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13 comunicação mergulhavam no mesmo banho semântico, no mesmo contexto, no mesmo fluxo vivo de interação (LÉVY, 1997, s/r). A escrita abriu um espaço de comunicação desconhecido pelas sociedades orais. Ou seja, os atores da comunicação não partilhavam necessariamente o mesmo espaço, não estavam mais em interação direta e expressavam-se por distâncias culturais ou sociais diferentes (LÉVY, 1997 s/r) Em sua perspectiva, Recuero (2000 s/r) enumera três grandes revoluções na História: a primeira grande revolução aconteceu quando o homem desenvolveu a linguagem, como tentativa de comunicar-se com seus semelhantes e sucesso na luta pela sobrevivência. A linguagem permitiu que a humanidade conseguisse transmitir o conhecimento adquirido, aperfeiçoando a forma de apreender o mundo pelas primeiras comunidades. Alguns séculos mais tarde, a linguagem teve seus sons codificados em símbolos , 1 e posteriormente em alfabetos. Com a criação desta nova convenção, teve início a civilização, como a conhecemos hoje. A escrita permitiu que o conhecimento ultrapassasse a barreira do tempo e que a mensagem pudesse existir independente de um emissor, podendo ser recebida, a qualquer momento, por alguém que soubesse decifrar o código. Permitiu também a organização linear do pensamento, base da inteligência e cultura dos séculos seguintes. Com o mesmo contexto, Felici (2008, p, 21-22) estabelece que a humanidade passou, historicamente, por três grandes revoluções comunicativas, que evidenciaram a introdução de novas formas de sentir o mundo e de definir a realidade. A primeira revolução foi estabelecida com a substituição da cultura oral para a escrita, considerando, para isso, as primeiras inscrições em hieróglifos, no terceiro milênio a.C., no antigo Egito. A segunda, no século XV, na Europa, quando da invenção dos caracteres móveis e pelo surgimento da imprensa. Por último, na época da Revolução Industrial, no Ocidente, caracterizada pela cultura de massa e pela difusão de mensagens veiculadas pelos meios de comunicação eletrônicos. Pode-se falar em uma quarta possibilidade, a revolução “desse eterno mar de informações que é a web”. O mercado de internet, no Brasil, é composto por cerca de 43 milhões de pessoas, segundo dados do Ibope Nielsen Online, podendo alcançar os 50 milhões de internautas neste ano. O número leva em consideração apenas usuários acima de 16 anos. 1 Os primeiros símbolos descobertos foram os dos sumérios, datados do quarto milênio a.C., na região entre os rios Tibre e Eufrates, na Mesopotâmia.

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comunicação mergulhavam no mesmo banho semântico, no mesmo contexto, no mesmo fluxo vivo de interação (LÉVY, 1997, s/r).

A escrita abriu um espaço de comunicação desconhecido pelas sociedades orais. Ou

seja, os atores da comunicação não partilhavam necessariamente o mesmo espaço, não

estavam mais em interação direta e expressavam-se por distâncias culturais ou sociais

diferentes (LÉVY, 1997 s/r)

Em sua perspectiva, Recuero (2000 s/r) enumera três grandes revoluções na História:

a primeira grande revolução aconteceu quando o homem desenvolveu a linguagem, como tentativa de comunicar-se com seus semelhantes e sucesso na luta pela sobrevivência. A linguagem permitiu que a humanidade conseguisse transmitir o conhecimento adquirido, aperfeiçoando a forma de apreender o mundo pelas primeiras comunidades. Alguns séculos mais tarde, a linguagem teve seus sons codificados em símbolos ,1 e posteriormente em alfabetos. Com a criação desta nova convenção, teve início a civilização, como a conhecemos hoje. A escrita permitiu que o conhecimento ultrapassasse a barreira do tempo e que a mensagem pudesse existir independente de um emissor, podendo ser recebida, a qualquer momento, por alguém que soubesse decifrar o código. Permitiu também a organização linear do pensamento, base da inteligência e cultura dos séculos seguintes.

Com o mesmo contexto, Felici (2008, p, 21-22) estabelece que a humanidade passou,

historicamente, por três grandes revoluções comunicativas, que evidenciaram a introdução de

novas formas de sentir o mundo e de definir a realidade. A primeira revolução foi estabelecida

com a substituição da cultura oral para a escrita, considerando, para isso, as primeiras

inscrições em hieróglifos, no terceiro milênio a.C., no antigo Egito. A segunda, no século XV,

na Europa, quando da invenção dos caracteres móveis e pelo surgimento da imprensa. Por

último, na época da Revolução Industrial, no Ocidente, caracterizada pela cultura de massa e

pela difusão de mensagens veiculadas pelos meios de comunicação eletrônicos.

Pode-se falar em uma quarta possibilidade, a revolução “desse eterno mar de

informações que é a web”. O mercado de internet, no Brasil, é composto por cerca de 43

milhões de pessoas, segundo dados do Ibope Nielsen Online, podendo alcançar os 50 milhões

de internautas neste ano. O número leva em consideração apenas usuários acima de 16 anos.

1 Os primeiros símbolos descobertos foram os dos sumérios, datados do quarto milênio a.C., na região entre os rios Tibre e Eufrates, na Mesopotâmia.

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De acordo com a pesquisa, a grande responsável pelo bom desempenho do setor é a entrada

cada vez maior das classes C e D na rede.2

Sabe-se que a mediação do mundo digital nos processos comunicativos desencadeia

um conjunto de mudanças. Transformações em setores diversos se estabelecem em um ritmo

acelerado. “A internet encerra um potencial extraordinário para a expressão dos direitos dos

cidadãos e a comunicação de valores humanos [...]. Coloca as pessoas em contato com uma

ágora pública, para expressar suas inquietações e partilhar suas esperanças” (CASTELLS,

2005. p. 135).

Dessa forma, a aquisição de conhecimento é definida como “conjunto de declarações

organizadas sobre fatos e ideias [...]” (CASTELLS, 2005, p. 64) e constitui o eixo principal

do desenvolvimento das sociedades e organizações. No sentido de que a informação, em seu

sentido mais amplo, é comunicação de conhecimento, e, portanto, ponto crucial a todas as

sociedades.

Como em qualquer segmento, fatores sociais, políticos, econômicos e culturais podem

interferir no processo de absorção do conhecimento nessas áreas. Vistos por um lado, “os

processos de comunicação delineados pelas transformações culturais moldam o pensamento e

a sensibilidade dos seres humanos e propicia o surgimento de novos canais e ambientes

socioculturais, em especial na hipermídia (LEMOS, 2008). Como diz o papa Bento XVI

(2008), “novas tecnologias, novas relações – de cultura do respeito, de diálogo, de amizade.” 3

Na contemporaneidade, o maior acesso ao conhecimento, a adoção gradativa das

novas mídias, a produção e visibilização das informações são fatores que influenciam esse

novo cenário. E “como a informação é parte integral de toda atividade, todos os processos da

existência individual e coletiva são diretamente moldados pelo novo meio tecnológico”

(CASTELLS, 2005, p. 108). Thompson sustenta que o desenvolvimento da mídia transformou

a constituição da sociedade, criando novas formas de ação e interação e novos tipos de

relacionamento social.

Segundo o sociólogo Castells (2005, p. 69), as novas Tecnologias de Informação e

Comunicação (TICs) possibilitam que todos estejam interconectados e integrados a um

sistema que reafirma o valor e o poder da informação e do conhecimento.

2 Cf. dados em: <http://www.ibope.com.br/calandraWeb/servlet/CalandraRedirect?temp=6&proj=PortalIBOPE&pub=T&nome=home_materia&db=caldb&docid=DF1CAE890B4D16F88325746D00604588>. 3 Este é o tema escolhido pelo Papa para o 43º Dia Mundial das Comunicações Sociais, em 2009. Cf. em: <http://www.h2onews.org/_page_videoview.php?id_news=1189&lang=pt>.

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Em outra visão, “as TICs não abrem caminho para a felicidade humana que imaginam

os ciberotimistas, mas facilitam um salto na qualidade de vida nos países em desenvolvimento

e uma reversão dos padecimentos que sofrem as nações periféricas” (KATZ, 2001 s/r).

Em clima de avanços acelerados e a realidade mais compreensível para os indivíduos,

cresce, também, o interesse acerca daquilo que sucede no âmbito da ciência e sobre a

promoção e fomento para se adotar e manter estilos de vida saudável.

À respeito da divulgação científica no século XXI, a coordenadora de pesquisa da

Cátedra UNESCO, Kreinz (2008 s/r) questiona: “Será que houve acréscimo na discussão do

saber e da sociedade em benefício do ser humano com os avanços da informática?” “O que se

esconde por trás da aparente eficiência performática dos donos do poder representados por

técnicos que dominam a sociedade informatizada?”

A busca da vida plena e, por consequência, da saúde e da doença também fazem parte

do desenvolvimento e da cultura dos povos. A doença é uma antiga e persistente

acompanhante da espécie humana, que se pode constatar pelo exame de restos arqueológicos.

E, ao pensar a saúde – de uma forma abrangente - “está se lidando com algo tão amplo como

a própria noção de vida” (CZERESNIA, 2003. p. 46).

Na agenda contemporânea, a comunicação em saúde é fundamental, diante de índices,

divulgações e pesquisas que apontam para uma saúde sem educação e prevenção eficazes. Por

meio de estratégias diversas e por diferentes mediações, busca-se responder à crescente

necessidade que os indivíduos têm para melhor se informarem sobre patologias que os afetam

diretamente e/ou compreender que o Estado tem o dever de promover melhores condições de

vida e saúde.

Embora

em cada ato de comunicação de mensagens sobre a saúde há muito mais do que a absorção, ou não, de informações. Há complexos processos sociais de instituição de imaginários, de trocas de significados, de usos, de ressignificações, a partir dos quais a saúde e a doença adquirem sentido, se legitimam e se colocam em questão atores (médicos), temas, procedimentos e instituições para tratar delas (NATANSOHN, 2008. s/r).

Mas se diversas são as práticas comunicacionais, no que diz respeito ao campo da

saúde a diversidade delas que procuram promover, manter ou recuperar a saúde tem estreita

relação com as formações sociais e econômicas, os significados atribuídos e o conhecimento

disponível em cada época.

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Nos últimos tempos tem ocorrido uma verdadeira explosão no número de sites

médicos, de divulgação e informação de ciência e promoção de saúde. Acredita-se, assim, que

a incorporação de novas tecnologias no setor C& T, pode agregar o conceito de cidadania.

Pensando no sentido de “aldeia global”, divulgar ciência na internet é divulgar conhecimento

científico para todos os países - proporciona o intercâmbio entre este campo e a sociedade.

Parece evidente, que, ao falar dessa amplitude, se considera que parte dos indivíduos não é

atingida, já que o acesso livre é só uma possibilidade (aqueles que não têm acesso às novas

tecnologias, por motivos diversos).

Sabbatini ([R.], 2000)4 pondera que, se por um prisma, a internet proporciona

mudança radical de paradigmas a todos os aspectos da sociedade, por outro, tem um efeito de

aumentar a consciência da comunidade médica e de outras instituições sobre o valor do acesso

à informação. Do ponto de vista de quem produz as informações do campo científico e

médico, se procura “traduzir”5 e contextualizar conhecimentos específicos e se tem por

objetivo educar, orientar e informar o grande público sobre assuntos referentes ao temas de

saúde. Como dizem especialistas, “informar sobre saúde - coletiva e pessoal - tem a ver com

educação e sabedoria de vida”.

Alguns estudos sugerem que existe uma relação significativa entre adoecimento e

busca de informações sobre saúde (BERGER; WAGNER; BAKER, 2005 apud GARBIN et

al, 2008.), isto é, indivíduos - ou familiares destes - atingidos por alguma enfermidade

estariam mais propícios a buscar informações sobre determinada doença na rede. Mas, de uma

maneira geral, de acordo especialistas, na atualidade houve um acréscimo por busca desse tipo

de conhecimento.6

Se a divulgação científica pela internet é uma nova força de divulgar ciência e saúde,

percebe-se a presença do discurso da verdade nesses discursos. Naqueles que tratam de saúde,

entende-se estes tanto nas formas tradicionais de transmissão de cultura científica, quanto

àqueles que promovem a saúde. E promover saúde contribui para a integralidade dos

indivíduos.

Araújo e Cardoso (2007 apud SADALA, 2008. p. 1195) definem o campo

comunicação e saúde como “espaço social e discursivo de natureza simbólica,

permanentemente atualizado por contextos específicos e formados por teorias, modelos e

metodologias [...], agentes, instituições, políticas, discursos, práticas, instâncias de formação,

4 Sabbatini é professor e diretor associado do Núcleo de Informática Biomédica da Universidade Estadual de Campinas (UINICAMP), colunista de ciência do Correio Popular e colunista de informática do Caderno Cosmo. 5 O termo é aqui empregado no sentido de um discurso novo, para que a mensagem seja melhor entendida. 6 Cf. em SABBATINI [R.]. Revista Informática Médica. Vol. 1, nº 3 – mai./jun de1998.

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lutas e negociações”. A comunicação da saúde é eficaz quando utiliza mecanismos distintos

em sua divulgação, ora voltando-se aos pares, ora ao público leigo em assuntos de ciência.

Em outra abordagem, Beltrán (1995, p. 34 - tradução da autora) diz consistir

comunicação para a saúde uma

[...] aplicação planejada e sistemática dos meios de comunicação para mudança de comportamentos ativos da comunidade, compatíveis com as aspirações expressadas em políticas, estratégias e planos de saúde pública. Vista como processo social, é um mecanismo de intervenção para gerar, em escala múltipla, influência social que proporcione conhecimentos, forje atitudes e provoque práticas favoráveis ao cuidado com a saúde pública. Como exercício profissional, a Comunicação para a Saúde é o emprego sistemático dos meios de comunicação individuais, de grupo, de massa e mistos, assim como tradicionais e modernos como ferramentas de apoio à mudança de comportamentos coletivos funcionais , ao cumprimento de objetivos dos programas de saúde pública.

Nesse sentido, as mensagens podem ser vistas sob a luz do paradigma de difusão de

inovações. Para Rogers (1983, p. 5-11),

difusão é o processo pelo qual uma inovação é comunicada através de certos canais por meio de um período entre membros de um sistema social. [...] É um tipo de mudança social, definida como um processo pelo qual as alterações acontecem na estrutura e função de um sistema social. Quando novas ideias são inventadas, difundidas e adotadas ou rejeitadas causando certas consequências, a mudança social acontece.

Podem ser alterados, então,

[...] o comportamento humano e os fatores ambientais relacionados com aqueles que, direta ou indiretamente, promovam a saúde, previnam enfermidades ou protejam os indivíduos de algum dano. E agrega o que se trata de um processo de apresentar e evoluir informação educativa, persuasiva, interessante e atraente, que resultam comportamentos individuais e sociais sãos (PINTOS, 2001, p. 123 - tradução da autora).

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Ou como também o ratificam, com propriedade, Marques de Melo (2005) e Natansohn

(2008), que a difusão de inovações é uma das raízes da linha de pesquisa da comunicação para

a saúde.7

COE (1998, p. 27 apud PESSONI, 2005 s/r – tradução do autor) alega que “os

elementos chave para um programa de comunicação para a saúde são o uso da teoria da

persuasão, a investigação e a segmentação da audiência e um processo sistemático de

desenvolvimento de programas”.

Alerta-se que, embora interessante e importante, este viés não é centro de atenção

neste estudo.

Garbin (et al, 2008, s/r) reconhece um outro aspecto:

o acesso à informação técnica e científica, aliado ao aumento do nível educacional das populações, tem feito surgir um paciente que busca informações sobre seu diagnóstico, doença, sintoma, medicamento, custo de internação e tratamento: “o paciente expert” – em uma espécie de empowerment (empoderamento).8

“Esta categoria corporifica a razão de ser da promoção à saúde, enquanto um processo

que procura possibilitar que indivíduos e coletivos aumentem o controle sobre os

determinantes da saúde para, desta maneira, ter uma melhor saúde” (WORLD HEALTH

ORGANIZATION - Glossary of Health Promotion Terms, 1998).

Sob outra perspectiva, também, pode-se falar em “e-health”. De acordo com a vice-

diretora da European Health Management Association (um rede européia de organizações de

saúde), Petra Wilson, o termo caracteriza o desenvolvimento tecnológico na área da saúde e

promete maior acesso ao cuidado, qualidade do cuidado, eficiência e produtividade. “E-health

é uma maneira de pensar, é uma atitude diante da rede de informação em saúde”, resume

(2004).

7 Natansohn desenvolve um trabalho interessante (UFBA), relatado no último ALAIC, sobre a experiência em análise de situação em comunicação comunitária e institucional, em planejamentos flexíveis e não normativos em comunicação e saúde comunitária. 8 O termo “empowerment” é um conceito complexo que toma emprestado noções de distintos campos de conhecimento. É uma ideia que tem raízes nas lutas pelos direitos civis, no movimento feminista e na ideologia da “ação social”, presentes nas sociedades dos países desenvolvidos, na segunda metade do século XX. Nos anos 1970, este conceito é influenciado pelos movimentos de autoajuda, e nos de 1980 pela psicologia comunitária. Na década de 90, recebe o influxo de movimentos que buscam afirmar o direito da cidadania sobre distintas esferas da vida social, entre as quais a prática médica, a educação em saúde e o ambiente físico. Informações em: CARVALHO, Sérgio R. Os múltiplos sentidos da categoria “empowerment” no projeto de Promoção à Saúde.

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Há de se atentar que a maior parte das informações na área de medicina e ciência

disponibilizadas na web ainda é dirigida para o público especializado. Mas, de qualquer

forma, elas estão se multiplicando e leigos têm, cada vez mais, acesso a elas - o que pode

colaborar para a prevenção de doenças e compreensão de assuntos pertinentes a essa área de

interesse. E, por ser acessada individualmente, pode responder a dúvidas específicas,

oferecendo a informação sobre medida, com o grau de profundidade que o usuário procura.

“Estudos mostram que nos Estados Unidos há uma tendência dos sites de saúde crescerem em

número muito mais rapidamente do que o uso geral da rede web” (SOARES, 2004 s/r).

Quanto ao uso dessas informações, as sondagens trazem números expressivos. Relata

Soares (2004, s/r), que uma pesquisa do Cyber-Dialogue/Internet Health Day9 (1998) revelou

que cerca de 52% dos usuários buscaram informação sobre doenças específicas ou condição

médica. O restante dos indivíduos busca em áreas afins, tais como saúde da criança, dieta e

nutrição, produtos farmacêuticos, forma física, etc. A Fundação Health on Net (HON) 10, em

um estudo de 1998, revelou que nas buscas por temas de saúde o número de usuários do sexo

feminino superou os do sexo masculino.

Em outra análise, a partir de uma amostra telefônica, também nos EUA, com 800

usuários de internet e realizada em 1997, 73% dos que responderam ter acessado a internet em

busca de informação de saúde disseram ter discutido a informação com outras pessoas, sendo

que, desses, 50% o fizeram com médicos e outros profissionais de saúde. A maioria dos

entrevistados acredita no valor desse tipo de informação, considerando-as “altamente

valiosas”.

De acordo com estudos de Soares (2004 s/r), ainda não se dispõe pesquisas

consistentes sobre a realidade brasileira nesse tipo de busca, embora apareçam algumas delas.

Este é um lado da questão.

Em um país como o Brasil, a aplicação da internet à saúde enfrenta algumas

limitações. E, quando se pensa na realização de campanhas de saúde, é preciso levar em conta

que pode haver compartilhamento de informações. Os sites, individualmente, têm uma

dificuldade relativa de se destacar na economia desse tipo de informação.

“Na internet, como há um número astronômicos de sites, a comunicação acaba ficando

em estado virtual, dependendo de que o usuário a solicite. Os provedores, sabedores desse 9 O Cyber-Dialogue é um instituto norte-americano responsável por pesquisas em áreas diversas, com ênfase na internet. Informações em: <http://findarticles.com/ p/articles/mi_m0EIN/is_2001_May_22/ai_74866702>. 10 A Health On the Net é uma fundação sem fins lucrativos, sediada em Genebra, e que tem como objetivos a implementação de projetos na internet, telemedicina, etc., que beneficiem o campo de saúde. Informações em: <http://www.informaticamedica.org.br/intermedic/n0101/site/hon_p.htm>.

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fato, procuram destacar-se oferecendo “Portais”, com diversas atrações, de modo a garantir os

acessos” (SOARES, 2004 s/r).

Mittman e Cain (2001 apud SOARES, 2004 s/r) também relacionam como uma das

dificuldades a qualidade variável da informação. Eles afirmam que

as preocupações com a qualidade da informação, em certos aspectos, não é diferente em outros meios ou fontes, como conselhos de amigos e parentes, provavelmente as fontes mais comuns de informação de saúde. O que exacerba os problemas de qualidade da informação na internet são propriedades desse meio que a popularizaram: baixo custo e facilidade de publicação, que permitem a pessoas não habilitadas divulgarem ideias; anonimato; rapidez das mudanças nos sites, dispensando, muitas vezes cuidados com a confirmação das informações. Há, também, a possibilidade de ações fraudulentas internacionais, burlando as legislações nacionais.

Em outra perspectiva, em caráter mais amplo,

declarações de princípios contra a iniquidade social, a favor de uma sociedade saudável e socialmente justa, e que preconizam o “empowerment” de indivíduos e coletivos podem transformar-se em discursos vazios no momento em que não se discute as raízes dos problemas, nem se busca apontar alternativas ao status quo. Por meio desses artifícios, governos e instituições conservadoras podem legitimar suas práticas neutralizando, de passagem, proposições que questionam a ordem social (CARVALHO, 2004 s/r).

Neste contexto e tendo como referência Carvalho (2004 s/r), retoma-se a questão do

“empowerment”, que “pode dar-se tanto em nível do coletivo quanto da relação

intersubjetiva, podendo ocorrer em distintos espaços da ação sanitária, sejam eles o de

promoção, de prevenção, de cura e/ou de reabilitação” (CARVALHO, 2004 s/r).

Ele sublinha que

o processo de ressignificação e repolitização do sentido do “empowerment” demanda uma postura ativa de enfrentamento das determinações macro e microssociais da iniquidade social, colocando em questão diferenciais de poder, porventura existentes na relação entre especialistas e não especialistas, entre populações de países ricos e desenvolvidos e de países pobres, entre homens e mulheres [...].

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Visto sob o âmbito desta pesquisa, o “e-paciente” é o indivíduo que busca apoio do

profissional, mas antes procura saber sobre sua saúde na web, aqui vista como veículo de

informação e com discurso especializado – “a ciência traduzida”. Há, portanto, um

deslocamento da legitimação do discurso de poder do profissional (que tem competência

técnica para prevenir e curar), para a interação verbal e o diálogo - em que participam o

especialista e o principal envolvido, o sujeito/paciente - que deve entender (ter a exata

representação), e se envolver com o processo saúde/doença.

Algumas abordagens do conceito saúde

“Até ao século XIX, quando se desconheciam as causas de muitas patologias ou os

médicos dispunham de meios limitados para curar as doenças ou, mesmo, para combater o

sofrimento, o conceito da saúde/doença se dava em função de uma atitude fatalista”

(MENDES, 2008 s/r). Os serviços de saúde, públicos e privados, estavam estruturados para

atender os doentes e responder às necessidades da população em termos de doença. “Saúde”,

então, era entendida como “ausência de doença” e a prioridade era o controle da evolução de

uma determinada patologia, quando ela existia.

Já no início do século XX, “foi possível identificar novos agentes causais de doenças,

fazer melhores diagnósticos, utilizar novos medicamentos e usar técnicas cirúrgicas mais

seguras e com melhores níveis de recuperação” da saúde dos indivíduos (MENDES, 2008

s/r).

Mas, na atualidade, os discursos são outros.

Acredita-se que diversos são os discursos e os sentidos que se constroem sobre esta

questão. “Em um discurso sobre saúde, múltiplos discursos são ordenados, não só pelas regras

inerentes à prática jornalística, mas também segundo condições dadas pelo exercício do poder

e pela ideologia que permeiam as relações sociais” (FERRARETTO, 2005, s/r).

Na perspectiva da Organização Mundial da Saúde (OMS, Constituição de 1948),

“saúde é o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não meramente a ausência

de doenças”. É, portanto, “o recurso que permite às pessoas manter uma vida, individual,

social e economicamente produtiva” (WHO, 1998. p. 1).

Para que as pessoas possam viver com as suas necessidades satisfeitas, é necessário

alertá-las, ensiná- las e, principalmente, inseri- las nos conceitos básicos da prevenção. Além

das possíveis patologias que podem afetá- las, as pessoas também devem ser informadas sobre

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a melhor forma de tratá- las, para que possam perceber e sentir bem estar e ter “dignidade de

vida”.

A saúde, sendo uma esfera da vida de homens e mulheres em toda sua diversidade e singularidade, também foi beneficiada. É dever de todos e do Estado, cuidar da vida, de modo que se reduza a vulnerabilidade ao adoecer e as chances de que seja produtor de incapacidade, de sofrimento crônico e de morte prematura de indivíduos e da população, em geral (ANEXO 1 – Política Nacional de Promoção da Saúde, p. 5).

Para Mendes (2008, s/r), de um ponto de vista mais realista e dinâmico, a saúde não é

uma condição, mas sim uma adaptação. Não é um estado, mas um processo que adapta o

indivíduo ao meio ambiente físico e social, apesar das limitações pessoais, inerentes a alguma

patologia ou à idade (declínio da vida).

Mas saúde, antes de mais nada, é uma experiência individual. As formas como as

pessoas percebem sua saúde e os meios como cuidam dela, são tão diversas quanto as

diferentes formas de significar e experimentar a vida (RADLEY, 1994).

Para determinados grupos sociais, as concepções de saúde se encontram em cinco

categorias principais, a saber:

Figura 1

Fonte: DUARTE, 1998. Ano de acesso: 2008.

Aqui pode ser citado estudo de Borges e Japur, no contexto do Programa de Saúde da

Família (PSF). Em discussões de grupos comunitários coordenados por pesquisadoras,

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realizadas em 2002, foi introduzida ativamente três temas: 1) o que é estar com saúde; 2) o

que é estar doente; 3) o que é cuidar da saúde.

Algumas pessoas acreditam que “promover e estar com saúde tem significado de

propiciar o estar de bem com a vida” - e “ter bons hábitos de vida contribui para se estar com

saúde”. Já para outras, “uma boa alimentação e uma boa qualidade de vida corrobora para a

promoção de saúde” (BORGES & JAPUR, 2005). A pesquisa foi delineada buscando

favorecer uma aproximação ao cotidiano de uma comunidade alvo de um PSF, com uma área

de abrangência de 1.300 famílias de um bairro de classe média baixa, de uma cidade de

grande porte no interior do Estado de São Paulo. As discussões foram realizadas com cinco

grupos comunitários, bastante heterogêneos com relação às características sociais e

demográficas (BORGES & JAPUR, 2005.).

“O que se entende hoje por saúde e doença foi surgindo do nada inicial, isto é, da

incompreensão do homem primitivo dos fenômenos que o envolviam, suas causas e seus

efeitos” (MENDES, 2008 s/r).

De acordo com a Organização Pan Americana de Saúde (OPAS) “saúde é a relação

harmônica do individuo consigo mesmo, com a natureza e com os demais, na busca de uma

tranquilidade espiritual” (OPAS, 1º Seminário Municipal de Promoção da Saúde, abr. 2006).

Acredita-se que muitos dos fatores que fragilizam a juventude, a maturidade e a velhice

podem ser controlados e enfrentados com disposição, alegria e saúde.

No entender de Fayard (2001), promover saúde é “a condição harmoniosa de

equilíbrio funcional, físico e psíquico do indivíduo, integrado dinamicamente no seu ambiente

natural e social”.

Em suma, “a saúde tem múltiplas dimensões. Ela não é propriedade do indivíduo, mas

o reflexo da interação do homem com o seu ambiente, e constitui parte do processo da sua

vida do dia-a-dia” (SOUTELO, 1987 s/r).

O 9º Congresso Mundial de Informação em Saúde (ICML 9, 2005)11, já alertara que “o

Ministério da Saúde do Brasil tem o compromisso de, com equidade, promover saúde”. Parte-

se do princípio que somente pela informação e conhecimento é que se aumenta a qualidade de

saúde humana. Os congressistas recomendaram que essas informações devem ser de livre

acesso a todos. Nesse sentido, as ações vão desde políticas de governos em prol do

compartilhamento de informação, passam por tecnologias que possibilitem o acesso, e

11 Cf. em: <http://www.icml9.org>.

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envolvem mudanças de paradigmas na relação da sociedade com a sua saúde e seu

conhecimento sobre saúde.

