014programa de Coleta Seletiva de Londrina-reciclando Vidas

Embed Size (px)

Citation preview

  • 5/21/2018 014programa de Coleta Seletiva de Londrina-reciclando Vidas

    1/12

    Programa de Coleta

    Seletiva de Londrina

    Reciclando VidasLondrina - PR

  • 5/21/2018 014programa de Coleta Seletiva de Londrina-reciclando Vidas

    2/12

    Programa de Coleta Seletiva de Londrina Reciclando Vidas142

  • 5/21/2018 014programa de Coleta Seletiva de Londrina-reciclando Vidas

    3/12

    Programa de Coleta Seletiva de Londrina Reciclando Vidas 143

    Programa de ColetaSeletiva de Londrina Reciclando Vidas

    Gina Rizpah Besen 1

    INTRODUO

    Aimplementao de programas de coleta seletiva fundamental para oequacionamento dos impactos que os resduos slidos provocam no ambientee na sade dos cidados. A extrao dos recursos naturais para a produo dos bens

    de consumo se encontra acima da capacidade de suporte do planeta, a produode resduos slidos crescente e a sua destinao ainda inadequada em grande

    parte dos municpios brasileiros. A coleta seletiva promove a reduo do lixo na

    fonte geradora, o reaproveitamento e a reciclagem de matrias primas, a geraode renda com incluso social, assim como tambm minimiza o impacto ambiental

    causado pelo aterramento dos resduos.

    No Brasil, desde a dcada de 90, os programas municipais de coleta seletiva

    desenvolvidos em parceria com cooperativas/associaes de catadores, se tornaram

    um modelo de poltica pblica, com incluso social e gerao de renda. Hoje, asexperincias esto disseminadas por todos os estados brasileiros, e os modelos

    adotados variam de acordo com as realidades locais.

    No entanto, estes programas ainda apresentam uma grande fragilidade em

    virtude do aumento de catadores avulsos que, para garantir a sua sobrevivncia,competem com as organizaes j institucionalizadas. Outra fragilidade est

    associada aos baixos ndices de coleta seletiva e a falta de autonomia dos grupos

    de catadores.

    O Programa de Coleta Seletiva de Londrina Reciclando Vidas apontarespostas para alguns destes desafios.

    1Psicloga e mestra da Faculdade de Sade Pblica da Universidade de So Paulo.

  • 5/21/2018 014programa de Coleta Seletiva de Londrina-reciclando Vidas

    4/12

    Programa de Coleta Seletiva de Londrina Reciclando Vidas144

    O PROGRAMA

    O programa consiste na implementao da coleta seletiva atravs de uma

    parceria entre a prefeitura e vinte e seis Organizaes No-Governamentais

    (ONGs). Os principais objetivos, alm da incluso social e da gerao de

    renda, so: ampliar o alcance da reciclagem na cidade e desenvolver umaestratgia que possibilite a sustentabilidade do programa e a autonomia dasONGs. Envolve um contingente de 474 pessoas, composto em sua maioria

    por catadores de rua, bem como por alguns desempregados.

    A prefeitura dividiu o entorno da cidade em setores, e as ONGs ficaram

    responsveis pela coleta, triagem e comercializao do material reciclvel.

    O volume de resduos slidos, coletado e triado , segundo a Companhia

    Municipal de Trnsito e Urbanizao de Londrina (CMTU), em mdia, de 90

    ton/ms, representando um ndice de 23% de material que seria destinadoao aterro.

    CONTEXTO

    A cidade de Londrina, no Estado do Paran, tem uma populao de 447.065

    habitantes (IBGE, 2000), sendo 97% urbana. A coleta de lixo atende a 98,2%

    dos domiclios, o abastecimento de gua a 97,6% e 78,6% da cidade possuirede de esgoto. Figura como a 189 no pas e 10 no Estado (IDH 2000).

    Os servios de coleta de lixo e o programa de coleta seletiva so

    gerenciados pela CMTU, uma sociedade de economia mista (empresa),

    na qual o poder pblico o acionista majoritrio (99,9%). A empresa foi

    constituda com a finalidade de gerenciar o trnsito e o transporte coletivo.

