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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE DO ADULTO COM ÊNFASE EM DOENÇAS CRÔNICO-DEGENERATIVAS CAMILLE QUARTEROLI MACHADO AVALIAÇÃO DA MASSA MUSCULAR POR DIFERENTES METODOLOGIAS PARA IMPLEMENTAÇÃO DE UM PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO DA SARCOPENIA DE IDOSOS EM ATENDIMENTO AMBULATORIAL JUIZ DE FORA 2020

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE DO ADULTO

COM ÊNFASE EM DOENÇAS CRÔNICO-DEGENERATIVAS

CAMILLE QUARTEROLI MACHADO

AVALIAÇÃO DA MASSA MUSCULAR POR DIFERENTES METODOLOGIAS PARA

IMPLEMENTAÇÃO DE UM PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO DA SARCOPENIA DE

IDOSOS EM ATENDIMENTO AMBULATORIAL

JUIZ DE FORA

2020

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CAMILLE QUARTEROLI MACHADO

AVALIAÇÃO DA MASSA MUSCULAR POR DIFERENTES METODOLOGIAS PARA

IMPLEMENTAÇÃO DE UM PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO DA SARCOPENIA DE

IDOSOS EM ATENDIMENTO AMBULATORIAL

Trabalho de Conclusão de Residência apresentado à

Comissão de Residência Multiprofissional e Área

Profissional da Saúde da Universidade Federal de Juiz

de Fora como requisito à obtenção do título de

Especialista em Saúde do Adulto com Ênfase em

Doenças Crônico Degenerativas.

Orientador: Mário Flávio Cardoso de Lima

Coorientadora: Ana Paula Boroni Moreira

JUIZ DE FORA

2020

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CAMILLE QUARTEROLI MACHADO

AVALIAÇÃO DA MASSA MUSCULAR POR DIFERENTES METODOLOGIAS PARA

IMPLEMENTAÇÃO DE UM PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO DA SARCOPENIA DE

IDOSOS EM ATENDIMENTO AMBULATORIAL

Trabalho de Conclusão de Residência apresentado à

Comissão de Residência Multiprofissional e Área

Profissional da Saúde da Universidade Federal de Juiz

de Fora como requisito à obtenção do título de

Especialista em Saúde do Adulto com Ênfase em

Doenças Crônico Degenerativas.

Aprovado em:

JUIZ DE FORA

2020

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RESUMO

Introdução: Agravos que transcendem o processo fisiológico do envelhecimento, como a

sarcopenia, apresentam alta prevalência e possibilidade de desfechos negativos em idosos.

Atualmente, a sarcopenia tem uma nova categorização, compreendendo desde o risco à

gravidade. Para diagnóstico, os métodos de imagem utilizados para avaliação da composição

corporal e a bioimpedância elétrica (BIA) não são acessíveis e práticos. Contudo, existem

equações que estimam a massa muscular esquelética e apresentam boa correlação com o padrão

ouro (DEXA: absorção de raios-X de dupla energia). Objetivo: Avaliar o perfil nutricional e a

correlação dos parâmetros antropométricos e força muscular com a composição corporal em

idosos atendidos no Ambulatório de Nutrição do Centro de Atenção Secundária (CAS) do

Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF). Metodologia:

Estudo transversal, de amostra não probabilística, obtida por conveniência, com utilização de

dados secundários. Foram coletados dados clínicos, antropométricos e de BIA. Estimou-se a

massa muscular esquelética a partir da BIA e de dados antropométricos e, a força muscular

avaliada pela dinamometria. Resultados e Discussão: As variáveis de força, massa muscular e

antropometria apresentaram associação, o que possibilita uma avaliação ampla do estado

nutricional do idoso. As medidas de massa muscular pelas equações não apresentaram diferença.

Quando comparados os métodos, as massas e índices musculares correlacionaram-se. Foi

proposto um protocolo para identificação e manejo da sarcopenia em idosos ambulatoriais.

Conclusão: A estimativa da massa muscular esquelética por variáveis antropométricas facilita o

monitoramento do estado nutricional. O protocolo proposto apresenta-se como uma ferramenta

acessível de verificação precoce do risco e presença de sarcopenia.

Palavras-chave: sarcopenia, idoso, massa muscular, força muscular.

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ABSTRACT

Introduction: Diseases that transcend the physiological process of aging, such as sarcopenia,

have a high prevalence and the possibility of negative outcomes in the elderly. Currently,

sarcopenia has a new categorization, ranging from risk to severity. For diagnosis, the imaging

methods used to assess body composition and electrical bioimpedance (BIA) are not accessible

and practical. However, there are equations that estimate skeletal muscle mass and have a good

correlation with the gold standard (DEXA: Dual-energy X-ray Absorptiometry). Objective: To

evaluate the nutritional profile and the correlation of anthropometric parameters and muscle

strength with body composition in the elderly treated at the Nutrition Clinic of the Secondary

Care Center (CAS) of the University Hospital of Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-

UFJF). Methodology: Cross-sectional study, with a non-probabilistic sample, obtained by

convenience, using secondary data. Clinical, anthropometric and BIA data were collected.

