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A IMPORTÂNCIA DO DECÁLOGO PARA A ÉTICA CRISTÃ Introdução Neste estudo pretende-se mostrar por que o decálogo é conteúdo fundamental da ética cristã. Tentamos explicar as reflexões que nos levam a crer e a entender que os dez mandamentos regulam nossa relação com Deus e com o próximo. Uma simples leitura rápida e superficial do decálogo não suficiente para percebermos sua importância. Só um estudo sistemático e mais detalhado, incluindo das passagens correlatas e os outros textos do Antigo e do Novo Testamento, poderá nos convencer da sua validade permanente. A Validade do Decálogo para a Ética Cristã Na Escritura 1)- Os dez mandamentos valem para o povo de Deus ao qual foram dados (Dt. 4.1,2; Sl. 147.19, 20). De acordo com Êx. 19.1; 20.21; Dt. 4.1; 6.9 os dez mandamento foram dados quando Israel andava no deserto: a primeira vez, estando acampado ao pé do Monte Sinai, no início da viagem; e a segunda vez, no fim da jornada, 38 anos mais tarde, antes de entrar em Canaã. Ele escolheu um povo, dando-lhe os dez mandamentos, fazendo com ele uma aliança, para que fosse portador a promessa divina através dos séculos (Dt. 4.12). Portanto, a lei é fundamental para Israel. Israel é a nação escolhida, e o decálogo é o concerto de Deus com essa nação (Dt. 4.13). É verdade que o receptor imediato é Israel. Nós não somos Israel no sentido biológico, mas o somos no sentido espiritual, no plano de salvação, como participantes da aliança do Novo Testamento pelo sangue de Jesus Cristo. Como crentes em Cristo, fazemos parte do povo unificado de Deus, do qual fala o apóstolo Paulo em Efésios 2.11, 12. Somos descendentes de Abraão (Gl.3.29), somos verdadeiramente os santos, o povo de Deus (Rm. 9.9; 9.25, 26), a raça eleita ( I Pe. 2.9), o novo Israel(Rm. 11.17). Os renascido são os santos, a raça escolhida, o povo de Deus (I Pe. 2.9, 10). Assim, os dez mandamentos valem para todo o povo de Deus e, também, para a igreja do Novo Testamento. Jesus de forma absoluta e categórica reafirma as exigências morais dos dez mandamentos: a)- ao falar com o jovem rico, Jesus declara que os dez mandamentos são uma indicação fundamental para a vida (Mt. 19.18, citando Dt. 4.1). b)- no sermão do Monte (Mt. 5-7), Jesus não cancela ou anula, mas radicaliza e aumenta as exigências morais dos dez mandamentos (Mt. 5.21ss; Mt. 5.27ss.; Mt. 5.31ss.). c)- Jesus afirma explicitamente que não veio para revogar a lei (Mt. 5.17-19). 2)- Os dez mandamentos são recomendados para todos os homens como expressão clara do bem (Dt. 4.6; Ec. 12.13). Congregação Presbiteriana do Jardim Goiás Estudo Bíblico A ética dos Dez Mandamentos Estudo 2 28/03/2012 Livro REIFLER, Hans Ulrich. A ética dos Dez Mandamentos. São Paulo: Ed. Vida Nova.

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A IMPORTÂNCIA DO DECÁLOGO

PARA A ÉTICA CRISTÃ

Introdução

Neste estudo pretende-se mostrar por que o decálogo é conteúdo fundamental da ética

cristã. Tentamos explicar as reflexões que nos levam a crer e a entender que os dez mandamentos

regulam nossa relação com Deus e com o próximo. Uma simples leitura rápida e superficial do

decálogo não suficiente para percebermos sua importância. Só um estudo sistemático e mais

detalhado, incluindo das passagens correlatas e os outros textos do Antigo e do Novo

Testamento, poderá nos convencer da sua validade permanente.

A Validade do Decálogo para a Ética Cristã

Na Escritura

1)- Os dez mandamentos valem para o povo de Deus ao qual foram dados (Dt. 4.1,2; Sl.

147.19, 20).

De acordo com Êx. 19.1; 20.21; Dt. 4.1; 6.9 os dez mandamento foram dados quando

Israel andava no deserto: a primeira vez, estando acampado ao pé do Monte Sinai, no início da

viagem; e a segunda vez, no fim da jornada, 38 anos mais tarde, antes de entrar em Canaã. Ele

escolheu um povo, dando-lhe os dez mandamentos, fazendo com ele uma aliança, para que fosse

portador a promessa divina através dos séculos (Dt. 4.12). Portanto, a lei é fundamental para

Israel. Israel é a nação escolhida, e o decálogo é o concerto de Deus com essa nação (Dt. 4.13).

