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1/ 25 AC nº 0029542-75.2011.8.19.0001 (A) DESEMBARGADORA REGINA LUCIA PASSOS TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO DE JANEIRO 9ª CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL Nº 0029542-75.2011.8.19.0001 15ª VARA DE FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DA CAPITAL APELANTE : ESTADO DO RIO DE JANEIRO APELADO : JOSUÉ CARVALHO VIEIRA RELATORA : DESEMBARGADORA REGINA LUCIA PASSOS A C Ó R D Ã O Apelação Cível. Ação de Obrigação de Fazer. Servidor do Poder Judiciário. Pretensão de reconhecimento do Direito ao reajuste dos vencimentos em 24%. Implementação dos valores devidos de uma única vez e o pagamento das parcelas vencidas. Declaração de Inconstitucionalidade já reconhecida pelo Eg. Órgão Especial do TJRJ e confirmada pelo E. STF. Art. 5º da Lei Estadual nº 1.206/87 que, ao conceder reajustes aos servidores do Estado, excluiu aqueles pertencentes ao Poder Judiciário. Trânsito em julgado da sentença de procedência, proferida nos autos da ação proposta, à época, por grupo de servidores. Posterior decisão administrativa da Presidência deste Tribunal de Justiça concedendo a extensão do reajuste a toda categoria, porém, de forma parcelada e ad futurum. Sentença de procedência que reconheceu o direito do autor ao implemento do reajuste, de uma única vez, bem como ao pagamento das parcelas pretéritas. Irresignação do Estado réu que não se sustenta. Inocorrência da Prescrição do fundo de Direito. Relação de trato sucessivo. Aplicação da Súmula nº 85 do STJ. Afronta ao Princípio Constitucional da Isonomia. Alegação de atuação do Poder Judiciário como legislador positivo. Inocorrência. Simples

1ª decisão de mérito dos 24% em grau de apelação unanime

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Page 1: 1ª decisão de mérito dos 24% em grau de apelação unanime

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AC nº 0029542-75.2011.8.19.0001 (A)

DESEMBARGADORA REGINA LUCIA PASSOS

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO DE JANEIRO

9ª CÂMARA CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL Nº 0029542-75.2011.8.19.0001 15ª VARA DE FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DA CAPITAL

APELANTE : ESTADO DO RIO DE JANEIRO

APELADO : JOSUÉ CARVALHO VIEIRA

RELATORA : DESEMBARGADORA REGINA LUCIA PASSOS

A C Ó R D Ã O

Apelação Cível. Ação de Obrigação de Fazer.

Servidor do Poder Judiciário. Pretensão de

reconhecimento do Direito ao reajuste dos

vencimentos em 24%. Implementação dos valores

devidos de uma única vez e o pagamento das

parcelas vencidas. Declaração de

Inconstitucionalidade já reconhecida pelo Eg. Órgão

Especial do TJRJ e confirmada pelo E. STF. Art. 5º

da Lei Estadual nº 1.206/87 que, ao conceder

reajustes aos servidores do Estado, excluiu aqueles

pertencentes ao Poder Judiciário. Trânsito em

julgado da sentença de procedência, proferida nos

autos da ação proposta, à época, por grupo de

servidores. Posterior decisão administrativa da

Presidência deste Tribunal de Justiça concedendo a

extensão do reajuste a toda categoria, porém, de

forma parcelada e ad futurum. Sentença de

procedência que reconheceu o direito do autor ao

implemento do reajuste, de uma única vez, bem

como ao pagamento das parcelas pretéritas.

Irresignação do Estado réu que não se sustenta.

Inocorrência da Prescrição do fundo de Direito.

Relação de trato sucessivo. Aplicação da Súmula nº

85 do STJ. Afronta ao Princípio Constitucional da

Isonomia. Alegação de atuação do Poder Judiciário

como legislador positivo. Inocorrência. Simples

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AC nº 0029542-75.2011.8.19.0001 (A)

DESEMBARGADORA REGINA LUCIA PASSOS

implementação de reajuste, que não significa

concessão de aumento. Procedência do pedido que

deve ser mantida. Fixação dias a quo para

implemento do reajuste no percentual faltante

(11,04%). Prazo razoável ao Estado. Fixação dos

honorários que deve ser realizada com base no art.

20, § 4º, do CPC. Correção da sentença nesse

pormenor apenas. Precedentes citados: AgRg no REsp 1224083/CE, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 15/12/2011, DJe 10/02/2012; 0202410-59.2011.8.19.0001 - APELAÇÃO DES. MARCELO LIMA BUHATEM - Julgamento: 29/02/2012 - QUARTA CÂMARA CÍVEL; 0010249-25.2011.8.19.0000 - MANDADO DE SEGURANÇA DES. VALMIR DE OLIVEIRA SILVA - Julgamento: 28/11/2011 - ÓRGAO ESPECIAL; 0036980-58.2011.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO DES. ADEMIR PIMENTEL - Julgamento: 29/02/2012 - DÉCIMA TERCEIRA CÂMARA CÍVEL; 0286707-96.2011.8.19.0001 - APELAÇÃO DES. REINALDO P. ALBERTO FILHO - Julgamento: 13/06/2012 - QUARTA CÂMARA CÍVEL; 0052729-18.2011.8.19.0000 - MANDADO DE SEGURANÇA DES. NILZA BITAR - Julgamento: 16/04/2012 - ORGÃO ESPECIAL; Sexta Turma Especializada, Apelação 199751010742228 RJ, Relatora: Juíza Federal convocada CARMEN SILVIA DE ARRUDA TORRES, 27/07/2009, DJU de 05/08/2009); AgRg no REsp 947.368/RS, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 02/09/2010, DJe 27/09/2010; AR 3.182/MG, Rel. Ministro PAULO MEDINA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 14/03/2007, DJ 30/04/2007, p. 279;RE-AgR 546981, CÁRMEN LÚCIA, STF;RE-AgR 549031, EROS GRAU, STF. 0000331-64.2006.8.19.0002 - Apelação/Reeexame Necessário - Des. Luisa Bottrel Souza – Julgamento: 16/09/2009 – DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL PARCIAL PROVIMENTO DO RECURSO.

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AC nº 0029542-75.2011.8.19.0001 (A)

DESEMBARGADORA REGINA LUCIA PASSOS

ACORDAM os Desembargadores que integram a Nona

Câmara Cível, do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro,

à unanimidade de votos, em dar parcial provimento ao recurso,

nos termos do voto da Relatora.

Relatório já anexado aos autos.

