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As bases desta exposIção têm raízes longas. Começaram a ser cons·
truídas na dêcada de 50 do século XX, quando o Arquiteto Fernando
lanhas noticIou a descoberta do Castro de 5. Paio. Nos anos 90 do
mesmo século, a Cãmara MunicIpal procedeu às pnmeiras escavações
arqueológicas, resgatando-o do esquecImento em que, desde então,
havia mergulhado. Essas campanhas de trabalhos arqueológIcos foram
essenciais para estabilizar este local, protegendo·o de ações destruido
ras por negligência.
Sucederam-se diversas ações que, embora Inseridas em proJetos de
requalificação da orla costeira. permitiram reforçar o nível de proteção
deste sítio arqueológico e da sua envolvente. Esta parece cristalizada no
tempo. tendo-se preservado uma paisagem de Inegavel qualidade, onde
o mar e a ruralidade marcam a cadência das imagens.
o Centro Interpretativo aborda os vestígios arqueológICos aqui exis
tentes, mas não se esgota nessa temática. O entorno do Castro de S.
Paio preserva outros valores patrimoniaiS que raramente são explora·
dos e explicados em conjunto. Por essa razão, o discurso museológIco
foi pensado de modo a acomodar os ensinamentos que a Geologia e a
Biologia do local nos podem transmitir, satisfazendo a curiOSidade de
um público mais alargado.
A sua abertura ao públiCO é mais uma clara demonstração do esforço
que o MunicípIO vem desenvolvendo no sentido de valorizar e de tornar
acessível o vasto património existente no concelho de Vila do Conde.
É o fechar de um ciclo. mas outros serão abertos ...
--
DICE INTRODUÇÃO 11
ARQUEOLOGIA 1.1. O CASTRO DE S.PAIO 15 1.2. OS RESULTADOS DAS INTERVENÇÕES ARQUEOLÓGICAS 18
1.3. O ESPÓLIO ARQUEOLÓGICO 20
1.4. AS GRAVURAS 24 1.4.1. PENEDOS AMOLAOOIROS 25
1.4.2. RUNA 26
1.4.3. OUTRAS GRAVURAS 26
GEOLOGIA 2.1. INTRODUÇÃO 2.2. GEOMORFOLOGIA, FORMAS DO RELEVO 2.3. AS VARIAÇÕES DO CLIMA E DO NlvEL 00 MAR
2.4. ONDAS E MARÉS
BIOLOGIA 3. 1. INTRODUÇÃO 3.2. BOSQUE
3.3. AGRICOLA
3.4. MATOS
3.5. ZONAS HÚMIDAS
3.6. DUNAS 3.7. ZONA INTERDITAL
3.8. MARITIMO
29 32 34
36
39 41
42
42 44
45
47 48
Ronllr'L\.O o Castro de 5. PaIO localiza-se no tugar da Mota da freguesia de Labru
ge. Junto à Praia do Castros_ A sua envolvente assume formas pouco
usuais num terntório demasiado marcado por uma grande pressão
urbanistICa. Contudo, aqui sobressai uma paisagem marcada petos
campos mlnlfundiários, desenhados por inúmeros muros Irregulares de
pedra encastelada sem a ajuda de argamassas, onde o verde quase só
é ofuscado pelo azul do mar e pelo dourado da praia. Atualmente. este
espaço Integra a Reserva Ornitológica de Mindelo.
Neste cenário, onde a ruralidade e 05 campos agrícolas ainda conse
guem abeirar-se da praia, sobressai uma construção.
No extremo sul do Castro de S. Paio ergue-se uma capela que, apesar
da sua aparência recente. incorpora elementos arqultetónlcos provavel
mente datáveis do século XVII. No seu interior existe uma data. 1885.
que poderá ser alusiva a obras de restauro ou de reformulação. Durante
a década de 70 do século XX. o conjunto foi largamente remodelado. 00
projeto onglnal restou. quase exclusivamente. a fachada principal Tudo
o resto fOI demolido e reerguido ao gosto de então. Data desta época o
Invulgar altar-mor. criado a partir de um rochedo retirado da penedia
que. ainda hOJe. enfrenta a força do mar.
Sob a capela existem vestígios de ocupações humanas milenares. mas
também provas geológicas que contam histórias com milhões de anos.
E se essas histórias alertam para as mudanças que esta paisagem Ja
teve ao longo da sua existência. a analise da biodiversidade da envol
vente do Castro de S. Paio surpreende-nos. Esta testemunha a capaci
dade que a Natureza tem em se acomodar e moldar a essas alterações.
mesmo quando o Homem a trabalha e modifica até aos seus limites.
