2
36 | EDUCAÇÃO RIO | SETEMBRO DE 2015 Doutora em Educação e pesquisadora E MÍLIA C IPRIANO Competências para ensinar e para organizar o ensino A importância do professor na construção da identidade das crianças e adolescentes foi o destaque da palestra de Emília Cipriano tarefa do professor não é dar aula. A tarefa do professor é construir identidades humanas, ge- rir sonhos, fundar mundos. Nunca uma geração precisou tanto de pro- fessores como essa que necessita formar valores”. A mensagem de re- flexão, que impulsiona os profissio- nais da educação a pensar a organi- zação do ensino numa perspectiva desafiadora é de Emília Cipriano, doutora em Educação e professora da PUC/SP, que encerrou o 10º Con- gresso Rio de Educação. Na palestra “Reflexões sobre as competências para o ensinar e para a organização do ensino”, a professora falou sobre a importân- cia do respeito à singularidade do aluno. “Precisamos tratar questões específicas em âmbitos específicos. Precisamos ser um ‘ponto de luz’ na vida dos alunos. Assim, fazemos nascer, muitas vezes, um ser que nem ele próprio sabia que existia”. A professora destacou a impor- tância de valorizar o professor da Educação Infantil, que se eterniza na memória das pessoas e cuida da infância, o menor período da vida, mas o que mais forma valo- res e princípios. “Quem não sabe habitar a Educação Infantil não pode ser professor. A educação só vai mudar quando as universida- des, os doutores e pós-doutores souberem valorizar esses profes- sores”, afirmou. Outro ponto abordado por Emília foi a necessidade de romper com tudo que é padronização e que o currículo deve abranger a ideia de interdisciplinaridade que o cé- rebro tem. Ela lembrou que na sala de aula não é só o conteúdo que motiva o aluno. As formas usadas para isso também são fundamen- tais, já que o ensino deve fornecer situações que possibilitem a forma- ção de novas categorias de pensa- mento e conceitos, a partir de ex- periências e informações levadas pelo professor. Para Emília, trabalhar com prin- cípios consistentes em sala de aula promove unidade e, para isso, cada grupo que trabalha com educação deve pensar sempre no coletivo para construir uma unidade maior no país. Ela destacou seis princípi- os que considera fundamentais: diálogo, inclusão, humanização, participação, solidariedade e de- mocracia. “Eu não acredito em educação de qualidade sem que esteja baseada em princípios. É o princípio que nos dá unidade, e não as estratégias de ação”, explicou. Sobre o princípio da democra- cia, a professora alertou sobre a necessidade de resgatar o valor da palavra e exemplificou falando so- A | CONFERÊNCIA |

| CONFERÊNCIA | Competências para ensinar e para … · competências para o ensinar e para a organização do ensino”, a professora falou sobre a importân-cia do respeito à

Embed Size (px)

Citation preview

36 | EDUCAÇÃO RIO | SETEMBRO DE 2015

Doutora em Educação e pesquisadora

EMÍLIA CIPRIANO

Competências para ensinar epara organizar o ensinoA importância do professor na construção da identidade das crianças e adolescentesfoi o destaque da palestra de Emília Cipriano

tarefa do professor não é daraula. A tarefa do professor

é construir identidades humanas, ge-rir sonhos, fundar mundos. Nuncauma geração precisou tanto de pro-fessores como essa que necessitaformar valores”. A mensagem de re-flexão, que impulsiona os profissio-nais da educação a pensar a organi-zação do ensino numa perspectivadesafiadora é de Emília Cipriano,doutora em Educação e professorada PUC/SP, que encerrou o 10º Con-gresso Rio de Educação.

Na palestra “Reflexões sobre ascompetências para o ensinar epara a organização do ensino”, aprofessora falou sobre a importân-cia do respeito à singularidade doaluno. “Precisamos tratar questõesespecíficas em âmbitos específicos.Precisamos ser um ‘ponto de luz’na vida dos alunos. Assim, fazemosnascer, muitas vezes, um ser quenem ele próprio sabia que existia”.

A professora destacou a impor-tância de valorizar o professor daEducação Infantil, que se eternizana memória das pessoas e cuidada infância, o menor período davida, mas o que mais forma valo-res e princípios. “Quem não sabehabitar a Educação Infantil nãopode ser professor. A educação sóvai mudar quando as universida-des, os doutores e pós-doutores

souberem valorizar esses profes-sores”, afirmou.

Outro ponto abordado porEmília foi a necessidade de rompercom tudo que é padronização e queo currículo deve abranger a ideiade interdisciplinaridade que o cé-rebro tem. Ela lembrou que na salade aula não é só o conteúdo quemotiva o aluno. As formas usadaspara isso também são fundamen-tais, já que o ensino deve fornecersituações que possibilitem a forma-ção de novas categorias de pensa-mento e conceitos, a partir de ex-periências e informações levadaspelo professor.

Para Emília, trabalhar com prin-cípios consistentes em sala de aulapromove unidade e, para isso, cadagrupo que trabalha com educaçãodeve pensar sempre no coletivopara construir uma unidade maiorno país. Ela destacou seis princípi-os que considera fundamentais:diálogo, inclusão, humanização,participação, solidariedade e de-mocracia. “Eu não acredito emeducação de qualidade sem queesteja baseada em princípios. É oprincípio que nos dá unidade, e nãoas estratégias de ação”, explicou.

Sobre o princípio da democra-cia, a professora alertou sobre anecessidade de resgatar o valor dapalavra e exemplificou falando so-

“A

| CONFERÊNCIA |

EDUCAÇÃO RIO | SETEMBRO DE 2015 | 37

tado encanta. Ele tem umpapel de referência”.

A palestrante ressaltouainda que o professor preci-sa pensar no funcionamentoda percepção e da imagina-ção para desafiar uma auto-nomia educacional e alcançar

uma aprendizagem que saia damesmice. “Em um momento de tan-ta complexidade, é fundamental es-tarmos juntos para ter esperança noato de educar e entender que temossim competência de superar as difi-culdades. É impossível compartilharuma coisa se não a temos. Ensina-mos aquilo que somos. Temos queensinar com a nossa própria históriade vida”, afirmou Emília.

bre o Enem (Exame Nacio-nal do Ensino Médio). “Quedemocracia é essa quandofalamos de Enem? Comocolocar pessoas de condi-ções diferentes, em contex-tos diferentes, com forma-ções diferentes, em umranking com os mesmos critérios?Isso é injustiça social”, criticou.

Emília acredita que o tema cen-tral que deve ser discutido na edu-cação é que o papel do professornão é só passar conteúdo e dar aula,mas sim produzir sentidos, levandooutra leitura de mundo. “O profes-sor é um analista simbólico que tra-balha com relações humanas e temum papel decisivo na formação de

identidade. Ele desenvolve capaci-dades de relações, observação, re-lato e comunicação, principalmentea serviço da vida. Não é um serviçomeramente de conceitos desconec-tados, mas sim de construção deidentidade. Cabe ao educador cons-truir no educando uma relação decuriosidade, de indagação do sabere de consolidação das formas deaprendizagem. O educador encan-

“A tarefa do professornão é dar aula. A tarefa do professor

é construir identidades humanas,gerir sonhos, fundar mundos”

Emília: “O professor éum analista simbólicoque trabalha com relaçõeshumanas e tem um papeldecisivo na formaçãode identidade”