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CASTRO, R. T.; ESPIRITO SANTO JR., R. A.; BALASSIANO, R. Acessibilidade de turistas com necessidades especiais ao transporte aéreo: Uma questão de sustentabilidade de destinos turísticos. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE TURISMO, 11, 2009. Anais do XI Seminário Internacional de Turismo. Curitiba: OBSTUR/UFPR: UNIVERSIDADE POSITIVO, 2009. 1 CD-ROM. ACESSIBILIDADE DE TURISTAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS AO TRANSPORTE AÉREO: UMA QUESTÃO DE SUSTENTABILIDADE DE DESTINOS TURÍSTICOS RAFAEL TEIXEIRA DE CASTRO Universidade Federal do Rio de Janeiro [email protected] Dr. RESPÍCIO ANTONIO DO ESPÍRITO SANTO JR. Universidade Federal do Rio de Janeiro [email protected] Dr. RONALDO BALASSIANO Universidade Federal do Rio de Janeiro [email protected] RESUMO As dificuldades de pessoas com necessidades especiais para a realização de viagens são diversas e este é um assunto até hoje muito pouco tratado pelos especialistas das áreas de turismo e transportes. O objetivo deste trabalho é abordar a acessibilidade de turistas com necessidades especiais ao transporte aéreo como parte importante da conquista da sustentabilidade de destinos turísticos. Para elaboração deste estudo foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre os assuntos acessibilidade, turismo, transporte aéreo, legislação específica e desenvolvimento do turismo sustentável buscando estabelecer uma relação entre os tópicos estudados. Concluiu-se que ao pensar na acessibilidade de turistas com necessidades especiais ao transporte aéreo e, por conseqüência, aos destinos turísticos os planejadores estarão se aproximando da conquista do desenvolvimento sustentável. Considerando que, em suas dimensões econômica e social, este conceito preza pela alta satisfação dos turistas, pela competitividade e colocação do destino no mercado, além de princípios como a eqüidade e equivalência de oportunidades para todos, a acessibilidade de turistas com necessidades especiais ao transporte aéreo deve ser pensada. Palavras-chave: acessibilidade, turistas com necessidades especiais, transporte aéreo, turismo, sustentabilidade.

Acessibilidade de Turistas com Necessidades Especiais ao Transporte Aéreo: Sustentabilidade de Destinos

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CASTRO, R. T.; ESPIRITO SANTO JR., R. A.; BALASSIANO, R. Acessibilidade de turistas com necessidades especiais ao transporte aéreo: Uma questão de sustentabilidade de destinos turísticos. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE TURISMO, 11, 2009. Anais do XI Seminário Internacional de Turismo. Curitiba: OBSTUR/UFPR: UNIVERSIDADE POSITIVO, 2009. 1 CD-ROM.

ACESSIBILIDADE DE TURISTAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS AO TRANSPORTE AÉREO: UMA QUESTÃO DE SUSTENTABILIDADE DE

DESTINOS TURÍSTICOS

RAFAEL TEIXEIRA DE CASTRO Universidade Federal do Rio de Janeiro – [email protected]

Dr. RESPÍCIO ANTONIO DO ESPÍRITO SANTO JR.

Universidade Federal do Rio de Janeiro – [email protected]

Dr. RONALDO BALASSIANO Universidade Federal do Rio de Janeiro – [email protected]

RESUMO

As dificuldades de pessoas com necessidades especiais para a realização de viagens são diversas e este é um assunto até hoje muito pouco tratado pelos especialistas das áreas de turismo e transportes. O objetivo deste trabalho é abordar a acessibilidade de turistas com necessidades especiais ao transporte aéreo como parte importante da conquista da sustentabilidade de destinos turísticos. Para elaboração deste estudo foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre os assuntos acessibilidade, turismo, transporte aéreo, legislação específica e desenvolvimento do turismo sustentável buscando estabelecer uma relação entre os tópicos estudados. Concluiu-se que ao pensar na acessibilidade de turistas com necessidades especiais ao transporte aéreo e, por conseqüência, aos destinos turísticos os planejadores estarão se aproximando da conquista do desenvolvimento sustentável. Considerando que, em suas dimensões econômica e social, este conceito preza pela alta satisfação dos turistas, pela competitividade e colocação do destino no mercado, além de princípios como a eqüidade e equivalência de oportunidades para todos, a acessibilidade de turistas com necessidades especiais ao transporte aéreo deve ser pensada. Palavras-chave: acessibilidade, turistas com necessidades especiais, transporte aéreo, turismo, sustentabilidade.

