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POLÍTICAS EDUCACIONAIS NOS OITOCENTOS: A REFORMA COUTO FERRAZ E SEU IMPACTO SOB A INSTRUÇÃO PÚBLICA PRIMÁRIA NA CORTE IMPERIAL NA DÉCADA DE 1850. ___________________________________________________________ Ramona Halley Rosário de Souza Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, bolsista Capes. [email protected] RESUMO O presente artigo busca analisar as mudanças instituídas na instrução primária pelo Regulamento das Escolas Primárias e Secundárias do Município da Corte, implantado na chamada Reforma Couto Ferraz, pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império de mesmo nome, Luiz Pedreira do Couto Ferraz, em 1854. Nosso objetivo é analisar o modelo educacional proposto para as escolas públicas de primeiras letras na Corte e verificar, ao mesmo tempo, a perspectiva do Estado com relação à difusão da instrução primária. Após a análise do texto do Regulamento, pretendemos analisar alguns dados gerais sobre as escolas contidos nos Relatórios do Ministério do Império para mostrar o impacto da Reforma Couto Ferraz sob a instrução pública primária durante a década de 1850. Palavras-chave: Brasil, Império, Escolas. ABSTRACT The present article searchs to analyze the changes instituted in the primary instruction for the Regulation of the Primary and Secondary Schools of the City of the Cut, implanted in the call the Couto Ferraz Reformation, for the Minister and Secretary of State of the Businesses of the Empire of same name, Luiz Pedreira do Couto Ferraz, in 1854. Our objective is to analyze the considered educational model for the public elementary schools in the Cut and to verify, at the same time, the perspective of the State with regard to the diffusion of the primary instruction. After the analysis of the text of the Regulation, we intend to analyze some general data on the schools contained in the Reports of the Ministry

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POLÍTICAS EDUCACIONAIS NOS OITOCENTOS: A REFORMA COUTO FERRAZ E SEU IMPACTO SOB A INSTRUÇÃO PÚBLICA PRIMÁRIA NA

CORTE IMPERIAL NA DÉCADA DE 1850. ___________________________________________________________

Ramona Halley Rosário de SouzaUniversidade Federal Rural do Rio de Janeiro, bolsista Capes.

[email protected]

RESUMO

O presente artigo busca analisar as mudanças instituídas na instrução primária pelo Regulamento das Escolas Primárias e Secundárias do Município da Corte, implantado na chamada Reforma Couto Ferraz, pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império de mesmo nome, Luiz Pedreira do Couto Ferraz, em 1854. Nosso objetivo é analisar o modelo educacional proposto para as escolas públicas de primeiras letras na Corte e verificar, ao mesmo tempo, a perspectiva do Estado com relação à difusão da instrução primária. Após a análise do texto do Regulamento, pretendemos analisar alguns dados gerais sobre as escolas contidos nos Relatórios do Ministério do Império para mostrar o impacto da Reforma Couto Ferraz sob a instrução pública primária durante a década de 1850.

Palavras-chave: Brasil, Império, Escolas.

ABSTRACT

The present article searchs to analyze the changes instituted in the primary instruction for the Regulation of the Primary and Secondary Schools of the City of the Cut, implanted in the call the Couto Ferraz Reformation, for the Minister and Secretary of State of the Businesses of the Empire of same name, Luiz Pedreira do Couto Ferraz, in 1854. Our objective is to analyze the considered educational model for the public elementary schools in the Cut and to verify, at the same time, the perspective of the State with regard to the diffusion of the primary instruction. After the analysis of the text of the Regulation, we intend to analyze some general data on the schools contained in the Reports of the Ministry of the Empire to show the impact of the Reformation Couto Ferraz under the primary public instruction during the decade of 1850.

Keywords: Brazil, Empire, Schools.

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Este trabalho busca analisar das políticas educacionais instituídas no Município da Corte – a cidade do Rio de Janeiro - na década de 1850, sob as escolas públicas de instrução primária. Essas políticas educacionais instituídas culminam na chamada Reforma Couto Ferraz, implantada pelo Ministro e Secretário d’Estado dos Negócios do Império de mesmo nome, na Corte Imperial, a partir de 1854, que pôs em vigor o Regulamento da Instrução Primária e Secundária da Corte. Este trabalho constitui parte da pesquisa em andamento sobre a instrução pública primária no Município da Corte, na década de 1850. Nesse artigo nos deteremos a analisar alguns artigos da Reforma para identificar as mudanças instituídas no controle e fiscalização das escolas de primeiras letras e num segundo momento analisar alguns dados gerais sobre as escolas, contidos nos Relatórios do Ministério do Império para mostrar o impacto da Reforma Couto Ferraz sob a instrução pública primária durante a década de 1850.

Nosso projeto de pesquisa busca analisar o modelo educacional proposto para as escolas públicas de primeiras letras na Corte, para identificar as concepções de instrução, educação e ensino da época para compreender a função da instrução de primeiras letras na sociedade, estabelecendo uma comparação entre os discursos e a prática, entre leis e regulamentos e o funcionamento das escolas. Pretendemos demonstrar que a educação escolar de primeiras letras na Corte representou perspectivas diferentes para governantes, professores, pais e alunos e que, aos poucos, ela adquiriu valor para esses atores.

A instrução de primeiras letras consistiu na iniciação aos estudos. Nas Aulas públicas de primeiras letras da Corte o currículo comum às escolas de meninos e de meninas era o aprendizado da “a instrução moral e religiosa, a leitura e a escrita, as noções essenciais da gramática, os princípios elementares da aritmética, o sistema de pesos e medidas do município”, segundo o Regulamento de 1854. Porém os currículos das escolas apresentavam diferenças entre as escolas de meninos e as de meninas desde a Lei de 15 de outubro de 1827. Essa fase da instrução era freqüentada por “discípulos” – como eram chamados os alunos das escolas primárias – de 5 a 15 anos de idade.

Através dos Relatórios do Ministério do Império e dos ofícios de sua secretaria, da legislação e dos regulamentos da instrução, dos ofícios da Inspetoria da Instrução Primária e Secundária da Corte – criada com a Reforma Couto Ferraz - e dos professores primários, disponíveis no Arquivo Nacional e no Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, foi possível verificar as dificuldades de aplicação das leis nas escolas como a falta de verbas para a construção e aluguel de edifícios adequados para as escolas, da dificuldade de atrair e manter os alunos nas escolas; da falta de mobiliário escolar e materiais didáticos e de professores bem preparados para as escolas. Apesar desses entraves, verifica-se um crescimento do número de escolas e alunos ao longo da década, um aumento do corpo burocrático responsável pelas funções do ensino, o que traz melhorias para a administração e fiscalização do funcionamento das escolas e um maior controle dos conteúdos e procedimentos didáticos adotados.

