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Tribunal de Contas da União GRUPO II – CLASSE II – 1ª Câmara TC-009.061/2005-8 (com 01 volume e 08 anexos) Natureza: Prestação de Contas. Entidade: Conselho Regional de Medicina no Estado do Mato Grosso – CRM/MT. Responsáveis: Serafim Domingues Lanzieri, CPF 369.664.657-00, Arlan de Azevedo Ferreira, CPF 807.466.837-15; José Fernando Maia Vinagre, CPF 392.118.357-04; Dalva Alves das Neves, CPF 792.828.737-49; Manoel Garibaldi Cavalcanti Mello Filho, CPF 081.350.291-87; Aguiar Farina, CPF 389.632.809-34; Dulciyara Bueno Cunha Lopes, CPF 812.181.417-00; José Carlos Amaral Filho, CPF 654.493.637-53; Isabel Cristina dos Santos Silva Straliotto, CPF 285.814.310-20; Adelita Vinagre P. Duarte, CPF 864.302.031-15; Gilberto Rodrigues Pinto, CPF 339.995.701-72; Helynton Moreschi, CPF 232.840.489-87; Luiz Souza Reis, CPF 278.424.878-04; Sidneiva Maria Nette Soares, CPF 361.661.381-72; Assisteng Comércio e Serviços Ltda., CNPJ 04.844.541/0001-57; Multipadrão Tudo em Materiais Elétricos Ltda., CNPJ 04.220.944/0001-25; Ramora Consultoria, Incorporação e Construção Civil Ltda., CNPJ 04.372.373/0001-44. SUMÁRIO: PRESTAÇÃO DE CONTAS. EXERCÍCIO DE 2002. LICITAÇÃO. MODALIDADE CONVITE. EXPEDIÇÃO DE CONVITES A EMPRESAS NÃO PERTENCENTES AO RAMO DE ATIVIDADE. AUSÊNCIA DE TRÊS PROPOSTAS VÁLIDAS. CONTRATAÇÃO POR DISPENSA E POR INEXIGIBILIDADE DE DISPUTA SEM OBSERVÂNCIA AOS REQUISITOS FIXADOS EM LEI. IRREGULARIDADE DAS CONTAS DO PRESIDENTE DO CONSELHO, COM APLICAÇÃO DE MULTA. REGULARIDADE DAS CONTAS DOS DEMAIS INTEGRANTES DO ROL DE RESPONSÁVEIS. 1. Julgam-se irregulares as contas, com aplicação de multa ao responsável, quando se constata grave infração à Lei Geral de Licitações e Contratos. 2. Na modalidade licitatória denominada convite, devem ser convidadas, no mínimo, três /home/website/convert/temp/convert_html/5870c80e1a28ab71598b9500/document.doc 6y

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Tribunal de Contas da União

GRUPO II – CLASSE II – 1ª Câmara

TC-009.061/2005-8 (com 01 volume e 08 anexos)

Natureza: Prestação de Contas. Entidade: Conselho Regional de Medicina no Estado do Mato Grosso

– CRM/MT.Responsáveis: Serafim Domingues Lanzieri, CPF 369.664.657-00, Arlan de Azevedo Ferreira, CPF 807.466.837-15; José Fernando Maia Vinagre, CPF 392.118.357-04; Dalva Alves das Neves, CPF 792.828.737-49; Manoel Garibaldi Cavalcanti Mello Filho, CPF 081.350.291-87; Aguiar Farina, CPF 389.632.809-34; Dulciyara Bueno Cunha Lopes, CPF 812.181.417-00; José Carlos Amaral Filho, CPF 654.493.637-53; Isabel Cristina dos Santos Silva Straliotto, CPF 285.814.310-20; Adelita Vinagre P. Duarte, CPF 864.302.031-15; Gilberto Rodrigues Pinto, CPF 339.995.701-72; Helynton Moreschi, CPF 232.840.489-87; Luiz Souza Reis, CPF 278.424.878-04; Sidneiva Maria Nette Soares, CPF 361.661.381-72; Assisteng Comércio e Serviços Ltda., CNPJ 04.844.541/0001-57; Multipadrão Tudo em Materiais Elétricos Ltda., CNPJ 04.220.944/0001-25; Ramora Consultoria, Incorporação e Construção Civil Ltda., CNPJ 04.372.373/0001-44.

SUMÁRIO: PRESTAÇÃO DE CONTAS. EXERCÍCIO DE 2002. LICITAÇÃO. MODALIDADE CONVITE. EXPEDIÇÃO DE CONVITES A EMPRESAS NÃO PERTENCENTES AO RAMO DE ATIVIDADE. AUSÊNCIA DE TRÊS PROPOSTAS VÁLIDAS. CONTRATAÇÃO POR DISPENSA E POR INEXIGIBILIDADE DE DISPUTA SEM OBSERVÂNCIA AOS REQUISITOS FIXADOS EM LEI. IRREGULARIDADE DAS CONTAS DO PRESIDENTE DO CONSELHO, COM APLICAÇÃO DE MULTA. REGULARIDADE DAS CONTAS DOS DEMAIS INTEGRANTES DO ROL DE RESPONSÁVEIS. 1. Julgam-se irregulares as contas, com aplicação de multa ao responsável, quando se constata grave infração à Lei Geral de Licitações e Contratos. 2. Na modalidade licitatória denominada convite, devem ser convidadas, no mínimo, três empresas do ramo pertinente para que se obtenha as três propostas válidas, sob pena de repetição do certame, exceto quando comprovadas limitações do mercado ou manifesto desinteresse das convidadas, circunstância essa que deverá ser devidamente justificada no processo licitatório.3. É defeso a participação, direta ou indireta, na licitação ou na execução de obra ou serviço, do autor do projeto básico ou executivo.4. Veda-se a inexigibilidade de licitação quando não comprovados os requisitos da inviabilidade de competição, especialmente, quanto à singularidade do objeto e à notória especialização.5. A realização de procedimento licitatório para aquisição de bens e serviços é obrigatória se ficar configurada a viabilidade de disputa entre fornecedores.

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC-009.061/2005-8

RELATÓRIO

Trata o presente processo da prestação de contas do Conselho Regional de Medicina no Estado de Mato Grosso – CRM/MT, referente ao exercício de 2002. 2. O CRM/MT, na qualidade de entidade fiscalizadora de profissão regulamentada, estaria dispensado da prestação de contas anual relativa ao ano de 2002, nos termos da Instrução Normativa – TCU n. 12/1996, vigente à época.3. Entretanto, a referida Instrução Normativa foi considerada inconstitucional, incidenter tantum, no tocante à dispensa do CRM/MT da sua obrigatoriedade de prestar contas, em decisão liminar havida na Ação Civil Pública n. 2004.36.00.002146-0 interposta pelo Ministério Público da União, cujo objeto principal era a contratação de servidores pelo Conselho sem concurso público, em desrespeito ao que preceitua a Constituição Federal (fls. 39/48).4. Por meio do Despacho de fl. 111, anexo 1, acolhi o parecer da Consultoria Jurídica do TCU no sentido de determinar à Secex/MT a instrução das contas do CRM/MT relativas ao exercício de 2002 e 2003.5. A unidade técnica, em sua primeira manifestação nos autos, diligenciou a entidade com vistas a obter documentos necessários ao saneamento do processo (fl. 59/60). Na Instrução de fls. 71/93, a Secex/MT, entre outras medidas, examinou normativo do CRM que trata da concessão de diárias (Resolução CREMAT n. 03/2001), bem assim o regulamento interno de pessoal, que prevê a possibilidade de processo seletivo interno e de ascensão funcional, propondo algumas determinações corretivas, que serão reproduzidas posteriormente neste Relatório. Nos feitos de fls. 202/210 e 319/321, v. 1, a Secretaria instrutiva sugere diversas audiências a respeito das quais os responsáveis ofereceram suas defesas.6. Resumo abaixo as irregularidades objeto de oitiva dos defendentes, as razões de justificativa trazidas ao descortino desta Corte de Contas e a respectiva análise de mérito levada a efeito pela unidade técnica (fls. 353/378, v. 1): 7.  Irregularidade: expedir convites direcionados às empresas Assisteng Comércio e Serviços Ltda. e Multipadrão Tudo em Materiais Elétricos Ltda., sem que as firmas possuíssem qualificação técnica para atuar no ramo da atividade pertinente à execução de obras e construção civil.

7.1. Responsáveis: Sras. Sidneiva Maria Nette Soares e Adelita Vinagre Pinheiro Duarte e Sr. Gilberto Rodrigues Pinto, membros da Comissão de Licitação.

Razões de justificativa7.1.1. Alegam que, por falta de experiência e de conhecimento legal, não sabiam da

necessidade de as empresas participantes da disputa deflagrada pela Carta-Convite n. 02/2002 cujo objeto consistia na troca de pisos e azulejos, bem assim na colocação de divisórias de gesso serem pertencentes ao ramo de engenharia. Afirmam que o CRM era administrado como empresa privada e que a carta-convite servia como uma cotação de preços, elaborada pela Comissão de Compras do CRM, não tendo sido solicitado às licitantes que apresentassem os respectivos “instrumentos contratuais”. Aduzem que o objeto da licitação foi cumprido e que “se houve erros ou equívocos cometidos nos casos indagados, estes se deram em razão da inexperiência”, tendo agido a comissão de boa-fé.

Análise 7.1.2. “(...) por força do art. 3º da Lei de Introdução ao Código Civil ‘ninguém se escusa de

cumprir a lei, alegando que não a conhece’, norma que ganha relevo quando tratamos de bens e negócios públicos, sujeitos sempre ao princípio da legalidade, cujo corolário é de que ao administrador cabe apenas trilhar os caminhos permitidos pela lei.”