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ABSTRACT The difficulties faced by the people with disabilities in travel moments are many and this is a subject unexplored by tourism and transport specialists until now. The aim of this work is to treat the accessibility of tourists with disabilities as a sustainability of tourist destinations issue. The methodology used in this study was a bibliographical research performed about the following subjects: accessibility, tourism, air transport, specific legislation and sustainable tourism development seeking to establish a relationship between the topics studied. It was concluded that when the planners think about the accessibility of tourists with disabilities to air transport and, consequently, to the tourist destinations, they will be getting closer to the sustainable development. Considering that in its economic and social dimensions this concept hopes for the high satisfaction of tourists, competitiveness and placement of the destination in the market and principles such as equity and equivalence of opportunities for all, the accessibility of tourists with special needs to the air transport must be considered. Keywords: accessibility, tourists with special needs, air transport, tourism, sustainability.

1. INTRODUÇÃO

A acessibilidade de pessoas com necessidades especiais ao transporte aéreo

e, por conseqüência, ao turismo é um tema pouco tratado dentre os estudiosos da

área. Poucas pesquisas que revelam as interações entre as pessoas com

necessidades especiais e o turismo foram publicadas. Grande parte dos estudos se

iniciou no final dos anos 80 e início dos anos 90, passando então por um período

onde o assunto não foi muito explorado e voltou a ser abordado por volta dos anos

2000 (Yau et al, 2004; Burnett e Bender-Baker, 2001). Darcy (2002), ainda afirma

que há alguns estudos que pesquisaram as deficiências e opções de transporte,

entretanto, sem um contexto voltado para o turismo. Sabe-se que a experiência

turística de uma forma geral compreende uma série de componentes que ao serem

somadas resultam em uma experiência que pode tanto agregar pontos positivos

como negativos ao turista. Este trabalho pretende abordar um desses componentes

da atividade, a experiência de vôo por pessoas com necessidades especiais,

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assunto muitas vezes negligenciado por estudos tanto de gestão do turismo quanto

do transporte aéreo em si (Poria et al, 2009).

O número de pessoas que apresentam algum tipo de necessidade especial é

bastante representativo. Nos Estados Unidos, 54.4 milhões de pessoas, 18,7% do

total da população, apresentavam algum tipo de deficiência em 2005 (US Census

Bureau, 2008). Este número tende a dobrar e chegar à marca de 100 milhões até o

ano de 2030 (Yau et al, 2004). Alguns autores chegam a afirmar que, nos Estados

Unidos, este público apresenta boas condições financeiras, o que é uma surpresa

para grande parte dos profissionais de marketing (Ray e Ryder, 2003).

Em termos de estatísticas brasileiras, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia

e Estatística) passou a incluir pesquisas especificas sobre pessoas com

necessidades especiais a partir do censo nacional de 1991 em respeito à lei n. 7.853

de 24 de outubro de 1989 que tratava da obrigatoriedade da abordagem deste

assunto em todas as pesquisas de nível nacional. Entretanto essa primeira pesquisa

tratou somente das deficiências mais graves e o Instituto conseguiu uma

abrangência maior através do censo nacional de 2000 que revelou os dados

mostrados na tabela 1.

Tabela 1: Número de Deficiências no Brasil

Deficiência Visual Motora Auditiva Mental Física Total de Deficiências

Homem 7.259.074 3.295.071 3.018.218 1.545.462 861.196 15.979.021 Mulher 9.385.768 4.644.713 2.716.881 1.299.474 554.864 18.601.700 Total 16.644.842 7.939.784 5.735.099 2.844.936 1.416.060 34.580.721

Fonte: Censo Demográfico 2000 (IBGE, 2001)

A tabela 1 diz respeito ao número de pessoas que possuem determinada

necessidade especial, dessa forma, aquelas que apresentam deficiências múltiplas,

foram relacionadas mais de uma vez. A tabela 2 revela o número de cidadãos em

questão.

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Tabela 2: Número de Deficientes no Brasil.

Deficiências (A) Deficientes (B) Deficiências Múltiplas

(A-B)

Homem 15.979.021 11.420.544 4.558.477 Mulher 18.601.700 13.179.712 5.421.988 Total 34.580.721 24.600.256 9.980.465

Fonte: Censo Demográfico 2000 (IBGE, 2001)

Isso nos mostra que, em 2000, o número de portadores de necessidades

especiais no Brasil era de aproximadamente 24,6 milhões, o que representava um

número bastante razoável haja vista que se somava cerca de 14,5% da população

total. Ainda segundo o mesmo censo tem-se a relação de que para cada 100

mulheres com algum tipo de necessidade especial existiam 96,9 homens. Dados

mais específicos indicam que a região brasileira com menor índice era o sudeste

com 13,1% e a de maior incidência era o nordeste com 16,8%.

