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– 93 1. A GEOGRAFIA DA GRÉCIA A Grécia é um país da Europa lo- calizado ao sul da Península Balcâni- ca. O território grego é cortado ao meio pelo Estreito de Corinto, que se- para a Grécia Continental, ao norte, da Península do Peloponeso, ao sul. As duas regiões são bastante monta- nhosas, sendo a vida na Grécia de- terminada por duas regiões distintas: a montanha e a orla marítima. As montanhas dificultavam as comunicações entre as planícies e os pequenos vales férteis, fragmentan- do o território em numerosas comuni- dades, completamente indepen- dentes entre si. Além disso, a exis- tência de um litoral bastante recor- tado e as numerosas ilhas do Mar Egeu, bastante próximas entre si, orientaram a vocação marítima dos gregos, facilitando o contato com os povos do mundo exterior. O clima da Grécia é muito seco, com chuvas raras, tendo poucas áreas férteis. Desta forma, a pecuária teve um papel importante na economia. A agricultura era pra- ticada nos vales e nas encostas das montanhas, representada pelo cultivo do trigo, cevada e, principalmente, de vinhas e oliveiras. 2. A CIDADE-ESTADO GREGA A história da Grécia Antiga caracteriza-se pela presença da cidade-Estado (pólis). Havia ao todo cerca de 160 cidades- Estado na Grécia, todas elas soberanas, com destaque para Atenas e Esparta. A indepen- dência dessas cidades resultou de vários fatores: o relevo mon- tanhoso, que dificultava as com- unicações terrestres; o litoral re- cortado e as numerosas ilhas exis- tentes no Mar Egeu, que estimula- vam a navegação; a ausência de uma base econômica interna sólida, que poderia aglutinar os gregos em um Estado- nação. Contudo, os gregos passaram por um processo de disper- são que os levou a fundar numerosas colô- nias no litoral do Medi- terrâneo e do Mar Ne- gro. Essas colônias vieram a tornar-se outras tantas cidades- Estado, de forma que não se estabeleceu uma unidade política entre elas. Entretanto, como havia unidade cultural (identidade de língua, etnia, religião e costu- mes), podemos falar em um Mundo Grego, mas não em um Império Grego. 3. O PERÍODO HOMÉRICO (SÉCS. XII a.C. A VIII a.C.) Trata-se de um período conheci- do principalmente por causa de dois poemas atribuídos a Homero: a llía- da, que trata da guerra e destruição de Troia, e a Odisseia, sobre as via- gens de Ulisses. Nessa época, os gregos viviam em pequenas comunidades agríco- las autossuficientes — os genos —, cujos membros eram aparentados entre si e obedeciam à autoridade de um pater familias. A propriedade da terra era coletiva. O sistema gentílico desintegrou-se quando o crescimen- to demográfico tornou insuficiente a produção dos genos. Os parentes mais próximos do pater familias (os eupátridas) apropriaram-se das ter- ras, transformando-as em proprieda- de privada; quanto aos parentes mais afastados, estes se transforma- ram em camponeses sem terra ou então emigraram. Separando-se dos camponeses, os eupátridas passa- A chegada dos dórios à Península Balcânica (A) provocou a primeira diáspora (B) grega. MACEDÔNIA ÉPIRO TESSÁLIA HÉLADE PELOPONESO ÁTICA Córcira Esparta Corinto Leuctras Atenas 0 200 Km As principais cidades-Estado da Grécia Antiga, destacando-se Esparta, na Península do Pelopo- neso, e Atenas, localizada na Península da Ática. FRENTE 1 História Integrada MÓDULO 1 Das Diásporas Gregas a Esparta

1.1. HISTÓRIA - TEORIA - LIVRO 1 (1)

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Teoria: Antiguidade

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    1. A GEOGRAFIA DA GRCIA

    A Grcia um pas da Europa lo -calizado ao sul da Penn su la Bal c ni -ca. O territrio grego cortado aomeio pelo Estreito de Corinto, que se - pa ra a Grcia Continental, ao norte,da Pe nn su la do Peloponeso, ao sul.As duas regies so bas tante mon ta -nho sas, sendo a vida na Grcia de -ter minada por duas regies dis tintas:a montanha e a orla ma r ti ma.

    As montanhas dificultavam asco mu ni ca es entre as plancies e ospequenos vales fr teis, frag men tan -do o ter ritrio em numerosas co mu ni -dades, comple ta mente inde pen -dentes en tre si. Alm disso, a exis -tncia de um litoral bas tante re cor -tado e as numerosas ilhas do MarEgeu, bastante prximas entre si,orien ta ram a vocao martima dosgregos, facilitando o contato com ospovos do mundo exterior.

    O clima da Grcia muito seco,com chu vas raras, tendo poucasreas frteis. Desta for ma, a pecuria

    te ve um papel importante naeco nomia. A agricultura era pra -ticada nos vales e nas encostasdas mon ta nhas, representadapelo cultivo do tri go, cevada e,prin cipal men te, de vi nhas eoliveiras.

    2. A CIDADE-ESTADOGREGA

    A histria da Grcia Antigaca rac teriza-se pela presena daci da de- Estado (plis). Havia aotodo cer ca de 160 cidades-Estado na Grcia, to das elassoberanas, com destaque paraAtenas e Esparta. A in de pen -dn cia dessas cidades re sul toude vrios fatores: o relevo mon - tanhoso, que dificultava as co m - u nicaes ter res tres; o litoral re -cor tado e as nu me ro sas ilhas exis -ten tes no Mar E geu, que es ti mu la -vam a nave ga o; a ausncia deuma base econ mi ca interna s li da,

    que poderia aglutinar osgregos em um Estado-nao. Con tu do, osgregos pas saram porum pro cesso de dis per -so que os le vou afundar nu me rosas col -nias no li toral do Me di -ter rneo e do Mar Ne -gro. Essas co l niasvieram a tor nar-seoutras tantas ci da des-Esta do, de for ma queno se esta be le ceu umaunida de po ltica entreelas. En tre tan to, comohavia uni da de cultural(identi dade de lngua,etnia, religio e costu -mes), podemos falar emum Mun do Grego, masno em um Im p rioGrego.

    3. O PERODO HOMRICO(SCS. XII a.C. A VIII a.C.)

    Trata-se de um perodo co nhe ci -do principal men te por causa de doispoe mas atribudos a Homero: a lla -da, que trata da guerra e destruiode Troia, e a Odisseia, sobre as via -gens de Ulisses.

    Nessa poca, os gregos viviamem pequenas comunidades agr co -las autos suficientes os genos ,cu jos membros eram aparentadosen tre si e obedeciam autoridade deum pater familias. A propriedade daterra era co letiva. O sis tema gen t li codesin te grou-se quan do o cres ci men - to demo gr fico tornou in su fi cien te apro duo dos genos. Os pa ren tesmais prximos do pater fa mi lias (oseuptridas) apro pria ram-se das ter -ras, trans for man do-as em pro prie da -de privada; quan to aos pa ren tesmais afastados, es tes se trans for ma -ram em cam poneses sem terra ouen to emi graram. Se pa ran do-se doscam po ne ses, os eu p tri das pas sa -

    A chegada dos d rios Pennsula Bal cnica (A) provocou a pri mei ra dispora (B) grega.

    MACEDNIA

    PIROTESSLIA

    HLADE

    PELOPONESO

    TICA

    Crcira

    Esparta

    Corinto

    Leuctras

    Atenas

    0 200 Km

    As principais cidades-Estado da Grcia An ti ga,des tacando-se Esparta, na Pennsula do Pe lopo - neso, e Atenas, localizada na Pennsula da ti ca.

    FRENTE 1 Histria Integrada

    MDULO 1 Das Disporas Gregas a Esparta

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    ram a mo rar em locais for tificados que,com o correr do tem po e o desenvol -vimento do comrcio, de ram origems plis (plural de plis).

    4. O MILITARISMO DEESPARTA

    Esparta localizava-se na regioda Lacnia, que ocupava a parte su -des te da Pennsula do Pelopo ne so,ao ex tre mo sul da Gr cia, sendo umadas pri mei ras cidades-Estado a sur -gir na Gr cia. Foi fundada pelos d -rios, por vol ta do sculo lX a.C., apsa submisso dos aqueus.

    EconomiaDurante o Perodo Homrico, os

    drios vivenciaram o sistema gen tli -co, como as demais regies da Gr -cia. Nesse perodo, as terras que ha -viam sido conquistadas aos aqueusforam distribudas entre os guer rei -ros, que as trabalhavam co le ti va men -te, sob um regime patriarcal.

    No sculo Vll a.C., em ra zo daescassez de terras e do cres ci mentoda populao dria, teve in cio aexpanso vitoriosa sobre a PlancieMessnia; os messnios fo ramreduzidos condio de es cra vos.Esse fato promoveu pro fun dasalteraes na estrutura eco n mi ca efundiria de Esparta. As pro prie da -des coletivas desapareceram, ce -den do lugar a uma vasta pro prie da -de estatal, denominada de terra c vi -ca as terras centrais e mais frteisda plancie. Essas terras foram di vi di -das em cerca de 8.000 lotes, queforam distribudos aos guerreirosdrios, detentores da posse til dater ra c vi ca. Recebiam tambm cer cade seis escravos para realizar os tra - ba lhos. As terras perifricas foram di - vi di das entre os aqueus, que de ti -nham a propriedade privada sobre aterra, podendo vend-la ou dividi-la.

    SociedadeA conquista da Plancie Mes snia

    promoveu uma reestruturao socialem Esparta. Basicamente, aps acon quis ta da Plancie, a socie dadeera composta de espar tatas (ci da -dos e guerreiros de origem dria,que cons tituam a camada social su -

    pe rior e recebiam educaomi li tar), perie cos (aqueus,habitantes da pe ri fe ria, que,apesar de serem homens li -vres, no eram consideradosci da dos) e hilo tas (escravos).A so cie da de era es ta men tal,rigida mente hie rar quiza da esem mobilidade social.

    PolticaAt o sculo Vll a.C., a

    legislao de Esparta Gran deRetra es ta be lecia que ogoverno deveria ser exer cidopor dois reis (diarquia), por umcon selho e por uma as sem -bleia. A su cesso ao trono erahe re di t ria e duas famliasdividiam o po der: os gi das eos Euripntidas. O Con se lho,denomi nado Gersia, eraformado pelos homens idosos e ti nhaum carter ape nas consul tivo. A As -sembleia, pe la, era o rgo mais im -portante, e os ci da dos tomavam asdeci ses finais so bre todos os as sun -tos.

    A Constituio e a organizaopo ltica eram praticamente imutveis,pois eram atribudas lendria figurade Licurgo, personagem histrica que,por ter um carter divino, im pri mia es sadi vi ni zao s normas por ele cria das.

    Com o processo de con quis ta daPla n cie Messnia concludo no s -culo VII a.C., as transformaes po l -ti cas fo ram proporcionais s mu dan -as so cioeconmicas. O governopas sou por uma transformao con -ser vadora e mais uma vez essas alte -ra es foram atribudas a Licurgo.Es parta adotou a oligarquia comofor ma de governo. A antiga Gersiapas sou a monopolizar o po der e,nes se mo mento, compunha-se de28 ge ron tes (cidados com mais de60 anos), com poderes vitalcios. OPo der Exe cu tivo passou a ser exer ci -do pe los foros, cinco magis tradoses co lhidos pelos gerontes, com oman da to de um ano. A antiga pelaapro vava as leis apenas por aclama -o, corres pon dendo, nesse contex -to, a um r go formal de decisespo lticas, de ca rter meramente con -sul ti vo. A diar quia continuou a existir,mas os seus poderes polticos foram

    es vaziados, restando-lhe o exercciodo poder sa cerdotal e as atribuiesmilitares. O ca rter conservador deEsparta resultou da preocupao dami noria espartata em manter a maio -ria hilota subordinada. Da o mi li ta -rismo do esta mento dominante, axenofobia (aver so ao estrangeiro) eo laconismo (for ma sinttica de ex -pres so), que sufo cavam o sur gi -men to de ideias e restringiam oesprito crtico.

    5. CRONOLOGIA

    2.000 a.C. Os aqueus comeam

    a chegar Grcia.

    1700 a.C. Comeam a chegar

    os elios e jnios.

    1400 a.C. Destruio da cidade

    cretense de Cnossos pelos aqueus.

    1200 a.C. Invaso da Grcia

    pelos drios.

    Sculo IX a.C Fundao de Es -

    parta.

    809 a.C. (?) Possvel data da

    elaborao da Grande Retra.

    Sculo VIII a.C. P r i m e i r a

    Guer ra da Messnia.

    Sculo VIl a.C. Segunda Guer ra

    da Messnia.

    Organograma poltico e social de Espar ta, que con -cedia todos os pri vi lgios para a mi no ria espartata.

