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cartografia
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Nova cartografia social dos povos e comunidades tradicionais do Brasil
8Quilombolas de LinharinhoEsprito Santo
Associao de Pequenos Produtores Pr-Desenvolvimento de Linharinho
2Coordenao do PNCS-PCTBAlfredo Wagner Berno de Almeida(PPGSCA-UFAM, FAPEAM-CNPQ)Rosa Elizabeth Acevedo Marin(UNAMAZ-NAEA-UFPA)Joaquim Shiraishi Neto (PPGDA-UEA)
Equipe de PesquisaOsvaldo Martins de OliveiraSimone Raquel Batista FerreiraSandro Jos da SilvaJeff erson Gonalves CorreiaDomingas DealdinaAdriano Elisei
Projeto Nova Cartografi a Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil
Cartogra a e mapaAdriano Elisei
Colaborao na edioEmmanuel de Almeida Farias Jnior
Fotogra aSandro Jos da Silva e Sandro Juliati exceo da foto do conjunto de participantes da ofi cina, de autoria de Alfredo Wagner
Projeto gr co e editoraoDesign Casa 8 www.designcasa8.com.br
Da esquerda para direita agachados: 1. Elda Maria dos Santos, 2. Osvaldo de Oliveira, 3. Nilceia Mota Alves, 4. Arnaldo Rodolfo Domingos, 5. Maria Aparecida Marciano, 6. Layza Marciano dos Santos (criana), 7. Vermindo dos Santos, 8. Creuza Mota Alves, 9. Domingas da Conceio Cassiano, 10. Saturnino dos Santos; da direita para esquerda em p: 11. Nazareth Nascimento, 12. Gelson Cassiano, 13. Roberto Cosme dos Santos, 14. Marcos Sousa da Hora, 15. Manoel de Jesus Gomes, 16. Gessi Cassiano, 17. Clarina Pereira, 18. Mauro Csar dos Santos, 19. Valdentora dos Santos, 20. Domingas dos Santos Dealdina, 21. Jeff erson Gonalves Correia, 22. Rosa dos Santos Dealdina, 23. Simone Raquel Batista Ferreira, 24. Jonas dos Santos Balbino, 25. Rodolfo dos Santos, 26. Tereza Moreira
Projeto Nova Cartogra a Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil
FASCCULO 8Quilombolas de Linharinho, Esprito Santo
Braslia DF, janeiro 2007ISBN 85-86037-20-6
Associao de Pequenos Produtores Pr-Desenvolvimento de Linharinho
Presidente: Vermindo dos Santos
Vice-presidente: Gelson Cassiano
3Quilombolas de Linharinho
Pocesso de territorializao: autonomia e tradiesNos perodos do Brasil colnia e imprio, os trafi cantes de africanos escravizados construram um porto em So Mateus (ES), onde renegociavam a vida dessas pessoas. Ao chegarem regio, esses africanos e seus descendentes resistiram ao processo de escravizao, por meio de fugas e de negociaes de suas liberdades. Estas formas de resistncia permitiram a organizao social, poltica e econmica de diversos agrupamentos, a partir de uma lgica da autonomia, dando incio, assim, s comunidades de quilombos num grande territrio que fi cou conhecido como Sap do Norte.
Ento, todos eles (os senhores) eram bares e os negros tinham que se aquilomb pra no tra-balhar como escravo. (...) Ficou com a terra pra trabalhar pra sobrevivncia, porque aqui fi caram e at hoje continua com nosso povo. Mida
As lideranas de Linharinho afi rmam que seus ancestrais pertenciam aos povos africanos de tradio nag, dos quais herdaram elementos culturais relacionados lngua iorub e religio do candombl.
