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    Revista Brasileira de Geocincias, volume 36, 2006 13

    Pedro Antnio Roehe Reginato & Adelir Jos Strieder

    CARACTERIZAO ESTRUTURAL DOS AQFEROS FRATURADOS DAFORMAO SERRA GERAL NA REGIO NORDESTE DO ESTADO DO RIO

    GRANDE DO SUL

    PEDRO ANTNIO ROEHE REGINATO & ADELIR JOS STRIEDER

    1 - Universidade de Caxias do Sul (UCS) / Centro de Cincias Biolgicas e da Sade (CCBS) Departamento de Cincias Biolgicas (DCBI) Setor de Geocincias(MUCS) Rua Francisco Getlio Vargas, 1130 Caxias do Sul/RS CEP 95.070-560 Tel. (54) 32182100 e-mail: [email protected] - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Escola de Engenharia (EE) Departamento de Engenharia de Minas (DEMIN) Av. Osvaldo Aranha, 99 Sala 502B

    Porto Alegre/RS CEP 90.035-190 [email protected]

    Abstract The fractured aquifers from the Serra Geral Formation play a major role in the Northeastern region of the State ofRio Grande do Sul since they are sources of hydric resources used for public supplying, industrial and agricultural activities.Such fractured aquifers are located in the volcanic sequence of the Serra Geral Formation and are subjected to structural systems.The main identified structures in the region correspond to type 2 lineaments characterized by fractures and fracture zones. Thesestructures are due to the action of two orthogonal tension fields (east-west and north-south) which had effect on the whole region.As a result, extension structures were created (parallel and sub-parallel to the strain axes) which are usually filled up; and hybridand shear structures (slanting structures between strain and traction axes) which may or may not present filling. Data integrationshowed that there is a strong correlation between lineaments and productive tubular wells, the northeastern structures (correlationswith an outflow between 10 to 20 m3/h) and the northwestern structures (relations with outflows above 20 m3/h) being the mainones. The analysis of the orientations for each group of lineaments with productive tubular wells showed that for Northwesternstructures the main direction is N30-60W, for Northeastern it is N20-30E, for North-South it is N00-14E and for East-West it isN80-90W. In relation to the unproductive tubular wells it was observed that the higher occurrence is associated to the Northeasternstructures group, whose main orientations are N30-40E and N50-60E. The result of the structural characterization and its relationwith fractured aquifers demonstrates the need for structural analysis (lineaments identification and field surveys) when prospectingfractured aquifers.

    Keywords: fractured aquifers, lineaments, Serra Geral Formation

    Resumo Os aqferos fraturados da Formao Serra Geral tm grande importncia na regio nordeste o estado do Rio Grandedo Sul,pois se constituem em fontes de recursos hdricos utilizados para o abastecimento pblico, desenvolvimento de atividadesindustriais e agropecurias. Esses aqferos fraturados esto localizados na seqncia vulcnica da Formao Serra Geral, sendocondicionados pelo sistema estrutural. As principais estruturas identificadas na regio correspondem a lineamentos do tipo 2 ca-racterizados por fraturas e zonas de fraturas. Essas estruturas resultaram da ao de dois campos tensionais (um leste-oeste e outronorte-sul) ortogonais que atuaram em toda a regio. Como resultado foram geradas estruturas trativas (paralelas e sub-paralelas aoseixos de compresso) que em geral esto preenchidas e estruturas hbridas e de cisalhamento (oblquas entre os eixos de compres-so e trao) que podem ou no apresentar preenchimento. A integrao de dados mostrou uma forte correlao entre lineamentose poos tubulares produtivos, sendo que as estruturas nordeste (correlaes com vazes entre 10 a 20 m3/h) e noroeste (relaes com

    vazes acima de 20 m3/h

    ) so as principais. A anlise das orientaes de cada grupo de lineamentos com poos tubulares produtivosmostrou que para as estruturas noroeste a direo principal N30 60W, para as nordeste N20 30E, para as norte-sul N00 14E e para as leste-oeste N80 90W. Com relao a poos tubulares nulos, observou-se que a maior ocorrncia est relacionadaao grupo de estruturas nordeste, cujas orientaes principais so N30 40E e N50 60E. O resultado da caracterizao estrutural esua relao com aqferos fraturados demonstrou a necessidade da anlise estrutural (identificao de lineamentos e levantamentosde campo) quando da prospeco de aqferos fraturados.