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    1. ECONOMIA

    Atenas localizava-se na tica pe nn su la pouco frtil , o que res -trin gia a prtica da agricultura nosva les e en cos tas mais favo rveis. Apro xi mi da de entre a ci da de e o Por tode Pireu impul sionou o co mr ciomartimo e, con se quen te men te, in -cen tivou a in ds tria de ce rmica e aagri cul tura de ex por ta o (vinho eazei te). Gra as a es ses fatores, aeco nomia ate nien se es ta beleceuuma relao din mi ca com o mer -cado exter no, e a cidade tor nou -se ocentro mercantil do Mar Egeu. Mui toselementos das ca ma das pobres dapopu la o par ti ci pa ram da Dis poraGrega, fixan do-se em colnias. Aconse quen te es cas sez de mo deobra, tanto para a la vou ra como paraa indstria da ce r mica e da cons -truo naval, fez que Atenas e outrascidades im por tas sem es cra vos. Des -sa forma, a Gr cia veio a tor nar-se aprimeira ci vi li za o da An ti gui dadeque ins ti tu cio na lizou o es cra vismo,fazendo de le seu modo de produo.A es cra vi do foi defen dida pelofilsofo Aris t teles.

    Para ele, a propriedade umaparte da casa e a arte aqui sitiva, umaparte da administrao do ms tica, jque sem as coisas necessrias so

    im pos sveis a vida e o bem-estar; naad mi nis trao domstica assim comonas artes de ter mi nadas, neces s -rio dispor dos instrumentos adequa -dos se se deseja levar a cabo suaobra. Os instrumentos podem serani ma dos ou ina ni ma dos por exem -plo: o ti mo do piloto ina ni ma do; ovigia, ani mado (pois o su bor di na dofaz as ve zes de instrumento nasartes). As sim, tam bm os bens quese possui so um instru men to para avida, a propriedade em geral, umamul tido de instrumentos; o escravo,um bem ani ma do, algo assim comoum ins tru mento pr vio aos outros

    instru men tos. Se todos os ins tru -mentos pu des sem cumprir seu deverobe de cen do s ordens de outro ouanteci pan do-se a elas, como contamdas esttuas de D dalo ou dostridentes de He fes to, do que diz opoeta que en travam por si s na as -sem bleia dos deu ses, se as lana -deiras tecessem ss e os plec tros to -cassem sozinhos a ctara, os maes -tros no necessitariam de ajuda, nemde es cravos ou amos.

    O que chamado habitualmentede ins tru mento, o de produo, en -quanto os bens so instrumentos deao; a lanadeira produz algo parte

    de seu funcionamento en -quan to a roupa ou o leitoproduzem ape nas seu uso.Alm disso, como a pro du -o e a ao diferem es sen -cial mente e ambas neces -sitam de ins tru men tos, estesapresentam ne ces sa ria men -te as mesmas dife ren as. Avi da ao, no pro du o, epor isso o escravo umsubor dinado para a ao.

    Do termo propriedade,pode-se falar no mesmosentido que se fala de parte:a parte no somente partede outra coisa, seno queper tence to tal mente a esta,assim como a pro prie da de.Por isso, o amo no do es -cra vo outra coisa que amo,como lhe pertence por

    As lutas pela hegemonia sobre a Grcia Antiga destruram a essncia do Mundo Helnico: as cidades-Estado. Exaustas, elas no puderam resistir expanso dos habitantes do Norte, ironicamente con si de ra dos inferiores pelos gregos: tratava-se dos macednios, que iriam construir um dos maiores imprios da An tiguidade.

    Runas da Eclsia, em Atenas.

    MDULO 2 Atenas e Perodo Clssico

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    comple to. Disso se deduz clara men -te qual a nature za e a funo doescravo: aque le que, por natu reza,no per ten ce a si mesmo, seno aoutro, sen do homem, esse natu -ralmente escravo; coi sa de outroaquele homem que, a despeito dasua con dio de homem, uma pro -prie dade e uma propriedade sendo,de outra, ape nas ins tru mento deao, bem distinta do pro prietrio.

    2. SOCIEDADE

    Inicialmente, a sociedade ate -nien se (como, alis, as demais so -cie da des gregas) dividia-se em eu -p tri das (aristocratas proprietriosdas me lhores terras), demiurgos (ar -te sos e comerciantes), georgis(pe que nos proprietrios rurais) ethetas (cam poneses sem terra e tra -ba lha do res marginalizados).

    Imaginemos um campons gre -go. Como os hu mil des de todas aspocas, levantava-se cedo, antes doromper da aurora. Na penum bra damanh, procurava as estrelas... Sau -dava o sol nascente, atirando-lhe umbeijo, co mo sau da va a primeira an -do rinha ou o primeiro mi lha no... Maisdo que o sol, de se java a chuva e, porvezes, a frescura. Con templa va omais alto cu me das ime diaes, porvezes coroado de nu vens, porque lem cima, no topo da montanha,residia Zeus, o deus que juntava asnuvens, lanava o raio, concedia achuva. Era um grande deus... Oribombar do tro vo era o si nal do seupoder e da sua pre sena, por vezes,da sua clera.

    A prpria linguagem oferece tes -te munho da fora das crenas destepo vo. Os gregos no diziam choveou troveja, mas Zeus cho ve,Zeus tro veja.

    Mais tarde, com a expanso dasati vi dades martimas, os merca do restor naram-se uma clas se bastanteprs pera e rival dos eu p tridas.

    3. POLTICA

    A organizao primitiva de Atenas Com o processo de colonizao

    provocado pela primeira dispora,Ate nas transformou-se em um gran -de cen tro comercial. As novas clas -

    ses sur gidas passaram a pressionaros aris tocratas e a fazer oposio aore gi me oligrquico. Nesse perodo,for ma ram-se os partidos polticos eteve incio uma crise em Atenas. Opar ti do popular reivindicava refor -mas: exigia leis escritas, o fim da es -cra vido por dvidas e o direito de par -ticipar da vida poltica. Veri fi ca ram-se,en to, mudanas sociais pro fun das.

    Os euptridas, que constituam aca ma da social dominante, eram osgrandes proprie trios de terras nasplancies, nas quais trabalhavam osescravos, rendeiros e assalariados.Os pequenos agricultores eram de -no minados georgis. Suas pro prie -da des eram pouco frteis e, com ain tensificao do comrcio, no ti ve -ram condies de competir com asim portaes. Muitos, ao pedir em -prs timos aos euptridas, perderama terra que fora dada como forma depa gamento, transformando-se emren deiros; outros colocaram seu pr -prio corpo como garantia da dvida,re duzindo-se con dio de es cra -vos. Os thetas com punham a ca ma - da de mar gi na li za dos so ciais. Os ar t -fices e artesos eram de no mi na dosde miur gos e cons ti tuam uma ca ma dade homens li vres que co lo ca vam seutrabalho a ser vio da co mu nidade.

    Origi na riamente, o po der polticoem Ate nas assen ta va-se sobre umamo nar quia he re di t ria. O governo eraexer cido pelo Ba si leu, que con cen -

    tra va os poderes po l ti co, militar e re -li gioso. O seu po der era li mi tado porum conselho de an cios, o Are pa -go. Gra da tivamente, o Ba si leu foi per - den do seus poderes para a aris to -cracia, que imps a oli garquia co moregime de governo. O governo oli gr -quico era exercido pelo Ar con ta docom apoio do Are pa go. O an ti go reiteve seu poder e fun o re du zi dos starefas sa cer do tais, tor nan do-se maisum entre os ar contes. Os arcon tes membros do Ar contado eramescolhidos ini cialmente para umperodo de dez anos; pos te rior men -te, o po der foi re du zido ape nas paraum ano. Alm do rei, havia o ar con tePolemarco, en car regado do co man dodo Exrcito; o ar conte Ep ni mo,encar regado dos assuntos in ter nos;os arcontes Tes mo tetas, que, em n -me ro de seis, cui davam da legis la o.

    Os legisladoresEm meio a uma violenta crise,

    mar cada pela fora das camadaspo pu lares, a oligarquia recuou e foiobri ga da a fazer concesses. Sur gi -ram, as sim, os legisladores, com a fi -na li dade de solucionar a crise pol -tica de Atenas.

    Em 621 a.C., Drcon ini ciou asreformas, preparando uma le gis -lao escrita para a cidade. As leisde Drcon eram extremamente se -veras, pois previam a pena de mor tepara a maioria dos crimes. No en tan -

    As alianas das cidades-Estado e as guerras de hegemonia que fragilizaram o Mun do Grego.

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    to, foram muito importantes, pois,alm de serem escritas, a admi nis tra -o da justia saiu das mos da aris -to cracia e passou a ser competnciado Estado, que se fortaleceu comisso. Em termos polticos, a situaono se alterou. Os euptridas conti -nua ram monopolizando o poder. Defato, Dr con no conseguiu controlara cri se poltica e as camadas po pu la -res con tinuaram revoltadas. Em594 a.C., S lon foi nomeado legisla -dor de Ate nas. As reformas por elepro pos tas abrangiam os trs pontosfun da men tais da vida atenien se: oeco n mi co, o so cial e o poltico.

    Economia es ti mu lou o co -mr cio e a in ds tria; es ta be le ceu umpa dro mo ne t rio fixo e um sis temade pe sos e me di das e proi biu a ex -por ta o de ce reais.

    Sociedade aboliu a escra vi -do por dvidas, por meio da Lei Sei -sachteia; concedeu anistia geral; re -gu lamentou a Lei da He ran a; eli mi -nou os marcos de hi poteca e de vol -veu as ter ras aos antigos proprie t -rios.

    Poltica acabou com o mo no -plio do poder exercido pela aris to -cra cia, com base no critrio do nas -ci men to, e estabeleceu um sis temade participao po ltica fundamen ta -do na ri que za do indiv duo.

    Mas, apesar das re for mas, Slonno con se guiu con tentar todas as rei - vin dicaes popu la res nem aten der con ser vadora aris to cra cia eu p trida.A luta entre os par ti dos con ti nua va eimpe dia o avano po l tico de Ate nas:o partido dos pe dia nos (ha bi tan tesdas pla n cies), aris to cr tico e con ser -vador, for ma do pelos gran des pro -prie trios de ter ras, que ria Atenas co -mo era antes das re for mas de Slon;o par tido dos pa ra lia nos (ha bi tan tesda cos ta), constitudo por co mer -ciantes e artesos, adotou po siomoderada diante das re for mas, poismuitos foram por elas fa vo re cidos; opartido dos dia cria nos (habitantes damontanha), composto de pe que nosproprietrios, ren dei ros e thetas,exigia reformas mais ra di cais.

    As tiraniasA crise poltica gerou condies

    para a implantao das tiranias, nasquais o poder era tomado por meio

    de um golpe. Essa forma de governodo mi nou o cenrio da vida poltica deAte nas durante cinquenta anos.

    Piss tra to, de origem aristocrtica eli ga do ao partido diacriano, gover nouAte nas entre 560 e 527 a.C. Durante oseu gover no, construiu obras p bli -cas, estimulou o comrcio e de ter mi -nou a participao dos cida dos emas sem bleias e tribunais.

    Com sua mor te, o poder passoupara seus fi lhos Hpias e Hiparco. Ogover no dos ir mos foi moderado at514 a.C., quando Hiparco foi as sas si -na do por um aris to crata, e H piasiniciou um processo de per se guiopoltica. Os aristocratas rea giram eex pul saram Hpias de Atenas em 510a.C. Dois anos mais tarde, lsgorastor nou-se o novo ti ra no. Em seugover no, restaurou alguns pri vilgiosda aris tocracia, o que re vol tou asclasses populares, obrigando-o abuscar apoio na aris to cra cia es par -tana. Em razo da in ter veno de Es -par ta, os dia cria nos e paralianos uni -ram-se e, li de rados por Clstenes, umaris to cra ta, ex pulsaram o inimigo co -mum em 507 a.C.

    A reforma de ClstenesEntre 508 e 507 a.C., Cls tenes

    deu incio a um processo de reformasem Atenas, para im plan ta r ademocracia. As suas propostasincluam: direitos polticos para os ci -da dos, representados pelos ho mensmaiores de 18 anos, filhos de paisatenienses e de origem jnia; par ti ci -pa o poltica direta no go ver no, poisos cidados opinavam na Assem -bleia ou eram sor tea dos para ocuparalgum car go. Cabe res saltar que ade mo cracia ateniense era exer cidapor aproximadamente 35.000 ci -dados em uma populao de cer cade 450.000 habitantes.

    Alm da Eclsia, o poder le gis la -ti vo era ain da constitudo pela Bul(ou Con se lho dos 500), cuja funoera preparar as leis votadas men -salmente pela As sem bleia dos Ci da -dos. A Heliae era composta dedoze tribunais, com a fun o deministrar a justia comum. O Are pa -go cuidava da alta justia, ou seja,de jul gar a constitucionalidade dosatos p bli cos. A Heliae e o Are pa go

    O templo do deus Apolo em Delfos foi uma oferenda dos atenienses pela vitria em Maratona.

