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J bras Psiq,44(7): 345-349, 1995 Inventár-io de depressáo imfantil' CDI: estudo de adaptaçáo conr escolares d.e Joáo Pessoa Valdiney Velôso Gouveial, Genário Alves Barbosaz, Hennano José Falcone de Almeidas, Adriana de Andrade Gaiáo3 Resumo O objetiao C,este estudo t'oi adaptar o CDI para o contexto brasileìt'o, qdotando os seguintes pe$sos: a) h'aduqlo do inshu- rnento, b) aaaliaSo de sua ntnrtura fatorinl, c) raaliaçno da influência das omiríaeis sexq idade, tipo de esala e escolaridade sobte seus escores e d) elnba'açao de nonrns diagnósticns. Os sujeitos foram 305 infantes, fu I a L5 anos, de ambos os sexos e pt'ouutientes de escolss públicas e ptioadas. Os resultadas t'a'am de que ele a'a unifttorinl, sutdo representado pa'18 ítens com cargas futoriais - a *,0,35, explicnndo 13,4% ds aariância total dos escorcs, tendo umAlphn de0,81.Nenhuma dastmiáaeis htluenciou as esüres na escala rcduzìds, essim ntsbelecerum-se tlotrtnts ímicas cam o pottto de corte 17. Concluiu-se que o CDI tem aceitctaeis par'âmetr"os psicornétricos, sendo útil para idm- tifuar infantn prwaaelmen te depressiaos. Unitermos: depressâo infantil; aval.iação psicopatológica; CDI; psicometria; crianças brasileiras; psiquiatria iafantil A depresúo na infância é algo que vem preocupando pais e educadores em vários países, sobretudo no que diz respeito a sua influência no rendimento escolar (Polaino & Domènec1't0o). A atençáo que el,a merece se define a lMestro em Psiologia Social pela Universidade de Brasfiia. Professor do Depatamento e do Mstrado em Psicologia da Universidade Federal rla Paraôa. 2Doutor em Psiquiatria pela Cátedra de Psiquiatria Infanh"Ì da Universidade de Sevilla Espanha. Bolsista RD do CNPq imtõ à Universidade Federal da PamÍba- 3E tugiário. do Setor cle Psiquiatria IníanÉ! do Hospital Universitário da Universìdade Federal da Paraíba. @ 1995 - ECN-Editora Cientíïica Nlacional Ltda. partir de sua prevalência, que varia de cidade para cidade, podendo se sihrar no intervalo de 0 a 64% (vuBzpeleta(8)). Apesar de alguns desacordos entre os índices de pre- valência de depressáo na inÍância, os dados apresentados acima apenas foram possíveis a partir da déìada cle Zq quando realizaram-se esforços no sentido de deÍinir mé- todos específicos para o estudo desta patologia (Chabrol(a), Kronenberg Blumensoh & Apteíla). Até a década de 60 os eshrdos a este respeito eram meramente teóricos. Viam- se nesta época temros como "equivalentes depressivos" e "depressáo mascarada" para descrever quadros dínicos de pessoas nesta faixa etária que apresentavam sintomas üpicamente depressivos (Ajuriaguerra & Marcelli(1). E ceúo que parte da variabilidade dos índices de pre- valência da depressáo infantil pode ser explicada em ter- mos dos tamanhos das amostras e características associa- das aos critérios de diagnóstico (GarÍinkel, Carlson & Wellelll)) e da não convergência entre métodos u'ilizados (Lobovists & Hondal(ls). Todavia contribuição também de outros fatores/ como os pessoais/ econômicos e regionais (Nogrreira & Monreal(1D;Del Barrio & Pârraga@). Em relaçáo aos fatores pessoais, há evidências de uma correlação positiva entre idade e depressáo (Del Barric & Pár::agafl)\, mas náo é certo que o ser(o influencie o nível deste distúrbio apresentado pelos inÍantes (Del Barrio & Pálraga?; Ezpeleta, Domènech & Polaino(e)). Quanto ao aspecto econômico, prevalece uma maior incidência de depressão inÍantil entïe os sujeitos de dasses sociais mais baixas @el Barriro &. Parraga?). no que diz respeito ao regionaf enconha-se maior incidência de depressão na zona urbana do que na mral (Nogueira & Monreaì[a). a--:- -:;'. -,ï : ,€