Devemos esclarecer que entendemos aqui como políticas educacionais, as políticas emanadas do Estado – representado por representantes do Poder Executivo e do Poder Legislativo –, direcionadas a oferecer um aparato legal para a instrução oferecida no Império.1 As políticas um método que utiliza educacionais também podem ser entendidas

1 Procuramos referências que discutissem o conceito de política educacional, mas tivemos dificuldades pois, em geral, os trabalhos que utilizam a legislação educacional como objeto de pesquisa não discutem o conceito. Entre os simpósios de eventos de História da Educação, geralmente um é sobre legislação ou políticas educacionais, mas a maioria dos trabalhos assistidos e pesquisados como os dos Congressos Brasileiros de História da Educação e do II Encontro Estadual de História da Educação do estado do Rio de Janeiro, por exemplo, não apresentam uma discussão ou definição sobre o termo. Um dos trabalhos que procuram discutir o conceito é o da doutora em filosofia e mestre em educação Clélia Martins, que se propõe

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aqui como “estratégias promovidas a partir do nível político com o objetivo de desenvolver um determinado modelo social.”2 Essas políticas educacionais são analisadas aqui como uma prática social, produzida por sujeitos que ocuparam posições de prestígio na sociedade, depositando no poder das leis seus objetivos e expectativas para que essas produzissem certo efeito desejado na sociedade.3 Assim, a legislação que analisamos é objeto e resultado de disputas políticas específicas de um tempo histórico e envolve interesses pessoais e coletivos, que podem ser identificados em seu texto através da linguagem, do uso de termos específicos e de seus significados.

Buscamos, portanto, através da legislação, mesmo que de forma limitada, compreender a perspectiva dos sujeitos responsáveis pela direção do Estado com relação à educação e à instrução. Passemos então ao estudo das políticas educacionais durante a década de 1850 até a Reforma Couto Ferraz em 1854, destacando os artigos que se referem à instrução primária.

1.1 – Instruir conforme as leis: a Reforma Couto Ferraz e as escolas de primeiras letras.

A chamada Reforma Couto Ferraz, implantada pelo Ministro Luiz Pedreira do Couto Ferraz em 1854, conforme mencionado anteriormente, se deu graças às contribuições acerca da instrução, de um projeto elaborado por Luiz Pedreira do Couto Ferraz e por Justiniano José da Rocha4, ambos membros do Partido Conservador, bacharéis em Direito e monarquistas à época. Essa Reforma implantou o Regulamento da Instrução Primária e Secundária da Corte no Município da Corte e serviria de base para mudanças nas leis nesses níveis da instrução em todo o Império. A intenção da implantação da reforma era melhorar e ampliar a instrução no Município da Corte e fazer com que isso se repetisse em todo o Império. Após a aprovação do projeto da reforma pela Câmara dos deputados e pelo Senado, foi assinado o Decreto Nº. 630 de 17 de fevereiro de 1851, que a autorizava.

Como o Ministério do Império recolhia os dados das escolas das freguesias da Corte e dados sobre o ensino nas províncias para que fosse feita a parte do relatório apresentado à Assembléia Geral legislativa que se referia ao ensino, constitui o órgão oficial ideal para nos oferecer informações sobre os aspectos gerais do ensino público entre os anos de 1850-60 na Corte.

uma discussão sem fazer um histórico do conceito e nem atribuir um significado único. Cf. MARTINS, Clélia. O que é política educacional. 2.ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. 2 Cf. BIANCHETTI, Lucídio. Modelo Neoliberal e Políticas Educacionais. São Paulo: Cortez, 2001. p. 88 apud LIMA, Silvia Peixoto de; RODRIGUEZ, Margarita Victoria. Políticas Educacionais e equidade: revendo conceitos. Anais da VI Jornada da HISTEDBR. História, Sociedade e Educação no Brasil. Ponta Grossa, PR: 2005. p. 1. Disponível no sítio eletrônico: http://www.histedbr.fae.unicamp.br/acer_histedbr/jornada/jornada7/_GT2%20PDF/POL%CDTICAS%20EDUCACIONAIS%20E%20EQ%DCIDADE%20REVENDO%20CONCEITOS.pdf. Acesso em janeiro/2011.3 Cf. MORENO, Andréia; SENGATINI, Verona Campos. Educação do Corpo na e pela linguagem da Lei: potencialidades da legislação como fonte. Revista Pensar a Prática, Góiás, Volume 11, nº 1, 2008. Disponível em http://www.revistas.ufg.br/index.php/fef/article/viewArticle/1822/3353. Acesso em janeiro/2011.4 Justiniano José da Rocha (1812-1862) nasceu no Rio de Janeiro, cursou o ensino secundário no Liceu de Henrique IV, na França, e o ensino superior na Faculdade de Direito de São Paulo, entre 1829-33.

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Com o intuito de promover políticas educacionais que melhorassem a qualidade do ensino na sede política do regime imperial, a cidade do Rio de Janeiro – reconhecida como o Município da Corte -, os novos Estatutos do Ensino Superior e o Regulamento da Instrução Primária e Secundária da Corte constituem as mudanças que começariam a ser implantadas na instrução pública e particular a partir de 1854 pela chamada Reforma Couto Ferraz, assim denominada devido ao Ministro do Estado e dos Negócios do Império que a implantou, Luiz Pedreira do Couto Ferraz. Após três anos de muitos debates e preparação devido à sua importância para a formação dos “cidadãos” do Império e para a difusão das “luzes”, a primeira reforma que trouxe mudanças mais significativas para a instrução de primeiras letras no Município da Corte passou a vigorar. Mas que mudanças, afinal, ela trouxe para as escolas de primeiras letras?

O Relatório de 1851 já apresenta algumas notícias sobre a autorização do Governo para que fossem feitas as mudanças que necessitava a instrução de acordo com o Ministro dos Negócios do Império, Visconde de Mont’alegre. Logo no início da parte referente à educação, que trazia o título de “Instrucção Pública, Estabelecimentos scientíficos e litterários, Theatro e Conservatório de Música”, o Ministro afirma:

Em virtude da autorização conferida ao Governo nos Decretos Nos 608 e 630 de 16 de Agosto e 17 de Setembro do ano passado, foram elaborados na Secção do Império do Conselho d’Estado os novos Estatutos para os Cursos jurídicos e Escolas de Medicina do Império, bem como o Regulamento e Instruções, que dão nova forma ao ensino primário e secundário no Município da Corte. Está pois prestes a realizar-se esta importantíssima reforma, com a qual muito melhorará a Instrucção Pública, extirpando-se os vícios, defeitos e abusos, que tanto obstaculizavam o seu progresso (...). 5

Os novos Estatutos do Ensino Superior e o Regulamento da Instrução Primária e Secundária a que se refere o Ministro constituem as mudanças que começariam a ser implantadas a partir de 1854 pela chamada Reforma Couto Ferraz, devido ao nome do Ministro do Estado e dos Negócios do Império que a implantou, Luiz Pedreira do Couto Ferraz.