Cinge-se a controvérsia sobre a pretensão do autor,

serventuário ativo do Poder Judiciário do Estado do Rio de

Janeiro, de extensão da implementação do reajuste de 24% (vinte

e quatro por cento) sobre seus vencimentos, concedido aos

servidores ocupantes de cargos efetivos, que figuraram no pólo

ativo da ação de nº 0024210-36.1988.8.19.0001, que tramitou

perante o Juízo da 3ª Vara da Fazenda Pública da Comarca da

Capital, em razão da procedência do pedido.

Importa dizer, inicialmente, que, no ano de 1987, o

Governo deste Estado editou a Lei nº 1.206/87, com a finalidade

de recomposição salarial dos seus servidores, em razão da perda

do poder aquisitivo ocasionado pela inflação que assolava o país.

Porém, o art. 5º do referido diploma legal deixou de

contemplar toda uma categoria de servidores, qual seja, a do

Poder Judiciário, que então se viu privada da recomposição salarial

na ordem de 70,5%, a que fizeram jus aqueles pertencentes aos

quadros do Executivo e do Legislativo.

Assim é que, no final da década de 80, mais de mil

servidores (1.225) ajuizaram a ação supracitada, objetivando a

implementação do reajuste concedido aos demais servidores do

Estado, cabendo salientar que o E. Órgão Especial do Tribunal de

Justiça do Estado do Rio de Janeiro, no julgamento do Mandado

de Segurança 583/87, declarou a inconstitucionalidade do

malfadado art. 5º da Lei Estadual 1.206/87, dada a sua violação ao

Princípio da Isonomia.

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AC nº 0029542-75.2011.8.19.0001 (A)

DESEMBARGADORA REGINA LUCIA PASSOS

E após longo trâmite, a referida ação teve a sua

procedência confirmada pelo Supremo Tribunal Federal, o que

ensejou a percepção do reajuste pelos seus autores, no patamar

de 24%, em razão da compensação dos iniciais 70,5% com outras

revisões, já concedidas à categoria, ao longo do tempo que durou o

feito.

Devido ao êxito daqueles serventuários, todos os

demais pretenderam, também, a concessão do reajuste, tendo

havido, inclusive, movimentação da categoria e de seu sindicato

nesse sentido. O que deu ensejo à deflagração de greve em 2010.

O pleito da categoria deu azo à decisão que, proferida

nos autos do processo administrativo nº 2010-259214, pelo então

Presidente desta Corte, Exmo. Sr. Desembargador Luiz Zveiter,

determinou a extensão, para todos os servidores do Poder

Judiciário, de forma parcela, do reajuste de 24% dos vencimentos

atuais. Sendo a 1ª parcela de 5,53%– em janeiro/2011; 2ª parcela

de 5,53%, em janeiro/2012; 3ª parcela de 5,53%, em janeiro de

2013 e 4ª parcela de 5,51%, em janeiro de 2014.

Contudo, o autor, assim como dezenas de outros

servidores, que não fizeram parte da demanda originária e

vitoriosa, ajuizou a presente ação, postulando que seja

condenado o réu na obrigação de fazer, ou seja, implantar o

reajuste, de forma integral, bem como a lhe pagar os valores

relativos às parcelas vencidas nos cinco anos que antecederam

o ajuizamento desta ação.

Ressalte-se, desde logo, que conforme bem destacou o

ilustre Sentenciante, a relação jurídica entre as partes tem

natureza de obrigação de trato sucessivo, eis que, mensalmente, a

cada período trabalhado, renova-se a pretensão do servidor de

postular, junto a sua fonte pagadora, o alegado reajuste de seu

vencimento.

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AC nº 0029542-75.2011.8.19.0001 (A)

DESEMBARGADORA REGINA LUCIA PASSOS

Assim, não há que se falar em prescrição do fundo de

Direito, eis que somente serão atingidas pelo prazo prescricional

as prestações vencidas no quinquênio anterior ao ajuizamento da

demanda.

Aplica-se, portanto, ao caso em tela, a Súmula nº 85 do

Superior Tribunal de Justiça:

“Nas relações jurídicas de trato sucessivo, em que a fazenda pública figure como Devedora, quando não tiver sido negado o próprio direito reclamado, a prescrição atinge apenas as prestações vencidas antes do quinquênio anterior à propositura da ação.”

Neste sentido, o seguinte aresto daquela Corte de

Justiça: RECURSO ESPECIAL. SERVIDOR PÚBLICO. EQUIPARAÇÃO DE SERVIDORES COM FUNÇÃO IDÊNTICA. PRINCÍPIO DA ISONOMIA. ATO OMISSIVO DA ADMINISTRAÇÃO. PRESCRIÇÃO DO FUNDO DE DIREITO NÃO CONFIGURADA.SÚMULA 85/STJ. ALEGAÇÃO DE QUE O TRIBUNAL TERIA SE BASEADO EM PREMISSA FALSA. NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO APROFUNDADO DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE, A TEOR DA SÚMULA 7 DESTA CORTE.INOVAÇÃO RECURSAL EM SEDE DE AGRAVO REGIMENTAL. INVIABILIDADE. RECURSO DESPROVIDO. 1. As questões deduzidas somente em sede de Agravo Regimental são insuscetíveis de análise, por configurarem descabidas inovações recursais. 2. In casu, objetiva-se que a Administração Pública reconheça o direito dos recorridos ao reajuste vencimental concedido a outros Servidores por meio da decisão judicial proferida no autos de Reclamação Trabalhista. Por se tratar de ato omissivo da Administração, não há falar em prescrição do fundo de direito, mas tão somente das parcelas anteriores ao quinquênio que precedeu à propositura da ação, nos termos da Súmula 85/STJ. 3. A pretensão do recorrente de que seja reconhecido que a Corte Estadual pautou-se em premissa falsa, sob a alegação de que os recorridos supostamente não exercem a mesma função dos beneficiados na demanda trabalhista, mostra-se inviável em sede de Recurso Especial, tendo em vista a circunstância obstativa disposta na Súmula 7 desta Corte.