    Os recursos para a operacionalizao da gesto dos resduos slidos

    no municpio so oramentrios: uma parte oriunda da cobrana da taxa

    de limpeza pblica no IPTU, por meio de uma rubrica especfica, e a outraprovm do Fundo de Urbanizao de Londrina (FUL), constitudo em 1998

    e gerido pela CMTU.

    HISTRICO

    Em 1996, a Secretaria Municipal do Ambiente (SEMA) iniciou a implantaoda coleta seletiva de lixo. Essa poltica pblica consistia na coleta porta a

    porta, do material reciclvel, realizada por caminhes da prefeitura em

    10.000 residncias (de um total de 150.000 domiclios). Foi ampliada para

    30.000 residncias em 2000 e chegou a coletar e triar 4 ton/dia, sendo que o

  • 5/21/2018 014programa de Coleta Seletiva de Londrina-reciclando Vidas

    5/12

    Programa de Coleta Seletiva de Londrina Reciclando Vidas 145

    material era enviado para uma central de triagem operada por funcionrios

    pblicos.

    A nova administrao promoveu mudanas na gesto dos servios

    pblicos da cidade e na gesto dos resduos slidos. A SEMA assumiu a

    Poltica de Resduos Slidos, e deslocou alguns tcnicos para a CMTU-LD

    que passou a ser a gestora dos servios de limpeza pblica. Foi constitudoum grupo de trabalho integrado por diversas secretarias2 que props a

    terceirizao da coleta regular e a municipalizao da coleta seletiva.

    A licitao da limpeza pblica teve incio em 2001 e trmino em 2003.

    Optou-se por um modelo de contratao da coleta regular de lixo, por preo

    global, ou seja,coleta no remunerada por tonelada coletada.O clculo

    do preo global da licitao se baseou na cotao dos preos mdios em

    cidades do porte de Londrina e pela mdia de toneladas aterradas. O controle

    da coleta realizado pelos fiscais e pela populao por meio do Servio deAtendimento ao Cidado (SAC).

    O Reciclando Vidas comeou com a retirada de catadores que

    trabalhavam no lixo, por ao do Ministrio Pblico, e a assinatura de um

    Termo de Ajustamento para a sua incorporao na coleta seletiva. A rea de

    abrangncia foi ampliada para 50.000 residncias, e isto provocou uma reao

    dos catadores de rua destas reas do entorno de Londrina que se sentiram

    ameaados pela proposta do poder pblico. Houve ento uma negociao

    para integr-los ao programa e formou-se um grupo inicial composto de

    20 catadores do lixo e 30 carrinheiros que fundaram a primeira ONG paratrabalhar na central de triagem em parceria com a prefeitura. Segundo o

    setor jurdico da CMTU, avaliou-se que o melhor formato jurdico inicial

    para estes grupos seria o de ONGs, para evitar encargos trabalhistas, a Lei

    de Licitaes e os riscos advindos de mudanas polticas.

    Os catadores que atuavam nas ruas organizaram-se em grupos e por

    iniciativa prpria passaram a reivindicar centrais prximas s suas residncias

    e s reas nas quais atuavam coletando. Esta presso dos grupos ocasionouum processo de descentralizao gradativa que resultou em uma proliferao

    de ONGs: em 2001 foram criadas 13 ONGs reunindo 238 pessoas entrecatadores e alguns moradores de bairros; em 2002, 10 ONGs com 186

    pessoas; em 2003 duas novas ONGs, totalizando 42 pessoas; e em 2004,

    uma ONG com 8 pessoas. Dos 26 grupos, apenas dois ainda no estavam

    regularizados e com estatuto prprio quando da visita. A CMTU demarcou a

    rea do entorno do centro, que corresponde a 80% das residncias da cidade,

    subdividindo-a em setores distribudos entre os grupos.

    2Secretarias da Fazenda, SEMA, Obras, CMTU, e da Companhia de Desenvolvimento de Londrina CODEL.