O Decreto Nº 630 de 17 de setembro de 1851, como consta na Coleção das Leis do Império, ano de 1851, autorizava o governo a reformar os ensinos primário e secundário do Município da Corte. Nesse decreto, ficavam claras as atribuições do governo e também as restrições que este deveria adotar quanto às escolas particulares, que muitas vezes eram mal vistas pelo Estado. Isso fica claro já no primeiro artigo:

Art. 1º. – O governo fica autorizado a reformar o ensino primário e secundário do Município da Corte observando as seguintes disposições:1º. Haverá no Município um Inspetor Geral da Instrução e em cada Paróquia um Delegado seu.Esses empregados serão amovíveis e o Governo marcará em Regulamento suas atribuições e o modo por que será feita a inspeção das escolas.2º. Qualquer pessoa que se propuser a abrir uma Escola ou Colégio ou a lecionar nesses estabelecimentos deverá requerer licença ao Inspetor Geral, justificando aptidão, idade maior de vinte e um anos e moralidade.

5 Relatório do Ministério do Império do Brasil. 1851.

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[...]4º. Todas as escolas e colégios particulares ficarão sujeitos à inspeção e seus Diretores às penas de suspensão e multa nos casos e pelo modo como o governo determinar.5º. Quando o Governo reconhecer que algumas destas casas são prejudiciais aos bons costumes ou à educação da mocidade poderá mandar imediatamente fechá-la, ficando, todavia, salvo ao respectivo Diretor o recurso para o Conselho d’Estado.6º As escolas públicas de Instrução Primária serão divididas em primeira e segunda classe.Nas de segunda classe o ensino deve limitar-se à leitura, caligrafia, doutrina cristã, princípios elementares do cálculo e sistemas mais usuais de pesos e medidas.Nas de primeira classe o ensino deve, além disto, abranger a gramática da língua nacional e aritmética, noções de álgebra e de geometria elementar, leitura explicada dos Evangelhos e notícia da história sagrada, elementos de geografia e resumo de história nacional, desenho linear, música e exercícios de canto.[...]Art. 2º. O Governo fará pôr em prática a reforma, sujeitando-a à definitiva aprovação do poder legislativo; e enquanto a não obtiver serão consideradas provisórias as nomeações dos Professores das cadeiras novamente criadas e dos Empregados do Externato. [...]. 6

Podemos perceber, com essa legislação, que houve também uma preocupação da Administração central quanto ao ensino dos colégios particulares. Há também uma inovação ordenada que é a divisão da instrução primária em duas classes: a segunda tem um ensino muito básico enquanto a primeira tem um programa mais aprofundado quanto às áreas de conhecimento.

No Relatório de 1852 o então Ministro Francisco Gonçalves Martins também menciona a Reforma na parte do Relatório que trata do ensino, dizendo que a mesma está sendo preparada:

Pelo que respeita á Instrução primaria, e as aulas avulsas de instrução secundaria, sente o governo que não possa já apresentar-vos o plano da reforma, que elabora em execução do Decreto N.º 630 de 17 de Setembro de 1851; brevemente ser-vos-há porém presente esse trabalho. [...] 7

O Relatório de 1853 já apresenta como Ministro do Império Luiz Pedreira do Couto Ferraz. Na parte referente à educação, “Instrução Pública e Estabelecimentos scientíficos e literários”, o Ministro já inicia prestando contas sobre o novo Regulamento autorizado, segundo ele, pelas leis Nº 608 de 16 de agosto e 630 de 17 de setembro de 1851 e 714 de 19 de setembro de 1853, para as reformas da instrução primária e secundária e do ensino superior. Vejamos:

6 Coleção das Leis do Império do Brasil. 1851.7 Relatório do Ministério do Império. 1852.

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Quanto ao primeiro ponto, [a instrução primária e secundária] eram as idéias essenciais da reforma as seguintes: vulgarizar e extender o ensino público, organizar melhor o magistério, dando vantagens no presente e segurança no futuro aos professores; regular as condições do ensino particular; e chamar para um centro de inspeção por parte do governo os colégios e estabelecimentos de educação da Capital do Império.[...]Nesse regulamento, parece, que foram atendidas todas as necessidades, que reclamava o ensino primário e secundário, dando-se-lhes as soluções mais adequadas às nossas circunstâncias, e aconselhadas pela experiência dos Países mais ilustrados.Pelo regulamento, à que me refiro, criou-se uma inspeção forte e sistemática para todos os estabelecimentos de instrução primária e secundária, assim públicos, como particulares”.

O modelo da reforma também é espelhado nos países ilustrados de acordo com o discurso acima. Podemos verificar, de acordo com o relato do Ministro, que algumas mudanças propostas pelo Estado com a Reforma como a ampliação do ensino público e da fiscalização dessas escolas e também das particulares – que ficaria a cargo da recém criada Inspetoria Geral e de seus Delegados e Membros – além da organização do Magistério, foram concretizadas. O Ministro deixa claro, neste Relatório, as funções e detalhes a respeito da Inspetoria Geral. Na continuação do discurso do Ministro no Relatório, ficam claras as atribuições e a composição do Conselho Diretor e da Inspetoria Geral:

Um Inspetor Geral, com atribuições claras e definidas; um Conselho Diretor composto de pessoas escolhidas, umas por suas luzes na matéria, e outras por sua pratica no ensino; delegados de distrito, que auxiliem o Inspetor Geral na visita e inspeção das escolas e estabelecimentos de instrução dos dois graus [...]Assim, ele examina e compara os métodos e sistemas práticos do ensino; revê, e propõe os compêndios, que julga melhores; indica a necessidade de se criarem novas escolas no município, e aulas no Colégio Pedro 2º; interpõe seu parecer em todas as medidas de maior alcance; e julga as infrações disciplinares dos professores, á que esteja imposta pena maior do que as de admoestação repreensão, ou multa.Seus atos são depois sujeitos, nos casos mais importantes, ao exame e á reflexão do governo, que os resolve, assim suficientemente esclarecido.No pessoal do Conselho Diretor procurou-se representar todos os interesses, quer do professorado, quer da Administração pública.É ele constituído sob a presidência do Inspetor Geral por dois professores públicos, por um professor ou diretor de estabelecimento particular de instrução primaria ou secundaria, pelo Reitor do Colégio de Pedro 2º, e por mais dois membros nomeados pelo Governo, sem que tenham de ser tirados de classe designada.A nomeação destes dois últimos membros recaiu em pessoas literatas, e que sempre se hão distinguido por seu zelo e inteligência, dando-se d’há muito tempo ao estudo deste ramo do serviço público. 8

8 Relatório do Ministério do Império. 1853. Cf. também MOACYR, Primitivo. Op. cit. pp. 11-15.

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A criação do Conselho Diretor demonstra a tentativa do Estado em aumentar a fiscalização nas escolas para tornar mais eficiente e abrangente o ensino e sanar os problemas existentes. A formação do Conselho Diretor mostra uma representação aparentemente democrática onde há representantes do ensino público – não nos fica claro se de primeiras letras ou secundário ou se poderiam ser os dois -, do ensino particular do ensino primário ou secundário, pelo Reitor do Colégio de Pedro II e por mais dois membros do Governo, nomeados por suas habilidades com as “letras”. Estes eram, certamente, membros da elite política com a formação jurídica comum de acordo com a ideologia ilustrada do Império, apesar de se destacarem mais como poetas, artistas, escritores e membros de círculos literários e instituições do Estado, voltadas para as letras, a História do Brasil, como o IHGB, por exemplo, etc. Destacam-se, por exemplo, “literatos” como Joaquim Manoel de Macedo, Gonçalves Dias, Lima Barreto entre outros.