1995 - Gouveia&cols_CDI.pdf

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J bras Psiq,44(7): 345-349, 1995

Inventár-io de depressáo imfantil' CDI: estudode adaptaçáo conr escolares d.e Joáo PessoaValdiney Velôso Gouveial, Genário Alves Barbosaz, Hennano José Falcone de Almeidas,Adriana de Andrade Gaiáo3

ResumoO objetiao C,este estudo t'oi adaptar o CDI para o contexto

brasileìt'o, qdotando os seguintes pe$sos: a) h'aduqlo do inshu-rnento, b) aaaliaSo de sua ntnrtura fatorinl, c) raaliaçno dainfluência das omiríaeis sexq idade, tipo de esala e escolaridadesobte seus escores e d) elnba'açao de nonrns diagnósticns. Ossujeitos foram 305 infantes, fu I a L5 anos, de ambos os sexos

e pt'ouutientes de escolss públicas e ptioadas. Os resultadas

t'a'am de que ele a'a unifttorinl, sutdo representado pa'18 ítenscom cargas futoriais - a *,0,35, explicnndo 13,4% ds aariânciatotal dos escorcs, tendo umAlphn de0,81.Nenhuma dastmiáaeishtluenciou as esüres na escala rcduzìds, essim ntsbelecerum-setlotrtnts ímicas cam o pottto de corte 17. Concluiu-se que o CDItem aceitctaeis par'âmetr"os psicornétricos, sendo útil para idm-tifuar infantn prwaaelmen te depressiaos.

Unitermos: depressâo infantil; aval.iação psicopatológica; CDI;psicometria; crianças brasileiras; psiquiatria iafantil

A depresúo na infância é algo que vem preocupandopais e educadores em vários países, sobretudo no que dizrespeito a sua influência no rendimento escolar (Polaino& Domènec1't0o). A atençáo que el,a merece se define a

lMestro em Psiologia Social pela Universidade de Brasfiia. Professor doDepatamento e do Mstrado em Psicologia da Universidade Federal rlaParaôa.2Doutor

em Psiquiatria pela Cátedra de Psiquiatria Infanh"Ì da Universidade deSevilla Espanha. Bolsista RD do CNPq imtõ à Universidade Federal daPamÍba-3E tugiário. do Setor cle Psiquiatria IníanÉ! do Hospital Universitário daUniversìdade Federal da Paraíba.

@ 1995 - ECN-Editora Cientíïica Nlacional Ltda.

partir de sua prevalência, que varia de cidade para cidade,podendo se sihrar no intervalo de 0 a 64% (vuBzpeleta(8)).

Apesar de alguns desacordos entre os índices de pre-valência de depressáo na inÍância, os dados apresentadosacima apenas foram possíveis a partir da déìada cle Zqquando realizaram-se esforços no sentido de deÍinir mé-todos específicos para o estudo desta patologia (Chabrol(a),Kronenberg Blumensoh & Apteíla). Até a década de 60os eshrdos a este respeito eram meramente teóricos. Viam-se nesta época temros como "equivalentes depressivos"e "depressáo mascarada" para descrever quadros dínicosde pessoas nesta faixa etária que apresentavam sintomasüpicamente depressivos (Ajuriaguerra & Marcelli(1).

E ceúo que parte da variabilidade dos índices de pre-valência da depressáo infantil pode ser explicada em ter-mos dos tamanhos das amostras e características associa-das aos critérios de diagnóstico (GarÍinkel, Carlson &Wellelll)) e da não convergência entre métodos u'ilizados(Lobovists & Hondal(ls). Todavia há contribuição tambémde outros fatores/ como os pessoais/ econômicos e regionais(Nogrreira & Monreal(1D;Del Barrio & Pârraga@).

