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1. Introdução Pretende-se iniciar uma análise do significado da pedagogia de ensino adotada na Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (EAUFMG), a partir dos resultados do Primeiro Fórum das Disciplinas da EAUFMG, que aconteceu no dia 10 de julho de 2001. Considerando aquela experiência, busca-se também compreender a atual posição do Colegiado do Curso de Arquitetura e Urbanismo (CCAU) da EAUFMG na vida acadêmica da escola. Será descrita aqui a hipótese de que a importância do CCAU é irrelevante, considerando sua capacidade de mobilização do corpo docente em torno de temas pedagógicos sobre o ensino de Arquitetura, bem como relativamente à sua capacidade de gestão pedagógica da vida escolar, diante do abstrato conjunto de atribuições que o órgão possui para a regulação e aconselhamento pedagógico dos professores. As responsabilidades executivas do CCAU são, ainda, sobrepostas ou secundárias em relação aos Departamentos e à Congregação da Escola de Arquitetura - o que é comum a esse tipo de órgão, considerando o que se pode deduzir no estatuto da UFMG. O pequeno número de professores que se apresentou no Primeiro Fórum das Disciplinas em julho de 2001 parece confirmar a hipótese anterior, bem como o fato de haver uma ausência de necessidades expressas sobre processos didáticos e pedagógicos implicados no ensino da graduação. Ao CCAU tem cabido apenas, e enfaticamente, o desempenho de papéis burocráticos de segunda linha, uma vez que, no contexto da EAUFMG, está vinculado a órgãos como a Seção de Ensino da unidade, ao Departamento de Registro e Controle Acadêmico da UFMG (DRCA) e à Comissão Permanente de Pessoal Docente (CPPD da UFMG). Esse vínculo burocrático é necessário diante das contínuas deficiências administrativas que o CCAU tem de enfrentar a cada nova gestão,

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1. Introdução

Pretende-se iniciar uma análise do significado da pedagogia de ensino adotada na Escola de

Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (EAUFMG), a partir dos resultados do

Primeiro Fórum das Disciplinas da EAUFMG, que aconteceu no dia 10 de julho de 2001.

Considerando aquela experiência, busca-se também compreender a atual posição do Colegiado do

Curso de Arquitetura e Urbanismo (CCAU) da EAUFMG na vida acadêmica da escola.

Será descrita aqui a hipótese de que a importância do CCAU é irrelevante, considerando sua

capacidade de mobilização do corpo docente em torno de temas pedagógicos sobre o ensino de

Arquitetura, bem como relativamente à sua capacidade de gestão pedagógica da vida escolar,

diante do abstrato conjunto de atribuições que o órgão possui para a regulação e aconselhamento

pedagógico dos professores. As responsabilidades executivas do CCAU são, ainda, sobrepostas

ou secundárias em relação aos Departamentos e à Congregação da Escola de Arquitetura - o que

é comum a esse tipo de órgão, considerando o que se pode deduzir no estatuto da UFMG.

O pequeno número de professores que se apresentou no Primeiro Fórum das Disciplinas em julho

de 2001 parece confirmar a hipótese anterior, bem como o fato de haver uma ausência de

necessidades expressas sobre processos didáticos e pedagógicos implicados no ensino da

graduação.

Ao CCAU tem cabido apenas, e enfaticamente, o desempenho de papéis burocráticos de segunda

linha, uma vez que, no contexto da EAUFMG, está vinculado a órgãos como a Seção de Ensino da

unidade, ao Departamento de Registro e Controle Acadêmico da UFMG (DRCA) e à Comissão

Permanente de Pessoal Docente (CPPD da UFMG). Esse vínculo burocrático é necessário diante

das contínuas deficiências administrativas que o CCAU tem de enfrentar a cada nova gestão,

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encarecendo o apoio informacional básico daqueles outros órgãos para início e continuidade dos

seus trabalhos.

Essa inépcia é estranha, considerando os esforços declarados dos recursos humanos existentes,

mas será tratada neste texto como uma hipótese. Ela é resultante da histórica transformação das

preocupações pedagógicas da vida acadêmica em artificialismos que substituem a função

declarada das instâncias prescritas da vida acadêmica. Como se verá, esses artificialismos visam

assegurar a hegemonia de grupos mais ou menos coesos no interior da escola, enredando os

modos sociais corporativos daqueles grupos. Essa afirmação estará sustentada pelo fato de que

determinados conteúdos curriculares, métodos, estratégias didáticas e outros elementos da vida

acadêmica da EAUFMG estão posicionados de modo a constituir, já no arranjo organizacional e

administrativo, uma barreira que tem impedido as medidas integradoras, mais do que, como

poderia parecer, uma ação individual ou corporativa sem raiz na histórica da gestão da vida

acadêmica. Como consequência do esvaziamento do pensamento pedagógico no ensino superior

brasileiro, as transformações históricas nele ocorridas são capazes de conferir caráter secundário

àquilo mesmo que é a razão de ser do colegiado: a vida acadêmica, a lide com o estudante e sua

formação, a preocupação com a qualidade do corpo docente e o serviço público.

O âmbito tratado aqui é resumido e pretensioso, mas considerando-se que a experiência e a

história da universidade brasileira incluem a EAUFMG, e que esta responde, como qualquer escola

pública, aos descaminhos da política educacional brasileira, de modo mais crítico ainda devem ser

analisados seus quadros atuais.

2. O Fórum

A finalidade do Fórum foi a de discutir a integração horizontal de conteúdos e estratégias didáticas

nas disciplinas de um mesmo período. Entende-se por conteúdo o conjunto de informações e

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conhecimentos articulados no interior de cada disciplina e por estratégia didática o modo de ação

(exercícios, aulas tradicionais, pesquisas em campo, dentre outros) através das quais professor e

estudantes alcançam a compreensão daqueles conteúdos. Entende-se por integração a eliminação

de conteúdos repetidos nas disciplinas da série, bem como a articulação desses conteúdos com os

de outras disciplinas da mesma série. A integração compreende também a racionalização do

tempo dispensado pelos estudantes na confecção de trabalhos e noutras estratégias de avaliação

e acompanhamento. A integração busca objetivamente reduzir o número de trabalhos feitos pelos

estudantes em cada disciplina, elucidando o sistema de avaliação disciplinar de modo articulado

com as demais disciplinas da série. Na atualidade os estudantes queixam-se de um número muito

grande de exercícios e trabalhos, o que lhes consome tempo para desenvolver e articular com

liberdade os conhecimentos adquiridos, socializando questões individuais tais como dificuldades

com determinada disciplina, crítica e propostas de mudanças nas estratégias de ensino, dentre

outras possibilidades. Na realidade, considerando a mobilização estudantil em torno de objetivos

volitivos relacionados com arquitetura, pode-se perceber que o efeito desse excesso de trabalhos e

avaliações é o de diminuir a articulação social desse grupo e enfraquecer sua representação.

Foram convocados 80 professores do quadro docente da EAUFMG, dos quais 25 compareceram

(31,25% do total). Para a realização do fórum foi escolhida uma manhã, num período de 4 horas,

nas salas da EAUFMG, onde os 10 períodos do curso de Arquitetura e Urbanismo apresentaram

uma exposição breve sobre a possibilidade de integrar os conteúdos e estratégias com outras

disciplinas do mesmo período.

O Colegiado solicitou formalmente que as exposições fossem feitas com base em um pequeno

texto, preparado previamente pelos professores e alunos expositores, o qual seria publicado para

permitir a toda comunidade o conhecimento das idéias e sugestões. Após a exposição individual

das disciplinas pelos professores e a exposição do representante discente, debateram-se os

principais problemas para a integração horizontal e suas prováveis soluções. Para atividade de

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debate geral, um relator seria designado e seu relato seria também publicado com as demais

exposições, a fim de permitir uma visão mais ampla do evento.

Ocorreram diálogos e debates sobre os assuntos, e tendo sido solicitado que isso se desse com

bastante objetividade, foram possíveis algumas sínteses aparentemente aplicáveis ao quotidiano

da EAUFMG. Exatamente por essa rapidez, a necessidade de aprimorar, discutir em profundidade

sugere que o Colegiado organize outros fóruns, em continuidade.

3. Resultado inicial e previsões

Só será possível avaliar o efeito do Fórum posteriormente, aferindo a eficácia e aplicação das

poucas propostas de alteração de estratégias didáticas no decorrer do próximo semestre letivo

(2001/2). Até mesmo porquê, dizendo respeito ao interior das disciplinas e ao quotidiano dos

professores em sala de aula, as modificações que poderiam tanger a esse universo só

compareceram registradas de modo propositivo no relato geral do Quinto Período do curso,

estando os demais períodos sem registros de relatos. Mesmo que grande parte das discussões e

combinações tenham ocorrido sem registros ou relatos, na informalidade, se o esforço informal

resultar em ações de melhoria, esse resultado provavelmente será pouco para o total da

comunidade acadêmica, em consequência da participação de um número reduzido de professores.

O Departamento de Estruturas da Escola de Engenharia da UFMG, que possui um expressivo

número de disciplinas no curso (8 disciplinas, que correspondem a 50% das disciplinas oferecidas

por departamentos externos à EAUFMG), não se fez representar em nenhum período. Em relação

a esse fato, foi solicitado pelo fórum das disciplinas do Quinto Período que o Colegiado promova

gestões frente a EEUFMG no sentido de envolver seus professores nas atividades da Escola de

Arquitetura.

3.1. Relatos das disciplinas

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No Primeiro Período estão as disciplinas de Desenho Projetivo, Resistência dos Materiais, Plástica

e Expressão, Informática Aplicada à Arquitetura e Urbanismo, História da Arte, Arquitetura e da

Cidade Antiga e Medieval. Os professores relataram as tentativas das disciplinas em integrar

conteúdos com as demais. A disciplina de Plástica e Expressão, através de estratégias didáticas

tem tentado se aproximar dos conteúdos de informática, história, urbanismo e tecnologia. A

estratégia é um exercício que pede o comparecimento de assuntos das demais disciplinas como

parte integrante da proposta de trabalho. A disciplina de História, por sua vez, através do trabalho

denominado “Dossiê” tem tentado caminhar para a integração com todas as disciplinas do período

- especialmente Desenho Projetivo, Plástica e Informática. Os alunos ressaltaram a importância e a

relevância desse trabalho na disciplina de história. Foi enfatizada a necessidade de uma

participação estratégica da disciplina de estrutura - Resistência dos Materiais - no esclarecimento

dos princípios e da lógica das construções, das estruturas e da tecnologia dos edifícios através da

história.

No Segundo Período estão as disciplinas de Estudos Sociais,Teoria das Estruturas, Desenho

Técnico, Cartografia e Topografia, História da Arte Arquitetura e da Cidade do Renascimento ao

Barroco. Não houve relato geral das possibilidades de integração das disciplinas.

No Terceiro Período, estão as disciplinas de Materiais e Técnicas de construção, Estruturas de

Concreto, Introdução à Arquitetura e ao Urbanismo, Saneamento e Estudos Ambientais, História

da Arte Arquitetura e da Cidade do Neoclássico ao Funcionalismo, e não houve relato geral das

possibilidades de integração das disciplinas.

No Quarto Período estão as disciplinas de Projeto I, Sistemas Estruturais, Urbanismo I, Conforto

Térmico e Iluminação Natural, Estética, Geomorfologia. Apenas a disciplina Projeto I foi

representada, não havendo relato sobre o debate pela ausência das demais representações das

disciplinas.