• I
• I
I ~
•
o Centro Interpretativo do Castro
de S. Paio procura reunir. num só
espaço, diferentes olhares com
objetlvos distintos, mas interliga·
dos sobre o mesmo local. Procura
dar resposta à necessidade de
cruzar e complementar diferentes
saberes. Só assim ê possivel
compreender melhor os locais
especiais ...
r---~ - ,. ~ . --
QUEO LOGIA 1.1 . o CASTRO DE S. PAIO
o castro de S. Paio encerra em si mesmo um valor excecional para a
arqueologia portuguesa. Embora existam outros exemplos ao longo da
cOSia galega, e o único castro maritimo Proto-histórico conhecido no
atual território Português.
A Prolo-história corresponde â fase final da Pre-História onde ainda
não existe escrita, mas que nos é dada a conhecer, por via indireta,
através de fonles escritas ligeiramente posteriores. Assim sendo, nesta região a Proto-História coincide com a Cultura Castreja. uma vez que os
povos desta área foram mencionados por autores Romanos ou Gregos
ao serviço do Império Romano.
A sua descoberta remonta à fase final dos anos 50 do século XX. quando
o Arquiteto Fernando Lanhas percorreu a costa norte portuguesa em
busca de sinais de antigas ocupações humanas. Numa dessas viagens
cruzou~se com o Castro de S. Pa io. onde identificou a presença de
cerâmicas antigas, de estruturas habitacionais à superfície. bem como
de gravuras espalhadas pela penedia.
A publicitação deste tipo de descobertas tem. por vezes, consequêncIas
menos positivas. Uma delas foram as investigações. sem metodologia
arqueológica. que aqui se promoveram durante os anos 70 do século XX. Apesar de bem-intencionadas, estas investidas promoveram o revolvi
mento dos níveis arqueológicos. A falta de uma metodologia adequada
fez com que os objetos recolhidos não tenham contexto e que partes da
história deste local se tenham perdido.
QUEO LOGIA 1.1. O CASTRO DE S. PAIO
o castro de S. Paio encerra em si mesmo um valor excecional para a
arqueologia portuguesa . Embora existam outros exemplos ao longo da
costa galega, é o único castro marítimo Proto-histórico conhecido no
alual território Português.
A Proto-história corresponde ii fase final da Pré-História onde ainda
não existe escrita. mas que nos é dada a conhecer, por via indireta.
através de fontes escritas ligeiramente posteriores. Assim sendo. nesta
região a Proto-História coincide com a Cultura Castreja. uma vez que os povos desta ârea foram mencionados por autores Romanos ou Gregos
ao serviço do Império Romano.
A sua descoberta remonta à fase final dos anos 50 do século XX. quando
o Arquiteto Fernando lanhas percorreu a costa norte portuguesa em
busca de sinais de antigas ocupações humanas. Numa dessas viagens
cruzou-se com o Castro de S. Pa io, onde identificou a presença de
cerâmicas antigas. de estruturas habitacionais à superfície, bem como
de gravuras espalhadas pela penedia .
A pubticitação deste tipo de descobertas tem, por vezes, consequências
menos positivas. Uma delas foram as investigações, sem metodologia
arqueológica, que aqui se promoveram durante os anos 70 do século xx. Apesar de bem-intencionadas, estas investidas promoveram o revolvi
mento dos niveis arqueológicos. A falta de uma metodologia adequada
fez com que os objetos recolhidos não tenham contexto e que partes da
história deste local se tenham perdido.
No inicio da década de 90 do século XX o Castro de $. Paio encontrava-se severamente ameaçado. Estava transformado num parque de
estacionamento mas. já antes. fora alvo de exploração de pedreiras. es
pecialmente na vertente voltada ao mar:. A tudo isto acrescia um projeto
para a construção de uma marg inal. que passaria pelo topo do Castro de S. Paio. ligando a freguesia de Vila Chã à de Labruge.
Era urgente encontrar uma estratégia que permitisse estancar a sua
destruição . A solução passou pela realização de várias campanhas de escavação arqueológica, entre 1993 e 1996, que abriram sondagens
em zonas de passagem de veiculos e em áreas em avançado estado de
degradação. Para além de restringir o acesso de veiculas à parte supe
rior do povoado, esta solução permitiu sensibilizar para a importância deste local.
1.2. OS RESULTADOS DAS INTERVENÇÕES ARQUEOLÓGICAS
Como resultado dessas intervenções arqueológicas foi possíveL identifi·
car um povoado com duas fases ocupacionais distintas, mas temporal
mente sequenciais. A mais antiga corresponde a uma ocupação que se
desenvolveu entre meados do século VI a.C . e meados do século II a.C ..