Em relaçáo aos fatores pessoais, há evidências de umacorrelação positiva entre idade e depressáo (Del Barric &Pár::agafl)\, mas náo é certo que o ser(o influencie o níveldeste distúrbio apresentado pelos inÍantes (Del Barrio &Pálraga?; Ezpeleta, Domènech & Polaino(e)). Quanto aoaspecto econômico, prevalece uma maior incidência dedepressão inÍantil entïe os sujeitos de dasses sociais maisbaixas @el Barriro &. Parraga?). já no que diz respeitoao regionaf enconha-se maior incidência de depressãona zona urbana do que na mral (Nogueira & Monreaì[a).

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Quanto aos métodos existentes paÍa o eshldo da de-pressáo na irúância, os de avaliação objetiva (questionários,escalas e inüentários) começaranì a ser mais preferidosdo que a-s entrevistas clínicas. E dentre estes, segundopolaino e Demènech(t8), Villamisar e Ezpeleta(lq) e Davis,Huntet Nathan e Bairnsfatheí6), o mais freqüent€Ínentecitado e usado é o Child Depression Inventory (CDI), deKovacs(]3).

O CDI (Inventário de Depressão lnfuntil) surgiu ini-cialmente nos Estados Unidos, compreendendo uma adap-taçáo do BDI (Inventário de Depressáo do Beck [BeckG)];.Ele se propoe a mensurar o nível de depressão em jovensde 7 a 77 anos, tanto através da auto-aplicação quantodas respostas de inÍormantes (pais, professores ou amigos).

Ao todo 27 itens distribuídos entre os sintomas afetivos,cognitivos e condutuais conpõem o CDI. Das três alter-nativas de resposta para cada um deles (escala de 0 a 2pontos), o jovem (ou seu inÍomrante) seleciona a quemelhor descreve seus sentimentos nas duas últinras se-manat o que indicará seu grau de depressáo.

Em termos da estrutura fatorial deste instrumento, deacordo com Ezpeleta, Domènech e PolainoP) náo parecehaver acordo quanto a este ser uni ou multifatorial. Nosestudos por ele considerado observou-se que o CDI seapresentava unifatoriai em amostras normais e multifa-torial em amoshas dínicas, mas os dados não concordamcom os resultados a que chegaram Helsen e MatsonG2) eMatsory Barrett

" 11"1r"t {te).-Com infantes normais tais

pesquisadores descobriram que o CDI era composto porquatro fatores: Conduta Afetiv4 Imagem/Ideaçãq Re-laçóes Interpessoais e Culpabüdade/Initabüdade, em-bora apresentassem um único Índice de consistência in-terna que englobava todos os seus itens.

Em relação aos parâmehos psicométricos do CDI, osestudos realizados até então o definem como satisfatório.

PrecisáoFoi encontrado um r = 0.72 em um estudo de teste-

reteste no intervalo de um mês (Kovacs, 7980, citado emLobovits & Handal(ls)).

Com respostas dos professores de 276 crianças dasáreas de Chicago e RocKord, nos Estados Unidos, Helselg l\4n1son(tz) consideraram o CDi conì os 27 itens e aorealizar uma análise da consistência interna encontraramunr Alpha = 0,89.

glg(s), em seu estudo (sic), encontÍou um Alpha deQ88 para o inventário com todos os itens.

ValidadeAtravés de uma análise fatorial com rotaçáo varimax

(sic), Helsel e Matson(l2) descobriram quaho htores doCDI com validade facial.

Loboúts e Handal(is) citam o estudo realizado porFriedman e ButlerüO), onde a vúdade de critério do CDIfoi estabelecida a partir da correlação de seus escores coma baixa auto-estima (r = Q66).

