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Introdução e Princípios Constitucionais do Direito Penal 1. CONCEITO DE DIREITO PENAL Sob o aspecto formal/estático, Direito Penal é um conjunto de normas que qualifica certos comportamentos humanos como infrações penais, define seus agentes e fixa as sanções a serem-lhes aplicadas. Sob o aspecto material, o Direito Penal refere-se a comportamentos considerados altamente reprováveis ou danosos ao organismo social, afetando bens jurídicos indispensáveis à própria conservação e progresso da sociedade. Sob o enfoque sociológico, o Direito Penal é mais um instrumento (ao lado dos demais ramos do Direito) do controle social de comportamentos desviados, visando assegurar a necessária disciplina social, bem como a convivência harmônica dos seus membros. Em resumo: é um soldado do exército Direito. É necessário aprofundar o enfoque sociológico -A manutenção da paz social demanda a existência de normas destinadas a estabelecer diretrizes. - Quando violadas as regras de conduta, surge para o Estado o dever de aplicar sanções (civis ou penais). - Nessa tarefa de controle social atuam vários ramos do Direito.

01.Introdução e Princípios Constitucionais do Direito Penal

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Introdução e Princípios Constitucionais do

Direito Penal

1. CONCEITO DE DIREITO PENAL

Sob o aspecto formal/estático, Direito Penal é um conjunto de normas que

qualifica certos comportamentos humanos como infrações penais, define seus agentes e

fixa as sanções a serem-lhes aplicadas.

Sob o aspecto material, o Direito Penal refere-se a comportamentos considerados

altamente reprováveis ou danosos ao organismo social, afetando bens jurídicos

indispensáveis à própria conservação e progresso da sociedade.

Sob o enfoque sociológico, o Direito Penal é mais um instrumento (ao lado dos

demais ramos do Direito) do controle social de comportamentos desviados, visando

assegurar a necessária disciplina social, bem como a convivência harmônica dos seus

membros. Em resumo: é um soldado do exército Direito.

É necessário aprofundar o enfoque sociológico

-A manutenção da paz social demanda a existência de normas destinadas a

estabelecer diretrizes.

- Quando violadas as regras de conduta, surge para o Estado o dever de aplicar

sanções (civis ou penais).

- Nessa tarefa de controle social atuam vários ramos do Direito.

-Quando a conduta atenta contra bens jurídicos especialmente tutelados,

merece reação mais severa por parte do Estado, valendo-se do Direito Penal.

- O que diferencia a norma penal das demais é a espécie de conseqüência

jurídica (pena privativa de liberdade).

A conseqüência disto, é que o Direito Penal é usado minimamente.

IMPORTANTE DIFERENCIAR:

DIREITO PENALCRIMINOLOGIA

(Ciência Penal)

POLÍTICA CRIMINAL

(Ciência Penal)

Analisa os fatos humanos

indesejados, define quais

devem ser rotulados como

crimes ou contravenção,

anunciando as penas

Ciência empírica que

estuda o crime, o

criminoso, a vítima e o

comportamento da

sociedade.

Trabalha estratégias e

meios de controle social da

criminalidade.

Ocupa-se do crime

enquanto norma.

Ocupa-se do crime

enquanto fato.

Ocupa-se do crime

enquanto valor.

Exemplo: define como

crime lesão no ambiente

doméstico e familiar.

Exemplo: quais os fatores

contribuem para a

violência doméstica e

familiar.

Exemplo: estuda como

diminuir a violência

doméstica e familiar.

A doutrina diferenciava o direito penal em:

DIREITO PENAL SUBSTANTIVO: Corresponde ao direito penal

material (crime/pena).

DIREITO PENAL ADJETIVO: Corresponde ao Direito processual penal

(processo/procedimento). Essa é uma classificação ultrapassada, que existia quando o

direito processual penal era apenas um apêndice do direito penal, sem autonomia.

A doutrina diferencia ainda;

DIREITO PENAL OBJETIVO: É o conjunto de leis em vigor no país.

Ex: CP, lei de drogas, lei de contravenções penais.

DIREITO PENAL SUBJETIVO: É o direito de punir do Estado. Este

direito pode ser positivo ou negativo:

o POSITIVO: Capacidade de criar e executar normas

penais. Compete ao Estado.

o NEGATIVO: Poder de derrogar preceitos penais ou

restringir seu alcance. Compete, basicamente, ao STF

(controle de constitucionalidade)

O Direito Penal objetivo e o subjetivo estão umbilicalmente ligados um ao outro.

O direito penal objetivo é expressão do Poder punitivo do Estado. Não há objetivo sem

o subjetivo para implementá-lo, da mesma forma, para o subjetivo existir é necessário o

objetivo.

Em regra, o Estado tem o monopólio do direito de punir, ficando proibida a

justiça privada.A justiça privada pode caracterizar o crime de exercício arbitrário das

próprias razões (art. 345 C.P.).

“Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite:

EXCEÇÕES: Há exceção em que o Estado tolera uma punição

privada(junto com a dele).Veja que legitima defesa é defesa e na ação penal privada o

que se transfere é o direito de perseguir a pena, mas quem a aplica é o Estado, não

configurando, portanto, exceções. Assim, as exceções são:

Estatuto do Índio (lei 6001/73): art. 57.

Art. 57. Será tolerada a aplicação, pelos grupos tribais, de acordo com as instituições próprias, de sanções penais ou disciplinares contra os seus membros, desde que não revistam caráter cruel ou infamante, proibida em qualquer caso a pena de morte.

O Tribunal Penal Internacional é execeção ao monopólio do direito de

punir do Estado?

O TPI não representa exceção à exclusividade do direito de punir do Estado.

O art. 1º do Estatudo de Roma consagrou o PRINCÍPIO DA

COMPLEMENTARIEDADE, segundo o qual, o TPI será chamado a intervir

somente se e quando a justiça repressiva interna falhar, se tornar omissa ou

insuficiente.

“Estatuto de Roma - Artigo 1º - O Tribunal - É criado, pelo presente instrumento, um Tribunal PenalInternacional ("o Tribunal"). O Tribunal será uma instituição permanente, com jurisdição sobre as pessoas responsáveis pelos crimes de maior gravidade com alcance internacional,

de acordo com o presente Estatuto, e será complementar às jurisdições penais nacionais. A competência e o funcionamento do Tribunal reger-se-ão pelo presente Estatuto.”

CUIDADO: O direito de punir do Estado não é

absoluto/incondicionado/ilimitado. Assim, temos os seguintes limites ao direito

de punir do Estado:

QUANTO AO MODO: O direito de punir estatal deve respeitar direitos e

garantias fundamentais. Aqui, temos que lembrar do princípio da

dignidade da pessoa humana.

QUANTO AO ESPAÇO: Em regra, aplica-se a lei penal aos fatos

ocorridos no território nacional (Princípio da Territorialidade – art. 5º

C.P.).

“Art. 5º, C.P. - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional.”

QUANTO AO TEMPO: O direito de punir não é eterno (a maior prova

dessa afirmação é a prescrição – limite temporal do direito de punir).

É uma garantia do cidadão quanto a eternização do direito de punir do

estado.

Uma outra classificação é a seguinte:

DIREITO PENAL DE EMERGÊNCIADIREITO PENAL PROMOCIONAL /

POLÍTICO / DEMAGOGO

Atendendo as demandas de

criminalização, o Estado cria normas de

repressão ignorando garantias do cidadão.

O Estado, visando a consecução dos seus

objetivos políticos, emprega leis penais

desconsiderando o princípio da

intervenção mínima.

Finalidade devolver o sentimento de

tranquilidade para a sociedade.

Finalidade: usar o direito penal para a

transformação social.

Veja que a finalidade do direito penal é

controle social, e não transformação

social, que depende de políticas públicas.

Exemplo: lei dos crimes hediondos (lei

8072/90) – decorreu do sequestro do

Abílio Diniz (pressão da sociedade)

Exemplo: Estado criando contravenção

penal de mendicância (revogada) para

acabar com os mendigos ao invés de

melhor políticas públicas.

CUIDADO: DIREITO PENAL SIMBÓLICO

A lei, necessária, nasce sem qualquer eficácia social.

ex: cria-se o tipo penal com pena desproporcional. Se para mais, vai ser

declarado inconstitucional, se para menos, não vai surtir o efeito preventivo que

se busca.

2. DIVISÕES DO DIREITO PENAL

Consoante a função exercida, o direito penal é dividido nas seguintes categorias:

Direito penal fundamental: compreende o conjunto de normas e

princípios gerais, aplicáveis até mesmo às leis penais previstas fora do

Código, se estas não dispuserem de modo contrário (art. 12 do CP).

Legislação especial (Incluída pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 12 - As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

É composto pelas normas da Parte Geral do Código Penal (arts. 1º a 120)

e, excepcionalmente, por algumas de conteúdo abrangente, previstas na

Parte Especial, como, por exemplo, a que conceitua funcionário público

(CP, art. 327).

Direito penal complementar: compreende o conjunto das normas

integrantes da legislação penal extravagante. Exemplos: Lei da Tortura e

Lei dos Crimes Hediondos.

Direito penal comum: aplica-se a todas as pessoas. Exemplos: Código

Penal e a maioria da legislação penal extravagante.

Direito penal especial:aplica-se apenas às pessoas que preenchem certas

condições jurídicas. Exemplo: Código Penal Militar.

Direito penal geral: aplica-se em todo o território nacional. É o emanado

da União (art. 22, I, da CF).

Direito penal local: aplica-se apenas em uma parte do território nacional.

É o emanado dos Estados-Membros, pois, como veremos, lei

complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões

específicas de direito penal (CF, art. 22, parágrafo único).

Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo.

3. ESCOLAS PENAIS

3.1. NOÇÕES GERAIS

Dá-se o nome de "escolas penais" ao pensamento jurídicofilosófico acerca da

etiologia do delito e dos fundamentos e objetivos do sistema penal.

Destacam-se, a rigor, duas escolas, a clássica e a positiva, cada qual apregoando

uma visão diferente sobre o fundamento da responsabilidade penal do criminoso,

divergindo ainda quanto ao conceito de crime e finalidade da pena.

As outras escolas,lembra Aníbal Bruno, são, em geral, posições de

compromisso, que participam, com maior ou menor coerência, das duas principais. Não

são propriamente "novas escolas.

Para a Escola Clássica, a responsabilidade penal do Criminoso funda-se no

livre-arbítrio, que é inerente à alma humana.

Os homens são todos iguais; ninguém nasce vocacionado para o crime.

Entende-se por livre-arbítrio o poder de escolha entre um ato e outro, isto é, o

poder de decidir-se, nas mesmas circunstâncias, no sentido oposto ao deliberado.

O crime decorre exclusivamente da vontade livre do delinqüente, e não da

combinação de fatores biológicos, físicos e sociais. O crime não tem outra causa a não

ser a vontade do delinqüente.

A responsabilidade moral do homem deriva de dois fatores: inteligência

(discernimento em relação aos atos praticados) e livre-arbítrio. Na verdade, só os

homens psiquicamente desenvolvidos e mentalmente sãos possuem livre-arbítrio.

Por outro lado, para a Escola Positiva a responsabilidade penal do criminoso

não se funda no livre-arbítrio e sim em fatores biológicos do delinqüente, bem como

nos resultantes de seu meio físico e social. De acordo com Ferri, o delito emana de três

fatores: o biológico, o físico e o social.

3.2. PARALELO ENTRE A ESCOLA CLÁSSICA E A ESCOLA

POSITIVA

Os clássicos priorizam o princípio da retribuição da pena, adotando as teorias

absoluta e mista, ao passo que os positivistas justificam a pena no princípio da

prevenção especial, acatando a teoria relativa, que o elimina da pena toda pecha de

castigo.

Os clássicos não aceitam o criminoso nato. Todos os homens são iguais.

Ninguém nasce vocacionado para o crime. O que o produz é a vontade do agente, isto

é, o livre-arbítrio.

Os positivistas apregoam a existência de um criminoso nato, isto é, de um ser

anormal. Não aceitam a responsabilidade moral decorrente do livre-arbítrio. O crime é

produzido por fatores biológicos, físicos e sociais. A vontade humana não é causa dos

nossos atos.

A Escola Clássica não estuda o perfil do criminoso, porque todos os homens são

iguais, ao passo que a Escola Positiva enfatiza mais o criminoso que o delito,

destacando a periculosidade como fator essencial à fixação dos problemas referentes à

prevenção e repressão.

Para os clássicos, o enfermo mental não responde pelo delito, porque lhe falta o

livre-arbítrio. Para os positivistas, o enfermo mental deve ser sancionado, porque põe

em perigo a sociedade.

Assim, para a Escola Clássica, a imputabilidade decorre do livre-arbítrio, isto é,

da vontade livre do homem, ao passo que para a Escola Positiva a imputabilidade é

social, isto é, advém do fato de viver. em sociedade, de modo que a responsabilidade

penal é a responsabilidade social, tendo por base a periculosidade.

4. FUNÇÃO DO DIREITO PENAL

Naatualidade, a doutrina divide a missão do Direito Penal em:

MISSÃO MEDIATA

o Controle Social

o Limitação ao Poder de Punir do Estado

OBS.: Se de um lado, o Estado controla o cidadão, impondo-lhe

limites, de outro lado é necessário também limitar seu próprio poder

de controle evitando a hipertrofia da punição.

MISSÃO IMEDIATA

A doutrina diverge. (MP/MG - 1ª fase) É nesta discussão que nasce o

funcionalismo. Temos dois funcionalismos:

Para Jakobs, se você infringiu a norma, você é um INIMIGO do Direito Penal

(Direito Penal do Inimigo), devendo ser tratado como tal.

Subtração de uma caneta BIC.

Para Roxin, não há uma lesão

relevante ao bem jurídico

patrimônio, sendo o fato

atípico.

Para Jakobs, você não

obedeceu o sistema que

mandava não furtar, sendo

crime do mesmo jeito.

