14
PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA FEDERAL SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE MATO GROSSO JUÍZO DA PRIMEIRA VARA Processo nº : 2008.36.00.018039-5 Prisão Preventiva Requerente : Ministério Público Federal DECISÃO Trata-se de pedido de PRISÃO PREVENTIVA formulado pelo Ministério Público Federal em desfavor de RAIMUNDO ZANON, SALETE TEREZINHA MALAGURTI ZANON, ANA CARMEN VIANA VIDAL, ANILDO BRÁZ DO ROSÁRIO, ANTONIO REGINALDO GALDINO DELGADO, SEBASTIÃO PEREIRA CAJANGO, MARCOS ANTÔNIO ROCHA E SILVA, MANOEL JOAQUIM DA SILVA FILHO, JOÃO BOSCO DE MORAIS, JOSÉ GAGLIARDI NETO e DJALMA RODRIGUES PORTO, todos devidamente qualificados nestes, com suporte no artigo 312 do CPP, tudo sob o fundamento de que a constrição cautelar é imprescindível 1/14

01 dec. p. preventiva incra-juvimará

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: 01 dec. p. preventiva incra-juvimará

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL

SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE MATO GROSSO

JUÍZO DA PRIMEIRA VARA

Processo nº : 2008.36.00.018039-5

Prisão Preventiva

Requerente : Ministério Público Federal

DECISÃO

Trata-se de pedido de PRISÃO PREVENTIVA formulado pelo

Ministério Público Federal em desfavor de RAIMUNDO ZANON, SALETE

TEREZINHA MALAGURTI ZANON, ANA CARMEN VIANA VIDAL, ANILDO BRÁZ

DO ROSÁRIO, ANTONIO REGINALDO GALDINO DELGADO, SEBASTIÃO

PEREIRA CAJANGO, MARCOS ANTÔNIO ROCHA E SILVA, MANOEL JOAQUIM

DA SILVA FILHO, JOÃO BOSCO DE MORAIS, JOSÉ GAGLIARDI NETO e

DJALMA RODRIGUES PORTO, todos devidamente qualificados nestes, com

suporte no artigo 312 do CPP, tudo sob o fundamento de que a constrição cautelar

é imprescindível à garantia da ordem pública, ameaçada e constrangida pelas

condutas dos Requeridos, e conveniência da instrução criminal.

Sustenta o órgão ministerial a existência de práticas ilícitas

consubstanciadas, em suma, no deslocamento de títulos fundiários utilizados em

1/10

Page 2: 01 dec. p. preventiva incra-juvimará

processos expropriatórios para fins de reforma agrária nos municípios de Cláudia e

Itaúba/MT, resultando em obtenção de vantagem pecuniária indevida, uma vez que

os imóveis objeto das desapropriações intentadas pelo Incra/MT estão localizados

sobre terras devolutas do Estado de Mato Grosso e/ou da União Federal. Esclarece

que, por tratar-se de vários imóveis que guardavam certa similitude (Fazenda

Chaparral, Fazenda Três Nascentes, Fazenda Alvorada, Alvorada I, Juvimará e

Minata), divergindo somente em alguns pontos, optou por descrever separadamente

as condutas atribuídas aos Requeridos, de acordo com os feitos expropriatórios

pertinentes.

Assevera o Ministério Público Federal que todo o procedimento

expropriatório envolvendo o imóvel rural denominado “Fazenda Juvimará” encontra-

se eivado de vícios de graves proporções, que abarcam: a) alterações da

localização dos imóveis, conforme apurado pela cadeia dominial e análise dos

títulos originários; b) a natureza do imóvel rural com cobertura vegetal primária ou

secundária (floresta ombrófila densa), com restrição de 80% para a formação de

reserva legal, insuscetível de supressão e utilização permitida somente sob o

regime de manejo florestal sustentável, ou seja, com vedação legal da legislação

ambiental e agrária para desapropriação, à exceção de assentamento agro-

extrativista, que exige a existência de populações tradicionais para a exploração de

riquezas extrativistas, situação não existente nos autos; c) produção de laudos

falsos e avaliação superestimada, tudo para propiciar o enriquecimento ilícito de

particulares em detrimento ao Erário Público, com a relevância de que tais ações

defluem do próprio órgão encarregado de fiscalizar e proteger o patrimônio público e

o meio ambiente; e d) que o imóvel não apresentava as condições adequadas a

autorizar a sua desapropriação para fins de reforma agrária, tendo em vista a baixa

qualidade de seu solo para a agricultura.