Relativamente à ocupação mais recente, sabe-se que terminou durante
o século I a.C .. A ausência de vestígios associáveis ao período da Ro
manização pressupõe que este lugar tenha sido abandonado imediata
mente antes ou durante o inicio da ocupação Romana deste território.
Para seremos precisos, não foi, ainda, encontrada uma justificação
sólida para justificar o abandono deste povoado.
No contexto dos povoados castrejos, o Castro de S. Paio era uma
aldeia de pequena dimensão que, em termos arquitetónicos, nunca
terá atingido a grande exuberância dos castras situados mais para o
interior. Contudo. era protegida por um sistema defensivo baseado num
talude coroado por uma muralha de pedra, da qual apenas resta o seu
alicerce. Contudo, o talude encontra·se bem demarcado, especialmente
na sua vertente Este.
Existe a hipótese, sem confirmação arqueológica, do sistema defensivo
ser mais complexo, por via da introdução de um fosso que permitiria,
durante a maré·alta, a entrada da água do mar. Com este expediente
seria possível inviabilizar ou dificultar o acesso indesejado ii povoação.
Caso este fosso exista, encontra·se completamente entulhado.
Dado que se trata de um povoado de tamanho muito reduzido, julga-se
que só teria uma entrada.
r
18
Relativamente à ocupação mais antiga, balizada entre meados do século VI a.C. e meados do século II a.C ..
não existem muitos dados por terem s ido destruídos em ações postenores. Neste período, todas as cons·
truções assumiam a forma cilíndrica, alternando a sua construção entre a pedra e a madeira, ou outros ma·
teriais pereciveis.
Na fase mais recente , datável entre meados do século II a.C. e a segunda metade do século I a .C., as cons·
truções passaram a ser erguidas exclusivamente em pedra. conservando a sua forma cilíndrica. Nalguns
casos, aos compartimentos circulares acrescento u·se um vestíbulo, cuja forma faz lembrar as patas de um
caranguejo, permitindo um aumento da área cobe rta . Os telhados mantiveram a sua forma cónica, uma vez
que se manteve o uso de materia is orgânicos, como o coLmo ou materiaL semelhante. A telha foi introduzida
pelos romanos e a sua presença não foi identificada neste povoado.
Apesar da austeridade arquitetónica do povoado, no interior de algumas das construções foi possivel en·
contrar. incrustados em pisos de argila ou em lareiras. elementos decorativos. Estes eram compostos por
círcuLos estampiLha dos, dispostos aLeatoriamente.
1.3. O ESPÓLIO ARQUEOLÓGICO
Os artefactos encontrados nos sítios arqueoLógicos são uma das ex
pressões humanas mais usadas para os interpretar e explicar.
São recursos iniguaLâveis que permitem reconstituir modos de VIda
de quem os utilizou, ou interpretar funcionalidades dos espaços onde
foram encontrados. Nalguns casos permitem perceber a evolução
socioeconómica e culturaL dos seus utilizadores, isto se nos aperce
bermos que algumas peças, para além da capacidade de desempenha
rem eficazmente uma função, incorporam caracteristicas meramente estéticas.
A complexidade da sua elaboração também revela a capacidade técnica
e tecnológica dos seus produtores. Frequentemente, ficamos impres
sionados com a capacidade para produzir peças com caraterísticas e
espeCIficações que, muitas vezes, julgamos só ser possível com recurso
à ciência e à tecnologia atual. No entanto, a idade de algumas delas
contabilizam-se em milénios.
Em sítios arqueológicos como o Castro de S. Paio, o espólio arqueológi
co assume uma Importância ainda mais relevante, porque é uma das
poucas formas de estabelecer a sequência cronológica das diferentes
ocupações humanas aí existentes.
A sua ausência também permite tirar conclusões. Aliás, e como ante
riormente referido, é a inexistência de objetos do período Romano que
permite conjeturar que o abandono deste povoado tenha ocorrido antes
do seu domínio exercido sobre este território .
Na área do Castro de S. Paio e sua envolvente próxima foram encontra
das peças que estarâo relacionadas com atividades humanas no Paleo-
•
lítico, demonstrando que a ocupação desta zona recua, possivelmente,
entre os 200 mil e os 10 mil anos. Dado que os Homens da Pré-história
eram nómadas. a presença destes objetos neste local atestam unica
mente o seu uso como zona de trabaLho. Aqui existia e ainda subsiste a
matéria-prima necessária para a produção de instrumentos feitos em
pedra lascada.
