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PRINCÍPIOS GERAIS DO GERENCIAMENTO DE CRISES - DOUTRINA

1. Ocorrência de Alta Complexidade

É todo fato de origem humana ou natural, que, alterando a ordem pública, supere acapacidade de resposta dos esforços ordinários de polícia, exigindo intervenção de forçaspoliciais através da estruturação de ações e operações especializadas, ou típicas debombeiros militares, com objetivo de proteger e socorrer o cidadão.

2. Crise

Também conhecida como evento crítico. Existem dezenas de definições para crise, porém,em nossa atividade podemos defini-la como:a. Manifestação violenta e repentina de ruptura do equilíbrio, da normalidade (em qualqueratividade humana, inclusive e, principalmente, na Segurança Pública);b. Tensão, conflito;c. Situação grave em que os acontecimentos da vida social, rompendo padrões tradicionais,perturbam a organização de alguns ou de todos os grupos integrados na sociedade.d. Momento perigoso ou difícil de uma evolução ou de um processo; período de desordem

acompanhado de busca penosa de uma solução (Dicionário Aurélio)e. Conjuntura perigosa, situação anormal e grave. Momento grave, decisivo (DicionárioMichaelis)A Academia Nacional do FBI (Federal Bureau of Investigation) dos Estados Unidos daAmérica define crise como: “Um evento ou situação crucial que exige uma resposta especialda Polícia, a fim de assegurar uma solução aceitável”. 

São modalidades de crises policiais:

- Extorsão mediante sequestro;- Sequestro de pessoas;- Rebelião em presídios;- Ameaça ou localização de artefatos explosivos;- Atos terroristas;- Captura de fugitivos;- Conflitos agrários;- Suicídios;- Graves vazamentos, incêndios, etc.- Outras ocorrências de vulto.

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3. Gerenciamento de Crises

O FBI define o gerenciamento de crises como: “o processo de identificar, obter e aplicarrecursos necessários à antecipação, prevenção e resolução de uma crise”. Pode ser descrito, também, como um processo racional de resolver problemas baseados emprobabilidades.

Essas ocorrências, por suas características, geram e criam no contexto da segurançapública, situações críticas, nas quais se manifestam em um fato de natureza policial, os maisdiversificados problemas de ordem social, econômica, política, psicológica e ideológica.

4. Características da Crise

As crises possuem três características básicas:

a. Imprevisibilidade  – a crise é não seletiva e inesperada, isto é, qualquer pessoa ouinstituição pode ser atingida a qualquer instante, em qualquer local, a qualquer hora.Sabemos que ela vai acontecer, mas não podemos prever quando. Portanto, devemos estarpreparados para enfrentar qualquer crise. Ela pode ocorrer assim que você acabar de lereste parágrafo.

b. Compressão do tempo  – Embora as crises possam perdurar por dias, os processosdecisórios que envolvem deliberações para adoção de posturas na ambiência operacionaldevem ser efetivadas em um curto espaço de tempo. As ocorrências de alta complexidade

impõem às autoridades policiais responsáveis por seu gerenciamento urgência, agilidade erapidez nas decisões.

c. Ameaça à vida  – sempre se configura como elemento de um evento crítico, mesmoquando a vida em risco é a do próprio causador da crise.

A experiência no tratamento dessas questões permite destacar ainda outros três fatores quepodem caracterizar uma situação de crise:

• Alto grau de pressão psicológica;• Conflitos de competência;• Alto poder desestabilizador do clima de segurança subjetivo.

A conjugação da imprevisibilidade, compressão de tempo e ameaça à vida fazem com queas ocorrências de alta complexidade se desenvolvam em um clima conturbado e de alto graude pressão psicológica.

Isso gera ansiedade e “stress” que, fora de determinados padrões, reduzem a capacidade dedesempenho em nível mental e físico dos profissionais de polícia ostensiva que tenham deatuar no teatro de operações.

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No contexto das crises, como um fator complicador a mais, os conflitos de competência,invariavelmente, emergem em meio à confusão de autoridades, políticos, organizações

policiais, imprensa e outros segmentos da comunidade que se apresentam para participardos esforços de restauração da ordem pública.

Outra característica marcante das situações aqui estudadas é seu alto poderdesestabilizador do clima de segurança subjetiva da comunidade. As ocorrências de altacomplexidade são, em sua grande maioria, amplamente noticiadas e ganham repercussãoaté internacional, em muitas ocasiões. A crise, retratada em todas as suas facetas, passa ase constituir no núcleo dos noticiários.