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DESEMBARGADORA REGINA LUCIA PASSOS

4. Recurso desprovido. (AgRg no REsp 1224083/CE, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 15/12/2011, DJe 10/02/2012) (grifos apostos)

Na nossa Corte Estadual:

0202410-59.2011.8.19.0001 - APELAÇÃO DES. MARCELO LIMA BUHATEM - Julgamento: 29/02/2012 - QUARTA CAMARA CIVEL

APELAÇÃO - OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C COBRANÇA REAJUSTE DE 24% AOS SERVIDORES DO PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - SENTENÇA QUE RECONHECEU A OCORRÊNCIA DE PRESCRIÇÃO DO FUNDO DE DIREITO - ERROR IN JUDICANDO - ENUNCIADO Nº 85 DA SÚMULA DA JURISPRUDÊNCIA PREDOMINANTE DO STJ PRESCRIÇÃO TÃO SOMENTE DAS PARCELAS - DIREITO RECONHECIDO COM PAGAMENTO PARCELADO RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO QUE SE AFASTA SENTENÇA QUE SE REFORMA.1. Trata-se de apelação contra sentença que _ em demanda na qual a parte Autora postula o o reajuste concedido pelo artigo 1º da lei 1.206/87, desde a data de sua posse no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, com o pagamento de todas as diferenças vencidas e vincendas decorrentes do referido aumento de 24%, respeitada a prescrição quinquenal _ julgou extinto o feito, com resolução do mérito, pelo reconhecimento da prescrição do fundo de direito, tomando por base o ano de 1987. 2. A relação jurídica deduzida em juízo tem natureza de obrigação de trato sucessivo, o que leva à inarredável conclusão de que o fundo de direito não foi alcançado, sendo atingidas apenas as prestações vencidas no quinquênio anterior ao ajuizamento da demanda, aplicando-se à hipótese o verbete 85 da Jurisprudência Predominante do Superior Tribunal de Justiça, ipsis litteris: Nas relações jurídicas de trato sucessivo em que a Fazenda Pública figure como devedora, quando não tiver sido negado o próprio direito reclamado, a prescrição atinge apenas as prestações vencidas antes do quinquenio anterior a propositura da ação.3. Ressalte-se que, como é notório, foi reconhecido aos servidores o direito ao reajuste de 24%, de forma parcelada. 4. Assim, impõe-se afastar o reconhecimento da prescrição, determinando-se, por conseguinte, o prosseguimento do feito, em seus ulteriores termos. DOU PROVIMENTO AO RECURSO NA FORMA DO ART. 557, § 1º-A DO CPC. (grifos nossos)

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DESEMBARGADORA REGINA LUCIA PASSOS

Quanto à alegação de ofensa à coisa julgada, também

não assiste razão ao apelante.

Com efeito, não pretende o autor a extensão dos

efeitos daquele julgado, proferido nos autos da ação originária,

sob o nº 0024210-36.1988.8.19.0001, o que de fato violaria a coisa

julgado, na medida em que a sentença não pode beneficiar nem

prejudicar terceiros, conforme dispõe o art. 472 do CPC.

Na verdade, sua pretensão consiste em ver reconhecido

seu direito ao reajuste, para que assim faça jus ao recebimento

das diferenças havidas nos cinco anos anteriores ao ajuizamento

da ação e para que o percentual, a ser implementado a partir de

então, se dê integralmente, ou seja, de uma única vez.

Assim, o pedido da presente ação não é a extensão dos

efeitos da aludida Sentença proferida anteriormente, mas, sim, a

condenação do réu a realizar o reajuste a que faz jus o autor,

como servidor da ativa, tendo como causa de pedir a

inconstitucionalidade, já reconhecida, do art.5º da Lei 1.206/87 e

o respeito ao Princípio da Isonomia.

Ora, embora a decisão administrativa da Presidência

deste Tribunal, que concedeu o reajuste de forma parcelada,

tenha tido como objetivo apaziguar os ânimos e prestigiar o

funcionalismo, que desempenha papel essencial para a célere

prestação jurisdicional deste Estado, teve o decisum, também, a

finalidade de promover a isonomia entre os servidores desta Casa,

ante o início da execução nos autos da ação originária, no patamar

de 24%. Lastreando-se, portanto, no reconhecimento do direito ao

reajuste na decisão proferida pelo Juízo da 3ª Vara de Fazenda

Pública.

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DESEMBARGADORA REGINA LUCIA PASSOS

Inquestionável, portanto, que houve reconhecimento

expresso e inequívoco, por parte do próprio Estado do Rio de

Janeiro, quanto ao direito reclamado pela categoria, valendo

observar que o reajuste de 24% foi concedido

administrativamente, inclusive para aqueles que ainda não

integravam o quadro à época do ajuizamento da ação, citando-se

como exemplo os novos servidores que ingressaram nos recentes

concursos e que já têm integrado aos seus vencimentos os

percentuais já concedidos.

Oportuno dizer que o Egrégio Órgão Especial desta

Corte Estadual vem entendendo pela inexistência de ofensa à

coisa julgada, quando do julgamento dos Mandados de Segurança

impetrados por servidores inativos, com a pretensão de

reconhecimento do direito líquido e certo ao aludido reajuste, que

somente contemplou, administrativamente, os servidores da ativa.

A propósito:

0010249-25.2011.8.19.0000 - MANDADO DE SEGURANCA DES. VALMIR DE OLIVEIRA SILVA - Julgamento: 28/11/2011 - ORGAO ESPECIAL

EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO E PREVIDENCIÁRIO - DIREITO INTERTEMPORAL - ATO DO EXMO. SR. PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO QUE ESTENDEU A TODOS OS SERVIDORES ATIVOS DO PODER JUDICIÁRIO O REAJUSTE DE 24% (VINTE E QUATRO POR CENTO) CONCEDIDO POR SENTENÇA AOS SERVIDORES ATIVOS E INATIVOS, AUTORES DO PROCESSO Nº 0024210-36.1988.8.19.0001, IMPLEMENTANDO-O EM QUATRO PARCELAS ANUAIS. AUSÊNCIA DE LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO COM RIOPREVIDÊNCIA. AUTARQUIA ESTADUAL QUE SOMENTE TEM A OBRIGAÇÃO DE EFETUAR O PAGAMENTO DOS PROVENTOS. ART. 1º, PARÁGRAFO ÚNICO DA LEI Nº 5.206/08. WRIT QUE SE CINGE À EXTENSÃO DO DIREITO AO REAJUSTE ESTABELECIDO NA LEI Nº 1.206/1987. INCLUSÃO NOS PROVENTOS QUE

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DESEMBARGADORA REGINA LUCIA PASSOS

CONSTITUI MERA PROJEÇÃO DO REFERIDO REAJUSTE. INCIDÊNCIA DA TEORIA DA ENCAMPAÇÃO. OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES - INOCORRÊNCIA DE COISA JULGADA. PERDA DO PODER AQUISITIVO DE FORMA GERAL. DIREITO AO REAJUSTE QUE DECORRE DA LEI Nº 1.206/87. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA ISONOMIA, ART. 37, X, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, E DO ART. 7º, PARTE FINAL, DA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 41/2003. Se na ocasião da vigência da lei nº 1.206/87 vigorava a paridade entre os servidores do serviço público, ativos e inativos, e se foi com base no aludido diploma normativo que os ativos reajustaram seus vencimentos, os inativos também deveriam ser beneficiados com o mesmo índice, pouco importando que o ato administrativo atacado tenha sido expedido no ano de 2010, porque o direito preexistia à Emenda Constitucional nº 41/2003, que, aliás, ficou garantido no art. 7º, sendo irrelevante a data da aposentação. Rejeição das preliminares. Concessão da ordem.

