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0 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE DE RIBEIRÃO PRETO DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO IRACI DE SOUZA JOÃO Comercialização de bioeletricidade no ambiente de contratação livre (ACL) pelas usinas do setor sucroenergético da região de Ribeirão Preto: panorama e análise das ameaças e oportunidades Orientador: Prof. Dr. Edgard Monforte Merlo Financiamento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo RIBEIRÃO PRETO 2010

0 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE … · Utilizando-se a análise SWOT e PEST e as técnicas de análise de conteúdo e correspondência os dados foram trabalhados

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  • 0

    UNIVERSIDADE DE SO PAULO

    FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAO E CONTABILIDADE DE

    RIBEIRO PRETO

    DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAO

    IRACI DE SOUZA JOO

    Comercializao de bioeletricidade no ambiente de contratao livre (ACL) pelas usinas

    do setor sucroenergtico da regio de Ribeiro Preto: panorama e anlise das ameaas e

    oportunidades

    Orientador: Prof. Dr. Edgard Monforte Merlo

    Financiamento: Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo

    RIBEIRO PRETO

    2010

  • 1

    Prof. Dr. Joo Grandino Rodas

    Reitor da Universidade de So Paulo

    Prof. Dr. Rudinei Toneto Junior

    Diretor da Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade de Ribeiro Preto

    Prof. Dr. Andr Lucirton Costa

    Chefe do Departamento de Administrao

  • 2

    IRACI DE SOUZA JOO

    Comercializao de bioeletricidade no ambiente de contratao livre pelas usinas do

    setor sucroenergtico da regio de Ribeiro Preto: panorama e anlise das ameaas e

    oportunidades

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao em Administrao de Organizaes da

    Faculdade de Economia, Administrao e

    Contabilidade de Ribeiro Preto da Universidade de

    So Paulo como requisito para obteno do ttulo de

    Mestre em Administrao de Organizaes.

    Orientador: Prof. Dr. Edgard Monforte Merlo

    RIBEIRO PRETO

    2010

  • 3

    Autorizo a reproduo e divulgao total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio

    convencional ou eletrnico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

    Joo, Iraci de Souza

    Comercializao de bioeletricidade no ambiente de contratao livre

    pelas usinas do setor sucroenergtico da regio de Ribeiro Preto: panorama

    e anlise das ameaas e oportunidades. Ribeiro Preto, 2010. 183 p. : il. ;

    30cm

    Dissertao de mestrado, apresentada Faculdade de Economia,

    Administrao e Contabilidade de Ribeiro Preto/USP. Programa de Ps-

    Graduao em Administrao de Organizaes.

    1. Bioeletrecidade. Ambiente de Contratao Livre. Ambiente de

    Contratao Regulada. Setor Sucroenergtico. Consumidor livre. Cogerao.

  • JOO, I. S. Comercializao de bioeletricidade no ambiente de contratao livre

    (ACL) pelas usinas do setor sucroenergtico da regio de Ribeiro Preto: panorama

    e anlise das ameaas e oportunidades. 2010. 183 f. Dissertao (Mestrado em

    Administrao de Organizaes) - Faculdade de Economia, Administrao e

    Contabilidade de Ribeiro Preto, Universidade de So Paulo, Ribeiro Preto, 2010.

    ERRATA

    pgina linha onde se l leia-se

    17 08 contra uma demanda contra uma oferta

    73 26 anlise de contedo anlise de contedo, segundo metodologia

    desenvolvida por Lopes e Giampaoli (2009),

  • 4

    FOLHA DE APROVAO

    Iraci de Souza Joo

    Comercializao de bioeletricidade no ambiente de contratao livre pelas usinas do setor

    sucroenergtico da regio de Ribeiro Preto: panorama e anlise das ameaas e oportunidades

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao em Administrao de Organizaes da

    Faculdade de Economia, Administrao e

    Contabilidade de Ribeiro Preto da Universidade de

    So Paulo como requisito para obteno do ttulo de

    Mestre em Administrao de Organizaes.

    Aprovado em __/__/__

    Banca Examinadora

    Prof. Dr. ________________________________________________________

    Instituio____________________________Assinatura___________________

    Prof. Dr. ________________________________________________________

    Instituio____________________________Assinatura___________________

    Prof. Dr. ________________________________________________________

    Instituio____________________________Assinatura___________________

  • 5

    DEDICATRIA

    Aos meus pais Eleonilto e Clia com amor e

    gratido pelo possvel e impossvel que

    fizeram para que eu chegasse at aqui.

    A minha irm Marina com admirao por me

    acompanhar desde os primeiros rabiscos e por

    ser meu exemplo.

  • 6

    AGRADECIMENTOS

    A Deus, pela oportunidade de ter terminado mais um captulo da minha vida, na qual sempre

    esteve presente, sendo luz, fora e beno.

    A Universidade de So Paulo, especialmente ao campus de Ribeiro Preto por ter oferecido

    toda a estrutura necessria para que se fosse possvel discutir cincia. Aos funcionrios da

    FEARP pela excelente prestao de servio. A BCRP pelo servio de reviso.

    Ao meu orientador Prof. Dr. Edgard Monforte Merlo por ter acreditado no meu potencial e

    por ter aceitado o desafio que representou essa pesquisa. Agradeo ainda a orientao, a

    experincia e o conhecimento transmitido.

    Aos demais professores do Programa de Ps-Graduao em Administrao de Organizaes

    da FEARP-USP que contriburam para minha formao e crescimento cientfico, profissional

    e intelectual.

    Aos professores Dr Viviana Giampaoli IME-USP e Dr. Marcos Lopes FFLCH-USP, pela

    incansvel ajuda, orientao e efetiva participao na anlise dos dados o qual resultou em

    imensurvel ganho de qualidade.

    A Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo FAPESP por ter reconhecido a

    importncia deste estudo e ter disponibilizado os recursos financeiros necessrios para a

    realizao da pesquisa (processo n2008/08983-5) e ainda por incentivar a pesquisa.

    A todas as pessoas que ajudaram na abordagem das empresas e a todos os entrevistados, pelo

    dispndio do precioso tempo, para colaborarem com realizao deste estudo e reconhecerem a

    importncia da discusso cientfica para problemas da sociedade.

    A minha famlia por todo apoio, compreenso, carinho e amor. Em especial aos meus pais

    Eleonilto e Clia por serem meu porto seguro e a minha irm Marina e meu cunhado Edmar

    pela constante amizade, ajuda e incentivo e por serem meus exemplos.

    Aos amigos da casa 13 com os quais dividi dois agradveis anos da minha vida.

    Aos amigos da sala da ps-graduao da FEARP-USP pela agradvel e enriquecedora

    convivncia.

    A turma de mestrado em Administrao de Organizaes 2008 pelas horas de estudo

    compartilhadas, pela contribuio ao meu desenvolvimento cientfico e pela amizade.

    Agradeo de um modo maior a Juliana Scriptore, Talia Bonfante, Carlos Bonacim, Leandro

    Mximo, Paula Souza, Camila Coelho, Jacyana Saraiva, Christian Ganzert, Julia Taunay e

    Saulo Rodrigues pela pacincia em escutar os dilemas e avanos do mestrado e desta pesquisa

    e por maximizar os bons momentos e minimizar e minimizar os maus.

  • 7

    Nem tudo que se enfrenta pode ser modificado, mas nada pode ser modificado at que seja

    enfrentado.

    Albert Einstein

  • 8

    RESUMO

    JOO, IRACI DE SOUZA. Comercializao de bioeletricidade no ambiente de

    contratao livre pelas usinas do setor sucroenergtico da regio de Ribeiro Preto:

    panorama e anlise das ameaas e oportunidades. 2010. 183 f. Dissertao (Mestrado)

    Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade de Ribeiro Preto, Universidade de

    So Paulo, Ribeiro Preto, 2010.

    O mercado brasileiro de eletricidade enfrentou nos ltimos anos, crises de abastecimento,

    devido ao maior crescimento da demanda em relao oferta. Derivado da falta de

    investimentos em infraestrutura e da concentrao da matriz energtica em hidroeletricidade,

    esse cenrio pode ser minimizado pela bioeletricidade cogerada a partir do bagao da cana.

    Porm, a efetiva explorao de seu potencial, depende das usinas reconhecerem-na como

    produto vivel e lucrativo. Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi caracterizar a

    comercializao de bioeletricidade no ACL e compar-la com o ACR identificando ameaas,

    oportunidades, pontos fortes e fracos de cada um. Realizou-se entrevistas com gestores: de

    quatro usinas sucroenergticas, da distribuidora de energia local e de um consumidor livre.

    Utilizando-se a anlise SWOT e PEST e as tcnicas de anlise de contedo e correspondncia

    os dados foram trabalhados. Os resultados indicaram que a principal vantagem do ACR a

    segurana quanto ao preo da energia e a desvantagem a inflexibilidade do contrato aliado a

    altas penalidades. O ponto forte relevante do ACL a flexibilidade na definio de prazo,

    preo e quantidade e a fraqueza a volatilidade do preo. Devido a essas caractersticas os

    agentes tendem a atuar nos dois mercados, adotando como estrutura de governana principal o

    mercado e as formas hbridas em segundo plano. Constatou-se ainda a necessidade da atuao

    governamental como incentivador de fontes renovveis e provedor de solues para entraves

    como a conexo a rede de transmisso, fraqueza dos dois mercados, e a falta de um ambiente

    adequado de comercializao.

    Palavras-chave: Bioeletrecidade. Ambiente de Contratao Livre. Ambiente de Contratao

    Regulada. Setor Sucroenergtico. Consumidor livre. Cogerao.

  • 9

    ABSTRACT

    JOO, IRACI DE SOUZA. Comercialitation of bioelectricity in the free contracting

    environment by the sugar cane mills of the sugar-energy sector from the region of

    Ribeiro Preto: scenery and analysis of opportunities e threats. 2010. 183 f. Dissertao

    (Mestrado) Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade de Ribeiro Preto,

    Universidade de So Paulo, Ribeiro Preto, 2010.