Em texto descrevendo o CID e suas propriedades psi-cométricas, Ezpeleta,Domèneú ePolaino0 citam o estudorealizado por Green (1980) com 326 escolares normaisonde foi encontrada uma correlaçáo satisfatória (r = -0,72)

346 E JoÍnal Brasileiro de Psìquiairia julho 1995 vol. 44 na 7

enke os escores deste instrumento e do Chilclren,s Seif-Esteem Inventorv.

-Também foraír enconkadas correlaçóes positivas e sig-niÍicativas (p < 0,05) d.os escores do CDÍ com o diagnóstiãoülnlco e com o DSM-III (KronenberB Blumensohn &Apter0+).

Por fim, mesmo náo descrevendo, Cole(s) e Viilamisare Ezpeleta(tl) citam dez diferentes trabalhos onde é atestadaa qualidade psicométrica do CDI.

Em relaçãò às nomras diagnósticas, talvez o CDI repre-sente o instrunìento de avaliaçáo psicológica e psiquiátricainÍantil com maior nírmero de estudos pãa suá elatora6o(tet Por exemplo, Vrllamisar & Ezpeietatle);.

Lertanente por seu conteúdo dirigido a inhnteg suasqualidades psiàométricas, facüdade"de aplicaçáo e decorreção (Villamisar & Ezpeleta(ie), o CDI tem sido usadoem.diversos países, como EstadosUnidos, Inglaterra, Ca-nada e Bspanha, moslrando-se Írtil para o que se propòe:identiÍicaiirúantes com índices de dËpressão' consiâerádosdesviantes.

.- Apesar dos problemas relacionados à depressáo infan-til, não constú na hteratura do país infoimações sobrea prevalência deste clistírrbio na populaçáo não cfnica.Ao menos efste um instrumento, tlpo mpis e papef conlparàmetros psicoméhricos e nomras que servissenì paradar Lnieo a um tal estudo.

. Mediante o exposto, o objetivo do presente estudo é

adaPtil o lnventário de Depressáo Infantil para o Brasila partir de uma anÌostra de infantes pessoenses. Paratanto, será necessário: a) traduzü o instmmento,b) avaliarsua estruhrïa fatorial, c) avaliar a influência de variáveissócio-demográfi.cas sobre seus escores e d) elaborar normasdiagnósticasï - --/ ---'-

hocedimentos para adaptaçáo do CDI

1. Trad.uçãa

^ h ttl primeiro momento, pediu-se que o setor de

Assuntos Internacionais da Universidade Êederal da pa-raíba se

-encanegasse pela tradução do CDI. Depois depronta, foram entregues o original e a traduçáo a doisProtessores universitários conÌ conhecimento em línguainglesa.e portugues4 sendo um da área de psicologia eoutro d.e Psiquiahia.

, A traduçáo inicial necessitou apenas de alguns ajustesd5 expressões, resultando na ver'são final qie poá" r"tobticla com os autores deste estr:d.o

2. Aualiaqão do. estruturq, fatorialUma vez que não há acordo na literatura sobre a es-

trutura fatorial do CDI, o processo p.Ìra sua definiçáo sedeu através de análise fatorial exploiatória e da avaliaçáodo índice de consistência intema para cad.a fator resultante.

Arnostra. e proce&mentosO estudo foi rea'lizado em João Pessoa. Os sujeitos

fonrn 30% infantes com idad.e média de 77,7 anog iendoo mais jot"n-, oito e o mais velho 15 anos, a maioria dosexo masculino. Todos eram esírdantes do primeiro grau,sendo 53,9% makiculados em escolas púúücas " {op%em escolas parliculares (ver Tabela 1).

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Page 3: 1995 - Gouveia&cols_CDI.pdf

4lI

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Tabela 7 - Cancteruação da amostra de respondentes(N = 30s).