Tem prevalecido que o Brasil segue o funcionalismo de Roxin, com alguns

temperamentos, algumas considerações.

4.1. DIREITO PENAL DO INIMIGO

Após a destruição do World Trade Center em Nova York, Estados Unidos,

também denominado Torres Gêmeas, num ataque terrorista no dia 11 de setembro de

2001, o combate à criminalidade organizada, sobretudo ao terrorismo, atingiu, nos

Estados Unidos da América e em alguns países da Europa, rigor extremo, a ponto de se

instalar o que Jakobs tem chamado de "direito penal do inimigo", isto é, normas

FUNCIONALISMO

TELEOLÓGICO (ROXIN): O fim do Direito Penal é

assegurar BENS JURÍDICOS, valendo-se das medidas de

política criminal

SISTÊMICO (JAKOBS): O fim do Direito Penal é

resguardar a norma, O SISTEMA, o direito posto, atrelado aos fins da pena.

jurídico-penais que se afastam das garantias e princípios do Estado Democrático de

Direito.

Trata-se de um retrocesso à história do Direito Penal, porquanto, no passado,

aliás não muito remoto, como se sabe, sempre reinou, com todo vapor, a política

criminal de declaração de guerra ao criminoso, tratando-o como inimigo, visando a sua

eliminação.

A humanidade, contudo, avançou e, a partir do iluminismo, as garantias

materiais e processuais foram, aos poucos, introduzidas e enraizadas no direito

ocidental como elementos irrenunciáveis do Estado de Direito, não obstante algumas

recaídas históricas.

É claro que nos regimes políticos totalitários, muitas vezes criminosos, os

dissidentes são rotulados de inimigos e contra eles a guerra é declarada, inspirando-se a

legislação penal e processual penal nessa política criminal de guerra para, a qualquer

custo, combatê-los, colocando-os à margem das garantias inerentes ao Estado de

Direito, reservando para eles um Direito Penal paralelo ou especial, que modernamente

é chamado de "Direito Penal do Inimigo".

Estes Estados totalitários não são Democráticos e nem Estados de Direito, mas

apenas Estados com Direito. E, conforme salienta Pérez Dei Valle, só há direito penal

do inimigo em Estados totalitários, pois seria uma contradição a sua introdução nos

ordenamentos jurídicos democráticos.

Portanto, o cerne da questão cinge-se em saber se existe ou então se seria

possível a existência de um direito Penal do Inimigo no Estado Democrático de Direito,

que assegura os direitos e garantias fundamentais às pessoas.

Em algumas sociedades democráticas, infelizmente, as normas inspiradas no

Direito Penal do Inimigo conseguiram penetrar, citando, como exemplos, os Estados

Unidos da América e a Espanha. Competirá aos tribunais destes países dar um "basta" a

este movimento, que, a rigor, tem cunho emocional, proclamando a

inconstitucionalidade dos dispositivos legais atentatórios aos postulados do Estado

Democrático de Direito.

4.1.1. CONCEITO

Direito Penal do Inimigo é o conjunto de princípios e normas elaboradas sem as

garantias materiais e processuais inerentes ao Estado Democrático de Direito,

aplicáveis apenas aos criminosos que registram perfil previamente definido,

visando, com isso, a sua eliminação ou inocuização da sociedade.

Foi idealizado pelo penalista alemão GüntherJakobs, catedrático emérito de

Direito Penal e Filosofia do Direito pela Universidade de Bonnm, Alemanha.

Referido penalista apregoa que devem existir duas espécies de Direito Penal, a

saber:

Direito Penal normal ou do cidadão: é o que está de acordo com o Estado

Democrático de Direito, assegurando-se ao criminoso as garantias

materiais e processuais, mantendo-o dentro da normalidade do direito em

atenção ao objetivo da pena, que é recuperá-lo e trazê-lo de volta ao

convívio social;

Direito Penal do Inimigo: é o que se desvia dos princípios e garantias

jurídicas liberais do Estado Democrático de Direito, constituindo um

corpo punitivo especial no qual a pena não visa recuperar o delinqüente

tachado de "inimigo" e sim eliminá-lo ou inocuizá-lo do convívio social.

A primeira questão com que nos deparamos é a linha divisória entre o

criminoso-inimigo e o criminoso-cidadão.

Sobre o assunto, Silva Sanches ensina que a conversão do cidadão em inimigo

verifica-se quando nele se reúnem os seguintes caracteres: reindidência,

habitualidade criminosa, profissionalismo delitivo e integração em organização

criminosa.

O inimigo, como se vê, é o indivíduo que, por princípio, não segue as normas do

ordenamento jurídico e, a todo instante, procura subvertê-las, encontrando-se,

pois, como a personalidade deturpada a tal ponto que dele já não se espera mais

nada senão os contínuos ataques à ordem jurídica, descartando-se, por completo,

qualquer expectativa de um dia comportar-se dentro dos postulados do Direito e,

por isso mesmo, segundo Jakobs, representa um perigo à vigência do

ordenamento jurídico, um problema que o Direito Penal comum não consegue

mais resolver, justificando-se, destarte, a incidência de um conjunto de

princípios e regras diferenciados, visando eliminá-Ia ou inocuizá-Io do seio da

sociedade.

O mesmo fato criminoso, seja homicídio, extorsão, lesão corporal ou outro

delito, pode gerar tanto a intervenção do Direito Penal do Cidadão quanto a do

Direito Penal do Inimigo, conforme quem o tenha praticado.

Vê-se assim que o Direito Penal do Inimigo inspira-se na culpabilidade de autor,

que reprova o homem pelo que ele é e não pelo que ele fez. Portanto, não é o

fato criminoso em si que forma o alicerce do Direito Penal do Inimigo e sim o

conteúdo da personalidade do criminoso, revelada pelo profissionalismo

delituoso, habitual idade criminosa e participação em organização criminosa.

Em contrapartida, o direito penal do cidadão inspira-se na culpabilidade de ato,

que é a que reprova o homem pelo que ele fez, isto é, a sua ação, na medida da

possibilidade de autodeterminação que teve no caso concreto.

4.1.2. FUNDAMENTO

O Direito Penal do Inimigo, como vimos, visa excluir determinados delinqüentes

da sociedade e do Estado, considerando-os adversários do ordenamento jurídico,

distinguindo-se assim dos demais criminosos.

No plano jus filosófico, essa doutrina, a rigor, não é nova, porque Rousseau, a

pretexto de conservar o Estado, que segundo dizia era um contrato, preconizava

a eliminação de qualquer criminoso, negando-lhe a condição de pessoa e de

membro de Estado, como sanção à violação do pacto social. Idéias similares

também foram defendidas por Fichte, Kant e Tomaz de Aquino, sendo que este

último sustentava que o "pecador" poderia ser morto como um animal.

Jakobs, na verdade, apóia-se em Hobbes, segundo o qual só não ostenta a

condição de ser humano o criminoso de alta traição, que Jakobs rotula de

inimigo, conceituando-o como o indivíduo que representa perigo à vigência do

ordenamento jurídico, delinqüindo, por princípio, de forma persistente.

Mas este Direito de Guerra, de força e coação, cujo escopo é a eliminação de

determinados indivíduos, viola o princípio da dignidade da pessoa humana. E

este princípio, nos Estados Democráticos de Direito, constitui um valor absoluto

e funciona como condição de validade de qualquer direito, inclusive do direito

penal.

Se, de um lado, a existência de uma ordem jurídica é necessária para garantir a

paz social, sendo legítima a reação do direito contra os transgressores, não se

pode olvidar que o conteúdo material da ordem jurídica, e de outras de cunho

ético-sociais, são relativas, porque relativo é o conceito do justo, e este

relativismo a história já cansou de demonstrar, e isso, por si só, é um obstáculo

intransponível para que terroristas e outros dissidentes da ordem vigente, como,

por exemplo, os traficantes, seja rotulados de inimigos como meio de se poder

eliminá-los de forma legítima.

A injustiça do conteúdo material da ordem vigente manifesta-se pela omissão do

Estado e da sociedade em relação à desigualdade social, que exclui da

distribuição equânime dos bens uma parcela significativa da população. É claro

que a dinâmica da argumentação e confrontação de idéias, como já dizia Welzel,

deveria ser o meio ideal de se provocar o aprimoramento da ordem, mas

enquanto isso não se concretiza a sociedade ainda terá que conviver com os

espetáculos criminosos que desafiam a vigência da norma.

Mas os opositores do direito não devem ser desvestidos de suas condições de

pessoas, que titularizam direitos e obrigações, convertendo-se em inimigos a

serem eliminados, porque assim agindo o Estado estaria negando a própria

ordem jurídica à medida em que esta não tem legitimidade sem o amparo da

dignidade da pessoa humana.

O Direito Penal do Inimigo transforma o Direito Penal em poder primitivo,

desviando-o da sua moderna função, que é a de conter o poder punitivo, de freiar

o arbítrio do Estado, impondo limites ao "jus puniendi".

4.1.3. FINS DO DIREITO PENAL DO INIMIGO

O Direito Penal Comum ou do cidadão procura propiciar a reinserção social do

criminoso, porquanto a pena funciona como sanção por um fato pretérito, tendo

o efeito compensatório do dano ocasionado à vigência da norma.

Em contrapartida, o Direito Penal do Inimigo tem a finalidade de exclusão ou

inocuização do inimigo, considerando-o irrecuperável, porque ele se rebela de

forma permanente, e não meramente indidental, contra o direito, funcionando,

destarte, a pena como meio de prevenção de fatos futuros.

Enquanto o direito penal do cidadão sanciona a pessoa que pratica o delito de

forma incidental, esporádica, mas que, no entanto, ainda se ajusta aos ditames da

ordem jurídica, o Direito Penal do Inimigo recai sobre o indivíduo que se rebela

de modo presumidamente duradouro em relação ao Direito.

A pessoa, segundo Jakobs, é uma construção normativa, porque a personalidade,

consistente na aptidão genérica para adquirir direitos e contrair obrigações, é

atribuída ao homem pelo Direito, mas nem todos os homens devem dela

desfrutar. Esta privação da condição de pessoa a determinados criminosos é a

base de sustentação da construção do Direito Penal do Inimigo.

Mas, data venia, a personalidade civil, como se sabe, é irrenunciável, porquanto

a morte civil, isto é, a perda da personalidade em vida, há muito encontra-se

rechaçada, e, a rigor, não pode ser revigorada de forma válida à medida que

reduz o homem a coisa, violando o princípio da dignidade da pessoa humana.

Num Estado Democrático de Direito nenhum ser humano pode ser considerado

"não pessoa".

É evidente também a dificuldade em se precisar o momento da transformação da

pessoa em inimigo. Poder-se-ia sustentar que essa metamorfose jurídica só

ocorreria após o trânsito em julgado de determinada condenação, mas até então

persistiria todas as garantias processuais e, por consequência, a condição de

pessoa, de modo que o Direito Penal do Inimigo necessariamente teria que ser

construído a partir da existência prévia da pessoa.

4.1.4. CARACTERÍSTICAS

O Direito Penal do Inimigo, no âmbito material, exterioriza-se com os seguintes

caracteres:

incriminação exacerbada de atos preparatórios. Estes atos, em regra, não

são objetos de preocupação do Direito Penal Comum, tendo em vista a

ausência de perigo concreto ao bem jurídico.

cominação de penas desproporcionais em dois aspectos. O primeiro é a

previsão de penas idênticas para os atos preparatórios, tentados e

consumados. O segundo é a agravação exacerbada da pena pelo simples

fato de o indivíduo pertencer a uma organização criminosa.

rotulagem das leis penais como "leis de luta ou de combate",

transformando a legislação penal em uma legislação de luta.

No plano processual, o Direito Penal do Inimigo dá sinais de sua existência

quando a legislação admite a restrição ou supressão das garantias processuais

dos acusados. Exemplos: ampliação das interceptações das comunicações;

incomunicabilidade do preso; violação da presunção de inocência; ampliação do

prazo de prisão temporária; admissibilidade da tortura em determinadas

situações etc.

Finalmente, no aspecto do cumprimento da pena, o Direito Penal do Inimigo tem

por característica a consagração do rigor penitenciário, como, por exemplo, o

isolamento considerável do preso.

Vê-se assim que o Direito Penal do Inimigo é regido pela coação física, dentro

daquela idéia de que os fins justificam os meios, construindo-se, dentro desse

paradigma, uma ordem punitiva excepcional, que tem o inimigo como

destinatário, distinguindo-se do Direito Penal Comum, que trata o criminoso

como pessoa.

A rigor, o Direito Penal do Inimigo não é direito e sim pura força, uma

manifestação do poder superior, porquanto o Direito não se impõe pela força

física, mas pela obrigatoriedade de suas normas.

4.1.5. O DIREITO PENAL DO INIMIGO NO BRASIL

A Constituição Federal Brasileira consagra o Estado Democrático de Direito, em

seu art. 1°, destacando-se, dentre os seus fundamentos, a dignidade da pessoa

humana.

Não há, pois, alicerce jurídico para que o Direito Penal do Inimigo finque em

solo brasileiro as suas raízes venenosas.

As diretrizes da política criminal desse direito de guerra ferem inúmeros

princípios constitucionais, afrontando o Estado Democrático de Direito, sendo,

por isso, rechaçado pela doutrina dominante.

Todavia, não se pode negar que algumas normas do Direito Penal Brasileiro

estão também contaminadas pelo Direito Penal do Inimigo, como é o caso do

Regime Disciplinar Diferenciado (art. 52 da Lei n. 7.210/84);

Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso provisório, ou condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado, com as seguintes características: (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 2003)

I - duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta grave de mesma espécie, até o limite de um sexto da pena aplicada; (Incluído pela Lei nº 10.792, de 2003)

II - recolhimento em cela individual; (Incluído pela Lei nº 10.792, de 2003)

III - visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração de duas horas; (Incluído pela Lei nº 10.792, de 2003)

IV - o preso terá direito à saída da cela por 2 horas diárias para banho de sol. (Incluído pela Lei nº 10.792, de 2003)

§ 1o O regime disciplinar diferenciado também poderá abrigar presos provisórios ou condenados, nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da sociedade. (Incluído pela Lei nº 10.792, de 2003)

§ 2o Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso provisório ou o condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer título, em organizações criminosas, quadrilha ou bando. (Incluído pela Lei nº 10.792, de 2003)

a incomunicabilidade do preso (art. 21 do CPP);

Art. 21.  A incomunicabilidade do indiciado dependerá sempre de despacho nos autos e somente será permitida quando o interesse da sociedade ou a conveniência da investigação o exigir.