O ano de 1996 foi um marco na consolidação dessa área de comunicação, quando o

primeiro número do “Journal of Health Communication” definiu comunicação em saúde

como um campo de especialização dos estudos comunicacionais. Inclui, ainda, os processos

do “agenda setting” 12 para os assuntos de saúde: o envolvimento dos meios massivos com a

saúde; a comunicação científica entre profissionais da biomedicina; a comunicação

médico/paciente; e, particularmente, o planejamento e a avaliação de campanhas de

comunicação para a prevenção da saúde (ROGERS, 1996).13

As diversas concepções de saúde e doença que presidem as Políticas de Saúde

assentam no paradigma positivista da medicina ocidental (modelo biomédico de saúde e

doença). Para alguns analistas, tais como Santos (1987, s/r), “no universo cultural da medicina

moderna”, a saúde constitui um elo para a conformidade social. Quanto ao termo doença,

fundamentam-se paradigmas, tais como disfunção do corpo humano ou alterações físicas e/ou

psíquicas dos indivíduos.

Tendo como base essas abordagens, estabelecem-se, a seguir, a perspectiva e o foco de

pesquisa, apresentados na figura 2.

Figura 2 – Perspectiva e foco da pesquisa

Internet

Web sites

PNSCS

Prevenção de doenças e promoção de saúde?

PSCS - Portais Nacionais das Sociedades

Científicas de Saúde Cardiol e Diabetes

12 Agenda setting significa a fixação ou estabelecimento de agenda, ou seja, a agenda da mídia é formada pelo conjunto de temas que estão nos meios de comunicação em determinado período. 13 ROGERS, Everett. The field of health communication today: an up-to-date report. In: Journal of health communication - nº 1, fev. de 1996.

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O olhar de pesquisadora, somado ao contato com o campo científico, apontaram

alguns aspectos da análise que levaram à proposição das seguintes questões norteadoras da

investigação, no contexto da comunicação em saúde:

1) Nos discursos de saúde na web, em especial nos Portais Nacionais das Sociedades

Científicas CARDIOL e DIABETES, há prevenção de doenças e promoção de saúde, em

sentido amplo?

2) Aparecem outros aspectos que possam configurar prevenção de doenças e

promoção de saúde?

3) Ao escolher por questões consideradas relevantes para o público em geral, as

informações são influenciadas ou podem influenciar a agenda das Políticas Públicas?

Partindo de uma concepção ampla do processo saúde/doença e de seus determinantes,

entende-se promoção da saúde como “a articulação de saberes técnicos e populares e a

mobilização de recursos institucionais e comunitários, públicos e privados para seu

enfrentamento e resolução” (BUSS, 2000 s/r).

A escolha dos sites se deu a partir dos critérios que diferenciam a produção das

informações por cientistas e jornalistas – as do Portal do CARDIOL são elaboradas por

especialistas, e o do DIABETES por uma equipe que desenvolve informações no âmbito da

saúde, mas que tem os profissionais e Congressos da área como fonte. O recorte temporal de

análise centrou-se no período de 1º de setembro a 1º de dezembro de 2008. O cotidiano da

produção das informações foi escolhido aleatoriamente e, de maneira especial, nos dias

comemorativos que privilegiaram a saúde cardiovascular e a dos diabéticos.

A pesquisa foi pautada nos seguintes objetivos:

GERAL: entender e refletir sobre aspectos dos novos recursos tecnológicos aplicados

nas informações de saúde. Isto é, como os informativos disponibilizados pelos Portais das

Sociedades Científicas de Saúde, na rede web, veiculam e tratam este tipo de informação. De

maneira especial, procurar verificar como essa tecnologia propicia ou exige a criação de um

novo discurso.

ESPECÍFICOS: Conhecer as principais características dos Portais Nacionais das

Sociedades Científicas CARDIOL e DIABETES - e o trabalho em termos de tratamento da

informação desenvolvida por elas. Verificar como esses sites têm sido meio para a difusão do

conhecimento científico e sobre prevenção de doenças e promoção de saúde, tanto em seu

aspecto técnico, como no que diz respeito ao conteúdo das informações.

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COMO METODOLOGIA - Para conhecer melhor a realidade dos Portais Nacionais

de Saúde CARDIOL e DIABETES, optou-se, pela análise qualitativa. Os conceitos foram

fundamentados em pesquisa bibliográfica de publicações pertinentes ao campo

comunicacional e que abordam as novas tecno logias da informação empregadas no sentido de

promover e/ou divulgar saúde.

COMO PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS - Verificação de algumas

matérias informativas veiculadas nos sites CARDIOL e DIABETES. Esta abordagem tem o

objetivo de caracterizar a estrutura, os recursos empregados em algumas matérias que compõe

o corpora deste estudo.

Como técnica para uma estratégia interpretativa foi utilizada a ANÁLISE DE

DISCURSO FRANCESA (AD). Com a teoria e a metodologia da AD, pensada

principalmente por Pêcheux, busca-se compreender as produções desse objeto de pesquisa em

diferentes regiões discursivas, dent re elas os diferentes sentidos de saúde. Bem como a

compreensão de marcas (indicadores) e de uma possível tecnologia da linguagem, e que pode

funcionar discursivamente, no ambiente das TICs. Orlandi (2003) argumenta que por trás do

discurso aparente, simbólico e polissêmico esconde-se um sentido que convém desvelar.

Explica-se que sob o ponto de vista da QUALIDADE DA INFORMAÇÃO EM

SAÚDE NA WEB, consideram-se “características intrínsecas, tais como responsabilidade,

confiabilidade, objetividade, abrangência, precisão, capacidade de ser transmitida, suporte

material” (CASANOVA, 1990. p. 42 apud NEHMY & PAIM, 1998, s/r).

As pesquisadoras em Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais

(UFMG), Nehmy e Paim (1998, s/r), apontam que “o discurso da modernidade tem

questionado a certeza do conhecimento”. Daí a possibilidade de “se utilizarem parâmetros

permanentes para o julgamento de qualquer proposição, seja ela de origem científica ou

prática” (NEHMY & PAIM, 1998, s/r.). O tema da competência remete diretamente à certeza

da qualidade da informação/conhecimento, na medida em que a própria palavra traz em si

uma conotação de julgamento de valor. A ideia de valor equivale à qualidade. De qualquer

forma, “é o usuário, quer individual quer coletivo, quem faz o julgamento da qualidade ou

valor da informação” (WAGNER, 1990. p. 70 apud NEHMY & PAIM, 1998, s/r). Isto é, em

última instância, o valor da informação depende do usuário e do contexto em que ela é vista.

A ideia, então, é a identificação de filtros ou critérios relacionados com as categorias

apresentadas pela organização norte-americana “Agency for Health Care Policy and

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Research” (AHCPR)14, por intermédio do “Health Information Technology Institute’ (HITI)15

e do Health Summit Working Group (HSWG)16 e outras instituições.

No Brasil, o Conselho Federal de Medicina, os Conselhos Médicos regionais e a

Associação Médica Brasileira tentam efetivar condutas que regulamentem as informações do

campo medicina/saúde divulgadas na web. O Conselho Regional de Medicina de São Paulo

(CREMESP) também estabeleceu alguns princípios éticos17 e diz que:

a informação de saúde apresentada na internet deve ser exata, atualizada, de fácil entendimento, em linguagem objetiva e cientificamente fundamentada. Da mesma forma, produtos e serviços devem ser apresentados e descritos com exatidão e clareza. Dicas e aconselhamentos em saúde devem ser prestados por profissionais qualificados, com base em estudos, pesquisas, protocolos, consensos e prática clínica. Os sites com objetivo educativo ou científico devem garantir autonomia e independência de sua política editorial e de suas práticas, sem vínculo ou interferência de eventuais patrocinadores. Deve estar visível a data da publicação ou da revisão da informação, para que o usuário tenha certeza da atualidade do site. Devem citar todas as fontes utilizadas para as informações, o critério de seleção de conteúdo e a política editorial, com destaque para nome e contato com os responsáveis (CREMESP, 2000).

E, mesmo que estes critérios ainda não sejam adotados como padrão no país, a

preocupação deste Conselho fica bem evidenciada pelos pontos principais mencionados. O

advento da tecnologia da informação, aplicada ao processo de publicação/divulgação de

trabalhos científicos, proporcionou maiores facilidades para a revisão e a validação de textos

por meios eletrônicos de forma mais dinâmica. Embora deva manter os mesmos “Princípios

Reguladores de Qualidade dos Trabalhos Científicos” a serem divulgados.

Sob outro aspecto, no entanto, “o sentido da palavra ‘publicação’, em termos

eletrônicos, tem atualmente um novo significado, possibilitando, a qualquer pessoa com

acesso à rede, a exposição dos seus trabalhos, com escasso ou nulo controle profissional sobre

o que se está apresentando” (LOPES, 2004 s/r). Nesse contexto, os argumentos apresentados

14 Agência do PUBLIC HEALTH SERVICE , estabelecida em 1990, para prover indexação, resumo, tradução, publicação e outros serviços que resultem na disseminação mais rápida e eficiente de informação sobre pesquisa, projetos de demonstração e avaliações referentes à assistência à saúde para indivíduos e entidades (públicas e privadas) envolvidos na melhoria da divulgação da assistência à saúde. 15 O HITI foi criado em 1996 pelo Mitretek Systems, Inc. e é uma organização que opera em prol do interesse público. Cf. em: <http://www.infolit.org/members/hiti.htm>. 16 Grupo de trabalho que tem por missão promover a qualidade e proteger contra fraudes das informações de saúde na internet. Cf. em: <www.bases.bireme.br/bvs/reuniao/dec02/rodbard/sld007.html>. 17 Cf. em: <http://www.saudeinformacoes.com.br/institucional_cremesp.asp>.

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pelos Portais podem representar “fonte segura” (qualidade) de informações, pois provém das

Sociedades Científicas de Saúde – cardiovascular e do diabético.

A pesquisadora Lopes (2004, s/r) explica que os conteúdos das páginas institucionais

(ou de quaisquer documentos) que são disponibilizados na rede web necessitam de filtros,

para minimizar o excesso de informação tornada disponível. “Mas como determinar a

qualidade dessa informação - descentralizada e flutuante?” Especialistas em informação têm

apresentado, de forma independente, desde 1995, critérios ou filtros de qualidade para

avaliação das páginas da rede web.

No contexto da tecnologia eletrônica, Olaisen (1990 apud NEHMY & PAIM, 1998,

s/r) propõe privilegiar o caráter qualitativo da avaliação da informação segundo um modelo

onde aspectos usuais da qualidade são agrupados em quatro categorias: qualidade cognitiva,

qualidade do desenho da informação, fatores referentes ao produto da informação e fatores

relativos à qualidade da transmissão.

A “qualidade cognitiva” é dependente de como a fonte é valorizada pelo usuário. As

pesquisadoras Nehmy e Paim explicam que nessa categoria incluem-se os seguintes aspectos:

credibilidade, relevância, confiança, validade e significado no tempo. A qualidade do desenho

da informação incorpora fatores referentes à forma, flexibilidade e seletividade. Os fatores

referentes ao produto da informação são: valor real e abrangência. Finalmente, os fatores

relativos à qualidade da transmissão são definidos pelo critério da acessibilidade. O conjunto

dos fatores e a relação entre eles configuram o que Olaisen (1990 apud NEHMY & PAIM,

1998, s/r) denomina de “processo de qualidade da informação”.

Para a área da saúde, foram, também, definidas as seguintes categorias: credibilidade,

conteúdo, apresentação formal do site, design (projeto estético), operacionalidade dos links,

(operacionalidade e eficiência de uso), interatividade (controle do usuário), presença ou não

de anúncios, seguindo princípios apresentados por Dias (2001) e no quadro de Lopes (2004):

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29

.

Figura 3

Fonte: LOPES, 2004

Assim,

- para a determinação da credibilidade da informação são observados os seguintes

atributos: a fonte de informação médica, com a visualização do logotipo e do nome da

instituição e do responsável pela informação, bem como seu nome e titulação. Devem ser

considerados, também, a atualidade da informação, relevância e revisão dos textos

disponibilizados;

- quanto ao conteúdo, a avaliação leva em conta a precisão e acurácia da informação,

hierarquia de evidência, quadros de avisos com descrição das limitações, objetivos, cobertura,

autoridade e atualidade da informação. São necessárias, também, a precisão das fontes e a

completude da informação – isto é, os lados negativos registrados e declarações sobre os

assuntos.

- quanto aos links, os indicadores de qualidade são: seleção, arquitetura, conteúdo e

links de retorno;

- no critério design, os critérios são: acessibilidade, navegabilidade e mecanismos de

busca internos;

- quanto à interatividade, devem ser avaliados os mecanismos de retorno da

informação, fórum de discussão e explicitação de algoritmos;

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- na categoria anúncio, os critérios de observação são os alertas.18

À medida que o estudo for se desenvolvendo, vão sendo observadas algumas dessas

categorias. Considera-se que outros aspectos configuram sobreposição de uso e avaliação de

objetivação da base de julgamento dos dois termos: qualidade e valor de

informação/conhecimento.

Atenta-se para o fato de que à avaliação ainda podem ser agregadas outras dimensões

(enfoques), tais como medida do uso e os efeitos da informação, mas para o momento, não é

interesse da pesquisadora este viés.

ANÁLISE DESCRITIVA - tem o objetivo de caracterizar a estrutura, os recursos

empregados e o conteúdo de algumas das matérias que devem compor o corpora deste estudo,

a partir da seleção de alguns critérios.

Esta análise leva em conta os recursos verbais e não verbais das mensagens, uma vez

que o meio internet também veicula uma linguagem especial – a da hipermídia. No entender

de Motter, “a comunicação, ao por em ação a linguagem e seus produtos - os discursos -,

refrata o ser e o parecer dos homens e as relações que estes estabelecem com o mundo, com

os outros homens e consigo mesmo” (MOTTER, 2001. p. 12).

Este tópico aborda três procedimentos:

1. CATEGORIAS DESCRITIVAS - leva em conta determinadas normas, a partir das

quais foram elaboradas as categorias, com base nas definições dos autores: LAGE (2002) e

MARCUSHI (2002). Devem ser selecionadas as posições discursivas ocupadas pelos autores

dos artigos e notícias presentes nos sites (cientistas fontes, cientistas jornalistas,

comentaristas, etc.), conteúdo, imagens e elementos não verbais.

2. GÊNEROS DIGITAIS EMERGENTES - a reflexão se dará a partir dos estudos do

linguista Marcushi. De uma maneira geral, gêneros virtuais é o nome dado às novas

modalidades de gêneros textuais surgidas com o advento da internet, dentro do hipertexto -

ele os chama de “gêneros virtuais emergentes”. Eles possibilitam, dentre outras coisas, a

comunicação entre duas ou mais pessoas mediadas pelo computador (CMC). Neste contexto,

esta forma de intercâmbio caracteriza-se basicamente pela centralidade da escrita e pela

multiplicidade de semioses: imagens, sons, texto escrito (MARCUSCHI, 2002 s/r).

No discurso eletrônico, podem ser observados, então: o propósito comunicativo do

discurso; a natureza da comunidade discursiva; as regularidades de forma e conteúdo da

18 HSWG - Human Subjects Working Group.

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comunicação, expectativas subjacentes e convenções; as propriedades das situações

recorrentes em que o gênero é empregado - incluindo as forças institucionais, tecnológicas e

sociais que dão origem às regularidades do discurso.

Os gêneros digitais emergentes, de acordo com Marcushi (2005, p. 13) são: ema il, bate

papo virtual em aberto, bate papo virtual reservado, bate papo agendado, bate papo virtual em

salas privadas, entrevista com convidado/s, aula virtual, bate papo educacional, vídeo

conferência interativa, lista de discussão, endereço eletrônico, weblog (ou, simplesmente,

blog).

Aplicada à noção de comunidade virtual, a noção de gênero desloca o foco de questões

como a natureza e o grau do relacionamento entre os “membros da comunidade”, para o

propósito da comunicação.

Marcushi (MARCUSHI, 2002 p. 14) considera três aspectos importantes na análise

dos gêneros digitais emergentes:

• seu franco desenvolvimento e um uso cada vez mais generalizado;

• suas peculiaridades formais e funcionais, não obstante terem eles

contrapartes em gêneros prévios;

• a possibilidade que oferecem de se rever conceitos tradicionais, permitindo

repensar nossa relação com a oralidade e a escrita.

Com isso, fala ele, “o discurso eletrônico’ constitui um bom momento para se analisar

o efeito de novas tecnologias na linguagem e o papel da linguagem nessas tecnologias”

(MARCUSHI, 2002. p. 14). Neste estudo incorporam-se alguns termos que são específicos do

campo de trabalho da informática e da web, a serem explicados conforme a necessidade.

No que concerne aos blogs, claro está que eles ganham cada vez mais relevância no

meio internet. As opiniões neles contidas influenciam dezenas, centenas ou até milhares de

leitores. Mas isso varia de acordo com o conteúdo e o público que se propõe atingir.

Nos discursos digitais que dizem respeito à saúde, eles agregam o valor de atuarem

como interconexões necessárias, podem articular comunicação pública da ciência/saúde,

cultura (muitos saberes) e acredita-se pode promover a cidadania ativa.

3. POSIÇÕES DISCURSIVAS DOS AUTORES (FONTES) DOS ARTIGOS - De

acordo com Lage (2001), trata-se do lugar ocupado e da função dos discursos das fontes -

nesse estudo, dos artigos e notícias.

• Fontes - Devem seguir a classificação deste autor:

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1) oficiais - mantidas pelo Estado, por instituições que preservam algum poder

(juntas comerciais, cartórios de ofício) e por empresas e organizações (sindicatos,

associações, fundações, etc. São as que têm, também, o conceito de representatividade.

Pertencem a esta categoria, também, os cientistas, pesquisadores e técnicos cujos discursos

representam as instituições governamentais de que fazem parte.

2) oficiosas: “são as reconhecidamente ligadas a uma entidade ou indivíduo,

mas não estão autorizadas a falarem em nome dela ou dele” (LAGE, 2001. p. 63).

a) independentes: “são as desvinculadas de uma relação de poder ou

interesse específico em cada caso” (LAGE, 2001. p. 63.)

b) primárias e secundárias - “primárias são aquelas em que o jornalista se

baseia para colher o essencial de uma matéria e fornecem fatos, versões e números” (LAGE,

2001. p. 65-66). As secundárias são base de consulta para a produção de pauta.

c) testemunhas e especialistas – as primeiras são as pessoas que viram,

vivenciaram ou sentiram o fato. Já na categoria de especialistas estão os cientistas,

pesquisadores, inventores e técnicos.

• Origem da pesquisa: local em que a pesquisa é desenvolvida. A origem pode ser

nacional, internacional, nacional e internacional (desenvolvida em conjunto por

pesquisadores nacionais e de outros países).

• Origem institucional da fonte - definição da procedência do cientista/pesquisador. Isto

pode conferir predominância dos trabalhos de determinadas assessorias de imprensa

de instituições: Institutos Públicos e/ou Privados de Pesquisas, universidades,

indústrias, ONGs, entidades de classe, agências de fomento e outras fontes não

mencionadas nos artigos e/ou matérias.

• De onde fala o cientista - trata-se de identificar onde o cientista está inserido, isto é,

em qual ambiente de produção o cientista/pesquisador está (evento/congresso, local de

trabalho, etc.).

• Posição discursiva ocupada pelo especialista/cientista na matéria: identificação da

função ocupada pela(s) fonte(s) da área, em relação às demais fontes.

• Forças discursivas dos cientistas-fontes - O objetivo é comparar e analisar a relação

dos conceitos e pontos de vista anunciados pela fonte especializada e pelo jornalista.

Podem ser analisadas em dois aspectos: 1) se a informação do cientista corrobora a

informação dos jornalistas; 2) se a informação do cientista contrapõe-se à informação

dos jornalistas.

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• Papel discursivo - “Trata-se das posições que ocupam os participantes de uma

determinada interação dialógica. É na interação que são construídos/negociados os

papéis dos sujeitos”. O conceito é atribuído a duas concepções: 1) papel discursivo

ocasional – refere-se à posição ocupada e à função desempenhada pelos participantes

do diálogo; 2) papel institucional – refere-se aos papéis institucionalizados e estão em

íntima relação com o status socia l dos participantes do processo dialógico.

Considera-se que “a seleção das fontes de informação se enriquece através da

pluralidade de vozes e, ao mesmo tempo, da qualificação humanizadora dos possíveis

entrevistados” (MEDINA, 2000, p. 37 – grifo da autora).

Como já explicado, as reflexões agregam as considerações e os conceitos-chave da

ANÁLISE DO DISCURSO DE LINHA FRANCESA (AD) – fundamental para a condução

do processo analítico da pesquisa em destaque.

“A expressão ‘Análise do Discurso’ aparece no início da década de 50, com o livro do

norte-americano Zelig Harris, em que o autor aplica as categorias de análise da palavra à

frase, em nível da cadeia de enunciado, que ele chama de discurso” (BACCEGA, 1998. p.

82). A nascente francesa da “Análise do Discurso” surge na década de 60 em que o contexto

cultural é dominado pelo estruturalismo, que sofre o conflito de ter deixado sem resposta o

estudo do sujeito e do sentido. Firma-se nos anos 70 do século XX, no seio de uma conjuntura

intelectual que procurava refletir criticamente as relações entre lógica, filosofia e linguagem,

para alicerçar os fundamentos da AD no materialismo histórico e propor uma perspectiva

materialista das práticas da linguagem, em especial da formação dos processos discursivos.

Os principais autores dessa corrente são Michel Pêcheux e Jean Dubois.

Percurso da dissertação

Este estudo foi desenvolvido em quatro partes, com enfoques reflexivos que buscam

esclarecer qual o sentido (prevenção e promoção) das informações sobre saúde dos indivíduos

no que tange o coração e os distúrbios metabólicos que apresentam, em comum, a

hiperglicemia.

O primeiro capítulo, intitulado A COMUNICAÇÃO NAS SOCIEDADES

VIRTUAIS, aborda como se estabelece o processo comunicativo nos espaços de

comunicação nos dias atuais. As novas tecnologias são focalizadas como uma ruptura nos

modelos organizacionais e da valorização dos processos produtivos relacionados com o ser

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humano. Como enfoque central, a reflexão de quais e como são as formas de comunicação

disponíveis na formação das sociedades virtuais. São abordados, também, os principais

gêneros emergentes no meio digital, bem como o papel do discurso nos weblogs ou,

simplesmente, blogs.

No segundo capítulo, DIVULGAÇÃO DA CIÊNCIA E O JORNALISMO

CIENTÍFICO NO SÉCULO XXI apresentam-se os desafios e tendências da divulgação de

ciência, na modalidade de jornalismo científico. As abordagens contemplam tópicos que

falam dos trabalhos dos cientistas para o grande público, para que uma melhor informação em

saúde se estabeleça. Reflete-se sobre os desafios e tendências do jornalismo científico na

atualidade, bem como se abordam as novas possibilidades que se abrem com a internet para a

divulgação de ciência, tais como utilização de infográficos, blogs e outros recursos da web

2.0. Apresenta, também, aspectos da divulgação de ciência que podem impossibilitar a

compreensão desse assunto - daí a importância de se considerar as questões e marcas

linguísticas envolvidas no processo comunicacional.

A perspectiva teórica que fundamenta a abordagem do terceiro capítulo, POLÍTICAS

PÚBLICAS EM PROMOÇÃO DE SAÚDE NO BRASIL postula que a área está

organizada dentro de parâmetros que consideram a prevenção de doenças e a promoção de

saúde. Mas a realidade que se apresenta é diversa da intenção. O âmbito da saúde nem sempre

ocupou lugar de destaque no governo, ficando, na maioria das vezes, em plano secundário.

Crises no setor vêm de longa data e continua presente no dia-a-dia da sociedade, independente

do regime de governo vigente. Há escassez de recursos financeiros, materiais e humanos, para

manter os serviços de saúde operando com eficiência e equidade para os envolvidos. Nesse

sentido, é premente que a agenda de Políticas Públicas privilegie a área, recuperando,

reorganizando, descentralizando e modernizando a capacidade operativa do sistema. Além

disso, lançar estratégias que possam envolver a participação de todos os segmentos da

sociedade.

Já no quaro capítulo, CARDIOL E DIABETES: PANORAMA DAS

ESTRUTURAS E DISCURSOS INSTAURADOS, a análise apresenta-se em etapas que

identificam as construções discursivas que lidam com a temática de prevenção de doenças e

promoção de saúde. Aponta os posicionamentos que as pessoas envolvidas ocupam dentro da

estrutura de direitos e deveres propostos; a forma em que a relação entre construção

discursiva e posicionamentos envolvidos abrem ou fecham possibilidades de ação (silêncios)

e de certos tipos de práticas em detrimento de outras. E identifica a relação entre

posicionamentos e formas de subjetivação que estes podem gerar entre os participantes.

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Contextualização sobre os fatores que contribuem para a saúde do

coração e sobre o diabetes mellitus

Em todo o mundo, segundo o diretor do setor de pesquisas da Sociedade de

Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), Dr. Álvaro Avezum,19 são aceitos seis fatores

que contribuem para os riscos de DOENÇAS CARDIOVASCULARES, a saber, na ordem: 1)

alteração do colesterol – LDL alto, chamado de colesterol ruim, e o HDL baixo, chamado de

colesterol bom; 2) cigarro; 3) diabetes; 4) pressão alta; 5) obesidade abdominal; 6) estresse

e/ou depressão.

Os fatores protetores a elas são: atividade física regular (no mínimo três vezes por

semana durante uma hora) e comer verduras e legumes diariamente.

Em classificação da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), os fatores de risco são

divididos em fatores de risco modificáveis (comportamentais e ambientais): tabagismo,

hipertensão arterial, diabetes mellitus, inatividade física, obesidade, estresse, nível elevado de

colesterol; e os não modificáveis (genéticos e biológicos): idade, sexo e hereditariedade.

Figura 4

Fonte: III Fórum Global para Prevenção e Controle de Doenças não Transmissíveis (nov. de 2003).

19 Cf. em: FOLHA online, 23 set. 2008

12

ü 65% do total de óbitos na população adulta (30-69 anos).

ü40% das aposentadorias precoces têm como causa estas doenças, segundo o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS).

ü14% das internações na faixa etária de 30-69 anos (1.150.000/ano).

Impacto Econômico das DoenImpacto Econômico das Doençças as Cardiovasculares no BrasilCardiovasculares no Brasil--19981998

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Aspectos da pesquisa “Corações do Brasil”, desenvolvida pela SBC em 2005,

constatam que “a saúde do brasileiro não anda nada bem”. Segundo um dos membros da

SBC, Raimundo Marques do Nascimento Neto, o diabetes é um dos fatores de risco mais

preocupantes, pois está diretamente relacionado ao aumento da mortalidade ocasionada por

eventos cardiovasculares. Ele acredita que os resultados do estudo sejam fundamentais para a

definição de Políticas Públicas para a Saúde20.

Os dados mostram que 13% da população fazem uso diário de bebida alcoólica (a

região sudeste tem o maior percentual do país), 83% dos brasileiros são sedentários (no

nordeste este índice chega a 93%), 25% fumam e 14% das pessoas apresentaram níveis de

triglicérides acima do considerado normal. “São constatações alarmantes que comprovam por

que o Brasil tem tantas mortes por doenças cardiovasculares - cerca de 300 mil por ano”,

explica Nascimento Neto. Outro aspecto importante diz respeito ao sedentarismo, e embora os

Estados do sul tenham o melhor índice do Brasil, onde 83% da população não se exercitam

77,4% dos gaúchos, catarinenses e paranaenses reconhecem que não praticam atividade física.

Os números, portanto, indicam uma urgente necessidade de mudança nas Políticas de

Saúde Pública, de assistência social, de projetos educacionais e de todo o processo

administrativo social do país. Além disso, ele diz que o debate sobre a fome do Brasil tem que

ser muito ampliado. “Sabemos que existe uma grande parcela da população brasileira que

passa fome, outra que, mesmo alimentada terá por um erro alimentar um aumento percentual

muito elevado no futuro próximo da incidência das doenças cardiovasculares”. O grupo que

coordenou o “Corações do Brasil” fez uma proposta ao Ministério do Desenvolvimento

Social, que cuida do programa “Fome Zero”, para que seja construído “Fome Zero, Coração

dez”.

Já o DIABETES MELLITUS (DM) não é uma única doença, mas um grupo

heterogêneo de distúrbios metabólicos que apresentam, em comum, a hiperglicemia. Es ta, é o

resultado de defeitos na ação da insulina, na secreção de insulina ou em ambos.