Variável Níveis

Tâbelà 2 - Estrutura fatorial do CDI - Análise MaimumLíl<elyhood

Carga fatorial Descrição do conteúdo

Idade

Masculino

Feminino

Sa9anos

10 a 11 anos

12 a 13 anos

14 a 15 anos

Pública

Privada

Quarta série

Quinta série

Sexta série

Sétima série

Oitava série

L67

138

10

117

115

51

164

141

88

/J

75

44

25

v,8

45,2

na

20

10

14

25

4

1l

9

7

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24

23

1

21.

77

8

?2

12

6

19

15

26

2

13

5

27

18

4,59*

a,sry

0,52"

0,51*

0,47

0,44*

0,M"

0,43*

0A3*

0,8*

0,8*

0,8"

0,47

0,Q*

0,39"

0,39*

0,38"

0,36*

0,31*

0,29

0,27

0,?.5

0,25

0,18

0,17

0,12

0,71.

Escola

Nível escolar

O CDI Íoi aplicado de forma coletiva em sala de aula,tendo sido duas pessoas designadas para esta atiüdade.Após se apr€sentaÍem/ erarn rapidamente exPlicitados osobjetivos da pesquisa. Em seguid4 iniciavam-se as exPli-caçóes de como respondeç enÍatizando que ninguémdeixasse qualquer item sem resposta e que pelguntassemcaso houvessem dúvidas sobre o conteúdo ou a formade resposta.

AnoLises estatísücasO SPSSIPC+, em versão 4.01, foi urilizado para Íazet

a tabulação e as análises estatísticas dos dados. Além dasestatísticas descritivas, para conhecer a estrutura fatorialdo CDI, procedeu-se a uma análise PC (Principal Com-ponents) e a unìa ML O4aximum Likelyhood); 1á paraavaliar a consistência interna de cada fator resultante foiu';lizado o Alpha de Cronbach.

Resulta.d,osA análise PC, com rctaçáo veÌrim€tx, revelou nove com-

ponentes con.. eigenaalues - 1.0, explicando 57,6% da va-riância total dos escores no CDI. Todavia adotando ocritério de carga ÊatoÍial - t 0,35, foi possível veriÍicar queenquanto o primeiro componente reunia 19 itens, a partirdo segundo náo mais do que quatro puderam ser encon-trados.

A análise do scree (representaçáo gráfica do s eigenaalues)

ajuda a definir os resultados acima quar'.do aPresenta umgrande componente com eigenualue 4,9L, seguido de oitoèom os respectivos eigenanlue: 'l',62,7,57, 1,41,'L,35, I,30,7,2A, 7,78 e-1,08. Isto sugere trm inventírio unifatorial, oque é averiguado através da análise fatorialMl, adotando

o criteto de extraçáo de um único íator. Os resultadospodem ser vistos na tabela 2.

De acordo com a tabela acima, o lnventiírio de De-presúo Infanül pode ser representado por um fator de18 itens com czÌrga fatorial - a * 0,35, com um eigenualue

de 3,63 que explica 73,4% da variância total dos seus

escores. Em temtos da consistência interna, observou-seum Alpha de 081. O conteúdo dos principais itens deste

fator (sentir-se só choraç sentimento. de rejeiçáo, tédio,

ideaçáo de suicídio) sugere sua denomina@o de FatorCeral da Depressão Infantil.

38,4

37,7

1.6,7

53,8

46,2

28,9

23,9

24,6

1.4,4

8,2

Êigeroalue

% variàncra

Alpha de Cronbach

Número de itens

J,/ J

13,8'1,

0,81

19

Jornal Brasileiro de Psiquiairia julho 1995 vol. 44 nq 7 4347

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Estabelecida a es;trutura Êatorial do CDI, a seguir éavaliada a influência das variáveis sócio-demográÍicas ertudadas em relaçáo aos seus escores, o que permitirádecidir sobre a necessidade ou não de serem elaboradasnorrnas específicas.

