9
1. Keynes: princípio da demanda efetiva e incerteza 1.1. Demanda Efetiva, Emprego e Renda Crítica aos economistas “clássicos *Lopes e Vasconcellos, Manual de Macroeconomia, cap. 3 * Froyen , Macroeconomia, caps. 3 e 4 Keynes, TG, prefácios e caps. 1 e2 03/11/15 1 Pressupostos básicos do modelo clássico estilizado: Concorrência perfeita Preços e salários perfeitamente flexíveis Informação perfeita Agente racional maximizador Modelo Clássico 03/11/15 2 Produção Y = F (K,N) CP Alteração no insumo trabalho LP Aumento do estoque de capital Y = F(K’,N) Melhoria tecnológica Y = F’(K,N) Y Yo N No N No PMgN Y = F(K,N) PMgN Y1 Y = F(K’,N) ou Y = F’(K,N) PMgN’ PMgN1’ PMgNo N1 PMgN1 Modelo Clássico 03/11/15 3 Emprego Demanda por trabalho Nd = f(W/P) (-) Condição de maximização de lucro: P = CMg = W / PMgN ou W = PMgNxP ou PMgN = W / P W/P = 4/1 1 2 3 4 5 6 7 N PMgN, W/P 0 -1 1 2 3 4 5 6 7 8 -2 B C D E F G H W/P = 6/1 Modelo Clássico 03/11/15 4

1. Keynes: princípio da demanda efetiva e incerteza Y1 Y ... · 1. Keynes: princípio da demanda efetiva e incerteza 1.1. Demanda Efetiva, Emprego e Renda Crítica aos economistas

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1. Keynes:princípiodademandaefetivaeincerteza

1.1.DemandaEfetiva,EmpregoeRenda

Críticaaoseconomistas“clássicos”

*LopeseVasconcellos,ManualdeMacroeconomia,cap.3*Froyen,Macroeconomia,caps.3e4Keynes,TG,prefáciosecaps.1 e2

03/11/15 1

Pressupostos básicos do modelo clássico estilizado:

• Concorrência perfeita

• Preços e salários perfeitamente flexíveis

• Informação perfeita

• Agente racional maximizador

ModeloClássico

03/11/15 2

Produção

Y =F (K,N)

CPAlteraçãonoinsumotrabalho

LPAumentodoestoquedecapitalY =F(K’,N)

MelhoriatecnológicaY =F’(K,N)

Y

Yo

NNo

NNo

PMgN

Y=F(K,N)

PMgN

Y1

Y=F(K’,N)ouY=F’(K,N)

PMgN’

PMgN1’

PMgNo

N1

PMgN1

ModeloClássico

03/11/15 3

Emprego

Demanda por trabalho Nd = f(W/P) (-)

Condição de maximização de lucro:P = CMg = W / PMgN ou W = PMgNxP ou PMgN = W / P

W/P=4/1

1

2

3

4

5

6

7

N

PMgN,W/P

0

-11 2 3 4 5 6 7

8

-2

B C

D

E

F

G

H

W/P=6/1

ModeloClássico

03/11/15 4

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Emprego

Oferta de trabalho Ns = g(W/P) (+)

C

B

A

U2

U1

Uo

RendaReal

2415 16 18

(W/P=4)(4x24=96)

(W/P=3)(3x24=72)

(W/P=2)(2x24=48)

Trade-offRenda-Lazer

Horasdetrabalhopordia

Horasdelazerpordia

W/P

4

3

2

6 8 9

Curvadeofertadetrabalho

(RRA=2x6=12)

(RRB=3x8=24)

(RRC=4x9=36)

A

B

C

ModeloClássico

03/11/15 5

Emprego

Equilíbrio no mercado de trabalho

NNo

W/P Ns=g(W/P)

Wo/Po

PMgN=Nd=f(W/P)

Wo/2Po

N1N1’

2Wo/2Po=

Excessodedemanda

Excessodeoferta

2Wo/Po

ModeloClássico

03/11/15 6

Produto e emprego de equilíbrio

Curva de oferta agregada clássica

NNo

W/PNs=g(W/P)

3Wo/3Po=2Wo/2Po=Wo/Po

PMgN=Nd=f(W/P)

