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14º Congresso Sustentar é Integrar - Abag · 14º CONGRESSO BRASILEIRO DO AGRONEGÓCIO 2015• ABAG 7 de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) incidente so - bre os combustíveis

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Sustentar é Integrar

14º Congresso Brasileiro do Agronegócio

Anúncio congresso Abag 2015 agroanalysis com logos.indd 1 03/09/2015 19:32:25

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ÍNDICE

5 CERIMÔNIA DE ABERTURA6 Ser sustentável é ter vantagem competitiva7 Decisões prioritárias8 Mostrar estabilidade e confiabilidade8 Reformas para o Brasil crescer

10 PALESTRA INAUGURAL – SUSTENTAR É INTEGRAR

13 PAINEL 1 – AGRONEGÓCIO BRASILEIRO, PRODUÇÃO 365 DIAS

19 PAINEL 2 – GRÃOS, PROTEÍNA ANIMAL, FLORESTA PLANTADA E PALMA

26 PAINEL 3 – ALIMENTO E ENERGIA

31 PAINEL 4 – SEGURANÇA ALIMENTAR E RENDA

37 ENCERRAMENTO

38 HOMENAGENS38 Prêmio Norman Borlaug 201540 Prêmio Personalidade do Agronegócio Ney

Bittencourt de Araújo 2015

42 FÓRUM ABAG ESTADÃO44 FÓRUM ALIMENTOS49 FÓRUM LOGÍSTICA57 ENCERRAMENTO

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DIRETORIA DA ABAG

Presidente Luiz Carlos Corrêa Carvalho Vice-presidenteFrancisco Matturro Diretores Alexandre FigliolinoAlmir DalpasqualeAna Helena de AndradeAndré PessôaCesar Borges de SousaChristian LohbauerEduardo DaherIngo PlögerLuiz LourençoMarcello BritoPaulo Renato HerrmannUrbano C. RibeiralValmor SchafferWeber Porto Diretor executivo Luiz Antonio Cornacchioni

ANAIS DO 14º CONGRESSO BRASILEIRO DO AGRONEGÓCIO E FÓRUM ABAG

CoordenaçãoLuiz Antonio Pinazza

ApoioElizabeth MochizukiBeatriz SecafEmília Dualibi SantosGislaine Balbinot

GV Agro Centro de Agronegócio da Fundação Getulio Vargas

RevisãoAlexandre Sobreiro

'HVLJQ�H�SURGX¤ÑR�JUÌoFDAlexandre Monteiro

OrganizaçãoEvandro FaulinViviane de Carvalho

Assessoria de imprensaMecânica de Comunicação

ProduçãoWenter Eventos

Fotos Ag. Riguardare

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Mestre de Cerimônia:

Damos abertura ao 14º Congresso Brasileiro do Agronegócio, uma re-alização da ABAG (Associação Brasileira do Agronegócio).

Com patrocínio master do Bradesco e patrocínio da ABRACASE, da ADM, da Agroceres, do Banco do Brasil, da BASF, da Bayer CropScience, do BNDES, da Caixa Econômica, da Cocamar, da Cooxupé, da Credicitrus, da FAESP, da Jacto, da John Deere, da Monsanto, da OCB, da PricewaterhouseCoopers, da Syngenta e da Tereos e apoio do Estadão, da ABAG-RP, da ANDA, do inpEV, da Valor Econômico, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e do MAPA.

Convidamos para compor a mesa:

Geraldo Alckmin, governador do Estado de São Paulo

Aldo Rebelo, ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação

Almir Dalpasquale, presidente da Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja Brasil)

André Nassar, secretário nacional de Política Agrícola, neste ato representando a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Kátia Abreu

Antonio Mello Alvarenga Neto, presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA)

Arnaldo Jardim, secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo

Fábio de Salles Meirelles, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP)

Gustavo Diniz Junqueira, presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB)

Jerônimo Goergen, deputado federal, representando a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA)

Antonio Carlos Mendes Thame, deputado federal

Juan Pablo De Vera, presidente da Reed Exhibitions Alcantara Machado

Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG)

Márcio Lopes de Freitas, presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB)

CERIMÔNIA DE ABERTURA

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mesmas da sociedade da informação. Compreender isso e agir de forma apropriada é fundamental!

Na nova sociedade da informação, as ilusões ficam pelo caminho. Da mesma forma, problemas antes esquecidos são aquecidos constantemente. Vejam a perda de credibilidade política no País. Segundo Delfim Netto, “confiança e desen-volvimento andam juntos”. Quando isso é perdido, dificulta enormemente, mas é crucial que o Brasil o reconquiste. Cres-cer de forma sustentável requer muito mais. Não se trata so-mente do ajuste fiscal, por si difícil. É preciso união nacional e disposição política acima dos interesses individuais.

O agronegócio, com recordes constantes, sofre riscos além de crédito, liquidez e mercado. A falta de logística pressiona os custos de uma produção com clima instável, diante de um ambiente político complexo, com protecionismos exter-nos e paradigmas internos limitadores. Existem, também, as informações contraditórias e ideológicas, detratoras e cons-trutoras, nas redes sociais, mecanismo incrivelmente rápido, onde a ABAG atua com vigor, com comunicação de forma construtiva à sua imagem e ao seu valor. E é fundamental ter as entidades do agronegócio atuando neste segmento da co-municação de forma construtiva à sua imagem e ao seu valor.

Vivemos uma fase de mudanças de paradigma na agricul-tura e energia. Vemos uma revolução do Agro como base de uma nova economia verde. Como descarbonizar os combustí-veis já é meta global, intensificar a produção no Brasil será fato.

Vale relatar as reportagens do The Economist sobre os pre-parativos para a Conferência das Partes sobre Mudanças Cli-máticas (COP-21) no final do ano. Entre as diferentes escolas de pensamento, aparentemente há um consenso de que uma taxa incidente sobre combustíveis é a forma mais eficiente de reduzir as emissões de gases do efeito estufa. A Contribuição

SER SUSTENTÁVEL É TER VANTAGEM COMPETITIVA

Luiz Carlos Corrêa Carvalho

Vivemos uma fase em que as relações dos recursos são cada vez mais estreitas. Escassez e mudanças de preços em um deles afetam rapidamente os outros. Essa correlação é maior do que em qualquer ponto ao longo do século passado.

A espetacular reação brasileira, de importador a exporta-dor de alimentos e energia, tem tudo a ver com o domínio da tecnologia tropical nos últimos quarenta anos. O Brasil é, hoje, convocado por importantes entidades, como a Orga-nização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a Organização das Nações Unidas para a Alimen-tação e Agricultura (FAO), para liderar o movimento de ex-pansão global da oferta destes produtos, de forma sustentável.

Para isso, qual o quadro que temos?Há os bons resultados dentro da porteira, cujos valores mé-

dios estaduais, no entanto, escondem uma elevada dispersão de dados, com extremos distantes. Precisamos reduzir fortemente isso, pois a nossa capacidade de competir é a única bússola.

Globalmente, há uma preocupação com os limites dos re-cursos naturais, na lógica malthusiana de a oferta não atender a crescente demanda global. Somente com forte resposta tec-nológica essas perspectivas mudam. O Brasil é chave nisso, com o uso intensivo dos recursos disponíveis pela tecnologia tropical. É essa a nossa clara percepção de desenvolvimento.

O agronegócio brasileiro, no lado técnico, fez progres-sos incríveis no ambiente tropical: o uso intensivo dos so-los, todo o ano, com duas a três safras, o desenvolvimento de técnicas como a integração lavoura-pecuária-floresta (iLPF), o sistema de plantio direto, o aproveitamento da biomassa e dos biocombustíveis etc. Existem novas formas de controles de pragas e doenças; biotecnologia, nanotecno-logia e geotecnologia. Mas, o modelo brasileiro não atende ainda os chamados médios produtores, importante fatia da produção. Para a tecnologia mudar isso, cabem políticas di-ferentes de crédito, preparo técnico e planejamento.

Do lado político e macroeconômico, o momento é outro. Teremos um longo percurso a trilhar. Perdemos, nos últi-mos anos, as fundamentais estabilidades econômica e polí-tica, obtidas com o suor de todos, resultado de um revés na opção da chamada nova matriz econômica.

Dois aspectos chamam a atenção: o desastre da perda da estabilidade e a força das instituições brasileiras. Inicia-mos uma saída muito lenta quando olhamos as limitações ao crescimento do País nos próximos três anos. Um deslize poderá derrubar-nos caso não tratemos com foco as suas causas. Isso não é simples; se elas forem avaliadas com base na lógica da sociedade industrial, as avaliações não serão as

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de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) incidente so-bre os combustíveis fósseis é atual. Valorizá-la faz parte de uma agenda positiva da política brasileira. Afinal, transportes res-pondem por 20% das emissões de gases do efeito estufa.

Alimentos e agroenergia possuem forte e positiva siner-gia, via modernização e renda no campo. Isso é comprovado no Brasil, seja na tradicional zona de produção canavieira ou, atualmente, nos milharais do Mato Grosso, assim como nas extensas áreas de soja nos cerrados brasileiros. A própria FAO atesta isso.

O fato é que o Brasil será demandado como o maior ofer-tante de produtos do agronegócio no mundo. Conseguimos superar as crises com os olhos no futuro. Claramente, não nos aferramos ao velho, nem buscamos um jeitinho. Dentre os nossos desconfortos, enquanto o Brasil mostra dificulda-des para se viabilizar na globalização, o seu agronegócio car-rega grandes oportunidades para desempenhar um papel de protagonista.

É essencial ter visão prospectiva. Nossos recursos natu-rais convidam a mais investimentos baseados em tecnologia tropical, reforçando a competitividade do País. Um exemplo é o fundamental apoio de uma diplomacia brasileira aliada, abrindo portas nos países relevantes.

Agradecemos a atenção e convidamos a uma intensa participação de todos. Reforçamos que, neste 14º Congresso

Brasileiro do Agronegócio, abordaremos o conceito da inte-gração como fator fundamental de maior competitividade no processo do agronegócio sustentável, com inclusão.

DECISÕES PRIORITÁRIAS

André NassarA ministra Kátia Abreu, a quem represento neste evento,

pediu-me para fazer dois comentários. O primeiro é sobre o programa de seguro rural desen-

volvido para a soja. Os objetivos são reduzir o custo para o produtor e aumentar o nível de cobertura. O dinheiro pú-blico será usado de uma forma muito mais eficiente, mesmo num momento em que o orçamento do programa não está crescendo.

O segundo é sobre a decisão de não se cortar nem 1 cen-tavo na área de Defesa Sanitária, de modo que não haja ne-nhuma descontinuidade nos programas e nas estratégias do Plano Nacional de Defesa Agropecuária. Essas ações são to-madas quando o MAPA teve um novo corte no orçamento, de 15%, correspondente a R$ 287 milhões.

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lo Renato Souza mandou comprar e colocou na mesa um fran-go congelado e disse: “olha um parque tecnológico”. Não existe agropecuária competitiva sem tecnologia.

Na Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), disseram-me o seguinte: o boi que mais vende sêmen nos Es-tados Unidos é um garrote – bezerro de sete meses –, porque a genética já permite antecipar para os criadores a qualidade dos reprodutores antes de eles se transformarem em reprodutores. O bezerro, quando nasce, a genética já permite antecipar se ele será um bom reprodutor. Isso explica a grande produção dos ameri-canos, mesmo com rebanho menor do que o nosso.

Levar a Copa do Mundo de 2014 para Cuiabá era conside-rado um absurdo para muitos. Nos debates, argumentava que o Mato Grosso respondia por 60% do saldo da balança comercial do País. Enquanto muita gente viaja e gasta os dólares lá fora, eles plantam, criam e ajudam a pagar a conta. Então, não pode organizar quatro jogos da Copa do Mundo? Sinceramente, isso não se sustenta.

Quando fizemos o relatório do Código Florestal, espalharam a ideia de que acabaríamos com a natureza, florestas, rios e tudo o mais. Para resumir a história: o Brasil participará neste ano da 21ª COP, em Paris; um dos seus trunfos será levar a contribuição à descarbonização do Planeta pelo Código Florestal aprovado com o apoio dos senhores.

REFORMAS PARA O BRASIL CRESCER

Geraldo AlckminCumprimentamos a ABAG pela realização do 14º Congres-

so Brasileiro do Agronegócio. Vemos dois setores para ajudar o Brasil a dar uma esquentada na economia e evitar um desempre-go maior. O primeiro é a exportação, com medidas de conces-são de crédito, acordos comerciais e conquista de mercados. O segundo, ligado à exportação, são a infraestrutura e a logística.

Os investimentos em ferrovia, hidrovia, alcoolduto, rodovia, portos, além de reduzirem o Custo Brasil, geram emprego e ati-vam a economia. Ouvimos o ministro Aldo Rebelo falar da crise conjuntural. Tivemos outras; passará, porque o quadro é cíclico.

Mas, enfrentaremos, também, um problema estrutural que limita o crescimento brasileiro caso não façamos as reformas mais profundas. É impressionante como a política atrapalha a economia, bem como a má economia atrapalha a política. É um círculo quase vicioso.

É impossível melhorar o ambiente político com 32 partidos, mais três saindo do forno, enquanto 28 pegam assinaturas no Congresso. Isso fragmenta, fragiliza e perde interlocução. É qua-se a ingovernabilidade.

No Judiciário, passamos de 100 milhões de processos. O pre-sidente do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), o Dr. Renato Nalini, fala: “o Brasil terminará num grande processo”. É o País li-tigando, todos contra, com a criação de uma insegurança jurídica.

MOSTRAR ESTABILIDADE E CONFIABILIDADE

Aldo RebeloO Brasil vive um momento de ajuste necessário da sua eco-

nomia. A Teoria Econômica não prevê esta ação com objetivo e metas finalísticas. É um momento de contingência e de passa-gem, na busca da retomada do crescimento econômico. Todos os países passaram recentemente ou estão passando por isso.

No primeiro ano do governo do presidente Lula, as taxas de juros da Selic chegaram a 26,5%, em maio de 2003. No ano se-guinte, retomávamos o crescimento da economia.

Desde a descoberta do Brasil, Cabral provavelmente teve de enfrentar crises políticas com caciques e índios. Na nossa Inde-pendência e na República, houve esses enfrentamentos. Feliz-mente, encontramos as formas pacíficas, constitucionais e legais para chegar a soluções.

Temos é de nos apoiar naquilo de mais permanente e vir-tuoso da história do País para superarmos as dificuldades do presente. Devemos ter um olhar crítico em relação às nossas qualidades civilizatórias e às virtudes de formação social. Uma das mais belas promessas baseadas na realidade é exatamente a atividade (agronegócio) na qual os senhores estão envolvidos com competência e sucesso.

Participamos de reuniões para a cooperação internacional na Rússia e nos Estados Unidos. Reunimo-nos com ministros da Chi-na, da Índia e da Alemanha. Todos querem cooperar com o Brasil em duas áreas que são temas deste Congresso: Energia e Produção de Alimentos. Eles olham o Brasil como parceiro e referência.

O mundo não pode dispensar a produção de alimentos e a energia. Além da produção material, isso exige segurança jurídi-ca, estabilidade e confiabilidade. Ameaçados pelas sanções dos europeus, ouvi dos russos: “não podemos confiar em receber alimentos de quem nos impõe sanções tão pesadas. Queremos adquirir alimentos do Brasil com contratos de longo prazo”.

Ninguém criará animal e plantará lavoura se não souber se o comprador será fiel daqui a anos. E ninguém firmará compra e venda de alimentos sem ter a segurança de que receberá a enco-menda. Essa segurança o Brasil oferece.

Somos pioneiros na produção do álcool combustível desde os anos 30, quando a escassez de petróleo obrigava-nos à criati-vidade. Hoje, o produto é usado até para viagens espaciais.

No Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), disponibilizamos em torno de R$ 4 bilhões em programas para a melhoria do desempenho e da competitividade. Criamos um fundo setorial específico para a valorização institucional da agroindústria, com subvenções e financiamentos para a inovação.

Há uma ilusão, muitas vezes, no senso comum, de que a atividade primária não é intensiva em ciência e tecnologia. Na Assembleia Legislativa, um deputado estadual perguntou sobre a necessidade de criar um parque tecnológico. O ministro Pau-

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E seguem as reformas trabalhista, administrativa e tributá-ria. Na campanha de candidato a presidente, na visita à usina nuclear de Angra dos Reis, enquanto voava, passei em cima de uma mansão e perguntei para o piloto: “quem é o banqueiro feliz dono daquela mansão?”. Ele falou: “ é um advogado tributarista”.

Fica um sentimento de que coisa do governo não tem dono. Cada Câmara Municipal aumenta o gasto. Fruto do seu suor, trabalho e esforço, o cidadão paga. É necessário uma mudança cultural, cultural no sentido de reduzir custo no País inteiro, en-tre os Municípios, os Estados e a União.

Estamos com dificuldade de água em São Paulo. Temos 22 milhões de pessoas para abastecer a 700 metros de altitude. As grandes metrópoles do mundo estão à beira-mar. Precisamos bus-car o recurso em Juquitiba, a 100 quilômetros de distância. Em Salesópolis, na vertente do Atlântico, em direção a Bertioga, corre o rio Itapanhaú, do qual queremos tirar 10% da água que vai para o mar. Isso requer uma obra pequena de quase nenhum impacto ambiental. O Ministério Público entrou com uma ação de veto, porque colocam-se em risco os crustáceos que vivem no mangue. O diretor da Sabesp fez um artigo: “Gente também é bicho”.

Tudo isso é Custo Brasil. Pode-se buscar água na represa do rio Paranapanema, em Avaré, distante a 400 quilômetros. Criamos custo o dia inteiro, como se estivéssemos na Escan-dinávia. Como ficou caro antes de ficar rico, o País está limi-tado no seu crescimento.

Ficamos felizes com a ideia de levar um grande projeto de in-tegração lavoura-pecuária-floresta ao Pontal do Paranapanema. É uma proposta para agregação de valor e ganho de produtivida-de. A discussão entre processamento e certificação de alimentos é outro tema relevante. O etanol possui a menor taxa de ICMS do País no Estado de São Paulo. Esta política será levada para a 21ª COP na França. É um perigo acreditar em governo que esti-mula a produção de etanol e, depois, lhe retira competitividade, com congelamento do preço da gasolina, via retirada da CIDE. Como a energia ficou cara, abre-se um espaço para a cogeração a partir do bagaço de cana, próximo aos centros consumidores.

Mestre de cerimônias

Registramos a participação dos 139 jornalistas, sendo 22 de outros Estados brasileiros, que estão presentes na cobertura de imprensa do 14º CBA. Temos, também, a satisfação de anunciar a transmissão deste evento pela web para o sistema da Organiza-ção das Cooperativas Brasileiras (OCB), a rede de unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Com-panhia Nacional de Abastecimento (Conab), a Secretaria de Agri-cultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e o MAPA, com um público total estimado em 6 mil participantes virtuais.

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Palestrante: Maurício Antônio Lopes, presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)

PALESTRA INAUGURAL

SUSTENTAR É INTEGRAR

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Essas ações foram mensuráveis em segurança alimentar, em capacidade exportadora, em desenvolvimento regional. Os Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) municipais de Sinop e Lucas do Rio Verde, em vinte anos, saíram de 0,50 e 0,55 para 0,75, e 0,76, respectivamente.

Foram conquistas decorrentes da capacidade especial do Brasil de realizar uma integração de capacidades inusitadas: o Governo, com a criação e a consolidação de instituições im-portantes, os Estados, os Municípios, a Pesquisa, as universi-dades, as cooperativas e a coragem dos produtores para abrir picadas, construir cidades e fazer uma agricultura pujante.

Poucos países no mundo contam com uma base de pes-quisa e desenvolvimento como a Embrapa, com as univer-sidades públicas, os institutos estaduais e os centros de pes-quisa das empresas. Montamos um sistema agroalimentar moderno nas várias cadeias. Provemos aos agricultores os insumos e as máquinas. Empacotamos produtos primários para alcançar posição em mercados sofisticados.

Temos uma nuvem de palavras que saltam aos nossos olhos: “custo”, ”juro”, “produtividade”, “preço” e “mercado”. É natural darmos atenção às questões conjunturais, postas aqui e agora. Mas, é necessário enxergar esses desafios com uma lente de médio e longo prazos. Daqui para o futuro, as ruptu-ras afetarão a construção das nossas trajetórias.

Três grandes megatendências impactarão a vida da socie-dade e, em especial, a produção da agricultura: clima, tecnolo-gia e urbanização. No topo da agenda, aparece a sustentabili-dade, um conceito vago, mas acima de uma mera necessidade.

Maurício Antônio LopesO Brasil deve promover a intensificação sustentável do seu

agronegócio, em resposta à agenda global de descarbonização da economia, redução do uso de recursos e aumento da efici-ência. É, também, uma oportunidade para discutir a integra-ção entre múltiplos agentes diante dos riscos e a busca de opor-tunidades. Uma série de desafios complexos vindos do futuro exigirá uma integração de nossos esforços de forma inusitada.

Discutiremos duas questões: (i) como intensificar a agro-pecuária integrando sistemas complexos; e (ii) como traba-lhar os diálogos, as parcerias e as interações necessárias para enfrentar os desafios vindos do futuro.

A imagem de duas fotos sobre Sinop (as letras são as pala-vras iniciais da companhia colonizadora Sociedade Imobiliá-ria do Norte do Paraná) – quando da sua fundação, em 1974, e, mais recentemente, de 13 de junho de 2015 – mostra bem a revolução feita pelo Brasil em curto espaço de tempo. O ministro Aldo Rebelo disse-nos como muitas partes do mun-do referenciam-nos por termos desenvolvido um modelo de produção de alto desempenho, com uma agricultura baseada em ciência e crescente incorporação de práticas sustentáveis.