Quanto ao ensino primário, no Relatório de 1853 o Ministro menciona os trabalhos do Conselho Diretor quanto à criação das escolas e difusão do ensino. Através desse discurso, podem-se verificar algumas dificuldades da difusão do ensino que não provém somente da ineficiência do Estado mas é causada também pelas faltas dos alunos, segundo o Ministro. O mesmo, neste caso, culpa os pais destes, que, segundo ele, tem obrigação de dar o mínimo de educação moral e ética para seus filhos através das escolas de primeiras letras.

Com o fito de generalizar, quando for possível, o ensino primário, aguardo os trabalhos do Conselho Diretor tendentes à criação de escolas em todos os pontos, em que houver necessidades delas. Foi este o objeto, na minha opinião, devidamente atendido no regulamento.O preceito constitucional, que manda o Estado dar instrução primaria gratuita, não deve ser jamais executado por forma, que anule em grande parte os efeitos, que ele tendeu.Não é possível que as escolas em numero mui limitado, e mui distantes entre si satisfaçam ás vistas daquela providente medida. Cumpre, pois, estabelecê-las nos lugares, em que forem precisas, em distâncias rasuáveis.Cumpre, porém, ao mesmo tempo, que Estado não faça para isso tantos sacrifícios sem fruto, e que não se despendam os dinheiros públicos sem proveito, só porque a ignorância ou a falta de zelo dos pais assim queiram.Por isso assentou-se que se devia acompanhar o que se pratica na Prússia, e em outros Países, estabelecendo-se como obrigações dos pais, tutores, curadores ou protetores dos meninos, o dar-lhes a instrução primaria, e a exemplo do que se pratica entre nós com a vacina e outros objetos menos importantes, estabeleceram-se multas para os casos de transgressão daquele dever.Convinha também, como meio de dar instrução primaria gratuita, e de tornar efetiva aquela obrigação, que o estado fosse em auxilio dos meninos, cujos pais animados dos melhores desejos de que ao menos soubessem ler e escrever, se achassem privados dos meios de fazê-los aprender.Não tem neste auxílio o Governo por único alvo prestar um socorro público, mas também o interesse do Estado, preparando em vantagem sua o futuro da infância desvalida.9

9 Relatório do Ministério do Império, ano de 1853.

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Neste fragmento do Relatório, podemos perceber que a direção saquarema tem como moldes os países europeus de ideologia ilustrada em suas medidas quanto à educação, como é o caso da Prússia, mencionada pelo Ministro. A importância em difundir o ensino para conter a desordem que assombrava a elite desde a Regência entre as classes baixas também está presente no discurso deste Relatório. Para fazer com que os alunos comparecessem a escola e aprendessem os princípios morais e éticos, a “língua nacional” que superava limitações das falas regionais, os “conhecimentos geográficos” que faziam com que entendessem o território como uma integridade, “informações matemáticas” para a apreensão das “estruturas lógicas elementares presentes no mundo e que fundamentavam o primado da Razão” e também para que se tornassem aptos a aprender profissões e assim se formarem “cidadãos úteis e pacíficos”10 ; o ministro oferece ao Estado a opção de o Governo prestar um “auxílio” aos meninos para que os pais os façam aprender ao menos ler e escrever.

Em 1854, finalmente é concluído e começa a ser posto em prática o novo regulamento da instrução primária e secundária da Corte. A Reforma Couto Ferraz, como ficou conhecida devido ao nome do Ministro do Império que a implantou, trouxe muitas mudanças para o ensino primário como a implantação do Conselho Diretor, como órgão de fiscalização das escolas, novo programa de disciplinas para os alunos e alunas de primeiras letras, entre outras coisas. O decreto Nº 1.331 de 17 de fevereiro de 1854 aprovava o Regulamento para a reforma no ensino primário e secundário no Município da Corte. O Regulamento estabelecia que seriam os integrantes do Conselho Diretor, quais as suas funções, seu vencimentos, as atribuições dos professores, seus vencimentos e além disso, esclarecia o programa do ensino primário e o dividia em duas classes: escolas do primeiro grau e escolas do segundo grau. Nas escolas de meninas, além do programa estabelecido para o ensino de meninos, aprender-se-ia também “bordados e trabalhos de agulha mais necessários”.11 Ficava estabelecido também, que em cada paróquia deveria haver pelo menos uma escola de primeiro grau para cada um dos sexos. Uma novidade garantida por lei, pois, até então, a lei garantia somente escolas de primeiras letras nas freguesias mais populosas.

É notável, portanto, que várias mudanças ocorreram ao longo do processo de implantação do ensino público, financiado pelo Estado e garantido por Lei a todos os cidadãos. As soluções para os problemas apresentados reclamadas pelos dirigentes começam a se concretizar com a reforma Couto Ferraz.

Em 17 de fevereiro de 1854 um decreto legislativo pôs em execução o Regulamento da Instrução Primária e Secundária da Corte. A Reforma criou a Inspetoria Geral de Instrução Primária e Secundária do Município Neutro, órgão diretamente submetido ao Ministério do Império, encarregado de fiscalizar e orientar os ensinos elementar e secundário, público e particular na Corte. Ampliou e hierarquizou-se o corpo responsável por essas funções através da Inspetoria geral, que continha os seguintes cargos: Inspetor Geral, presidente do Conselho Diretor, Membros do Conselho Diretor, composto por dois professores públicos e pelo Reitor do Imperial Colégio de Pedro II, o qual cabia “examinar e comparar os métodos e sistemas práticos de ensino, rever e propor os compêndios, indicar da necessidade de se criarem novas escolas no município e aulas no Colégio de Pedro II”, e “julgar as infrações disciplinares dos professores”.12

Um programa para a instrução primária também foi estabelecido pelo Regulamento e fixou as seguintes disciplinas, segundo Selma R. de Mattos:

10 Cf. MATTOS, Ilmar R. de. Op. cit. p. 276.11 Coleção das Leis do Império. 1854. Regulamento da Instrução Primária e Secundária da Corte.12 Maria de Lourdes M. Haidar apud MATTOS, Selma R. de, Op. cit. p. 39.