Y

N

Y=F(K,N)Yo

No Y

P

3Po

2Po

Po

Yo

• Variáveis exógenas:- tecnologia,- estoque de capital,- crescimento populacional,- preferência em relação ao

trabalho-lazer

• Variáveis endógenas: W/P, N, Y

ModeloClássico

03/11/15 7

TeoriaQuantitativadaMoeda

• Versão Fisher:MV =PY• AbordagemdeCambridgeparaTQM:M=Md =kPY Equivalência

formal:V=1/k

Teoriaimplícitadademanda:

M’>M=Md =>k’PY >kPY ondek’>k

⇒ ↑D para↓k’=k =>↑P sendoY

M:ofertaexógenademoedaY:produtorealdeterminadopelascondiçõesdeoferta=>Quantidadedemoedadeterminaoníveldepreços

Y

P

Po

P1

P2

Yd(Mo)

Yd(M1)

Yo=Y1=Y2

Yd(M2)

Ys

ModeloClássico

03/11/15 8

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Ateoriaclássica dataxadejuros

C(r)(-):preferência intertemporal dosagentesS(r)(+):poupança(ofertadefundosdeempréstimo)I (r)(-):investimento(demandadefundosdeempréstimo)S(r)xI(r)=>r:taxarealdejuros

S,I

r

ro

S=I

S

I

Y =C(r)+I(r)=C(r)+S(r)S(r)=Y – C(r)=I(r)

ModeloClássico

03/11/15 9

S’

• Tendência de autoajuste da economia

⇒Economia opera a pleno emprego⇒ Lei de Say: “a oferta cria a sua própria demanda”

• Política econômica não intervencionista

⇒ Pleno Emprego e S = D (x Política Econômica)

ModeloClássico

03/11/15 10

Implicaçõesdepolíticaeconômicanomodelodeequilíbrioclássico

PolíticaFiscal– financiamentododéficitporvendadetítulosG:gastosgovernamentaisT:receitatributária(G-T):déficitpúblico

S,I,G-T

r

ro

So=Io

S

I

I+(G– T)r1

S1=I+(G– T)

(G– T)

S,I

AB

Crowding-out ouefeitodeslocamentoΔG=- (ΔC+ΔI)

Y

P

PoYd(Mo)

Yo=Y1

Ys

ModeloClássico

03/11/15 11

Implicaçõesdepolíticaeconômicanomodelodeequilíbrioclássico

PolíticaMonetária:ΔM=>ΔP

Y

P1

Yd(Mo)

Yd(M1)

Yo

Yso

Po

S,I

r

ro

S=I

S

I

Y=C(r)+I(r)S(r)=Y– C(r)=I(r)

MV =PYM=Md=k.PY

ModeloClássico

03/11/15 12

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Equilíbrioentreofertaedemandaagregadanomodeloclássico

NN1

W/PNs=g(W/P)

W1/P1

Nd=f(W/P)

Y

N

Y=F(K,N)Y1

N1 Y

P

P1

Y1

Excessodeoferta

Excessodedemanda

r

r1

S =I

S

I

Yd(M1)

MV =PYM=Md =k.PY

D =C(r)+I(r)=YS(r)=Y– C(r)=I(r)

I,S

ModeloClássico

03/11/15 13

• Tendência de autoajuste da economia

⇒ Economia opera a pleno emprego⇒ Lei de Say: “a oferta cria a sua própria demanda”

• Política econômica não intervencionista

⇒ Pleno Emprego e S = D (x Política Econômica)⇒ Neutralidade da Moeda: dicotomia entre fatores que

determinam variáveis reais e nominais. Variação na ofertade moeda impacta apenas os preços (x PolíticaMonetária)

⇒ Ampliação dos gastos do governo gera recomposição dademanda, sem alterar o seu montante (x Política Fiscal)

ModeloClássico

03/11/15 14

• Keynes e sua emancipação

“Foi nessa atmosfera que me formei. Eu mesmo ensinei essas doutrinas e foiso na última década que passei a ter consciencia de sua insuficiencia. Emmeu próprio pensamento e desenvolvimento, portanto, este livro representauma reação, uma transição no sentido de me afastar da tradição clássica (ouortodoxa) inglesa. A enfase que dou nas páginas seguintes a isso e aospontos em que divirjo da doutrina tradicional tem sido considerada poralguns, na Inglaterra, como indevidamente controversa. Como pode, porém,alguém que foi educado como católico em termos de economia inglesa, umsacerdote mesmo dessa fe, evitar um pouco de enfase controversa logoquando se torna protestante?” (Keynes, (1996[1936]), p.31)