    In recent years, the Brazilian electricity market has gone through provision crises, due to the

    greater increase in demand with regard to supplies. Resulting from the lack of infrastructural

    investments and the concentration of the energy matrix in hydroelectricity, this scenario can

    be minimized by the bioelectricity coproduced based on sugar cane pulp. However, the

    effective exploration of its potential depends on sugar cane mills acknowledging it as a viable

    and profitable product. This research aimed to characterize bioelectricity commerce in a Free

    Contracting Environment (ACL) and compare it with a Regulated Contracting Environment

    (ACR), identifying the threats, opportunities, strong and weak points of each. Interviews were

    held with managers: of four sugar-electricity mills, the local energy distributor and a free

    consumer. Data were processed using SWOT and PEST analysis, as well as content and

    correspondence analysis techniques. The results indicated that the main advantage of ACR is

    security about energy prices, while the disadvantage is the contracts lack of flexibility, in

    combination with high penalties. The relevant strong point of ACL is the flexibility to define

    term, price and quantity, and the weakness is price volatility. Due to these characteristics,

    agents tend to act in both markets, adopting the market as the main governance structure and

    hybrid forms at a secondary level. Government action is needed to encourage renewable

    energy sources and provide solutions to bottlenecks like connection with the transmission

    network, weakness of both markets and lack of an adequate trading environment.

    Key Words: Bioelectricity. Free Contracting Environment. Regulated Contracting

    Environment. Sugar-energy Sector. Free consumer. Cogeneration.

  • 10

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Estrutura da pesquisa ................................................................................................ 22

    Figura 2: Diagrama das instituies do setor eltrico brasileiro 2009. ................................. 38

    Figura 3: Processo de comercializao de energia eltrica acr e acl ..................................... 42

    Figura 4: Tipos de produtores de energia e transaes regulamentadas pelo decreto n. 2.003

    .................................................................................................................................................. 43

    Figura 5: Processo de cogerao no setor sucroenergtico a partir da queima do bagao da

    cana. .......................................................................................................................................... 54

    Figura 6: Sistema agroindustrial da cana-de-acar ................................................................. 59

    Figura 7: Bagao e produo de bioeletricidade cogerada a partir do bagao da cana ............ 60

    Figura 8: Ambiente da organizao .......................................................................................... 62

    Figura 9: Comercializao de bioeletricidade no acl estruturas de governana e

    caracterstica das transaes. .................................................................................................... 84

    Figura 10: Contabilizao da compra e venda de energia eltrica no ACL ............................. 88

  • 11

    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1: Energias renovveis na europa -2005...................................................................... 50

    Grfico 2: Produo de energia eltrica a partir de biomassa (em mtoe) - 2005 .................... 51

    Grfico 3: Produo de cana-de-acar em milhes de ton. Brasil e regies 1990-2008 .. 57

    Grfico 4: Produo de bioeletricidade a partir do bagao de cana 1991 2006 ................. 61

    Grfico 5: Anlise de correspondncia para o ambiente poltico-legal. ................................... 86

    Grfico 6: Anlise de correspondncia para o ambiente econmico........................................ 93

    Grfico 7: Anlise de correspondncia para o ambiente scio-cultural. ................................ 102

    Grfico 8: Anlise de correspondncia para o ambiente tecnolgico. ................................... 106

  • 12

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1: Estrutura de governana adequada em funo da caracterstica das transaes ..... 31

    Quadro 2: Mltiplos mais comuns de watts ............................................................................. 35

    Quadro 3: Principais diferenas entre o ACR e o ACL. ........................................................... 39

    Quadro 4: Cogerao de energia eltrica pelo setor sucroenergtico: principais mudanas e

    movimentos 1987 2008. ..................................................................................................... 55

    Quadro 5: Anlise SWOT da comercializao de bioeletricidade no ACL e ACR. .............. 110

  • 13

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1: Indicadores econmicos e energia eltrica Brasil, 1970-2004 ................................. 20

    Tabela 2: Usinas cogeradoras localizadas na messoregio de Ribeiro Preto ......................... 71

    Tabela 3: Contagem das frequncias da anlise SWOT para o ambiente poltico-legal .......... 87

    Tabela 4: Contagem das frequncias da anlise SWOT para o ambiente econmico. ............. 95

    Tabela 5: Contagem das frequncias da anlise SWOT para o ambiente scio-cultural ....... 102

    Tabela 6: Evoluo dos indicadores econmico-energticos por cenrios Brasil 2005 - 2030

    ................................................................................................................................................ 104

    Tabela 7: Contagem das frequncias da anlise SWOT para o ambiente tecnolgico........... 107

  • 14

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ACL - Ambiente de Contratao Livre

    ACR - Ambiente de Contratao Regulado

    AL Ameaas do Ambiente de Contratao Livre

    ANEEL - Agncia Nacional de Energia Eltrica

    ANEEL - Agncia Nacional de Energia Eltrica

    AP Autoprodutor de Energia Eltrica

    AR Ameaas do Ambiente de Contratao Regulado

    BEN Balano Energtico Nacional

    BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social

    CBEE - Comercializadora Brasileira de Energia Emergencial

    CCEAR Contrato de Comercializao de Energia Eltrica no Ambiente Regulado

    CCEE - Cmara de Comercializao de Energia Eltrica

    CMO Custo Marginal de Operao

    CMSE - Comit de Monitoramento do Setor Eltrico

    CNAEE - Conselho Nacional de guas e Energia Eltrica

    CNPE - Conselho Nacional de Poltica Energtica

    COGEN - Associao da Indstria de Cogerao de Energia

    CUSD - Contrato de Uso dos Sistemas de Distribuio

    ECT Economia dos Custos de Transao

    ELETROBRS - Centrais Eltricas Brasileiras S.A.

    EPE - Empresa de Pesquisa Energtica

    FOL Pontos Fortes do Ambiente de Contratao Livre

    FOR Pontos Fortes do Ambiente de Contratao Regulado

    FRL Pontos Fracos do Ambiente de Contratao Livre

    FRR Pontos Fracos do Ambiente de Contratao Regulado

    GW - Gigawatt

    kW - Kilowatt

    MAE - Mercado atacadista de energia

    MAPA Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

    MME - Ministrio de Minas e Energia

    MW - Megawatts

    MWh Megawatts hora

  • 15

    OL Oportunidades do Ambiente de Contratao Livre

    ONS - Operador Nacional do Sistema

    OR Oportunidades do Ambiente de Contratao Regulado

    PCH Pequena Central Hidreltrica

    PEST Poltico-legal, Econmico, Scio-cultural e Tecnolgico

    PIE Produtor Independente de Energia

    PLD Preo da Liquidao das Diferenas

    PND - Programa Nacional de Desestatizao

    PNE Plano Nacional de Energia

    PRODIST - Procedimentos de Distribuio

    SAG Sistema Agroindustrial

    SIN - Sistema Interligado Nacional

    SIN - Sistema Interligado Nacional

    SINTREL - Sistema Nacional de Transmisso de Energia Eltrica

    SWOT - Strengths, Weaknesses, Opportunities e Threats (pontos fortes, pontos fracos,

    oportunidades e ameaas)

    TUSD - Tarifa de Uso dos Sistemas de Distribuio

    TW - Terawatt

    UNICA Unio das Indstrias de Cana-de-acar

    W - Watts

  • 16

    SUMRIO

    1 INTRODUO ................................................................................................................................................ 17

    1.1 OBJETIVOS ................................................................................................................................................... 19 1.2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................................................. 20 1.3 ESTRUTURA ................................................................................................................................................. 22

    2 REVISO DA LITERATURA........................................................................................................................ 25

    2.1 ECONOMIA DOS CUSTOS DE TRANSAO ....................................................................................... 25 2.1.1 Dimenses das Transaes ................................................................................................................. 28

    2.1.1.1 Especificidade do ativo necessrio ................................................................................................................ 29 2.1.1.2 Frequncia ..................................................................................................................................................... 30 2.1.1.3 Complexidade das transaes e a incerteza sobre desempenho ..................................................................... 31

    2.1.2 Pressupostos Comportamentais .......................................................................................................... 32 2.1.2.1 Racionalidade limitada .................................................................................................................................. 32 2.1.2.2 Comportamento oportunista .......................................................................................................................... 33

    2.1.3 Crticas Economia dos Custos de Transao .................................................................................. 33 2.2 ENERGIA ELTRICA E O SETOR ELTRICO NACIONAL ................................................................. 34

    2.2.1 Comercializao de energia eltrica no mercado livre ...................................................................... 40 2.2.2 Decreto n. 2.003 de 10 de setembro de 1996 ..................................................................................... 43 2.2.3 Resoluo Normativa n 281/1999 e n 109/2004 .............................................................................. 45 2.2.4 Experincias internacionais ................................................................................................................ 49 2.2.5 Cogerao a partir da queima do bagao de cana-de-acar e a bioeletricidade ............................. 53 2.2.6 Setor sucroenergtico ......................................................................................................................... 57

    2.3 ANLISE DO AMBIENTE ....................................................................................................................... 61 2.3.1 Anlise PEST ...................................................................................................................................... 64 2.3.2 Anlise SWOT ..................................................................................................................................... 65

    3 METOLOGIA .................................................................................................................................................. 68

    4 RESULTADOS E DISCUSSO...................................................................................................................... 79

    4.1 ECONOMIA DOS CUSTOS DE TRANSAO APLICADA COMERCIALIZAO DE

    BIOELETRICIDADE....................................................................................................................................... 79 4.1.1Dimenses das Transaes .................................................................................................................. 80 4.1.2 Pressupostos comportamentais ........................................................................................................... 82

    4.2 ANLISE PEST E SWOT PARA COMERCIALIZAO DE BIOELETRICIDADE ............................. 84 4.2.1 Ambiente Poltico-legal .................................................................................................................................... 85 4.2.2 Ambiente Econmico ....................................................................................................................................... 92 4.2.3 Ambiente Scio-Cultural ................................................................................................................................ 101 4.2.4 Ambiente Tecnolgico ................................................................................................................................... 105

    4.3 RESULTADOS DA ANLISE SWOT .................................................................................................... 108

    5 CONSIDERAES FINAIS ......................................................................................................................... 115

    5.1 QUANTO AOS OBJETIVOS DA PESQUISA ...................................................................................................... 115 5.2 IMPLICAES TERICAS E GERENCIAIS ...................................................................................................... 117 5.3 LIMITAES E TRABALHOS FUTUROS ......................................................................................................... 119

    REFERNCIAS ................................................................................................................................................ 120

    APNDICE ........................................................................................................................................................ 131

    ANEXO .............................................................................................................................................................. 159

  • 17

    1 INTRODUO

    A energia eltrica pode ser gerada por fontes renovveis de energia como a hidrulica,

    a elica, a solar e a biomassa ou por fontes no renovveis como os combustveis fsseis. No

    Brasil, aproximadamente 90% da eletricidade produzida por meio da explorao do

    potencial hdrico do pas. Apesar da importante participao e contribuio dessa fonte de

    energia para a matriz energtica brasileira, tem sido evidenciado nos ltimos anos a

    necessidade do desenvolvimento de outras fontes de energia, uma vez que o consumo tem

    sido maior que a oferta. Em 2008, por exemplo, a produo de energia eltrica foi de 428,7

    TWh contra uma demanda de 2,52 TWh, excluindo a autoproduo (BRASIL, 2009 b).