Por essas razões, as instituições policiais necessitam de algumas posturas, entre quaisdestacamos:

a. Postura organizacional não rotineira: A necessidade de uma postura organizacional nãorotineira é, de todas as características essenciais, aquela que talvez cause maiorestranstornos ao processo de gerenciamento de crises. Contudo, é a única cujos efeitos podemser minimizados, graças a um preparo e a um treinamento prévio da organização para oenfrentamento de eventos críticos.

b. Planejamento analítico especial e capacidade de implementação: Sobre a necessidade deum planejamento analítico especial, é importante salientar que a análise e o planejamentodurante o desenrolar de uma crise são consideravelmente prejudicados por fatores comoinsuficiência de informações sobre o evento crítico, a intervenção da mídia, o tumulto de

massa geralmente causado por situações dessa natureza e a dificuldade de suprimento demateriais e equipamentos próprios dificultam sobremaneira a solução da crise. De qualquerforma, deve-se optar pelas soluções simples e possíveis de serem levadas a termo emdetrimento das soluções cinematográficas, impossíveis de ser executadas.

c. Considerações legais especiais: Finalmente, com relação às considerações legaisespeciais exigidas pelos eventos críticos, cabe ressaltar que, além de reflexões sobre temascomo estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento de dever legal,responsabilidade civil, etc., algumas vezes, embora amparada por essas excludentes deilicitude, a ação pode não ter uma aceitabilidade pela opinião pública. Numa situação, porexemplo, onde o pai que ameaça matar o filho com uma faca, embora exista o amparo legalpara atuar, a sociedade certamente irá questionar: será que o pai teria mesmo coragem dematar o próprio filho? Era mesmo necessário matar o pai na frente do filho?

5. Posturas gerenciais básicas

Grande parte dos erros cometidos e distorções que são observadas durante a estruturação

de ações de resposta, por ocasião do gerenciamento de uma crise, decorrem da inexistência

ou do desrespeito a conceitos essenciais a esse tipo específico de trabalho policial.

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Isso compromete a compreensão do fato delituoso, inibe a adoção de posturas na ambiênciaoperacional e induz a operacionalizar estratégias equivocadas. É preciso estabelecer os

objetivos que direcionarão a atuação de uma força policial nas situações de crise.

Todos os esforços para a preservação da ordem devem ser desenvolvidos com os seguintes

objetivos gerais:

1) Preservação de vidas , sem distinções:

a) Dos policiais;

b) Dos reféns;

c) Do público em geral;

d) Dos criminosos.

2) Aplicação da lei , incondicional:

a) Prisão dos infratores protagonistas da crise;

b) Proteção do patrimônio público/privado;

c) Garantir o estado de direito.

Esses objetivos estão sendo apresentados de acordo com seu grau de importância e

prioridade. Isso significa dizer que preservar vidas e aplicar a lei devem ser considerados

pontos balizadores do processo de gerenciamento das ocorrências de alta complexidade.

6. Critérios para tomada de decisão

Na busca da consecução dos objetivos apresentados, o policial envolvido numa ocorrência

de alta complexidade está, durante todo o desenrolar do evento, tomando decisões

pertinentes aos campos de gerenciamento aqui abordados.

Nessas ocasiões existe um constante processo decisório. Há o dilema do tipo “faço ou não

faço?”. Decisões, desde as mais simples às mais complexas, vão sendo tomadas a todo omomento.

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Elas envolvem matérias díspares, como o fornecimento de água ou alimentação para osreféns e para os delinquentes, atendimento médico de urgência a uma vítima no interior do ponto

crítico, o corte de linha telefônica e fornecimento de eletricidade, ou até mesmo o emprego de força.

Assim, com o intuito de balizar o processo decisório na ambiência operacional, bem como

para sua análise crítica, a doutrina do FBI preconiza três critérios para a tomada de

decisões:

O critério de NECESSIDADE  indica que toda e qualquer ação somente deve ser

implementada quando for indispensável. Se não houver necessidade de se tomar

determinada decisão, não se justifica sua adoção. O que se pretende fazer é realmente

necessário?

O critério da VALIDADE DO RISCO estabelece que toda e qualquer ação tem que levar em

conta se os riscos dela advindos são compensados pelos resultados. A pergunta que deveser feita é: vale a pena correr esse risco?

Esse critério é muito difícil de ser avaliado, pois envolve fatores de ordem subjetiva (já que o

que é arriscado para um não o é para outro) e de ordem objetiva (o que foi proveitoso em

uma crise poderá não sê-lo em outra).

O terceiro critério, ACEITABILIDADE, implica que toda decisão deve ter respaldo legal, morale ético.

CRITÉRIOS PARA TOMADA DE DECISÕES 

VALIDADE DO RISCO 

ACEITABILIDADE

Legal/moral/ética

NECESSIDADE 

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Essa classificação possui quatro graus, como no quadro abaixo:CLASSIFICAÇÃO TIPOS EXEMPLOS (FBI)

1º GRAU ALTO RISCO Assalto a banco promovido por uma ou duaspessoas armadas de pistola ou revólver, sem reféns.

2º GRAU ALTÍSSIMORISCO

Um assalto a banco por dois elementos armadosmantendo três ou quatro pessoas como reféns.

3º GRAU AMEAÇAEXTRAORDINÁRIA

Terroristas armados de metralhadoras ou outrasarmas automáticas, mantendo oitenta reféns a bordode uma aeronave.

4º GRAU AMEAÇAEXÓTICA

Um indivíduo de posse de um recipiente, afirmandoque seu conteúdo é radioativo e de alto poderdestrutivo ou letal, ameaçando a população de uma

cidade.