“Nessa ortodoxia, nessa transição con{nua foi que eu me formei. Eu aaprendi, eu a ensinei, eu a escrevi. Para os que observam de fora,provavelmente ainda pertenco a ela. Os historiadores da doutrina irãoconsiderar este livro como pertencente essencialmente à mesma tradição.Mas ao escreve-lo, e em outra obra recente que levou a ele, senti-merompendo com essa ortodoxia, numa forte reação contra ela, fugindo dealguma coisa, conquistando uma emancipacão”. (Keynes, (1996[1936]), p.37)

KeynesxClássicos

03/11/15 15

• Os economistas “clássicos” de Keynes

“Isso pode porém também resultar em que meus leitores às vezes fiquemimaginando a que me refiro quando estou falando, com aquilo que algunsde meus críticos ingleses consideram um mau uso da língua, da escola“clássica” de pensamento e dos economistas “clássicos.” (Keynes,(1996[1936]), p.38)

“‘Os economistas clássicos’ é uma denominação inventada por Marx paradesignar Ricardo e James Mill e seus predecessores, istoé, os fundadores dateoria que culminou em Ricardo. Acostumei-me, talvez perpetrando umsolecismo, a incluir na “escola clássica” os seguidores de Ricardo, ou seja, osque adotaram e aperfeicoaram sua teoria, compreendendo (por exemplo) J.S. Mill, Marshall e o Prof. Pigou.” (Keynes, (1996[1936]), p.43)

KeynesxClássicos

03/11/15 16

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• A crítica de Keynes à incapacidade da teoria clássica de explicar odesemprego e o ciclo econômico

“Say estava supondo implicitamente que o sistema economicoestá sempreoperando com sua capacidade máxima, de forma que uma atividade novaapareceria sempre em subsÄtuição e não em suplementação a algumaoutra atividade. Quase toda a teoria economica subsequente temdefendido, no sentido de que ela tem exigido, esse mesmo pressuposto. Noentanto, uma teoria com essa base é claramente incompetente paraenfrentar os problemas do desemprego e do ciclo economico.” (Keynes,(1996[1936]), p.40)

KeynesxClássicos

03/11/15 17

• A teoria clássica como um caso especial e a busca por uma teoria geral

“Denominei este livro A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda,dando especial ênfase ao termo geral. O objetivo deste títuloé contrastar anatureza de meus argumentos e conclusões com os da teoria clássica, naqual me formei, que domina o pensamento econômico, tanto práticoquanto teórico, dos meios acadêmicos e dirigentes desta geração, tal comovem acontecendo nos últimos cem anos. Argumentarei que os postuladosda teoria clássica se aplicam apenas a um caso especial e não ao caso geral,pois a situação que ela supõe acha-se no limite das possíveis situações deequilíbrio. Ademais, as características desse caso especial não são as dasociedade econômica em que realmente vivemos, de modo que osensinamentos daquela teoria seriam ilusórios e desastrosos se tentássemosaplicar as suas conclusões aos fatos da experiência.” (Keynes, (1996[1936]),p.43)

KeynesxClássicos

03/11/15 18

• Teoria Clássica do Emprego

i) Nd: W/P = PMgN

ii) Ns: W/P = DMgN

“A teoria clássica do emprego — supostamente simples e óbvia — baseou-se,acho eu, praticamente sem discussão, nos dois postulados fundamentais queseguem:I. O salárioé igual ao produto marginal do trabalho. (...)II. A utilidade do salário, quando se emprega determinado volume de

trabalho,é igualà desutilidade marginal desse mesmo volume de emprego- Isto significa que o salário real de uma pessoa empregadaé exatamentesuficiente (na opinião das próprias pessoas empregadas) para ocasionar ovolume de mão-de-obra efetivamente ocupado (...)” (Keynes, (1996[1936]),p.46)

NN1

W/PNs=g(W/P)

W1/P1

Nd=f(W/P)