    Esse descompasso entre a capacidade de suprimento a curto e mdio prazo e a

    crescente demanda, derivada da falta de investimentos no setor (PINTO JNIOR, 2007),

    aliado a problemas climticos como secas prolongadas e consequente reduo dos nveis dos

    reservatrios das usinas hidreltricas provocou nos ltimos anos crises sucessivas de

    abastecimento de energia eltrica, culminando com o seu racionamento em 2001. Dessa

    forma, para complementar o suprimento de energia eltrica o governo acionou usinas

    termoeltricas. Paralelamente foram realizadas reformas no setor, como o estabelecimento de

    novo marco regulatrio e a desestatizao.

    Contudo, aps a crise do petrleo na dcada de 70, tornou-se preocupao mundial o

    desenvolvimento de fontes renovveis de energia. Nesse sentido, dentre as opes que podem

    ser consideradas pelo Brasil, para minimizar o problema de abastecimento de energia eltrica

    por meio de fontes renovveis e a necessidade de desenvolver solues no curto prazo, e

    tambm de prover a diversificao da matriz energtica, v-se como possvel alternativa a

    cogerao de eletricidade a partir do uso dos resduos da cana-de-acar (o bagao, a palha e

    os ponteiros da cana), que uma fonte de energia limpa e renovvel, cuja construo da

    planta produtiva apresenta o menor tempo (12 meses) e baixo custo se comparada a outras

    fontes.

    A gerao de energia eltrica por parte do setor sucroenergtico encontra-se muito

    aqum de seu potencial (SOUZA e AZEVEDO, 2004). Nesse sentido, Jank (2007) afirma que

    se fosse utilizado 50% da biomassa de cana disponvel atualmente, a bioeletricidade1 poderia

    suprir, at 2012, 8% da demanda brasileira projetada de energia, o que equivalente a nove

    1 A produo de eletricidade a partir da queima do bagao da cana conhecida como bioeletricidade, portanto

    nesse estudo ser utilizado esse nome.

  • 18

    mil MW (megawatts). Produo igual a esta ser a dos projetos de hidreltricas do rio

    madeira, por exemplo. Segundo Souza e Azevedo (2004), mediante a adoo das tecnologias

    disponveis de cogerao a partir da queima do bagao e da palha de cana, apenas o

    excedente2 da produo de energia gerada pelas usinas paulistas de acar e etanol, seria

    capaz de suprir o dficit de toda a regio Sudeste, registrado na poca do racionamento em

    2001.

    Alm do potencial de gerao, vale ressaltar que o bagao da cana est menos sujeito

    s variaes das condies climticas. Assim, a bioeletricidade pode ser uma alternativa

    importante para a diversificao da matriz energtica brasileira, que essencialmente baseada

    em hidroeletricidade de grande porte, cuja produo dependente da precipitao

    pluviomtrica. Adicionalmente, o pico da produo de eletricidade gerada pelo setor

    sucroenergtico ocorre nos meses em que tipicamente o sistema hidreltrico sofre as maiores

    baixas em seus reservatrios, devido ao perodo de seca.

    Entretanto, a comercializao de energia eltrica pelas usinas de acar e etanol ainda

    recente (somente em 1987 ocorreu a primeira venda do excedente da produo s

    concessionrias de energia) e enfrenta srios problemas como volatilidade do preo e ausncia

    de mecanismos contratuais que o minimizem, constante mudana de legislao, altas

    penalidades, falta de um ambiente adequado para a comercializao etc.

    Inicialmente a venda de energia eltrica e, portanto de bioeletricidade, poderia ocorrer

    apenas no ambiente de contratao regulado (ACR), em que as transaes acontecem por

    meio de leiles promovidos pelo governo. A partir de 1996, aps mudana no marco

    regulatrio, originou-se um segundo mercado, o ambiente de contratao livre (ACL), em que

    a transao ocorre diretamente entre geradores e consumidores finais, por meio de

    negociaes e contratos bilaterais. Essa mudana teve como principal objetivo introduzir a

    concorrncia no setor eltrico, que at ento era exemplo de monoplio natural. Porm, aps

    14 anos da reestruturao, a comercializao de energia eltrica no ambiente de contratao

    livre no se desenvolveu como o esperado.

    No tocante ao setor sucroenergtico, este tambm vem passando por mudanas

    profissionalizao da gesto, concentrao e abertura de capital so alguns exemplos. Uma

    dessas alteraes, que deve colaborar com o desenvolvimento da bioeletriciade e a explorao

    de seu potencial a incorporao do papel de gerador de energia pelos integrantes do setor.

    Esta mudana de posicionamento comea ocorrer, haja vista a nova denominao deste, que

    2

    Diz-se excedente porque muitas usinas so autossuficientes, utilizando parte da energia produzida em seu

    processo de fabricao.

  • 19

    agora chamado de sucroenergtico e no mais de sucroalcooleiro. Quanto ao cultivo e

    industrializao da cana, nos ltimos anos, estes passaram por expanses para outras regies

    do pas, porm o Estado de So Paulo ainda concentra o maior nmero de usinas e responde

    pela maior produo de cana-de-acar (BRASIL, 2009 a), sendo que a regio nordeste deste

    se destaca pela tradio, representatividade da produo e industrializao.

    Dessa forma, dada a representatividade dessa regio e os benefcios da cogerao,

    como os elencados por Souza (2003): produo descentralizada prxima demanda,

    possibilidade de atender a sistemas isolados, ciclo de gerao complementar ao hidreltrico,

    agresso relativamente menor ao meio ambiente e possibilidade de comercializao de

    crditos de carbono, combustvel renovvel, investimentos menores em bens de capital

    produzidos no Brasil e com tecnologia brasileira e rpida entrada em operao comercial; esta

    dissertao optou por estudar a comercializao da bioeletricidade cogerada na mesorregio

    de Ribeiro Preto.

    Como afirmado anteriormente, a comercializao de eletricidade pode ocorrer em dois

    mercados distintos, o regulado e o livre. Enquanto este ltimo pode ser considerado uma

    forma inovadora de compra e venda de energia, o mercado regulado amplamente utilizado e

    se encontra consolidado. O ACL oferece vantagens como maior concorrncia e flexibilidade,

    porm ainda est em formao e por isso a legislao que o regulamenta vem sofrendo

    frequentes alteraes. Ademais a falta de um ambiente de comercializao que rena todas as

    informaes necessrias para a realizao da operao, um relacionamento fraco entre os

    agentes (estritamente comercial) mesmo em transaes recorrentes, a adoo do mercado

    como estrutura entre outros se configuram como entraves ao desenvolvimento dessa forma de

    comercializao. Assim, a contribuio desse estudo foi analisar de modo mais profundo essa

    forma de inovadora de comercializao, realizar comparaes com a comercializao

    regulada, e propor subsdios para elaborao de polticas pblicas que objetivem o seu

    desenvolvimento.

    1.1 Objetivos

    O objetivo geral dessa pesquisa foi o de caracterizar a comercializao de

    bioeletricidade cogerada a partir da queima do bagao da cana, no ambiente de contratao

    livre (ACL).

  • 20

    Especificamente pretendeu-se:

    Traar um panorama da comercializao de bioeletricidade cogerada a partir do

    bagao de cana-de-acar, no que tange aos aspectos legais e operacionais;

    Comparar o ambiente de contratao regulado (ACR) e o de contratao livre

    (ACL), identificando as principais ameaas e pontos fracos, bem como oportunidades e

    pontos fortes de cada um deles;

    Fornecer suprimento para a elaborao de polticas pblicas e privadas focadas na

    gerao de eletricidade pelo setor sucroenergtico, objetivando a consecuo do

    aproveitamento efetivo do potencial desse setor tanto no ACR como ACL.

    1.2 Justificativa

    Estudar a comercializao de bioeletricidade no ACL tem sua justificativa centrada

    tanto na oportunidade de explorar o potencial da cogerao a partir da queima do bagao da

    cana, quanto na ameaa de racionamento de energia eltrica enfrentada pelo mercado

    brasileiro, devido principalmente ao crescimento desproporcional entre o consumo de energia

    eltrica, bem maior que o aumento da populao ou do PIB (tabela 1).

    Tabela 1: Indicadores econmicos e energia eltrica Brasil, 1970-2004

    Discriminao 1970 1980 1990 2000 2004 Mdia no perodo

    PIB (R$ bilhes de 2005) 501 1.145 1.339 1.739 1.895

    variao entre perodos (% a.a.) - 7 2 2 2 4,0%a.a.

    Populao total (milhes) 93 119 147 171 182

    variao entre perodos (% a.a.) - 2 2 2 2 2,0% a.a.

    PIB per capita (R$ de 2005/hab) 5.387 9.622 9.109 10.170 10.406

    variao entre perodos (% a.a.) - 5 0 1 1 2,0% a.a.

    Consumo final de e. eltrica (TWh) * 40 123 211 321 347

    variao entre perodos (% a.a.) - 12 4 5 2 6,6% a.a.

    *exclusive o consumo do setor energtico

    Fonte: BRASIL, 2007 a

    Ao fazer uma anlise da literatura existente sobre o assunto, no tocante

    originalidade, nota-se que a maioria dos estudos teve como foco a implantao do projeto de

    cogerao de eletricidade a partir do bagao de cana e a relao entre as usinas e as

  • 21

    concessionrias de energia eltrica no ambiente de contratao regulada - ACR (Coelho, 1992

    e 1999; Walter, 1994; Clementino, 2001; Oddone, 2001; Pellegrini, 2002; Brighenti, 2003).

    No que tange a comercializao, encontram-se os estudos de Souza (2000 e 2004) que

    buscaram analisar as formas como ela ocorre. Especificamente no ACL, destaca-se o estudo

    de Palomino (2009), contudo este teve como foco especfico o preo, uma das variveis

    envolvidas na comercializao. Dessa forma, a abordagem realizada nessa pesquisa atende ao

    critrio de originalidade.

