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Autoria Durante aproximadamente mil e duzentos anos (entre o ano 400 e 1600 d.C.), esse verdadeiro tra- tado teológico aos hebreus (judeus) foi chamado de “Epístola de Paulo aos Hebreus”, muito embora a igreja primitiva nunca houvesse lhe atribuído tal autoria. Orígenes, um dos pais da igreja do terceiro século costumava dizer: “somente Deus sabe quem escreveu Hebreus”. A primeira edição britânica da Bíblia King James, em 1611, assim como traduções posteriores para outras línguas, incluindo a portuguesa, ainda abriam o livro de Hebreus com esse título. Com a Reforma, entretanto, análises exegéticas mais aprofundadas começaram a ser implementadas; e com as grandiosas descobertas bíblico-arqueológicas, ocorridas especialmente nos séculos XIX e XX, convencionou-se entre os biblistas de todo o mundo que o mais correto seria manter o mistério, que os próprios originais fazem, em relação à autoria dessa obra. Desde a igreja primitiva, e na época dos pais da igreja, já havia uma inquietação em relação a esse assunto. Tertuliano, por volta do ano 200 d.C., chega a se referir a esse livro como “uma epístola aos hebreus com o nome de Barnabé”. Já na Reforma, foi Martinho Lutero quem primeiro, ao dedicar- se à exegese dos manuscritos gregos que dispunha, sugeriu a autoria de Apolo. Esses autores propostos são, de fato, grandes possibilidades, além de Silas, Áquila, Clemente de Roma e o casal Áquila e Priscila. Barnabé não fazia parte do grupo de apóstolos, no sentido restrito da expressão, mas tinha plena autoridade espiritual a ele conferida pelo comitê apostólico e diretamente por Paulo e Pedro. Foi um intelectual respeitado pela Igreja e cristão hebreu profundo conhecedor do Antigo Testamento. Barnabé, portanto, cumpre bem as características necessárias como potencial autor dessa carta aos Hebreus. Era judeu, da tribo sacerdotal de Levi (At 4.36), e tornou-se discipulador e amigo de Paulo, com quem serviu por muito tempo como companheiro de ministério e missões. Foi o próprio Espírito Santo quem indicou para a Igreja, em Antioquia, que Barnabé e Paulo deveriam ser enviados para a grande obra de evangelização ocorrida durante a primeira viagem missionária (At 13.1-4). Apolo é um candidato considerado ainda mais indicado por grande parte dos estudiosos modernos. Lucas nos revela que “...chegou a Éfeso um judeu, natural de Alexandria, chamado Apolo, homem eloqüente, e que acumulava grande experiência nas Escrituras”(At 18.24). Apolo também era judeu convertido ao Senhor Jesus, pelo batismo de João, e dotado de admirável capacidade oratória e intelectual. Paulo tinha grande respeito e amizade por Apolo, com quem realizou importante obra evangelística em Corinto (1Co 1.12; 3.4-22). Propósitos Muito mais fácil de determinar do que a autoria de Hebreus, mas não menos difícil de compre- ender em toda a sua amplitude, são os propósitos e o conteúdo temático desta carta endereçada especialmente aos judeus (hebreus) convertidos a Cristo, que faziam parte da Igreja na Itália (13.24; Rm 15.26), mas que estavam sendo tentados a voltar aos rudimentos da Lei e do judaísmo místico. Alguns mestres judeus estavam pregando uma doutrina herética que não combatia diretamente a mensagem cristã, mas procurava judaizar o evangelho (Gl 2.14; At 6.7). O prefácio do livro já afirma categoricamente o caráter distintivo do Filho de Deus. Cristo é antes da História, e a própria razão da História. Jesus é o agente que produz a única plena purificação dos pecados derivados do coração humano, da Queda (Gn 3), e cometidos na História. Jesus Cristo é a suprema revelação de Deus (1.1-3). Portanto, o tema central de Hebreus é a supremacia e suficiência de Cristo, completando e ultra- passando em muito a revelação preliminar e limitada concedida aos homens por meio do Antigo Testamento. Por este motivo, todas as revelações, promessas e profecias do AT são perfeitamente cumpridas somente na “Nova Aliança” ou “Novo Testamento”, nos quais a pessoa de Jesus, por cau- sa da sua obra redentora, é o único e suficiente Mediador entre Deus e a humanidade. Muito superior aos anjos, a Moisés (mediador da Antiga Aliança) e a todos os profetas do AT (1.4-14). Segundo vários exegetas e estudiosos dos manuscritos gregos de Hebreus, esta carta poderia também ser INTRODUÇÃO HEBREUS HB_B.indd 2 14/8/2007, 15:39:03

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AutoriaDurante aproximadamente mil e duzentos anos (entre o ano 400 e 1600 d.C.), esse verdadeiro tra-

tado teológico aos hebreus (judeus) foi chamado de “Epístola de Paulo aos Hebreus”, muito embora a igreja primitiva nunca houvesse lhe atribuído tal autoria. Orígenes, um dos pais da igreja do terceiro século costumava dizer: “somente Deus sabe quem escreveu Hebreus”.

A primeira edição britânica da Bíblia King James, em 1611, assim como traduções posteriores para outras línguas, incluindo a portuguesa, ainda abriam o livro de Hebreus com esse título. Com a Reforma, entretanto, análises exegéticas mais aprofundadas começaram a ser implementadas; e com as grandiosas descobertas bíblico-arqueológicas, ocorridas especialmente nos séculos XIX e XX, convencionou-se entre os biblistas de todo o mundo que o mais correto seria manter o mistério, que os próprios originais fazem, em relação à autoria dessa obra.

Desde a igreja primitiva, e na época dos pais da igreja, já havia uma inquietação em relação a esse assunto. Tertuliano, por volta do ano 200 d.C., chega a se referir a esse livro como “uma epístola aos hebreus com o nome de Barnabé”. Já na Reforma, foi Martinho Lutero quem primeiro, ao dedicar-se à exegese dos manuscritos gregos que dispunha, sugeriu a autoria de Apolo. Esses autores propostos são, de fato, grandes possibilidades, além de Silas, Áquila, Clemente de Roma e o casal Áquila e Priscila.

Barnabé não fazia parte do grupo de apóstolos, no sentido restrito da expressão, mas tinha plena autoridade espiritual a ele conferida pelo comitê apostólico e diretamente por Paulo e Pedro. Foi um intelectual respeitado pela Igreja e cristão hebreu profundo conhecedor do Antigo Testamento. Barnabé, portanto, cumpre bem as características necessárias como potencial autor dessa carta aos Hebreus. Era judeu, da tribo sacerdotal de Levi (At 4.36), e tornou-se discipulador e amigo de Paulo, com quem serviu por muito tempo como companheiro de ministério e missões. Foi o próprio Espírito Santo quem indicou para a Igreja, em Antioquia, que Barnabé e Paulo deveriam ser enviados para a grande obra de evangelização ocorrida durante a primeira viagem missionária (At 13.1-4).

Apolo é um candidato considerado ainda mais indicado por grande parte dos estudiosos modernos. Lucas nos revela que “...chegou a Éfeso um judeu, natural de Alexandria, chamado Apolo, homem eloqüente, e que acumulava grande experiência nas Escrituras”(At 18.24). Apolo também era judeu convertido ao Senhor Jesus, pelo batismo de João, e dotado de admirável capacidade oratória e intelectual. Paulo tinha grande respeito e amizade por Apolo, com quem realizou importante obra evangelística em Corinto (1Co 1.12; 3.4-22).

Propósitos Muito mais fácil de determinar do que a autoria de Hebreus, mas não menos difícil de compre-

ender em toda a sua amplitude, são os propósitos e o conteúdo temático desta carta endereçada especialmente aos judeus (hebreus) convertidos a Cristo, que faziam parte da Igreja na Itália (13.24; Rm 15.26), mas que estavam sendo tentados a voltar aos rudimentos da Lei e do judaísmo místico. Alguns mestres judeus estavam pregando uma doutrina herética que não combatia diretamente a mensagem cristã, mas procurava judaizar o evangelho (Gl 2.14; At 6.7).

O prefácio do livro já afirma categoricamente o caráter distintivo do Filho de Deus. Cristo é antes da História, e a própria razão da História. Jesus é o agente que produz a única plena purificação dos pecados derivados do coração humano, da Queda (Gn 3), e cometidos na História. Jesus Cristo é a suprema revelação de Deus (1.1-3).

Portanto, o tema central de Hebreus é a supremacia e suficiência de Cristo, completando e ultra-passando em muito a revelação preliminar e limitada concedida aos homens por meio do Antigo Testamento. Por este motivo, todas as revelações, promessas e profecias do AT são perfeitamente cumpridas somente na “Nova Aliança” ou “Novo Testamento”, nos quais a pessoa de Jesus, por cau-sa da sua obra redentora, é o único e suficiente Mediador entre Deus e a humanidade. Muito superior aos anjos, a Moisés (mediador da Antiga Aliança) e a todos os profetas do AT (1.4-14). Segundo vários exegetas e estudiosos dos manuscritos gregos de Hebreus, esta carta poderia também ser

INTRODUÇÃO

HEBREUS

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designada como “O Livro do Melhor”, na medida em que as expressões que significam “melhor” e “superior” aparecem mais de 15 vezes no texto original dessa obra.

O sacerdócio de Cristo, semelhante a Melquisedeque (Sl 110.4) – o sacerdote eterno e ilustração do Messias, é melhor do que o arônico, e superior a toda geração dos levitas, pois a vida do Cristo é indes-trutível e perene. Jesus é o único que ao mesmo tempo é o Sacerdote, que é a própria Oferta sacrificial, e seu sangue valida todo o Novo Testamento que é o “Pacto” final e eterno (4.14 – 10.18).

Os crentes são movidos pela comunhão restabelecida com Deus Pai em Cristo Jesus, e pela fé presente, conscientes das bênçãos infinitas que os aguardam no futuro (10.19 –12.29). A Cruz do Senhor como o grande altar do cristão, e a ressurreição do Sacerdote, perfazem a base jurídica da ação salvadora e redentiva de Deus (13.1-25).

Data da primeira publicação Os mais atuais e consistentes estudos históricos e arqueológicos sobre a datação de Hebreus

apontam para alguma época, no ano 70 de nossa era, imediatamente anterior ao massacre e destruição da cidade de Jerusalém, pelos exércitos romanos comandados por Tito. As principais justificativas, neste sentido, levam em consideração que, se essa carta tivesse sido escrita após esta data, com toda a certeza, o autor teria mencionado ou feito alguma alusão a uma das mais sangui-nárias chacinas ocorridas em Jerusalém, em toda a história da humanidade, envolvendo a completa destruição do suntuoso templo e do próprio sistema sacrificial judaico. Por outro lado, o autor ao escrever os originais em grego, emprega sistematicamente o tempo verbal presente quando fala sobre o templo e se refere às atividades sacerdotais praticadas antes da invasão romana e jamais retomadas até nossos dias (5.1-3; 7.23,27; 8.3-5; 9.6-25; 10.1-11; 13.10,11).

Esboço geral de Hebreus 1. A superioridade universal e infinita de Jesus, o Cristo (1.1 – 4.16) A. Jesus é incomparavelmente superior a todos os profetas (1.1-4) B. Jesus é superior a todos os seres angelicais (1.5-14) C. Jesus é superior ao mediador do AT: Moisés (3.1-6) D. Jesus Cristo, o filho de Deus, é o alvo maior da fé (3.7 –4.16) 2. A superioridade inquestionável do sacerdócio do Senhor (5.1 – 10.39) A. A superioridade das qualificações do Senhor Jesus (5.1-10) B. Sermão repetitivo para os tardios de entendimento (5.11 – 6.20) C. Jesus é superior em sua própria Ordem Sacerdotal (7.1 – 8.13) a) Melquisedeque como ilustração do Messias (7.1-3) b) A superioridade do Sacerdote eterno (7.4 – 8.13) D. Jesus é superior por causa de sua obra vicária (9.1 – 10.18) E. Outro rápido sermão de chamamento à fé (10.19-39) 3. A superioridade da pessoa e do poder de Jesus Cristo (11.1 – 13.19) A. Todo poder é outorgado aos sinceros crentes no Senhor (11.1-40) B. O poder da fé no dia-a-dia dos cristãos e da Igreja (12.1-29) C. O infinito e superior poder do amor leal de Cristo (13.1-19) 4. Saudações e bênção final (13.20-25)

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HEBREUS

Deus revelou-se em Jesus Cristo

1 Havendo Deus, desde a antigüida-de, falado, em várias ocasiões e de

muitas formas, aos nossos pais, por intermédio dos profetas,1 2 nestes últimos tempos, nos falou mediante seu Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo o que existe e por meio de quem criou o Universo. 3 Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando tudo o que há pela Palavra do seu poder. Depois de haver realizado a purifi cação dos pecados, Ele se assentou à direita da Majestade nas alturas,2 4 tornando-se tão superior aos anjos quanto o Nome que herdou é ainda mais excelente do que eles.3

O Filho é exaltado acima dos anjos 5 Porquanto, a qual dos anjos Deus algu-ma vez afi rmou: “Tu és meu Filho; Eu

hoje te gerei”? E outra vez: “Eu lhe serei Pai, e Ele me será Filho”? 4

6 E uma vez mais, quando Deus intro-duz o Primogênito no mundo, declara: “Todos os anjos de Deus o adorem”.5

7 Quanto aos anjos, Ele afi rma: “Ele faz dos seus anjos ventos, e dos seus servos, labaredas de fogo”.6 8 Entretanto, a respeito do Filho, revela: “O teu trono, ó Deus, subsiste por toda a eternidade; e o cetro do teu Reino é bastão da justiça.9 Amas o direito e odeias a iniqüidade; por este motivo, Deus, o teu Deus, te esco-lheu e ungiu com óleo de alegria, como a nenhum dos teus companheiros”.10 E acrescenta: “Tu, Senhor, no prin-cípio estabeleceste os fundamentos da terra, e os céus são obras das tuas mãos.11 Eles perecerão, mas tu permanecerás; envelhecerão como vestimentas,12 e como um manto tu os enrolarás, e

1 A “antigüidade” é um termo que indica a era anterior à primeira vinda de Jesus Cristo, em contraste com “nestes últimos dias” (v.2), que se referem à era messiânica (ou período escatológico) inaugurada com a encarnação do Senhor (At 2.17; 1Tm 4.1; Jo 2.18). A ex-pressão “Deus falou” é mais uma confirmação de que seu Espírito Santo é o supremo autor-inspirador dos escritores do AT e do NT.

2 Jesus Cristo, o Filho primogênito de Deus, é o herdeiro de todo o Universo e da eternidade (Ef 1.20-23; Rm 8.17). Cristo é a Palavra, o agente da Criação (Jo 1.1-3; Cl 16.3). Ele é o resplendor da glória de Deus; assim como a luz do sol não pode se separar do próprio sol, semelhantemente, o esplendor do Filho é inseparável da deidade, porquanto ele mesmo é Deus, como segunda pessoa da Trindade (Jo 1.5-18). Jesus não é uma simples imagem ou anjo de Deus, mas a materialização exata da pessoa de Deus (Jo 14.9; Cl 1.15). Cristo não pode ser comparado a qualquer outro deus, como imaginavam os gregos em relação a Atlas, que, segundo a mitologia, tinha o poder de carregar o mundo nas costas. O Filho de Deus mantém sob seu controle todo o macro e micro universo (Cl 1.17). Somente podia sentar-se ao lado direito do rei alguém por ele determinado e investido da sua autoridade, pois esse ato normalmente indicava o seu sucessor ao trono, tradicionalmente seu filho escolhido. Ao ser conduzido à direita do Pai, Jesus Cristo completou a obra da redenção, e hoje governa ativamente com Deus, como Senhor absoluto do Universo (v.13; 8.1; 10.12; 12.2; Ef 1.20; Cl 3.1; 1Pe 3.22; Mc 16.19).