7.1.3. “No caso concreto, não obstante os atos cometidos pelos integrantes da Comissão de Licitação não terem provocado prejuízo ao erário que pudesse ter sido constatado até o momento, tiverem condão decisivo para restringir a competitividade do certame e, por via oblíqua, a seleção da melhor proposta para a administração (art. 3º). Assim, a expedição indevida de convites a concorrentes que não eram do ramo da engenharia invalidou a proposta apresentada por estas empresas, nos termos da jurisprudência do Tribunal de Contas da União, cujo procedimento licitatório deveria ter sido interrompido ou repetido, o que, conforme consta dos autos, não foi feito, contribuindo para a burla ao caráter competitivo da licitação.”

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7.1.4. “Ante o exposto, propõe-se a rejeição das razões de justificativa apresentadas (...).”8.  Irregularidade: emissão de parecer favorável ao prosseguimento do processo licitatório, em que pesem as irregularidades nele contempladas.

8.1. Responsável: Luiz Souza Reis, assessor jurídico do Conselho. Razões de justificativa8.1.1. aduz que a informação referente ao fato de que as empresas não possuíam qualificação

técnica para atuar no ramo de atividade pertinente à execução de obras e construção civil era desconhecida e que, por ser o objeto do contrato a pura e simples colocação de divisória de gesso, piso e azulejo na parte interna do CRM, não haveria necessidade de se contratar uma empresa de engenharia.

8.1.2. defende que, embora o CRM tenha expedido convites a duas empresas que não eram do ramo concernente ao objeto contratado, a entidade obteve três propostas válidas.

8.1.3. por fim, quanto à indagação acerca da falta da análise jurídica que atestasse as supostas ilegalidades cometidas, em razão de o projeto executivo ter sido elaborado por um dos sócios à época da Ramora Consultoria, Incorporação e Construção Civil Ltda. (o engenheiro Helynton Moreschi), esclarece que o engenheiro realizou o projeto na modalidade de “as building”, ou seja, aquele feito após o término da obra, conforme pode ser comprovado nas notas fiscais de pagamento anexadas aos autos. Afirma que o engenheiro não possuía informação privilegiada e que os serviços constantes da Carta-Convite n. 02/2002, trocas de gesso e de piso, não necessitam de projeto específico, mas somente cotação no mercado (fls. 344/347, v. 1) .

Análise8.1.4. a unidade técnica entende que as justificativas oferecidas pelo Sr. Luiz Souza Reis

carecem de plausibilidade lógica e jurídica, pois, nos termos da Lei n. 8.666/1993, todo serviço ou obra a ser contratada pela administração pública necessita ter um projeto básico prévio (art. 7º, inciso I) e um projeto executivo (art. 7º, inciso II), que pode ser feito concomitantemente com a obra (art. 7º, § 1º).

8.1.5. esclarece que da análise do contrato ajustado entre o CRM/MT e o ex-sócio da empresa Ramora Consultoria, Incorporação e Construção Civil Ltda. (vencedora do certame), Sr. Helynton Moreschi (fls. 39/41 do Anexo 3), depreende-se que tal avença foi firmada em 15/10/2001, cerca de 10 meses antes da assinatura do contrato (02/07/2002 fl. 3 do Anexo 4) entre a Ramora Consultoria, Incorporação e Construção Civil Ltda. e a autarquia, demonstrando que o engenheiro tinha conhecimento privilegiado e anterior ao procedimento licitatório.

8.1.6. Quanto à alegação de que o CRM/MT obteve três propostas válidas, crê a unidade técnica que a proposta para ser tida como válida deveria ter sido ofertada por empresa que estivesse trabalhando no ramo pertinente ao objeto contratado, acrescentando que a única proposta legítima, no âmbito do Convite n. 02/2002, foi a da empresa vencedora. Expõe que, nos termos da Súmula/TCU n. 248 e do art. 22, §§ 3º e 7º da Lei n. 8.666/1993, caberia ao CRM/MT a repetição do procedimento licitatório.

8.1.7. Rebate a afirmação de que o objeto licitado não careceria de execução por parte de uma empresa de engenharia, ao fundamentar que apenas empresas especializados no ramo da construção civil podem engendrar obras dessa qualidade.

8.1.8. ressalta que na “Carta-Convite n. 01/2003, analisada nas contas de 2003, a referida obra na sede do CRM continuou a ser executada. Nesse procedimento licitatório, mais uma vez, a vencedora foi a Consultoria, Incorporação e Construção Civil Ltda.. Em que pese esse fato não ser uma irregularidade em si, apenas um indício a mais do direcionamento, ele demonstra que a obra era parte de um complexo maior do que simplesmente afixar divisórias de gesso, como alega o responsável. Assim, uma empresa de comércio de fios e materiais elétricos não teria qualquer condição de efetuar um lance sério que pudesse ter a sua validade reconhecida por este Tribunal.”

8.1.9. por deixar de elidir as falhas enunciadas no procedimento licitatório (Carta-Convite n. 02/2002), a Secex/MT pugna pela rejeição das razões de justificativa apresentadas pelo responsável e pela aplicação de multa. 9. Irregularidade: participação em licitação em que atuou como responsável pela elaboração do projeto executivo das obras.

9.1. Responsável: Sr. Helynton Moreschi, ex-sócio da empresa Ramora Consultoria, Incorporação e Construção Civil Ltda. (vencedora do certame).

Razões de justificativa

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9.1.1. de teor semelhante à defesa oferecida pelo Sr. Luiz Souza Reis, assessor jurídico do Conselho, contida no subitem 8.1.3 deste Relatório, restringindo-se a afirmar que o projeto foi realizado na modalidade “as building.”

Análise9.1.2. conforme subitens 8.1.4 e 8.1.5.

10. Irregularidade: participação ilegal em processo licitatório (Carta-Convite n. 02/2002), eis que o projeto executivo fora elaborado por um de seus sócios, com infração ao art. 9º, II, da Lei n. 8.666/1993, agravada em função de ter sido a vencedora do aludido certame licitatório.

10.1. Responsável: Ramora Consultoria, Incorporação e Construção Civil Ltda. Razões de justificativa10.2. Após reproduzir os mesmos argumentos coligidos por outros responsáveis, acrescenta

que “não existiu a alegada ausência de capacitação técnica das demais empresas participantes do certame” e que “as empresas poderiam se valer de serviços terceirizados, como de fato ocorreu”.

Análise10.3. “Se ocorreu a alegada terceirização, o gestor infringiu mais uma vez os princípios

licitatórios: a sub-rogação da execução de contratos é causa excepcionalíssima e só pode ser realizada se estiver expressamente prevista no edital de convocação e no contrato.”

10.4. “(...) as duas outras empresas que não detinham qualificação técnica para executar a obra não poderiam subcontratar em face do princípio intuitu personae dos contratos administrativos, que só pode ser descartado em casos excepcionalíssimos quando prevista a subcontratação no edital e no contrato, a teor do art. 78 da Lei n. 8.666/1993. Assim, o que se esperava do CRM/MT era a não-expedição de convites a empresas fora do ramo. Tendo feito, esperava-se que o órgão as desclassificasse quando do julgamento das propostas, para que uma nova licitação fosse marcada. Nenhuma das situações ocorreu, ensejando a nulidade do procedimento licitatório.”

10.5. A Secretaria instrutiva propõe a rejeição das razões de justificativa da empresa Ramora Consultoria, Incorporação e Construção Civil Ltda. para aplicar multa, bem como sugere ao Tribunal que a declare inidônea para participar de licitações na administração pública federal, nos termos do art. 46 da Lei n. 8.666/1993.11. Irregularidade: frustar licitude de processo licitatório ao participar de licitação sem possuir qualificação técnica para execução das obras relativas ao objeto da Carta-Convite n. 02/2002.

11.1. responsáveis: empresa Multipadrão Tudo em Materiais Elétricos Ltda. e firma Assisteng Comércio e Serviços Ltda.

Razões de justificativa da empresa Multipadrão Tudo em Materiais Elétricos Ltda. 11.2. Em sua defesa às fls. 307/311, alega que caberia à Comissão de Licitação indeferir a

proposta e que “a inércia, neste caso, pode ser subentendida como aceitação ou validade tácita [da participação da empresa no certame]”. Aduz que a peticionante foi convidada a participar, fato que a isentaria dos efeitos da dolosidade do ato.

Análise11.3. “Em que pese a argumentação da empresa, a responsabilidade por atos causados em

desfavor da administração pública comporta apreciação quanto à culpa stricto sensu do agente, qual seja, a inobservância ao dever de cuidado objetivo imposto a todas as pessoas de razoável diligência. Não se trata aqui, portanto, de se verificar se houve a intenção deliberada do agente em prejudicar a administração pública. Tendo recebido o convite, sabedora de que não tinha capacidade técnica para executar o objeto e de que não seria possível a subcontratação, deveria a empresa ter declinado de oferecer propostas, primeiro, em face de vedação legal e, segundo, para não permitir que sua participação desse conotação de legalidade ao certame licitatório, impedindo a administração de selecionar proposta mais vantajosa, além de restringir seu caráter competitivo, contrariando ainda o que preceitua o art. 3º da Lei n. 8.666/1993. O fato de o CRM/MT ter falhado em seu dever de autotutela, como pretende a empresa, não a exime da sua responsabilidade e dever de cuidado objetivo.”