    O desenvolvimento de trabalhos com essa temtica tambm tem importncia

    justificada ao considerar que: a) a energia eltrica desempenha um papel chave no

    desenvolvimento da economia brasileira; b) que o pas enfrentou srios problemas para

    atender demanda crescente de energia eltrica e que a bioeletricidade possui potencial para

    minimizar os problemas de abastecimento, com ciclo produtivo complementar ao hidrulico

    (base da matriz energtica nacional; e c) se trata de uma energia limpa e renovvel.

    Nesse sentido, estimativas da unio da indstria de cana-de-acar (UNICA) apontam

    que at a safra de 2017/18 a comercializao da energia cogerada pelo setor poder

    ultrapassar a produo de eletricidade da usina hidreltrica de Itaipu, maior do pas, ficando

    em torno de 10.158 MW mdios (UNICA, 2010).

    Vale ressaltar tambm, que o pico de produo da bioeletricidade ocorre no perodo

    seco, correspondente s maiores dificuldades de abastecimento de eletricidade na regio

    Sudeste (maior consumidora3) devido as suas caractersticas climticas.

    Porm, para que esse potencial seja efetivamente explorado, necessrio que o setor

    sucroenergtico visualize a cogerao de energia eltrica como mais um produto da cadeia,

    vivel e lucrativo, e no um subproduto como classificado atualmente, dado que o bagao

    pode ser destinado para outros fins como composto para rao animal, fertilizante, biogs

    entre outros (SOUZA e AZEVEDO, 2006). Para que isso ocorra, de suma importncia o

    desenvolvimento de formas inovadoras de comercializao, como a venda direta para

    consumidores livres, que minimize os efeitos prejudiciais causados pela concentrao das

    empresas distribuidoras de energia.

    A presente pesquisa partiu da concluso e da indicao de pesquisas futuras de outro

    estudo no qual identificou-se que particularmente interessante aumentar o volume de

    consumidores livres e amparar a comercializao entre estes e os cogeradores de energia

    (SOUZA e AZEVEDO, 2006, p.198). Os mesmos apontam que uma maior disponibilidade de

    3 Em 2004, a demanda por energia eltrica da regio sudeste foi de 172.029 GWh o que correpondeu a

    54% do total brasileiro (MME, 2006).

  • 22

    consumidores livres tem o papel de aumentar o valor esperado do MWh, assim como de

    reduzir a volatilidade e os riscos de apropriao da renda da atividade pela concessionria

    local de energia.

    1.3 Estrutura

    Visando atender aos objetivos propostos, o estudo foi dividido em cinco captulos que

    podem ser visualizados na figura 1.

    Figura 1: Estrutura da pesquisa

    No primeiro captulo, foi feito uma contextualizao da problemtica da pesquisa,

    apresentado os seus objetivos e as suas justificativas. No segundo, foi realizada uma reviso

    da literatura a fim de discutir a teoria que fundamenta essa anlise, ou seja, economia dos

    custos de transao e anlise do ambiente (metodologias PEST e SWOT). Tambm foi

    Captulo 1 INTRODUO

    Apresentao do tema, objetivo e justificativa

    da pesquisa e organizao do trabalho.

    Captulo 3 METODOLOGIA

    Anlise de contedo e de correspondncia.

    Captulo 2 REFERENCIAL TERICO

    Economia dos custos de transao, energia eltrica

    e o setor eltrico nacional e metodologias para o

    anlise do ambiente.

    Captulo 4 - RESULTADOS DA PESQUISA

    Aplicao da ECT na comercializao de

    bioeletricidade e anlise PEST e SWOT e sugesto de

    suprimentos para a elaborao de polticas pblicas.

    Captulo 5 CONSIDERAES FINAIS

    Implicaes tericas e gerenciais

  • 23

    elaborado um panorama sobre o setor sucroenergtico e eltrico, com a discusso do marco

    terico para o ACL.

    Posteriormente, no captulo trs, foi apresentado o mtodo utilizado para desenvolver

    a pesquisa e analisar os dados. Por fim, nos captulos quatro e cinco, so apresentados e

    discutidos os resultados do estudo, inclusive com a sugesto de subsdios para a elaborao de

    polticas pblicas e as consideraes finais do estudo, respectivamente.

  • 24

    CAPTULO 2 REFERENCIAL TERICO

  • 25

    2 REVISO DA LITERATURA

    2.1 ECONOMIA DOS CUSTOS DE TRANSAO

    Pessoas e empresas podem auferir ganhos maiores se cooperarem, especializando-se

    em suas atividades produtivas e efetuando transaes para adquirir outros bens e servios que

    desejam. Segundo Milgron e Roberts (1992), para os ganhos de cooperao serem obtidos, as

    aes e decises precisam ser coordenadas. Dessa forma, a existncia de uma organizao

    formal e os detalhes especficos de sua estrutura, poltica e procedimentos refletem as

    tentativas para alcanar eficincia em coordenao e motivao.

    Essa coordenao pode ocorrer de diversas maneiras, sendo mercado (troca voluntria)

    ou hierarquia (linha estrita de autoridade) os dois caminhos extremos que uma organizao

    pode escolher (MILGROM; ROBERTS, 1992). J para Williamson (2002, p. 175), o

    problema de organizao econmica adequadamente colocado no como mercados ou

    hierarquias, mas preferencialmente como mercados e hierarquias 4 uma vez que uma

    transao com alto desempenho econmico ir exibir propriedades de ambas as estruturas.

    O mercado a estrutura de governana considerada mais eficiente para transaes de

    curto prazo, com baixa incerteza e especificidade de ativo. Ela ocorre basicamente por meio

    do sistema de preos e est associada a contratos do tipo clssico. J a hierarquia acontece

    quando a empresa internaliza o segmento a jusante e/ou a montante de sua atividade principal,

    possuindo a propriedade dos ativos e o controle gerencial (WILLIAMSON, 1985). Ademais

    se encontra as estruturas hbridas ou intermedirias que so um modo alternativo de

    governanas aos dois apresentados como. So criadas a partir de contratos complexos e

    arranjos de propriedade parcial como: relaes de longo prazo com fornecedores qualificados,

    contratos bilaterais escritos, alianas estratgicas, participao equitativa ou equivalente.

    Segundo Coase (1937), em seu teorema que serviu de princpio para o

    desenvolvimento da teoria da economia dos custos de transao (ECT), as partes podero

    negociar e chegar a um acordo eficiente se o direito de propriedade (uso) estiver bem definido

    e os custos envolvidos na negociao forem nulos ou irrisrios.

    4 the problem of economic organization is properly posed not as markets or hierarchies but rather as markets

    and hierarchies (WILLIAMSON, 2002, p. 175)

  • 26

    Nesse caso, os agentes podero negociar sem custos a alocao dos recursos e ento a

    eficincia por si s determinar a escolha da estrutura de coordenao, sendo que outros

    fatores podem afetar apenas decises sobre como os custos e benefcios sero compartilhados.

    Assim, qualquer que seja a distribuio inicial dos direitos, as partes interessadas sempre

    podem chegar a um acordo no qual todos ficaro em uma situao melhor e o resultado ser

    eficiente (MANKIW, 2001).

    Entretanto Coase nos revelou que, a realidade vivenciada pelas organizaes era outra

    e que o mecanismo de mercado como estrutura eficiente para alocao dos recursos na

    sociedade era exceo, uma vez que muitas transaes ocorriam fora do sistema de preos

    (ZYLBERSZTAJN, 2005). A sua concluso foi a de que outras estruturas que no o mercado

    eram adotadas porque minimizavam ou mesmo eliminavam os custos envolvidos em

    negociaes e acordos (BESANKO et al., 2006).

    Assim, Coase (1937) chamou esses dispndios de custos de transao e afirmou que

    eles esto envolvidos em cada troca e determinaro a melhor estrutura a ser adotada (mercado

    ou hierarquia), ou seja, aquela que os minimiza. Assim, a partir da anlise deles so

    escolhidas quais transaes sero mediadas por meio de estrutura de mercado e quais sero

    apresentadas dentro de uma organizao formal com direo centralizada.

    Para North (1990), a ECT basicamente a somatria dos custos de mensurao do

    valor do atributo que ser negociado e dos custos de proteo e monitoramento dos acordos,

    para que os direitos sejam respeitados. De acordo com Besanko et al. (2006), os custos de

    transao so formados pelo tempo e despesas envolvidas nas negociaes, a escriturao dos

    acordos e o estabelecimento de meios para que os contratos sejam cumpridos. Segundo

    Milgrom e Roberts (1992), custos de transao so o custo de execuo do sistema: o de

    coordenao e o de motivao.

    Dentro de um sistema de mercado, custos de transao esto associados com os

    problemas de coordenao advindos da necessidade de determinar preos e outros detalhes da

    transao, para fazer potenciais compradores e vendedores transacionarem (MILGROM;

    ROBERTS, 1992).

    Os custos de transao relacionados coordenao em mercados incluem os recursos

    que os vendedores despendem com pesquisa de mercado para identificar o desejo do

    consumidor e tornar os produtos conhecidos por eles e tambm s decises gerenciais que

    determinam o valor da transao. Por outro lado, os consumidores tambm incluem o tempo

    gasto na procura pelos fornecedores e pelos melhores preos. Os custos de transao tambm

    incluem os benefcios perdidos devido ao encontro entre compradores e vendedores ser

  • 27

    imperfeito e transaes de valor no ocorrerem. J em hierarquias o custo determinado pela

    busca da informao necessria para determinar um plano eficiente a ser implantado e a sua

    comunicao aos responsveis (MILGROM; ROBERTS, 1992).

    No tocante aos custos de motivao, eles esto associados assimetria de informao

    e aos compromissos imperfeitos. Este advm da inabilidade das partes em fazer com que, por

    meio de ameaas e promessas, o contratado seja de fato realizado. J aquela ocorre quando as

    partes no possuem todas as informaes necessrias para determinar se os termos do contrato

    so mutuamente aceitveis.

    Segundo David e Han (2004), a ideia central da ECT que as transaes podem ser

    trabalhadas a fim de que os custos envolvidos em sua execuo sejam minimizados. Assim,

    foi adotada uma abordagem contratual para o estudo da organizao econmica na qual a

    transao considerada a unidade bsica de anlise. Esse escopo, segundo Zylbersztajn

    (1995), implica em modificaes significativas na teoria econmica e, consequentemente, no

    desempenho econmico, dado que sob esse enfoque as empresas passam a ter o propsito e o

    efeito fundamental de reduzir os custos de transao.

