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ISSN 1984-6444 | httpdxdoiorg1059021984644435694
Educaccedilatildeo | Santa Maria | v 44 |2019 Disponiacutevel em httpsperiodicosufsmbrreveducacao
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Residecircncia pedagoacutegica em educaccedilatildeo infantil uma
experiecircncia em formaccedilatildeo de professores
Pedagogical residence in child education an experience in teacher
training
Edna Martins
Universidade Federal de Satildeo Paulo
Maria de Faacutetima Carvalho
Universidade Federal de Satildeo Paulo
Renata Marcilio Cacircndido
Universidade Federal de Satildeo Paulo
Recebido em 18 de novembro de 2018 Aprovado em 12 de dezembro de 2018
RESUMO
O presente texto descreve uma experiecircncia realizada em um Programa de Residecircncia Pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Infantil concebido e levado a efeito em uma universidade puacuteblica do Estado de Satildeo Paulo Objetiva-se contextualizar detalhadamente como ocorre a imersatildeo de residentes nas escolas-campo de Educaccedilatildeo infantil tomando como elementos de anaacutelise as inquietaccedilotildees observaccedilotildees e reflexotildees registradas em cadernos de campo referentes aos anos de 2015 2016 e 2017 Tal anaacutelise incide sobre as questotildees de maior abrangecircncia relatadas pelos estudantes no processo cotidiano de estaacutegio e versam sobre as temaacuteticas organizaccedilatildeo do espaccedilo rotina gestatildeo escolar relaccedilatildeo escola-famiacutelia o contato com a escrita e a diversidade na escola Conclui-se que tal experiecircncia pode ser compreendida como forma de romper a dicotomia entre teoriapraacutetica apresentando-se como lugar de muitas vozes em diaacutelogos correlatos agrave cultura escolar e agrave formaccedilatildeo de professores com vistas a uma praacutexis educativa que possa ser calcada no respeito agrave escola puacuteblica de educaccedilatildeo pela infacircncia Palavras-chave Residecircncia pedagoacutegica Formaccedilatildeo de professores Estaacutegio
supervisionado
ABSTRACT
This paper describes an experience of a Pedagogical Residence Program in Early Childhood Education conceived and carried out at a public university in the State of Satildeo Paulo The purpose of this study is to contextualize in detail the immersion of residents in the schools of childrens education taking as elements of analysis the
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concerns observations and reflections recorded in fieldwork notebook referring to the years 2015 2016 and 2017 The analysis are made based on the issues of greater concern reported by the students in the daily process of internship and are on the themes space organization routine school management school-family relationship the contact with writing skills and diversity in school It is concluded that such experience can be understood as a way of breaking the dichotomy between theory and practice presenting itself as a place for many voices in dialogues related to school culture and teacher training with a view to an educational praxis that can be traced in the childrens public school Keywords Pedagogical residence Teacher training Supervised internship
Introduccedilatildeo
Historicamente a universidade tem buscado novas formas e modelos no
trabalho de formaccedilatildeo de professores para a educaccedilatildeo baacutesica Nessa direccedilatildeo Tardif
(2013) ao abordar a formaccedilatildeo para a docecircncia afirma que esta modalidade de ensino
estaacute subordinada aos paradigmas ou crenccedilas de cada eacutepoca histoacuterica No contexto
brasileiro nos dias atuais lidamos com uma profusatildeo de reformas educacionais que
em linhas gerais desde a deacutecada de 80 visam a democratizaccedilatildeo dos espaccedilos e
saberes universitaacuterios em experiecircncias como por exemplo as realizadas durante os
estaacutegios de formaccedilatildeo docente
Pensando no campo da formaccedilatildeo de professores e buscando o diaacutelogo entre a
universidade e escola puacuteblica algumas iniciativas brasileiras buscam caminhos que
possibilitem essa dinacircmica como indicado na pesquisa de Martins e Slavez (2015)
Neste estudo os autores fazem um levantamento de experiecircncias inovadoras que tecircm
como base a promoccedilatildeo e inserccedilatildeo de docentes em formaccedilatildeo em escolas de educaccedilatildeo
baacutesica com vistas agrave possibilitar formas de articulaccedilatildeo entre professores experientes
dessas instituiccedilotildees e aqueles que desempenham o papel de formadores nas
universidades O estudo analisou programas como o Programa Institucional de Bolsa
de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia (PIBID) mantido pela Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de
Pessoal de Niacutevel Superior (Capes) e o Programa de Residecircncia Pedagoacutegica (PRP)
oferecido pela Universidade Federal de Satildeo Paulo (Unifesp) concluindo que tais
accedilotildees satildeo de extrema importacircncia para a formaccedilatildeo profissional dos estudantes
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A proposta da Residecircncia Pedagoacutegica aqui abordada tem como base os
mesmos princiacutepios utilizados ao se pensar a institucionalizaccedilatildeo da Residecircncia meacutedica
no Brasil Feuerwerker (1998) aponta que ao implantar os programas de Residecircncia
na medicina foi importante considerar a hipoacutetese de que a formaccedilatildeo geral do meacutedico
na graduaccedilatildeo tendo em vista o desenvolvimento tecnoloacutegico e cientiacutefico naquele
momento natildeo era capaz de assegurar o niacutevel necessaacuterio de treinamento e
incorporaccedilatildeo de conhecimentos especiacuteficos aos estudantes em todas as possiacuteveis
atividades praacuteticas do cotidiano profissional A autora ainda afirma que
A praacutetica profissional historicamente tem sido transmitida atraveacutes de treinamento em serviccedilo Eacute no processo de combinar os conhecimentos teoacutericos adquiridos com a experiecircncia cliacutenica (indicando relacionamento com pacientes) que se encontra a ldquomaacutegicardquo da praacutetica profissional meacutedica Somente a experiecircncia adquirida na praacutetica pode completar a formaccedilatildeo (cientiacutefica) do meacutedico eacute pela experiecircncia cliacutenica que o profissional se apropria dos doentes (e natildeo mais apenas das doenccedilas) Eacute pela praacutetica que se constroacutei a experiecircncia cliacutenica e eacute mediante o aprendizado em serviccedilo que o futuro profissional constroacutei tambeacutem a eacutetica de suas relaccedilotildees com os pacientes baseada no exemplo e na experimentaccedilatildeo (FEUERWERKER 1998 p 59)
Dada a importacircncia da profissatildeo do professor seria possiacutevel a consideraccedilatildeo
dessas mesmas premissas para o campo do exerciacutecio da docecircncia Quais formas
possiacuteveis para instrumentalizar os futuros professores para lidar com as vicissitudes
das praacuteticas cotidianas das escolas Como aliar as teorias pedagoacutegicas agraves praacuteticas
docentes no exerciacutecio da profissatildeo Eacute possiacutevel dizer que pela praacutetica se constroacutei a
experiecircncia docente e eacute mediante o aprendizado na praacutetica que o futuro professor
constroacutei a eacutetica de suas interaccedilotildees com os alunos a partir de exemplos diaacuterios e da
experimentaccedilatildeo
Partindo dessas questotildees o Programa de Residecircncia Pedagoacutegica (PRP)
projeto de estaacutegio em formaccedilatildeo docente foi implantado em 2009 em uma
universidade puacuteblica federal do Estado de Satildeo Paulo A proposta concebida por
docentes do curso de Pedagogia buscou a superaccedilatildeo dos modos convencionais de
realizaccedilatildeo de estaacutegios de formaccedilatildeo nos quais os estudantes estagiaacuterios limitam sua
accedilatildeo agrave simples observaccedilatildeo assistemaacutetica de experiecircncias esparsas de praacuteticas
pedagoacutegicas em diferentes salas de aulas Tal iniciativa teve sua metodologia
desenvolvida por docentes da Universidade tendo como bases para consolidaccedilatildeo e
desenvolvimento uma ampla investigaccedilatildeo realizada com professores das redes
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puacuteblicas de um sistema de ensino puacuteblico da regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo entre
os anos de 2007 e 2008 assim como contou com subsiacutedios do Programa da Capes
intitulado ldquoProdocecircnciardquo
Pesquisas como as de Moretti 2011 Martins 2012 Moretti e Martins 2015
Giglio 2010 Giglio e Lugli 2014 Poladian 2014 sob diferentes perspectivas teoacutericas
tecircm tentado buscar compreender aspectos especiacuteficos dessa experiecircncia de estaacutegio
e em sua maioria assinalam tal iniciativa como um dos processos inovadores na aacuterea
de formaccedilatildeo de professores principalmente no que se refere agrave superaccedilatildeo da
dicotomia entre teoria e praacutetica vigente nos estaacutegios dos cursos de formaccedilatildeo de
professores das universidades brasileiras Compreende-se que a formaccedilatildeo do
profissional docente integra um conjunto de desafios destacando-se nos cursos de
formaccedilatildeo inicial a necessidade de ofertar juntamente com subsiacutedios
teoacutericoscientiacuteficos tambeacutem um acesso agraves praacuteticas pedagoacutegicas que instrumentalizem
o professor para a atuaccedilatildeo profissional Nesta direccedilatildeo destaca-se a conduccedilatildeo do
graduando agrave estaacutegios curriculares capazes de iniciaacute-los na praacutetica profissional de
forma efetiva e reflexiva para que com o aporte de professores supervisores
construam conhecimentos que envolvam o pensar e o agir sobre a escola
Quase dez anos apoacutes a criaccedilatildeo do Programa de Residecircncia pedagoacutegica criado
pela Universidade Federal de Satildeo Paulo (Unifesp) em 2018 foi lanccedilado pelo Governo
Federal o Edital CAPES No62018 apresentando a ideia de Residecircncia Pedagoacutegica
como proposta de induccedilatildeo agrave experiecircncias inovadoras na formaccedilatildeo inicial de
professores ao mesmo tempo em que altera as caracteriacutesticas originais do PIBID no
Edital No72018 O edital retoma termos e objetivos bastante proacuteximos dos utilizados
no Programa de Residecircncia aqui abordado entretanto diferencia-se deste e conveacutem
apontar alguns dos elementos definidores desta diferenccedila como por exemplo a
proposiccedilatildeo de um nuacutemero limitado de bolsas aos residentes o que natildeo atenderia a
demanda de estudantes da universidade onde o programa teve origem a previsatildeo
de um nuacutemero maior de residentes por preceptor extrapolando o nuacutemero maacuteximo
indicado pelo Programa base de nosso estudo para a educaccedilatildeo baacutesica Aleacutem disso a
proposta de Residecircncia Pedagoacutegica apresentada no edital referido daacute pouca ou
nenhuma ecircnfase a duas outras modalidades de residecircncia presentes no projeto da
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Unifesp que satildeo a Residecircncia Pedagoacutegica em Gestatildeo Escolar e em Educaccedilatildeo de
Jovens e Adultos
Accedilotildees formativas da Residecircncia Pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Infantil (RPEI)
Antes de apresentarmos mais detalhadamente o Programa de Residecircncia em
Educaccedilatildeo infantil (RPEI) eacute importante destacar que o trabalho de formaccedilatildeo de
professores nesta perspectiva comeccedila com o aporte teoacuterico das disciplinas
obrigatoacuterias que contemplam as temaacuteticas do campo Vencida a etapa teoacuterica os
estudantes comeccedilam o programa de estaacutegio contemplado nesta modalidade que
atende o curso de Pedagogia e eacute constituiacuteda como uma unidade curricular obrigatoacuteria
Somente a partir do 5o semestre do curso os alunos devem se matricular e cumprir
135 horas de estaacutegio as quais compreendem momentos de imersatildeo na escola e
supervisatildeo na universidade sendo tal experiecircncia realizada em escolas puacuteblicas
municipais que possuem parceria com a Universidade
Durante todo o processo a atuaccedilatildeo do professor preceptor possui destaque
segundo Moretti e Martins (2015) pois ele faz os primeiros contatos com os
estudantes de cada grupo que vai para a escola e eacute quem supervisiona o estaacutegio
acompanhando o aluno durante todo o percurso do programa Em todas as
modalidades de Residecircncia Pedagoacutegica antes de iniciar a imersatildeo na escola os
estudantes participam de encontros pontuais com seus preceptores para discussatildeo
do programa de atividades da Unidade Curricular No caso da Educaccedilatildeo Infantil
nessas ocasiotildees de encontros realizam-se estudos sobre temaacuteticas relevantes e
discussatildeo de leituras introdutoacuterias agrave atividade de estaacutegio e tambeacutem para orientaccedilotildees
mais praacuteticas sobre por exemplo as regras a serem observadas durante o periacuteodo
de estaacutegio o conhecimento das publicaccedilotildees do PRP para a modalidade especiacutefica a
construccedilatildeo do diaacuterio de campo o papel do professor preceptor e do professor
formador (aquele que o residente acompanharaacute na escola) Todas essas orientaccedilotildees
constam de um manual e satildeo retomadas pelos preceptores em leituras coletivas que
objetivam ajudar os estudantes a usarem o material de suporte enfatizando que o
estaacutegio realizado nesta perspectiva implica mais que observaccedilatildeo passiva a
participaccedilatildeo nas atividades escolares seu registro e reflexatildeo Os primeiros encontros
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tambeacutem envolvem a orientaccedilatildeo sobre aspectos de ordem legal como por exemplo
jamais assumir sozinho a sala de aula em que estatildeo fazendo a residecircncia
Como unidade curricular obrigatoacuteria a RPEI prevecirc em sua ementa que os
alunos deveratildeo construir conhecimentos a partir de identificaccedilatildeo e anaacutelise de relaccedilotildees
e praacuteticas que perfazem o dia a dia da escola de Educaccedilatildeo Infantil atentando para o
seu caraacuteter educacional e pedagoacutegico assim como para os processos de gestatildeo
institucional Esse processo de construccedilatildeo de conhecimentos sobre o que vivenciam
eacute mediado pelo uso de instrumentos de pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo
Concomitantemente enquanto participam do dia a dia na escola planejam e elaboram
planos de accedilatildeo pedagoacutegica em colaboraccedilatildeo com os supervisores do estaacutegio e
educadores das escolas-campo
No processo de imersatildeo espera-se que o residente natildeo apenas observe mas
possa dar apoio ao professor de classe em suas praacuteticas pedagoacutegicas cotidianas e na
sua relaccedilatildeo com as crianccedilas com idade entre 0 e 5 anos Cotidianamente tais
residentes devem ser encorajados a atuarem com pequenas accedilotildees junto agraves crianccedilas
com a orientaccedilatildeo dos professores que o acompanham Durante quatro semanas no
processo intenso de imersatildeo na realidade da escola os residentes devem construir
registros diaacuterios das experiecircncias vividas em campo aleacutem de outros materiais que
tecircm origem na observaccedilatildeo participativa do dia a dia escolar e serviratildeo de avaliaccedilatildeo
final tendo elaboraccedilatildeo orientada e aferida pelo professor preceptor da Universidade
Dessa perspectiva o residente tambeacutem eacute solicitado a refletir sobre sua proacutepria
atuaccedilatildeo participando ativamente de um processo de contiacutenua auto avaliaccedilatildeo
Eacute objetivo do Programa em todas as suas modalidades que os graduandos
possam retomar de forma reflexiva o que vivenciam na escola Na modalidade de
Educaccedilatildeo Infantil eacute esperado que o estudante residente possa desenvolver anaacutelises
criacutetico-reflexivas acerca da instituiccedilatildeo no qual estaacute imerso no que se refere agrave interaccedilatildeo
com as famiacutelias e agrave comunidade em seu entorno assim como sobre as praacuteticas
pedagoacutegicas realizadas nesses locais a partir do reconhecimento da crianccedila como
sujeito de direito e de toda a legislaccedilatildeo que diz respeito a essa modalidade de ensino
De acordo com o cronograma da Unidade Curricular Residecircncia Pedagoacutegica
em Educaccedilatildeo Infantil os estudantes devem ir durante quatro dias da semana para a
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escola e um dia para a Universidade para supervisatildeo com o preceptor que eacute um
docente da Universidade Na escola cumprem o horaacuterio da turma que acompanham
em turno que pode ser matutino vespertino ou intermediaacuterio Natildeo satildeo toleradas faltas
ou atrasos sem justificativa meacutedica objetivando-se desta forma colocar os alunos
diante da responsabilidade do compromisso profissional assumido perante a escola
Durante as duas primeiras semanas de imersatildeo os estudantes satildeo orientados
a descrever no diaacuterio de campo o que observam e suas impressotildees sobre a escola
as relaccedilotildees entre professorcrianccedilas crianccedilacrianccedila escolacomunidade
famiacuteliasescola professorprofessor professorgestatildeo e praacuteticas educativas do
cotidiano que satildeo observadas mais atentamente Neste primeiro momento aleacutem da
cobranccedila para que o aluno escreva sobre suas vivecircncias o preceptor busca ajudaacute-lo
na construccedilatildeo dos registros do caderno de campo assinalando sobre as posturas de
descriccedilatildeo e de reflexatildeo na elaboraccedilatildeo sobre suas impressotildees sobre aquilo que eacute
observado
Antes de serem executados os planos pedagoacutegicos de cada estudante satildeo
apresentados para os professores formadores e coordenador nas escolas durante
reuniatildeo realizada na ldquoHora Atividaderdquo com a participaccedilatildeo do professor preceptor Este
tem se constituiacutedo um momento iacutempar de aprendizagem para todos os envolvidos jaacute
que nesta ocasiatildeo os estudantes compartilham seus conhecimentos suas
experiecircncias expectativas e apreensotildees e onde explicitam-se possibilidades de
articulaccedilatildeo escola-universidade no acircmbito da formaccedilatildeo de professores Eacute na uacuteltima
semana de imersatildeo que os estudantes colocam seus planos de accedilatildeo pedagoacutegica em
praacutetica nas salas em que estatildeo imersos fechando o ciclo previsto pelo estaacutegio
Metodologia analisando as temaacuteticas do caderno de campo online (Blog)
Alguns grupos de residentes da RPEI conforme opccedilatildeo dos professores
preceptores usam um blog para a construccedilatildeo online de um caderno de campo que
integra a elaboraccedilatildeo de seus registros sobre a imersatildeo na escola Esses registros ndash
que chamamos de postagens aleacutem de possibilitar um olhar mais apurado sobre as
praacuteticas cotidianas podem contribuir para a orientaccedilatildeo e a construccedilatildeo do Plano de
Accedilatildeo Pedagoacutegica de cada residente e posteriormente para a escrita de um relatoacuterio
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final de estaacutegio pelo grupo Eacute sobre os registros do blog que incidiraacute nossa anaacutelise
considerando para tanto inquietaccedilotildees observaccedilotildees e reflexotildees registradas pelos
residentes nos anos de 2015 2016 e 2017
O blog da residecircncia ou diaacuterio de campo online consiste em uma ferramenta
virtual na qual satildeo realizados os registros de observaccedilotildees e experiecircncias significativas
vividas pelos residentes cotidianamente na escola Destaca-se que tal ferramenta eacute
de acesso restrito e apenas um uacutenico grupo de alunos e professores preceptores da
Universidade podem participar em cada escola acompanhada Deste modo nem os
professores ou quaisquer pessoas das escolas-campo podem acessar tal instrumento
O blog eacute construiacutedo pelo professor preceptor a cada novo grupo de residentes
assegurando o sigilo das informaccedilotildees registradas A ferramenta possibilita a
construccedilatildeo coletiva de diaacutelogos sobre questotildees observadas e a mediaccedilatildeo dos
conhecimentos dos residentes pelos seus supervisores Assim os estudantes podem
realizar trocas sobre suas vivecircncias muitas vezes similares agraves que ocorrem na mesma
instituiccedilatildeo ainda que estejam em turmas de idades diferentes Permite tambeacutem que
preceptores acompanhem diariamente seus residentes respondendo as indagaccedilotildees
e inquietaccedilotildees do grupo que participa do dia-a-dia na escola
Aleacutem de cumprir todos os objetivos de um caderno de campo comum o blog
permite ao preceptor mesmo agrave distacircncia o acompanhamento contiacutenuo do grupo de
estudantes o que lhe permite planejar as atividades semanais de supervisatildeo de forma
a responder as demandas dos alunos e esses uacuteltimos de compartilharem seus
diferentes pontos de vistas e as accedilotildees desenvolvidas na escola Assim no contexto
da residecircncia pedagoacutegica o blog ou caderno de campo online eacute o espaccedilomomento
de realizaccedilatildeo dos registros de observaccedilotildees e experiecircncias significativas vividas
cotidianamente na escola de educaccedilatildeo infantil e de acompanhamento e
problematizaccedilatildeo dessas vivecircncias pelos preceptores
Nesse caminho assinala-se a contribuiccedilatildeo de Vygotsky (1981) quando aponta
que as relaccedilotildees humanas satildeo sempre mediadas pelo meio social e pelos instrumentos
e signos que fazem parte das relaccedilotildees e dos contextos em que o homem estaacute inserido
Desse modo
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A atividade praacutetica do homem portanto se faz duplamente mediada de uma parte estaacute mediada pelas ferramentas no sentido literal da palavra e de outra parte mediada pelas ferramentas no sentido figurado pelas ferramentas do pensamento pelos meios com a ajuda dos quais se realiza a operaccedilatildeo intelectual ou seja mediada com a ajuda das palavras (VYGOTSKI 19302006a p 165)
Nessa direccedilatildeo conveacutem destacar a importacircncia do blog como instrumento social
representativo da incorporaccedilatildeo da tecnologia ao dia a dia dos estudantes e da
consideraccedilatildeo da mediaccedilatildeo tecnoloacutegica em processos de aprendizagem e
desenvolvimento dos graduandos
Diferente de outras formas de relacionamento virtual (e-mail chat instant
messages listas de discussatildeo etc) e de ferramentas virtuais convencionais ndash como
os sites ndash o blog caracteriza-se pela facilidade de sua criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo o que eacute
definido pela organizaccedilatildeo automaacutetica das mensagens ndash posts ndash pelo sistema
dinamizando seu uso e favorecendo a construccedilatildeo de diaacuterios coletivos mantidos por
vaacuterios usuaacuterios Tais caracteriacutesticas favorecem o uso do blog em processos de ensino-
aprendizagem tendo em vista a interaccedilatildeo a troca o diaacutelogo como forma de partilha e
construccedilatildeo de conhecimentos (MARQUES MULLER 2012)
O blog permite portanto o compartilhamento de informaccedilotildees e a interaccedilatildeo
entre estudantes do mesmo grupo e o mesmo preceptor em uma mesma escola
Todos podem ler e comentar as postagens funcionando como um ponto de encontro
entre alunos e preceptores Assim nossa atenccedilatildeo agraves postagens dos estudantes no
blog eacute dirigida pelo objetivo de dar visibilidade a dimensatildeo social das praacuteticas de
registro do observadovivido nos processos formativos que emergem na experiecircncia
de Residecircncia Pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Infantil Assumimos o caraacuteter histoacuterico-
cultural da pesquisa do meacutetodo do objeto de estudo e do proacuteprio conhecimento como
construccedilatildeo que se realiza entre sujeitos (FREITAS 2009) Dessa forma acredita-se
que o momento de elaboraccedilatildeo do vivido ndash o registro no caderno de campoblog ndash
deflagra no estudante a necessidade de reflexatildeo sobre os processos de ensino-
aprendizagem em curso no acircmbito do estaacutegio-residecircncia pedagoacutegica
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Registros no caderno de campo online o olhar do residente sobre a escola de
educaccedilatildeo infantil
Nos primeiros dias de imersatildeo na escola os residentes satildeo orientados a
realizar uma observaccedilatildeo atenta dos espaccedilos da instituiccedilatildeo A partir da leitura do texto
de Silva e Bufalo (2011) sobre culturas escolares os residentes descrevem em seus
primeiros registros detalhes fiacutesicos sobre a escola Muitos acabam desenhando a
planta baixa ou tirando fotos de salas de aulas parques e paacutetios e compartilhando no
caderno de campo online (blog) para comeccedilarem a pensar sobre o contexto e os
espaccedilos que podem favorecer a aprendizagem e o desenvolvimento da crianccedila
pequena como descrito no excerto abaixo
Uma coisa que me chamou atenccedilatildeo foi que natildeo possuem um espaccedilo para atividade fiacutesica essas satildeo realizadas no paacutetio que eacute proacuteximo as salas o barulho acaba atrapalhando os demais O parque estaacute interditado por ordem da diretora ou seja natildeo possuem lugar para brincar O dia das crianccedilas foi pautado em ficar sentado e quieto vendo um filme que a maioria jaacute tinha assistido (Relato da residente N 2017)
Formas de organizaccedilatildeo de espaccedilos e tempos remetem agrave organizaccedilatildeo da rotina
Sobre esse tema grande quantidade de postagens textos diz respeito a como as
atividades diaacuterias satildeo organizadas na escola Em alguns registros como o
apresentado a seguir aparece a problematizaccedilatildeo da forma de organizaccedilatildeo das
atividades
730 (15min) - a professora colocou o cabeccedilalho na lousa com a data e fez a contagem coletiva das crianccedilas 745 (45min) - a professora retomou o que eles haviam aprendido sobre os iacutendios entregou massinha e os orientou a modelar utensiacutelios indiacutegenas 830 (35min) - pintura de desenho xerocado que seraacute colado na capa do caderno de atividades 905 (25min) - brincadeira livre no paacutetio interno no brinquedatildeo que fica no final da escadarampa sup2940 (30min) - brincadeira em sala Gato mia 1010 (ateacute as crianccedilas irem embora) - a professora entregou uma folha com a letra da canccedilatildeo 1 2 3 indiozinhos cantou a muacutesica com eles sentados em seus lugares pediu para eles circularem as letras A e I e depois pintar a ilustraccedilatildeo () (Relato da residente J 2015)
A rotina observada e registrada pela residente configura-se como um dos
aspectos mais relevantes na vida da crianccedila que se encontra na escola de Educaccedilatildeo
Infantil Barbosa (2006) aponta que esse eacute um dos elementos que integram as praacuteticas
educativas que devem ser observadas e planejadas com regularidade objetivando a
operacionalizaccedilatildeo do cotidiano da escola de maneira que possa contribuir na
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constituiccedilatildeo da subjetividade dos atores escolares Desse modo pensar e
compreender a rotina como um fator presente e essencial na educaccedilatildeo de crianccedilas
pequenas eacute um passo promissor para que o residente acompanhe como as atividades
cotidianas da escola se materializam e datildeo base para a organizaccedilatildeo da praacutetica
pedagoacutegica devendo estar presente no desenvolvimento curricular
O planejamento das atividades na educaccedilatildeo infantil tem estreita ligaccedilatildeo com a
rotina Ao observar e refletir sobre a vida e as experiecircncias das crianccedilas na escola os
residentes satildeo remetidos a memoacuteria agrave lembranccedila do que tambeacutem foi um dia vivido
por eles em suas experiecircncias escolares Como apontado por Meksenas (2002)
ldquonunca somos testemunhas objetivas observando objetos e sim sujeitos observando
outros sujeitosrdquo (p 116)
Estive tentando lembrar nas uacuteltimas semanas o que eu fazia na minha preacute-escola Eu comecei no maternal com 3 anos ()Tenho vagas lembranccedilas de duas salas de aula uma do preacute III e a outra acho que era do preacute I Era uma escola particular dessas pequenas de bairro Lembro que a turma natildeo era tatildeo numerosa quanto essa que estou vendo na residecircncia mas a sala tinha uma organizaccedilatildeo parecida eram mesas e cadeiras enfileiradas nas duas () Eu estava com 5 anos Lembro que a gente tinha uma apostila no preacute I eu gostava de terminar tudo raacutepido para dormir Depois a professora comeccedilou a me dar gibi para eu ficar folheando Tenho na minha memoacuteria que as coisas que a gente fazia na escola eram chatas e muito infantis bobas demais Agora eu penso talvez as professoras ficassem me ocupando com massinha e pinturas todo dia tambeacutem como eu vejo na residecircncia e por isso eu achava muito chato O que seraacute que essas crianccedilas pensam disso O que seraacute que elas acham mais legal na escola Eu vejo que elas gostam muito de fazer liccedilatildeo essas de folhinha que a professora daacute e todos os dias elas perguntam Mas eu natildeo me conformo como elas acham isso tatildeo legal (Relato da Residente F 2017)
Sabemos que a memoacuteria eacute mediada pelo signo pelas interaccedilotildees sociais pelo
outro Braga (1997) dirige nosso olhar para o ldquoprocesso de apropriaccedilatildeo das formas
culturais de interaccedilatildeo que caracterizam a memoacuteria humanardquo Para a autora ldquoa
memoacuteria do homem soacute se configura no movimento discursivo e coletivo por sua
natureza cultural e simboacutelicardquo No registro acima o observado mobiliza as lembranccedilas
da residente aquilo que foi tambeacutem vivido na escola de sua infacircncia Entre lembranccedilas
e interrogaccedilotildees emergem as construccedilotildees formativas em um processo dinacircmico ndash
interativo cultural e simboacutelico Processo que potildeem em relaccedilatildeo vivecircncias atuais e
passadas que invocam sentidos e significados atribuiacutedos ao vivido que ocorre nas
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contradiccedilotildees entre aquilo que eacute rememorado pela estudante e o que efetivamente eacute
observado nas relaccedilotildees estabelecidas no contato com o cotidiano da escola
Aleacutem da rotina e da organizaccedilatildeo de tempos e espaccedilos em sua relaccedilatildeo com as
praacuteticas pedagoacutegicas os relatos dos estudantes se reportam agraves diferentes dimensotildees
da gestatildeo escolar Os registros destacam suas observaccedilotildees nas H A (hora atividade)
ou reuniotildees que eventualmente participam e com frequecircncia observam a postura da
equipe em relaccedilatildeo a presenccedila do residente Em seus relatos questionam o caraacuteter
da gestatildeo a qualidade da relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo entre os professores as discussotildees
que remetem a construccedilatildeo e discussatildeo do projeto poliacutetico pedagoacutegico e os papeis
desempenhados pelos diferentes educadores na construccedilatildeo do trabalho de educaccedilatildeo
da infacircncia
Completamos nesta semana 4 dias de participaccedilatildeo nas Horas Atividades (HA) destinada agrave formaccedilatildeo docente organizaccedilatildeo dos registros e planejamento das atividades pedagoacutegicas O que pude por meio da observaccedilatildeo constatar que o papel do Coordenador Pedagoacutegico que eacute fundamental nesse momento de formaccedilatildeo pois eacute ele o mediador desse processo acaba por se tornar distante e sem intervenccedilotildees no que adentra a orientaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico docente (Relato da estudante M 2015)
Na experiecircncia cotidiana de imersatildeo na escola eacute possiacutevel verificar as tensotildees
vivenciadas entre os professores e o papel da coordenaccedilatildeo pedagoacutegica A teoria
discutida na universidade pelos residentes assinala a importacircncia do papel do
coordenador pedagoacutegico na educaccedilatildeo infantil na praacutetica o residente percebe o quanto
a sua mediaccedilatildeo eacute fundamental na organizaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico e por outro
lado o quanto a sua ausecircncia pode interferir de forma negativa na orientaccedilatildeo das
atividades dos professores
Outra personagem que acaba sendo central na gestatildeo escolar eacute a direccedilatildeo que
nessa experiecircncia do residente tambeacutem eacute observada de forma criacutetica
A figura da diretora na escola foi a que mais me chamou a atenccedilatildeo ()imaginem que em nenhum momento percebi qualquer aproximaccedilatildeo da diretora com as crianccedilas em vaacuterios momentos acreditei que ela fosse algum teacutecnico administrativo pois apesar de estar no topo da piracircmide a referecircncia da gestatildeo a mesma se restringia a secretaria e natildeo se relacionava natildeo nos conhecia nem procurava nos conhecer Passou diversas vezes por grupos de crianccedilas e em nenhuma das vezes sequer olhou para elas Nunca apareceu em uma HA nunca percebi o seu contato com os professores e por diversas vezes me perguntei como eles se falavam qual era o seu relacionamento (Relato da residente B 2015)
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Sobre esse assunto estudos como os de Paro (2005) e Castro (2009) tem
assinalado o papel da gestatildeo e da administraccedilatildeo escolar como alicerce fundamental
nos processos de transformaccedilatildeo da escola puacuteblica brasileira Tais trabalhos tecircm
apontado a centralidade da direccedilatildeo escolar nas questotildees que envolvem os processos
de ensino e aprendizagem e as relaccedilotildees humanas presentes na equipe de trabalho
para aleacutem dos trabalhos administrativos e burocraacuteticos Natildeo eacute objetivo deste trabalho
fazer uma anaacutelise do papel do diretor na escola de educaccedilatildeo infantil mas cabe
assinalar que os estudantes residentes apontam o tema em seus registros e atentos
agraves demandas relativas ao papel do diretor indagam se como e quanto as lideranccedilas
escolares tecircm se envolvido com o trabalho administrativo dispendendo tempo para
um olhar mais atento agraves relaccedilotildees entre os professoresalunos funcionaacuterios da escola
observada
Em relaccedilatildeo agraves interaccedilotildees humanas outros registros dos residentes nos
remetem agraves maneiras como a escola lida com as famiacutelias das crianccedilas matriculadas
nas escolas Tais relatos natildeo satildeo tatildeo frequentes possivelmente porque essa eacute uma
relaccedilatildeo que se caracteriza pela assimetria de poderes e eacute pouco valorizada no dia a
dia escolar Os registros evocam situaccedilotildees vividas comentaacuterios ouvidos e
principalmente a necessidade de mudanccedila dos modos de conceber a crianccedila e suas
famiacutelias e de interagir com elas
A relaccedilatildeo entre professor e famiacutelia eacute mais uma dessas conexotildees que fazemos pela vida Por um lado haacute um profissional uma pessoa que estudou e eacute especialista em cuidar de crianccedilas Por outro famiacutelias que dificilmente conseguimos de fato perceber como satildeo suas estruturadas Famiacutelia hoje eacute coisa difiacutecil de entender Eacute matildee que mora sozinha com o filho eacute pais que trabalham e deixam os filhos na semana com tios avoacutes Eacute matildee solteira Eacute filho criado por pai viuacutevo Eacute histoacuteria que natildeo acaba mais Na hora da saiacuteda vamos conhecendo um pouquinho da estrutura familiar de cada crianccedila tentando perceber como se daacute a relaccedilatildeo entre a famiacutelia e a escola mas devemos ter um pouco de cuidado com esse processo (Relato do estudante J 2015)
Aleacutem da residente ter um olhar para os diferentes tipos de arranjos familiares
tambeacutem busca compreender a especificidade de cada famiacutelia considerando o papel
da mulher e de matildee trabalhadora com filhos na escola puacuteblica
(hellip) Veja esses apontamentos uma menina na sala estaacute com piolho a professora disse que jaacute alertou a matildee mas como eacute matildee solteira soacute pode cuidar da filha no domingo O outro menino que natildeo se interessa pelas atividades e responde a educadora tambeacutem teve a matildee notificada mas como
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a mesma eacute separada do marido natildeo faz nada O fato da mulher trabalhar a semana e ter folga aos domingos natildeo significa que ela seja uma maacute matildee pelo contraacuterio significa que ela rala muito para colocar comida no prato A presenccedila ou natildeo de um homem natildeo condiciona nada A escola natildeo pode ser um ambiente de roacutetulos ela deve estar aberta agraves diferenccedilas acolhendo e buscando outras maneiras e formas de aproximaccedilatildeo com a famiacutelia compreendendo a responsabilidade compartilhada que carregam (Registro da residente B 2015)
Os relatos demonstram natildeo soacute o quanto estatildeo atentos para como a escola lida
com as relaccedilotildees familiares mas sobretudo assinalam como tecircm se configurado as
formaccedilotildees das famiacutelias na atualidade Um estudo de Martins (2012) aponta o quanto
a experiecircncia de residecircncia pedagoacutegica possibilita aos estudantes um contato mais
expressivo com a realidade da escola puacuteblica de periferia urbana Aleacutem de observar
as relaccedilotildees institucionais o residente pode ser sensibilizado frente agraves dificuldades
vividas pelas famiacutelias e tendem a perceber o preconceito em relaccedilatildeo aos vaacuterios
arranjos familiares vivenciados pelas crianccedilas mais pobres e como a escolarizaccedilatildeo
dos pais pode afetar a vida dos filhos Os registros dos residentes demonstram como
ldquoos contextos de vida das crianccedilas que frequentam a escola puacuteblica de periferia
passam a ser compreendidos de uma forma concreta e as relaccedilotildees do espaccedilo familiar
com o espaccedilo escolar passam a ter uma conexatildeo cotidianardquo (MARTINS 2012 p 95)
Outra temaacutetica recorrente nos registros dos estudantes diz respeito ao processo
de escolarizaccedilatildeo das praacuteticas da educaccedilatildeo da infacircncia Tal perspectiva surge quando
os residentes referem aos usos dos brinquedos e agraves brincadeiras agrave presenccedila da
leitura e contaccedilatildeo de histoacuterias aos modos de introduccedilatildeo do desenho ao uso de novas
tecnologias e aos modos de avaliar agraves crianccedilas Tal perspectiva escolarizante emerge
em oposiccedilatildeo ao luacutedico como princiacutepio e forma de organizaccedilatildeo das praacuteticas de
educaccedilatildeo junto agraves crianccedilas pequenas e algumas vezes a ela ainda se articula a
preocupaccedilatildeo em disciplinar as vivecircncias escolares sondagens filas broncas e
silecircncios coexistem com desenhos Tv computadores e brincadeiras Os registros nos
dizem de uma escola que hesita entre coibir e promover a expressatildeo das muitas
linguagens da imaginaccedilatildeo e movimento das crianccedilas
Na semana de 2310 a 2710 e como previsto na reuniatildeo de pais a professora realizou a sondagem com as crianccedilas Teoricamente sei como funciona o procedimento mas me questiono se deve ser realizada na Ed Infantil Tambeacutem me pergunto se a sondagem vai muito aleacutem do conhecimento das crianccedilas Por exemplo algumas escrevem o proacuteprio nome
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e algumas palavras mais comuns a elas outras ainda nem reconhecem as letras do alfabeto A sondagem feita abarcou o nome palavras simples um pouco mais complexas e uma frase inteira A minha duacutevida eacute se a sondagem que vai muito aleacutem dos conhecimentos da sala eacute comum e necessaacuteria ainda mais na Ed Infantil (Relato do residente N 2017)
O debate em torno das questotildees que envolvem a escolarizaccedilatildeo de crianccedilas
pequenas eacute bastante antigo e recorrente Pesquisas como as de Neves Castanheira
e Gouveia (2015) assinalam a partir de autores que estudaram essa temaacutetica como
a perspectiva escolarizante de trabalho com a crianccedila pequena traz seacuterias implicaccedilotildees
para o desenvolvimento infantil justamente porque rompe com as formas como elas
ldquointeragem com a escrita fora da escola destituindo-a de significados pessoais e
sociais e dificulta portanto que as atividades desenvolvidas no espaccedilo escolar
envolvam a ludicidade caracteriacutestica fundamental dessa fase do desenvolvimentordquo
(p 217)
Os residentes parecem estar muito atentos a essas questotildees porque participam
de discussotildees sistemaacuteticas sobre o assunto tanto nas aulas teoacutericas na Universidade
quanto nas reuniotildees de orientaccedilatildeo com os preceptores do Programa de Residecircncia
Muitos estudantes satildeo levados a refletir sobre o assunto logo nos primeiros dias de
imersatildeo na escola
Resolvi mudar o formato do meu relato referente agrave imersatildeo inicial Pois passei por uma situaccedilatildeo em sala que me provocou tal accedilatildeo Devido agrave imposiccedilatildeo de escolarizaccedilatildeo percebida na turma na qual acompanho Onde hoje me emocionei com o choro insistente do aluno BG com as matildeos estremecidas na tentativa de segurar o laacutepis para ldquofazer liccedilatildeordquo (Relato da Residente M 2015)
A partir do relato da residente percebe-se o quanto a questatildeo eacute relevante para
o campo da educaccedilatildeo infantil e da formaccedilatildeo de professores Nas observaccedilotildees e
relatos dos cadernos de campo natildeo eacute incomum aparecerem longas narrativas sobre
os equiacutevocos que ocorrem nas praacuteticas pedagoacutegicas que envolvem a alfabetizaccedilatildeo e
letramento das crianccedilas pequenas Consideramos que questotildees como essas quando
problematizadas pelos estudantes nos horaacuterios de preceptoria ou mesmo nas
discussotildees com professores especialistas sobre o tema tendem a aproximaacute-los de
uma futura praacutetica profissional em que o trabalho com o desenvolvimento da escrita
seja realizado de forma a respeitar a infacircncia natildeo negando agrave crianccedila o seu direito ao
luacutedico mas tratando a apresentaccedilatildeo do mundo letrado como mais um momento
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prazeroso de aprendizagens Tal reflexatildeo eacute importante para os futuros professores
para que busquem compreender como inserir as crianccedilas no mundo letrado de
maneira que possam romper com a dicotomia entre o brincar e a leituraescrita
tomando como referecircncia o significado dessas accedilotildees para a crianccedila possibilitando a
conduccedilatildeo dos trabalhos na educaccedilatildeo infantil que tornem possiacutevel o brincar ldquoletrando
e alfabetizandordquo (NEVES CASTANHEIRA E GOUVEIA 2015)
Outra temaacutetica que aparece num nuacutemero expressivo de postagens diz respeito
ao olhar do residente para as praacuteticas educativas e as interaccedilotildees que ocorrem na
escola com relaccedilatildeo agrave inclusatildeo escolar das crianccedilas percebidas como ldquodiferentesrdquo
Destaca-se nesta temaacutetica observaccedilotildees a respeito de diferenccedilas de religiatildeo gecircnero
raccedilacor e tambeacutem aquelas relacionadas agrave deficiecircncia Haacute descriccedilotildees sobre como as
crianccedilas lidam com as diferenccedilas e as formas como os professores trabalham com
aquelas que possuem alguma dificuldade Algumas postagens ressaltam a
necessidade de formaccedilatildeo inicial e continuada dos educadores para lidarem com a
diversidade na escola
Pela primeira vez vivenciei preconceito racial de uma crianccedila com outra Nos momentos em que a profa distribui lego para as crianccedilas ela daacute tambeacutem um bonequinho para cada crianccedila Tem bonecos adultos crianccedilas homens mulheres e de diversas cores Os bonecos satildeo dados aleatoriamente ou escolhidos pela crianccedila conforme a professora passa de mesa em mesa Neste dia um menino negro estava com um boneco negro Um garoto se aproximou e disse ldquoCredo que boneco feio parece vocecircrdquo se direcionando ao menino O menino deu de ombros e continuou a brincar e poucos minutos depois a menina que estava ao seu lado me perguntou ldquoPor que o boneco dele eacute pretinho Eacute muito feiordquo Claro que conversei com ela e com o outro menino em outro momento calmamente falando das diversas cores que as pessoas tecircm e que natildeo haacute isso de feio e bonito aproveitando para falar sobre diversidade e etc Mais para o final da conversa a menina me disse ldquoMeu pai eacute pretinho ele eacute bonitordquo Respondi a menina dizendo que a beleza natildeo estaacute na cor da pele do cabelo ou dos olhos A cena toda me fez refletir que a menina jaacute deve ter ouvido esse tipo de afirmaccedilatildeo errocircnea Jaacute comentei mais de uma vez sobre o preconceito de gecircnero ser muito forte mas e o racial algueacutem mais vivenciou esse tipo de preconceito durante esta residecircncia (Relato do residente T 2017)
Rosemberg (2014) chama a atenccedilatildeo para o tema da diversidade como uma
questatildeo circunscrita na histoacuteria da humanidade A diferenciaccedilatildeo entre os grupos
humanos ou pessoas com atributos que classificam e separam o ldquoeurdquo do ldquooutrordquo
parece constituir as diversas manifestaccedilotildees de culturas humanas Assim a autora
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desnaturaliza a identidade e a diferenccedila apontando o seu caraacuteter cultural social e
histoacuterico Contudo esse eacute um dos temas que tem chamado cada vez mais a atenccedilatildeo
de educadores desde a educaccedilatildeo infantil jaacute que muitas vezes as questotildees que
envolvem a diferenccedila e o diferente passam por processos discriminatoacuterios e
preconceituosos como apontado no relato do estudante ao observar as interaccedilotildees
entre as crianccedilas no que se refere ao quesito raccedilacor
Marinho e Martins (2016) em estudo sobre formaccedilatildeo de professoras que atuam
na educaccedilatildeo infantil constatam a escassez ou inexistecircncia de disciplinas na formaccedilatildeo
inicial de professores que abarquem as questotildees eacutetnico-raciais denunciando o natildeo
cumprimento das leis que entre outras prescriccedilotildees preveem que instituiccedilotildees de niacutevel
superior proporcionem aos futuros(as) professoresas a formaccedilatildeo adequada para
lidarem com as relaccedilotildees raciais multieacutetnica e multicultural da sociedade brasileira
Nesse sentido ao trazerem suas inquietaccedilotildees sobre como as crianccedilas lidam com as
diferenccedilas no contexto da escola os residentes se aproximam das discussotildees a
respeito dos processos discriminatoacuterios oportunizando momentos em que tais
temaacuteticas possam ser discutidas entre professores preceptores e colegas do
programa de estaacutegio
Aleacutem da questatildeo racial outros relatos nos datildeo conta de refletir e discutir sobre
as relaccedilotildees que envolvem as crianccedilas com deficiecircncia na escola
() O que me chamou atenccedilatildeo foi que na quarta (2204) H chegou na escola e decidiu mudar de lugar foi sentar bem ao lado do D (uma crianccedila que foi diagnosticada com autismo de ldquograu leverdquo segundo a professora) eu fiquei observando como seria a relaccedilatildeo deles H trouxe um caderno de desenho o abriu na mesa e dividiu metade da folha para ele e para D depois na hora de descer ele segurou a matildeo do D e ficou durante o almoccedilo todo cuidando de D o orientou a pegar a comida sentar comer devagar e quando natildeo quisesse mais deveria jogar a comida no lixo e durante todo o dia H permaneceu cuidando de D A professora achou estranho pois naquele dia ela natildeo havia chamado a atenccedilatildeo de H ateacute me falou ldquoEle deve estar aprontando e D eacute bobatildeo pode se machucarrdquo e decidiu intervir e pediu para que H mudasse de lugar e parasse de cuidar de (Relato do residente L 2015)
A partir da narrativa eacute possiacutevel refletir sobre o preparo dos professores para
lidar com as diferenccedilas individuais na educaccedilatildeo infantil A inclusatildeo escolar de crianccedilas
com deficiecircncia ocorre mediante poliacuteticas puacuteblicas de inclusatildeo contudo haacute uma
grande distacircncia entre a poliacutetica puacuteblica e a praacutetica pedagoacutegica nos contextos
escolares pois natildeo se aprofunda ldquoo debate sobre os meios os fins e as estrateacutegias
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para a implementaccedilatildeo da poliacutetica de ampliaccedilatildeo da rede de educaccedilatildeo infantilrdquo
(BRUNO 2008 p 59)
Outros registros que tratam da temaacutetica da inclusatildeo de crianccedilas com
deficiecircncia mostram o quanto a escola estaacute despreparada para lidar com essa
questatildeo Os relatos e inquietaccedilotildees dos estudantes nos possibilitam a identificaccedilatildeo de
processos discriminatoacuterios de resistecircncias e acomodaccedilotildees dos profissionais e do
distanciamento de uma praacutetica verdadeiramente inclusiva na esfera das praacuteticas
educativas cotidianas O que se percebe nas discussotildees sobre o assunto eacute que os
residentes enquanto futuros professores muito tecircm a aprender sobre a acolhida das
famiacutelias e das crianccedilas ldquodiferentesrdquo ou com deficiecircncia na constante reflexatildeo sobre o
comportamento atitudes e posturas do educador frente ao trabalho pedagoacutegico
Outras temaacuteticas tatildeo importantes como as que discutimos aqui tem sido objeto
de interesse dos estudantes em processo de imersatildeo nas escolas-campo Haacute uma
gama de registros sobre categorias que envolvem a crianccedila pequena nas atividades
do brincar a disciplina e a coerccedilatildeo dos educadores na tentativa de manter o controle
das crianccedilas e dos comportamentos considerados inadequados Muitos residentes se
surpreendem como essa coerccedilatildeo ocorre demasiadas vezes na escola e nas reuniotildees
de supervisatildeo eacute muito comum questionarem junto ao preceptor formas de
compreender por que algumas praacuteticas coercitivas satildeo tatildeo presentes na educaccedilatildeo
infantil
Consideraccedilotildees Finais
A experiecircncia de estaacutegio no Programa de Residecircncia Pedagoacutegica requer de
estudantes e professores uma atitude de intensa accedilatildeo e reflexatildeo Na perspectiva de
observaccedilatildeo participante eacute que a imersatildeo dos residentes na escola eacute orientada
embora natildeo haja uma intervenccedilatildeo direta planejada e sistemaacutetica sobre os modos de
fazer da escola e dos professores Possiacuteveis intervenccedilotildees sobre a escola suscitadas
pela presenccedila da universidade (de preceptores e residentes) satildeo uma contingecircncia
dos processos de formaccedilatildeo de condiccedilotildees e modos de seu desenvolvimento e eacute assim
que se define o lugar do residente e da preceptoria junto a escola o caraacuteter da
observaccedilatildeo participante a ser realizada durante o estaacutegio e sua conduccedilatildeo e discussatildeo
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no acircmbito escolar As posiccedilotildees dos residentes reeditam questotildees que mobilizam a
imersatildeo e reflexatildeo sobre o vivido como e quando participar O que como e quando
registrar sobre a observaccedilatildeo participante sobre o que se vivencia Como fazer uso
das ferramentas disponiacuteveis na escola e dos subsiacutedios teoacutericos oferecidos durante a
proacutepria residecircncia ou estudados no curso de pedagogia elaborando impressotildees sobre
o que descreve e refletindo sobre o que vive e elabora
A retomada dos escritos e reflexotildees dos estudantes participantes do Programa
de Residecircncia Pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Infantil nos trazem pistas relevantes para a
compreensatildeo natildeo somente dos seus processos formativos mas tambeacutem suscitam
atenccedilatildeo aos temas e questotildees emergentes do cotidiano das crianccedilas nas escolas de
Educaccedilatildeo Infantil Sabe-se que o processo de escrita eacute composto de idas e vindas
de avanccedilos e retrocessos de duacutevidas e certezas percebidas nos textos e contextos
apresentados pelos estudantes neste processo formativo especiacutefico
As postagens guardam caracteriacutesticas especiacuteficas correlatas ao vivido nas
praacuteticas de estaacutegio de acordo com as finalidades comunicativas e formativas do
caderno de campoblog e com especificidades ndash limites e possibilidades ndash que se
dimensionam nestas praacuteticas Os estudantes registram o que observam o que
vivenciam mas natildeo soacute Em muitos registros suas impressotildees (con)fundem-se com o
observado vatildeo aleacutem da descriccedilatildeo interpretando o visto o vivido e outras vezes para
alguns o registro se faz espaccedilo de recuperaccedilatildeo das proacuteprias vivecircncias e dos
elementos teoacutericos estudados
Nesta experiecircncia a liberdade na escolha e escrita dos temas dos cadernos de
campo tem permitido que o processo formativo de cada estudante aconteccedila de forma
uacutenica e original pois apesar de estarem imersos em ambientes semelhantes (em
alguns casos mesmas escolas-campo) e possuiacuterem referenciais teoacutericos semelhantes
(provenientes das unidades curriculares obrigatoacuterias e eletivas do Curso de
Pedagogia) os temas e questotildees que recebem a atenccedilatildeo de cada um satildeo distintos e
trabalhados teoricamente a partir das anguacutestias e inquietaccedilotildees individuais Entretanto
apesar das produccedilotildees escritas serem individuais ao serem publicizadas em reuniotildees
de orientaccedilatildeo ou ateacute no suporte virtual do blog elas podem ser compartilhadas e
tornam-se objeto comum de discussotildees e aprendizagens
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Por fim concluiacutemos assim como Noacutevoa (2000) a propoacutesito das narrativas (auto)
biograacuteficas que a escrita como parte dos processos formativos de professores eacute
capaz de fazer ldquoreaparecer os sujeitos face agraves estruturas e aos sistemas a qualidade
face agrave quantidade a vivecircncia face ao instituiacutedordquo Nesta linha de pensamento
percebemos que eacute possiacutevel ler o mundo e as relaccedilotildees sociais de um sujeito por meio
da sua narrativa produzindo ldquoum outro tipo de conhecimento mais proacuteximo das
realidades educativasrdquo (NOacuteVOA 2000 p 18 19 grifo do autor) e quiccedila
transformador dessas
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POLADIAN Marina Lopes Pedrosa Estudo sobre o Programa de residecircncia pedagoacutegica da Unifesp uma articulaccedilatildeo entre Universidade e escola na formaccedilatildeo de professores Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Psicologia da Educaccedilatildeo) - Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo 2014
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ROSEMBERG Fulvia Educaccedilatildeo infantil e relaccedilotildees raciais a tensatildeo entre igualdade e diversidade Cadernos de Pesquisa v 44 n 153 p 742-759 2014
SILVA Adriana BUFALO Joseane O espaccedilo na pedagogia da educaccedilatildeo infantil faacutebula perversidade e possibilidade In Culturas infantis em creches e preacute-escolas estaacutegio e pesquisa Campinas SP Autores Associados 2011
TARDIF Maurice A profissionalizaccedilatildeo do ensino passados trinta anos dois passos para a frente trecircs para traacutes Educaccedilatildeo e Sociedade Campinas SP v34 n123 p
551-571 2013
VYGOTSKY Lev Semyonovich Desarrollo de las funciones psiacutequicas superiores en la edad de transicion in l s vygotski obras escogidas iv Paidologiacutea del adolescente Madrid Machado Libros Tomo IV 19302006a
Correspondecircncia
Edna Martins ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo (UNIFESP)
Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Maria de Faacutetima Carvalho ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Renata Marciacutelio Cacircndido ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Universidade Federal de Satildeo Paulo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo R
Sena Madureira 1500 ndash Vila Clementino CEP 04021-001 Satildeo Paulo Satildeo Paulo
Brasil
E-mail emartinsunifespgmailcom ndash carvalhomdfgmailcom ndash
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concerns observations and reflections recorded in fieldwork notebook referring to the years 2015 2016 and 2017 The analysis are made based on the issues of greater concern reported by the students in the daily process of internship and are on the themes space organization routine school management school-family relationship the contact with writing skills and diversity in school It is concluded that such experience can be understood as a way of breaking the dichotomy between theory and practice presenting itself as a place for many voices in dialogues related to school culture and teacher training with a view to an educational praxis that can be traced in the childrens public school Keywords Pedagogical residence Teacher training Supervised internship
Introduccedilatildeo
Historicamente a universidade tem buscado novas formas e modelos no
trabalho de formaccedilatildeo de professores para a educaccedilatildeo baacutesica Nessa direccedilatildeo Tardif
(2013) ao abordar a formaccedilatildeo para a docecircncia afirma que esta modalidade de ensino
estaacute subordinada aos paradigmas ou crenccedilas de cada eacutepoca histoacuterica No contexto
brasileiro nos dias atuais lidamos com uma profusatildeo de reformas educacionais que
em linhas gerais desde a deacutecada de 80 visam a democratizaccedilatildeo dos espaccedilos e
saberes universitaacuterios em experiecircncias como por exemplo as realizadas durante os
estaacutegios de formaccedilatildeo docente
Pensando no campo da formaccedilatildeo de professores e buscando o diaacutelogo entre a
universidade e escola puacuteblica algumas iniciativas brasileiras buscam caminhos que
possibilitem essa dinacircmica como indicado na pesquisa de Martins e Slavez (2015)
Neste estudo os autores fazem um levantamento de experiecircncias inovadoras que tecircm
como base a promoccedilatildeo e inserccedilatildeo de docentes em formaccedilatildeo em escolas de educaccedilatildeo
baacutesica com vistas agrave possibilitar formas de articulaccedilatildeo entre professores experientes
dessas instituiccedilotildees e aqueles que desempenham o papel de formadores nas
universidades O estudo analisou programas como o Programa Institucional de Bolsa
de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia (PIBID) mantido pela Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de
Pessoal de Niacutevel Superior (Capes) e o Programa de Residecircncia Pedagoacutegica (PRP)
oferecido pela Universidade Federal de Satildeo Paulo (Unifesp) concluindo que tais
accedilotildees satildeo de extrema importacircncia para a formaccedilatildeo profissional dos estudantes
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A proposta da Residecircncia Pedagoacutegica aqui abordada tem como base os
mesmos princiacutepios utilizados ao se pensar a institucionalizaccedilatildeo da Residecircncia meacutedica
no Brasil Feuerwerker (1998) aponta que ao implantar os programas de Residecircncia
na medicina foi importante considerar a hipoacutetese de que a formaccedilatildeo geral do meacutedico
na graduaccedilatildeo tendo em vista o desenvolvimento tecnoloacutegico e cientiacutefico naquele
momento natildeo era capaz de assegurar o niacutevel necessaacuterio de treinamento e
incorporaccedilatildeo de conhecimentos especiacuteficos aos estudantes em todas as possiacuteveis
atividades praacuteticas do cotidiano profissional A autora ainda afirma que
A praacutetica profissional historicamente tem sido transmitida atraveacutes de treinamento em serviccedilo Eacute no processo de combinar os conhecimentos teoacutericos adquiridos com a experiecircncia cliacutenica (indicando relacionamento com pacientes) que se encontra a ldquomaacutegicardquo da praacutetica profissional meacutedica Somente a experiecircncia adquirida na praacutetica pode completar a formaccedilatildeo (cientiacutefica) do meacutedico eacute pela experiecircncia cliacutenica que o profissional se apropria dos doentes (e natildeo mais apenas das doenccedilas) Eacute pela praacutetica que se constroacutei a experiecircncia cliacutenica e eacute mediante o aprendizado em serviccedilo que o futuro profissional constroacutei tambeacutem a eacutetica de suas relaccedilotildees com os pacientes baseada no exemplo e na experimentaccedilatildeo (FEUERWERKER 1998 p 59)
Dada a importacircncia da profissatildeo do professor seria possiacutevel a consideraccedilatildeo
dessas mesmas premissas para o campo do exerciacutecio da docecircncia Quais formas
possiacuteveis para instrumentalizar os futuros professores para lidar com as vicissitudes
das praacuteticas cotidianas das escolas Como aliar as teorias pedagoacutegicas agraves praacuteticas
docentes no exerciacutecio da profissatildeo Eacute possiacutevel dizer que pela praacutetica se constroacutei a
experiecircncia docente e eacute mediante o aprendizado na praacutetica que o futuro professor
constroacutei a eacutetica de suas interaccedilotildees com os alunos a partir de exemplos diaacuterios e da
experimentaccedilatildeo
Partindo dessas questotildees o Programa de Residecircncia Pedagoacutegica (PRP)
projeto de estaacutegio em formaccedilatildeo docente foi implantado em 2009 em uma
universidade puacuteblica federal do Estado de Satildeo Paulo A proposta concebida por
docentes do curso de Pedagogia buscou a superaccedilatildeo dos modos convencionais de
realizaccedilatildeo de estaacutegios de formaccedilatildeo nos quais os estudantes estagiaacuterios limitam sua
accedilatildeo agrave simples observaccedilatildeo assistemaacutetica de experiecircncias esparsas de praacuteticas
pedagoacutegicas em diferentes salas de aulas Tal iniciativa teve sua metodologia
desenvolvida por docentes da Universidade tendo como bases para consolidaccedilatildeo e
desenvolvimento uma ampla investigaccedilatildeo realizada com professores das redes
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puacuteblicas de um sistema de ensino puacuteblico da regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo entre
os anos de 2007 e 2008 assim como contou com subsiacutedios do Programa da Capes
intitulado ldquoProdocecircnciardquo
Pesquisas como as de Moretti 2011 Martins 2012 Moretti e Martins 2015
Giglio 2010 Giglio e Lugli 2014 Poladian 2014 sob diferentes perspectivas teoacutericas
tecircm tentado buscar compreender aspectos especiacuteficos dessa experiecircncia de estaacutegio
e em sua maioria assinalam tal iniciativa como um dos processos inovadores na aacuterea
de formaccedilatildeo de professores principalmente no que se refere agrave superaccedilatildeo da
dicotomia entre teoria e praacutetica vigente nos estaacutegios dos cursos de formaccedilatildeo de
professores das universidades brasileiras Compreende-se que a formaccedilatildeo do
profissional docente integra um conjunto de desafios destacando-se nos cursos de
formaccedilatildeo inicial a necessidade de ofertar juntamente com subsiacutedios
teoacutericoscientiacuteficos tambeacutem um acesso agraves praacuteticas pedagoacutegicas que instrumentalizem
o professor para a atuaccedilatildeo profissional Nesta direccedilatildeo destaca-se a conduccedilatildeo do
graduando agrave estaacutegios curriculares capazes de iniciaacute-los na praacutetica profissional de
forma efetiva e reflexiva para que com o aporte de professores supervisores
construam conhecimentos que envolvam o pensar e o agir sobre a escola
Quase dez anos apoacutes a criaccedilatildeo do Programa de Residecircncia pedagoacutegica criado
pela Universidade Federal de Satildeo Paulo (Unifesp) em 2018 foi lanccedilado pelo Governo
Federal o Edital CAPES No62018 apresentando a ideia de Residecircncia Pedagoacutegica
como proposta de induccedilatildeo agrave experiecircncias inovadoras na formaccedilatildeo inicial de
professores ao mesmo tempo em que altera as caracteriacutesticas originais do PIBID no
Edital No72018 O edital retoma termos e objetivos bastante proacuteximos dos utilizados
no Programa de Residecircncia aqui abordado entretanto diferencia-se deste e conveacutem
apontar alguns dos elementos definidores desta diferenccedila como por exemplo a
proposiccedilatildeo de um nuacutemero limitado de bolsas aos residentes o que natildeo atenderia a
demanda de estudantes da universidade onde o programa teve origem a previsatildeo
de um nuacutemero maior de residentes por preceptor extrapolando o nuacutemero maacuteximo
indicado pelo Programa base de nosso estudo para a educaccedilatildeo baacutesica Aleacutem disso a
proposta de Residecircncia Pedagoacutegica apresentada no edital referido daacute pouca ou
nenhuma ecircnfase a duas outras modalidades de residecircncia presentes no projeto da
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Unifesp que satildeo a Residecircncia Pedagoacutegica em Gestatildeo Escolar e em Educaccedilatildeo de
Jovens e Adultos
Accedilotildees formativas da Residecircncia Pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Infantil (RPEI)
Antes de apresentarmos mais detalhadamente o Programa de Residecircncia em
Educaccedilatildeo infantil (RPEI) eacute importante destacar que o trabalho de formaccedilatildeo de
professores nesta perspectiva comeccedila com o aporte teoacuterico das disciplinas
obrigatoacuterias que contemplam as temaacuteticas do campo Vencida a etapa teoacuterica os
estudantes comeccedilam o programa de estaacutegio contemplado nesta modalidade que
atende o curso de Pedagogia e eacute constituiacuteda como uma unidade curricular obrigatoacuteria
Somente a partir do 5o semestre do curso os alunos devem se matricular e cumprir
135 horas de estaacutegio as quais compreendem momentos de imersatildeo na escola e
supervisatildeo na universidade sendo tal experiecircncia realizada em escolas puacuteblicas
municipais que possuem parceria com a Universidade
Durante todo o processo a atuaccedilatildeo do professor preceptor possui destaque
segundo Moretti e Martins (2015) pois ele faz os primeiros contatos com os
estudantes de cada grupo que vai para a escola e eacute quem supervisiona o estaacutegio
acompanhando o aluno durante todo o percurso do programa Em todas as
modalidades de Residecircncia Pedagoacutegica antes de iniciar a imersatildeo na escola os
estudantes participam de encontros pontuais com seus preceptores para discussatildeo
do programa de atividades da Unidade Curricular No caso da Educaccedilatildeo Infantil
nessas ocasiotildees de encontros realizam-se estudos sobre temaacuteticas relevantes e
discussatildeo de leituras introdutoacuterias agrave atividade de estaacutegio e tambeacutem para orientaccedilotildees
mais praacuteticas sobre por exemplo as regras a serem observadas durante o periacuteodo
de estaacutegio o conhecimento das publicaccedilotildees do PRP para a modalidade especiacutefica a
construccedilatildeo do diaacuterio de campo o papel do professor preceptor e do professor
formador (aquele que o residente acompanharaacute na escola) Todas essas orientaccedilotildees
constam de um manual e satildeo retomadas pelos preceptores em leituras coletivas que
objetivam ajudar os estudantes a usarem o material de suporte enfatizando que o
estaacutegio realizado nesta perspectiva implica mais que observaccedilatildeo passiva a
participaccedilatildeo nas atividades escolares seu registro e reflexatildeo Os primeiros encontros
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tambeacutem envolvem a orientaccedilatildeo sobre aspectos de ordem legal como por exemplo
jamais assumir sozinho a sala de aula em que estatildeo fazendo a residecircncia
Como unidade curricular obrigatoacuteria a RPEI prevecirc em sua ementa que os
alunos deveratildeo construir conhecimentos a partir de identificaccedilatildeo e anaacutelise de relaccedilotildees
e praacuteticas que perfazem o dia a dia da escola de Educaccedilatildeo Infantil atentando para o
seu caraacuteter educacional e pedagoacutegico assim como para os processos de gestatildeo
institucional Esse processo de construccedilatildeo de conhecimentos sobre o que vivenciam
eacute mediado pelo uso de instrumentos de pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo
Concomitantemente enquanto participam do dia a dia na escola planejam e elaboram
planos de accedilatildeo pedagoacutegica em colaboraccedilatildeo com os supervisores do estaacutegio e
educadores das escolas-campo
No processo de imersatildeo espera-se que o residente natildeo apenas observe mas
possa dar apoio ao professor de classe em suas praacuteticas pedagoacutegicas cotidianas e na
sua relaccedilatildeo com as crianccedilas com idade entre 0 e 5 anos Cotidianamente tais
residentes devem ser encorajados a atuarem com pequenas accedilotildees junto agraves crianccedilas
com a orientaccedilatildeo dos professores que o acompanham Durante quatro semanas no
processo intenso de imersatildeo na realidade da escola os residentes devem construir
registros diaacuterios das experiecircncias vividas em campo aleacutem de outros materiais que
tecircm origem na observaccedilatildeo participativa do dia a dia escolar e serviratildeo de avaliaccedilatildeo
final tendo elaboraccedilatildeo orientada e aferida pelo professor preceptor da Universidade
Dessa perspectiva o residente tambeacutem eacute solicitado a refletir sobre sua proacutepria
atuaccedilatildeo participando ativamente de um processo de contiacutenua auto avaliaccedilatildeo
Eacute objetivo do Programa em todas as suas modalidades que os graduandos
possam retomar de forma reflexiva o que vivenciam na escola Na modalidade de
Educaccedilatildeo Infantil eacute esperado que o estudante residente possa desenvolver anaacutelises
criacutetico-reflexivas acerca da instituiccedilatildeo no qual estaacute imerso no que se refere agrave interaccedilatildeo
com as famiacutelias e agrave comunidade em seu entorno assim como sobre as praacuteticas
pedagoacutegicas realizadas nesses locais a partir do reconhecimento da crianccedila como
sujeito de direito e de toda a legislaccedilatildeo que diz respeito a essa modalidade de ensino
De acordo com o cronograma da Unidade Curricular Residecircncia Pedagoacutegica
em Educaccedilatildeo Infantil os estudantes devem ir durante quatro dias da semana para a
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escola e um dia para a Universidade para supervisatildeo com o preceptor que eacute um
docente da Universidade Na escola cumprem o horaacuterio da turma que acompanham
em turno que pode ser matutino vespertino ou intermediaacuterio Natildeo satildeo toleradas faltas
ou atrasos sem justificativa meacutedica objetivando-se desta forma colocar os alunos
diante da responsabilidade do compromisso profissional assumido perante a escola
Durante as duas primeiras semanas de imersatildeo os estudantes satildeo orientados
a descrever no diaacuterio de campo o que observam e suas impressotildees sobre a escola
as relaccedilotildees entre professorcrianccedilas crianccedilacrianccedila escolacomunidade
famiacuteliasescola professorprofessor professorgestatildeo e praacuteticas educativas do
cotidiano que satildeo observadas mais atentamente Neste primeiro momento aleacutem da
cobranccedila para que o aluno escreva sobre suas vivecircncias o preceptor busca ajudaacute-lo
na construccedilatildeo dos registros do caderno de campo assinalando sobre as posturas de
descriccedilatildeo e de reflexatildeo na elaboraccedilatildeo sobre suas impressotildees sobre aquilo que eacute
observado
Antes de serem executados os planos pedagoacutegicos de cada estudante satildeo
apresentados para os professores formadores e coordenador nas escolas durante
reuniatildeo realizada na ldquoHora Atividaderdquo com a participaccedilatildeo do professor preceptor Este
tem se constituiacutedo um momento iacutempar de aprendizagem para todos os envolvidos jaacute
que nesta ocasiatildeo os estudantes compartilham seus conhecimentos suas
experiecircncias expectativas e apreensotildees e onde explicitam-se possibilidades de
articulaccedilatildeo escola-universidade no acircmbito da formaccedilatildeo de professores Eacute na uacuteltima
semana de imersatildeo que os estudantes colocam seus planos de accedilatildeo pedagoacutegica em
praacutetica nas salas em que estatildeo imersos fechando o ciclo previsto pelo estaacutegio
Metodologia analisando as temaacuteticas do caderno de campo online (Blog)
Alguns grupos de residentes da RPEI conforme opccedilatildeo dos professores
preceptores usam um blog para a construccedilatildeo online de um caderno de campo que
integra a elaboraccedilatildeo de seus registros sobre a imersatildeo na escola Esses registros ndash
que chamamos de postagens aleacutem de possibilitar um olhar mais apurado sobre as
praacuteticas cotidianas podem contribuir para a orientaccedilatildeo e a construccedilatildeo do Plano de
Accedilatildeo Pedagoacutegica de cada residente e posteriormente para a escrita de um relatoacuterio
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final de estaacutegio pelo grupo Eacute sobre os registros do blog que incidiraacute nossa anaacutelise
considerando para tanto inquietaccedilotildees observaccedilotildees e reflexotildees registradas pelos
residentes nos anos de 2015 2016 e 2017
O blog da residecircncia ou diaacuterio de campo online consiste em uma ferramenta
virtual na qual satildeo realizados os registros de observaccedilotildees e experiecircncias significativas
vividas pelos residentes cotidianamente na escola Destaca-se que tal ferramenta eacute
de acesso restrito e apenas um uacutenico grupo de alunos e professores preceptores da
Universidade podem participar em cada escola acompanhada Deste modo nem os
professores ou quaisquer pessoas das escolas-campo podem acessar tal instrumento
O blog eacute construiacutedo pelo professor preceptor a cada novo grupo de residentes
assegurando o sigilo das informaccedilotildees registradas A ferramenta possibilita a
construccedilatildeo coletiva de diaacutelogos sobre questotildees observadas e a mediaccedilatildeo dos
conhecimentos dos residentes pelos seus supervisores Assim os estudantes podem
realizar trocas sobre suas vivecircncias muitas vezes similares agraves que ocorrem na mesma
instituiccedilatildeo ainda que estejam em turmas de idades diferentes Permite tambeacutem que
preceptores acompanhem diariamente seus residentes respondendo as indagaccedilotildees
e inquietaccedilotildees do grupo que participa do dia-a-dia na escola
Aleacutem de cumprir todos os objetivos de um caderno de campo comum o blog
permite ao preceptor mesmo agrave distacircncia o acompanhamento contiacutenuo do grupo de
estudantes o que lhe permite planejar as atividades semanais de supervisatildeo de forma
a responder as demandas dos alunos e esses uacuteltimos de compartilharem seus
diferentes pontos de vistas e as accedilotildees desenvolvidas na escola Assim no contexto
da residecircncia pedagoacutegica o blog ou caderno de campo online eacute o espaccedilomomento
de realizaccedilatildeo dos registros de observaccedilotildees e experiecircncias significativas vividas
cotidianamente na escola de educaccedilatildeo infantil e de acompanhamento e
problematizaccedilatildeo dessas vivecircncias pelos preceptores
Nesse caminho assinala-se a contribuiccedilatildeo de Vygotsky (1981) quando aponta
que as relaccedilotildees humanas satildeo sempre mediadas pelo meio social e pelos instrumentos
e signos que fazem parte das relaccedilotildees e dos contextos em que o homem estaacute inserido
Desse modo
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A atividade praacutetica do homem portanto se faz duplamente mediada de uma parte estaacute mediada pelas ferramentas no sentido literal da palavra e de outra parte mediada pelas ferramentas no sentido figurado pelas ferramentas do pensamento pelos meios com a ajuda dos quais se realiza a operaccedilatildeo intelectual ou seja mediada com a ajuda das palavras (VYGOTSKI 19302006a p 165)
Nessa direccedilatildeo conveacutem destacar a importacircncia do blog como instrumento social
representativo da incorporaccedilatildeo da tecnologia ao dia a dia dos estudantes e da
consideraccedilatildeo da mediaccedilatildeo tecnoloacutegica em processos de aprendizagem e
desenvolvimento dos graduandos
Diferente de outras formas de relacionamento virtual (e-mail chat instant
messages listas de discussatildeo etc) e de ferramentas virtuais convencionais ndash como
os sites ndash o blog caracteriza-se pela facilidade de sua criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo o que eacute
definido pela organizaccedilatildeo automaacutetica das mensagens ndash posts ndash pelo sistema
dinamizando seu uso e favorecendo a construccedilatildeo de diaacuterios coletivos mantidos por
vaacuterios usuaacuterios Tais caracteriacutesticas favorecem o uso do blog em processos de ensino-
aprendizagem tendo em vista a interaccedilatildeo a troca o diaacutelogo como forma de partilha e
construccedilatildeo de conhecimentos (MARQUES MULLER 2012)
O blog permite portanto o compartilhamento de informaccedilotildees e a interaccedilatildeo
entre estudantes do mesmo grupo e o mesmo preceptor em uma mesma escola
Todos podem ler e comentar as postagens funcionando como um ponto de encontro
entre alunos e preceptores Assim nossa atenccedilatildeo agraves postagens dos estudantes no
blog eacute dirigida pelo objetivo de dar visibilidade a dimensatildeo social das praacuteticas de
registro do observadovivido nos processos formativos que emergem na experiecircncia
de Residecircncia Pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Infantil Assumimos o caraacuteter histoacuterico-
cultural da pesquisa do meacutetodo do objeto de estudo e do proacuteprio conhecimento como
construccedilatildeo que se realiza entre sujeitos (FREITAS 2009) Dessa forma acredita-se
que o momento de elaboraccedilatildeo do vivido ndash o registro no caderno de campoblog ndash
deflagra no estudante a necessidade de reflexatildeo sobre os processos de ensino-
aprendizagem em curso no acircmbito do estaacutegio-residecircncia pedagoacutegica