        Parágrafo único. A incomunicabilidade, que não excederá de três dias, será decretada por despacho fundamentado do Juiz, a requerimento da autoridade policial, ou do órgão do Ministério Público, respeitado, em

qualquer hipótese, o disposto no artigo 89, inciso III, do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (Lei n. 4.215, de 27 de abril de 1963) (Redação dada pela Lei nº 5.010, de 30.5.1966)

alei do abate de aeronaves (art. 303 da Lei n. 9.614/98)

"Art. 303. ........................................................................................

........................................................................................................

§ 2º Esgotados os meios coercitivos legalmente previstos, a aeronave será classificada como hostil, ficando sujeito à medida de destruição, nos casos dos incisos do caput deste artigo e após autorização do Presidente da República ou autoridade por ele delegada.

§ 3º A autoridade mencionada no § 1º responderá por seus atos quando agir com excesso de poder ou com espírito emulatório."

e outras.

Até antes do advento da Lei n. 11.464/07 era proibida a progressão de regimes

em delitos hediondos, o que representava a inocuização do criminoso, sendo,

pois, mais uma manifestação do Direito Penal do Inimigo, mas, atualmente, estes

delitos admitem a progressão de regime.

Estas normas citadas acima, contudo, não são suficientes para se dizer que reina

no Brasil o Direito Penal do Inimigo, pois as garantias processuais encontram-se

asseguradas e nenhuma política criminal se sustenta validamente fora delas.

Vale ainda lembrar que resta a esperança de estas poucas normas virem a ser

declaradas inconstitucionais, por evidente atropelamento ao princípio da

dignidade da pessoa humana.

Por outro lado, na vigência do estado de defesa e do estado sítio, previsto nos

arts. 136 e 137 da Constituição Federal, exacerbam-se as restrições aos direitos

de reunião, de sigilo de correspondência ou de comunicações telegráficas e

telefônicas ,admitindo-se, inclusive, a decretação de prisão sem ordem judicial.

Seção IDO ESTADO DE DEFESA

Art. 136. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, decretar estado de defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza.

§ 1º - O decreto que instituir o estado de defesa determinará o tempo de sua duração, especificará as áreas a serem abrangidas e indicará, nos termos e limites da lei, as medidas coercitivas a vigorarem, dentre as seguintes:

I - restrições aos direitos de:

a) reunião, ainda que exercida no seio das associações;

b) sigilo de correspondência;

c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica;

II - ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na hipótese de calamidade pública, respondendo a União pelos danos e custos decorrentes.

§ 2º - O tempo de duração do estado de defesa não será superior a trinta dias, podendo ser prorrogado uma vez, por igual período, se persistirem as razões que justificaram a sua decretação.

§ 3º - Na vigência do estado de defesa:

I - a prisão por crime contra o Estado, determinada pelo executor da medida, será por este comunicada imediatamente ao juiz competente, que a relaxará, se não for legal, facultado ao preso requerer exame de corpo de delito à autoridade policial;

II - a comunicação será acompanhada de declaração, pela autoridade, do estado físico e mental do detido no momento de sua autuação;

III - a prisão ou detenção de qualquer pessoa não poderá ser superior a dez dias, salvo quando autorizada pelo Poder Judiciário;

IV - é vedada a incomunicabilidade do preso.

§ 4º - Decretado o estado de defesa ou sua prorrogação, o Presidente da República, dentro de vinte e quatro horas, submeterá o ato com a respectiva justificação ao Congresso Nacional, que decidirá por maioria absoluta.

§ 5º - Se o Congresso Nacional estiver em recesso, será convocado, extraordinariamente, no prazo de cinco dias.

§ 6º - O Congresso Nacional apreciará o decreto dentro de dez dias contados de seu recebimento, devendo continuar funcionando enquanto vigorar o estado de defesa.

§ 7º - Rejeitado o decreto, cessa imediatamente o estado de defesa.

Seção IIDO ESTADO DE SÍTIO

Art. 137. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, solicitar ao Congresso Nacional autorização para decretar o estado de sítio nos casos de:

I - comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa;

II - declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira.

Parágrafo único. O Presidente da República, ao solicitar autorização para decretar o estado de sítio ou sua prorrogação, relatará os motivos determinantes do pedido, devendo o Congresso Nacional decidir por maioria absoluta.

Art. 138. O decreto do estado de sítio indicará sua duração, as normas necessárias a sua execução e as garantias constitucionais que ficarão suspensas, e, depois de publicado, o Presidente da República designará o executor das medidas específicas e as áreas abrangidas.

§ 1º - O estado de sítio, no caso do art. 137, I, não poderá ser decretado por mais de trinta dias, nem prorrogado, de cada vez, por prazo superior; no do inciso II, poderá ser decretado por todo o tempo que perdurar a guerra ou a agressão armada estrangeira.

§ 2º - Solicitada autorização para decretar o estado de sítio durante o recesso parlamentar, o Presidente do Senado Federal, de imediato, convocará extraordinariamente o Congresso Nacional para se reunir dentro de cinco dias, a fim de apreciar o ato.

§ 3º - O Congresso Nacional permanecerá em funcionamento até o término das medidas coercitivas.

Art. 139. Na vigência do estado de sítio decretado com fundamento no art. 137, I, só poderão ser tomadas contra as pessoas as seguintes medidas:

I - obrigação de permanência em localidade determinada;

II - detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns;

III - restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das comunicações, à prestação de informações e à liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão, na forma da lei;

IV - suspensão da liberdade de reunião;

V - busca e apreensão em domicílio;

VI - intervenção nas empresas de serviços públicos;

VII - requisição de bens.

Parágrafo único. Não se inclui nas restrições do inciso III a difusão de pronunciamentos de parlamentares efetuados em suas Casas Legislativas, desde que liberada pela respectiva Mesa.

Trata-se porém, de umasituaçãoextraordinária insuscetível de transformar o

Direito Penal Brasileiro em Direito Penal do Inimigo, porque as principais

garantias processuais são mantidas, preservando-se a dignidade da pessoa

humana.

O máximo que se pode dizer é que, durante o estado de defesa e o estado de

sítio, vigora um Direito Penal do Cidadão com sinais acentuados do Direito

Penal do Inimigo.

5. VELOCIDADES DO DIREITO PENAL

Idealizadas por Silva Sánchez.

Trabalha com o tempo que o Estado leva para puniro autor de uma infração

penal mais ou menos severa.

1ªVELOCIDADE: Enfatiza infrações penais mais graves, punidas

com pena privativa de liberdade, exigindo procedimento mais

demorado, observando todas as garantias penais e processuais.

2ºVELOCIDADE: Já que está diante de infrações menos graves,

flexibiliza direitos e garantias fundamentais, possibilitando punição mais

célere, mas, em contrapartida, prevê penas alternativas.

3ºVELOCIDADE: Mescla a 1ª velocidade e a 2ª velocidade.

o -Defende a punição do criminoso com pena privativa de

liberdade (1ª velocidade).

o -Permite, para determinados crimes, a flexibilização de direitos e

garantias constitucionais (2ª velocidade).

O direito penal do inimigo é claramente um direito de terceira

velocidade.

1ª VELOCIDADE 2ª VELOCIDADE 3ª VELOCIDADE

Pena privativa de

liberdade.Penas alternativas

Pena privativa de

liberdade.

Procedimento garantista.Procedimento

flexibilizado.

Procedimento

flexibilizado.

Ex: CPP Ex: lei 9099/95 Ex: lei 9034/95

(organização criminosa)

CURIOSIDADE: para alguns doutrinadores, há, ainda a 4ª VELOCIDADE

do Direito Penal.

A 4ª velocidade está ligada ao Direito Internacional. Para aqueles que uma vez

ostentaram a posição de Chefes de Estado e como tais violaram gravemente

tratados internacionais de tutela de direitos humanos, serão aplicadas a eles as

normas internacionais (TPI). Nessa velocidade, há uma nítida diminuição das

garantias individuais penais e processuais penais desses réus, defendida

inclusive pelas ONGs.

6. FONTES DO DIREITO PENAL

É a origem, o lugar de onde vem a norma jurídica. Pode ser:

A. MATERIAL: É a fonte de produção, ou seja, órgão encarregado de criar

o Direito Penal.Em regra é a União.

EXCEÇÃO:

Art. 22 da CF. Compete privativamente à União legislar sobre:

I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;

Parágrafo único. LEI COMPLEMENTAR poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo.

Além da União, o parágrafo único permite que os Estados possam legislar

também sobre Direito Penal, excepcionalmente, desde que autorizados por LC e que a

matéria verse sobre interesse local.

É até comum em direito ambiental essa hipótese.

Frente a isto, o direito penal perdeu o seu caráter unitário.

B. FORMAL: É a fonte de revelação, de conhecimento, o processo de

exteriorização das regras criadas pela União.

Vejamos as espécies:

Temos que analisar de acordo com as doutrinas.

DOUTRINA CLÁSSICA DOUTRINA MODERNA (STF)

IMEDIATA = Lei IMEDIATA = Pode ser um:

Direito Incriminador (criar infrações

penais e culminar sanções): revelado somente por LEI.

(E atos administrativos?)

Direito não incriminador: revelado pela:

o Lei

o CF,

o tratados internacionais,

o Jurisprudência

o princípios gerais do Direito.

o Atos administrativos

MEDIATA = Costumes e

Princípios Gerais do Direito

MEDIATA = Doutrina

CONSTITUIÇÃO FEDERAL: -Muito embora não possa criar infrações penais

ou cominar sanções, a C.F. nos revela o Direito Penal estabelecendo patamares

mínimos (mandado constitucional de criminalização) abaixo dos quais a intervenção

penal não se pode reduzir.

EXEMPLOS:

“Art.5º, XLII, CF - A prática do racismo constitui crime

inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão (patamares

mínimos para que o legislador não esqueça), nos termos da lei; (a lei é

quem cria o crime de racismo e comina a sua pena).”

“Art. 5º, XLIV, CF - Constitui crime inafiançável e imprescritível

(patamares mínimos) a ação de grupos armados, civis ou militares,

contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;”

Se a C.F. é superior à lei, porque ela não pode criar infrações penais

ou cominar sanções? (fase oral MP/SP)

Em razão de seu processo moroso de alteração.

Existem mandados constitucionais de criminalização implícitos? (MP/GO).

De acordo com a maioria, existem mandados constitucionais de criminalização

implícitos, com a finalidade de evitar a intervenção insuficiente do Estado

(imperativos de tutela – ordena que se tutele).

Ex: O legislador não poderia retirar o crime de homicídio do ordenamento

jurídico, porque a C.F./88 garante o direito à vida. - Com base no mandado

constitucional de criminalização implícito questiona-se a legalização do

aborto.

TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS

Qual o “status” dos tratados internacionais ratificados pelo Brasil ?

Vejamos a tendência do STF. Ver julgado HC 87.585, RE 349.703 e RE 466.34

EC 45/04

RATIFICADOS ANTES RATIFICADOS DEPOIS

Tratados de Direitos Humanos.

Têm “status” de norma

constitucional, lembrando a

Convenção Americana dos

Direitos Humanos, que é antes da

Tratados de Direitos Humanos.

a) Ratificado com “quorum”

de EC, tem hierarquia de

norma constitucional.

b) Ratificado com “quorum”

EC, devendo tudo se pautar nela

agora.

Tratados não de Direitos

Humanos:

a) Mesmo ratificado com

“quorum” de EC, tem

hierarquia de lei ordinária.

b) Ratificado com “quorum”

comum, tem “status” de lei

ordinária.

X

Gilmar Mendes acredita que,

mesmo de direitos humanos, por

não passarem por procedimento

formal de EC, teriam status de

norma supra-legal.

comum, tem “status” de

norma supra-legal.

Tratados não de Direitos

Humanos:

c) Mesmo ratificado com

“quorum” de EC, tem

hierarquia de lei ordinária.

d) Ratificado com “quorum”

comum, tem “status” de lei

ordinária.

X

Celso de Mello, tem o

entendimento de que não

há a espécie de norma

supra-legal, sendo ou

natureza de EC (versa

dobre direitos humanos) ou

de lei ordinária (não versa

sobre direitos humanos)

Em resumo:

No dia 03.12.08 foi proclamada, pelo Pleno do STF (HC 87.585-TO e RE

466.343-SP), uma das decisões mais históricas de toda sua jurisprudência.

Finalmente nossa Corte Suprema reconheceu que os tratados de direitos humanos

valem mais do que a lei ordinária. Por cinco votos a quatro, foi vencedora (por

ora) a tese de Gilmar Mendes.

Caso algum tratado venha a ser devidamente aprovado pelas duas casas

legislativas com quorum qualificado (de três quintos, em duas votações em cada

casa) e ratificado pelo Presidente da República, terá ele valor de Emenda

Constitucional (CF, art. 5º, § 3º, com redação dada pela EC 45/2004). Fora disso,

todos os (demais) tratados de direitos humanos vigentes no Brasil contam com

valor supralegal (ou seja: valem mais do que a lei e menos que a Constituição).

Isso possui o significado de uma verdadeira revolução na pirâmide jurídica de

Kelsen, que era composta (apenas) pelas leis ordinárias (na base) e a Constituição

(no topo).