    Palavras-Chave: aqferos fraturados, lineamentos, Formao Serra Geral

    INTRODUO Os aqferos da Formao Serra Geral pos-suem grande importncia, pois constituem-se em fontes derecursos hdricos utilizados no desenvolvimento de diferentesatividades. Nessa formao geolgica os aqferos existentes

    so denominados de livres ou freticos e fraturados (Reginato,2003; Reginato & Strieder, 2004). O aqfero livre est localiza-do no manto de alterao existente sobre as rochas vulcnicas e

    possui como principais condicionantes os seguintes fatores: solo(tipo e espessura), relevo, litologia (tipo e estruturao primria)e clima. As guas subterrneas desse aqfero so captadas pormeio de poos escavados (poos cacimba) ou atravs de fon-tes (bastante comuns na regio em funo da topografia). Essasguas so utilizadas para abastecimento pblico, domstico eno desenvolvimento de atividades agropecurias, nas zonas ru-rais. O aqfero fraturado est localizado nas rochas vulcnicassendo seu principal condicionante as estruturas tectnicas. Oscondicionantes secundrios consistem na estruturao primria

    da rocha, no relevo e no solo (tipo e espessura). Esse aqfero caracterizado por uma forte anisotropia, responsvel por va-zes variveis e por capacidades especficas, em geral baixas.A forma de captao das guas subterrneas ocorre por meio de

    poos tubulares.Na regio nordeste do estado do Rio Grande doSul o aqfero fraturado possui grande importncia, pois a maiorparte dos poos perfurados utilizada para abastecimento pbli-co (urbano e rural), seguido pelas indstrias (os municpios deCaxias do Sul, Bento Gonalves, Flores da Cunha e Farroupilhacorres-pondem s regies que mais utilizam esse recurso), pelosetor domstico (abastecimento de famlias rurais), pelo setoragrcola e pelo ramo de recreao. Alm disso, muitos munic-

    pios como Monte Belo do Sul, Nova Pdua, Nova Roma, Floresda Cunha e Antnio Prado so abastecidos exclusivamente porgua subterrnea (Reginato, 2003; Reginato & Strieder, 2004).

    Nessa regio a ocorrncia do aqfero fraturado est asso-ciada a estruturas tectnicas (fraturas e zonas de fraturas), sendo

    Revista Brasileira de Geocincias Pedro Antnio Roehe Reginato & Adelir Jos Strieder 36(1): 13-22, maro de 2006

    Arquivo digital disponvel on-linenositewww.sbgeo.org.br

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    Caracterizao estrutural dos aqferos fraturados da formao serra geral na regio nordeste do estado do Rio Grande do Sul

    esse o principal fator geolgico adotado nos estudos de prospec-o. Assim, em funo da importncia desses aqferos para odesenvolvimento econmico e social da regio, e com base nascaractersticas hidrogeolgicas desse sistema foi desenvolvidoeste trabalho. O objetivo principal foi o de promover a caracte-rizao estrutural dos aqferos fraturados visando auxiliar os

    processos de prospeco. A caracterizao foi realizada com

    base na anlise geomtrica, cinemtica e dinmica de estruturasgeolgicas identificadas em levantamentos de campo e por meioda anlise estrutural de lineamentos obtidos de fotografias are-as. A relao entre o padro estrutural e os aqferos fraturadosfoi determinada pela integrao de dados estruturais e hidrogeo-lgicos atravs do emprego de tcnicas de Geoprocessamento(programa SPRING).