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Registros no caderno de campo online o olhar do residente sobre a escola de
educaccedilatildeo infantil
Nos primeiros dias de imersatildeo na escola os residentes satildeo orientados a
realizar uma observaccedilatildeo atenta dos espaccedilos da instituiccedilatildeo A partir da leitura do texto
de Silva e Bufalo (2011) sobre culturas escolares os residentes descrevem em seus
primeiros registros detalhes fiacutesicos sobre a escola Muitos acabam desenhando a
planta baixa ou tirando fotos de salas de aulas parques e paacutetios e compartilhando no
caderno de campo online (blog) para comeccedilarem a pensar sobre o contexto e os
espaccedilos que podem favorecer a aprendizagem e o desenvolvimento da crianccedila
pequena como descrito no excerto abaixo
Uma coisa que me chamou atenccedilatildeo foi que natildeo possuem um espaccedilo para atividade fiacutesica essas satildeo realizadas no paacutetio que eacute proacuteximo as salas o barulho acaba atrapalhando os demais O parque estaacute interditado por ordem da diretora ou seja natildeo possuem lugar para brincar O dia das crianccedilas foi pautado em ficar sentado e quieto vendo um filme que a maioria jaacute tinha assistido (Relato da residente N 2017)
Formas de organizaccedilatildeo de espaccedilos e tempos remetem agrave organizaccedilatildeo da rotina
Sobre esse tema grande quantidade de postagens textos diz respeito a como as
atividades diaacuterias satildeo organizadas na escola Em alguns registros como o
apresentado a seguir aparece a problematizaccedilatildeo da forma de organizaccedilatildeo das
atividades
730 (15min) - a professora colocou o cabeccedilalho na lousa com a data e fez a contagem coletiva das crianccedilas 745 (45min) - a professora retomou o que eles haviam aprendido sobre os iacutendios entregou massinha e os orientou a modelar utensiacutelios indiacutegenas 830 (35min) - pintura de desenho xerocado que seraacute colado na capa do caderno de atividades 905 (25min) - brincadeira livre no paacutetio interno no brinquedatildeo que fica no final da escadarampa sup2940 (30min) - brincadeira em sala Gato mia 1010 (ateacute as crianccedilas irem embora) - a professora entregou uma folha com a letra da canccedilatildeo 1 2 3 indiozinhos cantou a muacutesica com eles sentados em seus lugares pediu para eles circularem as letras A e I e depois pintar a ilustraccedilatildeo () (Relato da residente J 2015)
A rotina observada e registrada pela residente configura-se como um dos
aspectos mais relevantes na vida da crianccedila que se encontra na escola de Educaccedilatildeo
Infantil Barbosa (2006) aponta que esse eacute um dos elementos que integram as praacuteticas
educativas que devem ser observadas e planejadas com regularidade objetivando a
operacionalizaccedilatildeo do cotidiano da escola de maneira que possa contribuir na
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constituiccedilatildeo da subjetividade dos atores escolares Desse modo pensar e
compreender a rotina como um fator presente e essencial na educaccedilatildeo de crianccedilas
pequenas eacute um passo promissor para que o residente acompanhe como as atividades
cotidianas da escola se materializam e datildeo base para a organizaccedilatildeo da praacutetica
pedagoacutegica devendo estar presente no desenvolvimento curricular
O planejamento das atividades na educaccedilatildeo infantil tem estreita ligaccedilatildeo com a
rotina Ao observar e refletir sobre a vida e as experiecircncias das crianccedilas na escola os
residentes satildeo remetidos a memoacuteria agrave lembranccedila do que tambeacutem foi um dia vivido
por eles em suas experiecircncias escolares Como apontado por Meksenas (2002)
ldquonunca somos testemunhas objetivas observando objetos e sim sujeitos observando
outros sujeitosrdquo (p 116)
Estive tentando lembrar nas uacuteltimas semanas o que eu fazia na minha preacute-escola Eu comecei no maternal com 3 anos ()Tenho vagas lembranccedilas de duas salas de aula uma do preacute III e a outra acho que era do preacute I Era uma escola particular dessas pequenas de bairro Lembro que a turma natildeo era tatildeo numerosa quanto essa que estou vendo na residecircncia mas a sala tinha uma organizaccedilatildeo parecida eram mesas e cadeiras enfileiradas nas duas () Eu estava com 5 anos Lembro que a gente tinha uma apostila no preacute I eu gostava de terminar tudo raacutepido para dormir Depois a professora comeccedilou a me dar gibi para eu ficar folheando Tenho na minha memoacuteria que as coisas que a gente fazia na escola eram chatas e muito infantis bobas demais Agora eu penso talvez as professoras ficassem me ocupando com massinha e pinturas todo dia tambeacutem como eu vejo na residecircncia e por isso eu achava muito chato O que seraacute que essas crianccedilas pensam disso O que seraacute que elas acham mais legal na escola Eu vejo que elas gostam muito de fazer liccedilatildeo essas de folhinha que a professora daacute e todos os dias elas perguntam Mas eu natildeo me conformo como elas acham isso tatildeo legal (Relato da Residente F 2017)
Sabemos que a memoacuteria eacute mediada pelo signo pelas interaccedilotildees sociais pelo
outro Braga (1997) dirige nosso olhar para o ldquoprocesso de apropriaccedilatildeo das formas
culturais de interaccedilatildeo que caracterizam a memoacuteria humanardquo Para a autora ldquoa
memoacuteria do homem soacute se configura no movimento discursivo e coletivo por sua
natureza cultural e simboacutelicardquo No registro acima o observado mobiliza as lembranccedilas
da residente aquilo que foi tambeacutem vivido na escola de sua infacircncia Entre lembranccedilas
e interrogaccedilotildees emergem as construccedilotildees formativas em um processo dinacircmico ndash
interativo cultural e simboacutelico Processo que potildeem em relaccedilatildeo vivecircncias atuais e
passadas que invocam sentidos e significados atribuiacutedos ao vivido que ocorre nas
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contradiccedilotildees entre aquilo que eacute rememorado pela estudante e o que efetivamente eacute
observado nas relaccedilotildees estabelecidas no contato com o cotidiano da escola
Aleacutem da rotina e da organizaccedilatildeo de tempos e espaccedilos em sua relaccedilatildeo com as
praacuteticas pedagoacutegicas os relatos dos estudantes se reportam agraves diferentes dimensotildees
da gestatildeo escolar Os registros destacam suas observaccedilotildees nas H A (hora atividade)
ou reuniotildees que eventualmente participam e com frequecircncia observam a postura da
equipe em relaccedilatildeo a presenccedila do residente Em seus relatos questionam o caraacuteter
da gestatildeo a qualidade da relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo entre os professores as discussotildees
que remetem a construccedilatildeo e discussatildeo do projeto poliacutetico pedagoacutegico e os papeis
desempenhados pelos diferentes educadores na construccedilatildeo do trabalho de educaccedilatildeo
da infacircncia
Completamos nesta semana 4 dias de participaccedilatildeo nas Horas Atividades (HA) destinada agrave formaccedilatildeo docente organizaccedilatildeo dos registros e planejamento das atividades pedagoacutegicas O que pude por meio da observaccedilatildeo constatar que o papel do Coordenador Pedagoacutegico que eacute fundamental nesse momento de formaccedilatildeo pois eacute ele o mediador desse processo acaba por se tornar distante e sem intervenccedilotildees no que adentra a orientaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico docente (Relato da estudante M 2015)
Na experiecircncia cotidiana de imersatildeo na escola eacute possiacutevel verificar as tensotildees
vivenciadas entre os professores e o papel da coordenaccedilatildeo pedagoacutegica A teoria
discutida na universidade pelos residentes assinala a importacircncia do papel do
coordenador pedagoacutegico na educaccedilatildeo infantil na praacutetica o residente percebe o quanto
a sua mediaccedilatildeo eacute fundamental na organizaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico e por outro
lado o quanto a sua ausecircncia pode interferir de forma negativa na orientaccedilatildeo das
atividades dos professores
Outra personagem que acaba sendo central na gestatildeo escolar eacute a direccedilatildeo que
nessa experiecircncia do residente tambeacutem eacute observada de forma criacutetica
A figura da diretora na escola foi a que mais me chamou a atenccedilatildeo ()imaginem que em nenhum momento percebi qualquer aproximaccedilatildeo da diretora com as crianccedilas em vaacuterios momentos acreditei que ela fosse algum teacutecnico administrativo pois apesar de estar no topo da piracircmide a referecircncia da gestatildeo a mesma se restringia a secretaria e natildeo se relacionava natildeo nos conhecia nem procurava nos conhecer Passou diversas vezes por grupos de crianccedilas e em nenhuma das vezes sequer olhou para elas Nunca apareceu em uma HA nunca percebi o seu contato com os professores e por diversas vezes me perguntei como eles se falavam qual era o seu relacionamento (Relato da residente B 2015)
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Sobre esse assunto estudos como os de Paro (2005) e Castro (2009) tem
assinalado o papel da gestatildeo e da administraccedilatildeo escolar como alicerce fundamental
nos processos de transformaccedilatildeo da escola puacuteblica brasileira Tais trabalhos tecircm
apontado a centralidade da direccedilatildeo escolar nas questotildees que envolvem os processos
de ensino e aprendizagem e as relaccedilotildees humanas presentes na equipe de trabalho
para aleacutem dos trabalhos administrativos e burocraacuteticos Natildeo eacute objetivo deste trabalho
fazer uma anaacutelise do papel do diretor na escola de educaccedilatildeo infantil mas cabe
assinalar que os estudantes residentes apontam o tema em seus registros e atentos
agraves demandas relativas ao papel do diretor indagam se como e quanto as lideranccedilas
escolares tecircm se envolvido com o trabalho administrativo dispendendo tempo para
um olhar mais atento agraves relaccedilotildees entre os professoresalunos funcionaacuterios da escola
observada
Em relaccedilatildeo agraves interaccedilotildees humanas outros registros dos residentes nos
remetem agraves maneiras como a escola lida com as famiacutelias das crianccedilas matriculadas
nas escolas Tais relatos natildeo satildeo tatildeo frequentes possivelmente porque essa eacute uma
relaccedilatildeo que se caracteriza pela assimetria de poderes e eacute pouco valorizada no dia a
dia escolar Os registros evocam situaccedilotildees vividas comentaacuterios ouvidos e
principalmente a necessidade de mudanccedila dos modos de conceber a crianccedila e suas
famiacutelias e de interagir com elas
A relaccedilatildeo entre professor e famiacutelia eacute mais uma dessas conexotildees que fazemos pela vida Por um lado haacute um profissional uma pessoa que estudou e eacute especialista em cuidar de crianccedilas Por outro famiacutelias que dificilmente conseguimos de fato perceber como satildeo suas estruturadas Famiacutelia hoje eacute coisa difiacutecil de entender Eacute matildee que mora sozinha com o filho eacute pais que trabalham e deixam os filhos na semana com tios avoacutes Eacute matildee solteira Eacute filho criado por pai viuacutevo Eacute histoacuteria que natildeo acaba mais Na hora da saiacuteda vamos conhecendo um pouquinho da estrutura familiar de cada crianccedila tentando perceber como se daacute a relaccedilatildeo entre a famiacutelia e a escola mas devemos ter um pouco de cuidado com esse processo (Relato do estudante J 2015)
Aleacutem da residente ter um olhar para os diferentes tipos de arranjos familiares
tambeacutem busca compreender a especificidade de cada famiacutelia considerando o papel
da mulher e de matildee trabalhadora com filhos na escola puacuteblica
(hellip) Veja esses apontamentos uma menina na sala estaacute com piolho a professora disse que jaacute alertou a matildee mas como eacute matildee solteira soacute pode cuidar da filha no domingo O outro menino que natildeo se interessa pelas atividades e responde a educadora tambeacutem teve a matildee notificada mas como
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a mesma eacute separada do marido natildeo faz nada O fato da mulher trabalhar a semana e ter folga aos domingos natildeo significa que ela seja uma maacute matildee pelo contraacuterio significa que ela rala muito para colocar comida no prato A presenccedila ou natildeo de um homem natildeo condiciona nada A escola natildeo pode ser um ambiente de roacutetulos ela deve estar aberta agraves diferenccedilas acolhendo e buscando outras maneiras e formas de aproximaccedilatildeo com a famiacutelia compreendendo a responsabilidade compartilhada que carregam (Registro da residente B 2015)
Os relatos demonstram natildeo soacute o quanto estatildeo atentos para como a escola lida
com as relaccedilotildees familiares mas sobretudo assinalam como tecircm se configurado as
formaccedilotildees das famiacutelias na atualidade Um estudo de Martins (2012) aponta o quanto
a experiecircncia de residecircncia pedagoacutegica possibilita aos estudantes um contato mais
expressivo com a realidade da escola puacuteblica de periferia urbana Aleacutem de observar
as relaccedilotildees institucionais o residente pode ser sensibilizado frente agraves dificuldades
vividas pelas famiacutelias e tendem a perceber o preconceito em relaccedilatildeo aos vaacuterios
arranjos familiares vivenciados pelas crianccedilas mais pobres e como a escolarizaccedilatildeo
dos pais pode afetar a vida dos filhos Os registros dos residentes demonstram como
ldquoos contextos de vida das crianccedilas que frequentam a escola puacuteblica de periferia
passam a ser compreendidos de uma forma concreta e as relaccedilotildees do espaccedilo familiar
com o espaccedilo escolar passam a ter uma conexatildeo cotidianardquo (MARTINS 2012 p 95)
Outra temaacutetica recorrente nos registros dos estudantes diz respeito ao processo
de escolarizaccedilatildeo das praacuteticas da educaccedilatildeo da infacircncia Tal perspectiva surge quando
os residentes referem aos usos dos brinquedos e agraves brincadeiras agrave presenccedila da
leitura e contaccedilatildeo de histoacuterias aos modos de introduccedilatildeo do desenho ao uso de novas
tecnologias e aos modos de avaliar agraves crianccedilas Tal perspectiva escolarizante emerge
em oposiccedilatildeo ao luacutedico como princiacutepio e forma de organizaccedilatildeo das praacuteticas de
educaccedilatildeo junto agraves crianccedilas pequenas e algumas vezes a ela ainda se articula a
preocupaccedilatildeo em disciplinar as vivecircncias escolares sondagens filas broncas e
silecircncios coexistem com desenhos Tv computadores e brincadeiras Os registros nos
dizem de uma escola que hesita entre coibir e promover a expressatildeo das muitas
linguagens da imaginaccedilatildeo e movimento das crianccedilas
Na semana de 2310 a 2710 e como previsto na reuniatildeo de pais a professora realizou a sondagem com as crianccedilas Teoricamente sei como funciona o procedimento mas me questiono se deve ser realizada na Ed Infantil Tambeacutem me pergunto se a sondagem vai muito aleacutem do conhecimento das crianccedilas Por exemplo algumas escrevem o proacuteprio nome
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e algumas palavras mais comuns a elas outras ainda nem reconhecem as letras do alfabeto A sondagem feita abarcou o nome palavras simples um pouco mais complexas e uma frase inteira A minha duacutevida eacute se a sondagem que vai muito aleacutem dos conhecimentos da sala eacute comum e necessaacuteria ainda mais na Ed Infantil (Relato do residente N 2017)
O debate em torno das questotildees que envolvem a escolarizaccedilatildeo de crianccedilas
pequenas eacute bastante antigo e recorrente Pesquisas como as de Neves Castanheira
e Gouveia (2015) assinalam a partir de autores que estudaram essa temaacutetica como
a perspectiva escolarizante de trabalho com a crianccedila pequena traz seacuterias implicaccedilotildees
para o desenvolvimento infantil justamente porque rompe com as formas como elas
ldquointeragem com a escrita fora da escola destituindo-a de significados pessoais e
sociais e dificulta portanto que as atividades desenvolvidas no espaccedilo escolar
envolvam a ludicidade caracteriacutestica fundamental dessa fase do desenvolvimentordquo
(p 217)
Os residentes parecem estar muito atentos a essas questotildees porque participam
de discussotildees sistemaacuteticas sobre o assunto tanto nas aulas teoacutericas na Universidade
quanto nas reuniotildees de orientaccedilatildeo com os preceptores do Programa de Residecircncia
Muitos estudantes satildeo levados a refletir sobre o assunto logo nos primeiros dias de
imersatildeo na escola
Resolvi mudar o formato do meu relato referente agrave imersatildeo inicial Pois passei por uma situaccedilatildeo em sala que me provocou tal accedilatildeo Devido agrave imposiccedilatildeo de escolarizaccedilatildeo percebida na turma na qual acompanho Onde hoje me emocionei com o choro insistente do aluno BG com as matildeos estremecidas na tentativa de segurar o laacutepis para ldquofazer liccedilatildeordquo (Relato da Residente M 2015)
A partir do relato da residente percebe-se o quanto a questatildeo eacute relevante para
o campo da educaccedilatildeo infantil e da formaccedilatildeo de professores Nas observaccedilotildees e
relatos dos cadernos de campo natildeo eacute incomum aparecerem longas narrativas sobre
os equiacutevocos que ocorrem nas praacuteticas pedagoacutegicas que envolvem a alfabetizaccedilatildeo e
letramento das crianccedilas pequenas Consideramos que questotildees como essas quando
problematizadas pelos estudantes nos horaacuterios de preceptoria ou mesmo nas
discussotildees com professores especialistas sobre o tema tendem a aproximaacute-los de
uma futura praacutetica profissional em que o trabalho com o desenvolvimento da escrita
seja realizado de forma a respeitar a infacircncia natildeo negando agrave crianccedila o seu direito ao
luacutedico mas tratando a apresentaccedilatildeo do mundo letrado como mais um momento
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prazeroso de aprendizagens Tal reflexatildeo eacute importante para os futuros professores
para que busquem compreender como inserir as crianccedilas no mundo letrado de
maneira que possam romper com a dicotomia entre o brincar e a leituraescrita
tomando como referecircncia o significado dessas accedilotildees para a crianccedila possibilitando a
conduccedilatildeo dos trabalhos na educaccedilatildeo infantil que tornem possiacutevel o brincar ldquoletrando
e alfabetizandordquo (NEVES CASTANHEIRA E GOUVEIA 2015)
Outra temaacutetica que aparece num nuacutemero expressivo de postagens diz respeito
ao olhar do residente para as praacuteticas educativas e as interaccedilotildees que ocorrem na
escola com relaccedilatildeo agrave inclusatildeo escolar das crianccedilas percebidas como ldquodiferentesrdquo
Destaca-se nesta temaacutetica observaccedilotildees a respeito de diferenccedilas de religiatildeo gecircnero
raccedilacor e tambeacutem aquelas relacionadas agrave deficiecircncia Haacute descriccedilotildees sobre como as
crianccedilas lidam com as diferenccedilas e as formas como os professores trabalham com
aquelas que possuem alguma dificuldade Algumas postagens ressaltam a
necessidade de formaccedilatildeo inicial e continuada dos educadores para lidarem com a
diversidade na escola
Pela primeira vez vivenciei preconceito racial de uma crianccedila com outra Nos momentos em que a profa distribui lego para as crianccedilas ela daacute tambeacutem um bonequinho para cada crianccedila Tem bonecos adultos crianccedilas homens mulheres e de diversas cores Os bonecos satildeo dados aleatoriamente ou escolhidos pela crianccedila conforme a professora passa de mesa em mesa Neste dia um menino negro estava com um boneco negro Um garoto se aproximou e disse ldquoCredo que boneco feio parece vocecircrdquo se direcionando ao menino O menino deu de ombros e continuou a brincar e poucos minutos depois a menina que estava ao seu lado me perguntou ldquoPor que o boneco dele eacute pretinho Eacute muito feiordquo Claro que conversei com ela e com o outro menino em outro momento calmamente falando das diversas cores que as pessoas tecircm e que natildeo haacute isso de feio e bonito aproveitando para falar sobre diversidade e etc Mais para o final da conversa a menina me disse ldquoMeu pai eacute pretinho ele eacute bonitordquo Respondi a menina dizendo que a beleza natildeo estaacute na cor da pele do cabelo ou dos olhos A cena toda me fez refletir que a menina jaacute deve ter ouvido esse tipo de afirmaccedilatildeo errocircnea Jaacute comentei mais de uma vez sobre o preconceito de gecircnero ser muito forte mas e o racial algueacutem mais vivenciou esse tipo de preconceito durante esta residecircncia (Relato do residente T 2017)
Rosemberg (2014) chama a atenccedilatildeo para o tema da diversidade como uma
questatildeo circunscrita na histoacuteria da humanidade A diferenciaccedilatildeo entre os grupos
humanos ou pessoas com atributos que classificam e separam o ldquoeurdquo do ldquooutrordquo
parece constituir as diversas manifestaccedilotildees de culturas humanas Assim a autora
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desnaturaliza a identidade e a diferenccedila apontando o seu caraacuteter cultural social e
histoacuterico Contudo esse eacute um dos temas que tem chamado cada vez mais a atenccedilatildeo
de educadores desde a educaccedilatildeo infantil jaacute que muitas vezes as questotildees que
envolvem a diferenccedila e o diferente passam por processos discriminatoacuterios e
preconceituosos como apontado no relato do estudante ao observar as interaccedilotildees
entre as crianccedilas no que se refere ao quesito raccedilacor
Marinho e Martins (2016) em estudo sobre formaccedilatildeo de professoras que atuam
na educaccedilatildeo infantil constatam a escassez ou inexistecircncia de disciplinas na formaccedilatildeo
inicial de professores que abarquem as questotildees eacutetnico-raciais denunciando o natildeo
cumprimento das leis que entre outras prescriccedilotildees preveem que instituiccedilotildees de niacutevel
superior proporcionem aos futuros(as) professoresas a formaccedilatildeo adequada para
lidarem com as relaccedilotildees raciais multieacutetnica e multicultural da sociedade brasileira
Nesse sentido ao trazerem suas inquietaccedilotildees sobre como as crianccedilas lidam com as
diferenccedilas no contexto da escola os residentes se aproximam das discussotildees a
respeito dos processos discriminatoacuterios oportunizando momentos em que tais
temaacuteticas possam ser discutidas entre professores preceptores e colegas do
programa de estaacutegio
Aleacutem da questatildeo racial outros relatos nos datildeo conta de refletir e discutir sobre
as relaccedilotildees que envolvem as crianccedilas com deficiecircncia na escola
() O que me chamou atenccedilatildeo foi que na quarta (2204) H chegou na escola e decidiu mudar de lugar foi sentar bem ao lado do D (uma crianccedila que foi diagnosticada com autismo de ldquograu leverdquo segundo a professora) eu fiquei observando como seria a relaccedilatildeo deles H trouxe um caderno de desenho o abriu na mesa e dividiu metade da folha para ele e para D depois na hora de descer ele segurou a matildeo do D e ficou durante o almoccedilo todo cuidando de D o orientou a pegar a comida sentar comer devagar e quando natildeo quisesse mais deveria jogar a comida no lixo e durante todo o dia H permaneceu cuidando de D A professora achou estranho pois naquele dia ela natildeo havia chamado a atenccedilatildeo de H ateacute me falou ldquoEle deve estar aprontando e D eacute bobatildeo pode se machucarrdquo e decidiu intervir e pediu para que H mudasse de lugar e parasse de cuidar de (Relato do residente L 2015)
A partir da narrativa eacute possiacutevel refletir sobre o preparo dos professores para
lidar com as diferenccedilas individuais na educaccedilatildeo infantil A inclusatildeo escolar de crianccedilas
com deficiecircncia ocorre mediante poliacuteticas puacuteblicas de inclusatildeo contudo haacute uma
grande distacircncia entre a poliacutetica puacuteblica e a praacutetica pedagoacutegica nos contextos
escolares pois natildeo se aprofunda ldquoo debate sobre os meios os fins e as estrateacutegias
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para a implementaccedilatildeo da poliacutetica de ampliaccedilatildeo da rede de educaccedilatildeo infantilrdquo
(BRUNO 2008 p 59)
Outros registros que tratam da temaacutetica da inclusatildeo de crianccedilas com
deficiecircncia mostram o quanto a escola estaacute despreparada para lidar com essa
questatildeo Os relatos e inquietaccedilotildees dos estudantes nos possibilitam a identificaccedilatildeo de
processos discriminatoacuterios de resistecircncias e acomodaccedilotildees dos profissionais e do
distanciamento de uma praacutetica verdadeiramente inclusiva na esfera das praacuteticas
educativas cotidianas O que se percebe nas discussotildees sobre o assunto eacute que os
residentes enquanto futuros professores muito tecircm a aprender sobre a acolhida das
famiacutelias e das crianccedilas ldquodiferentesrdquo ou com deficiecircncia na constante reflexatildeo sobre o
comportamento atitudes e posturas do educador frente ao trabalho pedagoacutegico
Outras temaacuteticas tatildeo importantes como as que discutimos aqui tem sido objeto
de interesse dos estudantes em processo de imersatildeo nas escolas-campo Haacute uma
gama de registros sobre categorias que envolvem a crianccedila pequena nas atividades
do brincar a disciplina e a coerccedilatildeo dos educadores na tentativa de manter o controle
das crianccedilas e dos comportamentos considerados inadequados Muitos residentes se
surpreendem como essa coerccedilatildeo ocorre demasiadas vezes na escola e nas reuniotildees
de supervisatildeo eacute muito comum questionarem junto ao preceptor formas de
compreender por que algumas praacuteticas coercitivas satildeo tatildeo presentes na educaccedilatildeo
infantil
Consideraccedilotildees Finais
A experiecircncia de estaacutegio no Programa de Residecircncia Pedagoacutegica requer de
estudantes e professores uma atitude de intensa accedilatildeo e reflexatildeo Na perspectiva de
observaccedilatildeo participante eacute que a imersatildeo dos residentes na escola eacute orientada
embora natildeo haja uma intervenccedilatildeo direta planejada e sistemaacutetica sobre os modos de
fazer da escola e dos professores Possiacuteveis intervenccedilotildees sobre a escola suscitadas
pela presenccedila da universidade (de preceptores e residentes) satildeo uma contingecircncia
dos processos de formaccedilatildeo de condiccedilotildees e modos de seu desenvolvimento e eacute assim
que se define o lugar do residente e da preceptoria junto a escola o caraacuteter da
observaccedilatildeo participante a ser realizada durante o estaacutegio e sua conduccedilatildeo e discussatildeo
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no acircmbito escolar As posiccedilotildees dos residentes reeditam questotildees que mobilizam a
imersatildeo e reflexatildeo sobre o vivido como e quando participar O que como e quando
registrar sobre a observaccedilatildeo participante sobre o que se vivencia Como fazer uso
das ferramentas disponiacuteveis na escola e dos subsiacutedios teoacutericos oferecidos durante a
proacutepria residecircncia ou estudados no curso de pedagogia elaborando impressotildees sobre
o que descreve e refletindo sobre o que vive e elabora
A retomada dos escritos e reflexotildees dos estudantes participantes do Programa
de Residecircncia Pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Infantil nos trazem pistas relevantes para a
compreensatildeo natildeo somente dos seus processos formativos mas tambeacutem suscitam
atenccedilatildeo aos temas e questotildees emergentes do cotidiano das crianccedilas nas escolas de
Educaccedilatildeo Infantil Sabe-se que o processo de escrita eacute composto de idas e vindas
de avanccedilos e retrocessos de duacutevidas e certezas percebidas nos textos e contextos
apresentados pelos estudantes neste processo formativo especiacutefico
As postagens guardam caracteriacutesticas especiacuteficas correlatas ao vivido nas
praacuteticas de estaacutegio de acordo com as finalidades comunicativas e formativas do
caderno de campoblog e com especificidades ndash limites e possibilidades ndash que se
dimensionam nestas praacuteticas Os estudantes registram o que observam o que
vivenciam mas natildeo soacute Em muitos registros suas impressotildees (con)fundem-se com o
observado vatildeo aleacutem da descriccedilatildeo interpretando o visto o vivido e outras vezes para
alguns o registro se faz espaccedilo de recuperaccedilatildeo das proacuteprias vivecircncias e dos
elementos teoacutericos estudados
Nesta experiecircncia a liberdade na escolha e escrita dos temas dos cadernos de
campo tem permitido que o processo formativo de cada estudante aconteccedila de forma
uacutenica e original pois apesar de estarem imersos em ambientes semelhantes (em
alguns casos mesmas escolas-campo) e possuiacuterem referenciais teoacutericos semelhantes
(provenientes das unidades curriculares obrigatoacuterias e eletivas do Curso de
Pedagogia) os temas e questotildees que recebem a atenccedilatildeo de cada um satildeo distintos e
trabalhados teoricamente a partir das anguacutestias e inquietaccedilotildees individuais Entretanto
apesar das produccedilotildees escritas serem individuais ao serem publicizadas em reuniotildees
de orientaccedilatildeo ou ateacute no suporte virtual do blog elas podem ser compartilhadas e
tornam-se objeto comum de discussotildees e aprendizagens
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Por fim concluiacutemos assim como Noacutevoa (2000) a propoacutesito das narrativas (auto)
biograacuteficas que a escrita como parte dos processos formativos de professores eacute
capaz de fazer ldquoreaparecer os sujeitos face agraves estruturas e aos sistemas a qualidade
face agrave quantidade a vivecircncia face ao instituiacutedordquo Nesta linha de pensamento
percebemos que eacute possiacutevel ler o mundo e as relaccedilotildees sociais de um sujeito por meio
da sua narrativa produzindo ldquoum outro tipo de conhecimento mais proacuteximo das
realidades educativasrdquo (NOacuteVOA 2000 p 18 19 grifo do autor) e quiccedila
transformador dessas
Referecircncias bibliograacuteficas
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VYGOTSKY Lev Semyonovich Desarrollo de las funciones psiacutequicas superiores en la edad de transicion in l s vygotski obras escogidas iv Paidologiacutea del adolescente Madrid Machado Libros Tomo IV 19302006a
Correspondecircncia
Edna Martins ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo (UNIFESP)
Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Maria de Faacutetima Carvalho ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Renata Marciacutelio Cacircndido ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Universidade Federal de Satildeo Paulo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo R
Sena Madureira 1500 ndash Vila Clementino CEP 04021-001 Satildeo Paulo Satildeo Paulo
Brasil
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A proposta da Residecircncia Pedagoacutegica aqui abordada tem como base os
mesmos princiacutepios utilizados ao se pensar a institucionalizaccedilatildeo da Residecircncia meacutedica
no Brasil Feuerwerker (1998) aponta que ao implantar os programas de Residecircncia
na medicina foi importante considerar a hipoacutetese de que a formaccedilatildeo geral do meacutedico
na graduaccedilatildeo tendo em vista o desenvolvimento tecnoloacutegico e cientiacutefico naquele
momento natildeo era capaz de assegurar o niacutevel necessaacuterio de treinamento e
incorporaccedilatildeo de conhecimentos especiacuteficos aos estudantes em todas as possiacuteveis
atividades praacuteticas do cotidiano profissional A autora ainda afirma que
A praacutetica profissional historicamente tem sido transmitida atraveacutes de treinamento em serviccedilo Eacute no processo de combinar os conhecimentos teoacutericos adquiridos com a experiecircncia cliacutenica (indicando relacionamento com pacientes) que se encontra a ldquomaacutegicardquo da praacutetica profissional meacutedica Somente a experiecircncia adquirida na praacutetica pode completar a formaccedilatildeo (cientiacutefica) do meacutedico eacute pela experiecircncia cliacutenica que o profissional se apropria dos doentes (e natildeo mais apenas das doenccedilas) Eacute pela praacutetica que se constroacutei a experiecircncia cliacutenica e eacute mediante o aprendizado em serviccedilo que o futuro profissional constroacutei tambeacutem a eacutetica de suas relaccedilotildees com os pacientes baseada no exemplo e na experimentaccedilatildeo (FEUERWERKER 1998 p 59)
Dada a importacircncia da profissatildeo do professor seria possiacutevel a consideraccedilatildeo
dessas mesmas premissas para o campo do exerciacutecio da docecircncia Quais formas
possiacuteveis para instrumentalizar os futuros professores para lidar com as vicissitudes
das praacuteticas cotidianas das escolas Como aliar as teorias pedagoacutegicas agraves praacuteticas
docentes no exerciacutecio da profissatildeo Eacute possiacutevel dizer que pela praacutetica se constroacutei a
experiecircncia docente e eacute mediante o aprendizado na praacutetica que o futuro professor
constroacutei a eacutetica de suas interaccedilotildees com os alunos a partir de exemplos diaacuterios e da
experimentaccedilatildeo
Partindo dessas questotildees o Programa de Residecircncia Pedagoacutegica (PRP)
projeto de estaacutegio em formaccedilatildeo docente foi implantado em 2009 em uma
universidade puacuteblica federal do Estado de Satildeo Paulo A proposta concebida por
docentes do curso de Pedagogia buscou a superaccedilatildeo dos modos convencionais de
realizaccedilatildeo de estaacutegios de formaccedilatildeo nos quais os estudantes estagiaacuterios limitam sua
accedilatildeo agrave simples observaccedilatildeo assistemaacutetica de experiecircncias esparsas de praacuteticas
pedagoacutegicas em diferentes salas de aulas Tal iniciativa teve sua metodologia
desenvolvida por docentes da Universidade tendo como bases para consolidaccedilatildeo e
desenvolvimento uma ampla investigaccedilatildeo realizada com professores das redes
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puacuteblicas de um sistema de ensino puacuteblico da regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo entre
os anos de 2007 e 2008 assim como contou com subsiacutedios do Programa da Capes
intitulado ldquoProdocecircnciardquo
Pesquisas como as de Moretti 2011 Martins 2012 Moretti e Martins 2015
Giglio 2010 Giglio e Lugli 2014 Poladian 2014 sob diferentes perspectivas teoacutericas
tecircm tentado buscar compreender aspectos especiacuteficos dessa experiecircncia de estaacutegio
e em sua maioria assinalam tal iniciativa como um dos processos inovadores na aacuterea
de formaccedilatildeo de professores principalmente no que se refere agrave superaccedilatildeo da
dicotomia entre teoria e praacutetica vigente nos estaacutegios dos cursos de formaccedilatildeo de
professores das universidades brasileiras Compreende-se que a formaccedilatildeo do
profissional docente integra um conjunto de desafios destacando-se nos cursos de
formaccedilatildeo inicial a necessidade de ofertar juntamente com subsiacutedios
teoacutericoscientiacuteficos tambeacutem um acesso agraves praacuteticas pedagoacutegicas que instrumentalizem
o professor para a atuaccedilatildeo profissional Nesta direccedilatildeo destaca-se a conduccedilatildeo do
graduando agrave estaacutegios curriculares capazes de iniciaacute-los na praacutetica profissional de
forma efetiva e reflexiva para que com o aporte de professores supervisores
construam conhecimentos que envolvam o pensar e o agir sobre a escola
Quase dez anos apoacutes a criaccedilatildeo do Programa de Residecircncia pedagoacutegica criado
pela Universidade Federal de Satildeo Paulo (Unifesp) em 2018 foi lanccedilado pelo Governo
Federal o Edital CAPES No62018 apresentando a ideia de Residecircncia Pedagoacutegica
como proposta de induccedilatildeo agrave experiecircncias inovadoras na formaccedilatildeo inicial de
professores ao mesmo tempo em que altera as caracteriacutesticas originais do PIBID no
Edital No72018 O edital retoma termos e objetivos bastante proacuteximos dos utilizados
no Programa de Residecircncia aqui abordado entretanto diferencia-se deste e conveacutem
apontar alguns dos elementos definidores desta diferenccedila como por exemplo a
proposiccedilatildeo de um nuacutemero limitado de bolsas aos residentes o que natildeo atenderia a
demanda de estudantes da universidade onde o programa teve origem a previsatildeo
de um nuacutemero maior de residentes por preceptor extrapolando o nuacutemero maacuteximo
indicado pelo Programa base de nosso estudo para a educaccedilatildeo baacutesica Aleacutem disso a
proposta de Residecircncia Pedagoacutegica apresentada no edital referido daacute pouca ou
nenhuma ecircnfase a duas outras modalidades de residecircncia presentes no projeto da
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Unifesp que satildeo a Residecircncia Pedagoacutegica em Gestatildeo Escolar e em Educaccedilatildeo de
Jovens e Adultos
Accedilotildees formativas da Residecircncia Pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Infantil (RPEI)
Antes de apresentarmos mais detalhadamente o Programa de Residecircncia em
Educaccedilatildeo infantil (RPEI) eacute importante destacar que o trabalho de formaccedilatildeo de
professores nesta perspectiva comeccedila com o aporte teoacuterico das disciplinas
obrigatoacuterias que contemplam as temaacuteticas do campo Vencida a etapa teoacuterica os
estudantes comeccedilam o programa de estaacutegio contemplado nesta modalidade que
atende o curso de Pedagogia e eacute constituiacuteda como uma unidade curricular obrigatoacuteria
Somente a partir do 5o semestre do curso os alunos devem se matricular e cumprir
135 horas de estaacutegio as quais compreendem momentos de imersatildeo na escola e
supervisatildeo na universidade sendo tal experiecircncia realizada em escolas puacuteblicas
municipais que possuem parceria com a Universidade
Durante todo o processo a atuaccedilatildeo do professor preceptor possui destaque
segundo Moretti e Martins (2015) pois ele faz os primeiros contatos com os
estudantes de cada grupo que vai para a escola e eacute quem supervisiona o estaacutegio
acompanhando o aluno durante todo o percurso do programa Em todas as
modalidades de Residecircncia Pedagoacutegica antes de iniciar a imersatildeo na escola os
estudantes participam de encontros pontuais com seus preceptores para discussatildeo
do programa de atividades da Unidade Curricular No caso da Educaccedilatildeo Infantil
nessas ocasiotildees de encontros realizam-se estudos sobre temaacuteticas relevantes e
discussatildeo de leituras introdutoacuterias agrave atividade de estaacutegio e tambeacutem para orientaccedilotildees
mais praacuteticas sobre por exemplo as regras a serem observadas durante o periacuteodo
de estaacutegio o conhecimento das publicaccedilotildees do PRP para a modalidade especiacutefica a
construccedilatildeo do diaacuterio de campo o papel do professor preceptor e do professor
formador (aquele que o residente acompanharaacute na escola) Todas essas orientaccedilotildees
constam de um manual e satildeo retomadas pelos preceptores em leituras coletivas que
objetivam ajudar os estudantes a usarem o material de suporte enfatizando que o
estaacutegio realizado nesta perspectiva implica mais que observaccedilatildeo passiva a
participaccedilatildeo nas atividades escolares seu registro e reflexatildeo Os primeiros encontros
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tambeacutem envolvem a orientaccedilatildeo sobre aspectos de ordem legal como por exemplo
jamais assumir sozinho a sala de aula em que estatildeo fazendo a residecircncia
Como unidade curricular obrigatoacuteria a RPEI prevecirc em sua ementa que os
alunos deveratildeo construir conhecimentos a partir de identificaccedilatildeo e anaacutelise de relaccedilotildees
e praacuteticas que perfazem o dia a dia da escola de Educaccedilatildeo Infantil atentando para o
seu caraacuteter educacional e pedagoacutegico assim como para os processos de gestatildeo
institucional Esse processo de construccedilatildeo de conhecimentos sobre o que vivenciam
eacute mediado pelo uso de instrumentos de pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo
Concomitantemente enquanto participam do dia a dia na escola planejam e elaboram
planos de accedilatildeo pedagoacutegica em colaboraccedilatildeo com os supervisores do estaacutegio e
educadores das escolas-campo
No processo de imersatildeo espera-se que o residente natildeo apenas observe mas
possa dar apoio ao professor de classe em suas praacuteticas pedagoacutegicas cotidianas e na
sua relaccedilatildeo com as crianccedilas com idade entre 0 e 5 anos Cotidianamente tais
residentes devem ser encorajados a atuarem com pequenas accedilotildees junto agraves crianccedilas
com a orientaccedilatildeo dos professores que o acompanham Durante quatro semanas no
processo intenso de imersatildeo na realidade da escola os residentes devem construir
registros diaacuterios das experiecircncias vividas em campo aleacutem de outros materiais que
tecircm origem na observaccedilatildeo participativa do dia a dia escolar e serviratildeo de avaliaccedilatildeo
final tendo elaboraccedilatildeo orientada e aferida pelo professor preceptor da Universidade
Dessa perspectiva o residente tambeacutem eacute solicitado a refletir sobre sua proacutepria
atuaccedilatildeo participando ativamente de um processo de contiacutenua auto avaliaccedilatildeo
Eacute objetivo do Programa em todas as suas modalidades que os graduandos
possam retomar de forma reflexiva o que vivenciam na escola Na modalidade de
Educaccedilatildeo Infantil eacute esperado que o estudante residente possa desenvolver anaacutelises
criacutetico-reflexivas acerca da instituiccedilatildeo no qual estaacute imerso no que se refere agrave interaccedilatildeo
com as famiacutelias e agrave comunidade em seu entorno assim como sobre as praacuteticas
pedagoacutegicas realizadas nesses locais a partir do reconhecimento da crianccedila como
sujeito de direito e de toda a legislaccedilatildeo que diz respeito a essa modalidade de ensino
De acordo com o cronograma da Unidade Curricular Residecircncia Pedagoacutegica
em Educaccedilatildeo Infantil os estudantes devem ir durante quatro dias da semana para a
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escola e um dia para a Universidade para supervisatildeo com o preceptor que eacute um
docente da Universidade Na escola cumprem o horaacuterio da turma que acompanham
em turno que pode ser matutino vespertino ou intermediaacuterio Natildeo satildeo toleradas faltas
ou atrasos sem justificativa meacutedica objetivando-se desta forma colocar os alunos
diante da responsabilidade do compromisso profissional assumido perante a escola
Durante as duas primeiras semanas de imersatildeo os estudantes satildeo orientados
a descrever no diaacuterio de campo o que observam e suas impressotildees sobre a escola
as relaccedilotildees entre professorcrianccedilas crianccedilacrianccedila escolacomunidade
famiacuteliasescola professorprofessor professorgestatildeo e praacuteticas educativas do
cotidiano que satildeo observadas mais atentamente Neste primeiro momento aleacutem da
cobranccedila para que o aluno escreva sobre suas vivecircncias o preceptor busca ajudaacute-lo
na construccedilatildeo dos registros do caderno de campo assinalando sobre as posturas de
descriccedilatildeo e de reflexatildeo na elaboraccedilatildeo sobre suas impressotildees sobre aquilo que eacute
observado
Antes de serem executados os planos pedagoacutegicos de cada estudante satildeo
apresentados para os professores formadores e coordenador nas escolas durante
reuniatildeo realizada na ldquoHora Atividaderdquo com a participaccedilatildeo do professor preceptor Este
tem se constituiacutedo um momento iacutempar de aprendizagem para todos os envolvidos jaacute
que nesta ocasiatildeo os estudantes compartilham seus conhecimentos suas
experiecircncias expectativas e apreensotildees e onde explicitam-se possibilidades de
articulaccedilatildeo escola-universidade no acircmbito da formaccedilatildeo de professores Eacute na uacuteltima
semana de imersatildeo que os estudantes colocam seus planos de accedilatildeo pedagoacutegica em
praacutetica nas salas em que estatildeo imersos fechando o ciclo previsto pelo estaacutegio
Metodologia analisando as temaacuteticas do caderno de campo online (Blog)
Alguns grupos de residentes da RPEI conforme opccedilatildeo dos professores
preceptores usam um blog para a construccedilatildeo online de um caderno de campo que
integra a elaboraccedilatildeo de seus registros sobre a imersatildeo na escola Esses registros ndash
que chamamos de postagens aleacutem de possibilitar um olhar mais apurado sobre as
praacuteticas cotidianas podem contribuir para a orientaccedilatildeo e a construccedilatildeo do Plano de
Accedilatildeo Pedagoacutegica de cada residente e posteriormente para a escrita de um relatoacuterio
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final de estaacutegio pelo grupo Eacute sobre os registros do blog que incidiraacute nossa anaacutelise
considerando para tanto inquietaccedilotildees observaccedilotildees e reflexotildees registradas pelos
residentes nos anos de 2015 2016 e 2017
O blog da residecircncia ou diaacuterio de campo online consiste em uma ferramenta
virtual na qual satildeo realizados os registros de observaccedilotildees e experiecircncias significativas
vividas pelos residentes cotidianamente na escola Destaca-se que tal ferramenta eacute
de acesso restrito e apenas um uacutenico grupo de alunos e professores preceptores da
Universidade podem participar em cada escola acompanhada Deste modo nem os
professores ou quaisquer pessoas das escolas-campo podem acessar tal instrumento
O blog eacute construiacutedo pelo professor preceptor a cada novo grupo de residentes
assegurando o sigilo das informaccedilotildees registradas A ferramenta possibilita a
construccedilatildeo coletiva de diaacutelogos sobre questotildees observadas e a mediaccedilatildeo dos
conhecimentos dos residentes pelos seus supervisores Assim os estudantes podem
realizar trocas sobre suas vivecircncias muitas vezes similares agraves que ocorrem na mesma
instituiccedilatildeo ainda que estejam em turmas de idades diferentes Permite tambeacutem que
preceptores acompanhem diariamente seus residentes respondendo as indagaccedilotildees
e inquietaccedilotildees do grupo que participa do dia-a-dia na escola
Aleacutem de cumprir todos os objetivos de um caderno de campo comum o blog
permite ao preceptor mesmo agrave distacircncia o acompanhamento contiacutenuo do grupo de
estudantes o que lhe permite planejar as atividades semanais de supervisatildeo de forma
a responder as demandas dos alunos e esses uacuteltimos de compartilharem seus
diferentes pontos de vistas e as accedilotildees desenvolvidas na escola Assim no contexto
da residecircncia pedagoacutegica o blog ou caderno de campo online eacute o espaccedilomomento
de realizaccedilatildeo dos registros de observaccedilotildees e experiecircncias significativas vividas
cotidianamente na escola de educaccedilatildeo infantil e de acompanhamento e
problematizaccedilatildeo dessas vivecircncias pelos preceptores
Nesse caminho assinala-se a contribuiccedilatildeo de Vygotsky (1981) quando aponta
que as relaccedilotildees humanas satildeo sempre mediadas pelo meio social e pelos instrumentos
e signos que fazem parte das relaccedilotildees e dos contextos em que o homem estaacute inserido
Desse modo
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A atividade praacutetica do homem portanto se faz duplamente mediada de uma parte estaacute mediada pelas ferramentas no sentido literal da palavra e de outra parte mediada pelas ferramentas no sentido figurado pelas ferramentas do pensamento pelos meios com a ajuda dos quais se realiza a operaccedilatildeo intelectual ou seja mediada com a ajuda das palavras (VYGOTSKI 19302006a p 165)
Nessa direccedilatildeo conveacutem destacar a importacircncia do blog como instrumento social
representativo da incorporaccedilatildeo da tecnologia ao dia a dia dos estudantes e da
consideraccedilatildeo da mediaccedilatildeo tecnoloacutegica em processos de aprendizagem e
desenvolvimento dos graduandos
Diferente de outras formas de relacionamento virtual (e-mail chat instant
messages listas de discussatildeo etc) e de ferramentas virtuais convencionais ndash como
os sites ndash o blog caracteriza-se pela facilidade de sua criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo o que eacute
definido pela organizaccedilatildeo automaacutetica das mensagens ndash posts ndash pelo sistema
dinamizando seu uso e favorecendo a construccedilatildeo de diaacuterios coletivos mantidos por
vaacuterios usuaacuterios Tais caracteriacutesticas favorecem o uso do blog em processos de ensino-
aprendizagem tendo em vista a interaccedilatildeo a troca o diaacutelogo como forma de partilha e
construccedilatildeo de conhecimentos (MARQUES MULLER 2012)
O blog permite portanto o compartilhamento de informaccedilotildees e a interaccedilatildeo
entre estudantes do mesmo grupo e o mesmo preceptor em uma mesma escola
Todos podem ler e comentar as postagens funcionando como um ponto de encontro
entre alunos e preceptores Assim nossa atenccedilatildeo agraves postagens dos estudantes no
blog eacute dirigida pelo objetivo de dar visibilidade a dimensatildeo social das praacuteticas de
registro do observadovivido nos processos formativos que emergem na experiecircncia
de Residecircncia Pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Infantil Assumimos o caraacuteter histoacuterico-
cultural da pesquisa do meacutetodo do objeto de estudo e do proacuteprio conhecimento como
construccedilatildeo que se realiza entre sujeitos (FREITAS 2009) Dessa forma acredita-se
que o momento de elaboraccedilatildeo do vivido ndash o registro no caderno de campoblog ndash
deflagra no estudante a necessidade de reflexatildeo sobre os processos de ensino-
aprendizagem em curso no acircmbito do estaacutegio-residecircncia pedagoacutegica
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Registros no caderno de campo online o olhar do residente sobre a escola de
educaccedilatildeo infantil
Nos primeiros dias de imersatildeo na escola os residentes satildeo orientados a
realizar uma observaccedilatildeo atenta dos espaccedilos da instituiccedilatildeo A partir da leitura do texto
de Silva e Bufalo (2011) sobre culturas escolares os residentes descrevem em seus
primeiros registros detalhes fiacutesicos sobre a escola Muitos acabam desenhando a
planta baixa ou tirando fotos de salas de aulas parques e paacutetios e compartilhando no
caderno de campo online (blog) para comeccedilarem a pensar sobre o contexto e os
espaccedilos que podem favorecer a aprendizagem e o desenvolvimento da crianccedila
pequena como descrito no excerto abaixo
Uma coisa que me chamou atenccedilatildeo foi que natildeo possuem um espaccedilo para atividade fiacutesica essas satildeo realizadas no paacutetio que eacute proacuteximo as salas o barulho acaba atrapalhando os demais O parque estaacute interditado por ordem da diretora ou seja natildeo possuem lugar para brincar O dia das crianccedilas foi pautado em ficar sentado e quieto vendo um filme que a maioria jaacute tinha assistido (Relato da residente N 2017)
Formas de organizaccedilatildeo de espaccedilos e tempos remetem agrave organizaccedilatildeo da rotina
Sobre esse tema grande quantidade de postagens textos diz respeito a como as
atividades diaacuterias satildeo organizadas na escola Em alguns registros como o
apresentado a seguir aparece a problematizaccedilatildeo da forma de organizaccedilatildeo das
atividades
730 (15min) - a professora colocou o cabeccedilalho na lousa com a data e fez a contagem coletiva das crianccedilas 745 (45min) - a professora retomou o que eles haviam aprendido sobre os iacutendios entregou massinha e os orientou a modelar utensiacutelios indiacutegenas 830 (35min) - pintura de desenho xerocado que seraacute colado na capa do caderno de atividades 905 (25min) - brincadeira livre no paacutetio interno no brinquedatildeo que fica no final da escadarampa sup2940 (30min) - brincadeira em sala Gato mia 1010 (ateacute as crianccedilas irem embora) - a professora entregou uma folha com a letra da canccedilatildeo 1 2 3 indiozinhos cantou a muacutesica com eles sentados em seus lugares pediu para eles circularem as letras A e I e depois pintar a ilustraccedilatildeo () (Relato da residente J 2015)
A rotina observada e registrada pela residente configura-se como um dos
aspectos mais relevantes na vida da crianccedila que se encontra na escola de Educaccedilatildeo
Infantil Barbosa (2006) aponta que esse eacute um dos elementos que integram as praacuteticas
educativas que devem ser observadas e planejadas com regularidade objetivando a
operacionalizaccedilatildeo do cotidiano da escola de maneira que possa contribuir na
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constituiccedilatildeo da subjetividade dos atores escolares Desse modo pensar e
compreender a rotina como um fator presente e essencial na educaccedilatildeo de crianccedilas
pequenas eacute um passo promissor para que o residente acompanhe como as atividades
cotidianas da escola se materializam e datildeo base para a organizaccedilatildeo da praacutetica
pedagoacutegica devendo estar presente no desenvolvimento curricular
O planejamento das atividades na educaccedilatildeo infantil tem estreita ligaccedilatildeo com a
rotina Ao observar e refletir sobre a vida e as experiecircncias das crianccedilas na escola os
residentes satildeo remetidos a memoacuteria agrave lembranccedila do que tambeacutem foi um dia vivido
por eles em suas experiecircncias escolares Como apontado por Meksenas (2002)
ldquonunca somos testemunhas objetivas observando objetos e sim sujeitos observando
outros sujeitosrdquo (p 116)
Estive tentando lembrar nas uacuteltimas semanas o que eu fazia na minha preacute-escola Eu comecei no maternal com 3 anos ()Tenho vagas lembranccedilas de duas salas de aula uma do preacute III e a outra acho que era do preacute I Era uma escola particular dessas pequenas de bairro Lembro que a turma natildeo era tatildeo numerosa quanto essa que estou vendo na residecircncia mas a sala tinha uma organizaccedilatildeo parecida eram mesas e cadeiras enfileiradas nas duas () Eu estava com 5 anos Lembro que a gente tinha uma apostila no preacute I eu gostava de terminar tudo raacutepido para dormir Depois a professora comeccedilou a me dar gibi para eu ficar folheando Tenho na minha memoacuteria que as coisas que a gente fazia na escola eram chatas e muito infantis bobas demais Agora eu penso talvez as professoras ficassem me ocupando com massinha e pinturas todo dia tambeacutem como eu vejo na residecircncia e por isso eu achava muito chato O que seraacute que essas crianccedilas pensam disso O que seraacute que elas acham mais legal na escola Eu vejo que elas gostam muito de fazer liccedilatildeo essas de folhinha que a professora daacute e todos os dias elas perguntam Mas eu natildeo me conformo como elas acham isso tatildeo legal (Relato da Residente F 2017)
Sabemos que a memoacuteria eacute mediada pelo signo pelas interaccedilotildees sociais pelo
outro Braga (1997) dirige nosso olhar para o ldquoprocesso de apropriaccedilatildeo das formas
culturais de interaccedilatildeo que caracterizam a memoacuteria humanardquo Para a autora ldquoa
memoacuteria do homem soacute se configura no movimento discursivo e coletivo por sua
natureza cultural e simboacutelicardquo No registro acima o observado mobiliza as lembranccedilas
da residente aquilo que foi tambeacutem vivido na escola de sua infacircncia Entre lembranccedilas
e interrogaccedilotildees emergem as construccedilotildees formativas em um processo dinacircmico ndash
interativo cultural e simboacutelico Processo que potildeem em relaccedilatildeo vivecircncias atuais e
passadas que invocam sentidos e significados atribuiacutedos ao vivido que ocorre nas
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contradiccedilotildees entre aquilo que eacute rememorado pela estudante e o que efetivamente eacute
observado nas relaccedilotildees estabelecidas no contato com o cotidiano da escola
Aleacutem da rotina e da organizaccedilatildeo de tempos e espaccedilos em sua relaccedilatildeo com as
praacuteticas pedagoacutegicas os relatos dos estudantes se reportam agraves diferentes dimensotildees
da gestatildeo escolar Os registros destacam suas observaccedilotildees nas H A (hora atividade)
ou reuniotildees que eventualmente participam e com frequecircncia observam a postura da
equipe em relaccedilatildeo a presenccedila do residente Em seus relatos questionam o caraacuteter
da gestatildeo a qualidade da relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo entre os professores as discussotildees
que remetem a construccedilatildeo e discussatildeo do projeto poliacutetico pedagoacutegico e os papeis
desempenhados pelos diferentes educadores na construccedilatildeo do trabalho de educaccedilatildeo
da infacircncia
Completamos nesta semana 4 dias de participaccedilatildeo nas Horas Atividades (HA) destinada agrave formaccedilatildeo docente organizaccedilatildeo dos registros e planejamento das atividades pedagoacutegicas O que pude por meio da observaccedilatildeo constatar que o papel do Coordenador Pedagoacutegico que eacute fundamental nesse momento de formaccedilatildeo pois eacute ele o mediador desse processo acaba por se tornar distante e sem intervenccedilotildees no que adentra a orientaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico docente (Relato da estudante M 2015)
Na experiecircncia cotidiana de imersatildeo na escola eacute possiacutevel verificar as tensotildees
vivenciadas entre os professores e o papel da coordenaccedilatildeo pedagoacutegica A teoria
discutida na universidade pelos residentes assinala a importacircncia do papel do
coordenador pedagoacutegico na educaccedilatildeo infantil na praacutetica o residente percebe o quanto
a sua mediaccedilatildeo eacute fundamental na organizaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico e por outro
lado o quanto a sua ausecircncia pode interferir de forma negativa na orientaccedilatildeo das
atividades dos professores
Outra personagem que acaba sendo central na gestatildeo escolar eacute a direccedilatildeo que
nessa experiecircncia do residente tambeacutem eacute observada de forma criacutetica
A figura da diretora na escola foi a que mais me chamou a atenccedilatildeo ()imaginem que em nenhum momento percebi qualquer aproximaccedilatildeo da diretora com as crianccedilas em vaacuterios momentos acreditei que ela fosse algum teacutecnico administrativo pois apesar de estar no topo da piracircmide a referecircncia da gestatildeo a mesma se restringia a secretaria e natildeo se relacionava natildeo nos conhecia nem procurava nos conhecer Passou diversas vezes por grupos de crianccedilas e em nenhuma das vezes sequer olhou para elas Nunca apareceu em uma HA nunca percebi o seu contato com os professores e por diversas vezes me perguntei como eles se falavam qual era o seu relacionamento (Relato da residente B 2015)
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Sobre esse assunto estudos como os de Paro (2005) e Castro (2009) tem
assinalado o papel da gestatildeo e da administraccedilatildeo escolar como alicerce fundamental
nos processos de transformaccedilatildeo da escola puacuteblica brasileira Tais trabalhos tecircm
apontado a centralidade da direccedilatildeo escolar nas questotildees que envolvem os processos
de ensino e aprendizagem e as relaccedilotildees humanas presentes na equipe de trabalho
para aleacutem dos trabalhos administrativos e burocraacuteticos Natildeo eacute objetivo deste trabalho
fazer uma anaacutelise do papel do diretor na escola de educaccedilatildeo infantil mas cabe
assinalar que os estudantes residentes apontam o tema em seus registros e atentos
agraves demandas relativas ao papel do diretor indagam se como e quanto as lideranccedilas
escolares tecircm se envolvido com o trabalho administrativo dispendendo tempo para
um olhar mais atento agraves relaccedilotildees entre os professoresalunos funcionaacuterios da escola
observada
Em relaccedilatildeo agraves interaccedilotildees humanas outros registros dos residentes nos
remetem agraves maneiras como a escola lida com as famiacutelias das crianccedilas matriculadas
nas escolas Tais relatos natildeo satildeo tatildeo frequentes possivelmente porque essa eacute uma
relaccedilatildeo que se caracteriza pela assimetria de poderes e eacute pouco valorizada no dia a
dia escolar Os registros evocam situaccedilotildees vividas comentaacuterios ouvidos e
principalmente a necessidade de mudanccedila dos modos de conceber a crianccedila e suas
famiacutelias e de interagir com elas
A relaccedilatildeo entre professor e famiacutelia eacute mais uma dessas conexotildees que fazemos pela vida Por um lado haacute um profissional uma pessoa que estudou e eacute especialista em cuidar de crianccedilas Por outro famiacutelias que dificilmente conseguimos de fato perceber como satildeo suas estruturadas Famiacutelia hoje eacute coisa difiacutecil de entender Eacute matildee que mora sozinha com o filho eacute pais que trabalham e deixam os filhos na semana com tios avoacutes Eacute matildee solteira Eacute filho criado por pai viuacutevo Eacute histoacuteria que natildeo acaba mais Na hora da saiacuteda vamos conhecendo um pouquinho da estrutura familiar de cada crianccedila tentando perceber como se daacute a relaccedilatildeo entre a famiacutelia e a escola mas devemos ter um pouco de cuidado com esse processo (Relato do estudante J 2015)
Aleacutem da residente ter um olhar para os diferentes tipos de arranjos familiares
tambeacutem busca compreender a especificidade de cada famiacutelia considerando o papel
da mulher e de matildee trabalhadora com filhos na escola puacuteblica
(hellip) Veja esses apontamentos uma menina na sala estaacute com piolho a professora disse que jaacute alertou a matildee mas como eacute matildee solteira soacute pode cuidar da filha no domingo O outro menino que natildeo se interessa pelas atividades e responde a educadora tambeacutem teve a matildee notificada mas como
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a mesma eacute separada do marido natildeo faz nada O fato da mulher trabalhar a semana e ter folga aos domingos natildeo significa que ela seja uma maacute matildee pelo contraacuterio significa que ela rala muito para colocar comida no prato A presenccedila ou natildeo de um homem natildeo condiciona nada A escola natildeo pode ser um ambiente de roacutetulos ela deve estar aberta agraves diferenccedilas acolhendo e buscando outras maneiras e formas de aproximaccedilatildeo com a famiacutelia compreendendo a responsabilidade compartilhada que carregam (Registro da residente B 2015)
Os relatos demonstram natildeo soacute o quanto estatildeo atentos para como a escola lida
com as relaccedilotildees familiares mas sobretudo assinalam como tecircm se configurado as
formaccedilotildees das famiacutelias na atualidade Um estudo de Martins (2012) aponta o quanto
a experiecircncia de residecircncia pedagoacutegica possibilita aos estudantes um contato mais
expressivo com a realidade da escola puacuteblica de periferia urbana Aleacutem de observar
as relaccedilotildees institucionais o residente pode ser sensibilizado frente agraves dificuldades
vividas pelas famiacutelias e tendem a perceber o preconceito em relaccedilatildeo aos vaacuterios
arranjos familiares vivenciados pelas crianccedilas mais pobres e como a escolarizaccedilatildeo
dos pais pode afetar a vida dos filhos Os registros dos residentes demonstram como
ldquoos contextos de vida das crianccedilas que frequentam a escola puacuteblica de periferia
passam a ser compreendidos de uma forma concreta e as relaccedilotildees do espaccedilo familiar
com o espaccedilo escolar passam a ter uma conexatildeo cotidianardquo (MARTINS 2012 p 95)
Outra temaacutetica recorrente nos registros dos estudantes diz respeito ao processo
de escolarizaccedilatildeo das praacuteticas da educaccedilatildeo da infacircncia Tal perspectiva surge quando
os residentes referem aos usos dos brinquedos e agraves brincadeiras agrave presenccedila da
leitura e contaccedilatildeo de histoacuterias aos modos de introduccedilatildeo do desenho ao uso de novas
tecnologias e aos modos de avaliar agraves crianccedilas Tal perspectiva escolarizante emerge
em oposiccedilatildeo ao luacutedico como princiacutepio e forma de organizaccedilatildeo das praacuteticas de
educaccedilatildeo junto agraves crianccedilas pequenas e algumas vezes a ela ainda se articula a
preocupaccedilatildeo em disciplinar as vivecircncias escolares sondagens filas broncas e
silecircncios coexistem com desenhos Tv computadores e brincadeiras Os registros nos
dizem de uma escola que hesita entre coibir e promover a expressatildeo das muitas
linguagens da imaginaccedilatildeo e movimento das crianccedilas
Na semana de 2310 a 2710 e como previsto na reuniatildeo de pais a professora realizou a sondagem com as crianccedilas Teoricamente sei como funciona o procedimento mas me questiono se deve ser realizada na Ed Infantil Tambeacutem me pergunto se a sondagem vai muito aleacutem do conhecimento das crianccedilas Por exemplo algumas escrevem o proacuteprio nome
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e algumas palavras mais comuns a elas outras ainda nem reconhecem as letras do alfabeto A sondagem feita abarcou o nome palavras simples um pouco mais complexas e uma frase inteira A minha duacutevida eacute se a sondagem que vai muito aleacutem dos conhecimentos da sala eacute comum e necessaacuteria ainda mais na Ed Infantil (Relato do residente N 2017)
O debate em torno das questotildees que envolvem a escolarizaccedilatildeo de crianccedilas
pequenas eacute bastante antigo e recorrente Pesquisas como as de Neves Castanheira
e Gouveia (2015) assinalam a partir de autores que estudaram essa temaacutetica como
a perspectiva escolarizante de trabalho com a crianccedila pequena traz seacuterias implicaccedilotildees
para o desenvolvimento infantil justamente porque rompe com as formas como elas
ldquointeragem com a escrita fora da escola destituindo-a de significados pessoais e
sociais e dificulta portanto que as atividades desenvolvidas no espaccedilo escolar
envolvam a ludicidade caracteriacutestica fundamental dessa fase do desenvolvimentordquo
(p 217)
Os residentes parecem estar muito atentos a essas questotildees porque participam
de discussotildees sistemaacuteticas sobre o assunto tanto nas aulas teoacutericas na Universidade
quanto nas reuniotildees de orientaccedilatildeo com os preceptores do Programa de Residecircncia
Muitos estudantes satildeo levados a refletir sobre o assunto logo nos primeiros dias de
imersatildeo na escola
Resolvi mudar o formato do meu relato referente agrave imersatildeo inicial Pois passei por uma situaccedilatildeo em sala que me provocou tal accedilatildeo Devido agrave imposiccedilatildeo de escolarizaccedilatildeo percebida na turma na qual acompanho Onde hoje me emocionei com o choro insistente do aluno BG com as matildeos estremecidas na tentativa de segurar o laacutepis para ldquofazer liccedilatildeordquo (Relato da Residente M 2015)
A partir do relato da residente percebe-se o quanto a questatildeo eacute relevante para
o campo da educaccedilatildeo infantil e da formaccedilatildeo de professores Nas observaccedilotildees e
relatos dos cadernos de campo natildeo eacute incomum aparecerem longas narrativas sobre
os equiacutevocos que ocorrem nas praacuteticas pedagoacutegicas que envolvem a alfabetizaccedilatildeo e
letramento das crianccedilas pequenas Consideramos que questotildees como essas quando
problematizadas pelos estudantes nos horaacuterios de preceptoria ou mesmo nas
discussotildees com professores especialistas sobre o tema tendem a aproximaacute-los de
uma futura praacutetica profissional em que o trabalho com o desenvolvimento da escrita
seja realizado de forma a respeitar a infacircncia natildeo negando agrave crianccedila o seu direito ao
luacutedico mas tratando a apresentaccedilatildeo do mundo letrado como mais um momento
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prazeroso de aprendizagens Tal reflexatildeo eacute importante para os futuros professores
para que busquem compreender como inserir as crianccedilas no mundo letrado de
maneira que possam romper com a dicotomia entre o brincar e a leituraescrita
tomando como referecircncia o significado dessas accedilotildees para a crianccedila possibilitando a
conduccedilatildeo dos trabalhos na educaccedilatildeo infantil que tornem possiacutevel o brincar ldquoletrando
e alfabetizandordquo (NEVES CASTANHEIRA E GOUVEIA 2015)
Outra temaacutetica que aparece num nuacutemero expressivo de postagens diz respeito
ao olhar do residente para as praacuteticas educativas e as interaccedilotildees que ocorrem na
escola com relaccedilatildeo agrave inclusatildeo escolar das crianccedilas percebidas como ldquodiferentesrdquo
Destaca-se nesta temaacutetica observaccedilotildees a respeito de diferenccedilas de religiatildeo gecircnero
raccedilacor e tambeacutem aquelas relacionadas agrave deficiecircncia Haacute descriccedilotildees sobre como as
crianccedilas lidam com as diferenccedilas e as formas como os professores trabalham com
aquelas que possuem alguma dificuldade Algumas postagens ressaltam a
necessidade de formaccedilatildeo inicial e continuada dos educadores para lidarem com a
diversidade na escola
Pela primeira vez vivenciei preconceito racial de uma crianccedila com outra Nos momentos em que a profa distribui lego para as crianccedilas ela daacute tambeacutem um bonequinho para cada crianccedila Tem bonecos adultos crianccedilas homens mulheres e de diversas cores Os bonecos satildeo dados aleatoriamente ou escolhidos pela crianccedila conforme a professora passa de mesa em mesa Neste dia um menino negro estava com um boneco negro Um garoto se aproximou e disse ldquoCredo que boneco feio parece vocecircrdquo se direcionando ao menino O menino deu de ombros e continuou a brincar e poucos minutos depois a menina que estava ao seu lado me perguntou ldquoPor que o boneco dele eacute pretinho Eacute muito feiordquo Claro que conversei com ela e com o outro menino em outro momento calmamente falando das diversas cores que as pessoas tecircm e que natildeo haacute isso de feio e bonito aproveitando para falar sobre diversidade e etc Mais para o final da conversa a menina me disse ldquoMeu pai eacute pretinho ele eacute bonitordquo Respondi a menina dizendo que a beleza natildeo estaacute na cor da pele do cabelo ou dos olhos A cena toda me fez refletir que a menina jaacute deve ter ouvido esse tipo de afirmaccedilatildeo errocircnea Jaacute comentei mais de uma vez sobre o preconceito de gecircnero ser muito forte mas e o racial algueacutem mais vivenciou esse tipo de preconceito durante esta residecircncia (Relato do residente T 2017)
Rosemberg (2014) chama a atenccedilatildeo para o tema da diversidade como uma
questatildeo circunscrita na histoacuteria da humanidade A diferenciaccedilatildeo entre os grupos
humanos ou pessoas com atributos que classificam e separam o ldquoeurdquo do ldquooutrordquo
parece constituir as diversas manifestaccedilotildees de culturas humanas Assim a autora
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desnaturaliza a identidade e a diferenccedila apontando o seu caraacuteter cultural social e
histoacuterico Contudo esse eacute um dos temas que tem chamado cada vez mais a atenccedilatildeo
de educadores desde a educaccedilatildeo infantil jaacute que muitas vezes as questotildees que
envolvem a diferenccedila e o diferente passam por processos discriminatoacuterios e
preconceituosos como apontado no relato do estudante ao observar as interaccedilotildees
entre as crianccedilas no que se refere ao quesito raccedilacor
Marinho e Martins (2016) em estudo sobre formaccedilatildeo de professoras que atuam
na educaccedilatildeo infantil constatam a escassez ou inexistecircncia de disciplinas na formaccedilatildeo
inicial de professores que abarquem as questotildees eacutetnico-raciais denunciando o natildeo
cumprimento das leis que entre outras prescriccedilotildees preveem que instituiccedilotildees de niacutevel
superior proporcionem aos futuros(as) professoresas a formaccedilatildeo adequada para
lidarem com as relaccedilotildees raciais multieacutetnica e multicultural da sociedade brasileira
Nesse sentido ao trazerem suas inquietaccedilotildees sobre como as crianccedilas lidam com as
diferenccedilas no contexto da escola os residentes se aproximam das discussotildees a
respeito dos processos discriminatoacuterios oportunizando momentos em que tais
temaacuteticas possam ser discutidas entre professores preceptores e colegas do
programa de estaacutegio
Aleacutem da questatildeo racial outros relatos nos datildeo conta de refletir e discutir sobre
as relaccedilotildees que envolvem as crianccedilas com deficiecircncia na escola
() O que me chamou atenccedilatildeo foi que na quarta (2204) H chegou na escola e decidiu mudar de lugar foi sentar bem ao lado do D (uma crianccedila que foi diagnosticada com autismo de ldquograu leverdquo segundo a professora) eu fiquei observando como seria a relaccedilatildeo deles H trouxe um caderno de desenho o abriu na mesa e dividiu metade da folha para ele e para D depois na hora de descer ele segurou a matildeo do D e ficou durante o almoccedilo todo cuidando de D o orientou a pegar a comida sentar comer devagar e quando natildeo quisesse mais deveria jogar a comida no lixo e durante todo o dia H permaneceu cuidando de D A professora achou estranho pois naquele dia ela natildeo havia chamado a atenccedilatildeo de H ateacute me falou ldquoEle deve estar aprontando e D eacute bobatildeo pode se machucarrdquo e decidiu intervir e pediu para que H mudasse de lugar e parasse de cuidar de (Relato do residente L 2015)
A partir da narrativa eacute possiacutevel refletir sobre o preparo dos professores para
lidar com as diferenccedilas individuais na educaccedilatildeo infantil A inclusatildeo escolar de crianccedilas
com deficiecircncia ocorre mediante poliacuteticas puacuteblicas de inclusatildeo contudo haacute uma
grande distacircncia entre a poliacutetica puacuteblica e a praacutetica pedagoacutegica nos contextos
escolares pois natildeo se aprofunda ldquoo debate sobre os meios os fins e as estrateacutegias
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para a implementaccedilatildeo da poliacutetica de ampliaccedilatildeo da rede de educaccedilatildeo infantilrdquo
(BRUNO 2008 p 59)
Outros registros que tratam da temaacutetica da inclusatildeo de crianccedilas com
deficiecircncia mostram o quanto a escola estaacute despreparada para lidar com essa
questatildeo Os relatos e inquietaccedilotildees dos estudantes nos possibilitam a identificaccedilatildeo de
processos discriminatoacuterios de resistecircncias e acomodaccedilotildees dos profissionais e do
distanciamento de uma praacutetica verdadeiramente inclusiva na esfera das praacuteticas
educativas cotidianas O que se percebe nas discussotildees sobre o assunto eacute que os
residentes enquanto futuros professores muito tecircm a aprender sobre a acolhida das
famiacutelias e das crianccedilas ldquodiferentesrdquo ou com deficiecircncia na constante reflexatildeo sobre o
comportamento atitudes e posturas do educador frente ao trabalho pedagoacutegico
Outras temaacuteticas tatildeo importantes como as que discutimos aqui tem sido objeto
de interesse dos estudantes em processo de imersatildeo nas escolas-campo Haacute uma
gama de registros sobre categorias que envolvem a crianccedila pequena nas atividades
do brincar a disciplina e a coerccedilatildeo dos educadores na tentativa de manter o controle
das crianccedilas e dos comportamentos considerados inadequados Muitos residentes se
surpreendem como essa coerccedilatildeo ocorre demasiadas vezes na escola e nas reuniotildees
de supervisatildeo eacute muito comum questionarem junto ao preceptor formas de
compreender por que algumas praacuteticas coercitivas satildeo tatildeo presentes na educaccedilatildeo
infantil
Consideraccedilotildees Finais
A experiecircncia de estaacutegio no Programa de Residecircncia Pedagoacutegica requer de
estudantes e professores uma atitude de intensa accedilatildeo e reflexatildeo Na perspectiva de
observaccedilatildeo participante eacute que a imersatildeo dos residentes na escola eacute orientada
embora natildeo haja uma intervenccedilatildeo direta planejada e sistemaacutetica sobre os modos de
fazer da escola e dos professores Possiacuteveis intervenccedilotildees sobre a escola suscitadas
pela presenccedila da universidade (de preceptores e residentes) satildeo uma contingecircncia
dos processos de formaccedilatildeo de condiccedilotildees e modos de seu desenvolvimento e eacute assim
que se define o lugar do residente e da preceptoria junto a escola o caraacuteter da
observaccedilatildeo participante a ser realizada durante o estaacutegio e sua conduccedilatildeo e discussatildeo
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no acircmbito escolar As posiccedilotildees dos residentes reeditam questotildees que mobilizam a
imersatildeo e reflexatildeo sobre o vivido como e quando participar O que como e quando
registrar sobre a observaccedilatildeo participante sobre o que se vivencia Como fazer uso
das ferramentas disponiacuteveis na escola e dos subsiacutedios teoacutericos oferecidos durante a
proacutepria residecircncia ou estudados no curso de pedagogia elaborando impressotildees sobre
o que descreve e refletindo sobre o que vive e elabora
A retomada dos escritos e reflexotildees dos estudantes participantes do Programa
de Residecircncia Pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Infantil nos trazem pistas relevantes para a
compreensatildeo natildeo somente dos seus processos formativos mas tambeacutem suscitam