A religio daqui era o que? Era candombl, era ladainha, era ofcio de Nossa Senhora. (...). Tudo coisa de povo africano. (...) Aqui no Sap do Norte, os negros tinham dois tipos de trabalho reli-gioso: o candombl e o camocite. (...). Depois, de tanto ser perseguidos por autoridades, polcia e padres, esses negros que vieram da frica, esses nagores (nags) africanos, tiveram que colo-
car outros nomes de religio: Mesa de Santa Brbara, Mesa de Santa Maria e Mesa de So Cosme e Damio. Nesse Sap do Norte, o povo tinha essas trs mesas como tradio. Foi de, me pare-ce, de 1886 pra l, eles s viviam nessa religio. Foi nas proximidades de 1980 que os padres comearam a perturbar, o Bispo de Vitria mandava os padres vir a esse povo, quinze dias nesse Sap do Norte, pra ver como estava a reli-gio desse povo. E aqui eu acho que fi cou a famlia da Aurora Deolinda da Conceio, minha tia, minha me tam-
bm, que eram entendidas dessas coisas. O Joaquim Felipe da Vitria (bisav de Mida) tambm era da mesa de Santa Brbara que tinha aqui. (...) Hoje, o povo que sabia mesmo da religio foi tudo embora. A gente ainda sabe um pouquinho da coisa do ritual da Mesa, mas tudo bem. A gente quer de volta tudo isso. Mida
E ns temos aqui na comunidade, que a comunidade Santa Br-bara, porque a religio que mexia aqui (...) era o candombl.A, atra-vs de padres, com es-ses donos de poderes, prendeu muitos ne-gros pela sua religio
No incio da dcada de sessenta, Jos de Gugu investiu violentamente sobre as terras de Joventino que, certo dia, saiu para trabalhar e deixou sua esposa em casa no stimo dia do resguardo, sendo ela surpreendida por Jos de Gugu e seus capangas que a colocaram para fora com a criana e incendiaram a casa
4 Projeto Nova Cartografi a Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil
que no aceitava que negros tives-sem religio, como Mesa de Santa Brbara, Mesa de Santa Maria. (...) ...aqui trabalhava muito tambm com o jongo! Mida
Sei dizer que tudo que comia, mes-mo o dend, era fruto da terra. Aqui, a comida era feijo de corda, era guand, era mangal, era torresmo. Era fruta, era jaca, que eles mesmos plantavam. (...) A gente tinha uma vida tranqila e boa. Se matava um porco, quase todo sbado era ma-tao de porco. Aquelas casas de l,
se matavam, tinha que mandar pra c e os de c, se matavam, mandavam pra l. Ento era assim e assim ainda. Se um tem uma farinha e o outro no tem: vai l no fulano. Mida
A farinha da mandioca era outra coisa forte aqui. que o povo aqui tem tradies, porque isso veio do quilombo do Negro Rugrio, que na poca, fazia muita farinha e o povo continuou naquela cultura de fazer farinha. A tradio nossa aqui a farinha da mandioca. A gente quer retomar isso, mas pra voltar a gente tem que ter a terra pra plantar pra que volte s tradies. Vermindo
A Mesa de Santa Maria realizava seus rituais nas matas e prximo aos cursos dgua, enquanto a Mesa de Santa Brbara realizava seus rituais ao som dos tambores e em locais acessveis aos moradores. A Mesa de Cosme e Damio tem seu ponto alto em setembro, quando o centro que dedica suas atividades a esses gmeos realiza sua festa e distribui balas e doces s crianas. Alm dessas formas de organizao da cultura, no local h tambm o Reis de Boi.
Associado s atividades religiosas tem-se o uso de razes, plantas e ervas medicinais. Os ancestrais extraam o azeite da palmeira do dend, alm do azeite de baga, nos quais acredita-vam encontrar propriedades medicinais para a cura de diversas doenas. O azeite de dend era usado tambm na culinria e para banhar as pedras do assento de Santa Brbara. O azeite de baga, alm de ser tomado a cada seis meses como remdio, era usado como combustvel nas lamparinas e candeias para iluminar a escurido da noite.