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O Governo e as empresas precisam entregar valor para a sociedade, acima de produtos, mercadorias e efeitos. As mu-danças demográficas tocam de modo marcante as vidas e o agro. Haverá a exigência de uma população mais urbana e idosa. A escalada nas demandas concentrar-se-á nos alimen-tos mais sofisticados, nas proteínas nobres, como leite, carne, ovos e peixe, nas frutas, nas verduras e nos legumes.

Em duas décadas, o Pacífico asiático representará cerca de 60% da classe média mundial, com repercussão nos mer-cados e na demanda. Como grande provedor, o Brasil terá de aprender a lidar, entender e compreender esta região.

Estamos no limite do modelo de desenvolvimento depen-dente de recursos não renováveis. A sociedade deseja outro modelo de segurança energética e novas possibilidades de produção: mais limpa, com menos resíduo, baixo impacto ambiental, qualidade de vida urbana e preservação dos cur-sos d’água e do solo.

A tecnologia passa pela transformação digital e pela que-da das barreiras entre as disciplinas tradicionais: as divisó-rias entre a Química, a Física e a Biologia dissolvem-se, e a convergência da Ciência interfere na evolução de métodos, conceitos e ferramentas.

Nos campos científico e tecnológico, entre a descoberta da prensa de Gutenberg e o telégrafo foram 400 anos. Deste ao homem na lua, houve 130 anos. Daí ao carro autônomo do Google, quarenta anos. Saímos de uma lógica de crescimen-to linear para uma de crescimento exponencial: com trinta passos lineares chegamos ao final do auditório; com trinta passos exponenciais chegamos à África.

Nesse ponto, o avanço tecnológico deixa de acompanhar a mudança na sociedade, nos negócios e na política. É a cha-mada singularidade, quando a inteligência das máquinas supera a humana. Klaus Schwab, engenheiro e economista fundador do World Economic Forum, ofereceu uma frase sugestiva: “nesse mundo, não é o peixe grande que come o peixe pequeno; é o peixe rápido que come o peixe lento”.

Aproximamo-nos da Nanotecnologia, a Nanociência, a ci-ência das coisas muito pequenas, a inovação na escala do bilio-nésimo de metro, big data, fabricação 3D e Internet das Coisas. Com o DNA e a Genética, as nossas vidas e a lógica do agro mudam. O caminho da curva vai para a Biologia Sintética, com a alteração de genomas e o acesso à variabilidade em rapidez ja-mais vista. A automação e a agricultura de precisão já chegaram, e se fala em alimento preparado com impressora 3D.

Temos de estar atentos a tudo isso, o tempo todo, porque é o pano de fundo para olharmos as trajetórias para cons-truirmos um futuro desafiador. A resposta consiste em iden-tificar e garantir com todas as forças a detenção das nossas vantagens competitivas e comparativas.

A intensificação sustentável é um espaço de liderança e protagonismo único para o agronegócio brasileiro. A maior parte do nosso território está localizada no cinturão tropical do globo, como em poucas partes do Planeta. Podemos fazer uma agricultura de 365 dias por ano, com foco em produti-vidade e qualidade. É um meio poderoso para elevar renda e

poupar recurso natural de forma mais inteligente, conforme o anseio da sociedade.

O grande desafio para o Brasil é trabalhar a diversificação e a especialização da produção com agregação de valor. Existem e existirão mercados sofisticados e rentáveis para serem ocupados.

Outro ativo nacional é a agricultura de baixo carbono. Nenhum país avançou tanto na incorporação de práticas sus-tentáveis. Entre a Rio 92 e a Rio+20, passamos de 4 milhões de hectares para mais de 30 milhões em área com o sistema de plantio direto na palha. É um trunfo para valorizarmos e aproveitarmos da oportunidade.

Estamos em condições de apresentar para o mundo a intensificação sustentável da agropecuária, a ‘carne carbono neutro’. A Embrapa possui todo o conjunto de dados e métri-cas que sustentam a lógica desta produção.

A indústria sucroenergética de São Paulo é potente, reco-nhecida no mundo inteiro. Artigo publicado na Nature, no volume 523, de 30 de julho de 2015, analisa a sustentabili-dade da biomassa. No período pós-combustível fóssil, uma crescente proporção de produtos químicos, plásticos, têxteis, combustíveis e de eletricidade virá dela. Já se discutem os meios para controlar e definir métricas de sustentabilidade para essa agricultura. A grande preocupação é com o avanço dessa indústria sobre as áreas destinadas à produção de ali-mentos, comprometendo a segurança alimentar.

Outra preocupação diz respeito às competências. Preci-saremos de profissionais preparados para, em quinze anos, fazer com que mantenhamos e alcancemos os espaços de protagonismo daqui para o futuro. Serão novos acordos e alianças. Replicaremos a integração com a sinergia que pro-duzimos na primeira grande revolução pós-70 da agricultura brasileira, mas com mais velocidade e eficiência.

Investimos pouco ainda em pesquisa e inovação. Nesse ritmo, precisaremos de trinta anos para alcançar a China. Se-gundo a FAO, dos recursos globais aplicados no agro, os Es-tados Unidos aplicam 13%, os chineses, 19%, e o Brasil, 5%.

Trabalhamos um novo modelo para substituir o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA). O acréscimo de recurso passará por rearranjos e reajustes no ordenamento das instituições. Necessitamos de novas estruturas e estraté-gias. Estamos com a rede de fomento à integração lavoura- pecuária-floresta, com a participação de empresas.

Lançaremos um novo processo de controle de ervas daninhas, com a primeira planta geneticamente modificada no hemisfério Sul desenvolvida no Brasil. Desde 2012, temos uma unidade mista de pesquisa com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Criaremos o primeiro pipeline nacional em Biologia avançada, em parceria com as empresas multinacionais.

Discutimos, no Congresso Nacional e no Executivo, a criação de uma subsidiária “sociedade anônima” inteiramen-te controlada pela Embrapa para aumentar a sua capacidade e a sua competência para fazer negócios. Temos o dever de sermos otimistas, porque o agronegócio alimenta o futuro da sociedade, com a boa qualidade de vida inserida num mundo dinâmico, competitivo e desenvolvido.

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PAINEL 1

AGRONEGÓCIO BRASILEIRO, PRODUÇÃO 365 DIASCoordenação:

Luiz Lourenço, presidente da Cocamar Cooperativa Agroindustrial

Alexandre Mendonça de Barros, sócio consultor da MB Agro

Paulo Renato Herrmann, presidente da John Deere Brasil

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brio dos mercados agrícolas em gestação. Do lado da deman-da, tivemos o crescimento da população e a urbanização, o aumento na renda dos emergentes, a produção dos biocom-bustíveis, a atuação dos fundos, a desvalorização do dólar e a formação dos estoques públicos. Sem a contrapartida da oferta, os preços tiveram expansão vigorosa.

Na China, a migração da tecnologia de produção de carne em direção à ração, especialmente do farelo de soja, na última década, explica em mais de 90% o crescimento deste grão no comércio mundial. Enquanto isso, nos Estados Unidos, a expan-são da produção de etanol gerou uma demanda de 15% da ofer-ta de milho. Esses fatos transformaram a agricultura brasileira.

A partir de 2008, vimos uma “financeirização” dos mer-cados agrícolas. Os investidores americanos perceberam alte-ração na sua política monetária em direção da expansão da oferta monetária. Como o dólar perderia força, eles procura-ram ativos reais. Os fundos de investimento entraram pesada-mente comprando commodities. Isso impulsionou a economia latino-americana. Foi um fenômeno generalizado no mercado de petróleo, de minério e das commodities agrícolas.

Nessa fase, a alta em dólar foi muito superior àquela em reais. Agora, a volta ao mundo do dólar forte ajuda a defen-der a renda do agronegócio brasileiro. O péssimo momen-to macroeconômico brasileiro fez com que o real fosse uma das moedas com maior desvalorização frente ao dólar, espe-cialmente nesse período pós-eleição. Há um descolamento nos preços em dólar do algodão, do milho e da soja. Essa é a raison d’être* (“razão de ser”) para explicar o paradoxo de a economia brasileira ir mal e o seu agronegócio ir bem.

Evidentemente, isso mascara problemas. Há um reajus-te no consumo do brasileiro para produtos mais básicos, em substituição aos processados e mais caros, que tiveram um boom com a nova classe média emergente. Nas cadeias de grãos e carnes, seguramos a grande queda de preços no merca-do internacional com essa desvalorização do real. A tonelada de leite caiu de US$ 5,0 mil para US$ 1,8 mil, mas defendemos minimamente o seu preço. Isso não é verdade no açúcar, devi-do à sua enorme oferta, cuja queda externa foi acompanhada pelo mercado interno. No café, com oferta ajustada, os preços internacionais ainda são razoavelmente bons.

Os próximos anos serão marcados por uma trajetória muito diferente. Conviveremos com um ciclo de um dólar mais forte. Provavelmente, menos especuladores operarão naquela frequência de volatilidade vista, em especial com a subida do juro americano. Essa situação foi favorecida com os baixos estoques públicos de alimentos nos Estados Uni-dos, na Europa e no Japão, em consequência das reformas liberais na política agrícola dos países centrais nos anos 80 e 90. Tivemos, também, a grande seca e a quebra de safra nos Estados Unidos em 2012. Agora, devemos encarar com atenção a formação dos estoques públicos dos grandes países importadores asiáticos.

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Luiz Lourenço

Nosso objetivo com este painel é inocular o vírus da inte-gração lavoura-pecuária-floresta. O agronegócio voa por cima, mas não fica imune dessa crise do nosso País. Nos últimos doze anos, mais de US$ 700 bilhões foram apropriados pelo Brasil em termos de exportações do setor, sendo que quase a metade deles ainda está em reservas. Com toda essa competência, há algumas dificuldades dentro do agronegócio, especialmente com a baixa produtividade e a fraca tecnologia em pecuária, com menos de 1 cabeça por hectare; evidentemente, há exce-ções. Vamos usar essa tecnologia para recuperar o solo, reduzir as emissões de gás carbônico e reverter a produtividade, em prol da renda do produtor e da agropecuária.

Alexandre Mendonça de Barros

O Brasil possui essa característica de ter a única e grande agricultura tropical do mundo. Em primeiro lugar, falaremos sobre a conjuntura e a estrutura da produção da pecuária brasileira. Em segundo, olharemos para a parte econômica da integração lavoura-pecuária-floresta, nos seus fatores de risco e na otimização do uso dos recursos produtivos. Como terceiro ponto, trataremos sobre os desafios tecnológicos e as questões institucionais e de falhas na coordenação desse progresso tecnológico.

A história da economia agrícola revela um sucesso no sé-culo passado. O seu conteúdo é contado pelo lado da oferta. O choque tecnológico permitiu uma queda nos preços dos alimentos por quase cem anos. Tivemos apenas três picos de preços: nas duas últimas grandes Guerras Mundiais e no cho-que do petróleo dos anos 70.

Recente trabalho de divulgação internacional analisou o comportamento dos preços das commodities nos últimos 150 anos. O objetivo era estudar os superciclos, diante do debate intenso e atual sobre a desaceleração da China. A carne bovi-na foi a única exceção de alta, explicada pela sua dificuldade de incorporação tecnológica no aumento da produção.

Mas, há cinco anos assistimos a um aumento nos preços dos alimentos no mercado internacional, especialmente cota-dos em dólar. Esse movimento foi significativo, de duas a qua-tro vezes a média de 1997 a 2007, na maior parte dos produtos.

Para o economista agrícola, o enigma é entender essa di-mensão de mudança nos elementos da estrutura de equilí-

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operações de troca, dentre outras ações, permitem plantar e colher mais rápido. Apesar de não termos muita medida de sorgo, mileto e girassol, vemos uma ampliação deste poten-cial produtivo. É um ciclo de transformação: já está em curso. O milho 2ª safra é semeado em Minas Gerais, e a soja é plan-tada em áreas alagadas do Rio Grande do Sul.

Na pecuária bovina, o Brasil possui, em termos comer-ciais, o maior rebanho do mundo, mas de tamanho inferior ao da Índia. Porém, temos dúvida do seu tamanho, que equi-vale a quase o plantel argentino. Em 2014, o rebanho norte- americano foi o menor dos últimos setenta anos, com 88 milhões de cabeças. Como mais de 90% do gado para abate americano são criados em confinamento, a alta nos preços dos grãos pressiona as margens e o produtor abate as fêmeas. Com preço da arroba em torno de US$ 100 (o dobro do Bra-sil), agora, há uma recuperação do plantel bovino. Com alta produtividade, os americanos lideram na produção.

Entre os grandes consumidores de carne bovina, os mer-cados da China e de Hong Kong ganharam destaque mais recentemente. As projeções apontam que os números atuais podem até quintuplicar. O esforço por parte do Brasil terá de ser enorme. Países tradicionais como Austrália e Estados Unidos não possuem espaço físico para crescer. Ouvimos os chineses afirmarem que a carne vermelha será a soja da déca-da passada. Mesmo com as quedas nos preços das commodi-ties agrícolas, os preços continuam em alta na pecuária.

Vivemos um momento interessante no Brasil, pois é uma das poucas regiões com capacidade de resposta na oferta. Com as limitações no resto do mundo de produzir, as zonas tropicais ganham destaque. Com essa posição geopolítica e de exportador líquido de alimentos, as corporações chine-sas, japonesas e de países árabes interessam-se por ativos e tradings nacionais. Por sua vez, temos corporações com aquisições de ativos no exterior. Nesse contexto, é impor-tante o apoio da competência pública para aproveitar essas aberturas de mercado, que historicamente são muito lentas. É o caso da carne vermelha nos Estados Unidos, na China, na Coreia e no Japão.

Muito integrado e flexível, o sistema agropecuário bra-sileiro deve ser colocado na lógica da redução do risco de segurança alimentar do mundo. É esta a visão da integração das áreas com agricultura, pecuária e floresta; mesmo com a falta de precisão cirúrgica, os números mostram a capacida-de da agropecuária tropical de misturar sistemas e integrar cadeias de produção.

Nos grãos, crescimento da produção acima da área plan-tada sinaliza uma rota tecnológica e não extensiva. A oferta de frango, suínos e leite contou com esse alicerce. É impres-sionante o desempenho do milho de segunda safra, explo-rando o potencial produtivo de uma área de primeira safra. O ciclo precoce, a capacidade de plantar em diversas situações, a melhoria nos equipamentos, a capitalização do setor com

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Como possui correlação com a tomada do crédito, o cres-cimento da produtividade é uma variável-chave. Não existe nenhuma possibilidade de incorporar sistemas produtivos sem uma lógica financeira. Neste ano, a tendência é de retra-ção na oferta de crédito oficial, dependente do depósito à vista, que tende a diminuir quando a inflação sobe e a economia cai.

A elevação da taxa de juros também pesa nesse cenário de maior risco, mas o quadro não é assustador. A área, talvez, possa crescer em função de a nossa inércia ter sido muito boa nos últimos anos. Teremos as operações de troca – uma ló-gica brasileira interessante para diluir riscos e travar – como um desafio a enfrentar.

Como o calendário de plantio aumentou no Brasil, as pragas possuem maior espaço de sobrevivência. O ambiente tropical não quebra os ciclos biológicos, enquanto alternar o plantio de-pende de um arranjo produtivo macro, e não somente micro. Há um problema de coordenação: o produtor olha para a sua produção e não imagina o seu impacto nas outras produções.

Mas, assistimos, também, a perdas de tecnologia em rit-mos muito rápidos com o desenvolvimento de resistência pelos insetos. O manejo integrado de pragas, com práticas que utilizam o controle biológico, mostra resultados posi-tivos. Os marcos regulatórios existem. O problema está no cumprimento de prazos para registros de novos produtos, dependentes da autorização e do alinhamento do MAPA, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa (Ministé-rio da Saúde) – e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama (MMA).

No Brasil, a possibilidade de integrar sistemas produtivos com aumento da produção via maior produtividade é gran-de. Esse modelo de lavoura-pecuária-floresta (iLPF) ajuda na equação da agricultura, mas cabe pontuar riscos comuns na agricultura: variações nos preços dos produtos e das receitas, oscilação nos preços dos insumos e dos custos, volatilidade da taxa de câmbio, alternância de produtividade e os proble-mas sanitários.

Quando integramos os sistemas, investimos na intensifi-cação da produção. Existem ganhos na formação do fluxo de caixa, com novas entradas em diversos momentos. A prática clássica de plantar e colher em épocas diferentes varia con-forme usamos mais a terra e diversificamos a produção.

Quando o plano dispensa o uso de mão de obra e a má-quina nas lavouras, passamos a confinar ou deixar o boi no pasto para se alimentar. A diluição dos custos fixos ao longo do tempo ajuda o fluxo de caixa, com a incorporação de ati-vos sem exploração na sua totalidade. O risco sanitário passa a ser assumido por todo o sistema produtivo.

A otimização no uso dos recursos, como a terra e a mão de obra, acontece quando aproveitamos o custeio do grão para fazer pasto de alta produtividade. Pecuaristas tradicio-nais começam a incorporar essa lógica.

MUNDO: BALANÇO BOVINO, EM 2014

País Rebanho (mil cabeças)

Produção (mil toneladas)

Consumo (mil toneladas)

Exportação (mil toneladas)

Brasil 207.960 9.920 7.955 2.030

EUA 87.730 11.126 11.215 1.115

Índia 300.600 4.100 2.250 1.850

China 103.000 6.525 57.834 –

UE-27 87.645 7.475 7.580 255

Outros 242.393 20.452 21.860 4.525

Total 1.029.328 59.598 108.694 9.775

Fonte: USDA

MUNDO: IMPORTAÇÃO DE CARNE BOVINA, EM 2014 (MIL TONELADAS)

Rússia 825

EUA 1.218

Japão 750

China 460

Hong Kong 650

Outros 3.973

Total 7.876

Fonte: USDA

O SISTEMA AGROPECUÁRIO BRASILEIRO (MILHÕES DE HECTARES)

Fontes: IBGE; IbáElaboração: MB Agro (2014)

Pastagens

151,2

Grãos

58,5

Carnes AlimentosEnergia

Petróleo

Celulose

Outros

7,3

Cana

10,3

Florestas plantadas

7,7

Agricultura

83,8

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vel. Porém, não podemos deixar o agricultor no processo de tentativa e erro para desenvolver esse modelo.

Há dez anos, fizemos uma série de visitas a vários agricul-tores na região de Rio Verde, no Estado de Goiás. Na época, o presidente da Companhia pediu-me para organizar uma viagem para aquele lugar com russos, americanos, holande-ses, alemães e, até, brasileiros. Este senhor, que, hoje, é o nosso chairman, voltou a me fazer o mesmo pedido no ano passado. Retornamos, então, para aqueles mesmos locais, onde se reali-zava a colheita da 2ª safra. Há dez anos, era apenas uma safra.

Fomos, depois, para Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso. Encontramos um agricultor que tinha acabado de plantar a terceira safra e contava com um rebanho de 25 mil bois. Tinha colhido a soja e o milho e plantava feijão em pivô central. Este é um exemplo do potencial da agricultura tropical brasileira.

Criamos uma rede de fomento para o iLPF, uma iniciati-va de empresas, com o único e exclusivo objetivo de apoiar a difusão do conhecimento desenvolvido pela Embrapa. É um ponto de apoio para os agricultores fazerem o processo de gestão. Temos dificuldades para falar de um sistema de produção integrado dentro da mesma propriedade, com en-volvimento de gente, para ser tocado com base em modelos forjados há mais de cinquenta anos nas áreas de ensino, de crédito e trabalhista.

Então, precisamos mexer nos currículos das escolas, com a introdução de disciplinas que preparem, até o final do pe-ríodo, os alunos a saberem administrar a complexidade das atividades dentro da propriedade rural. A Universidade do Oeste Paulista (Unoeste) já criou cursos de especialização em iLPF. O desafio, na verdade, é a otimização dos ativos dispo-níveis dentro da propriedade.

A legislação trabalhista foi uma obra-prima do presiden-te Getúlio Vargas para proteger o trabalhador urbano. Com

Paulo Renato Herrmann

Se o Herbert Bartz, o Nonô Pereira, o Franke Dijkstra, agricultores pioneiros do sistema de plantio direto no Brasil, assistissem às palestras deste Congresso, certamente ficariam com inveja. Lá nos idos dos anos 70, quando eles começaram a defender esta tecnologia para conservar solo e água em am-biente tropical, não havia a iniciativa privada e o presidente da Embrapa para apoiá-los naquele momento.

Vinte anos depois, tivemos outra revolução, o plantio do milho 2ª safra, chamado de safrinha, com o aproveitamento residual do adubo da 1ª safra. Com a chegada da Biotecnolo-gia, mexemos na genética das sementes. E, assim, chegamos ao milho 2ª safra com uma produção de 50 milhões de tone-ladas, o dobro do milho 1ª safra. Ampliamos a capacidade de gerar receita na unidade produtiva.

A discussão do tamanho da área de pastagens degrada-das no Brasil, apesar do largo intervalo, de 150 milhões a 220 milhões de hectares, é interessante, em termos do potencial existente para crescermos a produção. Mas, achamos pouco provável que esta área toda seja transformada em grãos, em função da restrição da legislação ambiental. Representando 86% da população brasileira e sem uma visão adequada do agro, a sociedade urbana faz pressão nesse sentido.

E, também, algumas destas áreas são muito caras para se-rem recuperadas e possuem deficiência de infraestrutura e logística. Uma das saídas parece ser a intensificação sustentá-

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rápida. Discutimos com o pessoal do Ministério da Fazenda formas novas de crédito rural. Estamos no modelo antigo de plantar e colher uma safra por ano, com pagamento dos cré-ditos bancários entre maio, junho e julho. Estamos na fase em que a gestão é por centro de custo e atividade, para gerar a rentabilidade exigida com um profissionalismo que ainda não temos hoje.