    Williamson (1989), um dos pioneiros das discusses de ECT, afirma que a anlise dos

    custos de transao centraliza-se em verificar se as partes se relacionam harmoniosamente ou

    se h frequentes mal entendidos e conflitos que acarretam problemas ao funcionamento do

    todo. Esta preocupao semelhante s da produo com relao ao funcionamento do

    maquinrio (custos de produo).

    A ECT tem uma viso microanaltica, voltada para as firmas. Ela introduz e

    desenvolve a importncia econmica da especificidade do ativo; recorre mais anlise

    institucional; atribui um peso maior s instituies contratuais ex post e d especial nfase

    regulao do setor privado por oposio regulamentao judicial (ZYLBERSZTAJN, 1995;

    WILLIAMSON, 1989).

    Para o estudo da ECT, necessria a compreenso de dois termos: os custos ex ante e

    ex post. O primeiro, chamado de seleo adversa (adverse selection), ocorre quando h

    assimetria de informao e se caracteriza pelos custos de redao, negociao e salvaguarda

    de um acordo, onde se busca a elaborao de um documento completo em que se estabeleam

    numerosas contingncias, fazendo as adequaes necessrias a cada parte. Os estudos desse

    tipo de custo enfatizam o alinhamento de incentivos, que incluem as teorias de direito de

    propriedade e de agncia.

    J o segundo, diz respeito aos custos de assegurar os compromissos e de estabelecer e

    administrar a estrutura de governana, ou seja, do esforo para corrigir maus alinhamentos em

  • 28

    contratos bilaterais (WILLIAMSON, 1989), pois aparece na forma de risco moral (moral

    hazard) devido s dificuldades no monitoramento. O estudo da ECT se foca nesses custos

    gerados ex-post.

    A transao sujeita ao oportunismo ex post se beneficiaria se fosse possvel elaborar

    salvaguardas apropriadas ex ante. Contudo, a elaborao das mesmas envolve custos firma

    econmica e, segundo Williamson (1989), a ECT sustenta a hiptese de que impossvel

    concentrar toda a ao de negociao pertinente na etapa de contratao ex ante, devido

    racionalidade limitada.

    2.1.1 Dimenses das Transaes

    De acordo com a ECT, as transaes diferem em alguns atributos bsicos, sendo que

    cinco tipos tm importantes papis na anlise. Dois so chamados de pressupostos

    comportamentais (racionalidade limitada e oportunismo). Os trs restantes so conhecidos

    como as dimenses das transaes e compreendem a especificidade dos ativos, a frequncia

    com que so realizadas as transaes e a incerteza.

    As trs dimenses influenciam na escolha da forma de governana, que segundo

    Williamson (1996), podem ocorrer de trs formas: mercado, hierrquica (firma) e hbrida. A

    primeira a mais indicada quando as transaes apresentam baixa especificidade do ativo,

    frequncia e incerteza, dado que a regulao ocorre via sistema de preo. A segunda

    conhecida tambm como integrao vertical e acontece quando a empresa assume total

    propriedade dos ativos a jusante ou montante de sua atividade e necessria quando h alta:

    especificidade do ativo, frequncia da transao e incerteza quanto ao comportamento dos

    agentes envolvidos.

    Por fim, na forma hbrida, as partes mantm autonomia na operao, mas so

    bilateralmente dependentes (DAVID; HAN, 2004). Esta envolve tanto contratos complexos,

    em geral de longo-prazo, como por exemplo: coproduo ou distribuio; arranjos de

    propriedade parcial de ativos, alianas estratgicas e joint-ventures.

  • 29

    2.1.1.1 Especificidade do ativo necessrio

    H, segundo Williamson (1996), ao menos seis tipos distintos de especificidade de

    ativos:

    a) local - que ocorre quando uma determinada explorao exige que outra, normalmente

    complementar, se localize prximo;

    b) fsica quando o produto exige um padro de matria-prima especfica e, portanto, inibe os

    clientes de trocar de fornecedor;

    c) humana - relaciona-se ao capital intelectual necessrio para a produo de um dado produto

    (know how);

    d) de ativos dedicados produo - ocorre no caso em que uma estrutura produtiva ou um

    determinado processo de produo exigido para atender a um cliente especfico;

    e) de marca relaciona-se reputao que o nome da empresa ou produto tem no mercado e

    exige a exclusividade no fornecimento da matria-prima por parte de uma organizao na

    cadeia;

    f) temporal envolve perecibilidade ou qualquer outra condio que exija o consumo em um

    determinado perodo de tempo.

    A especificidade gera uma relao de dependncia, em que uma das partes pode ser

    enfraquecida, dado que h necessidade de equipamentos ou suprimentos especiais difceis de

    serem encontrados e/ou transferidos para outra atividade. No caso de ativos, d-se a

    oportunidade para o agente menos dependente agir de forma oportunista, beneficiando-se da

    dependncia da outra parte (ZYLBERSZTAJN, 1995). Na ausncia dessas condies o

    mundo dos contratos se simplifica enormemente (WILLIAMSON, 1989).

    De acordo com o mesmo autor, as transaes que envolvem um maior grau de

    especificidade se adaptam mais sensivelmente s necessidades de governana das transaes

    que s estruturas no especializadas, pois no podem se submeter volatilidade das

    negociaes sem algum tipo de regulao.

    Milgrom e Roberts (1992) corroboram com esse raciocnio ao afirmarem que as

    transaes que demandam investimentos especficos normalmente requerem tambm um

    contrato ou a prtica de proteo para o investidor contra suspenso da transao

    prematuramente ou renegociao oportunista.

    A especificidade de um ativo em uma transao pode gerar o problema da apropriao,

    pois mesmo em condies no satisfatrias, dado o comportamento explorador da outra parte,

  • 30

    para a empresa que detm o bem especfico ainda mais vantajoso vender para ela que para

    sua segunda opo devido dificuldade de reaproveitamento do ativo para outros fins, sem

    perda de valor. Isso pode gerar renegociaes de contrato mais frequentes e, por conseguinte,

    mais difceis e custosas (BESANKO et al., 2006).

    As outras duas dimenses (frequncia e incerteza) ganham destaque no estudo da ECT

    se houver o registro da especificidade. O custo das estruturas de governana especializadas,

    exigida pela especificidade do ativo, se recuperar com maior facilidade quando as transaes

    forem grandes e recorrentes, sendo importante assim minimizao da imprevisibilidade das

    atitudes posteriores, ou seja, da incerteza (ZYLBERSZTAJN, 1995).

    2.1.1.2 Frequncia

    A frequncia com que as transaes ocorrem tem importncia na escolha da estrutura

    devido a trs fatores: conhecimento, credibilidade e compromisso. O primeiro decorrncia

    do convvio, ou seja, quanto mais as transaes ocorrem, mais oportunidade as partes tm de

    se conhecerem melhor o que implicar em reduo da incerteza e, como consequncia, adoo

    de estruturas de governana menos robustas.

    J a credibilidade surge por meio da reputao criada aps algum tempo de transao.

    Esta pode ser tanto positiva quanto negativa e, em alguns casos, utilizada tanto por

    consumidores, quanto por fornecedores no momento da escolha de seus parceiros e tambm

    das formas de contratao.

    Por fim, a repetio das transaes tambm pode gerar uma relao de compromisso

    dado que frequentes interaes permitem a ambas as partes oportunidades para conceder ou

    negar favores um ao outro. Dessa forma, se reduz a necessidade de um tipo formal de

    mecanismo para se fazer cumprir o acordo, uma vez que, caso ocorra uma quebra de contrato

    na transao X, a parte prejudicada poder punir a faltante na X+1.

    Nesse sentido, Raiffa (1991) afirma que as estruturas de governana sero respeitadas

    quando h frequncia, entretanto esse comportamento ocorrer at a penltima troca, dado

    que na ltima os agentes tendem a se utilizar do comportamento oportunista, pois no haver

    a prxima transao e, consequentemente, a possibilidade de punio. Da mesma forma, nas

    negociaes em que a frequncia inexistente, a presena do comportamento oportunista

    tende a ser maior.

  • 31

    2.1.1.3 Complexidade das transaes e a incerteza sobre desempenho

    Geralmente quando h incerteza e complexidade torna-se difcil prever qual o

    desempenho desejvel, assim a contratao se torna mais complexa, de alta especificao,

    obrigao e procedimentos (MILGROM; ROBERTS, 1992).

    Em uma definio genrica North (1990) afirma que a incerteza o desconhecimento

    dos eventos futuros. Zylbersztajn (1995) afirma que h dois tipos bsicos de incerteza, a

    primeira diz respeito aos eventos cuja ocorrncia aleatria e a segunda imprevisibilidade

    do comportamento dos agentes, ou seja, ao possvel comportamento oportunista.

    O quadro 1 mostra qual estrutura de governana adotar em funo de duas das trs

    caractersticas das transaes relevantes para anlise de ECT. Williamson (1985) argumenta

    que a integrao vertical, representa uma opo mais eficiente quando h grande necessidade

    de coordenao interna, devido existncia de elevada especificidade do ativo e de grande

    incerteza. Antes desta opo, o mercado e os modelos hbridos so avaliados.

    Incerteza

    Esp

    ecif

    icid

    ade

    dos

    ativ

    os

    Baixa Mdia Alta

    Baixa Mercado Mercado Mercado

    Mdia Contrato Contrato ou

    integrao vertical

    Contrato ou integrao

    vertical

    Alta Contrato Contrato ou

    integrao vertical

    Integrao Vertical

    Fonte: Brickley; Smith e Zimmerman, 1997.

    Quadro 1: Estrutura de governana adequada em funo da caracterstica das transaes

    Assim, por exemplo, quando a incerteza baixa e o ativo transacionado no

    especfico aquela transao, a mesma pode ocorrer via mercado, pois os custos de transao

    tendem a ser baixos. Da mesma forma, quando a transao possui um alto grau de incerteza e o ativo

    transacionado de especificidade elevada, indicado que a organizao opte por estruturas mais

    robustas e seguras de governana, o que leva ao outro extremo, ou seja, a estrutura hierrquica

    (integrao vertical).

  • 32

    2.1.2 Pressupostos Comportamentais

    Os pressupostos comportamentais so as variveis independentes da anlise da

    economia dos custos de transao, chamados de racionalidade limitada e oportunismo.