Dessa forma, a decisão acerca da concessão, ou não, do

reajuste aos demais servidores, de uma única vez, tal como aquele

percebido pelos que integraram o pólo ativo da demanda originária,

deve ser realizada à luz dos Princípios Constitucionais.

Considerando-se que um dos objetivos fundamentais da

nossa República Federativa é a redução das desigualdades sociais

(art. 3º, III) e que o direito à igualdade está previsto no Título

relativo aos Direitos e Garantias Fundamentais, conclui-se que a

concessão do reajuste em tela reflete, justamente, a consagração

da Isonomia perseguida pelo Legislador.

Isso porque, admitir-se que a esmagadora maioria da

classe dos servidores do Poder Judiciário perceba vencimentos

inferiores àqueles percebidos por uma minoria, só porque teriam

figurado nos autos da ação originária, seria permitir a violação do

Princípio da Isonomia.

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DESEMBARGADORA REGINA LUCIA PASSOS

Assim, para que não se dê a coexistência de servidores

exercendo a mesma função, mas percebendo remunerações

distintas, é que houve por bem a Presidência desta Casa em

conceder o reajuste dos 24%, através de decisão administrativa.

Poderia se questionar o porquê de não ter Sua Exa.,

Desembargador Luiz Zveiter, à época Presidente deste Tribunal

de Justiça, concedido de plano o reajuste de forma integral. Ora,

em que pese a bravura e licitude de sua decisão, ela foi tomada

nos autos de procedimento administrativo, não estando ele

figurando como Julgador, diante de um caso concreto, apreciando

direito entre as partes e sim como gestor. Sem se falar, também,

nos limites impostos pela Lei de Responsabilidade Fiscal ao Exmo.

Governador de Estado, que é quem determina o pagamento.

Foi de se louvar a iniciativa de Suas Exas. que, naquele

momento histórico envidaram esforços para a solução do impasse.

Ocorre que, o reajuste dos 24%, tal como concedido,

de forma parcelada, vem até inibindo o percentual de reajuste

anual percebido pelos servidores do Poder Judiciário deste

Estado. Isso porque nota-se que a categoria não vem percebendo

percentual de reajuste no mesmo patamar de outros servidores

estaduais, pois o Governo do estado acaba por levar em

consideração que “no início do ano os servidores do judiciário já

percebem um pequeno reajuste”, diante da implementação

parcelada pela Administração. Contudo, essas pequena parcela não

tem nada a ver com o reajuste anual!

Cite-se como exemplo que os servidores do TCE e da

ALERJ tiveram aprovado, na semana passada, na data de

27.06.2012, o projeto de Lei 1662/2012, que previu o reajuste de

seus vencimentos no percentual de 6%, enquanto que os servidores

do Poder Judiciário somente lograram êxito em alcançar 4%, que,

inclusive, é abaixo do índice inflacionário do ano de 2011.

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DESEMBARGADORA REGINA LUCIA PASSOS

Ora, embora seja louvável a decisão administrativa

proferida pela Presidência desta Corte de Justiça, permanece a

afronta à Isonomia, sendo certo que os servidores do Judiciário,

que já receberam tratamento arbitrário e diferenciando com a Lei

nº 1.206/87, continuam sendo tratados desigualmente, muito

embora estejam em situação igual aos demais, pois todos são

servidores do Estado do Rio de Janeiro.

Conclui-se, assim, que a concessão do reajuste dos 24%

de forma integral, de uma única vez, tal como se deu com aqueles

que manejaram a ação originária, é a melhor solução para se fazer

valer, não só o Princípio da Isonomia, mas, também, a Dignidade da

Pessoa Humana. Princípio Fundamental norteador do nosso

ordenamento jurídico, posto que a devida remuneração pelo

trabalho realizado tem implicância direta na personalidade do

indivíduo.

Desta forma, valiosa a lição do mestre Canotilho in

Direito Constitucional, J.J. Gomes Canotilho, 6ª Ed., Editora

Livraria Almedina, Coimbra, 1993: “Ser igual perante a lei não significa apenas aplicação igual da lei. A lei, ela própria, deve tratar por igual todos os cidadãos. O princípio da igualdade dirige-se ao próprio legislador, vinculando-o à criação de um direito igual para todos os cidadãos. (...) O princípio da igualdade é aqui um postulado de racionalidade prática: para todos os indivíduos com as mesmas características devem prever-se, através da lei, iguais situações ou resultados jurídicos. (...) Por outras palavras: o princípio da igualdade é violado quando a desigualdade de tratamento surge como arbitrária.”

Sobre o significado da Isonomia, oportuno buscar o

dizer de Marcus Cláudio Acquviva in Dicionário Jurídico Brasileiro

Aquaviva, 11ª Ed., São Paulo, Editora Jurídica Brasileira,2000:

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AC nº 0029542-75.2011.8.19.0001 (A)

DESEMBARGADORA REGINA LUCIA PASSOS

“Do grego = isos = igual + normos = norma. Princípio da igualdade de todos perante a lei. Igualmente jurídica, portanto, porque, naturalmente, os homens são desiguais. Assim, o princípio da isonomia ou igualdade não afirma que todos os homens são iguais no intelecto, na capacidade de trabalho ou na condição econômica. O que ele quer, realmente, expressar é a igualdade de tratamento perante a lei, devendo o aplicador desta levar em consideração o pensamento de Aristóteles de que méritos iguais devem ser tratados igualmente, mas situações desiguais devem ser tratadas desigualmente.”

Ainda, sobre a violação ao princípio da isonomia, merece

destaque o seguinte trecho de O Controle de Constitucionalidade

no Direito Brasileiro, de Luis Roberto Barroso, 6ª Ed., São Paulo,

Editora Saraiva, 2012:

“Por outro lado, a omissão será relativa quando um ato normativo outorgar a alguma categoria de pessoas determinado benefício, com exclusão de outra ou outras categorias que deveriam ter sido contemplada, em violação ao princípio da isonomia. Exemplo típico é a concessão de reajuste a servidores militares, sem estendê-los aos civis, ao tempo que a Constituição impunha o tratamento paritário.”

Portanto, observa-se que arbitrária a desigualdade de

tratamento dado pela Lei 1.206/87 aos servidores estaduais, ao

excluir toda uma categoria do aludido reajuste.

Ademais, se a conduta da Administração Pública só

pode ser considerada válida se pautada nos princípios expressos

no art. 37 da CFRB, quais sejam, legalidade, impessoalidade,

moralidade, publicidade e eficiência, não se pode admitir que seus

servidores percebam vencimentos em franca desigualdade.