Conseqüência prática: doravante toda lei (que está no patamar inferior) que for

contrária aos tratados, não possui validade. Como nos diz Ferrajoli, são vigentes,

mas não possuem validade (isso corresponde, no plano formal, à derrogação da

lei). O STF, no julgamento citado, sublinhou o não cabimento (no Brasil) de mais

nenhuma hipótese de prisão civil do depositário infiel, porque foram "derrogadas"

(pelo art. 7º, 7, da Convenção Americana sobre Direitos Humanos) todas as leis

ordinárias em sentido contrário ao tratado internacional.

Dupla compatibilidade vertical: toda lei ordinária, doravante, para ser válida,

deve (então) contar com dupla compatibilidade vertical, ou seja, deve ser

compatível com a Constituição brasileira assim como com os tratados de direitos

humanos. Se a lei (de baixo) entrar em conflito (isto é: se for antagônica) com

qualquer norma de valor superior (Constituição ou tratados), não vale (não conta

com eficácia prática). A norma superior irradia uma espécie de "eficácia

paralisante" da norma inferior (como diria o Min. Gilmar Mendes).

Duplo controle de verticalidade: do ponto de vista jurídico a conseqüência

natural do que acaba de ser exposto é que devemos distinguir (doravante) com

toda clareza o controle de constitucionalidade do controle de convencionalidade.

No primeiro é analisada a compatibilidade do texto legal com a Constituição. No

segundo o que se valora é a compatibilidade do texto legal com os tratados. Todas

as vezes que a lei ordinária atritar com os tratados ou com a Constituição, não

vale.

Com a histórica decisão do STF de 03.12.08 cabe concluir o seguinte:

            a) os tratados internacionais de direitos humanos ratificados pelo Brasil –

independentemente de aprovação com quorum qualificado – possuem nível

(apenas) supralegal (posição do Min. Gilmar Mendes, por ora vencedora);

            b) admitindo-se a tese de que não contam com valor constitucional, eles

servem de paradigma (apenas) para o controle (difuso) de convencionalidade

(recorde-se que o controle concentrado no STF exige como fonte uma norma com

status constitucional);

            c) o controle difuso de convencionalidade desses tratados com status

supralegal deve ser levantado em linha de preliminar, em cada caso concreto,

cabendo ao juiz respectivo a análise dessa matéria antes do exame do mérito do

pedido principal;

            d) já os tratados aprovados pela maioria qualificada do § 3º do art. 5º da

Constituição (precisamente porque contam com status constitucional) servirão de

paradigma ao controle de constitucionalidade concentrado (perante o STF) ou

difuso (perante qualquer juiz, incluindo-se os do STF);

            e) em relação ao controle de constitucionalidade concentrado (só cabível,

repita-se, quando observado o § 3º do art. 5º da CF) cabe admitir o uso de todos os

instrumentos desse controle perante o STF, ou seja, é plenamente possível

defender a possibilidade de ADIn (para eivar a norma infraconstitucional de

inconstitucionacionalidade e inconvencionalidade), de ADECON (para garantir à

norma infraconstitucional a compatibilidade vertical com a norma internacional

com valor constitucional), ou até mesmo de ADPF (Argüição de Descumprimento

de Preceito Fundamental) para exigir o cumprimento de um "preceito

fundamental" encontrado em tratado de direitos humanos formalmente

constitucional.

CUIDADO: Os T.I.D.H (com status constitucional ou supralegal) NÃO

PODEM criar infrações penais ou cominar sanções para o direito interno – mas

apenas para o Direito Internacional Penal (julgado no TPI).

Tanto é que antes da lei 12694/12 (que definiu organização criminosa), o STF,

no julgamento do HC 96007, decidiu pela proibição da utilização da definição de

Organização Criminosa dada pela Convenção de Palermo, reafirmando que os

tratados internacionais não podem criar infrações penais.

JURISPRUDÊNCIA: Revela Direito Penal, podendo ter inclusive caráter

vinculante.

Ex: “Art. 71 C.P. -Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão,

pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo

(jurisprudência propõe 30 dias), lugar, maneira de execução e outras semelhantes,

devem os subseqüentes ser havidos como continuação do primeiro, aplicasse-lhe a

pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada,

em qualquer caso, de um sexto a dois terços.”

PRINCÍPIOS: Consiste no direito que vive na consciência comum de um povo,

podendo ser positivado ou não.Nãoraras vezes, os Tribunais absolvem ou reduzem

penas com fundamento em princípios.

-Ex: Princípio da Insignificância – causa de atipicidade material.

Cuidado, independente da doutrina, está faltando OS ATOS

ADMINISTRATIVOS complementares da norma penal em branco (ex: a

portaria que revela o que é droga), ficando ao lado da lei, no direito

incriminador.

COSTUMES: Espécie de FONTE INFORMAL do Direito Penal consistente

nos comportamentos uniformes e constantes pela convicção de obrigatoriedade e

necessidade jurídica.

Art. 1º do CP- Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Pelo império da legalidade, não pode criar crime, nem tratar de sanção. Assim,

costume incriminador, jamais.

Costume pode revogar infração penal?

1ª Corrente) PREVALECE. Se baseia no art. 2º da LICC.

Art. 2o  Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.

Defende que uma lei só é revogada por outra lei.

2ª Corrente) MINORITÁRIA. Nada impede um costume não incriminador que

revogue infração penal. Se a sociedade passa a tolerar aquele comportamento

incriminador, não tem porque entendê-lo como crime.

Ex: Cuidado: adultério não é mais crime porque a sociedade tolera, mas sim,

pelo princípio da intervenção mínima.

Entendendo que o costume não pode revogar infração, o COSTUME SERVE

PARA A INTERPRETAÇÃO, ou seja, usar o costume segundo a lei.

Ex: Antes tínhamos como exemplo o Art. 215, do CP.

Posse sexual mediante fraude        

Art. 215 - Ter conjunção carnal com mulher honesta, mediante

fraude: 

Implicitamente, precisava ainda a mulher ser honesta, ou seja, ainda não ser

corrompida nos prazeres da carne. Mas agora mudou:

Violação sexual mediante fraude (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

Art. 215.  Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

Parágrafo único.  Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

Ex: Art. 155, § 1º, do CP.

Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.

É o costume da localidade que vai dizer o que é repouso noturno.

7. INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL

São formas de aclarar palavras, textos ou tipo penais. É você extrair da lei o seu

real significado.

Interpretação, nada mais é que um SUJEITO, interpretando de um MODO que

lhe leva a um RESULTADO.

7.1. QUANTO AO SUJEITO QUE INTERPRETA

a) AUTÊNTICA OU LEGISLATIVA: A interpretação é dada pela

própria lei. Ex: o conceito de funcionário público.

Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.

§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública.   (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

Importante lembrar que a lei interpretativa posterior tem eficácia

retroativa (ex tune), ainda que milite contra o réu; só não abrange os

casos definitivamente julgados.

Isto se deve, pois a lei interpretativa não cria situação nova; ela

simplesmente torna obrigatória uma exegese que o juiz, antes

mesmo de sua promulgação, já podia adotar.

Não há qualquer discrepância na doutrina no sentido de que a lei

interpretativa posterior retroage até a data da entrada em vigor da lei

interpretada. Se, por exemplo, esta comporta duas interpretações,

uma favorável e outra prejudicial ao réu, o advento de uma lei

interpretativa, adotando a exegese gravosa, torna obrigatória a sua

aplicação aos processos ainda não transitados em julgado.

Cumpre, porém, não confundir lei interpretativa, que

simplesmente opta por uma exegese razoável, que já era admitida

antes de sua edição, com lei que cria situação nova, albergando

exegese até então inadmissível. Neste último caso, se prejudicial ao

réu, não poderá retroagir.

b) DOUTRINÁRIA: A interpretação é feita pelos estudiosos. Não tem

qualquer efeito vinculante.

Quanto ao sujeito, qual é a classificação que se dá a exposição

de motivos do CP? No CP, diferentemente do CPP (que é

interpretação autêntica, pois é uma lei), a exposição de motivos

não é lei, é a ponderação dos doutos que o fizeram. Assim, sua

classificação quanto ao sujeito é doutrinária.

c) JURISPRUDENCIAL: Fruto das decisões reiteradas dos nossos

Tribunais.

Não tem força obrigatória, salvo para o caso concreto, quando a

sentença que a adotou transitar em julgado.

É também obrigatória, vinculando todos os magistrados, a decisão do

STF declarando a constitucionalidade ou inconstitucionalidade da

lei, no controle por via de ação direta. Já no controle por via de

exceção, uma vez declarada inconstitucional por decisão definitiva

do STF, a lei só perde a eficácia quando o Senado, por resolução,

suspender sua aplicação.

Recentemente, ingressou no ordenamento jurídico pátrio o polêmico

instituto da súmula vinculante do STF. Com efeito, dispõe o art. 103-

A da EC n. 45/2004 que o Supremo Tribunal Federal poderá, de

ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus

membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional,

aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial,

terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder

Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas

federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou

cancelamento, na forma estabelecida em lei. No § 10 dispõe que a

Súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de

normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre

órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que

acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de

processos sobre questão idêntica. O § 20 estabelece que sem prejuízo

do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou

cancelamento de súmula poderá ser provocada por aqueles que

podem propor a ação de inconstitucionalidade. E em seu § 3° que do

ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula

aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao

Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato

administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará

que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula,

conforme o caso.

7.2. QUANTO AO MODO

a) LITERAL OU GRAMATICAL OU FILOLÓGICA (TJ/MS): Leva

em conta o sentido literal das palavras. É considerada a interpretação

mais pobre.

b) TELEOLÓGICA: Indaga-se a intenção ou vontade objetivada na lei.

Ex: quando o Supremo abrangeu os acessórios para celulares, que

não puderam, também, entrar no presídio.

c) HISTÓRICA: Procura-se a origem da lei.

d) SISTEMÁTICA: A lei é interpretada com o conjunto da legislação,

ou mesmo com os Princípios Gerais do Direito. É considerada a

interpretação mais rica.

e) EXTRAJURÍDICO: Analisa o significado do termo à luz de outras

ciências diversas do direito, como por exemplo psiquiatria (o termo

“doença mental”) e química (o termo “veneno”).

7.3. QUANTO AO RESULTADO

a) DECLARATIVA: A letra da lei corresponde exatamente àquilo que o

legislador quis dizer (nada suprimindo, nada adicionando).

b) EXTENSIVA: Amplia-se o alcance das palavras da lei, para que

corresponda à vontade do texto.

Ocorre quando a lei disse menos do que quis (minus dixit

quamvoluit).

Exemplo: o art. 159 do CP, que prevê o crime de extorsão mediante

seqüestro, contém também, implicitamente, o delito de extorsão

mediante cárcere privado.

Extorsão mediante seqüestro

Art. 159 - Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90    (Vide Lei nº 10.446, de 2002)

Pena - reclusão, de oito a quinze anos. (Redação dada pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990)

§ 1o Se o seqüestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o seqüestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha. Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90 (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)

Pena - reclusão, de doze a vinte anos. (Redação dada pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990)

§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90

Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos. (Redação dada pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990)

§ 3º - Se resulta a morte: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90

Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. (Redação dada pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990)

§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do seqüestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços. (Redação dada pela Lei nº 9.269, de 1996)

Na interpretação extensiva, o fato está implicitamente previsto no

texto da lei. É admissível o seu emprego até mesmo nas normas

penais incriminadoras.

Aplicam-se, para justificar a interpretação extensiva, os argumentos

da lógica dedutiva:

o argumento a fortiori - se a lei prevê um caso deve

estendê-la a outro caso em que a razão da lei se

manifeste com maior vigor;

o argumento a maiori ad minus- o que é válido para o

mais deve também ser válido para o menos;

o argumento a minori ad maius- o que é proibido para o

menos é proibido para o mais (ex.: se é crime a

bigamia, com maior razão há de incriminar-se a

poligamia).

c) RESTRITIVA: Reduz-se o alcance da palavra para que corresponda à

vontade do texto.

d) AB-ROGANTE: Diante da incompatibilidade absoluta e irredutível

entre dois preceitos legais ou entre um dispositivo de lei e um

princípio geral do ordenamento, conclui-se pela inaplicabilidade da

lei interpretada.

e) PROGRESSIVA, ADAPTATIVA OU EVOLUTIVA: A

interpretação acompanha a evolução da ciência, qualquer que seja.

Ex: estupro de transexual se houver a ablação do órgão com alteração

dos registros civis.

Assim, existe no Direito Penal Brasileiro restrições à interpretação extensiva.

Mas Cuidado: é possível interpretação extensiva contra o réu.

Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:

Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

§ 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade:

I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;

Podemos ampliar o conceito de arma para, por exemplo, lápis afiado.

Veja:

Não existe, no Brasil, a vedação à interpretação extensiva contra o réu, pois a

tarefa do interprete é evitar injustiça, e não beneficiar ou prejudicar o réu. (Nucci

e Luiz Regis Prado).

Tem minoria (Bitencourt, LFG) que não concorda, com base no princípio do “in

dubio pro reu” – VALE PARA DEFENSORIA (ocorre que este princípio nasceu

para ser utilizado só no campo das provas no processo penal). Utilizam o art. 22

do Estatuto de Roma.

-“Estatuto de Roma - Artigo 22.2- A previsão de um crime será estabelecida de forma precisa e não será permitido o recurso à analogia. Em caso de ambiguidade, será interpretada a favor da pessoa objeto de inquérito, acusada ou condenada.”

Cumpre observar uma terceira corrente (Zaffaroni): Em regra, não cabe

interpretação extensiva contra o réu, salvo quando interpretação diversa resultar

num escândalo por sua notória irracionalidade.

INTERPRE. EXTENSIVA ≠ INTERPR. ANALÓGICA ≠ ANALOGIA

INT. EXTENSIVA

Amplia-se o alcance

das palavras da lei,

INT. ANALÓGICA

Também chamada

INTRA LEGEM

ANALOGIA

Não há interpretação, mas sim

INTEGRAÇÃO, pois partimos do

Arma

PRÓPRIO: Instrumento fabricado com finalidade bélica. INT. RESTRITIVA

IMPRÓPRIO: Instrumento com ou sem finalidade bélica, possível para o ataque e a

defesa. INT. EXTENSIVA

para que

corresponda à

vontade do texto.