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“[...] instrução moral e religiosa; leitura; escrita; noções essenciais de gramática; princípios elementares de aritmética; sistema de pesos do município”, podendo compreender ainda “o desenvolvimento da aritmética em suas aplicações práticas; elementos de história e geografia, principalmente do Brasil; leitura explicada dos Evangelhos e notícia da história sagrada; princípios das ciências físicas e da história natural aplicáveis aos usos da vida; agrimensura; geometria elementar; desenho linear; noções de música e exercícios de canto; ginástica; um estudo desenvolvido do sistema de pesos e medidas, não só do Município da Corte, como das Províncias do Império e das Nações com que o Brasil tem mais relações comerciais”. 13

Além de todas essas mudanças, as escolas elementares forma divididas em dois segmentos: primeiro e segundo graus.

Um outro trecho do Relatório mostra também a dificuldade e a preocupação do Estado com a formação de novos professores para as escolas de primeiras letras, e o que muda com a Reforma para os professores e futuros professores, conforme segue:

Basta, pois, que por agora vos observe que, sem pessoal habilíssimo e dedicado para manter e dirigir uma instituição de tal ordem, e tendo diante dos olhos o exemplo das escolas normaes, estabelecidas em algumas Províncias, que nem um fructo deram por causa d’aquella falta, pareceria por sem duvida imprudente arriscar grandes sommas, e perder inutilmente o tempo preciso para no fim de alguns annos siprimir-se a escola que se creasse.Teve por isso o Governo por melhor experimentar uma nova instituição, e achou mais acertado ir educando os futuros mestres nas próprias escolas públicas que designar por mais acreditadas, aproveitando-se neste intuito alguns meninos intelligentes.Serão estes collocados como adjuntos dos professores mais hábeis com módicas retribuições, até vão gradualmente progredindo no ensino á ponto de poderem reger as mesmas escolas, quando vagarem, ou as que de novo se instituírem.Para evitar que este systema, que em parte já foi adoptado na Áustria e na Hollanda, e que até certo ponto o foi também em França, podesse embaraçar o progresso do ensino, tornando-o algum tanto estacionário, foi a sua adopção entre nós acompanhada dos convenientes correctivos, taes como a instituição de conferências dos professores em épocas designadas, os exames repetidos todos os annos, e outros, além de ficar subordinado ao zelo e à vigilância de uma constante e severa inspecção.14

13 MATTOS, Selma R. de, Op. cit. p. 39.14 Relatório do Ministério do Império, ano de 1853.

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Além disso, algumas regras para provimento dos cargos de professor se modificam um pouco. Quanto ao programa de disciplinas das escolas de primeiras letras, também podemos notar algumas mudanças, pois, são incluídas noções de música e exercícios de canto, além da ginástica, por exemplo, que antes não faziam parte do programa.

Das escolas públicas. O ensino primário nas escolas publicas compreende: a). a instrução moral e religiosa; b). a leitura e a escrita; c). as noções essenciais de gramática; d). os princípios elementares da aritmética; e). o sistema de pesos e medidas do município. Pode também compreender: a). o desenvolvimento da aritmética em suas aplicações práticas; b). a leitura explicada dos Evangelhos e notícia da história e geografia, principalmente do Brasil; d). os princípios das ciências físicas e da história natural aplicáveis ao uso da vida; e). a geometria elementar; f). agrimensura; g). desenho linear; h). noções de música e exercícios de canto; i). Ginástica; j). um estudo desenvolvido do sistema de pesos e medidas, não só do Município da Corte, como das províncias do Império, e das Nações com que o Brasil tem mais relações comerciais.15

Uma outra mudança interessante que provoca a Reforma é a preocupação maior com as crianças pobres. Segundo Primitivo Moacyr, para as crianças menores de 12 anos pobres, sem roupas para freqüentar as escolas e sem situação de mendicidade deveria ser dado asilo em casas que deveriam ser criadas para este fim e enquanto não fossem criadas as casas, essas crianças deveriam ser entregues aos “párocos ou coadjutores ou mesmo aos professores dos distritos” e o governo pagaria uma espécie de pensão para atender às necessidades básicas dos meninos. No caso de não poder se criar, por falta de alunos suficientes, uma escola de primeiras letras em alguma freguesia de pequena população, o Estado também custaria os estudos em escola particular, das poucas crianças pobres interessadas em estudar.16

O novo Regulamento, por fim, também institui mudanças quanto às obrigações dos professores públicos. Ele exige mais “silêncio, exatidão e regularidade” nas escolas, vestimenta decente, informar sobre os impedimentos ao funcionamento da escola ao delegado respectivo, orçar com o delegado e enviar ao Inspetor Geral o orçamento do ano seguinte das despesas da escola, enviar “mapa” de alunos com freqüência e aproveitamento a cada trimestre e enviar no fim do ano um “mapa geral compreendendo o resultado dos exames, e notando d’entre os alunos os que se fizerem recomendáveis por seu talento, aplicação e moralidade. Estas notas acompanhadas de observações do inspetor geral, serão transmitidas ao governo para que de futuro as tenha em atenção.”17

Portanto, fica claro através das fontes, que a Reforma Couto Ferraz, que atingiu os ensinos primário, secundário e superior, modifica as regras no ensino de primeiras letras do Município da Corte com o objetivo de melhorar a qualidade, a fiscalização do ensino, ampliá-lo, dar maior assistência aos alunos carentes e exigir mais dos professores das escolas.

15 Pasta IE 5 128, Série Educação, Arquivo Nacional.16 Cf. Moacyr, Primitivo. Op. cit. pp. 22-23.17 Cf. Moacyr, Primitivo. Op. cit. p. 24.

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1.2 – O impacto da Reforma Couto Ferraz sobre as escolas públicas primárias na década de 1850.

Como órgão oficial, o Ministério do Império, responsável pela legislação, administração e fiscalização do ensino no Município da Corte, nos mostra quantas escolas funcionaram em cada ano da década de 1850, quais as freguesias que continham essas escolas, quantas e quais escolas foram criadas se compararmos ano a ano, o número de matrículas de alunos e alunas de cada uma e sua freqüência. Os Ministros eram responsáveis pela elaboração de um relatório anual que reunisse informações sobre as instituições mantidas pelo Império - as escolas de primeiras letras, por exemplo – sobre a economia, e a população que era feito para ser apresentado à Assembléia Legislativa e ao próprio Imperador D. Pedro II. Estes relatórios anuais mencionam os problemas e os avanços das escolas de primeiras letras de um modo geral constatados na Corte e no Império, além dos números sobre o ensino, organizados em tabelas.

As Tabelas apresentadas neste trabalho foram feitas a partir de dados retirados dos Relatórios Ministeriais entre os anos de 1850-60. A tabela Nº 1 reproduz a “tabela demonstrativa” do número de alunos e alunas das escolas de primeiras letras do Município Neutro do ano de 1850. Ela contém os mesmos números e segue o mesmo modelo da tabela original. Em todos os anos o Relatório apresenta uma tabela como essa, além de uma tabela que contém os números totais de escolas de meninos e de meninas e de alunos e alunas de todas as províncias do Império e também do Município da Corte. As tabelas são feitas pela Secretaria do Ministério do Império baseadas em informações enviadas a este pelos presidentes de províncias e pelo diretor das escolas de primeiras letras.