E além da observância do Princípio da Legalidade, que é

um dos pilares do Direito Administrativo, deve a conduta da

Administração Pública ser pautada, não apenas em uma regra

específica, mas no ordenamento jurídico como um todo. Dá-se,

portanto, a incidência do Princípio da Juridicidade.

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DESEMBARGADORA REGINA LUCIA PASSOS

Sobre o princípio da juridicidade, nos leciona Alexandre

Santos Aragão in Curso de Direto Administrativo, Ed. Editora

Forense, pág. 57/58:

“Princípio que vem se afirmando na doutrina e na jurisprudência mais modernas como nova acepção (não uma superação) do principio da legalidade, a juridicidade costuma ser referida como a submissão dos atos estatais a um padrão amplo e englobante de legalidade, cujos critérios não seriam apenas a lei estrita, mas, também, os princípios gerais do Direito e, sobretudo, os princípios, objetivos e valores constitucionais. É a visão de que a Administração Pública não deve obediência apenas à lei, mas ao Direito como um todo. Trata-se, na verdade, de uma expressão ampliada do principio da legalidade, consequência de uma visão neoconstitucionalista do Direito, onde os princípios jurídicos, as finalidades públicas e os valores e direitos fundamentais constituem, juntamente com as regras constitucionais e legais o “bloco da legalidade” que, ao mesmo tempo, legitima e impõe limites à ação administração. “

Ora, justamente pelo fato da conduta do Administrador

ter de estar pautada no Direito como um todo é que houve por

bem a Presidência desta Casa em conceder o reajuste aos demais

servidores, para assim respeitar, não só os princípios norteadores

do Direito Administrativo, mas, também, os postulados máximos

de nossa Constituição.

Oportuno transcrever os seguintes trechos da R.

Decisão administrativa, eis que em consonância com o raciocínio

ora traçado:

“Não pode o Poder Judiciário abrigar, dentro da própria instituição, a iniquidade e a omissão, quando, por essência e origem, é seu, e somente seu, o papel de guardião da justiça e mediador das diferenças. Assim, a restrição do reajuste às partes integrantes da ação, embora pudesse encontrar abrigo na interpretação literal e legalista das normas, não estaria consoante aos princípios maiores da Carta Magnas, dentre os quais se destacam, a isonomia, a impessoalidade e a eficácia administrativa. (...)

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Parece-me, portanto, inconcebível que este Poder Judiciário possa sobreviver incólume a tal espécie de iniquidade, sujeitando servidores que foram submetidos ao mesmo e rigoroso processo seletivo, e detentores das mesmas e severas atribuições, a vencimentos distintos. O art. 39 da CFRB evidencia que a fixação dos padrões de vencimento e dos demais componentes do sistema remuneratório dos servidores encontra-se unicamente vinculado à natureza, ao grau, à complexidade e às peculiaridades dois cargos e, nunca, das pessoas que o ocupam.”

Isto posto, impossível fazer qualquer interpretação

diversa, eis que o Direito do autor, tal como os dos demais

servidores, já se encontra reconhecido, diante do cotejo da

inconstitucionalidade do art.5º da Lei 1.206/87 e o Princípio da

Isonomia.

Também não pode prosperar a tese de que a

procedência do pedido implicaria em autuação do Poder Judiciário

como Legislador Positivo.

De fato, dispõe o verbete Sumular nº 39, do STF, que

“Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob fundamento de isonomia”.

Contudo, olvidou o apelante o fato de que aqui não se

trata de aumento de vencimentos, mas, sim, de reajuste, conclusão

a que se chega pela simples leitura da Lei nº 1.206/87, cujo texto

inicial assim disciplinava: ”Dispõe sobre o reajuste de vencimentos e proventos do funcionalismo estadual e dá outras providências.”

Aliás, não se concluiria de outra forma ante o

contexto histórico exposto inicialmente, na medida em que tal Lei

teve como objetivo a recomposição das perdas salariais havidas

em razão da inflação que atingia o país.

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Sobre o conceito de “reajuste” cabe destacar o

seguinte trecho do voto proferido pelo Desembargador Doroeste

Baptista, nos autos do aludido Mandado de Segurança nº 583/87,

que reconheceu a inconstitucionalidade do art. 5º da Lei nº

1.206/87:

O reajuste, ao contrário, é fruto de causa externa. Decorre da variação (para menos) do poder aquisitivo da moeda. É consequência necessária do estado da economia do País. Sua finalidade é de apenas repor a perda do poder aquisitivo do vencimento ou dos proventos. Por sua natureza, senão pela ratio que o explica, o reajuste será obrigatoriamente geral e uniforme. Geral porque a sua causa a todos lesiona; uniforme, porque a lesão, a perda salarial (lato sensu), em igual medida, a todos atinge. (...)”.

Assim, a presente Sentença, que ora se confirma, não

está concedendo aumento salarial ao autor, como alega o apelante.

Por certo que o objetivo da Corte Suprema, com a

edição da súmula, foi impedir que categorias distintas pleiteassem

equiparação salarial com membros de outras categorias que

seriam, alegadamente, similares.

Isso porque existem categorias que embora

equivalentes, tais como Policiais Civis e Agentes da Polícia Federal,

não são iguais, eis que ligadas a órgãos diferentes, pelo que não se

admite que o Judiciário realize a equiparação salarial entre elas

sob o fundamento da isonomia.

Este, então, foi o objetivo daquele verbete sumular e,

jamais, o de “engessar” o Poder Judiciário, impedindo que, através

de suas decisões, consagre o princípio da máxima efetividade das

normas constitucionais.

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Caminho este inclusive já perfilhado por esta Corte de

Justiça, nos autos do Agravo de Instrumento nº 0036980-

58.2011.8.19.0000, da Relatoria do Eminente Des. Ademir Paulo

Pimentel, no qual a Egrégia Décima Terceira Câmara Cível, por

unanimidade, concedeu a antecipação de tutela em caso análogo ao

presente, para que os autores daquela ação passassem a receber,

desde logo, o reajuste devido. Transcreve-se o seguinte trecho,

diante de sua adequação ao tema:

“Entretanto, imaginar que ao editar a referida súmula o

venerável Supremo Tribunal Federal estava a dizer que o Poder Judiciário não pode ser provocado – e “pôr o trem nos devidos trilhos” - quando um grupo de servidores públicos vem recebendo tratamento diferenciado em relação a outros é, com o devido respeito, duvidar da inteligência dos membros da Suprema Corte. Ora, obviamente, servidores – seja qual for seu cargo ou função – que se submeteram à mesma forma de concurso público, atuam no mesmo órgão e realizam as mesmas funções devem receber, salvo características individuais, o mesmo tratamento. Qualquer interpretação diversa é inconstitucional, ilegal e injusta, expressões que se consignam com o mais profundo respeito à douta representação do Estado. Se não fosse assim estaríamos chancelando violações a direitos legítimos e, mais, ainda, encapsulando-os no sombrio vale da ilegalidade e da injustiça! Em recurso anterior formulamos a hipótese de em pequena cidade determinado prefeito, pouco afeito aos princípios republicanos e democráticos, resolva conceder aumento ao funcionalismo municipal excluindo, propositalmente, aqueles servidores que não são filiados ao seu partido político. A quem os servidores discriminados poderiam pedir socorro, senão ao Poder Judiciário? Se num caso como esse o Poder Judiciário não pudesse “pôr a casa em ordem”, questiona-se: a quem os servidores lesados poderiam pleitear a solução dessa ilegalidade? Ingressar com recurso administrativo dirigido àquele mandatário destituído de espírito democrata e republicano? Será que eles teriam alguma possibilidade de êxito?

