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Porque é que se fabricam telemóveis?  Não te rias. Se pensas que o resultado dos sacrifícios, desperdícios e destruições é irrisório, nada compreendes da realidade económica. O

telemóvel é uma inovação e como explica um qualquer político, economista,sociólogo, «a inovação produz o desenvolvimento das actividades económicas que oferecem empregos para o conjunto dos cidadãos. Tomem consciência que 

isso é uma verdadeira mina de ouro».

Contudo, o telemóvel produz outras coisas. Não somente ele acelera a destruição do planeta, como contribui para a total tecnicização do mundo.

 As consequências não são discutidas nem faladas nas reuniões promovidas regularmente pelos bem pensantes em locais conceituados, eles consideram os 

telemóveis como «agitadores de ideias».

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No número que marcou não existem mais gorilas

O telemóvel é um concentrado de nocividades.

Para começar porque é um chip. Eric D. Williams, investigador nauniversidade das Nações Unidas de Tóquio, fez o cálculo doselementos necessários para o fabrico de um chip de duas gramas.Resultado: 1,7 kg de energia fóssil, 2 m3 de azoto, 72 g de produ tos químicos e 32 litros de água. Para comparação, são necessári

as 1,5 toneladas de energia fóssil para construir uma viatura de750 kg. Ou seja, uma proporção de 2 por 1, enquanto para o chipa proporção é de 630 por 1.

Mas isso não é tudo. O telemóvel necessita de Coltan , um mineralresistente ao calor. Este é obtido principalmente na RepúblicaDemocrática do Congo.

Como os diamantes, o Coltan  esteve no centro de uma guerrapelo controle dos recursos que matou mais de três milhões depessoas nesse país. No Congo, numerosas crianças são retiradasda escola para irem trabalhar nas minas de Coltan . O mineral écomprado aos rebeldes congoleses e às companhias mineirasfora de lei por três empresas: Cabot Inc, dos Estados Unidos,HC Starc da Alemanha e Nigncxia da China. Estas empresas

transformam o mineral num pó que vendem à Nokia, Motorola,Ericsson, Sony, Siemens e Samsung. As minas de Coltan estão si tuadas no território dos últimos gorilas das planícies e por issosão o alvo dos mineiros. Ao ritmo do actual saque, os especialis tas prevêem que daqui a 10 ou 15 anos a espécie desapareça.

Cada vez que se utiliza o telemóvel jogase com a vida dos con goleses e com os últimos gorilas das planícies do planeta.

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O telefone descartável

Para além da gíria histérica e típica dos amadores de  gadgets elec

trónicos, compreendemos o essencial: no seu mundo, o perigo éo incitamento. É preciso mudar de telemóvel tantas vezes quan tas exige a moda, o progresso e os fabricantes. «Em média, os ja poneses mudam de telemóvel a cada doze ou dez meses», diznos Yoshimi Ogawa, patrão da Index Corporation, sociedade ja ponesa que vende “conteúdos” para o telemóvel.

Mudar de telemóvel significa deitálo fora. Depois do lançamen

to do último  gadget no mercado, 500 milhões de exemplares sãodeitados fora, aumentando as montanhas de dejectos electróni cos e eléctricos. Ora estes dejectos estão longe de ser inofensi  vos. Eles concentram uma mistura complexa de matérias e decomponentes particularmente tóxicos. Metais pesados, cádmio,mercúrio e chumbo em grande quantidade: 40% do chumbo en contrado nas lixeiras provém da electrónica. As escórias electró

nicas e eléctricas são na sua maior parte incineradas com os lixosdomésticos e, deste modo, provocam emissões importantes dedioxinas. E estas substâncias, inimigas de longa data do ar, dossolos e dos lençóis freáticos, ameaçam de igual modo a saúdedos seres vivos. São suficientes poucos meses para que um telemóvel de último grito e um computador de alta performance setransformem para o ambiente em bombas ao retardador.

