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1 EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DE ITUMBIARA Processo nº: 5281680.85.2013.8.09.0088 SAINT-GOBAIN DISTRIBUIÇÃO DO BRASIL LTDA, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº 03.840.986/0034-64, filial estabelecida na cidade de Uberlândia/MG, na Av. Governador Rondon Pacheco, 500, Bairro Copacabana, Cep: 38.408.343 vem, respeitosamente perante V. Exa., apresentar CONTESTAÇÃO face as alegações apresentadas na Ação Ordinária proposta por ROBSON DOS SANTOS, já qualificado, consoante fatos e fundamentos a seguir aduzidos: DAS ALEGAÇÕES INICIAIS Alega o Autor que teria adquirido produtos da fabricante 1ª Ré CECRISA, junto ao estabelecimento da 2ª Ré, SAINT-GOBAIN, no dia 10/12/2010, no valor de R$ 6.069,68 (seis mil, sessenta e nove reais e sessenta e oito centavos), e que após a instalação do piso, teria verificado divergência em sua tonalidade, não obtendo êxito em sua reclamação formalizada perante as empresas demandadas. Informa que teria já teria buscado solução perante o Procon, porém sem lograr êxito em suas reivindicações. Desta forma, requer indenização por danos morais e materiais.

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EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DE ITUMBIARA

Processo nº: 5281680.85.2013.8.09.0088

SAINT-GOBAIN DISTRIBUIÇÃO DO BRASIL LTDA, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº 03.840.986/0034-64, filial estabelecida na cidade de Uberlândia/MG, na Av. Governador Rondon Pacheco, 500, Bairro Copacabana, Cep: 38.408.343 vem, respeitosamente perante V. Exa., apresentar

CONTESTAÇÃO

face as alegações apresentadas na Ação Ordinária proposta por ROBSON DOS SANTOS, já qualificado, consoante fatos e fundamentos a seguir aduzidos:

DAS ALEGAÇÕES INICIAIS

Alega o Autor que teria adquirido produtos da fabricante 1ª Ré CECRISA, junto ao estabelecimento da 2ª Ré, SAINT-GOBAIN, no dia 10/12/2010, no valor de R$ 6.069,68 (seis mil, sessenta e nove reais e sessenta e oito centavos), e que após a instalação do piso, teria verificado divergência em sua tonalidade, não obtendo êxito em sua reclamação formalizada perante as

empresas demandadas. Informa que teria já teria buscado solução perante o Procon, porém

sem lograr êxito em suas reivindicações.

Desta forma, requer indenização por danos morais e materiais.

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PRELIMINARMENTE

INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA DO JUIZADO ESPECIAL NECESSIDADE DE PROVA PERICIAL

O direito ao contraditório e ampla defesa é garantido na Constituição da República. Assim, para o exercício de tal garantia, mister utilizar-se de todos os meios probantes e legalmente admissíveis, dentre eles a prova pericial para averiguar a existência e origem do alegado defeito no produto adquirido. Cediço que este Juizado Especial ampliou o acesso à justiça, principalmente relacionada às causas de menor complexidade, nos termos do artigo 3º da lei regente da lei n. 9.099/95, sob os pilares dos princípios da informalidade, simplicidade e economia processual. Porém, a controvérsia trazida no presente caso refere-se tão somente ao alegado defeito no produto, sendo que, seria impossível julgar a presente demanda pairando dúvida acerca dos motivos causadores do referido defeito, ou seja, se este teria sido causado pelo manuseio indevido do Autor ou se proveniente da fabricação. Assim, como já dito, para a adequada solução da lide faz-se necessária a perícia técnica, razão pela qual, amparado no artigo 51, inciso II, da Lei nº 9.099/95, deve este Douto Juízo julgar extinto sem exame do mérito o processo, já que o procedimento legal previsto para realização de prova pericial não é admissível em sede deste Juizado Especial. De outro modo, negar-se à Ré o direito de defesa mediante produção da prova pericial, mister para o deslinde da controvérsia, seria violar o direito constitucional ao contraditório e ampla defesa, até porque a propositura da ação em sede de Juizado Especial Cível é opcional para o Autor, mas a presença da Ré como tal é obrigatória, devendo o Juízo atentar para a necessidade de ser garantido o direito de defesa. Indispensável a prova técnica, pois o Autor não soube informar os motivos que causaram o defeito no produto, o que leva a crer que este defeito poderia ter sido provocado pelo manuseio indevido. Neste sentido, manifesta a jurisprudência corroborando a preliminar argüida, cristalizada no julgado abaixo:

“JUIZADO – PROVA COMPLEXA – INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA INDISPENSÁVEL A PROVA PERICIAL FORMAL – PROVA COMPLEXA – INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA DO JUIZADO ESPECIAL EM RAZÃO DA MATÉRIA – INAPLICABILIDADE DO PROCEDIMENTO PREVISTO NA LEI 9099/95 – PROCEDIMENTO EXTINTO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO.1 – Quando se revelar

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verossímil a versão da parte autora, mesmo em se tratando de relação de consumo, mas não trouxer prova inequívoca do fato, não havendo como inverter o ônus da prova e, mesmo que este seja deferido, havendo necessidade de produção de perícia técnica para um justo deslinde da causa, o procedimento previsto na Lei 9099/95 não é aplicável. 2 – Os critérios da celeridade, informalidade, economia processual e simplicidade não podem sobrepor aos princípios constitucionais da ampla defesa, da isonomia e do contraditório, não estando o magistrado autorizado a aplicar o artigo 130 do CPC, considerando despicienda uma prova indispensável. Assim sendo, havendo necessidade de realização de prova pericial, o procedimento previsto na Lei 9099/95 é inadequado, porque foge do critério de menor complexidade, resultando na extinção do processo sem resolução de mérito com base no artigo 51, II da referida Lei.” (1ªTurma Recursal/Divinópolis – Rec. 0223.06.200.772-7 – Rel. José Maria dos Reis. J. 07/05/2007). Boletim nº100

A esta especializada Justiça compete julgar as causas de menor complexidade, assim entendida como ações que não demandem produção de prova pericial, uma vez que a realização deste tipo de prova ofenderia os princípios da Celeridade, Simplicidade e Informalidade. Portanto, indispensável a produção de prova pericial para o deslinde da presente demanda, devendo ser julgado extinto o processo sem resolução de mérito, nos termos do art. 51, inciso II, da Lei nº 9.099/95.

PRELIMINAR DE DECADÊNCIA DO DIREITO DA AUTORA

O Autor adquiriu um bem durável no dia 10/12/2010, tendo ingressado com a presente ação somente em 24/06/2013, ultrapassando o prazo legal para reclamação acerca de vício no produto.

Cumpre ressaltar que não há aos autos qualquer notificação encaminhada às Rés informando o suposto defeito. Assim, conforme dispõe o art. 26, do CDC, caduca em 90 dias o

direito de reclamar o vício nos bens duráveis. Assim, resta claro que foi ultrapassado o prazo decadencial, uma vez que transcorreram mais de 30 (trinta) meses da entrega do produto.

Observe, Excelência, parte do julgado abaixo, cujo inteiro teor está anexo, que confirma a aplicação do prazo decadencial a partir da entrega do produto, conforme dispõe o art. 26ª§1º do CDC:

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“Não há referência nos autos no sentido de haverem as partes ajustado

qualquer prazo futuro para o assentamento do referido piso, pelo que não é

razoável exigir-se do fabricante ou do fornecedor que eles devessem

aguardar a conveniência dos suplicantes em assentá-lo para, então,

fazerem uso do prazo decadencial, na forma estabelecida no parágrafo 3º do

artigo 26 do CDC.

Presume-se, no caso, que o piso, uma vez adquirido, seria assentado

imediatamente após sua entrega, ou em data próxima dela.