Skeletal muscle mass was estimated from BIA and anthropometric data, and muscle strength

assessed by dynamometry. Results and Discussion: The variables of strength, muscle mass and

anthropometry showed an association, which allows a comprehensive assessment of the

nutritional status of the elderly. The measurements of muscle mass by the equations showed no

difference. When the methods were compared, muscle mass and index correlated. A protocol for

the identification and management of sarcopenia in elderly outpatients has been proposed.

Conclusion: Estimation of skeletal muscle mass by anthropometric variables facilitates the

monitoring of nutritional status. The proposed protocol presents itself as an accessible tool for

early verification of the risk and presence of sarcopenia.

Key words: sarcopenia, muscle mass, elderly, muscle strength.

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SUMÁRIO

RESUMO ....................................................................................................................................... 2

ABSTRACT ................................................................................................................................... 4

SUMÁRIO ..................................................................................................................................... 5

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 6

2.1 Objetivo Geral ......................................................................................................................... 8

2.2 Objetivos Específicos .............................................................................................................. 8

3 METODOLOGIA ...................................................................................................................... 8

4 RESULTADOS .......................................................................................................................... 11

5 DISCUSSÃO ............................................................................................................................. 15

6 CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 20

REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 21

APENDICE...................................................................................................................................27

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1 INTRODUÇÃO

O processo de transição demográfica apresenta uma estreita relação com a mudança dos

padrões de morbimortalidade, que evoluiu com a sobreposição das doenças crônicas não

transmissíveis (DCNT) em relação às doenças transmissíveis, bem como o deslocamento da

carga de morbimortalidade dos mais jovens para os mais idosos, os quais correspondem à parcela

da população que mais faz uso dos serviços de saúde (Chaimowicz et al., 2013; Ibge, 2016).

As alterações fisiológicas da composição corporal inerentes ao processo de envelhecimento

podem ser intensificadas, sendo essencial o conhecimento do estado nutricional para

determinação de parâmetros e prevenção de desfechos desfavoráveis (Menezes e Marucci, 2007;

Santos et al., 2010; Marucci et al., 2013).

Dentre os agravos que transcendem o processo fisiológico, pode ser citada a sarcopenia,

considerada uma doença muscular, com perda de força e massa muscular, acometendo mais de

50% dos idosos acima de 80 anos (Cruz-Jentoft et al., 2019). Apresenta implicação na

funcionalidade muscular, redução da capacidade física, mobilidade, fragilidade, aumento do

número de internações e mortalidade (Santos et al., 2013; Cruz-Jentoft et al., 2019).

Atualmente, a sarcopenia recebeu uma nova categorização, compreendendo desde o risco à

gravidade. Níveis estes que são mensurados com a utilização de questionários, sinais e sintomas

clínicos que identificam o risco, sua provável ocorrência com a aplicação de métodos que

analisam a função muscular, ferramentas de avaliação da composição corporal que avaliam a

presença da doença e de desempenho para identificar a gravidade (Cruz-Jentoft et al., 2019).

Os métodos utilizados para avaliação da composição, como a tomografia

computadorizada, ressonância magnética e densitometria por dupla emissão de raios-X (DXA),

não estão disponíveis em todos os níveis e sistemas de saúde. A bioimpedância elétrica (BIA),

apesar de ser mais acessível que os citados, em determinados locais, principalmente em nível de

sistema único de saúde (SUS), apresenta fatores dificultadores para sua aplicação, devido custos,

tempo dispensado para realização e preparo para o teste (Cruz-Jentoft et al., 2019; Parra et al.,

2019).

Contudo, equações que estimam a massa muscular esquelética com dados

antropométricos de fácil obtenção e pouco onerosos vêm sendo estudadas, apresentando boa

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correlação com o DEXA (absorção de raios-X de dupla energia), considerado hoje o método

padrão hoje para essa avaliação (Gobbo et al., 2008; Rech et al., 2012)

São escassos os estudos que utilizem métodos práticos e simplificados para avaliar o estado

nutricional, envolvendo a análise da massa e função muscular. No entanto, com a nova diretriz

do consenso europeu, as formas de investigação e categorização de sarcopenia tornaram-se mais

simplificadas (Cruz-Jentoft et al., 2019; Parra et al., 2019).

Considerando o processo de transição demográfica no Brasil, e a consequente tendência do

aumento do número de agravos à saúde relacionados aos idosos, faz-se necessário conhecer as

amostras populacionais e estabelecer protocolos de identificação e manejo de alterações

nutricionais, com o propósito de intervir precocemente e garantir que as condutas adequadas

estejam melhor direcionadas a esse público.

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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Avaliar o perfil nutricional e a correlação dos parâmetros antropométricos e força muscular

com a composição corporal de idosos atendidos no Ambulatório de Nutrição do Centro de

Atenção Secundária (CAS) do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora

(HU-UFJF).

2.2 Objetivos Específicos

- Comparar e correlacionar a massa muscular esquelética e o índice de músculo esquelético de

indivíduos obtidos por fórmulas baseadas em bioimpedância elétrica e dados antropométricos;

- Correlacionar as variáveis antropométricas e de força com os valores de massa muscular

esquelética obtida pelas diferentes fórmulas.