Os apóstolos da “reciclagem” pensam que, desta maneira, o pro blema fica resolvido, mas o fim desta história não acaba aqui.Mais de metade dos computadores “reciclados” (NDR dos Esta dos Unidos) são na realidade expedidos para a China, onde ostrabalhadores pagos com salários miseráveis recuperam dos apa relhos as partes consideradas interessantes (ver  www.ban.org .).Isso significa um grave problema de poluição, por via das enor

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mes quantidades de plástico e de metais pesados que entram naconstituição dos computadores. As peças inúteis são queimadas,provocando emanações tóxicas, ou abandonadas nas lixeiras

onde a água penetra, poluindo os lençóis freáticos. Não muitolonge de Hong Kong, na cidade de Guiyu, em fábricas especiali zadas neste tipo particular de “reciclagem”, os investigadoresconstataram que a água deixou de ser potável e tem de ser enca minhada em cisternas das cidades vizinhas, enquanto se multipli cam as doenças devido à poluição do ar.

Em França, em BourgFidèle (Ardennes), a fábrica de Métal

Blanc foi processada, em Fevereiro de 2005, por contaminar osolo, o ar e a água com cádmio, com consequências para a saúdede cerca de quarenta pessoas (assalariados da fábrica e crianças vizinhas). Qual é a actividade desta fábrica? A reciclagem. Assim,as nocividades são tão duráveis como o desenvolvimento das in dústrias que as provocam.

Cérebros grelhadosOs telemóveis foram colocados no mercado sem ter havido estudos prévios so  bre os seus efeitos. Dito de outra forma, os utilizadores são as cobaias de 

uma experiência planetária de onde se ignoram ainda as consequências para a saúde. A rentabilidade é mais forte.

Cientistas, industriais e governos jogam ao pinguepongue comos estudos sobre a saúde dos portadores de telemóveis. A Orga nização Mundial da Saúde lançou um estudo em 1996, do qualainda hoje se aguardam os resultados. São ou não, os telemóveise as antenas de retransmissão perigosos para a saúde?

Os campos electromagnéticos gerados pelas antenas dos telemó  veis provocam indirectamente rupturas nas fibras do ADN das

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células. Chegam mesmo a perturbar a síntese de determinadasproteínas. Tais são os resultados do estudo europeu Reflex,revelado a 8 de Dezembro de 2005 pela fundação alemã Verum

de Munique. Financiado pela União Europeia, bem como pelosgovernos suíço e finlandês, mobilizou doze laboratórios durantequatro anos.

O professor Franz Adlkofer, coordenador do projecto e directorexecutivo da fundação Verum, afirmou que o estudo demons trou a existência «de um mecanismo psicopatológico que podeestar na base do desenvolvimento de desordens funcionais ou de

doenças crónicas, quer nos animais, quer nos seres humanos».(...)Os impactos biológicos observados sobre as células apareceramem doses de energia inferiores ao limiar de 2 W/Kg reco mendados pela comissão internacional de protecção contra a ra diação não ionizante.

Essas ondas electromagnéticas penetram 2cm na região mais su perficial, mas também a mais sensível, do cérebro: o córtex oucrosta cerebral, provocando uma elevação da temperatura do te cido cerebral. «Ao nível do córtex, este aumento é de 1 grau cen tígrado – explica Luc Vershaeve, da equipa de AnneMarie Maes,na Vlaamse Instelling voor Technologish Onderzoek, em Mol(Bélgica). Tudo se passa exactamente como num forno de microondas, salvo que aqui, é o centro nevrálgico do corpo humanoque de súbito sofre um aquecimento. «Se utilizarmos regular

mente e durante longos períodos o telemóvel, não é de todo im possível que o efeito térmico acaba por lesar o ADN celular eprovocar tumores cancerígenos» conclui Luc Verschaeve(Science et Vie, Abril de 1999).

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Ondas nocivas para a verdade

Porque é que as cobaias humanas não são informadas? Porque o

lóbi dos telemóveis não deixa passar nada, fecham a sete chavesos resultados negativos, lançam cortinas de fumo sobre as autori dades sanitárias e atacam difamando os cidadãos que exprimemas suas inquietações.

De um modo geral, todos os resultados que ponham em causa otelemóvel são sistematicamente rejeitados pelos fabricantes. ODr Henry Lai que trabalha sob contrato com a Wireless

 Technology Research (WTR), uma empresa tutelada pelos fabri cantes de telemóveis, viu os seus trabalhos serem recusados por que desmentiam o credo dos fabricantes. «Pediramme para in terpretar de modo diferente os resultados a que tinha chegado,com o propósito de os tornar mais favoráveis para os telemó  veis», insurgiuse o investigador.

