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PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA DO BRASIL

Presidente 

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Vice Presidente 

JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE

Ministra 

IZABELLA MÔNICA VIEIRA TEIXEIRA

Secretaria ExecutivaSecretário 

JOSÉ MACHADO

Projeto de Assistência Técnica para a Agenda da Sustentabilidade AmbientalDiretor Nacional 

FABRICIO AMILÍVIA BARRETO

Secretaria de Biodiversidade e FlorestasSecretária 

MARIA CECÍLIA WEY DE BRITO

Departamento de Áreas ProtegidasDiretor 

FÁBIO FRANÇA SILVA ARAÚJO

Departamento de Conservação da BiodiversidadeDiretor 

BRAULIO FERREIRA DE SOUZA DIAS

Departamento de FlorestasDiretor 

JOÃO DE DEUS MEDEIROS

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BIODIVERSIDADE 34

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

Ipê-amarelo: or símbolo do Brasil.

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Coordenação EditorialWigold Bertoldo Schäffer

TextosMaura CampaniliWigold Bertoldo Schäffer

Pesquisa e colaboração nos textosJoão de Deus MedeirosLivia AlmendaryMiriam Prochnow

Texto FinalMaura Campanili

Edição de ImagensMiriam ProchnowWigold Bertoldo Schäffer

FotosAs fotos publicadas neste livro foram cedidas sem custos pelosautores ou instituições mencionadas nas imagens. Agradece-mos gentilmente a todos os fotógrafos e instituições que cede-

ram fotos para compor este livro.

Foto da capaSerra Vermelha – Sul do estado do Piauí.Fotógrafo: André Pessoa.

Elaboração dos MapasEduardo Rosa e Marcos Rosa – ARCPLANFátima Becker Guedes – NAPMA/DCBIO/SBF/MMA

Revisão dos textosFátima Becker GuedesFrancisca Mendes de Menezes

Projeto gráco, ilustrações e editoração eletrônicaCT Comunicação

Mata Atlântica: patrimônio nacional dos brasileiros / Ministério do MeioAmbiente. Secretaria de Biodiversidade e Florestas. Núcleo Mata Atlântica ePampa; organizadores Maura Campanili [e] Wigold Bertoldo Schaffer. – Brasília:

MMA, 2010.408 p. : il. color. ; 23 cm. - (Biodiversidade, 34)

ISBN 978-85-7738-133-3

1. Mata Atlântica. 2. Biodiversidade. I. Brasil. Ministério do Meio Ambiente. Se-cretaria de Biodiversidade e Florestas. Núcleo Mata Atlântica e Pampa. II. Campanili,Maura. III. Schaffer, Wigold Bertoldo.

CDU (2.ed.) 502.4(815.6)

M425

CATALOGAÇÃO NA FONTE

INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS

Ministério do Meio AmbienteCentro de Informação e Documentação Luiz EduardoMagalhães - CID AmbientalSEPN 505 Norte (W3 Norte), Edifício Marie Prendi Cruz - Térreo70730-542 - Brasília - DFTel.: 5561 2028-2184 Fax.: 5561 2028-1980Email: [email protected]

Apoio

Esta publicação foi apoiada por:

Projeto de Assistência Técnica para a Agenda da Sustentabilida-de Ambiental (TAL Ambiental), que estabelece um conjunto deestratégias para internalização do princípio da transversalidadeda dimensão ambiental nas políticas públicas implementadaspelos diversos ministérios e órgãos federais.

Iniciativa Internacional de Proteção do Clima a partir de Decisãodo Congresso da Alemanha por meio do Ministério do Meio Am-biente, Proteção da Natureza e Segurança Nuclear (BMU).

A reprodução desta obra é permitida, desde que citada a fonte. Esta permissão não se aplicaàs fotos, que foram cedidas exclusivamente para esta publicação.

Esta obra não pode ser comercializada.

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Ministério do Meio AmbienteSecretaria de Biodiversidade e Florestas

Departamento de Conservação da BiodiversidadeNúcleo Mata Atlântica e Pampa

Brasília-DF – 2010

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Sumário

   W   i   g   o   l   d   B .

   S   c   h   a   f   f   e   r

Saber admirar a beleza e a biodiversidade da Mata Atlântica é essencial para a sua conservação.

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Prefácio 6

Apresentação 10

Introdução 12

Capítulo 1 – Por que precisamos recuperar a Mata Atlântica? 15

Capítulo 2 – A Mata Atlântica no contexto global 25

Capítulo 3 – Breve histórico da destruição 39

Capítulo 4 – Biodiversidade única e ameaçada 55

Capítulo 5 – População que habita e interage com a Mata Atlântica 91

Capítulo 6 – Áreas protegidas 109

Capítulo 7 – Um retrato dos estados 131

Capítulo 8 – Legislação 281

Capítulo 9 – Que futuro queremos? 327

Capítulo 10 – As oportunidades da conservação da Mata Atlântica 341

Capítulo 11 – Banco de ideias sustentáveis 355

Bibliograa 405

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   W   i   g   o   l   d   B .

   S   c   h   a   f   f   e   r

Prefácio

As nascentes, margens de rios e lagos, e as áreas com declividade acentuada são espaços territoriais protegidos pela Constituição

e vitais para a conservação da biodiversidade, dos recursos hídricos e para garantir o bem estar e a qualidade de vida da população.

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Mata Atlântica de todos nós

Prefácio

O Brasil é o quinto maior país em extensão territorial, comaproximadamente 5,7% da superfície emersa do Planeta e47,3% da área da América do Sul. Também detém impressio-

nante patrimônio natural, que o põe no topo da lista dos paísesmegadiversos , os que possuem maior número de espécies deplantas e animais.

Toda essa exuberância natural aumenta a responsabi-lidade dos brasileiros na preservação e defesa – e tambémna promoção da adequada gestão e utilização sustentável –dessa imensa riqueza, que é nossa e ao mesmo tempo dasgerações futuras. Uma enorme e complexa tarefa que incluinão só o Poder Público, as empresas e a academia, mas cadacidadão, individualmente ou por meio dos chamados sujeitosintermediários, como as ONGs, o Ministério Público e a De-fensoria Pública.

Nestes 500 anos de Brasil, nossa relação com o meioambiente e os recursos naturais foi marcada a ferro (primeiroo machado, depois os tratores, motosserras e correntões) efogo (as queimadas e, mais recentemente, as chaminés dasfábricas e as emissões de CO2). A Natureza era tratada comoinimiga da existência e sobrevivência humanas. Por conse-guinte, a lógica reinante não podia ser outra que a de que oprogresso exigia a destruição das matas (ou “mato”, na lingua-gem popular) – a ordem, então, era “limpar o terreno”.

Em tal paradigma, a sociedade brasileira, como na maio-ria dos países, aceitava como um fato da vida que o cres-cimento econômico passava, necessariamente, pela domina-ção e exclusão metódica dos outros seres vivos, sobretudo a

ora, mesmo que no rastro dessa destruição cassem a terradesnuda, a poluição dos rios, os solos empobrecidos e o silên-cio dos pássaros. Numa palavra, que estaríamos condenados,na rede da vida, à separação da Natureza e, por isso mesmo,a conviver com um sentimento de culpa pelo que perdemos ea reclamar da solidão a que nos impusemos.

Somente na segunda metade do século XX, já pressiona-dos pelos efeitos adversos da ocupação desordenada do soloem áreas rurais e urbanas, especialmente na região da MataAtlântica (o conjunto de ecossistemas mais ocupado e devas-tado do Brasil), setores da sociedade, a começar pelo mundoacadêmico e ONGs ambientalistas, começaram a chamar a

atenção para a crise ecológica em curso e a cobrar das insti-tuições públicas o aperfeiçoamento da legislação protetora daNatureza, particularmente da ora.

Marco do ordenamento brasileiro, o Código Florestal (Leino 4.771/65) consagrou novas (ou renovadas) e criativas gu-ras jurídico-ambientais, como a Área de Preservação Perma- nente (APP), dando-lhe perl de espaço territorial legalmenteprotegido – porquanto representa e inclui bens ambientais degrande fragilidade e importância, como as nascentes e os cur-sos de água em geral, as encostas, os topos de morros, omanguezal, a restinga, entre outros -, e a Reserva Legal   (RL),um percentual da área da gleba que deve ser mantido, emcada imóvel, com vegetação nativa.

Em 1981, a Lei no 6.938, iniciativa do Dr. Paulo Nogueira

Neto, então Secretário Especial de Meio Ambiente, e aperfei-çoada, em profundidade, no Congresso Nacional com emen-das que lhe deram avançado perl, instituiu a Política Nacional

do Meio Ambiente e criou o Sistema Nacional do Meio Am-biente e o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), omais importante órgão colegiado da área ambiental existenteno Brasil.

Mudança mais profunda viria em 1988, com a nova Cons-tituição Federal, que dedicou um capítulo exclusivo ao MeioAmbiente e tratou do tema em outros tantos dispositivos es-parsos, abraçando, no art. 170, VI, a proteção dos recursosnaturais como um dos princípios da ordem econômica (= de- senvolvimento ecologicamente sustentável ) e instituindo, deforma autônoma, o princípio da função ecológica da proprie- dade  (art. 186, II), reconhecendo à Mata Atlântica, como bio-

ma, status  de patrimônio nacional. Com visão tão generosa como ambiciosa da proteção domeio ambiente, o certo é que a Constituição não só inovou noordenamento jurídico nacional, como também recepcionou asnormas aprovadas anteriormente, pavimentando o caminhopara a promulgação de outras, mais modernas e protetoras,como as que tratam especicamente da conservação, prote-ção, regeneração e utilização da vegetação nativa da MataAtlântica, com destaque para a Lei no 11.428/06 e inúmerasResoluções do Conama.

Se, por um lado, o Brasil progrediu signicativamente nacriação de arcabouço legal sólido para salvaguardar e recupe-rar a Mata Atlântica, por outro, vem avançando também, mes-

mo que de forma lenta, na implementação dessa legislação,seja no âmbito do Poder Executivo, com melhorias notáveisna estrutura e ação dos órgãos de monitoramento e scaliza -ção, seja na esfera do Poder Legislativo, seja com um bem-vindo acordar do Ministério Público e do Judiciário. Degradara Natureza no Brasil deixou de ser banalidade do cotidiano evirou caso de polícia!

Há muito a fazer, não temos dúvida. Mas os primeirospassos estão dados – uma sociedade cada vez mais partici-pativa e atenta à crise ambiental e ao drama do desmatamen-to, um quadro legislativo amplo e dotado de uma miríade deinstrumentos modernos, órgãos públicos de implementação

com crescente prossionalismo, especialização e vontade po-lítica de acertar. É muito, mas não basta. Ainda é insucienteo grau de informação sobre as riquezas naturais do Brasil e,paralelamente, é alto o percentual das pessoas que mantêma mentalidade e a atitude do passado, espírito esse reforçadopor uma eterna ladainha das “viúvas de Cubatão e Balbina”,que insistem, agora veladamente, na incompatibilidade entreconservação da Natureza e desenvolvimento.

Nesse quadro de fundo, vem em boa hora o livro “Mata

Atlântica – Patrimônio Nacional dos Brasileiros” a preencheruma lacuna no campo da educação ambiental e da informação;ao mesmo tempo, de maneira equilibrada e leve, mas rme,desmistica e desmente os que alegam ser impossível cumprir

as exigências legais. Ao fazer conexão clara e didática entre a

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problemática da conservação e recuperação da Mata Atlânticae as principais questões ambientais globais do momento, quecolocam em risco o futuro do Planeta – mudanças climáticasem curso, perda irreversível da biodiversidade por ação do serhumano, diminuição da qualidade e/ou escassez de água ne-cessária aos processos agrícolas, industriais, energéticos e ao

abastecimento público –, a obra aponta caminhos a serem se-guidos localmente, que podem, por sua multiplicação, contribuirpara solucionar a crise mundial da biodiversidade .

Os textos, fotos e ilustrações deste livro demonstram comclareza que preservar ou recuperar e não ocupar as APPs vaimuito além de mera limitação administrativa aleatória, impostapor um legislador insensível e irresponsável, ao uso de imó-veis rurais e urbanos. Acima de tudo, são medidas de inteli-gência e de sobrevivência humana, pois diminuem os riscosde enchentes e desbarrancamentos e melhoram, no geral, aqualidade de vida da população.

A obra também mostra que a manutenção da RL é es-

sencial para a manutenção dos serviços ecológicos (recursoshídricos, polinizadores, qualidade do ar, etc.) que viabilizama produção agropecuária e muitas outras atividades econô-micas essenciais. Indica, de maneira enfática, que conservare recuperar os remanescentes de Mata Atlântica é medida deurgência, imprescindível se queremos, realmente, como de-termina a Constituição de 1988, salvar da extinção esse im-portante bioma.

Trata-se de publicação preciosa, seja pelo rigor cientí-co de sua organização e textos, seja pela beleza estética deseu conteúdo. Obra que, simultaneamente, alerta, desperta,educa e encanta. Mais que tudo, é um esforço de colocar emlinguagem acessível, mas nem por isso menos técnica e pre-

cisa, o espírito e corpo do Código Florestal, certamente umadas mais importantes leis brasileiras do Século XX.

A ocorrência de chuvas torrenciais e a consequente ele-vação do nível de água dos riachos e rios é natural, sempreexistiu e sempre existirá. Ou seja, onde houve enchente uma

vez, mais cedo ou mais tarde haverá novamente. Se sabemosque é assim e sempre foi, o comportamento mais inteligen-te – e barato – é prevenir. Não há fórmula mais eciente doque respeitar as áreas de risco e deixar de ocupá-las. Aí maisuma prova do caráter visionário do Código Florestal, que deua muitos desses espaços urbanos e rurais, quando não se fa-

lava sequer em Mudanças Climáticas, a condição de Área dePreservação Permanente. Por muitos anos, não ouvimos, ounão quisemos ouvir, nem mesmo o eco distante da recomen-dação do legislador. É hora de passar a respeitá-lo, pois assimsalvaremos vidas e deixaremos para as futuras gerações cida-des com maior qualidade de vida.

Claro, solução haverá de ser dada às áreas já ocupadasirregularmente. Aqui, como em tudo no campo das políticaspúblicas, coloca-se a necessidade de compatibilizar valores eprincípios constitucionais de ordem e liação diversas. De umlado, assegurar habitação digna às famílias brasileiras; de ou-tro, zelar pela segurança das pessoas, pela qualidade de vida

na cidade e por minguados espaços verdes e parcos recursosambientais, como a água. Isso tudo para dizer que, em algunscasos, embora em muitos outros não, a solução – a única téc-nica e economicamente possível – será a remoção das famí-lias em situação de risco. Em todo o País, administradoresmunicipais estão acordando para essa realidade e, nalmen-te, começam a tomar providências que, embora politicamentedifíceis e individualmente traumáticas, atendem ao chamadodo direito à cidade social e ecologicamente sustentável .

O livro “Mata Atlântica – Patrimônio Nacional dos Bra-

sileiros” é uma obra magníca, a ser consultada e utilizadanão só pelo cidadão do campo e da cidade que deseje plane- jar suas atividades, como por autoridades do Executivo, Legis-

lativo e Judiciário, responsáveis pelo desenho e implementa-ção das políticas públicas e da legislação ambiental. Trata-sede um presente à Mata Atlântica e a todos os brasileiros quese preocupam com sua sorte e futuro, no Ano Internacional daBiodiversidade  (2010).

Antonio Herman Benjamin

Ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e Professorde Direito Ambiental da Universidade Católica de Brasília e da

University of Texas School of Law 

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   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

Proteger as fontes de água é proteger a vida.

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Apresentação

   A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

Gato-vermelho (Herpailurus yaguarondi ) . A preservação dos animais da Mata Atlântica depende do combate à caça, ao tráco e à perda de habitat.

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Apresentação

Ao falar de Mata Atlântica é necessário lembrar que estamostratando de um conjunto de formações orestais, além de cam-pos naturais, restingas, manguezais e outros tipos de vegetaçãoconsiderados ecossistemas associados, compondo paisagensdiferentes, belas e biodiversas, que cobriam originalmente totalou parcialmente 17 estados brasileiros e abrangiam uma área deaproximadamente 1.300.000 km2.

Mesmo reduzida a aproximadamente 27% de sua área origi-nal e distribuída em milhares de fragmentos, os remanescentesde vegetação nativa ainda guardam altos índices de biodiversida-de de fauna e ora e prestam inestimáveis serviços ambientais deproteção de mananciais hídricos, de contenção de encostas e deregulação do clima, que beneciam diretamente um contingente deaproximadamente 120 milhões de brasileiros.

No Ano Internacional da Biodiversidade é importante destacarque mesmo reduzida e fragmentada, a Mata Atlântica ainda apre-senta uma impressionante riqueza de espécies da ora e fauna. Asprojeções são de que possua cerca de 20.000 espécies de plantas,ou seja, entre 33% e 36% das existentes no País. Em relação à fau-na os levantamentos indicam que a Mata Atlântica abriga 849 es-pécies de aves, 370 espécies de anfíbios, 200 espécies de répteis,

270 de mamíferos e cerca de 350 espécies de peixes. Por outrolado, a Mata Atlântica abriga também o maior número de espéciesameaçadas: são 185 espécies de vertebrados ameaçados (69,8%do total de espécies ameaçadas no Brasil), dos quais 118 aves,16 anfíbios, 38 mamíferos e 13 répteis. Das 472 espécies da orabrasileira que constam da Lista Ocial de Espécies ameaçadas deExtinção, 276 espécies (mais de 50%) são da Mata Atlântica.

Essa situação demonstra por um lado, a importância da MataAtlântica e, por outro, o desao e a responsabilidade do governoe da sociedade na implantação de ações de conservação do querestou e recuperação de parte do que já perdemos.

Neste sentido, as ações do Ministério do Meio Ambiente (MMA) einstituições vinculadas, voltadas para a proteção da Mata Atlântica in-cluem o aperfeiçoamento da legislação, a instituição de projetos e pro-

gramas para apoiar ações de conservação e recuperação da vegeta-ção nativa, o monitoramento e a scalização dos desmatamentos, acriação e implementação de unidades de conservação e a ampliaçãodas parcerias com outras instituições públicas e da sociedade civil.

Um dos programas pioneiros no apoio a ações de conserva-ção e recuperação da Mata Atlântica é o Fundo Nacional do MeioAmbiente (FNMA), criado em 1989 e que, desde então, nancioucentenas de projetos na Mata Atlântica. Em 1992, o governo brasi-leiro incluiu a Mata Atlântica no Programa Piloto para a Proteção dasFlorestas Tropicais do Brasil (PPG7), por meio do Subprograma Pro-

 jetos Demonstrativos (PDA). O PDA apoiou 188 projetos executadospor organizações da sociedade, voltados à criação e implantaçãode unidades de conservação, recuperação de áreas degradadas,ecoturismo, monitoramento da cobertura vegetal nativa, geração de

conhecimento e divulgação da importância da Mata Atlântica.Em 2004, o MMA iniciou o Projeto Mata Atlântica com apoio do

Banco Mundial. Este projeto entrou em uma nova fase em 2008 como apoio do Governo Alemão e do Fundo Brasileiro para a Biodiver-sidade (Funbio) e deverá investir aproximadamente 12 milhões deEuros até 2012. Em 2009, o MMA elaborou e discutiu com outrasinstituições públicas e da sociedade civil, a proposta de um ProgramaNacional para a Mata Atlântica com ações para os próximos 10 anos einvestimentos estimados de 1,5 bilhão de reais. Uma de suas metas étransformar pelo menos 10% da área total da Mata Atlântica em unida-des de conservação de proteção integral e uso sustentável (hoje sãoaproximadamente 6%). Outra meta de médio prazo é voltar a ter entre35% e 40% de cobertura vegetal nativa na Mata Atlântica, consideran-do as APPs, RL, unidades de conservação e outros remanescentes.

Nos últimos 20 anos, o MMA também atuou no aperfeiçoa-mento da legislação protetora da Mata Atlântica. Em 1990, na ges-tão de José Antônio Lutzenberger (Secretário Especial de MeioAmbiente da Presidência da República), foi editado o Decreto no 99.547, que proibiu toda e qualquer supressão de vegetação nati-va na Mata Atlântica, substituído em 1993 pelo Decreto no 750. OMMA, juntamente com inúmeras organizações da sociedade, ob-

tiveram em 22 de dezembro de 2006 a sanção presidencial da Leino 11.428 (Lei da Mata Atlântica), e em 21 de novembro de 2008,foi assinado o Decreto no 6.660, que regulamentou a lei e detalhouos tipos de vegetação protegidos.

A proteção da Mata Atlântica também está presente no marcode políticas do MMA. Em 2009, o governo, por intermédio do MMA,encaminhou ao Congresso Nacional um Projeto de Lei que visainstituir a Política Nacional dos Serviços Ambientais e criar o Pro-grama Federal de Pagamento por Serviços Ambientais. Trata-sede mais um avanço para a proteção das orestas tropicais e suabiodiversidade e permitirá também o desenvolvimento de projetosde recuperação de áreas degradadas e proteção e recuperação demananciais de água.

O monitoramento do desmatamento dos biomas brasileiros, co-

ordenado pelo MMA, permite a adoção de medidas preventivas ecria as condições para ações de scalização e combate ao desma-tamento nas regiões mais críticas. Antes restrito à Amazônia, o mo-nitoramento via satélite foi estendido, em 2009, a todos os biomas,incluindo o Cerrado e a Mata Atlântica. O sistema possibilita umavisão mais detalhada do desmatamento, com índices anuais, e cal-cula a emissão de gases de efeito estufa. As ações do governo têmgarantido quedas sucessivas do ritmo do desmatamento em todosos biomas brasileiros, sendo a mais expressiva a redução de 51%no desmatamento da Amazônia, entre agosto de 2009 e fevereiro de2010, comparado ao mesmo período do ano anterior.

A criação e implementação de unidades de conservação emtodo o Brasil também têm recebido atenção especial do MMA. De2003 a 2009 foram criadas 70 unidades de conservação federais

no Brasil, no total de 26.397.598 ha, o que corresponde a um au-mento 34.5% na área total de UC. Na Mata Atlântica, nos últimosanos, foram criadas 14 novas áreas protegidas, totalizando apro-ximadamente 400.000 hectares, com destaque para aquelas queprotegem a Floresta com Araucárias e campos de altitude no sul eos Manguezais na Bahia.

A preservação da Mata Atlântica, portanto, está presente emuma ampla gama de políticas e de medidas realizadas pelo Minis-tério do Meio Ambiente. O livro “Mata Atlântica – Patrimônio Nacio-nal dos Brasileiros” contribui com esse mesmo objetivo. É extrema-mente oportuno para a literatura sobre educação ambiental, sobreo Código Florestal Brasileiro, sobre a problemática da conservaçãoe da recuperação da Mata Atlântica, e sobre esse bioma, o proces-so histórico de sua destruição, suas espécies em risco, sua popu-

lação e sua preservação em cada estado. O livro traz informaçõesimportantes para o planejamento, o desenvolvimento e o aperfeiço-amento de políticas públicas que promovam a proteção e a utiliza-ção sustentável dos seus recursos. O livro também encerra de umamaneira muito positiva, promovendo uma reexão sobre o futuroque desejamos e apresenta oportunidades para a conservação daMata Atlântica e um banco de idéias sustentáveis, incentivando adisseminação de boas práticas de referência.

Convido as autoridades dos três poderes, os gestores ambien-tais de todos os níveis de governo, a sociedade civil organizada,acadêmicos, estudantes e a população em geral, a conhecerem olivro e os problemas enfrentados para a preservação da Mata Atlânti-ca, e a se envolverem com a conservação, a valoração e a utilizaçãosustentável de sua biodiversidade e seu patrimônio genético.

Izabella Mônica Vieira TeixeiraMinistra do Meio Ambiente 

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   W   i   g   o   l   d   B .

   S   c   h   a   f   f   e   r

Introdução

Fauna e ora interagem e colaboram: de or em or a borboleta busca o néctar e garante a polinização da planta.

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Introdução

O livro “Mata Atlântica – Patrimônio Nacional dos Bra-

sileiros” sintetiza sonhos. Sonhos dos que muitas vezes pen-saram em reunir numa única publicação o maior número pos-sível de informações sobre a Mata Atlântica, sem, no entanto,ter a pretensão de esgotar o tema e sem torná-lo enfadonhoou chato de contemplar e ler. Sonhos dos que um dia acre-

ditaram que era possível ter uma Constituição Federal quetratasse adequadamente da preservação e proteção do meioambiente. Sonhos de todos aqueles que acreditaram que erapossível ter uma lei para proteger a Mata Atlântica. Dos quesonharam ter um material de educação ambiental didático,que reunisse de forma simples, mas com riqueza de conteú-do, informações sobre a realidade da Mata Atlântica, sobre opassado e o presente e, ainda, que apontasse caminhos parao futuro deste importante conjunto de ecossistemas.

Dos sonhos à realidade, um caminho recheado de de-saos. Pesquisas, elaboração e revisão de textos, fotos querepresentassem a diversidade de seres vivos, paisagens e

ecossistemas, estatísticas, mapas, edição, diagramação e umnúmero imenso de detalhes, que somente a leitura de cadafrase, de cada legenda e a apreciação de cada foto vai reve-lar. Este livro não seria possível sem a contribuição de muitaspessoas: pesquisadores, técnicos e autodidatas, fotógrafose colaboradores diversos, todos apaixonados pela natureza,aos quais agradecemos indistintamente.

O livro traz um resumo da história da destruição da MataAtlântica, presente na primeira região ocupada e também amais devastada do Brasil. Trata de aproximadamente 15%do território nacional, onde vivem mais de 65% da populaçãobrasileira, cerca de 120 milhões de pessoas, que dependemdiretamente dos serviços ambientais dos remanescentes das

orestas e ecossistemas associados à Mata Atlântica.Faz uma contextualização da atual situação da Mata

Atlântica e a sua relação e importância frente às principaisquestões ambientais globais. Aponta o potencial que a MataAtlântica tem para contribuir na mitigação das mudanças cli-máticas globais por meio da necessária recuperação e rege-neração de áreas desmatadas no passado. Aponta também acontribuição da Mata Atlântica para a conservação de parcelasignicativa da biodiversidade mundial por meio do reconheci-mento de áreas protegidas e da prevenção dos desmatamen-tos da vegetação remanescente. Ressalta a necessidade deproteção de fontes e mananciais d´água, responsáveis pelo

abastecimento das principais metrópoles e de inúmeras cida-des do interior e também pela geração de grande parte daenergia elétrica do país.

Mostra a enorme população e as diferentes culturas dosque moram, trabalham, usufruem, interagem e dependem daMata Atlântica.

Faz um retrato resumido dos remanescentes de vegeta-ção nativa em cada estado e aponta as ameaças e riscos queainda pressionam a Mata Atlântica. Trata da legislação que

protege e regula as atividades humanas nesse complexo con- junto de ecossistemas.

Tudo isso foi fartamente ilustrado com fotos e mapas, eexemplicado com dezenas de iniciativas públicas e privadas,demonstrando que a conservação, o uso sustentável e a re-cuperação da Mata Atlântica são possíveis e necessárias e jáocorrem em muitas regiões.

Em suma, este livro mostra que a mudança de rumo emrelação ao tratamento dado à Mata Atlântica é urgente, e ape-sar de já estar em curso, ainda há muito a ser feito. Que aimplantação de um desenvolvimento que seja sustentável emtodos os aspectos: ambiental, social, econômico e cultural,

que considere adequadamente os potenciais do meio ambien-te, que intensique o uso de energias neutras na emissão decarbono, que preserve a vegetação nativa, a biodiversidade,as nascentes, os rios e as belezas cênicas é uma ação neces-sária e sem a qual a qualidade de vida das gerações futurasestará ameaçada. Mostra que preservar, conservar e recupe-rar os remanescentes de Mata Atlântica é fundamental paragarantir a sustentabilidade das atividades econômicas, paraprevenir as catástrofes ambientais que já estão acontecen-do em muitas regiões, e para garantir a qualidade de vida nocampo e nas cidades.

Neste Ano Internacional da Biodiversidade, este livro de-dica especial atenção à riqueza da diversidade de fauna e

ora, às belezas cênicas e às grandes oportunidades que aconservação e recuperação da Mata Atlântica proporcionamaos brasileiros e que apontam para um futuro diferente e sus-tentável. Chama atenção para a necessidade do cumprimentoda “Meta 2010”, compromisso assumido pelo Brasil junto àConvenção da Diversidade Biológica e que estabelece que ospaíses signatários devem reduzir signicativamente as taxasde perda da biodiversidade.

Esperamos que livro “Mata Atlântica – Patrimônio Na-

cional dos Brasileiros” sensibilize todas as pessoas que aele tenham acesso, contribuindo de forma signicativa paraa conservação e restauração da Mata Atlântica e sirva de

inspiração para novas idéias e iniciativas, mostrando que ocaminho do desenvolvimento sustentável no Brasil não só épossível, mas imprescindível.

Maria Cecília Wey de Brito

Secretária de Biodiversidade e Florestas

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http://slidepdf.com/reader/full/01-mata-atlantica 16/409Serra Dona Francisca – Joinville - SC

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

Um mapeamento feito em 2006 pelo Ministério do MeioAmbiente mostra que os remanescentes de vegetação na-

tiva da Mata Atlântica ocupam atualmente apenas 27% daárea original, incluindo os vários estágios de regeneração detodas as sionomias: orestas, campos naturais, restingas,

manguezais e outros tipos de vegetação nativa. As áreas

bem conservadas e grandes o suciente para garantir a sua

biodiversidade no longo prazo não chegam, porém, a 8% doque eram na época do descobrimento do Brasil1. Além de re-

duzidos, esses remanescentes estão fragmentados e não sedistribuem uniformemente ao longo do território, o que com-promete a perpetuidade de um grande número de espéciesraras, endêmicas e ameaçadas de extinção, tanto da ora

quanto da fauna. Além disso, a população humana tambémsofre as consequências dessa destruição.

Aproximadamente 123 milhões de pessoas vivem naárea da Mata Atlântica, em 3.410 municípios2. Destes, 2.928têm suas sedes municipais dentro da área da Mata Atlântica.

1 Ver capítulo 4 – Biodiversidade única e ameaçada, págs. 55 e 56.

2 Número de municípios (IBGE 2009) calculado a partir do Mapa da Área de Apli-

cação da Lei no

 11.428, de 2006. Inclui todos os municípios que têm parte do seuterritório nos limites da Mata Atlântica.

Por que precisamos recuperar a Mata Atlântica?

A qualidade de vida desses quase 67% da população brasi-leira3 depende da preservação dos remanescentes, os quaismantêm nascentes e fontes, regulando o uxo dos manan-ciais de água que abastecem as cidades e comunidades dointerior, ajudam a regular o clima, a temperatura do solo eprotegem escarpas e encostas de morros.

As orestas e os ecossistemas associados são também

reserva de beleza a nos lembrar que somos parte da naturezae que temos direito de viver na Mata Atlântica, porém respei-

tando as inúmeras espécies animais e vegetais que habitamessa parte do planeta. Se o simples direito de existir não forum argumento suciente, é bom lembrar que essas espécies

ainda representam fontes de alimento, remédio e outros re-cursos naturais conhecidos e desconhecidos à espera depesquisas que possam identicá-los.

Mas não basta manter o que ainda resta (e que em algu-mas regiões vem sofrendo graves ameaças), a Mata Atlânticaprecisa ser também recuperada, sob pena de comprometer-mos o futuro da vida nas cidades e no campo: sem as matas

3 Foi considerada a população de todos os municípios que cruzam os limites doMapa da Área de Aplicação da Lei no 11.428, de 2006 - Lei da Mata Atlântica,

segundo dados do IBGE de 2005. A população foi calculada a partir dos dadosdo IBGE, contagem da População 2007 e Estimativas da População 2007.

Unidades de conservação da natureza são fundamentais para a proteção da biodiversidade e da água.

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CAPÍTULO 1 – POR QUE PRECISAMOS RECUPERAR A MATA ATLÂNTICA?

ciliares, os rios, lagos e represascarão cada vez mais poluídos e

assoreados, inviabilizando a agri-cultura e o abastecimento de águapara a população. Sem a vegeta-ção nos topos de morro e áreas

muito íngremes, populações in-teiras cam à mercê da sorte em

épocas de chuvas, quando asencostas desprotegidas deslizame vêm abaixo sem dó nem pieda-de, causando inúmeros prejuízoseconômicos, sociais e ambientais.

E não são apenas as grandesorestas que precisam ser con-servadas e recuperadas. Mesmopequenas áreas verdes nas propriedades rurais, os parquesurbanos e até a arborização das ruas colaboram para dimi-

nuir enchentes e o desconforto do calor nas cidades. Umapesquisa realizada em bairros mais e menos arborizados deSão Paulo mostrou que a presença de árvores nas calçadase nos quintais pode reduzir a temperatura em até 2º C, pelosimples motivo que as árvores, principalmente as de grandeporte, retêm os raios solares4.

Unidades de conservação da natureza que protejam osmananciais de água também são de fundamental importân-

4 Tese de doutorado da engenheira agrônoma Giuliana Del Nero Velasco, pelaUniversidade de São Paulo (USP) em Piracicaba.

cia. Um estudo do WWF (2003) constatou que mais de 30%das 105 maiores cidades do mundo dependem de unidades

de conservação para seu abastecimento de água. Seis capi-tais brasileiras foram analisadas no estudo, sendo cinco naMata Atlântica: Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte,Salvador e Fortaleza. A tendência mundial se conrmou no

Brasil, pois, com exceção de Fortaleza – cujo abastecimentodepende de açudes e poços artesianos -, todas as cidadesbrasileiras pesquisadas dependem em maior ou menor graude áreas protegidas para o abastecimento de água.

A Mata Atlântica abriga uma intrincada rede de bacias hi-drográcas formadas por grandes rios como o Paraná, o Tietê,

o São Francisco, o Doce, o Paraíba do Sul, o Paranapanema,

Baas Hdroráas, omo a do Ro São Fraso, dpdm da proçãoda Mata Altântica para manter a qualidade de suas águas.

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

A arborzação rbaa amza a mprara, amado o

conforto e a qualidade de vida das pessoas nas cidades.

Tirar a vegetação e ocupar as encostas íngremes e topos

de morro aumenta os riscos de deslizamentos e enchentes.

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

   W   i   g   o   l   d   B

   S   c   h   a   f   f   e   r

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

o Uruguai e o Ribeira de Iguape. Essa rede é importante nãosó para o abastecimento humano, mas também para o desen-

volvimento de atividades econômicas, como a agricultura, apecuária, a indústria e todo o processo de urbanização do País.Segundo pesquisas realizadas pelo Laboratório de Hidro-

logia Florestal Walter Emerich, do Instituto Florestal de SãoPaulo, existe uma relação muito íntima entre a quantidade deágua na Mata Atlântica e o estado de conservação da ores-ta. Essas pesquisas produziram um dado inédito sobre o re-gime hídrico na região de Cunha (SP): “De toda a chuva quecai na Mata Atlântica, nesse sítio, ao longo de um ano, 70%abastece as águas dos rios de forma continuada e permanen-te. Isso signica uma alta produção de água pura”.

A oresta auxilia no que se cha-ma de regime hídrico permanente.Com seus vários componentes (fo-lhas, galhos, troncos, raízes e solo),age como uma poderosa esponjaque retém a água da chuva e a libe-ra aos poucos, ajudando a ltrá-la ea inltrá-la no subsolo, alimentando

o lençol freático. Com o desmata-mento e a retirada da vegetaçãonativa, surgem problemas como aescassez de água, já enfrentadaem muitas das cidades situadas naregião da Mata Atlântica.

Esse também é o principalmotivo da necessidade de se pre-

servar e recuperar a mata ciliar, que é o conjunto de árvores,arbustos, capins, cipós e ores que crescem nas margens

dos rios, lagos e nascentes. As áreas nas margens de rios,lagos e nascentes onde ocorrem as matas ciliares são con-sideradas de preservação permanente pelo Código FlorestalBrasileiro5.

Outra pesquisa da Universidade de São Paulo6 mostrouque o custo do tratamento da água é mais caro nas baciashidrográcas com menores índices de cobertura orestal. O

5 Lei no 4.771, de 1965.

6 Tese de doutorado da engenheira civil e sanitarista Lúcia Vidor de Souza Reis,pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP).

Rsam apas 27% da vação ava da Maa Aâa,

dsrbídos m mas d 200.000 framos, a maora mo pos.

Os custos de tratamento são menores e a qualidade da água é maior

quando nascentes e rios estão protegidos por vegetação nativa.

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

Seis das maiores cidades do Brasil dependemde unidades de conservação para abastecimento de água. São Paulo – SP.

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CAPÍTULO 1 – POR QUE PRECISAMOS RECUPERAR A MATA ATLÂNTICA?

   R   o   b   e   r   t   o   d   e   L   a   r   a   H   a   d   d   a   d

Preguiça-de-garganta-marrom (Bradypus variegatus ). O desmatamento e a fragmentação de habitats são ameaças aos animais da Mata Atlântica.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

trabalho determinou os custos do tratamento da água pro-veniente de bacias hidrográcas com diversos percentuais

de cobertura orestal, através da análise das características

operacionais de diversas Estações de Tratamento de Água(ETAs) e suas respectivas captações na região de Piracicaba,onde, em 2000, o Rio Piracicaba deixou de ser o principal

manancial de abastecimento público do município, por contada perda de qualidade de suas águas, dos altos custos do tra-tamento e da impossibilidade de garantir água de qualidadepara o consumo humano. Para seis dos sete sistemas e ETAsestudados, o custo especíco com produtos químicos na ETA

aumenta com a redução do percentual de cobertura orestal

da bacia de abastecimento.Os resultados mostram que as três unidades que possuem

custos especícos de produtos químicos mais baixos, inferio-res a R$ 20,00/1.000 m3 de água tratada, são aquelas que pos-suem maiores índices de cobertura orestal e todos superiores

a 15%. As duas unidades que possuem os menores percentu-

ais de cobertura orestal, ambos abaixo de 10%, apresentamos mais altos custos especícos de produtos químicos.

Todos os motivos que levam à necessidade de se recupe-rar a Mata Atlântica são ainda potencializados pela perspec-tiva da mudança climática global. Com previsão de tempe-raturas mais altas, secas mais intensas e chuvas torrenciais

Canário-da-terra (Sicalis faveola brasiliensis ).

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Parpas da Smaa da Maa Aâa, razada para ommorar o da aoa da Maa Aâa (27 d mao), m 2001.

   A   r   q  u   i  v   o   A   p   r   e   m   a  v   i

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CAPÍTULO 1 – POR QUE PRECISAMOS RECUPERAR A MATA ATLÂNTICA?

mais frequentes, a proteção desse conjunto de ecossistemas,que nos prestam serviços gratuitos e constantes, parece ob-via. É preciso lembrar que, se apenas o Código Florestal, alegislação mais antiga a incidir sobre a Mata Atlântica, fossecumprido, teríamos cerca de 30% da área original da MataAtlântica ainda coberta por vegetação nativa7, sem contar as

unidades de conservação.Atualmente, a Lei da Mata Atlântica e sua regulamentação

trazem regras claras e incentivos para que a conservação, aproteção, a regeneração e a utilização sustentável se tornemrealidade. A maior conscientização da população, do setor pri-vado e dos responsáveis pelos governos municipais, estaduaise federal também trazem motivação e esperança de uma mu-dança radical na história de ocupação da Mata Atlântica desdea chegada europeia ao nosso litoral, há 500 anos.

Instituído por decreto presidencial, o Dia Nacional daMata Atlântica é comemorado em 27 de maio. A data tem sidousada em todos os estados que têm áreas abrangidas pela

7 O Código Florestal (Lei no 4.771, de 1965) determina que, na Mata Atlântica,20% de cada imóvel rural seja mantido com vegetação nativa como ReservaLegal, além das Áreas de Preservação Permanente (matas ciliares, áreas ín-gremes, topos de morro etc.).

Os rmass d Maa Aâa prom ass ros abasm 67% da popação brasra.

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

Mata Atlântica para comemorar as conquistas para a sua con-servação e recuperação, mas também para lembrar que aMata Atlântica continua ameaçada e que ainda precisa muitodo empenho de todos para a sua defesa e proteção.

Mação da bodvrsdad, mação das mdaças máas conservação da água são alguns dos motivos para recuperar a Mata Atlântica.

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROSOS cliOS que nOS PROtegeM

As orsas dmas formas d vação ava as Áras d Prsrvação Prmaprom as áas formam orrdors oóos d faa ora.

As maas ars prom os rsos d’áa, arado a adad adad da áa.

Desmatar e ocupar margens de nascentes e rios provoca danos ambientais e prejuízos socioeconômicos aos ocupantes.

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

As matas ciliares são um símbolo dos servi-ços ambientais da Mata Atlântica e uma mostra dodesserviço feito pelo homem à natureza: durantemuito tempo, a eliminação das orestas e da ve-

getação ribeirinhas foi incentivada em nome da“limpeza” das áreas destinadas a produzir, morar

e até se divertir.O nome mata ciliar vem de cílios. Assim como

os cílios protegem os olhos, a mata ciliar protegeos rios, lagos e nascentes, cobrindo e protegendoo solo, deixando-o fofo e permitindo que funcionecomo uma esponja que absorve a água das chu-vas. Com isso, além de regular o ciclo da água,evita as enxurradas. Com suas raízes, a mata ciliarevita também a erosão e retém partículas de solo emateriais diversos que, com a chuva, iriam acabarassoreando o leito dos rios.

Esse conjunto de árvores e outras es-pécies vegetais, com sua sombra e frutos,é muito importante também para a prote-ção e preservação da diversidade da ora

e fauna e para o equilíbrio do ecossistemacomo um todo. Em uma região tão devas-tada como a Mata Atlântica, as matas ci-liares também funcionam como corredores

para que animais e sementes possam tran-sitar entre as áreas protegidas e garantir aalimentação, proteção e variabilidade ge-nética das mais diversas espécies.

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CAPÍTULO 1 – POR QUE PRECISAMOS RECUPERAR A MATA ATLÂNTICA?

    C   a   r   o   l   i   n   a   C .   S   c   h   a   f   f   e   r

A mação proção das orsas oras formas d vação ava ara a prdad das ass.

Em toda a Mata Atlântica, muitas matas ciliaresao longo de rios, lagos e nascentes foram desma-tadas e indevidamente utilizadas. As consequênciasdessa destruição são sentidas diariamente, com oagravamento das secas e também das enchentes.Em sintonia com a necessidade premente de recu-peração dessas áreas, o Decreto Federal no 6.514,de 2008, que regulamenta a Lei no 9.605, de 1998(Lei de Crimes Ambientais), estabeleceu multas se-veras para quem destrói ou impede a regeneraçãoda vegetação nativa das Áreas de Preservação Per-manente, das quais as matas ciliares são parte.

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A Mata Atlântica

no contexto global

Capítulo 2

   A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Fundamentais para a proteção do solo e da água, para aregulação do clima e da moradia da maior parte da biodiver-sidade mundial, as orestas ocupam atualmente um poucomenos de 4 bilhões de hectares (30% da superfície da Ter-ra). Mas o desmatamento prossegue em níveis alarmantes,com uma diminuição de 7,3 milhões de hectares de ores-

tas anualmente no mundo todo. Entre os dez países quereúnem 80% das orestas primárias do planeta, Brasil, In-donésia, México e Papua Nova Guiné sofreram as maioresperdas entre 2000 e 2005, segundo o relatório “Situação dasFlorestas no Mundo”, publicado em 2007 pela Organizaçãodas Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).

O relatório mostra que a perda de superfície orestal total foide 3% entre 1990 e 2005 (uma média de 0,22% ao ano). Mes-mo que o ritmo de desmatamento tenha diminuído ligeiramenteentre 2000 a 2005 (0,18%) - o que até pode ser considerado umprogresso -, isso signica o desaparecimento de 20 mil hectarespor dia. A América Latina e o Caribe são, junto com a África, asduas regiões que perdem orestas a um ritmo mais elevado,

A Mata Atlântica no contexto global

com uma taxa anual média líquida de 0,51% (2000-2005).O maior alerta do relatório refere-se aos indícios, cada

vez mais claros, de que a mudança climática afetará profun-damente as orestas, com um aumento dos danos provoca -dos por incêndios, pragas e doenças. Por outro lado, as o-restas podem contribuir de maneira importante para atenuar a

mudança climática. Isso acontece porque o desmatamento éuma fonte importante de emissões de gases de efeito estufa.O desmatamento e as queimadas são responsáveis por cercade 20% das emissões globais anuais – no Brasil, represen-tam 75% das emissões.

Um estudo de 2007, de um grupo de pesquisadores inter-nacionais, com a participação do Instituto Nacional de Pesqui-sas Espaciais (INPE)8, demonstra que preservando orestas, omundo pode diminuir em até 12% as emissões globais e evi-

8 “Tropical Forests, Climate Change and Climate Policy”, de Carlos Nobre, do

INPE, e cientistas da Austrália, do Canadá, dos Estados Unidos, da França edo Reino Unido, publicado no site da revista Science, em maio de 2007.

As rstas cpam aprximadamnt 4 bilhõs d hctars (30% da sprfíci da Trra). Na Mata Atlântica,sã rars s fragmnts rstais primáris cm st m Ri ds Cdrs – SC.

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CAPÍTULO 2 – A MATA ATLÂNTICA NO CONTEXTO GLOBAL

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tar que 50 bilhões de toneladas de carbono sejam lançadosna atmosfera. Segundo o relatório “Situação das Florestas doMundo” da FAO, porém, existem obstáculos políticos e buro-cráticos a serem vencidos para que mecanismos associadosà convenção do clima, como o Protocolo de Quioto, possamajudar a deter o desmatamento tropical.

A importância de se deter o desmatamento orestal é ressal-tada pelo “Panorama do Meio Ambiente Global: Meio Ambientepara o Desenvolvimento”, conhecido como GEO 4, um relatóriodo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma),lançado em outubro de 2007, que mostra o estado atual da at-mosfera, da terra, da água e da biodiversidade em todo o mundoe identica prioridades para ação. E a “prioridade global”, segun-do o estudo do Pnuma, é a mudança climática global.

Segundo esse relatório, embora atualmente o meio am-biente ocupe uma posição mais central na política em todosos países, existem falhas em atender a problemas persisten-tes que podem comprometer tudo o que já foi atingido atéo presente nas questões mais simples e podem ameaçar asobrevivência da humanidade.

Analisando os últimos 20 anos, o relatório mostra que omundo mudou radicalmente desde 1987, quando a Comis-são Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento de GroHarlem Brundtland (conhecida como Comissão Brundtland)produziu o primeiro grande alerta global sobre as questõesambientais: o documento “Nosso Futuro Comum”. De lá para

cá, a população aumentou cerca de 3%, o comércio é quasetrês vezes superior e os rendimentos per capita médios tam-bém se elevaram.

O consumo tem crescido mais rapidamente do que a po-pulação, mas de forma desigual: o rendimento total anual dequase um bilhão de pessoas que vivem nos países mais ricosé quase 15 vezes maior do que o de 2,3 bilhões de pessoasdos países mais pobres. Além disso, há menos recursos paradividir: com o aumento da população, a quantidade de terraper capita é cerca de um quarto do que era há um século eespera-se que até 2050 se reduza para um quinto do que eraem 1900.

A população está também mais concentrada e urbaniza-da. Estima-se que, até 2050, as populações costeiras sozi-

A xplraçã madirira d spécis raras amaçadas amnta risc d xtinçã d spécis.

Na ft m trnc d Imbia (Ocotea porosa ).

Dsmatamnt qimada m Papandva - SC (tbr d 2006). N Brasil,s dsmatamnts rprsntam 75% das missõs d gass d fit stfa.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Para nfrntar aqcimnt glbal, é ncssári mdar rgntmnt a matriz nrgéticaà bas d cmbstívis fóssis para fnts d nrgia rnvávl ntras m missã d carbn.

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

nhas atinjam seis bilhões de pessoas. Em algum momentoentre 2007 e 2008, pela primeira vez na história da humani-dade, mais da metade da população mundial passou a viverem cidades.

Nesse mundo desigual, onde as evidências dos impactosda mudança climática são visíveis e inequívocas e se concluique as atividades humanas têm sido decisivas nesta mudan-

ça, surge o grande desao coletivo da humanidade: a mé-dia global de temperaturas se elevou cerca de 0,7º C desde1906. A estimativa mais otimista para a elevação neste séculoé de 1,8º C. No entanto, alguns cientistas acreditam que umaumento de 2º C acima dos níveis pré-industriais (portantoum aumento já certo de acontecer) é o limiar depois do quala ameaça de danos maiores e irreversíveis se tornará maisconcreta.

Núcleos de gelo extraídos das regiões polares, que foramse formando ao longo da história da Terra, mostram que osníveis de dióxido de carbono (CO2) e metano (CH4) estão,hoje, muito além do alcance natural de suas variações nos

últimos 500.000 anos: o clima terrestre alcançou um estado

Mais d 30% ds anfíbis stã amaçads d xtinçã.

   C   a   r   o   l   i   n   a   C .

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CAPÍTULO 2 – A MATA ATLÂNTICA NO CONTEXTO GLOBAL

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A divrsicaçã a prdçã rgânica d alimnts sã imprtantspara a sstntabilidad da prdçã agrícla n lng praz.

sem paralelos na pré-história recente. As temperaturas no Ár-tico se elevam duas vezes mais rapidamente do que no restodo mundo.

A elevação do nível do mar causada pela expansão tér-mica da água e pelo derretimento das geleiras e dos lençóisde gelo continuará, com consequências potencialmente gran-des, já que mais de 60% da população mundial vive dentro deáreas distantes em até 100 quilômetros de costas (isso incluia maior parte da população em área de Mata Atlântica).

A crescente acidicação dos oceanos e as temperaturasmais quentes provavelmente também afetarão a segurança ali-mentar global. Diarreia e malária serão cada vez mais comuns.

FRuNS INTeRNACIoNAIS

A preocupação internacional com o meio ambiente foi in-sipiente e dependeu de vozes isoladas até a década de 1970,quando o movimento ambientalista começou a crescer em todoo mundo e ocorreu, em Estocolmo, na Suécia, em 1972, a pri-meira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente.Dela resultou a criação do Programa das Nações Unidas para o

Meio Ambiente (Pnuma), além de uma declaração internacionalsobre o meio ambiente urbano.Em 1992, realizou-se a segunda conferência, no Rio de Ja-

neiro (conhecida como Rio-92 ou Eco-92), considerada até hoje amaior conferência já realizada pela ONU. Na Rio-92, foram assina-das a Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desen-volvimento, a Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB),a Declaração de Princípios das Florestas, a Convenção-Quadrosobre Mudanças Climáticas (Convenção do Clima) e a Agenda 21.

Desde então, esses documentos e acordos têm servido comoreferências para decisões e políticas nacionais e internacionaissobre questões socioambientais e encabeçam a agenda interna-cional. Em 2002, a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sus-

tentável, realizada em Johanesburgo, na África do Sul, que couconhecida como Rio+10, frustrou as expectativas de grandesavanços, mas xou um plano de metas, sem prazos, para fazervaler os acordos assinados em 1992.

As recentes comprovações acerca do aquecimento global eda situação de vulnerabilidade da biodiversidade, assim como oimpacto dessas questões na opinião pública mundial, devem di-recionar uma mudança de atitude mundial em relação ao tema.As primeiras medidas do presidente dos Estados Unidos, BarackObama, para reduzir as emissões de gases causadores do efeitoestufa, reforçam expectativas nesse sentido. Maiores poluidoresmundiais, os EUA, durante a administração de George W. Bush,

se recusaram a assinar o Protocolo de Quioto ou a assumir qual-quer compromisso de redução de emissões.Com a mudança de atitude do governo norteamericano, tor-

na-se mais provável que os países assinem logo um novo tra-tado internacional que sucederá o Protocolo de Quioto, a partirde 2012, com metas mais severas para contenção dos gases deefeito estufa e inclua mecanismos que tratem especicamente dodesmatamento orestal, que caram de fora do primeiro acordo.

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o Brasil é signatári da Cnvnçã sbr a Divrsidad Bilógica (CDB),q raliz a 9ª rniã CoP-9 m Bnn (Almanha) m 2008.

evnt sbr a Mata Atlântica drant a CoP-9 m Bnn, na Almanha,rni rprsntants gvrnamntais, oNGs, cintistas mprsáris.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Com tudo isso, as tendências atuais não favorecem a es-tabilização dos gases de efeito estufa. A aviação viveu umaumento de 80% das milhas percorridas entre 1990 e 2003,enquanto a navegação cresceu de um bilhão de toneladasde bens transportados em 1990 para 7,1 bilhões de tonela-das em 2005. Cada um desses setores demanda enormes ecrescentes quantidades de energia. E, como vimos, o desma-

tamento – responsável por aproximadamente 20% das emis-sões de gases de efeito estufa – continua com altas taxasanuais. Alguns desses gases podem persistir na atmosferapor mais de 50.000 anos.

A atmosfera sofre, ainda, outros tipos de pressão. Apesardo sucesso impressionante em eliminar substâncias danica-doras do ozônio, o buraco na estratosfera localizado acimada Antártica é hoje maior do que nunca, permitindo que a ra-diação solar ultravioleta, prejudicial à saúde, atinja a Terra.Embora a chuva ácida seja atualmente um problema muitomenor na Europa e na América do Norte, é um desao empaíses como o México, a Índia e a China.

A poluição é reforçada com o uso comercial de mais de

50.000 compostos químicos, com centenas sendo acrescen-

o sistma d transprts (navgaçã, aviaçã, vícls trrstrs)é m ds principais casadrs d fit stfa.

estima-s q até 2050 sis bilhõs d pssas stjam vivndm áras cstiras, mitas dlas vlnrávis à lvaçã n nívl d mar.

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tados a cada ano. Estima-se que a produção química globalcresça cerca de 85% nos próximos 20 anos. Estima-se quemais de dois milhões de pessoas morram prematuramentepor ano em todo o mundo devido à poluição em ambientesfechados ou abertos. Parte do progresso na redução da po-luição atingido por países desenvolvidos foi possível à custados países em desenvolvimento, para onde a produção in-

dustrial e seus impactos têm sido exportados.

Cmida, ága bidivrsidad

O relatório do Pnuma traz, ainda, importantes alertas so-bre as condições da segurança alimentar (disponibilidade dealimentos), da água e da biodiversidade, todas elas bastante de-pendentes da quantidade e da qualidade das orestas mundiais.

Perdas na produção agrícola global devido a pragas deinsetos foram estimadas em 1%. O uso insustentável do soloestá causando a sua degradação, ameaça tão séria quantoa mudança climática (há pesquisadores que dizem ser este o

principal risco para a humanidade). Essa situação afeta mais

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CAPÍTULO 2 – A MATA ATLÂNTICA NO CONTEXTO GLOBAL

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do que um terço da população mundial,através da poluição, erosão do solo, es-gotamento de nutrientes, escassez deágua, aumento da salinidade e quebra deciclos biológicos.

A segurança alimentar de dois terços

da população mundial hoje é dependentede fertilizantes, especialmente o nitrogê-nio. O crescimento populacional, o con-sumo excessivo e a contínua mudança dealimentação a base de cereais para a basede carne poderá elevar ainda mais os fa-tores de exploração insustentável do soloe da água. Segundo o Pnuma, até 2030,países em desenvolvimento provavelmen-te precisarão de mais de 120 milhões dehectares para alimentar suas populações.E apenas alguns deles, como é o caso doBrasil, ainda têm áreas para onde expan-dir, parte delas ocupadas por orestas eoutros ecossistemas naturais, o que tam-bém é um grave problema ambiental.

A perda da diversidade genéticatambém pode ameaçar a segurançaalimentar. Atualmente, apenas seis va-riedades de milho são responsáveis pormais de 70% da produção mundial degrãos. A dieta das sociedades modernaslimita-se a aproximadamente 100 espé-cies, com forte predominância de quatro:trigo, arroz, milho e batata. Trinta cultu-

ras dominam a agricultura, fornecendo

Cbatã - SP – já fi acidad mais plída d

Brasil (ft d 1987).A pliçã indstrial,

mbra mns grav nBrasil atalmnt, aindaé rspnsávl pr chvaácida m paíss cm

Méxic, a Índia a China.

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o s insstntávl casa rsã sgtamnt d ntrints d sl,cmprmtnd a prdçã agrícla, s rcrss hídrics a bidivrsidad.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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A dita das scidads mdrnas limita-s a aprximadamnt 100 spécis, cm frt prdminância d qatr: milh, trig, arrz batata.

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CAPÍTULO 2 – A MATA ATLÂNTICA NO CONTEXTO GLOBAL

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90% das calorias ao globo. Uma única espécie (o gadobovino) corresponde a 90% do conjunto animal de todasas fazendas no planeta.

Estima-se, porém, que, no curso da história, a huma-nidade tenha utilizado cerca de 7.000 espécies de plan-tas comestíveis. Somente com as espécies conhecidas

atualmente, esse número poderia ser muito maior. O pro-blema da baixa diversidade genética, além da diminuiçãodo número de espécies e de variedades genéticas dasplantas utilizadas, também ocorre junto com uma dramá-tica redução no número de espécies de “apoio” (comobactérias xadoras de nitrogênio, predadores de pragas,polinizadores e dispersores de sementes). Tudo isso levatambém a um aumento da vulnerabilidade das restritasplantas que são amplamente utilizadas ao ataque depragas, secas, mudanças climáticas e outros fatores derisco9.

O aumento de área para a agricultura deverá impac-

tar ainda mais os recursos hídricos, já que as atividadesde irrigação consomem cerca de 70% da água dispo-nível. Dentre os maiores rios do mundo, 10% deixamde alcançar o mar em alguns períodos do ano devidoa demandas de irrigação. A quantidade de água doce

9 Almanaque Brasil Socioambiental 2008, ISA.As rstas sã fndamntais para a prtçã d sl da ága.

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o cnsm d pixs m nívl mndial triplic ntr1961 2001. Atalmnt a sbrpsca ating 80% das

spécis xplradas na csta brasilira.

As spécis xóticas cnsidradas invasrasstã ntr as principais casas da prda d bidivrsidad. A ft

mstra Pinus sp , spéci invasra m camps natrais.

   R   a   p   h   a   e   l   M   i   l   i   a   n   M   e   d   e   i   r   o   s

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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está diminuindo: até 2050 prevê-se que o consumo de águacrescerá 50% em países em desenvolvimento e 18% em pa-íses já desenvolvidos. Segundo o GEO 4, o crescente pesoda demanda de água se tornará intolerável em países comrecursos hídricos escassos (e em outras regiões secas, comoo semiárido brasileiro).

A qualidade da água também está piorando, poluída pormicróbios patogênicos e nutrientes excessivos. Globalmente,a água contaminada continua a ser a maior causa isolada dedoenças e mortes humanas. Estima-se que 2,6 bilhões depessoas não possuam serviços sanitários adequados. Existetambém uma preocupação crescente com os impactos queprodutos de cuidado pessoal e farmacêuticos, como analgési-cos e antibióticos, possam ter sobre ecossistemas aquáticos.

O consumo de peixes triplicou entre 1961 e 2001. Osestoques pesqueiros estagnaram ou declinaram lentamentedesde 1980. Subsídios criaram excessos na capacidade depesca, estimados em 250% a mais do que o recomendávelpara uma utilização sustentável dos oceanos. No Brasil, a

questão é ainda mais grave, pois as águas tropicais, que pre-dominam na maior parte da costa brasileira, embora sejamricas em biodiversidade, são mais pobres em número de pei-xes, crustáceos e moluscos do que as dos mares temperadose polares, por causa da menor concentração de nutrientes.Atualmente, 80% das espécies exploradas na costa brasileiraestão em situação de sobrepesca, ou seja, não conseguemrepor naturalmente os indivíduos capturados pela pesca.

As mudanças na biodiversidade são as mais rápidas dahistória da humanidade. As espécies estão se extinguindo

100 vezes mais rápido do que a taxa mostrada pelos registrosfósseis recentes (Pleistoceno-Holoceno). Estima-se que o co-mércio de caça na bacia do Congo, por exemplo, esteja seisvezes acima da taxa de recuperação das populações de ani-mais. Entre os maiores grupos de vertebrados estudados deforma abrangente, mais de 30% dos anfíbios, 23% dos ma-

míferos e 12% dos pássaros estão ameaçados de extinção.A introdução de espécies invasoras é também um problemacrescente. Uma espécie de água-viva, acidentalmente introdu-zida em 1982 por navios americanos, tomou conta do ecossis-tema do Mar Negro e destruiu 26 atividades pesqueiras comer-ciais até 1992. No Brasil, o mexilhão dourado, molusco asiáticode água doce, trazido por água de lastro de navios, infestou riose lagos e, na região Sul, tem atrapalhado a manutenção de tu-bulações de sistemas de abastecimento e usinas hidrelétricas.

Cerca de 60% dos serviços ambientais estudados peloPnuma estão degradados ou são utilizados de forma insus-tentável. A sexta maior extinção de espécies em massa dahistória do planeta está em andamento, desta vez causada

pelo comportamento humano. O aumento das áreas protegi-das é considerado um progresso. Mas elas devem ser ecien-temente administradas e garantidas, pois a biodiversidadeprecisará cada vez mais delas.

Segundo o GEO 4, “nosso futuro comum depende denossas ações hoje, não amanhã nem em algum momentodo futuro”. Assim, a única maneira de tratar desses proble-mas difíceis requer a transferência de questões ambientaisda periferia para o centro das decisões: meio ambiente paradesenvolvimento e não desenvolvimento em detrimento doambiente.

o amnt da tmpratra glbal já casa altraçõs m dtrminads cssistmas rgiõs, aftand dirtamnt a bidivrsidad dsts lcais.

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CAPÍTULO 2 – A MATA ATLÂNTICA NO CONTEXTO GLOBAL

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   T   a   n   i   a   B   r   i   t   o

o drrtimnt d gl das caltas plars (Ártic Antártica - ft), cnsqência d aqcimnt glbal,gra amnt d nívl d mar já ating pplaçõs cstiras m divrss paíss.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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O conceito Hotspot foi criado em 1988, pelo ecólogoinglês Norman Myers, para resolver um dos maiores dile-mas dos conservacionistas: quais as áreas mais importan-tes para preservar a biodiversidade da Terra?

HoTSPoTSFlrsta cm aracárias – Parq Nacinal das Aracárias - SC.

Cacts (Parodia haselbergii ). espéci ndêmica rara.

As rstas prtgm nascnts fnts rglam x ds mananciais d ága.

o Crrad brasilir também é m Htspt. Parq NacinalChapada ds Vadirs - Go.

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CAPÍTULO 2 – A MATA ATLÂNTICA NO CONTEXTO GLOBAL

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Ao observar que a biodiversidade não está igualmente distribuída no planeta, Myers procurou identicar quais as regiões queconcentravam os mais altos níveis de biodiversidade e onde as ações de conservação seriam mais urgentes. Hotspost é, portanto,toda área prioritária para conservação, isto é, de alta biodiversidade e endemismo e ameaçada no mais alto grau. É consideradaHotspot uma área com pelo menos 1.500 espécies endêmicas de plantas e que tenha perdido mais de três quartos de sua vegeta-ção original. Na época, Myers identicou dez Hotspots mundiais.

A partir de 1996, a organização não-governamental Conservação Internacional (CI) ampliou esse trabalho e passou a mo-nitorar os Hotspots, através de pesquisa com mais de 100 especialistas. A última atualização, realizada em 2005, identicou 34regiões no planeta, onde vivem 75% dos mamíferos, aves e anfíbios mais ameaçados do planeta, entre elas a Mata Atlântica eo Cerrado brasileiros. Juntas, essas áreas correspondem a apenas 2,3% da superfície terrestre, onde se encontram 50% dasplantas e 42% dos vertebrados conhecidos. No mapa dos Hotspots da CI, a Mata Atlântica é o número um.

Saiba Mais: www.cnsrvatin.rg.br

A Mata Atlântica é m Htspst,ma ára cm alta bidivrsidad ndmism a msm tmp

amaçada n mais alt gra.

Mic-lã-d-cara-drada (Leontopithecus chrysomelas):  spéci amaçada d xtinçã, ndêmica da Mata

Atlântica.

Lagart-pitc (Hoplocercus spinosus), Srra Vrmlha - PI.

Saíra-st-crs (Tangara seledon): spécida Mata Altântica.

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

   A   r   q  u   i  v   o   P   r   o   j    e   t   o   C   o   r   r   e   d   o   r   e   s

   A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

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http://slidepdf.com/reader/full/01-mata-atlantica 40/409Madeira de araucária serrada no pátio da South Brazilian Lumber and Colonisation Comp. Ltda., Três Barras - SC (década de 1920).

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Breve histórico

da destruição

Capítulo 3

   L  u   i  z   S  z   c  z   e   r   b   o  w   s   k   i

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Breve histórico da destruição10

A destruição e a utilização irracional da Mata Atlântica

tiveram início em 1500 com a chegada dos europeus. Nes-

tes pouco mais de 500 anos, a relação dos colonizadores e

seus sucessores com a oresta e seus recursos foi a mais

10 Fonte principal: Mata Atlântica – Uma Rede pela Floresta (Rede de ONGs daMata Atlântica, 2006).

predatória possível. No entanto, foi no século XX que o des -

matamento e a exploração madeireira atingiram níveis alar-

mantes. Das orestas primárias, só foi valorizada a madeira,

mesmo assim apenas de algumas poucas espécies. O valor

dos produtos não-madeireiros e os serviços ambientais dos

ecossistemas foram ignorados ou desconhecidos na maior

parte do tempo e das práticas adotadas.

Mateiros pousam ao lado do “troféu, uma araucária centenária. Nortede Santa Catarina (década de 1920).

Transporte de madeira em Agrolândia – SC (década de 1940).

   L  u   i  z   S  z   c  z   e   r   b   o  w   s   k   i

   A   r   q   u   i  v   o   A   p   r   e   m   a  v   i

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CAPÍTULO 3 – BREVE HISTÓRICO DA DESTRUIÇÃO

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Todos os principais ciclos econômicos desde a explora-

ção do pau-brasil, a mineração do ouro e diamantes, a criação

do gado, as plantações de cana-de-açúcar e café, a indus-

trialização, a exportação de madeira e, mais recentemente, o

plantio de soja e fumo, plantios orestais de espécies exóti-

cas e outras commodities  foram, passo-a-passo, desalojando

a Mata Atlântica.

Historicamente, os setores agropecuário, madeireiro, side-

rúrgico e imobiliário pouco se preocuparam com o futuro das

orestas ou com a conservação da biodiversidade. O mais grave

é que essa falta de compromisso com a conservação e até o es-

tímulo ao desmatamento, muitas vezes, partiram dos governos.

Para se ter uma idéia desse processo, basta vericar

que, em 1850, o estado de São Paulo tinha 80% de seu

território coberto por Mata Atlântica, os outros 20% eram

Cerrado e outros ecossistemas. Com a expansão da cultura

do café e a industrialização, apenas 100 anos depois, em

1950, restavam somente 18% de Mata Atlântica, mas isso

   A   r   q   u   i  v   o   A   p   r   e   m   a  v   i

Até as primeiras décadas do século XX, os colonizadores e seus sucessores ainda derrubavam a oresta usando machados e fogo. Atalanta – SC (década de 1940).

Pequenas serrarias eram as primeiras indústrias a surgir emtodas as fronteiras da colonização da Mata Atlântica.

Atalanta – SC (década de 1940).

Algumas árvores centenárias exigiam verdadeiras operações deguerra para serem retiradas da mata e transportadas até a serraria.

Norte de Santa Catarina (década de 1920).

   A   r   q   u   i  v   o   A   p   r   e   m

   a  v   i

   L  u   i  z   S  z   c  z   e   r   b   o

  w   s   k   i

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

42

preocupava pouca gente, pois a “fumaça das fábricas era

vista e apreciada como paisagem do progresso”11.

Segundo Newton Carneiro, em “Um Precursor da Justi-

ça Social – David Carneiro e a Economia Paranaense”, em

11 Rocha & Costa, 1998.

1873 a Companhia Florestal Paranaense, com o objetivo de

fazer propaganda e atrair os importadores europeus, chegou

a cortar em pedaços uma araucária de 33 metros de altura,

transportando-a de navio para a Europa, onde foi novamente

montada em pé, na Exposição Internacional de Viena.

Exemplo da forma como o desmatamento era estimula-

do pode ser encontrado também em Relíquias Bibliográfcas

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

A expansão da pecuária bovina deu-se em detrimento da Mata Atlantica, principalmente em estados do Sul e do Sudeste.

A implantação de monoculturas, como a cana-de-açúcar no Nordeste e noSudeste, teve papel decisivo na destruição da Mata Atlântica daquelas regiões.

Pátio de madeireira repleto de madeira de araucária emPonte Serrada – SC (maio de 2001).

   A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

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CAPÍTULO 3 – BREVE HISTÓRICO DA DESTRUIÇÃO

43

Florestais , que transcreve uma exposição de motivos feita em

1917, pela Comissão da Sociedade Nacional de Agricultura,

para o Ministro da Agricultura, Indústria e Comércio. A Comis-

são solicitava ao governo federal e aos governadores dos es-

tados que zessem ampla campanha estimulando o corte de

orestas para exportação ao mercado europeu, depois que

terminasse a Primeira Guerra Mundial.

O brasilianista Warren Dean registra que durante uma

conferência em Minas Gerais, realizada em 1924, um orador

disse: “entre nós é nulo o amor por nossas orestas, nula

a compreensão das infelizes consequências que derivam de

seu empobrecimento e do horror que resultaria de sua com- 

pleta destruição. Fortalecer o sentimento (de conservação) é

uma medida de necessidade urgente ”.

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

Reorestamentos com espécies exóticas feitos sem observar a legislação contribuem para a destruição da Mata Atlântica.

A soja, nas regiões Sul e parte da Sudeste, foioutro ciclo econômico que contribuiu para a

destruição da Mata Atlântica.

Na região Sul, a fumicultura ainda tem contribuído para odesmatamento, pois a secagem das folhas é feita em estufas

aquecidas com queima de lenha.

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

    M   i   r   i   a   m    P

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

44

   L  u   i  z   S  z   c  z   e   r   b   o  w   s   k   i

Os imensos pinheirais do sul do Brasil, pela sua madeira nobre e fácil extração, atraíram a cobiçade madeireiros do Brasil e do exterior a partir do início do século XX, incentivados por políticas

governamentais despreocupadas com a sustentabilidade.

A destruição das orestas com araucárias – insustentabilidade ambiental e econômica

Já no nal da década de 1920, podia-se ver o resultado

perverso das políticas orestais equivocadas da época. Uma

descrição da irracionalidade praticada contra a Mata Atlântica

pode ser encontrada num livro escrito em 1930 por F. C. Ho-

ehne. Ao liderar uma expedição, na qualidade de assistente-

chefe da seção de botânica e agronomia do Instituto Biológico

de Defesa Agrícola e Animal do Estado de São Paulo, Hoeh-

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CAPÍTULO 3 – BREVE HISTÓRICO DA DESTRUIÇÃO

45

“Montagem” de uma araucária na Exposição Internacional de Viena, em1873. Com 33 metros de altura, a árvore foi transportada, em pedaços, pela

Companhia Florestal Paranaense. Extraído de “Um precursor da justiçasocial – David Carneiro e a economia paranaense”, de Newton Carneiro.

A ferrovia permitiu a exploração de milhares de hectares de orestas ricasem araucárias e imbuias, sem qualquer preocupação com a sustentabilidade

e a manutenção futura da oresta.

O governo brasileiro concedeu 15 km de oresta com araucárias em cadalado da ferrovia, para a empresa South Brazilian Lumber and Colonisation,

em troca da construção da estrada de ferro São Paulo-Rio Grande.