Confl itos, expropriaes de terras e violncia As nossas terras pegava aqui do rio So Domingos at o Crrego Grande. Um negro tinha seu pedao de terra e ali perto botava outro irmo, perto todos os irmos, todos primos, todos irmos. Era assim: ir-mos, irmos, primos, primos e ia embora. Fazia extenso grande de gente na terra, na dcada de 20 (1920). (...) A gente se estendia por nove territrios, onde todo mundo era parente e todo mundo ali era conhecido. Che-gou dentro da casa de
5Quilombolas de Linharinho
um, era de todos. (...) E quando eles (empresas e poderes pblicos) falam assim: Ah! No existe comunidade quilombola. Por que no existe? Desde que ns estamos aqui, desde antes de 1888, nosso povo veio trazido da frica. Com todo esse trabalho, toda essa cultura a. (...) Esta-mos a, a Aracruz falando que no tem quilombo, mas foram nossos antepassados que tiveram que trabalhar como mo-de-obra escrava, levando chicotadas desses poderosos, levando cou-ro at hoje, desde os tempos que o negro chegou. Mida
At incio da dcada de 1960, segundo os morado-res, todo o Sap do Norte pertencia negrada, mas ningum tinha documento das terras. Entre as dca-das de 1950 e 1960 ocorreram vrios confl itos com fazendeiros, como Jos Upa, Jos Miranda, Quidinho, Velho Paulo e Ernani Benso, que realizaram diversas investidas expropriadoras sobre o territrio do grupo. No incio da dcada de sessenta, Jos Upa avanou violentamente sobre as terras de Joventino que, certo dia, saiu para trabalhar e deixou sua esposa em casa no stimo dia do resguardo, ela foi surpreendida por Jos Upa e seus capangas que a colocaram para fora com a criana e incendiaram a casa. Joventino e a fa-mlia foram acolhidos na casa de Benedito Cosme. A partir da, o fazendeiro fez uma cerca sobre as terras de Joventino, que se situavam entre o rio So Domin-gos e o crrego do Caboclo, dizendo que a partir de ento as terras lhe pertenciam. Nelson Cordeiro, que era um apoiador dos negros que havia se mudado para o Rio de Janeiro, ao tomar conhecimento do fato, retornou Conceio da Barra e organizou uma revol-ta dos negros que arrancaram as cercas construdas pelo fazendeiro e as queimaram. Aps o retorno de
Nelson Cordeiro ao Rio, a polcia de Conceio da Barra, sob as ordens de Jos Upa, prendeu os negros que haviam participado da revolta. As mulheres teriam implorado a proteo dos orixs da tradio nag e de Santa Brbara, pois, com os maridos na priso, faltava alimento em casa e veio a fome nas crianas, tendo elas que pescar para saci-las. Quando pensa que no, numa es-pcie de interveno dessas divindades, Nelson Cordeiro voltou do Rio e soltou todos os negros que se encontravam na priso.
Essa e outras investidas expropriadoras de fazendeiros e empresas contaram com a coni-vncia da polcia, cartrios e instituies jurdicas (fruns e juzes) de So Mateus e Conceio da Barra para legalizarem os documentos das terras expropriadas. A partir do fi nal da dcada de 60 essas terras, entre vrias outras, foram repassadas s empresas de cultivo da monocultura do eucalipto, entre elas a Aracruz Celulose.