“O Censo Brasileiro de Diabetes (1988) mostrou uma prevalência de 7.6% de pessoas

com diabetes na população brasileira de 30 a 69 anos. Destes, cerca de 50% não sabem que

têm diabetes” (SBD, 2005). A pesquisa foi feita no período de 1986 a 1988, em nove capitais

brasileiras (Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador, Recife, João Pessoa,

20 Cf. em: <http://prevencao.cardiol.br/noticias/default.asp?sessao=8&noticia=80>.

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Fortaleza e Belém), através de medidas diretas de glicemias realizadas em domicílios

sorteados ao acaso.

De acordo com pesquisa do IBGE, de 2007, estima-se que cerca de 6% da população

brasileira são portadores de diabetes. Dados mais completos estão na seguinte tabela:

Figura 5

Fonte: IBGE

Avalia-se que o número de indivíduos diabéticos está aumentando devido ao

crescimento e ao envelhecimento populacional, à maior urbanização, à crescente prevalência

de obesidade e sedentarismo, bem como à maior sobrevida dos pacientes com DM

(DIRETRIZES SBD, 2007. p. 8).

Os grupos de risco com fortes probabilidades de se tornarem diabéticos são:

• pessoas com familiares diretos com diabetes;

• homens e mulheres obesos;

• homens e mulheres com tensão arterial alta ou níveis elevados de colesterol

no sangue;

• mulheres que contraíram diabetes gestacional na gravidez;

• crianças com peso igual ou superior a quatro quilogramas à nascença;

• doentes com problemas no pâncreas ou com doenças endócrinas.

Estabelecem-se prevenções importantes: praticar exercício com regularidade, não

fumar; não engordar; controlar a tensão arterial, manter os níveis de colesterol e triglicérides

controlados e dentro dos parâmetros aconselhado pelos médicos.

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CAPÍTULO I - A COMUNICAÇÃO NAS SOCIEDADES VIRTUAIS

“[...] não são as palavras o que pronunciamos ou

escutamos, mas verdades ou mentiras, coisas boas ou más, importantes ou triviais, agradáveis ou

desagradáveis, etc. A palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou

vivencial”.

(Bakhtin, 1988).

O desenvolvimento das tecnologias de comunicação e informação (TICs),

especialmente nos últimos trinta anos, tem dado um novo sentido à existência humana e

levado a uma reelaboração do modo como os indivíduos vivem e se relacionam em sociedade.

Desde seus estudos iniciais, Pêcheux perseguia um lugar para o discurso que, na

linguística saussureana, não estava na língua, nem na fala. Ao apresentar as três tendências da

linguística de então (formalista logicista, histórica e linguística da fala), dizia que a AD não

inaugurava nem se pretendia uma quarta tendência. A Análise de Discurso é pensada, então,

como uma ruptura epistemológica em relação ao que se fazia nas ciências humanas,

articulando a questão do discurso com as do sujeito e da ideologia.

Conforme Pêcheux e Fuchs [1975 (1993)], o quadro epistemológico da AD configura-

se na articulação de três regiões do conhecimento científico, a saber:

a) o materialismo histórico, como teoria das formações sociais e de suas

transformações, compreendida aí a teoria das ideologias;

b) a linguística, como teoria dos mecanismos sintáticos e dos processos de enunciação;

c) a teoria do discurso, como a teoria da determinação histórica dos processos

semânticos (PÊCHEUX & FUCHS, 1993. p. 163).

Para Pêcheux (1975), discurso é efeito de sentido entre interlocutores. Ou seja, todo

discurso produz diferentes sentidos possíveis - que podem ser encontrados, camuflados, nas

imagens e nos discursos. Isto é, conforme as condições em que os enunciados dos discursos

são reproduzidos e à formação ideológica do sujeito que os produz, ou de quem os

ressignifica e interpreta. Daí a importância da gênese dos discursos (MAINGUENEAU, 2007)

e das “cenas da enunciação” (MAINGUENEAU, 2006).

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Pêcheux entende, então, que palavras, proposições, imagens, etc., combinam sentido

de acordo com as posições assumidas por aqueles que as empregam. Essa mudança vincula-se

também às relações culturais, econômicas e políticas daqueles que as produzem/reproduzem.

É no discurso, precisamente, que se concentram, se entrelaçam e se confundem - como um

verdadeiro nó - as questões relativas à língua, à história e ao sujeito. E isto remete à

formulação de Bakhtin (1981, p. 41) quanto aos “fios ideológicos”: “as palavras são tecidas a

partir de uma multidão de fios ideológicos e servem de trama a todas as relações sociais e em

todos os domínios [...]”.

Consideram-se importantes estas avaliações, porque tendências atuais da internet

apontam para a produção discursiva de múltiplos sujeitos, em sentido colaborativo - que

resultam, portanto, em múltiplos discursos, diferentes sentidos de linguagem, fala e poder. Há,

portanto, uma heterogeneidade constitutiva do discurso - são alterados o processo de autoria e

poder deste (LEMOS, 2008). Aliás, a grande discussão no meio jornalístico em geral, na

internet, é justamente a facilidade que a rede deu à audiência para publicar opiniões, e

complementar as informações.

Segundo Maingueneau (2008), a AD, dentre suas abordagens, busca mostrar, ou não, a

coerência e a conexão entre texto e contexto. Procura olhar o texto com todas as suas

possibilidades e constrições – de língua (potencial semântico), delimitações de identidade

(intermediados por outros discursos), de discurso pré-construído (valoriza certas facetas e

ignora outras). Enfim, procura ver “os detalhes”, para a compreensão do texto em sua

totalidade. Detalhes que podem dirigir para “imagens de si no discurso (ethos)” (AMOSSY,

2008), ou até mesmo para um “fazer persuasivo” (CORACINI, 2007).

A intenção, então, é verificar, por meio dos sentidos de determinados textos dos sites,

os discursos de ciência, seus enunciadores sociais, históricos, ideológicos e suas condições de

produção.

Em outra perspectiva, considerando que “discurso é sempre uma atividade que encena

a conversação/enunciação e está na dimensão do mundo do ethos (comportamento) – ativados

por sua vez, por marcas linguísticas e recursos para-verbais”, pode facilitar a identificação e

cumplicidade dos ciberleitores com as mensagens veiculadas (MAINGUENEAU, 2008).

Percebe-se que outros analistas da linguagem também argumentam que no processo de

elaboração dos conteúdos, visibilidade e recepção há metodologias empregadas e valores

estratégicos embutidos. Já o público, de acordo com sua percepção e subjetividade, interpreta

e reelabora as mensagens midiáticas para, então, legitimá-las.

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No que concerne às práticas discursivas sobre saúde na mídia, recupera-se, também, as

reflexões de Verón (1980, p. 197) ao considerar a noção de poder - “efeitos do discurso no

interior de um tecido determinado de relações sociais”. [...] “Esses efeitos não podem ter outra

forma que não seja a de uma outra produção de sentido”.

Assim, na concepção deste autor, o poder dos meios de comunicação sobre os

interlocutores do processo comunicativo só existe sob a forma de sentido produzido. O “efeito

ideológico” é apontado como “o do discurso absoluto: aquele discurso que se mostra como o

único discurso possível acerca daquilo de que se fala”, em contraposição ao “efeito da

cientificidade”, em que “o discurso é reconhecido como instaurador de uma relação com sua

relação com o ‘real’ que descreve” (VERÓN, 1980, p. 198).

Já os teóricos Jakobson e Benveniste falam da importância do processo da enunciação.

“Para poder captar a palavra que a voz designa, o espírito tem de ouvir a voz”. A pauta do

pensamento estrutural de Jakobson gravita em torno do estabelecimento de relação entre

signos e sistemas. É assim que ele concebe o vínculo entre a língua e os sistemas da cultura.

Benveniste (1974 apud BRANDÃO, 2000. p. 14), “[...] dá relevo ao papel do sujeito falante

no processo de enunciação”. Além disso, fala “[...] da relação que se estabelece entre o

locutor, seu enunciado e o mundo”.

Mas é com Bakhtin que surge a teoria do enunciado, atribuindo um lugar privilegiado

à enunciação como componente necessário do ato de comunicação verbal. A linguagem,

assim, é vista como interação social (BRANDÃO, 2000. p. 10). Ele considera, também, que

não há textos puros: “[...] por trás de todo texto encontra-se o sistema da língua [...]. Ao

mesmo tempo, cada texto (em sua qualidade de enunciado) é individual, único, irreproduzível,

sendo nisso que reside seu sentido - seu desígnio, aquele para o qual foi criado” (BAKHTIN,

1997, p. 331).

Se, como diz Bakhtin (1978), o discurso não é neutro e a língua não é o espelho da

realidade, mas sim sua representação, todo texto apresenta, então, uma carga de produção do

sentido (informações subentendidas). “A palavra, então, é o signo ideológico por excelência,

pois, produto da interação social, ela se caracteriza pela plurivalência” (BRANDÃO, 2000).

Ressalta-se, também, que falar sobre saúde/doença envolve várias estratégias e

artifícios para legitimar a posição do orador. A escolha dos fenômenos linguísticos, vistos

como “shifters” (engatadores), no dizer de Jakobson (apud CORACINI, 2007, p. 21), podem

camuflar uma subjetividade constitutiva do processo discursivo. O exemplo mais acessível do

“shifter” é dado pelo pronome pessoal (eu, tu), “símbolo indicial” que reúne em si o laço

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convencional e o existencial. Compreender “como está sendo dito”, então, é tão importante

quanto compreender “o que é dito”.

Segundo Baccega (1988, p. 82), “não se preocupando com a constituição de sentido, a

vertente inicial da Análise do Discurso se manifesta como uma extensão da linguística. [...] A

AD, tal como a concebemos hoje, tem como fundamento a crítica ao paradigma saussureano

com relação à linguagem e às ciências humanas”.

Ainda, de acordo com Orlandi (1990), “a AD não vai ao texto, para ‘extrair o sentido’,

mas aprender a sua historicidade, o que significa se colocar no interior de uma relação de

confronto de sentidos”. Por outro lado, “o discurso em que a língua se manifesta, qualquer

que seja, apresenta-se como ideológico, no sentido quer da manutenção do sistema social

vigente, com sua ordem constituída, quer da transformação, maior ou menor deste sistema”

(ORLANDI, 1990. p. 19).

Comunicação em saúde, a partir dos conceitos de Rogers (1996)

a) é um campo especializado do estudo da comunicação que inclui o processo de

agendamento dos meios para temas de saúde;

b) a defesa da saúde pelos meios;

c) comunicação científica entre cientistas e biomédicos;

d) comunicação de médico para paciente;

e) o planejamento e avaliação de campanhas preventivas de saúde.

“Em um discurso sobre saúde, múltiplos discursos são ordenados, não só pelas regras

inerentes à prática jornalística, mas também segundo condições dadas pelo exercício do poder

e pela ideologia que permeiam as relações sociais” (FERRARETTO, 2005 s/r). De acordo

com Althier-Révuz (1999, s/r), o discurso de divulgação científica é constituído pela

“tradução” do discurso científico, e que tem sentido intersemiótico – ora é discurso científico,

ora é divulgação. Percebe-se, então, a presença do discurso da verdade nos discursos da saúde

e da ciência.

Recorda-se que a influência mais recente nas práticas comunicativas na saúde

considera as teorias de polifonia social e linguística de Bakthin (1986, p. 38). Em sua

concepção, no 1º caso, o processo de comunicação não se limita à transmissão de conteúdos

prontos, mas é compreendido como processo de produção dos sentidos sociais. A polifonia

social, ao reconhecer uma multiplicidade de vozes presentes a cada fala, representa interesses

e posições diferentes na estrutura social, o que permitiria a compreensão dos conflitos sociais

e das relações de poder presentes em todo ato comunicativo. Já a polifonia linguística é um

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fenômeno também identificado como heterogeneidade enunciativa, que pode ser mostrada (no

caso de citações de outros autores) ou constitutiva (como a influência de alguém e que não é

mencionada diretamente, mas transparecida).

Em sentido complementar, evidencia-se as ponderações de Orlandi (2001, p. 151): “o

discurso de divulgação científica não é uma soma de discursos, ele é uma articulação

específica com efeitos particulares, que se produzem pela injunção a seu modo de circulação,

estipulando trajetos para a convivência social sobre a ciência”.

Assim, dois aspectos, para ela, retêm a atenção na divulgação científica: o fato de que

um texto remete a outros textos e o de que o imediato faz ir para o não imediato:

Se refletirmos sobre o fato de que um texto remete a outros, temos a interessante questão que é a da relação de sentidos. Nesse caso, podemos considerar a relação entre jornais em torno da mesma notícia. É um exercício extremamente interessante o de expor o leitor à leitura de vários jornais falando da “mesma” coisa. Isto porque permite ao leitor compreender um aspecto importante do funcionamento da linguagem, que é o de que ao dizer de modo diferente podemos estar significando diferentemente o fato em questão. Assim, o leitor deixa de se iludir com a transparência da linguagem. Ou seja, ele passa a perceber que a linguagem tem sua espessura semântica, tem sua ordem, sua materialidade. Em consequência, passa também a considerar que a relação da linguagem com a realidade é complexa, não havendo uma relação direta entre a palavra e a coisa. Isto o expõe a um olhar menos automatizado, face à realidade. Em relação ao fato de que o imediato faz ir para o não imediato, um acontecimento pode levar à reflexão de todo um processo de constituição da própria vida social do cidadão (ORLANDI, 2004).

E continua:

De todo modo, o que se vê é sempre a reformulação se fazendo e isto se encena para o leitor de forma que ele possa apreciar as idas e vindas de um discurso de especialista para o discurso comum. O que lhe dá garantias de que ele está todo o tempo fazendo a travessia da ciência, embora não permaneça nela como o faz o especialista com sua metalinguagem (ORLANDI, 2004).

Sendo o discurso um mundo de práticas e com ordem própria, no universo discursivo

de saúde, Maingueneau (2004) postula que as maneiras distintas de usar as variáveis

(marcações) - enunciados, citações, valores, discurso direto e indireto, etc. - e dos

posicionamentos, faz dar visibilidade ao hiperenunciador. O uso privilegiado do “discurso

direto livre para produzir discursos clichês a todos e a ninguém, favorece, de algum modo, o

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reconhecimento de segmentos aparentemente não atribuídos, na verdade, porém, atribuídos a

uma pessoa qualquer” (ROSIER, 1999. p. 296 apud MAINGUENEAU, 2004. p. 3).

Em outro segmento, algumas participações implicam locutores coletivos. Elas visam à

fusão imaginária dos indivíduos em um locutor coletivo que, por sua enunciação, institui e

confirma o pertencimento de cada um ao grupo. Essas participações permitem reforçar a

coesão de uma coletividade (ROSIER, 1999. p. 296 apud MAINGUENEAU, 2004. p. 10). Os

slogans “amigo do coração”, “Tio Julião, o amigo do diabético”21 têm a função de unir e

condicionam a participação. Eles implicam o lugar de um hiperenunciador, cuja autoridade

institui o conjunto de “slogans” compatíveis no espaço da manifestação: essa entidade deve

existir para além desse agrupamento fugaz, assegurar uma continuidade imaginária de um

agrupamento a outro (ROSIER, 1999. p. 296 apud MAINGUENEAU, 2004. p. 12).

Segundo o filósofo Lévy (1998 apud MORAES JÚNIOR, 2008 s/r), “as atuais

tecnologias implicam novas formas de ser e estar no mundo. Considerando que elas implicam

também novas formas de comunicação, são, pois, novas formas de extensão de corporações

empresariais e de homens”.

Maingueneau já advertira de que o mídium não é um simples meio. Uma mudança

daquele modifica o conjunto de um gênero de discurso e a natureza dos textos. Isto é, todas as

formas de produção de um conteúdo, bem como seu modo de consumo (MAINGUENEAU,

2001. p. 71-72).

A internet começou por questões estratégicas, de geopolítica, e evoluiu, junto com os

computadores, por questões militares, de guerra. O acadêmico Tim Berners-Lee, em 1989, foi

quem combinou “html” (linguagem de marcação de hipertexto) com “url” (localizador

uniforme de recursos)22 e deu o próximo passo no campo do hipertexto e propôs, assim, a

world wide web (www - serviço de recuperação de informações pela rede). Seu interesse era

organizar os documentos das universidades interconectadas, e facilitar o acesso a eles – por

meio de links. E quem alimentou a “www”, depois que ela foi aberta ao público, foram as

empresas, as instituições e as pessoas.

Dessa maneira, o conceito de “aldeia global”, de McLuhan, foi concretizado muito

além do que havia previsto. “As novas tecnologias permitiram a quebra do monopólio

midiático tradicional. Com a possibilidade de acessar, produzir e veicular informação surge a

oportunidade de romper também a chamada espiral de silêncio” (BARRETO, 2008. s/r).

21 Cf. em: <http://tiojuliao.diabetes.org.br/Draguloso/jogos/index.php>. 22 Esse endereço identifica o protocolo de acesso ao recurso desejado, a máquina a ser contactada; o caminho de diretórios até o recurso e o arquivo a ser obtido.

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No Brasil, a internet surgiu, na década de 1980, de modo tímido, como assunto do

Estado (redes de comunicação de dados) e em caráter comercial. Havia cerca de mil bases de

dados, no país, porém, menos de 8% estavam disponíveis para acesso público.

Carvalho (2006, p. 73) conta que “a comunicação de dados rapidamente despertou o

interesse da comunidade acadêmica nacional, à medida que a tecnologia de redes, a exemplo

do que acontecia no exterior, se disseminava pelas universidades (meados da década de

1970).” Mas, mesmo com alternativas de acesso a dados diversos, o número de acessos ainda

permaneceu baixo e com pouca penetração no mercado doméstico. Por volta de 1986, já havia

mais de cinquenta redes acadêmicas em mais de trinta países (QUARTERMAN, 1989 apud

CARVALHO, 2006. p. 76). Nas universidades nacionais, a evolução do projeto da rede só foi

implantada em 1987.

Mas o fomento à informática só se estabeleceu com o fim da reserva de mercado de

computadores, periféricos e equipamentos de telecomunicações, no início do governo Collor,

em 1990 (QUARTERMAN, 1989 apud CARVALHO, 2006. p. 91). “A consolidação do

acesso à internet no Brasil contou, não só com a participação do governo e de empresas

privadas, mas, também, com novos e inesperados aliados advindos da sociedade civil, que

forçaram novos rumos para as redes acadêmicas” (QUARTERMAN, 1989 apud

CARVALHO, 2006. p. 106).

De lá para cá, em nível mundial, mais de um bilhão de pessoas estão conectadas. Os

dados são do Ministério de Ciência & Tecnologia, e constam em relatório britânico divulgado

em abril de 2006.23 De acordo com a pesquisa, o Brasil é o 11º país em número de internautas.

Nos dias atuais, segundo o Ibope Nielsen Online, a rede mundial superou o número de

cerca de 40 milhões brasileiros com acesso à internet. A pesquisa foi realizada em maio de

2008 e reflete as Políticas Públicas de abertura de pontos de acesso à internet em escolas,

bibliotecas, telecentros e muitos outros locais.24

Reafirma-se o que diz Castells (2005, p 135): que “a internet encerra um potencial

extraordinário para a expressão dos direitos dos cidadãos e a comunicação de valores

humanos [...]. Coloca as pessoas em contato numa ágora pública, para expressar suas

inquietações e partilhar suas esperanças”. Para Moraes (2003, p. 367) “a rede web propõe um

23 O estudo utilizou cerca de 100 critérios quantitativos e qualitativos, organizados em seis categorias, como conectividade e infra-estrutura tecnológica, adoção das novas tecnologias por empresas e particulares, ambiente para os negócios, a legislação e os serviços eletrônicos de apoio. 24 Cf. dados em: <http://www.ibope.com.br/calandraWeb/servlet/CalandraRedirect?temp=6&proj=PortalIBOPE&pub=T&db=caldb&comp=pesquisa_leitura&nivel=null&docid=F0BA65FF8A513A48832574750050527E>.

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espaço de comunicação inclusivo, transparente e universal, que dá margem à renovação

profunda das condições da vida pública no sentido de uma liberdade e de uma

responsabilidade maior dos cidadãos”.

A popularização do meio impulsionou a transição da sociedade de sua forma clássica

para uma nova forma, a sociedade em rede - a cibercultura - que teve sua origem, a partir do

desdobramento da relação da tecnologia com a modernidade. Se para Heidegger (1954, apud

LEMOS [A.], 2003. p. 11-23), “a essência da técnica moderna estava na requisição energético

material da natureza para a livre utilização científica do mundo, a cibercultura seria, então,

uma atualização dessa requisição [...]”.

1. 1 - Mudanças na linguagem da comunicação

A cultura contemporânea é, de maneira irreversível, marcada pelas novas formas de

comunicação no ciberespaço - o cerne da revolução da virada de século. O termo foi criado

em 1982, pelo escritor americano William Gibson25, para se referir ao ambiente virtual criado

pelas redes de computadores. Em entrevista para o “Washingnton Post”, em setembro de

2007, ele revisitou o conceito: “[...] nos dias atuais, o que não nos importamos mais de

chamar de ciberespaço está aqui e aqueles momentos sem conectividade, cada vez mais raros,

estão lá (em 1982). E aí está a diferença” (GIBSON, 2007, grifos da autora). Também Clay

Shirky, tecnólogo e professor da Universidade de Nova York, considerado um guru das

tecnologias, falou em entrevista ao “The Guardian” (fevereiro deste ano) que, na atualidade, é

um dos termos que estão em risco de extinção. Seu argumento baseia-se na ideia, que cresceu

com ele, “a de estar em um lugar separado do mundo real, algo que os meus alunos não

conseguem identificar mais”. Na verdade, dizem especialistas brasileiros, essa dimensão

ciberespacial já se incorporou à realidade de nosso mundo concreto. Para a perita em mídias

digitais, Recuero (2000), “o ciberespaço é um não lugar. Não concreto, não físico, mas real”.

Isto é, “tem característica da não geograficabilidade do espaço em que se age e interage”.

Lévy entende esse campo cultural como o ambiente criado pelas tecnologias digitais,

onde se desenvolvem e se estabelecem novas formas de relações sociais, numa espécie de

projeção virtual da realidade: “o ciberespaço é o meio de comunicação que surge da 25 Em 1984, Gibson escreveu “Neuromancer”, que inspirou a trilogia “Matrix” - o trabalho mais conhecido do subgênero da ficção científica chamado “cyberpunk”. Informações em: <http://blog.estadao.com.br/blog/cruz/?title=william_gibson_o_ciberespaco_e_aqui&more=1&c=1&tb=1&pb=1&cat=191>; <http://www.guardian.co.uk/lifeandstyle/2009/feb/15/this -much-i-know-clay-shirky-technology> e <http://www.tiagodoria.ig.com.br/2009/02/16/e-o-ciberespaco-foi-destruido/>.

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interconexão mundial dos computadores [...]” (LÉVY, 1999, p. 15 e 17). Espaço em que

circulam textos e estes dialogam com outros textos, que remetem a outras realidades, tais

como imagens, sons, vídeos e quaisquer outras informações que venham possuir sua

representação no formato digital.

Alguns experimentos estéticos no ciberespaço enfatizam a ideia de “presenteismo”. Nesses casos, os fluxos de informação, muitas vezes, desdobram-se através de experiências tais como telepresença, que acontecem no espaço/tempo compartilhado virtualmente (ALZAMORA, 2007 s/r).

A cibercultura, por sua vez, é uma mutação fundamental da própria essência da

cultura. Lévy (1999, p. 15) formula a hipótese de que “a cibercultura leva a copresença das

mensagens de volta a seu contexto como ocorria nas sociedades orais, mas em outra escala,

em uma órbita completamente diferente”.

Longe de ligar a virtualização a uma ameaça da tecnologia atual ao homem, o filósofo

fala em humanização e mostra que três dos processos que fizeram emergir a espécie humana -

a linguagem, a técnica e as instituições sociais complexas - estão imbuídos de um movimento

que encerra um potencial, um “devir outro”, que caracteriza o virtual (LÈVY, 1999. p. 47).

Já a noção de hiperespaço, Fragoso (2000) explica que vem do conceito de espaços

com mais que três dimensões. “A expressão é também utilizada, com relativa frequencia, em

relação aos sistemas baseados em hipertexto, de um modo geral, e ao ciberespaço, em

particular”. Nelson (1960, apud FRAGOSO, 2000 s/r) já caracterizara hiperespaço no sentido

ao “espaço informacional” construído com hiperlinks.

Diante do exposto, a penetração e alcance da internet conferem à web características

de mídia de massa. Nesse sentido, Castells, em entrevista ao “El País” (2008), diz ser um

instrumento-chave para a autonomia das pessoas. Na realidade, a internet amplifica a velha

exclusão social da história: que é a educação. Para ele, “o uso da internet reforça, portanto, a

autonomia das pessoas” (CASTELLS, 2008).

Lemos ([A.] [et al], 2001. p. 5) afirma que

o milênio terminou marcado por uma revolução tecnológica informacional que está reconfigurando o conjunto das sociedades humanas em todos os seus aspectos, implodindo barreiras de tempo e espaço, colocando a informação como elemento central de articulação das atividades humanas.

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Mas a mudança mais significativa é o acesso à informação e comunicação, sem

fronteiras. As redes digitais instauram uma forma comunicativa feita de fluxos de

informações “de todos para todos”. É o primeiro meio a conjugar duas características dos

meios anteriores: a interatividade e a massividade. A primeira via que possibilita que todos

sejam, ao mesmo tempo, emissores e receptores da mensagem. É a aldeia global de McLuhan,

concretizada muito além do que ele havia previsto.

Castells considera que a exclusão digital é um fato preocupante - mas adverte que o

acesso integral é uma questão de tempo. Na realidade, fala ele, “a internet amplifica a velha

exclusão social da história: a educação. A verdadeira exclusão digital é o fato de que uma

grande parcela dos adultos não tenha completado a educação secundária” (CASTELLS,

2008).

Esta observação remete aos argumentos de Baccega quando diz que a internet pode

facilitar a educação, mas não propicia o pensamento crítico. “Só o conhecimento, com sua

percepção de totalidade, pode ajudar na seleção do que é efetivamente importante e necessário

para as mudanças históricas” (BACCEGA, 1998. p. 7-16).

1. 2 - Os sistemas hipermídia, ciberespaço e hiperespaço como espaço de

comunicação

No pensar de Cáceres (s/r – tradução da autora), “a sociedade do ciberespaço é uma

nova forma de desenvolvimento humano. E, com a aparição do ciberespaço aparece, de

imediato, a emergência de um novo território do fazer social - a informação e a comunicação

são as chaves para esse desenvolvimento”.

A introdução de novas técnicas de comunicação e informação gerou uma ruptura

histórica, uma quebra de paradigma resultante de inéditas transformações tecnológicas. “A

internet rompeu as barreiras impostas pelo tempo e pelo espaço, transformando o cotidiano

dos indivíduos, especialmente no que se refere à comunicação, ao armazenamento e à

recuperação de dados” (MACHADO & REIS, 2007 s/r).

A comunicação apresenta-se, então, como um processo de interação com fluxos

informativos diversos, entre o internauta, as redes - arquiteturas informativas (site, blog,

comunidades virtuais, etc.), conteúdo e pessoas (FELICE, 2008. p. 44-45).

“Novas tecnologias, novos rumos”. Assim, “o hipertexto - a escrita eletrônica - é a

grande marca da internet, com toda sua riqueza semiótica e dinâmica (DEMÉTRI, 2001 apud

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ARAÚJO, 2005. p. 96 - grifos da autora). Os hipertextos 26 são definidos como um método de

gerenciar informação no quais os dados são armazenados numa rede de nós, conectados por

“links” (BALASUBRAMANIAN, 1994).

Com o hipertexto, criou-se nova maneira de leitura e escrita de documentos, em que os papéis desempenhados por autores e leitores se confundem. O autor, ao elaborar um hipertexto, na verdade, constroi uma matriz de textos potenciais, os quais são alinhavados, combinados entre si, pelo leitor, como uma leitura particular dentre as inúmeras alternativas possíveis (LÉVY, 1999. p. 33 – grifos do autor).

O hipertexto representaria, então, a multiplicidade de textos em uma escritura não

linear e sem ordem definida. “Com o hipertexto morre não só o autor, o gerador, mas também

a mediação que assegurava com sua ordem classificatória uma vizinhança: concomitante e

com a homogeneidade de um domicílio certo” (BARRETO, 2004 s/r).

