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EM SALA Professores por um dia Bem orientados, seminários desenvolvem a autonomia e o interesse pela pesquisa As aulas em formato de seminário viraram uma espécie de coqueluche nos cursos de graduação. A proposta pedagógica inverte papéis, colocando os estudantes na posição de professores, pelo menos por um dia. Individualmente ou em grupo os alunos mergulham na pesquisa e apresentam o resultado aos demais colegas. Nada mais adequado em se tratando do ensino superior, cuja função é despertar o gosto pela pesquisa e aumentar o grau de auto-suficiência dos jovens. Por outro lado, quando mal conduzido, este recurso didático pode cair na banalidade, principalmente se pintar preguiça na jogada. Seja por parte dos alunos, limitados a ler em sala conteúdos copiados da internet, ou então dos próprios professores, vendo acomodados os pupilos fazerem o seu trabalho. De acordo com a pedagoga Ivaneide Dantas da Silva, mestre na área de Lingüística e professora do Instituto Singularidades, de São Paulo, essas distorções podem ser evitadas se o professor tiver em mente objetivos claros. "Há conceitos da disciplina que é tarefa do professor tratar", esclarece. Em todo caso, o seminário pode ser um excelente recurso quando há a necessidade de se abordar vários temas em um tempo restrito. "O que não se pode esquecer é que os conteúdos conceituais da disciplina devem ser trabalhados e mediados pelo professor", acrescenta. Além de dar maior autonomia na exposição oral e permitir um aprofundamento do conteúdo

05-09-05 Professores por um dia texto

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Gazeta do Povo

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EM SALA

Professores por um diaBem orientados, seminários desenvolvem a autonomia e o interesse pela pesquisa

As aulas em formato de seminário viraram uma espécie de coqueluche nos cursos de graduação. A proposta pedagógica inverte papéis, colocando os estudantes na posição de professores, pelo menos por um dia. Individualmente ou em grupo os alunos mergulham na pesquisa e apresentam o resultado aos demais colegas. Nada mais adequado em se tratando do ensino superior, cuja função é despertar o gosto pela pesquisa e aumentar o grau de auto-suficiência dos jovens. 

Por outro lado, quando mal conduzido, este recurso didático pode cair na banalidade, principalmente se pintar preguiça na jogada. Seja por parte dos alunos, limitados a ler em sala conteúdos copiados da internet, ou então dos próprios professores, vendo acomodados os pupilos fazerem o seu trabalho.

De acordo com a pedagoga Ivaneide Dantas da Silva, mestre na área de Lingüística e professora do Instituto Singularidades, de São Paulo, essas distorções podem ser evitadas se o professor tiver em mente objetivos claros. "Há conceitos da disciplina que é tarefa do professor tratar", esclarece. Em todo caso, o seminário pode ser um excelente recurso quando há a necessidade de se abordar vários temas em um tempo restrito. "O que não se pode esquecer é que os conteúdos conceituais da disciplina devem ser trabalhados e mediados pelo professor", acrescenta.

Além de dar maior autonomia na exposição oral e permitir um aprofundamento do conteúdo estudado, de quebra os seminários simplificam para os ouvintes os temas abordados. Também estabelecem relações pessoais e interpessoais entre os participantes, conforme observa Evelise Labatut Portilho, pedagoga e professora da PUCPR. No entanto, esses objetivos são alcançados somente quando o professor contextualiza o assunto, o que deve ser trabalhado previamente com os alunos. É o caso da psicóloga Myrle Zanatta, professora do UnicenP. Sempre que há um seminário em vista, ela faz questão de auxiliar no preparo de seus alunos. Pelo menos duas semanas antes das apresentações, reserva 20 minutos de cada aula para

orientar as pesquisas. Tira dúvidas e conserta os possíveis desvios de percurso. Na opinião da psicóloga isso demonstra planejamento e não significa simplesmente passar a mão na cabeça dos estudantes. Ao contrário, é demonstração de confiança, segundo ela. A cobrança virá em outros aspectos. "Eles serão avaliados pela capacidade de análise e síntese, trabalhando o aspecto técnico e interpessoal", explica.

Para ganhar tempo ou facilitar as apresentações é comum os alunos simplesmente dividirem o assunto em partes. "Quando isso acontece o grupo fica sem credibilidade", opina a estudante de Pedagogia Gabriela Eyng Porssoli, 23 anos, para quem os seminários são corriqueiros. "É possível perceber quando uma equipe dividiu o seminário, pois os membros não têm visão do todo", confirma Neusa Bertoni, professora da PUCPR. Segundo ela, a apresentação acaba ficando muito mecânica. Já Gabriela, sugere sintetizar bem as informações a serem transmitidas, sob risco de não criar a tão necessária empatia com a turma.

João Rodrigo Maroni, com colaboração de Mariana Knabben