 A mesma contrariedade aconteceu ao biólogo americano Ross Adey, o qual efectuou um estudo por conta da Motorola. Comoos fabricantes recusaram admitir as suas conclusões sobre o efei to de ondas electromagnéticas em animais de laboratório, estepreferiu parar a sua colaboração científica. «Tudo se passa comoantes se passou com os fabricantes de cigarros, os quais recusa ram revelar todos os estudos que provavam os perigos do taba co», protesta Henry Lai (Science et Vie, Abril de 1999).

Em França, quatro investigadores do comité cientifico sobre oscampos electromagnéticos publicaram, em Fevereiro de 2004,um livro branco sobre os incidentes dos telemóveis e das antenasde retransmissão na saúde: Votre GSM, votre santé: en vous ment! (R.Gautier, P. Le Ruz, D. Oberhausen. R. Santini – Editions MarcoPietteur).

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Estes cientistas, foram descartados do grupo de consultores pela AFSSE (Agência Francesa de Segurança Sanitária do Ambiente)em 2003. O livro resume aquilo que as autoridades governamen

tais não querem aceitar: «Este livro tornouse necessário por viados inúmeros problemas observados nas proximidades das esta ções de retransmissão dos telemóveis (onde a instalação emFrança é particularmente caótica) e nos seus utilizadores. Sãopassados em revista os trabalhos científicos mundiais relativos àexposição dos seres vivos às ondas dos telemóveis. Podemosconstatar os efeitos particularmente nocivos sobre o sistema ner  voso e o metabolismo celular. As publicações oficiais francesas,destinadas a permitir o desenvolvimento tecnológico sem entra   ve, são examinadas e criticadas. Os estudos epidemiológicoslevados a cabo um pouco por todo o mundo revelam claramentea etiologia de numerosas doenças sentidas pelos utilizadores dostelemóveis e nas pessoas que habitam nas proximidades dasantenas de retransmissão (insónias, problemas cardíacos, hiper tensão, cefaleias...), assim como a possível existência de uma liga

ção entre esta exposição e as patologias penosas, tais como do enças neurodegenerativas, determinadas formas de cancro...»( http://csifcem.free.fr ).

Homenageamos os raros cientistas capazes de resistir, enquantoos representantes dos telemóveis evocam «sintomas subjectivos»quando os seus clientes se queixam.

 A prótese produz o aleijado

Como a prótese substitui um membro, é suposto que o telemó  vel conserte de modo artificial os desgastes deste mundo. Mundoque nos transforma em peças da máquina para produzir e consu mir, na fila do supermercado, no uso da televisão, na portagemda autoestrada, etc. Sem dúvida que os operadores têm razão

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em atribuir o sucesso do telemóvel ao temor de um mundopotencialmente hostil e sem dúvida que, em cada lançamento deum “novo serviço de comunicação” sem fios, mostram interesse

em reforçar um pouco mais essa hostilidade do meio.Cada vez que a prótese se substitui ao membro, as máquinas pri  vamnos do uso das nossas faculdades. Desde que o automóvelsurgiu, os cidadãos não sabem mais caminhar em trajectos redu zidos (mais de metade das deslocações de automóvel dizem res peito a trajectos inferiores a 3 km) e, queixandose da epidemiada obesidade que os castiga, da poluição, das mortes na estrada,

das guerras pelo petróleo, etc., nem mesmo conseguem sonhar a voltar a andar pelos próprios pés. Esqueceramse como se viviasem carro e esqueceramse que é uma amputação. A prótese fezo aleijado.

Observemos os utilizadores de telemóveis: tornados incapazesde se orientarem no espaço e de estarem a horas num encontro(uma vez que crêem ser capazes de estar em todo o lado?). Inca pazes mesmo de imaginar como é que se faz para encontrar al guém sem o telemóvel, perderam a faculdade de viver o presente. Amputados da sua própria presença no mundo, enviam SMS en quanto o comboio atravessa paisagens desconhecidas.

Não somente a telecondução torna o território virtual, como atagarelice incessante ao telemóvel transforma a vida no seu co

mentário. Uma extracção da realidade que culmina com as fun ções de aparelho fotográfico doravante integrados em todos ostelemóveis. O importante não é mais aquilo que estamos a viver,mas as imagens que tiramos.