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    com punham o Poder Judi ci rio, en -quan to o Poder Executivo era exer ci -do por dez estra tegos, escolhidos,anualmente, pela Eclsia.

    Outra ins tituio da de mo craciade Cls te nes era o ostra cismo, quecon sis tia na suspenso dos di reitospolticos dos cidados con si de radosnocivos democracia por um perodode dez anos. Esses cida dos, aps apopulao votante haver escrito onome deles mais de 6.000 ve zes nostrakon (pedao de cermica emforma de concha), eram des ter radosde Atenas, sem que houvesse oconfisco de seus bens.

    A demo cracia de Clstenes foiaper feioada por P ri cles, que con-ven ceu a Eclsia a es ta be lecer umaremunerao para os car gos p bli -cos, tornando-os aces s veis aoscidados pobres. A im plantao dademocracia significou o incio daconsolidao de Atenas dentro daHlade.

    4. INTRODUO DO PERODO CLSSICO

    Durante o Perodo Clssico, asp lis gregas disputaram a su pre ma -cia em toda a Grcia. Essa fase foimarcada pelas hegemonias e im pe -ria lismos no Mundo Grego, que aca -baram com uma guerra fratricidaentre os prprios gregos, concluindocom sua decadncia e dominaopor parte dos macednios.

    5. AS HEGEMONIAS GREGAS

    A hegemonia poltica de Atenasna Grcia comeou com seu xitonas Guerras Prsicas ou Mdicas.

    Com a conquista do OrienteMdio pe los persas, todas as col -nias gre gas do litoral da sia Menorforam ane xadas. No incio, a auto no -mia des sas cidades foi respeitada;mais tarde, porm, os persas pas -saram a exigir impostos e estimulargovernos de tiranos. A cidade deMileto e al gumas outras iniciaramuma re belio, apoia das por Atenas.Esse foi o mo ti vo imediato para oconflito entre gre gos e persas.Quando os persas in vadiram aGrcia, os atenienses ven ceram-nosna Batalha de Mara tona, em 490 a.C.,liderados por Mil cades, o queconferiu grande pres tgio aos ate nien -ses. Dez anos de pois, os per sasfizeram uma dupla ofen siva. Por terra,ven ce ra m os es par ta nos no Des -filadeiro de Term pilas. Por mar, umanume rosa frota foi des tru da pelosate nien ses, lide ra dos por Te ms to -cles, na Ba ta lha de Sa la mina. Sem oapoio da es quadra, o exr cito per sacomeou a recuar, che gando Plateia, onde, em 479 a.C., foi ven cidopor um exrcito con jun to de es par ta -nos e atenienses, lidera dos por Pau -s nias. Os gregos pas saram en to ofen siva. Organi zaram uma liga mi li tarcom sede em Delos e a chefia foi con -fiada a Atenas. O tesouro co mum foiusado para construir uma po de ro saarma da, que, sob o co man do de C -mon, assolou as posi es persas nolitoral asitico. Em 488 a.C., pelo Tra -

    tado de Susa ou Paz de Clias, ospersas reconhe ce ram a supremaciagrega no Mar Egeu.

    Herdoto, considerado o pai daHistria, descreve a famosa Batalhade Maratona assim:

    Logo que as tropas tomarampo si es e os sacrifcios fornecerambons augrios, os atenienses, mal foida do o sinal para atacar, lanaram-seem corrida contra os brbaros; ointervalo que os separava no era demenos de oito estdios. Os persas,quando os viram cor ren do sobre eles,prepararam-se para os re ce ber; ve ri -fi cando que eram em pequeno n me -ro, e que, apesar disso, se lan avamem pas so acelerado, sem cavalaria esem ar chei ros, jul ga ram-nos ata ca -dos de loucura, duma lou cura quelhes causaria a perda total. Era o quepensavam os brbaros, mas osatenienses, em fi leiras bem cerradas,combateram de ma nei ra me morvel.Foram eles, que se saiba, os pri -meiros a enfrentar o equi pa mentodos medos e homens com eleequipados, pois at ento os gregoss de ouvir o nome dos medos sesentiam aterrados. A batalha emMaratona foi longa. No centro, a van -tagem foi dos brbaros, que, vitorio -sos neste ponto, desbarataram osadversrios e os perseguiram para ointerior; mas nas duas alas a vitriafoi dos atenienses. Estes deixaramescapar os brbaros derrotados e,reunidas as duas alas num s corpo,diri giram a sua ofen si va contra aque -les que ha viam rom pi do o centro dassuas linhas de com ba te. E a vitriapertenceu aos ate nien ses. Os persaspuseram-se em fuga, e os ateniensesperseguiram-nos at o mar; che ga -dos l, incen dia ram a armada. Destamaneira cap tu ra ram os ateniensessete navios. Com o resto da frota, osbrbaros fizeram-se ao largo e con -tor naram Snio. Era seu propsitoche gar a Atenas pri meiro que os ate -nien ses. Mas estes cor reram a de fen -der a sua cidade com toda a velo ci -dade que lhes permitiam as pernas,e chegaram pri mei ro. Os brbarosatingiram Faleros (que nesta pocaservia de porto a Ate nas) e anco -raram; depois, to man do o caminhode retorno, fizeram ru mo sia.

    Pricles, lder de Atenas no Sculo deOuro da Grcia.

    Templo de Atena Nik.

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    A hegemonia de AtenasO fim da guerra tornou des ne -

    ces s ria a Confederao de Delos.En tre tanto, os atenienses sofreriamuma grave crise econmica e socialse as contribuies dos aliadosparassem de afluir para a cidade: aindstria naval seria paralisada, ocomrcio se re trairia e numerosos re -madores, mer cenrios e artesosficariam sem emprego. Por essa ra -zo, os ate nien ses obrigaram, pelafora, os Es ta dos-membros a con -tinuar os pa ga men tos, mesmo contraa vontade desses. Era o incio da he -ge mo nia ateniense sobre a Hlade.Nesse perodo, a Grcia conheceu asdimen ses de um verdadeiro im p -rio. No sculo V a.C., Atenas foi go -ver nada por P ri cles (444 a.C. 429a.C.) e suas ins ti tui es atin giram omximo es plen dor. Diversas obraspblicas foram iniciadas, gerandoempregos; os mem bros dos tribunaise da As sem bleia passaram a receberpa ga men tos; as camadas inferiorespu de ram par ticipar do Arcontado, eP ri cles cercou-se dos maiores artis -tas e intelectuais da Grcia, comoFdias, Herdoto e Anaxgo ras. Essahe ge mo nia, contu do, criou uma sriede ini migos para Atenas, pois feria aau to nomia das demais cidades-Estado; por outro lado, o controleexercido sobre a Grcia pela Confe -derao de Delos desrespei tava oprincpio de sobe ra nia das cidades.

    A Guerra do Peloponeso e a hegemonia espartanaMuitos Estados gregos, cuja lo -

    ca li zao no interior os colocava asalvo da frota ateniense, ligaram-se aEs par ta na Liga do Peloponeso, fran -ca men te hostil a Atenas e Con fe -derao de De los, que ela mantinhasob controle. Em 431 a.C., um in ci -den te transformou es sa ri va li da deem guer ra. As am bi es territoriais deAt e nas em ex pan dir-se para o Oci -den te levaram-na a apoiar e celebraruma aliana com Crcira, colnia deCo rin to aliada a Esparta. Com is -so, ex plodiu a Guerra do Pe lo po ne -so, que duraria 27 anos e deixaria aGr cia completamente exausta pe las

    destruies recprocas. Entre 431 e421 a.C., os espartanos invadiram atica. A populao de Atenas re sis tiuem suas extensas mu ra lhas, ao mes -mo tempo em que sua fro ta ata cavao Pe loponeso. Em 429 a.C., graas m alimentao e s ps simas con -di es de higiene, a peste provocoucen tenas de mortes, entre as quais ado prprio Pricles. Em 421 a.C.,Ate nas e Esparta ce le bra ram a Pazde N cias, es ta be le cen do que noha ve ria mais guerra durante 50 anos.Em 413 a.C., po rm, moti vados peloam bi cioso Al ce ba des, os ateniensespre pararam uma cam pa nha militarna Sic lia, com o pro psito deconquistar Si ra cusa, que era alia dade Co rin to e a bas tecia o Pe lo ponesocom ali men tos.

    Comeava a segunda fase daGuer ra do Peloponeso. Em 413 a.C., aesquadra ateniense foi destruda emSiracusa. Acusado por seus ad ver - srios polticos, Alcebades fu giu paraEsparta, para quem en tre gou os pla -nos atenienses. Em 404 a.C., emrazo da grande ofensi va dos es par -tanos, que mantiveram um exr cito natica e ampliaram a sua fro ta, Atenasfoi derrotada na Batalha de Egos-P -ta mos pelo general es par tano Li san -dro. Os muros de Atenas fo ram des -tru dos e a frota caiu nas mos de Es -par ta. A hege mo nia exer ci da por Es -parta no era menos opres sora que ade Atenas. Na sia, os es par tanos

    ini ciaram uma ofen siva contra ospersas. No con se guin do, porm,manter o dom nio so bre seus ini migosna Grcia e com bater, ao mes motem po, no exterior, Esparta as sinou,em 387 a.C., a Paz de An tl ci dascom os per sas. Alm da paz, o tra - tado ga ran tia o domnio da costa dasia pelo Imprio Persa, que pas soua influir na poltica inter na da Gr cia.

    A hegemonia de TebasApesar do domnio de Esparta,

    Ate nas conseguiu reconstruir suasmu ralhas e sua frota, organizandouma se gunda liga martima. Ao mes -mo tempo, a cidade de Tebas aliou-sea Atenas e atacou a guarnio es par -tana em Tebas. Durante a Ba talha deLeuctras, em 371 a. C., a re volta dosescravos em Esparta conduziu ostebanos vitria, sob o comando dosgenerais Epa mi non das e Pel pi das.O perodo da he ge mo nia tebana foimarcado pela liber ta o dos mes s -nios do domnio de Esparta e pelaconquista e submisso da Tes slia,Trcia e Macednia. Para con so lidarseu domnio militar, Tebas ini ciou acons truo de uma esquadra, o quelhe valeu a oposio de Ate nas. Em362 a.C., Atenas e Es par ta, ago ra alia -das, impuseram a der ro ta a Te bas,na Batalha de Mantineia. O en fra que -ci mento das plis, em de cor rnciade tan tas lutas, facilitou a con quistada Gr cia por Filipe, rei da Macednia.

    Vitria alada de Samotrcia. Vnus de Milo. Chefe gauls e sua mulher.

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    Parthenon, o mais clebre dos templos gre gos, arquitetado por Ictino e decora do por Fdias.

    6. PERODO HELENSTICO

    O fato de Filipe ter vivido algunsanos em Tebas deu-lhe condies deco nhecer bem a vulnerabilidade dasci dades-Estado gregas e de seusexr ci tos. Em 356 a.C., Filipetornou-se go vernante da Macedniae pas sou a pre parar-se para aconquista e sub mis so das cidades-Estado gre gas, fato que se con cre -tizou na Ba ta lha de Que ro neia, em338 a.C., aps a derrota im posta aatenienses e teba nos. Filipeutilizou-se de ha bi li da de pol tica parase im por aos gregos, res pei tando aau to no mia das ci da des-Es tado epre ser van do suas ins tituies.

    Seu filho e su ces sor, Ale xandreMag no, passou a go ver nar o Im prioquando a orga ni za o in terna daMa cednia j estava com pleta e oseu exrcito formado, no tendo,por tanto, enfrentado gran des difi cul -da des para reprimir as cidades-Estado que ainda no acei ta vamcomple ta mente o seu domnio. Em333 a.C., Alexandre foi o res pon s velpela derrota de Dario III da Pr sia,que foi inteira mente do mi nada, em331 a.C., aps a conquista de Tiro ea Batalha da Plancie de Gau gamela.Com a morte de Dario III, Alexandrefoi procla ma do rei da Prsia. Mar chouem direo ao Egito, onde foi sau da -do co mo o filho do deus Amon-R. Ex -pan diu o Im p rio em direo aoOriente, che gando at os Rios Gan -ges e Indo. Com sua mo r te, em323 a.C., seu vas to Imprio foi divi -dido entre seus prin ci pais gene rais,for mando os reinos da Ma ce dnia, doEgito e da sia. Entre 197 a.C. e31 a.C., todos esses ter ri t rios fo ramconquistados pelos ro ma nos.