3. Yariã,veis sóciodcmog7fficas e escones naCDI

Uma vez que há indicaçâo na literatura da influênciade variáveis sócio-demográ-ficas sobre os escores de de-presúo infantil, decidiu-se avaliar o efeito das aqui consi-deradas (sexo, tipo de escol4 nível escolar e idade). Man-teve-se constante a região (urbana) e esperava-se que onível econômico pudesse ter como indicativo o tipo deescola (pública vs. privada). Os resultados são mostradosna tabela 3.

Tabela 3 - A influência de VAs nos escoÍes do CDI

Variável Estatística

Tâbela 4 - Normas diagnósticas do CDI (N = 305),

Escores

P

38

40

42

44

45

47

49

51

53

55

63

65

66

68

70

72

/o

78

80

0,10

0,33

0,34

0,tr

Ponto de corte

1

2

J

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

1.4

15

L6

17

{rt19

21.

22

z-)

1

15

u36

45

53

60

66

73

77

80

83

87

89

92

93

95

96

97

98

99

99

57

59

61.

Sexo

Escola

Nível escolar

Idade

t (1,260) = 1,63

t (1,254) = 0,97

F (4262) = 1,13

F (3262) = 2,05

É possível verificar na tabela acima que nenhuma dasvariáveis influenciou significativamente os escores do CDIadaptado. Desta forma" sugere-se a elaboração de umanonna geral, única para todos os infantes.

4. Nortnas d.iagnósticasCom as rcspostas dos 305 irúantes que fizeram parte

do estudo para avaliaçáo da estrutura fatorial do CDI,resolveu-se elaborar nonnas para identificar prováveisdepressivos em populaçóes com caracteúticas próximasàs daqui explicitaclas.

As nomras di"em respeito ao Fator Geral daDepresúo,sendo um somatório das respostas do grupo de infantespara cada um dos 18 itens. Considerando os escoresbrutos,para dar opção ao clínico, estabeleceram-se normas P(Percenílica), z (Reduzida) e T (Reduzida-Tïansformada).Neste último caso fez-se uma nonnatização dos escoresbrutos e depois uma transformaçáo para escorc T fI =50 + 10 z), procurando ter valores sigmáticos e positivos(ver Tabela 4).

Adotando o critério de +2 DPs (Barbosa & Gouveia@),descobriu-se o ponto de corte de 17. O infante que obtiverum escore igual ou superior a este deverá merecer atençãoclínica como um provável depressivo.

DiscussáoConro zugeriam Ezpeleta, Domènech . no1u1tl6(?, o

CDI é um insfirrmento que se revela unidimensional empopula@o normal (inÍantes não dínicos). Assim, apesarde constitqir uma versáo abreviada com 1.8 itens, no pre-sente estudo ele pode ser considerado como tendo acei-táveis parâmehos psicométricos: nenhum item apresentou

348 E JoÍnal Brasileiro de Psiquiatria julho 1995 vol. 44 nq 7

carga fatorial menor do que = Q35 e foi observado umíndice de consistência intema, Alpha de 081, o çre jáera esperado de acordo com a literatura (ColeF); Helsel& MatsonGzL Villamisar & Ezpeleta(le)

Quanto à influência das variáveis sócio-demográficassobre os escores do CDI, seguem-se as seguintes dis-cussóes:

O fato da variável sexo náo irúluenciar os escores noCDI parece reÍorçar a incoerência do papel desta variável(Del Barrio & Piírraga(4; Ezpelet4 Domèneú & Potaino€).

Em relaçáo à idade, apesar de ser esperado seu efeito '

pel Barrio & Pá:ragaf);, isto pode náo ter ocorrido pelalimitada variabüdade dos escores (8 a 15 anos). Talvezse ampliasse esse intewalo a idade se revelaria importante,pois parece ser sobretudo no final da adolescência que adepresúo é mais acentuada.

No caso do nível escola4 como há uma relação deì,a

com a idade, principalmente nas primeiras séries, seguea mesma disorssão.