Dado o tamanho deste grupo social, não somente os mercados, mas também

as literaturas de turismo e transportes vêm aumentando gradativamente seu

interesse pelo assunto (Poria et al, 2009; Page, 1999). Dessa forma, o objetivo

central do estudo é abordar o acesso de pessoas com algum tipo de necessidade

especial ao transporte aéreo como mais uma forma de alcançar a sustentabilidade

de destinos turísticos. O conceito de sustentabilidade que em muitas áreas acaba

sendo traduzido exclusivamente pela preocupação com o meio ambiente ganha um

sentido mais amplo quando tratamos da atividade turística, como será visto adiante.

O artigo foi estruturado da seguinte forma: num primeiro momento apresenta-

se a problemática da realidade enfrentada pelas pessoas com necessidades

especiais ao realizar viagens de turismo, tendo como foco os momentos de

deslocamento origem/destino quando utilizado o modo de transporte aéreo. Em

seguida parte-se para uma revisão sobre a sustentabilidade de destinos turísticos

abordando conceitos chaves e suas dimensões, dando ênfase para o pilar sócio-

cultural da atividade turística. Por final, são estudadas as relações existentes entre a

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acessibilidade de turistas com necessidades especiais ao transporte aéreo e a

sustentabilidade de destinos turísticos.

2. TURISTAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS E O TRANSPORTE AÉREO

Mesmo com todas as suas falhas o transporte aéreo ainda é o modo mais

adequado para o transporte de pessoas com necessidades especiais ou mobilidade

reduzida. Isto se deve ao fato que os modos ferroviário e aquaviário são

praticamente inexistentes no Brasil. Além disso, o modo rodoviário conta com

diversas limitações implícitas ao serviço como o número de horas necessárias para

o deslocamento, tornando-o muito desagradável para este público.

A problemática encarada pelas pessoas com necessidades especiais possui

um histórico que sempre foi intimamente marcado por uma relação com a

organização das sociedades de suas devidas épocas. Na antiguidade, por exemplo,

em que as atividades econômicas giravam em torno da agricultura, artesanato e

pecuária, existia uma produção realizada por pessoas que eram totalmente

dependentes dos “senhores” que eram os donos dos bens. A deficiência era

inexistente nessa época como um problema, uma vez que ao se detectá-la a criança

já era automaticamente abandonada até a morte, não havendo uma atenção

específica ou mesmo preocupação com o indivíduo ou o assunto (Corde, 2007).

Atualmente em alguns países existem leis que procuram garantir os direitos

das pessoas com necessidades especiais em todos os sentidos. Diversas

instituições educadoras e sociais foram criadas para lutar pelos seus direitos e para

garantir que essas pessoas tenham uma vida mais próxima do normal com

independência e segurança. Em relação ao transporte aéreo, nos Estados Unidos,

em 1986, o governo norte-americano adotou o Air Carrier Access Act que determina

os direitos dos passageiros do transporte aéreo com deficiência e as obrigações das

empresas aéreas. No mesmo ano, o governo canadense lançou o Canadian

Transportation Act e em 2004 atualizou a parte V deste ato que trata

especificamente do transporte de pessoas com necessidades especiais.

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A literatura nos apresenta diversas definições para pessoas com

necessidades especiais. Burnett e Bender-Baker (2001) definem este consumidor

como aquele indivíduo que possui uma imparidade física que limita suas atividades.

Tal definição ressalta as atividades que essas pessoas podem ou não realizar,

entretanto não dá ênfase à como tais atividades são realizadas. Assim, este estudo

preferiu adotar a definição proposta pela OMS (Organização Mundial da Saúde) que

considera a deficiência como um termo que abrange os prejuízos, as próprias

deficiências, as limitações causadas à realização atividades ditas como normais e as

restrições de participação. A OMS (2009) diz ainda que a deficiência é um fenômeno

complexo que reflete uma interação entre recursos do corpo da pessoa e recursos

da sociedade da qual esse indivíduo faz parte.

As viagens ou a realização de atividades de turismo são alguns dos

momentos mais desafiadores e sacrificantes para os portadores de deficiência, uma

vez que exige uma cooperação muito bem harmonizada entre as capacidades

físicas, mentais e sociais do indivíduo. Capacidades tais que são muitas vezes

negativamente afetadas pela deficiência. Apesar de sentirem a mesma vontade de

viajar, pessoas com necessidades especiais têm mais questões a considerar e

desafios a enfrentar antes e durante uma viagem que aqueles que não possuem

nenhum tipo de deficiência (Yau et al, 2004; Poria et al, 2009).

Em relação a este tema, Yau et al (2004) desenvolveram um estudo com o

objetivo de identificar como pessoas com necessidades especiais se tornam

viajantes ativas. Assim, a pesquisa revela quais são os esforços encarados por

estas pessoas para que os momentos enfrentados na realização de atividades de

turismo sejam vistos de forma prazerosa. Para chegar aos resultados os autores

realizaram entrevistas em profundidade e focus group com 52 pessoas recrutadas

capturando suas experiências de viagem e de vida. Como resultado, os participantes

identificaram cinco estágios nesta conquista, que foram analisados pelos autores.