O telemóvel prova o inverso daquilo que ele pretende ser – uminstrumento de comunicação. Há quanto tempo não tens umaconversa sem seres interrompido pelo toque do telemóvel? Con

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dicionados, achamos isso normal. Mas atentemos um pouco:olhemos para nós próprios, de boca aberta, interrompidos peloreflexo pavloviano dos nossos interlocutores mais apressados em

responder ao som do toque do que em nos deixar acabar a nossafrase. Sim, estou.

 Talvez a história venha a registar que a civilização do séc. XXIfoi a dos “aparelhos de telemóvel” instalados nas salas de espec táculo e de cinema para substituir a faculdade de atenção paracom os outros. Sem dúvida, o progresso.

 Acorrentados ao telemóvel

Dependentes deste  gadget como os fumadores do tabaco, os be bés da mama e os deprimidos dos ansiolíticos, os proprietáriosde telefones portáteis passam o tempo a verificar se não se es queceram do telemóvel, se ele está bem carregado, se não rece beram novas mensagens, etc., e a acrescentar à hostilidade do

mundo um motivo mais de agonia: o risco do seu aparelho serroubado (o aumento da delinquência já se deve muito aos roubosde telemóveis).

Eis o verdadeiro rosto do sem fio, um membro suplementar. Aíestá a autonomia do indivíduo, um pouco mais contundida poruma prótese técnica que dispensa a procura em si próprio dosrecursos para se poder desembaraçar das eventualidades do quo tidiano. Eis consumada a cobertura total do território, até aocume das montanhas, transformados em jardins públicos ondebasta dar um toque para poder ser socorrido por um helicóptero.

Eis, enfim, terminada a fronteira entre a vida pública e a vida pri vada, enredadas na obsessão do contacto permanente. As empre sas compreenderam bem o interesse desta corrente presa aos pés

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dos seus empregados. Doravante, todo o tempo junto dosassalariados que não tem mais desculpas para se entregarem decorpo e alma às tarefas impostas. Viagens, engarrafamentos, filas

de espera, pausas: todo esse tempo deve ser rentabilizado,mantendo o contacto com o escritório. Velocidade, rentabilidade,flexibilidade, o telemóvel é o instrumento ideal do negócio: asempresas consideramno como o segundo meio de comunicaçãoenquanto factor na produtividade.

O telemóvel não é somente um  gadget  poluente: dá forma aomundo, como dizem os investigadores e os industriais, «revolu

ciona o quotidiano», sem nunca ter sido uma escolha nossa. Eeste tecnototalitarismo impõese a todos, tansos e refractários,quer o queiramos ou não. Se ainda queremos fazer parte da soci edade, não pode escolher se queremos ou não queremos um te lefone portátil.

Sigam em frente, estão a ser vigiados

Por detrás do brinquedo high tech escondese um supervigilante,exactamente o oposto da liberdade prometida pelos vendedoresde telemóveis. Que liberdade é esta que nos prende a uma trelaelectrónica, a um objecto que basta estar no nosso bolso parapermitir sermos localizados em qualquer local? Milhares de ante nas de retransmissão espalhadas pelo território registam os sinais

emitidos, enquanto as facturas detalhadas dos operadores re constituem integralmente as nossas chamadas. Prova da fiabilidade do sistema: o portátil fornece tanto a localização, como asconvivências dos suspeitos, deste modo ele tornouse um instru mento indispensável para a polícia. Quer se trate de determinar oemprego do tempo, um itinerário, ou uma rede de contactos, oestudo das chamadas telefónicas fixas e móveis tornouse um re curso quase sistemático.

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Não é necessário ser um criminoso para poder ser cyberfichado.Os jornalistas já o compreenderam quando um juiz se interessapelas suas fontes – a lei permite fazêlo –, ele apela à tecnologia.

«Tudo o que dizem no telefone, pode ser usado contra vós pró prios». Tal é a mensagem que a Justiça transmite à imprensa.Basta que a polícia peça para que os operadores forneçam deimediato a lista das chamadas recebidas e enviadas durante umdeterminado período. Se a deontologia permite aos jornalistasguardar silêncio sobre as suas fontes, nada impede a tecnologiade falar.

Manifestantes, contestatários, subversivos ou não, são escutadosfacilmente. Basta o cartão SIM e um pouco de tecnologia parapermitir a um espião entrar na rede do telemóvel. Assim, os in quiridores podem, compondo um simples número telefónico ecom toda a legalidade, escutar e aproveitar de uma melhor cobertura do que se usassem um microfoneclássico.