A interatividade dos hipertextos permite a concepção de obras coletivas, nas quais os

conhecimentos de várias pessoas podem ser concatenados entre si, de forma mais ágil. No

quesito comunicação, os sistemas hipermídia e ciberespaço propiciam, então, uma

comunicação entre muitos e para muitos. Considerando que as atuais tecnologias implicam

também novas formas de comunicação - e de linguagens -, podem ser “novas formas de

extensão dos homens”.

As tecnologias digitais gestam novas formas de comunicação, de construção e compartilhamento do conhecimento, de classificação da informação, que implicarão em novas maneiras de categorizar o mundo e, provavelmente, em novas etapas cognitivas no desenvolvimento humano (LEVACOV, 1997 s/r).

Na verdade, como bem lembrou Santaella, os textos estão no espaço de conexão do

infonauta27 com seus interlocutores, onde não há lugar para emissores ou receptores. “É

apenas trânsito informacional: nesses ambientes, todos se tornam negociadores de um fluxo

de informações que surgem e desaparecem em função do acesso e das comunicações”

26 O termo, em si, foi cunhado por Theodor Nelson, em 1960, que já se reportava ao texto eletrônico como escrita ramificada que sugere ao usuário/leitor percursos previamente predefinidos, permite abertura do texto e, consequentemente, possibilita a circularidade por parte do sujeito usuário, no tocante às estruturas significantes digitais. Ele refere, também, o nome hipertexto a todos os textos que permitem uma leitura não linear, como a atividade de leitura de verbetes em dicionários, referências em enciclopédias e na Bíblia. 27 Infonauta indica o usuário que “navega” nos ambientes do ciberespaço.

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(SANTAELLA, 2005 p. 1). No desenvolvimento de sua argumentação, a pesquisadora pontua

que a interatividade dos usuários do ciberespaço é o grande diferencial e isto “coloca em

questão os conceitos centrais dos processos comunicativos de emissor e receptor”. Assim, no

ciberespaço, os textos não estão nem no ponto de emissão nem no do receptor.

Quanto aos aspectos da linguagem, a pesquisadora estabelece que o digital permite

que se transportem textos de todos os tipos, gráficos, sons e imagens num só ambiente,

processando-os computacionalmente e devolvendo-os em sua forma original, ou seja, o som

como som, a escrita como escrita, a imagem como imagem. “Criam-se, assim, sintaxes

híbridas e miscigenadas” (SANTAELLA, 2005. p. 4).28 A era digital muda, portanto, a

relação do sujeito com a informação, o que resulta na cultura do ciberespaço - o da velocidade

e da interação.

Recupera-se que a internet, desde sua evolução, “é espaço aberto, de configuração

horizontal” (CÁCERES, 1998. s/r) e proporciona uma das mais completas experiências de

comunicação individual e coletiva. Um processo de construção e divisão de conhecimento.

Mas a interação acima de tudo está naquele algo a ser comunicado: o conteúdo, a mensagem,

sobretudo, ideias. “O mais relevante de toda a situação, é o vetor da comunicação que toma

vantagem sobre a informação” (CÁCERES, 1998. s/r).

Mas, como todas as formas de comunicação, ela também apresenta suas

especificidades e dificuldades. Dentre outras coisas, “a internet dá insegurança, assusta por

causa do desconhecido e esse é o verdadeiro desafio” (DISSAT, 2007). Por isso, vale o alerta

de Rodrigues (2007)29 de “que não há verdade absoluta em ‘nada’ sobre a web”. Daí o fato

de, nem sempre significar “melhor comunicação”.

No 12º Encontro de Webdesign, 30 realizado no Rio de Janeiro, em maio de 2007,

especialistas mostraram possibilidades e tendências e, de uma forma geral, como isso pode se

reverter a favor de um melhor projeto comunicacional. O destaque do Encontro foi o tema

“Design em tempos de tendências”, desenvolvido pelo especialista Luli Radfahrer, que

apresentou em um “Nintendo Wii” (videogame), ao invés dos clássicos “PowerPoints” e

notebooks, já mostrando a que vinha.

28 Trecho da Conferência Magistral proferida no 9º Congresso Mundial de Informação em Saúde e Bibliotecas. Salvador, setembro de 2005. Cf. em: <http://www.icml9.org/program/public/documents/salvadorsantaella-141204.pdf>. 29 Bruno Rodrigues é editor do blog Cebola: todas as camadas do webriting: <http://bruno-rodrigues.blog.uol.com.br>. 30 O 12º Encontro de Webdesign, com o tema “Web 2.0 e as novas fronteiras do mercado e da profissão” teve como objetivo trocar informações sobre o potencial da web 2.0 e da importância do design neste meio. A programação foi voltada para designers, programadores, jornalistas, publicitários, empresários, estudantes e quem trabalha ou se interessa por web. Na atualidade, é considerado o maior evento da área.

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Luli, como é chamado na área, destaca:

• quanto mais uniforme o trabalho, melhor o entendimento;

• um site não pode ser hermético;

• um site deve ter sua identidade e personalidade;

• em um ambiente onde tudo é possível, você acaba tendo excesso de ideias e

falta de limites;

• o design é o ponto de referência;

• só 1% das pessoas realmente contribui para conteúdo e é fundamental que haja

um administrador para o que é gerado pelo usuário;

• não existem referências absolutas de design;

• os novos objetos, ideias e acontecimentos precisam de novas palavras para

descrevê- las;

• equilíbrio não é (só) simetria – é estabilidade;

• a simetria acaba sendo mais fácil de entender porque é previsível, monótona,

estática e imóvel;

• para tentar recuperar a atenção, a publicidade grita e se todos gritam ninguém

escuta;

• o fluxo e o ritmo estabelecem continuidade e são confortáveis.

De uma maneira geral, webdesigners palestrantes nesse Encontro destacaram:

• a comunicação deve gerar cumplicidade e compartilhar referências;

• o olho humano procura simplicidade;

• comunicação + conteúdo = engajamento;

• não buscar só inspiração, mas olhar o mundo real – com necessidades;

• os internautas precisam ser cativados, aos poucos;

• as pessoas querem respeito, carinho e serviços - daí a comunicação útil;

• dá para se fazer comunicação de qualquer maneira, em qualquer mídia, mas a

web tem algo especial;

• por ser especial, é preciso prestar atenção ao discurso instaurado e

ressignificado (DISSAT, 2007 – postado em blog).

Pressupostos teóricos de Baccega (1998, p. 104), indicam que, se, por um lado, o

comunicador tem a condição de enunciador de um discurso específico, ao produzi- lo, ele

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estará reelaborando a pluralidade de discursos que recebe. Ou seja, estará na condição de

enunciatário. Ele é, portanto, enunciador/enunciatário. O mesmo ocorre com o

indivíduo/sujeito ao qual se destina o produto, no processo de leitura – ele é, também,

enunciatário de todos os outros discursos sociais que circulam no seu universo.

Costa (2005, p. 102) também tem esta ideia, porque diz que “o espaço da internet

possui novas formas de escrita e leitura com características específicas que provocam

mutações no/do ler/escrever, as quais escapam à sucessividade canônica das ferramentas ou

dos suportes de escrita tradicionais”. Para ele, “leitor e autor confundem-se nos (hiper)textos,

produzidos/construídos sem fronteiras nítidas, misturando formas, processos e funções da

oralidade, da leitura e da escrita” (COSTA, 2005. p. 103). Então, leitor e autor/escritor

cruzam-se, online, participando da edição do texto que lêem e escrevem, utilizando uma

linguagem multissemiótica.

Portanto, o fato de o discurso ser produzido conforme as características inerentes ao

meio digital (hipertexto) implica, também, em transformações em sua forma de manifestação

derivadas da linguagem própria do ciberespaço. Segundo Xavier (2004, p. 171), o hipertexto

pode ser entendido como uma “forma híbrida, dinâmica e flexível de linguagem que dialoga

com outras interfaces semióticas, adiciona e condiciona, à sua superfície, formas outras de

textualidade”.

Percebe-se, desse modo, na hipermídia e no hiperespaço, o estabelecimento de out ros

gêneros textuais - aqueles que os usuários fazem ao utilizar a linguagem em interações sociais

específicas e como organizam suas mensagens de modo a atingir seu propósito social.

Em Bakthin (1992, p. 279), os “gêneros são tipos relativamente estáveis de enunciados

elaborados nas diferentes esferas sociais de utilização da língua” É, ainda, uma classe de

eventos comunicativos, os quais são delimitados por objetivos comunicativos - tema, estilo e

estrutura esquemática.

Este linguista define as três dimensões essenciais do gênero: 1) os conteúdos - que são

e se tornam dizíveis pelo gênero - conversa, carta, palestra, entrevista, resumo, notícia, etc.; 2)

a estrutura/forma específica dos textos - narrativo, argumentativo, descritivo, explicativo ou

conversacional - pertencentes a ele; 3) as configurações específicas das unidades de

linguagem/estilo: os traços da posição enunciativa do locutor e os conjuntos de sequências

textuais e de tipos discursivos que constituem a estrutura genérica.

Tudo isto, pois, refere-se

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ao domínio da diversidade discursiva (narração, explicação, argumentação, descrição, diálogo; do gênero textual (conversa, conto de fadas, relato de experiência, lenda, relato histórico, carta etc.); das dimensões textuais (uso dos tempos verbais e dos organizadores textuais); da progressão anafórica; do esquema dos atuantes (papel dos personagens); da interlocução; da organização narrativa, argumentativa, expositiva, pontuação, etc. (COSTA, 2006 s/r).

Explica Costa (2006 s/r) que, no sentido da produção de um gênero vai haver sempre

uma interação determinada, regulada pela organização enunciativa da situação de produção,

que é definida por alguns parâmetros sociais: o lugar social da interação - sociedade,

instituição, esfera cultural, tempo histórico; os lugares sociais dos interlocutores ou

enunciadores - relações hierárquicas, relações interpessoais, relações de poder e dominação,

etc.; finalidades da interação - intenção comunicativa do enunciador. Além disso, a forma

composiciona l e as marcas linguísticas (gramática) dependem do gênero a que pertence o

texto, e esse gênero operante dependerá da situação da enunciação em curso na operação.

De acordo com Bakhtin (1994), os gêneros encontram-se nas práticas sociais da

linguagem, são muito variados e de grande amplitude, fazem parte do cotidiano dos

interlocutores e desenvolvem-se com as experiências adquiridas no curso da História.

Para o pesquisador belga, Bronckart (1999, p. 47 – grifo do autor),

a dimensão textual subordina-se à dimensão discursiva produzida/construída na interação verbal. Neste caso: a) os gêneros textuais - orais ou escritos - são produtos históricos e sociais, existindo diferentes tipos, de acordo com os interesses e as condições de funcionamento das formações sociais; b) a emergência de novos tipos de gêneros textuais pode estar ligada à aparição de novas motivações sociais e circunstâncias de comunicação ou a novos suportes de comunicação; c) os gêneros textuais estão em movimento perpétuo: desaparecem, voltam sob formas parcialmente diferentes, ou surgem novos gêneros; d) não se podem estabelecer claramente as fronteiras entre eles, já que constituem uma espécie de nebulosa (intertexto) para os usuários de uma língua.

Mas quando se trata do meio digital, “é outra a conversa”. “A leitura/escrita de

(hiper)textos virtuais de estrutura reticular e que circulam na internet pode até exigir

estratégias (meta) cognitivas diferentes das da leitura/escrita do texto/papel linear” (COSTA,

2005. p. 104). As principais características do hipertexto (modularidade, virtualidade,

multimodalidade, interatividade) revolucionaram a escrita e a leitura por causa da

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virtualidade - palavra que resume as potencialidades e as possibilidades oferecidas pela

transformação de texto (COSTA, 2005. p. 112).

No contexto do meio digital, os gêneros textuais dão lugar a gêneros emergentes.

1. 3 - Principais gêneros emergentes no meio digital e seus discursos

Marcuschi (2005, p. 16) percebe os gêneros como os modos de organização da

informação que representariam as potencialidades da língua, as rotinas retóricas ou formas

convencionais que o falante tem, à sua disposição na língua, quando quer organizar o

discurso.

De uma maneira geral, gêneros virtuais é o nome dado às novas modalidades de

gêneros textuais surgidas com o advento da internet, dentro do hipertexto - Marcushi os

chama de “gêneros virtuais emergentes”. Eles possibilitam, dentre outras coisas, a

comunicação entre duas ou mais pessoas, com propósitos específicos e mediada pelo

computador (CMC) – ou comunicação eletrônica. Neste contexto, esta forma de intercâmbio

caracteriza-se basicamente pela centralidade da escrita, pelo uso/decisão de uma linguagem

quase que estética – com estilos e liberalidades - e pela multiplicidade de semioses: imagens,

sons, texto escrito (MARCUSCHI, 2005. p. 15-20).

Os gêneros digitais emergentes são: email, bate papo virtual em aberto, bate papo

virtual reservado, bate papo agendado, bate papo virtual em salas privadas, entrevista com

convidado/s, aula virtual, bate papo educacional, videoconferência interativa, lista de

discussão, endereço eletrônico, webloggers e microblogs - como o twitter (MARCUSHI,

2002. p. 14 – grifos da autora).

Aplicada à noção de comunidade virtual, a noção de gênero desloca o foco de questões

como a natureza e o grau do relacionamento entre os “membros da comunidade”, para o

propósito da comunicação.

Três aspectos tornam a análise desses gêneros relevante: 1) seu franco

desenvolvimento e um uso cada vez mais generalizado; 2) suas peculiaridades formais e

funcionais - não obstante terem eles contrapartes em gêneros prévios; 3) a possibilidade que

oferecem de se rever conceitos tradicionais, permitindo repensar nossa relação com a

oralidade e a escrita.

No discurso eletrônico, podem ser observados, então, o propósito comunicativo do

discurso; a natureza da comunidade discursiva; as regularidades de forma e conteúdo da

comunicação, expectativas subjacentes e convenções; as propriedades das situações

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recorrentes em que o gênero é empregado - incluindo as forças institucionais, tecnológicas e

sociais que dão origem às regularidades do discurso.

Segundo pressupostos teóricos de Baccega (1998, p. 104),

se, por um lado, o comunicador tem a condição de enunciador de um discurso específico, ao produzi-lo, ele estará reelaborando a pluralidade de discursos que recebe. Ou seja, estará na condição de enunciatário. Ele é, portanto, enunciador/enunciatário. O mesmo ocorre com o indivíduo/sujeito ao qual se destina o produto , no processo de leitura – ele é também enunciatário de todos os outros discursos sociais que circulam no seu universo (grifos da autora).

Da mesma forma, na interação mediada pelo computador, diz Thompson (1998, p. 78),

o sujeito/receptor pode interagir diretamente com o emissor, produzindo um fluxo de ida e

volta de informação e comunicação – o emissor passa a ser, instantaneamente, também

receptor. Por isso, neste processo convém chamá-lo de “interlocutores do processo

comunicativo”.

Naqueles que dizem respeito à saúde, eles agregam o valor de atuarem como

interconexões necessárias, pois articulam comunicação pública da ciência/saúde,31 cultura

(muitos saberes), podem despertar o interesse humano e promover a cidadania ativa, bem

como

preencher certas necessidades e gratificações, tais como sobrevivência (emprego do tempo de maneira significativa, trabalho e tempo livre para usar como agradar a cada um), cultura (estilo de vida e necessidades culturais para um autoaperfeiçoamento), e conhecimento (satisfação da curiosidade em torno do corpo humano e em relação às diferentes atividades laborais e de vida (MASLOW apud BURKETT, 1990. p. 60-62).

Marcushi (2002, p. 15) aponta que “uma das características centrais dos gêneros em

ambientes virtuais é serem altamente interativos, geralmente síncronos (com simultaneidade

temporal), embora escritos. Isso lhes dá um caráter inovador no contexto das relações entre

fala e escrita”. Além disso, completa ele,

31 Para Barbosa, o conceito de comunicação pública é válido quando se pode falar em participação popular, multiplicidade de vozes, esfera de interação social.

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tendo em vista a possibilidade, cada vez mais comum, de inserção de elementos visuais no texto (imagens, fotos etc.) e sons (músicas, vozes), pode-se chegar a uma interação com a presença de imagem, voz, música e linguagem escrita numa integração de recursos semiológicos (2002, p. 15).

Maingueneau (2001, p. 81), ao falar sobre os novos dispositivos comunicacionais,

também propõe uma espacialidade do texto que ultrapassa os padrões conhecidos do escrito e

do impresso. De acordo com o linguista, é possível associar elementos icônicos variados em

um paratexto, em enunciados que não são orais, constituindo-se numa realidade que não é

mais puramente verbal – combinações de sinais tipográficos e emoticons, por exemplo

(LEMOS, 2008).

Para um dos propósitos da dissertação, opta-se detalhar melhor o weblog.

1. 3. a) - Weblogs: evolução e tendências atuais na difusão de informações

Os weblogs, ou blogs, de início, eram filtros do conteúdo na internet. Eram

praticamente baseados em links e dicas de websites pouco conhecidos (BLOOD, 2002, apud

RECUERO, 2003 s/r), bem como comentários. Ou seja, funcionavam, também, como

publicação eletrônica.

De acordo com o levantamento divulgado pela empresa Technorati (que cataloga e faz

buscas em blogs no mundo inteiro), em agosto de 2008, o número deles, com caráter diverso,

era cerca de setenta e sete milhões. Segundo o site, os blogs são populares porque são

ferramentas de fácil uso, permitem que milhões de pessoas publiquem e compartilhem ideias

e que outros milhões respondam e comentem. 32

Caracterizados, também, como uma “espécie de diário virtual”, as pessoas escrevem

sobre si, suas ideias e crenças, suas visões do mundo. Essa versão serve como representação

do indivíduo - Recuero (2003 s/r) expressa até que é uma forma de “demarcar o território” no

ciberespaço. Os blogs têm caráter público, criam um vínculo entre quem escreve e quem

responde, o texto é dinâmico e é atualizável de maneira constante. Não possuem um caráter

síncrono, já que as mensagens não têm resposta imediata - mas nem por isso deixam de

permitir a interatividade.

Já em sua versão mais moderna, os blogs são vistos como um serviço colaborativo de

informação. De acordo com o jornalista e mestre em Informática, Perret (2008), “o blog é

32 Cf. em: <http://technorati.com/blogging/state-of-the-blogosphere>.

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uma ferramenta que permite, aos profissionais de mídia e a outros, a publicação rápida e

simples de textos na internet. E publicar textos na internet significa difundi- los, disseminá-

los... Como seria se não houvesse o blog?”

Tendências atuais permitem ao leitor a participação de sua construção. São os

microblogs, ferramentas que permitem atualizações rápidas e curtas e, se possível, a partir de

uma multiplicidade de suportes diferentes.

No ciberespaço, então, cada sujeito é efetivamente um potencial produtor de

informação: serviços colaborativos de informação, comunidades, blogueiros ou

microblogueiros jornalistas - que vivem o fato e relatam em suas páginas pessoais. E, se a

velocidade da informação também é um dos resultados da internet, em alguns casos, é

possível acompanhar eventos em tempo real – workshops, palestras, congressos, entrevistas,

etc., em clima de cobertura multimídia - produzir, editar, publicar e divulgar vídeos, podcasts

(arquivo de áudio), textos e fotos, tudo transmitido em ambiente web (site, blog, YouTube,

twitter, etc.).

Hardt e Negri (2004, p. 382-383 apud LEMOS, 2008) assinalam que “as inovações

requerem recursos comuns, acesso aberto e interações livres” (tradução da autora) – advém

daí o conceito de “cultura colaborativa”. Reconhecer muitos, como protagonistas nos

processos participativos, representa mostrar-se de acordo com a ideia de que os

conhecimentos são una construção coletiva, e que as inovações tão só dependem da

genialidade da multidão.

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CAPÍTULO II - DIVULGAÇÃO DA CIÊNCIA E O JORNALISMO CIENTÍFICO NO SÉCULO XXI: DESAFIOS E TENDÊNCIAS

"Somos a diferença, nossa razão é a diferença dos discursos, nossa história é a diferença das épocas,

nossos ‘eus’ são a diferença das máscaras".

Foucault.33

Para uma visão da dimensão do que é divulgar ciência e do fazer jornalismo científico,

optou-se por refletir algumas abordagens que possam ser referenciais para a análise dos

Portais.

2. 1 - Divulgação científica: aspectos históricos

A comunicação situa-se no próprio coração da ciência. Para ela, é tão vital quanto à

própria pesquisa. Qualquer que seja a abordagem, a comunicação eficaz e eficiente constitui

parte essencial do processo de investigação científica. A maneira como o cientista transmite

informações depende do veículo empregado, da natureza das informações e do público-alvo.

Dessa maneira, a comunicação científica pode vir de discursos falados ou escritos.

De acordo com Meadows (1999, p. 3), não se pode afirmar ao certo quando se

iniciaram as pesquisas científicas e, portanto, quando houve a 1ª comunicação científica. As

atividades mais remotas que tiveram impacto foram a dos gregos antigos. São eles, também,

tendo à frente Aristóteles, que mais contribuíram com esse tipo de comunicação. Esses

trabalhos influenciaram, primeiramente, a cultura árabe e, depois, a Europa ocidental.

Segundo o mesmo autor, no início do século XVI, na Europa, os cientistas faziam

reuniões secretas com o objetivo de informar suas descobertas, pois tinham suas atividades

censuradas pela Igreja e pelo Estado. Dessas reuniões formou-se, ao longo do tempo, a

tradição da comunicação oral sobre assuntos científicos.

Mais tarde, com o florescimento das primeiras Sociedades Científicas, essa

comunicação passou a ser feita por meio de cartas, monografias e livros em latim. As cartas

eram impressas e tinham a preferência dos cientistas “[...] porque os funcionários dos

33 In: Arqueologia do saber. 6 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000.

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governos eram menos inclinados a abrir o que parecia ser correspondência ordinária”

(BURKETT, 1990, p. 27).

A introdução da imprensa, na Europa, pôs em disponibilidade os textos impressos e a

transmissão dos resultados das pesquisas científicas.

Em seu sentido moderno, as revistas científicas iniciaram-se na Londres do século

XVII, com a “Royal Society for the Improvement of Natural Knowledge”. Foi Henry

Oldenburg, secretário desta sociedade, o precursor do periódico moderno de humanidades

quando, em março de 1665, publicou o “Philosophical Transactions”. Depois se seguiram os

trabalhos franceses do “Journal des Sçavans”. A partir daí, outras sociedades científicas

passaram a ter suas publicações, fato que ajudou a fortalecer as pesquisas científicas na

Europa e nos Estados Unidos. De uma maneira geral, os periódicos científicos surgiram na 2ª

metade desse mesmo século (MEADOWS, 1999. p. 5-7).

São também desse período as várias designações dessa comunicação específica:

revista (“journal”), empregada para uma publicação periódica de coletânea de artigos

científicos; atas (“transactions”), publicação relacionada às atividades de um grupo; magazine

(publicação com diversos artigos científicos); periódico (“periodical”) - que refere-se a

qualquer publicação que apareça a intervalos determinados e que contenha diversos artigos de

diferentes autores; e publicação seriada (“serial”), que designa qualquer publicação editada

em partes sucessivas e conexas (MEADOWS, 1999. p. 7-8).

À comunicação científica produzida de maneira informal, em revistas ou jornais de

interesse público, deu-se o nome de jornalismo científico. “É a ciência traduzida para

amadores” - aqui, no sentido de não profissionais, com temas que podem ser entendidos sem

exigir grandes conhecimentos teóricos, como diz Meadows (1999, p. 27-30).

Com o surgimento dos jornalistas dedicados à divulgação da ciência, alguns veículos

de comunicação tratavam as informações científicas com seriedade. Outros, no entanto, com o

objetivo de promover a guerra entre jornais e, também, despertar a atenção dos leitores,

abusavam do sensacionalismo e conseguiam transformar ciência em pseudociência.

Já no início do século XX, os jornais “[...] davam aos leigos a impressão de que a

ciência se centrava no bizarro” (BURKETT, 1990, p. 32). Temas como as grandes novidades

e experimentos científicos como, por exemplo, novos medicamentos e vacinas, tornaram-se

recorrentes nos meios de comunicação.

A mídia passou a desempenhar a função estratégica de fornecedora de informações científicas, as quais permitem que todos se sintam

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minimamente afinados com as questões centrais de um mundo que, sob a égide da ciência e da tecnologia, mostra-se em contínuas e rápidas transformações (BERTOLLI FILHO, 2006. p. 1).

Talvez por causa dos excessos, Calvo Hernando (1990) considera o nascimento do

jornalismo científico, tal qual se conhece hoje, somente nos anos 20 do século passado. Para

ele, a I Guerra Mundial e o desenvolvimento tecnológico dos Estados Unidos contribuíram

para aumentar o interesse do público pelas descobertas científicas. Isto porque jornalistas dos

dois continentes, ávidos por reunir informação e conhecimento para interpretar as novas

tecnologias bélicas, criaram as primeiras associações desse tipo de jornalismo.

O período entre as Guerras também proporcionou o aparecimento de um novo tipo de

jornalista científico que, na opinião de Burkett (1990, p.33), compreendia melhor os temas da

ciência.

No sentido moderno, os discursos de ciência são as várias designações de produção

científica para os pares e para o público leigo. Mas ambos diferem quanto: ao modo de

produção, avaliação pelos pares (“peers review”), público e meio de recepção.

2. 2 - Divulgação de ciência e instrução científica

Segundo a pesquisa “Science for all Americans”, desenvolvida pela American

Association for the Advancement of Science (“Triple A S”), emprega-se o termo “instrução

científica” como algo que ora se aproxima, ora se confunde com a divulgação científica.

(RUTHERFORD & AHLGREN, 1995, p. 17). Algumas considerações finais desse estudo

direcionam para parâmetros básicos que devem orientar a veiculação de conteúdos científicos:

1. Utilidade: o conteúdo proposto (conhecimentos ou técnicos) irá aumentar

significativamente as perspectivas de emprego, a longo prazo, do aluno que completou o

ensino secundário? Será útil na tomada de decisões pessoais?

2. Responsabilidade social: o conteúdo proposto terá probabilidades de ajudar os

cidadãos a participarem de forma inteligente na tomada de decisões sociais e políticas em

matérias que envolvem a ciência e a tecnologia?

3. Valor intrínseco do conhecimento: o conteúdo proposto apresentará aspectos da

ciência, matemática e tecnologia que sejam tão importantes na história humana, ou tão

universais na nossa cultura que uma educação geral ficaria incompleta sem eles?

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4. Valor filosófico: o conteúdo proposto contribuirá para a capacidade das pessoas de

ponderarem as questões relativas ao significado da humanidade, como a da vida, da morte e

da saúde, da percepção e da realidade, do bem individual contra o bem-estar coletivo, da

certeza e da dúvida?” (RUTHERFORD & AHLGREN, 1995 – grifos da autora).

Bertolli Filho (s/r p. 25 – grifos do autor) explica que

a disseminação do saber, no contexto dos Estados Unidos, tem um fim último e estratégico: o futuro do país, corporificado por necessidades de uma sociedade mais justa, que mantenha a vitalidade econômica e o equilíbrio político. Um saber que também capacite os cidadãos para que estes garantam a segurança nacional, no contexto de um mundo atormentado por hostilidades.

Para a editora da revista “Ciência Hoje”, Ivanissevic, “a missão de divulgar ciência em

um país como o Brasil é redobrada e muito diferente do que em países como Inglaterra e

EUA, que têm uma tradição de divulgação científica” (2008). Exemplo dessa tradição é a

revista “Scientific American”, bem como a inglesa “New Scientist”.

No país, a distância entre a comunidade científica e o público é enorme, então a missão de divulgar ciência no Brasil é muito maior. Além dos analfabetos funcionais, que até sabem escrever, mas não conseguem compreender o que lêem, tem os analfabetos científicos. Pessoas que não sabem lidar com equipamentos, não têm nenhum tipo de sabedoria sobre os instrumentos que os cercam, e quais as tecnologias desenvolvidas por pesquisadores (IVANISSEVICH, 2008. s/r).

Em uma análise mais recente, que considera a ciência como uma atividade social,

podem-se distinguir quatro contextos distintos (ECHEVERRÍA, 1995, apud SABBATINI,

1999): 1) educação, ou ensino e difusão da ciência - que envolve duas ações recíprocas

básicas: o ensino e a aprendizagem de sistemas conceituais e linguísticos, assim como de

representações e imagens científicas, técnicas operatórias, problemas e manejo de

instrumentos. Este âmbito caracteriza uma mediação social que delimita os conhecimentos e

as habilidades do futuro cientista e que irá avaliar a sua competência para ingressar na

comunidade científica; 2) inovação ou descobrimento - os processos e atividades através dos

quais os cientistas criam novas teorias e realizam descobertas; 3) valorização ou justificação -

refere-se aos procedimentos pelos quais os resultados obtidos no contexto de inovação são

justificados, aceitos e transmitidos dentro da comunidade científica, estando também

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mediados sociologicamente; 4) aplicação - em que os resultados obtidos pela ciência são

empregados para modificar, transformar e melhorar a realidade.

