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12ª Edição PACTA

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12ª Edição da Revista PACTA

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Page 1: 12ª Edição PACTA
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Coordenadores da PACTA:Sofia Ramos, 212430Tiago Nobre, 216492

Colaboradores:Filipe Gomes, 216427Gabriel Machado, 216387João Pinto, 214903Nuno Gonçalves, 216399Teresa Dominguez, 214346

Responsáveis pelas Redes Sociais:Filipe Gomes, 216427Gabriel Machado, 216387João Pinto, 214903Nuno Gonçalves, 216399Teresa Dominguez, 214346Tiago Nobre, 216492

Design Editorial:Maria João Martins

EQUIPA

Page 3: 12ª Edição PACTA

ÍNDICE DE CONTEÚDOS

UNIÕES DESUNIDASPÁG. 4

OU A ESQUECIDA LIÇÃO URARTU

ARTIGOS DA CASA

A MOEDA EUROPEIA entre a construção monetária e a desconstrução europeia

PÁG. 6 Simulaçãoda Cimeira do G20

PÁG. 10

ENTREVISTADr.ª Ana Calapez Gomes

PÁG. 12

OS GREGOS DEVEM ESTAR LOUCOS?!

PÁG. 14

ARTIGOS DE FORA

O OBSERVATÓRIO DA CHINA:A promoção dos Estudos Chineses e da compreensão do papel internacional da

República Popular da China

PÁG. 18

CRONOLOGIA

PÁG. 24

ORGANIZAÇÃO DE EVENTOS

PÁG. 30Simulação da Cimeira do G20

EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO

PÁG. 32Ministério dos Negócios Estrangeiros

Mais uma PACTA, a décima segunda edição, que trata do que se passa pelo mundo das Relações Internacionais. Este projecto continua a ser construído e a crescer com a vontade e a ambição de informar a comunidade académica, docente e estudantil e todos os interessados que nos queiram acompanhar. A globalização cria a ligação entre todas as nações e pessoas do mundo. Para as empresas, essa internacionalização significa competir em mercados novos e desconhecidos, aproveitando as melhores oportunidades para colocar os seus produtos de forma mais adequada e competitiva. Um profissional de Relações Internacionais está preparado para analisar essas mesmas oportunidades e encaminhar as negociações e os processos para os melhores resultados. É esta internacionalização que amplia o campo de actividade e acção desse profissional.Para esta edição escolhemos como tema de entrevista a questão relacionada com as funções, capacidades e valor das pessoas formadas em Relações Internacionais para as empresas nas quais trabalham. Neste âmbito, entrevistámos a Professora Ana Calapez Gomes, docente do ISCSP, a fim de abordar a questão da impor-tância da recruta e contratação de pessoas formadas em RI para as empresas que o fazem. Como não podia deixar de ser, trazemos o melhor daquilo que se investiga e se escreve no ISCSP, bem como na restante comunidade académica, de investigação e de trabalho na área, no resto país. Como sempre trazemos assim a habitual coluna do Professor Tiago Ferreira Lopes e artigos que abordam questões de bastante rele-vância na actualidade internacional como a crise na Grécia e na Zona Euro e a importância do Observatório da China no âmbito das actividades de promoção dos Estudos Chineses em Portugal. Possibilitamos ainda a leitura de artigos relativos a uma experiência de estágio no Ministério dos Negócios Estrangeiros e à análise da 3ª Edição da Simulação da Cimeira do G20, que ocorreu no ISCSP, nos dias 4 e 5 de Dezembro, organizada pelo Núcleo de Estudantes de Relação Inter-nacionais. Em nome da equipa, a todos quero agradecer o apoio e feedback positivo, que não deixam de manifestar e que é tão essencial à continuação deste projeto.

Editorial

Tiago NobreSub-Coordenador da Equipa PACTA

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Qualquer leitor que goste de explorar um pouco da História do Cáucaso, da Ásia Central, do Magreb ou do Médio Oriente deparar-se-á com descrições extraordinárias do poderoso e temido Império Assírio. Os Assírios, para o leitor menos “familiarizado” com a História de tais geografias, causaram temor ao Egípcios, aos Hititas e até ao famoso Império da Babilónia.

Curiosamente, poucos leitores identificaram o Império de Urartu. O nome de um dos rivais do Império Assírio, na complicada transição entre o período do Império Médio e o Novo Império Assírio, como que desapareceu da História. Não se pode dizer que está perdido, porque o leitor mais paciente e persistente acabará eventual-mente por encontrá-lo mas é pálida a imagética deixada pelo Império que atemorizou o poderoso rival de tantos ilustres Impérios da Antiguidade.

Urartu torna-se um Império poderoso, mencionados nas crónicas Assírias, Sumérias, Cimérias e Colchis, por volta dos séculos X-IX a.C. Antes de ser Império, Urartu fizera parte da Confederação de Nairi,

um conglomerado de estados proto-Arménios sujeitos, no séculos XIII-XI a.C., a uma vaga de ataques por parte dos Imperadores Assírios.

As dificuldades impostas pelos constantes “assaltos” Assírios depressa revelaram que a Confederação de Nairi pouco tinha de confederada… Um dos proto-Estados mais poderosos, Urartu claro está, usou o momento de fragilidade para “espremer” poder político dos seus aliados para si mesmo. E no final do século X, Urartu suplantara a Confederação de Nairi e tornara-se Império. Após as campanhas de Assurnasirpal II, Imperador Assírio conhecido pela brutalidade das suas campanhas militares bem como pela suapaixão pelas artes e por arquitectura de tipo majestoso, os Assírios entram num momento de claro declínio e Urartu (que sedimentara o seu poder “espremendo” política, económica e militarmente os seus antigos aliados) aparece no Cáucaso e no Levante com toda a pujança.

Sarduri I, conhecido (para quem conhece Urartu, claro!) como “O Rei dos Quatro Quartéis”, inicia um período grandioso na História de Urartu. Com Sarduri I a antiga capital de Nairi é movida para uma nova localização, mais de acordo com os intentos políticos de Urartu. Os Assírios, poderoso inimigo em claro estado de decadência, são atacados e alguns dos seus “satélites” passam para domínio de Urartu. O problema, como ensina o historiador John Darwin, é que todos os Impérios estão destinados a um ocaso. A questão central para os Imperadores é saber gerir os Impérios, de modo a adiar o inevitável colapso dos mesmos. E nos Impérios nascidos como Urartu (e acredite o leitor que eles existem) o final tende a ser agonizante.

Na segunda metade do século VIII a.C.,

OU A ESQUECIDA LIÇÃO DE URARTUUNIÕES DESUNIDAS

TIAGO FERREIRA LOPES

VotingAid Professor na ZEF (Finlândia)Investigador Integrado no Instituto do Oriente

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Risa I sob ao trono do Império Urartu. O rival Assírio, entretanto reagrupado e a recuperar das “feridas” do período transitório, ataca com toda a força Urartu (que nascera “consumindo” os aliados da Confederação de Nairi) e Risa I, derrotado com estrondo, vê como única saída o suicídio. Segue-se-lhe no trono o seu filho Argishiti II que não mais conseguirá conter a implosão de Urartu e o seu desaparecimento da História. No século XXI, no espaço Europeu, parecemos condenados a viver um ciclo “Urartiano” se não soubermos aprender com os erros do passado. Com a implosão do “inimigo vermelho” a Europa da União achou que o mundo caminharia para o tão mediatizado Fim da História. Mas um final, como qualquer escritor saberá, mais não é do que uma porta para novos começos. Porque o dito final não finaliza; apenas conclui para recomeçar…

A União olhou então para o espaço geopolítico que fora do tal “inimigo vermelho” e aguçou os dentes, enquanto este passava por um período de transição doloroso, que o historiador Gregory Freeze apelidou de “Catastroika”. A ideia era simples: quem quisesse seguir “em frente”, para o mundo moderno, teria que seguir pela mão da União, ou estaria condenado a um passadismo inglório e sem futuro.

No começo do século XXI a União foi acossada por ataques; não ataques militares, como os que sofreu Urartu, mas ataques vocabulares. Uma horda de vocábulos pomposos como “ratings”, “haircuts”, “dívidas soberanas”, “austeridade” ameaçaram a União, impondo a sua realidade como a única realidade.

Num momento de fragilidade vítrea o que fez a União? Desuniu-se, pois claro, e o mais poderoso tentou usar o momento para capturar mais e mais poder. Impuseram-se ideias, com a

justificativa de que só haveria um caminho para a salvação, e a União deixou de ser uma União de facto para passar a ser uma Imposição de jure. E, tal como em Urartu, até a capital foi simbolica-mente (não houve audácia para mais!) mudada…

O mais poderoso, promotor principal da “aproximação” intensiva ao espaço que fora do “inimigo vermelho”, aproveitou as dificuldades da União para impor pelas normas e pelas leis o que não conseguiu impor no passado. Afinal, o mesmo mais poderoso chegou tarde (e mal!) à corrida colonial e não conseguiu impor pelas armas o que agora consegue impor pela via normativa: domínio!

E entretanto o “inimigo vermelho” transmut-ou-se em algo diferente; reorganizou-se e voltouà cena internacional. E com eles vieram outros

E entretanto o “inimigo vermelho” transmut-ou-se em algo diferente; reorganizou-se e voltou à cena internacional. E com eles vieram outros desafios. E o mais poderoso parece agora sem resposta, para os dilemas que a sua política criou. O mais poderoso da União, que ganhou poder retirando-o aos outros membros, está agora numa encruzilhada sem respostas, para tantas questões novas que o seu domínio levantou.

Urartu implodiu não apenas pela força dos ataques do rival Assírio, mas porque os Cimérios, os Colchis e os Citas souberam explorar a fraqueza do Império para o fazer colapsar. Aos inimigos de fora, somou-se a desunião interna que acelerou a implosão de Urartu. Ora no espaço da União aos inimigos exógenos, soma-se já uma clara cisão interna que tenderá aprofundar-se nos próximos meses… Se não soubermos aprender as lições de Urartu, a União (já de si pouco unida) desunir-se-á e quem tem mais poder, por mérito ou por “saque” normativo, cairá com mais estrondo.