3 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo do tipo transversal, de amostra não probabilística, obtida por

conveniência, com utilização de dados secundários de usuários idosos atendidos no Ambulatório

de Nutrição (AMBNUT), encaminhados pela Equipe Multidisciplinar de Geriatria do Centro de

Atenção Secundária (CAS) do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora

(HU-UFJF), no período de dezembro de 2018 a março de 2019. A pesquisa foi elaborada

conforme Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (Brasil, 2013b). A coleta de dados

iniciou-se após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa Humana do HU-UFJF sob o

número 00323518900005133.

Selecionaram-se prontuários dos indivíduos acima de 60 anos atendidos em primeira

consulta no ambulatório de nutrição, logo após serem encaminhados pela equipe da geriatria,

devido a presença de algum risco nutricional. Por meio do Aplicativo de Gestão para Hospitais

Universitários (AGHU), foram selecionados aqueles prontuários que continham informações

completas da avaliação antropométrica, composição corporal (por bioimpedância) e força

muscular. Por meio da mesma ferramenta, também foram coletados os dados demográficos e

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histórico clínico. Foram excluídos da amostra os pacientes que apresentavam dados

antropométricos ou de composição corporal incompletos em prontuário.

Para a avaliação antropométrica, foram analisados a massa corporal, estatura, dobra

cutânea tricipital (DCT) e perímetro do braço relaxado (PB) disponíveis em prontuário.

Assegurou-se que as medidas foram realizadas por profissionais capacitados, seguindo as

recomendações técnicas da Sociedade Internacional para o Avanço da Cineantropometria

(International Society for the Advancement of Kinanthropometry-ISAK) (2011). Por meio da

massa corporal e estatura, obteve-se o Índice de Massa Corporal (IMC), classificado conforme os

pontos de corte propostos por Lipschitz (1994). Com as variáveis DCT e PB calcularam-se a

AGB (Área de Gordura do Braço), PMB (Perímetro Muscular do Braço), AMB (Área Muscular

do Braço) e AMBc (Área Muscular do Braço Corrigida) (Gurney e Jelliffe, 1973; Heymsfield et

al., 1982; Harrison et al., 1988; Frisancho, 1990). As medidas de DCT, PB, PMB foram

classificadas conforme Blackburn e Thornton (1979), utilizando como referência os percentis

propostos pelo NHANES III (Kuczmarski et al., 2000). AMBc e AGB foram classificados com

os percentis estabelecidos por Frisancho (1990).

Também foram coletados via prontuário os resultados dos testes de composição corporal

realizados com o auxílio do aparelho de bioimpedância elétrica (BIA) Biodynamics/Modelo

450®. Devido ao risco nutricional presente, os pacientes encaminhados pela geriatria foram

convidados a realizar o teste de BIA. O exame foi efetuado durante as primeiras consultas,

mediante o cumprimento mínimo do protocolo proposto pelo manual do equipamento

(abstinência de álcool e cafeína, ausência de atividade física intensa 24 horas anteriores ao teste,

jejum mínimo de 4 horas, não portar marcapasso e próteses/órteses metálicas).

Utilizaram-se duas equações para se estabelecer o valor de massa muscular esquelética

(MME) em quilogramas (kg) e, consequentemente, do índice muscular esquelético (IME), dado

pela massa muscular em kg, dividida pela estatura em metros elevada ao quadrado. A primeira,

utilizando-se variáveis demográficas e fornecidas pela BIA, representada pela seguinte fórmula:

[MME (kg) = (Est2/R x 0,401) + (sexo x 3,825) + (idade x -0,071) + 5,102]

sendo Est a estatura em centímetros; R a resistência da BIA em ohms; para sexo, homem = 1 e

mulher = 0; e idade em anos (Janssen et al., 2000). A segunda equação, além das variáveis

demográficas, baseou-se no uso de variáveis antropométricas, independente da BIA, fornecida

pela fórmula:

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[MME (kg) = (0,244 x MC) + (7,8 x Est) + (6,6 x sexo) – (0,098 x idade) + (etnia – 3,3)]

sendo MC a massa corporal em kg, Est a estatura em metros; para sexo, homem = 1 e mulher =

0; idades em anos; etnia asiática = 1,2; etnia afro-descendente = 1,4; etnia caucasiana = 0 (Lee et

al., 2000).

Considerou-se como ponto de corte para critério de avaliação de presença de sarcopenia

os valores estabelecidos pelo Consenso Europeu de Sarcopenia (Cruz-Jentoft et al., 2019). A

força muscular foi avaliada por meio do teste de preensão palmar, com auxílio de um

dinamômetro hidráulico manual, Saehan®/Modelo SH5001. A medida foi obtida com o paciente

sentado, joelhos e cotovelos flexionados em 90°, antebraço junto ao corpo e pés apoiados no

chão, realizando contração de intensidade máxima por 3 segundos, com descanso de 15

segundos. As medidas foram realizadas em triplicata, sendo considerado o maior valor obtido do

membro dominante para determinação de possível ocorrência de sarcopenia (Cruz-Jentoft et al.,

2019; Parra et al., 2019).