    LOCALIZAO DA REA DE ESTUDO A rea abran-gida nesse trabalho est localizada na regio nordeste do RioGrande do Sul, compreende parte da Bacia Hidrogrfica Ta-quari-Antas e envolve a rea de onze municpios (Veranpolis,Cotipor, Bento Gonalves, Farroupilha, Caxias do Sul, Flores

    da Cunha, So Marcos, Nova Pdua, Nova Roma do Sul, MonteBelo do Sul e Antnio Prado Figura 1).

    CARACTERIZAO GEOLGICA A rea de estudositua-se na poro sul da Bacia do Paran, a qual constitui uma

    bacia intracratnica que ocupa aproximadamente 1.200.000km2 no Brasil. Essa bacia caracterizada por uma seqnciasedimentar e uma vulcnica, governadas por um forte controleestrutural (falhas N-NE, N-NO e E-O; Zalan et al., 1990). Os

    principais litotipos de interesse so rochas vulcnicas da Forma-o Serra Geral (White, 1908).

    No Rio Grande do Sul, a Formao Serra Geral ocupa umarea de 137.000 km2, que equivale a aproximadamente 50% darea do Estado (Hausman, 1995). caracterizada por uma se-

    qncia vulcnica bsica e cida, onde os principais litotiposso basaltos toleticos, andesitos, riodacitos, riolitos e dacitos(Radam/Brasil, 1986; Roisenberg, 1990). A regio de estudo foicondicionada por um forte controle tectnico marcado por fa-lhas e fraturas com direes prefernciais N70 - 75E, N35 - 40Ee N20 - 30W (Magna, 1997). Esse controle tambm observado

    pela disposio da rede de drenagem, encaixada nos principaislineamentos estruturais e que, conseqentemente, define um pa-dro caracterstico de quebras bruscas para os cursos fluviais(exemplo: Rio das Antas).

    Conforme levantamento realizado pela CPRM (1998), ocor-rem dois litotipos na rea de estudo: basaltos do tipo Gramado evulcnicas cidas do tipo Palmas/Caxias.

    Segundo Reginato (2003) a regio caracterizada por novederrames principais. Os basaltos constituem seis derrames prin-cipais, cujas estruturas primrias consistem de zonas macias,de disjuno vertical e zonas vesiculares a amigdalides inter-caladas por brechas vulcnicas. As rochas cidas so riodaci-tos, dacitos, riolitos e vidro vulcnico e formam trs derrames

    principais onde a estrutura primria marcada por zonas basais(macias), de disjuno horizontal, zonas vesiculares a amigda-lides e de brechas vulcnicas.

    CARACTERIZAO HIDROGEOLGICA Com re-lao ao Estado do Rio Grande do Sul, a rea de estudo estinserida na provncia hidrogeolgica denominada de ProvnciaBasltica (Hausman, 1995).

    Conforme Lisboa (1993, 1996) a rea est inserida na uni-dade morfotectnica denominada de Fachada Atlntica e nasunidades hidrogeolgicas denominadas de cidas Aplainadase cidas Dissecadas. A primeira unidade caracterizada porvulcnicas cidas associadas a um relevo pouco dissecado e a

    um manto de alterao de espessura mdia (5 a 10 m). Os linea-mentos so de mdio a pequeno porte com orientao preferen-cial para nordeste. Essa unidade possui um bom potencial comrelao a presena de aqferos fraturados. A segunda unidadeapresenta relevo com grau de dissecao forte, solos com pe-quena espessura (inferiores a 5 m) e lineamentos de pequenoa mdio porte, o que a torna uma rea com baixo potencial de

    ocorrncia de aqferos fraturados.O aqfero fraturado na regio captado por 690 poos tubu-

    lares, sendo seus principais usos no abastecimento pblico ur-bano e rural (68%), na indstria (25%), no desenvolvimento deatividades agrcolas (5%) e nas atividades recreativas (2%).

    O aqfero fraturado possui caractersticas hidrodinmicasque refletem sua forte anisotropia (Tabela 1). Os valores apre-sentados so mdias gerais, sendo que para cada uma das re-gies h variaes nos parmetros identificados (profundidade,entradas de gua, nvel esttico, transmissividade, capacidadeespecfica e vazes).