    2.1.2.1 Racionalidade limitada

    De acordo com Besanko et al. (2006), esse pressuposto est ligado capacidade de

    indivduos em prever ou enumerar as contingncias que possam surgir durante uma transao,

    dada sua limitao para trabalhar com a informao disponvel, a complexidade do ambiente e

    definir objetivos totalmente racionais.

    A racionalidade limitada e o comportamento otimizador caminham juntos, uma vez

    que o agente apesar de desejar ser o mais eficiente e eficaz possvel e despender seus

    melhores esforos para lidar com a complexidade e imprevisibilidade do mundo a sua volta,

    falta-lhe o conhecimento e / ou habilidade para prever com preciso todas as diversas

    contingncias que possam surgir (BOERNER; MACHER, 2002), ou seja, os atores

    econmicos desejam ser racionais, mas apenas conseguem s-lo de maneira limitada

    (SIMON, 1961 apud 5 ZYLBERSZTAJN, 1995).

    Dessa forma, devido incompletude dos contratos, criam-se salvaguardas contratuais

    a fim de permitir uma reconsiderao ex-post caso ocorra um fato no previsto que afete

    significativamente a transao e aumente os seus custos. Segundo Milgrom e Roberts (1992),

    quando difcil mensurar o desempenho, as pessoas geralmente planejam seus negcios para

    tornar a mensurao mais fcil ou reduzir a importncia de sua acuraria.

    Williamson (1989) afirma existir trs nveis de racionalidade: a forte, considerada a

    maximizadora; a semiforte, que a limitada; e a fraca, que a orgnica. A ECT parte do

    princpio que os agentes esto no segundo nvel, ou seja, possuem racionalidade limitada, uma

    vez que, so intencionalmente racionais, mas de forma limitada, tornando assim os contratos

    incompletos.

    5 SIMON, H. A. Administrative Behaviour. New York : Macmillan, 1961.

  • 33

    Aliados racionalidade limitada, outros dois fatores impedem a elaborao de um

    contrato totalmente completo, so eles: a dificuldade em especificar ou mensurar o

    desempenho e a informao assimtrica (BESANKO et al., 2006).

    2.1.2.2 Comportamento oportunista

    Com relao ao oportunismo, este tambm apresenta trs tipos, sendo o mais fraco a

    obedincia; o semiforte, a busca do interesse prprio; e o mais forte e que est presente no

    estudo da ECT, o oportunismo propriamente dito. Basicamente ele se refere revelao

    incompleta e distorcida da informao, especialmente dos esforos premeditados para

    equivocar, distorcer, ocultar, ofuscar ou confundir a outra parte.

    Nesse sentido, Williamson (1989) coloca que o alto preo da informao a chave

    para os custos de transao. O oportunismo gera a assimetria de informaes que

    responsvel pelos problemas da organizao econmica. Em suma, quando no h

    oportunismo todo comportamento poderia ser governado por regras gerais, por meio das quais

    as partes aceitariam a limitao das aes de maximizao conjunta do benefcio.

    2.1.3 Crticas Economia dos Custos de Transao

    Ao fazer uma anlise crtica sobre a ECT, so levantados alguns pontos que merecem

    maior reflexo. Nesse sentido, Hodgson (1998) aponta que o comportamento individual no

    pode ser algo considerado como exgeno s organizaes, uma vez que elas podem produzir,

    reforar e transmiti-lo, de maneira que a relao entre indivduo-estrutura no possa ser

    analisada considerando apenas o comportamento do primeiro, do qual as organizaes

    procuram salvaguardas.

    Outro ponto criticado a considerao do oportunismo como um dos pressupostos

    bsicos da ECT, dado que esse endgeno a cada cultura ou sociedade (valores) e no uma

    hiptese que pode ser considerada a priori (DIETRICH, 1994). Esse autor ainda afirma que

    no possvel separar a incerteza do comportamento individual dos agentes, sendo

    desnecessrio o enfoque dessa teoria a esse pressuposto.

  • 34

    Por fim, criticado tambm o tratamento despendido ao ambiente institucional que

    considerado como dado, ignorando assim a sua importncia no desempenho da firma, em

    termos, por exemplo, de agente provedor de mudana ou de determinante do carter

    especfico dos ativos (PITELIS, 1994; NOOTEBOOM, 1992). Essas duas caractersticas

    esto presentes fortemente no agronegcio e tambm no sistema eltrico, com a atuao de

    rgos de pesquisa e universidades no mbito da inovao e do governo na regulao que

    podem conferir carter especfico ao ativo.

    Segundo Zylbersztajn (2000), para se alcanar a eficincia na coordenao de sistemas

    agroindustriais se faz necessrio um profundo conhecimento das caractersticas das

    transaes, a fim de se obter o melhor desenho das transaes, ou seja, a forma de governana

    mais adequada, que possibilita uma economia nos custos de transao. Dado que este

    estudo analisa principalmente a contratao de energia no ACL, os aspectos tericos da

    economia dos custos de transao foram aplicados ao tema e se encontram presentes na

    anlise dos resultados.

    2.2 ENERGIA ELTRICA E O SETOR ELTRICO NACIONAL

    Para a produo de energia eltrica, seja ela em uma usina hidreltrica ou

    termoeltrica (caso das usinas de acar e etanol), necessrio basicamente uma turbina, que

    pode ser movida, por exemplo, por vapor gerado pela queima de bagao de cana, que produz

    energia mecnica transformada em eltrica por um gerador.

    A eletricidade medida em watts (W) sendo seus mltiplos expressos no quadro 2.

    Geralmente o consumo medido em KWh (HOCHSTETLER, 1998). De acordo com Martin

    (1992), a eletricidade originada por fonte primria quando advm de produtos energticos

    naturais na sua forma direta, ou secundria quando a matria-prima sofre transformao.

    Dessa forma, o bagao de cana-de-acar pode ser considerado uma fonte secundria de

    energia.

    No Brasil, a produo de energia eltrica possui quatro etapas distintas: gerao,

    transmisso, distribuio e comercializao, sendo que na primeira e na ltima as atividades

    so potencialmente competitivas, pois existem vrios geradores e compradores, e nas

    intermedirias ocorrem monoplios naturais tpicos, com a atuao de poucas empresas

    (CASTRO e DANTAS, 2008, a). A prestao desses servios pode ser considerada de

  • 35

    utilidade pblica, em que a administrao os presta diretamente ou concede a terceiros o

    direito de prest-los em condies regulamentadas pelo Estado, mediante pagamento dos

    usurios (BENJ, 1997).

    1 kW (quilowatt) 1.000 Watts

    1 MW (megawatt) 1.000 kW

    1 GW (gigawatt) 1.000 MW

    1 TW (terawatt) 1.000 GW

    Fonte: Hochstetler, 1998

    Quadro 2: Mltiplos mais comuns de watts

    De acordo com a Eletrobrs (2008), o setor eltrico nacional passou por oito fases

    distintas que revelam a implantao e o desenvolvimento deste no pas. So elas: Primrdios

    (1879 1899); Implantao (1903 1927); Regulamentao (1934 1945); Expanso (1953

    1961); Consolidao (1962 1973); Estatizao (1975 1986); Privatizao (1988 1999)

    e a fase atual iniciada a partir do ano 2000.

    A fase primrdios teve incio no ano de 1879 com a inaugurao da primeira

    instalao de iluminao permanente do pas, na estao central da estrada de ferro D. Pedro

    II, atual Central do Brasil RJ. Esta se desenvolveu a passos lentos, tendo como principais

    caractersticas a produo de energia para o transporte urbano e para a iluminao das cidades

    (ELETROBRS, 2008).

    Em 1889, marcada pela atuao acentuada do capital estrangeiro, por meio das

    empresas So Paulo Railway, Light end Power Company Limited e Rio de Janeiro Tramway

    Light end power Co. Ltda, teve incio a segunda fase, na qual foi registrado um crescimento

    considervel do setor.

    Duas caractersticas so relevantes nela, a primeira foi a construo de centrais

    geradoras de maior capacidade para atender a demanda crescente e a segunda, a intensificao

    do processo de integrao horizontal e centralizao das empresas concessionrias (SOUZA,

    2004). Pode-se acrescentar a essas caractersticas a aprovao pelo Congresso Nacional, do

    primeiro texto de lei disciplinando o uso de energia eltrica no pas (ELETROBRS, 2008).

    Em 1934, aps a promulgao do Cdigo de guas, teve incio a fase

    regulamentao e com ela uma nova era para o setor: a estatal. Assim, segundo Guimares,

    (2001), dado que a energia eltrica passou a ser vista como necessidade estratgica para o

    desenvolvimento industrial do pas, foi proibido o aproveitamento de qualquer novo recurso

  • 36

    hdrico por companhias estrangeiras, sendo essa atividade a partir de ento, funo

    predominantemente dos governos estadual e federal reguladas at os anos 60, pelo Conselho

    Nacional de guas e Energia Eltrica - CNAEE.

    Aps 1952, comeou a fase de expanso, em que a tendncia de estatizao foi

    fortalecida pela construo, pelo governo federal, da usina de Paulo Afonso, no rio So

    Francisco, e da criao do Ministrio de Minas e Energia (MME). Dessa forma, tornou-se

    cada vez mais frequente a formao de empresas de capital misto (pblico e privado). Em

    1962, o governo criou a Centrais Eltricas Brasileiras S.A. (ELETROBRS) e assumiu a

    coordenao efetiva do setor eltrico (ELETROBRS, 2008).

    Em 1963, j na fase consolidao, entrou em operao a Usina Hidreltrica de

    Furnas, maior do Brasil na poca, e foi assinado o tratado para a construo da Itaipu

    Binacional. Posteriormente, iniciou-se a fase da estatizao (1975) com a consolidao do

    comando estatal no setor por meio da compra, pelo governo, da Amforsp, Light Rio e Light

    So Paulo. A viabilidade desse modelo se deveu explorao de economias de escopo pela

    integrao vertical entre gerao e transmisso, a ganhos de escala e diminuio dos custos

    de transao (SOUZA, 2003).

    Esse movimento de expanso da indstria eltrica no Brasil foi semelhante ao

    observado em vrios pases industrializados, cujo pilar central era a constituio de

    monoplios verticalizados, com tarifas reguladas pelo custo do servio (PINTO JUNIOR, et

    al., 2007).

    Segundo os mesmos autores, esse modelo foi sustentvel at o incio da dcada de 80,

    quando a crise econmica pela qual passou o pas impactou no setor, deteriorando sua

    eficincia econmica, seu modo de organizao industrial e o seu modelo de financiamento.