As análises estatísticas foram conduzidas utilizando-se o software SPSS®, versão 2.0. As

estatísticas descritivas foram apresentadas na forma de média (desvio-padrão). Considerou-se o

conceito do “Teorema Central do Limite” para utilização de testes paramétricos (Alves, 2016).

Para comparação das variáveis entre os sexos utilizou-se o teste t para amostras independentes,

enquanto que para comparação dos resultados de IME calculado por duas diferentes fórmulas

utilizou-se o teste t para amostras pareadas. Para comparação entre os valores médios de MME e

IME calculados por ambas as fórmulas entre os indivíduos classificados conforme o IMC

utilizou-se a Análise de Variância com teste post hoc de Tukey. A correlação entre as variáveis foi

verificada pelo Teste de Correlação de Pearson. Para todas as análises considerou-se um p<0,05

para significância.

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4 RESULTADOS

A amostra constituiu-se por 39 idosos, com idade média de 68,21(6,43) anos. Deste total,

43,6% pertenciam ao sexo masculino (n=17) e 56,4% ao sexo feminino (n=22). Dentre as

doenças mais prevalentes, observou-se a ocorrência de doenças crônicas não transmissíveis

(DCNT), como a hipertensão arterial sistêmica (HAS), doenças cardiovasculares (DCV),

dislipidemia, diabetes mellitus tipo 2, além de distúrbios osteomusculares, como artrose,

osteoartrose, hérnia de disco, osteoporose, osteopenia, fibromialgia e reumatismo. Considerou-se

polifarmácia os casos em que se fazia a utilização de cinco ou mais medicamentos (Nascimento

et al., 2017), verificando ocorrência de 69,23%, com consumo variando de 5 a 14 medicamentos

por dia. Os resultados das caracterizações citadas encontram-se na tabela 1.

Tabela 1. Idade, sexo, polifarmácia e comorbidades da amostra dos idosos atendidos nos

Ambulatórios de Nutrição.

Variáveis Amostra Total Mulheres Homens

n=39 (100%) n=22 (56,4%) n=17 (43,6%)

Idade

(anos)(desvio padrão) 68,21 (6,43) 66,73 (6,26) 70,12 (6,31)

Polifarmácia n(%) 27 (69,23%) 15(68,2%) 12(70,6%)

Comorbidades n(%)

HAS 30 (76,9%) 17 (43,6%) 13 (33,3%)

Outras DCV 8 (20,5%) 5 (12,8%) 3 (7,7%)

Dislipidemia 22 (56,4%) 13 (33,3%) 9 (23,1%)

Diabetes 21 (53,8%) 13 (33,3%) 9 (23,1%)

Osteomusculares 16 (41%) 10 (25,6%) 6 15,4%)

Tireoide 8 (20,5%) 8 (20,5%) 0 (0%)

Depressão 6 (15,4%) 4 (10,2%) 2 (5,2%)

DRC 3 (7,7%) 1 (2,6%) 2 (5,2%)

HAS (hipertenão arterial sistêmica), DCV (doenças cardiovasculares), DRC (doença renal crônica).

A partir da análise dos resultados antropométricos, pôde-se verificar que o IMC

apresentou média de 30,46(7,86)kg/m2, com valores mínimo e máximo de 14,87 e 45,76 kg/m2,

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respectivamente. Além disso, 69,2% (n=27) dos indivíduos tinham excesso de peso. As medidas

antropométricas referentes à adiposidade apresentaram maiores percentuais de inadequações

relacionadas ao excesso, quando comparada aos déficits, como PCT e AGB. Menores percentuais

de inadequações das medidas relativas às reservas musculares foram observados. A classificação

das medidas antropométricas encontra-se na tabela 2.

Observaram-se maiores médias de PCT (24,90 mm) e AGB (39,37 cm2) para as mulheres.

As demais variáveis antropométricas não diferiram entre os sexos (Tabela 3). Quanto à avalição

da força muscular, o teste de força de preensão palmar (FPP) revelou resultado médio de

28,45(8,22)kgf, sendo mais elevado no grupo dos homens, 34,09(7,82) kgf. Apenas 10,3% (n=4)

dos indivíduos apresentaram provável sarcopenia ao considerar os pontos de corte estabelecidos

pelo novo consenso europeu de sarcopenia (Cruz-Jentoft et al., 2019).