Exemplo:

“Arma”, amplia-se

para instrumento

bélico ou não.

O significado que se

busca é extraído do

próprio dispositivo

(existe norma a ser

aplicada no caso

concreto), levando-

se em conta as

expressões genéricas

e abertas utilizadas

pelo legislador

depois de enunciar

exemplos.

Exemplo

Art 121. Matar alguem:Pena - reclusão, de seis a vinte anos.§ 2° Se o homicídio é cometido:I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;II - por motivo futil;III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossivel a defesa do ofendido;V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

Exemplo: Art. 306

C.T.B.

“Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência: (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012)

CURIOSIDADE:

pressuposto de que não existe uma lei a

ser aplicada ao caso concreto, motivo

pelo qual socorre-se daquilo que o

legislador previu para outro similar.

O Direito Penal Brasileiro não admite

analogia incriminadora, mas somente em

“bonam partem”, sob pena de ferir o

princípio da legalidade.

PRESSUPOSTOS DA ANALOGIA

NO DIREITO PENAL

a) Certeza de que sua aplicação será

favorável ao réu (analogia “in bonam

partem”).

b)Existência de uma efetiva lacuna

a ser preenchida (OMISSÃO

INVOLUNTÁRIA do legislador).

Exemplo: Art. 181, I C.P.–(o legislador

não lembrou da união estável – possível

analogia “in bonam partem”).

Do exposto conclui se que, no direito

penal, a analogia é admitida apenas em

relação às normas não incriminadoras

benéficas ao réu (in banam

partem),desde que não se trate de

normas excepcionais.

Efetivamente, normas excepcionais são

as que disciplinam de modo contrário à

"Conjuge" abrange União

Estável?

se favorável réu: abrange.

se desfavorável: não abrange.

Paulo Queiroz

afirma que, em

última instância, a

interpretação

analógica é uma

analogia “in malan

partem” autorizada

pela própria lei.

regra geral, abrindo-lhe exceções.

Por exemplo, o rol do § 2º do art. 348 do CP,

que, no delito de favorecimento pessoal, isenta

de pena o ascendente, descendente, cônjuge ou

irmão do criminoso, não pode ser ampliado para

isentar também o sobrinho ou a concubina.

Trata-se, sem dúvida, de lei excepcional, uma

vez que disciplina de modo contrário à regra

geral de que quem comete um delito deve

responder por ele.

Outra norma excepcional é a prevista no art.

128, II, do CP, que isenta de pena o médico que

realiza aborto, quando a gravidez resulta de

estupro. Deve ser vedada a sua aplicação ao

aborto em que a gravidez é resultante de

corrupção de menores.

Mais um exemplo Art.155 § 2º C.P. – Furto

Privilegiado (não é aplicável ao roubo, uma vez

que a intenção voluntária do legislador é não

privilegiar esse tipo de crime).

Por outro lado, as causas de exclusão da

antijuridicidade ou culpabilidade,

previstas na Parte Geral do Código, não

são normas excepcionais, pois seus

preceitos são aplicáveis a todo o

ordenamento jurídicopenal. Admitem,

por isso, a analogia in bonam partem.

Algumas normas da Parte Especial

também têm caráter geral, como, por

exemplo, o perdão judicial previsto para

o homicídio culposo ou lesão culposa

(arts. 121, § 5Q, e 129, § 8Q), que, por

isso mesmo, deve ser aplicado

analogicamente aos delitos de

homicídio culposo e lesão culposa

disciplinados no Código de Trânsito.

Cuidado, Rogério Greco entende que a interpretação extensiva em sentido estrito

(a nossa interpretação extensiva) e a interpretação analógica são espécie da

interpretação extensiva em sentido amplo.

ATENÇÃO! A doutrina cita, ainda, duas espécies de interpretação:

INTERPRETAÇÃO “SUI GENERIS”

Se subdivide em:

o EXOFÓRICA:o significado da norma interpretada não está no

ordenamento normativo. Exemplo: art. 20 C.P. (“tipo”) – quem define o

que é tipo legal é a doutrina – e não a lei. Ex: fui atirar no cervo, mas era

um cara fazendo piquenique.

“Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.”

o ENDOFÓRICA : o texto normativo interpretado empresta o sentido

de outros textos do próprio ordenamento normativo (interpretação

muito utilizada nas normas penais em branco).Exemplo:art. 237 C.P.

4- Ab-rogante5 - Progressiva

– a expressão “impedimento para casamento” é interpretada de

acordo com o Código Civil.

”Art. 237 - Contrair casamento, conhecendo a existênciade impedimento que lhe cause a nulidade absoluta:

Pena - detenção, de três meses a um ano.”

INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO

A Constituição informa e conforma as normas hierarquicamente inferiores.

Assume nítido relevo dentro da perspectiva do Estado Democrático de Direito.

8. INTERPRETAÇÃO E O PRINCÍPIO DO “IN DUBIO

PRO REO”

O princípio in dubio pro reo é característico do campo das provas, em que o

juiz, na dúvida, deve absolver o acusado.

Excepcionalmente, porém, na análise das provas, vigora o princípio in

dubio pro societate:

no momento do oferecimento da denúncia;

no momento da sentença de pronúncia;

no julgamento da revisão criminal.

No concernente à interpretação das leis, o princípio in dubio pro reo não

representa papel importante. O juiz, na dúvida entre uma e outra interpretação, não é

obrigado a escolher a exegese mais favorável ao réu. Desde que ambas sejam

igualmente razoáveis, o magistrado é livre para decidir.

Se, todavia, pairar dúvida insolúvel sobre qual entre as interpretações possíveis

é a mais razoável, o juiz deve empregar o in dubio pro reo, acatando a exegese mais

favorável. Frise-se, porém, que apenas na hipótese de dúvida invencível pelos métodos

'hermenêuticos aplica-se, como último recurso exegético, o princípio in dubio pro reo

ou in dubio pro mitiore.

9. PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PENAL

9.1. PRINCÍPIOS RELACIONADOS COM A MISSÃO

FUNDAMENTAL DO DIREITO PENAL

a) PRINCÍPIO DA EXCLUSIVA PROTEÇÃO DE BENS JURÍDICOS

O Direito Penal só está legitimado para proteger bens jurídicos

RELEVANTES do homem (ROXIN). Os outros bens jurídicos devem

ficar sob a guarda dos outros ramos do direito.

Bem jurídico é um ente material ou imaterial, haurido do contexto social,

de titularidade individual ou metaindividual, reputado como essencial

para a coexistência e o desenvolvimento do homem em sociedade.

O que é espiritualização do direito penal?

Percebe-se uma expansão da tutela penal para abranger bens jurídicos de

caráter coletivo, ensejando a denominada “espiritualização /

desmaterialização / dinamização / liquefação” do bem jurídico.

Ex: direito penal tutelando o meio ambiente, a ordem econômica, o

sistema financeiro, etc.

b) PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA

Primeiro, entenda graficamente:

O Direito Penal só deve intervir quando estritamente necessário,

mantendo-se SUBSIDIÁRIO e FRAGMENTADO. (repare que estes dois

são características deste princípio).

SUBSIDIARIEDADE: O Direito Penal só intervém em abstrato

(criação de tipos penais) diante do fracasso dos demais ramos do Direito.

Deve ser a “ultima ratio”, a “derradeira trincheira de combate”.

FRAGMENTARIEDADE: O Direito Penal só intervém no caso

concreto (punição) quando houver relevante lesão ou perigo de lesão ao

bem jurídico tutelado.

O Princípio da Insignificância é desdobramento lógico de qual

característica do Princípio da Intervenção Mínima?

Fragmentariedade.

INSIGNIFICANTE: O princípio da insignificância é limitador do

direito penal, sendo CAUSA DE ATIPICIDADE MATERIAL. O

STF tem analisado o que é insignificante dentro da ótica da realidade

econômica do país; e não da realidade econômica do agente ou da

vítima apenas. Mas não é possível a insignificância sem atentar para

as condições pessoais do agente (reincidente, habitual, etc.).

STJ não aplica princípio da insignificância a ladrão de bicicleta e de uísquePara que se configure o chamado crime de bagatela ou princípio da insignificância, não se leva em conta apenas o valor do bem material subtraído, mas também a condição econômica da vítima e as circunstâncias e conseqüências do delito cometido. Com esse entendimento, a Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) indeferiu o pedido de habeas-corpus de J.E.C., preso por furtar uma bicicleta e uma garrafa de uísque em Mato Grosso do Sul. Ao analisar o pedido, o ministro relator Jorge Mussi ressaltou que, apesar de os bens furtados totalizarem R$ 91,80, uma das vítimas, o marceneiro Valdemir Teles Cunha, utilizava a bicicleta (avaliada em R$ 70,00) como meio de transporte para se deslocar até o trabalho. A bicicleta para ele é um bem relevante e de repercussão no seu patrimônio. J.E.C. foi condenado pela 2ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS) à pena de um ano e seis meses de reclusão em regime inicial aberto e ao pagamento de 20 dias-multa. A Defensoria Pública entrou com pedido de habeas-corpus em favor do acusado no TJMS. O pedido foi negado e a sentença foi mantida. Novo recurso foi interposto no TJMS, visando à absolvição do acusado sob a alegação de que deveria ser aplicado o princípio da insignificância ou bagatela para o caso do furto da bicicleta e da garrafa de uísque. A defesa alega que o fato tido como delituoso não teve relevância na esfera penal. Segundo o ministro relator Jorge Mussi, a Quinta Turma afastou a pretendida absolvição do acusado com a aplicação do princípio da insignificância ou de bagatela, pois o valor da bicicleta é significativo ao patrimônio da vítima, pessoa humilde e de pouca posse. Afirma que, para a configuração do chamado crime de bagatela, não se leva em conta apenas o valor econômico e a importância do objeto material subtraído, mas também a condição econômica da vítima e as circunstâncias e conseqüências do delito cometido. Quanto à segunda vítima, apesar de a defesa alegar que é proprietária de “um dos maiores supermercados da região”, inexiste prova nos autos ou qualquer documento que prove a afirmação. Na decisão, o ministro relator ressalta que o acusado voltou a delinqüir logo após o primeiro furto e, embora a garrafa de uísque tenha comprovadamente pequeno valor, pela sua natureza de bebida alcoólica, não se justifica a aplicação do referido princípio. HC 95226

A aplicação do princípio da insignificância no roubo é possível?Eliezer Siqueira de Sousa Júnior. Defensor público do Estado do Espírito SantoResumindo: o crime de roubo, como leciona o Excelso Pretório, é delito complexo, que protege não só o patrimônio, mas também a integridade pessoal. O crime de roubo Tutela o patrimônio e a liberdade pessoal, e não o patrimônio ou a liberdade pessoal. Desta forma, desconsiderado o patrimônio, por sua insignificância material, resta averiguar a lesão ao outro bem tutelado. Restando algum delito (v.g., constrangimento ilegal, ameaça, lesão corporal), pune-se o agente pelo remanescente. Não sendo a conduta residual asseverável, reconhece-se a atipicidade da conduta.

Assim, o princípio da insignificância de acordo com os tribunais

Superiores (STF / STJ), vem tendo os seguintes requisitos:

para decorar: “PROL”

1- Ausência de Periculosidade social da ação

2- Reduzido grau de Reprovabilidade do comportamento.

3- Mínima Ofensividade da conduta do agente

4- Inexpressividade da Lesão jurídica causada.

CURIOSIDADE: Paulo Queiroz diz que os 04 requisitos se

confundem, com os Tribunais andando em círculos, já que um indica

o outro.

Além disso, os tribunais superiores trazem importantes observações,

complementando estes requisitos:

1 - STF e STJ: para aplicação do princípio da insignificância,

consideram a capacidade econômica da vítima (STJ-Resp.

1.224.795). Analise todos aqueles requisitos sob o ângulo da

capacidade da vítima.

2- Há julgados no STF e STJ (prevalece) negando o princípio da

insignificância para o reincidente, portador de maus antecedentes, ou

o criminoso habitual (STF-HC 107.674; STJResp. 1.277.340).

CURIOSIDA: Para Rogério, essa exigência é direito penal do autor,

esquecendo-se que o direito penal pune o fato. Se o fato é

insignificante para um, é insignificante para o reincidente. Do

contrário se pune a reincidência e não o fato, o que trata o fato típico

seria a reincidência e não o fato.

3- Prevalece no STF e no STJ não ser possível o princípio da

insignificância no furto qualificado (falta o requisito do reduzido grau

de reprovabilidade do comportamento).

4- STF e STJ não admitem o princípio da insignificância nos crimes

contra a fé pública, mais precisamente moeda falsa (STF-HC

105.829). Isso pois a fé pública nunca e atingida de forma

insignificante.

5- STF admite o princípio da insignificância nos crimes contra a

Administração Pública praticados por funcionário público. STJ

não admite.

No entanto, STF e STJ admitem o princípio da insignificância nos

crimes contra a Administração Pública praticados por particulares.

CUIDADO: Recentemente o STF não admitiu princípio da

insignificância no crime de contrabando ou descaminho (art. 334).

6- Prevalece que STF e STJ não admitem o princípio da

insignificância no porte de drogas para uso próprio.

7- STF e STJ não admitem o princípio da insignificância em

nenhuma forma de tráfico (seja de armas, de mulher, etc.).

8- STF e STJ têm decisões admitindo o princípio da insignificância

nos crimes ambientais (há importante divergência sobre o assunto).

9 – Os tribunais têm admitido o princípio da insignificância nos

crimes militares, mas desde que, somados ao PROL o fato não

coloque em risco:

a hierarquia

a disciplina militar.

CUIDADO: IMPORTANTE DIFERENCIAR

PRINCÍPIO DA BAGATELA

PRINCÍPIO DA BAGATELA

PRÓPRIA

PRINCÍPIO DA BAGATELA

IMPRÓPRIA

Os fatos já nascem irrelevantes para o

direito penal.