3 A maioria dos hebreus (povo semita do AT que deu origem aos judeus) acreditava que os anjos eram seres celestiais e exaltados, que deviam ser reverenciados por terem participado da entrega da Lei de Deus ao povo no monte Sinai (2.2); sendo essa Lei a suprema revelação de Deus para os judeus. Vários textos antigos, descobertos no monte Qunram e conhecidos como os Rolos do Mar Morto, revelam a expectativa de muitos hebreus de que o arcanjo Miguel seria o grande líder do reino messiânico e, nesse caso, alguns anjos ocupariam uma posição acima de Cristo. O escritor desse livro contesta veementemente essa possibilidade, lembrando aos seus leitores, entre outras coisas, o fato de que o nome, para a cultura judaica, comunica o caráter completo da pessoa. Portanto, o trecho que se segue nos revela que esse Nome era “Filho”, nome que deve ser adorado por todo o Universo, o qual nenhum anjo pode ostentar (Gn 17.5; vv.5-14).

4 O Sl 2.7 é citado também em At 13.33, demonstrando o cumprimento perfeito da vontade de Deus na ressurreição do seu Filho, Jesus (Lc 1.32,33; Rm 1.4; 2Sm 7.14).

5 Os próprios anjos declaram que Jesus Cristo é o Senhor e o adoram (Dt 32.43 – de acordo com a Septuaginta e os Rolos do Mar Morto – Cl 1.15; Sl 97.7). Essas declarações, que no AT se referem a Yahweh (o nome impronunciável de Deus no AT), aqui são aplicadas a Cristo, o que se constitui em mais uma indicação clara da sua absoluta divindade.

6 O autor de Hebreus cita a Septuaginta (tradução grega do AT), por ser a tradução das Escrituras que a geração dos judeus de sua época mais conhecia, pois muitos palestinos já não sabiam ler o hebraico antigo (Sl 104.4).

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5 HEBREUS 1, 2

como roupas serão trocados; mas, Tu és imutável, e os teus dias não terão fi m”.713 Ora, a qual dos anjos Deus alguma vez declarou: “Senta-te à minha direita, até que Eu faça dos teus inimigos um estra-do para os teus pés”?14 Não são todos os anjos, espíritos ministradores, enviados para servir em benefício dos que herdarão a salvação?8

Jamais negligenciar a salvação

2 Por isso, é fundamental prestarmos atenção, mais ainda, às verdades que

temos ouvido, para que jamais nos des-viemos delas.1 2 Pois, se a mensagem proferida por anjos provou sua fi rmeza, e toda trans-gressão e desobediência recebeu a devi-da punição,2 3 como nos livraremos se desconsiderar-mos tão grande salvação? Esta salvação, tendo sido proclamada pelo Senhor, foi depois confi rmada a nós pelos que a ouviram.3

4 E, juntamente com eles, por intermédio

de sinais, Deus testemunhou feitos por-tentosos, diversos milagres e dons do Espírito Santo, distribuídos conforme a sua vontade.4

5 Porquanto, não foi aos anjos que Deus sujeitou o mundo vindouro, a respeito do qual estamos falando.5

Cristo é feito à nossa semelhança6 No entanto, alguém em certa passa-gem testemunhou, afi rmando: “Que é o homem, para que com ele te impor-tes? E o fi lho de Adão, para que venhas visitá-lo?7 Tu o fi zeste um pouco menor do que os anjos e o coroaste de glória e de honra;8 tudo sujeitaste debaixo dos seus pés”. E ao sujeitar-lhe todo o Universo, nada deixou que não lhe fosse sujeito; contu-do, hoje, ainda não vemos que todas as coisas estejam submissas a ele;6 9 observamos, no entanto, aquele que por um momento foi feito menor do que os anjos, Jesus, coroado de honra e de glória por ter sofrido a morte, para

7 O autor cita mais algumas passagens do AT que sugerem a divindade do Rei messiânico e davídico, reafirmando a superiori-dade de Jesus, o Filho de Deus, sobre todos os anjos (Sl 45.6,7; 102.25-27).

8 O autor de Hebreus faz questão de aplicar os textos do AT dirigidos a Yahweh (Iavé) à pessoa de Jesus Cristo, o Filho. O Salmo 110 é citado várias vezes, sempre aplicado a Jesus (3.13; 5.6,10; 6.20; 7.3-21; 8.1; 10.12,13; 12.2). O autor destaca: Cristo, o Filho de Deus, reina; os anjos ministram como missionários celestes, enviados para servir aos escolhidos.

Capítulo 21 A expressão grega original, aqui traduzida pela palavra “desviemos”, tem o sentido literal de: “sermos levados por uma forte

correnteza”.2 O autor de Hebreus refere-se à participação dos anjos na entrega da Lei a Moisés no Sinai (Dt 33.2 – “miríades de santos”

– Sl 68.17; At 7.38,53; Gl 3.19). 3 Os cristãos hebreus, principais destinatários deste livro, estavam negligenciando a comunhão da Igreja (koinonia) e dos

cultos (10.25), por acreditarem que Jesus estava demorando muito para retornar. O autor de Hebreus afirma que as testemunhas oculares, sobretudo os apóstolos, foram os primeiros a confirmar a Mensagem proclamada por Cristo (2Pe 1.16; 1Jo 1.1). Ele, entretanto, não reivindica alguma revelação direta do Senhor. Mas defende a nossa Salvação em Jesus Cristo, o Filho Unigênito de Deus, com raro entusiasmo e conhecimento cristológico das Escrituras.

4 Deus fez questão de confirmar a chegada do Evangelho e seu Reino por meio de atos sobrenaturais e prodigiosos, como a cura de milhares de enfermos (At 3.7-16) e a distribuição de diversos dons espirituais, em benefício ao seu Corpo (a Igreja), de acordo com seus planos e propósitos (1Co 12.4-11).

5 O autor de Hebreus faz uma exposição cristológica do Salmo 8.4-6, demonstrando a superioridade absoluta de Cristo sobre os mais altos anjos. Usa o termo grego oikoumenen, para comunicar a idéia “da sociedade organizada pelos seres humanos”, ou seja, “o mundo”. Ao tomar sobre si a natureza humana e cumprir plenamente sua missão na terra, de acordo com o plano do Pai, Cristo redimiu o ser humano caído e arrependido, não os anjos caídos (vv.11,14). O novo mundo será governado por Cristo, juntamente com todos os cristãos (2Tm 2.12).

6 O texto sagrado de Sl 8.4-6 era bem conhecido pelos hebreus e contempla a pessoa de Adão, como o precursor da humanidade. A ele, Deus confiou o poder sobre tudo o que havia na terra (Gn 1.26). O propósito de Deus era que o ser humano fosse soberano no âmbito das criaturas, sujeito somente ao Senhor. Todavia, por causa da Queda (Gn 3), esse objetivo de Deus ainda não foi completamente realizado. De fato, o próprio homem está “escravizado” pelo pecado, que é a morte (v.15), e somente em Cristo pode ser salvo (liberto).

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6HEBREUS 2, 3

que, pela graça de Deus, em benefício de todos, experimentasse a morte.7

10 Ao conduzir muitos fi lhos à glorifi -cação, convinha que Deus, por causa de quem e por intermédio de quem tudo veio a existir, tornasse perfeito, por meio do sofrimento, o Autor da Salvação deles.8

11 Assim, tanto o que santifi ca quanto os que são santifi cados advêm de Um só. E, por essa razão, Jesus não se envergonha de chamá-los irmãos. 12 Ele declara: “Vou anunciar teu nome aos meus irmãos; cantar-te-ei louvores no meio da congregação”.9

13 E mais: “Porei nele a minha con-fi ança”. E outra vez Ele afi rma: “Aqui estou Eu com os fi lhos que Deus me concedeu”.14 Portanto, visto que os fi lhos compar-tilham de carne e sangue, Ele também participou dessa mesma condição hu-mana, para que pela morte destruísse aquele que tem o poder da morte, a sa-ber, o Diabo;

15 e livrasse todos os que ao longo da vida inteira estiveram escravizados pelo medo da morte.10

16 Pois, é evidente que Ele não auxilia os anjos, mas sim à descendência de Abraão.11

17 Por esse motivo, era vital que Ele se tornasse semelhante a seus irmãos em todos os aspectos, a fi m de que pudesse constituir-se sumo sacerdote misericordioso e leal em relação a Deus, e poder realizar propiciação pelos pecados do povo.12

18 Considerando, portanto, tudo o que Ele mesmo sofreu quando tentado, Ele é capaz de socorrer todos aqueles que semelhantemente estão sendo atacados pela tentação.

Jesus Cristo é superior a Moisés

3 Sendo assim, santos irmãos, partici-pantes da convocação celestial, con-

siderai com toda a atenção o Apóstolo e Sumo Sacerdote que declaramos pu-bli-camente: Jesus.1

7 O Sl 8 refere-se aqui à pessoa do Messias, o Senhor Jesus, como o precursor do domínio humano restaurado sobre a terra. Por causa da sua vida de amor e obediência ao Pai, seu sacrifício vicário na cruz e sua exaltação (1Co 15.45), tornou possível ao homem perdoado e redimido o cumprimento das promessas do Sl 8 no Reino que se estabelecerá plenamente no futuro.

8 A expressão grega original archegőn, aqui traduzida por “Autor”, tem o sentido literal de: “Iniciador”. Cristo é o condutor dos descendentes de Adão à glória que Deus planejou para a humanidade. Foi por intermédio da sua paixão pessoal – a Deus e à humanidade – que Jesus pode se tornar nosso perfeito e único Salvador, o Messias (v.18; At 3.15; 5.31; Hb 12.2).

9 Na “Congregação”, um dos sinônimos da palavra Igreja (em grego ekklesia), só podem participar, como membros, os “irmãos” de Cristo. Os filhos de Deus foram outorgados ao Filho do Pai como “irmãos” (v.11), participantes da natureza de Cristo mediante o Espírito Santo (v.14). O autor de Hebreus cita o Sl 22, salmo de Davi (escrito há mais de mil anos antes da crucificação de Jesus), e que se refere profeticamente aos sofrimentos e ao triunfo de Jesus Cristo, o Servo Justo de Deus, o Messias.

10 Satanás tem o “poder da morte” somente no sentido de “poder induzir” a humanidade ao pecado; desviar as pessoas do Caminho que conduz a Deus: Jesus Cristo, e, conseqüentemente, relegar o ser humano incrédulo a uma condição de punição inevitável, que é o eterno afastamento da presença de Deus: a morte (Ez 18.4; Rm 5.12; 6.23). Entretanto, a graça salvadora de Deus está – neste momento – à disposição de todos os seres humanos que desejarem sinceramente recebê-la por meio da fé em Cristo Jesus (Jo 1.12,13).

11 Aos anjos caídos (demônios) e ao próprio Satanás, não será concedida qualquer benevolência ou graça salvadora. Todos esses espíritos do mal já estão condenados à punição máxima e eterna. Somente aos descendentes de Adão (os seres humanos), que ao serem contemplados pela graça de Cristo, reconhecerem que andaram contra a perfeita vontade de Deus, serão definitivamente redimidos e salvos da morte pela fé em Jesus (Gl 3.7).

12 Para que Jesus Cristo pudesse cumprir a Lei, e pagar plenamente a fiança da ira condenatória de Deus sobre a humanidade, tinha que se tornar perfeitamente humano, todavia sem pecado (4.15), a fim de reunir todos os poderes legais para se oferecer em resgate pelo pecado de Adão (e de toda a humanidade por extensão). O sacrifício do Justo na cruz foi a derradeira e definitiva cerimônia de Propiciação (termo hebraico que significa “cobrir”, “apagar”) exigida por Deus para que a Lei fosse perfeitamente cumprida, e a era da graça pudesse ser declarada em vigor até o iminente e glorioso retorno do Senhor e o Juízo final (Lv 20-24; 17.11).

Capítulo 3 1 Jesus Cristo é o perfeito Sumo Sacerdote (representante) e Apóstolo (missionário) de Deus para o resgate (Salvação) da

humanidade (Mc 6.30; 1Co 1.1). Jesus muitas vezes se referiu a si mesmo como aquele que fora “enviado” ao mundo pelo Pai (Mt 10.40; 15.24; Mc 9.37; Lc 9.48; Jo 4.34; 5.24-38; 6.38).

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7 HEBREUS 3

2 Ele foi fi el àquele que o constituiu, as-sim como também foi Moisés em toda a casa de Deus.2

3 Jesus foi considerado digno de maior glória do que Moisés, pelo mesmo prin-cípio que o construtor de uma casa pos-sui mais honra do que a própria casa. 4 Porquanto, toda casa é construída por alguém; no entanto, Deus é o supremo construtor de tudo.3

5 Moisés foi leal como servo em toda a casa de Deus, dando testemunho do que haveria de ser revelado no futuro;4

6 Cristo, no entanto, é fi el como Filho sobre a casa de Deus; e essa casa, pre-cisamente, somos nós, isto é, se retiver-mos com fé perseverante a coragem e a esperança da qual nos gloriamos.

O grave perigo da incredulidade7 Assim como proclama o Espírito San-to: “Hoje, se ouvirdes a sua voz,5

8 não endureçais o vosso coração, como ocorreu na rebelião, durante o tempo da provação no deserto,9 onde vossos pais me tentaram, pondo-me à prova, ainda que, durante quarenta anos, tenham contemplado as minhas obras.10 Por esse motivo, me indignei contra

essa geração e declarei: O coração destes está sempre se desviando, e não reconheceram os meus caminhos.11 Sendo assim, jurei na minha ira: Estes jamais entrarão no meu descanso”.12 Irmãos, tende muito cuidado, para que nenhum de vós mantenha um co-ração perverso e incrédulo, que se afaste do Deus vivo.13 Pelo contrário, exortai-vos mutua-mente todos os dias, durante o tempo que se chama “hoje”, de maneira que nenhum de vós seja embrutecido pelo engano do pecado.6

14 Porque passamos a ser participantes de Cristo, desde que em realidade, nos apeguemos até o fi m à fé que nele depo-sitamos desde o início.15 Por essa razão é que se afi rma: “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração, como ocorreu na rebe-lião”.16 Ora, quem foram os que ouviram e se rebelaram? Não foram todos os que saíram do Egito guiados por Moisés?17 E contra quem Deus se manteve irado por quarenta anos? Não foi contra aque-les que pecaram, cujos corpos tomba-ram mortos no deserto?18 E a quem jurou que jamais haveriam

2 Moisés foi enviado por Deus para libertar o povo de Israel da escravidão egípcia, e para guiá-los à Terra Prometida. Jesus foi enviado pelo Pai para libertar os dominados pelo pecado e pelo Diabo, de todas as nações, e conduzi-los ao Shabbãth do Senhor (descanso sabático em hebraico) prometido aos que crêem (2.14,15; 4.3,9; Jo 1.12,13; 17.4). O termo original “casa”, aqui, significa “família”.

3 Aqui, o termo “casa” pode ser traduzido como “lar”. Assim, Jesus, como Deus, é o próprio construtor do “lar”, sendo que Moisés simplesmente fazia parte dessa “casa”. Jesus, o Filho de Deus, é o agente e herdeiro de toda a Criação, e, portanto, tem o direito de mandar; Moisés tinha o direito de servir.