  • 5/21/2018 014programa de Coleta Seletiva de Londrina-reciclando Vidas

    6/12

    Programa de Coleta Seletiva de Londrina Reciclando Vidas146

    Em 2001 as ONGs iniciaram, em parceria com a prefeitura, um projeto

    de coleta seletiva porta a porta com carrinhos. A prefeitura ficou responsvel

    pelo transporte dos materiais para as centrais de triagem, pelo fornecimento

    dos sacos plsticos verdes de 100 litros para armazenamento dos reciclveis

    nas residncias e posteriormente pelo transporte dos materiais para a Central

    de Pesagem e Prensagem (CEPEVE), criada por demanda das ONGs, paracoordenar a venda dos materiais recolhidos, visando aumentar o preo de

    venda e eliminar atravessadores, melhorando a renda dos associados.

    Em 2002, por demanda das ONGs e com o apoio da prefeitura, foi criado

    o Conselho das Organizaes de Profissionais de Reciclagem de Londrina.

    A eleio da Diretoria Executiva bianual em Assemblia composta por um

    Presidente, Secretrio, Tesoureiro e tem por finalidade principais :

    Viabilizar as aes que estimulem a revalorizao dos materiais de ps-

    consumo, a preservao ambiental e incluso social dos profissionais

    de reciclagem de resduos slidos;

    Propor Administrao Municipal uma programao de aes

    visando a educao ambiental e a valorizao de aes praticadas

    pelas ONGs;

    Propor critrios e fiscalizar as programaes e execues oramentrias

    do municpio de Londrina quanto Limpeza Pblica;

    Analisar e referendar os critrios de celebrao de contratos ouconvnios;

    Coordenar processo de unidade de aes entre os seus associados

    visando agregar valor aos produtos reciclados.

    LOGSTICA

    As ONGs promovem a conscientizao dos moradores mediante adistribuio de sacos de lixo para a separao do material nas residncias,

    alm de estabelecerem dilogo sobre a importncia da reciclagem. A coleta

    realizada de forma variada, com veculos, carrinhos de mo e carroas

    com trao animal. O material reciclvel coletado estocado em alguns

    pontos denominados bandeiras nos quais recolhido por caminhes da

    prefeitura que fazem o transporte at os galpes de triagem. A prefeitura

    tambm promove o transporte das Centrais de Triagem para a CEPEVE,para a comercializao conjunta.

  • 5/21/2018 014programa de Coleta Seletiva de Londrina-reciclando Vidas

    7/12

    Programa de Coleta Seletiva de Londrina Reciclando Vidas 147

    As 26 ONGs encontram-se em diferentes estgios de organizao, todas

    integram a CEPEVE , mas nem todas comercializam seus materiais via

    CEPEVE. Cerca de doze se encontram em galpes alugados pela prefeitura,

    algumas j assumiram o aluguel dos galpes, quatro possuem sede prpria eas demais esto em processo de identificao de rea para alugar.

    As ONGs visitadas3 relatam que separam todos os materiais, mas queatualmente s esto comercializando via CEPEVE o tetrapack, papelo

    misto, PET, PEAD colorido e branco, PET leo e tampinhas. Todas seguem

    o horrio de trabalho das 8 s 17hs. Segundo informaes da CMTU, 80% dos

    integrantes das ONGs so mulheres. As condies de trabalho nos galpes

    variam proporcionalmente ao grau de organizao dos grupos. Observa-se

    uma diferena na organizao do trabalho nas ONGs compostas apenas pormulheres ou por um contingente masculino reduzido. Estas apresentam uma

    organizao mais eficiente e melhores condies de higiene e trabalho. Amais precria a que congrega os ex-sucateiros que trabalhavam no lixo,

    cujos integrantes demonstram resistncia s diretrizes organizacionais do

    programa.

    Foi constatado nas visitas que o material coletado nas bandeiras e nas

    centrais apresenta uma excelente qualidade de separao: limpo e seco.

    Segundo alguns catadores, eles trabalham com baixos ndices de rejeio por

    parte dos residentes, uma vez que executam no corpo-a-corpo o trabalho deeducao com os moradores.