...Nestas circunstâncias, não sendo razoável a contagem do prazo

decadencial a partir do momento em que ficar evidenciado o defeito, o dies

a quo do prazo decadencial há de obedecer à regra disposta no parágrafo 1º

do artigo 26 do CDC, ou seja, 60 dias a partir da entrega efetiva do

produto.” (Processo:0148.08.061.231-7. DJ: 29/07/2010)

O julgado acima deixa claro o entendimento sobre o início da contagem do prazo decadencial, sendo o defeito de FÁCIL CONSTATAÇÃO E APARENTE, conforme o presente caso.

Deste modo, mediante os fatos e fundamentos acima expostos, requer a Vossa Excelência, com fundamento no art. 26, §1º do CDC, como base a data da entrega efetiva do produto, seja pronunciada a decadência, com resolução

de mérito, nos termos do artigo 269, IV, do CPC.

MÉRITO

RESTABELECENDO A VERDADE DOS FATOS

Todos os pedidos do Autor devem ser julgados improcedentes em relação à 2ª Ré, tendo em vista que SAINT-GOBAIN cumpriu o contrato firmado pelas partes, tendo prestado um serviço de qualidade ao entregar o produto adquirido pelo Autor dentro do prazo estabelecido.

Nota-se, inclusive, que houve contato direto do Autor com a fabricante CECRISA, demonstrando a ausência de responsabilidade da Saint-Gobain na presente demanda.

Ainda, o fato do produto ter apresentado defeito, e ter sido analisado

pela fabricante CECRISA, não pode ser imputado à qualquer conduta ilícita da SAINT-GOBAIN, de modo que o Autor ter promovido a presente demanda somente em face da fabricante.

Cediço que nas relações de consumo a inversão do ônus da prova é

regra que deve ser observada para facilitar a defesa do consumidor hipossuficiente, conforme dispõe o art. 6º inciso VIII do CDC.

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Mormente, em casos que não envolvam relação de consumo, é ônus da parte autora provar os fatos constitutivos do seu direito, nos termos do art. 333, I do CPC, ônus que a Autora não se desincumbiu.

Nota-se que no presente caso, a responsabilidade é EXCLUSIVA do FABRICANTE, sendo que o Código de Defesa do Consumidor – CDC dispõe, em seu art. 12, que este deve responder independentemente de culpa pelo defeito de fabricação quando o bem não oferecer a utilidade que dele se espera.

Tendo em vista que a fabricante compõe o pólo passivo da presente

demanda, há que se afastar qualquer tipo de responsabilidade da Ré SAINT-GOBAIN quanto ao suposto defeito apresentado, pois não há NEXO DE CAUSALIDADE entre a venda do produto e o alegado vício, uma vez que o Autor recebeu o bem em perfeitas condições.

Desta forma, não há que se falar em ressarcimento de valores por parte da SAINT-GOBAIN, tendo em vista que esta Ré não deu causa aos fatos alegados pelo Autor, mas tão somente entregou o produto adquirido em seu estabelecimento.

Deste modo, requer a Vossa Excelência sejam julgados totalmente improcedentes os pedidos iniciais, devido à ausência e carência de prova, ônus que o Autor não se desincumbiu de provar.

FATO DO PRODUTO RESPONSABILIDADE DO FABRICANTE

O Autor adquiriu um produto de fabricante conhecido, CECRISA, devendo esta empresa ser considerada a única responsável pelos fatos alegados.

Embora tenha sido o produto adquirido na loja da 2ª Ré, SAINT-

GOBAIN, esta não pode ser responsabilizada pelo FATO DO PRODUTO ter apresentado um suposto defeito, que pode ter sido causado pelo uso indevido do consumidor.

Pelo FATO DO PRODUTO responde o fabricante, pois o comerciante

apenas recebe o produto e o repassa para o consumidor, sendo que a 2ª Ré, para comercializar o bem, não faz qualquer tipo de alteração ou modificação no produto.