4 O próprio Moisés profetizou acerca da vinda e da obra de Cristo. A casa consiste no povo de Deus em todo o mundo, sua família (Ef 2.19; 1Pe 2.5). Se alguém deixar de perseverar na fé, apenas demonstra que jamais foi, de fato, crente e filho de Deus. Aquele que se arrepende de seus erros e pecados e não consegue ficar longe do Senhor e de sua família (a Igreja) é o filho amado, e seu coração exibe a marca dos eleitos. A prova da realidade da regeneração está na fidelidade a Jesus Cristo e na obediência à sua Palavra.

5 Aqui, temos mais uma evidência da inspiração do AT e, por conseguinte, de toda a Escritura. Essa citação de Sl 95.7-11 faz uma análise sintética da frustrante história de Israel no deserto sob liderança de Moisés. Assim como o autor do salmo usou esse fato histórico para advertir os israelitas do seu tempo contra a tentação da incredulidade e da desobediência à Palavra de Deus; da mesma maneira, o autor de Hebreus aplicou o mesmo princípio aos seus leitores.

6 Embora estejamos vivendo na “época da graça” divina, em que todos têm à sua disposição o favor de Deus, mediante o sacrifício de Cristo, a fim de se arrependerem de seus pecados e terem acesso à plenitude da Salvação, essa oportunidade única é garantida somente “aqui e agora”; amanhã poderá ser tarde demais. Satanás é o mestre da mentira e tenta nos convencer de que Deus não condenará ninguém ao inferno, nem julgará com rigor; e que nossos “erros” não são “grandes pecados”. Todos esses argumentos só servem para embrutecer (endurecer) os corações daqueles que lhes dão ouvidos (2.8; Jr 17.9). Afastar-se de Deus com rebeldia (literalmente no grego: “apostatar”) é desviar-se do Caminho da vida e preferir a morte, da mesma forma como agiram muitos dos israelitas que saíram do Egito a caminho de Canaã, mas não depositaram “confiança plena” (em grego hupostasis) no Senhor.

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8HEBREUS 3, 4

de ingressar no seu repouso? Ora, não foram aqueles que se mantiveram deso-bedientes?19 Concluímos, desse modo, que não lhes foi possível ter acesso à terra pro-metida por causa da incredulidade.7

O descanso sabático dos crentes

4 Portanto, ainda que nos tenha sido outorgada a promessa de ingressar

no descanso de Deus, tememos que al-gum de vós pareça ter falhado.2 Pois as boas novas foram pregadas também a nós, tanto quanto a eles; en-tretanto, a mensagem que eles ouviram de nada lhes valeu, pois não foi acompa-nhada de fé por aqueles que a ouviram.13 Porquanto, somos nós, os que temos crido, que entramos no descanso, con-forme Deus declarou: “Assim jurei na minha ira: Jamais entrarão no meu descanso”, muito embora as suas obras estivessem concluídas desde a fundação do mundo.2

4 Pois em certa passagem, Ele se referiu sobre o sétimo dia, nestes termos: “No sétimo dia, Deus descansou de toda obra que realizara”.

5 E novamente, no texto citado há pou-co, confi rma: “Jamais entrarão no meu descanso”.6 Portanto, considerando que ainda faltam alguns para entrar, e aqueles a quem antes foram pregadas as boas novas não ingressaram por causa da desobediência, 7 determina Deus, uma nova oportuni-dade, e a chama de “hoje”, ao declarar muito tempo depois, por intermédio de Davi e conforme o que já fora proclama-do antes: “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração”.8 Porque, se Josué lhes tivesse oferecido descanso, Deus não teria declarado pos-teriormente a respeito de outro dia.3

9 Sendo assim, ainda resta um descanso sabático para o povo de Deus;10 pois toda pessoa que entra no repou-so de Deus, também descansa de suas obras, como Deus descansou das suas.4

11 Diante disso, esforcemo-nos por entrar naquele descanso, para que ninguém caia no mesmo exemplo de desobediência.5

12 Porquanto a Palavra de Deus é viva e efi caz, mais cortante que qualquer espa-

7 Após uma série de perguntas retóricas, o autor de Hebreus conclui que as pessoas que saíram livres do Egito, com destino a Canaã, não puderam completar a viagem por não terem crido de todo coração nas promessas de Deus, o que lhes permitiu “abrir a guarda” e cair em muitos pecados. O Senhor, em sua ira e juízo, fechou as portas de Canaã (a exemplo do que já havia feito em Gn 3.23,24) para que toda aquela geração de israelitas incrédulos perecesse sem chegar ao lugar de repouso do Senhor (Nm 14.21-35). Os leitores de Hebreus são admoestados a ter muita cautela com os mesmos perigos no sentido espiritual.

Capítulo 41 O autor de Hebreus está sempre comparando a caminhada dos israelitas no deserto, abandonando a escravidão no Egito e

peregrinando até o “descanso de Deus” (em hebraico Shabbãth) na Terra Prometida, em relação à jornada do cristão rumo ao seu pleno repouso espiritual no Reino de Deus. O descanso dos judeus, sob a liderança de Moisés, e depois de Josué, temporário e terrestre, prenunciava o descanso eterno das nossas almas em Cristo (v.8; Js 1.13). A expressão grega “acompanhada” significa, literalmente, “unida”; enquanto pode dizer também que “as boas novas” foram literalmente “evangelizadas”. A fé compromete o ouvinte com a mensagem recebida; não se pode esquivar-se da sua obrigação (Rm 10.16; Is 53.1).

2 Do mesmo modo que a fé nas promessas de Deus era requerida para se entrar no descanso de Canaã, também só ingressaremos no descanso pleno e eterno da salvação mediante a fé sincera na pessoa e na obra expiatória de Jesus Cristo. Deus concluiu suas obras no sétimo dia da criação e descansou (v.4; Gn 2.2,3). Portanto, o Senhor nos convida para compartilhar do seu descanso, e não para qualquer tipo de repouso que possamos conquistar (vv.10,11).

3 O ingresso de Israel em Canaã sob a liderança de Josué representou uma forma parcial e temporária de entrar no “Sábado de Deus”. Mas, a posse do “Sábado” não foi completada naquela época, como demonstra o convite contínuo expresso no Salmo 95.7,8.

4 Podemos tomar a posse completa do “Sábado de Deus” por meio da fé sincera em Jesus Cristo. Assim como Deus des-cansou da obra da Criação, o crente pode descansar de empreender esforços na tentativa de alcançar a sua salvação, e deve repousar na obra consumada pelo Filho de Deus na cruz do Calvário, o qual nos conduzirá ao “Shabbãth eterno do Senhor” (Ap 14.13).

5 O esforço do cristão não é “para alcançar o mérito da salvação”, mas sim porque “já é salvo”, busca perseverar na fé, pela obediência diária ao Espírito Santo e à Palavra de Deus. Não devemos seguir o triste exemplo de Israel no deserto. As palavras “repouso” e “descanso” vêm do termo original grego sabbatismos (Jo 5.19; 14.2,24).

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9 HEBREUS 4, 5

da de dois gumes; capaz de penetrar até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é sensível para perceber os pensamentos e intenções do coração.6

13 E não há criatura alguma incógnita aos olhos de Deus. Absolutamente tudo está descoberto e às claras diante daque-le a quem deveremos prestar contas.

Jesus é o grande sumo sacerdote 14 Concluindo, tendo em vista que te-mos um grande sumo sacerdote que foi capaz de adentrar os céus, Jesus, o Filho de Deus, mantenhamos com fi rmeza nossa declaração pública de fé.7

15 Pois não temos um sumo sacerdote que não seja capaz de compadecer-se das nossas fraquezas, mas o Sacerdote Supremo que, à nossa semelhança, foi tentado de todas as formas, porém sem pecado algum. 16 Portanto, acheguemo-nos com toda a confi ança ao trono da graça, para que recebamos misericórdia e encontremos o poder que nos socorre no momento da necessidade.8

Cristo supera a antiga aliança

5 Porquanto, todo sumo sacerdote, sendo escolhido dentre os homens, é

designado para representá-los em ques-tões relacionadas com Deus, a favor da humanidade, a fi m de oferecer tanto dons quanto sacrifícios pelos pecados. 2 Ele é capaz de compadecer-se dos que não têm conhecimento e se desviam, con-siderando que ele mesmo está rodeado de fraquezas.13 E, por esse motivo, deve oferecer sa-crifícios pelos pecados, tanto do povo como em seu próprio favor.4 Ninguém, portanto, toma essa honra para si mesmo, senão quando convo-cado por Deus, como aconteceu com Arão.5 Desse mesmo modo, Cristo não bus-cou para si próprio a glória de se tornar sumo sacerdote, mas foi Deus quem lhe declarou: “Tu és meu Filho; Eu hoje te gerei”.2 6 E revela em outra passagem: “Tu és sacerdote para todo o sempre, conforme a ordem de Melquisedeque”.7 Durante os seus dias de vida na terra, Jesus ofereceu orações e súplicas, em clamor e com lágrimas, àquele que o podia salvar da morte, havendo sido ouvido por causa da sua reverente sub-missão. 8 Mesmo considerando o fato dele ser o

6 A expressão total de Deus foi revelada aos seres humanos por meio da pessoa de Jesus Cristo, a Palavra encarnada (Jo 1.1,14) e, igualmente, nos foi confiada verbalmente. Essa palavra dinâmica e ativa de Deus, no cumprimento de todos os seus planos, aparece claramente tanto no AT quanto no NT (Sl 107.20; 147.18; Is 40.8; 55.11; Gl 3.8; Ef 5.26; Tg 1.18; 1Pe 1.23). Tanto a onipotente e onisciente presença do Senhor, quanto o poder de discernimento (em grego kriticos) da Palavra, revelam os senti-mentos e intenções mais íntimas e os traz à tona da nossa consciência para que possam ser julgados (1Co 4.5).

7 O autor de Hebreus começa aqui uma longa exposição teológica (4.14 – 7.28) quanto à superioridade do sacerdócio de Jesus Cristo sobre Arão e o ministério da tradição sacerdotal. Para os cristãos de hoje, esse pode ser um tema de entendimento tranqüilo. No entanto, para os judeus de todos os tempos, especialmente no século I, essas conclusões são tão chocantes quanto reveladoras e salvadoras (Sl 110.4). Assim como o sacerdote arônico, no Dia da Expiação, passava por entre os olhares expectativos do povo em direção ao Santo dos Santos, assim também Jesus passou para além da vista dos discípulos que o observavam atentamente, elevando-se e atravessando pelos céus até adentrar o Santuário Celestial, ocupando sua suprema transcendência e autoridade, e cumprindo plenamente sua obra expiatória (7.26; At 1.9-11; Ef 4.10; Fp 2.9-11).

8 Jesus Cristo, nosso Sumo Sacerdote, não se mantém distante nem alienado do ser humano e de suas agruras, como ocorria com os sacerdotes judaicos e, ainda hoje, acontece com muitos líderes espirituais. Deus se fez carne em Cristo e sentiu na pele as fraquezas e sofrimentos que acometem a todos nós. Entretanto, ele jamais pecou, o que significa que obteve vitória sobre todos os desafios da carne e do espírito. Portanto, só Jesus pode sentir o que sentimos e oferecer a sua ajuda compassiva sempre que, pela fé, dela nos quisermos valer.

Capítulo 51 O sumo sacerdote precisa preencher dois pré-requisitos fundamentais: ser chamado por Deus e dedicar sua vida ao Senhor

e às necessidades do povo, sendo solidário com as fraquezas, lutas e ignorância dos seus irmãos, porém sem pecar. Só Jesus Cristo conseguiu cumprir plenamente essas exigências (8.3; 9.9; Lv 1.2; 2.1; Nm 15.30,31; Hb 6.4-6; 10.26-31).

2 Cristo não tomou para si a glória de se tornar sumo sacerdote. Jesus, o Filho, foi designado por Deus de acordo com suas próprias declarações proféticas (Sl 2.7; 110.4). O sacerdócio de Cristo, porém, não era conforme a ordem de Arão, mas segundo Melquisedeque (v.6; 1.5; Sl 2.7-9; Rm 1.4).

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Filho de Deus, aprendeu a obediência por intermédio das afl ições que padeceu;3 9 e, uma vez aperfeiçoado, tornou-se a fonte de salvação eterna para todos quantos lhe obedecem, 10 tendo sido nomeado por Deus sumo sacerdote, segundo a ordem de Melqui-sedeque.4

Buscar a maturidade em Cristo11 Quanto a isso, temos muito que ensi-nar, assunto difícil de explicar, especial-mente porque vos tornastes indolentes para aprender. 12 Apesar de que, a essa altura, já devês-seis ser mestres, ainda estais precisando de que alguém vos instrua mais uma vez quanto aos princípios elementares da Palavra de Deus. Voltastes a necessitar de leite, quando já devíeis estar receben-do alimento sólido!5 13 Ora, quem precisa se alimentar de lei-te ainda é criança, e não tem experiência no ensino da justiça.14 No entanto, o alimento sólido é para os adultos, os quais, pelo exercício cons-tante da fé, se tornaram capazes de dis-cernir tanto o bem quanto o mal.

Exortação à busca da fé madura

6 Sendo assim, considerando conhe-cidos os ensinos básicos a respeito

de Cristo, prossigamos rumo à matu-ridade, sem lançar novamente o funda-mento do arrependimento de atitudes inúteis e que conduzem à morte; da fé em Deus,1 2 da instrução acerca de batismos, da imposição de mãos, da ressurreição dos mortos e do juízo eterno.3 Sigamos, pois, avante! E, se Deus o permitir, faremos isso.2

O grave perigo de rejeitar a fé 4 Ora, é impossível para aqueles que uma vez foram iluminados, experimentaram o dom celestial e se tornaram parti-cipantes do Espírito Santo, 5 e provaram os benefícios da Palavra de Deus e os poderes da era que há de vir,3

6 mas apostataram da fé, sim, é impos-sível que tais pessoas sejam reconduzi-das ao arrependimento; tendo em vista que contra si mesmos estão crucifi cando outra vez o Filho de Deus, e zombando publicamente dele.4 7 Porquanto, a terra, que absorve a chu-

3 A existência da preposição ek no manuscrito original grego deixa claro que Cristo pediu ao Pai para que o livrasse da morte em seu sentido mais amplo. Jesus não recuou, em momento algum, diante dos sofrimentos e das aflições mais extremas, todavia ficou horrorizado com o pecado da humanidade que haveria de arcar (Mt 26.36-46; 27.46). Sua oração foi ouvida pelo Pai que o salvou da morte eterna por meio da ressurreição, a mesma que herdamos pelo seu sacrifício vicário. A expressão grega eulabeia significa “reverente temor a Deus”, e pode ser traduzida como “piedade” (Jo 5.19; 1Jo 5.14).

4 Deus se fez humano em Cristo e decidiu passar pelo aprendizado a que todos nós estamos sujeitos. Suas lutas, tentações e vi-tórias foram reais e não alegorias como querem explicar certos teólogos. A Bíblia não é uma obra de ficção, mas um depoimento fiel das experiências vividas por homens de Deus, narradas pela inspiração do Espírito Santo. Ao contrário de Adão, que relativizando a Palavra de Deus fracassou e caiu, Jesus permaneceu fiel (obediente) e prevaleceu; completando (aperfeiçoando) sua humanidade filial e podendo, assim (perfeito), ser a fonte da “eterna redenção” (v.9; 2.10; 9.12; 12.2; Rm 4.25; 10.9; Tg 2.14-26).