   L  u   i  z   S  z   c  z   e   r   b   o  w   s   k   i

   L  u   i  z   S  z   c  z   e   r   b   o  w   s   k   i

   K   O   C   H ,   Z   i   g  ;   C   O   R   R   E   A ,   M   a   r   i   a   C   e   l   e   s   t   e .   A   r   a   u   c   á   r   i   a  –   A   F   l   o   r   e

   s   t   a   d   o   B   r   a   s   i   l   M   e   r   i   d   i   o   n   a   l .

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Pátio da empresa South Brazilian Lumber and Colonisation Comp. Ltda., repleto de toras de araucária e imbuia. Três Barras – SC (década de 1920).

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CAPÍTULO 3 – BREVE HISTÓRICO DA DESTRUIÇÃO

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   L  u   i  z   S  z   c  z   e   r   b   o  w   s   k   i

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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me percorreu de trem a região das matas onde ocorria a arau-

cária, nos estados do Paraná e Santa Catarina. Registrou em

detalhes a beleza da paisagem, a diversidade da ora, a pre-

sença humana e a destruição promovida pela exploração ma-

deireira irracional e pela expansão de pastagens e agricultura

sem nenhum cuidado com o meio ambiente. Em Três Barras,

a caminho de Porto União, Hoehme descreveu com intensa

revolta a enorme degradação promovida pela empresa South

Brazilian Lumber and Colonisation Comp. Ltda., que, em tro-

ca da construção de trechos da estrada de ferro São Paulo-

Rio Grande, recebera a concessão para explorar milhares de

hectares de orestas ricas em araucárias e imbuias, numa

extensão de 15 km em cada lado da ferrovia.

Realizado no estado do Paraná, em 1963, o “Inventário

do Pinheiro no Paraná”12 ilustra bem o processo de destruição

da Mata Atlântica. Eis alguns números e conclusões do estu-

do: em 1.963, a área total de orestas no Paraná era de cerca

de 6.500.000 hectares13; naquele mesmo ano, a área total

com remanescentes de araucária era estimada em 1.500.000ha. O estudo estimou em 45.000.000 m3 o estoque total de

madeira de araucária no estado do Paraná e concluiu que, a

continuar o corte anual de 3.000.000 m3, a reserva de madei-

ra estaria liquidada em 15 anos a contar do ano de 1963, o

que não aconteceu por muito pouco. Também cou demons-

trado que, além da oresta ombróla mista (oresta com

araucárias), que vinha sendo dizimada pelos madeireiros, as

orestas estacionais e densas também vinham sofrendo uma

intensa destruição. Cálculos baseados em fotograas aéreas

de 1953 e1963 mostraram a destruição de cerca de 250.000

ha de oresta, o equivalente a 2.500 km2/ano de orestas

destruídas.

Em 1965, segundo o Instituto Nacional do Pinho, havia

no Paraná: 1.395 serrarias de produção para exportação e

consumo local do pinho; 278 fábricas de laminados e com-

pensados, 926 fábricas de pinho beneciado, caixas, cabos

de vassouras, artefatos de lâminas; 256 fábricas de móveis;

188 exportadores de madeira; 932 comerciantes de madeira;

e 94 fábricas de celulose, papel e pasta mecânica.

Esses dados mostram que já no início da segunda meta-

de do século XX se sabia que a Mata Atlântica vinha sendo

destruída numa velocidade muito maior do que a sua capa-

cidade de autoregeneração. O estudo fez sugestões de me-

didas que deveriam ter sido tomadas naquela época, como a

criação de reservas orestais entre 3 a 4 milhões de hectares.Como nenhuma das medidas sugeridas foi levada a sé-

12 Realizado pela Comissão de Estudos dos Recursos Naturais Renováveis

do Estado do Paraná (Cerena), em colaboração com a Escola de Florestas da

Universidade Federal do Paraná, Escola de Agronomia e Veterinária da Univer-

sidade Federal do Paraná, Departamento de Geograa, Terras e Colonização

e Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO).

13 Em 1995, restavam 1.730.500 ha de orestas primárias e secundárias de

diferentes tosionomias, segundo o Atlas dos Remanescentes Florestais no

Domínio da Mata Atlântica (SOS, INPE, ISA).

rio, o número de serrarias e empregos foi diminuindo junta -

mente com a oresta. Isso mostra que houve não apenas

uma insustentabilidade ambiental na exploração da oresta,

mas também uma completa insustentabilidade econômica e

social nessa exploração. Segundo estudo de 2001 da Fun-

dação de Pesquisas Florestais do Paraná restam no estado

apenas 0,8% (66.000 ha) de remanescentes de oresta com

araucária em estágio avançado de regeneração. Ambientes

intocados são praticamente inexistentes.

Ameaças continuam

Hoje, após anos de campanhas de educação ambiental,

uma legislação especíca para a Mata Atlântica (o Decre-

to no 750/93 e atualmente a Lei da Mata Atlântica – Lei n o 

11.428/06) e uma atuação mais rme de órgãos de scaliza -

ção, o ritmo de desmatamento vem caindo, conforme consta-tou a quarta edição do Atlas dos Remanescentes Florestais

da Mata Atlântica (SOS Mata Atlântica-INPE). Entre o período

de 2000 e 2005, houve uma redução de 69% na taxa de des-

orestamento da Mata Atlântica em comparação ao período

anterior (1995-2000). Essa queda ocorreu com maior intensi-

dade em regiões onde houve perda da importância econômi-

ca da agricultura, como o Vale do Paraíba, em São Paulo, e

regiões do Rio Grande do Sul, que tiveram pequenos índices

de recuperação orestal por abandono de áreas. Em outras

regiões, porém, como Santa Catarina e Goiás, o ritmo de des-

matamento aumentou.

Já no período de 2005 a 2008, segundo SOS/INPE,

manteve-se a média anual de 34.121 hectares desmatados,

totalizando 102.938 hectares, bem próxima da quantidade

desmatada no período anterior. Os estados que continuam

desmatando mais são Minas Gerais (32.728 ha), Santa Cata-

rina (25.953 ha) e Bahia (24.148 ha), representando sozinhos

mais de 80% do total desmatado na Mata Atlântica.

Mesmo que o ritmo geral de desmatamento tenha dimi-

nuído, os números ainda são alarmantes e totalmente injusti-

cáveis se considerado o grau de destruição já atingido pela

Mata Atlântica. São diversos os fatores que ainda impactam

e contribuem com a degradação da Mata Atlântica. Um deles

é o avanço das cidades sem que haja um planejamento e à

mercê da especulação imobiliária, especialmente nas cida-des ao longo do litoral. A consequência disso é a destruição

de ecossistemas e desastres socioambientais com loteamen-

tos inteiros sendo atingidos por deslizamentos de terra ou so-

frendo com inundações por terem se instalado em áreas de

preservação permanente nas margens dos rios.

Há também grandes obras e empreendimentos como

as hidrelétricas, que ainda são planejadas sem considerar

devidamente a importância dos ecossistemas naturais pre-

servados. Um exemplo é a hidrelétrica de Barra Grande na

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CAPÍTULO 3 – BREVE HISTÓRICO DA DESTRUIÇÃO

49

Atividades de scalização tem contribuído para diminuir o ritmo de desmatamento da Mata Atlântica.

   A   r   q   u   i  v   o   P   r   o   m   a   t   a

A educação ambiental, promovida por ONGs, órgãos públicos e escolas, tem papel importante na formação de uma consciência ambiental, principalmente dos jovens.

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

50

Obras públicas de infraestrutura têm contribuído ao longo da historia paraa supressão de importantes áreas de Mata Atlântica e paisagens de grande

beleza cênica. A hidrelétrica de Barra Grande (foto) suprimiu mais de 6.000hectares de oresta, sendo 3.000 de oresta primária de araucárias.

Nas áreas litorâneas, especialmente no Nordeste, a implantação dacarcinocultura sem observar a legislação tem contribuído para a

destruição de manguezais e restingas.

   M   i   r   i   a   m    P

   r   o   c   h   n   o  w

   C   l   e   m   e   n   t   e   C   o   e   l   h   o

bacia do Rio Uruguai, na di-

visa de Santa Catarina com

o Rio Grande do Sul, cujo

lago inundou mais de 6.000

hectares de Mata Atlântica,

sendo aproximadamente

3.000 hectares de oresta

primária. Outro exemplo,

que ainda pode ser evitado,

é o conjunto de hidrelétricas

previstas para a bacia do Rio

Ribeira de Iguape, na divisa

de São Paulo com o Paraná.

A carcinicultura, criação

de camarão em cativeiro,

muitas vezes é implantada

em áreas de manguezais

e restingas, suprimindo o

ecossistema natural e limi-tando a atuação da popula-

ção tradicional, que vive da

catação de caranguejos.

Existem ameaças tam-

bém vindas das atividades

de mineração, especialmen-

te na região sul de Santa

O avanço das cidades sobre áreas conservadas de Mata Atlântica é uma das principaiscausas de desmatamento nas áreas litorâneas.

   W

   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

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CAPÍTULO 3 – BREVE HISTÓRICO DA DESTRUIÇÃO

51

As atividades de mineração ainda causam impacto sobre a MataAtlântica em algumas regiões. A foto mostra mineração de carvão a

céu aberto no sul de Santa Catarina.

Em algumas regiões ainda ocorrem desmatamentos ilegais paraexpansão da fronteira agrícola. Abelardo Luz – SC (2005).

Catarina e áreas de Minas Gerais e Espírito Santo, as quais

causam impactos ambientais negativos e muitas vezes supri-

mem remanescentes orestais.

O avanço de monoculturas agrícolas e de árvores exóti -

cas ainda vem sendo feito sem o devido cuidado ambiental

e planejamento em algumas regiões, promovendo desma-

tamento.

Na Mata Atlântica, principalmente nos estados de Santa

Catarina, Paraná e Bahia, ainda ocorre a exploração madeirei-

ra seletiva de espécies ameaçadas de extinção, mesmo sendo

Exploração ilegal de madeira e desmatamentos ainda ocorrem em estados como Paraná, Santa Catarina e Bahia. Santa Terezinha - SC (setembro de 2009).

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

   W   i   g   o   l   d   B

   S   c   h   a   f   f   e   r

   L   e   a   n   d   r   o   C   a   s   a   n   o  v   a

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

52

uma atividade ilegal. Na Bahia, existe um verdadeiro industria-

nato (indústria do artesanato) que usa espécies ameaçadas

de extinção como matéria-prima e, para piorar, usa também

a mão-de-obra barata de populações tradicionais. Espera-se

que com a Lei da Mata Atlântica em vigor, que proíbe o manejo

orestal comercial de espécies nativas ameaçadas de extin-

ção, esse problema seja denitivamente solucionado e come-

ce a fazer parte das lembranças do passado.

Outra grande ameaça aos remanescentes das orestas

estacionais, principalmente do interior de Minas Gerais, Bahia

e Piauí, é o desmatamento ou corte da vegetação nativa para

a produção de carvão vegetal, utilizado para siderúrgicas. Tal

atividade muitas vezes conta com a complacência dos órgãos

ambientais.

Por m, não se pode deixar de mencionar que a Mata

Atlântica ainda não está livre da captura e do tráco de seus

animais silvestres e da caça indiscriminada em algumas regi-

ões, que continuam sendo problemas de difícil controle.

Nos encraves de orestas estacionais existentes em Minas Gerais, Bahia e Piauí, o desmatamento para produção de carvão vegetal

No sul da Bahia, ainda persiste o corte ilegal de madeiras nobres para fabricação

de artefatos de madeira, atividade que transformou-se em industrianato.

   J   e   a   n   F   r   a   n   ç   o   i   s

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CAPÍTULO 3 – BREVE HISTÓRICO DA DESTRUIÇÃO

53

  A   d   é  P     

A caça e o tráco de animais, juntamente com a fragmentação dos

habitats, afeta negativamente a fauna silvestre.

Assentamentos rurais implantados em áreas de oresta nas décadas

de 1980 e 1990 foram responsáveis pelo desmatamento de milharesde hectares. Rio Bonito do Iguaçu - PR (2001).

   M   a   r   c   o   s   D   a   n   i   e   l   i

  M  i   i  

  P     h  

destinado a abastecer siderúrgicas ainda é uma das principais causas de destruição da Mata Atlântica. Serra Vermelha - PI.

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http://slidepdf.com/reader/full/01-mata-atlantica 56/409Floresta com araucárias nas margens do Rio Pelotas, na divisa de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

56

Biodiversidade única e ameaçada

Quando os primeiros europeus chegaram ao Brasil, em

1500, a Mata Atlântica cobria aproximadamente 15% do ter-

ritório brasileiro. A área original da Mata Atlântica (1.296.446

km2) reconhecida pela Lei no 11.428, de 2006, e delimitadaem mapa do IBGE14, contempla um conjunto de formações

orestais e ecossistemas associados, bem como os encravesorestais e brejos de altitude interioranos: oresta ombróladensa; oresta ombróla mista, também denominada de matade araucárias; oresta ombróla aberta; oresta estacionalsemidecidual; oresta estacional decidual; campos de altitu-

de; áreas das formações pioneiras, conhecidas como man-

guezais, restingas, campos salinos e áreas aluviais; refúgios

14 “Mapa da Área de Aplicação da Lei no 11.428, de 2006”, escala 1:5.000.000do IBGE.

vegetacionais; áreas de tensão ecológica; brejos de altitudeinterioranos e encraves orestais, representados por disjun-

ções de oresta ombróla densa, oresta ombróla aberta,

oresta estacional semidecidual e oresta estacional decidu-al; áreas de estepe, savana e savana-estépica; e vegetaçãonativa das ilhas costeiras e oceânicas.

Um mapeamento encomendado pelo Ministério do MeioAmbiente e divulgado em 2006 mostra que existem hoje 27%de remanescentes de vegetação nativa, incluindo os váriosestágios de regeneração em todas as sionomias: orestas,campos naturais, restingas e manguezais15. Entretanto, o

percentual de remanescentes orestais bem conservados é

15 Dados da publicação Mapas de Cobertura Vegetal dos Biomas Brasileiros(MMA/Probio, 2006). Ver box “Como a Mata Atlântica foi mapeada”, pág. 59.

A orea om araára a formaão oreal ma ameaaa e exão a Maa Alâa.

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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CAPÍTULO 4 – BIODIVERSIDADE ÚNICA E AMEAÇADA

57

A Florea om Araára a formaão oreal ma ameaaa e exão a Maa Alâa.

de apenas de 7,91%, segundo o último levantamento divulga-

do pela Fundação SOS Mata Atlântica e Instituto Nacional de

Pesquisas Espaciais (INPE), divulgado em maio de 200916.

Por esse estudo, existem somente 102.012 km2 de rema-

nescentes maiores de 1 km2 (100 hectares), distribuídos em

18.397 polígonos. Esses dois dados apontam, por um lado, acapacidade da Mata Atlântica de se regenerar e, por outro, a

16 Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, 2005-2008 (SOSMata Atlântica/INPE, divulgado em 26 de maio de 2009). Este número totalizaos fragmentos acima de 100 hectares (1 km2), distribuídos em 18.397 polígo-nos, e tem como base o mapeamento de 16 dos 17 estados onde ocorre a MataAtlântica. Apenas o Piauí não teve a área da Mata Atlântica avaliada.

situação crítica de isolamento em que se encontram os rema-

nescentes em estágio avançado e primário da oresta.O levantamento SOS/INPE mostra que a fragmentação

orestal da Mata Atlântica é um processo extremamente críti-co que ameaça a manutenção de sua biodiversidade. Soman-

do todos os fragmentos acima de 3 hectares, existem hoje

na Mata Atlântica 232.939 fragmentos, que totalizam 147.018km2, ou seja, 11,41% de cobertura vegetal nativa. Por con-

ta de dados como estes, a Mata Atlântica é considerada osegundo conjunto de ecossistemas mais ameaçados de ex-

tinção do mundo, perdendo apenas para as quase extintasorestas da Ilha da Madagascar, na costa da África.

   E   m

   e   r   s   o   n   A .

   O   l   i  v   e   i   r   a

O efeo e ora ma eo o eqeo frameo orea,ameao o ro e exão e ee o loo razo.

 

A frameaão o remaeee orea em meo amoolra a ral ameaa à oerae a

Maa Alâa.

Em alma reõe e ea roão aríola ofríola, o frameo e eeaão aa ão raro e

eão ae o oro, lao o xo êo

a ee e faa e ora.

   W   i   g   o

   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

58

Le a Maa Alâa

Formações Florestais

REMAnEscEntEs dE vEgEtAçO nAtivA

camo nara

Formações Pioneiras

Remaeee e veeaão naa a Maa Alâa

Fonte: MMA/PROBIO (2006) e SOS/INPE (2009).

N

1:15.000.000

0 125 250 500

km

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CAPÍTULO 4 – BIODIVERSIDADE ÚNICA E AMEAÇADA

59

O Levantamento da Cobertura Vegetal do Bioma MataAtlântica, divulgado em 2006 pelo Ministério do Meio Ambien-

te, envolveu uma parceria entre o Instituto de Estudos Socio-

ambientais do Sul da Bahia (IESB), o Instituto de Geociências

da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), através do

Grupo de Sensoriamento Remoto Espaço, do Departamentode Geograa da Universidade Federal Fluminense (UFF). Oprojeto contou ainda com o apoio técnico do Instituto Brasileirode Geograa e Estatística (IBGE), que deniu os parâmetrostécnicos de mapeamento e a legenda seguida por todos osprojetos de mapeamento de biomas brasileiros apoiados pelo

Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversida-

de Biológica do Ministério do Meio Ambiente (PROBIO/MMA).O mapeamento foi elaborado com uma escala média de

detalhamento (1:250.000) com base em imagens do satéliteLandsat, obtidas principalmente no ano de 2002, adquiridase fornecidas pelo MMA. O mapeamento envolveu a cober-tura vegetal, orestal e não-orestal, das diferentes tosio-

nomias, bem como de outros usos e cobertura existentes naárea de distribuição do bioma Mata Atlântica incluindo os re-

manescentes de vegetação nativa primária e dos diferentesestágios de regeneração*. É importante salientar que a me-

todologia utilizada no trabalho não contemplou a avaliaçãoqualitativa da vegetação e a determinação diferenciada dospercentuais do que resta de vegetação primária e de vegeta-

ção nos diferentes estágios de regeneração.

A inovação desse mapeamento está na identicação dosremanescentes de formações não-orestais, além das áreas

* Ver Estágios de Regeneração, págs. 306 e 307).

cOMO A MAtA AtLnticA FOi MApEAdA

antrópicas, em toda a área de abrangência do Bioma Mata

Atlântica. O estudo apontou a presença de 27,44% de re-

manescentes (22,44% orestais e 5% não-orestais). Essetotal agrega áreas acima de aproximadamente 15 hectares,

incluindo vegetação primária e secundária em todos os está-

gios de regeneração. Destaca-se que estes dados se referemaos tipos de vegetação existentes nos limites do Bioma MataAtlântica (1.110.182 km2), não incluindo informações sobre os

remanescentes existentes nos encraves orestais, refúgiosvegetacionais, restingas e manguezais, abrangidos e prote-

gidos pela Lei no 11.428, de 2006, e existentes no interior de

outros biomas.

Comparações com os dados do Atlas dos Remanescentes

Florestais da Mata Atlântica, da Fundação SOS Mata Atlântica

e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) devem serrealizadas com cautela, principalmente porque os estudos fo -

ram elaborados com escalas e metodologias diferentes. Uma

das diferenças fundamentais é que o mapeamento do PRO-

BIO/MMA incluiu tosionomias não-orestais e todos os tiposde formações pioneiras, inclusive comunidades aluviais e oscordões arenosos, enquanto SOS /INPE mapearam os rema-

nescentes orestais bem conservados. Dentre as formaçõesorestais, o mapeamento do PROBIO/MMA considerou asorestas ombrólas densa, aberta e mista e as orestas esta-

cionais deciduais e semideciduais e, diferentemente do Atlas

SOS/INPE, considerou como orestas também as savanas o-

restadas, savanas-estépicas orestadas e todas as áreas detensão ecológica inseridas no Bioma Mata Atlântica.

Florea om araára e amo ara e ale a mare o Ro chaeó – pao Maa - sc.

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

60

As diferentes formações orestais e ecossistemas asso-

ciados da Mata Atlântica foram sugeridos por pesquisadorese especialistas durante um seminário realizado em 1990, pela

Fundação SOS Mata Atlântica. Foram considerados, além dosprocessos ecológicos entre os diversos ecossistemas, taiscomo a relação entre a restinga e a mata, o trânsito de ani-

mais, o uxo de genes de plantas e animais e as áreas detensão ecológica (locais onde os ecossistemas se encontram

e vão gradativamente se transformando). Foi a partir desteencontro que cou denido o conceito de Domínio da MataAtlântica para as áreas que originalmente formavam uma co-

bertura orestal contínua, incluindo também os ecossistemasassociados e os encraves orestais e brejos interioranos. Essadenição, com algumas reformulações, foi reconhecida legal-mente pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama),

em 1992, pelo Decreto no  750/1993, pela lei no 11.428/2006

(Lei da Mata Atlântica) e nalmente consolidada através do De-

creto no 6.660/2008 e pelo “Mapa da Área de Aplicação da Lein o  11.428, de 2006 ”, elaborado e publicado pelo IBGE.

Além de sua grande extensão territorial, outros fatoresdo meio físico, como a variação de altitudes, as diferenças desolo e formas de relevo, entre outros, proporcionam cenáriosextremamente variados à Mata Atlântica. Por isso, seu domí-nio é constituído por diversas formações, tais como orestasombróla densa, ombróla aberta, ombróla mista, estacionalsemidecidual, estacional decidual, savana, savana estépica,estepe, formações pioneiras, refúgios vegetacionais e áreasde tensão ecológica. Diversas ilhas oceânicas também se

agregam ao Domínio da Mata Atlântica, assim como os en-craves (disjunções) destas formações orestais e os brejosinterioranos, existentes em meio a outros biomas, com as li-

Foooma e Eoema Aoao a Maa Alâa

mitações estabelecidas no “Mapa da Área de Aplicação daLei n o  11.428, de 2006”  do IBGE17.

17  “Mapa da Área de Aplicação da Lei n o  11.428, de 2006 ”, (IBGE, 2009) – NotaExplicativa: “Assim sendo, as tipologias de vegetação às quais se aplica a Lei

11.428, de 2006, são aquelas que ocorrem integralmente no Bioma Mata Atlân-tica, bem como as disjunções vegetais existentes no Nordeste brasileiro ou

em outras regiões, quando abrangidas em resoluções do Conama especícas

para cada estado.

I – No Bioma Mata Atlântica as seguintes formações orestais nativas e ecos-sistemas associados: oresta ombróla densa, oresta ombróla mista, também

denominada de mata de araucárias, oresta ombróla aberta, oresta estacional

semidecidual, oresta estacional decidual, savana (Cerrado), savana estépica

(Caatinga), estepe, áreas das formações pioneiras (mangues, restingas e áreasaluviais), refúgios vegetacionais, assim como as áreas constituídas por estas

tipologias, presentes nos contatos entre tipos de vegetação.

II – No Bioma Caatinga as seguintes formações orestais nativas (disjunções):oresta ombróla densa, oresta ombróla aberta, oresta estacional semide -cidual e oresta estacional decidual, referidas na Lei como brejos interioranos

e encraves orestais do Nordeste, refúgios vegetacionais, áreas das formações

pioneiras (mangues e restingas), referidos na Lei como ecossistemas asso-ciados, assim como as áreas constituídas por estas tipologias, presentes noscontatos entre tipos de vegetação.

III - No Bioma Cerrado as seguintes formações orestais nativas (disjunções):

oresta estacional semidecidual e oresta estacional decidual.

IV - No Bioma Pantanal as seguintes formações orestais nativas (disjunções):

oresta estacional semidecidual e oresta estacional decidual.

V – No Bioma Pampa as seguintes formações orestais nativas (disjunções):

oresta estacional semidecidual, oresta estacional decidual e áreas das for -mações pioneiras (restingas e áreas aluviais).

O mapa mostra a cobertura vegetal conforme sua conguração original, não

estando representados os antropismos atuais de cada tipologia de vegetação.A escala adotada para elaboração do mapa (1:5.000.000) apresenta um nível

de agregação onde pequenas manchas de uma determinada tipologia foram

incorporadas em outras tipologias, o que não caracteriza sua inexistência. 

O “Maa a Área e Alaão a Le o 11.428, de2006”, elaborado pelo IBGE, contempla as conguraçõesoriginais das formações orestais e ecossistemas associa-

dos, bem como os encraves orestais e brejos de altitudeinterioranos que integram a Mata Atlântica: oresta ombróladensa; oresta ombróla mista, também denominada de matade araucárias; oresta ombróla aberta; oresta estacionalsemidecidual; oresta estacional decidual; campos de altitu-

de; áreas das formações pioneiras, conhecidas como man-

guezais, restingas, campos salinos e áreas aluviais; refúgios

O MApA dA MAtA AtLnticA

vegetacionais; áreas de tensão ecológica; brejos de altitudeinterioranos e encraves orestais, representados por disjun-

ções de oresta ombróla densa, oresta ombróla aberta,oresta estacional semidecidual e oresta estacional decidu-

al; áreas de estepe, savana e savana-estépica; e vegetaçãonativa das ilhas costeiras e oceânicas.

O “Maa a Área e Alaão a Le o  11.428, de

2006”, na escala 1:5.000.000, pode ser encontrado nos sí-

tios eletrônicos do IBGE e do Ministério do Meio Ambiente:www.ibge.gov.br ou www.mma.gov.br.

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CAPÍTULO 4 – BIODIVERSIDADE ÚNICA E AMEAÇADA

61

N

1:15.000.000

0 125 250 500km

Área e eão eolóa

Floresta estacional semidecidual

Florea omróla ea

Floresta estacional decidual

Florea omróla aera

Florea omróla ma

cObERtuRA vEgEtAL

Estepe

Área a formaõe oera

Savana

Refúo eeaoa

saaa-ea

Limite estadual

Maa a Área e Alaão a Le o 11.428 de 2006

Foe: Maa a Área e Alaão a Le o 11.428, e 2006 (ibgE – 2009).

(dereo o 6.660, e 21 e oemro e 2008, lao o dáro Oal e 24 e oemro e 2008).

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

62

Florea Omróla dea

Caracterizada pela presença de árvores de grande e médio portes, além de lianas (cipós) e epítas em abundância. Estende-sepela costa litorânea desde o Nordeste até o extremo Sul. Sua ocorrência está ligada ao clima tropical quente e úmido, sem perí-odo seco, com chuvas bem distribuídas durante o ano (excepcionalmente com até 60 dias de umidade escassa) e temperaturasmédias variando entre 22º C e 25o C.

Florea omrola ea – garaqeaa - pR.

   W   i   g   o   l   d   B

 .   S   c   h   a   f   f   e   r

Florea Omróla Aera 

Composta por árvores mais espaçadas e com estrato arbustivo pouco denso. Ocupa áreas com gradientes climáticos variandoentre dois a quatro meses secos, identicados por meio da curva ombrotérmica, e temperaturas médias entre 24º C e 25o C.

Suas formações apresentam quatro faciações orísticas, resultantes do agrupamento de espécies de palmeiras, cipós, bambusou sororocas, que alteram a sionomia da oresta de densa para aberta.

Florea omróla aera – Ma gera.

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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CAPÍTULO 4 – BIODIVERSIDADE ÚNICA E AMEAÇADA

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Florea omrola ma (orea om araára) – pao Maa - sc.

Florea Omróla Ma 

Caracterizada por uma rica mistura orística que comporta gêneros Australásicos (Drymis, Araucaria ) e Afro-Asiáticos (Podocarpus ),com sionomia fortemente marcada pela predominância de pinheiro (Araucaria angustifolia ) no estrato superior. Sua área de ocor-

rência coincide com o clima úmido sem período seco, com temperaturas médias anuais em torno de 18 o C, mas com três a seis me-

ses em que as temperaturas se mantêm abaixo dos 15o C. Seus ambientes predominam no Planalto Meridional Brasileiro, em terre-

nos acima de 500-600 metros de altitude, apresentando disjunções em pontos mais elevados das serras do Mar e da Mantiqueira.

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a

   f   f   e   r

Florea eaoal emeal – goeraor valaare - Mg.

Floresta Estacional Semidecidual

É condicionada por dupla estacionalidade climática. Na região tropical, é denida por dois períodos pluviométricos bem marca -

dos, um chuvoso e outro seco, com temperaturas médias anuais em torno de 21o C; e na região subtropical, por um curto período

de seca acompanhado de acentuada queda da temperatura, com as médias mensais abaixo de 15o

 C. Essa estacionalidadeatinge os elementos arbóreos dominantes, induzindo-os ao repouso siológico, determinando uma porcentagem de árvores ca-

ducifólias entre 20% e 50% do conjunto orestal. Sua dispersão irregular, entre as formações ombrólas, a leste, e as formaçõescampestres, acompanha a diagonal seca direcionada de nordeste a sudoeste e caracterizam-se por clima estacional menos

chuvoso, ou seja, marcado por alternância de períodos frio/seco e quente/úmido.

Floresta estacional semidecidual – Rio Grande do Sul.

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Florea Eaoal deal

É também condicionada por dupla estacionalidade climática, porém mais rigorosa, determinada por um período chuvoso seguidode um longo período seco, condicionado na região tropical por mais de sete meses de estiagem e na região subtropical por frio

prolongado por mais de cinco meses com temperaturas médias inferiores a 15o C. Ocorre também como disjunções em climasvariados sobre litologia calcária ou solos pedregosos. Tais condições determinam um estrato predominantemente caducifólio,com mais de 50% das árvores do conjunto orestal perdendo as folhas na estação desfavorável.

Florea eaoal eal. serra vermelha – pi. Florea eaoal eal. serra vermelha – pi.

   A   n   d   r   é   P   e   s

   s   o   a

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h

   n   o  w

Savana 

A vegetação de savana (Cerrado) ocorre emvariados climas, tanto os estacionais tropicaiscom período seco entre três a sete meses,

como os ombrólos sem período seco. Suadistribuição está relacionada a determinados

tipos de solos, na maioria profundos com alto

teor de alumínio e de baixa fertilidade natural,

arenosos lixiviados e mesmo pedregosos. Emgeral apresenta dois estratos distintos: um ar-

bóreo lenhoso, formado por árvores de peque-

no a médio portes, troncos e galhos tortuosos,raízes profundas e folhas coriáceas brilhantes

ou revestidas por densa camada de pelos; ooutro estrato é gramíneo-lenhoso, composto

predominantemente por plantas herbáceas elenhosas de pequeno porte. Apresenta assimuma variabilidade estrutural alta, com grandesdiferenças em porte e densidade, inuenciadasinclusive pela intensidade da ação antrópica.Mesmo que a região Centro-Oeste seja consi-derada como a área nuclear da Savana, essetipo vegetacional ocorre também em todas asdemais regiões do país, ocupando desde áreas

extensas até pequenas disjunções. No BiomaMata Atlântica existem algumas disjunções de

savana em meio a outros tipos de vegetação. Campo de altitude no Campo dos Padres em Santa Catarina.

   J   o   ã   o   d   e   D   e   u   s   M   e   d   e   i   r   o   s

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CAPÍTULO 4 – BIODIVERSIDADE ÚNICA E AMEAÇADA

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saaa ea (caaa). na Maa Alâa, ó exem a eqea jõe e caaa,ma o oree e Ma gera e ora o Ro e Jaero.

saaa Ea

Constitui uma tipologia vegetal estacional decidual, tipicamente campestre, em geral com espécies lenhosas espinhosas, entre-

meadas de plantas suculentas, sobretudo cactáceas, que crescem sobre solos geralmente rasos e quase sempre pedregosos.As árvores são baixas, raquíticas, com troncos nos e esgalhamento profuso. Muitas espécies são microfoliadas e outras sãoprovidas de acúleos ou espinhos; em sua maioria, são espécies providas de adaptações siológicas à escassez de água. NoBioma Mata Atlântica, ocorrem duas disjunções de savana estépica: no nordeste de Minas Gerais e em Cabo Frio, litoral nortedo Estado do Rio de Janeiro.

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

Estepe

Ocorre na área subtropical brasileira onde as plantas são submetidas a uma dupla condição de estacionalidade, cujas causas

são o frio e a seca. A adoção do termo estepe para os campos do Brasil meridional baseia-se na sionomia da vegetação, homó-

loga à estepe da Zona Holártica, embora com orística diversa daquela. Sua área nuclear é a Campanha Gaúcha, caracterizadapor uma vegetação essencialmente campestre em que predominam as gramíneas (Poaceae), com a presença de espécieslenhosas deciduais espinhosas. Ocorre também no Planalto Meridional (Campos Gerais), onde a Araucaria angustifolia  nas

orestas de galeria oferece a diferenciação sionômica mais marcante, já que a composição orística é bastante semelhante.

saaa (cerrao). na Maa Alâa, exem alma jõe e cerrao,

ralmee em são palo, Mao groo o sl e Ma gera.

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Formaão oera: eeaão xaora e a –Rio Grande do Sul.

Formaão oera: maezal - tamaar - pE.Formaão oera: rea – loral a baha.

   M   i   r   i   a   m

   P   r   o   c   h   n   o  w

   C   l   e   m   e

   n   t   e   C   o   e   l   h   o

   J   e   a   n   F   r   a   n   ç   o   i   s

Formações Pioneiras

Constituem os complexos vegetacionais edácos de primeira ocupação (pioneiras), que colonizam terrenos pedologicamenteinstáveis, relacionados aos processos de acumulação uvial, lacustre, marinha, uviomarinha e eólica. Englobam a vegetaçãoda restinga, dos manguezais, dos campos salinos e das comunidades ribeirinhas aluviais e lacustres.

Refúo eeaoal – po a baera – parqe naoal o caaraó – Es/Mg.

Refúo veeaoal

Comunidade vegetal que di-fere e se destaca do contexto

da vegetação clímax regional,apresentando particularidades

orísticas, sionômicas e eco-

lógicas. Em geral constitui uma

comunidade relictual que per-siste em situações muito espe-

ciais, como é o caso daquelassituadas em altitudes acima de

1.800 metros.

   M   i   r   i   a   m   P

   r   o   c   h   n   o  w

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CAPÍTULO 4 – BIODIVERSIDADE ÚNICA E AMEAÇADA

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Área e eão eolóa: oao ere amo eale-orea omróla ma – saa caara.

Erae e orea eaoal emeal o ceará,oheo omo rejo e ale.

A eeaão aa a lha oera e oeâaamm era a Maa Alâa.

Área e eão eolóa: oao ere orea omrolaea -orea omróla ma – paraá.

   J   o   ã   o   d   e   D   e   u   s   M   e   d   e   i   r   o   s

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

Área e teão Eolóa 

Constituem os contatos entre tipos de vegetação que podem ocorrer na forma de Ecótono, quando a transição se dá por umamistura orística, envolvendo tipologias com estruturas sionômicas semelhantes ou claramente distintas; ou na forma de en-

crave, quando a distinção das tipologias vegetacionais, ou mosaicos entre distintas regiões ecológicas, reete uma transiçãoedáca e resguarda sua identidade ecológica.

   E   m   e   r   s   o   n   A .

   O   l   i  v   e   i   r   a

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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ieror e orea omrola ea om eaqe ara o ae (Calathea cylindrica ) e, em eo lao, o xaxm.

dealhe e romla (Quesnelia arvensis ). bromla (Nidularium inocentii).  Fruto da canela (Ocotea puberula).

   A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

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CAPÍTULO 4 – BIODIVERSIDADE ÚNICA E AMEAÇADA

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   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

A riqueza da biodiversidade da Mata Atlântica

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Biodiversidade

O conjunto de tosionomias que formam a MataAtlântica propiciou uma signicativa diversicação am-

biental, criando as condições adequadas para a evolu-

ção de um complexo biótico de natureza vegetal e animal

altamente rico. É por este motivo que a Mata Atlântica éconsiderada atualmente como uma das regiões ecoló-

gicas mais ricas em termos de diversidade biológica doPlaneta.

Pacari (Lafoensia pacari ).

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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CAPÍTULO 4 – BIODIVERSIDADE ÚNICA E AMEAÇADA

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   A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

Afío a Maa Alâa: mo eão ameaao e exão.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Flora 

Não há dados precisos sobre a diversidade totalde plantas da Mata Atlântica, contudo considerando-

se apenas o grupo das angiospermas (vegetais queapresentam suas sementes protegidas dentro de

frutos), acredita-se que o Brasil possua entre 55.000e 60.000 espécies, ou seja, de 22% a 24% do totalque se estima existir no mundo. Desse total, as pro-

 jeções são de que a Mata Atlântica possua cerca de20.000 espécies, ou seja, entre 33% e 36% das exis-

tentes no País. Para se ter uma idéia da grandezadesses números, basta compará-los às estimativasde diversidade de angiospermas de alguns continen-

tes: 17.000 espécies na América do Norte, 12.500na Europa e entre 40.000 e 45.000 na África. Até secomparada com a Floresta Amazônica, a Mata Atlân-

tica apresenta, proporcionalmente ao seu tamanho,

maior diversidade biológica.Apenas em São Paulo, estado que possuía

cerca de 80% de seu território originalmente ocu-

pado por Mata Atlântica, estima-se existirem 9.000

espécies de fanerógamas (plantas com sementes,incluindo as gimnospermas e angiospermas), 16%

do total existente no País e cerca de 3,6% do que se

Bromelia (Dyckia distachya ).

Jeqá-roa (Cariniana legalis ) – parqeEaal e vaa – saa Ra o paa

Qaro - sp.

Bromelia antiacantha .

   E   d   i   n   h   o   P .   S   c   h   a   f   f   e   r

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

bromla (Aechmea nudicaulis ).

droera (Drosera villosa ).

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

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CAPÍTULO 4 – BIODIVERSIDADE ÚNICA E AMEAÇADA

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estima existir em todo o mundo. No caso

das pteridótas (plantas vasculares semsementes, como samambaias e avencas),as estimativas apontam entre 800 e 950

espécies, que corresponde a 73% do queexistia no Brasil e 8% do mundo.

O Museu de Biologia Mello Leitão

publicou, em 1997, estudos desenvolvi-dos na Universidade Federal do EspíritoSanto e da Universidade de São Paulo,dizendo que na Estação Biológica deSanta Lucia, município de Santa Teresa

(ES), foram identicadas 443 espécies ar-bóreas em uma área de 1,02 hectare de

oresta ombróla densa. Na seqüência,estudos realizados no Parque Estadual

da Serra do Conduru, no sul da Bahia,elevaram este número para 454 espéciesde árvores por hectare (Jardim Botânicode Nova Iorque e CEPLAC). Estas des-

cobertas superam o recorde de 300 espé-

cies por hectare registrado na Amazônia

peruana em 1986 e podem signicar quede fato a Mata Atlântica possui a maior

diversidade de árvores do mundo por uni-dade de área.

Vale ressaltar que, das plantas vas-

culares conhecidas da Mata Atlântica,

O fo ajam a eomoão e árore mora.

  M  i  r  i  a  m  P  r  o

  c  h  n  o

Flor-o-amo (Senecio pulcher ).

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

74

Marajá ao (Passiora capsularis).

Biodiversidade dos campos de altitude.Em primeiro plano a Gunnera manicata  – parqe naoal e são Joaqm.

semee e aa (Magnolia ovata ).

Cactos (Cereus jamacaru ) em Aalaa - sc.

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

50% são endêmicas, ou seja, não ocorrem em nenhum outro

lugar no Planeta. O alto índice de endemismo se evidenciamais quando observamos separadamente alguns grupos deespécies da ora, chegando a 53,5% para árvores, 64% parapalmeiras e 74,4% para bromélias.

Muitas dessas espécies endêmicas são espécies frutíferasconhecidas, como é o caso da jabuticaba, que cresce grudadaao tronco e aos galhos da jabuticabeira (Myrciaria trunciora ),

daí seu nome iapoti-kaca, que signica frutas em botão em tupi.Outras frutas típicas da Mata Atlântica são o araçá, a pitanga, o

caju e as menos conhecidas cambuci, cambucá, cabeludinha

e uvaia. Outra espécie endêmica é a erva-mate, matéria-primado chimarrão, bebida bastante popular na região Sul.

Várias dessas espécies, porém, estão ameaçadas deextinção. Começando pelo pau-brasil (Caesalpinia echinata ),espécie cujo nome batizou o País. Outras espécies foramconsumidas à exaustão ou simplesmente eliminadas paralimpar terreno para culturas e criação de gado.

A Lista Ocial das Espécies da Flora Brasileira Ameaça-

das de Extinção18, publicada pelo Ministério do Meio Ambientee divulgada em 2008, relaciona 472 espécies, quatro vezesmais que a lista anterior de 1992. Das 472 espécies da ora

18 Instrução Normativa MMA nº 6, de 23 de setembro de 2008.

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CAPÍTULO 4 – BIODIVERSIDADE ÚNICA E AMEAÇADA

75

Matelea denticulata.

garoa (Campomanesia

xanthocarpa ).

cao-ola (Parodia ottonis ).

Jaoaa (Myrciaria trunciora ).

Orqea (Zygopetalum maxillare ).

Palmeira (Butia capitata ).

Orqíea e rea(Epidendrum fulgens ).

uaa (Eugenia pyriformis ).

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

  M  i   i    P     h  

   A   l   a   n   M   o   c   o   c   h   i   n   s   k   i

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

brasileira que constam da Lista Ocial, 276 espécies (mais de50%) são da Mata Atlântica, incluindo aquelas que ao longodo tempo foram as mais exploradas economicamente, como

o pau-brasil (Caesalpinia echinata ), o palmito-juçara (Euterpeedulis ), a araucária (Araucaria angustifolia ), o jequitibá (Cari- niana ianeirensis ), o jaborandi (Pilocarpus jaborandi), o xaxim

(Dicksonia sellowiana ), o jacarandá-da-bahia (Dalbergia ni- gra ), o jacarandá (Machaerium obovatum ), o jacarandá-bran-

co (Swartzia pickelii ), a canela-preta (Ocotea catharinensis ),a canela-sassafrás (Ocotea odorifera ), a imbuia (Ocotea poro- sa ) e várias orquídeas e bromélias. Da mesma forma, a ListaOcial apresenta 1.079 espécies consideradas com deciênciade dados, cuja maioria também é da Mata Atlântica, muitas dasquais igualmente foram objeto de intensa exploração econômi-ca insustentável ao longo do tempo.

Atualmente, além do desmatamento, outros fatores con-

correm para o desaparecimento de espécies vegetais, como ocomércio ilegal. Um exemplo é o palmito-juçara (Euterpe edulis ),espécie típica da Mata Atlântica, cuja exploração intensa a partirda década de 1970 quase levou ao desaparecimento. Apesar deestar na lista de espécies ameaçadas de extinção, a exploraçãoclandestina de palmito-juçara continua forte em algumas regiões

da Mata Atlântica. O mesmo vem acontecendo com o pinheiro-do-paraná ou araucária (Araucaria angustifolia ), espécie quechegou a responder por mais de 40% das árvores existentes naoresta ombróla mista, hoje com apenas 1% de sua área origi-nal coberta por matas em estágio avançado. Orquídeas e bro-

mélias também são extraídas para serem vendidas e utilizadasem decoração. Plantas medicinais são retiradas sem qualquercritério de garantia de sustentabilidade.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Fauna 

Dentro da riquíssima fauna existente na Mata Atlân-

tica, algumas espécies possuem ampla distribuição,podendo ser encontradas em outras regiões, como são

os casos da onça-pintada, onça-parda, gatos-do-mato,

anta, cateto, queixada, alguns papagaios, corujas, ga-viões e muitos outros. Em relação à fauna, o que maisimpressiona é a enorme quantidade de espécies endê-

micas, ou seja, aquelas que não são encontradas emnenhum outro lugar do mundo. É o caso das 73 espé -

cies endêmicas de mamíferos, entre elas 21 espéciese subespécies de primatas. Os levantamentos já rea-

lizados indicam que a Mata Atlântica abriga 849 espé-

cies de aves, 370 espécies de anfíbios, 200 espéciesde répteis, 270 de mamíferos e cerca de 350 espéciesde peixes.

A grande biodiversidade de espécies da ora e dafauna não faz com que a situação deixe de ser extre-

Em uma região como a Mata Atlântica, onde as espécies estão muito entrelaçadas em uma rede complexa de interdependên-

cia, o desaparecimento de uma planta ou animal compromete as condições de vida de várias outras espécies. Um exemplo é o jatobá (Hymenaea courbaril ). A dispersão de suas sementes depende que seu fruto seja consumido por roedores médios e grandescapazes de romper a sua casca. Como as populações desses roedores estão diminuindo muito, os frutos apodrecem no chão sem

permitir a germinação das sementes. Com isso, já são raros os indivíduos jovens da espécie. À medida que os exemplares adultosforem morrendo, faltará alimento para os morcegos, que se alimentam do néctar das ores de jatobá.

A erão a emee e jaoá eee e roeoremo e rae, aaze e romer a a aa.

intERAçO EntRE EspéciEs

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

semee e jaoá (Hymenara courbaril ) rem ermaa.

   C   a   r   o   l   i   n   a   C .   S   c   h   a   f   f   e   r

to-o(Zonotrichia capensis ).

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CAPÍTULO 4 – BIODIVERSIDADE ÚNICA E AMEAÇADA

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Oa-aa (Panthera onca ).

   L   a  u   r  y   C  u   l   l   e   n

mamente grave. A lista de espécies da fauna ameaçadas deextinção, publicada pelo Ibama em 1989, já trazia dados im-

pressionantes: das 202 espécies de animais consideradas o-

cialmente ameaçadas de extinção no Brasil, 171 eram da MataAtlântica. A última lista, publicada pelo Ministério do Meio Am-

biente, em maio de 2003, traz dados ainda mais alarmantes: o

total de espécies ameaçadas, incluindo peixes e invertebradosaquáticos, subiu para 633, sendo que sete constam como ex-

tintas na natureza.

Entre os animais terrestres ameaçados na Mata Atlânti-

ca, são 185 espécies de vertebrados (69,8% do total de espé-

cies ameaçadas no Brasil), dos quais 118 aves, 16 anfíbios,38 mamíferos e 13 répteis. Há também 59 espécies de peixesameaçados nas bacias do leste brasileiro, entre a foz do Rio

São Francisco e o norte de Santa Catarina. Grande parte des-

sas espécies ameaçadas é endêmica, ou seja, só ocorre naregião da Mata Atlântica, como o muriqui-do-sul (Brachytelesarachnoides ), o muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus )

e o papagaio-da-cara-roxa (Amazona brasiliensis ).Entre as 20 espécies de répteis ameaçadas no Brasil,13 ocorrem na Mata Atlântica (65%), sendo 10 endêmicas,

a maioria com ocorrência restrita aos ambientes de restinga,

um dos tipos de vegetação mais pressionados pela expansãourbana. Estão nessa categoria espécies como a lagartixa-da-areia (Liolaemus lutzae ), a jiboia-de-cropan (Corallus cropa- nii ) e a tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea ).

A verdade é que, em um país onde a biodiversidade épouco conhecida como o Brasil, há espécies que podem tersido extintas antes mesmo de serem catalogadas pelos cien-

tistas e outras que, ao serem descobertas, entram imediata-

mente para a trágica lista das ameaçadas de extinção. São

Mo-leão-reo(Leontopithecus chrysopygus ).

   T   h   o   m   a   s   B   e   r   t   h   e   l   s   e   n  -   R   o   l   e  x   A  w   a   r   d   s

tao-e-o-ere (Ramphastos dicolorus ).

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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os casos, por exemplo, do mico-leão-da-cara-preta (Leonto- pithecus caissara ) e do pássaro bicudinho-do-brejo (Stym- phalornis acutisrostris ), ambos recentemente encontrados

por pesquisadores no litoral paranaense, a menos de 200quilômetros da cidade de São Paulo, a maior metrópole daAmérica do Sul.

As espécies da Mata Atlântica também são lembradasnas análises de lacunas de proteção da biodiversidade. O

borolea (Vanessa brasiliensis ).

Petrel (Macronectes sp ).

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

estudo feito pela Conservação Internacional, “Análise Globalde Lacunas de Conservação”, apresentado no V CongressoMundial de Parques (Durban/África-2003), constatou que, nomundo, pelo menos 719 espécies de vertebrados vivem forados limites das unidades de conservação existentes e que ou-

tras 943 espécies estão dentro de reservas tão pequenas queseu habitat não pode ser considerado efetivamente protegido.Das 719 espécies sem proteção, 140 são mamíferos, 233 são

Jararaa(Bothrops jararaca ).

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

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CAPÍTULO 4 – BIODIVERSIDADE ÚNICA E AMEAÇADA

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Sapo (Bufo sp ).

Catitu (Tayassu tajacu ). gafahoo.

pexe.

gao-o-mao (Leopardus tigrinus ).

Serelepe (Sciurus ingrami ).

aves e 346 anfíbios. Das 233 espécies de aves consideradassem proteção, boa parte é da Mata Atlântica.

Em 2006, a ONG Save Brasil realizou o estudo Áreas Impor-tantes para a Conservação das Aves no Brasil (IBAs, na sigla eminglês) em 15 estados da Mata Atlântica e identicou 163 IBAs,onde ocorrem 83% das aves ameaçadas de extinção no Brasil.

Além da perda de habitat, as espécies da Mata Atlânti-ca são grandes vítimas do tráco de animais, comércio ilegalque movimenta 10 bilhões de dólares no mundo anualmen-

te19. Segundo as estimativas, em cada 10 animais tracados,

19 Fonte: Rede Nacional de Combate ao Tráco de Animais Silvestres (Renctas).

apenas um resiste às pressões de captura e cativeiro. Existeainda o problema de espécies que “invadem” regiões de ondenão são nativas, prejudicando as espécies locais, seja peladestruição de seus próprios habitats, seja por solturas mal

feitas de animais apreendidos. Um exemplo aconteceu no

Parque Estadual da Ilha Anchieta, em São Paulo, onde foram

soltas, pelo governo, em 1983, várias espécies de animais,entre elas 8 cutias e 5 micos-estrela (um sagui natural de Mi-

nas Gerais). Sem predadores e com alimento abundante, es-

sas espécies se multiplicaram livremente e hoje contam compopulações de centenas de indivíduos. Como consequência,cerca de 100 espécies de aves, cujos ninhos são predadospor esses animais, foram extintas na ilha.

   A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

   C   a   r   o   l   i   n   a   C .   S   c   h   a   f   f   e   r

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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ta-ola (Tolypentes tricintus ).

bromla (Aechmea caudata ).

bromla (Tillandsia recurvifolia ).

Fro a ehera-aa (Maytenus ilicifolia ).

Cactos (Melocactus zehntneri ).

   A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

   J   e   a   n   F

   r   a   n   ç   o   i   s

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   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

borolea-raa (Morpho laertes ).

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saí-azl (Dacnis cayana ).

Palmeira indaiá (Attalea dubia).

Pyrostegia venusta .

Dyckia encholirioides .

goaa-o-amo (Acca sellowiana ).

    A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

    A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

   W   i   g   o   l   d

   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

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   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

Flor e marajá (Passiora amethystina ).

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prea-e-hfre.

Aranha.

Sinningia lineata .

borolea-raaree (Psendoscada erruca ).

    A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

   W   i   g   o   l   d   B

 .   S   c   h   a   f   f   e   r

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   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

peroa-roa (Aspidosperma polyneuron ).

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Qea o Ro chaeó, Aelaro Lz – sc.

Trichocline catharinensis.

Orqíea (Galeandra beyrichii ).

borolea (Smyrna blomfldia).

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

   C   a   r   o   l   i   n   a   C .   S   c   h   a   f   f   e   r

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

   W   i   g   o   l   d   B

 .   S   c   h   a   f   f   e   r

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CAPÍTULO 4 – BIODIVERSIDADE ÚNICA E AMEAÇADA

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 Alma emee e ee aa, omo or exemlo a eroa (Aspidosperma pyricollum ), exem a eea e lao ara arar a ermaão.

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Maroa.

Calibrachoa elegans.

bromla (Vriesea phillippocoburgii ).

borolea e romla (Aechmea caudata ).

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

   W   i   g   o   l   d   B

 .   S   c   h   a   f   f   e   r

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CAPÍTULO 4 – BIODIVERSIDADE ÚNICA E AMEAÇADA

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bromla (Aechmea SP ).

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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População que habita

e interage com a Mata Atlântica

Capítulo 5

   A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

92

Grande parte da população brasileira vive na Mata Atlân-tica. A proximidade do litoral fez com que tenha sido na faixade abrangência original da Mata Atlântica – 15% do territóriobrasileiro – que se formaram os primeiros aglomerados urba-nos, os pólos industriais e as principais metrópoles. São apro-ximadamente 123 milhões de pessoas (67% dos habitantes dopaís)20 que moram, trabalham e se divertem em lugares antestotalmente cobertos com a vegetação da Mata Atlântica.

20 Foi considerada a população de todos os municípios que cruzam os limitesda área delimitada no “Mapa da Área de Aplicação da Lei no 11.428, de 2006”,

do IBGE. A população foi calculada a partir dos dados do IBGE, contagem daPopulação 2007 e Estimativas da População 2007.

População que habita e interage com a Mata Atlântica

Embora para muitos a relação não seja mais tão eviden-te, pela falta de contato com a oresta ou com as demais

formas de vegetação no dia-a-dia, essas pessoas ainda de-pendem dos remanescentes da vegetação nativa para pre-servação dos mananciais e das nascentes que os abastecemde água, e para a regulação do clima regional, entre muitasoutras coisas.

A Mata Atlântica também abriga grande diversidade cul-tural, constituída por povos indígenas, como os Guaranis,e culturas tradicionais não-indígenas como os caiçaras, osquilombolas, os roceiros e os caboclos ribeirinhos. Essas po-pulações tradicionais têm uma relação profunda com o am-

biente em que vivem, porque dele são diretamente depen-

Índios Guarani – RS.

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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CAPÍTULO 5 – POPULAÇÃO QUE HABITA E INTERAGE COM A MATA ATLÂNTICA

93

dentes. A maioria vive da pesca artesanal, da agricultura desubsistência, do artesanato e do extrativismo, como a coletade caranguejos no mangue, ostras no mar e espécies vege-tais, como as plantas medicinais.

Apesar de eventualmente praticarem ações agressivasao meio ambiente, possuem, em geral, um modo de vida ba-seado no conhecimento que conservam através da tradiçãoque permite muitas vezes uma relação harmoniosa com anatureza. Não por acaso, muitos vivem nas regiões mais pre-servadas da Mata Atlântica. Mas o grande patrimônio culturaldessas populações não garantiu, ao longo do tempo, a possede suas terras. Marginalizadas e encurraladas pelo processo

de desenvolvimento econômico do país, muitas vezes foram

expulsas de seu território original ou expurgadas de grandeparte dele. Sem terra suciente para garantir sua subsistên-cia e devido ao contato com outras culturas, algumas dessaspopulações acabam perdendo seu modo de vida tradicional,adotando práticas pouco sustentáveis ou simplesmente en-grossando as periferias das grandes cidades.

Nos últimos anos, porém, as populações tradicionaistêm desempenhado um novo papel no cenário sociopolítico,sobretudo na área de conservação ambiental, em virtudedo conhecimento acumulado sobre a biodiversidade, daspráticas de manejo e também da defesa de seus modos devida. Há um crescimento do número de projetos de desen-

volvimento sustentável executados por essas comunidades,

Descendentes de açorianos – Florianópolis - SC.

   J   o   ã   o   d   e   D   e  u   s   M   e   d   e   i   r   o   s

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

94

muitos deles em unidades de conservação de uso susten-tável como as Reservas Extrativistas, Reservas de Desen-volvimento Sustentável e Áreas de Proteção Ambiental, quedesde a regulamentação do Sistema Nacional de Unidades

de Conservação (Snuc)21 permitem compatibilizar a conser-vação e as práticas sustentáveis dessas populações.

21 Lei no 9.985, de 2000. Ver Áreas protegidas, pág. 109.

As comunidades tradicionais fazem uso sustentável dos recursos naturais. Família de catadores de caranguejo – Recife - PE.

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CAPÍTULO 5 – POPULAÇÃO QUE HABITA E INTERAGE COM A MATA ATLÂNTICA

95

   A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

Um exemplo de população tradicional são os caiçaras,que na língua tupi quer dizer “armadilha de galhos”. Mestiçosde índios e portugueses, vivem entre o mar e a oresta, so-brevivendo da pesca, do plantio da mandioca e do extrativis-

mo. Assim como as orestas e os índios que foram sumindo,

a população caiçara também está perdendo sua identidade esua cultura, principalmente pela exploração do turismo e daespeculação imobiliária.

Pescador tradicional – Florianópolis - SC.

   R   a   p   h   a   e   l   M   i   l   i   a   n   M   e   d   e   i   r   o   s

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Os índios

Quando os portugueses chegaram ao Brasil, em 1500,havia cerca de cinco milhões de índios por aqui. Embora nãohaja um censo indígena, estima-se que a população de origemnativa e com identidades especícas denidas some cerca de

700.000 indivíduos no País, vivendo em terras indígenas ouem núcleos urbanos próximos. Isso signica 0,2% da popula-ção brasileira. As tribos que habitavam o litoral (Tamoios, Te-mininós, Tupiniquins, Caetés, Tabajaras, Potiguares, Pataxóse Guaranis) foram as primeiras a sofrerem com a chegada doscolonizadores. Os brancos, além de espalhar doenças, usaramos índios como soldados nas guerras contra os invasores ecomo escravos. Muitas etnias foram extintas e as que sobrevi-veram sofrem ainda hoje as pressões da civilização.

As Terras Indígenas somam, hoje, 627 territórios22, ocu-pando uma extensão total de 109.778.741 hectares (1.097.787km2) do país. Assim, 13% das terras do Brasil são reservadosaos povos indígenas. A maior parte das Terras Indígenas (TIs)concentra-se na Amazônia Legal: são 430 áreas e 98,61% daextensão de todas as TIs. O restante, 1,39%, espalha-se pe-las regiões Nordeste, Sudeste, Sul e estado do Mato Grossodo Sul, cujo histórico de ocupação tem como saldo, além dadestruição da Mata Atlântica, a expropriação e desagregaçãosocial ou extermínio de boa parte dos indígenas que aí viviam.Assim, o padrão que se observa é de connamento territorial:

os remanescentes orestais são escassos; as TIs são, de for-ma geral, diminutas, e os conitos territoriais são comuns.

22 Setembro de 2008.

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Mapa das Terras Indígenas

N

1:15.000.000

0 125 250 500km

Terras Indígenas

Limite da Mata Atlântica – Lei no 11.428 de 2006 (IBGE 2009)

Limite Estadual

Fonte: Fundação Nacional do Índio - Funai (setembro de 2009)

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CAPÍTULO 5 – POPULAÇÃO QUE HABITA E INTERAGE COM A MATA ATLÂNTICA

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Terras Indígenas na Mata Atlântica

Estado TIs População Extensão (ha)

Bahia 11 9.421 121.319

Mato Grosso do Sul 24 30.556 97.427Paraná 20 11.211 96.620

Rio Grande do Sul 19 14.052 90.946

Santa Catarina 16 7.887 76.535

Paraíba 3 10.134 33.757

São Paulo 14 2.866 24.648

Minas Gerais 4 1.435 22.323

Espírito Santo 3 2.299 18.084

Alagoas 3 2.271 4.822

Rio de Janeiro 3 335 2.419

Total 120   92.467* 588.900**

Fonte: Instituto Socioambiental - 09/2008* O número total da população pode sofrer distorções pela heterogeneidade da fontes** A extensão das terras pode sofrer distorções, porque as TIs em identicação ainda não estão denidas ou publicadas

Povos Indígenas na Mata Atlântica

AL Tingui Botó, Karapató e Wassu

BA Pataxó, Pataxó Hã-hã-Hãe, Tupinambá e Tupiniquim

ES Guarani Mbyá e Tupiniquim

MG Pataxó, Krenak, Maxakali e Xakriabá

MS Terena, Guarani Kaiowa e Guarani Nhandeva

PB Potiguara

PR Kaingang, Guarani Nhandeva, Guarani Mbyá, Xetá

RJ Guarani Mbyá

RS Kaingang, Guarani Nhandeva e Guarani Mbyá

SC Xokleng, Kaingang, Guarani Nhandeva e Guarani Mbyá

SP Terena, Guarani Nhandeva, Guarani Mbyá, Kaingang e Krenak

Fonte: Instituto Socioambiental

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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ALGUNS POVOS INDÍGENAS NA MATA ATLÂNTICA

Guarani - Os Guaranis que vivem no Brasil são classicados

em três subgrupos: Kaiowá, Nhandeva e Mbyá, com base emdiferenças nos dialetos (da família linguística Tupi-Guarani),costumes, localização, histórico do contato, cosmologia e ri-tuais. Estima-se que existam cerca de 20 mil Kaiowás, 8 milNhandevas e 7 mil Mbyás. A grande mobilidade para outroslocais e entre aldeias está ligada à cosmologia desse povo,que busca a Terra Sem Mal (Yvy Marãey), mote para as mi-grações de famílias guiadas por um líder espiritual no sentidoOeste-Leste. Os grupos Nhandeva e Kaiowá vivem no Para-guai, Bolívia e, no Brasil, nos estados do Rio Grande do Sul,Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Oterritório Nhandeva atual ocupa parte dos estados do MatoGrosso do Sul e Paraná, estendendo-se também ao Paraguaioriental. Migrações Nhandevas do início do século XX oriundasdo Paraguai cristalizaram assentamentos no estado de SãoPaulo, interior e litoral, assim como em Santa Catarina, no in-terior do Paraná e do Rio Grande do Sul. Os Mbyás, no Brasil,

encontram-se em aldeias no interior e no litoral dos estadosdo Sul – Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul – e emSão Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo em várias aldeias junto à Mata Atlântica. No litoral brasileiro, suas comunidadessão compostas por grupos familiares que, historicamente, pro-curam formar suas aldeias nas regiões montanhosas da Mata

Atlântica - serras do Mar, da Bocaina, do Tabuleiro etc. O nomeMbyá foi traduzido por “gente” ou “muita gente num só lugar”. Kaingang - Os Kaingangs se localizam nos estados de SãoPaulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, falamuma língua da família Jê e somam 28 mil pessoas. O conta-to dos Kaingangs com a sociedade envolvente teve início nonal do século XVIII e efetivou-se em meados do século XIX,

quando os chefes políticos tradicionais aceitaram aliar-seaos conquistadores brancos, transformando-se em capitães.Esses capitães foram fundamentais na pacicação de deze-nas de grupos arredios, vencidos entre 1840 e 1930. Entreos desdobramentos dessa história, destacam-se o processode expropriação e acirramento de conitos, não apenas com

os invasores de seus territórios, mas intragrupos Kaingangs.Os Kaingangs vivem em mais de 30 Terras Indígenas. Porestarem distribuídas em quatro estados, a situação das co-munidades apresenta as mais variadas condições. Em todos

os casos, contudo, sua estrutura social e princípios cosmo-lógicos continuam vigorando, sempre atualizados pelas di-ferentes conjunturas pelas quais vêm passando. Povos quetradicionalmente viviam da caça, coleta e agricultura, os Kain-gans de hoje sobrevivem das roças familiares, da venda deartesanato e da prestação de serviços para produtores rurais.

Índios Guarani – PR.

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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CAPÍTULO 5 – POPULAÇÃO QUE HABITA E INTERAGE COM A MATA ATLÂNTICA

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Pataxó Hã-hã-hãe  - Os Pataxós Hã-hã-hãe vivem naBahia, falam português e somam cerca de 2.200 indivíduos.O nome Pataxó Hã-hã-hãe, hoje, abarca as etnias Baenã, Pa-taxó Hãhãhãe, Kamakã, Tupinambá, Kariri-Sapuyá e Gueren.

Habitantes da região sul da Bahia, o contato desses gruposcom os não-indígenas se caracterizou por expropriações,deslocamentos forçados, transmissão de doenças e assassi-natos. A terra que lhes foi reservada pelo Estado em 1926 foiinvadida e em grande parte convertida em fazendas particu-lares. Apenas a partir da década de 1980 teve início um lentoe tortuoso processo de retomada dessas terras. Habitam aReserva Indígena Caramuru-Paraguaçu, com 54.099 hecta-res, no sul da Bahia, municípios de Itaju do Colônia, Camacãe Pau-Brasil. Essa área atualmente encontra-se reservada,sub judice. Vivem também na Reserva Fazenda Baiana, com304 hectares, município de Camamu, no baixo-sul da Bahia.

A agricultura de subsistência, parte da qual é destinada à ven-da nas feiras livres dos municípios de Pau-Brasil e Camacã,constitui a principal atividade produtiva, seguida da criação degado e da lavoura comercial do cacau.

Potiguara - Povo guerreiro, os Potiguaras vivem no litoralnorte da Paraíba, somam cerca de 11.500 indivíduos e suahistória de contato com a sociedade não indígena remontaao início da colonização. Estão distribuídos em 32 aldeiasnos municípios de Baía da Traição, Marcação e Rio Tinto enas áreas urbanas de Baía da Traição e de Marcação. Asaldeias constituem três Terras Indígenas contíguas: Potigua-ra, Jacaré de São Domingos e Potiguara de Monte-Mor. Esta

última foi declarada em 2007. Hoje, procuram manter o vigorde sua identidade étnica por meio do reaprendizado da línguaTupi-Guarani, do complexo ritual do Toré e da circulação dedádivas nas festas de São Miguel e de Nossa Senhora dosPrazeres.

Xokleng - Os índios Xoklengs da Terra Indígena Ibirama, emSanta Catarina, são os sobreviventes de um processo brutalde colonização do sul do Brasil iniciado em meados do séculoXIX, que quase os exterminou em sua totalidade. Apesar doextermínio de alguns subgrupos Xoklengs e do connamento

dos sobreviventes em área determinada em 1914, o que ga-

rantiu a “paz” para os colonos e a consequente expansão eprogresso do vale do Rio Itajaí, os Xoklengs continuaram lu-tando para sobreviver a esta invasão, mesmo após a extinçãoquase total dos recursos naturais de sua terra. A TI Ibiramaocupa área de Mata Atlântica, que até os anos de 1960 erariquíssima em palmito, mas a extração predatória praticamen-te o extinguiu. No início dos anos de 1970, a oresta nativa,

onde abundavam madeiras nobres, começou a ser exploradapor madeireiras. Toda a reserva de madeira praticamente seextinguiu em meados dos anos de 1980. A Terra Indígena so-freu outra grande transformação a partir dos anos de 1970,

com a construção da Barragem Norte, cujo lago de contenção

inviabilizou a utilização de cerca de 900 hectares das terrasmais planas e agricultáveis. O processo de indenização aosXoklengs pela parte de suas terras sujeita à inundação aindanão está completo. Em Ibirama, já não se pratica a agriculturae a caça é rara. A pesca serve como suplemento alimentar, junto a alimentos comprados.

Índios Pataxós da Aldeia Guaxuma – BA.

Índio Xokleng – SC.

   P   h   i   l   i   p   p   S   t  u   m   p   e

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Os quilombolas

Comunidades remanescentes de quilombos, ou quilom-bolas, são grupos que se constituíram a partir de uma grandediversidade de processos iniciados no período colonial, du-rante a escravidão. Agruparam-se a partir das fugas com ocu-pação de terras livres e geralmente isoladas, mas também apartir de heranças, doações e recebimentos de terras comopagamento de serviços prestados ao Estado. A simples per-

manência nas terras que ocupavam e cultivavam no interiorde grandes propriedades, bem como a compra de terras, tan-to durante a vigência do sistema escravocrata quanto apóssua abolição, também fazem parte da constituição de comu-nidades quilombolas. É um movimento, portanto, de transiçãoda condição de escravo para a de camponês livre.

 Desde a época de formação dos quilombos, as ativida-des econômicas e a ocupação não-quilombola promovidaspor fazendeiros, madeireiros, mineradoras e garimpeiros fo-ram avançando sobre as terras das comunidades remanes-centes. Essa situação motivou o movimento negro a proporem 1988 o direito à propriedade da terra para os quilombos,o que cou assegurado pelo artigo 68 da Constituição. Atual-mente, existem 2.842 comunidades quilombolas identicadas

TERRAS INDÍGENASE BIODIVERSIDADE

As Terras Indígenas, seja pela soma de suas dimensões(13% da extensão total do território nacional), pela varieda-de ou singularidade dos ecossistemas que abrigam, ou pelasituação de relativa preservação dos seus recursos naturais,desempenham também um importante papel na conserva-

ção e uso sustentável da biodiversidade. Em alguns lugaresdo país, entretanto, há ainda casos de conitos entre Terras

Indígenas e outras áreas destinadas à proteção da natureza.A região chamada de Costa do Descobrimento, no sul da

Bahia, é palco de disputa que, de um lado, envolve a luta dosPataxós por terras e melhores condições de vida e, do ou-tro, unidades de conservação de proteção integral que abri-gam alguns dos mais valiosos fragmentos orestais da Mata

Atlântica, como o Parque Nacional Monte Pascoal, criado em1961. É a única unidade de conservação da região que incluitodos os ecossistemas de transição entre a oresta continen-tal e o mar. Além de uma alta taxa de endemismo (de 26% a28% das espécies), lá foi encontrada a maior diversidade deárvores em um único hectare do mundo. Ao mesmo tempo,são áreas parcialmente reivindicadas pelos índios, que pe-dem a revisão dos limites do território pela Fundação Nacio-nal do Índio (Funai).

O conito entre comunidades indígenas de Guaranis e

unidades de conservação de proteção integral também acon-tece no Sudeste. Na década de 1980, foram demarcadas cin-

   J   e   a   n   F   r   a   n   ç   o   i   s

As populações Indígenas da Mata Atlântica lutampara preservar as tradições e a cultura.

co Terras Indígenas com sobreposição ao Parque Estadual daSerra do Mar (PESM), em São Paulo. Contudo, essas áreasnão foram motivo de contestação, pois já era reconhecida apresença de aldeias Guaranis no local antes da criação doParque.

Os quilombolas, descendentes de escravos, mantêmas tradições herdadas de seus antepassados.

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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CAPÍTULO 5 – POPULAÇÃO QUE HABITA E INTERAGE COM A MATA ATLÂNTICA

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por todo o Brasil. Dessas, 594 estão em processo de regula-rização fundiária e apenas 87 estão tituladas, ou seja, garan-tidas para que as comunidades possam viver de acordo comseus hábitos tradicionais. A maioria delas está no Pará e noMaranhão.

Embora não exista um levantamento ocial, há muitas co-

munidades quilombolas localizadas na Mata Atlântica. São co-munidades que, assim como a própria história de ocupação edevastação da região, sofrem processos de urbanização, coni-tos agrários e lentidão em ter suas terras tituladas e protegidas.

Em São Paulo, por exemplo, até setembro de 2008, ape-nas seis comunidades tinham recebido os títulos de suasterras (Ivaporunduva, São Pedro, Pedro Cubas, Pilões, MariaRosa e Galvão), todas elas no Vale do Ribeira, onde está amaior área contínua de Mata Atlântica do Brasil e o maior nú-mero de comunidades quilombolas do estado (cerca de 30).Os quilombolas que aí vivem em municípios como Eldorado,

Iporanga e Barra do Turvo, são atores importantes em proje-tos de desenvolvimento sustentável25. Outras comunidadesestão localizadas no litoral norte do estado, na região de So-rocaba e no município de Itapeva.

Essas comunidades praticam uma economia que seassenta na mão-de-obra familiar e está orientada priorita-

riamente para a satisfação das necessidades do grupo do-méstico. Seu sistema produtivo se sustenta basicamente nasatividades agrícolas e extrativistas. No entanto, muitas vezestambém realizam trabalho assalariado nas plantações dosgrandes proprietários de terras locais ou em centros urbanos,para poderem complementar a renda familiar e adquirir bense utensílios diversos não produzidos localmente.

25 Ver Banco de ideias sustentáveis, pág. 367.

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

Os quilombolas se organizam para garantir o direito à terra e em busca de alternativas de uso sustentável dos recursos naturais.