KeynesxClássicos

03/11/15 19

• Teoria Clássica do Empregoi) Nd: W/P = PMgNii) Ns: W/P = DMgN

• Concordância de Keynes com o primeiro postulado

“Ao enfatizar os aspectos que os separam da doutrina clássica, não devemosesquecer uma concordancia importante. Manteremos, pois, o primeiropostulado (...) Este é, simplesmente, o reverso da proposicão, ja bastanteconhecida, segundo a qual a indústria trabalha normalmente sujeita arendimentos decrescentes a curto prazo, durante o qual se supõe quepermanecam constantes o equipamento etc., dessa forma, o produto marginaldas indústrias de bens de consumo dos assalariados (o qual determina ossalários reais) necessariamente se reduz à medida que o emprego aumenta.Portanto, na medida em que se considerar válida esta proposição, qualquermeio destinado a aumentar o emprego conduzirá, inevitavelmente, a umadiminuição paralela do produto marginal e, portanto, do nível dos saláriosmedido em termos desse produto.” (Keynes, (1996[1936]), p.55)

KeynesxClássicos

03/11/15 20

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• Análise do segundo postulado clássico(i) Nd: W/P = PMgN(ii) Ns: W/P = DMgN

ü Compatível com Desemprego Friccional

“Esse postulado é compatível com o que se pode chamar desemprego“friccional”, pois uma interpretação realista do mesmo permite, com plenajustificação, conciliar certas imperfeições de ajustamento que impedem umestado contínuo de pleno emprego, como, por exemplo, o desemprego emrazão de uma temporária desproporção dos recursos especializados, resultantede cálculos errados, da procura intermitente, de atrasos decorrentes demudanças imprevistas, ou, ainda, do fato de que a transferência de um empregopara outro não se realiza sem certa demora, de modo que, numa sociedade nãoestática, sempre existe certa proporção de recursos não empregados “entre ume outro trabalho.” (Keynes, (1996[1936]), p.46)

KeynesxClássicos

03/11/15 21

NN1

W/PNs=g(W/P)

W1/P1

Nd=f(W/P)

• Análise do segundo postulado clássico(i) Nd: W/P = PMgN(ii) Ns: W/P = DMgN

ü Compatível com Desemprego Voluntário

“Além do desemprego “friccional”, o postulado é ainda compatível com odesemprego “voluntário”, em razão da recusa ou incapacidade de determinadaunidade de mão-de-obra em aceitar uma remuneração equivalente à suaprodutividade marginal, em decorrência da legislação, dos costumes sociais, deum entendimento para contrato coletivo de trabalho, ou, ainda, da lentidão emadaptar-se às mudanças ou, simplesmente, em consequência da obstinaçãohumana. Todavia, estas duas categorias de emprego, “friccional” e “voluntária”,são abrangentes.” (Keynes, (1996[1936]), p.46-7)

KeynesxClássicos

03/11/15 22

NN1

W/PNs=g(W/P)

W1/P1

Nd=f(W/P)

• Primeira objeção ao segundo segundo postulado clássico (ii) Ns: W/P = DMgN

Para essa afirmação ser válida, seria necessário que uma redução do salário realpela elevação de preços também levasse ao mesmo resultado (redução doemprego), o que não é observado.

KeynesxClássicos

03/11/15 23

NN1

W/P Ns=g(W/P)

W1/P1 =W0/P0

Nd=f(W/P)

Na visão de Keynes, não é possível afirmarque o salário real é igual à desutilidademarginal do trabalho (e, logo, que aeconomia opera em pleno emprego)apenas pela constatação de que háredução do emprego quando ocorreredução do salário nominal.

W1/P0

W0/P1

• Primeira objeção ao segundo segundo postulado clássico (ii) Ns: W/P = DMgN

“Suponhamos, por enquanto, que a mão-de-obra não esteja disposta a trabalharpor um salário nominal menor e que uma redução desse nível conduza, atravésde greves ou por qualquer outro meio, a uma saída do mercado de trabalho deuma parte da mão-de-obra atualmente empregada. Pode-se, a partir disso,deduzir que o nível presente dos salários reais equivale exatamente àdesutilidade marginal do trabalho? Não necessariamente, pois, embora umaredução do salário nominal em vigor leveà saída de certa quantidade de mão-de-obra, isso não quer dizer que uma redução do salário nominal medido em termosde bens de consumo de assalariados produza o mesmo efeito, caso resulte deuma alta de precos desses bens.” (Keynes, (1996[1936]), p.48)

“Uma redução dos salários reais, devida a uma alta de preços, não acompanhadada elevação dos salários nominais, não determina, por via de regra, umadiminuição da oferta de mão-de-obra disponível à base do salário corrente,abaixo do volume de emprego anterior à alta dos preços. Supor o contrário seriaadmitir que as pessoas no momento desempregadas, embora desejosas detrabalhar ao salário corrente, deixariam de oferecer os seus serviços no caso deuma pequena elevação do custo de vida.” (Keynes, (1996[1936]), p.51-2)

KeynesxClássicos

03/11/15 24

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• Primeira objeção ao segundo postulado clássico do emprego

Para Keynes, portanto, os trabalhadores defendem seus salários nominais e nãoos salários reais. A razão da resistência à queda do salário nominal seria atentativa de proteger os salários reais relativos, enquanto uma elevaçãogeneralizada dos preços mantém os salários reais relativos constantes.