    Dessa forma, em 1990, foi sancionada a Lei n 31 que criou o Programa Nacional de

    Desestatizao - PND. Tambm foi institudo o Sistema Nacional de Transmisso de Energia

    Eltrica SINTREL - com o objetivo de viabilizar a competio na gerao, distribuio e

    comercializao de energia (ELETROBRS, 2008).

    Entretanto, em meados da dcada de 90, segundo Pires; Giambiagi e Sales (2001), o

    setor estava na seguinte situao:

    Estado descapitalizado, inviabilizando investimentos na expanso da oferta e manuteno

    das linhas de distribuio, a fim de acompanhar a demanda crescente.

    M gesto das empresas de energia e inadequao do regime regulatrio.

    Diante desse cenrio, segundo Souza (2004), a partir de 1993, iniciaram-se projetos de

    reestruturao do setor cujos objetivos principais foram: assegurar os investimentos

  • 37

    necessrios para suprir a demanda e transformar o setor em economicamente eficiente,

    assegurando um suprimento confivel ao menor custo possvel.

    Para tal, quatro estratgias foram traadas:

    Separao das atividades de gerao, transmisso, distribuio e comercializao;

    Desregulamentao das atividades de gerao e comercializao a fim de aumentar a

    oferta e reduzir o preo. A transmisso e distribuio por serem monoplios naturais

    continuariam sendo regulados;

    Livre acesso s redes de transmisso e distribuio e

    Privatizao.

    Souza (2004) afirma que essas mudanas exigiram alteraes no ambiente

    organizacional, culminando com a criao da Agncia Nacional de Energia Eltrica

    (ANEEL), do mercado atacadista de energia (MAE) e do Operador Nacional do Sistema

    (ONS).

    Em 2001, o setor eltrico brasileiro enfrentou sua crise mais grave, o que culminou

    com o racionamento de energia. Mesmo com os incentivos dado implantao de usinas

    movidas a gs no ano anterior, no foi possvel evitar a reduo do fornecimento de

    eletricidade. Assim, nesse mesmo ano, foi criada a Comercializadora Brasileira de Energia

    Emergencial (CBEE), empresa responsvel por realizar a contratao de energia emergencial

    (ELETROBRS, 2008). Para o setor sucroenergtico, esse foi um bom perodo, pois se

    obteve as maiores remuneraes para a bioeletricidade, alm de benefcios como o desconto

    de 50% na tarifa fio.

    Essa questo aliada a outros fatores impediram o sucesso da reforma. Assim, em 2004,

    realizou-se outra, cujo objetivo principal foi garantir o abastecimento a um preo acessvel.

    Nesse sentido, o novo marco regulatrio do setor eltrico brasileiro introduziu mudanas

    significativas a fim de atrair o capital privado necessrio para a expanso da gerao de forma

    consistente com as caractersticas e peculiaridades do sistema eltrico brasileiro (ROCHA;

    BRAGANA; CAMACHO, 2007).

    Atualmente, o setor eltrico nacional composto de sete instituies, conforme a

    figura 2.

  • 38

    Fonte: CCEE (2009)

    Figura 2: Diagrama das instituies do setor eltrico brasileiro 2009.

    O Conselho Nacional de Poltica Energtica (CNPE) um rgo interministerial de

    assessoramento presidncia, responsvel por formular polticas e diretrizes para o setor de

    energia e assegurar o suprimento de insumos energticos s reas do pas cujo acesso difcil.

    Ao Comit de Monitoramento do Setor Eltrico (CMSE), cabe acompanhar e avaliar a

    continuidade e a segurana do suprimento eltrico em todo o territrio nacional. J ao

    Ministrio de Minas e Energia (MME), compete elaborar o planejamento do setor energtico

    nacional e monitorar a segurana do suprimento definindo aes preventivas caso ocorra

    desequilbrios conjunturais entre oferta e demanda de energia.

    Criada em 1994 e vinculada ao ministrio de minas e energia, a Empresa de Pesquisa

    Energtica (EPE) responsvel por realizar estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o

    planejamento do setor energtico.

    A Agncia Nacional de Energia Eltrica (ANEEL), criada aps a ltima reforma do

    setor, responsvel por regular e fiscalizar a produo, transmisso, distribuio e

    comercializao de energia eltrica, assegurando a qualidade dos servios prestados e a

    modicidade tarifria. O Operador Nacional do Sistema (ONS) o rgo responsvel por

    cuidar do sistema de transmisso nacional e garantir o acesso ao sistema interligado nacional

    (SIN).

    Operador nacional do sistema

    eltrico Cmara de comercializao

    de energia eltrica

    Agncia Nacional de

    Energia Eltrica

    Empresa de Pesquisa

    Energtica

    Ministrio de Minas

    e Energia

    Comit de monitoramento

    do setor eltrico

    Conselho nacional de

    poltica energtica

  • 39

    Em 1994, foi criada a Cmara de Comercializao de Energia Eltrica (CCEE) a fim

    de viabilizar a comercializao de energia eltrica nos ambientes de contratao regulada e

    livre, alm de efetuar a contabilizao e a liquidao financeira das operaes realizadas no

    mercado de curto prazo.

    Segundo Rocha; Bragana e Camacho (2007), a principal caracterstica do modelo,

    vigente atualmente, consiste na comercializao de energia em dois mercados: o ambiente de

    contratao regulada - ACR e o ambiente de contratao livre - ACL (Quadro 3).

    Cliente Livre Cliente Regulado

    Conexo eltrica Concessionria local Concessionria local

    Com quem celebra contratos Concessionria local e com o vendedor de

    energia

    Concessionria local

    Tipos de contrato

    Conexo e Uso de Rede com a

    concessionria local

    Contrato de fornecimento com a

    concessionria local

    Compra e venda de energia com o

    vendedor escolhido

    Demanda com a concessionria local

    Energia com o vendedor escolhido

    O que contratado Demanda com a concessionria local Demanda com a concessionria

    local Energia com o vendedor escolhido

    O que tem preo regulado Conexo e Uso de Rede, inclusive tarifa

    (R$/kW)

    Demanda (R$/kW) e energia

    (R$/kWh)

    O que de livre negociao Preo e condies comerciais de energia Nada

    Responsabilidade pela

    qualidade e continuidade do

    fornecimento

    Concessionria local Concessionria local

    Atendimento de emergncia Concessionria local Concessionria local

    Fonte: CPFL (2009)

    Quadro 3: Principais diferenas entre o ACR e o ACL.

    No primeiro segmento de mercado (ACR), as concessionrias, as permissionrias e as

    autorizadas de servio pblico de distribuio de energia eltrica do SIN, devem garantir o

    atendimento totalidade de sua demanda, que informada a ANEEL. Esta, por sua vez, deve

    elaborar as licitaes para contratao regulada de energia eltrica e realizar, diretamente ou

    por intermdio da CCEE, os leiles.

    De acordo com Rocha; Bragana e Camacho (2007), a concorrncia no ACR

    garantida por meio da realizao de leiles de preo e quantidade, cujo critrio de escolha o

    da menor tarifa. Alm disso, so elaborados contratos bilaterais padronizados (Power

    Purchase Agreements - PPA) de longo prazo, que garantem o repasse dos custos de aquisio

    da energia para as tarifas dos consumidores finais.

  • 40

    J no segundo segmento de mercado, o (ACL), que o foco desse estudo, se realizam

    as operaes de compra e venda de energia eltrica, por meio da elaborao de contratos

    bilaterais livremente negociados, conforme regras e procedimentos de comercializao

    especficos. Este inclui os consumidores livres e os comercializadores que podem contratar de

    forma ativa sua demanda por energia eltrica.

    2.2.1 Comercializao de energia eltrica no mercado livre

    A criao do ambiente de contratao livre (ACL) potencializou a competio no

    segmento de comercializao de energia eltrica, pois possibilitou a livre negociao entre os

    produtores e consumidores de energia. Vale ressaltar que no mercado regulado vrios

    produtores vendem para poucas concessionrias que depois revendem a energia para muitos

    consumidores.

    A diferena entre ACL e ACR no se d em torno dos agentes que ofertam energia,

    mas dos que demandam energia em cada ambiente (PINTO JUNIOR, et al., 2007, p. 224).

    Nesse sentido, consumidor livre aquele que pode optar pela compra de energia eltrica

    junto a qualquer fornecedor, conforme legislao e regulamentos especficos (ANEEL,

    2008), ou seja, utilizam o direito de escolher o fornecedor que suprir sua demanda.

    Dessa forma, Pinto Jnior, et al. (2007) afirmam que a relao entre o fornecedor e o

    consumidor regida por contratos bilaterais, nos quais so estipulados o preo, o volume e o

    prazo da negociao, prevalecendo as leis da livre concorrncia. Palomino (2009) afirma que

    nesse caso o consumidor deve firmar no mnimo dois contratos, sendo um do uso do sistema

    de distribuio (contrato de uso dos sistemas de distribuio CUSD). Ele pago

    concessionria e a tarifa a de uso dos sistemas de distribuio TUSD. J o outro, de

    compra de energia com a remunerao paga diretamente ao gerador.

    Szklo e Tolmasquim (2001) apresentam duas vantagens relevantes para o cogerador,

    advindas da comercializao livre: reduo dos riscos de investimentos e amortizao dos

    custos. A primeira alcanada na medida em que so assinados contratos bilaterais de longo

    prazo com preos de venda de energia acordados fora do mercado spot (bruscas oscilaes de

    preos); e a segunda se d por meio da comercializao de excedentes, considerando que,

    muitas vezes, independente da venda, o gerador precisa investir na planta de cogerao para

    uso prprio.

  • 41

    O consumidor, por sua vez, pode negociar o preo diretamente com o gerador,

    firmando contratos de longo prazo com condies estabelecidas para ambos os lados, o que

    minimiza o impacto da imprevisibilidade do abastecimento e principalmente da volatilidade

    do preo da tarifa que ser praticado pela distribuidora a cada ano (PALOMINO, 2009).

    Porm, na prtica, a compra de energia eltrica no ACL s vivel e permitida por lei a

    consumidores com demanda maior que 500 KW, devido s taxas administrativas cobradas.

    Assim, pelo que nota-se, essa opo tem sido exercida por grandes redes de supermercados,

    empresas privadas e shoppings center (informao verbal)6.