Em relação à composição corporal, o valor médio da MME pelas fórmulas propostas por

Janssen et al. (2000) e por Lee et al. (2000) foram, respectivamente, de 23,24(6,48)kg e

24,76(7,10)kg e do IME de 9,06(1,89)kg/m2 e 9,67(2,24)kg/m2. Segundo os pontos de corte

estabelecidos pelo consenso europeu de sarcopenia (Cruz-Jentoft et al., 2019), apenas 5,1%

(n=2) da amostra foi classificada com presença de sarcopenia através do IME e 10,3% (n=4) pela

MME, obtidos pela fórmula de Janssen et al. (2000). Através da fórmula de Lee et al. (2000),

foram observados 7,7% (n=3) pelo IME e 10,3% (n=4) pela MME. Não foram observadas

diferenças entre os valores médios de MME e IME calculados por ambas as fórmulas, contudo,

foi observada correlação positiva entre esses valores calculados pelas diferentes metodologias

(Figura 1). Quando comparado entre os sexos, MME e IME, através das duas fórmulas,

mostraram-se mais elevados no grupo dos homens (Tabela 3). As médias da MME e do IME

calculados por ambas as fórmulas foram maiores entre os indivíduos classificados com excesso

de peso em comparação com os indivíduos desnutridos ou com eutrofia.

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Figura 1. Correlações entre os valores de MME e IME obtidas por diferentes metodologias.

Tabela 2. Adequações das medidas antropométricas da amostra de idosos atendidos nos

Ambulatórios de Nutrição.

Variáveis Adequações % (n)

IMC

Eutrofia 12,8% (5)

Magreza 17,8% (7)

Sobrepeso 69,2% (27)

PB

Eutrofia 35,9% (14)

Desn.L/M/G 20,6% (8)

Sobrepeso/Obesidade 43,6% (17)

PCT

Eutrofia 15,4% (6)

Desnutrição L/M/G 41% (16)

Sobrepeso/Obesidade 43,6% (17)

PMB

Eutrofia 79,5% (31)

Desnutrição L/M/G 20,5% (8)

AMBc

Normal 79,5% (31)

Desnutrição L/M/G 20,5% (8)

AGB

Eutrofia 53,8% (21)

Depleção E/P 20,5% (8)

Obesidade 25,6% (10) IMC: Índice de Massa Corporal, PB: Perímetro do Braço, Desnutrição L/M/G: Desnutrição Leve, moderada e grave,

Depleção E/P: Depleção das reservas energéticas e proteicas, PCT: Prega Cutânea Tricipital, PMB: Perímetro

Muscular do Braço, ABMc: Área Muscular do Braço corrigida, AGB: Área de Gordura do Braço.

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Tabela 3. Média e desvio padrão das avaliações antropométrica, composição corporal e força

muscular da amostra de idosos atendidos nos Ambulatórios de Nutrição.

Amostra Total Mulheres Homens

Variáveis n=39 n=22 n=17

100% 56,40% 43,60%

Antropometria

Massa corporal (kg) 77,26(20,78) 74,39(19,52) 80,98(22,34)

Estatura (m) 1,59(0,08) 1,54(0,05)* 1,65(0,07)*

IMC (kg/m2) 30,46(7,86) 31,37(8,48) 29,28(7,06)

PB (cm) 32,80(6,36) 33,76(6,60) 31,56(6,00)

PCT (mm) 19,66(10,97) 24,90(10,87)* 12,88(6,65)*

PMB (cm) 26,63(4,13) 25,94(3,80) 27,51(4,47)

AMB (cm2) 57,77(17,24) 54,68(15,62) 61,77(18,86)

AMBc (cm2) 49,75(16,96) 48,18(15,62) 51,77(18,86)

AGB (cm2) 31,02(19,95) 39,37(20,82)* 20,23(12,54)*

Composição Corporal

MME Janssen (kg) 23,25(6,48) 19,28(3,63)* 28,38(5,74)*

IME Janssen (kg/m2) 9,06(1,89) 8,13(1,57)* 10,28(1,58)*

MME Lee (kg) 24,76(7,10) 20,97(5,08)* 29,68(6,35)*

IME Lee (kg/m2) 9,67(2,24) 8,83(2,14)* 10,76(1,94)*

Força de preensão palmar (kgf) 28,45(8,22) 24,09(5,49)* 34,09(7,82)*

* Diferença estatisticamente significativa dos valores médios entre os sexos (p<0,05).

IMC: Índice de Massa Corporal, PB: Perímetro do Braço, PCT: Prega Cutânea Tricipital, PMB: Perímetro Muscular

do Braço, AMB: Área Muscular do Braço, AMBc: Área Muscular do Braço corrigida, AGB: Área de Gordura do

Braço, MME: Massa Muscular Esquelética, IME: Índice Muscular Esquelético.

Na tabela 4, estão representadas as correlações entre as variáveis antropométricas e de

força com os índices de massa muscular. Observou-se correlação de todas as variáveis analisadas

na tabela, com o IME, exceto de PCT e AGB, com o IME obtido com os dados da BIA.

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Tabela 4. Correlações entre os índices de massa muscular com as variáveis antropométricas, de

composição corporal e força.