É verdade que o receptor imediato é Israel. Nós não somos Israel no sentido biológico,

mas o somos no sentido espiritual, no plano de salvação, como participantes da aliança do Novo

Testamento pelo sangue de Jesus Cristo. Como crentes em Cristo, fazemos parte do povo

unificado de Deus, do qual fala o apóstolo Paulo em Efésios 2.11, 12. Somos descendentes de

Abraão (Gl.3.29), somos verdadeiramente os santos, o povo de Deus (Rm. 9.9; 9.25, 26), a raça

eleita ( I Pe. 2.9), “o novo Israel” (Rm. 11.17).

Os renascido são os santos, a raça escolhida, o povo de Deus (I Pe. 2.9, 10). Assim, os

dez mandamentos valem para todo o povo de Deus e, também, para a igreja do Novo

Testamento. Jesus de forma absoluta e categórica reafirma as exigências morais dos dez

mandamentos:

a)- ao falar com o jovem rico, Jesus declara que os dez mandamentos são uma indicação

fundamental para a vida (Mt. 19.18, citando Dt. 4.1).

b)- no sermão do Monte (Mt. 5-7), Jesus não cancela ou anula, mas radicaliza e aumenta

as exigências morais dos dez mandamentos (Mt. 5.21ss; Mt. 5.27ss.; Mt. 5.31ss.).

c)- Jesus afirma explicitamente que não veio para revogar a lei (Mt. 5.17-19).

2)- Os dez mandamentos são recomendados para todos os homens como expressão clara do bem

(Dt. 4.6; Ec. 12.13).

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De acordo com Dt. 4.6, o decálogo é recomendado para todos os homens. Essa verdade

foi reconhecida por Salomão (Ec. 12.13). Tal fato também foi aceito por Paulo em Rm. 2.14, 15.

A consciência do bem e do mal é dada a toso, e isto, de tal maneira que reconheçam a validade

moral dos dez mandamentos.

Em outras palavras, Deus escreveu nos corações dos homens aquilo que revelou aos

judeus através de Moisés. Dessa forma, Moisés concorda com a lei natural. A validade moral da

segunda tábua (a parte do decálogo que trata dos relacionamentos humanos) é reconhecida em

todos os países civilizados. Sua não-observância destrói a vida e mina os princípios de qualquer

sociedade.

3)- Os dez mandamentos são a moldura da ética cristã.

O decálogo é a moldura do bem. Mas ele não mostra qual é a melhor coisa, a solução

mais correta em situações específicas. O decálogo é a moldura, mas não o retrato final. Lutero

usa três figuras para descrever as características fundamentais do decálogo. Em seu Grande

Catecismo, ele ensina: “Temos, pois, os Dez Mandamentos, modelo de doutrina divina para o

que devemos fazer, a fim de que toda a nossa vida agrade a Deus, e a verdadeira fonte e canal de

onde deve manar e por onde deve fluir tudo quanto quer ser boa obra”.

Tanto Jesus quanto Paulo empregam o decálogo desta forma, como um sumário. O

Sermão da Montanha, de Jesus (Mt. 5.7) é, em alguns aspectos, uma interpretação e

intensificação dos Dez Mandamentos. O mesmo pode ser dito de muitas seções nas cartas do

Novo Testamento destinadas à orientação moral. A instrução ética não é o principal propósito

dos dez mandamentos. A lei de Deus é, antes de tudo, um instrumento de diagnóstico para expor

e condenar o pecado, em preparação para o evangelho. Entretanto, para a pessoa perdoada e

capacitada pelo Espírito através da fé, a lei é também um guia moral, uma norma de

comportamento cristão.

A Relação entre a Ética Cristã e a Lei Mosaica

1)- No ensino de Jesus

É interessante observar que, no sermão do monte, Jesus aumentou as exigências da

própria lei mosaica, radicalizando assim a instância divina a fim que o homem se dobrasse com

mais rapidez e profundidade diante do Filho de Deus. Jesus realmente rejeitou a interpretação

legalista ou puramente moralista da lei mosaica (Gl. 1.14). Por exemplo, ao contrário da prática

legalista do sábado, Jesus declarou que é o Senhor do sábado (Mt. 12.8) e que o sábado foi

estabelecido por causa dos homens, e não o contrário (Mc. 2.27).

Cristo não traz uma nova moralidade, tampouco apela para um estilo antimoral de vida:

antes, leva o homem a ver a exigência de amor imposta por Deus e revelada na lei. Em seus

ensinos, encontram-se tanto a liberdade quanto a dependência da lei mosaica.

2)- No testemunho do apóstolo Paulo

A relação entre a ética cristã e lei mosaica era o objeto principal da disputa entre o

apóstolo Paulo e os judaizantes, sendo amplamente discutida e esclarecida nas cartas aos

Romanos e Gálatas.