OU A ESQUECIDA LIÇÃO DE URARTU

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Na base da construção monetária europeia estão, fundamentalmente, factores de ordem política. A UEM foi construída a partir da necessidade de conjugar os interesses dos dois principais actores, França e Alemanha, que, embora por motivos diferentes, encontraram algum consenso que permitiu avançar para um empreendimento de magnitude tão vasta e consequências tão imprevisíveis . As razões são facilmente entendíveis: depois da experiência da participação no Sistema Monetário Europeu (SME), um sistema assimétrico, fundado sobre uma moeda âncora, os responsáveis franceses sentiam a necessidade de encontrar um mecanismo que impedisse uma ainda maior transferência de soberania monetária para a Alemanha. Efectivamente, no contexto do SME, o banco central alemão era o actor fulcral do processo, que definia a taxa de câmbio da conveniência germânica, válida para todos os outros. Para a França, a situação era delicada: ou se limitava a seguir as orientações do Bundesbank, ou arcava com os custos da instabilidade nos mercados monetários, pelo que optou pela primeira hipótese.

A Alemanha tornou-se a potência hegemónica do sistema monetário, à semelhança do que tinha acontecido com os EUA, no regime de Bretton Woods. Com a implementação da UEM, seria possível, teoricamente, reduzir a hegemonia alemã, e a França ficaria com um peso idêntico à Alemanha na definição da política monetária.

Por sua vez, os objectivos da Alemanha, embora também de carácter político, eram de natureza um pouco diferente, já que ao Chanceler Helmut Kohl interessava a constituição da união monetária mas como forma de assegurar uma futura unificação política europeia, garante da paz permanente entre os outrora beligerantes.

No entanto, embora se evidenciasse uma convergência de posições entre os principais lideres políticos europeus, a situação era muito diferente no que concerne a opinião pública interna: enquanto os franceses se mostravam relativamente indiferentes ao processo de união monetária, os alemães manifestam abertamente a sua discordância em partilhar uma moeda e uma política monetária com os indisciplinados países do Sul da Europa, a quem são imputados um certo laxismo orçamental e uma maior tolerância ao desequilíbrio das contas públicas.

Para tentar conquistar o apoio das elites e da sociedade alemã, são introduzidos no Tratado de Maastricht um conjunto de critérios de convergência, eliminatórios, que os candidatos à participação na união monetária europeia deverão preencher. Paradoxalmente, esses critérios, reflectindo fielmente a influência da corrente monetarista no seio da Academia, apenas fazem referência à necessidade de controlo das pressões inflacionistas e dos

ENTRE A CONSTRUÇÃO MONETÁRIA E A DESCONSTRUÇÃO EUROPEIA

A MOEDA ÚNICA EUROPEIA

CARLA COSTAProfessora Auxiliar no ISCSP

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desequilíbrios orçamentais, ignorando por completo os requisitos preconizados pelo arcaboiço teórico da teoria das Zonas Monetárias Óptimas (ZMO), em que se inspira a UEM europeia. Um conjunto significativo de pesquisas académicas mostram que desde a introdução do euro em 1999, os países periféricos da UEM não só não conseguiram alcançar a convergência real para os países da união do núcleo, mas, pelo contrário, têm divergido mais. A participação desses países na zona euro dotou-os de uma falsa sensação de segurança financeira, impedindo-os de prosseguir impopulares, mas necessárias reformas fiscais e estruturais. Isso causou perdas de competitividade substancial levando a insustentáveis dívidas, pública e externa. O crescimento europeu é limitado por problemas de dívidas e preocupações sobre a solvência de vários estados membros da zona euro, com a Grécia em destaque, altamente endividados. O raciocínio parece ser que o crescimento exige a confiança do mercado, que por sua vez, exige contenção fiscal. Como defende Angela Merkel, chanceler alemã, o crescimento económico não pode repousar sobre elevados défices orçamentais do Estado, mas a evidência tem demonstrado que a perda das principais políticas económicas, nomeadamente a política monetária, não foi compensada por outros instrumentos de ajustamento, tornando a zona euro, no seu conjunto, mais susceptível à ocorrência de choques assimétricos. No entanto, a zona euro europeia ainda poderia reunir condições para ser considerada uma ZMO se tivesse sido criado um mecanismo de

segurança que repousasse sobre um orçamento devidamente dimensionado. Por outras palavras, se a união económica estivesse enquadrada numa união orçamental, o que não acontece.

Numa primeira fase, os mercados globais não atribuíram grande importância ao facto, acreditando que, no contexto de uma união monetária plena, os títulos da dívida soberana apresentavam as mesmas garantias, inde-pendentemente do país em causa. Quando se aperceberam de que a UEM não constituía, efectivamente, uma zona monetária óptima, começaram a exercer uma pressão brutal sobre os membros mais frágeis da zona euro, esperando por uma resposta dimensionada. Mas essa resposta não chegou porque, para além de não ser uma união monetária plena, a zona euro não dispõe do enquadramento político e institucional que lhe permita gerir situações com esta complexidade e abrangência. Desde a não existência de consenso entre os países europeus para a compra de dívida pública por parte do BCE até à dificuldade em definir uma união fiscal e um governo económico conjunto, os líderes europeus não conseguem encontrar uma solução sustentável para a crescente assimetria entre a solvabilidade das economias da zona euro, pondo em causa a própria sobrevivência da moeda única.

Todos estes factores se conjugaram para fazer com os líderes europeus tivessem feito o diagnóstico incorrecto da situação e, fundamen-talmente, das causas da crise da dívida soberana, em 2010. Na opinião dos países do Norte da Europa, a crise da dívida resultou basicamente de atitudes despesistas das sociedades do sul,

ENTRE A CONSTRUÇÃO MONETÁRIA E A DESCONSTRUÇÃO EUROPEIA

A MOEDA ÚNICA EUROPEIA

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e dos governos, em particular. Com excepção da Grécia, em que essa situação efectivamente se verificou, os restantes países não apresentam evidência nesse sentido: a causa fundamental é a acumulação insustentável de dívida por parte do sector privado em vários países europeus.

O grande problema é que quando o sector privado é obrigado a fazer a desalavancagem dessa dívida, a única forma de evitar os efeitos recessivos é, precisamente, fazer com que os governos possam intervir na economia de modo a evitar uma poderosa espiral recessiva. Numa primeira etapa de resposta à crise da dívida, esse foi o procedimento adoptado, mas rapidamente foi substituído por fortíssimas politicas restritivas que visavam reduzir o peso da dívida pública em relação ao produto gerado.Outra grande questão levantada por este processo de integração monetária é, precisamente, a sua contextualização histórica. A maior parte das experiências que envolvem o estabeleci-mento de uma união monetária e a emergência de uma moeda comum a vários países, ocorreu em simultâneo, ou foi imediatmente seguida, com um processo de integração política. A Reunificação Alemã, em 1990, constitui um exemplo perfeito desta sequência.

A UEM europeia representa uma excepção notável a este procedimento: os líderes europeus concordaram na substituição das moedas nacionais, símbolos da soberania nacional, por uma moeda comum, mantendo os respectivos governos, instituições e orçamentos nacionais. Esta sequência de eventos reflecte, do nosso ponto de vista, uma visão demasiado economicista e comercial da integração europeia, muito afastada da vontade política dos Pais Fundadores, o que por em causa a susten-tabilidade do próprio processo de integração.

Pode dizer-se que o estádio de integração na Europa atingiu um curioso, e preocupante, status quo: dezanove países partilham uma moeda e política monetárias comuns, embora mantendo uma relativa soberania na definição da política orçamental. A política fiscal, por seu turno, é essencialmente, responsabili-dade de cada estado membros. Por outro lado, o orçamento comunitário representa apenas

1% do PIB comunitário, o que inviabiliza, naturalmente, qualquer tentativa de fazer funcionar os estabilizadores automáticos.Ninguém está inocente em todos este processo. A insistência na prevenção da crise através da política orçamental e da supervisão europeia serviu como pretexto para não pensar acerca da gestão da crise. Por outro lado, a Alemanha e a França foram os primeiros a contribuir para o enfraquecimento do sistema de pevenção de crises, ao violar, sem sanções, as condições do Pacto de Estabilidade e Crescimento, em 2003. O problema grego poderia ter sido resolvido há muito tempo se os restantes países tivessem concordado numa auditoria às suas contas.

Relembre-se o seguinte facto extraordi-nário : quando é feita, em Maio de 1998, a selecção dos países que constituiriam o núcleo fundador da moeda única, a Grécia não integra o grupo porque não cumpre nenhum dos cinco critérios de convergência. Passados doze meses, aproximadamente, uma nova avaliação conclui que a Grécia conseguiu preencher todos os requisitos, numa fantástica proeza de disciplina e rigor monetário e orçamental…

Finalmente, a Alemanha desfrutou da sua competividade face a outros países na zona euro, não percebendo que a correspondente falta de competitividade da Grécia e de outros países estava, na realidade, a minar a própria sustentabilidade da participação destes países na zona euro. Na prática, a UEM acaba por funcionar como uma espécie de Gold Standard : para que uns possam ter superavits, outros têm que ter défices. E nenhum dos dese-quilibrios é sustentável a médio prazo.

Poder-se-ia afirmar, com relativa tranqui-lidade, que todos estes factores não seriam demasiado preocupantes se se verificassem duas, ou pelo menos, uma de duas condições: que as economias em causa fossem relativa-mente homogéneas, do ponto de vista do desen-volvimento sócio-económico; que os estados membros envolvidos no processo de integração partilhassem da mesma cultura institucional e política, traduzida, entre outro aspectos, na identidade de preferências na orientação da política económica, nomeadamente monetária

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e orçamental. Nenhuma das duas condições se verifica, o que agrava as dificuldades de prosseguir a integração monetária, particu-larmente num contexto de crise global. A construção da UEM entre os países europeus foi, provavelmente, a maior aventura que envolveu sucessivas gerações de cidadãos comuns, especialistas académicos e lideres políticos. Os requisitos e o compromisso que, desde o início, se reconheceu serem indispensáveis para o sucesso do projecto revestiam-se de uma ambição que só seria concretizada se existisse uma vontade política sólida e partilhada entre todos. E, como vimos, a UEM foi, essencialmente, um projecto político, cujas origens e finalidades remontam ao período dos grandes conflitos entre os países europeus. A Reunificação Alemã, no início da década de 1990, traduziu a nova posição da Alemanha na Europa e no mundo, e constituiu, paradoxalmente, o mais poderoso dínamo para o avanço da integração monetária europeia, embora por razões diferentes para os vários actores envolvidos.