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O julgamento da Câmara não aumenta vencimentos. Não estende vantagens. Apenas concede direitos reconhecidos em sentença transitada em julgado.” (grifos nossos)

(0036980-58.2011.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO DES. ADEMIR PIMENTEL - Julgamento: 29/02/2012 - DECIMA TERCEIRA CAMARA CIVEL)

Nesse sentido também:

0286707-96.2011.8.19.0001 - APELACAO DES. REINALDO P. ALBERTO FILHO - Julgamento: 13/06/2012 - QUARTA CAMARA CIVEL

E M E N T A: Agravo Inominado previsto no art. 557 do C.P.C. Apelação Provida por R. Decisão Monocrática do Relator. Revisão de Vencimentos c. c. Cobrança. Servidor Público Estadual. Diferenças salariais decorrentes da conversão de cruzeiros reais para Unidade Referencial de Valor. (URV). Pedido julgado improcedente.I - Funcionário inativo. O Estado responde solidariamente pelas obrigações assumidas pelo Rioprevidência. Inteligências dos artigos 1º § 3º da Lei n.º 3.189/99, bem como 264 e 275 do Código Civil. Ilegitimidade passiva não caracterizada.II Relação jurídica em lide de trato sucessivo. Prescrição alcança somente as prestações vencidas antes do quinquênio anterior à propositura. Exegese do Verbete Sumular n.º 85 do STJ. III - Lei Federal n.º 8.880/94 regulamentando o soldo e vencimentos dos Servidores Públicos Civis e Militares alcança também os Funcionários Públicos Estaduais e Municipais.IV - Hipótese dos autos que não se trata de reajuste salarial, mas apenas de sua recomposição, diante das perdas experimentadas em razão da conversão em URV.V - Caso em tela que não se cuida de o Judiciário aumentar salário de servidor público, sem lei que o justifique, mas sim de determinar mero cumprimento de lei federal, o que está dentro de sua competência. Violação ao princípio constitucional da separação dos poderes que não se vislumbra.VI - Precedentes do STJ e deste Colendo Sodalício, sobre a matéria recursal, como transcritos na fundamentação. R. Sentença reformada para julgar procedente o pleito exordial, com a condenação do Réu nos ônus sucumbenciais.VII - Preliminares Rejeitadas e manifesta Procedência do Recurso que autoriza a aplicação do § 1°-A do art. 557 do C.P.C. Negado Provimento. (grifos nossos)

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0052729-18.2011.8.19.0000 - MANDADO DE SEGURANCA DES. NILZA BITAR - Julgamento: 16/04/2012 - ORGAO ESPECIAL

EMENTA - Mandado de Segurança. Ato do Exmo. Sr. Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro que estendeu a todos os servidores ativos do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro o reajuste de 24% (vinte e quatro por cento) concedido por sentença aos servidores-autores do processo nº 0024210-36.1988.8.19.0001, com implementação em quatro parcelas anuais, excluindo, no entanto, os inativos. Ausência de litisconsórcio necessário. Autarquia estadual que somente tem a obrigação de efetuar o pagamento dos proventos. Art. 1º, parágrafo único, da Lei nº 5.206/08. Matéria que se limita à extensão do direito ao reajuste estabelecido na Lei nº 1.206/1987. Inclusão nos proventos que constitui mera projeção do referido reajuste. Coisa julgada que não se verifica. Não extensão aos atualmente inativos do reajuste. Perda do poder aquisitivo de forma geral. Alegações de violações de artigos da Lei de Responsabilidade Fiscal que trazem a impossibilidade da submissão do Direito à Economia. Violação, à época, de Direito Constitucional de modo proposital pelo então Governador, já que excluiu todo o Poder Judiciário de uma lei genérica de recomposição inflacionária. Direito à implementação da recomposição que não pode ser atenuado sob argumento econômico, pena de afronta ao próprio Estado Democrático de Direito. Direito ao reajuste que decorre da Lei nº 1.206/87. Violação ao princípio da isonomia. Art. 37, X, da Constituição Federal. Não há que se falar em aumento, e sim em recomposição de perdas inflacionárias, a qual foi negada unicamente aos servidores do Poder Judiciário, de maneira já considerada inconstitucional, sendo certo que o vencimento-base de toda uma categoria, não fosse a lei inconstitucionalmente excludente, seria outro por direito, assim como é hoje o vencimento de todas as outras categorias que foram agraciadas com o reajuste de uma época inflacionária. Precedentes deste e. Órgão Especial (proc. n. 0022677-39.2011.8.19.0000 e 0009669-92.2011.8.19.0000). Extensão a inativos que já vem sendo dada, de modo administrativo, pela Presidência do Tribunal. Rejeição das preliminares. No mérito, perda superveniente de objeto no mandamus diante da ausência de interesse-necessidade.

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Outrossim, quanto à isonomia e paridade de benefícios,