Dado o número de situações narradas que envolvem os

Suplicados, pleiteou o Ministério Público Federal a decretação da prisão preventiva

dos principais investigados, notadamente dos servidores públicos, detentores, em

sua maioria, de cargos de chefia e posição estratégica dentro do órgão fundiário,

visando à garantia da ordem pública e para assegurar a instrução criminal.

É o relato. Decido.

2/10

Page 3: 01 dec. p. preventiva incra-juvimará

FUNDAMENTAÇÃO

De início, faz-se imperioso ressaltar que, juntamente com o

presente pedido, protocolizou o órgão ministerial denúncia em desfavor dos

Requeridos pela prática dos delitos de formação de quadrilha e estelionato

qualificado, processo nº 2008.36.00.018099-1, a qual fora recebida pelo Juízo nesta

data.

Precedem a peça ministerial investigações vazadas no

inquérito policial nº 2008.36.00.014811-1 e procedimento administrativo realizado

pelo Ministério Público Federal, composto de Termo de Declarações e notas

técnicas periciais.

Descreveu o MPF, de forma minuciosa, a existência de

inconsistências de gravidade considerável no procedimento administrativo (nº

54240.003239/2004-70) levado a cabo pelos Requeridos para a desapropriação

para fins de reforma agrária do imóvel rural denominado “Fazenda Juvimará”,

pertencente a RAIMUNDO ZANON e SALETE TEREZINHA MALAGURTI ZANON,

objeto do processo expropriatório nº 2006.36.00.015807-4, em trâmite pela 1ª Vara

Federal desta Seccional. As condutas ilícitas dos Acusados permitiram, de acordo

com o arcabouço probatório que instruiu o pedido prisional e a ação penal acima

destacada, a concretização do procedimento administrativo, a oferta de elevada

indenização, o lançamento de títulos da dívida agrária, o depósito do valor das

benfeitorias em dinheiro e o ajuizamento da demanda expropriatória pela autarquia

federal perante a Justiça Federal. Esse roteiro está devidamente fundamentado nas

provas amealhadas e acima identificadas, tanto que a denúncia fora recebida nos

autos da ação penal nº 2008.36.00.018099-1.

São os servidores objeto do requerimento ora analisado, em

sua maioria, detentores de cargos de chefia ou de posição estratégica na estrutura

administrativa do Incra/MT. Constituem o corpo técnico da autarquia. A par das

provas analisadas, aliaram-se aos proprietários do bem desapropriado, formando

verdadeira organização criminosa com o intuito de lesar os cofres públicos,

consumando o procedimento administrativo pertinente, mesmo marcado por

ilegalidades, e ajuizando a conseqüente demanda expropriatória de imóvel não

3/10

Page 4: 01 dec. p. preventiva incra-juvimará

adequado à política de reforma agrária, ante suas características descritas nos

laudos técnicos produzidos pelo próprio Incra, sendo imprestável à implementação

de assentamentos rurais, além de contribuir para a destruição da floresta

Amazônica.

Há evidências de conluio entre os servidores do Incra citados

na inicial e os proprietários do imóvel “Fazenda Juvimará”, Raimundo Zanon e

Salete Terezinha Malagurti Zanon, o que permitiu a consumação do procedimento

administrativo expropriatório fraudulento e a sua utilização para subsidiar o

ajuizamento da ação de desapropriação respectiva, processo nº

2006.36.00.015807-4. A narrativa ministerial encontra amparo na documentação

que escoltou o requerimento sob análise, bem como o recebimento da denúncia na

ação penal materializada no processo nº 2008.36.00.018099-1. As irregularidades

apontadas são relevantes, afastando a presença de mera e simples desídia

funcional ou qualquer outro equívoco que tenha assolado os servidores ANA

CARMEN VIANA VIDAL, ANILDO BRÁZ DO ROSÁRIO, ANTONIO REGINALDO

GALDINO DELGADO, SEBASTIÃO PEREIRA CAJANGO, MARCOS ANTÔNIO

ROCHA E SILVA, MANOEL JOAQUIM DA SILVA FILHO, JOÃO BOSCO DE

MORAIS, JOSÉ GAGLIARDI NETO e DJALMA RODRIGUES PORTO. Antes, estão

a revelar, ao menos em tese, a prática de uma série de atos absolutamente

coordenados, a fim de justificar o pagamento de verba indenizatória indevida e

absolutamente ilegal. Vejamos.