Por fim, no que cliz respeito a náo influência do tipode colégio duas coisas devem ser pensadas: ou ele náo,pode ser descrito como um indicador do nível sócio-eco-

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nômico, uma vez que pessoas de camadas mais baixastambém podem tef acesso ao estudo privado, por exemplo,ahavés de bolsas escolares, ou náo há relevância destavariável econômica no contexto em que a pesqúsa foirealizada.

Quanto às normas aqui apresentadas, apesar de se

basearem em unr nírmero menor de itens, apresenta umponto de corte de 17 que é próximo do apresentado em

õukos estudos com os 2l rtens do CDI original (Polaino&Domèneú(ta);. Isto pode indicar pelo menos duas coisils:a) que os infantes pessoenses apresentam maior nível de

depressáo do que os considerados em outros estudos oub) que alguns dos 10 iters que náo compuseram o fatorextrajdo apresentam uma variabilidade mínima em tornodo escore 0 (zero), podendo não serem úteis na;unoshacom a qual este estudo foi real2ado. Estas são hipótesesque precisam ser averiguadas.

ConclusãoÉ esperado que os objetivos desta pesquisa tenham

sido atingidos. O lnventfio de Depressáo Infantil foiadaptado paÍa a reúdade brasileir4 revelando-se uminstrumento unidimensional com aceitável consistênciaintema, sendo formado por um nírmeto menor de itens.Nenhuma variável das estudadas influenciou significati-vamente seus escores/ o que indicou a necessidade deuma norma única para todos os infantes, tendo comoponto de corte o escore bruto 17.

Uma observaçáo que se faz em relaçáo ao CDI é que,apesar de ser descrito por alguns como mullifatorial, naliteratura apenas sáo encontrados estudos que apresentamtrm único índice de consistência interna para todos os 27itens do inventário (ver, por exemplo, Cole(s1 Helsel &\z[n1s6n(t2) e Matson, Barrett & HelselGó)). Isto refo4a aidéia de que talvez seja mesmo mais razoável tratá-locomo um construto único: depresúo infantil.

Pelo nírmero ainda reduzido de sujeitos para elaboraçáodas normas, sugere-se que as aqui apresentadas sejamtidas como pnrvisórias. Assim, tanto no contexto onde oCDI foi adaptado como enì outros do país será necessárioconsiderar a resposta de mais sujeitos e elaborar norfnasdefinitivas.

Por fim, pouco se sabe sobre a prevalência da depressáoinfantil em detrimento do contexto: rural vs. tubano. Oque foi encontrado revela náo haver diferenças dos escoresde depressão que os infantes apresentam em cada contexto(Polaino & Demèneú08)). Será que o mesmo pode serdito en'r relaçáo aos inJantes brasileiros? Este é um estudoque poderia ser levado adiante como forma de entenderum polrco mais o construto depressáo infantil

Summar5rChildren's depression inoentory - CDI: adaptationstudy uith students of loao Pessoa

Tlu aìm of this study was the adaptation of the CDI to the

bazilian onturt, with the t'ollowing steps: a) hanslation of the

inaentoty, b) naluation ot' its facta' structwe, c) maluation ofthe ìnfluence of xx, age, type of school and schoaling upon the

CDI scu'es and d) formulatian of nums fa" diagrcsís. The

nmple included 305 chilünad, behpeen I and 15 years ald,

both sexes, and ft'om public and p'iaate schools. The CDI pr wedto be a one-factor inaentory tpith 78 itens of facta' Iudings -a x .35, erplaining 13.4% of total aatinnce of the scores, withn Alpha of .87. None of the aminbln at't'ected the sanes in the

rcduced scnle. Tha'efore sing be norms uve established with acutting sca'e (cut-ofr) of 17. It concluded that this instntmentlws acceptable psychometrìc parameta's, showing itself uset'ul

to identit'y p'obably drpessiae úildhood.

Uriterms: chi-ldhood depression; assessment psychopathologicaLCDI; psychometric; Brasilian's chiÌdren; childhood psychiatry

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QCN

Joínal Brasileiro de Psiquiatria julho .1995 vol. 44 ne 7 Ü 349