A Aracruz chegou aqui como Refl orestadora Cricar e como Brasil Leste gua Florestal. (...) E da foi imprensando ns. (...) Ento eles falavam: vocs no vo fi car mais ningum aqui. Meu pai estava puxando roda, um dia, eles chegaram falando assim: oh! O senhor vai sair daqui. No! O senhor vai sair daqui e vai embora! Ento meu pai dizia: mas pra onde que eu vou com esses fi lhos todos aqui? No! O senhor tem que sair! Tem que ir! Tem que ir. Ele respondeu: No, vou no! Ento o senhor vai fi car aqui? Mas l os seus fi lhos vai ter. Aqui no tem colgio bom pra seus fi lhos, no, l vai ter. Mida
COMUNIDADE QUILOMBOLA DE LINHARINHOreminiscncias e prticas atuais
413000
413000
415000
415000
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Castelo
Engenho
Crrego Gran
Rio Santana
Crrego Linhares
CrregoSoDomingos
CrregoLinharesLagoa doCastelo
Lagoa doEngenho
Lagoa Encantada
Crrego
doCaboc
lo
Crregodo
Bor
Esprito SantoLocalizao da rea
MG
RJ
AB
100 0 100 20050Km
Moradias
Cozinha de Farinha
Mesa de Santa Brbara
Mesa de Santa Maria
Mesa de Cosme e Damio
Plantio de Caf
Campo de Futebol
Grupo Escolar
Cruzeiro
Extrao de Taboa
rvores
Porto do Quidinho
Quilombo do Nego Rogrio
Valo
Jongo
rvores / Matas
Assento de Santa Brbara
Cacimba
Plantio de Caf
Caixa D'gua
Campo de Futebol
Cemitrio de Escravos
Cozinha de Farinha
Grupo Escolar
Extrao de Taboa
Fonte de gua Mineral
Igreja
Ladainha
Oficio de Nossa Senhora
Reis de Bois deManoel Cassiano Filho
Reis de Bois deMateus de Ernesto
Torre da Aracruz
Cacimba
PROJETO NOVACARTOGRAFIA SOCIAL
COMUNIDADE QUILOMBOLA DE LINHARINHO - ES
Data: Fev / 2007
Referncias: Cartas IBGE e Imagem LandsatLevantamento de Campo
Prticas atuaisReminiscncias
1 - Domingas Maria daConceio
2 - Manoel Cassiano3 - Joo da Hora4 - Famlia de Joo Cosme5 - Manoel Cassiano Filho6 - Manoel Galdino7 - Aurora Diolinda da
Conceio8 - Joventino
Ncleos de Moradia
reas de Conflito
419000
419000
421000
421000
7947000
7949000
7 9510 00
795 3000
Projeo Universal / Transversa de Mercator - UTMDatum horizontal: SAD - 69 / Minas GeraisDatum vertical: Margrafo de Imbituba / Santa CatarinaOrigem da quilometragem: Equador e Meridiano de 39 W Greenwich
Guaranhm
Canta Galonde
Crrego do Aterro
Crregoda Linha
CrregoSantana
CrregoMaribu
or
CrregodoAlexandre
8 Projeto Nova Cartografi a Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil
Aqui, quando o povo comeava a rodar a nas beiradas do brejo pra pegar um cip, qualquer coisa e era abordado pela vigilncia da Aracruz, que se chama Visel, e se eles pegassem, tomava o cip da mo da pessoa e se o cara se alterasse, eles ligavam logo pra polcia. A polcia, parece que a polcia andava junto com eles, com dois ou trs minutos que ligava pra polcia, a polcia encostava. Vermindo
Tomava machado de sua mo, falava que a pessoa estava acabando com o palmito, sendo que eles que, na poca que a Aracruz chegou aqui, com aqueles correntes dos tratores dela, que acabou com palmito, cip e com tudo. Depois vieram dizendo que as pessoas das co-munidades estavam acabando com o cip e o palmito. Depois, prendia a pessoa, como tm vrias pessoas dessas comunidades processadas por causa de um palmito ou por causa de um pau seco. Vermindo
O processo de expropriao das terras dos quilombolas do Sap do Norte pela Aracruz, segundo os relatos locais, contou tambm com a cumplicidade de instncias do Gover-no do Estado do Esprito Santo, sobretudo com a participao do IDAF.
O signifi cado de nossas vidas pela terra, que a gente quer que volte a cultura, que volte no nosso territrio, que possa dar mais vida para nossas crianas, nossos netos, pra no aconte-cer que nem os nossos que saram. Vermindo
Antes da Aracruz chegar era bom. Depois que a Aracruz chegou, fi cou de jeito de a gente no ter um pau de lenha pra queimar. Eu pra queimar um pau de lenha, esperava cair um galhinho l de cima no cho, pegava um galhinho seco l no cho pra queimar escondido. (...) Porco, ns criava era muito, depois eles proibiram, no queriam que botasse porco no local... A foi acabando, foi acabando e acabou tudo. Dona Domingas
Conforme o relato dos moradores, alm de contar com o apoio e a conivncia das polcias civil e militar nas aes de vigilncia e violncia contra as comunidades dos quilombos do Sap do Nor-te, a Aracruz Celulose tem uma vigilncia armada a VISEL para patrulhar os movimentos e soli-citar as prises de membros dessas comunidades, caso sejam encontrados entre os eucaliptos.
