirmou que a Prefeitura neces-sita de um aterro próprio, já que osdois pertencentes à ela – o São Joãoe o Bandeirantes, este em Perus,Zona Norte – estão com a capaci-dade máxima e não podem maisreceber resíduos. A empresa utilizaatualmente aterros particulares lo-calizados nos municípios de Caiei-

ras e Guaru-lhos, e pagapor eles.

Ambien-talistas e lide-ranças de mo-vimentos po-pulares e sin-dicais manifes-taram-se con-tra o projeto elançaram ac a m p a n h a“Mais Vida,Menos Lixo”.Para LeonardoAguiar Mo-relli, secretárioda Defensoriada Água e umdos organiza-dores da mobilização, “é incabívelampliar ou instalar novos aterrossanitários antes que sejam estabele-cidas políticas públicas para a ques-tão do lixo que privilegie a coletaseletiva, reciclagem e educação am-biental para a redução dos resíduossólidos domésticos”.

Os três “erres” da sustentabili-dade (redução, reuso e reciclagem) fo-

ram bastante comentados na au-diência, não só pelos integrantes dacampanha “Mais Vida, MenosLixo”, mas também pelos morado-res dos bairros próximos ao aterro.Em 2000, uma pesquisa nacional desaneamento básico realizada peloIBGE mostrou que em São Pauloexistem 26 aterros sanitários e so-mente quatro usinas de reciclagem.

Uma das moradoras questio-nou os 12 postos de triagem que aEcoUrbis se dispôs a construir,mas não esclareceu quais serão osprocedimentos para a ação. A em-presa conta com programas de co-leta seletiva somente em algunsbairros.

O processo de licenciamento co-meçou em 2005, quando a empresa

Aterro gera preocupação entre moradoresEcoUrbis – Divulgação

apresentou um plano de trabalhoao Departamento de Avaliação deImpactos Ambientais do ConselhoEstadual do Meio Ambiente (Con-sema). Em 2006, o mesmo depar-tamento solicitou os Estudos deImpactos Ambientais (EIA-Rima), por conta da concessioná-ria. A empresa Cepollina Engenhei-ros Consultores S/S Ltda, commais de 20 técnicos, foi contratadapara realizar os estudos físicos, bió-ticos e antrópicos.

A área de 1.123.509 m² do novoempreendimento foi desapropria-da em 1995 pela Prefeitura para aconstrução do novo aterro; e fazparte das obrigações que a empresavencedora da concessão deve cum-prir. Terá vida útil de dez anos esete meses, caso a coleta seletiva con-tinue com o número atual, que, se-gundo a Limpurb, é de 1% do totaldo lixo recolhido na cidade.

De acordo com a assessoria deimprensa do Consema, o próximopasso é a apresentação do estudode impactos ambientais para o ór-gão. A reunião ainda não tem dataprevista e o valor da construção tam-bém não foi divulgado.

Dayane Cunha