11.4. “Ao se posicionar de maneira aparentemente legal no procedimento licitatório, a empresa acabou, em conluio, participando da perpetrada fraude à licitação. Essa responsabilidade carrega consigo independente de ter tido intenção ou não, vez que não teve o cuidado objetivo imposto a todos e, assim, assumiu o risco de produzir o resultado. Dessa maneira, propõe-se a rejeição das razões de justificativa para aplicar a pena de multa à empresa, bem como para declarar a sua inidoneidade para

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participar de licitações na Administração Pública Federal, nos termos do art. 46 da Lei n. 8.666/93 (...)”Razões de justificativa da empresa Assisteng Comércio e Serviços Ltda.11.5. Ao apresentar seus argumentos acostados às fls. 312/315, esclarece que em nenhum

momento foi requerida, por parte do Conselho, a qualificação específica da empresa para prestar o serviço, portanto tinha a intenção de contratar empresas especificamente qualificadas para prestar os serviços, caso fosse a vencedora da licitação.

Análise 11.6. A unidade técnica pondera que se a empresa tinha a intenção clara e manifesta de

subcontratar outras empresas especializadas, a despeito da falta de previsão editalícia, estranho seria o fato de o CRM/MT não ter pensado nessa possibilidade, adjudicando os mais diversos serviços a apenas uma empresa, a Ramora Consultoria, Incorporação e Construção Civil Ltda., sem justificativa para tanto.

11.7. No presente caso, a Secex/MT entende que o Conselho deveria ter permitido a adjudicação da licitação por itens. Dessa forma, “contrataria uma empresa especializada em gesso para fazer gesso; uma especializada em piso, para a colocação de piso, tudo conforme preconiza a Lei n. 8.666/1993 quando exige o parcelamento obrigatório do objeto, sempre que possível.” Ao não proceder dessa maneira, o CRM/MT inadvertidamente adjudicou todo o objeto, de forma direcionada, a uma única empresa, que subcontratou outras especializadas.

11.8. Esclarece que a responsabilidade da empresa não pode ser afastada, pois ao ter em mente que haveria necessidade de subcontratar outras firmas, pelo fato de não ter capacidade técnica para executar os serviços, deveria ter declinado de oferecer propostas, considerando ainda o caráter excepcionalíssimo da sub-rogação não-prevista no edital. Ao participar deu ares de legalidade ao viciado procedimento licitatório, aparentando que tinha ocorrido em um ambiente concorrencial, o que não é verídico.

11.9. Propõe a unidade técnica a rejeição das razões de justificativa para aplicar a pena de multa à empresa e para declarar a inidoneidade da empresa Multipadrão Tudo em Materiais Elétricos Ltda. para participar de licitações na Administração Pública Federal, nos termos do art. 46 da Lei n. 8.666/1993.12. Irregularidades:

a) admitir funcionários sem concurso público após a decisão do MS n. 21.797-9 (18/05/2001);

b) contratar serviços de assessoria jurídica (Sr. Luiz Souza Reis), por inexigibilidade, sem que restasse configurada a singularidade do objeto exigida pelo art. 25, II, da Lei n. 8666/1993;

c) firmar avença de serviços de assessoria contábil e auditoria (com a CONTAUD Contabilidade e Auditoria S/C Ltda.), mediante inexigibilidade de disputa, sem os requisitos especificados no art. 25, II, da Lei n. 8666/1993;

d) utilizar, no edital do Convite n. 006/02 (fl. 90), índices de liquidez na fase de qualificação econômico-financeira em ofensa ao § 5º do art. 31 da Lei n. 8.666/1993;

e) exigir, no edital do Convite n. 006/2002 (fls. 90/91), capital social mínimo de forma concomitante com a garantia do contrato, em desacordo com a jurisprudência do TCU e com os §§ 2º e 3º do art. 31 da Lei n. 8.666/1993;

f) contratar serviços de Jornalista (Sra. Nilce Aparecida de Oliveira Guirado) com a função de repórter fotográfico, sem justificar a adequação da contração e sem manifestação do Conselho de Administração, aprovando a necessidade do ajuste;

g) contratar indevidamente, por dispensa de licitação, o Sr. Nyeltzen Cleypton Diniz para prestar serviços de venda de anúncios de propaganda;

h) homologar o Convite n. 02/2002 com apenas uma proposta de preço válida;i) contratação da empresa Ramora Consultoria, Incorporação e Construção Civil Ltda. para a

execução de obras de engenharia e construção civil, tendo o projeto executivo sido elaborado por um dos seus sócios (Sr. Helynton Moraschi);

12.1. responsável: Serafim Domingues Lanzieri, ex-Presidente do CRM/MT.Razões de Justificativa e análiseI – CONTRATAÇÃO DA EMPRESA RAMORA CONSULTORIA, INCORPORAÇÃO

E CONSTRUÇÃO CIVIL LTDA.

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“49. Em resposta, o responsável trouxe aos autos o Ofício CRM-MT n. 1116/2007 (fls. 266/278) em que apresenta, entre outras, as suas razões de justificativa para os itens ‘h’ e ‘i’ da audiência acima comentada. Nele, o responsável limita-se a repetir os argumentos já anteriormente apresentados pelo assessor jurídico Sr. Luiz Souza Reis, inclusive, utilizando-se das mesmas frases.

50. Como se vê, todas as alegações já foram analisadas quando da audiência do Sr. Luiz Reis (parágrafos 14 a 21 desta instrução). As propostas, para serem válidas em sede de carta-convite devem ser expedidas por empresas do ramo pertinente ao objeto licitado (Súmula TCU nº 248). Quanto ao fato de o projeto realizado pelo engenheiro na modalidade “as building” ter sido feito após a licitação o que denotaria que o mesmo não tinha conhecimento prévio do objeto licitado, já provamos, mais de uma vez nesta instrução ser esta afirmação inverídica (vide parágrafos 16 e 17; 25 a 27; 31).

51. Assim, em face da ausência de elementos novos que pudessem elidir a responsabilidade do gestor do CRM/MT à época, somos por rejeitar suas razões de justificativa ora apresentadas (...).

II – DEMAIS IRREGULARIDADES52. Além das questões relativas à Carta Convite n. 02/2002, o Sr. Serafim Domingues

Lanzieri foi ouvido em razão de outras irregularidades, a saber:II.1 – CONTRATAÇÃO IRREGULAR DE FUNCIONÁRIOS SEM CONCURSO54. Quanto ao item ‘a’ (contratação de três funcionários sem concurso depois de 18/05/01), o

CRM/MT informa que como a entidade é considerada autarquia de regime especial (em oposição ao conceito de ‘autarquia’ simples), não estaria sujeita à estreiteza dos estatutos federais aplicáveis à administração pública em geral, em face de sua autonomia decisória, independência administrativa e autonomia econômica-financeira’.

55. Entretanto, informa que mesmo não concordando com determinadas situações, mas, por sempre pautar seus atos pelo estrito cumprimento do princípio da legalidade, o CRM adotou o marco inicial para realização de concurso público, a data da publicação do Acórdão da ADIN n. 1.717, no Diário Oficial da União, qual seja, em 23.04.2003. Dessa forma, os três empregados foram devidamente demitidos, conforme rescisão anexa, bem como o CRM, já no início do ano de 2004, realizou concurso público’.

56. Vem de longa data a controvérsia existente em torno da natureza jurídica dos conselhos profissionais. Assim o TCU, durante alguns anos, apenas expediu determinações em casos de contratação de pessoal sem concurso público por parte desses conselhos (Acórdãos-TCU ns. 209/98-2ªC, 212/98-2ªC, 313/98-2ªC, 51/01-1ªC, 53/01-1ªC e 147/01-P, entre outros).

57. A partir dos julgamentos das contas desses conselhos relativas ao exercício de 2000, este Tribunal passou a adotar a data de julgamento do Mandado de Segurança 21.797-9 pelo Supremo (09/03/2000) como limite a partir do qual todas as contratações levadas a cabo sem o devido concurso público seriam consideradas irregulares, maculando o mérito das contas dos respectivos responsáveis (Acórdãos-TCU ns. 138/03-2ªC, 307/03-P, 512/03-2ª-C). Mais recentemente, o TCU aperfeiçoou esse entendimento, para considerar a data da publicação do DOU (e não da decisão em si) como marco a partir do qual não mais poderiam ser aceitas as admissões de pessoal efetivadas no âmbito dos conselhos sem o prévio concurso público.

58. Desse modo, em que pesem as argumentações do gestor não elidirem a sua responsabilidade por ter realizado a contratação ilegal, entendo que a correção tempestiva da situação, promovendo a demissão dos servidores envolvidos, além da assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público do Trabalho (fl. 274), em um contexto de transição de um modelo predominantemente privado para um modelo público, possa, excepcionalmente, ser aceita como atenuantes da conduta do responsável, em função de sua aparente boa-fé no caso em questão. Assim, acata-se parcialmente as razões de justificativa apresentadas, deixando de propor a aplicação de multa neste ponto.

II.2 – CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS DE ASSESSORIA JURÍDICA E ASSESSORIA CONTÁBIL

59. O CRM-MT realizou a contratação de serviços de assessoria jurídica e contábil por inexigibilidade de licitação em face de notória especialização não necessária para a complexidade dos trabalhos a serem executados, razão pela qual o gestor foi ouvido em audiência (itens ‘b’ e ‘c’).

60. O defendente informa que o assessor jurídico, Sr. Luiz Reis, já prestava serviços ao CRM

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por mais de 16 anos, o que demonstraria a sua vasta experiência na área. Segundo o gestor ‘tal situação, em tese, deu garantias à Comissão de Licitação em homologar a licitação, sendo certo que um profissional que já prestava serviço para a casa por 16 anos, ofertou o preço mais vantajoso’.

61. Do discursos do responsáveis, percebe-se facilmente várias incongruências. Em primeiro lugar, não coube à Comissão de Licitação homologar o procedimento licitatório. Quem homologou a licitação foi o próprio gestor, no âmbito de sua competência decisória, conforme a fl. 19 do Anexo 4.