Comunidade do Quilombo de Ivaporunduva – SP.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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SOBREPOSIÇÕES,CONFLITOS E SOLUÇÕES

A região do Vale do Ribeira abriga a maior quantidadede vegetação remanescente de Mata Atlântica do Brasil. Porisso grande parte de seu território encontra-se protegido pordiferentes tipos de unidades de conservação da natureza.

Historicamente, porém, o processo de criação dessas unida-des de conservação, realizado antes da regulamentação doSistema Nacional de Unidades de Conservação da Nature-za, fez com que parte delas casse sobreposta a terras de

quilombo. Hoje, a legislação possui mecanismos para resol-ver o problema, através de mudança de categoria de áreasprotegidas, indenização e realocação das comunidades* ouainda a criação de mosaicos**.

Um exemplo de como questões desse tipo têm sido en-caminhadas é a Área de Proteção Ambiental (APA) da Serrado Mar, criada em 1984, antes da Constituição Federal quereconheceu as terras quilombolas. Com 469.450 hectares,em 11 municípios do Vale do Ribeira, a APA abarcou pratica-

mente toda a região na qual estão situadas as comunidadesdescendentes de quilombo. Como, pela legislação, a agri-cultura em APA depende de licença e esta é condicionada àapresentação do título de propriedade, os quilombolas ca-ram em situação irregular. Em 1998, um decreto do governodo Estado estabeleceu que as terras devolutas vagas en-contradas no interior da APA da Serra do Mar fossem consi-deradas como unidades de conservação, mas excluiu desseconjunto as terras quilombolas. Em 2001, uma lei aprovadapela Assembléia Legislativa de São Paulo excluiu as comuni-dades quilombolas de Pilões, Maria Rosa, São Pedro, Ivapo-runduva e Pedro Cubas dos limites da zona de vida silvestreda APA da Serra do Mar. Tais comunidades permaneceramno interior da APA, mas, segundo esta mesma lei, suas terrasserão objeto de regulamentação especíca, garantindo-se o

uso e a ocupação pelos remanescentes das comunidades

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

No Vale do Ribeira, região com os maiores remanescentes de Mata Atlântica,vivem diversas comunidades indígenas e quilombolas. Na foto um detalhe do

Mosaico de Unidades de Conservação Jacupiranga.

quilombolas respeitadas suas especicidades culturais.

O conito com as comunidades quilombolas esteve pre-sente também na criação de Parques Estaduais na região. OParque Estadual Jacupiranga, criado em 1969, até recente-mente abrangia as terras ocupadas pelas comunidades de

Sapatu, Nhunguara, André Lopes e Mandira. Em 1995, foi avez da criação do Parque Estadual Intervales, que incluía ter-ras ocupadas pelas comunidades de São Pedro, Maria Rosa,Pilões, Pedro Cubas e Ivaporunduva. Segundo dados daFundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp),a área de sobreposição com o Parque Intervales correspon-dia a 31,77% da área total ocupada pelas cinco comunidades.Com a criação desses parques, os quilombolas caram le-galmente impedidos de realizar suas atividades tradicionais,como a agricultura nessas áreas sobrepostas. Começaramentão a se organizar e lutar contra essa situação. Em 2001,foi publicada uma lei que alterou os limites dos Parques Es-taduais Jacupiranga e Intervales, de forma a excluir as comu-

nidades quilombolas de seus limites. Desta forma, abriu-se ocaminho para a titulação dessas terras - o que era impossívelcaso elas se mantivessem dentro dos parques.

* Lei no 9985, de 2000 - Art. 42. As populações tradicionais residentes em unidades de conservação nas quais sua permanência não seja permitida serãoindenizadas ou compensadas pelas benfeitorias existentes e devidamente realocadas pelo Poder Público, em local e condições acordados entre as partes.

** Ver Áreas protegidas, pág. 125.

Outros estadosExistem pelo menos 24 comunidades quilombolas reco-

nhecidas no Rio de Janeiro. Aproximadamente metade delasestá localizada na região litorânea do estado, nos municípiosde Búzios, Cabo Frio, São Pedro da Aldeia, Rio de Janeiro,Mangaratiba, Angra dos Reis e Parati, onde ainda há impor-tantes remanescentes de Mata Atlântica. As demais comuni-dades estão localizadas no interior no estado, nos municípiosde Quissamã, Vassouras, Valença, Quatis e Rio Claro. Atéabril de 2006, apenas duas comunidades tinham suas terrastituladas: Campinho da Independência e Santana. Outras 22comunidades têm processos em curso no Incra e nas instân-cias estaduais.

A comunidade São Francisco do Paraguaçu está localiza-da no Vale do Iguape, no Recôncavo Baiano, região que abrigamais de uma dezena de comunidades remanescentes de qui-lombo. Na região, os quilombolas vivem da agricultura de sub-sistência, da pesca, da coleta de marisco e do extrativismo dapiaçava e do dendê. Habitado originalmente por índios Mara-cás, o Vale do Iguape passou por transformações nas décadasseguintes à chegada dos portugueses ao Brasil. A expulsãodos índios foi o primeiro passo. No nal do século XVII e início

do XVIII, a Vila passou por seu período de maior desenvolvi-mento, com a construção de um conjunto arquitetônico aindapreservado e hoje considerado Monumento Nacional pelo Ins-

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CAPÍTULO 5 – POPULAÇÃO QUE HABITA E INTERAGE COM A MATA ATLÂNTICA

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tituto do Patrimônio Histórico Artístico e Nacional. Em 2006, oinício do processo de titulação de diversos territórios quilombo-las da região trouxe também alguns conitos com fazendeiros.

No Rio Grande do Sul, a Federação das Associações dasComunidades Quilombolas do estado informa que existem

Os imigrantes e a Mata Atlântica

Algumas regiões da Mata Atlântica, principalmente devi-do a suas características geográcas, permaneceram protegi-das ou conseguiram se regenerar mesmo com a presença deimigrantes europeus, historicamente associados ao processode destruição da oresta. Hoje, a valorização destes rema-

nescentes como pólos de ecoturismo ou turismo de aventurae a busca por produtos ecologicamente corretos, como a agri-cultura orgânica, tem transformado muitos dos descendentesdesses povos em aliados da conservação ambiental.

Um exemplo são os descendentes de pomeranos - etniaque habitava, até o nal da Segunda Guerra Mundial, a então

província chamada Pomerânia, entre a Alemanha e a Polônia-, que se instalaram no Espírito Santo onde estão os Pon-tões Capixabas, gigantescas formações rochosas de granitocom encraves de Mata Atlântica, região montanhosa onde em2002 foi criado o Parque Nacional dos Pontões Capixadas,local de abrigo, dentre outras espécies, do muriqui ou mono-carvoeiro, primata ameaçado de extinção e um dos símbolos

de preservação da Mata Atlântica.

mais de 130 comunidades quilombolas em território gaúcho.As principais diculdades enfrentadas pelas comunidades

quilombolas rurais do Rio Grande do Sul são de ordem socio-econômica, como a dimensão reduzida das terras ocupadase a falta de alternativas para a geração de renda.

Família de população tradicional no distrito de Taboquinhas – Itacaré – BA.

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

Família de descendentes de pomeranos na região do Monumento Naturaldos Pontões Capixabas, estado do Espírito Santo.

           

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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 A criação do parque desencadearia a saída de mais deduas mil pessoas do seu interior. No entanto, era justamenteonde viviam essas comunidades, de pomeranos e descenden-tes de poloneses, que a Mata Atlântica estava mais preserva-da. São comunidades que praticam agricultura de subsistên-cia com pequena venda de excedentes, conhecem a mata,

comunicam-se entre si e sempre mantiveram os caçadores edesmatadores à distância. Um indicativo dessa relação harmo-niosa com a Mata Atlântica é a frequência com que muriquis,raros nos poucos lugares onde ainda ocorrem, aparecem naspropriedades do pomeranos. A espécie é mais conhecida poreles como witaopa (macaco-branco, em pomerano).

Com o objetivo de equacionar o conito, em junho de

2008, o Parque Nacional dos Pontões Capixabas foi trans-formado em Monumento Natural. Essa categoria de unidadede conservação tem como objetivo básico preservar sítiosnaturais raros, singulares ou de grande beleza cênica. Podeser constituído por propriedades particulares, desde que

haja compatibilidade entre a utilização da terra e a conser-vação dos recursos naturais por parte destes. Se não hou-ver compatibilidade, a área é desapropriada. A visitação aosmonumentos naturais é permitida e as atividades de pesqui-sa dependem de prévia autorização. Com a medida, muitasfamílias puderam permanecer desde que continuem a ter ocuidado com a Mata Atlântica que mantêm há gerações.

Essa mudança na categoria de unidade de conservaçãoestá em sintonia com a recente Política Nacional de Desen-

Monumento Natural dos Pontões Capixabas – ES.

volvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicio-nais, que, neste caso, incluiu também uma população de des-cendentes de imigrantes.

No Rio Grande do Sul, uma das três áreas pilotos es-colhidas para implantação da Reserva da Biosfera da MataAtlântica abrange os municípios de Santo Antônio da Patru-

   G  u   s   t   a  v   o   G   a   t   t   i

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CAPÍTULO 5 – POPULAÇÃO QUE HABITA E INTERAGE COM A MATA ATLÂNTICA

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lha, Osório, Terra de Areia, Maquiné, Morrinhos do Sul, TrêsCachoeiras, Três Forquilhas, Dom Pedro de Alcântara e Tor-res, no litoral norte do estado. Além dos remanescentes maispreservados de Mata Atlântica no estado, essa região con-ta com a presença das colonizações portuguesa, italiana e

   A   n   d   r   é

   P   e   s   s   o   a

Cortadores de cana-de-açúcar em Pernambuco.

alemã, além de reservas indígenas guaranis. Hoje, estudosmostram que as comunidades que ainda preservam forte-mente os traços da cultura açoriana vivem principalmente doextrativismo de baixo impacto nos ecossistemas litorâneosassociados à Mata Atlântica.

Descendentes de alemães no Vale do Itajaí, em Santa Catarina. Comunidade tradicional de pescadores na audiência pública para a criação daReserva Extrativista de Cassurubá – BA.

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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Áreas protegidas

Capítulo 6

   A   l   d   e   m   B   o  u   r   s   c   h   e   i   t

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

110

Parque Nacional de São Joaquim - SC, em primeiro plano o urtigão (Gunnera manicata ).

Unidades de Conservação

As áreas protegidas são espaços de terra ou mar espe-

cialmente dedicados à proteção e manutenção da diversida-de biológica e de seus recursos naturais e culturais associa-dos, manejadas por meio de instrumentos legais e técnicos.As mais conhecidas são as unidades de conservação (UCs),espaços territoriais (incluindo seus recursos ambientais e as

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

águas jurisdicionais) com características naturais relevantes,legalmente instituídos pelo poder público, com objetivos deconservação da natureza. Possuem limites denidos e um re-gime especial de administração, com garantias de proteção.

São as unidades de conservação que melhor traduzema missão de contribuir para a proteção da biodiversidade

Áreas protegidas

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CAPÍTULO 6 – ÁREAS PROTEGIDAS

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brasileira, principalmente de espécies endêmicas e ameaça-das de extinção, além de ajudar a regular o clima, abasteceros mananciais de água, melhorar a qualidade de vida daspessoas e, muitas vezes, abrigar populações tradicionaiscujo sustento depende da utilização sustentável de seusrecursos naturais. Outro importante papel das unidades deconservação é contribuir com a geração de emprego e ren-da, principalmente através da exploração adequada de seupotencial turístico.

Também são espaços territoriais protegidos aqueles de-nidos no Código Florestal como Reserva Legal e Áreas dePreservação Permanente26. Além disso, são consideradasáreas protegidas as terras indígenas e de quilombos, por

guardarem porções importantíssimas e representativas dadiversidade socioambiental brasileira27.

Sempre que possível, o conjunto integrado de unidadesde conservação próximas ou contíguas deve compor um mo-saico, visando à gestão integrada das unidades de conserva-ção que o compõem. No mosaico podem estar inseridos oscorredores ecológicos. Estes instrumentos buscam maximi-zar as ações dentro e no entorno dessas áreas. Isso aconteceporque as unidades de conservação são fundamentais para

26  Ver capítulo 8 – Legislação, págs. 285 a 288.

27

 Ver capítulo 5: População que habita e interage com a Mata Atlântica, pág.91.

a reversão da crise de extinção da biodiversidade. Sua efeti-vidade cresce na medida em que são selecionadas, planeja-das, criadas ou geridas, a partir de critérios técnicos efetivos,e também em como se relacionam com a região na qual estãoinseridas. Quanto mais integradas à comunidade e a outrasunidades de conservação da região, menos sujeitas estarãoa invasões, exploração clandestina de madeira e ações deocupação desordenada em seu entorno.

A primeira unidade de conservação criada ocialmenteno Brasil foi o Parque Nacional de Itatiaia, em 1937, no limitedos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.Atualmente existem 119 UCs federais, total ou parcialmenteinseridas na área de Mata Atlântica, perfazendo 1.780.420,98

hectares (ha) de UCs de Proteção Integral e 2.053.193,43 hade UCs de Uso Sustentável28. Existem ainda 225 UCs esta-duais, com um total de 1.502.566,44 ha de Proteção Integrale 2.414.156,22 ha de Uso Sustentável29, e 619 Reservas Par-ticulares do Patrimônio Nacional (RPPNs), com um total de

28 Dados do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, setem-bro de 2009. Obs.: No caso de UCs que abrangem área de mais de um bioma,foi considerada apenas a área da UC dentro dos limites da Mata Atlântica con-forme Mapa da Área de Aplicação da Lei no 11.428, de 2006.

29 Dados da publicação “Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentá-

vel e Repartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Por-taria MMA no 9, de 23 de janeiro de 2007.

Parque Nacional do Itatiaia – MG/RJ.

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

112

130.139,06 ha30. Juntas as UCs da Mata Atlântica represen-tam 7.880.476,13 ha, 78.804,76 km2, de áreas protegidas. Háainda várias unidades de conservação municipais.

Na Mata Atlântica, o Brasil ainda não atingiu as metas(proteger ao menos 10% de cada ecossistema até 2010) na-cional e internacionalmente assumidas quanto à criação deunidades de conservação. Esta é uma das principais lacunaspara a conservação da Mata Atlântica, no longo prazo. Paraagravar o problema, apenas cerca de 3% da área original daMata Atlântica estão protegidos em Unidades de Conserva-ção de Proteção Integral. Além disso, as UCs não estão uni-

formemente distribuídas entre as diversas formações ores-tais e ecossistemas associados, fato que torna urgentes asmedidas para criação e implantação de novas unidades deconservação.

Até 2000, o Brasil não tinha uma lei especíca que regu-lamentasse a criação e a gestão das unidades de conserva-ção, o que impossibilitava uma gestão integrada das áreasprotegidas que efetivamente conservasse a biodiversidadebrasileira. Nesse ano, foi promulgada a Lei do Sistema Na-cional de Unidades de Conservação da Natureza (Lei Federal

30 Dados do Cadastro Nacional de RPPN (setembro de 2009) – ConfederaçãoNacional de RPPNs. Mais informações: http://www.reservasparticulares.org.br/ 

no 9.985/2000), conhecida como Snuc, que estabeleceu re-gras especícas para cada categoria de UC e possibilitou acriação de um sistema nacional que articulasse todas essasáreas protegidas em prol de objetivos e estratégias de con-servação compartilhados.

A Lei do Snuc dividiu as unidades de conservação emdois grupos: as de proteção integral, que permitem apenas ouso indireto dos recursos naturais, e as de uso sustentável,que permitem o uso direto, mas com regras bem estabele-cidas. Além disso, a criação de qualquer UC deve ser pre-cedida de estudos técnicos que identiquem quais recursos

naturais devem ser protegidos e, com exceção das EstaçõesEcológicas e Reservas Biológicas, de consulta prévia à popu-lação interessada. Toda UC deve ainda dispor de um planode manejo, que é um documento técnico que serve de guiapara a gestão da área, denindo os locais que devem serprioritariamente protegidos, recuperados, pesquisados ou do-tados de infraestrutura para visitação, educação ambiental,scalização, entre outros.

Como uma forma de democratizar a gestão das UCs, a leiprevê a existência obrigatória dos conselhos de gestão, quesão colegiados compostos por representantes de diversos ór-gãos públicos e de diferentes setores da sociedade que devemse reunir periodicamente para discutir os assuntos relevantesà boa administração da área e apoiar o seu aprimoramento.

A criação de UCs é precedida de estudos técnicos. Nafoto, técnicos do MMA e moradores durante os estudos dacriação do Parque Nacional das Araucárias – SC, em 2006.

Na criação de UCs, são realizadas consultas públicas como esta,realizada em Apiuna - SC em 2005 para discutir a criação do

Parque Nacional da Serra do Itajaí.

   W   i   g   o   l   d   B .

   S   c   h   a   f   f   e   r

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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CAPÍTULO 6 – ÁREAS PROTEGIDAS

113

N

1:15.000.000

0 125 250 500km

Unidades de Conservação Federais e Terras Indigenas na Área de Aplicaçãoda Lei no 11.428 de 2006 – Lei da Mata Atlântica

Unidades de Conservação de Uso Sustentável

ÁREAS PROTEGIDAS

Terras Indígenas

Unidades de Conservação de Proteção Integral

Limite da Mata Atlântica – Lei no 11.428 de 2006 (IBGE 2009)

Limite Estadual

Fonte: Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA no 9, de 23 de janeiro de 2007,Instituto Chico Mendes de Conservação da biodiversidade – ICMB/setembro de 2009 e FUNAI/setembro de 2009.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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AS CATEGORIAS DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO*

Estação Ecológica da Mata Preta – SC.

Parque Nacional da Serra dos Órgãos – RJ. Monumento Natural Pontões Capixabas – ES.

Reserva Biológica das Perobas – PR.

   W   i   g   o   l   d   B .

   s   c   h   a   f   f   e   r .

   G  u   s   t   a  v   o   G   a   t   t   i

1- GRUPO DE PROTEÇÃO INTEGRAL

ESTAÇÃO ECOLÓGICA (ESEC)

O objetivo é a preservação da natureza e a realização de pesquisascientícas. É de posse e domínio públicos, sendo que as áreas par-ticulares em seus limites devem ser desapropriadas.

 RESERVA BIOLÓGICA (REBIO)

Visa à preservação integral da biota (conjunto de espécies que habitamuma área) e demais atributos naturais, sem interferência humana dire-ta, excetuando-se as medidas de recuperação e manejo necessárias.

PARQUE NACIONAL (PARNA)Preserva ecossistemas naturais de grande relevância ecológica ebeleza cênica; permite a realização de pesquisas cientícas e ativi-dades de educação ambiental, recreação e ecoturismo.

MONUMENTO NATURAL (MONA)Tem como objetivo preservar sítios naturais raros, singulares ou degrande beleza cênica em áreas públicas e particulares.

Conheça as características, segundo a denição do Snuc, de cada categoria de unidades de conservação no Brasil:

* Fonte: Almanaque Brasil Socioambiental 2008, Instituto Socioambiental e Lei n° 9985, de 2000.

   E   m   e   r   s   o   n   A .

   O   l   i  v   e   i   r   a

   G  u   s   t   a  v   o   G   a   t   t   i

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CAPÍTULO 6 – ÁREAS PROTEGIDAS

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Refugio de Vida Silvestre do Rio dos Frades – BA.

   J   e   a   n   F   r   a   n   ç   o   i   s

REFÚGIO DE VIDA SILVESTRE (RVS)

O objetivo é proteger ambientes naturais onde se asseguram condiçõespara a existência e reprodução de espécies ou comunidades da ora lo-cal e da fauna residente ou migratória. Também pode ser constituído poráreas públicas e particulares, havendo a necessidade de compatibilizara utilização dos recursos naturais com os objetivos da unidade.

2- GRUPO DE USO SUSTENTÁVEL

 Área de Proteção Ambiental de Guaraqueçaba – PR.

   A   l   a   n   M   o   c   o   c   h   i   n   s   k   i .

ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (APA)

Área em geral extensa, com certo grau de ocupação humana, dotadade atributos especialmente importantes para a qualidade de vida daspopulações humanas. Visa proteger a diversidade biológica e discipli-nar o processo de ocupação.

Área de Relevante Interesse Ecológico da Serra da Abelha – SC.

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

ÁREA DE RELEVANTE INTERESSE ECOLÓGICO (ARIE)

Área em geral de pequena extensão, com pouca ou nenhuma ocupação

humana, tem como objetivo preservar os ecossistemas naturais de im-portância regional ou local e regular o seu uso.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN Emílio FiorentinoBattistella - SC.

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

RESERVA PARTICULAR DO PATRIMÔNIO NATURAL (RPPN)

Áreas particulares que têm por objetivo preservar espaços de im-portância ecológica ou paisagística. Os proprietários podem trans-formar parte ou a área total de sua propriedade em uma RPPN,que se torna isenta do Imposto Territorial Rural (ITR). Na RPPN épermitido o desenvolvimento de atividades de pesquisa cientíca,ecoturismo, recreação e educação ambiental.

RESERVA DE FAUNA (REFAU)

Protege o habitat de espécies de fauna silvestre com potencialidade para o manejo econômico sustentável. São permitidos pesquisas eestudos técnico-cientícos e atividades de visitação pública.

RESERVA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (RDS)

Área pública destinada a preservação da natureza onde são asseguradas as condições e os meios necessários ao uso sustentável dosrecursos naturais pelas populações tradicionais que vivem nos limites da área.

 FLORESTA NACIONAL (FLONA)

São áreas públicas com cobertura orestal de espécies predominantemente nativas que tem como objetivo básico o uso sustentáveldos recursos orestais e a pesquisa cientíca. Nas FLONAS é admitida a presença de populações tradicionais que a habitavam antesde sua criação.

 RESERVA EXTRATIVISTA (RESEX)

Visa à proteção dos meios de vida e cultura de populações extra-tivistas tradicionais, através da utilização sustentável dos recursosnaturais. Estas populações têm sua subsistência através do extra-tivismo, complementados pela agricultura e criação de animais depequeno porte. São áreas de domínio público, devendo a possee uso das áreas ocupadas pelas populações tradicionais serem

reguladas por contrato.

Resex de Cassurubá – BA.

   G  u   i   l   h   e   r   m   e   D  u   t   r   a

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CAPÍTULO 6 – ÁREAS PROTEGIDAS

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O Brasil e a CDB: Meta 2010

A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB),aprovada durante a Eco-92, no Rio de Janeiro, é o maisimportante acordo internacional sobre diversidade biológicae tem como pilares três grandes objetivos: a conservaçãoda diversidade biológica, a utilização sustentável de seuscomponentes e a repartição justa e equitativa dos benefíciosderivados do uso dos recursos genéticos. O Brasil, portadorda maior biodiversidade do mundo, foi o primeiro país a as-sinar a CDB.

A 6ª Conferência das Partes da CDB, realizada em Haia,na Holanda, em 2002, estabeleceu que os países participan-tes deveriam implementar os objetivos da Convenção, paraalcançar até 2010 uma redução signicativa das atuais taxasde perda da biodiversidade nos níveis global, regional e na-cional. Esse acordo cou conhecido como “Meta 2010”.

Para cumprir com os compromissos resultantes, o país

vem criando instrumentos, como o Projeto Estratégico Na-cional da Diversidade Biológica – cujo principal objetivo éa formalização da Política Nacional da Biodiversidade -, aelaboração do Programa Nacional da Diversidade Biológica(Pronabio), que viabiliza as ações propostas pela PolíticaNacional, e o Projeto de Conservação e Utilização Sustentá-vel da Diversidade Biológica Brasileira (Probio), componente

executivo do Pronabio, que tem como objetivo principal apoiariniciativas que ofereçam informações e subsídios básicos so-bre a biodiversidade brasileira.

Instituído em 1994, o Pronabio objetiva promover parce-ria entre o poder público e a sociedade na conservação da di-versidade biológica, na utilização sustentável de seus compo-nentes e na repartição justa e equitativa dos benefícios deladecorrentes. Em parceria com o Fundo para o Meio AmbienteGlobal (GEF, Global Environment Facility, em inglês), foramcriados dois mecanismos de nanciamento: um projeto de -nanciamento governamental, o Probio, e um fundo privado,o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio). O Probioobjetiva identicar ações prioritárias e estimular a elaboraçãode subprojetos que promovam parcerias entre os setores pú-blicos e privados, gerando e divulgando informações e co-nhecimentos sobre biodiversidade. O Funbio, por sua vez, é

o maior fundo de biodiversidade já estabelecido em qualquerpaís e é o primeiro entre os fundos de biodiversidade a inte-grar completamente o setor privado. Até o momento foraminvestidos, na Mata Atlântica, R$ 21.363.379,02 pelo Probio(em projetos que totalizaram R$ 45.734.346,19, com as con-trapartidas) e R$ 7.226.015,00 pelo Funbio (em projetos quetotalizaram R$ 14.605.567,00, com as contrapartidas).

Refugio de Vida Silvestre dos Campos de Palmas – PR.

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c

   h   a   f   f   e   r

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

118

As áreas prioritárias para conservação, utilização sustentável e repartição de benefícios da biodiversidade da MataAtlântica são um instrumento de planejamento, por meio do qual o Ministério do Meio Ambiente e também outros atorespodem denir com embasamento técnico onde devem ser concentrados os esforços em prol da conservação da Mata

Atlântica. Através delas, é possível denir onde devem ser criadas novas unidades de conservação ou onde devem serinvestidos maiores recursos na recuperação de áreas degradadas.

Essas áreas foram denidas pelo Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira(Probio), em 1999. Juntamente com as áreas prioritárias dos demais biomas brasileiros, as áreas prioritárias da MataAtlântica foram reconhecidas pelo Decreto Federal no 5.092/04, que deniu regras para que o Ministério do Meio Ambienteidenticasse áreas prioritárias para a conservação, utilização sustentável e repartição dos benefícios da biodiversidade.

Conforme esse decreto, as áreas identicadas são consideradas para ns de criação e instituição de unidades de con -servação, pesquisa e inventário da biodiversidade, utilização sustentável da biodiversidade, recuperação de áreas de-gradadas e de espécies sobre-exploradas ou ameaçadas de extinção e repartição de benefícios derivados do acesso arecursos genéticos e ao conhecimento tradicional associado.

As áreas prioritárias da Mata Atlântica foram identicadas durante um workshop, realizado em agosto de 1999, que reu -niu 198 especialistas que enumeraram 184 áreas. A identicação baseou-se em estudos preliminares, que consistiramem levantamento, sistematização e diagnóstico das informações biológicas e não-biológicas relativas à conservação e àutilização sustentável da região. Juntas, as 184 áreas prioritárias cobriam 454.850 km2 e foram indicadas em um mapa eem uma publicação produzidos pelo Ministério do Meio Ambiente, com a coordenação da Conservação Internacional, emparceria com a Fundação SOS Mata Atlântica, a Biodiversitas, o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPE), a Secretaria doMeio Ambiente do Estado de São Paulo e o Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais.

Em 2006, o Ministério do Meio Ambiente promoveu a atualização das áreas prioritárias, tendo sido indicadas 879 áreasdistribuídas em 428.409 km2 da Mata Atlântica. Desse total, 522 são áreas novas e 358 são áreas sob algum tipo deproteção (Unidades de Conservação ou Terras Indígenas). Estas áreas foram ocialmente reconhecidas pela PortariaMMA nº 9, de 23 de janeiro de 2007.

Na atualização das Áreas Prioritárias, foram incorporados os princípios de planejamento sistemático para conservaçãoe seus critérios básicos (representatividade, persistência e vulnerabilidade dos ambientes), priorizando o processo par-ticipativo de negociação e formação de consenso. Para tanto, um número maior de setores e grupos ligados à temáticaambiental foi envolvido, legitimando o processo e considerando os diversos interesses. As áreas identicadas foramclassicadas de acordo com seu grau de importância para biodiversidade e com a urgência para implementação das

ações sugeridas.

As Áreas Prioritárias atualizadas são úteis na orientação de políticas públicas, como já acontece, por exemplo, no licen-ciamento de empreendimentos, rodadas de licitação dos blocos de petróleo pela Agência Nacional de Petróleo (ANP),no direcionamento de pesquisas e estudos sobre a biodiversidade (editais do Projeto de Conservação e Utilização Sus-tentável da Diversidade Biológica Brasileira – Probio/MMA e do Fundo Nacional do Meio Ambiente – FNMA/MMA), e nadenição de áreas para criação de novas Unidades de Conservação, nas esferas federal e estaduais.

ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA CONSERVAÇÃO

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CAPÍTULO 6 – ÁREAS PROTEGIDAS

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N

1:15.000.000

0 125 250 500km

Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Benefícios da

Biodiversidade Brasileira na Área de Aplicação da Lei no 11.428 de 2006 – Lei da Mata Atlântica

Área Protegida – UCs e TIs existentes

ÁREAS PRIORITÁRIAS

Importância Biológica

Extremamente Alta

Muito Alta

Alta

Insufcientemente Conhecida

Limite Mata Atlântica – Lei no 11.428 de 2006 (IBGE 2009)

Limite Estadual

Fonte: Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA no

 9, de 23 de janeiro de 2007.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

120

O acompanhamento e avaliação das ações do Pronabio está, desde 2003, sob responsabilidade da Comissão Nacional de Biodi-versidade (Conabio), criada para coordenar a elaboração da Política Nacional da Biodiversidade e promover a implementação doscompromissos assumidos pelo Brasil junto à CDB. Por meio da Resolução no 3, de 21 de dezembro de 2006, a Conabio aprovouas metas nacionais para 2010, conforme a recomendação da CDB.

Entre estas metas, todas elas passíveis de vericação, estão:

pelo menos 30% do Bioma Amazônia e 10% dos demais biomas e da Zona Costeira e Marinha efetivamente conservados por

unidades de conservação;

   proteção da biodiversidade assegurada em pelo menos dois terços das Áreas Prioritárias para Biodiversidade por meio de UCs,terras indígenas ou territórios quilombolas;

100% das espécies ameaçadas efetivamente conservadas em áreas protegidas;

redução de 25% na taxa anual de incremento de espécies da fauna ameaçadas na Lista Nacional e retirada de 25% de espéciesatualmente na Lista;

METAS NACIONAIS DE CONSERVAÇÃODA BIODIVERSIDADE ATÉ 2010

Parque Nacional dos Campos Gerais – PR.

    W   i   g   o   l   d   B .

   S   c   h   a   f   f   e   r .

 melhorar ou manter a capacidade dosecossistemas de fornecer bens e serviçosnas Áreas Prioritárias para Biodiversida-

de; ter 30% dos produtos vegetais não-madei-

reiros provenientes de fontes manejadasde forma sustentável;

recuperação de no mínimo 30% dos prin-cipais estoques pesqueiros;

  80% de redução no consumo não-susten-tável de recursos da fauna e da ora emUCs de uso sustentável;

redução signicativa do comércio ilegal deespécies da fauna e da ora no país;

redução nas taxas de desmatamento (nocaso da Mata Atlântica, em 100%);

criação e consolidação de uma rede demonitoramento sistemático e padronizadoda biodiversidade em escala nacional.

AS RPPNs

A possibilidade de criação de Reservas Particulares doPatrimônio Natural (RPPNs) foi instituída por um decreto fe-deral em 1990. A partir de 2000, as RPPNs são reconhecidasocialmente pela Lei no  9.985/2000, que dispõe que a Re-serva Particular do Patrimônio Natural é uma área privada,gravada com perpetuidade mediante averbação à margem dainscrição no Registro Público de Imóveis, com o objetivo deconservar a diversidade biológica. Nas RPPNs, é permitidaa pesquisa cientíca e a visitação com objetivos turísticos,

recreativos e educacionais.

Hoje já são mais de 800 em todo o Brasil, protegendouma área superior a 600 mil hectares. E continuam aumen-tando graças a programas governamentais, reforçados porincentivos de organizações não-governamentais (ONGs).Já existem RPPNs em todos os estados brasileiros, não sóde pessoas físicas proprietárias de terra, mas também deONGs e empresas. O maior número dessas reservas (maisde 60%) ca na Mata Atlântica. Embora não corresponda amaior quantidade em área (posto ocupado pelo Pantanal), as

RPPNs da Mata Atlântica protegem 1.152,95 km2.

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CAPÍTULO 6 – ÁREAS PROTEGIDAS

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RPPN Reserva Natural Salto Morato – PR.

   A   l   a   n   M   o   c   o   c   h   i   n   s   k   i

Atualmente, o maior programa de incentivo para RPPNsé o da Aliança para a Conservação da Mata Atlântica, parce-ria entre as ONGs Conservação Internacional (CI), FundaçãoSOS Mata Atlântica e The Nature Conservancy (TNC). Desde2003, a Aliança investiu cerca de R$ 1,2 milhão na criaçãoe gestão de reservas particulares. Já foram beneciados 85projetos, que resultaram na criação de cerca de 100 RPPNs,e o programa dispõe de mais R$ 700 mil para ampliar essenúmero nas áreas dos Corredores de Biodiversidade da Ser-ra do Mar, Central da Mata Atlântica, do Nordeste e da Ecor-região da Floresta com Araucária.

Além do Paraná, cujo modelo de política voltado àsRPPNs é considerado o mais avançado, os estados de Per-nambuco, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Espírito San-to, Bahia, Alagoas, São Paulo e Santa Catarina também jáinstituíram em sua legislação a possibilidade de criação dereservas particulares reconhecidas pelos estados. No Ceará,há uma gura diferente, a Reserva Ecológica Particular, quepermite uma gama maior de atividades na área de conserva-ção. Em todos os estados, há associações de proprietáriosde reservas particulares, reunidos na Confederação Nacionalde RPPNs31.

31 http://www.rppnbrasil.org.br/ 

Algumas RPPNs são fundamentais para garantir a prote-ção da fauna ameaçada de extinção. A RPPN Serra do Tei-moso protege o macaco-prego-do-peito-amarelo (Cebus xan- 

thosternos ) e o guigó (Callicebus melanochis ). O Ecoparquedo Una (BA) protege o mico-leão-da-cara-dourada (Leontopi- 

thecus chrysomelas ). A RPPN Frei Caneca (PE) é fundamen-tal para três espécies de aves – o formigueiro-de-cauda-ruiva(Myrmeciza rufcauda ), o tatac (Synallax infuscata ) e o pintor-verdadeiro (Tangara fastuosa ) – e a RPPN Feliciano MiguelAbdala (MG) abriga 40% da população restante do muriqui-do-norte (Breachyteles hypoxanthus ). No Rio de Janeiro, um

conjunto de RPPNs garante a população mínima viável domico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia ).Em Minas Gerais, desde 2004, existe a gura da Reser-

va Particular de Recomposição Ambiental, destinada a áreasdegradadas e inspirada na Fazenda Bulcão32, do fotógrafoSebastião Salgado e sua mulher, Lélia Wanik, no Vale do RioDoce. Quando foi adquirida pelo casal, a fazenda de 700 hec-tares tinha menos de um alqueire de oresta. Hoje, já foramplantadas mais de 1 milhão de mudas nativas de Mata Atlân-tica.

32  Ver capítulo 11 – Banco de ideias sustentáveis: Fazenda Bulcão, pág. 380 e 381.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

122

OUTROS SISTEMAS DE PROTEÇÃO

Existem outros mecanismos de proteção, que podemenglobar várias unidades de conservação e até regiões intei-ras. Vão desde os corredores ecológicos até os mosaicos deunidades de conservação, que permitem uma gestão conjun-ta e colaborativa, envolvendo áreas maiores interligando asunidades. As Reservas da Biosfera, reconhecidas pela Orga-nização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cul-tura (Unesco) como de importância mundial para a conser-vação da biodiversidade e a promoção do desenvolvimentosustentável, é outro mecanismo importante para a gestão dasáreas protegidas. Esses mecanismos são complementares e,muitas vezes, sobrepostos, maximizando os esforços de con-

servação e recuperação da biodiversidade.

Quando o coronel Otávio Berbet vendeu sua parte na ses-maria da família, na região cacaueira de Ilhéus, em 1906, e re-solveu se embrenhar no sertão foi o primeiro homem branco achegar onde hoje ca o município de Jussari, no Sul da Bahia.Naquela época, a mata era exuberante e, conforme reza a len-da, o primeiro tiro dado pelo barão do cacau na Serra do Teimo-so provocou a maior gritaria de macacos de que se tem notícia.

As terras demarcadas por Berbet hoje abrigam mais de 40fazendas, vendidas, inicialmente, aos amigos do coronel, tam-bém cacaueiros. Graças à cultura em forma de cabruca – na qualo cacau é plantado em meio à mata – e à obstinação do coronelem manter a Serra do Teimoso como área de caça, muito daqueletrecho de Mata Atlântica chegou ao Século 21. Cem anos depois,a parte mais preservada da região ainda pertence à família Ber-bet: várias terras foram recompradas por um sobrinho do barão,Aulo Berbet de Carvalho, e são administradas por seus herdei-ros, que sabem de sua importância para a conservação do poucoque restou da Mata Atlântica e trabalham para que sua herançanão seja usufruto apenas dos descendentes diretos: entendem a

biodiversidade ali existente como um bem comum da sociedade.Em 1993, Aulo Berbet transformou uma área da Agrope-

cuária Teimoso em Refúgio de Animais Silvestres, mas faleceuantes do reconhecimento da oresta, de 200 hectares, comoReserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), em 1997.Seu lho Henrique, falecido em 2009, assumiu o lugar e o so-nho do pai, e a Serra do Teimoso se tornou um centro de visitase educação ambiental, cuja maior atração é uma plataforma deobservação localizada a 32 metros de altura, em cima de um jequitibá-rosa. Mais de 30 pesquisas foram realizadas. O inven-tário orístico da RPPN mostrou uma diversidade de 727 espé -cies vegetais em um hectare de oresta, entre as quais quatrosão novas – (Lymania spiculata ), (Aristolochia longispathulada),(Discocarpus pedicellatus) e (Heteropterys nordestina) – e ou-tras 10 ainda esperam para serem descritas.

RPPN SERRA DO TEIMOSO

   W   i   g   o   l   d   B .   S

   c   h   a   f   f   e   r

Salto do Cubatão na RPPN Caetezal Joinville – SC.

Corredores Ecológicos 

Nesse contexto, o conceito corredor ecológico ou corre-dor de biodiversidade refere-se a extensões signicativas deecossistemas biologicamente prioritários, nas quais o plane- jamento responsável do uso da terra facilita o uxo de indiví-duos e genes entre remanescentes de ecossistemas, unida-des de conservação e outras áreas protegidas, aumentandoa sua probabilidade de sobrevivência no longo prazo e asse-gurando a manutenção de processos evolutivos em larga es-

cala. Busca-se dessa forma garantir a sobrevivência do maior

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CAPÍTULO 6 – ÁREAS PROTEGIDAS

123

número possível de espécies de uma determinada região.A formação de corredores ecológicos visa ainda incremen-

tar a conectividade entre as áreas naturais remanescentes,mediante fortalecimento e expansão do número de unidadesde conservação, incluindo as RPPNs, além da recuperação deambientes degradados. No curto e médio prazos, um corredor

ecológico constituído por áreas com diferentes usos e níveis deproteção deveria permitir a passagem de espécies sensíveis àsalterações do habitat, favorecendo o uxo gênico entre popula-ções anteriormente isoladas em fragmentos de ecossistemas.

A concepção de corredores ecológicos está sendo postaem prática pelo Projeto Corredores Ecológicos, associado aoPrograma Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais doBrasil (PPG7). O Projeto, sob responsabilidade do Ministériodo Meio Ambiente e em cooperação com governos estaduais,atua, desde março de 2002, na implantação de dois corredo-res: Corredor Central da Amazônia (CCA) e Corredor Centralda Mata Atlântica (CCMA). Um caráter marcante do Projeto

é que as decisões são tomadas por um comitê deliberativocomposto por representantes governamentais, do setor pro-dutivo e da sociedade civil.

Desde o início de 2003, as equipes do Corredor Centralda Mata Atlântica contam com assistência técnica da coope-ração Brasil-Alemanha (GTZ) e doações do Rain Forest TrustFund (RTF), administrado pelo Banco Mundial, do KfW e daUnião Europeia.

Juntam-se à iniciativa governamental para a implantação decorredores ecológicos uma série de pesquisas, estudos e açõessignicantes em campo, promovidas por entidades de pesquisa,ONGs locais e nacionais, muitas vezes apoiadas por nancia-mentos de organizações ambientalistas não-governamentais,

nacionais e internacionais, tais como Fundação SOS MataAtlântica, Conservação Internacional, BirdLife, WWF e outras.

Parque Nacional do Monte Pascoal - BA.

  J     F       i 

O seu resultado atual mais signicativo é a articulaçãoentre dezenas de atores locais e regionais, governamentais,não-governamentais, instituições de pesquisa, movimentossociais, no planejamento e coordenação de ações e recur-sos. Do corredor ecológico, nasce uma verdadeira cultura decooperação para a conservação da biodiversidade, na buscade soluções concretas, social e ambientalmente viáveis, paraa proteção da Mata Atlântica.

O Corredor Central da Mata Atlântica (CCMA) está locali-zado nos estados da Bahia e Espírito Santo, ao longo da cos-ta atlântica, estendendo-se por mais de 1.200 km no sentido

   F   a   b   i   a   n   o   R .

   d   e   M

   e   l   o

Parque Estadual Alto Cariri - BA

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

124

Salto Yucuman no Parque Estadual do Turvo – Derrubadas - RS.

norte-sul. Esse Corredor, além dos ecossistemas terrestres,engloba ainda ecossistemas aquáticos de água doce, bemcomo marinhos, dentro da plataforma continental. Ocupa umaárea de aproximadamente 213 mil km2 - a porção marítimacompreende cerca de 80 mil km2 e a terrestre 133 mil km 2.A porção terrestre é composta por mais de 95% de terrasprivadas, estando o restante ocupado por unidades de con-servação federais, estaduais e municipais, bem como terrasindígenas. A quase totalidade dos remanescentes orestaispertence a particulares e estão, em geral, sob ameaça de al-guma forma de exploração ou mesmo de desorestamento.

Os ecossistemas terrestres desta região são extrema-mente importantes, não só para a biodiversidade da MataAtlântica, como também para a proteção das bacias hidro-grácas e, por consequência, dos recifes de coral e outrosecossistemas marinhos no parcel de Abrolhos, Reserva Ex-trativista do Corumbau, Parque Nacional Marinho de Abrolhose demais áreas marinhas ao longo do Corredor Central. Estaregião constitui-se no maior e mais rico conjunto de recifesde coral do Atlântico Sul, com altíssimo grau de endemismoda fauna marinha. Os principais remanescentes legalmenteprotegidos da região são zonas núcleo da Reserva da Bio-sfera da Mata Atlântica e pertencem ao Sítio do PatrimônioNatural da Humanidade Costa do Descobrimento – Reservas

da Mata Atlântica, tombado pela Unesco.

O outro grande corredor da Mata Atlântica é o Corredorda Serra do Mar, que cobre cerca de 12,6 milhões de hec-tares, do Paraná ao Rio de Janeiro, englobando as serrasdo Mar e da Mantiqueira (entre São Paulo, Rio de Janeiro eMinas Gerais). O Corredor da Serra do Mar é uma das áreasmais ricas em diversidade biológica da Mata Atlântica. Ape-sar dessas orestas estarem situadas perto das duas maioresmetrópoles do Brasil (São Paulo e Rio de Janeiro), possuemum dos principais trechos de Mata Atlântica, incluindo o maiorremanescente contínuo, no Vale do Ribeira.

Nessa região, muitos remanescentes de mata compõemunidades de conservação, o que os torna propícios paraações e investimentos em conservação em longo prazo –particularmente para implementar corredores destinados aaumentar a conectividade entre fragmentos.

Outro corredor vem sendo trabalhado sob a coordenaçãoda Conservação Internacional-Brasil, em parceria com a Uni-versidade Federal de Pernambuco e com a organização não-governamental Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste(Cepan). Trata-se do Corredor de Biodiversidade da MataAtlântica do Nordeste, entre Alagoas e Rio Grande do Norte,cujo objetivo é reduzir drasticamente a probabilidade de extin-ção de espécies nessa região de grande importância biológica.

A oresta remanescente de Mata Atlântica do Nordeste

brasileiro está representada por arquipélagos de pequenos

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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CAPÍTULO 6 – ÁREAS PROTEGIDAS

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Estação Ecológica Jureia-Itatins – SP.

   W   i   g   o   l   d   B .

   S   c   h   a   f   f   e   r

fragmentos orestais imersos em uma matriz de cana-de-açúcar. São pouco numerosas as unidades de conservação,pequenas em extensão e frequentemente não implemen-tadas. Os projetos desenvolvidos em parceria com o setorprivado da região envolvem inventários biológicos, estudossobre a fragmentação e recuperação orestal, proteção deespécies ameaçadas e planejamento de conservação em es-cala regional.

O projeto usa como base de pesquisa a Usina SerraGrande, entre Alagoas e Pernambuco, que tem um dos maisimportantes conjuntos de fragmentos orestais ao norte doRio São Francisco. A área possui muitas espécies endêmicase ameaçadas de extinção, sendo uma das porções mais im-portantes para conservação da Mata Atlântica.

Mosaicos 

Reconhecido pelo Sistema Nacional de Unidades deConservação (Snuc), o mosaico é formado por um conjuntode unidades de conservação e outras áreas protegidas cujafunção é o planejamento e a execução de ações de forma in-tegrada, objetivando compatibilizar a presença da biodiversi-dade, a valorização da sociodiversidade e o desenvolvimento

sustentável no contexto regional.

Os mosaicos ajudam a fortalecer as regiões de suaabrangência na medida em que as unidades de conserva-ção passam a ser geridas de forma integrada. Com isso, seamplia a escala de planejamento territorial e se despertauma conscientização para a importância da preservaçãoda biodiversidade local, incentivando práticas de manejomais apropriadas, minimizando os impactos negativos dasatividades antrópicas sobre os corredores ecológicos, uni-dades de conservação e outras áreas protegidas. Destamaneira, aumentam as chances de viabilidade e persis-tência da diversidade das áreas naturais protegidas pelasunidades de conservação entre outras áreas inseridas nosmosaicos.

O primeiro mosaico reconhecido no Brasil foi na Caa-tinga piauiense, em 2005. Em 2006, foi a vez do primeirona Mata Atlântica: Zona Marinha e Costeira, que estende-sede São Paulo ao Paraná e engloba mais de vinte unidadesde conservação federais, estaduais, municipais, além deRPPN. No nal do mesmo ano, o Ministério do Meio Am -biente reconheceu mais três mosaicos na região das Serrasdo Mar e da Mantiqueira: Mosaico Bocaina, na região de Pa-raty (RJ) e Ubatuba (SP); Mosaico da Mata Atlântica CentralFluminense, na região serrana do Rio de Janeiro e Mosaicoda Serra da Mantiqueira, composto por unidades de conser-

vação de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

126

Reserva da Biosfera 

Reservas da Biosfera são áreas reconhecidas peloPrograma Homem e Biosfera (MaB, na sigla em inglês)da Unesco. O programa possui uma comissão brasileira,vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, e seu modelo éreconhecido e regulamentado pelo Snuc.

A Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (RBMA), aprimeira a ser criada e ampliada várias vezes, atualmenteabrange aproximadamente 25% do Domínio Mata Atlânticaem uma área com cerca de 35 milhões de hectares em 15estados. É a maior e uma das mais importantes unidades daRede Mundial da Unesco, que hoje inclui cerca de 490 Re-

O Mosaico da Serra da Mantiqueira tem o objetivoprincipal de estimular a gestão integrada entre as 19unidades de conservação presentes em seus 445.615hectares, localizados na tríplice fronteira dos estadosde São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, com áreaem 37 municípios. O Mosaico está em fase de implan-tação, com o planejamento da gestão integrada entre

as unidades de conservação (UCs), tendo duas linhasprioritárias: a criação de um sistema de informação ge-ográca, para monitoramento da área, e um plano deprevenção e combate a incêndios orestais, o maiorproblema na Serra da Mantiqueira. Em 2007, o Parquedo Itatiaia teve 800 hectares de área queimada. Pe-garam fogo também as Áreas de Proteção Ambiental(APA) Mantiqueira e Fernão Dias, onde 1.000 hectaresqueimaram no município de Sapucaí Mirim. O mosaicoprevê um trabalho com proprietários para substituir asqueimas de pastagens por outros métodos. Esse sis-tema é proibido em São Paulo, embora alguns ainda o

pratiquem, mas é permitido em Minas Gerais.Uma das experiências do Instituto Oikos, entida-de que exerce a secretaria executiva do Mosaico, compotencial de ser ampliada para a gestão do Mosaicoda Serra da Mantiqueira, é o trabalho voltado para odesenvolvimento rural sustentável em bases agroeco-lógicas, que vem sendo realizado na Bacia Hidrográ-ca do Ribeirão dos Macacos, cujo território ca 40%em Guaratinguetá e 60% em Lorena. O projeto estáem andamento desde 2006 junto com os proprietáriosda bacia, com nanciamento do Comitê da Bacia doRio Paraíba do Sul (Ceivap) e parceiras com a Cati,a prefeitura de Lorena, além do sindicato rural e co-

operativa de agricultores. Estão sendo restauradasáreas de preservação permanente (APPs) e implanta-dos microcorredores ecológicos na bacia, priorizandoa conexão de fragmentos nas propriedades privadas.

MOSAICO DA MANTIQUEIRA

Serra da Mantiqueira.

UCs do Mosaico da Serra da Mantiqueira

1. Área de Proteção Ambiental de Campos de Jordão (SP);2. Área de Proteção Ambiental de Sapucaí Mirim (SP);3. Área de Proteção Ambiental dos Mananciais do Rio Paraíba do Sul (SP, RJ e MG);4. Área de Proteção Ambiental Fernão Dias (MG);

5. Área de Proteção Ambiental Municipal de Campos de Jordão (SP);6. Área de Proteção Ambiental São Francisco Xavier (SP);

7. Área de Proteção Ambiental Serra da Mantiqueira (MG);8. Área de Proteção Municipal da Serrinha do Alambari (RJ);9. Floresta Nacional de Lorena (SP);

10. Floresta Nacional de Passa Quatro (MG);11. Parque Estadual da Serra do Papagaio (MG);12. Parque Estadual de Campos de Jordão (SP);13. Parque Estadual dos Mananciais de Campos de Jordão (SP);14. Parque Municipal da Cachoeira da Fumaça (RJ);15. Parque Municipal da Serrinha do Alambari (RJ);16. Parque Nacional do Itatiaia (RJ);17. Reserva Particular do Patrimônio Natural Alto Gamarra (MG);18. Reserva Particular do Patrimônio Natural Ave Lavrinha (MG);19. Reserva Particular do Patrimônio Natural Mitra do Bispo (MG).

   G   a   l   i   a   n   a   L   i   n   d   o   s   o

servas da Biosfera, em mais de 100 países (no Brasil, são sete,em vários biomas). A RBMA inclui a maioria dos ecossistemasda Mata Atlântica e destaca o Cinturão Verde da Cidade deSão Paulo, declarado como uma Reserva da Biosfera especial.

Entre as ações da RBMA estão o fomento ao desenvolvi-mento econômico social, cultural e ecologicamente sustentá-vel e o apoio a projetos demonstrativos, à produção e difusãodo conhecimento; à educação ambiental e capacitação; àpesquisa cientíca e ao monitoramento. Possui um conselhonacional, além de colegiados regionais e comitês e subcomi-

tês estaduais.

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CAPÍTULO 6 – ÁREAS PROTEGIDAS

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N

1:17.500.000

0 125 250 500km

Reserva da Biosfera da Mata Atlântica – Fase VI

RESERVA DA BIOSFERA DA MATA ALTÂNTICA – FASE VI

Zona de amortecimento

Zona núcleo

Zona de transição

Limite Mata Atlântica – Lei no 11.428 de 2006 (IBGE 2009)

Limite Estadual

Fonte: Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

128

Alguns tratados internacionais, dos quais o Brasil faz parte, trazem reconhecimento e proteção especial a algumas importantesáreas da Mata Atlântica. Signatário da Convenção do Patrimônio Natural, o país assumiu o compromisso de identicar e listar lo-cais de seu território para serem inscritos na Lista do Patrimônio Mundial. Uma vez reconhecido, o sítio deve ter proteção especial,

com planejamento estratégico e monitoramento, que deverão ser reportados periodicamente ao Comitê do Patrimônio Mundial.Quatro áreas da Mata Atlântica estão na lista do Patrimônio Mundial Natural: Parque Nacional do Iguaçu (desde 1986); Mata

Atlântica Reservas do Sudeste (1999); Costa do Descobrimento Reservas de Mata Atlântica (1999); e Ilhas Atlânticas Brasileiras:Fernando de Noronha e Atol das Rocas (2001).

A Convenção de Zonas Úmidas de Importância Internacional foi adotada em 1971, na cidade iraniana de Ramsar e, por isso,cou conhecida como Convenção Ramsar. Entrou em vigor em 1975, com a função principal de proteger as aves aquáticas, mas apartir de 1993 passou a reconhecer o interesse das zonas úmidas também pela sua importância ecológica e valores econômicos,culturais, cientícos e recreativos.

SELOS DE RECONHECIMENTO INTERNACIONAL

Parque Nacional do Caparaó – ES/MG.

   A   r   q  u   i  v   o   P   r   o   m   a   t   a

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CAPÍTULO 6 – ÁREAS PROTEGIDAS

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Parque Estadual de Vila Velha – PR.

   W   i   g   o   l   d   B .

   S   c   h   a   f   f   e   r

* Até março de 2006.

Atualmente, conta com 150 países signa-tários e 1.590 territórios reconhecidos comoZonas Úmidas de Importância Internacional*,incluindo o Parque Nacional da Lagoa do Pei-xe, situado na planície costeira do Rio Grandedo Sul. Inclui amostras de restingas, banha-dos, lagoas e dunas que abrigam espéciesendêmicas e ameaçadas. São conhecidas181 espécies de aves, sendo 35 migratórioas,além de ser uma área rica em alimento paraespécies da fauna marinha.

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http://slidepdf.com/reader/full/01-mata-atlantica 132/409Mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus ).

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Um retrato dos estados

Capítulo 7

   F   e   l   i   p   e   L   e   a   l

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

132

Um retrato dos estados

A Mata Atlântica é composta por um conjunto de tiposde vegetação, que inclui as faixas litorâneas do Atlântico(com seus manguezais e restingas, orestas de baixada,

de tabuleiro e de encosta da Serra do Mar), orestas inte -rioranas, a oresta com araucárias, os campos de altitudee os encraves orestais no Sudeste, no Centro-Oeste e noNordeste. Sua região de ocorrência original abrangia inte -gralmente ou parcialmente atuais 17 estados brasileiros:Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Minas Ge-rais, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Paraná, Pernambuco,Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande doSul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe. A Mata Atlân-tica também ultrapassa as fronteiras do Brasil, chegando

a abranger parte do território da Argentina e do Paraguai.Retratar a situação da Mata Atlântica em cada um dos 17

estados brasileiros onde ela ocorre é importante para mostrar

aspectos dos diferentes tipos de vegetação e da biodiversida-de local e também das principais ameaças que ainda pairamsobre os remanescentes de vegetação nativa.

É urgente e imprescindível estimular a realização deações de proteção, conservação e recuperação dos ecos-sistemas naturais no âmbito estadual e local, por instituiçõespúblicas, ONGs, instituições acadêmicas, empresas públicase privadas e por cada um dos mais de 120 milhões de brasi -leiros que habitam e dependem dos serviços ambientais pres-tados pela Mata Atlântica.

Auente do Rio Pelotas – São José dos Ausentes - RS.

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

133

   C   a   r   o   l   i   n   a   C .   S   c   h   a   f   f   e   r

Estudos realizados com apoio do Ministério do Meio Ambiente identicaram mais de 1.000 espécies de plantas nos campos de altitude do sul do Brasil.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

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Rio Grande do Sul

Figueira (Ficus organensis ).

    M   i   r   i   a

   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

136

Tabela 1 – Mata Atlântica no Rio Grande do Sul

Área do estado na Mata Atlântica(Mapa IBGE - Lei 11.428/06)*

(em hectares - ha)

Porcentagem em relaçãoà área total do estado**

Remanescentes devegetação nativa

(em a) ***

Porcentagem deremanescentes****

13.568.224,15 48,16% 4.283.494,94 31,57%

* Lei no 11.428, de 22 de dezembro de 2006** IBGE*** MMA/Probio, 2006**** Em relação à área do estado na Mata Atlântica

N

0 50 100 200km

UCs – Proteção integral

UCs – APAs

Campos Naturais

UCs – Uso sustentável

Formações Florestais

Lei da Mata Atlântica – Limite

Formações Pioneiras

REMANESCENTES DE VEGETAÇÃO NATIVA

Remanescentes de Vegetação Nativa na Mata Atlântica do Rio Grande do Sul

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

137

Cascata do Caracol – Parque Estadual do Caracol – Canela - RS.

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

Localizado no extremo sul do Brasil, na fronteira do Uru-guai e Argentina, o Rio Grande do Sul possui 28.174.853,80 ha(281.748,54 km2) e é abrangido por dois biomas: Mata Atlân-tica (no planalto serrano e região lagunar) e Pampa. A MataAtlântica é constituída por diferentes tipos de vegetação: es-tepe (campos de altitude) e orestas estacional decidual, esta-cional semidecidual, ombróla mista (oresta com araucárias)e uma pequena área de ombróla densa, além de formaçõespioneiras, como restingas. A ocupação do território pelos co -lonizadores passou a ser mais intensa a partir da chegada deimigrantes alemães e italianos na segunda metade do século

XIX e primeira metade do século XX. A partir do início do sécu -lo XX intensicou-se o desmatamento e a utilização das ores-tas no Vale do Rio dos Sinos e na Serra Gaúcha.

Estima-se que em 1500 havia 13.568.224,15 ha (135.682,24km2) cobertos com vegetação de Mata Atlântica no estado, cor-respondendo a 48% da área total do Rio Grande do Sul. Segun-do o Levantamento da Cobertura Vegetal Nativa do Bioma MataAtlântica (MMA/Probio, 2006), atualmente existem 31,57% deremanescentes, 4.283.494,94 ha (42.834,95 km2), incluindo osvários estágios de regeneração em todos os tipos de vegetaçãointegrantes da Mata Atlântica, existentes no estado.

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Araucária, o pineiro brasileiro (Araucaria angustifolia ).

O Pico Montenegro em São José dos Ausentes é o ponto mais alto do RS.

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A perda da cobertura vegetal nativa está estreitamenterelacionada com o aumento da área agrícola que ocorreucom a migração de colonos e seus descendentes para novasáreas, assim como à mecanização da agricultura. O cresci-mento populacional e a consequente urbanização tambéminuenciaram os altos índices de desmatamento. Atualmen-

te, mais de seis milhões de pessoas moram nos 456 municí-pios gaúchos com área de Mata Atlântica.

Nos últimos anos, percebe-se a recuperação orestalem áreas abandonadas pela agricultura, principalmente emencostas de morros. O Atlas dos Remanescentes Florestaisda Mata Atlântica (SOS Mata Atlântica/INPE) mostra umadiminuição de 74% no ritmo de desmatamento no estado,no período de 2000 a 2005, mas isso não signica que eletenha sido estancado. Mesmo mantendo a tendência dequeda, o levantamento da SOS/INPE no período de 2005 a2008 apontou o desmatamento de 3.117 hectares no esta-do. Pequenos produtores ainda desmatam para aumentar a

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

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área “produtiva” ou para usar a madeira como lenha, serrariascontinuam a explorar orestas nativas e empreendimentos deinfraestrutura como estradas e barragens são construídas emáreas com remanescentes de orestas e campos naturais.

Como exemplo das ameaças à Mata Atlântica, basta lem-brar que, até 2005, o Rio Grande do Sul era o único esta -do brasileiro onde a caça amadora, para algumas espécies,era permitida. Somente naquele ano uma sentença judicialsuspendeu a temporada de caça, que ocorria na região, paraproteger as aves de banhado, muito visadas pelos caçadores.

Além da caça, ainda há pressão para a supressão ouconversão de vegetação nativa da Mata Atlântica para plan-

Queimada ilegal de campo de altitude – São José dos Ausentes – RS.

Vegetação secundária na região de Mata – RS.

Estação Ecológica do Taim – RS.

Plantação de soja no entorno do Parque Estadual do Turvo –Derrubadas - RS.

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tios de soja, pinus e eucalipto, que ameaçam principalmentea oresta com araucárias e os campos de altitude. Entre osimpactos provocados por grandes empreendimentos, estáo lago da Usina Hidrelétrica de Barra Grande, formado em2005, na divisa dos estados de Santa Catarina e Rio Grandedo Sul, entre os municípios de Anita Garibaldi (SC) e Pinhal

da Serra (RS), cuja barragem foi construída sob um Estudode Impacto Ambiental que não informou a real dimensão dasmatas que seriam alagadas. O local era abrigo das três últi-mas populações conhecidas em território brasileiro da bro-mélia Dyckia distachya , além de animais raros e ameaçados,como algumas aves de rapina.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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O Rio Grande do Sul é responsável, ainda, por 50% daprodução de tabaco no país. A produção brasileira está estima-da em 850 mil toneladas por ano, o que faz do país o primeiroexportador mundial de fumo. Além da contaminação ambientaldevido ao uso de agrotóxicos, a fertilidade do solo é mantidapela aplicação excessiva de insumos agrícolas, o que acarretaem erosão e perda do equilíbrio natural entre oresta e fertili-dade. A fumicultura também é responsável direta por desma-tamentos, pois as estufas de fumo utilizam madeira para a se-cagem das folhas da planta e, mesmo que grandes empresase fumicultores tenham rmado um Termo de Ajustamento deConduta que proibiu o uso de lenha de madeira nativa nas es-tufas, parte dos agricultores ainda utiliza árvores nativas paraesse m. É bom lembrar que o Brasil faz parte da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, que prevê a substituiçãogradativa das lavouras de fumo até sua completa erradicação.

As áreas prioritárias para a conservação da Mata Atlânticaforam inicialmente identicadas pelo Projeto de Conservação e

Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira (Pro-

bio), em 1999, e reconhecidas pelo Decreto Federal no 5.092,de 2004. Em 2006, o Ministério do Meio Ambiente promoveua atualização das Áreas Prioritárias, sendo que no Rio Gran-de do Sul foram identicados 3.246.903,65 ha, que deveriamser alvo de intervenções com ações de criação de unidadesde conservação (proteção integral e de uso sustentável), cria-ção de mosaicos e corredores, fomento ao desenvolvimentosustentável, realização de inventários e recuperação orestal,educação ambiental, entre outros33. Atualmente, no estado,2,46% do território coberto pela Mata Atlântica está protegidopor unidades de conservação federais e estaduais34.

33 Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Be-nefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA no 9, de 23de janeiro de 2007.

34  Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição deBenefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA no 9, de 23

de janeiro de 2007 e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio/setembro de 2009.

Em primeiro plano a Dyckia maritima  na restinga em Torres – RS.Cacoeira no Cânion do Itaimbezino – Parque Nacional dosAparados da Serra – RS/SC.

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

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Flora: ERVA-MATE (Ilex paraguariensis )

Os primeiros a fazerem uso da erva-mate foram os índios Guara-nis, que habitavam a região das bacias dos rios Paraná, Paraguai eUruguai, na época da chegada dos colonizadores espanhóis. Produ-

to típico da Mata Atlântica, o cultivo da erva-mate abrange cerca de180 mil propriedades dos estados do Paraná, Santa Catarina, MatoGrosso do Sul e Rio Grande do Sul, este último responsável por pelomenos 75% da produção nacional. Emprega, direta e indiretamente,mais de 700 mil pessoas. As propriedades em que ela é cultivada são,na maioria, pequenas e médias o que lhe assegura uma importânciasocial expressiva. É conhecida por suas propriedades estimulantes edigestivas. Além das tradicionais destinações da erva-mate (chimar-rão, chá, refrigerante), a sua utilização na indústria química (tintas eresinas, medicamentos, desinfetantes e outros produtos), começa acrescer, embora ainda de forma reduzida.

Ação pela espécie: Erva-mate certicada (pág. 370)

NATURAL DA MATA ATLNTICA GAChA

Fauna: PAPAGAIO-DE-PEITO-ROxO (Amazona vinacea )

O papagaio-de-peito-roxo é uma espécie endêmica da Mata Atlân-tica, típica do sul do Brasil, embora conte com pequenas populaçõesem outros estados, como Bahia e São Paulo. Tem penas arroxeado-vináceas no peito e possui uma gola de penas alongadas que frequen-temente arrepia. No Rio Grande do Sul, ocupa pequenas porções demata e vive em forte associação com a araucária, por se alimentar desuas sementes (pinhão), embora no Paraguai e norte da Argentina,onde ainda há pequenas populações desta ave, não haja indícios des-sa relação. Em geral, é visto solitário, aos pares ou pequenos grupos,o que pode ser reexo da diminuição de suas populações em váriasregiões. Está vulnerável por conta da grande devastação e fragmen -tação de seu habitat e pela captura de lhotes para o tráco ilegal de

animais. Como sua população tem diminuído continuamente no Brasil,é provável que esta espécie entre, em breve, para a lista dos animaisem extinção. Segundo o Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extin-ção no Rio Grande do Sul (2003), o papagaio-de-peito-roxo consta nacategoria Ameaçada - Em perigo.

Ação pela espécie : A hora do bicho (pág. 359)

Das folas da erva-mate é produzido o cimarrão, bebida muitoapreciada no sul do Brasil.

Os animais utilizam o pinão na alimentação e ajudama dispersar as sementes.

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

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Santa Catarina

Ponte pênsil sobre o Rio Canoas, ao fundo a Pedra da Águia. Região do Campo dos Padres – Urubici - SC.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Tabela 2 – Mata Atlântica em Santa Catarina

Área do estado na Mata Atlântica(Mapa IBGE - Lei 11.428/06)*

(em hectares - ha)

Porcentagem em relaçãoà área total do estado**

Remanescentes devegetação nativa

(em a) ***

Porcentagem deremanescentes****

9.534.618,10 100% 3.525.470,80 37,01%

* Lei no 11.428, de 22 de dezembro de 2006** IBGE*** MMA/Probio, 2006**** Em relação à área do estado na Mata Atlântica

N

0 35 70 140km

UCs – Proteção integral

UCs – APAs

Campos Naturais

UCs – Uso sustentável

Formações Florestais

Lei da Mata Atlântica – Limite

Formações Pioneiras

Remanescentes de Vegetação Nativa na Mata Atlântica de Santa Catarina.

REMANESCENTES DE VEGETAÇÃO NATIVA

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

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Remanescente de oresta ombróla densa em Atalanta – SC.

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Com uma extensão territorial de 9.534.618,10 ha (1,12%do território brasileiro), Santa Catarina tem todos os 293 mu-nicípios, com seus 9.163.509 habitantes, em área de MataAtlântica. Segundo o Levantamento da Cobertura Vegetal Na-tiva do Bioma Mata Atlântica (MMA/Probio, 2006), atualmenteexistem 37,01% de remanescentes de vegetação nativa no

estado, 3.525.470,80 ha (35.254,71 km2), incluindo os váriosestágios de regeneração em todos os tipos de vegetação in-tegrantes da Mata Atlântica existentes no estado.

 A maior extensão ainda coberta por orestas no estadoé representada por fragmentos de oresta ombróla densa,com 38,94% dos remanescentes. Por outro lado, a oresta

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Floresta preservada em Botuverá - SC (primeiro plano) e Parque Nacional da Serra do Itajaí (ao fundo).

Cacoeira Véu de Noiva – Doutor Pedrino – SC.

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ombróla mista (oresta com araucárias), que se constituíana formação orestal predominante do estado, encontra-seameaçada. Essa formação foi alvo de intensa e predatóriaexploração madeireira, estando hoje numa situação crítica.Hoje seus remanescentes bem preservados estão extrema-mente fragmentados e não perfazem 5% da área original,

segundo dados do Ministério do Meio Ambiente (2000), ou3% segundo Fupef (1978), dos quais irrisórios 0,7% poderiamser considerados como áreas primitivas, as chamadas matasvirgens. Em Santa Catarina também integram a Mata Atlânti-ca áreas de oresta estacional decidual, formações pioneiras(manguezais e restingas) e estepe (campos de altitude).

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Parque Nacional das Araucárias – Passos Maia/Ponte Serrada – SC. Manguezal na Baia da Babitonga – Joinville – SC.

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Mata nebular e campo de alti tude – Ranco Queimado – SC. Desmatamento em área de oresta com araucárias – Passos Maia – SC.

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De acordo com o Atlas dos Remanescentes Florestais daMata Atlântica (SOS Mata Atlântica/INPE), Santa Catarina éo estado que proporcionalmente tem mais remanescentes deMata Atlântica em relação à área original, por outro lado, foio estado (entre os da Mata Atlântica) campeão em desmata-mento no período de 2000 a 2005, com 45.530 ha desmata -

dos, e vice-campeão no período 2005 a 2008, com 25.593 hadesmatados. Atualmente, há uma redução dos processos dedesmatamento na região litorânea, onde desmatamentos ain-da ocorrem, mas em áreas de reduzida extensão e cobertaspor vegetação secundária em estágio médio de regeneração.No entanto, em algumas regiões do planalto e meio oeste

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Bromélia poço-de-jacó (Billbergia alfonsi-joannis ).

Suçuarana ou onça-parda (Puma concolor ).

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ocorrem desmatamentos maiores a ponto de três municípioscatarinenses (Itaiópolis, Mafra e Santa Cecília), terem gura-do entre os dez municípios que mais desmataram entre 2000e 200535, e, no caso de Itaiópolis, entre os cinco municípiosque mais desmataram em toda a Mata Atlântica no períodode 2005 a 2008. Entretanto, em algumas regiões do estado,como no Vale do Itajaí, existe um claro sinal de redução dasatividades agrícolas e uma signicativa regeneração da vege-tação nativa nas áreas mais montanhosas.

Destaca-se, ainda, uma acentuada perda qualitativa nasorestas catarinenses. Muitas espécies, outrora abundantes, já guram como espécies raras e outras sequer são encon-tradas em muitas dessas áreas em regeneração. Com isso,o processo de regeneração natural das orestas pode carseriamente comprometido, em função do reduzido número de

fragmentos orestais primários ou em estágio avançado deregeneração e seu comprometedor isolamento.

Historicamente, a extração seletiva de espécies orestaisnobres no estado de Santa Catarina foi realizada de formapredatória, muito acima da capacidade de autorregeneraçãodessas espécies. Como resultado dessa exploração, está emcurso um processo acentuado de erosão genética, principal-mente daquelas que já constam da lista de espécies da oraameaçadas de extinção, como a canela-preta, a canela-sas-safrás, a araucária, a imbuia e o palmito.

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 Atlas dos Municípios da Mata Atlântica/Atlas dos Remanescentes Florestaisda Mata Atlântica – 2000-2005, SOS Mata Atlântica/INPE.

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Desmatamento em assentamento rural na região oeste – SC.

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Entre as principais ameaças à Mata Atlântica no estadoestão a especulação imobiliária, principalmente no litoral, e aconstrução de grandes obras de infraestrutura, como as hi-drelétricas. O manejo orestal na Mata Atlântica, atualmentevedado pela Lei no 11.428, de 2006, em razão da inexistênciade uma base técnico-cientíca mínima para a sustentabilida-de, também contribuiu sobremaneira para o empobrecimentoqualitativo e genético das orestas. Assim como em outrosestados brasileiros, a grande maioria dos projetos de reformaagrária até agora realizados em áreas cobertas com orestas,também acabaram em destruição.

Segundo produtor nacional de fumo, com mais de 30%da produção brasileira do setor, o estado de Santa Catarinatem na fumicultura um dos principais responsáveis pelo des -matamento de suas orestas nativas. Mesmo com um Termode Ajustamento de Conduta (TAC), assinado em 2003 pelosetor, parte dos produtores ainda usa lenha nativa para ge-rar a energia necessária para aquecer suas estufas, muitasvezes de forma camuada, escondendo a madeira nativa debaixo de uma pilha de lenha de eucalipto.