Ouvimos muito falar que a agricultura brasileira vai bem dentro e mal fora da porteira. Temos de identificar as difi-culdades sobre as quais podemos atuar. Por exemplo, sobre o clima, dispomos da irrigação. Não vamos perder tempo em cima de fatores com gente mais qualificada para cuidar, como a oscilação do câmbio. Poucos ouviram falar de qualidade to-tal rural, e continuamos na base do improviso e da intuição, sem otimizar a atividade.

A agricultura brasileira é um modelo mundial, mas pode progredir mais. Com a integração, mitigamos 1,5 toneladas de carbono/hectare.ano. Na COP-15, em 2009, assumimos a meta de mitigar 1 bilhão de toneladas de CO2 equivalente em 2020. Desta quantidade, 18% são da agricultura. A Embrapa anuncia o boi carbono zero. Com essas iniciativas, colocamos a meta de 10 milhões de hectares com sistemas de integração para 2020. Estamos com 2 milhões a 3 milhões de hectares de sistemas integrados, sem dados confiáveis ainda para confir-mação. É como aquela história: não temos meta, mas, quan-do chegamos a ela, queremos dobrá-la!

uma série de emendas posteriores, ela serve, agora, de fun-damento para regular as leis no campo. Comecemos, então, pela discussão de um conceito simples sobre dia útil. Para o trabalhador urbano, é de segunda-feira a sexta-feira. Se for domingo, hora extra em dobro. Na prática do campo, cabe outra definição. Precisamos nos organizar e nos estruturar para criarmos possibilidades mais modernas, como, por exemplo, banco de horas, para fazermos uma gestão justa. Não pode ser que, a cada empregado contratado, surja um passivo trabalhista para a propriedade rural. Pretendemos, na rede de fomento do iLPF, preparar um anteprojeto e en-caminhar para as autoridades discutirem no âmbito do Con-gresso Nacional.

Outro aspecto é a qualificação. Na propriedade produtora de grãos, o trabalhador rural realiza as atividades correlatas de plantar, fazer tratos culturais e colher. Se introduzirmos a bovinocultura, a configuração muda. Na indústria, existem os funcionários multidisciplinares, e não mais o funcionário exclusivo. Na agropecuária, não para de chegar alta tecnolo-gia, por meio de químicos, fertilizantes, sementes, máquinas e equipamentos. Precisamos criar mecanismos para capaci-tar a extensão rural privada para dar assistência aos agricul-tores que optarem por um sistema complexo de produção.

Esses desafios devem dar-nos mais ânimo e energia. Pre-cisamos nos unir e trazer a experiência desenvolvida em ou-tros segmentos para fazermos esse processo de maneira mais

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PAINEL 2

GRÃOS, PROTEÍNA ANIMAL, FLORESTA PLANTADA E PALMAModerador: Jacyr Costa Filho, diretor regional Brasil do Grupo Tereos

Elizabeth de Carvalhaes, presidente executiva da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá)

Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA)

Pedro Bastos de Oliveira, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (CSMIA/ABIMAQ)

Rodrigo Lima, diretor-geral da Agroicone

Valmor Schaffer, presidente da ADM na América do Sul

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escoamento das safras via hidrovias nos próximos cinco a sete anos.

No mercado, convivemos com uma volatilidade de pre-ços sem precedentes. Qualquer tipo de conjecturas sobre pre-ços coloca em risco tanto quem ouviu, como quem falou. É praticamente impossível, hoje em dia, balizar-se por fatores fundamentais, dizer que a demanda e a oferta irão aumentar ou diminuir, para traçar uma ideia de futuro em cima disso. Assistimos a uma queda de preços muito importante nos úl-timos dois anos. A nossa margem média vem apoiada no for-talecimento do dólar, mas muita negociação começou a ser fechada com dólar a R$ 2,50. Se os mercados mantiverem-se mais ou menos estáveis em termos de valor da commodity, podemos ter um ambiente razoável de margens para quem não tem o endividamento estruturado em dólares.

A soja é uma bela história para ser contada. Quando olhamos os números da cadeia da palma, que parece seguir esse mesmo caminho, concluímos que é a matéria-prima com maior eficiência em termos de menor área plantada e maior participação na fabricação de óleo. Mas, como agrega valor na fonte de proteína, com rendimento de 75%, a soja ganha em força competitiva.

BRASIL: PRODUÇÃO DE SOJA E MILHO

Safra Soja (milhões de toneladas)

Milho (milhões de toneladas)

Total (milhões de toneladas)

Produtividade (quilos por hectare)

1994/95 26 37 63 2.565

2004/05 52 35 87 2.949

2014/15 96 82 178 4.858

Fonte: Conab

BRASIL: ESMAGAMENTO DE SOJA

Ano Quantidade (milhões de toneladas)

1995 21

2005 30

2015 40

Fonte: ABIOVE

BRASIL: EXPORTAÇÃO DE MILHO E GRÃO E FARELO DE SOJA, NO PRIMEIRO SEMESTRE (MILHÕES DE TONELADAS)

Ano

Portos

Regiões Norte e Nordeste(Aratu, Itaqui, Barcarena, Santarém e Itacoatiara)

Outros

2000 1,5 19,4

2005 4,5 33,4

2010 7,2 46,4

2015 9,0 37,1

Fontes: SECEX; Agências Marítimas

Valmor Schaffer

Falaremos, principalmente, sobre soja, milho e a palma. Restringir-nos-emos a estes produtos: duas oleaginosas e um cereal, todos eles importantes para a agricultura brasi-leira. Discutiremos um pouco seus tamanhos e as projeções de sua produção.

Na soja, somos o segundo maior produtor mundial. Esta conquista faz parte de um crescimento na produção desde os anos 70. Contamos com a disponibilidade de terra fértil e o espírito empreendedor do produtor brasileiro. No milho, posicionamo-nos como o terceiro maior produtor mundial.

Em 1999, um grupo no Brasil visitava regiões tradicio-nais e das novas fronteiras. Discutíamos o desafio nacional de produzir 100 milhões de toneladas. Estávamos, na época, com uma produção de 79 milhões de toneladas. Quinze anos depois, chegamos ao patamar dos 200 milhões de toneladas.

Na parte da produtividade, tivemos um ganho importan-te, mas podemos ir muito além. No milho, em particular, fi-camos muito aquém dos nossos concorrentes internacionais, especialmente os Estados Unidos e alguns países da Europa.

Como indicadores de tecnologia, além de quase 90% da área de soja e milho utilizarem sementes transgênicas, temos dois registros de aumento no uso de insumos: de 2012 a 2014, as vendas de defensivos passaram de 596 quilos para 663 qui-los, segundo o SINDIVEG, e de fertilizantes, em quilos de produto comercial, de 283, em 2006, para 373, em 2014, con-forme a ANDA.

Tivemos, também, nos últimos anos, a ascensão do esma-gamento da soja, que trouxe um forte incentivo econômico à produção de carnes no Brasil como fonte de proteína barata. Nas exportações, nem mesmo os mais otimistas dos chineses imaginavam a que ponto chegaríamos. Para 2015, são esti-mados embarques próximos de 90 milhões de toneladas, en-tre milho, grão e farelo de soja.

Sempre se comentou sobre o fluxo de commodities para a chamada Calha Norte, que se tornou, agora, uma realidade inevitável. A pavimentação da BR-163 (Rodovia da Produ-ção), em fase de complementação, abrirá espaço para o maior

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No Brasil, temos, em palma, aproximadamente 60 mil hectares em produção, e mais 120 mil entrarão em produção nos próximos anos. É um salto gigantesco. Uma parte disto substituirá as nossas grandes importações. Em princípio, es-ses volumes nacionais de importação em relação aos de ex-portação não seriam adequados. Acontece que, para o seu transporte, do Pará para São Paulo, o único modal utilizado no País é o rodoviário, com o valor do frete em torno de R$ 400 por tonelada.

Lamentavelmente, estamos ainda somente no ensaio dos primeiros passos na cabotagem, praticamente inexistente no País. Dentre as vantagens da palma, destacamos a contribui-ção da sua alta produção de óleo por hectare para um uso mais eficiente da área agricultável. Dispomos de vasta área

MATO GROSSO: MARGENS NA PRODUÇÃO DE SOJA

Safra Quantidade (milhões de toneladas)

2010/11 643,14

2011/12 794,17

2012/13 380,00

2013/14 806,15

2014/15 535,05

2015/16 122,20

Fonte: IMEA

MUNDO: PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL NA PRODUÇÃO E DA ÁREA DAS MATÉRIAS-PRIMAS OLEAGINOSAS

Matéria-primaParticipação percentual na safra

2014/15

Produção (1) Área (2)

Palma 30 45

Soja 23 6

Canola 13 14

Girassol 8 9

Coco 2 5

Outros 24 21

Fontes: (1) OIL WORLD; (2) OIL WORLD; USDA

BRASIL: PRODUÇÃO, EXPORTAÇÃO E IMPORTAÇÃO DE ÓLEO DE PALMA (MILHÕES DE TONELADAS)

Safra Exportação Importação Produção

2010/11 17 333 298

2011/12 52 370 338

2012/13 70 394 374

2013/14 83 431 416

2014/15 108 457 428

Fonte: OIL WORLD

em condições ideais para a produção, sem precisar abrir no-vas áreas.

Com a geração de 25.000 empregos diretos e produtos de alto valor agregado, para tornar essa cadeia agroindustrial mais competitiva, cabem alternativas de escoamento entre as áreas de produção e consumo, novas tecnologias em campo para reduzir os custos por hectare e políticas de médio e lon-go prazos para incentivar os investimentos.

Francisco Turra

Passaremos alguns dados para mostrar o tamanho e aon-de pretendemos ir e fazer chegar a avicultura e a suinocultura brasileira. Entre as 25 cidades com maior Índice de Desenvol-vimento Humano (IDH) no Brasil, metade desenvolve estas criações. É uma alternativa para que um pequeno produtor, em curto espaço de tempo, seja um grande empresário rural.

Realizamos um trabalho intenso, principalmente na área sanitária, para a abertura de mercados. Exportamos carne de frango e de suínos para, respectivamente, 147 e 67 países. O mundo vê-nos como a grande reserva na produ-ção de alimentos.

Podemos concluir que estamos inseridos globalmente quando olhamos os diferentes destinos das nossas exporta-ções. Somos o quarto maior exportador do mundo de produ-tos agropecuários. Podemos melhorar nosso desempenho. É comum a Holanda e a Alemanha importarem nossos produ-tos para reexportá-los com maior preço.

Superamos a fase da Revolução Verde e chegamos a essa etapa da agregação de valor. Se exportássemos todo o milho e o farelo de soja utilizado na produção de frango de 2014, teríamos um saldo de US$ 1,9 bilhão. Este valor corresponde a US$ 6,1 bilhões a menos do que o saldo dos embarques de carne de frango. Empresas na Espanha chegam a produzir mais de 330 tipos de embutidos a valores astronômicos.

A ordem é exportar grãos na forma de proteína animal; trabalhar na qualidade e produzir com baixa escala para ven-der produto premium; participar da segmentação em nichos de mercado com gêneros de origem certificados; especializar a atividade. A partir da batata, por exemplo, são produzidos diversos produtos com valor agregado. Publicação da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA) aponta mais de sessenta subprodutos a partir da cana-de-açúcar. Esse é o ca-minho. William Cowper tinha razão de dizer que Deus fez os campos e os homens, as cidades.

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BRASIL: NÚMEROS DA AVICULTURA E PECUÁRIA

AtividadeExportação

Valor da produção (R$ bilhões) Empregos gerados

US$ bilhões Part. percentual do agronegócio

Avicultura 8,5 8,86 64 3.560.000

Suinocultura 1,6 1,65 16 595.000

Total 10,1 10,51 80 4.155.000

Fontes: MAPA; MDIC; ABPA; ICONE

BRASIL: EXPORTAÇÃO DE CARNE SUÍNA

Região Número depaíses

Número depaíses importadores

Países importadores/total de países

Exportação do Brasil/consumo doméstico

África 53 21 40% 10,7%

América 34 16 47% 0,4%

Ásia 44 14 32% 0,2%

Europa (extra UE) 17 8 47% 4,1%

Oceania 13 1 8% 0,0%

União Europeia (UE) 28 7 25% 0,0%

Fontes: FMI; USDA; AGROSTATElaboração: Agroicone

BRASIL: EXPORTAÇÃO DE CARNE DE FRANGO

Região Número depaíses

Número depaíses importadores

Exportação do Brasil/consumo doméstico

Share na importação do continente

África 53 45 19,0% 41%

América 34 28 27,0% 20%

Ásia 31 23 4,0% 50%

Europa (extra UE) 17 11 3,0% 28%

Oceania 13 5 0,2% 21%

Oriente Médio 15 15 24,0% 63%

União Europeia (UE) 28 20 4,0% 59%

Fontes: ABPA; FMI; FAO; USDA; AGROSTAT

AGREGAÇÃO DE VALOR EM SUÍNOS (US$ POR TONELADA)

Peças Valor

Grãos 870

Miúdos 1.350

Carcaça 1.950

Barriga 2.300

Paleta desossada 2.400

Pernil desossado 2.500

Copa 2.800

Lombo 3.000

Fonte: ABPA

AGREGAÇÃO DE VALOR EM AVES (US$ POR TONELADA)

Peças Valor

Grãos 430

Griller 1.700

Inteiro 1.790

Corte 2.010

Salgado 2.990

Industrializado 3.015

Fonte: ABPA

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importa 50% da celulose brasileira. Diferentemente de outras commodities, como minério de ferro e petróleo, desde o ano passado, o patamar da precificação da celulose é crescente. Com a desvalorização cambial do real frente ao dólar, as nos-sas empresas possuem grande chance de fazer uma grande recuperação de caixa e receita nas exportações.

O Brasil é tão proeminente nessa área que lança uma nova fábrica de celulose, em média, a cada dois anos, colo-cando, deste modo, no mercado mundial mais 2 milhões de toneladas de celulose. Em maio último, dois grandes players, a Eldorado e a Fibria, anunciaram investimentos avaliados em R$ 17 bilhões. Então, daqui a dois anos, teremos mais 4 milhões de toneladas de celulose.

A pergunta é: para onde vai o Brasil com tanta produ-ção de celulose? Qual é a tendência do mercado? Desde as crises de 2009 e 2010, como o mundo deixou de produzir 19 milhões de toneladas e ocupamos esse mercado, estamos com a indústria mais moderna do mundo e a maior floresta plantada do mundo. No pipeline das empresas, vemos novas tecnologias saindo dos laboratórios. Para o futuro, é a inova-ção tecnológica que interessa.

Grandes investidores do setor trabalham diuturnamen-te em produtos outros além da celulose, como os painéis de madeira, os pisos laminados e o etanol celulósico. A pesquisa avança bastante no setor da celulose proveniente de árvores plantadas. A Nanotecnologia, quando estiver aplicada de for-ma mais profunda, aumentará o leque de produtos para ofe-recer ao mercado mundial.

Então, temos listados 5 mil produtos diferentes que uma árvore pode oferecer ao ser humano. A médio prazo, o alu-

Elizabeth de Carvalhaes

Essa é a primeira vez que o setor de florestas plantadas participa do Congresso da ABAG. Em dezembro de 2014, assinamos o Decreto nº 8.375, que transferia para o MAPA a gestão das políticas públicas para este setor. Tivemos um grande movimento institucional dentro das associações.

Para formar a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), junta-mos quatro associações: a Associação Brasileira da Indústria de Painéis de Madeira (ABIPA), a Associação Brasileira da Indústria de Piso Laminado de Alta Resistência (ABIPLAR), a Associação Brasileira de Produtores de Florestas Planta-das (ABRAF) e a Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa). O nome Ibá veio do fato de as nossas grandes empresas entenderem que o maior valor desse negócio está na árvore.

O Brasil possui, hoje, a propriedade intelectual da me-lhor engenharia genética arbórea do Planeta. Cada vez que fazemos uma rotação na floresta tornamos os nossos clo-nes melhores.

Em 9 de abril deste ano, o Brasil aprovou a primeira árvo-re geneticamente modificada do mundo, um eucalipto. É um movimento inusitado e de vanguarda. Esse é o grande valor econômico dos negócios, para onde os investimentos em tec-nologia são os maiores. Por causa disso, claramente, temos a floresta mais produtiva do mundo.

Entregamos madeira para os mercados nacional e inter-nacional três vezes mais rápido do que o segundo colocado, o Chile, que leva entre 18 e 22 anos para fazer a colheita flo-restal. A cada seis anos, contamos com novo fornecimento de madeira. A entrega é anual, mas o ciclo de produção é nesse período.

Além de ser a mais produtiva do mundo, em termos da oferta de metros cúbicos por hectare por ano, essa árvore é a maior absorvedora de carbono da atmosfera. Com 7,8 mi-lhões de hectares, as florestas plantadas absorvem, a cada ano, 1,3 bilhão de toneladas de carbono da atmosfera. Toda essa indústria no Brasil emite anualmente, na atmosfera, 400 milhões de toneladas de dióxido de carbono. Então, um ano de floresta plantada mitiga três anos de emissões de dióxido de carbono da indústria.

Quem frequenta as conferências do clima escuta o jargão “o Brasil é um país de indústria carbono zero”. Não estamos incluindo o desmatamento florestal de madeiras nativas. Ex-portamos mais ou menos 15 milhões de toneladas de celulose por ano, o correspondente a 92% da produção.

Possuímos uma distribuição bastante equalizada entre Estados Unidos, Europa, China e América Latina. Maior consumidor e o cliente de maior crescimento hoje, a China

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14º CONGRESSO BRASILEIRO DO AGRONEGÓCIO • ABAG 201524

geram menor quantidade de poluentes e oferecem conforto ao operador.

O terceiro está relacionado a melhorar a competitividade da indústria.

As pequenas e médias indústrias apresentam um gap im-portante na gestão, na governança e no domínio de tecnolo-gias produtivas e embarcadas em produtos. A busca deve ser incessante para os ganhos de produtividade não perderem solução de continuidade. A nossa legislação tributária é com-plexa e custosa, enquanto a legislação trabalhista engessa as relações entre empregadores e empregados.

O quarto versa sobre a pesquisa e o desenvolvimento de novos conceitos de mecanização e automação.

A Academia e os institutos de pesquisa ainda não pos-suem a proximidade desejada em relação à indústria. É im-portante a formação de parcerias com base em contratos de desenvolvimento conjunto ou licenciamento. Para isso, é importante uma melhor articulação entre os vários órgãos do governo, como Ministérios, institutos, universidades, a Embrapa, o BNDES e os agentes privados. Nesse sentido, cabe manter e estimular os vários programas de incentivo à inovação, tais como: Finep, INOVAGRO, BNDES PSI – Ino-vação e Máquinas e Equipamentos Eficientes.

O quinto está relacionado a diminuir o déficit de arma-zenagem.

O déficit na capacidade de armazenagem nacional é esti-mado em 40 milhões de toneladas na safra 2014/15, segun-do estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Em 2013, foi lançado o Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA). Para esta safra 2015/16, houve corte de 43% nas verbas do Programa, de R$ 3,5 bi-lhões para R$ 2,0 bilhões.

Se tivéssemos a ousadia de resumir esses assuntos de naturezas tão amplas, colocaríamos em três itens. Come-çaríamos pelo aumento da competitividade na indústria, com inovação da gestão e planejamento estratégico. O seu papel é importante na parte de educar e levar tecnologia para o campo. Para o agropecuarista, a necessidade de ter novas habilidades e competências é fundamental para li-dar com informações e ficar a par da atualidade. E, final-mente, uma atuação mais forte do Governo, para reduzir o Custo Brasil, promover a extensão rural e estimular a modernização das máquinas.

Rodrigo Lima

Traremos uma visão de longo prazo sobre a adequação ambiental para o setor agropecuário brasileiro, com base no modelo de uso da terra desenvolvido pela Agroicone. Trabalhamos com dois cenários para a implementação do

mínio utilizado da indústria aeronáutica será substituído por fibras de árvores, mais leves e resistentes. As empresas do setor, mesmo autossuficientes, estão adquirindo empresas importantes de energia.

Terminaremos com duas mensagens: a primeira é de que uma árvore plantada é uma agricultura; e a segunda é de que não se produz no Brasil uma só folha de papel proveniente de árvore nativa. Isso nos diferencia completamente do mundo. Sejam conscientes, mas não há problema em imprimir papéis no Brasil.

Pedro Bastos de Oliveira

Na Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ), participamos da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA). Reunimos 370 fabricantes, a grande maioria representada por pequenos e médios fabricantes. No ano passado, faturamos em torno de R$ 9 bilhões.

Temos uma indústria forte para uma agricultura forte. Vamos analisar os desafios de o agronegócio continuar líder em produtividade e inovações tecnológicas em meio às in-certezas nacionais e internacionais.

Para isso, pontuamos cinco itens:O primeiro item é a maximização das tecnologias atuais

no campo.Temos de garantir a qualificação da mão de obra do

campo para todos os usuários (operadores e agropecuaris-tas) com relação às novas tecnologias (georreferenciamento, apps, computadores de bordo, correções via satélite, teleme-tria, big data, agricultura de precisão), que surgem de forma rápida com o desenvolvimento tecnológico.

A indústria terá de fazer um esforço grande para treinar os multiplicadores (Ater, Emater, cooperativas, SENAR e en-tidades de classe), pois não dará conta de enfrentar sozinha esse desafio. Da mesma forma, deve-se colocar ações para adaptar e desenvolver as tecnologias que estão embarcadas em máquinas de grande porte para máquinas específicas para pequenas e médias propriedades.