atenccedilatildeo aos temas e questotildees emergentes do cotidiano das crianccedilas nas escolas de
Educaccedilatildeo Infantil Sabe-se que o processo de escrita eacute composto de idas e vindas
de avanccedilos e retrocessos de duacutevidas e certezas percebidas nos textos e contextos
apresentados pelos estudantes neste processo formativo especiacutefico
As postagens guardam caracteriacutesticas especiacuteficas correlatas ao vivido nas
praacuteticas de estaacutegio de acordo com as finalidades comunicativas e formativas do
caderno de campoblog e com especificidades ndash limites e possibilidades ndash que se
dimensionam nestas praacuteticas Os estudantes registram o que observam o que
vivenciam mas natildeo soacute Em muitos registros suas impressotildees (con)fundem-se com o
observado vatildeo aleacutem da descriccedilatildeo interpretando o visto o vivido e outras vezes para
alguns o registro se faz espaccedilo de recuperaccedilatildeo das proacuteprias vivecircncias e dos
elementos teoacutericos estudados
Nesta experiecircncia a liberdade na escolha e escrita dos temas dos cadernos de
campo tem permitido que o processo formativo de cada estudante aconteccedila de forma
uacutenica e original pois apesar de estarem imersos em ambientes semelhantes (em
alguns casos mesmas escolas-campo) e possuiacuterem referenciais teoacutericos semelhantes
(provenientes das unidades curriculares obrigatoacuterias e eletivas do Curso de
Pedagogia) os temas e questotildees que recebem a atenccedilatildeo de cada um satildeo distintos e
trabalhados teoricamente a partir das anguacutestias e inquietaccedilotildees individuais Entretanto
apesar das produccedilotildees escritas serem individuais ao serem publicizadas em reuniotildees
de orientaccedilatildeo ou ateacute no suporte virtual do blog elas podem ser compartilhadas e
tornam-se objeto comum de discussotildees e aprendizagens
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Por fim concluiacutemos assim como Noacutevoa (2000) a propoacutesito das narrativas (auto)
biograacuteficas que a escrita como parte dos processos formativos de professores eacute
capaz de fazer ldquoreaparecer os sujeitos face agraves estruturas e aos sistemas a qualidade
face agrave quantidade a vivecircncia face ao instituiacutedordquo Nesta linha de pensamento
percebemos que eacute possiacutevel ler o mundo e as relaccedilotildees sociais de um sujeito por meio
da sua narrativa produzindo ldquoum outro tipo de conhecimento mais proacuteximo das
realidades educativasrdquo (NOacuteVOA 2000 p 18 19 grifo do autor) e quiccedila
transformador dessas
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ROSEMBERG Fulvia Educaccedilatildeo infantil e relaccedilotildees raciais a tensatildeo entre igualdade e diversidade Cadernos de Pesquisa v 44 n 153 p 742-759 2014
SILVA Adriana BUFALO Joseane O espaccedilo na pedagogia da educaccedilatildeo infantil faacutebula perversidade e possibilidade In Culturas infantis em creches e preacute-escolas estaacutegio e pesquisa Campinas SP Autores Associados 2011
TARDIF Maurice A profissionalizaccedilatildeo do ensino passados trinta anos dois passos para a frente trecircs para traacutes Educaccedilatildeo e Sociedade Campinas SP v34 n123 p
551-571 2013
VYGOTSKY Lev Semyonovich Desarrollo de las funciones psiacutequicas superiores en la edad de transicion in l s vygotski obras escogidas iv Paidologiacutea del adolescente Madrid Machado Libros Tomo IV 19302006a
Correspondecircncia
Edna Martins ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo (UNIFESP)
Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Maria de Faacutetima Carvalho ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Renata Marciacutelio Cacircndido ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Universidade Federal de Satildeo Paulo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo R
Sena Madureira 1500 ndash Vila Clementino CEP 04021-001 Satildeo Paulo Satildeo Paulo
Brasil
E-mail emartinsunifespgmailcom ndash carvalhomdfgmailcom ndash
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puacuteblicas de um sistema de ensino puacuteblico da regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo entre
os anos de 2007 e 2008 assim como contou com subsiacutedios do Programa da Capes
intitulado ldquoProdocecircnciardquo
Pesquisas como as de Moretti 2011 Martins 2012 Moretti e Martins 2015
Giglio 2010 Giglio e Lugli 2014 Poladian 2014 sob diferentes perspectivas teoacutericas
tecircm tentado buscar compreender aspectos especiacuteficos dessa experiecircncia de estaacutegio
e em sua maioria assinalam tal iniciativa como um dos processos inovadores na aacuterea
de formaccedilatildeo de professores principalmente no que se refere agrave superaccedilatildeo da
dicotomia entre teoria e praacutetica vigente nos estaacutegios dos cursos de formaccedilatildeo de
professores das universidades brasileiras Compreende-se que a formaccedilatildeo do
profissional docente integra um conjunto de desafios destacando-se nos cursos de
formaccedilatildeo inicial a necessidade de ofertar juntamente com subsiacutedios
teoacutericoscientiacuteficos tambeacutem um acesso agraves praacuteticas pedagoacutegicas que instrumentalizem
o professor para a atuaccedilatildeo profissional Nesta direccedilatildeo destaca-se a conduccedilatildeo do
graduando agrave estaacutegios curriculares capazes de iniciaacute-los na praacutetica profissional de
forma efetiva e reflexiva para que com o aporte de professores supervisores
construam conhecimentos que envolvam o pensar e o agir sobre a escola
Quase dez anos apoacutes a criaccedilatildeo do Programa de Residecircncia pedagoacutegica criado
pela Universidade Federal de Satildeo Paulo (Unifesp) em 2018 foi lanccedilado pelo Governo
Federal o Edital CAPES No62018 apresentando a ideia de Residecircncia Pedagoacutegica
como proposta de induccedilatildeo agrave experiecircncias inovadoras na formaccedilatildeo inicial de
professores ao mesmo tempo em que altera as caracteriacutesticas originais do PIBID no
Edital No72018 O edital retoma termos e objetivos bastante proacuteximos dos utilizados
no Programa de Residecircncia aqui abordado entretanto diferencia-se deste e conveacutem
apontar alguns dos elementos definidores desta diferenccedila como por exemplo a
proposiccedilatildeo de um nuacutemero limitado de bolsas aos residentes o que natildeo atenderia a
demanda de estudantes da universidade onde o programa teve origem a previsatildeo
de um nuacutemero maior de residentes por preceptor extrapolando o nuacutemero maacuteximo
indicado pelo Programa base de nosso estudo para a educaccedilatildeo baacutesica Aleacutem disso a
proposta de Residecircncia Pedagoacutegica apresentada no edital referido daacute pouca ou
nenhuma ecircnfase a duas outras modalidades de residecircncia presentes no projeto da
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Unifesp que satildeo a Residecircncia Pedagoacutegica em Gestatildeo Escolar e em Educaccedilatildeo de
Jovens e Adultos
Accedilotildees formativas da Residecircncia Pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Infantil (RPEI)
Antes de apresentarmos mais detalhadamente o Programa de Residecircncia em
Educaccedilatildeo infantil (RPEI) eacute importante destacar que o trabalho de formaccedilatildeo de
professores nesta perspectiva comeccedila com o aporte teoacuterico das disciplinas
obrigatoacuterias que contemplam as temaacuteticas do campo Vencida a etapa teoacuterica os
estudantes comeccedilam o programa de estaacutegio contemplado nesta modalidade que
atende o curso de Pedagogia e eacute constituiacuteda como uma unidade curricular obrigatoacuteria
Somente a partir do 5o semestre do curso os alunos devem se matricular e cumprir
135 horas de estaacutegio as quais compreendem momentos de imersatildeo na escola e
supervisatildeo na universidade sendo tal experiecircncia realizada em escolas puacuteblicas
municipais que possuem parceria com a Universidade
Durante todo o processo a atuaccedilatildeo do professor preceptor possui destaque
segundo Moretti e Martins (2015) pois ele faz os primeiros contatos com os
estudantes de cada grupo que vai para a escola e eacute quem supervisiona o estaacutegio
acompanhando o aluno durante todo o percurso do programa Em todas as
modalidades de Residecircncia Pedagoacutegica antes de iniciar a imersatildeo na escola os
estudantes participam de encontros pontuais com seus preceptores para discussatildeo
do programa de atividades da Unidade Curricular No caso da Educaccedilatildeo Infantil
nessas ocasiotildees de encontros realizam-se estudos sobre temaacuteticas relevantes e
discussatildeo de leituras introdutoacuterias agrave atividade de estaacutegio e tambeacutem para orientaccedilotildees
mais praacuteticas sobre por exemplo as regras a serem observadas durante o periacuteodo
de estaacutegio o conhecimento das publicaccedilotildees do PRP para a modalidade especiacutefica a
construccedilatildeo do diaacuterio de campo o papel do professor preceptor e do professor
formador (aquele que o residente acompanharaacute na escola) Todas essas orientaccedilotildees
constam de um manual e satildeo retomadas pelos preceptores em leituras coletivas que
objetivam ajudar os estudantes a usarem o material de suporte enfatizando que o
estaacutegio realizado nesta perspectiva implica mais que observaccedilatildeo passiva a
participaccedilatildeo nas atividades escolares seu registro e reflexatildeo Os primeiros encontros
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tambeacutem envolvem a orientaccedilatildeo sobre aspectos de ordem legal como por exemplo
jamais assumir sozinho a sala de aula em que estatildeo fazendo a residecircncia
Como unidade curricular obrigatoacuteria a RPEI prevecirc em sua ementa que os
alunos deveratildeo construir conhecimentos a partir de identificaccedilatildeo e anaacutelise de relaccedilotildees
e praacuteticas que perfazem o dia a dia da escola de Educaccedilatildeo Infantil atentando para o
seu caraacuteter educacional e pedagoacutegico assim como para os processos de gestatildeo
institucional Esse processo de construccedilatildeo de conhecimentos sobre o que vivenciam
eacute mediado pelo uso de instrumentos de pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo
Concomitantemente enquanto participam do dia a dia na escola planejam e elaboram
planos de accedilatildeo pedagoacutegica em colaboraccedilatildeo com os supervisores do estaacutegio e
educadores das escolas-campo
No processo de imersatildeo espera-se que o residente natildeo apenas observe mas
possa dar apoio ao professor de classe em suas praacuteticas pedagoacutegicas cotidianas e na
sua relaccedilatildeo com as crianccedilas com idade entre 0 e 5 anos Cotidianamente tais
residentes devem ser encorajados a atuarem com pequenas accedilotildees junto agraves crianccedilas
com a orientaccedilatildeo dos professores que o acompanham Durante quatro semanas no
processo intenso de imersatildeo na realidade da escola os residentes devem construir
registros diaacuterios das experiecircncias vividas em campo aleacutem de outros materiais que
tecircm origem na observaccedilatildeo participativa do dia a dia escolar e serviratildeo de avaliaccedilatildeo
final tendo elaboraccedilatildeo orientada e aferida pelo professor preceptor da Universidade
Dessa perspectiva o residente tambeacutem eacute solicitado a refletir sobre sua proacutepria
atuaccedilatildeo participando ativamente de um processo de contiacutenua auto avaliaccedilatildeo
Eacute objetivo do Programa em todas as suas modalidades que os graduandos
possam retomar de forma reflexiva o que vivenciam na escola Na modalidade de
Educaccedilatildeo Infantil eacute esperado que o estudante residente possa desenvolver anaacutelises
criacutetico-reflexivas acerca da instituiccedilatildeo no qual estaacute imerso no que se refere agrave interaccedilatildeo
com as famiacutelias e agrave comunidade em seu entorno assim como sobre as praacuteticas
pedagoacutegicas realizadas nesses locais a partir do reconhecimento da crianccedila como
sujeito de direito e de toda a legislaccedilatildeo que diz respeito a essa modalidade de ensino
De acordo com o cronograma da Unidade Curricular Residecircncia Pedagoacutegica
em Educaccedilatildeo Infantil os estudantes devem ir durante quatro dias da semana para a
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escola e um dia para a Universidade para supervisatildeo com o preceptor que eacute um
docente da Universidade Na escola cumprem o horaacuterio da turma que acompanham
em turno que pode ser matutino vespertino ou intermediaacuterio Natildeo satildeo toleradas faltas
ou atrasos sem justificativa meacutedica objetivando-se desta forma colocar os alunos
diante da responsabilidade do compromisso profissional assumido perante a escola
Durante as duas primeiras semanas de imersatildeo os estudantes satildeo orientados
a descrever no diaacuterio de campo o que observam e suas impressotildees sobre a escola
as relaccedilotildees entre professorcrianccedilas crianccedilacrianccedila escolacomunidade
famiacuteliasescola professorprofessor professorgestatildeo e praacuteticas educativas do
cotidiano que satildeo observadas mais atentamente Neste primeiro momento aleacutem da
cobranccedila para que o aluno escreva sobre suas vivecircncias o preceptor busca ajudaacute-lo
na construccedilatildeo dos registros do caderno de campo assinalando sobre as posturas de
descriccedilatildeo e de reflexatildeo na elaboraccedilatildeo sobre suas impressotildees sobre aquilo que eacute
observado
Antes de serem executados os planos pedagoacutegicos de cada estudante satildeo
apresentados para os professores formadores e coordenador nas escolas durante
reuniatildeo realizada na ldquoHora Atividaderdquo com a participaccedilatildeo do professor preceptor Este
tem se constituiacutedo um momento iacutempar de aprendizagem para todos os envolvidos jaacute
que nesta ocasiatildeo os estudantes compartilham seus conhecimentos suas
experiecircncias expectativas e apreensotildees e onde explicitam-se possibilidades de
articulaccedilatildeo escola-universidade no acircmbito da formaccedilatildeo de professores Eacute na uacuteltima
semana de imersatildeo que os estudantes colocam seus planos de accedilatildeo pedagoacutegica em
praacutetica nas salas em que estatildeo imersos fechando o ciclo previsto pelo estaacutegio
Metodologia analisando as temaacuteticas do caderno de campo online (Blog)
Alguns grupos de residentes da RPEI conforme opccedilatildeo dos professores
preceptores usam um blog para a construccedilatildeo online de um caderno de campo que
integra a elaboraccedilatildeo de seus registros sobre a imersatildeo na escola Esses registros ndash
que chamamos de postagens aleacutem de possibilitar um olhar mais apurado sobre as
praacuteticas cotidianas podem contribuir para a orientaccedilatildeo e a construccedilatildeo do Plano de
Accedilatildeo Pedagoacutegica de cada residente e posteriormente para a escrita de um relatoacuterio
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final de estaacutegio pelo grupo Eacute sobre os registros do blog que incidiraacute nossa anaacutelise
considerando para tanto inquietaccedilotildees observaccedilotildees e reflexotildees registradas pelos
residentes nos anos de 2015 2016 e 2017
O blog da residecircncia ou diaacuterio de campo online consiste em uma ferramenta
virtual na qual satildeo realizados os registros de observaccedilotildees e experiecircncias significativas
vividas pelos residentes cotidianamente na escola Destaca-se que tal ferramenta eacute
de acesso restrito e apenas um uacutenico grupo de alunos e professores preceptores da
Universidade podem participar em cada escola acompanhada Deste modo nem os
professores ou quaisquer pessoas das escolas-campo podem acessar tal instrumento
O blog eacute construiacutedo pelo professor preceptor a cada novo grupo de residentes
assegurando o sigilo das informaccedilotildees registradas A ferramenta possibilita a
construccedilatildeo coletiva de diaacutelogos sobre questotildees observadas e a mediaccedilatildeo dos
conhecimentos dos residentes pelos seus supervisores Assim os estudantes podem
realizar trocas sobre suas vivecircncias muitas vezes similares agraves que ocorrem na mesma
instituiccedilatildeo ainda que estejam em turmas de idades diferentes Permite tambeacutem que
preceptores acompanhem diariamente seus residentes respondendo as indagaccedilotildees
e inquietaccedilotildees do grupo que participa do dia-a-dia na escola
Aleacutem de cumprir todos os objetivos de um caderno de campo comum o blog
permite ao preceptor mesmo agrave distacircncia o acompanhamento contiacutenuo do grupo de
estudantes o que lhe permite planejar as atividades semanais de supervisatildeo de forma
a responder as demandas dos alunos e esses uacuteltimos de compartilharem seus
diferentes pontos de vistas e as accedilotildees desenvolvidas na escola Assim no contexto
da residecircncia pedagoacutegica o blog ou caderno de campo online eacute o espaccedilomomento
de realizaccedilatildeo dos registros de observaccedilotildees e experiecircncias significativas vividas
cotidianamente na escola de educaccedilatildeo infantil e de acompanhamento e
problematizaccedilatildeo dessas vivecircncias pelos preceptores
Nesse caminho assinala-se a contribuiccedilatildeo de Vygotsky (1981) quando aponta
que as relaccedilotildees humanas satildeo sempre mediadas pelo meio social e pelos instrumentos
e signos que fazem parte das relaccedilotildees e dos contextos em que o homem estaacute inserido
Desse modo
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A atividade praacutetica do homem portanto se faz duplamente mediada de uma parte estaacute mediada pelas ferramentas no sentido literal da palavra e de outra parte mediada pelas ferramentas no sentido figurado pelas ferramentas do pensamento pelos meios com a ajuda dos quais se realiza a operaccedilatildeo intelectual ou seja mediada com a ajuda das palavras (VYGOTSKI 19302006a p 165)
Nessa direccedilatildeo conveacutem destacar a importacircncia do blog como instrumento social
representativo da incorporaccedilatildeo da tecnologia ao dia a dia dos estudantes e da
consideraccedilatildeo da mediaccedilatildeo tecnoloacutegica em processos de aprendizagem e
desenvolvimento dos graduandos
Diferente de outras formas de relacionamento virtual (e-mail chat instant
messages listas de discussatildeo etc) e de ferramentas virtuais convencionais ndash como
os sites ndash o blog caracteriza-se pela facilidade de sua criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo o que eacute
definido pela organizaccedilatildeo automaacutetica das mensagens ndash posts ndash pelo sistema
dinamizando seu uso e favorecendo a construccedilatildeo de diaacuterios coletivos mantidos por
vaacuterios usuaacuterios Tais caracteriacutesticas favorecem o uso do blog em processos de ensino-
aprendizagem tendo em vista a interaccedilatildeo a troca o diaacutelogo como forma de partilha e
construccedilatildeo de conhecimentos (MARQUES MULLER 2012)
O blog permite portanto o compartilhamento de informaccedilotildees e a interaccedilatildeo
entre estudantes do mesmo grupo e o mesmo preceptor em uma mesma escola
Todos podem ler e comentar as postagens funcionando como um ponto de encontro
entre alunos e preceptores Assim nossa atenccedilatildeo agraves postagens dos estudantes no
blog eacute dirigida pelo objetivo de dar visibilidade a dimensatildeo social das praacuteticas de
registro do observadovivido nos processos formativos que emergem na experiecircncia
de Residecircncia Pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Infantil Assumimos o caraacuteter histoacuterico-
cultural da pesquisa do meacutetodo do objeto de estudo e do proacuteprio conhecimento como
construccedilatildeo que se realiza entre sujeitos (FREITAS 2009) Dessa forma acredita-se
que o momento de elaboraccedilatildeo do vivido ndash o registro no caderno de campoblog ndash
deflagra no estudante a necessidade de reflexatildeo sobre os processos de ensino-
aprendizagem em curso no acircmbito do estaacutegio-residecircncia pedagoacutegica
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Registros no caderno de campo online o olhar do residente sobre a escola de
educaccedilatildeo infantil
Nos primeiros dias de imersatildeo na escola os residentes satildeo orientados a
realizar uma observaccedilatildeo atenta dos espaccedilos da instituiccedilatildeo A partir da leitura do texto
de Silva e Bufalo (2011) sobre culturas escolares os residentes descrevem em seus
primeiros registros detalhes fiacutesicos sobre a escola Muitos acabam desenhando a
planta baixa ou tirando fotos de salas de aulas parques e paacutetios e compartilhando no
caderno de campo online (blog) para comeccedilarem a pensar sobre o contexto e os
espaccedilos que podem favorecer a aprendizagem e o desenvolvimento da crianccedila
pequena como descrito no excerto abaixo
Uma coisa que me chamou atenccedilatildeo foi que natildeo possuem um espaccedilo para atividade fiacutesica essas satildeo realizadas no paacutetio que eacute proacuteximo as salas o barulho acaba atrapalhando os demais O parque estaacute interditado por ordem da diretora ou seja natildeo possuem lugar para brincar O dia das crianccedilas foi pautado em ficar sentado e quieto vendo um filme que a maioria jaacute tinha assistido (Relato da residente N 2017)
Formas de organizaccedilatildeo de espaccedilos e tempos remetem agrave organizaccedilatildeo da rotina
Sobre esse tema grande quantidade de postagens textos diz respeito a como as
atividades diaacuterias satildeo organizadas na escola Em alguns registros como o
apresentado a seguir aparece a problematizaccedilatildeo da forma de organizaccedilatildeo das
atividades
730 (15min) - a professora colocou o cabeccedilalho na lousa com a data e fez a contagem coletiva das crianccedilas 745 (45min) - a professora retomou o que eles haviam aprendido sobre os iacutendios entregou massinha e os orientou a modelar utensiacutelios indiacutegenas 830 (35min) - pintura de desenho xerocado que seraacute colado na capa do caderno de atividades 905 (25min) - brincadeira livre no paacutetio interno no brinquedatildeo que fica no final da escadarampa sup2940 (30min) - brincadeira em sala Gato mia 1010 (ateacute as crianccedilas irem embora) - a professora entregou uma folha com a letra da canccedilatildeo 1 2 3 indiozinhos cantou a muacutesica com eles sentados em seus lugares pediu para eles circularem as letras A e I e depois pintar a ilustraccedilatildeo () (Relato da residente J 2015)
A rotina observada e registrada pela residente configura-se como um dos
aspectos mais relevantes na vida da crianccedila que se encontra na escola de Educaccedilatildeo
Infantil Barbosa (2006) aponta que esse eacute um dos elementos que integram as praacuteticas
educativas que devem ser observadas e planejadas com regularidade objetivando a
operacionalizaccedilatildeo do cotidiano da escola de maneira que possa contribuir na
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constituiccedilatildeo da subjetividade dos atores escolares Desse modo pensar e
compreender a rotina como um fator presente e essencial na educaccedilatildeo de crianccedilas
pequenas eacute um passo promissor para que o residente acompanhe como as atividades
cotidianas da escola se materializam e datildeo base para a organizaccedilatildeo da praacutetica
pedagoacutegica devendo estar presente no desenvolvimento curricular
O planejamento das atividades na educaccedilatildeo infantil tem estreita ligaccedilatildeo com a
rotina Ao observar e refletir sobre a vida e as experiecircncias das crianccedilas na escola os
residentes satildeo remetidos a memoacuteria agrave lembranccedila do que tambeacutem foi um dia vivido
por eles em suas experiecircncias escolares Como apontado por Meksenas (2002)
ldquonunca somos testemunhas objetivas observando objetos e sim sujeitos observando
outros sujeitosrdquo (p 116)
Estive tentando lembrar nas uacuteltimas semanas o que eu fazia na minha preacute-escola Eu comecei no maternal com 3 anos ()Tenho vagas lembranccedilas de duas salas de aula uma do preacute III e a outra acho que era do preacute I Era uma escola particular dessas pequenas de bairro Lembro que a turma natildeo era tatildeo numerosa quanto essa que estou vendo na residecircncia mas a sala tinha uma organizaccedilatildeo parecida eram mesas e cadeiras enfileiradas nas duas () Eu estava com 5 anos Lembro que a gente tinha uma apostila no preacute I eu gostava de terminar tudo raacutepido para dormir Depois a professora comeccedilou a me dar gibi para eu ficar folheando Tenho na minha memoacuteria que as coisas que a gente fazia na escola eram chatas e muito infantis bobas demais Agora eu penso talvez as professoras ficassem me ocupando com massinha e pinturas todo dia tambeacutem como eu vejo na residecircncia e por isso eu achava muito chato O que seraacute que essas crianccedilas pensam disso O que seraacute que elas acham mais legal na escola Eu vejo que elas gostam muito de fazer liccedilatildeo essas de folhinha que a professora daacute e todos os dias elas perguntam Mas eu natildeo me conformo como elas acham isso tatildeo legal (Relato da Residente F 2017)
Sabemos que a memoacuteria eacute mediada pelo signo pelas interaccedilotildees sociais pelo
outro Braga (1997) dirige nosso olhar para o ldquoprocesso de apropriaccedilatildeo das formas
culturais de interaccedilatildeo que caracterizam a memoacuteria humanardquo Para a autora ldquoa
memoacuteria do homem soacute se configura no movimento discursivo e coletivo por sua
natureza cultural e simboacutelicardquo No registro acima o observado mobiliza as lembranccedilas
da residente aquilo que foi tambeacutem vivido na escola de sua infacircncia Entre lembranccedilas
e interrogaccedilotildees emergem as construccedilotildees formativas em um processo dinacircmico ndash
interativo cultural e simboacutelico Processo que potildeem em relaccedilatildeo vivecircncias atuais e
passadas que invocam sentidos e significados atribuiacutedos ao vivido que ocorre nas
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contradiccedilotildees entre aquilo que eacute rememorado pela estudante e o que efetivamente eacute
observado nas relaccedilotildees estabelecidas no contato com o cotidiano da escola
Aleacutem da rotina e da organizaccedilatildeo de tempos e espaccedilos em sua relaccedilatildeo com as
praacuteticas pedagoacutegicas os relatos dos estudantes se reportam agraves diferentes dimensotildees
da gestatildeo escolar Os registros destacam suas observaccedilotildees nas H A (hora atividade)
ou reuniotildees que eventualmente participam e com frequecircncia observam a postura da
equipe em relaccedilatildeo a presenccedila do residente Em seus relatos questionam o caraacuteter
da gestatildeo a qualidade da relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo entre os professores as discussotildees
que remetem a construccedilatildeo e discussatildeo do projeto poliacutetico pedagoacutegico e os papeis
desempenhados pelos diferentes educadores na construccedilatildeo do trabalho de educaccedilatildeo
da infacircncia
Completamos nesta semana 4 dias de participaccedilatildeo nas Horas Atividades (HA) destinada agrave formaccedilatildeo docente organizaccedilatildeo dos registros e planejamento das atividades pedagoacutegicas O que pude por meio da observaccedilatildeo constatar que o papel do Coordenador Pedagoacutegico que eacute fundamental nesse momento de formaccedilatildeo pois eacute ele o mediador desse processo acaba por se tornar distante e sem intervenccedilotildees no que adentra a orientaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico docente (Relato da estudante M 2015)
Na experiecircncia cotidiana de imersatildeo na escola eacute possiacutevel verificar as tensotildees
vivenciadas entre os professores e o papel da coordenaccedilatildeo pedagoacutegica A teoria
discutida na universidade pelos residentes assinala a importacircncia do papel do
coordenador pedagoacutegico na educaccedilatildeo infantil na praacutetica o residente percebe o quanto
a sua mediaccedilatildeo eacute fundamental na organizaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico e por outro
lado o quanto a sua ausecircncia pode interferir de forma negativa na orientaccedilatildeo das
atividades dos professores
Outra personagem que acaba sendo central na gestatildeo escolar eacute a direccedilatildeo que
nessa experiecircncia do residente tambeacutem eacute observada de forma criacutetica
A figura da diretora na escola foi a que mais me chamou a atenccedilatildeo ()imaginem que em nenhum momento percebi qualquer aproximaccedilatildeo da diretora com as crianccedilas em vaacuterios momentos acreditei que ela fosse algum teacutecnico administrativo pois apesar de estar no topo da piracircmide a referecircncia da gestatildeo a mesma se restringia a secretaria e natildeo se relacionava natildeo nos conhecia nem procurava nos conhecer Passou diversas vezes por grupos de crianccedilas e em nenhuma das vezes sequer olhou para elas Nunca apareceu em uma HA nunca percebi o seu contato com os professores e por diversas vezes me perguntei como eles se falavam qual era o seu relacionamento (Relato da residente B 2015)
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Sobre esse assunto estudos como os de Paro (2005) e Castro (2009) tem
assinalado o papel da gestatildeo e da administraccedilatildeo escolar como alicerce fundamental
nos processos de transformaccedilatildeo da escola puacuteblica brasileira Tais trabalhos tecircm
apontado a centralidade da direccedilatildeo escolar nas questotildees que envolvem os processos
de ensino e aprendizagem e as relaccedilotildees humanas presentes na equipe de trabalho
para aleacutem dos trabalhos administrativos e burocraacuteticos Natildeo eacute objetivo deste trabalho
fazer uma anaacutelise do papel do diretor na escola de educaccedilatildeo infantil mas cabe
assinalar que os estudantes residentes apontam o tema em seus registros e atentos
agraves demandas relativas ao papel do diretor indagam se como e quanto as lideranccedilas
escolares tecircm se envolvido com o trabalho administrativo dispendendo tempo para
um olhar mais atento agraves relaccedilotildees entre os professoresalunos funcionaacuterios da escola
observada
Em relaccedilatildeo agraves interaccedilotildees humanas outros registros dos residentes nos
remetem agraves maneiras como a escola lida com as famiacutelias das crianccedilas matriculadas
nas escolas Tais relatos natildeo satildeo tatildeo frequentes possivelmente porque essa eacute uma
relaccedilatildeo que se caracteriza pela assimetria de poderes e eacute pouco valorizada no dia a
dia escolar Os registros evocam situaccedilotildees vividas comentaacuterios ouvidos e
principalmente a necessidade de mudanccedila dos modos de conceber a crianccedila e suas
famiacutelias e de interagir com elas
A relaccedilatildeo entre professor e famiacutelia eacute mais uma dessas conexotildees que fazemos pela vida Por um lado haacute um profissional uma pessoa que estudou e eacute especialista em cuidar de crianccedilas Por outro famiacutelias que dificilmente conseguimos de fato perceber como satildeo suas estruturadas Famiacutelia hoje eacute coisa difiacutecil de entender Eacute matildee que mora sozinha com o filho eacute pais que trabalham e deixam os filhos na semana com tios avoacutes Eacute matildee solteira Eacute filho criado por pai viuacutevo Eacute histoacuteria que natildeo acaba mais Na hora da saiacuteda vamos conhecendo um pouquinho da estrutura familiar de cada crianccedila tentando perceber como se daacute a relaccedilatildeo entre a famiacutelia e a escola mas devemos ter um pouco de cuidado com esse processo (Relato do estudante J 2015)
Aleacutem da residente ter um olhar para os diferentes tipos de arranjos familiares
tambeacutem busca compreender a especificidade de cada famiacutelia considerando o papel
da mulher e de matildee trabalhadora com filhos na escola puacuteblica
(hellip) Veja esses apontamentos uma menina na sala estaacute com piolho a professora disse que jaacute alertou a matildee mas como eacute matildee solteira soacute pode cuidar da filha no domingo O outro menino que natildeo se interessa pelas atividades e responde a educadora tambeacutem teve a matildee notificada mas como
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a mesma eacute separada do marido natildeo faz nada O fato da mulher trabalhar a semana e ter folga aos domingos natildeo significa que ela seja uma maacute matildee pelo contraacuterio significa que ela rala muito para colocar comida no prato A presenccedila ou natildeo de um homem natildeo condiciona nada A escola natildeo pode ser um ambiente de roacutetulos ela deve estar aberta agraves diferenccedilas acolhendo e buscando outras maneiras e formas de aproximaccedilatildeo com a famiacutelia compreendendo a responsabilidade compartilhada que carregam (Registro da residente B 2015)
Os relatos demonstram natildeo soacute o quanto estatildeo atentos para como a escola lida
com as relaccedilotildees familiares mas sobretudo assinalam como tecircm se configurado as
formaccedilotildees das famiacutelias na atualidade Um estudo de Martins (2012) aponta o quanto
a experiecircncia de residecircncia pedagoacutegica possibilita aos estudantes um contato mais
expressivo com a realidade da escola puacuteblica de periferia urbana Aleacutem de observar
as relaccedilotildees institucionais o residente pode ser sensibilizado frente agraves dificuldades
vividas pelas famiacutelias e tendem a perceber o preconceito em relaccedilatildeo aos vaacuterios
arranjos familiares vivenciados pelas crianccedilas mais pobres e como a escolarizaccedilatildeo
dos pais pode afetar a vida dos filhos Os registros dos residentes demonstram como
ldquoos contextos de vida das crianccedilas que frequentam a escola puacuteblica de periferia
passam a ser compreendidos de uma forma concreta e as relaccedilotildees do espaccedilo familiar
com o espaccedilo escolar passam a ter uma conexatildeo cotidianardquo (MARTINS 2012 p 95)
Outra temaacutetica recorrente nos registros dos estudantes diz respeito ao processo
de escolarizaccedilatildeo das praacuteticas da educaccedilatildeo da infacircncia Tal perspectiva surge quando
os residentes referem aos usos dos brinquedos e agraves brincadeiras agrave presenccedila da
leitura e contaccedilatildeo de histoacuterias aos modos de introduccedilatildeo do desenho ao uso de novas
tecnologias e aos modos de avaliar agraves crianccedilas Tal perspectiva escolarizante emerge
em oposiccedilatildeo ao luacutedico como princiacutepio e forma de organizaccedilatildeo das praacuteticas de
educaccedilatildeo junto agraves crianccedilas pequenas e algumas vezes a ela ainda se articula a
preocupaccedilatildeo em disciplinar as vivecircncias escolares sondagens filas broncas e
silecircncios coexistem com desenhos Tv computadores e brincadeiras Os registros nos
dizem de uma escola que hesita entre coibir e promover a expressatildeo das muitas
linguagens da imaginaccedilatildeo e movimento das crianccedilas
Na semana de 2310 a 2710 e como previsto na reuniatildeo de pais a professora realizou a sondagem com as crianccedilas Teoricamente sei como funciona o procedimento mas me questiono se deve ser realizada na Ed Infantil Tambeacutem me pergunto se a sondagem vai muito aleacutem do conhecimento das crianccedilas Por exemplo algumas escrevem o proacuteprio nome
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e algumas palavras mais comuns a elas outras ainda nem reconhecem as letras do alfabeto A sondagem feita abarcou o nome palavras simples um pouco mais complexas e uma frase inteira A minha duacutevida eacute se a sondagem que vai muito aleacutem dos conhecimentos da sala eacute comum e necessaacuteria ainda mais na Ed Infantil (Relato do residente N 2017)
O debate em torno das questotildees que envolvem a escolarizaccedilatildeo de crianccedilas
pequenas eacute bastante antigo e recorrente Pesquisas como as de Neves Castanheira
e Gouveia (2015) assinalam a partir de autores que estudaram essa temaacutetica como
a perspectiva escolarizante de trabalho com a crianccedila pequena traz seacuterias implicaccedilotildees
para o desenvolvimento infantil justamente porque rompe com as formas como elas
ldquointeragem com a escrita fora da escola destituindo-a de significados pessoais e
sociais e dificulta portanto que as atividades desenvolvidas no espaccedilo escolar
envolvam a ludicidade caracteriacutestica fundamental dessa fase do desenvolvimentordquo
(p 217)
Os residentes parecem estar muito atentos a essas questotildees porque participam
de discussotildees sistemaacuteticas sobre o assunto tanto nas aulas teoacutericas na Universidade
quanto nas reuniotildees de orientaccedilatildeo com os preceptores do Programa de Residecircncia
Muitos estudantes satildeo levados a refletir sobre o assunto logo nos primeiros dias de
imersatildeo na escola
Resolvi mudar o formato do meu relato referente agrave imersatildeo inicial Pois passei por uma situaccedilatildeo em sala que me provocou tal accedilatildeo Devido agrave imposiccedilatildeo de escolarizaccedilatildeo percebida na turma na qual acompanho Onde hoje me emocionei com o choro insistente do aluno BG com as matildeos estremecidas na tentativa de segurar o laacutepis para ldquofazer liccedilatildeordquo (Relato da Residente M 2015)
A partir do relato da residente percebe-se o quanto a questatildeo eacute relevante para
o campo da educaccedilatildeo infantil e da formaccedilatildeo de professores Nas observaccedilotildees e
relatos dos cadernos de campo natildeo eacute incomum aparecerem longas narrativas sobre
os equiacutevocos que ocorrem nas praacuteticas pedagoacutegicas que envolvem a alfabetizaccedilatildeo e
letramento das crianccedilas pequenas Consideramos que questotildees como essas quando
problematizadas pelos estudantes nos horaacuterios de preceptoria ou mesmo nas
discussotildees com professores especialistas sobre o tema tendem a aproximaacute-los de
uma futura praacutetica profissional em que o trabalho com o desenvolvimento da escrita
seja realizado de forma a respeitar a infacircncia natildeo negando agrave crianccedila o seu direito ao
luacutedico mas tratando a apresentaccedilatildeo do mundo letrado como mais um momento
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prazeroso de aprendizagens Tal reflexatildeo eacute importante para os futuros professores
para que busquem compreender como inserir as crianccedilas no mundo letrado de
maneira que possam romper com a dicotomia entre o brincar e a leituraescrita
tomando como referecircncia o significado dessas accedilotildees para a crianccedila possibilitando a
conduccedilatildeo dos trabalhos na educaccedilatildeo infantil que tornem possiacutevel o brincar ldquoletrando
e alfabetizandordquo (NEVES CASTANHEIRA E GOUVEIA 2015)
Outra temaacutetica que aparece num nuacutemero expressivo de postagens diz respeito
ao olhar do residente para as praacuteticas educativas e as interaccedilotildees que ocorrem na
escola com relaccedilatildeo agrave inclusatildeo escolar das crianccedilas percebidas como ldquodiferentesrdquo
Destaca-se nesta temaacutetica observaccedilotildees a respeito de diferenccedilas de religiatildeo gecircnero
raccedilacor e tambeacutem aquelas relacionadas agrave deficiecircncia Haacute descriccedilotildees sobre como as
crianccedilas lidam com as diferenccedilas e as formas como os professores trabalham com
aquelas que possuem alguma dificuldade Algumas postagens ressaltam a
necessidade de formaccedilatildeo inicial e continuada dos educadores para lidarem com a
diversidade na escola
Pela primeira vez vivenciei preconceito racial de uma crianccedila com outra Nos momentos em que a profa distribui lego para as crianccedilas ela daacute tambeacutem um bonequinho para cada crianccedila Tem bonecos adultos crianccedilas homens mulheres e de diversas cores Os bonecos satildeo dados aleatoriamente ou escolhidos pela crianccedila conforme a professora passa de mesa em mesa Neste dia um menino negro estava com um boneco negro Um garoto se aproximou e disse ldquoCredo que boneco feio parece vocecircrdquo se direcionando ao menino O menino deu de ombros e continuou a brincar e poucos minutos depois a menina que estava ao seu lado me perguntou ldquoPor que o boneco dele eacute pretinho Eacute muito feiordquo Claro que conversei com ela e com o outro menino em outro momento calmamente falando das diversas cores que as pessoas tecircm e que natildeo haacute isso de feio e bonito aproveitando para falar sobre diversidade e etc Mais para o final da conversa a menina me disse ldquoMeu pai eacute pretinho ele eacute bonitordquo Respondi a menina dizendo que a beleza natildeo estaacute na cor da pele do cabelo ou dos olhos A cena toda me fez refletir que a menina jaacute deve ter ouvido esse tipo de afirmaccedilatildeo errocircnea Jaacute comentei mais de uma vez sobre o preconceito de gecircnero ser muito forte mas e o racial algueacutem mais vivenciou esse tipo de preconceito durante esta residecircncia (Relato do residente T 2017)
Rosemberg (2014) chama a atenccedilatildeo para o tema da diversidade como uma
questatildeo circunscrita na histoacuteria da humanidade A diferenciaccedilatildeo entre os grupos
humanos ou pessoas com atributos que classificam e separam o ldquoeurdquo do ldquooutrordquo
parece constituir as diversas manifestaccedilotildees de culturas humanas Assim a autora
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desnaturaliza a identidade e a diferenccedila apontando o seu caraacuteter cultural social e
histoacuterico Contudo esse eacute um dos temas que tem chamado cada vez mais a atenccedilatildeo
de educadores desde a educaccedilatildeo infantil jaacute que muitas vezes as questotildees que
envolvem a diferenccedila e o diferente passam por processos discriminatoacuterios e
preconceituosos como apontado no relato do estudante ao observar as interaccedilotildees
entre as crianccedilas no que se refere ao quesito raccedilacor
Marinho e Martins (2016) em estudo sobre formaccedilatildeo de professoras que atuam
na educaccedilatildeo infantil constatam a escassez ou inexistecircncia de disciplinas na formaccedilatildeo
inicial de professores que abarquem as questotildees eacutetnico-raciais denunciando o natildeo
cumprimento das leis que entre outras prescriccedilotildees preveem que instituiccedilotildees de niacutevel
superior proporcionem aos futuros(as) professoresas a formaccedilatildeo adequada para
lidarem com as relaccedilotildees raciais multieacutetnica e multicultural da sociedade brasileira
Nesse sentido ao trazerem suas inquietaccedilotildees sobre como as crianccedilas lidam com as
diferenccedilas no contexto da escola os residentes se aproximam das discussotildees a
respeito dos processos discriminatoacuterios oportunizando momentos em que tais
temaacuteticas possam ser discutidas entre professores preceptores e colegas do
programa de estaacutegio
Aleacutem da questatildeo racial outros relatos nos datildeo conta de refletir e discutir sobre
as relaccedilotildees que envolvem as crianccedilas com deficiecircncia na escola
() O que me chamou atenccedilatildeo foi que na quarta (2204) H chegou na escola e decidiu mudar de lugar foi sentar bem ao lado do D (uma crianccedila que foi diagnosticada com autismo de ldquograu leverdquo segundo a professora) eu fiquei observando como seria a relaccedilatildeo deles H trouxe um caderno de desenho o abriu na mesa e dividiu metade da folha para ele e para D depois na hora de descer ele segurou a matildeo do D e ficou durante o almoccedilo todo cuidando de D o orientou a pegar a comida sentar comer devagar e quando natildeo quisesse mais deveria jogar a comida no lixo e durante todo o dia H permaneceu cuidando de D A professora achou estranho pois naquele dia ela natildeo havia chamado a atenccedilatildeo de H ateacute me falou ldquoEle deve estar aprontando e D eacute bobatildeo pode se machucarrdquo e decidiu intervir e pediu para que H mudasse de lugar e parasse de cuidar de (Relato do residente L 2015)
A partir da narrativa eacute possiacutevel refletir sobre o preparo dos professores para
lidar com as diferenccedilas individuais na educaccedilatildeo infantil A inclusatildeo escolar de crianccedilas
com deficiecircncia ocorre mediante poliacuteticas puacuteblicas de inclusatildeo contudo haacute uma
grande distacircncia entre a poliacutetica puacuteblica e a praacutetica pedagoacutegica nos contextos
escolares pois natildeo se aprofunda ldquoo debate sobre os meios os fins e as estrateacutegias
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para a implementaccedilatildeo da poliacutetica de ampliaccedilatildeo da rede de educaccedilatildeo infantilrdquo
(BRUNO 2008 p 59)
Outros registros que tratam da temaacutetica da inclusatildeo de crianccedilas com
deficiecircncia mostram o quanto a escola estaacute despreparada para lidar com essa
questatildeo Os relatos e inquietaccedilotildees dos estudantes nos possibilitam a identificaccedilatildeo de
processos discriminatoacuterios de resistecircncias e acomodaccedilotildees dos profissionais e do
distanciamento de uma praacutetica verdadeiramente inclusiva na esfera das praacuteticas
educativas cotidianas O que se percebe nas discussotildees sobre o assunto eacute que os
residentes enquanto futuros professores muito tecircm a aprender sobre a acolhida das
famiacutelias e das crianccedilas ldquodiferentesrdquo ou com deficiecircncia na constante reflexatildeo sobre o
comportamento atitudes e posturas do educador frente ao trabalho pedagoacutegico
Outras temaacuteticas tatildeo importantes como as que discutimos aqui tem sido objeto
de interesse dos estudantes em processo de imersatildeo nas escolas-campo Haacute uma
gama de registros sobre categorias que envolvem a crianccedila pequena nas atividades
do brincar a disciplina e a coerccedilatildeo dos educadores na tentativa de manter o controle
das crianccedilas e dos comportamentos considerados inadequados Muitos residentes se
surpreendem como essa coerccedilatildeo ocorre demasiadas vezes na escola e nas reuniotildees
de supervisatildeo eacute muito comum questionarem junto ao preceptor formas de
compreender por que algumas praacuteticas coercitivas satildeo tatildeo presentes na educaccedilatildeo
infantil
Consideraccedilotildees Finais
A experiecircncia de estaacutegio no Programa de Residecircncia Pedagoacutegica requer de
estudantes e professores uma atitude de intensa accedilatildeo e reflexatildeo Na perspectiva de
observaccedilatildeo participante eacute que a imersatildeo dos residentes na escola eacute orientada
embora natildeo haja uma intervenccedilatildeo direta planejada e sistemaacutetica sobre os modos de
fazer da escola e dos professores Possiacuteveis intervenccedilotildees sobre a escola suscitadas
pela presenccedila da universidade (de preceptores e residentes) satildeo uma contingecircncia
dos processos de formaccedilatildeo de condiccedilotildees e modos de seu desenvolvimento e eacute assim
que se define o lugar do residente e da preceptoria junto a escola o caraacuteter da
observaccedilatildeo participante a ser realizada durante o estaacutegio e sua conduccedilatildeo e discussatildeo
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no acircmbito escolar As posiccedilotildees dos residentes reeditam questotildees que mobilizam a
imersatildeo e reflexatildeo sobre o vivido como e quando participar O que como e quando
registrar sobre a observaccedilatildeo participante sobre o que se vivencia Como fazer uso
das ferramentas disponiacuteveis na escola e dos subsiacutedios teoacutericos oferecidos durante a
proacutepria residecircncia ou estudados no curso de pedagogia elaborando impressotildees sobre
o que descreve e refletindo sobre o que vive e elabora
A retomada dos escritos e reflexotildees dos estudantes participantes do Programa
de Residecircncia Pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Infantil nos trazem pistas relevantes para a
compreensatildeo natildeo somente dos seus processos formativos mas tambeacutem suscitam
atenccedilatildeo aos temas e questotildees emergentes do cotidiano das crianccedilas nas escolas de
Educaccedilatildeo Infantil Sabe-se que o processo de escrita eacute composto de idas e vindas
de avanccedilos e retrocessos de duacutevidas e certezas percebidas nos textos e contextos
apresentados pelos estudantes neste processo formativo especiacutefico
As postagens guardam caracteriacutesticas especiacuteficas correlatas ao vivido nas
praacuteticas de estaacutegio de acordo com as finalidades comunicativas e formativas do
caderno de campoblog e com especificidades ndash limites e possibilidades ndash que se
dimensionam nestas praacuteticas Os estudantes registram o que observam o que
vivenciam mas natildeo soacute Em muitos registros suas impressotildees (con)fundem-se com o
observado vatildeo aleacutem da descriccedilatildeo interpretando o visto o vivido e outras vezes para
alguns o registro se faz espaccedilo de recuperaccedilatildeo das proacuteprias vivecircncias e dos
elementos teoacutericos estudados
Nesta experiecircncia a liberdade na escolha e escrita dos temas dos cadernos de
campo tem permitido que o processo formativo de cada estudante aconteccedila de forma
uacutenica e original pois apesar de estarem imersos em ambientes semelhantes (em
alguns casos mesmas escolas-campo) e possuiacuterem referenciais teoacutericos semelhantes
(provenientes das unidades curriculares obrigatoacuterias e eletivas do Curso de
Pedagogia) os temas e questotildees que recebem a atenccedilatildeo de cada um satildeo distintos e
trabalhados teoricamente a partir das anguacutestias e inquietaccedilotildees individuais Entretanto
apesar das produccedilotildees escritas serem individuais ao serem publicizadas em reuniotildees
de orientaccedilatildeo ou ateacute no suporte virtual do blog elas podem ser compartilhadas e
tornam-se objeto comum de discussotildees e aprendizagens
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Por fim concluiacutemos assim como Noacutevoa (2000) a propoacutesito das narrativas (auto)
biograacuteficas que a escrita como parte dos processos formativos de professores eacute
capaz de fazer ldquoreaparecer os sujeitos face agraves estruturas e aos sistemas a qualidade
face agrave quantidade a vivecircncia face ao instituiacutedordquo Nesta linha de pensamento
percebemos que eacute possiacutevel ler o mundo e as relaccedilotildees sociais de um sujeito por meio
da sua narrativa produzindo ldquoum outro tipo de conhecimento mais proacuteximo das
realidades educativasrdquo (NOacuteVOA 2000 p 18 19 grifo do autor) e quiccedila
transformador dessas
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VYGOTSKY Lev Semyonovich Desarrollo de las funciones psiacutequicas superiores en la edad de transicion in l s vygotski obras escogidas iv Paidologiacutea del adolescente Madrid Machado Libros Tomo IV 19302006a
Correspondecircncia
Edna Martins ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo (UNIFESP)
Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Maria de Faacutetima Carvalho ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Renata Marciacutelio Cacircndido ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Universidade Federal de Satildeo Paulo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo R
Sena Madureira 1500 ndash Vila Clementino CEP 04021-001 Satildeo Paulo Satildeo Paulo
Brasil
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Unifesp que satildeo a Residecircncia Pedagoacutegica em Gestatildeo Escolar e em Educaccedilatildeo de
Jovens e Adultos
Accedilotildees formativas da Residecircncia Pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Infantil (RPEI)
Antes de apresentarmos mais detalhadamente o Programa de Residecircncia em
Educaccedilatildeo infantil (RPEI) eacute importante destacar que o trabalho de formaccedilatildeo de
professores nesta perspectiva comeccedila com o aporte teoacuterico das disciplinas
obrigatoacuterias que contemplam as temaacuteticas do campo Vencida a etapa teoacuterica os
estudantes comeccedilam o programa de estaacutegio contemplado nesta modalidade que
atende o curso de Pedagogia e eacute constituiacuteda como uma unidade curricular obrigatoacuteria
Somente a partir do 5o semestre do curso os alunos devem se matricular e cumprir
135 horas de estaacutegio as quais compreendem momentos de imersatildeo na escola e
supervisatildeo na universidade sendo tal experiecircncia realizada em escolas puacuteblicas
municipais que possuem parceria com a Universidade
Durante todo o processo a atuaccedilatildeo do professor preceptor possui destaque
segundo Moretti e Martins (2015) pois ele faz os primeiros contatos com os
estudantes de cada grupo que vai para a escola e eacute quem supervisiona o estaacutegio
acompanhando o aluno durante todo o percurso do programa Em todas as
modalidades de Residecircncia Pedagoacutegica antes de iniciar a imersatildeo na escola os
estudantes participam de encontros pontuais com seus preceptores para discussatildeo
do programa de atividades da Unidade Curricular No caso da Educaccedilatildeo Infantil
nessas ocasiotildees de encontros realizam-se estudos sobre temaacuteticas relevantes e
discussatildeo de leituras introdutoacuterias agrave atividade de estaacutegio e tambeacutem para orientaccedilotildees
mais praacuteticas sobre por exemplo as regras a serem observadas durante o periacuteodo
de estaacutegio o conhecimento das publicaccedilotildees do PRP para a modalidade especiacutefica a
construccedilatildeo do diaacuterio de campo o papel do professor preceptor e do professor
formador (aquele que o residente acompanharaacute na escola) Todas essas orientaccedilotildees
constam de um manual e satildeo retomadas pelos preceptores em leituras coletivas que
objetivam ajudar os estudantes a usarem o material de suporte enfatizando que o
estaacutegio realizado nesta perspectiva implica mais que observaccedilatildeo passiva a
participaccedilatildeo nas atividades escolares seu registro e reflexatildeo Os primeiros encontros
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tambeacutem envolvem a orientaccedilatildeo sobre aspectos de ordem legal como por exemplo
jamais assumir sozinho a sala de aula em que estatildeo fazendo a residecircncia
Como unidade curricular obrigatoacuteria a RPEI prevecirc em sua ementa que os
alunos deveratildeo construir conhecimentos a partir de identificaccedilatildeo e anaacutelise de relaccedilotildees
e praacuteticas que perfazem o dia a dia da escola de Educaccedilatildeo Infantil atentando para o
seu caraacuteter educacional e pedagoacutegico assim como para os processos de gestatildeo
institucional Esse processo de construccedilatildeo de conhecimentos sobre o que vivenciam
eacute mediado pelo uso de instrumentos de pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo
Concomitantemente enquanto participam do dia a dia na escola planejam e elaboram
planos de accedilatildeo pedagoacutegica em colaboraccedilatildeo com os supervisores do estaacutegio e
educadores das escolas-campo
No processo de imersatildeo espera-se que o residente natildeo apenas observe mas
possa dar apoio ao professor de classe em suas praacuteticas pedagoacutegicas cotidianas e na
sua relaccedilatildeo com as crianccedilas com idade entre 0 e 5 anos Cotidianamente tais
residentes devem ser encorajados a atuarem com pequenas accedilotildees junto agraves crianccedilas
com a orientaccedilatildeo dos professores que o acompanham Durante quatro semanas no
processo intenso de imersatildeo na realidade da escola os residentes devem construir
registros diaacuterios das experiecircncias vividas em campo aleacutem de outros materiais que
tecircm origem na observaccedilatildeo participativa do dia a dia escolar e serviratildeo de avaliaccedilatildeo
final tendo elaboraccedilatildeo orientada e aferida pelo professor preceptor da Universidade
Dessa perspectiva o residente tambeacutem eacute solicitado a refletir sobre sua proacutepria
atuaccedilatildeo participando ativamente de um processo de contiacutenua auto avaliaccedilatildeo
Eacute objetivo do Programa em todas as suas modalidades que os graduandos
possam retomar de forma reflexiva o que vivenciam na escola Na modalidade de
Educaccedilatildeo Infantil eacute esperado que o estudante residente possa desenvolver anaacutelises
criacutetico-reflexivas acerca da instituiccedilatildeo no qual estaacute imerso no que se refere agrave interaccedilatildeo
com as famiacutelias e agrave comunidade em seu entorno assim como sobre as praacuteticas
pedagoacutegicas realizadas nesses locais a partir do reconhecimento da crianccedila como
sujeito de direito e de toda a legislaccedilatildeo que diz respeito a essa modalidade de ensino
De acordo com o cronograma da Unidade Curricular Residecircncia Pedagoacutegica
em Educaccedilatildeo Infantil os estudantes devem ir durante quatro dias da semana para a
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escola e um dia para a Universidade para supervisatildeo com o preceptor que eacute um
docente da Universidade Na escola cumprem o horaacuterio da turma que acompanham
em turno que pode ser matutino vespertino ou intermediaacuterio Natildeo satildeo toleradas faltas
ou atrasos sem justificativa meacutedica objetivando-se desta forma colocar os alunos
diante da responsabilidade do compromisso profissional assumido perante a escola
Durante as duas primeiras semanas de imersatildeo os estudantes satildeo orientados
a descrever no diaacuterio de campo o que observam e suas impressotildees sobre a escola
as relaccedilotildees entre professorcrianccedilas crianccedilacrianccedila escolacomunidade
famiacuteliasescola professorprofessor professorgestatildeo e praacuteticas educativas do
cotidiano que satildeo observadas mais atentamente Neste primeiro momento aleacutem da
cobranccedila para que o aluno escreva sobre suas vivecircncias o preceptor busca ajudaacute-lo
na construccedilatildeo dos registros do caderno de campo assinalando sobre as posturas de
descriccedilatildeo e de reflexatildeo na elaboraccedilatildeo sobre suas impressotildees sobre aquilo que eacute
observado
Antes de serem executados os planos pedagoacutegicos de cada estudante satildeo
apresentados para os professores formadores e coordenador nas escolas durante
reuniatildeo realizada na ldquoHora Atividaderdquo com a participaccedilatildeo do professor preceptor Este
tem se constituiacutedo um momento iacutempar de aprendizagem para todos os envolvidos jaacute
que nesta ocasiatildeo os estudantes compartilham seus conhecimentos suas
experiecircncias expectativas e apreensotildees e onde explicitam-se possibilidades de
articulaccedilatildeo escola-universidade no acircmbito da formaccedilatildeo de professores Eacute na uacuteltima
semana de imersatildeo que os estudantes colocam seus planos de accedilatildeo pedagoacutegica em
praacutetica nas salas em que estatildeo imersos fechando o ciclo previsto pelo estaacutegio
Metodologia analisando as temaacuteticas do caderno de campo online (Blog)
Alguns grupos de residentes da RPEI conforme opccedilatildeo dos professores
preceptores usam um blog para a construccedilatildeo online de um caderno de campo que
integra a elaboraccedilatildeo de seus registros sobre a imersatildeo na escola Esses registros ndash
que chamamos de postagens aleacutem de possibilitar um olhar mais apurado sobre as
praacuteticas cotidianas podem contribuir para a orientaccedilatildeo e a construccedilatildeo do Plano de
Accedilatildeo Pedagoacutegica de cada residente e posteriormente para a escrita de um relatoacuterio
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final de estaacutegio pelo grupo Eacute sobre os registros do blog que incidiraacute nossa anaacutelise
considerando para tanto inquietaccedilotildees observaccedilotildees e reflexotildees registradas pelos
residentes nos anos de 2015 2016 e 2017
O blog da residecircncia ou diaacuterio de campo online consiste em uma ferramenta
virtual na qual satildeo realizados os registros de observaccedilotildees e experiecircncias significativas
vividas pelos residentes cotidianamente na escola Destaca-se que tal ferramenta eacute
de acesso restrito e apenas um uacutenico grupo de alunos e professores preceptores da
Universidade podem participar em cada escola acompanhada Deste modo nem os
professores ou quaisquer pessoas das escolas-campo podem acessar tal instrumento
O blog eacute construiacutedo pelo professor preceptor a cada novo grupo de residentes
assegurando o sigilo das informaccedilotildees registradas A ferramenta possibilita a
construccedilatildeo coletiva de diaacutelogos sobre questotildees observadas e a mediaccedilatildeo dos
conhecimentos dos residentes pelos seus supervisores Assim os estudantes podem
realizar trocas sobre suas vivecircncias muitas vezes similares agraves que ocorrem na mesma
instituiccedilatildeo ainda que estejam em turmas de idades diferentes Permite tambeacutem que
preceptores acompanhem diariamente seus residentes respondendo as indagaccedilotildees
e inquietaccedilotildees do grupo que participa do dia-a-dia na escola
Aleacutem de cumprir todos os objetivos de um caderno de campo comum o blog
permite ao preceptor mesmo agrave distacircncia o acompanhamento contiacutenuo do grupo de
estudantes o que lhe permite planejar as atividades semanais de supervisatildeo de forma
a responder as demandas dos alunos e esses uacuteltimos de compartilharem seus
diferentes pontos de vistas e as accedilotildees desenvolvidas na escola Assim no contexto
da residecircncia pedagoacutegica o blog ou caderno de campo online eacute o espaccedilomomento
de realizaccedilatildeo dos registros de observaccedilotildees e experiecircncias significativas vividas
cotidianamente na escola de educaccedilatildeo infantil e de acompanhamento e
problematizaccedilatildeo dessas vivecircncias pelos preceptores
Nesse caminho assinala-se a contribuiccedilatildeo de Vygotsky (1981) quando aponta
que as relaccedilotildees humanas satildeo sempre mediadas pelo meio social e pelos instrumentos
e signos que fazem parte das relaccedilotildees e dos contextos em que o homem estaacute inserido
Desse modo
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A atividade praacutetica do homem portanto se faz duplamente mediada de uma parte estaacute mediada pelas ferramentas no sentido literal da palavra e de outra parte mediada pelas ferramentas no sentido figurado pelas ferramentas do pensamento pelos meios com a ajuda dos quais se realiza a operaccedilatildeo intelectual ou seja mediada com a ajuda das palavras (VYGOTSKI 19302006a p 165)
Nessa direccedilatildeo conveacutem destacar a importacircncia do blog como instrumento social
representativo da incorporaccedilatildeo da tecnologia ao dia a dia dos estudantes e da
consideraccedilatildeo da mediaccedilatildeo tecnoloacutegica em processos de aprendizagem e
desenvolvimento dos graduandos
Diferente de outras formas de relacionamento virtual (e-mail chat instant
messages listas de discussatildeo etc) e de ferramentas virtuais convencionais ndash como
os sites ndash o blog caracteriza-se pela facilidade de sua criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo o que eacute
definido pela organizaccedilatildeo automaacutetica das mensagens ndash posts ndash pelo sistema
dinamizando seu uso e favorecendo a construccedilatildeo de diaacuterios coletivos mantidos por
vaacuterios usuaacuterios Tais caracteriacutesticas favorecem o uso do blog em processos de ensino-
aprendizagem tendo em vista a interaccedilatildeo a troca o diaacutelogo como forma de partilha e
construccedilatildeo de conhecimentos (MARQUES MULLER 2012)
O blog permite portanto o compartilhamento de informaccedilotildees e a interaccedilatildeo
entre estudantes do mesmo grupo e o mesmo preceptor em uma mesma escola
Todos podem ler e comentar as postagens funcionando como um ponto de encontro
entre alunos e preceptores Assim nossa atenccedilatildeo agraves postagens dos estudantes no
blog eacute dirigida pelo objetivo de dar visibilidade a dimensatildeo social das praacuteticas de
registro do observadovivido nos processos formativos que emergem na experiecircncia
de Residecircncia Pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Infantil Assumimos o caraacuteter histoacuterico-
cultural da pesquisa do meacutetodo do objeto de estudo e do proacuteprio conhecimento como
construccedilatildeo que se realiza entre sujeitos (FREITAS 2009) Dessa forma acredita-se
que o momento de elaboraccedilatildeo do vivido ndash o registro no caderno de campoblog ndash
deflagra no estudante a necessidade de reflexatildeo sobre os processos de ensino-
aprendizagem em curso no acircmbito do estaacutegio-residecircncia pedagoacutegica
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Registros no caderno de campo online o olhar do residente sobre a escola de
educaccedilatildeo infantil
Nos primeiros dias de imersatildeo na escola os residentes satildeo orientados a
realizar uma observaccedilatildeo atenta dos espaccedilos da instituiccedilatildeo A partir da leitura do texto
de Silva e Bufalo (2011) sobre culturas escolares os residentes descrevem em seus
primeiros registros detalhes fiacutesicos sobre a escola Muitos acabam desenhando a
planta baixa ou tirando fotos de salas de aulas parques e paacutetios e compartilhando no
caderno de campo online (blog) para comeccedilarem a pensar sobre o contexto e os
espaccedilos que podem favorecer a aprendizagem e o desenvolvimento da crianccedila
pequena como descrito no excerto abaixo
Uma coisa que me chamou atenccedilatildeo foi que natildeo possuem um espaccedilo para atividade fiacutesica essas satildeo realizadas no paacutetio que eacute proacuteximo as salas o barulho acaba atrapalhando os demais O parque estaacute interditado por ordem da diretora ou seja natildeo possuem lugar para brincar O dia das crianccedilas foi pautado em ficar sentado e quieto vendo um filme que a maioria jaacute tinha assistido (Relato da residente N 2017)
Formas de organizaccedilatildeo de espaccedilos e tempos remetem agrave organizaccedilatildeo da rotina
Sobre esse tema grande quantidade de postagens textos diz respeito a como as
atividades diaacuterias satildeo organizadas na escola Em alguns registros como o
apresentado a seguir aparece a problematizaccedilatildeo da forma de organizaccedilatildeo das
atividades
730 (15min) - a professora colocou o cabeccedilalho na lousa com a data e fez a contagem coletiva das crianccedilas 745 (45min) - a professora retomou o que eles haviam aprendido sobre os iacutendios entregou massinha e os orientou a modelar utensiacutelios indiacutegenas 830 (35min) - pintura de desenho xerocado que seraacute colado na capa do caderno de atividades 905 (25min) - brincadeira livre no paacutetio interno no brinquedatildeo que fica no final da escadarampa sup2940 (30min) - brincadeira em sala Gato mia 1010 (ateacute as crianccedilas irem embora) - a professora entregou uma folha com a letra da canccedilatildeo 1 2 3 indiozinhos cantou a muacutesica com eles sentados em seus lugares pediu para eles circularem as letras A e I e depois pintar a ilustraccedilatildeo () (Relato da residente J 2015)
A rotina observada e registrada pela residente configura-se como um dos
aspectos mais relevantes na vida da crianccedila que se encontra na escola de Educaccedilatildeo
Infantil Barbosa (2006) aponta que esse eacute um dos elementos que integram as praacuteticas
educativas que devem ser observadas e planejadas com regularidade objetivando a
operacionalizaccedilatildeo do cotidiano da escola de maneira que possa contribuir na
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constituiccedilatildeo da subjetividade dos atores escolares Desse modo pensar e
compreender a rotina como um fator presente e essencial na educaccedilatildeo de crianccedilas
pequenas eacute um passo promissor para que o residente acompanhe como as atividades
cotidianas da escola se materializam e datildeo base para a organizaccedilatildeo da praacutetica
pedagoacutegica devendo estar presente no desenvolvimento curricular
O planejamento das atividades na educaccedilatildeo infantil tem estreita ligaccedilatildeo com a
rotina Ao observar e refletir sobre a vida e as experiecircncias das crianccedilas na escola os
residentes satildeo remetidos a memoacuteria agrave lembranccedila do que tambeacutem foi um dia vivido
por eles em suas experiecircncias escolares Como apontado por Meksenas (2002)
ldquonunca somos testemunhas objetivas observando objetos e sim sujeitos observando
outros sujeitosrdquo (p 116)
Estive tentando lembrar nas uacuteltimas semanas o que eu fazia na minha preacute-escola Eu comecei no maternal com 3 anos ()Tenho vagas lembranccedilas de duas salas de aula uma do preacute III e a outra acho que era do preacute I Era uma escola particular dessas pequenas de bairro Lembro que a turma natildeo era tatildeo numerosa quanto essa que estou vendo na residecircncia mas a sala tinha uma organizaccedilatildeo parecida eram mesas e cadeiras enfileiradas nas duas () Eu estava com 5 anos Lembro que a gente tinha uma apostila no preacute I eu gostava de terminar tudo raacutepido para dormir Depois a professora comeccedilou a me dar gibi para eu ficar folheando Tenho na minha memoacuteria que as coisas que a gente fazia na escola eram chatas e muito infantis bobas demais Agora eu penso talvez as professoras ficassem me ocupando com massinha e pinturas todo dia tambeacutem como eu vejo na residecircncia e por isso eu achava muito chato O que seraacute que essas crianccedilas pensam disso O que seraacute que elas acham mais legal na escola Eu vejo que elas gostam muito de fazer liccedilatildeo essas de folhinha que a professora daacute e todos os dias elas perguntam Mas eu natildeo me conformo como elas acham isso tatildeo legal (Relato da Residente F 2017)
Sabemos que a memoacuteria eacute mediada pelo signo pelas interaccedilotildees sociais pelo
outro Braga (1997) dirige nosso olhar para o ldquoprocesso de apropriaccedilatildeo das formas
culturais de interaccedilatildeo que caracterizam a memoacuteria humanardquo Para a autora ldquoa
memoacuteria do homem soacute se configura no movimento discursivo e coletivo por sua
natureza cultural e simboacutelicardquo No registro acima o observado mobiliza as lembranccedilas
da residente aquilo que foi tambeacutem vivido na escola de sua infacircncia Entre lembranccedilas
e interrogaccedilotildees emergem as construccedilotildees formativas em um processo dinacircmico ndash
interativo cultural e simboacutelico Processo que potildeem em relaccedilatildeo vivecircncias atuais e
passadas que invocam sentidos e significados atribuiacutedos ao vivido que ocorre nas
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contradiccedilotildees entre aquilo que eacute rememorado pela estudante e o que efetivamente eacute
observado nas relaccedilotildees estabelecidas no contato com o cotidiano da escola
Aleacutem da rotina e da organizaccedilatildeo de tempos e espaccedilos em sua relaccedilatildeo com as
praacuteticas pedagoacutegicas os relatos dos estudantes se reportam agraves diferentes dimensotildees
da gestatildeo escolar Os registros destacam suas observaccedilotildees nas H A (hora atividade)
ou reuniotildees que eventualmente participam e com frequecircncia observam a postura da
equipe em relaccedilatildeo a presenccedila do residente Em seus relatos questionam o caraacuteter
da gestatildeo a qualidade da relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo entre os professores as discussotildees
que remetem a construccedilatildeo e discussatildeo do projeto poliacutetico pedagoacutegico e os papeis
desempenhados pelos diferentes educadores na construccedilatildeo do trabalho de educaccedilatildeo
da infacircncia
Completamos nesta semana 4 dias de participaccedilatildeo nas Horas Atividades (HA) destinada agrave formaccedilatildeo docente organizaccedilatildeo dos registros e planejamento das atividades pedagoacutegicas O que pude por meio da observaccedilatildeo constatar que o papel do Coordenador Pedagoacutegico que eacute fundamental nesse momento de formaccedilatildeo pois eacute ele o mediador desse processo acaba por se tornar distante e sem intervenccedilotildees no que adentra a orientaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico docente (Relato da estudante M 2015)
Na experiecircncia cotidiana de imersatildeo na escola eacute possiacutevel verificar as tensotildees
vivenciadas entre os professores e o papel da coordenaccedilatildeo pedagoacutegica A teoria
discutida na universidade pelos residentes assinala a importacircncia do papel do
coordenador pedagoacutegico na educaccedilatildeo infantil na praacutetica o residente percebe o quanto
a sua mediaccedilatildeo eacute fundamental na organizaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico e por outro
lado o quanto a sua ausecircncia pode interferir de forma negativa na orientaccedilatildeo das
atividades dos professores
Outra personagem que acaba sendo central na gestatildeo escolar eacute a direccedilatildeo que
nessa experiecircncia do residente tambeacutem eacute observada de forma criacutetica
A figura da diretora na escola foi a que mais me chamou a atenccedilatildeo ()imaginem que em nenhum momento percebi qualquer aproximaccedilatildeo da diretora com as crianccedilas em vaacuterios momentos acreditei que ela fosse algum teacutecnico administrativo pois apesar de estar no topo da piracircmide a referecircncia da gestatildeo a mesma se restringia a secretaria e natildeo se relacionava natildeo nos conhecia nem procurava nos conhecer Passou diversas vezes por grupos de crianccedilas e em nenhuma das vezes sequer olhou para elas Nunca apareceu em uma HA nunca percebi o seu contato com os professores e por diversas vezes me perguntei como eles se falavam qual era o seu relacionamento (Relato da residente B 2015)
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Sobre esse assunto estudos como os de Paro (2005) e Castro (2009) tem
assinalado o papel da gestatildeo e da administraccedilatildeo escolar como alicerce fundamental
nos processos de transformaccedilatildeo da escola puacuteblica brasileira Tais trabalhos tecircm
apontado a centralidade da direccedilatildeo escolar nas questotildees que envolvem os processos
de ensino e aprendizagem e as relaccedilotildees humanas presentes na equipe de trabalho
para aleacutem dos trabalhos administrativos e burocraacuteticos Natildeo eacute objetivo deste trabalho
fazer uma anaacutelise do papel do diretor na escola de educaccedilatildeo infantil mas cabe
assinalar que os estudantes residentes apontam o tema em seus registros e atentos
agraves demandas relativas ao papel do diretor indagam se como e quanto as lideranccedilas
escolares tecircm se envolvido com o trabalho administrativo dispendendo tempo para
um olhar mais atento agraves relaccedilotildees entre os professoresalunos funcionaacuterios da escola
observada
Em relaccedilatildeo agraves interaccedilotildees humanas outros registros dos residentes nos
remetem agraves maneiras como a escola lida com as famiacutelias das crianccedilas matriculadas
nas escolas Tais relatos natildeo satildeo tatildeo frequentes possivelmente porque essa eacute uma
relaccedilatildeo que se caracteriza pela assimetria de poderes e eacute pouco valorizada no dia a
dia escolar Os registros evocam situaccedilotildees vividas comentaacuterios ouvidos e
principalmente a necessidade de mudanccedila dos modos de conceber a crianccedila e suas
famiacutelias e de interagir com elas
A relaccedilatildeo entre professor e famiacutelia eacute mais uma dessas conexotildees que fazemos pela vida Por um lado haacute um profissional uma pessoa que estudou e eacute especialista em cuidar de crianccedilas Por outro famiacutelias que dificilmente conseguimos de fato perceber como satildeo suas estruturadas Famiacutelia hoje eacute coisa difiacutecil de entender Eacute matildee que mora sozinha com o filho eacute pais que trabalham e deixam os filhos na semana com tios avoacutes Eacute matildee solteira Eacute filho criado por pai viuacutevo Eacute histoacuteria que natildeo acaba mais Na hora da saiacuteda vamos conhecendo um pouquinho da estrutura familiar de cada crianccedila tentando perceber como se daacute a relaccedilatildeo entre a famiacutelia e a escola mas devemos ter um pouco de cuidado com esse processo (Relato do estudante J 2015)
Aleacutem da residente ter um olhar para os diferentes tipos de arranjos familiares
tambeacutem busca compreender a especificidade de cada famiacutelia considerando o papel
da mulher e de matildee trabalhadora com filhos na escola puacuteblica
(hellip) Veja esses apontamentos uma menina na sala estaacute com piolho a professora disse que jaacute alertou a matildee mas como eacute matildee solteira soacute pode cuidar da filha no domingo O outro menino que natildeo se interessa pelas atividades e responde a educadora tambeacutem teve a matildee notificada mas como
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a mesma eacute separada do marido natildeo faz nada O fato da mulher trabalhar a semana e ter folga aos domingos natildeo significa que ela seja uma maacute matildee pelo contraacuterio significa que ela rala muito para colocar comida no prato A presenccedila ou natildeo de um homem natildeo condiciona nada A escola natildeo pode ser um ambiente de roacutetulos ela deve estar aberta agraves diferenccedilas acolhendo e buscando outras maneiras e formas de aproximaccedilatildeo com a famiacutelia compreendendo a responsabilidade compartilhada que carregam (Registro da residente B 2015)
Os relatos demonstram natildeo soacute o quanto estatildeo atentos para como a escola lida
com as relaccedilotildees familiares mas sobretudo assinalam como tecircm se configurado as
formaccedilotildees das famiacutelias na atualidade Um estudo de Martins (2012) aponta o quanto
a experiecircncia de residecircncia pedagoacutegica possibilita aos estudantes um contato mais
expressivo com a realidade da escola puacuteblica de periferia urbana Aleacutem de observar
as relaccedilotildees institucionais o residente pode ser sensibilizado frente agraves dificuldades
vividas pelas famiacutelias e tendem a perceber o preconceito em relaccedilatildeo aos vaacuterios
arranjos familiares vivenciados pelas crianccedilas mais pobres e como a escolarizaccedilatildeo
dos pais pode afetar a vida dos filhos Os registros dos residentes demonstram como
ldquoos contextos de vida das crianccedilas que frequentam a escola puacuteblica de periferia
passam a ser compreendidos de uma forma concreta e as relaccedilotildees do espaccedilo familiar