62. Em segundo lugar, não houve licitação, mas sim a declaração de inexigibilidade. Assim, não há como se falar que o profissional ofertou o preço mais vantajoso para a administração, pois não houve outras propostas. Em terceiro, o fato de o assessor jurídico prestar os serviços para o CRM-MT por mais de 16 anos não lhe permite ser contratado por inexigibilidade, ainda que detenha notório conhecimento sobre os assuntos correlatos ao órgão. Isso porque a jurisprudência do Tribunal de Contas da União apenas admite o fundamento da notória especialização para promover a inexigibilidade da licitação quando a natureza dos serviços forem de tal maneira especiais que exija uma pessoa com conhecimentos muito específicos.

63. Cumpre ressaltar, no caso específico, o entendimento deste Tribunal no julgamento do Acórdão 589/2004 - Plenário, transcrito abaixo (trecho; grifos não constam do original):

‘9.2.1. abstenha-se de realizar novas contratações, mediante inexigibilidade de licitação, para a prestação de serviços de assessoria e consultoria tributária para recuperação de créditos pagos a maior, visto que nesses casos não se configura a natureza singular do serviço e, por isso, sua realização não exige que o executor detenha notória especialização, de modo que sua contratação exige o procedimento licitatório, consoante decidido por este Tribunal na Decisão n° 695/2001 - Plenário, proferida na Sessão 5/9/2001, inserta na Ata n° 37/2001’64. Assim, do mesmo modo que a prestação de serviços de assessoria e consultoria tributária

não se configura de natureza singular, posto que sua realização não exige que o executor detenha notória especialização, entendemos que igual entendimento possa ser esposado por esta unidade técnica no caso em tela, posto que a impossibilidade de competição, declarada pela Comissão de Licitação do CRM/MT, não restou configurada, uma vez que não é necessária notória especialização para prestar serviços de assessoria jurídica ao CRM/MT.

65. Ante o exposto, propõe-se a rejeição das razões de justificativa do gestor pela contratação indevida de serviços de assessoria jurídica (Luiz Souza Reis), por inexigibilidade, vez que o serviço a ser realizado não se configurou como singular, nos termos da jurisprudência do TCU (fls. 87/88), contrariando o art. 25, II, da Lei 8.666/93.

66. Além disso, propõe-se determinar ao CRM-MT que, doravante, proceda à realização de licitação para a contratação de serviços de assessoria jurídica.

67. Quanto à contratação de serviços de assessoria contábil, o gestor informou que ‘esta também já era prestadora de serviço junto ao CRM/MT, era a maior e a mais bem qualificada empresa do ramo em Cuiabá e o preço ofertado também fora bem abaixo do praticado no mercado, qual seja, R$ 1.100’. De novo, impossível alegar que se tratava de um preço razoável e que a qualificação da contratada era invejável se não houve a realização de procedimento licitatório que pudesse selecionar a melhor proposta para a administração.

68. Deste modo, propõe-se a rejeição das razões de justificativa do gestor pela contratação indevida de serviços de assessoria contábil e de auditoria (CONTAUD - CONTABILIDADE E AUDITORIA S/C LTDA), por inexigibilidade, ainda que o serviço a ser realizado não se configure como singular, nos termos da jurisprudência do TCU e do art. 25, II, da Lei 8.666/93 (fl. 88), contrariando o art. 25, II, da Lei 8.666/93.

69. De igual modo, propõe-se determinar ao CRM-MT que, doravante, proceda à realização de licitação para a contratação de serviços de assessoria contábil.

III.3 – EXIGÊNCIA INDEVIDA DE ÍNDICE DE LIQUIDEZ E CAPITAL MÍNIMO NO CONVITE Nº 006/2002.

70. No Convite n. 006/2002, o gestor consignou exigência, no edital, de que as empresas participantes apresentassem índices de liquidez geral (LG), solvência geral (SG) e liquidez corrente (LC), maiores que um, (fl. 11 do Anexo 7), o que contraria a jurisprudência do TCU, como a expressa no Acórdão n. 308/2005 – Plenário, abaixo transcrito:

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‘4. A utilização de tal índice violou várias disposições do § 5º do art. 31 da Lei 8.666/93, a seguir transcrito:

(...) não se vislumbrou como a exigência desse índice possa permitir que se afira a boa saúde

financeira das empresas. Em havendo duas empresas com o mesmo capital circulante líquido, aquela com maior patrimônio líquido poderia restar alijada do certame, enquanto aquela com menor patrimônio líquido não. Estaria, portanto, afastada do certame a empresa com menor grau de endividamento e, em princípio, com maior capacidade de pagamento, o que é exatamente o oposto do que se busca assegurar com a exigência de apresentação dos índices de liquidez.’

71. Ouvido, o gestor informou que ‘no processo licitatório em epígrafe, os índices exigidos não chegaram nem a 01 (um), mas sim, como comprova o edital, foi maior que 0,5 (zero vírgula cinco), demonstrando assim, ser a exigência dentro dos parâmetros da legalidade, razoabilidade e proporcionalidade (...) [sendo que], o próprio § 5º do art. 31 da Lei de Licitações, traz que deverão ser [empregados] índices usualmente adotados para a correta avaliação da situação financeira da empresa.’

72. Segundo o gestor, um índice seguro é igual ou maior do que 1, de modo que ‘a exigência de índices maiores que 0,5, mostra-se como dentro do parâmetro da usualidade prática’.

73. Apesar da argumentação apresentada pelo gestor, elas não elidem a irregularidade. Entretanto, na ausência de elementos que possam propugnar de modo contrário, a exigência de índices de liquidez em editais parece muito mais estar ligada à tradição e ao costume do que uma tentativa deliberada do gestor em restringir a competitividade do certame.

74. Assim, embora as razões de justificativa não possam ser acolhidas – em razão de carecerem de base legal –, entende-se que as irregularidades cometidas, por não terem propiciado restrição à competitividade, pelo baixo índice exigido, enquadra-se como erro formal, evitando a proposição de multa ao gestor neste ponto.

75. Ante o exposto, propõe-se determinação ao CRM-MT para que se abstenha de exigir na fase de qualificação econômico-financeira de licitações índices de liquidez capazes de restringir a competitividade dos certames licitatórios, buscando outros meios previstos na legislação pátria para garantia do interesse público e a execução do contrato.

76. Quanto ao item ‘e’ da audiência (exigência de capital social mínimo concomitante com garantia, no Convite nº 06/02), o gestor informou que ‘além de resguardar o CRM, [a exigência] em nada inviabilizou a participação das maiores e melhores empresas no certame. Ademais, no caso em tela, o vencedor seria aquele que fornecesse o maior desconto no fornecimento de passagens (...) via cotação de preços’.

77. Neste ponto, não merecem acolhida as justificativas do gestor: é ilegal a exigência cumulativa de capital social mínimo e prestação de garantia para fins de qualificação econômico-financeira. O § 2º do art. 31 da Lei n. 8.666/93, ao permitir a utilização de garantia como comprovante da situação financeira das licitantes, deixou expresso que esta possibilidade somente poderia ser utilizada de forma alternativa em relação à exigência de capital social mínimo, conforme se depreende da leitura do dispositivo, abaixo transcrito (grifos não constam do original):

‘Art. 31. A documentação relativa à qualificação econômico-financeira limitar-se-á a:(...)§ 2º A Administração, nas compras para entrega futura e na execução de obras e serviços, poderá estabelecer, no instrumento convocatório da licitação, a exigência de capital mínimo ou de patrimônio líquido mínimo, ou ainda as garantias previstas no § 1º do art. 56 desta Lei, como dado objetivo de comprovação da qualificação econômico-financeira dos licitantes e para efeito de garantia ao adimplemento do contrato a ser ulteriormente celebrado.’78. Referido dispositivo deixa três alternativas ao administrador para assegurar-se de que os

licitantes terão condições financeiras mínimas para executar o ajuste a ser celebrado: a) capital social mínimo; b) patrimônio líquido mínimo ou c) prestação de garantia, limitada a 1% do valor estimado para o contrato. Tais hipóteses não são cumulativas, mas permitem uma atuação discricionária do gestor na escolha da melhor forma de comprovar a qualificação econômico-financeira dos licitantes. Não podem ser utilizadas de forma concomitante, sob pena de transformar a discricionariedade legítima em arbitrariedade vedada por lei.

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79. Ante o exposto, rejeitam-se as razões de justificativa do gestor para aplicar-lhe multa, em razão da exigência indevida no edital do Convite 006/02 (fls. 90/91) de capital social mínimo de forma concomitante com a garantia do contrato, em desacordo com a jurisprudência do TCU e com os §§ 2º e 3º do art. 31 da Lei n. 8.666/93.

80. Além disso, propõe-se determinar ao CRM-MT que, doravante, atente para a fiel observância dos §§ 2º e 3º do art. 31 da Lei 8.666/93, abstendo-se de, na fase de qualificação econômica-financeira, exigir concomitantemente com a garantia do contrato um mínimo de capital social.

II.4 – CONTRATAÇÃO DE JORNALISTA COM FUNÇÃO DE REPÓRTER FOTOGRÁFICA

81. No item ‘f’, o gestor foi ouvido por ter realizado a contratação de repórter fotográfica ‘sem estudo prévio das necessidades e sem justificativa de adequação da contração às finalidades do Conselho Regional de Medicina em Mato Grosso, bem como pela ausência da prévia manifestação do Conselho de Administração aprovando a necessidade do ajuste, infringindo os princípios da proporcionalidade e da economicidade, previstos na Constituição Federal (fls. 138/143 e fl. 208).’