    7. CARACTERSTICAS DAARTE GREGA

    A Grcia Antiga alcanou notvelnvel de desenvolvimento artstico ecul tural. A arte grega uma arte an -tro po cntrica, exprimindo valores deequi lbrio, harmonia, ordem, pro por -o e medida, sendo empenhada emexal tar a beleza e o calor da vida hu -ma na, no a vida alm-tmulo. Nessaarte, condenado o mistrio. Os ar -tis tas gregos no estavam sujeitos slimitaes impostas pelos sacerdotese reis, como na maioria das ci vi li za -es orien tais, e tiveram suas ideiasda fi lo so fia racionalista e humanistado mi nan tes. A arte grega no se vol -ta va ape nas para a esttica, mas so -bretudo vi sava demonstrar o or gulhodo povo por sua cidade. Dessaforma, a arte era tam bm a ex pres -so da vida poltica dos cidados. Abus ca do e qui lbrio, a forma depensar e filosofar e a va lo rizao dohumanismo foram, em cer ta medida,a fonte de toda a cultura oci dental. Operodo mais brilhante da ci vilizaohelnica corresponde ao s culoV a.C., em Atenas, o chamado S -culo de Pricles, o perodo cls sicoda cul tura grega.

    A arquitetura gregaDos edifcios da arquitetura gre -

    ga, os templos foram os mais im por -tantes. Apesar de toda a sua ex ce -ln cia ar ts ti ca, uma das formas es -tru turais mais simples. Essas cons -tru es no eram con ce bidas parare ceber multides; o acesso era re -ser va do ex clu si va mente aos sacer -dotes e esttua do deus protetor.Os cul tos eram rea li zados na parteexterna do templo.

    O pice da arquitetura deu-seaps as Guerras Mdicas, quandoP ricles con vocou o escultor Fdiaspara a re cons truo de Atenas, quefora des tru da pelos persas. Um dosmais belos monumentos construdosfoi a Acrpole, destacando-se: oParthenon e o Erechtheion (de di cadoa Erecteus, rei mtico de Atenas), quepossua o pr tico das Caritides,com o teto sus ten tado por seis est -tuas de jo vens, em vez de colunas; oTem plo de Atena Nik, deusa alada

    da vitria, que re pre senta a guerrados gregos contra os persas.

    A escultura gregaNo final do sculo VII a.C., ape -

    sar da influncia das civilizaesorien tais, a escultura grega passou ama ni fes tar suas prprias caracte -rsticas, uti li zan do-se dos depsitoslocais de pedra e mrmore. O piceda es cul tu ra foi al canado durante osculo de P ri cles. O grande nomeda po ca F dias, amigo de Priclese di re tor de to dos os seus projetosde cons truo, criador das imagensde Zeus, em Olmpia, e Atena, noPar the non de Atenas.

    Praxtelesfoi um dos mai o reses cul to resdo Pe ro doCls sico.Afro dite de Cnidos.

    Pintura e cermicaA pintura era muito utilizada em

    cermica, com uma for te decoraolinear ou de figuras geometrizadas,no tan do-se a ausncia de paisa -gens. Seus temas eram os fei tos dosdeu ses e semideuses e amores olm -pi cos. En con tram-se tam bm cenasde jo gos atlticos, de funerais e decar ros de corrida, destacando-se,pela liberdade de inspirao, obser -va es anatmicas, combinando deuma for ma en ge nhosa as quatro co -res clssicas: preto, amarelo, brancoe vermelho.

    Entre os maiores representan tesda pintura grega, des tacam-seZuxis e Apeles.

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    A indstria de ce r mica, queteve seus principais cen tros em Ate -nas e Co rinto, funcionou sob apresso das exi gncias dos mer ca -dos internos e ex ter nos, com por tan -do uma grande va rie dade de obje -tos, uti lizados co mo re ci pientes devinho, azeite, mel e per fu mes. As pro - por es dos vasos eram cal cu ladascom o mes mo re quin te que as doParthenon, no estando sua qualida -de artstica na sua tcnica, mas simna sua forma, o perfil puro e elegantedado a um material malevel.

    Cermica Dionsio trazendoa uvapara aGrcia.

    O teatro gregoO teatro, criao dos gregos, era

    ao ar livre. Os atores usavam ms ca -ras e os papis femininos eram inter -pre ta dos por homens. Em Atenas,onde havia concursos de tragdia noteatro de Dionsio, surgiram grandespoetas trgicos. squilo exaltou agl ria de Atenas e o poder dos deu -ses jus ti cei ros em Os Persas, OsSete contra Te bas e Orestada;Sfocles mostrou os heris s voltascom o destino em An t gona e dipoRei; Eu r pedes, es p ri to cr ti co,menos re li gioso que os an te riores,interes sou-se mais pelos ho mens,suas paixes, grandezas e mi s riasem Alceste e Medeia. Os au to res c -micos foram bem re cebidos em Ate -nas, entre os quais o favorito nosculo V a.C. era Aris t fanes. Amigoda vida tra di cio nal, atacava comvigor os par ti d rios da guerra em APaz, os excessos dos juzes popula -res em As Vespas e os ino va doresexcessivos em Os No vos.

    Outros gnerosA poesia teve em Pndaro seu

    gran de representante, celebradordos ven cedores dos jogos gregos.He r do to de Halicarnasso foi pro sa -

    dor das Guerras Mdicas, fazendouma an li se equilibrada e buscandoas cau sas da guer ra e seus fins. Oate niense Tu c di des contou a Guerrado Peloponeso com objetividade,apesar de seu amor por Atenas.

    A filosofia grega comeou na sia(Jnia), com Tales de Mileto, e, no sulda Itlia, com Pitgoras. No s c.V a.C., a as cen so do homem m dionas ci da des gre gas trouxe uma no vapreo cu pa o: solucionar os pro ble - mas pr ti cos mais intimamente li ga -dos ao prprio homem. Esta novacor rente deu origem aos sofistas,que pro curavam dar nfase aos ar -gu men tos, mesmo que seus resulta -dos fos sem falsos. Scrates, consi -de ra do um dos maiores filsofos gre -gos, con ti nuou fiel aos antigos mto -dos fi lo s fi cos, buscando sobretudoum mtodo de reflexo. Criticou du -ra mente os so fis tas, sendo con de na -do morte, acu sado de corromper aju ventude e de introduzir novos deu -ses. Seu maior dis cpulo foi Pla to,que deixou mui tos escritos, des ta -can do-se suas obras po lticas, como aRepblica, na qual con sidera es sen -ciais a sa be do ria, a bravura e a justia.

    Aristteles, com base nas ideiasde Scrates e Plato, sis te ma ti zou osprin c pios da Lgica.

    Cultura helenstica Com as conquistas de Ale xan dre

    Magno, houve grandes trans for ma -es no Mundo Grego. As in flun ciasno ocorreram apenas de Oci den tepara Oriente, mas tambm de Lestepara Oeste. A arquitetura, pin tu ra ees cul tura gregas nada ga nha ram,uma vez que os artistas he le ns ti cosdes pre za ram a noo de equi l brio ehar mo nia, traos mer can tes da ar tehelnica, preo cupando-se em do -minar um rea lis mo exagerado e sen - sacionalista. Na ar quitetura, a sua -vidade dos templos gregos ce de ulugar s construes de sun tuosospalcios e casas es pa o sas e con -for tveis, bem como edi f ciosburocrticos que simbolizavam a ri -queza e o poder, refletindo o sen ti -men to individualista do perodo. Umexem plo deste exagero o Farol deAle xandria, com 120 metros de al tu -ra, tendo no topo oito colunas parasus ten tar a luz.

    8. CRONOLOGIA

    1150 a.C. Destruio de Troia.Sculo VIII a.C. Governo mo -nr qui co em Atenas. Sculo VII a.C. Governo oli gr -qui co em Atenas.776 a.C. Incio dos Jogos Olm pi -cos. Sc. V a.C. Apogeu da culturagrega.621 a.C. Legislao de Drcon.594 a.C. Legislao de Slon.582-497 a.C. Pitgoras, filsofo ematemtico.560-527 a.C. Tirania de Piss tra to.527-514 a.C. Tirania de Hpias eHi parco.525-456 a.C. squilo, teatrlogo.518-448 a.C. Pndaro, poeta.508 a.C. Governo aristocrticode lsgoras, apoiado pela aristo cra -cia espartana.507 a.C. Reforma democrticade Clstenes.496-405 a.C. Sfocles, teatr lo go.492 a.C. O rei persa Dario Iexige a submisso dos gregos.490 a.C. Batalha de Maratona(Primeira Guerra Mdica).485-406 a.C. Eurpedes,teatr lo go.484-425 a.C. Herdoto, historia dor.480 a.C. Batalha de Salamina(Segunda Guerra Mdica).476 a.C. Confederao de Delose incio da Terceira Guerra Mdica.470-399 a.C. Scrates, filsofo.460-396 a.C. Tucdides,historia dor.448 a.C. Tratado de Susa,pondo fim s Guerras Mdicas. 431 a.C. Incio da Guerra doPelopo neso.427-347 a.C. Plato, filsofo.404 a.C. Vitria de Esparta naGuerra do Peloponeso.384-322 a.C. Aristteles, filsofo.371 a.C. Vitria de Tebas naBa talha de Leuctras.362 a.C. Derrota tebana na Ba -ta lha de Mantineia.

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    1. JUSTINIANO E O IMPRIO BIZANTINO

    IntroduoQuando o Imperador Cons tan tino

    escolheu Bizncio para se to rnar asede da Nova Roma, a an tiga colniagrega tinha o as pec to de um simplespovoado. Lo calizada num pro mon t -rio da Tr cia, entre a Europa e a sia,prximo ao Mar Negro e ao Me di ter -r neo oriental, a cidade possua ex -ce lente posio estratgica, transfor -mando-se, ao mesmo tempo, em po -tn cia martima e comercial.

    Constantino trouxe arquitetos, ar -tesos e valiosas obras de arte dasmais diversas regies do Im prioRomano, construindo a ci da de numritmo frentico e dan do-lhe o es plen -dor de uma grande ca pi tal: a cidadede Constantino Con s tan tinopla.

    Inaugurada em 11 de maio de330, Constantinopla foi produto dafuso de elementos latinos, gregos,orientais e cristos, apresentandouma populao bastante he te ro g -nea, composta de maioria grega oude habitantes helenizados e de umgrande nmero de imigrantes es tran -geiros. A lngua grega e a religiocris t constituam a unio dessa ci -da de cosmopolita.

    Justiniano e o apogeu do ImprioPetrus Sabatus era filho de cam -

    po neses e sobrinho do im pe ra dorJus tino I. Em 502, foi trazido para acor te, tendo sido preparado pa ra darsequncia Dinastia Jus ti nia na, umavez que o imperador no ti nha filhos.Teve uma edu ca o esmerada earistocrtica e re ce beu o nome deFla vius Justinianus, assumindo otrono em 527.

    Em seu governo, assumiu o pa -pel de um verdadeiro imperadorroma no, bem como de um monarcaoriental. Controlava a diplomacia, asfinanas, as leis e os negcios milita -res, cercando-se de uma autoridadeabso luta e dando ao seu podercarter quase sagrado.

    Os conflitos religiososAs preocupaes reli gio sas atin -

    giram propores exa ge radas emCons tantinopla. O povo discutia re li -gio com ar dor, muitas vezes ques -tio nan do os dogmas bsicos do cris - tia nis mo e dissimulando for tes com - pe ti es polticas. O im pe ra dor Jus ti -nia no, cons cien te des sas dissen -ses, pro cu rou uni ficar a religio or -to do xa gre ga, submetendo a Igreja sua au to ridade e per pe tuan do o ce -sa ro pa pismo, lar ga mente uti li zadope los seus su ces so res.

    A construo da Igreja de SantaSofia pr e ten dia de mons trar a preo cu - pa o do im pe rador em tu te lar a Igre - ja ao po der do Es ta do. Pro cu ran doevi tar que o di vi sio nis mo re li gio soafe tas se a uni da de do Im p rio, com - ba teu for te men te as he re sias, comoo aria nis mo, o nes to ria nis mo e o mo -no fi sis mo. Graas, po rm, forte in -flun cia da im pe ratriz Teo dora, adep -ta do mo no fi sis mo, ten tou conciliaros interesses des sa he re sia com aor to doxia de fen dida pela Igre ja, evi -tan do dessa for ma um cho que di retocom a Igre ja de Roma.

    A reconquista do OcidenteA poltica externa de Justiniano

    con sistia em restaurar as antigasfron teiras do Imprio Romano pormeio de guerras ofensivas. Vi sando ais so, estabeleceu uma paz per p -tua com os persas, seus an ti gos ini -migos do lado oriental.

    O expansionismo teve incio coma reconquista da frica, sob do m niodos vndalos. Seu xito foi pos s velem razo no ape nas da efi cin ciamilitar do general Belisrio, com umexrcito de 15 mil sol da dos, comotam bm da crise poltica em que seen contrava o reino brbaro, divididoem duas fac es religiosas: o aria -nis mo e o cris tianismo.