H cerca de trs anos, segundo uma moradora, seus irmos estavam trabalhando em suas lavouras de caf e, repentinamente, chegaram os agentes da Visel acusando um deles de ter cortado uma rvore de eucaliptos e exigiam que ele fosse at o local. Segundo dizem, a Visel tem a prtica de conduzir os acusados at o local e l fotografar os mesmos prximos s rvo-res cortadas para incrimin-los e solicitar a sua priso. O morador se recusou a ir at o local da rvore cortada, afi rmando que no havia cortado a mesma e que ele estava trabalhando em sua lavoura. Cerca de duas horas depois, chegaram dois policiais militares para levar a fora o membro da comunidade at o local da rvore cortada para forjarem uma prova por meio da fotografi a e incrimin-lo. O trabalhador novamente se recusou a ir. A partir de ento houve luta corporal entre ele e os policiais que tentavam algem-lo. Diante dos gritos do mesmo, diversos integrantes da comunidade correram ao local para socorr-lo, havendo ali presses das lideran-as sobre os policiais, pois queriam saber o motivo da priso e uma das lideranas alegou que no havia fundamentos legais para a invaso da propriedade de uma comunidade de quilombo para prend-lo sem provas. Sem justifi cativas, os policiais fugiram. A partir de ento, no volta-ram a incomodar a comunidade.
9Quilombolas de Linharinho
Das situaes de confl ito vividas pelas comunidades podemos destacar: ameaas, exibio de armas e tiros pelos agentes da Visel para intimidar moradores que lutam por seus direitos; prises ilegais de moradores; embargo aos usos de lenha nos fornos de carvo; e, por fi m, uso de violncia para tomar a lenha e as ferramentas de trabalho, sobretudo se for encontradas com mulheres.
Entre as estratgias empregadas pela Aracruz para, aos poucos, minar a resistncia dos qui-lombolas e expuls-los da terra est aquela da poluio venenosa da gua consumida por eles. Entre esses venenos, os moradores destacam os herbicidas (que causaram cegueiras em pesso-as que trabalhavam para a empresa batendo o veneno nos eucaliptos) e o vinhoto (lanado no rio Angelim pela DISA) que torna a gua imprpria para o consumo e mata os peixes que fariam parte da dieta alimentar local.
Diante do problema da contaminao e desaparecimento da gua, a comunidade reivindi-cou do Governo do Esprito Santo o tratamento da gua a ser consumida, sendo a reivindicao atendida. Segundo Dona Domingas, o rio So Domingos que abastecia a comunidade secou e dentro de seu leito tiveram que perfurar uma cacimba para encontrar gua para no morrerem de sede. Afi rma que depois que a comunidade passou a reivindicar seus direitos terra, as m-quinas da Prefeitura foram ao local e arrancaram todo o encanamento que fazia a distribuio da gua para as casas e eles tiveram que voltar a tomar a gua da cacimba, mas, para ser consu-mida e usada, esta gua, de to suja, precisa ser coada.
Dizem que com a expulso de antigos moradores da terra, desapareceram parte de suas tradies (ladainhas, festas, bailes) e os nomes de identifi cao dos lugares, como os Stios e Crregos, que nomeavam os lugares, e que foram todos submersos aos eucaliptais. Segundo Dona Domingas, entre Linharinho e Brao do Rio desapareceram os povoados, onde viveram seus ancestrais, que assim eram nomeados: Crrego Dantas, Crrego do Meio, Crrego das Pe-dras e Crrego Seco.
Ao e luta pela terraOs quilombolas de Linharinho denominaram ao e ato suas atividades de derrubada dos eucalip-tos que a Aracruz e o fazendeiro Vivaldo plantaram sobre o cemitrio, onde esto sepultados seus ancestrais. A ao foi defi nida como luta pela terra sobre a qual os moradores afi rmam ter direito. Aps serem informados que a Aracruz havia obtido na justia uma liminar de integrao de posse da rea sobre a qual realizavam a ao, os moradores encerraram o ato e desocuparam a area.