São eles: Estágio Pessoal – aceitação e reintegração; Reconexão – exploração para

futura viagem; Análise – busca de informação; Jornada Física – compensação e

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compromisso e, Experimentação e Reflexão – experimentando diferentes gostos

pelas viagens.

O primeiro estágio – pessoal - é caracterizado pela aceitação da deficiência,

particularmente se esta for adquirida. Neste momento é necessário se tornar um

membro ativo da família, da comunidade e sociedade. O primeiro passo do processo

é se postar como uma pessoa com deficiência. Alguns participantes disseram que

aqueles que não enxergam a deficiência têm uma tendência a evitar lugares

públicos e, por isso, viajarão raramente. É o momento da reabilitação, então as

viagens ficam em segundo plano sendo motivadas somente quando há a

disponibilidade de acompanhantes.

O segundo estágio – reconexão - pode ser visto como um período de auto-

conhecimento e crescimento. Algumas pessoas começam a viajar neste estágio,

especialmente com deficiências adquiridas. Essas primeiras experiências

confrontam o individuo com estereótipos de comportamento e como medida para

evitar tais constrangimentos, geralmente viajam com pessoas da família ou se

buscam pacotes de viagens com grupos de pessoas com necessidades especiais.

O terceiro estágio é a etapa da análise de viagens e a busca por informações.

Neste estágio o processo passa de encarar o turismo como algo abstrato e fora da

sua realidade para a procura de soluções de problemas práticos relacionados à

viagem. A quarta etapa - jornada física - diz respeito à adoção de uma série de

estratégias compensatórias e compromissos para gerenciar melhor a experiência

turística. Em casos extremos, por exemplo, turistas com necessidades especiais

assumem preferir se desidratarem em vôos de longo curso para irem ao banheiro

com menos freqüência.

Por último, o quinto estágio diz respeito à experimentação da viagem. De uma

forma geral, quando a pessoa tem uma experiência positiva de uma viagem é

natural que se motive a realizá-la novamente. Entretanto, no caso contrário, suas

atividades de turismo futuras serão afetadas. Esta etapa mostra que ao realizar

diversas viagens as pessoas com necessidades especiais vão experimentando

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diversas situações que ensinam estratégias de como maximizar sua satisfação

numa próxima oportunidade de viagem.

Interessante notar com o resultado da pesquisa de Yau et al (2004) como algo

tão comum para pessoas que não apresentam algum tipo de deficiência se torna

algo tão desafiador num momento inicial. Para viajar é necessário que este indivíduo

realize um planejamento anterior à viagem muito maior que o usual e se preocupe

com diversas questões. Neste ponto é importante ressaltar a necessidade de

agentes de viagem especializados e/ou qualificados para tratar o assunto.

LEGISLAÇÃO APLICADA:

O Brasil apresenta uma série de leis, decretos, portarias, dentre outros, que

visam à defesa do direito das pessoas com necessidades especiais em diversas

frentes. A própria Constituição Brasileira enfatiza nos objetivos fundamentais da

República (artigo 3o) a construção de uma sociedade livre e solidária (inciso I), além

de assegurar a erradicação da pobreza e da marginalização e reduzir as

desigualdades sociais e regionais (inciso III). Outro objetivo fundamental da

República que caracteriza os direitos das pessoas com necessidades especiais está

no inciso IV do mesmo artigo citado que garante a promoção do bem de todos, sem

preconceitos de nenhuma forma ou origem (Rodrigues et al, 1998). Estes mesmos

autores afirmam ainda que o princípio básico aplicados aos direitos das pessoas

portadoras de deficiência é o da igualdade. Este princípio deve ser entendido em

sua forma mais ampla caracterizado como igualdade de fato não somente no plano

jurídico-formal, mas também perante os planos social e econômico.

Para o transporte aéreo foi elaborada uma resolução específica que tratasse

exclusivamente da garantia de acessibilidade a este modo. Desenvolvida pela ANAC

(Agência Nacional de Aviação Civil), a resolução 009 de 05 de junho de 2007

estabelece, dentre outras coisas, as responsabilidades das administrações

aeroportuárias e das empresas aéreas perante o atendimento de pessoas com

necessidades especiais. Esta resolução revogou a Portaria 019/DGAC, de 10 de

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janeiro de 1996, que criou a Instrução da Aviação Civil – IAC 2508-796, que tratava

deste assunto anteriormente.

O serviço prestado pelas companhias aéreas é caracterizado por uma

complementaridade de uma série de outros serviços que dependem não somente da

mesma, denominados de serviços básicos e complementares. O primeiro

caracteriza-se pelo deslocamento de um local de origem A até um destino B em um

determinado tempo, com pontualidade, segurança e confiabilidade.