“Uma vez que a mobilidade do trabalho é imperfeita e os salários não tendem aestabelecer uma exata igualdade de vantagens líquidas para as diferentesocupações, qualquer indivíduo ou grupo de indivíduos que consinta numaredução dos seus salários nominais em relação a outros sofre uma reduçãorelativa do salário real, o que é suficiente para justificar a sua resistência. Poroutro lado, seria impraticável opor-se a qualquer redução dos salários reais queresultasse de alteração no poder aquisitivo do dinheiro e que afetasseigualmente a todos os trabalhadores; com efeito, não há, em geral, resistênciaa este modo de reduzir os salários nominais, (...) a não ser que essas reduçõesatinjam tal proporção que o salário real corra o risco de cair abaixo dadesutilidade marginal do volume de emprego existente.” (Keynes,(1996[1936]), p.52-3)

KeynesxClássicos

03/11/15 25

• Implicação da primeira objeção de Keynes ao segundo postulado:indeterminação do nível de emprego no modelo clássico

“Em outras palavras, pode acontecer que, dentro de certos limites, asexigências da mão-de-obra tendam a ummínimo de salário nominal e não a ummínimo de salário real. A escola clássica presumiu, tacitamente, que este fatonão traria uma mudança significativa de sua teoria. Mas isso não é exato, pois,se a oferta de trabalho não for uma função dos salários reais como sua únicavariável, seu argumento desmorona-se por completo, deixando totalmenteindeterminada a questão do que será o nível efetivo de emprego.” (Keynes,(1996[1936]), p.48)

N

W/P Ns

Nd

(W/P)?

N?

Se os trabalhadores não determinam a oferta detrabalho em função do salário real, então o nívelde emprego fica indeterminado no modeloclássico.

KeynesxClássicos

03/11/15 26

• Segunda objeção de Keynes ao segundo postulado clássico do emprego(ii) Ns: W/P = DMgN

A segunda objeção de Keynes diz respeito ao fato de o trabalhador não terpoder para negociar o salário real, uma vez que não controla os preços, masapenas o salário nominal.

“Contudo, a outra objeção, de fundamental importância, que formularemosnos capítulos seguintes, decorre de nossa contestação da hipótese de que onível geral dos salários reais seja diretamente determinado pelo caráter dasnegociações sobre salários. Ao supor que as negociações sobre saláriosdeterminam o salário real, a escola clássica descambou para uma hipótesearbitrária, pois os trabalhadores, em conjunto, não dispõem de nenhummeio de fazer coincidir o equivalente do nível geral de salários nominaisexpresso em bens de consumo com a desutilidade marginal do volume deemprego existente.” (Keynes, (1996[1936]), p.52)

KeynesxClássicos

03/11/15 27

• Implicação da segunda objeção de Keynes ao segundo postulado:ausência de mecanismo de ajuste no mercado de trabalho

Se os trabalhadores não negociam salário real com os empresários, então nãoexiste um mecanismo de ajuste automático no mercado de trabalho queassegure o pleno emprego.

“A teoria tradicional sustenta, em essencia, que as negociações salariaisentre trabalhadores e empresários determinam o salário real, de tal modoque, supondo que haja livre-concorrencia entre os empregadores e aausencia de combinação restritiva entre os trabalhadores, os últimospoderiam, se desejassem, fazer coincidir os seus salários reais com adesutilidade marginal do volume de emprego oferecido pelos empregadoresao dito salário. Não sendo assim, desaparece qualquer razão para se esperaruma tendenciaà igualdade entre o salário real e a desutilidade marginal dotrabalho.” (Keynes, (1996[1936]), p.50)

KeynesxClássicos

03/11/15 28

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• Desemprego Involuntário

“Existem desempregados involuntários quando, no caso de uma ligeira elevaçãodos preços dos bens de consumo de assalariados relativamente aos saláriosnominais, tanto a oferta agregada de mão-de-obra disposta a trabalhar pelosalário nominal corrente quanto a procura agregada da mesma ao dito saláriosão maiores que o volume de emprego existente.” (Keynes, (1996[1936]), p.53)

N

W/PDMgN

Nd=f(W/P)

N1

W1/P1

N2

W1/P2

Se uma elevação dos preços for capazde levar a economia a um maior nívelde emprego, então é possível afirmarque esta economia opera comdesemprego involuntário.