com o espaccedilo escolar passam a ter uma conexatildeo cotidianardquo (MARTINS 2012 p 95)
Outra temaacutetica recorrente nos registros dos estudantes diz respeito ao processo
de escolarizaccedilatildeo das praacuteticas da educaccedilatildeo da infacircncia Tal perspectiva surge quando
os residentes referem aos usos dos brinquedos e agraves brincadeiras agrave presenccedila da
leitura e contaccedilatildeo de histoacuterias aos modos de introduccedilatildeo do desenho ao uso de novas
tecnologias e aos modos de avaliar agraves crianccedilas Tal perspectiva escolarizante emerge
em oposiccedilatildeo ao luacutedico como princiacutepio e forma de organizaccedilatildeo das praacuteticas de
educaccedilatildeo junto agraves crianccedilas pequenas e algumas vezes a ela ainda se articula a
preocupaccedilatildeo em disciplinar as vivecircncias escolares sondagens filas broncas e
silecircncios coexistem com desenhos Tv computadores e brincadeiras Os registros nos
dizem de uma escola que hesita entre coibir e promover a expressatildeo das muitas
linguagens da imaginaccedilatildeo e movimento das crianccedilas
Na semana de 2310 a 2710 e como previsto na reuniatildeo de pais a professora realizou a sondagem com as crianccedilas Teoricamente sei como funciona o procedimento mas me questiono se deve ser realizada na Ed Infantil Tambeacutem me pergunto se a sondagem vai muito aleacutem do conhecimento das crianccedilas Por exemplo algumas escrevem o proacuteprio nome
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e algumas palavras mais comuns a elas outras ainda nem reconhecem as letras do alfabeto A sondagem feita abarcou o nome palavras simples um pouco mais complexas e uma frase inteira A minha duacutevida eacute se a sondagem que vai muito aleacutem dos conhecimentos da sala eacute comum e necessaacuteria ainda mais na Ed Infantil (Relato do residente N 2017)
O debate em torno das questotildees que envolvem a escolarizaccedilatildeo de crianccedilas
pequenas eacute bastante antigo e recorrente Pesquisas como as de Neves Castanheira
e Gouveia (2015) assinalam a partir de autores que estudaram essa temaacutetica como
a perspectiva escolarizante de trabalho com a crianccedila pequena traz seacuterias implicaccedilotildees
para o desenvolvimento infantil justamente porque rompe com as formas como elas
ldquointeragem com a escrita fora da escola destituindo-a de significados pessoais e
sociais e dificulta portanto que as atividades desenvolvidas no espaccedilo escolar
envolvam a ludicidade caracteriacutestica fundamental dessa fase do desenvolvimentordquo
(p 217)
Os residentes parecem estar muito atentos a essas questotildees porque participam
de discussotildees sistemaacuteticas sobre o assunto tanto nas aulas teoacutericas na Universidade
quanto nas reuniotildees de orientaccedilatildeo com os preceptores do Programa de Residecircncia
Muitos estudantes satildeo levados a refletir sobre o assunto logo nos primeiros dias de
imersatildeo na escola
Resolvi mudar o formato do meu relato referente agrave imersatildeo inicial Pois passei por uma situaccedilatildeo em sala que me provocou tal accedilatildeo Devido agrave imposiccedilatildeo de escolarizaccedilatildeo percebida na turma na qual acompanho Onde hoje me emocionei com o choro insistente do aluno BG com as matildeos estremecidas na tentativa de segurar o laacutepis para ldquofazer liccedilatildeordquo (Relato da Residente M 2015)
A partir do relato da residente percebe-se o quanto a questatildeo eacute relevante para
o campo da educaccedilatildeo infantil e da formaccedilatildeo de professores Nas observaccedilotildees e
relatos dos cadernos de campo natildeo eacute incomum aparecerem longas narrativas sobre
os equiacutevocos que ocorrem nas praacuteticas pedagoacutegicas que envolvem a alfabetizaccedilatildeo e
letramento das crianccedilas pequenas Consideramos que questotildees como essas quando
problematizadas pelos estudantes nos horaacuterios de preceptoria ou mesmo nas
discussotildees com professores especialistas sobre o tema tendem a aproximaacute-los de
uma futura praacutetica profissional em que o trabalho com o desenvolvimento da escrita
seja realizado de forma a respeitar a infacircncia natildeo negando agrave crianccedila o seu direito ao
luacutedico mas tratando a apresentaccedilatildeo do mundo letrado como mais um momento
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prazeroso de aprendizagens Tal reflexatildeo eacute importante para os futuros professores
para que busquem compreender como inserir as crianccedilas no mundo letrado de
maneira que possam romper com a dicotomia entre o brincar e a leituraescrita
tomando como referecircncia o significado dessas accedilotildees para a crianccedila possibilitando a
conduccedilatildeo dos trabalhos na educaccedilatildeo infantil que tornem possiacutevel o brincar ldquoletrando
e alfabetizandordquo (NEVES CASTANHEIRA E GOUVEIA 2015)
Outra temaacutetica que aparece num nuacutemero expressivo de postagens diz respeito
ao olhar do residente para as praacuteticas educativas e as interaccedilotildees que ocorrem na
escola com relaccedilatildeo agrave inclusatildeo escolar das crianccedilas percebidas como ldquodiferentesrdquo
Destaca-se nesta temaacutetica observaccedilotildees a respeito de diferenccedilas de religiatildeo gecircnero
raccedilacor e tambeacutem aquelas relacionadas agrave deficiecircncia Haacute descriccedilotildees sobre como as
crianccedilas lidam com as diferenccedilas e as formas como os professores trabalham com
aquelas que possuem alguma dificuldade Algumas postagens ressaltam a
necessidade de formaccedilatildeo inicial e continuada dos educadores para lidarem com a
diversidade na escola
Pela primeira vez vivenciei preconceito racial de uma crianccedila com outra Nos momentos em que a profa distribui lego para as crianccedilas ela daacute tambeacutem um bonequinho para cada crianccedila Tem bonecos adultos crianccedilas homens mulheres e de diversas cores Os bonecos satildeo dados aleatoriamente ou escolhidos pela crianccedila conforme a professora passa de mesa em mesa Neste dia um menino negro estava com um boneco negro Um garoto se aproximou e disse ldquoCredo que boneco feio parece vocecircrdquo se direcionando ao menino O menino deu de ombros e continuou a brincar e poucos minutos depois a menina que estava ao seu lado me perguntou ldquoPor que o boneco dele eacute pretinho Eacute muito feiordquo Claro que conversei com ela e com o outro menino em outro momento calmamente falando das diversas cores que as pessoas tecircm e que natildeo haacute isso de feio e bonito aproveitando para falar sobre diversidade e etc Mais para o final da conversa a menina me disse ldquoMeu pai eacute pretinho ele eacute bonitordquo Respondi a menina dizendo que a beleza natildeo estaacute na cor da pele do cabelo ou dos olhos A cena toda me fez refletir que a menina jaacute deve ter ouvido esse tipo de afirmaccedilatildeo errocircnea Jaacute comentei mais de uma vez sobre o preconceito de gecircnero ser muito forte mas e o racial algueacutem mais vivenciou esse tipo de preconceito durante esta residecircncia (Relato do residente T 2017)
Rosemberg (2014) chama a atenccedilatildeo para o tema da diversidade como uma
questatildeo circunscrita na histoacuteria da humanidade A diferenciaccedilatildeo entre os grupos
humanos ou pessoas com atributos que classificam e separam o ldquoeurdquo do ldquooutrordquo
parece constituir as diversas manifestaccedilotildees de culturas humanas Assim a autora
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desnaturaliza a identidade e a diferenccedila apontando o seu caraacuteter cultural social e
histoacuterico Contudo esse eacute um dos temas que tem chamado cada vez mais a atenccedilatildeo
de educadores desde a educaccedilatildeo infantil jaacute que muitas vezes as questotildees que
envolvem a diferenccedila e o diferente passam por processos discriminatoacuterios e
preconceituosos como apontado no relato do estudante ao observar as interaccedilotildees
entre as crianccedilas no que se refere ao quesito raccedilacor
Marinho e Martins (2016) em estudo sobre formaccedilatildeo de professoras que atuam
na educaccedilatildeo infantil constatam a escassez ou inexistecircncia de disciplinas na formaccedilatildeo
inicial de professores que abarquem as questotildees eacutetnico-raciais denunciando o natildeo
cumprimento das leis que entre outras prescriccedilotildees preveem que instituiccedilotildees de niacutevel
superior proporcionem aos futuros(as) professoresas a formaccedilatildeo adequada para
lidarem com as relaccedilotildees raciais multieacutetnica e multicultural da sociedade brasileira
Nesse sentido ao trazerem suas inquietaccedilotildees sobre como as crianccedilas lidam com as
diferenccedilas no contexto da escola os residentes se aproximam das discussotildees a
respeito dos processos discriminatoacuterios oportunizando momentos em que tais
temaacuteticas possam ser discutidas entre professores preceptores e colegas do
programa de estaacutegio
Aleacutem da questatildeo racial outros relatos nos datildeo conta de refletir e discutir sobre
as relaccedilotildees que envolvem as crianccedilas com deficiecircncia na escola
() O que me chamou atenccedilatildeo foi que na quarta (2204) H chegou na escola e decidiu mudar de lugar foi sentar bem ao lado do D (uma crianccedila que foi diagnosticada com autismo de ldquograu leverdquo segundo a professora) eu fiquei observando como seria a relaccedilatildeo deles H trouxe um caderno de desenho o abriu na mesa e dividiu metade da folha para ele e para D depois na hora de descer ele segurou a matildeo do D e ficou durante o almoccedilo todo cuidando de D o orientou a pegar a comida sentar comer devagar e quando natildeo quisesse mais deveria jogar a comida no lixo e durante todo o dia H permaneceu cuidando de D A professora achou estranho pois naquele dia ela natildeo havia chamado a atenccedilatildeo de H ateacute me falou ldquoEle deve estar aprontando e D eacute bobatildeo pode se machucarrdquo e decidiu intervir e pediu para que H mudasse de lugar e parasse de cuidar de (Relato do residente L 2015)
A partir da narrativa eacute possiacutevel refletir sobre o preparo dos professores para
lidar com as diferenccedilas individuais na educaccedilatildeo infantil A inclusatildeo escolar de crianccedilas
com deficiecircncia ocorre mediante poliacuteticas puacuteblicas de inclusatildeo contudo haacute uma
grande distacircncia entre a poliacutetica puacuteblica e a praacutetica pedagoacutegica nos contextos
escolares pois natildeo se aprofunda ldquoo debate sobre os meios os fins e as estrateacutegias
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para a implementaccedilatildeo da poliacutetica de ampliaccedilatildeo da rede de educaccedilatildeo infantilrdquo
(BRUNO 2008 p 59)
Outros registros que tratam da temaacutetica da inclusatildeo de crianccedilas com
deficiecircncia mostram o quanto a escola estaacute despreparada para lidar com essa
questatildeo Os relatos e inquietaccedilotildees dos estudantes nos possibilitam a identificaccedilatildeo de
processos discriminatoacuterios de resistecircncias e acomodaccedilotildees dos profissionais e do
distanciamento de uma praacutetica verdadeiramente inclusiva na esfera das praacuteticas
educativas cotidianas O que se percebe nas discussotildees sobre o assunto eacute que os
residentes enquanto futuros professores muito tecircm a aprender sobre a acolhida das
famiacutelias e das crianccedilas ldquodiferentesrdquo ou com deficiecircncia na constante reflexatildeo sobre o
comportamento atitudes e posturas do educador frente ao trabalho pedagoacutegico
Outras temaacuteticas tatildeo importantes como as que discutimos aqui tem sido objeto
de interesse dos estudantes em processo de imersatildeo nas escolas-campo Haacute uma
gama de registros sobre categorias que envolvem a crianccedila pequena nas atividades
do brincar a disciplina e a coerccedilatildeo dos educadores na tentativa de manter o controle
das crianccedilas e dos comportamentos considerados inadequados Muitos residentes se
surpreendem como essa coerccedilatildeo ocorre demasiadas vezes na escola e nas reuniotildees
de supervisatildeo eacute muito comum questionarem junto ao preceptor formas de
compreender por que algumas praacuteticas coercitivas satildeo tatildeo presentes na educaccedilatildeo
infantil
Consideraccedilotildees Finais
A experiecircncia de estaacutegio no Programa de Residecircncia Pedagoacutegica requer de
estudantes e professores uma atitude de intensa accedilatildeo e reflexatildeo Na perspectiva de
observaccedilatildeo participante eacute que a imersatildeo dos residentes na escola eacute orientada
embora natildeo haja uma intervenccedilatildeo direta planejada e sistemaacutetica sobre os modos de
fazer da escola e dos professores Possiacuteveis intervenccedilotildees sobre a escola suscitadas
pela presenccedila da universidade (de preceptores e residentes) satildeo uma contingecircncia
dos processos de formaccedilatildeo de condiccedilotildees e modos de seu desenvolvimento e eacute assim
que se define o lugar do residente e da preceptoria junto a escola o caraacuteter da
observaccedilatildeo participante a ser realizada durante o estaacutegio e sua conduccedilatildeo e discussatildeo
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no acircmbito escolar As posiccedilotildees dos residentes reeditam questotildees que mobilizam a
imersatildeo e reflexatildeo sobre o vivido como e quando participar O que como e quando
registrar sobre a observaccedilatildeo participante sobre o que se vivencia Como fazer uso
das ferramentas disponiacuteveis na escola e dos subsiacutedios teoacutericos oferecidos durante a
proacutepria residecircncia ou estudados no curso de pedagogia elaborando impressotildees sobre
o que descreve e refletindo sobre o que vive e elabora
A retomada dos escritos e reflexotildees dos estudantes participantes do Programa
de Residecircncia Pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Infantil nos trazem pistas relevantes para a
compreensatildeo natildeo somente dos seus processos formativos mas tambeacutem suscitam
atenccedilatildeo aos temas e questotildees emergentes do cotidiano das crianccedilas nas escolas de
Educaccedilatildeo Infantil Sabe-se que o processo de escrita eacute composto de idas e vindas
de avanccedilos e retrocessos de duacutevidas e certezas percebidas nos textos e contextos
apresentados pelos estudantes neste processo formativo especiacutefico
As postagens guardam caracteriacutesticas especiacuteficas correlatas ao vivido nas
praacuteticas de estaacutegio de acordo com as finalidades comunicativas e formativas do
caderno de campoblog e com especificidades ndash limites e possibilidades ndash que se
dimensionam nestas praacuteticas Os estudantes registram o que observam o que
vivenciam mas natildeo soacute Em muitos registros suas impressotildees (con)fundem-se com o
observado vatildeo aleacutem da descriccedilatildeo interpretando o visto o vivido e outras vezes para
alguns o registro se faz espaccedilo de recuperaccedilatildeo das proacuteprias vivecircncias e dos
elementos teoacutericos estudados
Nesta experiecircncia a liberdade na escolha e escrita dos temas dos cadernos de
campo tem permitido que o processo formativo de cada estudante aconteccedila de forma
uacutenica e original pois apesar de estarem imersos em ambientes semelhantes (em
alguns casos mesmas escolas-campo) e possuiacuterem referenciais teoacutericos semelhantes
(provenientes das unidades curriculares obrigatoacuterias e eletivas do Curso de
Pedagogia) os temas e questotildees que recebem a atenccedilatildeo de cada um satildeo distintos e
trabalhados teoricamente a partir das anguacutestias e inquietaccedilotildees individuais Entretanto
apesar das produccedilotildees escritas serem individuais ao serem publicizadas em reuniotildees
de orientaccedilatildeo ou ateacute no suporte virtual do blog elas podem ser compartilhadas e
tornam-se objeto comum de discussotildees e aprendizagens
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Por fim concluiacutemos assim como Noacutevoa (2000) a propoacutesito das narrativas (auto)
biograacuteficas que a escrita como parte dos processos formativos de professores eacute
capaz de fazer ldquoreaparecer os sujeitos face agraves estruturas e aos sistemas a qualidade
face agrave quantidade a vivecircncia face ao instituiacutedordquo Nesta linha de pensamento
percebemos que eacute possiacutevel ler o mundo e as relaccedilotildees sociais de um sujeito por meio
da sua narrativa produzindo ldquoum outro tipo de conhecimento mais proacuteximo das
realidades educativasrdquo (NOacuteVOA 2000 p 18 19 grifo do autor) e quiccedila
transformador dessas
Referecircncias bibliograacuteficas
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BRAGA Elizabeth dos Santos Viacutedeo escritas leituras recordaccedilotildees cultura e memoacuteria na sala de aula GOacuteES Maria Cecilia Rafael e SMOLKA Ana Luiza Bustamante A significaccedilatildeo nos espaccedilos Educacionais ndash Interaccedilatildeo social e subjetivaccedilatildeo Campinas Papirus Editora1997 p 87-110
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MARTINS Thaiacutes Regina Miranda SLAVEZ Milka Helena Carrilho Um estudo sobre programas de iniciaccedilatildeo agrave praacutetica profissional de professores no Brasil o PIBID e o estaacutegio de Residecircncia Ensino amp Pesquisa v 13 n 01 p 29-41 2016
MARQUES Danielle Vieira Aquino MUumlLLER Fernanda Experiecircncias com blog na pesquisa e na formaccedilatildeo inicial de professoras de educaccedilatildeo infantil ETD-Educaccedilatildeo Temaacutetica Digital v 14 n 1 p 43-61 2012
MARTINS E Famiacutelia e escola no contexto de um programa de residecircncia pedagoacutegica um estudo a partir do enfoque histoacuterico-cultural Educaccedilatildeo Sociedade amp Culturas v 37 p 89-107 2012
MEKSENAS Paulo Sociologia da educaccedilatildeo uma introduccedilatildeo ao estudo da escola no processo de transformaccedilatildeo social Satildeo Paulo Loyola 2002
MORETTI Vanessa Dias MARTINS Edna Atividade de ensino mediaccedilatildeo e aprendizagem da docecircncia na residecircncia pedagoacutegica uma anaacutelise a partir da teoria histoacuterico-cultural Revista Contrapontos v 15 n 3 p 394-411 2015
MORETTI Vanessa Dias A articulaccedilatildeo entre a formaccedilatildeo inicial e continuada de professores que ensinam matemaacutetica o caso da Residecircncia Pedagoacutegica da Unifesp Revista Educaccedilatildeo Porto Alegre 2011 v 34 n 3 p 385-390 2011
NEVES Vanessa Ferraz Almeida CASTANHEIRA Maria Luacutecia GOUVEcircA Maria Cristina Soares O letramento e o brincar em processos de socializaccedilatildeo na educaccedilatildeo infantil brincadeiras diferentes Revista Brasileira de Educaccedilatildeo v 20 n 60 p 215-
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NOacuteVOA Antoacutenio Os professores e as Histoacuterias da Sua Vida In NOacuteVOA Antoacutenio (org) Vidas de Professores 2ordf ed Porto Porto Editora p 18-30 2000
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POLADIAN Marina Lopes Pedrosa Estudo sobre o Programa de residecircncia pedagoacutegica da Unifesp uma articulaccedilatildeo entre Universidade e escola na formaccedilatildeo de professores Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Psicologia da Educaccedilatildeo) - Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo 2014
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TARDIF Maurice A profissionalizaccedilatildeo do ensino passados trinta anos dois passos para a frente trecircs para traacutes Educaccedilatildeo e Sociedade Campinas SP v34 n123 p
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VYGOTSKY Lev Semyonovich Desarrollo de las funciones psiacutequicas superiores en la edad de transicion in l s vygotski obras escogidas iv Paidologiacutea del adolescente Madrid Machado Libros Tomo IV 19302006a
Correspondecircncia
Edna Martins ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo (UNIFESP)
Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Maria de Faacutetima Carvalho ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Renata Marciacutelio Cacircndido ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Universidade Federal de Satildeo Paulo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo R
Sena Madureira 1500 ndash Vila Clementino CEP 04021-001 Satildeo Paulo Satildeo Paulo
Brasil
E-mail emartinsunifespgmailcom ndash carvalhomdfgmailcom ndash
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tambeacutem envolvem a orientaccedilatildeo sobre aspectos de ordem legal como por exemplo
jamais assumir sozinho a sala de aula em que estatildeo fazendo a residecircncia
Como unidade curricular obrigatoacuteria a RPEI prevecirc em sua ementa que os
alunos deveratildeo construir conhecimentos a partir de identificaccedilatildeo e anaacutelise de relaccedilotildees
e praacuteticas que perfazem o dia a dia da escola de Educaccedilatildeo Infantil atentando para o
seu caraacuteter educacional e pedagoacutegico assim como para os processos de gestatildeo
institucional Esse processo de construccedilatildeo de conhecimentos sobre o que vivenciam
eacute mediado pelo uso de instrumentos de pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo
Concomitantemente enquanto participam do dia a dia na escola planejam e elaboram
planos de accedilatildeo pedagoacutegica em colaboraccedilatildeo com os supervisores do estaacutegio e
educadores das escolas-campo
No processo de imersatildeo espera-se que o residente natildeo apenas observe mas
possa dar apoio ao professor de classe em suas praacuteticas pedagoacutegicas cotidianas e na
sua relaccedilatildeo com as crianccedilas com idade entre 0 e 5 anos Cotidianamente tais
residentes devem ser encorajados a atuarem com pequenas accedilotildees junto agraves crianccedilas
com a orientaccedilatildeo dos professores que o acompanham Durante quatro semanas no
processo intenso de imersatildeo na realidade da escola os residentes devem construir
registros diaacuterios das experiecircncias vividas em campo aleacutem de outros materiais que
tecircm origem na observaccedilatildeo participativa do dia a dia escolar e serviratildeo de avaliaccedilatildeo
final tendo elaboraccedilatildeo orientada e aferida pelo professor preceptor da Universidade
Dessa perspectiva o residente tambeacutem eacute solicitado a refletir sobre sua proacutepria
atuaccedilatildeo participando ativamente de um processo de contiacutenua auto avaliaccedilatildeo
Eacute objetivo do Programa em todas as suas modalidades que os graduandos
possam retomar de forma reflexiva o que vivenciam na escola Na modalidade de
Educaccedilatildeo Infantil eacute esperado que o estudante residente possa desenvolver anaacutelises
criacutetico-reflexivas acerca da instituiccedilatildeo no qual estaacute imerso no que se refere agrave interaccedilatildeo
com as famiacutelias e agrave comunidade em seu entorno assim como sobre as praacuteticas
pedagoacutegicas realizadas nesses locais a partir do reconhecimento da crianccedila como
sujeito de direito e de toda a legislaccedilatildeo que diz respeito a essa modalidade de ensino
De acordo com o cronograma da Unidade Curricular Residecircncia Pedagoacutegica
em Educaccedilatildeo Infantil os estudantes devem ir durante quatro dias da semana para a
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escola e um dia para a Universidade para supervisatildeo com o preceptor que eacute um
docente da Universidade Na escola cumprem o horaacuterio da turma que acompanham
em turno que pode ser matutino vespertino ou intermediaacuterio Natildeo satildeo toleradas faltas
ou atrasos sem justificativa meacutedica objetivando-se desta forma colocar os alunos
diante da responsabilidade do compromisso profissional assumido perante a escola
Durante as duas primeiras semanas de imersatildeo os estudantes satildeo orientados
a descrever no diaacuterio de campo o que observam e suas impressotildees sobre a escola
as relaccedilotildees entre professorcrianccedilas crianccedilacrianccedila escolacomunidade
famiacuteliasescola professorprofessor professorgestatildeo e praacuteticas educativas do
cotidiano que satildeo observadas mais atentamente Neste primeiro momento aleacutem da
cobranccedila para que o aluno escreva sobre suas vivecircncias o preceptor busca ajudaacute-lo
na construccedilatildeo dos registros do caderno de campo assinalando sobre as posturas de
descriccedilatildeo e de reflexatildeo na elaboraccedilatildeo sobre suas impressotildees sobre aquilo que eacute
observado
Antes de serem executados os planos pedagoacutegicos de cada estudante satildeo
apresentados para os professores formadores e coordenador nas escolas durante
reuniatildeo realizada na ldquoHora Atividaderdquo com a participaccedilatildeo do professor preceptor Este
tem se constituiacutedo um momento iacutempar de aprendizagem para todos os envolvidos jaacute
que nesta ocasiatildeo os estudantes compartilham seus conhecimentos suas
experiecircncias expectativas e apreensotildees e onde explicitam-se possibilidades de
articulaccedilatildeo escola-universidade no acircmbito da formaccedilatildeo de professores Eacute na uacuteltima
semana de imersatildeo que os estudantes colocam seus planos de accedilatildeo pedagoacutegica em
praacutetica nas salas em que estatildeo imersos fechando o ciclo previsto pelo estaacutegio
Metodologia analisando as temaacuteticas do caderno de campo online (Blog)
Alguns grupos de residentes da RPEI conforme opccedilatildeo dos professores
preceptores usam um blog para a construccedilatildeo online de um caderno de campo que
integra a elaboraccedilatildeo de seus registros sobre a imersatildeo na escola Esses registros ndash
que chamamos de postagens aleacutem de possibilitar um olhar mais apurado sobre as
praacuteticas cotidianas podem contribuir para a orientaccedilatildeo e a construccedilatildeo do Plano de
Accedilatildeo Pedagoacutegica de cada residente e posteriormente para a escrita de um relatoacuterio
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final de estaacutegio pelo grupo Eacute sobre os registros do blog que incidiraacute nossa anaacutelise
considerando para tanto inquietaccedilotildees observaccedilotildees e reflexotildees registradas pelos
residentes nos anos de 2015 2016 e 2017
O blog da residecircncia ou diaacuterio de campo online consiste em uma ferramenta
virtual na qual satildeo realizados os registros de observaccedilotildees e experiecircncias significativas
vividas pelos residentes cotidianamente na escola Destaca-se que tal ferramenta eacute
de acesso restrito e apenas um uacutenico grupo de alunos e professores preceptores da
Universidade podem participar em cada escola acompanhada Deste modo nem os
professores ou quaisquer pessoas das escolas-campo podem acessar tal instrumento
O blog eacute construiacutedo pelo professor preceptor a cada novo grupo de residentes
assegurando o sigilo das informaccedilotildees registradas A ferramenta possibilita a
construccedilatildeo coletiva de diaacutelogos sobre questotildees observadas e a mediaccedilatildeo dos
conhecimentos dos residentes pelos seus supervisores Assim os estudantes podem
realizar trocas sobre suas vivecircncias muitas vezes similares agraves que ocorrem na mesma
instituiccedilatildeo ainda que estejam em turmas de idades diferentes Permite tambeacutem que
preceptores acompanhem diariamente seus residentes respondendo as indagaccedilotildees
e inquietaccedilotildees do grupo que participa do dia-a-dia na escola
Aleacutem de cumprir todos os objetivos de um caderno de campo comum o blog
permite ao preceptor mesmo agrave distacircncia o acompanhamento contiacutenuo do grupo de
estudantes o que lhe permite planejar as atividades semanais de supervisatildeo de forma
a responder as demandas dos alunos e esses uacuteltimos de compartilharem seus
diferentes pontos de vistas e as accedilotildees desenvolvidas na escola Assim no contexto
da residecircncia pedagoacutegica o blog ou caderno de campo online eacute o espaccedilomomento
de realizaccedilatildeo dos registros de observaccedilotildees e experiecircncias significativas vividas
cotidianamente na escola de educaccedilatildeo infantil e de acompanhamento e
problematizaccedilatildeo dessas vivecircncias pelos preceptores
Nesse caminho assinala-se a contribuiccedilatildeo de Vygotsky (1981) quando aponta
que as relaccedilotildees humanas satildeo sempre mediadas pelo meio social e pelos instrumentos
e signos que fazem parte das relaccedilotildees e dos contextos em que o homem estaacute inserido
Desse modo
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A atividade praacutetica do homem portanto se faz duplamente mediada de uma parte estaacute mediada pelas ferramentas no sentido literal da palavra e de outra parte mediada pelas ferramentas no sentido figurado pelas ferramentas do pensamento pelos meios com a ajuda dos quais se realiza a operaccedilatildeo intelectual ou seja mediada com a ajuda das palavras (VYGOTSKI 19302006a p 165)
Nessa direccedilatildeo conveacutem destacar a importacircncia do blog como instrumento social
representativo da incorporaccedilatildeo da tecnologia ao dia a dia dos estudantes e da
consideraccedilatildeo da mediaccedilatildeo tecnoloacutegica em processos de aprendizagem e
desenvolvimento dos graduandos
Diferente de outras formas de relacionamento virtual (e-mail chat instant
messages listas de discussatildeo etc) e de ferramentas virtuais convencionais ndash como
os sites ndash o blog caracteriza-se pela facilidade de sua criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo o que eacute
definido pela organizaccedilatildeo automaacutetica das mensagens ndash posts ndash pelo sistema
dinamizando seu uso e favorecendo a construccedilatildeo de diaacuterios coletivos mantidos por
vaacuterios usuaacuterios Tais caracteriacutesticas favorecem o uso do blog em processos de ensino-
aprendizagem tendo em vista a interaccedilatildeo a troca o diaacutelogo como forma de partilha e
construccedilatildeo de conhecimentos (MARQUES MULLER 2012)
O blog permite portanto o compartilhamento de informaccedilotildees e a interaccedilatildeo
entre estudantes do mesmo grupo e o mesmo preceptor em uma mesma escola
Todos podem ler e comentar as postagens funcionando como um ponto de encontro
entre alunos e preceptores Assim nossa atenccedilatildeo agraves postagens dos estudantes no
blog eacute dirigida pelo objetivo de dar visibilidade a dimensatildeo social das praacuteticas de
registro do observadovivido nos processos formativos que emergem na experiecircncia
de Residecircncia Pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Infantil Assumimos o caraacuteter histoacuterico-
cultural da pesquisa do meacutetodo do objeto de estudo e do proacuteprio conhecimento como
construccedilatildeo que se realiza entre sujeitos (FREITAS 2009) Dessa forma acredita-se
que o momento de elaboraccedilatildeo do vivido ndash o registro no caderno de campoblog ndash
deflagra no estudante a necessidade de reflexatildeo sobre os processos de ensino-
aprendizagem em curso no acircmbito do estaacutegio-residecircncia pedagoacutegica
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Registros no caderno de campo online o olhar do residente sobre a escola de
educaccedilatildeo infantil
Nos primeiros dias de imersatildeo na escola os residentes satildeo orientados a
realizar uma observaccedilatildeo atenta dos espaccedilos da instituiccedilatildeo A partir da leitura do texto
de Silva e Bufalo (2011) sobre culturas escolares os residentes descrevem em seus
primeiros registros detalhes fiacutesicos sobre a escola Muitos acabam desenhando a
planta baixa ou tirando fotos de salas de aulas parques e paacutetios e compartilhando no
caderno de campo online (blog) para comeccedilarem a pensar sobre o contexto e os
espaccedilos que podem favorecer a aprendizagem e o desenvolvimento da crianccedila
pequena como descrito no excerto abaixo
Uma coisa que me chamou atenccedilatildeo foi que natildeo possuem um espaccedilo para atividade fiacutesica essas satildeo realizadas no paacutetio que eacute proacuteximo as salas o barulho acaba atrapalhando os demais O parque estaacute interditado por ordem da diretora ou seja natildeo possuem lugar para brincar O dia das crianccedilas foi pautado em ficar sentado e quieto vendo um filme que a maioria jaacute tinha assistido (Relato da residente N 2017)
Formas de organizaccedilatildeo de espaccedilos e tempos remetem agrave organizaccedilatildeo da rotina
Sobre esse tema grande quantidade de postagens textos diz respeito a como as
atividades diaacuterias satildeo organizadas na escola Em alguns registros como o
apresentado a seguir aparece a problematizaccedilatildeo da forma de organizaccedilatildeo das
atividades
730 (15min) - a professora colocou o cabeccedilalho na lousa com a data e fez a contagem coletiva das crianccedilas 745 (45min) - a professora retomou o que eles haviam aprendido sobre os iacutendios entregou massinha e os orientou a modelar utensiacutelios indiacutegenas 830 (35min) - pintura de desenho xerocado que seraacute colado na capa do caderno de atividades 905 (25min) - brincadeira livre no paacutetio interno no brinquedatildeo que fica no final da escadarampa sup2940 (30min) - brincadeira em sala Gato mia 1010 (ateacute as crianccedilas irem embora) - a professora entregou uma folha com a letra da canccedilatildeo 1 2 3 indiozinhos cantou a muacutesica com eles sentados em seus lugares pediu para eles circularem as letras A e I e depois pintar a ilustraccedilatildeo () (Relato da residente J 2015)
A rotina observada e registrada pela residente configura-se como um dos
aspectos mais relevantes na vida da crianccedila que se encontra na escola de Educaccedilatildeo
Infantil Barbosa (2006) aponta que esse eacute um dos elementos que integram as praacuteticas
educativas que devem ser observadas e planejadas com regularidade objetivando a
operacionalizaccedilatildeo do cotidiano da escola de maneira que possa contribuir na
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constituiccedilatildeo da subjetividade dos atores escolares Desse modo pensar e
compreender a rotina como um fator presente e essencial na educaccedilatildeo de crianccedilas
pequenas eacute um passo promissor para que o residente acompanhe como as atividades
cotidianas da escola se materializam e datildeo base para a organizaccedilatildeo da praacutetica
pedagoacutegica devendo estar presente no desenvolvimento curricular
O planejamento das atividades na educaccedilatildeo infantil tem estreita ligaccedilatildeo com a
rotina Ao observar e refletir sobre a vida e as experiecircncias das crianccedilas na escola os
residentes satildeo remetidos a memoacuteria agrave lembranccedila do que tambeacutem foi um dia vivido
por eles em suas experiecircncias escolares Como apontado por Meksenas (2002)
ldquonunca somos testemunhas objetivas observando objetos e sim sujeitos observando
outros sujeitosrdquo (p 116)
Estive tentando lembrar nas uacuteltimas semanas o que eu fazia na minha preacute-escola Eu comecei no maternal com 3 anos ()Tenho vagas lembranccedilas de duas salas de aula uma do preacute III e a outra acho que era do preacute I Era uma escola particular dessas pequenas de bairro Lembro que a turma natildeo era tatildeo numerosa quanto essa que estou vendo na residecircncia mas a sala tinha uma organizaccedilatildeo parecida eram mesas e cadeiras enfileiradas nas duas () Eu estava com 5 anos Lembro que a gente tinha uma apostila no preacute I eu gostava de terminar tudo raacutepido para dormir Depois a professora comeccedilou a me dar gibi para eu ficar folheando Tenho na minha memoacuteria que as coisas que a gente fazia na escola eram chatas e muito infantis bobas demais Agora eu penso talvez as professoras ficassem me ocupando com massinha e pinturas todo dia tambeacutem como eu vejo na residecircncia e por isso eu achava muito chato O que seraacute que essas crianccedilas pensam disso O que seraacute que elas acham mais legal na escola Eu vejo que elas gostam muito de fazer liccedilatildeo essas de folhinha que a professora daacute e todos os dias elas perguntam Mas eu natildeo me conformo como elas acham isso tatildeo legal (Relato da Residente F 2017)
Sabemos que a memoacuteria eacute mediada pelo signo pelas interaccedilotildees sociais pelo
outro Braga (1997) dirige nosso olhar para o ldquoprocesso de apropriaccedilatildeo das formas
culturais de interaccedilatildeo que caracterizam a memoacuteria humanardquo Para a autora ldquoa
memoacuteria do homem soacute se configura no movimento discursivo e coletivo por sua
natureza cultural e simboacutelicardquo No registro acima o observado mobiliza as lembranccedilas
da residente aquilo que foi tambeacutem vivido na escola de sua infacircncia Entre lembranccedilas
e interrogaccedilotildees emergem as construccedilotildees formativas em um processo dinacircmico ndash
interativo cultural e simboacutelico Processo que potildeem em relaccedilatildeo vivecircncias atuais e
passadas que invocam sentidos e significados atribuiacutedos ao vivido que ocorre nas
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contradiccedilotildees entre aquilo que eacute rememorado pela estudante e o que efetivamente eacute
observado nas relaccedilotildees estabelecidas no contato com o cotidiano da escola
Aleacutem da rotina e da organizaccedilatildeo de tempos e espaccedilos em sua relaccedilatildeo com as
praacuteticas pedagoacutegicas os relatos dos estudantes se reportam agraves diferentes dimensotildees
da gestatildeo escolar Os registros destacam suas observaccedilotildees nas H A (hora atividade)
ou reuniotildees que eventualmente participam e com frequecircncia observam a postura da
equipe em relaccedilatildeo a presenccedila do residente Em seus relatos questionam o caraacuteter
da gestatildeo a qualidade da relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo entre os professores as discussotildees
que remetem a construccedilatildeo e discussatildeo do projeto poliacutetico pedagoacutegico e os papeis
desempenhados pelos diferentes educadores na construccedilatildeo do trabalho de educaccedilatildeo
da infacircncia
Completamos nesta semana 4 dias de participaccedilatildeo nas Horas Atividades (HA) destinada agrave formaccedilatildeo docente organizaccedilatildeo dos registros e planejamento das atividades pedagoacutegicas O que pude por meio da observaccedilatildeo constatar que o papel do Coordenador Pedagoacutegico que eacute fundamental nesse momento de formaccedilatildeo pois eacute ele o mediador desse processo acaba por se tornar distante e sem intervenccedilotildees no que adentra a orientaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico docente (Relato da estudante M 2015)
Na experiecircncia cotidiana de imersatildeo na escola eacute possiacutevel verificar as tensotildees
vivenciadas entre os professores e o papel da coordenaccedilatildeo pedagoacutegica A teoria
discutida na universidade pelos residentes assinala a importacircncia do papel do
coordenador pedagoacutegico na educaccedilatildeo infantil na praacutetica o residente percebe o quanto
a sua mediaccedilatildeo eacute fundamental na organizaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico e por outro
lado o quanto a sua ausecircncia pode interferir de forma negativa na orientaccedilatildeo das
atividades dos professores
Outra personagem que acaba sendo central na gestatildeo escolar eacute a direccedilatildeo que
nessa experiecircncia do residente tambeacutem eacute observada de forma criacutetica
A figura da diretora na escola foi a que mais me chamou a atenccedilatildeo ()imaginem que em nenhum momento percebi qualquer aproximaccedilatildeo da diretora com as crianccedilas em vaacuterios momentos acreditei que ela fosse algum teacutecnico administrativo pois apesar de estar no topo da piracircmide a referecircncia da gestatildeo a mesma se restringia a secretaria e natildeo se relacionava natildeo nos conhecia nem procurava nos conhecer Passou diversas vezes por grupos de crianccedilas e em nenhuma das vezes sequer olhou para elas Nunca apareceu em uma HA nunca percebi o seu contato com os professores e por diversas vezes me perguntei como eles se falavam qual era o seu relacionamento (Relato da residente B 2015)
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Sobre esse assunto estudos como os de Paro (2005) e Castro (2009) tem
assinalado o papel da gestatildeo e da administraccedilatildeo escolar como alicerce fundamental
nos processos de transformaccedilatildeo da escola puacuteblica brasileira Tais trabalhos tecircm
apontado a centralidade da direccedilatildeo escolar nas questotildees que envolvem os processos
de ensino e aprendizagem e as relaccedilotildees humanas presentes na equipe de trabalho
para aleacutem dos trabalhos administrativos e burocraacuteticos Natildeo eacute objetivo deste trabalho
fazer uma anaacutelise do papel do diretor na escola de educaccedilatildeo infantil mas cabe
assinalar que os estudantes residentes apontam o tema em seus registros e atentos
agraves demandas relativas ao papel do diretor indagam se como e quanto as lideranccedilas
escolares tecircm se envolvido com o trabalho administrativo dispendendo tempo para
um olhar mais atento agraves relaccedilotildees entre os professoresalunos funcionaacuterios da escola
observada
Em relaccedilatildeo agraves interaccedilotildees humanas outros registros dos residentes nos
remetem agraves maneiras como a escola lida com as famiacutelias das crianccedilas matriculadas
nas escolas Tais relatos natildeo satildeo tatildeo frequentes possivelmente porque essa eacute uma
relaccedilatildeo que se caracteriza pela assimetria de poderes e eacute pouco valorizada no dia a
dia escolar Os registros evocam situaccedilotildees vividas comentaacuterios ouvidos e
principalmente a necessidade de mudanccedila dos modos de conceber a crianccedila e suas
famiacutelias e de interagir com elas
A relaccedilatildeo entre professor e famiacutelia eacute mais uma dessas conexotildees que fazemos pela vida Por um lado haacute um profissional uma pessoa que estudou e eacute especialista em cuidar de crianccedilas Por outro famiacutelias que dificilmente conseguimos de fato perceber como satildeo suas estruturadas Famiacutelia hoje eacute coisa difiacutecil de entender Eacute matildee que mora sozinha com o filho eacute pais que trabalham e deixam os filhos na semana com tios avoacutes Eacute matildee solteira Eacute filho criado por pai viuacutevo Eacute histoacuteria que natildeo acaba mais Na hora da saiacuteda vamos conhecendo um pouquinho da estrutura familiar de cada crianccedila tentando perceber como se daacute a relaccedilatildeo entre a famiacutelia e a escola mas devemos ter um pouco de cuidado com esse processo (Relato do estudante J 2015)
Aleacutem da residente ter um olhar para os diferentes tipos de arranjos familiares
tambeacutem busca compreender a especificidade de cada famiacutelia considerando o papel
da mulher e de matildee trabalhadora com filhos na escola puacuteblica
(hellip) Veja esses apontamentos uma menina na sala estaacute com piolho a professora disse que jaacute alertou a matildee mas como eacute matildee solteira soacute pode cuidar da filha no domingo O outro menino que natildeo se interessa pelas atividades e responde a educadora tambeacutem teve a matildee notificada mas como
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a mesma eacute separada do marido natildeo faz nada O fato da mulher trabalhar a semana e ter folga aos domingos natildeo significa que ela seja uma maacute matildee pelo contraacuterio significa que ela rala muito para colocar comida no prato A presenccedila ou natildeo de um homem natildeo condiciona nada A escola natildeo pode ser um ambiente de roacutetulos ela deve estar aberta agraves diferenccedilas acolhendo e buscando outras maneiras e formas de aproximaccedilatildeo com a famiacutelia compreendendo a responsabilidade compartilhada que carregam (Registro da residente B 2015)
Os relatos demonstram natildeo soacute o quanto estatildeo atentos para como a escola lida
com as relaccedilotildees familiares mas sobretudo assinalam como tecircm se configurado as
formaccedilotildees das famiacutelias na atualidade Um estudo de Martins (2012) aponta o quanto
a experiecircncia de residecircncia pedagoacutegica possibilita aos estudantes um contato mais
expressivo com a realidade da escola puacuteblica de periferia urbana Aleacutem de observar
as relaccedilotildees institucionais o residente pode ser sensibilizado frente agraves dificuldades
vividas pelas famiacutelias e tendem a perceber o preconceito em relaccedilatildeo aos vaacuterios
arranjos familiares vivenciados pelas crianccedilas mais pobres e como a escolarizaccedilatildeo
dos pais pode afetar a vida dos filhos Os registros dos residentes demonstram como
ldquoos contextos de vida das crianccedilas que frequentam a escola puacuteblica de periferia
passam a ser compreendidos de uma forma concreta e as relaccedilotildees do espaccedilo familiar
com o espaccedilo escolar passam a ter uma conexatildeo cotidianardquo (MARTINS 2012 p 95)
Outra temaacutetica recorrente nos registros dos estudantes diz respeito ao processo
de escolarizaccedilatildeo das praacuteticas da educaccedilatildeo da infacircncia Tal perspectiva surge quando
os residentes referem aos usos dos brinquedos e agraves brincadeiras agrave presenccedila da
leitura e contaccedilatildeo de histoacuterias aos modos de introduccedilatildeo do desenho ao uso de novas
tecnologias e aos modos de avaliar agraves crianccedilas Tal perspectiva escolarizante emerge
em oposiccedilatildeo ao luacutedico como princiacutepio e forma de organizaccedilatildeo das praacuteticas de
educaccedilatildeo junto agraves crianccedilas pequenas e algumas vezes a ela ainda se articula a
preocupaccedilatildeo em disciplinar as vivecircncias escolares sondagens filas broncas e
silecircncios coexistem com desenhos Tv computadores e brincadeiras Os registros nos
dizem de uma escola que hesita entre coibir e promover a expressatildeo das muitas
linguagens da imaginaccedilatildeo e movimento das crianccedilas
Na semana de 2310 a 2710 e como previsto na reuniatildeo de pais a professora realizou a sondagem com as crianccedilas Teoricamente sei como funciona o procedimento mas me questiono se deve ser realizada na Ed Infantil Tambeacutem me pergunto se a sondagem vai muito aleacutem do conhecimento das crianccedilas Por exemplo algumas escrevem o proacuteprio nome
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e algumas palavras mais comuns a elas outras ainda nem reconhecem as letras do alfabeto A sondagem feita abarcou o nome palavras simples um pouco mais complexas e uma frase inteira A minha duacutevida eacute se a sondagem que vai muito aleacutem dos conhecimentos da sala eacute comum e necessaacuteria ainda mais na Ed Infantil (Relato do residente N 2017)
O debate em torno das questotildees que envolvem a escolarizaccedilatildeo de crianccedilas
pequenas eacute bastante antigo e recorrente Pesquisas como as de Neves Castanheira
e Gouveia (2015) assinalam a partir de autores que estudaram essa temaacutetica como
a perspectiva escolarizante de trabalho com a crianccedila pequena traz seacuterias implicaccedilotildees
para o desenvolvimento infantil justamente porque rompe com as formas como elas
ldquointeragem com a escrita fora da escola destituindo-a de significados pessoais e
sociais e dificulta portanto que as atividades desenvolvidas no espaccedilo escolar
envolvam a ludicidade caracteriacutestica fundamental dessa fase do desenvolvimentordquo
(p 217)
Os residentes parecem estar muito atentos a essas questotildees porque participam
de discussotildees sistemaacuteticas sobre o assunto tanto nas aulas teoacutericas na Universidade
quanto nas reuniotildees de orientaccedilatildeo com os preceptores do Programa de Residecircncia
Muitos estudantes satildeo levados a refletir sobre o assunto logo nos primeiros dias de
imersatildeo na escola
Resolvi mudar o formato do meu relato referente agrave imersatildeo inicial Pois passei por uma situaccedilatildeo em sala que me provocou tal accedilatildeo Devido agrave imposiccedilatildeo de escolarizaccedilatildeo percebida na turma na qual acompanho Onde hoje me emocionei com o choro insistente do aluno BG com as matildeos estremecidas na tentativa de segurar o laacutepis para ldquofazer liccedilatildeordquo (Relato da Residente M 2015)
A partir do relato da residente percebe-se o quanto a questatildeo eacute relevante para
o campo da educaccedilatildeo infantil e da formaccedilatildeo de professores Nas observaccedilotildees e
relatos dos cadernos de campo natildeo eacute incomum aparecerem longas narrativas sobre
os equiacutevocos que ocorrem nas praacuteticas pedagoacutegicas que envolvem a alfabetizaccedilatildeo e
letramento das crianccedilas pequenas Consideramos que questotildees como essas quando
problematizadas pelos estudantes nos horaacuterios de preceptoria ou mesmo nas
discussotildees com professores especialistas sobre o tema tendem a aproximaacute-los de
uma futura praacutetica profissional em que o trabalho com o desenvolvimento da escrita
seja realizado de forma a respeitar a infacircncia natildeo negando agrave crianccedila o seu direito ao
luacutedico mas tratando a apresentaccedilatildeo do mundo letrado como mais um momento
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prazeroso de aprendizagens Tal reflexatildeo eacute importante para os futuros professores
para que busquem compreender como inserir as crianccedilas no mundo letrado de
maneira que possam romper com a dicotomia entre o brincar e a leituraescrita
tomando como referecircncia o significado dessas accedilotildees para a crianccedila possibilitando a
conduccedilatildeo dos trabalhos na educaccedilatildeo infantil que tornem possiacutevel o brincar ldquoletrando
e alfabetizandordquo (NEVES CASTANHEIRA E GOUVEIA 2015)
Outra temaacutetica que aparece num nuacutemero expressivo de postagens diz respeito
ao olhar do residente para as praacuteticas educativas e as interaccedilotildees que ocorrem na
escola com relaccedilatildeo agrave inclusatildeo escolar das crianccedilas percebidas como ldquodiferentesrdquo
Destaca-se nesta temaacutetica observaccedilotildees a respeito de diferenccedilas de religiatildeo gecircnero
raccedilacor e tambeacutem aquelas relacionadas agrave deficiecircncia Haacute descriccedilotildees sobre como as
crianccedilas lidam com as diferenccedilas e as formas como os professores trabalham com
aquelas que possuem alguma dificuldade Algumas postagens ressaltam a
necessidade de formaccedilatildeo inicial e continuada dos educadores para lidarem com a
diversidade na escola
Pela primeira vez vivenciei preconceito racial de uma crianccedila com outra Nos momentos em que a profa distribui lego para as crianccedilas ela daacute tambeacutem um bonequinho para cada crianccedila Tem bonecos adultos crianccedilas homens mulheres e de diversas cores Os bonecos satildeo dados aleatoriamente ou escolhidos pela crianccedila conforme a professora passa de mesa em mesa Neste dia um menino negro estava com um boneco negro Um garoto se aproximou e disse ldquoCredo que boneco feio parece vocecircrdquo se direcionando ao menino O menino deu de ombros e continuou a brincar e poucos minutos depois a menina que estava ao seu lado me perguntou ldquoPor que o boneco dele eacute pretinho Eacute muito feiordquo Claro que conversei com ela e com o outro menino em outro momento calmamente falando das diversas cores que as pessoas tecircm e que natildeo haacute isso de feio e bonito aproveitando para falar sobre diversidade e etc Mais para o final da conversa a menina me disse ldquoMeu pai eacute pretinho ele eacute bonitordquo Respondi a menina dizendo que a beleza natildeo estaacute na cor da pele do cabelo ou dos olhos A cena toda me fez refletir que a menina jaacute deve ter ouvido esse tipo de afirmaccedilatildeo errocircnea Jaacute comentei mais de uma vez sobre o preconceito de gecircnero ser muito forte mas e o racial algueacutem mais vivenciou esse tipo de preconceito durante esta residecircncia (Relato do residente T 2017)
Rosemberg (2014) chama a atenccedilatildeo para o tema da diversidade como uma
questatildeo circunscrita na histoacuteria da humanidade A diferenciaccedilatildeo entre os grupos
humanos ou pessoas com atributos que classificam e separam o ldquoeurdquo do ldquooutrordquo
parece constituir as diversas manifestaccedilotildees de culturas humanas Assim a autora
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desnaturaliza a identidade e a diferenccedila apontando o seu caraacuteter cultural social e
histoacuterico Contudo esse eacute um dos temas que tem chamado cada vez mais a atenccedilatildeo
de educadores desde a educaccedilatildeo infantil jaacute que muitas vezes as questotildees que
envolvem a diferenccedila e o diferente passam por processos discriminatoacuterios e
preconceituosos como apontado no relato do estudante ao observar as interaccedilotildees
entre as crianccedilas no que se refere ao quesito raccedilacor
Marinho e Martins (2016) em estudo sobre formaccedilatildeo de professoras que atuam
na educaccedilatildeo infantil constatam a escassez ou inexistecircncia de disciplinas na formaccedilatildeo
inicial de professores que abarquem as questotildees eacutetnico-raciais denunciando o natildeo
cumprimento das leis que entre outras prescriccedilotildees preveem que instituiccedilotildees de niacutevel
superior proporcionem aos futuros(as) professoresas a formaccedilatildeo adequada para
lidarem com as relaccedilotildees raciais multieacutetnica e multicultural da sociedade brasileira
Nesse sentido ao trazerem suas inquietaccedilotildees sobre como as crianccedilas lidam com as
diferenccedilas no contexto da escola os residentes se aproximam das discussotildees a
respeito dos processos discriminatoacuterios oportunizando momentos em que tais
temaacuteticas possam ser discutidas entre professores preceptores e colegas do
programa de estaacutegio
Aleacutem da questatildeo racial outros relatos nos datildeo conta de refletir e discutir sobre
as relaccedilotildees que envolvem as crianccedilas com deficiecircncia na escola
() O que me chamou atenccedilatildeo foi que na quarta (2204) H chegou na escola e decidiu mudar de lugar foi sentar bem ao lado do D (uma crianccedila que foi diagnosticada com autismo de ldquograu leverdquo segundo a professora) eu fiquei observando como seria a relaccedilatildeo deles H trouxe um caderno de desenho o abriu na mesa e dividiu metade da folha para ele e para D depois na hora de descer ele segurou a matildeo do D e ficou durante o almoccedilo todo cuidando de D o orientou a pegar a comida sentar comer devagar e quando natildeo quisesse mais deveria jogar a comida no lixo e durante todo o dia H permaneceu cuidando de D A professora achou estranho pois naquele dia ela natildeo havia chamado a atenccedilatildeo de H ateacute me falou ldquoEle deve estar aprontando e D eacute bobatildeo pode se machucarrdquo e decidiu intervir e pediu para que H mudasse de lugar e parasse de cuidar de (Relato do residente L 2015)
A partir da narrativa eacute possiacutevel refletir sobre o preparo dos professores para
lidar com as diferenccedilas individuais na educaccedilatildeo infantil A inclusatildeo escolar de crianccedilas
com deficiecircncia ocorre mediante poliacuteticas puacuteblicas de inclusatildeo contudo haacute uma
grande distacircncia entre a poliacutetica puacuteblica e a praacutetica pedagoacutegica nos contextos
escolares pois natildeo se aprofunda ldquoo debate sobre os meios os fins e as estrateacutegias
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para a implementaccedilatildeo da poliacutetica de ampliaccedilatildeo da rede de educaccedilatildeo infantilrdquo
(BRUNO 2008 p 59)
Outros registros que tratam da temaacutetica da inclusatildeo de crianccedilas com
deficiecircncia mostram o quanto a escola estaacute despreparada para lidar com essa
questatildeo Os relatos e inquietaccedilotildees dos estudantes nos possibilitam a identificaccedilatildeo de
processos discriminatoacuterios de resistecircncias e acomodaccedilotildees dos profissionais e do
distanciamento de uma praacutetica verdadeiramente inclusiva na esfera das praacuteticas
educativas cotidianas O que se percebe nas discussotildees sobre o assunto eacute que os
residentes enquanto futuros professores muito tecircm a aprender sobre a acolhida das
famiacutelias e das crianccedilas ldquodiferentesrdquo ou com deficiecircncia na constante reflexatildeo sobre o
comportamento atitudes e posturas do educador frente ao trabalho pedagoacutegico
Outras temaacuteticas tatildeo importantes como as que discutimos aqui tem sido objeto
de interesse dos estudantes em processo de imersatildeo nas escolas-campo Haacute uma
gama de registros sobre categorias que envolvem a crianccedila pequena nas atividades
do brincar a disciplina e a coerccedilatildeo dos educadores na tentativa de manter o controle
das crianccedilas e dos comportamentos considerados inadequados Muitos residentes se
surpreendem como essa coerccedilatildeo ocorre demasiadas vezes na escola e nas reuniotildees
de supervisatildeo eacute muito comum questionarem junto ao preceptor formas de
compreender por que algumas praacuteticas coercitivas satildeo tatildeo presentes na educaccedilatildeo
infantil
Consideraccedilotildees Finais
A experiecircncia de estaacutegio no Programa de Residecircncia Pedagoacutegica requer de
estudantes e professores uma atitude de intensa accedilatildeo e reflexatildeo Na perspectiva de
observaccedilatildeo participante eacute que a imersatildeo dos residentes na escola eacute orientada
embora natildeo haja uma intervenccedilatildeo direta planejada e sistemaacutetica sobre os modos de
fazer da escola e dos professores Possiacuteveis intervenccedilotildees sobre a escola suscitadas
pela presenccedila da universidade (de preceptores e residentes) satildeo uma contingecircncia
dos processos de formaccedilatildeo de condiccedilotildees e modos de seu desenvolvimento e eacute assim
que se define o lugar do residente e da preceptoria junto a escola o caraacuteter da
observaccedilatildeo participante a ser realizada durante o estaacutegio e sua conduccedilatildeo e discussatildeo
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no acircmbito escolar As posiccedilotildees dos residentes reeditam questotildees que mobilizam a
imersatildeo e reflexatildeo sobre o vivido como e quando participar O que como e quando
registrar sobre a observaccedilatildeo participante sobre o que se vivencia Como fazer uso
das ferramentas disponiacuteveis na escola e dos subsiacutedios teoacutericos oferecidos durante a
proacutepria residecircncia ou estudados no curso de pedagogia elaborando impressotildees sobre
o que descreve e refletindo sobre o que vive e elabora
A retomada dos escritos e reflexotildees dos estudantes participantes do Programa
de Residecircncia Pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Infantil nos trazem pistas relevantes para a
compreensatildeo natildeo somente dos seus processos formativos mas tambeacutem suscitam
atenccedilatildeo aos temas e questotildees emergentes do cotidiano das crianccedilas nas escolas de
Educaccedilatildeo Infantil Sabe-se que o processo de escrita eacute composto de idas e vindas
de avanccedilos e retrocessos de duacutevidas e certezas percebidas nos textos e contextos
apresentados pelos estudantes neste processo formativo especiacutefico
As postagens guardam caracteriacutesticas especiacuteficas correlatas ao vivido nas
praacuteticas de estaacutegio de acordo com as finalidades comunicativas e formativas do
caderno de campoblog e com especificidades ndash limites e possibilidades ndash que se
dimensionam nestas praacuteticas Os estudantes registram o que observam o que
vivenciam mas natildeo soacute Em muitos registros suas impressotildees (con)fundem-se com o
observado vatildeo aleacutem da descriccedilatildeo interpretando o visto o vivido e outras vezes para
alguns o registro se faz espaccedilo de recuperaccedilatildeo das proacuteprias vivecircncias e dos
elementos teoacutericos estudados
Nesta experiecircncia a liberdade na escolha e escrita dos temas dos cadernos de
campo tem permitido que o processo formativo de cada estudante aconteccedila de forma
uacutenica e original pois apesar de estarem imersos em ambientes semelhantes (em
alguns casos mesmas escolas-campo) e possuiacuterem referenciais teoacutericos semelhantes
(provenientes das unidades curriculares obrigatoacuterias e eletivas do Curso de
Pedagogia) os temas e questotildees que recebem a atenccedilatildeo de cada um satildeo distintos e
trabalhados teoricamente a partir das anguacutestias e inquietaccedilotildees individuais Entretanto
apesar das produccedilotildees escritas serem individuais ao serem publicizadas em reuniotildees
de orientaccedilatildeo ou ateacute no suporte virtual do blog elas podem ser compartilhadas e
tornam-se objeto comum de discussotildees e aprendizagens
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Por fim concluiacutemos assim como Noacutevoa (2000) a propoacutesito das narrativas (auto)
biograacuteficas que a escrita como parte dos processos formativos de professores eacute
capaz de fazer ldquoreaparecer os sujeitos face agraves estruturas e aos sistemas a qualidade
face agrave quantidade a vivecircncia face ao instituiacutedordquo Nesta linha de pensamento
percebemos que eacute possiacutevel ler o mundo e as relaccedilotildees sociais de um sujeito por meio
da sua narrativa produzindo ldquoum outro tipo de conhecimento mais proacuteximo das
realidades educativasrdquo (NOacuteVOA 2000 p 18 19 grifo do autor) e quiccedila
transformador dessas
Referecircncias bibliograacuteficas
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MARQUES Danielle Vieira Aquino MUumlLLER Fernanda Experiecircncias com blog na pesquisa e na formaccedilatildeo inicial de professoras de educaccedilatildeo infantil ETD-Educaccedilatildeo Temaacutetica Digital v 14 n 1 p 43-61 2012
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Correspondecircncia
Edna Martins ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo (UNIFESP)
Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Maria de Faacutetima Carvalho ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Renata Marciacutelio Cacircndido ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Universidade Federal de Satildeo Paulo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo R
Sena Madureira 1500 ndash Vila Clementino CEP 04021-001 Satildeo Paulo Satildeo Paulo
Brasil
E-mail emartinsunifespgmailcom ndash carvalhomdfgmailcom ndash
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escola e um dia para a Universidade para supervisatildeo com o preceptor que eacute um
docente da Universidade Na escola cumprem o horaacuterio da turma que acompanham
em turno que pode ser matutino vespertino ou intermediaacuterio Natildeo satildeo toleradas faltas
ou atrasos sem justificativa meacutedica objetivando-se desta forma colocar os alunos
diante da responsabilidade do compromisso profissional assumido perante a escola
Durante as duas primeiras semanas de imersatildeo os estudantes satildeo orientados
a descrever no diaacuterio de campo o que observam e suas impressotildees sobre a escola
as relaccedilotildees entre professorcrianccedilas crianccedilacrianccedila escolacomunidade
famiacuteliasescola professorprofessor professorgestatildeo e praacuteticas educativas do
cotidiano que satildeo observadas mais atentamente Neste primeiro momento aleacutem da
cobranccedila para que o aluno escreva sobre suas vivecircncias o preceptor busca ajudaacute-lo
na construccedilatildeo dos registros do caderno de campo assinalando sobre as posturas de
descriccedilatildeo e de reflexatildeo na elaboraccedilatildeo sobre suas impressotildees sobre aquilo que eacute
observado
Antes de serem executados os planos pedagoacutegicos de cada estudante satildeo
apresentados para os professores formadores e coordenador nas escolas durante
reuniatildeo realizada na ldquoHora Atividaderdquo com a participaccedilatildeo do professor preceptor Este
tem se constituiacutedo um momento iacutempar de aprendizagem para todos os envolvidos jaacute
que nesta ocasiatildeo os estudantes compartilham seus conhecimentos suas
experiecircncias expectativas e apreensotildees e onde explicitam-se possibilidades de
articulaccedilatildeo escola-universidade no acircmbito da formaccedilatildeo de professores Eacute na uacuteltima
semana de imersatildeo que os estudantes colocam seus planos de accedilatildeo pedagoacutegica em
praacutetica nas salas em que estatildeo imersos fechando o ciclo previsto pelo estaacutegio
Metodologia analisando as temaacuteticas do caderno de campo online (Blog)
Alguns grupos de residentes da RPEI conforme opccedilatildeo dos professores
preceptores usam um blog para a construccedilatildeo online de um caderno de campo que
integra a elaboraccedilatildeo de seus registros sobre a imersatildeo na escola Esses registros ndash
que chamamos de postagens aleacutem de possibilitar um olhar mais apurado sobre as
praacuteticas cotidianas podem contribuir para a orientaccedilatildeo e a construccedilatildeo do Plano de
Accedilatildeo Pedagoacutegica de cada residente e posteriormente para a escrita de um relatoacuterio
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final de estaacutegio pelo grupo Eacute sobre os registros do blog que incidiraacute nossa anaacutelise
considerando para tanto inquietaccedilotildees observaccedilotildees e reflexotildees registradas pelos
residentes nos anos de 2015 2016 e 2017
O blog da residecircncia ou diaacuterio de campo online consiste em uma ferramenta
virtual na qual satildeo realizados os registros de observaccedilotildees e experiecircncias significativas
vividas pelos residentes cotidianamente na escola Destaca-se que tal ferramenta eacute
de acesso restrito e apenas um uacutenico grupo de alunos e professores preceptores da
Universidade podem participar em cada escola acompanhada Deste modo nem os
professores ou quaisquer pessoas das escolas-campo podem acessar tal instrumento
O blog eacute construiacutedo pelo professor preceptor a cada novo grupo de residentes
assegurando o sigilo das informaccedilotildees registradas A ferramenta possibilita a
construccedilatildeo coletiva de diaacutelogos sobre questotildees observadas e a mediaccedilatildeo dos
conhecimentos dos residentes pelos seus supervisores Assim os estudantes podem
realizar trocas sobre suas vivecircncias muitas vezes similares agraves que ocorrem na mesma
instituiccedilatildeo ainda que estejam em turmas de idades diferentes Permite tambeacutem que
preceptores acompanhem diariamente seus residentes respondendo as indagaccedilotildees
e inquietaccedilotildees do grupo que participa do dia-a-dia na escola
Aleacutem de cumprir todos os objetivos de um caderno de campo comum o blog
permite ao preceptor mesmo agrave distacircncia o acompanhamento contiacutenuo do grupo de
estudantes o que lhe permite planejar as atividades semanais de supervisatildeo de forma
a responder as demandas dos alunos e esses uacuteltimos de compartilharem seus
diferentes pontos de vistas e as accedilotildees desenvolvidas na escola Assim no contexto
da residecircncia pedagoacutegica o blog ou caderno de campo online eacute o espaccedilomomento
de realizaccedilatildeo dos registros de observaccedilotildees e experiecircncias significativas vividas
cotidianamente na escola de educaccedilatildeo infantil e de acompanhamento e
problematizaccedilatildeo dessas vivecircncias pelos preceptores
Nesse caminho assinala-se a contribuiccedilatildeo de Vygotsky (1981) quando aponta
que as relaccedilotildees humanas satildeo sempre mediadas pelo meio social e pelos instrumentos
e signos que fazem parte das relaccedilotildees e dos contextos em que o homem estaacute inserido
Desse modo
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A atividade praacutetica do homem portanto se faz duplamente mediada de uma parte estaacute mediada pelas ferramentas no sentido literal da palavra e de outra parte mediada pelas ferramentas no sentido figurado pelas ferramentas do pensamento pelos meios com a ajuda dos quais se realiza a operaccedilatildeo intelectual ou seja mediada com a ajuda das palavras (VYGOTSKI 19302006a p 165)
Nessa direccedilatildeo conveacutem destacar a importacircncia do blog como instrumento social
representativo da incorporaccedilatildeo da tecnologia ao dia a dia dos estudantes e da
consideraccedilatildeo da mediaccedilatildeo tecnoloacutegica em processos de aprendizagem e
desenvolvimento dos graduandos
Diferente de outras formas de relacionamento virtual (e-mail chat instant
messages listas de discussatildeo etc) e de ferramentas virtuais convencionais ndash como
os sites ndash o blog caracteriza-se pela facilidade de sua criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo o que eacute
definido pela organizaccedilatildeo automaacutetica das mensagens ndash posts ndash pelo sistema
dinamizando seu uso e favorecendo a construccedilatildeo de diaacuterios coletivos mantidos por
vaacuterios usuaacuterios Tais caracteriacutesticas favorecem o uso do blog em processos de ensino-
aprendizagem tendo em vista a interaccedilatildeo a troca o diaacutelogo como forma de partilha e
construccedilatildeo de conhecimentos (MARQUES MULLER 2012)
O blog permite portanto o compartilhamento de informaccedilotildees e a interaccedilatildeo
entre estudantes do mesmo grupo e o mesmo preceptor em uma mesma escola
Todos podem ler e comentar as postagens funcionando como um ponto de encontro
entre alunos e preceptores Assim nossa atenccedilatildeo agraves postagens dos estudantes no
blog eacute dirigida pelo objetivo de dar visibilidade a dimensatildeo social das praacuteticas de
registro do observadovivido nos processos formativos que emergem na experiecircncia
de Residecircncia Pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Infantil Assumimos o caraacuteter histoacuterico-
cultural da pesquisa do meacutetodo do objeto de estudo e do proacuteprio conhecimento como
construccedilatildeo que se realiza entre sujeitos (FREITAS 2009) Dessa forma acredita-se
que o momento de elaboraccedilatildeo do vivido ndash o registro no caderno de campoblog ndash
deflagra no estudante a necessidade de reflexatildeo sobre os processos de ensino-
aprendizagem em curso no acircmbito do estaacutegio-residecircncia pedagoacutegica
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Registros no caderno de campo online o olhar do residente sobre a escola de
educaccedilatildeo infantil
Nos primeiros dias de imersatildeo na escola os residentes satildeo orientados a
realizar uma observaccedilatildeo atenta dos espaccedilos da instituiccedilatildeo A partir da leitura do texto
de Silva e Bufalo (2011) sobre culturas escolares os residentes descrevem em seus
primeiros registros detalhes fiacutesicos sobre a escola Muitos acabam desenhando a
planta baixa ou tirando fotos de salas de aulas parques e paacutetios e compartilhando no
caderno de campo online (blog) para comeccedilarem a pensar sobre o contexto e os
espaccedilos que podem favorecer a aprendizagem e o desenvolvimento da crianccedila
pequena como descrito no excerto abaixo
Uma coisa que me chamou atenccedilatildeo foi que natildeo possuem um espaccedilo para atividade fiacutesica essas satildeo realizadas no paacutetio que eacute proacuteximo as salas o barulho acaba atrapalhando os demais O parque estaacute interditado por ordem da diretora ou seja natildeo possuem lugar para brincar O dia das crianccedilas foi pautado em ficar sentado e quieto vendo um filme que a maioria jaacute tinha assistido (Relato da residente N 2017)
Formas de organizaccedilatildeo de espaccedilos e tempos remetem agrave organizaccedilatildeo da rotina
Sobre esse tema grande quantidade de postagens textos diz respeito a como as
atividades diaacuterias satildeo organizadas na escola Em alguns registros como o
apresentado a seguir aparece a problematizaccedilatildeo da forma de organizaccedilatildeo das
atividades
730 (15min) - a professora colocou o cabeccedilalho na lousa com a data e fez a contagem coletiva das crianccedilas 745 (45min) - a professora retomou o que eles haviam aprendido sobre os iacutendios entregou massinha e os orientou a modelar utensiacutelios indiacutegenas 830 (35min) - pintura de desenho xerocado que seraacute colado na capa do caderno de atividades 905 (25min) - brincadeira livre no paacutetio interno no brinquedatildeo que fica no final da escadarampa sup2940 (30min) - brincadeira em sala Gato mia 1010 (ateacute as crianccedilas irem embora) - a professora entregou uma folha com a letra da canccedilatildeo 1 2 3 indiozinhos cantou a muacutesica com eles sentados em seus lugares pediu para eles circularem as letras A e I e depois pintar a ilustraccedilatildeo () (Relato da residente J 2015)
A rotina observada e registrada pela residente configura-se como um dos
aspectos mais relevantes na vida da crianccedila que se encontra na escola de Educaccedilatildeo
Infantil Barbosa (2006) aponta que esse eacute um dos elementos que integram as praacuteticas
educativas que devem ser observadas e planejadas com regularidade objetivando a
operacionalizaccedilatildeo do cotidiano da escola de maneira que possa contribuir na
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constituiccedilatildeo da subjetividade dos atores escolares Desse modo pensar e
compreender a rotina como um fator presente e essencial na educaccedilatildeo de crianccedilas
pequenas eacute um passo promissor para que o residente acompanhe como as atividades
cotidianas da escola se materializam e datildeo base para a organizaccedilatildeo da praacutetica
pedagoacutegica devendo estar presente no desenvolvimento curricular
O planejamento das atividades na educaccedilatildeo infantil tem estreita ligaccedilatildeo com a
rotina Ao observar e refletir sobre a vida e as experiecircncias das crianccedilas na escola os
residentes satildeo remetidos a memoacuteria agrave lembranccedila do que tambeacutem foi um dia vivido
por eles em suas experiecircncias escolares Como apontado por Meksenas (2002)
ldquonunca somos testemunhas objetivas observando objetos e sim sujeitos observando
outros sujeitosrdquo (p 116)
Estive tentando lembrar nas uacuteltimas semanas o que eu fazia na minha preacute-escola Eu comecei no maternal com 3 anos ()Tenho vagas lembranccedilas de duas salas de aula uma do preacute III e a outra acho que era do preacute I Era uma escola particular dessas pequenas de bairro Lembro que a turma natildeo era tatildeo numerosa quanto essa que estou vendo na residecircncia mas a sala tinha uma organizaccedilatildeo parecida eram mesas e cadeiras enfileiradas nas duas () Eu estava com 5 anos Lembro que a gente tinha uma apostila no preacute I eu gostava de terminar tudo raacutepido para dormir Depois a professora comeccedilou a me dar gibi para eu ficar folheando Tenho na minha memoacuteria que as coisas que a gente fazia na escola eram chatas e muito infantis bobas demais Agora eu penso talvez as professoras ficassem me ocupando com massinha e pinturas todo dia tambeacutem como eu vejo na residecircncia e por isso eu achava muito chato O que seraacute que essas crianccedilas pensam disso O que seraacute que elas acham mais legal na escola Eu vejo que elas gostam muito de fazer liccedilatildeo essas de folhinha que a professora daacute e todos os dias elas perguntam Mas eu natildeo me conformo como elas acham isso tatildeo legal (Relato da Residente F 2017)
Sabemos que a memoacuteria eacute mediada pelo signo pelas interaccedilotildees sociais pelo
outro Braga (1997) dirige nosso olhar para o ldquoprocesso de apropriaccedilatildeo das formas
culturais de interaccedilatildeo que caracterizam a memoacuteria humanardquo Para a autora ldquoa
memoacuteria do homem soacute se configura no movimento discursivo e coletivo por sua
natureza cultural e simboacutelicardquo No registro acima o observado mobiliza as lembranccedilas
da residente aquilo que foi tambeacutem vivido na escola de sua infacircncia Entre lembranccedilas
e interrogaccedilotildees emergem as construccedilotildees formativas em um processo dinacircmico ndash
interativo cultural e simboacutelico Processo que potildeem em relaccedilatildeo vivecircncias atuais e
passadas que invocam sentidos e significados atribuiacutedos ao vivido que ocorre nas
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contradiccedilotildees entre aquilo que eacute rememorado pela estudante e o que efetivamente eacute
observado nas relaccedilotildees estabelecidas no contato com o cotidiano da escola
Aleacutem da rotina e da organizaccedilatildeo de tempos e espaccedilos em sua relaccedilatildeo com as
praacuteticas pedagoacutegicas os relatos dos estudantes se reportam agraves diferentes dimensotildees
da gestatildeo escolar Os registros destacam suas observaccedilotildees nas H A (hora atividade)
ou reuniotildees que eventualmente participam e com frequecircncia observam a postura da
equipe em relaccedilatildeo a presenccedila do residente Em seus relatos questionam o caraacuteter
da gestatildeo a qualidade da relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo entre os professores as discussotildees
que remetem a construccedilatildeo e discussatildeo do projeto poliacutetico pedagoacutegico e os papeis
desempenhados pelos diferentes educadores na construccedilatildeo do trabalho de educaccedilatildeo
da infacircncia
Completamos nesta semana 4 dias de participaccedilatildeo nas Horas Atividades (HA) destinada agrave formaccedilatildeo docente organizaccedilatildeo dos registros e planejamento das atividades pedagoacutegicas O que pude por meio da observaccedilatildeo constatar que o papel do Coordenador Pedagoacutegico que eacute fundamental nesse momento de formaccedilatildeo pois eacute ele o mediador desse processo acaba por se tornar distante e sem intervenccedilotildees no que adentra a orientaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico docente (Relato da estudante M 2015)
Na experiecircncia cotidiana de imersatildeo na escola eacute possiacutevel verificar as tensotildees
vivenciadas entre os professores e o papel da coordenaccedilatildeo pedagoacutegica A teoria
discutida na universidade pelos residentes assinala a importacircncia do papel do
coordenador pedagoacutegico na educaccedilatildeo infantil na praacutetica o residente percebe o quanto
a sua mediaccedilatildeo eacute fundamental na organizaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico e por outro
lado o quanto a sua ausecircncia pode interferir de forma negativa na orientaccedilatildeo das
atividades dos professores