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No Quinto Período estão as disciplinas de Projeto II, Instalações Prediais, Urbanismo II,

Instalações Prediais Elétricas e de Comunicações, Arquitetura e Cultura Brasileira. Nesse período,

as proposições foram mais acentuadas. A disciplina de Arquitetura e Cultura Brasileira poderá

abordar conteúdos que auxiliem nas discussões conceituais dos temas de Projeto II. Poderá

também abordar a interface tecnologia/preservação do patrimônio, em interação com instalações

elétricas e as técnicas construtivas. A disciplina de Instalações Elétricas poderá concatenar suas

atividades com o objetivo de dar suporte a Projeto II. Os alunos que estiverem cursando Projeto II

e Elétricas, fariam dois trabalhos práticos: o trabalho prático TP1 específico de Elétricas em grupos

de 4 ou 5 e o TP2 (estratégias gerais de suprimento de energia, iluminação natural, economia de

energia, etc.) sobre um dos projetos de Projeto II. Os professores de Projeto II julgaram

conveniente que a disciplina de Instalações Hidráulicas voltasse para o 5° Período, para que as

instalações prediais fossem abordadas em conjunto, como acontece na realidade da prática

profissional. Os professores de Projeto II expuseram que estão dispostos a programarem os temas,

as atividades didáticas e as entregas de trabalhos em conjunto com os demais professores do 5°

Período. Eles consideram muito pertinente a participação dos professores das demais disciplinas

nas bancas de avaliação de Projeto II e sugerem que cada disciplina faça sua própria avaliação do

projeto do aluno, atribuindo-lhe a nota para o aspecto específico que está avaliando. Os

professores de Projeto II dariam a nota apenas para a própria disciplina. Nesse contexto, poderia

haver estudante aprovado em Elétrica e reprovado em Projeto II, com um mesmo Trabalho Prático.

Isso não foi considerado problema por nenhum dos presentes, aí incluídos os estudantes. A

Disciplina de Urbanismo I participaria das discussões conjuntas para elaborar os programas das

disciplinas do 5° Período e o respectivo cronograma de atividades.

O Sexto Período é formado pelas disciplinas de Projeto III, Estrutura de Madeira, Estrutura de Aço,

Planejamento Regional, Técnicas Construtivas, e Teoria e Arquitetura Contemporânea. Segundo o

relator, o encontro mostrou-se frutífero uma vez que o esperado alinhamento entre os conteúdos

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as disciplinas de Teoria e Arquitetura Contemporânea e Projeto III parecem plausíveis para o

próximo semestre.

O Sétimo Período tem as disciplinas de Projeto IV, Introdução ao Paisagismo, Planejamento

Urbano, Tecnologia da Construção e Teoria Urbana, e não houve relato geral das possibilidades

de integração das disciplinas.

O Oitavo período consta das disciplinas de Projeto Integrado de Arquitetura Paisagismo e

Urbanismo I, Sistemas Estruturais Aplicados I, Conforto Acústico dos Edifícios e da cidade,

Projetos de Interiores e Conforto Térmico e Climatização de Ambientes. Não houve relato geral das

possibilidades de integração das disciplinas.

O Nono e Décimo Períodos não teve número de representantes para se reunir e debater, sendo

apresentado somente o relato da disciplina de Orçamento e Administração de Obras.

Como foi dito, poucas disciplinas apresentaram seus relatos individuais, um departamento não se

fez representar e alguns períodos mostraram-se vazios para iniciar um debate sobre integração.

Isso reflete a incapacidade de mobilização dos professores a partir do Colegiado, o que deve ser

compreendido dentro de um panorama que ajude a esclarecer as funções da universidade, suas

instâncias e as deformações do pensamento pedagógico.

4. A irrelevância da Pedagogia na EAUFMG

Trata-se agora de discutir como se estruturou a forma do Colegiado como instância pedagógica na

EAUFMG e o conjunto das suas práticas relacionadas, prescritas nas normas da UFMG,

verificando como se deformaram a ponto de não corresponderem a realidade da vida acadêmica.

As preocupações que deveriam ser seu o núcleo do Colegiado – a discussão pedagógica e

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didática e suas implicações no desenho curricular – desmantelaram-se ao longo do tempo, na

estruturação das diversas instâncias acadêmicas e políticas da universidade, refletindo o

desenvolvimento do panorama educacional brasileiro.

Pode-se sistematizar as discussões sobre os pensamentos pedagógicos e seus influxos no Brasil1,

em dois pólos opostos:

1) A idéia da ligação do processo educacional ao processo produtivo como seu suporte, em

uma base tecnicista e claramente voltada para a instrumentação do estudante. As

reformas educacionais2, associaram as escolas às necessidades das empresas,

transformando as primeiras em provedoras de profissionais técnicos qualificados, que

engrossavam a reserva de mercado. A Educação ficou, assim, relacionada à aparente

expansão da produção numa economia em desenvolvimento.

2) A idéia de que a Educação não devia se prender às circunstantes vontades da economia,

mas a uma sempre cultivada idéia de “excelência” do saber nas formas da Cultura e da

tradição, entendendo-as e agindo sobre elas.3 O discurso conservador dessa tendência

empregava repetidas vezes as palavras “modernidade”, “democracia” e “diversidade”. A

variedade cultural e histórica da população a ser educada foi tratada de modo “relativista”

1 Antes mesmo dos influxos, no Brasil de 80 e 90, da “Nova Sociologia da Educação” que constituiu-se na primeira correntesociológica, consolidada na Inglaterra, de fato voltada para o estudo do currículo. Segundo MOREIRA (MOREIRA, FlávioB.; Sociologia e teoria crítica do currículo: uma introdução; in MOREIRA, Flávio B. (org.) currículo, cultura e sociedade,Cortez editora, 1994, ) o grande marco de sua emergência tem sido considerado o livro editado por Young, Knowledge andControl: New Direction for the Sociology of Education (1971), no qual foram reunidos artigos de diversos autores, dentre osquais se destacam os de Basil Bernstein, Nell Keddie, Pierre Bourdieu e Geoffrey Esland e o que se tornou clássico nasociologia do currículo, escrito pelo próprio Young, “An approach to the Study of Curricula as Socially OrganizedKnowledge”.

2 É instituída, durante a fase mais dura do Regime Militar, em 1971, a Lei 4.024 - Lei de Diretrizes e Bases da EducaçãoNacional. A característica mais marcante desta Lei era tentar dar a formação educacional um cunho profissionalizante.Planejava-se fazer com que a educação contribuísse, de forma decisiva, para o aumento da produção brasileira. Desde1964, o MEC já iniciara seus acordos com a United States Agency International for Development – USAID, paraAperfeiçoamento do Ensino Brasileiro nos moldes tecnicistas.

3 Esse conjunto ideológico foi mais exatamente formulado no final da década de 80 nos EUA, com a ascenção da alaculturalista da Extrema Direita na política educacional daquele país, especialmente sob a influência de William Bennet,Secretário de Educação de Ronald Reagan. O conjunto completo das idéias de Bennet implicavam no processoeducacional como um processo de formação de elites culturais, a pretexto de livrar a escola das incômodas preocupações

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em relação aos valores educacionais, equilibrando as pressões sociais surgidas das

diferenças culturais e econômicas, afirmando a escola como a suprema guardiã da

civilização e da cultura ocidentais.

Denominaremos cada uma das tendências, nomeando a primeira de “tecnicista” e à segunda de

“culturalista”. As conseqüências dessa polaridade para a educação atual são as seguintes:

1) Essas duas versões do pensamento conservador, adaptado à realidade brasileira, têm o

propósito comum de produzir e legitimar interesses econômicos e políticos de elites, sejam

elas elites empresariais ou as que dominam e controlam o capital cultural. A escola, nesse

contexto, é o lugar onde a vida organizada e particular adquire e reproduz o conteúdo

ideológico. O problema que hoje se coloca, na discussão das disciplinas, seu conteúdo e

nas discussões do currículo não é o fato de que os aspectos ideológicos estejam

presentes, ou que elites sejam privilegiadas. O que caracteriza a ideologia não é a

falsidade ou a verdade das idéias que veicula, mas o fato de que essas idéias são

interessadas, transmitem uma visão do mundo social vinculada aos interesses dos grupos

situados em uma posição de vantagem na organização social. A pergunta que se faz,

então, não é se as idéias são corretas ou não, mas saber a quem beneficiam, e como;

2) Ambas as posições representam um ataque à noção de Cultura como esfera pública, na

qual os princípios fundamentais e as práticas democráticas são aprendidos em meio a

lutas, diferenças e diálogo. Por exemplo, negando a vivência que o estudante possa ter ao

entrar na escola, negando ou não reconhecendo a história através da qual os estudantes

dão sentido ao seu mundo individual, essas duas noções reduzem a aprendizagem à

dinâmica da simples transmissão e imposição de conhecimentos.

com a sociedade, a justiça e o pensamento crítico. No Brasil, parece ter havido, no período, uma boa receptividade dessespensamentos que, ao aparecerem, já encontraram oposição da pedagogia tecnicista.

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3) Há uma depreciação da Pedagogia, nos dois processos citados, que a entendem apenas

como uma metodologia mensurável e justificável. Tanto para liberais quanto para radicais

das duas tendências, a Pedagogia é um discurso subordinado e teórico, aquilo que vem

posteriormente à determinação do conteúdo ideologicamente correto de uma disciplina, de

uma matéria ou de um curso. Ela só será “legítima” se conseguir representar o estilo

formal, legalmente reconhecido e declaradamente “adequado” ao ensino;

4) Como um instrumento secundário para aquelas duas óticas, a Pedagogia tem a finalidade

de traçar limites claros entre o que é “aceitável” e o que não é para a formação acadêmica.

Ela torna-se um dispositivo político e útil que define o conhecimento, no seu interior, como

algo distinto da vida quotidiana e da cultura popular. A ação pedagógica dá o estatuto de

veracidade, seja como conhecimento técnico ou científico, àquilo que venha a ser de seu

interesse, e, com relativa despreocupação, demarca de modo abstrato os limites da cultura

popular e leiga, cuja fala ela tem o poder de fazer silenciar convenientemente. As

concessões feitas ao “popular” ocorrem como uma “liberalidade” ou um “reconhecimento”

mas sempre são concessões consagradoras daquilo que ela quer fazer que seja notório e

aglutinador de opiniões. Diferentemente, a cultura popular organiza-se em torno do prazer

e da diversão, mas essa deformação da Pedagogia rejeita esses aspectos a menos que

eles correspondam a um modo “lúdico” e instrumental nos programas de curso que instrui.

A cultura popular é apropriada pelos estudantes e os ajuda a validar as suas vozes e as

suas experiências, mas essa pedagogia quer representar vozes mais “altas”, de um

“mundo adulto”, dos professores e administradores escolares.

Um registro histórico da educação no Brasil ( ver Anexo 1) pode ajudar a concluir sobre a

deformação da pedagogia ao longo dos processos políticos brasileiros. Pode-se inferir sobre a

descrença no “discurso pedagógico” a medida em que ele se prestou à ação ideológica do Estado,

e que a Pedagogia continua até nos dias de hoje em posição de irrelevância. Isso parece explicar o

que foi dito inicialmente acerca do Colegiado, sobre sua incapacidade de agregar em torno de

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“temas pedagógicos” os professores que representa. Se por um lado é assim, cabe também

considerar como os professores e disciplinas da EAUFMG se comportam em relação às duas

tendências descritas, a saber, o “tecnicismo” e o “culturalismo”. Todo esse argumento está no

âmbito da consideração de que, “a pedagogia é um esforço deliberado para influenciar os tipos e

processos de produção do conhecimentos e identidades em meio a determinados conjuntos de

relações sociais e entre eles”, segundo GIROUX 4. Ou seja, a Pedagogia pode ser entendida como

uma prática pela qual as pessoas são incitadas a adquirir determinado “caráter moral”.

Constituindo a um só tempo atividade política e prática, tenta influir na ocorrência e nos tipos de

experiência. O que se enfatiza aqui é que a Pedagogia é um conceito que enfoca os processos

pelos quais o conhecimento é produzido, mais do que um discurso justificador de práticas cujos

objetivos reais não são declarados.