O Suplicado LEONEL WOHLFAHRT, com a anuência do

proprietário, deu início ao procedimento administrativo acima reportado, constituindo

comissão, formada por MANOEL JOAQUIM DA SILVA FILHO e ANA CARMEN

VIANA VIDAL, engenheiros agrônomos, e ATHAIDE DE ASSUNÇÃO, desenhista,

destinada à realização de vistoria preliminar no imóvel a ser desapropriado. Nesta

etapa, já restaram detectadas algumas situações importantes a serem consideradas

no procedimento, que, no entanto, foram desprezadas: a) a inexistência de tensão

social; b) a existência de vegetação primária e secundária, que enquadra-se em

restrições de uso de natureza legal; c) a não materialização do imóvel (que seria

essencial); e d) a juntada de memorial descritivo do imóvel com coordenadas

4/10

Page 5: 01 dec. p. preventiva incra-juvimará

geográficas totalmente diversas da informada no Laudo Agronômico de Fiscalização

elaborado por MANOEL JOAQUIM SILVA FILHO (fl. 73 do processo administrativo).

Dando continuidade ao procedimento, a despeito das

irregularidades, o Chefe da Divisão Técnica, MARCOS ANTÔNIO ROCHA E SILVA,

concluiu pela viabilidade da expropriação, sob a alegação de fundamentos

absolutamente diversos e, portanto, em desconformidade com o que restou

asseverado inicialmente. Aduziu: a) a existência de vários Projetos de

Assentamento na região; b) a regular instrução do feito; e c) a existência de

demanda real. Na mesma esteira, o parecer do setor jurídico do órgão,

representado pelo Suplicado ANILDO BRAZ DO ROSÁRIO. Mais à frente, o

Requerido ANTONIO REGINALDO GALDINO DELGADO emitiu parecer favorável à

desapropriação da Fazenda Juvimará, salientando a sua viabilidade para a criação

de assentamento para fins de reforma agrária.

O Comitê composto por LEONEL WOHLFAHRT, ANILDO

BRAZ DO ROSÁRIO, MARCOS ANTÔNIO ROCHA E SILVA, DJALMA

RODRIGUES PORTO e SEBASTIÃO PEREIRA CAJANGO deliberou pela edição de

ato declaratório de desapropriação para fins de reforma agrária do imóvel “Fazenda

Juvimará”, considerando cumpridos todos os requisitos legais do procedimento

administrativo. Ato consecutivo, o Denunciado JOÃO BOSCO DE MORAES

(Superintendente Regional do Incra), dando sequência à empreitada fraudulenta,

nomeou uma comissão, composta pelos servidores MANOEL JOAQUIM DA SILVA

FILHO e JOSÉ GAGLIARDI NETO, para proceder aos trabalhos de Vistoria,

Avaliação e Levantamento de Dados. De modo geral, repetiram-se as conclusões

anteriores, com a ressalva de, excepcionalmente, a comissão isentar-se de se

manifestar quanto à materialização referente à origem do título do imóvel Juvimará,

por inexistir no processo administrativo a cadeia dominial sucessória e tampouco o

mosaico de restituição e abrangência dos títulos expedidos pelo Estado de Mato

Grosso (requisito obrigatório). Fora ressaltado que as certidões anexas não se

reportaram à origem do imóvel, bem como o fato de não ter sido analisado o título

originário da matrícula do bem. No tocante à avaliação, registrou-se ainda que os

valores encontrados para a terra nua e o custo de família para o assentamento

estão bem acima daqueles praticados no mercado, segundo a planilha de referência

5/10

Page 6: 01 dec. p. preventiva incra-juvimará

de terras para o Estado de Mato Grosso, mas que isso era possível. Ressalte-se

que nenhum apontamento fora feito acerca da divergência entre as coordenadas

geográficas existentes para a mesma matrícula.

Prosseguindo, anuindo com a avaliação superfaturada, os

engenheiros GILBERTO PIRES FERNANDES e HENRIQUE VIEIRA DE QUEIROZ

NETO deram-na como correta. Em seguida, os Suplicados LEONEL WOHLFAHRT

e RAIMUNDO ZANON firmaram acordo extrajudicial para a aquisição do imóvel em

questão, havendo MARCOS ANTÔNIO ROCHA E SILVA atestado a legalidade do

procedimento, bem assim declarando que se tratava de área estratégica e

necessária para diminuir os graves problemas sociais existentes na região Norte do

Estado de Mato Grosso, encaminhando o pleito à Brasília.

