1º Cap - Jornal Nacional e Alfabetização_nada a Ver - Juvenal

  • Upload
    mvnbr

  • View
    212

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/23/2019 1 Cap - Jornal Nacional e Alfabetizao_nada a Ver - Juvenal

    1/11

    7

    Jornal Nacional e alfabetizao: nada a ver?

    Juvenal Zanchetta Jnior

    UNESP FCL Assis

    RESUMO: O texto procura inicialmente observar situaes comuns na fala dos

    adultos com as crianas. A partir da, problematiza-se o papel da escola no tratamento

    da linguagem verbal. Entre as sugestes acerca do trabalho em sala de aula, prope-se

    a ateno ao registro praticado na imprensa, como referncia para o tratamento

    sistemtico da linguagem verbal desde a Educao Infantil. Toma-se, como exemplo,

    o vocabulrio utilizado pelo Jornal Nacional.

    PALAVRAS-CHAVE: Linguagem oral. Linguagem escrita. Vocabulrio. Ensino.

    Educao Infantil.

    Introduo

    Prticas bastante comuns na relao do adulto com a criana quanto ao uso da

    linguagem so as seguintes (entre outras):

    a) Infantilizao: fala-se de maneira truncada, tentando imitar um suposto

    modo de falar das crianas pequenas.

    b)

    Diminutivos: insiste-se em falar com as crianas colocando as palavras

    no diminutivo, at mesmo como forma de equiparar os objetos ao tamanho

    das crianas (que coisinha bonitinha...).

    c)

    Frases truncadas: uso, por parte do adulto, de frases completadas por

    gestos.

    d)

    Monosslabos: o adulto, no dilogo com crianas, utiliza, como

    resposta s indagaes ou s consideraes do interlocutor, expresses que

    apenas concordam ou discordam, em tom quase sentencioso.

    e)

    Uso excessivo de expresses da linguagem popular(a linguagem da

    feira e das ruas, como ruim, heim!, Sem chance!).

    f) Economia: uso de frases em que prevalece a economia de recursos para

    o sentido final, como em Ns foi l... (a concordncia, na linguagem oral,

    desnecessria, pois o pronome, por si mesmo, indica quem so os agentes).

  • 7/23/2019 1 Cap - Jornal Nacional e Alfabetizao_nada a Ver - Juvenal

    2/11

    8

    Por um lado, essas aes expressam afetividade e proximidade com as

    crianas, ajudando a torn-las confiantes em relao ao uso da linguagem verbal. Essas

    prticas tambm refletem a plasticidade e a componente ldica da linguagem verbal.

    Mas, por outro lado, e, principalmente em se tratando do cenrio escolar, tais

    exerccios precisam ser circunstanciados, porque tais expedientes tambm dificultam ocontato da criana com registros de maior prestgio social e daqueles mais prximos

    da linguagem escrita. No significa, em hiptese alguma, que se deva corrigir a

    criana ou ento que se deva falar a ela com linguagem tcnica ou protocolar. O

    processo que leva ao cdigo verbal, anteriormente ou mesmo na escola, passa por

    estgios vrios. Respeitar e valorizar o exerccio dialgico da criana fundamental

    como princpio para o domnio dos cdigos verbais, orais ou escritos. Segundo

    Marcuschi:

    [...] alm de respeitar a fala, bom fazer ver que existem muitas formas defalar, seja do ponto de vista da variedade dialetal, da variedade socioletal ouento variedade de registros, sem deixar de lado a questo dos usoscontextualmente variados, tal como a variao de gneros textuais e de estilosque vo do mais informal nas conversas espontneas com amigos em horasde descontrao ou no dia a dia em geral, at o mais formal como... em [uma]situao cerimoniosa. A fala varia de acordo com os contextos de uso e assituaes, os falantes, os objetivos, as relaes interpessoais etc. Tambmvaria de acordo com as profisses e as classes sociais. Postular auniformidade lingustica no desempenho oral ignorar fato bvio a qualquerobservador atento, mesmo que no seja um cientista da linguagem. No hcomo evitar a variao, seja dentro ou fora da sala de aula. (1998, p.145).

    Nossa inteno no a defesa da escrita alfabtica desde a Educao Infantil, e

    tambm no se preconiza o uso indiscriminado de gneros discursivos prprios da

    linguagem escrita com crianas em fase de alfabetizao. A proposta , to somente,

    melhorar as formas de integrao entre a lngua escrita e a lngua falada, ainda que a

    prtica da linguagem escrita esteja mais adiante, na formao do aluno. E como fazer

    essa aproximao?