A ocupação humana permanente ocorreu na chamada Idade do Ferro,
com a construçâo da aldeia Galaica fortificada. Na fase mais antiga
desta ocupação lentre meados do século VI a.C. e meados do século
II a.C') , as cerâmicas eram elaboradas manualmente, sem o uso de
roda de oleiro e com o recurso a argilas misturadas com desengordu
rantes muito grosseiros. Mais tarde (en tre meados do século II a.C. e a
segunda metade do século I a.C.L a cerâmica passou a ser feita à roda,
as pastas foram refinadas, adquiriram formas mais variadas e pas
saram a incorporar decoração estampilhada. ou seja, executada com
carimbo. Em comum com as cerâmicas do periodo anterior mantêm as
pastas escuras salpicadas pelo brilho das múltiplas pequenas palhetas
de mica. Tinham funções variadas. desde as utilizadas na cozinha, às
usadas no armazenamento.
Prova de que o mar representava uma fonte de alimento são os vártos
pesos de rede que aqui foram encontrados e que foram talhados em
seixos rolados .
No atual território português, os pesos de rede talhados em seixos
encontram-se documentados, pelo menos, desde o Paleolítico. Apesar
da sua forma não se ter alterado. a sua utilização prolongou-se, de
modo ininterrupto, até ao início do século XX. altura em que os pesos
em chumbo ocuparam o seu tugar.
Igualmente associadas à alimentação estão as mós encontradas no Castro de S. Paio, utilizadas para a produção de farinha. Com paralelos conhecidos desde o Neotitico, a tipologia mais antiga corresponde à mó de rebolo. Trata-se de um tipO muito simples de moagem, que se processava por meio de movimentos de -vai-e-vem-.
A mó circular terá sido introdUZida durante a primeira metade do
século II a.C .. É composta por um dormente e por um movente de forma circular, sendo que a pedra superior tem um orifício por onde era
introduzido o grão. Este era moido entre as duas pedras, por meio de
movimentos circulares e a farinha saia petas extremidades. Trata-se de
uma forma mais eficiente para se proceder à moagem, pelo que acabou por substituir integralmente as mó de rebolo.
Num tempo em que as trocas comerciais se realizavam a um ritmo
lento, a economia de subsistência assumia uma importância vital na sobrevivência das populações. Neste contexto, durante a Proto-história a
produçâo de fio era fundamental para assegurar a produção de roupas .
No caso de S. Paio tambêm é provável que tenha sido usado para a
execução de redes de pesca. A sua produção era feita com a ajuda de
um fuso e de uma roca . Por serem feitos em madeira ou em cana, estas peças decompuseram-se. Os únicos elementos que sobrevivem para
atestar esta atividade são os cossoíros. Tratam-se de pequenas peças
de cerâmica que encaixavam no fuso e prendiam o fio, impedindo Que ele caísse.
Durante a Pro to-história, as peças fundidas em ferro começaram a vulgarizar-se, mas muitos dos objetos metálicos continuavam a ser
elaborados em bronze. Exemplo disso mesmo é uma fíbula, espécie de alfinete-de-dama, que fo i recolhida no Castro de S. Paio e que ê datável
entre meados do século VI a.C. e o século III a.C .. Apesar das condições de preservação adversas e propícias à sua corrosão, dada a alta
-
,
7,
t a' o d. sal. humidade esta manteve integridade estrutural. concen raç , . ainda permitindo perceber o seu mecanismo de funCIOnamento.
Prova inegável da capacidade dos habitantes do C~s:ro de ~ . Paio fundirem peças metálicas está nos restos de fundlçao aquI encontrados Esses restos são designados por escórias e são subprodutos
da fun~ição metálica que agregam elementos metálicos e. i~purezas , '. 'tadas durante o processo de fundlçao. Durante diversas, que eram reJ I
a Proto-história não tinham outro uso, pelo que eram abandonadas em
áreas próximas ao local onde se procedia à fundição.
N C t d. 5 Paio a par de objetos funcionais e essenciais no diao asro . , _. d -a-dia, também existiam peças decorativas, sem funçao p~r~ alem a estética ou de definição de estatuto social. O seu valor, definido .por
diversos critérios - tipo de materiais usados, raridade, complexidade
tecnológica da sua produção, ... - diferenciava quem as usasse dos demais. Certamente, essa seria a função das diversas contas de cotar
em vidro azuL
Quem olha com atenção para estes objetos e para os seu~ significados
verá como foi o passado de quem por aqui passou ou ha~ltou. Mas com um pouco mais de esforço poderá ver mais alêm. po.dera mesmo reco
nhecer algumas das bases que definem a nossa sociedade atual.
