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Lidar com a Demissão é o Primeiro Passo para Retomada da Carreira Entender os motivos que levaram à demissão e lidar com a dor da rejeição pode ser a porta de entrada para uma nova fase Mariá Giuliese Esvaziar as gavetas, ver subtraído o sobrenome corporativo, deixar de conviver diretamente com os interlocutores habituais, mudar a rotina diária. Para quem perde o emprego, o chão parece sumir sob os pés. Por mais racional que seja, o indivíduo dificilmente escapa da sensação de ter sido posto de lado. O sentimento de rejeição cala fundo e mina a auto-estima. Diante disso há, ainda, a necessidade de lidar com a cobrança social e também individual em se obter logo uma nova recolocação no mercado, avaliar a defasagem profissional ante ao que é exigido do profissional, e lidar com eventuais problemas pessoais que podem fatalmente envolver o dinheiro. É preciso aprender a lidar com a exclusão, que faz parte da vida. A experiência de todos neste campo é bastante precoce, mas em geral poucos se dão conta disso. Escolhemos e somos escolhidos desde a nossa primeira infância. É lá que vamos tomar partido de nossas preferências, e teremos, também, que lidar com os desejos dos outros, que podem invariavelmente fazer frente aos nossos. Essa seleção é natural, faz parte do convívio humano, talvez o primeiro do profissional quando é demitido. Tomamos as dores da situação em um âmbito muito pessoal, mas nem sempre o rompimento acontece por esses motivos. Ser preterido machuca muito. Ofende, fere, gera mágoa. Não se pode menosprezar essas reações, que são absolutamente normais e naturais. Afinal, somos seres humanos. Então, como suplantar essas sensações? Em primeiro lugar, acolhendo com respeito os sentimentos que emergem diante do desconforto causado pela nova situação, permitindo-se vivenciar a dor. A perda do emprego se assemelha muito ao luto ou à quebra de uma relação afetiva, demandando um tempo de assimilação. Não há como evitar o padecimento e ignorá-lo significa negar a realidade – o que, convenhamos, não é a melhor solução. Esse período, geralmente, também serve para a realização de uma profunda avaliação sobre nós mesmos. A dor geralmente acaba por aproximar o indivíduo de seu próprio interior. E é essa análise auto-crítica que pode, inclusive, mostrar novas direções. Reconhecer o sofrimento dá alívio e ajuda a suportá-lo. A certeza de que a dor será aplacada com o passar do tempo nos impulsiona a buscar força em outros sentimentos, capazes de abrir novas perspectivas. Analisar os motivos que deflagraram a demissão, no entanto, é uma tarefa imprescindível – embora por vezes bastante incômoda. Ser honesto consigo mesmo, avaliando o quanto contribuiu para se tornar a carta fora do baralho, possibilita construir um novo futuro, com mais chances de sucesso no redirecionamento da carreira.

Lidarcoma demissao

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Lidar com a Demissão é o Primeiro Passo para Retomada da Carreira Entender os motivos que levaram à demissão e lidar com a dor da rejeição pode ser a porta de entrada para uma nova fase Mariá Giuliese

Esvaziar as gavetas, ver subtraído o sobrenome corporativo, deixar de conviver diretamente com os interlocutores habituais, mudar a rotina diária. Para quem perde o emprego, o chão parece sumir sob os pés. Por mais racional que seja, o indivíduo dificilmente escapa da sensação de ter sido posto de lado. O sentimento de rejeição cala fundo e mina a auto-estima. Diante disso há, ainda, a necessidade de lidar com a cobrança social e também individual em se obter logo uma nova recolocação no mercado, avaliar a defasagem profissional ante ao que é exigido do profissional, e lidar com eventuais problemas pessoais que podem fatalmente envolver o dinheiro. É preciso aprender a lidar com a exclusão, que faz parte da vida. A experiência de todos neste campo é bastante precoce, mas em geral poucos se dão conta disso. Escolhemos e somos escolhidos desde a nossa primeira infância. É lá que vamos tomar partido de nossas preferências, e teremos, também, que lidar com os desejos dos outros, que podem invariavelmente fazer frente aos nossos. Essa seleção é natural, faz parte do convívio humano, talvez o primeiro do profissional quando é demitido. Tomamos as dores da situação em um âmbito muito pessoal, mas nem sempre o rompimento acontece por esses motivos. Ser preterido machuca muito. Ofende, fere, gera mágoa. Não se pode menosprezar essas reações, que são absolutamente normais e naturais. Afinal, somos seres humanos. Então, como suplantar essas sensações? Em primeiro lugar, acolhendo com respeito os sentimentos que emergem diante do desconforto causado pela nova situação, permitindo-se vivenciar a dor. A perda do emprego se assemelha muito ao luto ou à quebra de uma relação afetiva, demandando um tempo de assimilação. Não há como evitar o padecimento e ignorá-lo significa negar a realidade – o que, convenhamos, não é a melhor solução. Esse período, geralmente, também serve para a realização de uma profunda avaliação sobre nós mesmos. A dor geralmente acaba por aproximar o indivíduo de seu próprio interior. E é essa análise auto-crítica que pode, inclusive, mostrar novas direções. Reconhecer o sofrimento dá alívio e ajuda a suportá-lo. A certeza de que a dor será aplacada com o passar do tempo nos impulsiona a buscar força em outros sentimentos, capazes de abrir novas perspectivas. Analisar os motivos que deflagraram a demissão, no entanto, é uma tarefa imprescindível – embora por vezes bastante incômoda. Ser honesto consigo mesmo, avaliando o quanto contribuiu para se tornar a carta fora do baralho, possibilita construir um novo futuro, com mais chances de sucesso no redirecionamento da carreira.