    A relativa facilidade da conquistaafri cana estimulou Justiniano a in ves -tir contra os ostrogodos na Itlia. Asdivises polticas existentes no ReinoOstrogtico facilitaram a vitria dosexr citos bizantinos, comandadospe los generais Belisrio e Narses.

    Fun dou-se na Itlia o Exarcado deRa vena, centro das decises bizanti -nas na Pennsula ltlica.

    Em consequncia do rompimen toda paz per ptua, Justiniano voltou acon cen trar seus esforos no Oriente,sus pendendo temporaria men te o ex -pan sionismo ocidental. Aps o re tor -no da paz com os per sas, os exr ci -tos bizantinos con quis ta ram a Es pa -nha meridional aos visigodos.

    O Imprio Bizantino chegava,dessa forma, ao limite mximo desua expanso geogrfica e militar.Aps a morte de Justiniano, asregies con quistadas na Espanha ena frica caram sob o domnio dosrabes, que tambm conquistaram oEgito, a Sria, a Palestina e a Me so po -tmia. Era o fim do sonho de re cons -tru o do Imprio Romano.

    Declnio do Imprio Bizanti noA morte de Jus ti niano foi fes te ja -

    da pela po pu lao de Cons tan ti no pla,que es pe ra va, a partir da, um pe -rodo de paz e di mi nui o da ex ces -siva car ga tributria. Seus su ces -sores enfrentaram pro fundas di fi cul -da des na conduo da admi nis tra -o, entrando o Imprio Bizan ti no emum lento processo de deca dn cia.

    A Dinastia dos Herclidas (610 a717), que sucedeu a Justiniano, en -fren tou o expansionismo do Islo, per -den do vrios de seus territrios. Ascons tan tes invases e insur rei esocor ridas no vasto imprio ne ces si ta -vam de um poderoso exrcito, com pro -metendo as frgeis finanas do reino.

    Aps um sculo de crise, a Di nas -tia Isurica (717 a 802), fundada peloimperador Leo III, deu incio a umafase de reorganizao do Im p rio,que se distanciou definitivamente dasestruturas ocidentais, tornando-secada vez mais um Estado grego-asi -tico. nesse sentido que surgiu o mo -vimento iconoclasta, pro vo can dofor te reao da populao e do pa - pado romano, uma vez que o im pe -rador proibiu a representao e oculto s imagens sagradas, or de nan -do sua destruio.

    MDULO 3 Imprios Bizantino e Carolngio

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    Os bizantinos acredita vam em um poder milagroso dos cones.

    Alm das crises de ordem in ter -na, o Imprio continuava a sofreramea as em suas fronteiras. A criseeco nmica agravou-se com o desen -vol vimento das repblicas mercantisita lianas, que disputavam com Cons -tan tinopla o monoplio do comrciome diterrneo. A fragilidade polticaper mitiu uma quase completa au to -no mia das grandes propriedades,frag mentando cada vez mais o podercen tral, at a invaso de Cons tan -tinopla pelo turcos otomanos, em1453, pondo fim ao Imprio Romanodo Oriente.

    2. OS REINOS BRBAROS

    Graas em grande parte suagran deza territorial, o Imprio Ro ma -no abriu caminho para as invasesdos povos germnicos. A de ca dn -cia moral, associada de sor ga ni za -o poltica, econmica e social, cul -mi nou com a falncia do Estado.

    A cidade de Roma, sede das de -ci ses polticas do mundo antigo,per deu seu brilho e esplendor, tor -nando-se a capital das hordas in va -soras: hunos, vndalos, visigodos,

    ostrogodos, burgndios etc. A urbecairia diante dos atrasados povosbrbaros.

    A origem e a vida dos ger m nicosAs origens dos povos ger m ni -

    cos apresentam diferentes ver sespor parte dos estudio sos. Umacorrente alem diz que faziam partede uma gran de famlia indo-europeia,tendo como hbitat a parte orientalda Rssia. Outra corrente afir ma queeram originrios das regies es can -di na vas e que sofreram influnciasde outros povos, acabando poraceitar a lngua europeia. Porm, emrelao ao seu f si co, ambas con cor -dam que apresentavam as seguintesca rac te rsticas bsicas: estatura ele -vada, do li cocefalia e ca rn ciapig men tria.

    3. CARLOS MAGNO E OIMPRIO CAROLNGIO

    A Dinastia dos Carolngios (751-987)A Dinastia Carolngia foi iniciada

    com forte apoio da Igreja. Pepino, oBreve, e seus filhos, Carlomano eCarlos, receberam do papa o ttulode patrcios dos romanos, sendodefensores da cidade de Roma.

    Em 756, Pepino lutou contra oslom bardos, tomando-lhes os terri t -rios no centro da Itlia, que foramdoa dos Igreja. Esses territrios au -mentaram o poder do papa e fi ca ramco nhecidos como Patrimnio de SoPe dro.

    Antes de morrer, em setembro de768, o fundador da Dinastia Ca ro ln -gia dividiu seu reino entre seus doisfilhos: Carlos e Carlomano. Em 771,porm, com a morte do irmo, Carlosassumiu definitivamente o controledo Imprio. Aps o domnio dos lom -bar dos, que ameaavam con quistaros territrios da Igreja, Car los Magnolutou contra os saxes, ane xando aSaxnia (parte da Ale ma nha) e a Ba -viera. Na primavera de 778, cruzou osPirineus, tentando invadir a Penn sulaIbrica, mas foi obrigado a re cuar.

    Quando morreu seu so bri nho Ro -lando, o episdio transformou-se emtradio lendria, com a Can o deRo lando. Os conflitos entre os mu ul -ma nos permitiram que Carlos Mag nore to masse a conquista, ocu pan doBar ce lona, Pamplona e Na var ra ecriando as marcas da E s pa nha.

    Durante os 46 anos de governo,Car los Magno procurou aprimorar aadministrao, centralizando seu po -der e introduzindo ordem e dis ci plinanos negcios do Estado. O Impriofoi dividido em condados ou cir cuns -cri es territoriais, cuja autoridadeera exercida por um bispo e um con -de, cabendo ao primeiro os as sun tosper tinentes aos costumes e re ligioe ao segundo, os assuntos mi litares efinanceiros.

    Como os litgios entre o poder es -pi ritual e o tem poral eram cons tan tes,foi criado o cargo de missi domini ci(en via dos do so be ra no), que anual - men te vi si ta vam uma de ter minadaregio do Im prio para a ver dadeiracon so li dao da jus ti a real.

    As leis do Im p rio Ca ro lngio se -guiam as ca pi tu la res ordens obri -ga trias para todo o Im prio , queabran giam os mais diversos as sun -tos, tais como: ins truo aos fun cio -n rios reais, re gu la men ta o da eco -nomia do ms tica, regras para ex plo -rao do domnio real etc.

    No Natal de 800, logo aps oapoio dado ao papa Leo III contraos par tidrios de uma fa m lia inimiga,Carlos Mag no foi coroado im pe radorromano do Oci den te, cargo de so cu -pa do desde 476.

    Em 814, com a mor te de Car losMag no, assumiu a chefia do rei nofranco Lus, o Pie do so, nome da dopela sua dedicao e sub misso Igreja Catlica. O novo mo nar ca eradotado de predicados morais, po -rm, no plano poltico, era um per fei -to in com pe tente. No conseguindocon ci liar a f com a razo adminis -trativa, re sol veu dividir o reino entreseus fi lhos: Car los, Lus e Lotrio.

    Aps longo tempo de luta entreos herdeiros, foi decidido, pelo Trata -do de Verdun, em 840, que Lotrioficaria com a Itlia e parte da antiga

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    Austrsia, que en to pas sou achamar-se Lotarngia; Lus herdou aAlemanha; Carlos re ce beu a Frana.Essa diviso foi fun da men tal para aestruturao do feu da lis mo, uma vezque criou a nacio nali za o, aomesmo tempo que des cen tra lizou opoder real, dando assim abso lutaautoridade para os nobres di rigentesdas provncias.

    A Lotarngia, regio que coube aLotrio, aps a morte deste, frag -men tou-se, tendo sido em grandeparte in cor po rada Germnia. Oresto do Im p rio foi dividido entreLus (mais tarde, Ger mnico) eCarlos (depois co nhe cido como OCalvo). Isso en fra que ceu o ImprioCarolngio e pro piciou as invases

    dos norman dos, que de vas taram aregio. O en fra que ci men to do podercentral, bem co mo o hbito de doarterras em tro ca de fi de lidade, acaboupor for ta le cer a no bre za guerreira.Em 987, Hu go Ca peto, conde deParis, ps fim Di nas tia Carolngia,substi tuda pela no va dinastia que seformava: a Ca pe tn gia.

    Os mapas assinalam a evoluo da monarquia francesa aps a fragmentao do Imprio Carolngio.

    4. CRONOLOGIA

    330 Fundao de Constan tino -pla pelo imperador Constantino.

    395 Diviso do Imprio Romanopor Teodsio.

    406 Os povos germnicos cru -zam a fronteira do Reno.

    409 Invaso da Es pa nha pelosvndalos.

    481-511 Reinado de Clvis,iniciando a Dinastia Me rovngia entre

    os francos.

    496 Vitria dos francos sobre osalamanos em Tol biac.

    507 Os visigodos fixam-se naEspanha.

    511 Morte de Clvis e diviso do

    Reino Franco entre seus herdeiros.

    527-565 Reinado de Justinia no.

    532 Revolta Nika.

    533-534 Conquista do Reino

    Vndalo, na frica, por Belisrio.

    535-554 Conquista do Reino Os -

    trogtico na Itlia.

    550-554 Conquista da Espa nha

    Meridional pelos bizantinos.

    711 Conquista, pelos muul ma -

    nos, do Reino Visigtico da Es panha.

    732 Carlos Martel vence os muul -

    manos em Poitiers.

    751 Pepino, o Breve, coroado rei

    dos francos.

    756 Doao, por Pepino, o Breve,

    dos ter ritrios lombardos Igreja

    Catlica, criando o Patrimnio de

    So Pe dro.

    768 Morte de Pepino, o Breve.

    771 Carlos Magno assume o

    controle do Reino Franco.

    814 Morte de Carlos Magno e

    ascenso de Lus, o Pie doso.

    840 Morte de Lus, o Piedoso.

    843 Tratado de Verdun.

    962 Fundao do Sacro Imprio

    Romano-Germnico.

    987 Incio da Dinastia dos Cape -

    tngios, na Frana.

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    1. INTRODUO

    O sistema feudal corresponde aomodo de organizao da vida du ran -te a Idade Mdia. Suas origens re -mon tam crise do Imprio Ro mano apar tir do sculo III.

    Costuma-se dividir o perodo emduas fases: Alta Idade Mdia e Bai xaIdade Mdia. A Alta Idade Mdia, s - culo V ao XI, corresponde for ma -o e consolidao do sistema feu -dal; a Baixa Idade Mdia, sculo XIao XV, caracteriza-se pela crise dofeu da lis mo e incio da formao dosistema ca pitalista.

    2. A FORMAO DO FEUDALISMO

    O processo de formao his t -rica do sistema feudal tem seu pontode par tida na crise do sculo III doIm prio Romano e acentua-se no s -culo V, com as invases br ba ras. Aretra o do escravismo, a for ma odo co lo nato e a posterior im plan ta -o de um regime servil cons tituem opas so de cisivo para a for mao dosistema. Por outro lado, os ger ma nosque invadiram o Im p rio Ro ma nolevaram consigo re la es so ciaiscomunitrias, de ex plo rao coletivadas terras e su bor di na o aos gran -des chefes mi litares (co mi tatus). Asin vases br baras, a lm de despo -voar as cida des, au men tan do a po -pu lao rural, difi cul taram as comu -ni caes e pro vo ca ram o iso la mentodas loca li da des, for an do-as a ado -tar uma eco nomia de subsis tnciaautossuficien te.

    3. RELAES SOCIAIS

    O feudalismo pode ser definidode vrios modos. A melhor maneira,po rm, defini-lo conforme suasrela es sociais bsicas: relaesvas s licas (entre os senhores ou no -bre za), relaes comunitrias (entreos ser vos) e relaes servis (que li -ga vam o mundo dos senhores aomun do dos servos).

    Esta ltima ligao se pro ces sa -va por meio das obrigaes, queresultavam das im posies feitas pelose nhor aos servos, de realizar pa ga -

    men tos em pro dutos ou servi os, eque cons ti tuem a prpria essn ciado feuda lis mo. Tais obriga es eramcostu mei ras e no con tra tuais, co moocor re no sis te ma ca pi talista. Note-se que o servo era vinculado aofeudo, dele no po den do sair.