    Com relao s caractersticas hidroqumicas, observou-seque as guas do aqfero fraturado esto distribudas em trs

    campos principais: guas bicarbonatadas clcicas ou magnesia-nas (80,1%), guas bicarbonatadas sdicas (18,4%) e guas sul-fatadas clcicas ou magnesianas (1,4%). Alm disso, as guasapresentam boa qualidade para atividades industriais, agrcolas,recreativas ou abastecimento pblico. No entanto, um problematpico da regio a ocorrncia de Fe e Mn em padres acima do

    permitido, sendo sua origem relacionada com os processos dealterao das rochas vulcnicas. (Reginato, 2003 e Reginato &Strieder, 2004).

    CARACTERIZAO ESTRUTURAL As estruturas tec-tnicas na rea de estudo so representadas por fraturas e zonasde fraturas que constituem conjuntos de lineamentos do tipo 2(Strieder & Amaro, 1997), associados rede de drenagem e s

    estruturas morfolgicas da regio. A caracterizao dessas es-truturas foi realizada com base na anlise de dados de campo eda interpretao de lineamentos extrados de fotografias areas.

    Anlise Estrutural dos Dados de Campo A caracterizaodessas zonas em campo, foi realizada com base no estudo geo-mtrico e cinemtico de estruturas (fraturas, zonas de fraturas,veios e diques) existentes em afloramentos (pedreiras e cortesde estrada, principalmente) ao longo de quatro perfis principais(Figura 2 e Tabela 2).

    As principais estruturas existentes na rea de estudo esto re-presentadas por fraturas, zonas de fraturas, veios e diques. Salvoalgumas excees, os planos e as zonas de fraturas so verticais

    a sub-verticais e, quando preenchidos, apresentam mineraliza-es de zeolitas e slica (quartzo microcristalino e calcednia).Fraturas com preenchimento de zeolitas so mais comuns na se-qncia de basaltos, enquanto os planos preenchidos por quart-zo so mais comuns na seqncia de riodacitos e riolitos.

    As fraturas apresentam orientao geral NE, sendo que adireo principal, identificada em todos os perfis marcada pe-los rumos N70 80E e N80 90E. As direes secundrias soidentificadas em alguns perfis, como a orientao N20 30W nosetor So Marcos (PCXSM) e N80 90W no setor Veranpolis(PBGV). Considerando as direes principais e secundrias des-ses setores, pode-se identificar um padro ortogonal de fraturas.

    As fraturas com preenchimento possuem orientaes diver-sas, preferencialmente N70 80E, N00 10E, N10 20W, N60

    90W. Alm disso, h uma tendncia para que os planos compreenchimento de zeolitas tenham uma orientao preferencialprxima a N S, enquanto que os planos preenchidos por slicateriam direes preferenciais para NE.

    As zonas de fraturas apresentam orientaes preferenciais

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    Figura 1 Localizao da rea de estudo e relao com a bacia hidrogrfica Taquari-Antas

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    Caracterizao estrutural dos aqferos fraturados da formao serra geral na regio nordeste do estado do Rio Grande do Sul

    Tabela 1 Caractersticas hidrodinmicas do aqfero fraturado obtidas atravs da anlise de dados hidrogeolgicos de 238 poostubulares.

    N70 90E, N00 10E e N70 90W. Essa geometria se-melhante quela apresentada pelos planos de fraturas e pelosplanos com preenchimento, o que evidencia a presena de umsistema aproximadamente ortogonal.

    Os veios so caracterizados por planos que formam con-jugados e ramificaes. A orientao preferencial para N20 60W, que pode estar associada a planos de cisalhamento. Poroutro lado, h uma orientao secundria, prxima a Norte-Sul,que corresponde a planos considerados como alimentadores degeodos.

    Os diques correspondem a estruturas de dimenses variadas,sendo centimtricos (1 a 3 cm), preenchidos por arenitos nasdirees N20 30E e, decimtricos (20 a 30 cm), preenchidos

    por diabsios, nas direes N50 - 60E.