7. 2. Níveis de resposta aos graus de risco de uma crise

Os níveis de resposta estão relacionados diretamente ao grau de risco de uma crise, ou seja,

o nível de resposta sobe na mesma proporção em que cresce o risco da crise. É interessante

conhecer o dimensionamento dos recursos a ser utilizados, conforme visualizados no quadro

abaixo:

NÍVEL RECURSOS RESPOSTA POLICIAL1 LOCAIS As guarnições normais de área poderão

atender à ocorrência.2 LOCAIS

ESPECIALIZADOSAs guarnições normais com apoio de

guarnições especiais da unidade de área.3 TODOS DO NÍVEL DOIS +

COMANDO GERALAs guarnições especiais de área não

conseguiram solucionar, pede-se apoio da equipeespecial da maior autoridade.

4 TODOS DO NÍVEL TRÊS +

RECURSOS EXÓGENOS

A equipe especial é empregada com auxílio

de equipe de profissionais de áreas específicas.

Uma correta avaliação do grau de risco ou ameaça representado por uma crise concorre

favoravelmente para a solução do evento, possibilitando, desde o início, o oferecimento de

um nível de resposta adequado à situação, evitando-se perdas desnecessárias.

O grau de risco de uma crise pode ser mudado em seu transcorrer, pois a primeira

autoridade policial que chega ao local faz uma avaliação precoce da situação, com base em

informações precárias e de difícil confirmação. Informações importantes,

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como o número de reféns, número de bandidos e número de armas, que, às vezes, só vêm a

ser confirmados com o andamento da crise.

8- TIPOLOGIA DOS TOMADORES DE REFÉNS

Na tentativa de auxiliar os gestores policiais nessa difícil tarefa de coleta de dados acerca

dos tomadores de reféns, os estudiosos da disciplina Gerenciamento de Crises  têm

procurado desenvolver uma tipologia dos causadores de eventos críticos. O Capitão Frank

Bolz Junior, do Departamento de Polícia de Nova Iorque, EUA, em sua obra Como ser um refém e sobreviver , classifica-os em três tipos fundamentais.

O primeiro deles é o criminoso comum (também conhecido como contumaz, ou

criminalmente motivado). É o indivíduo que se mantém através de repetidos furtos e roubos

e de uma vida dedicada ao crime. Essa espécie de criminoso, geralmente, provoca uma

crise por acidente, devido a um confronto inesperado com a Polícia, na flagrância de alguma

atividade ilícita. Com a chegada da Polícia, o indivíduo agarra a primeira pessoa a seu

alcance como refém, e passa a utilizá-la como garantia para a fuga, neutralizando, assim, a

ação dos policiais. O grande perigo desse tipo de causador de evento crítico certamente está

nos momentos iniciais da crise. Em média, os primeiros quarenta minutos são os mais

perigosos. Esse tipo de causador de crise representa a maioria dos casos ocorridos no

Brasil. Nesse mesmo contexto, encontra-se o criminoso profissional o qual, diferente do

anterior, faz um planejamento bem apurado sobre o crime a ser praticado.

O segundo tipo é o emocionalmente perturbado. Geralmente um indivíduo que não

conseguiu lidar com seus problemas de trabalho ou de família, ou que esteja completamente

divorciado da realidade. Algumas doutrinas chamam esse tipo de incidente doméstico, já que

normalmente envolve as relações familiares. Estatisticamente, nos Estados Unidos, esse é o

tipo de indivíduo que causa a maioria dos eventos críticos. Brigas domésticas, problemas

referentes à custódia de menores, empregados revoltados ou alguma mágoa com relação a

uma autoridade podem ser o estopim para a prática de atos que redundem em crises.

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Não há no Brasil dados estatísticos confiáveis que possam indicar, com exatidão, o

percentual representado por esse tipo de causadores de eventos críticos no universo de

crises registradas no país, verificando-se nos noticiários que algumas dessas situações sevinculam à prática de crimes chamados passionais. Nessa mesma classe, encontramos os

doentes mentais como psicóticos, neuróticos e psicopatas.

Psicótico: Perda total do sentimento da realidade. Constrói um mundo imaginário(Esquizofrênico, Maníaco/Depressivo , Toximaníaco)

Neurótico: Conservação da consciência com distúrbios psíquico (Fobias, Obsessões,Compulsões)

Psicopata: Perversos, cruéis, sem nenhum sentimento de “vida” (Fanático, Necrófilos,Explosivos)

O terceiro e último tipo é o terrorista por motivação política. Apesar de não ostentar uma

liderança estatística, essa espécie de causadores de eventos críticos é, de longe, a que

causa maior estardalhaço. Basta uma olhada nos jornais para se verificar as repercussões

causadas por esse tipo de evento, ao redor do mundo. É que, pela própria essência desses

eventos, geralmente cuidadosamente planejados por grupos com motivação política ou

ideológica, a repercussão e a divulgação constituem, na maioria das vezes, o principal

objetivo da crise, que se revela como uma oportunidade valiosa para críticas a autoridades

constituídas e para revelação dos propósitos ou programas do grupo.

Um subtipo dessa categoria de causadores de eventos críticos é o terrorista por

motivação religiosa. É muito difícil lidar com esse tipo de elemento, porque não pode haver

nenhuma racionalização através do diálogo, o que praticamente inviabiliza as negociações.

Ele não aceita barganhar suas convicções e crenças. Quase sempre, o campo de manobra

da negociação fica reduzido a tentar convencer o elemento de que, ao invés de morrer pela

causa, naquele evento crítico, seria muito mais proveitoso sair vivo para continuar a luta.