Ainda podemos melhorar muito o acesso do pequeno e do médio agricultores às tecnologias de mecanização e au-tomação. São 4,3 milhões de propriedades, mas somente 800 mil propriedades são atendidas pelo Programa Mais Alimen-tos, do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).

O segundo é o estímulo à reposição de máquinas agríco-las modernas.

É um papel relevante para a execução das políticas pú-blicas (Moderfrota, PRONAMP, Mais Alimentos e Progra-ma ABC), tendo em vista que novos equipamentos trazem maior produtividade, diminuem o gasto de combustível,

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novo Código Florestal (CF) aprovado em 2012, por meio da efetivação do Cadastro Ambiental Rural (CAR), que tem como prazo maio de 2016. A partir daí, começará uma fase mais complexa, por meio do Programa de Regularização Ambiental (PRA):

Cenário 1: restauração do déficit nas Áreas de Preserva-ção Permanente (APPs), de 6 milhões de hectares, até 2020, em áreas hoje em uso na agropecuária;

Cenário 2: restauração do déficit líquido da Reserva Legal (RL), considerando que todo potencial de compensação será utilizado para minimizar o restauro em vinte anos (até 2035).

A partir do momento em que se tem as restrições am-bientais no novo Código Florestal, é preciso implementá-lo. Existem duas obrigações – as APPs e as áreas de RL – para quem possui déficit nos biomas. Partimos da premissa de que temos uma vegetação nativa remanescente com déficit de 19,0 milhões de hectares em RL e 6,3 milhões de hectares em APP.

Na RL, existe a possibilidade de se fazer a compensação. Tudo dependerá de como esse mercado de compensação será estruturado. Assumimos que ocorrerá só dentro do Estado e de cada bioma. A possibilidade de fazer a compensação além do Estado dependerá de acordos interestaduais. Se ocorrer dentro do Estado, o tamanho da compensação será de 11,5 milhões de hectares, com uma demanda de restauração da RL de 7,2 milhões de hectares.

A perda de área produtiva será de 13,6 milhões. Muitas delas não são utilizadas porque estão degradadas e apresen-tam baixa produtividade. O custo disso depende da meto-dologia utilizada. Assumimos um custo médio por hectare de R$ 3 mil a R$ 13 mil para restauração da APP e de R$ 1,9 mil a R$ 13,0 mil para a da RL. Não foi considerado o potencial de restauração econômica de RL (50% nativas e 50% exóticas).

A implementação efetiva do CF é algo desafiante. Temos metas de várias frentes pelo desmatamento zero. Isso, apa-rentemente, não acontecerá agora. O uso da terra com agri-cultura, pastagens e florestas legais reduz de 241,8 milhões de hectares para 228,6 milhões – uma variação negativa de 13,2 milhões. A queda na área de pastagens é de 12,5 milhões e, nas lavouras da primeira safra, de 820 mil.

Chamamos a atenção para o fato de a pastagem ser o grande vetor de mudança para a sustentabilidade não só para a pecuária, mas também das outras cadeias produtivas. Com a sua intensificação, a pastagem liberará área para as outras culturas. Como isso trará maiores rentabilidade e produtivi-dade, ajudará na fixação da mão de obra no campo.

No PRA, existem várias metodologias de impacto dife-rentes no fluxo de caixa do produtor, seja pela compensação, pela semeadura direta, pela restauração, pela regeneração na-tural ou pela restauração econômica. Em torno da agenda de implementação do CF, entram as questões do acesso a tecno-logia, da capacitação e da criação de novos negócios.

No cenário do norte do Mato Grosso, com déficit de RL de 40%, quanto maior a rentabilidade da produção, a sua compen-

sação se torna a forma mais atrativa ou menos custosa. Para o produtor, é melhor compensar RL em outro lugar e não perder área produtiva. Por sua vez, quando a rentabilidade é baixa, a res-tauração econômica começa a aparecer como alternativa atrativa.

Já na região de cerrado do Mato Grosso, a compensação representa um impacto quase nulo para o fluxo de caixa do produtor com alta rentabilidade. A questão é verificar se esse mercado de compensação funcionará ou não.

Quando tomamos a dinâmica de uso do solo e o anseio de agregar valores e sustentabilidade para uma determinada ca-deia produtiva, é importante tomar o momento em que esta-mos do Cadastro Ambiental. No passado, a área de pastagem caiu em 19,5 milhões de hectares nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, enquanto a sua expansão na área de fronteira foi de 15,5 milhões de hectares. Restaram apenas 4,0 milhões. Embora a produtividade tenha passado de 2,16 arrobas por hectare/ano para 3,82 arrobas, um incremento de 76% entre 1996 a 2013, a variação é pequena. Em 2010, 81 milhões de hectares de propriedades agrícolas produziam em torno de 3,00 arrobas por hectare/ano.

A dinâmica de uso da terra nos próximos dez a vinte anos terá impactos da implementação do CF: ao menos 13,6 mi-lhões de hectares de áreas “produtivas” serão destinados a conservação. Na Amazônia, a redução mínima será de 5,2 milhões de hectares até 2035: o papel da pastagem será de doadora de área para outras culturas e de intensificação.

A criação de uma nova geração de políticas de uso da terra envolve incentivos à regularização ambiental, à con-servação de vegetação nativa e à intensificação. Sem ca-pacitação, os produtores de baixa tecnologia tendem a se manterem ilegais ou a saírem do mercado. A regularização ambiental é uma oportunidade concreta para agregar prá-ticas sustentáveis e aumento de produção: como o CF é um grande atributo da sustentabilidade, a construção de solu-ções setoriais para viabilizar a regularização a menor custo, evitar barreiras comerciais e expandir é um desafio para o agro brasileiro.

Jacyr Costa Filho

Tivemos um painel muito rico. Gostaria de acrescentar um ponto do setor sucroenergético, onde atuamos. Possu-ímos uma política correta de diferenciação do combustível renovável em relação ao fóssil. O potencial no Brasil é che-garmos a 2030, de acordo com o objetivo da COP-21, com uma produção de cana-de-açúcar em torno de 1 bilhão de toneladas. Haverá uma mitigação das emissões do efeito es-tufa de 1,2 bilhão de toneladas. Isso representa seis vezes a quantidade emitida pelos combustíveis fósseis para transpor-te em 2012, no Brasil.

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PAINEL 3

ALIMENTO E ENERGIAModerador: William Waack, jornalista

Adriano Pires, diretor fundador do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE)

Almir Dalpasquale, presidente da Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja Brasil)

Eduardo Bastos, presidente do Comitê de Sustentabilidade da ABAG e integrante do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS)

Fernando Figueiredo, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim)

Luís Roberto Pogetti, presidente do Conselho Deliberativo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA)

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William Waack

Como faz parte do debate internacional, esses dois assun-tos, alimento e energia, podem ser colocados como uma di-cotomia: ou se cuida de um ou se cuida de outro?

Adriano Pires

Esse debate de alimentos versus energia é falso do ponto de vista da produção, pois não são incompatíveis. Agora, o ali-mento pode perder competitividade em função de uma ener-gia cara. Nesse sentido, o Brasil está na contramão do mundo, com uma abundância de petróleo barato. Nos últimos quatro anos do governo, se cometeram grandes barbeiragens. Não vemos perspectivas de mudanças tão cedo. A energia cara tira a competitividade da indústria nacional, aumenta a inflação e prejudica o crescimento da economia brasileira.

Luís Roberto Pogetti

Não existe concorrência entre energia e alimento quando falamos de cana-de-açúcar, que ocupa perto de 3% da área agriculturável do País. Existe espaço físico para crescimento sem avançar em áreas protegidas. As usinas são autossufi-cientes em energia, mas há falta de visão de política pública. Com a matéria-prima dispensada no campo, como palha e folhas, na ordem de 90%, poderíamos produzir muito mais energia próxima do centro consumidor, com valores bem mais baixos do que os daquela paga pelo consumidor.

William Waack

O Brasil anda na contramão da história com a perda de competitividade, porque os custos da energia se tornam mais caros. Entre as produções de energia e alimento, não exis-te contradição. Fica difícil de as políticas públicas seguirem uma trilha clara, promissora e capaz de atender o que as pes-

soas precisam, de comida e energia. Existe, do lado da indús-tria química, algo capaz de tornar essa discussão mais afável e esperançosa?

Fernando Figueiredo

A dicotomia entre alimento e energia não tem relevância. O Brasil possui muitas oportunidades de produzir energias. Acontece que as políticas públicas afetaram esse mercado de uma forma muito grave. O congelamento de preço da gaso-lina conseguiu prejudicar, ao mesmo tempo, o setor agro e o setor químico. Se o Governo tivesse subido o preço da ga-solina quando o petróleo subiu, não precisaria, agora, subir o seu preço quando o preço do petróleo caiu. Podemos ser um grande produtor de alimento e de energia. A energia à base de biomassa é mais um componente importante da ma-triz enérgica, mas o Brasil possui potencial para fazer muito mais. Atualmente, possuímos a matriz enérgica mais limpa do mundo em termos ambientais.

William Waack

A energia torna a produção de alimentos mais cara e faz o Brasil perder a competitividade. Em relação à soja, com sua importância central quando falamos do agronegócio, como fica essa discussão?

Almir Dalpasquale

Podemos olhar para as novas fronteiras agrícolas do Cen-tro-Oeste, onde os projetos de energia são muito prioritários e representam um gargalo enorme. O seu custo faz parte da produção de alimentos. No curto prazo, não sabemos como as políticas públicas resolverão esse quadro.

William Waack

Todos batem na tecla das políticas públicas, pela sua au-sência, que onera e faz com que a energia encareça também a produção de alimentos.

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14º CONGRESSO BRASILEIRO DO AGRONEGÓCIO • ABAG 201528

mais matéria-prima sobrará para fazer a cogeração de ener-gia. Mesmo no etanol de segunda geração, caminha-se para as soluções de desenvolvimento minimizadoras da concor-rência da matéria-prima, com a utilização da biomassa para a produção de energia elétrica.

Fernando Figueiredo

Como reúne os políticos que foram merecedores dos nossos votos, o debate político precisa passar pelo Congresso Nacional, principalmente nessa visão de longo prazo. O setor agro é extremamente bem organizado no debate político do Congresso Nacional. Nós esperamos que a Química consi-ga, num curto prazo, ser metade do que o setor agro é bem organizado, mas, se queremos decidir o futuro, teremos de discuti-lo no Congresso Nacional.

Eduardo Bastos

A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) é um exemplo de mobilização. As discussões sobre o Código Florestal mostraram isso. Nada vem de graça, pois, primei-ramente, demandou uma articulação dentro do próprio setor. O Governo precisa normatizar algumas situações para nos acompanhar na produção. Quando falamos em energia, temos empresas privadas para atenderem as de-mandas das nossas necessidades. Fizemos um projeto para armazenagem no Mato Grosso do Sul e, quando chegou a hora para começar a funcionar, recebemos uma carta da empresa dizendo que faltava energia. São as dificuldades comuns nessas áreas de fronteira do Centro-Oeste. Vamos para a geração de energia a partir da palha. O produtor pre-cisa salvar o seu patrimônio, mas investe e corre risco para produzir. E, assim, o agronegócio procura caminhar com as próprias pernas.

Luís Roberto Pogetti

Na falta de visão de longo prazo, o produtor tenta otimi-zar os recursos disponíveis para a produção no curto prazo. Ele direciona a cana-de-açúcar para obter maior rentabilida-de e procura investir na inovação tecnológica como solução duradoura. Temos um programa de investimento para R$ 1 bilhão em quatro anos no Centro de Tecnologia Canavieira (CTC). Pretendemos elevar a produção de etanol por hectare de 7 mil litros para 12 mil a 14 mil em dez anos. Como seu ciclo de produção é de cinco anos, a resposta na inovação tecnológica da cana-de-açúcar leva, no mínimo, este tempo. Já a velocidade na destruição da competitividade no preço do

Eduardo Bastos

Infelizmente, é isso, mas falta, da nossa parte do setor pro-dutivo, uma articulação mais forte para conseguir elevar o nível do debate político. Existem pessoas interessadas em fazer isso. Os setores são interdependentes. Quando falamos em dobrar a expansão, por exemplo, de cana-de-açúcar, são 10 milhões de hectares. Nas estimativas das pastagens na pecuária, os números variam de 150 milhões de hectares a 200 milhões. Neste gap, ca-bem cinco áreas de cana. Precisamos trabalhar melhor para le-varmos para frente esse diálogo com os formadores de opinião.

William Waack

Com quem e como seria este diálogo?

Luís Roberto Pogetti

A gestão das políticas públicas norteia-se sempre pelo curto prazo para resolver os problemas imediatos. Achamos, de forma otimista, que existirá esse espaço em algum mo-mento para discutir o longo prazo. Cinco anos são curto pra-zo para analisar uma política saudável de energia, incluindo a elétrica e os combustíveis. Precisamos olhar os próximos vinte anos, colocar na mesa o esforço que cabe a cada um dos agentes e estabelecer compromissos. Optamos por importar combustível e transferir divisas para fora do Brasil, em vez de discutir uma política para viabilizar a competitividade do etanol. Sabemos que o empreendedor do campo possui ape-tite de investimento e desenvolvimento. Falta ainda definir-mos o papel da cana, da Petrobras e do Governo.

William Waack

No médio prazo, é melhor utilizar biomassa disponível para gerar eletricidade ou para a produção de etanol e bioquímicos?

Luís Roberto Pogetti

A bioeletricidade e o etanol de segunda geração não são concorrentes. Quando conseguirmos expandir o canavial,

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William Waack

Um problema grave do agronegócio são os diferentes ho-rizontes de aplicação da inovação tecnológica nas suas ca-deias produtivas, enquanto o grau de destruição dos preços ocorre no curto prazo, pela falta ou pelo erro das políticas públicas. Existem, ainda, as propostas do setor químico, jun-to com a produção do etanol a partir do milho, a energia so-lar e os derivados de soja, dentre outras?

Almir Dalpasquale

Na energia solar, avançamos pouco, enquanto, na eólica, possuímos projetos implantados em algumas regiões produ-toras, porém o seu custo é muito alto. Na produção de ali-mentos, se buscam alternativas, com pequenas gerações para sanar os déficits de energia dentro da propriedade. O preço de milho no Brasil não é formado pela cesta básica, mas sim no mercado internacional, sendo que o peso da logística para tirar este produto do Centro-Oeste pressiona muito o produ-tor. Quando o preço do grão atinge um patamar baixo, o seu destino para a produção de etanol se torna compensatório.

produto foi muito mais acelerada, por causa de erros nas po-líticas públicas. Se descobrirmos uma variedade excepcional hoje, o seu plantio somente ocorrerá daqui a cinco anos. É uma transição difícil em que se busca racionalidade de custo e otimização na aplicação de ativos.

Adriano Pires

Houve um descompasso entre as políticas de governo e do setor produtor privado nos últimos quatro anos. Faltou uma preocupação com o longo prazo. A defasagem no preço da gasolina no mercado interno, com relação ao do externo, deu um prejuízo para a Petrobras em cerca de R$ 60 bilhões. O próprio setor elétrico precisa de um banho de loja. De-vemos mudar essa mania de solucionar os problemas com megaprojetos e discutir uma política mais descentralizada no setor elétrico, com soluções por meio de pequenos e médios projetos. Somos um país continental, com diversidade e re-gionalização de energia, mas não aproveitamos esta vanta-gem dada pela natureza.

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Mas, como a conjuntura de mercado muda, é recomendável uma planta flex para a utilização de outras matérias-primas.

Fernando Figueiredo

Não existe nada de curto prazo na área química. Suas grandes empresas possuem dois direcionamentos muito cla-ros: o primeiro é para o melhor aproveitamento enérgico da biomassa; e o segundo para a economia de água. A energia eólica ainda é complicada, enquanto a solar, apesar dos gran-des investimentos para chegar a processos mais econômicos e viáveis, é muito difícil. A base de renováveis será a Química do século XXII, assim como o petróleo representou a Quími-ca do século XXI.

William Waack

Existem, atualmente, incentivos financeiro, fiscal e de qualquer outra ordem para o produtor rural investir na pro-dução e no uso de tecnologias mais avançadas do ponto de vista do balanço energético e do preço dos alimentos?

Eduardo Bastos

O melhor incentivo é a rentabilidade. Trabalhamos numa empresa que possui uma usina autogeradora em energia, cujo excedente foi vendido a preços históricos elevados nos leilões recentes. Noutra fábrica, trocamos um terço da gera-ção de gás comprada da Petrobras pela produção própria da biomassa de eucalipto. Como existe uma lógica econômica, promovemos essas ações para que aconteçam de forma mais rápida. Nas áreas sem o apoio de políticas públicas, precisa-mos introduzi-las para atuarmos como protagonistas junto ao Governo nessas questões.

Passamos um momento difícil no País. Os empresários investidores são heróis. Faltam para o Governo credibilida-de, segurança e previsibilidade. Não vemos incentivos con-cretos para o investimento acontecer, mas sairemos desse problema. Devemos, então, cobrar do Governo a retomada de um planejamento de longo prazo, para revertermos essa situação desfavorável.

Luís Roberto Pogetti

Operamos num setor em que o etanol, um insumo estra-tégico do País, possui correlação com outras fontes de ener-gia, especialmente a gasolina. A equação é de que o preço

do etanol seja competitivo em até 70% do preço da gasolina. Para alguns veículos, já chegam a 75%. É preciso um esforço colaborativo entre o Governo e o empresariado para fechar esta equação. Como tivemos sete anos de preços congelados da gasolina, com uma inflação média de 7% ao ano, não há iniciativa de inovação para devolver essa competitividade para o produto. Essa devolução envolverá muitos anos. Não basta o etanol hidratado ser livre se o preço do seu produto substituto (gasolina) é controlado pelo Governo.

William Waack

A energia será o parâmetro para a viabilidade agrícola e a capacidade de competição do produtor rural?

Fernando Figueiredo

Na indústria química, definitivamente sim. Podemos di-zer que o custo de energia, com certeza, é importante para toda indústria.

Eduardo Bastos

A energia não será mais barata, pois é um recurso cada vez mais escasso, principalmente em função dessa agenda ambien-tal que, hoje, todo mundo concorda e aceita. Temos uma posi-ção confortável em relação a energia, mas necessitamos trans-formar as nossas vantagens comparativas proporcionadas pela natureza na sua produção em vantagens competitivas.

Precisamos de políticas mais modernas, como, por exem-plo, promoção de leilões regionais por fonte de energia. Este é um país continental. Faz sentido trazermos energia eólica do Nordeste, com uma capacidade de distribuição limitada, tendo biomassa nas regiões Sudeste e Centro-Oeste? A coge-ração com gás e biomassa de cana ainda não foi descoberta verdadeiramente. No Japão, sem energia primária suficiente, a energia é mais barata em comparação à do Brasil. Lá, não se discute se haverá apagão ou não. A geração de energia de-veria ser uma solução para a geração de emprego e para a economia brasileira.

Luís Roberto Pogetti

A indústria sucroenegética é autogeradora de energia, com capacidade para produzir para o seu consumo e expor-tar. A agricultura possui condição de proporcionar energia e alimento para o mundo. Com nossos recursos naturais e capacidade tecnológica, podemos ter um papel de destaque em fornecimento de energia e alimentos para o mundo.

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14º CONGRESSO BRASILEIRO DO AGRONEGÓCIO • ABAG 2015 31

PAINEL 4

SEGURANÇA ALIMENTAR E RENDAModerador: William Waack, jornalista

André Pessôa, sócio-diretor do Grupo Agroconsult

Eduardo Daher, diretor executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef)

Marcos Montes, deputado federal (PSD-MG) presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA)

Renato Buranello, sócio do Demarest Advogados

Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getulio Vargas (GV Agro)

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William Waack

Estamos com uma proposta de trabalho das mais di-fíceis. Tornamo-nos exportadores e deixamos de ser im-portadores de alimentos. Temos desigualdade ou injustiça, pois não conseguimos resolver os problemas sociais graves. Cabe a pergunta: segurança alimentar e renda estão garan-tidas no Brasil?

Roberto Rodrigues

Olhamos a renda em duas áreas: a renda do produtor, para garantir a produção e a oferta de alimento; e a renda do consumidor, para comprar o alimento. São dois momen-tos. Começaremos com a renda do produtor, que depende de três fatores: custo, produtividade e preço do produto final. O produtor rural é tomador de custo e de preço, enquanto a sua produtividade depende da tecnologia usada. Então, do lado do produtor, a renda e a tecnologia são questões centrais, enquanto, pelo lado do consumidor, é o emprego a questão fundamental para a manutenção da renda.

André Pessôa

A geração de segurança para a continuidade do inves-timento em tecnologia é o aumento da produtividade. O produtor precisa de uma estabilidade da renda para cobrir os custos ao longo do tempo, ter incentivo para melhorar a tecnologia e aumentar a produtividade. Esta tem sido a di-nâmica do crescimento da agricultura brasileira nos últimos quarenta anos: a inovação aumenta a produtividade e sus-tenta a renda. O grande dilema é criarmos mecanismos de estabilidade da renda sem fixar uma renda para o produtor. Isso significa diminuir a volatilidade da renda ao longo do tempo, para não atravessar períodos longos de ciclo negativo no preço das commodities que desestimulem o uso da tecno-logia para aumentar a produtividade.

Para fazer o contraciclo dos preços, precisamos desen-volver mecanismos como a criação de um seguro de renda

que combina a proteção contra a oscilação de preços das commodities internacionais com seguro de risco climático. Este é o mecanismo para estabilizar o patamar de renda no campo positivo, de modo a garantir a busca da tecnologia e gerar aumento de produtividade: um círculo virtuoso ao longo do tempo.