Aplicando-se ao presente caso, tem-se que o alegado defeito do

produto não existe, pois não foi comprovado por perícia, ou caso exista, é um defeito de fabricação, razão pela qual a 2ª Ré, SAINT-GOBAIN não pode ser responsabilizada por um dano que não deu causa, pois o Autor recebeu o produto em perfeitas condições de uso.

Quanto à responsabilidade EXCLUSIVA do FABRICANTE, o Código de

Defesa do Consumidor – CDC dispõe, em seu art. 12, que este deve responder

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independentemente de culpa pelo defeito de fabricação quando o bem não oferecer a utilidade que dele se espera.

Lado outro, o mesmo diploma atribui a responsabilidade ao

comerciante pelo FATO DO PRODUTO, SOMENTE NOS CASOS EM QUE O FABRICANTE NÃO PUDER SER IDENTIFICADO, ressalvando ainda a hipótese do direito de regresso, segundo o art. 13.

Assim, torna-se RESPONSÁVEL REAL o FABRICANTE pelo FATO DO

PRODUTO que fabrica, pois não há como condenar a Ré por um dano que não deu causa, já que ao FABRICANTE imputa-se todos os pressupostos da responsabilidade civil, quais sejam o defeito, o nexo causal e o dano. Neste sentido leciona Sérgio Cavalieri Filho:

“O comerciante foi excluído em via principal porque ele, como já destacado,

nas relações de consumo em massa, não tem nenhum controle sobre a

segurança e qualidade das mercadorias. Recebe os produtos fechados,

embalados, enlatados, como ocorre, por exemplo, nos super e hipermercados,

nas grandes lojas e departamentos e drogarias, e assim o s transfere aos

consumidores. Em suma, o comerciante não tem poder para alterar nem

controlar técnicas de fabricação e produção.” (Programa de Responsabilidade

Civil, 9ª Ed. 2010, p. 494)

Continua a lição o renomado doutrinador Sérgio Cavallieri Filho, fundamentando a questão sobre a responsabilidade exclusiva do fabricante, citando o Douto Zelmo Denari:

“Ainda que o consumidor tenha adquirido o automóvel da concessionária; o

eletrodoméstico da loja de departamento; o medicamento da drogaria; a

vacina ou agrotóxico do comerciante, deverá postular seus direitos contra o

fabricante do produto, operador econômico que, em via principal, é o

responsável pela reparação dos danos causados aos consumidores.” (Programa

de Responsabilidade Civil, 9ª Ed. 2010, p. 184) (d.g.n)

Observe, Excelência, toda responsabilidade pelo suposto defeito do produto deve ser atribuída exclusivamente ao fabricante, pois o FATO DO PRODUTO não possui qualquer vínculo com o fato da loja Ré ter revendido o mesmo, afinal, ninguém pode ser responsabilizado, ainda que se trate de responsabilidade objetiva, por um defeito a que não deu causa. Neste sentido também manifesta a jurisprudência cristalizada no julgado abaixo:

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - EXPLOSÃO DE BOTIJÃO DE GÁS -

RELAÇÃO DE CONSUMO - RESPONSABILIDADE PELO FATO DO

PRODUTO - APLICAÇÃO DO ART. 12º DO CÓDIGO DE DEFESA DO

CONSUMIDOR - IDENTIFICAÇÃO CLARA DO FABRICANTE -

AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE DO COMERCIANTE. Há uma

diferença fundamental entre a responsabilidade pelo VÍCIO e a

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RESPONSABILIDADE por FATO do produto, que se traduz na evidência da

primeira tratar-se de uma perda patrimonial para o CONSUMIDOR que

normalmente não ultrapassa os limites do valor do próprio produto ou serviço,

ou seja, a RESPONSABILIDADE está in re ipsa. Já na segunda modalidade, a

RESPONSABILIDADE gerada é de maior vulto, pois nos acidentes de

consumo (fato do produto/serviço), os danos materiais podem ultrapassar em

muito o valor dos produtos ou serviços adquiridos, cumulados ainda com a

possibilidade de danos materiais, físicos e morais. (Extinto TAMG, 3ª C.C.,

Ap. 2.0000.00.358107-7/000; Relatora: DES. TERESA CRISTINA DA

CUNHA PEIXOTO; Data do Julgamento: 08/05/2002; Data da Publicação:

18/05/2002)

Tendo em vista que a fabricante do produto compõe o pólo passivo da presente demanda, há que se afastar qualquer tipo de responsabilidade da Ré SAINT-GOBAIN quanto ao suposto defeito apresentado no produto, pois não há NEXO DE CAUSALIDADE entre a venda do produto e o alegado vício, uma vez que o Autor recebeu o bem em perfeitas condições. Neste contexto, importante ressaltar que na relação de consumo para restar configurada a responsabilidade objetiva, é necessário apurar a existência do NEXO CAUSAL. Caso contrário, estar-se-ia condenando uma empresa que nada contribuiu para o alegado defeito no produto, a 2ª Ré não pode ser condenada por um suposto dano que NÃO DEU CAUSA. Assim, resta claro que mesmo nos casos de relação de consumo, a empresa não responde por riscos integrais que sejam oriundos de atitudes totalmente alheias a sua vontade, como no presente caso, não pode ser responsabilizada pelo suposto vício do produto. Seria imprescindível a demonstração de nexo causalidade para haver a configuração da responsabilidade da 2ª Ré, o que resta mais do que evidente que não se verifica no caso em tela, pois o Autor recebeu o produto em perfeitas condições de uso e o alegado defeito somente apareceu após a instalação do produto, pressupondo ser o defeito de fabricação ou uso indevido do bem. Resta claro que para a configuração da responsabilidade, mesmo que objetiva, existe a necessidade de comprovação do nexo causal, O QUE NÃO RESTOU DEMONSTRADO NOS AUTOS EM RELAÇÃO À 1ª RÉ, CONFORME AMPLAMENTE MENCIONADO. Deste modo, requer a Vossa Excelência sejam julgados improcedentes os pedidos autorais, uma vez que é de inteira responsabilidade do fabricante e sua assistência técnica arcar com o suposto defeito do produto.

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DANO MORAL NÃO CONFIGURADO - AUSÊNCIA DE OFENSA A

IMAGEM E HONRA SUBJETIVA

O pedido do Autor no que se refere aos danos morais caracteriza um claro objetivo de se enriquecer ilicitamente, tendo em vista que houve por parte da 2ª Ré, SAINT-GOBAIN, o devido cumprimento do contrato firmado, com a entrega do produto adquirido dentro do prazo e sem qualquer defeito.

Nota-se, inclusive, que houve contato direto do Autor com a fabricante CECRISA, demonstrando a ausência de responsabilidade da Saint-Gobain na presente demanda.

Ainda, nota-se que a Saint-Gobain compareceu à audiência no Procon,

oferecendo inclusive o pagamento de um valor a título de acordo, demonstrando sua boa-fé na resolução do problema enfrentado, o que foi recusado pelo Autor.

A Constituição Federal de 1988, no capítulo que trata dos Direitos e Garantias Fundamentais, no artigo 5º, nos incisos V e X e XXXII, assegura o direito à indenização por dano moral quando violados a honra e a imagem da pessoa, promovendo a defesa do consumidor, o que não é o caso da presente demanda. No entanto, Excelência, o fato do Autor ter adquirido o produto no estabelecimento da 2ª Ré, SAINT-GOBAIN, e esta ter realizado a entrega do mesmo em perfeitas condições, é incapaz de ofender a honra subjetiva ou qualquer atributo da sua personalidade, devendo ser julgado improcedente tal pleito, pois não ultrapassa o dano patrimonial. A narrativa do Autor e as provas carreadas com a inicial não são suficientes e nada provam sobre os supostos danos de ordem moral, pelo fato de não existirem, pois, com uma simples leitura da inicial vê-se que trata-se de mero transtorno ou aborrecimento, sentimentos comuns de quem convive em sociedade.