Há ainda a pressão para a supressão dos remanescen-tes da Mata Atlântica para abrir caminho para plantios de sojae reorestamento com espécies exóticas, como pinus ou eu-calipto. O plantio de árvores exóticas, quando realizado semplanejamento e sem respeitar as normas ambientais em vi-

gor, tem causado a conversão de grandes áreas de campos

de altitude e comprometido a regeneração da oresta comaraucárias, além de produzir outros efeitos ambientalmentedanosos à vida rural. Comumente, as áreas reorestadas,concluído o ciclo de crescimento determinado pelos critérioscomerciais, sofrem um desmatamento completo, deixando osolo exposto. Em seguida, o local é queimado para a limpezado terreno. Algumas empresas e proprietários de terras nãorespeitam o Código Florestal, plantando orestas homogêne-as em áreas de mata ciliar e em superfícies com declividadesuperior a 45º e em topo de morros.

As áreas prioritárias para a conservação da Mata Atlânti-ca foram identicadas pelo Projeto de Conservação e Utiliza-ção Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira (Probio),em 1999, e reconhecidas pelo Decreto Federal no 5.092, de2004. Em 2006, o Ministério do Meio Ambiente promoveu aatualização das Áreas Prioritárias, sendo que em Santa Ca-tarina foram identicados 3.580.552,07 ha, que deveriam seralvo de intervenções com ações de criação de áreas prote-gidas, incluindo unidades de conservação de proteção inte-gral e de uso sustentável, criação de mosaicos e corredores,fomento ao uso sustentável, realização de inventários, recu-peração de áreas degradadas e educação ambiental36. Atu-

36 Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Be-nefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA no 9, de 23de janeiro de 2007.

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almente, 2,81% do estado estão protegidos por unidades deconservação de proteção integral e uso sustentável federaise estaduais37.

O Projeto de Proteção à Mata Atlântica do estado de San-ta Catarina, coordenado pelo governo do estado e nancia-do com recursos do KfW38, desenvolve algumas ações parapreservar a biodiversidade da Mata Atlântica, que envolvem

37 Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Be-nefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA no 9, de 23de janeiro de 2007 e Instituto Chico Mendes de Conservação da biodiversidade

 – ICMBio/setembro de 2009.

38 KfW Bankengruppe - Cooperação Financeira Alemã.

a gestão das unidades de conservação estaduais, parceriascom outras instituições governamentais e não-governamen-tais, criação e disponibilização de banco de dados. Váriasações também são desenvolvidas por organizações não-go-vernamentais e a iniciativa privada, como o Programa MatasLegais, parceria da Associação de Preservação do Meio Am-biente e da Vida (Apremavi) com a Klabin S/A, cujo objetivoé desenvolver e estimular atividades de conservação, educa-ção ambiental e fomento orestal que ajudem a preservar erecuperar os remanescentes orestais nativos, melhorem aqualidade de vida da população e minimizem os impactos daprodução orestal, levando em consideração o planejamentode propriedades e paisagens.

Cacoeira Perau do Gropp no Parque Natural Municipalda Mata Atlântica, Atalanta – SC.

Restinga preservada na Praia de Palmas,

Governador Celso Ramos - SC.

Turismo na Praia da Guarda do Embaú no Parque Estadual da Serra doTabuleiro – Paloça - SC.

Reserva Biológica do Sassafrás (primeiro plano) e Terra Indígena

Ibirama La Klãnõ (ao fundo), José Boiteu – SC.

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

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Flora: IMBUIA (Ocotea porosa )

Árvore símbolo de Santa Catarina, a imbuia é uma espécie típicada oresta com araucárias e talvez a mais longeva desse ambiente:pode chegar a 500 anos; é frondosa, tem pequenas ores e na ida -de adulta pode atingir 30 metros de altura. Considerada de madeiranobre, foi largamente explorada por seu alto valor comercial princi-palmente como matéria-prima para móveis de luxo, instrumentos eoutras peças. É de fácil entalhe, longa durabilidade e grande beleza,apresentando cor parda e veios que vão do amarelo ao marrom comriscas pretas. É considerada a árvore símbolo de Santa Catarina porser uma espécie que ocorria em todas as formações orestais do esta-do - ou seja, de norte a sul e de leste a oeste de Santa Catarina haviaimbuias. Hoje, encontrar uma imbuia centenária no meio da mata éum fato raro.

NATURAL DA MATA ATLNTICA CATARINENSE

Fauna: BUGIO (Alouatta sp )

O bugio (também conhecido por guariba, barbado ou macaco-uivador) está entre os maiores pri -matas neotropicais. Sua pelagem varia de tons ruivos ao preto. Ele é famoso por seu grito, que podeser ouvido por alguns quilômetros dentro da mata, e pela presença de pelos mais compridos nos lados

da face formando uma espécie de barba. Vive em estratos arbóreos de 10 a 20 metros, em orestasmontanhosas úmidas ou vegetação mais aberta. Forma grupos de até 15 indivíduos, ocupando umaárea de uso de 1 a 20 ha. A constituição dos grupos varia de espécie para espécie e de acordo com ascondições de seus habitats. São importantes dispersores de sementes, favorecendo a germinação desementes de algumas espécies após passarem pelo seu trato digestivo. Apesar de não ser consideradoameaçado de extinção, existem áreas no estado de Santa Catarina que não possuem mais a espécie,ou seja, áreas onde o bugio foi extinto localmente. Assim como para a grande maioria das espéciesnativas da Mata Atlântica, as principais ameaças aos bugios ruivos são a perda de habitat, o tráco ea caça.

Ação pela espécie: Projeto Bugio (pág. 389)

Imbuia, árvore símbolo de SC. Atualmente é raro encontrareemplares adultos de imbuia.

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O bugio é famoso porseu grito, que pode serouvido a quilômetros dedistância.

Sementes de imbuia.

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Paraná

Parque Estadual do Pico Paraná - PR.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

154

Tabela 3 – Mata Atlântica no Paraná

Área do estado na Mata Atlântica(Mapa IBGE - Lei 11.428/06)*

(em hectares - ha)

Porcentagem em relaçãoà área total do estado**

Remanescentes devegetação nativa

(em a) ***

Porcentagem deremanescentes****

19.552.527,20 98,10% 4.601.912,14 23,54%

* Lei no 11.428, de 22 de dezembro de 2006** IBGE*** MMA/Probio, 2006**** Em relação à área do estado na Mata Atlântica

N

0 40 80 160km

UCs – Proteção integral

UCs – APAs

Campos Naturais

UCs – Uso sustentável

Formações Florestais

Lei da Mata Atlântica – Limite

Formações Pioneiras

REMANESCENTES DE VEGETAÇÃO NATIVA

Remanescentes de Vegetação Nativa na Mata Atlântica do Paraná

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

155

Ocialmente o Paraná possui uma extensão de19.931.485,00 ha, dos quais 98% (19.552.527,20 ha), esta-vam originalmente cobertos pela vegetação nativa da MataAtlântica que, no Paraná, é constituída por orestas estacio-nal semidecidual, ombróla mista (oresta com araucárias)e ombróla densa, estepe (campos de altitude) e áreas de

tensão ecológica nas transições entre os diferentes tipos ve-getacionais, além de formações pioneiras como as restingas

e manguezais. Nesse território, vivem quase 6,5 milhões depessoas, em 399 municípios. O processo de degradaçãodos ambientes naturais ocorreu na direção do litoral para ooeste do estado. No litoral, a primeira ação que impactou osambientes naturais foi a mineração, realizada na maior partedos rios da região nos séculos XVII e XVIII. Em paralelo e

depois do término dessa atividade, iniciou-se nos rios nave-gáveis uma segunda fase de degradação. Esses rios, além de

Floresta ombrólia densa na Apa de Guaraqueçaba, Morrretes - PR.

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Ila do Mel – PR.

Serra do Ibitiraquire – Parque Estadual Roberto Ribas Lange – PR.

   A   l   a   n   M   o   c   o   c   h   i   n   s   k   i

   A   l   a   n   M   o   c   o   c   h   i   s   n   k   i

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

157

proporcionar o escoamento da produção, possuíam planíciescom solos mais férteis, aptas à implantação de áreas agrícolas.Concomitante a essas atividades, ocorreu intensa extração demadeira. Esse processo foi se intensicando com o aumentoda população desde o período da mineração, fazendo com queatualmente as áreas de planície próximas aos grandes rios e

o início das encostas sejam as áreas mais degradadas.A evolução da degradação no litoral, porém, se deparou

com duas barreiras. A primeira foi o solo arenoso da planície,que não é apto à agricultura. A segunda foi a Serra do Mar, devi-do à sua encosta íngreme de difícil acesso e manuseio da terra.

Ao ultrapassar a Serra do Mar com a construção de aces-sos do planalto ao litoral, principalmente depois da construçãoda estrada de ferro (1885) e da estrada da Graciosa (1873),iniciou-se a exploração madeireira, culminando com a intensaatividade agropecuária e mais tarde com o reorestamento deexóticas, passando por diferentes ciclos econômicos. Esse pro-cesso ocorreu primeiro na porção leste do planalto, próximo a

Curitiba, alcançando gradativamente as porções centrais do es-tado e sucessivamente o norte, noroeste e oeste, resultando emuma intensa degradação ambiental, maior do que a ocorrida nolitoral. As regiões de solos mais férteis e planas e que primitiva-mente possuíam as orestas mais exuberantes e de maior diver-sidade foram as mais intensamente degradadas, não existindomais remanescentes signicativos dessas orestas.

As avaliações do processo da retirada da cobertura o-restal, até 1960, são todas baseadas nas estimativas reali-zadas por Maack, a partir de 1930. Segundo esses estudos,desde o início da colonização do Paraná até o ano de 1930,foram desmatados apenas 38.800 km2 através de queima eaproveitamento de madeira. Até 1955, portanto, num períodode 25 anos, foram destruídos 98.688 km2 e, de 1955 até 1960,mais 13.500 km2. Os dados para o período de 1961 a 1965são incertos, em virtude da falta de novos levantamentosexatos e do grande incêndio orestal de 1963. O fato é que,dos primitivos 167.824 km2 de mata virgem, das diferentes

Refúgio de Vida Silvestre dos Campos de Palmas – PR.

   W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

Desmatamento para plantio de pinus (2007). General Carneiro – PR.

   W   i   g   o   l   d   B    S   c   h   a   f   f   e   r

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

158

formações orestais existentes no estado, foram derrubados119.688 km2, até 1965. Uma avaliação do IBGE, divulgadaem 1984, constatou que em 1980 restavam apenas 34.134km2 de orestas nativas incluindo capoeiras e capoeirões.

Atualmente, segundo o Levantamento da Cobertura Ve-getal Nativa do Bioma Mata Atlântica (MMA/Probio, 2006), o

estado possui 23,54% de remanescentes de vegetação nativada Mata Atlântica, 4.601.912,14 ha (46.019,12 km2), incluindoos vários estágios de regeneração em todas as sionomias.Já o levantamento realizado pela SOS Mata Atlântica/INPE(2008), aponta que no Paraná restavam no ano de 2005,19.476 km2 (9,90%) de cobertura orestal, considerando ape-

Cacoeira ao lado da Estrada da Graciosa, Morretes – PR.

Garganta do Diabo nas Cataratas do Iguaçu – Parque Nacional do Iguaçu.

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

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Parque Estadual do Pico do Marumbi, Morretes – PR.

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

nas orestas em bom estado de conservação. Em 2008, se-gundo o mesmo levantamento, restavam 19.376 km2, ou seja,foram desmatados 100 km2 no período de três anos. A situa-ção da Mata Atlântica no Paraná é crítica, restando poucosremanescentes principalmente da oresta com araucárias e

da oresta estacional semidecidual.Por conta deste quadro, vários esforços estão sendofeitos no sentido de monitorar as condições da Mata Atlân-tica e, com isso, obter ferramentas para a conservação. Umexemplo foi o estudo realizado com apoio do Ministério doMeio Ambiente e da Fundação de Pesquisa e Estudos Flo -restais ligada à Universidade Federal do Paraná (UFPR).Completado em 2001, esse trabalho, pela primeira vez, indi-cou com detalhes a discriminação dos ambientes de orestacom araucárias ainda remanescentes no Paraná, constatan-do que apenas 0,8% de áreas da oresta ombróla mista,originalmente formada por cerca de oito milhões de hectares,ainda estavam no estágio avançado de conservação. Essa

informação foi fundamental para incentivar esforços para quemedidas concretas fossem tomadas pela sociedade e pelogoverno para que essas áreas, já muito pouco representati-vas, não fossem completamente destruídas.

Hoje o estado conta com 8,11% de sua área de MataAtlântica protegida em unidades de conservação federais eestaduais39. Entretanto, essas unidades não estão distribuí-das de forma equilibrada entre os diferentes tipos de vegeta-ção que ocorrem no estado.

39 Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Be-nefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA no 9, de 23

de janeiro de 2007 e Instituto Chico Mendes de Conservação da biodiversidade – ICMBio/setembro de 2009.

No Paraná, o MMA identicou a necessidade de interven-ções em 2.396.181,33 ha, em áreas consideradas prioridadepara ações como a criação de áreas protegidas, incluindo uni-dades de conservação de proteção integral e uso sustentável,além do fomento para o uso sustentável, a realização de in -

ventários, recuperação e criação de mosaicos e corredores debiodiversidade40.

40 Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Be-nefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA no 9, de 23de janeiro de 2007.

Na natureza, os insetos cumprem importante papel na polinização.

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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A gralha-azul (Cyanocorax caeruleus ) é importante dispersora das sementes de araucária.

Pôr do sol no Parque Nacional dos Campos Gerais – Ponta

Grossa – PR.

Mico-leão-da-cara-preta (Leontopithecus caissara ).

    A   l   e  x   a

   n   d   r   e   T .   A .   N   a   s   c   i   m   e   n   t   o

    Z   i   g   K   o   c   h

   W   i   g   o   l   d   B    S   c   h   a   f   f   e   r

Entre as principais ameaças à Mata Atlântica noParaná estão a especulação imobiliária, a fumicultura(o estado é responsável por 15% da produção brasi-leira de fumo), a exploração madeireira clandestina epredatória de espécies ameaçadas e o avanço da agri-cultura, representada pelos sistemas monocultores deprodutos como a soja e a cana, cujo plantio extensivopromove o desmatamento dos últimos remanescentes

da Mata Atlântica. O modelo de monocultura de grãostraz problemas para a qualidade da água, assoreamen-to, processos erosivos e de perda do solo.

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

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Flora: ARAUCÁRIA (Araucaria angustifolia )

Chamada também de pinheiro-brasileiro ou pinheiro-do-paraná, a Arau- 

caria angustifolia  é endêmica da Mata Atlântica e quando muito antiga atingede 20 a 40 metros de altura e de 1 a 2 metros de diâmetro de tronco cilíndrico,raramente bifurcado. Conhecida por sua magnitude e porte elegante, o pinhei-ro é a árvore símbolo do Paraná e também tem um dia comemorativo: o DiaNacional da Araucária, em 24 de junho. A partir do mês de março, começa oamadurecimento das pinhas, cujos pinhões são muito apreciados pela popula-ção e servem também de alimento para inúmeros animais, como a gralha azul.A araucária chegou a responder por mais de 40% das árvores existentes naoresta ombróla mista, por isso mesmo conhecida como oresta com Araucá-rias, tipo de vegetação que caracterizava a paisagem do sul do Paraná e que,primitivamente, ocupava uma área de 73.780 km2 dentro do estado. Atualmen-te, a espécie está ameaçada de extinção devido à exploração indiscriminadae à fragmentação excessiva dos seus remanescentes. As principais ameaçasaos remanescentes de araucárias são: a extração ilegal de madeira, a supres -são da oresta via queimadas, a substituição da cobertura orestal nativa porreorestamento de exóticas, pressão urbana e ocupação de áreas cobertas

por oresta para reforma agrária.

Ação pela espécie: Desmatamento Evitado (pag 376 no capítulo Banco

de ideias sustentáveis)

NATURAL DA MATA ATLNTICA PARANAENSE

Fauna: PAPAGAIO-DE-CARA-ROxA (Amazona brasiliensis )

Também chamado papagaio-chauá, mede cerca de 35 centímetros, é verde,com a cabeça alternando tons vermelhos na fronte, roxos no alto da cabeça e

azuis nas faces. Os últimos papagaios-de-cara-roxa que existem no mundo - cer-ca de 4.500, segundo os cientistas - vivem na Mata Atlântica brasileira, na faixaentre o litoral norte de Santa Catarina ao sul de São Paulo, com destaque para olitoral paranaense. Por isso, é considerada pelo Ministério do Meio Ambiente umaespécie ameaçada de extinção. Vivem em bandos, mas são monogâmicos. Umavez por ano, a fêmea bota dois ou três ovos. Os lhotes vivem com os pais duran -te o primeiro ano de vida. Só depois de alguns anos formam casais, para muitotempo depois começarem a reproduzir. Alimentam-se de frutos, folhas, sementese ores da mata nativa do litoral. Por ser tão restrito ao seu habitat, é uma avevulnerável, já que qualquer alteração do ambiente pode lhe ser extremamentearriscada. Ameaçam-no, em particular, o desmatamento e a caça para o tráco.

O pineiro-brasileiro consta da lista nacional de espéciesameaçadas de etinção e sua eploração em formações

orestais naturais está proibida.

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

O papagaio-de-cara-roa vive na regiãolitorânea, do norte deSanta Catarina ao sulde São Paulo.

     Z    i

   g      K  o

   c    h

    M   i   r   i   a   m   P

   r   o   c   h   n   o  w

O pinão serve de alimento para inúmeros animais e tambémé muito apreciado pelos seres umanos.

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

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São Paulo

Jequitibá-rosa (Cariniana legalis ) – Parque Estadual de Vassununga – Santa Rita do Passa Quatro – SP.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Tabela 4 – Mata Atlântica em São Paulo

Área do estado na Mata Atlântica(Mapa IBGE - Lei 11.428/06)*

(em hectares - ha)

Porcentagem em relaçãoà área total do estado**

Remanescentes devegetação nativa

(em a) ***

Porcentagem deremanescentes****

16.730.549,39 67,40% 3.907.365,23 23,35%

* Lei no 11.428, de 22 de dezembro de 2006** IBGE*** MMA/Probio, 2006**** Em relação à área do estado na Mata Atlântica

N

0 60 120 240km

UCs – Proteção integral

UCs – APAs

Campos Naturais

UCs – Uso sustentável

Formações Florestais

Lei da Mata Atlântica – Limite

Formações Pioneiras

REMANESCENTES DE VEGETAÇÃO NATIVA

Remanescentes de Vegetação Nativa na Mata Atlântica de São Paulo

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

165

Com aproximadamente 70% de seu território coberto porvegetação da Mata Atlântica em 1500, o estado de São Pau-lo tem sua história ambiental marcada por diferentes níveisde ameaça aos ecossistemas originais da Mata Atlântica –oresta estacional semidecidual, ombróla mista, ombróla

densa, áreas de savana, campos de altitude, áreas de tensão

ecológica e formações pioneiras como as restingas e man-guezais. Em quatro séculos de exploração econômica, o es-tado teve sua cobertura orestal reduzida drasticamente para

a ocupação por monoculturas agrícolas, principalmente como desmatamento para implantação do café. Ainda assim, até

1920 mais da metade do território estava coberto por ores -tas nativas. Do território paulista, 67,4% estão em área deMata Atlântica41, incluindo 554 municípios e uma populaçãode 36.040.824 pessoas. Atualmente, restam 23,35% de re-manescentes ou 3.907.365,23 ha (39.073,65 km2), incluindoos vários estágios de regeneração em todas as sionomias,

segundo o Levantamento da Cobertura Vegetal Nativa doBioma Mata Atlântica (MMA/Probio, 2006).

41 Lei no 11.428/2006 (Lei da Mata Atlântica).

As bromélias se destacam no interior da oresta.

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Em 2002, um levantamento do Instituto Florestal, órgãode pesquisa e administração das unidades de conservaçãodo estado, realizado com base em imagens de satélite, quedetectam fragmentos superiores a quatro hectares, revelouuma reversão sutil na perda de vegetação. Os dados mostra-ram que em uma década houve aumento de 2% na área devegetação em São Paulo. Mesmo assim, o aumento não foiglobal e ocorreu principalmente em regiões de Mata Atlântica

do Vale do Paraíba e do Litoral, onde o projeto de recupera-ção da mata incrementou a scalização e a infraestrutura em

unidades de conservação.Ao contrário das perspectivas de regeneração da mata em

áreas localizadas, o desmatamento, incêndios, caça e tráco

de espécies de animais permanecem como os grandes pro-blemas não resolvidos do estado que implicam na redução di-reta da biodiversidade da Mata Atlântica. Os atuais fragmentos

Serra de Taperaí - SP.

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

Remanescentes de Mata Atlântica em Piedade - SP.

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

O cultivo de plantas medicinais em Barra do Turvo - SP, gera renda eajuda na conservação da biodiversidade.

   A   r   m   i   n   D   e   i   t   e   n   b   a   c   h

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

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As orestas protegem as nascentes e rios, garantindo aqualidade da água.

A especulação imobiliária é uma das principais ameaças à MataAtlântica no litoral de São Paulo.

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

mostram-se insucientes para a manutenção da biodiversida-de e conforme o grau de fragmentação, os ecossistemas nati-vos são conduzidos a situações limites com o isolamento dasúltimas populações de fauna e ora, empobrecimento genético

e o crescente efeito de borda sobre os remanescentes.Em 1896 foi desapropriado pelo estado o Engenho da Pe-

dra Branca para a instalação do Horto Botânico (hoje ParqueEstadual Alberto Löfgren, nome dado em homenagem ao seu

primeiro diretor), localizado no município de São Paulo, que foia base para a criação do Serviço Florestal do estado em 1911,atual Instituto Florestal. As décadas de 1950 e 1960 trouxeramincremento para a proteção do patrimônio natural de São Paulo,com a incorporação de vários parques e reservas orestais. Em

1977, o Instituto Florestal, aliado a ambientalistas, conseguiu adecretação do Parque Estadual da Serra do Mar, maior unidadede conservação do estado, com 315 mil hectares protegendo as

No interior de São Paulo, os poucos remanescentes de Mata Altântica estão ilados por monoculturas de cana-de-açúcar, soja e milo.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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matas úmidas de encosta, ou seja, a oresta ombróla densa,

que corresponde hoje à tosionomia que concentra 80% do

que resta de remanescentes de Mata Atlântica no estado.Em oposição à conservação do litoral, as áreas de mata de

interior, ou oresta estacional semidecidual, são as mais frag-mentadas e ameaçadas, estando protegidas essencialmente

pelo Parque Estadual do Morro do Diabo, com 36 mil hectaresno Pontal do Paranapanema, no extremo oeste de São Paulo.Atualmente 8,03% da área de Mata Atlântica no estado estáprotegida em unidades de conservação federais e estaduais42.

A perda de diversidade é um dos principais problemas daMata Atlântica paulista.

Um exemplo é a perereca Phrynomedusa fmbriata, queocorria ao longo de todo o litoral e em parte do Paraná e doRio de Janeiro, que teve seu último registro em 1966, nuncamais sendo encontrada na natureza. Segundo a Secretaria

42 Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Be-nefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA no 9, de 23de janeiro de 2007 e Instituto Chico Mendes de Conservação da biodiversidade

 – ICMBio/setembro de 2009.

do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, estima-se emmais de um milhão de hectares as áreas marginais dos cur-sos d’água sem vegetação ciliar, que precisam ser recupe-radas por força do Código Florestal (Lei no 4.771, de 1965).

Mas São Paulo colabora também para a perda de bio-diversidade de outros estados. Junto com Rio de Janeiro, o

estado de São Paulo é o principal ponto de destino da faunailegal, vendida em feiras ou exportada pelos portos e aero-portos paulistas para a América do Norte, Europa e Ásia.

Em São Paulo, o MMA identicou a necessidade de inter -venções em 4.222.933,97 ha, áreas consideradas prioritáriaspara ações como a criação de áreas protegidas, incluindo uni-dades de conservação de proteção integral e uso sustentá-vel, além do fomento para o uso sustentável, a realização deinventários, recuperação e criação de mosaicos e corredoresde biodiversidade43.

43

 Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Be-nefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA no 9, de 23de janeiro de 2007.

Agricultores familiares utilizam sistemas agroorestais (SAFs) e garantem a sustentabilidade em seus imóveis rurais, Sete Barras – SP.

  A    i   D   i  t    b    h

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

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O manejo do cultivo de ostras é importante para a conservação dosmanguezais, Cananéia – SP.

Manguezal no litoral de São Paulo.

  C  l      t   C    l  h 

    C   l   e   m   e   n   t   e   C   o   e   l   h   o

Iniciativas pioneiras para a garantia da sustentabilidadeambiental integrada às comunidades locais da Mata Atlânticatêm merecido destaque no esforço de recuperação da ores-ta no estado de São Paulo. Na região do Pontal do Para-napanema, onde pequenos fragmentos de mata de interior,vizinhos ao Parque do Morro do Diabo, compõem os últimosrefúgios da oresta estacional semidecidual, o Instituto de

Pesquisas Ecológicas (IPÊ) vem obtendo sucesso em pro- jetos de conservação da paisagem. Ali, a ONG desenvolveuum modelo de associação entre assentamentos da reformaagrária e conservação, estabelecendo corredores orestais

entre os fragmentos, uma faixa de orestas no entorno do

Parque – no projeto Abraço Verde –, e ilhas de biodiversidadeque funcionam como trampolins para a fauna e ora locais.

Mais de um milhão de árvores nativas já foram plantadas emespaços antes devastados pela monocultura da cana e pelapecuária extensiva.

O conceito de corredor de biodiversidade vem servindo

também para a criação de estratégias de gestão da paisagemmacrorregional do bioma. O Corredor da Serra do Mar, que

interliga os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e SãoPaulo por meio da cadeia de montanhas que acompanha olitoral do sudeste brasileiro e a Serra da Mantiqueira, coloca-se como ferramenta para a criação de políticas públicas deconservação da Mata Atlântica para esse trecho. Recursosdo Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos, uma alian-

ça entre a Conservação Internacional (CI), o Fundo para oMeio Ambiente Mundial (GEF), o Banco Mundial, a Funda-ção MacArthur e o governo do Japão para nanciar projetos

de conservação da biodiversidade, vêm sendo direcionadospara programas como o de criação de reservas particularesdo patrimônio natural (RPPNs) no Corredor da Serra do Mar.Só em São Paulo e Rio de Janeiro já são mais de 80 RPPNsocializadas.

Espaço crítico nas estratégias de proteção, o Vale do Ri-beira, por ser a região com a maior extensão contínua de ve-getação nativa da Mata Atlântica, destaca-se também comopólo de projetos socioambientais que permitem a recupera-

ção da paisagem com a inserção econômica de populaçõestradicionais. Ali, o Instituto Socioambiental (ISA) realizou um

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

170

diagnóstico socioambiental da Bacia Hidrográca do Rio Ri-beira de Iguape – que compreende área de mais de dois mi-lhões de hectares de orestas preservadas, 150 mil ha de

restingas, 17 mil ha de manguezais, além de um dos maisimportantes patrimônios espeleológicos do país – e desenvol-ve desde 2002 um trabalho voltado à construção de políticas

públicas com interface em recursos naturais e comunidadestradicionais, que já resultou em vários projetos44.

44 Ver Capítulo 11 – Banco de ideias sustentáveis: Banana Orgânica no Valedo Ribeira, pág. 367.

Estação Ecológica da Jureia – SP.

Nas orestas primárias eiste equilíbrio entreas espécies arbóreas e não arbóreas.

Estalactites na Caverna do Diabo.

helicônia (Heliconia velloziana )

    W   i   g   o   l   d   B   S   c   h   a   f   f   e   r

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

    W   i   g   o   l   d   B   S   c   h   a   f   f   e   r

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

171

Flora: PALMITO-JUÇARA (Euterpe edulis )

No Brasil, várias palmeiras produzem palmito comes-tível. Entre elas, a espécie mais conhecida e apreciadaé a Euterpe edulis , comumente chamada de palmiteiro juçara, ou simplesmente palmito. É encontrada em maiorabundância do Rio Grande do Sul ao sul da Bahia, masera frequente em todas as formações orestais de MataAtlântica. Explorado intensamente a partir da década de1970, o palmito juçara encontra-se hoje incluído na listaocial de espécies da ora brasileira ameaçadas de extin -ção. Apesar da retirada em áreas naturais ser proibida emrazão de a espécie constar da lista de ameaçadas de ex-tinção, a exploração predatória ainda ocorre e quase todoo palmito juçara comercializado e exportado pelo Brasil éilegal. O Vale do Ribeira, no estado de São Paulo, é umadas regiões onde ainda há populações expressivas do juçara, embora continue intensamente explorado. A prin-

cipal característica da exploração predatória é o roubodo palmito, cortado das reservas à noite, geralmente pormoradores pobres da própria região, e depois cozido emprecárias condições de higiene e envasado em recipien-tes fornecidos pelos próprios atravessadores que comer-cializam o produto. O palmito ainda é comercializado emestradas e nos grandes centros urbanos, principalmenteem restaurantes, mas também abastece indústrias complanos de manejo aprovado, que aproveitam suas licen-ças para ”esquentar” o produto clandestino. A exploraçãoé permitida apenas quando se trata de palmito plantadoe, atualmente populações tradicionais, como algumas co-munidades quilombolas do Vale do Ribeira, têm participa -

do de projetos de reorestamento de palmito juçara, o quegarante a fonte de renda de famílias inteiras e diminui orisco de extinção da espécie.

Ação pela espécie: Preservação do palmito juçara

(ver pág. 387)

NATURAL DA MATA ATLNTICA PAULISTA

Fauna: JARARACA-ILhOA (Bothrops insularis )

A jararaca-ilhoa é uma espécie de serpente venenosa que vive exclusivamente na ilha da Queimada Grande, próxima ao litoral sulde São Paulo, nas vizinhanças de Itanhaém e Peruíbe. A maior parte dos 430 mil m 2 da ilha é coberta pela Mata Atlântica, habitat dessaespécie que tem como parente mais próximo a jararaca comum. O processo de diferenciação entre as duas serpentes pode ter sido cau -sado pela separação por barreira geográca entre as duas populações. Ao longo do tempo as diferenças se ampliaram até se tornaremduas espécies distintas. Embora a maior parte da ilha da Queimada Grande esteja preservada, existem áreas que foram desmatadas nopassado, hoje cobertas por capim. Ao longo dos últimos anos, tais áreas voltaram a ser ocupadas pela mata, mas sua recuperação totaldeve demorar muitos anos. Além dessa ameaça, aparentemente controlada, há evidências de capturas ilegais de jararacas-ilhoas, prova-velmente para o mercado negro de animais silvestres. Tais pressões, associadas ao fato de estar restrita a uma pequena ilha, fazem comque a jararaca-ilhoa seja considerada uma espécie ameaçada de extinção. Embora sua densidade populacional seja grande, um incêndioque atingisse a ilha inteira poderia eliminar todos os indivíduos. Assim, a espécie foi incluída na lista de espécies ameaçadas de extinçãodo estado de São Paulo e do Brasil.

A coleta dos frutos para produção de polpa é uma atividadesustentável que evita o corte do palmiteiro, Sete Barras – SP.

Frutos e polpa do palmito juçara.

    A   r   m   i   n   D   e   i   t   e   n   b   a   c   h

    A   r   m   i   n   D   e   i   t   e   n   b   a   c   h

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

173

Rio de Janeiro

Cidade do Rio de Janeiro.

   E   n   r   i   c   o   M   a   r   o   n   e

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

174

Tabela 5 – Mata Atlântica no Rio de Janeiro

Área do estado na Mata Atlântica(Mapa IBGE - Lei 11.428/06)*

(em hectares - ha)

Porcentagem em relaçãoà área total do estado**

Remanescentes devegetação nativa

(em a) ***

Porcentagem deremanescentes****

4.369.605,40 100% 1.357.064,61 31,09%

* Lei no 11.428, de 22 de dezembro de 2006** IBGE*** MMA/Probio, 2006**** Em relação à área do estado na Mata Atlântica

N

0 25 50 100km

UCs – Proteção integral

UCs – APAs

Campos Naturais

UCs – Uso sustentável

Formações Florestais

Lei da Mata Atlântica – Limite

Formações Pioneiras

 REMANESCENTES DE VEGETAÇÃO NATIVA

Remanescentes de Vegetação Nativa na Mata Atlântica do Rio de Janeiro

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

175

O Rio de Janeiro se insere integralmente em área deMata Atlântica, conforme estabelece a Lei no  11.428/200645.Estimativas dão conta que o Rio de Janeiro por volta do sé-

45 Lei no 11.428/2006 (Lei da Mata Atlântica).

culo XVI possuía cobertura orestal em 97% de seu território.As diferentes regiões toecológicas compreendem formaçõesorestais da oresta estacional semidecidual, ombróla den-sa e ombróla aberta e não orestais (savana), além de áre-as de formações pioneiras como as restingas e manguezais.As orestas são formadas por espécies arbóreas dispostas,

As orestas preservadas são importante atrativo turístico, Paraty – RJ.

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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As orestas ajudam no equilíbrio da temperatura nas cidades. Baia de Guanabara, Rio de Janeiro – RJ.

A conservação do patrimônio istórico e da Mata Atlântica diferenciam a cidade de Paraty – RJ.

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

segundo a altura, em até quatro estratosdenidos. As savanas caracterizam-sepor apresentarem dois estratos de vege-tação, um arbustivo e outro herbáceo. Noterritório uminense, são 92 municípios euma população de 8.495.419 habitantes.

Atualmente, restam 31,09% de remanes-centes, ou 1.357.064,61 ha (13.570,65km2), incluindo os vários estágios deregeneração em todas as sionomias,segundo o Levantamento da CoberturaVegetal Nativa do Bioma Mata Atlântica(MMA/Probio, 2006).

Embora a taxa de desmatamento te-nha caído signicativamente nos últimosanos, o estado de conservação da cober-tura vegetal nativa do Rio de Janeiro écrítico. As orestas raramente alcançam

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

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Parque Nacional da Serra dos Órgãos, Teresópolis – RJ.

Mata Atlântica preservada, Petrópolis - RJ.

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

    G   u   s   t   a  v   o   G   a   t   t   i

as margens dos rios nos trechos planos e suaves ondulados.Os principais remanescentes encontram-se apenas em locaisde maior declividade das elevações que compõem a Serra doMar e os maciços litorâneos. Há também milhares de peque-

nos fragmentos de Mata Atlântica espalhados nas proprieda-des particulares das áreas rurais e mesmo em grandes gle -bas urbanas, que estão precariamente protegidos e sujeitos atoda a sorte de perturbações.

Cristo Redentor, Parque Nacional da Tijuca – RJ.

   W   i   g   o   l   d   B    S   c   h   a   f   f   e   r

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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O Rio de Janeiro conta com 14,36% do território protegi-dos por unidades de conservação federais e estaduais46. Noestado, o MMA identicou a necessidade de intervenções em1.554.971,20 ha considerados prioritários para ações como acriação de áreas protegidas, incluindo unidades de conserva-ção de proteção integral e uso sustentável, além do fomento

46 Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Be-nefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA no 9, de 23de janeiro de 2007 e Instituto Chico Mendes de Conservação da biodiversidade

 – ICMBio/setembro de 2009.

para o uso sustentável, a realização de inventários, recupera-ção e criação de mosaicos e corredores de biodiversidade47.

As principais ameaças à Mata Atlântica no Rio de Janeirosão a especulação imobiliária e o plantio de espécies exóti-cas. Outra ameaça à Mata Atlântica no estado são as usinasnucleares, no município de Angra dos Reis.

47 Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Be-nefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA nº 9, de 23de janeiro de 2007.

Bromélia (Neoregelia kautskyi ).Parque Nacional da Serra da Bocaina – RJ.

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

   W   i   g   o   l   d   B    S   c   h   a   f   f   e   r

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

Araçá-vermelo (Psidium cattleyanum ).

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

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Flora: (Calathea reginae)

A Calathea reginae, planta em extinção da Mata Atlântica, foi descoberta no bairro de Laranjeiras, num fragmento de oresta urbanana zona sul da cidade do Rio de Janeiro. A planta pertence à família Marantaceae. No local, foram encontrados alguns exemplares, pro -vavelmente os últimos da espécie na natureza, já que as orestas urbanas do Rio de Janeiro são bastante conhecidas por pesquisadores.Com seu modesto um metro de altura, a Calathea reginae foi coletada no morro Mundo Novo, que sobe bem atrás do Palácio da Guana-

bara, sede do governo estadual. Mesmo com a vegetação sendo ameaçada pela favelização que avança na cidade, a planta conseguiumanter-se numa dimensão que hoje não passa de um hectare. Restam apenas cerca de 20 indivíduos na natureza. O que salvou a plantafoi a aquisição do terreno em que ela se encontra pela iniciativa privada: a área onde estão os exemplares remanescentes pertence àUniversidade Santa Úrsula, que resolveu proteger o pequeno trecho de oresta que margeia o campus.

NATURAL DA MATA ATLNTICA FLUMINENSE

O mico-leão-dourado é um símbolo da lutapela preservação das espécies da faunabrasileira.

    Z   i   g   K   o   c   h

Fauna: MICO-LEÃO-DOURADO (Leontopithecus rosalia )

O mico-leão-dourado, pequeno primata endêmico das terras baixas da costa atlântica do estado do Rio de Janeiro, é um símbolode preservação no Brasil e foco de lutas e campanhas pela proteção da fauna brasileira há 30 anos. Na década de 1970, chegou bempróximo da extinção e, em 2000, foi o único primata que diminuiu seu estado de ameaça de “perigo crítico” para “perigo” na lista de

animais ameaçados da União Mundial pela Natureza, graças aos esforços para recuperá-lo. Na lista ocial brasileira, ainda constacomo animal em “perigo”. Hoje, estima-se que cerca de 1.500 indivíduos vivam em liberdade nas matas baixas do Rio de Janeiro,número muito pequeno para a segurança da espécie. Cerca de um terço deste número resulta dos programas de reintrodução daespécie em habitats primitivos por populações de cativeiro.

Ação pela espécie : Adote uma família de micos-leões-dourados (pág. 361)

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

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Minas Gerais

Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus ).

    Z   i   g   K   o   c   h

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Tabela 6 – Mata Atlântica em Minas Gerais

Área do estado na Mata Atlântica(Mapa IBGE - Lei 11.428/06)*

(em hectares - ha)

Porcentagem em relaçãoà área total do estado**

Remanescentes devegetação nativa

(em a) ***

Porcentagem deremanescentes****

27.198.798,92 46,37% 5.790.707,06 21,29%

* Lei no 11.428, de 22 de dezembro de 2006** IBGE*** MMA/Probio, 2006**** Em relação à área do estado na Mata Atlântica

N

0 75 150 300km

UCs – Proteção integral

UCs – APAs

Campos Naturais

UCs – Uso sustentável

Formações Florestais

Lei da Mata Atlântica – Limite

Formações Pioneiras

REMANESCENTES DE VEGETAÇÃO NATIVA

Remanescentes de Vegetação Nativa na Mata Atlântica de Minas Gerais

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

183

Árvores centenárias são importantes atrativos turísticos.

   E  v   a   n   d   r   o   R   o   d   n   e  y

Em Minas Gerais, a Mata Atlântica cobria 46,37% da áreado estado, 27.198.798,92 ha (271.987,99 km2). Atualmenterestam 5.790.707,06 ha (57.907,07 km2) de remanescentesno estado, incluindo os vários estágios de regeneração emtodas as sionomias, segundo o Levantamento da CoberturaVegetal Nativa do Bioma Mata Atlântica (MMA/Probio, 2006).

Na região da Mata Atlântica mineira, vivem 18.530.060 pes-soas, em 709 municípios.

A maior parte do que restou da vegetação de Mata Atlân-tica no estado se encontra em remanescentes muito peque-nos e nas mãos de proprietários privados. Além da fragmen -tação, várias são as ameaças diretas à biodiversidade desses

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

184

remanescentes de vegetação nativa,incluindo-se, entre outros, o desma-tamento para expansão das culturasagrícolas e da pecuária, tráco deanimais silvestres, urbanização e de-senvolvimento industrial.

A Mata Atlântica que ocorre emMinas Gerais é bastante heterogê-nea, originalmente composta por di-

versas sionomias orestais (orestaestacional semidecidual, estacionaldecidual, ombróla densa, ombrólamista e ombróla aberta) e tambémpor savana, uma área de savana es-tépica e refúgios vegetacionais, alémde campos de altitude rupestres e di-ferentes áreas de tensão ecológica.

Minas Gerais abriga cerca de70% das espécies de mamíferosque ocorrem em toda a Mata Atlân-tica, sendo que um terço delas (65)exclusivas dessa região. Este é, porexemplo, o caso do muriqui-do-norte(Brachyteles hypoxanthus ), o maiormacaco das Américas. Para a avifau-na, das 785 espécies que ocorrem noestado - aproximadamente a metadeda riqueza das aves do Brasil -, 54são endêmicas da Mata Atlântica.

A exploração predatória de es-pécies vegetais - para lenha, carvão,alimentação e construção - ainda per-siste, o que tem levado ao desapare-cimento de muitas áreas. Extensas

áreas de Mata Atlântica do Vale do

Em algumas regiões, como esta de Governador Valadares, sãoraríssimos os fragmentos orestais remanescentes.

A pecuária em áreas de alta declividade e topos de morro (APPs)causa erosão dos solos e torna-se insustentável economicamente.

Quero-quero (Vanellus chilensis ).

    F   á   t   i   m   a   G   u   e   d   e   s

    E  v   a   n   d   r   o   R   o   d   n   e  y

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

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As encostas e os topos de morros e montanas devem ser preservadas.

    E  v   a   n   d   r   o   R   o   d   n   e  y

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

Com a retirada das orestas das margens, a erosão causa o assoreamento dos rios. Rio Doce.

Rio Doce, por exemplo, onde as siderúrgicasprimeiramente se instalaram, foram comple-tamente exterminadas, fazendo com que odesmatamento avançasse sobre outras áreasde mata, principalmente as dos vales dos rios

Mucuri e Jequitinhonha.Existem vários instrumentos criados para

auxiliar na conservação da biodiversidade doestado e principalmente daquela associada àMata Atlântica.

O Mapa de Áreas Prioritárias para a Con-servação, Uso Sustentável e Repartição deBenefícios da Biodiversidade Brasileira, pu-blicado pelo MMA, é um instrumento extrema-mente importante no que diz respeito a políti-cas de proteção da biodiversidade no estado.Esse instrumento vem auxiliando os órgãos

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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ambientais estaduais e federais na criação de unidades deconservação e na priorização de programas para conserva-ção da ora e fauna. O levantamento identicou a necessi-dade de intervenções em 7.967.493,97 ha, considerados

prioridade para ações como a criação de áreas protegidas,incluindo unidades de conservação de proteção integral e uni-dades de conservação de uso sustentável, além do fomentopara o uso sustentável, a realização de inventários, recupera-ção e criação de mosaicos e corredores de biodiversidade48.

O Programa de Proteção da Mata Atlântica (Promata) éresultante da cooperação entre o Brasil e a Alemanha (KfWe GTZ) e visa contribuir para a proteção de remanescentes

48 Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Be-nefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA no 9, de 23de janeiro de 2007.

O ecoturismo é uma atividade econômica sustentável em regiões montanosas. Serra da Mantiqueira - MG

    G   a   l   i   a   n   a   L   i   n   d   o   s   o

e a recuperação de áreas degradadas na Mata Atlântica deMinas Gerais. O Programa envolve o fortalecimento das uni-dades de conservação (regularização fundiária, construçãode obras, aquisição de equipamentos e elaboração de planos

de manejo), o monitoramento e controle da cobertura vegetal,a prevenção e combate aos incêndios orestais, o desenvol-vimento sustentável do entorno das UCs e a promoção deáreas de conectividade entre os fragmentos de oresta. Atu-almente, Minas Gerais conta com 3,55% de seu território naMata Atlântica protegido por unidades de conservação fede-rais e estaduais49.

49 Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Be-nefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA no 9, de 23de janeiro de 2007 e Instituto Chico Mendes de Conservação da biodiversidade

 – ICMBio/setembro de 2009.

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

187

NATURAL DA MATA ATLNTICA MINEIRA

Jequitibá orido

Tronco e copa de Jequitibá.

Muriqui com lote.

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

    J   o   ã   o   M   a   r   c   o   s   R   o   s   a

    J   o   ã   o   M   a   r   c   o   s   R   o   s   a

Flora: JEQUITIBÁ (Cariniana legalis )

Nativa da Mata Atlântica, esta árvore de tronco degrandes dimensões, tanto em comprimento como em di-âmetro, ocorre principalmente na região Sudeste. Figurana relação das maiores árvores do Brasil e seu nome sig-nica “gigante da oresta” em tupi-guarani. Na oresta, aárvore adulta da espécie pode ser vista bem acima dasdemais. O município de Alto Jequitibá, na região da Serrada Mantiqueira, em Minas Gerais, deve seu nome à ár-vore, encontrada em grande quantidade na zona da matamineira no século XIX e usada para orientar o caminho dostropeiros na região por se sobressair entre as copas dasdemais árvores. Hoje, é raro encontrar exemplares antigosde grandes dimensões. Durante séculos, foi cortada parase transformar em material de construção e mobiliário eagora se encontra ameaçada.

Fauna: MURIQUI (Brachyteles arachnoides )

O muriqui, ou mono-carvoeiro, é uma das espécies de primatas mais ameaçadas de extinção da MataAtlântica. Pertencentes à família Atelidae, esses primatas atualmente são divididos em duas espécies: Bra- 

chyteles arachnoides  e Brachyteles hypoxanthus. Os muriquis (“povo manso da oresta”) têm uma sociedadecaracterizada pela harmonia, não havendo disputa pelo poder nem por parceiros. A distribuição original dosmuriquis abrangia uma grande parte da Mata Atlântica do litoral brasileiro cobrindo uma área quase contínua

que, partindo do sul do estado da Bahia, atravessava os estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro e o lestede Minas Gerais. A destruição da oresta que é seu habitat original, a caça ilegal em áreas preservadas e ocomércio ilegal estão entre as principais causas de redução da espécie. Em Minas Gerais, a espécie podeser encontrada nos parques estaduais do Rio Doce, da Serra do Brigadeiro e do Ibitipoca, além das ReservasParticulares do Patrimônio Natural (RPPN) Feliciano Miguel Abdala e Mata do Sossego, nas regiões Leste eZona da Mata Mineira. Em 2008, o Instituto Estadual de Florestas criou duas novas unidades de conservaçãoespecialmente para proteção da espécie: o Parque Estadual Alto Cariri e o Refúgio de Vida Silvestre Mata dosMuriquis, no nordeste do estado.

Ação pela espécie : Programa Muriqui http://www.programamuriqui.org.br/;

Preserve Muriqui www.preservemuriqui.org.br/home.htm 

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

189

Espírito Santo

Beija-or.

    A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

190

Tabela 7 – Mata Atlântica no Espírito Santo

Área do estado na Mata Atlântica(Mapa IBGE - Lei 11.428/06)*

(em hectares - ha)

Porcentagem em relaçãoà área total do estado**

Remanescentes devegetação nativa

(em a) ***

Porcentagem deremanescentes****

4.607.751,90 100% 1.033.283,27 22,45%

* Lei no 11.428, de 22 de dezembro de 2006** IBGE*** MMA/Probio, 2006**** Em relação à área do estado na Mata Atlântica

N

0 25 50 100km

UCs – Proteção integral

UCs – APAs

Campos Naturais

UCs – Uso sustentável

Formações Florestais

Lei da Mata Atlântica – Limite

Formações Pioneiras

REMANESCENTES DE VEGETAÇÃO NATIVA

Remanescentes de Vegetação Nativa na Mata Atlântica do Espírito Santo

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

191

O Espírito Santo já teve 100% de sua superfície cober -ta por Mata Atlântica. Segundo o Instituto Brasileiro de Geo-graa e Estatística (IBGE-2009), a Mata Atlântica no estado écomposta pelas orestas ombróla densa, ombróla aberta eestacional semidecidual, formações pioneiras (restingas, man-gues) e o refúgio vegetacional da Serra do Caparaó. Uma de

suas características é o relevo montanhoso, com altitudes quevão desde o nível do mar até 2.897 metros, cujo ponto culmi-nante é o Pico da Bandeira, no Parque Nacional do Caparaó.

Atualmente, mais de 3,4 milhões de pessoas vivem nos78 municípios do estado, todos em área de Mata Atlântica.Restam no estado 1.033.283,27 ha (10.332,83 km2), de rema-nescentes de vegetação nativa, incluindo os vários estágiosde regeneração em todas as sionomias, segundo o Levanta-mento da Cobertura Vegetal Nativa do Bioma Mata Atlântica(MMA/Probio, 2006).

Até o nal do século XIX, a ocupação do território capixabase limitava ao litoral, cujos principais núcleos eram, ao norte,São Mateus e, ao sul, Nova Almeida, Guarapari, Beneventee Itapemirim. Nesses últimos, a principal atividade econômicaera a produção de cana-de-açúcar, enquanto no norte do es-tado era a produção de farinha de mandioca para exportação.

Com a expansão da atividade cafeeira proveniente daregião do Vale do Paraíba, a partir da segunda metade do sé-culo XIX, teve início a ocupação da região central do estadopelos primeiros imigrantes italianos e alemães, com conse-quente devastação da cobertura orestal primitiva. No naldo século XIX, a produção agrária do estado se caracterizavapela monocultura cafeeira e pela pequena propriedade, situa-ção que se manteve e foi expandindo para novas áreas. Coma queda dos preços do café, as terras eram abandonadas ouse transformavam em pastagens, caracterizando o ciclo ma-

Floresta ombróla densa na região serrana do Espírito Santo.

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

193

O Parque Estadual Paulo César Vina conserva 1.500 ectares de restinga no município de Guarapari - ES.

A prática da pecuária em regiões montanosas degrada o solo.

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

33,13% do total de operários da indústria de transformação),explorando grandes áreas do estado até o esgotamento dosrecursos orestais, quando, na década de 1970, o setor en-trou em decadência em virtude da escassez de matéria-prima.

Ainda nos anos 1970, a instalação de grandes proje-tos industriais no estado, como a Aracruz Celulose, Com-panhia Siderúrgica de Tubarão, Usina de Pelotização e

Bromélias e cactos, típicos da restinga do Espírito Santo.

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

Petrobras, aceleraram o processo de urbanização e deconcentração populacional, agravando o quadro de des-truição dos remanescentes em função da demanda ener-gética, com inevitável impacto sobre a qualidade de vidada população.

O eucalipto, principal matéria-prima para a produção de ce-lulose, passou a ocupar signicativas parcelas de terra na região

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

194

das bacias dos rios São Mateus, Barra Seca e Itaúnas, onde áre -as de oresta nativa foram substituídas por grandes extensões deplantações homogêneas. A especulação imobiliária, sobretudo nolitoral, também é uma forte pressão sobre a Mata Atlântica.

Por outro lado, ações têm sido desenvolvidas no intuitode melhorar sua conservação, como por exemplo o projeto

Conservação da Biodiversidade da Mata Atlântica do estadodo Espírito Santo, realizado pelo Instituto de Pesquisas daMata Atlântica (Ipema) em parceria com o Governo do estadoe a Conservação Internacional do Brasil.

O Espírito Santo conta com 3,29% do seu território pro-tegido por unidades de conservação federais e estaduais50. O

50 Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Be-nefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA no 9, de 23de janeiro de 2007 e Instituto Chico Mendes de Conservação da biodiversidade

 – ICMBio/setembro de 2009.

estado também é um dos recordistas em quantidade de es-pécies de árvores por hectare. Na Estação Biológica de SantaLucia, município de Santa Teresa, foram identicadas 443 es-pécies diferentes de árvores, em uma área de 1,02 hectare51.No estado, o MMA identicou a necessidade de intervençõesem 1.487.995,23 ha,  considerados prioridade para açõescomo a criação de áreas protegidas, incluindo unidades deconservação de proteção integral e uso sustentável, além dofomento para o uso sustentável e educação ambiental, a rea-lização de inventários, recuperação e criação de mosaicos ecorredores de biodiversidade52.

51 Museu de Biologia Mello Leitão, Universidade Federal do Espírito Santo eUniversidade de São Paulo, 1997.

52 Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Be-nefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA no 9, de 23de janeiro de 2007.

Parque Estadual da Pedra Azul - ES.

Rio protegido por oresta, Santa Teresa - ES.

Perereca-macaco (Phyllomedusa palliata ).

    R   o   s   e   m   b   e   r   g   F   e   r   r   e   i   r   a   M   a   r   t   i   n   s

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

    R   o   s   e   m   b   e   r   g   F   e   r   r   e   i   r   a   M   a   r   t   i   n   s

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

195

    Z   i   g   K   o   c   h .

NATURAL DA MATA ATLNTICA CAPIxABA

A jaguatirica, junto com outrasseis espécies de felinos

brasileiros, está na lista deespécies ameaçadas de etinção.

Flora: MANGUE

Os manguezais são ecossistemas associados à Mata Atlântica e ocor-rem em quase todo o litoral brasileiro até Santa Catarina (SC é o limite australdos manguezais). No Espírito Santo, distribuem-se desde o Riacho Doce, noextremo norte, até o Rio Itabapoana, na divisa com o Rio de Janeiro. Os re-

manescentes mais extensos são encontrados no entorno da baía de Vitória enos estuários dos rios Piraqueaçu e São Mateus. Os manguezais capixabassão formados por arbustos e árvores com poucas espécies, semelhantes -sionômica e siologicamente. Nas zonas de maior inuência das marés, apa-recem o mangue-vermelho (Rhizophora mangle ) e o mangue-preto (Avicennia

schaueriana ) e nas zonas de menor inuência aparece o mangue-branco (La- 

guncularia racemosa ). O mangue-vermelho tem como característica principala presença das raízes escora ou rizóforos, que são adaptações a um sedi-mento pouco consolidado e chama-se “vermelho” porque, se rasparmos seutronco, pode-se observar que por dentro ele é vermelho. O mangue-preto temcomo característica marcante - e que o difere do mangue vermelho - a presen-ça de pneumatóforos, que são as raízes respiratórias. O mangue-branco temcom característica a presença de um pecíolo vermelho, que é o cabo da folha.

Essa espécie também tem um sistema radicular radial, adaptado ao sedimentopouco consolidado, só que difere um pouco dos outros dois pelo tamanho umpouco menor do pneumatóforo. Apesar da grande importância socioambientaldesse ecossistema – além de repositório de importante biodiversidade, é fon-te de renda para os milhares de catadores de caranguejos – os manguezaiscapixabas estão ameaçados pelo processo histórico de uso indevido de seusrecursos, que inclui lançamento de esgotos, disposição de lixo, aterros e inva-sões, utilização da madeira para construção e combustível, utilização da cascado mangue vermelho para extração do tanino e a pesca predatória.

Fauna: JAGUATIRICA (Leopardus pardalis )

A jaguatirica é uma espécie de felino que, embora seja um dos símbolos pela conser-vação da Mata Atlântica, ocorre em outros biomas brasileiros, como Amazônia e Cerrado.Assim como outras seis espécies de felinos brasileiros, está incluída na lista de espécies dafauna brasileira ameaçadas de extinção e quase desapareceu na Mata Atlântica. Até meadosda década de 1980, a caça para o comércio de peles era a principal ameaça às populaçõesde jaguatirica, porém hoje as maiores fontes de ameaça são o desmatamento, a fragmenta-ção das orestas e o consequente isolamento genético dessas populações. Estima-se quesomente de 3% a 6% da distribuição original da jaguatirica esteja legalmente pro-tegida. De acordo com o estudo “Conservação da Biodiversidade daMata Atlântica no Espírito Santo”, publicado pelo Instituto de

Pesquisas da Mata Atlântica (Ipema) em 2005, a ja-guatirica é encontrada em diversas unidades deconservação do estado, como o Parque Nacio-nal do Caparaó, a Floresta Nacional do RioPreto, a Reserva Biológica de Duas Bocas eo Parque Estadual Paulo César Vinha.

Os manguezais são considerados berçários da vida marina.

Protegidos pelo Código Florestal, os manguezais são Áreasde Preservaçào Permanente (APP).

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

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Bahia

Detale do interior da oresta mostrando a riqueza da diversidade de espécies de plantas. Serra Bonita - BA.

    A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Tabela 8 – Mata Atlântica na Baia

Área do estado na Mata Atlântica(Mapa IBGE - Lei 11.428/06)*

(em hectares - ha)

Porcentagem em relaçãoà área total do estado**

Remanescentes devegetação nativa

(em a) ***

Porcentagem deremanescentes****

18.776.136,86 33,25% 6.711.539,05 35,75%

* Lei no 11.428, de 22 de dezembro de 2006** IBGE*** MMA/Probio, 2006**** Em relação à área do estado na Mata Atlântica

N

0 75 150 300km

UCs – Proteção integral

UCs – APAs

Campos Naturais

UCs – Uso sustentável

Formações Florestais

Lei da Mata Atlântica – Limite

Formações Pioneiras

REMANESCENTES DE VEGETAÇÃO NATIVA

Remanescentes de Vegetação Nativa na Mata Atlântica da Baia

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

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Praias de Pé-de-serra e Sargi vistas da Serra Grande, Uruçuca-BA.

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

A Mata Atlântica ocupava originalmente 33,25% do territó-rio baiano, distribuída por cinco regiões: Chapada Diamantinae encraves orestais no Oeste, Litoral Norte, Baixo Sul, Sul eExtremo-Sul. Essas regiões apresentam características ecoló-gicas, histórias de ocupação humana, usos do solo e pressõesantrópicas distintas. Diversos ciclos econômicos sucederam-

se nos domínios da Mata Atlântica na Bahia: pau-brasil, cana-de-açúcar, ouro, diamantes, café, jacarandá, gado, algodão,cacau e recentemente monocultura de eucalipto.

Atualmente, a Bahia é o terceiro estado em número de ha-bitantes na área de Mata Atlântica (atrás somente de São Pauloe Minas Gerais), com mais de 11,3 milhões de pessoas em 307

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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municípios. Restam no estado 35,75% de remanes-centes, ou 6.711.539,05 ha (67.115,39 km2), incluin-do os vários estágios de regeneração em todas assionomias, segundo o Levantamento da Cobertura

Vegetal Nativa do Bioma Mata Atlântica (MMA/Pro-bio, 2006). Os tipos de vegetação existentes na MataAtlântica da Bahia são as orestas ombróla densa eestacionais decidual e semidecidual, além de áreasde tensão ecológica, formações pioneiras (mangue-zais e restingas), refúgios vegetacionais e savanas.

Das cinco regiões de Mata Atlântica na Bahia, trêssituam-se ao sul da Baía de Todos os Santos no Cor-redor Central da Mata Atlântica (CCMA): Baixo Sul, Sul(também conhecida como Região Cacaueira) e Extre-mo Sul. Nessas regiões, a maioria das fazendas depecuária não possui reserva legal (RL) e as pastagensmuitas vezes avançam sobre as Áreas de Preservação

Remanescente de oresta estacional decidual (mata de cipó), Boa Nova - BA.

Em algumas regiões da Baia, a pecuária foi responsável pelo desmatamento detopos de morro e outras Áreas de Preservação Permanente.

    J   e   a   n   F   r   a   n   ç   o   i   s

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

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Permanente (APP). Os incêndios para renovação dos pastos

atingem repetidamente os poucos remanescentes orestaisque persistiram. Apesar da exploração madeireira ter sido proi-bida no estado, ainda há denúncias de que algumas serrariascontinuam processando madeiras de lei de forma ilegal. Des-matamentos ilegais e incêndios criminosos em remanescentes

Rio de Contas - Itacaré - BA. Restinga preservada em Porto Seguro - BA.

Desmatamento de APP (mata de cipó) na região de Boa Nova - BA (2008).

    J   e   a   n   F   r   a   n   ç   o   i   s

    J   o   s   é   H   e   n   r   i   q   u   e

   C .   B   a   r   b   o   s   a

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

são práticas que persistem, para criar novos pastos e aprovei-

tar a madeira para serrarias ou carvoarias.São inúmeras as carvoarias clandestinas, produzindocarvão com madeira retirada da Mata Atlântica. Roubos demadeiras nobres, para servir como matéria-prima para os ar-tesãos locais, também são frequentes. Ainda ocorrem desma-

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Corte ilegal de madeira no interior do Parque Nacional do Monte Pascoal, para fabricação de artefatos de madeira (2009).

Remanescente de oresta ombróla densa em Itacaré - BA

    A   c   e   r  v   o   F   l   o   r   a   B   r   a   s   i   l

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

tamentos para estabelecer lavouras de café, mamão, cocoe pimenta-do-reino, esta última usando estacas de madeiraretiradas da Mata Atlântica para escoramento das plantas.Alguns desses projetos têm nanciamento de agências na-cionais e regionais de fomento.

No extremo sul da Bahia, está localizada a maior concen-tração orestal nativa protegida do estado, com cerca de 50.000

ha, compreendendo três parques nacionais: Descobrimento,

Monte Pascoal e Pau-Brasil. As pequenas bacias hidrográ-cas protegidas por estes parques nacionais são extremamenteimportantes não só para a biodiversidade da Mata Atlântica,como também para os recifes de coral e outros ecossistemasmarinhos do Banco de Abrolhos e do Parque Nacional Marinhode Abrolhos, o qual, com mais de 90 mil hectares, é a zonamais rica em recifes de coral do Atlântico Sul. Na região, foramcriadas duas Reservas Extrativistas (Resex) nos últimos anos:Resex Canavieiras, com 100.751 ha, sendo 83.944 ha de áreamarinha, e Resex Cassurubá com 100.462 ha, com 68.049ha de área marinha, ambas protegendo importantes áreas demanguezais e ambiente costeiro e marinho. 

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

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Refúgio de Vida Silvestre Mata dos Muriquis na divisa de MG/BA.

    F   a   b   i   a   n   o   R .   d   e   M   e   l   o

No vasto território da Mata Atlântica baiana, além dos trêsparques nacionais mencionados, as demais unidades de con-servação de proteção Integral federais são: Reserva Biológicade Una, Parque Nacional da Chapada Diamantina, Refúgio daVida Silvestre (RVS) de Una; RVS do Rio dos Frades. Na MataAtlântica da Bahia também existem importantes unidades de

conservação estaduais, como o Parque Estadual (PE) da Ser-ra do Conduru, a Estação Ecológica de Wenceslau Guimarãese o Parque Estadual das Sete Passagens. Todas essas UCscontinentais juntas representam cerca de 150.000 ha de o-restas protegidas. É do Parque Estadual da Serra do Conduruo recorde de biodiversidade em árvores por hectare no mundo.Num só hectare foram encontradas 454 espécies diferentes deárvores53.

A Bahia conta com 6,68% do território com Mata Atlânticaprotegido por unidades de conservação federais e estaduais54.No estado, o MMA identicou a necessidade de intervenções

53 CEPLAC e Jardim Botânico de Nova Iorque.

54 Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Be-nefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA no 9, de 23de janeiro de 2007 e Instituto Chico Mendes de Conservação da biodiversidade

 – ICMBio/setembro de 2009.

Detale do interior da oresta.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Muriqui-do-norte (Brachyteles hipoxanthus ), Refúgio de Vida SilvestreMata dos Muriquis, na divisa de MG/BA.

Manguezal em Itacaré - BA Manguezal na Reserva Etrativista de Cassurubá (criada em 2009).

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

    G   u   i   l   h   e   r   m   e   D   u   t   r   a

    A   d   r   i   a   n   o   G .   C   h   i   a   r   e   l   l   o

em 10.043.247,67 ha, considerados prioridade para açõescomo a criação de áreas protegidas, incluindo unidades deconservação de proteção integral e unidades de conservaçãode uso sustentável, além do fomento para o uso sustentável e

educação ambiental, a realização de inventários, ordenamen-to territorial, recuperação e criação de mosaicos e corredoresde biodiversidade55.

55 Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Be-nefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA no 9, de 23de janeiro de 2007.

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

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    R   o   s   e   m   b   e   r   g   F   e   r   r   e   i   r   a   M   a   r   t   i   n   s

NATURAL DA MATA ATLNTICA BAIANA

O pau-brasil é usado atualmente na arborizaçãourbana.

Mudinas do pau-brasil.

Fruto do pau-brasil.

Sementes de pau-brasil.

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

Flora: PAU-BRASIL (Caesalpiniaechinata )

O pau-brasil, espécie endêmica da Mata Atlânti-ca, foi decretado ocialmente como árvore nacionaldo País em 1961. Mais do que ter emprestado seunome ao país, esta árvore simboliza o processo de

degradação da Mata Atlântica e, hoje, seus esfor-ços de recuperação. Nos primeiros 30 anos depoisdo Descobrimento, o Brasil viveu exclusivamente daexploração do pau-brasil. Até esse momento, a ár-vore foi a única coisa de valor que os portuguesesencontraram aqui. Naquela época, o pigmento ver-melho que tiravam dele estava virando um dos pro-dutos mais procurados na Europa. Estima-se que, atém do século XVI, os europeus derrubaram mais dedois milhões de árvores, 20 mil por ano, 50 por dia.Há quem diga que foram extraídos no total mais de70 milhões de árvores. Quaisquer que sejam os nú-

meros, no entanto, o fato é que essa espécie segueexplorada ainda hoje, por ser considerada, interna-cionalmente, o melhor material para a confecção dearcos de violino. Infelizmente, há muito desperdícionessa atividade: estima-se que para se confeccionarum único arco de violino é necessário 1 kg de ma-deira de pau-brasil e que cerca de 80% das toras demadeira exploradas com essa nalidade são desper-diçadas. Ameaçada de extinção há séculos, o cortede pau-brasil já era limitado no país desde 1992, masapenas em 2007 foi aprovada a regulamentação docomércio da espécie no mercado internacional, atéentão liberado e sem scalização. O pau-brasil tam-

bém empresta seu nome a um Parque Nacional dosul da Bahia, criado em 2000 durante a comemora-ção dos 500 anos do Descobrimento para preservar oprimeiro pedaço de terra avistado pelos portugueses,e a uma cidade, também na porção sul da Bahia.

Fauna: PREGUIÇA-DE-COLEIRA (Bradypus torquatus )

A preguiça-de-coleira é uma preguiça-de-três-dedos, endêmica da Mata Atlântica. Hoje suaocorrência parece restrita à região litorânea da Bahia, de Salvador a Canavieiras, embora a lite-ratura registre a espécie até o Rio de Janeiro. Atualmente, aparece na lista de espécies brasileirasameaçadas de extinção. A União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), em sua ListaVermelha, inclui a espécie como rara e ameaçada. Está extinta na maior parte de sua distribuiçãogeográca. O principal predador das preguiças é mesmo o homem, que as caça e comercializa ines-crupulosamente em feiras livres e nas margens de rodovias. A ação do homem sobre esses animaistem sido muito facilitada, nos últimos tempos, pela fragmentação e destruição das matas, o que levaas preguiças a se locomover desajeitadamente pela superfície do solo, de uma ilha de mata paraoutra, em busca de alimento e abrigo, cando totalmente expostas à caça e à captura.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

207

Sergipe

 Foz do Rio São Francisco.

    A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

208

Tabela 9 – Mata Atlântica em Sergipe

Área do estado na Mata Atlântica(Mapa IBGE - Lei 11.428/06)*

(em hectares - ha)

Porcentagem em relaçãoà área total do estado**

Remanescentes devegetação nativa

(em a) ***

Porcentagem deremanescentes****

1.187.227,11 54,19% 65.294,30 5,50%

* Lei no 11.428, de 22 de dezembro de 2006** IBGE*** MMA/Probio, 2006**** Em relação à área do estado na Mata Atlântica

N

0 25 50 100km

UCs – Proteção integral

UCs – APAs

Campos Naturais

UCs – Uso sustentável

Formações Florestais

Lei da Mata Atlântica – Limite

Formações Pioneiras

REMANESCENTES DE VEGETAÇÃO NATIVA

Remanescentes de Vegetação Nativa na Mata Atlântica de Sergipe

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

209

Sergipe localiza-se a leste da região Nordeste. É o es-tado brasileiro com a menor área em extensão territorial:2.191.034,80 ha. Originalmente, a Mata Atlântica ocupavatoda faixa litorânea sergipana, que corresponde a 54,19% do

território. Após 500 anos de exploração do pau-brasil, criaçãode gado e cultivo de cana-de-açúcar (principais ciclos econô-micos no estado), restam apenas 5,5% de remanescentes,ou 65.294,30 ha (652,94 km2), incluindo os vários estágios

A preservação dos recursos ídricos é importante para a qualidade de vida das pessoas.

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

210

de regeneração em todas as sionomias, segundo o Levanta-mento da Cobertura Vegetal Nativa do Bioma Mata Atlântica(MMA/Probio, 2006).

Sergipe conta com 65 municípios em área de Mata Atlân -

tica, com um total de 1.463.038 habitantes. As formações ve-getais da região são a oresta estacional semidecidual, áreasde savana, áreas de tensão ecológica (savana/oresta estacio-nal) e formações pioneiras (restingas e manguezais) que ocor-

Cidade de Aracaju - SE.

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

Sertanejos em área de Mata Atlântica conservada.

    M   i   r   i   a   m

   P   r   o   c   h   n   o  w

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

211

Rio São Francisco perto da foz, na divisa dos estados de Sergipe e Alagoas.

rem ao longo de todo o litoral sergipano sob a forma de pequenasmanchas, exceto na porção sul do estado, onde algumas fazendasparticulares se apresentam mais preservadas, localizando-se nor-malmente nos topos das colinas mais elevadas ou nas encostas queapresentam declividades acentuadas. Nos locais onde a vegetaçãofoi fortemente devastada, aparecem os cultivos perenes e temporá-rios e as pastagens.

A Mata Atlântica sergipana ocorre desde municípios localiza-dos no São Francisco até Mangue Seco, na divisa com a Bahia.Desse território, 1,39% está protegido por unidades de conserva-ção federais e estaduais56. O MMA identicou a necessidade de in-tervenções em 547.115,80 ha, considerados prioridade para açõescomo a criação de áreas protegidas, incluindo unidades de con-servação de proteção integral e uso sustentável, além do fomento

56 Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Benefíciosda Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA no 9, de 23 de janeiro de2007 e Instituto Chico Mendes de Conservação da biodiversidade – ICMBio/setembrode 2009.

    A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

Flor de bromélia (Aechmea distichantha ).

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

212

para o uso sustentável, a realização de inventários, recupera-ção e criação de mosaicos e corredores de biodiversidade57.

Entre as principais ameaças atuais à Mata Atlântica, estãoa especulação imobiliária e a carcinicultura (cultivo de camarões

57 Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Be-nefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA no 9, de 23de janeiro de 2007.

marinhos em viveiros). Apesar da devastação por conta da forteação antrópica, o pouco que resta preservado da grande diver-sicação ambiental proporciona à Mata Atlântica uma enormediversidade biológica, com um grande número de espécies demamíferos, aves, répteis e anfíbios que ali sobrevivem e garan-tem a sua reprodução, sendo que várias delas são endêmicas.

Para comprovar essa importância, basta lembrar que uma dasmais recentes descobertas de primata na Mata Atlântica, foi feitaem matas sergipanas: o macaco-guigó (vide box ao lado).

 Orquídea (Habenaria sp ).

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

213

NATURAL DA MATA ATLNTICA SERGIPANA

O guigó é uma das espécies em maior risco de etinção das Américas.

O cajueiro deu nome a capital do estado.