5. Debilidade do ethos da EAUFMG

Se a pedagogia é uma prática através da qual os indivíduos criam e refletem sobre um código de

conduta, pensar sobre o comportamento dos que participam desse processo pedagógico é uma

atividade óbvia mas não menos problemática nem menos distorcida do que o conceito de

pedagogia. Isso porquê parece distinguir-se um conceito de ética, quando se pensa a base de

valores e ações que um edifício construído representa, e a base de valores e ações quotidianas de

professores, estudantes e funcionários numa escola que ensina a construir. Com freqüência

ouvimos dizer que a Arquitetura concretiza desejos humanos a partir da construção de lugares e

que deve ser estudada sob o ponto de vista ético. O edifício, tomado como uma resultante de

fatores, dentre eles, os comportamentos de usuários e de seus criadores, os valores artísticos,

individuais, coletivos e culturais, seus diversos agentes motivadores, constitui-se num tipo de ação

4 GIROUX, Henry e Roger Simon; Cultura Popular e Pedagogia Crítica: a vida quotidiana como base para o conhecimento

curricular; in MOREIRA, Flávio B. (org.) Currículo, Cultura e Sociedade, Cortez editora, 1994

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específica, que se aplica a uma reflexão de caráter ético. O processo de ensino e aprendizagem de

Arquitetura por conseguinte, conformaria um ethos ou, como se diz normalmente, um perfil do

profissional a ser formado. Conformaria também um perfil para os educadores desse profissional, e

também um perfil de escola - a esse conjunto chamaremos ethos acadêmico. O termo ethos foi

utilizado por Bourdieu, entre outros, para se referir ao conjunto de disposições éticas que orientam

as ações dos indivíduos5. O ethos, nesse conceito, distingue-se da ética ou da moral na medida

em que trata de disposições de caráter prático: nem sistemáticas, nem intencionais.

SCHUWARTZMAN6 fala de uma debilidade do ethos acadêmico, comentando que os aspectos

éticos do trabalho de professores, funcionários e alunos não costumam ser mencionados como um

dos fatores problemáticos da educação superior brasileira, por ser uma variável de tipo cultural. Os

países que possuem hoje um sistema educacional bem constituído desenvolveram, através do

tempo, grupos sociais fortemente envolvidos e motivados com as atividades educacionais e

culturais, que deram à suas instituições educativas conteúdos éticos, normativos e culturais que

explicam grande parte de sua destacável posição. No Brasil, da mesma forma que em tantas

outras sociedades cujos governos copiaram suas instituições educacionais do exterior, este

conteúdo cultural muitas vezes não chegou a se estabelecer, apesar da parafernália de leis,

normas e regulamentos baixados periodicamente sobre as instituições educacionais. A história dos

movimentos sociais e culturais associados ao surgimento e implantação dos sistemas educacionais

permite identificar a presença ou ausência destes conteúdos éticos, que não são perceptíveis pelo

simples exame da legislação ou dos currículos, ou da qualificação formal dos professores. Como

são ausentes, só se pode deduzi-los a partir dos aspectos externos das instituições educacionais -

os títulos, os salários, a estabilidade no emprego, as imunidades, os privilégios profissionais - que

tendem a adquirir predominância sobre os conteúdos a que estes mecanismos estariam

destinados a servir. Os sistemas educacionais apresentam, então, duas faces contraditórias em

seus valores e em suas implicações sociais:

5 cf. SILVA, T. M.; Teoria Cultura e Educação – Um vocabulário Crítico, Autêntica Editora, Belo Horizonte, 2000

6 SCHWARTZMAN, Simon; O futuro da Educação Superior no Brasil, in WARDE, Jorge; Dilemas do ensino Superior naAmérica Latina, Campinas, Papirus, 1994, pp. 143-178.

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1) A face da democratização e do progresso social, que está ligada aos ideais

iluministas que acompanham e motivam os sistemas educacionais, a valorização do

mérito, a igualdade de oportunidades, a primazia do desempenho em relação ao

sangue, e da razão sobre a autoridade e o dogma;

2) A face da diferenciação e do elitismo, que surgem com a conquista de direitos e

privilégios para os educandos/educadores, e das condições reais de acesso às

melhores oportunidades educacionais, que em todas as sociedades são fortemente

correlacionadas com recursos econômicos e posições sociais preexistentes.

Na sociedade brasileira, em que as instituições educacionais foram implantadas pelas elites, em

situação de estagnação econômica e pouca fluidez social, são as dimensões elitistas e regressivas

que prevalecem, e as instituições educacionais não desempenham os papéis reformadores e

transformadores a que estariam, supostamente, destinadas. Apesar do discurso liberal que muitas

vezes a acompanhou, a educação superior no Brasil foi desde o início uma instituição de elite,

criada pelo governo para atender a uma parcela diminuta de sua população, ou para o treinamento

de seus próprios quadros. O elitismo ajuda a entender as dificuldades de se estabelecer um

modelo educacional superior mais diferenciado, que tenha outros valores e referências diferentes

dos padrões de vida e de consumo atribuídos a uma elite cuja posição social, por outra parte, vem

sendo corroída há bastante tempo.

A estes dois fatores institucionais e culturais deve ser acrescentado um terceiro: o corporativismo.

Esse termo tem sido utilizado para designar as diferentes formas de mobilização de grupos

profissionais na defesa de seus interesses particulares e de curto prazo, que redundam muitas

vezes em empecilhos sérios às tentativas de modernização e transformação social, com

autonomia. A busca de autonomia para uns não passa da defesa de interesses corporativos para

outros. A importância da autonomia e da auto-regulação na vida universitária deriva, entretanto, do

fato de que, como conjunto de atividades complexas e não redutíveis a uma pré-codificação e

programação de tarefas, o ensino superior requer um alto nível de motivação e envolvimento das

pessoas na formulação e desenvolvimento diário de suas atividades, o que só pode ocorrer em um

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ambiente adequado de descentralização, autonomia e responsabilidade pessoais pelos resultados

do trabalho efetuado.

Duas formas corporativas interessam, para avaliar a debilidade do ethos na EAUFMG: a

organização profissional em corporações, e a organização corporativa da profissão acadêmica. A

organização dos profissionais em corporações tem uma repercussão direta sobre o sistema de

ensino superior, e condiciona todo um sistema de exigências curriculares impostas aos cursos via

Conselho Federal de Educação, estimulando o formalismo e o credencialismo.

O desenvolvimento de uma profissão acadêmica acabou por deformar-se na supervalorização dos

direitos conquistados de professores, funcionários e alunos sobre o valor e razão das práticas

quotidianas de ensino e aprendizagem. Esta profissão acadêmica não existia no Brasil antes da

reforma universitária de 1968, quando os professores de ensino superior tinham suas identidades

profissionais definidas pelas respectivas profissões. A criação dos regimes de trabalho em tempo

integral nas universidades brasileiras, a partir da reforma, envolvendo professores com poucos

vínculos seja com as respectivas profissões, seja com as comunidades acadêmicas das

respectivas disciplinas, levou ao desenvolvimento de um forte sindicalismo entre professores das

universidades públicas, que hoje formam um grupo de pressão bastante significativo na luta por

conquistas salariais e de direitos de estabilidade para os professores, por uma pressão contínua

para a homogeneização das carreiras e do regime jurídico das universidades federais, assim como

pela resistência a tentativas de introdução de sistemas de avaliação do desempenho de

instituições e professores. Os sindicatos docentes, em conjunção com os sindicatos de

funcionários, têm sido também importantes na substituição dos critérios acadêmicos por critérios

político-eleitorais na escolha das autoridades universitárias em todos os níveis.

A Escola de Arquitetura da UFMG pode ser vista à partir dos elementos acima analisados, na

busca de uma compreensão histórica do problema pedagógico, para discutir-se exatamente aquilo

que se conformou de modo deformado. Ainda que, para cada professor, estudante ou funcionário,

a idéia de escola seja complexa demais e disponha a todos em resignado caráter de cumprimento

das suas tarefas, ainda que ao colegiado a postura mais ortodoxa recomende o cumprimento de

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débeis tarefas burocráticas com a vaporização das reflexões pedagógicas que nele teriam fórum,

trata-se de um exame urgente, de auto-avaliação, na base quotidiana das organizações

acadêmicas, suas práticas e seus rituais.

6 . O Elitismo, o corporativismo e a distância entre a intenção real e

intenção declarada na prática do ensino de Arquitetura e Urbanismo na

EAUFMG

Consolidada ao longo de anos, detalhando suas especificidades de modo muito parecido ao de

outras escolas da UFMG, e sob a tutela regulamentar da reitoria, a Escola de Arquitetura

apresenta-se como sobreposição de grupos interiorizados nos departamentos. Os departamentos,

por sua vez, reunem-se em torno da afinidade entre as matérias relacionadas ao que foi, no texto

do curriculo 97/1, denominado de troncos que correspondem ao desdobramento em disciplinas das

matérias profissionais. Dependendo da natureza da matéria em ser mais ou menos ensinável

dentro de um processo orientado para o mercado, para o abastecimento de mão-de-obra direta no

meio empresarial correlato, o tecnicismo será a base das ações estruturadoras de departamentos

como o de Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo. Tanto que o sistema de ensino de algumas

disciplinas continua como típico da formação tecnicista no Brasil (provas de múltipla escolha,

ensaios típicos da escolanovista, etc.). A voz de uma elite para qual se defendem argumentos

deste tipo de formação está distante do que a prática corporativa da profissão instaura no processo

pedagógico, entretanto. Nele, o estudante a ser formado é um competidor futuro, o mercado tem

poucos profissionais especializados – muito embora o currículo declare que não pretende a

especialização do estudante - e o sistema de avaliação é a mensuração mínima de objetivos

educacionais, numa base de uma especialização incompleta mas clara, que resulta em grande

aceitação por parte do estudante porque se distancia das questões problemáticas que as ciências

sociais e as artes irão colocar no conteúdo do outro tronco disciplinar, as matérias de projeto. Nas

matérias de projeto, o que corresponde ao Departamento de Projeto e ao de Urbanismo, vê-se de

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modo mais evidente a conformação elitizada e corporativa através dos sistemas de avaliação dos

conteúdos. Pela natureza das matérias, ora dizendo respeito ao Projeto e suas implicações sociais

não redutíveis à uma única resposta e ora ao conhecimento Exato e Civil solicitado para a

construção objetiva, o Departamento de Projetos e o de Urbanismo oscilam entre o tecnicismo e o

culturalismo, e a mostra mais evidente da força corporativa que possuem está na ausência de

auto-avaliações efetuadas pelo estudante. Nesse contexto, professores e bancas tem notas por

mensuração arbitrada ou comparativa, e estabeleceu-se que essa avaliação não é passível de

questão ou recurso por ninguém. As disciplinas de Projeto se explicam pela postura culturalista,

pois o orientador deve servir como um modelo de prática profissional, cuja fala quotidiana é cheia

de licenças (inclusive poéticas) devido a que ele, professor, possa usar tal recurso, mas o aluno

não, pois a escola tem incorporado o cientificismo – ainda que falso em alguns momentos – e trata

de remover e silenciar sistematicamente qualquer apelo, idéia ou sentimento do estudante à

cultura popular, ou que não esteja dentro do que se determinou como cultura da academia. O

departamento de Análise Crítica e História da Arquitetura e Urbanismo é o que se estabelece

melhor nos moldes culturalistas, também pela afinidade de conteúdos. Pelo desembaraço com as

avaliações de conteúdos estabelecidos sobre a base fendida de práticas sociais contraditórias da

cultura brasileira, o elitismo reserva pouco tempo curricular ao que se liga à produção arquitetônica

brasileira, e quando o faz, requadra-se a ótica por proposições teóricas bem distantes da cultura e

do quotidiano do aluno. Assim, os estudantes são mesmo um corpo discente para ser docilizado

pelo impacto de pensamentos originais e ulteriores a quaisquer vivências suas, cabendo ao

orientador continuar mantendo-se como privilegiado proprietário do conhecimento, que ele

determina como possuidor de relevância naquele momento.