Marcos Montes

Abordaremos pelo viés político. Segurança alimentar, de acordo com a FAO, é colocar alimento em quantidade e qualidade adequadas na mesa do cidadão. Precisamos de es-tratégias para prepará-lo, com educação e ensino profissio-nalizante, criar renda e poder adquirir a segurança alimentar e, é claro, com a remuneração do produtor na outra ponta. A infraestrutura e a logística ajudam a levar a custo barato ao consumidor a produção da fronteira agrícola. Nessa visão, entendemos a Bolsa Família como uma política social.

William Waack

Tivemos do Roberto uma abordagem mais abrangente, em que a renda de quem produz é uma função do aumen-to da produtividade. O André pondera sobre a importância das políticas públicas para mitigar o impacto dos ciclos de preços. O Marcos coloca a educação e a capacidade de as pes-soas gerarem suas próprias rendas. As políticas públicas são sempre referências quando se trata essa relação de segurança alimentar e renda?

Renato Buranello

Quando falamos de estabilidade de renda, existe a fun-ção do crédito. A cada safra, existe a análise se faltará ou so-brará dinheiro. Existem quatro fontes de financiamento: (i) o crédito rural nas modalidades de juros controlados e juros livres de mercado; (ii) as operações barter; (iii) as operações das tradings; e (iv) os títulos do agronegócio. Precisamos maximizar essa sistemática para o produtor tomar recurso mais barato e de longo prazo. A legislação do modelo de crédito rural está com mais de cinquenta anos e necessita de reformulação.

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André Pessôa

Acho que não estamos preparados. Teremos problemas, em pouco tempo, como o de capital humano. Possuímos pes-quisadores extraordinários e produtores inovadores com tec-nologia adequada. Deparamos com compliances ambiental e trabalhista, com todas as exigências decorrentes. A gestão da propriedade rural é complexa e envolve uma governança não desprezível de assuntos. Tudo isso exige um esforço hercúleo da sociedade brasileira inteira.

Renato Buranello

Estamos atrasados numa série de questões, como terras para estrangeiros e seguro climático e de renda. Na área de Pesquisa e Desenvolvimento, demoramos de sete a dez anos para aprovar uma patente. Quando ela é liberada, a tecnolo-gia está obsoleta. Precisamos do mercado de capitais, como fonte de crédito, pela importância geopolítica do agronegó-cio. Com relação às inciativas do Governo, dentro das fun-ções de Estado, de indicar a direção e dar o tratamento jurí-dico adequado, estamos muito longe.

Marcos Montes

Como presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), no Congresso Nacional, por mais paradoxal que possa parecer, o Brasil vive, provavelmente, um momento propício para avançar em algumas situações de conscientização do Governo e da sociedade. O desafio das políticas públicas é grande quando tratamos dos trabalhos escravo e indígena. Estamos perdendo a batalha da mídia para a sociedade ur-bana, mas o resultado positivo do Código Florestal começa a ser reconhecido e divulgado. Temos o Instituto Pensar Agro (IPA), composto por várias entidades, para termos sustenta-ção e força política eleitoral na discussão de questões que, até pouco tempo, eram intocáveis na Câmara.

William Waack

Cada um que entra na discussão de segurança alimentar e renda torna a espiral de análise mais abrangente. A agricultu-ra familiar produz 70% dos alimentos consumidos no Brasil. Esta é uma informação verdadeira ou falsa? Fala-se em muito desperdício nesta área.

Eduardo Daher

O site chamado World Clock, do Peter Russell, aponta, para hoje, uma população de 7,377 bilhões de bocas para serem ali-mentadas. Somente neste ano, até agora, o saldo de pessoas nas-cidas e falecidas é de 44,5 milhões, correspondente à população da Colômbia. A expectativa de vida das pessoas, que era de ses-senta anos, chega a setenta anos e vai para oitenta anos. Teremos de alimentar os 9,7 bilhões de pessoas em 2050. O Brasil possui sua parte a fazer nesse desafio, mas não esperemos grandes saca-das das políticas públicas. No Chicago Board of Trade (CBOT), a soja gira seis vezes por ano o tamanho da sua safra. É uma mostra do quanto o mercado do agro ganhou mais dinamismo. Crédito vem da palavra latina credere, que significa “acreditar”. Então, se acreditamos, plantamos e colhemos.

William Waack

Quando falamos de segurança alimentar, vamos além da renda do produtor e da do consumidor. É quase uma questão geopolítica na sua acepção mais clássica.

Roberto Rodrigues

Hoje em dia, 40% do comércio mundial de alimentos acontecem no âmbito de acordos bilaterais entre países ou blo-cos de países. Não temos nenhum acordo bilateral com países importantes para o consumidor. Estamos em negociação com a União Europeia faz dez anos. No cenário mundial para 2020 elaborado pela OCDE e pela FAO, a oferta de alimentos cres-cerá 20%. A União Europeia contribuirá com 4%; o Canadá e os Estados Unidos, 15%; a Oceania, 16%; a China, a Índia, a Rússia e a Ucrânia, com 25%; e o Brasil, 40%. Temos uma condição única planetária, mas estamos sem estratégia para isso. Nos anos 70, Alysson Paolinelli, então ministro da Agri-cultura, no governo Geisel, montou a Embrapa e a Embrater (Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural). O resultado veio nas décadas seguintes. E agora?

William Waack

O Brasil está ou não preparado para esse desafio da se-gurança alimentar entendida como um problema ainda mais amplo do que a renda?

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de laranja e ovos, sem o uso de venda em unidade fracionada. O estrangeiro de um país subdesenvolvido, sobretudo da Áfri-ca, fica incomodado com a quantidade da sobra e o preço pago pelo cardápio na churrascaria brasileira. Daria para alimentar uma boa parte da sua aldeia. Por sua vez, a colheitadeira e o caixa eletrônico substituem a mão de obra, como parte do pro-cesso de robotização e automação. No campo, a aplicação de defensivos é feita sem tratorista, enquanto, no supermercado, o robô cuida do corte dos frios processados e defumados. É a tecnologia embarcada tanto na produção, como no consumo. Essas exportações brasileiras de alimentos o embaixador Mar-cos Azambuja chama de “crowd-out”. Como foram empurra-dos para fora do mercado, muitos países concorrentes reagi-rão. No supermercado, em Hamburgo, o consumidor criticava o frango brasileiro alimentado por soja transgênica.

William Waack

Num debate na Feira de Milão, recebemos uma pergunta de uma jornalista se a carne brasileira dava câncer e se a vaca brasileira era feliz. Dá para ter uma ideia da visão lá de fora. Quando falamos de segurança alimentar e renda, como fica a relação do Brasil com o mundo externo, em termos da for-mação de preços aqui dentro?

Roberto Rodrigues

Estudo feito pela Fundação Getulio Vargas mostra que este número é totalmente equivocado. A definição de agri-cultura familiar não é clara. Como fica uma fazenda de mil hectares administrada pela família? É um enfoque muito ideológico. Para o desperdício, a resposta é a tecnologia. As colhedeiras antigas jogavam fora 5% dos grãos, porque eram inadequadas e inapropriadas, contra 0,3% nas máquinas de hoje. No caso específico de distribuição, existe, também, o aspecto da gestão. Uma colheitadeira, muitas vezes, é condu-zida por mão de obra não qualificada. A mecanização avan-çou tão rapidamente, e faltou capacidade para cuidar disso no mesmo nível: precisamos de uma pátria educadora para a agricultura.

Eduardo Daher

Na Feira de Milão deste ano, no estande da FAO, estava co-locada a temática do desperdício. Havia uma montanha para mostrar simbolicamente o desperdício urbano de 1 hora. No Brasil, por exemplo, ainda temos a cultura da dúzia para venda

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A agricultura teve de fazer ajustes e ganhou competitivida-de. Houve uma onda de exclusão brutal no campo. Milhares de produtores morreram economicamente. Quem sobrou foi obrigado a buscar tecnologia e gestão. Chegamos bem, mas temos de caprichar daqui para frente.

William Waack

Percebemos alguma possibilidade de mudança em cer-tas mentalidades, nessa trombada que tomamos agora. Os economistas afirmam, ‘on the records’, uma volta para trás na organização da economia e no funcionamento das insti-tuições brasileiras.

Marcos Montes

Tememos por questões burocráticas e ideológicas. Nessa questão do ajuste fiscal, reunimo-nos, na FPA, com o minis-tro Joaquim Levy. Há ações a serem feitas sem abrir o cofre. A logística não será resolvida agora, mas há muitas decisões governamentais para ajudar o produtor rural. O agronegócio está no ápice e pode entrar em curva descendente. Continu-aremos como vítimas ou protagonistas? Devemos participar na vida política brasileira. Mostremos os valores dos produ-tores, que investiram em tecnologia e avançaram sem a com-preensão do Governo e da própria sociedade.

O deputado Eduardo Cunha assumiu a Presidência da Câmara e cumpre o compromisso prometido antes da elei-ção de participar da reunião semanal na FPA às terças-feiras. Discutimos a questão da terceirização, muito polêmica e importante para o setor. Temos o alinhamento das funções executadas pelo chamado triângulo das bermudas – Anvisa, Ibama e MAPA. Chegamos à PEC indígena e avançaremos sobre outros temas prioritários.

William Waack

Se parece resolvida em alguns aspectos, a dicotomia entre segurança alimentar e renda é frágil diante dos desafios ge-opolíticos e das políticas públicas ausentes ou equivocadas. Uma crise grave aumenta a velocidade dos acontecimentos. Em que medida o ambiente afeta diretamente o agronegócio?

Renato Buranello

Há chance para encontrarmos novos caminhos com pes-soas e cabeças que não aceitem uma série de coisas e que nos

André Pessôa

A maior parte dos produtos produzidos na agricultura bra-sileira também é exportada. Existe uma arbitragem do preço internacional interna via câmbio e preço. Produzimos por ha-bitante/ano no Brasil 1 tonelada de grãos, 1 boi e 3 toneladas de cana-de-açúcar. Não há problema de segurança alimentar. A distribuição é uma questão das políticas públicas com a geração de renda do consumidor. O agronegócio possui um papel im-portante em algumas regiões do País para dar acesso a alimentos e gerar qualidades de vida e de renda confortáveis. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) nas áreas do Brasil Central que cresceram ao redor da produção de grãos supera 0,75, ou seja, está perto do nível de países do primeiro mundo.

Conseguimos avançar graças à nossa dotação física inve-jável de ter clima, solo e gente capaz. Não podemos deitar em berço esplêndido. O trabalho não está feito porque nos trans-formamos num player relevante no mercado internacional de commodities. Antigo e atrasado, o nosso arcabouço de re-gulação não acompanhou a velocidade da transformação que se exige de uma agricultura competitiva.

William Waack

Falamos de uma série de problemas, mas a agricultura caminha bem.

Renato Buranello

Devemos afastar, também, essa “síndrome do cachorro vira-lata”. Somos competentes no agronegócio, principalmen-te em relação ao ‘dentro da porteira’. Vencemos esse primeiro ciclo da Revolução Verde, mas esgotamos este saldo positivo. O desafio é mais difícil para realizar a agregação de valor ne-cessária, aumentar a renda e trazer divisas. Falamos de desper-dício. Retornava de Cristalina, no Estado de Goiás, atrás um de caminhão transportador de soja que derramava grãos. Uma perda durante muitos quilômetros.

Roberto Rodrigues

Éramos comercialmente um país fechado em relação ao resto do mundo, com inflação mensal de 80% ao mês e polí-ticas públicas protecionistas. Entre o Plano Collor e o Plano Real, o agro foi submetido a uma tríplice colisão: de inflação brutal para civilizada, de país fechado para arrombado e de políticas públicas paternalistas para sem políticas públicas.

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Podemos oferecer para o mundo uma plataforma produtora e exportadora de alimentos. Livremo-nos do ranço ideológi-co, para construir um ambiente regulatório de crescimento. Na condição de protagonista, o agronegócio poderá ter re-presentação política na altura que merece.

William Waack

Como jornalistas, gostamos de respeitar duas frases: uma de não brigar com a notícia e respeitar os fatos; e a outra de chamar as coisas pelo nome. Está acabando a fase da destrui-ção em massa de valor?

Roberto Rodrigues

No ano passado, a crise já existia, talvez não nessa profundi-dade; no entanto, colhemos a maior safra de grãos de todos os tempos. Os custos subiram por causa do câmbio, mas plantare-mos, de novo, a maior área de todos os tempos. As safras de cana e café serão maiores. O agronegócio segura o PIB. Essa é a nos-sa resposta com e sem crise. Não choremos pelos cantos. Não é preciso abrir os cofres, mas acabem com questões cretinas. Fa-remos este País vibrar nas asas do agronegócio mais competitivo do mundo, porque sabemos fazer e faremos bem feito.

William Waack

Temos de encerrar depois destas palavras.

coloquem como ator principal do negócio. Faltava articula-ção, os líderes se envelheciam, e as cadeias agroindustriais não se falavam. Vemos vários líderes. É a grande chance da retomada de outra maneira. Se o ordenamento jurídico não está apto, a infraestrutura econômica é muito forte. Somos um player incomparável, com área disponível e tecnologia para desenvolver a agricultura.

Eduardo Daher

Estamos satanizando o momento econômico. Vivemos nove moedas desde a década de 1950. A cédula de dinheiro começou com a fotografia de Pedro Álvares Cabral, e vieram outras personagens da nossa história. Todos foram corroídos no processo inflacionário. A economia é um pouco mais for-te do que isso. O dólar e o agro possuem uma relação de amor e ódio. No capítulo 1, a desvalorização do real remunera me-lhor o produtor. No capítulo 2, o custo de produção sobe com os insumos importados. Entretanto, o cerne está dito: faltam líderes e devemos escolher os caminhos políticos que possam ser executados no médio e no curto prazos.

André Pessôa

Acreditamos que o resultado dessa crise venha a ser uma situação benéfica para o agronegócio. Depois dessa destrui-ção em massa de valor, sobrará a necessidade de reconstruir dois projetos óbvios. O primeiro é aproveitar a competitivida-de e a capacidade do País de produzir alimentos. O segundo é fazer infraestrutura. Ambos batem direto no agronegócio.

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Luiz Carlos Corrêa CarvalhoPresidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG)

Em primeiro lugar, estamos orgulhosos e felizes. Realiza-mos um 14º CBA com participações especiais. Quando esta-belecemos como tema Sustentar é Integrar, tínhamos uma visão de um globo que representasse, direta ou indiretamente, todos os fatores relacionados com a evolução do agronegócio.

‘Sustentar e Integrar’ traz como lema a visão da sustenta-bilidade como um insumo para a competitividade. Esse foi um passo importante da nossa discussão. Vimos momentos interessantes, quando analisamos os problemas da legislação trabalhista ou “atrapalhista”. Abordamos as reformas estrutu-rais, como as questões tributária e da logística, diretamente ligadas à questão da renda.

O Código Florestal, tão negativamente debatido, virou um ativo poderoso para o País. Às vezes, as coisas acabam dessa forma. Quando falamos da sustentabilidade como um insumo para a competitividade, a primeira visão é a de custos ambientais, mas que, digamos, deve gerar prêmios.

Quando discorremos sobre a certificação e a valoriza-ção de produtos, falamos da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE): uma taxa de carbono cria-da em 2000 para viabilizar o etanol, um produto limpo que mitiga as emissões de carbono, frente à gasolina, um pro-duto que aumenta as emissões de carbono. Precisávamos disso, mas sabíamos da frase dita pelo governador Geraldo Alckmin: “não acreditem em governo; o governo é um risco horroroso”.

Comentamos as críticas sobre o desmatamento da Ama-zônia provocado pela produção de cana-de-açúcar e soja. Uma guerra de mídia sem um mínimo de ciência. O deputa-do Marcos Montes lembrou a existência de dois ministérios para a agropecuária no Brasil: um grande e outro pequeno, sem médio. Ficamos receosos que se crie o Ministério da Agropecuária Média.

Apresentamos de forma muito detalhada o uso intensi-vo dos solos: a integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF), com a produção durante o ano todo. Esse modelo requer no-vos mecanismos de crédito. Não dá para imaginar uma pro-

dução intensiva o ano todo com a prática de financiamento criada há cinquenta anos.

Discutimos a velocidade de como acontecem novas tec-nologias e, digamos, nessa lógica, o processo de urbanização intenso e a mudança nos hábitos alimentares. Isso significa uma diferença brutal dos pontos de vista de demanda de pro-dutos e da forma com que são consumidos.

Falamos sobre as mudanças do clima e o aquecimento global, com seus impactos sobre a velocidade das tecnolo-gias e as barreiras para fazermos essa implantação. Temos a dificuldade de formar dos recursos humanos, sem uma go-vernança apropriada privada para viabilizar práticas agro-pecuárias integradas e sustentáveis. Vimos a Cocamar como exemplo brilhante e de excelente resultado na iLPF, primei-ramente no noroeste do Paraná e, agora, na região do Vale do Paranapanema, no Estado de São Paulo.

Olhamos para os marcos regulatórios como um mata- burro para a visão ideológica, em que o estado de tudo pode acabar nesse sentimento de insegurança. Finalizamos esta tentativa de sintetizar o 14º CBA com três pontos. Em pri-meiro lugar, olhar os grandes mercados que merecem acor-dos transatlântico e transpacífico. Em segundo, a liderança e o protagonismo, para agirmos com legitimidade junto aos diferentes níveis dos poderes Legislativo, Executivo e Judi-ciário. Em terceiro e último, os esforços de desenvolvermos unidos e fortes a governança institucional do agronegócio, inclusive com trabalho junto às mídias sociais.

ENCERRAMENTO

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14º CONGRESSO BRASILEIRO DO AGRONEGÓCIO • ABAG 201538

SAUDAÇÃO AO HOMENAGEADO

Eduardo Bastos

Tenho um desafio de conseguir sair do macro e ir para o micro. Falamos em milhões de hectares e em bilhões de reais. Isso não acontece sem as pessoas dispostas a transformarem este País. A Academia ajuda a trazer e a formar pessoas que certamente apoiarão esse processo.

Tive o prazer de ser aluno do professor Moacyr Corsi. Em 1995, quando fazíamos a sua disciplina optativa de Forragicul-tura, discutíamos os modelos de pecuária para uma proprie-dade fictícia. Assustamo-nos quando ele falou que era bana-na, mas, depois, completou: “como engenheiro agrônomo, a obrigação é a de ter a visão do todo, para que façam um dos trabalhos mais nobres existentes no mundo, de ajudar a pro-duzir alimento, fibra e energia. Quando se formarem, vocês carregarão, no nome e no sobrenome, a imagem desta escola”.

Temos a obrigação de, quando formados, carregar essa história para o resto da nossa vida. Devemos isso aos mestres. Muitos anos depois, em Paragominas, no Estado do Pará, re-encontramos o professor Moacyr. Fizemos um dia de campo juntos, e observei aquele olhar de menino alegre, segurando na mão um mastro de forragem e dizendo: “olha o que pro-duzimos com um bom manejo”.

Então, vamos recuperar pastagem degradada por meio da iLPF. Precisamos de gente de valor para trazer o conhe-cimento, sair do senso comum e fazer aquilo que é certo. O professor Moacyr possui uma legião de fãs. Falamos por outros que, hoje, carregam no seu sobrenome essa obriga-ção de transformar o País e de fazer esse agronegócio cada vez mais sustentável.

14° CONGRESSO BRASILEIRO DO AGRONEGÓCIO • ABAG 201538

HOMENAGENSPRÊMIO NORMAN BORLAUG* HOMENAGEADO: MOACYR CORSI, professor da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, da Universidade de São PauloMesa de entrega

Antonio Roque Dechen, professor da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (Esalq-USP) e presidente da Fundação Agrisus Eduardo Bastos, presidente do Comitê de Sustentabilidade da ABAG e integrante do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS) Fernando Penteado Cardoso, presidente honorário da Fundação Agrisus Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da ABAG

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HOMENAGENS

Aos meus alunos, estagiários e pós-graduandos, que me ensi-naram a tolerância, a compreensão, a paciência e, principalmen-te, a virtude da humildade decorrente das conversas, discussões e análise de informações, que são ingredientes imprescindíveis para eles complementarem a formação profissional.

À Esalq, que nos proporcionou o ambiente de trabalho para continuarmos aprendendo sempre e, também, dissemi-narmos o que havíamos apreendido. A maior realização de um profissional é o reconhecimento do seu trabalho.

Agradeço à ABAG pelo Prêmio com o nome de Norman Borlaug, que, dentre outros feitos, foi quem iniciou o pro-cesso da sustentabilidade econômica da agricultura quando elevou a sua produtividade e a sua rentabilidade.

Esta homenagem tem significado especial para mim e terá lugar de destaque no meu currículo e na minha mesa de trabalho. Sempre acreditei que o aumento da produtividade na pecuária é a base para estabelecer a sustentabilidade eco-nômica necessária, o rumo ao social e a busca da estabilidade ambiental. Podemos, na pecuária, ter margem líquida igual ou superior à da agricultura. Com margem líquida semelhan-te às atividades do agronegócio, teremos a verdadeira iLPF.

Estou convencido, pelos nossos trabalhos, de que pode-mos aumentar em mais de dez vezes a produtividade atual da pecuária de corte e crescer mais de vinte vezes a produti-vidade da pecuária de leite. Com estes potenciais de produ-tividade, tornaremos a pecuária um protagonista muito mais presente no agronegócio. Portanto, ainda temos muitos desa-fios e trabalhos a serem realizados. Com o aumento da pro-dutividade da agropecuária, garantiremos aos nossos filhos e netos alimentos produzidos em sistemas econômico, social e ambientalmente sustentáveis. É uma honra ser merecedor deste Prêmio Norman Borlaug.