No entanto, este projecto político não teve em conta os fundamentos económicos indispensá-veis à sua fundação e sustentabilidade, uma lacuna que se tornou dolorosamente visível através da incapacidade de diagnosticar as causas profundas da crise da dívida soberana e de dotar as instituições europeias dos meios e filosofias de acção mais adequados.

Passados mais de sessenta anos do início formal do processo de integração, com a instituição da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, a paz é um valor tão consolidado entre os cidadãos europeus que poucos se recordam de que a principal motivação para este projecto europeu foi conseguir um compromisso que evitasse a eclosão de futuras guerras entre os países europeus. A economia e a moeda foram escolhidas como os instrumentos mais adequados para desempenhar essa missão, pelo que se instalou entre os líderes políticos europeus a ideia de que se poderiam facilmente adaptar os mecanismos económicos aos requisitos políticos, sem preocupações adicionais. A realidade demonstrou, de forma cruel, a miopia e a falácia destes pressupostos.

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Simulaçãoda Cimeira do G20

Decorreu, nos passados dias 4 e 5 de Dezembro de 2014, no ISCSP, a 3.ª Edição da Cimeira do G20, evento organizado pelo Núcleo de Estudantes de Relações Internacionais (NERI).

O G20 é um grupo constituído pelas 19 maiores economias mundiais às quais se junta a União Europeia. Este grupo surgiu em 1999, na sequência das crises financeiras dos anos 90, e o seu principal objectivo é uma maior cooperação e diálogo, a nível económico, entre estas economias e as restantes economias mundiais, tendo em vista o equilíbrio e a estabilidade económica internacionais. Fazem parte do G20 a África do Sul, a Alemanha, a Arábia Saudita, a Argentina, a Austrália, o Brasil, o Canadá, a China, a Coreia do Sul, os Estados Unidos da América, a França, a Índia, a Indonésia, a Itália, o Japão, o México, a Rússia, o Reino Unido, a Turquia e a União Europeia.

A simulação organizada pelo NERI é aberta a todos os estudantes do Ensino Superior, em Portugal, quer sejam de Relações

Internacionais ou de áreas contíguas, tais como a Ciência Política, o Direito ou a Economia.

Nesta edição, tal como nas anteriores, vários alunos de diferentes estabelecimentos de Ensino Superior participaram nesta actividade.

Tal como aconteceu nas 1.ª e 2.ª Edições, acompanhei o processo de elaboração da simulação da Cimeira desde o início. Nesta 3.ª Edição, tive oportunidade de assistir aos trabalhos dos estudantes.

À semelhança dos anos anteriores, os participantes foram divididos em delegações constituídas por duas pessoas, em repre-sentação dos 20 Estados-membros e dos respectivos Chefes de Estado, e associadas em cinco grupos/alianças (de quatro Estados cada) previamente formadas pela organização da Cimeira. O tema central a ser debatido nesta edição foi “Fortalecer o desenvolvimento global: desenvolvimento do mercado energético e reforma das instituições financeiras globais”. Assim, cada uma das alianças tinha por missão encontrar soluções e propostas para o tema em questão e apresentar uma moção com tais soluções e propostas.

No primeiro dia de trabalhos, os diferentes Estados-membros reuniram com os seus companheiros de aliança para pesquisarem sobre o tema proposto e elaborarem o documento que iria reflectir a sua posição sobre o mesmo. Por outro lado, cada aliança reuniu com alguns Professores do ISCSP, os quais, na qualidade de experts, fizeram uma exposição sobre as economias dos diferentes

TERESA SILVA

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Professora Auxiliar no ISCSP

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Estados-membros, a respectiva projecção internacional e as relações entre elas. No segundo dia de trabalhos, os documentos saídos das reuniões das alianças do dia anterior foram colocadas à discussão e votação por todos os Estados-membros. Durante o debate, os proponentes dos mesmos tiveram que defender os seus pontos de vista e tentar convencer os outros Estados a votarem favoravelmente na sua proposta. As propostas poderiam, ou não, ser aprovadas por voto aberto de maioria simples.

Neste segundo dia, tive oportunidade de assistir a parte deste debate. Foi gratificante para mim, eu própria aluna e (sempre) estudante de Relações Internacionais, perceber que os nossos alunos estão muito bem preparados para organizar e participar em eventos deste género. É compensador perceber que o curso lhes fornece as ferramentas necessárias para conseguirem “ler”, com grande capacidade analítica, a conjuntura internacional e esboçar cenários no quadro da complexidade crescente das Relações Internacionais. Por outro lado, surpreendeu-me o poder de argumentação e de exposição oral de alguns dos participantes, os quais demonstraram uma grande maturidade intelectual e capacidade de análise, apesar da sua tenra idade.

As excelentes características demonstradas pelos intervenientes acabariam por ser premiadas, tal como já havia acontecido nas

edições anteriores. Desta forma, o prémio para Melhor Orador foi atribuído a Tiago Lucas (um dos representantes dos EUA); os prémios para as Melhores Equipas fora atribuídos a: David Mourão e Duarte Carrasquinho (os representantes do Canadá, em primeiro lugar), Carina Soares e Duarte Vieira (em representação da Turquia, no segundo lugar) e Bruno Martins e Guilherme Alves (a delegação do Brasil, em terceiro lugar).

Por fim, a mim, cabe-me dar, mais uma vez, os parabéns aos vencedores e ao NERI e encorajar a sua direcção a continuar com este tipo de iniciativas que em muito enaltecem não só o próprio Núcleo, como também o ISCSP e a Licenciatura em Relações Internacionais em si.

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1. As Relações Internacionais são uma área científica relativamente recente.

Considera esta uma área importante para a compreensão do mundo empresarial em contexto de internacionalização e para o desen-volvimento e competitividade de uma empresa face aos seus rivais num determinado mercado?

Parece que sim. Evidentemente é do interesse das empresas terem pessoas com a vossa especialização, não que eu conheça exactamente quais as disciplinas específicas do vosso curso, mas presumo que ao longo dos 3 anos da licenciatura vocês vão desenvol-vendo sensibilidade para as questões interna-cionais, nomeadamente o diálogo intercultural, para questões relacionadas até com diplomacia económica, pois estão não se passa apenas ao nível dos Estados, mas também do próprio investimento das empresas. Isso por um lado, e por outro a níveis estratégicos também tem interesse, pois será muito importante quando se trata de uma análise estratégica para tomar uma decisão de investimento. Não basta só ver se a minha empresa está financeiramente apta a fazer um investimento no exterior. Por exemplo, importa muito saber o que lá vão encontrar, não apenas em termos do que posso ganhar, do que posso vender, mas isso também é influênciado pelo próprio ambiente político, económico e cultural. Por isso, a partir do momento em que vocês têm uma noção do que se está a passar nas várias regiões do mundo têm a possibilidade de prestar um serviço de qualidade à empresa que vos possar vir a contratar, no sentido de darem informações estratégicas para a tomada de decisões. Em termos do que possam ser as vantagens de uma empresa vos contratar parace-me serem esta duas enunciadas.

2. O que caracteriza e distingue um trabalhador formado em Relações Internacionais de todos os outros?

A sensibilidade internacional, mesmo que não tenham uma disciplina específica sobre comunicação intercultural ou sobre os gostos específicos dos clientes de um determinado ponto do mundo, por exemplo questões de Marketing Internacional. Uma empresa pode internacionalizar por várias razões. Pode fazê-lo porque simplesmente vai para um sítio onde tem a mão-de-obra mais barata e as matérias-primas mais próximas, e a única coisa que quer é exportar tudo aquilo que produz naquela zona, numa lógica, portanto, de reduzir custos de produção. Mas também pode ter o interesse de ir produzir para um sítio porque está mais próximo dos seus clientes, e aí precisa de saber o que estes querem ou desejam. Assim se mostra a necessidade dessa tal sensibilidade, mesmo que não o aprendam directamente, em princípio são-vos dadas as ferramentas ao longo da licenciatura para depois poderem aprender muito mais facilmente do que os outros, que nem se lembram que isso existe e pensam que um cliente português é a mesma coisa que um cliente alemão, por exemplo.

3. É da opinião de que há uma falta de conhecimento acerca das potencialidades, mais-valias e capacidades das pessoas especializadas em Relações Internacionais?

Sem dúvida que há falta de conhecimento das potencialidades, o que acontece com o vosso curso e outros. As nossas empresas têm problemas gravíssimos ao nível da gestão, problemas de comunicação ou de liderança.

ENTREVISTADOUTORA ANA CALAPEZ GOMES

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Os nossos gestores são muito fracos. Primeiro porque temos um tecido empresarial constituído, na sua esmagadora maioria, por pequenas e médias empresas, cujos empresários ainda são de uma geração com qualificações muito baixas. E muitas vezes os problemas não são só as qualificações serem muito baixas, mas não terem sequer a capacidade de observar criticamente, de aprender. Porque uma pessoa pode até nem ter uma licenciatura ou um mestrado e conseguir aprender e ter capacidade crítica, mas a maioria não tem. É uma das razões, no meu ponto de vista, da nossa fraca produ-tividade. Não é a única, mas é uma delas. Isto faz com que essas pessoas não tenham sensibilidade para perceber qual é mais valia das pessoas que procuram contratar e depois surgem muitos problemas de poder. Um empresário à partida está numa situação em que ele se considera débil e com a sua autoridade um pouco posta em causa, porque em Portugal a qualificação é muito importante, dai que todos nós andemos com o “Doutor” por todo o lado. O “Doutor” é uma forma de nós nos distinguirmos da restante população, é uma espécie de título de nobreza, um Dom, mas como já não estamos na monarquia, não podemos utilizar o “Dom”, então usamos o “Doutor”. E repare que uma pessoa que não é Doutor vai empregar outra pessoa que já o é. Ele pode fazê-lo, mas é se tiver uma grande

autoestima e uma grande autoridade. Ou seja, ele sabe que sabe e portanto quer colaborar com aqueles que até são melhores que ele. Agora quando não é este o caso, e não é assim com muita frequência, o que vai acontecer? A pessoa vai sentir-se diminuída e ao sentir-se assim e as coisas não vão correr bem, sendo por isso esta uma das questões que mais se coloca.

4. Se uma empresa tivesse um profissional de Relações Internacionais ou com alguma es-pecialidade na área será que seria possível ultrapassar alguns desses obstáculos como, por exemplo, a liderança? Uma vez que so-mos capazes de perceber qual a região do mundo ou até mesmo o mercado onde certo produto ou certa empresa pode ter sucesso.