    Segundo a equipe da prefeitura as quantidades coletadas variam de 2a 4 ton/dia perfazendo a mdia mensal de 90 toneladas. Este controle

    realizado por meio do nmero de sacos fornecidos e do peso mdio dos

    sacos. Na tabela 1, so destacadas algumas informaes quantitativas acerca

    dos trabalhos das ONGs envolvidas com essa experincia.

    Transporte

    Parques e praas prefeituracarrinhos, carroas, veculos CMTUDistribuio de sacos

    comercializao conjunta

    ColetaPorta a porta

    ONGs

    Bandeirastransbordo

    26 Centraisde Triagem

    ONGs

    Central dePesageme Prensagem

    CEPEVE

    3Realizaram-se visitas tcnicas do Programa Gesto Pblica e Cidadania a 7 ONGs, localizadas em diferentes setoresda cidade; Refgio, Ressalte, Arel, Recicla Caf, Novo Mundo, Primavera, e Novo Milnio.

  • 5/21/2018 014programa de Coleta Seletiva de Londrina-reciclando Vidas

    8/12

    Programa de Coleta Seletiva de Londrina Reciclando Vidas148

    Tabela 1 Dados sobre a coleta seletiva por ONG

    ONG N membros Renda Mdia Existncia Quantidade

    1.Reciclando para a natureza 15 150 2001 *

    2.Reciclando para a sade 17 290 2001 *

    3.Primavera 10 270 2001 *4.Recicla Caf 7 290 2002 *

    5.Reciclando a educao 18 310 2001 *

    6.Grupo Unio 21 350 2001 *

    7.Juventude 17 270 2001 *

    8.Arlon 22 200 2002 *

    9.Reciclando a cidadania 25 410 2002 *

    10.Urna Novo Amparo 19 100 2001 *

    11.Recleste 18 150 2002 *

    12.Monte Cristo 18 180 2002 *13.Grupo Esperana 27 400 2001 *

    14.Novo Milnio 26 250 2001 *

    15.Arel 10 330 2001 *

    16. Ressalt 26 180 2002 *

    17.Refgio 10 400 2001 *

    18.Lutando Novo Mundo 10 280 2002 *

    19.Ressul 15 210 2003 *

    20.ARUVI 8 180 2004 *

    21.Oest Limp 27 230 2003 *

    22. Reciclando Oeste 24 280 2001 *

    23. A Misso 19 250 2002 *

    24. Arle 24 310 2001 *

    25.Unio Norte 26 170 2002 *

    26. IRERE 15 180 2002 *

    Fonte: CMTU- Londrina* a mdia de 3 toneladas/dia/ONG.

    A Central de Pesagem e Prensagem - CEPEVE

    A CEPEVE comeou a operar em 2001, e est instalada num galpo do municpio

    em rea rural, antiga central de moagem de entulho agora desativada e acessada por

    estrada de terra em condies adequadas. Possui dois funcionrios remunerados,

    mas segundo um funcionrio, no incio j chegou a ter cinco e j recebeu maior

    variedade de materiais (papel misto, papelo e sucata de ferro). Possui duas

    balanas de pesagem (at 500kg) e 8 prensas4*.

    4

    Duas doadas pela CMTU, cinco pelo Banco do Brasil e uma de uma ONG de outra cidade.

  • 5/21/2018 014programa de Coleta Seletiva de Londrina-reciclando Vidas

    9/12

    Programa de Coleta Seletiva de Londrina Reciclando Vidas 149

    Os dois funcionrios, ambos com 53 anos, que trabalhavam no lixo, hoje

    obtm uma renda de R$ 300,00 mensais. Eles relatam que a quantidade atual vendida

    conjuntamente de 12 a 15 toneladas/ ms: no incio chegou a 30 ton/ms com

    a grande adeso, mas foi diminuindo. Com a reduo de funcionrios reduziu-se

    tambm a quantidade de materiais que chegam. A diminuio da participao se deu

    em funo de problemas no pagamento (atrasos) e a no-existncia de um fundoda CEPEVE que garantisse estes pagamentos. A Presidente alega que os 5% que a

    CEPEVE recebe das ONGs pela administrao dos servios so insuficientes para

    pagar os funcionrios e garantir o pagamento antecipado dos materiais. Com isto,

    vrias ONGs passaram a comercializar de maneira independente.