82. Em resposta, o responsável informou que se justifica a contratação pelo CRM/MT de uma Assessoria de Comunicação e, via de conseqüência, de uma repórter fotográfica para ilustrar as matérias produzidas, que iam para o periódico do Conselho. Assim, ‘um fotógrafo freelancer, ou seja, contratado por trabalho sairia muito mais caro do que uma fixa’, justificando-se a contratação ‘pelo grande número de eventos em que o CRM participava e participa.’

83. Interessante notar que o gestor fugiu à questão principal da audiência que não era exatamente a contratação em si, mas sim, objetivava saber quais os motivos que o levaram a realizar uma contratação de serviços aparentemente desconexos com as atividades do CRM-MT sem a realização de um estudo prévio de necessidade e de comparação de custos, além de tê-lo feito sem a manifestação do Conselho de Administração. O gestor nem tangenciou a questão, limitando-se a justificar-se pela contratação.

84. Outro ponto destacável, é a afirmação que faz de que um fotógrafo freelancer teria saído muito mais custoso do que a contratação de um fixo. Se realmente este fato é verdadeiro, bastaria o gestor demonstrar claramente isso nos autos, com números, memórias de cálculo etc., que pudessem corroborar com sua tese, resguardando-lhe. Por que não o fez o estudo, se traz em suas justificativas, alegações justamente em relação à economicidade?

85. Assim, não se afigura pacífico o entendimento de que sairia muito mais cara a contratação de um repórter freelancer, mesmo porque não temos o quantitativo de trabalhos que são executados mensalmente pela atual funcionária. Desse modo, expõe toda a precariedade e o amadorismo que marcou a contratação da referida fotógrafa.

86. Propõe-se, com efeito, a rejeição das razões de justificativa do gestor e a aplicação de multa em face da contratação de repórter fotográfica sem estudo prévio das necessidades e sem justificativa de adequação da contração às finalidades do Conselho Regional de Medicina em Mato Grosso, bem como pela ausência da prévia manifestação do Conselho de Administração aprovando a necessidade do ajuste, infringindo os princípios da proporcionalidade e da economicidade, previstos na Constituição Federal (fls. 138/143 e fl. 208).

II.5 – CONTRATAÇÃO DO Sr. NYELTZEN CLEYPTON DINIZ87. O gestor foi ouvido quanto ao item ‘g’, por ter realizado a ‘contratação de Nyeltzen

Cleypton Diniz com objeto de Prestação de Serviços de Venda de Anúncios de Propaganda nos Periódicos do Contratante, por dispensa de licitação, sem ter como conhecer ao certo o valor do contrato, haja vista ser de natureza variável e não previsível, em afronta à obrigatoriedade de licitar, (fls. 131/137 e fls. 208/209)’.

88. Em resposta, o gestor informou que ‘o CRM tinha e tem controle sobre as vendas dos anúncios, vez que ao Sr. Diniz era dado, de forma verbal, pela Assessoria de Comunicação, um limite entre 06 e 08, no máximo, de anúncios por edição do jornal, ou seja, o mesmo não poderia sair captando indiscriminadamente tais anúncios’.

89. ‘Prova de tal situação são os jornais e os pagamentos efetuados ao Sr. Diniz, que nunca no período analisado, ultrapassaram R$ 700/800 bimestral’, conclui.

90. Deste modo, entende-se que, embora falte a previsão do limite de anúncios no contrato

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assinado com o Sr. Diniz, as razões de justificativa apresentadas pelo gestor podem ser aceitas, tendo em vista que o valor do pagamento anual ficou bem abaixo do limite exigível para a realização de uma licitação.’

13. Em face do exposto, o Analista da Secex/MT, com aquiescência do Diretor e do Secretário-Substituto, propõe (fls. 379/386, vol. 1):

13.1. julgar irregulares as contas do Sr. Serafim Domingues Lanzieri, Ex-Presidente do CRM/MT, nos termos dos art. 1º, inciso I; 16, inciso III, alínea b; 19, parágrafo único, da Lei n. 8.443/1992, aplicando-lhe a multa prevista no art. 58, incisos I e II, da mesma lei, bem como inabilitá-lo para o exercício de cargo em comissão, na Administração Pública Federal, pelo prazo que a Corte de Contas vier a determinar, conforme o art. 60 da Lei n. 8.443/1992;

13.2. aplicar a multa prevista no art. 58, inciso II, da Lei n. 8.443/1992 aos seguintes responsáveis: Sidneiva Maria Nette Soares, Gilberto Rodrigues Pinto, Adelita Vinagre Pinheiro Duarte, ex-membros da Comissão Permanente de Licitação; ao Sr. Luiz Souza Reis, Assessor Jurídico do CRM; ao Sr. Helynton Moreschi, autor do projeto da obra de construção realizada na sede administrativa do CRM/MT; à empresa Ramora Consultoria, Incorporação e Construção Civil Ltda. e à firma Multipadrão Tudo em Materiais Elétricos Ltda. e Assisteng Comércio e Serviços Ltda.;

13.3. com fulcro no art. 46 da Lei n. 8.443/1992, por terem participado de conluio para fraudar licitação (Convite n. 02/2002), declarar a inidoneidade das empresas mencionadas no subitem anterior;

13.4. determinar ao CRM/MT que:‘a) adote providências para que valores de diárias para seus conselheiros e servidores não

superem aqueles fixados pelo Chefe do Poder Executivo Federal para a Administração Pública Federal, inclusive em viagens internacionais, adequando os art. 2º (e § 1º), 4º e 6º da Resolução CREMAT nº 003/2001, nos termos da jurisprudência do Tribunal de Contas da União (Acórdão n. 953/2003 – Primeira Câmara) e do Supremo Tribunal Federal (MS n. 21797-9-RJ);

b) adote providências para adequar o art. 3º da Resolução CREMAT 003/2001, de modo que: i) fique mais evidente que as diárias só poderão ser pagas a conselheiros, funcionários e servidores, quando em viagem a cidade não pertencente à região metropolitana sede do órgão, evitando a utilização do termo ‘jurisdição’, posto que possui significado amplo/ambíguo; ii) institua, em substituição ao pagamento ‘em dobro’ de combustíveis a conselheiros, servidores e funcionários quando em viagens com veículos próprios, o ressarcimento de despesas de transporte com base na distância a ser percorrida, pelo caminho mais curto possível, entre a cidade de origem e a cidade de destino, multiplicado pelo valor, também por quilômetro, de custo compatível à utilização do veículo, de preferência tomando por base parâmetros semelhantes em entidades do poder público federal, em atendimento aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade (art. 2º da Lei n. 9.784/99);

c) verifique a compatibilidade entre o objeto da viagem e a distância percorrida, abstendo-se de promover indenizações que não sejam objeto do efetivo deslocamento, evitando a superposição com aqueles realizados pela concessão de diárias como, por exemplo, deslocamentos dentro das cidades visitadas;

d) antes de realizar a concessão de diárias e passagens a funcionários e servidores, assegure-se de que seja entregue ao setor competente, plano de trabalho aprovado, em que se especifique, com grau de detalhamento suficiente, a utilidade ou a necessidade da viagem, os objetivos a serem alcançados e os indicadores/metas que irão avaliar o cumprimento do trabalho (art. 7º, inciso III e IV do Decreto n. 343/91);

e) promova a publicação periódica (i.e. mensalmente), em boletins de circulação interna com fixação em quadro de avisos, em local visível ao público em geral e de fácil acesso, dos atos que concedem diárias e passagens a servidores, funcionários e conselheiros, informando, o nome do beneficiário, o destino, a motivação e a data da viagem (incluindo a data da partida e da chegada), a quantidade de diárias concedidas e o valor total das mesmas, em atendimento ao princípio da publicidade, insculpido no art. 37 da Constituição Federal;

f) promova a adequação dos seus normativos à legislação que regula a administração de pessoal no âmbito federal, com vistas a excluir a possibilidade de ascensão funcional;

g) abstenha-se de contabilizar os pagamentos referentes aos contratos de autônomos na folha

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de pagamento de pessoal, registrando-os em conta específica de despesa relativa à execução contratual;

h) proceda à realização de licitação para a contratação de serviços de assessoria jurídica e contábil;

i) atente para a fiel observância dos §§ 2º e 3º do art. 31 da Lei 8.666/93, abstendo-se, na fase de qualificação econômico-financeira, de exigir concomitantemente com a garantia do contrato um mínimo de capital social;

j) abstenha-se de exigir na fase de qualificação econômico-financeira de licitações, índices de liquidez capazes de restringir a competitividade dos certames licitatórios, buscando outros meios previstos na legislação pátria para garantia do interesse público e da execução do contrato;

XII – encaminhar cópia do relatório, voto e decisão que vier a ser prolatada ao Ministério Público da União (...);

XIII – dar ciência da decisão que vier a ser proferida ao Conselho Federal de Medicina.”14. O Ministério Público junto ao TCU (fl. 387, vol. 1) manifestou concordância com as propostas formuladas, sugerindo alguns ajustes na determinação constante da alínea f do subitem 13.4, para que passe a figurar com a seguinte redação: “promova a adequação dos normativos à legislação que regula a administração de pessoal no âmbito federal, com vista a excluir a possibilidade de ascensão funcional, tendo em vista a obrigatoriedade de realização de concurso público para contratação de pessoal, nos termos do art. 37, inciso II, da Constituição da República.” 15. Sugere ainda que o Tribunal julgue regulares as contas dos responsáveis arrolados às fls. 02/03, dando-lhes quitação plena, exceto com relação ao Sr. Serafim Domingues Lanzieri.

É o Relatório.