1.4. AS GRAVURAS
As gravuras do Castro de S. Paio foram identificadas por Fernando
Lanhas, quando por aqui passou no In icio da segunda metade do
século XX.
Apesar do lermo ~gravuras~ estar muito associado a movimentos artís
ticos. no caso de S. Paio a grande maioria teve uma função prática. Mas há exceções.
Umas serão o produto da atividade quotidiana de quem viveu no Castro
de S. Paio; outras tiveram uma função s imbólica, marcando a passa
gem efémera de um pOvo; outras amda guardam para si a razão da sua existência.
" \
\
;' 1.
,
I •
1.4,1. Penedos amoladoiros
Na Praia dos Castres existem
vários núcleos de penedos amo
ladoires. Alguns desses penedos
encontram-se visiveis, enquanto
outros só podem ser observados
quando o nível de areia na Praia
dos Castros diminui. Por norma,
esse fenómeno ocorre no período
das marés-vivas.
São gravuras com morfolo-
gia naviforme que, ao toque,
apresentam-se polidas, em
contraste com a rugosidade do
restante penedo. Embora sem
certeza absoluta, supõe-se que
foram criadas durante o processo
de afiar instrumentos. O movi
mento de vaivém, supostamente
utilizado para amolar, explica a
forma das gravuras, bem como o
seu polimento.
Não é possível datar este tipo
de gravuras, mas julga-se que
poderão estar relacionadas
com o Castro de S. Paio e com
a atividade piscatória, ou com a
recolha de bivalves que os seus
habitantes fizeram .
.. _0,
1.4.2. Runa
Na elevação imediatamente a sul da Praia dos Castros, próximo do
marco geodésico, existe uma gravura com forma de tridente e que tem
semeLhanças, muito fortes, com o ALgiz, um fonema do alfabeto rúnico .
Este alfabeto era a base da escrita pré-germânica usada pelos povos da
Escandinávia, da Germânia e das Ilhas Britânicas.
No Norte da Europa este tipo de escrita perdurou até ao sécuLo XI,
embora tenha sido usada até ao Início do século XX para efeitos muito
especificos, como elemento decorativo ou na criação de calendários
rúnicos,
Na documentação medieval existem algumas referências à presença de
Normandos nesta região. Os Normandos são povos Escandinavos que,
em 911 e por iniciativa do Rei de França, se estabeleceram no ducado
da Normandia.
Num documento de 1016 reLata-se um ataque que chegou até ao
Castelo de Vermoim (aluaI concelho de ViLa Nova de Famalicão) e que,
provavelmente, terá causado a morte do conde Alvito Nunes.
A presença deste símbolo comprova a passagem, embora efémera, dos Normandos nesle local.
1.4.3. Outras gravuras
Existem outras gravuras cujo significado parece ter-se perdido com o
passar dos tempos. Exemplo disso mesmo é uma gravura com forma
de colher, esculpida profundamente na pedra e que existe na base da
elevação a sul da Praia dos Castros. Não fosse pela posição inclinada
,
I •
I
"
da rocha onde foi gravada e podia supor-se que se tratava de um molde
para criar peças metálicas. Contudo, tal como está, essa operação é
impossível.
Tào insondável quanto a sua funçào é a cronologia desta gravura. Para
todos os efeitos, tanto pode ser velha de séculos, como ligeiramente
anterior a meados do século XX, altura em que foi identificada.
Fernando lanhas identificou ainda uma outra gravura, cuja localização
nào foi possivel detetar. O desenho desta gravura aproxima-se, mas
sem uma coincidência perfeita, com o fonema -Ur" Trata-se de um
fonema do alfabeto rúnico, escrita pré-germânica. Na eventualidade
de serem símbolos semelhantes, significava virilidade, no caso dos
homens, ou fertilidade, no das mulheres. Podia ainda ter um terceiro
significado se o termo fosse aplicado no sentido abstrato : força .
OLOGIA 2.1 . INTRODUÇÃO
o $. Paio e o afloramento rochoso sobranceiro ao mar que mais se
destaca na linha de costa entre a Foz do rio Leça e a foz do rio Ave.
Apesar da sua reduzida dimensão. comporta bons exemplos das três
principais classes de fochas : as rochas igneas ou magmáticas. as
rochas metamórficas e as rochas sedimentares. Podemos também
observar uma grande variedade de estruturas geológicas, que são as
formas como estas rochas se organizam internamente e as relações
que têm umas com as ou tras. Da interação das rochas e estruturas
com os agentes do meio ambiente resultaram as formas superficiais
do terreno e depósitos sedimentares. quer os antigos quer os aluais. A
invulgar diversidade geoLógica e geomorfológica, a geodiversidade, que
reconhecemos no S. Paio constitu i um livro de pedra que nos conta a
história geológica da construção e da navegação deste pedaço noroeste
da "jangada de pedra", metáfora de Saramago para a Península Ibérica .