    Com a criao da CEPEVE foi realizado um curso de capacitao que

    possibilitou que a separao dos materiais passasse de 20 a 32 itens diferenciados

    para a comercializao, melhorando seu valor. A tabela 2 informa a diferena de

    preo quando o material comercializado diretamente pelas ONGs em comparaocom o valor obtido pela CEPEVE.

    Tabela 2 - Diferenas em R$ nos custos de comercializao dos materiais

    via CEPEVE

    Materiais ONG CEPEVE

    Embalagens Tetrapack 0,03kg 0,10 kg

    Garrafas plsticas PET 0,45 Kg 0,80kg

    PEAD branco 0,45kg 0,80kg

    PEAD colorido 0,30kg 0,47kg

    Metas e Indicadores da Coleta Seletiva

    O Programa utiliza os seguintes indicadores para verificar sua eficcia, eficincia

    e efetividade:

    Reduo da disposio de resduos slidos no aterro sanitrio.

    Foi constatado o aumento da vida til do aterro em 10 meses. O aterro jestaria com sua vida til esgotada. Houve uma reduo de disposio de

    resduos slidos de 348 ton/dia para 307 ton/dia, apesar da expanso da

    coleta regular em 17 novos loteamentos e bairros. Reduo do nmero de caminhes da coleta regular e do nmero de

    viagens da coleta regular por setor.

    Foi constatada a reduo de um caminho e uma guarnio de coletores

    na coleta regular, sem afetar a qualidade do servio, conforme o SAC

    Servio de Atendimento ao Cidado.

  • 5/21/2018 014programa de Coleta Seletiva de Londrina-reciclando Vidas

    10/12

    Programa de Coleta Seletiva de Londrina Reciclando Vidas150

    Ampliao de ONGS, participantes e aumento do grau de organizao.

    Passou de 13 ONGs em 2001 para 26 em 2004, e de 237 para 474

    participantes. A criao da CEPEVE um indicador do aumento do grau

    de organizao dos catadores.

    Aumento do material coletado e da adeso da populao.

    A taxa de 23% de desvio do aterro alta e superior mdia atingida pelos

    programas dos municpios brasileiros5. Reduo do apoio da prefeitura e maior autonomia das ONGs.

    O indicador o nmero de ONGs que esto assumindo os aluguis dos

    galpes aps o primeiro ano. A meta que todas assumam o aluguel.

    Aumento do valor de venda dos materiais na CEPEVE.

    Comeou com o PET e aumentou a quantidade de tipos de materiais

    comercializados em conjunto.

    CUSTOS

    A prefeitura considera seus custos com o programa com base no valor do contrato

    de coleta seletiva de lixo, que de R$ 79.950,00 mensais e inclui cinco veculos

    um caminho basculante para as 30 caambas de rejeito das ONGs e quatro

    caminhes bas para o transporte dos materiais recolhidos das bandeiras para as

    centrais de triagem e das centrais de triagem para o Centro de Pesagem e Prensagem,

    alm dos 150.000 sacos de lixo de 100 litros. No entanto, alm destas despesas

    a prefeitura arcava no perodo da visita de campo, por meio da Companhia deDesenvolvimento de Londrina (CODEL), com o aluguel de 12 galpes utilizadospelas ONGs, sendo que elas, aps o perodo de um ano, deveriam assumir o custo

    decorrente da locao do imvel. A prefeitura ainda arca com os custos de seis

    prensas, e da equipe responsvel pelo programa de coleta seletiva, que composta

    de nove integrantes que correspondem a cinco tcnicos e quatro estagirios da

    Universidade Estadual de Londrina (UEL).

    DIFICULDADESSegundo sua Diretora Presidente, a CMTU encontra dificuldades em gerenciar os

    problemas de relacionamento entre as ONGs e entre os integrantes dos grupos

    e em organizar os catadores avulsos na rea central. A rea central de Londrinano foi envolvida no projeto devido atuao de carrinheiros avulsos que no se

    interessaram pela organizao do projeto da prefeitura, alegando alto rendimento

    obtido pela catao. Segundo a Diretora da CMTU, a prefeitura pretende iniciar

    5

    Estimada em 10 a 15%.