Sim, mas eu acho que o principal obstácu-lo, o principal problema que vocês um dia, no mercado de trabalho, terão que ultrapassar é fazer com que os vossos potenciais emprega-dores percebam para o que é que vocês ser-vem. Isso é o grande problema. Isto é convosco mas com muitos outros profissionais de outras áreas. Desde o tempo do mestrado que eu ve-nho tentando oferecer às empresas um produto que, para mim, seria fundamental, que é uma pequena formação em gestão intercultural e gestão internacional de recursos humanos para as empresas que se querem internacionalizar.

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Às vezes as coisas correm bem porque, repa-re, os nossos empresários podem ser ignoran-tes, e muitas vezes são, mas muitos são mui-to persistentes. Muito muito persistentes. São pessoas que se metem em todo o lado, com o catálogo debaixo do braço e andam por aí e, às vezes, têm muito sucesso. Mas lá está, preci-sam de fazer todo um percurso de aprendiza-gem que nunca é muito fundamentada porque não têm as bases teóricas para interpretar a pró-pria realidade que eles vão vivendo e, portanto, seria uma mais-valia se eles tivessem, eviden-temente, pessoas que os pudessem orientar. É esta opinião que tenho e acho que, de facto, a vossa especialização seria uma mais-valia.

5. Será que daqui para a frente irá ha-ver maior empregabilidade na nossa área, mais focada na parte empresarial?

Eu acho que há uma coisa que, neste mo-mento parece óbvia: uma empresa que não in-ternacionalize, quanto mais não seja vender o seu produto no mercado internacional, não tem nenhuma possibilidade. O nosso tecido em-presarial é constituído por pequenas e médias empresas, muito descapitalizadas, cuja única hipótese a este nível é, de facto, juntarem-se uns aos outros em termos de parcerias e cons-tituírem redes para criarem alguma escala para conseguirem concorrer no mercado externo. E isto já está a acontecer em muitas áreas. Por-tanto, eventualmente, uma boa saída para vo-cês seria não directamente procurar um em-prego mas oferecerem os vossos serviços a este tipo de associações de empresas, porque uma empresa sozinha não tem condições para vos pagar, como clusters e coisas que vão sur-gindo. Estou a lembrar-me neste momento do agrocluster do Ribatejo que está muito activo e dinâmico, a internacionalizar imenso. Mas para isso, vai ser preciso andar atrás, fazer reuniões, voltar atrás, apresentar produtos concretos, ter uma proposta formulada, mas ao mesmo tem-po, ir adaptando a proposta aos interesses do cliente, etc. É todo um trabalho muito prolonga-do e de grande persistência mas que é capaz de

valer a pena desde que vocês possam aprovei-tar ainda alguns anos em que a vossa família está disponível para vos sustentar para irem fazendo este trabalho em vez de andarem a enviar currículos para todo o lado porque isso, normalmente, não dá resultado. Hoje, a maior parte dos empregos que se conseguem são com base em networking, a não ser emprego de caixa e mesmo esses já começa a ser complica-do! Ou seja, é um trabalho de muita persistên-cia, de criar relações – mas nisso aí vocês têm que ser exímios, não é? Aliás, a vossa capaci-dade diplomática só pode trazer vantagens para as empresas quando se trata das negociações.

6. Onde é que um recém-licenciado em rela-ções internacionais pode procurar trabalho/emprego e como é que isso será possível?

Durante a licenciatura e o mestrado, você tem que arranjar boas relações com os seus cole-gas e, eventualmente com os seus professores, isso é muito importante! Depois, é evidente que faz sentido fazer um curriculum bem feito, en-viar currículos para grandes empresas, even-tualmente a sugestão que eu fiz de ir ter com grandes associações empresariais e tentar marcar reuniões com os seus responsáveis e dizer quais são as vossas competências. Mas aí, talvez fosse preferível ir não enquanto iso-lado mas formarem um grupo. Se quiserem enviar currículo convém, na carta de apresen-tação, se for por exemplo para a SONAE ou para outro tipo de empresa deste género como a Visabeira ou mesmo grupos internacionais, ir ver um bocadinho da história, onde é que eles estão, em que tipo de mercado actuam e de-monstrar logo à partida nessa carta a manifes-tação de interesse e o que vocês conhecem.

ANA CALAPEZ GOMES

Docente do ISCSP em áreas como Gestão de Recursos Humanos, Comportamento Organizacional e Sociologia das Organizações

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DEVEM ESTAROS GREGOS

“A esperança está a caminho!”. Foi este o slogan que o Syriza utilizou na que também apelidou da campanha de revolta, em oposição à campanha do medo da “Força Responsável”, como gizado pela Nova Democracia. A coligação de esquerda radical que junta forças da esquerda que vão dos trotskistas aos socias democratas, passando pelos comunistas pro europeus, e que tem origem no Espaço para o Diálogo da Unidade e Acão Comum da Esquerda de 2001, é liderada por um engenheiro de 40 anos admirador confesso de Ernesto Che Guevara. Em 2014, o semanário Alemão Der Spiegel apresentava Alexis Tsipras como o homem mais perigoso da europa em 2014. Em 2015, tornou-se o sexto primeiro-min-istro grego desde que Merkel foi eleita, em 2005.

Ao longo da campanha, Tsipras insistiu que a sua prioridade seria renegociar a dívida e minimizar os custos do impacto da austeridade junto dos cidadãos gregos. De facto, importa recordar que a taxa de desemprego na Grécia ronda os 27%, ultrapassando os 50% entre os jovens. A dívida representa 177% do PIB que, por sua vez, recuou quase 20% desde 2010.

Da atenção mediática parecem ter ficado de fora os outros tópicos de campanha, entre os quais a reforma do ensino superior, a relação entre a Igreja e o Estado, bem assim a imigração, potenciada pelos atentados em França ao Charlie Hebdo.

Na defesa de uma frente de esquerda anti austeridade, Tsipras foi moderando o discurso ao longo das últimas semanas de campanha: desde logo, substituiu o termo “incumprimento” por “renegociação” da dívida e das taxas de juro e revisão do terceiro programa de assistência, embora continuasse a defender o corte de grande parte da dívida grega. Esse discurso foi aliás defendido enquanto gesto de solidariedade europeu, à semelhança do perdão de 62% da dívida pública concedido à Alemanha em 1953 que, na prática, foi uma extensão e reforço das ajudas financeiras diretas do Plano Marshall.

A retórica sobre a nacionalização dos bancos quase desapareceu também do discurso de campanha do Syriza, podendo antever-se que Tsipras pretenda lutar por alterar a europa a partir de dentro e evitar uma saída do euro e/ou uma declaração de bancarrota. Afinal, o apoio dos gregos ao euro em 2014 ascendia a mais de 50%, o que vincula em definitivo o Syriza ao projeto europeu.

O caminho fez-se paulatinamente. Nas eleições de 17 de Junho de 2012, Tsipras declinou o convite para participar num governo de unidade nacional, não obstante a margem que o separou do primeiro partido mais votado ter sido de pouco mais de 3% (26,8% para o Syriza e 29,9% para a Nova Democracia). Para as eleições de 2014 para o Parlamento Europeu, o Syriza

O ano de 2014 terminava com uma certeza para o país berço da civilização europeia: ao falhar a eleição do único candidato presidencial, Stavros Dimas, apoiado pela coligação

governamental, o Parlamento Grego seria automaticamente dissolvido e o país seria obrigado a ir a legislativas antecipadas a 25 de Janeiro de 2015.

LOUCOS ?!

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obteve 27% e 6 lugares, mais 5 que em 2009. Foi o partido mais votado, já que a Nova democracia obteve 23% com 5 lugares e o novo partido nazi Aurora dourada 9,4%, ou seja, 3 lugares. Um ano e meio depois, Tsipras consegue ficar apenas a dois deputados dos 151 lugares necessários para a maioria absoluta, o que o fez optar por uma coligação com a direita nacionalista dos Gregos Independentes.

No dia a seguir às eleições no mundo helénico, os mercados davam sinais claros de insta-bilidade, em muito devido à suspensão das privatizações mais emblemáticas do anterior executivo, a do porto de Pireu e a da elétrica PPC, e nas propostas de reintegração dos traba-lhadores públicos ilegalmente despedidos e reposição dos valores das pensões mais baixas.

Mais recentemente, numa reunião de 12 de Fevereiro, o primeiro-ministro grego e o Presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, parecem ter concordado que a Troika irá trabalhar com as autoridades gregas num entendimento comum entre o atual programa de assistência e as pretensões do governo grego. Nos seus encontros bilaterais pela Europa, Yanis Varoufakis, ministro das finanças Grego, nunca deixou de insistir numa solução mútua e viável para ultrapassar a austeridade na Grécia e na necessidade de mais tempo para preparar um novo programa que altere também os atuais condicionalismos.

No final do mês de Fevereiro, o Eurogrupo aprovou uma lista de reformas propostas pela Grécia, o que representa o primeiro passo previsto na extensão dos empréstimos ao país até ao verão. No entanto, a reforma do sistema de pensões, a alteração ao regime do IVA, a libe-ralização da entrada nos sectores mais fechados, a reforma administrativa, as privatizações ou a reforma da legislação laboral foram identificadas pelo FMI como áreas “críticas” para a conclusão do programa. Os ministros das Finanças da zona euro, o FMI e o BCE, têm recordado que a Grécia tem ainda um longo caminho a percorrer até uma avaliação bem sucedida do programa.

Independentemente dos desenvolvimentos das próximas semanas, muitos analistas têm olhado para a Grécia como um caso de estudo Importa, por isso, acompanhar 2015 com atenção redobrada, já que o novo ano vai decerto trazer desafios sucessivos

aos alicerces do projeto europeu. 9 dos 28 Estados-membros irão a eleições, antevendo-se o reforço do eleitorado do grupo emergente dos eurocéticos: Pablo Iglesias em Madrid, Nigel Farage no Reino Unido, Jimmie Akesson na suécia, Kristian Thulesen na Dinamarca ou Marine Le Pen em frança.