Nas zonas mais elevadas do S. Paio, e mais a norte junto ao mar, pre
dominam as rochas igneas ou magmát icas, resultado do arrefecimento
de massas em fusão. A mais abundante é um granito. No seu estado
intacto é uma rocha clara. azulada, muito rija e compacta. Onde está
exposta aos agen tes atmosféricos, quer à superfície, quer ao longo da
rede de fraturas que a retalham e que permitiram a entrada de água,
que é o principal agente de alteração das rochas, o granito adquire uma
cor amarelada . E perde a sua compacidade, chegando a desagregar
-se em grãos do tamanho da areia . No estado intacto, que os geólogos
designam rocha fresca. percebe-se que o granito é composto por um
agregado de minerais. Os minerais do granito do S. Paio são. por ordem
decrescente de abundãncia, os feldspatos, o quartzo e as micas. Sabe-
mos que, depois dos magmas arrefecerem e se tornarem rocha sólida,
os granitos foram trazidos até à posição atual onde podemos vê 4 10s
porque, ao longo de milhões de anos, as rochas que os cobriam foram
erodidas.
Há ainda no S. Paio um interessante conjunto de filões de outras rochas
magmáticas, de diversas naturezas. Alguns, demonstram o resultado
da fragmentação do supercontinente Pangeia de que resuttou a Penín
sula Ibérica.
As rochas metamórficas encontram-se numa faixa mais próxima do
mar e estendem-se na direção do oceano, de sul para norte. São compostas por uma interessante variedade de gnaisses. São rochas mais
ou menos foliadas e com uma composição mineral bastante variada.
Formaram-se em resultado de intensa deformação e recristalização
de rochas anteriores bem no interior da crusta terrestre aquando da
formação de grandes cadeias montanhosas. Esta unidade de gnaisses
não foi ainda datada com precisão. Os geólogos, estudando as rochas e as estruturas, conseguem fazer datações relativas, ou seja, colocam as
páginas que correspondem aos eventos geológicos por ordem suces
siva. Por comparação com rochas e estruturas datadas noutros locais
sabe-se que estas são as rochas mais antigas aqui presentes, com
muitas centenas de milhões de anos.
Atendendo à escala de tempo geológico em que se inserem as rochas
anteriores, as rochas sedimentares do S. Paio são muito recentes, do período Quaternário. São pouco abundantes e observam-se em modes
tos afloramentos. Estão em risco significativo de degradação e perda
por erosão e degradação antrópica . No entanto, a sua importância é de
terminante para o estudo da evolução geomorfológica e climática deste
selo r da costa portuguesa na última centena de milhar de anos.
2.2. GEOMORFOLOGIA, FORMAS
DO RELEVO
Um dos aspectos mais interes
santes no S. Paio é o carácter
retilineo e recortado das suas
arribas. Dir-se- iam cortadas à
faca .. e é verdade. Elas corres
pondem a fraturas das rochas.
que fora m exploradas pela
erosão.
Essas fraturas têm a direção pre
dominante NNE-SSW. Também
existem fraturas numa direção
quase perpendicular (NW-SEJ. O
resultado é um mosaico de blocos
rochosos limitados por escarpas
retilíneas e quase verticais.
o vértice geodésico de S. Paio.
com a altitude de 20m acima do
nível médio das águas do mar,
situa-se a sul, no ponto onde se
pode contemplar um panorama
mais amplo .
Cuando fores dar um passeio aqui
à volta verás que há várias outras
superfícies aplanadas, limitadas
por escarpas quase verticais.
J
Trata-se de antigas platafor-
mas de erosão marinha que se
desenvolvem segundo um plano
inclinado para o mar, entre o nível
medio das marés baixas e o nível
medio das marés altas.
Estão rodeadas de reentrân cias,
as Nsapas", formadas pela ação
de compressão e descompressão
das ondas ao rebentarem contra
as arribas, As sapas marcam,
geralmente, o nível médio das
mares altas.
No S. Paio podemos encontrar
sapas que correspondem ao nível
atual do mar na base de uma es
carpa onde se encontra uma sapa
espetacular. si tuada 9m acima do
nível aluaI do mar,
33
2.3. AS VARIAÇÕES DO CLIMA E DO NíVEL DO MAR
As plataformas de erosão marinha, quando talhadas em rochas resis
tentes, podem conservar-se quando o nivel do mar desce e o mar deixa
de as atacar.