    A anlise geomtrica revelou um padro aproximadamenteortogonal com estruturas de orientao prxima a Norte-Sul eLeste-Oeste. As estruturas com orientaes diferentes desse pa-dro, provavelmente correspondem a planos de cisalhamento,onde se alojaram os veios e diques.

    A anlise cinemtica foi realizada a partir de fraturas quecontinham indicadores de movimento (estrias). A identificaodos campos paleotensionais foi realizada pelo mtodo dos Die-dros Retngulos de Angelier & Mechler (1977), que reveloudois campos tensionais principais (Tabela 3, Figura 3 e 4). O

    primeiro campo tensional est registrado em quatro conjuntosde afloramentos e se caracteriza por um campo horizontal 1 deorientao 082 e campo horizontal 3 de orientao 352. Para

    esse campo tensional, as estruturas paralelas e sub-paralelas aao campo 1 (262) so denominadas de fraturas trativas (T),enquanto as estruturas oblquas a essa direo seriam fraturashbridas e de cisalhamento, dependendo do ngulo diedro comas fraturas T. As fraturas trativas, em geral, apresentam preen-chimento, enquanto as oblquas podem estar preenchidas ouno. O preenchimento das fraturas depende de dois fatores: i)existncia de espao de dilatncia e ii) circulao de fluidos comcarga inica, condies cumpridas para as fratura T. No casodas fraturas oblquas, a existncia de dilatncia depende da for-mao de ramificaes transtrativas. Esse parece ter sido o caso,

    pois boa parte das fraturas oblquas com orientao NE corres-pondem a planos onde esto alojados os veios e diques.

    O segundo campo tensional foi caracterizado a partir dos da-

    dos do conjunto denominado de Pedreira Codeca 1, onde foidefinido campo 1 horizontal 174 e campo 3 horizontal 264.

    Nesse campo, as fraturas trativas so as estruturas paralelas esub-paralelas ao campo 1 e esto comumente preenchidas. Asestruturas oblquas entre os eixos campo 1 e campo 3, corres-

    pondem a fraturas hbridas e de cisalhamento. Em parte dessasestruturas, h o alojamento de veios.Os dois campos tensionais so ortogonais, o que corrobora

    os dados obtidos com a anlise geomtrica. Esse padro ortogo-nal de esforo tambm foi identificado por Heeman & Strieder(1999) para a Formao Serra Geral na regio de Salto do Jacu(RS).

    Anlise Estrutural dos Lineamentos A extrao dos linea-mentos foi realizada com base na interpretao de fotografiasareas na escala 1:60.000 (Reginato & Strieder, 2001). Para aregio nordeste foram identificados 4154 estruturas do tipo 2,separadas em quatro grupos principais: N S, NE, L W e NW(Figura 5) e tratadas atravs de tcnicas de estatstica vetorial

    (Tabela 4).Os comprimentos mdios dos vetores nos quatro grupos so

    prximos e variam entre 855 a 892 metros. Somente o grupo doslineamentos leste-oeste apresenta um comprimento um poucosuperior, na faixa dos 930 metros. Os azimutes mdios de cadagrupo esto associados s orientaes preferenciais e secund-rias identificadas em campo. Por outro lado, ao analisar as dife-rentes regies correspondentes aos perfis geolgicos, observa-se variaes mais significativas com relao aos comprimentosmdios dos vetores e menores nos azimutes mdios.

    O SISTEMA ESTRUTURAL E OS AQFEROS FRATU-RADOS A determinao da relao entre o sistema estrutural

    e os aqferos fraturados foi realizada com base em tcnicas deintegrao de dados utilizando o programa SPRING (Reginato,2003; Reginato & Strieder, 1999). As tcnicas utilizadas corres-

    ponderam a rotinas de processamento denominadas de: medidade classes, tabulao cruzada e a ferramenta de anlise e suportea deciso (Processo Analtico Hierrquico AHP).