Para esse tipo de causador de crise, pode parecer, em dado momento, ser mais conveniente

sair da crise carregado nos braços de seus seguidores como um herói.

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Seja qual for o tipo do causador do evento crítico, deve-se evitar, no curso da negociação, a

adoção de posturas estereotipadas com relação à tipologia e à motivação. A classificação

aqui apresentada, a par de suas imperfeições, deve servir apenas como um ponto deorientação na diagnose dos tomadores de reféns, dado o papel primordial que eles

desempenham no processo de negociação. 

9- LOCAL DA OCORRÊNCIA

9.1. Organização do local

O início de uma ocorrência de alta complexidade é sempre muito problemático, uma vez queos transgressores da lei, os reféns e os primeiros policiais envolvidos estão com elevados

níveis de tensão, faltam informações reais e sobram dados distorcidos, acerca do cenário

predominantemente emocional que se percebe nesse primeiro momento, contudo algumas

ações são necessárias, são adotadas pelo policial que primeiro chegou ao local de

ocorrência, ou seja, 1º Interventor .

A primeira conduta consiste em conter os transgressores da lei, bem como os eventuaisreféns, em local determinado, cerceando a possibilidade de fuga e isso, por si só, trará

melhor controle da situação.

A contenção tem por objetivo também diminuir o espaço físico ocupado pelos transgressores

da lei e pelos reféns, o que facilitará o processo de negociação e a eventual aplicação de

outras alternativas táticas.

A próxima conduta a ser adotada é o isolamento do local, estabelecendo-se o perímetro

de segurança em dois níveis (perímetro interno e perímetro externo) ao redor do ponto

crítico. Tais denominações podem receber outros nomes, como por exemplo: área vermelha,

amarela e verde; zonas A, B, e C; entre outros.

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O princípio do isolamento da área consiste em restringir o acesso das pessoas que tenham

funções específicas em cada um dos perímetros; dessa forma entende-se, por ponto crítico,

o local mais próximo dos causadores do evento, nas imediações desse local só deve estarpresente o grupo de negociação e o grupo tático. Portanto, somente o pessoal especializado

para aplicar as alternativas táticas é que deve permanecer no perímetro interno.

Na área compreendida entre o perímetro interno e o externo, será o local onde será instalado

o posto de comando (PC), local onde ficará o comitê de crise, composto pelo gerente da

crise e seu staff, posto de comando tático (PCT), bem como demais órgãos de apoio

obrigatórios, como médico, ambulância, e as equipes eventuais: companhias de gás,

eletricidade, água, corpo de bombeiros etc.

A área compreendida após o perímetro externo é caracterizada pelo livre acesso de todas as

pessoas, é nesse espaço que ficará o pessoal da imprensa e o pessoal especializado para

cuidar da fluidez do trânsito.

A forma e o tamanho dos perímetros táticos vão depender da natureza, da localização e do

grau de risco do ponto crítico. Nessas condições, normalmente é esperado que o isolamentode um ponto comercial em uma rua do interior do estado, onde ocorre um assalto, não

possua as mesmas características e o mesmo grau de dificuldade, se esse comércio estiver

localizado na Av. Jerônimo Monteiro, no centro da capital capixaba.

Contudo, um ponto muito importante deve sempre ser lembrado: não importam quais as

dificuldades, o isolamento do ponto crítico deve sempre ser realizado, sob pena de

comprometer o êxito da missão de gerenciamento da crise.

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É importante lembrar que, ao ser estabelecido o contorno dos perímetros táticos, quanto

mais amplo for o perímetro mais difícil se torna sua manutenção, por exigir um maior número

de policiais e causar maiores transtornos na rotina das pessoas que vivem nas proximidadesdo ponto crítico, ou dele se utilizam.

Somente após proceder a contenção e o isolamento é que o policial 1º Interventor  fará

contatos no intuito de iniciar as negociações, sem proceder concessões e objetivando

acalmar os envolvidos, adotando diálogo racional, através das dicas listadas na alternativa

tática da negociação.

10-O GERENTE DA CRISE

Não há dúvida de que cabe às Polícias Militares a atribuição de preservação da ordem

pública, é o que assegura a nossa lei maior. O entendimento da expressão “preservação

da ordem pública”, além de ter car áter preventivo, possui também caráter repressivo,

representado pela restauração da ordem pública, quando esta for rompida. É nesse

entendimento que se enquadra perfeitamente a atuação das Polícias Militares dos

Estados como órgãos responsáveis pela preservação da ordem pública, através do

policiamento ostensivo e preventivo e da imediata intervenção, quando isso não estiver

acontecendo.

Uma crise com reféns localizados, por exemplo, é uma atribuição específica de

restabelecimento da ordem pública, portanto, missão das Polícias Militares. Normalmente

são os policiais militares os primeiros a tomar conhecimento desse tipo de evento crítico e,

dessa forma, enquanto assim as coisas acontecerem, recomenda-se que o gerente da

crise seja o policial militar de maior graduação ou posto, presente no local, cabendo-lhe

então toda a responsabilidade pelo gerenciamento da crise, sendo ele a única autoridade

do local com poder decisório.

Todo staff formado para assessoramento, o grupo de negociadores e o grupo tático

deverão estar subordinados ao gerente da crise.