    4. A ORGANIZAO DO FEUDO

    O regime de propriedade va ria -va conforme as circunstncias: pro -prie da de privada, no manso se nho -rial (ter ra do senhor); pro prie dadeco le ti va, nos pastos e bosques (deuso co mum pa ra senhores e ser -vos); pro prie da de dupla, isto ,copro prie da de, no man so servil. (Osenhor detinha a pos se legal e oservo, a posse til da terra.)

    O regime de trabalho era servil,na medida em que os produtores di -re tos eram os servos, os quais trans -fe riam pa ra o senhor feudal a maiorpar te da produo, por meio de obri -ga es im pos tas pelos costumes:corveia, tra balho do servo na re ser vasenhorial; talha, entrega de me tadeda produo do manso ser vil; ba na li -da des, taxas pela utilizao de certasinstalaes do feudo; vin tm, im postodevido Igreja; mo-mor ta, taxa pelatrans mis so de he rana. Levando-se em consideraoque a maior parte da produo obtidapelo servo no se con ser va va emsuas mos, pois passava para o se -nhor feu dal, seu interesse era mnimo.As so ciando-se a este fato o de queos tra balhos agr colas eram rea li za -dos co leti va men te, tolhendo a ini cia ti -va in divi dual, eles re sultavam embaixo n vel da tc ni ca e peque na pro - duti vi da de: para ca da gro se mea do,co lhiam-se dois. Da o regi me de di vi -so das terras culti vveis em trscam pos, des tina dos alter na da men tepara o plan tio de cereais e de for -ragem, re servando-se o ter cei ro parao des can so (pou sio). Rea li zava-se aro ta o trienal dos cam pos, com vis -tas a im pedir o es go tamento do so lo.

    5. A SOCIEDADE FEUDAL

    De acordo com as bases mate -riais des cri tas, no havia possibili da -

    de de mo bilidade social nos feudos:a so cie da de era, portanto, es ta men -tal. O prin cpio de es tra ti ficao erao nas ci men to, surgindo ento duasca ma das bsi cas: senhores e ser vos.Exis tiam tam bm ca te go rias inter me -di rias, tais como os vi les (cam po -neses livres) e os mi nis teriais (cor pode fun cionrios livres do senhor).

    O nmero de escravos redu ziu-seca da vez mais, pois no havia guer rasde expanso para apres-los; almdis so, a Igreja con denava a es cra vi -za o de cristos. Por outro la do, osvi les tendiam a se tornar ser vos, poisde nada lhes adiantava a li ber dadeden tro da insegurana rei nan te: o fun -da mental era a obten o de pro teo.

    6. RELAES VASSLICAS

    O poder poltico no sistema feu -dal era exercido pelos senhores feu -dais, da seu carter localista. Noten do au toridade efetiva, os reis ape -nas apa rentavam poder, pois na pr -ti ca existia uma descentralizao po -ltico-admi nistrativa.

    Impossibilitados de defender orei no, os soberanos delegaram essata refa aos senhores feudais. Por isso,e com vistas a se pro te gerem, os se -nhores procuravam relacionar-se di -retamente por um com pro mis so: ojuramento de fidelidade. O se nhorfeudal que o prestasse tor nar-se-iavassalo e aquele que o re ce bes seseria seu suserano. Na hie rar quiafeu dal, suseranos e vas salos ti nhamobri gaes recprocas, pois ho -menagem prestada pelo vas salocor respondia o benefcio concedidopelo suserano. Essa relaodefinia-se em um rito denominadoce rimnia de investi dura ou ce ri -m nia de adu ba mento.

    7. A IGREJA MEDIEVAL

    Com o fim do Imprio Romano doOci dente, a Igreja, como nica ins ti tui - o remanescente, adquiriu uma im -por tncia fundamental, gra as ao mo - no plio cultural que exercia na socie -dade feudal. Alm de for necer os fun -cionrios preferidos ao Estado, o cle -ro en ca r regou-se de fa zer a anlisedas relaes sociais do feudalismo.

    MDULO 4 O Feudalismo e a Igreja na Idade Mdia

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    In sistia que a so cie dade tinha umca rter est tico por de termi nao di -vi na, cabendo a ca da um vi ver dentroda posio que lhe fora de signadapor Deus. Essa viso en qua drava-se per fei tamente nos interessesdomi nantes do mun do feudal.

    Durante a Idade Mdia, o cleroregular (monges) adquiriu con si de r -vel preponderncia em relao aocle ro secular (padres). Mesmo assim,no conseguiu evitar que se for mas seuma camada privilegiada, abades ebispos, que constituam o alto clero.

    De qualquer modo, a fora es pi -ri tual da Igreja era incontestvel edo mi nava a mentalidade do homemme die val, para quem a vida na Terraera uma preparao para a vidaps-morte. Contrapunham-se, as -sim, dois ele mentos importantes: deum lado, a for a espiritual da Igreja;de outro, a fra queza do Estado. Des -sa con tra di o, resultou a su pre ma -cia poltica do bis po de Roma (pa pa),que passou a ditar normas para reise im pe ra do res. A he ge mo nia daIgre ja levou-a a um choque inevi t -vel com o poder lei go (temporal) dosimperadores ale mes, na famo saQuerela das In ves tidu ras.

    A Querela das Investi du rasCom a diviso do Imprio Caro -

    ln gio, pelo Tratado de Verdun, a ten -dn cia foi o enfraquecimento da Di -nas tia Ca rolngia, que se extinguiuem 911, na Frana Oriental, enquan tona Fran a Ocidental, em 987, Hu goCa peto dava incio Dinastia dosCape tngios.

    Na Frana Oriental, fundou-se oReino Germnico, com a unio dosduques da Francnia, Saxnia, Su -bia e Baviera. Nessa monarquia, orei seria um dos duques, eleito pelosoutros trs.

    A dependncia poltica e militarque a Igreja tinha em relao aos Ca -ro lngios foi, ao final do primeiro mi l -nio, transferida para os reis ger m ni -cos, que davam proteo a Roma.

    Em 962, aps derrotar os hn -ga ros, Oton I foi sagrado im pe ra dorpe lo papa Joo XII, fato que mar cao nas cimento do Sacro Im p rio Ro -ma no-Germnico, que duraria at1806. Oton I iniciou um processo deinter ven o na Igreja, ampliandoseus do m nios territoriais na Ale ma -nha, com a fina li dade de controlar o

    po der dos du ques. Numerosos bis -pa dos e aba dias foram fundados e oim perador en tregava aos titularesdesses ter ri t rios tanto o po der re li -gioso (sim boli za do pelo anel e pelacruz e con ce di do em funo da in -ves ti du ra espi ri tual) quanto o poderpo lti co (re pre sen tado pelo b cu lo econ ce dido em funo da investiduraleiga), alm do fato de que o im -perador pos sua o direito de es co lhero bispo de Roma (cesa ro pa pis mo).

    A interveno do poder polticona Igreja levou a uma srie de con -sequncias negativas para esta,como o nicolasmo (desre gra mentodo clero) e a simonia (co mr cio debens da Igreja).

    No sculo XI, do Mosteiro deCluny, um movimento props umasrie de reformas internas na Igreja.O clero regular foi reformado e omo vimento comeou a atuar com oclero secular, combatendo princi pal -mente a simonia e o nicolasmo;nes se ltimo caso, o movimentodefrontou-se com o poder poltico,pois era impossvel acabar com o ni -co lasmo sem atacar a investiduralei ga e o cesaropapismo.

    A fora do movimento de Clunyle vou criao do Colgio de Car -deais, em 1059, com a finalidade deele ger o papa, limitando o ce sa ro -pa pis mo. Em 1073, o lder do mo vi -mento, Hilde brando, era eleito papa,as sumindo o nome de Gregrio VII,que colocou uma srie de medidasreformistas em prtica, como a insti -tui o do celibato clerical e o fim dainvestidura leiga.

    Nesse momento, o imperador ale -mo, Henrique IV, reagiu ener gica -mente, considerando o papa deposto.Gre grio VII, por sua vez, ex co mun -gou o imperador e proibiu os vas sa losde lhe prestarem ser vios. Em 1077,Hen rique IV fez a pe regrinao aoCastelo de Ca nos sa e pediu per doao papa, ao mesmo tempo em queseus inimi gos, na Alemanha, ele giamum novo imperador.

    Perdoado, Henrique IV voltou ecom bateu seus adversrios, re to -man do o poder e, logo em seguida,inva diu Roma, obrigando o papa a ser e fu giar em Salerno, onde mor reu.

    A Igreja passava a ter dois pa -pas: Clemente III, escolhido porHenri que IV, em Roma; Ur bano II,escolhido no exlio pelo Co lgio de

    Car deais. Essa situao so men teter mi nou em 1122, com a as si na turada Concordata de Worms, que co -locaria fim Querela das In ves ti du -ras ao definir que cabia ao papa aen trega da investidura es pi ritual eao im perador a entrega da investi -dura tem poral ou leiga.

    Chegava ao fim a prepon de rn -cia poltica dos imperadores sobre oclero, e a Igreja iniciava sua su pre -ma cia den tro do Mundo Medieval.

    8. A VIDA CULTURAL

    Quando se compara a produocul tural da Idade Mdia com a Anti -gui dade ou a Modernidade, ela con side rada tradicionalmente um pe -ro do de trevas. Tal conceito, po rm,tem so frido algumas re vi ses, graas reabi litao da Idade M dia porcer tos auto res que nela en con tramas razes cultu rais do Mun doModerno e num sen tido mais ime -diato do Re nas cimento. Alm domais, no po de mos ajuizar sobre ovalor de uma cul tu ra, pois os valoresso rela ti vos, e, quando afir mamosque a Ida de Mdia um pe rodo detrevas, ns o fazemos ten do porbase os va lo res da so cie dade atual,que tam bm no so de fi nitivos.

    No podemos esquecer o fato deque a Igreja foi a grande man te ne dorada cultura durante o Pe ro do Feu dal,apesar de o fazer de for ma que justi -ficasse suas ideias e dogmas.

    De qualquer modo, saber ler e es - crever era privilgio da Igreja na AltaIdade Mdia. De nada adian ta ram osesforos de Carlos Magno para pro -porcionar aos nobres fran ce ses rudi -mentos de ensino. As inva ses br -baras haviam destrudo a maioria dasobras representativas da cultura anti -ga, restando uns pou cos exemplaresnos mosteiros. A grande exceo noplano cultural, na Idade Mdia, foramos rabes, que con se gui ram umnotvel pro gresso na Espanha.

    J na crise do feudalismo, com aexpanso comercial e a criao dasuniversidades, o pen sa men to filos -fico desen vol veu-se, sur gin do, ento,a escolstica (filo sofia da escola),produzida por So To ms de A quino,autor da Suma Teo l gi ca. O idealtomista era con ciliar o ra ciona lismoaristotlico com o es pi ri tua lismocristo, har mo ni zando f e ra zo.

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    1. INTRODUO

    No final da Idade Mdia (BaixaIdade Mdia), tem incio a transiopa ra o sistema capitalista. Ao mesmote mpo, surgem novas classes so -ciais, principalmente a burguesia,que auxilia a realeza no processo decen tralizao poltica.

    2. O FEUDALISMO EM CRISE

    com base no prprio sistemafeu dal, compreendido como um mo -do de pro du o, que devemos en ten -der a sua de sintegrao. Essa crisetem, por tan to, uma origem interna,agra vada por fatores externos.

    O problema fundamental que aproduo feudal, baseada no tra ba -lho servil, limitada e es t ti ca, o que,por sua vez, resultado do baixo n -vel de tcnica do sis te ma feudal. Por

    outro la do, no sculo XI, ces sa ram asondas in vasoras, o que criou uma re -lativa es tabilidade na Eu ro pa e con -di es de segurana para que au -men tasse a circulao de mer cado -rias. Houve uma maior re dis tri bui oda produo, gerando um cresci -men to demogrfico que no foiacom pa nhado pelo aumento da ofer -ta de em pregos e alimentos.

    Ao mesmo tempo, os se nhoresfeu dais passaram a ter ne ces si dadede aumentar as suas rendas, pois odesen volvimento do comrcio e aofer ta de novos produtos de luxo eespe ciarias impunham gastos e umpa dro de vida mais elevado. Po rm,para ele var suas rendas, eles eramobrigados a aumentar as obri ga esdos servos; e a esta presso cor -respondia a fuga de servos dos cam -pos, em busca das cidades e de no -vas oportunidades de vida.

    A soluo para a crise seria asubs tituio do regime de trabalhoser vil pelo trabalho assalariado, po -rm essa mudana incentivou aevoluo do modo de produofeudal para o capita lista, o que noseria vivel num curto perodo.

    A crise do sistema feudal foi o re -sultado da inadequao das velhasestru turas socioeconmicas s mu -dan as ocorridas na Europa, queimpuseram um novo tipo de or gani -zao do modo de vida.