5 Os hebreus não eram recém-convertidos, já haviam aprendido muito bem as doutrinas básicas do Evangelho, como as apresentadas em 6.1,2. No entanto, haviam permitido que a preguiça mental, a indolência física e, especialmente, o esfriamento espiritual, tomassem conta de suas vontades mais nobres (6.12). Deviam caminhar com perseverança na vida cristã autêntica e, havendo passado pelos ensinos fundamentais da Palavra, ingressar com fé na plenitude do Espírito e do conhecimento avançado do Senhor, como o autor de Hebreus nos exorta no capítulo 7.

Capítulo 61 Os ensinos básicos da doutrina de Cristo já deveriam ser sabidos e estar em plena prática entre os cristãos hebreus (1Co

15.3,4). A igreja, depois de algum tempo, estava dando ouvidos a falsos ensinos e realizando “obras mortas”, isto é, tendo uma vida de pecado que condena o pecador à morte eterna (9.14).

2 Expressão que se tornou popular entre os cristãos e que comunica dependência em relação à soberania do Senhor. Somente o Espírito de Deus pode iluminar as mentes e os corações, operando maturidade espiritual (1Co 16.7).

3 É Deus quem abre os olhos dos cegos espirituais (incrédulos) e lhes oferece a percepção da verdade divina. Aqueles que “experimentaram”, isto é, “apreciaram pela experiência” a Palavra de Deus (2Co 4.4,6) e se apropriaram, mediante a fé em Cristo, do “dom celestial”, oferecido a todo que crê no Senhor (2Pe 2.2), recebendo, portanto, o Espírito de Deus; estes se tornaram metochoi (no original grego: participantes) da obra redentora e dos milagres da “era” de Cristo (em grego aiõn).

4 É preciso fazer uma grande diferença entre divergências teológicas e apostasia. O texto bíblico se refere aqui às pessoas que

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va, que cai de tempo em tempo, e dá co-lheita proveitosa àqueles que a cultivam, recebe a bênção de Deus.8 Todavia, a terra que produz espinhos e ervas daninhas é inútil, e logo será amal-diçoada. Seu fi m é ser lançada ao fogo.

Vivendo como herdeiros de Deus 9 Quanto a vós outros, no entanto, ó amados, estamos convencidos de que a vossa situação seja muito melhor, sendo benefi ciados com as bênçãos decorren-tes da salvação. 10 Porquanto Deus não é injusto para se esquecer do vosso trabalho e do amor que revelastes para com o seu Nome, pois servistes os santos, e ainda os servis.5

11 Desejamos, contudo, que cada um de vós demonstre o mesmo esforço dedica-do até o fi m, para que tenhais a plena certeza da esperança, 12 de maneira que não vos torneis ne-gligentes, mas imitem aqueles que, por intermédio da fé e da longanimidade, recebem a herança prometida.

A promessa de Deus é imutável13 Quando Deus fez a sua promessa a Abraão, jurou por si mesmo, tendo em

vista não haver outro maior por quem jurar;6

14 e declarou: “Esteja certo de que o abençoarei e farei numerosos os seus descendentes”. 15 Sendo assim, havendo Abraão espe-rado com paciência certeira, alcançou a promessa.7 16 Ora, os homens juram por quem é maior do que eles, e para eles o jura-mento confi rma a palavra empenhada, pondo fi m a toda discussão.17 Do mesmo modo, Deus, querendo de-monstrar de forma mais clara aos herdei-ros da promessa a imutabilidade de seu propósito, interveio com juramento,18 para que nós, que nos refugiamos no acesso à esperança proposta, sejamos grandemente encorajados por meio de duas afi rmações imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta.8

19 Essa esperança é para nós como ân-cora da alma, fi rme e segura, a qual tem pleno acesso ao santuário interior, por trás do véu, 20 onde Jesus adentrou por nós, como precursor, tornando-se sumo sacerdote para sempre, segundo a ordem de Mel-quisedeque.

deliberadamente renunciam da sua fé na pessoa e obra de Jesus Cristo, conforme está prescrito na Palavra de Deus: a Bíblia (Rm 10.9; 2Tm 3.16). O Senhor pode transformar a vida de um apóstata por meio da sua infinita graça e misericórdia. Entretanto, a igreja não deve realizar um segundo batismo, pois Cristo morreu por nós uma única vez (Gl 2.19; 9.26). A não ser que se conclua que o suposto apóstata, na verdade, não era um convertido e que, agora sim, aceitou de coração o dom do arrependimento e da salvação em Cristo (1Jo 5.16; 1Co 15.5; At 8.21-24). Portanto, esse lhe será o primeiro e definitivo batismo de testemunho do novo nascimento (Jo 3).

5 O autor deste livro não está julgando que seus leitores sejam apóstatas. Ele apenas os adverte sobre os perigos da apostasia, que pode ter seu início fatal com a indolência, inércia, preguiça (o peso dos pecados não confessados e abandonados) e o cansaço espiritual ao longo da caminhada cristã (5.11; 12.1,12). Todo trabalho sincero e abnegado em prol do Reino de Deus constrói um tesouro que é de valor eterno.

6 É próprio dos seres humanos fazer juramentos. Isso devido à situação decaída da humanidade na qual a palavra das pessoas nem sempre é fiel e suficiente. Deus, ao fazer um juramento, demonstra que não há ninguém além dele mesmo, cujo nome possa autenticar sua Palavra; humaniza-se mediante uma característica cultural, moral e ética de grande valor entre os humanos, e nos oferece garantia em dobro (v.18; 11.39) quanto ao cumprimento cabal da sua Promessa (Gn 22.16-18). A expressão idiomática hebraica literal, usada por Deus a Abraão, registrada nos manuscritos originais é: “abençoando te abençoarei”, que indica um juramento ou promessa incondicional e permanente.

7 A palavra grega original usada para descrever aqui a “paciência” de Abraão é makrothumia, que significa “longanimidade”, em contraste com os sentimentos de indignação e revolta. Refere-se, portanto, ao fato de Abraão ter “esperado com fé”, por cerca de 25 anos, pelo nascimento de Isaque e, mais tarde, pela entrega e restauração do seu filho (Gn 12.3,4; 17.2; 18.10; 21.5; 22.16).

8 As duas afirmações imutáveis do Senhor são: a promessa de Deus, que por si só é absolutamente fidedigna, e o juramento de Deus concedido aos homens, que confirma essa promessa. Hoje, os crentes podem contemplar a promessa que Abraão, no seu tempo, podia apenas antever (11.13; Jo 8.56). Assim como uma forte âncora que mantém o navio na posição correta, e a salvo da força das marés e das correntes marítimas, nossa fé (esperança convicta) em Cristo é nossa garantia de completa salvação e segurança (Jo 10.34-38).

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12HEBREUS 7

O sacerdócio de Melquisedeque

7 Porquanto, esse Melquisedeque, rei de Salém, sacerdote do Deus Altís-

simo, que saiu ao encontro de Abraão, quando este voltava, depois de haver derrotado os reis, e o abençoou;1 2 para o qual também Abraão entregou o dízimo de tudo. Em primeiro lugar, seu nome quer dizer “Rei de Justiça”; em segundo lugar, “Rei de Salém”, que signifi ca, “Rei da Paz”. 3 Sem pai, sem mãe, sem origem nem antepassados, sem princípio de dias nem fi m de vida, no entanto, por ser à semelhança do Filho de Deus, Ele per-manece sacerdote perpetuamente. Cristo supera o sacerdócio levítico4 Considerai, portanto, como era gran-de esse homem a quem até mesmo o patriarca Abraão lhe entregou todo o dízimo dos despojos! 5 Ora, os que dentre os fi lhos de Levi receberam o sacerdócio têm o man-damento de recolher, de acordo com a Lei, os dízimos do povo, isto é, dos seus irmãos, ainda que tenham todos estes descendido de Abraão;6 contudo, este homem que não per-tencia à genealogia de Levi, recebeu os dízimos de Abraão e abençoou aquele que tinha as promessas.7 Evidentemente, não pode haver qual-quer dúvida que o inferior é abençoado pelo superior.8 No primeiro caso, são homens mortais que recebem o dízimo; no outro caso,

entretanto, é aquele de quem se testifi ca que vive.9 E, por assim dizer, pode-se entender que Levi, que recebe os dízimos, entre-gou-os por meio de Abraão, 10 pois, quando Melquisedeque se en-controu com Abraão, Levi ainda não havia sido gerado por seu pai.

O sacerdócio de Cristo é eterno11 Sendo assim, se houvesse uma maneira de alcançar a perfeição por intermédio do sacerdócio levítico, considerando que durante sua vigência a Lei foi entregue ao povo, por qual razão haveria ainda ne-cessidade de se levantar outro sacerdote, conforme a ordem de Melquisedeque e não de Arão?

2

12 Pois, mudando o sacerdócio, obrigatori-amente, ocorre também mudança de lei. 13 Porque aquele sobre quem se fazem estas afi rmações pertencia a outra tribo, da qual ninguém jamais havia servido diante do altar;14 porquanto, é bem sabido que o nosso Senhor descende de Judá, tribo da qual Moisés nada fala quanto a sacerdócio.15 E este fato se torna ainda mais claro com o surgimento de outro sacerdote à semelhança de Melquisedeque, 16 não constituído segundo o decreto de um mandamento humano relativo à linhagem, mas de acordo com o poder de uma vida inextinguível. 17 Porque sobre Ele está escrito: “Tu és sacerdote para sempre, conforme a or-dem de Melquisedeque”.3

1 Embora o autor de Hebreus não afirme claramente que Melquisedeque foi uma cristofania, é revelador o fato de ele não ter origem (genealogia) e ocupar simultaneamente duas posições de grande poder. Elementos que reforçam o pensamento do autor quanto a prefigura (preexistência) do eterno Messias: Jesus Cristo. O nome “Salém”, vem do hebraico antigo, Yerüshalẽm, cujo sentido primitivo teria sido “capital da guerra e da paz”. Mais tarde, essa expressão passou para o idioma aramaico como “cidade da paz”. (Gn 14.18-20; Is 23.5,6; 33.15,16).

2 A Lei entregue a Moisés e ao povo, bem como o sacerdócio e os sacrifícios, faziam parte do mesmo sistema que contemplava o fato de todas as pessoas nascerem em pecado (sob a maldição da Queda) e, portanto, sujeitas à condenação prescrita. Por este motivo, necessitavam de um mediador legal e idôneo para representá-las diante de Deus. O autor de Hebreus esclarece, con-tudo, que o sacerdócio levítico (ou da descendência de Arão) era imperfeito e havia se tornado insuficiente, mas que o sacerdócio de Melquisedeque era o ideal e perfeito. A história registra que a proclamação daquele que viria a ser Sacerdote para sempre (o Messias) foi escrita profeticamente, bem na metade do período em que os sacerdotes levitas exerciam seu serviço ministerial, mostrando que o sacerdócio levítico existente deveria dar lugar a um sistema melhor (Sl 110.4).

3 De acordo com a Lei, a função sacerdotal fora outorgada exclusivamente à tribo de Levi (Dt 18.1), porém Jesus, em sua humanidade, pertencia à árvore genealógica de Judá, uma tribo não-sacerdotal. Entretanto, o autor de Hebreus destaca que Jesus é “sacerdote eterno”, segundo Melquisedeque e, portanto, indestrutível (v. 21).

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13 HEBREUS 7, 8

18 Assim, o mandamento anterior é anulado por causa de sua fragilidade e inutilidade,4 19 pois a Lei jamais conseguiu aperfei-çoar nada, sendo, portanto, estabelecida uma esperança muito superior, por meio da qual temos pleno acesso a Deus.20 E não foi sem juramento que esse fato se deu! Outros se fi zeram sacerdotes sem qualquer juramento, 21 no entanto, Ele se tornou sacerdote com juramento, no momento em que Deus declarou: “O Senhor jurou e não se arrependerá: ‘Tu és sacerdote para sempre’”.22 Jesus transformou-se, por essa razão, na garantia de uma aliança superior. 23 Por isso, aqueles sacerdotes têm surgido em maior número, pois são impedidos pela morte de continuar o ministério;24 contudo, considerando que vive para sempre, Jesus possui um sacerdócio perene.25 Concluindo, Ele é poderoso para sal-var defi nitivamente aqueles que, por in-termédio dele, achegam-se a Deus, pois vive sempre para interceder por eles. 26 Certamente, estávamos necessitados

de um sacerdote como este: santo, in-culpável, puro, apartado dos pecadores, exaltado acima dos céus. 27 Diferentemente dos outros sumos sacerdotes, Ele não precisa oferecer sacrifícios dia após dia; que oferecem primeiro por seus próprios pecados e, somente depois, pelos pecados do povo. Porque no momento em que ofereceu a si mesmo, realizou esse sacrifício de uma vez por todas.5 28 Porquanto a Lei designa sumos sa-cerdotes a homens que têm fraquezas; mas o juramento, que veio depois da Lei estabelece por toda a eternidade o Filho, que foi aperfeiçoado.6

A aliança em Cristo é superior

8 Ora, o mais importante de tudo o que temos afi rmado é que, sim,

temos um Sumo Sacerdote, o qual se assentou à direita do trono da Majestade nos céus,12 como ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo que o Senhor ergueu, não como ser humano.2

3 Pois todo sumo sacerdote é constituí-do para apresentar ofertas e sacrifícios; por essa razão, era imprescindível que

4 Como defendeu o apóstolo Paulo, a Lei é santa e justa, todavia não é capaz de transformar em justos aqueles que violaram seus mandamentos e, portanto, pecaram. Nem ao menos pode oferecer à humanidade o necessário poder para vencer o mal e o pecado (Rm 7.12). A Lei foi apenas um sistema preparativo para a definitiva Lei da Salvação em Cristo (Gl 3.23-25; Mt 5.17). A antiga aliança se cumpre plenamente na nova aliança da perfeita redenção e nos capacita a nos achegarmos à presença íntima de Deus (Cl 1.5).

5 A cruz de Cristo marca definitivamente na história do Universo o ponto central do plano redentor de Deus para toda a humanidade. O ato do sacrifício do Filho de Deus encerra o longo e árduo período histórico de “preparação”, e inaugura a “era escatológica” (1.1,2; Gl 4.4; Rm 3.26). Toda a certeza de salvação e esperança (fé) no estabelecimento completo do Reino de Deus, emana do sacrifício vicário de Jesus Cristo oferecido uma única vez para sempre (Is 53.6,10).

6 Os sumos sacerdotes humanos, por mais dedicados que fossem, não eram capazes de viver sem cometer algum pecado (como prova a história até nossos dias); mortais e, portanto, impermanentes; segundo a Lei, somente podiam oferecer sacrifícios de animais, que jamais serviriam de substitutos suficientes para o ser humano, criado à imagem de Deus. Cristo, entretanto, foi “aperfeiçoado” ao enfrentar e vencer as tentações, jamais tendo sucumbido a pecado algum. Obedecendo em tudo ao Pai e, assim, estabeleceu uma perfeição eterna (Gn 1.26-28; 2.10; 5.8).

Capítulo 81 A expressão “mais importante de tudo”, no original grego, tem o sentido de “resumo essencial”. O argumento que vem sendo

desenvolvido pelo autor de Hebreus tem como base escriturística o antigo texto hebraico de Jr 31.31-34, e serve para demonstrar que Jesus Cristo, o Messias, é o verdadeiro e único mediador da Nova e Excelente Aliança (7.22).

2 O “verdadeiro santuário” (em grego tőn hagiőn alethines), expressa o contraste que há entre o tabernáculo construído por Moi-sés (mais tarde colocado no templo de Jerusalém por Salomão - 1Rs 8.4), cópia imperfeita e transitória do “verdadeiro” (perfeito) tabernáculo celestial, erigido pessoalmente por Deus e não por meio do homem. O santuário erguido por Deus corresponde ao Santo dos Santos, um espaço absolutamente sagrado, localizado no interior do tabernáculo de Moisés, no qual o sumo sacerdote entrava, somente uma vez por ano e por um breve momento, levando consigo o sangue da expiação (Lv 16.13-15,34). Jesus Cristo, nosso Sumo Sacerdote, habita eternamente no tabernáculo celestial e intercede por nós diuturnamente (7.25).