HISTÓRIA DO HOMENAGEADOUm dos visionários da agricultura e da pecuária nacionais,

desenvolvendo métodos e pesquisas, o professor Moacyr se tor-nou um grande expoente da prosperidade do setor. A paixão pelo campo vem de berço. Ainda em Socorro, no interior de São Paulo, ajudava seu pai cuidando do rebanho na propriedade da família. Sempre foi um excelente aluno, aplicado em Exatas. Esta inteligência matemática viria a se tornar sua grande aliada.

Formou-se na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, da USP, e ampliou seu conhecimento com Mestra-do, Doutorado e Pós-doutorado no exterior. Ao retornar para o Departamento de Zootecnia da USP, começou a transfor-mar a pecuária brasileira, conduzindo-a para se configurar entre as maiores do mundo. Pelas mãos e pelo conhecimen-to do professor Moacyr, a produção mais do que dobrou, a rentabilidade cresceu, mas o principal: ele ajudou a criar a cultura da pecuária sustentável, aliando a agricultura e o uso inteligente do solo.

O professor Moacyr foi responsável pela criação de pro-gramas exclusivos, como o de Pecuária Verde, inicialmente implantado em Paragominas, no Estado do Pará. Uma área que antes estava cercada pela destruição tornou-se próspera e exemplo de convívio sustentável da pecuária com a agri-cultura em plena Floresta Amazônica. Pioneirismo, visão, persistência obstinada e paixão pelo campo brasileiro são as marcas do professor Moacyr Corsi.

Moacyr Corsi

Este é um momento de alegria e realização. Comparti-lhamos esta homenagem com pessoas em instituições que acompanharam minha trajetória profissional. Meus pais se-mearam o meu direcionamento profissional com exemplos de trabalho, persistência, determinação e honestidade. Estes valores nortearam a formação do meu caráter. Aos meus ir-mãos, que consolidaram os valores morais que os nossos pais nos ensinaram.

A merecedora da maior parte desta homenagem é a mi-nha família. Durante a minha carreira profissional, eu os pri-vei, em inúmeros momentos, da minha presença e raramente fui cobrado por isso. Na verdade, sempre fui incentivado a perseguir os meus objetivos. Agradeço aos meus filhos e à minha esposa por terem me permitido percorrer esse cami-nho, tornando minha profissão uma recreação.

Aos meus mestres, cuja maior referência foi o Dr. Aris-teu Mendes Peixoto, que me convenceu a seguir a carreira da docência, da pesquisa e da difusão de tecnologia. Ele me mostrou a beleza, os desafios e as responsabilidades desta profissão. Agradeço aos meus colegas de trabalho, represen-tados pelo professor Vidal Pedroso de Faria, meu irmão de profissão. Travamos batalhas, tivemos muitas vitórias e usa-mos muitas horas em discussões acaloradas para traçar o ca-minho que nos levasse aos melhores resultados.

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14º CONGRESSO BRASILEIRO DO AGRONEGÓCIO • ABAG 201540

SAUDAÇÃO AO HOMENAGEADO

Roberto Rodrigues

Tratamos, nos eventos da ABAG, sobre a falta de líderes no mundo e, por consequência, ausência de rumos planetá-rios. Não falarei nada do Brasil por uma questão de respeito, mas estamos muito próximos disso também. O problema é o risco de erosão da democracia. As pessoas não se sentem sa-tisfeitas com as ações dos governos e elegem a oposição, que também não consegue realizar grandes mudanças.

Como a globalização interfere na governança nacional ou local, não há hipótese de a sociedade satisfazer-se com as ações dos seus governos. Como resultado, há um perma-nente desejo de mudança que pode levar à perda da crença na democracia. E a sociedade vai para as ruas reclamar. No Brasil e no mundo inteiro, assistimos a isso todos os dias.

Por trás dessa questão está o fato de o interesse da socie-dade insatisfeita ser por maior participação na governança. Mas, as regras não permitem isso. Elegemos e engolimos um governo até o fim, ou fazemos ações fora das regras democrá-ticas. Na verdade, quanto mais organizada a sociedade, mais desenvolvido é o país. Em alguns casos, não basta a partici-pação política em sindicatos e nas associações de classe. É preciso ir para a área econômica, em que a organização eco-nômica da sociedade é a cooperativa.

Este sistema ganha mais protagonismo e presença no mundo na formulação das políticas públicas. Esse processo avança, permite à sociedade participar da governança e pre-serva os valores democráticos. No entanto, é preciso haver, também, liderança no cooperativismo. Sem isso, fazemos discursos vazios. Assim, cumprimentamos a ABAG pela es-colha do Márcio de Freitas, homenageado deste ano.

Sob o comando do Márcio na OCB, as cooperativas agropecuárias representam a metade do valor da produção agrícola brasileira. É uma representatividade fantástica num país com uma agricultura tão diversa e complexa como a

que temos assistido hoje. Ele aprendeu a teoria com o seu pai, grande líder cooperativista. Na prática, como produ-tor e presidente de cooperativa singular, trabalhou na base e desenvolveu um modelo de cooperativismo que o levou à presidência da Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo (Ocesp). Com sua eficiência e liderança, galgou a condição de presidente da OCB, onde realiza um trabalho notável de valorização e colocação do Brasil no cooperativis-mo mundial. É um exemplo de líder capaz de reunir pessoas em torno de ações econômicas que lhes dão condição de go-vernança nos seus países.

13° CONGRESSO BRASILEIRO DO AGRONEGÓCIO • ABAG 201440

PRÊMIO PERSONALIDADE DO AGRONEGÓCIO NEY BITTENCOURT DE ARAÚJO 2015* HOMENAGEADO: MÁRCIO LOPES DE FREITAS, presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB)Mesa de entrega

Alysson Paolinelli, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (ABRAMILHO) Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da ABAG Maurício Antônio Lopes, presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV (GV Agro)

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Márcio Lopes de Freitas

Neste 14º CBA, fico muito honrado de receber esta co-menda da ABAG, pelo significado desta entidade na minha vida no cooperativismo brasileiro e pela construção feita ao longo desse tempo. Quero cumprimentar de uma maneira muito especial o Maurício Lopes, que nos brindou, hoje, com uma palestra de abertura atualizada, refinada, alinhada e pro-vocativa sobre os nossos rumos. Ao Dr. Alysson Paolinelli, um guia para mim, amigo também do meu pai, que tanto nos orienta. Ao meu mestre, amigo e professor Roberto, que me ensinou muito da prática do cooperativismo pela relação hereditária que vem dos pais.

Receber este Prêmio Ney Bittencourt é uma grande hon-ra. Agradeço a todos que me prestigiam. Ao cooperativismo brasileiro, a oportunidade de navegar nesse mundo, a começar pela Cocapec, de Franca, passando pela Ocesp e, hoje, na OCB, em nome dos nossos diretores João Paulo Koslovski, do Para-ná, e Edivaldo Del Grande, de São Paulo. É o cooperativismo que permite trabalhar, evoluir e lutar por isso que acredito.

Muitas mensagens foram transmitidas aqui. Vemos a neces-sidade de evolução e a velocidade imposta para a agropecuária brasileira surfar e liderar esses processos tecnológicos sustentá-veis. Como nada se constrói sem gente, a confiança é um insumo fundamental para o momento cheio de desafios para o futuro.

As cooperativas, no nosso entender e no nosso sentimento, são os armazéns mais adequados para se depositar confiança e obter bons resultados. Como braço econômico e político da organização de uma sociedade, o cooperativismo cultiva e fer-menta a união entre as pessoas na agropecuária brasileira. Esse é um capital capaz de fazer a diferença nesse mundo cheio de desafios. Vamos construir uma sociedade e melhor vida para todos nós. Reparto esta homenagem com as cooperativas, os líderes desse sistema e, especialmente, com a equipe na OCB, liderada pelo Renato Nobile.

13º CONGRESSO BRASILEIRO DO AGRONEGÓCIO • ABAG 2014 41

HISTÓRIA DO HOMENAGEADOSua história de aprendizados e conquistas começa com

o seu avô, na década de 1940, na pequena cidade de Patro-cínio Paulista, no Estado de São Paulo, com a fundação de uma cooperativa de laticínios. Márcio cresceu cercado pelo trabalho e pelo amor ao campo, seguindo os exemplos do pai, Rubens de Freitas, e os ideais da mãe, dona Marilda, co-operativistas convictos.

Desde pequeno, acompanhou de perto todo o processo de produção e gestão, adquirindo grande conhecimento prático. Formou-se pela Universidade de Brasília (UnB) nos anos 80 e, assim, aliou a experiência prática ao conhecimento acadêmico. Por isso, conseguiu administrar com excelência a Cooperati-va de Cafeicultores e Agropecuaristas (Cocapec), apesar das grandes dificuldades financeiras do País nos anos 90.

A visão moderna e empreendedora que defendia para o agronegócio brasileiro conduziu Márcio à presidên-cia da Ocesp, levando-o, na sequência, à presidência na-cional da OCB, uma entidade que atua na representação político-institucional de todo o cooperativismo, em treze setores da economia.

Márcio continuou a revolucionar o setor ao participar da criação do Serviço Nacional de Aprendizagem do Coopera-tivismo (Sescoop) e presidir a Confederação Nacional das Cooperativas (CNCoop). O seu empreendedorismo avança para outros continentes, à frente da Organização Cooperati-vista dos Povos de Língua Portuguesa (OCPLP). Hoje, acu-mula o cargo de vice-presidente para as Américas da Organi-zação Internacional das Cooperativas Agropecuárias (ICAO, na sigla em inglês).

Sua contribuição para o cooperativismo brasileiro passa pela implantação de processos de gestão e pela visão estraté-gica de negócios, que agrega governança e desenvolvimento ao atender os cooperados de todo o País. Essas são marcas deste homem que conseguiu unir tradição e modernidade. Márcio Lopes de Freitas é um exemplo de dignidade, perse-verança e empreendedorismo, com inestimável contribuição ao cooperativismo e ao agronegócio brasileiro.

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14º CONGRESSO BRASILEIRO DO AGRONEGÓCIO • ABAG 201542

Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da ABAG

Ernesto Bernardes, diretor de Projetos Especiais d’O Estado de S. Paulo (Estadão)

CERIMÔNIA DE ABERTURA

FÓRUM ABAG ESTADÃO

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O ponto crucial está nos incentivos aos investimentos, para darmos um passo à frente, o que depende do clima de confiança existente no País. Os fundos querem e possuem in-teresse em aplicar, principalmente com as quedas nos valores dos ativos em dólar, mas precisam de ambiente de clareza e transparência na economia.

APOIAR E INCENTIVAR OS DEBATES

Ernesto Bernardes

O Estadão completa 140 anos em 2015. Ao longo desta história, participamos de todas as discussões que pautaram a economia brasileira, desde aquelas relacionadas à fundação da Universidade de São Paulo (USP), no começo do século passado, até as discussões contemporâneas. Esse acervo de-monstra a grande preocupação do jornal com a nossa agri-cultura desde o século XIX.

Os artigos publicados tratavam das discussões econômicas sobre o mercado de produção, o consumo e o preço do café. Tam-bém registravam o aparecimento das novas tecnologias, como as máquinas de matar formigas – uma invenção high-tech da época.

Nesse período, o Brasil desenvolveu-se, com a formação e a consolidação de um agronegócio com nível de sofisticação impressionante. O País é líder em diversas cadeias produti-vas, porém temos uma quantidade imensa de desafios técni-cos, econômicos e geopolíticos para enfrentar.

A vocação do Estadão, desde o princípio, é apoiar e in-centivar as discussões, e não apenas informar, na busca de soluções para todas as questões da economia brasileira. Nesta parceria com a ABAG, pretendemos montar uma agenda po-sitiva de soluções para o País.

CLAREZA E TRANSPARÊNCIA

Luiz Carlos Corrêa Carvalho

No Brasil, vivemos o dia a dia; talvez, no máximo, o dia seguinte ou uma semana. Há uma falta efetiva de planeja-mento, com visão prospectiva de médio e longo prazos. As análises dos estudos da própria FAO e da OCDE chamam a atenção. Verificamos os limites dos países desenvolvidos para expandir a produção no mundo temperado. Por sua vez, quando voltamos os olhos para o mundo tropical, constata-mos a capacidade brasileira de aumentar a oferta.

A partir de 2007, boa parte dos produtos da agricultu-ra, como os óleos vegetais e os derivados da cana-de-açúcar, atingiu níveis acima de 10% da sua demanda para combustí-vel. Como resultado, os seus preços passaram a acompanhar de uma forma impressionante os preços do petróleo. Um grupo de analistas ingleses perguntava por que o preço dos derivados da cana-de-açúcar não tinha essa correlação. A ra-zão estava na política de congelamento de preços da gasolina praticada pela Petrobras nos últimos anos.

Agora, com a teórica volta de uma política de preços in-ternos para acompanhar os preços externos de energia, ima-ginamos que constataremos essa relação. Os ciclos dos preços das commodities alimentícias e de energia ficaram muito pa-recidos. A capacidade competitiva de um país guarda relação direta com a sustentabilidade, desde que por meio de uma taxa incidente sobre combustível fóssil. Na área de alimentos, a regulação envolve outros aspectos ligados à saúde, como as concentrações de sal e açúcar. Essas questões serão colocadas na mesa durante os debates deste Fórum.

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14º CONGRESSO BRASILEIRO DO AGRONEGÓCIO • ABAG 201544

Moderador:

Edmundo Klotz, presidente da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia)

Palestrantes:

Alan Bojanic, representante da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) no Brasil

Luis Madi, diretor-geral do Instituto de Tecnologia de Alimentos, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (ITAL/SAA)

Rodrigo Santos, presidente da Monsanto do Brasil

Sérgio Alexandre, sócio da PricewatherhouseCoopers (PwC)

FÓRUM ABAG ESTADÃO

ALIMENTOS

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O relatório aponta três grandes desafios para a agricul-tura brasileira. O primeiro é manter os ganhos de produti-vidade, via aplicação de tecnologia. O segundo é a susten-tabilidade ambiental, com metas para a redução de gases do efeito estufa na COP-21, em Paris, por meio do Programa da Agricultura de Baixo Carbono (ABC) e da execução do novo Código Florestal. O terceiro é o desenvolvimento ru-ral, com redução da pobreza e das desigualdades nas áreas do campo brasileiro.

SAÚDE E SUSTENTABILIDADE

Luis Madi

O Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL), do go-verno do Estado de São Paulo, ligado à Secretaria de Agricul-tura e Abastecimento, foi criado como um projeto da FAO, em agosto de 1963, enquanto a Associação Brasileira das In-dústrias da Alimentação (Abia) surgiu em outubro de 1963.

De 2002 a 2012, a União Europeia, os Estados Unidos, o Canadá e a Austrália encolheram no mercado do mundo dos alimentos, enquanto o Brasil foi um dos que ganharam. Então, os países mexem-se para manter, ganhar ou retomar as suas participações. A tendência da alimentação é ganhar mais valor agregado nas áreas de saúde e sustentabilidade.

Somos o segundo maior exportador de produtos em vo-lume, mas podemos ser o primeiro exportador em valor no mundo. Aparecemos como o terceiro produtor mundial de frutas, sem competitividade de produtos derivados de fruta. Exportamos carne, mas não exportamos embutidos. A parte de lácteos no Brasil cresceu assustadoramente, com muito espaço para exportarmos seus produtos.

Realizamos trabalho importante sobre a sustentabilidade e a sustentação da produção de alimentos no Brasil, desen-volvido em parceria com o Centro de Gestão e Estudos Es-tratégicos (CGEE) e a Embrapa. Junto com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e a Abia, em 2008, fizemos o Brasil Food Trends 2015, para mostrar as macro-tendências dos alimentos e das bebidas no mundo. Agora, preparamos a versão 2020, com foco sobre a importância dos produtos processados.

Na publicação Food Trends, de 2008, mostramos o perfil do consumo de alimentos no Brasil, com base numa pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatísti-ca (IBOPE), em nove capitais brasileiras. Era uma tentativa para entender as preferências do consumidor urbano bra-sileiro. Naquela época, já aparecia com destaque a parte de conveniência e praticidade dos produtos.

O consumidor quer produtos socialmente e ambien-talmente responsáveis, reivindicações mais críveis, com transparência e autenticidade. Recente estudo do Boston

PERSPECTIVAS PARA A AGRICULTURA DO BRASIL

Alan BojanicTransmitimos os cumprimentos do diretor-geral da FAO,

o Sr. José Graziano da Silva, que acaba de ser reeleito para dirigir a organização por mais quatro anos.

A OCDE e a FAO elaboraram, em conjunto, um relatório anual sobre os próximos dez anos da agricultura global. Nes-te ano, o tema central foi o Brasil. Em 2050, a população mundial será de 9,7 bilhões, com aumento de 37% sobre o tamanho atual, concentrada principalmente nos países em desenvolvimento, sendo 70% urbana.

Para alimentar esta população urbana e rica, a produção de alimentos deverá aumentar em 80%. A produção de ce-reais crescerá para mais de 3 bilhões toneladas, em compa-ração aos 2,1 bilhões produzidos atualmente. Já a produção de carne aumentará em mais de 200 milhões de toneladas. O Brasil se tornará o primeiro exportador mundial de ali-mentos, em volume e em valor. O mundo do futuro preci-sará da sua contribuição, em termos de fornecedor de ali-mento de qualidade.

Os desafios para a agricultura brasileira chegar a essa privi-legiada posição passam por investimentos em infraestrutura e logística, com a construção de vias de transportes, armazéns e portos. Será necessário fortalecer a pesquisa, o desenvol-vimento e a inovação; levar a tecnologia para o campo com uma ampla rede de assistência técnica, voltada às pequenas e às médias propriedades. O aproveitamento da capilaridade do sistema cooperativista ajudará a melhorar os serviços da buro-cracia nas questões ambientais e da defesa sanitária.

Em relação ao período pós-2007, os preços dos alimen-tos estarão mais calmos, mas a volatilidade estará presente. As carnes sofrerão pressões na demanda e nos preços, com grande uso de grãos para a produção de rações. O cresci-mento econômico global prosseguirá fraco, com preços de energia relativamente baratos, principalmente do petróleo.

O mundo do futuro terá a maior concentração das ex-portações em poucos países. O Brasil conta com vantagens comparativas na oferta de carnes e cereais para atender o crescente mercado asiático, como China e Índia. Na África, um de cada quatro cidadãos estará numa situação de inse-gurança alimentar. É um continente deficitário não só em alimento, mas também em tecnologia.

A produção agrícola brasileira mais do que triplicou a partir de 1990. Repetir este desempenho nos próximos dez anos é uma das hipóteses válidas – um crescimento muito mais baseado em ganhos de produtividade do que na expan-são da superfície. Com investimento em maquinário e tec-nologia de ponta, o capital continuará a substituir a mão de obra no campo.

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14º CONGRESSO BRASILEIRO DO AGRONEGÓCIO • ABAG 201546

ALIMENTO SEGURO

Sérgio Alexandre

É importante entender esses processos da produção de alimentos, desde o uso do insumo e produção na fazenda, passando pela transformação e pela distribuição e che-gando ao consumidor. Teremos dois blocos: no primeiro, mostraremos as mudanças no nível do consumidor; e, no segundo, trataremos dessa visão do consumidor integrado ao agronegócio.

Por semana, 1,5 milhão de pessoas somam-se à popula-ção urbana global. Até 2030, teremos um aumento na de-manda mundial de alimentos de 35%, de 50% na energia e de mais 40% na água, conforme projeções formuladas pelo National Intelligence Council (NIC), em 2012, no documen-to “Global Trends 2030: Alternative Words”.

Essa movimentação gera tensão no uso dos recursos na-turais, com as emissões de gás carbônico, as ocorrências de eventos climáticos e as fraudes nos alimentos. Nessa visão da cadeia produtiva, muitas vezes, não se notam as mudanças verificadas no comportamento do consumidor quando com-pra e consome o alimento. O smartphone é um exemplo de como a tecnologia melhora essa experiência.

Pesquisa da PwC Food Trust junto a 10 mil consumido-res, no final do ano passado, acaba de ser divulgada, agora em março. Seus resultados indicam que 39% dos consumidores verificam os estoques, 35% buscam informações sobre o pro-duto e 29% pagam por meio de dispositivo móvel. Cerca de 30% das redes oferecem Wi-Fi grátis.

Consulting Group (BCG) aponta a importância de as mar-cas refletirem valores, responsabilidades sociais e ambientais, com inovação em comunicação: ouvir mais e dar respostas rápidas, diretas e personalizadas.

O documento “Food 2020: The Consumer as CEO”, da Lifestyles of Health and Sustainability (LOHAS), mostra que o consumidor quer mais informação sobre o alimento. As companhias produtoras devem fazer um melhor trabalho de comunicação, em termos de interação e feedback dos seus produtos. Complexas, as exposições dos consumidores pas-sam por TVs, rádios, editoras, empresas, blogs, empresas de alimentos, amigos e parentes, profissionais da saúde e governo.

O International Food Information Council (IFIC), nos Estados Unidos, concluiu que as fontes de informação mais confiáveis para os consumidores são as pessoas de seus con-tatos diretos (70%), membros da família (34%), as agências de governo (24%), bloggers (24%), agricultores (18%) e, por último, a indústria de alimentos (7%).

Em novembro de 2014, o Ministério da Saúde lançou o “Guia Alimentar para a População Brasileira”, com a criação dos superprocessados como categoria de alimentos.