A revista “The Economist”, na sua edição de 20 de novembro de 2014, salientava a ideia que os povos nas grandes democracias se sentem profundamente traídos por quem os lidera, insistindo no fracasso generalizado das lideranças europeias. Conseguirá o projeto europeu sair fortalecido do desencanto dos cidadãos europeus e no discurso dos movimentos populistas que, cada vez mais, questionam o modelo social e, consequentemente, mais de 50 anos de um projeto de “pequenos passos” que os pais fundadores preconizavam no final da segunda guerra mundial? É esse aliás o desafio que perpassa na atribuição do Prémio Nobel da Paz à União Europeia – um continente que conseguiu ultrapassar uma guerra à escala mundial no seu próprio território e que conseguiu manter a paz durante 60 anos vê-se agora afrontada com o desafio de reunir os seus membros numa nova solidariedade que torne a União mais unida e reforçados os seus valores. Estará a União à altura de se reinventar? Essa é a million euro question!

ANA ISABEL XAVIER

Professora Auxiliar Convidada no Departamento de Estudos Políticos da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e investiga-dora integrada de Pós Doutoramento do IPRI – Instituto Português de Relações Internacionais e NICPRI – Nú-cleo de Investigação em Ciência Política e Relações In-ternacionais.

Os seus interesses atuais de investigação centram-se na Segurança Humana, o Conceito Estratégico de Def-esa Nacional, a UE ator de gestão de crises, Direitos Humanos e Globalização.

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O OBSERVATÓRIO DA CHINA:

CHINA: Sociedade e Economia em progresso?

Estudos OCDE e da Universidade de Denver indicam que entre 2010 e 2060, o índice de Desenvolvimento Humano chinês subirá 20,6%, a mortalidade infantil diminuirá 78,4 % (por mil bebés). 300 milhões ascenderam à classe média e reduziu-se a 7% a população (100 milhões) abaixo do limiar de pobreza, refletindo já o crescimento do poder de compra da população e da procura interna, promovido pela política de estabelecimento dos salários mínimos para a cidade e para o campo. A análise das estatísticas autoriza a previsão de que até 2060 o PIB per capita da China vai aumentar 527,8%, ultrapassando o dos EUA em 2017.Outros dados indicam que para além de a China já ser o maior exportador mundial, ascenderá na próxima década a 1ª economia mundial, ficando os EUA em 2º e a Índia em 3º. A Ásia passará de cerca de um terço (31%) do PIB per capita para mais de metade do PIB mundial (65%) e só a China passará de 17% a 28% do PIB mundial.

Relações Europa-China: diálogo estratégico mutuamente

proveitoso?

De 2005 a 2014 a China investiu crescen-temente na Europa (em mil milhões de euros: 18,58 no Reino Unido, 8,38 em França, 5,41 em Itália e 5,38 em Portugal, sendo que na Alemanha investiu 4,7, na Grécia 4,24 e 1,88 mil milhões de euros em Espanha, segundo o Financial Times/Heritage Foudation/Público de 11 outubro de 2014), privilegiando setores como a energia, imobiliário, finanças, tecnologia transportes, saúde, entre outros.

As relações da União Europeia com China foram estabelecidas em 1975, são dirigidas pelo Acordo de comércio e cooperação de 1985 e consubstanciadas em 24 comissões sectoriais de Diálogo, que vão da proteção ambiental à educação (http://ec.europa.eu/external_relations/china/index_en.htm).

A China tem privilegiado a sua parceria

estratégica com a Europa, o que tem permitido diversificar a respetiva interdependência de ambas para com os EUA. A China aumenta o seu investimento na Europa, relativizando o risco da sua excessiva anterior aplicação de capitais na dívida pública dos EUA e a Europa respira de alívio perante a entrada de capital fresco na sua economia e reforça a sua influência política e estratégica na Ásia.

A UE continua a ser o maior parceiro comercial da China e a sua principal fonte de tecnologia. A China é hoje o segundo maior parceiro mercantil da Europa, logo após os EUA (http://ec.europa.eu/trade/creatin-g-opportunities/bilateral-relations/countries/china/). A maioria deste comércio refere-se a produtos manufaturados e industriais.

Em 9 de Julho de 2012 reuniu-se a 3ª ronda do Diálogo Estratégico de Alto Nível entre a Europa e a China, e considerando encontrarem-se ambas “cada vez mais interdependentes” decidiram ampliar a cooperação internacional

A promoção dos Estudos Chineses e da compreensão do papel internacional da

República Popular da China

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e “tratar as suas divergências de uma maneira construtiva”. “A China reafirmou o apoio à integração europeia e aos esforços da Europa para sair da crise” e “a UE reafirmou o apoio ao desenvolvimento pacífico da China e ao respeito pela sua soberania e integridade territorial” (http://europa.eu/rapid/pressReleasesAc-tion.do?reference=IP/12/765&type=HTML).

Especialistas atentos (como Alastair Johnston, Social States: China in Interna-tional Institution, 1980-2000; Ann Kent, Beyond Complience – China, international Organiza-tiions and Global Security; Luís Cunha, A Hora do Dragão, Política Externa da China) têm reconhecido que a China se tem envolvido profundamente nas organizações internacio-nais, assimilando os específicos mecanismos, e enquadramentos teóricos e jurídicos, contribuindo para o renascimento e reforço do papel dessas organizações no quadro internacional multilateral (ONU, ASEAN,…).

Neste contexto, partilhamos da opinião de que a plena integração e interiorização da cultura institucional associada às organizações multilaterais pela China transforma-a parado-xalmente, apesar das inerentes contradições, numa defensora desse statu quo interna-cional cuja ação reforça quer a legitimidade dessas organizações, quer um papel reforçado da China no mundo atual. Esta interdependência é um contributo para a Paz.

A Parceria Estratégica de Portugal com a China assiste à intensificação das relações, com base no interesse

recíproco?

Em 2015 comemoram-se, efetivamente, 10 anos do estabelecimento da Parceria Estratégica Portugal-China - uma das poucas que o Governo chinês mantém com países europeus. Respondendo ao interesse português a China tem aumentado o seu investimento em Portugal, o qual ascendeu a 5300 milhões de euros, nos últimos três anos (dados de outubro de 2014). Os setores com maior capacidade de atração deste investimento chinês foram a energia, os seguros, a saúde e já em 2015 o setor financeiro.

Segundo o Embaixador chinês em Portugal, Huang Songfu, atualmente “as relações Portugal-China encontram-se no melhor período desde a sua existência, com boas perspetivas para o futuro. Estamos num novo ponto de partida histórico para enfrentar novas oportunidades de desenvolvimento.” (Diário de Todos, 17 Fev 2015, pp. 21-23).

Assistimos a uma surpreendente confiança das autoridades e empresários chineses, que investiram em Portugal, fazendo subir o volume do comércio bilateral, que em 2002 foi inferior a 350 milhões de euros e em 2014 já ascendeu a 3,6 mil milhões de euros. Permitindo que Portugal ocupe actualmente o 5º lugar de maior receptor do investimento Chinês na Europa (depois do Reino Unido, França, Alemanha, e Itália, que já eram parceiros tradicionais da China).

Num momento de crise e de não investimento Ocidental, as empresas chinesas demonstram um interesse estratégico e permanente em Portugal, como demonstra o investimento de longo prazo chinês.

Enquadremos agora as relações de Portugal com a China na longa e estável relação que se iniciou há 500 anos, com a chegada de Jorge Alvares ao litoral da província chinesa de Guangdong (na Ilha de Tamão, na província de Cantão), em 1513. Somos a nação europeia com maior longevidade nas relações diretas e contínuas com a China, tendo sido sempre Macau o grande centro de difusão da cultura portuguesa e europeia na China, e da cultura chinesa em Portugal, na Europa e no Mundo lusófono. A 7 de fevereiro de 1979 Portugal e a China estabe-leceram, formalmente, relações diplomáticas.

Quanto ao investimento chinês em Portugal, assistimos, em 2011 e 2012, a um crescimento exponencial em áreas do interesse estratégico da China (a China Three Gorges Corporation comprou 21,35% da EDP; a State Grid comprou 25% da REN e planeia investir em Portugal 12 milhões de euros num centro tecnológico; dois bancos chineses, o Bank of China e o Industrial and Commercial Bank of China, já abriram escritórios em Lisboa, o que se pode traduzir num significativo aumento das atividades financeiras entre estes países). Assim a China

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passa a ter um lugar gradualmente mais signi-ficativo (antes de 2010 ocupava o 41º lugar) entre os países que investem em Portugal.

A enquadrar institucionalmente esta crescente importância para Portugal das relações com a China, a ”parceria estratégica” com a China foi confirmada, aprofundada e promovida a um novo e mais alto nível pela visita oficial à China do Presidente da República, no ano de 2014. O Observatório da China foi uma das instituições convidadas, participou nesta visita tendo assinado um protocolo (UIBE) e coorganizou conferências com várias universi-dades em Shanghai, Beijing e Macau.

O mercado do vinho na China cresce 20% ao ano (acreditando-se que em 2017 terá passado o mercado dos EUA), o que coloca um desafio para a exportação de vinhos portugueses (considerados de grande qualidade interna-cional). A Cimpor (depois da maioria do capital ser comprado por duas empresas chinesas) apostou na Cimpor China, que em 2011 duplicou face a 2010 e lucrou 17,9 milhões euros. Alguns têxteis portugueses conseguem penetrar no muito exigente mercado chinês. Ultimamente a China aprovou a exportação portuguesa de 2 novos setores – a pesca/aquicultura e o leite/lacticínios – e o processo de candidatura da carne porco está bem encaminhado. Importações portuguesas da China cresceram, mas menos que as exportações. Novas opor-tunidades de comércio se abrem quando constatamos que o mercado de luxo tem vindo a crescer cerca de 35%. Pelo que, neste ano de 2015, de fábrica do mundo a China se assumirá como o grande consumidor mundial de marcas de luxo, logo depois do Japão.

No setor dos serviços: quadruplicaram as exportações para a China, de 2012 para 2013, com maior participação do turismo, cujas receitas triplicaram. Mas Portugal ainda não dá a atenção especial merecida ao sector do turismo chinês, dado o crescente número de turistas chineses a visitar a Europa. Prevê-se que o número de chineses a viajar anualmente para o estrangeiro atinja 100 milhões cerca de 2020.