Tradicionalmente, o serviço de transporte aéreo carrega consigo serviços de

catering como o serviço de bordo e o entretenimento. Para a prestação de um

serviço de qualidade é necessária uma boa interação entre administração

aeroportuária e companhia aérea, pois estas trabalham em conjunto a todo o

momento. Desta forma, a Resolução 009 trata da responsabilidade de cada um

destes atores ao transportar uma pessoa com necessidade especial sanando as

dúvidas relativas ao assunto e mostrando em que momento a atuação deve ser feita

por qual das empresas. O quadro 1 apresenta algumas das responsabilidades

apontadas na Resolução 009 aos seus respectivos responsáveis.

O que se percebe é que às autoridades aeroportuárias cabem poucas

obrigações a serem cumpridas. Isso obriga que as companhias aéreas sejam quase

que totalmente responsáveis pelo deslocamento das pessoas com necessidades

especiais no interior dos aeroportos e no trânsito no terminal de passageiros e deste

para a aeronave (e vice-versa).

Vale ressaltar que as edificações aeroportuárias devem seguir as regras

estabelecidas pelas normas técnicas da ABNT (Associação Brasileira de Normas

Técnicas). A NBR 9050:2004 traz orientações gerais de acessibilidade a edificações,

mobiliários e equipamentos urbanos, englobando todos os tipos de deficiência.

Existe ainda a NBR 14273:1999 que trata exclusivamente da acessibilidade da

pessoa portadora de deficiência no transporte aéreo comercial (Ministério do

Turismo, 2006).

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Quadro 1: Resolução 009/2007 da ANAC e suas atribuições.

Cabe às Administrações Aeroportuárias Cabe às Companhias Aéreas

- Delimitar áreas específicas nas entradas dos terminais de passageiros para embarque e desembarque de pessoas com necessidades especiais e/ou mobilidade reduzida. Essas áreas devem estar devidamente sinalizadas com o símbolo internacional de acesso e livre de obstáculos; - Reservar nos estacionamentos 2% do total de vagas para veículos que estejam transportando pessoas com necessidades especiais e; - Adequar suas instalações físicas de acordo com as normas existentes (ABNT) para prover o acesso às pessoas com necessidades especiais e/ou mobilidade reduzida. - Disponibilizar nas áreas comuns dos aeroportos, telefones adaptados para pessoas portadoras de deficiência auditiva.

- No ato da reserva, seja ela realizada por qualquer meio, deve haver o questionamento quanto à necessidade de atendimento especial para o passageiro; - As empresas deverão assegurar o trânsito das pessoas com necessidades especiais ou com mobilidade reduzida entre aeronaves e terminal. Estas deverão utilizar veículos equipados com elevadores ou outros equipamentos para elevar o passageiro até aeronave em caso de embarque remoto ou aeroportos sem pontes de embarque; - O embarque dos passageiros com necessidades especiais deve ser prioritário; - O desembarque deverá ser feito após o desembarque dos demais passageiros; - Priorizar a transferência de passageiros idosos, com deficiência ou mobilidade reduzida de uma aeronave para outra quando o tempo de conexão justificar tal priorização. - A empresa aérea deve designar previamente funcionários para acompanhar as pessoas com necessidades especiais; - Disponibilização de cartões de segurança em braile.

Fonte: ANAC, 2007.

Além das previsões acima, há diversas outras que cabem às companhias

aéreas. Assim, fica claro que estas empresas possuem um maior grau de

responsabilidade no atendimento a pessoas com necessidades especiais ou

mobilidade reduzida. Tal resolução abre um questionamento significativo neste

sentido, pois coloca a companhia aérea em uma situação mais fragilizada em

relação aos aeroportos. O que se questiona aqui não é somente a sobrecarga em

relação às empresas aéreas, mas também as responsabilidades das administrações

aeroportuárias uma vez que estas prestam serviços também para os passageiros,

acompanhantes e visitantes diversos, incidindo taxas sobre esses serviços de

qualidade também questionável. Outro aspecto a ser levantado é a falta de uma

Page 11: Acessibilidade de Turistas com Necessidades Especiais ao Transporte Aéreo: Sustentabilidade de Destinos

fiscalização adequada a fim de verificar na prática a adequação das empresas a

esta resolução tão recente.

3. O TURISMO SUSTENTÁVEL: ABORDAGEM CONCEITUAL

O turismo sustentável, ou ainda, a sustentabilidade em si é um assunto que

vem sendo tratado há algum tempo e já instigou diversos eventos, livros

acadêmicos, artigos, dentre outros. A grande questão colocada é a infelicidade em

ainda não termos conseguido uma real prática do turismo sustentável ficando

somente na teoria. Segundo Swarbrooke (2002), a maioria dos resultados obtidos

nas tentativas de aplicação prática deste conceito foram limitados.