Variáveis IME J IME L

IMC 0,571 (<0,001) 0,815 (<0,001)

PB 0,565 (<0,001) 0,769 (<0,001)

PCT 0,090 (0,582) 0,397 (0,012)

PMB 0,794 (<0,001) 0,854 (<0,001)

AMB 0,788 (<0,001) 0,843 (<0,001)

AMBc 0,741 (<0,001) 0,812 (<0,001)

AGB 0,184 (0,261) 0,481 (<0,01)

FPP 0,464 (<0,010) 0,464 (<0,010) IMC (índice de massa corporal), PB (perímetro do braço), PCT (prega cutânea triciptal), PMB (perímetro muscular

do braço), AMB (área muscular do braço), AMBc (área muscular do braço corrigida), AGB (área de gordura do

braço), FPP (força de preensão palmar), IMEJ (Índice Muscular Esquelético com dados da bioimpedância), IMEL

(Índice Muscular Esquelético com dados da antropometria)

5 DISCUSSÃO

A alteração da composição corporal no processo de envelhecimento é caracterizada por

diminuição na massa muscular e redistribuição do tecido adiposo. A sarcopenia, embora ainda

seja negligenciada, apresenta implicação na funcionalidade muscular, com impactos na

morbimortalidade. Assim, a verificação precoce do risco e da presença de sarcopenia torna-se

fundamental para uma intervenção adequada. No presente estudo, observamos que métodos mais

acessíveis, como a estimativa da massa muscular esquelética por equações preditivas com dados

antropométricos não diferiu de resultados utilizando dados da BIA, apresentando ambos,

correlações com força e demais medidas antropométricas.

As doenças mais prevalentes da amostra estão em consonância com a tendência nacional e

mundial (Lebrão e Duarte, 2003; Brasil, 2011; 2013a; Filha et al., 2015). Lucchetti e

colaboradores (2010) em um estudo envolvendo idosos institucionalizados observaram a HAS

(67,9%) e doenças cardiovasculares (33,4%) acometendo percentuais semelhantes ao encontrado

na amostra, e uma maior proporção de indivíduos do sexo feminino (73,2%), assim como no

presente estudo, uma peculiaridade que vem sendo apresentada na população idosa (Chaimowicz

et al., 2013). Veiga et al (2016), em análise de idosos ambulatoriais, identificaram presença de

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múltiplas condições de saúde, dentre as mais frequentes a HAS (71,4%), doenças

cardiovasculares (46,4%) e o Diabetes Mellitus (39,3%).

A multimorbidade tem se apresentado como uma característica nessa população,

associando-se com piora da qualidade de vida, incapacidade, declínio funcional e dependência,

bem como ao maior risco do uso de polifarmácia, vulnerabilidade aos efeitos adversos dos

medicamentos, dificuldade de adesão terapêutica e internações hospitalares (Fabbri et al., 2015;

Nascimento et al., 2017; Pereira e Rosa, 2018). Observaram-se percentuais de uso de

polifarmácia variando de 18% a 46,5% em pesquisas de base nacional e regionais (Lucchetti et

al., 2010; Silveira et al., 2014; Ramos et al., 2016; Pereira et al., 2017; Marques et al., 2019),

chegando a 66,7% em um estudo com idosos ambulatoriais de uma amostra no Centro-Oeste do

Brasil (Marques et al., 2018). As interações medicamentosas e entre medicamentos e nutrientes

podem influenciar a digestão dos alimentos e absorção de nutrientes, comprometendo o estado

nutricional (Marucci et al., 2013).

As alterações fisiológicas da composição corporal inerentes ao processo de

envelhecimento podem ser intensificadas pelos fatores de risco citados anteriormente, sendo

crucial o conhecimento do estado nutricional para determinação de parâmetros (Menezes e

Marucci, 2007; Santos et al., 2010; Marucci et al., 2013). Dentre os agravos que transcendem o

processo fisiológico, pode ser citada a sarcopenia, considerada uma doença muscular, com perda

de força e massa muscular (Cruz-Jentoft et al., 2019).

A maioria dos indivíduos apresentou inadequações no IMC, com maior percentual de

excesso de peso (69,2%). Este resultado apresenta concordância com as mudanças no estado

nutricional analisadas nos inquéritos brasileiros desde a década de 70, em que se observa desde

então um aumento da frequência de excesso de peso em todas as faixas etárias e um declínio

contínuo do déficit de peso (Brasil, 2010). Não houve distinção no valor médio de massa

corporal e IMC entre os sexos, apesar de outros estudos, como do Projeto SABE (Saúde, Bem-

estar e Envelhecimento), que avaliou idosos residentes no Município de São Paulo, terem

identificado IMC mais elevado em mulheres (Lebrão e Duarte, 2003).

No entanto, o peso corporal apresenta alterações com o decorrer da idade, havendo uma

redução do IMC médio, principalmente, após os 70-75 anos, devido diminuição da massa em

geral, massa muscular e água corporal (Batista et al., 2002). Ainda que o excesso de peso

apresente uma ascensão, há tendência de redução da sua prevalência no público idoso, no qual a

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desnutrição representa forte associação com a morbimortalidade, fazendo-se necessária uma

maior atenção para prevenção de agravos nutricionais (Lebrão e Duarte, 2003; Ibge, 2015).