    Do ponto de vista operacional, todo gerador ou consumidor que opte pela

    comercializao no ambiente livre ACL precisa se associar a CCEE, informando o montante

    de energia a ser ofertado ou demandado mensalmente, obedecendo data mensal para tal

    informe. Aps a negociao entre os agentes e o estabelecimento de preo, quantidade e

    tempo, o gerador tem a obrigao de registrar em um ambiente eletrnico controlado pela

    CCEE um contrato que deve ser aprovado pelo consumidor e, at o incio de 2009, pela

    ANEEL. Este deve conter obrigatoriamente os montantes de energia que sero fornecidos

    hora a hora no perodo de vigncia do contrato, o vendedor e o comprador e os seus

    respectivos submercados - Norte, Nordeste, Sudeste/ Centro-Oeste e Sul (PALOMINO,

    2009).

    Ao final do perodo, a CCEE faz um balano entre a quantidade de demanda/oferta

    informada e a contratada. Se houver sobra, o gerador pode estabelecer contratos de curto

    prazo (venda) ou liquidar7 a energia restante no mercado spot ao preo de liquidao das

    diferenas PLD. O consumidor, por sua vez, pagar o valor contratado e liquidar

    positivamente a diferena entre o valor contratado e o consumido8. Se ocorrer a situao

    inversa (falta) o gerador tem a opo de firmar contratos de compra de energia para cumprir o

    contrato, assegurando sua imagem ou liquidar ao PLD, e o consumidor poder comprar no

    curto prazo ou liquidar ao PLD (PALOMINO, 2009).

    A figura 3 sintetiza o processo de comercializao de eletricidade no ambiente de

    contratao livre e no regulado, demonstrando os principais procedimentos para atuar nesses

    mercados.

    6 Informao fornecida por Nisihida, M., em Ribeiro Preto, 2009.

    7 Processo de pagamento e recebimento de dbitos (obrigaes) e crditos (direitos) apurados no mbito da

    CCEE referentes compra e venda de energia eltrica no mercado de curto prazo. 8 No permitido que o consumidor venda a sobra por meio de contratos bilaterais de curto prazo.

  • 42

    Fonte: CCEE (2009); PALOMINO (2009).

    Figura 3: Processo de comercializao de energia eltrica ACR e ACL

    Utiliza bioeletricidade

    na usina

    Produz

    bioeletricidade

    Comercializo?

    sim

    no

    Escolhe

    Ambiente

    Associa-se a CCEE

    Informa montante de

    energia a ser

    comercializado

    Negocia contratos

    bilateralmente

    Registra contrato

    bilateral na CCEE

    Participa de leilo reverso

    organizado pelo governo

    Firma contrato de

    comercializao de energia

    eltrica no ambiente regulado

    (CCEAR)

    Comercializo

    no ACR? Comercializo

    no ACL?

    sim sim

    no

    Conecta-se rede de

    distribuio

    Escoa bioeletricidade

    Escoa bioeletricidade FIM

    FIM

    INCIO

    Conecta-se rede de

    distribuio

  • 43

    No que diz respeito comercializao de energia eltrica no ambiente de contratao

    livre, o decreto 2.003 e as resolues normativas n. 281/1999 e n. 109/2004 foram marcos

    decisivos para que essa forma inovadora de comercializao se tornasse possvel e, por isso, o

    marco regulatrio e as leis envolvidas sero mais bem detalhados a seguir.

    2.2.2 Decreto n. 2.003 de 10 de setembro de 1996

    Em 10 de setembro de 1996, foi promulgado o decreto n 2.003. Este, dentro do ACL,

    definiu dois tipos de produtores de energia: o Autoprodutor (AP) e o Produtor Independente

    de Energia (PIE) (figura 4), sendo que enquanto este produz e comercializa energia eltrica

    regularmente, aquele produz para consumo prprio e, esporadicamente, devido ao excedente

    de produo, realiza a venda de energia.

    Fonte: Brasil, 1996

    Figura 4: Tipos de produtores de energia e transaes regulamentadas pelo decreto n. 2.003

    De acordo com o artigo dois deste decreto, considera-se Autoprodutor de energia a

    pessoa fsica ou jurdica ou empresas reunidas em consrcio que recebam concesso ou

    autorizao para produzir energia eltrica destinada ao seu uso exclusivo. Este eventualmente

    pode comercializar os excedentes de produo. Por outro lado, o produtor independente de

    energia eltrica (PIE) consiste em pessoa jurdica ou empresas reunidas em consrcio que

    recebem concesso ou autorizao para produzir energia eltrica destinada ao comrcio de

    Consumidores livres de eletricidade

    Outros produtores de energia

    Qualquer consumidor que no tem distribuidora local que

    lhe assegure o fornecimento de eletricidade

    Consumidores de eletricidade integrantes do

    complexo industrial ou comercial

    Distribuidoras de servio pblico de eletricidade

    PRODUTOR

    INDEPENDENTE (PIE)

    USINA

    AUTOPRODUTOR (AP)

    Comercializadores de eletricidade

  • 44

    toda ou parte da energia produzida. Vale ressaltar que, a implantao de uma usina

    termeltrica, com potncia superior a 5.000 KW, tanto por AP quanto por PIE, depende de

    autorizao do rgo governamental responsvel.

    A fim de permitir a plena comercializao da energia produzida, o decreto ainda

    assegurou, por meio do Art. 13, o livre acesso aos sistemas de transmisso e de distribuio

    de concessionrios e permissionrios de servio pblico de energia eltrica, mediante o

    ressarcimento do custo de transporte envolvido.

    O Art. 16 definiu que tanto o AP quanto o PIE estaro sujeitos, do momento que

    iniciarem a comercializao de eletricidade, aos seguintes encargos: compensao financeira

    pelo aproveitamento de recursos hdricos para fins de gerao de energia eltrica; taxa de

    fiscalizao dos servios de energia eltrica e quotas mensais da "Conta de Consumo de

    Combustveis - CCC", subconta Sul/Sudeste/Centro-Oeste ou subconta Norte/Nordeste.

    Ao analisar esse decreto pela tica de um dos pressupostos bsicos da teoria dos custos

    de transao, a especificidades do ativo, se faz necessrio explorar os artigos 19 e 20.

    Basicamente eles estabelecem que os bens e instalaes utilizados na produo de energia

    eltrica a partir do aproveitamento de potencial hidrulico e as linhas de transmisso

    associadas, no podero ser removidos ou alienados sem prvia e expressa autorizao do

    rgo regulador e fiscalizador do poder concedente.

    Estipula ainda que no caso de inadimplncia do PIE ou AP, poder o poder concedente

    autorizar a declarao de caducidade ou a transferncia do contrato de concesso ou da

    autorizao a qualquer interessado que atenda aos requisitos de qualificao tcnica e

    econmico-financeira, previstos no edital da licitao ou no ato autorizativo. Nesse caso, no

    ser devida indenizao dos investimentos realizados, assegurando se, porm, ao PIE ou AP a

    remoo das instalaes.

    Para a comercializao de bioeletriciade no ACL, os artigos 23 e 24 tm importncia

    destacada, pois definiram quais consumidores o PIE9 (classificao em que se enquadra a

    maioria das usinas), pode negociar. So eles:

    I - concessionrio ou permissionrio de servio pblico de energia eltrica;

    II - consumidores de energia eltrica nas condies estabelecidas nos artigos 15

    (consumidores com carga igual ou maior que 10.000 KW, atendidos em tenso igual ou

    superior a 69 KV) e 16 (novos consumidores, cuja carga seja igual ou maior que 3.000

    KW, atendidos em qualquer tenso) da Lei n 9.074, de 1995;

    9 Vale lembrar que essas especificaes de consumidores finais vm sofrendo alteraes ao longo dos anos.

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    III - consumidores de energia eltrica integrantes de complexo industrial ou comercial,

    aos quais fornea vapor ou outro insumo oriundo de processo de cogerao;

    IV - conjunto de consumidores de energia eltrica, independentemente de tenso e

    carga, nas condies previamente ajustadas com o concessionrio local de distribuio;

    V - qualquer consumidor que demonstre ao poder concedente no ter o concessionrio

    local lhe assegurado o fornecimento no prazo de at 180 dias, contado da respectiva

    solicitao.

    Contudo, segundo Souza (2003), a possibilidade de comercializao da energia

    eltrica, principalmente para consumidores livres, era dependente da regulamentao do

    acesso dos PIE a redes de distribuio. A no regulamentao permitia a continuidade do

    exerccio de um poder de monopsnio das distribuidoras locais sobre os PIEs

    sucroenergticos (SOUZA, 2003, p.129).

    2.2.3 Resoluo Normativa n 281/1999 e n 109/2004

    Devido s deficincias do decreto n 2.003, apenas a comercializao com a

    distribuidora local vigorava (SOUZA, 2004). Foi s a partir da Resoluo n 281 da ANEEL

    que se estabeleceram condies para venda direta entre usinas e consumidores livres,

    regulamentando, assim, as condies de contratao do acesso, compreendendo o uso e a

    conexo, aos sistemas de transmisso e distribuio de energia eltrica.

    Essa normativa estipulou que, em suma, o Operador Nacional do Sistema Eltrico

    ONS dever: elaborar as instrues e procedimentos para as solicitaes e processar os

    pedidos de acesso ao sistema de transmisso, efetuar avaliaes de viabilidade tcnica dos

    requerimentos de acesso, fornecer aos interessados toda a informao a eles pertinente;

    estabelecer, em conjunto com as partes interessadas, as responsabilidades concernentes do

    acesso ao sistema de transmisso; celebrar em nome das empresas de transmisso os contratos

    de uso do sistema e firmar, como interveniente, os contratos de conexo, encaminhando os de

    uso para homologao da ANEEL.

    As concessionrias do servio pblico de transmisso, segundo o artigo quarto,

    devero: propiciar o relacionamento comercial com o usurio, relativo ao uso dos sistemas de

    transmisso e conexo nas suas instalaes, recebendo e encaminhando as solicitaes ao

    ONS; negociar e celebrar, com intervenincia do ONS, os contratos de conexo com os

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    usurios que venham conectar-se em suas instalaes, encaminhando-os ANEEL para

    homologao e executar as providncias de sua competncia, necessrias efetivao do

    acesso requerido.

    Por fim, os usurios dos sistemas de transmisso ou de distribuio devero solicitar o

    seu acesso aos mesmos junto ao ONS e concessionria ou permissionria de distribuio, de

    posse dos dados e informaes necessrias avaliao tcnica do acesso. Cabe a eles tambm

    celebrar, conforme o caso, os contrat