As idéias defendidas pelo turismo sustentável têm suas origens em um

conceito conhecido há bastante tempo chamado de desenvolvimento sustentável.

De acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT, 2003), o relatório Nosso

Futuro Comum, apresentado pelas Organizações das Nações Unidas (ONU) em

1987, define uma política de desenvolvimento sustentável como sendo aquela que

“atenda às necessidades de hoje, sem comprometer a capacidade das gerações

futuras atenderem às suas próprias necessidades”. A partir da conferência Agenda

21, realizada no Rio de Janeiro em janeiro de 1992, este conceito foi mais bem

detalhado e passou a ser adotado como política essencial de desenvolvimento de

diversos governos nacionais.

O desenvolvimento de um conceito sustentável que contemplasse uma

relação com a atividade de turismo se deu a partir de meados da década de 1960

com a aceitação dos impactos que essa atividade poderia causar quando realizada

de forma massiva. A figura 1 ilustra a cronologia do desenvolvimento destas idéias.

Page 12: Acessibilidade de Turistas com Necessidades Especiais ao Transporte Aéreo: Sustentabilidade de Destinos

Figura 1: Desenvolvimento Cronológico do conceito de Turismo Sustentável

Fonte: Adaptado de Swarbrooke (2002)

Percebe-se que o desenvolvimento do conceito partiu de alertas aos impactos

negativos que a atividade turística poderia causar. A partir daí diversas iniciativas

começaram a surgir por órgãos do setor público no sentido de empregar técnicas de

gestão de turistas. A expressão turismo verde era amplamente utilizada no Reino

Unido, Alemanha e França no final dos anos 1980 e incluía a redução de custos e

maximização dos benefícios ambientais do turismo.

Muito se fala na relação entre o turismo e o meio ambiente, a natureza e os

ecossistemas, quando abordamos a sustentabilidade. Entretanto, cabe ressaltar que

este conceito apresenta três dimensões: ambiental, social e econômica. Sem

explicitar tais dimensões, a OMT (2003) sugere uma definição fundamental para o

turismo sustentável e diz que o desenvolvimento deste tipo de atividade deve

atender às necessidades dos turistas atuais e das localidades receptoras além de,

ao mesmo tempo, proteger e maximizar as oportunidades de futuro. A Organização

defende ainda que o turismo sustentável deva ser visto como um adutor da gestão

dos recursos disponíveis satisfazendo as necessidades econômicas, sociais e

estéticas sem desfavorecer a integridade cultural, os processos ecológicos, a

diversidade biológica e demais sistemas. Partindo desta definição pode-se chegar a

Aceitação dos potenciais impactos da explosão do turismo de

massa

Conceito de Turismo Verde Ampliação do

conceito de turismo sustentável

Ampliação do conceito de gestão de turistas

1960 1970 1980 1990

Page 13: Acessibilidade de Turistas com Necessidades Especiais ao Transporte Aéreo: Sustentabilidade de Destinos

alguns princípios sugeridos pela OMT (2003) para a conquista do turismo

sustentável. São eles:

1. Os benefícios do turismo devem ser amplamente estendidos a toda a

sociedade;

2. A qualidade ambiental da área turística deve ser preservada e melhorada

quando necessário;

3. O desenvolvimento da atividade turística deve ser planejado e gerenciado

visando uma minimização nos impactos ambientais e/ou socioculturais para a

comunidade receptora;

4. Os recursos históricos, naturais, culturais e outros devem ser conservados

para que possam ser usufruídos no futuro sem deixar de trazer benefícios

para a comunidade atual e;

5. Um alto nível de satisfação dos turistas deve ser mantido para que os

destinos conservem seu valor de mercado e se tornem competitivos.

É com base nestes princípios que faremos a relação entre o acesso de

turistas com necessidades especiais ao transporte aéreo e a conquista da

sustentabilidade de destinos turísticos. O tema sustentabilidade que por diversas

vezes é debatido como algo utópico para destinos turísticos pelos seus diversos

impactos causados se torna, no mínimo, mais fácil de ser entendido quando exposto

em forma de princípios como é colocado pela Organização Mundial de Turismo. É

claro que cada um dos princípios acima pode ser desdobrado em uma série de

outros objetivos que variam de localidade para localidade. Além disto, é importante

desvincular a imagem de que o conceito “sustentabilidade” está unicamente

vinculado ao meio ambiente físico como será analisado a seguir.