Embora relevante a infração penal

praticada, a pena diante do caso

concreto é desnecessária.

Causa de atipicidade material:

- Tipicidade material (exclui o desvalor

do resultado jurídico – irrelevância da

lesão)

Falta de interesse de punir – exclui a

punibilidade (consequência jurídica do

crime)

ATENÇÃO! O fato é típico, ilícito e

culpável (só não é punível)

Ex: subtração da caneta BIC Ex; Perdão judicial no homicídio

culposo.

CUIDADO: Também não podemos confundir o Princípio da Insignificância

com o Princípio da Adequação Social.

O PRINCÍPÍO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL, consiste em uma conduta, apesar

de ajustar a um tipo penal, não será considerada típica se for socialmente

adequada ou reconhecida.

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIAPRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO

SOCIAL

Ambas limitam o direito penal.

Irrelevância da lesão ao bem jurídico

tutelado.

Aceitação da conduta pela sociedade.

9.2. PRINCÍPIOS RELACIONADOS COM O FATO DO AGENTE

a) PRINCÍPIO DA EXTERIORIZAÇÃO OU MATERIALIZAÇÃO DO

FATO.

O Estado só pode incriminar condutas humanas voluntárias, isto é, fatos.

O Direito Penal não pode punir um estilo de vida ou um pensamento, por

exemplo, tem que este exteriorizarem-se num fato para haver a punição.

Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

O que dizer da contravenção penal do art. 59 da Lei de

Contravenções Penais?

Art. 59. Entregar-se alguém habitualmente à ociosidade, sendo válido para o trabalho, sem ter renda que lhe assegure meios bastantes de subsistência, ou prover à própria subsistência mediante ocupação ilícita:

Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses.

É verdadeiro direito penal do autor. Muitos dizem que não foi

recepcionado pela CF.

ATENÇÃO! Veda-se o Direito Penal do autor: Consistente na

punição do indivíduo baseada em seus pensamentos, desejos e estilo

de vida. O Direito Penal brasileiro é um DIREITO PENAL DO

FATO.

“Art. 2º CP - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. ”

O nosso ordenamento penal, de forma legítima, adotou o Direito

Penal do fato, mas que considera circunstâncias relacionadas ao

autor, especificamente quando da análise da pena.

Exemplo: art. 59 do CP, a reincidência

Fixação da pena

Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade;(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

b) PRINCÍPIO DA OFENSIVIDADE OU LESIVIDADE

Para que ocorra o delito é imprescindível que haja lesão ou perigo de

lesão ao bem jurídico tutelado.

Se adotarmos este princípio, não podemos admitir os crimes de perigo

abstrato.

É sabido que temos a seguinte classificação:

CRIME DE DANO: ocorre efetiva lesão ao bem jurídico.

CRIMES DE PERIGO: basta risco de lesão ao bem jurídico.

ABSTRATO: O perigo carece de prova, pois absolutamente

produzido por lei. Basta provar a conduta, independentemente

do efetivo risco.

CONCRETO: O perigo deve ser demonstrado.

o DETERMINADO: Exige vítima certa.

o INDETERMINADO: Não exige vítima certa

Assim, por este princípio, todo perigo deve ser demonstrado.

O crime de perigo, da mesma forma, também violaria o princípio da

ampla defesa.

Assim, temos doutrina entendendo que o crime de perigo abstrato é

inconstitucional. Presumir prévia e abstratamente o perigo significa, em

última análise, que o perigo não existe. – É A TESE PARA A

DEFENSORIA

Essa tese, no entanto, hoje não prevalece no STF. No HC 104.410, o

Supremo decidiu que a criação de crimes de perigo abstrato não

representa, por si só, comportamento inconstitucional, mas proteção

eficiente do Estado.

Ex.: Embriaguez ao volante – STF decidiu que o ébrio

não precisa dirigir de forma anormal para configurar o crime –

bastando estar embriagado (crime de perigo abstrato).

Ex.: Arma desmuniciada – STF – jurisprudência atual –

crime de perigo abstrato – demanda efetiva proteção do Estado.

c) PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

Art. 1º, do CP - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)(RESERVA LEGAL)

Esse artigo espelha uma garantia constitucional presente no art. 5º da CF

e no art. 9º da Convenção Americana dos Direitos Humanos.

II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;ConvençãoARTIGO 9

Principio da Legalidade e da Retroatividade Ninguém pode ser condenado por ações ou omissões que, no momento em forem cometidas, não sejam delituosas, de acordo com o direito aplicável. Tampouco se pode impor pena mais grave que a aplicável no momento da perpetração do delito. Se depois da perpetração do delito a lei dispuser a imposição de pena mais leve, o delinqüente será por isso beneficiado.

Logo, a finalidade principal deste dispositivo é limitar o Poder Estatal de

interferência na esfera de liberdade individual.

Portanto, o seu CONCEITO é REL LIMITAÇÃO AO PODER

ESTATAL DE INTERFERIR NA ESFERA DAS LIBERDADES

INDIVIDUAIS.

Quais documentos internacionais tratam do princípio da legalidade?

a) Convênio para a Proteção dos Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais

(Roma – 1950).

b) Convenção Americana de Direitos Humanos (1969).

c) Estatuto de Roma (1998).

Qual a origem deste Princípio?

Alguns doutrinadores dizem que a origem vem do direito romano, outros dizem

que veio da Carta de João sem Terra. No Direito Penal, fala-se que a sua gênese

é no Iluminismo, sendo recepcionado pela Revolução Francesa.

Quais os outros fundamentos, além dos fundamentos legais já tratados, do

princípio da legalidade?

FUNDAMENTO POLÍTICO: Vincula o Poder Executivo e o

Poder Judiciário a leis formuladas de forma abstrata. Impede o poder

punitivo arbitrário.

FUNDAMENTO DEMOCRÁTICO: Respeito ao princípio da

divisão de Poderes. Compete ao Parlamento a função de elaborar leis.

FUNDAMENTO JURÍDICO: Lei prévia e clara possui

importante efeito intimidativo. É uma das finalidades da pena, a

Prevenção Geral.

O princípio da legalidade é a viga mestra do GARANTISMO, ou seja, é

a maior proteção do cidadão contra a ingerência arbitrária do Estado.

Por isso, temos que ampliá-lo, aumentar a garantia do indivíduo,

adquirindo novos significados.

Assim,:

NÃO HÁ CRIME SEM LEI :

Art. 1º, do CP - Não há crime (?) sem lei anterior que o defina. Não há pena (?) sem prévia cominação legal.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Este art. 1º do CP só se aplica a crimes e penas, ou também se aplica para

as contravenções penais e Medidas de Segurança? Apesar da lei das

contravenções penais ser omissa, aplica-se a Parte Geral do CP

subsidiariamente.

A doutrina diverge quanto as Medidas de Segurança:

1ª Corrente: Considerando-se a finalidade de curar das Medidas de Segurança,

ela não está adstrita ao princípio da legalidade, uma vez que não é pena, mas

sim, remédio (Francisco de Assis Toledo. Assim, pode surgir Medida de

Segurança por algo diverso de lei. Ex: Portaria.

2ª Corrente (PREVALECE): A Medida de Segurança é uma espécie de sanção

penal. Logo, também limitada pelo princípio da legalidade.

Nesse sentido, o art. 3º do CPM, com observações:

Art. 3º Código Penal Militar: “As medidas de segurança regem-se pela lei (RESERVA LEGAL) vigente ao tempo da sentença, prevalecendo, entretanto, se diversa, a lei vigente ao tempo da execução (IGNORA A ANTERIORIDADE QUE PERTENCE À LEGALIDADE).”

Veja que nessa parte final o art. 3º não foi recepcionado pela CF, pois não

observa a anterioridade, pertencente ao princípio da legalidade.

CONCLUSÃO

Não há infração penal (crime + contravenção) ou sanção penal (pena medida de

segurança) sem lei anterior.

O artigo 1º traz o princípio da reserva legal?

1ª Corrente: Princípio da Legalidade = Princípio da reserva legal.

2ª Corrente (PREVALECE): Princípio da Legalidade ≠ Pincípio da reserva

legal.

Assim, o que o ART. 1º traz é o princípio da reserva legal.

3ª Corrente: O princípio da legalidade nada mais é que uma reserva legal

acrescida da anterioridade.

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE =

RESERVA LEGAL + ANTERIORIDADE

Adotando o posicionamento de que dentro do princípio da legalidade temos o da

reserva legal, sabemos que MEDIDA PROVISÓRIA, RESOLUÇÃO DO

CNJ, ETC. NÃO PODEM CRIAR CRIME, pois não são leis em sentido

estrito, configurando apenas atos com força normativa.

CUIDADO: As menções a condutas criminosas indicadas nas Resoluções

do TSE são mera consolidações de tipos penais previamente tipificados por lei.

Medida Provisória pode versar sobre direito penal não incriminador?

Toma a expressão lei no sentido

amplo, ou seja, as espécies do art. 59

da CF.

Toma a expressão lei no sentido

restrito, ou seja, somente lei

ordinária ou complementar.

1ª Corrente: Com base no art. 62, §1º, I, b) da CF, defende que não pode versar

nem sobre direito penal incriminador. (vigora entre os constitucionalistas)

Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)I - relativa a: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)b) direito penal, processual penal e processual civil; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)

2ª Corrente (PREVALECE - STF): Admite a possibilidade de Medida Provisória

versar sobre medida não incriminadora, afirmando que a EC 32/2001 apenas

reforçou a proibição sobre Direito Penal incriminador. EX: o prazo de “não

crime”, no estatuto do desarmamento, foi sendo alterado várias vezes por MP,

com o STF admitindo). Assim, por exemplo, Medida Provisória pode extinguir

punibilidade.

ANTERIOR AOS FATOS QUE BUSCA INCRIMINAR .

Isso significa que no Direito Penal a lei é irretroativa, salvo quando

beneficiar o réu. PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE.

Perceba que a retroatividade benéfica é garantia constitucional o cidadão.

PEGADINHA: O princípio da legalidade impede a retroatividade

da lei penal. FALSO. Pois a benéfica é garantia constitucional.

ESCRITA :

Significa a proibição de costume incriminador.

OBS: É possível costume interpretativo (“secundum legem”). Ex: indica

o que é repouso noturno (momento em que aquela comunidade se recolhe

costumeiramente).

Costume pode revogar infração penal?

Discute-se na contravenção do jogo do bicho.

1ª Corrente: Admite- se o costume abolicionista ou revogador da lei nos casos

em que a infração penal não mais contraria o interesse social deixando de

repercutir negativamente na sociedade.

- Conclusão: Para esta corrente, jogo do bicho não mais deve ser punido, pois a

contravenção foi formal e materialmente revogada pelo costume.

2ª Corrente: Não é possível o costume abolicionista. Entretanto, quando o fato já

não é mais indesejado pelo meio social, a lei não deve ser aplicada pelo

magistrado.

- Conclusão: Jogo do bicho, apesar de ser formalmente contravenção, não serve

para punir o autor da conduta, pois materialmente abolida. – SERVE PARA

DEFENSORIA

3ª Corrente (Prevalece): Somente a lei pode revogar outra lei. Não existe

costume abolicionista.

- Conclusão: jogo do bicho permanece infração penal, servindo a lei para punir

os contraventores enquanto não revogada por outra lei.

ATENÇÃO! STF/STJ adotaram a 3ªC e decidiram que o crime de violação

de direitos autorais (art. 184 ,§ 2º, C.P.) permanece vigente. A mesma coisa para

casa de prostituição (por 3 votos a 2, o STJ decidiu que costume não revoga

infração penal).

Art. 184. Violar direitos de autor e os que lhe são conexos: (Redação dada pela Lei nº 10.695, de 1º.7.2003)Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa. (Redação dada pela Lei nº 10.695, de 1º.7.2003)

§ 1o Se a violação consistir em reprodução total ou parcial, com intuito de lucro direto ou indireto, por qualquer meio ou processo, de obra intelectual, interpretação, execução ou fonograma, sem autorização expressa do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor, conforme o caso, ou de quem os represente: (Redação dada pela Lei nº 10.695, de 1º.7.2003)Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 10.695, de 1º.7.2003)§ 2o Na mesma pena do § 1o   incorre quem, com o intuito de lucro direto ou indireto , distribui, vende, expõe à venda, aluga, introduz no País, adquire, oculta, tem em depósito , original ou cópia de obra intelectual ou fonograma reproduzido com violação do direito de autor, do direito de artista intérprete ou executante ou do direito do produtor de fonograma, ou, ainda, aluga original ou cópia de obra intelectual ou fonograma, sem a expressa autorização dos titulares dos direitos ou de quem os represente. (Redação dada pela Lei nº 10.695, de 1º.7.2003)§ 3o Se a violação consistir no oferecimento ao público, mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou qualquer outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção da obra ou produção para recebê-la em um tempo e lugar previamente determinados por quem formula a demanda, com intuito de lucro, direto ou indireto, sem autorização expressa, conforme o caso, do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor de fonograma, ou de quem os represente: (Redação dada pela Lei nº 10.695, de 1º.7.2003)Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 10.695, de 1º.7.2003)§ 4o O disposto nos §§ 1o, 2o e 3o não se aplica quando se tratar de exceção ou limitação ao direito de autor ou os que lhe são conexos, em conformidade com o previsto na Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, nem a cópia de obra intelectual ou fonograma, em um só exemplar, para uso privado do copista, sem intuito de lucro direto ou indireto. (Incluído pela Lei nº 10.695, de 1º.7.2003)

ESTRITA :

Significa a proibição de analogia incriminadora, salvo quando beneficiar

o réu. Perceba que a analogia não incriminadora (“in bonam partem”) é

possível.

PEGADINHA: O princípio da legalidade impede a analogia no

Direito Penal. FALSO. Pois a benéfica é bem vinda, desde que exista

uma lacuna e ela seja involuntária.