importa destacar que os seguintes julgados, sobre a possibilidade

de extensão aos servidores militares do reajuste de 28,86%,

determinado pelas Leis 8.622/93 e 8.627/93, concedido a

servidores civis federais: AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO E PROCESSO CIVIL. OFENSA AOS ARTIGOS 475 E 535 DO CPC. FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. SÚMULA 284/STF. REAJUSTE DE 28,86%. LEIS 8.622/93 E 8.627/93. EXTENSÃO AOS MILITARES. PRESCRIÇÃO. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 282/STF. CORREÇÃO MONETÁRIA. TERMO INICIAL. SUCUMBÊNCIA MÍNIMA. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO COMPROVADO. 1. Incide a Súmula 284/STF quando a parte alega violação dos artigos 475 e 535, II, CPC, mas não esclarece quais omissões, obscuridades ou contradições teriam ocorrido no aresto impugnado. 2. O recurso especial não é conhecido pela alínea "a" do permissivo constitucional na hipótese de ausência de prequestionamento do dispositivo legal apontado como malferido nas razões do recurso especial. Aplicação, por analogia, da Súmula 282/STF. 3. A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça firmou-se no sentido de que o egrégio Supremo Tribunal Federal reconheceu que os reajustes decorrentes das Leis n.ºs 8.622/93 e 8.627/93 importaram em revisão geral de remuneração, assegurando aos servidores públicos civis a percepção do índice de 28,86%. Esse entendimento restou expresso no Recurso Especial Representativo da Controvérsia 990.284/RS, de modo que a negativa desse direito aos militares beneficiados com reajustes abaixo daquele percentual implicaria em desrespeito ao princípio da isonomia. 4. A correção monetária deve incidir a partir da data em que deveria ter sido efetuado o pagamento de cada parcela. Incidência da Súmula 43/STJ. 5. Não prospera a alegada ofensa ao artigo 21 do Código de Processo Civil, tendo em vista que no caso ocorreu a sucumbência mínima da parte autora. 6. A simples transcrição de ementas sem o necessário confronto explanatório entre a decisão atacada e os acórdãos tidos por paradigmas inviabiliza o conhecimento da matéria com amparo na alínea "c" do permissivo constitucional. 7. Agravo regimental improvido.

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(AgRg no REsp 947.368/RS, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 02/09/2010, DJe 27/09/2010) AÇÃO RESCISÓRIA. ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL. REAJUSTE DE 28,86%. ISONOMIA COM OS MILITARES. LEIS NºS 8.622/93 E 8.627/93. 1. Nos termos do art. 485 do CPC, a esta Corte, compete processar e julgar esta ação rescisória, porquanto o mérito da ação ordinária que concedeu aos Réus o reajuste de 28,86% foi decidido, em última instância, pelo STJ. 2. "O Superior Tribunal de Justiça é competente para julgar ação rescisória contra acórdão de Tribunal originário, quando o Ministro Relator do agravo de instrumento ao desprovê-lo adentra no mérito da questão federal controvertida. Aplicação analógica da Súmula 249-STF. Precedentes". (AR nºs 438-RJ e 627-RJ e EIAR nº 354-BA). 3. A controvérsia diz respeito à extensão do índice de 28,86% aos servidores civis, que o STF entendeu ser devido, à luz do disposto no art. 37, inciso X, CR/88, razão pela qual se amolda à hipótese de afastamento do comando sumular. Nas hipóteses em que a quaestio envolve violação aos artigos da Constituição da República, não se aplica a Súmula nº 343 do STF, sendo cabível a ação rescisória. 4. Todos e quaisquer servidores públicos federais, incluindo os que ingressaram no serviço público, após as Leis nºs 8.622/93 e 8.627/93, são titulares do reajuste aduzido, conforme jurisprudência pacificada desta Corte e do STF 5. Não há que se falar em violação à literal disposição de lei, pelo acórdão rescindendo. Ação rescisória julgada improcedente. (AR 3.182/MG, Rel. Ministro PAULO MEDINA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 14/03/2007, DJ 30/04/2007, p. 279) EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ADMINISTRATIVO. GRATIFICAÇÃO PROVISÓRIA. MEDIDA PROVISÓRIA N. 1.587/97, CONVERTIDA NA LEI N. 9.651/98. EXTENSÃO AOS INATIVOS. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO. Não diverge da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal o acórdão do Tribunal a quo que estende gratificação a servidores inativos quando reconhecida a sua natureza de reajuste salarial. (RE-AgR 546981, CÁRMEN LÚCIA, STF) EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DISTRITO FEDERAL. SERVIDORES MILITARES. REAJUSTE DE 28,86%. EXTENSÃO. 1. Os servidores militares do Distrito Federal fazem jus ao reajuste

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de 28,86% concedido pelas Leis ns. 8.662/93 e 8.627/93 aos servidores do Ministério da Previdência Social e estendido a todos os servidores civis por este Tribunal. Este reajuste deve ser compensado com os acréscimos decorrentes do reposicionamento concedido pela Lei n. 8.627/93 a determinadas categorias. Precedentes. 2. A Polícia Militar do Distrito Federal é organizada e mantida pela União, a quem compete, privativamente, legislar sobres sua estrutura administrativa, o regime jurídico e a remuneração de seus servidores. Precedentes. 3. Os vencimentos dos servidores militares são regulados por lei federal, em razão do disposto no artigo 21, XIV, da Constituição do Brasil. Precedentes. Agravo regimental a que se nega provimento. (RE-AgR 549031, EROS GRAU, STF)

Oportuno destacar que o argumento de “impossibilidade

de cumprimento em razão da lei de responsabilidade fiscal” não

pode representar óbice ao reconhecimento do direito posto em

tela, cabendo conferir o seguinte julgado do Tribunal Regional

Federal da 2ª Região:

“DIREITO ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. AUXÍLIO ALIMENTAÇÃO. PAGAMENTO DE ATRASADOS. RECONHECIMENTO PELA ADMINISTRAÇÃO. DIREITO AO RECEBIMENTO. 1. Remessa necessária e apelação cível interposta pela UNIÃO FEDERAL, contra sentença originária do Juízo da 6ª Vara Federal da Seção Judiciária do Rio de Janeiro, que julgou procedente o pedido dos autores. Estes, servidores públicos da extinta Fundação Roquette Pinto, pretendiam garantir o recebimento dos valores atrasados do vale refeição, relativos ao período de fevereiro de 1990 a abril de 1993. 2. O direito dos autores ao recebimento do auxílio alimentação é pacífico, tanto que reconhecido administrativamente, não sendo contestado pela União em seu recurso. Tal direito encontrava-se garantido, primeiramente, através de acordo coletivo. A partir do momento em que os autores ingressaram no Regime Jurídico Único, foi garantido pela Lei 8.460/92. 3. O argumento da União de que os valores atrasados não poderiam ser pagos por falta de previsão orçamentária é completamente descabido. Se assim fosse, qualquer arbitrariedade da Administração estaria automaticamente chancelada em prol deste princípio. Por outro lado, a execução dos valores devidos nos presentes autos seguirá os trâmites

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legais, inclusive com a expedição de precatório, na forma do art. 100 da CF. 4. Igualmente descabida a redução da condenação em honorários advocatícios. Veja-se que a condenação foi de 10% sobre o valor da causa, ou seja, R$ 250,00, que deverão ser atualizados. Não há que se falar, portanto, em "patamar tão alto", como pretende a União. Provavelmente a mesma não atentou para o fato de que os honorários foram fixados sobre o valor da causa e não sobre o valor da condenação. 00336980-58.2011.8.19.0000 65. 5. Diante da remessa necessária, a sentença foi reformada tão somente para constar que os juros de mora serão devidos a partir da citação, nos termos do caput do art. 219 do CPC. Ressalvado ainda que deverão ser compensadas quaisquer parcelas já recebidas sob o mesmo fundamento. 6. Remessa necessária parcialmente provida e apelação da União Federal improvida.” (Sexta Turma Especializada, Apelação 199751010742228 RJ, Relatora: Juíza Federal convocada CARMEN SILVIA DE ARRUDA TORRES, 27/07/2009, DJU de 05/08/2009)

E, antes mesmo da decisão administrativa proferida

pela Presidência desta Corte, a 17ª Câmara Cível deste Tribunal de

Justiça, ao julgar ação de cobrança movida por serventuários,

onde buscavam o mesmo reajuste que ora se discute, entendeu

pela manutenção da sentença de procedência.