KeynesxClássicos

03/11/15 29

• Teoria clássica como o caso particular de pleno emprego

Para Keynes, os clássicos consideravam que a economia operava sempre empleno emprego, e, portanto, todo desemprego seria friccional ou voluntário(recusa dos trabalhadores de aceitar remuneração compatível com aprodutividade marginal).

Keynes sugere que os clássicos não percebem que situações por elesconsideradas de pleno emprego na verdade refletiam desempregoinvoluntário.

“Por isso, os autores que seguem a tradição clássica, ignorando a hipóteseespecial em que se baseava a sua teoria, foram levados à conclusãoinevitável e perfeitamente lógica, de acordo com essa hipótese, de que odesemprego aparente (salvo as exceções admitidas) era fundamentalmentedevido à recusa dos fatores não empregados em aceitar uma remuneraçãocorrespondente à sua produtividade marginal.” (Keynes, (1996[1936]), p.54)

KeynesxClássicos

03/11/15 30

• Teoria clássica como o caso particular de pleno emprego

Para Keynes, a teoria clássica só seria adequada ao caso particular de plenoemprego, não sendo capaz de explicar o funcionamento da economia quandoesta opera abaixo do pleno emprego, que seria o caso mais geral .

“Contudo, se a teoria clássica é apenas aplicável ao caso do pleno emprego,torna-se obviamente enganoso aplicá-la aos problemas de desempregoinvoluntário — supondo-se que tal coisa exista (e quem o negará?).

Os teóricos da escola clássica são comparáveis aos geômetras euclidianos emummundo não euclidiano, os quais, descobrindo que, na realidade, as linhasaparentemente paralelas se encontram com muita frequência, as criticampor não se conservarem retas, como único recurso contra as desastrosasinterseções que se produzem.” (Keynes, (1996[1936]), p.54)

KeynesxClássicos

03/11/15 31

• Questionamento à Lei de Say

Os clássicos baseiam sua defesa de que a oferta determina a demanda a partirdo ajuste do investimento e da poupança por meio de variações na taxa dejuros. Elevações na poupança geram queda na taxa de juros e estímulo aoinvestimento para atender à demanda futura relativa ao consumo postergado.

“Desde o tempo de Say e de Ricardo os economistas clássicos têm ensinadoque a oferta cria sua própria procura; isto significa de modo expressivo, masnão claramente definido, que o total dos custos de produção deve ser gastopor completo, direta ou indiretamente, na compra do produto. (...)

Como corolário desta mesma doutrina, julgou-se que qualquer ato individualde abstenção de consumir necessariamente leva e equivale a uminvestimento na produção de riqueza sob a forma de capital, resultante dotrabalho e das mercadorias assim liberadas da necessidade de consumo.”(Keynes, (1996[1936]), p.56)

KeynesxClássicos

03/11/15 32

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• Questionamento à Lei de Say

Keynes procurará mostrar que a poupança não significa adiamento deconsumo para o futuro, mas apenas abstenção de consumo presente,portanto não gera “estímulo ao investimento”.

“Julgaram, erradamente, que existe um nexo unindo as decisões de abster-se de um consumo imediato às de prover a um consumo futuro, quandonão há nenhuma relação simples entre os motivos que determinam asprimeiras e os que determinam as segundas.” (Keynes, (1996[1936]), p.58)

Ao mesmo tempo, a taxa de juros não pode ser determinada como resultadodo equilíbrio entre poupança e investimento, uma vez que a primeira ésempre igual e determinada pela segunda. A taxa de juros seria resultado doequilíbrio nomercado monetário.

“(É) função da taxa de juros preservar o equilíbrio não entre a demanda e aoferta de novos bens de capital mas entre a demanda e a oferta dedinheiro, isto é, entre a demanda pela liquidez e os meios de satisfazer essademanda.” (Keynes, (1996[1936]), p.39)

KeynesxClássicos

03/11/15 33