Por isso que, “mesmo que a ciência moderna seja internacional (global) por definição,

quando se trata no âmbito de comunicação pública da ciência, as dimensões (valores)

culturais e locais desempenham função primordial” (FAYARD, 2003 s/r – tradução da

autora).

Recupera-se aqui o pensar de Epstein (2002, p. 98) sobre “dois processos

comunicacionais distintos” de comunicação da ciência. O primeiro, denominado comunicação

primária (disseminação) que ocorre entre os próprios cientistas - interpares. Tem-se, também,

que a informação primária designa a “informação original em vários formatos impressos:

jornais, monografias, procedimentos de conferências, revistas científicas e comerciais,

relatórios, boletins de patentes e circulares” (ENCYCLOPÆDIA BRITANNICA ONLINE,

1999). O outro processo, comunicação secundária (divulgação/popularização) é dirigida ao

público leigo - de maneira direta ou pela mediação dos divulgadores científicos ou até mesmo

pelo próprio cientista - que assume também o papel de divulgador. Essa divulgação também

pode ser inserida dentro de um contexto da educação, uma vez que as teorias e

descobrimentos são transmitidos, mesmo que de uma maneira simplificada, de forma a

construir uma imagem social da pesquisa e do progresso científico.

Muito embora os dois processos comunicacionais (primário e secundário)

não ocorrem em espaços distintos e estanques, mas se interpenetram formando um contínuo, através do qual se distribuem os suportes das mensagens: os periódicos especializados, os mistos - para um público mais cultivado - e os de divulgação - para o grande público (EPSTEIN, 1999 s/r).

“Assim, através do estudo dos diferentes contextos, pode-se melhor compreender as

diferenças que subjacem aos dois gêneros de comunicação científica, seja em seus objetivos,

seja no contexto sociológico em que estão inseridos” (SABBATINI, 1999 s/r).

Só por esses parâmetros, se tem uma ideia de pontos fundamentais: alfabetizar,

informar ciência e/ou conhecimentos especializados. Em síntese, compreensão pública da C

& T - divulgar, educar e comunicar - instrumento a serviço da democracia e do equilíbrio

cultural (CALVO HERNANDO, 1999 s/r). “por estimular a inteligência e capacidade das

audiências não especializadas, permitindo que usem e adaptem também este conhecimento em

sua vida cotidiana” (FAYARD, 2003 s/r).

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Percebe-se, portanto, a importância da formação de jornalistas que possam tornar a

ciência mais interessante e mais compreensível para o público, produzindo, assim, um novo

discurso.

Por outro lado, jornalistas especialistas que atuam no campo de C & T acreditam que

devam ter uma missão de caráter didático e complementar ao que foi aprendido nas escolas

por parte do jornalismo científico. Resgatam-se os trabalhos desenvolvidos pelo latino-

americano Calvo Hernando (1965), do médico brasileiro José Reis e tantos outros da

atualidade, que abordam as ciências sociais e de comportamento.

Acredita-se que os meios de divulgação devem ter a postura de formar cidadãos mais

responsáveis e conscientes dos assuntos pertinentes aos cuidados de sua saúde - ou falta dela.

Bem como “introduzir comportamentos saudáveis nas comunidades e grupos sociais”. Isto é,

“uma informação que possa estimular as pessoas a adotarem condutas que tornem seu estilo

de vida mais saudável”. Em síntese, tem a ver com “[...] comunicar para uma melhor

qualidade de vida” (AGUILAR, 1999. p. 139-141 - tradução da autora) e com promoção de

saúde.

2. 3 - Textos científicos e jornalismo de saúde: conceitos e características

Entre os cientistas e seu público estão os canais e os gêneros pelos quais eles se

comunicam. Podem ser estabelecidos em “papers” (artigos a serem publicado em periódico ou

revista especializada e segmentada); na mídia, em forma de divulgação de novas descobertas;

tradução/explicação/simplificação dos discursos das fontes para o público; com temas que

configuram caráter de saúde pública e segurança em tempos de crise; e também para

satisfazer a necessidade humana de entretenimento, princ ipalmente quando alimentam a

imaginação e ideias novas.

Um texto científico pode ser conceituado, como expõe Guimarães (2001, p. 65-77),

sob dois aspectos de abordagem:

a) em sentido amplo, porque mantém as características dos textos em geral e pode ser

conceituado como uma unidade significativa que se constroi numa situação de interação

comunicativa. Trata-se de uma abordagem do texto visto através de critérios transcendentes

ao texto. Este conceito fundamenta-se nas teorias da linguagem enquanto ação;

b) em sentido restrito, porque assume as características do texto científico

propriamente dito e pode ser conceituado como “a manifestação do processo da construção do

conhecimento”.

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De maneira geral, para Leibruder (2002, p. 229), “[...] o texto de vulgarização

científica busca propiciar ao leitor leigo o contato com o universo da ciência, através de uma

linguagem que lhe seja familiar”.

De acordo com esta especialista, ainda,

no discurso dos cientistas para seus pares, há emprego de uma linguagem mais objetiva, concisa e formal. O padrão lexical e o emprego de verbos na 3ª pessoa do singular, acrescido da partícula se (índice de indeterminação do sujeito), ou na 1ª pessoa do singular (sujeito universal), ocasionando o apagamento do sujeito são algumas das evidências linguísticas [...] presentes (LEIBRUDER, 2002. p. 230-231 – grifo da autora).

E é em Bakhtin (1997, p. 281) que o discurso científico é considerado como gênero

secundário, porque sofre processo de formação - são aqueles que aparecem em circunstâncias

de comunicação mais complexa.

Para a maior parte da população, a realidade da ciência e da saúde é aquela

apresentada pelos meios de comunicação de massa. Nesse sentido, o jornalismo de saúde se

constitui como educação coletiva e pessoal e agrega qualidade, sabedoria e respeito à vida e

cidadania.

A divulgação em saúde cumpre uma função indireta na mudança dos hábitos de vida, mantendo o conhecimento já adquirido e provendo novas informações. Quando os assuntos de saúde são colocados em pauta, como resultado de uma discussão ou experiências pessoais, esse conhecimento ajuda a formar o modo de reação dos indivíduos às situações que têm de enfrentar ao longo da vida [...] (MEILLIER, LUND & GERDES, 1997, p. 235).

E, como bem analisam Macedo, Bueno e outros (s/r), “o jornalismo de saúde, devido

sua abrangência e penetração junto ao público, pode atuar positivamente como auxiliares da

educação em saúde, fortalecendo ações preventivas no campo da saúde pública”.

Por meio de algumas informações

é possível favorecer o desbloqueio do mecanismo de resistência da consciência coletiva em relação aos transplantes. Ou até mesmo estimular o aumento da rede de solidariedade humana pela continuidade da vida,

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fazendo o número de doações de órgãos crescer e, consequentemente, diminuir o número de mortes por falta de órgãos (SILVÉRIO, s/r) .

Falar de saúde também é denunciar ações que Estado e municípios não propiciam aos

cidadãos, tais como ineficiência do serviço público de saúde, situação de abandono e

negligência em alguns hospitais, falta de material adequado para procedimentos médicos e

cirúrgicos, baixa remuneração de prestadores de serviço na área, etc.

Um outro ponto a ser considerado é em relação à ética, que, como em todos os

aspectos da vida, é fundamental. No que se refere ao jornalismo de saúde, ser ético é ter um

compromisso firmado com a manutenção e preservação da vida dos cidadãos. É ter o objetivo

de informar para um bem maior: o bem-estar social.

2. 4 - Mídia eletrônica: acertos, riscos e incertezas na divulgação de Ciência

LEMOS ([A.], 2005) recorda que é no contexto do advento da publicação eletrônica,

no início do século XX, que se dá o aparecimento e o rápido crescimento do número de

periódicos eletrônicos. Estes podem ser definidos como recursos eletrônicos, contendo artigos

completos e elementos de multimídia. O periódico eletrônico pode ser a reprodução de uma

revista impressa ou uma publicação exclusivamente disponibilizada na rede web.

Segundo Taubes (1996, apud EPSTEIN, 1998. p. 67), eles apresentam várias

vantagens, não só nas funções de busca, como nos fóruns de discussão, e também nas ligações

com artigos conexos e na notificação automática. E, mesmo que “a forma do veículo se

modifique, a necessidade de se preservar a essência do processo de comunicação (a validação

do conhecimento) - do qual a revista científica é um componente essencial - é percebida e se

mantém no ambiente virtual” (CAMPELLO & CALDEIRA, 2003 s/r).

Em outra aplicação, recorda-se que esse tipo de comunicação/discurso tem um efeito

de aumentar a consciência da comunidade médica e de outras instituições, sobre o valor do

acesso a esse tipo de informação. Do ponto de vista de quem as produz no âmbito do campo

científico e médico, esse tipo de comunicação pode auxiliar os profissionais de saúde, ao

otimizar a qualidade dos serviços prestados a diversas categorias de cliente. Fazendo-se valer

dos avanços da medicina tecnológica, a prática médica agregou subespecialidades,

principalmente aquelas voltadas para o uso da imagem nas tecnologias bioquímicas de

diagnosticoterapia. Embora estes avanços reforçem o caráter hegemônico do acesso à saúde.

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Informar saúde no meio eletrônico inclui, também, comunicar campanhas relacionadas

à saúde coletiva. Enquanto a comunicação de massa - com uma audiência heterogênea - tem a

missão de divulgar informações e campanhas que falam dos temas de saúde, no meio web as

informações, de maneira geral, são acessadas individualmente. As diversas abordagens

buscadas respondem a assuntos específicos, segmentados na busca e oferecem a informação

com o grau de profundidade que o usuário procura. Muito embora, se o ciberleitor não tiver

um foco, as informações podem derivar para outro campo e virem agregadas de irrelevância,

dúvida e incorreção.

E reafirma-se a existência de uma barreira econômica de acesso ao meio por uma

parcela da população (possibilidade cada vez menor, pela rápida disseminação das lanhouses)

e de analfabetização digital (não letramento).

Há outras questões como, por exemplo, o risco potencial para causar prejuízo à saúde

dos usuários, causados pela variedade e má qualidade das informações. Necessário se faz

alertar os indivíduos para checarem as informações obtidas na rede com um especialista, antes

de serem adotadas – mais uma função da mídia eletrônica de saúde. “É preciso estabelecer

padrões elevados, em virtude do fato de que as pessoas tendem a atribuir maior credibilidade

às informações de computadores do que às dos outros meios” (ENG & GUSTAFSON, 1999

apud SOARES, 2004 s/r).

Nesse sentido, tem razão de ser o Código de Conduta da “Health on the Net

Foundation” (HON - Organização não governamental, sem fins lucrativos e estabelecida na

Suíça), que prega:

1. Autoridade - Toda orientação médica ou de saúde contida no site será dada somente

por profissionais treinados e qualificados, a menos que seja declarado expressamente que uma

determinada orientação está sendo dada por um indivíduo ou organização não qualificado na

área médica.

2. Complementaridade - A informação disponível no site foi concebida para apoiar - e

não para substituir - o relacionamento existente entre pacientes ou visitantes do site e seus

médicos.

3. Confidencialidade - Será respeitado o caráter confidencial dos dados dos pacientes e

visitantes de um site médico ou de saúde - incluindo sua identidade pessoal. Os responsáveis

pelo site se comprometem em honrar ou exceder os requisitos legais mínimos de privacidade

de informação médica e de saúde vigentes no país e no estado onde se localizam o site e as

cópias deste.

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4. Atribuições - Quando for o caso, a informação contida no site será respaldada por

referências claras às fontes consultadas, e, quando possível, tendo links HTML para estas

fontes. A data em que cada página médica foi atualizada pela última vez será exibida

claramente (no topo da página, por exemplo).

5. Justificativas - Quaisquer afirmações feitas sobre os benefícios e/ou desempenho de

um tratamento, produto comercial ou serviço específico serão respaldadas com comprovação

adequada e equilibrada, conforme indicado no Princípio 4.

6. Transparência na propriedade - Os programadores visuais do site irão procurar

dispor a informação da forma mais clara possível e disponibilizar endereços de contato para

os visitantes que desejem informação ou ajuda adicional. O webmaster exibirá seu endereço

de email, claramente, em todas as páginas do site.

7. Transparência do patrocínio - Os apoios dados ao site serão identificados

claramente, incluindo a identidade das organizações comerciais e não comerciais que tenham

contribuído para o site com ajuda financeira, serviços ou recursos materiais.

8. Honestidade da publicidade e da política editorial - Se a publicidade é uma das

fontes de renda do site, isto deverá ser indicado claramente. Os proprietários devem fornecer

uma breve descrição da política de divulgação adotada. Os anúncios e outros materiais

promocionais serão apresentados aos visitantes de uma maneira e em um contexto que

facilitem diferenciá- los do material original produzido pela instituição gestora. 34 .

2.4 a) Blogs e microblogs na difusão de informações de saúde

Comunicação Interativa em Saúde (CIS) é o termo proposto por Eng e Gustafson

(1999 apud SOARES, 2004 s/r) para se referir à “interação de um indivíduo com/ou por meio

de um dispositivo eletrônico e/ou tecnologia de comunicação para acessar ou transmitir

informação de saúde ou receber ou prover orientação e apoio sobre um assunto relativo à

saúde”. Assim, a participação em bate papos virtuais e em grupos de apoio, o envio de emails

para provedores de serviços de saúde são formas de comunicação interativa em saúde.

Segundo estes autores (ENG & GUSTAFSON, 1999 apud SOARES, 2004 s/r) a CIS

pode cumprir seis funções específicas: 1) comunicar informação individualizada; 2) habilitar a

tomada de decisão informada; 3) promover comportamentos saudáveis; 4) viabilizar a troca

34 Fonte: <http://www.hon.ch>.

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de experiências e apoio mútuo; 5) promover o autocuidado; 6) gerenciar a demanda por

serviços de saúde.

Neste sentido, Almeida (2003. p. 3) argumenta que

a criação e manutenção de comunidades virtuais (blogs) é um aspecto que pode resultar do uso adequado da tecnologia por médicos, sobretudo face à preocupação ética de se transmitir aos clientes notícias periódicas, de modo personalizado, sem ferir a intimidade dos envolvidos, mas, ao mesmo tempo, estimulando a participação dos dois públicos privilegiados.

A CIS, então, aumenta a oportunidade de os usuários interagirem com profissionais de

saúde (emails, seção perguntas e respostas) ou encontrar apoio de outros em situação

semelhante, como no blog da SBD.

2. 4 b) O uso do infográfico animado como recurso para abordar Ciência

No jornalismo contemporâneo, a infografia é um recurso de narrativa visual, de uma

dada situação ou fato, que auxilia o profissional em suas atividades de informar e conjuga-se

com a grande reportagem, nos chamados “especiais multimídia”. “O infografista é um

jornalista que sabe desenhar, explicar e representar a informação” (GENTILI, s/r ABI online).

Bastante utilizado nos portais de notícias, na TV e nos jornais impressos, o recurso facilita a

compreensão dos indivíduos sobre como determinado caso ocorreu, ou simplesmente

estimular o envolvimento com a matéria.

Sancho (2001, p. 91) afirma que a infografia existe, historicamente, desde a fase

inicial do desenvolvimento da imprensa, embora as origens remontem à pré-história.

No século IX, tem-se “A Árvore das Afinidades” (ano de 1473), de Johannes Andrei,

descoberto em um manuscrito.

No século XVIII, Leonardo da Vinci fazia os seus esboços de anatomia de um modo

semelhante ao das infografias, ou seja, aliando o desenho à escrita. Pedroso (2008) recorda

que algumas das primeiras e melhores referências a este tipo de trabalho são, por exemplo: o

primeiro gráfico publicado por William Playfair, no seu livro “The Commercial and Political

Atlas” (representativo da economia inglesa, também do século XVIII) e “Weather Map” de

George Rorick.

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Alguns outros exemplos, dentre outras representações gráficas da informação: o

primeiro mapa, publicado na imprensa pelo “Daily Post” (Londres, 1740) ou ainda o primeiro

gráfico informativo “Mr. Blight’s House”, publicado pelo “The Times” (Londres, 1806),

Desde essa época para diante, esta área tem assistido a um desenvolvimento notório quer no

nível técnico, quer em outros aspectos, mas todos realizados com a mesma intenção

comunicativa.

De acordo com especialistas, o parâmetro atual de qualidade nesse recurso vem da

Espanha (Madrid) como, por exemplo, a produção nos jornais “El Mundo” e “El País”.

No Brasil, começou a aparecer com frequência, em páginas de jornais e revistas de

grande circulação, no início dos anos de 1990, a partir de reformas gráficas e editoriais

estabelecidas por essas empresas.

Em publicações eletrônicas é um recurso fruto da computação gráfica, da tradução de

linguagem numérica e objeto vinculado, exclusivamente, às telas do computador. Caracteriza-

se pelo uso de recursos multimídia, por um espaço informacional quase ilimitado e, ao mesmo

tempo interconectado com outros recursos de informação, através do hipertexto. Com a

integração de textos, imagens fotográficas, esquemáticas e virtuais; cores, linhas, texturas e

códigos; vídeo e som; gráficos interativos e bases de dados surge “uma nova retórica, uma

nova maneira de apresentar e organizar a informação” (DÍAZ NOCI, 1997 s/r, apud

SABBATINI, 2005 s/r).

Para Salaverría (2007), a infografia é a área onde mais se detecta a evolução rumo às

novas formas de comunicação jornalística na internet. Funciona, portanto, como verdadeiros

espaços intertextuais, onde são organizados diferentes aspectos do conteúdo das mensagens

jornalísticas, por meio de diferentes tipos de linguagem – verbais e não verbais. Se, no

impresso, textos e imagens tinham estatutos separados, no digital eles conjugam-se e estão no

caminho de se transformarem em novas formas de linguagem.

Murray (1997, p. 74) argumenta que o desenvolvimento deste tipo de formato de

informação mostra que o meio digital está saindo da dependência de meios anteriores e está

começando a explorar sua própria capacidade expressiva, isto é, afirma sua própria narrativa,

e, portanto, novas linguagens.

“Com um papel destacado da C & T e da medicina, na elaboração de infografias, e

retomando assim a temática do jornalismo visual, o jornalismo científico pode desempenhar

um papel importante na consolidação desta modalidade jornalística (SABBATINI, [M] &

MACIEL, 2004, s/r). Alguns exemplos:

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Figura 6

Fonte: <http://nupejoc.blogspot.com/2008/01/infografia -e-criatividade.html>

Figura 7

Fonte: <http://cienciaesaude.uol.com.br/ultnot/2008/03/04/ult4476u20.jhtm>

2. 5 - O discurso eletrônico da divulgação em saúde: questões, marcas e inovações

linguísticas

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81

A divulgação científica é “resultado de um efetivo trabalho de formulação discursiva,

no qual se revela uma ação comunicativa que parte de um ‘outro’ discurso [o científico] e se

dirige para ‘outro’ destinatário [o público leigo]” (ZAMBONI, 2001. p. 18-99).

A linguista Zamboni diz que constitui um gênero de discurso específico, que exige do

divulgador um trabalho efetivo de formulação de um novo discurso. Assim sendo, em se

apagando o sujeito discursivo, em princípio, o discurso assume caráter de neutralidade e,

portanto, de inquestionalidade, diz a autora (ZAMBONI, 2001. p. 18-99).

Por um lado, o discurso científico pode ser identificado como discurso polêmico, onde

a reversibilidade se dá sob certas condições, ou seja, o enunciador leva em conta seu

enunciatário de acordo com certa perspectiva. Por outro, pode ser visto como competente, ou

como uma forma de poder. Discurso competente porque se dá pela legitimação de um

discurso autorizado. Ou quando a ciência é vista como coisa privada, como “instrumento de

dominação” - ele se instala e se conserva “declarando que” não é qualquer um que pode dizer

qualquer coisa a qualquer outro, em qualquer ocasião e em qualquer lugar, como afirma Chauí

(1982).

Vale lembrar que há várias designações para gênero, porém há classificações que não

são excludentes. Ou mesmo que é possível a classificação desse tipo de discurso entre os

argumentativos, uma vez que, segundo Ducrot (1984), a argumentação é inerente à

linguagem. Visto dessa maneira, seu caráter é altamente argumentativo, porque o cientista,

tendo como intento convencer o interlocutor da validade/verdade daquilo que diz, procede

retórica e linguisticamente conforme esse objetivo.

Ainda, o texto de DC assume uma suposta neutralidade – “é um fazer persuasivo”

(LEIBRUDER, 2002, p. 232 - grifos da autora). O jornalismo desse tipo de divulgação abriga

uma questão discursiva, ou seja, transpõe um discurso existente em função de um novo

interlocutor. Isso significa que se trata da reformulação de um discurso fonte em um discurso

segundo. Vai trabalhar com a menção: “tal autor diz que [...], “ele esclarece que [...]”, etc.

Os parâmetros do ato de enunciação - pessoas, datas, lugares, modalidades e

circunstâncias - estão presentes de maneira insistente. Por exemplo: “Por volta de 1940,

pesquisadores da Universidade de [...]”. As referências podem ser mais vagas, tais como:

“pensa-se”, “admite-se hoje”, “especialistas consideram”, etc., mas estarão presentes de modo

explícito construindo a remissão de um discurso a outro.

Também pela ótica da análise de discurso, Ferrareto diz que esse tipo de divulgação

proporciona múltiplas reflexões sobre esse tipo de cobertura. Já que os discursos são

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ordenados não só pelas regras inerentes à prática jornalística, mas também segundo condições

dadas pelo exercício do poder e pela ideologia que permeiam as relações sociais.

Na concepção de Pinto (apud FERRARETO, 1999. p. 24)

os textos são partes integrantes do contexto social e histórico e não alguma coisa de caráter puramente instrumental, externa às pressões sociais. Têm assim papel fundamental na reprodução, manutenção ou transformação das representações que as pessoas fazem e das relações e identidades com que se definem numa sociedade.

O discurso jornalístico de ciência - enquanto transmissão de informação - tem a

clareza, a objetividade e a concisão como ideais. No discurso relatado (discursos direto e

indireto), há emprego de alguns recursos linguísticos tais como a partícula “se”-

posteriormente a verbos na 3ª pessoa do singular, e que podem caracterizar esse tipo de

discurso com traços de impessoalidade e distanciamento (LEIBRUDER, 2002, p. 232).

Outra característica é que o argumento informacional não tem apenas caráter

referencial. Agrega, também, o valor de informação relativizada, isto é, “[...] o texto

jornalístico somente desempenhará sua função informativa na medida em que for lido [...] e

que correspondam às expectativas do público a que se destina” (LEIBRUDER, 2002, p. 232).

Por isso o uso de linguagem que possa aproximar o cotidiano do leitor ao texto – seja de

maneira formal, coloquial, ou até mesmo com variantes da linguagem popular.

Assim, são diversos os recursos e estratégias utilizadas – elementos que denotam

juízos de valores (metáforas, comparações, adjetivos, advérbios modalizadores), ou, então,

aqueles que denotam objetividade/distanciamento (LEIBRUDER, 2002. p. 233). Entende-se

modalizadores como todos os elementos linguísticos que funcionam como indicadores das

intenções, dos sentimentos e das atitudes do enunciador no que diz respeito a seu discurso.

Marcam este, portanto, com traços de subjetividade (entendida aqui como a capacidade do

enunciador de se propor como sujeito).

Em relação às dimensões linguísticas da comunicação científica, isto é, em relação às

funções de linguagem, aos signos e à língua utilizados, como bem explica Sabbatini ([M.],

1999, s/r)

a comunicação primária estaria constituída por uma linguagem monossêmica, referencial e altamente especializada na medida em que está ligada a um ramo específico da ciência. Já a comunicação secundária está caracterizada por uma linguagem polissêmica, permitindo o uso de outras funções da linguagem e figuras de retórica. O uso de recursos linguísticos,

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retóricos ou pictóricos na divulgação científica é justificado pelo fato de que a audiência não possui um contrato social com esta mensagem, diferentemente do que ocorre com a comunicação primária e, portanto, deve ser capturada.

O divulgador/jornalista opera, então, em uma tradução intralingual (MORTUREAUX,

1982, p. 4, apud LEIBRUDER, 2002. p. 234), isto é, incorpora ao fio do discurso elementos

linguísticos e extralinguísticos mais familiares ao leitor. O registro linguístico torna-se, então,

mais coloquial e pode tomar um caráter metalinguístico, ao adotar recursos como

comparações, metáforas, nomeações, recursos visuais. Para Anderson (2001 apud CALVO

HERNANDO, 1993, s/r – grifos da autora) “trata-se de explicar (ao público) o que trata a

ciência”. Em relação aos leitores e à audiência, os comunicadores têm que entender aquilo

que querem, quais são seus interesses, para divulgar e colaborar com a educação em saúde

e/ou C & T.

Zamboni (2001, p. 28-29), diz que o texto/discurso de divulgação científica é pleno de

recursos didatizantes, utilizados com a finalidade de o público leigo se inteirar de assuntos,

por vezes herméticos e inacessíveis. Por outro lado, seguindo esse pensamento, esse emprego

pode alterar o efeito de sentido, uma vez que é através de um juízo de valor do autor em

relação ao público-alvo (em função de suas características e necessidades) que ele formulará

seu discurso. É, portanto, sub jetivo.

Ainda que enunciando as “ditas verdades universais”, o DC não se exime da ligação

com a enunciação, com a natureza dos participantes da comunicação verbal e com seu

contexto situacional (ORECCHIONI, 1977 s/r), o que acarreta a pertinência, ou mesmo a

necessidade, da utilização dos modalizadores como expressão linguística dessa variedade de

ligação.

Seguindo princípios da Análise do Discurso (AD) têm-se três pressupostos:

1) o discurso científico primário nunca será objetivo - no sentido de utilizar-se de

“significantes transparentes” ao seu objeto;

2) da mesma forma, nunca se poderá cobrar tal objetividade do discurso jornalístico

que veicula mensagens científicas;

3) logo, o discurso objeto será submetido necessariamente à interpretação, enquanto

seus objetos serão necessariamente ressignificados.

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Aparece, dessa maneira, uma linguagem que tende para uma suposta neutralidade e

uma relativa subjetividade. E, para explicar a neutralidade, há o emprego de alguns verbos

que têm a função referencial como características, tais como: “emerge”, “age”, “provoca”,

“modifica”, “desaparece”, etc. Alegoricamente, é como se o autor, ao emprestar voz aos

objetos, assumisse a condição de porta-voz da verdade a eles supostamente intrínseca. Da

mesma forma, procede o divulgador de ciência, quando ao discurso são incorporados: citações

(explícitas ou implícitas), assertividade, nominalizações, verbos empregados na 3ª pessoa do

singular ou na voz passiva.

A objetividade e a imparcialidade representam, no discurso científico, apenas aspectos

bastante superficiais, sendo ilusória a crença na não interferência da subjetividade emotiva no

traçado do discurso. De acordo com os argumentos de Zamboni (2001, p. 238) a característica

preponderante, neste tipo de discurso, é a argumentatividade. A aproximação e

distanciamento do autor em relação ao texto e ao leitor, faz que, teoricamente, aconteçam a

legitimação de um conhecimento e a persuasão.

Já “os autores engajados na popularização da ciência utilizam recursos linguísticos,

retóricos e de imagem para superar este obstáculo. O sucesso ou o fracasso destes

procedimentos depende do tipo do conhecimento científico a ser popularizado, da habilidade

dos autores, etc. (EPSTEIN, 1998. p. 60).

2. 5 a) Redação na web

A planejadora de ações de Marketing em mídias móveis, Costa (2007, s/r) fala das

“possibilidades de redação e comunicação serem infinitas e que muito pode ser adaptado à

internet: SMS, Bluetooth, projeção digital com interatividade, sensores e outras coisas que se

conseguem inventar todos os dias, misturando tecnologias”. Ela tem a sensação de que, neste

tópico, “o céu é o limite - basta inventar e ter coragem de misturar tudo. E a comunicação só

tem a ganhar com isso [...]”. Aponta, ainda, que “pode parecer futurismo alucinado, mas a

grande vantagem das novas mídias sobre a web é justamente o fato de ser extremamente

democrática - inclusive com quem não tem um computador conectado à internet”.