Estudo feito pelo Center For Food Integrity, da Iowa State University, dos Estados Unidos, em 2014, trata da constru-ção da confiança quando há colisão entre as informações baseadas na ciência e as recebidas pelos consumidores. Nes-sa linha de trabalho, o National Cancer Institute e o Dairy Council of California ampliaram as ofertas de informações científicas sobre a inexistência de correlação entre os açú-cares artificiais presentes no leite e o surgimento de câncer nas pessoas. A tendência das organizações é de trabalharem para melhorar a qualidade das informações e derrubarem os mitos dos efeitos prejudiciais dos alimentos para a saúde hu-mana com fundamentos mais científicos.

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O desafio consiste em demonstrar como o alimento pro-duzido chega ao consumidor mais seguro e confiável para atender os padrões de qualidade exigidos pela sociedade.

O consumidor conectado olha para o futuro como forma de transformar o presente. Ele compara experiências entre setores e deseja participar com comentários. Com melhores informações, além da tomada de decisão ganhar em qualida-de, aumenta a sede por novas inovações nos produtos e servi-ços. Para encerrar, deixamos o recado para prestarmos mais atenção à parte final das cadeias produtivas, para observamos e interpretarmos qual é a busca do consumidor.

TRANSFORMAÇÃO DA AGRICULTURA

Rodrigo SantosMuitas vezes, as pessoas não possuem a perspectiva do ta-

manho dos desafios para aumentar a produção de alimentos. Tudo deve ser feito de maneira sustentável e integrada, com alta qualidade para atender as demandas do consumidor.

A cada dia, nascem milhões de consumidores no mundo. Como atender esse crescimento de modo a conservar os re-cursos naturais disponíveis? Isso envolve os continentes afri-cano e asiático. Temos pela frente as mudanças climáticas e o papel crescente do Brasil nesse assunto.

Falaremos sobre os impactos da inovação e da tecnologia de informação na transformação da agricultura. Esse setor teve grande crescimento na produção brasileira, principal-mente pelos ganhos de produtividade, com a utilização de apenas 9% do nosso território. Deixamos de ser importado-res de alimentos para ficarmos exportadores.

Ofereceremos uma perspectiva da nova grande transfor-mação da agricultura com base na tecnologia da informação, que o mercado chama de “big data”. Esta tecnologia ajudará a fechar essa equação de produzir mais alimentos com conser-vação dos recursos naturais e oferta de qualidade para aten-der a demanda do consumidor.

Contaremos a história de uma agricultura que não será feita amanhã cedo no Brasil, mas de acontecimentos que ocorrerão nos próximos dez anos. Sabemos que 64% do ter-ritório nacional são cobertos por florestas e reservas perma-nentes. Felizmente, com o novo Código Florestal aprovado no País em 2012, assim será.

Tive a oportunidade de trabalhar no Leste Europeu, onde apenas 0,3% do território é coberto por florestas e re-servas permanentes. O plantio direto, uma tecnologia sus-tentável, tão desenvolvida no dia a dia no Brasil, é pouco conhecido no mundo. Assim, temos, de fato, essa oportuni-dade de ser protagonista e celeiro sustentável na produção mundial de alimentos.

Acreditamos que a agricultura passará por uma nova revolução fundamentada nos big data. A imagem é de uma

A realização de compras não é a principal atividade que os consumidores fazem com os seus dispositivos móveis, pois estes também ajudam nas pesquisas dos produtos (63% no Brasil e 49% no geral da pesquisa), nas comparações dos preços (69% no Brasil e 49% no geral da pesquisa), nas verifi-cações da procedência (54% no Brasil e 31% no geral da pes-quisa) e nos recebimentos de recomendações (19% no Brasil e 12% no geral da pesquisa).

Na verdade, as redes sociais estão ampliando o relacio-namento com o varejo, expondo o consumidor à descoberta de novas marcas (43% no Brasil e 28% no geral da pesquisa), a ter feedback (43% no Brasil e 27% no geral da pesquisa), a seguir marcas (39% no Brasil e 34% no geral da pesquisa) e a assistir a vídeos (35% no Brasil e 21% no geral da pesquisa).

Essas megatendências trazem mudanças, pois há uma relação entre a escassez e a confiança, entre a fraude e a ima-gem, entre a complexidade e as alterações nos hábitos de con-sumo, e entre a competição e as expectativas do consumidor.

São poucas as entidades que, hoje, oferecem a rastreabili-dade de um produto desde a sua origem até o seu consumo lá na ponta. Mas, essa nova geração está mais atenta e plugada nos instrumentos proporcionados pela internet. É o caso das informações sobre a origem da carne, com respeito ao tipo de gado, ao local da fazenda de criação e do frigorífico de abate, dentre outros. Tudo isso ajuda e deixa o alimento mais seguro para o consumidor.

SETOR DE ALIMENTOS FRAGMENTADO, COM CADEIAS PRODUTIVAS E MERCADOS COMPLEXOS

• Construir uma cultura positiva de segurança;

• Monitorar continuamente fornecedores;

• Estabelecer resiliência aos novos riscos;

• Integrar a cadeia de valor do início ao fim;

• Mapear a cadeia logística para conhecer;

• Investir em tecnologia;• Preparar planos de gestão

de crises;• Criar um programa de

gestão de consumidor;• Habilitar sustentabilidade

em linha com a governança corporativa;

• Criar uma estratégia de alimento seguro;

• Buscar a excelência na cadeia de valor do produto;

• Atuar proativamente na gestão de fraudes.

NOVOS PARADOXOS PARA O ALIMENTO SEGURO

1. Construção da confiança;2. Estratégias de crescimento;3. Fraudes em alimentos;4. Sistema de rastreabilidade;5. Ambiente regulatório;6. Integridade na cadeia de suprimentos;7. Gerenciamento de crises.

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fazenda de elevada produtividade, com a produção respei-tando o Código Florestal e as leis trabalhistas. Começaremos a olhar talhão por talhão, com diferentes mapas (layers) de informação. Teremos informações com precisão para dar de como maximizaremos a produtividade com menos uso de recursos naturais.

Teremos dados sobre fertilidade, umidade, temperatura e produtividade do solo. Essa é a forma com que passaremos a enxergar e trabalhar: o cultivo por metro quadrado. Os equi-pamentos já possibilitam trabalhar por talhão, com a máxima produtividade. Daí a previsão da FAO de que, do aumento da produção mundial, 95% virão da maior produtividade por unidade de área e somente 5%, da expansão da área no mundo.

Daremos alguns exemplos da tecnologia de informação aplicada no cultivo da soja. Um agricultor brasileiro, hoje, toma de quarenta a cinquenta decisões para plantar e pro-duzir. Na semeadura, se escolhe o tipo de semente e seu tra-tamento, a época de plantio, a adubação, e assim por diante. Cada uma dessas decisões pode ter os resultados maximiza-dos quando levada às redes neurais (modelos computacio-nais inspirados pelo sistema nervoso de um animal).

Temos o plantio de um talhão de maneira uniforme com uma variedade de soja. Apesar de este talhão nunca ser uni-forme em termos de produtividade, essa decisão fica maxi-mizada quando se respeita a particularidade de cada metro quadrado. Podemos escolher a variedade com maior produ-tividade por talhão. Se realizamos o plantio automático por meio de um smartphone conectado a uma plantadeira, cujo GPS faz a leitura dos mapas e das recomendações das áreas, estamos otimizando a operação em tempo real.

Dispomos de variedades com diferentes genes de biotec-nologia e tratamentos de semente específicos. Empregamos

uma adubação que responde mais à fertilidade de uma área plantada, por exemplo, com semente mais precoce e produ-tiva. Na presença de doenças, por meio das fotos feitas pelo drone, mapeamos e identificamos com sensores as suas ocor-rências, para fazermos as aplicações localizadas, e não gerais.

As recomendações deixam de ser por região e talhão, mas por metro quadrado, otimizando a produtividade e a utili-zação dos recursos disponíveis. Tivemos a oportunidade de conhecer um pouco da agricultura de outros países. No Bra-sil, contamos com a vantagem competitiva de o agricultor ter sido rápido na adoção de tecnologia. Com a intensificação sustentável da agricultura, certamente produziremos mais alimentos e energias renováveis.

Edmundo Klotz

Com apresentações de alta qualidade, diversos assuntos ligados a alimentação foram expostos. Começamos pelos re-centes estudos realizados pela OCDE/FAO sobre as grandes perspectivas globais para o agronegócio brasileiro. Vimos as questões ligadas a comunicação com a divulgação de infor-mações corretas do ponto de vista científico para a opinião pública. Mostramos a evolução futura da agricultura com base no controle e na avaliação palmo a palmo de cada ta-lhão. Finalmente, tratamos do impacto dos aplicativos em celulares na tomada de decisão dos consumidores finais. Ti-vemos uma gama extensa de exposições e análises.

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14º CONGRESSO BRASILEIRO DO AGRONEGÓCIO • ABAG 2015 49

Coordenador:

Renato Casali Pavan, presidente da Macrologística Consultoria

Palestrantes:

Afonso Mamede, presidente da Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração (Sobratema)

Carlos Alberto Paulino da Costa, presidente da Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé)

Cleiton Vargas, diretor comercial da Yara Brasil Fertilizantes

Duarte Nogueira, secretário de Logística e Transportes do Estado de São Paulo

João Cesar Rando, presidente do Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV)

FÓRUM ABAG ESTADÃO

LOGÍSTICA

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menores, mas importantes, no interior (Ribeirão Preto e São José do Rio Preto), para cumprirem o papel de hub regional.

No modal rodoviário, a nossa matriz de transportes pos-sui grande dependência. A sua interconexão com a ferrovia deixa muito a desejar. Nesses últimos vinte anos, sempre houve um grande esforço para aumentarmos os investimen-tos e melhorarmos a nossa infraestrutura e a nossa logística de transportes.

A Secretaria de Logística e Transportes, neste momen-to, trabalha no plano direto com o foco para 2030. Fize-mos os levantamentos preliminares, com as pesquisas de origem e de destino. Avaliamos os softwares para realizar-mos as simulações e as projeções desse entroncamento na geografia paulista que representa, em termos nacionais, 3% do território, 22% da população e 33% da riqueza ge-rada e que responde, também, por um quarto da produção agropecuária nacional.

Transportamos, anualmente, entre as áreas em que os produtos entram e saem do Estado, na ordem de 1,2 bilhão de toneladas de produtos, das mais diversas naturezas. Em rodovias, no primeiro mandato do governador Mário Co-vas, de 1995 a 1998, investimos R$ 1,5 bilhão. De 2011 a 2014, investimos R$ 26 bilhões. Portanto, vinte vezes mais.

Das vinte principais rodovias do País, dezenove estão em São Paulo, com a exceção da Dutra. Respondemos por 22,5 mil quilômetros de rodovias. Se considerarmos aquelas vici-nais, o número vai para 199 mil quilômetros. Na rodovia dos Tamoios, faremos uma nova pista, para melhorar a logística do Porto de São Sebastião e do litoral norte, no contorno de Caraguatatuba a São Sebastião.

No trecho final do Rodoanel Leste, ligando a parte que faltava da Ayrton Senna até a Dutra, construiremos o Rodo-anel Norte, de 44 quilômetros, para ficar pronto no final de 2017. Ficaremos com quase 180 quilômetros interligados. Só a entrega da Ayrton Senna e da Dutra já reduziu em 30% o tempo de viagem do caminhão para o Porto de Santos.

Esse conjunto de ações, precisamos fazer numa escala na-cional. Temos de lançar mão de bons projetos e estudos para fixar metas e estabelecer planos diretores de desenvolvimen-to. Desenvolvermos a intermodalidade ou a multimodalida-de de maneira racional, com recursos do Tesouro, por meio de contratos inteligentes, de segurança jurídica, para conven-cermos a iniciativa privada a participar.

Conseguimos a autorização da Secretaria Nacional de Aviação Civil (SAC) para conceder cinco aeroportos do inte-rior com componente estratégica importante: Jundiaí e Cam-pinas, para diminuir o trânsito conturbado da Região Metro-politana de São Paulo; Bragança Paulista, para desenvolver o turismo no circuito das águas; e dois no litoral, em Ubatuba e Itanhaém. Com isso, o Estado desobriga-se das ações que oneram as suas atividades, para se concentrar em outras ta-refas mais prioritárias. Defendemos um setor público com presença naquilo que a iniciativa privada não é capaz de fazer melhor e, ao mesmo tempo, descentralizado.

IMPORTÂNCIA DA MATRIZ DE TRANSPORTE

Duarte NogueiraComeçamos com a provocação de um poeta mineiro,

o Carlos Drummond de Andrade, com a pergunta: “O que havia no meio do caminho?”. Então, precisamos tirar a pe-dra do meio do caminho para fazer o transporte e a logística funcionarem. Este é o nosso papel: tornarmos os modais de transporte mais eficientes e menos onerosos.

No Brasil, chegamos a ter um modal ferroviário de 35 mil quilômetros, que caíram para 30 mil, mas, operacionalmen-te, temos 23 mil quilômetros; aqui, no Estado de São Paulo, pouco mais de 5 mil. A hidrovia Tietê-Paraná está paralisada, desde maio do ano passado, por falta de calado, em função da falta de água na cabeceira, com a prioridade na produção de energia elétrica.

Contamos, também, com pouco mais de 7 mil quilôme-tros de dutos, que nos permitem ganhar mais eficiência no transporte de etanol. Há dois anos, inauguramos o Sistema Logístico de Etanol, de Paulínia a Ribeirão Preto, que já che-gou até Uberaba, no Estado de Minas Gerais, e que caminha para Jataí, no Estado de Goiás.

No modal aeroviário, São Paulo possui três grandes aero-portos (Guarulhos, Congonhas e Viracopos), com aeroportos

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14º CONGRESSO BRASILEIRO DO AGRONEGÓCIO • ABAG 2015 51

Barcarena-PA concluem o corredor Norte-Sul, trecho norte, com saídas pelos portos do Arco Norte, enquanto a de Lucas do Rio Verde-MT a Miritituba-PA melhorara o escoamento da produção agrícola do Mato Grosso pela hidrovia Tapajós.

No Sudeste e no Sul, as rodovias BR-364/060, de Ron-donópolis-MT a Goiânia-GO, escoam a produção do Cen-tro-Oeste para portos dos Arcos Norte e Sul; a BR-364, de Jataí-GO à BR-153/MG, conecta a região produtora de grãos do sul de Goiás ao Triângulo Mineiro; as rodovias BR-476/153/282/480, de Chapecó-SC a Lapa-PR, escoam a pro-dução de grãos, aves e suínos pelos portos do Arco Sul; a BR-267, de Nova Alvorada do Sul-MS a Presidente Epitácio-SP, e a BR-262, de Campo Grande-MS a Três Lagoas-MS, reduzem custos para o escoamento da produção agropecuária pelos

IMPACTOS DO PIL NO AGRONEGÓCIO

Afonso MamedeTemos a parte do Programa de Investimento em Logística

(PIL) de 2015 focada no agronegócio com seus impactos nos corredores logísticos de exportações.

No Centro-Norte, temos as rodovias: BR-163 MT, de Ron-donópolis a Sinop, que faz parte do PIL 2015, com a entrega de 50 quilômetros de rodovia já concessionada; BR-163 MT/PA, que liga Sinop a Itaituba (Porto de Miritituba), aumen-tando as exportações de grãos pelos portos do Arco Norte. As ferrovias Anápolis-GO a Palmas-TO e Açailândia-MA a

PROGRAMA DE INVESTIMENTO EM LOGÍSTICA (PIL)

Corredores de exportação R$ bilhões

Centro-Norte R$ 29,5

Centro-Oeste R$ 70,5

Nordeste R$ 9,5

Total R$ 109,5

Fonte: Ministério dos Transportes

BENEFÍCIOS DO PIL 2015

RodoviasReduzirão os custos logísticos, com a nova via rodoviária (greenfield) para os vetores Centro-Norte. Isso aumentará a capacidade das vias rodoviárias existentes para os vetores Centro-Sudeste, Sul e Nordeste. Também haverá aumento da conectividade das áreas produtoras.

Ferrovias Reduzirão os custos logísticos, com a abertura de uma nova ferrovia (greenfield) para os vetores Centro-Norte, Centro-Sudeste, Sul e Nordeste. Criam alternativas de transporte de carga a granel mais competitivas e eficientes do que o modal rodoviário.

Portos Reduzirão os custos logísticos, com 137 concessões, com nova alternativa de operação portuária (greenfield) para o vetor Centro-Norte. Aumentam a capacidade e a produtividade das operações portuárias existentes para os vetores Centro-Sudeste, Sul e Nordeste. Os Terminais de Uso Privado (TUPs) acelerarão o aumento da capacidade e da eficiência portuária.

DESAFIOS DO PIL 2015

RodoviasRealização de estudos de viabilidade para onze concessões rodoviárias (2016). Como o BNDES limitará o financiamento em TJLP a 35% do investimento, haverá necessidade de captar financiamento via mercado de capitais (debênture de infraestrutura), com concorrência com os títulos públicos. As limitações de financiamento e o menor volume de tráfego pressionam as tarifas de pedágio. Há, ainda, a necessidade de atrair novos players, pois a grande maioria dos players tradicionais está com capacidade limitada para concorrer.

Ferrovias Incerteza do marco regulatório e do modelo de concessão. Realização de estudos de viabilidade para a maioria das concessões ferroviárias. Como são greenfield, os projetos apresentam maiores riscos, com exigência de estudos técnicos de demanda.Necessidade de atrair novos players de grande porte, pois os players tradicionais estão com capacidade limitada. Apesar de o financiamento do BNDES chegar a 70% da TJLP, a emissão de debêntures de infraestrutura tem grandes desafios, por serem projetos greenfield concorrentes com os títulos públicos.

Portos Nova Lei dos Portos com alta rejeição dos operadores portuários atuais nos portos públicos. Revisão do modelo de concorrência baseado em menor tarifa e maior capacidade de embarque. Atualização dos estudos de viabilidade das concessões de operação portuária em portos públicos. Perda de competitividade dos portos públicos para os TUPs, enquanto o financiamento do BNDES está limitado à TJLP e a 25% dos investimentos.

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14º CONGRESSO BRASILEIRO DO AGRONEGÓCIO • ABAG 201552

Temos 11. 961 produtores de café, com o seguinte perfil:• Produtor familiar: 82,4%, com produção de até 500

sacos;• Pequeno produtor: 14,4%, com produção de 500 até

2.000 mil sacos;• Médio produtor: 2,5%, com produção de 2.000 a

5.000 mil sacos;• Grande produtor: 0,5%, com produção de 5.000 a

10.000 sacos;• Megaprodutor: 0,2%, com produção acima de 10 mil

sacos.As categorias de familiares e pequenos produtores repre-

sentam 96,8% dos produtores e 70% da produção que entra na cooperativa, de modo que somos uma organização estru-turada no produtor familiar e no pequeno produtor. Para transportar 5 milhões de sacas de café, foram utilizados 60 mil caminhões no ano passado. As filiais onde há armazéns são os locais de maior produção de café.

Até alguns anos atrás, todo café era transportado em sa-carias. Esta prática onerava demais. Ficava cada vez mais di-fícil carregar e transportar uma saca de café. Transformamos todo o volume para granel. Antes, seis funcionários demora-vam 48 minutos para encher um caminhão. Hoje, um funcio-nário, em 22 minutos, descarrega um caminhão. Ganhamos 26 minutos por carga. O ambiente de trabalho melhorou: mais saúde e bem-estar, com menos absenteísmo.

Fizemos um convênio com a Espaço ECO, uma ONG ligada à empresa BASF que possui um programa chamado AgBalance. O objetivo é levantar o gasto de energia desde a produção até a colocação da saca de café no porto. Com a introdução da granelização, houve uma economia de energia suficiente para iluminar uma cidade de 100 mil habitantes, durante um ano. Essa mudança trouxe uma economia de energia em sacaria da ordem de R$ 18 milhões.

O café é recebido a granel ou em  bag. Neste ano, por exemplo, 98% do café estão sendo recebidos a granel ou em bag. Em sacaria, somente 2%. Estes números mostram a adesão do produtor para com o sistema.

Nesse sistema de descarga dos caminhões, no complexo industrial do Japi, localizado no município de Guaxupé, o

portos do Arco Sul; e a BR-280, do Porto União a São Fran-cisco do Sul-SC, melhora o escoamento da safra e a produção industrial de Santa Catarina pelos portos do Arco Sul.

A Ferrovia Norte-Sul, de Anápolis-GO a Estrela d’Oeste- SP, conclui o corredor Norte-Sul no seu trecho sul, com inter-ligação com o polo agroindustrial em Três Lagoas-MS.

Os terminais de arrendamento localizam-se no Porto de Santos, no Estado de São Paulo (7 Terminais + 1 Grãos + 1 Fertilizantes); no Porto do Rio de Janeiro, no Estado do Rio (1 Terminal Grãos); e no Porto de Paranaguá, no Estado do Paraná (3 terminais + 3 grãos). Já no Nordeste, os terminais para arrendamento localizam-se no Porto de Suape, em Per-nambuco (4 terminais + 1 grãos).

LOGÍSTICA E SEGURANÇA EM CAFÉ

Carlos Alberto Paulino da CostaComo em uma commodity, no café, a formação de preço

é feita pelo mercado. A logística é uma parte do seu custo de processamento. Precisamos constantemente melhorar estes serviços para sermos competitivos num ramo muito con-corrido. Como sempre, há um ponto para ser desenvolvido; somos conscientes de que não estamos perfeitos.

Se a Cooxupé fosse um país, seria, na cafeicultura mun-dial, o sexto maior produtor, com uma participação de 6,5% da produção mundial.

O Brasil produz os cafés Arábica e Conilon. Os maiores Estados produtores do café Arábica são São Paulo e Minas Gerais. O Estado do Espírito Santo é um grande produtor de café Conilon. Na Cooxupé, trabalhamos com o café Arábica. São Paulo e Minas Gerais produziram 27 milhões de sacas, segundo a Conab, em 2014, tendo o Estado de Minas Gerais produzido 50% da produção brasileira de café e 70% da pro-dução de café Arábica do Brasil.