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

    V   a   n   e   s   s   a   d   e   O   l   i  v   e   i   r   a   C   a   m   p   o   s

Flora: CAJUEIRO (Anacardium occidentale )

O cajueiro é uma planta tropical brasileira, dispersa em qua-se todo o território abrangido por áreas de Mata Atlântica. Noentanto, é no Nordeste que seu fruto tornou-se o grande produtoda Mata Atlântica. Está presente não só nas diversas ramica-ções de atividades econômicas, mas também na literatura, nosditados populares, nas brincadeiras infantis e no folclore. Fazparte da dieta alimentar nordestina. E, ao contrário do que muitagente pensa, o fruto do cajueiro é a castanha, não a parte carno-sa – esta é apenas a haste que sustenta e alimenta o fruto. Osíndios brasileiros já conheciam muito bem o caju: chamavam-node acaiú (do tupi, “noz que se produz”). O topônimo “Aracaju”,nome da capital de Sergipe, deriva da expressão indígena “aráacaiú”, que em tupi-guarani signica “cajueiro dos papagaios”. Oelemento “ará” signica “papagaio” e “acaiú”, fruto do cajueiro.

Fauna: MACACO-GUIGÓ (Callicebus coimbrai )

O guigó é o último primata descoberto na Mata Atlântica.É uma das mais recentes espécies de primatas neotropicaisreconhecidas pela ciência, descrita em 1999, sendo endêmi-ca do Sergipe e do norte da Bahia, onde ocorre em reduzidosremanescentes de mata. Atualmente, o guigó é reconhecidocomo uma das espécies de primatas mais ameaçadas de

todo o continente americano, constando entre as 26 espé-cies de primatas da Lista da Fauna Brasileira Ameaçada deExtinção do Ministério do Meio Ambiente e considerada criti-camente em perigo pela Lista Vermelha da União Internacio-nal para Conservação da Natureza (IUCN), que reconhecedez espécies no Brasil nesta condição.

Ação pela espécie: Projeto Guigó (pág. 393)

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

Frutos do cajueiro.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

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Alagoas

Flor de sapucaia (Lecythis pisonis ).

    J   o   ã   o   d   e   D   e   u   s   M   e   d   e   i   r   o   s

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

216

Tabela 10 – Mata Atlântica em Alagoas

Área do estado na Mata Atlântica(Mapa IBGE - Lei 11.428/06)*

(em hectares - ha)

Porcentagem em relaçãoà área total do estado**

Remanescentes devegetação nativa

(em a) ***

Porcentagem deremanescentes****

1.477.782,36 53,22% 155.074,00 10,49%

* Lei no 11.428, de 22 de dezembro de 2006** IBGE*** SOS Mata Atlântica/INPE, 2008**** Em relação à área do estado na Mata Atlântica

N

0 25 50 100

km

UCs – Proteção integral

UCs – APAs

Campos Naturais

UCs – Uso sustentável

Formações Florestais

Lei da Mata Atlântica – Limite

Formações Pioneiras

REMANESCENTES DE VEGETAÇÃO NATIVA

Remanescentes de Vegetação Nativa na Mata Atlântica de Alagoas

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

217

A Mata Atlântica em Alagoas cobria, originalmente,53,22% do território do estado. Atualmente, porém, restamapenas 10,49% de remanescentes, equivalentes a 155.074 ha(1.550,74 km2) de remanescentes bem preservados, segundoo Atlas da Mata Atlântica (SOS Mata Atlântica/INPE, 2008).

Alagoas conta com 71 municípios em área de Mata Atlân-tica, com um total de 3.297.037 habitantes. Os tipos de vege-tação da região são as orestas estacional semidecidual, om-bróla aberta e ombróla densa e formações pioneiras como as

restingas e os manguezais. Estes poucos remanescentes repre-

Interior da mata em Murici.

    P   e   d   r   o   F .   D   e  v   e   l   e  y

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

218

sentam, junto com o que resta em Pernambuco, grande parte doque restou do Centro de Endemismo Pernambuco, o qual abrigaa oresta costeira de Alagoas ao Rio Grande do Norte.

Estudos indicam que um terço das árvores do CentroPernambuco estariam ameaçadas de extinção regional,

Maragogi - AL.

    E   n   r   i   c   o   M   a   r   o   n   e

Foz do Rio São Francisco na divisa dos estados de Alagoas e Sergipe.

   A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

consequência da interrupção do processo de dispersão desementes. Modelos de extinção de árvores, elaborados pos-teriormente, sugerem que esse número pode estar subesti-mado e que a oresta ao norte do Rio São Francisco é a uni -dade biogeográca da Mata Atlântica de maior probabilidade

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

219

de perder espécies em escala regional e global. Na regiãodo município de Murici, por exemplo, é onde se encontraum dos locais com a maior quantidade de espécies de avesameaçadas de extinção nas Américas. Em 2001, foi criadana região a ESEC Murici, cobrindo uma área de 6.116 hec-

Remanescente de vegetação nativa.

Detale do Rio São Francisco próimo da foz.

   F   e   r   n   a   n   d   o   P   i   n   t   o

    A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

tares, nos municípios de Messias, Flexeiras e Murici, atual-mente em fase de implantação. Uma das estratégias paraestimular ações de conservação e uso sustentável na regiãofoi a criação da Associação para a Proteção do Nordeste(Amane), que reúne oito instituições do chamado Pacto

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

220

Murici58, envolvendo os estados de Alagoas e Pernambuco.Essa iniciativa também está trabalhando fortemente para acriação de RPPNs na região, especialmente junto ao setorda cana-de-açúcar.

O MMA identicou a necessidade de intervenções em

466.434,36 ha, considerados prioridade para ações como a

criação de áreas protegidas, incluindo unidades de conser-vação de proteção integral e uso sustentável, recuperação e

58 Amane. http://www.amane.org.br/quemsomos.asp?cod=2

criação de mosaicos e corredores de biodiversidade59. Atu-almente, em Alagoas, 1,63% do território coberto pela MataAtlântica está protegido por unidades de conservação fede-rais e estaduais60. Entre as principais ameaças atuais à MataAtlântica, está a especulação imobiliária.

59 Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Be-nefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA no 9, de 23de janeiro de 2007.

60 Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Be-nefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA no 9, de 23de janeiro de 2007 e Instituto Chico Mendes de Conservação da biodiversidade

 – ICMBio/setembro de 2009.

Peie-gramma.

    E   n   r   i   c   o   M   a   r   o   n   e

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

221

NATURAL DA MATA ATLNTICA ALAGOANA

Flora: SAPUCAIA (Lecythis pisonis)

A sapucaia, ou cumbuca-de-macaco, é uma árvore nativade grande porte da Mata Atlântica brasileira, atingindo de 15 a25 metros de altura. Ocorre do Ceará ao Rio de Janeiro, comênfase em alguns remanescentes de Mata Atlântica de esta-dos do Nordeste, como Alagoas. Dentre as espécies de MataAtlântica encontradas pelos pesquisadores do Instituto de MeioAmbiente de Alagoas (IMA) durante o mapeamento orístico doestado realizado em 2005, a sapucaia destacou-se, junto comvisgueiros, sucupiras, jacarandás, ingás e ipês, como espéciepioneira no processo de condicionamento do solo para o recebi-mento de sementes de outras espécies. Suas amêndoas sãomuito apreciadas pelos animais silvestres e, especialmen-te, aproveitadas pelos macacos, capazes de alcançar asamêndoas ainda dentro dos frutos, que possuem formade cumbucas. O nome comum “cumbuca-de-macaco”vem dessa relação. Apesar da grande importância para o

ecossistema, a sapucaia, com sua madeira bastante apreciada,é uma das espécies da Mata Atlântica que se tornaram raras noNordeste pelo intenso desmatamento na região. No litoral nortede Alagoas, essa e outras árvores da Mata Atlântica cederamlugar a extensas plantações de cana-de-açúcar.

Fauna: MUTUM-DE-ALAGOAS (Mitu mitu )

O mutum-de-alagoas é um pássaro de grande porte e galiforme, endêmicoda Mata Atlântica no estado de Alagoas. As características morfológicas mais

marcantes da espécie são: o bico vermelho na ponta e branco na base,

a região da orelha nua, a cauda com um par central de penas negras e o

restante com a ponta marrom, assim como pose imponente.  Embora ocor-resse também em parte de Pernambuco, está extinto na natureza desde a décadade 1980, quando a produção de cana-de-açúcar, para a produção de etanol, e a

produção de carvão se intensicaram. Para se ter uma idéia, o município de Murici,em Alagoas, é o local com maior quantidade de aves em extinção das Américas.Atualmente, existem apenas cerca de 100 indivíduos dessa espécie criados emcativeiro e estuda-se uma forma de reintroduzi-los na natureza, pois apenas metadedesses exemplares é pura, ou seja, indicada para o repovoamento. A reintroduçãodo Mitu mitu na natureza é uma história ainda sem nal feliz. A rigor, ninguém sabe

se a ave vai responder de forma positiva à vida selvagem após 30 anos atrás dasgrades, recebendo comida dos criadores. O mutum-de-alagoas precisa reaprendera conseguir alimento e a sobreviver a predadores e intempéries.

A sapucaia é ecelente para arborização de praças e jardins.

Fruto e semente de sapucaia.

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

O mutum já foi etinto da natureza e atualmente eiste somente em cativeiro.

    F   e   r   n   a   n   d   o   P   i   n   t   o

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

223

Pernambuco

Manguezal – Tamandaré - PE.

    C   l   e   m   e   n   t   e   C   o   e   l   h   o

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

224

Tabela 11 – Mata Atlântica em Pernambuco

Área do estado na Mata Atlântica(Mapa IBGE - Lei 11.428/06)*

(em hectares - ha)

Porcentagem em relaçãoà área total do estado**

Remanescentes devegetação nativa

(em a) ***

Porcentagem deremanescentes****

1.784.924,18 18,16% 99.091,73 5,55%

* Lei no 11.428, de 22 de dezembro de 2006** IBGE*** MMA/Probio, 2006**** Em relação à área do estado na Mata Atlântica

N

0 45 90 180

km

UCs – Proteção integral

UCs – APAs

Campos Naturais

UCs – Uso sustentável

Formações Florestais

Lei da Mata Atlântica – Limite

Formações Pioneiras

REMANESCENTES DE VEGETAÇÃO NATIVA

Remanescentes de Vegetação Nativa na Mata Atlântica de Pernambuco

Fernando de Norona

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

226

 junto com o pouco que resta em Alago-as, grande parte do que restou do Cen-tro de Endemismo Pernambuco, o qualabriga a oresta costeira de Alagoas aoRio Grande do Norte.

Estudos indicam que um terço dasárvores do Centro Pernambuco estariamameaçadas de extinção regional, conse-quência da interrupção do processo de dis-

persão de sementes. Modelos de extinçãode árvores, elaborados posteriormente,sugerem que esse número pode estar su-bestimado e que a oresta ao norte do RioSão Francisco é a unidade biogeográcada oresta atlântica de maior probabilida-de de perder espécies em escala regionale global.

O MMA identicou a necessidade deintervenções em 591.887,21 ha, considera-dos prioridade para ações como a criaçãode áreas protegidas, incluindo unidades de

Vegetação na Ila de Fernando de Norona.

Manguezal em Pernambuco.

    A   l   d   e   m   B   o  u   r   s   c   h   e   i   t

    C   l   e   m   e   n   t   e   C   o   e   l   h   o

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

227

conservação de proteção integral e uso sustentável, além deações de recuperação e realização de inventários61. Em Per-nambuco, 2,26% do território coberto pela Mata Atlântica está

61 Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Be-nefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA no 9, de 23de janeiro de 2007.

Cortadores de cana.

A cana-de-açúcar tomou o lugar de grande parte da Mata Atlântica de Pernambuco.

   A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

    A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

protegido por unidades de conservação federais e estaduais62.Entre as principais ameaças atuais à Mata Atlântica, está a es-peculação imobiliária.

62 Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Be-nefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA no 9, de 23de janeiro de 2007 e Instituto Chico Mendes de Conservação da biodiversidade

 – ICMBio/setembro de 2009.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

228

Algumas ações para a conservação daMata Atlântica em Pernambuco vêm sendodesenvolvidas pelo governo estadual, comoo Programa de Desenvolvimento Sustentá-vel da Zona da Mata (Promata), que desde2002 conta com ações de monitoramentoambiental, conservação e uso dos recur-sos naturais e educação ambiental, visandoapoiar e incentivar a recomposição dos re-manescentes orestais da região. Visa, ain-

da, o desenvolvimento de práticas de mane- jo sustentável e o turismo ecológico e rural.Entre os projetos desenvolvidos por ONGs,pode-se citar o Projeto para Proteção daSerra do Urubu, que vem sendo executadopela BirdLife/SAVE Brasil desde 2004. Em2004, a BirdLife/SAVE Brasil adquiriu umapropriedade de aproximadamente 360 hec-tares na Serra do Urubu, sendo 316 delesocupados por oresta, visando transformá-la em uma Reserva Particular do PatrimônioNatural (RPPN).

  Os manguezais são importantes para a vida marina.

A mata ciliar protege os rios contra a erosão.

    C   l   e   m   e   n   t   e   C   o   e   l   h   o

    F   e   r   n   a   n   d   o   P   i   n   t   o

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

229

Rio Capibaribe - PE.

   C   l   e   m   e   n   t   e   C   o   e   l   h   o

NATURAL DA MATA ATLNTICA PERNAMBUCANA

Flora: VISGUEIRO (Parkia pendula )

O visgueiro é considerado o rei das matas pernambucanas, graças ao seu porte e à disposição de sua copa, dominante nodossel orestal da Mata Atlântica, principalmente em áreas densas e bem conservadas. O visgo que reveste suas sementes erausado em armadilhas para capturar passarinhos. É uma espécie perenifólia (não perde as folhas na estação mais seca), queocorre na oresta ombróla densa, com dispersão extensa, mas irregular, ao longo da Mata Atlântica. Geralmente tem boa rege-neração natural e se estabelece facilmente em orestas maduras, em estágios intermediários e avançados de sucessão. Podeser plantada para enriquecimento vegetal de capoeirões, em condições intermediárias de exposição solar.

Fauna: ChOQUINhA-DE-ALAGOAS (Myrmotherula snowi )

A choquinha-de-alagoas é um pássaro que habita o chão e o sub-bosque, tem 9,5 centímetros e plumagem cinza. Era en-contrada apenas na Estação Ecológica de Murici, em Alagoas, mas em 2003 a espécie foi registrada também nos remanescentesde Mata Atlântica da Mata do Benedito, Mata do Estado e Frei Caneca, que fazem parte da Serra do Urubu, em Pernambuco. Achoquinha, hoje, é um dos símbolos de preservação do Centro de Endemismo Pernambuco, com população reduzida a menosde 500 exemplares. Por viver perto do solo, até mais ou menos dois metros de altura, está exposta a qualquer tipo de mudança,como a exploração ilegal de madeira para carvão, que ainda ocorre na Mata Frei Caneca. Na Serra do Urubu, outras três avesconsideradas endêmicas de Murici foram descobertas: o limpa-folhado-nordeste, o zidedê-do-nordeste e o cara-pintada. Deacordo com avaliação da BirdLife, a choquinha-de-alagoas é considerada criticamente em perigo por estar restrita a três locaisonde o habitat é limitado, severamente fragmentado e declinando em qualidade, extensão e área.

Ação pela espécie: Projeto para Conservação da Serra do Urubu (pág. 395)

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

231

Paraíba

Flor do pau-brasil (Caesalpinia echinata ).

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

232

Tabela 12 – Mata Atlântica na Paraíba

Área do estado na Mata Atlântica(Mapa IBGE - Lei 11.428/06)*

(em hectares - ha)

Porcentagem em relaçãoà área total do estado**

Remanescentes devegetação nativa

(em a) ***

Porcentagem deremanescentes****

657.851,21 11,66% 106.005,14 16,11%

* Lei no 11.428, de 22 de dezembro de 2006** IBGE*** MMA/Probio, 2006**** Em relação à área do estado na Mata Atlântica

N

0 25 50 100

km

UCs – Proteção integral

UCs – APAs

Campos Naturais

UCs – Uso sustentável

Formações Florestais

Lei da Mata Atlântica – Limite

Formações Pioneiras

REMANESCENTES DE VEGETAÇÃO NATIVA

Remanescentes de Vegetação Nativa na Mata Atlântica da Paraíba

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

233

A Mata Atlântica na Paraíba abrange duas grandes áre-as, perfazendo um total de 657.851,21 ha (6.578,51 km²), quecorrespondem a 11,66% do território do estado e ocupam to-tal ou parcialmente 63 municípios, incluindo os ecossistemas

de orestas ombróla densa, aberta, estacional semidecidu-al, áreas de tensão ecológica, além de formações pioneiras(restingas e manguezais). A população que vive nestas áreasé de 1.692.369 pessoas. Atualmente, os remanescentes são

Detale do interior da oresta.

    F   e   r   n   a   n   d   o   P   i   n   t   o

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

234

da ordem de 106.005,14 ha (1.060,05 km2), equivalentes a16,11% da área original incluindo os vários estágios de rege-neração em todas as sionomias, segundo o Levantamento

da Cobertura Vegetal Nativa do Bioma Mata Atlântica (MMA/Probio, 2006).

As atividades que mais impactam a Mata Atlântica no es-tado são a expansão da área de cultivo da cana-de-açúcar eo desenvolvimento de atividades voltadas para a carcinicul-tura em áreas de manguezais. No que tange à identicação

de áreas com maior concentração de mata, destaque deve

Manguezal.

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

235

Macaco-prego.

    A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

ser dado aos municípios de Cruzdo Espírito Santo, Santa Rita, RioTinto e Mamanguape. A disposiçãodessas manchas de fragmentosorestais tem potencial para a for -mação de um corredor ecológico.

Outra área de destaque corres-ponde aos remanescentes encon-trados nos municípios de Areias eAlagoa Grande, conjunto de gran-de interesse ecológico e social, portratar-se de fragmentos de mataserrana, também conhecida comobrejo de altitude. O Pico do Jabre,localizado no município de Matu-réia, por se constituir num encraveorestal de Mata Atlântica em área

de Caatinga, merece atenção es-pecial tendo em vista os decrésci-

Borboleta (Hamadryas sp ).

    M   i   r   i   a   m    P

   r   o   c   h   n   o   w

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

236

mos de área nos últimos anos. Convém salientar que essastrês áreas constituem Áreas Prioritárias para a Conservaçãoda Mata Atlântica na Paraíba, segundo o MMA.

 A partir desses dados, o MMA identicou, no estado, a

necessidade de intervenções em 279.361,30 ha, considera-dos prioridade para ações como a criação de áreas protegi-

das, incluindo unidades de conservação de proteção integrale uso sustentável, além do fomento para o uso sustentável, arealização de inventários, criação de mosaicos e corredoresde biodiversidade, além da denição de área de exclusão de

pesca63. A Paraíba conta com 2,44% do território com MataAtlântica protegido por unidades de conservação federais eestaduais64.

63 Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Be-

nefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA no

 9, de 23de janeiro de 2007.

64 Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Be-nefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA no 9, de 23de janeiro de 2007 e Instituto Chico Mendes de Conservação da biodiversidade

 – ICMBio/setembro de 2009.

Grala can-can (Cyanocorax chrysops ).

    A   n   d   r   é   P   e   s   s

   o   a

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

237

NATURAL DA MATA ATLNTICA PARAIBANA

    C   i   r   o   A   l   b   a   n   o

Flora: GUARDA-ORVALhO (Erythroxylum pauferrense )

O guarda-orvalho é uma espécie de arbusto ou arvoreta que pode variar de 1,5 a 4 metros de altura, endêmica da região Nor-deste e com ocorrência conrmada apenas no estado da Paraíba, no município de Areia, área de brejos de altitude da Mata do Pau-Ferro. A região é formada de áreas mais úmidas, rodeadas de semiárido, matas serranas consideradas disjunções orestais da MataAtlântica, ilhadas pela vegetação de Caatinga, condição que torna esses remanescentes, áreas de elevada biodiversidade. Esseecossistema pode ser considerado um refúgio ou uma relíquia vegetacional, por apresentar peculiaridades dissonantes do contextoem que está inserido. O guarda-orvalho, considerado criticamente em perigo por seu reduzido habitat, possui grande anidade como Erythroxylum simonis , espécie da mesma família restrita a orestas atlânticas e brejos de altitude do Nordeste brasileiro, encon -trada na Paraíba e também nos estados de Ceará, Sergipe e Pernambuco.

Fauna: PINTOR-VERDADEIRO (Tangara fastuosa )

Também conhecido como saíra-pintor, essa espécie de ave em perigo de extinção tem a cabeça verde palha brilhante, combastante azul de diferentes tons e o ventre cor de laranja. Chega a 13,5 cm de comprimento e raramente pousa no chão, passandoa maior parte do tempo em árvores ou arbustos. Sua alimentação consiste de pequenas frutas e bagas, sementes e insetos querecolhe nas folhagens e ramos. O pintor-verdadeiro é exclusivo da região Nordeste, onde vive em áreas remanescentes de MataAtlântica. Foi, ao longo dos anos, muito perseguido por criadores de pássaros e, hoje, sofre intensa pressão de caça para abastecero comércio ilegal de aves silvestres e também da degradação de seu habitat. Na Paraíba, há registros de que tenha sido encontradoem apenas um remanescente de Mata Atlântica, a Mata do Pau-Ferro, localizada na microrregião do Brejo Paraibano, a 5 km domunicípio de Areia, com uma superfície aproximada de 600 ha.

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

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Rio Grande do Norte

Ponta Negra, Natal - RN.

    J   o   ã   o   d   e   D   e   u   s   M   e   d   e   i   r   o   s

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Tabela 13 – Mata Atlântica no Rio Grande do Norte

Área do estado na Mata Atlântica(Mapa IBGE - Lei 11.428/06)*

(em hectares - ha)

Porcentagem em relaçãoà área total do estado**

Remanescentes devegetação nativa

(em a) ***

Porcentagem deremanescentes****

339.107,68 6,42% 111.546,59 32,89%

* Lei no 11.428, de 22 de dezembro de 2006** IBGE*** MMA/Probio, 2006**** Em relação à área do estado na Mata Atlântica

N

0 25 50 100

km

UCs – Proteção integral

UCs – APAs

Campos Naturais

UCs – Uso sustentável

Formações Florestais

Lei da Mata Atlântica – Limite

Formações Pioneiras

REMANESCENTES DE VEGETAÇÃO NATIVA

Remanescentes de Vegetação Nativa na Mata Atlântica do Rio Grande do Norte

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

241

A Mata Atlântica no Rio Grande Norte ocupa 6,42% do ter-ritório do estado, uma área total de 339.107,68 ha (3.391,08km²), localizada no litoral leste, que ocupa total ou parcial-mente 34 municípios, com uma população de 1.802.521 ha-

bitantes. Atualmente, restam 111.546,59 ha (1.115,46 km2)incluindo os vários estágios de regeneração em todas assionomias, segundo o Levantamento da Cobertura Vegetal

Nativa do Bioma Mata Atlântica (MMA/Probio, 2006). Os prin-

Morro do Careca, Natal - RN.

    J   o   ã   o   d   e   D   e   u   s   M   e   d   e   i   r   o   s

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

242

cipais tipos de vegetação in-tegrantes da Mata Atlânticano Rio Grande do Norte sãoa oresta estacional semide-cidual, áreas de contato en-tre savana/oresta estacio-nal e as formações pioneiras(restinga e manguezais).

O litoral norte apresentaáreas de remanescentes derestinga e de manguezais,nos municípios de São Bentodo Norte, Galinhos, Guama-ré, Macau, Porto do Mangue,Areia Branca, Grossos e Ti-bau. Da mesma forma, sãoencontrados fragmentos de

Manguezal em Canguaretama - RN

    C   l   e   m   e   n   t   e   C   o   e   l   h   o

Psittacanthus dichrous .

    J   o   ã   o   d   e   D   e   u   s   M   e   d   e   i   r   o   s

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

243

mata serrana nos municí-pios de Martins, Portalegre,Serrinha dos Pintos, CoronelJoão Pessoa e Luís Gomes.

Apesar da acentuadafragmentação dos ecos-sistemas que compõem aMata Atlântica no estado,vislumbra-se a possibilida-de de estabelecimento decorredor ecológico partindoda Mata da Estrela, no mu-nicípio de Baía Formosa, eseguindo pelas restingasarbustivo-arbóreas do lito-ral até o município de Natal.Outro corredor pode ser for-

Cactos (Cereus jamacaru ).

    J   o   ã   o   d   e   D   e   u   s   M   e   d   e   i   r   o   s

Pescador no manguezal em Canguaretama - RN.

    C   l   e   m   e   n   t   e   C   o   e   l   h   o

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

244

mado a partir de Extremoz até o município de Touros, tam-bém protegendo e recuperando o ecossistema de restinga.Esses dois trechos constituem Áreas Prioritárias para a Con-servação da Biodiversidade.

 A partir desses dados, o MMA identicou, no estado, a

necessidade de intervenções em 208.464,32 ha, considera-

dos prioridade para ações como a criação de áreas prote-gidas, incluindo unidades de conservação de proteção inte-gral e unidades de conservação de uso sustentável, além deações de recuperação e criação de mosaicos e corredores

de biodiversidade65. O Rio Grande do Norte possui apenas0,55% de seu território em área de Mata Atlântica protegidopor unidades de conservação federais e estaduais66.

65 Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Be-nefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA no 9, de 23de janeiro de 2007.

66 Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Be-nefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA no 9, de 23de janeiro de 2007 e Instituto Chico Mendes de Conservação da biodiversidade

 – ICMBio/setembro de 2009.

Borboleta (Caligo sp ).

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

245

NATURAL DA MATA ATLNTICA POTIGUAR

Flora: MANGABEIRA(Hancornia speciosa )

A mangabeira é uma espécie frutífera da fa-mília das Apocináceas, com porte médio, de 2 a10 metros de altura. Nativa do Brasil e encontra-da em várias regiões do país, é mais abundanteno litoral nordestino, em áreas de restinga, ecos-sistema associado à Mata Atlântica – emborapossa também ser encontrada em algumas áreasde Cerrado. A espécie tem grande importânciasocioeconômica no Nordeste e é muito apreciadapor sua polpa amarela adocicada, consumida in

natura  e também industrializada sob a forma dedoces, geléias, compotas, vinho, vinagre, suco esorvete. No entanto, sua população vem sendo

drasticamente reduzida juntamente com o restan-te da vegetação nativa de Mata Atlântica, devidoà especulação imobiliária e ao desmatamentopara o cultivo de monoculturas, principalmente ocoqueiro, a cana-de-açúcar e até pastagens. NoRio Grande do Norte, essa espécie é muito co-mum nas duas mais importantes áreas de preser-vação de Mata Atlântica do estado: a Mata da Es-trela, RPPN criada em 2000, e o Parque Estadualdas Dunas. No caso da Mata da Estrela, a MataAtlântica ocupa 92% da reserva, sendo a restin-ga o trecho que alcança a praia. Menos densa e

com mais arbustos que árvores, esse tipo de co-bertura vegetal é o que dá sustentação às dunasda praia de Baía Formosa, no litoral sul potiguar.Além da mangabeira, outras plantas caracterís-ticas desse ecossistema são o araçá e o murici,também conhecidos por seus frutos comestíveis.

Fauna: LAGARTO-DE-FOLhIÇO (Coleodactilus natalensis )

O lagarto-de-folhiço é um animal endêmico do Rio Grande do Norte e habita remanescentes de Mata Atlântica das dunascosteiras, onde se alimenta de insetos. Foi descrito por pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) como o menorlagarto da América do Sul. O réptil mede de 4 a 4,5 centímetros e foi observado pela primeira vez em 1986. Na época, foi confun-dido com um lagarto da Mata Atlântica do Nordeste denominado cienticamente Coleodactylus meridionalis  e encontrado tambémda Bahia à Paraíba e também no Ceará. Depois de comparar 250 exemplares do C. meridionalis  com 32 da espécie achada emNatal, concluiu-se que se tratava de um animal desconhecido. O lagarto, que vive embaixo das folhas caídas no chão, foi classi-cado como C. natalensis . A origem dessa espécie pode estar associada a um fenômeno chamado de especiação pelos cientistas.Resultado do isolamento de populações, a especiação teria ocorrido em Natal porque os remanescentes de Mata Atlântica dolugar foram “ilhados” pelas dunas.

Folas e ores da mangabeira.

    J   o   a   o   d   e   D   e   u   s   M   e   d   e   i   r   o   s

    J   o   a   o   d   e   D   e   u   s   M   e   d   e   i   r   o   s

Fruto da mangabeira.

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

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Ceará

Cacoeira em brejo de altitude na APA da Serra de Baturité.

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Tabela 14 – Mata Atlântica no Ceará

Área do estado na Mata Atlântica(Mapa IBGE - Lei 11.428/06)*

(em hectares - ha)

Porcentagem em relaçãoà área total do estado**

Remanescentes devegetação nativa

(em a) ***

Porcentagem deremanescentes****

906.997,66 6,09% 280.566,57 30,93%

* Lei no 11.428, de 22 de dezembro de 2006** IBGE*** MMA/Probio, 2006**** Em relação à área do estado na Mata Atlântica

N

0 35 70 140km

UCs – Proteção integral

UCs – APAs

Campos Naturais

UCs – Uso sustentável

Formações Florestais

Lei da Mata Atlântica – Limite

Formações Pioneiras

REMANESCENTES DE VEGETAÇÃO NATIVA

Remanescentes de Vegetação Nativana Mata Atlântica do Ceará

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

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A Mata Atlântica no Ceará ocupa uma área total de906.997,66 ha (9.069,98 km2), o que equivale a 6,09% daárea do estado, e está localizada de maneira dispersa emdez regiões: Chapada do Araripe, Litoral, Chapada do Ibiapa-

ba, Serra da Aratanha, Serra de Baturité, Serra do Machado,Serra das Matas, Serra de Maranguape, Serra da Meruocae Serra de Uruburetama, ocupando total ou parcialmente 61municípios, com uma população total de 5.079.043.

Calango.

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

250

Atualmente, restam 30,93% de remanescentes de MataAtlântica, equivalentes a 280.566,57 ha (2.805,67 km2), noestado do Ceará, incluindo os vários estágios de regeneraçãoem todas as sionomias, segundo o Levantamento da Co -

bertura Vegetal Nativa do Bioma Mata Atlântica (MMA/Probio,2006). Os tipos de vegetação integrantes da Mata Atlânticano Ceará são as orestas estacional semidecidual e ombrólaaberta e as formações pioneiras (restingas e manguezais).

Borboleta (Junonia evarete ).

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

251

As atividades que mais impactam a Mata Atlântica noestado são a especulação imobiliária, a expansão da áreade cultivo da cana-de-açúcar e o desenvolvimento de ativi-dades voltadas para a carcinicultura em áreas de mangue -

zais. Há mais de dez anos, o cultivo de camarão no Ceará já estava implantado dentro dos três principais estuáriosdo estado: do Rio Acaraú, do Rio Jaguaribe e do Rio Pi-rangi.

Detale de árvore repleta de bromélias.

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

252

Da área de Mata Atlântica cearense, 6,54% está protegi-da por unidades de conservação federais e estaduais67. Essegrau de proteção, superior aos demais estados nordestinos,tem exercido grande inuência na conservação da Mata Atlân-tica no estado. Mesmo assim, o trabalho conduzido pelo MMAidenticou a necessidade de intervenções em 604.383,06 ha,

67 Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Be-nefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA no 9, de 23de janeiro de 2007 e Instituto Chico Mendes de Conservação da biodiversidade

 – ICMBio/setembro de 2009.

considerados prioridade para ações como a criação de áreasprotegidas, incluindo unidades de conservação de proteçãointegral e unidades de conservação de uso sustentável, re-cuperação, realização de inventário, fomento ao uso susten-tável, criação de mosaicos e corredores de biodiversidade,além de ordenamento territorial e pesqueiro68.

68 Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Be-nefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA no 9, de 23de janeiro de 2007.

Brejo de altitude em encrave orestal de Mata Atlântica na APA da Serra de Maranguape.

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

253

NATURAL DA MATA ATLNTICA CEARENSE

    C   i   r   o   A   l   b   a   n   o

A maria-do-nordeste é uma ave rara eameaçada de etinção.

Flora: JACARANDÁ (Jacaranda jasminoides )

Esta espécie de jacarandá é uma árvore com cerca de 5 metros de altura e belas ores roxo-escuras, fácil de ser reconhecida

por apresentar pouca variação morfológica. É comum na costa do Brasil, do Rio de Janeiro a Pernambuco, e no Ceará. No Ceará,essa árvore foi encontrada em fragmentos de Mata Atlântica identicados apenas em 2004 pelo Mapeamento da Mata Atlânticae Ecossistemas Associados no estado. Até então, as áreas de orestas úmidas eram consideradas apenas nas serras cristalinasde Aratanha, Baturité, Maranguape, Meruoca e Uruburetama. Das serras das matas (Monsenhor Tabosa) e do Machado (Itatira),por apresentarem menores extensões, apenas os seus topos foram mapeadas no referido estudo. São ilhas ainda desprotegidas,de grande valor ambiental, com espécies que podem ser consideradas em extinção, dadas as constantes retiradas da coberturavegetal em fragmentos já restritos.

Fauna: MARIA-DO-NORDESTE (Hemitriccus mirandae )

A maria-do-nordeste, pequena ave amarelo-oliva com manchas brancas no peito e na extremidade das asas pode chegar a10 cm e é endêmica do Nordeste brasileiro. Aparece nas orestas úmidas em áreas de transição para a Caatinga. É encontradanos estados da Paraíba, Alagoas, Pernambuco e Ceará, onde foi identicada na Serra do Baturité, um dos remanescentes deMata Atlântica ainda existentes no interior do Nordeste. A Serra do Baturité tem sido palco de estudos ornitológicos há mais de140 anos. Devido à sua localização geográca e relativo isolamento em relação a outras áreas de orestas úmidas do Nordeste,abriga avifauna singular, que mistura elementos de origem amazônica com formas endêmicas da Mata Atlântica nordestina. Abri-ga cinco espécies de aves globalmente ameaçadas, sendo a maria-do-nordeste a única restrita às matas mais úmidas (as outrasse espalham também por áreas de Caatinga).

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

255

Piauí 

Parque Nacional da Serra das Confusões - PI.

    A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

256

Tabela 15 – Mata Atlântica no Piauí 

Área do estado na Mata Atlântica(Mapa IBGE - Lei 11.428/06)*

(em hectares - ha)

Porcentagem em relaçãoà área total do estado**

Remanescentes devegetação nativa

(em a) ***

Porcentagem deremanescentes****

2.646.230,78 10,52% 615.447,17 23,26%

* Lei no 11.428, de 22 de dezembro de 2006** IBGE*** MMA/Probio, 2006**** Em relação à área do estado na Mata Atlântica

N

0 60 120 240km

UCs – Proteção integral

UCs – APAs

Campos Naturais

UCs – Uso sustentável

Formações Florestais

Lei da Mata Atlântica – Limite

Formações Pioneiras

REMANESCENTES DE VEGETAÇÃO NATIVA

Remanescentes de Vegetação Nativa na MataAtlântica do Piauí 

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

257

A área de Mata Atlântica no Piauí ocupa 10,52% do ter-ritório do estado, com 2.646.230,78 ha (26.462,31 km2), dis-tribuída em 43 municípios com uma população de 1.129.717habitantes.

Atualmente, restam 23,26% de remanescentes de MataAtlântica no estado, 615.447,17 ha (6.154,47 km2), incluindo osvários estágios de regeneração em todas as sionomias, se-

Pescadores no Rio Poty, Teresina - PI.

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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gundo o Levantamento da Cobertura Vegetal Nativa do BiomaMata Atlântica (MMA/Probio, 2006). É importante destacar queos remanescentes do sul do estado não foram mapeados peloMMA/Probio. Os tipos de vegetação integrantes da Mata Atlân-

tica no Piauí são as orestas estacional decidual e estacional

semidecidual, bem como as áreas de manguezais e restingas.As maiores áreas de vegetação de Mata Atlântica no Piauíestão localizadas nos municípios de Teresina, Guaribas, Re-denção do Gurguéia, Morro Cabeça no Tempo, Curimatá, Bom

Jesus, Canto do Buriti e Alvorada do Gurguéia, entre outros.

Delta do Parnaíba na divisa dos estados do Piauí e Maranão.

    A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

259

Floresta estacional decidual na região da Serra da Capivara.

A Serra Vermela no sul do Piauí conserva uma das mais importantes áreasde oresta estacional decidual (encrave de Mata Atlântica) do Nordeste.

   A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

    A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

Existem duas unidades de conservação federais, osParques Nacionais da Serra da Capivara e da Serra dasConfusões, parcialmente dentro dos limites da Mata Atlânti-ca no estado. Um estudo coordenado pelo MMA identicoua necessidade de intervenções em 1.962.767,05 ha, con-siderados prioridade para ações como a criação de áreasprotegidas, incluindo unidades de conservação de prote-

ção integral e uso sustentável, e realização de inventário69

.O Piauí, atualmente, conta com 11,91% da área de MataAtlântica protegida por unidades de conservação federais70.

O Parque Nacional da Serra da Capivara e o Par-que Nacional da Serra das Confusões possuem grandebeleza cênica e preservam os mais importantes e ricos

69  Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartiçãode Benefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA no 9, de 23 de janeiro de 2007.

70 Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartiçãode Benefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA no 9, de 23 de janeiro de 2007 e Instituto Chico Mendes de Conservação da

biodiversidade – ICMBio/setembro de 2009.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

260

sítios arqueológicos do Brasil, atraindo milhares de turistasbrasileiros e estrangeiros ao sul do Piauí. No interior do Par-que Nacional da Serra da Capivara foram cadastrados 912sítios arqueológicos, entre os quais 657 apresentampinturas rupestres, os outros são sítios ao ar livre, querepresentam acampamentos ou aldeias. Nesses sítios

arqueológicos também se encontram vestígios extre-

mamente antigos da presença do homem na região hápelo menos 50.000 anos antes do presente71.

Estudos mostraram que as serras Vermelha e Semitum-ba, localizadas ao sul do Parque Nacional da Serra das Con-

71 Fundação Museu do Homem Americano: http://www.fumdham.org.br/patri-monio_cultural.html

Veado.

As belezas cênicas e a riqueza da biodiversidade da fauna e ora, motivaram o Conama a sugerir a criação de um Parque Nacional para preservar a Serra Vermela.

    A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

    A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

    A   n   d   r   é   P   e

   s   s   o   a

Jiboia.

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

261

O desmatamento para fabricação de carvão vegetal é a principal ameaça à Serra Vermela e outras regiões de Mata Atlântica no Piauí.

   A   n   d   r   é

   P   e   s   s   o   a

fusões, são especiais para a biodiversidade por consti-

tuirem uma área de tensão ecológica, onde diferentestipos de vegetação se encontram: oresta estacional(vegetação integrante da Mata Atlântica), Cerrado e sa-vana estépica (Caatinga). Segundo denição do IBGE,área de tensão ecológica ocorre quando duas ou maisregiões toecológicas se contatam, justapondo-se ouinterpenetrando-se. Estes diferentes tipos vegetacio-nais guardam suas próprias características ecológicas,o que faz com que essas áreas de contato geralmenteapresentem uma maior diversidade biológica e tambémum maior número de espécies endêmicas.

Pesquisas realizadas na região revelaram uma fau-na singular, com uma diversidade muito maior que o

esperado e elementos relictuais que, pela sua próprianatureza, já se encontram ameaçados pela exploraçãoem escala regional. Os estudos registraram a presençade 340 espécies de vertebrados terrestres entre anfí-bios, répteis, aves e mamíferos, com várias espéciesainda desconhecidas pela ciência.

A região abriga também inúmeras espécies endê-micas com destaque para a jacucaca (Penelope jacu- 

caca ), espécie ameaçada de extinção. Também sãoencontradas espécies de animais de grande e médioportes ameaçadas de extinção e já não encontradasem outras partes do Nordeste brasileiro, como onça-

pintada (Panthera onca ), tatu-canastra (Priodontes ma-  Transporte de carvão vegetal na região da Serra Vermela.

    A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

262

ximus ) e tamanduá-bandeira (Mymercophaga tridactila ).A ocorrência destes animais denota a importância daconservação de grandes extensões de vegetação nativa

na região, para garantir a proteção de toda a cadeia ali-mentar necessária para a sobrevivência de populaçõesde animais de grande porte72.

Entre as principais ameaças que pairam sobre as o-restas estacionais do Piauí, estão o avanço de monocul-turas agrícolas, a fabricação de carvão vegetal e a caça.

72 Processo de ampliação do Parque Nacional da Serra das Confusões ecriação do Parque Nacional da Serra Vermelha (ICMBio e MMA).

Pinturas rupestres no Parque Nacional da Serra da Capivara.

Artesanato com guras inspiradas em pintura rupestre.

O artesanato é uma importante atividade em algumas regiões do Piauí.

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

    A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n

   o  w

Gato-vermelo (Herpailurus yaguarondi ).

    A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

263

BOx: NATURAL DA MATA ATLNTICA PIAUIENSE

Flora: COPABA (Copaifera langsdorfi  ) 

A copaíba é uma árvore de múlti-plos usos. O principal é a extração doóleo-resina, que pode ser utilizado in

natura  como combustível para moto-res diesel e também na medicina po-pular como antisséptico, cicatrizante,expectorante, diurético, laxativo, esti-mulante, emoliente e tônico. Sua ma-deira é utilizada na construção civil,peças torneadas, móveis etc. Emboraseja mais relacionada à oresta ama-

zônica, é uma árvore também presen-te em grande quantidade na orestaestacional semidecidual e oresta es-tacional decidual, duas formações o-restais da Mata Atlântica, sendo quea última é uma das mais ameaçadas,devido aos poucos remanescentes.Um desses remanescentes é a SerraVermelha, uma grande chapada nosul do Piauí, totalmente preservadapela última oresta do semiárido bra-sileiro, uma enorme área de transiçãoonde se encontram Caatinga, Cer-

rado e formações orestais da MataAtlântica. Segundo pesquisadores, háespécies de fauna e ora ainda des-conhecidas naquela região.

Fauna: CARANGUEJO-UÇÁ (Ucides cordatus )

Principal produto pesqueiro do Piauí, o caranguejo-uçá, de coloração azulada,arroxeada ou avermelhada, ocorre nas regiões de manguezais do Brasil entre osestados do Amapá e Santa Catarina, com maior abundância a partir dos mangue -

zais do Amapá até a Barra de Timonha, na divisa dos estados do Ceará e Piauí.Segundo o Ibama, no Piauí, existem cerca de 2.500 catadores, um número elevadopara um estado de apenas 66 km de costa. O desembarque de caranguejo-uçárepresenta 50% da produção pesqueira do Piauí, reetindo a importância da pescadesse crustáceo para a economia local. E não se reduz ao Piauí: a exploração docaranguejo-uçá no Nordeste brasileiro tem grande importância social, já que dela seocupa um grande contingente de pessoas residentes em áreas costeiras próximasaos manguezais, um dos ecossistemas associados à Mata Atlântica. Todavia, a cap-tura elevada da espécie tem acarretado a redução de suas populações em diversosestados do país. No Piauí, esse cenário ainda é agravado pelo alto índice de mor -tandade dos estoques pescados: até 60% dos caranguejos vindos do Delta do RioParnaíba morrem quando são transportados para regiões do Ceará e Maranhão.

Tronco da árvore de copaíba.

Caranguejo-uçá.

    J   o   ã   o

   d   e   D   e   u   s   M   e   d   e   i   r   o   s

   C   l   e   m

   e   n   t   e   C   o   e   l   h   o

Fruto da copaíba. 

   J   o   ã   o   d   e   D   e   u   s   M   e   d   e   i   r   o   s

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

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Goiás

Pica-pau-rei (Campephilus robustus ).

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Tabela 16 – Mata Atlântica em Goiás

Área do estado na Mata Atlântica(Mapa IBGE - Lei 11.428/06)*

(em hectares - ha)

Porcentagem em relaçãoà área total do estado**

Remanescentes devegetação nativa

(em a) ***

Porcentagem deremanescentes****

1.047.908,08 3,08% 37.649,00 3,59

* Lei no 11.428, de 22 de dezembro de 2006** IBGE*** SOS Mata Atlântica/INPE, 2008**** Em relação à área do estado na Mata Atlântica

N

0 50 100 200km

UCs – Proteção integral

UCs – APAs

Campos Naturais

UCs – Uso sustentável

Formações Florestais

Lei da Mata Atlântica – Limite

Formações Pioneiras

REMANESCENTES DE VEGETAÇÃO NATIVA

Remanescentes de Vegetação Nativana Mata Atlântica de Goiás

DistritoFederal

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

267

O estado de Goiás possui apenas 37.649,00 ha de re-manescentes bem preservados de vegetação nativa da MataAtlântica, 3,59% da área originalmente coberta por Mata Atlân-tica, segundo o Atlas da Mata Atlântica (SOS/INPE, 2008).A área de Mata Atlântica originalmente cobria 1.047.908,08

ha, 3,08% do estado. Esta área é proporcionalmente peque-na em relação a área de domínio do Cerrado em Goiás. Osremanescentes de Mata Atlântica estendem-se pelo territóriode 29 municípios do sudeste goiano, entre eles: Quirinópolis,Inaciolândia, São Simão, Buriti Alegre, Morrinhos, Água Limpa,

Ipê-amarelo.

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

268

Mata de galeria.

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

Corumbaíba, Goiatuba e Araporã. A população nos municípiosque cruzam os limites da Mata Atlântica é de 488.450 pessoas.

Ao contrário de estados como Rio de Janeiro, Espírito San-to e Santa Catarina, inteiramente cobertos pela diversidade dassionomias da Mata Atlântica, Goiás conta somente com oresta

estacional semidecidual caracterizada pela vegetação arbóreaque perde entre 20% e 50% de suas folhas no período da seca.

O Atlas dos Remanescentes Florestais e Ecossistemas As-sociados da Mata Atlântica (período 2000-2005), coordenadopela Fundação SOS Mata Atlântica, mostra o quanto a destrui-

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

269

ção da Mata Atlântica no estado continua evoluindo. Em 2000,Goiás possuía aproximadamente 48.400 hectares de mata ou3,99% em relação à área original no estado. Em 2005, esse nú-mero havia caído para cerca de 44.300 ha ou 3,66% da área ori-ginal. O desmatamento equivaleu, assim, a mais de 4.000 ha ou

8,38% entre 2000 e 2005, o que deu a Goiás o título de estadoque, proporcionalmente aos remanescentes, mais desmatou noperíodo. Segundo o mesmo Atlas (período 2005-2008), o des-matamento no estado de Goiás alcançou 733 ha, diminuindo aárea de remanescentes bem preservados para 37.649 ha.

Borboleta (Heliconius ethilla narcaea ).

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

270

Criado em 2006, o Parque Estadu-

al da Mata Atlântica é a única unidadede conservação do estado em área deMata Atlântica e garante a proteção de1.000 ha de signicativa parcela dos re-manescentes no estado, no municípiode Água Limpa73. Esta área, no entanto,está vulnerável: sua regularização fun-diária ainda não foi concluída em razãode conitos com as propriedades ruraiscontidas no parque em processo de in-denização e desapropriação. O MMAidenticou a necessidade de interven-ções em 224.644,38 ha, consideradosprioridade para ações como a criaçãode áreas protegidas, incluindo unidadesde conservação, fomento ao uso sus-tentável e realização de inventário74.

73 Cadastro Nacional de Unidades de Conserva-ção.

74 Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sus-tentável e Repartição de Benefícios da Biodiversi-dade Brasileira: Atualização – Portaria MMA no 9,de 23 de janeiro de 2007.

Quati (Nasua nasua ).

Rio Paranaiba - GO.

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

271

NATURAL DA MATA ATLNTICA GOIANA

Cedro (Cedrela ssilis ).

Onça-pintada.

    W   i   g   o   l   d   B

 .   S   c   h   a   f   f   e   r

    L   a  u   r  y   C  u   l   l   e   n

Flora: CEDRO (Cedrela ssilis  e Cedrela odorata )

O cedro é uma árvore que alcança até 30 metros de alturae ocorre em diversas formações orestais brasileiras e pratica-mente em toda América tropical. Seus ecossistemas preferidosestão na Mata Atlântica (orestas ombróla densa, ombrólamista, estacional semidecidual e estacional decidual), embo-ra ocorra também na Amazônia e, de modo mais restrito, noscampos da Serra da Mantiqueira e em alguns ecossistemas doCerrado. Ocorre tanto na oresta primária, principalmente nasbordas da mata ou clareiras, como na oresta secundária, po-rém nunca em formações puras, possivelmente pelos ataquesseveros da broca-do-cedro (sua praga mais comum) e pela ne-cessidade de luz para desenvolver-se, dependendo, portanto,da formação de clareiras. Das árvores encontradas na MataAtlântica, o cedro destaca-se entre aquelas mais utilizadas pelohomem: produz uma das madeiras mais apreciadas no comér-cio, tanto brasileiro quanto internacional, por ter coloração se-

melhante ao mogno. Entre as madeiras leves, é uma das quepossibilita o uso mais diversicado, sendo superada apenaspela madeira da araucária. Pela madeira altamente cobiçada,o cedro tornou-se uma árvore rara e ameaçada. Em Goiás,ocorre principalmente no Parque Estadual da Mata Atlântica,única unidade de conservação que protege a vegetação típicade Mata Atlântica nesse estado.

Fauna: ONÇA-PINTADA (Panthera onca )

A onça-pintada é o maior felino do continente americano. Érobusta, tem grande força e a potência de sua mordida é consi-derada a maior dentre os felinos do mundo. Outra característicamarcante é que ela não mia como a maioria dos felinos, masemite uma série de roncos muito fortes, chamados de esturro,assim como o leão, o tigre e o leopardo. Tem hábitos solitários,com maior atividade ao entardecer e à noite. Originalmente aespécie ocorria desde os Estados Unidos até o norte da Argen-tina. Hoje está ocialmente extinta nos Estados Unidos, é muitorara no México, mas ainda pode ser encontrada na AméricaLatina, incluindo o Brasil. No Brasil, a espécie habita orestas

úmidas às margens de rios e ambientes campestres desde aAmazônia e Pantanal até os Pampas Gaúchos. Praticamentedesapareceu das regiões Nordeste, Sudeste e Sul, onde a de-gradação da Mata Atlântica, um de seus habitats, deixou pou-cos remanescentes de orestas. É classicada como espécievulnerável. Em Goiás, além de ocorrer em regiões de Cerrado,a onça-pintada aparece no Parque Estadual da Mata Atlântica,no município de Água Limpa.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

273

Mato Grosso do Sul

Rio com águas cristalinas na região da Serra da Bodoquena - MS.

    V   i  v   i   a   n   R   i   b   e   i   r   o   B   a   p   t   i   s   t   a  -   M

   a   r   i   a .   A   c   e   r  v   o  :   F   u   n   d   a   ç   ã   o   N   e   o   t   r   ó   p   i   c   a   d   o   B   r   a   s   i   l .

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

274

Tabela 17 – Mata Atlântica no Mato Grosso do Sul

Área do estado na Mata Atlântica(Mapa IBGE - Lei 11.428/06)*

(em hectares - ha)

Porcentagem em relaçãoà área total do estado**

Remanescentes devegetação nativa

(em a) ***

Porcentagem deremanescentes****

5.952.283,75 16,67% 1.123.429,65 18,87%

* Lei no 11.428, de 22 de dezembro de 2006** IBGE*** MMA/Probio, 2006**** Em relação à área do estado na Mata Atlântica

N

0 50 100 200km

UCs – Proteção integral

UCs – APAs

Campos Naturais

UCs – Uso sustentável

Formações Florestais

Lei da Mata Atlântica – Limite

Formações Pioneiras

REMANESCENTES DE VEGETAÇÃO NATIVA

Remanescentes de Vegetação Nativana Mata Atlântica do Mato Grosso do Sul

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

275

A Mata Atlântica no Mato Grosso do Sul ocupava origi-nalmente 16,67% do território, 5.952.283,75 ha (59.522,84km2), em uma área que inclui total ou parcialmente 48 mu-nicípios e uma população de 1.883.698 habitantes. Atual-

mente, restam 18,87% de remanescentes, uma área de1.123.429,65 ha (11.234,30 km2), incluindo os vários está-gios de regeneração em todas as sionomias, segundo o

Levantamento da Cobertura Vegetal Nativa do Bioma Mata

Papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva ).

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

276

Atlântica (MMA/Probio, 2006).As formações vegetais de MataAtlântica no Mato Grosso do Sulincluem as orestas estacional de-cidual e estacional semidecidual,áreas de savana e áreas de tran-sição entre savana e oresta esta-

cional, além de formações pionei-ras nas margens do Rio Paraná.Os Parques Nacionais da Ser-

ra da Bodoquena e de Ilha Gran-de, além do Parque Estadual doIvinhema, juntos somam aproxi-madamente 85 mil hectares devegetação nativa da Mata Atlân-tica protegida por unidades deconservação de proteção integralno Mato Grosso do Sul. O ParqueNacional da Serra da Bodoquena

Ipê-branco (Tabebuia roseo-alba ).

Parque Nacional da Serra da Bodoquena - MS.

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

    M   a   r   j    a   M   i   l   a   n   o

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

277

com 76.481 ha está parcialmente inserido naMata Atlântica e guarda o maior remanescentede oresta estacional decidual submontana do

estado. No total, 11,58% da área de Mata Atlân-tica no Mato Grosso do Sul está protegida porunidades de conservação federais e estaduais75.

A Serra da Bodoquena apresenta uma di-

versidade de ecossistemas cuja proteção nãopoderá se restringir ao interior do parque. É sig-nicativa a ocupação do solo em volta da unida-de, mas a região ainda apresenta possibilidadesinteressantes de conectividade através da pre-servação de recursos hídricos, da manutenção

75 Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável eRepartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira: Atuali-zação – Portaria MMA no 9, de 23 de janeiro de 2007 e InstitutoChico Mendes de Conservação da biodiversidade – ICMBio/ setembro de 2009.

Serra da Bodoquena - MS.

Cacoeira em Bonito - MS.

  F  á  t  i    G    d  

    J   u   c   a   Y   g   a   r   a   p   é

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

278

Campos naturais e orestas no Parque Nacional da Serra da Bodoquena - MS.

Peie em rio de águas cristalinas, Bonito - MS.

Arara-vermelha (Ara chloropterus ).

    F   á   t   i   m   a   G   u   e   d   e   s

    M   a   r   j    a   M   i   l   a   n   o

    V   i  v   i   a   n   R   i   b   e   i   r   o

   B   a   p   t   i   s   t   a  -   M   a   r   i   a .   A   c   e   r  v   o  :   F   u   n   d   a   ç   ã   o   N   e   o   t   r   ó   p   i   c   a   d   o   B   r   a   s   i   l .

de mosaicos de reservas legais e formação de corredoresecológicos. O Parque Nacional da Serra da Bodoquena éuma zona de transição entre distintos tipos de vegetação, queainda pode resguardar espécies novas e endêmicas desco-nhecidas pela ciência. Na região, foi feito também o primeiroregistro de gavião-real (Harpia harpyja) no estado do MatoGrosso do Sul.

Um estudo coordenado pelo MMA identicou a necessi-dade de intervenções em 949.516,09 ha, considerados priori-dade para ações na Mata Atlântica sul-matogrossense, comoa criação de áreas protegidas, incluindo unidades de conser-vação de proteção integral e uso sustentável, realização de

inventário, recuperação e criação de corredores e mosaicos76.Um corredor de biodiversidade – Miranda-Serra da Bodoque-na – vem sendo implantado desde 2004, pela ConservaçãoInternacional em parceria com a Fundação Neotrópica doBrasil, com ações para a ampliação do conhecimento sobrea biodiversidade e socioeconomia regional, a mobilização dasociedade, o incentivo à conservação em áreas públicas eprivadas e à gestão ambiental nos municípios.

76 Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Be-nefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA no 9, de 23de janeiro de 2007.

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CAPÍTULO 7 – UM RETRATO DOS ESTADOS

279

NATURAL DA MATA ATLNTICA SUL-MATOGROSSENSE

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

Flores do ipê-roo.

Ipê-roo orido.

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

Flora: IP-ROxO (Tabebuia avellanedae )

O ipê-roxo, também conhecido

como pau-d’arco, já foi febre nacio-nal. Na década de 1960, espalhou-seuma notícia, publicada na revista O

Cruzeiro, de que essa espécie curavacâncer. O resultado imediato foi umacorrida generalizada atrás da casca daárvore, do Centro-Oeste até o Sul doBrasil. Hoje, o princípio ativo é vendi-do em farmácias, pronto, em forma dechá, tintura, extrato, xarope e pomada,de modo que a árvore voltou a ser ad-mirada e cobiçada mais por suas belas

ores roxas do que para fazer remédio.A árvore, espécie decídua, ou seja, queperde todas as folhas na estação seca,é particularmente frequente de SãoPaulo até o Rio Grande do Sul e noMato Grosso do Sul, estado onde ocor-re em abundância na região da Serrada Bodoquena, onde está o Parque Na-cional da Serra da Bodoquena.

Fauna: CERVO-DO-PANTANAL (Blastocerus dichotomus )

O cervo-do-pantanal é o maior cervídeo da América do Sul. Chega a 1,30 m de altura e a 2 m de comprimento. O macho possui galhadade 50 cm de comprimento com até 10 pontas e perde os chifres entre dezembro e agosto. Quando renasce, a galhada apresenta uma novaponta. De ocorrência original em quase toda a América do Sul – no Uruguai é considerado extinto - vive em áreas úmidas e pantanosas, entrea Bacia Amazônica e a Argentina, com maiores concentrações na bacia dos rios Paraguai e Paraná. No Brasil, está reduzido a pequenas po-pulações em alguns rios e tributários da bacia do Paraná, parte da qual nos domínios legais da Mata Atlântica. Em território nacional, o riscode extinção da espécie é avaliado em médio prazo, pela perda de habitat e riscos do isolamento genético.

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http://slidepdf.com/reader/full/01-mata-atlantica 282/409Manifestação pela aprovação da Lei da Mata Atlântica (2003).

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Legislação

Capítulo 8

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

282

Legislação77

As primeiras leis que tentaram regulamentar o uso dos re-cursos naturais no Brasil remontam ao período colonial, como

o alvará régio que impunha limites à extração do pau-brasil.

77 Fonte: Almanaque Brasil Socioambiental – edições 2005 e 2008.

Até a década de 1970, porém, a nalidade da legislação am-biental era principalmente prevenir o desabastecimento pú-

blico de alguns bens de interesse, como madeira e peixes, eevitar conitos entre vizinhos pelo uso de determinado recur-so natural. Foi apenas na década de 1980, seguindo a ten-dência internacional, que a legislação brasileira começou ase preocupar propriamente com a manutenção do equilíbrio

Bromélia (Vriesea incurvata ).

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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CAPÍTULO 8 – LEGISLAÇÃO

283

ecológico e a reconhecer o direito humanofundamental de toda a sociedade em usu-fruir dos serviços ambientais fundamentaisa uma vida digna e de qualidade.

Antes disso, em 1965, o Código Flo-restal (Lei Federal no 4.771) considerou asorestas e demais formas de vegetaçãonativa do País “bens de interesse co-mum a todos os habitantes” e condicio-nou o exercício do direito de propriedadeà sua utilização racional. Essa lei, aindaem vigor, criou as Áreas de PreservaçãoPermanentes (APPs), que incluem todasas formas de vegetação situadas nasmargens de corpos d’água, nos topos demorro e encostas íngremes, entre outros.Nessas áreas é proibido o desmatamento,com exceção de casos de utilidade públicaou interesse social. Criou também as Re-servas Legais (RL), que são uma porcen-tagem das propriedades que devem man-ter a vegetação nativa. Na Mata Atlântica,

esse índice é de 20%. As matas ciliares protegem os riachos e rios da erosão.

A conservação da vegetação nativa na Reseva Legal e nas APPs propicia qualidade de vida aos agropecuaristas. Pomerode – SC.

   M   i   r   i   a   m   p   r   o   c   h   n   o  w

    M   i   r   i   a   m   p   r   o   c   h   n   o  w

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

284

Os manguezais em toda a sua extensão são APPs.

    C   l   e   m   e   n   t   e   C   o   e   l   h   o

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CAPÍTULO 8 – LEGISLAÇÃO

285

O QUE DIZ A LEI SOBRE APP E RL

Área de Preservação Permanente - APP

A APP é um espaço territorial especialmente protegido e o seu conceito está denido no art. 1º da Lei Federal no 4.771/1965:

Área de Preservação Permanente é uma área com a função ambiental de (1) preservar os recursos hídricos, (2) a pai-sagem, (3) a estabilidade geológica, (4) a biodiversidade, (5) o uxo gênico de fauna e ora, (6) proteger o solo e (7) asseguraro bem-estar das populações humanas.

Como se vê, as APPs não têm apenas a função de preservar a vegetação ou a biodiversidade. São áreas com atribu-tos e características ambientais especiais, cobertas ou não por vegetação nativa, que têm uma função ambiental muitomais abrangente, voltada, em última instância, a proteger espaços de relevante importância para a conservação da quali-dade ambiental, e assim também garantir o bem estar das populações humanas.

A Área de Preservação Permanente é área de “preservação” e não permite exploração econômica direta (madereira,agricultura ou pecuária), nem através de manejo. Mesmo assim, alguns usos e intervenções em APPs são admitidos pelalegislação em casos de utilidade pública, interesse social ou baixo impacto ambiental.

Os locais de refúgio ou reproduçãode aves migratórias, em qualquer

localização, são APPs.

    A   l   d   e   m   B   o  u   r   s   c   h   e   i   t

Floresta preservada em margem de rio (APP), também chamada de mata ciliar.

    E   m   e   r   s   o   n   A .

   O   l   i  v   e   i   r   a

Floresta preservada no entorno de nascente (APP).

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

Floresta preservada nas margens de reservatório de água (APP).

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

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CAPÍTULO 8 – LEGISLAÇÃO

287

VI - nas linhas de cumeada, em área delimi-tada a partir da curva de nível correspondentea dois terços da altura, em relação à base,do pico mais baixo da cumeada, xando-se acurva de nível para cada segmento da linhade cumeada equivalente a mil metros;

VII - em encosta ou parte desta, com declivi-dade superior a cem por cento ou quarenta ecinco graus na linha de maior declive;

VIII - nas escarpas e nas bordas dos tabu-leiros e chapadas, a partir da linha de ruptu-ra em faixa nunca inferior a cem metros emprojeção horizontal no sentido do reverso daescarpa;

IX - nas restingas:a) em faixa mínima de trezentos metros,

medidos a partir da linha de preamar máxima;b) em qualquer localização ou extensão,quando recoberta por vegetação com funçãoxadora de dunas ou estabilizadora de man-gues;

X - em manguezal, em toda a sua extensão;

XI - em duna;

XII - em altitude superior a mil e oitocentosmetros ou, em estados que não tenham taiselevações, a critério do órgão ambiental com-petente;

XIII - nos locais de refúgio ou reprodução deaves migratórias;

XIV - nos locais de refúgio ou reprodução deexemplares da fauna ameaçados de extinçãoque constem de lista elaborada pelo PoderPúblico Federal, Estadual ou Municipal;

XV  - nas praias, em locais de nidicação ereprodução da fauna silvestre.

No caso de áreas urbanas, assim enten-didas as compreendidas nos perímetros urba-nos denidos por lei municipal, e nas regiõesmetropolitanas e aglomerações urbanas, emtodo o território abrangido, observar-se-á odisposto nos respectivos planos diretores eleis de uso do solo, respeitados os princípiose limites xados no Código Florestal e nasResoluções do Conama.

A faixa de 300 metros, medida a partir da linha preamar máxima, é APP.

A vegetação xadora de dunas e estabilizadora de mangue também é APP.

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

    A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

288

Reserva Legal – RL

Área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuadaa de preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursosnaturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conserva-ção da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e ora nativas***.

Os percentuais de Reserva Legal por imóvel rural estão denidos nosncisos I, II e II I, do art.16 da Lei Federal no 4.771/1965, sendo no mínimo:

I - oitenta por cento, na propriedade rural situada em área de orestaocalizada na Amazônia Legal;

II - trinta e cinco por cento, na propriedade rural situada em área de cer-ado localizada na Amazônia Legal, sendo no mínimo vinte por cento na pro-

priedade e quinze por cento na forma de compensação em outra área, desdeque esteja localizada na mesma microbacia, e seja averbada;

III - vinte por cento, na propriedade rural situada em área de oresta ou ou-ras formas de vegetação nativa localizada nas demais regiões do País;

IV - vinte por cento, na propriedade rural em área de campos gerais loca-zada em qualquer região do País.

A área de Reserva Legal deve ser averbada à margem da inscrição de ma-rícula do imóvel, no registro de imóveis competente, sendo vedada a alteraçãode sua destinação, nos casos de transmissão, a qualquer título, de desmembra-mento ou de reticação da área, com as exceções previstas no Código Flores-al. Nas posses a RL é garantida através de termo de ajustamento de conduta.

*** Inciso III, § 2o, do Art. 1o da Lei no 4.771/65.

As Reservas Legais fornecem produtos orestais e funcionam como corredores ecológicos.

As Reservas Legais também têm a função de conservar abiodiversidade e servir de abrigo para a fauna e a ora.

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

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CAPÍTULO 8 – LEGISLAÇÃO

289

A propriedade legal

 Aspectos como o esgotamento e a erosão do solo e adiminuição da quantidade e da qualidade da água deveriamser razões sucientes para um proprietário rural manter suasterras na legalidade ambiental. O pequeno proprietário rural,principalmente, precisa usar muita criatividade e empenhopara sobreviver na roça. A diversicação da produção agrope-cuária e o respeito ao meio ambiente são os principais pilaresda sustentabilidade econômica e ambiental da propriedade.A monocultura e o uso de insumos químicos (agrotóxicos eadubos solúveis) são inimigos da sustentabilidade econômicae ambiental da propriedade no médio e longo prazos.

Se esses motivos não são sucientes, porém, a intensi-cação da scalização (que deve aumentar cada vez mais)e o crescimento das penalidades tendem a tornar inevitávelo enquadramento e a adequação ambiental das atividadesagropecuárias e silviculturais. Existem no Brasil exemplos de

propriedades “legais”, onde os proprietários respeitam o meioambiente, cumprem as leis ambientais e ao mesmo tempoconseguem ter alta produtividade e ótima qualidade de vida.

O tamanho da propriedade não impede o cumprimento

das leis ambientais. Também já está provado que as pequenaspropriedades se tornam muito mais produtivas quando o meioambiente é respeitado. Outra vantagem de seguir a legislaçãoambiental é a isenção do Imposto Territorial Rural sobre as Áre-as de Preservação Permanente, as Reservas Legais e as áre-as transformadas em Reserva Particular do Patrimônio Natural(RPPN). Para isso, é necessário subtraí-las da área total do imó-vel no momento da apuração do ITR (Lei no 9.393, de 1996).78 

Ao planejar as atividades a serem desenvolvidas em umapropriedade rural é importante levar em consideração a pai-sagem e as características da propriedade e da microbaciaonde ela está inserida, uma vez que nenhuma propriedadeestá isolada no mundo. Os rios, os animais, o ar e inclusive assementes das árvores e outras plantas ultrapassam as divisasdas propriedades e até as fronteiras de estados e países sempedir licença.

78  Ver Capítulo 10: As oportunidades da conservação da Mata Atlântica, pág.352.

Conservar as orestas e outras formas de vegetação nativa nas APPs e RL garante sustentabilidade econômicae qualidade de vida aos moradores do campo.

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

290

Encostas com mais de 45ºe topos de morro e de montanhasAs áreas com mais de 45º de declividade tam-bém são Áreas de Preservação Permanentee devem permanecer com a vegetação nativapreservada, assim como as áreas de topos demorro, montes e montanhas devem manter a ve-getação nativa preservada no seu terço superior.

Pecuária

Deve ser praticada fora das áreas da ReservaLegal e APPs. É importante fazer cercas paraevitar que os animais entrem nessas áreas devegetação nativa.

AgriculturaDeve ser praticada fora da Reserva Legal edas APPs.

Silvicultura Deve ser implantada fora das APPs. Se forfeita com espécies nativas pode ser feita pararestaurar a Reserva Legal, mas não poderásofrer corte raso no futuro. É importante ocu-par apenas um percentual da propriedade comessa atividade e não torná-la uma atividadeúnica, em especial na pequena propriedade.

PisciculturaAçudes e tanques de criação de peixes devemser construídos fora dos leitos dos rios e foradas APPs e da Reserva Legal. Fonte principal: A Mata Atlântica e Você. Apremavi. 2002

COMO É UMA PROPRIEDADE “LEGAL”

Reserva LegalNa região da Mata Atlântica, todos os imóveis rurais devem ter uma Re-serva Legal de 20%, área que pode ser utilizada de forma sustentávelpara obtenção de alguns produtos e subprodutos orestais e paraapicultura e outros usos, desde que não promovam a supressão da

vegetação. Na Mata Atlântica, a utilização dos recursos naturaisda Reserva Legal deve observar também o Decreto n o 6.660,

de 2008, que regulamenta a Lei no 11.428, de 2006 – Lei daMata Atlântica e a Instrução Normativa do MMA no 4, de 8

de setembro de 2009, que dispõe sobre procedimentostécnicos para a utilização da vegetação da Reserva

Legal sob regime de manejo orestal sustentável.

ApiculturaA atividade apícola pode ser desenvolvida emtoda a área do imóvel, inclusive na Reserva Le-gal, nas APPs e nas RPPNs.

Sistemas agroorestaisNa pequena propriedade rural ou posse ruralfamiliar, a adoção de sistemas agroorestais éuma ótima alternativa para auxiliar na sustenta-

bilidade do imóvel e pode ainda ser utilizada pararecuperar APPs e Reserva Legal.

Casas e ranchos

Devem ser construídos fora das APPs e afasta-dos dos rios, para evitar prejuízos com enchen-tes, e das encostas para evitar prejuízos comdeslizamentos.

Estradas internasDevem ser planejadas e construídas de acordocom as curvas de nível do terreno.

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RPPNOs proprietários podem solicitar ao ICMBioou órgãos ambientais estaduais e municipais(quando houver a gura legal) a criação deReservas Particulares do Patrimônio Natural(RPPNs) do total ou de parte de suas proprie-dades, especialmente das áreas com vegeta-ção nativa ainda preservadas e que tenhambeleza cênica ou importância biológica.

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CAPÍTULO 8 – LEGISLAÇÃO

291

Mata ciliar nas margens de nascentes,riachos, rios e lagosAs áreas no entorno de nascentes e nas margens de riachos, riose lagos (naturais ou articiais) são Áreas de Preservação Per -

manente (APPs), locais onde não é permitida a exploração demadeira. São áreas ideais para a formação de corredores ecoló-gicos para plantas e animais nativos e têm a função de garantira qualidade e quantidade de água necessária ao abastecimentopúblico e também para as atividades agropecuárias.

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2Lixo

Os restos orgânicos dos alimentos podem ser aproveitados paraalimentação de animais domésticos ou para a fabricação de com-posto orgânico. Os restos de vidro, metal, plástico e outros, devemser separados e destinados para a reciclagem. Os materiais con-taminados ou perigosos (pilhas e baterias, embalagens de agro-tóxicos, etc.) devem ser armazenados em local seguro até seremdestinados para depósitos ou locais de coleta e destinação nal.

Efuentes domésticos e dejetos de animaisO sistema de tratamento dos euentes domésticos deve ser instaladoem locais seguros, sem risco de inltração para o lençol freático ouvazamento para os cursos d´água. Os dejetos de animais (suínos,bovinos, aves, etc.) se corretamente armazenados e tratados podemservir para produção de biogás ou para fabricação de composto or-gânico para ser utilizado na agricultura ou silvicultura.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Fazer queimadas polui o ar e reduz a matériaorgânica do solo.

Plantar ou fazer pastagens no entorno de nas-centes e nas margens dos riachos, rios, lagos,encostas e topos de morro, provoca erosão dosolo, assoreamento dos cursos d´água e polui-ção das águas.

Cortar ou destruir as orestas e demais formasde vegetação nativa nos imóveis rurais (semmanter o mínimo exigido pela legislação) tor-na o agropecuarista dependente da compra deprodutos orestais para atender as necessida-des da propriedade.

