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Reclamação para Preservação da nº Autonomia do Ministério Público 0.00.000.001561/2011-97 Gabinete da Conselheira Cláudia Chagas RPA Nº 0.00.000.001561/2011-97 REQUERENTE: THEMIS MARIA PACHECO DE CARVALHO – PROCURADORA DE JUSTIÇA REQUERIDO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO MARANHÃO RELATORA: CLAUDIA CHAGAS DECISÃO Trata-se de Reclamação para Preservação da Autonomia do Ministério Público instaurada a partir de petição encaminhada por THEMIS MARIA PACHECO DE CARVALHO, Procuradora de Justiça do Ministério Público do Estado do Maranhão. A autora requer medida liminar para que a Procuradora- Geral de Justiça do Estado do Maranhão observe a regulamentação do Conselho Superior do Ministério Público do Estado do Maranhão – CSMP/MA, que trata do afastamento de Membros do Parquet para frequentar cursos ou seminários de aperfeiçoamento e estudo. Afirma que a citada regulamentação foi descumprida, uma vez que a Procuradora-Geral de Justiça teria autorizado o afastamento, sem anuência do CSMP/MA, de dois Promotores de Justiça e de um servidor para cursar uma pós-graduação na cidade de Belo Horizonte/MG, havendo, inclusive, pagamento de diárias nos dias de deslocamento para frequentar o curso. Alega violação aos princípios da 1

1561 2011-97 revogacao liminar

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Reclamação para Preservação da nºAutonomia do Ministério Público

0.00.000.001561/2011-97Gabinete da Conselheira Cláudia Chagas

RPA Nº 0.00.000.001561/2011-97REQUERENTE: THEMIS MARIA PACHECO DE CARVALHO – PROCURADORA DE JUSTIÇAREQUERIDO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO MARANHÃORELATORA: CLAUDIA CHAGAS

DECISÃO

Trata-se de Reclamação para Preservação da Autonomia

do Ministério Público instaurada a partir de petição encaminhada por

THEMIS MARIA PACHECO DE CARVALHO, Procuradora de Justiça do

Ministério Público do Estado do Maranhão.

A autora requer medida liminar para que a Procuradora-

Geral de Justiça do Estado do Maranhão observe a regulamentação do

Conselho Superior do Ministério Público do Estado do Maranhão –

CSMP/MA, que trata do afastamento de Membros do Parquet para

frequentar cursos ou seminários de aperfeiçoamento e estudo.

Afirma que a citada regulamentação foi descumprida,

uma vez que a Procuradora-Geral de Justiça teria autorizado o

afastamento, sem anuência do CSMP/MA, de dois Promotores de Justiça e

de um servidor para cursar uma pós-graduação na cidade de Belo

Horizonte/MG, havendo, inclusive, pagamento de diárias nos dias de

deslocamento para frequentar o curso. Alega violação aos princípios da

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impessoalidade e da moralidade, uma vez que a Requerida teria escolhido,

discricionariamente, as pessoas que prestariam o curso.

Foi concedida, parcialmente, a medida liminar, para

suspender o pagamento de diárias aos Promotores de Justiça LUIS MUNIZ

ROCHA FILHO e CAROLINA ROCHA DE MENDONÇA LEITE, bem como ao

servidor ANDRÉ WILLIAN GADELHA VILA NOVA.

O processo foi reautuado, passando a tramitar como

Procedimento de Controle Administrativo, nos termos do art. 107 e

seguintes do RICNMP.

Os requeridos apresentaram informações (fls. 86/89).

Afirmam que LUIZ MUNIZ ROCHA FILHO e ANA

CAROLINA CORDEIRO DE MENDONÇA LEITE são Promotores de Justiça,

membros do GAECO/MA (Grupo de Atuação Especial de Combate às

Organizações Criminosas) e que ANDRÉ WILLIAN GADELHA VILA NOVA é

Analista Ministerial e que exerce a função de Chefe da Seção de

Segurança Institucional da Procuradoria Geral de Justiça/MA.

Informam que solicitaram e obtiveram da Procuradoria

Geral de Justiça inscrição em curso de pós-graduação lato sensu

“Especialização em Inteligência de Estado e Inteligencia de

Segurança Pública”, curso promovido pela Fundação Escola Superior

do Ministério público de Minas Gerais.

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Esclarecem que na instrução do processo, a Diretora da

Escola Superior do Ministério Público do Maranhão certificou, de relevo

para o caso: a) a inexistência no Estado do Maranhão, de curso similar ao

oferecido pela Fundação Escola Superior do MP/MG; b) a pertinência do

curso com as funções desempenhadas pelo Promotores; c) a necessidade

de qualificação profissional dos Promotores, para aproveitamento no

quadro daquela escola; d) a vantagem na equação custo/benefício, porque

o curso desenvolve-se em apenas um final de semana por mês, às sextas

e sábados.