Estamos nos locais que produzem os melhores cafés do Brasil, que são o sul de Minas, o norte de São Paulo e o Triân-gulo Mineiro. Possuímos 35 filiais, destas dezenove sendo fi-liais e treze escritórios nas regiões produtoras. Temos mais de quarenta armazéns, onde recebemos o café dos produtores.

A nossa produção no sul de Minas é de 53%; no cerrado, de 37%; em São Paulo, de 7%; e, em outros Estados, de 3%. Temos cooperados até dos Estados do Rio de Janeiro, de Goi-ás e da Bahia.

O café precisa chegar ao mercado da melhor maneira possível e com um custo menor. Na Cooxupé, entram 55 ti-pos de cafés diferentes, que são transformados em 320 blends (misturas) para suprir as exigências dos clientes. No labora-tório, o trabalho é contínuo, e precisamos de uma logística sofisticada para toda essa demanda. Todo o sistema de con-trole é informatizado.

PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL NA PRODUÇÃO MUNDIAL DE CAFÉ

País Participação %

Brasil 32,0

Vietnã 18,4

Colômbia 8,6

Indonésia 6,4

Etiópia 4,3

Cooxupé 3,5

Fonte: MAPA/SPAE/Conab; OIC

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O importador recebe o produto sem nenhum tipo de contaminação. Isso garante a qualidade e a segurança. Hoje, principalmente para o café destinado para os Estados Uni-dos, existe uma preocupação muito grande quanto à segu-rança. Obedecemos, estritamente, as leis contraterrorismo. As nossas unidades são fotografadas, e os funcionários ca-dastrados precisam provar que possuem ficha limpa, confor-me exigência do mercado americano.

Enviamos, no ano passado, 3,2 milhões de sacas de café para 43 países. Nos primeiros seis meses deste ano, expor-tamos 2,0 milhões de sacos. Devemos fechar o ano com 4,0 milhões de sacos exportados.

IMPORTAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE FERTILIZANTES

Cleiton VargasQuando olhamos a produção nacional e a importação de

fertilizantes no Brasil, notamos que o seu crescimento de-pende cada vez mais das importações, com a produção na-cional praticamente estabilizada.

Nossos três principais nutrientes são nitrogênio, fósfo-ro e potássio. No nitrogênio, não somos competitivos; no fósforo, produzimos metade da nossa demanda, com in-vestimentos em vários projetos greenfield; e, no potássio, possuímos uma reserva pequena no Estado do Sergipe e algumas reservas na Amazônia, mas com enormes desa-fios ambientais. Continuaremos, então, com uma deman-

café do produtor entra e é guardado em  bag. Por meio de um chip (RFID – identificação por radiofrequência), ficam registradas as características do produto (origem, qualidade, local e destino) e de localização dos produtos no armazém. A central de processamento guarda todas essas informações.

De acordo com a sua qualidade, o café é direcionado para um determinado silo. Quando compra um café da Cooxupé, o cliente sabe da sua rastreabilidade total, como os insumos utilizados e o período de validade. Isso é muito importante: os grandes consumidores, principalmente do Japão e de países da Europa, estão muito preocupados com os resíduos tóxicos.

Quando o produtor entrega o café na cooperativa, a amostra é acompanhada pelo código de barras. Assim, os funcionários responsáveis pelo processo de exame e análise do produto não sabem a sua origem.

A nossa capacidade de armazenamento é de 5.500 mil sa-cas, sendo 55% em bags, que é o café do produtor. O produto vendido para a cooperativa passa a ser de sua propriedade e vai para os silos. A partir daí, pode ser misturado e processa-do para ser vendido.

No sistema de embarque, o café do produtor entra a gra-nel e é colocado em bag. A empilhadeira possui leitor para ler o chip do bag. Como os armazéns possuem Wi-Fi interno, as informações são transmitidas imediatamente para a cen-tral de processamento. Temos, na nossa estrutura, o Recinto Especial para Despacho Aduaneiro de Exportação (Redex), com presença do fiscal do Ministério da Agricultura.

O café é preparado e armazenado no contêiner, que é la-crado e vai direto para o destino; de Guaxupé, vai direto para o navio. Não temos problema com lei, pois o caminhoneiro não precisa esperar, porque o contêiner já está cheio e exami-nado. É apenas trocar o contêiner vazio pelo cheio.

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da bastante forte de produto importado, com pressões na nossa logística.

O fertilizante é sempre a volta (back roll) na logística, com o frete de retorno. Este raciocínio vale para o frete de navega-ção e o frete interno rodoviário. Temos mais saída de soja do que entrada de fertilizantes.

Quando olhamos o mercado brasileiro de fertilizantes, verificamos uma taxa anual de crescimento de 4,8%, compa-rada a 2,2% no mundo. Existe uma relação direta entre con-sumo de fertilizantes e aumentos nas exportações de grãos. Para continuarmos com ganhos de produtividade na produ-ção das culturas, deveremos melhorar as nossas tecnologias e consumir mais fertilizantes.

Os profissionais do setor, diante da expectativa de desen-volvimento da agricultura brasileira, deparam com uma pre-visão de consumo de 44,0 milhões de toneladas para 2024, um aumento de 36,6% sobre a quantidade consumida em 2014.

O principal porto de importação de fertilizantes do Brasil é o Porto de Paranaguá, seguido dos Portos de Rio Grande e de Santos. Podemos juntar, pela proximidade e pela logísti-ca, ao Porto de Paranaguá o Porto de São Francisco do Sul. Depois, temos alguns portos menores, mas importantes para destacar, como os de Vitória e de São Luís.

Para tomar a decisão de compra, o agricultor analisa o preço da commodity agrícola, a relação de troca com os insumos, as condições climáticas e a disponibilidade de re-cursos financeiros. É um processo cauteloso. Na dinâmica da cadeia de suprimento dos fertilizantes (compra/negocia-ção, embarque/desembarque, aduana, mistura/expedição), calculamos um ciclo de 69 dias. Este lead time significa de-safio no nível de planejamento da chegada e da concentra-ção de navios nos portos.

O fertilizante, na medida em que chega, por exemplo no Porto de Paranaguá, pode rodar até a uma unidade mistura-dora no centro de distribuição em Rondonópolis, no Estado do Mato Grosso, para, depois, ser despachado para uma fa-zenda em Lucas do Rio Verde. É uma dificuldade. Nesse caso, são 2,2 mil quilômetros de distância para chegar ao cliente, com 25% de custo portuário + demurrage e 75% de custo de transporte rodoviário.

Outro exemplo é o açúcar produzido no Estado de São Paulo, que é transportado e descarregado por caminhão até Sumaré, para seguir 200 quilômetros via ferrovia até o Porto de Santos. Fazemos o caminho inverso: carregamos o fertili-zante nos vagões em Santos, encaminhamos para a mistura-dora em Sumaré (70% de custo portuário + demurrage e 30% de custo de transporte ferroviário) e, então, para os cami-nhões. Com esse modelo, fazemos uma logística competitiva.

O grande gargalo é o custo da demurrage (multa determina-da em contrato a ser paga pelo contratante de um navio pela sua demora acima do acordado em contrato) nos portos. Nos últi-mos três anos, tivemos uma melhora quando se toma o Porto de Paranaguá, mas há momentos de pico bastante significativos. Há uma concentração muito grande no período do segundo se-mestre, em função da concentração para o momento da safra.

BRASIL: PRODUÇÃO E IMPORTAÇÃO DE FERTILIZANTES (MILHÕES DE TONELADAS)

Ano Produção (1) Importação (2) (2)/(1)

2000 8,0 10,3 56%

2007 9,8 17,5 64%

2014 8,8 24,0 73%

Fonte: ANDA

CONSUMO DE FERTILIZANTES (MILHÕES DE NUTRIENTES)

Ano Mundo (1) Brasil (2) (2)/(1)

2000 137,0 7,3 5,3%

2007 156,2 10,6 6,3%

2014 186,7 14,0 14,0%

Fonte: ANDA; IFA

BRASIL: EXPORTAÇÃO DE SOJA E IMPORTAÇÃO DE FERTILIZANTES (MILHÕES DE TONELADAS)

Item 2000 2005 2010 2014

Exportação de soja* 12 22 29 46

Importação de fertilizantes

19 12 15 25

* Mato GrossoFonte: Conab; ANDA

BRASIL: CONSUMO REGIONAL DE FERTILIZANTES (MILHÕES DE TONELADAS)

Região 2004 2014 2024

Centro-Oeste 7,5 10,6 15,4

Sul 6,6 8,8 11,2

Sudeste 6,1 8,0 10,2

MAPITO* 1,4 3,2 5,3

Nordeste 1,1 1,1 1,2

Norte 0,2 0,5 0,7

Total 22,9 32,2 44,0

* Inclusive o oeste da BahiaFonte: ANDA

BRASIL: IMPORTAÇÃO DE FERTILIZANTES POR PORTOS (2014)

Porto Participação %

Paranaguá 36,7%

Rio Grande 17,2%

Santos 14,6%

Vitória 7,7%

São Francisco do Sul 7,1%

São Luís 5,7%

Outros 11,0%

Fonte: ANDA

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Representamos a indústria de defensivos, dentro dessas responsabilidades estabelecidas pela lei para a logística rever-sa, com mais de 100 empresas associadas e nove entidades.

Este Fórum ABAG é um exemplo claro de integração das cadeias produtivas em torno do objetivo de trazer os resulta-dos esperados, com a participação de representantes de todos os elos.

O Sistema Campo Limpo envolve o fluxo de comerciali-zação de mais de 100 empresas fabricantes, 267 associações e 1,4 milhão de propriedades agrícolas. Na devolução de embalagens vazias pelos agricultores, são 400 unidades de recebimento. No ano passado, para aumentar a capilaridade, realizamos 4.800 recebimentos itinerantes. Finalmente, no transporte realizado pelo inpEV (destino final), são dez reci-cladores e três incineradores.

Uma unidade central de recebimento recolhe, inspeciona e segrega por tipo o material (plástico, metal, caixas e pape-lão). Depois, é feita a compactação para otimizar e reduzir os custos de logística.

Para replicar para todo o País, um bom exemplo é o Esta-do do Paraná, com quinze centrais, 53 postos de recebimento e 1.395 recebimentos itinerantes, no ano passado tendo aten-dido mais de 300 municípios.

Em 2014, movimentamos 13 mil caminhões (equivalente truck) e 42,6 mil toneladas de materiais. Desde 2002 até maio de 2015, ultrapassamos 100 mil caminhões no transporte de 330 mil toneladas. A distância percorrida por todos estes ca-minhões seria suficiente para dar 2.250 voltas em torno da Terra. De 2002 até hoje, investimos R$ 180 milhões na ope-ração logística e R$ 900 milhões no custeio do sistema, sendo 85% feitos pela indústria, 11%% pelos distribuidores e 4% pelos produtores.

O Sistema de Informações das Centrais (SIC) fornece, em tempo real, a quantidade e o tipo de material movimentado até o dia anterior, em diversos agrupamentos. No agendamento de devolução das embalagens vazias, o agricultor possui a opção online. Além de possibilitar o gerenciamento do valor do frete, o sistema facilita o rateio dos custos entre as associadas.

A partir do momento que uma embalagem vazia entra na unidade de recebimento, fazemos a sua rastreabilidade até o produto final.

Estimamos, para 2015, o recolhimento de 45,5 mil to-neladas. Isso significa 80% do volume total de embalagens

Em 2000, tínhamos uma exportação pequena de soja, quando comparada aos números atuais. Praticamente expor-távamos pelos portos do Sul. Agora, começamos a exportar pelos portos do Norte. Isso ainda não é realidade nos fer-tilizantes. Em 2014, dos 14,2 milhões de toneladas exporta-dos pelo Mato Grosso, 2,2 milhões de toneladas saíram pelos portos do Norte, enquanto, dos 3,4 milhões de toneladas de fertilizantes importados, somente 130 mil toneladas vieram pelos portos do Norte.

Nas oportunidades oferecidas pela logística, temos as questões ligadas à regulamentação, de modo a atrair as em-presas interessadas em melhorar a sua posição competitiva, com investimentos em portos-chave, com berços, dragagens e a viabilização da navegação de cabotagem. A conservação de rodovias e a ampliação de ferrovias e hidrovias trarão uma competitividade diferente para o transporte a granel. Tudo isso beneficiará o produtor.

LOGÍSTICA REVERSA EM DEFENSIVOS

João César Rando

Quando temos a oportunidade de participar de um deba-te dessa natureza, aumentamos o conhecimento para encon-trar as soluções sobre os nossos problemas.

Falaremos sobre o Sistema Campo Limpo, a logística re-versa das embalagens vazias e o pós-consumo do setor de defensivos agrícolas. Os seus fundamentos são: legislação (Lei nº 9.974, de 20001), integração, educação e conscientiza-ção, e gestão de processos e informação.

A Lei nº 12.305, referente à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), de 2010, trouxe responsabilidades da logís-tica reversa para uma série de setores, como pneus, pilhas, baterias, embalagens em geral, óleos lubrificantes, lâmpadas, dentre outros. Essa tendência estender-se-á a outros resíduos também gerados dentro da porteira do agronegócio.

Precisamos atacar três problemas graves: o primeiro é a despolitização das agências reguladoras, com a partici-pação de profissionais capacitados; o segundo é encontrar a correta relação entre um investimento e a precificação dos pedágios; e o terceiro refere-se a regras claras e dura-douras para o investidor ter segurança. Sem isso, perde-mos competitividade.

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FLUXO DO SISTEMA CAMPO LIMPO

1. Produto pronto para comercialização;2. Comercialização;3. Tríplice lavagem;4. Devolução;5. Processamento das embalagens;6. Destinação ambientalmente correta:

6.1. Incineração;6.2. Reciclagem.

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14º CONGRESSO BRASILEIRO DO AGRONEGÓCIO • ABAG 201556

muda de figura. As embarcações seguem pelo rio Amazonas até o Porto de Vila do Conde, em navios cap size (capacidade para 200 mil toneladas), em vez de navios panamax (capaci-dade de 60 mil toneladas). O frete cairá para um terço. É um projeto financiado pela inciativa privada.

Em relação à logística da soja e do milho voltada para a região Norte, há também a alternativa da construção de uma ferrovia de Santana do Araguaia, no sul do Estado do Pará, até o Porto de Vila do Conde. No próprio PIL, começa a ser estudado o trecho de Lucas do Rio Verde-MT a Miritituba-PA.

A maioria da produção do Centro-Oeste ainda sai pelos Portos de Santos e Paranaguá. Com as diversas estratégias montadas pelas suas administrações, as questões dos estran-gulamentos e das filas rodoviárias melhoraram bastante.

O Brasil é um país viável tecnicamente em algumas com-modities, mas precisa de competitividade. No levantamento do Fórum Econômico Internacional, de 142 países classifica-dos, o Brasil ficou na 114ª posição. Investimos em transporte 0,5% do PIB, enquanto a Rússia e a Índia aportam 5% do PIB.

Para projetos viáveis, não falta dinheiro. Com o Canal do Panamá, será possível navegar em navio cap size de me-nor frete marítimo. O custo da tonelada de Lucas de Rio Verde ao Peru, na saída pelo Oceano Pacífico, é de R$ 352, enquanto, de Miritituba a Vila do Conde, via Canal do Pa-namá, sai por R$ 182. É importante termos o Operador de Transporte Multimodal (OTM). Esta figura é uma pessoa jurídica contratada para a realização do transporte multi-modal de cargas, da origem até o destino, por meios pró-prios ou por intermédio de terceiros.

Na armazenagem, existe a compreensão de que precisa-mos de uma capacidade do tamanho da produção. Precisamos de um benchmark; precisamos ver outros países com proble-mas semelhantes aos do Brasil, como os Estados Unidos. Lá,

colocadas no mercado e 94% do volume total de embala-gens primárias – que têm realmente contato com o produ-to. Aproximadamente sessenta países possuem sistemas de recolhimento similares aos nossos. Na América do Norte, os Estados Unidos recolhem 33% e o Canadá, 73%. Na Europa, a Alemanha recolhe 66%, a França, 77%, e a Espanha, 67%. Na Oceania e na Ásia, Austrália e Japão com 50% cada um.

Fechamos o ciclo com a produção de uma nova embala-gem que volta a ser utilizada pela própria indústria de defen-sivos. Cada embalagem reduz a emissão de 2 quilos de dióxi-do de carbono (CO2) quando comparada a uma embalagem produzida de material virgem. Nosso último investimento é numa fábrica de tampas, também com material reciclado.

Fizemos, também, este balanço da ecoeficiência para verificar os benefícios ambientais do sistema: economia de energia suficiente para abastecer 1,7 milhão de residências durante um ano; extração 3,8 vezes menor de recursos na-turais; redução de resíduo equivalente ao gerado por uma cidade de 500 mil habitantes em sete anos; e 443 mil tone-ladas de dióxido de carbono deixaram de ser emitidas – isso corresponde a 1 milhão de barris de petróleo não extraídos ou 2 milhões de árvores plantadas.

Renato Casali Pavan

Acima do paralelo 13° Norte, o Brasil exporta muito pou-co. Com a conclusão da BR-163, de Sinop-MT a Miritituba- PA, onde é feita a interligação rodo-hidroviária, o quadro

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Luiz Antonio CornacchioniDiretor executivo da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG)

Trabalhamos, na ABAG, com nove comitês. No de Logís-tica, montamos um folder provocativo, com pontos interes-santes para discussão. O conteúdo do documento completo, com mais de 250 páginas, pode ser encontrado no site da ABAG, que estará em constante atualização.

O Comitê pretende fazer uma romaria para levar ao Go-verno algumas propostas, inclusive na área de Armazena-gem. Neste 14º CBA, foi comentada a estratégia da segurança alimentar da China com o armazenamento de açúcar e grãos. Precisamos armazenar aqui para que possamos aproveitar os melhores momentos de preços e câmbio.

Agradecemos aos coordenadores e aos debatedores pre-sentes nestes dois Fóruns, de Alimentos e de Logística. Ao Ernesto, do Estadão, a honra pela parceria na realização deste evento. Aos patrocinadores e apoiadores, em nome da Dire-toria da ABAG, nosso muito obrigado!

o armazenamento de 60% da safra fica na propriedade. Isso facilita a comercialização. Os próprios produtores vendem e compram na Bolsa de Chicago e movimentam cinco vezes a sua safra; outros negociam diretamente com o OTM.

Estamos com 30 milhões de toneladas de capacidade de armazenagem no nível de propriedade. São 20% da nossa produção. Deveríamos ter 60% ou quatro vezes mais. O défi-cit é de 90 milhões de toneladas nas propriedades agrícolas, para termos competitividade similar à dos Estados Unidos.

Os outros 20% da safra são os silos intermediários, entre a fazenda e a comercialização final. E, finalmente, o silo regula-dor de preços – que é o papel da Conab: ter um estoque para poder jogar e retirar do mercado.

Quando listarmos esses fatores, veremos que compensa a armazenagem própria para o produtor, como parte da cadeia produtiva da soja e do milho. Essa é uma corrente fundamental.

Todo programa americano foi incentivado. Aqui, temos uma linha de crédito: quinze anos para pagar, cinco anos de carência e 4% de taxa de juros. Para quem possui silo na propriedade, a Embrapa recomenda uma colheita com 17% de umidade para ter menor perda. Caso contrário, coloca a produção e leva para a cooperativa, o cerealista e a indústria. Há fila, vai tempo, e o produto arde e perde valor.

No Comitê de Lógica e Competitividade da ABAG, te-mos nove núcleos, como os de Logística, Infraestrutura e Armazenagem.

ENCERRAMENTO

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As apresentações e os debates realizados durante o 14º Congresso Brasileiro do Agronegócio e o Fórum ABAG/Estadão tiveram ampla cobertura entre os diferentes meios de comunicação: televisão, rádios, jornais, revistas, portais, agências de notícias e mídias sociais.

O 14o Congresso teve a participarão de 721 pessoas. Nos Fóruns de Alimentos e de Logística, foram 267 e 245 pessoas participando, respectivamente.

Estiveram presentes, também, 164 jornalistas e 52 veícu-los de comunicação. Foram publicadas perto de 200 maté-rias, com quatro inserções especiais, sendo: uma no Caderno Valor Setorial, duas no jornal O Estado de S. Paulo, e um Ca-derno Especial do Agronegócio no Estadão.

Mídias sociais

Houve a significativa marca de 107 mil interações junto ao conteúdo do 14º Congresso e dos Fóruns via as redes so-ciais, por meio da #AquiTemAgro e do site da ABAG (e suas extensões via Twitter, blog e Facebook).

Workshop de Jornalistas

Pelo quinto ano consecutivo, a ABAG, em parceria com a Andef (Associação Nacional de Defesa Vegetal), o CIB (Con-selho de Informações sobre Biotecnologia), o inpEV (Insti-

tuto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias), o SINDIVEG (Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola) e o GTPS (Grupo de Trabalho da Pe-cuária Sustentável), realizou o Workshop de Jornalistas, no dia 3 de agosto.

Público via internet

A transmissão via web do 14º Congresso foi em parceria com a Safra & Mercados, e a do Fórum foi em parceria com a Agência Estado, utilizando tecnologia de última geração (apresentação via flash e com chat online), tendo registrado o acesso de 6.417 pontos, por meio de computadores, tablets e smarphones.

REPERCUSSÃO

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Parceiros de mídia do 14º CBA

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Organização

www.abag.com.br

Realização

Sustentar é Integrar

14º Congresso Brasileiro do Agronegócio

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