Page 14: Acessibilidade de Turistas com Necessidades Especiais ao Transporte Aéreo: Sustentabilidade de Destinos

4. AS DIMENSÕES DO TURISMO SUSTENTÁVEL E OS TURISTAS COM

NECESSIDADES ESPECIAIS:

O turismo sustentável envolve muito mais do que as relações de impacto com

o meio ambiente e seus efeitos. Para o desenvolvimento desta sustentabilidade tão

almejada é necessário um sistema de qualidade que sustente os benefícios da

comunidade local, garanta uma experiência satisfatória ao turista e conserve os

recursos naturais (Ko, 2003). Para facilitar o entendimento mais amplo do conceito

foram estabelecidas dimensões onde o turismo influencia para que assim possam

ser sugeridas ações minimizadoras dos seus impactos.

A dimensão ambiental é sempre a mais lembrada quando falamos de

sustentabilidade, porém, por não ser o foco deste estudo e já ter sido tratada por

diversos outros pesquisadores esta não será abordada. As dimensões econômica e

social possuem um papel importante quando tratamos da acessibilidade de turistas

com necessidades especiais ao transporte aéreo como uma questão de

sustentabilidade de destinos.

Economicamente, o turismo produz uma série de impactos positivos e

negativos em suas áreas de abrangência. Como benefícios pode-se citar a geração

de empregos, o estímulo a investimentos internos, a injeção de renda na economia

local, dentre outros. Particularmente nos países em desenvolvimento, o turismo

possui uma clara vantagem atuando como fonte de geração de divisas uma vez que

a atividade turística nestes países depende, em grande parte, da demanda

internacional nos primeiros estágios do seu desenvolvimento. Outra vantagem

colocada por alguns estudiosos é que o consumo turístico é muito heterogêneo,

fazendo com que os benefícios gerados pela atividade se espalhem por outros

ramos da economia. Em relação ao emprego, este é um dos maiores resultados da

atividade turística uma vez que ao envolver a prestação de serviços possui uma

capacidade quantitativa significante de gerar empregos (Lage e Milone, 2000).

Page 15: Acessibilidade de Turistas com Necessidades Especiais ao Transporte Aéreo: Sustentabilidade de Destinos

Entretanto, há também os custos, ou impactos economicamente negativos,

gerados pela atividade de turismo. A sazonalidade de empregos de pouca

qualificação e baixa remuneração é um dos grandes problemas enfrentados pela

indústria do turismo. Há ainda a necessidade latente de investir em infra-estrutura

dispendiosa como a construção de um terminal aeroportuário, de rede hoteleira,

restaurantes, dentre outros. além de uma possível grande dependência da economia

local em relação ao turismo (Swarbrooke, 2002; Lage e Milone, 2000).

Sabe-se que um dos grandes desafios do turismo sustentável é a busca pela

minimização dos impactos negativos e a maximização dos efeitos positivos

causados pela atividade. Desta forma, como proposto pelas diretrizes da OMT

(2003), para a conquista de um turismo sustentável um dos princípios que se deve

seguir é a alta satisfação dos turistas para que o destino se torne representativo e

competitivo perante o mercado oferecendo serviços com qualidade. Beni (2000)

afirma que uma das interpretações do turismo sustentável diz respeito à

sustentabilidade econômica do turismo. Este autor diz que quando o foco de

interesse é a atividade de turismo a estratégia provocará melhoraria na qualidade e

encontrará o diferencial do produto turístico oferecido por determinada localidade.

Para tanto, são necessários investimentos em infra-estrutura, aumentando a

capacidade e ampliando os serviços além da implantação de programas de

modernização funcional e estética dos complexos turísticos.

Vale relembrar neste ponto que as pessoas com necessidades especiais

representavam 14,5% da população Brasileira de acordo com o Censo 2000 (IBGE,

2001). Percebe-se que uma parcela expressiva da população brasileira apresenta

algum tipo de deficiência. Assim, pode-se dizer que os destinos turísticos ditos como

sustentáveis devem oferecer serviços de qualidade para todo tipo de público,

inclusive para os portadores de deficiência. Uma vez que as abordagens de

planejamento turístico de uma determinada localidade não possuir em seus objetivos

a inclusão de turistas com necessidades especiais ela fará com que este público

com número bastante representativo não a visite. Esta redução no número de

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pessoas propensas a visitar o destino pode ser maior do que se imagina uma vez

que grande parte das pessoas com necessidades especiais costuma viajar em

grupos ou acompanhadas por familiares e/ou amigos (Poria et al, 2009).

A acessibilidade neste caso deve envolver os meios de hospedagem, a

visitação aos atrativos, o acesso a restaurantes, dentre outros, e o acesso aos meios

de transporte haja vista que se o cidadão não tiver como utilizar os meios de

transporte ele não conseguirá nem chegar à destinação pretendida. Assim, uma boa

forma de se começar a pensar em um destino sustentável acessível a pessoas com

necessidades especiais é estruturando sua rede de transportes. As tendências

mostram que mais do que nunca as pessoas se utilizam cada vez mais o modo

aéreo pela sua democratização com o advento das companhias low cost/low fare

(Doganis, 2005).