Neste sentido, a jurisprudência cristalizada no julgado abaixo:

EMENTA: AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - JUNTADA DE DOCUMENTOS

EM GRAU RECURSAL - ART. 397 E 398 DO CPC - IMPOSSIBILIDADE -

DANOS MORAIS - INADIMPLEMENTO CONTRATUAL - NÃO

CONFIGURAÇÃO - FATO QUE CONSISTE EM MERO

ABORRECIMENTO - DEVER DE INDENIZAR NÃO CONFIGURADO. - A respeito da produção de prova documental, doutrina e jurisprudência

adotam entendimento de que "somente os documentos tidos como pressupostos

da causa é que devem acompanhar a inicial e a defesa. Os demais podem ser

oferecidos em outras fases e até mesmo na via recursal, desde que ouvida a

parte contrária e inexistentes o espírito de ocultação premeditada e o propósito

de surpreender o juízo" - Verifica-se que os fatos narrados não configuram

abalo à honra, tampouco representam atentado à dignidade da pessoa

humana, consistindo em mero aborrecimento, tolerável pelo homem

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médio. (APELAÇÃO CÍVEL N° 1.0701.08.244068-9/001 - COMARCA DE

UBERABA RELATOR: EXMO. SR. DES. ELPÍDIO DONIZETTI) (d.g.n.)

Resta claro que a prova do fato cabe a quem alega ter sofrido tal dano, ou seja, o fato alegado e não provado é o mesmo que inexistente, e ainda que se trate de responsabilidade objetiva, não dispensa o Autor de provar os fatos constitutivos de seu direito, sob pena de ofensa ao art. 333, I do CPC.

Compulsando os autos, percebe-se que não há prova do alegado dano moral, pelo simples fato dele não existir! O que existe são apenas alegações lançadas na inicial que não servem de prova para o pleito indenizatório.

O instituto da Responsabilidade Civil não deve ser banalizado ao ponto de conceder uma indenização por dano moral a sentimentos passageiros que não causam alteração psicológica, dor, humilhação, mas que pelo contrário, são sentimentos passageiros, mero aborrecimento e transtorno, oriundos de problemas comuns que estão sujeitos todos que convivem em sociedade.

A 5º Turma Recursal da comarca de Belo Horizonte possui entendimento que corrobora a tese ora apresentada, pois, em inexecução contratual o dano não extrapola a órbita patrimonial. Veja o julgado abaixo da lavra do MM. Juiz EDUARDO VELOSO LAGO:

Lado outro, porém, entendo que não se identifica ofensa aos atributos

personalíssimos da Autora, hábil a ensejar indenização por dano moral,

eis que a controvérsia decorre de inexecução contratual, fato inerente à

vida em sociedade, que não extrapola a órbita de direitos patrimoniais,

acarretando simples aborrecimento e contrariedade.

Certo é que o instituto do dano moral não deve ser banalizado ou desvirtuado

de sua finalidade nobre, consubstanciada na reparação de lesões relevantes aos

atributos personalíssimos do ser humano, cumprindo ao magistrado exercer

juízo de valor criterioso e objetivo em cotejo com a realidade que o circunda,

para aferição de ofensas de cunho imaterial, pautando-se pelo padrão de

sensibilidade do homem médio, depurando-se simples suscetibilidades

individuais. (05ª TURMA RECURSAL CÍVEL DE BELO HORIZONTE,

RECURSO Nº: 9350625.82.2009.813.0024) (d.g.n.)

O entendimento sedimentado da Turma Recursal reflete o mesmo entendimento do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, uma vez que não resta configurada ofensa à dignidade da pessoa humana se não há prova do alegado dano, requisito indispensável para a trilogia da Responsabilidade Civil. Veja o julgado abaixo:

Para que se possa falar em obrigação de indenizar, necessário se faz a

comprovação dos requisitos da responsabilidade civil (art. 927 do CC/02)... O

contratempo enfrentado pelo autor em relação à falta de entrega das

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mercadorias pela ré, não caracteriza, por si só, dano moral indenizável. Da

mesma forma, a busca por outro fornecedor não causa constrangimento ou

impotência capaz de abalar a sua honra... Não é toda situação que provoca

sentimentos de desagrado, desprazer e aborrecimentos correntes no cotidiano,

que faz surgir, no mundo jurídico, o direito à reparação por dano moral.