Em 1850, de acordo com os relatórios do Ministério do Império, muitas circunstâncias impediam o desenvolvimento da instrução pública primária como: “deficiência de pessoal habilitado para este gênero de instrução, na mesquinha remuneração e nenhum futuro dos professores, [por ausência de um plano de carreira adequado] na falta de edifícios apropriados para o ensino e na falta de inspeção sobre as Escolas de freguesias mais distantes”, conforme o Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império Visconde de Mont’alegre18. Esses problemas, como podemos verificar no próprio Relatório e também em ofícios do Diretor das Escolas de Primeiras Letras ao Ministro dos Negócios do Império, não são problemas do ano de 1850 somente. São problemas que vem se arrastando há alguns anos e que o Estado vinha se limitando a saná-los através de medidas em curto prazo, que apenas os amenizavam ou sanavam de forma isolada aqueles mais graves, mais urgentes. Podemos confirmar essa afirmação através de um fragmento do Relatório de 1850, pertencente à parte inicial que se refere à educação, feito pelo próprio Ministro:

A Instrução Pública acha-se em geral, no mesmo estado de desalento e abandono, em que a tem descrito os três últimos Relatórios; sofre as mesmas necessidades reclama as mesmas providências; e na deficiência dos meios e autorização indispensável para tirá-la desse estado desanimador dando-lhe uma organização mais consentânea com os seus grandes fins, e com as necessidades do país, tem-se o Governo limitado a providências especiais (...). 19

18 Relatório do Ministério do Império, 1850. “Instrucção Pública e Estabelecimentos scientíficos e litterários.”19 Idem.

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Neste mesmo Relatório, o ministro diz que alguns dos problemas apresentados por ele foram resolvidos ou amenizados devido ao aumento do rigor das provas dos concursos para admissão no magistério público, “ao aumento do ordenado dos professores da Corte com a nomeação de um Substituto habilitado para suprir as faltas temporárias dos professores e com a consignação dos precisos meios para se proporcionaram, se não bons edifícios, ao menos mais adequados às precisões do ensino”.20 O próprio Ministro reclama também da pouca eficiência na fiscalização das escolas, responsabilidade do Diretor das Escolas, Juízes de Paz e Párocos, o que, segundo ele, dificulta a solução dos problemas e a intervenção do Estado. Por isso, já neste relatório, o ministro deixa claro que a solução de problemas e uma “mais conveniente direção” dependem da autorização do Governo, que vinha se limitando a providências parciais, segundo o Ministro.

A necessidade de um Empregado, que coadjuvasse a Diretoria das Aulas Públicas de Instrução primária no seu avultado expediente, tornou-se tão instante, que foi preciso ocorrer a ela com a providência de nomear para esse fim um Addido, a quem por Aviso de 10 de dezembro último se mandou abonar a gratificação de 480$ anuais; havendo-se por iguais motivos mandado dar a gratificação de 400$, também anuais, ao substituto das Escolas Públicas da Corte, sobre quem pesa trabalho igual ao dos professores, tendo apenas metade do ordenado que eles vencem; e concederam-se a alguns Professores, que contavam mais de 12 anos de não interrompido exercício, as tênues gratificações que em tal caso lhes garante o Art. 10 da lei de 15 de outubro de 1827.21

Portanto pode-se perceber que o Estado também deposita parte dos problemas apresentados nos erros dos professores e dos responsáveis pela fiscalização das escolas.

Ainda neste Relatório o diretor fala também sobre o número de meninos e meninas do Império que já passaram pelas escolas de primeiras letras mantidas pelo Estado desde que estas foram criadas.

(...) annexo a este Relatório, todos os esclarecimentos que com os dados existentes era possível colligir; delle vereis que sobe a 47.481 o numero de discípulos de ambos os sexos, que a expensas dos cofres públicos recebem a instrucção; e se o comparardes com o que está junto ao precedente Relatório, notareis hum excesso de mais de doze mil, circunstância que demonstra o incremento, que vai tendo a difusão das luzes.

A tabela Nº 2 mostra o número de alunos e alunas e o número de escolas de primeiras letras de meninos e de meninas por ano. Mostra também o total de alunos e alunas durante a década, o somatório de matrículas dos dois em cada ano e a porcentagem de alunos e alunas por ano em comparação ao número total de 1850 a 1860.

Através desta tabela podemos verificar um problema que se dá desde a Lei de 15 de outubro de 1827: a quantia significativa do número de alunos superior se comparado ao número de alunas e também a maior quantidade de escolas para meninos em relação às 20 Idem.21 Idem.

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escolas de meninas durante todos os anos da década. Pode-se perceber também, um aspecto positivo para os dirigentes e para a população: o aumento do número de escolas de primeiras letras tanto de meninos quanto de meninas, resultado do esforço do Estado em ampliar o ensino de primeiras letras através de inúmeras leis e reformas que pretendiam ampliar o número de escolas nas freguesias, melhorar a qualidade dos professores admitidos para as cadeiras públicas e dar oportunidade para um maior número de “discípulos” 22 nas escolas de primeiras letras. Apesar de o número de alunas durante a década ser menor, ele cresce acompanhando o número de escolas, que em 1860 é duplicado se comparado à quantidade de estabelecimentos registrada em 1850. De 8 escolas o número sobe para dezesseis no fim da década.

A Tabela Nº 1 também nos deixa claro um aspecto que é importante observar sobre as escolas de primeiras letras do Município Neutro da Corte: nas freguesias listadas na parte superior da tabela, as freguesias do Santíssimo Sacramento, da Candelária, de São José, de Santa Rita, de Nossa Senhora da Glória e de Sant’Anna, o número de alunos e de alunas das escolas é maior do que nas outras freguesias restantes. Observando a Tabela Nº 3 com atenção, percebemos também que o número de alunos e alunas dessas escolas também é maior no ano de 1853. E esses números superiores são constantes em quase todas as tabelas da década de 1850 presentes nos Relatórios do Ministério do Império, havendo uma mudança quanto a algumas freguesias somente no fim da década. Até mesmo antes da década de 1850 os números nas freguesias acima citadas são maiores. A causa da superioridade desses números se deve ao fato de que essas seis freguesias são mais próximas ao centro do Município e, principalmente, são as que concentram maior número de descendentes da elite política. Por isso, o interesse do Estado em criar mais escolas e, assim, mais vagas nesta localidade.

O livro do historiador Paulo Berger denominado As Freguesias do Rio Antigo vistas por Noronha Santos (1965),23 feito a partir de uma obra rara impressa em 1900 de um grande historiador chamado Francisco Agenor de Noronha Santos, que fez uma espécie de guia dos logradouros públicos, acrescido de importantes notas históricas, é um importante guia para nós no esclarecimento da localidade de cada freguesia no Município da Corte e também de alguns dados sobre essas freguesias. De acordo com Paulo Berger,

a divisão territorial do então Município Neutro, nos tempos da Monarquia, compreendia um aspecto municipal, policial, e religioso, que se entrosavam e se confundiam. Daí, portanto, o uso constante do termo freguesia para limitação de todos os atos administrativos ou religiosos.24

Sobre a freguesia da Candelária, por exemplo, que é uma das que tem maior número de alunos e alunas, Paulo Berger diz em sua obra que “situada na parte comercial

22 Essa denominação era utilizada pelos dirigentes imperiais quando se referiam aos alunos das escolas de primeiras letras.23 Cf. BERGER, Paulo. As Freguesias do Rio Antigo. Vistas por Noronha Santos.