PROPOSTA DE DELIBERAÇÃO

Nesta oportunidade, examinam-se as contas do Conselho Regional de Medicina no Estado de Mato Grosso – CRM/MT, referentes ao exercício de 2002. 2. A Secex/MT, após analisar o material constante dos autos e as justificativas oferecidas pelos responsáveis, destacou algumas irregularidades, que podem ser assim sintetizadas:

2.1. admissão de três empregados sem prévio concurso público;2.2. contratação da empresa Ramora Consultoria, Incorporação e Construção Civil Ltda. para

a execução de obras de engenharia e construção civil, tendo o projeto executivo sido elaborado por um dos seus sócios (Sr. Helynton Moraschi);

2.3. participação das empresas Assisteng Comércio e Serviços Ltda. e Multipadrão Tudo em Materiais Elétricos Ltda., na licitação veiculada pela Carta-Convite n. 02/2002, sem que as firmas possuíssem qualificação técnica para atuar no ramo da atividade pertinente à execução de obras e construção civil;

2.4. aquisição de serviços de assessoria jurídica e de assessoria contábil e auditoria, mediante inexigibilidade de certame, sem restar configurada a singularidade do objeto exigida pelo art. 25, II, da Lei n. 8.666/1993;

2.5. contratação do Sr. Nyeltzen Cleypton Diniz com objetivo de prestar serviços de venda de anúncios de propaganda nos periódicos do contratante, por dispensa de licitação, sem conhecer ao certo o valor do contrato, haja vista ser o serviço de natureza variável e não prevísivel (fls. 131/137 e fls. 208/209);

2.6. utilização, no edital do Convite n. 006/2002 (referido certame deu origem à contratação de empresa para prestação de serviços de agência de turismo, fls. 89/91), de índices de liquidez na fase de qualificação econômico-financeira, em ofensa ao § 5º do art. 31 da Lei n. 8.666/1993, e exigência, no mesmo edital (fls. 90/91), de capital social mínimo concomitantemente com a garantia do contrato, em desacordo com a jurisprudência do TCU e com os §§ 2º e 3º do art. 31 da Lei de Licitações e Contratos;

2.7. contratação de serviços de Jornalista com a função de repórter fotográfico (Sra. Nilce Aparecida de Oliveira Guirado), sem justificar a adequação do ajuste e sem manifestação do Conselho de Administração aprovando a necessidade da avença.

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3. Com relação à falha concernente à admissão de empregados sem prévio concurso público, é de se ressaltar que a jurisprudência desta Corte consolidou-se no sentido de que os conselhos de fiscalização do exercício profissional, por terem natureza autárquica, estão obrigados à realização de concurso público para a contratação de pessoal, ainda que sob o regime da Consolidação das Leis do Trabalho CLT. No Acórdão n. 628/2003 – Plenário – TCU, firmou-se o entendimento de não serem admissíveis contratações de pessoal sem concurso público pelos conselhos de fiscalização do exercício profissional, ocorridas após a publicação do julgamento de mérito pelo Supremo Tribunal Federal do MS n. 21.797-9, quando foi pacificada a controvérsia atinente à natureza autárquica dos conselhos. A publicação no Diário de Justiça ocorreu em 18/05/2001.4. No caso concreto, sobressai dos autos que houve a demissão pelo CRM/MT dos empregados ingressos sem concurso público (fls. 279/281, v. 1), não havendo, nos termos da Certidão emitida pela entidade, empregados nessa situação desde 2004. É de se ressaltar ainda nesse tocante que o Conselho Federal de Medicina – CFM promoveu um Termo de Ajustamento de Conduta TAC com o Ministério Público do Trabalho nos idos de 2005, para realização de concurso público. Referido TAC, em sua Cláusula 3ª, dispôs sobre recomendação a ser endereçada aos Conselhos Regionais de Medicina para que observassem as medidas estabelecidas naquele documento (fl. 296, v. 1). Dessarte, entendo despiciendo expedir determinação à autarquia concernente à ocorrência ora tratada, eis que a falha encontra-se saneada. 5. Quanto à contratação da empresa Ramora Consultoria, Incorporação e Construção Civil Ltda. para a execução de obras de engenharia e construção civil, mesmo ciente de que o projeto executivo tinha sido elaborado por um dos sócios da empresa (Sr. Helynton Moraschi), os responsáveis, em essência, alegaram que o projeto executivo teria sido realizado após o término da obra.6. É cediço que a Lei Geral de Licitações e Contratos veda a participação, direta ou indireta, na licitação ou na execução de obra ou serviço, do autor do projeto básico ou executivo, nos termos do art. 9º, I. No caso ora examinado, a situação se reveste de maior gravidade, haja vista que a empresa sagrou-se vencedora do certame, o que maculou a disputa em torno do certame.7. A mesma norma prevê a confecção de prévio projeto básico e/ou executivo quando se trate de obras e serviços de engenharia, podendo este último ser desenvolvido concomitantemente à obra (art. 7º, § 1º, da Lei n. 8.666/1993). Daí é fácil depreender que a assertiva esgrimida pelos defendentes de que o projeto executivo foi elaborado após a finalização das obras fere a seqüência lógica prescrita na norma para o desenvolvimento regular do procedimento licitatório.8. A propósito, averbe-se que o administrador de recursos públicos terá o ônus de definir o objeto a ser licitado, indicando as suas características básicas e gerais, bem como os quantitativos a serem fornecidos no certame, tornando-se indispensável discriminar de forma detalhada o que se pretende, providenciando, para tanto, a elaboração de projeto básico e/ou executivo quando se trate de obras e serviços de engenharia. 9. E mais, à luz do art. 41 da Lei n. 8.666/1993, tem-se que a licitação é procedimento vinculado, vale dizer, fixadas as regras procedimentais na lei ao gestor resta segui-las rigorosamente, não podendo subvertê-las a seu juízo. 10. Os responsáveis também não elidiram a irregularidade versada na participação das empresas Assisteng Comércio e Serviços Ltda. (atuava no comércio varejista de materiais de construção) e Multipadrão Tudo em Materiais Elétricos Ltda. (exercia atividade no comércio varejista de materiais elétricos) no Convite n. 02/2002, haja vista que as referidas firmas não possuíam qualificação técnica para atuar no ramo da atividade pertinente à execução de obras e construção civil. Noutro dizer, não estariam tecnicamente aptas para prestar os serviços então licitados, eis que o objeto da disputa consistia na troca de pisos e azulejos, bem assim na colocação de divisórias de gesso. Novamente houve infração às disposições da Lei n. 8.666/1993 (art. 22, § 3º), porquanto não foram convidadas empresas do ramo atinente ao objeto licitado, ocasionando a não-obtenção das três propostas de preços válidas para o torneio licitatório. 11. Nesse tocante, cumpre anotar que no Sistema Integrado de Administração de Serviços Gerais SIASG, entre as opções disponíveis, encontram-se as consultas ao Sistema de Cadastro de Fornecedores SICAF e ao fornecedor (CONFORNPJ). A primeira permite examinar a regularidade da documentação da empresa, enquanto a segunda visa a conhecer a linha de produtos/serviços da empresa cadastrada. Tais situações trazem maior facilidade para que se verifique o ramo de atividade em que atua a empresa, o

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qual, sendo correlato ao objeto licitado, aí sim, poderá ensejar a remessa de carta-convite para que participe do certame.12. Quanto à irregularidade relativa à aquisição de serviços de assessoria jurídica e de assessoria contábil e auditoria, mediante inexigibilidade, sem restar configurada a singularidade do objeto exigida pelo art. 25, II, da Lei n. 8.666/1993, o Sr. Serafim Domingues Lanzieri, ex-Presidente do CRM/MT, informa que o assessor jurídico, Sr. Luiz Souza Reis, já prestava serviços ao CRM por mais de 16 anos, o que demonstraria a sua vasta experiência na área. Na mesma linha de raciocínio, para justificar a contratação de serviços de assessoria contábil e auditoria, o gestor esclareceu que a contratada (CONTAUD Contabilidade e Auditoria S/C Ltda.) também já era prestadora de serviço junto ao Conselho e seria a mais bem qualificada empresa do ramo em Cuiabá/MT, tendo ofertado preço abaixo do praticado no mercado. 13. Acerca da obrigatoriedade de licitar, trago à colação algumas considerações de minha lavra veiculadas no Voto condutor do Acórdão n. 146/2007 – 1ª Câmara:

“23. É de se destacar que, por definição, licitação é o procedimento administrativo mediante o qual os órgãos públicos e entidades selecionam a proposta mais vantajosa para a avença de seu interesse. Nesse contexto, surge um princípio basilar ao direito administrativo, qual seja, o da indispensabilidade da licitação para se adquirir, alienar ou locar bens, contratar a execução de obras ou serviços, que tem assento constitucional (art. 37, inciso XXI, da Carta Política) e infraconstitucional (art. 2º da Lei n. 8.666/1993 para administração pública e art. 2º do RLC para o Sesc).

24. Essa demanda decorre de princípios também insculpidos no caput do art. 37 da Constituição Federal de 1988, legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, além de outros elencados pela doutrina para a licitação. É dizer: a regra estatuída na Constituição Federal é a da obrigatoriedade de licitar, já as hipóteses de dispensa e de inexigibilidade de certame devem ser interpretadas como exceções.” (grifos acrescidos).