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este Sumo Sacerdote fi zesse a sua oferta pessoal. 4 Entretanto, se Ele estivesse na terra, nem seria considerado sumo sacerdote, tendo em vista que já foram constituí-dos aqueles que apresentam as ofertas prescritas pela Lei.3 5 Esses servem num santuário que é representação e sombra daquele que está nos céus, já que Moisés foi avisado quando estava para construir o taber-náculo: “Observai tudo com cautela, para que faças todas as coisas de acordo com o modelo que vos foi revelado no monte”. 6 Contudo, agora, Jesus recebeu um mi-nistério ainda mais excelente ao dos sa-cerdotes, assim como também a aliança da qual Ele é o mediador; aliança muito superior à antiga, pois que é fundamen-tada em promessas excelsas.4 7 Ora, se aquela primeira aliança não ti-vesse imperfeições, não seria necessário buscar lugar para a segunda. 8 Porquanto Ele declara, repreendendo o povo por suas faltas: “Dias virão, diz o Senhor, em que estabelecerei com a casa de Israel e com a casa de Judá uma nova aliança.9 Não conforme a aliança que fi z com seus antepassados, no dia em que os to-mei pela mão, para os conduzir até fora da terra do Egito; pois eles não continu-aram na minha aliança, e Eu me afastei deles”, assevera o Senhor!

10 “Esta é a aliança que farei com a casa de Israel, passados aqueles dias”, garante o Senhor. “Gravarei as minhas leis na sua mente e as escreverei em seu coração. Eu lhes serei Deus, e eles serão o meu povo, 11 ninguém jamais precisará ensinar o seu próximo, nem o seu irmão, dizendo: ‘Conhece ao Senhor’, porque todos me conhecerão, desde o menor deles até o maior. 12 Pois Eu lhes perdoarei a malignidade e não me permitirei lembrar mais dos seus pecados”. 13 Ao proclamar “Nova” esta aliança, Ele transformou em antiquada a primeira. E o que se torna superado e envelhecido, está próximo do aniquilamento.

Os ritos mosaicos eram imperfeitos

9 Ora, a primeira aliança possuía or-denanças para adoração e também

um tabernáculo terreno.2 Pois foi levantada uma tenda, em cuja parte da frente, conhecida como Lugar Santo, estavam o candelabro, a mesa e os pães da proposição.13 Mas, atrás do segundo véu, havia a parte chamada Santo dos Santos, 4 onde se posicionavam o altar de ouro puro para o incenso e a arca da aliança, também toda revestida de ouro. Nessa arca, estavam o vaso de ouro contendo o maná, a vara de Arão que fl oresceu e as tábuas da aliança.2

3 Deus escolheu uma família de judeus muito simples e fez com que Jesus nascesse em uma tribo não sacerdotal (Judá). Os sumos sacerdotes eram escolhidos entre os filhos da tribo sacerdotal de Levi (7.12-14; Ex 25.40). O verbo “apresentar” aparece no texto no tempo presente, o que revela que o templo ainda estava em pleno funcionamento e ostentação. É uma indicação de que o livro de Hebreus foi escrito antes da destruição do templo no ano 70 d.C.

4 O termo “mediador” (no original grego mesites) transmite a idéia de “alguém que fica no meio, unindo duas pessoas com mãos fortes”. Portanto, a “Nova Aliança” (um nome ainda melhor para Novo Testamento), da qual Jesus Cristo é o nosso único e suficiente mediador, é superior à “Velha Aliança” (ou Antigo Testamento), estabelecida por Deus mediante Moisés no deserto do Sinai (9.15; 12.24; Êx 24.7,8; 25.40; 1Tm 2.5).

Capítulo 91 A “parte da frente” é uma referência ao Santo Lugar do tabernáculo (tenda erguida por Moisés no deserto do Sinai), que fora

separado do Santo dos Santos por um segundo véu (v.3). O primeiro véu apenas guardava a entrada. O candelabro era feito de ouro batido e colocado no lado sul do Lugar Santo (Êx 40.24), tinha sete lâmpadas, as quais eram mantidas acesas todas as noites (Êx 25.31-40). A mesa da Proposição (Presença), construída com madeira de acácia e revestida de ouro puro, ficava no lado norte do Lugar Santo (Êx 40.22). Sobre ela se depositava doze pães, cuidadosamente dispostos em duas fileiras de seis (Lv 24.5,6).

2 O altar do incenso se localizava no Lugar Santo, contudo, no Dia da Expiação, esse altar passava a fazer parte do Santo dos Santos por conta da retirada momentânea do véu. Havia, claro, um estreito relacionamento sacramental com o santuário interior

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5 Acima da arca fi cavam os querubins da Glória, que com sua sombra cobriam a tampa da arca, o propiciatório. Contu-do, não é nosso propósito detalhar esse assunto agora.3 6 Ora, logo após tudo isso estar assim preparado, os sacerdotes entravam re-gularmente na parte inicial do taberná-culo, a fi m de realizar os atos sagrados de culto. 7 No entanto, na segunda parte da tenda, o Santo dos Santos, somente o sumo sacerdote podia entrar, uma vez por ano, e jamais sem apresentar o san-gue do sacrifício, que ele oferecia por si mesmo e pelos pecados que o povo havia cometido por ignorância. 8 Dessa maneira, o Espírito Santo estava revelando que, enquanto continuasse erguido o primeiro tabernáculo, o Ca-minho para o Santo dos Santos ainda não havia sido manifestado.9 Esse fato se transforma numa ilustra-ção para os nossos dias, esclarecendo que as ofertas e os sacrifícios oferecidos não podiam dar ao adorador uma cons-ciência perfeitamente limpa.10 Eram tão-somente ordenanças que tratavam de comida e bebida e de várias cerimônias de purifi cação com água; esses mandamentos exteriores foram impostos até a chegada do tempo da nova ordem.

O perfeito sacrifício de Cristo 11 Quando Cristo chegou como Sumo Sacerdote dos benefícios que estavam por vir, Ele mesmo adentrou o maior e mais perfeito Tabernáculo, não cons-truído por mãos humanas, isto é, não pertencente a esta criação. 12 Não por intermédio de sangue de bodes e novilhos, mas mediante seu próprio sangue, Ele entrou no Santo dos Santos, de uma vez por todas, conquis-tando a eterna redenção.4

13 Portanto, se o sangue de bodes e de touros e as cinzas de uma novilha espalhadas sobre os que estão ceri-monialmente impuros os santifi ca, de forma que se tornam exteriormente puros, 14 quanto mais o sangue de Cristo, que mediante o Espírito eterno se ofereceu de forma imaculada a Deus, purifi cará completamente a nossa consciência de comportamentos que conduzem à mor-te, para que sirvamos ao Deus vivo!5

15 Exatamente por esse motivo, Cristo é o Mediador de uma Nova Aliança para que todos aqueles que são chamados recebam a Promessa da herança eterna, visto que Ele morreu como resgate por todas as transgressões cometidas duran-te o período em que vigorava a primeira aliança.6

16 No caso de um testamento, é imperio-

e com a arca da aliança (Êx 40.5; 1Rs 6.22). No Dia da Expiação, o sumo sacerdote levava incenso desse altar, juntamente com o sangue da oferta pelo pecado, para dentro do Santo dos Santos (Lv 16.12-14).

3 Esses querubins eram duas pequenas estátuas de seres alados, que formavam uma só peça com a tampa da arca e, de pé, em cada extremidade do propiciatório; feitas em ouro puro, representando dois anjos da “Presença” divina que exaltam e zelam pela reverência e santidade diante de Deus. Era entre essas figuras de anjos que aparecia a glória da “Presença” do Senhor (Êx 25.17-22; Lv 16.12-14). A tampa da arca da aliança era uma placa feita em ouro puro que se encaixava perfeitamente por cima da arca. Uma vez por ano, exatamente no décimo dia do sétimo mês, quando a congregação de Israel celebrava o Dia da Expiação (guardado pelos judeus até hoje como Yom Kippur), o sumo sacerdote aspergia sobre o povo, no tabernáculo e sobre a arca, o sangue como oferta pelo pecado (Lv 16.14,15,29,34).

4 Apesar de o tabernáculo mosaico estar ultrapassado, continuava a simbolizar (inutilmente), uma volta à velha forma da Lei, uma vez que ela não podia livrar em definitivo o ser humano da condenação do pecado. Os sumos sacerdotes levíticos tinham que repetir todos os anos as cerimônias de purificação, mas Cristo ofereceu o sacrifício eficaz, pleno, único e eterno. Depois de obter a eterna redenção, subiu e adentrou ao perfeito santuário celestial.

5 Esse é o versículo chave de Hebreus. Jesus Cristo foi ao mesmo tempo Sumo Sacerdote e Sacrifício imaculado; na inteireza da sua pessoa e não apenas de forma exterior, superficial e incompleta. O Espírito de Cristo, que habita no coração (tabernáculo) dos crentes, removerá totalmente a profunda e mortal marca do pecado gravada no âmago do nosso ser. É impossível servir ao Senhor de forma aceitável com a consciência maculada.

6 Cristo é o único e suficiente mediador da Nova Aliança entre Deus e a humanidade, cuja “Promessa” é a herança eterna como filhos do Altíssimo (7.22; 8.6,13; 12.24; 1Tm 2.5 conforme Jr 31.31-34). Por causa da morte expiatória de Cristo, essa herança se tornou realidade para todas as pessoas que crêem sinceramente (os chamados) em Deus (Rm 8.28). Ao entregar-se como

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so que se comprove a morte daquele que o determinou;7

17 porquanto, um testamento só tem validade legal após a confi rmação da morte do testador, considerando que não poderá entrar em pleno vigor en-quanto estiver vivo quem o fez. 18 Por essa razão, nem a primeira aliança foi sancionada sem sangue, 19 tendo em vista que, depois de pro-clamar todos os mandamentos da Lei a todo o povo, Moisés levou sangue de novilhos e de bodes, e também água, lã vermelha e ramos de hissopo, e aspergiu sobre o livro e toda a população, decla-rando: 20 “Este é o sangue da aliança, a qual Deus ordenou para obedecerdes”.21 E procedeu da mesma maneira, as-pergindo com o sangue o próprio taber-náculo e todos os utensílios usados nas cerimônias sagradas.22 De fato, conforme a Lei, quase todas as coisas são purifi cadas com sangue, e sem derramamento de sangue não pode haver absolvição!23 Portanto, se fez necessário que as re-presentações das construções que estão no céu fossem purifi cadas mediante tais sacrifícios, mas os próprios elementos celestiais, por meio de sacrifícios muito superiores a estes. 24 Pois Cristo não adentrou a um san-

tuário erguido por mãos humanas, uma simples ilustração do que é verdadei-ro; Ele entrou nos céus, para agora se apresentar diante de Deus em nosso benefício; 25 Ele também não se ofereceu muitas vezes, como procede o sumo sacerdote que entra no Santo dos Santos de ano em ano portando sangue alheio. 26 Ora, se assim fosse, seria necessário que Cristo sofresse muitas vezes, desde o início do mundo. Mas agora Ele mani-festou-se de uma vez por todas, no fi nal dos tempos, para aniquilar o pecado por intermédio do sacrifício de si mesmo.8

27 E, assim como aos homens está orde-nado morrer uma só vez, vindo, depois disto o Juízo,28 assim também Cristo foi oferecido em sacrifício uma única vez, para tirar os pecados de muitas pessoas; e apare-cerá segunda vez, não mais para eximir o pecado, mas para brindar salvação a todos que o aguardam!9

O sacrifício de Cristo é defi nitivo

10 Assim, considerando que a Lei oferece somente um vislumbre

dos plenos benefícios que hão de vir, e não exatamente a sua realidade; jamais poderá, mediante os mesmos sacrifícios repetidos ano após ano, aperfeiçoar os que se achegam para adorar.1

sacrifício e ao aspergir seu sangue sobre o madeiro da cruz e sobre o povo presente, perante a Lei, pagou totalmente o preço necessário para libertar o ser humano pelos pecados cometidos, sob a primeira aliança, e quanto às violações dos mandamentos mosaicos (Mc 10.45).

7 O termo grego “testamento” pode ser traduzido por “aliança” na maioria das vezes, entretanto, aqui e no v.17, o vocábulo é usado especificamente no sentido de comunicar as últimas vontades de uma pessoa sobre a partilha da sua herança. O conceito de “aliança” volta à tona do v.18 em diante. Os beneficiários do testamento não têm direito legal à herança determinada antes da morte do testador. Nesse sentido, como a morte de Jesus Cristo foi devidamente comprovada na história, a promessa da herança eterna (v.15) já pode ser usufruída pelos seus beneficiários de acordo com a vontade expressa do Senhor.

8 A primeira vinda de Jesus Cristo, o Messias, deu início a grande era messiânica, na qual toda a história da humanidade tem transcorrido, aguardando o glorioso retorno de Cristo e o estabelecimento completo do Seu Reino, no qual viveremos eternamen-te em sua presença (1.2; 1Pe 1.20; Mc 10.45; Rm 8.3; Ap 20.6).

9 Assim como os antigos israelitas aguardavam com expectação e ansiedade a volta do sumo sacerdote, enquanto estava no Santo dos Santos intercedendo pelo povo, no Dia da Expiação; da mesma maneira, os cristãos devem viver e esperar com fé, na expectativa da volta iminente do nosso Sumo Sacerdote (2Tm 4.8; Tt 2.13; Rm 8.29,30; Fl 3.20,21; 1Jo 3.2,3).

Capítulo 101 O sistema mosaico era composto da Lei e de todos os procedimentos sacerdotais levíticos (7.11). Contudo, os sacrifícios

perpetuados pela Lei, ano após ano, constituíam-se em uma grande ilustração e antevisão (literalmente em grego: uma sombra) do poderoso e derradeiro sacrifício vicário de Cristo. O alvo da fé cristã é nos tornar discípulos (cópias fiéis) de Jesus Cristo (Rm 8.29; 2Co 4.4; Cl 2.17).

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2 Se não fosse assim, não teriam cessa-do de ser oferecidos? Porquanto, se os adoradores tivessem sido purifi cados de uma vez por todas, não mais se senti-riam culpados de seus pecados.2 3 Contudo, essas cerimônias de sacri-fícios promovem, todos os anos, uma recordação dos pecados, 4 porque é impossível que o sangue de touros e bodes remova pecados.5 Por isso, quando Cristo veio ao mun-do, proclamou: “Sacrifício e oferta não quiseste, mas um corpo me preparaste;6 de holocausto e ofertas pelo pecado não te agradaste.7 Então, Eu disse: Aqui estou, no Livro está escrito a meu respeito; vim para fazer a tua vontade, ó Deus”.3 8 Havendo declarado em primeiro lugar: “Sacrifícios, ofertas, holocaustos e ofer-tas pelo pecado não quiseste, tampouco deles te agradaste”, os quais foram reali-zados conforme a Lei.9 Então, completou: “Aqui estou; vim para fazer a tua vontade”. E assim, Ele cancela o primeiro padrão, para estabelecer o segundo.10 E por essa determinação, fomos santi-fi cados por meio da oferta do corpo de Jesus Cristo, feita de uma vez por todas.11 Ora, todo sacerdote se apresenta, dia após dia, para exercer os seus deveres religiosos, que nunca podem remover os pecados.