Aquele ato foi com um objetivo bem cen-tralizado. A gente tem que voltar um pouco no tempo e lembrar que quando a Aracruz chegou, ela meteu os correntes dela em cima da terra e acabou com as nossas matas, plantando eucaliptos.
Destruiu comunidades, dizimou famlias, que muitas famlias saram expulsas das suas terras. Ns estamos aqui tambm pra machucar, pisar no calo dela. Ta cortando o eucalipto dela, ta doendo nela, est sentin-do? Quer dizer que quando ela veio destruir o nosso n, na gente no doa? Ento assim, o ato foi com esse objetivo, de estar tocando pra ela sentir que a comunidade est unida, o povo est vivo, no est todo mundo morto.
Aquele ato foi com um objetivo bem centralizado. A gente tem que voltar um pouco no tempo e lembrar que quando a Aracruz chegou, ela meteu os correntes dela em cima da terra e acabou com as nossas matas, plantando eucaliptos
10 Projeto Nova Cartografi a Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil
O eucalipto escondeu as comunidades, mas o povo no est morto nem enterrado junto com as razes de eucalipto dela no. E ali (no cemitrio) tinha gente enterrada, o que pior: tem eucalipto plantado em cima do cemitrio. Ento, foi um ato pra estar mos-trando pra ela. Olha! As comunidades esto vivas e da mesma forma que voc chegou aqui h dcadas atrs, ns estamos aqui pra fazer a mesma coisa hoje Acabou com os nossos crregos. (...) Cida
A luta pelo espao de moradia e de trabalho que j pertenceu ao povo negro de Linharinho, que foi forado a sair de seu territrio e que deseja retornar para fazer a terra produzir.
O negro fi cou com a terra para trabalhar para sobrevivncia. Negro tinha cultura, negro tinha sua religio, tinha liberdade. Negro tinha peixe, tinha caa, tinha tudo aqui e hoje no tem. isso que queremos. Mida
Doeu destruir a nossa cultura, as nossas matas. Ta doendo derrubar eucalipto dela? E quantas vidas ela acabou? E hoje no ta destruindo vida dela, no. Ela vai ter prejuzo no lucro. Quando ela veio... que chegou pra regio, ela destruiu foram vidas n? (...) Ento, assim foi um ato pra mostrar pra ela que ns estamos aqui n? A nossa luta pela terra, da mesma forma que ela veio com os correntes e acabou com as matas, com as caas e com a pesca n? Cida
Pauta de reivindicaes Criao de Associao Civil com personalidade jurdica; Desenvolvimento de Cursos de Formao para o desenvolvimento da comunidade; Recuperao das reas de nascentes, zonas de recarga hdrica e matas ciliares ao redor de
rios, crregos e lagoas; Criao de Corredores que garantam a conectividade, a manuteno dos recursos hdricos e
a potencializao da reproduo da fauna; Construo de um Viveiro de Mudas com espcies nativas da Floresta Tropical, visando a
recuperao de reas degradadas; Constituio de Zona de Amortecimento ao redor do territrio demarcado, de modo a esta-
belecer a transio entre o territrio quilombola e as monoculturas de eucalipto e cana; Defi nio das Zonas de Extrativismo, compreendendo matas, capoeiras, brejos, alagados,
rios e crregos, cujo uso deve estar determinado por normas especfi cas criadas pelo grupo, que visem a manuteno dessas atividades;
Diversifi cao da Produo agrcola e pecuria, de modo a garantir a alimentao das fam-lias e escoar o excedente nos mercados locais;
Recuperao da Fertilidade do Solo, atravs da descontaminao por agrotxicos; Desenvolvimento de um Plano de Trabalho baseado nos princpios da Agroecologia, atravs
de parcerias com a APTA, MPA, MST e outros; Produo de Artesanato a partir do uso de madeira, palha de coco, cip e outras fi bras vege-
tais, que pode ser comercializado com turistas; Minimizao dos impactos da ES-010 para a comunidade (poeira, alta velocidade, acidentes),
atravs da construo de redutores de velocidade e recuperao fl orstica beira da estrada; Criao de um Centro Cultural que possa apresentar exposies sobre a histria e cultura
local e oferecer produtos tpicos aos turistas que se dirigem para Itanas; Reforma, ampliao e implementao de estrutura para o desenvolvimento dos trabalhos
pedaggicos da Escola.