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Paulo não subestima a lei, pelo contrário, considera-a a “lei de Deus” (Rm. 7.22; 8.7),

“santa, justa, espiritual e boa” (Rm. 7.12, 14, 16). Serve para a vida (Rm. 7.10), porque as

pessoas que a observam viverão por ela (Gl. 3.12; Rm. 10.5). Paulo diz que essa lei precisa ser

cumprida em nós que andamos “segundo o Espírito” (Rm. 8.4); e conforme Romanos 8.7, sua

não-observância constitui inimizade contra Deus. De acordo com o ensino de Paulo, o homem

interior tem prazer na lei de Deus (Rm. 7.22).

O problema é que a lei não pode salvar ninguém e nem tampouco gerar santidade

(Rm.8.3; Gl. 3.21), porque é enfraquecida pela carne. Pode apenas revelar nossa pecaminosidade

(Rm. 3.20), a merecida ira de Deus sobre a desobediência (Rm. 4.15) e, finalmente, trazer a

condenação sobre a humanidade inteira (Gl. 3.10).

É impossível ganhar a justiça de Deus através da lei (Rm. 3.28; 4.6; 10.3), mas tão

somente pelo sangue precioso de Jesus Cristo (Rm. 3.28; 5.9; Gl. 2.1, Ef.2.8).

Paulo vai mais longe e afirma que Cristo é o fim, o cumprimento da lei (Rm. 10.4). Tal

afirmação, porém, não significa que com Cristo ela foi invalidada: a lei moral – a exigência

moral, a exigência ética – continua a ter importância, mas não pode ser a base, o meio ou o

termômetro da salvação. Paulo é enfático ao afirmar que a lei precisa ser cumprida em nós (Rm.

8.4).

Deuteronômio 5 Mandamento Deuteronômio Descrição

5.6-10 1-2 12.1-31 Adoração

5.11 3 13.1-14.27 Nome de Deus

5.12-15 4 14.28-16.17 Sábado

5.16 5 16.18-18.22 Autoridade

5.17 6 19.1-22.8 Homicídio

5.18 7 22.9-23.19 Adultério

5.19 8 23.20-24.7 Roubo

5.20 9 24.8-25.4 Falso testemunho

5.21 10 25.5-16 Cobiça

Mandamento Referência correlata no Novo Testamento

1-2 I Jo. 5.21

3 Tg. 5.12

4 Nenhuma referência

5 Ef.6.1-3

6 Rm. 13.9

7 I Co. 6.9, 10

8 Ef.4.28

9 Cl.3.9; Tg. 4.11

10 Ef.5.3

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O Esboço do Decálogo

Seguindo o modelo proposto por Calvino, baseado em Agostinho e Orígenes, percebemos

que os primeiros quatro mandamentos tratam da relação vertical, ou seja, das responsabilidades

do homem para com o seu Criador, enquanto a “segunda tábua”, ou os seis mandamentos

restantes, trata da relação horizontal, isto é, das responsabilidades do home para o seu próximo.

Reencontramos esta dupla relação no ensino de Jesus Cristo, quando o Mestre respondeu a

respeito do grande mandamento: “Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a

tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o primeiro mandamento. O segundo, semelhante a

este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda lei e

os profetas” (Mt. 22.37-40).

Mandamentos Êx. 20 Assunto

1-3 v.2-7 Relação correta com Deus

4 v.8-11 Relação correta com o trabalho

5-10 v.12-17 Relação correta com a sociedade

Mandamentos Êx. 20 Assunto

1-3 v.2-7 Moral teológica

4 v.8-11 Moral individual

5-10 v.12-17 Moral social

Assim podemos traça o seguinte esboço:

1)- O testemunho da singularidade e exclusividade de Deus (Êx. 20.3).

2)- O testemunho da incomparabilidade de Deus (Êx. 20.4-6).

3)- O testemunho da santidade de Deus (Êx. 20.7).

4)- O testemunho do senhorio de Deus sobre o tempo (Êx. 20.8-11).

5)- A proteção da velhice (Êx. 20.12).

6)- A proteção da vida (Êx. 20.13).

7)- A proteção do matrimônio e do corpo (Êx. 20.14).

8)- A proteção da propriedade e do trabalho (Êx. 20.15).

9)- A proteção da honra (Êx. 20.16).

10)- A proteção contra as ambições erradas e a cobiça (Êx. 20.17).

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Conclusão

À luz de todos esses textos da Escritura torna-se claro que os dez mandamentos são um

excelente guia para a conduta ética de todo cristão, governo da moralidade humana, exemplo de

retidão a ser seguido por todas as autoridades. A própria Escritura testifica da validade e

relevância dos dez mandamentos para a nossa ética hoje.

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