Além do IMC, outras medidas devem ser utilizadas para complementar a avaliação

antropométrica, pois são métodos acessíveis e não invasivos que fornecem uma avaliação do

estado nutricional, como os indicadores de reserva muscular e adiposa: PB (Perímetro do Braço),

PMB (Perímetro Muscular do Braço), DCT (Dobra Cutânea Tricipital), AMB (Área Muscular do

Braço) e AGB (Área de Gordura do Braço) (Barbosa et al., 2005) e, apresentam tendência de

declínio com o avançar da idade, o que possibilita avaliar a depleção das reservas musculares e

adiposas (Lebrão e Duarte, 2003; Barbosa et al., 2005; Menezes e Marucci, 2007). Menezes e

Marucci (2007) e Lebrão e Duarte (2003) encontram valores semelhantes ao observado nos

idosos da amostra, com DCT e AGB maiores nas mulheres, que tendem a apresentar maior

quantidade de gordura subcutânea.

Ressalta-se que as medidas de CB, PCT e derivadas foram comparadas com percentis

internacionais (Frisancho, 1990; Kuczmarski et al., 2000), devido à falta de estudos

populacionais de escala nacional, os quais seriam mais prudentes para efeito de comparação,

visto as diferenças entre as populações e as próprias transições nutricionais características de

cada população.

Os métodos de imagem utilizados para avaliação da composição corporal considerados

padrão-ouro não são acessíveis para a prática clínica (Cruz-Jentoft et al., 2019). Optou-se em

avaliar a composição corporal pela BIA, ferramenta também recomendada pelo Consenso

Europeu de Sarcopenia (2019) para avaliação da massa muscular esquelética (MME). No

entanto, em determinados serviços de saúde, alguns fatores podem dificultar sua aplicação. Por

isso a importância de lançar mão de fórmulas com dados antropométricos acessíveis para

estimativa da MME.

Rech e colaboradores (2012), ao avaliar idosos de 60 a 81 anos, objetivaram validar

equações preditivas para estimar a MME. A equação proposta por Lee et al. (2000), também

utilizada no presente estudo, não diferiu da quantidade de MME fornecida pela DEXA,

apresentando elevada correlação em ambos os sexos. Resultado semelhante, com a mesma

equação, foi observado em um estudo conduzido por Gobbo et al. (2008) com 131 universitários

brasileiros 18 a 36 anos.

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Ressalta-se que os valores médios da amostra total para MME e IME, fornecidos pela

equação da BIA e pela equação Lee et al. (2000) não apresentaram diferença, o que reforça a

aplicabilidade da fórmula preditiva com dados antropométricos para avaliação da MME,

possibilitando o acompanhamento e identificação precoce da sarcopenia, de forma mais acessível

e com fácil aplicabilidade.

São escassos os estudos que avaliam a prevalência de sarcopenia. Isto pode ser conferido,

em grande parte, à falta de métodos de baixo custo para estimativa da MME e à ausência de

consensos de algoritmos práticos (Rech et al., 2012; Cruz-Jentoft et al., 2019). Porém, o último

consenso de sarcopenia possibilitou um melhor rastreio através de um algoritmo bem definido e

simplificado, com utilização de ferramentas simples para detecção do risco, anterior às etapas de

diagnóstico com métodos mais complexos.

Como forma de avaliar a evidência de sarcopenia, o consenso recomenda a mensuração

da força de preensão palmar, visto que é considerada melhor que a massa muscular para previsão

de resultados adversos, sendo utilizada como parâmetro primário da sarcopenia e apontada como

medida mais confiável da função muscular (Cruz-Jentoft et al., 2019). A amostra apresentou uma

prevalência de 10,3% de provável sarcopenia através da dinamometria. No estudo SABE (2003),

envolvendo idosos do município de São Paulo, os valores médios encontrados para homens e

mulheres foram, respectivamente, de 28,80 e 17,77 kgf, inferiores aos observados na amostra

(34,09 e 24,09 kgf).

Ao prosseguir o algoritmo com a avaliação da MME, observou-se um total de 5,1% de

casos de sarcopenia identificados pela BIA e 7,7% pela fórmula de Lee et al. (2000). O IME foi

mais elevado nos indivíduos com sobrepeso, podendo atribuir um efeito protetor do peso na

ocorrência de sarcopenia, havendo evidências do excesso de peso na redução da mortalidade em

idosos, o que justifica o ajuste nos pontos de corte do IMC (Santos et al., 2013). Santos et al.

(2015) encontrou associação do baixo peso com presença de sarcopenia em uma amostra de

idosos longevos. Probabilidade maior de deterioração funcional e menor índice de massa

corporal foram observados em indivíduos com sarcopenia, visto que a perda de peso é um fator

etiológico para a mesma (Pillatt et al., 2018; Cruz-Jentoft et al., 2019).

Houve correlação das variáveis antropométricas com o IME, exceto de PCT e AGB com

o IME obtido pela BIA. Os IME correlacionaram-se com a força muscular, o que evidencia uma

associação entre a massa muscular com uma medida simples e de fácil mensuração na prática

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clínica e que integra os parâmetros de rastreio propostos para a sarcopenia. Destaca-se que a FPP

pode constatar mudanças no estado nutricional de forma mais precoce do que as medidas

antropométricas, justificando até mesmo sua utilização como parâmetro primário no rastreio da

sarcopenia, anterior à avaliação da massa muscular (Parra et al., 2019).