Ex.: Art. 155 § 3º CP, abrange sinal de TV à cabo?

“§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.”

A 2ª Turma do STF, no julgamento do HC 97.261 declarou a atipicidade

da conduta do agente que subtrai sinal de TV à cabo asseverando ser

impossível a analogia incriminadora com o crime de furto de energia

elétrica.

ATENÇÃO: O STF também decidiu que o crime de associação para o

tráfico (art. 35 da lei 11.343/06) não é crime equiparado à hediondo, pois

seria analogia “in malam partem”.

Art. 35.  Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa.Parágrafo único.  Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre quem se associa para a prática reiterada do crime definido no art. 36 desta Lei.

A lei de crimes hediondos – lei 8072/90 - só fala em tráfico de drogas:

Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de:I - anistia, graça e indulto;II - fiança. (Redação dada pela Lei nº 11.464, de 2007)§ 1o  A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime fechado. (Redação dada pela Lei nº 11.464, de 2007)§ 2o  A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente. (Redação dada pela Lei nº 11.464, de 2007)§ 3o  Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade. (Redação dada pela Lei nº 11.464, de 2007)§ 4o  A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei no 7.960, de 21 de dezembro de 1989, nos crimes previstos neste artigo, terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade. (Incluído pela Lei nº 11.464, de 2007)Art. 3º A União manterá estabelecimentos penais, de segurança máxima, destinados ao cumprimento de penas impostas a condenados de alta periculosidade, cuja permanência em presídios estaduais ponha em risco a ordem ou incolumidade pública.

CERTA :

Significa que deve ser de fácil compreensão, de fácil entendimento. A

partir do momento que a lei é dúbia, o Estado tem mais poder. Daqui,

temos o princípio da taxatividade, o mandato de certeza.

- Doutrina entende que o art. 288-A C.P. viola o princípio da

taxatividade.

“Art. 288-A. Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos neste Código: (Incluído dada pela Leinº 12.720, de 2012)”

Repare que não temos bem definido o que é organização paramilitar

(abrange torcida organizada?), milícia particular. Pior ainda, o que é

grupo ou esquadrão.

Mais, quantas pessoas devem integrar esses grupos? O legislador não foi

claro.

Outra lei muito criticada é o estatuto do torcedor. Por exemplo: o que é

provocar tumulto?

NECESSÁRIA :

Significa que o Estado tem que respeitar ao Princípio da Intervenção

Mínima. O direito penal tem de ser a “ultima ratio”.

Perceba que o Direito Penal Simbólico (sem eficácia social) e o Direito

Penal Promocional (para gerar transformações sociais) violam o

princípio da legalidade neste subprincípio da necessidade.

Não há crime s/ lei Anterior

EscritaEstrita

CertaNecessária

"Viga Mestra" do GarantismoPoder Punitivo Proteção Cidadão

c.1) DISTINÇÃO ENTRE LEGALIDADE FORMAL X LEGALIDADE

MATERIAL

LEGALIDADE FORMAL LEGALIDADE MATERIAL

Obediência ao devido processo Conteúdo do tipo deve respeitar

legislativo direitos e garantias do cidadão.

Lei VIGENTE Lei VÁLIDA

Um exemplo dessa distinção foi o art. 2º, §1º, da lei 8072/90 que previa o

regime integralmente fechado.

O STF entendeu que esse dispositivo é vigente mas não é válido.

c.2) PRINCÍPIO DA RESERVA PENAL X TIPO ABERTO X NORMA

PENAL EM BRANCO

Em regra, a lei penal é completa. Veja:

LEI PENAL COMPLETA: é aquela que dispensa complemento

valorativo ou normativo Ex: art. 121 (matar alguém)

LEI PENAL INCOMPLETA: é a norma que depende de:

o complemento valorativo (dado pelo juiz no caso concreto

– TIPO ABERTO)

o ou complemento normativo (dado por outra norma –

NORMA PENAL EM BRANCO).

Assim, o TIPO ABERTO é espécie de lei penal incompleta, dependente

de elemento valorativo, que é dado pelo juiz na análise do caso concreto.

Exemplo: crimes culposos são descritos em tipo abertos. Veja que o

legislador não enuncia as formas de negligência, ficando a critério do

juiz no caso concreto.

Homicídio culposo § 3º Se o homicídio é culposo: Pena - detenção, de um a três anos.

ATENÇÃO: Para não ofender o princípio da legalidade, a redação

típica no tipo aberto deve trazer o mínimo de determinação.

EXCEÇÕES: Tem casos que o legislador retira do juiz essa

análise do caso concreto, já descrevendo qual comportamento é

caracterizador da culpa. Um exemplo é a receptação culposa.

Receptação

Art. 180 § 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso: Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas.

Já a NORMA PENAL EM BRANCO é espécie de lei penal incompleta

que depende de complemento normativo, dado por outra norma. Tenho a

lei penal complementada por outra norma.

Existe norma que contém a pena determinada, porém seu preceito

primário (conteúdo) permanece indeterminado, dependendo para a sua

exequibilidade de complementação de outra norma ou ato administrativo.

Enquanto ela não for complementada (determinada), não terá eficácia,

respeitando-se o princípio da taxatividade.

ESPÉCIES DE NORMA PENAL EM BRANCO

NORMA PENAL EM BRANCO HOMOGÊNEA (EM

SENTIDO AMPLO)

o HOMÓLOGA (HOMOVITELINA): Se as duas

leis pertencem ao mesmo código (estatuto).

Art. 312, do CP - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:

Art. 327, do CP - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública.   (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

LEI COMPLEMENTADA

MESMA ESPÉCIE NORMATIVAPENAL (HOMOVITELINA)EXTRAPENAL (HETEROVITELINA)

o HETERÓLOGA (HETEROVITELINA): Se a lei

que complementa estiver em um estatuto diverso

da lei complementada.

Art. 237, do CP - Contrair casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta:Pena - detenção, de três meses a um ano.

Art. 1.521, do CC. Não podem casar:I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil;II - os afins em linha reta;III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante;IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive;V - o adotado com o filho do adotante;VI - as pessoas casadas;VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte.

NORMA PENAL EM BRANCO HETEROGÊNEA (EM

SENTIDO ESTRITO): O complemento normativo não

emana do legislador, mas sim de fonte normativa diversa.

Exemplo:

Art. 33 da lei 11.343/06.  Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer DROGAS, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.

LEI COMPLEMENTADA ESPÉCIE NORMATIVA DIFERENTE

O conceito de drogas é fornecido por uma portaria do

Ministério da Saúde

Art. 1o  Esta Lei institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas e define crimes.

Parágrafo único.  Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União (PORTARIA 344/98).

A norma penal em branco heterogênea é constitucional?

1ª Corrente) Greco e Paulo Queiroz. É inconstitucional, pois, em última análise,

quem vai estar legislando é o executivo e não o legislativo. A norma penal em

branco heterogênea impossibilita a discussão amadurecida da sociedade a

respeito do complemento. Fere o art. 22, I, da CF.

2ª Corrente) (PREVALECE – Luiz Regis Prado, Nucci, STF) É constitucional,

pois quem autoriza o executivo a complementar é o próprio legislativo. Se ele

pode mais que é criar, ele pode o menos que é autorizar alguém complementar.

Ademais, o legislador criou o tipo com todos os seus requisitos básico. A

remissão ao Executivo é absolutamente excepcional e necessária por razões de

técnica. O Executivo só esclarece um requisito do tipo.

NORMA PENAL AO REVÉS (INVERTIDA OU

INCOMPLETA): É aquela cujo conteúdo é determinado.

A pena é que é indeterminada, precisa de um

complemento.

Exemplo:

Art. 1º da lei 2889/56 Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como tal:a) matar membros do grupo;b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo;c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total ou parcial;d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo;e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo;Será punido:Com as penas do art. 121, § 2º, do Código Penal, no caso da letra a;Com as penas do art. 129, § 2º, no caso da letra b;Com as penas do art. 270, no caso da letra c;Com as penas do art. 125, no caso da letra d;Com as penas do art. 148, no caso da letra e;

NESSA ESPÉCIE, É PACÍFICO, O

COMPLEMENTO SÓ PODE SER A LEI.

Veja que o artigo art. 304 ("Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados

ou alterados, a que se referem os artigos 297 a 302: Pena - a cominada à

falsificação ou à adulteração") é norma penal em branco HOMOGÊNEA,

pois deriva da mesma espécie normativa, HOMOVITÉLINA, pois deriva

do mesmo CP, e AO REVÉS, pois a pena é indeterminada.

9.3. PRINCÍPIOS RELACIONADOS COM O AGENTE DO FATO

a) PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PESSOAL: Este princípio

proíbe o castigo pelo fato de outrem. Também proíbe a responsabilidade

penal coletiva.

Cada concorrente será responsabilizado individualmente. A maior prova

disso é o art. 29 do CP.

Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Esse princípio traz certos desdobramentos:

a) OBRIGATORIEDADE DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA

ACUSAÇÃO

É proibida a denúncia genérica, vaga ou evasiva (Promotor deve

individualizar os comportamentos).

É muito comum denúncias do MP ineptas pela violação a este

princípio. EX: denuncia todos os sócios da empresa, sem

individualizar a conduta de cada um.

Atenção: Nos Crimes Societários, os Tribunais flexibilizam

essa obrigatoriedade.

b) OBRIGATORIEDADE DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA

b) PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE SUBJETIVA: Significa que

não basta ter sido materialmente causado pelo agente, é indispensável

que este fato tenha sido querido, aceito ou, no mínimo, previsível.

Somente fatos desejáveis ou previsíveis são responsabilizados, não há

crime sem dolo ou culpa.

Existe no direito penal responsabilidade sem dolo e sem culpa? Existem

dois dispositivos no CP que transitam na responsabilidade objetiva, devendo o

julgador interpretá-los constitucionalmente.

Embriaguez não acidental completa. Mesmo que no momento da ação ou

omissão você não saiba o que está fazendo na hora da prática do delito,

será responsabilizado.

Para afastar os que falam que é responsabilidade objetiva: A teoria da

“actio libera in causa” exige não somente uma análise pretérita da

imputabilidade, mas também da consciência e vontade do agente.

Rixa qualificada.

Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores:Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos.

Repare que a rixa será qualificada inclusive para a vítima da lesão corporal.

Para afastar os que falam que é responsabilidade objetiva: Só responde pelo

resultado agravador quem atuou frente à ele com dolo ou culpa.

c) PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE: Não há responsabilidade penal se o

agente não for imputável (penalmente capaz), não possuir potencial

consciência da ilicitude ou não sendo dele exigível conduta diversa.

Repare que são os elementos da culpabilidade.

d) PRINCÍPIO DA IGUALDADE: Tem fundamento no art. 5º, caput, da

CF.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

CUIDADO: A igualdade não é formal, mas sim substancial, ou seja, tratar

os desiguais de maneira igual e os desiguais de maneira desigual, na medida de

suas desigualdades.

EX: Art. 117, da lei 7210/84

        Art. 117. Somente se admitirá o recolhimento do beneficiário de regime aberto em residência particular quando se tratar de:        I - condenado maior de 70 (setenta) anos;        II - condenado acometido de doença grave;        III - condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental;        IV - condenada gestante.

Pergunta-se se o inciso III não falha em colocar a possibilidade só para a

“condenada”. Assim, pelo princípio da igualdade, este inciso III, tem

sido estendido ao condenado, desde que ele comprove que o menor

depende dele.

O STF, julgando a ADC nº 19 afastou as alegações de

que o tratamento especialmente protetivo conferido à mulher

pela lei nº 11.340/06 violaria a isonomia. Nesse julgamento foi

observado que o princípio constitucional é o da isonomia

substancial.

e) PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA. Também previsto no

art. 5º da CF.

LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;

Textualmente, o inciso não fala que deve se presumir inocente, mas sim

não culpável.

Se você adotar a presunção de inocência seria um absurdo se aceitar a

prisão provisória. Mas se você adota a presunção de não culpabilidade, a

prisão provisória se torna mais aceitável, porque não quer dizer que o

cara não é inocente, apenas que eu não posso culpá-lo agora.

Tem doutrina que ainda insiste no princípio da presunção de inocência,

com base no art. 8º, item 2, da Convenção Americana dos Direitos

Humanos. É um forte argumento já que a convenção, pela tendência de

posicionamento do STF, tem caráter constitucional.

2.  Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:

Adota o princípio da presunção de inocência ou de não culpa?

Concurso da Defensoria Pública: não trabalha com o princípio da presunção de

não culpa (só com o princípio da presunção de inocência).

Demais concursos: trabalham com os princípios como sinônimos (presunção de

inocência ou não culpa).

e.1) CONSEQÜÊNCIAS DESTE PRINCÍPIO:

I. Prisão, somente depois de transitada em julgado a sentença penal

condenatória.

Não impede, em casos excepcionais e imprescindíveis, a prisão cautelar.

Súmula: 9 STJA EXIGENCIA DA PRISÃO PROVISORIA, PARA APELAR, NÃO OFENDE A GARANTIA CONSTITUCIONAL DA PRESUNÇÃO DE INOCENCIA.

Atenção! A prisão provisória é cabível quando imprescindível.

PRISÃO PROVISÓRIA = IMPRESCINDIBILIDADE

“Art. 312 CPP: A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência (quando imprescindível para) da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).”

Veja que o artigo erra em falar conveniência. Devemos ler quando imprescindível, pois conveniência é incompatível com a presunção de inocência.

II. A responsabilidade do agente deve ser comprovada pelo órgão

acusador. Ou seja, quem acusa é que tem que comprovar a

responsabilidade do acusado, não o acusado comprovar a sua

inocência, que já está presumida.

III. O princípio do “in dúbio pro réu”. A condenação deve derivar da

certeza do julgador. Lembremos que este é um princípio que

nasceu para questões de provas, sendo democratizado para

diversas outras áreas do direito penal.