De acordo com os mapas confeccionados pelo corpo técnico

que atuou junto ao MPF, embasados em mosaico emitido pelo INTERMAT, a

matrícula originária do imóvel localizava-se distante cerca de 10 km do local

materializado pela autarquia federal. Contudo, o imóvel foi avaliado e o Incra/MT

firmou acordo extrajudicial com os proprietários para a sua aquisição, bem como de

outras áreas contíguas àquele, o que denota a existência de sobreposição em

grande parte dos títulos dominiais pertinentes aos lotes desapropriados, incidindo

sobre terras devolutas do Estado, segundo o gráfico de fl. 15. Existem também

elementos de convicção de que a alteração das coordenadas geográficas

consumou-se no intuito de propiciar a elaboração do memorial descritivo reportado

à fl.18, impedindo-se que as áreas do conjunto expropriado se sobrepusessem,

revelando assim a fraude engendrada no procedimento administrativo.

Como se vê, existem, sem dúvida alguma, elementos para a

inauguração da persecução penal em juízo, conforme reconhecido na decisão que

recebeu a denúncia formulada pelo Ministério Público Federal. Entretanto, diante da

gravidade dos fatos apurados, pugnou-se pela decretação de prisões cautelares,

para a garantia da ordem pública e para se assegurar a regular instrução criminal,

requisitos estes que, doravante, passo a averiguar a presença no feito.

É certo que todo cerceamento de direitos constitucionalmente

assegurados somente se admite em caráter de absoluta exceção. Nenhum direito é

6/10

Page 7: 01 dec. p. preventiva incra-juvimará

absoluto e se presta à proteção de atos ilícitos, especialmente considerando-se, in

casu, praticados contra direitos de 3º geração, que afetam toda a coletividade. Na

hipótese, a custódia cautelar se afigura possível, quando evidentes indícios de

autoria e materialidade suficientes à deflagração de ação penal, bem como de que a

ordem pública e/ou a instrução criminal estejam a merecer a devida garantia por

parte deste Juízo.

Ante as provas amealhadas até o momento, pode-se,

tranquilamente, aferir presentes indícios suficientes à instauração de ação penal

contra os Suplicados, tanto que fora recebida a denúncia respectiva nos autos da

ação penal nº 2008.36.00.018099-1. A simples instauração de ação penal, porém,

não se mostra, por si só, suficiente à segregação da liberdade dos Requeridos.

Além da evidência da prática criminosa, faz-se mister a demonstração do “periculum

in mora”.

Sob esse aspecto, tem-se que os Suplicados constituem-se

nos líderes dos núcleos da organização criminosa, especialmente em razão do

poder de articulação que possuem em seu ambiente de trabalho.

A legislação pátria, de sua vez, autoriza a decretação da prisão

preventiva em quaisquer das hipóteses descritas no art. 312 do CPP, quais sejam,

garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução

criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal.

A imprescindibilidade da medida cautelar em desfavor dos

Requeridos, à luz do roteiro das infrações penais que lhes são imputadas na ação

penal em apenso e das provas colacionadas aos vertentes autos, é patente. A

prisão preventiva propiciará o regular desenvolvimento e conclusão de todos os atos

processuais, amealhando-se as provas necessárias, impedindo o eventual

desaparecimento destas e definindo-se as responsabilidades de cada um dos

membros da quadrilha, além de permitir a interrupção dos crimes que vêm sendo

praticados (ordem pública estritamente falando).

Pelo requisito da garantia da ordem pública, impõe-se ao Juízo

o dever de impedir a continuidade das infrações penais, obstando novas ações por

7/10

Page 8: 01 dec. p. preventiva incra-juvimará

parte dos Suplicados seja nos seis procedimentos/processos expropriatórios

mencionados na inicial deste incidente ou na instauração de demandas

administrativas tendentes a promover a desapropriação de outros imóveis rurais,

mediante a consecução de idênticas fraudes àquelas concernentes à “Fazenda

Juvimará”. A repetição das condutas delitivas é fator de grave conspiração contra a

ordem pública e de pesado dano ao meio ambiente e aos interesses da

Administração Pública. Não se pode permitir que agentes ativos de ações de

delinqüência continuem a praticar os mesmos fatos, sem que o Estado faça a

intervenção que a Constituição Federal e o art. 312 do CPP lhe determinam que

seja realizada. Ou seja, não pode o aparato estatal omitir-se na garantia da ordem

pública, que vem sendo violada pelas ações criminosas dos Suplicados, que gozam,

aliás, de poder administrativo e de mobilidade na defesa dos interesses da suposta

quadrilha.

Consoante lição de Guilherme de Souza Nucci, in Manual de

Processo e Execução Penal, “a garantia da ordem pública deve ser visualizada pelo

trinômio gravidade da infração + repercussão social + periculosidade do agente.”

Prossegue o autor: “Outro fator responsável pela repercussão social que a prática

de um crime adquire é a periculosidade (probalidade de tornar a cometer delitos)

demonstrada pelo réu e apurada pela análise de seus antecedentes e pela maneira

de execução do crime”.