Em todos os departamentos está presente as duas modalidades de ensino, tecnicista e culturalista,

a propósito de uma preservação e formação de elites, resguardando-se determinadas imunidades

através do corporativismo entre professores e alunos. Ao aceitarem a sujeição num processo de

ensino assim configurado, os estudantes não deixam de ser menos corporativos, pois benefícios e

obstáculos só aparecem para o grupo de estudantes quando se configuram maiorias ou minorias

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prejudicadas por notas e avaliações. Parece haver, da declaração real de objetivos da escola

(informal) para a prescrição dela nos estatutos (formal), um sulco confortável onde se instala esse

agente transcultural que tem utilizado a afinidade de conteúdos com o culturalismo e o tecnicismo,

que tem desenhado aproximações corporativas entre grupos, engendrado uma série de atitudes

complacentes entre professores, estudantes e funcionários, num regime de tolerância mais ou

menos equilibrado.

0 perfil do profissional a ser formado na EAUFMG atende aos seguintes requisitos:

a. Formação Técnica adequada ao cumprimento de todas as habilitações profissionais previstas na

legislação profissional, evitando especializações dentro da graduação

b. A escola não oferece uma ênfase, mas ao contrário, espera que o aluno reforce sua tendência

pessoal através da oferta de um grande leque de disciplinas optativas, aproveitando a

heterogeneidade de seu corpo docente

c. Orientação crítica na estruturação das disciplinas de forma a fazer um curso não atrelado ao

mercado de trabalho e formar um profissional que contribua para o avanço da Arquitetura e da

qualidade de vida

d. Preocupação com o contexto social e as grandes questões contemporâneas via Estudos Sociais

e Ambientais, além das disciplinas práticas e teóricas

e. Formação de um profissional com visão abrangente e interdisciplinar, juntando e sintetizando

teoria/história/tecnologia e prática

Uma análise do currículo mostra que ele é estruturado em troncos que correspondem ao

desdobramento em disciplinas das matérias profissionais preconizadas na Portaria de 1994:

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a. No tronco de projetos, as matérias de Projeto de Arquitetura, de Urbanismo (incluindo o

Planejamento Urbano e Regional)

b. No tronco Tecnologia as matérias de Tecnologia da Construção ( incluindo as tecnicas

retrospectivas), de Conforto Ambiental e Sistemas Estruturais

c. No tronco de Teoria e História, as materias correlatas

d. Na fundamentação, as matérias de estética, história das artes, estudos sociais e ambientais,

desenho, topografia e informática.

Como meta básica, a elaboração do currículo se preocupou em ficar o mais perto possivel das

3600 horas de currículo mínimo previstas na Portaria. Assim, além dessas horas incluem-se

apenas mais sete disciplinas obrigatórias (perfazendo um total de 510 horas) e a exigência de 210

horas de optativas, no minimo. A idéia é permitir ao aluno tempo para tarefas extra-classe de

enriquecimento e complementaqao de conteúdos, evitando o excesso de trabalhos resultantes de

número excessivo de disciplinas, o que frequentemente resulta mais em cumprimento de tarefas do

que em aprendizado real e fixação de conteúdos.

Corn uma carga horária assim estabelecida, o curso será ministrado basicamente em um turno,

preferencialmente matutino, de segunda a sexta, corn optativas ministradas preferencialmente em

horário noturno. A única exceção a esse critério se dará nos dois periodos iniciais onde, pela

grande carga horária, as aulas deverão se extender também ao periodo vespertino. Não está

previsto estágio curricular, mas sim o reconhecimento de estágios supervisionados e seu devido

cadastramento.

___________________

Em continuidade: comparar os processos descritos com a departamentalização, observando o

modo de ensino de ciencias exatas e sociais

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(Segundo essa ótica, o colegiado de curso cumpre a dupla função de apoiar a legalidade da prática

educacional e constituir um modo mais ou menos abstrato para permitir o alinhamento das diversas

práticas dos professores em suas disciplinas. Essa última tarefa corresponde ao que é entendido

como o “aconselhamento pedagógico” e à primeira tarefa corresponde a exacerbação do colegiado

em papéis burocráticos e atividades administrativas bastante afastadas das discussões e reflexões

sobre os conteúdos curriculares.)

Cronologia:

Alguma coisa acontecia na educação brasileira. Pensava-se em erradicar definitivamente o

analfabetismo através de um programa nacional, levando-se em conta as diferenças sociais,

econômicas e culturais de cada região.

A criação da Universidade de Brasília, em 1961, permitiu vislumbrar uma nova proposta

universitária, com o planejamento, inclusive, do fim do exame vestibular, valendo, para o ingresso

na Universidade, o rendimento do aluno durante o curso de 2o grau.(ex-Colegial e atual Ensino

Médio)

O período anterior, de 1946 ao princípio do ano de 1964, talvez tenha sido o mais fértil da

história da educação brasileira. Neste período atuaram educadores que deixaram seus nomes na

história da educação por suas realizações. Neste período atuaram educadores do porte de Anísio

Teixeira, Fernando de Azevedo, Lourenço Filho, Carneiro Leão, Armando Hildebrand, Pachoal

Leme, Paulo Freire, Lauro de Oliveira Lima, Durmeval Trigueiro, entre outros.

Depois do golpe militar de 1964 muito educadores passaram a ser perseguidos em função

de posicionamentos ideológicos. Muito foram calados para sempre, alguns outros se exilaram,

outros se recolheram a vida privada e outros, demitidos, trocaram de função.

O Regime Militar espelhou na educação o caráter anti-democrático de sua proposta

ideológica de governo: professores foram presos e demitidos; universidades foram invadidas;

estudantes foram presos, feridos, nos confronto com a polícia, e alguns foram mortos; os

estudantes foram calados e a União Nacional dos Estudantes proibida de funcionar; o Decreto-Lei

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477 calou a boca de alunos e professores; o Ministro da Justiça declarou que "estudantes tem que

estudar" e "não podem fazer baderna". Esta era a prática do Regime.

Neste período deu-se a grande expansão das universidades no Brasil. E, para acabar com

os "excedentes" (aqueles que tiravam notas suficientes para mas não conseguiam vaga para

estudar), foi criado o vestibular classificatório.

Para erradicar o analfabetismo foi criado o Movimento Brasileiro de Alfabetização -

MOBRAL. Aproveitando-se, em sua didática, no expurgado Método Paulo Freire, o MOBRAL

propunha erradicar o analfabetismo no Brasil... não conseguiu. E entre denúncias de corrupção...

foi extinto.

É no período mais cruel da ditadura militar, onde qualquer expressão popular contrária aos

interesses do governo era abafada, muitas vezes pela violência física, que é instituída a Lei 4.024,

a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1971. A característica mais marcante desta

Lei era tentar dar a formação educacional um cunho profissionalizante. Dentro do espírito dos

"slogans" propostos pelo governo, como "Brasil grande", "ame-o ou deixe-o", "milagre econômico",

etc., planejava-se fazer com que a educação contribuísse, de forma decisiva, para o aumento da

produção brasileira.

A ditadura militar se desfez por si só. Tamanha era a pressão popular, de vários setores da

sociedade, que o processo de abertura política tornou-se inevitável. Mesmo assim, os militares

deixaram o governo através de uma eleição indireta, mesmo que concorressem somente dois civis

(Paulo Maluf e Tancredo Neves).

(Cronologia)

1964

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- Segundo a Secretaria de Educação e Cultura, do Ministério de Educação e Cultura, de

cada mil (1000) alunos que entraram na 1a série no ano de 1963, quatrocentos e quarenta

e nove (449) passam para a 2a série do 1o grau.

- É realizado o Seminário de Cultura Popular.

- É criado o Plano Nacional de Alfabetização - PNA, ainda no governo do Presidente João

Goulart, e extinto quatro meses depois, após o golpe militar.

- O jurista Luiz Antonio da Gama e Silva, acumula os cargos de Ministro da Justiça e

Ministro da Educação e Cultura nos primeiros dias do golpe militar.

- São Ministros da Educação e Cultura do Governo do General Castelo Branco: Flávio

Suplicy de Lacerda, Raimundo de Castro Moniz de Aragão (interino), Pedro Aleixo e

Guilherme Augusto Canedo de Magalhães (interino).

- A Universidade de Brasília - UnB é invadida por tropas militares. O reitor Anísio Teixeira é

destituído do cargo e substituído pelo professor Zeferino Vaz, da Faculdade de Medicina

da Universidade de São Paulo. Este, indicado por Luiz Antonio da Gama e Silva, que

acumulava os cargos de Ministro da Justiça e Ministro da Educação e Cultura.

- A ditadura militar coloca na ilegalidade a União Nacional dos Estudantes - UNE e cria os

Diretórios Acadêmicos - DAs, restrito a cada curso, e o Diretório Central dos Estudantes -

DCE, no âmbito da universidade. Assim é eliminada a representação a nível nacional bem

como qualquer tentativa de ação política. O lema da ditadura é "estudante é para

estudar; trabalhador para trabalhar".

- A sede da União Nacional dos Estudantes - UNE, na Praia do Flamengo, no Rio de

Janeiro, é invadida e incendiada.

- O Serviço de Assistência ao Menor - SAM é extinto e criado em seu lugar a Fundação

Nacional do Bem-Estar do Menor - FUNABEM, vinculada diretamente à Presidência da

República, com o objetivo de atender aos ditos menores carentes.

- Acordo Ministério da Educação e Cultura - MEC/ United States Agency International

for Development - USAID para Aperfeiçoamento do Ensino Primário. Visava a contratação

de 6 assessores americanos por dois anos.

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- A Lei 4.440 institui o salário-educação, provenientes de recursos das empresas.

1965

- Segundo a Secretaria de Educação e Cultura, do Ministério de Educação e Cultura, de

cada mil (1000) alunos que entram na 1a série no ano de 1963, trezentos e treze (313)

passam para a 3a série do 1o grau.

- A Universidade de Brasília - UnB é novamente invadida por tropas militares, visando a

reprimir uma greve de professores e alunos contra atos autoritários da reitoria.

- Duzentos e dez professores da Universidade de Brasília pedem demissão coletivamente

em sinal de protesto diante da situação reinante.

- Tropas da polícia invadem a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade

de São Paulo - USP, destroem diversos equipamentos e prendem diversos professores e

alunos.

- Acordo Ministério de Educação e Cultura - MEC/Conselho de Cooperação Técnica da

Aliança para o Progresso - CONTAP/United States Agency International for

Development - USAID para melhoria do ensino médio. Previa assessoria técnica

americana para o planejamento do ensino e treinamento de técnicos brasileiros nos

Estados Unidos.

- Acordo Ministério de Educação e Cultura - MEC/United States Agency International for

Development - USAID para dar continuidade e suplementar com recursos e pessoal o

primeiro acordo para o ensino primário.

- O Parecer no 977 define os cursos de pós-graduação.

- O Decreto-Lei 55.551 estende o salário-educação a todos os empregados públicos e

privados.

- O educador Paulo Freire escreve o livro "Educação como Prática da Liberdade".

- É fundada a Universidade de Itaúna, em Minas Gerais.

1966

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- Segundo a Secretaria de Educação e Cultura, do Ministério de Educação e Cultura, de

cada mil (1000) alunos que entraram na 1a série no ano de 1963, duzentos e quarenta e

cinco (245) passam para a 4a série do 1o grau.

- É promulgado o Decreto-Lei no 53 objetivando a reforma universitária, caracterizando-a

como instituição de ensino e pesquisa. Determina ainda que sejam feitas na universidade

mudanças de organização, a fim de se evitar desperdícios de recursos.

- A Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN cria o Centro Rural Universitário

de Treinamento e Ação Comunitária - CRUTAC.

- É organizado o Projeto Rondon a partir do I Seminário de Educação e Segurança

Nacional, promovido conjuntamente pela Universidade do Estado da Guanabara e a

Escola de Comando e Estado Maior do Exército.

- Acordo Ministério da Agricultura/Conselho de Cooperação Técnica da Aliança para o

Progresso - CONTAP/United States Agency International for Development - USAID para

treinamento de técnicos rurais.

- Acordo MEC/CONTAP/USAID de Assessoria para a expansão e aperfeiçoamento do

quadro de professores de ensino médio no Brasil.

- Acordo MEC/USAID de assessoria para modernização administrativa universitária.

- Acordo MEC/INEP/CONTAP/USAID sob a forma de termo aditivo aos acordos anteriores

para aperfeiçoamento do ensino primário.