Considerando a importância do monitoramento das variáveis relacionadas à força e à

massa muscular e sua relação direta com o risco de sarcopenia em idosos, propôs-se a partir dos

resultados deste estudo, um protocolo para identificação e manejo da sarcopenia em idosos

ambulatoriais (APÊNDICE). A ferramenta foi adaptada do consenso europeu de sarcopenia,

utilizando-se dos critérios propostos pelo mesmo. Para identificação dos prováveis casos, sugere-

se a avaliação rotineira da força muscular pela dinamometria, considerada até então a medida

mais confiável para avaliar a função muscular. Esta medida pode ser obtida pelo próprio

profissional ou compartilhada por outros membros das equipes multiprofissionais. Caso o

paciente apresente valores abaixo dos pontos de corte recomendados, a avaliação da MME deve

ser realizada, tanto por dados fornecidos pela BIA, quanto por equações preditivas que utilizem

dados antropométricas, uma vez que o estudo identificou similaridade nos resultados por ambos

os métodos. Ressalta-se que o uso da equação de Lee (2000) é uma metodologia de baixo custo

sendo realizada com dados obtidos na avaliação nutricional de rotina e que exige pouco preparo

do paciente. Havendo a presença da sarcopenia, o indivíduo é encaminhado para

acompanhamento junto a uma equipe multidisciplinar de geriatria. O segmento com outros

profissionais é de extrema importância, visto que a fisioterapia, através dos testes de

desempenho, promove a continuidade do algoritmo, avaliando a gravidade da sarcopenia. Aliado

ao fato da complexidade e manejo do plano terapêutico do idoso sarcopênico, que deve ser

abordado em sua integralidade (Marucci et al., 2013).

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6 CONCLUSÃO

A associação das medidas de composição corporal, força muscular e medidas usuais de

antropometria possibilitam um diagnóstico e acompanhamento nutricional ampliado do idoso,

viabilizam antever agravos nutricionais ou evitam a evolução de quadros já instalados como os

de sarcopenia. A possibilidade de estimativa da MME por variáveis antropométricas torna

acessível a aplicabilidade desse monitoramento e de aplicação do algoritmo proposto para

rastreio da sarcopenia.

A busca por metodologias mais acessíveis pode facilitar não somente a identificação da

sarcopenia, mas também o monitoramento mais frequente de outros agravos à saúde do idoso. O

protocolo de identificação e manejo da sarcopenia com os novos pontos de corte estabelecidos

pelo consenso europeu apresenta-se como potencial ferramenta de verificação precoce do risco e

presença de sarcopenia na avaliação e acompanhamento de idosos ambulatoriais, proporcionando

intervenções precoces, junto a uma equipe multidisciplinar, a fim de garantir que as condutas

adequadas estejam melhor direcionadas a esse público, cursando com um melhor processo de

envelhecimento.

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APÊNDICE

PROTOCOLO PARA IDENTIFICAÇÃO E MANEJO DA SARCOPENIA EM IDOSOS

ATENDIDOS EM AMBULATORIO

FLUXOGRAMA PARA IDENTIFICAÇÃO E MANEJO DO PACIENTE IDOSO COM RISCO

OU PRESENÇA DE SARCOPENIA ATENDIDO NO AMBULATÓRIO DE NUTRIÇÃO DO

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA (HU-

UFJF)

1 PB (Perímetro do Braço), MC (Massa Corporal), Est (Estatura), PCT (Prega Cutânea Tricipital), IMC (Índice de

Massa Corporal), PMB (Perímetro Muscular do Braço), AMB (Área Muscular do Braço), AMBc (Área Muscular do

Braço corrigida)

2 MME (Massa Muscular Esquelética): Determinada pela fórmula de Lee et al. (2000) > [MME (kg) = (0,244 x

MC) + (7,8 x Est) + (6,6 x sexo) – (0,098 x idade) + (etnia – 3,3)], onde MC é a massa corporal em kg, Est é a

estatura em metros; para sexo, homem = 1 e mulher = 0; idades em anos; etnia: 1,2 = asiáticos; 1,4 = afro-

descendente; 0 = caucasianos.

Paciente em consulta no ambulatório de

nutrição, com idade maior ou igual a 60

anos

Aferição das medidas antropométricas

(PB, MC, Est, PCT), obtenção do IMC,

PMB, AMB, AMBc1 para avaliação dos

estado nutricional e acompanhamento a

longo prazo

Aferição da força muscular através do

teste de preensão palmar com

dinamômetro hidráulico

Homem < 27 kgf

Mulher < 16 kgf

SIM NÃO

Permanecer aferindo

força em todas as

consultas de retorno

para acompanhamento

Determinar a MME 2

para verificar presença

de sarcopenia

NÃO SIM

Manter avaliação de

força muscular nos

retornos

- Encaminhar paciente para ambulatório de geriatria para

acompanhamento multidisciplinar

- Definição da severidade da sarcopenia pelos testes de

desempenho da fisioterapia e melhor determinação do

projeto terapêutico

Homem <7,0 kg/m2

Mulher < 5,5 kg/m2