A prisão preventiva como garantia da ordem pública requer,

portanto, a presença de potencial lesivo à sociedade da perpetuação de condutas

consideradas delitivas e a demonstração, em concreto, da consumação rotineira da

prática infracional. Estes requisitos, por certo, restaram demonstrados na exordial e

nos documentos que vêm sendo carreados aos autos.

Por fim, mais um registro importante para a configuração do

que seja a garantia da ordem pública. Não pode o Estado ser colocado a serviço de

interesses privados e escusos. Não pode continuar a ter as suas ações manipuladas

para o atendimento de interesse de particulares, servidores públicos e outros. A

prática é contrária aos princípios republicanos, principalmente porque as condutas

dos Requeridos têm implicação imediata na destruição dos recursos naturais

existentes nesta unidade da Federação e no desembolso de grande soma de

8/10

Page 9: 01 dec. p. preventiva incra-juvimará

recursos públicos para a aquisição de imóveis com titulação e localização

fraudulentas. Portanto, garantir a ordem pública é também desarticular esquemas

criminosos voltados para o patrocínio privado em detrimento dos interesses

públicos, impedindo-se assim a perpetuação dos crimes ora apurados.

Na mesma esteira, subsistem motivos a ensejar o decreto

preventivo por conveniência da instrução criminal, uma vez que os Requeridos ANA

CARMEN VIANA VIDAL, ANILDO BRÁZ DO ROSÁRIO, ANTONIO REGINALDO

GALDINO DELGADO, SEBASTIÃO PEREIRA CAJANGO, MARCOS ANTÔNIO

ROCHA E SILVA, MANOEL JOAQUIM DA SILVA FILHO, JOÃO BOSCO DE

MORAIS, JOSÉ GAGLIARDI NETO e DJALMA RODRIGUES PORTO pela posição

e cargo que ocupam, e ante a ligação existente entre os membros da organização,

podem atuar efetivamente em prejuízo à colheita de provas, intimidando

testemunhas e fazendo desaparecer documentos pertinentes aos

feitos/procedimentos expropriatórios objeto da ação penal em apenso, conforme

reconhecido na declaração anexa aos autos. Nesta, aliás, constata-se a real

possibilidade de que a instrução criminal venha a ser prejudicada por ações dos

Suplicados.

Contudo, no que tange à SALETE TEREZINHA MALAGURTI

ZANON, afigura-se incabível a constrição cautelar postulada, tendo em vista que,

dos proprietários do imóvel rural, apenas RAIMUNDO ZANON firmou acordo

extrajudicial com o representante do INCRA, LEONEL WOHLFAHRT, para a

aquisição do bem, conforme acima se expôs, o que demonstra que possuía

conhecimento do processo administrativo, já em fase final, e assim das

irregularidades supra apontadas, agindo no intuito de receber vantagem indevida. O

fato retro destacado importa no reconhecimento de que a referida Ré, embora

participante dos eventos delitivos, de acordo com a denúncia, não vem se

conduzindo com o propósito de violar a ordem pública ou a conveniência da

instrução criminal, ao contrário de seu esposo, RAIMUNDO ZANON, responsável

pela agilização das condutas consideradas delitivas.

Assim, tenho como necessária a segregação dos Suplicados, à

exceção de SALETE TEREZINHA MALAGURTI ZANON, uma vez presentes dois

dos requisitos encartados no art. 312 do Código de Processo Penal.

9/10

Page 10: 01 dec. p. preventiva incra-juvimará

D I S P O S I T I V O

Com efeito, DECRETO A PRISÃO PREVENTIVA de

RAIMUNDO ZANON, ANA CARMEN VIANA VIDAL, ANILDO BRÁZ DO

ROSÁRIO, ANTONIO REGINALDO GALDINO DELGADO, SEBASTIÃO PEREIRA

CAJANGO, MARCOS ANTÔNIO ROCHA E SILVA, MANOEL JOAQUIM DA

SILVA FILHO, JOÃO BOSCO DE MORAIS, JOSÉ GAGLIARDI NETO e DJALMA

RODRIGUES PORTO, nos termos do art. 312 do Código de Processo Penal.

Indefiro o pedido de prisão preventiva de SALETE

TEREZINHA MALAGURTI ZANON.

Expeçam-se os mandados de prisão. Oficie-se.

Translade-se cópia desta para os autos da ação penal

instaurada.

Intimem-se.

Cuiabá, 17 de dezembro de 2008.

JULIER SEBASTIÃO DA SILVA

Juiz Federal

10/10