    3. A BUSCA DE SOLUO

    A crise do sistema feudal deu ori -gem a um processo de mar gi na li za -o social, quer pela fuga dos ser -vos, quer pelos deserdamentos ocor -ri dos na camada senhorial. Essamar gi nali zao trouxe como con se -qun cia o aumento da belicosidade,mar cada por assaltos e sequestros ari cos cava leiros.

    A Igreja Catlica, para tentar con -ter a crise, props a Paz de Deus(pro teo aos cultivadores, viajantese mu lheres) e a Trgua de Deus (naqual os dias para realizar guerrasficavam li mi tados a 90 por ano).Porm, essa in ter veno da Igrejano foi su fi cien te para conter a crise ea violncia feu dais.

    MDULO 5 As Cruzadas e o Renascimento Comercial e Urbano

    A Cruzada dos Reis em direo Terra Santa, daqual par ticiparam: Ricardo Corao de Leo, daInglaterra; Filipe Augusto, da Frana; FredericoBarba-Ruiva, do Sacro Imprio.

    9. CRONOLOGIA

    Sculo IV Prenncios socioeco -n micos da formao do sis temafeudal.325 Conclio de Niceia.Sculo V Invases germnicase fim do Imprio Romano do Oci den te.529 Fundao do Mosteiro doMonte Cassino por So Bento deNrsia.534 Elaborao da regra bene -ditina.590 Incio do pontificado de SoGregrio Magno.

    596 Fundao do Bispado deCan terbury.Sculo VIII Invaso muul ma -na na Europa.756 Doao do Patrimnio de SoPedro por Pepino, o Breve.768-814 Reinado de CarlosMagno.790-840 Ataques viquingues Ingla ter ra.843 Diviso do Imprio Caroln -gio pelo Tratado de Verdun.874 Viquingues norueguesesatin gem a Islndia.899-955 Incurses dos magiares(hngaros) no Ocidente.

    910 Fundao do Mosteiro deCluny.962 Fundao do Santo ImprioRomano-Germnico.982 Descoberta da Groen ln diapelos viquingues.1059 Criao do Colgio deCardeais e instituio do celibatoclerical.1073 Gregrio VII eleito papa.1076 Incio da Querela das In ves -tiduras.1077 Peregrinao de HenriqueIV a Canossa.1122 Concordata de Worms.

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    A sada proposta, ento, pelaIgre ja foram as Cruzadas, uma con -traofen siva da cristandade diante doavan o do Isl. A Europa, que, entreos s culos VIII e XI, no teve con di -es de reagir contra os rabes, pas -sa va a reu nir nesse momento as con -di es necessrias: a mo-de-obramilitar es ta va marginalizada e ociosa;o controle espiritual e religioso que aIgreja exer cia sobre o homem me die -val levou-o a crer na necessidade deres gatar o Santo Sepulcro e com ba -ter o infiel muulmano; o po der papalse for talecera quando Gregrio VIIimps sua autoridade a Henrique IV,na Que rela das Inves tiduras; a Igre jado Oci dente pre ten dia a reu ni fi caoda cris tan dade, quebrada peloCisma de 1054; o imperador deCons tantinopla de sejava afastar ope rigo que os mu ulmanos repre sen -ta vam; final men te, para Urbano II, opapa do exlio im posto pela Quereladas In ves ti du ras, con vocar as Cru za -das demonstrava pres tgio e au to ri -da de perante toda a Igre ja.

    Em 1095, no Conclio de Cler -mont, Urbano II con voca a cris tan da -de pa ra uma guerra santa con tra oIsl. Ao to do, rea li za ram-se oito Cru -zadas entre 1095 e 1270.

    Apesar da mobilizao realizadapelas Cruzadas, estas so con si de -ra das um insucesso, que se deve emprimeiro lugar ao ca r ter superficialda ocu pa o. A presena crist noOriente M dio no criou ra zes entreas po pulaes lo cais. Outra razo foia anar quia feudal, que en fra que cia

    as colnias mili ta res estabelecidasem ter ri t rio inimigo. A luta fra tri ci dafoi uma constante entre as ordensreli gio sas e os cruzados la tinos. Emre su mo, as Cruzadas fracas sa ramem ra zo das ri va li da des na cionaisentre as po tn cias ocidentais e dafal ta de capacidade da Igreja emorganizar uma fora que soubessesuperar es sas dis sen ses.

    4. CONSEQUNCIAS DAS CRUZADAS

    As Cruzadas no se limitaram sexpedies ao Oriente. Ao mesmotem po, os reinos ibricos de Leo,Cas tela, Navarra e Arago come a -vam a Reconquista da Pennsula Ib -ri ca contra os muulmanos. A ofen -siva te ve incio com a tomada dacidade de Toledo, em 1086, e con -cluiu-se, em 1492, com a tomada deGranada.

    A vitria dos italianos sobre osmuulmanos no Mar Tirreno e norteda frica fez com que as cidades ita -lia nas iniciassem o seu domniosobre o Mediterrneo, lanando asse men tes do comrcio e do capi -talismo. As rela es entre Ocidente eOriente foram redinamizadas depoisde s cu los de bloqueio, e as mer -cadorias orientais se espalhavampela Europa.

    O contato com o Oriente trouxe oconhecimento de novas tcnicas depro duo, fabricao de tecidos emetalurgia.

    O renascimento das atividadescomerciais levou ao crescimento dascidades, a uma economia ba sea dana moeda, expanso do mer ca do,ao surgimento de uma camada deco merciantes (burguesia) e difu sodo esprito de lucro. O pr-ca -pitalismo fa zia sua apario no Mun -do Medieval e, ao mesmo tempo, ocon denava desintegrao.

    5. OUTRO ENFOQUE

    H controvrsias sobre a ex pli -cao e a prpria periodizao dacri se feudal. Para alguns his toria do -res, o feudalismo no Ocidente pas -sou por um perodo de in cu ba oentre os sculos IV e VIII, atingiu suaple ni tu de nos sculos IX e XIII edecaiu entre os sculos XIV e XVI.Isso equi vale a dizer que o movi -mento das Cru zadas, o renas ci men -to co mer cial e ur bano, o apare ci -mento da bur guesia, en fim todas astrans for ma es socioeco n mi cas,po l ti cas e at religiosas do incio daBaixa Ida de Mdia no se riam ape -nas ma ni festaes do de sen volvi men - to e apo geu do feuda lis mo euro peu.

    6. A REABERTURA DO MAR MEDITERRNEO

    Os cris tos retomaram o controledo Mar Mediterrneo por meio dasCruzadas. A abertura do Medi ter r -neo navegao crist fez re nas cero comrcio entre Ocidente e Orien te,di namizando as relaes co mer ciaish muito tempo amor te ci das. Novospro dutos entram em cir cu lao, asmoe das voltam a ser usa das no inter -cm bio comercial: uma no va vidaeco n mi ca comeava a surgir naorla do Me di terrneo.

    7. O RENASCIMENTOCOMERCIAL

    No incio da retomada das ativi -da des comerciais terrestres, as difi -cul dades foram muitas: desde a co -bran a de pedgios at as ps si mascon di es das estradas. Tambm foidifcil pa ra o comrcio martimo, queca re cia de instrumentos de na ve ga -o e de bons navios.As rotas comercias incrementaram o comrcio na Baixa Idade Mdia.

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    No sculo XI, termina o do mniorabe sobre o Mediter r neo, que pas -sa a ser controlado pe los co mer cian -tes italianos. Os comer cian tes, an ti gosmarginais, dirigiam-se das cida desitalianas de Gnova e Ve neza paraos entrepostos co mer ciais do Medi -ter rneo Oriental: Cons tan tinopla,Alexan dria, Cairo e An ti quia, queformavam a rota do Me di ter rneo.

    De Flandres, seguindo o roteirodos antigos vikings atravs da Rs -sia, os comerciantes chegavam aCons tan tinopla pela Rota do Mar doNorte. O comrcio no norte da Eu ro -pa era controlado pelos mer ca do resda Gran de Hansa Germ nica, criadaem 1358, visando a pro te ger o comr - cio contra os piratas e impor sua von -tade ao rei da Di na mar ca, que co bra vaaltos pedgios so bre os merca dores.

    Veneza e Gnova, atravs daFran a, atin giam Flan dres, centro ma - nu fatureiro de l, pro mo ven do o de -sen volvimento das atividades co mer -ciais nas fei ras de Cham pagne. Essaro ta ter restre era denominada Ro ta deCham pag ne, que li ga va os trs cen -tros di n mi cos do co mr cio: Cons tan - ti no pla, ci da des italianas e Flan dres.

    As ati vi da des comerciais in ten si -fi caram-se mais ainda com o sur gi -men to das fei ras, que eram vin cu -ladas ao c api ta lismo nascente e quetinham um ca rter inter na cio nal. Oslocais onde elas se for mavam erampon tos es tra t gicos das correntes co -mer ciais. Os co mer ciantes prio ri za -vam suas rea li za es nos cha ma dosns de trn si to (cruza mentos derotas). Dentro das fei ras, de sen vol -veram-se tcni cas de comrcioexterior, como a tro ca de moedas eas letras de cm bio.

    8. O RENASCIMENTOURBANO

    No sculo XI, a crise feudal cediaes pao a um novo tipo de or ga ni za -o da vida. Nesse tem po, a po pu la -o eu ro peia crescia e as ci da despas saram a ser vir de polos re cep -tores a ser vos e viles que foram ex -pul sos das pro priedades se nho riais pela es cassez de terras ou que, emtempos de fome, partiam em bus cade no vas ati vi da des, alm de se remas ci da des, por ex ce ln cia, o localde desen vol vimento das ati vi da desmer cantis.

    Com a dinamizao da vida mer -cantil, es ses centros foram se trans - formando e ad qui rindo impor tn ciaca da vez maior. Se o cres ci mento doco mr cio levou for mao de no vasci dades, estas, por sua vez, pro -vocaram a in tensifi ca o do co mr -cio. Uma coisa in fluen cia va a outra.

    Os comerciantes procuravam lo - cais estratgicos para se esta be le - cer: burgos (castelos for ti fi ca dos),se des de bispados, centros admi nis -tra tivos etc.

    Entretanto, o crescimento na tu rale a falta de planejamento das ci da -des acarretaram-lhes ps si mas con -dies sanitrias, o que fa ci litava asepide mias e fazia cres cer a morta li -dade e o fa na tis mo.

    Nas cidades, uma nova ca ma dasocial exercia o poder: a bur gue sia, deorigem humilde, que co me a va a ri -valizar com a no bre za, dis pu tan do-lheo poder po l ti co. Os reis pro te giam osco mer ciantes, dando-lhes au tonomianas cidades, com a con ces so dasCar tas de Co mu na.

    A produo artesanal dentro dasci dades foi organizada em torno dascor poraes de ofcio, que regu la -men tavam a produo das co mu nas,fixando quantidade, qua li da de, pre -os e salrios. Mestres, ofi ciais eapren dizes compunham a hie rar quiadas oficinas medievais.

    Dentro das cidades, formaram-setam bm as guildas, associaes deco mer ciantes.

    O poder era exercido por umaAs sem bleia local, composta de mem -bros das associaes de co mer cia n tes.

    9. OS PRIMRDIOS DOCAPI TA LISMO EUROPEU:O PR-CAPITALISMO

    Esta nova realidade econmicaera muito diferente do feudalismo: aproduo se destinava ao mercado,as trocas eram monetrias; come a -vam a surgir o esprito de empresa eo ra cionalismo. Para que o capitalismose implantasse definitivamente, fal ta -va apenas o desenvolvimento das re -la es assalariadas de produo,rela es essas que somente se con -so li dariam na Europa por volta do s -cu lo XVIII, poca da Revoluo In -du strial.

    Essa fase de transio no ain dacapitalista, mas tambm j no maisfeudal; por isso, vamos de no mi n-lapr-capitalismo, que cor res pon de aoperodo entre os sculos XII e XVI.

    As sociedades agrrias tendema ser imveis, estamentais. Com ode senvolvimento da riqueza mo bili -ria, do dinheiro, surge a mobilidadeso cial, a possibilidade de ascensona escala social. A tradio deixa deser o nico elemento de hierar qui za -o na vida so cial, pois o econmicoco mea a adqui rir importncia.

    Esta sociedade ainda detransio, feudal, portanto umasociedade estamental, repre sen ta dapela nobreza e pelos servos. Po rm,a posio definida com base noeco nmico; a sociedade comea ator nar-se burguesa._________________________________

    10.CRONOLOGIA

    Sculo XI Incio da crise feudal.1054 Cisma do Oriente.1086 Tomada de Toledo, dentroda Guerra de Reconquista na Pe -nnsula Ib rica. 1096-1099 Primeira Cruzada.1099 Tomada de Jerusalm. 1147-1149 Segunda Cruzada. 1189-1192 Terceira Cruzada. 1160 Surgimento da companhiados mer cadores da Ilha de Visby, noMar Bltico.1202-1204 Quarta Cruzada. 1204 Pilhagem de Constan tino plapelos cruzados.1212 Cruzada das Crianas. 1217-1221 Quinta Cruzada.1228-1229 Sexta Cruzada. 1248-1250 Stima Cruzada. 1270 Oitava Cruzada.Sculo XIII Aquisio, por partede certas cidades, do direito decunhar moe da.1358 Formao da Grande Han saTeutnica (ou Liga Hansetica).Fim do sculo XIV Incio da de -ca dncia das fei ras medievais, sobre -tudo na regio de Champagne.1407 Fundao do primeiro ban -co pblico da Europa, em G nova.