Introdução, notas e bibliografia por Paulo Berger. Rio de Janeiro: Edições O Cruzeiro,

1965.

24 Idem. Op. cit. p. 7. (Introdução)

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do Rio de Janeiro e denominada cidade velha, é habitada esta freguesia por muitos estrangeiros, em sua maioria portugueses.”25 Segundo o historiador, a freguesia da Candelária seria uma região muito importante por conter em seu território importantes Igrejas, prédios públicos como o prédio do Paço Imperial e o prédio que abrigava a Associação Comercial, a bolsa de Valores, a Junta Comercial e outras instituições comerciais importantes para o Império; comércio bem grande e movimentado com muita variedade de produtos e profissionais além de “escritórios de médicos, advogados, engenheiros, professores, construtores, leiloeiros, cartórios de tabeliães e de tradutores públicos e particulares.”26 Em contraponto às qualidades e atrativos da Freguesia da Candelária, a Freguesia de Paquetá, que em 1853, dentre as freguesias mais afastadas do centro, é a que apresenta maior número de alunos (ver Tabela 3), é uma freguesia bem menor, com poucos prédios públicos, uma população composta de pobres lavradores e embarcadiços e tem a pesca como principal de atividade profissional. É claro que devemos levar em consideração que os números, durante a década vão sofrendo algumas modificações e, no fim da década, essa situação das escolas das freguesias mais distantes parece mudar um pouco com relação ao número de alunos. Em 1860, por exemplo, de acordo com a Tabela Nº 4, a Freguesia de Guaratiba apresenta 123 alunos do sexo masculino no quarto bimestre e a Freguesia de São Cristóvão apresenta 136, enquanto a Freguesia da Candelária apresenta, neste mesmo bimestre do ano, 117 alunos. Essa mudança talvez se explique pelo fato de que a Reforma Couto Ferraz fez com que fossem criadas maior número de vagas nas escolas e também fez com que os dirigentes passassem a ter um pouco mais de preocupação com o ensino nas freguesias mais distantes, por apresentarem mais problemas e maior dificuldade de fiscalização por parte dos dirigentes na época da autorização da Reforma e mesmo antes, conforme diz o próprio Ministro do Império nos anos de 1850 e 1851. Porém outros fatores também podem ter contribuído para esta mudança.

As tabelas Nº 3 e Nº 4 mostram também a distribuição das escolas de primeiras letras de meninos e meninas no Município da Corte por freguesia e a quantidade de alunos e alunas em cada freguesia. A Tabela Nº 3 mostra os números no início da década, no ano de 1853, e a Tabela Nº 4 mostra os do fim da década, no ano de 1860.

Comparando as tabelas podemos perceber que o número de escolas de meninos é maior que o número de escolas de meninas em 1853 e esse número continua sendo maior em 1860. Percebemos também, que o número de escolas de meninas aumentou durante a década e inclusive há algumas freguesias que têm até duas escolas de meninas, assim como de meninos. Porém, duas escolas de meninos em uma mesma freguesia é um número que se faz presente bem antes do que duas escolas de meninas na mesma freguesia. Isso porque, conforme já mencionamos, o interesse dos dirigentes imperiais era, principalmente, formar os futuros membros da elite política aos seus moldes. Para isso era preciso ampliar o número de escolas para este sexo. A idéia de ampliar o ensino de meninas só se faz mais presente a partir da década de 1840, quando são criadas, pela primeira vez, mais de uma escola por freguesia.

Um aspecto positivo que fica claro nas tabelas é o crescimento do número de alunos, de 1.595 em 1853 para 3.033 em 1860, e do número de escolas, de 26 em 1853 para 40 em 1860. O aumento do número de alunos de ambos os sexos é significativo e o número de matrículas das alunas das escolas de primeiras letras do Município quase que duplicou. Isso mostra que há um interesse por parte das famílias ou das próprias alunas talvez, assim como um interesse por parte do Estado em difundir as “luzes” também entre

25 Idem. Op. cit. p. 17-32.26 Idem. Op. cit. p. 18.

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as mulheres, pois, embora as atenções do Estado continuem voltadas em maior escala para a educação dos futuros dirigentes, ou seja, para o sexo masculino, seriam elas as futuras matriarcas, esposas e educadoras não só de seus filhos como também poderiam ser futuras professoras dos “discípulos” da Corte. Por isso deveriam receber todos os conhecimentos, habilidades e ideais necessários ao bom desempenho das funções predestinadas às mulheres.

Considerações finais

Diante do exposto, podemos concluir que o ensino teve um papel fundamental no processo

de “construção da Nação” e de uma identidade nacional, ajudando a difundir os ideais de

Liberdade e “progresso na Ordem” que a elite política conservadora desejava difundir. O

ensino e a educação constituíram um dos dispositivos do Estado para promover sua

ideologia e consolidar seu projeto de se tornar uma “Nação Civilizada” aos moldes das

Nações européias. Mereceu destaque o papel do ensino de Primeiras Letras neste processo

de “difusão das luzes” pelo fato de ser a primeira fase do ensino a única a que tiveram

acesso os filhos de trabalhadores brancos livres, tanto meninos quanto meninas. Sendo,

portanto, essa fase a que mais atingia segmentos diferentes da sociedade.

O ensino de primeiras letras foi importante não só porque serviu como um meio de

distinção entre cidadãos e não cidadãos – escravos e não escravos -, como também serviu

para formar, de forma padronizada, as gerações de dirigentes que se seguiram.

Através da legislação discutida, elaborada e implantada pelos dirigentes desde a

Constituição de 1824 até a década de 1850 aqui analisada, foi possível perceber como

houve, por parte dos dirigentes, um esforço por meio de bases legais para oferecer e

fiscalizar o ensino de primeiras letras no Município da Corte.

Foi possível perceber, também, que até a década de 1850 muitos problemas

impediram um melhor desenvolvimento desse ensino como a falta de maior fiscalização

nas escolas, falta de estrutura e infra-estrutura, má localização, excesso de faltas de

professores e alunos, ensino pouco padronizado e restrito, entre outros problemas que

reclamavam os dirigentes responsáveis pelo ensino, pedindo providências como novos

regulamentos.

Com a Reforma Couto Ferraz, mencionamos algumas das mudanças que sofreu o

ensino de primeiras letras no Município Neutro da Corte, mudanças essas que foram

importantes para solucionar ou, ao menos, amenizar os problemas que impediam um maior

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desenvolvimento e uma ampliação desse ensino, melhorando também sua fiscalização,

ampliando e variando as disciplinas oferecidas e estabelecendo uma maior padronização

para que ele continuasse desempenhando seu papel naquele período máximo do Império

que se deu a partir dos anos cinqüenta do século XIX.