    Para a integrao de dados foram gerados planos de infor-maes, sendo quatro correspondentes a cada um dos gruposde lineamentos identificados na etapa de anlise estrutural (PIsdenominados de fraturas) e um referente ao cadastro de poostubulares (total de 407 poos que formavam o PI cadastro).Alm disso, foi gerado um plano de informao referente aocruzamento de lineamentos (PI cruzamento).

    Na integrao tabulao cruzada entre os PIs fratura e ca-

    dastro, observou-se uma associao de poos tubulares pratica-mente igual para os grupos de lineamentos nordeste e noroeste.Para o intervalo de vazes entre 10 e 20 m3/h, h uma associaoum pouco maior de poos tubulares com o grupo de lineamentosnordeste. Por outro lado, observa-se que a ocorrncia de vazes

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    Figura 2 Localizao dos perfis geolgicos realizados com o levantamento estrutural de campo

    Figura 3 - Histograma de freqncia das medidas utilizadas e

    resultado da anlise cinemtica do campo tensional resultante 1

    Figura 4 - Histograma de freqncia das medidas utilizadas eresultado da anlise cinemtica do campo tensional resultante 2.

    acima de 20 m3/h possui uma relao maior com lineamentosnoroeste. A anlise dos lineamentos do grupo leste-oeste e nor-

    te-sul mostra uma ocorrncia menor de poos tubulares nessasestruturas. No entanto, quando so comparados diferentes inter-valos de vazes, torna-se evidente uma maior correlao com oslineamentos norte-sul do que com os leste-oeste.

    Na tabulao cruzada entre os PIs cruzamento e cadastro,observou-se que h uma coincidncia pequena de poos tu-

    bulares com a interseco de lineamentos (8,1%). Isso indicano ser esse o principal fator a ser seguido na hora da locao de

    poos tubulares profundos. No entanto, pode-se evidenciar umaassociao entre poos tubulares com vazes entre 0 e 5 m3/heacima de 10 m3/hcom os cruzamentos de fraturas. Da mesmaforma, identificou-se uma correlao entre poos tubulares nu-los e o cruzamento de lineamentos.

    Como ficou evidenciada a existncia de comportamentos di-ferenciados dos lineamentos que compem os quatro grupos deestruturas, foi realizada uma anlise entre a localizao de cadaum dos poos tubulares (produtivos e nulos) e as orientaesdas estruturas, por meio de interpretao visual e tcnicas detabulao cruzada (Tabela 5). Pode-se ressaltar que:

    os lineamentos noroeste (grupo 3) os rumos N30 40W,N50 60W e N60 70W esto associados a poos tubularesque apresentam vazes acima de 20 m3/h;

    os lineamentos nordeste (grupo 2) as orientaes N20 30E e N40 50E possuem maior correlao com poos tubu-lares que tm vazes maiores que 20 m3/h;

    os lineamentos norte-sul (grupo1) as direes N10 14Eapresentam maior relao com poos tubulares que possuemvazes acima de 20 m3/h; os lineamentos leste-oeste (grupo 4)o rumo N80 90W possui maior ocorrncia de poos tubulares

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    Caracterizao estrutural dos aqferos fraturados da formao serra geral na regio nordeste do estado do Rio Grande do Sul

    Tabela 2 Resumo da anlise geomtrica das estruturas identificadas nos perfis.

    com vazes acima de 20 m3/h.A observao da correlao entreos poos tubulares nulos com a orientao dos lineamentos quepertencem aos diferentes grupos mostra o seguinte: 20,54% dospoos tubulares nulos no possuem relao com nenhum tipo deestrutura; 36,99% dos poos tubulares nulos apresentam rela-

    o com os lineamentos do grupo 2 (nordeste), com orientaesprincipais em N30 - 40E e N50 - 60E; 17,81% dos poos tubu-lares nulos esto associados a lineamentos noroeste (grupo 3),com orientao principal N40 - 50W; 13,7% dos poos tubu-lares nulos esto associados a estruturas do grupo 1 (norte-sul),

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    Tabela 3 - Orientao dos campos tensionais identificados na anlise cinemtica e relao dos dois campos resultantes.