Outra personagem que acaba sendo central na gestatildeo escolar eacute a direccedilatildeo que
nessa experiecircncia do residente tambeacutem eacute observada de forma criacutetica
A figura da diretora na escola foi a que mais me chamou a atenccedilatildeo ()imaginem que em nenhum momento percebi qualquer aproximaccedilatildeo da diretora com as crianccedilas em vaacuterios momentos acreditei que ela fosse algum teacutecnico administrativo pois apesar de estar no topo da piracircmide a referecircncia da gestatildeo a mesma se restringia a secretaria e natildeo se relacionava natildeo nos conhecia nem procurava nos conhecer Passou diversas vezes por grupos de crianccedilas e em nenhuma das vezes sequer olhou para elas Nunca apareceu em uma HA nunca percebi o seu contato com os professores e por diversas vezes me perguntei como eles se falavam qual era o seu relacionamento (Relato da residente B 2015)
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Sobre esse assunto estudos como os de Paro (2005) e Castro (2009) tem
assinalado o papel da gestatildeo e da administraccedilatildeo escolar como alicerce fundamental
nos processos de transformaccedilatildeo da escola puacuteblica brasileira Tais trabalhos tecircm
apontado a centralidade da direccedilatildeo escolar nas questotildees que envolvem os processos
de ensino e aprendizagem e as relaccedilotildees humanas presentes na equipe de trabalho
para aleacutem dos trabalhos administrativos e burocraacuteticos Natildeo eacute objetivo deste trabalho
fazer uma anaacutelise do papel do diretor na escola de educaccedilatildeo infantil mas cabe
assinalar que os estudantes residentes apontam o tema em seus registros e atentos
agraves demandas relativas ao papel do diretor indagam se como e quanto as lideranccedilas
escolares tecircm se envolvido com o trabalho administrativo dispendendo tempo para
um olhar mais atento agraves relaccedilotildees entre os professoresalunos funcionaacuterios da escola
observada
Em relaccedilatildeo agraves interaccedilotildees humanas outros registros dos residentes nos
remetem agraves maneiras como a escola lida com as famiacutelias das crianccedilas matriculadas
nas escolas Tais relatos natildeo satildeo tatildeo frequentes possivelmente porque essa eacute uma
relaccedilatildeo que se caracteriza pela assimetria de poderes e eacute pouco valorizada no dia a
dia escolar Os registros evocam situaccedilotildees vividas comentaacuterios ouvidos e
principalmente a necessidade de mudanccedila dos modos de conceber a crianccedila e suas
famiacutelias e de interagir com elas
A relaccedilatildeo entre professor e famiacutelia eacute mais uma dessas conexotildees que fazemos pela vida Por um lado haacute um profissional uma pessoa que estudou e eacute especialista em cuidar de crianccedilas Por outro famiacutelias que dificilmente conseguimos de fato perceber como satildeo suas estruturadas Famiacutelia hoje eacute coisa difiacutecil de entender Eacute matildee que mora sozinha com o filho eacute pais que trabalham e deixam os filhos na semana com tios avoacutes Eacute matildee solteira Eacute filho criado por pai viuacutevo Eacute histoacuteria que natildeo acaba mais Na hora da saiacuteda vamos conhecendo um pouquinho da estrutura familiar de cada crianccedila tentando perceber como se daacute a relaccedilatildeo entre a famiacutelia e a escola mas devemos ter um pouco de cuidado com esse processo (Relato do estudante J 2015)
Aleacutem da residente ter um olhar para os diferentes tipos de arranjos familiares
tambeacutem busca compreender a especificidade de cada famiacutelia considerando o papel
da mulher e de matildee trabalhadora com filhos na escola puacuteblica
(hellip) Veja esses apontamentos uma menina na sala estaacute com piolho a professora disse que jaacute alertou a matildee mas como eacute matildee solteira soacute pode cuidar da filha no domingo O outro menino que natildeo se interessa pelas atividades e responde a educadora tambeacutem teve a matildee notificada mas como
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a mesma eacute separada do marido natildeo faz nada O fato da mulher trabalhar a semana e ter folga aos domingos natildeo significa que ela seja uma maacute matildee pelo contraacuterio significa que ela rala muito para colocar comida no prato A presenccedila ou natildeo de um homem natildeo condiciona nada A escola natildeo pode ser um ambiente de roacutetulos ela deve estar aberta agraves diferenccedilas acolhendo e buscando outras maneiras e formas de aproximaccedilatildeo com a famiacutelia compreendendo a responsabilidade compartilhada que carregam (Registro da residente B 2015)
Os relatos demonstram natildeo soacute o quanto estatildeo atentos para como a escola lida
com as relaccedilotildees familiares mas sobretudo assinalam como tecircm se configurado as
formaccedilotildees das famiacutelias na atualidade Um estudo de Martins (2012) aponta o quanto
a experiecircncia de residecircncia pedagoacutegica possibilita aos estudantes um contato mais
expressivo com a realidade da escola puacuteblica de periferia urbana Aleacutem de observar
as relaccedilotildees institucionais o residente pode ser sensibilizado frente agraves dificuldades
vividas pelas famiacutelias e tendem a perceber o preconceito em relaccedilatildeo aos vaacuterios
arranjos familiares vivenciados pelas crianccedilas mais pobres e como a escolarizaccedilatildeo
dos pais pode afetar a vida dos filhos Os registros dos residentes demonstram como
ldquoos contextos de vida das crianccedilas que frequentam a escola puacuteblica de periferia
passam a ser compreendidos de uma forma concreta e as relaccedilotildees do espaccedilo familiar
com o espaccedilo escolar passam a ter uma conexatildeo cotidianardquo (MARTINS 2012 p 95)
Outra temaacutetica recorrente nos registros dos estudantes diz respeito ao processo
de escolarizaccedilatildeo das praacuteticas da educaccedilatildeo da infacircncia Tal perspectiva surge quando
os residentes referem aos usos dos brinquedos e agraves brincadeiras agrave presenccedila da
leitura e contaccedilatildeo de histoacuterias aos modos de introduccedilatildeo do desenho ao uso de novas
tecnologias e aos modos de avaliar agraves crianccedilas Tal perspectiva escolarizante emerge
em oposiccedilatildeo ao luacutedico como princiacutepio e forma de organizaccedilatildeo das praacuteticas de
educaccedilatildeo junto agraves crianccedilas pequenas e algumas vezes a ela ainda se articula a
preocupaccedilatildeo em disciplinar as vivecircncias escolares sondagens filas broncas e
silecircncios coexistem com desenhos Tv computadores e brincadeiras Os registros nos
dizem de uma escola que hesita entre coibir e promover a expressatildeo das muitas
linguagens da imaginaccedilatildeo e movimento das crianccedilas
Na semana de 2310 a 2710 e como previsto na reuniatildeo de pais a professora realizou a sondagem com as crianccedilas Teoricamente sei como funciona o procedimento mas me questiono se deve ser realizada na Ed Infantil Tambeacutem me pergunto se a sondagem vai muito aleacutem do conhecimento das crianccedilas Por exemplo algumas escrevem o proacuteprio nome
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e algumas palavras mais comuns a elas outras ainda nem reconhecem as letras do alfabeto A sondagem feita abarcou o nome palavras simples um pouco mais complexas e uma frase inteira A minha duacutevida eacute se a sondagem que vai muito aleacutem dos conhecimentos da sala eacute comum e necessaacuteria ainda mais na Ed Infantil (Relato do residente N 2017)
O debate em torno das questotildees que envolvem a escolarizaccedilatildeo de crianccedilas
pequenas eacute bastante antigo e recorrente Pesquisas como as de Neves Castanheira
e Gouveia (2015) assinalam a partir de autores que estudaram essa temaacutetica como
a perspectiva escolarizante de trabalho com a crianccedila pequena traz seacuterias implicaccedilotildees
para o desenvolvimento infantil justamente porque rompe com as formas como elas
ldquointeragem com a escrita fora da escola destituindo-a de significados pessoais e
sociais e dificulta portanto que as atividades desenvolvidas no espaccedilo escolar
envolvam a ludicidade caracteriacutestica fundamental dessa fase do desenvolvimentordquo
(p 217)
Os residentes parecem estar muito atentos a essas questotildees porque participam
de discussotildees sistemaacuteticas sobre o assunto tanto nas aulas teoacutericas na Universidade
quanto nas reuniotildees de orientaccedilatildeo com os preceptores do Programa de Residecircncia
Muitos estudantes satildeo levados a refletir sobre o assunto logo nos primeiros dias de
imersatildeo na escola
Resolvi mudar o formato do meu relato referente agrave imersatildeo inicial Pois passei por uma situaccedilatildeo em sala que me provocou tal accedilatildeo Devido agrave imposiccedilatildeo de escolarizaccedilatildeo percebida na turma na qual acompanho Onde hoje me emocionei com o choro insistente do aluno BG com as matildeos estremecidas na tentativa de segurar o laacutepis para ldquofazer liccedilatildeordquo (Relato da Residente M 2015)
A partir do relato da residente percebe-se o quanto a questatildeo eacute relevante para
o campo da educaccedilatildeo infantil e da formaccedilatildeo de professores Nas observaccedilotildees e
relatos dos cadernos de campo natildeo eacute incomum aparecerem longas narrativas sobre
os equiacutevocos que ocorrem nas praacuteticas pedagoacutegicas que envolvem a alfabetizaccedilatildeo e
letramento das crianccedilas pequenas Consideramos que questotildees como essas quando
problematizadas pelos estudantes nos horaacuterios de preceptoria ou mesmo nas
discussotildees com professores especialistas sobre o tema tendem a aproximaacute-los de
uma futura praacutetica profissional em que o trabalho com o desenvolvimento da escrita
seja realizado de forma a respeitar a infacircncia natildeo negando agrave crianccedila o seu direito ao
luacutedico mas tratando a apresentaccedilatildeo do mundo letrado como mais um momento
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prazeroso de aprendizagens Tal reflexatildeo eacute importante para os futuros professores
para que busquem compreender como inserir as crianccedilas no mundo letrado de
maneira que possam romper com a dicotomia entre o brincar e a leituraescrita
tomando como referecircncia o significado dessas accedilotildees para a crianccedila possibilitando a
conduccedilatildeo dos trabalhos na educaccedilatildeo infantil que tornem possiacutevel o brincar ldquoletrando
e alfabetizandordquo (NEVES CASTANHEIRA E GOUVEIA 2015)
Outra temaacutetica que aparece num nuacutemero expressivo de postagens diz respeito
ao olhar do residente para as praacuteticas educativas e as interaccedilotildees que ocorrem na
escola com relaccedilatildeo agrave inclusatildeo escolar das crianccedilas percebidas como ldquodiferentesrdquo
Destaca-se nesta temaacutetica observaccedilotildees a respeito de diferenccedilas de religiatildeo gecircnero
raccedilacor e tambeacutem aquelas relacionadas agrave deficiecircncia Haacute descriccedilotildees sobre como as
crianccedilas lidam com as diferenccedilas e as formas como os professores trabalham com
aquelas que possuem alguma dificuldade Algumas postagens ressaltam a
necessidade de formaccedilatildeo inicial e continuada dos educadores para lidarem com a
diversidade na escola
Pela primeira vez vivenciei preconceito racial de uma crianccedila com outra Nos momentos em que a profa distribui lego para as crianccedilas ela daacute tambeacutem um bonequinho para cada crianccedila Tem bonecos adultos crianccedilas homens mulheres e de diversas cores Os bonecos satildeo dados aleatoriamente ou escolhidos pela crianccedila conforme a professora passa de mesa em mesa Neste dia um menino negro estava com um boneco negro Um garoto se aproximou e disse ldquoCredo que boneco feio parece vocecircrdquo se direcionando ao menino O menino deu de ombros e continuou a brincar e poucos minutos depois a menina que estava ao seu lado me perguntou ldquoPor que o boneco dele eacute pretinho Eacute muito feiordquo Claro que conversei com ela e com o outro menino em outro momento calmamente falando das diversas cores que as pessoas tecircm e que natildeo haacute isso de feio e bonito aproveitando para falar sobre diversidade e etc Mais para o final da conversa a menina me disse ldquoMeu pai eacute pretinho ele eacute bonitordquo Respondi a menina dizendo que a beleza natildeo estaacute na cor da pele do cabelo ou dos olhos A cena toda me fez refletir que a menina jaacute deve ter ouvido esse tipo de afirmaccedilatildeo errocircnea Jaacute comentei mais de uma vez sobre o preconceito de gecircnero ser muito forte mas e o racial algueacutem mais vivenciou esse tipo de preconceito durante esta residecircncia (Relato do residente T 2017)
Rosemberg (2014) chama a atenccedilatildeo para o tema da diversidade como uma
questatildeo circunscrita na histoacuteria da humanidade A diferenciaccedilatildeo entre os grupos
humanos ou pessoas com atributos que classificam e separam o ldquoeurdquo do ldquooutrordquo
parece constituir as diversas manifestaccedilotildees de culturas humanas Assim a autora
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desnaturaliza a identidade e a diferenccedila apontando o seu caraacuteter cultural social e
histoacuterico Contudo esse eacute um dos temas que tem chamado cada vez mais a atenccedilatildeo
de educadores desde a educaccedilatildeo infantil jaacute que muitas vezes as questotildees que
envolvem a diferenccedila e o diferente passam por processos discriminatoacuterios e
preconceituosos como apontado no relato do estudante ao observar as interaccedilotildees
entre as crianccedilas no que se refere ao quesito raccedilacor
Marinho e Martins (2016) em estudo sobre formaccedilatildeo de professoras que atuam
na educaccedilatildeo infantil constatam a escassez ou inexistecircncia de disciplinas na formaccedilatildeo
inicial de professores que abarquem as questotildees eacutetnico-raciais denunciando o natildeo
cumprimento das leis que entre outras prescriccedilotildees preveem que instituiccedilotildees de niacutevel
superior proporcionem aos futuros(as) professoresas a formaccedilatildeo adequada para
lidarem com as relaccedilotildees raciais multieacutetnica e multicultural da sociedade brasileira
Nesse sentido ao trazerem suas inquietaccedilotildees sobre como as crianccedilas lidam com as
diferenccedilas no contexto da escola os residentes se aproximam das discussotildees a
respeito dos processos discriminatoacuterios oportunizando momentos em que tais
temaacuteticas possam ser discutidas entre professores preceptores e colegas do
programa de estaacutegio
Aleacutem da questatildeo racial outros relatos nos datildeo conta de refletir e discutir sobre
as relaccedilotildees que envolvem as crianccedilas com deficiecircncia na escola
() O que me chamou atenccedilatildeo foi que na quarta (2204) H chegou na escola e decidiu mudar de lugar foi sentar bem ao lado do D (uma crianccedila que foi diagnosticada com autismo de ldquograu leverdquo segundo a professora) eu fiquei observando como seria a relaccedilatildeo deles H trouxe um caderno de desenho o abriu na mesa e dividiu metade da folha para ele e para D depois na hora de descer ele segurou a matildeo do D e ficou durante o almoccedilo todo cuidando de D o orientou a pegar a comida sentar comer devagar e quando natildeo quisesse mais deveria jogar a comida no lixo e durante todo o dia H permaneceu cuidando de D A professora achou estranho pois naquele dia ela natildeo havia chamado a atenccedilatildeo de H ateacute me falou ldquoEle deve estar aprontando e D eacute bobatildeo pode se machucarrdquo e decidiu intervir e pediu para que H mudasse de lugar e parasse de cuidar de (Relato do residente L 2015)
A partir da narrativa eacute possiacutevel refletir sobre o preparo dos professores para
lidar com as diferenccedilas individuais na educaccedilatildeo infantil A inclusatildeo escolar de crianccedilas
com deficiecircncia ocorre mediante poliacuteticas puacuteblicas de inclusatildeo contudo haacute uma
grande distacircncia entre a poliacutetica puacuteblica e a praacutetica pedagoacutegica nos contextos
escolares pois natildeo se aprofunda ldquoo debate sobre os meios os fins e as estrateacutegias
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para a implementaccedilatildeo da poliacutetica de ampliaccedilatildeo da rede de educaccedilatildeo infantilrdquo
(BRUNO 2008 p 59)
Outros registros que tratam da temaacutetica da inclusatildeo de crianccedilas com
deficiecircncia mostram o quanto a escola estaacute despreparada para lidar com essa
questatildeo Os relatos e inquietaccedilotildees dos estudantes nos possibilitam a identificaccedilatildeo de
processos discriminatoacuterios de resistecircncias e acomodaccedilotildees dos profissionais e do
distanciamento de uma praacutetica verdadeiramente inclusiva na esfera das praacuteticas
educativas cotidianas O que se percebe nas discussotildees sobre o assunto eacute que os
residentes enquanto futuros professores muito tecircm a aprender sobre a acolhida das
famiacutelias e das crianccedilas ldquodiferentesrdquo ou com deficiecircncia na constante reflexatildeo sobre o
comportamento atitudes e posturas do educador frente ao trabalho pedagoacutegico
Outras temaacuteticas tatildeo importantes como as que discutimos aqui tem sido objeto
de interesse dos estudantes em processo de imersatildeo nas escolas-campo Haacute uma
gama de registros sobre categorias que envolvem a crianccedila pequena nas atividades
do brincar a disciplina e a coerccedilatildeo dos educadores na tentativa de manter o controle
das crianccedilas e dos comportamentos considerados inadequados Muitos residentes se
surpreendem como essa coerccedilatildeo ocorre demasiadas vezes na escola e nas reuniotildees
de supervisatildeo eacute muito comum questionarem junto ao preceptor formas de
compreender por que algumas praacuteticas coercitivas satildeo tatildeo presentes na educaccedilatildeo
infantil
Consideraccedilotildees Finais
A experiecircncia de estaacutegio no Programa de Residecircncia Pedagoacutegica requer de
estudantes e professores uma atitude de intensa accedilatildeo e reflexatildeo Na perspectiva de
observaccedilatildeo participante eacute que a imersatildeo dos residentes na escola eacute orientada
embora natildeo haja uma intervenccedilatildeo direta planejada e sistemaacutetica sobre os modos de
fazer da escola e dos professores Possiacuteveis intervenccedilotildees sobre a escola suscitadas
pela presenccedila da universidade (de preceptores e residentes) satildeo uma contingecircncia
dos processos de formaccedilatildeo de condiccedilotildees e modos de seu desenvolvimento e eacute assim
que se define o lugar do residente e da preceptoria junto a escola o caraacuteter da
observaccedilatildeo participante a ser realizada durante o estaacutegio e sua conduccedilatildeo e discussatildeo
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no acircmbito escolar As posiccedilotildees dos residentes reeditam questotildees que mobilizam a
imersatildeo e reflexatildeo sobre o vivido como e quando participar O que como e quando
registrar sobre a observaccedilatildeo participante sobre o que se vivencia Como fazer uso
das ferramentas disponiacuteveis na escola e dos subsiacutedios teoacutericos oferecidos durante a
proacutepria residecircncia ou estudados no curso de pedagogia elaborando impressotildees sobre
o que descreve e refletindo sobre o que vive e elabora
A retomada dos escritos e reflexotildees dos estudantes participantes do Programa
de Residecircncia Pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Infantil nos trazem pistas relevantes para a
compreensatildeo natildeo somente dos seus processos formativos mas tambeacutem suscitam
atenccedilatildeo aos temas e questotildees emergentes do cotidiano das crianccedilas nas escolas de
Educaccedilatildeo Infantil Sabe-se que o processo de escrita eacute composto de idas e vindas
de avanccedilos e retrocessos de duacutevidas e certezas percebidas nos textos e contextos
apresentados pelos estudantes neste processo formativo especiacutefico
As postagens guardam caracteriacutesticas especiacuteficas correlatas ao vivido nas
praacuteticas de estaacutegio de acordo com as finalidades comunicativas e formativas do
caderno de campoblog e com especificidades ndash limites e possibilidades ndash que se
dimensionam nestas praacuteticas Os estudantes registram o que observam o que
vivenciam mas natildeo soacute Em muitos registros suas impressotildees (con)fundem-se com o
observado vatildeo aleacutem da descriccedilatildeo interpretando o visto o vivido e outras vezes para
alguns o registro se faz espaccedilo de recuperaccedilatildeo das proacuteprias vivecircncias e dos
elementos teoacutericos estudados
Nesta experiecircncia a liberdade na escolha e escrita dos temas dos cadernos de
campo tem permitido que o processo formativo de cada estudante aconteccedila de forma
uacutenica e original pois apesar de estarem imersos em ambientes semelhantes (em
alguns casos mesmas escolas-campo) e possuiacuterem referenciais teoacutericos semelhantes
(provenientes das unidades curriculares obrigatoacuterias e eletivas do Curso de
Pedagogia) os temas e questotildees que recebem a atenccedilatildeo de cada um satildeo distintos e
trabalhados teoricamente a partir das anguacutestias e inquietaccedilotildees individuais Entretanto
apesar das produccedilotildees escritas serem individuais ao serem publicizadas em reuniotildees
de orientaccedilatildeo ou ateacute no suporte virtual do blog elas podem ser compartilhadas e
tornam-se objeto comum de discussotildees e aprendizagens
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Por fim concluiacutemos assim como Noacutevoa (2000) a propoacutesito das narrativas (auto)
biograacuteficas que a escrita como parte dos processos formativos de professores eacute
capaz de fazer ldquoreaparecer os sujeitos face agraves estruturas e aos sistemas a qualidade
face agrave quantidade a vivecircncia face ao instituiacutedordquo Nesta linha de pensamento
percebemos que eacute possiacutevel ler o mundo e as relaccedilotildees sociais de um sujeito por meio
da sua narrativa produzindo ldquoum outro tipo de conhecimento mais proacuteximo das
realidades educativasrdquo (NOacuteVOA 2000 p 18 19 grifo do autor) e quiccedila
transformador dessas
Referecircncias bibliograacuteficas
BARBOSA Maria Carmem Silveira Por amor e por forccedila rotinas na Educaccedilatildeo Infantil Porto Alegre Artmed 2006
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GIGLIO Ceacutelia Maria Benedicto LUGLI Rosaacuterio Silvana Genta Diaacutelogos pertinentes na formaccedilatildeo inicial e continuada de professores e gestores escolares A concepccedilatildeo
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MARQUES Danielle Vieira Aquino MUumlLLER Fernanda Experiecircncias com blog na pesquisa e na formaccedilatildeo inicial de professoras de educaccedilatildeo infantil ETD-Educaccedilatildeo Temaacutetica Digital v 14 n 1 p 43-61 2012
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MEKSENAS Paulo Sociologia da educaccedilatildeo uma introduccedilatildeo ao estudo da escola no processo de transformaccedilatildeo social Satildeo Paulo Loyola 2002
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MORETTI Vanessa Dias A articulaccedilatildeo entre a formaccedilatildeo inicial e continuada de professores que ensinam matemaacutetica o caso da Residecircncia Pedagoacutegica da Unifesp Revista Educaccedilatildeo Porto Alegre 2011 v 34 n 3 p 385-390 2011
NEVES Vanessa Ferraz Almeida CASTANHEIRA Maria Luacutecia GOUVEcircA Maria Cristina Soares O letramento e o brincar em processos de socializaccedilatildeo na educaccedilatildeo infantil brincadeiras diferentes Revista Brasileira de Educaccedilatildeo v 20 n 60 p 215-
244 2015
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POLADIAN Marina Lopes Pedrosa Estudo sobre o Programa de residecircncia pedagoacutegica da Unifesp uma articulaccedilatildeo entre Universidade e escola na formaccedilatildeo de professores Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Psicologia da Educaccedilatildeo) - Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo 2014
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SILVA Adriana BUFALO Joseane O espaccedilo na pedagogia da educaccedilatildeo infantil faacutebula perversidade e possibilidade In Culturas infantis em creches e preacute-escolas estaacutegio e pesquisa Campinas SP Autores Associados 2011
TARDIF Maurice A profissionalizaccedilatildeo do ensino passados trinta anos dois passos para a frente trecircs para traacutes Educaccedilatildeo e Sociedade Campinas SP v34 n123 p
551-571 2013
VYGOTSKY Lev Semyonovich Desarrollo de las funciones psiacutequicas superiores en la edad de transicion in l s vygotski obras escogidas iv Paidologiacutea del adolescente Madrid Machado Libros Tomo IV 19302006a
Correspondecircncia
Edna Martins ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo (UNIFESP)
Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Maria de Faacutetima Carvalho ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Renata Marciacutelio Cacircndido ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Universidade Federal de Satildeo Paulo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo R
Sena Madureira 1500 ndash Vila Clementino CEP 04021-001 Satildeo Paulo Satildeo Paulo
Brasil
E-mail emartinsunifespgmailcom ndash carvalhomdfgmailcom ndash
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final de estaacutegio pelo grupo Eacute sobre os registros do blog que incidiraacute nossa anaacutelise
considerando para tanto inquietaccedilotildees observaccedilotildees e reflexotildees registradas pelos
residentes nos anos de 2015 2016 e 2017
O blog da residecircncia ou diaacuterio de campo online consiste em uma ferramenta
virtual na qual satildeo realizados os registros de observaccedilotildees e experiecircncias significativas
vividas pelos residentes cotidianamente na escola Destaca-se que tal ferramenta eacute
de acesso restrito e apenas um uacutenico grupo de alunos e professores preceptores da
Universidade podem participar em cada escola acompanhada Deste modo nem os
professores ou quaisquer pessoas das escolas-campo podem acessar tal instrumento
O blog eacute construiacutedo pelo professor preceptor a cada novo grupo de residentes
assegurando o sigilo das informaccedilotildees registradas A ferramenta possibilita a
construccedilatildeo coletiva de diaacutelogos sobre questotildees observadas e a mediaccedilatildeo dos
conhecimentos dos residentes pelos seus supervisores Assim os estudantes podem
realizar trocas sobre suas vivecircncias muitas vezes similares agraves que ocorrem na mesma
instituiccedilatildeo ainda que estejam em turmas de idades diferentes Permite tambeacutem que
preceptores acompanhem diariamente seus residentes respondendo as indagaccedilotildees
e inquietaccedilotildees do grupo que participa do dia-a-dia na escola
Aleacutem de cumprir todos os objetivos de um caderno de campo comum o blog
permite ao preceptor mesmo agrave distacircncia o acompanhamento contiacutenuo do grupo de
estudantes o que lhe permite planejar as atividades semanais de supervisatildeo de forma
a responder as demandas dos alunos e esses uacuteltimos de compartilharem seus
diferentes pontos de vistas e as accedilotildees desenvolvidas na escola Assim no contexto
da residecircncia pedagoacutegica o blog ou caderno de campo online eacute o espaccedilomomento
de realizaccedilatildeo dos registros de observaccedilotildees e experiecircncias significativas vividas
cotidianamente na escola de educaccedilatildeo infantil e de acompanhamento e
problematizaccedilatildeo dessas vivecircncias pelos preceptores
Nesse caminho assinala-se a contribuiccedilatildeo de Vygotsky (1981) quando aponta
que as relaccedilotildees humanas satildeo sempre mediadas pelo meio social e pelos instrumentos
e signos que fazem parte das relaccedilotildees e dos contextos em que o homem estaacute inserido
Desse modo
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A atividade praacutetica do homem portanto se faz duplamente mediada de uma parte estaacute mediada pelas ferramentas no sentido literal da palavra e de outra parte mediada pelas ferramentas no sentido figurado pelas ferramentas do pensamento pelos meios com a ajuda dos quais se realiza a operaccedilatildeo intelectual ou seja mediada com a ajuda das palavras (VYGOTSKI 19302006a p 165)
Nessa direccedilatildeo conveacutem destacar a importacircncia do blog como instrumento social
representativo da incorporaccedilatildeo da tecnologia ao dia a dia dos estudantes e da
consideraccedilatildeo da mediaccedilatildeo tecnoloacutegica em processos de aprendizagem e
desenvolvimento dos graduandos
Diferente de outras formas de relacionamento virtual (e-mail chat instant
messages listas de discussatildeo etc) e de ferramentas virtuais convencionais ndash como
os sites ndash o blog caracteriza-se pela facilidade de sua criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo o que eacute
definido pela organizaccedilatildeo automaacutetica das mensagens ndash posts ndash pelo sistema
dinamizando seu uso e favorecendo a construccedilatildeo de diaacuterios coletivos mantidos por
vaacuterios usuaacuterios Tais caracteriacutesticas favorecem o uso do blog em processos de ensino-
aprendizagem tendo em vista a interaccedilatildeo a troca o diaacutelogo como forma de partilha e
construccedilatildeo de conhecimentos (MARQUES MULLER 2012)
O blog permite portanto o compartilhamento de informaccedilotildees e a interaccedilatildeo
entre estudantes do mesmo grupo e o mesmo preceptor em uma mesma escola
Todos podem ler e comentar as postagens funcionando como um ponto de encontro
entre alunos e preceptores Assim nossa atenccedilatildeo agraves postagens dos estudantes no
blog eacute dirigida pelo objetivo de dar visibilidade a dimensatildeo social das praacuteticas de
registro do observadovivido nos processos formativos que emergem na experiecircncia
de Residecircncia Pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Infantil Assumimos o caraacuteter histoacuterico-
cultural da pesquisa do meacutetodo do objeto de estudo e do proacuteprio conhecimento como
construccedilatildeo que se realiza entre sujeitos (FREITAS 2009) Dessa forma acredita-se
que o momento de elaboraccedilatildeo do vivido ndash o registro no caderno de campoblog ndash
deflagra no estudante a necessidade de reflexatildeo sobre os processos de ensino-
aprendizagem em curso no acircmbito do estaacutegio-residecircncia pedagoacutegica
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Registros no caderno de campo online o olhar do residente sobre a escola de
educaccedilatildeo infantil
Nos primeiros dias de imersatildeo na escola os residentes satildeo orientados a
realizar uma observaccedilatildeo atenta dos espaccedilos da instituiccedilatildeo A partir da leitura do texto
de Silva e Bufalo (2011) sobre culturas escolares os residentes descrevem em seus
primeiros registros detalhes fiacutesicos sobre a escola Muitos acabam desenhando a
planta baixa ou tirando fotos de salas de aulas parques e paacutetios e compartilhando no
caderno de campo online (blog) para comeccedilarem a pensar sobre o contexto e os
espaccedilos que podem favorecer a aprendizagem e o desenvolvimento da crianccedila
pequena como descrito no excerto abaixo
Uma coisa que me chamou atenccedilatildeo foi que natildeo possuem um espaccedilo para atividade fiacutesica essas satildeo realizadas no paacutetio que eacute proacuteximo as salas o barulho acaba atrapalhando os demais O parque estaacute interditado por ordem da diretora ou seja natildeo possuem lugar para brincar O dia das crianccedilas foi pautado em ficar sentado e quieto vendo um filme que a maioria jaacute tinha assistido (Relato da residente N 2017)
Formas de organizaccedilatildeo de espaccedilos e tempos remetem agrave organizaccedilatildeo da rotina
Sobre esse tema grande quantidade de postagens textos diz respeito a como as
atividades diaacuterias satildeo organizadas na escola Em alguns registros como o
apresentado a seguir aparece a problematizaccedilatildeo da forma de organizaccedilatildeo das
atividades
730 (15min) - a professora colocou o cabeccedilalho na lousa com a data e fez a contagem coletiva das crianccedilas 745 (45min) - a professora retomou o que eles haviam aprendido sobre os iacutendios entregou massinha e os orientou a modelar utensiacutelios indiacutegenas 830 (35min) - pintura de desenho xerocado que seraacute colado na capa do caderno de atividades 905 (25min) - brincadeira livre no paacutetio interno no brinquedatildeo que fica no final da escadarampa sup2940 (30min) - brincadeira em sala Gato mia 1010 (ateacute as crianccedilas irem embora) - a professora entregou uma folha com a letra da canccedilatildeo 1 2 3 indiozinhos cantou a muacutesica com eles sentados em seus lugares pediu para eles circularem as letras A e I e depois pintar a ilustraccedilatildeo () (Relato da residente J 2015)
A rotina observada e registrada pela residente configura-se como um dos
aspectos mais relevantes na vida da crianccedila que se encontra na escola de Educaccedilatildeo
Infantil Barbosa (2006) aponta que esse eacute um dos elementos que integram as praacuteticas
educativas que devem ser observadas e planejadas com regularidade objetivando a
operacionalizaccedilatildeo do cotidiano da escola de maneira que possa contribuir na
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constituiccedilatildeo da subjetividade dos atores escolares Desse modo pensar e
compreender a rotina como um fator presente e essencial na educaccedilatildeo de crianccedilas
pequenas eacute um passo promissor para que o residente acompanhe como as atividades
cotidianas da escola se materializam e datildeo base para a organizaccedilatildeo da praacutetica
pedagoacutegica devendo estar presente no desenvolvimento curricular
O planejamento das atividades na educaccedilatildeo infantil tem estreita ligaccedilatildeo com a
rotina Ao observar e refletir sobre a vida e as experiecircncias das crianccedilas na escola os
residentes satildeo remetidos a memoacuteria agrave lembranccedila do que tambeacutem foi um dia vivido
por eles em suas experiecircncias escolares Como apontado por Meksenas (2002)
ldquonunca somos testemunhas objetivas observando objetos e sim sujeitos observando
outros sujeitosrdquo (p 116)
Estive tentando lembrar nas uacuteltimas semanas o que eu fazia na minha preacute-escola Eu comecei no maternal com 3 anos ()Tenho vagas lembranccedilas de duas salas de aula uma do preacute III e a outra acho que era do preacute I Era uma escola particular dessas pequenas de bairro Lembro que a turma natildeo era tatildeo numerosa quanto essa que estou vendo na residecircncia mas a sala tinha uma organizaccedilatildeo parecida eram mesas e cadeiras enfileiradas nas duas () Eu estava com 5 anos Lembro que a gente tinha uma apostila no preacute I eu gostava de terminar tudo raacutepido para dormir Depois a professora comeccedilou a me dar gibi para eu ficar folheando Tenho na minha memoacuteria que as coisas que a gente fazia na escola eram chatas e muito infantis bobas demais Agora eu penso talvez as professoras ficassem me ocupando com massinha e pinturas todo dia tambeacutem como eu vejo na residecircncia e por isso eu achava muito chato O que seraacute que essas crianccedilas pensam disso O que seraacute que elas acham mais legal na escola Eu vejo que elas gostam muito de fazer liccedilatildeo essas de folhinha que a professora daacute e todos os dias elas perguntam Mas eu natildeo me conformo como elas acham isso tatildeo legal (Relato da Residente F 2017)
Sabemos que a memoacuteria eacute mediada pelo signo pelas interaccedilotildees sociais pelo
outro Braga (1997) dirige nosso olhar para o ldquoprocesso de apropriaccedilatildeo das formas
culturais de interaccedilatildeo que caracterizam a memoacuteria humanardquo Para a autora ldquoa
memoacuteria do homem soacute se configura no movimento discursivo e coletivo por sua
natureza cultural e simboacutelicardquo No registro acima o observado mobiliza as lembranccedilas
da residente aquilo que foi tambeacutem vivido na escola de sua infacircncia Entre lembranccedilas
e interrogaccedilotildees emergem as construccedilotildees formativas em um processo dinacircmico ndash
interativo cultural e simboacutelico Processo que potildeem em relaccedilatildeo vivecircncias atuais e
passadas que invocam sentidos e significados atribuiacutedos ao vivido que ocorre nas
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contradiccedilotildees entre aquilo que eacute rememorado pela estudante e o que efetivamente eacute
observado nas relaccedilotildees estabelecidas no contato com o cotidiano da escola
Aleacutem da rotina e da organizaccedilatildeo de tempos e espaccedilos em sua relaccedilatildeo com as
praacuteticas pedagoacutegicas os relatos dos estudantes se reportam agraves diferentes dimensotildees
da gestatildeo escolar Os registros destacam suas observaccedilotildees nas H A (hora atividade)
ou reuniotildees que eventualmente participam e com frequecircncia observam a postura da
equipe em relaccedilatildeo a presenccedila do residente Em seus relatos questionam o caraacuteter
da gestatildeo a qualidade da relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo entre os professores as discussotildees
que remetem a construccedilatildeo e discussatildeo do projeto poliacutetico pedagoacutegico e os papeis
desempenhados pelos diferentes educadores na construccedilatildeo do trabalho de educaccedilatildeo
da infacircncia
Completamos nesta semana 4 dias de participaccedilatildeo nas Horas Atividades (HA) destinada agrave formaccedilatildeo docente organizaccedilatildeo dos registros e planejamento das atividades pedagoacutegicas O que pude por meio da observaccedilatildeo constatar que o papel do Coordenador Pedagoacutegico que eacute fundamental nesse momento de formaccedilatildeo pois eacute ele o mediador desse processo acaba por se tornar distante e sem intervenccedilotildees no que adentra a orientaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico docente (Relato da estudante M 2015)
Na experiecircncia cotidiana de imersatildeo na escola eacute possiacutevel verificar as tensotildees
vivenciadas entre os professores e o papel da coordenaccedilatildeo pedagoacutegica A teoria
discutida na universidade pelos residentes assinala a importacircncia do papel do
coordenador pedagoacutegico na educaccedilatildeo infantil na praacutetica o residente percebe o quanto
a sua mediaccedilatildeo eacute fundamental na organizaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico e por outro
lado o quanto a sua ausecircncia pode interferir de forma negativa na orientaccedilatildeo das
atividades dos professores
Outra personagem que acaba sendo central na gestatildeo escolar eacute a direccedilatildeo que
nessa experiecircncia do residente tambeacutem eacute observada de forma criacutetica
A figura da diretora na escola foi a que mais me chamou a atenccedilatildeo ()imaginem que em nenhum momento percebi qualquer aproximaccedilatildeo da diretora com as crianccedilas em vaacuterios momentos acreditei que ela fosse algum teacutecnico administrativo pois apesar de estar no topo da piracircmide a referecircncia da gestatildeo a mesma se restringia a secretaria e natildeo se relacionava natildeo nos conhecia nem procurava nos conhecer Passou diversas vezes por grupos de crianccedilas e em nenhuma das vezes sequer olhou para elas Nunca apareceu em uma HA nunca percebi o seu contato com os professores e por diversas vezes me perguntei como eles se falavam qual era o seu relacionamento (Relato da residente B 2015)
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Sobre esse assunto estudos como os de Paro (2005) e Castro (2009) tem
assinalado o papel da gestatildeo e da administraccedilatildeo escolar como alicerce fundamental
nos processos de transformaccedilatildeo da escola puacuteblica brasileira Tais trabalhos tecircm
apontado a centralidade da direccedilatildeo escolar nas questotildees que envolvem os processos
de ensino e aprendizagem e as relaccedilotildees humanas presentes na equipe de trabalho
para aleacutem dos trabalhos administrativos e burocraacuteticos Natildeo eacute objetivo deste trabalho
fazer uma anaacutelise do papel do diretor na escola de educaccedilatildeo infantil mas cabe
assinalar que os estudantes residentes apontam o tema em seus registros e atentos
agraves demandas relativas ao papel do diretor indagam se como e quanto as lideranccedilas
escolares tecircm se envolvido com o trabalho administrativo dispendendo tempo para
um olhar mais atento agraves relaccedilotildees entre os professoresalunos funcionaacuterios da escola
observada
Em relaccedilatildeo agraves interaccedilotildees humanas outros registros dos residentes nos
remetem agraves maneiras como a escola lida com as famiacutelias das crianccedilas matriculadas
nas escolas Tais relatos natildeo satildeo tatildeo frequentes possivelmente porque essa eacute uma
relaccedilatildeo que se caracteriza pela assimetria de poderes e eacute pouco valorizada no dia a
dia escolar Os registros evocam situaccedilotildees vividas comentaacuterios ouvidos e
principalmente a necessidade de mudanccedila dos modos de conceber a crianccedila e suas
famiacutelias e de interagir com elas
A relaccedilatildeo entre professor e famiacutelia eacute mais uma dessas conexotildees que fazemos pela vida Por um lado haacute um profissional uma pessoa que estudou e eacute especialista em cuidar de crianccedilas Por outro famiacutelias que dificilmente conseguimos de fato perceber como satildeo suas estruturadas Famiacutelia hoje eacute coisa difiacutecil de entender Eacute matildee que mora sozinha com o filho eacute pais que trabalham e deixam os filhos na semana com tios avoacutes Eacute matildee solteira Eacute filho criado por pai viuacutevo Eacute histoacuteria que natildeo acaba mais Na hora da saiacuteda vamos conhecendo um pouquinho da estrutura familiar de cada crianccedila tentando perceber como se daacute a relaccedilatildeo entre a famiacutelia e a escola mas devemos ter um pouco de cuidado com esse processo (Relato do estudante J 2015)
Aleacutem da residente ter um olhar para os diferentes tipos de arranjos familiares
tambeacutem busca compreender a especificidade de cada famiacutelia considerando o papel
da mulher e de matildee trabalhadora com filhos na escola puacuteblica
(hellip) Veja esses apontamentos uma menina na sala estaacute com piolho a professora disse que jaacute alertou a matildee mas como eacute matildee solteira soacute pode cuidar da filha no domingo O outro menino que natildeo se interessa pelas atividades e responde a educadora tambeacutem teve a matildee notificada mas como
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a mesma eacute separada do marido natildeo faz nada O fato da mulher trabalhar a semana e ter folga aos domingos natildeo significa que ela seja uma maacute matildee pelo contraacuterio significa que ela rala muito para colocar comida no prato A presenccedila ou natildeo de um homem natildeo condiciona nada A escola natildeo pode ser um ambiente de roacutetulos ela deve estar aberta agraves diferenccedilas acolhendo e buscando outras maneiras e formas de aproximaccedilatildeo com a famiacutelia compreendendo a responsabilidade compartilhada que carregam (Registro da residente B 2015)
Os relatos demonstram natildeo soacute o quanto estatildeo atentos para como a escola lida
com as relaccedilotildees familiares mas sobretudo assinalam como tecircm se configurado as
formaccedilotildees das famiacutelias na atualidade Um estudo de Martins (2012) aponta o quanto
a experiecircncia de residecircncia pedagoacutegica possibilita aos estudantes um contato mais
expressivo com a realidade da escola puacuteblica de periferia urbana Aleacutem de observar
as relaccedilotildees institucionais o residente pode ser sensibilizado frente agraves dificuldades
vividas pelas famiacutelias e tendem a perceber o preconceito em relaccedilatildeo aos vaacuterios
arranjos familiares vivenciados pelas crianccedilas mais pobres e como a escolarizaccedilatildeo
dos pais pode afetar a vida dos filhos Os registros dos residentes demonstram como
ldquoos contextos de vida das crianccedilas que frequentam a escola puacuteblica de periferia
passam a ser compreendidos de uma forma concreta e as relaccedilotildees do espaccedilo familiar
com o espaccedilo escolar passam a ter uma conexatildeo cotidianardquo (MARTINS 2012 p 95)
Outra temaacutetica recorrente nos registros dos estudantes diz respeito ao processo
de escolarizaccedilatildeo das praacuteticas da educaccedilatildeo da infacircncia Tal perspectiva surge quando
os residentes referem aos usos dos brinquedos e agraves brincadeiras agrave presenccedila da
leitura e contaccedilatildeo de histoacuterias aos modos de introduccedilatildeo do desenho ao uso de novas
tecnologias e aos modos de avaliar agraves crianccedilas Tal perspectiva escolarizante emerge
em oposiccedilatildeo ao luacutedico como princiacutepio e forma de organizaccedilatildeo das praacuteticas de
educaccedilatildeo junto agraves crianccedilas pequenas e algumas vezes a ela ainda se articula a
preocupaccedilatildeo em disciplinar as vivecircncias escolares sondagens filas broncas e
silecircncios coexistem com desenhos Tv computadores e brincadeiras Os registros nos
dizem de uma escola que hesita entre coibir e promover a expressatildeo das muitas
linguagens da imaginaccedilatildeo e movimento das crianccedilas
Na semana de 2310 a 2710 e como previsto na reuniatildeo de pais a professora realizou a sondagem com as crianccedilas Teoricamente sei como funciona o procedimento mas me questiono se deve ser realizada na Ed Infantil Tambeacutem me pergunto se a sondagem vai muito aleacutem do conhecimento das crianccedilas Por exemplo algumas escrevem o proacuteprio nome
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e algumas palavras mais comuns a elas outras ainda nem reconhecem as letras do alfabeto A sondagem feita abarcou o nome palavras simples um pouco mais complexas e uma frase inteira A minha duacutevida eacute se a sondagem que vai muito aleacutem dos conhecimentos da sala eacute comum e necessaacuteria ainda mais na Ed Infantil (Relato do residente N 2017)
O debate em torno das questotildees que envolvem a escolarizaccedilatildeo de crianccedilas
pequenas eacute bastante antigo e recorrente Pesquisas como as de Neves Castanheira
e Gouveia (2015) assinalam a partir de autores que estudaram essa temaacutetica como
a perspectiva escolarizante de trabalho com a crianccedila pequena traz seacuterias implicaccedilotildees
para o desenvolvimento infantil justamente porque rompe com as formas como elas
ldquointeragem com a escrita fora da escola destituindo-a de significados pessoais e
sociais e dificulta portanto que as atividades desenvolvidas no espaccedilo escolar
envolvam a ludicidade caracteriacutestica fundamental dessa fase do desenvolvimentordquo
(p 217)
Os residentes parecem estar muito atentos a essas questotildees porque participam
de discussotildees sistemaacuteticas sobre o assunto tanto nas aulas teoacutericas na Universidade
quanto nas reuniotildees de orientaccedilatildeo com os preceptores do Programa de Residecircncia
Muitos estudantes satildeo levados a refletir sobre o assunto logo nos primeiros dias de
imersatildeo na escola
Resolvi mudar o formato do meu relato referente agrave imersatildeo inicial Pois passei por uma situaccedilatildeo em sala que me provocou tal accedilatildeo Devido agrave imposiccedilatildeo de escolarizaccedilatildeo percebida na turma na qual acompanho Onde hoje me emocionei com o choro insistente do aluno BG com as matildeos estremecidas na tentativa de segurar o laacutepis para ldquofazer liccedilatildeordquo (Relato da Residente M 2015)
A partir do relato da residente percebe-se o quanto a questatildeo eacute relevante para
o campo da educaccedilatildeo infantil e da formaccedilatildeo de professores Nas observaccedilotildees e
relatos dos cadernos de campo natildeo eacute incomum aparecerem longas narrativas sobre
os equiacutevocos que ocorrem nas praacuteticas pedagoacutegicas que envolvem a alfabetizaccedilatildeo e
letramento das crianccedilas pequenas Consideramos que questotildees como essas quando
problematizadas pelos estudantes nos horaacuterios de preceptoria ou mesmo nas
discussotildees com professores especialistas sobre o tema tendem a aproximaacute-los de
uma futura praacutetica profissional em que o trabalho com o desenvolvimento da escrita
seja realizado de forma a respeitar a infacircncia natildeo negando agrave crianccedila o seu direito ao
luacutedico mas tratando a apresentaccedilatildeo do mundo letrado como mais um momento
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prazeroso de aprendizagens Tal reflexatildeo eacute importante para os futuros professores
para que busquem compreender como inserir as crianccedilas no mundo letrado de
maneira que possam romper com a dicotomia entre o brincar e a leituraescrita
tomando como referecircncia o significado dessas accedilotildees para a crianccedila possibilitando a
conduccedilatildeo dos trabalhos na educaccedilatildeo infantil que tornem possiacutevel o brincar ldquoletrando
e alfabetizandordquo (NEVES CASTANHEIRA E GOUVEIA 2015)
Outra temaacutetica que aparece num nuacutemero expressivo de postagens diz respeito
ao olhar do residente para as praacuteticas educativas e as interaccedilotildees que ocorrem na
escola com relaccedilatildeo agrave inclusatildeo escolar das crianccedilas percebidas como ldquodiferentesrdquo
Destaca-se nesta temaacutetica observaccedilotildees a respeito de diferenccedilas de religiatildeo gecircnero
raccedilacor e tambeacutem aquelas relacionadas agrave deficiecircncia Haacute descriccedilotildees sobre como as
crianccedilas lidam com as diferenccedilas e as formas como os professores trabalham com
aquelas que possuem alguma dificuldade Algumas postagens ressaltam a
necessidade de formaccedilatildeo inicial e continuada dos educadores para lidarem com a
diversidade na escola
Pela primeira vez vivenciei preconceito racial de uma crianccedila com outra Nos momentos em que a profa distribui lego para as crianccedilas ela daacute tambeacutem um bonequinho para cada crianccedila Tem bonecos adultos crianccedilas homens mulheres e de diversas cores Os bonecos satildeo dados aleatoriamente ou escolhidos pela crianccedila conforme a professora passa de mesa em mesa Neste dia um menino negro estava com um boneco negro Um garoto se aproximou e disse ldquoCredo que boneco feio parece vocecircrdquo se direcionando ao menino O menino deu de ombros e continuou a brincar e poucos minutos depois a menina que estava ao seu lado me perguntou ldquoPor que o boneco dele eacute pretinho Eacute muito feiordquo Claro que conversei com ela e com o outro menino em outro momento calmamente falando das diversas cores que as pessoas tecircm e que natildeo haacute isso de feio e bonito aproveitando para falar sobre diversidade e etc Mais para o final da conversa a menina me disse ldquoMeu pai eacute pretinho ele eacute bonitordquo Respondi a menina dizendo que a beleza natildeo estaacute na cor da pele do cabelo ou dos olhos A cena toda me fez refletir que a menina jaacute deve ter ouvido esse tipo de afirmaccedilatildeo errocircnea Jaacute comentei mais de uma vez sobre o preconceito de gecircnero ser muito forte mas e o racial algueacutem mais vivenciou esse tipo de preconceito durante esta residecircncia (Relato do residente T 2017)
Rosemberg (2014) chama a atenccedilatildeo para o tema da diversidade como uma
questatildeo circunscrita na histoacuteria da humanidade A diferenciaccedilatildeo entre os grupos
humanos ou pessoas com atributos que classificam e separam o ldquoeurdquo do ldquooutrordquo
parece constituir as diversas manifestaccedilotildees de culturas humanas Assim a autora
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desnaturaliza a identidade e a diferenccedila apontando o seu caraacuteter cultural social e
histoacuterico Contudo esse eacute um dos temas que tem chamado cada vez mais a atenccedilatildeo
de educadores desde a educaccedilatildeo infantil jaacute que muitas vezes as questotildees que
envolvem a diferenccedila e o diferente passam por processos discriminatoacuterios e
preconceituosos como apontado no relato do estudante ao observar as interaccedilotildees
entre as crianccedilas no que se refere ao quesito raccedilacor
Marinho e Martins (2016) em estudo sobre formaccedilatildeo de professoras que atuam
na educaccedilatildeo infantil constatam a escassez ou inexistecircncia de disciplinas na formaccedilatildeo
inicial de professores que abarquem as questotildees eacutetnico-raciais denunciando o natildeo
cumprimento das leis que entre outras prescriccedilotildees preveem que instituiccedilotildees de niacutevel
superior proporcionem aos futuros(as) professoresas a formaccedilatildeo adequada para
lidarem com as relaccedilotildees raciais multieacutetnica e multicultural da sociedade brasileira
Nesse sentido ao trazerem suas inquietaccedilotildees sobre como as crianccedilas lidam com as
diferenccedilas no contexto da escola os residentes se aproximam das discussotildees a
respeito dos processos discriminatoacuterios oportunizando momentos em que tais
temaacuteticas possam ser discutidas entre professores preceptores e colegas do
programa de estaacutegio
Aleacutem da questatildeo racial outros relatos nos datildeo conta de refletir e discutir sobre
as relaccedilotildees que envolvem as crianccedilas com deficiecircncia na escola
() O que me chamou atenccedilatildeo foi que na quarta (2204) H chegou na escola e decidiu mudar de lugar foi sentar bem ao lado do D (uma crianccedila que foi diagnosticada com autismo de ldquograu leverdquo segundo a professora) eu fiquei observando como seria a relaccedilatildeo deles H trouxe um caderno de desenho o abriu na mesa e dividiu metade da folha para ele e para D depois na hora de descer ele segurou a matildeo do D e ficou durante o almoccedilo todo cuidando de D o orientou a pegar a comida sentar comer devagar e quando natildeo quisesse mais deveria jogar a comida no lixo e durante todo o dia H permaneceu cuidando de D A professora achou estranho pois naquele dia ela natildeo havia chamado a atenccedilatildeo de H ateacute me falou ldquoEle deve estar aprontando e D eacute bobatildeo pode se machucarrdquo e decidiu intervir e pediu para que H mudasse de lugar e parasse de cuidar de (Relato do residente L 2015)
A partir da narrativa eacute possiacutevel refletir sobre o preparo dos professores para
lidar com as diferenccedilas individuais na educaccedilatildeo infantil A inclusatildeo escolar de crianccedilas
com deficiecircncia ocorre mediante poliacuteticas puacuteblicas de inclusatildeo contudo haacute uma
grande distacircncia entre a poliacutetica puacuteblica e a praacutetica pedagoacutegica nos contextos
escolares pois natildeo se aprofunda ldquoo debate sobre os meios os fins e as estrateacutegias
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para a implementaccedilatildeo da poliacutetica de ampliaccedilatildeo da rede de educaccedilatildeo infantilrdquo
(BRUNO 2008 p 59)
Outros registros que tratam da temaacutetica da inclusatildeo de crianccedilas com
deficiecircncia mostram o quanto a escola estaacute despreparada para lidar com essa
questatildeo Os relatos e inquietaccedilotildees dos estudantes nos possibilitam a identificaccedilatildeo de
processos discriminatoacuterios de resistecircncias e acomodaccedilotildees dos profissionais e do
distanciamento de uma praacutetica verdadeiramente inclusiva na esfera das praacuteticas
educativas cotidianas O que se percebe nas discussotildees sobre o assunto eacute que os
residentes enquanto futuros professores muito tecircm a aprender sobre a acolhida das
famiacutelias e das crianccedilas ldquodiferentesrdquo ou com deficiecircncia na constante reflexatildeo sobre o
comportamento atitudes e posturas do educador frente ao trabalho pedagoacutegico
Outras temaacuteticas tatildeo importantes como as que discutimos aqui tem sido objeto
de interesse dos estudantes em processo de imersatildeo nas escolas-campo Haacute uma
gama de registros sobre categorias que envolvem a crianccedila pequena nas atividades
do brincar a disciplina e a coerccedilatildeo dos educadores na tentativa de manter o controle
das crianccedilas e dos comportamentos considerados inadequados Muitos residentes se
surpreendem como essa coerccedilatildeo ocorre demasiadas vezes na escola e nas reuniotildees
de supervisatildeo eacute muito comum questionarem junto ao preceptor formas de
compreender por que algumas praacuteticas coercitivas satildeo tatildeo presentes na educaccedilatildeo
infantil
Consideraccedilotildees Finais
A experiecircncia de estaacutegio no Programa de Residecircncia Pedagoacutegica requer de
estudantes e professores uma atitude de intensa accedilatildeo e reflexatildeo Na perspectiva de
observaccedilatildeo participante eacute que a imersatildeo dos residentes na escola eacute orientada
embora natildeo haja uma intervenccedilatildeo direta planejada e sistemaacutetica sobre os modos de
fazer da escola e dos professores Possiacuteveis intervenccedilotildees sobre a escola suscitadas
pela presenccedila da universidade (de preceptores e residentes) satildeo uma contingecircncia
dos processos de formaccedilatildeo de condiccedilotildees e modos de seu desenvolvimento e eacute assim
que se define o lugar do residente e da preceptoria junto a escola o caraacuteter da
observaccedilatildeo participante a ser realizada durante o estaacutegio e sua conduccedilatildeo e discussatildeo
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no acircmbito escolar As posiccedilotildees dos residentes reeditam questotildees que mobilizam a
imersatildeo e reflexatildeo sobre o vivido como e quando participar O que como e quando
registrar sobre a observaccedilatildeo participante sobre o que se vivencia Como fazer uso
das ferramentas disponiacuteveis na escola e dos subsiacutedios teoacutericos oferecidos durante a
proacutepria residecircncia ou estudados no curso de pedagogia elaborando impressotildees sobre
o que descreve e refletindo sobre o que vive e elabora
A retomada dos escritos e reflexotildees dos estudantes participantes do Programa
de Residecircncia Pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Infantil nos trazem pistas relevantes para a
compreensatildeo natildeo somente dos seus processos formativos mas tambeacutem suscitam
atenccedilatildeo aos temas e questotildees emergentes do cotidiano das crianccedilas nas escolas de
Educaccedilatildeo Infantil Sabe-se que o processo de escrita eacute composto de idas e vindas
de avanccedilos e retrocessos de duacutevidas e certezas percebidas nos textos e contextos
apresentados pelos estudantes neste processo formativo especiacutefico
As postagens guardam caracteriacutesticas especiacuteficas correlatas ao vivido nas
praacuteticas de estaacutegio de acordo com as finalidades comunicativas e formativas do
caderno de campoblog e com especificidades ndash limites e possibilidades ndash que se
dimensionam nestas praacuteticas Os estudantes registram o que observam o que
vivenciam mas natildeo soacute Em muitos registros suas impressotildees (con)fundem-se com o
observado vatildeo aleacutem da descriccedilatildeo interpretando o visto o vivido e outras vezes para
alguns o registro se faz espaccedilo de recuperaccedilatildeo das proacuteprias vivecircncias e dos
elementos teoacutericos estudados
Nesta experiecircncia a liberdade na escolha e escrita dos temas dos cadernos de
campo tem permitido que o processo formativo de cada estudante aconteccedila de forma
uacutenica e original pois apesar de estarem imersos em ambientes semelhantes (em
alguns casos mesmas escolas-campo) e possuiacuterem referenciais teoacutericos semelhantes
(provenientes das unidades curriculares obrigatoacuterias e eletivas do Curso de
Pedagogia) os temas e questotildees que recebem a atenccedilatildeo de cada um satildeo distintos e
trabalhados teoricamente a partir das anguacutestias e inquietaccedilotildees individuais Entretanto
apesar das produccedilotildees escritas serem individuais ao serem publicizadas em reuniotildees
de orientaccedilatildeo ou ateacute no suporte virtual do blog elas podem ser compartilhadas e
tornam-se objeto comum de discussotildees e aprendizagens
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Por fim concluiacutemos assim como Noacutevoa (2000) a propoacutesito das narrativas (auto)
biograacuteficas que a escrita como parte dos processos formativos de professores eacute
capaz de fazer ldquoreaparecer os sujeitos face agraves estruturas e aos sistemas a qualidade
face agrave quantidade a vivecircncia face ao instituiacutedordquo Nesta linha de pensamento
percebemos que eacute possiacutevel ler o mundo e as relaccedilotildees sociais de um sujeito por meio
da sua narrativa produzindo ldquoum outro tipo de conhecimento mais proacuteximo das
realidades educativasrdquo (NOacuteVOA 2000 p 18 19 grifo do autor) e quiccedila
transformador dessas
Referecircncias bibliograacuteficas
BARBOSA Maria Carmem Silveira Por amor e por forccedila rotinas na Educaccedilatildeo Infantil Porto Alegre Artmed 2006
BRAGA Elizabeth dos Santos Viacutedeo escritas leituras recordaccedilotildees cultura e memoacuteria na sala de aula GOacuteES Maria Cecilia Rafael e SMOLKA Ana Luiza Bustamante A significaccedilatildeo nos espaccedilos Educacionais ndash Interaccedilatildeo social e subjetivaccedilatildeo Campinas Papirus Editora1997 p 87-110
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FEUERWERKER Laura Mudanccedilas na educaccedilatildeo meacutedica e residecircncia meacutedica no Brasil Interface comum sauacutede educaccedilatildeo vol 2 n3 p 51-71 1998
FREITAS Maria Teresa Assunccedilatildeo A pesquisa de abordagem histoacuterico-cultural um espaccedilo educativo de constituiccedilatildeo de sujeitos Revista Teias v 10 n 19 p 01-12 2009
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GIGLIO Ceacutelia Maria Benedicto LUGLI Rosaacuterio Silvana Genta Diaacutelogos pertinentes na formaccedilatildeo inicial e continuada de professores e gestores escolares A concepccedilatildeo
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MARQUES Danielle Vieira Aquino MUumlLLER Fernanda Experiecircncias com blog na pesquisa e na formaccedilatildeo inicial de professoras de educaccedilatildeo infantil ETD-Educaccedilatildeo Temaacutetica Digital v 14 n 1 p 43-61 2012
MARTINS E Famiacutelia e escola no contexto de um programa de residecircncia pedagoacutegica um estudo a partir do enfoque histoacuterico-cultural Educaccedilatildeo Sociedade amp Culturas v 37 p 89-107 2012
MEKSENAS Paulo Sociologia da educaccedilatildeo uma introduccedilatildeo ao estudo da escola no processo de transformaccedilatildeo social Satildeo Paulo Loyola 2002
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MORETTI Vanessa Dias A articulaccedilatildeo entre a formaccedilatildeo inicial e continuada de professores que ensinam matemaacutetica o caso da Residecircncia Pedagoacutegica da Unifesp Revista Educaccedilatildeo Porto Alegre 2011 v 34 n 3 p 385-390 2011
NEVES Vanessa Ferraz Almeida CASTANHEIRA Maria Luacutecia GOUVEcircA Maria Cristina Soares O letramento e o brincar em processos de socializaccedilatildeo na educaccedilatildeo infantil brincadeiras diferentes Revista Brasileira de Educaccedilatildeo v 20 n 60 p 215-
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POLADIAN Marina Lopes Pedrosa Estudo sobre o Programa de residecircncia pedagoacutegica da Unifesp uma articulaccedilatildeo entre Universidade e escola na formaccedilatildeo de professores Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Psicologia da Educaccedilatildeo) - Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo 2014
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ROSEMBERG Fulvia Educaccedilatildeo infantil e relaccedilotildees raciais a tensatildeo entre igualdade e diversidade Cadernos de Pesquisa v 44 n 153 p 742-759 2014
SILVA Adriana BUFALO Joseane O espaccedilo na pedagogia da educaccedilatildeo infantil faacutebula perversidade e possibilidade In Culturas infantis em creches e preacute-escolas estaacutegio e pesquisa Campinas SP Autores Associados 2011
TARDIF Maurice A profissionalizaccedilatildeo do ensino passados trinta anos dois passos para a frente trecircs para traacutes Educaccedilatildeo e Sociedade Campinas SP v34 n123 p
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VYGOTSKY Lev Semyonovich Desarrollo de las funciones psiacutequicas superiores en la edad de transicion in l s vygotski obras escogidas iv Paidologiacutea del adolescente Madrid Machado Libros Tomo IV 19302006a
Correspondecircncia
Edna Martins ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo (UNIFESP)
Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Maria de Faacutetima Carvalho ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Renata Marciacutelio Cacircndido ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Universidade Federal de Satildeo Paulo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo R
Sena Madureira 1500 ndash Vila Clementino CEP 04021-001 Satildeo Paulo Satildeo Paulo
Brasil
E-mail emartinsunifespgmailcom ndash carvalhomdfgmailcom ndash
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A atividade praacutetica do homem portanto se faz duplamente mediada de uma parte estaacute mediada pelas ferramentas no sentido literal da palavra e de outra parte mediada pelas ferramentas no sentido figurado pelas ferramentas do pensamento pelos meios com a ajuda dos quais se realiza a operaccedilatildeo intelectual ou seja mediada com a ajuda das palavras (VYGOTSKI 19302006a p 165)
Nessa direccedilatildeo conveacutem destacar a importacircncia do blog como instrumento social
representativo da incorporaccedilatildeo da tecnologia ao dia a dia dos estudantes e da
consideraccedilatildeo da mediaccedilatildeo tecnoloacutegica em processos de aprendizagem e
desenvolvimento dos graduandos
Diferente de outras formas de relacionamento virtual (e-mail chat instant
messages listas de discussatildeo etc) e de ferramentas virtuais convencionais ndash como
os sites ndash o blog caracteriza-se pela facilidade de sua criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo o que eacute
definido pela organizaccedilatildeo automaacutetica das mensagens ndash posts ndash pelo sistema
dinamizando seu uso e favorecendo a construccedilatildeo de diaacuterios coletivos mantidos por
vaacuterios usuaacuterios Tais caracteriacutesticas favorecem o uso do blog em processos de ensino-
aprendizagem tendo em vista a interaccedilatildeo a troca o diaacutelogo como forma de partilha e
construccedilatildeo de conhecimentos (MARQUES MULLER 2012)
O blog permite portanto o compartilhamento de informaccedilotildees e a interaccedilatildeo
entre estudantes do mesmo grupo e o mesmo preceptor em uma mesma escola
Todos podem ler e comentar as postagens funcionando como um ponto de encontro
entre alunos e preceptores Assim nossa atenccedilatildeo agraves postagens dos estudantes no
blog eacute dirigida pelo objetivo de dar visibilidade a dimensatildeo social das praacuteticas de
registro do observadovivido nos processos formativos que emergem na experiecircncia
de Residecircncia Pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Infantil Assumimos o caraacuteter histoacuterico-
cultural da pesquisa do meacutetodo do objeto de estudo e do proacuteprio conhecimento como
construccedilatildeo que se realiza entre sujeitos (FREITAS 2009) Dessa forma acredita-se
que o momento de elaboraccedilatildeo do vivido ndash o registro no caderno de campoblog ndash
deflagra no estudante a necessidade de reflexatildeo sobre os processos de ensino-
aprendizagem em curso no acircmbito do estaacutegio-residecircncia pedagoacutegica
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Registros no caderno de campo online o olhar do residente sobre a escola de
educaccedilatildeo infantil
Nos primeiros dias de imersatildeo na escola os residentes satildeo orientados a
realizar uma observaccedilatildeo atenta dos espaccedilos da instituiccedilatildeo A partir da leitura do texto
de Silva e Bufalo (2011) sobre culturas escolares os residentes descrevem em seus
primeiros registros detalhes fiacutesicos sobre a escola Muitos acabam desenhando a
planta baixa ou tirando fotos de salas de aulas parques e paacutetios e compartilhando no
caderno de campo online (blog) para comeccedilarem a pensar sobre o contexto e os
espaccedilos que podem favorecer a aprendizagem e o desenvolvimento da crianccedila
pequena como descrito no excerto abaixo
Uma coisa que me chamou atenccedilatildeo foi que natildeo possuem um espaccedilo para atividade fiacutesica essas satildeo realizadas no paacutetio que eacute proacuteximo as salas o barulho acaba atrapalhando os demais O parque estaacute interditado por ordem da diretora ou seja natildeo possuem lugar para brincar O dia das crianccedilas foi pautado em ficar sentado e quieto vendo um filme que a maioria jaacute tinha assistido (Relato da residente N 2017)
Formas de organizaccedilatildeo de espaccedilos e tempos remetem agrave organizaccedilatildeo da rotina
Sobre esse tema grande quantidade de postagens textos diz respeito a como as
atividades diaacuterias satildeo organizadas na escola Em alguns registros como o
apresentado a seguir aparece a problematizaccedilatildeo da forma de organizaccedilatildeo das
atividades
730 (15min) - a professora colocou o cabeccedilalho na lousa com a data e fez a contagem coletiva das crianccedilas 745 (45min) - a professora retomou o que eles haviam aprendido sobre os iacutendios entregou massinha e os orientou a modelar utensiacutelios indiacutegenas 830 (35min) - pintura de desenho xerocado que seraacute colado na capa do caderno de atividades 905 (25min) - brincadeira livre no paacutetio interno no brinquedatildeo que fica no final da escadarampa sup2940 (30min) - brincadeira em sala Gato mia 1010 (ateacute as crianccedilas irem embora) - a professora entregou uma folha com a letra da canccedilatildeo 1 2 3 indiozinhos cantou a muacutesica com eles sentados em seus lugares pediu para eles circularem as letras A e I e depois pintar a ilustraccedilatildeo () (Relato da residente J 2015)
A rotina observada e registrada pela residente configura-se como um dos
aspectos mais relevantes na vida da crianccedila que se encontra na escola de Educaccedilatildeo
Infantil Barbosa (2006) aponta que esse eacute um dos elementos que integram as praacuteticas
educativas que devem ser observadas e planejadas com regularidade objetivando a
operacionalizaccedilatildeo do cotidiano da escola de maneira que possa contribuir na
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constituiccedilatildeo da subjetividade dos atores escolares Desse modo pensar e
compreender a rotina como um fator presente e essencial na educaccedilatildeo de crianccedilas
pequenas eacute um passo promissor para que o residente acompanhe como as atividades
cotidianas da escola se materializam e datildeo base para a organizaccedilatildeo da praacutetica
pedagoacutegica devendo estar presente no desenvolvimento curricular
O planejamento das atividades na educaccedilatildeo infantil tem estreita ligaccedilatildeo com a
rotina Ao observar e refletir sobre a vida e as experiecircncias das crianccedilas na escola os
residentes satildeo remetidos a memoacuteria agrave lembranccedila do que tambeacutem foi um dia vivido
por eles em suas experiecircncias escolares Como apontado por Meksenas (2002)
ldquonunca somos testemunhas objetivas observando objetos e sim sujeitos observando
outros sujeitosrdquo (p 116)
Estive tentando lembrar nas uacuteltimas semanas o que eu fazia na minha preacute-escola Eu comecei no maternal com 3 anos ()Tenho vagas lembranccedilas de duas salas de aula uma do preacute III e a outra acho que era do preacute I Era uma escola particular dessas pequenas de bairro Lembro que a turma natildeo era tatildeo numerosa quanto essa que estou vendo na residecircncia mas a sala tinha uma organizaccedilatildeo parecida eram mesas e cadeiras enfileiradas nas duas () Eu estava com 5 anos Lembro que a gente tinha uma apostila no preacute I eu gostava de terminar tudo raacutepido para dormir Depois a professora comeccedilou a me dar gibi para eu ficar folheando Tenho na minha memoacuteria que as coisas que a gente fazia na escola eram chatas e muito infantis bobas demais Agora eu penso talvez as professoras ficassem me ocupando com massinha e pinturas todo dia tambeacutem como eu vejo na residecircncia e por isso eu achava muito chato O que seraacute que essas crianccedilas pensam disso O que seraacute que elas acham mais legal na escola Eu vejo que elas gostam muito de fazer liccedilatildeo essas de folhinha que a professora daacute e todos os dias elas perguntam Mas eu natildeo me conformo como elas acham isso tatildeo legal (Relato da Residente F 2017)
Sabemos que a memoacuteria eacute mediada pelo signo pelas interaccedilotildees sociais pelo
outro Braga (1997) dirige nosso olhar para o ldquoprocesso de apropriaccedilatildeo das formas
culturais de interaccedilatildeo que caracterizam a memoacuteria humanardquo Para a autora ldquoa
memoacuteria do homem soacute se configura no movimento discursivo e coletivo por sua
natureza cultural e simboacutelicardquo No registro acima o observado mobiliza as lembranccedilas
da residente aquilo que foi tambeacutem vivido na escola de sua infacircncia Entre lembranccedilas
e interrogaccedilotildees emergem as construccedilotildees formativas em um processo dinacircmico ndash
interativo cultural e simboacutelico Processo que potildeem em relaccedilatildeo vivecircncias atuais e
passadas que invocam sentidos e significados atribuiacutedos ao vivido que ocorre nas
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contradiccedilotildees entre aquilo que eacute rememorado pela estudante e o que efetivamente eacute
observado nas relaccedilotildees estabelecidas no contato com o cotidiano da escola
Aleacutem da rotina e da organizaccedilatildeo de tempos e espaccedilos em sua relaccedilatildeo com as
praacuteticas pedagoacutegicas os relatos dos estudantes se reportam agraves diferentes dimensotildees
da gestatildeo escolar Os registros destacam suas observaccedilotildees nas H A (hora atividade)
ou reuniotildees que eventualmente participam e com frequecircncia observam a postura da
equipe em relaccedilatildeo a presenccedila do residente Em seus relatos questionam o caraacuteter
da gestatildeo a qualidade da relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo entre os professores as discussotildees
que remetem a construccedilatildeo e discussatildeo do projeto poliacutetico pedagoacutegico e os papeis
desempenhados pelos diferentes educadores na construccedilatildeo do trabalho de educaccedilatildeo
da infacircncia
Completamos nesta semana 4 dias de participaccedilatildeo nas Horas Atividades (HA) destinada agrave formaccedilatildeo docente organizaccedilatildeo dos registros e planejamento das atividades pedagoacutegicas O que pude por meio da observaccedilatildeo constatar que o papel do Coordenador Pedagoacutegico que eacute fundamental nesse momento de formaccedilatildeo pois eacute ele o mediador desse processo acaba por se tornar distante e sem intervenccedilotildees no que adentra a orientaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico docente (Relato da estudante M 2015)
Na experiecircncia cotidiana de imersatildeo na escola eacute possiacutevel verificar as tensotildees
vivenciadas entre os professores e o papel da coordenaccedilatildeo pedagoacutegica A teoria
discutida na universidade pelos residentes assinala a importacircncia do papel do
coordenador pedagoacutegico na educaccedilatildeo infantil na praacutetica o residente percebe o quanto
a sua mediaccedilatildeo eacute fundamental na organizaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico e por outro
lado o quanto a sua ausecircncia pode interferir de forma negativa na orientaccedilatildeo das
atividades dos professores
Outra personagem que acaba sendo central na gestatildeo escolar eacute a direccedilatildeo que
nessa experiecircncia do residente tambeacutem eacute observada de forma criacutetica
A figura da diretora na escola foi a que mais me chamou a atenccedilatildeo ()imaginem que em nenhum momento percebi qualquer aproximaccedilatildeo da diretora com as crianccedilas em vaacuterios momentos acreditei que ela fosse algum teacutecnico administrativo pois apesar de estar no topo da piracircmide a referecircncia da gestatildeo a mesma se restringia a secretaria e natildeo se relacionava natildeo nos conhecia nem procurava nos conhecer Passou diversas vezes por grupos de crianccedilas e em nenhuma das vezes sequer olhou para elas Nunca apareceu em uma HA nunca percebi o seu contato com os professores e por diversas vezes me perguntei como eles se falavam qual era o seu relacionamento (Relato da residente B 2015)
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Sobre esse assunto estudos como os de Paro (2005) e Castro (2009) tem
assinalado o papel da gestatildeo e da administraccedilatildeo escolar como alicerce fundamental
nos processos de transformaccedilatildeo da escola puacuteblica brasileira Tais trabalhos tecircm
apontado a centralidade da direccedilatildeo escolar nas questotildees que envolvem os processos
de ensino e aprendizagem e as relaccedilotildees humanas presentes na equipe de trabalho
para aleacutem dos trabalhos administrativos e burocraacuteticos Natildeo eacute objetivo deste trabalho
fazer uma anaacutelise do papel do diretor na escola de educaccedilatildeo infantil mas cabe
assinalar que os estudantes residentes apontam o tema em seus registros e atentos
agraves demandas relativas ao papel do diretor indagam se como e quanto as lideranccedilas
escolares tecircm se envolvido com o trabalho administrativo dispendendo tempo para
um olhar mais atento agraves relaccedilotildees entre os professoresalunos funcionaacuterios da escola
observada
Em relaccedilatildeo agraves interaccedilotildees humanas outros registros dos residentes nos
remetem agraves maneiras como a escola lida com as famiacutelias das crianccedilas matriculadas
nas escolas Tais relatos natildeo satildeo tatildeo frequentes possivelmente porque essa eacute uma
relaccedilatildeo que se caracteriza pela assimetria de poderes e eacute pouco valorizada no dia a
dia escolar Os registros evocam situaccedilotildees vividas comentaacuterios ouvidos e
principalmente a necessidade de mudanccedila dos modos de conceber a crianccedila e suas