O desmatamento de encostas, topos de morroe montanhas gera a instabilidade do solo, tor-nando a área mais sujeita a deslizamentos edesbarrancamentos.

A poluição e destruição das belezas natu-rais diminuem a qualidade de vida e impos-sibilitam um incremento na geração de ren-da através de atividades ligadas ao turismo.

6O desmatamento total dos imóveis rurais inuencia ne-gativamente a produção agrícola, por exemplo, atravésda perda de serviços ambientais como a polinização edo comprometimento dos recursos hídricos.

7As construções de casas e ranchos em Áreas de Preser-vação Permanente, além de estar em desconformidadecom a legislação, estão sujeitas a sofrer danos no caso

de deslizamentos ou enchentes.

8Ao não observar a legislação que regula as atividades agropecuárias e a proteção do meio ambientee ao ignorar as leis da natureza, o agropecuarista, seja agricultor familiar, médio ou grande produtorrural, se arrisca a ser multado, a perder nanciamentos e oportunidades de negócios e, acima detudo, a ser obrigado a arcar com imensos prejuízos causados pelas intempéries e pelo clima.

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9A aração do solo e implantação de estradas internas, sem observar as curvas de nível, geram insta-bilidade e degradação do solo.

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CAPÍTULO 8 – LEGISLAÇÃO

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O QUE NÃO SE DEVE FAZER NA PROPRIEDADE RURAL

A sustentabilidade da produção agropecuária depende direta-mente da conservação do solo, dos recursos hídricos, das ores-tas e demais formas de vegetação nativa existente nos imóveis

rurais.

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O melhor caminho para o agropecuarista, seja agricultor familiar,médio ou grande produtor rural, é observar a legislação que regu-la as atividades agropecuárias e a proteção do meio ambiente e

também as leis da natureza.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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A “Cidade Legal” oferece qualidade de vida com respeito ao meio ambiente.

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CAPÍTULO 8 – LEGISLAÇÃO

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A Cidade Legal

Todos concordam que uma cidade legal é aquela comruas e calçadas largas, estacionamentos amplos e arboriza-dos, espaços de lazer como praças e jardins bem arboriza-dos, parques e áreas verdes conservadas, transporte coletivosuciente (trens, metrô e ônibus) e de qualidade, ciclovias,sistemas de segurança pública, de educação e de saúde fun-cionando, além de moradia digna para todos.

Parece o lógico, mas em muitas cidades do Brasil esta-mos longe de alcançar esse ideal, pois as cidades crescemsem planejamento, muitas vezes sobre áreas frágeis e de ris-co, e sem respeito às leis que regem o parcelamento do soloe, principalmente, das leis ambientais. Esse desrespeito, nãoraro, conta com a conivência, falta de conhecimento ou atécom o estímulo de autoridades públicas que deveriam zelarpelo cumprimento das leis e pelo bem estar da população.

A qualidade do ar, o respeito aos rios, aos animais e a

importância da vegetação nativa muitas vezes são ignoradospelos planejadores de perímetros urbanos, loteamentos eempreendimentos imobiliários, ou na ampliação e construçãode sistemas de vias públicas e de eletricação. Esse descasoacaba, aos poucos, formando aglomerações humanas exces-sivas, sem espaços de lazer e recreação, contribuindo parao aumento dos congestionamentos de trânsito, a poluição do

ar e da água e, em última instância, a perda da qualidade devida humana nas cidades.

As professoras Lucia Sevegnani e Beate Frank79, espe-

cialistas em biodiversidade e recursos hídricos da Universi-dade Regional de Blumenau, uma das cidades mais atingidaspela catástrofe ocorrida em Santa Catarina no nal de 2008,na qual morreram mais de 130 pessoas, vítimas de desbar-rancamentos e enchentes, armam que muitas autoridades“desconhecem e não se deixam esclarecer sobre as relações

profundas que existem entre um ambiente degradado e a bai- 

xa qualidade de vida; entre uma paisagem frágil mal cuidada

e o aumento do risco de desastres naturais; entre a inexistên- 

cia de forestas conservadas e biodiversas e a ocorrência de

secas, enchentes e vendavais; entre a inexistência de matas

ao longo dos rios e os prejuízos com enxurradas; entre solos

expostos à erosão e perda de sua capacidade produtiva e

consequente aumento dos custos de produção; entre nascen- tes degradadas e falta de água; e entre ambiente urbano e

ambiente rural”.

79 O Subdesenvolvimento Catarinense – Publicado em 08.04.2009. Disponívelem: http://www.codigoambientallegal.org.br

A manutenção ou recuperação de espaços verdes é essencial para o bem estar das populações urbanas.

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Segundo pesquisadores do Comitê Itajaí80, “a

cobertura orestal natural das encostas, dos topos

de morros, das margens de rios e córregos existe

 para proteger o solo da erosão provocada por chu-

vas, permite a alimentação dos lençóis d’água e

a manutenção de nascentes e rios, e evita que a

água da chuva provoque inundações rápidas (en-

 xurradas). A construção de habitações e estradas

sem respeitar a distância de segurança dos cursos

d’água acaba se voltando contra essas construções

como um bumerangue, levando consigo outras in-

fraestruturas, como foi o caso do gasoduto. Esse é

um dos componentes da tragédia”.

Ainda sobre a catástrofe, estudos do Centro deInformações de Recursos Ambientais e Hidromete-

80 Criação do código ambiental catarinense: uma reexão sobre asenchentes e deslizamentos – publicado em 29.11.2008 – Disponí-vel em: http://www.comiteitajai.org.br/hp/index.php?secao=43&id_ not=75

As enchentes atingem os moradores que ocupam APPs e várzeas próximas aos rios.

    E   d   e   g   o   l   d   S   c   h   a   f   f   e   r

Quando a vegetação nas APPs está preservada, mesmo em caso de enchentes,a população não corre riscos.

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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CAPÍTULO 8 – LEGISLAÇÃO

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    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

Ocupar ou construir em encostas com alta declividade (APP) e margens de rios (APP)aumenta os riscos e deixa os moradores vulneráveis aos desbarrancamentos e enchentes.

orologia de Santa Catarina (Epagri-Ciram) órgão do Governodo Estado, apontaram que 84,38% das áreas atingidas pordeslizamentos no mês de novembro de 2008 na regiãodo Morro do Baú, que compreende os municípios de Ilhota,Gaspar e Luís Alves, alguns dos municípios mais atingidos ecom maior número de perda de vidas humanas, haviam sidodesmatadas ou alteradas pelo ser humano. Por outro lado,apenas 15,62% dos desbarrancamentos ou deslizamen-tos ocorreram em áreas com cobertura orestal densa

ou pouco alterada. A maioria das casas e demais infraestru-turas afetadas por desbarrancamentos e deslizamentos emSanta Catarina estava edicada em APPs, inclusive aquelasem que ocorreram perdas de vidas humanas.

O Brasil já tem uma norma geral nacional para orientar oordenamento urbano, o Estatuto das Cidades (Lei no 10.257,de 2001), que incorpora e destaca a variável ambiental comorequisito para se alcançar o ideal de cidades sustentáveis.A denição pormenorizada das normas que regulam o par-celamento do solo, indicando tamanhos mínimos de lotes,

padrões e tamanhos de edicações, padrões e localizaçãode zonas industriais, entre outros, é feita através dos PlanosDiretores, legislação municipal que deve ser elaborada coma efetiva participação popular. No entanto, todas essas re-gras e padrões não são sucientes para garantir qualidadede vida se as regras da legislação ambiental, em especial asdisposições do Estatuto das Cidades e do Código Florestal arespeito da manutenção das Áreas de Preservação Perma-nente e dos remanescentes de vegetação nativa não foremincorporadas nos Planos Diretores municipais e observadasna hora de construir.

Além do disposto no Código Florestal, no caso da MataAtlântica, a Lei no 11.428, de 2006, estabelece critérios rígidospara supressão de vegetação nativa para a implantação de lote-amentos ou edicações, vedando o corte de vegetação primáriae admitindo apenas excepcionalmente o corte de um percentualda vegetação em estágio avançado ou médio de regeneração,ainda assim mediante compensação através da destinação deárea equivalente à desmatada para conservação.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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COMO É UMA A CIDADE “LEGAL”

Mata ciliar nas margens de nascentes, riachos, rios, lagos e lagoas 

As áreas no entorno de nascentes e nas margens de riachos, rios e lagoas oulagos (naturais ou articiais) são Áreas de Preservação Permanente (APPs). Nes-tas margens é proibido fazer construções ou edicações (com exceção das obraspúblicas de infraestrutura, tais como estradas, pontes e rede elétrica, quando nãohá alternativa locacional).

O mais importante é manter as construções de casas ou edicações afastadas dasmargens de nascentes, riachos, rios e lagos ou lagoas, conservando a vegetaçãonativa nestes locais. Isso evita prejuízos econômicos e perdas de vidas humanasnos casos de enchentes e enxurradas, além de tornar as cidades mais agradáveis,mantendo corredores ecológicos para plantas e animais nativos e espaços de lazere recreação para as pessoas, aumentando a qualidade de vida.

Encostas com mais de 45º e toposde morro e de montanhas 

Mesmo nos perímetros urbanos, as áreas com mais de 45ºde declividade também são Áreas de Preservação Perma-nente (APPs) e devem permanecer com a vegetação na-tiva preservada, assim como as áreas de topos de morro,montes e montanhas (reconhecidas paisagens de recargade aquíferos), as quais devem ser mantidas com a vegeta-ção nativa preservada no seu terço superior.

Ocupar essas áreas aumenta o risco de deslizamentos quepodem causar prejuízos econômicos e perdas de vidas hu-manas.

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CAPÍTULO 8 – LEGISLAÇÃO

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Ciclovias e calçadasDevem ser amplas e acessíveisa todos os cidadãos.

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Avenidas e ruasDevem ser amplase bem sinalizadas,mantendo a ne-cessária prioridadepara transportespúblicos, ciclistas epedestres.

4 Áreas verdes, parques ereservasEsses espaços são fundamentaispara garantir o equilíbrio da pai-sagem urbana e para a manuten-ção da qualidade do ar. Propor-cionam também opções de lazer,recreação e locais para estudos epesquisas sobre a biodiversida-de, pois estão mais próximos dasescolas e universidades.

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Praças e jardinsSão essenciais para garantirespaços de lazer e recreaçãoe para a qualidade de vida nascidades.

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Zonas industriaisDevem ser implantadas foradas zonas residenciais das ci-dades.

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Manguezais, dunas e restingasAs dunas e manguezais, por serem APPs,não devem ser ocupadas. As restingas emqualquer localização, quando recobertaspor vegetação xadora de dunas ou esta-bilizadora de mangues e também aquelassituadas na faixa de 300 metros a partir dapreamar máxima são APPs.

Lixo

O lixo doméstico deve ser sepa-rado. Os restos orgânicos dosalimentos devem ser destinadospara reciclagem. Igualmente, osrestos de vidro, metal, plástico,papel e outros, devem ser sepa-rados e destinados para a recicla-gem. Os materiais contaminadosou perigosos (pilhas e baterias,etc.) devem ser separados dosdemais resíduos e armazenados

em local seguro até serem cole-tados e devidamente destinados.

Efuentes domésticos eindustriaisO sistema de tratamento doseuentes domésticos das cidadesdeve ser instalado em locais segu-ros, sem risco de inltração para olençol freático ou vazamento paraos cursos d´água. Os euentes in-dustriais devem ser devidamentetratados.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Os princípios fundamentais do direito ambiental brasileiroforam descritos com a Lei da Política Nacional do Meio Am-biente (Lei Federal no 6.938, de 1981), que trouxe conceitos,princípios e regras jurídicas muito avançados para a época ecriou a estrutura administrativa ambiental do País, por meiodo Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama). Crioutambém o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama),o órgão consultivo e deliberativo do Sisnama, formado porum colegiado representado por órgãos federais, estaduais emunicipais, setor empresarial e sociedade civil.

Através do Conama, representantes de vários setoresda sociedade podem participar da elaboração da políticaambiental do País, determinando a realização de estudos dealternativas de projetos públicos e privados, estabelecendonormas e padrões relativos ao controle e à manutenção da

qualidade do meio ambiente e acompanhar a implementaçãodo Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natu-reza (Snuc), entre outras funções.

Entre os princípios da Política Nacional do Meio Ambien-te, estão conceitos como: os recursos naturais devem ser uti-lizados de forma sustentável, evitando o desperdício, o mau-uso ou a sua completa depleção; e todos os ecossistemasexistentes em território nacional merecem ser protegidos epreservados, o que demanda a criação de unidades de con-servação.

Mas foi em 1988, com a promulgação da ConstituiçãoFederal, que o Brasil consolidou seus princípios e determinouque: Todos têm o direito fundamental a um meio ambienteecologicamente equilibrado, cabendo ao Estado e à so-ciedade, em regime de cooperação, preservá-lo para aspresentes e futuras gerações, o que será efetuado, dentreoutros meios, pela criação de áreas protegidas, pela elabora-ção de Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA) para obras

e projetos de signicante impacto, pela proteção da fauna eda ora e pela promoção da educação ambiental.

A Constituição determinou, ainda, que a Mata Atlântica,a Floresta Amazônica, a Serra do Mar, o Pantanal Matogros-sense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua uti-lização deverá ser feita dentro de condições que asseguremproteção especial ao meio ambiente. Para que os princípios ediretrizes constitucionais fossem implementados, eles foramregulamentados através de diversas leis e decretos, nos ní-veis federal, estadual e municipal.

Na área ambiental, uma das principais leis foi a do Sis-tema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza,conhecida como Snuc (Lei Federal no 9.985, de 2000). Atéentão, o País não tinha uma lei especíca que regulamentas-se a criação e a gestão das unidades de conservação (UCs),

o que trazia muita confusão e impossibilitava uma gestão in-tegrada das áreas protegidas que efetivamente conservassea biodiversidade brasileira. De acordo com essa lei, existemdois tipos de UCs: as de proteção integral, que não permitemuso direto dos recursos naturais, e as de uso sustentável, quepermitem o uso direto, mas com regras mais restritas. O Snucestipulou, ainda, que toda UC deve dispor de um plano demanejo, que é um documento técnico que serve de guia paraa gestão da área.

O plano de manejo deve ser elaborado com fundamentonos objetivos gerais da unidade de conservação, estabele-cendo o seu zoneamento e as normas que devem presidiro uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive aimplantação das estruturas físicas necessárias à gestão ouvisitação da unidade. Como uma forma de democratizar agestão, a lei prevê a existência obrigatória de conselhos deli-berativos ou consultivos conforme a categoria, compostos porrepresentantes de órgãos públicos e da sociedade.

Os princípios fundamentais do direito ambiental brasileiro

CONHEÇA ALGUMAS DEFINIÇÕES DO SNUC (LEI FEDERAL NO 9.985/2000)

Unidade de conservação: espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais rele-

vantes legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites denidos, sob regime especial de administração, ao qualse aplicam garantias adequadas de proteção.

Proteção integral: manutenção dos ecossistemas livres de alterações causadas por interferência humana, admitido apenas o uso indiretodos seus atributos naturais.

Uso sustentável: exploração do ambiente de maneira a garantir a perenidade dos recursos ambientais renováveis e dos processos ecológi-cos, mantendo a biodiversidade e os demais atributos ecológicos, de forma socialmente justa e economicamente viável.

Conservação in situ : conservação de ecossistemas e habitats naturais e a manutenção e recuperação de populações viáveis de espéciesem seus meios naturais e, no caso de espécies domesticadas ou cultivadas, nos meios onde tenham desenvolvido suas propriedades caracte-rísticas.

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CAPÍTULO 8 – LEGISLAÇÃO

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Lei da Mata Atlântica

A primeira norma legal especicamente para a MataAtlântica foi o Decreto Federal no 99.547, de 1990, que proi-biu toda e qualquer supressão de vegetação nativa. Por setratar de uma norma altamente restritiva, inclusive para obrase atividades de utilidade pública, este decreto foi fortemente

Manifestação da Rede de ONGs da Mata Atlântica em 2003, pedindo a aprovação da Lei da Mata Atlântica que tramitava há 11 anos no Congresso Nacional.

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

questionado até ser substituído pelo Decreto Federal no 750,de 1993, que deniu legalmente o seu domínio, incluindo asdiferentes formações orestais e ecossistemas associados, edeterminou a proteção dos remanescentes da vegetação na-tiva primária, bem como da vegetação nativa secundária em

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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seus diferentes estágios de regeneração. Com as mesmasdiretrizes deste decreto, foi formulado um projeto de Lei daMata Atlântica, apresentado em 1992, pelo então deputadofederal Fábio Feldmann. O projeto foi alvo de acaloradas dis-cussões, campanhas de ambientalistas pela sua aprovação etentativas de impedir que fosse aprovado da parte dos ruralis-tas durante 14 anos, até a sua aprovação, como Lei Federalno 11.428, sancionada em 22 de dezembro de 2006. Durante

este período, o Decreto no 750/1993, continuou em vigor, adespeito das várias tentativas de modicá-lo ou simplesmen-te invalidá-lo.

Baseada no Mapa de Vegetação do Brasil e no Mapa deBiomas Brasileiros – Primeira Aproximação, ambos do Insti-tuto Brasileiro de Geograa e Estatística (IBGE), a lei denecomo Mata Atlântica um conjunto de formações orestais eecossistemas associados.

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CAPÍTULO 8 – LEGISLAÇÃO

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As manifestações das ONGs servem para alertar os governos e a sociedade em geral a respeito dos problemas ambientais.

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

O objetivo da Lei é preservar o que resta de remanes-centes de vegetação nativa da Mata Atlântica no País e criarmeios para que a oresta e os ecossistemas associados vol-tem a crescer onde hoje estão praticamente extintos. Assim,regula a conservação, proteção, regeneração e utilização nãoapenas dos remanescentes de vegetação nativa no estágioprimário, mas também nos estágios secundário inicial, médioe avançado de regeneração.

A lei não proíbe denitivamente o corte de vegetação ou ocu-pação de áreas, mas cria critérios rígidos para tanto. O princípiopor ela adotado é de que as áreas mais conservadas devem sermais protegidas, as áreas degradadas devem ser enriquecidase as áreas abertas devem ter seu uso intensicado, para evitar oavanço sobre os remanescentes de vegetação nativa.

O Decreto no 6.660, de 21 de novembro de 2008, regula-mentou a Lei no 11.428, de 2006, e é mais um passo na con-

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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    J   e   f   f   e   r   s   o   n   R  u   d  y   /   A   r   q  u   i  v   o   M   M   A

solidação da legislação protetora da Mata Atlântica,estabelecendo “o que”, “como” e “onde” pode haverintervenção ou uso sustentável nos remanescentes

de vegetação nativa.Qualquer um que queira desmatar ou suprimir al-

guma área de vegetação nativa da Mata Atlântica devepedir autorização para o órgão ambiental competente,que só autorizará em casos excepcionais vericado ointeresse social ou utilidade pública e desde que nãoexista outro local para a obra ou empreendimento. Paracontrabalancear as restrições estabelecidas, a lei dizque o poder público deverá criar incentivos econômicospara aqueles que desejam proteger ou usar sustenta-velmente os remanescentes de vegetação nativa daMata Atlântica.

Cerimônia de sanção da Lei nº 11.428 - Lei da Mata Atlântica, em 22.12.2006. Da esquerda para o direita:Roberto Klabin (Presidente da SOS Mata Atlântica), Marina Silva (Ministra do Meio Ambiente), Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, Fabio Feldmann

(Autor do Projeto de Lei), Sarney Filho (Deputado Federal) e Miriam Prochnow (Coordenadora da Rede de ONGs da Mata Atlântica).

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CAPÍTULO 8 – LEGISLAÇÃO

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Abertura da Semana da Mata Atlântica de2007, Porto Alegre – RS.

O Decreto também detalha os tipos de vegetaçãoprotegidos pela Lei da Mata Atlântica, os quais estãodelimitados no “Mapa da Área de Aplicação da Lei no 

11.428 de 2006”, elaborado pelo Instituto Brasileiro deGeograa e Estatística (IBGE). Este mapa contemplaas congurações originais das formações orestais eecossistemas associados, bem como os encraves o-restais e brejos interioranos que integram a Mata Atlân-tica.

Assinatura do Decreto nº 6.660, pelo Presidente Lula, em cerimônia realizada em São Paulo no dia 21.11.2008, com a presençados Ministros do Meio Ambiente (Carlos Minc), da Agricultura (Reinhold Stefanes) e dos Ambientalistas Renato Cunha e Mario Mantovani.

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

    A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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ESTÁGIOS DE REGENERAÇÃO DAS FLORESTAS*

Qualquer projeto de recuperação da vegetação nativa, seja ela vegetação orestal ou não, deve levar em conta que a re -generação de um ambiente natural leva tempo e passa por vários estágios. A grande maioria dos remanescentes das tipologiasvegetais que compõem a Mata Atlântica ainda existente, seja nas pequenas e médias propriedades agrícolas ou nas áreas urba-nas, é composta de vegetação secundária, em diferentes estágios de desenvolvimento ou regeneração.

Para exemplicar, serão descritas as principais características da vegetação primária e da vegetação secundária de am -bientes orestais. É importante lembrar que os remanescentes da vegetação dos ecossistemas associados à Mata Atlântica, a

exemplo dos campos de altitude e restingas, também são classicados da mesma forma, ou seja, vegetação primária e vegeta-ção secundária nos estágios inicial, médio ou avançado de regeneração. No entanto, os parâmetros técnicos utilizados para aclassicação não são os mesmos aplicados às orestas.

FLORESTA PRIMÁRIA – Também conhecida como oresta clímax ou mata virgem, é a oresta intocada ou aquela em quea ação humana não provocou signicativas alterações das suas características originais de estrutura ou espécies, como é o casode extensas áreas da Serra do Mar. A Mata Atlântica primária caracteriza-se pela grande diversidade biológica, pela presença deárvores altas e grossas, pela presença proporcional entre as espécies pioneiras, secundárias e clímax, pela presença de grandenúmero de bromélias, orquídeas, cactos e outras plantas ornamentais em cima das árvores.

Floresta primária de Mata Atlântica.

 *Fontes principais: Mata Atlântica: Uma Rede pela Floresta, RMA (2006); A Mata Atlântica e Você, Apremavi (2002).

    A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

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CAPÍTULO 8 – LEGISLAÇÃO

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Floresta em estágio inicial de regeneração.

Floresta em estágio médio de regeneração.

Floresta em estágio avançado de regeneração.

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    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

FLORESTA EM ESTÁGIO INICIAL DE REGENERAÇÃO

O estágio inicial de regeneração, popularmente conhecidocomo capoeirinha surge logo após o abandono de uma área agrí-cola ou de uma pastagem. Esse estágio geralmente vai até seisanos, podendo em alguns casos durar até dez anos em função dograu de degradação do solo ou da escassez de sementes na re -gião para repovoar a área. Nas capoeirinhas geralmente existemgrandes quantidades de capins e samambaias de chão. Predo-minam também grandes quantidades de exemplares de arbustose arvoretas pioneiras** de poucas espécies. A altura média dasárvores em geral não passa dos 4 metros e o diâmetro de 8 cen-tímetros.

Principais características dos estágios sucessionais das orestas secundárias em regeneração da Mata Atlântica:

FLORESTA EM ESTÁGIO MÉDIO DE REGENERAÇÃO

O estágio médio de regeneração, popularmente conhe-cido como capoeira, geralmente inicia depois que a vegeta-ção em regeneração natural alcança os seis anos de idade,durando até os 15 anos. Nesse estágio, as árvores atingemaltura média de 12 metros e diâmetro de 15 centímetros. Nascapoeiras, a diversidade biológica aumenta, mas ainda há

predominância de espécies de árvores pioneiras. A presençade capins e samambaias de chão diminui, mas em muitos ca-sos resta grande presença de cipós e taquaras. Nas regiõescom altitude inferior a 600 metros do nível do mar, os palmi-teiros e outras espécies do sub-bosque começam a aparecer.

FLORESTA EM ESTÁGIO AVANÇADO DE REGENERAÇÃO

Inicia-se geralmente depois dos 15 anos de regeneração naturalda vegetação. A diversidade biológica aumenta gradualmente à medi-da que o tempo passa e que existam remanescentes primários parafornecer sementes. A altura média das árvores é superior a 12 metrose o diâmetro médio é superior a 14 centímetros. Nesse estágio, os ca-pins e samambaias de chão não são mais característicos. Começama emergir espécies de árvores nobres, como canelas, cedros, sapu-caias e imbuias. Nas regiões abaixo de 600 metros do nível do mar, ospalmiteiros aparecem com frequência. Os cipós e taquaras passam acrescer em equilíbrio com as árvores.

** Algumas espécies pioneiras da Mata Atlântica: Aegiphila sellowiana  (tamanqueiro); Alchornea glandulosa  (tapiá); Alchornea triplinervea (tanheiro); Aloysia virgata  (li-xeira); Ateleia glazioviana  (timbó); Cecropia glaziovi  (embaúba); Cecropia pachystachya (embaúba); Clethra scabra  (carne-de-vaca); Clusia criuva  (mangue-de-formiga);Cupania vernalis (camboatá-vermelho); Eremanthus erythropappus (candeia); Eriotheca candolleana  (embiruçu); Gochnatia polymorpha  (candeia/cambará); Hyeronima al- chorneoides  (licurana); Matayba elaeagnoides  (camboatá-branco); Miconia cinnamomifolia (jacatirão-açu); Mimosa scabrella (bracatinga); Mimosa bimucronata  (maricá);Pera glabrata  (tamanqueira); Piptadenia gonoacantha  (pau-jacaré); Piptocarpha angustifolia (vassourão-branco); Rapanea ferruginea (capororoca); Sapium glandulatum  (leiteiro); Tabebuia cassinoides (caxeta); Trema micrantha (grandiuva); Vernonia discolor (vassourão-preto); Vismia brasiliensis (pau-de-lacre).

FLORESTAS SECUNDÁRIAS – São aquelas resultantes de um processo natural de regeneração da vegetação, em áreas ondeno passado houve corte raso da oresta primária. Nesses casos, quase sempre as terras foram temporariamente usadas para agriculturaou pastagem e a oresta ressurge espontaneamente após o abandono dessas atividades. Pode ainda ser fruto de um reorestamento,como a Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, replantada por ordem de D. Pedro II, para salvar os mananciais de água da cidade.

Também podem ser consideradas secundárias as orestas muito descaracterizadas por exploração madeireira irracional ou por causasnaturais, mesmo que nunca tenha havido corte raso e que ainda ocorram algumas árvores remanescentes da vegetação primária.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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O que é proibido na Mata Atlântica?

É proibida a supressão de vegetação primária ou nos es-tágios avançado e médio de regeneração quando: Abrigar espécies da ora e da fauna silvestres ameaçadas

de extinção e a intervenção puser em risco a sobrevivênciadessas espécies.

 

Exercer a função de proteção de mananciais ou de preven-ção e controle de erosão.  Formar corredores entre remanescentes de vegetação pri-

mária ou secundária em estágio avançado de regeneração.  Proteger o entorno das unidades de conservação.  Possuir excepcional valor paisagístico. Além das situações acima, também é proibida a supressão

de vegetação em todos os casos em que o proprietário ou

posseiro não cumprir a legislação ambiental, em especialas exigências do Código Florestal em relação às Áreas dePreservação Permanente e à Reserva Legal.

As orestas e demais formas de vegetação primária receberam um grau deproteção maior com a Lei da Mata Atlântica.A Lei da Mata Atlântica vedou o corte de espécies ameaçadas de extinçãoexistentes em formações naturais, para ns privados.

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O QUE DIZ A LEGISLAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA?

A Lei no 11.428, de 2006, regulamentada pelo Decreto no 6.660,de 2008, dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa,tanto das formações orestais, como dos ecossistemas associadosque integram a Mata Atlântica. Ou seja, não estabelece restriçõesadicionais para as áreas anteriormente ocupadas legalmente e que já estão desprovidas de vegetação nativa.

A Lei não revoga o Código Florestal, assim continuam valendotodos os dispositivos que dizem respeito à Reserva Legal e Áreasde Preservação Permanente. A utilização ou supressão da vegeta-ção nativa se fará de forma diferenciada, quando se tratar de vege-tação primária ou secundária, levando-se em conta os estágios deregeneração: inicial, médio ou avançado.

Vegetação primária  – O corte e a supressão somente serãoautorizados em caráter excepcional, quando necessários à realiza-ção de obras, projetos ou atividades de utilidade pública (desde quedestinada área equivalente à desmatada para conservação), e parapesquisas cientícas e práticas preservacionistas.

Vegetação secundária em estágio avançado de rege-neração  – O corte, a supressão e a exploração somente serão au-torizados em caráter excepcional, quando necessários à realizaçãode obras, projetos ou atividades de utilidade pública, mineração,loteamentos e edicações (desde que destinada área equivalenteà desmatada para conservação), e para pesquisas cientícas e prá-

ticas preservacionistas.

Vegetação secundária em estágio médio de regeneração  – Vale o mesmo que para o estágio avançado, mas também é autori-zado corte quando necessário ao pequeno produtor rural e populaçõestradicionais para o exercício de atividades ou usos agrícolas, pecuáriosou silviculturais imprescindíveis à sua subsistência e de sua família, res-salvadas as Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal.

Vegetação em estágio inicial de regeneração  – O cor-te, a supressão e a exploração poderão ser autorizados pelo órgãoestadual competente, nos estados em que houver mais de 5% decobertura vegetal nativa da Mata Atlântica remanescente.

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CAPÍTULO 8 – LEGISLAÇÃO

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O que pode ser feito com a Mata Atlântica?

Mais do que determinar restrições, o Decreto no 6.660,de 2008, descreve o que pode ser feito nos remanescentesde vegetação nativa de Mata Atlântica.

Entre as principais regras de uso sustentávelda Mata Atlântica estão: 

  É livre a exploração eventual, sem propósito comercial di-reto ou indireto, de espécies da ora nativa provenientesde formações naturais, para consumo nas propriedadesrurais, posses das populações tradicionais ou de peque-nos produtores rurais, respeitadas a vegetação primária,as espécies ameaçadas de extinção e os seguintes limites:15m3 de lenha por ano por propriedade ou posse; 20m3 demadeira a cada três anos por propriedade ou posse.

O plantio de espécies nativas para enriquecimento ecológico devegetação secundária é permitido.

O corte de até 15m3 de lenha por ano para uso nos imóveis rurais, feito de forma seletiva e sustentável, é livre e não precisa de autorização dos órgãos ambientais.

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  É estimulado o enriquecimento eco-lógico com espécies nativas visandoà recuperação da biodiversidadenos remanescentes de vegetaçãosecundária.

  O plantio e reorestamento com es-pécies nativas pode ser feito semnecessidade de autorização dos ór-gãos ambientais.

É permitido o corte e exploração deespécies nativas comprovadamenteplantadas, desde que estejam ca-dastradas e com autorização do ór-gão ambiental.

  O procedimento para autorizaçãodo corte ou supressão de vegetaçãoem estágio inicial de regeneração, epara o pousio em áreas de até doishectares por ano, foi simplicadopara pequenos produtores rurais epopulações tradicionais.

O manejo de espécies orestais pioneiras como a bracatinga (Mimosa scabrella ) épermitido, com autorização, em orestas em estágio médio de regeneração.

O reorestamento com espécies nativas é livre e não precisa de autorização dos órgãos ambientais.

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CAPÍTULO 8 – LEGISLAÇÃO

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  Foram estabelecidos critérios para a livre coleta defolhas, frutos e sementes, tais como períodos de co-leta e época de maturação dos frutos e sementes.

  A prática do extrativismo sustentável é permitida,por intermédio da condução de espécies nativasprodutoras de folhas, frutos ou sementes, visandoà produção e comercialização.

  Um conjunto de atividades de uso indireto não ne-cessitam de autorização dos órgãos ambientais,

tais como: abertura de pequenas vias e corredo-res de acesso; implantação de trilhas para desen-volvimento de ecoturismo; implantação de aceirospara prevenção e combate a incêndios orestais;construção e manutenção de cercas ou picadas dedivisa de propriedades; e pastoreio extensivo tra-dicional em remanescentes de campos de altitude,nos estágios secundários de regeneração, desdeque não promova supressão da vegetação nativaou introdução de espécies vegetais exóticas.

O ecoturismo na Mata Atlântica é permitido e estimulado, pois ajuda na conscientização pela preservação dos ecossistemas naturais.

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Foram estabelecidos critérios para a livre coleta de folhas, frutose sementes na Mata Atlântica.

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Canela-preta (Ocotea catharinensis ).

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CAPITULO 7 – LEGISLAÇÃO

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ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE E RESERVA LEGAL

Wigold B. Schaffer82

João de Deus Medeiros83

O Brasil, país detentor de uma biodiversidade extraor-dinária e dimensões continentais, tem uma enorme respon-sabilidade com a gestão adequada e sustentável dos seusrecursos naturais. Nesse sentido, antes mesmo do adventoda Constituição de 1988, normas legais estabelecendo res-trições administrativas ao direito de propriedade foram imple-mentadas para resguardar o interesse maior da coletividade,ou seja, o direito difuso da população de conviver num am-biente ecologicamente equilibrado. O Código Florestal, quecriou as guras da Área de Preservação Permanente (APP) ea Reserva Legal (RL), é uma dessas normas, cuja importân-

81 Este texto teve como fonte principal de referência o Parecer n o 005/SBF/ MMA/2009, das Secretarias de Biodiversidade e Florestas – SBF, MudançasClimáticas e Qualidade Ambiental – SMCQ e de Recursos Hídricos e Ambiente

Urbano – SRHU, do Ministério do Meio Ambiente, que trata do Código Estadualdo Meio Ambiente Santa Catarina (Lei nº 14.675, de 13 de abril de 2009).

82 Wigold B. Schaffer, 50 anos, é formado em Administração de Empresas,foi pequeno produtor rural em Santa Catarina e sócio fundador da Associaçãode Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi) em 1987. Atualmente

é funcionário do Ministério do Meio Ambiente onde coordena o Núcleo MataAtlântica e Pampa na Secretaria de Biodiversidade e Florestas.

83 João de Deus Medeiros, 48 anos, é Biólogo, Mestre em Ciências e Doutorem Botânica pela Universidade de São Paulo, Professor Associado do Depar-tamento de Botânica da Universidade Federal de Santa Catarina, onde exerceua função de Diretor do Centro de Ciências Biológicas. Atualmente exerce a fun-ção de Diretor do Departamento de Florestas do Ministério do Meio Ambiente.

cia e observância mostram-se não apenas necessárias, masessencialmente estratégicas para a garantia de um desen-volvimento equilibrado e sustentável para a nação brasileira.

Área de Preservação Permanente (APP) é aquela áreaprotegida nos termos dos artigos 2º e 3º do Código Florestal -Lei Federal no 4.771/1965. O conceito legal de APP relacionatais áreas, independente da cobertura vegetal, com a funçãoambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem,a estabilidade geológica, a biodiversidade, o uxo gêni-co de fauna e ora, de proteger o solo e assegurar o bem

estar das populações humanas. Como se vê, as APPs não

têm apenas a função de preservar a vegetação ou a biodiver-sidade, mas uma função ambiental muito mais abrangente,voltada, em última instância, a proteger espaços de relevanteimportância para a conservação da qualidade ambiental, e as -sim também garantir o bem estar das populações humanas.

Apenas pelo efeito desta lei, são consideradas de pre-servação permanente áreas situadas em determinadas con-dições e extensões, cobertas ou não por orestas e demaisformas de vegetação natural, objetivamente tipicadas nopróprio Código Florestal (artigo 2º), que estabelece um re -ferencial mínimo para aplicação geral, em todo o territórionacional, de forma a se garantir a ecácia minimamente razo-ável para as funções ambientais elencadas na norma, assim

como a necessária segurança jurídica.

A importância das normas ambientais gerais de caráter nacional81

Uma das funções ambientais das APPs é preservar os recursos hídricos.

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Manter o equilíbrio da paisagem também é função ambiental das APPs.

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O Código Florestal prevê faixas e parâmetros diferencia-dos para as distintas tipologias de APPs, de acordo com acaracterística de cada área a ser protegida. No caso das fai-xas mínimas a serem mantidas e preservadas nas margensdos cursos d’água (rio, nascente, vereda, lago ou lagoa), anorma considera não apenas a conservação da vegetação,mas também a característica e a largura do curso d’água,independente da região de localização. Dessa forma, as fai-xas estabelecidas no artigo 2º da Lei Federal no 4.771/1965

alcançam de forma diferenciada a realidade de cada cursod’água (no caso dos rios), a depender da sua largura, porémsempre resguardando uma faixa mínima necessária para ga-rantir a função ambiental e os atributos da APP, e dá tambémtratamento diferenciado entre cursos d’água corrente e lago-as, lagos ou reservatórios e para as nascentes.

Para as nascentes (perenes ou intermitentes), a normaestabelece um raio mínimo de 50 metros no seu entorno inde-pendentemente da localização, seja no estado do Amazonas

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CAPITULO 7 – LEGISLAÇÃO

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Manter a estabilidade geológica de áreas frágeis e de risco está entre as funções ambientais das APPs.

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ou em Santa Catarina, seja na pequena ou na grande pro-priedade, em área rural ou urbana. Tal faixa é o mínimo ne -cessário para garantir a proteção e integridade do local ondenasce à água e para manter a sua quantidade e qualidade. Asnascentes, ainda que intermitentes, são absolutamente es-senciais para a garantia do sistema hídrico e a manutenção

de sua integridade mostra estreita relação com a proteçãoconferida pela cobertura vegetal nativa adjacente. Da mesmaforma, há faixas diferenciadas para os rios de acordo com asua largura, iniciando com uma faixa mínima de 30 metros emcada lado da margem para rios com até 10 metros de largura;uma faixa mínima de 50 metros em cada lado da margempara rios entre 10 e 50 metros de largura; uma faixa mínimade 100 metros em cada lado da margem para rios entre 50 e

200 metros de largura; uma faixa mínima de 200 metros emcada lado da margem para rios entre 200 e 600 metros delargura; e uma faixa mínima de 500 metros em cada lado damargem para rios com mais de 600 metros de largura.

A Reserva Legal (RL), por sua vez, não tem apenas afunção de prover o uso sustentável dos recursos naturaisna propriedade ou posse rural. Tem também a função deconservar e reabilitar os processos ecológicos, conservar abiodiversidade e servir de abrigo e proteção da fauna e oranativas. Dessa forma, a norma geral de caráter nacional con-cilia o necessário uso sustentável de recursos naturais paraa propriedade ou posse rural, com as funções ambientais e oprovimento de serviços ambientais de retenção de água, con-servação do solo, manutenção de grupos de polinizadores e

Preservar a biodiversidade e garantir o uxo gênico da fauna e ora é outra função ambiental da APPs.

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CAPITULO 7 – LEGISLAÇÃO

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xação de biomassa, entre outros, os quais são importantese necessários ao cumprimento da função socioambiental dos

imóveis ou propriedades rurais.É necessário destacar que a norma geral de caráter nacio-nal estabelece percentuais diferenciados de Reserva Legal emfunção da localização, do tipo de vegetação e das característi-cas ambientais das diferentes regiões do país. Tais percentuaisconstam do artigo 16 da Lei Federal no 4.771/1965, sendo 80%na propriedade ou posse rural situada em área de oresta lo-calizada na Amazônia Legal; 35% na propriedade ou posse ru-ral situada em área de Cerrado localizada na Amazônia Legal;20% na propriedade ou posse rural situada em área de orestaou outras formas de vegetação nativa nas demais regiões dopaís; e, 20% na propriedade ou posse rural em área de cam -pos gerais localizada em qualquer região do país.

De acordo com o jurista e atual Ministro do SuperiorTribunal de Justiça, Antonio Hermann Benjamim84, a Áreade Preservação Permanente (APP)  “como sua própria de- 

nominação demonstra - é área de “preservação” e não de

“conservação” -, não permite exploração econômica direta

(madeireira, agricultura ou pecuária), mesmo que com mane- 

 jo”. Mesmo assim, alguns usos e intervenções em APPs sãoadmitidos pela norma geral de caráter nacional, em casos de

84 “Desapropriação, reserva orestal legal e áreas de preservação permanente”- Antônio Herman V. Benjamin. Disponível em: http://daleth.cjf.jus.br/revista/ 

numero3/artigo04.htm

utilidade pública, interesse social ou baixo impacto ambien-tal. Já a Reserva Legal admite o uso econômico sustentável,

através do regime de manejo sustentável, sem permitir a su-pressão total da vegetação.Para a Reserva Legal, estão previstas no Código Flores-

tal diferentes alternativas para recuperação ou compensaçãonos casos daqueles imóveis que não possuem mais cobertu-ra vegetal nos percentuais determinados. Prevê também ashipóteses em que a RL pode ser total ou parcialmente sobre-posta à APP e, no caso da Amazônia, a hipótese de reduçãoda RL de 80% para 50% pelo Zoneamento Ecológico Econô-mico. Ou seja, trata-se de dois instrumentos complementares(APP e RL) de fundamental importância, sendo, portanto, deinteresse público e estratégico para as políticas nacionais deproteção dos recursos hídricos, da biodiversidade, da mitiga-

ção dos efeitos das mudanças climáticas e para a garantia dobem estar das populações humanas.

Estas considerações são necessárias para qualicar adiscussão a respeito de teses que consideram que os parâ-metros de APPs e RL deveriam ser estaduais ou até denidosno caso a caso. Há inclusive quem defenda que a deniçãodas faixas e parâmetros de Áreas de Preservação Perma-nente (APPs) deva ser feita caso a caso, levando em contaaspectos de textura e permeabilidade do solo, declividade dorelevo, tipo de vegetação, etc.

Ressalta-se que determinar caso a caso (em cada imó-vel) os parâmetros e faixas para as APPs, é inviável do pon-

A Reserva Legal tem a função de garantir o uso sustentável dos recursos naturais, conservar e reabilitar os processos ecológicos e preservar a biodiversidade.

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A preservação da vegetação nativa em topos de morro e montanhas é essencial para a recarga de aquíferos.

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to de vista prático, pois exigiria um número absurdo de pro -ssionais envolvidos (especialistas em geologia, em solos,em biodiversidade, em genética, em botânica, em hidrologia

etc.), para analisar todas as funções ambientais e atributospresentes nesses espaços territoriais especialmente protegi-dos, conforme determina o Código Florestal e o artigo 225 daConstituição Federal. Mesmo na escala de microbacia, issoainda seria inviável, além de extremamente oneroso, contra-producente e conituoso. Imagine o impasse criado com adeterminação “cientíca” de que a APP de uma determina -da propriedade será o triplo daquela estipulada para o vizi -nho que tem terreno na margem oposta do mesmo rio. Issoinevitavelmente ocorreria, bastando lembrar que em muitostrechos de determinados rios temos terrenos com solos einclinações muito distintas em cada uma de suas margens.Mesmo a desejável complementação da norma pelos estados

ou municípios, estipulando restrições adicionais onde a rea-lidade local indicar, deve primar pela remessa a uma normade caráter geral, estadual ou municipal, resguardando assimsua ecácia.

Da mesma forma, é inviável remeter a denição de pa-râmetros especícos de cada tipologia de APP no nível deimóvel ao zoneamento ecológico-econômico, visto tratar-sede instrumento que deve apontar diretrizes gerais de ação enão as limitações administrativas às quais cada imóvel ruralou urbano está sujeito.

Determinar as metragens (parâmetros) caso a caso dasAPPs implicaria, como já frisado anteriormente, em custos

elevados, insuportáveis para a maioria dos proprietários ou

posseiros com APPs em seus imóveis, sejam rurais ou ur-banos, pois seriam necessários estudos cientícos aprofun-dados para determinar a faixa de proteção ideal para cada

uma das diferentes funções das diferentes tipologias deAPPs (nascentes, margens de rios e lagos, encostas, toposde morro etc.) e, ao nal, a conclusão desses estudos levaria,igualmente, ao estabelecimento de parâmetros métricos ounuméricos médios, sob pena de absoluta insegurança jurídi-ca. A título de ilustração, é importante lembrar que a largurada faixa de vegetação necessária (parâmetro) para controlara erosão em determinado caso não será igual à largura dafaixa necessária para garantir o uxo gênico de fauna e oraou a estabilidade geológica ou, muito menos, a minimizaçãoou eliminação dos riscos de enchentes ou deslizamentos.

Não se está aqui defendendo que estudos cientícos nãodevam ou não possam ser realizados. Aliás, já existem far-

tos estudos de caso sobre o tema, feitos por diferentes pes-quisadores e instituições, sendo que a absoluta maioria vemcorroborando que os parâmetros seriam iguais ou superioresaos atualmente previstos na norma geral de caráter nacional,e não inferiores.

A título de exemplo, em simulação realizada por Oliveirae Daniel (1999)85 na microbacia Conde do Pinhal, São Carlos(SP), ca evidenciada a inviabilidade prática de se denir pa-

85 Oliveira, L.M. e Daniel, L.A. 1999. Metodologia para cálculo de largura defaixa demata ciliar para controle de poluição dispersa: estudo de casos com

amônia e fósforo. In: 20o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Am-

biental, p 2183 – 2190.

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CAPITULO 7 – LEGISLAÇÃO

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râmetros caso a caso. A avaliação considerou apenas umadas funções da APP, a remoção de nutrientes. Mesmo assim,ainda que se considerasse a peculiaridade da microbacia enão de cada propriedade, os dados obtidos, relativos a umaúnica função, em virtude da distinta natureza dos compostosavaliados, remetem a intervalos impraticáveis. Vejamos: pararemover 90% de amônia foram necessárias larguras de mataciliar da ordem de 10 a 50 metros. Para manter o mesmonível de remoção de 90% para o fósforo, foram necessáriaslarguras de mata ciliar da ordem de 50 a 280 metros, nascondições da microbacia analisada. Não podemos esquecerque, ainda no caso único da função “remoção de nutrientes”,

vários outros compostos teriam que ser avaliados. Existemigualmente estudos que tratam da largura ideal das faixas ci-liares para garantir o uxo gênico de fauna e ora, garantira estabilidade geológica das margens, o equilíbrio da paisa-gem, a minimização ou eliminação dos riscos de enchentes edeslizamentos de terra ou rochas.

Ou seja, diferentes estudos seriam necessários em cadacaso e, ao nal, não restaria alternativa se não a de arbitrar umparâmetro médio que atendesse e garantisse de forma razo-ável às diferentes funções ambientais e os atributos da APP.

Na verdade, não é possível simplicar o conceito para re-duzir esses espaços territoriais sem comprometer a integridade

Os animais se alimentam das plantas e ajudam na polinização, oferecendo serviços ambientais necessários para a sustentabilidade das propriedades.

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dos atributos que justicam sua proteção, pois isso conita dire-tamente com o disposto no artigo 225 da Constituição Federal:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologi- 

camente equilibrado, bem de uso comum do povo e

essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao

Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo

e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, in- 

cumbe ao Poder Público: 

I - preservar e restaurar os processos ecológicos es- 

senciais e prover o manejo ecológico das espécies e

ecossistemas;

II - preservar a diversidade e a integridade do patrimô- 

nio genético do País e scalizar as entidades dedica - das à pesquisa e manipulação de material genético;

III - denir, em todas as unidades da Federação, es - paços territoriais e seus componentes a serem espe- 

cialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão

permitidas somente através de lei, vedada qualquer

utilização que comprometa a integridade dos atributosque justiquem sua proteção;IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra

ou atividade potencialmente causadora de signifi- 

cativa degradação do meio ambiente, estudo prévio

de impacto ambiental, a que se dará publicidade;

VI - promover a educação ambiental em todos os ní- veis de ensino e a conscientização pública para a pre - servação do meio ambiente; 

VII - proteger a fauna e a ora, vedadas, na forma dalei, as práticas que coloquem em risco sua função eco- 

lógica, provoquem a extinção de espécies ou subme- 

tam os animais a crueldade.

(...)

§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas

ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas fí- 

sicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,

independentemente da obrigação de reparar os danos

causados.

As APPs e RL são essenciais para o equilíbrio ecológico e o bem estar das populações humanas.

    A   n   d   r   é

   P   e   s   s   o   a

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CAPITULO 7 – LEGISLAÇÃO

321

Outro aspecto fundamental diz respeito à universalidadee a segurança jurídica de qualquer norma legal. Criar parâ -metros caso a caso geraria uma insegurança jurídica tremen-da, pois pessoas de determinada microbacia poderiam, emcondições iguais, ter parâmetros diversos em razão de estu-dos feitos por metodologias e prossionais diferentes. Além

disso, estaria aberta a porta para uma verdadeira indústriade consultorias para determinar parâmetros de APPs, com aforte possibilidade de favorecimentos ou exibilizações. Nes-se caso, por exemplo, alguém com mais recursos nancei-ros, poderia contratar um estudo mais apurado, portanto maiscaro, e com isso ter parâmetros menores do que seu vizinho,

por exemplo. Seria também a porta aberta ao caos jurídico,visto que a função ambiental das APPs abarca inúmeros pa -râmetros, para os quais abordagens técnico-cientícas dis-tintas também podem ser aplicadas. Aproveitando o exemploanterior, citamos o caso da remoção da amônia: se um pros-sional admitir que um índice de remoção de 80% é suciente,

certamente obterá, corretamente, indicação de faixas maisestreitas do que a avaliação, exatamente do mesmo parâ-metro, feita por outro prossional que julgou mais adequadotrabalhar com um índice de remoção de 90%. Quem arbitraráo correto? O Poder Judiciário? Nesse caso, uma ampla re-estruturação deste Poder tornar-se-á necessária, visto que a

Muitos agricultores familiares conservam a vegetação nativa das APPs e RL, garantindo a sustentabilidade ambiental e econômica dos seus imóveis.

    W   i   g   o   l   d   B .

   S   c   h   a   f   f   e   r

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

322

probabilidade de surgirem demandas desse tipo num país de8,5 milhões de km2  será imensa. O casuísmo preconizadoabre generoso anco para o caos jurídico.

Qualquer norma, para ser universal e eciente, tem queser clara, facilmente compreendida e aplicável por qualquercidadão, seja ele operador da norma ou administrado. Nessesentido, os parâmetros métricos mínimos nacionais são perti-nentes e necessários, visto que conciliam de forma coerentee razoável o caráter técnico-cientíco com peculiaridades lo-cais e regionais. Tais parâmetros gerais nacionais são igual -mente necessários e pertinentes para garantir a proteção dosatributos86 das APPs, estabelecidos pelo conceito constanteda norma geral. Da mesma forma, em função da indivisibilida-de dos bens ambientais protegidos e da importância estraté -gica de tais espaços especialmente protegidos (APPs) para aproteção da biodiversidade, regulação do clima, proteção dosrecursos hídricos e do bem estar das populações humanas,a existência de parâmetros métricos mínimos nacionais é ne-

cessária e imprescindível.Ademais, a boa técnica legislativa adota parâmetros nu-méricos precisos em muitas normas, não apenas para as nor-mas ambientais: por exemplo, velocidade no trânsito, maio-ridade penal, tempo de serviço para aposentadoria, entreoutros. Imagine o guarda de trânsito ter que decidir no caso acaso, antes de aplicar uma autuação, se a velocidade de umdeterminado carro na curva é adequada em função da suamarca, modelo, sistema de freios, sistema de estabilizadores,inclinação da pista, textura do asfalto etc.

No caso dos bens ambientais, seria técnica e juridica-mente absurdo admitir que a proteção de um rio seja feitacom uma extensão mínima de faixa de vegetação protetora

numa dada margem e, na outra, pelo simples fato de locali-zar-se em outro imóvel, município ou estado, seja reduzida abel prazer dos políticos ou dos técnicos de plantão. A defesade um interesse difuso, como é a garantia a um ambienteecologicamente equilibrado para as presentes e futuras ge-rações, não pode ser relativizada e muito menos fragmenta-da, com regras simplicadoras ou exibilizadoras, sob penade gerarmos legislações absolutamente contraditórias emrelação ao mesmo bem ambiental em estados vizinhos (ou,no limite, em imóveis vizinhos), gerando conitos entre pes-soas e entes federados. De que adiantaria, por exemplo, oRio Grande do Sul proteger as margens do Rio Uruguai se

grande parte das suas nascentes estão em Santa Catarinae lá se permita desmatar áreas de nascentes e margens decursos d’água? O trabalho seria inócuo, pois a água chegariaem menor quantidade e pior qualidade, afetando negativa-mente as políticas públicas de geração de energia elétrica eabastecimento público, além de outras políticas de interessenacional, inclusive no estado que se esforça em proteger osrecursos hídricos.

86 Atributo segundo o Dicionário Aurélio: 3. Estat. Característica, qualitativaou quantitativa, que identica um membro de um conjunto observado. 5. Filos.Caráter essencial de uma substância.

Pergunta-se: o valor de uma nascente d’água em SantaCatarina é menor do que o de uma nascente na Amazônia? Aágua em Santa Catarina é menos importante e menos vital doque no resto do Brasil? As nascentes e a água em pequenaspropriedades são menos importantes e menos necessáriasdo que nas médias e grandes propriedades?

Recente pesquisa Datafolha87 apontou que 94% dos brasileirosnão concordam com mudanças nas leis ambientais e refutamqualquer aumento nos desmatamentos, mesmo que seja paraampliar a produção de alimentos. Ademais, a catástrofe de no-vembro de 2008 em Santa Catarina é a prova mais contundentede que as perdas de vidas humanas e os prejuízos econômicosforam fortemente ampliados em função do descumprimento doCódigo Florestal nas cidades e na área rural.

Estudos do Centro de Informações de Recursos Ambien-tais e Hidrometeorologia de Santa Catarina (Epagri-Ciram)88,órgão do Governo do Estado, apontaram que  84,38% dasáreas atingidas por deslizamentos no mês de novembro

na região do Morro do Baú, que compreende os municípiosde Ilhota, Gaspar e Luís Alves, alguns dos municípios maisatingidos e com maior número de perda de vidas humanas, haviam sido desmatadas ou alteradas pelo ser humano. Nessas áreas, predominavam reorestamentos com euca-liptos (23,44%), lavouras de banana (18,75%), capoeirinha(17,19%) e solo exposto (10,94%). Por outro lado, apenas15,62% dos desbarrancamentos ou deslizamentos ocor-reram em áreas com cobertura orestal densa ou pouco

alterada  e, ainda segundo esses estudos, mesmo nessasáreas foram observadas algumas inuências de ações huma-nas no entorno. Ressalta-se também que a maioria das casase demais infraestruturas afetadas por desbarrancamentos e

deslizamentos estava edicada em APPs, inclusive aquelasem que ocorreram perdas de vidas humanas.

Sobre isso, é importante destacar manifestação da Pro-curadora da República em Florianópolis, Analucia Hartmann:

“Em Santa Catarina, a insensatez de construir em áre - as de preservação permanente e de arrancar as o - restas de proteção de montanhas e de cursos d’água

resultou, recentemente, em morte e sofrimento de se- 

res humanos que talvez não soubessem que estavamocupando áreas que deveriam estar protegidas. Isso

porque os órgãos públicos, que deveriam informar so- 

bre tal proteção e scalizar as atividades urbanísticase agrícolas, não agiram.

Aprovar legislação que permite construções em áreas

de grande declividade e à beira de rios ou nascentes

é bem mais do que falta de bom senso: é assumir a

87 A Visão da População Brasileira sobre Desmatamento, Código Florestal eIntenção de Voto - Pesquisa de Opinião - São Paulo, Abril 2009 Datafolha e

Amigos da Terra - Amazônia Brasileira

88 Relatório sobre o levantamento dos deslizamentos ocasionados pelas chu-vas de novembro de 2008 no complexo do Morro do Baú município de Ilhota,Gaspar e Luiz Alves. Disponível em: http://www.ciram.com.br/areas_risco/Re-latorio_Morro_Bau.pdf e http://www.ciram.com.br/areas_risco/ 

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CAPITULO 7 – LEGISLAÇÃO

323

responsabilidade pelas vidas que poderiam ter sido

salvas e que se perderam”.

Outra importante e esclarecedora manifestação vem depesquisadores do Comitê Itajaí:89 

“A cobertura orestal natural das encostas, dos toposde morros, das margens de rios e córregos existe para

proteger o solo da erosão provocada por chuvas, per- 

mite a alimentação dos lençóis d’água e a manutenção

de nascentes e rios, e evita que a água da chuva pro- 

voque inundações rápidas (enxurradas). A construção

de habitações e estradas sem respeitar a distância de

segurança dos cursos d’água acaba se voltando con- 

tra essas construções como um bumerangue, levando

consigo outras infraestruturas, como foi o caso do ga- 

soduto. Esse é um dos componentes da tragédia”. Poroutro lado, “o grande problema de ocupar encostas é

fazer cortes e morar embaixo ou acima deles. Há certasencostas que não podem ser ocupadas por moradias,

principalmente as do vale do Itajaí, onde o manto de in- 

temperismo, pouco resistente, se apresenta muito pro- 

fundo e com vários planos de possíveis rupturas (des- 

lizamento), além da grande inclinação das encostas”.

89 Criação do código ambiental catarinense: uma reexão sobre as enchentese deslizamentos – publicado em 29.11.2008  – Disponível em: http://www.comi-

teitajai.org.br/hp/index.php?secao=43&id_not=75

Apenas para lembrar, nenhum grande rio nasce grande.Todos os grandes rios dependem de milhares de nascentes

que formam pequenos cursos d’água, os quais vão se juntan-do até formarem rios do tamanho do Rio Paraná, por exem -plo, capazes de movimentar as turbinas de Itaipu, a maiorhidrelétrica do Brasil. Aliás, a Itaipu Binacional tem um amploprograma de preservação e recuperação de APPs, não ape-nas no entorno do lago (onde é sua obrigação legal manterou recuperar a faixa de preservação permanente), mas tam-bém nas bacias hidrográcas nos municípios do entorno doreservatório, tanto no Brasil como no Paraguai. Já restaurouuma faixa de largura média de 210 metros, totalizando umaárea de 60.500 hectares, numa extensão de 2.900 km, noentorno do lago, onde foram plantados 43 milhões de mudasde árvores. Sérgio Abranches, professor visitante do Instituto

Coppead de Administração, UFRJ90, relata assim o trabalhoambiental da Itaipu Binacional:

(...)

“Itaipu já não pode olhar tanto para trás, ao progra- 

mar suas ações ambientais. Tem problemas próprios

que ameaçam sua própria viabilidade. O reservatório

tem uma vida útil de aproximadamente 200 anos, a

determinados níveis de assoreamento do lago. O as- 

90 “Batalha de Itaipu” - Artigo – Site OECO em 11.02.2005. Disponível em: http:// www.oeco.com.br/sergio-abranches/35-sergio-abranches/16462-oeco_11434

As áreas com alta declividade, além de APPs, são áreas frágeis que, se não forem preservadas, oferecem risco às populações humanas.

    W

   i   g   o   l   d   B .

   S   c   h   a   f   f   e   r

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

324

soreamento, porém, tende a crescer muito, se os rios

do entorno e as atividades nas margens aumentarem

o volume de sedimentos que chegam ao lago.  Se a

água é muito poluída, esse sedimento termina nas

turbinas, aumentando signicativamente o custo demanutenção, com paradas frequentes, cada vez a in - 

tervalos menores, para limpeza. Aumenta, também, orisco de danos graves aos equipamentos.

 

A ameaça é grande. Itaipu sofre o impacto de 16 mu- 

nicípios que fazem fronteira com o reservatório. É issomesmo, a direção mudou, agora é a hidrelétrica que

sofre com os efeitos de borda. Está em uma bacia hi- 

drográca – Bacia do Paraná III – formada por trezesub-bacias alimentadas por mais de 1.500 nascentes.

No total, uma área de perto de 8 mil km 2   sob inu - ência de 29 municípios, somando 800 mil habitantes.

Fora das margens do reservatório, praticamente não

há mais mata ciliar. A maioria dos rios da região seencontra em estágio avançado de poluição. Itaipu mo- 

nitora a sua água sistematicamente, desde a forma- 

ção do reservatório, e sabe que ele vem perdendo pro- 

gressivamente sua capacidade de acumulação, com

a aceleração do processo de assoreamento. Já dá

para caracterizar a situação como grave. A empresa

estima que na cabeceira do lago, em Guaíra, o aporte

de sedimentos é da ordem de seis milhões de tone- 

ladas por ano. No Rio Ivaí entram, anualmente, dois

milhões de toneladas, no Rio Piquiri, mais um milhão

e no São Francisco Verdadeiro – vejam se pode essenome – 70 mil toneladas. Além do auxo de sedimen - 

tos, o escorrimento supercial das águas leva para osrios, e deles para o lago de Itaipu, nutrientes orgânicos

e minerais e agrotóxicos, que propiciam a proliferação

de algas e plantas prejudiciais à qualidade da água.

Já foram identicados casos de extinção de cursos deágua em rios da região .”

(...)“Itaipu tem o maior incentivo, que é econômico. Pode

começar a enfrentar danos nanceiros pesados, seesse processo de assoreamento e contaminação do

lago, não apenas reduzir sua vida útil, mas comprome - ter a própria usina ou provocar quedas acentuadas de

produtividade, com aumento de custos. Prejuízos paraItaipu, risco de apagão para o Brasil. A coisa é séria.”

Como vimos, os recursos hídricos adquirem importân-cia estratégica não apenas para o abastecimento público dapopulação das cidades e do campo e irrigação de lavourasagrícolas, mas também para a política energética, sendo, por-tanto, de interesse nacional proteger as nascentes e corposd’água. Tal fato, por si só, já justica a existência de normageral de caráter nacional denindo as faixas e parâmetros mí-nimos a serem observados na proteção ou recuperação dasAPPs. No entanto, é igualmente estratégico e de interesse

nacional e global conservar a biodiversidade e combater e

mitigar os efeitos das mudanças climáticas.A análise dos dados de Itaipu também nos auxilia na des-

construção do mito de que as populações rurais conservamo meio ambiente e a responsabilidade pela degradação é ex-clusividade das populações urbanas. Essa é uma polarizaçãoinfantil e desnecessária, que nos remonta a célebre conclu-são do lósofo Jean-Paul Sartre: “o inferno são os outros”.Em todo o mundo contemporâneo as atividades agrícolas sãoreconhecidas como a maior e principal fonte de demanda porrecursos hídricos e o uso deste recurso nessas atividadesainda está muito distante da desejada racionalidade e susten-tabilidade. Essa observação é feita tão somente no sentido derearmar que a crise ambiental é essencialmente humana e atodos, indistintamente, precisa ser remetida.

Estudos da Unesco apontam que cinco bilhões de pesso-as no mundo podem sofrer com a falta de saneamento bási-co até 2030 e que aproximadamente 80% das doenças nospaíses em desenvolvimento estão ligadas à água, causando

três milhões de mortes precoces a cada ano. A pesquisadoraalemã Claudia Ringler, do International Food Policy ResearchInstitute , aponta que a maior demanda por água vem do usointenso em agricultura, indústria e residências, que aliado àsmudanças climáticas pressiona os estoques de água do pla-neta. No mundo todo vem sendo criadas leis, tratados e políti-cas de proteção da água, que precisam ser urgentemente im-plementadas. No entanto, isso que é uma prioridade máxima,que deveria entrar imediatamente na agenda dos governos,ca geralmente relegado como algo sem importância.

Mesmo o Brasil, que tem uma das mais avançadas legis-lações ambientais e políticas públicas de proteção das águasdo mundo, incluindo o Código Florestal (que através das APPs

e RL protege e garante a qualidade da água na fonte) e a Leidos Recursos Hídricos, tem ainda uma incipiente implementa-ção destas normas. A adequada gestão da água é a garantiada prosperidade e do desenvolvimento social e econômico dopaís, enquanto a destruição dos mananciais é o caminho maiscurto para a ruína ambiental, social e econômica91.

Isso tudo não quer dizer que os poderes públicos esta-duais e municipais não possam ou não devam estabelecerparâmetros de proteção ou restrições de uso e ocupação adi-cionais àquelas previstas na norma geral de caráter nacio-nal, sempre que peculiaridades locais assim o indicarem. Astragédias observadas em Santa Catarina, que infelizmente já

são frequentes em diversas outras regiões do país, apontamque a proteção conferida pelas APPs é de extrema impor-tância e relevância. Em diversas situações, onde condiçõespeculiares locais demonstram grau de fragilidade ambientalmaior, ca comprovado o acerto do legislador federal emremeter ao Poder Público (federal, estadual e municipal) acompetência para, além das normas gerais de caráter nacio-nal, prescrever outras normas que atendam as peculiaridadeslocais. A não observância desse preceito tem gerado inúme -

91 “Novos estudos alertam que escassez de água agravará pobreza, desigual -

dade, doenças e aquecimento global” – Artigo de Carlos Albuquerque e RogérioDaon Globo Ciência - 05/06/2009

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CAPITULO 7 – LEGISLAÇÃO

325

ras perdas, por exemplo, em áreas de encostas que, mesmocom inclinação inferior aos limites da norma geral de caráternacional, por peculiaridades geológicas conguram áreas degrande fragilidade e instabilidade (como é o caso de partedas encostas atingidas pela catástrofe em Santa Catarina),onde normas mais restritivas de uso e ocupação já deveriam

há muito tempo ter sido estabelecidas e implementadas pelopoder público estadual ou municipal. No entanto, a regra porparte do poder público, infelizmente, tem sido a remediação,com custos sociais e ambientais cada vez maiores.

É também necessário lembrar que o primeiro Código Flo-restal brasileiro é de 1934, portanto, uma lei com quase 80 anosde existência, que vem sendo aperfeiçoada e atualizada comas alterações trazidas pela Lei no 4.771, de 1965, pelas Leis no 7.511, de 7 de julho de 1986, e no 7.803, de 18 de julho de 1989e nalmente pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001.

É necessário destacar que a ampliação das faixas deAPPs, trazidas pela Lei no  7.803, na década  de 1980, foiproposta pelo então deputado Artenir Werner, um madeireiro

natural de Rio do Sul, uma das cidades do Vale do Itajaí, emSanta Catarina, atingidas pelas grandes enchentes de 1983e 1984. Naquela época, levantamentos realizados na regiãomostraram que as pessoas e infraestruturas mais atingidaspelas cheias e deslizamentos de terra foram aquelas que ocu-pavam as áreas muito próximas aos rios, riachos e encostascom grande declividade. Cálculos da época apontaram queos prejuízos econômicos e perda de vidas humanas teriamsido signicativamente menores se as faixas de APPs fos-sem maiores. Tais argumentos, entre outros, sensibilizaram oCongresso Nacional (em época que não havia ainda comis-sões de meio ambiente) a ponto de a Comissão de Agricultura

ter aprovado por unanimidade a ampliação da faixa de 5 para

30 metros, da APP nos rios com largura inferior a 10 metros,assim como a ampliação de outros parâmetros.

É importante ressaltar que as atualizações do Código Flo-restal já trouxeram algumas exibilizações e aprimoramentosdo texto legal, especialmente no que se refere às APPs e RL,como a possibilidade de compensação de RL em outras pro-

priedades ou unidades de conservação e a possibilidade dese realizar atividades de utilidade pública e de baixo impactoambiental nas APPs, além da possibilidade de se sobreporas áreas de RL com APP. Alguns desses aprimoramentospodem e devem ser melhor regulamentados, principalmentepara facilitar seu entendimento e aplicação, reduzindo proce-dimentos burocráticos e custos, sem necessidade de modi-cações na lei.

Destaca-se também que o Código Florestal já prevêum tratamento diferenciado para os pequenos produtoresrurais e populações tradicionais, assim como para a regu-larização fundiária sustentável nas cidades. Outro aspectode grande relevância, principalmente para os pequenos

produtores e populações tradicionais, é a necessária re-cuperação de APPs e RL indevidamente ocupadas. A recu-peração de áreas de RL pode ainda gerar produtos e sub-produtos madeireiros, já escassos em algumas regiões,garantindo assim uma renda adicional ao produtor rural ematéria-prima para a indústria.

Por m, não se trata de defender a tese de que o CódigoFlorestal é perfeito e que não possa merecer eventuais ajus-tes. No entanto, ajustes pontuais, se realizados, não devem,modicar os conceitos fundamentais das APPs e RL ou redu-zir suas faixas e percentuais, sob pena de graves prejuízosàs políticas estratégicas nacionais, ao interesse público e ao

bem estar de todos os brasileiros.

As áreas preservadas oferecem condições para atividades de lazer.

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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http://slidepdf.com/reader/full/01-mata-atlantica 328/409Exemplar centenário de canastula (Peltophorum dubium ) no oeste de Santa Catarina.

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Que futuro queremos?

Capítulo 9

    E   d   e   g   o   l   d   S   c   h   a   f   f   e   r

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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    A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

Preservar ambientes naturais e as belezas cênicas fundamental para o desenvolvimento do ecoturismo.

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CAPÍTULO 9 – QUE FUTURO QUEREMOS?

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Que futuro queremos?

O futuro da Mata Atlântica está atrelado ao en-tendimento da importância de seus serviços am-bientais para a grande parcela de brasileiros que

dela dependem, bem como da mudança de hábitos,em especial quanto ao uso dos recursos naturais eda produção e consumo de energia.

O conceito de serviços ambientais surgiu danecessidade de demonstrar que as áreas naturaiscumprem funções essenciais nos processos demanutenção da vida, em oposição à falsa ideia deque ecossistemas intactos são “improdutivos” ou“obstáculo ao desenvolvimento econômico”. Issosignica que todo ecossistema (conjunto de orga-nismos vivos - animais, plantas e seres humanos – eo ambiente físico onde vivem) é um sistema naturalque produz uma série de benefícios dos quais o ho-mem se apropria (como a água, madeira, alimento)

ou consome (como paisagem, regulação climática,

puricação do ar).92

92 Almanaque Brasil Socioambiental 2008/Liana John.

A produção orgânica de alimentos (livres de agrotóxicos) cresce nomundo todo e ajuda a proporcionar uma alimentação mais saudável.

A conservação das áreas verdes garante a qualidade de vida nas cidades.

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

  M  i   i    P     h  

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Serviços ambientais são aqueles que a natureza pres-ta ao absorver, ltrar e promover a qualidade da água, que

bebemos e usamos; ao reciclar nutrientes e assegurar a es-trutura dos solos, onde plantamos; ao manter a estabilidadedo clima, amenizando desastres como enchentes, secas etempestades; e, ao garantir e incrementar nossa produção

agropecuária e industrial seja ao providenciar a necessária

biodiversidade e diversidade genética para melhoria das cul-turas ou para fármacos, cosméticos e novos materiais, seja

complementando processos que a tecnologia humana nãodomina nem substitui como polinização, fotossíntese e de-composição de resíduos.

O ecoturismo e o turismo de aventura estão entre as atividades econômicas que mais crescem no mundo, mas dependem dos ambientes naturais preservados.

As orestas preservadas fornecem serviços ambientais como a água de qualidade e polinizadores, essenciais para as culturas agrícolas.

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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CAPÍTULO 9 – QUE FUTURO QUEREMOS?

331

Se medidas concretas de conservação dos ecossistemas naturais não forem adotadas e implementadas pela geração atual, as futuras gerações arcarão com os custos.

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

332

Historicamente, não pagamos por esses serviços, que a na-tureza nos presta só por existir. Sua falta, porém, acarreta prejuí-zos de toda ordem, como produtos agrícolas mais caros e menossaudáveis, por conta de altos investimentos em produtos quími-cos para compensar as perdas ambientais do solo e da água. Atu-almente, a escassez de alguns recursos já tem levado à cobrança

de alguns desses serviços, como por exemplo, a cobrança pelouso da água, implantada em alguns Comitês de Bacias Hidrográ-cas, como o Paraíba do Sul, em São Paulo, Minas Gerais e Rio

de Janeiro.Pensar na preservação e recuperação da Mata Atlântica

não é, portanto, apenas uma tendência atual, mas um investi-

mento imprescindível para o futuro. É uma decisão que preci-sa ser tomada agora, enquanto os serviços ambientais aindanão estão totalmente comprometidos. Para que isso ocorra, épreciso garantir espaços para que os diversos ecossistemasque compõem a Mata Atlântica sejam preservados ou se res-tabeleçam e possam continuar a desempenhar seus processosecológicos. Esses processos ecológicos fazem parte das rela-ções das espécies entre si e com o meio que as cerca e sãoextremamente importantes, pois a alteração em qualquer elo doecossistema tem consequência nos demais.