Alegam que esse afastamento para cursar pós-

graduação destinada a melhor qualificá-los no desempenho da específica

função em que se acham investidos, não coincide com aquele de que

trata o artigo 15, XI da Lei 8625/93, tendo suporte na Resolução n.º

002/2006 do CSMPMA, de 24 de novembro de 200, que dispõe o seguinte:

“ Art. 1º. A autorização para afastamento do membro do

Ministério Público para frequentar curso ou seminário de

aperfeiçoamento e estudos no país ou exterior em período

de até três dias pode ser deferido pelo Procurador-Geral de

Justiça, após ouvida a Corregedoria geral do Ministério

Público.”

Por fim, requerem: a) a retificação da autuação para

contar o nome correto da promotora ANA CAROLINA CORDEIRO DE

MENDONÇA LEITE; b) a reconsideração da decisão liminar; e c) o

arquivamento da presente representação.

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A Procuradora-Geral de Justiça do Estado do Maranhão

presta suas informações na presente data.

No que se refere ao art. 1º da Resolução 7/2004, na qual se

embasou a requerente, afirma não ser cabível a sua leitura isolada, a qual

nos faz “recair em logro na busca da solução do caso presente”. Afirma

que o tema não é regulamentado exclusivamente pela referida norma e

que a autora omitiu a existência da Resolução 2/2006 do mesmo Conselho

Superior, pela qual o órgão delegou ao Procurador-Geral de Justiça

competência para autorizar o afastamento de membros para frequentar

curso ou seminário de aperfeiçoamento de estudos no país ou no exterior

em período de até três dias, após ouvida a Corregedoria.

Informa que, no caso em análise, os Promotores de Justiça

e o servidor, sem prejuízo de suas funções, deslocam-se para a cidade de

Belo Horizonte apenas uma vez por mês, sempre às sextas e sábados. O

curso é realizado pela Fundação Escola Superior do Ministério Público do

Estado de Minas Gerais, em parceria com o Centro Universitário Newton

Paiva. São assim autorizados o pagamento de duas diárias para cada um.

Acrescenta que os membros e o servidor desenvolvem suas

atribuições junto ao Grupo de Atuação Especial de Combate às

Organizações Criminosas (GAECO/MA), têm direta subordinação à

Procuradora-Geral de Justiça. O afastamento concedido, por uma vez ao

mês, não traz prejuízo às suas atividades, nem benefícios individuais, mas

é de interesse da própria instituição. Lembra que eles atuam na atividade

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de inteligência e que a frequência no referido curso atende, inclusive, a

recomendação do Grupo Nacional de Combate às Organizações

Criminosas.

Discorre ainda sobre a relevância do trabalho dos membros

e servidores do GAECO e sustenta a legalidade do ato impugnado.

Quanto ao pagamento de diárias, invoca a Resolução

58/2010 do CNMP e a Resolução 5/2011 do MPMA, reiterando o interesse

do serviço no aperfeiçoamento dos membros e servidores.

Sustenta, ainda, a legalidade da contratação direta do citado

curso, pois o caso é de inexigibilidade de licitação (art. 13, I, III e VI da

Lei 8.666/93).

Por fim, requer a reconsideração da decisão liminar e a

improcedência do pedido aduzido na inicial.

É o relatório.

Decido.

Da leitura das informações, em uma análise sumária e

pouco aprofundada, característica das decisões liminares, há de se

reconhecer que, de fato, a liminar anteriormente concedida deve ser

revogada.

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Restou demonstrado no autos a existência da Resolução

2/2006 do Conselho Superior do Ministério Público do Estado do

Maranhão, pela qual o órgão delegou ao Procurador-Geral de Justiça a

competência para autorizar o afastamento de membros para frequentar

curso ou seminário de aperfeiçoamento de estudos no país ou no exterior,

em período de até três dias.

Verifica-se, ainda, que o aperfeiçoamento dos membros

é de interesse da institucional e que o curso, realizado pela Fundação

Escola do Ministério Público de Minas Gerais não encontra similar e é

inteiramente adequado às atribuições exercidas pelos citados membros e

servidor.

De outro lado, o afastamento se dá apenas uma vez ao

mês, às sextas e sábados, não havendo indícios suficientes de prejuízo

institucional. Ao contrário, a aparência é de legalidade e, em princípio, a

frequência ao curso em questão parece ser de interesse do serviço. Foi,

inclusive, recomendado pelo GAECO aos Ministério Públicos de todo o país.

Assim sendo, do exame dos autos e do esclarecimento

de diversas questões que não constavam na inicial, concluo pela

inexistência do fumus boni iuris, a sustentar medida liminar. já que

situação aparenta possível legalidade.

Com relação ao periculum in mora, nota-se que é

reverso. A suspensão das diárias poderá impedir os membros e o servidor

de continuar a frequentar o curso, gerando prejuízo não só a eles, mas à

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própria instituição, que pretende investir no aperfeiçoamento funcional.

Caso sejam, ao final do processo, localizados pagamentos ilegais, os

valores poderão ser restituídos

Diante do exposto, revogo integralmente a liminar

concedida.

Publique-se.

Brasília (DF), 16 de novembro de 2011.

Conselheira CLAUDIA CHAGASRelatora

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