Já a especialista em informações de saúde na web, Dissat, argumenta que a

irreverência, a informalidade e a liberdade do jornalismo em geral, nem sempre é ideal, em

todos os momentos, na internet. “A comunicação na web exige elegância” (DISSAT, 2006 –

MANUAL ONLINE DE REDAÇÃO). Mas ela acredita que existam mais necessidades

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importantes para serem incluídas, tais como: finalização, iniciativa e criatividade. São as

maiores carências que ela, sente hoje, nos repórteres.

Realmente, na hora de fechar um texto para um site, vários fatores começam a ser necessários que, em outras mídias. nem precisávamos pensar com tanta rapidez. Hoje em dia, o repórter, além de escrever e apurar, precisa pensar na matéria como um todo: hiperlinks; tentar ser o mais objetivo no primeiro parágrafo (parecido com outras mídias); pensar na possibilidade de incluir um áudio na matéria; escolher as palavras mais significativas para usar o negrito, etc. (DISSAT, junho de 2007).

Foi por encontrar dificuldades em padronização de redação em uma empresa

especializada em conteúdo para diversas mídias, que esta jornalista lançou um Manual Interno

de Redação. A primeira abordagem do Manual é referente às dicas para edição da home de

um site. Algumas dessas informações fazem referência ao uso do editor de conteúdo, utilizado

pela sua empresa. Como a maioria das informações disponibilizadas nos sites que edita tem a

saúde como tema específico, fala da existência de uma série de questões políticas que

envolvem seus clientes: “são detalhes que acabam se repetindo com as novas contas”

(DISSAT, 2006 - MANUAL ONLINE DE REDAÇÃO).

Por outras vezes, Dissat dá as dicas de como proceder em reportagens sobre os eventos

de saúde – congressos e simpósios que a empresa participa. E, mais uma vez, orienta:

para evitar que você seja surpreendido em algum momento, que tal sair da sua posição e observar algumas situações de fora para dentro? Faça um exercício simples, respondendo para você mesmo, algumas questões. Como nem tudo é revista de gênero, você não vai encontrar o resultado no final da reportagem dizendo como foi o seu desempenho. Essa resposta virá no seu próprio dia-a-dia. Resta saber se vai usar isso contra ou a seu favor (DISSAT, 2007).

Ela reafirma a fala do PhD em Comunicação Digital, Luli Radfahrer, em evento que

participou, sobre webdesign, em maio deste ano : “equilíbrio não é (só) simetria - é

estabilidade”. Assim, “os recursos de multimídia enriquecem a publicação, enquanto meio”

(STANEK, 1995 apud SABBATINI, 1999 s/r).

2. 5 b) Papel da linguagem no discurso eletrônico

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De acordo com Crystal (2001 apud MARCUSHI, 2005, p. 18-19 – grifos do 1º autor),

o ‘“discurso eletrônico’ constitui um bom momento para se analisar o efeito de novas

tecnologias na linguagem e o papel da linguagem nessas tecnologias”. Para o autor, devem ser

frisados, então, três aspectos:

1) os usos da linguagem – porque se tem uma linguagem um tanto diferentes com

abundância de siglas, abreviaturas nada convencionais e estruturas frasais pouco

ortodoxas;

2) a natureza anunciativa dessa linguagem – porque se integram mais semioses do que

a maneira usual e fazendo surgir uma hiperpessoalidade;

3) os gêneros realizados – a internet desenvolve alguns novos e mescla vários outros

(CRYSTAL, 2001 apud MARCUSHI, 2005, p. 18-19 – grifo do 1º autor)

Por isso, Marcushi (2005, p. 19) tem a convicção de que uma etnografia da internet é

de grande relevância para entender os hábitos sociais e linguísticos das novas “tribos” da

imensa rede mundial, que vêm se avolumando e diversificando a cada dia. Na comunicação

digital o discurso escrito é composto de uma série de elementos, ora do mundo virtual, ora da

gramática normativa. Os sujeitos da comunicação não são dados previamente, mas

constroem-se ao se comunicarem.

E quando o assunto é comunicação de ciência na web, a linguagem também deve ser

adaptada. Bem como seus sentidos. De uma maneira geral, no entender de Cordeiro (2005,

s/r)

por se tratar de um modelo textual com peculiaridades próprias e tão relevantes, os textos de divulgação científica são resultados de determinadas escolhas linguísticas como, por exemplo, os usos da interrogação, da citação, dos verbos modais, etc. A exploração de tais recursos pelo locutor tem como objetivo estabelecer um diálogo com o seu alocutário. É através do uso destes mecanismos linguísticos que o locutor irá permitir, na leitura, o engajamento enunciativo do alocutário, propiciando a circulação do texto de divulgação científica em diferentes meios sociais.

2. 5 c) Campo da análise do discurso de saúde, seus efeitos e produção de

sentidos

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A comunicação interativa de saúde é uma modalidade de comunicação utilizando

dispositivo eletrônico ou tecnologia que permita acessar ou transmitir informação de saúde ou

receber instrução e apoio em assuntos relativos à saúde.

Nos sites CARDIOL E DIABETES, o ciberleitor pode interagir, ora mais ora menos,

com a equipe de produção, em pesquisas relacionadas com as matérias da edição, ou por meio

dos grupos de discussão (interação de complexidade intermediária), em fóruns de debates

entre os leitores, no blog da SBD ou até mesmo ser o novo personagem da internet – o

repórter cidadão, isto é, estiver presente na hora de um fato ou alguma atividade relativa aos

Portais.

Os Portais Nacionais constituem-se numa rede de pessoas e instituições que

compartilham o mesmo propósito, isto é, facilitar a gestão da informação e comunicação para

desenvolver competências para um bem-viver com saúde e “cuidar da saúde”. Além do

diálogo entre o público que tem interesses comuns, os recursos de interatividade podem

permitir administrar o conhecimento atual disponível para incorporar e manter atualizado o

saber de programas de educação permanente em saúde, bem como acompanhar as últimas

discussões em congressos/eventos sobre temas específicos desses Portais, assessoradas pela

Comissão Científica do site.

Para Sabbatini ([R], 1998, edição online), o volume e a variedade de informações

disponíveis no meio web sobre assuntos relacionados à medicina e à saúde são imensos. Um

dos efeitos da internet é aumentar a consciência da comunidade médica sobre o valor do

acesso à informação, da educação continuada, e da mudança radical de paradigmas que a

presença universal desta grande rede está trazendo em certos aspectos da sociedade, a todos os

indivíduos (SABBATINI, [R], 2000 s/r).

E é aí que se dá a circulação do saber, que parte de um discurso que detém o poder

para, com criatividade, “informar sem deformar”, com recursos, tais como: metáforas,

analogias, recriação de conceitos e maleabilidade linguística.

A internet fornece não apenas os tipos de informação médica presentes nos meios tradicionais impressos, tais como textos e imagens de artigos científicos e clínicos, revistas, jornais, boletins, manuais, relatórios técnicos e de casos, livros, listas e catálogos, etc., mas também outros meios digitais, tais como gravações de áudio e vídeo, desenhos animados, imagens, hologramas e textos interativos, etc. (SABBATINI, [R], 2000 s/r – grifo da autora).

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Outro efeito/tendência importante é um aumento no grau de informação dos pacientes

sobre os seus problemas de saúde. Graças às revistas populares, à TV e, agora, à internet, as

pessoas estão cada vez mais bem informadas e têm condições de argumentar com o médico

quando acham que alguma coisa não está correta, analisa, também, Sabbatini ([R], 1997 s/r).

É quando o “discurso de poder” do profissional médico entra em xeque – porque passa

a conviver com aquele das outras pessoas, que têm o direito de se inteirarem e participarem

dos casos pertinentes à sua saúde. Há, portanto, todo um trabalho de formulação de um

discurso novo, que parte do discurso científico – e não apenas o reformula ou recodifica – e se

dirige a um outro público, mais amplo que os pares dos cientistas. O discurso resultante é

pleno de marcas do sujeito/pesquisador. E é plural, porque é resultante da reelaboração dos

discursos que recebe - produz efeitos de sentido, é apreendido e reelaborado, também, pelos

sujeitos/indivíduos da sociedade (BACCEGA, 1998. p. 101 e 104).

“Em um discurso sobre saúde, múltiplos discursos são ordenados, não só pelas regras

inerentes à prática jornalística, mas também segundo condições dadas pelo exercício do poder

e pela ideologia que permeiam as relações sociais” (FERRARETTO, 2005, s/r). Aliás, “os

textos, de uma maneira geral, são partes integrantes do contexto social e histórico e não

alguma coisa de caráter puramente instrumental, externa às pressões sociais [...]”. Por isso

“[...] têm papel fundamental na reprodução, manutenção ou transformação das representações

que as pessoas fazem e das relações e identidades com que se definem numa sociedade”

(PINTO, 1999, p. 24).

Recupera-se o que Pêcheux (1969) define como discurso: “efeito de sentidos entre

interlocutores” - uma vez que “os sentidos não estão presos ao texto nem emanam do sujeito

que lê; ao contrário, eles resultam de um processo de interação texto/leitor” (BENETTI, s/r).

Bem como as considerações de Verón (1980, p. 197) sobre a noção de poder: “efeitos do

discurso no interior de um tecido determinado de relações sociais [...]” e “que não podem ter

outra forma que não seja a de uma outra produção de sentido”.

Dessa forma, nos discursos de saúde, a produção de sentidos assume um papel

essencial, porque pode influenciar na construção social do que significa.

As mídias, além de serem instrumentos de representação, são, ao mesmo tempo, dispositivos, espécies de verdadeiros nichos, onde a realidade se estrutura como referência. [...] O poder das mídias está na sua capacidade de construir, via discursos, conceitos e referências que, em última análise, vão se tornando o nosso próprio cotidiano (FAUSTO NETTO, 1999, p. 9).

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Se, por um lado, “ao indicar a necessidade de cada pessoa cuidar melhor de si, a

atuação da mídia tem efeitos positivos”, de outro, acaba “por definir, no imaginário coletivo,

padrões homogeneizadores de saúde, juventude e beleza que reforçam a competição e a

rejeição - quando não a exclusão do diferente” (FERRARETTO, 2005 s/r).

A produção midiática pode disponibilizar, portanto, uma pluralidade de discursos e

propõe algumas definições da realidade - por vezes de maneira contraditória. Torna-se válida

a advertência de Maingueneau, sobre o fato de que

toda enunciação, mesmo produzida sem a presença de um destinatário [...], é uma troca, explícita ou implícita, com outros enunciadores, virtuais ou reais, e supõe sempre a presença de uma outra instância de enunciação, à qual se dirige o enunciador, e com relação à qual constroi seu próprio discurso (2001, p. 54).

Há de se reconhecer a realidade do impacto da internet sobre as mais diversas áreas de

atividade. Na comunicação sobre os temas de saúde, de maneira especial, observa-se um

crescimento, como tema da agenda pública. Acredita-se que o objetivo principal da

comunicação pública na área, deva ser criar laços de união entre a ciência e a sociedade,

através de diversas estratégias (FAYARD, 2003, s/r), inclusive por meio da rede web.

O novo perfil de leitores do meio online implica mais que a transposição,

padronização ou superficialidade, características tidas como necessárias para a produção

jornalística. Ele exige uma segmentação, aproximação e contextualização das informações.

Uma comunicação deve ser conceitualizada não em termos de transmissão de informação de

um emissor para um receptor, mas, antes, em termos de um diálogo entre ambas as partes,

com a fonte de informação – sujeito/emissor e a audiência – sujeito/receptor.

O discurso sobre saúde no meio digital, assim como em outras manifestações

comunicativas, é portador, em si, de diversos discursos, diversas faces e diversos sentidos.

Alerta-se para o fato de o sentido construído pelas pessoas a partir das mensagens dos meios

não se limita ao que as fontes pretendem, mas é sempre enriquecido pelo que as pessoas

possam criar.

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CAPÍTULO III – Políticas Públicas em Promoção de Saúde no Brasil

“O desenvolvimento moderno silenciou outras formas de conhecimento sobre

a saúde e as doenças. A destruição desses conhecimentos produziu silêncios que

tornaram impronunciáveis as necessidades e aspirações dos povos e grupos sociais

cujas formas de saber foram objeto de destruição”.

Santos (s/r).

Embora não se pretenda abordar toda a gama de temas e questões no tocante ao

segmento de Políticas Públicas de Saúde, considera-se importante a reflexão de alguns

tópicos, que fazem enriquecer a pesquisa. Não se busca introduzir conceitos e fenômenos

novos, mas lançar um olhar diferente sobre aqueles que geralmente são abordados por meio

de outras perspectivas.

“A promoção da saúde compreende a ação individual, a ação da comunidade e a ação

e o compromisso dos governos na busca de uma vida mais saudável para todos e para cada

um” (Ministério da Saúde - PROPOSTA PARA A POLÍTICA NACIONAL DE

PROMOÇÃO DE SAÚDE – 2002).

“Novas maneiras de olhar a saúde estão sendo reveladas nos últimos anos, ampliando-

se a compreensão de que esta se relaciona diretamente com o contexto e com o entorno físico

ambiental e a situação social, econômica e cultural dos indivíduos” (BERTOL, 2007. p. 2).

Para Campos [et al] (2005, s/r),

a definição da saúde como resultado dos modos de organização social da produção, como efeito da composição de múltiplos fatores, exige que o Estado assuma a responsabilidade por uma Política de Saúde integrada às demais Políticas Sociais e Econômicas e garanta a sua efetivação.

Acredita-se, então, que a transformação do mundo da saúde necessariamente passa por

um sentido de compromisso de cada um dos envolvidos – cidadãos, instituições, organismos

divulgadores da produção científica em saúde. Pode-se até falar em cidadania ativa, para que,

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assim, possa vir a ser modificada a oferta de atenção à saúde, nos sentidos preventivo/curativo

e público/privado.

Assim, ao se pensar na saúde, passou-se a levar em conta aspectos mais globais, como

alimentação, moradia, segurança, educação, nível social e econômico, ecossistema, justiça

social, igualdade e paz.

Nesse setor, claro é que, como em qualquer campo, as inovações tecnológicas também

contribuem para a disseminação de conhecimentos. E, se articuladas com as Políticas

Públicas, podem atingir princípios de universalidade e equidade no acesso às ações e serviços

de saúde.

Percebe-se que há poucos anos, quando se falava de promoção de saúde, associava-se

primordialmente à adoção de comportamentos saudáveis dos indivíduos. Essa preocupação

fundamenta-se na premissa de que boa parte dos problemas de saúde está relacionada com

estilos de vida - a estratégia para trabalhar essa dinâmica foi a “educação para saúde”. Mas

tem-se a consciência de que promoção de estilos de vida que promova saúde deve ser uma

preocupação tanto individual, quanto da sociedade e do Estado, na forma de Políticas

Públicas.

Em sentido amplo, “Políticas Públicas são conjuntos de disposições, medidas e

procedimentos que traduzem a orientação política do Estado e regulam as atividades

governamentais relacionadas às tarefas de interesse público” (LUCCHESE, 2004 s/r). 35 Ou

seja, direitos sociais, no sentido de criar condições para o desenvolvimento político,

econômico e social de uma sociedade.

Por sua vez,

direitos sociais, como direito à saúde, estabelecem um marco de ampliação da cidadania nas sociedades modernas, na medida em que, ao contrário dos direitos individuais civis e políticos, exigem a intervenção do Estado e incorporam novos princípios ao desenvolvimento de padrões de cidadania, em particular, e formas diferenciadas de compreender o significado de satisfazer um nível decente de bem-estar e seguridade econômica e social (SCOREL, 2001. p. 3).

De uma maneira geral, Políticas Públicas de Saúde (PPS) são estabelecidas para a

promoção, proteção e recuperação da saúde dos indivíduos e da coletividade. São conduzidas

por duas abordagens centrais:

35 Cf. em Introdução - Políticas Públicas em Saúde, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS).

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1. otimizar os escassos recursos públicos destinados ao setor;

2. organizar um sistema de saúde eficaz e com envergadura suficiente para

atender às necessidades de saúde da população.

A Organização Mundial de Saúde (OMS, 1986) compreende a promoção da saúde

como um processo social e político, não limitado a abraçar ações direcionadas que fortalecem

as habilidades e capacidades dos indivíduos. Mas envolve, também, ações dirigidas a mudar

as condições sociais, ambientais e econômicas, de forma a amenizar o seu impacto na saúde

pública e individual (WHO, 1998, p.1 – tradução da autora).

Contexto histórico - Em fins dos anos 1970 e início dos 1980, uma severa crise

econômica atingia as nações de todo o mundo e se exigia um redimensionamento do papel do

Estado em vários campos de atuação.

“A transformação do mundo da saúde passa necessariamente por uma acomodação ao

processo de globalização” (s/r). Coopera para esta ideia a referência às manifestações de

protesto em Seattle, Washington, Melbourne e Praga, recorda a pesquisadora adjunta da

ENSP/FIOCRUZ, Patrícia Lucheese (2004 s/r).

Em Seattle (1999), a manifestação foi contra a tecnocracia internacional. Os protestos

se deram na “Rodada do Milênio” da Organização Mundial do Comércio (OMC), que

buscava desenvolver o Acordo Multilateral de Investimentos.

Em Washington (abril de 2000), organizada pela “Mobilization for Global Justice”.

Em Melbourne (em setembro de 2000, durante o Fórum Econômico), os sucessivos protestos

foram em direção “[...] ao circo financeiro hegemônico do Fundo Monetário Internacional

(FMI) e do Banco Mundial” (CARVALHEIRO, 2000 s/r).

E, por último, em Praga, (também em setembro de 2000, no “6º Dia de Ação Global”),

os manifestantes protestavam contra o capitalismo e a mercantilização. Souza Santos (2000,

apud CARVALHEIRO, 2000. p. 11) refere a situação como “globalização predadora”.

Vistas assim, todas essas manifestações partiram de indivíduos que se sentiam, de

alguma forma, de fora do sistema capitalista vigente, e, portanto, passíveis de diferentes

iniquidades – inclusive de falta de condições de promoção de saúde.

No segmento saúde, assistiu-se a uma progressiva mudança da agenda e do discurso da

Organização Mundial da Saúde (OMS). Assim, a equidade em saúde passou a ser, de forma

mais intensa, campo de estudos de pesquisadores e governantes internacionais e nacionais.

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No Brasil, o direito de todos à saúde foi formalmente consignado na Constituição da

República em 1988. A Carta, promulgada naquele ano, reconheceu (art. 196) que “a saúde é

direito de todos e dever do Estado, garantido mediante Políticas Sociais e Econômicas que

visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às

ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.

“Optou-se pela ampliação da participação democrática e da garantia dos direitos de

cidadania, mediante conformação de um sistema de saúde com características

universalizantes, de cunho igualitarista, sustentado pela ideia de justiça social” (VIANA ... [et

al], 2003 s/r).

Por princípio, as Políticas Públicas em Saúde (PPS - conforme a Constituição Federal,

promulgada no ano de 1988) orientam-se pelos princípios de universalidade e equidade no

acesso às ações e serviços e pelas diretrizes de descentralização da gestão, de integralidade do

atendimento e de participação da comunidade, na organização de um Sistema Único de Saúde

(SUS).

Silva (2004, p. 106) recorda que “no país, na década de 80, foi intensa a

movimentação em torno do sistema público de saúde, caracterizando-o como uma grande

prioridade política e social, com enorme envolvimento da sociedade brasileira e de seus

diferentes órgãos administrativos”.

Já segundo Malta (2001. In: INTRODUÇÃO - FÓRUM DE SAÚDE

SUPLEMENTAR, 2004),

as PPS seguiram uma trajetória paradoxal. De um lado, uma concepção universalizante. De outro, obedecendo às tendências estruturais organizadas pelo projeto neoliberal, concretizaram-se práticas caracterizadas pela exclusão social e redução de verbas públicas. Em função dos baixos investimentos em saúde, e consequente queda da qualidade dos serviços, ocorreu uma progressiva migração dos serviços médicos para os planos e seguros privados.

O texto da Lei Orgânica da Saúde (LOS nº. 8080), que criou o Serviço Único de Saúde

(SUS), no Brasil, postula algumas considerações. Dentre estas, destacam-se:

1. Em seu sentido mais abrangente, a saúde é a resultante das condições de

alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte,

emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra, o resultado das formas de

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organização social da produção, as quais podem gerar grandes desigualdades

nos níveis de vida.

2. Direito à saúde significa a garantia, pelo Estado, de condições dignas de vida e

de acesso universal e igualitário às ações e serviços de promoção, proteção e

recuperação de saúde, em todos os seus níveis, a todos os habitantes do

território nacional, levando ao desenvolvimento pleno do ser humano em sua

individualidade.

3. A reestruturação do Sistema Nacional de Saúde deve resultar na criação de um

Sistema Único de Saúde (SUS), separado totalmente da Previdência, baseada

em ampla Reforma Sanitária.

4. O novo SUS deverá reger-se, entre outros, pelos seguintes princípios:

universalização em relação à cobertura populacional, equidade em relação ao

acesso dos que necessitam de atenção, qualidade compatível com o nível de

desenvolvimento tecnológico e recursos disponíveis.

5. Para se assegurar o direito à saúde a toda a população brasileira, é

imprescindível:

- garantir uma Assembléia Nacional Constituinte livre, soberana,

democrática, popular e exclusiva;

- assegurar na Constituição, a todas as pessoas, as condições fundamentais

de uma existência digna.

6. É necessário que se intensifique o movimento de mobilização popular para

garantir que a Constituinte inclua a saúde entre as questões que merecerão

atenção prioritária. 36

Em 2005, o Ministério da Saúde definiu a “Agenda de Compromisso pela Saúde”. Ela

agrega três eixos: o Pacto em Defesa do Sistema Único de Saúde, o Pacto em Defesa da Vida

e o Pacto de Gestão. 37

O primeiro eixo aborda macroprioridades, tais como: promover a repolitização do

SUS, buscar um orçamento e financiamento adequado para a saúde e elaborar e dar ampla

divulgação ao Código de Defesa dos Usuários do Sistema. O segundo foco trata, basicamente,

da promoção da saúde de homens e mulheres, buscando, dentre outras ações, a garantia de

acesso a medicamentos, a redução da mortalidade materna e infantil, a implementação de

36 Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Lei Orgânica da Saúde n° 8080/90. 37 Cf. Anexo 1 - Política Nacional em Promoção da Saúde.

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política voltada para o idoso, ataque às principais causas de morte (controle do câncer de

mama e de colo do útero, combate às doenças cardiovasculares, prevenção e atenção às

situações de acidentes e violências). Já o terceiro eixo está direcionado para definir as

responsabilidades de cada ente gestor do SUS avançar na regionalização desse Sistema.

“A atenção à saúde, no país, busca formular, implementar e concretizar as Políticas de

Promoção, proteção e recuperação da saúde” (ANEXO 1, Política Nacional de Promoção de

Saúde, p. 3).

Dentre as prioridades das Políticas Públicas de Saúde destacam-se o alcoolismo e

tabagismo. Embora o governo apoie outras iniciativas de controle da saúde, tais como

hipertensão, diabetes, moléstias que afetam o coração, etc.

Figura 8

Fonte: <http://saudedofuturo.files.wordpress.com/2007/10/gestao-saude-1.jpg>.

“No panorama atual, não há comunicação ou esforço conjunto entre SUS e planos de

saúde para o combate às doenças crônicas (DC), acarretando prejuízo para ambos, para o

sistema previdenciário e para o Brasil” (BRAGA, 2007 s/r).

De 2005 para cá, há projetos que podem mudar completamente o painel de saúde no

país. A proposta ao processo de conscientização em saúde e prevenção de doenças viria de

uma parceria entre instituições privadas, planos de saúde e governo em uma fórmula que visa

integrar saúde e produtividade. Isto é, “melhorar a saúde e qualidade de vida dos

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trabalhadores e da população”. Sabe-se que a falta de saúde implica um absenteísmo na

população trabalhadora. Sob análise, todos seriam beneficiados, haja vista que com mais

saúde não se perde produtividade – mais dias de trabalho à ganham empresa e funcionários.

O modelo já está em ritmo de implantação em países como Canadá e EUA.

Figura 9

Fonte: <http://www.saudedofuturo.com.br/200710110201/gestao-de-saude-e-produtividade-proposta-de-um-

modelo-para -parceria-publico-privada-ppp/>.

Braga (2007, s/r) explica que o plano, para o Brasil, seria gradativo e tem como

proposta final a investigação de doenças crônicas e prevenção de outros fatores complicadores

a estas, em trabalhadores – está aí a parcela de responsabilidade de planos de saúde

empresariais e governo (que poderia dar incentivo fiscal às empresas e planos de saúde que

aderissem a esse Programa). Em síntese, aumentaria a qualidade de vida dos usuários,

trabalhadores e a sociedade, em geral.

Uma vez implantado este modelo de parceria público e privada (PPP), as empresas formariam uma legião de trabalhadores (T) com consciência em saúde e hábitos saudáveis, orientados com relação à prevenção de doenças crônicas e controle de fatores de risco (tabagismo, hipertensão, obesidade, etc.). Isto é educação em saúde (BRAGA, 2007 s/r).

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Figura 10

Fonte: <http://www.saudedofuturo.com.br/200710110201/gestao-de-saude-e-produtividade-proposta-de-um-

modelo-para -parceria-publico-privada-ppp/>.

Entende-se, então, que, em tese, no país, o Estado deve ser visto como “autêntico

promotor de saúde”. Embora não se deva isentar a responsabilidade de outras instituições.

Nesse contexto, evidenciam-se limites e possibilidades, avanços significativos e problemas.

Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base no

período entre 2000 e 2005, nos três níveis de governo (que abarca os setores de saúde,

previdência e assistência social), revelou que a situação da saúde pública brasileira está em

um nível muito abaixo do razoável. Resultados dos gastos com a saúde, em levantamento

feito em 2005, mostraram um montante de R$ 160 bilhões. Do total, os governos federal,

estaduais e municipais investiram apenas 38%, enquanto as famílias gastaram 62% com o

setor. 38

Isso significa que quem banca a saúde pública no Brasil não é o governo, mas as famílias. São despesas com medicamentos, exames e consultas. Em todos os países que têm a mesma filosofia e os mesmos princípios do sistema de saúde brasileiro, como Inglaterra e Canadá, a participação do gasto

38 Cf. informações em: <http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2008/11/13/materia.2008-11-13.9898708004/view>.

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público no total é de 80% a 85%. Temos que gastar mais recursos públicos em saúde no Brasil (TEMPORÃO, 2008). 39

Teoricamente, com fundos de arrecadação da sociedade, a saúde do brasileiro deveria

“estar em ordem”. Mas sabe-se que a realidade não é bem essa. Tem-se a necessidade, mas os

meios são falhos.

Algumas produções, tais como “Políticas e Sistema de Saúde no Brasil”, analisam a

importância de “um conhecimento militante na defesa do direito universal à saúde [...]”

(2007). Mas, também, de um posicionamento crítico, “que deve ser base para a transformação

do modelo de atenção à saúde”. 40

Não se excluem, também, as

dificuldades administrativas que demandam equacionamento urgente, problemas gerenciais que continuam existindo na gestão do SUS, lacunas de regulação, de produção de inovações tecnológicas e de apoio técnico nas esferas de direção estadual e federal do sistema, com repercussão na reorganização de gestões municipais (ALMEIDA & LUCCHESE, 2000 p. 20).

A economista Viana e as assistentes da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Fausto e

Lima (2003, s/r) analisam que

a reforma implementada no sistema de saúde brasileiro trouxe como questão de fundo não só a garantia do direito à saúde, mas, em essência, a noção de equidade quanto à distribuição mais ampla dos recursos da saúde. Essas duas questões buscavam dar respostas às críticas dirigidas ao sistema de saúde vigente àquela época, cujo formato deixava à margem do sistema grande parte da população brasileira: os mais pobres, os que se encontravam em condições de desvantagem social e, por isso, os que talvez mais precisassem de atenção à saúde.

Nos dias atuais, grande parte das pessoas percebe uma ineficácia do modelo vigente ao

explicar e responder aos processos de promoção de saúde da população brasileira. Justamente

para aquelas que habitam em municípios que não são beneficiadas pelo SUS e/ou são

passíveis de outros fatores de desigualdades e têm condições de vida precária. 39 Cf. informações em: <http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2008/11/13/materia.2008-11-13.9898708004/view>. 40 A publicação é uma parceria entre o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes) e a Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco). Cf. em: <http://www.cebes.org.br/default.asp?site_Acao=MostraPagina&PaginaId=232>.