famiacutelias e de interagir com elas
A relaccedilatildeo entre professor e famiacutelia eacute mais uma dessas conexotildees que fazemos pela vida Por um lado haacute um profissional uma pessoa que estudou e eacute especialista em cuidar de crianccedilas Por outro famiacutelias que dificilmente conseguimos de fato perceber como satildeo suas estruturadas Famiacutelia hoje eacute coisa difiacutecil de entender Eacute matildee que mora sozinha com o filho eacute pais que trabalham e deixam os filhos na semana com tios avoacutes Eacute matildee solteira Eacute filho criado por pai viuacutevo Eacute histoacuteria que natildeo acaba mais Na hora da saiacuteda vamos conhecendo um pouquinho da estrutura familiar de cada crianccedila tentando perceber como se daacute a relaccedilatildeo entre a famiacutelia e a escola mas devemos ter um pouco de cuidado com esse processo (Relato do estudante J 2015)
Aleacutem da residente ter um olhar para os diferentes tipos de arranjos familiares
tambeacutem busca compreender a especificidade de cada famiacutelia considerando o papel
da mulher e de matildee trabalhadora com filhos na escola puacuteblica
(hellip) Veja esses apontamentos uma menina na sala estaacute com piolho a professora disse que jaacute alertou a matildee mas como eacute matildee solteira soacute pode cuidar da filha no domingo O outro menino que natildeo se interessa pelas atividades e responde a educadora tambeacutem teve a matildee notificada mas como
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a mesma eacute separada do marido natildeo faz nada O fato da mulher trabalhar a semana e ter folga aos domingos natildeo significa que ela seja uma maacute matildee pelo contraacuterio significa que ela rala muito para colocar comida no prato A presenccedila ou natildeo de um homem natildeo condiciona nada A escola natildeo pode ser um ambiente de roacutetulos ela deve estar aberta agraves diferenccedilas acolhendo e buscando outras maneiras e formas de aproximaccedilatildeo com a famiacutelia compreendendo a responsabilidade compartilhada que carregam (Registro da residente B 2015)
Os relatos demonstram natildeo soacute o quanto estatildeo atentos para como a escola lida
com as relaccedilotildees familiares mas sobretudo assinalam como tecircm se configurado as
formaccedilotildees das famiacutelias na atualidade Um estudo de Martins (2012) aponta o quanto
a experiecircncia de residecircncia pedagoacutegica possibilita aos estudantes um contato mais
expressivo com a realidade da escola puacuteblica de periferia urbana Aleacutem de observar
as relaccedilotildees institucionais o residente pode ser sensibilizado frente agraves dificuldades
vividas pelas famiacutelias e tendem a perceber o preconceito em relaccedilatildeo aos vaacuterios
arranjos familiares vivenciados pelas crianccedilas mais pobres e como a escolarizaccedilatildeo
dos pais pode afetar a vida dos filhos Os registros dos residentes demonstram como
ldquoos contextos de vida das crianccedilas que frequentam a escola puacuteblica de periferia
passam a ser compreendidos de uma forma concreta e as relaccedilotildees do espaccedilo familiar
com o espaccedilo escolar passam a ter uma conexatildeo cotidianardquo (MARTINS 2012 p 95)
Outra temaacutetica recorrente nos registros dos estudantes diz respeito ao processo
de escolarizaccedilatildeo das praacuteticas da educaccedilatildeo da infacircncia Tal perspectiva surge quando
os residentes referem aos usos dos brinquedos e agraves brincadeiras agrave presenccedila da
leitura e contaccedilatildeo de histoacuterias aos modos de introduccedilatildeo do desenho ao uso de novas
tecnologias e aos modos de avaliar agraves crianccedilas Tal perspectiva escolarizante emerge
em oposiccedilatildeo ao luacutedico como princiacutepio e forma de organizaccedilatildeo das praacuteticas de
educaccedilatildeo junto agraves crianccedilas pequenas e algumas vezes a ela ainda se articula a
preocupaccedilatildeo em disciplinar as vivecircncias escolares sondagens filas broncas e
silecircncios coexistem com desenhos Tv computadores e brincadeiras Os registros nos
dizem de uma escola que hesita entre coibir e promover a expressatildeo das muitas
linguagens da imaginaccedilatildeo e movimento das crianccedilas
Na semana de 2310 a 2710 e como previsto na reuniatildeo de pais a professora realizou a sondagem com as crianccedilas Teoricamente sei como funciona o procedimento mas me questiono se deve ser realizada na Ed Infantil Tambeacutem me pergunto se a sondagem vai muito aleacutem do conhecimento das crianccedilas Por exemplo algumas escrevem o proacuteprio nome
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e algumas palavras mais comuns a elas outras ainda nem reconhecem as letras do alfabeto A sondagem feita abarcou o nome palavras simples um pouco mais complexas e uma frase inteira A minha duacutevida eacute se a sondagem que vai muito aleacutem dos conhecimentos da sala eacute comum e necessaacuteria ainda mais na Ed Infantil (Relato do residente N 2017)
O debate em torno das questotildees que envolvem a escolarizaccedilatildeo de crianccedilas
pequenas eacute bastante antigo e recorrente Pesquisas como as de Neves Castanheira
e Gouveia (2015) assinalam a partir de autores que estudaram essa temaacutetica como
a perspectiva escolarizante de trabalho com a crianccedila pequena traz seacuterias implicaccedilotildees
para o desenvolvimento infantil justamente porque rompe com as formas como elas
ldquointeragem com a escrita fora da escola destituindo-a de significados pessoais e
sociais e dificulta portanto que as atividades desenvolvidas no espaccedilo escolar
envolvam a ludicidade caracteriacutestica fundamental dessa fase do desenvolvimentordquo
(p 217)
Os residentes parecem estar muito atentos a essas questotildees porque participam
de discussotildees sistemaacuteticas sobre o assunto tanto nas aulas teoacutericas na Universidade
quanto nas reuniotildees de orientaccedilatildeo com os preceptores do Programa de Residecircncia
Muitos estudantes satildeo levados a refletir sobre o assunto logo nos primeiros dias de
imersatildeo na escola
Resolvi mudar o formato do meu relato referente agrave imersatildeo inicial Pois passei por uma situaccedilatildeo em sala que me provocou tal accedilatildeo Devido agrave imposiccedilatildeo de escolarizaccedilatildeo percebida na turma na qual acompanho Onde hoje me emocionei com o choro insistente do aluno BG com as matildeos estremecidas na tentativa de segurar o laacutepis para ldquofazer liccedilatildeordquo (Relato da Residente M 2015)
A partir do relato da residente percebe-se o quanto a questatildeo eacute relevante para
o campo da educaccedilatildeo infantil e da formaccedilatildeo de professores Nas observaccedilotildees e
relatos dos cadernos de campo natildeo eacute incomum aparecerem longas narrativas sobre
os equiacutevocos que ocorrem nas praacuteticas pedagoacutegicas que envolvem a alfabetizaccedilatildeo e
letramento das crianccedilas pequenas Consideramos que questotildees como essas quando
problematizadas pelos estudantes nos horaacuterios de preceptoria ou mesmo nas
discussotildees com professores especialistas sobre o tema tendem a aproximaacute-los de
uma futura praacutetica profissional em que o trabalho com o desenvolvimento da escrita
seja realizado de forma a respeitar a infacircncia natildeo negando agrave crianccedila o seu direito ao
luacutedico mas tratando a apresentaccedilatildeo do mundo letrado como mais um momento
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prazeroso de aprendizagens Tal reflexatildeo eacute importante para os futuros professores
para que busquem compreender como inserir as crianccedilas no mundo letrado de
maneira que possam romper com a dicotomia entre o brincar e a leituraescrita
tomando como referecircncia o significado dessas accedilotildees para a crianccedila possibilitando a
conduccedilatildeo dos trabalhos na educaccedilatildeo infantil que tornem possiacutevel o brincar ldquoletrando
e alfabetizandordquo (NEVES CASTANHEIRA E GOUVEIA 2015)
Outra temaacutetica que aparece num nuacutemero expressivo de postagens diz respeito
ao olhar do residente para as praacuteticas educativas e as interaccedilotildees que ocorrem na
escola com relaccedilatildeo agrave inclusatildeo escolar das crianccedilas percebidas como ldquodiferentesrdquo
Destaca-se nesta temaacutetica observaccedilotildees a respeito de diferenccedilas de religiatildeo gecircnero
raccedilacor e tambeacutem aquelas relacionadas agrave deficiecircncia Haacute descriccedilotildees sobre como as
crianccedilas lidam com as diferenccedilas e as formas como os professores trabalham com
aquelas que possuem alguma dificuldade Algumas postagens ressaltam a
necessidade de formaccedilatildeo inicial e continuada dos educadores para lidarem com a
diversidade na escola
Pela primeira vez vivenciei preconceito racial de uma crianccedila com outra Nos momentos em que a profa distribui lego para as crianccedilas ela daacute tambeacutem um bonequinho para cada crianccedila Tem bonecos adultos crianccedilas homens mulheres e de diversas cores Os bonecos satildeo dados aleatoriamente ou escolhidos pela crianccedila conforme a professora passa de mesa em mesa Neste dia um menino negro estava com um boneco negro Um garoto se aproximou e disse ldquoCredo que boneco feio parece vocecircrdquo se direcionando ao menino O menino deu de ombros e continuou a brincar e poucos minutos depois a menina que estava ao seu lado me perguntou ldquoPor que o boneco dele eacute pretinho Eacute muito feiordquo Claro que conversei com ela e com o outro menino em outro momento calmamente falando das diversas cores que as pessoas tecircm e que natildeo haacute isso de feio e bonito aproveitando para falar sobre diversidade e etc Mais para o final da conversa a menina me disse ldquoMeu pai eacute pretinho ele eacute bonitordquo Respondi a menina dizendo que a beleza natildeo estaacute na cor da pele do cabelo ou dos olhos A cena toda me fez refletir que a menina jaacute deve ter ouvido esse tipo de afirmaccedilatildeo errocircnea Jaacute comentei mais de uma vez sobre o preconceito de gecircnero ser muito forte mas e o racial algueacutem mais vivenciou esse tipo de preconceito durante esta residecircncia (Relato do residente T 2017)
Rosemberg (2014) chama a atenccedilatildeo para o tema da diversidade como uma
questatildeo circunscrita na histoacuteria da humanidade A diferenciaccedilatildeo entre os grupos
humanos ou pessoas com atributos que classificam e separam o ldquoeurdquo do ldquooutrordquo
parece constituir as diversas manifestaccedilotildees de culturas humanas Assim a autora
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desnaturaliza a identidade e a diferenccedila apontando o seu caraacuteter cultural social e
histoacuterico Contudo esse eacute um dos temas que tem chamado cada vez mais a atenccedilatildeo
de educadores desde a educaccedilatildeo infantil jaacute que muitas vezes as questotildees que
envolvem a diferenccedila e o diferente passam por processos discriminatoacuterios e
preconceituosos como apontado no relato do estudante ao observar as interaccedilotildees
entre as crianccedilas no que se refere ao quesito raccedilacor
Marinho e Martins (2016) em estudo sobre formaccedilatildeo de professoras que atuam
na educaccedilatildeo infantil constatam a escassez ou inexistecircncia de disciplinas na formaccedilatildeo
inicial de professores que abarquem as questotildees eacutetnico-raciais denunciando o natildeo
cumprimento das leis que entre outras prescriccedilotildees preveem que instituiccedilotildees de niacutevel
superior proporcionem aos futuros(as) professoresas a formaccedilatildeo adequada para
lidarem com as relaccedilotildees raciais multieacutetnica e multicultural da sociedade brasileira
Nesse sentido ao trazerem suas inquietaccedilotildees sobre como as crianccedilas lidam com as
diferenccedilas no contexto da escola os residentes se aproximam das discussotildees a
respeito dos processos discriminatoacuterios oportunizando momentos em que tais
temaacuteticas possam ser discutidas entre professores preceptores e colegas do
programa de estaacutegio
Aleacutem da questatildeo racial outros relatos nos datildeo conta de refletir e discutir sobre
as relaccedilotildees que envolvem as crianccedilas com deficiecircncia na escola
() O que me chamou atenccedilatildeo foi que na quarta (2204) H chegou na escola e decidiu mudar de lugar foi sentar bem ao lado do D (uma crianccedila que foi diagnosticada com autismo de ldquograu leverdquo segundo a professora) eu fiquei observando como seria a relaccedilatildeo deles H trouxe um caderno de desenho o abriu na mesa e dividiu metade da folha para ele e para D depois na hora de descer ele segurou a matildeo do D e ficou durante o almoccedilo todo cuidando de D o orientou a pegar a comida sentar comer devagar e quando natildeo quisesse mais deveria jogar a comida no lixo e durante todo o dia H permaneceu cuidando de D A professora achou estranho pois naquele dia ela natildeo havia chamado a atenccedilatildeo de H ateacute me falou ldquoEle deve estar aprontando e D eacute bobatildeo pode se machucarrdquo e decidiu intervir e pediu para que H mudasse de lugar e parasse de cuidar de (Relato do residente L 2015)
A partir da narrativa eacute possiacutevel refletir sobre o preparo dos professores para
lidar com as diferenccedilas individuais na educaccedilatildeo infantil A inclusatildeo escolar de crianccedilas
com deficiecircncia ocorre mediante poliacuteticas puacuteblicas de inclusatildeo contudo haacute uma
grande distacircncia entre a poliacutetica puacuteblica e a praacutetica pedagoacutegica nos contextos
escolares pois natildeo se aprofunda ldquoo debate sobre os meios os fins e as estrateacutegias
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para a implementaccedilatildeo da poliacutetica de ampliaccedilatildeo da rede de educaccedilatildeo infantilrdquo
(BRUNO 2008 p 59)
Outros registros que tratam da temaacutetica da inclusatildeo de crianccedilas com
deficiecircncia mostram o quanto a escola estaacute despreparada para lidar com essa
questatildeo Os relatos e inquietaccedilotildees dos estudantes nos possibilitam a identificaccedilatildeo de
processos discriminatoacuterios de resistecircncias e acomodaccedilotildees dos profissionais e do
distanciamento de uma praacutetica verdadeiramente inclusiva na esfera das praacuteticas
educativas cotidianas O que se percebe nas discussotildees sobre o assunto eacute que os
residentes enquanto futuros professores muito tecircm a aprender sobre a acolhida das
famiacutelias e das crianccedilas ldquodiferentesrdquo ou com deficiecircncia na constante reflexatildeo sobre o
comportamento atitudes e posturas do educador frente ao trabalho pedagoacutegico
Outras temaacuteticas tatildeo importantes como as que discutimos aqui tem sido objeto
de interesse dos estudantes em processo de imersatildeo nas escolas-campo Haacute uma
gama de registros sobre categorias que envolvem a crianccedila pequena nas atividades
do brincar a disciplina e a coerccedilatildeo dos educadores na tentativa de manter o controle
das crianccedilas e dos comportamentos considerados inadequados Muitos residentes se
surpreendem como essa coerccedilatildeo ocorre demasiadas vezes na escola e nas reuniotildees
de supervisatildeo eacute muito comum questionarem junto ao preceptor formas de
compreender por que algumas praacuteticas coercitivas satildeo tatildeo presentes na educaccedilatildeo
infantil
Consideraccedilotildees Finais
A experiecircncia de estaacutegio no Programa de Residecircncia Pedagoacutegica requer de
estudantes e professores uma atitude de intensa accedilatildeo e reflexatildeo Na perspectiva de
observaccedilatildeo participante eacute que a imersatildeo dos residentes na escola eacute orientada
embora natildeo haja uma intervenccedilatildeo direta planejada e sistemaacutetica sobre os modos de
fazer da escola e dos professores Possiacuteveis intervenccedilotildees sobre a escola suscitadas
pela presenccedila da universidade (de preceptores e residentes) satildeo uma contingecircncia
dos processos de formaccedilatildeo de condiccedilotildees e modos de seu desenvolvimento e eacute assim
que se define o lugar do residente e da preceptoria junto a escola o caraacuteter da
observaccedilatildeo participante a ser realizada durante o estaacutegio e sua conduccedilatildeo e discussatildeo
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no acircmbito escolar As posiccedilotildees dos residentes reeditam questotildees que mobilizam a
imersatildeo e reflexatildeo sobre o vivido como e quando participar O que como e quando
registrar sobre a observaccedilatildeo participante sobre o que se vivencia Como fazer uso
das ferramentas disponiacuteveis na escola e dos subsiacutedios teoacutericos oferecidos durante a
proacutepria residecircncia ou estudados no curso de pedagogia elaborando impressotildees sobre
o que descreve e refletindo sobre o que vive e elabora
A retomada dos escritos e reflexotildees dos estudantes participantes do Programa
de Residecircncia Pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Infantil nos trazem pistas relevantes para a
compreensatildeo natildeo somente dos seus processos formativos mas tambeacutem suscitam
atenccedilatildeo aos temas e questotildees emergentes do cotidiano das crianccedilas nas escolas de
Educaccedilatildeo Infantil Sabe-se que o processo de escrita eacute composto de idas e vindas
de avanccedilos e retrocessos de duacutevidas e certezas percebidas nos textos e contextos
apresentados pelos estudantes neste processo formativo especiacutefico
As postagens guardam caracteriacutesticas especiacuteficas correlatas ao vivido nas
praacuteticas de estaacutegio de acordo com as finalidades comunicativas e formativas do
caderno de campoblog e com especificidades ndash limites e possibilidades ndash que se
dimensionam nestas praacuteticas Os estudantes registram o que observam o que
vivenciam mas natildeo soacute Em muitos registros suas impressotildees (con)fundem-se com o
observado vatildeo aleacutem da descriccedilatildeo interpretando o visto o vivido e outras vezes para
alguns o registro se faz espaccedilo de recuperaccedilatildeo das proacuteprias vivecircncias e dos
elementos teoacutericos estudados
Nesta experiecircncia a liberdade na escolha e escrita dos temas dos cadernos de
campo tem permitido que o processo formativo de cada estudante aconteccedila de forma
uacutenica e original pois apesar de estarem imersos em ambientes semelhantes (em
alguns casos mesmas escolas-campo) e possuiacuterem referenciais teoacutericos semelhantes
(provenientes das unidades curriculares obrigatoacuterias e eletivas do Curso de
Pedagogia) os temas e questotildees que recebem a atenccedilatildeo de cada um satildeo distintos e
trabalhados teoricamente a partir das anguacutestias e inquietaccedilotildees individuais Entretanto
apesar das produccedilotildees escritas serem individuais ao serem publicizadas em reuniotildees
de orientaccedilatildeo ou ateacute no suporte virtual do blog elas podem ser compartilhadas e
tornam-se objeto comum de discussotildees e aprendizagens
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Por fim concluiacutemos assim como Noacutevoa (2000) a propoacutesito das narrativas (auto)
biograacuteficas que a escrita como parte dos processos formativos de professores eacute
capaz de fazer ldquoreaparecer os sujeitos face agraves estruturas e aos sistemas a qualidade
face agrave quantidade a vivecircncia face ao instituiacutedordquo Nesta linha de pensamento
percebemos que eacute possiacutevel ler o mundo e as relaccedilotildees sociais de um sujeito por meio
da sua narrativa produzindo ldquoum outro tipo de conhecimento mais proacuteximo das
realidades educativasrdquo (NOacuteVOA 2000 p 18 19 grifo do autor) e quiccedila
transformador dessas
Referecircncias bibliograacuteficas
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MARQUES Danielle Vieira Aquino MUumlLLER Fernanda Experiecircncias com blog na pesquisa e na formaccedilatildeo inicial de professoras de educaccedilatildeo infantil ETD-Educaccedilatildeo Temaacutetica Digital v 14 n 1 p 43-61 2012
MARTINS E Famiacutelia e escola no contexto de um programa de residecircncia pedagoacutegica um estudo a partir do enfoque histoacuterico-cultural Educaccedilatildeo Sociedade amp Culturas v 37 p 89-107 2012
MEKSENAS Paulo Sociologia da educaccedilatildeo uma introduccedilatildeo ao estudo da escola no processo de transformaccedilatildeo social Satildeo Paulo Loyola 2002
MORETTI Vanessa Dias MARTINS Edna Atividade de ensino mediaccedilatildeo e aprendizagem da docecircncia na residecircncia pedagoacutegica uma anaacutelise a partir da teoria histoacuterico-cultural Revista Contrapontos v 15 n 3 p 394-411 2015
MORETTI Vanessa Dias A articulaccedilatildeo entre a formaccedilatildeo inicial e continuada de professores que ensinam matemaacutetica o caso da Residecircncia Pedagoacutegica da Unifesp Revista Educaccedilatildeo Porto Alegre 2011 v 34 n 3 p 385-390 2011
NEVES Vanessa Ferraz Almeida CASTANHEIRA Maria Luacutecia GOUVEcircA Maria Cristina Soares O letramento e o brincar em processos de socializaccedilatildeo na educaccedilatildeo infantil brincadeiras diferentes Revista Brasileira de Educaccedilatildeo v 20 n 60 p 215-
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POLADIAN Marina Lopes Pedrosa Estudo sobre o Programa de residecircncia pedagoacutegica da Unifesp uma articulaccedilatildeo entre Universidade e escola na formaccedilatildeo de professores Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Psicologia da Educaccedilatildeo) - Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo 2014
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TARDIF Maurice A profissionalizaccedilatildeo do ensino passados trinta anos dois passos para a frente trecircs para traacutes Educaccedilatildeo e Sociedade Campinas SP v34 n123 p
551-571 2013
VYGOTSKY Lev Semyonovich Desarrollo de las funciones psiacutequicas superiores en la edad de transicion in l s vygotski obras escogidas iv Paidologiacutea del adolescente Madrid Machado Libros Tomo IV 19302006a
Correspondecircncia
Edna Martins ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo (UNIFESP)
Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Maria de Faacutetima Carvalho ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Renata Marciacutelio Cacircndido ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Universidade Federal de Satildeo Paulo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo R
Sena Madureira 1500 ndash Vila Clementino CEP 04021-001 Satildeo Paulo Satildeo Paulo
Brasil
E-mail emartinsunifespgmailcom ndash carvalhomdfgmailcom ndash
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Registros no caderno de campo online o olhar do residente sobre a escola de
educaccedilatildeo infantil
Nos primeiros dias de imersatildeo na escola os residentes satildeo orientados a
realizar uma observaccedilatildeo atenta dos espaccedilos da instituiccedilatildeo A partir da leitura do texto
de Silva e Bufalo (2011) sobre culturas escolares os residentes descrevem em seus
primeiros registros detalhes fiacutesicos sobre a escola Muitos acabam desenhando a
planta baixa ou tirando fotos de salas de aulas parques e paacutetios e compartilhando no
caderno de campo online (blog) para comeccedilarem a pensar sobre o contexto e os
espaccedilos que podem favorecer a aprendizagem e o desenvolvimento da crianccedila
pequena como descrito no excerto abaixo
Uma coisa que me chamou atenccedilatildeo foi que natildeo possuem um espaccedilo para atividade fiacutesica essas satildeo realizadas no paacutetio que eacute proacuteximo as salas o barulho acaba atrapalhando os demais O parque estaacute interditado por ordem da diretora ou seja natildeo possuem lugar para brincar O dia das crianccedilas foi pautado em ficar sentado e quieto vendo um filme que a maioria jaacute tinha assistido (Relato da residente N 2017)
Formas de organizaccedilatildeo de espaccedilos e tempos remetem agrave organizaccedilatildeo da rotina
Sobre esse tema grande quantidade de postagens textos diz respeito a como as
atividades diaacuterias satildeo organizadas na escola Em alguns registros como o
apresentado a seguir aparece a problematizaccedilatildeo da forma de organizaccedilatildeo das
atividades
730 (15min) - a professora colocou o cabeccedilalho na lousa com a data e fez a contagem coletiva das crianccedilas 745 (45min) - a professora retomou o que eles haviam aprendido sobre os iacutendios entregou massinha e os orientou a modelar utensiacutelios indiacutegenas 830 (35min) - pintura de desenho xerocado que seraacute colado na capa do caderno de atividades 905 (25min) - brincadeira livre no paacutetio interno no brinquedatildeo que fica no final da escadarampa sup2940 (30min) - brincadeira em sala Gato mia 1010 (ateacute as crianccedilas irem embora) - a professora entregou uma folha com a letra da canccedilatildeo 1 2 3 indiozinhos cantou a muacutesica com eles sentados em seus lugares pediu para eles circularem as letras A e I e depois pintar a ilustraccedilatildeo () (Relato da residente J 2015)
A rotina observada e registrada pela residente configura-se como um dos
aspectos mais relevantes na vida da crianccedila que se encontra na escola de Educaccedilatildeo
Infantil Barbosa (2006) aponta que esse eacute um dos elementos que integram as praacuteticas
educativas que devem ser observadas e planejadas com regularidade objetivando a
operacionalizaccedilatildeo do cotidiano da escola de maneira que possa contribuir na
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constituiccedilatildeo da subjetividade dos atores escolares Desse modo pensar e
compreender a rotina como um fator presente e essencial na educaccedilatildeo de crianccedilas
pequenas eacute um passo promissor para que o residente acompanhe como as atividades
cotidianas da escola se materializam e datildeo base para a organizaccedilatildeo da praacutetica
pedagoacutegica devendo estar presente no desenvolvimento curricular
O planejamento das atividades na educaccedilatildeo infantil tem estreita ligaccedilatildeo com a
rotina Ao observar e refletir sobre a vida e as experiecircncias das crianccedilas na escola os
residentes satildeo remetidos a memoacuteria agrave lembranccedila do que tambeacutem foi um dia vivido
por eles em suas experiecircncias escolares Como apontado por Meksenas (2002)
ldquonunca somos testemunhas objetivas observando objetos e sim sujeitos observando
outros sujeitosrdquo (p 116)
Estive tentando lembrar nas uacuteltimas semanas o que eu fazia na minha preacute-escola Eu comecei no maternal com 3 anos ()Tenho vagas lembranccedilas de duas salas de aula uma do preacute III e a outra acho que era do preacute I Era uma escola particular dessas pequenas de bairro Lembro que a turma natildeo era tatildeo numerosa quanto essa que estou vendo na residecircncia mas a sala tinha uma organizaccedilatildeo parecida eram mesas e cadeiras enfileiradas nas duas () Eu estava com 5 anos Lembro que a gente tinha uma apostila no preacute I eu gostava de terminar tudo raacutepido para dormir Depois a professora comeccedilou a me dar gibi para eu ficar folheando Tenho na minha memoacuteria que as coisas que a gente fazia na escola eram chatas e muito infantis bobas demais Agora eu penso talvez as professoras ficassem me ocupando com massinha e pinturas todo dia tambeacutem como eu vejo na residecircncia e por isso eu achava muito chato O que seraacute que essas crianccedilas pensam disso O que seraacute que elas acham mais legal na escola Eu vejo que elas gostam muito de fazer liccedilatildeo essas de folhinha que a professora daacute e todos os dias elas perguntam Mas eu natildeo me conformo como elas acham isso tatildeo legal (Relato da Residente F 2017)
Sabemos que a memoacuteria eacute mediada pelo signo pelas interaccedilotildees sociais pelo
outro Braga (1997) dirige nosso olhar para o ldquoprocesso de apropriaccedilatildeo das formas
culturais de interaccedilatildeo que caracterizam a memoacuteria humanardquo Para a autora ldquoa
memoacuteria do homem soacute se configura no movimento discursivo e coletivo por sua
natureza cultural e simboacutelicardquo No registro acima o observado mobiliza as lembranccedilas
da residente aquilo que foi tambeacutem vivido na escola de sua infacircncia Entre lembranccedilas
e interrogaccedilotildees emergem as construccedilotildees formativas em um processo dinacircmico ndash
interativo cultural e simboacutelico Processo que potildeem em relaccedilatildeo vivecircncias atuais e
passadas que invocam sentidos e significados atribuiacutedos ao vivido que ocorre nas
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contradiccedilotildees entre aquilo que eacute rememorado pela estudante e o que efetivamente eacute
observado nas relaccedilotildees estabelecidas no contato com o cotidiano da escola
Aleacutem da rotina e da organizaccedilatildeo de tempos e espaccedilos em sua relaccedilatildeo com as
praacuteticas pedagoacutegicas os relatos dos estudantes se reportam agraves diferentes dimensotildees
da gestatildeo escolar Os registros destacam suas observaccedilotildees nas H A (hora atividade)
ou reuniotildees que eventualmente participam e com frequecircncia observam a postura da
equipe em relaccedilatildeo a presenccedila do residente Em seus relatos questionam o caraacuteter
da gestatildeo a qualidade da relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo entre os professores as discussotildees
que remetem a construccedilatildeo e discussatildeo do projeto poliacutetico pedagoacutegico e os papeis
desempenhados pelos diferentes educadores na construccedilatildeo do trabalho de educaccedilatildeo
da infacircncia
Completamos nesta semana 4 dias de participaccedilatildeo nas Horas Atividades (HA) destinada agrave formaccedilatildeo docente organizaccedilatildeo dos registros e planejamento das atividades pedagoacutegicas O que pude por meio da observaccedilatildeo constatar que o papel do Coordenador Pedagoacutegico que eacute fundamental nesse momento de formaccedilatildeo pois eacute ele o mediador desse processo acaba por se tornar distante e sem intervenccedilotildees no que adentra a orientaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico docente (Relato da estudante M 2015)
Na experiecircncia cotidiana de imersatildeo na escola eacute possiacutevel verificar as tensotildees
vivenciadas entre os professores e o papel da coordenaccedilatildeo pedagoacutegica A teoria
discutida na universidade pelos residentes assinala a importacircncia do papel do
coordenador pedagoacutegico na educaccedilatildeo infantil na praacutetica o residente percebe o quanto
a sua mediaccedilatildeo eacute fundamental na organizaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico e por outro
lado o quanto a sua ausecircncia pode interferir de forma negativa na orientaccedilatildeo das
atividades dos professores
Outra personagem que acaba sendo central na gestatildeo escolar eacute a direccedilatildeo que
nessa experiecircncia do residente tambeacutem eacute observada de forma criacutetica
A figura da diretora na escola foi a que mais me chamou a atenccedilatildeo ()imaginem que em nenhum momento percebi qualquer aproximaccedilatildeo da diretora com as crianccedilas em vaacuterios momentos acreditei que ela fosse algum teacutecnico administrativo pois apesar de estar no topo da piracircmide a referecircncia da gestatildeo a mesma se restringia a secretaria e natildeo se relacionava natildeo nos conhecia nem procurava nos conhecer Passou diversas vezes por grupos de crianccedilas e em nenhuma das vezes sequer olhou para elas Nunca apareceu em uma HA nunca percebi o seu contato com os professores e por diversas vezes me perguntei como eles se falavam qual era o seu relacionamento (Relato da residente B 2015)
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Sobre esse assunto estudos como os de Paro (2005) e Castro (2009) tem
assinalado o papel da gestatildeo e da administraccedilatildeo escolar como alicerce fundamental
nos processos de transformaccedilatildeo da escola puacuteblica brasileira Tais trabalhos tecircm
apontado a centralidade da direccedilatildeo escolar nas questotildees que envolvem os processos
de ensino e aprendizagem e as relaccedilotildees humanas presentes na equipe de trabalho
para aleacutem dos trabalhos administrativos e burocraacuteticos Natildeo eacute objetivo deste trabalho
fazer uma anaacutelise do papel do diretor na escola de educaccedilatildeo infantil mas cabe
assinalar que os estudantes residentes apontam o tema em seus registros e atentos
agraves demandas relativas ao papel do diretor indagam se como e quanto as lideranccedilas
escolares tecircm se envolvido com o trabalho administrativo dispendendo tempo para
um olhar mais atento agraves relaccedilotildees entre os professoresalunos funcionaacuterios da escola
observada
Em relaccedilatildeo agraves interaccedilotildees humanas outros registros dos residentes nos
remetem agraves maneiras como a escola lida com as famiacutelias das crianccedilas matriculadas
nas escolas Tais relatos natildeo satildeo tatildeo frequentes possivelmente porque essa eacute uma
relaccedilatildeo que se caracteriza pela assimetria de poderes e eacute pouco valorizada no dia a
dia escolar Os registros evocam situaccedilotildees vividas comentaacuterios ouvidos e
principalmente a necessidade de mudanccedila dos modos de conceber a crianccedila e suas
famiacutelias e de interagir com elas
A relaccedilatildeo entre professor e famiacutelia eacute mais uma dessas conexotildees que fazemos pela vida Por um lado haacute um profissional uma pessoa que estudou e eacute especialista em cuidar de crianccedilas Por outro famiacutelias que dificilmente conseguimos de fato perceber como satildeo suas estruturadas Famiacutelia hoje eacute coisa difiacutecil de entender Eacute matildee que mora sozinha com o filho eacute pais que trabalham e deixam os filhos na semana com tios avoacutes Eacute matildee solteira Eacute filho criado por pai viuacutevo Eacute histoacuteria que natildeo acaba mais Na hora da saiacuteda vamos conhecendo um pouquinho da estrutura familiar de cada crianccedila tentando perceber como se daacute a relaccedilatildeo entre a famiacutelia e a escola mas devemos ter um pouco de cuidado com esse processo (Relato do estudante J 2015)
Aleacutem da residente ter um olhar para os diferentes tipos de arranjos familiares
tambeacutem busca compreender a especificidade de cada famiacutelia considerando o papel
da mulher e de matildee trabalhadora com filhos na escola puacuteblica
(hellip) Veja esses apontamentos uma menina na sala estaacute com piolho a professora disse que jaacute alertou a matildee mas como eacute matildee solteira soacute pode cuidar da filha no domingo O outro menino que natildeo se interessa pelas atividades e responde a educadora tambeacutem teve a matildee notificada mas como
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a mesma eacute separada do marido natildeo faz nada O fato da mulher trabalhar a semana e ter folga aos domingos natildeo significa que ela seja uma maacute matildee pelo contraacuterio significa que ela rala muito para colocar comida no prato A presenccedila ou natildeo de um homem natildeo condiciona nada A escola natildeo pode ser um ambiente de roacutetulos ela deve estar aberta agraves diferenccedilas acolhendo e buscando outras maneiras e formas de aproximaccedilatildeo com a famiacutelia compreendendo a responsabilidade compartilhada que carregam (Registro da residente B 2015)
Os relatos demonstram natildeo soacute o quanto estatildeo atentos para como a escola lida
com as relaccedilotildees familiares mas sobretudo assinalam como tecircm se configurado as
formaccedilotildees das famiacutelias na atualidade Um estudo de Martins (2012) aponta o quanto
a experiecircncia de residecircncia pedagoacutegica possibilita aos estudantes um contato mais
expressivo com a realidade da escola puacuteblica de periferia urbana Aleacutem de observar
as relaccedilotildees institucionais o residente pode ser sensibilizado frente agraves dificuldades
vividas pelas famiacutelias e tendem a perceber o preconceito em relaccedilatildeo aos vaacuterios
arranjos familiares vivenciados pelas crianccedilas mais pobres e como a escolarizaccedilatildeo
dos pais pode afetar a vida dos filhos Os registros dos residentes demonstram como
ldquoos contextos de vida das crianccedilas que frequentam a escola puacuteblica de periferia
passam a ser compreendidos de uma forma concreta e as relaccedilotildees do espaccedilo familiar
com o espaccedilo escolar passam a ter uma conexatildeo cotidianardquo (MARTINS 2012 p 95)
Outra temaacutetica recorrente nos registros dos estudantes diz respeito ao processo
de escolarizaccedilatildeo das praacuteticas da educaccedilatildeo da infacircncia Tal perspectiva surge quando
os residentes referem aos usos dos brinquedos e agraves brincadeiras agrave presenccedila da
leitura e contaccedilatildeo de histoacuterias aos modos de introduccedilatildeo do desenho ao uso de novas
tecnologias e aos modos de avaliar agraves crianccedilas Tal perspectiva escolarizante emerge
em oposiccedilatildeo ao luacutedico como princiacutepio e forma de organizaccedilatildeo das praacuteticas de
educaccedilatildeo junto agraves crianccedilas pequenas e algumas vezes a ela ainda se articula a
preocupaccedilatildeo em disciplinar as vivecircncias escolares sondagens filas broncas e
silecircncios coexistem com desenhos Tv computadores e brincadeiras Os registros nos
dizem de uma escola que hesita entre coibir e promover a expressatildeo das muitas
linguagens da imaginaccedilatildeo e movimento das crianccedilas
Na semana de 2310 a 2710 e como previsto na reuniatildeo de pais a professora realizou a sondagem com as crianccedilas Teoricamente sei como funciona o procedimento mas me questiono se deve ser realizada na Ed Infantil Tambeacutem me pergunto se a sondagem vai muito aleacutem do conhecimento das crianccedilas Por exemplo algumas escrevem o proacuteprio nome
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e algumas palavras mais comuns a elas outras ainda nem reconhecem as letras do alfabeto A sondagem feita abarcou o nome palavras simples um pouco mais complexas e uma frase inteira A minha duacutevida eacute se a sondagem que vai muito aleacutem dos conhecimentos da sala eacute comum e necessaacuteria ainda mais na Ed Infantil (Relato do residente N 2017)
O debate em torno das questotildees que envolvem a escolarizaccedilatildeo de crianccedilas
pequenas eacute bastante antigo e recorrente Pesquisas como as de Neves Castanheira
e Gouveia (2015) assinalam a partir de autores que estudaram essa temaacutetica como
a perspectiva escolarizante de trabalho com a crianccedila pequena traz seacuterias implicaccedilotildees
para o desenvolvimento infantil justamente porque rompe com as formas como elas
ldquointeragem com a escrita fora da escola destituindo-a de significados pessoais e
sociais e dificulta portanto que as atividades desenvolvidas no espaccedilo escolar
envolvam a ludicidade caracteriacutestica fundamental dessa fase do desenvolvimentordquo
(p 217)
Os residentes parecem estar muito atentos a essas questotildees porque participam
de discussotildees sistemaacuteticas sobre o assunto tanto nas aulas teoacutericas na Universidade
quanto nas reuniotildees de orientaccedilatildeo com os preceptores do Programa de Residecircncia
Muitos estudantes satildeo levados a refletir sobre o assunto logo nos primeiros dias de
imersatildeo na escola
Resolvi mudar o formato do meu relato referente agrave imersatildeo inicial Pois passei por uma situaccedilatildeo em sala que me provocou tal accedilatildeo Devido agrave imposiccedilatildeo de escolarizaccedilatildeo percebida na turma na qual acompanho Onde hoje me emocionei com o choro insistente do aluno BG com as matildeos estremecidas na tentativa de segurar o laacutepis para ldquofazer liccedilatildeordquo (Relato da Residente M 2015)
A partir do relato da residente percebe-se o quanto a questatildeo eacute relevante para
o campo da educaccedilatildeo infantil e da formaccedilatildeo de professores Nas observaccedilotildees e
relatos dos cadernos de campo natildeo eacute incomum aparecerem longas narrativas sobre
os equiacutevocos que ocorrem nas praacuteticas pedagoacutegicas que envolvem a alfabetizaccedilatildeo e
letramento das crianccedilas pequenas Consideramos que questotildees como essas quando
problematizadas pelos estudantes nos horaacuterios de preceptoria ou mesmo nas
discussotildees com professores especialistas sobre o tema tendem a aproximaacute-los de
uma futura praacutetica profissional em que o trabalho com o desenvolvimento da escrita
seja realizado de forma a respeitar a infacircncia natildeo negando agrave crianccedila o seu direito ao
luacutedico mas tratando a apresentaccedilatildeo do mundo letrado como mais um momento
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prazeroso de aprendizagens Tal reflexatildeo eacute importante para os futuros professores
para que busquem compreender como inserir as crianccedilas no mundo letrado de
maneira que possam romper com a dicotomia entre o brincar e a leituraescrita
tomando como referecircncia o significado dessas accedilotildees para a crianccedila possibilitando a
conduccedilatildeo dos trabalhos na educaccedilatildeo infantil que tornem possiacutevel o brincar ldquoletrando
e alfabetizandordquo (NEVES CASTANHEIRA E GOUVEIA 2015)
Outra temaacutetica que aparece num nuacutemero expressivo de postagens diz respeito
ao olhar do residente para as praacuteticas educativas e as interaccedilotildees que ocorrem na
escola com relaccedilatildeo agrave inclusatildeo escolar das crianccedilas percebidas como ldquodiferentesrdquo
Destaca-se nesta temaacutetica observaccedilotildees a respeito de diferenccedilas de religiatildeo gecircnero
raccedilacor e tambeacutem aquelas relacionadas agrave deficiecircncia Haacute descriccedilotildees sobre como as
crianccedilas lidam com as diferenccedilas e as formas como os professores trabalham com
aquelas que possuem alguma dificuldade Algumas postagens ressaltam a
necessidade de formaccedilatildeo inicial e continuada dos educadores para lidarem com a
diversidade na escola
Pela primeira vez vivenciei preconceito racial de uma crianccedila com outra Nos momentos em que a profa distribui lego para as crianccedilas ela daacute tambeacutem um bonequinho para cada crianccedila Tem bonecos adultos crianccedilas homens mulheres e de diversas cores Os bonecos satildeo dados aleatoriamente ou escolhidos pela crianccedila conforme a professora passa de mesa em mesa Neste dia um menino negro estava com um boneco negro Um garoto se aproximou e disse ldquoCredo que boneco feio parece vocecircrdquo se direcionando ao menino O menino deu de ombros e continuou a brincar e poucos minutos depois a menina que estava ao seu lado me perguntou ldquoPor que o boneco dele eacute pretinho Eacute muito feiordquo Claro que conversei com ela e com o outro menino em outro momento calmamente falando das diversas cores que as pessoas tecircm e que natildeo haacute isso de feio e bonito aproveitando para falar sobre diversidade e etc Mais para o final da conversa a menina me disse ldquoMeu pai eacute pretinho ele eacute bonitordquo Respondi a menina dizendo que a beleza natildeo estaacute na cor da pele do cabelo ou dos olhos A cena toda me fez refletir que a menina jaacute deve ter ouvido esse tipo de afirmaccedilatildeo errocircnea Jaacute comentei mais de uma vez sobre o preconceito de gecircnero ser muito forte mas e o racial algueacutem mais vivenciou esse tipo de preconceito durante esta residecircncia (Relato do residente T 2017)
Rosemberg (2014) chama a atenccedilatildeo para o tema da diversidade como uma
questatildeo circunscrita na histoacuteria da humanidade A diferenciaccedilatildeo entre os grupos
humanos ou pessoas com atributos que classificam e separam o ldquoeurdquo do ldquooutrordquo
parece constituir as diversas manifestaccedilotildees de culturas humanas Assim a autora
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desnaturaliza a identidade e a diferenccedila apontando o seu caraacuteter cultural social e
histoacuterico Contudo esse eacute um dos temas que tem chamado cada vez mais a atenccedilatildeo
de educadores desde a educaccedilatildeo infantil jaacute que muitas vezes as questotildees que
envolvem a diferenccedila e o diferente passam por processos discriminatoacuterios e
preconceituosos como apontado no relato do estudante ao observar as interaccedilotildees
entre as crianccedilas no que se refere ao quesito raccedilacor
Marinho e Martins (2016) em estudo sobre formaccedilatildeo de professoras que atuam
na educaccedilatildeo infantil constatam a escassez ou inexistecircncia de disciplinas na formaccedilatildeo
inicial de professores que abarquem as questotildees eacutetnico-raciais denunciando o natildeo
cumprimento das leis que entre outras prescriccedilotildees preveem que instituiccedilotildees de niacutevel
superior proporcionem aos futuros(as) professoresas a formaccedilatildeo adequada para
lidarem com as relaccedilotildees raciais multieacutetnica e multicultural da sociedade brasileira
Nesse sentido ao trazerem suas inquietaccedilotildees sobre como as crianccedilas lidam com as
diferenccedilas no contexto da escola os residentes se aproximam das discussotildees a
respeito dos processos discriminatoacuterios oportunizando momentos em que tais
temaacuteticas possam ser discutidas entre professores preceptores e colegas do
programa de estaacutegio
Aleacutem da questatildeo racial outros relatos nos datildeo conta de refletir e discutir sobre
as relaccedilotildees que envolvem as crianccedilas com deficiecircncia na escola
() O que me chamou atenccedilatildeo foi que na quarta (2204) H chegou na escola e decidiu mudar de lugar foi sentar bem ao lado do D (uma crianccedila que foi diagnosticada com autismo de ldquograu leverdquo segundo a professora) eu fiquei observando como seria a relaccedilatildeo deles H trouxe um caderno de desenho o abriu na mesa e dividiu metade da folha para ele e para D depois na hora de descer ele segurou a matildeo do D e ficou durante o almoccedilo todo cuidando de D o orientou a pegar a comida sentar comer devagar e quando natildeo quisesse mais deveria jogar a comida no lixo e durante todo o dia H permaneceu cuidando de D A professora achou estranho pois naquele dia ela natildeo havia chamado a atenccedilatildeo de H ateacute me falou ldquoEle deve estar aprontando e D eacute bobatildeo pode se machucarrdquo e decidiu intervir e pediu para que H mudasse de lugar e parasse de cuidar de (Relato do residente L 2015)
A partir da narrativa eacute possiacutevel refletir sobre o preparo dos professores para
lidar com as diferenccedilas individuais na educaccedilatildeo infantil A inclusatildeo escolar de crianccedilas
com deficiecircncia ocorre mediante poliacuteticas puacuteblicas de inclusatildeo contudo haacute uma
grande distacircncia entre a poliacutetica puacuteblica e a praacutetica pedagoacutegica nos contextos
escolares pois natildeo se aprofunda ldquoo debate sobre os meios os fins e as estrateacutegias
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para a implementaccedilatildeo da poliacutetica de ampliaccedilatildeo da rede de educaccedilatildeo infantilrdquo
(BRUNO 2008 p 59)
Outros registros que tratam da temaacutetica da inclusatildeo de crianccedilas com
deficiecircncia mostram o quanto a escola estaacute despreparada para lidar com essa
questatildeo Os relatos e inquietaccedilotildees dos estudantes nos possibilitam a identificaccedilatildeo de
processos discriminatoacuterios de resistecircncias e acomodaccedilotildees dos profissionais e do
distanciamento de uma praacutetica verdadeiramente inclusiva na esfera das praacuteticas
educativas cotidianas O que se percebe nas discussotildees sobre o assunto eacute que os
residentes enquanto futuros professores muito tecircm a aprender sobre a acolhida das
famiacutelias e das crianccedilas ldquodiferentesrdquo ou com deficiecircncia na constante reflexatildeo sobre o
comportamento atitudes e posturas do educador frente ao trabalho pedagoacutegico
Outras temaacuteticas tatildeo importantes como as que discutimos aqui tem sido objeto
de interesse dos estudantes em processo de imersatildeo nas escolas-campo Haacute uma
gama de registros sobre categorias que envolvem a crianccedila pequena nas atividades
do brincar a disciplina e a coerccedilatildeo dos educadores na tentativa de manter o controle
das crianccedilas e dos comportamentos considerados inadequados Muitos residentes se
surpreendem como essa coerccedilatildeo ocorre demasiadas vezes na escola e nas reuniotildees
de supervisatildeo eacute muito comum questionarem junto ao preceptor formas de
compreender por que algumas praacuteticas coercitivas satildeo tatildeo presentes na educaccedilatildeo
infantil
Consideraccedilotildees Finais
A experiecircncia de estaacutegio no Programa de Residecircncia Pedagoacutegica requer de
estudantes e professores uma atitude de intensa accedilatildeo e reflexatildeo Na perspectiva de
observaccedilatildeo participante eacute que a imersatildeo dos residentes na escola eacute orientada
embora natildeo haja uma intervenccedilatildeo direta planejada e sistemaacutetica sobre os modos de
fazer da escola e dos professores Possiacuteveis intervenccedilotildees sobre a escola suscitadas
pela presenccedila da universidade (de preceptores e residentes) satildeo uma contingecircncia
dos processos de formaccedilatildeo de condiccedilotildees e modos de seu desenvolvimento e eacute assim
que se define o lugar do residente e da preceptoria junto a escola o caraacuteter da
observaccedilatildeo participante a ser realizada durante o estaacutegio e sua conduccedilatildeo e discussatildeo
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no acircmbito escolar As posiccedilotildees dos residentes reeditam questotildees que mobilizam a
imersatildeo e reflexatildeo sobre o vivido como e quando participar O que como e quando
registrar sobre a observaccedilatildeo participante sobre o que se vivencia Como fazer uso
das ferramentas disponiacuteveis na escola e dos subsiacutedios teoacutericos oferecidos durante a
proacutepria residecircncia ou estudados no curso de pedagogia elaborando impressotildees sobre
o que descreve e refletindo sobre o que vive e elabora
A retomada dos escritos e reflexotildees dos estudantes participantes do Programa
de Residecircncia Pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Infantil nos trazem pistas relevantes para a
compreensatildeo natildeo somente dos seus processos formativos mas tambeacutem suscitam
atenccedilatildeo aos temas e questotildees emergentes do cotidiano das crianccedilas nas escolas de
Educaccedilatildeo Infantil Sabe-se que o processo de escrita eacute composto de idas e vindas
de avanccedilos e retrocessos de duacutevidas e certezas percebidas nos textos e contextos
apresentados pelos estudantes neste processo formativo especiacutefico
As postagens guardam caracteriacutesticas especiacuteficas correlatas ao vivido nas
praacuteticas de estaacutegio de acordo com as finalidades comunicativas e formativas do
caderno de campoblog e com especificidades ndash limites e possibilidades ndash que se
dimensionam nestas praacuteticas Os estudantes registram o que observam o que
vivenciam mas natildeo soacute Em muitos registros suas impressotildees (con)fundem-se com o
observado vatildeo aleacutem da descriccedilatildeo interpretando o visto o vivido e outras vezes para
alguns o registro se faz espaccedilo de recuperaccedilatildeo das proacuteprias vivecircncias e dos
elementos teoacutericos estudados
Nesta experiecircncia a liberdade na escolha e escrita dos temas dos cadernos de
campo tem permitido que o processo formativo de cada estudante aconteccedila de forma
uacutenica e original pois apesar de estarem imersos em ambientes semelhantes (em
alguns casos mesmas escolas-campo) e possuiacuterem referenciais teoacutericos semelhantes
(provenientes das unidades curriculares obrigatoacuterias e eletivas do Curso de
Pedagogia) os temas e questotildees que recebem a atenccedilatildeo de cada um satildeo distintos e
trabalhados teoricamente a partir das anguacutestias e inquietaccedilotildees individuais Entretanto
apesar das produccedilotildees escritas serem individuais ao serem publicizadas em reuniotildees
de orientaccedilatildeo ou ateacute no suporte virtual do blog elas podem ser compartilhadas e
tornam-se objeto comum de discussotildees e aprendizagens
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Por fim concluiacutemos assim como Noacutevoa (2000) a propoacutesito das narrativas (auto)
biograacuteficas que a escrita como parte dos processos formativos de professores eacute
capaz de fazer ldquoreaparecer os sujeitos face agraves estruturas e aos sistemas a qualidade
face agrave quantidade a vivecircncia face ao instituiacutedordquo Nesta linha de pensamento
percebemos que eacute possiacutevel ler o mundo e as relaccedilotildees sociais de um sujeito por meio
da sua narrativa produzindo ldquoum outro tipo de conhecimento mais proacuteximo das
realidades educativasrdquo (NOacuteVOA 2000 p 18 19 grifo do autor) e quiccedila
transformador dessas
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VYGOTSKY Lev Semyonovich Desarrollo de las funciones psiacutequicas superiores en la edad de transicion in l s vygotski obras escogidas iv Paidologiacutea del adolescente Madrid Machado Libros Tomo IV 19302006a
Correspondecircncia
Edna Martins ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo (UNIFESP)
Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Maria de Faacutetima Carvalho ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Renata Marciacutelio Cacircndido ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Universidade Federal de Satildeo Paulo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo R
Sena Madureira 1500 ndash Vila Clementino CEP 04021-001 Satildeo Paulo Satildeo Paulo
Brasil
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constituiccedilatildeo da subjetividade dos atores escolares Desse modo pensar e
compreender a rotina como um fator presente e essencial na educaccedilatildeo de crianccedilas
pequenas eacute um passo promissor para que o residente acompanhe como as atividades
cotidianas da escola se materializam e datildeo base para a organizaccedilatildeo da praacutetica
pedagoacutegica devendo estar presente no desenvolvimento curricular
O planejamento das atividades na educaccedilatildeo infantil tem estreita ligaccedilatildeo com a
rotina Ao observar e refletir sobre a vida e as experiecircncias das crianccedilas na escola os
residentes satildeo remetidos a memoacuteria agrave lembranccedila do que tambeacutem foi um dia vivido
por eles em suas experiecircncias escolares Como apontado por Meksenas (2002)
ldquonunca somos testemunhas objetivas observando objetos e sim sujeitos observando
outros sujeitosrdquo (p 116)
Estive tentando lembrar nas uacuteltimas semanas o que eu fazia na minha preacute-escola Eu comecei no maternal com 3 anos ()Tenho vagas lembranccedilas de duas salas de aula uma do preacute III e a outra acho que era do preacute I Era uma escola particular dessas pequenas de bairro Lembro que a turma natildeo era tatildeo numerosa quanto essa que estou vendo na residecircncia mas a sala tinha uma organizaccedilatildeo parecida eram mesas e cadeiras enfileiradas nas duas () Eu estava com 5 anos Lembro que a gente tinha uma apostila no preacute I eu gostava de terminar tudo raacutepido para dormir Depois a professora comeccedilou a me dar gibi para eu ficar folheando Tenho na minha memoacuteria que as coisas que a gente fazia na escola eram chatas e muito infantis bobas demais Agora eu penso talvez as professoras ficassem me ocupando com massinha e pinturas todo dia tambeacutem como eu vejo na residecircncia e por isso eu achava muito chato O que seraacute que essas crianccedilas pensam disso O que seraacute que elas acham mais legal na escola Eu vejo que elas gostam muito de fazer liccedilatildeo essas de folhinha que a professora daacute e todos os dias elas perguntam Mas eu natildeo me conformo como elas acham isso tatildeo legal (Relato da Residente F 2017)
Sabemos que a memoacuteria eacute mediada pelo signo pelas interaccedilotildees sociais pelo
outro Braga (1997) dirige nosso olhar para o ldquoprocesso de apropriaccedilatildeo das formas
culturais de interaccedilatildeo que caracterizam a memoacuteria humanardquo Para a autora ldquoa
memoacuteria do homem soacute se configura no movimento discursivo e coletivo por sua
natureza cultural e simboacutelicardquo No registro acima o observado mobiliza as lembranccedilas
da residente aquilo que foi tambeacutem vivido na escola de sua infacircncia Entre lembranccedilas
e interrogaccedilotildees emergem as construccedilotildees formativas em um processo dinacircmico ndash
interativo cultural e simboacutelico Processo que potildeem em relaccedilatildeo vivecircncias atuais e
passadas que invocam sentidos e significados atribuiacutedos ao vivido que ocorre nas
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contradiccedilotildees entre aquilo que eacute rememorado pela estudante e o que efetivamente eacute
observado nas relaccedilotildees estabelecidas no contato com o cotidiano da escola
Aleacutem da rotina e da organizaccedilatildeo de tempos e espaccedilos em sua relaccedilatildeo com as
praacuteticas pedagoacutegicas os relatos dos estudantes se reportam agraves diferentes dimensotildees
da gestatildeo escolar Os registros destacam suas observaccedilotildees nas H A (hora atividade)
ou reuniotildees que eventualmente participam e com frequecircncia observam a postura da
equipe em relaccedilatildeo a presenccedila do residente Em seus relatos questionam o caraacuteter
da gestatildeo a qualidade da relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo entre os professores as discussotildees
que remetem a construccedilatildeo e discussatildeo do projeto poliacutetico pedagoacutegico e os papeis
desempenhados pelos diferentes educadores na construccedilatildeo do trabalho de educaccedilatildeo
da infacircncia
Completamos nesta semana 4 dias de participaccedilatildeo nas Horas Atividades (HA) destinada agrave formaccedilatildeo docente organizaccedilatildeo dos registros e planejamento das atividades pedagoacutegicas O que pude por meio da observaccedilatildeo constatar que o papel do Coordenador Pedagoacutegico que eacute fundamental nesse momento de formaccedilatildeo pois eacute ele o mediador desse processo acaba por se tornar distante e sem intervenccedilotildees no que adentra a orientaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico docente (Relato da estudante M 2015)
Na experiecircncia cotidiana de imersatildeo na escola eacute possiacutevel verificar as tensotildees
vivenciadas entre os professores e o papel da coordenaccedilatildeo pedagoacutegica A teoria
discutida na universidade pelos residentes assinala a importacircncia do papel do
coordenador pedagoacutegico na educaccedilatildeo infantil na praacutetica o residente percebe o quanto
a sua mediaccedilatildeo eacute fundamental na organizaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico e por outro
lado o quanto a sua ausecircncia pode interferir de forma negativa na orientaccedilatildeo das
atividades dos professores
Outra personagem que acaba sendo central na gestatildeo escolar eacute a direccedilatildeo que
nessa experiecircncia do residente tambeacutem eacute observada de forma criacutetica
A figura da diretora na escola foi a que mais me chamou a atenccedilatildeo ()imaginem que em nenhum momento percebi qualquer aproximaccedilatildeo da diretora com as crianccedilas em vaacuterios momentos acreditei que ela fosse algum teacutecnico administrativo pois apesar de estar no topo da piracircmide a referecircncia da gestatildeo a mesma se restringia a secretaria e natildeo se relacionava natildeo nos conhecia nem procurava nos conhecer Passou diversas vezes por grupos de crianccedilas e em nenhuma das vezes sequer olhou para elas Nunca apareceu em uma HA nunca percebi o seu contato com os professores e por diversas vezes me perguntei como eles se falavam qual era o seu relacionamento (Relato da residente B 2015)
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Sobre esse assunto estudos como os de Paro (2005) e Castro (2009) tem
assinalado o papel da gestatildeo e da administraccedilatildeo escolar como alicerce fundamental
nos processos de transformaccedilatildeo da escola puacuteblica brasileira Tais trabalhos tecircm
apontado a centralidade da direccedilatildeo escolar nas questotildees que envolvem os processos
de ensino e aprendizagem e as relaccedilotildees humanas presentes na equipe de trabalho
para aleacutem dos trabalhos administrativos e burocraacuteticos Natildeo eacute objetivo deste trabalho
fazer uma anaacutelise do papel do diretor na escola de educaccedilatildeo infantil mas cabe
assinalar que os estudantes residentes apontam o tema em seus registros e atentos
agraves demandas relativas ao papel do diretor indagam se como e quanto as lideranccedilas
escolares tecircm se envolvido com o trabalho administrativo dispendendo tempo para
um olhar mais atento agraves relaccedilotildees entre os professoresalunos funcionaacuterios da escola
observada
Em relaccedilatildeo agraves interaccedilotildees humanas outros registros dos residentes nos
remetem agraves maneiras como a escola lida com as famiacutelias das crianccedilas matriculadas
nas escolas Tais relatos natildeo satildeo tatildeo frequentes possivelmente porque essa eacute uma
relaccedilatildeo que se caracteriza pela assimetria de poderes e eacute pouco valorizada no dia a
dia escolar Os registros evocam situaccedilotildees vividas comentaacuterios ouvidos e
principalmente a necessidade de mudanccedila dos modos de conceber a crianccedila e suas
famiacutelias e de interagir com elas
A relaccedilatildeo entre professor e famiacutelia eacute mais uma dessas conexotildees que fazemos pela vida Por um lado haacute um profissional uma pessoa que estudou e eacute especialista em cuidar de crianccedilas Por outro famiacutelias que dificilmente conseguimos de fato perceber como satildeo suas estruturadas Famiacutelia hoje eacute coisa difiacutecil de entender Eacute matildee que mora sozinha com o filho eacute pais que trabalham e deixam os filhos na semana com tios avoacutes Eacute matildee solteira Eacute filho criado por pai viuacutevo Eacute histoacuteria que natildeo acaba mais Na hora da saiacuteda vamos conhecendo um pouquinho da estrutura familiar de cada crianccedila tentando perceber como se daacute a relaccedilatildeo entre a famiacutelia e a escola mas devemos ter um pouco de cuidado com esse processo (Relato do estudante J 2015)
Aleacutem da residente ter um olhar para os diferentes tipos de arranjos familiares
tambeacutem busca compreender a especificidade de cada famiacutelia considerando o papel
da mulher e de matildee trabalhadora com filhos na escola puacuteblica
(hellip) Veja esses apontamentos uma menina na sala estaacute com piolho a professora disse que jaacute alertou a matildee mas como eacute matildee solteira soacute pode cuidar da filha no domingo O outro menino que natildeo se interessa pelas atividades e responde a educadora tambeacutem teve a matildee notificada mas como
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a mesma eacute separada do marido natildeo faz nada O fato da mulher trabalhar a semana e ter folga aos domingos natildeo significa que ela seja uma maacute matildee pelo contraacuterio significa que ela rala muito para colocar comida no prato A presenccedila ou natildeo de um homem natildeo condiciona nada A escola natildeo pode ser um ambiente de roacutetulos ela deve estar aberta agraves diferenccedilas acolhendo e buscando outras maneiras e formas de aproximaccedilatildeo com a famiacutelia compreendendo a responsabilidade compartilhada que carregam (Registro da residente B 2015)
Os relatos demonstram natildeo soacute o quanto estatildeo atentos para como a escola lida
com as relaccedilotildees familiares mas sobretudo assinalam como tecircm se configurado as
formaccedilotildees das famiacutelias na atualidade Um estudo de Martins (2012) aponta o quanto
a experiecircncia de residecircncia pedagoacutegica possibilita aos estudantes um contato mais
expressivo com a realidade da escola puacuteblica de periferia urbana Aleacutem de observar
as relaccedilotildees institucionais o residente pode ser sensibilizado frente agraves dificuldades
vividas pelas famiacutelias e tendem a perceber o preconceito em relaccedilatildeo aos vaacuterios
arranjos familiares vivenciados pelas crianccedilas mais pobres e como a escolarizaccedilatildeo
dos pais pode afetar a vida dos filhos Os registros dos residentes demonstram como
ldquoos contextos de vida das crianccedilas que frequentam a escola puacuteblica de periferia
passam a ser compreendidos de uma forma concreta e as relaccedilotildees do espaccedilo familiar
com o espaccedilo escolar passam a ter uma conexatildeo cotidianardquo (MARTINS 2012 p 95)
Outra temaacutetica recorrente nos registros dos estudantes diz respeito ao processo
de escolarizaccedilatildeo das praacuteticas da educaccedilatildeo da infacircncia Tal perspectiva surge quando
os residentes referem aos usos dos brinquedos e agraves brincadeiras agrave presenccedila da
leitura e contaccedilatildeo de histoacuterias aos modos de introduccedilatildeo do desenho ao uso de novas
tecnologias e aos modos de avaliar agraves crianccedilas Tal perspectiva escolarizante emerge
em oposiccedilatildeo ao luacutedico como princiacutepio e forma de organizaccedilatildeo das praacuteticas de
educaccedilatildeo junto agraves crianccedilas pequenas e algumas vezes a ela ainda se articula a
preocupaccedilatildeo em disciplinar as vivecircncias escolares sondagens filas broncas e
silecircncios coexistem com desenhos Tv computadores e brincadeiras Os registros nos
dizem de uma escola que hesita entre coibir e promover a expressatildeo das muitas
linguagens da imaginaccedilatildeo e movimento das crianccedilas
Na semana de 2310 a 2710 e como previsto na reuniatildeo de pais a professora realizou a sondagem com as crianccedilas Teoricamente sei como funciona o procedimento mas me questiono se deve ser realizada na Ed Infantil Tambeacutem me pergunto se a sondagem vai muito aleacutem do conhecimento das crianccedilas Por exemplo algumas escrevem o proacuteprio nome
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e algumas palavras mais comuns a elas outras ainda nem reconhecem as letras do alfabeto A sondagem feita abarcou o nome palavras simples um pouco mais complexas e uma frase inteira A minha duacutevida eacute se a sondagem que vai muito aleacutem dos conhecimentos da sala eacute comum e necessaacuteria ainda mais na Ed Infantil (Relato do residente N 2017)
O debate em torno das questotildees que envolvem a escolarizaccedilatildeo de crianccedilas
pequenas eacute bastante antigo e recorrente Pesquisas como as de Neves Castanheira
e Gouveia (2015) assinalam a partir de autores que estudaram essa temaacutetica como
a perspectiva escolarizante de trabalho com a crianccedila pequena traz seacuterias implicaccedilotildees
para o desenvolvimento infantil justamente porque rompe com as formas como elas
ldquointeragem com a escrita fora da escola destituindo-a de significados pessoais e
sociais e dificulta portanto que as atividades desenvolvidas no espaccedilo escolar
envolvam a ludicidade caracteriacutestica fundamental dessa fase do desenvolvimentordquo
(p 217)
Os residentes parecem estar muito atentos a essas questotildees porque participam
de discussotildees sistemaacuteticas sobre o assunto tanto nas aulas teoacutericas na Universidade
quanto nas reuniotildees de orientaccedilatildeo com os preceptores do Programa de Residecircncia
Muitos estudantes satildeo levados a refletir sobre o assunto logo nos primeiros dias de
imersatildeo na escola
Resolvi mudar o formato do meu relato referente agrave imersatildeo inicial Pois passei por uma situaccedilatildeo em sala que me provocou tal accedilatildeo Devido agrave imposiccedilatildeo de escolarizaccedilatildeo percebida na turma na qual acompanho Onde hoje me emocionei com o choro insistente do aluno BG com as matildeos estremecidas na tentativa de segurar o laacutepis para ldquofazer liccedilatildeordquo (Relato da Residente M 2015)
A partir do relato da residente percebe-se o quanto a questatildeo eacute relevante para
o campo da educaccedilatildeo infantil e da formaccedilatildeo de professores Nas observaccedilotildees e
relatos dos cadernos de campo natildeo eacute incomum aparecerem longas narrativas sobre
os equiacutevocos que ocorrem nas praacuteticas pedagoacutegicas que envolvem a alfabetizaccedilatildeo e
letramento das crianccedilas pequenas Consideramos que questotildees como essas quando
problematizadas pelos estudantes nos horaacuterios de preceptoria ou mesmo nas
discussotildees com professores especialistas sobre o tema tendem a aproximaacute-los de
uma futura praacutetica profissional em que o trabalho com o desenvolvimento da escrita
seja realizado de forma a respeitar a infacircncia natildeo negando agrave crianccedila o seu direito ao
luacutedico mas tratando a apresentaccedilatildeo do mundo letrado como mais um momento
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prazeroso de aprendizagens Tal reflexatildeo eacute importante para os futuros professores
para que busquem compreender como inserir as crianccedilas no mundo letrado de
maneira que possam romper com a dicotomia entre o brincar e a leituraescrita
tomando como referecircncia o significado dessas accedilotildees para a crianccedila possibilitando a
conduccedilatildeo dos trabalhos na educaccedilatildeo infantil que tornem possiacutevel o brincar ldquoletrando
e alfabetizandordquo (NEVES CASTANHEIRA E GOUVEIA 2015)
Outra temaacutetica que aparece num nuacutemero expressivo de postagens diz respeito
ao olhar do residente para as praacuteticas educativas e as interaccedilotildees que ocorrem na
escola com relaccedilatildeo agrave inclusatildeo escolar das crianccedilas percebidas como ldquodiferentesrdquo
Destaca-se nesta temaacutetica observaccedilotildees a respeito de diferenccedilas de religiatildeo gecircnero
raccedilacor e tambeacutem aquelas relacionadas agrave deficiecircncia Haacute descriccedilotildees sobre como as
crianccedilas lidam com as diferenccedilas e as formas como os professores trabalham com
aquelas que possuem alguma dificuldade Algumas postagens ressaltam a
necessidade de formaccedilatildeo inicial e continuada dos educadores para lidarem com a
diversidade na escola
Pela primeira vez vivenciei preconceito racial de uma crianccedila com outra Nos momentos em que a profa distribui lego para as crianccedilas ela daacute tambeacutem um bonequinho para cada crianccedila Tem bonecos adultos crianccedilas homens mulheres e de diversas cores Os bonecos satildeo dados aleatoriamente ou escolhidos pela crianccedila conforme a professora passa de mesa em mesa Neste dia um menino negro estava com um boneco negro Um garoto se aproximou e disse ldquoCredo que boneco feio parece vocecircrdquo se direcionando ao menino O menino deu de ombros e continuou a brincar e poucos minutos depois a menina que estava ao seu lado me perguntou ldquoPor que o boneco dele eacute pretinho Eacute muito feiordquo Claro que conversei com ela e com o outro menino em outro momento calmamente falando das diversas cores que as pessoas tecircm e que natildeo haacute isso de feio e bonito aproveitando para falar sobre diversidade e etc Mais para o final da conversa a menina me disse ldquoMeu pai eacute pretinho ele eacute bonitordquo Respondi a menina dizendo que a beleza natildeo estaacute na cor da pele do cabelo ou dos olhos A cena toda me fez refletir que a menina jaacute deve ter ouvido esse tipo de afirmaccedilatildeo errocircnea Jaacute comentei mais de uma vez sobre o preconceito de gecircnero ser muito forte mas e o racial algueacutem mais vivenciou esse tipo de preconceito durante esta residecircncia (Relato do residente T 2017)
Rosemberg (2014) chama a atenccedilatildeo para o tema da diversidade como uma
questatildeo circunscrita na histoacuteria da humanidade A diferenciaccedilatildeo entre os grupos
humanos ou pessoas com atributos que classificam e separam o ldquoeurdquo do ldquooutrordquo
parece constituir as diversas manifestaccedilotildees de culturas humanas Assim a autora
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desnaturaliza a identidade e a diferenccedila apontando o seu caraacuteter cultural social e
histoacuterico Contudo esse eacute um dos temas que tem chamado cada vez mais a atenccedilatildeo
de educadores desde a educaccedilatildeo infantil jaacute que muitas vezes as questotildees que
envolvem a diferenccedila e o diferente passam por processos discriminatoacuterios e
preconceituosos como apontado no relato do estudante ao observar as interaccedilotildees
entre as crianccedilas no que se refere ao quesito raccedilacor
Marinho e Martins (2016) em estudo sobre formaccedilatildeo de professoras que atuam
na educaccedilatildeo infantil constatam a escassez ou inexistecircncia de disciplinas na formaccedilatildeo
inicial de professores que abarquem as questotildees eacutetnico-raciais denunciando o natildeo
cumprimento das leis que entre outras prescriccedilotildees preveem que instituiccedilotildees de niacutevel
superior proporcionem aos futuros(as) professoresas a formaccedilatildeo adequada para
lidarem com as relaccedilotildees raciais multieacutetnica e multicultural da sociedade brasileira
Nesse sentido ao trazerem suas inquietaccedilotildees sobre como as crianccedilas lidam com as
diferenccedilas no contexto da escola os residentes se aproximam das discussotildees a
respeito dos processos discriminatoacuterios oportunizando momentos em que tais
temaacuteticas possam ser discutidas entre professores preceptores e colegas do
programa de estaacutegio
Aleacutem da questatildeo racial outros relatos nos datildeo conta de refletir e discutir sobre
as relaccedilotildees que envolvem as crianccedilas com deficiecircncia na escola
() O que me chamou atenccedilatildeo foi que na quarta (2204) H chegou na escola e decidiu mudar de lugar foi sentar bem ao lado do D (uma crianccedila que foi diagnosticada com autismo de ldquograu leverdquo segundo a professora) eu fiquei observando como seria a relaccedilatildeo deles H trouxe um caderno de desenho o abriu na mesa e dividiu metade da folha para ele e para D depois na hora de descer ele segurou a matildeo do D e ficou durante o almoccedilo todo cuidando de D o orientou a pegar a comida sentar comer devagar e quando natildeo quisesse mais deveria jogar a comida no lixo e durante todo o dia H permaneceu cuidando de D A professora achou estranho pois naquele dia ela natildeo havia chamado a atenccedilatildeo de H ateacute me falou ldquoEle deve estar aprontando e D eacute bobatildeo pode se machucarrdquo e decidiu intervir e pediu para que H mudasse de lugar e parasse de cuidar de (Relato do residente L 2015)
A partir da narrativa eacute possiacutevel refletir sobre o preparo dos professores para
lidar com as diferenccedilas individuais na educaccedilatildeo infantil A inclusatildeo escolar de crianccedilas
com deficiecircncia ocorre mediante poliacuteticas puacuteblicas de inclusatildeo contudo haacute uma
grande distacircncia entre a poliacutetica puacuteblica e a praacutetica pedagoacutegica nos contextos
escolares pois natildeo se aprofunda ldquoo debate sobre os meios os fins e as estrateacutegias
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para a implementaccedilatildeo da poliacutetica de ampliaccedilatildeo da rede de educaccedilatildeo infantilrdquo
(BRUNO 2008 p 59)
Outros registros que tratam da temaacutetica da inclusatildeo de crianccedilas com
deficiecircncia mostram o quanto a escola estaacute despreparada para lidar com essa
questatildeo Os relatos e inquietaccedilotildees dos estudantes nos possibilitam a identificaccedilatildeo de
processos discriminatoacuterios de resistecircncias e acomodaccedilotildees dos profissionais e do
distanciamento de uma praacutetica verdadeiramente inclusiva na esfera das praacuteticas
educativas cotidianas O que se percebe nas discussotildees sobre o assunto eacute que os
residentes enquanto futuros professores muito tecircm a aprender sobre a acolhida das
famiacutelias e das crianccedilas ldquodiferentesrdquo ou com deficiecircncia na constante reflexatildeo sobre o
comportamento atitudes e posturas do educador frente ao trabalho pedagoacutegico
Outras temaacuteticas tatildeo importantes como as que discutimos aqui tem sido objeto
de interesse dos estudantes em processo de imersatildeo nas escolas-campo Haacute uma
gama de registros sobre categorias que envolvem a crianccedila pequena nas atividades
do brincar a disciplina e a coerccedilatildeo dos educadores na tentativa de manter o controle
das crianccedilas e dos comportamentos considerados inadequados Muitos residentes se
surpreendem como essa coerccedilatildeo ocorre demasiadas vezes na escola e nas reuniotildees
de supervisatildeo eacute muito comum questionarem junto ao preceptor formas de
compreender por que algumas praacuteticas coercitivas satildeo tatildeo presentes na educaccedilatildeo
infantil
Consideraccedilotildees Finais
A experiecircncia de estaacutegio no Programa de Residecircncia Pedagoacutegica requer de
estudantes e professores uma atitude de intensa accedilatildeo e reflexatildeo Na perspectiva de
observaccedilatildeo participante eacute que a imersatildeo dos residentes na escola eacute orientada
embora natildeo haja uma intervenccedilatildeo direta planejada e sistemaacutetica sobre os modos de
fazer da escola e dos professores Possiacuteveis intervenccedilotildees sobre a escola suscitadas
pela presenccedila da universidade (de preceptores e residentes) satildeo uma contingecircncia
dos processos de formaccedilatildeo de condiccedilotildees e modos de seu desenvolvimento e eacute assim
que se define o lugar do residente e da preceptoria junto a escola o caraacuteter da
observaccedilatildeo participante a ser realizada durante o estaacutegio e sua conduccedilatildeo e discussatildeo
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no acircmbito escolar As posiccedilotildees dos residentes reeditam questotildees que mobilizam a
imersatildeo e reflexatildeo sobre o vivido como e quando participar O que como e quando
registrar sobre a observaccedilatildeo participante sobre o que se vivencia Como fazer uso