Várias instituições universitárias portuguesas passaram a dar maior atenção à China, e em

Portugal estudam mais de 800 alunos chineses.A Universidade de Lisboa possui um

Instituto Confúcio em funcionamento; outro campus está a ser negociado para a cidade de Tianjin, em aliança com a Universidade de Estudos Estrangeiros de Tianjin. O ISCTE tem programas de doutoramento em gestão de empresas na Universidade de Chengdu e em Cantão. Igualmente a Universidade do Minho, para além de ter uma licenciatura e um mestrado em Estudos Chineses, tem um Instituto Confúcio em funcionamento e está a desenvolver contatos para estabelecer graus conjuntos com várias universidades chinesas.

A sociedade civil portuguesa tem, assim, aprofundado as suas relações com as instituições e a cultura chinesa. O Observatório da China, fundado em 2005, é um caso de sucesso, com ação na área académica e cultural. O interesse pela cultura chinesa tem aumentado em Portugal, acompanhando o crescente interesse de instituições portuguesas em desenvolver iniciativas culturais ou económicas relacionadas com a China.

A China, a Lusofonia e o papel de Macau

Na nossa opinião deveremos dar uma especial atenção à estratégia lusófona da China para compreender e enquadrar o grande boom no comércio entre a China e os Países Lusófonos. Na sequência dos princípios orientadores da sua política interna de desen-volvimento harmonioso da sociedade chinesa e de respeito pelo meio ambiente, a China gizou uma estratégia que pretende assegurar um contínuo desenvolvimento económico. Com esta estratégia procura diminuir a pobreza e garantir o alargamento da prosperidade a sectores cada vez mais vastos da população chinesa, e canalizar meios para a recuperação de água potável e do ar poluído em muitas áreas urbanas e rurais da China. Tendo subjacente os princípios gerais da diplomacia chinesa, não podemos esquecer a preocupação da China (à semelhança do que acontece com os países ocidentais) em colmatar as necessidades de

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matérias-primas e de fontes de energia. A China estabeleceu relações nos cinco continentes com os países produtores de matérias-primas, como hidrocarbonatos (petróleo de Angola, Brasil e Timor), gás natural (Moçambique) ou alimentares (do Brasil a soja) e tecnologias alternativas (como as eólicas em Portugal).

Naturalmente que a China não precisa de Macau nem de Portugal para se relacionar bilateralmente com os países que entenda. Contudo, compreendeu a mais-valia que representa cidade de Macau, com as suas raízes e ligações histórico-culturais e económicas, para a transformar numa plataforma oficial da China, facilitadora de contactos com os países lusófonos. Assim o governo central chinês decidiu instituir o Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, sediado em Macau (conhecido por Fórum Macau), em 2003.

Macau é uma plataforma facilitadora dos negócios para empresas chinesas que querem investir em empresas de países de língua portuguesa e vice-versa. Macau apresenta várias vantagens, nomeadamente, o sistema legal igual ao português e isso facilita as relações económicas. Para prevenir uma taxação dupla, foram já criados acordos entre Macau e Portugal e Moçambique mas o objetivo é estender esses acordos a todos os países de Língua Portuguesa. O Governo da Região Especial Administrativa de Macau tem tido uma extraordinária sensibilidade na preservação do património histórico construído de raiz portuguesa, que se consubstanciou inclusive pela obtenção da classificação pela UNESCO, de Património Histórico da Humanidade. Em Macau tem sido incentivado o intercâmbio com a Culturas e a Língua portuguesa, nomeadamente apoiando a formação de formadores para o Ensino da Língua Portuguesa na China, no apoio à organização de encontros, colóquios e conferências internacionais, no incentivo à difusão da obra de escritores sobre Macau. Foi em Macau que se realizou, em 2006, a primeira edição do evento multidesportivo “Jogos da Lusofonia”. Naturalmente que a maior parte dos negócios entre os países lusófonos e a

China se têm realizado bilateralmente, mas o Fórum tem aumentado as suas oportunidades.

Entre Janeiro e Abril de 2014 as importações mais as exportações atingiram os 30,35 mil milhões de euros, representando mais 12,25% face a 2013. A China importou bens de 20,56 mil milhões (mais 14,75%) e exportou 9,81 mil milhões euros (mais 7,38%). Contudo, no ano de 2013, o comércio entre a China e os países de língua portuguesa representava ainda apenas 3,3% do volume do comércio externo chinês e 64,76% do comércio ene a China e África. Pelo que, apesar desta rápida evolução, existe um grande potencial de crescimento do comércio entre a China e os países lusófonos. É pois necessário maior investimento e cooperação entre empresas, apesar do crescimento contínuo dos investimentos, e encontrar estratégias de promoção do equilíbrio comercial.

Os investimentos da China nos países lusófonos devem ser enquadrados nas suas relações com África e o resto do mundo. A par de importador a China é o maior exportador mundial, tendo ultrapassado a Alemanha em 2010. A China é já o principal parceiro comercial de África, com quem organiza uma outra plataforma enquadradora do relaciona-mento, o Fórum China-Africa, que se reúne em conferências de 3 em 3 anos, e estando a 5ª Conferência já em preparação. A China absorve 17% do comércio exterior de África (quando era só de 1% em 1990), tendo ultrapassado os EUA desde 2009. Partilhamos da opinião dos que pensam que Portugal e Macau podem e devem reforçar o seu papel como plataformas facilitadoras de relações culturais e de negócios entre a China e os países lusófonos.

O Observatório da China estabeleceu relações de cooperação e protocolos com várias instituições lusófonas, às quais apresentamos publicamente o nosso agradecimento, de entre as quais destaco a UCCLA (União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa). Mas também com a Chá de Caxinde (Angola) e a Roça Mundo/CACAU (de São Tomé e Príncipe), no Brasil com várias Universidades da Bahia e de Belém e na China com várias Universi-dades (Macau, Guangzhou, Beijing, Shanghai).

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10º aniversário do Observatório da China

O Observatório da China foi criado em finais de Dezembro de 2005. É uma associação de académicos e de pessoas interessadas em estudos multidisciplinares sobre a China e na divulgação da civilização chinesa. A sua principal missão é a organização de atividades académicas e culturais para a divulgação do conhecimento sobre a China e apoiar a divulgação de trabalhos de especialistas da China (associados ou não). Consideramos que quanto maior for o conhecimento nas sociedades ocidentais sobre a China e sobre a sua multimilenar e sofisticada civilização, menor será a tendência para movimentos xenófobos, que em alturas de crise tendem a aumentar.

Ações desenvolvidas pelo OC (atividades e estudos sobre a China)

A sede do Observatório está localizada em Lisboa mas temos associados em várias universidades e localidades de Norte a Sul de Portugal (nomeadamente no Porto, Aveiro, Coimbra, Lisboa e Algarve). Temos um pólo no Brasil (Salvador) e associados em Macau, Shanghai e Beijing. Entre os nossos associados contam-se ex-embaixadores, presidentes de Conselhos Científicos de faculdades portuguesas, professores, diretores de divisão de ministérios, jornalistas, realizadores de cinema, entre outras profissões. O Observatório da China desenvolveu um amplo e diversifi-cado conjunto de atividades em Portugal e no estrangeiro, muitas delas tendo por tema o estudo Macau e da China, nomeadamente:

- A organização de eventos descentralizados de modo a estimular o debate e a troca de conheci-mentos, de opiniões e de experiências (tertúlias, palestras para apresentação de investigações em curso e outras já concluídas), exposições, espetáculos de música e de dança, declamação de poesia chinesa, ciclos de cinema chinês e de cinema Português sobre Macau e a China;

- A cooperação com entidades públicas e privadas, nacionais e estrangeiras, em várias áreas do conhecimento e da cultura;

- A participação em redes internacionais relacionadas diretamente com os estudos chineses, como já fizemos com a East Asia Net e o China-Europa Forum, mais recentemente estabelecemos relações com a International Confucian Asssociation (Beijing) e com várias universidades (Macau, Pequim e Shanghai);

- O lançamento e a edição de publicações em papel como o livro De Lisboa à China, 2009, com estudos sobre as relações da Europa e de Portugal com Macau e a China, desde a antiguidade ao século XX, escritos por 10 autores diferentes; o apoio a várias edições (De Olhos em Bico e em Bicos de Pés, 2012; Face to Face, 2013 e 2014); o apoio à edição Literatura e Lusofonia, Anais do II Encontro de Escritores de Língua Portuguesa, 2013, Brics e a nova ordem internacional, 2015, entre outros. Em formato digital temos a edição de inúmeros estudos disponíveis no nosso site (www.observatoriodachina.org).

Projetos do OC a desenvolver em 2015 e 2016

•Em Março (16–19 de 2015) apoiámos a

organização do International Symposium (In)Direct Speech. “Chineseness” in Contemporary Art Discourse and Practice. Art Market, Curatorial Practices and Creative Processes, no âmbito do qual foi lançada a rede Internacional de investigação. Sendo coorganizadores a FBAUL e Global Art History, da Heidelberg University).

•A 21 de Abril foi lançado o Portal digital com as descrições portuguesas sobre Macau-China, dos séculos XVI ao XIX, em parceria com a Biblioteca Nacional de Portugal, a UCCLA e o patrocínio da Fundação Macau.

•De 21 de Abril a 29 de Maio estará patente ao público uma exposição sobre este Portal e os 10 anos do Observatório da China, na Biblioteca Nacional de Portugal.

•O FICH - “Festival Internacional de Cinema Chinês e do Olhar Lusófono”. A decorrer anualmente com o apoio de vários parceiros, em que se tem destacado a Embaixada da China, a Cinemateca, a CML com a EGEAC - S. Jorge cuja 2ª edição decorrerá no último

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trimestre deste ano de 2015, apoio da Secretaria de Estado da Cultura e do ICA.

A comunidade chinesa em Portugal

A população chinesa com estatuto de residente em Portugal aumentou de forma gradual, conforme indicam os números do Instituto Nacional de Estatística, passando de 3.953, em 2001, para os 13.313, em 2008. No recente relatório do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), de Dezembro de 2011, a comunidade chinesa ocupava o 8º lugar, com 3,53% do total da população estrangeira em Portugal, possuindo 15.600 autorizações de residência no país. O presidente da Liga dos Chineses em Portugal, Y Ping Chow, nosso associado, calculava que, com familiares, o número de chineses em Portugal atingisse, em 2011, cerca de 20 mil pessoas. Mas com a crise alguns chineses saíram de Portugal.