12 Jesus, no entanto, havendo oferecido para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à direita de Deus, 13 aguardando, daí em diante, até que os seus inimigos sejam submetidos por estrado de seus pés. 14 Porquanto, com uma única oferta, aperfeiçoou por toda a eternidade todos quantos estão sendo santifi cados. 15 E disto, igualmente, nos dá testemu-nho o Espírito Santo; porquanto, após ter declarado:16 “Esta é a aliança que farei com eles, depois daqueles dias, diz o Senhor. Co-locarei as minhas leis no âmago do seu coração e as inscreverei profundamente em sua mente”,17 e conclui: “Dos seus pecados e ini-qüidades nunca mais me permitirei recordar”.18 Afi nal, onde todas as transgressões foram perdoadas, não existe mais qual-quer necessidade de oferta de sacrifício pelo pecado.4

Devemos perseverar na fé19 Sendo assim, irmãos, temos plena confi ança para entrar no Santo dos San-tos mediante o sangue de Jesus,20 por um novo e vivo Caminho que Ele nos descortinou por intermédio do véu, isto é, do seu próprio corpo.5

21 Temos, portanto, um magnífi co sa-cerdote sobre a Casa de Deus.

2 A consciência que condena e aflige diuturnamente o coração de uma pessoa em relação aos pecados cometidos, e que não pode aceitar humilde e alegremente o perdão de Deus, ainda não conheceu a verdadeira Salvação que está à disposição de todos mediante a simples e sincera fé em Cristo Jesus (Jo 1.12). Absolutamente, nada, e nenhum tipo de oferta ou sacrifício, têm o poder de perdoar, limpar e renovar a consciência humana (v.4; Sl 51.10,16; 66.18).

3 O autor de Hebreus cita trechos dos Salmos da Septuaginta (a mais importante e antiga tradução grega do AT), para demons-trar o tipo de obediência concorde e voluntária (submissão, sob missão) de Cristo em relação à vontade do seu Pai (Sl 40.6-8; Lc 22.42; Jo 4.34). Nota-se que Deus nunca se interessou pelos sacrifícios em si, mas na verdadeira devoção e obediência à sua Palavra (1Sm 15.22).

4 É prova de incredulidade e insulto contra Deus oferecer qualquer tipo de sacrifício por pecados já remidos em Cristo. Portanto, o verdadeiro caminho para Deus não é mais pavimentado pelas ofertas ou cerimônias sacrificiais (como a tradicional missa católi-ca ou os rituais espiritualistas), mas exclusivamente pela fé no Cristo ressurreto (9.12; Rm 4.25; 5.19). As citações nesta passagem também foram extraídas da Septuaginta (o AT em grego) e atestam que na nova aliança todos os nossos pecados podem ser perdoados de maneira eficaz, completa e perpétua, dispensando todo e qualquer tipo de sacrifício adicional ao já consumado por Cristo (Jr 31.31-34 já mencionado em 8.8-12).

5 Na antiga aliança, o acesso ao Santo dos Santos era ultra-restrito, porquanto o sangue dos animais era insuficiente para realizar a plena expiação dos pecados. Mas hoje, os crentes de todas as etnias e nações, podem se achegar com fé ao trono da graça, pois o sacerdote perfeito ofereceu a si mesmo (o sacrifício perfeito) e expiou todo o pecado e condenação, de uma vez para sempre. No momento exato da morte de Cristo na cruz do Calvário, o véu que, simbolicamente, fazia separação entre o San-

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22 Desta forma, acheguemo-nos a Deus com um coração sincero e com absoluta certeza de fé, tendo os corações aspergi-dos para nos purifi car de uma consciência culpada, e tendo os nossos corpos lavados com água pura. 23 Sem duvidar, mantenhamos inabalá-vel a confi ssão da nossa esperança, por-quanto quem fez a Promessa é fi el.24 E consideremos uns aos outros para nos encorajarmos às manifestações de amor fraternal e às boas obras. 25 Não abandonemos a tradição de nos reunirmos como igreja, segundo o procedimento de alguns, mas, pelo con-trário, motivemo-nos uns aos outros, tanto mais quanto vedes que o Dia está se aproximando.6

O castigo do pecado renitente26 Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados,7

27 mas uma horrível expectativa de juízo e fogo ardente prestes a consumir todos os inimigos de Deus.28 Ora, se aqueles que rejeitam a Lei de Moisés, morrem sem misericórdia, me-diante a palavra de acusação de duas ou três testemunhas;29 julgai vós, quanto maior castigo merecerá quem feriu os pés do Filho

de Deus, profanou o sangue da aliança pelo qual Ele foi santifi cado, e insultou o Espírito da graça?30 Porquanto, nós conhecemos aquele que declarou: “A mim pertence a vin-gança!”, e em outro trecho: “O Senhor exercerá juízo sobre seu povo”. 31 Assim, terrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo!

Os salvos perseveram na fé 32 Contudo, lembrai-vos dos primeiros dias em que, depois de serdes ilumina-dos, suportastes uma grande provação e sofrimentos.8 33 Algumas vezes, fostes expostos ao público como espetáculo de humilha-ções e perseguições e, outras vezes, vos associastes aos que da mesma forma foram ofendidos.34 Porque não somente vos compade-cestes dos encarcerados, como também recebestes com alegria o confi sco dos vossos próprios bens, pois estáveis con-victos de possuirdes bens muito supe-riores e que duram para sempre.35 Portanto, não abandoneis a vossa confi ança; pois nela há grandioso ga-lardão.36 Em verdade vos afi rmo que necessitais de perseverança, a fi m de que, havendo cumprido a vontade de Deus, alcanceis plenamente o que Ele prometeu;

to Lugar e o Santo dos Santos, rasgou-se em duas partes, de cima a baixo (Mc 15.38). Aquele véu (cortina de tecido) representa o corpo de Cristo em relação à questão do sofrimento. Assim como aquele véu, o corpo de Cristo foi rasgado, e abriu caminho para a morada de Deus (literalmente: o tabernacular) na vida dos cristãos sinceros.

6 A expressão grega aqui traduzida por “abandonemos” transmite o sentido original de “deserção” (Mt 27.46; 2Co 4.9; 2Tm 4.10,16). Deus planejou a Igreja para que os cristãos pudessem ser companheiros de caminhada, exortando e sendo exortados pelo Espírito e uns aos outros, em amor fraternal. Por isso, não é concebível a teoria do culto exclusivo e distante da comunhão dos irmãos (1Jo 1.3). A demora do glorioso retorno do Senhor causou certa apatia e frustração naqueles cuja fé era frágil e oscilante, e foram tentados a desistir da luta espiritual diária para voltar aos rudimentos do judaísmo e da antiga aliança. Entretanto, o autor de Hebreus, e muitos cristãos, presenciaram o terrível dia da destruição de Jerusalém no ano 70 d.C. Um dos sinais da iminente volta de Cristo (Lc 21.20-22; 1Ts 5.2,4; 2Ts 1.10; 2.2; 2Pe 3.10).

7 Todo e qualquer pecado tem seu perdão e remissão em Cristo Jesus, menos o pecado da rejeição consciente e sistemática (apostasia) ao amor de Deus mediante seu Evangelho. O cenário histórico dessa passagem do AT está registrado em Nm 15.27-31 e refere-se especialmente àquelas pessoas que, havendo confessado sua fé no Senhor, decidem afastar-se do Corpo de Cristo (a Igreja), negando a fé que um dia abraçaram (6.4-8). Rejeitar o sacrifício de Cristo é rejeitar a única possibilidade efetiva de Salvação eterna, porquanto não existe nenhum outro sacrifício aceito por Deus. A expressão “feriu os pés do Filho de Deus” comunica o sentido de “absoluto e renitente desprezo ao Senhor e sua Palavra” (Zc 12.1-9).

8 Com o passar do tempo, tendemos a ganhar mais conhecimento bíblico e experiência na convivência com o Corpo de Cristo. Todavia, precisamos sempre nos lembrar do tempo em que fomos alcançados pelo divino amor do Senhor, quando a luz da salvação brilhou alegremente em nossas mentes e corações, como as Boas Novas de Deus (6.4; Jo 1.9; At 2.40-44).

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37 pois dentro de pouco tempo “Aquele que vem virá, e não tardará.38 Mas o justo viverá pela fé! Contudo, se retroceder, minha alma não se agra-dará dele”.9 39 Nós, entretanto, não somos dos que regridem para a perdição; mas sim, dos que crêem e, salvos, seguem avante.

A essência e o sentido da fé

11 Ora, a fé é a certeza de que havere-mos de receber o que esperamos,

e a prova daquilo que não podemos ver.1

2 Porquanto, foi mediante a fé que os antigos receberam bom testemunho.2

3 Pela fé, compreendemos que o Univer-so foi criado por intermédio da Palavra de Deus e que aquilo que pode ser visto foi produzido a partir daquilo que não se vê.3

Os primeiros heróis da fé 4 Pela fé, Abel ofereceu a Deus um sa-crifício mais excelente do que Caim. Por meio da fé, ele foi reconhecido co-mo justo, no momento em que Deus

aprovou as suas ofertas. Apesar de estar morto, seu testemunho de fé ainda é eloqüente.4

5 Por meio da fé, Enoque foi arrebatado, de forma que não experimentou a mor-te; e “já não foi encontrado, porquanto Deus o havia arrebatado”, visto que antes de ser arrebatado, havia recebido o testemunho de que tinha agradado a Deus.5

6 Em verdade, sem fé é impossível agra-dar a Deus; portanto, para qualquer pessoa que dele se aproxima é indispen-sável crer que Ele é real e que recompen-sa todos quantos se consagram a Ele.6

7 Pela fé, Noé, quando divinamente orientado acerca dos acontecimentos que ainda não podiam ser vistos, mo-vido por santo temor, construiu uma arca a fi m de salvar sua família. Por intermédio da fé, ele condenou o mun-do e se tornou herdeiro da justiça que vem da fé.7

O exemplo dos patriarcas 8 Pela fé, Abraão, quando convocado,

9 O autor de Hebreus toma como base a Septuaginta (o AT em grego) para salientar o fundamento da fé cristã: a salvação pela graça de Deus, mediante a fé em Cristo; e a vida (cristã), como resultado direto da fé que depositamos em nosso Salvador (Hb 2.3,4). O autor escreve para os salvos e perseverantes, porém está consciente de que há alguns insinceros entre os crentes, mas que somente o Senhor poderá cuidar deles. Muitos cristãos hebreus serviram de “espetáculo” ao mundo (literalmente em grego theatrizomenoi), devido às muitas e terríveis perseguições por causa do Evangelho que viviam e pregavam, contudo ainda não haviam passado pelo martírio que viria (12.4; 1Co 4.9). Mesmo assim, alguns já estavam apostatando da fé. Em Jerusalém, porém, vários santos líderes do Senhor morreram torturados por proclamarem a mensagem salvadora de Jesus Cristo: Estevão, Tiago, filho de Zebedeu, Tiago, irmão do Senhor Jesus, esses por volta do ano 62 d.C.

Capítulo 11 1 A expressão grega original hupostasis significa um tipo de “certeza concreta”, uma “confiança sem espaço para dúvida”. A fé

é como uma “declaração escrita e oficial” em relação às promessas de Deus, das quais a vida e obra de Jesus Cristo, o Messias, é a maior e melhor.

2 O autor de Hebreus se refere aos “antigos” homens e mulheres de fé como exemplos de “crentes” da era pré-cristã. No AT, Deus valorizava a fé (sincera e absoluta) depositada em sua pessoa e Palavra, tanto quanto a fé que devemos a Cristo no NT.

3 A fé substancia a realidade de Deus. Por mais que a humanidade avance nas ciências, a melhor resposta para a criação do Universo e o cotidiano de cada um de nós provém da fé em Deus.

4 O motivo principal da aceitação do sacrifício de Abel foi ter sido oferecido por fé. O texto do AT, nos deixa entender que a oferta de Caim foi entregue apenas como um formalismo ritual, sem sincera fé e adoração (Gn 4.3,4; 1Jo 3.12).

5 A melhor maneira de se agradar a Deus é crendo nele. Esse foi o grave erro do primeiro homem (Gn 3), maldição que acompanhará grande parte da humanidade até o final dos tempos. Por isso, iluminados, e grandemente afortunados, são aqueles que aceitam o toque divino e celebram com fé a Salvação em Cristo Jesus (Is 64.4; 1Tm 1.17; Jo 1.18). Enoque foi justificado porque “agradou a Deus”, por meio da fé (Gn 5.18-24; Sl 49.15; 73.24).

6 A fé que agrada a Deus é a fé em sua pessoa, santa e excelsa (Jr 29.13). A fé na fé, ou a fé em outro qualquer ser ou objeto, é apenas uma expressão de força de vontade humana ou inócua crendice.

7 O dilúvio foi uma prova mundial da vindicação da fé de Noé em Deus, e do castigo da incredulidade. A fé de Noé na Palavra de Deus o levou a convencer sua família a construir um enorme barco no meio de uma região árida e muito distante do mar. Noé tinha 480 anos quando Deus o chamou para construir a arca. Passou cerca de 120 anos pregando sobre o juízo de Deus, e suportando todo tipo de zombarias e incredulidades. Durante todo esse período de graça, não viu nenhuma pessoa se arrepender (Gn 5.28 – 9.29; 6.3; 1Pe 3.20). Noé morreu com a idade de 950 anos (2Pe 2.5; At 28.26; Ap 2.7).

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obedeceu e dirigiu-se a um lugar que no futuro receberia como herança, embora não soubesse para onde estava sendo dirigido.8

9 Mediante a fé, peregrinou na terra prometida como se fosse terra estran-geira, habitando em tendas, assim co-mo Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa.9

10 Porquanto, aguardava alcançar a ci-dade que tem alicerces magnífi cos, da qual Deus é o arquiteto e edifi cador.11 Por meio da fé, da mesma forma, a própria Sara recebeu poder para gerar fi lhos, ainda que estéril e avançada em idade, porque considerou fi dedigno Aquele que lhe havia feito a promessa.12 Sendo assim, daquele homem, já sem virilidade, nasceu uma descendência tão numerosa como as estrelas do céu, e incontável como os grãos de areia à beira-mar.10

13 Todos estes viveram pela fé, e morre-ram sem ter recebido o que havia sido prometido; contudo, viram-no de longe e à distância o saudaram, reconhecendo que eram estrangeiros e peregrinos so-bre a terra.

14 Os que se expressam desta maneira demonstram que estão em busca de uma pátria. 15 Pois, se estivessem cogitando sobre aquela de onde saíram, teriam a possi-bilidade de voltar. 16 Em vez disso, aguardavam eles pela pátria excelente, ou seja, a pátria celes-tial. Por esse motivo, Deus não se cons-trange de ser conhecido como o Deus deles, mas lhes preparou uma cidade.11

17 Pela fé, Abraão, no tempo em que Deus o expôs à prova, ofereceu-lhe Isa-que como sacrifício; aquele que havia recebido as promessas estava mesmo a ponto de sacrifi car o seu unigênito,12 18 ainda que Deus lhe tivesse prometido: “Por intermédio de Isaque a sua descen-dência será estabelecida”; 19 porquanto, acreditou que Deus era sufi cientemente poderoso para ressus-citá-lo dentre os mortos e, simbolica-mente, recebeu Isaque de volta dentre os mortos.13

20 Pela fé, Isaque abençoou Jacó e Esaú em relação ao futuro deles.14

21 Pela fé, Jacó, prestes a morrer, aben-çoou cada um dos fi lhos de José e, apoia-

8 Abraão é apresentado no NT como o exemplo maior de todos os que crêem em Deus (Rm 4.11-16; Gl 3.7-29). Sua fé manifestou-se na profunda adoração e amorosa obediência dedicada ao Senhor (Gn 12.4). A expressão grega kaloumenos, que significa “convocação ou chamada”, revela que Abraão, assim como outros servos, ouviram e atenderam prontamente, pela fé, o convite pessoal de Deus para realizar suas missões (Gn 15.6; Ne 9.7; At 7.2-5; Mt 11.28). Deus prometeu Canaã a Abraão somente depois de sua volta do Egito (Gn 13.14).