Formam. então, retalhos aplanados. por vezes cobertos de areias e calhauzinhos que ai foram deixados quando o mar as atingia [praias
fôsseis!'
Nos últimos 2.5 milhões de anos IQuaternário} o nível do mar sofreu
grandes alterações devidas. sobretudo, às intensas variações climáti
cas. Alternaram climas semelhantes ao clima atuallintergtaciaresl com
climas muito mais frios [glaciaçõesl. Durante as glaciações acumula
vam-se sobre os continentes grandes mantos de gelo finlandsisl. Isso
significava que urna parte importante do volume de águas do mar ficou
retida nos continentes. Consequentemente. o nível do mar desceu até
120m abaixo do nível atual.
Depois disso. o clima começou a aquecer e os glaciares recuaram. Daí
resultou uma rápida subida do nível do mar. Há aproximadamente 5000
anos o mar atingiu um nível próximo do atual: a partir dai as oscila
ções do nível do mar têm sido de muito menor amplitude 112-15cm por
século!.
o morro do vértice geodésico parece uma escadaria com degraus des
cendo para o mar. O carácter fresco das formas de relevo e dos depósi
tos sedimentares sugerem aos geomorfólogos que o S. Paio pode ser
um bloco que está a subir lentamente. registando na rocha. ã medida
que sobe. através de praias e de sapas levantadas. esses antigos níveis
do mar. A investigação relativa à possibilidade de movimentos recentes
no S. Paio Ineotectónical prossegue.
'" de llnatn 1'1'01'
4 .. ~ 81.
2.4. ONDAS E MARÉS
A costa Norte de PortugaL é muito energética. Foram registadas, na boía
ondógrafo de Leixões ondas de 14 m de altura!
Os processos de erosão costeira escavam sapas e marmitas nas rochas
resistentes e podem retirar as areias das praias. revelando as rochas
que estão subjacentes.
As marés são devidas à atração conjugada do Sol e da Lua sobre a massa dos oceanos. Nas fases de Lua Nova e Lua Cheia temos marés
vivas: a diferença de altura entre a preia-mar e a baixa-mar pode ultra
passar 3.5 metros!
As marés baixas vivas descobrem âreas geralmente submersas e po
demos observar rochas e formas de relevo. submersas na maior parte
do tempo.
Nas fases de quarto crescente e quarto minguante as marés têm uma
amplitude muito menor {marés mortas). A amplitude da maré pode ser,
apenas, de 80 cm.
LOGIA 3.1. INTRODUÇÃO
o Castro de S. Paio e zona en .... olvente integram a recente Pa isagem
Protegida Regional do Litoral de Vila do Conde e Reserva Ornitológica
de Mindelo. Trata-se de um espaço caraterizado por uma fauna e flora diversificadas, de importância singular para a conservação da biodiver
sidade e da pa isagem natural na Região Litoral Norte. Apresenta uma
faixa costeira que integra alguns dos cordões dunares melhor preser
vados da Área Metropolitana do Porto. para além de uma extensa área
agrícola e florestal.
05 habitats que conservam a maior diversidade de plantas são o cordão
dunar e as zonas húmidas. RefIra-se que a elevada riqueza específica das dunas litorais é acompanhada pela presença de elementos floristi
cos de elevada relevância para conservação, inclu indo dois endemismos
exclusivamente lusitanos: Coincya johnstonii e Jasione lusitanica.
No ponto de 'lista faunistico, a presença de numerosos charcos tem
porários suportam uma diversidade muito significativa de anfíbios, enquanto o mosaico agrícola, florestal e dunar permite a frequência de
numerosas espécies de aves, mamíferos, répteis e insetos.
Presentemente esta paisagem de praias e dunas, bosques, zonas
húmidas e campos agrícolas convive paralela a uma densa rede viária e
espaços urbanizados [residenciais, industriais e comerciais!.
3.2. BOSQUE
Nos bosques autóctones do Noroeste de Portugal. as árvores dominantes são o carvalho·alvarinho IOuercus
roburl e o carvalho-negral IQuercus pyrenalCa J. Devido à sua localização em áreas de grande interesse agrí
cola ou pastoril. a maior parte dos carvalhais foram substituídos por campos de cultura. pastagens. soutos,
e mais recentemente por arborizações de pinheiro-bravo e eucalipto. Os carvalhais criam no seu interior
um microclima próprio. com temperatura mais amena, ambiente sombrio e solos ricos, que propicia boas
condições para numerosas outras espécies vegetais e uma grande diversidade de mamíferos, aves, anfíbios
e msetos, que aqui encontram alimentação e abrigo.