A comunidade chinesa em Portugal, tal como as restantes, é constituída por diferentes gerações (os que vieram em meados do século XX, acompanhados dos seus filhos - alguns nascidos em Portugal e luso-chineses, e os de imigração mais recente). Naturalmente o seu grau de integração profissional é muito diferente. Na maioria dedicam-se ao pequeno comércio mas na segunda e terceira geração encontramos desde profissões liberais (como engenheiros e médicos) a empregados noutras áreas de atividade. Encontra-se igualmente em Portugal uma pequena comunidade de estudantes bolseiros, quer provenientes da China continental, quer da RAEM.

Contudo, o recente agravamento da crise da zona euro, com particular incidência económico-social em Portugal, tem afetado todo o pequeno e médio comércio no interior das cidades. Esta recessão tem fragilizado muitos pequenos negócios, propriedade quer de portugueses quer de chineses, essencialmente ligados à restauração, a lojas de vestuário e produtos decorativos.

Recentemente chegaram também a Portugal novos residentes chineses, os grandes investidores e suas famílias ao

abrigo do programa da concessão do estatuto de residente para investidores acima dos 500 mil euros, que atingiram o número de 1777 chineses (até Fevereiro de 2015).

Novo desafio

O alargamento do Canal do Panamá permitirá, em 2015, o acesso mais rápido e direto da China a Portugal. O porto de Sines será o primeiro da Europa que um navio vindo da Ásia, dos Estados Unidos, ou do Brasil encontrará na Europa. Será mais uma grande vantagem económica e um grande desafio a ser assumido globalmente por Portugal.

As autoridades portuguesas e chinesas em conjunto com as respetivas sociedades civis, para além das importantes relações económicas, devem desenvolver todos os esforços para a organização de eventos de grande qualidade cultural, de forma a estimular e aprofundar as relações de compreensão, conhecimento reciproco e amizade bilaterais entre os respetivos povos.

Assim sendo, é necessário reconhecer e respeitar a diversidade de culturas, de interesses geoestratégicos e de agendas políticas muito diversificadas, de um espaço próprio e em expansão, como os países de expressão oficial portuguesa, como uma mais-valia na conjugação de esforços nas respostas à crise internacional e na valorização das respetivas oportunidades.

RUI D’ÁVILA LOURIDOPresidente do OC

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Page 24: 12ª Edição PACTA

1 JANLituania deixa as litas

e passa a usar o euro. (Euronews)

Leite, champô ou cerve-ja: falta quase tudo na

Venezuela. (Diário de Notícias)

Israel não permitirá que os seus soldados sejam levados diante do Tribu-nal Penal Internacional,

diz Netanyahu. (Diário de Notícias)

Charlie Hebdo attacks: Paris magazine staff

say gunman knew their targets in advance and

entered the building like ‘an organised comman-

do’ raid. (The Guardian)

Obama, Netanyahu e Putin unem-se no

abraço de pesar à França.

(Euronews)

Boko Haram rapta mais 40 rapazes no nordeste da Nigéria.

Reféns foram mortos na Porta de Vincennes. Terão sido abatidos antes do assalto das forças policiais à mercearia kosher onde se barricou o atacante que pertenceria ao mesmo grupo extremista que os atiradores do Charlie Hebdo.

Picture: AFP/AFPTV/GABRIELLE CHATELAIN

2 JAN 4 JAN 7 JAN

8 JAN

CRONOLOGIAJANEIRO, FEVEREIRO E MARÇO

8 JAN

Pág. 24 | PACTA

Page 25: 12ª Edição PACTA

União Europeia anuncia reunião para rever Acor-

do de Schengen. (Diário de Notícias)

Cuba has freed all 53 prisoners as agreed in

U.S. deal – US officials. (Reuters)

Marcha contra o terrorismo: “A maior demonstração de unidade na história de França”. AFP PHOTO / KENZO TRIBOUILLARD

Mais de dez mil em Ber-lim contra islamistas e islamófobos. (Público)

“Milhares de muçul-manos protestam contra

nova caricatura de Maomé”.(Público)

“La Unión Europea In-tenta blindarse contra el

terrorismo”.(El País)

11 JAN

13 JAN

16 JAN 17 JAN“Iran, powers make “limited” progress at

nuclear talks, to meet in February”(Reuters)

18 JAN“Ucrânia: Prossegue a guerra e as acusações entre Kiev e Moscovo”

(Euronews)

19 JAN

Nairobi, Kenya. “Schoolchildren push a fence to enter the play-ground during a protest against alleged land grabbing at Langata Road primary school. At least five pupils have been rushed to the hospital after police fired teargas at them and activists, according to local media reports”. Photograph: Dai Kurokawa/EPA

Valetta, Malta. “Rescued migrants on the deck of a Maltese patrol boat, reach out for bottles of water being distributed by a soldier after arriving at the AFM’s Maritime Squadron base in Valletta. The patrol boat res-cued about 80 migrants in a drifting dinghy but another 20 people were feared to have perished”. Photograph: Darrin Zammit Lupi//Reuters

12 JANU.S. takes aim at North

Korea’s remaining financial links. (Reuters)

11 JAN

19 FEV 22 FEV

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Page 26: 12ª Edição PACTA

“Ucrânia: Donetsk e Luhansk unem tropas

para desafiar Kiev”. (Euronews)

2 FEV

“EUA admitem enviar armament para apoiar

Exército Ucraniano”. (Público)

3 FEV

“A serviceman from the battal-ion ‘Aydar’ waves a Ukrainian flag during a protest against the disbanding of the battalion. The protest took place in front of Ukraine’s Defence Ministry in Kiev”. Picture: Reuters

“Top US Official holds talks with Cuban

dissidents”(AlJazeera)

23 JAN“Eleições na Grécia: Dia

de Reflexão Helénica”(Euronews)

24 JAN“Assad is defiant ahead

of peace discussion scheduled for Monday in

Moscow”(The Washington Post)

26 JAN“Parlamento Ucraniano

declara Rússia como “Estado Agressor””(Diário de Notícias)

27 JAN

“Government Allies Are Said To Have Killed

Dozens of Sunnis In Iraq”

(The New York Times)

29 JAN

Putrajaya, Malaysia. “A relative of a passenger on the missing Malaysia Airlines MH370 flight talks to journalists after the disappearance of the plane was officially declared an accident”Photograph: AFP/Getty Images

“Merkel excluiu perdão de dívida à Grécia”

(Euronews)

30 JAN

“Deadly clashes in east Ukraine after peace

talks fail” (Reuters)

“ONU apoia criação de

força internacional para enfrentar Boko Haram”

(Euronews)

1 FEV

CRONOLOGIAJANEIRO, FEVEREIRO E MARÇO

3 FEV

29 JAN

Pág. 26 | PACTA

Page 27: 12ª Edição PACTA

“Merkel: Ukraine peace ‘uncertain’ after talks with Putin, but worth

trying”. (CNN)

7 FEV“La UE retrasa las nue-vas sanciones a Rusia

para permetir el diálogo”. (El País)

“Obama e Merkel

reiteram opção diplomática para

conflito ucraniano”. (Euronews)

9 FEV

“Ataques aéreos de forças leais ao presidente da Síria, Bashar al-Assad no bairro de Douma, Damasco.”. REUTERS/ MOHAMMED BADRA

“Putin viaja ao Egipto para selar alianças com

novo regime militar”.(Euronews

“Turquia em alerta para

entrada na Europa de 4000 jihadistas”.

(Diário de Notícias)

10 FEV“Ukraine ceasefire deal reached after marathon

Minsk talks”.(CNN)

“Grécia e Euro-grupo aceitam iniciar

trabalho técnico antes de acordo político”.

(Público)

12 FEV

“U.N. chief appeals to Indonesia to stop death

row executions”. (Reuters)

“Batalha por Debaltseve dificulta

ainda mais acordo de cessar-fogo”.

(Público)

13 FEV

“Greek finance minister says deal with UE will

be done, ‘even at eleventh hour’ ”.

(Reuters)

14 FEV

“Rebeldes ignoraram cessar-fogo na cidade

cercada de Debalteseve”.

(Diário de Notícias) “Israel: Governo oferece

refúgio ao judeus europeus”.

(Euronews)

“Kosovares estão a imigrar em massa para

a União Europeia”. (Público)

15 FEV

“El Eurogrupo urge a Grecia a pedir la

extensión del rescate esta semana”.

(El País)

16 FEV

“U.S. To allow wider export of armed drones”.

(The Washington Post)

17 FEV

“Tsipras diz que acordo com o Eurogrupo “deixa para trás a

austeridade””.(Público)

20 FEV

10 FEV

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Page 28: 12ª Edição PACTA

“Girl as young as seven kills herself and five

others in Nigeria suicide bombing”.

(The Guardian)

22 FEV“Rusia ofrece misiles a Irán mientras Teherán negocia com EE UU”.

(El País)

23 FEV“Obama hails Qatar as ‘strong partner’ against

ISIL”.(Aljazeera)

24 FEV“Ucrânia: trégua teima

em chegar ao terreno”.(Euronews)

25 FEV

“Comunistas gregos protestam contra

acordo do Euro-grupo”.(Euronews)

27 FEV“Ukraine’s military

reports significant fall in fighting”.(Reuters)

28 FEVAfricanos pedem Plano

Marshall para se recuperar do ébola

(Euronews)

3 MARChina aumentará en un 10% su presupuesto de

Defesa en 2015.(El País)

4 MAR

UN Security Council condemns chlorine

attacks in Syria .(Aljazeera)

6 MAR“Israel’s Arab political

parties have united for the first time” .

(The Washington Post)

10 MARUKIP defende fim das leis contra a discrimi-

nação racial no trabalho.

(Público)

12 MARMais de metade dos alemães acha que a Grécia deve sair do

euro.(Público)

13 MAR

Moradores de Port Vila observam o estrago causado pela passagem do ciclone Pam em docas da cidade, em Vanuatu, neste sábado (14). A tempestade de categoria 5, com ventos de até 250 km/h causaram grandes danos no país insular, e pode ter sido uma das piores tragédias naturais na região do Pacífico.

Humans of Vanuatu/Unicef Pacífico/AP

CRONOLOGIAJANEIRO, FEVEREIRO E MARÇO

14 MARDeadly Tropical Cyclone Pam

roars over, past island nation of Vanuatu.

(CNN)

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Page 29: 12ª Edição PACTA

“Over 1 million Brazilians protest Rousseff, economy, corruption”REUTERS/Paulo Whitaker

Ocalan apela a “nova era” em que curdos

e turcos vivam “como irmãos em democracia”.