das ferramentas disponiacuteveis na escola e dos subsiacutedios teoacutericos oferecidos durante a
proacutepria residecircncia ou estudados no curso de pedagogia elaborando impressotildees sobre
o que descreve e refletindo sobre o que vive e elabora
A retomada dos escritos e reflexotildees dos estudantes participantes do Programa
de Residecircncia Pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Infantil nos trazem pistas relevantes para a
compreensatildeo natildeo somente dos seus processos formativos mas tambeacutem suscitam
atenccedilatildeo aos temas e questotildees emergentes do cotidiano das crianccedilas nas escolas de
Educaccedilatildeo Infantil Sabe-se que o processo de escrita eacute composto de idas e vindas
de avanccedilos e retrocessos de duacutevidas e certezas percebidas nos textos e contextos
apresentados pelos estudantes neste processo formativo especiacutefico
As postagens guardam caracteriacutesticas especiacuteficas correlatas ao vivido nas
praacuteticas de estaacutegio de acordo com as finalidades comunicativas e formativas do
caderno de campoblog e com especificidades ndash limites e possibilidades ndash que se
dimensionam nestas praacuteticas Os estudantes registram o que observam o que
vivenciam mas natildeo soacute Em muitos registros suas impressotildees (con)fundem-se com o
observado vatildeo aleacutem da descriccedilatildeo interpretando o visto o vivido e outras vezes para
alguns o registro se faz espaccedilo de recuperaccedilatildeo das proacuteprias vivecircncias e dos
elementos teoacutericos estudados
Nesta experiecircncia a liberdade na escolha e escrita dos temas dos cadernos de
campo tem permitido que o processo formativo de cada estudante aconteccedila de forma
uacutenica e original pois apesar de estarem imersos em ambientes semelhantes (em
alguns casos mesmas escolas-campo) e possuiacuterem referenciais teoacutericos semelhantes
(provenientes das unidades curriculares obrigatoacuterias e eletivas do Curso de
Pedagogia) os temas e questotildees que recebem a atenccedilatildeo de cada um satildeo distintos e
trabalhados teoricamente a partir das anguacutestias e inquietaccedilotildees individuais Entretanto
apesar das produccedilotildees escritas serem individuais ao serem publicizadas em reuniotildees
de orientaccedilatildeo ou ateacute no suporte virtual do blog elas podem ser compartilhadas e
tornam-se objeto comum de discussotildees e aprendizagens
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Por fim concluiacutemos assim como Noacutevoa (2000) a propoacutesito das narrativas (auto)
biograacuteficas que a escrita como parte dos processos formativos de professores eacute
capaz de fazer ldquoreaparecer os sujeitos face agraves estruturas e aos sistemas a qualidade
face agrave quantidade a vivecircncia face ao instituiacutedordquo Nesta linha de pensamento
percebemos que eacute possiacutevel ler o mundo e as relaccedilotildees sociais de um sujeito por meio
da sua narrativa produzindo ldquoum outro tipo de conhecimento mais proacuteximo das
realidades educativasrdquo (NOacuteVOA 2000 p 18 19 grifo do autor) e quiccedila
transformador dessas
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Correspondecircncia
Edna Martins ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo (UNIFESP)
Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Maria de Faacutetima Carvalho ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Renata Marciacutelio Cacircndido ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Universidade Federal de Satildeo Paulo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo R
Sena Madureira 1500 ndash Vila Clementino CEP 04021-001 Satildeo Paulo Satildeo Paulo
Brasil
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contradiccedilotildees entre aquilo que eacute rememorado pela estudante e o que efetivamente eacute
observado nas relaccedilotildees estabelecidas no contato com o cotidiano da escola
Aleacutem da rotina e da organizaccedilatildeo de tempos e espaccedilos em sua relaccedilatildeo com as
praacuteticas pedagoacutegicas os relatos dos estudantes se reportam agraves diferentes dimensotildees
da gestatildeo escolar Os registros destacam suas observaccedilotildees nas H A (hora atividade)
ou reuniotildees que eventualmente participam e com frequecircncia observam a postura da
equipe em relaccedilatildeo a presenccedila do residente Em seus relatos questionam o caraacuteter
da gestatildeo a qualidade da relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo entre os professores as discussotildees
que remetem a construccedilatildeo e discussatildeo do projeto poliacutetico pedagoacutegico e os papeis
desempenhados pelos diferentes educadores na construccedilatildeo do trabalho de educaccedilatildeo
da infacircncia
Completamos nesta semana 4 dias de participaccedilatildeo nas Horas Atividades (HA) destinada agrave formaccedilatildeo docente organizaccedilatildeo dos registros e planejamento das atividades pedagoacutegicas O que pude por meio da observaccedilatildeo constatar que o papel do Coordenador Pedagoacutegico que eacute fundamental nesse momento de formaccedilatildeo pois eacute ele o mediador desse processo acaba por se tornar distante e sem intervenccedilotildees no que adentra a orientaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico docente (Relato da estudante M 2015)
Na experiecircncia cotidiana de imersatildeo na escola eacute possiacutevel verificar as tensotildees
vivenciadas entre os professores e o papel da coordenaccedilatildeo pedagoacutegica A teoria
discutida na universidade pelos residentes assinala a importacircncia do papel do
coordenador pedagoacutegico na educaccedilatildeo infantil na praacutetica o residente percebe o quanto
a sua mediaccedilatildeo eacute fundamental na organizaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico e por outro
lado o quanto a sua ausecircncia pode interferir de forma negativa na orientaccedilatildeo das
atividades dos professores
Outra personagem que acaba sendo central na gestatildeo escolar eacute a direccedilatildeo que
nessa experiecircncia do residente tambeacutem eacute observada de forma criacutetica
A figura da diretora na escola foi a que mais me chamou a atenccedilatildeo ()imaginem que em nenhum momento percebi qualquer aproximaccedilatildeo da diretora com as crianccedilas em vaacuterios momentos acreditei que ela fosse algum teacutecnico administrativo pois apesar de estar no topo da piracircmide a referecircncia da gestatildeo a mesma se restringia a secretaria e natildeo se relacionava natildeo nos conhecia nem procurava nos conhecer Passou diversas vezes por grupos de crianccedilas e em nenhuma das vezes sequer olhou para elas Nunca apareceu em uma HA nunca percebi o seu contato com os professores e por diversas vezes me perguntei como eles se falavam qual era o seu relacionamento (Relato da residente B 2015)
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Sobre esse assunto estudos como os de Paro (2005) e Castro (2009) tem
assinalado o papel da gestatildeo e da administraccedilatildeo escolar como alicerce fundamental
nos processos de transformaccedilatildeo da escola puacuteblica brasileira Tais trabalhos tecircm
apontado a centralidade da direccedilatildeo escolar nas questotildees que envolvem os processos
de ensino e aprendizagem e as relaccedilotildees humanas presentes na equipe de trabalho
para aleacutem dos trabalhos administrativos e burocraacuteticos Natildeo eacute objetivo deste trabalho
fazer uma anaacutelise do papel do diretor na escola de educaccedilatildeo infantil mas cabe
assinalar que os estudantes residentes apontam o tema em seus registros e atentos
agraves demandas relativas ao papel do diretor indagam se como e quanto as lideranccedilas
escolares tecircm se envolvido com o trabalho administrativo dispendendo tempo para
um olhar mais atento agraves relaccedilotildees entre os professoresalunos funcionaacuterios da escola
observada
Em relaccedilatildeo agraves interaccedilotildees humanas outros registros dos residentes nos
remetem agraves maneiras como a escola lida com as famiacutelias das crianccedilas matriculadas
nas escolas Tais relatos natildeo satildeo tatildeo frequentes possivelmente porque essa eacute uma
relaccedilatildeo que se caracteriza pela assimetria de poderes e eacute pouco valorizada no dia a
dia escolar Os registros evocam situaccedilotildees vividas comentaacuterios ouvidos e
principalmente a necessidade de mudanccedila dos modos de conceber a crianccedila e suas
famiacutelias e de interagir com elas
A relaccedilatildeo entre professor e famiacutelia eacute mais uma dessas conexotildees que fazemos pela vida Por um lado haacute um profissional uma pessoa que estudou e eacute especialista em cuidar de crianccedilas Por outro famiacutelias que dificilmente conseguimos de fato perceber como satildeo suas estruturadas Famiacutelia hoje eacute coisa difiacutecil de entender Eacute matildee que mora sozinha com o filho eacute pais que trabalham e deixam os filhos na semana com tios avoacutes Eacute matildee solteira Eacute filho criado por pai viuacutevo Eacute histoacuteria que natildeo acaba mais Na hora da saiacuteda vamos conhecendo um pouquinho da estrutura familiar de cada crianccedila tentando perceber como se daacute a relaccedilatildeo entre a famiacutelia e a escola mas devemos ter um pouco de cuidado com esse processo (Relato do estudante J 2015)
Aleacutem da residente ter um olhar para os diferentes tipos de arranjos familiares
tambeacutem busca compreender a especificidade de cada famiacutelia considerando o papel
da mulher e de matildee trabalhadora com filhos na escola puacuteblica
(hellip) Veja esses apontamentos uma menina na sala estaacute com piolho a professora disse que jaacute alertou a matildee mas como eacute matildee solteira soacute pode cuidar da filha no domingo O outro menino que natildeo se interessa pelas atividades e responde a educadora tambeacutem teve a matildee notificada mas como
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a mesma eacute separada do marido natildeo faz nada O fato da mulher trabalhar a semana e ter folga aos domingos natildeo significa que ela seja uma maacute matildee pelo contraacuterio significa que ela rala muito para colocar comida no prato A presenccedila ou natildeo de um homem natildeo condiciona nada A escola natildeo pode ser um ambiente de roacutetulos ela deve estar aberta agraves diferenccedilas acolhendo e buscando outras maneiras e formas de aproximaccedilatildeo com a famiacutelia compreendendo a responsabilidade compartilhada que carregam (Registro da residente B 2015)
Os relatos demonstram natildeo soacute o quanto estatildeo atentos para como a escola lida
com as relaccedilotildees familiares mas sobretudo assinalam como tecircm se configurado as
formaccedilotildees das famiacutelias na atualidade Um estudo de Martins (2012) aponta o quanto
a experiecircncia de residecircncia pedagoacutegica possibilita aos estudantes um contato mais
expressivo com a realidade da escola puacuteblica de periferia urbana Aleacutem de observar
as relaccedilotildees institucionais o residente pode ser sensibilizado frente agraves dificuldades
vividas pelas famiacutelias e tendem a perceber o preconceito em relaccedilatildeo aos vaacuterios
arranjos familiares vivenciados pelas crianccedilas mais pobres e como a escolarizaccedilatildeo
dos pais pode afetar a vida dos filhos Os registros dos residentes demonstram como
ldquoos contextos de vida das crianccedilas que frequentam a escola puacuteblica de periferia
passam a ser compreendidos de uma forma concreta e as relaccedilotildees do espaccedilo familiar
com o espaccedilo escolar passam a ter uma conexatildeo cotidianardquo (MARTINS 2012 p 95)
Outra temaacutetica recorrente nos registros dos estudantes diz respeito ao processo
de escolarizaccedilatildeo das praacuteticas da educaccedilatildeo da infacircncia Tal perspectiva surge quando
os residentes referem aos usos dos brinquedos e agraves brincadeiras agrave presenccedila da
leitura e contaccedilatildeo de histoacuterias aos modos de introduccedilatildeo do desenho ao uso de novas
tecnologias e aos modos de avaliar agraves crianccedilas Tal perspectiva escolarizante emerge
em oposiccedilatildeo ao luacutedico como princiacutepio e forma de organizaccedilatildeo das praacuteticas de
educaccedilatildeo junto agraves crianccedilas pequenas e algumas vezes a ela ainda se articula a
preocupaccedilatildeo em disciplinar as vivecircncias escolares sondagens filas broncas e
silecircncios coexistem com desenhos Tv computadores e brincadeiras Os registros nos
dizem de uma escola que hesita entre coibir e promover a expressatildeo das muitas
linguagens da imaginaccedilatildeo e movimento das crianccedilas
Na semana de 2310 a 2710 e como previsto na reuniatildeo de pais a professora realizou a sondagem com as crianccedilas Teoricamente sei como funciona o procedimento mas me questiono se deve ser realizada na Ed Infantil Tambeacutem me pergunto se a sondagem vai muito aleacutem do conhecimento das crianccedilas Por exemplo algumas escrevem o proacuteprio nome
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e algumas palavras mais comuns a elas outras ainda nem reconhecem as letras do alfabeto A sondagem feita abarcou o nome palavras simples um pouco mais complexas e uma frase inteira A minha duacutevida eacute se a sondagem que vai muito aleacutem dos conhecimentos da sala eacute comum e necessaacuteria ainda mais na Ed Infantil (Relato do residente N 2017)
O debate em torno das questotildees que envolvem a escolarizaccedilatildeo de crianccedilas
pequenas eacute bastante antigo e recorrente Pesquisas como as de Neves Castanheira
e Gouveia (2015) assinalam a partir de autores que estudaram essa temaacutetica como
a perspectiva escolarizante de trabalho com a crianccedila pequena traz seacuterias implicaccedilotildees
para o desenvolvimento infantil justamente porque rompe com as formas como elas
ldquointeragem com a escrita fora da escola destituindo-a de significados pessoais e
sociais e dificulta portanto que as atividades desenvolvidas no espaccedilo escolar
envolvam a ludicidade caracteriacutestica fundamental dessa fase do desenvolvimentordquo
(p 217)
Os residentes parecem estar muito atentos a essas questotildees porque participam
de discussotildees sistemaacuteticas sobre o assunto tanto nas aulas teoacutericas na Universidade
quanto nas reuniotildees de orientaccedilatildeo com os preceptores do Programa de Residecircncia
Muitos estudantes satildeo levados a refletir sobre o assunto logo nos primeiros dias de
imersatildeo na escola
Resolvi mudar o formato do meu relato referente agrave imersatildeo inicial Pois passei por uma situaccedilatildeo em sala que me provocou tal accedilatildeo Devido agrave imposiccedilatildeo de escolarizaccedilatildeo percebida na turma na qual acompanho Onde hoje me emocionei com o choro insistente do aluno BG com as matildeos estremecidas na tentativa de segurar o laacutepis para ldquofazer liccedilatildeordquo (Relato da Residente M 2015)
A partir do relato da residente percebe-se o quanto a questatildeo eacute relevante para
o campo da educaccedilatildeo infantil e da formaccedilatildeo de professores Nas observaccedilotildees e
relatos dos cadernos de campo natildeo eacute incomum aparecerem longas narrativas sobre
os equiacutevocos que ocorrem nas praacuteticas pedagoacutegicas que envolvem a alfabetizaccedilatildeo e
letramento das crianccedilas pequenas Consideramos que questotildees como essas quando
problematizadas pelos estudantes nos horaacuterios de preceptoria ou mesmo nas
discussotildees com professores especialistas sobre o tema tendem a aproximaacute-los de
uma futura praacutetica profissional em que o trabalho com o desenvolvimento da escrita
seja realizado de forma a respeitar a infacircncia natildeo negando agrave crianccedila o seu direito ao
luacutedico mas tratando a apresentaccedilatildeo do mundo letrado como mais um momento
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prazeroso de aprendizagens Tal reflexatildeo eacute importante para os futuros professores
para que busquem compreender como inserir as crianccedilas no mundo letrado de
maneira que possam romper com a dicotomia entre o brincar e a leituraescrita
tomando como referecircncia o significado dessas accedilotildees para a crianccedila possibilitando a
conduccedilatildeo dos trabalhos na educaccedilatildeo infantil que tornem possiacutevel o brincar ldquoletrando
e alfabetizandordquo (NEVES CASTANHEIRA E GOUVEIA 2015)
Outra temaacutetica que aparece num nuacutemero expressivo de postagens diz respeito
ao olhar do residente para as praacuteticas educativas e as interaccedilotildees que ocorrem na
escola com relaccedilatildeo agrave inclusatildeo escolar das crianccedilas percebidas como ldquodiferentesrdquo
Destaca-se nesta temaacutetica observaccedilotildees a respeito de diferenccedilas de religiatildeo gecircnero
raccedilacor e tambeacutem aquelas relacionadas agrave deficiecircncia Haacute descriccedilotildees sobre como as
crianccedilas lidam com as diferenccedilas e as formas como os professores trabalham com
aquelas que possuem alguma dificuldade Algumas postagens ressaltam a
necessidade de formaccedilatildeo inicial e continuada dos educadores para lidarem com a
diversidade na escola
Pela primeira vez vivenciei preconceito racial de uma crianccedila com outra Nos momentos em que a profa distribui lego para as crianccedilas ela daacute tambeacutem um bonequinho para cada crianccedila Tem bonecos adultos crianccedilas homens mulheres e de diversas cores Os bonecos satildeo dados aleatoriamente ou escolhidos pela crianccedila conforme a professora passa de mesa em mesa Neste dia um menino negro estava com um boneco negro Um garoto se aproximou e disse ldquoCredo que boneco feio parece vocecircrdquo se direcionando ao menino O menino deu de ombros e continuou a brincar e poucos minutos depois a menina que estava ao seu lado me perguntou ldquoPor que o boneco dele eacute pretinho Eacute muito feiordquo Claro que conversei com ela e com o outro menino em outro momento calmamente falando das diversas cores que as pessoas tecircm e que natildeo haacute isso de feio e bonito aproveitando para falar sobre diversidade e etc Mais para o final da conversa a menina me disse ldquoMeu pai eacute pretinho ele eacute bonitordquo Respondi a menina dizendo que a beleza natildeo estaacute na cor da pele do cabelo ou dos olhos A cena toda me fez refletir que a menina jaacute deve ter ouvido esse tipo de afirmaccedilatildeo errocircnea Jaacute comentei mais de uma vez sobre o preconceito de gecircnero ser muito forte mas e o racial algueacutem mais vivenciou esse tipo de preconceito durante esta residecircncia (Relato do residente T 2017)
Rosemberg (2014) chama a atenccedilatildeo para o tema da diversidade como uma
questatildeo circunscrita na histoacuteria da humanidade A diferenciaccedilatildeo entre os grupos
humanos ou pessoas com atributos que classificam e separam o ldquoeurdquo do ldquooutrordquo
parece constituir as diversas manifestaccedilotildees de culturas humanas Assim a autora
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desnaturaliza a identidade e a diferenccedila apontando o seu caraacuteter cultural social e
histoacuterico Contudo esse eacute um dos temas que tem chamado cada vez mais a atenccedilatildeo
de educadores desde a educaccedilatildeo infantil jaacute que muitas vezes as questotildees que
envolvem a diferenccedila e o diferente passam por processos discriminatoacuterios e
preconceituosos como apontado no relato do estudante ao observar as interaccedilotildees
entre as crianccedilas no que se refere ao quesito raccedilacor
Marinho e Martins (2016) em estudo sobre formaccedilatildeo de professoras que atuam
na educaccedilatildeo infantil constatam a escassez ou inexistecircncia de disciplinas na formaccedilatildeo
inicial de professores que abarquem as questotildees eacutetnico-raciais denunciando o natildeo
cumprimento das leis que entre outras prescriccedilotildees preveem que instituiccedilotildees de niacutevel
superior proporcionem aos futuros(as) professoresas a formaccedilatildeo adequada para
lidarem com as relaccedilotildees raciais multieacutetnica e multicultural da sociedade brasileira
Nesse sentido ao trazerem suas inquietaccedilotildees sobre como as crianccedilas lidam com as
diferenccedilas no contexto da escola os residentes se aproximam das discussotildees a
respeito dos processos discriminatoacuterios oportunizando momentos em que tais
temaacuteticas possam ser discutidas entre professores preceptores e colegas do
programa de estaacutegio
Aleacutem da questatildeo racial outros relatos nos datildeo conta de refletir e discutir sobre
as relaccedilotildees que envolvem as crianccedilas com deficiecircncia na escola
() O que me chamou atenccedilatildeo foi que na quarta (2204) H chegou na escola e decidiu mudar de lugar foi sentar bem ao lado do D (uma crianccedila que foi diagnosticada com autismo de ldquograu leverdquo segundo a professora) eu fiquei observando como seria a relaccedilatildeo deles H trouxe um caderno de desenho o abriu na mesa e dividiu metade da folha para ele e para D depois na hora de descer ele segurou a matildeo do D e ficou durante o almoccedilo todo cuidando de D o orientou a pegar a comida sentar comer devagar e quando natildeo quisesse mais deveria jogar a comida no lixo e durante todo o dia H permaneceu cuidando de D A professora achou estranho pois naquele dia ela natildeo havia chamado a atenccedilatildeo de H ateacute me falou ldquoEle deve estar aprontando e D eacute bobatildeo pode se machucarrdquo e decidiu intervir e pediu para que H mudasse de lugar e parasse de cuidar de (Relato do residente L 2015)
A partir da narrativa eacute possiacutevel refletir sobre o preparo dos professores para
lidar com as diferenccedilas individuais na educaccedilatildeo infantil A inclusatildeo escolar de crianccedilas
com deficiecircncia ocorre mediante poliacuteticas puacuteblicas de inclusatildeo contudo haacute uma
grande distacircncia entre a poliacutetica puacuteblica e a praacutetica pedagoacutegica nos contextos
escolares pois natildeo se aprofunda ldquoo debate sobre os meios os fins e as estrateacutegias
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para a implementaccedilatildeo da poliacutetica de ampliaccedilatildeo da rede de educaccedilatildeo infantilrdquo
(BRUNO 2008 p 59)
Outros registros que tratam da temaacutetica da inclusatildeo de crianccedilas com
deficiecircncia mostram o quanto a escola estaacute despreparada para lidar com essa
questatildeo Os relatos e inquietaccedilotildees dos estudantes nos possibilitam a identificaccedilatildeo de
processos discriminatoacuterios de resistecircncias e acomodaccedilotildees dos profissionais e do
distanciamento de uma praacutetica verdadeiramente inclusiva na esfera das praacuteticas
educativas cotidianas O que se percebe nas discussotildees sobre o assunto eacute que os
residentes enquanto futuros professores muito tecircm a aprender sobre a acolhida das
famiacutelias e das crianccedilas ldquodiferentesrdquo ou com deficiecircncia na constante reflexatildeo sobre o
comportamento atitudes e posturas do educador frente ao trabalho pedagoacutegico
Outras temaacuteticas tatildeo importantes como as que discutimos aqui tem sido objeto
de interesse dos estudantes em processo de imersatildeo nas escolas-campo Haacute uma
gama de registros sobre categorias que envolvem a crianccedila pequena nas atividades
do brincar a disciplina e a coerccedilatildeo dos educadores na tentativa de manter o controle
das crianccedilas e dos comportamentos considerados inadequados Muitos residentes se
surpreendem como essa coerccedilatildeo ocorre demasiadas vezes na escola e nas reuniotildees
de supervisatildeo eacute muito comum questionarem junto ao preceptor formas de
compreender por que algumas praacuteticas coercitivas satildeo tatildeo presentes na educaccedilatildeo
infantil
Consideraccedilotildees Finais
A experiecircncia de estaacutegio no Programa de Residecircncia Pedagoacutegica requer de
estudantes e professores uma atitude de intensa accedilatildeo e reflexatildeo Na perspectiva de
observaccedilatildeo participante eacute que a imersatildeo dos residentes na escola eacute orientada
embora natildeo haja uma intervenccedilatildeo direta planejada e sistemaacutetica sobre os modos de
fazer da escola e dos professores Possiacuteveis intervenccedilotildees sobre a escola suscitadas
pela presenccedila da universidade (de preceptores e residentes) satildeo uma contingecircncia
dos processos de formaccedilatildeo de condiccedilotildees e modos de seu desenvolvimento e eacute assim
que se define o lugar do residente e da preceptoria junto a escola o caraacuteter da
observaccedilatildeo participante a ser realizada durante o estaacutegio e sua conduccedilatildeo e discussatildeo
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no acircmbito escolar As posiccedilotildees dos residentes reeditam questotildees que mobilizam a
imersatildeo e reflexatildeo sobre o vivido como e quando participar O que como e quando
registrar sobre a observaccedilatildeo participante sobre o que se vivencia Como fazer uso
das ferramentas disponiacuteveis na escola e dos subsiacutedios teoacutericos oferecidos durante a
proacutepria residecircncia ou estudados no curso de pedagogia elaborando impressotildees sobre
o que descreve e refletindo sobre o que vive e elabora
A retomada dos escritos e reflexotildees dos estudantes participantes do Programa
de Residecircncia Pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Infantil nos trazem pistas relevantes para a
compreensatildeo natildeo somente dos seus processos formativos mas tambeacutem suscitam
atenccedilatildeo aos temas e questotildees emergentes do cotidiano das crianccedilas nas escolas de
Educaccedilatildeo Infantil Sabe-se que o processo de escrita eacute composto de idas e vindas
de avanccedilos e retrocessos de duacutevidas e certezas percebidas nos textos e contextos
apresentados pelos estudantes neste processo formativo especiacutefico
As postagens guardam caracteriacutesticas especiacuteficas correlatas ao vivido nas
praacuteticas de estaacutegio de acordo com as finalidades comunicativas e formativas do
caderno de campoblog e com especificidades ndash limites e possibilidades ndash que se
dimensionam nestas praacuteticas Os estudantes registram o que observam o que
vivenciam mas natildeo soacute Em muitos registros suas impressotildees (con)fundem-se com o
observado vatildeo aleacutem da descriccedilatildeo interpretando o visto o vivido e outras vezes para
alguns o registro se faz espaccedilo de recuperaccedilatildeo das proacuteprias vivecircncias e dos
elementos teoacutericos estudados
Nesta experiecircncia a liberdade na escolha e escrita dos temas dos cadernos de
campo tem permitido que o processo formativo de cada estudante aconteccedila de forma
uacutenica e original pois apesar de estarem imersos em ambientes semelhantes (em
alguns casos mesmas escolas-campo) e possuiacuterem referenciais teoacutericos semelhantes
(provenientes das unidades curriculares obrigatoacuterias e eletivas do Curso de
Pedagogia) os temas e questotildees que recebem a atenccedilatildeo de cada um satildeo distintos e
trabalhados teoricamente a partir das anguacutestias e inquietaccedilotildees individuais Entretanto
apesar das produccedilotildees escritas serem individuais ao serem publicizadas em reuniotildees
de orientaccedilatildeo ou ateacute no suporte virtual do blog elas podem ser compartilhadas e
tornam-se objeto comum de discussotildees e aprendizagens
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Por fim concluiacutemos assim como Noacutevoa (2000) a propoacutesito das narrativas (auto)
biograacuteficas que a escrita como parte dos processos formativos de professores eacute
capaz de fazer ldquoreaparecer os sujeitos face agraves estruturas e aos sistemas a qualidade
face agrave quantidade a vivecircncia face ao instituiacutedordquo Nesta linha de pensamento
percebemos que eacute possiacutevel ler o mundo e as relaccedilotildees sociais de um sujeito por meio
da sua narrativa produzindo ldquoum outro tipo de conhecimento mais proacuteximo das
realidades educativasrdquo (NOacuteVOA 2000 p 18 19 grifo do autor) e quiccedila
transformador dessas
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VYGOTSKY Lev Semyonovich Desarrollo de las funciones psiacutequicas superiores en la edad de transicion in l s vygotski obras escogidas iv Paidologiacutea del adolescente Madrid Machado Libros Tomo IV 19302006a
Correspondecircncia
Edna Martins ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo (UNIFESP)
Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Maria de Faacutetima Carvalho ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Renata Marciacutelio Cacircndido ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Universidade Federal de Satildeo Paulo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo R
Sena Madureira 1500 ndash Vila Clementino CEP 04021-001 Satildeo Paulo Satildeo Paulo
Brasil
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Sobre esse assunto estudos como os de Paro (2005) e Castro (2009) tem
assinalado o papel da gestatildeo e da administraccedilatildeo escolar como alicerce fundamental
nos processos de transformaccedilatildeo da escola puacuteblica brasileira Tais trabalhos tecircm
apontado a centralidade da direccedilatildeo escolar nas questotildees que envolvem os processos
de ensino e aprendizagem e as relaccedilotildees humanas presentes na equipe de trabalho
para aleacutem dos trabalhos administrativos e burocraacuteticos Natildeo eacute objetivo deste trabalho
fazer uma anaacutelise do papel do diretor na escola de educaccedilatildeo infantil mas cabe
assinalar que os estudantes residentes apontam o tema em seus registros e atentos
agraves demandas relativas ao papel do diretor indagam se como e quanto as lideranccedilas
escolares tecircm se envolvido com o trabalho administrativo dispendendo tempo para
um olhar mais atento agraves relaccedilotildees entre os professoresalunos funcionaacuterios da escola
observada
Em relaccedilatildeo agraves interaccedilotildees humanas outros registros dos residentes nos
remetem agraves maneiras como a escola lida com as famiacutelias das crianccedilas matriculadas
nas escolas Tais relatos natildeo satildeo tatildeo frequentes possivelmente porque essa eacute uma
relaccedilatildeo que se caracteriza pela assimetria de poderes e eacute pouco valorizada no dia a
dia escolar Os registros evocam situaccedilotildees vividas comentaacuterios ouvidos e
principalmente a necessidade de mudanccedila dos modos de conceber a crianccedila e suas
famiacutelias e de interagir com elas
A relaccedilatildeo entre professor e famiacutelia eacute mais uma dessas conexotildees que fazemos pela vida Por um lado haacute um profissional uma pessoa que estudou e eacute especialista em cuidar de crianccedilas Por outro famiacutelias que dificilmente conseguimos de fato perceber como satildeo suas estruturadas Famiacutelia hoje eacute coisa difiacutecil de entender Eacute matildee que mora sozinha com o filho eacute pais que trabalham e deixam os filhos na semana com tios avoacutes Eacute matildee solteira Eacute filho criado por pai viuacutevo Eacute histoacuteria que natildeo acaba mais Na hora da saiacuteda vamos conhecendo um pouquinho da estrutura familiar de cada crianccedila tentando perceber como se daacute a relaccedilatildeo entre a famiacutelia e a escola mas devemos ter um pouco de cuidado com esse processo (Relato do estudante J 2015)
Aleacutem da residente ter um olhar para os diferentes tipos de arranjos familiares
tambeacutem busca compreender a especificidade de cada famiacutelia considerando o papel
da mulher e de matildee trabalhadora com filhos na escola puacuteblica
(hellip) Veja esses apontamentos uma menina na sala estaacute com piolho a professora disse que jaacute alertou a matildee mas como eacute matildee solteira soacute pode cuidar da filha no domingo O outro menino que natildeo se interessa pelas atividades e responde a educadora tambeacutem teve a matildee notificada mas como
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a mesma eacute separada do marido natildeo faz nada O fato da mulher trabalhar a semana e ter folga aos domingos natildeo significa que ela seja uma maacute matildee pelo contraacuterio significa que ela rala muito para colocar comida no prato A presenccedila ou natildeo de um homem natildeo condiciona nada A escola natildeo pode ser um ambiente de roacutetulos ela deve estar aberta agraves diferenccedilas acolhendo e buscando outras maneiras e formas de aproximaccedilatildeo com a famiacutelia compreendendo a responsabilidade compartilhada que carregam (Registro da residente B 2015)
Os relatos demonstram natildeo soacute o quanto estatildeo atentos para como a escola lida
com as relaccedilotildees familiares mas sobretudo assinalam como tecircm se configurado as
formaccedilotildees das famiacutelias na atualidade Um estudo de Martins (2012) aponta o quanto
a experiecircncia de residecircncia pedagoacutegica possibilita aos estudantes um contato mais
expressivo com a realidade da escola puacuteblica de periferia urbana Aleacutem de observar
as relaccedilotildees institucionais o residente pode ser sensibilizado frente agraves dificuldades
vividas pelas famiacutelias e tendem a perceber o preconceito em relaccedilatildeo aos vaacuterios
arranjos familiares vivenciados pelas crianccedilas mais pobres e como a escolarizaccedilatildeo
dos pais pode afetar a vida dos filhos Os registros dos residentes demonstram como
ldquoos contextos de vida das crianccedilas que frequentam a escola puacuteblica de periferia
passam a ser compreendidos de uma forma concreta e as relaccedilotildees do espaccedilo familiar
com o espaccedilo escolar passam a ter uma conexatildeo cotidianardquo (MARTINS 2012 p 95)
Outra temaacutetica recorrente nos registros dos estudantes diz respeito ao processo
de escolarizaccedilatildeo das praacuteticas da educaccedilatildeo da infacircncia Tal perspectiva surge quando
os residentes referem aos usos dos brinquedos e agraves brincadeiras agrave presenccedila da
leitura e contaccedilatildeo de histoacuterias aos modos de introduccedilatildeo do desenho ao uso de novas
tecnologias e aos modos de avaliar agraves crianccedilas Tal perspectiva escolarizante emerge
em oposiccedilatildeo ao luacutedico como princiacutepio e forma de organizaccedilatildeo das praacuteticas de
educaccedilatildeo junto agraves crianccedilas pequenas e algumas vezes a ela ainda se articula a
preocupaccedilatildeo em disciplinar as vivecircncias escolares sondagens filas broncas e
silecircncios coexistem com desenhos Tv computadores e brincadeiras Os registros nos
dizem de uma escola que hesita entre coibir e promover a expressatildeo das muitas
linguagens da imaginaccedilatildeo e movimento das crianccedilas
Na semana de 2310 a 2710 e como previsto na reuniatildeo de pais a professora realizou a sondagem com as crianccedilas Teoricamente sei como funciona o procedimento mas me questiono se deve ser realizada na Ed Infantil Tambeacutem me pergunto se a sondagem vai muito aleacutem do conhecimento das crianccedilas Por exemplo algumas escrevem o proacuteprio nome
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e algumas palavras mais comuns a elas outras ainda nem reconhecem as letras do alfabeto A sondagem feita abarcou o nome palavras simples um pouco mais complexas e uma frase inteira A minha duacutevida eacute se a sondagem que vai muito aleacutem dos conhecimentos da sala eacute comum e necessaacuteria ainda mais na Ed Infantil (Relato do residente N 2017)
O debate em torno das questotildees que envolvem a escolarizaccedilatildeo de crianccedilas
pequenas eacute bastante antigo e recorrente Pesquisas como as de Neves Castanheira
e Gouveia (2015) assinalam a partir de autores que estudaram essa temaacutetica como
a perspectiva escolarizante de trabalho com a crianccedila pequena traz seacuterias implicaccedilotildees
para o desenvolvimento infantil justamente porque rompe com as formas como elas
ldquointeragem com a escrita fora da escola destituindo-a de significados pessoais e
sociais e dificulta portanto que as atividades desenvolvidas no espaccedilo escolar
envolvam a ludicidade caracteriacutestica fundamental dessa fase do desenvolvimentordquo
(p 217)
Os residentes parecem estar muito atentos a essas questotildees porque participam
de discussotildees sistemaacuteticas sobre o assunto tanto nas aulas teoacutericas na Universidade
quanto nas reuniotildees de orientaccedilatildeo com os preceptores do Programa de Residecircncia
Muitos estudantes satildeo levados a refletir sobre o assunto logo nos primeiros dias de
imersatildeo na escola
Resolvi mudar o formato do meu relato referente agrave imersatildeo inicial Pois passei por uma situaccedilatildeo em sala que me provocou tal accedilatildeo Devido agrave imposiccedilatildeo de escolarizaccedilatildeo percebida na turma na qual acompanho Onde hoje me emocionei com o choro insistente do aluno BG com as matildeos estremecidas na tentativa de segurar o laacutepis para ldquofazer liccedilatildeordquo (Relato da Residente M 2015)
A partir do relato da residente percebe-se o quanto a questatildeo eacute relevante para
o campo da educaccedilatildeo infantil e da formaccedilatildeo de professores Nas observaccedilotildees e
relatos dos cadernos de campo natildeo eacute incomum aparecerem longas narrativas sobre
os equiacutevocos que ocorrem nas praacuteticas pedagoacutegicas que envolvem a alfabetizaccedilatildeo e
letramento das crianccedilas pequenas Consideramos que questotildees como essas quando
problematizadas pelos estudantes nos horaacuterios de preceptoria ou mesmo nas
discussotildees com professores especialistas sobre o tema tendem a aproximaacute-los de
uma futura praacutetica profissional em que o trabalho com o desenvolvimento da escrita
seja realizado de forma a respeitar a infacircncia natildeo negando agrave crianccedila o seu direito ao
luacutedico mas tratando a apresentaccedilatildeo do mundo letrado como mais um momento
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prazeroso de aprendizagens Tal reflexatildeo eacute importante para os futuros professores
para que busquem compreender como inserir as crianccedilas no mundo letrado de
maneira que possam romper com a dicotomia entre o brincar e a leituraescrita
tomando como referecircncia o significado dessas accedilotildees para a crianccedila possibilitando a
conduccedilatildeo dos trabalhos na educaccedilatildeo infantil que tornem possiacutevel o brincar ldquoletrando
e alfabetizandordquo (NEVES CASTANHEIRA E GOUVEIA 2015)
Outra temaacutetica que aparece num nuacutemero expressivo de postagens diz respeito
ao olhar do residente para as praacuteticas educativas e as interaccedilotildees que ocorrem na
escola com relaccedilatildeo agrave inclusatildeo escolar das crianccedilas percebidas como ldquodiferentesrdquo
Destaca-se nesta temaacutetica observaccedilotildees a respeito de diferenccedilas de religiatildeo gecircnero
raccedilacor e tambeacutem aquelas relacionadas agrave deficiecircncia Haacute descriccedilotildees sobre como as
crianccedilas lidam com as diferenccedilas e as formas como os professores trabalham com
aquelas que possuem alguma dificuldade Algumas postagens ressaltam a
necessidade de formaccedilatildeo inicial e continuada dos educadores para lidarem com a
diversidade na escola
Pela primeira vez vivenciei preconceito racial de uma crianccedila com outra Nos momentos em que a profa distribui lego para as crianccedilas ela daacute tambeacutem um bonequinho para cada crianccedila Tem bonecos adultos crianccedilas homens mulheres e de diversas cores Os bonecos satildeo dados aleatoriamente ou escolhidos pela crianccedila conforme a professora passa de mesa em mesa Neste dia um menino negro estava com um boneco negro Um garoto se aproximou e disse ldquoCredo que boneco feio parece vocecircrdquo se direcionando ao menino O menino deu de ombros e continuou a brincar e poucos minutos depois a menina que estava ao seu lado me perguntou ldquoPor que o boneco dele eacute pretinho Eacute muito feiordquo Claro que conversei com ela e com o outro menino em outro momento calmamente falando das diversas cores que as pessoas tecircm e que natildeo haacute isso de feio e bonito aproveitando para falar sobre diversidade e etc Mais para o final da conversa a menina me disse ldquoMeu pai eacute pretinho ele eacute bonitordquo Respondi a menina dizendo que a beleza natildeo estaacute na cor da pele do cabelo ou dos olhos A cena toda me fez refletir que a menina jaacute deve ter ouvido esse tipo de afirmaccedilatildeo errocircnea Jaacute comentei mais de uma vez sobre o preconceito de gecircnero ser muito forte mas e o racial algueacutem mais vivenciou esse tipo de preconceito durante esta residecircncia (Relato do residente T 2017)
Rosemberg (2014) chama a atenccedilatildeo para o tema da diversidade como uma
questatildeo circunscrita na histoacuteria da humanidade A diferenciaccedilatildeo entre os grupos
humanos ou pessoas com atributos que classificam e separam o ldquoeurdquo do ldquooutrordquo
parece constituir as diversas manifestaccedilotildees de culturas humanas Assim a autora
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desnaturaliza a identidade e a diferenccedila apontando o seu caraacuteter cultural social e
histoacuterico Contudo esse eacute um dos temas que tem chamado cada vez mais a atenccedilatildeo
de educadores desde a educaccedilatildeo infantil jaacute que muitas vezes as questotildees que
envolvem a diferenccedila e o diferente passam por processos discriminatoacuterios e
preconceituosos como apontado no relato do estudante ao observar as interaccedilotildees
entre as crianccedilas no que se refere ao quesito raccedilacor
Marinho e Martins (2016) em estudo sobre formaccedilatildeo de professoras que atuam
na educaccedilatildeo infantil constatam a escassez ou inexistecircncia de disciplinas na formaccedilatildeo
inicial de professores que abarquem as questotildees eacutetnico-raciais denunciando o natildeo
cumprimento das leis que entre outras prescriccedilotildees preveem que instituiccedilotildees de niacutevel
superior proporcionem aos futuros(as) professoresas a formaccedilatildeo adequada para
lidarem com as relaccedilotildees raciais multieacutetnica e multicultural da sociedade brasileira
Nesse sentido ao trazerem suas inquietaccedilotildees sobre como as crianccedilas lidam com as
diferenccedilas no contexto da escola os residentes se aproximam das discussotildees a
respeito dos processos discriminatoacuterios oportunizando momentos em que tais
temaacuteticas possam ser discutidas entre professores preceptores e colegas do
programa de estaacutegio
Aleacutem da questatildeo racial outros relatos nos datildeo conta de refletir e discutir sobre
as relaccedilotildees que envolvem as crianccedilas com deficiecircncia na escola
() O que me chamou atenccedilatildeo foi que na quarta (2204) H chegou na escola e decidiu mudar de lugar foi sentar bem ao lado do D (uma crianccedila que foi diagnosticada com autismo de ldquograu leverdquo segundo a professora) eu fiquei observando como seria a relaccedilatildeo deles H trouxe um caderno de desenho o abriu na mesa e dividiu metade da folha para ele e para D depois na hora de descer ele segurou a matildeo do D e ficou durante o almoccedilo todo cuidando de D o orientou a pegar a comida sentar comer devagar e quando natildeo quisesse mais deveria jogar a comida no lixo e durante todo o dia H permaneceu cuidando de D A professora achou estranho pois naquele dia ela natildeo havia chamado a atenccedilatildeo de H ateacute me falou ldquoEle deve estar aprontando e D eacute bobatildeo pode se machucarrdquo e decidiu intervir e pediu para que H mudasse de lugar e parasse de cuidar de (Relato do residente L 2015)
A partir da narrativa eacute possiacutevel refletir sobre o preparo dos professores para
lidar com as diferenccedilas individuais na educaccedilatildeo infantil A inclusatildeo escolar de crianccedilas
com deficiecircncia ocorre mediante poliacuteticas puacuteblicas de inclusatildeo contudo haacute uma
grande distacircncia entre a poliacutetica puacuteblica e a praacutetica pedagoacutegica nos contextos
escolares pois natildeo se aprofunda ldquoo debate sobre os meios os fins e as estrateacutegias
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para a implementaccedilatildeo da poliacutetica de ampliaccedilatildeo da rede de educaccedilatildeo infantilrdquo
(BRUNO 2008 p 59)
Outros registros que tratam da temaacutetica da inclusatildeo de crianccedilas com
deficiecircncia mostram o quanto a escola estaacute despreparada para lidar com essa
questatildeo Os relatos e inquietaccedilotildees dos estudantes nos possibilitam a identificaccedilatildeo de
processos discriminatoacuterios de resistecircncias e acomodaccedilotildees dos profissionais e do
distanciamento de uma praacutetica verdadeiramente inclusiva na esfera das praacuteticas
educativas cotidianas O que se percebe nas discussotildees sobre o assunto eacute que os
residentes enquanto futuros professores muito tecircm a aprender sobre a acolhida das
famiacutelias e das crianccedilas ldquodiferentesrdquo ou com deficiecircncia na constante reflexatildeo sobre o
comportamento atitudes e posturas do educador frente ao trabalho pedagoacutegico
Outras temaacuteticas tatildeo importantes como as que discutimos aqui tem sido objeto
de interesse dos estudantes em processo de imersatildeo nas escolas-campo Haacute uma
gama de registros sobre categorias que envolvem a crianccedila pequena nas atividades
do brincar a disciplina e a coerccedilatildeo dos educadores na tentativa de manter o controle
das crianccedilas e dos comportamentos considerados inadequados Muitos residentes se
surpreendem como essa coerccedilatildeo ocorre demasiadas vezes na escola e nas reuniotildees
de supervisatildeo eacute muito comum questionarem junto ao preceptor formas de
compreender por que algumas praacuteticas coercitivas satildeo tatildeo presentes na educaccedilatildeo
infantil
Consideraccedilotildees Finais
A experiecircncia de estaacutegio no Programa de Residecircncia Pedagoacutegica requer de
estudantes e professores uma atitude de intensa accedilatildeo e reflexatildeo Na perspectiva de
observaccedilatildeo participante eacute que a imersatildeo dos residentes na escola eacute orientada
embora natildeo haja uma intervenccedilatildeo direta planejada e sistemaacutetica sobre os modos de
fazer da escola e dos professores Possiacuteveis intervenccedilotildees sobre a escola suscitadas
pela presenccedila da universidade (de preceptores e residentes) satildeo uma contingecircncia
dos processos de formaccedilatildeo de condiccedilotildees e modos de seu desenvolvimento e eacute assim
que se define o lugar do residente e da preceptoria junto a escola o caraacuteter da
observaccedilatildeo participante a ser realizada durante o estaacutegio e sua conduccedilatildeo e discussatildeo
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no acircmbito escolar As posiccedilotildees dos residentes reeditam questotildees que mobilizam a
imersatildeo e reflexatildeo sobre o vivido como e quando participar O que como e quando
registrar sobre a observaccedilatildeo participante sobre o que se vivencia Como fazer uso
das ferramentas disponiacuteveis na escola e dos subsiacutedios teoacutericos oferecidos durante a
proacutepria residecircncia ou estudados no curso de pedagogia elaborando impressotildees sobre
o que descreve e refletindo sobre o que vive e elabora
A retomada dos escritos e reflexotildees dos estudantes participantes do Programa
de Residecircncia Pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Infantil nos trazem pistas relevantes para a
compreensatildeo natildeo somente dos seus processos formativos mas tambeacutem suscitam
atenccedilatildeo aos temas e questotildees emergentes do cotidiano das crianccedilas nas escolas de
Educaccedilatildeo Infantil Sabe-se que o processo de escrita eacute composto de idas e vindas
de avanccedilos e retrocessos de duacutevidas e certezas percebidas nos textos e contextos
apresentados pelos estudantes neste processo formativo especiacutefico
As postagens guardam caracteriacutesticas especiacuteficas correlatas ao vivido nas
praacuteticas de estaacutegio de acordo com as finalidades comunicativas e formativas do
caderno de campoblog e com especificidades ndash limites e possibilidades ndash que se
dimensionam nestas praacuteticas Os estudantes registram o que observam o que
vivenciam mas natildeo soacute Em muitos registros suas impressotildees (con)fundem-se com o
observado vatildeo aleacutem da descriccedilatildeo interpretando o visto o vivido e outras vezes para
alguns o registro se faz espaccedilo de recuperaccedilatildeo das proacuteprias vivecircncias e dos
elementos teoacutericos estudados
Nesta experiecircncia a liberdade na escolha e escrita dos temas dos cadernos de
campo tem permitido que o processo formativo de cada estudante aconteccedila de forma
uacutenica e original pois apesar de estarem imersos em ambientes semelhantes (em
alguns casos mesmas escolas-campo) e possuiacuterem referenciais teoacutericos semelhantes
(provenientes das unidades curriculares obrigatoacuterias e eletivas do Curso de
Pedagogia) os temas e questotildees que recebem a atenccedilatildeo de cada um satildeo distintos e
trabalhados teoricamente a partir das anguacutestias e inquietaccedilotildees individuais Entretanto
apesar das produccedilotildees escritas serem individuais ao serem publicizadas em reuniotildees
de orientaccedilatildeo ou ateacute no suporte virtual do blog elas podem ser compartilhadas e
tornam-se objeto comum de discussotildees e aprendizagens
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Por fim concluiacutemos assim como Noacutevoa (2000) a propoacutesito das narrativas (auto)
biograacuteficas que a escrita como parte dos processos formativos de professores eacute
capaz de fazer ldquoreaparecer os sujeitos face agraves estruturas e aos sistemas a qualidade
face agrave quantidade a vivecircncia face ao instituiacutedordquo Nesta linha de pensamento
percebemos que eacute possiacutevel ler o mundo e as relaccedilotildees sociais de um sujeito por meio
da sua narrativa produzindo ldquoum outro tipo de conhecimento mais proacuteximo das
realidades educativasrdquo (NOacuteVOA 2000 p 18 19 grifo do autor) e quiccedila
transformador dessas
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ROSEMBERG Fulvia Educaccedilatildeo infantil e relaccedilotildees raciais a tensatildeo entre igualdade e diversidade Cadernos de Pesquisa v 44 n 153 p 742-759 2014
SILVA Adriana BUFALO Joseane O espaccedilo na pedagogia da educaccedilatildeo infantil faacutebula perversidade e possibilidade In Culturas infantis em creches e preacute-escolas estaacutegio e pesquisa Campinas SP Autores Associados 2011
TARDIF Maurice A profissionalizaccedilatildeo do ensino passados trinta anos dois passos para a frente trecircs para traacutes Educaccedilatildeo e Sociedade Campinas SP v34 n123 p
551-571 2013
VYGOTSKY Lev Semyonovich Desarrollo de las funciones psiacutequicas superiores en la edad de transicion in l s vygotski obras escogidas iv Paidologiacutea del adolescente Madrid Machado Libros Tomo IV 19302006a
Correspondecircncia
Edna Martins ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo (UNIFESP)
Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Maria de Faacutetima Carvalho ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Renata Marciacutelio Cacircndido ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Universidade Federal de Satildeo Paulo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo R
Sena Madureira 1500 ndash Vila Clementino CEP 04021-001 Satildeo Paulo Satildeo Paulo
Brasil
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a mesma eacute separada do marido natildeo faz nada O fato da mulher trabalhar a semana e ter folga aos domingos natildeo significa que ela seja uma maacute matildee pelo contraacuterio significa que ela rala muito para colocar comida no prato A presenccedila ou natildeo de um homem natildeo condiciona nada A escola natildeo pode ser um ambiente de roacutetulos ela deve estar aberta agraves diferenccedilas acolhendo e buscando outras maneiras e formas de aproximaccedilatildeo com a famiacutelia compreendendo a responsabilidade compartilhada que carregam (Registro da residente B 2015)
Os relatos demonstram natildeo soacute o quanto estatildeo atentos para como a escola lida
com as relaccedilotildees familiares mas sobretudo assinalam como tecircm se configurado as
formaccedilotildees das famiacutelias na atualidade Um estudo de Martins (2012) aponta o quanto
a experiecircncia de residecircncia pedagoacutegica possibilita aos estudantes um contato mais
expressivo com a realidade da escola puacuteblica de periferia urbana Aleacutem de observar
as relaccedilotildees institucionais o residente pode ser sensibilizado frente agraves dificuldades
vividas pelas famiacutelias e tendem a perceber o preconceito em relaccedilatildeo aos vaacuterios
arranjos familiares vivenciados pelas crianccedilas mais pobres e como a escolarizaccedilatildeo
dos pais pode afetar a vida dos filhos Os registros dos residentes demonstram como
ldquoos contextos de vida das crianccedilas que frequentam a escola puacuteblica de periferia
passam a ser compreendidos de uma forma concreta e as relaccedilotildees do espaccedilo familiar
com o espaccedilo escolar passam a ter uma conexatildeo cotidianardquo (MARTINS 2012 p 95)
Outra temaacutetica recorrente nos registros dos estudantes diz respeito ao processo
de escolarizaccedilatildeo das praacuteticas da educaccedilatildeo da infacircncia Tal perspectiva surge quando
os residentes referem aos usos dos brinquedos e agraves brincadeiras agrave presenccedila da
leitura e contaccedilatildeo de histoacuterias aos modos de introduccedilatildeo do desenho ao uso de novas
tecnologias e aos modos de avaliar agraves crianccedilas Tal perspectiva escolarizante emerge
em oposiccedilatildeo ao luacutedico como princiacutepio e forma de organizaccedilatildeo das praacuteticas de
educaccedilatildeo junto agraves crianccedilas pequenas e algumas vezes a ela ainda se articula a
preocupaccedilatildeo em disciplinar as vivecircncias escolares sondagens filas broncas e
silecircncios coexistem com desenhos Tv computadores e brincadeiras Os registros nos
dizem de uma escola que hesita entre coibir e promover a expressatildeo das muitas
linguagens da imaginaccedilatildeo e movimento das crianccedilas
Na semana de 2310 a 2710 e como previsto na reuniatildeo de pais a professora realizou a sondagem com as crianccedilas Teoricamente sei como funciona o procedimento mas me questiono se deve ser realizada na Ed Infantil Tambeacutem me pergunto se a sondagem vai muito aleacutem do conhecimento das crianccedilas Por exemplo algumas escrevem o proacuteprio nome
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e algumas palavras mais comuns a elas outras ainda nem reconhecem as letras do alfabeto A sondagem feita abarcou o nome palavras simples um pouco mais complexas e uma frase inteira A minha duacutevida eacute se a sondagem que vai muito aleacutem dos conhecimentos da sala eacute comum e necessaacuteria ainda mais na Ed Infantil (Relato do residente N 2017)
O debate em torno das questotildees que envolvem a escolarizaccedilatildeo de crianccedilas
pequenas eacute bastante antigo e recorrente Pesquisas como as de Neves Castanheira
e Gouveia (2015) assinalam a partir de autores que estudaram essa temaacutetica como
a perspectiva escolarizante de trabalho com a crianccedila pequena traz seacuterias implicaccedilotildees
para o desenvolvimento infantil justamente porque rompe com as formas como elas
ldquointeragem com a escrita fora da escola destituindo-a de significados pessoais e
sociais e dificulta portanto que as atividades desenvolvidas no espaccedilo escolar
envolvam a ludicidade caracteriacutestica fundamental dessa fase do desenvolvimentordquo
(p 217)
Os residentes parecem estar muito atentos a essas questotildees porque participam
de discussotildees sistemaacuteticas sobre o assunto tanto nas aulas teoacutericas na Universidade
quanto nas reuniotildees de orientaccedilatildeo com os preceptores do Programa de Residecircncia
Muitos estudantes satildeo levados a refletir sobre o assunto logo nos primeiros dias de
imersatildeo na escola
Resolvi mudar o formato do meu relato referente agrave imersatildeo inicial Pois passei por uma situaccedilatildeo em sala que me provocou tal accedilatildeo Devido agrave imposiccedilatildeo de escolarizaccedilatildeo percebida na turma na qual acompanho Onde hoje me emocionei com o choro insistente do aluno BG com as matildeos estremecidas na tentativa de segurar o laacutepis para ldquofazer liccedilatildeordquo (Relato da Residente M 2015)
A partir do relato da residente percebe-se o quanto a questatildeo eacute relevante para
o campo da educaccedilatildeo infantil e da formaccedilatildeo de professores Nas observaccedilotildees e
relatos dos cadernos de campo natildeo eacute incomum aparecerem longas narrativas sobre
os equiacutevocos que ocorrem nas praacuteticas pedagoacutegicas que envolvem a alfabetizaccedilatildeo e
letramento das crianccedilas pequenas Consideramos que questotildees como essas quando
problematizadas pelos estudantes nos horaacuterios de preceptoria ou mesmo nas
discussotildees com professores especialistas sobre o tema tendem a aproximaacute-los de
uma futura praacutetica profissional em que o trabalho com o desenvolvimento da escrita
seja realizado de forma a respeitar a infacircncia natildeo negando agrave crianccedila o seu direito ao
luacutedico mas tratando a apresentaccedilatildeo do mundo letrado como mais um momento
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prazeroso de aprendizagens Tal reflexatildeo eacute importante para os futuros professores
para que busquem compreender como inserir as crianccedilas no mundo letrado de
maneira que possam romper com a dicotomia entre o brincar e a leituraescrita
tomando como referecircncia o significado dessas accedilotildees para a crianccedila possibilitando a
conduccedilatildeo dos trabalhos na educaccedilatildeo infantil que tornem possiacutevel o brincar ldquoletrando
e alfabetizandordquo (NEVES CASTANHEIRA E GOUVEIA 2015)
Outra temaacutetica que aparece num nuacutemero expressivo de postagens diz respeito
ao olhar do residente para as praacuteticas educativas e as interaccedilotildees que ocorrem na
escola com relaccedilatildeo agrave inclusatildeo escolar das crianccedilas percebidas como ldquodiferentesrdquo
Destaca-se nesta temaacutetica observaccedilotildees a respeito de diferenccedilas de religiatildeo gecircnero
raccedilacor e tambeacutem aquelas relacionadas agrave deficiecircncia Haacute descriccedilotildees sobre como as
crianccedilas lidam com as diferenccedilas e as formas como os professores trabalham com
aquelas que possuem alguma dificuldade Algumas postagens ressaltam a
necessidade de formaccedilatildeo inicial e continuada dos educadores para lidarem com a
diversidade na escola
Pela primeira vez vivenciei preconceito racial de uma crianccedila com outra Nos momentos em que a profa distribui lego para as crianccedilas ela daacute tambeacutem um bonequinho para cada crianccedila Tem bonecos adultos crianccedilas homens mulheres e de diversas cores Os bonecos satildeo dados aleatoriamente ou escolhidos pela crianccedila conforme a professora passa de mesa em mesa Neste dia um menino negro estava com um boneco negro Um garoto se aproximou e disse ldquoCredo que boneco feio parece vocecircrdquo se direcionando ao menino O menino deu de ombros e continuou a brincar e poucos minutos depois a menina que estava ao seu lado me perguntou ldquoPor que o boneco dele eacute pretinho Eacute muito feiordquo Claro que conversei com ela e com o outro menino em outro momento calmamente falando das diversas cores que as pessoas tecircm e que natildeo haacute isso de feio e bonito aproveitando para falar sobre diversidade e etc Mais para o final da conversa a menina me disse ldquoMeu pai eacute pretinho ele eacute bonitordquo Respondi a menina dizendo que a beleza natildeo estaacute na cor da pele do cabelo ou dos olhos A cena toda me fez refletir que a menina jaacute deve ter ouvido esse tipo de afirmaccedilatildeo errocircnea Jaacute comentei mais de uma vez sobre o preconceito de gecircnero ser muito forte mas e o racial algueacutem mais vivenciou esse tipo de preconceito durante esta residecircncia (Relato do residente T 2017)
Rosemberg (2014) chama a atenccedilatildeo para o tema da diversidade como uma
questatildeo circunscrita na histoacuteria da humanidade A diferenciaccedilatildeo entre os grupos
humanos ou pessoas com atributos que classificam e separam o ldquoeurdquo do ldquooutrordquo
parece constituir as diversas manifestaccedilotildees de culturas humanas Assim a autora
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desnaturaliza a identidade e a diferenccedila apontando o seu caraacuteter cultural social e
histoacuterico Contudo esse eacute um dos temas que tem chamado cada vez mais a atenccedilatildeo
de educadores desde a educaccedilatildeo infantil jaacute que muitas vezes as questotildees que
envolvem a diferenccedila e o diferente passam por processos discriminatoacuterios e
preconceituosos como apontado no relato do estudante ao observar as interaccedilotildees
entre as crianccedilas no que se refere ao quesito raccedilacor
Marinho e Martins (2016) em estudo sobre formaccedilatildeo de professoras que atuam
na educaccedilatildeo infantil constatam a escassez ou inexistecircncia de disciplinas na formaccedilatildeo
inicial de professores que abarquem as questotildees eacutetnico-raciais denunciando o natildeo
cumprimento das leis que entre outras prescriccedilotildees preveem que instituiccedilotildees de niacutevel
superior proporcionem aos futuros(as) professoresas a formaccedilatildeo adequada para
lidarem com as relaccedilotildees raciais multieacutetnica e multicultural da sociedade brasileira
Nesse sentido ao trazerem suas inquietaccedilotildees sobre como as crianccedilas lidam com as
diferenccedilas no contexto da escola os residentes se aproximam das discussotildees a
respeito dos processos discriminatoacuterios oportunizando momentos em que tais
temaacuteticas possam ser discutidas entre professores preceptores e colegas do
programa de estaacutegio
Aleacutem da questatildeo racial outros relatos nos datildeo conta de refletir e discutir sobre
as relaccedilotildees que envolvem as crianccedilas com deficiecircncia na escola
() O que me chamou atenccedilatildeo foi que na quarta (2204) H chegou na escola e decidiu mudar de lugar foi sentar bem ao lado do D (uma crianccedila que foi diagnosticada com autismo de ldquograu leverdquo segundo a professora) eu fiquei observando como seria a relaccedilatildeo deles H trouxe um caderno de desenho o abriu na mesa e dividiu metade da folha para ele e para D depois na hora de descer ele segurou a matildeo do D e ficou durante o almoccedilo todo cuidando de D o orientou a pegar a comida sentar comer devagar e quando natildeo quisesse mais deveria jogar a comida no lixo e durante todo o dia H permaneceu cuidando de D A professora achou estranho pois naquele dia ela natildeo havia chamado a atenccedilatildeo de H ateacute me falou ldquoEle deve estar aprontando e D eacute bobatildeo pode se machucarrdquo e decidiu intervir e pediu para que H mudasse de lugar e parasse de cuidar de (Relato do residente L 2015)
A partir da narrativa eacute possiacutevel refletir sobre o preparo dos professores para
lidar com as diferenccedilas individuais na educaccedilatildeo infantil A inclusatildeo escolar de crianccedilas
com deficiecircncia ocorre mediante poliacuteticas puacuteblicas de inclusatildeo contudo haacute uma
grande distacircncia entre a poliacutetica puacuteblica e a praacutetica pedagoacutegica nos contextos
escolares pois natildeo se aprofunda ldquoo debate sobre os meios os fins e as estrateacutegias
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para a implementaccedilatildeo da poliacutetica de ampliaccedilatildeo da rede de educaccedilatildeo infantilrdquo
(BRUNO 2008 p 59)
Outros registros que tratam da temaacutetica da inclusatildeo de crianccedilas com
deficiecircncia mostram o quanto a escola estaacute despreparada para lidar com essa
questatildeo Os relatos e inquietaccedilotildees dos estudantes nos possibilitam a identificaccedilatildeo de
processos discriminatoacuterios de resistecircncias e acomodaccedilotildees dos profissionais e do
distanciamento de uma praacutetica verdadeiramente inclusiva na esfera das praacuteticas
educativas cotidianas O que se percebe nas discussotildees sobre o assunto eacute que os
residentes enquanto futuros professores muito tecircm a aprender sobre a acolhida das
famiacutelias e das crianccedilas ldquodiferentesrdquo ou com deficiecircncia na constante reflexatildeo sobre o
comportamento atitudes e posturas do educador frente ao trabalho pedagoacutegico
Outras temaacuteticas tatildeo importantes como as que discutimos aqui tem sido objeto
de interesse dos estudantes em processo de imersatildeo nas escolas-campo Haacute uma
gama de registros sobre categorias que envolvem a crianccedila pequena nas atividades
do brincar a disciplina e a coerccedilatildeo dos educadores na tentativa de manter o controle
das crianccedilas e dos comportamentos considerados inadequados Muitos residentes se
surpreendem como essa coerccedilatildeo ocorre demasiadas vezes na escola e nas reuniotildees
de supervisatildeo eacute muito comum questionarem junto ao preceptor formas de
compreender por que algumas praacuteticas coercitivas satildeo tatildeo presentes na educaccedilatildeo
infantil
Consideraccedilotildees Finais
A experiecircncia de estaacutegio no Programa de Residecircncia Pedagoacutegica requer de
estudantes e professores uma atitude de intensa accedilatildeo e reflexatildeo Na perspectiva de
observaccedilatildeo participante eacute que a imersatildeo dos residentes na escola eacute orientada
embora natildeo haja uma intervenccedilatildeo direta planejada e sistemaacutetica sobre os modos de
fazer da escola e dos professores Possiacuteveis intervenccedilotildees sobre a escola suscitadas
pela presenccedila da universidade (de preceptores e residentes) satildeo uma contingecircncia
dos processos de formaccedilatildeo de condiccedilotildees e modos de seu desenvolvimento e eacute assim
que se define o lugar do residente e da preceptoria junto a escola o caraacuteter da
observaccedilatildeo participante a ser realizada durante o estaacutegio e sua conduccedilatildeo e discussatildeo
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no acircmbito escolar As posiccedilotildees dos residentes reeditam questotildees que mobilizam a
imersatildeo e reflexatildeo sobre o vivido como e quando participar O que como e quando
registrar sobre a observaccedilatildeo participante sobre o que se vivencia Como fazer uso
das ferramentas disponiacuteveis na escola e dos subsiacutedios teoacutericos oferecidos durante a
proacutepria residecircncia ou estudados no curso de pedagogia elaborando impressotildees sobre
o que descreve e refletindo sobre o que vive e elabora
A retomada dos escritos e reflexotildees dos estudantes participantes do Programa
de Residecircncia Pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Infantil nos trazem pistas relevantes para a
compreensatildeo natildeo somente dos seus processos formativos mas tambeacutem suscitam
atenccedilatildeo aos temas e questotildees emergentes do cotidiano das crianccedilas nas escolas de
Educaccedilatildeo Infantil Sabe-se que o processo de escrita eacute composto de idas e vindas
de avanccedilos e retrocessos de duacutevidas e certezas percebidas nos textos e contextos
apresentados pelos estudantes neste processo formativo especiacutefico
As postagens guardam caracteriacutesticas especiacuteficas correlatas ao vivido nas
praacuteticas de estaacutegio de acordo com as finalidades comunicativas e formativas do
caderno de campoblog e com especificidades ndash limites e possibilidades ndash que se
dimensionam nestas praacuteticas Os estudantes registram o que observam o que
vivenciam mas natildeo soacute Em muitos registros suas impressotildees (con)fundem-se com o
observado vatildeo aleacutem da descriccedilatildeo interpretando o visto o vivido e outras vezes para
alguns o registro se faz espaccedilo de recuperaccedilatildeo das proacuteprias vivecircncias e dos
elementos teoacutericos estudados
Nesta experiecircncia a liberdade na escolha e escrita dos temas dos cadernos de
campo tem permitido que o processo formativo de cada estudante aconteccedila de forma
uacutenica e original pois apesar de estarem imersos em ambientes semelhantes (em
alguns casos mesmas escolas-campo) e possuiacuterem referenciais teoacutericos semelhantes
(provenientes das unidades curriculares obrigatoacuterias e eletivas do Curso de
Pedagogia) os temas e questotildees que recebem a atenccedilatildeo de cada um satildeo distintos e
trabalhados teoricamente a partir das anguacutestias e inquietaccedilotildees individuais Entretanto
apesar das produccedilotildees escritas serem individuais ao serem publicizadas em reuniotildees
de orientaccedilatildeo ou ateacute no suporte virtual do blog elas podem ser compartilhadas e
tornam-se objeto comum de discussotildees e aprendizagens
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Por fim concluiacutemos assim como Noacutevoa (2000) a propoacutesito das narrativas (auto)
biograacuteficas que a escrita como parte dos processos formativos de professores eacute
capaz de fazer ldquoreaparecer os sujeitos face agraves estruturas e aos sistemas a qualidade
face agrave quantidade a vivecircncia face ao instituiacutedordquo Nesta linha de pensamento
percebemos que eacute possiacutevel ler o mundo e as relaccedilotildees sociais de um sujeito por meio
da sua narrativa produzindo ldquoum outro tipo de conhecimento mais proacuteximo das
realidades educativasrdquo (NOacuteVOA 2000 p 18 19 grifo do autor) e quiccedila
transformador dessas
Referecircncias bibliograacuteficas
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Maria de Faacutetima Carvalho ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Renata Marciacutelio Cacircndido ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Universidade Federal de Satildeo Paulo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo R
Sena Madureira 1500 ndash Vila Clementino CEP 04021-001 Satildeo Paulo Satildeo Paulo
Brasil
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e algumas palavras mais comuns a elas outras ainda nem reconhecem as letras do alfabeto A sondagem feita abarcou o nome palavras simples um pouco mais complexas e uma frase inteira A minha duacutevida eacute se a sondagem que vai muito aleacutem dos conhecimentos da sala eacute comum e necessaacuteria ainda mais na Ed Infantil (Relato do residente N 2017)
O debate em torno das questotildees que envolvem a escolarizaccedilatildeo de crianccedilas
pequenas eacute bastante antigo e recorrente Pesquisas como as de Neves Castanheira
e Gouveia (2015) assinalam a partir de autores que estudaram essa temaacutetica como
a perspectiva escolarizante de trabalho com a crianccedila pequena traz seacuterias implicaccedilotildees
para o desenvolvimento infantil justamente porque rompe com as formas como elas
ldquointeragem com a escrita fora da escola destituindo-a de significados pessoais e
sociais e dificulta portanto que as atividades desenvolvidas no espaccedilo escolar
envolvam a ludicidade caracteriacutestica fundamental dessa fase do desenvolvimentordquo
(p 217)
Os residentes parecem estar muito atentos a essas questotildees porque participam
de discussotildees sistemaacuteticas sobre o assunto tanto nas aulas teoacutericas na Universidade
quanto nas reuniotildees de orientaccedilatildeo com os preceptores do Programa de Residecircncia
Muitos estudantes satildeo levados a refletir sobre o assunto logo nos primeiros dias de
imersatildeo na escola
Resolvi mudar o formato do meu relato referente agrave imersatildeo inicial Pois passei por uma situaccedilatildeo em sala que me provocou tal accedilatildeo Devido agrave imposiccedilatildeo de escolarizaccedilatildeo percebida na turma na qual acompanho Onde hoje me emocionei com o choro insistente do aluno BG com as matildeos estremecidas na tentativa de segurar o laacutepis para ldquofazer liccedilatildeordquo (Relato da Residente M 2015)
A partir do relato da residente percebe-se o quanto a questatildeo eacute relevante para
o campo da educaccedilatildeo infantil e da formaccedilatildeo de professores Nas observaccedilotildees e
relatos dos cadernos de campo natildeo eacute incomum aparecerem longas narrativas sobre
os equiacutevocos que ocorrem nas praacuteticas pedagoacutegicas que envolvem a alfabetizaccedilatildeo e
letramento das crianccedilas pequenas Consideramos que questotildees como essas quando
problematizadas pelos estudantes nos horaacuterios de preceptoria ou mesmo nas
discussotildees com professores especialistas sobre o tema tendem a aproximaacute-los de
uma futura praacutetica profissional em que o trabalho com o desenvolvimento da escrita
seja realizado de forma a respeitar a infacircncia natildeo negando agrave crianccedila o seu direito ao
luacutedico mas tratando a apresentaccedilatildeo do mundo letrado como mais um momento
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prazeroso de aprendizagens Tal reflexatildeo eacute importante para os futuros professores
para que busquem compreender como inserir as crianccedilas no mundo letrado de
maneira que possam romper com a dicotomia entre o brincar e a leituraescrita
tomando como referecircncia o significado dessas accedilotildees para a crianccedila possibilitando a
conduccedilatildeo dos trabalhos na educaccedilatildeo infantil que tornem possiacutevel o brincar ldquoletrando
e alfabetizandordquo (NEVES CASTANHEIRA E GOUVEIA 2015)
Outra temaacutetica que aparece num nuacutemero expressivo de postagens diz respeito
ao olhar do residente para as praacuteticas educativas e as interaccedilotildees que ocorrem na
escola com relaccedilatildeo agrave inclusatildeo escolar das crianccedilas percebidas como ldquodiferentesrdquo
Destaca-se nesta temaacutetica observaccedilotildees a respeito de diferenccedilas de religiatildeo gecircnero
raccedilacor e tambeacutem aquelas relacionadas agrave deficiecircncia Haacute descriccedilotildees sobre como as
crianccedilas lidam com as diferenccedilas e as formas como os professores trabalham com
aquelas que possuem alguma dificuldade Algumas postagens ressaltam a
necessidade de formaccedilatildeo inicial e continuada dos educadores para lidarem com a
diversidade na escola
Pela primeira vez vivenciei preconceito racial de uma crianccedila com outra Nos momentos em que a profa distribui lego para as crianccedilas ela daacute tambeacutem um bonequinho para cada crianccedila Tem bonecos adultos crianccedilas homens mulheres e de diversas cores Os bonecos satildeo dados aleatoriamente ou escolhidos pela crianccedila conforme a professora passa de mesa em mesa Neste dia um menino negro estava com um boneco negro Um garoto se aproximou e disse ldquoCredo que boneco feio parece vocecircrdquo se direcionando ao menino O menino deu de ombros e continuou a brincar e poucos minutos depois a menina que estava ao seu lado me perguntou ldquoPor que o boneco dele eacute pretinho Eacute muito feiordquo Claro que conversei com ela e com o outro menino em outro momento calmamente falando das diversas cores que as pessoas tecircm e que natildeo haacute isso de feio e bonito aproveitando para falar sobre diversidade e etc Mais para o final da conversa a menina me disse ldquoMeu pai eacute pretinho ele eacute bonitordquo Respondi a menina dizendo que a beleza natildeo estaacute na cor da pele do cabelo ou dos olhos A cena toda me fez refletir que a menina jaacute deve ter ouvido esse tipo de afirmaccedilatildeo errocircnea Jaacute comentei mais de uma vez sobre o preconceito de gecircnero ser muito forte mas e o racial algueacutem mais vivenciou esse tipo de preconceito durante esta residecircncia (Relato do residente T 2017)
Rosemberg (2014) chama a atenccedilatildeo para o tema da diversidade como uma
questatildeo circunscrita na histoacuteria da humanidade A diferenciaccedilatildeo entre os grupos
humanos ou pessoas com atributos que classificam e separam o ldquoeurdquo do ldquooutrordquo
parece constituir as diversas manifestaccedilotildees de culturas humanas Assim a autora
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desnaturaliza a identidade e a diferenccedila apontando o seu caraacuteter cultural social e
histoacuterico Contudo esse eacute um dos temas que tem chamado cada vez mais a atenccedilatildeo
de educadores desde a educaccedilatildeo infantil jaacute que muitas vezes as questotildees que
envolvem a diferenccedila e o diferente passam por processos discriminatoacuterios e
preconceituosos como apontado no relato do estudante ao observar as interaccedilotildees
entre as crianccedilas no que se refere ao quesito raccedilacor
Marinho e Martins (2016) em estudo sobre formaccedilatildeo de professoras que atuam
na educaccedilatildeo infantil constatam a escassez ou inexistecircncia de disciplinas na formaccedilatildeo
inicial de professores que abarquem as questotildees eacutetnico-raciais denunciando o natildeo
cumprimento das leis que entre outras prescriccedilotildees preveem que instituiccedilotildees de niacutevel
superior proporcionem aos futuros(as) professoresas a formaccedilatildeo adequada para
lidarem com as relaccedilotildees raciais multieacutetnica e multicultural da sociedade brasileira
Nesse sentido ao trazerem suas inquietaccedilotildees sobre como as crianccedilas lidam com as
diferenccedilas no contexto da escola os residentes se aproximam das discussotildees a
respeito dos processos discriminatoacuterios oportunizando momentos em que tais
temaacuteticas possam ser discutidas entre professores preceptores e colegas do
programa de estaacutegio
Aleacutem da questatildeo racial outros relatos nos datildeo conta de refletir e discutir sobre
as relaccedilotildees que envolvem as crianccedilas com deficiecircncia na escola