VI – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

VI.1 - Fontes primárias:

ARQUIVO NACIONAL. Império. Série Educação. Ensino Primário. Pastas IE 4 e IE 5. (1850-60)

RELATÓRIOS MINISTERIAIS (1850 – 60), Brasil. Disponível na página:

http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/hartness/minopen.html

COLEÇÃO DAS LEIS DO IMPÉRIO, Brasil. Disponível na Página:

http:// www.camara.gov.br

Fontes secundárias:

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CARVALHO, J.M. de. A Construção da Ordem. Teatro de Sombras. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003

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MAXWELL, Kenneth. Marquês de Pombal. Paradoxo do Iluminismo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. 2ª Edição.

PEDRO, Joana Maria. Traduzindo o debate: o uso da categoria gênero na pesquisa histórica. História, São Paulo, V. 24, N. 1, p. 77-98, 2005

MOACYR, Primitivo. A Instrução e o Império. Subsídios para a história da educação no Brasil. São Paulo: Cia Editora Nacional, 1936. (3 vols.)

SCHUELER, Alessandra Frota de. Representações da docência na imprensa pedagógica na Corte imperial (1870-1889): o exemplo da Instrução Pública. (disponível no site www. scielo.br)SCHWARCZ, Lilia M. As barbas do Imperador. São Paulo: Cia das Letras, 1998. Caps. 2 e 7.

Tabela 1

“Mapa das Escolas de Primeiras Letras Creadas na Côrte e seu Município para hum e

outro sexo, e dos alunos que as frequentarão em 1850”

Assento nas escolas Nº de escolas p/ meninos

Nº de escolas p/ meninas

Nº de meninos

Nº de meninas

Total dos meninos e meninas

Freguesia do Santíssimo Sacramento 1 1 115 102 217Freguesia da Candelária 1 1 104 64 168Freguesia de São José 1 1 91 74 165Freguesia de Santa Rita 1 1 106 81 187Freguesia de Nª. Sª. Da Glória 1 1 67 56 123Freguesia de Sant'Anna 1 1 48 88 136Freguesia do Engenho Velho 1 0 50 0 50Sítio de São Cristóvão 1 1 54 39 93Freguesia da Lagoa 1 0 66 0 66Freguesia de Inhaúma 1 0 23 0 23Freguesia de Guaratiba 1 0 24 0 24Freguesia Paquetá 1 1 35 50 85Freguesia da Ilha do Governador 1 0 32 0 32Freguesia de Irajá 1 0 22 0 22Freguesia do Campo Grande 1 0 30 0 30Curato de Santa Cruz 1 0 28 0 28Freguesia de Jacarepaguá 1 0 34 0 34

Total 17 8 929 554 1483

"Secretaria d'Estado dos Negócios do Império em o 1º de abril de 1851. - José de Paiva Magalhães Calvet "

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Fonte: Relatório do Ministério do Império. 1850.

VII.2 – Tabela 2

Matrículas das escolas de primeiras letras e Número de escolas por ano no Município da Corte (1850-60)

Ano meninos (%) do total Nº de Escolas meninas (%) do total Nº de EscolasTotal de alunos

1850 959 63,2 17 558 36,8 8 15171851 1.013 62,8 17 599 37,1 8 1.6121852 1.028 65,3 17 547 34,8 8 1.5751853 1.028 65,3 17 547 34,8 8 1.5751854 909 62,1 17 555 34,5 9 1.4641855 1.131 66,4 18 571 33,5 11 1.7021856 1.473 66,5 18 743 33,5 11 2.2161857 1.331 59,5 20 902 40,4 13 2.2331858 4.721 83,3 24 943 16,7 16 5.6641859 1.764 63,7 24 1.006 36,3 16 2.7701860 1.892* 63,4 24 1.091 36,6 16 2.983totais 15.357 - - 8.062 - - 25.311* nº referente ao quarto bimestre

Fonte: Relatórios do Ministério do Império de 1850-60

VII.3 – Tabela 3

Distribuição de Escolas e Alunos de Primeiras Letras por Freguesia (1853)

Assento nas Escolas Nº de escolas p/ meninos

Nº de escolas p/ meninas

Nº de meninos

Nº de meninas

Freguesia do Santíssimo Sacramento 1 1 120 84

Freguesia da Candelária 1 1 93 61

Freguesia de São José 1 1 105 76

Freguesia de Santa Rita 1 1 109 95

Freguesia de Nª. Sª. Da Glória 1 1 79 44

Freguesia de Sant'Anna 1 1 85 87

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Freguesia do Engenho Velho 1 1 43 -

Sítio de São Cristóvão 1 1 58 47

Freguesia da Lagoa 1 1 74 47

Freguesia de Inhaúma 1 - 17 -

Freguesia de Guaratiba 1 - 30 -

Freguesia Paquetá 1 1 68 57

Freguesia da Ilha do Governador 1 - 33 -

Freguesia de Irajá 1 - 35 -

Curato de Santa Cruz 1 - 23 -

Freguesia do Campo Grande 1 - 52 -

Freguesia de Jacarepaguá 1 - 24 -

Total16 10 1048 547

26 1595

Fonte: Relatório do Ministério do Império/ 1853

VII. 4 – Tabela 4

Distribuição de Escolas e Alunos de Primeiras Letras por Freguesia (1860)

Assento nas Escolas Nº de escolas p/ meninos

Nº de escolas p/ meninas Nº de meninos Nº de meninas

Freguesia do Santíssimo Sacramento 2 2 195* 181*

Freguesia da Candelária 1 1 117* 92*

Freguesia de São José 1 1 116* 72*

Freguesia de Santa Rita 2 2 149* 160*

Freguesia de Santo Antônio 1 1 115* 122*

Freguesia de Nª. Sª. Da Glória 1 1 121* 66*

Freguesia de Sant'Anna 2 2 135* 141*

Freguesia do Engenho Velho 1 1 81* 44*

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Sítio de São Cristóvão 1 1 136* 36*

Freguesia da Lagoa 1 1 87* 99*

Ponta do Cajú 1 1 23* 84*

Freguesia de Inhaúma 1 - 34* -

Freguesia de Guaratiba 2 - 123* -

Freguesia Paquetá 1 1 59* 44*

Freguesia da Ilha do Governador 2 1 78* vaga**

Freguesia de Irajá 1 - 37* -

Curato de Santa Cruz 1 - 26* -

Freguesia do Campo Grande 1 - 38* -

Freguesia de Jacarepaguá 1 - 22* -

Total 24 16 1.892 1.141

40 3.033

* Nº referente ao quarto bimestre** no 4º bimestre. No 1º bimestre há 20 alunos, no 2º , 18 e no 3º 15.

Fonte: Relatório do Ministério do Império. 1860.