  • 5/21/2018 014programa de Coleta Seletiva de Londrina-reciclando Vidas

    11/12

    Programa de Coleta Seletiva de Londrina Reciclando Vidas 151

    um trabalho mais intensivo com vistas organizao destes catadores, uma vez

    que esta etapa inicial demandou total dedicao dos quadros tcnicos existentes

    em funo das grandes dificuldades organizacionais e de relacionamento entre

    os integrantes das ONGs. Destacou tambm a necessidade de parcerias para

    a capacitao e que a prefeitura est buscando viabilizar um convnio com a

    Universidade Estadual de Londrina UEL.Por parte das ONGs so muitas as reivindicaes: capacitao para o

    empreendedorismo e o gerenciamento; alfabetizao, alm de queixas pelo fato de

    que a maior parte das lideranas vira patro. Alegam, ainda, dificuldades de investir

    em artesanato com o reaproveitamento de materiais devido ao excesso de trabalho

    na triagem e a falta de mercado para os produtos.

    Aspectos Inovadores

    O Projeto apresenta alguns aspectos inovadores, entre os quais destaca-se

    a contratao de coleta de lixo domiciliar por preo global. Esta lgica decontratao se contrape da maioria dos municpios brasileiros que contratam a

    coleta por tonelada na qual quanto mais lixo coletado, maior o lucro da empresa.

    O contrato por preo global tambm responsvel pelos altos ndices de coleta

    seletiva alcanados em Londrina, uma vez que estimula uma logstica reversa,

    na qual passa a interessar empresa que realiza a coleta a reduo dos resduos

    coletados. O resultado constatado o apoio da empresa s ONGs visando reduzir

    os seus custos.Outro fator que sustenta a alta taxa de coleta seletiva, a organizao

    territorial por meio da setorizao da cidade e incorporao dos catadores de rua.

    Disso decorre a inexistncia de coletas concorrentes e paralelas, assim como a

    quantidade coletada pelas ONGs de forma autnoma computada no programa

    municipal. Pode-se considerar este modelo inovador, uma vez que nos programas

    municipais de coleta seletiva em que isto no ocorre, tais como os de Santo Andr,

    So Paulo, Porto Alegre, Curitiba, Florianpolis, Embu, entre muitos outros, o que

    se observa o acirramento da disputa pela coleta do material entre os catadores

    autnomos e os integrantes dos projetos municipais.Um outro aspecto inovador na coleta seletiva de Londrina o real empenho

    da prefeitura em estruturar um modelo que caminhe para a autonomia das ONGs

    com relao coleta seletiva de resduos do municpio. Apesar dos discursos das

    prefeituras no sentido de apoiar a autonomia das cooperativas, observa-se uma

    tendncia geral de tutelar e capitalizar a atuao das cooperativas/associaes.

    No caso de Londrina, cerca de quatro ONGs possuem sede prpria, e as demais

    operam em galpes que a prefeitura aluga apenas por um ano, aps o qual a ONG

    assume todas as responsabilidades.

  • 5/21/2018 014programa de Coleta Seletiva de Londrina-reciclando Vidas

    12/12

    Programa de Coleta Seletiva de Londrina Reciclando Vidas152

    CONCLUSO

    A experincia de Londrina representa uma mudana paradigmtica na gesto de

    resduos slidos principalmente por adotar a modalidade de contratao de coleta

    de lixo por preo global. Com isso, pode ser considerada uma poltica de governo

    ousada, pois contraria os interesses econmicos das empresas de coleta de lixo eaponta para um caminho no qual a reduo da gerao dos resduos, a inclusosocial e a melhoria da eficincia dos programas de coleta seletiva de lixo tornam-se

    fundamentais para a melhoria da qualidade de vida e, conseqentemente, para o

    futuro da humanidade.

    Iniciativas como esta devem ser valorizadas, divulgadas e podem ser

    replicadas em realidades distintas, levando em considerao as particularidades e

    diculdades existentes nos diferentes municpios.