11Quilombolas de Linharinho
Associao de Pequenos Produtores Pr-Desenvolvimento de Linharinho
Presidente: Vermindo dos Santos
Vice-presidente: Gelson Cassiano
Comunidade Catlica de Santa Brbara
Coordenador: Manoel Nascimento
Vice-coordenador: Vermindo dos Santos
Tesoureiro: Geanis Cosme dos Santos
Caixa: Daniele Alves dos Santos
Coordenadora Jovem: Adriana Cassiano
Coordenadora de Liturgia: Benedita Cassiano
Ministra da Comunho: Gessi Cassiano Amrico
Coordenadora de Catequese: Elda Maria dos Santos
Associao Quilombola do Municpio de Conceio da Barra
Comisso Quilombola do Sap do Norte
Membros da Comunidade de Linharinho: Elda, Cida Marciano e Vermindo dos Santos
APAL-CB (Associao de Pequenos Agricultores e Lenhadores de Conceio da Barra)
Coordenador da Comunidade de Linharinho: Fernando dos Santos
Associao de Folclore de Conceio da Barra
Membro da comunidade:
Mateus dos Santos (Mateus de Ernesto, mestre de Reis de Boi)
Escola Municipal de Ensino Fundamental de Linharinho
Professoras da comunidade:
Benedita Cassiano
Maria Aparecida Marciano dos Santos
Formas de organizao
ENTIDADES PARCEIRAS DA COMUNIDADE
FASE-ES
MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores)
CPT (Comisso Pastoral da Terra)
CONAQ (Coordenao Nacional de Articulao das Comunidades Negras Rurais Quilombolas)
Rede Alerta Contra o Deserto Verde
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra)
Comisso de Caciques Tupinikim e Guarani
Igreja Luterana
Projeto Territrios Quilombolas no Esprito Santo UFES (Universidade Federal do Esprito Santo)
CONTATO
Associao dos Pequenos Produtores de Linharinhotelefone 27. 9955-5618
Comunidade Quilombola do Sap do Nortetelefone 27. 9811-8432
7947000
7949000
7951000
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3
Castelo
Eng
Crrego Linhares
CrregoSoDomingos
CrregoLinharesLagoa doCastelo
Crrego
doCaboc
COMUNIDADE QUILOMBOLA DE LIreminiscncias e prticas atu
413000 415000
7949000
7951000
7953000
12
3
Castelo
Crrego Linhares
CrregoSoDomingos
CrregoLinharesLagoa doCastelo
1 Povos dos Faxinais Paran
2 Fundos de PastoNosso Jeito de Viver no Serto Lago do Sobradinho, Bahia
3 Quilombolas de Jambuau Moju, Par
4 Comunidades dos Pescadores ePescadoras ArtesanaisMostrando sua Cara, Vez e VozSubmdio e Baixo So Francisco
5 Ribeirinhos e Quilombolas, Ex-moradores do Parque Nacional do JaNovo Airo, Amazonas
6 Quilombolas de Conceio das CrioulasPernambuco
7 Ribeirinhos e Artesos de Itaquera, Gaspar, Barreira Branca e So PedroRio Jauaperi. Roraima e Amazonas
8 Quilombolas de LinharinhoEsprito Santo
9 Cipozeiros de GaruvaFloresta Atlntica, Santa Catarina
10 Povoado Pantaneiro de JoselndiaMato Grosso
Ministrio doMeio Ambiente
APOIO
UFES
ELIMU
CDDH-ES
Coordenao Nacional de Articulao das Comunidades Negras Rurais Quilombolas CONAQ
Projeto Territrios Quilombolas no Esprito Santo UFES
PPGSCA-UFAM
REALIZAO
Associao de Pequenos Produtores Pr-Desenvolvimento de Linharinho