    Figura 5 - Histogragrama de freqncia circular com os 4154lineamentos obtidos na fotointerpretao.

    com rumo principal N00 - 10E; 10,96% dos poos tubularesnulos possuem relao com estruturas do grupo 4 (leste-oeste),com principal orientao marcada pelo rumo N75 80W.

    CONCLUSES Os aqferos fraturados possuem grandeimportncia na regio nordeste do estado do Rio Grande do Sul,visto que correspondem a fontes de recursos hdricos utilizados

    para o desenvolvimento de diversas atividades (abastecimento,indstria, agropecuria, entre outros usos).

    Esses aqferos esto localizados na seqncia de rochasvulcnicas (cidas e bsicas) da Formao Serra Geral sendocondicionados pelo sistema estrutural existente na regio. NaFormao Serra Geral o arcabouo estrutural caracterizado

    por lineamentos do tipo 2, representadas principalmente porfraturas e zonas de fraturas e pela atuao de dois campos ten-sionais (padro ortogonal com orientao prxima a Norte-Sule Leste-Oeste). O resultado foi a formao de fraturas trativas,

    paralelas e sub-paralelas ao eixo de tenso principal do campo

    1 que, em geral apresentam preenchimento, e fraturas hbridase de cisalhamento (oblquas entre os eixos de compresso e tra-o) que, podem ou no estar preenchidas.Com a integrao dedados pode-se determinar a relao existente entre o sistemaestrutural e os aqferos fraturados. Observou-se uma forte cor-relao entre os lineamentos e a ocorrncia de poos tubulares

    produtivos, sendo que as estruturas nordeste e noroeste corres-pondem s principais. O intervalo de vazo 10 a 20 m3/hpossui

    maior associao com os lineamentos de orientao nordeste,enquanto que vazes acima de 20 m3/hpossuem maior relaocom lineamentos de orientao noroeste. Por outro lado, foiidentificada uma correlao entre poos tubulares nulos e os di-ferentes grupos de estruturas, principalmente o grupo nordeste.Isso evidencia que as estruturas que constituem os diferentesgrupos apresentam comportamentos diferenciados com relaoa ocorrncia de gua subterrnea.A anlise das orientaes decada grupo de lineamentos e a sua correlao com poos tubu-lares produtivos mostra que, para os lineamentos noroeste, asorientaes N30 60W so as principais. Para as estruturas nor-deste as orientaes N20 30E, N40 50E e N70 80E so asque possuem maior associao a aqferos fraturados. No caso

    dos lineamentos norte-sul e leste-oeste as direes N00 14E eN80 90W apresentam maior ocorrncia de poos produtivos.Por outro lado, foi identificada uma associao entre poos nu-los com diferentes grupos de lineamentos. Nesse caso a maiorocorrncia est associada s estruturas nordeste, sendo que osrumos N30 40E e N50 60E so os principais. Para outrosgrupos de estruturas, foi observada uma menor correlao sen-do que para os lineamentos noroeste a orientao principal de

    N40 50W, para os norte-sul N00-10E e para os leste-oeste N75 80W.

    A anlise do sistema estrutural e sua relao com os aq-feros fraturados da Formao Serra Geral permite determinarque o principal condicionante corresponde ao sistema estrutural.Sendo assim, nos processos de prospeco de gua subterrnea,

    nessas regies, devem ser realizados estudos visando a carac-terizao estrutural da rea, envolvendo tanto interpretao delineamentos quanto levantamentos estruturais de campo paraque as chances de ocorrncia de poos produtivos sejam au-mentadas.

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    Caracterizao estrutural dos aqferos fraturados da formao serra geral na regio nordeste do estado do Rio Grande do Sul

    Tabela 4 Distribuio dos lineamentos identificados na interpretao de fotografias areas e sua distribuio nos quatro gru-pos.

    Tabela 5 Correlao entre poos tubulares produtivos (diferentes vazes) e as orientaes dos diferentes grupos de lineamentos.

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