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É um erro comum de estratégia quando as autoridades do Poder Executivo, em âmbito

estadual, querendo agradar tanto a Polícia Militar, quanto a Civil, determinam atribuições

em conjunto e não havendo relação de subordinação, entre elas, o impasse fica criado, oque prejudica a definição das responsabilidades e o conseqüente controle do local.

11- AS ALTERNATIVAS TÁTICAS

As alternativas táticas, para resolução de ocorrências de alta complexidade, têm sido

modificadas no decorrer dos anos. O refinamento do trabalho inicial levou à concepção do

mais moderno jogo das alternativas conhecidas até 1989, que eram Negociação, Tear Gás,

Sniper e Assault.

Através de recentes estudos realizados por profissionais de times táticos policiais, foi

possível analisar uma nova evolução nas alternativas táticas, resultante de

desenvolvimentos tecnológicos, políticos e maior complexidade em situações de crise, onde

se procura diminuir os riscos de vida para as partes envolvidas. Assim, as alternativas em

cenários de crise passaram a compreender negociação, agentes não letais, sniper e assault.

No Brasil, as quatro alternativas táticas empregadas são denominadas mais 

comumente como:  

  Negociação;

  Emprego de técnicas não letais;

  Tiro de comprometimento ou sniper;

  Invasão tática.

NEGOCIAÇÃO - 1ª Alternativa Tática

A negociação constitui o que se costuma dizer, a melhor das alternativas táticas. Isso

porque, na quase totalidade das ocorrências em nosso país, o transgressor da lei faz o refém

de forma ocasional, ou seja, foi percebido em sua ação criminosa, teve sua fuga frustrada e,

temendo o confronto com a polícia, cria a situação de refém.

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Note-se que age assim para preservar sua vida, e nesse fato reside a fórmula básica que

qualquer policial pode aplicar para resolver uma ocorrência dessa natureza. Em outras

palavras, faz-se necessário demonstrar ao transgressor da lei que ele terá sua vidapreservada se entregar as armas e liberar os reféns, mas será preso.

No entanto, como conseguir atingir esse objetivo dentro de um cenário de crise, envolvendo

reféns localizados, com dezenas de policiais falando ao mesmo tempo, posicionando-se a

bel-prazer, portando armas sem segurança, repórteres fazendo seu trabalho

intempestivamente, familiares e vizinhos em estado de desespero? Como transmitir

confiança ao criminoso, trazendo-o à calma necessária para que possa refletir e concluir que

só lhe resta ir para a prisão?

Em essência, é simples resolver uma ocorrência com refém, sendo necessário observar

algumas condutas que são: a contenção da crise; o  isolamento do local , providências já

explicadas anteriormente. Tudo isso facilitará a ação do negociador ou do 1º interventor,

que, aplicando as técnicas que serão exploradas adiante, conduzirá a ocorrência a um final o

mais satisfatório possível, sob a ótica de preservação da vida, da integridade física, da

dignidade de todas as pessoas e também da imagem da força policial e do poder público que

devem ter credibilidade perante a sociedade.

A terceira conduta é iniciar o processo de negociação , que consiste em conduzir o

transgressor da lei à calma, estabelecendo uma relação de confiança entre ele e o

negociador de forma a convencer o transgressor de que a melhor solução é entregar-se para

que lhe sejam garantidas a vida e a integridade física. Essa negociação deve ser feita sem

realizar concessões.

12- TIPOS DE NEGOCIAÇÃO

A negociação pode ser real ou tática. A negociação real é o processo de convencimento de

rendição dos criminosos por meios pacíficos, trabalhando a equipe de negociação com

técnicas de psicologia, barganha ou atendimento de reivindicações razoáveis.

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É uma perturbação de ordem psicológica, detectada em inúmeras vítimas de sequestro,algumas das quais sofreram até mesmo violências durante a permanência no cativeiro, por

parte de seus algozes, e que, não obstando a isso, passaram a olhá-los com simpatia e até

mesmo com amor. Explica-se essa reação pelo fato de que as vítimas, por haverem se

submetido a uma forte tensão emocional, vivendo momentos extremamente difíceis,

imaginando a proximidade da morte, costumam apegar-se a qualquer coisa que lhes indique

a possibilidade de sobrevivência, que possa ser a tábua de salvação.

Quem comanda não negocia. Quem negocia não comanda!

A experiência tem demonstrado que o comandante da cena de ação geralmente não é um

bom negociador, pois o negociador não pode ter poder de decisão.  Se isso acontecer, os

causadores da crise logo perceberão esse detalhe e passarão a interpelá-lo diretamente,

instando-o a que atenda imediatamente a essa ou àquela exigência, eliminando assim as

possibilidades de procrastinação, tão necessárias para se ganhar tempo no curso de uma

crise.

Por outro lado, ao se tornar negociador, o gerente da crise, além de desviar seus esforços e

sua concentração mental de inúmeros outros assuntos importantes que envolvem sua

missão de gerenciar a crise, tornar-se-á um negociador insuscetível de ser julgado em seu  

desempenho, pois a tarefa de avaliar e  – se for o caso  – substituir o negociador cabe ao

próprio comandante da cena de ação, e se esse é o negociador, quem o irá avaliar?