Doravante, a integração da geolocalização (GPS) nos telemóveispermite seguir toda a gente por todo o lado. O operador japonêsNTTDoCoMo criou o primeiro telefone espião, com um serviçode localização dos portadores a partir de um computador ou deoutro telemóvel. «Ideal para assinalar os membros da família. Ascrianças ou as pessoas de idade», vende a NTT.

Ideal também para a maçadora publicidade: uma loja pode assi

nalar as pessoas que passam nas proximidades e enviarlhes umaoferta para o seu telemóvel com o mapa do bairro. Assim, a em presa francesa Watisit propõe um sistema de «hiperlocalização», Wherisit, o qual permite orientar por SMS os alvos aos distribui dores mais próximos. «Apoiandose na omnipresença do telemó vel no nosso quotidiano, Watisit reforça a atracção dos suportesde comunicação e facilita as reacções de interesse das pessoasatingidas pelas suas campanhas» (www.gixel.fr).

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 A peugada do gado humano é um dos caminhos do futuro paraa indústria electrónica. Sistemas de identificação à distância porrádiofrequência, implantes subcutâneos, dados biométricos: a

tecnologia permite seguirnos, identificarnos, ficharnos, contro larnos. Basta fazernos aceitar esta nova condição de homenssubmissos. Para isso, o telemóvel e os seus  gadgets  lúdicos sãoperfeitos. Eles condicionamnos à ideia de sermos vigiados epreparamnos para a total domesticação. Os industriais que nãose atrapalham com floreados expuseramno num programa pu blicado em 2004 pela GIXEL ( Groupement des industries de l’inter  connexion, des composants e des sousemsembles électroniques  ): «A segu rança é muitas vezes vivida nas nossas sociedades democráticascomo um atentado às liberdades individuais. É pois necessáriofazer com que a população aceite as tecnologias utilizadas e entreelas a biometria, a vídeovigilância e os controlos. Muitos méto dos devem ser desenvolvidos pelos poderes públicos eindustriais para que a biometria seja aceite. Esses métodosdevem ser acompanhados por um esforço de convívio, por um

reconhecimento da pessoa e por uma prestação atractiva dasfuncionalidades: 1) Educação nas escolas de infância. As criançasutilizam esta tecnologia para entrar na escola, sair, tomarem opequeno almoço na cantina, e os pais ou os seus representantesidentificamse para irem buscar as suas crianças. 2) Introduçãoaos bens de consumo, de conforto ou de jogo: telemóvel,computador, viatura, jogos de vídeo. 3) Desenvolvimento de

serviços no banco, supermercado, transportes, através do acessoá Internet» (  www.gixel.fr ).

Se queremos verdadeiramente preservar o que ainda resta donosso ambiente, libertarnos da mercantilização, quebrar ocanastro deste mundolaboratório, resistir ao tecnocontrole:recusemos o telemóvel.

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* Este texto foi extraído de um folheto publicado em Grenoble por Crete duCul e adaptado para a língua portuguesa por Marta Avelar. Os dados ereferências, além dos mencionados no decorrer do texto, foram retirados daimprensa francesa, nomeadamente do Le Monde, Libération, Sciences et

 Avenir, Le Journal du Net, Le Fígaro Magazine et Science et Vie.

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 A Biblioteca dos Operários e Empregados da Sociedade Geral(BOESG) foi fundada em 01/01/1947 com o objectivo depromover e intensificar a cultura, nomeadamente hábitos deleitura, nos trabalhadores desta empresa de navegação.

Com o passar dos anos, centenas de livros sobre váriosassuntos foram sendo acumulados, sendo uma boa parte doespólio da biblioteca composto por livros da corrente estéticoliterária conhecida como neorealismo. Com o passar dosanos, o número de leitores foi diminuindo, consequênciadirecta do envelhecimento e mesmo desaparecimento dossócios da Biblioteca.

No presente, a BOESG está a passar por um processo derevitalização. Isto passa, entre outras iniciativas, pelareactivação da Biblioteca, disponibilizandoa novamente para aleitura de quem a quiser frequentar, já não na perspectiva inicialdos seus fundadores, mas como repositório de documentos etestemunhos que validem uma crítica radical ao sistemaindustrialmercantil global que transforma o planeta e os seres

 vivos em recursos, mercadorias e lixo.

B.O.E.S.G.Rua das Janelas Verdes,nº13, 1º esquerdo(Santos, Lisboa)

[email protected]