() O que me chamou atenccedilatildeo foi que na quarta (2204) H chegou na escola e decidiu mudar de lugar foi sentar bem ao lado do D (uma crianccedila que foi diagnosticada com autismo de ldquograu leverdquo segundo a professora) eu fiquei observando como seria a relaccedilatildeo deles H trouxe um caderno de desenho o abriu na mesa e dividiu metade da folha para ele e para D depois na hora de descer ele segurou a matildeo do D e ficou durante o almoccedilo todo cuidando de D o orientou a pegar a comida sentar comer devagar e quando natildeo quisesse mais deveria jogar a comida no lixo e durante todo o dia H permaneceu cuidando de D A professora achou estranho pois naquele dia ela natildeo havia chamado a atenccedilatildeo de H ateacute me falou ldquoEle deve estar aprontando e D eacute bobatildeo pode se machucarrdquo e decidiu intervir e pediu para que H mudasse de lugar e parasse de cuidar de (Relato do residente L 2015)
A partir da narrativa eacute possiacutevel refletir sobre o preparo dos professores para
lidar com as diferenccedilas individuais na educaccedilatildeo infantil A inclusatildeo escolar de crianccedilas
com deficiecircncia ocorre mediante poliacuteticas puacuteblicas de inclusatildeo contudo haacute uma
grande distacircncia entre a poliacutetica puacuteblica e a praacutetica pedagoacutegica nos contextos
escolares pois natildeo se aprofunda ldquoo debate sobre os meios os fins e as estrateacutegias
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para a implementaccedilatildeo da poliacutetica de ampliaccedilatildeo da rede de educaccedilatildeo infantilrdquo
(BRUNO 2008 p 59)
Outros registros que tratam da temaacutetica da inclusatildeo de crianccedilas com
deficiecircncia mostram o quanto a escola estaacute despreparada para lidar com essa
questatildeo Os relatos e inquietaccedilotildees dos estudantes nos possibilitam a identificaccedilatildeo de
processos discriminatoacuterios de resistecircncias e acomodaccedilotildees dos profissionais e do
distanciamento de uma praacutetica verdadeiramente inclusiva na esfera das praacuteticas
educativas cotidianas O que se percebe nas discussotildees sobre o assunto eacute que os
residentes enquanto futuros professores muito tecircm a aprender sobre a acolhida das
famiacutelias e das crianccedilas ldquodiferentesrdquo ou com deficiecircncia na constante reflexatildeo sobre o
comportamento atitudes e posturas do educador frente ao trabalho pedagoacutegico
Outras temaacuteticas tatildeo importantes como as que discutimos aqui tem sido objeto
de interesse dos estudantes em processo de imersatildeo nas escolas-campo Haacute uma
gama de registros sobre categorias que envolvem a crianccedila pequena nas atividades
do brincar a disciplina e a coerccedilatildeo dos educadores na tentativa de manter o controle
das crianccedilas e dos comportamentos considerados inadequados Muitos residentes se
surpreendem como essa coerccedilatildeo ocorre demasiadas vezes na escola e nas reuniotildees
de supervisatildeo eacute muito comum questionarem junto ao preceptor formas de
compreender por que algumas praacuteticas coercitivas satildeo tatildeo presentes na educaccedilatildeo
infantil
Consideraccedilotildees Finais
A experiecircncia de estaacutegio no Programa de Residecircncia Pedagoacutegica requer de
estudantes e professores uma atitude de intensa accedilatildeo e reflexatildeo Na perspectiva de
observaccedilatildeo participante eacute que a imersatildeo dos residentes na escola eacute orientada
embora natildeo haja uma intervenccedilatildeo direta planejada e sistemaacutetica sobre os modos de
fazer da escola e dos professores Possiacuteveis intervenccedilotildees sobre a escola suscitadas
pela presenccedila da universidade (de preceptores e residentes) satildeo uma contingecircncia
dos processos de formaccedilatildeo de condiccedilotildees e modos de seu desenvolvimento e eacute assim
que se define o lugar do residente e da preceptoria junto a escola o caraacuteter da
observaccedilatildeo participante a ser realizada durante o estaacutegio e sua conduccedilatildeo e discussatildeo
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no acircmbito escolar As posiccedilotildees dos residentes reeditam questotildees que mobilizam a
imersatildeo e reflexatildeo sobre o vivido como e quando participar O que como e quando
registrar sobre a observaccedilatildeo participante sobre o que se vivencia Como fazer uso
das ferramentas disponiacuteveis na escola e dos subsiacutedios teoacutericos oferecidos durante a
proacutepria residecircncia ou estudados no curso de pedagogia elaborando impressotildees sobre
o que descreve e refletindo sobre o que vive e elabora
A retomada dos escritos e reflexotildees dos estudantes participantes do Programa
de Residecircncia Pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Infantil nos trazem pistas relevantes para a
compreensatildeo natildeo somente dos seus processos formativos mas tambeacutem suscitam
atenccedilatildeo aos temas e questotildees emergentes do cotidiano das crianccedilas nas escolas de
Educaccedilatildeo Infantil Sabe-se que o processo de escrita eacute composto de idas e vindas
de avanccedilos e retrocessos de duacutevidas e certezas percebidas nos textos e contextos
apresentados pelos estudantes neste processo formativo especiacutefico
As postagens guardam caracteriacutesticas especiacuteficas correlatas ao vivido nas
praacuteticas de estaacutegio de acordo com as finalidades comunicativas e formativas do
caderno de campoblog e com especificidades ndash limites e possibilidades ndash que se
dimensionam nestas praacuteticas Os estudantes registram o que observam o que
vivenciam mas natildeo soacute Em muitos registros suas impressotildees (con)fundem-se com o
observado vatildeo aleacutem da descriccedilatildeo interpretando o visto o vivido e outras vezes para
alguns o registro se faz espaccedilo de recuperaccedilatildeo das proacuteprias vivecircncias e dos
elementos teoacutericos estudados
Nesta experiecircncia a liberdade na escolha e escrita dos temas dos cadernos de
campo tem permitido que o processo formativo de cada estudante aconteccedila de forma
uacutenica e original pois apesar de estarem imersos em ambientes semelhantes (em
alguns casos mesmas escolas-campo) e possuiacuterem referenciais teoacutericos semelhantes
(provenientes das unidades curriculares obrigatoacuterias e eletivas do Curso de
Pedagogia) os temas e questotildees que recebem a atenccedilatildeo de cada um satildeo distintos e
trabalhados teoricamente a partir das anguacutestias e inquietaccedilotildees individuais Entretanto
apesar das produccedilotildees escritas serem individuais ao serem publicizadas em reuniotildees
de orientaccedilatildeo ou ateacute no suporte virtual do blog elas podem ser compartilhadas e
tornam-se objeto comum de discussotildees e aprendizagens
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Por fim concluiacutemos assim como Noacutevoa (2000) a propoacutesito das narrativas (auto)
biograacuteficas que a escrita como parte dos processos formativos de professores eacute
capaz de fazer ldquoreaparecer os sujeitos face agraves estruturas e aos sistemas a qualidade
face agrave quantidade a vivecircncia face ao instituiacutedordquo Nesta linha de pensamento
percebemos que eacute possiacutevel ler o mundo e as relaccedilotildees sociais de um sujeito por meio
da sua narrativa produzindo ldquoum outro tipo de conhecimento mais proacuteximo das
realidades educativasrdquo (NOacuteVOA 2000 p 18 19 grifo do autor) e quiccedila
transformador dessas
Referecircncias bibliograacuteficas
BARBOSA Maria Carmem Silveira Por amor e por forccedila rotinas na Educaccedilatildeo Infantil Porto Alegre Artmed 2006
BRAGA Elizabeth dos Santos Viacutedeo escritas leituras recordaccedilotildees cultura e memoacuteria na sala de aula GOacuteES Maria Cecilia Rafael e SMOLKA Ana Luiza Bustamante A significaccedilatildeo nos espaccedilos Educacionais ndash Interaccedilatildeo social e subjetivaccedilatildeo Campinas Papirus Editora1997 p 87-110
BRUNO Marilda Moraes Garcia A construccedilatildeo da escola inclusiva um a anaacutelise das poliacuteticas puacuteblicas e da praacutetica pedagoacutegica no contexto da educaccedilatildeo infantil Revistambienteeducaccedilatildeo v 1 n 2 p56-67 2008
CASTRO Marta Luz Sisson de Formaccedilatildeo do Diretor de Escola do Estado do Rio Grande do Sul implicaccedilotildees para a praacutetica Educaccedilatildeo v 32 n 2 p 114-121 2009
FEUERWERKER Laura Mudanccedilas na educaccedilatildeo meacutedica e residecircncia meacutedica no Brasil Interface comum sauacutede educaccedilatildeo vol 2 n3 p 51-71 1998
FREITAS Maria Teresa Assunccedilatildeo A pesquisa de abordagem histoacuterico-cultural um espaccedilo educativo de constituiccedilatildeo de sujeitos Revista Teias v 10 n 19 p 01-12 2009
GIGLIO Ceacutelia Maria Benedicto Residecircncia Pedagoacutegica como diaacutelogo permanente entre a formaccedilatildeo inicial e continuada de professores In DALBEN A et al (org) Convergecircncias e tensotildees no campo da formaccedilatildeo e do trabalho docente Belo
Horizonte Autecircntica v 1 p 375-392 2010
GIGLIO Ceacutelia Maria Benedicto LUGLI Rosaacuterio Silvana Genta Diaacutelogos pertinentes na formaccedilatildeo inicial e continuada de professores e gestores escolares A concepccedilatildeo
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do Programa de Residecircncia Pedagoacutegica na UNIFESP Cadernos de Educaccedilatildeo n
46 p 62-82 2014
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MARTINS Thaiacutes Regina Miranda SLAVEZ Milka Helena Carrilho Um estudo sobre programas de iniciaccedilatildeo agrave praacutetica profissional de professores no Brasil o PIBID e o estaacutegio de Residecircncia Ensino amp Pesquisa v 13 n 01 p 29-41 2016
MARQUES Danielle Vieira Aquino MUumlLLER Fernanda Experiecircncias com blog na pesquisa e na formaccedilatildeo inicial de professoras de educaccedilatildeo infantil ETD-Educaccedilatildeo Temaacutetica Digital v 14 n 1 p 43-61 2012
MARTINS E Famiacutelia e escola no contexto de um programa de residecircncia pedagoacutegica um estudo a partir do enfoque histoacuterico-cultural Educaccedilatildeo Sociedade amp Culturas v 37 p 89-107 2012
MEKSENAS Paulo Sociologia da educaccedilatildeo uma introduccedilatildeo ao estudo da escola no processo de transformaccedilatildeo social Satildeo Paulo Loyola 2002
MORETTI Vanessa Dias MARTINS Edna Atividade de ensino mediaccedilatildeo e aprendizagem da docecircncia na residecircncia pedagoacutegica uma anaacutelise a partir da teoria histoacuterico-cultural Revista Contrapontos v 15 n 3 p 394-411 2015
MORETTI Vanessa Dias A articulaccedilatildeo entre a formaccedilatildeo inicial e continuada de professores que ensinam matemaacutetica o caso da Residecircncia Pedagoacutegica da Unifesp Revista Educaccedilatildeo Porto Alegre 2011 v 34 n 3 p 385-390 2011
NEVES Vanessa Ferraz Almeida CASTANHEIRA Maria Luacutecia GOUVEcircA Maria Cristina Soares O letramento e o brincar em processos de socializaccedilatildeo na educaccedilatildeo infantil brincadeiras diferentes Revista Brasileira de Educaccedilatildeo v 20 n 60 p 215-
244 2015
NOacuteVOA Antoacutenio Os professores e as Histoacuterias da Sua Vida In NOacuteVOA Antoacutenio (org) Vidas de Professores 2ordf ed Porto Porto Editora p 18-30 2000
PARO Vitor Henrique A educaccedilatildeo a poliacutetica e a administraccedilatildeo reflexotildees sobre a praacutetica do diretor de escola Educaccedilatildeo e Pesquisa v 36 n 3 p 763-778 2010
POLADIAN Marina Lopes Pedrosa Estudo sobre o Programa de residecircncia pedagoacutegica da Unifesp uma articulaccedilatildeo entre Universidade e escola na formaccedilatildeo de professores Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Psicologia da Educaccedilatildeo) - Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo 2014
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ROSEMBERG Fulvia Educaccedilatildeo infantil e relaccedilotildees raciais a tensatildeo entre igualdade e diversidade Cadernos de Pesquisa v 44 n 153 p 742-759 2014
SILVA Adriana BUFALO Joseane O espaccedilo na pedagogia da educaccedilatildeo infantil faacutebula perversidade e possibilidade In Culturas infantis em creches e preacute-escolas estaacutegio e pesquisa Campinas SP Autores Associados 2011
TARDIF Maurice A profissionalizaccedilatildeo do ensino passados trinta anos dois passos para a frente trecircs para traacutes Educaccedilatildeo e Sociedade Campinas SP v34 n123 p
551-571 2013
VYGOTSKY Lev Semyonovich Desarrollo de las funciones psiacutequicas superiores en la edad de transicion in l s vygotski obras escogidas iv Paidologiacutea del adolescente Madrid Machado Libros Tomo IV 19302006a
Correspondecircncia
Edna Martins ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo (UNIFESP)
Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Maria de Faacutetima Carvalho ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Renata Marciacutelio Cacircndido ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
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Sena Madureira 1500 ndash Vila Clementino CEP 04021-001 Satildeo Paulo Satildeo Paulo
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prazeroso de aprendizagens Tal reflexatildeo eacute importante para os futuros professores
para que busquem compreender como inserir as crianccedilas no mundo letrado de
maneira que possam romper com a dicotomia entre o brincar e a leituraescrita
tomando como referecircncia o significado dessas accedilotildees para a crianccedila possibilitando a
conduccedilatildeo dos trabalhos na educaccedilatildeo infantil que tornem possiacutevel o brincar ldquoletrando
e alfabetizandordquo (NEVES CASTANHEIRA E GOUVEIA 2015)
Outra temaacutetica que aparece num nuacutemero expressivo de postagens diz respeito
ao olhar do residente para as praacuteticas educativas e as interaccedilotildees que ocorrem na
escola com relaccedilatildeo agrave inclusatildeo escolar das crianccedilas percebidas como ldquodiferentesrdquo
Destaca-se nesta temaacutetica observaccedilotildees a respeito de diferenccedilas de religiatildeo gecircnero
raccedilacor e tambeacutem aquelas relacionadas agrave deficiecircncia Haacute descriccedilotildees sobre como as
crianccedilas lidam com as diferenccedilas e as formas como os professores trabalham com
aquelas que possuem alguma dificuldade Algumas postagens ressaltam a
necessidade de formaccedilatildeo inicial e continuada dos educadores para lidarem com a
diversidade na escola
Pela primeira vez vivenciei preconceito racial de uma crianccedila com outra Nos momentos em que a profa distribui lego para as crianccedilas ela daacute tambeacutem um bonequinho para cada crianccedila Tem bonecos adultos crianccedilas homens mulheres e de diversas cores Os bonecos satildeo dados aleatoriamente ou escolhidos pela crianccedila conforme a professora passa de mesa em mesa Neste dia um menino negro estava com um boneco negro Um garoto se aproximou e disse ldquoCredo que boneco feio parece vocecircrdquo se direcionando ao menino O menino deu de ombros e continuou a brincar e poucos minutos depois a menina que estava ao seu lado me perguntou ldquoPor que o boneco dele eacute pretinho Eacute muito feiordquo Claro que conversei com ela e com o outro menino em outro momento calmamente falando das diversas cores que as pessoas tecircm e que natildeo haacute isso de feio e bonito aproveitando para falar sobre diversidade e etc Mais para o final da conversa a menina me disse ldquoMeu pai eacute pretinho ele eacute bonitordquo Respondi a menina dizendo que a beleza natildeo estaacute na cor da pele do cabelo ou dos olhos A cena toda me fez refletir que a menina jaacute deve ter ouvido esse tipo de afirmaccedilatildeo errocircnea Jaacute comentei mais de uma vez sobre o preconceito de gecircnero ser muito forte mas e o racial algueacutem mais vivenciou esse tipo de preconceito durante esta residecircncia (Relato do residente T 2017)
Rosemberg (2014) chama a atenccedilatildeo para o tema da diversidade como uma
questatildeo circunscrita na histoacuteria da humanidade A diferenciaccedilatildeo entre os grupos
humanos ou pessoas com atributos que classificam e separam o ldquoeurdquo do ldquooutrordquo
parece constituir as diversas manifestaccedilotildees de culturas humanas Assim a autora
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desnaturaliza a identidade e a diferenccedila apontando o seu caraacuteter cultural social e
histoacuterico Contudo esse eacute um dos temas que tem chamado cada vez mais a atenccedilatildeo
de educadores desde a educaccedilatildeo infantil jaacute que muitas vezes as questotildees que
envolvem a diferenccedila e o diferente passam por processos discriminatoacuterios e
preconceituosos como apontado no relato do estudante ao observar as interaccedilotildees
entre as crianccedilas no que se refere ao quesito raccedilacor
Marinho e Martins (2016) em estudo sobre formaccedilatildeo de professoras que atuam
na educaccedilatildeo infantil constatam a escassez ou inexistecircncia de disciplinas na formaccedilatildeo
inicial de professores que abarquem as questotildees eacutetnico-raciais denunciando o natildeo
cumprimento das leis que entre outras prescriccedilotildees preveem que instituiccedilotildees de niacutevel
superior proporcionem aos futuros(as) professoresas a formaccedilatildeo adequada para
lidarem com as relaccedilotildees raciais multieacutetnica e multicultural da sociedade brasileira
Nesse sentido ao trazerem suas inquietaccedilotildees sobre como as crianccedilas lidam com as
diferenccedilas no contexto da escola os residentes se aproximam das discussotildees a
respeito dos processos discriminatoacuterios oportunizando momentos em que tais
temaacuteticas possam ser discutidas entre professores preceptores e colegas do
programa de estaacutegio
Aleacutem da questatildeo racial outros relatos nos datildeo conta de refletir e discutir sobre
as relaccedilotildees que envolvem as crianccedilas com deficiecircncia na escola
() O que me chamou atenccedilatildeo foi que na quarta (2204) H chegou na escola e decidiu mudar de lugar foi sentar bem ao lado do D (uma crianccedila que foi diagnosticada com autismo de ldquograu leverdquo segundo a professora) eu fiquei observando como seria a relaccedilatildeo deles H trouxe um caderno de desenho o abriu na mesa e dividiu metade da folha para ele e para D depois na hora de descer ele segurou a matildeo do D e ficou durante o almoccedilo todo cuidando de D o orientou a pegar a comida sentar comer devagar e quando natildeo quisesse mais deveria jogar a comida no lixo e durante todo o dia H permaneceu cuidando de D A professora achou estranho pois naquele dia ela natildeo havia chamado a atenccedilatildeo de H ateacute me falou ldquoEle deve estar aprontando e D eacute bobatildeo pode se machucarrdquo e decidiu intervir e pediu para que H mudasse de lugar e parasse de cuidar de (Relato do residente L 2015)
A partir da narrativa eacute possiacutevel refletir sobre o preparo dos professores para
lidar com as diferenccedilas individuais na educaccedilatildeo infantil A inclusatildeo escolar de crianccedilas
com deficiecircncia ocorre mediante poliacuteticas puacuteblicas de inclusatildeo contudo haacute uma
grande distacircncia entre a poliacutetica puacuteblica e a praacutetica pedagoacutegica nos contextos
escolares pois natildeo se aprofunda ldquoo debate sobre os meios os fins e as estrateacutegias
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para a implementaccedilatildeo da poliacutetica de ampliaccedilatildeo da rede de educaccedilatildeo infantilrdquo
(BRUNO 2008 p 59)
Outros registros que tratam da temaacutetica da inclusatildeo de crianccedilas com
deficiecircncia mostram o quanto a escola estaacute despreparada para lidar com essa
questatildeo Os relatos e inquietaccedilotildees dos estudantes nos possibilitam a identificaccedilatildeo de
processos discriminatoacuterios de resistecircncias e acomodaccedilotildees dos profissionais e do
distanciamento de uma praacutetica verdadeiramente inclusiva na esfera das praacuteticas
educativas cotidianas O que se percebe nas discussotildees sobre o assunto eacute que os
residentes enquanto futuros professores muito tecircm a aprender sobre a acolhida das
famiacutelias e das crianccedilas ldquodiferentesrdquo ou com deficiecircncia na constante reflexatildeo sobre o
comportamento atitudes e posturas do educador frente ao trabalho pedagoacutegico
Outras temaacuteticas tatildeo importantes como as que discutimos aqui tem sido objeto
de interesse dos estudantes em processo de imersatildeo nas escolas-campo Haacute uma
gama de registros sobre categorias que envolvem a crianccedila pequena nas atividades
do brincar a disciplina e a coerccedilatildeo dos educadores na tentativa de manter o controle
das crianccedilas e dos comportamentos considerados inadequados Muitos residentes se
surpreendem como essa coerccedilatildeo ocorre demasiadas vezes na escola e nas reuniotildees
de supervisatildeo eacute muito comum questionarem junto ao preceptor formas de
compreender por que algumas praacuteticas coercitivas satildeo tatildeo presentes na educaccedilatildeo
infantil
Consideraccedilotildees Finais
A experiecircncia de estaacutegio no Programa de Residecircncia Pedagoacutegica requer de
estudantes e professores uma atitude de intensa accedilatildeo e reflexatildeo Na perspectiva de
observaccedilatildeo participante eacute que a imersatildeo dos residentes na escola eacute orientada
embora natildeo haja uma intervenccedilatildeo direta planejada e sistemaacutetica sobre os modos de
fazer da escola e dos professores Possiacuteveis intervenccedilotildees sobre a escola suscitadas
pela presenccedila da universidade (de preceptores e residentes) satildeo uma contingecircncia
dos processos de formaccedilatildeo de condiccedilotildees e modos de seu desenvolvimento e eacute assim
que se define o lugar do residente e da preceptoria junto a escola o caraacuteter da
observaccedilatildeo participante a ser realizada durante o estaacutegio e sua conduccedilatildeo e discussatildeo
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no acircmbito escolar As posiccedilotildees dos residentes reeditam questotildees que mobilizam a
imersatildeo e reflexatildeo sobre o vivido como e quando participar O que como e quando
registrar sobre a observaccedilatildeo participante sobre o que se vivencia Como fazer uso
das ferramentas disponiacuteveis na escola e dos subsiacutedios teoacutericos oferecidos durante a
proacutepria residecircncia ou estudados no curso de pedagogia elaborando impressotildees sobre
o que descreve e refletindo sobre o que vive e elabora
A retomada dos escritos e reflexotildees dos estudantes participantes do Programa
de Residecircncia Pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Infantil nos trazem pistas relevantes para a
compreensatildeo natildeo somente dos seus processos formativos mas tambeacutem suscitam
atenccedilatildeo aos temas e questotildees emergentes do cotidiano das crianccedilas nas escolas de
Educaccedilatildeo Infantil Sabe-se que o processo de escrita eacute composto de idas e vindas
de avanccedilos e retrocessos de duacutevidas e certezas percebidas nos textos e contextos
apresentados pelos estudantes neste processo formativo especiacutefico
As postagens guardam caracteriacutesticas especiacuteficas correlatas ao vivido nas
praacuteticas de estaacutegio de acordo com as finalidades comunicativas e formativas do
caderno de campoblog e com especificidades ndash limites e possibilidades ndash que se
dimensionam nestas praacuteticas Os estudantes registram o que observam o que
vivenciam mas natildeo soacute Em muitos registros suas impressotildees (con)fundem-se com o
observado vatildeo aleacutem da descriccedilatildeo interpretando o visto o vivido e outras vezes para
alguns o registro se faz espaccedilo de recuperaccedilatildeo das proacuteprias vivecircncias e dos
elementos teoacutericos estudados
Nesta experiecircncia a liberdade na escolha e escrita dos temas dos cadernos de
campo tem permitido que o processo formativo de cada estudante aconteccedila de forma
uacutenica e original pois apesar de estarem imersos em ambientes semelhantes (em
alguns casos mesmas escolas-campo) e possuiacuterem referenciais teoacutericos semelhantes
(provenientes das unidades curriculares obrigatoacuterias e eletivas do Curso de
Pedagogia) os temas e questotildees que recebem a atenccedilatildeo de cada um satildeo distintos e
trabalhados teoricamente a partir das anguacutestias e inquietaccedilotildees individuais Entretanto
apesar das produccedilotildees escritas serem individuais ao serem publicizadas em reuniotildees
de orientaccedilatildeo ou ateacute no suporte virtual do blog elas podem ser compartilhadas e
tornam-se objeto comum de discussotildees e aprendizagens
ISSN 1984-6444 | httpdxdoiorg1059021984644435694
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Por fim concluiacutemos assim como Noacutevoa (2000) a propoacutesito das narrativas (auto)
biograacuteficas que a escrita como parte dos processos formativos de professores eacute
capaz de fazer ldquoreaparecer os sujeitos face agraves estruturas e aos sistemas a qualidade
face agrave quantidade a vivecircncia face ao instituiacutedordquo Nesta linha de pensamento
percebemos que eacute possiacutevel ler o mundo e as relaccedilotildees sociais de um sujeito por meio
da sua narrativa produzindo ldquoum outro tipo de conhecimento mais proacuteximo das
realidades educativasrdquo (NOacuteVOA 2000 p 18 19 grifo do autor) e quiccedila
transformador dessas
Referecircncias bibliograacuteficas
BARBOSA Maria Carmem Silveira Por amor e por forccedila rotinas na Educaccedilatildeo Infantil Porto Alegre Artmed 2006
BRAGA Elizabeth dos Santos Viacutedeo escritas leituras recordaccedilotildees cultura e memoacuteria na sala de aula GOacuteES Maria Cecilia Rafael e SMOLKA Ana Luiza Bustamante A significaccedilatildeo nos espaccedilos Educacionais ndash Interaccedilatildeo social e subjetivaccedilatildeo Campinas Papirus Editora1997 p 87-110
BRUNO Marilda Moraes Garcia A construccedilatildeo da escola inclusiva um a anaacutelise das poliacuteticas puacuteblicas e da praacutetica pedagoacutegica no contexto da educaccedilatildeo infantil Revistambienteeducaccedilatildeo v 1 n 2 p56-67 2008
CASTRO Marta Luz Sisson de Formaccedilatildeo do Diretor de Escola do Estado do Rio Grande do Sul implicaccedilotildees para a praacutetica Educaccedilatildeo v 32 n 2 p 114-121 2009
FEUERWERKER Laura Mudanccedilas na educaccedilatildeo meacutedica e residecircncia meacutedica no Brasil Interface comum sauacutede educaccedilatildeo vol 2 n3 p 51-71 1998
FREITAS Maria Teresa Assunccedilatildeo A pesquisa de abordagem histoacuterico-cultural um espaccedilo educativo de constituiccedilatildeo de sujeitos Revista Teias v 10 n 19 p 01-12 2009
GIGLIO Ceacutelia Maria Benedicto Residecircncia Pedagoacutegica como diaacutelogo permanente entre a formaccedilatildeo inicial e continuada de professores In DALBEN A et al (org) Convergecircncias e tensotildees no campo da formaccedilatildeo e do trabalho docente Belo
Horizonte Autecircntica v 1 p 375-392 2010
GIGLIO Ceacutelia Maria Benedicto LUGLI Rosaacuterio Silvana Genta Diaacutelogos pertinentes na formaccedilatildeo inicial e continuada de professores e gestores escolares A concepccedilatildeo
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do Programa de Residecircncia Pedagoacutegica na UNIFESP Cadernos de Educaccedilatildeo n
46 p 62-82 2014
MARINHO Ceacutesar Henrique MARTINS Edna Educaccedilatildeo infantil e relaccedilotildees eacutetnico-raciais impactos da formaccedilatildeo docente nas praacuteticas educativas Revista Educaccedilatildeo e Cultura Contemporacircnea v 14 n 34 p 42-63 2016
MARTINS Thaiacutes Regina Miranda SLAVEZ Milka Helena Carrilho Um estudo sobre programas de iniciaccedilatildeo agrave praacutetica profissional de professores no Brasil o PIBID e o estaacutegio de Residecircncia Ensino amp Pesquisa v 13 n 01 p 29-41 2016
MARQUES Danielle Vieira Aquino MUumlLLER Fernanda Experiecircncias com blog na pesquisa e na formaccedilatildeo inicial de professoras de educaccedilatildeo infantil ETD-Educaccedilatildeo Temaacutetica Digital v 14 n 1 p 43-61 2012
MARTINS E Famiacutelia e escola no contexto de um programa de residecircncia pedagoacutegica um estudo a partir do enfoque histoacuterico-cultural Educaccedilatildeo Sociedade amp Culturas v 37 p 89-107 2012
MEKSENAS Paulo Sociologia da educaccedilatildeo uma introduccedilatildeo ao estudo da escola no processo de transformaccedilatildeo social Satildeo Paulo Loyola 2002
MORETTI Vanessa Dias MARTINS Edna Atividade de ensino mediaccedilatildeo e aprendizagem da docecircncia na residecircncia pedagoacutegica uma anaacutelise a partir da teoria histoacuterico-cultural Revista Contrapontos v 15 n 3 p 394-411 2015
MORETTI Vanessa Dias A articulaccedilatildeo entre a formaccedilatildeo inicial e continuada de professores que ensinam matemaacutetica o caso da Residecircncia Pedagoacutegica da Unifesp Revista Educaccedilatildeo Porto Alegre 2011 v 34 n 3 p 385-390 2011
NEVES Vanessa Ferraz Almeida CASTANHEIRA Maria Luacutecia GOUVEcircA Maria Cristina Soares O letramento e o brincar em processos de socializaccedilatildeo na educaccedilatildeo infantil brincadeiras diferentes Revista Brasileira de Educaccedilatildeo v 20 n 60 p 215-
244 2015
NOacuteVOA Antoacutenio Os professores e as Histoacuterias da Sua Vida In NOacuteVOA Antoacutenio (org) Vidas de Professores 2ordf ed Porto Porto Editora p 18-30 2000
PARO Vitor Henrique A educaccedilatildeo a poliacutetica e a administraccedilatildeo reflexotildees sobre a praacutetica do diretor de escola Educaccedilatildeo e Pesquisa v 36 n 3 p 763-778 2010
POLADIAN Marina Lopes Pedrosa Estudo sobre o Programa de residecircncia pedagoacutegica da Unifesp uma articulaccedilatildeo entre Universidade e escola na formaccedilatildeo de professores Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Psicologia da Educaccedilatildeo) - Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo 2014
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ROSEMBERG Fulvia Educaccedilatildeo infantil e relaccedilotildees raciais a tensatildeo entre igualdade e diversidade Cadernos de Pesquisa v 44 n 153 p 742-759 2014
SILVA Adriana BUFALO Joseane O espaccedilo na pedagogia da educaccedilatildeo infantil faacutebula perversidade e possibilidade In Culturas infantis em creches e preacute-escolas estaacutegio e pesquisa Campinas SP Autores Associados 2011
TARDIF Maurice A profissionalizaccedilatildeo do ensino passados trinta anos dois passos para a frente trecircs para traacutes Educaccedilatildeo e Sociedade Campinas SP v34 n123 p
551-571 2013
VYGOTSKY Lev Semyonovich Desarrollo de las funciones psiacutequicas superiores en la edad de transicion in l s vygotski obras escogidas iv Paidologiacutea del adolescente Madrid Machado Libros Tomo IV 19302006a
Correspondecircncia
Edna Martins ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo (UNIFESP)
Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Maria de Faacutetima Carvalho ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Renata Marciacutelio Cacircndido ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Universidade Federal de Satildeo Paulo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo R
Sena Madureira 1500 ndash Vila Clementino CEP 04021-001 Satildeo Paulo Satildeo Paulo
Brasil
E-mail emartinsunifespgmailcom ndash carvalhomdfgmailcom ndash
remarciliogmailcom
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desnaturaliza a identidade e a diferenccedila apontando o seu caraacuteter cultural social e
histoacuterico Contudo esse eacute um dos temas que tem chamado cada vez mais a atenccedilatildeo
de educadores desde a educaccedilatildeo infantil jaacute que muitas vezes as questotildees que
envolvem a diferenccedila e o diferente passam por processos discriminatoacuterios e
preconceituosos como apontado no relato do estudante ao observar as interaccedilotildees
entre as crianccedilas no que se refere ao quesito raccedilacor
Marinho e Martins (2016) em estudo sobre formaccedilatildeo de professoras que atuam
na educaccedilatildeo infantil constatam a escassez ou inexistecircncia de disciplinas na formaccedilatildeo
inicial de professores que abarquem as questotildees eacutetnico-raciais denunciando o natildeo
cumprimento das leis que entre outras prescriccedilotildees preveem que instituiccedilotildees de niacutevel
superior proporcionem aos futuros(as) professoresas a formaccedilatildeo adequada para
lidarem com as relaccedilotildees raciais multieacutetnica e multicultural da sociedade brasileira
Nesse sentido ao trazerem suas inquietaccedilotildees sobre como as crianccedilas lidam com as
diferenccedilas no contexto da escola os residentes se aproximam das discussotildees a
respeito dos processos discriminatoacuterios oportunizando momentos em que tais
temaacuteticas possam ser discutidas entre professores preceptores e colegas do
programa de estaacutegio
Aleacutem da questatildeo racial outros relatos nos datildeo conta de refletir e discutir sobre
as relaccedilotildees que envolvem as crianccedilas com deficiecircncia na escola
() O que me chamou atenccedilatildeo foi que na quarta (2204) H chegou na escola e decidiu mudar de lugar foi sentar bem ao lado do D (uma crianccedila que foi diagnosticada com autismo de ldquograu leverdquo segundo a professora) eu fiquei observando como seria a relaccedilatildeo deles H trouxe um caderno de desenho o abriu na mesa e dividiu metade da folha para ele e para D depois na hora de descer ele segurou a matildeo do D e ficou durante o almoccedilo todo cuidando de D o orientou a pegar a comida sentar comer devagar e quando natildeo quisesse mais deveria jogar a comida no lixo e durante todo o dia H permaneceu cuidando de D A professora achou estranho pois naquele dia ela natildeo havia chamado a atenccedilatildeo de H ateacute me falou ldquoEle deve estar aprontando e D eacute bobatildeo pode se machucarrdquo e decidiu intervir e pediu para que H mudasse de lugar e parasse de cuidar de (Relato do residente L 2015)
A partir da narrativa eacute possiacutevel refletir sobre o preparo dos professores para
lidar com as diferenccedilas individuais na educaccedilatildeo infantil A inclusatildeo escolar de crianccedilas
com deficiecircncia ocorre mediante poliacuteticas puacuteblicas de inclusatildeo contudo haacute uma
grande distacircncia entre a poliacutetica puacuteblica e a praacutetica pedagoacutegica nos contextos
escolares pois natildeo se aprofunda ldquoo debate sobre os meios os fins e as estrateacutegias
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para a implementaccedilatildeo da poliacutetica de ampliaccedilatildeo da rede de educaccedilatildeo infantilrdquo
(BRUNO 2008 p 59)
Outros registros que tratam da temaacutetica da inclusatildeo de crianccedilas com
deficiecircncia mostram o quanto a escola estaacute despreparada para lidar com essa
questatildeo Os relatos e inquietaccedilotildees dos estudantes nos possibilitam a identificaccedilatildeo de
processos discriminatoacuterios de resistecircncias e acomodaccedilotildees dos profissionais e do
distanciamento de uma praacutetica verdadeiramente inclusiva na esfera das praacuteticas
educativas cotidianas O que se percebe nas discussotildees sobre o assunto eacute que os
residentes enquanto futuros professores muito tecircm a aprender sobre a acolhida das
famiacutelias e das crianccedilas ldquodiferentesrdquo ou com deficiecircncia na constante reflexatildeo sobre o
comportamento atitudes e posturas do educador frente ao trabalho pedagoacutegico
Outras temaacuteticas tatildeo importantes como as que discutimos aqui tem sido objeto
de interesse dos estudantes em processo de imersatildeo nas escolas-campo Haacute uma
gama de registros sobre categorias que envolvem a crianccedila pequena nas atividades
do brincar a disciplina e a coerccedilatildeo dos educadores na tentativa de manter o controle
das crianccedilas e dos comportamentos considerados inadequados Muitos residentes se
surpreendem como essa coerccedilatildeo ocorre demasiadas vezes na escola e nas reuniotildees
de supervisatildeo eacute muito comum questionarem junto ao preceptor formas de
compreender por que algumas praacuteticas coercitivas satildeo tatildeo presentes na educaccedilatildeo
infantil
Consideraccedilotildees Finais
A experiecircncia de estaacutegio no Programa de Residecircncia Pedagoacutegica requer de
estudantes e professores uma atitude de intensa accedilatildeo e reflexatildeo Na perspectiva de
observaccedilatildeo participante eacute que a imersatildeo dos residentes na escola eacute orientada
embora natildeo haja uma intervenccedilatildeo direta planejada e sistemaacutetica sobre os modos de
fazer da escola e dos professores Possiacuteveis intervenccedilotildees sobre a escola suscitadas
pela presenccedila da universidade (de preceptores e residentes) satildeo uma contingecircncia
dos processos de formaccedilatildeo de condiccedilotildees e modos de seu desenvolvimento e eacute assim
que se define o lugar do residente e da preceptoria junto a escola o caraacuteter da
observaccedilatildeo participante a ser realizada durante o estaacutegio e sua conduccedilatildeo e discussatildeo
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no acircmbito escolar As posiccedilotildees dos residentes reeditam questotildees que mobilizam a
imersatildeo e reflexatildeo sobre o vivido como e quando participar O que como e quando
registrar sobre a observaccedilatildeo participante sobre o que se vivencia Como fazer uso
das ferramentas disponiacuteveis na escola e dos subsiacutedios teoacutericos oferecidos durante a
proacutepria residecircncia ou estudados no curso de pedagogia elaborando impressotildees sobre
o que descreve e refletindo sobre o que vive e elabora
A retomada dos escritos e reflexotildees dos estudantes participantes do Programa
de Residecircncia Pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Infantil nos trazem pistas relevantes para a
compreensatildeo natildeo somente dos seus processos formativos mas tambeacutem suscitam
atenccedilatildeo aos temas e questotildees emergentes do cotidiano das crianccedilas nas escolas de
Educaccedilatildeo Infantil Sabe-se que o processo de escrita eacute composto de idas e vindas
de avanccedilos e retrocessos de duacutevidas e certezas percebidas nos textos e contextos
apresentados pelos estudantes neste processo formativo especiacutefico
As postagens guardam caracteriacutesticas especiacuteficas correlatas ao vivido nas
praacuteticas de estaacutegio de acordo com as finalidades comunicativas e formativas do
caderno de campoblog e com especificidades ndash limites e possibilidades ndash que se
dimensionam nestas praacuteticas Os estudantes registram o que observam o que
vivenciam mas natildeo soacute Em muitos registros suas impressotildees (con)fundem-se com o
observado vatildeo aleacutem da descriccedilatildeo interpretando o visto o vivido e outras vezes para
alguns o registro se faz espaccedilo de recuperaccedilatildeo das proacuteprias vivecircncias e dos
elementos teoacutericos estudados
Nesta experiecircncia a liberdade na escolha e escrita dos temas dos cadernos de
campo tem permitido que o processo formativo de cada estudante aconteccedila de forma
uacutenica e original pois apesar de estarem imersos em ambientes semelhantes (em
alguns casos mesmas escolas-campo) e possuiacuterem referenciais teoacutericos semelhantes
(provenientes das unidades curriculares obrigatoacuterias e eletivas do Curso de
Pedagogia) os temas e questotildees que recebem a atenccedilatildeo de cada um satildeo distintos e
trabalhados teoricamente a partir das anguacutestias e inquietaccedilotildees individuais Entretanto
apesar das produccedilotildees escritas serem individuais ao serem publicizadas em reuniotildees
de orientaccedilatildeo ou ateacute no suporte virtual do blog elas podem ser compartilhadas e
tornam-se objeto comum de discussotildees e aprendizagens
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Por fim concluiacutemos assim como Noacutevoa (2000) a propoacutesito das narrativas (auto)
biograacuteficas que a escrita como parte dos processos formativos de professores eacute
capaz de fazer ldquoreaparecer os sujeitos face agraves estruturas e aos sistemas a qualidade
face agrave quantidade a vivecircncia face ao instituiacutedordquo Nesta linha de pensamento
percebemos que eacute possiacutevel ler o mundo e as relaccedilotildees sociais de um sujeito por meio
da sua narrativa produzindo ldquoum outro tipo de conhecimento mais proacuteximo das
realidades educativasrdquo (NOacuteVOA 2000 p 18 19 grifo do autor) e quiccedila
transformador dessas
Referecircncias bibliograacuteficas
BARBOSA Maria Carmem Silveira Por amor e por forccedila rotinas na Educaccedilatildeo Infantil Porto Alegre Artmed 2006
BRAGA Elizabeth dos Santos Viacutedeo escritas leituras recordaccedilotildees cultura e memoacuteria na sala de aula GOacuteES Maria Cecilia Rafael e SMOLKA Ana Luiza Bustamante A significaccedilatildeo nos espaccedilos Educacionais ndash Interaccedilatildeo social e subjetivaccedilatildeo Campinas Papirus Editora1997 p 87-110
BRUNO Marilda Moraes Garcia A construccedilatildeo da escola inclusiva um a anaacutelise das poliacuteticas puacuteblicas e da praacutetica pedagoacutegica no contexto da educaccedilatildeo infantil Revistambienteeducaccedilatildeo v 1 n 2 p56-67 2008
CASTRO Marta Luz Sisson de Formaccedilatildeo do Diretor de Escola do Estado do Rio Grande do Sul implicaccedilotildees para a praacutetica Educaccedilatildeo v 32 n 2 p 114-121 2009
FEUERWERKER Laura Mudanccedilas na educaccedilatildeo meacutedica e residecircncia meacutedica no Brasil Interface comum sauacutede educaccedilatildeo vol 2 n3 p 51-71 1998
FREITAS Maria Teresa Assunccedilatildeo A pesquisa de abordagem histoacuterico-cultural um espaccedilo educativo de constituiccedilatildeo de sujeitos Revista Teias v 10 n 19 p 01-12 2009
GIGLIO Ceacutelia Maria Benedicto Residecircncia Pedagoacutegica como diaacutelogo permanente entre a formaccedilatildeo inicial e continuada de professores In DALBEN A et al (org) Convergecircncias e tensotildees no campo da formaccedilatildeo e do trabalho docente Belo
Horizonte Autecircntica v 1 p 375-392 2010
GIGLIO Ceacutelia Maria Benedicto LUGLI Rosaacuterio Silvana Genta Diaacutelogos pertinentes na formaccedilatildeo inicial e continuada de professores e gestores escolares A concepccedilatildeo
ISSN 1984-6444 | httpdxdoiorg1059021984644435694
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do Programa de Residecircncia Pedagoacutegica na UNIFESP Cadernos de Educaccedilatildeo n
46 p 62-82 2014
MARINHO Ceacutesar Henrique MARTINS Edna Educaccedilatildeo infantil e relaccedilotildees eacutetnico-raciais impactos da formaccedilatildeo docente nas praacuteticas educativas Revista Educaccedilatildeo e Cultura Contemporacircnea v 14 n 34 p 42-63 2016
MARTINS Thaiacutes Regina Miranda SLAVEZ Milka Helena Carrilho Um estudo sobre programas de iniciaccedilatildeo agrave praacutetica profissional de professores no Brasil o PIBID e o estaacutegio de Residecircncia Ensino amp Pesquisa v 13 n 01 p 29-41 2016
MARQUES Danielle Vieira Aquino MUumlLLER Fernanda Experiecircncias com blog na pesquisa e na formaccedilatildeo inicial de professoras de educaccedilatildeo infantil ETD-Educaccedilatildeo Temaacutetica Digital v 14 n 1 p 43-61 2012
MARTINS E Famiacutelia e escola no contexto de um programa de residecircncia pedagoacutegica um estudo a partir do enfoque histoacuterico-cultural Educaccedilatildeo Sociedade amp Culturas v 37 p 89-107 2012
MEKSENAS Paulo Sociologia da educaccedilatildeo uma introduccedilatildeo ao estudo da escola no processo de transformaccedilatildeo social Satildeo Paulo Loyola 2002
MORETTI Vanessa Dias MARTINS Edna Atividade de ensino mediaccedilatildeo e aprendizagem da docecircncia na residecircncia pedagoacutegica uma anaacutelise a partir da teoria histoacuterico-cultural Revista Contrapontos v 15 n 3 p 394-411 2015
MORETTI Vanessa Dias A articulaccedilatildeo entre a formaccedilatildeo inicial e continuada de professores que ensinam matemaacutetica o caso da Residecircncia Pedagoacutegica da Unifesp Revista Educaccedilatildeo Porto Alegre 2011 v 34 n 3 p 385-390 2011
NEVES Vanessa Ferraz Almeida CASTANHEIRA Maria Luacutecia GOUVEcircA Maria Cristina Soares O letramento e o brincar em processos de socializaccedilatildeo na educaccedilatildeo infantil brincadeiras diferentes Revista Brasileira de Educaccedilatildeo v 20 n 60 p 215-
244 2015
NOacuteVOA Antoacutenio Os professores e as Histoacuterias da Sua Vida In NOacuteVOA Antoacutenio (org) Vidas de Professores 2ordf ed Porto Porto Editora p 18-30 2000
PARO Vitor Henrique A educaccedilatildeo a poliacutetica e a administraccedilatildeo reflexotildees sobre a praacutetica do diretor de escola Educaccedilatildeo e Pesquisa v 36 n 3 p 763-778 2010
POLADIAN Marina Lopes Pedrosa Estudo sobre o Programa de residecircncia pedagoacutegica da Unifesp uma articulaccedilatildeo entre Universidade e escola na formaccedilatildeo de professores Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Psicologia da Educaccedilatildeo) - Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo 2014
ISSN 1984-6444 | httpdxdoiorg1059021984644435694
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ROSEMBERG Fulvia Educaccedilatildeo infantil e relaccedilotildees raciais a tensatildeo entre igualdade e diversidade Cadernos de Pesquisa v 44 n 153 p 742-759 2014
SILVA Adriana BUFALO Joseane O espaccedilo na pedagogia da educaccedilatildeo infantil faacutebula perversidade e possibilidade In Culturas infantis em creches e preacute-escolas estaacutegio e pesquisa Campinas SP Autores Associados 2011
TARDIF Maurice A profissionalizaccedilatildeo do ensino passados trinta anos dois passos para a frente trecircs para traacutes Educaccedilatildeo e Sociedade Campinas SP v34 n123 p
551-571 2013
VYGOTSKY Lev Semyonovich Desarrollo de las funciones psiacutequicas superiores en la edad de transicion in l s vygotski obras escogidas iv Paidologiacutea del adolescente Madrid Machado Libros Tomo IV 19302006a
Correspondecircncia
Edna Martins ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo (UNIFESP)
Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Maria de Faacutetima Carvalho ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Renata Marciacutelio Cacircndido ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Universidade Federal de Satildeo Paulo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo R
Sena Madureira 1500 ndash Vila Clementino CEP 04021-001 Satildeo Paulo Satildeo Paulo
Brasil
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remarciliogmailcom
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para a implementaccedilatildeo da poliacutetica de ampliaccedilatildeo da rede de educaccedilatildeo infantilrdquo
(BRUNO 2008 p 59)
Outros registros que tratam da temaacutetica da inclusatildeo de crianccedilas com
deficiecircncia mostram o quanto a escola estaacute despreparada para lidar com essa
questatildeo Os relatos e inquietaccedilotildees dos estudantes nos possibilitam a identificaccedilatildeo de
processos discriminatoacuterios de resistecircncias e acomodaccedilotildees dos profissionais e do
distanciamento de uma praacutetica verdadeiramente inclusiva na esfera das praacuteticas
educativas cotidianas O que se percebe nas discussotildees sobre o assunto eacute que os
residentes enquanto futuros professores muito tecircm a aprender sobre a acolhida das
famiacutelias e das crianccedilas ldquodiferentesrdquo ou com deficiecircncia na constante reflexatildeo sobre o
comportamento atitudes e posturas do educador frente ao trabalho pedagoacutegico
Outras temaacuteticas tatildeo importantes como as que discutimos aqui tem sido objeto
de interesse dos estudantes em processo de imersatildeo nas escolas-campo Haacute uma
gama de registros sobre categorias que envolvem a crianccedila pequena nas atividades
do brincar a disciplina e a coerccedilatildeo dos educadores na tentativa de manter o controle
das crianccedilas e dos comportamentos considerados inadequados Muitos residentes se
surpreendem como essa coerccedilatildeo ocorre demasiadas vezes na escola e nas reuniotildees
de supervisatildeo eacute muito comum questionarem junto ao preceptor formas de
compreender por que algumas praacuteticas coercitivas satildeo tatildeo presentes na educaccedilatildeo
infantil
Consideraccedilotildees Finais
A experiecircncia de estaacutegio no Programa de Residecircncia Pedagoacutegica requer de
estudantes e professores uma atitude de intensa accedilatildeo e reflexatildeo Na perspectiva de
observaccedilatildeo participante eacute que a imersatildeo dos residentes na escola eacute orientada
embora natildeo haja uma intervenccedilatildeo direta planejada e sistemaacutetica sobre os modos de
fazer da escola e dos professores Possiacuteveis intervenccedilotildees sobre a escola suscitadas
pela presenccedila da universidade (de preceptores e residentes) satildeo uma contingecircncia
dos processos de formaccedilatildeo de condiccedilotildees e modos de seu desenvolvimento e eacute assim
que se define o lugar do residente e da preceptoria junto a escola o caraacuteter da
observaccedilatildeo participante a ser realizada durante o estaacutegio e sua conduccedilatildeo e discussatildeo
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no acircmbito escolar As posiccedilotildees dos residentes reeditam questotildees que mobilizam a
imersatildeo e reflexatildeo sobre o vivido como e quando participar O que como e quando
registrar sobre a observaccedilatildeo participante sobre o que se vivencia Como fazer uso
das ferramentas disponiacuteveis na escola e dos subsiacutedios teoacutericos oferecidos durante a
proacutepria residecircncia ou estudados no curso de pedagogia elaborando impressotildees sobre
o que descreve e refletindo sobre o que vive e elabora
A retomada dos escritos e reflexotildees dos estudantes participantes do Programa
de Residecircncia Pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Infantil nos trazem pistas relevantes para a
compreensatildeo natildeo somente dos seus processos formativos mas tambeacutem suscitam
atenccedilatildeo aos temas e questotildees emergentes do cotidiano das crianccedilas nas escolas de
Educaccedilatildeo Infantil Sabe-se que o processo de escrita eacute composto de idas e vindas
de avanccedilos e retrocessos de duacutevidas e certezas percebidas nos textos e contextos
apresentados pelos estudantes neste processo formativo especiacutefico
As postagens guardam caracteriacutesticas especiacuteficas correlatas ao vivido nas
praacuteticas de estaacutegio de acordo com as finalidades comunicativas e formativas do
caderno de campoblog e com especificidades ndash limites e possibilidades ndash que se
dimensionam nestas praacuteticas Os estudantes registram o que observam o que
vivenciam mas natildeo soacute Em muitos registros suas impressotildees (con)fundem-se com o
observado vatildeo aleacutem da descriccedilatildeo interpretando o visto o vivido e outras vezes para
alguns o registro se faz espaccedilo de recuperaccedilatildeo das proacuteprias vivecircncias e dos
elementos teoacutericos estudados
Nesta experiecircncia a liberdade na escolha e escrita dos temas dos cadernos de
campo tem permitido que o processo formativo de cada estudante aconteccedila de forma
uacutenica e original pois apesar de estarem imersos em ambientes semelhantes (em
alguns casos mesmas escolas-campo) e possuiacuterem referenciais teoacutericos semelhantes
(provenientes das unidades curriculares obrigatoacuterias e eletivas do Curso de
Pedagogia) os temas e questotildees que recebem a atenccedilatildeo de cada um satildeo distintos e
trabalhados teoricamente a partir das anguacutestias e inquietaccedilotildees individuais Entretanto
apesar das produccedilotildees escritas serem individuais ao serem publicizadas em reuniotildees
de orientaccedilatildeo ou ateacute no suporte virtual do blog elas podem ser compartilhadas e
tornam-se objeto comum de discussotildees e aprendizagens
ISSN 1984-6444 | httpdxdoiorg1059021984644435694
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Por fim concluiacutemos assim como Noacutevoa (2000) a propoacutesito das narrativas (auto)
biograacuteficas que a escrita como parte dos processos formativos de professores eacute
capaz de fazer ldquoreaparecer os sujeitos face agraves estruturas e aos sistemas a qualidade
face agrave quantidade a vivecircncia face ao instituiacutedordquo Nesta linha de pensamento
percebemos que eacute possiacutevel ler o mundo e as relaccedilotildees sociais de um sujeito por meio
da sua narrativa produzindo ldquoum outro tipo de conhecimento mais proacuteximo das
realidades educativasrdquo (NOacuteVOA 2000 p 18 19 grifo do autor) e quiccedila
transformador dessas
Referecircncias bibliograacuteficas
BARBOSA Maria Carmem Silveira Por amor e por forccedila rotinas na Educaccedilatildeo Infantil Porto Alegre Artmed 2006
BRAGA Elizabeth dos Santos Viacutedeo escritas leituras recordaccedilotildees cultura e memoacuteria na sala de aula GOacuteES Maria Cecilia Rafael e SMOLKA Ana Luiza Bustamante A significaccedilatildeo nos espaccedilos Educacionais ndash Interaccedilatildeo social e subjetivaccedilatildeo Campinas Papirus Editora1997 p 87-110
BRUNO Marilda Moraes Garcia A construccedilatildeo da escola inclusiva um a anaacutelise das poliacuteticas puacuteblicas e da praacutetica pedagoacutegica no contexto da educaccedilatildeo infantil Revistambienteeducaccedilatildeo v 1 n 2 p56-67 2008
CASTRO Marta Luz Sisson de Formaccedilatildeo do Diretor de Escola do Estado do Rio Grande do Sul implicaccedilotildees para a praacutetica Educaccedilatildeo v 32 n 2 p 114-121 2009
FEUERWERKER Laura Mudanccedilas na educaccedilatildeo meacutedica e residecircncia meacutedica no Brasil Interface comum sauacutede educaccedilatildeo vol 2 n3 p 51-71 1998
FREITAS Maria Teresa Assunccedilatildeo A pesquisa de abordagem histoacuterico-cultural um espaccedilo educativo de constituiccedilatildeo de sujeitos Revista Teias v 10 n 19 p 01-12 2009
GIGLIO Ceacutelia Maria Benedicto Residecircncia Pedagoacutegica como diaacutelogo permanente entre a formaccedilatildeo inicial e continuada de professores In DALBEN A et al (org) Convergecircncias e tensotildees no campo da formaccedilatildeo e do trabalho docente Belo
Horizonte Autecircntica v 1 p 375-392 2010
GIGLIO Ceacutelia Maria Benedicto LUGLI Rosaacuterio Silvana Genta Diaacutelogos pertinentes na formaccedilatildeo inicial e continuada de professores e gestores escolares A concepccedilatildeo
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do Programa de Residecircncia Pedagoacutegica na UNIFESP Cadernos de Educaccedilatildeo n
46 p 62-82 2014
MARINHO Ceacutesar Henrique MARTINS Edna Educaccedilatildeo infantil e relaccedilotildees eacutetnico-raciais impactos da formaccedilatildeo docente nas praacuteticas educativas Revista Educaccedilatildeo e Cultura Contemporacircnea v 14 n 34 p 42-63 2016
MARTINS Thaiacutes Regina Miranda SLAVEZ Milka Helena Carrilho Um estudo sobre programas de iniciaccedilatildeo agrave praacutetica profissional de professores no Brasil o PIBID e o estaacutegio de Residecircncia Ensino amp Pesquisa v 13 n 01 p 29-41 2016
MARQUES Danielle Vieira Aquino MUumlLLER Fernanda Experiecircncias com blog na pesquisa e na formaccedilatildeo inicial de professoras de educaccedilatildeo infantil ETD-Educaccedilatildeo Temaacutetica Digital v 14 n 1 p 43-61 2012
MARTINS E Famiacutelia e escola no contexto de um programa de residecircncia pedagoacutegica um estudo a partir do enfoque histoacuterico-cultural Educaccedilatildeo Sociedade amp Culturas v 37 p 89-107 2012
MEKSENAS Paulo Sociologia da educaccedilatildeo uma introduccedilatildeo ao estudo da escola no processo de transformaccedilatildeo social Satildeo Paulo Loyola 2002
MORETTI Vanessa Dias MARTINS Edna Atividade de ensino mediaccedilatildeo e aprendizagem da docecircncia na residecircncia pedagoacutegica uma anaacutelise a partir da teoria histoacuterico-cultural Revista Contrapontos v 15 n 3 p 394-411 2015
MORETTI Vanessa Dias A articulaccedilatildeo entre a formaccedilatildeo inicial e continuada de professores que ensinam matemaacutetica o caso da Residecircncia Pedagoacutegica da Unifesp Revista Educaccedilatildeo Porto Alegre 2011 v 34 n 3 p 385-390 2011
NEVES Vanessa Ferraz Almeida CASTANHEIRA Maria Luacutecia GOUVEcircA Maria Cristina Soares O letramento e o brincar em processos de socializaccedilatildeo na educaccedilatildeo infantil brincadeiras diferentes Revista Brasileira de Educaccedilatildeo v 20 n 60 p 215-
244 2015
NOacuteVOA Antoacutenio Os professores e as Histoacuterias da Sua Vida In NOacuteVOA Antoacutenio (org) Vidas de Professores 2ordf ed Porto Porto Editora p 18-30 2000
PARO Vitor Henrique A educaccedilatildeo a poliacutetica e a administraccedilatildeo reflexotildees sobre a praacutetica do diretor de escola Educaccedilatildeo e Pesquisa v 36 n 3 p 763-778 2010
POLADIAN Marina Lopes Pedrosa Estudo sobre o Programa de residecircncia pedagoacutegica da Unifesp uma articulaccedilatildeo entre Universidade e escola na formaccedilatildeo de professores Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Psicologia da Educaccedilatildeo) - Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo 2014
ISSN 1984-6444 | httpdxdoiorg1059021984644435694
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ROSEMBERG Fulvia Educaccedilatildeo infantil e relaccedilotildees raciais a tensatildeo entre igualdade e diversidade Cadernos de Pesquisa v 44 n 153 p 742-759 2014
SILVA Adriana BUFALO Joseane O espaccedilo na pedagogia da educaccedilatildeo infantil faacutebula perversidade e possibilidade In Culturas infantis em creches e preacute-escolas estaacutegio e pesquisa Campinas SP Autores Associados 2011
TARDIF Maurice A profissionalizaccedilatildeo do ensino passados trinta anos dois passos para a frente trecircs para traacutes Educaccedilatildeo e Sociedade Campinas SP v34 n123 p
551-571 2013
VYGOTSKY Lev Semyonovich Desarrollo de las funciones psiacutequicas superiores en la edad de transicion in l s vygotski obras escogidas iv Paidologiacutea del adolescente Madrid Machado Libros Tomo IV 19302006a
Correspondecircncia
Edna Martins ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo (UNIFESP)
Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Maria de Faacutetima Carvalho ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Renata Marciacutelio Cacircndido ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Universidade Federal de Satildeo Paulo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo R
Sena Madureira 1500 ndash Vila Clementino CEP 04021-001 Satildeo Paulo Satildeo Paulo
Brasil
E-mail emartinsunifespgmailcom ndash carvalhomdfgmailcom ndash
remarciliogmailcom
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no acircmbito escolar As posiccedilotildees dos residentes reeditam questotildees que mobilizam a
imersatildeo e reflexatildeo sobre o vivido como e quando participar O que como e quando
registrar sobre a observaccedilatildeo participante sobre o que se vivencia Como fazer uso
das ferramentas disponiacuteveis na escola e dos subsiacutedios teoacutericos oferecidos durante a
proacutepria residecircncia ou estudados no curso de pedagogia elaborando impressotildees sobre
o que descreve e refletindo sobre o que vive e elabora
A retomada dos escritos e reflexotildees dos estudantes participantes do Programa
de Residecircncia Pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Infantil nos trazem pistas relevantes para a
compreensatildeo natildeo somente dos seus processos formativos mas tambeacutem suscitam
atenccedilatildeo aos temas e questotildees emergentes do cotidiano das crianccedilas nas escolas de
Educaccedilatildeo Infantil Sabe-se que o processo de escrita eacute composto de idas e vindas
de avanccedilos e retrocessos de duacutevidas e certezas percebidas nos textos e contextos
apresentados pelos estudantes neste processo formativo especiacutefico
As postagens guardam caracteriacutesticas especiacuteficas correlatas ao vivido nas
praacuteticas de estaacutegio de acordo com as finalidades comunicativas e formativas do
caderno de campoblog e com especificidades ndash limites e possibilidades ndash que se
dimensionam nestas praacuteticas Os estudantes registram o que observam o que
vivenciam mas natildeo soacute Em muitos registros suas impressotildees (con)fundem-se com o
observado vatildeo aleacutem da descriccedilatildeo interpretando o visto o vivido e outras vezes para
alguns o registro se faz espaccedilo de recuperaccedilatildeo das proacuteprias vivecircncias e dos
elementos teoacutericos estudados
Nesta experiecircncia a liberdade na escolha e escrita dos temas dos cadernos de
campo tem permitido que o processo formativo de cada estudante aconteccedila de forma
uacutenica e original pois apesar de estarem imersos em ambientes semelhantes (em
alguns casos mesmas escolas-campo) e possuiacuterem referenciais teoacutericos semelhantes
(provenientes das unidades curriculares obrigatoacuterias e eletivas do Curso de
Pedagogia) os temas e questotildees que recebem a atenccedilatildeo de cada um satildeo distintos e
trabalhados teoricamente a partir das anguacutestias e inquietaccedilotildees individuais Entretanto
apesar das produccedilotildees escritas serem individuais ao serem publicizadas em reuniotildees
de orientaccedilatildeo ou ateacute no suporte virtual do blog elas podem ser compartilhadas e
tornam-se objeto comum de discussotildees e aprendizagens
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Por fim concluiacutemos assim como Noacutevoa (2000) a propoacutesito das narrativas (auto)
biograacuteficas que a escrita como parte dos processos formativos de professores eacute
capaz de fazer ldquoreaparecer os sujeitos face agraves estruturas e aos sistemas a qualidade
face agrave quantidade a vivecircncia face ao instituiacutedordquo Nesta linha de pensamento
percebemos que eacute possiacutevel ler o mundo e as relaccedilotildees sociais de um sujeito por meio
da sua narrativa produzindo ldquoum outro tipo de conhecimento mais proacuteximo das
realidades educativasrdquo (NOacuteVOA 2000 p 18 19 grifo do autor) e quiccedila
transformador dessas
Referecircncias bibliograacuteficas
BARBOSA Maria Carmem Silveira Por amor e por forccedila rotinas na Educaccedilatildeo Infantil Porto Alegre Artmed 2006
BRAGA Elizabeth dos Santos Viacutedeo escritas leituras recordaccedilotildees cultura e memoacuteria na sala de aula GOacuteES Maria Cecilia Rafael e SMOLKA Ana Luiza Bustamante A significaccedilatildeo nos espaccedilos Educacionais ndash Interaccedilatildeo social e subjetivaccedilatildeo Campinas Papirus Editora1997 p 87-110
BRUNO Marilda Moraes Garcia A construccedilatildeo da escola inclusiva um a anaacutelise das poliacuteticas puacuteblicas e da praacutetica pedagoacutegica no contexto da educaccedilatildeo infantil Revistambienteeducaccedilatildeo v 1 n 2 p56-67 2008
CASTRO Marta Luz Sisson de Formaccedilatildeo do Diretor de Escola do Estado do Rio Grande do Sul implicaccedilotildees para a praacutetica Educaccedilatildeo v 32 n 2 p 114-121 2009
FEUERWERKER Laura Mudanccedilas na educaccedilatildeo meacutedica e residecircncia meacutedica no Brasil Interface comum sauacutede educaccedilatildeo vol 2 n3 p 51-71 1998
FREITAS Maria Teresa Assunccedilatildeo A pesquisa de abordagem histoacuterico-cultural um espaccedilo educativo de constituiccedilatildeo de sujeitos Revista Teias v 10 n 19 p 01-12 2009
GIGLIO Ceacutelia Maria Benedicto Residecircncia Pedagoacutegica como diaacutelogo permanente entre a formaccedilatildeo inicial e continuada de professores In DALBEN A et al (org) Convergecircncias e tensotildees no campo da formaccedilatildeo e do trabalho docente Belo
Horizonte Autecircntica v 1 p 375-392 2010
GIGLIO Ceacutelia Maria Benedicto LUGLI Rosaacuterio Silvana Genta Diaacutelogos pertinentes na formaccedilatildeo inicial e continuada de professores e gestores escolares A concepccedilatildeo
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do Programa de Residecircncia Pedagoacutegica na UNIFESP Cadernos de Educaccedilatildeo n
46 p 62-82 2014
MARINHO Ceacutesar Henrique MARTINS Edna Educaccedilatildeo infantil e relaccedilotildees eacutetnico-raciais impactos da formaccedilatildeo docente nas praacuteticas educativas Revista Educaccedilatildeo e Cultura Contemporacircnea v 14 n 34 p 42-63 2016
MARTINS Thaiacutes Regina Miranda SLAVEZ Milka Helena Carrilho Um estudo sobre programas de iniciaccedilatildeo agrave praacutetica profissional de professores no Brasil o PIBID e o estaacutegio de Residecircncia Ensino amp Pesquisa v 13 n 01 p 29-41 2016
MARQUES Danielle Vieira Aquino MUumlLLER Fernanda Experiecircncias com blog na pesquisa e na formaccedilatildeo inicial de professoras de educaccedilatildeo infantil ETD-Educaccedilatildeo Temaacutetica Digital v 14 n 1 p 43-61 2012
MARTINS E Famiacutelia e escola no contexto de um programa de residecircncia pedagoacutegica um estudo a partir do enfoque histoacuterico-cultural Educaccedilatildeo Sociedade amp Culturas v 37 p 89-107 2012
MEKSENAS Paulo Sociologia da educaccedilatildeo uma introduccedilatildeo ao estudo da escola no processo de transformaccedilatildeo social Satildeo Paulo Loyola 2002
MORETTI Vanessa Dias MARTINS Edna Atividade de ensino mediaccedilatildeo e aprendizagem da docecircncia na residecircncia pedagoacutegica uma anaacutelise a partir da teoria histoacuterico-cultural Revista Contrapontos v 15 n 3 p 394-411 2015
MORETTI Vanessa Dias A articulaccedilatildeo entre a formaccedilatildeo inicial e continuada de professores que ensinam matemaacutetica o caso da Residecircncia Pedagoacutegica da Unifesp Revista Educaccedilatildeo Porto Alegre 2011 v 34 n 3 p 385-390 2011
NEVES Vanessa Ferraz Almeida CASTANHEIRA Maria Luacutecia GOUVEcircA Maria Cristina Soares O letramento e o brincar em processos de socializaccedilatildeo na educaccedilatildeo infantil brincadeiras diferentes Revista Brasileira de Educaccedilatildeo v 20 n 60 p 215-
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NOacuteVOA Antoacutenio Os professores e as Histoacuterias da Sua Vida In NOacuteVOA Antoacutenio (org) Vidas de Professores 2ordf ed Porto Porto Editora p 18-30 2000
PARO Vitor Henrique A educaccedilatildeo a poliacutetica e a administraccedilatildeo reflexotildees sobre a praacutetica do diretor de escola Educaccedilatildeo e Pesquisa v 36 n 3 p 763-778 2010
POLADIAN Marina Lopes Pedrosa Estudo sobre o Programa de residecircncia pedagoacutegica da Unifesp uma articulaccedilatildeo entre Universidade e escola na formaccedilatildeo de professores Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Psicologia da Educaccedilatildeo) - Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo 2014
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ROSEMBERG Fulvia Educaccedilatildeo infantil e relaccedilotildees raciais a tensatildeo entre igualdade e diversidade Cadernos de Pesquisa v 44 n 153 p 742-759 2014
SILVA Adriana BUFALO Joseane O espaccedilo na pedagogia da educaccedilatildeo infantil faacutebula perversidade e possibilidade In Culturas infantis em creches e preacute-escolas estaacutegio e pesquisa Campinas SP Autores Associados 2011
TARDIF Maurice A profissionalizaccedilatildeo do ensino passados trinta anos dois passos para a frente trecircs para traacutes Educaccedilatildeo e Sociedade Campinas SP v34 n123 p
551-571 2013
VYGOTSKY Lev Semyonovich Desarrollo de las funciones psiacutequicas superiores en la edad de transicion in l s vygotski obras escogidas iv Paidologiacutea del adolescente Madrid Machado Libros Tomo IV 19302006a
Correspondecircncia
Edna Martins ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo (UNIFESP)
Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Maria de Faacutetima Carvalho ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Renata Marciacutelio Cacircndido ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Universidade Federal de Satildeo Paulo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo R
Sena Madureira 1500 ndash Vila Clementino CEP 04021-001 Satildeo Paulo Satildeo Paulo
Brasil
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Por fim concluiacutemos assim como Noacutevoa (2000) a propoacutesito das narrativas (auto)
biograacuteficas que a escrita como parte dos processos formativos de professores eacute
capaz de fazer ldquoreaparecer os sujeitos face agraves estruturas e aos sistemas a qualidade
face agrave quantidade a vivecircncia face ao instituiacutedordquo Nesta linha de pensamento
percebemos que eacute possiacutevel ler o mundo e as relaccedilotildees sociais de um sujeito por meio
da sua narrativa produzindo ldquoum outro tipo de conhecimento mais proacuteximo das
realidades educativasrdquo (NOacuteVOA 2000 p 18 19 grifo do autor) e quiccedila
transformador dessas
Referecircncias bibliograacuteficas
BARBOSA Maria Carmem Silveira Por amor e por forccedila rotinas na Educaccedilatildeo Infantil Porto Alegre Artmed 2006
BRAGA Elizabeth dos Santos Viacutedeo escritas leituras recordaccedilotildees cultura e memoacuteria na sala de aula GOacuteES Maria Cecilia Rafael e SMOLKA Ana Luiza Bustamante A significaccedilatildeo nos espaccedilos Educacionais ndash Interaccedilatildeo social e subjetivaccedilatildeo Campinas Papirus Editora1997 p 87-110
BRUNO Marilda Moraes Garcia A construccedilatildeo da escola inclusiva um a anaacutelise das poliacuteticas puacuteblicas e da praacutetica pedagoacutegica no contexto da educaccedilatildeo infantil Revistambienteeducaccedilatildeo v 1 n 2 p56-67 2008
CASTRO Marta Luz Sisson de Formaccedilatildeo do Diretor de Escola do Estado do Rio Grande do Sul implicaccedilotildees para a praacutetica Educaccedilatildeo v 32 n 2 p 114-121 2009
FEUERWERKER Laura Mudanccedilas na educaccedilatildeo meacutedica e residecircncia meacutedica no Brasil Interface comum sauacutede educaccedilatildeo vol 2 n3 p 51-71 1998
FREITAS Maria Teresa Assunccedilatildeo A pesquisa de abordagem histoacuterico-cultural um espaccedilo educativo de constituiccedilatildeo de sujeitos Revista Teias v 10 n 19 p 01-12 2009
GIGLIO Ceacutelia Maria Benedicto Residecircncia Pedagoacutegica como diaacutelogo permanente entre a formaccedilatildeo inicial e continuada de professores In DALBEN A et al (org) Convergecircncias e tensotildees no campo da formaccedilatildeo e do trabalho docente Belo
Horizonte Autecircntica v 1 p 375-392 2010
GIGLIO Ceacutelia Maria Benedicto LUGLI Rosaacuterio Silvana Genta Diaacutelogos pertinentes na formaccedilatildeo inicial e continuada de professores e gestores escolares A concepccedilatildeo
ISSN 1984-6444 | httpdxdoiorg1059021984644435694
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do Programa de Residecircncia Pedagoacutegica na UNIFESP Cadernos de Educaccedilatildeo n
46 p 62-82 2014
MARINHO Ceacutesar Henrique MARTINS Edna Educaccedilatildeo infantil e relaccedilotildees eacutetnico-raciais impactos da formaccedilatildeo docente nas praacuteticas educativas Revista Educaccedilatildeo e Cultura Contemporacircnea v 14 n 34 p 42-63 2016
MARTINS Thaiacutes Regina Miranda SLAVEZ Milka Helena Carrilho Um estudo sobre programas de iniciaccedilatildeo agrave praacutetica profissional de professores no Brasil o PIBID e o estaacutegio de Residecircncia Ensino amp Pesquisa v 13 n 01 p 29-41 2016
MARQUES Danielle Vieira Aquino MUumlLLER Fernanda Experiecircncias com blog na pesquisa e na formaccedilatildeo inicial de professoras de educaccedilatildeo infantil ETD-Educaccedilatildeo Temaacutetica Digital v 14 n 1 p 43-61 2012
MARTINS E Famiacutelia e escola no contexto de um programa de residecircncia pedagoacutegica um estudo a partir do enfoque histoacuterico-cultural Educaccedilatildeo Sociedade amp Culturas v 37 p 89-107 2012
MEKSENAS Paulo Sociologia da educaccedilatildeo uma introduccedilatildeo ao estudo da escola no processo de transformaccedilatildeo social Satildeo Paulo Loyola 2002
MORETTI Vanessa Dias MARTINS Edna Atividade de ensino mediaccedilatildeo e aprendizagem da docecircncia na residecircncia pedagoacutegica uma anaacutelise a partir da teoria histoacuterico-cultural Revista Contrapontos v 15 n 3 p 394-411 2015
MORETTI Vanessa Dias A articulaccedilatildeo entre a formaccedilatildeo inicial e continuada de professores que ensinam matemaacutetica o caso da Residecircncia Pedagoacutegica da Unifesp Revista Educaccedilatildeo Porto Alegre 2011 v 34 n 3 p 385-390 2011
NEVES Vanessa Ferraz Almeida CASTANHEIRA Maria Luacutecia GOUVEcircA Maria Cristina Soares O letramento e o brincar em processos de socializaccedilatildeo na educaccedilatildeo infantil brincadeiras diferentes Revista Brasileira de Educaccedilatildeo v 20 n 60 p 215-
244 2015
NOacuteVOA Antoacutenio Os professores e as Histoacuterias da Sua Vida In NOacuteVOA Antoacutenio (org) Vidas de Professores 2ordf ed Porto Porto Editora p 18-30 2000
PARO Vitor Henrique A educaccedilatildeo a poliacutetica e a administraccedilatildeo reflexotildees sobre a praacutetica do diretor de escola Educaccedilatildeo e Pesquisa v 36 n 3 p 763-778 2010
POLADIAN Marina Lopes Pedrosa Estudo sobre o Programa de residecircncia pedagoacutegica da Unifesp uma articulaccedilatildeo entre Universidade e escola na formaccedilatildeo de professores Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Psicologia da Educaccedilatildeo) - Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo 2014
ISSN 1984-6444 | httpdxdoiorg1059021984644435694
Educaccedilatildeo | Santa Maria | v 44 |2019 Disponiacutevel em httpsperiodicosufsmbrreveducacao
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ROSEMBERG Fulvia Educaccedilatildeo infantil e relaccedilotildees raciais a tensatildeo entre igualdade e diversidade Cadernos de Pesquisa v 44 n 153 p 742-759 2014
SILVA Adriana BUFALO Joseane O espaccedilo na pedagogia da educaccedilatildeo infantil faacutebula perversidade e possibilidade In Culturas infantis em creches e preacute-escolas estaacutegio e pesquisa Campinas SP Autores Associados 2011
TARDIF Maurice A profissionalizaccedilatildeo do ensino passados trinta anos dois passos para a frente trecircs para traacutes Educaccedilatildeo e Sociedade Campinas SP v34 n123 p
551-571 2013
VYGOTSKY Lev Semyonovich Desarrollo de las funciones psiacutequicas superiores en la edad de transicion in l s vygotski obras escogidas iv Paidologiacutea del adolescente Madrid Machado Libros Tomo IV 19302006a
Correspondecircncia
Edna Martins ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo (UNIFESP)
Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Maria de Faacutetima Carvalho ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Renata Marciacutelio Cacircndido ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Universidade Federal de Satildeo Paulo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo R
Sena Madureira 1500 ndash Vila Clementino CEP 04021-001 Satildeo Paulo Satildeo Paulo
Brasil
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do Programa de Residecircncia Pedagoacutegica na UNIFESP Cadernos de Educaccedilatildeo n
46 p 62-82 2014
MARINHO Ceacutesar Henrique MARTINS Edna Educaccedilatildeo infantil e relaccedilotildees eacutetnico-raciais impactos da formaccedilatildeo docente nas praacuteticas educativas Revista Educaccedilatildeo e Cultura Contemporacircnea v 14 n 34 p 42-63 2016
MARTINS Thaiacutes Regina Miranda SLAVEZ Milka Helena Carrilho Um estudo sobre programas de iniciaccedilatildeo agrave praacutetica profissional de professores no Brasil o PIBID e o estaacutegio de Residecircncia Ensino amp Pesquisa v 13 n 01 p 29-41 2016
MARQUES Danielle Vieira Aquino MUumlLLER Fernanda Experiecircncias com blog na pesquisa e na formaccedilatildeo inicial de professoras de educaccedilatildeo infantil ETD-Educaccedilatildeo Temaacutetica Digital v 14 n 1 p 43-61 2012
MARTINS E Famiacutelia e escola no contexto de um programa de residecircncia pedagoacutegica um estudo a partir do enfoque histoacuterico-cultural Educaccedilatildeo Sociedade amp Culturas v 37 p 89-107 2012
MEKSENAS Paulo Sociologia da educaccedilatildeo uma introduccedilatildeo ao estudo da escola no processo de transformaccedilatildeo social Satildeo Paulo Loyola 2002
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MORETTI Vanessa Dias A articulaccedilatildeo entre a formaccedilatildeo inicial e continuada de professores que ensinam matemaacutetica o caso da Residecircncia Pedagoacutegica da Unifesp Revista Educaccedilatildeo Porto Alegre 2011 v 34 n 3 p 385-390 2011
NEVES Vanessa Ferraz Almeida CASTANHEIRA Maria Luacutecia GOUVEcircA Maria Cristina Soares O letramento e o brincar em processos de socializaccedilatildeo na educaccedilatildeo infantil brincadeiras diferentes Revista Brasileira de Educaccedilatildeo v 20 n 60 p 215-
244 2015
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POLADIAN Marina Lopes Pedrosa Estudo sobre o Programa de residecircncia pedagoacutegica da Unifesp uma articulaccedilatildeo entre Universidade e escola na formaccedilatildeo de professores Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Psicologia da Educaccedilatildeo) - Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo 2014
ISSN 1984-6444 | httpdxdoiorg1059021984644435694
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ROSEMBERG Fulvia Educaccedilatildeo infantil e relaccedilotildees raciais a tensatildeo entre igualdade e diversidade Cadernos de Pesquisa v 44 n 153 p 742-759 2014
SILVA Adriana BUFALO Joseane O espaccedilo na pedagogia da educaccedilatildeo infantil faacutebula perversidade e possibilidade In Culturas infantis em creches e preacute-escolas estaacutegio e pesquisa Campinas SP Autores Associados 2011
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551-571 2013
VYGOTSKY Lev Semyonovich Desarrollo de las funciones psiacutequicas superiores en la edad de transicion in l s vygotski obras escogidas iv Paidologiacutea del adolescente Madrid Machado Libros Tomo IV 19302006a
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Edna Martins ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo (UNIFESP)
Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Maria de Faacutetima Carvalho ndash Professora doutora da Universidade Federal de Satildeo Paulo
(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
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(UNIFESP) Satildeo Paulo Satildeo Paulo Brasil
Universidade Federal de Satildeo Paulo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo R
Sena Madureira 1500 ndash Vila Clementino CEP 04021-001 Satildeo Paulo Satildeo Paulo
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TARDIF Maurice A profissionalizaccedilatildeo do ensino passados trinta anos dois passos para a frente trecircs para traacutes Educaccedilatildeo e Sociedade Campinas SP v34 n123 p
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