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Sabe-se que para o atendimento a algumas dessas dificuldades, a cobertura ainda é

insatisfatória, de forma que o acesso aos serviços fica, em grande parte, na dependência estrita

do poder aquisitivo das famílias. As necessidades são custeadas com recursos próprios ou por

intermédio de planos de saúde - contratados em nível particular ou como benefício

empresarial. E, como diz bem Carvalho (2001, p. 213.) “o pai e a mãe da doença são

realmente a pobreza e a desigualdade social”. Mesmo que o Estado tenha a intenção de se

“perseguir, na alocação de recursos, o princípio da redução das iniquidades macrorregionais,

estaduais e regionais [...]” e se busque “equacionar a insuficiência de recursos e tetos

financeiros de estados e municípios [...]” (AGENDA DE COMPROMISSOS PELA SAÚDE,

2005 – Arquivo em PDF).

Graham e Kelly (2004, apud RIBEIRO, 2005 s/r), em artigo publicado pela Health

Development Agency, do National Health Service (NHS), examinaram temas relacionados a

desigualdades sociais e econômicas em saúde. Os autores destacaram a necessidade de as

Políticas Públicas

atuarem não apenas na melhoria da saúde dos mais pobres, mas no estreitamento dos gaps41 entre os grupos e segmentos sociais e na elevação do nível de saúde de todos ao padrão alcançado pelos grupos mais favorecidos, em observância ao princípio adotado pela Organização Mundial de Saúde de que o gozo, do mais alto padrão alcançável em saúde, é um direito humano fundamental (GRAHAM & KELLY, 2004, apud RIBEIRO, 2005 s/r).

Para o OPAS (2006, em PPt),

a promoção da saúde, trabalhando o conceito de saúde articulado à qualidade de vida, coloca imperativos éticos na agenda do desenvolvimento. A perspectiva da promoção da saúde dimensiona as Políticas Públicas como produção social baseada na responsabilidade ecológica, construção coletiva e favorecimento e defesa da vida.

3. 1 - Equidade em Saúde

Com o intuito de esclarecer algumas abordagens conceituais, optou-se por referir Sen,

Rawls e Whitehead, quando eles explicam equidade/iniquidade.

41 De uma maneira geral, “gaps” são mudanças bruscas nos níveis de um gráfico, em períodos consecutivos. Quando acontecem, criam um “branco” no gráfico.

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O pensador e economista indiano, Sen, 42 em “Desigualdade reexaminada” (2001),

argumenta que a igualdade, se cons iderada em termos absolutos, representa uma abstração

impossível de ser estendida ao cotidiano. Justamente por haver uma infinita diversidade

humana em todos os horizontes da existência.

E, quando se pretende estabelecer a equidade como regra ou, como princípio na

implementação de Políticas Públicas, é preciso esclarecer que igualdade está se buscando, e

por que tal igualdade representa uma situação mais justa. Visto que, “a igualdade básica pode

ser diretamente responsável pelas desigualdades nos outros espaços” (SEN, 2001 s/r).

Já na filosofia de Rawls43 (2003), equidade é uma questão dos direitos de homens e

mulheres. Para o autor, a estrutura básica da sociedade e suas instituições políticas têm forte

influência sobre as desigualdades sociais e econômicas e devem ser levadas em consideração

na formulação desses princípios de justiça apropriados. Vale alertar para o fato que suas

reflexões podem referir-se à sociedade democrática norte-americana dos anos 1980.

Reconhece-se como válida a fórmula: equidade igual ao reconhecimento de

necessidades diferentes, de sujeitos também diferentes, para atingir direitos iguais. É o

caminho da ética prática, em face da realização dos direitos humanos universais, entre eles o

do direito à vida.

No âmbito da saúde,

nenhuma concepção de justiça social de base equitativa pode desconsiderar o gigantesco papel da saúde na existência humana, tanto no campo das possibilidades de uma pessoa alcançar uma vida livre de enfermidades, quanto da ampliação das capacidades e funcionamentos, caso goze de boa saúde (SEN, 2002 s/r - tradução da autora).

Luiz, em “Direitos e equidade: princípios éticos para a saúde” (2005) lembra que para

unificar o entendimento a respeito do conceito de equidade, a OMS publicou, no início da

década 90, um texto de Margareth Whitehead.44 No estudo, ela pondera que equidade em

saúde remete à noção de que, de acordo com os ideais, todos os indivíduos de uma sociedade

devem ter justa oportunidade para desenvolver seu pleno potencial de saúde e, no aspecto

42 Sen destaca-se, em nível mundial, por seus estudos sobre teoria da escolha social e economia do bem estar. Seus escritos vêm influenciando as análises e os programas das Organizações das Nações Unidas e do Banco Mundial. A partir dos anos 90 participa da preparação do Relatório de Desenvolvimento Humano e foi um dos elaboradores do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). 43 John Rawls, autor da “A teoria da justiça”, é tido como o principal pensador teórico da democracia liberal. 44 Cf. em: WHITEHEAD Margareth. The concepts and principles of equity and health. Copenhagen: World Health Organization, 1990.

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prático, ninguém deve estar em desvantagem para alcançá- lo. O termo tem, assim, uma

dimensão ética e social, enquanto direitos construídos ao longo da história humana.

“Equidade em saúde está sustentado no direito à saúde que, por sua vez, está ancorado

no conceito de saúde, historicamente construído ao redor da atenção médica” (SCOREL,

2001. p. 7). Por consequência, “a definição de equidade em saúde depende do conceito de

saúde e do conceito de necessidades (sociais) de saúde (SCOREL, 2001. p. 8).

É o princípio, portanto, que permite resolver parte razoável das distorções na

distribuição da saúde, ao aumentar as possibilidades de vida de importantes parcelas da

população. O propósito das Políticas para Equidade em Saúde não deve ser a eliminação de

todas as diferenças, mas sim daquelas que são resultantes de fatores simultaneamente

evitáveis e injustos.

Essas diferenças são, assim, um dos traços mais marcantes da situação de saúde do

Brasil. O tema equidade passa a receber maior atenção na década de 80. Na legislação, fala-se

em “igualdade de assistência” (item VII, art. 7º da Lei 8.080), como sinônimo de equidade.

Um dos marcos dessa discussão no campo da saúde é a estratégia formulada pela OMS, “Saúde Para Todos no Ano 2000”, que visa promoção de ações de saúde baseadas na noção de necessidade - destinadas a atingir a todos, independente de raça, gênero, condições sociais, entre outras diferenças que possam ser sociais, econômicas e culturalmente definidas (VIANA ... [et al]., 2003).

Já a especialista em atenção primária à saúde, Starfield (2001, s/r), discute o conceito

de Whitehead e considera uma definição alternativa: “equidade em saúde é a ausência de

diferenças sistemáticas em um ou mais aspectos do status de saúde nos grupos ou subgrupos

populacionais definidos socialmente, demograficamente ou geograficamente”.

Equidade nos serviços de saúde implica, então, em que não existam diferenças nos

serviços onde as necessidades são iguais. Ou melhor, que os serviços de saúde estejam onde

estão presentes as maiores necessidades. Dar condições dignas de sobrevivência, reduzir a

pobreza e em um esforço de administração integrada entre as esferas federal e estadual e aliar

programas de saúde que amplie a oferta de benefício às pessoas, em um contexto mais amplo.

Talvez o maior desafio seja a demanda eficiente de alternativas econômicas que sejam

capazes de mobilizar recursos para a área, sem desvios para outra pasta.

Pessoas que passaram por tragédias provocadas por fenômenos meteorológicos devem

ter prioridade emergencial/assistencial de seu bem-estar, mas não inviabiliza o fato de que as

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ações no setor saúde, tais como assistência médica digna e igualitária, prevenção e controle de

endemias e pandemias, etc. devam ser constantes, para que se tornem eficazes e possam ser

revertidas para o bem de indivíduos, em suas mais diversas necessidades.

3. 2 - Políticas Públicas Saudáveis

De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), “as Políticas

Públicas Saudáveis se definem como aquelas que têm uma grande repercussão nas condições

de saúde das populações”.

Segundo a Carta de Adelaide (1988), “as Políticas Públicas Saudáveis caracterizam-se

pelo interesse e preocupação explícitos de todas as áreas das Políticas Públicas em relação à

saúde e a equidade e pelos compromissos com o impacto de tais Políticas sobre a saúde da

população”. Tem como propósito principal criar um ambiente favorável para que as pessoas

possam viver vidas saudáveis. Considera-se que elas facilitam opções saudáveis de vida para

os cidadãos, bem como criam ambientes socais e físicos que promovam a saúde.

A OPAS (2006, PPt) considera que, para formular esse tipo de ações, os diversos

setores da sociedade (agricultura, comércio, educação, indústria e comunicação) devem levar

em consideração a saúde como um fator essencial. Ou seja, todos envolvidos para o bem-

estar comum e “saúde para todos” – entendida, assim, como política universal.

Um princípio básico de justiça social é assegurar que a população tenha acesso aos meios imprescindíveis para uma vida saudável e satisfatória. Ao mesmo tempo, isto aumentará, de maneira geral, a produtividade da sociedade, tanto em termos sociais como econômicos (2º CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE PROMOÇÃO DA SAÚDE, abr. de 1988).

Ainda, de acordo com a “Declaração de Adelaide” (Austrália, abr. de 1988),

o desenvolvimento de Políticas Públicas Saudáveis torna-se fator importante tanto no nível local quanto no nível nacional. Os governos devem definir metas explícitas que enfatizem a promoção da saúde. Os setores sociais que concentram recursos, bem como o governo, são igualmente responsáveis, perante os cidadãos, quanto às consequências das suas decisões políticas, ou pela falta delas, sobre a saúde das populações.

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Devem ser desenvolvidos sistemas de informação para a saúde que apoiem este

processo. Daí a importância da divulgação e apoio das várias instituições e organizações

comunitárias que, necessariamente devem estar envolvidas, ou melhor, comprometidas com a

totalidade dos cidadãos, em suas necessidades na área de saúde.

A Declaração recomendou, também, trabalhar em abordagens que privilegiam o apoio

à saúde da mulher, a eliminação da fome e da má nutrição, o combate ao tabaco e álcool, a

criação de ambientes saudáveis - proteção da saúde humana dos efeitos adversos diretos e

indiretos de fatores biológicos, químicos e físicos.

3. 3 - Formulação de Políticas Específicas de Saúde

Para analistas da área, os importantes avanços no conhecimento dos determinantes

sociais das condições de saúde e, em particular das iniquidades de saúde, não são

acompanhados por uma definição de Políticas de Saúde no país.

Em geral, não há prescrições categóricas de políticas baseadas em resultados objetivos de pesquisas. A ciência ajuda a delimitar um leque de opções, mas a seleção entre elas se faz através de um processo que é essencialmente político, envolvendo diversos atores, com interesses diferenciados e eventualmente contraditórios (PELLEGRINI FILHO, 2006 s/r).

De acordo com Agenda Nacional de Saúde para 2001 e em conformidade com o

estabelecido na Portaria 235/GM de fevereiro de 2001 e referido na Agenda Nacional de

Saúde para 2001 – Portaria 393/GM de março do mesmo ano,45

somente a pactuação solidária entre a união, estados e municípios; o apoio e participação das sociedades científicas e entidades de portadores poderão criar as bases para o atendimento eficiente e eficaz com o propósito de contribuir para a redução da morbimortalidade associada à HA (hipertensão arterial) e ao DM(diabetes mellitus) em todo o território brasileiro.

Segundo a Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde,46

45 Cf. em: Plano de Reorganização da atenção à hipertensão arterial e ao diabetes mellitus . Brasília, 2001. 46 Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2006.

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para que as Políticas de Saúde se consolidem como Políticas Públicas voltadas a atender ao interesse público e à promoção da equidade, é necessário o fortalecimento do processo democrático de definição destas Políticas, multiplicando os atores envolvidos, os espaços e oportunidades de interação entre eles e instrumentando sua participação com o acesso equitativo a informações e conhecimentos pertinentes (PELLEGRINI FILHO, 2006 s/r).

Claro é que os processos de saúde e doença não são iguais para os indivíduos, nem

para grupos populacionais específicos. Mas estão relacionados com a posição e espaço que os

indivíduos ou grupos ocupam na estrutura social. Daí a importância de formulação de

Políticas Específicas de Saúde. Segundo Berlinger (1996, apud FRANCO, 2006 s/r), tendo

como referência os estudos de Rawls (2003), “o Estado, ao interferir em situações de

iniquidades, pode, na verdade, optar por ampliar as condições mais vantajosas para uns ou

então, reduzir os danos nas condições mais desfavoráveis enfrentadas por outros”.

Para esse estudo, o interesse é verificar se as informações dos Portais Nacionais

Cardiol e Diabetes fazem vínculo com as possíveis formulações de PPS focadas nos

respectivos assuntos. Para que se possa analisar “como está sendo dito”, uma vez que este

modo de dizer é tão importante quanto compreender “o que é dito”.

Desde 1999, a Federação Mundial do Coração e cerca de cento e oitenta (180)

Sociedades de Cardiologia, em mais de cem países, celebram, sempre no último domingo de

setembro, o “Dia Mundial do Coração”, buscando a conscientização da população para

promoção de saúde e prevenção de doenças. Apesar de o tema estar presente na mídia, ainda é

difícil ver um comprometimento das pessoas em cuidar da saúde.

No CARDIOL, a data não tem grande destaque - não aparece na 1ª página, mas se abre

na de “campanhas temáticas” ou na de “webcards”. 47 O dizer interpela e atenta para “os

fatores de risco das doenças do coração e derrame – pressão arterial alta, colesterol e fumo

podem ser controlados; outros não podem - como sexo e histórico familiar”. Apesar de os

argumentos usados parecerem reais (quem afirma, a SBC, “tem autoridade” para isto), o

propósito é convencer o ciberleitor da validade dos argumentos: “É por isso que o foco do

‘Dia Mundial do Coração’ 2008 é ajudar você a identificar seu risco total e tomar atitudes

para controlá-los”. O “você”, mais uma vez, dirige-se para um sujeito interessado,

teoricamente, em “conhecer o seu risco”.

47 O webcard é uma possibilidade oferecida pelo Portal para envio de mensagens via web.

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Figura 11

Figura 12

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Figura 13

Disponibiliza, para download, material de apoio (relatórios, cartazes, vídeos e um gibi

educativo) para que determinadas ações possam ser desenvolvidas, por todo o país e deixa a

responsabilidade do informar-se para o leitor. Aqui o dizer tende mais para o científico

(exceção feita ao gibi) e adquire sentido restrito, porque assume as características de DC

propriamente dito e pode ser conceituado como “manifestação do processo da construção do

conhecimento” (GUIMARÃES, 2001, p. 65-77).

A prática discursiva é a para a vida: “Para aproveitar a vida amplamente devemos ter

um coração saudável” -, para isso, não se excluem. O “devemos ter” direciona para o caráter

global do discurso, portanto, não particulariza o ciberleitor.

Em outras edições, declara que

pesquisas realizadas na América Latina apontam que os fatores de risco que mais levam aos problemas no coração são, em primeiro a obesidade abdominal, seguida de tabagismo e alterações do colesterol. De acordo com o estudo, a população praticamente ignora os principais contribuintes das doenças cardiovasculares.

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Denúncia para ações de não saúde é uma das abordagens discursivas. Mas também de

alerta para uma melhoria da saúde e da qualidade de vida da população brasileira, em caráter

mais amplo. A fonte é oficiosa (ligada a uma entidade, SBC) e tem caráter nacional. O papel

discursivo é institucional e parte de especialistas nacionais e internaciona is, o que corrobora

para a noção de sentido de verdade nos dados e nos argumentos.

A Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), recomenda que se

houver a prevenção da obesidade, evita-se 46% dos casos de infarto, ou seja, cerca de 140 mil

casos a menos por ano. Se proibir o tabagismo no país diminuiria 38% no número de infartos.

Para a organização, a falta de campanhas adequadas sobre os riscos de doenças cardíacas seria

a causa para tais índices.

Para os médicos, mudar esses costumes não é difícil e especialistas de todos os países

estão envolvidos na campanha por pequenas modificações nos hábitos alimentares:

“abandonar o fumo e meia hora de exercícios por dia que podem reduzir drasticamente as

mortes por doenças cardiovasculares” que, em 2002 mataram 16,7 milhões pessoas no mundo

inteiro - 7,2 milhões apenas devido ao infarto, segundo os dados da Organização Mundial da

Saúde. “Para mudar de hábitos, a população tem de conhecer. Quem desconhece, não vai

buscar prevenção”, afirma o diretor do setor de pesquisas da Socesp, Dr. Álvaro Azevum

(FOLHA online, 23 set. 2008).

Para voluntários médicos do “Bate Coração” (2008), um grupo que tem como foco

principal a informações a respeito de doenças relacionadas ao coração e a outros segmentos,

um Sistema de Saúde, para ser único, precisa implantar-se como um plano comum que conecta diferentes atores no processo de produção de saúde. É neste sentido que os princípios do SUS não se sustentam numa mera abstração, só se efetivando por meio da mudança das práticas concretas de saúde.

Esse mesmo pensar está presente no estudo “Sistema de Monitoramento de Fatores de

Risco e Proteção para Doenças Crônicas Não Transmissíveis” (VIGITEL), apresentado no

início em 2007. “É fundamental detectar os fatores que favorecem o surgimento de doenças

não transmissíveis, como as cardiovasculares, para permitir o planejamento de Políticas

Públicas de Prevenção”. O estudo foi realizado em 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal

(DF) durante o ano de 2006, pela Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da

Saúde, em parceria com a Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa (SGP) e o Núcleo

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de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (NUPENS) da USP. As informações são

do Hospital do Coração.48

Com base em trabalho desenvolvido em 2006, para o Mestrado na Faculdade de Saúde

Pública (FSP/USP), a nutricionista Iramaia Campos Ribeiro Figueiredo pondera que

“conhecer fatores que reduzem a incidência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT),

como hipertensão, diabetes e alguns tipos de câncer, é importante para criar Políticas Públicas

de incentivo ao consumo e de Promoção de Saúde” (CARDIOL, 2006).

O Portal da SBD adere ao Projeto do “Dia Mundial do Coração” e, em sua página

adverte que “quem tem diabetes precisa se prevenir das doenças cardiovasculares”. A

redação é de uma das jornalistas editoras, mas os atos de enunciação são apoiados no dizer do

Coordenador do Departamento Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Diabetes, Dr.

Roberto Betti.

Figura 14

48 Cf. em: <http://www.hospitaldocoracao.com.br/conteudo/noticia.php?tx=YToxOntzOjI6ImlkIjtzOjM6IjQxNiI7fQ>.

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Figura 15

“Para o especialista, todos os cuidados com as doenças cardiovasculares estão

relacionados com a prevenção”. Aqui, a maneira de dizer está associada à maneira de ser do

sujeito/especialista, do seu ethos - imagem que é formada, com base na cena enunciativa

(MAINGUENEAU, 2008). A referência “para o especialista” (ele considera) está presente de

modo explícito, o que remete um discurso a outro. Nesse sentido, percebe-se uma polifonia

linguística ou heterogeneidade enunciativa mostrada - outro autor, o profissional, é citado

(BAKHTIN, 1986, p. 38).

De qualquer forma, o Portal se agrega ao Projeto, “aumentando a consciência pública

sobre as ameaças que representam as doenças do coração” – e se manifesta como ação de

responsabilidade social. O termo “ameaças” pode ser visto como perigo – configura, portanto,

sinal de alerta. O uso de negrito, aqui e em outros trechos (como as instituições e laboratórios

farmacêuticos que apóiam o Projeto), direciona a atenção do ciberleitor para aquilo que possa

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legitimar o discurso ou que os editores querem que seja destacado (o que poderia caracterizar

atividade institucional). A linguagem empregada tende para uma suposta neutralidade e uma

relativa subjetividade. Mas é um fazer persuasivo (LEIBRUDER, 2002, p. 232). Coracini

(2007, p. 44) acredita que este tipo de discurso é adequado a interesses e objetivos. Ele

legitima sua fala com uma terminologia que remete ao mítico, ao incompreensível, no sentido

de admirar àquele que domina o assunto, a pesquisa, etc.; com o uso de modalidades lógicas e

com intertextualidade explícita.

Cialdini (2008 s/r)49 definiu os seis princípios base que estão por detrás de qualquer

tentativa de persuasão:

1) Reciprocidade - este princípio define que as pessoas estão mais dispostas a anuir

com algum pedido quando algo lhes foi “dado” em primeiro lugar;

2) Consistência - as pessoas sentem-se mais dispostas a atuar de uma certa forma, se

encarar isso como sendo consistente com o seu comportamento prévio;

3) Autoridade - de acordo com este princípio, a autoridade ou perícia percebida do

comunicador é um fator importante para que as pessoas se sintam dispostas a concordar ou

fazer algo;

4) Validação social - quanto mais “popular” for percebido ser um comportamento,

maior será a tendência para que alguém se comporte dessa forma;

5) Escassez - a atratividade de um dado objeto/serviço/situação é inversamente

proporcional à sua disponibilidade;

6) Atração - as pessoas estão mais dispostas a ajudar ou concordar com aqueles de

quem gostam, têm uma relação de amizade, por quem se sentem atraídos ou consideram ser

similares a si.

De acordo com psicólogo, todas as estratégias de persuasão se enquadram em um, ou

em mais destes princípios e são aplicáveis a toda atividade humana, inclusive no dizer

científico. O que corrobora para a afirmação de Coracini (2007, p. 94), de que “o enunciador

dispõe de inúmeros recursos, tendo em vista o seu enunciatário (comunidade interlocutiva) e

seus objetivos”, a situação da enunciação e o uso de marcas linguísticas que realçam,

reafirmam ou silenciam falas.

49 Robert Cialdini é psicólogo social e professor na Universidade Estatal do Arizona. Cf. maiores informações em: <http://dissonanciacognitiva.wordpress.com/2008/04/25/ciencia-da-persuasao-6-principios-psicologicos/>.

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Citelli (1991, p. 30) pondera que “a palavra nasce neutra (em estado de dicionário) e,

ao se contextualizar, ela passa a expressar valores e ideias, transitando ideologias, cumprindo

um amplo espectro de funções persuasivas às quais não faltam a normatividade e o caráter

pedagógico”. O pesquisador salienta que o termo persuadir “não é o sinônimo de enganar,

mas é o resultado de certa organização do discurso que o constitui como verdadeiro para o

receptor” (CITELLI, 1991, p. 14). No contexto desta pesquisa, é este o sentido.

Por um certo aspecto, na formação discursiva da ciência, a persuasão se dá pela

legitimação de um discurso autorizado - aquele proferido por alguém dotado de autoridade

para ser o porta-voz de um determinado segmento social ou instituição – fala/escreve “em

nome de”. Por outro, a necessidade de um glossário próprio e apropriado e a impessoalidade -

sempre buscada, mas nem sempre alcançada. E, ainda, pelo uso de estratégias discursivas que

acredita-se aproximar o leitor/ciberleitor. “O respeito ao padrão discursivo, compartilhado

pelos membros de uma comunidade (neste caso, científica), constitui para o autor uma

estratégia a serviço da intenção de persuadir” (CORACINI, 2003. p. 20).

Remete-se aqui às ideias de Verón (2005, p. 219), que diz ser, por meio dos

enunciados (o que é dito) e da enunciação (como é dito), possível compreender os

significados sociais que permeiam o processo de produção. Dessa maneira, os modos de

enunciação são fundamentais na construção do “contrato de leitura”, partilhado entre

enunciador e seus interlocutores. “Se instaura um jogo de linguagem que constroi a

cumplicidade entre o enunciador e o destinatário” (VERÓN, 2005. p. 226-227).

Percebe-se este fato quando a linguagem utilizada tende para o coloquial, mas sem

distanciar da opinião de uma autoridade no assunto e que valoriza o capital simbólico. Há

uma certa reformulação do discurso, se fazendo e encenando para o leitor, de tal forma que

vai e vem - de um discurso especializado, para o comum.

Nessa mesma página, o Portal agrega alguns comentários e dúvidas de leitores,

relativos a essa data, que, na opinião de alguns deles, “é serviço de fundamental importância

para a divulgação de campanhas e projetos estratégicos de prevenção e redução de

morbimortalidade pelas doenças cardiovasculares”.

Já o diabetes mellitus, segundo o Portal da SBD, é um dos maiores problemas de

Saúde Pública, em muitos países. Além de já ser um grande problema atual, a preocupação

ainda é maior por conta de que o número de pessoas acometidas não para de aumentar. E,

caso não se seja capaz de descobrir uma maneira eficiente de se modificar a situação, o

número irá duplicar nos próximos trinta anos.

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Como já visto, no Brasil, admite-se que, atualmente, existam entre oito e dez milhões

de pacientes (SBD, Pontos de Vista - 2008). Para a Sociedade, falta conscientização sobre a

importância do diabetes em Saúde Pública, seja em grandes ou pequenos municípios, bem

como qualificação adequada aos profissionais de saúde, medicamentos e recursos. Enfim,

“falta mentalidade e vontade política para enfrentar os problemas de forma eficaz” (SBD,

Políticas de Saúde, 2008).

Em relação aos pacientes diabéticos, a doença cardiovascular é a principal responsável

pela redução da sobrevida, sendo a causa mais frequente de mortalidade. Essa circunstância

está relacionada ao estado diabético per se e à agregação de vários fatores de risco

cardiovasculares, tais como obesidade, hipertensão arterial e dislipidemia, dentre outros

(SBD, POLÍTICAS DE SAÚDE, 2008. p. 2).

O DM do tipo 2 resulta, em geral, de graus variáveis de resistência à insulina e

deficiência relativa de secreção desta. A maioria dos pacientes tem excesso de peso. O

diagnóstico, na maioria dos casos, é feito a partir dos 40 anos de idade, embora possa ocorrer

mais cedo, mais raramente em adolescentes. Abrange 85% a 90% do total de casos (SBD,

POLÍTICAS DE SAÚDE, 2008. p. 10). Há, ainda, outras ocorrências clínicas, como o

diabetes gestacional, referido como qualquer intolerânc ia à glicose, de magnitude variável,

com inicio ou diagnóstico durante a gestação.

O tratamento do diabetes é um direito garantido pela Constituição Federal. No artigo

196, está prevista a obrigação do Estado (Governos Federal, Estaduais e Municipais) de

garantir a saúde de todos os cidadãos, sem fazer qualquer discriminação quanto aos níveis

sociais e econômicos ou a algum tipo de doença específica. De acordo com especialistas, a

incidência e prevalência da doença estão aumentando e alcançando proporções epidêmicas.

Está associado a complicações que comprometem a produtividade, a qualidade de vida e a

sobrevida dos indivíduos (CONSENSO BRASILEIRO SOBRE DIABETES, 2002. p. 7).

“Durante meses do ano passado, a redação do site da SBD entrevistou pacientes,

conversou com responsáveis e assessorias de imprensa das Secretarias de Saúde, pesquisou

na internet e esclareceu questões legais sobre a distribuição de medicamentos pelo SUS. O

resultado desse trabalho está na edição especial da ‘Revista Mais Saúde Online’”.

A revista online “Mais Saúde” questiona e incentiva seus ciberleitores a responderem:

Será que os pacientes estão conseguindo obter os seus direitos? Como está a distribuição de

medicamentos pelo SUS?

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Figura 16

A pesquisa incluiu diversas pessoas com diabetes de várias partes do Brasil – Distrito

Federal, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, São Paulo, Rio Grande do Sul.

Seguindo os princípios elaborados por Lage (2001) a posição discursiva da fonte é

oficiosa (SBD) e tem caráter nacional. O papel discursivo é institucional (parte de

especialistas).

“O sistema de fornecimento do SUS tem sido caótico, humilhante, totalmente

ineficiente e corrupto” diz um dos entrevistados. E, por causa da irregularidade do

fornecimento de insumos pelo Sistema Público, pessoas com diabetes se mobilizam para

ajudar quem está sem seringas, lancetas, fitas e medicamentos. Para isso, usam as

comunidades do Orkut ou o MSN.

Neste caso, o discurso se volta para o público e, da mesma forma que no aspecto

elencado do Cardiol, corrobora para o sentido de verdade nos dados e nos argumentos. Mas

também envolve outros especialistas, os pesquisadores, e sujeitos/indivíduos, que têm um

papel discursivo ocasional (os que têm voz pelas pesquisas).

O site questiona e se posiciona frente às desigualdades no setor, bem como em relação

à dignidade de vida dos indivíduos. Neste sentido, poderia influenciar opiniões e/ou estimular

uma possível mobilização dos sujeitos, em direção a Política Pública mais eficiente eficaz, no

setor.

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“Dia Mundial: Pão de Açúcar Azul”. Esta foi a chamada da página inicial. “Já são

quase 100 locais a serem iluminados com a luz azul por todo o país pelo “Dia Mundial de

Diabetes” (hiperlink na página).