14. Tratando da exceção à regra geral de licitar, o art. 25, caput e inciso II, da Lei n. 8.666/1993 preconiza que, além da inviabilidade de competição, a contratação de serviços com base na hipótese de inexigibilidade de licitação, depende do preenchimento dos seguintes pressupostos: a) que sua natureza seja singular, impedindo o estabelecimento de requisitos objetivos de competição entre os prestadores. Saliente-se, nesse tocante, que serviço de natureza singular é aquele caracterizado por marca pessoal ou coletiva (quando realizado por equipe), que o individualiza em relação aos demais; b) que o executor possua notória especialização. O art. 25, § 1º, da Lei n. 8.666/1993, oferece os elementos hábeis para que a Administração verifique e comprove que o profissional possui notória especialização, quais sejam: desempenho anterior, estudos, experiências, publicações, organização, aparelhamento, equipe técnica, ou outros requisitos relacionados às suas atividades.15. Não sendo atendido algum desses pressupostos, incabível a contratação direta com fulcro no aludido dispositivo legal. É cediço que a essência da inexigibilidade de disputa é a inviabilidade de competição, e isso não ficou demonstrado neste processo, pois a própria natureza dos serviços contratados, de assessoria jurídica e de assessoria contábil e auditoria, permitem que tais objetos sejam licitados, não se revestindo, portanto, de natureza singular, capaz de obstar o estabelecimento de requisitos objetivos de competição entre os possíveis pretendentes. Ademais, não se vislumbra a hipótese da notória especialização requerida pela norma mencionada acima.16. Desse contexto, tem-se que a defesa trazida por um ou outro responsável no desígnio de justificar a irregularidade ora discutida de que os contratados já haviam prestado serviços anteriormente ao Conselho e a de que a assessoria contábil seria a mais bem qualificada empresa do ramo em Cuiabá/MT – carece de fundamentação fática e jurídica, eis que não atende aos requisitos norteadores da inexigibilidade de disputa contemplados na Lei Geral de Licitações e Contratos.17. No que tange à contratação do Sr. Nyeltzen Cleypton Diniz para prestar serviços de venda de anúncios de propaganda nos periódicos do contratante, por dispensa de licitação, sem o conhecimento do valor do contrato, sobressai dos autos que o valor do pagamento anual da avença ficou aquém do limite exigível para a realização de um certame, razão pela qual podem ser acatadas, no ponto, as justificativas do responsável (Sr. Serafim Domingues Lanzieri) quanto à essa questão. 18. Relativamente às irregularidades consistentes na contratação de serviços de Jornalista com a função de repórter fotográfico (Sra. Nilce Aparecida de Oliveira Guirado), sem justificar a adequação do

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ajuste e sem manifestação do Conselho de Administração aprovando a necessidade do ajuste; utilização de índices de liquidez na fase de qualificação econômico-financeira, em ofensa ao § 5º do art. 31 da Lei n. 8.666/1993; e exigência de capital social mínimo concomitantemente com a garantia do contrato no edital do Convite n. 006/2002 (referido certame deu origem à contratação de empresa para prestação de serviços de agência de turismo), infringindo os §§ 2º e 3º do art. 31 da mesma lei, consigno que os elementos de defesa oferecidos pelos responsáveis restaram devidamente analisados e refutados pela unidade técnica, uma vez que não foram capazes de infirmar as conclusões constantes dos autos. Dessa forma, acolho os fundamentos lançados na Instrução empreendida pela Secex/MT como razões de decidir.19. Firmadas as premissas acima, passo a examinar a responsabilidade das empresas e dos gestores do Conselho arrolados nestes autos.20. Conforme visto no Relatório precedente, a unidade técnica pugna pela irregularidade das contas do Sr. Serafim Domingues Lanzieri, ex-Presidente do CRM/MT, com aplicação da multa prevista no art. 58, incisos I e II, da Lei n. 8.443/1992, bem como por inabilitá-lo para o exercício de cargo em comissão, na Administração Pública Federal, pelo prazo que a Corte de Contas vier a determinar, à luz do art. 60 da Lei n. 8.443/1992.21. Sugere ainda que os seguintes responsáveis sejam apenados com multa: Sidneiva Maria Nette Soares, Gilberto Rodrigues Pinto e Adelita Vinagre Pinheiro Duarte, ex-membros da Comissão Permanente de Licitação; Sr. Luiz Souza Reis, Assessor Jurídico do CRM; Sr. Helynton Moreschi, autor do projeto da obra de construção realizada na sede administrativa do CRM/MT; empresa Ramora Consultoria, Incorporação e Construção Civil Ltda.; e firmas Multipadrão Tudo em Materiais Elétricos Ltda. e Assisteng Comércio e Serviços Ltda. Por fim, propõe ao Tribunal que declare a inidoneidade das empresas retromencionadas, com fulcro no art. 46 da Lei n. 8.443/1992, por terem participado de conluio para fraudar licitação (Convite n. 02/2002). 22. Acerca da responsabilização do ex-Presidente da entidade, preliminarmente é de se ressaltar o seguinte ensinamento de Maria Helena Diniz (in Curso de Direito Civil Brasileiro, Responsabilidade Civil, ed. Saraiva, p. 33): “o comportamento do agente será reprovado ou censurado quando, ante as circunstâncias concretas do caso, se entende que ele poderia ou deveria ter agido de modo diferente.”23. Dessarte, a conduta do ex-Presidente do CRM/MT de ter homologado o Convite n. 02/2002 sem que fossem observadas as três propostas válidas (requisito essencial dessa modalidade licitatória), confirmando, portanto, a validade de todos os atos praticados no curso da licitação com a homologação; contratado serviços de assessoria jurídica e de assessoria contábil e auditoria, por inexigibilidade de certame, sem que restasse configurada a situação fática e jurídica capaz de justificar tal excepcionalidade; firmado avença com empresa para a execução de obras de engenharia e construção civil, cujo projeto executivo havia sido elaborado por um dos seus sócios reveste-se de gravidade suficiente para ensejar a irregularidade de suas contas, acompanhada da aplicação de multa. Por outro lado, creio que inabilitá-lo para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança na Administração Pública Federal, por período de cinco a oito anos, seria medida de rigor excessivo, razão pela qual divirjo, no ponto, da unidade técnica.24. No que concerne aos ex-integrantes da comissão de licitação, Sr. Gilberto Rodrigues Pinto e Sras. Sidneiva Maria Nette Soares e Adelita Vinagre Pinheiro Duarte, em que pese tenham expedido convites a empresas que não do ramo pertinente à construção civil, não houve indícios de sobrepreço no certame, sobressaindo ainda dos autos a informação de que o objeto contratado fora cumprido, portanto não se afigura necessário aplicar multa aos responsáveis pela ocorrência, bastando encaminhar determinação à entidade no sentido de que oriente os membros da Comissão Permanente de Licitação acerca do teor do art. 51, § 3º, da Lei n. 8.666/1993, que trata da responsabilidade solidária por todos os atos praticados pela Comissão, salvo se posição individual divergente e devidamente fundamentada estiver registrada em ata lavrada na reunião em que tiver sido tomada a decisão.25. Relativamente ao Sr. Luiz Souza Reis, assessor jurídico do CRM/MT, apesar de ter emitido parecer favorável ao prosseguimento do Convite n. 02/2002, com algumas falhas, entendo que pode ser dado à questão o mesmo encaminhamento do item precedente, ou seja, de expedir determinação à autarquia para que alerte os assessores jurídicos do conselho acerca da necessidade de consignarem em seus pareceres as irregularidades constantes dos procedimentos licitatórios deflagrados pela entidade, sob pena de responsabilização solidária desses pareceristas com os gestores.

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26. Sobre a proposta de declarar a inidoneidade da empresa Ramora Consultoria, Incorporação e Construção Civil Ltda., e das firmas Multipadrão Tudo em Materiais Elétricos Ltda. e Assisteng Comércio e Serviços Ltda., sob a alegação de terem participado de conluio para fraudar licitação (Convite n. 02/2002), entendo que não há evidências concretas da existência da prática de conluio por parte das empresas envolvidas, uma vez que alegaram ter acorrido ao certame, mesmo sem pertencer ao ramo da atividade objeto da disputa, porque pretendiam subcontratar a realização dos serviços caso fossem vencedoras do torneio licitatório. Em que pese a subcontratação seja instituto excepcional no âmbito dos contratos administrativos, de regramento restrito na Lei n. 8.666/1993, e tendo em vista que não restou apurado dano ao erário nos presentes autos, tem-se que a responsabilidade sobre as falhas verificadas na gestão ora em exame deve recair somente sobre o ex-Presidente do CRM/MT, que não logrou êxito em elidir as irregularidades tratadas neste processo. 27. Quanto à proposta de aplicar multa ao Sr. Helynton Moreschi, autor do projeto da obra de construção realizada na sede administrativa do CRM/MT, e às empresas retrocitadas, tenho que seria medida processual inadequada, ante as considerações mencionadas no item anterior. 28. Outro ponto a ser destacado consiste no exame do normativo do CRM, que trata da concessão de diárias (Resolução CREMAT n. 03/2001), realizado pela Secex/MT, na Instrução de fls. 71/93, o qual deu ensejo a algumas determinações corretivas reproduzidas no Relatório precedente, que, em essência, buscam adequar os valores das diárias dos conselheiros e servidores ao limites fixados pelo Chefe do Poder Executivo Federal para Administração Pública. 29. Acontece que a regulamentação federal disciplinadora da matéria à época (Decreto n. 343/1991, com alterações pelos Decretos ns. 1.656/1995 e 3.643/2000) não mais se aplica ao Conselho Regional de Medicina, tendo em vista que a Lei n. 3.268/1957, com redação dada pela Medida Provisória n. 203, de 27/07/2004, convertida na Lei n. 11.000/2004, possibilitou que o Conselho Federal de Medicina estabelecesse o valor máximo de suas diárias. 30. Por meio do Acórdão n. 570/2007 – TCU – Plenário, orientado por Voto do Ministro Benjamin Zymler, este Tribunal entendeu que, após a edição da referida Lei, os Conselhos de Fiscalização de Profissões Regulamentadas não mais deviam observância aos limites previstos no Decreto n. 343/1991, posição a qual me filiei ao proferir o Voto que originou o Acórdão n. 1.039/2007 – Plenário.31. Eis o sumário do Acórdão n. 570/2007 – Plenário, que bem sintetiza o posicionamento desta Corte de Contas:

“1. Os conselhos de fiscalização profissional, após a edição da Lei n.° 11.000/2004, não mais se submetem à observância do Decreto n.º 5.992, de 19.12.2006 (antigo Decreto n.º 343/91), que regulamenta a concessão de diárias no âmbito do Administração Pública Federal.