Isso acontece porque cada espécie tem o seu nicho eco-

lógico, que corresponde ao papel que o organismo desen-

Bromlia (Dyckia distachya ) em seu ambiente natural (1990) no estreito do RioUruguai, inundado pelo lago da hidreltrica de Itá. A espcie foi extinta da

natureza em 2005, no Brasil, com a construção da hidreltrica de Barra Grande.

Jacu (Penelope sp ), importante dispersora de sementes de imbuia e canela-preta.

    R   o   s   e   m   b   e   r   g   F .   M   a   r   t   i   n   s

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

Flor de dyckia (Dyckia distachya )

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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CAPÍTULO 9 – QUE FUTURO QUEREMOS?

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volve dentro de um ecossistema,ou seja, não apenas o espaço uti-lizado pela espécie, mas tambéma sua posição na cadeia alimentare sua relação com os fatores am-bientais, que é a área ideal para a

ocorrência da espécie dentro dogradiente ambiental de tempera-tura, umidade, luminosidade etc.A perda de habitat é a principalcausa da diminuição da biodiversi-dade no mundo e a Mata Atlânticaé um exemplo extremo, onde umfragmento, mesmo muito pequenoe isolado, pode ser o único lugarpropício para uma determinadaespécie.

Um caso típico é a broméliaDyckia distachya , que no Brasil

ocorria apenas nas corredeiras dosRios Pelotas e Uruguai, entre o RioGrande do Sul e Santa Catarina,

hoje submersas pelos lagos resul-tantes da construção de três usinashidrelétricas: Itá, Machadinho eBarra Grande. Com um nicho eco-lógico tão restrito, a espécie hoje

é considerada extinta na naturezaem território nacional, embora ten-tativas de repovoamento da espé-cie estejam em andamento, até o

momento sem sucesso. Uma daspossibilidades para essa diculda-de de readaptação da espécie é ofato de, apesar de ser muito resis-tente e de fácil cultivo, não conse-guir sobreviver sozinha fora de seuhabitat exclusivo (hoje submerso),

onde não havia competição comoutras espécies.

Mesmo nos ecossistemas o-restais, que são altamente diver-sicados, cada espécie tem o seu

nicho. Atualmente, mesmo nos

remanescentes bem conservados,pode haver distúrbios com algu-mas espécies que naturalmentenão vão conseguir se reabilitar,por isso são tão importantes osinvestimentos em pesquisas. Umexemplo são árvores nobres comoa canela-preta e a imbuia. Essasespécies já tiveram uma alta fre-quência, mas estão desaparecendoporque aves de grande porte quese alimentavam de seu fruto, como

o jacu, estão quase extintas. Hoje, Exemplar centenário de imbuia (Ocotea porosa ), espcie ameaçada de extinção.

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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mesmo onde essas árvores ainda estão presentes, sua regene-ração natural é quase nula, porque as sementes não são disper-sas pela falta de aves que as comam.

Outro exemplo dos problemas causados pela interven-ção nos processos ecológicos na Mata Atlântica foi apontadopor pesquisadores brasileiros mostrando que a falta de liga-

ção entre os remanescentes de Mata Atlântica e os corposd’água, pela destruição das matas ciliares, é uma das princi-pais causas da diminuição do número de anfíbios (sapos, rãs

e pererecas) que vivem no interior de São Paulo. O estudo foirealizado em 12 áreas de Mata Atlântica no estado, incluindoáreas bem preservadas e outras desmatadas, e teve a parti-

O mundo precisa de energia limpa como a eólica que já amplamente utilizada em países como Portugal e começa a ser implantada no Brasil.Torre eólica em Fernando de Noronha.

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CAPÍTULO 9 – QUE FUTURO QUEREMOS?

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cipação de pesquisadores das uni-versidades estaduais de Campinas(Unicamp), São Paulo (USP), Pau-lista (Unesp-Rio Claro) e Vale do

Rio dos Sinos (Unisinos).

Os pesquisadores verica-ram que áreas de 15 quilômetroscom as matas ciliares preservadas

apresentam em média 15 espéciesde anfíbios. Já os trechos do mes-mo tamanho sem a mata ciliar têmsomente seis ou sete. Isso ocor-re porque o sapo nasce na águacomo girino e só depois se tornaum sapinho. Quando o ambienteestá íntegro, ele sai direto da águapara a oresta, mas quando não

tem mata ao lado do rio, ele saiem um ambiente estranho e temque procurar uma oresta, o que

Os anfíbios estão entre os animais mais vulneráveis à destruição das matas ciliares ao longo dos rios e lagos.

Cidades arborizadas são mais agradáveis para se viver. Campos do Jordão – SP.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Reorestar com espcies nativas traz benefícios para os seres humanos e para a natureza.

Plantar árvores nativas pode ser bem lucrativo. Na foto, um reorestamento misto de

araucárias e palmiteiros, em Ibirama – SC.

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

não faz parte do seu instinto. Ao atravessaráreas alteradas, pode morrer seco, intoxica-do por agrotóxico, ser atropelado em umaestrada ou encontrar um muro. Às vezes, amata mais próxima pode estar a 300 metrosou mais, o que é uma barreira muito grandepara ele. Da mesma maneira, o sapo adulto,na época de acasalamento, tem que fazer ocaminho oposto, atravessando plantações decana-de-açúcar ou soja antes de encontrar o

rio, por exemplo.

Para o sapo, não é só o desmatamentoque inui, mas a forma como ele é feito. Não

adianta preservar uma mata se não houvermata ciliar e conectividade entre a água e ofragmento de mata mais próximo. Para resol-ver, precisa haver um corredor conectando asáreas orestais com os rios. O Brasil é o país

com o maior número de espécies de anfíbiosno mundo (765), das quais 25 estão ameaça-das. Na Mata Atlântica, são 483 espécies, dasquais 16 estão ameaçadas.

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CAPÍTULO 9 – QUE FUTURO QUEREMOS?

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As espcies exóticas invasoras são uma das principais causas da perda da biodiversidade. Na foto, invasão de pinus na restingado Parque Estadual do Rio Vermelho - Florianópolis – SC.

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Uma das medidas essenciais para garantir os processos ecológicos é proteger a Mata Atlântica de espécies exóticasinvasoras, ou seja, espécies que não são originárias do ecossistema e que, quando não encontram predadores naturais,

acabam competindo com as espécies nativas. Há vários exemplos de espécies invasoras na Mata Atlântica, como o Pinuselliottii, um pinheiro originário da América do Norte, plantado em monoculturas principalmente na região Sul do país, cujas

características reprodutivas o transformaram em uma ameaça à recuperação da vegetação nativa, sobretudo a oresta

ombróla mista e os campos naturais.

O Pinus elliottii é considerado um “invasor contaminante” porque, além da ausência de predadores naturais e da baixanecessidade de nutrientes, a polinização e a dispersão por meio do vento fazem a espécie ser altamente invasora. Suassementes “aladas” podem germinar a distâncias superiores a dez quilômetros da árvore original, colonizando inclusive ointerior de unidades de conservação, como já ocorreu nas restingas do Parque Estadual do Rio Vermelho em Florianópolis

(SC). Essa expansão acaba por prejudicar a fauna e a ora nativas da Mata Atlântica já que, ao sombrear áreas abertas,

normalmente ensolaradas, impede que a vegetação de porte baixo frutique e atraia animais.

Outro exemplo concreto do problema é o que está acontecendo com os saguis em Minas Gerais. O sagui-da-cara-

branca (Callithirx geoffroyi), uma espécie de mamífero da Mata Atlântica, que vive na parte leste do estado e no Espírito

Santo, está com seu habitat reduzido a fragmentos pequenos e degradados, já que a Zona da Mata mineira hoje é domi-nada por pasto e agricultura, como a do café. Com isso, o sagui-do-cerrado (Callithrix penicilatta), proveniente do oeste de

Minas, está entrando na região do sagui-da-cara-branca, pois é uma espécie mais maleável, que vive em áreas abertas.

Sua população está crescendo muito em relação à do sagui-da-cara-branca e estão se acasalando, produzindo híbridos.Com isso, há uma descaracterização do sagui-da-cara-branca, que pode vir até a desaparecer.

AS ESPéCIES INVASORAS

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Recuperar possível e desejávelA primeira providência para se recuperar uma área onde

a oresta foi retirada (como uma mata ciliar ou uma encosta

de morro, por exemplo) é deixar de utilizá-la para ns como

agricultura, pecuária ou plantação de espécies orestais exó-ticas, permitindo a sua regeneração natural ou espontânea.A condução da regeneração natural de espécies nativas égeralmente a forma mais barata para se recuperar uma áreadesprovida de vegetação nativa e o método funciona muitobem quando na região ainda há remanescentes de vegetaçãocapazes de fornecer naturalmente as sementes, as quais co-meçam a germinar e formar novas matas. Em alguns casos,quando há presença de gado, é necessário cercar a área.Isso é o mínimo previsto na lei no que diz respeito às Áreasde Preservação Permanente e também à Reserva Legal.

O Ministério do Meio Ambiente editou no dia 8 de se-tembro de 2009, a Instrução Normativa (IN) no 5, regulamen-tando as metodologias de recuperação de APPs e ReservaLegal. Um dos grandes avanços da IN n o 5 é a determinaçãode que a recuperação de APP e RL independe de autoriza-ção do poder público, simplicando assim o trabalho daque-les que voluntariamente se dispuserem a fazer a recupera-ção destes importantes espaços territoriais.

A Instrução Normativa estabelece os seguintes métodos

que podem ser utilizados para a recuperação de RL ou APP,dependendo de cada situação:I - condução da regeneração natural de espécies nativas;II - plantio de espécies nativas (mudas, sementes, estacas); e

III - plantio de espécies nativas conjugado com a condução da

regeneração natural de espécies nativas.Para denir qual a melhor metodologia a ser aplicada na

recuperação de uma área é importante realizar um diagnósticoprévio e identicar as características da área a ser trabalhada,

bem como do seu entorno. Nesse levantamento prévio se veri-cam basicamente: as características ambientais da região e a

capacidade e potencial de auto-recuperação.Se a área não tiver um solo muito degradado e nela ou

no seu entorno existirem remanescentes de vegetação nati-

va que possam fornecer sementes, propágulos ou plântulas,maior será a capacidade de regeneração dessa área, e con-sequentemente menor a necessidade de intervenção e me-nores os custos da recuperação. Nesses casos os métodosde recuperação mais comuns são: a condução da rebrota detroncos ou raízes e a condução da regeneração natural dassementes e das plantinhas existentes.

 Entretanto, se a área estiver degradada por fatores comouso agrícola intensivo, queimadas, erosão e sem banco desementes de espécies da vegetação nativa, com certeza omelhor método possível para a recuperação ambiental seráo plantio de mudas de espécies nativas. Eventualmente, de-pendendo do grau de degradação do solo, poderá tambémser realizada a semeadura direta.

Para se reorestar uma área desprovida da vegetação

nativa, a primeira medida é pesquisar as espécies nativas daregião e procurar utilizar o maior número possível de espé-cies. A maneira de plantar vai depender do tipo de área a serrecuperada. Segundo pesquisas do Instituto de Botânica deSão Paulo, realizada entre 1999 e 2000 em 98 áreas reores-tadas no estado nos 15 anos anteriores, apenas os projetos

que tinham alta diversidade de espécies haviam tido progres-so. Da maior parte, com cerca de 20 espécies plantadas, só

conseguiram se manter as que tinham remanescentes deorestas muito próximas. Por esse motivo quanto maior a di-versidade de espécies utilizadas num plantio de recuperação,maior a chance de sucesso.

O plantio também deve, preferencialmente, ter a mesmaproporção de espécies pioneiras (de crescimento rápido e

que se desenvolvem bem sob pleno sol); secundárias (que

aparecem nos estágios intermediários da sucessão) e clímax(espécies de crescimento mais lento e que necessitam de

sombra para se desenvolver). O plantio deve ser heterogêneocom as espécies combinadas entre as que suportam luz (pio-neiras), as intermediárias (secundárias) e as que precisam de

sombra (clímax). Isso signica plantar as árvores o mais mis-

turado possível. Para se alcançar o máximo de diversidade

Plantio de palmiteiro em sistema agroorestal. Sete Barras – SP. Sistema agroorestal em assentamento de Reforma Agrária.Eldorado – SP.

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A utilização de energia solar já uma realidade na Alemanha e

em diversos outros países, mas no Brasil, um país com sol fartoo ano inteiro, ainda pouco implementada.

de espécies, além do plantio, é importante manter e conduzira regeneração natural nas áreas reorestadas.

Uma outra metodologia que pode ser utilizada é a im-plantação de sistemas agroorestais, os chamados SAFs,

que consistem num sistema de uso e ocupação do solo emque plantas lenhosas perenes são manejadas em associação

com plantas herbáceas, arbustivas, arbóreas, culturas agrí-colas e forrageiras em uma mesma unidade de manejo, de

acordo com arranjo espacial e temporal, com alta diversidade

de espécies e interações entre estes componentes. No SAFdeve predominar a sionomia orestal.

Em pequenas propriedades ou posses do agricultor fami-liar, do empreendedor familiar rural ou dos povos e comuni-dades tradicionais, a legislação93 permite que o sistema seja

adotado inclusive como indutor da recuperação de Áreas dePreservação Permanente (APPs), desde que não comprome-ta sua função ambiental.

Na implantação de SAF para recuperação de APP devem

ser observados alguns requisitos: a) recomposição e manuten-ção da sionomia vegetal nativa, mantendo permanentemente

a cobertura do solo; b) estabelecimento de, no mínimo, 500(quinhentos) indivíduos por hectare de, pelo menos, 15 espé-cies perenes nativas da tosionomia local; c) limitação do uso

de insumos agroquímicos, priorizando-se o uso de adubaçãoverde; d) restrição do uso da área para pastejo de animais do-mésticos; e) na consorciação de espécies perenes, nativas ouexóticas, não devem ser utilizadas espécies invasoras.

93 Alínea “b”, inciso II, art. 2O da Resolução Conama nO 369, de 28 de março de2006, regulamentada pela IN nO 5, de 2009, do MMA.

Além disso, a IN no 5, de 2009, do MMA, permite a ado-ção de práticas necessárias ao controle da erosão e do con-trole de ervas daninhas nestes espaços e também a produ-ção e coleta de produtos não madeireiros, como por exemplo,bras, folhas, frutos ou sementes.

Os SAFs já são utilizados por índios e outras populações

tradicionais brasileiras há muito tempo. Atualmente existemdiversos projetos sendo desenvolvidos, principalmente com a

ajuda de organizações não-governamentais.94 

A mudança de hábitos 

Além de reconhecer a importância dos serviços ambien-tais prestados pela Mata Atlântica e de implantar ações parapreservar ou restabelecer esses serviços, é fundamental quea sociedade se conscientize e mude alguns hábitos, em espe-cial os ligados à produção e consumo de energia.

A opção pelo consumo de energia de fontes alternativas,

como a solar e a eólica, é imprescindível para um futuro sus-tentável. Essas fontes de energia são fartas no Brasil, masainda muito pouco utilizadas.

A revisão e adequação dos sistemas de transportes tam-bém é fundamental. Um sistema que não dá importância aotransporte público coletivo e à implantação e uso de ciclovias,é insustentável no futuro que queremos. Anal, um futuro com

qualidade de vida só é possível com sustentabilidade ambien-tal, onde os seres humanos saibam respeitar e conviver comos ambientes naturais e a biodiversidade.

94 Ver Capítulo 11: Banco de ideias sustentáveis, pág. 377.

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

O sistema de transporte deve privilegiar o transporte público e não poluente. EmAmsterdam (Holanda), a bicicleta um dos meios de transporte mais utilizados

 – tem custo baixo e ainda ajuda a manter a forma.

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http://slidepdf.com/reader/full/01-mata-atlantica 342/409Campo de altitude e mata nebular na região do Campo dos Padres – SC.

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As oportunidades da

conservação da Mata Atlântica

Capítulo 10

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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O cumprimento de qualquer meta de recuperação paraa Mata Atlântica95 só pode ser alcançado se todos os setores

95 Ver Capítulo 6 – Áreas protegidas: O Brasil e a CDB: Meta 2010, pág.117 e 120.

As oportunidades da conservação da Mata Atlântica

da sociedade zerem a sua parte. Isso signica que todas asesferas de governo (federal, estadual e municipal) devem se

empenhar em aperfeiçoar as políticas ambientais e garantirque sejam cumpridas. Precisam, urgentemente, criar incen-

Viveiro de produção de mudas de árvores nativas em Laurentino - SC.

    E   d   e   g

   o   l   d   S   c   h   a   f   f   e   r

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CAPÍTULO 10 – AS OPORTUNIDADES DA CONSERVAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA

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tivos técnicos e nanceiros para que os diversos setores dasociedade possam se engajar em projetos de recuperação deáreas degradadas e conservação dos remanescentes.

Proprietários rurais e empresários precisam se conscien-tizar da importância de seguir as leis ambientais e investirna recuperação de suas áreas, começando pelas Áreas dePreservação Permanente (APPs) e Reservas Legais despro-

vidas de vegetação nativa. A sociedade civil, seja através daparticipação em organizações não-governamentais, associa-ções ou simplesmente como cidadãos, deve se engajar emprojetos de recuperação e de reivindicação, não esquecendode exercer seu papel de scal do cumprimento das metas derecuperação. À comunidade cientíca, seja em universidadese institutos de pesquisa, cabe desenvolver e difundir técnicas

É possível conciliar a produção agropecuária com o cumprimento da lei que trata das APPs e RL e obter alta produtividade.

   W   i   g   o   l   d   B

   S   c   h   a   f   f   e   r

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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que possam facilitar, baratear e garantir a qualidade dos pro- jetos de recuperação e conservação.

Conforme lembra Gustavo Fonseca, diretor de RecursosNaturais do Fundo para o Meio Ambiente Global (Global En-vironment Facility - GEF), a Mata Atlântica tem características

que favorecem que os papéis de cada setor sejam exerci-dos: “Ao contrário da maioria das áreas de orestas tropicaisameaçadas, para a Mata Atlântica existem pessoal qualica-do, organizações estáveis e capazes e um arcabouço legalsendo implementado por instituições públicas estabelecidas.

A educação ambiental serve para conscientizar as novas gerações sobre a importância da preservação do Meio Ambiente. Agrolândia – SC.

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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CAPÍTULO 10 – AS OPORTUNIDADES DA CONSERVAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA

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O aproveitamento desse ativo empráticas sustentáveis requer o esta-belecimento de um amplo processode diálogo entre os diversos setoresque se beneciam dos serviços am-bientais prestados pela Mata Atlân-

tica. Esse esforço cooperativo devereunir pessoas de todas as áreasempenhadas como prossionais eindivíduos na solução de uma equa-ção que envolve desenvolvimen-to socioeconômico e estabilidadeambiental.”96

96  Em Sementes do Diálogo – Registros da Pri-meira Fase do Diálogo Florestal para a MataAtlântica 2005-2007, Instituto Bioatlântica, Riode Janeiro/2008.

A pesquisa cientíca é importante para gerar conhecimento sobre a fauna e ora.Dr. Vitor Becker (Camacã - BA) – Pesquisador de mariposas com o maior acervo do Brasil.

Quando bem planejados, os plantios orestais de espécies exóticas são compatíveis coma manutenção das APPs e RL. Sul da Bahia.

    A   n   d   r   é   P   e   s   s   o   a

   J   e   a   n   F   r   a   n   ç   o   i   s

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No rastro dessa diversidade de papéis, algumas opor-tunidades têm sido colocadas para facilitar e reconhecer osesforços que vêm sendo realizados em prol da recuperaçãoda Mata Atlântica. Entre eles, há vários programas governa-mentais, incentivos scais, como o ICMS Ecológico, o surgi-mento ou valorização de muitas atividades econômicas quepropiciam ou são voltadas para a conservação ambiental eaté prêmios para as melhores iniciativas. No capítulo 11 (Ban-co de ideias sustentáveis)97 são relatadas várias experiênciasde sucesso.

Uma das instituições pioneiras na área de incentivospara a Mata Atlântica, a Fundação O Boticário de Proteção

à Natureza apoia desde 1990 projetos de conservação reali-zados por terceiros, beneciando assim diversas instituiçõesde pesquisa, ensino e gestão de áreas protegidas no Brasil.Foram nanciadas 1.146 iniciativas, em todas as regiões ebiomas do País. Desse total, mais de 400 projetos foram rea-lizados na Mata Atlântica, o que corresponde a aproximada-mente 35% do total. Além de apoiar ações conservacionistasde terceiros, a Fundação estabeleceu ainda um Programa deÁreas Naturais Protegidas. Este programa tem como objetivoincentivar a conservação de terras privadas, monitorar uni-dades de conservação públicas e criar uma rede própria de

97 Pág. 355.

 O EXEMPLO DE BOA NOVA

Às vezes, uma iniciativa de conservação ambiental pode sero desencadeador de todo um processo de mudança social em umlocal, motivando a participação de diversos setores da sociedadee modicando a relação da população com a natureza ao seu re-dor. Um bom exemplo é Boa Nova, uma pequena cidade do sul daBahia, em uma área de transição entre a Caatinga e a Mata Atlân-tica, onde parte dos fogões ainda é abastecida com lenha, retirada

das matas da região.Boa Nova começou a prestar atenção ao meio ambiente há

cerca de quatro anos quando a Sociedade para a Conservação dasAves do Brasil (Save Brasil), uma organização não-governamentalliada à BirdLife International  e com sede em São Paulo, incluiu omunicípio em seu Programa de Áreas Importantes para a Conser-vação das Aves (do inglês Important Bird Areas  – IBAs), por abrigarmais de 300 espécies de aves, dez delas globalmente ameaçadasde extinção. Entre essas aves está o gravatazeiro (Rhopornis arde- 

siacus ), um passarinho comum na mata de cipó (oresta estacionaldecidual) que só existe em Boa Nova e da qual só restam 2,6% daárea original.

A partir daí, o gravatazeiro passou a fazer parte da vida da ci-dade, virou nome de time de futebol, tema de trabalho dos artistaslocais e do projeto de ecodesenvolvimento municipal. Muitas gaiolase armas de caçadores foram aposentadas e a retirada de madeirapassou a ser combatida. Os moradores passaram a reparar na matae a perceber o quanto ela era rica.

Desde então, projetos práticos começaram a ser desenvolvidosnas escolas, como a limpeza geral do entorno das escolas, com a

reservas naturais privadas. Atualmente, mantém duas áreasprotegidas. Uma delas, a Reserva Natural Salto Morato, emGuaraqueçaba, litoral norte do Paraná, é de Mata Atlântica.

Outra linha de incentivos vinda de organizações não-governamentais é o da Aliança para a Conservação da MataAtlântica, parceria entre a Conservação Internacional (CI),Fundação SOS Mata Atlântica e The Nature Conservancy  (TNC), voltada para a criação e gestão de Reservas Parti-culares do Patrimônio Natural (RPPNs), que desde 2003, in-vestiu cerca de R$ 1,2 milhão, que resultaram na criação decerca de 100 RPPNs.98 

Em 2006, a Fundação SOS Mata Atlântica lançou outro

programa de incentivos, agora voltado para a conservaçãodas Zonas Costeiras e Marinha na região da Mata Atlântica.O programa é formado por dois fundos de fomento, um delescom objetivo de apoiar projetos de criação e consolidação deunidades de conservação marinhas. O primeiro edital foi lan-çado em 2007, com R$ 180 mil doados pela iniciativa privadadistribuídos em cinco projetos em Fernando de Noronha, Riode Janeiro, Bahia, na divisa entre Ceará e Piauí e no litoralsul do estado de São Paulo. Em 2008, foram disponibilizadosmais R$ 200 mil para projetos de criação e consolidação deunidades de conservação marinhas.

98 Ver Capítulo 6 – Áreas protegidas, pág. 120 e 122.

Gravatazeiro macho (Rhopornis ardesiacus ).

venda do material recolhido em Vitória da Conquista, onde há empre-sas de reciclagem. Os moradores perceberam, também, que a diminui-

ção da disponibilidade de água em seus rios era fruto do desmatamentodas matas ciliares. Um projeto desenvolvido pela Empresa Baiana deÁgua e Saneamento (Embasa) trabalha na educação ambiental de pro-prietários e agricultores e está recuperando as nascentes da região econstruiu um viveiro, com as primeiras mudas doadas por empresasda região. Em parceria com a Prefeitura de Boa Nova, uma exposiçãoitinerante nas escolas mostra como é feita a captação e tratamento daágua e a importância da manutenção das matas.

    E   d   s   o   n   R   i   b   e   i   r   o   L   u   i   z

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CAPÍTULO 10 – AS OPORTUNIDADES DA CONSERVAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA

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TRABALHO CONJUNTO

Um dos setores que historicamente foi associado à destrui-ção da Mata Atlântica é a silvicultura, destinada principalmente àprodução de papel e celulose. Atualmente, a área ocupada pelaatividade no Brasil é de cerca de 5,5 milhões de hectares, o equi -valente a 0,6% do território brasileiro ou a 11 vezes o Distrito Fe-deral. Por muito tempo, esse setor econômico e as organizações

ambientalistas estiveram em lados opostos e, com exceção decolaborações em ações pontuais, viviam de críticas mútuas e con-itos aparentemente insolúveis.

Para promover o entendimento e a colaboração entre essesgrupos em nível mundial, organismos como o Banco Mundial, oWorld Resources Institute  (WRI) e o Conselho Empresarial Mun-dial para o Desenvolvimento Sustentável conceberam os DiálogosFlorestais, uma série de fóruns internacionais que, desde 1997, re-úne os setores envolvidos em questões-chave para o manejo o -restal sustentável e a recuperação de ecossistemas ameaçados.

No Brasil, o Diálogo Florestal para a Mata Atlântica, * que atu-

almente também atua no Pampa e no Cerrado, envolveu desde

2005 as principais indústrias do setor da silvicultura**

 e organiza-ções não-governamentais***. Nos primeiros três anos de diálogo, o

grupo conseguiu estabelecer diretrizes para o fomento orestal e a

abertura das empresas para considerar seus investimentos futuros

* Mais informações: http://www.dialogoorestal.org.br

** Cenibra, Fibria Klabin, Masisa, Norske Skog Pisa, Rigesa,Stora Enso, Suzano, Veracel, LERF - Esalq/USP, Embrapa

Florestas, IPEF, Bracelpa, Sociedade Brasileira de Silvicultu-ra, Sociedade Brasileira de Engenheiros Florestais.*** Amda, Apoena, Apremavi, Conservação Internacional,Ecoar, Flora Brasil, Floresta Viva, Fundação Biodiversitas,Fundação SOS Mata Atlântica, Imaora, Instituto BioAtlân-tica, Instituto Ecofuturo, Ipê, Ipema, Rede de Ongs da Mata

Atlântica, Reserva da Biosfera, SPVS, TNC, WWF.

sob novas e modernas condicionantes socioambientais, por meio

do ordenamento territorial.

Estima-se que, dentro de dez anos, mais de 30% dos plantioshomogêneos que abastecem as fábricas de papel e celulose es-tarão localizados em propriedades rurais cujos donos não são aspróprias empresas. Para dar conta desse cenário, as empresas

assumiram o compromisso de repassar aos fomentados diretrizese boas práticas socioambientais construídas conjuntamente portécnicos de organizações ambientalistas e empresas. O compro-misso já é praticado no sul e extremo sul da Bahia, principal pólode silvicultura para papel e celulose do país, representando umgrande avanço em termos de preservação de remanescentes eformação de corredores ecológicos. Recentemente essas mes-mas diretrizes foram aprovadas pelas empresas que participam doFórum Regional do Paraná e Santa Catarina.

O Diálogo Florestal conta hoje com a participação de cercade 360 pessoas, envolvidas em um Fórum Nacional, um Conselhode Coordenação, uma Secretaria Executiva e sete Fóruns Regio-

nais. Além dos temas já mencionados, o Diálogo está discutindotambém a relação entre orestas plantadas, água e biodiversidadee a questão das áreas protegidas particulares, como fator funda-mental na conservação.

Plantio de eucalipto com manutenção e recuperação dasAPPs e RL, no sul da Bahia.

    J   e   a   n   F   r   a   n   ç   o   i   s

   M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

O Diálogo Florestal reúne organizações ambientalistas e empresas do setor da silvicultura em busca do manejo orestal sustentável e da recuperação de ecossistemas.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

348

Programas governamentais

As ações do governo federal voltadas para proteção daMata Atlântica estão concentradas no Ministério do Meio Am-biente, onde se destacam várias iniciativas visando o aperfei-çoamento da legislação, instituição de projetos e programaspara apoiar ações de conservação e recuperação da vegeta-ção nativa e ampliação do nível de parcerias e participaçãodas instituições da sociedade civil. A seguir, estão relaciona-das algumas dessas iniciativas:

FNMA - Um dos programas pioneiros no apoio a açõesde conservação e recuperação da Mata Atlântica é o FundoNacional do Meio Ambiente (FNMA)99, criado em 1989 pelaLei no 7.797, e que, desde então, já apoiou centenas de proje-tos descentralizados na Mata Atlântica e também nos demaisbiomas brasileiros.

PDA/PPG7  – Em 1992, o governo brasileiro incluiu aMata Atlântica no Programa Piloto para a Proteção das Flo-restas Tropicais do Brasil (PPG7), nanciado pelo grupo dos

99  Mais informações: http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=1

sete países mais ricos do Planeta. Iniciado efetivamente em1995, o Programa Piloto teve maior foco na Amazônia, masparte dos recursos do Subprograma Projetos Demonstrativos(PDA) foi para a Mata Atlântica. Em sua primeira fase, o PDAapoiou 47 projetos descentralizados na Mata Atlântica, exe-cutados por organizações da sociedade, investindo um totalaproximado de 6 milhões de dólares do subprograma e 3,2milhões de dólares de contrapartida dos executores. Essesprojetos geraram importantes resultados e lições de conser-vação e recuperação e também o fortalecimento institucionaldas organizações executoras, com aumento da capacidadeexecutora de projetos pela sociedade civil. O governo ale-mão, através do Banco KfW é o principal doador do PDA,que conta ainda com a cooperação técnica da Agência deCooperação Técnica Alemã (GTZ).

Em 2005, o PDA iniciou o componente especíco “Ações

de Conservação na Mata Atlântica – PDA – Mata Atlântica”100 com nanciamento do Governo da Alemanha através do KfWBankengruppe da ordem de R$ 43 milhões. Esse componen-

100  Mais informações: http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=51

O Ministério do Meio Ambiente promove ações e programas de proteção e preservação dos ecossistemas e da biodiversidade brasileira.

    W   i   g   o   l   d   B .   S

   c   h   a   f   f   e   r

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CAPÍTULO 10 – AS OPORTUNIDADES DA CONSERVAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA

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te fomentou mais de 100 projetos de âmbito local e regionale vários projetos de âmbito nacional. Uma importante inova-ção foi o estabelecimento de linhas temáticas estratégicas,contemplando a criação, implantação, planos de manejo ecapacitação em gestão participativa de unidades de conser-vação, a recuperação de áreas degradadas, o ecoturismo,o monitoramento da cobertura vegetal nativa, a geração deconhecimentos em redes e a divulgação da importância daMata Atlântica. Os resultados dos projetos e as lições apren-

didas pelo PDA foram utilizados na elaboração do ProgramaNacional de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica.

PROJETO MATA ATLÂNTICA – Iniciado em 2004, comapoio nanceiro do Programa Piloto para a Conservaçãodas Florestas Tropicais do Brasil (PPG7), através do BancoMundial e cooperação técnica da Organização das NaçõesUnidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), teve comoobjetivo apoiar ações de planejamento, implementação e

A promoção do conhecimento cientíco e de técnicas e métodos de uso sustentável dos recursosnaturais fazem parte dos projetos e programas apoiados pelo Ministério do Meio Ambiente.

    A   n   d   r   e   P   e   s   s   o   a

    W   i   g   o   l   d   B .

   S   c   h   a   f   f   e   r

O ecoturismo e o turismo de aventura são grandes oportunidades de geração de renda possibilitadas pela conservação dos ecossistemas naturais e das belezas cênicas.

   A   r   q  u   i  v   o   A   p   r   e   m   a  v   i

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

350

acompanhamento das políticas para a Mata Atlântica em ní-vel nacional, através do Ministério do Meio Ambiente.

O Projeto Mata Atlântica, nalizado em 2008, contribuiupara importantes avanços na conservação e recuperação daMata Atlântica, dentre os quais destacam-se: a) a aprovaçãoda Lei no 11.428, de 22 de dezembro de 2006 – Lei da Mata

Atlântica; b) a publicação do Decreto no 6.660, de 24 de no-vembro de 2008; c) a elaboração e publicação pelo IBGE do“Mapa da Área de Aplicação da Lei no 11.428, de 2006”; d)aprovação pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Co-nama) de resoluções que regulamentam os estágios suces-sionais de formações orestais em Minas Gerais e Paraíba.

A Lei no 11.428, de 22 de dezembro de 2006, tem comoprincipal objetivo preservar os remanescentes da Mata Atlân-tica no país e criar meios para a sua recuperação em regiõesonde hoje está praticamente extinta. Regula a conservação,proteção, regeneração e utilização não apenas dos remanes-centes primários, mas também nos estágios secundário inicial,

médio e avançado de regeneração. O Decreto nº 6.660, de2008, regulamenta a lei e estabelece os procedimentos neces-sários para se promover a intervenção ou uso sustentável nosremanescentes de vegetação nativa. Já o “Mapa da Área deAplicação da Lei nº 11.428, de 2006”, elaborado pelo InstitutoBrasileiro de Geograa e Estatística (IBGE), contempla as con-gurações originais das formações orestais e ecossistemasassociados, bem como os encraves orestais e brejos de alti-tude interioranos que integram a Mata Atlântica.

Por intermédio do Projeto Mata Atlântica também foram re-alizados estudos técnicos que respaldaram a criação de noveunidades de conservação na Mata Atlântica e ampliação deuma Reserva Biológica, são elas: Parque Nacional das Arau-cárias, com 12.839 hectares (ha), em Santa Catarina; EstaçãoEcológica da Mata Preta, com 6.533 ha, em Santa Catarina;

Reserva Biológica das Perobas, com 8.176 ha, no Paraná;Parque Nacional de Campos Gerais, com 21.373 ha, no Pa-raná; Reserva Biológica das Araucárias, com 14.900 ha, noParaná; Refúgio de Vida Silvestre Campos de Palmas, com16.582 ha, no Paraná; Reserva Extrativista de Canavieiras,com 100.000 ha, na Bahia; Reserva Extrativista de Cassurubá,com 100.000 ha, na Bahia; Refúgio de Vida Silvestre de Una,com 23.400 ha, na Bahia; Refúgio de Vida Silvestre do Rio dosFrades, com 894 ha, na Bahia; e, ampliação da Reserva Bioló-gica de Una, de 7.100 para 18.500 ha, na Bahia.

PROJETO CORREDORES ECOLÓGICOS  – Voltado

para o desenvolvimento de ações de proteção e recupera-ção dos remanescentes da Mata Atlântica do Sul da Bahia edo Espírito Santo, envolve uma parceria do governo federal,governos estaduais e organizações da sociedade civil des-ses estados. O projeto tem como principais ações a proteçãoe implementação de unidades de conservação, desenvolvi-mento de novos modelos de uso e ocupação do solo no en-torno das unidades de conservação, incentivo ao ecoturismoe criação e Reservas Particulares do Patrimônio Natural.

Programas estaduais

No âmbito dos estados, uma das principais iniciativas sãoos projetos de conservação da Mata Atlântica desenvolvidospelos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, RioGrande do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais, que contamcom a cooperação nanceira e técnica do governo da Ale -manha, através do Banco KfW e da Agência de CooperaçãoTécnica Alemã (GTZ). Esses projetos, cujo foco principal éa implantação e consolidação de unidades de conservaçãoestaduais e o monitoramento e scalização dessas unidadese do seu entorno, já resultaram em mais de 80 novas áreasprotegidas, totalizando dois milhões de hectares. Mas, alémdeles, há outras iniciativas regionais de recuperação e con-servação na maior parte dos estados da Mata Atlântica.101

Entre as ações dos projetos bilat erais nos seis estadosestão:

MINAS GERAIS – O Projeto de Proteção da Mata Atlân-tica (ProMata) cobriu aproximadamente 140.000 km2, distri-buído em 429 municípios. Esta área corresponde a 25% doterritório do estado e engloba 15 unidades de conservação eseus entornos, totalizando perto de 422 mil ha de áreas pro-tegidas. Um novo aporte de recursos ampliará a atuação do

101

 Ver exemplos de projetos no Capítulo 11 – Banco de ideias sustentáveis,pág. 355.

projeto a novas áreas e unidades de conservação e ampliariao escopo temático na Fase II do ProMata a partir de 2009.

SANTA CATARINA –  O Projeto de Proteção da MataAtlântica no estado teve como objetivo central consolidar eforticar as unidades de conservação estaduais, assim comocriar incentivos para o uso sustentável dos recursos naturaisnos municípios onde elas estão localizadas. As ações pro-postas envolvem seis unidades de conservação em 23 mu-nicípios.102 

SÃO PAULO – O Projeto de Preservação da Mata Atlân-tica (PPMA) de São Paulo contemplou 14 unidades de con -servação e criou um sistema de gestão para a Mata Atlântica,através de um banco de dados digital e georreferenciado,para mais de 23.000 km2 de extensão. Foram realizados tam-bém os planos de manejo para 10 unidades de conservaçãoe constituídos 17 conselhos de gestão de UCs.

102 No âmbito do projeto foi elaborada a proposta que resultou na aprovaçãode um Código Ambiental para Santa Catarina o qual exibiliza a legislação am-biental, diminuindo a proteção de margens de rios e nascentes, e também oloteamento do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, do qual parte foi trans-formada em Área de Proteção Ambiental (APA), uma categoria de menor pro-

teção. Mais Informações: http://www.planetaverde.org/mudancasclimaticas/ index.php?ling=por&principal=2&cont=noticias&cod=519

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CAPÍTULO 10 – AS OPORTUNIDADES DA CONSERVAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA

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PARANÁ – O Pró-Atlântica consolidou a gestão e o con-trole ambiental em parte da Mata Atlântica do Paraná, alcan-çando uma área de aproximadamente 11.000 km2, incluindo aSerra do Mar, a planície costeira e o Vale do Ribeira, incluindo15 municípios e quatro unidades de conservação.

RIO GRANDE DO SUL – Neste estado, o projeto de coo-peração benecia 11 unidades de conservação, incluindo seisestaduais, três municipais e duas federais, em 28 municípios,totalizando 13.000 km2. O Sistema de Informação Geográca

(SIG) incluirá cerca de 23.000 km2, incluindo as áreas de en-torno das unidades de conservação.

RIO DE JANEIRO – O projeto de Preservação da MataAtlântica do Rio de Janeiro (PPMA) apoiou 11 unidades deconservação estaduais, totalizando cerca de 126.000 ha, em

27 municípios. Os investimentos para ações de combate aofogo e scalização incluíram a aquisição de veículos, equi-pamentos e treinamento em GPS para o trabalho em umaplataforma de SIG.

Incentivos Fiscais

ICMS Ecológico 

O artigo 158 da Constituição Federal brasileira torna pos-

sível o ICMS Ecológico ao permitir que os estados denam emlegislação especíca, parte dos critérios para o repasse de re-cursos do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços(ICMS), que os municípios têm direito. A denominação ICMSEcológico é dada quando os critérios focam temas ambientais.

O primeiro estado a adotar o ICMS Ecológico foi o Paraná,em 1991, a partir da aliança do estado e de municípios, queconsideravam suas economias prejudicadas pela restrição deuso causada pela necessidade de cuidar dos mananciais deabastecimento para municípios vizinhos e pela existência deunidades de conservação. Criado como uma forma de “com-pensação”, o ICMS Ecológico transformou-se, ao longo dotempo, também em instrumento de incentivo, direto e indireto,à conservação ambiental, representando uma promissora al-ternativa na composição dos instrumentos necessários à exe-cução das políticas de conservação da biodiversidade.

Embora com formatações diferentes, o ICMS Ecológicoatua para a composição dos percentuais a que os municípios

têm direito a receber do ICMS arrecadado. No Paraná, por

exemplo, esta composição se fundamenta em duas dimen-sões: uma quantitativa e outra qualitativa. A quantitativa levaem conta a superfície da área protegida na relação com asuperfície total do município onde estiver contida. Esta rela-ção é corrigida por um multiplicador que caracteriza o nívelde restrição de uso da área protegida. A qualitativa considera,além de aspectos relacionados à existência de espécies daora e da fauna, insumos necessários disponibilizados à áreaprotegida, visando à manutenção e melhoria do seu processode gestão. As áreas protegidas consideradas para efeito decálculo são: unidades de conservação, terras indígenas, áre-as de preservação permanente e reserva legal.

O ICMS Ecológico está presente em nove dos 17 estadosabrangidos pela Mata Atlântica: Paraná, São Paulo, MinasGerais, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Pernambu-co, Rio Grande do Norte, Ceará e Rio de Janeiro. Está emtramitação na Assembléia Legislativa no Piauí, em Sergipee em Goiás. Faltam os estados de Alagoas, Bahia, EspíritoSanto, Paraíba e Santa Catarina.

CONSERVAÇÃO NO COMPLEXO DE ILHA GRANDE

Um exemplo signicativo da contribuição do ICMS Ecológico

para a conservação pode ser observado na criação e manutençãode um conjunto de unidades de conservação na região do antigoParque Nacional das Sete Quedas, apagado do mapa com a inunda-ção do Lago de Itaipu. A principal delas é o Parque Nacional da IlhaGrande, constituído por ilhas e ilhotas uviais, no último trecho livrede represamento do Rio Paraná.

A sua preservação é uma longa luta dos ambientalistas donoroeste paranaense. Com a criação das Áreas de ProteçãoAmbiental (APAs) e da Estação Ecológica da Ilha Grande, em1994, as agressões ao arquipélago e áreas adjacentes diminu -íram, trazendo um novo perfil ambiental e um melhor equilíbrio

para este ecossistema. Em 1995, os municípios come-

çaram a receber ICMS Ecológico para preservação daárea; com esse recurso desenvolveram-se inúmeras ati-vidades de proteção do arquipélago, tais como monitora-mento das APAs, zoneamento ecológi co, convênios parafiscalização, educação e conscientização da população,entre outros.

Visando à proteção da área, foi decretada, em 1997, acriação do Parque Nacional de Ilha Grande, com 78.875 ha,e a APA Federal do Noroeste do Paraná com 1.003.059 ha,consolidando as medidas de proteção deste arquipélago comcaracterística única.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Isenção de ITR

Muitos proprietários rurais que possuem Área de Preser-vação Permanente e Reserva Legal preservadas ou mesmooutras áreas de oresta em suas terras costumam reclamaro fato de pagar o Imposto Territorial Rural (ITR) sobre essasáreas. Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dosRecursos Naturais Renováveis (Ibama), porém, a lei garantea dedução do ITR em até 100% da propriedade, se estiverlocalizada dentro de área de Mata Atlântica e coberta porvegetação nativa, primária ou secundária em estágio médioou avançado de regeneração. Para ter direito à dedução noimposto, o proprietário precisa fazer, pela Internet, no sitedo Ibama (www.ibama.gov.br), o Ato Declaratório Ambiental(ADA) e solicitar o desconto na declaração de ITR.

Embora seja obrigatório para pessoas jurídicas e físi-cas que possuam imóvel rural com área igual ou superior a500 ha, na região Norte, ou 100 ha, se estiver nas regiões

Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, a declaração podeser feita por qualquer proprietário que possua Área de Pre-servação Permanente, Reserva Legal, Reserva Particular

do Patrimônio Natural (RPPN), área de Servidão Ambien-tal e áreas de Declarado Interesse Ecológico (como porexemplo, áreas que estão declaradas como unidades deconservação, contenham restrições de uso por motivosambientais ou sejam comprovadamente inviáveis para aatividade rural).

Dentro desses critérios, estão as áreas preservadas naMata Atlântica, cobertas por orestas nativas, primárias ousecundárias em estágio médio ou avançado de regeneração.Essas áreas devem ser declaradas no ADA como Áreas deDeclarado Interesse Ecológico (AIE) e têm direito à isençãodo ITR. Assim como na Declaração do Imposto de Renda,as informações do ADA poderão ser checadas a qualquermomento pelo poder público. Para fazer o ato declaratório, oproprietário rural deve procurar, no site do Ibama, os serviçoson-line (no lado esquerdo da página) e preencher o cadastro

do Ibama. Recebe, então, uma senha por e-mail, com a qualpode entrar no sistema ADAweb, e acessar o formulário comas respectivas instruções de preenchimento.

As Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal nos imóveis rurais são isentas de Imposto Territorial Rural.

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CAPÍTULO 10 – AS OPORTUNIDADES DA CONSERVAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA

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As atividades e projetos que colaboram para a proteção da Mata Atlântica podem ainda resultar em prêmios combastante visibilidade, como o Muriqui, entregue anualmente pelo Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da MataAtlântica (CN-RBMA). Esses prêmios são importantes por divulgarem ações concretas e estimular que sejam replicadas.A seguir, uma amostra das premiações voltadas para esta área:

PRÊMIO MURIQUI –Tem o objetivo de incentivar ações que contribuam para a conservação da biodiversidade, ofomento e divulgação dos conhecimentos tradicional e cientíco e a promoção do desenvolvimento sustentável na áreada Mata Atlântica. Criado em 1993 pelo CN-RBMA, é constituído de uma estatueta de bronze representando um Muriqui,animal símbolo da Mata Atlântica, e um diploma. São premiadas, anualmente, uma pessoa física e uma entidade públicaou privada – nacionais ou internacionais -, que tenham se destacado por atividades em benefício da Mata Atlântica.

Saiba Mais: www.rbma.org.br/rbma/rbma_4_premio_murique.asp

PRÊMIO AMIGO DA MATA ATLÂNTICA  – Anualmente, a Rede de Organizações Não-Governamentais da MataAtlântica (RMA) destaca e homenageia pessoas que contribuíram para a proteção, preservação e recuperação da MataAtlântica. Foi instituído em 1998, para se contrapor ao Prêmio Motosserra, também da RMA, que aponta os vilões que

mais contribuem para a destruição da Mata Atlântica.Saiba Mais: www.rma.org.br

PRÊMIO VON MARTIUS DE SUSTENTABILIDADE  – Outorgado anualmente, foi criado pela Câmara de Co-mércio e Indústria Brasil – Alemanha com o objetivo de divulgar e reforçar o compromisso da Alemanha e das empresasalemãs com o desenvolvimento sustentável. Reconhece o mérito de iniciativas de empresas, do poder público, de indi-víduos e da sociedade civil que promovam o desenvolvimento econômico, social e cultural com respeito socioambiental.Não é exclusivo para a Mata Atlântica, mas já premiou muitas iniciativas voltadas à sua conservação ou recuperação.

Saiba Mais: www.premiovonmartius.com.br

PRÊMIO EXPRESSÃO DE ECOLOGIA – Criado em 1993, pela editora Expressão, de Florianópolis (SantaCatarina), o prêmio tem o objetivo de divulgar esforços de empresas e instituições no sentido de diminuir os impactos dapoluição no meio ambiente e contribuir para a conservação dos recursos naturais e o desenvolvimento da consciênciaambiental. É anual e aberto a empresas, instituições, organizações não-governamentais e entidades de classe instala-das nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do sul.

Saiba Mais: www.expressao.com.br/ecologia

PRÊMIO DE REPORTAGEM SOBRE BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA – Elege os melhores tra-balhos jornalísticos veiculados em canais de televisão, revistas e jornais. É uma iniciativa da Aliança para a Conservação

da Mata Atlântica, em parceria com as ONGs Conservação Internacional e Fundação SOS Mata Atlântica.Saiba Mais: www.premioreportagem.org.br

CONCURSO SOS MATA ATLÂNTICA DE FOTOGRAFIA – Realizado anualmente, tem por objetivo fazer aspessoas enxergarem que podem, e devem, viver em harmonia com a Mata Atlântica. Podem se inscrever fotógrafos pro-ssionais ou amadores, retratando os recursos naturais da Mata Atlântica: paisagens preservadas ou áreas degradadas,plantas e árvores, aves e outros animais, a interação do homem com a mata e outros ambientes.

Saiba Mais: www.sosma.org.br/hotsitefotos

PRÊMIOS PARA QUEM AJUDA A MATA ATLÂNTICA

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http://slidepdf.com/reader/full/01-mata-atlantica 356/409Mutirão de plantio de árvores nativas da Mata Atlântica. Programa Clima Legal da Apremavi. Atalanta - SC.

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Banco de ideias sustentáveis

Capítulo 11

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Paulo Nogueira-Neto.

Paulo Nogueira-Neto recebendo o Prêmio Amigo da Mata Atlântica darede de ONGs da Mata Atlântica (2006).

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

    W   i   g   o   l   d   B

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Reunião plenária do Conama.

As abelhas silvestres sem ferrão são essenciais na polinização e foram alvode inúmeras pesquisas de Paulo Nogueira-Neto.

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

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CAPÍTULO 11 – BANCO DE IDEIAS SUSTENTÁVEIS

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Quando se fala em ideias inovadoras não dá para deixarde falar em Paulo Nogueira-Neto, um dos grandes cientistas

brasileiros na área ambiental, onde se destaca por ter concre-tizado importantes inovações numa época em que a maioriadas pessoas sequer tinha ouvido falar em conservação e pre-servação da natureza.

Paulo Nogueira-Neto é graduado em História Natural eCiências Jurídicas e Sociais, doutor em Ciências Biológicas(Zoologia) pela Universidade de São Paulo, onde é professoremérito e foi um dos fundadores do Departamento de Ecolo-gia Geral. Já na década de 1950, implantou experiências dereorestamento com árvores nativas e ajudou a criar a Asso-ciação de Defesa do Meio Ambiente do Estado de São Paulo(Adema-SP). Uma de suas grandes paixões são as abelhassem ferrão, sobre as quais desenvolveu pesquisas e publicou

diversos trabalhos. Dirigiu e organizou (1974-1986), no entãoMinistério do Interior, a Secretaria Especial de Meio Ambientefederal, precursora do Ministério do Meio Ambiente.

Um dos seus maiores feitos frente à Secretaria Especialde Meio Ambiente foi a idealização da Política Nacional do

Ideias inovadoras e empreendedorismo

Meio Ambiente, instituída pela Lei no 6.938, de 1981. Além daPolítica Nacional, essa Lei também criou o Sistema Nacional

do Meio Ambiente (Sisnama) e o seu órgão consultivo e deli-berativo, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama),do qual Paulo Nogueira-Neto é conselheiro até hoje. Aindacomo secretário, criou e estabeleceu aproximadamente trêsmilhões e duzentos mil hectares de unidades de conserva-ção, protegendo importantes parcelas dos ecossistemas bra-sileiros.

Entre 1983 e 1986 participou da Comissão Brundtlanddas Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimen-to, como um dos representantes da América Latina. Foi nessaComissão que surgiu pela primeira vez a expressão “desen-volvimento sustentável”.

Muitas das ideias descritas neste Banco de Ideias Susten-

táveis surgiram graças aos princípios e diretrizes rmados nasnormas legais idealizadas e viabilizadas por Paulo Nogueira-Neto e outros pioneiros, que além de visionários tinham umforte espírito empreendedor, indispensável para os desaos dese implantar os necessários avanços na área ambiental.

Paulo Nogueira-Neto em visita à trilha do Parque Natural Municipal da Mata Atlântica em Atalanta - SC (2007).

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

358

Banco de ideias sustentáveis

A partir da década de 1980, a luta pela proteção da MataAtlântica começou a gerar resultados em diversas áreas.Além da aprovação de leis e regulamentos mais rígidos, da

criação de órgãos federais, estaduais e municipais de meioambiente e de novas unidades de conservação, surgiram ini-ciativas de recuperação e uso sustentável dos recursos na-turais. Se no início esses projetos partiram, principalmente,de organizações não-governamentais, foram seguidos porprogramas de governo, proprietários de terras, empresáriose instituições de pesquisa. Essa nova realidade tem mostra-do efeitos práticos na melhoria da qualidade da água e dosolo, na geração de renda para comunidades tradicionais erurais, além de avanços importantes na área cientíca, comoa descoberta de muitas espécies, proteção para as que estãoameaçadas e novos usos para a biodiversidade.

A seguir, são mostradas algumas dessas iniciativas de-senvolvidas com a participação de governos, iniciativa priva-da, organizações não-governamentais e institutos de pesqui-sa. São exemplos de oportunidades que podem, e devem,ser utilizadas como incentivo e fonte de inspiração para or-ganizações, administradores públicos, empresas e cidadãosinteressados em colaborar para uma recuperação efetiva daMata Atlântica e, com isso, conseguir um planeta mais saudá-vel e com melhor qualidade de vida para todos.

São apresentadas também campanhas de mobilizaçãosocial, importantes ferramentas de sensibilização e educaçãoambiental em prol da conservação do meio ambiente. Na Mata

Atlântica, elas têm sido usadas pela sociedade civil para apoiariniciativas importantes como a busca de uma legislação espe-cíca, a exemplo da Lei da Mata Atlântica. Nos últimos anos,teve destaque também a campanha pelo Desmatamento Zero,coordenada pela Rede de ONGs da Mata Atlântica, com o ob- jetivo de acabar com os desmatamentos ilegais.

Para facilitar a consulta, segue abaixo uma lista das áreas deatuação das experiências relatadas:

Áreas de atuação do projeto: 

1 Gestão de Unidades de Conservação

2 Gestão Territorial (Mosaicos e Corredores)

3 Criação e Gestão de Reserva Particular do Patrimônio Natural

4 Recuperação de Área Degradada

5 Recuperação de Mata Atlântica Urbana

6 Recuperação de Áreas de Preservação Permante (APP) e Re-serva Legal

7 Pagamento por Serviços Ambientais

8 Compensação de Emissões/Crédito de Carbono

9 Práticas Tradicionais de Manejo de Mata Atlântica

10 Sistemas Agroorestais

11 Uso Sustentável da Biodiversidade e Repartição de Benefí-cios do Acesso ao Patrimônio Genético

12 Agroecologia e Agricultura Orgânica

13 Produtos Florestais Certicados

14 Produção de Mudas em Viveiros

15 Ecoturismo

16 Aprimoramento do Conhecimento Cientíco da Biodiversidade17 Preservação da Fauna e Flora

18 Educação Ambiental

19 Ecologia da Paisagem

20 Mobilização e Campanhas em Defesa da Mata Atlântica

 Algumas sementes de espécies nativas, como por exemplo a peroba ( Aspidosperma pyricollum ), exigem técnicas especiais de plantio para garantir a germinação.

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

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CAPÍTULO 11 – BANCO DE IDEIAS SUSTENTÁVEIS

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A Hora do Bicho

Desde maio de 2004, a Fundação Zoobotânica do RioGrande do Sul divulga em seu site e no Parque Zoológicoo animal do mês. Este projeto busca a conscientização dasociedade sobre a importância da preservação e conserva-ção da fauna, tanto nativa quanto exótica. Em sua maioria,são espécies ameaçadas de extinção ou em situação devulnerabilidade que muitas vezes são pouco observadasou pouco conhecidas pelos visitantes do Zôo e pela po-

Onça-pintada (Panthera onca ).

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

pulação em geral. O projeto está em sua quinta ediçãoe divulga a série “Os lhotes” através de espécies comoo macaco-aranha e o lobo-guará, que ocorrem na MataAtlântica, este último ameaçado de extinção. Nas quatroprimeiras edições, o projeto divulgou espécies nativas dafauna brasileira e teve uma edição exclusiva da fauna nati-va africana, com destaque especial para aquelas ameaça-das de extinção.

Saiba mais: www.fzb.rs.gov.br/novidades/bichomes.htm

Área de atuação: 17Onde: RS

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Abraço Verde

Esta iniciativa vem sendo implantada pelo Instituto dePesquisas Ecológicas (IPÊ), no entorno do Parque Estadualdo Morro do Diabo, no Pontal do Paranapanema, São Paulo,com o objetivo de proteger e isolar a borda exposta e degra -dada desse fragmento orestal, através de uma zona tampãode agrooresta, tentando dessa maneira minimizar as pertur-bações antrópicas e os efeitos de borda.

Sob a perspectiva social, essa zona agroorestada temcomo objetivo melhorar e diversicar as atividades produti-vas numa faixa dos assentamentos rurais, sítios e fazendasque contornam o Parque, numa faixa de 40 a 80 metros delargura por dois quilômetros de extensão, pela junção de pe-quenas propriedades rurais. Assim, o Abraço Verde permitea produção de bens (frutos, madeira, lenha, mel, ervas me-dicinais, matéria orgânica, forragem etc.) e serviços (quebra-

Faia orestal plantada no entorno do Parque Estadual do Morro do Diabo, formando um abraço verde.

    L   a  u   r  y   C  u   l   l   e   n

vento, cerca viva, conservação e fertilidade do solo, aumentoda produtividade agropecuária, diversicação das atividadesprodutivas, aceiros, sombra, lazer etc.).

Além disso, pretende gerar, transferir e multiplicar os co-nhecimentos e resultados adquiridos para outros fragmentosorestais e suas respectivas comunidades do entorno, le-vando tais conhecimentos a pequenos e médios agricultorese disseminando práticas agroorestais na região, principal-mente pelo compromisso das comunidades com o reoresta-mento. Assim, já foram plantadas mais de 1 milhão de mudasnativas da Mata Atlântica na região do Pontal, também emprojetos como o de Ilhas de Biodiversidade e Corredores Eco-lógicos, que criam, respectivamente, trampolins para a pas-sagem de espécies da fauna e corredores entre fragmentos eunidades de conservação.

Saiba mais: www.ipe.org.br

Área de atuação: 10; 19Onde: SP

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CAPÍTULO 11 – BANCO DE IDEIAS SUSTENTÁVEIS

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Adote uma Família de Micos-leões-dourados

Pessoas, empresas privadas e zoológicos podem ado-tar uma família de micos-leões-dourados e com os recursosarrecadados a Associação Mico-Leão-Dourado (AMLD) de-senvolve pesquisas e monitoramento desta espécie e do seuhabitat, além de promover a educação ambiental comunitáriae a recuperação de áreas degradadas.

Como os micos-leões-dourados são animais sociais, istoé, vivem em grupos familiares de composição muito seme-lhante às famílias humanas, eles não sabem viver sozinhosna oresta e apenas sobrevivem com a proteção de todo ogrupo. Por isso, as adoções referem-se a toda a família.

Mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia ).

As adoções são feitas por meio de doação à AMLD no valorde R$ 15.000,00 (para adoções nacionais) e US$ 5.000,00 (paraadoções internacionais) por família adotada e por um prazo deum ano. O adotante assina um contrato de doação estabele-cendo a forma de prestação de contas dos recursos doados. Oadotante também pode escolher que tipo de ação quer apoiar.

A primeira adoção no Brasil foi feita pelo Instituto Embra-tel 21, que colabora com 21 famílias. No exterior, os colabora-dores são: Zoológico de Copenhague, Dinamarca; ZoológicoMarwell, Inglaterra; Zoológico de Colchester, Inglaterra; Par-co Zoo Punta Verde, Itália; Zoológico de Dublin, Irlanda.

Saiba mais: www.micoleao.org.br

Área de atuação: 4; 16; 17; 18Onde: RJ

    R  u   d   o   l   f   H   a  u   s   m

   a   n   n

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Adote uma Montanha

O Programa Adote uma Montanha (PAM), coordenadopela Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada(CBME), é o maior programa voluntário de proteção às áreasde montanhas brasileiras, com aproximadamente 40 áreasadotadas por 30 clubes, em sete estados brasileiros. Atual-mente, o PAM atua na mobilização dos grupos de voluntários,fortalecendo seu trabalho através do treinamento, forneci-mento de material e nanciamento de atividades.

Focalizado no uso público, porém realizado em áreas pú-blicas ou privadas, o programa visa a promoção e adoçãode práticas de mínimo impacto em zonas de montanha comoforma de prevenir danos ambientais. O desenvolvimento e or-

Morro do Anhangava – PR. Parque Estadual Pico Paraná.

    G   a   l   i   a   n   a   L   i   n   d   o   s   o

    A   l   e  x   a   n   d   r   e   L

   o   r   e   n  z   e   t   t   o

ganização desse programa provêm da coalizão de esforçosisolados no Brasil, onde grupos de montanhistas organiza-dos, com apoio de prossionais e pesquisadores de diversasáreas, uniram esforços, adaptando e criando novas metodo-logias para conservação das montanhas.

Com o aprimoramento do PAM, por meio de workshops etreinamentos, os trabalhos foram direcionados para atuar na con-tenção de erosão, no planejamento de uso público, em sistemasde sinalização em trilhas e na capacitação de brigadas de incên-dios e demais voluntários, entre outras ações que visam mitigaros impactos gerados pela visitação, muitas vezes desordenada,em áreas de montanha da Mata Atlântica e outros biomas.

Saiba mais: www.cbme.org.br

Área de atuação: 4; 15; 18Onde: RS, SC, PR, SP, RJ, ES, MG

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CAPÍTULO 11 – BANCO DE IDEIAS SUSTENTÁVEIS

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Ação Contra o Aquecimento Global

Executados em parceria com a organização não-governa-mental The Nature Conservancy (TNC) e com as empresas Ame-rican Electric Power, Chevron e General Motors, os projetos desequestro de carbono desenvolvidos pela Sociedade de Pesqui-sa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) contribuempara combater o fenômeno do aquecimento global e, ao mesmotempo, ajudam a conservar o maior remanescente da Mata Atlân-tica brasileira.

Os projetos desenvolvidos pela SPVS visam manter áreasnaturais bem preservadas e, no caso de áreas degradadas, per-mitir sua regeneração orestal ou restaurá-las por meio do plantio

de árvores nativas da Mata Atlântica. Esses projetos são desen-volvidos em reservas próprias da SPVS, localizadas na Área deProteção Ambiental de Guaraqueçaba (litoral norte do estado doParaná), e abrangem aproximadamente 19 mil hectares de áre-as orestais divididos em três reservas naturais - Morro da Mina(3.300 ha), Serra do Itaqui (6.700 ha) e Rio Cachoeira (8.600 ha)- que, além de contribuírem para a retirada do excesso de dióxidode carbono da atmosfera, também trazem outros benefícios parao meio ambiente e para as comunidades locais, como: aumentode áreas de refúgio para inúmeras espécies de plantas e animais;manutenção da diversidade biológica e qualidade de ecossiste-mas da região; abastecimento de água para população urbanade Antonina (18 mil pessoas) e comunidades de Ilha Rasa (600pessoas), que captam água em reservas da SPVS; geração de

empregos; busca de alternativas de geração de renda para co-munidades locais.

Da área total onde incidem as ações, 10.000 ha já são RPPNe o restante está em processo para a criação das reservas parti-culares. Estão sendo restaurados cerca de 1.500 hectares exis-tentes de áreas degradadas por pastagem de búfalos nas trêsreservas da SPVS. Até o momento, foram plantadas 650.000 mu-das. Diversos trabalhos foram realizados com as comunidades deentorno, baseados em três aspectos principais: incentivo a organi-zação (associativismo, cooperativismo), capacitação e educaçãoambiental e alternativas de renda.

Quanto ao estoque de carbono, os projetos desenvolvem eadaptam metodologias que avaliam o estoque de carbono emdiferentes ambientes da Mata Atlântica, através de estimativasda quantidade de emissões evitadas devido à manutenção dasorestas (desmatamento evitado) e a captura de carbono pelocrescimento e restauração das orestas. Na Reserva NaturalSerra do Itaqui, com 4.714 ha de orestas, foram instaladas 191parcelas para quanticação do estoque e incremento de carbono,correspondendo a uma estimativa total de 555.650 toneladas decarbono. Na Reserva Natural Rio Cachoeira foram instaladas 189parcelas em 6.663 ha de orestas, sendo estimado um estoquede 768.500 toneladas de carbono, e na Reserva Natural Morroda Mina, foram instaladas 84 parcelas em 901 ha de orestas,correspondendo a 102.350 toneladas de carbono.

Saiba mais: www.spvs.org.br

Área de atuação: 3; 4; 8; 18Onde: PR

Guardas-parque fazendo a vigilância das reservas da SPVS no Paraná. Rio Cachoeira em pr imeiro plano, tendo ao fundo a Serrado Mar com o Pico Paraná.

    Z   i   g   K   o   c   h

    Z   i   g   K   o   c   h

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Iniciado em 2005, o programa Ação Cultural de CriaçãoSaberes e Fazeres da Mata Atlântica, realizado pela ONGCuricaca, com apoio do Ministério do Meio Ambiente na pri-meira fase e, atualmente, do CNPq e Fundação Itaú Social(até 2009), é direcionado a crianças, adolescentes e profes-sores, com o objetivo de alcançar suas famílias e a comunida-de do entorno de unidades de conservação e dos corredoresecológicos da região nordeste do Rio Grande Sul, próximo aoestado de Santa Catarina, onde há um grande mosaico deproteção à Mata Atlântica constituído por parques, orestas

nacionais, áreas de proteção ambiental e reservas particu-lares. Funciona como um museu a céu aberto instalado nasunidades de conservação, onde mediadores ambientais daCuricaca recebem as escolas selecionadas. Seu conteúdoé organizado em módulos que abordam temas como micro-corredores ecológicos e a relação positiva entre patrimônionatural e cultural. Para cada um deles é criado instrumentalinterativo e material pedagógico.

O programa realiza também formação de educadoresambientais, fortalecendo e aprofundando o trabalho que

vem sendo realizado com professores e escolas de cincomunicípios. Já são 18 escolas públicas e 40 professores en-volvidos.

Ainda dentro da iniciativa, uma parceria com Universida-de Federal do Rio Grande do Sul, iniciada em 2007, promovea difusão e popularização de conhecimentos cientícos emáreas como biologia e arqueologia junto a comunidades daMata Atlântica na Região de Itapeva (RS), especialmente noentorno da RPPN Mata do Professor e Parque Estadual deItapeva. A sistematização do conhecimento existente subsi-

dia a Ação Cultural de Criação, suas trilhas educativas comalunos das escolas da região e os eventos de trocas de sa-beres com a comunidade, além da criação de instrumentosinterativos pedagógicos e a produção de material gráco comapresentação desse conteúdo, incluindo um livro. Já foramrealizados mais de 130 encontros de educação ambiental nasunidades de conservação e espaços culturais da região, en-volvendo semestralmente e de forma continuada um grupode cerca de 450 alunos. Ao longo dos anos de sua existênciaabrangeu mais de 1.500 crianças e adolescentes.

Saiba mais:

Área de atuação: 2; 9Onde: RS

Ações de educação ambiental dirigidas a crianças e adolescentes.

Ação Cultural de Criação Saberese Fazeres da Mata Atlântica

    A   c   e   r  v   o   d   o   I   n   s   t   i   t  u   t   o   C  u   r   i   c   a   c   a

    A   c   e   r  v   o   d   o   I   n   s   t   i   t  u   t   o   C  u   r   i   c   a   c   a

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CAPÍTULO 11 – BANCO DE IDEIAS SUSTENTÁVEIS

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É um projeto desenvolvido pela Associação dos Municí-pios do Alto Vale do Itajaí (Amavi), com apoio do Ministério doMeio Ambiente (MMA), da Fundação do Meio Ambiente (FAT-MA), da The Nature Conservancy (TNC) e da Associação dePreservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), com oobjetivo identicar e delimitar as Reservas Legais dos 25.000imóveis rurais na região de abrangência dos 28 municípios doAlto Vale do Itajaí, em Santa Catarina. Iniciado no segundosemestre de 2009, pretende apoiar os pequenos produtoresrurais na correta instrução dos processos de identicação,delimitação e averbação em cartório da Reserva Legal daspropriedades rurais, além de organizar um cadastro geral dasituação ambiental dos imóveis rurais da região.

A proposta da Amavi surgiu após a publicação do Decretono 6.514/08, que regulamentou a Lei no 9.605/98 (Lei de Cri-mes Ambientais) no que tange às infrações e sanções admi-nistrativas ao meio ambiente e estabeleceu prazo até 11 dedezembro de 2009 para que os proprietários rurais averbem aReserva Legal, sob pena de multa diária. Este prazo foi pror-rogado para 11 de junho de 2011 pelo Decreto no 7.029/09.

A iniciativa da Amavi foi motivada pela percepção de queapenas uma minoria dos pequenos produtores da região rei-vindicavam o engajamento político dos prefeitos para a modi-

cação ou exibilização do Código Florestal, enquanto a maioriados produtores buscava orientação e ajuda para se adequar ecumprir a legislação ambiental. A Amavi elaborou a proposta ebuscou o apoio do MMA, concretizado através de um Acordode Cooperação Técnica. A participação da TNC também estárespaldada em Acordo de Cooperação com o MMA.

Levantamento preliminar da Amavi indicou que aproximada-mente 70% das pequenas propriedades rurais da região aindaconservam áreas de vegetação nativa para constituir a ReservaLegal e são raros aqueles que não possuem mais nenhum re-

manescente de mata nativa e que terão que recuperar áreas. Ouseja, naquela região, a regularização da Reserva Legal, median-te averbação de área equivalente a 20% do imóvel conformepreconiza o Código Florestal (Lei no 4.771/65), depende basica-mente da identicação, mapeamento e averbação em cartório.

Essa iniciativa coloca as prefeituras da região na van-guarda da discussão e solução dos problemas relacionadosaos principais temas de importância não apenas local e na-cional, mas também global, como a minimização dos efeitosdas mudanças climáticas, a conservação da biodiversidade, aconservação dos recursos hídricos e a conservação do solo,todos temas relacionados aos processos agrícolas, industriais,energéticos e de abastecimento público e bem estar das popu-lações humanas.

A união de esforços entre a Amavi, MMA e TNC visa dimi-nuir e agilizar os trâmites burocráticos e desonerar os produto-res rurais dos custos relacionados a instrução dos processos eaverbação da Reserva Legal, calculados em aproximadamen-te R$ 1.500,00 por pequena propriedade, sem o projeto.

Um dos aspectos mais relevantes e inovadores da pro-posta é a formação de corredores e mosaicos entre os re-manescentes de vegetação nativa da Mata Atlântica entre aspropriedades rurais. Para isso estão sendo preliminarmente

mapeados todos os remanescentes de Mata Atlântica da regiãoe, ao propor a localização da Reserva Legal, será priorizada aconexão entre as Reservas Legais de vizinhos e também comas Áreas de Preservação Permanente (APPs). Desta forma,pretende-se garantir a proteção dos recursos hídricos e o u-xo gênico da biodiversidade, além dos serviços ambientais depolinização de culturas agrícolas e controle da erosão. Outroobjetivo é minimizar os impactos das enxurradas e enchentes,muito frequentes na região, sobre as áreas agrícolas e, princi-palmente, sobre a infraestrutura de casas, cidades e rodovias.

Saiba mais: http://www.amavi.org.br/reservalegal

Área de atuação: 6; 19Onde: SC

Adequação Ambiental de Imóveis Rurais –Averbação de Reserva Legal

    W   i   g   o   l   d   B .

   S   c   h   a   f   f   e   r

Seminário promovido pela Amavi eMMA para discutir a averbação dasReservas Legais em 25.000 imóveis

da região do Alto Vale do Itajaí.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Bacia do Piracicaba

Uma experiência de pagamento por serviços ambientaisestá sendo desenvolvida em três microbacias - Ribeirão doMoinho, Ribeirão Cancã e Ribeirão das Posses – situadasnos municípios de Joanópolis e Nazaré Paulista, em SãoPaulo, e em Extrema, em Minas Gerais, região das baciasque formam o Sistema Cantareira, um dos principais respon-sáveis pelo abastecimento de água da Região Metropolitanade São Paulo.