Figura 17

Um banner especial, com uma vela digital (simbólica), direcionou para

<http://www.diamundialdodiabetes.org.br/banners.php>, em uma das várias formas de

“abraçar a campanha”.

Figura 18

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Há, também, link para uma página especial, desenvolvida para a data:

<http://www.diamundialdodiabetes.org.br> e apoiada pela SBD. Percebe-se que um texto ou

hipertexto apresenta vazios e lacunas, dizeres implícitos, pressupostos e subentendidos - que

se constituem em espaços disponíveis para a entrada do outro, o leitor/ciberleitor. Acredita-se,

assim, ser uma das razões de ser do hipertexto e seus links, em uma facilitação dos recursos

do meio web. O vazio se preenche com a busca, com o horizonte que se abre a um simples

“click”, de maneira dirigida e/ou por escolhas subjetivas.

A Sociedade aderiu à iniciativa da “International Diabetes Federation” que lançou,

em 2007, a ideia de iluminar de azul alguns monumentos de várias cidades espalhadas pelo

mundo e mobilizou população, governos, entidades, empresas privada, de acordo com

informações no endereço eletrônico já citado.

Posteriormente, o Portal apresentou o número de visitas do site nesse dia do ano de

2008 – mais de 50 mil páginas lidas. E anuncia que “foi um trabalho integrado de todas as

formas virtuais de divulgação que fizeram com que os números de 2008 fossem muito

representativos”.

Para os editores, “foi sem dúvida a maior divulgação já realizada pela SBD, desde que

a campanha teve início. [...] E o fato que deve ser levado em consideração é que o país se

mobilizou” – a acender a luz azul por todo lado.

Um relato interessante parte de uma das editoras, em lista de discussão “jornalistas da

web” (<[email protected]>). Ela fala de “’inversão de papéis’ - entre uma

influência de blogs e sites”. Como ela mantém um blog particular ligado a esporte

(<http://www.fimdejogo.com.br/blog>), “os contatos e o trabalho junto ao Maracanã, pelo

blog, abriu as portas do estádio para o “Dia Mundial do Diabetes” e no telão, durante os

jogos, apareceu a mensagem da Campanha Mundial”. Ela fala que isto poderia ser visto e

mantido como “campanha digital iniciada em um blog e com apoio de blogs”.

Ao ver da pesquisadora, o Portal da SBD faz vínculo com formulações de Políticas

Públicas específicas de Saúde. Envolveu-se, incentivou e se comprometeu: “preocupação com

uma divulgação de uma forma mais ampla [...]”. “O ano de 2009 começa cheio de

responsabilidades, depois dos resultados tão expressivos de 2008”.

Recentemente foi implantado um programa abrangente de Promoção da Saúde do

Diabético, nos níveis federal, estadual e municipal, uma parceria do Ministério da Saúde,

entidades médicas especializadas e inicia tivas privadas.

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Em nível municipal, o estabelecimento de um programa de assistência ao paciente

diabético depende de um esforço conjunto, de conscientização, de detecção de indivíduos com

alta suspeita da doença, e, principalmente, de uma efetiva prevenção para os fatores de risco.

Dessa forma, não se trata de envolvimento, mas de comprometimento de todos –

envolvidos ou não.

3. 4 - Humanização da Saúde

De modo geral, algumas iniciativas válidas de interferência nas agendas das Políticas

Públicas de Saúde não podem ser omitidas.

Os discursos da XI Conferência Nacional de Saúde, CNS (2000), com o tema “Acesso,

qualidade e humanização na atenção à saúde como controle social”, “apontavam para a

urgência de se encontrar outras respostas à crise da saúde, identificada por muitos como

falência do modelo SUS. A fala era de esgotamento” (BARROS & PASSOS, 2005 s/r). Mas a

discussão principal foi em torno da implantação da “Humanização em Saúde”. O debate se

intensificou quando da implantação da Política Nacional de Humanização da Atenção e da

Gestão na Saúde (PNHAH), pela Secretaria Executiva (SE) do Ministério da Saúde (MS), em

2003 e 2004, como relatam Barros e Passos (2005).

Por outro lado, as autoras recordam que a luta pela “humanização das práticas de

saúde” já foi agenda do movimento feminista na década de 1960, principalmente em relação à

saúde das mulheres (CARNOT, 2005; COSTA, 2004; VIEIRA, 2002; ALMEIDA, 1984 apud

BARROS & PASSOS, 2005).

Nesse sentido, “transformar os modos de construir as Políticas Públicas de Saúde

impõe o enfrentamento de um modus operandi fragmentado e fragmentador, marcado pela

lógica do especialismo e do que se supõe como especificidade da humanização em

determinadas áreas” (BARROS & PASSOS, 2005 apud GRUPO BATE CORAÇÃO, 2008).

De qualquer forma, “construir Políticas Públicas na máquina do Estado exige todo um

trabalho de conexão com as forças do coletivo, com os movimentos sociais, com as práticas

concretas no cotidiano dos serviços de saúde” (BARROS & PASSOS, 2005. p. 391). É,

portanto, um trabalho que deve envolver o coletivo, para que se possam construir outras

ferramentas de “produção da saúde para todos”, e isto é “equidade em saúde” (WHO [1984],

1998. p. 3).

Barros e Passos (2005. p. 391) salientam, ainda, que

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ao utilizar a humanização como estratégia de interferência nestas práticas, deve-se levar em conta os sujeitos sociais, atores concretos e engajados em práticas locais que, quando mobilizados, são capazes de, coletivamente, transformar realidades transformando-se a si próprios neste mesmo processo. Trata-se, então, de investir, a partir desta concepção de humano, na produção de outras formas de interação entre os sujeitos que constituem os sistemas de saúde, deles usufruem e neles se transformam, acolhendo tais atores e fomentando seu protagonismo.

A Carta de Otawa, de 1986, já alertava para:

• construção de Políticas Públicas saudáveis;

• criação de ambientes favoráveis à saúde (físico, social, econômico, político,

cultural);

• reforço da ação comunitária;

• desenvolvimento de habilidades pessoais;

• reorientação dos serviços de saúde.

É importante observar que o sistema vigente do setor público, açodado pelas

constantes críticas e exemplos de ineficiência expostos (problemas de acesso aos serviços

disponibilizados), somados a outros cenários, serviu como um grande atrativo para os planos

de saúde privados (operadores de planos de saúde) ampliarem sua atuação no mercado

(SILVA, 2004. p. 107-112), fazendo com que a iniquidade seja mais visível.

No “E-health [saúde eletrônica] e e-pacient [paciente eletrônico]: uma nova cultura de

saúde” (2005), a vice-diretora da European Health Management Association (Bélgica), Petra,

argumenta a urgência de investimentos e vontade política para que criem sistemas interligados

de dados em saúde. Citou como argumento o fato de “se há possibilidade de se poder usar um

cartão da Bélgica para retirar dinheiro no Brasil, poderia, então, ter acesso aos dados médicos

com um cartão de saúde”. Para ela, “a tecnologia para isso já está à disposição, e como falta

dinheiro, a pessoa mais atuante na promoção do ‘e-health’ frequentemente é o Ministro da

Fazenda, e não o da Saúde”.

De acordo com a especialista, somente na Europa são investidos 700 bilhões de euros

em cuidados de saúde e 673 bilhões em novas tecnologias. No entanto, apenas 2% deste total

são destinados à “e-health”. Petra acredita, também, na necessidade de uma estrutura

reguladora que permita a segurança da informação e registros que não possam ser alterados

por qualquer pessoa. Isso porque, comparou, “se o sistema bancário errar meus dados posso

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até perder dinheiro, mas se errar na minha taxa de glicemia e eu for diabética, posso perder a

vida” (PETRA, 2005 s/r).

O desafio, portanto, seria oferecer as informações de saúde com segurança e em

caráter privado, pois, como observou Petra, “se é importante que meus dados estejam na rede

para serem compartilhados e analisados por especialistas, também é possível que eu não

queira que minha família, meu patrão ou meu seguro de saúde saiba que posso estar com

câncer” (PETRA, 2005 s/r).

À guisa de conclusão desta parte, conclui-se que, apesar dos avanços obtidos em

termos éticos e políticos e do papel do Estado, a necessidade de combinar os princípios da

universalidade, igualdade e integralidade com políticas pragmáticas de descentralização,

focalização e a otimização dos gastos públicos demandam uma permanente atualização

crítica, no trabalho reflexivo sobre a real eficácia e efetividade das Políticas Públicas.

Para Silva (2004, p. 114), “é fundamental repensar o setor com uma estratégia global e

com a visão social que merece. Utilizar-se de uma política restritiva no trato das questões de

saúde no setor público [...] é colocar em risco a saúde da população brasileira”.

Como bem observa Wright (1998, apud SANTOS, 2002 s/r),

ao apontar para além daquilo que existe, as referidas formas de pensamento e de práticas põem em causa a separação entre realidade e utopia e formulam alternativas que são suficientemente utópicas para implicarem um desafio ao status quo, e suficientemente reais para não serem descartadas por inviáveis.

Acredita-se que é preciso estimular e implementar ações de saúde e não de doenças,

como melhoria da saúde e da qualidade de vida da população brasileira. A mídia, muitas

vezes, “desvia a atenção” da ausência de Políticas Públicas de Saúde e concentra o foco em

determinadas doenças, tentando entendê- las sob as formas que assumem, quase sempre, em

um caráter fatalista e deixa de entender o processo pelo qual se criam condições para a

emergência de epidemias ou para o retorno de velhas enfermidades (BUENO, 1996 s/r).

A comunicação especializada (boletins informativos, cartilhas, folders, audiovisual,

páginas da web) é uma ferramenta elementar na implementação de programas permanentes e

estratégias de ação. Pode estimular a inclusão de todos os setores da sociedade para exercer o

papel de “agente da manutenção ou transformação da realidade”, formando uma rede de

informação e comunicação, bem como estimular (agente difusor) o desenvolvimento de

Políticas Públicas de Saúde, de maneira coerente e eficaz, como um bem público.

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Silveira (2000 s/r) aponta que este tipo de comunicação pode incentivar a mobilização

popular, isto é, ampliar a possibilidade e a qualidade da participação da sociedade na

formulação de Políticas Públicas. É possível, então, oferecer ferramentas para que os atores

sociais possam intervir melhor no processo decisório.

Por outro lado, como bem argumenta Natansohn (2008, s/r), algumas iniciativas na

área podem ser estabelecidas, tais como “criação, mobilização e/ou potencialização de

espaços, redes e fluxos de comunicação entre os diferentes atores e organizações envolvidas

(população, entidades da comunidade, igrejas, ONG, lideranças comunitárias, equipes de

Saúde da Família, etc.)”.

Em 2005, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) lançou um programa de

promoção de saúde e prevenção de doenças para serem seguidos pelos planos de saúde. Em

troca, as operadoras de saúde que aderissem a tal programa, teriam uma redução no va lor da

reserva garantidora de benefício, uma espécie de poupança depositada em juízo por cada

operadora, que visa garantir o atendimento da maioria de seus usuários. Para um plano de

saúde existir, precisa depositar primeiramente pesadas quantias de dinheiro nesta “poupança”.

Pela proposta da ANS, os descontos de abatimento poderiam variar de 25 a 75%, a depender

da abrangência e complexidade dos Programas de Promoção de Saúde e prevenção de

doenças, implantados. Uma contradição disto tudo é que não existe proposta semelhante para

o SUS – pelo menos de maneira oficial. São ideias lançadas e modelos a serem seguidos.

Mas já é um começo.

Como já visto, um conceito novo seria a aproximação de saúde e produtividade. De

acordo com o médico Braga (2007, s/r) a palavra-chave de todo o processo de mudança em

saúde, é produtividade, e que pode integrar Governo, planos de saúde e empresas em prol de

um único objetivo: melhorar a saúde e qualidade de vida dos trabalhadores e da população.

A difusão de inovações, neste campo não pode ser desconsiderada.

[...] As campanhas de desenvolvimento por meios massivos de comunicação têm geralmente seus maiores efeitos nos segmentos mais evoluídos do público (por exemplo, os alfabetizados de melhor formação e mais urbanos), confirmando, portanto a brecha de efeitos de comunicação entre os segmentos qualificados e desqualificados da audiência (ROGERS, 1983 apud PESSONI, 2006 s/r - tradução do autor).

Em paralelo às mudanças da contemporaneidade, está um novo paradigma sobre saúde

voltado para qualidade de vida e prevenção de doenças. Reafirma-se que modelos de

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programas de saúde baseados em uma gestão integrada e eficiente evidenciam uma redução

de custos com despesas de saúde e aumento da produtividade da força de trabalho.

Se faz urgência resgatar as formas emergentes de produção participativa de

conhecimento, de sua discussão pública e da sua regulação, enquanto contribuições para uma

cidadania ativa (SANTOS ... [et al], 2005 - Introdução). O que está faltando aos brasileiros

para cuidarem melhor da saúde? Mais informações ou mais atitudes? Enfim, “a realidade é

um campo de possibilidades em que têm cabimento alternativas que foram marginalizadas”

(SANTOS, 2000. p. 23).

Apesar da legitimidade social do direito universal à assistência médica a todo cidadão

e em qualquer serviço de saúde oferecido pelo Estado, uma parcela significativa da população

busca, através de canais heterogêneos e até antagonistas de medicina e religião, formas

alternativas de acesso ao tratamento, muitas vezes inacessíveis (GRISOTTI, 1998 - grifos da

autora). Por princípio, um sistema de atenção médica se compõe de três níveis de intervenção:

atenção primaria (prevenção); atenção secundária (atenção) e atenção terciária: reabilitação.

Observa-se que, em muitos municípios, esses níveis de intervenção estão ausentes ou a

atenção a eles não é prioridade pública.

Percebe-se, também, uma ausência de percepção sobre o caráter individual (e por

vezes arbitrário) das definições das doenças e dos diferentes níveis de complexidade que elas

estão imersas. O que acarreta, muitas vezes, a errônea transposição de dados gerais para o

estudo de casos individuais e que demandaria informações corretas para participarem da

agenda de Políticas Públicas.

Para além de envolver a maior responsabilização de prestadores e cidadãos, a saúde

prevê a necessidade de definição de vários níveis de intervenção para efetividade, eficiência e

a qualidade dos cuidados prestados. Os serviços de saúde também podem contribuir para a

saúde de uma forma direta, na medida em que reforçam a autoestima, valorizam a autonomia

e as capacidades do indivíduo, aprofundam o laço da pertença com a comunidade e as suas

instituições (local de trabalho, escola, etc.).

Há premência no estabelecimento de processos de intervenção - para reduzir

iniquidades, por meio de difusão e a consolidação de estratégias preventivas em uma melhor

cobertura da população, evitando hospitalizações e reduzindo o impacto psicossocial e

econômico causado pelas doenças.

Embora a consolidação de um sistema público universal (integrado) de saúde depende,

certamente, da conscientização da população sobre a importância dessa estrutura pública. Daí

a importância de todos os envolvidos, na melhora das práticas, na produção de saberes e

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conhecimentos científicos (informações), para ser partícipe na mudança estrutural da saúde da

população.

Fica claro, então, que a saúde deve ser entendida em sentido mais amplo, como

componente da qualidade de vida – uma noção eminentemente humana, que pode ser

mensurada (pelo IDH – Indice de Desenvolvimento Humano, por exemplo, ou por outras

modalidades) e que se reveste de múltiplos sentidos, como estabelecem Minayo, Hartz e Buss

(2000, s/r).

A noção de qualidade de vida transita em um campo semântico polissêmico. Está

relacionada a modo, condições e estilos de vida (CASTELLANOS, 1997 apud MINAYO,

HARTZ & BUSS, 2000 s/r), às ideias de desenvolvimento sustentável, ecologia humana e

democracia. No âmbito da saúde, ela se apoia na compreensão das necessidades humanas

fundamentais, materiais e espirituais e tem no conceito de promoção da saúde seu foco mais

relevante.

Quando vista de forma mais focalizada, qualidade de vida em saúde coloca sua centralidade na capacidade de viver sem doenças ou de superar as dificuldades dos estados ou condições de morbidade. Isso porque, em geral, os profissionais atuam no âmbito em que podem influenciar diretamente, isto é, aliviando a dor, o mal estar e as doenças, intervindo sobre os agravos que podem gerar dependências e desconfortos, seja para evitá-los, seja minorando consequências dos mesmos ou das intervenções realizadas para diagnosticá-los ou tratá-los (MINAYO, HARTZ & BUSS, 2000 s/r).

Assim, saúde não é um “bem de troca”, mas um “bem comum”, um bem e um direito

social, em que cada um e todos possam ter assegurados o exercício e a prática do direito à

saúde e de qualidade de vida.

Enquanto isso, diz Chammé (2002, p. 10), “o usuário é ainda caracterizado como

sendo o proprietário e portador do corpo adoecido, que perambula pelos Serviços Públicos de

Saúde, buscando por especialidades médicas e serviços, idealizadas (para ele!) como sendo

possivelmente salvadoras” (grifo da autora), mas determinados por números autorizados de

procedimentos, de acordo com as Secretarias de Saúde municipais e não pelas necessidades

reais dos indivíduos.

Tendo como referência Santos (2003), a partir de um paradigma prudente (científico),

é preciso uma intervenção no paradigma emergente (conhecimento sobre as condições de

possibilidade da ação humana projetada no mundo, a partir de um espaço tempo local), para

que se propicie uma vida decente (paradigma social) a todos.

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No entanto, modernos planejamentos em saúde e a formação de médicos sinalizam a

intenção de resgatar o espírito participativo da população, para a qual os serviços de saúde

devem ser destinados. Embora benéfico e adequado, tal procedimento inviabiliza o poder de

decisão do Estado, mas busca um processo de gestão conjunta de real exercício de cidadania

(CHAMMÉ, 2002, p. 15).

Os discursos sobre corpo/saúde/doença construídos também pelos indivíduos/sujeitos,

são vistos, então, como participação responsável no processo de decisão sobre sua própria

saúde e vida.

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CAPÍTULO IV – CARDIOL E DIABETES: ESTRUTURAS E

DISCURSOS INSTAURADOS

“A fragilidade vivida conscientemente pelo homem, sua individualidade e seu relacionamento com os demais fazem da experiência da dor, da doença e da morte

uma parte integrante de sua vida. A habilidade de lidar com essa trinca é de fundamental importância para sua saúde”.

ILLICH 50

A principal inovação oferecida pela internet é a capacidade de realizar pesquisas

eletrônicas e localização das fontes de informação de forma muito rápida. E quando se fala

em produção científica na área de saúde, diz-se da informação que é difundida nos mais

diversos suportes e nas mais variadas vertentes.

Em um primeiro aspecto, a rede serve simplesmente como um veículo de acesso mais

rápido e conveniente à informação médica disponível. Mas, de uma maneira geral, os sites

sobre saúde visam informar o internauta sobre a prevenção das mais variadas enfermidades,

muitas vezes antes mesmo que seja consultado um médico. A ideia é funcionar como uma

base informativa, um suporte teórico fundamentado em bibliografia médica oficialmente

aprovada e reconhecida.

Portanto, “existe um enunciador que precisa manipular um enunciatário, para que se

estabeleça um laço, uma convivência, que acaba por garantir a própria sobrevivência do

serviço” (HERNANDES, 2006. p. 236).

Sabbatini ([R] 2004, apud KENSKI, 2004), argumenta que o uso desses recursos pelo

público leigo em busca de informações sobre saúde, “revolucionou a relação entre médico e

7paciente. Muitas pessoas passaram a ‘discutir’ os pareceres, trocar ideias e se envolver mais

com seus problemas de saúde, depois de se informar sobre doença e saúde na internet” (grifos

da autora).

No tocante ao panorama das estruturas dos Portais da Sociedade Brasileira de

Cardiologia e da Sociedade Brasileira de Diabetes, observa-se que eles são desenvolvidos

pelas instituições ligadas diretamente ao campo médico e científico. Acredita-se, portanto,

que têm como característica a divulgação de informações pertinentes ao campo específico de

50 ILLICH, Ivan. (1975). A expropriação da saúde: nêmeses da medicina. (Trad. de José K. de Cavalcanti). 3 ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 19[?].

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cada um deles, bem como “adquirem legitimidade” para assim o fazer. Pode-se afirmar que o

discurso instaurado, já por si só se legitima. Remete-se, aqui, às considerações de Guerrero,

quando diz que “a presença do nome da entidade, com palavras como ‘centro de estudos’,

‘instituto’” (2003, s/r - tradução da autora), ou sociedade vinculada a uma determinada

instituição, servem para dar uma certa credibilidade e validade, - embora não só. Competem,

também, para isso, dentre outros fatores: a procedência das fontes, “conduta ética; o respeito à

dignidade e à liberdade; a solidariedade intelectual e moral, que permite que os benefícios do

progresso beneficiem a humanidade” (GUERRERO, 2003 s/r – tradução da autora). Estes

princípios são aplicáveis aos investigadores e aos organismos e instituições, em âmbito local,

regional, nacional ou internacional.

Em ambos os Portais são vários os enunciatários, mas eles “adquirem autoridade e

credibilidade para falar do assunto específico” – partem de especialistas ou “falam em nome

de” Instituições. É por meio deles que “pessoas autorizadas”, tais como médicos e

especialistas, podem colaborar e tirar as dúvidas dos ciberleitores, por meio de diversos meios

digitais, como gravações de áudio e vídeo, desenhos animados, imagens e textos interativos,

etc. e, assim, “falar com fidelidade” e com “base científica mais sólida” (GUERRERO, 2003

s/r).

Em princípio, os procedimentos e as tarefas são organizados de acordo com as

expectativas e costumes dos usuários. Ferrari (2004, p. 30) acredita que as soluções

apresentadas para os indivíduos “ajuda a formar comunidades de leitores digitais, reunidas em

torno de um determinado tema e interessados no detalhamento do conteúdo e seus respectivos

hiperlinks, que surgem em novas janelas do browser” (navegador).

De uma maneira geral, em suas arquiteturas, os sites analisados apresentam

manifestações gráficas e plásticas que podem valorizar ou “silenciar” determinados aspectos.

E, portanto, direciona para diferentes efeitos de sentido. O sujeito é uma posição e um efeito

do discurso, ou seja, não “é o indivíduo, sujeito empírico, mas o sujeito do discurso que

carrega consigo marcas do social, do ideológico, do histórico e tem a ilusão de ser a fonte do

sentido” (GRIGOLETO, 2005. p. 1). Assim, “o sujeito é, desde sempre, afetado pelo

inconsciente e interpelado pela ideologia” (GRIGOLETO, 2005. p. 1).

O caminho hipertextual a ser realizado pelo internauta pode ser visto como estratégia

enunciativa, que tenta organizar ou dirigir a passagem do usuário pelas páginas

(HERNANDES, 2006. p. 244). Ressalta-se que o discurso gráfico difere do discurso verbal

por operar basicamente com o nível visual dos elementos na página impressa. Como discurso,

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ele possui a qualidade de significação. Existem, portanto, pelo menos duas leituras possíveis

de uma página: uma gráfica e outra textua l.

Segundo princípios do design de sistemas hipermídias, o layout de uma página

proporciona uma espécie de primeira impressão. Por isso, a página deve ser agradável de ver,

com efeitos visuais adequados à transmissão do conteúdo. Na internet, “persuadir é fazer” - de

uma forma não muito evidente, por um apelo às sensações e à emotividade humanas.

A pretensa interatividade, no caso do CARDIOL (na rede desde 1996:

<www.cardiol.br>), simula ambientes de abordagem individualizada, com pouca diversidade

de escolhas (quantidade de alternativas). “A interatividade permite ações participativas e

ativas por parte do utilizador entre diferentes cenários possíveis” (GALVÃO, 1999 s/r). Essas

constatações corroboram as observações de Orlandi (2001, apud HERNANDES, 2006, p.

252), que diz tratar-se de tática de dissimulação do caráter massivo.

O conteúdo tende a ser pouco variado – a atualização é feita em um período mais

longo, não identificado pela pesquisadora. E, mesmo com email enviado na sessão “contatos”,

a informação sobre esse dado não foi obtida.

No DIABETES, que tem a homepage lançada desde 1997, (<www.diabetes.org.br>)

as opções são mais concretas. A interação é mais direta e clara. O ciberleitor tem vez e voz,

até porque há a possibilidade de “blogar”. 51 O conteúdo, apesar de segmentado, é diferenciado

- para instigar a curiosidade dos diversos segmentos do público-alvo. Há detalhamento de

matérias, que se abrem para outras jane las. De acordo com uma das editoras, a atualização é

diária.

Ambos disponibilizam informações do ponto de vista do médico e do paciente.

Embora, o Cardiol estabeleça um limite bem nítido, já no acesso à página, como que uma pré-

página. Este fato pode configurar discurso de poder – da comunidade científica primária para

o público/sujeito.

51 Considerando blog como forma de relacionamento, o ato de “blogar”. é um “desejo manifesto” de sentir-se parte de uma “comunidade” de pessoas que se interessam pelo mesmo assunto que o seu (PEREIRA, 2006). Postado em: <http://webinsider.uol.com.br/index.php/2006/03/07/sobre-o-ato-de-blogar-e-a-etica-invisivel-dos-blogs>). Apontado por Marcuschi como um dos gêneros digitais emergentes, o blog tem como característica uma conversação aberta e multi participativa (MARCUSHI, 2005. p. 29).

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Figura 19

Figura 20

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A partir de outubro de 2008, a home do CARDIOL mudou o layout de abertura e

assim se apresenta, na atualidade:

Figura 21

Estipula, claramente, os objetivos para o público do Portal: “área destinada à

promoção e melhoria na qualidade de vida e da saúde cardiovascular”.

A distinção entre conhecimento técnico ou especializado e leigo legitima a autonomia

dos cientistas/especialistas, na tomada de decisões no discurso, sobre assuntos considerados

“de especialidade”. Ao mesmo tempo, remete os cidadãos para um espaço de silêncio, ao

atribuir- lhe o estatuto de mero observador e consumidor da ciência e da saúde - ou de

informações/conhecimentos pertencentes ao campo (KLEINMAN & KLOBENBURG, 1991;

GIERYN, 1999; IRWIN & WYNNE, 1996; IRWIN, 1995; IRWIN & MICHAEL, 2003;

STENGERS, 1997 apud SANTOS, 2005. p. 21-121- grifos da autora).

O Portal da CARDIOL é dividido em quatro partes:

- Banner - Apresenta o site. Contém a identificação da SBC,

o nome do site e uma barra de navegação, na qual se encontrará as

informações da home, “quem somos”, “teste o seu coração”, “bate

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papo”, “intranet” (só para membros cadastrados), “canais Funcor”.

- Coluna da esquerda - Aonde se pode navegar através de todo o conteúdo do site,

conhecer as outras seções e ver os links da rede. Apresenta o logo da SBC/FUNCOR. A barra

de rolagem, portanto, aí está situada, abaixo da identificação da SBC/FUNCOR e da

possibilidade de interação, oferecida pelo “Coração online”: “Pergunte a um dos nossos

cardiologistas” – a mensagem que passa é de confiabilidade (se é um dos nossos, você pode

confiar).

- Coluna do meio – dividida em partes, dispostas na horizontal e com elementos

piscantes. A 1ª delas direciona para “Boletim do coração”, “informações úteis”, “enquetes”,

“selos de aprovação” (produtos), “teste o seu coração”, “receitas saudáveis”, “o selo na

mídia”. É nela também aonde aparecem todas as notícias publicadas no site e o link para o

arquivo de notícias. Mais abaixo, “campanhas temáticas”, “selo de aprovação” (“certfique-se

de consumir produtos com o selo de aprovação da SBC”), qualidade de vida (“alimentação

saudável e exercícios físicos são essenciais para sua qualidade de vida”).

- Coluna da direita - as sessões “canal em forma” (destaques sobre atividade físicas e

esportivas), nutrição (legitimada, por exemplo, em “Estudo da Associação Médica Americana

revela [...]”), prevenção de doenças cardiovasculares (“confira os artigos do Dr. [...]”;

“aprenda a cuidar de seu coração brincando” (brincadeira de forca).

Exibe um selo de certificação que garante a revisão do site e das informações, segundo

os princípios do Código de Conduta da Health on the Net Foundation (HON).

Na “sala de imprensa”, há comunicado sobre as normas para entrevistas a serem

concedidas pela Sociedade: “O assessor de comunicação tomará as providências necessárias

para que o departamento e/ou especialista indicado responda, de forma oficial e de acordo

com as diretrizes e normas da SBC, [...]. - uma manifestação do “poder do discurso” do

especialista e que não tem características da linguagem adaptada para o meio web.