9 Assim como os patriarcas e o povo de Israel, os cristãos – pela fé - também peregrinam neste mundo que se tornou estranho ao amor de Deus por causa do pecado (Gn 3; 23.4; 1Pe 1.1,17). Somente quando o discípulo aprende a priorizar sua fé no Senhor, considerando todas as demais coisas como secundárias, é que efetivamente estará seguindo a Cristo (Lc 14.33). Somos cidadãos do céu, nossa pátria não está nesta Terra (Fp 3.20).

10 Sara foi considerada estéril por haver passado, em muito, da idade média de ter filhos (Gn 18.11,12). Abraão, com cerca de 100 anos de idade, não tinha a mesma vitalidade da juventude (Gn 21.5; Rm 4.19). Entretanto, para Deus não há impossíveis e seus propósitos serão sempre cumpridos. A descendência de Abraão é, hoje em dia, numerosa em todo o planeta, como a areia das praias (Gn 11.30; 13.16; 15.5; 22.17; 26.4; 1Rs 4.20).

11 Os patriarcas, assim como todos os crentes, não morrem para Deus, mas são renovados e vivem eternamente (Mc 12.26,27).

12 A expressão original grega peirazomenos pode significar, ao mesmo tempo, “tentar” e “provar”. Deus não incentiva ninguém para o mal, mas usa todas as provações (tentações), às quais as pessoas são diariamente submetidas, a fim de que o homem observe e analise suas próprias motivações e reações. O Senhor sempre espera que o homem escolha aceitar o amor e as orientações do Pai celeste. Para Deus, a intenção é tão ou mais importante que a ação; assim como o ser, mais valioso que o fazer (Tg 1.13). O vocábulo “unigênito”, além de significar a exclusividade de um “filho único”, tem o sentido de “muito amado”, o que ilustra a própria pessoa do Filho de Deus (Mc 12.6).

13 A fé de Abraão era tão pura, sincera e tranqüila que, mesmo no ápice da sua pior crise, creu no amor e no poder de Deus para ressuscitar Isaque, caso fosse necessário. Fato que realmente ocorreu, de modo figurado, quando o próprio Senhor – contemplando a prova de fé de Abrão – providenciou o Cordeiro da expiação, prefigurando a pessoa e a obra vicária do Cristo (Gn 22.13).

14 As orações e bênçãos dos pais sobre os filhos têm grande significado e poder (Gn 27.27-40).

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do sobre a extremidade do seu cajado, adorou a Deus.15

22 Pela fé, José, também ao fi nal da vida, relembrou o êxodo dos fi lhos de Israel do Egito e deu instruções quanto ao en-terro dos seus próprios ossos.16

A fé heróica de Moisés 23 Mediante a fé, Moisés, ainda recém-nascido, foi escondido durante três meses por seus pais, porque perceberam que sua formosura não era comum, e não temeram o decreto do rei.17

24 Pela fé, Moisés, já adulto, recusou ser aclamado como fi lho da fi lha do Faraó, 25 preferindo ser maltratado com o povo de Deus a desfrutar os prazeres que o pecado é capaz de proporcionar por curto período de tempo. 26 Por amor ao Messias, julgou sua desonra uma riqueza mais excelente do que os tesouros do Egito, porquanto contemplava a sua gloriosa recompen-sa.18

27 Por meio da fé, abandonou o Egito, não temendo a ira do rei, e perseverou, pois fi tava Aquele que é invisível.19 28 Por intermédio da fé, celebrou a Páscoa

e fez aspersão do sangue, para que o anjo destruidor não tocasse nos primogênitos dos israelitas.29 Pela fé, o povo atravessou o mar Ver-melho como em terra seca; mas quando os egípcios procuraram também atra-vessar, morreram afogados. 30 Foi pela fé que os muros de Jericó des-moronaram, depois de serem rodeados durante sete dias.20

31 Também foi mediante a fé que a prostituta Raabe, por haver acolhido os espiões, não foi morta juntamente com os incrédulos.21

32 Quantos exemplos mais darei? In-felizmente não disponho de tempo para falar sobre a devoção de Gideão, Baraque, Sansão, Jefté, Davi, Samuel e os profetas, 33 os quais, por intermédio da fé, con-quistaram reinos, praticaram a justiça, receberam o cumprimento de promes-sas, fecharam a boca de leões, 34 extinguiram a violência do fogo, foram libertos do fi o da espada; da fraqueza tiraram força, tornaram-se poderosos nas batalhas e puseram em retirada exércitos estrangeiros.22

15 A maior herança que os pais deixam para seus filhos e netos é a bênção da expressão sincera de que eles também conhe-çam e andem com Deus (Gn 47.29-31; 48.8-20; Sl 23).

16 Jacó e José são outros valorosos exemplos de pessoas cuja fé é clara e robusta; seja durante a difícil caminhada da vida, como na hora da morte (v.13; Gn 50.24,25).

17 Moisés, desde seu nascimento, apresentava sinais incomuns de beleza e carisma (Êx 6.20; Nm 26.58,59). Contudo, seus pais tinham plena consciência de que ele pertencia ao Senhor; creram que ele haveria de sobreviver ao decreto do faraó egípcio que determinara a morte de todos os meninos hebreus recém-nascidos (Êx 1.16,22; 2.2).

18 Em Êx 4.22, Israel é literalmente, nos originais, chamado de “filho de Deus” (Os 11.1). A pessoa de Jesus Cristo, o Messias de Israel, sempre esteve unida ao povo de Deus (1Co 10.4). Assim como Abraão que viu a Cristo (Jo 8.56), Moisés exerceu o ministério de arauto do Senhor, na preparação do caminho para a chegada do Messias (Sl 69.9).

19 O medo dos crentes não se compara ao desespero dos incrédulos. Moisés fugiu para Midiã, na península do Sinai, aos 40 anos de idade (Êx 2.11-15; At 7.23-29). Moisés é considerado um dos maiores líderes de todos os tempos por sua perseverança em guiar seu povo através do deserto, por 40 anos, sem tirar os olhos da fé de Cristo (o Messias). Ele pôde ver o invisível, e permaneceu fiel ao Senhor (At 7.30).

20 Deus mandou que Moisés transferisse a liderança do povo de Israel para o jovem Josué, homem de fé, cujo primeiro grande desafio, a conquista da terra prometida, foi vencido exclusivamente pelo poder da fé no Senhor, sem uma única batalha (Js 6).

21 Raabe, mesmo após haver abraçado a fé em Deus, continuou a carregar o estigma de ter sido prostituta (Js 2.8-11; 6.22-25). Entretanto, sua vida deve ser vista como um exemplo da grandiosidade da graça do Senhor, capaz de redimir absolutamente qualquer pecador, e elevá-lo à dignidade eterna (Tg 2.25). Raabe, crente no Senhor, casou-se com Salmom e foi mãe de Boaz, ancestral de Davi, que é incluído na genealogia de Jesus Cristo (Mt 1.5).

22 O autor de Hebreus tem em mente todos os grandes heróis da fé, e muitos outros homens e mulheres de Deus, porém se vê limitado ao tempo e espaço para comentar sobre todos neste livro. Mesmo assim, cita resumidamente: Daniel (Dn 6.22), Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, Elias (1Rs 19); Eliseu (2Rs 6.31), Jeremias (Jr 36.19,26); Gideão (Jz 6.15); Jônatas, e tantos outros (1Sm 14.6).

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22HEBREUS 11, 12

35 Algumas mulheres receberam por meio da ressurreição os seus mortos de volta à vida. Uns foram martirizados e não negociaram seus livramentos, a fi m de poderem conquistar uma ressurrei-ção ainda mais excelente;23

36 muitos enfrentaram zombarias e tor-turas, outros ainda foram acorrentados e jogados aos cárceres;37 apedrejados, serrados ao meio, tenta-dos, mortos ao fi o da espada. Andaram sem rumo, vestidos de pele de ovelhas e de cabras, necessitados, angustiados e maltratados.24 38 Caminharam como refugiados, vagan-do pelos desertos e montes, pelas caver-nas e buracos na terra. Pessoas das quais o mundo não foi digno! 39 Ora, todos estes, apesar de haverem sido aprovados por Deus por meio da fé, não presenciaram a concretização do que Ele havia prometido;40 tendo em vista que Deus havia provi-denciado algo ainda mais excelente para nós, a fi m de que juntamente conosco pu-dessem ser eles também aperfeiçoados.25

Cristo é o nosso maior exemplo

12 Portanto, também nós, consi-derando que estamos rodeados

por tão grande nuvem de testemunhas, desembaracemo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve, e corramos com perseverança a corrida que nos está proposta,1

2 olhando fi xamente para o Autor e Consumador da fé: Jesus, o qual, por causa do júbilo que lhe fora proposto, suportou a cruz, desprezando a vergo-nha, e assentou-se à direita do trono de Deus.2

3 Refl itam profundamente sobre Aquele que suportou tamanha oposição dos pecadores contra sua própria pessoa, para que não vos fatigueis, tampouco desanimeis.3

As provas revelam o amor do Pai4 Ora, na guerra contra o pecado ainda não tendes resistido até o extremo de derramar o próprio sangue.5 E estais esquecidos da Palavra de en-corajamento que Ele vos dirige como

23 Referência à mulher de Serepta (1Rs 17.17-24), ao ocorrido com a mulher sunamita (2Rs 4.8-36) e aos muitos servos de Deus que não se sujeitaram às pressões de reis, governantes despóticos, exércitos e do próprio sistema mundial; mas preferiram entregar suas vidas aos torturadores e à morte, a fim de herdarem dignamente a vida eterna e as recompensas celestiais. A expressão grega original, aqui traduzida por “martirizados”, significa literalmente “esticados e açoitados até a morte”.

24 Homens de Deus como Zacarias, filho do sacerdote Joiada, e Isaías (serrado ao meio por ordem de Manassés, segundo a tradição histórica), que foram mortos por declararem a verdade (2Cr 24.20-22; Lc 11.51). No século II a.C., a maioria dos macabeus deram suas vidas por causa de Deus.

25 Nem todos os heróis da fé experimentaram completo triunfo de suas ações em vida. Contudo, absolutamente todos receberam a bênção e o galardão divino, e ouvirão da boca do Senhor, juntamente com muitos cristãos: “Muito bem, servo bom e fiel!” (Mt 25.21). O grande e pleno cumprimento das promessas de Deus, tanto para os antigos heróis da fé, quanto para nós, encontra-se na pessoa e obra de Jesus Cristo, que é a “ressurreição e a vida” (Jo 11.25,26).

Capítulo 121 O autor de Hebreus compara a vida cristã a uma corrida olímpica de longa distância (antigo esporte grego no qual os atletas

deviam vencer os cerca de 42 km que ligava a cidade de Maratona a Atenas). O público que torce pelos competidores é formado por celebridades da fé, por isso não podem ser considerados meros espectadores, mas fontes de inspiração e nossos grandes exemplos de vida com Deus. A expressão grega original marturos, que originou nossa palavra “mártir”, significa “testemunhas”, o que demonstra a amplitude do sentido de vivermos uma vida exemplar: disciplinada pelo Espírito Santo (At 20.24; 1Co 9.24-26; Gl 2.2; 5.7; Fp 2.16; 2Tm 4.7).

2 O caminho para a vitória na maratona da vida é concentrar toda a nossa atenção na pessoa de Cristo (Fp 3.13,14), pois ele é o ponto de partida e, ao mesmo tempo, linha de chegada e o objetivo maior da nossa fé. Jesus é nosso melhor orientador, trei-nador e exemplo, pois ele já venceu a morte e conquistou o grande prêmio do Universo (1.3; Is 53.10-12). Portanto, as restrições, sofrimentos e humilhações que passamos diariamente, por amor e obediência ao Senhor, são recompensadas pela certeza da vitória e da glória eterna (11.26; Mt 5.10-12; Rm 8.18; 2Co 4.17; 1Pe 4.13; 5.1,10).

3 Jesus Cristo sofreu infinitamente mais do que qualquer ser humano em todos os tempos. Por isso, Ele – por meio do seu Espírito – pode compreender perfeitamente e ser sensível às nossas aflições. E não apenas ser solidário, mas efetivamente nos livrar de todo mal. Essa certeza deve nos fortalecer e animar, especialmente quando passamos por momentos de grande tristeza, incerteza e sofrimento (Is 40.28-31).

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23 HEBREUS 12

a fi lhos: “Meu fi lho, não desprezeis a disciplina do Senhor, nem desanimeis quando por Ele és repreendido,6 pois o Senhor disciplina a quem ama, e educa todo aquele a quem recebe como fi lho”.7 Suportai as difi culdades, aceitando-as como disciplina; Deus vos trata como fi lhos. Ora, qual o fi lho que não passa pela correção do seu pai? 4

8 Mas, se estais sem orientação, da qual todos se têm tornado participantes, então não sois fi lhos legítimos, mas bastardos. 9 Além do mais, tínhamos nossos pais humanos que nos educavam, e nós os respeitávamos. Quanto mais devemos toda a obediência ao Pai dos espíritos, para então vivermos!5

10 Porquanto, nossos pais nos discipli-navam por um espaço curto de tempo, da forma que melhor lhes parecia. Deus, entretanto, nos corrige para o nosso bem maior, a fi m de que possamos participar plenamente da sua santidade.11 Toda correção, de fato, no momento em que ocorre não nos parece ser mo-tivo de contentamento, mas de frus-

tração; mais tarde, no entanto, produz fruto de justiça e paz para todos aqueles que por ela foram disciplinados.

12 Sendo assim, fortalecei as mãos enfra-quecidas e os joelhos vacilantes.6

13 “Preparai caminhos retos para os vos-sos pés”, para que aquele que manca não se desvie, pelo contrário, seja curado!

Exortação à paz e à sinceridade14 Esforçai-vos para viver em paz com todas as pessoas e em santifi cação, sem a qual ninguém verá o Senhor.7

15 Vigiai para que ninguém se exclua da graça de Deus; que nenhuma raiz de mágoa venenosa brote e vos cause con-fusão, contaminando muitos;8

16 que não se abrigue entre vós nenhum imoral ou profano, como Esaú, o qual por uma refeição desejada, vendeu todos os seus direitos de herança como fi lho mais velho.9 17 E, assim, como bem sabeis, quando mais tarde quis herdar a bênção, foi rejeitado; e não teve como cancelar sua decisão, apesar de ter buscado a bênção desesperadamente.10

4 A expressão grega original paidéia significa “educar para a vida” e tem um sentido mais amplo do que a palavra “castigo”, muitas vezes associada somente a repreensões físicas. Contudo, quando necessário, como um bom pai, o Senhor nos disciplina ou corrige (em grego: “açoita”). Os sofrimentos, humilhações e perseguições devem ser aceitos pelos cristãos como parte do processo educacional usado por Deus para nosso desenvolvimento espiritual (5.13; At 14.22).