A dimensão social da sustentabilidade turística costuma receber pouca

atenção neste debate. Um dos prováveis motivos é o fato destes impactos

ocorrerem de forma vagarosa e discreta além de serem, em sua maioria, invisíveis e

intangíveis. Quando se fala em impactos sociais do turismo muito se pensa na

comunidade local e no desejo de protegê-la dos excessos causados pela

movimentação de turistas. Porém, há autores como Swarbrooke (2002) que

acreditam na necessidade de um pensamento mais amplo acerca dos aspectos

sociais do turismo sustentável.

Com o objetivo de resumir o entendimento da dimensão social, Swarbrooke

(2002) elaborou os quatro E’s como princípios para o desenvolvimento socialmente

sustentável de destinos turísticos. São eles:

1. Eqüidade, ou seja, todos os que investem no turismo devem ser tratados

da mesma forma;

2. Equivalência de Oportunidades não somente para quem trabalha com o

turismo, mas para quem tem vontade de ser turista;

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3. Ética em relação a população local, aos turistas, aos governos,

fornecedores, enfim, a todo o sistema do turismo;

4. Equivalência de parceria onde o turista trata aqueles que os servem de

forma igualitária.

Muito se preza pela igualdade na dinâmica social dos esforços para

desenvolver formas mais sustentáveis de turismo. Ao enfatizar a eqüidade e a

equivalência de oportunidades como princípios do desenvolvimento turístico

sustentável, pode-se nitidamente incluir o acesso de turistas com necessidades

especiais aos destinos a começar pelos meios de transporte possibilitando o

deslocamento deste turista do seu domicílio até a localidade turística.

O que se defende com este estudo é que ao se pensar no planejamento

sustentável de destinos turísticos se dê atenção ao acesso às pessoas portadoras

de deficiência. Tal pensamento deve se iniciar na forma pela qual este público terá

acesso ao destino e qual meio de transporte será utilizado. Como já dito

anteriormente cada vez mais as pessoas se utilizam do modo aéreo para o

deslocamento turístico. Além disso, este modo, apesar de ainda gerar uma série de

constrangimentos e dificuldades para pessoas portadoras de deficiência (Daruwalla

e Darcy, 2005; Poria et al, 2009), é aquele mais adaptado ao seu uso.

5. CONCLUSÕES

Este trabalho destacou a importância do desenvolvimento de ações de

acessibilidade de turistas com necessidades especiais ao transporte aéreo como

forma de desenvolvimento do turismo sustentável nos destinos turísticos.

O assunto, que muitas vezes é negligenciado pelos planejadores de turismo e

transportes, dá margem a uma série de discussões. Este estudo fez questão de

mostrar que além de os portadores de deficiências possuírem o direito garantido por

lei de acesso ao transporte aéreo e ao turismo, o grande número comprovado por

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estatísticas nos mostra uma importante fatia de mercado ainda muito inexplorado já

que os serviços e produtos turísticos ainda não são totalmente adaptados.

Muitos tratam a sustentabilidade de destinos turísticos como algo utópico e

que jamais será alcançada. Entretanto, a partir do estabelecimento de critérios e

princípios o entendimento desse conceito tão amplo é facilitado. Uma das grandes

dificuldades ainda é a de se medir e avaliar se um destino é sustentável ou não, o

que poderá ser feito com a análise de indicadores desenvolvidos através de

pesquisas e observação da realidade. A acessibilidade de turistas com

necessidades especiais ao destino turístico final seja ela por qualquer meio de

transporte, deve ser envolvida nos indicadores de avaliação.

Diversos esforços em relação à garantia dos direitos de pessoas com

necessidades especiais vêm sendo realizados ao redor do mundo e, inclusive no

Brasil. O acesso destes clientes ao transporte aéreo, como previsto neste estudo, é

defendido por lei neste País, entretanto, muito ainda se questiona sobre a

elaboração de tais leis além da falta de fiscalização da aplicação das mesmas.

O turismo, desde que bem trabalhado e planejado, pode ser visto como

grande ferramenta de inclusão das pessoas com necessidades especiais na

sociedade. Sabe-se que para cada tipo de necessidade especial existem uma série

de adaptações necessárias e que não obrigatoriamente são as mesmas, o que

enfatiza a necessidade de entender e ouvir cada uma destas pessoas, sejam elas

deficientes visuais, físicos, auditivos ou intelectuais.

Estudos e pesquisas qualitativas serão realizados sobre este assunto,

procurando entender o ponto de vista das próprias pessoas com necessidades

especiais em relação ao transporte aéreo e ao turismo. Sabe-se que poucos autores

se dedicam a ouvir estas pessoas (Poria et al, 2009), porém, o importante é

entender como estes consumidores se sentem nas diversas situações causadas por

uma viagem para que sejam definidas quais atitudes devem ser tomadas.

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