- Acordo MEC/SUDENE/CONTAP/USAID para criação de um Centro de Treinamento

Educacional em Pernambuco.

- São fundadas a Universidade do Maranhão e a Universidade Regional do Nordeste, em

Campina Grande, na Paraíba.

- Os estudantes realizam um protesto geral contra os acordos MEC/USAID.

- O Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio

de Janeiro é o primeiro curso de pós-graduação em educação do Brasil.

1967

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- Segundo a Secretaria de Educação e Cultura, do Ministério de Educação e Cultura, de

cada mil (1000) alunos que entram na 1a série no ano de 1963, cento e sessenta e cinco

(165) passam para a 5a série do 1o grau.

- São Ministros da Educação e Cultura do Governo do General Costa e Silva: Tarso de

Moraes Dutra e Favorino Bastos Mércio (interino).

- Acordo MEC/Sindicato Nacional dos Editores de Livros - SNEL/CONTAP/USAID de

cooperação para publicações técnicas, científicas e educacionais.

- Acordo MEC/USAID de reformulação do primeiro acordo de assessoria à modernização

das universidades, sendo substituído por assessoria do Planejamento do Ensino Superior.

- Acordo MEC/CONTAP/USAID decooperação para a continuidade do primeiro acordo

relativo à orientação vocacional e treinamento de técnicos rurais.

- Sai a primeira expedição do Projeto Rondon à Região Norte do país.

- É constituída uma comissão, conhecida como "Comissão Meira Mattos", para analisar a

crise estudantil e sugerir mudanças no sistema de ensino, notadamente nas universidades.

- É promulgado o decreto-lei 252, objetivando a reforma universitária e criando a estrutura

de departamentos.

- A lei 5.370 cria o Movimento Brasileiro de Alfabetização - MOBRAL, com objetivo de

erradicar o analfabetismo do Brasil em dez anos.

- O índice de analfabetismo no Brasil é de 32,05%.

- É fundada a Universidade de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul.

1968

- Segundo a Secretaria de Educação e Cultura, do Ministério de Educação e Cultura, de

cada mil (1000) alunos que entram na 1a série no ano de 1963, cento e trinta e três (133)

passam para a 6a série do 1o grau.

- Grupos paramilitares de direita, do Comando de Caça aos Comunistas - CCC, protegidos

pela polícia, invadem a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São

Paulo - USP, depredam o prédio, o que resulta na morte do estudante José Guimarães.

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- O Restaurante Universitário Calabouço é invadido e o estudante Edson Luiz Souto é

assassinado por um policial.

- Os estudantes fazem na cidade do Rio de Janeiro a "Passeata dos Cem Mil",

ferozmente reprimida pela polícia.

- A polícia cerca a Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ em Botafogo, e prende

cem estudantes no estádio do Botafogo Futebol e Regatas.

- A Universidade de Brasília é invadida pela terceira vez, com muitos alunos feridos

gravemente, parlamentares espancados e com a prisão do estudante Honestino

Guimarães, morto pela polícia em 1973.

- A polícia descobre que estava sendo realizado o XXX Congresso da União Nacional dos

Estudantes - UNE em Ibiúna, Estado de São Paulo, e prende cerca de novecentos

estudantes.

- É constituído o Grupo de Trabalho da Reforma Universitária - GTRU, cujo projeto foi

transformado na Lei 5540 e depois novamente regulamentado através do Decreto-lei 464.

- Foram fundados os primeiros Centros de Atendimento ao Pré-Escolar - CAPEs, pelo

Comitê Nacional Brasileiro da Organização Mundial de Educação Pré-Escolar - OMEP-

Brasil.

- O Decreto 63.341, de 1o de outubro, estabelece critérios para a expansão do ensino

superior.

- A Lei 5.537, de 21 de novembro, cria o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

- FNDE.

- O Decreto 63.281 cria o Centro Nacional de Recursos Humanos - CNRH.

- É sancionada a Lei 5.540, de 28 de novembro, que fixa normas de organização e

funcionamento do ensino superior e sua articulação com a escola média.

- O Decreto-lei 405, de 31 de dezembro, fixa normas para o incremento de matrículas em

estabelecimentos de ensino superior.

- Acordo MEC/USAID para dar continuidade e complementar o primeiro acordo para

desenvolvimento do ensino médio.

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- O deputado Márcio Moreira Alves publica o livro "O Beabá do MEC/USAID", tornando

público o andamento dos acordos entre o Ministério da Educação e Cultura e a United

States Agency International for Development - USAID.

- São fundadas a Universidade de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, a Universidade

Regional de Blumenau, em Santa Catarina, a Universidade Federal do Piauí, a de São

Carlos, em São Paulo, e a de Sergipe.

1969

- Segundo a Secretaria de Educação e Cultura, do Ministério de Educação e Cultura, de

cada mil (1000) alunos que entraram na 1a série no ano de 1963, cento e quinze (115)

passam para a 7a série do 1o grau.

- É Ministro da Educação e Cultura do Governo do General Garrastazu Médici: Coronel

Jarbas Gonçalves Passarinho.

- Entra em vigor o Decreto-Lei 477, aplicado aos professores, alunos e funcionários das

escolas, proibindo qualquer manifestação de caráter político, com o objetivo de banir o

protesto estudantil.

- São fundadas a Universidade Federal de Ouro Preto e a de Viçosa, em Minas Gerais, a

de Pelotas, no Rio Grande do Sul, e as Universidades de Rio Grande e a do Vale dos

Sinos, também no Rio Grande do Sul, a de Uberlândia, em Minas Gerais.

- O Parecer no 77 regulamenta o sistema nacional de Pós-Graduação.

- O Decreto-Lei 574 proibe as instituições educacionais de promoverem redução de suas

vagas iniciais.

- Vários professores da Universidade de São Paulo são aposentados compulsoriamente.

Entre eles Bolívar Lamounier, Florestan Fernandes, Villanova Artigas, José Leite Lopes,

Manuel Maurício de Albuquerque, Maria Yeda Linhares, Míriam Limoeiro Cardoso, Bento

Prado Júnior, Caio Prado Júnior, Elza Berquó, Emília Viotti da Costa, Fernando Henrique

Cardoso (nosso atual presidente da República), Isaias Raw, Jean Claude Bernardet, José

Artur Gianotti, Luiz Hildebrando Pereira da Silva, Mário Schemberg, Octavio Ianni, Paulo

Duarte e Paul Singer.

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- A Campanha Nacional de Educandários Gratuitos passa a se chamar Campanha

Nacional de Escolas da Comunidade - CNEC, por decisão de seu XIX Congresso Nacional,

realizado na cidade de Miguel Pereira, no Estado do Rio de Janeiro.

1970

- Segundo a Secretaria de Educação e Cultura, do Ministério de Educação e Cultura, de

cada 1000 alunos que entram na 1a série no ano de 1963, cento e um (101) passam para a

8a série do 1o grau.

- Começa a funcionar de fato no Brasil o Movimento Brasileiro de Alfabetização - MOBRAL,

criado para acabar com o analfabetismo. Seu projeto mostra uma forte influência das

idéias de Paulo Freire, perseguido pela ditadura militar.

- O Decreto 68.908 resolve a crise dos chamados "excedentes" com a criação do

vestibular classificatório.

- O educador brasileiro Paulo Freire funda em Genebra, onde se encontrava exilado,

juntamente com outros exilados brasileiros, o Instituto de Ação Cultural - IDAC

- O educador Paulo Freire publica "Pedagogia do Oprimido".

- São fundadas a Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul, a Estadual de Maringá e

a de Ponta Grossa, no Paraná, a Universidade Federal do Acre e a de Mato Grosso.

- Morre Lourenço Filho (Manoel Bergström) na cidade do Rio de Janeiro.

1971

- Segundo a Secretaria de Educação e Cultura, do Ministério de Educação e Cultura, de

cada mil (1000) alunos que entram na 1a série do 1o grau no ano de 1963, cem (100)

passam para a 1a série do 2o grau.

- É promulgada a lei 5692 que regulamenta o ensino de primeiro e segundo graus. Entre

outras determinações amplia a obrigatoriedade escolar de quatro para oito anos, aglutina o

antigo primário com o ginasial, suprimindo o exame de admissão e criando a escola única

profissionalizante.

- A Resolução no 8 do Conselho Federal de Educação fixa o núcleo comum para os

currículos do ensino de 1o e 2o graus, definindo seus objetivos e a amplitude.

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- O Parecer 853 do Conselho Federal de Educação define a doutrina de currículo, indica os

conteúdos de núcleo comum, apresenta o conceito de matéria, orienta suas formas de

tratamento e integração, indica os objetivos das áreas de estudo e os do processo

educativo, remetendo-os ao objetivo geral do ensino de 1o e 2o graus e aos fins da

educação brasileira.

- O Decreto 68.908 dispõe sobre o concurso vestibular, fixando as condições para o

ingresso na Universidade.

- Morre no Rio de Janeiro o educador Anísio Teixeira.

1972

- Segundo a Secretaria de Educação e Cultura, do Ministério de Educação e Cultura, de

cada mil (1000) alunos que entram na 1a série do 1o grau no ano de 1963, oitenta e cinco

(85) passam para a 2a série do 2o grau.

- O Parecer no 45 do Conselho Federal de Educação fixa o currículo mínimo a ser exigido

em cada habilitação profissional ou conjunto de habilitações afins, no ensino de 2o grau.

- O Parecer 339 recomenda a formação especial para o 1o grau.

- O Parecer 871 do Conselho Federal de Educação reforça e esclarece os conceitos e a

organização curricular, na forma estabelecida pelo Parecer 853/71.

- É fundada a Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro.

- Segundo a Secretaria de Educação e Cultura, do Ministério de Educação e Cultura, de

cada mil (1000) alunos que entram na 1a série do 1o grau no ano de 1963, setenta e cinco

(75) passam para a 3a série do 2o grau.

- É fundada a Universidade de Fortaleza, no Ceará, e a Universidade de Mogi das Cruzes,

em São Paulo.

1974

- Segundo a Secretaria de Educação e Cultura, do Ministério de Educação e Cultura, de

cada mil (1000) alunos que entram na 1a série do 1o grau no ano de 1963, setenta (70)

entram numa faculdade.

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- É Ministro da Educação e Cultura do Governo do General Ernesto Geisel: Ney Aminthas

de Barros Braga.

- É criado o Projeto Casulo da Legião Brasileira de Assistência - LBA, com o objetivo de

dar apoio financeiro e técnico às creches em todo o Brasil.

- A Legião Brasileira de Assistência - LBA e a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor -

FUNABEM são vinculadas ao Ministério de Assistência e Previdência Social.

- O Parecer no 2018 do Conselho Federal de Educação propõe a elaboração de legislação

contendo normas e procedimentos que regulamentem a implantação de programas

dirigidos às populações em idade pré-escolar, além de recomendar que sejam buscadas

novas fontes de recursos financeiros para subvencionar a educação pré-ecolar.

1975

- É criada a Coordenação de Educação Pré-Escolar, primeiramente chamada de

CODEPRE e hoje COEPRE vinculada ao Ministério de Educação e Cultura.

- Realizam-se o I (em 18 de abril) e o II (em 22 e 23 de maio) Seminário de Planejamento

da Educação Pré-Escolar.

- Realiza-se o I Encontro Nacional de Coordenadores de Educação Pré-Escolar dos

Sistemas de Ensino.

- Realiza-se o I Congresso Brasileiro de Educação Pré-Escolar, pela OMEP-Brasil.

- O Parecer no 76 do Conselho Federal de Educação propõe habilitações básicas referente

a determinadas áreas profissionais, dando ênfase entre a educação geral e a formação

especial.

- O Parecer no 1600 do Conselho Federal de Educação recomenda a habilitação a nível de

2o grau para o magistério pré-escolar.

- O Parecer no 4833 do Conselho Federal de Educação reforça e esclarece os conceitos e

a organização curricular, na forma estabelecida pelo Parecer 853/71.