O projeto conta com recursos no valor de R$ 550 mil, dis-ponibilizados pelo Comitê de Bacias Hidrográcas dos RiosPiracicaba, Capivari e Jundiaí (CBH-PCJ), e está viabilizandocontratos com proprietários, que receberão por cinco anos

valores anuais entre R$ 8,50 e R$ 125,00 por hectare, porserviços como redução de erosão, conservação e diminuiçãoda perda de solos, plantio de matas ciliares e conservação deremanescentes orestais.

Em São Paulo, os trabalhos voltados para a diminuiçãoda perda de solos, como a construção de curvas de níveis empastos e plantações, assim como o plantio de matas ciliaresserá nanciado pelo governo do estado. Segundo o Proje-to de Recuperação de Matas Ciliares, da Secretaria do MeioAmbiente, o proprietário não desembolsa nada e recebe umacontrapartida porque está fazendo um serviço que, no longoprazo, vai beneciar toda a sociedade.

Saiba mais: www.ambiente.sp.gov.br

Área de atuação: 4; 6; 7Onde: SP, MG

Ação de entrega de mudas nativas para recuperação de APP. Área de APP em restauração em Joanópolis - SP.

    A   c   e   r  v   o   d   o   P   r   o   j   e   t   o   d   e   R   e   c   u   p   e   r   a   ç   ã   o   d   e   M   a   t   a   s   C   i   l   i   a   r   e

   s

    A   c   e   r  v   o   d   o   P   r   o   j   e   t   o   d   e   R   e   c   u   p   e   r   a   ç   ã   o   d   e   M   a   t   a   s   C   i   l   i   a   r   e

   s

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CAPÍTULO 11 – BANCO DE IDEIAS SUSTENTÁVEIS

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Banana Orgânica no Vale do Ribeira

O quilombo Ivaporunduva, localizado no Vale do Ribeira,desenvolve uma série de projetos visando gerar alternativasde manejo de seus recursos naturais e de geração de renda.Além da produção de artesanatos com palha de bananeira,repovoamento do palmiteiro juçara e coleta seletiva de lixo,cultivam banana orgânica.

A produção de banana é a principal atividade econômicado quilombo desde o século passado e uma das maiores detodo o Vale do Ribeira. A partir de 2001, através do Projeto deGestão Ambiental Participativa e Desenvolvimento Econômicono Quilombo de Ivaporunduva, em parceria com o Instituto So-

cioambiental (ISA) e nanciamento do PDA, do Ministério doMeio Ambiente, foi conseguida a infraestrutura necessária paraa comercialização direta pela Associação e certicação orgâni-ca da produção. Em 2003, a comunidade conseguiu o certi-cado de banana orgânica concedido pelo Instituto Biodinâmi-co de Botucatu e, desde então, passou a vender banana comvalor agregado diretamente para mercados e distribuidoras

de alimentos do estado de São Paulo, eliminando a gura doatravessador. Em 2005, por exemplo, vendeu quatro toneladasde banana orgânica para a Companhia Nacional de Abasteci-mento (Conab) e, em 2006, venceu um pregão da prefeituramunicipal de Suzano para fornecer bananas para a merendaescolar. Agora, estão nalizando e implementado uma unidadede processamento para produção de banana passa.

O projeto faz parte do Programa Vale do Ribeira, desenvol-vido pelo ISA em parceria também com outras comunidades doVale do Ribeira. Outro importante projeto desenvolvido por essaparceria é o repovoamento do palmito juçara. Em abril de 2008,

as comunidades quilombolas do Vale e parceiros festejaram aprimeira produção de mudas do palmito juçara. Ao todo, foram15 mil mudas produzidas e destinadas a 14 comunidades qui-lombolas para plantio nos quintais. As mudas são resultado daconstrução de três viveiros de mudas nas comunidades quilom-bolas de Cangume, André Lopes e Nhunguara e de outros doisreformados em Ivaporunduva e Nhunguara, em 2007.

Saiba mais: quilombosdoribeira.org.br

Área de atuação: 9; 10; 11; 12; 14

Onde: SP

Bananeira.

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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A Cooperativa de Produtores Orgânicos do Sul da Bahia(Cabruca), criada no ano 2000, reuniu um grupo de agriculto-res que não utilizavam insumos sintéticos, agrotóxicos e outrosprodutos prejudiciais ao meio ambiente em suas culturas decacau. Com apoio do Instituto de Estudos Socioambientais doSul da Bahia (Iesb) e a Conservação Internacional (CI), desen-volveram uma iniciativa pioneira: a produção de cacau orgâni-co certicado voltada à preservação da Mata Atlântica.

Hoje, são 63 produtores – produtores rurais de pequeno,médio e grande porte e um assentamento de reforma agrária

com 25 famílias – certicados ou em processo de certicaçãono Corredor Central da Mata Atlântica. O selo é da Associaçãode Certicações Instituto Biodinâmico (IBD Certicações), cre-denciado pela  International Federation of Organic Agriculture

Movements  (Ifoam) e Deutscher Akkreditierungsrat (DAR).Além de promover a produção orgânica de cacau, que

chega a 200 toneladas de amêndoas, a Cabruca incentivaseus cooperados a diversicarem a produção com cultivo deespeciarias e frutíferas em sistemas agroorestais. Plantam evendem, em sistema agroorestal, pimenta-do-reino, guaraná,cravo e urucum. Em 2007, passaram a vender também outrasfrutas desidratadas além da banana, coco e mamão: cupuaçu, jaca, genipapo e banana da terra; além de polpa de fruta con-gelada e geleias com a marca Cabruca.

A Cabruca também incentiva um processo constante deadequação ambiental dos cooperados com a averbação das

suas Reservas Legais, recomposição de áreas de oresta depreservação permanente (beiras de rios e áreas íngremes),com apoio de organizações locais. Alguns cooperados tambémencaminharam propostas para o reconhecimento de parte dassuas terras como Reservas Particulares do Patrimônio Natural(RPPNs).

Cacau Orgânico

No sistema cabruca a manutenção de árvores da Mata Atlântica énecessária para sombrear o cacaueiro.

Fruto do cacaueiro.

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

Saiba mais: www.cabruca.com.br

Área de atuação: 3; 6; 12; 13Onde: BA

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CAPÍTULO 11 – BANCO DE IDEIAS SUSTENTÁVEIS

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Com a premissa de não alterar o equilíbrio ecológico noscampos de cultivo e de exercer impacto social e econômicopositivo sobre as comunidades onde atua, o Grupo Balbo foipioneiro na conquista da certicação orgânica em áreas daMata Atlântica, ainda em 1997.

O projeto Cana Verde da Native – empresa do grupo –está entre os maiores de agricultura orgânica da atualidadee tem como diferencial sua escala industrial e a participaçãono mercado mundial. São cerca de 15 mil hectares de plantiode cana sem agrotóxico que dão origem ao açúcar Native,

vendido no mercado interno e em países da Europa, Ásia eAmérica do Norte.A passagem do cultivo convencional para o orgânico

ocorreu em 1986 por iniciativa do diretor do Grupo, LeontinoBalbo Jr., que se interessou pelas técnicas de recuperaçãoda fertilidade natural do solo e de recomposição da vegeta-ção original. A certicação orgânica pela FVO – Farm Verifed

Organic  (certicadora norteamericana credenciada por agên-cias europeias e japonesas) foi obtida em 1997, garantindo asustentabilidade dos sistemas de produção e o caráter socio-ambiental do açúcar para o consumidor.

Os canaviais orgânicos vêm apresentando produtividadeadequada à qualidade dos solos, tendo sido consistentemen-

te superior à produtividade média de canaviais convencionaisna mesma região. Os resultados para a natureza também sãoanimadores, já que a vegetação nativa, que há quinze anosrepresentava apenas 5% do terreno, hoje responde por maisde 14%.

Entre maio de 2006 e abril de 2007, a Native realizou oinventário das emissões de gases de efeito estufa (GEE) docanavial orgânico da usina São Francisco (Ufra). Baseada noGHG Protocol – modelo internacional de quanticação dasemissões –, a avaliação considerou desde a produção agrí-

cola de cana e o consumo de insumos, até a fase industrial daprodução do açúcar e do álcool na usina. Como parte dessesprodutos se destina ao mercado externo, também foram con-sideradas as demandas de energia envolvidas no transporteaté o porto de destino (EUA, União Europeia e Japão).

Os valores vericados para a Ufra são menores que os va-lores médios de emissão do setor, por causa dos métodos orgâ-nicos de produção. Quando comparados à produção realizadana Europa ou Japão, a partir da beterraba, ou dos EUA, a partirdo milho e da beterraba, as vantagens são ainda maiores. Issoocorre porque se trata de métodos produtivos que utilizam ener-gia proveniente da queima de combustíveis fósseis, enquanto,na Ufra, a energia provém da queima do bagaço da cana.

Saiba mais: www.nativealimentos.com.br

Área de atuação: 12Onde: SP

Plantação de cana ao lado de área recuperada com vegetação nativa. Colheita mecânica da cana verde.

   L   e   o   n   t   i   n   o   B   a   l   d   o   J   r .

    L   e   o   n   t   i   n   o   B   a   l   d   o   J   r .

Cana Verde

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

370

A certicação da erva-mate, produzida no Sul do Brasil,representa um importante passo na introdução da certica-ção orestal no país. Foi o primeiro produto não-madeireiroa receber o selo FSC por meio da adoção de critérios espe-cícos para produtos não-madeireiros em remanescentes daMata Atlântica. Atestada pela certicadora Smartwood , quetrabalha através do Imaora, a certicação é a garantia da

prática de um manejo orestal ambientalmente adequado,socialmente justo e economicamente viável.

A Ervateira Putinguense, sediada no município de Putin-ga, estado do Rio Grande do Sul, foi a primeira a cumpriro rigoroso processo da certicação socioambiental. O selo,concedido em março de 2003, gerou um impacto imediato navalorização da erva-mate.

Certicação de Produtos FlorestaisNão-Madeireiros da Mata Atlântica: Erva-mate

Plantio de erva-mate consorciada com pinheiro araucária.

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

Saiba mais: www.imaora.org/arquivos/ERVATEIRAPUTINGUENSE.pdf

Área de atuação: 13Onde: RS

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CAPÍTULO 11 – BANCO DE IDEIAS SUSTENTÁVEIS

371

Desenvolvido pela ASA - Comunidade Ativa, em parce-ria com o Programa Nacional de Turismo Rural na Agricul-tura Familiar (PNTRAF) do Ministério do DesenvolvimentoAgrário, com a participação do Ministério do Turismo, oprojeto Circuito de Turismo na Agricultura Familiar de Ca -nanéia incentiva a atividade turística nas propriedades dosagricultores familiares que mantêm atividades econômicastípicas da agricultura familiar nas comunidades tradicionaisde Cananeia.

Dispostas a valorizar, respeitar e compartilhar seu modode vida e o patrimônio cultural e natural, as famílias podem

proporcionar café da tarde caiçara ou almoço caseiro, visitaa atividades produtivas como criação de ostras e agroores-ta, banhos de cachoeira e hospedagem rural. São atividadesambientalmente corretas e socialmente justas, já que incenti-

vam a interação com a população e produtos locais, valorizaa cultura da família do campo, estimula o desenvolvimentoda agroecologia e o associativismo, além da organização doterritório.

O trabalho de implantação do Circuito de Turismo naAgricultura Familiar de Cananeia contou com diversas eta-pas, desde o levantamento detalhado das famílias interessa-das, cursos para qualicação prossional, viagens de inter-câmbio e estruturação dos serviços turísticos. O municípiode Cananeia abrange uma área de 124.200 hectares e estálocalizado na região chamada Lagamar, no Vale do Ribeira. O

Lagamar é reconhecido como um dos cinco maiores viveirosde espécies marinhas do mundo. Começa na Estação Eco-lógica Jureia-Itatins, no sul paulista e segue até Paranaguáno Paraná.

Saiba mais: www.trafcananeia.com.br

Área de atuação: 9; 12; 15Onde: SP

Circuito de Turismo na AgriculturaFamiliar de Cananeia

Pousada da Dona Inês no Circuito de Turismo.

    A   r   m   i   n   D   e   i   t   e   n   b   a   c   h

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Dois programas de restauração orestal desenvolvidospela SOS Mata Atlântica já possibilitaram o plantio de aproxi-madamente 13 mil hectares, com mais de 20 milhões de mu-das produzidas por 36 viveiros. Outras cerca de 5 milhões demudas encontram-se contratadas e num banco de árvores,para serem plantadas nos próximos ciclos das chuvas.

O primeiro desses programas é o Clickarvore, iniciadoem 2000, para que cidadãos doassem árvores pela internetcom patrocínio da iniciativa privada. Nele, a cada clique dadono site   do programa, uma muda de árvore nativa de Mata

Atlântica é doada a pessoas com áreas a serem reoresta-das. Neste caso, a SOS Mata Atlântica orienta e acompanhao plantio.

No Florestas do Futuro, lançado em 2004, a entidade am-bientalista é a responsável por todas as etapas do plantio das

mudas: da captação de recursos, também com a iniciativaprivada, à seleção de áreas e à aquisição de mudas, até oplantio e as vistorias por três anos. Além disso, o Florestasdo Futuro enfoca a proteção de matas ciliares em áreas demananciais, nas bacias do Alto e Médio Tietê, Tibaji, Rio deContas e Paraíba do Sul, beneciando a conservação da bio-diversidade e ações de educação ambiental.

As bacias foram escolhidas devido ao estado crítico deconservação das áreas de manancial e da cobertura vegetale ao grande número de pessoas beneciadas com as ações

e parcerias institucionais já estabelecidas pela SOS nessasregiões. O programa já possibilitou o plantio de mais de 2 mi-lhões de mudas em cidades como Itu (SP), Piracicaba (SP),Campinas (SP), Salesópolis (SP), Mendes (RJ) e Uberlândia(MG).

Clickarvore e Florestas do Futuro

Saiba mais: www.clickarvore.com.br ; www.orestasdofuturo.org.br

Área de atuação: 4; 6; 18Onde: SP, RJ, MG e outros estados da Mata Atlântica

Centro de Eperimentos Florestais em Itu - SP.

    A   c   e   r  v   o   S   O   S   M   a   t   a   A   t   l   â   n   t   i   c   a

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CAPÍTULO 11 – BANCO DE IDEIAS SUSTENTÁVEIS

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O Projeto Conservação dos Recursos Hídricos e da Bio -diversidade da Serra da Jiboia, iniciado em 2007, é uma pro-posta que dá continuidade às ações do Grupo Ambientalistada Bahia (Gambá) na região do Recôncavo Sul Baiano.

O objetivo é contribuir para a conservação dos recursos hídri-cos e da biodiversidade através de ações como reorestamentode Áreas de Preservação Permanente (APPs), redução do des-matamento na região com a implantação de bosques energéticose madeiráveis, como alternativas de produção de lenha e estacaspara subsistência das comunidades locais; o repovoamento das

áreas recuperadas e remanescentes orestais, através da reabi-litação e soltura de animais silvestres, contribuindo também parareduzir o comércio ilegal de animais silvestres na região; o forta-lecimento das comunidades locais para gestão responsável dosrecursos naturais através da capacitação de suas organizações elideranças, com ações participativas.

A gestão participativa do projeto se dá através do moni-toramento de um conselho gestor, que oportuniza às comu-nidades e organizações locais o controle social do projeto,funcionando também como instrumento de capacitação paragestão de projetos.

O projeto tem a perspectiva de inuenciar na redução deconitos ambientais como pecuária e agricultura em áreasde APP, desmatamento, tráco e cativeiro ilegal de animaissilvestres. A partir de ações do projeto, o Gambá busca pro-mover a formação e conscientização de comunidades rurais

e de organizações locais para: o uso sustentado de recursosnaturais; o manejo ecológico sustentado das propriedadesrurais; a mudança de atitudes para a proteção e scalizaçãoambiental; o fortalecimento e a capacitação para a conser-vação da fauna silvestre como agentes de manutenção dasorestas e dos serviços ambientais.

Saiba mais: www.gamba.org.br

Área de atuação: 4; 6; 17Onde: BA

Conservação dos Recursos Hídricos e daBiodiversidade da Serra da Jiboia

Área de Preservação Permanente (APP) reorestada em 2003 peloGambá. Elísio Medrado - BA. Viveiro de produção de mudas nativas da Mata Atlântica. Reserva Jequitibá / Gambá na Serra da Jiboia em Elísio Medrado - BA.

    E   l   b   a   n   o   P   a   s   c   h   o   a   l   d   e   F .   M   o   r   a   e   s

    M   a   r   i   a   T   h   e   r   e   s   a   S .   S   t   r   a   d   m   a   n

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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No ano de 2004, a Fundação Neotrópica do Brasil pas-sou a ser parceira da Conservação Internacional na implan-tação do Corredor de Biodiversidade Miranda – Serra da Bo-doquena. Desde então, desenvolve ações para a ampliaçãodo conhecimento sobre a biodiversidade e socioeconomia re-gional, mobilização da sociedade para conservação da natu-reza, incentivo à conservação em áreas públicas e privadas,incentivo à criação de áreas protegidas e à gestão ambientalnos municípios que fazem parte do corredor.

Com 4.254.800 hectares de área de abrangência, o

Corredor de Biodiversidade Miranda – Serra da Bodoquenaocupa uma posição estratégica no continente sulamericanopor estar em uma área de contato entre os biomas brasileirosMata Atlântica, Cerrado e Pantanal, além do Chaco úmido, oque lhe confere alta relevância quanto aos padrões biogeo-

grácos de fauna e ora. Além disso, características regionaistambém contribuem para sua relevância ambiental, como apresença da Serra da Bodoquena, uma importante zona derecarga de aquífero e divisor de águas que abastece as prin-cipais bacias hidrográcas da região, e ainda abriga o maiorremanescente de oresta estacional decidual do estado doMato Grosso do Sul.

Fazem parte da área coberta pelo corredor: o Parque Na-cional da Serra da Bodoquena, a Reserva Indígena Kadiwéu,três Monumentos Naturais e oito Reservas Particulares do

Patrimônio Natural (RPPNs). Os municípios abrangidos pelocorredor são: Corumbá, Aquidauana, Miranda, Bodoquena,Porto Murtinho, Anastácio, Bonito, Nioaque, Maracaju, GuiaLopes da Laguna, Jardim, Bela Vista, Caracol e Ponta Porã(MS).

Corredor Miranda-Serra da Bodoquena

Saiba mais: www.fundacaoneotropica.org.br

Área de atuação: 2Onde: MS

Ação de planejamento do Corredor Miranda – Serra da Bodoquena. O Parque Nacional da Serra da Bodoquena integra o Corredor Miranda –Serra da Bodoquena.

    A   c   e   r  v   o   F  u   n   d   a   ç   ã   o   N   e   o   t   r   ó   p   i   c   a   d   o   B   r   a   s   i   l

    A   c   e   r  v   o   F  u   n   d   a   ç   ã   o   N   e   o   t   r   ó   p   i   c   a   d   o   B   r   a   s   i   l

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CAPÍTULO 11 – BANCO DE IDEIAS SUSTENTÁVEIS

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Minas Gerais conta com grandes extensões de terra to-madas pela agricultura, mas também existem ricos remanes-centes de mata a serem conservados, como o Parque Esta-dual da Serra do Brigadeiro e o Parque Nacional do Caparaó.O projeto Desenvolvimento Territorial Sustentável para a Ser-ra do Brigadeiro, desenvolvido pelo Centro de Tecnologias Al-ternativas da Zona da Mata de Minas Gerais (CTA-ZM), tempor objetivos: fortalecer os processos de gestão participativade políticas públicas no Parque Estadual da Serra do Briga-deiro (PESB) e do Território da Serra do Brigadeiro; implan-

tação de sistemas agroorestais, assessoria e capacitaçãode agricultores familiares em sistemas de transição agroeco-lógica; difusão de sistemas de transição agroecológica; sis-tematização das experiências da implantação do Parque eeducação ambiental. O programa envolve os municípios de

Araponga, Ervália, Divino, Sericita, Pedra Bonita, Rosário deLimeira, Muriaé, Miradouro e Fervedouro, no território da Ser-ra do Brigadeiro.

O projeto se desdobra em duas frentes principais: umadireta com os agricultores, contando com apoio de pesquisa-dores e extensionistas da Universidade Federal de Viçosa eEmpresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais, imple-mentando sistemas de produção sustentáveis em proprieda-des familiares da região do entorno do PESB. A outra frenteé uma participação intensa na implementação de importantes

políticas públicas, como o Território da Serra do Brigadeiro,no âmbito do Programa Nacional de Desenvolvimento Sus-tentável de Territórios Rurais (Pronat) do Ministério do De-senvolvimento Agrário e a atuação na gestão da Unidade deConservação do Sistema Estadual de Meio Ambiente.

Saiba mais: www.ctazm.org.br

Área de atuação: 1; 10; 18Onde: MG

Desenvolvimento Territorial Sustentávelpara a Serra do Brigadeiro

Visão geral da Serra do Brigadeiro. Momento de troca de conhecimentos.

    A   c   e   r  v   o   C   T   A  -   Z   M

    A   c   e   r  v   o   C   T   A  -   Z   M

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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O Programa Desmatamento Evitado, lançado pela Socie-dade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental(SPVS), busca sensibilizar a iniciativa privada para a prote-ção dos últimos remanescentes de áreas naturais no estadodo Paraná, como a oresta com araucária.

O Programa prevê contatos entre empresas e a SPVSpara que seja feita uma estimativa dos gases de efeito estu-fa emitidos pelas atividades dessas instituições, durante umperíodo de tempo ou em um evento especíco. A empresa,por sua vez, se compromete a adotar uma área de ores-ta nativa que tenha em estoque uma quantidade de carbono

proporcional às suas emissões. Estudos cientícos indicamque as áreas de oresta com araucária em bom estado deconservação armazenam mais de 120 toneladas de carbonopor hectare. Calcula-se que exista hoje no Paraná menos de1% de oresta com araucária bem conservada e, ainda, sen-do sistematicamente desmatada.

A primeira adesão ao Programa foi realizada pelo Gru-po Positivo, em 2003, que adotou uma área de Floresta comAraucárias no Paraná na qual a compensação de emissõesde gases de efeito estufa não estava contemplada. O HSBCBank Brasil também aderiu ao Programa Desmatamento Evi-tado, com o lançamento do Seguro Verde. Para cada renova-ção ou novo contrato de seguro de carro feito com a HSBC

Seguros, 88 m2 de área de mata nativa serão protegidos porcliente, ao longo de cinco anos, compensando as emissõesde um automóvel que roda cerca de 18 mil quilômetros aoano. A mesma iniciativa acontece também na área de SeguroResidencial. Foi realizada uma estimativa de consumo anualde luz, gás e geração de lixo, onde são necessários a prote-ção de 44 m2 de oresta em pé, para cada renovação ou novoSeguro Residencial Verde. Até julho de 2009, foram adotadas11 áreas, o que acarretou a adoção de 1.536 hectares deorestas nativas, como forma de compensação das emissõesde gás carbônico dos automóveis e residências segurados.

O Desmatamento Evitado não é uma alternativa ou umsubstituto para o plantio de árvores, mas sim uma ação maisurgente: proteger as orestas nativas para a sua preservação econsequente manutenção de seu estoque de carbono. O proje-to já resultou em mais de 2.400 hectares de orestas adotadas,distribuídos em 20 propriedades rurais; mais de 250.000 tone-ladas de carbono sendo estocados pelas áreas adotadas; aexpectativa de mais de 9.000 toneladas de carbono sendo ab-sorvidas da atmosfera, ao longo dos 5 anos de monitoramentodas áreas; identicação e conservação de aproximadamente260 espécies vegetais, 150 espécies de aves e, principalmen-te, a conservação de 30 espécies de fauna e ora ameaçadasde extinção que ocupam as áreas adotadas.

Desmatamento Evitado

Saiba mais: www.spvs.org.br; sobre o seguro verde: www.eucuidodoplaneta.com.br

Área de atuação: 7Onde: PR

Sitio Sossego em Bocaiúva do Sul - PR. Placas indicativas de áreas inseridas no Programade Desmatamento Evitado.

    P   a   b   l   o   H   o   f   f   m   a   n   n

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CAPÍTULO 11 – BANCO DE IDEIAS SUSTENTÁVEIS

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Executado pelo Centro de Desenvolvimento Agroeco-lógico Sabiá, nos municípios de Abreu Lima, Bom Jardim,Rio Formoso e Igaraçu na Zona da Mata, em Pernambuco,o Projeto Difusão de Sistemas Agroorestais desaa o vio-lento processo de degradação do solo e da devastação daoresta nativa na região, que tornou a terra improdutiva etirou do mapa aves como o sabiá, pica–pau, beija-or ecanário.

Com o envolvimento de mais 100 famílias, o projeto sededica ao plantio de culturas anuais e introdução de espécies

nativas (arbóreas e arbustos), com vistas à produção de ma-téria orgânica, madeira e ração para animais. Os produtos,inclusive os derivados do mel, são beneciados e comerciali-zados, contribuindo para o aumento da renda na propriedaderural. Entre os produtos cultivados estão abacaxi, banana,

 jaca, caju, jenipapo, carambola, mandioca, inhame e cará.Entre as espécies de árvores nativas mais plantadas está oipê, uma das árvores mais conhecidas e que deu origem aonome do município Bom Jardim, por conta das ores que co-briam o chão das estradas. Outra espécie arbórea de grandevalor econômico e que está sendo utilizada no projeto é osabiá (igual ao nome da ave) e que é usado para vários ns,entre eles a produção de lenha.

O Centro Sabiá também desenvolve em cinco municípios(Catende, Palmares, Ribeirão, Sirinhaém e Rio Formoso) o

projeto Sistemas Agroorestais em Consórcio como alterna-tiva de desenvolvimento sustentável da Mata Atlântica Per-nambucana, em parceria com a Fase, Federação dos Traba-lhadores na Agricultura do Estado de Pernambuco (Fetape) eProjeto Catende Harmonia.

Saiba mais: www.centrosabia.org.br ; www.fase.org.br/_reg_pernambuco

Área de atuação: 4; 10; 12Onde: PE

Difusão de Sistemas Agroorestais

Jones Severino e Lenir Ferreira colhem café no SAF em Abreu e Lima - PE. O agricultor Domingos Martiniano em seu SAF, em Sirinhaém - PE.

   J   o   r   g   e   V   e   r   d   i

    J   o   r   g   e   V   e   r   d   i

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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O Projeto de Desenvolvimento do Ecoturismo na Regiãoda Mata Atlântica, desenvolvido pelo Governo do Estado deSão Paulo, por meio da Secretaria de Estado do Meio Am-biente e de uma parceria com o Banco Interamericano deDesenvolvimento (BID), visa aprimorar a visitação públicaem seis unidades de conservação da Mata Atlântica em SãoPaulo: no Vale do Ribeira e no Alto Paranapanema, os par-ques estaduais de Carlos Botelho, Ilha do Cardoso, Interva-les, Caverna do Diabo e Turístico do Alto Ribeira; e, no litoralnorte, o Parque Estadual de Ilhabela. Eles estão localizados

em importantes regiões de conservação da Mata Atlântica.A iniciativa visa consolidar o turismo sustentável comoforma de desenvolvimento socioeconômico regional, aliado

à estratégia de conservação da natureza. Tem como açõesestratégicas: estruturar e promover serviços e atividades delazer para a visitação pública em parques estaduais; apoiar aconsolidação de uma cadeia de serviços turísticos no entor-no dos parques, com a participação das comunidades locais;fortalecer a gestão pública para o ecoturismo nas unidadesde conservação, por meio de capacitação de pessoal, esta-belecendo normas de controle e regulamentação da atividadeturística.

O Projeto pretende que o ecoturismo possa contribuir

para melhorar a proteção da biodiversidade das unidades deconservação da Mata Atlântica servindo de modelo para ou-tras áreas protegidas.

Saiba mais: http://homologa.ambiente.sp.gov.br/ecoturismo/mataatlantica/index.asp

Área de atuação: 15Onde: SP

Ecoturismo na Mata Atlântica

Caverna no PETAR. Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira - PETAR.

    R   o   n   e  y   P   e   r   e  z

    L  u   i  z   a   S   a   t   o

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CAPÍTULO 11 – BANCO DE IDEIAS SUSTENTÁVEIS

379

Pesquisadores associados ao Mater Natura – Institutode Estudos Ambientais descobriram sete novas espécies deanimais na Mata atlântica, todas endêmicas ou ameaçadasde extinção. São três espécies de aves: macuquinho-da-vár-zea (Scytalopus iraiensis), bicudinho-do-brejo (Stymphalornis

acutirostris), tapaculo-da-chapada-diamantina (Scytalopus

diamantinensis), e quatro espécies de anfíbios do gêneroBrachycephalus, os sapinhos-da-montanha, identicadas en-tre os anos de 2005 e 2006: Brachycephalus brunneus, B.

izecksohni, B. ferruginus e B. pombali.O macuquinho-da-várzea é um pequeno pássaro que

até 1997 era totalmente desconhecido da ciência, quando

foi avistado na Região Metropolitana de Curitiba. Além daslocalidades conhecidas no Paraná, também é encontradoem Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, en-tretanto, por ocorrer apenas em ambiente muito restrito - asvárzeas -, é reconhecido ocialmente como uma espécie

ameaçada de extinção. O tapaculo-da-diamantina foi desco-berto e descrito em 2007. A espécie, endêmica da ChapadaDiamantina (BA), vive em ambientes orestais, em especial

no vale de alguns rios.O bicudinho-do-brejo, descoberto em 1995 no município

de Matinhos (Paraná), se distribui em apenas oito populaçõesisoladas, em áreas do litoral sul do Paraná e norte de San-ta Catarina. Apenas 3,5% das aves do mundo têm extensãode ocorrência igual ou menor que a do bicudinho-do-brejo.

Estima-se que não existam mais do que 18.000 bicudinhos-do-brejo na natureza. Eles vivem na vegetação herbácea earbustiva dos brejos formados por rios e também próximosao mar.

A Mata Atlântica abriga uma das maiores diversidades deanuros de todo mundo, entre eles estão os chamados sapi-nhos-da-montanha, pertencentes à família Brachycephalidae,ocorrendo nas Serras da Mantiqueira e do Mar. As diferentesespécies do gênero Brachycephalus vivem no chão da ores-ta sob a serrapilheira. No Paraná, são encontradas cinco dasonze espécies conhecidas e apresentam um extremo grau deendemismo, pois são restritas a algumas montanhas da Serra

do Mar. Vivem em altitudes que variam de 1.000 a 1.800 me-tros acima do nível do mar.

Constituem o menor grupo de vertebrados terrestres doplaneta, medindo em média 12,5 mm de comprimento. Pos-suem em geral cores chamativas, como amarelo, laranja evermelho. Apresentam redução do número de dedos dos pése das mãos, possuindo apenas três dedos. Outra peculiarida-de, incomum para os demais anfíbios, é o desenvolvimentodireto, ou seja, não há a fase de girino.

 Atualmente, graças ao apoio de nanciadores e parcei-ros, várias pesquisas já foram realizadas, contribuindo paraa conservação destas espécies e de seus ecossistemas, es-pecialmente aquelas situadas nas unidades de conservaçãoou em seu entorno.

Estudo de Novas Espécies Ameaçadas e Endêmicas

Saiba mais: www.maternatura.org.br

Área de atuação: 16; 17; 18Onde: PR

Bicudinho-do-brejo (Stymphalornis acutirostris ). (Brachycephalus izecksohni).

    L  u   i  z   F   e   r   n   a   n   d   o   R   i   b   e   i   r   o

    R   i   c   a   r   d   o   B   e   l   m   o   n   t   e  -   L   o   p   e   s

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Quando foi adquirida pelo fotógrafo Sebastião Salgado esua mulher, Lélia Wanick, a Fazenda Bulcão, em Aimorés, Mi-nas Gerais, era quase toda um pasto degradado. Dos 608,69hectares, menos de um alqueire era composto por oresta.

Desde 1998, iniciou-se um processo de recuperação realiza-do pelo Instituto Terra, organização não-governamental criadapelo casal e que administra a área, transformada na ReservaParticular do Patrimônio Natural (RPPN) Fazenda Bulcão. Otítulo foi considerado inédito por se tratar da primeira RPPNconstituída por uma área degradada de Mata Atlântica, tendocomo compromisso a sua restauração.

O trabalho de recuperação, com o primeiro plantio, co-meçou em 1999 e continua até hoje dentro da fazenda, quepossui duas microbacias, a do Córrego Bulcão e a do Córre-go Constância. Ambos nascem na fazenda. A recuperação damicrobacia do Bulcão dentro da propriedade já foi nalizada

e na do Constância está em andamento. Já foram plantadasmais de um milhão de mudas de espécies nativas.

Um dos resultados do reorestamento é que o uxo de

água cou mais homogêneo ao longo do ano. Isso acontece

porque a água agora está inltrando no solo e retornando ao

leito do rio devagar, ao invés de descer toda na enxurrada,

Fazenda Bulcão

Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Fazenda Bulcão (2001).

    A   c   e   r  v   o   I   n   s   t   i   t  u   t   o   T   e   r   r   a

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CAPÍTULO 11 – BANCO DE IDEIAS SUSTENTÁVEIS

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Saiba mais: www.institutoterra.org

Área de atuação: 3; 4Onde: MG

RPPN Fazenda Bulcão (2009).

    A   c   e   r  v   o   I   n   s   t   i   t  u   t   o   T   e   r   r   a

agravando ainda mais o assoreamento. Além disso, foramcadastradas sete nascentes no Córrego Bulcão, das quaisexistiam apenas três quando o trabalho começou. As outrasquatro retornaram à vazão depois do reorestamento. Na

microbacia do Constância, há duas nascentes identicadas

e cadastradas.Desde 2001, é realizado o monitoramento físico, quí-

mico e biológico da água e vem diminuindo progressiva-mente o índice de coliformes fecais nas nascentes. No últi-mo levantamento, realizado na estação seca de 2007, dasnove nascentes, apenas uma apresentou coliformes.

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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GeoAtlântica é uma plataforma livre para integração dedados georreferenciados no bioma Mata Atlântica e em seussistemas costeiros. A ferramenta organiza informações poráreas de abrangência, permitindo a conservação dos recur-sos naturais com conhecimento, governança e desenvolvi-mento econômico responsável.

A missão do GeoAtlântica é oferecer informações geor-referenciadas em apoio à tomada de decisão pela socieda-de. Autoexplicativo, o sistema também serve à educação,à pesquisa e à difusão de conhecimento na Mata Atlântica.

Sua base de dados em constante expansão é alimenta-da por parceiros cadastrados, entre os quais já estão algu-mas das principais instituições de pesquisa, empresas, ór-gãos de governo e organizações socioambientais em açãona Mata Atlântica e em seus ecossistemas associados.Lançado em julho de 2009 com mais de 50 fontes públicase privadas, o GeoAtlântica é administrado pelo Instituto Bio-Atlântica e possui o apoio da Conservação Internacional, daPetrobras e da The Nature Conservancy.

GeoAtlântica – Ambiente para o Conhecimento

Saiba Mais: https://www.bioatlantica.org.br/geoatlantica/

Área de atuação: 2; 19Onde: BA, ES, RJ

Página de entrada do GeoAtlântica. Eemplo de mapa interativo do GeoAtlântica.

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CAPÍTULO 11 – BANCO DE IDEIAS SUSTENTÁVEIS

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Criada em 2005, a Iniciativa Verde, uma Oscip voltadapara a busca de soluções ambientais para tornar produtos eprocessos produtivos menos agressivos ao meio ambiente,desenvolveu mecanismos de conservação e recuperação deorestas nativas, dentre eles um programa pelo qual empre-sas e eventos realizam voluntariamente o inventário de suasemissões de gases de efeito estufa e pagam para que se- jam neutralizadas por meio do plantio de árvores. A ideia decompensação voluntária surgiu da constatação de que a res-tauração orestal, em áreas de reserva legal e preservação

permanente, como as matas ciliares, embora de importância

inquestionável em termos de serviços ambientais, tinha pou-co apelo para projetos de crédito de carbono porque não for-nece lucro contábil. Adaptaram então o conceito de compen-sação de emissões, que é bastante utilizado na Europa e nosEstados Unidos, para a realidade brasileira, principalmentena região da Mata Atlântica.

A partir daí, a Iniciativa Verde criou o selo Carbon Free

(ou livre de carbono), que é conferido a empresas, produtos eeventos que diminuem e compensam suas emissões. O pro- jeto deve cumprir quatro etapas: o inventário de emissões, oprojeto de restauro orestal responsável pelo sequestro de

carbono, sua implantação e manutenção e o posterior moni-toramento. Mais de 450 projetos já receberam o selo, entreeventos – como a São Paulo Fashion Week e a palestra deAl Gore, em São Paulo -; publicações e programas – como olivro “Uma verdade inconveniente” e o programa Cidade e So-luções, da Globonews -; empreendimentos como o gasodutoPetrobras GASDUC III, que interliga o terminal Cabiúnas com

a estação de Campos Elíseos; e empresas como a Compa-nhia Seguros Aliança do Brasil e o departamento de engenha-ria da Petrobras (Iere). Os inventários são feitos a partir doProtocolo de Gases de Efeito Estufa (GHG Protocol, na siglaem inglês), elaborado pelo World Resources Institute. Atravésdesses projetos, a Oscip já plantou mais de 240 mil árvores,em 140 hectares, com 5% de mortandade, todas replantadas.

Saiba mais: www.iniciativaverde.org.br

Área de atuação: 8Onde: SP

Iniciativa Verde

Viveiro do Rio Santa Bárbara em São Tomás de Aquino - SP. Restauração de área com sistema agroorestal (SAF) em Porto Feli - SP.

    M   a   g   n   o   C   a   s   t   e   l   o   B   r   a   n   c   o  –   A   c   e   r  v   o   I   n   i   c   i   a   t   i  v   a   V   e   r   d   e

    M   a   g   n   o   C   a   s   t   e   l   o   B   r   a   n   c   o  –   A   c   e   r  v   o   I   n   i   c   i   a   t   i  v   a   V   e   r   d   e

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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O projeto, que vem sendo implantado pela Assessoria eServiços a Projetos em Agricultura Alternativa (AS-PTA) noâmbito do Programa Paraná-Santa Catarina, é fundamentadona construção coletiva do conhecimento agroecológico comagricultores experimentadores distribuídos, atualmente, em36 grupos comunitários, juntamente com diferentes organi-zações formais e informais da agricultura familiar da região,ONGs e movimentos sociais.

A região de atuação possui importantes remanescentesda oresta ombróla mista, a oresta com araucárias, queno seu conjunto garante uma cobertura orestal bastante di-ferenciada. As primeiras experiências com agroecologia naregião já têm mais de 15 anos e experimentaram um grande

avanço desde o estabelecimento do Programa em 1993. Apartir de um início com algumas comunidades nos municípiosde São Mateus do Sul e de Bituruna, que ainda plantam aerva-mate integrada ao manejo regenerativo da oresta comaraucárias, chegou-se a formação de grupos de agricultorese agricultoras experimentadores em 21 municípios da região.Atualmente trabalha-se diretamente em 16 municípios.

Ao longo dos 15 anos de parceria entre a AS-PTA e orga-nizações da agricultura familiar, o Programa obteve um am-plo processo de experimentação social nos campos técnicoe sócio-organizativo que vem resultando em crescente capa-cidade de expressão política da opção agroecológica para odesenvolvimento na região.

Manejo Regenerativo de EcossistemasAssociados à Mata Atlântica

Saiba mais: www.aspta.org.br

Área de atuação: 12Onde: PR, SC

O sistema fainal concilia a conservação da orestacom a criação de animais.

Nos faxinais é mantida a forma tradicional de manejo comum das áreasde oresta.

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

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CAPÍTULO 11 – BANCO DE IDEIAS SUSTENTÁVEIS

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Reconhecido no nal de 2006 pelo Ministério do Meio

Ambiente, o Mosaico da Serra da Mantiqueira tem o objetivode estimular a gestão integrada entre as 19 unidades de con-servação presentes em seus 445.615 hectares, localizados natríplice fronteira dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Riode Janeiro, com área em 37 municípios. A função do mosaico éo planejamento e a execução de ações de forma integrada, ob- jetivando o desenvolvimento sustentável da região, priorizando

a preservação da paisagem, da biodiversidade e o desenvolvi-mento de atividades produtivas ligadas à cultura local e à mata.

O Mosaico está em fase de implantação, com o planeja-mento da gestão integrada entre as unidades de conserva-ção. Possui duas linhas prioritárias: a criação de um sistemade informação geográca para monitoramento e um plano de

prevenção e combate a incêndios orestais, o maior proble-ma na Serra da Mantiqueira.

Saiba mais: www.mosaicomantiqueira.org.br

Área de atuação: 1; 2Onde: SP, RJ, MG

Mosaico da Mantiqueira

Ecoturismo na Serra da Mantiqueira. Vista geral da Serra da Mantiqueira.

    G   a   l   i   a   n   a   L   i   n   d   o   s   o

    A   l   e  x   a   n   d   r   e   L   o   r   e   n  z   e   t   t   o

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Desenvolvido pela Associação de Preservação do MeioAmbiente e da Vida (Apremavi) desde julho de 2007, comanuência e colaboração do Instituto Chico Mendes e em par-ceria com outras instituições, o projeto contribui com a con-servação da biodiversidade da Mata Atlântica por meio do au-xílio na formação dos conselhos consultivos e elaboração dosplanos de manejo da Estação Ecológica da Mata Preta e doParque Nacional das Araucárias, criados em outubro de 2005e situados na região noroeste de Santa Catarina.

Para a formação e funcionamento dos conselhos consul-

tivos, estão sendo desenvolvidas atividades de mobilizaçãoe capacitação da comunidade. Para a elaboração dos pla-nos de manejo está sendo seguida a metodologia prevista no

roteiro do órgão responsável pelas unidades, neste caso oICMBio. Nas atividades de elaboração dos planos de manejotambém estão previstas participações dos respectivos conse-lhos formados.

Para amenizar as ameaças que ainda rondam os rema-nescentes da oresta com araucárias na região e tambémrepassar informações importantes sobre as unidades cria-das, foram elaborados materiais de educação ambiental ede divulgação, que estão sendo amplamente distribuídos nosmunicípios envolvidos e também disponíveis na página da in-

ternet. Também estão previstas ações de monitoramento eavaliação do projeto, para que a continuidade das atividadesesteja garantida no médio e longo prazos.

Saiba mais: www.apremavi.org.br/parna-das-araucarias-e-esec-da-mata-preta--projeto-pda

Área de atuação: 1; 18Onde: SC

Planos de Manejo da Estação Ecológicada Mata Preta e do Parque Nacional das Araucárias

Reunião sobre o plano de manejo com moradores do entorno do ParqueNacional das Araucárias.

Atividade de pesquisa de campo durante a elaboração do plano demanejo do Parque.

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

    P   a   t   r   í   c   i   a   L   o   e   s   h

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CAPÍTULO 11 – BANCO DE IDEIAS SUSTENTÁVEIS

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O governo do estado de São Paulo, por meio da Fun-dação Florestal, desenvolve ações de repovoamento e usosalternativos do palmiteiro juçara na região do Vale do Ribeira,principalmente no entorno dos parques estaduais Intervalese Carlos Botelho, unidades de conservação que sofrem umaforte pressão pela ação clandestina de palmiteiros.

Parcerias da Fundação Florestal com o Instituto de Per-

macultura da Mata Atlântica (Ipema), no âmbito do PDA/MataAtlântica do Ministério do Meio Ambiente, realizam atividadesem Ubatuba, Paraty e Cunha de incentivo ao uso das semen-tes e outras partes da palmeira em vez do corte. São experi-ências que servirão de base para uma proposta de inclusãode novas regras para o manejo da palmeira relativas a usosalternativos que não o corte.

Preservação do Palmito-juçara

Saiba mais: www.forestal.sp.gov.br ; www.ipemabrasil.org.br

Área de atuação: 4; 11Onde: SP

Palmiteiro com frutos (Euterpe edulis ).

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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O Programa Matas Legais é uma parceria da Associa-ção de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi)com a Klabin S/A, cujo objetivo é desenvolver um programade conservação, educação ambiental e fomento orestal queajude a preservar e recuperar os remanescentes orestaisnativos, melhore a qualidade de vida da população e minimi-ze impactos da produção orestal, levando em consideraçãoo planejamento de propriedades e paisagens.

Em Santa Catarina, o programa já está no quarto ano deatividades e apresenta resultados animadores. No primeiroano contava com apenas 11 proprietários rurais associados, já no quarto ano, esse número subiu para 255 produtores.

Desde o início do programa, foram doadas cerca de 440 milmudas de espécies nativas aos proprietários de terra envolvi-

dos, prefeituras, escolas e pessoas interessadas em plantarárvores nativas. No Paraná, o programa iniciou em abril de2008 e, com um ano de atividades, já envolveu 212 proprie-dades e distribuiu 79 mil mudas de espécies nativas.

Por meio do programa, são difundidas e implantadasações de desenvolvimento sustentável, como recuperação deáreas de preservação permanente e reservas legais; silvicul-tura com árvores nativas e exóticas; sistemas agroorestais;enriquecimento de orestas secundárias; agricultura orgâni-ca; ecoturismo e conservação do patrimônio natural. O proje-to já editou uma série de materiais utilizados para educaçãoambiental, capacitação e informação, que podem ser baixa-

dos no site : www.apremavi.org.br/matas-legais/publicacoes-matas-legais/.

Saiba mais: www.apremavi.org.br/matas-legais/; www.klabin.com.br/pt-br/responsabilidadeSocial/

Área de atuação: 6; 10; 12; 15; 18Onde: PR, SC

Programa Matas Legais

Monitoramento de área reorestada pelo Programa Matas Legais. Preparação de mudas para plantio. Viveiro Jardim das Florestas

da Apremavi, Atalanta - SC.

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

    M   i   r   i   a   m   P   r   o   c   h   n   o  w

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CAPÍTULO 11 – BANCO DE IDEIAS SUSTENTÁVEIS

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O Projeto Bugio reúne atividades cientícas com o ob- jetivo de conservar o bugio-ruivo a partir de atividades depesquisa, educação ambiental e integração da comunidadelocal com estudantes universitários e pesquisadores. É umdos programas do Centro de Pesquisas Biológicas de Indaial(Cepesbi) e Observatório de Primatas do Morro Geisler, cria-do em 1992 e mantido por um convênio entre a Prefeitura Mu-nicipal de Indaial, Santa Catarina, e a Fundação UniversidadeRegional de Blumenau (FURB).

Os estudos para melhor conhecimento desta espécie ti-veram início em ambiente natural em 1991 no Morro Geisler,em Indaial, uma área de 40 hectares de oresta ombróla

densa localizada no perímetro urbano do município e quepossui ligação com o Parque Nacional da Serra do Itajaí.

Esta atividade gerou subsídios para manutenção de bu-gios em cativeiro e viabilizou a implantação de um criadourocientíco, ocializado pelo Ibama em 1995, onde os dadoscientícos coletados em campo são aplicados a m de incre-mentar o bem-estar dos animais cativos.

O criadouro já recebeu mais de uma centena de animaise conta no momento com 33 indivíduos. Os animais são pro-venientes de apreensões em cativeiros ilegais realizadas peloIbama ou pela Polícia Ambiental, ou ainda trazidos pela co-munidade local por apresentarem ferimentos.

Projeto Bugio

Saiba mais: www.furb.br/especiais/interna.php?secao=886

Área de atuação: 16; 17Onde: SC

Bugio (Alouatta clamitans ).

    P   â   m   e   l   a   S   c   h   m   i   d   t

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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O Projeto Cultimar, criado pelo Grupo Integrado de Aqui-cultura e Estudos Ambientais (GIA), da Universidade Fede-ral do Paraná (UFPR), busca aumentar a geração de rendadas comunidades da região litorânea do Paraná, através doinvestimento em ações de valorização da cultura local, daconservação da Mata Atlântica, da educação, do turismo, daprodução de organismos marinhos através da pesca e damaricultura e do aperfeiçoamento prossional nos seus maisvariados níveis.

Para isso, o Cultimar atua em diferentes módulos de tra-balho, que integram ações técnicas (aumento de produtivida-de na produção de ostras, na comercialização de camarõesnativos para iscas vivas e minimização de possíveis impactosgerados por essas produções), ações econômicas de estru-turação e fortalecimento das cadeias produtivas (comerciali-zação nos mercados municipais), ações de certicação sani-

tária dos produtos (para produtores, mercados e restaurantesassociados), além das ações no campo educacional e cultural(Programas de Educação & Capacitação e Mar & Cultura).

O trabalho do Cultimar foi iniciado em 2005 em duas co-munidades do litoral do Paraná e, com o desenvolvimentodas ações, novos parceiros ingressaram no processo, o quetornou possível a replicação pelo GIA de alguns programasna Bahia, através do projeto Puçá. O Puçá tem como objetivorecuperar populações de caranguejo-uçá, também valorizan-do o trabalho das comunidades litorâneas. Mais que apenasproduzir caranguejos em laboratório e liberá-los na nature-za, o projeto usa o caranguejo-uçá como uma “bandeira”, eamplia suas ações para o ambiente manguezal e para as po-pulações que dependem dele para viver, seguindo os princí-pios do Cultimar. Com essas ações, o projeto contribui paraa conservação dos manguezais e ecossistemas litorâneos.

Saiba mais: www.cultimar.org.br; www.puca.org.br.

Área de atuação: 6; 9; 15; 18Onde: PR, BA

Projeto Cultimar

Baía de Guaraqueçaba – PR. Mangue em Guaratuba – PR.

    A   c   e   r  v   o   P   r   o   j   e   t   o   C   u   l   t   i   m   a   r

    A   c   e   r  v   o   P   r   o   j   e   t   o   C   u   l   t   i   m   a   r

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CAPÍTULO 11 – BANCO DE IDEIAS SUSTENTÁVEIS

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A Secretaria Estadual do Meio Ambiente de São Paulo(SMA) criou o Banco de Áreas Disponíveis para Recupera-ção Florestal, cujo objetivo é identicar, cadastrar e divulgardados sobre áreas onde possam ser implantados projetos dereorestamento, executados pela iniciativa privada por contade compensação voluntária de emissões de gases de efeitoestufa, cumprimento de compromissos ambientais ou comoação de responsabilidade social.

Os interessados em recuperar Áreas de PreservaçãoPermanente ou Reservas Legais podem se cadastrar noBanco de Áreas voluntariamente e sem custos. As informa-ções são organizadas conforme as dimensões das áreas,a bacia hidrográca e o município em que se localizam edados como a existência de fragmentos de vegetação re-manescente signicativos para a conservação da biodiver-sidade.

Saiba Mais: www.ambiente.sp.gov.br/mataciliar

Área de atuação: 4; 6; 8Onde: SP

Projeto de Recuperação de Matas Ciliares –Cadastro de Áreas Ciliares

Recuperação de área em Jaú - SP.

    A   c   e   r  v   o   d   o   P   r   o   j   e   t   o

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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Projeto de Reorestamento da AES Tietê

A AES Tietê, empresa que administra dez usinas hidre-létricas no interior de São Paulo, conseguiu a aprovação daOrganização das Nações Unidas (ONU) da primeira meto-dologia de arborização e reorestamento com espécies na -tivas validada para o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo(MDL) em nível mundial. Isso signica que a empresa poderásubmeter projeto para comercializar créditos de carbono apartir da recuperação dos 10 mil hectares de matas ciliaresque está realizando ao longo de suas represas.

O princípio da remoção de carbono da atmosfera se dápela reação de fotossíntese no processo de crescimento dasárvores, fase em que ela retira CO2 da atmosfera. Cada to-

nelada de carbono retirada da atmosfera, além de mitigar oaquecimento global, vira um certicado que pode ser vendidoa empresas ou países que tenham metas de diminuição deemissões a cumprir por conta do Protocolo de Quioto.

A metodologia, pioneira no mundo, foi discutida no Grupode Trabalho de Reorestamento do MDL da ONU e será uti-lizada para reorestar com espécies nativas cerca de 5.700km de bordas de reservatórios que totalizam as Áreas de Pre-

servação Permanentes (APPs) no entorno das hidrelétricasda empresa, localizadas nas bacias dos rios Tietê, Pardo eGrande. Dos 10 mil hectares que a AES Tietê deve reores -tar, 1.450 hectares estão prontos e funcionam como piloto dametodologia aprovada.

Quando o projeto estiver totalmente implantado, a expec-tativa é que a empresa remova cerca de 3 milhões de tone-ladas de CO2 (dióxido de carbono) – o principal gás de efeitoestufa – da atmosfera. Esse volume equivale ao que a áreametropolitana de São Paulo emite por ano de CO2.

Nos últimos seis anos, a empresa produziu 5,5 milhõesde mudas, dos quais 2,9 milhões foram utilizados no reores-

tamento de áreas no entorno dos reservatórios das usinase 2,6 milhões no desenvolvimento de plantações em outrasáreas nos vales dos rios Tietê, Pardo e Grande. Anualmen-te, os técnicos da empresa coletam sementes de 80 a 126espécies de Mata Atlântica e Cerrado. Essas sementes sãotratadas no banco de sementes que a AES mantém em Pro-missão, interior de São Paulo, onde é feita a germinação desementes e produção de mudas para o reorestamento.

Saiba mais: www.aestiete.com.br/artigo230.asp

Área de atuação: 6; 8; 14Onde: SP

A produção de mudas de qualidade é essencial para garantir a recuperação de áreas degradadas.

    W   i   g   o   l   d   B .   S   c   h   a   f   f   e   r

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CAPÍTULO 11 – BANCO DE IDEIAS SUSTENTÁVEIS

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O Projeto Guigó reúne, desde 2006, umconjunto de instituições no esforço conjun-to para a implementação de ações voltadas àconservação do macaco-guigó, espécie da fau-na brasileira ameaçada de extinção e que re-presenta uma bandeira para conservação dosremanescentes de Mata Atlântica no estadode Sergipe. A iniciativa é desenvolvida por umacordo de cooperação técnica entre o Ibama,representado pela Gerência Executiva no esta-

do e pelo Centro de Proteção de Primatas Bra-sileiros, a Universidade Federal de Sergipe e aCompanhia de Desenvolvimento dos Vales doSão Francisco e do Parnaíba (Codevasf).

O projeto prevê um conjunto ordenado deações que, entre outras estratégias, promove-rá o estabelecimento de uma rede de unidadesde conservação, envolvendo áreas públicas ede domínio privado, estas últimas através doestímulo à criação de Reservas Particularesdo Patrimônio Natural (RPPNs), realização deestudos em ecologia e genética da espécie, eo desenvolvimento de ações educativas parainserção das comunidades locais no esforçode conservação.

Desde 2004, pesquisadores das três insti-tuições realizam o mais completo mapeamentodas áreas de ocorrência do macaco-guigó emSergipe, que resultou na descoberta de 15 no-vas populações da espécie além das já ante-riormente conhecidas. Uma extensa base dedados foi formada, permitindo aos pesquisado-res a preparação de novos estudos que avan-çarão na caracterização genética de algumaspopulações do guigó, procurando-se identicar

linhagens intraespecícas independentes e opossível impacto da fragmentação dos habitatssobre a diversidade genética da espécie.

Projeto Guigó

Saiba mais: http://www.ibama.gov.br/cpb/

Área de atuação: 16; 17Onde: SE

Macaco-guigó (Callicebus coimbrai ).

    L   e   a   n   d   r   o   J   e   r  u  z

   a   l   i   n   s   k  y  –   A   c   e   r  v   o   B   a   n   c   o   d   e   I   m   a   g   e   n   s  :   C   P   B   /   I   C   M   B   i   o

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

394

A Fundação O Boticário de Proteção à Natureza estápremiando nanceiramente proprietários de terras que se

comprometem a conservar integralmente áreas de remanes-centes de Mata Atlântica, localizadas na bacia de Guarapi-ranga e nas Áreas de Proteção Ambiental (APAs) MunicipaisCapivari-Monos e Bororé-Colônica, na Região Metropolitanade São Paulo. Batizado de Oásis, o projeto benecia atual-mente dez propriedades.

A região da Guarapiranga foi escolhida pela urgência dasituação do manancial, responsável pelo abastecimento de4 milhões de pessoas. Com recursos privados, mas de in-teresse público, o Projeto Oásis foi lançado em outubro de

2006. Os proprietários se cadastram e a organização analisa

as condições ambientais da terra, através de visita de campo,e depois a documentação. Por conta disso, apenas dez dosmais de 60 que se cadastraram conseguiram participar.

O valor recebido pelo proprietário depende, além do tama-nho da propriedade, do índice de valoração em três serviçosambientais: qualidade da água, uxo da água (quantidade) e

controle de erosão. Isso signica que a oresta é avaliada con-forme o número de nascentes, presença ou não de erosão,entre outros critérios, e recebe uma nota de 1 a 10. O valormáximo é de R$ 370,00 por hectare/ano, pago em prestaçõessemestrais. A premiação é nanceira porque está vinculada ao

que o dono já realizou e é paga durante cinco anos. Durante

este período, a nota pode aumentar e o prêmio também.

Saiba Mais: www.fbpn.org.br

Área de atuação: 7Onde: SP

Projeto Oásis

Áreas apoiadas pelo Projeto Oásis.

    A   c   e   r  v   o   F  u   n   d   a   ç   ã   o   O   B   o   t   i   c   á   r   i   o

    A   c   e   r  v   o   F  u   n   d   a   ç   ã   o   O

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CAPÍTULO 11 – BANCO DE IDEIAS SUSTENTÁVEIS

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O projeto para Conservação da Serra do Urubu é umainiciativa desenvolvida pela Sociedade para a Conservaçãodas Aves do Brasil (Save Brasil) em parceria com a Associa-ção para Proteção da Mata Atlântica do Nordeste (Amane)desde 2004. A Serra do Urubu é um complexo formado porremanescentes de Mata Atlântica montana situados principal-mente nos municípios de Jaqueira e Lagoa dos Gatos, naZona da Mata no sul de Pernambuco. Esses remanescentesestão entre os mais importantes em toda a Mata Atlântica epor isso a Serra do Urubu é considerada pela BirdLife Inter- 

national  e pela Save Brasil como uma Área Importante paraa Conservação das Aves (Important Bird Area  - IBA) e de atu-

ação prioritária.As serras do Urubu e o Complexo Florestal de Murici,

em Alagoas, são as únicas áreas onde ainda podem ser en-contradas todas as quatro espécies de aves connadas àsorestas montanas de Alagoas e Pernambuco: o criticamen-te ameaçado limpa-folha-do-nordeste (Philydor novaesi ),

uma das aves mais raras do Brasil, a choquinha-de-alagoas(Myrmotherula snowi ), o zidedê-do-nordeste (Terenura sicki )e o cara-pintada (Phylloscartes ceciliae ). Na Serra do Uru-bu ocorrem ainda outras seis espécies de aves globalmenteameaçadas de extinção.

Devido à extrema importância da área, a Save Brasil ad-quiriu uma propriedade de aproximadamente 360 hectaresna Serra do Urubu, sendo 316 deles ocupados por oresta,visando transformá-la em uma Reserva Particular do Patrimô-nio Natural (RPPN), processo que está em andamento. Estaárea, somada à propriedade adjacente, a RPPN Frei Caneca,totalizam quase 1.000 hectares de Mata Atlântica, o último

grande bloco orestal de toda a região.Em conjunto com organizações da sociedade civil, líderes

comunitários e órgãos governamentais, a Save Brasil e a Amanedesenvolvem ações de pesquisa, educação ambiental e políti-cas públicas com o objetivo de assegurar a proteção das matasda região, integrando a comunidade local à sua conservação.

Projeto para Conservação da Serra do Urubu

Saiba mais: www.savebrasil.org.br

Área de atuação: 3; 17; 18Onde:

PE

Limpa-folha-do-nordeste (Philydor novaesi ). Mata Atlântica na Serra do Urubu.

    P   e   d   r   o   F .   D   e  v   e   l   e  y  –   S   a  v   e   B   r   a   s   i   l

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O projeto Recuperação Florestal dos Ribeirões de An-gatuba – Perímetro Urbano, no município de Angatuba (SãoPaulo), existe desde setembro de 2002, com nanciamento

do Fundo Estadual de Recursos Hídricos (Fehidro), atravésdo Comitê de Bacia Hidrográca do Alto Paranapanema

(CBH Alpa), e foi implantado até março de 2004. A partir daí,as áreas encontram-se em regime de manutenção e enrique-cimento de sua diversidade orística.

Implantado nas Áreas de Proteção Permanente (APPs) detodos os ribeirões existentes no perímetros urbano do muni-cípio, o projeto beneciou 12 áreas ao longo do Córrego Ca-

tanduva, Ribeirão das Almas, Córrego Sem Nome e RibeirãoGrande. Foram recuperados 11,54 hectares, com o plantio de

19.961 mudas. A indicação das espécies recomendadas paraplantio teve como base o trabalho de levantamento orístico da

pesquisadora cientíca Roseli Bazzanelli Torres, com a utiliza-ção de espécies nativas de ocorrência regional. Até o momen-to, foram plantadas cerca de 3.000 mudas, que agora são pro-duzidas em viveiro próprio, instalado pela prefeitura em 2007.

As mudanças ambientais obtidas com o projeto são signi-cativas em Angatuba e incluem a proteção do solo de perdas

por processos de erosão; a redução das oscilações térmicas;a atração de fauna, proporcionando abrigo e fonte de alimen-tação; melhoria paisagística dos espaços; criação de novas

áreas para a contemplação e lazer da população urbana, que já vem utilizando as áreas; e a conscientização ecológica.

Saiba mais: www.angatuba.sp.gov.br

Área de atuação: 4; 5; 6Onde: SP

Recuperação Florestal dos Ribeirões de Angatuba

Mudas nativas para recuperação orestal.

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CAPÍTULO 11 – BANCO DE IDEIAS SUSTENTÁVEIS

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O viveirista Carlos Nogueira foi um dos beneciadospelo Clickarvore da SOS Mata Atlântica. Nogueira comprouuma área de 9 hectares às margens do córrego São João,em Ibaté (SP), apenas para recuperar a mata ciliar que es-tava totalmente degradada. Em quase três anos, as árvoresplantadas já chegam a quatro metros, nas duas margensdo rio.

Em outra frente, como parte da linha de apoio a projetos

de educação ambiental e atividades sustentáveis do Flores-tas do Futuro, a cidade de Resende (RJ) ganhou um viveirocomunitário com capacidade para produzir 400 mil mudas/ano, associada à geração de renda para moradores da re-gião. Vinte e seis pessoas trabalham no viveiro e na restau-ração das áreas degradadas e outras vêm atuando comoagentes de campo, sensibilizando fazendeiros e produtoresrurais da região suluminense.

Viveiros Beneciados por Projetosda SOS Mata Atlântica

Saiba mais: www.clickarvore.com.br ; www.orestasdofuturo.org.br

Área de atuação: 4; 6; 14Onde: RJ, SP

Viveiro Comunitário SOS Mata Atlântica – Piracicaba - SP.

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As campanhas de mobilização social são importan-tes ferramentas de sensibilização e educação ambien-

tal em prol da conservação do meio ambiente. Na MataAtlântica elas têm sido usadas pela socieadade civil paraapoiar iniciativas importantes como a busca de uma legis-

lação especíca, a exemplo da Lei da Mata Atlântica. Nosúltimos anos teve destaque também a campanha pelo

Desmatamento Zero, coordenada pela Rede de ONGs daMata Atlântica, com o objetivo de acabar com os desma -tamentos ilegais.

Campanhas em defesa da Mata Atlântica

Alunos de Campos do Jordão pedindo a aprovação da Lei da Mata Atlântica (2006).

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CAPÍTULO 11 – BANCO DE IDEIAS SUSTENTÁVEIS

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Outras campanhas importantes em andamento na Mata Atlântica

O Blog Serra Vermelha, uma iniciativa de ONGs do es-tado do Piauí, é uma campanha de mobilização que temcomo objetivo sensibilizar a comunidade e o poder público,em prol da preservação daquela região, buscando a criaçãode um Parque Nacional.

A Serra Vermelha é uma grande chapada, no Suldo Piauí, totalmente preservada pela última oresta do

semiárido brasileiro, um grande ecótono onde se encon-tram a Caatinga, o Cerrado e a Mata Atlântica. A regiãoestá entre as de maior biodiversidade do interior nordes-tino e foi considerada pelo Ministério do Meio Ambientecomo uma das áreas prioritárias para a conservação dabiodiversidade brasileira.

Outra característica da Serra Vermelha é sua be-leza cênica. Situada sobre um planalto que foi erodidohá milhares de anos, a região é repleta de cânions ecuestas, além de chapadas e uma oresta exuberante,

tudo isso forma uma paisagem extraordinária. Se nãobastasse, existem na região inúmeros sítios arqueoló-gicos semelhantes aos do Parque Nacional da Serra daCapivara.

A Universidade de São Paulo (USP), através do seuDepartamento de Zoologia, realizou em 2006 uma pes-quisa no Parque Nacional da Serra das Confusões, nolimite com a Serra Vermelha. Segundo o coordenador dapesquisa, professor Hussam Zaer, as amostras tambémservem para a área da Serra Vermelha. O estudo reali-zado por 14 pesquisadores sobre a diversidade da faunaconcluiu que a região abriga a fauna de um ecótono, queem termos de biodiversidade, aponta tratar-se de “caráterúnico”. Foram registradas 221 espécies de aves, 58 demamíferos, 43 de répteis, 16 de anfíbios, perfazendo umtotal de 338 espécies de vertebrados.

A campanha visa ainda o cancelamento de projetose atividades que possam implicar na destruição da re-gião, como a supressão da oresta para a produção de

carvão vegetal.

Saiba Mais: http://serravermelha.blog.terra.com.br/

Área de atuação: 20Onde: PI

SOS Serra Vermelha

Ambientalistas e técnicos em defesa da Serra Vermelha – PI (2008).

Ambientalistas pedem ao Ministro do Meio Ambiente Carlos Minc acriação do Parque Nacional da Serra Vermelha (2008).

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A Campanha Não Afoguem a Ilhas do Paraíba, coordena-da pelo Instituto Terra do estado do Rio de Janeiro, conclamaa sociedade a se mobilizar pela preservação do maior arqui-pélago do Rio Paraíba do Sul, com suas 700 ilhas, que corresério risco de desaparecer, por conta da construção de trêshidrelétricas (Itaocara, Barra do Pomba e Cambuci).

A implantação desses projetos pode comprome-ter várias espécies ameaçadas de extinção, como ocágado-do-Paraíba (Mesoclemmys hogei), único que-

lônio de água doce brasileiro ameaçado de extinção;as espécies de peixes piabanha (Brycon insignis), o su-rubim-do-Paraíba (Steindacheneridion parahybae), en-dêmico da bacia hidrográca do Rio Paraíba do Sul,

o caximbau-boi (Pogonopoma parahybae) e o crustá-ceo lagosta-de-são-délis (Macrobachium carcinus).As comunidades tradicionais da região também estão ame-açadas, uma vez que 600 famílias dependem diretamentedo pescado que se reproduz nesta região para sobreviver.

Não Afoguem as Ilhas do Rio Paraíba

Saiba mais: http://www.ilhasrioparaiba.blogspot.com/

Área de atuação: 20Onde: RJ

Pescador no Rio Paraíba. Mata Ciliar preservada no Rio Paraíba.

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CAPÍTULO 11 – BANCO DE IDEIAS SUSTENTÁVEIS

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Esta campanha tem como objetivo lançar um alerta sobrea construção de usinas hidrelétricas no Rio Ribeira de Iguape,mostrando todas as consequências negativas que a instalaçãodessas usinas poderá trazer para o Vale do Ribeira e para o país.

A campanha está sendo levada adiante por um grupo depessoas e organizações, sediadas tanto em São Paulo comono Paraná, que não querem ver o rico patrimônio socioam-biental da região destruído com a construção das barragens.

Localizado entre o sul de São Paulo e norte do Para-

ná, declarado Patrimônio Natural da Humanidade em 1999,o Vale do Ribeira contém mais de 2,1 milhões de hectaresde orestas - 21% dos remanescentes de Mata Atlântica detodo o País -, 150 mil hectares de restingas e 17 mil de man-guezais. Toda essa riqueza ambiental subsiste porque nes-sa região foram criadas várias unidades de conservação etambém porque na região ainda vivem diversas comunidadestradicionais (remanescentes de quilombos, caiçaras, índios epequenos produtores rurais).

Saiba mais: http://www.socioambiental.org/inst/camp/Ribeira/vale

Área de atuação: 20Onde: SP, PR

Campanha Contra Barragens no Ribeira

Vista do Rio Ribeira de Iguape. Quilombolas do Quilombo de Ivaporunduva - SP, na luta em defesa

do Rio Ribeira de Iguape (2005).

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A SOS Rio Pelotas é uma campanha de mobilização demais de 30 ONGs, que visa proteger a parte superior do RioPelotas, em seu único trecho não barrado, através da solicita-ção da criação do Refúgio de Vida Silvestre Corredor do Pe-lotas e a não construção da Usina Hidrelétrica de Paiquerê.

A preservação do Rio Pelotas é imprescindível para aconservação da diversidade biológica, cultural e histórica daregião por onde ele passa, na divisa de Santa Catarina com

o Rio Grande do Sul. Além de ser o último abrigo para váriasespécies da fauna e ora endêmicas da região, é também umimportante rio para a população do sul do Brasil.

A campanha contempla uma seção de fotos, textos e do-cumentos sobre a região do Rio Pelotas e a importância desua preservação. Quem acessa a campanha pode participarde um abaixo-assinado virtual, que é encaminhado para au-toridades públicas.

SOS Rio Pelotas

Saiba Mais: http://www.apremavi.org.br/mobilizacao/sos-rio-pelotas/

Área de atuação: 20Onde: SC, RS

Técnicos do Ministério do Meio Ambiente e ambientalistas durante missão de estudos para a criaçãodo Refúgio de Vida Silvestre do Rio Pelotas (2007).

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CAPÍTULO 11 – BANCO DE IDEIAS SUSTENTÁVEIS

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ONDE ENCONTRAR OUTROS ExEMPLOS

O ESTUDO “QUEM FAz O QUE PELA MATA ATLNTICA – 1990-2000” (Rede de ONGs da Mata Atlântica, ConselhoNacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, Instituto Socioambiental e WWF-Brasil – 2004) cadastrou 747 projetos,dos quais 47,18% são executados por ONGs, 20,77% por órgãos públicos municipais e os demais por organizações gover-namentais estaduais, federais e por instituições de pesquisa e iniciativa privada.Endereço para download: 

http://www.wwf.org.br/naturea_brasileira/meio_ambiente_brasil/mata_atlantica/m_atl_pub/?uNewsID=3140

O LIVRO “MATA ATLNTICA  – UMA REDE PELA FLORESTA” (Rede de ONGs da Mata Atlântica, 2006) traz 59 experiên-cias, divididas por estados abrangidos pela Mata Atlântica e por tipo de executor (ciência, governo, ongs e iniciativa privada).Endereço para download: 

http://www.apremavi.org.br/mata-atlantica/uma-rede-pela-oresta/ 

MANUAL AGROFLORESTAL PARA A MATA ATLNTICA – Lançado em 2008 pelo NEAD-MDA em cooperação com oInstituto Rede Brasileira Agroorestal (Refraf), contém trabalhos acadêmicos e experiências concretas com agroorestas

desenvolvidas por agricultores. A coordenação dos trabalhos foi feita pelo professor Peter May, secretário executivo da Re-braf, e por Cássio Trovatto, técnico do Ministério do Desenvolvimento Agrário.Endereço para download:

http://www.pronaf.gov.br/dater/index.php?ctuid=20419&sccid=702

   C   a   r   o   l   i   n   a

   C

   S   c   h   a   f   f   e   r

Abelhas silvestres sem ferrão.

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Bibliografa

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MATA ATLÂNTICA: PATRIMÔNIO NACIONAL DOS BRASILEIROS

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