Regras de negociação em ocorrência de alta complexidade  – ações do 1º interventor 

Chegando ao local e se deparando o policial com reféns localizados, como já visto, deve

conter, isolar e iniciar as negociações, solicitando o apoio dos demais policiais, passando a

situação para o CIODS, o qual deverá acionar o Gabinete de Gerenciamento de Crises e os

demais meios de resposta.

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Sequencialmente adotará algumas regras ou dicas básicas, tradicionalmente observadas

pelas principais organizações policiais do mundo no desempenho da difícil tarefa de missõesde negociação, a saber:

Estabilize e contenha a situação

Escolha a ocasião correta para fazer contato

Procure ganhar tempo

Deixe o transgressor falar. É mais importante ser um bom ouvinte que um bom conversador

Não ofereça nada ao transgressor

Evite dirigir sua atenção às vítimas com muita frequência e não as chame de reféns

Seja tão honesto quanto possível e evite truques

Nunca deixe de atender qualquer exigência, por menor que seja

Nunca diga "não"

Procure evitar a linguagem negativa

Procure abrandar as exigências

Nunca estabeleça um prazo final e procure não aceitar um

Não faça sugestões alternativas

Não envolva não policiais no processo de negociação

Não permita qualquer troca de reféns, principalmente não troque um negociador por refém

Evite negociar cara a cara

Sinais que indicam o progresso das negociações

Linguagem violenta e ameaçadora mudada para a linguagem não violenta e não

ameaçadora;

O transgressor divulga dados pessoais;

O conteúdo da conversação muda de emocional para racional;

Disposição para falar de temas não relacionados com a ocorrência.

Volume de voz mais baixo do transgressor;

Fala lenta;

Falas mais extensas

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Mais disposição ou desvio para se comunicar com as autoridades;Diminuição das ações violentas;

Libertação de reféns;

Vencem-se prazos fixados sem nenhum incidente;

Cria-se simpatia entre o negociador e o transgressor;

Há mais disposição de aceitar o acordo sugerido pelo negociador.

Negociação cara a cara

Estude as vantagens e os riscos;

Obtenha promessa de segurança do negociador;

Deixe sempre uma via de escape;

Esteja ciente do espaço entre você e o transgressor;

Mantenha a proteção adequada;

Examine sua própria tensão nervosa;

Evite, quando suspeitar, a presença de artefatos explosivos.

A importância do tempo em situações de Crise

Aumenta as necessidades básicas do ser humano;

Reduz a tensão e a ansiedade;

Aumenta a racionalidade;

Permite que se forme a síndrome de estocolmo (já citada);

Permite a tomada de melhores decisões;

Permite maior integração entre o negociador e o transgressor;

Reduzem-se as expectativas do transgressor.

Suicídio

O suicídio pode ser:

Uma forma de comportamento destinada a tratar e resolver um problema;

Um método de cuidar dos problemas encontrando uma meta;

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Uma forma de assumir o controle;

Um tipo de vingança final.

Há indícios de suicídio quando:

O transgressor pede para ser morto;

O transgressor fixa um prazo para sua morte;

O transgressor acabar de matar um ente querido;

O transgressor faz um testamento oral;

O transgressor tem um plano complicado para sua própria morte;

O transgressor não exige nada para sua fuga;

Há casos de violência em seus antecedentes criminais;

O transgressor se sente desamparado e sem esperanças;

O transgressor passou por grandes dificuldades recentemente.

Nessas situações, é preciso atuar com muito cuidado, sendo possível que o transgressor

mate algum refém para que a polícia o mate (suicídio “by police ”). 

São técnicas eficazes para a intervenção em crise com suicida:

Explore os sentimentos da pessoa continuamente;

Faça com que a pessoa expresse seus sentimentos;

Deixe que a pessoa dirija sua ira para você;

Enfoque a causa dos sentimentos suicidas;

Fale abertamente sobre a irrevogabilidade da morte;

Enfoque a situação específica por que a pessoa quer se matar;

Faça com que a pessoa descreva como será o suicídio;

Explore o que é significativo para a pessoa;

Ganhe tempo;

Ponha a ação na devida perspectiva;

Enfatize que o suicídio é apenas uma das muitas alternativas;

Expresse sua preocupação pessoal e empatia.

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Na intervenção em suicídio, a  empatia é a base inalterável pela qual se devem utilizar as

técnicas para evitar o suicídio. Assim, não emita opiniões, não analise, evite sermão, evitedar importância, evite ser moralista e evite dar conselhos.

O EMPREGO DE TÉCNICAS NÃO LETAIS - 2ª Alternativa Tática

Doutrinariamente essa alternativa tática é conhecida como Agentes não letais . Entretanto, a

experiência tem mostrado que os agentes tidos como não letais, se mal empregados, podem

gerar a letalidade ou não produzir o efeito desejado. Como exemplo, pode-se citar o cartucho

plástico calibre 12, padrão AM403, constituído de um projétil cilíndrico de borracha

(elastômero) que, se utilizado a uma distância inferior a 20 metros, pode produzir ferimentos

graves ou até mesmo letais. No entanto, se o mesmo projétil for utilizado a uma distância

muito superior a 30 metros, não produzirá as dores que se deseja produzir para alcançar a

intimidação psicológica e o efeito dissuasivo.