1976

- É fundada a Universidade Estadual de Feira de Santana, na Bahia, e a Estadual Paulista

Júlio de Mesquita Filho, em São Paulo.

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- Realiza-se o I Congresso Latino-Americano de Educação Montessori, pela Associação

Brasileira de Educação Montessori - ABEM e Organização Brasileira de Atividades

Pedagógicas - OBRAPE.

- Realiza-se o II Congresso Brasileiro de Educação Montessoriana, pela Associação

Brasileira Montessoriana - ABM.

- A Resolução no 58 do Conselho Federal de Educação determina a inclusão obrigatória

da Língua Estrangeira Moderna no currículo de 2o grau.

1977

- A polícia bloqueia o "campus" da Universidade de São Paulo para que não se realize uma

reunião de estudantes. A reunião é transferida secretamente para o "campus" da Pontifícia

Universidade Católica que é invadida pela polícia, comandada pelo coronel Erasmo Dias,

tendo sido presos vários estudantes e sendo duas estudantes gravemente feridas à

bomba.

- O Parecer no 540 do Conselho Federal de Educação explica o tratamento dos

componentes determinados pelo Artigo 7o da Lei 5692/71, descaracterizando-os como

disciplinas e enfatizando-os como elementos educativos.

- É lançado o Programa Alfa Um, visando alfabetizar pessoas através do Método da

Fonação Condicionada e Repetida.

1978

- A Portaria no 505 do Ministério da Educação aprova diretrizes básicas para o ensino de

Moral e Cívica nos cursos de 1o e 2o graus e de Estudos de Problemas Brasileiros nos

cursos superiores.

- Realiza-se o I Encontro Latino-Americano de Educação Através da Arte.

1979

- São Ministros da Educação e Cultura do Governo do General João Baptista de

Figueiredo: Eduardo Mattos Portella, General Rubem Carlos Ludwig e Esther de

Figueiredo Ferraz.

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- Como resolução do I Congresso da Mulher Paulista é criado o Movimento de Luta por

Creches.

- A Resolução no 7 do Conselho Federal de Educação permite o desdobramento dos

Estudos Sociais em História e Geografia nas últimas séries do 1o grau e altera a

nomenclatura dos conteúdos Integração Social e Iniciação às Ciências para,

respectivamente, Estudos Sociais e Ciências. As antigas nomenclaturas passam a indicar

não mais conteúdos, mas forma de tratamento das matérias, dando nova redação ao

Artigo 5o da Resolução no 8/71.

1980

- Segundo Censo de 1980 a população brasileira em idade escolar é de 22.968.515, da

qual 7.540.451 não freqüentam a escola (cerca de um terço). Na área rural a população

brasileira em idade escolar é de 9.229.511 para 4.816.806 que freqüentam (quase a

metade).

- Realiza-se o XXV Congresso Nacional da Campanha Nacional de Escolas da

Comunidade.

- Realiza-se o I Congresso Brasileiro Piagetiano, pelo Centro Experimental e Educacional

Jean Piaget - CEEJP.

- O índice de analfabetismo no Brasil é de 25,5%.

1981

- A Coordenação de Educação Pré-Escolar - COEPRE lança o Programa Nacional de

Educação Pré-Escolar.

1982

- A educadora Esther de Figueiredo Ferraz assume o Ministério da Educação e Cultura,

tornando-se a primeira mulher a assumir um cargo de Ministro, no Brasil.

- É sancionada a lei no 7.044 dispensando as escolas da obrigatoriedade da

profissionalização, voltando a ênfase à formação geral.

- No Parecer no 342 do Conselho Federal de Educação ressurge a Filosofia como

disciplina optativa.

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- São criados os Centros Integrados de Educação Pública - CIEPs, no Estado do Rio de

Janeiro, por iniciativa do educador e antropólogo Darcy Ribeiro, com objetivo de atender

até mil crianças em dois turnos de atividades.

- A Lei no 7044/82 altera dispositivos da Lei 5692/71, referentes à profissionalização do

ensino de 2o grau, implicando em algumas mudanças na proposta curricular.

- O Parecer no 618 do Conselho Federal de Educação explica as alterações introduzidas

pela Lei 7044/82.

1983

- O Parecer no 108 do Conselho Federal de Educação esclarece a questão da habilitação

profissional após a Lei 7044/82.

- O Parecer no 170 do Conselho Federal de Educação explica a situação dos Pareceres

45/72 e 76/75 do Conselho Federal de Educação que definem a habilitação profissional

após a Lei 7044/82.

- O Parecer no 281 do Conselho Federal de Educação explica as camadas curriculares e

indica o sentido humanista da preparação para o trabalho, de acordo com a Lei 7044/82.

- Realiza-se o II Congresso Latino-Americano de Educação Montessori, pela Associação

Brasileira de Educação Montessori - ABEM e Organização Brasileira de Atividades

Pedagógicas - OBRAPE.

1984

- Realiza-se o I Congresso Internacional de Educação Piagetiana e o II Congresso

Brasileiro Piagetiano, pelo Centro Experimental e Educacional Jean Piaget - CEEJP.

1985

- O Movimento Brasileiro de Alfabetização - MOBRAL é extinto e criado o Projeto Educar.

- É criado o Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres - CNDM.

- São Ministros da Educação no Governo José Sarney: Marco Maciel, Jorge Konder

Bomhauser, Hugo Napoleão Rego Neto e Carlos Corrêa de Menezes Sant'Anna.

- O Parecer no 99 do Conselho Federal de Educação expõe a inconveniência de

acrescentar ao currículo matérias por via legislativa.

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Com o fim do Regime Militar, a eleição indireta de Tancredo Neves, seu falecimento e a posse de

José Sarney, pensou-se que poderíamos novamente discutir questões sobre educação de uma

forma democrática e aberta. A discussão sobre as questões educacionais já haviam perdido o seu

sentido pedagógico e assumido um caráter político. Para isso contribuiu a participação mais ativa

de pensadores de outras áreas do conhecimento que passaram a falar de educação num sentido

mais amplo do que as questões pertinentes a escola, a sala de aula, a didática e a dinâmica

escolar em si mesma. Impedidos de atuarem em suas funções, por questões políticas durante o

Regime Militar, profissionais da área de sociologia, filosofia, antropologia, história, psicologia, entre

outras, passaram a assumir postos na área da educação e a concretizar discursos em nome da

educação.

O Projeto de Lei da nova LDB foi encaminhado à Câmara Federal, pelo Deputado Octávio

Elisio em 1988. No ano seguinte o Deputado Jorge Hage envia a Câmara um substitutivo ao

Projeto e, em 1992, o Senador Darcy Ribeiro apresenta um novo Projeto que acaba por ser

aprovado em dezembro de 1996, oito anos após ao encaminhamento do Deputado Octávio Elisio.

O Governo Collor de Mello, em 1990, lança o projeto de construção de Centros Integrados

de Apoio à Criança - CIACs, em todo o Brasil, inspirados no modelo dos Centros Integrados de

Educação Pública - CIEPs, do Rio de Janeiro, existentes desde 1982.

Neste período, do fim do Regime Militar aos dias de hoje, a fase politicamente marcante na

educação, foi o trabalho do Ministro Paulo Renato de Souza à frente do Ministério da Educação.

Logo no início de sua gestão, através de uma Medida Provisória extinguiu o Conselho Federal de

Educação e criou o Conselho Nacional de Educação, vinculado ao Ministério da Educação e

Cultura. Esta mudança tornou o Conselho menos burocrático e mais político.

Mesmo que possamos não concordar com a forma como vem sendo executados alguns

programas, temos que reconhecer que, em toda a História da Educação no Brasil, contada a partir

do descobrimento, jamais houve execução de tantos projetos na área da educação numa só

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administração.

Entre esses programas destacamos:

Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do

Magistério - FUNDEF

Programa de Avaliação Institucional - PAIUB

Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica - SAEB

Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM

Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs

Exame Nacional de Cursos - ENC

Entre outros Programas que vem sendo executados.

Desses Programas, o mais contestado, inclusive por mim, foi o Exame Nacional de Cursos

e o seu "Provão", onde os alunos das universidades têm que realizar uma prova ao fim do curso

para receber seus diplomas. Esta prova, em que os alunos podem simplesmente assinar a ata de

presença e se retirar sem responder nenhuma questão, é levada em consideração como avaliação

das instituições. Além do mais, entre outras questões, o exame não diferencia as regiões do país.

(Cronologia)

1986

- É realizada a Conferência Brasileira de Educação em Goiânia, Estado de Goiás.

- O Parecer no 785 do Conselho Federal de Educação reformula o núcleo comum para o

ensino de 1o e 2o graus.

- A Resolução no 6 do Conselho Federal de Educação reformula o núcleo comum para os

currículos do ensino de 1o e 2o graus, revogando a Resolução no 8/71 do próprio CFE,

dando novas diretrizes.

1987

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- Apenas 13,1% do total dos gastos da União foram destinados à Educação.

- É extinta a Coordenação de Educação Pré-Escolar - COEPRE e o Programa Pré-Escolar

passa a ser coordenado pela Secretaria de Ensino Básico do Ministério da Educação e

Cultura.

1988

- A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo implanta em todo o Estado diversos

Centros Específicos de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério - CEFAMs.

- Depois de sete meses de greve os professores da rede pública estadual do Rio de

Janeiro voltam ao trabalho sem que nenhuma das exigências sejam atendidas.

- É realizada a Conferência Brasileira de Educação em Brasília, Distrito Federal.

- Segundo dados do INEP 22,8% dos alunos repetiram a 1a série do 1o grau e 22,5%

repetiram a 5a série; as taxas de evasão foram de 15,2% na 1a série e 18,9% na 5a série.

Apenas 32,21% dos alunos completam o 1o grau.

- É encaminhado à Câmara Federal pelo Deputado Octávio Elisio um Projeto de Lei, que

propõe fixar as diretrizes e bases para a educação nacional.

- Apenas 10,6% do total dos gastos da União foram destinados à Educação.

1989

- O Tribunal Superior Eleitoral - TSE, divulga uma pesquisa em que 68% dos eleitores são

analfabetos, semi-analfabetos ou não completaram o 1o grau.

- Apenas 4,6% do total dos gastos da União foram destinados à Educação.

- O Deputado Jorge Hage envia a Câmara um substitutivo ao Projeto que propõe fixar as

diretrizes e bases para a educação nacional.

1990

- É Ministro da Educação no Governo Collor de Mello: Carlos Alberto Gomes Chiarelli.

- É criado o Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania com o objetivo de reduzir em

até 70% o número de analfabetos até 1995.

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- É lançado o projeto de construção de Centros Integrados de Apoio à Criança - CIACs, em

todo o Brasil, inspirados no modelo dos Centros Integrados de Educação Pública - CIEPs,

do Rio de Janeiro.

- Apenas 2,4% do total dos gastos da União foram destinados à Educação.

1991

- Apenas 4,2% do total dos gastos da União foram destinados à Educação.

- O eixo Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais concentram 55% do total de estudantes

universitários.

- O índice de analfabetismo no Brasil é de 18%.

1992

- O político e ex-deputado federal Carlos Chiarelli, ainda como Ministro da Educação,

declara que no Brasil "os professores fingem que ensinam, os alunos fingem que

aprendem e o governo finge que controla".

- O padrinho de casamento do novo Presidente da República, Murílio Hingel, é o Ministro

da Educação, no governo Itamar Franco.

- As disciplinas de Organização Social e Política do Brasil - OSPB e Estudos de Problemas

Brasileiros - EPB deixam de ser obrigatórias, no ensino de 2o grau e superior.

- Os Centros Integrados de Apoio à Criança - CIACs passam a se chamar Centros de

Atenção Integral à Criança e aos Adolescentes - CAICs.

- Alguns educadores criticam esse tipo de projeto (CIEPs e CAICs) dizendo que seria mais

eficaz gastar-se recursos no modelo de rede escolar já existente, atendendo-se um maior

número de crianças.

- O Senador Darcy Ribeiro apresenta na Câmara um novo Projeto que propõe fixar as

Diretrizes e Bases para a Educação Nacional.