(Processo: 1.0106.09.045509-3/001(1) DJ: 21/09/2010 DP: 27/10/2010)

(d.g.n.)

Para fazer jus ao dano moral, a lei / jurisprudência são claras e dizem que os mesmos devem ser efetivamente provados, o que não ocorreu no caso em tela, pelo fato de não existirem, pois, com uma simples leitura da inicial, vê-se que se tratar de transtorno e mero aborrecimento do Autor.

Observem, Doutos Julgadores, não há prova nos autos que os fatos alegados teriam repercutido na esfera íntima do Autor, de modo que um suposto defeito no produto adquirido não causa dor, humilhação, perturbação psíquica e ofensa à honra, mas somente transtorno e mero aborrecimento, sentimentos que não ensejam a indenização pretendida por fatos passageiros e facilmente suportados pelo homem médio.

Assim, uma eventual condenação por dano moral caracterizará enriquecimento ilícito do Autor, vez que não ocorreu dano algum e mesmo se houvesse, não haveria falar em indenização sem que haja prova, segundo lições abaixo:

Sem dano pode haver responsabilidade penal, mas não há responsabilidade

civil. Indenização sem dano importaria enriquecimento ilícito;

enriquecimento sem causa para quem a recebesse e pena para quem a

pagasse, porquanto o objetivo da indenização, sabemos todos, é reparar o

prejuízo sofrido pela vítima, reintegrá-la ao estado em que se encontrava

antes da prática do ato ilícito. E, se a vítima não sofreu nenhum prejuízo, a

toda a evidência, não haverá o que ressarcir. Daí a afirmação, comum

praticamente a todos os autores, de que o dano não é somente o fato

constitutivo mas, também, determinante do dever de indenizar.” (Programa de

Responsabilidade Civil, 2010, p. 91) (d.g.n.)

O dever de indenizar não decorre, pois, das simples alegações lançadas na peça de ingresso. É preciso averiguar, em cada caso concreto, a existência de dano efetivo.

Não se mostra viável admitir, diante desse contexto, que o Autor tenham experimentado qualquer sentimento anormal, esses rotineiros em qualquer relação de consumo.

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Conforme discorrido, o suposto defeito no produto, causado pelo uso indevido do Autor, mesmo na remota hipótese de ser considerado, não é capaz de ensejar danos morais, motivo pelo qual os pedidos iniciais devem ser julgados improcedentes.

DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto, requer a Vossa Excelência, seja acatada a preliminar de INCOMPETÊNCA DO JUIZADO ESPECIAL, julgando extinto o

processo sem resolução de mérito, nos termos do art. 51, II da Lei n. 9.099/95. Caso seja ultrapassada a preliminar supracitada, requer a Vossa

Excelência seja acatada a preliminar de DECADÊNCIA, com fulcro no art. 26 §1º do

CDC, com base na data efetiva da entrega dos produtos, julgando o processo com resolução de mérito nos termos dos artigos 269, IV do CPC.

A título de argumentação, caso seja ultrapassada a preliminar argüida,

quanto ao mérito requer sejam JULGADOS TOTALMENTE IMPROCEDENTES OS PEDIDOS INICIAIS quanto à 2ª Ré, SAINT-GOBAIN, pois a inteira responsabilidade pela reparação do suposto defeito do produto é exclusiva da fabricante, não havendo que se falar em indenização por danos morais e materiais, por não haver prova dos mesmos e ofensa à dignidade da pessoa humana do Autor.

Nestes termos, Requer deferimento. Belo Horizonte, 04 de julho de 2013. NORMA SUELI MENDES ROCHA LEANDRO MANHÃ ZAMPIER LACERDA

OAB/MG 49.323 OAB/MG 99.095

FABIO GONÇALVES JÚNIOR OAB/GO 36.743