3.3. AGRiCOLA
A agncultura é praticada na região desde tempos imemoriais. His
toncamente, salienta-se a utilização das masseiras, uma forma de
agricultura tradicional agro-marítima única no mundo e em .... ias de
desaparecimento, restrita ao litoral entre Labruge e Esposende. São
caracterizadas por um conjunto de soluções agronómicas peculiares
para contornar a adversidade devido à proximidade ao meio marítimo,
como: o terraceamento com talude geralmente suportado com muros
de pedra. as estruturas protetaras do vento (vinhas e canas!. e técnicas
agrícolas seculares geralmente associadas â rotação de culturas e ao
uso de ferti l izantes naturais. como o sargaço ou estrume. São muitos os
ammais e plantas que encontram vantagens nesta utilização tradicional
que o Homem dá ao solo, convivendo em harmonia connosco há muitas
gerações.
3.4. MATOS
Os matos são formações dominadas por arbustos (plantas lenhosas
que, no estado adulto, raramente ultrapassam os 3 metros de altura! e
const ituem um estado intermédio na sucessão ecológica da vegetação,
antes da floresta cLimácica. Por norma, surgem devido à destruição pelo fogo, sobrepasto reio ou solos empobrecidos. Apesar dos matos
apresentarem escassez de recursos alimentares, são caracterizados
pela abundãncia de refúgio , pelo que vários animais podem ser aqui
observados.
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3.5. ZONAS HÚMIOAS
As zonas húmidas apresentam uma eLevada diversidade de espécies
características destes habitats, inclu indo musgos, plantas aquáticas,
árvores, invertebrados. anfíbios. répteis. aves e mamíferos de hábitos
aquáticos. De igual modo. os corredores ripícolas existentes ao longo
das ribeiras proporcionam abrigo a várias espécies de aves passeri
formes. anfíbios e répteis.
Junto ao Castro de Sampaio desagua uma pequena ribeira. onde é
visível o efeito nefasto da colon ização da cana. Nos campos agrícolas
circundantes existem vários tanques com populações interessantes de
anfíbios.
A Reserva do litoral de Vila do Conde. onde esta zona se insere.
apresenta uma abundância de charcos temporários com comunidades
faunísticas muito importantes, ribeiras e o estuário do rio Ave.
As principais ameaças destes habitats prendem-se com a forte con
taminação da água dos rios e ribeiras e com a destruição de charcos e
lagoas para fins urbanisticos e povoamentos florestais.
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I
3.6. DUNAS
As dunas são estruturas móveis
resultantes da acumulação de
areias transportadas pelo vento,
nas quais as plantas têm um pa
pel fundamental no seu processo
de formação e consolidação.
Estas plantas ao instalarem-se
favorecem o crescimento em aLtu
ra da duna, devido à deposição de
areias. Apresentam uma grande
diversidade de plantas cuja
ocorrência se restringe a estes
habitats, e que evidenciam uma
capacidade invulgar de sobreviver
em substratos móveis, sujeitos ao
soterramento, com escassez de
água e ventos fortes e salgados.
Nas dunas surgem e nidificam
várias espécies de aves, habitam
numerosos insetos polinizadores.
pequenos répteis e anfíbios.
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3.7. ZONA INTERTIDAL
A zona entre marés caracteriza
-se pela enorme diversidade de
micro habitats e variabilidade
de condições ambientais, o que
resulta numa grande diversidade
biológica. Os organismos que
habitam o intertidal pertencem
normalmente a espécies muito
resistentes, algumas delas com
adaptações notáveis que lhes
permitem sobreviver a condições
extremas, como a exposição
à energia da rebentação das
ondas e às constantes alterações
de temperatura e humidade à medida que sobem e descem as
marés. A grande afluência sa
zonal de pessoas e a poluição das
águas costeiras são as principais
ameaças à conservação destes
habitats .
3.7. MARíTIMO
Existe uma grande diversidade de habitats marítimos. cada qual com
as suas espécies características. desde florestas de ta miná rias, prados marinhos, zonas rochosas, recifes ou grandes fossos onde a pressão
é muito elevada e luz não penetra. São também muitas as espécies de
animais como moluscos, crustáceos e peixes que aqui habitam e longa
é também a história da sua exploração. Mas estes impressionantes
recursos nâo são eternos e a exploração a um ritmo mais rápido do que
o que as espécies precisam para recuperar está a fazer com que muitos
dos animais dos nossos mares estejam a desaparecer.
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