2. A normatização da concessão de diárias, na forma prevista na Lei n.° 11.000/2004, deve pautar-se pelos princípios gerais que norteiam a Administração Pública, a exemplo da razoabilidade, da moralidade, do interesse público e da economicidade dos atos de gestão”.

32. Nesse contexto em que o valor das diárias praticadas pelos conselhos profissionais foi retirado da esfera legal, considero despiciendo endereçar as determinações proposta pela Secretaria instrutiva, mercê do entendimento sufragado pelo TCU após a promulgação da lei acima mencionada.33. Não obstante, compulsando o teor da Resolução CREMAT n. 03/2001 (fl. 01 a 04, anexo. 2), observo a instituição de elevados valores de diárias, em desconformidade com os princípios gerais aplicáveis à Administração Pública, em especial os da razoabilidade e economicidade dos atos de gestão.34. Nessa linha de entendimento, deve ser expedida determinação ao CRM/MT para que paute os valores atinentes às suas diárias de acordo com os princípios gerais que norteiam a Administração Pública, a exemplo da razoabilidade, da moralidade, do interesse público e da economicidade dos atos de gestão.35. Feitas as considerações acima, tenho por adequado julgar as contas do ex-Presidente do CRM/MT irregulares, com aplicação de multa. Relativamente aos demais responsáveis constantes do Rol de fls. 02/03, devem ter suas contas julgadas regulares, com quitação plena, eis que nenhuma irregularidade lhes foi atribuída. Deixo de julgar as contas dos ex-membros da comissão de licitação do Conselho e do assessor jurídico por não constarem no Rol retrocitado.36. Quanto às demais propostas de determinações, acolho-as com as alterações que entendo necessárias, exceto com relação à demanda de que a autarquia promova a adequação dos seus normativos para excluir a possibilidade de ascensão funcional, por considerar que seria espécie de controle abstrato

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de normas. Acrescento ainda determinação ao Conselho para que se abstenha de dispensar ou inexigir licitação quando não verificadas as hipóteses previstas na Lei n. 8.666/1993 para tanto.

Ante o exposto, manifesto-me no sentido de que seja adotada a deliberação que ora submeto a este Colegiado.

T.C.U., Sala das Sessões, em 08 de abril de 2008.

MARCOS BEMQUERER COSTARelator

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ACÓRDÃO Nº 1039/2008 - TCU - 1ª CÂMARA

1. Processo n. TC – 009.061/2005-8 (com 01 volume e 08 anexos).2. Grupo II; Classe de Assunto: II – Prestação de Contas.3. Responsáveis: Serafim Domingues Lanzieri, CPF 369.664.657-00, Arlan de Azevedo Ferreira, CPF 807.466.837-15; José Fernando Maia Vinagre, CPF 392.118.357-04; Dalva Alves das Neves, CPF 792.828.737-49; Manoel Garibaldi Cavalcanti Mello Filho, CPF 081.350.291-87; Aguiar Farina, CPF 389.632.809-34; Dulciyara Bueno Cunha Lopes, CPF 812.181.417-00; José Carlos Amaral Filho, CPF 654.493.637-53; Isabel Cristina dos Santos Silva Straliotto, CPF 285.814.310-20; Adelita Vinagre P. Duarte, CPF 864.302.031-15; Gilberto Rodrigues Pinto, CPF 339.995.701-72; Helynton Moreschi, CPF 232.840.489-87; Luiz Souza Reis, CPF 278.424.878-04; Sidneiva Maria Nette Soares, CPF 361.661.381-72; Assisteng Comércio e Serviços Ltda., CNPJ 04.844.541/0001-57; Multipadrão Tudo em Materiais Elétricos Ltda., CNPJ 04.220.944/0001-25; e Ramora Consultoria, Incorporação e Construção Civil Ltda., CNPJ 04.372.373/0001-44.4. Entidade: Conselho Regional de Medicina no Estado do Mato Grosso – CRM/MT.5. Relator: Auditor Marcos Bemquerer Costa.6. Representante do Ministério Público: Subprocuradora-Geral Maria Alzira Ferreira.7. Unidade Técnica: Secex/MT.8. Advogados constituídos nos autos: Augusta Agatha Warmling, OAB/MT n. 10.428; João Batista Sulzbacher, OAB/MT n. 6.889; e Luiz Gonzaga Warmling, OAB/MT n. 8.560.

9. Acórdão:VISTOS, relatados e discutidos este processo da Prestação de Contas do Conselho Regional de

Medicina no Estado de Mato Grosso – CRM/MT, referente ao exercício de 2002.ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da 1a Câmara, diante

das razões expostas pelo Relator, em:9.1. julgar, com fundamento nos arts. 1°, inciso I, 16, inciso I, 17 e 23, inciso I, da Lei n.

8.443/1992, regulares as contas dos Srs. Arlan de Azevedo Ferreira, José Fernando Maia Vinagre, Dalva Alves das Neves, Manoel Garibaldi Cavalcanti Mello Filho, Aguiar Farina, Dulciyara Bueno Cunha Lopes, José Carlos Amaral Filho, Isabel Cristina dos Santos Silva Straliotto, responsáveis indicados no Rol de fls. 02/03, dando-lhes quitação plena;

9.2. julgar, com fundamento nos arts. 1°, inciso I, 16, inciso III, alínea b, 19, parágrafo único, e 23, inciso III, da Lei n. 8.443/1992, irregulares as contas do Sr. Serafim Domingues Lanzieri, ex-Presidente do CRM/MT, aplicando-lhe, a multa prevista no art. 58, inciso I, da Lei n. 8.443/1992, no valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), e fixando-lhe o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que comprove, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea a, do RI/TCU), o recolhimento da quantia aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente, na forma da legislação em vigor;

9.3. autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992, a cobrança judicial da dívida, caso não atendida a notificação;

9.4. determinar ao Conselho Regional de Medicina no Estado do Mato Grosso – CRM/MT que adote as seguintes medidas:

9.4.1. abstenha-se de contabilizar os pagamentos referentes aos contratos de autônomos na folha de pagamento de pessoal, registrando-os em conta específica de despesa relativa à execução contratual;

9.4.2. observe os §§ 2º e 3º do art. 31 da Lei n. 8.666/1993, privando-se de, na fase de qualificação econômico-financeira, exigir um mínimo de capital social concomitantemente com a garantia do contrato;

9.4.3. deixe de requerer, na fase de qualificação econômico-financeira de licitações, índices de liquidez capazes de restringir a competitividade dos certames licitatórios, buscando outros meios previstos na legislação pátria para garantia do interesse público e da execução do contrato;

9.4.4. somente contrate serviços por dispensa de certame quando se verificar a subsunção do caso concreto às hipóteses legais contidas no art. 24 da Lei n. 8.666/1993, e mediante inexigibilidade de licitação quando restarem comprovados os requisitos da inviabilidade de competição, especialmente, quanto à notória especialização e à singularidade do objeto, de acordo com art. 25, caput e inciso II, da

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mencionada lei;9.4.5. cumpra as disposições do art. 22, §§ 3º e 7º, da Lei n. 8.666/1993, no sentido de que, ao

realizar licitação na modalidade convite, sejam convidadas, no mínimo, três empresas do ramo pertinente, de modo a obter pelo menos três propostas válidas, e quando, por limitações do mercado ou manifesto desinteresse das convidadas, for impossível a obtenção do número mínimo de licitantes exigidos no referido § 3º do art. 22, essas circunstâncias fiquem devidamente justificadas no processo, sob pena de repetição do convite;

9.4.6. oriente os membros da Comissão Permanente de Licitação acerca do teor do art. 51, § 3º, da Lei n. 8.666/1993, que trata da responsabilidade solidária por todos os atos praticados pela Comissão, salvo se posição individual divergente e devidamente fundamentada estiver registrada em ata lavrada na reunião em que tiver sido tomada a decisão;

9.4.7. alerte os assessores jurídicos do conselho sobre a necessidade de consignarem em seus pareceres as irregularidades constantes dos procedimentos licitatórios deflagrados pela entidade, sob pena de responsabilização solidária desses pareceristas com os gestores;

9.4.8. paute os valores atinentes às suas diárias de acordo com os princípios gerais que norteiam a Administração Pública, a exemplo da razoabilidade, da moralidade, do interesse público e da economicidade dos atos de gestão;

9.5. encaminhar cópia deste Acórdão, bem como do Relatório e Proposta de Deliberação que o sustentam, ao Conselho Federal de Medicina.

10. Ata n° 10/2008 – 1ª Câmara11. Data da Sessão: 8/4/2008 - Ordinária12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-1039-10/08-113. Especificação do quórum:13.1. Ministros presentes: Marcos Vinicios Vilaça (Presidente), Valmir Campelo e Guilherme Palmeira.13.2. Auditor convocado: Augusto Sherman Cavalcanti.13.3. Auditor presente: Marcos Bemquerer Costa (Relator).

MARCOS VINICIOS VILAÇA MARCOS BEMQUERER COSTAPresidente Relator

Fui presente:

MARINUS EDUARDO DE VRIES MARSICOProcurador