Conceito

Foi em 1996 que, por ocasião da 2 a  Conferência de Defesa Não Letal na cidade de Milean,

Virginia, nos EUA, o Embaixador H. Allen Holmes, secretário de defesa assistente,

apresentou um conceito daquilo que se pode compreender como sendo armas não letais,

para ele: “Armas não-letais são aquelas desenhadas explicitamente e primariamente 

empregadas para incapacitar pessoal ou material, minimizando ao mesmo tempo, ferimentos 

no pessoal e danos indesejados à propriedade e ao ambiente”. 

Assim, verificam-se algumas definições como:

Não letal é o conceito que rege toda a produção, utilização e aplicação de técnicas,

tecnologias, armas, munições e equipamentos não letais em atuações policiais.

Técnicas não letais – conjunto de métodos utilizados para resolver determinado litígio ou

realizar uma diligência policial, de modo a preservar a vida das pessoas envolvidas na

situação (...) somente utilizando a arma de fogo após esgotarem tais recursos.

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Tecnologias não letais – conjunto de conhecimentos e princípios científicos utilizados na

produção e emprego de equipamentos não letais.

Armas não letais são as projetadas e empregadas especificamente para incapacitar

pessoal ou material, minimizando mortes, ferimentos permanentes no pessoal, danos

indesejáveis à propriedade e comprometimento do meio ambiente.

Munições não letais – são as munições desenvolvidas com objetivo de causar a redução

da capacidade operativa e/ou combativa do agressor ou oponente. Podem ser empregadas

em armas convencionais ou específicas para atuações não letais.

Equipamentos não letais  – todos os artefatos  – inclusive os não classificados como

armas – desenvolvidos com finalidade de preservar vidas, durante atuação policial ou militar,

inclusive os equipamentos de proteção individual (EPI‟s). 

Algumas armas, tecnologias ou equipamentos de emprego não letal

a. Taser: é uma arma de alta voltagem e baixa amperagem. Funciona com uma bateria de

9V e descarrega um choque de 25.000 V, que causa perda de controle neuromuscular. A

pessoa afetada normalmente cai ao chão devido à inabilidade de operar as pernas. Para

garantir que as pessoas continuem subjugadas, pode-se aplicar outros choques, mas um

único choque geralmente é o suficiente. As armas de atordoamento eletrônicas oferecem

uma excelente alternativa às armas letais, espargidores de substância química e tonfas. Elas

têm aplicabilidade pela polícia, pessoal militar em operações de suporte à paz e para defesa

pessoal.

b. Luzes: um sistema que merece ser mencionado, é simplesmente o uso de luzes

brilhantes. Com as melhoras nas baterias, as luzes portadas à mão são, agora, potentes o

suficiente para ofuscar ou cegar temporariamente uma pessoa. Quando a luz atinge os

olhos, acontece o fechamento reflexo. A saturação das células da visão pode levar à perda

da habilidade de reconhecer contrastes.

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À noite, quando a pupila do olho está mais aberta, os efeitos são mais fortes. Em adição àsluzes portadas à mão, as granadas de luzes são usadas em situações que envolvem refém.

As granadas produzem uma luz química sem chama que dura por vários segundos,

temporariamente cegando o criminoso, enquanto a situação é trazida ao controle.

c. Bombas de fedor: produtos químicos malcheirosos, coloquialmente chamados de stink 

bombs (bombas de fedor), são úteis para negação de área ou para a expulsão de suspeitos.

Alguns agentes são fortes o bastante para induzirem o vômito ou engasgos. Outros, como

putrecine ou cadaverine, usam odores que são naturalmente repulsivos aos humanos.

Embora não formem uma barreira intransponível, esses odores revoltantes podem impedir

que uma área seja ocupada ou usada por um tempo indeterminado. É claro que, quando

espargido em pessoas, esses agentes farão com que elas queiram sair e se limpar.

d. Drogas como armas não letais: soporíferas ou agentes de indução ao sono, são uma

classe de agentes que são frequentemente mencionados. Barbitúricos, derivados da

benzodiazepina, difenildramina, infama cloral hidrato, são exemplos dessas drogas. A

administração de drogas e controle de dosagem é muito difícil.

e. Munições não-letais: as primeiras a serem usadas foram os bastonetes de madeira. Em

1970, os ingleses desenvolveram balas de plástico e de borracha para uso nas ruas de

Belfast, na Irlanda do Norte. Disparadas de um lançador de granadas de gás, um bastonete

longo era lançado na multidão com muita eficácia. Provou-se seguro quando disparado

contra os membros ou parte inferior do corpo.

f. Defesa pessoal: também pode ser entendida como uma modalidade dentro da alternativa

tática de emprego de armas não letais. Entende-se por defesa pessoal o conjunto de

técnicas ofensivas, defensivas, técnicas de imobilização e de condução de detidos, que

podem ser utilizadas na resolução de uma ocorrência com refém localizado, de forma isolada

ou em conjunto com uma outra alternativa tática.

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TIRO DE COMPROMETIMENTO - 3ª Alternativa Tática 

O tiro de comprometimento constitui também uma alternativa tática de fundamental

importância para resolução de crises envolvendo reféns localizados. No entanto, a aplicação

dessa alternativa tática necessita de uma avaliação minuciosa de todo o contexto, sobretudo,

do polígono formado pelo treinamento, armamento, munição e equipamento, que são os

elementos fundamentais para que o objetivo idealizado seja alcançado.