(Euronews)

21 MAR

Eleições departamentais dão cartão Vermelho à governação socialista

em França .(Euronews)

22 MAR

ONU estima para Agosto o fim do surto do vírus do ébola.FRANCISCO LEONG/AFP

Kiev e rebeldes pró-rus-so acusam-se

mutuamente de violar o cessar-fogo.(Euronews)

23 MARBruxela avisa Grécia. “Vontade política” não

chega, exigem-se “ações e progressos”.

(Diário de Notícias)

15 MAR“Over 1 million Brazilians protestRousseff, economy, corruption”REUTERS/Paulo Whitaker

Ciclone Pam: 90% das habitações da capital

de Vanuatu estão destruídas .(Euronews)

15 MAR23 MAR

Pág. 29 | PACTA

Page 30: 12ª Edição PACTA

Organização de eventos:

SIMULAÇÃO DA

mundiais e pelas economias emergentes, com o objetivo de promover a discussão so-bre questões de foro económico, de relevân-cia para o sistema internacional. Este grupo é formado pelos ministros das finanças e os chefes dos bancos centrais da África do Sul, da Argentina, do Brasil, do México, do Ca-nadá, dos Estados Unidos da América, da China, do Japão, da Coreia do Sul, da Índia,

da Indonésia, da Arábia Saudita, da Turquia, da Alemanha, da França, da Itália, da Rússia, do Reino Unido, da Austrália e da União Europeia.

O Núcleo de Estudantes de Relações Inter-nacionais compreende que existe uma lacuna no programa curricular do nosso curso, pois os alunos nunca têm a hipótese de pôr os co-nhecimentos, que adquirem ao longo dos anos, em prática. Deste modo, esta e outras simu-lações são de uma importância extrema para perceber os assuntos discutidos nas aulas e para colocar os conhecimentos em prática, de modo a compreender a dificuldade de chegar a uma decisão viável para problemas reais.Para além de que, estes eventos fo-mentam a prática discursiva e o debate.Apesar do sucesso em que estes dois dias se tornaram, o trabalho da orga-nização começou vários meses antes.

Já havia participado na organização da

CIMEIRA DO G20

ANDREIA FERNANDES

Aluna do 3º Ano de Relações Internacionais do ISCSP

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No passado mês de Dezembro, decorreu no ISCSP mais uma edição da simulação do G20 Summit, or-ganizada pelo Núcleo de Estudantes de Re-lações Internacionais.

O G20 é um gru-po formado pelas maiores economias

Para ver mais fotografias do evento, consultar: https://www.facebook.com/media/set/?set=a.293672594176755.1073741829.152296341647715&type=3 e https://www.facebook.com/media/set/?set=a.293685717508776.1073741831.152296341647715&type=3

Page 31: 12ª Edição PACTA

simulação do G20 Summit no ano anterior como colaboradora e quis participar este ano de forma mais ativa e direta. Enquanto colabo-radora não tive a noção de tudo o que é fei-to para se chegar ao produto final e, por isso, houve muito com que me preocupar.

Desde os apoios aos auditórios, dos cartazes aos coffee breaks, da publicidade às inscrições…

Para que tudo corresse da melhor forma, con-tei com uma incrível colega, Ana Campos, que em conjunto comigo coordena o Pelouro das Re-lações Externas do NERI e pude contar também com a Presidente do NERI, Iara Ribeiro, que se tornou numa ajuda preciosa, pois já organiza a simulação do G20 Summit desde a sua primei-ra edição. Para além disso, um fantástico grupo de colaboradores esteve presente desde que a ideia nasceu até ao último minuto do evento.O trabalho árduo compensou, pois mesmo an-tes da simulação o evento já estava a decorrer, através de visitas a várias embaixadas, nomea-damente a embaixada do México, do Japão, da Indonésia e do Canadá a quem agradecemos por nos terem aberto as suas portas e nos te-rem dado a conhecer as suas culturas e terem

transmitido aos participantes as suas posições quanto às decisões tomadas no âmbito do G20.

A adesão dos participantes foi espetacular, sendo que este ano recebemos imensos alunos de outras faculdades de vários pontos do paísque tinham curiosidade em participar, pois já tinham ouvido falar da qualidade das edições anteriores.

A ajuda do ISCSP foi também essencial, sendo que pudemos contar com o auxilio de vários professores, especialmente, do Profes-sor Doutor António de Sousa Lara, da Profes-sora Doutora Alice Trindade, da Professora Doutora Teresa Almeida e Silva, da Professo-ra Doutora Carla Costa, do Professor Doutor António Pinto Pereira e do Professor Doutor Nuno Canas Mendes, que nos ajudaram a ga-rantir que o evento decorresse dentro da nor-malidade, em termos logísticos e com a maior veracidade possível, em termos académicos.

Em jeito de conclusão, apesar dos vá-rios obstáculos pelos quais a organização passou no tempo de preparação do even-to, estas foram ultrapassadas, sendo que o evento foi um sucesso em todos os níveis.

Pág. 31 | PACTA

Page 32: 12ª Edição PACTA

Experiência de Estágio:

MINISTÉRIO DOS

eu queria saber quem morava lá ou para que servia. Agora já sei: é o Ministério dos Ne-gócios Estrangeiros, onde estou a estagiar.

A ideia de estagiar começou a germinar assim que voltei do meu Erasmus, pois re-gressei de Varsóvia cheia de vontade e ambição de adquirir alguma experiência profissional. Já estagiar no MNE foi uma opor-tunidade que surgiu inesperadamente e eu es-tava mais do que determinada a aproveitá-la.

O procedimento foi bastante mais simples do que eu esperava. Para começar, tomei conheci-mento dos Estágios Curriculares do MNE atra-vés da plataforma do Gabinete de Saídas Profis-sionais do ISCSP e, por isso, dirigi-me ao próprio gabinete para me ajudarem com o processo e para me aconselharem na escolha das melho-res opções. Inscrevi-me em quatro estágios; para dois deles não cumpria os requisitos (mes-trado), mas ainda assim decidi inscrever-me.Uma semana depois de ter enviado as can-didaturas fui chamada para uma entrevista

pessoal, na qual me foram colocadas diver-sas questões e foi analisado o meu currículo. No final, os entrevistadores, e atuais “che-fias”, despediram-se de mim com um “até segunda!”. Na minha opinião, aquilo que foi mais valorizado na minha entrevista foi o meu contacto com o estrangeiro, em especial, o facto de ter feito Erasmus, sendo que falar fluentemente qualquer língua, além do por-tuguês e inglês, será sempre uma vantagem.

Desta forma, foi a 2 de outubro de 2014 que comecei o meu estágio na Divisão de Servi-ços das Américas – doravante DSA - (uma das minhas duas opções válidas), tendo ago-ra concluído o quarto de seis meses de es-tágio. Embora já tenha tido dificuldades em conciliar o estágio com os estudos, uma vez que tanto um como o outro exigem concen-tração e dedicação máximas, sei que é uma oportunidade sem exemplo e quiçá um pri-meiro passo numa possível futura carreira.

Agora, a grande questão: o que faço? Faço de tudo! O tudo não inclui servir cafés...é um

NEGÓCIOS ESTRANGEIROS

trabalho que exige seriedade, capacida-des e competências múltiplas, trabalho de equipa e, inclusi-ve, confidencialidade.

Em primeiro lugar, há que referir que o estágio é em part-time e, portanto, há o turno da manhã e o da tarde

AGATA SWIATKIEWICZ

Aluna do 3º Ano de Relações Internacionais do ISCSP

Pág. 32 | PACTA

Quando passava a ponte 25 de abril, perguntava a mim mesma que edifí-cio cor-de-rosa seria aquele, do lado di-reito de quem vem da margem sul. Os meus pais diziam que era o Palácio das Ne-cessidades, mas isso não me dizia nada...

Page 33: 12ª Edição PACTA

que, consoante o meu horário escolar e o da minha colega, pode ser alternado.

Assim sendo, em termos práticos, aquela de nós que estagia no turno da manhã tem a ta-refa diária de fazer a resenha de imprensa, o que exige uma pesquisa pelos sites de notícias dos países das Américas, nomeadamente o The New York Times, The Globe and The Mail,Buenos Aires Herald, CNN, El País, Telemetro, entre muitos outos, recolhendo notícias atuais relevantes para a DSA, tais como: o resultado de eleições, encontros bilaterais, alterações governamentais, situações de crise, etc. Além disto, tenho a oportunidade de ler e reencami-nhar, mediante solicitação, telegramas vindos das embaixadas de Portugal em países locali-zados nas Américas ou assuntos relacionados com as mesmas. Por vezes, sou incumbida de escrever documentos informativos, como por exemplo, o primeiro que fiz, em conjunto com a minha colega, cujo tema era uma tra-gédia que ocorrera no México, no dia anterior, na qual desapareceram 43 estudantes, um tema que ainda hoje preocupa o país. Outras tarefas incluem resumos de documentos, pes-quisa de artigos de think tanks, atualização de fichas de países americanos, entre outras.

As minhas expetativas em relação a este estágio foram, sin duda, superadas. Enquanto

estagiária e estudante à procura de experiência profissional não poderia estar mais satisfeita. É um trabalho exigente, mas no qual tenho a pos-sibilidade de aplicar alguns conhecimentos que aprendi nos meus anos universitários. Também requer responsabilidade e seriedade, mas facul-ta a oportunidade de experienciar o mundo do trabalho, respeitando um horário e um ambiente de profissionalismo. Além disso, estou inserida numa equipa que proporciona um espaço agra-dável de aprendizagem e de aplicação de co-nhecimentos, valorizando assim o meu estágio.

Este estágio permitiu-me experimentar, em primeira mão, a dinâmica das relações inter-nacionais, em especial, das relações entre Portugal e os países do continente america-no. Desde que iniciei o estágio até ao dia de hoje, tenho adquirido conhecimentos, com-preendido a importância das relações di-plomáticas para o bom funcionamento das relações intergovernamentais, bem como, a forma como estas são implementadas.

Em conclusão, é com base na minha expe-riência de estágio muito positiva que posso hoje recomendá-lo vivamente a colegas inte-ressados em praticar a dinâmica das relações internacionais na principal instituição desta área, o Ministério dos Negócios Estrangeiros.

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Page 34: 12ª Edição PACTA