A propósito:

0000331-64.2006.8.19.0002 (Apelação/Reeexame Necessário) Des. Luisa Bottrel Souza – Julgamento: 16/09/2009 – DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL SERVIDOR PÚBLICO. AÇÃO DE COBRANÇA. PRETENSÃO DE HAVER DIFERENÇAS DO REAJUSTE GERAL DE VENCIMENTOS CONCEDIDO PELA LEI 1.206/87, APENAS AOS SERVIDORES DOS PODERES EXECUTIVO E LEGISLATIVO. CONDENAÇÃO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO A PAGAR À AUTORA DIFERENÇAS RETROATIVAS À DATA DA CONCESSÃO DO REAJUSTE, OBSERVADA A PRESCRIÇÃO QUINQUENAL. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA ISONOMIA. EXTENSÃO DO AUMENTO AOS SERVIDORES DO PODER JUDICIÁRIO. INCONSTITUCIONALIDADE DA LEI RECONHECIDA, DE FORMA INCIDENTAL, PELO EGRÉGIO ÓRGÃO ESPECIAL DESTE TJERJ. RECURSO DESPROVIDO.

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Com efeito, a questão orçamentária a que está o Estado

vinculado exige de seu administrador a previsão e organização

prévias. Razão pela qual, assiste razão, em parte, ao ora apelante,

quando invoca o chamado “efeito multiplicador” como um risco à

economia pública.

Aliás, foi por esta razão que Sua Exa., o Presidente da

Excelsa Corte, Ministro César Peluso, suspendeu efeitos liminares

de decisões que anteciparam tutelas nesse sentido, como ex. do

A.I nº 0058219-21.2011.8.19.0000, eis que, verificado, à época

(janeiro de 2012), “risco de grave lesão à economia pública”.

De fato, se o Estado se organiza anualmente e não está

devidamente prevista a despesa orçamentária de porte, ainda que

de cunho prioritário, tem razão em procurar seus recursos.

No entanto, não é esse o caso dos autos.

A demanda foi avaliada em seu mérito e a luz dos

Ditames Legais e Processuais, impondo solução adequada ao caso

concreto.

Em síntese, o pagamento de “uma única vez” do reajuste

a que faz juz o demandante (que não comporta mais discussão ante

a decisão administrativa do Presidente da Corte que estendeu o

reajuste à categoria) refere-se, a bem da verdade, ao restante do

percentual já pago em janeiro de 2011 e janeiro de 2012. OU

SEJA, RESTA AO ESTADO DO RIO DE JANEIRO PAGAR-

LHE, TÃO-SOMENTE, O PERCENTUAL DE 11,04% (somatório

dos 5,53% e 5,51% relativos ao parcelamento previstos para

os próximos meses de janeiro de 2013 e 2014).

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Logo, a antecipação almejada, e de Direito, corresponde

a menos da metade do reajuste já pago a diversos servidores, eis

que esses aguardaram por 22 anos a conclusão da demanda que

promoveram.

Desse modo, como as decisões judiciais servem à

pacificação social e, sobretudo, ‘deve dar-se a cada um o que é

seu’, de forma pragmática e razoável, considerando que o Juiz a quo não fixou o prazo para o implemento da obrigação, melhor será

que o pagamento da diferença merecida aconteça no próximo mês

de janeiro de 2013, quando perceberá, integralmente, o valor

correspondente aos 11,04% restantes. De vez que o Estado

pagador terá tempo suficiente de empreender os recursos

necessários. Como, aliás, restou previsto no Orçamento

Consolidado de 2012, de forma prioritária, “pagamento aos serventuários da justiça decorrentes de decisão judicial proferida em função das perdas salariais.”

E quanto ao prazo prescricional da pretensão do

pagamento das parcelas pretéritas, convém ressaltar que a R.

Sentença já o fixou da forma postulada pelo apelante, ou seja,

somente serão devidas aquelas vencidas até 5 (cinco) anos antes

do ajuizamento da ação.

Outrossim, desnecessário tecer maiores comentários

sobre o pedido do apelante quanto à forma de incidência de juros

de mora e correção monetária, posto que o Juízo a quo também os

fixou de forma acertada, devendo ser aplicado o art. 1º-“F” da Lei

nº 9.494/97, com a redação trazida pela Lei nº 11.960/09, ou seja,

“(...) haverá a incidência uma única vez, até o efetivo pagamento, dos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança.”

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Por último, deve ser acolhida a irresignação do apelante

no que diz respeito à fixação dos honorários advocatícios, no

patamar de 10% valor da condenação.

E isso porque, de acordo com o artigo 20, § 4º do

Código de Processo Civil, “nas causas de pequeno valor, nas de valor

inestimável, naquelas em que não houver condenação ou for vencida a Fazenda Pública, e nas execuções embargadas ou não, os honorários serão fixados consoante apreciação eqüitativa do juiz, atendidas as normas das alíneas "a", "b" e "c" do parágrafo anterior”.

Nesse contexto, considerando-se o zelo profissional e

as circunstâncias do caso concreto, tem-se como razoável o valor

de R$6.000,00, estando em conformidade com os princípios da

proporcionalidade e da razoabilidade.

Por tais razões e fundamentos, DÁ-SE PARCIAL

PROVIMENTO AO RECURSO, tão somente, para refixar os

honorários sucumbenciais no valor de R$ 6.000,00 (seis mil

reais) e, de acordo com o Douto parecer do Ministério Público de

primeiro grau (fls.184/186), declarar que a liquidação dos

valores pretéritos deverá ocorrer em fase própria, bem como

fixar o prazo para o implemento da obrigação e pagamento do

restante do percentual de reajuste (11,04%) para janeiro de

2013.

Rio de Janeiro, 03 de julho de 2012.

DESEMBARGADORA REGINA LUCIA PASSOS

RELATORA

Certificado por DES. REGINA LUCIA PASSOSA cópia impressa deste documento poderá ser conferida com o original eletrônico no endereço www.tjrj.jus.br.Data: 04/07/2012 12:56:38 Local: Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Processo: 0029542-75.2011.8.19.0001 - Tot. Pag.: 25