Ex: Ex: Súmula vinculante 11 surgiu com base no princípio da

presunção de inocência - “Só é lícito o uso de algemas em caso de

resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade

física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros,

justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de

responsabilidade disciplinar civil e penal do agente ou da

autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se

refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.”

9.4. PRINCÍPIOS RELACIONADOS COM A PENA

Vamos ver de per si, sendo aprofundado no material referente às penas.

a) PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DA PENA INDIGNA: A ninguém pode

ser imposta pena ofensiva a dignidade da pessoa humana.

Art. 5º da Convenção Americana dos Direitos Humanos.1. Toda pessoa tem direito de que se respeite sua integridade física,

psíquica e moral.

b) PRINCÍPIO DA HUMANIZAÇÃO (INDIVIDUALIZAÇÃO) DAS

PENAS: Ninguém pode ser submetido à pena cruel, desumana e

degradante.

Art. 5º da Convenção Americana dos Direitos Humanos.2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis,

desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada da liberdade deve ser tratada com o respeito devido à dignidade inerente ao ser humano.

c) PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE: A pena deve ser

proporcional a gravidade da infração, sem desconsiderar as qualidades do

agente. Repare que é um princípio que tem de ser observado pelo:

Legislador quando cria o crime;

Magistrado quando comina a pena;

Magistrado quando executa a pena.

d) PRINCÍPIO DA PESSOALIDADE:

Art. 5º, XLV, da CF - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;

Nenhuma pessoa pode ser punida por fato praticado por outro. É um

desdobramento lógico do princípio da responsabilidade pessoal.

CUIDADO: A pena de confisco, para muitos seria uma exceção a este

princípio. Mas, na verdade, o confisco não é pena, mas sim conseqüência

(efeito) da condenação, sendo, este princípio, absoluto.

Art. 5º da Convenção Americana dos Direitos Humanos.A pena não pode passar da pessoa do delinqüente.

Vejam que a convenção não prevê qualquer exceção a este princípio.

e) PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO AO “BIS IN IDEM”: Ninguém pode ser

punido, mais de uma vez, pela prática do mesmo ato.

Exemplo:

Art. 61 do CP- São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime:(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)II - ter o agente cometido o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida; (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)

Eu não posso aplicar a agravante da criança ou da mulher grávida no

crime de aborto, pois é elementar do crime.

A reincidência fere o princípio da vedação ao “bis in idem”?

Depende do Concurso. Para defensoria, fere. Para outros, não fere.

LFG, Paulo Rangel, etc.: entendem que configura.

Maioria entende que é uma circunstância necessária para se individualizar a

pena.

Assinale a alternativa incorreta: Escolher uma resposta.

a. O princípio da intervenção mínima em Direito Penal tem dois importantes corolários: a fragmentariedade e a subsidiariedade. O primeiro preconiza que somente os bens jurídicos mais relevantes merecem tutela penal, bem como apenas os ataques mais intoleráveis a estes merecem disciplina penal, enquanto o segundo prescreve que a intervenção penal só tem legitimidade quando outros ramos do Direito não oferecem solução satisfatória aos conflitos. b. O princípio da legalidade tem como um de seus corolários a reserva legal (artigo 1 do Código Penal), de modo que as condutas criminosas somente podem ser definidas através de norma legal federal. c. A corrente neo-retribucionista em Direito Penal tem influenciado a política criminal, segundo a qual a efetiva aplicação e execução das penas garantem a função preventiva geral positiva, bem como tem inspirado o movimento chamado de law in order. d. Os princípios de Direito Penal garantem que a interpretação dos casos penais, em quaisquer circunstâncias, deva ser realizada sob a égide de um sistema penal legalista, ou seja, vinculado ao formalismo legal, a um juízo de subsunção do fato à letra da lei. e. O princípio jurídico-penal da tipicidade garante a proibição da aplicação da analogia in mallam partem em Direito Penal.

Um profissional faz numa pessoa furo na orelha, ou coloca um piercing em parte de seu corpo, ou, ainda, faz-lhe uma tatuagem. Tais práticas, em tese, caracterizam lesão corporal, mas  não  são  puníveis.  Assinale  a  alternativa  correta  pela  qual  assim  são consideradas. Escolher uma resposta.

a. Pelo princípio da disponibilidade do direito à integridade física.

b. Pelo princípio da adequação social.

c. Por força do princípio da insignificância.

d. Por razão de política criminal.

O princípio da insignificância tem sido aceito pela doutrina e por algumas decisões judiciais como: Escolher uma resposta.

a. causa de redução qualitativa e material da ilicitude.

b. circunstância desprovida de relevância para a aplicação da lei penal.

c. causa de exclusão da tipicidade.

d. causa supralegal de exclusão da criminalidade.

Assinale a alternativa CORRETA: I - Em sintonia com o princípio da exclusiva tutela de bens jurídicos, imanente ao Direito Penal do fato próprio do Estado democrático de direito, a tônica exegética passou a recair sobre a afetação do bem jurídico. II – A participação por omissão somente é possível se o agente tivesse o dever jurídico de evitar o perigo. III – O crime plurissubjetivo não demanda a aplicação da norma de extensão do artigo 29, do Código Penal.

IV – Basta à configuração da co-autoria a colaboração do agente para o evento, auxiliando a atuação dos executores diretos, não se exigindo hajam todos os partícipes consumado atos típicos de execução. Escolher uma resposta.

a. Somente as assertivas I, II e III estão corretas.

b. Somente as assertivas II e III estão corretas.

c. Somente as assertivas III e IV estão corretas.

d. Todas as assertivas estão corretas.

Assinale a alternativa correta. Escolher uma resposta.

a. O postulado da taxatividade, conseqüência do princípio da legalidade, que expressa a exigência de que a lei penal incriminadora seja clara, certa e precisa, torna ilegítimas as normas penais em branco. b. A analogia, como forma de auto-integração da lei, pode ser amplamente aplicada no âmbito do direito penal. c. O princípio da legalidade admite, por exceção, a revogação da lei pelo direito consuetudinário. d. O princípio da reserva legal pressupõe a existência de lei anterior, emanada do Poder Legislativo, definindo o crime e a pena, sendo lícito afirmar, então, que as medidas provisórias não podem definir crimes e impor penas.

Em relação ao princípio da insignificância ou de bagatela, assinale a alternativa incorreta: Escolher uma resposta.

a. sua aplicação não é prevista no Código Penal, mas é amplamente admitida pela doutrina e jurisprudência. b. somente pode ser invocado em relação a fatos que geraram mínima perturbação social. c. somente tem aplicabilidade em crimes contra o patrimônio. d. exige, para seu reconhecimento, que as conseqüências da conduta tenham sido de pequena relevância. e. seu reconhecimento exclui a tipicidade, constituindo-se em instrumento de interpretação restritiva do tipo penal.

O tipo penal compõe-se:Escolher uma resposta.

a. de elementos normativos, subjetivos e descritivos.

b. somente de elementos normativos e subjetivos.

c. somente de elementos descritivos e subjetivos.

d. somente de elementos normativos e descritivos.

No Código Penal, o crime do art. 304 ("Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os artigos 297 a 302: Pena - a cominada à falsificação ou à adulteração") corresponde a: Escolher uma resposta.

a. norma penal em branco de complementação homóloga homovitelina incompleta.

b. norma penal em branco de complementação heteróloga.

c. norma penal em branco de complementação homóloga heterovitelina. d. norma penal em branco de complementação homóloga homovitelina completa.

Em decorrência dos princípios da legalidade e da anterioridade:Escolher uma resposta.

a. é defeso ao legislador a incriminação vaga ou imprecisa de fatos.

b. a lei penal é sempre irretroativa.

c. a medida provisória pode versar sobre matéria penal.

d. é vedado, em qualquer hipótese, o emprego da analogia.

O Princípio da Legalidade, aliado ao Princípio da Anterioridade, assegura que não há crime sem lei anterior que assim o defina. Considerando-se que o agente tenha sido condenado por sentença transitada em julgado, cujo crime a lei não mais considere como fato punível:Escolher uma resposta.

a. observar-se-á aplicação do instituto do sursis (suspensão condicional da pena), se atendidos os seus requisitos ensejadores. b. não se observará nenhum efeito, uma vez que a sentença com trânsito em julgado decide de forma definitiva o mérito da causa. c. observar-se-á cessação de todos os efeitos da sentença penal condenatória, inclusive quando em fase de execução de sentença, em virtude dessa lei posterior.

d. observar-se-á redução da pena de um a dois terços, punindo-se o fato como crime tentado.

A exigência da anterioridade da lei é fundamento essencial do princípio: Escolher uma resposta.

a. da isonomia.

b. "in dubio pro reo".

c. da legalidade

d. da especialidade.

Question4

Notas: 1/1

Qual a afirmação correta?

Escolher uma resposta.

a. a anistia, como causa extintiva da punibilidade, tem efeito

"extunc" e não "ex nunc". b. o conceito de funcionário público, apresentado pelo Código em seu art. 327, é um caso de interpretação analógica. c. o erro de tipo essencial vencível exclui o dolo e a culpa. d. o delito de destruição de cadáver não admite tentativa.

Correto

Notas relativas a este envio: 1/1.

QUESTÕES

1) Quais as duas funções do direito penal?

2) Por que o direito penal tem caráter fragmentário?

3) O direito penal é sancionatório ou constitutivo?

4) O que é Direito Penal Fundamental?

5) O que é Direito Penal Complementar?

6) Qual a diferença entre Direito Penal Comum e Direito Penal Especial?

7) Qual a diferença entre Direito Penal Geral e Direito Penal local?

8) O que é Direito Penal Objetivo?

9) O que é Direito Penal Subjetivo?

10) O que são escolas penais e quais as duas principais?

11) Para qual escola penal o delito emana do livre arbítrio?

12) Para qual escola penal o delito emana de fatores biológicos do delinqüente?

13) Elabore um paralelo ente a Escola Clássica e a Escola Positiva.

14) Por que o Direito Penal do Inimigo ê um retrocesso histórico?

15) É possível o Direito Penal do Inimigo no Estado Democrático de Direito?

16) Qual a diferença entre o Direito Penal Comum e o Direito Penal do Cidadão?

17) Qual a diferença entre o criminoso-inimigo e o criminoso-cidadão?

18) Qual a diferença entre a culpabilidade de ato e a culpabilidade de autor?

19) Em que filósofo Jakobs se inspirou para elaborar a doutrina do direito Penal do

Inimigo?

20) O conteúdo material das normas jurídicas é absoluto ou relativo?

21) Qual a relação entre o Direito Penal e o Poder Punitivo?

22) Quais as finalidades do Direito Penal do Inimigo?

23) Quais as características materiais e processuais do Direito Penal do Inimigo?

24) O Direito Penal do Inimigo pode ser instaurado validamente no Brasil?

25) Há algumas normas penais compatíveis com o Direito Penal do Inimigo?

26) No estado de sítio e no estado de defesa há sinais do Direito penal do Inimigo?

27) Quais as fontes de produção da norma penal incriminadora?

28) A norma costumeira pode versar sobre Direito penal?

29) Os Estados-membros podem legislar sobre direito penal?

30) Quantos preceitos têm a lei penal incriminadora?

31) De acordo com Binding, o criminoso viola a lei ou norma?

32) Há alguma lei que não é impessoal?

33) O que é lei fragmentária?

34) O que é hermenêutica jurídica?

35) Qualéo objeto da interpretação?

36) O que é interpretação autêntica ou legislativa?

37) A lei interpretativa retroage?

38) A Exposição de Motivos é interpretação autêntica?

39) A interpretação judicial é obrigatória?

40) O que é interpretação teleológica sistemática?

41) Quanto ao resultado, como pode ser a interpretação?

42) O que é interpretação declaratória?

43) O que é interpretação extensiva? É possível?

44) O que é interpretação restritiva?

45) O que é interpretação ab-rogante?

46) O princípio "in dúbio pro reo" é aplicável no campo das provas ou no campo da

hermenêutica?

47) O que é interpretação progressiva?

48) O que é interpretação analógica ou "intralegem"?

49) Qual a distinção entre analogia, interpretação extensiva e interpretação

analógica?

50) O que é analogia?

51) A analogia "in malam partem" pode ser empregada na área penal?

52) A analogia "in bonam partem" é sempre admissível na área penal?

53) O que é o princípio da reserva legal e qual a sua famosa máxima?

54) Qual o efeito do princípio da reserva legal?

55) Qual a origem do princípio da reserva legal?

56) O que é o princípio "nullapoenasinejuditio"?

57) O que é norma-sentença? É admissível?

58) Cite dois países que não adotam o princípio da reserva legal.

59) Qual o fundamento político do princípio da reserva legal? O que são liberdades

públicas clássicas?

60) Qual o fundamento jurídico do princípio da reserva legal? O que é o princípio da

taxatividade e quais suas denominações?

61) O que é tipo aberto? Exemplifique.

62) O tipo aberto é compatível com o princípio da reserva legal? O que é tipo aberto

de cláusulas gerais?

63) O que é norma penal em branco? Como se distingue do tipo aberto?

64) A norma penal em branco é compatível com o princípio da reserva legal?

65) O princípio da reserva legal é aplicável às contravenções penais?

66) Qual a diferença entre o princípio da reserva legal e o princípio da legalidade?

67) O princípio da reserva legal é aplicável às medidas de segurança? E o princípio

da legalidade? Um decreto ou outro ato administrativo pode criar medida de segurança?

68) Somente a lei ordinária pode criar delitos e penas?

69) A lei delegada pode criar delitos e penas?

70) A medida provisória pode criar delitos e penas?

71) Os decretos legislativos e resoluções podem versar sobre direito penal?

72) O Direito Penal tem caráter unitárió?

73) Quais os requisitos para os Estados-membros legislarem sobre Direito penal?

74) O princípio da reserva legal é aplicável às normas penais não incriminadoras? O

que são causas supralegais de exclusão da antijuridicidade?

75) O art. 10 do CP aloja quantos princípios?

76) O princípio da anterioridade é aplicável somente aos crimes e penas ou também

às medidas de segurança?