- A população analfabeta com dez anos ou mais é de 16,5%.

1993

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- No Espírito Santo os alunos ficaram sem aulas por 109 dias letivos em função de uma

greve de professores. Em Minas Gerais os professores ficaram parados por 76 dias e em

São Paulo por 79 dias.

- O Conselho Estadual de Educação do Rio de Janeiro - CEE/RJ aprova projeto da

Secretaria Estadual de Educação - SEEC que acaba com a reprovação dos alunos nas

cinco primeiras séries do 1o grau.

- Segundo o Relatório do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica cerca de

59% dos professores não prestaram concurso público, foram indicados por políticos ou

técnicos.

- Nos últimos 45 dias do Ministro Murílio Hingel à frente do Ministério da Educação e

Cultura, foram aprovados 172 novos cursos superiores e quatro novas universidades.

- Uma pesquisa realizada pela Ordem dos Advogados do Brasil mostrou que de 89 cursos

de Direito, apenas sete formam bons advogados.

- O Senador Darcy Ribeiro retira seu Projeto que propõe fixar as Diretrizes e Bases para a

Educação Nacional.

- As mulheres com idade média de 33,6 anos constituem 83,3% do contigente de

professores do 1o grau.

- É criado o Projeto de Educação Básica para o Nordeste com apoio do Banco

Interamericano de Desenvolvimento - BIRD.

1994

- É Ministro da Educação no Governo Fernando Henrique Cardoso: Paulo Renato de

Souza.

- Nas regiões Norte e Nordeste do Brasil ainda é muito freqüente a figura do professor

leigo, algumas vezes sem o 1o grau completo.

- A Medida Provisória de 18 de outubro de 1994 extingue o Conselho Federal de Educação

e cria o Conselho Nacional de Educação, vinculado ao Ministério da Educação e Cultura.

Esta mudança torna o Conselho menos burocrático e mais político.

1995

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- A Universidade de Brasília cria o Programa de Avaliação Seriada (PAS), para ingresso na

universidade, que acaba com o exame vestibular. A avaliação do aluno é feita durante a

realização do 2o grau.

- Entra no ar a TV Escola, um canal exclusivo, via satélite, para promover a atualização

dos professores, que poderão gravar os programas e apresentá-los aos seus alunos,

patrocinado pelo MEC.

- O Governo Federal envia ao Congresso uma emenda constitucional que propõe a criação

do Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Professor.

- O Ministro Paulo Renato de Souza cria um sistema de avaliação de alunos formados nos

cursos superiores. O objetivo é avaliar a eficácia das faculdades. Inicia com os cursos de

Medicina, Engenharia e Direito.

1996

- O Presidente sanciona a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) que ficou oito

anos em discussão no Congresso.

- O Ministério da Educação institui o telefone número 0-800-616161, permitindo contato

gratuito de qualquer educador com este Ministério.

- Os estudantes universitários protestam com violência contra o "Provão" como método de

avaliação das Universidades.

- A população analfabeta com dez anos ou mais é de 13,8%.

1997

- Morre Darcy Ribeiro.

- Morre Paulo Freire.

- Morre Hebert de Souza, o Betinho.

- As escolas de 2o grau também são avaliadas através de "Provão".

* Chamamos este período de Abertura Política, já que consideramos que a ditadura militar deixou

significativas marcas na sociedade brasileira. A questão da participação popular até os dias de

hoje não foi resolvida. Resquícios da ditadura ainda estão expressos nas Medidas Provisórias,

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utilizadas constantemente pelo governo federal, e pelas repressões violentas dos órgãos policiais

às manifestações públicas da sociedade civil.

Democratização da Escola Pública

A Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos

Tendência Liberal Tradicional

Tendência Renovada Progressista

Tendência Liberal Renovada Não-Diretiva

Tendência Liberal Tecnicista

Tendência Progressista Libertadora

Tendência Progressista Libertária

Tendência "Crítica-Social dos Conteúdos"

Tendência Liberal Tradicional

Papel da Escola: Consiste na preparação intelectual e moral dos alunos, compromisso com a

cultura, os menos capazes devem lutar para superar suas dificuldades e conquistar seu lugar junto

aos mais capazes.

Conteúdos de Ensino: Valores sociais acumulados pelos antepassados. As matérias preparam o

aluno para a vida. Conteúdos separados das realidades sociais.

Método: Exposição verbal da matéria, preparação do aluno, apresentação, associação, exercícios

e repetições.

Professor x Aluno: Predomina a autoridade do professor. O professor transmite o conteúdo na

forma absorvida. Disciplina rígida.

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Pressupostos: Aprendizagem receptiva e mecânica, ocorre com a coação. Considera que a

capacidade de assimilação da criança é a mesma do adulto. Reforço em geral negativo as vezes

maior.

Prática Escolar: Comum em nossas escolas. Orientação humanicética, clássica, científica, modelos

de imitação.

Tendência Renovada Progressista

Papel da Escola: Ordenar as necessidades individuais do meio social. Experiências que devem

satisfazer os interesses do aluno e as exigências sociais. Interação entre estruturas cognitivas do

indivíduo e estruturas do ambiente.

Conteúdos: Conteúdos estabelecidos em função de experiência vivificada. Processos mentais e

habilidades cognitivas. Aprender a aprender.

Métodos: Aprender fazendo. Trabalho em grupo. Método ativo: a) situação, experiência; b)

desafiante, soluções provisórias; soluções à prova.

Professor x Aluno: Professor sem lugar privilegiado. Auxiliados. Disciplina como tomada de

consciência. Indispensável bom relacionamento entre professor e aluno.

Pressupostos: Estimulação da situação problema. Aprender é uma atividade de descoberta. Retido

o que é descoberto pelo aluno.

Prática Escolar: Aplicação reduzida. Choque com a prática - pedagogia.

Tendência Liberal Renovada não-Diretiva

Papel da Escola: Formação de atitudes. Preocupações com problemas psicológicos. Clima

favorável à mudança do indivíduo. Boa educação, boa terapia (Rogers)

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Conteúdos: Esta tendência põe nos processos de desenvolvimento das relações e da

comunicação se torna secundária a transmissão de conteúdos.

Método: O esforço do professor é praticamente dobrado para facilitar a aprendizagem do aluno.

Boa relação entre professor e aluno.

Professor x Aluno: A pedagogia não-diretiva propõe uma educação centrada. O professor é um

especialista em relações humanas, toda a intervenção é ameaçadora.

Pressupostos: A motivação resulta do desejo de adequação pessoal da auto-realização, aprender,

portanto, é modificar suas próprias percepções, daí se aprende o que estiver significamente

relacionados.

Prática Escolar: As idéias do psicólogo C. Rogers é influenciar o número expressivo de

educadores, professores, orientadores, psicólogos escolares.

Tendência Liberal Tecnicista

Papel da Escola: Funciona como modeladora do comportamento humano, através de técnicas

específicas, tal indivíduo que se integra na máquina social. A escola atual assim, no

aperfeiçoamento da ordem social vigente.

Conteúdos: São as informações, princípios e leis, numa seqüência lógica e psicológica por

especialistas. O material instrucional encontra-se sistematizado nos manuais, nos livros didáticos,

etc...

Métodos: Consistem o método de transmissão, recepção de informações. A tecnologia educacional

é a aplicação sistemática de princípios, utilizando um sistema mais abrangente.

Professor x Aluno: A comunicação professor x aluno tem um sentido exclusivamente técnico,

eficácia da transmissão e conhecimento. Debates, discussões são desnecessárias.

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Pressupostos: As teorias de aprendizagem que fundamentam a pedagogia tecnicista dizem que

aprender é uma questão de modificação do desempenho. Trata-se de um ensino diretivo.

Prática Escolar: Remonta a 2a. metade dos anos 50 (Programa Brasileiro-Americano de Auxílio ao

Ensino Elementar). É quando a orientação escolanovista cede lugar a tendência tecnicista pelo

menos no nível oficial.

Tendência Progressista Libertadora

Papel da Escola: Atuação não formal. Consciência da realidade para transformação social.

Questionar a realidade. Educação crítica.

Conteúdos: Geradores são extraídos da prática, da vida dos educandos. Caráter político.

Método: Predomina o diálogo entre professor e aluno. O professor é um animador que por princípio

deve descer ao nível dos alunos.

Professor x Aluno: Relação horizontal. Ambos são sujeitos do ato do conhecimento. Sem relação

de autoridade.

Pressupostos: Educação problematizadora. Educação se dá a partir da codificação da situação

problema. Conhecimento da realidade. Processo de reflexão e crítica.

Prática Escolar: A pedagogia libertadora tem como inspirador Paulo Freire. Movimentos populares:

sindicatos, formações teóricas indicam educação para adultos, muitos professores vêm tentando

colocar em prática todos os graus de ensino formal.

Tendência Progressista Libertária

Papel da Escola: Transformação na personalidade do aluno, modificações institucionais à partir

dos níveis subalternos.

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Conteúdos: Matérias são colocadas à disposição dos alunos, mas não são cobradas. Vai do

interesse de cada um.

Método: É na vivência grupal, na forma de auto-gestão que os alunos buscarão encontrar as bases

mais satisfatórias.

Professor x Aluno: Considera-se que desde o início a ineficácia e a nocividade de todos os

métodos, embora sejam desiguais e diferentes.

Pressupostos: Aprendizagem informal, relevância ao que tem uso prático. Tendência anti-

autoritária. Crescer dentro da vivência grupal.

Prática Escolar: Trabalhos não pedagógicos mas de crítica as instituições. Relevância do saber

sistematizado.

Tendência "Crítica-Social dos Conteúdos"

Papel da Escola: É a tarefa primordial. Conteúdos abstratos, mas vivos, concretos. A escola é a

parte integrante de todo social, a função é "uma atividade mediadora no seio da prática social e

global". Consiste para o mundo adulto.

Conteúdos: São os conteúdos culturais universais que se constituíram em domínios de

conhecimento relativamente autônomos, não basta que eles sejam apenas ensinados, é preciso

que se liguem de forma indissociável.

A Postura da Pedagogia dos Conteúdos: assume o saber como tendo um conteúdo relativamente

objetivo, mas ao mesmo tempo "introduz" a possibilidade de uma reavaliação crítica frente a este

conteúdo.

Método: É preciso que os métodos favoreçam a correspondência dos conteúdos com os interesses

dos alunos.

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Professor x Aluno: Consiste no movimento das condições em que professor e alunos possam

colaborar para fazer progredir essas trocas. O esforço de elaboração de uma pedagogia dos

conteúdos está em propor ensinos voltados para a interação "conteúdos x realidades sociais".

Pressupostos: O aluno se reconhece nos conteúdos e modelos sociais apresentados pelo

professor. O conhecimento novo se apoia numa estrutura cognitiva já existente.

Currículo: Estrutura e Aplicação

A concepção de currículo, segundo os componentes do grupo antes de estudar o assunto, centrou-

se em um dado momento à idéia ligada ao histórico de experiências de alguém ou outra voltada à

grade curricular escolar e seus conteúdos.

Na realidade após iniciarmos a leitura dos textos fornecidos, notamos que o currículo possui mais

significado do que imaginamos.

Diferentes versões sobre problemas e questões curriculares podem ser encontradas na literatura

especializada (Cremin, 1975; Seguel, 1966; Franklin, 1974; Pinar & Grumet, 1981). Comum a todas

elas, destaca-se, pôr parte dos superintendentes de sistemas escolares americanos e dos teóricos

considerados como precursores do novo campo, a preocupação com os processos de

racionalização, sistematização e qualificação da escola e do currículo. Em outras palavras, o

propósito mais amplo desses especialistas parece Ter sido planejar “cientificamente” as atividades

pedagógicas e controlá-las de modo a evitar que o comportamento e o pensamento do aluno se

desviassem de metas e padrões pré-definidos.