Ser um sniper  (atirador de elite) transcende a ter uma arma qualquer e uma luneta de

pontaria, para acertar um tiro na cabeça.

O Cel RR PM Nilson Giraldi, pesquisador da área, sintetizou a responsabilidade e a

expectativa gerada pelo emprego dessa alternativa tática, como segue: “O atirador de elite 

exerce grande fascínio na imprensa e no povo, que vêem nele uma figura mística, um herói 

cinematográfico, infalível, sempre pronto para derrotar o m al e restabelecer a ordem”. 

No entanto, o emprego de atiradores de elite pode se tornar um problema, como verificadoem polícias pelo mundo. Embora tais atuações pareçam simples e claras, afinal é só mirar e

atirar, sem sequer se expor, na realidade é difícil, complexa, quase impossível de ser

exercida em toda a sua plenitude e, quando existe mais de um criminoso, torna-se mais

difícil ainda. Por isso, o emprego do atirador de elite  costuma ser uma polêmica, sempre

pronto a ser contestado em crises com reféns, mesmo que não entre em ação.

Ele atua numa área cinzenta, pouco conhecida e explorada nas instruções, nos manuais enos livros especializados. Dos procedimentos previstos para a atuação da polícia numa

crise, por incrível que pareça, é o mais difícil de ser preparado e executado com sucesso,

não admitindo qualquer erro. O atirador de elite tem de ser infalível.

O sniper  policial deve ter conhecimento de balística, como a escolha de munição, seu

alcance, se a mesma é adequada para a distância, qual será o desempenho no encontro de

obstáculos (vidro, vegetação, anteparos etc.).

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Disciplina: Gerenciamento de Crise

Ao chegar a um local de ocorrência com refém, o atirador de elite e seu observador,

mediante autorização do comandante da equipe tática ao qual está subordinado, irá buscarum local apropriado para se posicionar. Em um primeiro momento, a função do sniper é a de

colher outras informações que porventura não tenham sido captadas até o momento.

As informações captadas pelo atirador de elite serão passadas ao comandante da equipe

tática e se resumem em dois aspectos principais: o primeiro consiste na coleta de

informações que possam nortear o trabalho do negociador, e o segundo é a verificação da

possibilidade de emprego da alternativa tática através do tiro de comprometimento .

O atirador de elite só atua mediante autorização. Isso deve ser entendido no que diz respeito

somente a seu posicionamento e também quando de ordens expressas que lhe autorizem o

emprego do armamento, quer preservando a vida do criminoso, quer atuando para a

eliminação total do risco.

INVASÃO TÁTICA - 4ª Alternativa tática

A invasão tática representa, em geral, a última alternativa a ser empregada em uma

ocorrência com refém localizado. Isso ocorre porque o emprego da invasão tática

aumenta sobremaneira o risco da operação, elevando, consequentemente, o risco de vida

para o refém, para o policial e para o transgressor da lei. Isso por si só colide com um dos

objetivos principais do gerenciamento de crises que é a preservação da vida.

Dessa forma, só se admite a aplicação dessa alternativa tática quando, no momento da

ocorrência, o risco em relação aos reféns se torna um risco insuportável e ainda quando,

na situação em andamento, houver uma grande possibilidade de sucesso.

Em qualquer grupo tático no mundo, a invasão tática é a alternativa mais treinada, porém,

paradoxalmente, a menos utilizada e, isso acontece pelo simples fato de, por mais

cenários que sejam criados e montados nos treinamentos, o cenário de uma crise real terá

sua própria característica mantendo assim o risco elevado.

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 O conceito de invasão tática se popularizou no meio policial por intermédio dos modelos

das SWAT‟s americanas e, posteriormente, em outros grupos similares em países daEuropa. Os modelos citados tiveram forte influência das denominadas ações de 

comandos , que tinham como objetivo, geralmente, causar destruição e baixas nos

inimigos. Deve-se observar que esse modelo, para o uso policial, não se aplica e, por isso,

as expressões tais como compromisso de matar , agir com violência e outras similares não

são pertinentes para nenhum grupo tático que tenha o propósito de agir, buscando

alcançar os objetivos da doutrina de gerenciamento de crise, que, nunca é demais

lembrar, é a preservação da vida e a aplicação da lei.

Existe um abismo de diferenças entre promover uma invasão tática para salvar os reféns

e promover uma ação tática para eliminar os transgressores da lei. O uso da força letal

não deve ultrapassar o limite do estrito cumprimento do dever legal e da legítima defesa

que, sendo excludentes de ilicitude, tornam legítima a ação policial, ainda que o resultado

seja a morte do transgressor da lei. Cada policial de um grupo de invasão tática deve ter

esses parâmetros bem solidificados.

Esquema das alternativas táticas:

ALTERNATIVAS TALTERNATIVAS TÁÁTICASTICAS

Negociação

TécnicasNão-Letais

Tiro deComprometimento

InvasãoTática

Solução daCrise  

O Gerente da Crise pode usar uma ou mais alternativas táticas, isoladamente ou conjugadaspara a resolução da crise. A decisão cabe somente a ele e vai depender do andamento decada ocorrência