5 Respeito e obediência são os componentes básicos da “submissão” e nos ajudam a entender o que significa a expressão bíblica “o temor do Senhor” (2Co 7.1; Pv 9.10). Deus é o criador do espírito humano e, portanto, nosso Pai espiritual. Nossos pais humanos são pais genéticos e biológicos, numa linguagem bíblica: “segundo a carne” (Nm 16.22; Ec 12.7; Zc 12.1). Desde os primórdios, a obediência (submissão humilde) a Deus é a grande chave para a vida eterna (Tg 1.21; Gn 3).

6 Sempre que a admoestação ou correção divina (disciplina) é aceita com submissão, produz no cristão grandes benefícios. Portanto, deve ser recebida com gratidão e esperança, como uma provação sadia da nossa fé em Cristo (1Pe 1.6,7; Tg 1.2; Pv 4.26).

7 A tradição familiar, a posição sócioeconômica ou a formação acadêmica não podem proporcionar o verdadeiro conhecimento de Deus. Somente a santidade nos permite “ver a Deus”. E quem vê a Deus, vê ainda melhor o seu próximo (Lc 10.29-37; 1Pe 1.15,16; 1Jo 3.2,3).

8 A expressão “se exclua da graça” quer dizer, “colocar-se aquém da graça”, ou, ainda, “decidir não tomar posse da graça”, dom oferecido pelo Senhor, mas que deve ser aceito fervorosamente pelo crente para que possa ter seu efeito pleno (2.1-4; 6.4-8). O termo original grego episkopountes significa aqui “zelar com amor” pela saúde espiritual dos irmãos. É a mesma palavra para “bispo” ou “epíscopo”. Tanto aqui como em Dt 29.18, a expressão “mágoa venenosa” ou “amargura” tem a ver com sentimentos como inveja, vingança, maledicência, que são capazes de envenenar o indivíduo e toda a comunidade.

9 Deus criou a humanidade para que ela, espontaneamente, vivesse em harmonia com o seu Criador e a terra, obviamente, dando muito mais valor às coisas espirituais. Entretanto, com a Queda (Gn 3), Satanás teve condição de inverter os valores reais, e o homem passou a dar mais valor às coisas profanas (poder, prestígio, bens materiais). A história de vida de Esaú ilustra bem essa triste realidade humana (Gn 25.29-34; Fp 3.18,19).

10 Esaú agiu como a maioria das pessoas incrédulas, apenas lamentando sua perda material, mas não se arrependendo claramente pelo pecado de haver trocado o bem espiritual e eterno pela satisfação de um desejo momentâneo e carnal (Gn 27.41; 2Co 7.10).

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24HEBREUS 12, 13

A diferença entre Sinai e Sião18 Ainda não chegastes ao monte palpá-vel e em chamas, à escuridão, às trevas, à tempestade,11

19 ao clangor da trombeta, ao som das Palavras, que os que as ouviram roga-ram que não se lhes pronunciasse mais;20 porquanto, não podiam suportar o que lhes era ordenado: “Até mesmo um animal, se tocar no monte, deve ser apedrejado”. 21 Aquelas cenas foram tão terríveis que até Moisés exclamou: “Estou aterroriza-do e trêmulo!”22 Mas tendes chegado ao monte Sião, à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celes-tial, à jubilosa reunião dos milhares de milhares de anjos, 23 à igreja dos primogênitos, cujos no-mes estão escritos nos céus, a Deus, o juiz de toda a humanidade, aos espíritos dos justos agora perfeitos,12

24 a Jesus, mediador de uma nova alian-ça, e ao sangue aspergido, que se expres-sa com mais veemência do que o sangue de Abel.13

25 Cuidado! Não rejeiteis Aquele que fala.

Pois, se não escaparam os que rejeitaram quem os advertia sobre a terra, muito mais nós, se desprezarmos Aquele que nos admoesta dos céus.26 Aquele, cuja voz outrora abalou a ter-ra, agora promete: “Ainda uma vez aba-larei não somente a terra, mas de igual modo todo o céu”. 27 Ora, esta frase “Ainda uma vez” indica a remoção de coisas que podem ser aba-ladas, isto é, as coisas criadas, para que permaneça o que não pode ser abalado. 28 Portanto, já que estamos herdando um Reino inabalável, sejamos agradecidos e, deste modo, adoremos a Deus, com uma atitude aceitável, com toda a reverência e temor,14

29 porque o nosso “Deus é fogo consu-midor!”

Conclusões e aplicações práticas

13 Seja incessante o amor fraternal.2 Não vos esqueçais de praticar a

hospitalidade; pois agindo assim, mesmo sem perceber, alguns acolheram anjos.1 3 Lembrai-vos dos encarcerados, como se estivésseis aprisionados com eles; e todos

11 Os versículos 18 a 21 fazem menção à maravilha, poder, temor e alta reverência que envolveu todo o povo de Israel e a região do monte Sinai, quando Deus outorgou a Lei a Moisés (Êx 19.10-25; Dt 4.11,12; 5.22-26; 9.9-19; 18.16; At 7.32). O autor de Hebreus estabelece um contraste entre o monte Sinai, “intocável” (Êx 19.12), e o monte Sião (Jerusalém). Entretanto, não se refere exatamente à parte montanhosa a sudeste de Jerusalém, mas sim à Cidade Celestial de Deus e aos que habitam com o Senhor, a fim de marcar nitidamente a diferença entre as duas grandes alianças de Deus com a humanidade, sendo a nova aliança em Cristo maior e definitiva (11.10-16; 13.14; Fp 3.20; Ap 5.11,12; Gl 4.26; Ap 21.2).

12 A expressão grega no plural “primogênitos” retrata a excelência do amor de Deus para com cada uma das pessoas salvas (seus filhos) desde os primórdios (2.10,11; Lc 10.20; Ap 21.27). O termo “espíritos” refere-se aos “santos” do AT, agora aperfeiço-ados mediante a morte e ressurreição do Primogênito de Deus (11.40). É por intermédio do Espírito de Deus, que sela (autentica) e habita a vida do crente, que temos pleno e eterno acesso à Nova Jerusalém, a Cidade Celestial de Deus.

13 O sangue de Abel clamou durante toda a história da humanidade por justiça e condenação para o pecador (assassino). O sangue de Cristo, entretanto, derramado na cruz, proclama – ainda mais forte – o perdão e a reconciliação eterna do pecador arrependido com Deus (Gn 4.10; Hb 9.12; 10.19; Cl 1.20; 1Jo 1.7).

14 Aquele que tem a voz criativa e poderosa é Deus (Êx 19.18; Dt 4.24; Sl 68.7), Aquele que nos redime, aconselha e orienta é Cristo, que veio dos céus e está nos céus (1.1-3; 4.14; 6.20; 7.26; 9.24). E, porque recebemos essa revelação maior e completa, temos ainda mais responsabilidade em preservar a fé e viver testemunhando as Boas Novas (o Evangelho): Cristo em nós! (2.2-4). A nova ordem esperada por Ageu, e tantos homens e mulheres de Deus do passado (Ag 2.6-21), teve pleno cumprimento no sacrifício e ascensão de Jesus Cristo, que estabeleceu seu Reino. O ensino claro das Sagradas Escrituras é que tudo passa nesse mundo. Somente o Reino de Deus é eterno (v.28).

Capítulo 131 O autor de Hebreus tem duas preocupações básicas: a apostasia dos judeus-cristãos e o esfriamento do amor fraternal

cristão entres os crentes, especialmente pela demora do retorno de Cristo (evento que eles esperavam para aqueles dias), e pelo desenvolvimento de diversas doutrinas e seitas heréticas. A hospitalidade e a simpatia dos crentes do primeiro século foi a principal marca da Igreja. A própria palavra “cristão” foi criada originalmente pelo povo que, por testemunhar o amor dos membros da Igreja, passou a chamar os crentes de “pequenos Cristos” (cristãos). Sem saber, alguns crentes haviam hospedado anjos, assim como Abraão (Gn 18), Gideão (Jz 6) e Manoá (Jz 13).

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25 HEBREUS 13

aqueles que sofrem maus tratos, como se vós pessoalmente estivésseis sendo maltratados.2 4 Digno de honra seja o casamento en-tre todas as testemunhas, bem como a pureza do leito conjugal; porquanto, Deus julgará os imorais e adúlteros.5 Seja a vossa vida desprovida de avare-za. Alegrai-vos com tudo o que possuis; porque Ele mesmo declarou: “Por moti-vo algum te abandonarei, nunca jamais te desampararei”.3

6 Por esta razão, podemos afi rmar com toda a segurança: “O Senhor é o meu Ajudador, nada temerei. O que poderá fazer contra mim o ser humano?”

A vida dos discípulos de Cristo7 Lembrai-vos dos vossos líderes, que vos ensinaram a Palavra de Deus; ob-servando-lhes atentamente o resultado da vida que tiveram e imitai-lhes a fé. 8 Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e eternamente!4

9 Não vos deixes infl uenciar pelas várias doutrinas heréticas. Porque o mais im-portante é fortalecer o coração pela graça, e não por alimentos cerimoniais, os quais

não podem produzir qualquer benefício real para aqueles que neles confi am.5 10 Nós possuímos um altar do qual não têm direito de comer os que ministram no tabernáculo.6

11 O sumo sacerdote leva sangue de ani-mais até o Santo dos Santos, como oferta pelo pecado, mas os corpos dos animais são queimados fora do acampamento. 12 Por isso, para santifi car o povo por intermédio do seu sangue, Jesus igual-mente sofreu fora da porta da cidade.13 Saiamos, portanto, ao encontro dele, fora do acampamento, levando conosco a mesma humilhação que Ele suportou.7 14 Pois não temos na terra nenhuma ci-dade permanente, mas buscamos a que há de vir.15 Sendo assim, por intermédio dele, ofereçamos continuamente a Deus um sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu Nome. 16 De igual modo, não negligencieis a contínua prática do bem e a mútua coo-peração; pois, são desses sacrifícios que Deus muito se alegra.8

17 Sejais obedientes aos vossos líderes espirituais e submissos à autoridade que

2 A expressão grega original sõmati “em corpo” (pessoalmente) transmite a idéia cristã de Corpo de Cristo, ou seja, quando um membro sofre todos sofrem, principalmente o próprio Cristo (1Co 12.26).

3 A impureza moral e a adoração ao dinheiro, bem como tudo o que ele pode comprar (poder e prazeres), são demonstrações claras de que a pessoa que se deixa dominar por essas ilusões ainda não aprendeu a depositar sua plena confiança (fé) em Deus, e, portanto, está longe da companhia amável e segura do Senhor e muito próxima da condenação eterna (Dt 31.6,8; Js 1.5; Lc 12.15,21; Ef 5.5; Fp 4.10-13; Cl 3.5; 1Tm 6.6-19). O cristão sincero, por causa da sua fé no Senhor, pode contar com o cuidado paternal de Deus enquanto prossegue corajosamente, trabalhando e construindo seu futuro (Fp 4.11,12; 1Tm 6.8).

4 O autor de Hebreus exorta seus leitores a seguirem o discipulado ministrado e legado pelos homens de Deus que lhes pregaram o Evangelho, mesmo considerando que tais pessoas já haviam passado (morrido). Contudo, Jesus Cristo – Deus e ser humano – não está sujeito às mudanças causadas pela passagem do tempo e sempre será a Verdade. Questionar a supremacia absoluta de Cristo, por que retarda sua volta ou qualquer outro motivo, voltando aos antigos rituais levíticos ou similares é sub-verter o Evangelho (capítulos 5 a 10).

5 O autor de Hebreus se preocupa com as filosofias e doutrinas pré-gnósticas que estavam se conectando ao judaísmo e pervertendo a fé de alguns cristãos, especialmente entre os judeus (9.10; 1Co 8.8; Cl 2.16).

6 O altar dos crentes é a cruz de Cristo, que marcou o fim de todo o sacerdócio arônico e sua substituição pela ordem de Melquisedeque, da qual Cristo é o único e incomparável sacerdote. Os sacerdotes não podiam comer do sacrifício do Dia da Expiação, porém todos nós somos convidados a participar da mesa do sacrifício (Santa Ceia) do Senhor, mediante simples e sincera fé no Filho de Deus (Jo 6.48-58; Lv 4.12; 16.27).

7 O fato de Cristo ter sido levado e crucificado fora dos muros de Jerusalém, constituiu-se em mais uma viva ilustração do seu sacrifício expiatório. Da mesma forma como a retirada dos corpos dos animais sacrificados para fora do antigo acampamento de Israel simbolizara a eliminação do pecado, assim também, devemos todos avançar em direção à nova aliança, deixando para trás o pecado e as tradições insuficientes do judaísmo ou de qualquer outra religião, ainda que essa atitude nos traga qualquer tipo de desonra familiar, social ou cultural (Êx 33.7; Lv 24.14,23; Nm 12.14).

8 A expressão “sacrifício de louvor” é usada metaforicamente para evidenciar a nova ordem em Cristo: a doce obrigação de vivermos gratos a Deus por nossa salvação eterna (1Pe 2.9; Rm 12.1; Fp 4.18) e o cuidado fraternal que devemos aos nossos irmãos na fé. E, assim, estaremos cumprindo a verdadeira e pura religião que alegra o coração de Deus (Tg 1.27).

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exercem. Pois eles zelam por vós como quem deve prestar contas de seus atos; para que ministrem com alegria e não murmurando, porquanto desta maneira tal ministério não seria proveitoso para vós outros.9

Recomendações fi nais e bênção 18 Orai por nós, pois temos certeza de caminhar com a consciência limpa, e desejamos viver de modo honrado em relação a todas as áreas da vida. 19 Pessoalmente, rogo-vos com insistên-cia que orem para que eu vos seja resti-tuído o mais depressa possível.20 Ora, o Deus da paz, que mediante o sangue da aliança eterna trouxe de volta dentre os mortos o nosso Senhor Jesus, o grande Pastor das ovelhas;

21 Ele mesmo, vos aperfeiçoe em todo o bem a fi m de que possais realizar a von-tade dele, e opere em vós tudo quanto lhe é agradável, por intermédio de Jesus Cristo, a quem seja a glória para todo o sempre. Amém!10

22 Amados irmãos, rogo-vos, igual-mente, que aceiteis bem essa minha mensagem de encorajamento; porquan-to, vos escrevi de forma resumida. 23 Desejo que saibais que o nosso irmão Timóteo foi posto em liberdade. Se ele chegar em breve, irei visitá-los em sua companhia. 24 Saudai a todos os vossos líderes espi-rituais, bem como todos os demais san-tos. Os da Itália vos enviam fraternais saudações. 25 A graça seja com todos vós!

9 A liderança espiritual nada tem a ver com a direção despótica de muitos governantes e empresários, mas o respeito sincero e fraterno pelas autoridades eclesiais, bem como pela ordem, reverência e disciplina no âmbito da Igreja, são qualidades estimuladas em todo o NT. Os guias ou líderes espirituais são pastores que zelam com todo amor e dedicação pelas ovelhas de Deus. O ministério do bispo (palavra grega que no NT tem o mesmo sentido de “pastor” ou “ancião”) é supervisionar, isto é, “vigiar com amor” (em grego neotestamentário episkopos) seus irmãos, como quem deve prestar contas ao Senhor. O pleno exercício do pastorado tem implicações eternas e não se limita a esse mundo. O galardão (premiação) ou julgamento será definido no futuro tribunal de Deus (Rm 14.10; Lc 12.42).

10 O autor de Hebreus escolhe a melhor expressão para encerrar seu sermão sobre a perseverança na fé em Cristo, e abençoar seus leitores: “o Deus da paz” é o título do Senhor, muitas vezes usado nas bênçãos formuladas pelos valorosos homens de Deus que, como nós, podiam descansar na paz do Pai (shabbãth), apesar de todas as provações (Rm 15.33; 16.20; Fp 4.9; 1Ts 5.23).

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