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    1. TRANSIO DO FEU DA LIS -MO PARA O CA PI TALISMO

    A expanso martimo-comercialeu ropeia, ocorrida nos sculos XV eXVI, constitui um dos principais ca p -tu los da transio da Idade Mdiapara a Idade Moderna. As sim, paracom preend-la, necessrio inseri-lano qua dro das transformaes porque passou a Europa en tre os scu -los Xll e XV (Baixa Idade Mdia), fasemar ca da pela crise do feuda lis mo epela formao do ca pi ta lismo, co nhe - cida como pr-capitalismo.

    O pr-capitalismoVrios foram os fatores que con -

    tri buram para o sur gi mento do ca pi -ta lismo. As Cruzadas pro pi cia ram ore nascimento do comrcio na Eu ro -pa, que deu trabalho a nu me ro sosde sempregados. Produtos orien tais es peciarias, principalmente co -me aram a ser im por ta dos e dis tri -bu dos a partir dos portos da Itlia.Os sa ques efetuados nas ci da desmu ulmanas co lo ca ram nu me rosasmoedas em cir cu la o. Para ex plorares se co mr cio, foram or ga ni za dasgran des com pa nhias que pos suamdiversos do nos (acio nis tas) e bar -cos. V rias ro tas co merciais fo ramde sen vol vi das: a do Me di ter r neoligava as ci da des ita lia nas a Cons -tan ti no pla e a outros por tos do lito ralorien tal desse mar; a da Cham pagneligava It lia a Flan dres, de onde par -tia a ro ta do Mar do Norte, ru mo aCons tantinopla. Formou-se, as sim,

    um anel de co mr cio que se desen -vol veu ra pi da mente. Ro tas secun d -rias li ga vam-se s prin cipais, for man -do ver da dei ros ns de trn sito ondepa ravam os co mer ciantes pa ra trocare ven der seus pro du tos. Assim, sur -gi ram as feiras me die vais, que eramde ca r ter tem porrio; pou co apouco, elas foram pro lon gando-se ees ta bi li zan do-se, aca ban do por setornar cen tros per ma nen tes de trocas,cidades.

    Nessas cidades, chamadas bur -gos, habi ta vam os co merciantes que,por isso, foram cha ma dos bur gue -ses. Os burgueses entravam emacor do com o se nhor feudal a quemper tenciam as terras da cidade, pa -gan do-lhe anual mente uma soma emdi nhei ro; para de fen der seus in te res -ses contra co mer cian tes es tran gei ros,or ga ni za vam-se em as so cia es. Mui -tos ar te sos es ta be le ce ram-se noscen tros ur ba nos e or ga ni za ram-se, porsua vez, em cor po ra es de a cor docom a pro fis so. As cor po ra es evi -ta vam a con co r rn cia ex ter na e a ri va -li dade entre os ar te sos de uma mes - ma ci da de, re gulan do a quan tida de,qua li da de e pre o da pro du o decada um; ade quando a pro du o aocon su mo (dos ha bi tan tes do bur go eda zona rural prxima a ele), nohavia risco de su per pro du o.

    (Jobson de Ar ru da)

    A rigor, os empreendimentos ma -r timo-comer ciais eli minaram os obs -t culos que se opunham economiade mercado europeia, ao mesmo

    tem po em que con tri buam para ade sin tegrao do sistema feudal. Na -que la po ca, o Velho Mundo as sistia ascenso da burguesia mer cantil,ao advento das monarquias na cio -nais (poder cen tralizado nas mosdos reis), afirmao da cultura re -nas centista e ruptura da unidadecrist da Europa Oci dental, em de -cor rncia da Reforma.

    2. FATORES DA EX PAN SOULTRAMARINA EU ROPEIA

    No plano econmico, h que secon siderar as crises dos sculos XIV(re trao do co mr cio) e XV (ne ces -si da de de ex pan dir o comrcio), quele va ram procura de novos mer ca -dos, tanto para consumir os ex ce - den tes eu ro peus de ma nu fa tu radosco mo para fornecer me tais pre ciosose artigos orien tais, atravs de umano va rota. No plano sociopoltico, ha -via o interesse da burguesia mer - cantil em ampliar a cir cu la o co mer -cial, a qual foi tam bm impul sionadapelo for ta le ci mento do poder do Es -ta do Nacional. No plano cultural, ca -be citar a di vul ga o de novas ideias,uma maior curiosidade in telec tualpor parte dos europeus e, sobretudo,a contribuio das gran des inven -es (plvora, bssola, papel e im -pren sa). Finalmente, no plano religio -so, deve-se levar em conta o idealcru za dis ta, isto , o empenho emex pan dir a f crist por meio daconverso dos gen tios (pa gos).

    3. CRONOLOGIA

    1095 Convocao da 1.a Cruzada

    pelo papa Urbano II.

    1202 Incio da 4.a Cruzada, que

    saqueou Cons tan ti no pla.

    1215 Imposio da Carta Magna

    pelos bares ingleses ao rei Joo

    Sem-Terra.

    1258 Formao da Liga Han se -

    ti ca.

    1309 Incio do Cativeiro de

    Avignon.

    1337 Incio da Guerra dos Cem

    Anos.

    1348 Peste Negra.

    1415 Incio da Expanso Mar ti -

    ma Portuguesa, com a conquista de

    Ceu ta.

    1420 Criao da perspectiva

    exa ta ou matemtica pelo arquiteto

    florentino Filippo Brunelleschi.

    1453 Queda de Constantinopla.

    1516 Publicao de O Prncipe,

    de Maquiavel.

    1517 Publicao das 95 Teses,

    de Martinho Lutero.

    MDULO 6 Contexto e Fatores da Expanso Martima

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    1. ORIGEM DE PORTUGAL

    A formao do Reino de Portugalest associada lon ga Guerra da Re -con quista entre cristos e mu ul ma -nos na Pennsula Ibrica. Muitos no -bres marginalizados pe las trans for -ma es do feudalismo par ti ci paramdas lutas contra os mouros em tro cade benefcios (feudos). Hen ri que deBorgonha recebeu do Rei de Leo eCas tela, Afonso VI, terras si tua das en -tre os Rios Douro e Mi nho (Con da doPortucalense). Em 1139, Afon so Hen - ri ques, filho de Henrique de Bor go - nha, rompeu as re la es de su se ra niae vassalagem com os cas te lha nos ein titulou-se rei de Portugal, fun dan doa Dinastia de Bor gonha (1139-1383).

    2. PIONEIRISMO LUSO NASGRANDES NAVEGAES

    Portugal foi o pas pioneiro na ex -pan so martima em vir tude de umasrie de fatores: de sen vol vi men to co -mer cial, que proporcionou o sur gi -mento de uma burguesia di nmica eeconomicamente forte; interesse dogru po mer cantil em expandir suastran saes comerciais; con so lidaodo poder real por meio da Revoluode Avis (1383-85), promovida pelabur guesia; aperfeioamentos nu ti -cos pela inveno da caravela, uti li -za o da vela triangular ou latina e,pos sivelmente, a existncia de umcen tro de estudos nuticos em Sa -gres; posio geo gr fica favorvelem direo costa africana e atmes mo o esprito cruzadista presentena expanso lusa.

    3. VIAGENS PORTUGUESAS

    Os empreendimentos martimosportugueses devem ser divididos emduas etapas distintas: devassamentodo litoral da frica e procura de umnovo caminho ma r ti mo para o Orien -te (ndias). A primeira foi iniciadapela to ma da de Ceuta em 1415, en -tre pos to mercantil norte-africano atento controlado pelos mouros.Nessa fase, durante a qual foramfundadas vrias feitorias na costaafri cana para tra fi car escravos e pro -dutos lo cais (ou ro, marfim, pimenta-ver me lha), des co bri ram-se as ilhasatln ti cas da Ma deira, dos Aores ede Cabo Verde; as Ca n rias foramdescobertas an te rior men te.

    Com a conquista de Cons tan ti no -pla pelos turcos (1453), os preosdas especiarias orientais elevaram-serepentinamente, o que incentivou abus ca de uma rota para as ndias.As sim, com a morte do InfanteD. Hen ri que (1460), que at ento di -ri gi ra a expanso martima por -tuguesa, o Es ta do luso empenhou-seem com ple tar o priplo africano.Nessa no va eta pa, destacaram-se asvia gens de Bar tolomeu Dias (Cabodas Tor men tas ou Boa Esperana,em 1488) e de Vas co da Gama (che -ga da a Calicute, na ndia, em 1498).Pouco depois, com o envio daesquadra de Pedro l vares Cabral,que des co briu o Bra sil, em 1500,iniciou-se a cons truo do ImprioColonial Portugus no Orien te.

    J no sculo XVI, sob o comandodo almirante Francisco de Almeida,novas tentativas so desenvolvidas,

    mas somente por volta de 1509 ospor tugueses vm a conhecer suasvitrias mais significativas. Entre esseano e aproximadamente 1515, o co -man dante alm. D. Afonso deAl buquerque considerado ofor mador do Imprio por tu gusnas ndias passou a ter su ces -sivas vitrias no Oriente, con quis tasque atingiram desde a re gio doGolfo Prsico (den), aden trarama ndia (Calicute, Goa, Diu, Damo),a ilha do Ceilo e che ga ram at regio da Indochina, onde foi con -quistada a importante Ilha de Java.__________________________________

    4. CRONOLOGIA

    1085 Tomada de Toledo e incio daReconquista da Pennsula Ibrica.1095 Convocao da PrimeiraCruzada pelo papa Urbano II. 1139 Fundao do Reino dePortugal por D. Afonso Henriques. 1249 Conquista do Algarve (ex tre -mo sul de Por tu gal) por D. Afonso III.1383-85 Revoluo de Avis:D. Joo I aclamado rei de Portugal.1415 Conquista de Ceuta: incioda expanso martima portuguesa.1419 Descobrimento do Arqui p -lago da Madeira.1434 Gil Eanes dobra o CaboBojador.1444 Descobrimento do Arqui -plago de Cabo Ver de.1448 Construo da feitoria deArguim, destinada a concentrar otrfico negreiro.1456 Chegada dos portuguesesao Golfo da Guin.1460 Morte do infante D. Hen ri -que, o Navegador.1488 Bartolomeu Dias dobra oCabo das Tormentas (ou Boa Es pe -rana).1492 Descobrimento da Amricapor Colombo. 1498 Chegada de Vasco da Ga -ma a Calicute, na ndia.1500 Descobrimento do Brasilpor Cabral.

    Para realizar o Ciclo Oriental de Navegaes, os portugueses organizaramsuces sivas expedies que devassaram o litoral atln ti co africano. Depois,penetrando o Oceano ndico, navegaram at Calicute, na ndia.

    MDULO 7 Expanso Martima: Ciclo Oriental

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    1. lNTRODUO

    Um conjunto de fatores eco n mi -cos, sociais, po l ti cos, culturais e atmes mo geogrficos tornou possvel aPor tugal ser o pioneiro da ExpansoMa rtimo-Co mer cial dos Tempos Mo -dernos. Os demais pases eu ro peus,na mesma poca em que os por tu -gue ses se lan aram no movimentode expanso ocenica, par ti cu lar -men te Inglaterra, Frana, Pases Bai -xos e Espanha, es tavam envolvidosem uma gama de problemas que osre tar da ram na procura de um novocaminho para o Oriente.

    2. EMPREENDIMENTOS ESPANHIS

    No caso da Espanha, o principalobstculo foi de ordem poltico-militar.A Guerra de Reconquista contra osmouros ocupou os espanhis durantemui tos sculos, pois somente em1492, aps a Batalha de Granada, que os Reis Catlicos expulsaram osmuulmanos de seu territrio. No mera coincidncia o fato de a via gemde Cristvo Colombo ser dessa po -ca. Colombo, de origem controversa(ge novs ou catalo), completou suafor mao de marinheiro a servio dorei portugus. Acre ditava que erapos svel atingir el levante por el po -niente dando a volta ao mundo, via -jando de Ocidente para Oriente. Noconseguindo apoio financeiro dePortugal, Colombo associou-se aosirmos Pinzon e re ce beu uma pe que -na ajuda dos Reis Catlicos, Fernan -do de Arago e lsabel de Castela.Com uma nau (Santa Ma ria) e duasca ra ve las (Pinta e N