São duas as grandes vertentes sobre concepção de currículo. A primeira denomina-se currículo

por prescrição que caracteriza-se como programa de formação global com coerência didática e

distribuição no tempo, de forma seqüencial, com situações e atividades ordenadas. Trata-se de um

programa de estudos, um programa de formação. A Enciclopédia Mirador Internacional define

currículo assim:

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“Currículo, do ponto de vista pedagógico, é um conjunto estruturado de disciplinas e atividades,

organizado com o objetivo de possibilitar que seja alcançada certa meta proposta e fixada em

função de um planejamento educativo. Em perspectiva mais reduzida, indica a adequada

estruturação dos conhecimentos que integram determinado domínio do saber, de modo a facilitar

seu aprendizado em tempo real e nível eficaz".

A outra vertente é denominada currículo como construção, que pode ser definida por duas

diferentes perspectivas. Em primeira instância, materialmente falando, segundo Forquin, currículo

pode ser entendido como

“...aquilo que realmente é ensinado nas salas de aula e que está, as vezes, muito distante daquilo

que é oficialmente prescrito” (Forquin: 1996. p.187).

Nesta linha se entende, também, o currículo como todas as ações previstas, organizadas pela

escola. Já pelo lado filosófico podemos definir construção de currículo como sendo a resultante de

discursividades diferentes, de intencionalidade diversas, de representações várias, nem sempre

mostra, na superfície, tudo o que pode mostrar ou significar, em termos de conseqüências que

pode produzir. Currículo é lugar de representação simbólica, transgressão, jogo de poder

multicultural, lugar de escolhas, inclusões/exclusões, produto de uma lógica explicita muitas vezes

e, outras, resultado de uma lógica clandestina, que nem sempre é a expressão da vontade de um

sujeito, mas imposição do próprio ato discursivo.

Quando da confecção da grade curricular, deve-se levar em consideração, não somente aspectos

técnicos mas também os de ordem social e ou cultural.

Existe outro conceito sobre currículo chamado de oculto que se refere ao aspecto da experiência

educacional não explicitado no currículo oficial. Constitui grande importância na tarefa de

compreender o papel do currículo na produção de determinados tipos de personalidade. O

conceito contribui para “ absolver ” o currículo oficial e formal de sua responsabilidade na formação

de sujeitos sociais.

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O currículo escolar tem ficado indiferente às formas pelas quais a “Cultura popular” (TV, revista,

musica, videogame) tem constituído uma parte central e importante da vida das crianças e jovens.

Embora pouco saibamos como essa situação pode ser modificada podemos esperar que esta se

torne uma necessidade dos analistas críticos e se tornarem menos “escolares” e mais “culturais”.

As novas tecnologias em informática ilustram as profundas transformações que estão se dando na

esfera da produção do conhecimento técnico/administrativo , transformações que tem implicações

tanto para o “conteúdo” do conhecimento quanto para a sua forma. A teoria educacional critica não

pode ficar indiferente a esse processo, nem tampouco pode rejeita-lo em nome de um certo

humanismo anti-tecnicista. Em vez disso, é importante compreende-lo e encontrar formas de

utiliza-lo compativelmente com nossos objetivos de democracia, igualdade e justiça social.

A partir dos anos 60 a implicação social do currículo começou a ser pensada. Compreende-se a

partir de então que o currículo traduz elementos da memória coletiva, expressão ideológica,

política, expressão de conflitos simbólicos, de descobrimento e ocultamento, segundo os

interesses e jogos de força daqueles que estão envolvidos ou não no processo educativo. Segundo

Forquin, da “seleção cultural escolar”.

O que caracteriza a ideologia não é a falsidade ou a veracidade das idéias que vincula, mas o fato

que essas idéias são interessadas, transmitem uma visão de mundo social vinculada aos

interesses dos grupos situados em uma posição de vantagem na organização social. A ideologia é

essencial na luta dos grupos pela manutenção das vantagens dessa posição privilegiada. É muito

menos importante saber se as idéias envolvidas na ideologia são falsos ou verdadeiros, é muito

mais importante saber as vantagens relativas e que relação de poder elas justificam ou legitimam.

Nesses termos a pergunta correta não é saber se as idéias vinculadas pela ideologia

correspondem a realidade ou não, mas saber a quem beneficiam. Portanto ligar o conceito de

ideologia à relação de poder significa contestar a noção de conhecimento como representação da

realidade implícita no conteúdo da ideologia. Observe, realizar esse tipo de analogia é considerar o

conteúdo ideologia como pouco contestado.

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Um refinamento desta visão de ideologia tem os seguintes desdobramentos:

1. Não é totalmente criada, ela se aproveita de materiais existentes na sociedade;

2. Ela é heterogênea, composta de fragmentos de diferentes espécies de conhecimentos;

3. Age com resistência por parte aos quais é dirigida, devido a sua interpretação

diferenciada.

Os meios de difundir a ideologia é ampla através de livros, rituais e arranjos tridimensionais. Em

suma, falar de currículo significa falar de ideologia. A ideologia vai interferir no princípio da

finalidade do currículo, que deverá validar as disciplinas que atendam os objetivos das idéias

impostas. O conteúdo do currículo estará sempre refletindo interesses do grupo que o elabora,

considerando o contexto social do momento. Se a ideologia estiver com idéias técnicas o currículo

deverá validar disciplinas que atendam os objetivos de curso técnico.

Quando se fala de “seleção de conteúdos”, não se fala de coisa neutra: Na escolha de conteúdos

curriculares se determinam variáveis sociais significativas e dinâmicas. Põe-se em jogo interesses,

exercita-se poder, determinam-se rumos políticos.

Partindo-se do pressuposto que todo o currículo é uma forma de poder temos que o Governo

estabelece as Leis (Diretrizes básicas), as unidades de ensino estabelecem a filosofia pedagógica

a ser seguida e os professores como “minoria” de poder seguem esta política estabelecida. O

poder está subdividido ou fragmentado na força de trabalho dos professores podendo adquirir

consistência quando existe a união em direção de um objetivo.

Currículo é um dos lugares em que se concede a palavra ou se toma-a, no jogo das forças

políticas sociais e econômicas. A manipulação da informação é facilmente exercitada através do

currículo explicitado nos manuais escolares que circulam internamente à escola, mas que são

veículo das idéias e das práticas que rolam fora da escola-instituição. No currículo pode-se ler,

assim, a estrutura social, as estratificações, o pensamento dominante, os interesses explícitos e

implícitos do poder difuso multipartite e multifaceado, polífono.

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Contradições e conflitos de um certo tipo de leitura de Marx conduziu algumas investigações sobre

a educação e o currículo a uma compreensão contrária, a um beco sem saída; pior que isso,

instaurou a desesperança na possibilidade de se utilizar a educação como uma das forças sociais

para a emancipação, ao acreditar no poder absoluto das classes dominantes na seleção e na

distribuição do conhecimento.

Giroux denunciou um dos erros em que tais investigações incorriam:

“...as teorias radicais de escolarização têm sido moldadas em versões positivistas do

Marxismo que congelava o momento dialético de incerteza do comportamento humano e

optavam pela parte da formulação Marxista clássica que enfatiza que a história é feita de

fato “pelas costas” dos membros da sociedade. A noção de que realmente as pessoas

fazem a história, incluindo suas coerções, parece ter sido negligenciado nesta

formulação” Giroux (1986, pp. 161-162).

O currículo escolar, tanto como os demais aspectos da vida social, está impregnado e modelado

por ideologias.

É neste sentido que a seleção dos conteúdos curriculares não poderá ser adequadamente

compreendida senão como um processo no qual participa todo o conjunto da sociedade (alguns

com mais ou menos poderes, outros com maior ou menor consciência), pois selecionar, classificar,

distribuir e avaliar conhecimentos põe em ação as múltiplas representações que percorrem os

espaços culturais e não somente aquelas elaboradas pelos grupos dominantes.

É importante destacar que a relação “currículo e conhecimento” não se encontra totalmente

determinada pela infra-estrutura econômica. O papel principal da revisão curricular é que as forças

fragmentadas somadas podem provocar uma modificação no currículo e combater as forças de

poder. A revisão curricular pode ocorrer por meio de avaliações que permitam verificar até que

ponto o planejamento foi desenvolvido de maneira adequada ou por processo como coleta de

dados, organização e interpretação de dados e finalmente modificações curriculares. Se ideologia

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e currículo não podem ser vistos separadamente na teorização educacional crítica, cultura e

currículo constituem um par inseparável na teoria educacional tradicional.

A NSE (Nova Sociologia da Educação) constituiu-se na primeira corrente sociológica de fato

voltada para o estudo do currículo. O grande marco de sua emergência tem sido considerado o

livro editado por Young, Knowledge and Control: New Direction for the Sociology of Education

(1971), no qual foram reunidos artigos de diversos autores, dentre os quais se destacam os de

Basil Bernstein, Nell Keddie, Pierre Bourdieu e Geoffrey Esland e o que se tornou clássico na

sociologia do currículo, escrito pelo próprio Young, “An approach to the Study of Curricula as

Socially Organized Knowledge”.

A cultura é o terreno em que se enfrentam diferentes e conflitantes concepções da vida social, é

aquilo pelo qual se luta e não aquilo que recebemos. A cultura é transparente às classes, ela é

onipresente. O currículo educacional é o terreno privilegiado de manifestações da diversidade

cultural e seus conflitos.

Na visão tradicional, o currículo é o local de transmissão de uma cultura incontestada e unitária. É

um processo de continuidade cultural da sociedade como um todo.

Na visão crítica, o currículo é o terreno em que ativamente se criará e produzirá cultura. O currículo

é assim um terreno de produção política cultural, na qual os materiais existentes funcionam como

matéria prima de criação, recriação e sobretudo de contestação e transgressão.

O currículo é assim um terreno de produção cultural na qual os materiais existentes funcionam

como matéria prima de criação, recriação e sobretudo de contestação e transgressão.

Nos estudos culturais voltados para o currículo não se podem mais ignorar as diferenças culturais,

de gênero, de raça, de cor, sexo etc. Há, em todo o enfoque cultural destas questões, uma

profunda preocupação com os valores éticos do respeito, do cuidado heideggeriano com a vida,

com o outra, com o sujeito diferente, com a dor da exclusão, com a mágoa das minorias

marginalizadas, com os excluídos. O currículo está intimamente ligado às questões culturais,

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desde o momento que se faz a pergunta: “Currículo para quem???”. Afinal, a questão do currículo

é a questão central que diz respeito àquilo que a escola faz e para quem faz ou deixa de fazer.

A globalização da cultura, viabilizada pelo desenvolvimento espantoso dos diferentes meios de

comunicação, ao mesmo tempo que cria grupos de identidades tão importantes para o consumo,

ameaça a afirmação cultural de diferentes segmentos sociais.

De maneira geral, pode-se dizer que pôr um lado, a globalização da economia tem acentuado o

processo de dependência tecnológica, financeira e cultural, assim com tem evidenciado a

indiferença crescente dos países desenvolvidos em relação aos problemas enfrentados pelos

chamados países do terceiro mundo.

De acordo com McLaren e Gutierrez, o multiculturalismo crítico está comprometido, acima de tudo,

com a questão ética de solidariedade com o oprimido. Assim:

“...o desafio para nós educadores é desenvolver um conceito de unidade e diferença que

reconfigure o sentido de diferença como mobilização política mais do que autenticidade

cultural ” (1996, pp.33-34).

Como pode ser visto, a reação à homogeneização cultural, intensificada nos últimos anos pelo

processo de globalização, abre um amplo debate sobre a questão da diversidade cultural.

Currículo é o lugar dos eventos micro e macro, dos sistemas educacionais, das instituições, a um

tempo, e o lugar, também, dos desejos mínimos, por outro. As decisões tomadas a respeito do

currículo (Micro ou macro), afetam sempre vidas, sujeitos. Daí sua importância. A dinâmica do

mundo do trabalho sofreu evoluções mais rápidas após ao surgimento da era industrial. Após a

implantação da indústria a mesma sofreu alterações mais amiúde obrigando a flexibilidade do

reajuste do currículo ser a curto espaço de tempo. Podemos citar como exemplo as alterações das

leis de educação no Brasil que foram mais freqüentes após a implantação da industria

automobilística no país.