    Uma das alternativas e que mostra a complexidade da questo est

    justamente na literatura de fico e na poesia. Entre os textos de maior requinte esttico,

    a aparente simplicidade da linguagem torna-os acessveis aos adultos e s crianas. Nas

    pginas seguintes, oferecemos alternativa de aproximao da criana com o universo de

    gneros mais prximos da escrita, amparada nas relaes cotidianas.

  • 7/23/2019 1 Cap - Jornal Nacional e Alfabetizao_nada a Ver - Juvenal

    3/11

    9

    Trata-se de aproximar o Jornal Nacional (JN), conhecido informativo de

    televiso, do processo de uso sistemtico da linguagem verbal, dentro da escola,

    procurando sustentar a pertinncia de se iniciar a formao dos jovens leitores, tomando

    como parmetro suportes textuais de maior prestgio. Para chegarmos a essa proposio,

    preciso, antes, revisitar um ponto importante: o estudo do vocabulrio ou do repertriode linguagem da imprensa como sinnimo de linguagem de prestgio a ser evidenciada

    pela escola.

    Sobre a pesquisa de vocabulrio

    O estudo de palavras uma prtica em desuso no meio acadmico, por diversas

    razes. Primeiramente, trata-se de uma categoria que serve mais de perto chamada

    gramtica normativa e, portanto, prtica escolar e no aos estudos acadmicos, eprincipalmente, aos estudos lingusticos. Em segundo lugar, o estudo lexicogrfico,

    historicamente, est mais prximo das tendncias formalistas ou monolgicas dos

    estudos lingusticos, como o Estruturalismo baseado nas ideias de Saussure ou mesmo

    o Gerativismo, de Chomsky. A fixidez da lngua como sistema relativamente estvel

    garantiria algum conforto para a observao de seus elementos compositivos (no nosso

    caso, as palavras). Em terceiro lugar, as tendncias mais prximas do dialogismo ou

    do funcionalismo, como a Anlise do Discurso em suas diversas correntes, a Teoria da

    Enunciao, a Pragmtica, a Sociolingustica, entre outras no tomam a palavra como

    categoria de anlise. Para citar dois exemplos: a Lingustica Textual observa o texto

    como unidade de sentido (diferentemente da gramtica tradicional, que percebe a

    orao como unidade de sentido, dando maior visibilidade palavra, portanto); j a

    Anlise do Discurso de vertente francesa observa o trao ideolgico das construes

    textuais, do qual a palavra colabora apenas na tessitura do fator poltico.

    Entretanto, embora seja medida secundria ou incua para as teorias dialgicas,

    as classes de palavras (categorizao que nos interessa de perto como elemento de

    anlise, como veremos adiante) no so recusadas ou substitudas de modo inconteste:

    significa dizer que substantivos e adjetivos so aspectos com relevncia nocional para

    diversas das teorias funcionais.

    Mesmo secundria para as correntes lingusticas contemporneas baseadas no

    dialogismo, a palavra (sobretudo na sua diviso por classes) ainda uma referncia

    explcita para o jornalismo. A tcnica jornalstica se utiliza fartamente da

  • 7/23/2019 1 Cap - Jornal Nacional e Alfabetizao_nada a Ver - Juvenal

    4/11

    10

    categorizao de palavras para a prtica cotidiana de produo de seus textos. Eis

    algumas delas, que tomamos como representativas da prtica de se tomar a palavra

    como medida, baseadas em reconhecidos manuais de redao jornalstica

    (ERBOLATO, 1991; BAHIA, 1990; MACIEL, 1995):

    a)

    A noo de conciso do texto jornalstico: textos devem ser sintticose marcados pela economia de palavras.

    b)

    A noo de extenso das palavras: entre duas palavras que podem

    designar um mesmo fenmeno, deve-se optar por aquela de mais fcil

    entendimento; entre duas palavras de fcil entendimento, deve-se optar pela

    mais curta; no telejornalismo, entre duas palavras simples e curtas, deve-se

    optar por aquela de mais fcil pronncia.

    c)

    A construo dos ttulos e do lide: essas duas estruturas clssicas do

    jornalismo so fortemente marcadas pela economia de itens, basta lembrar queat um passado recente, um lide (primeiro pargrafo de uma notcia), por

    conveno jornalstica, no deveria exceder o total de 20 palavras; j os ttulos,

    at os dias de hoje, so construdos observando-se uma regra implcita de no

    se extrapolar o limite de uma linha de texto.

    d) Entre os substantivos e adjetivos: opta-se por aqueles marcados pela

    concretude e mensurao, evitando-se terminantemente palavras marcadas pela

    excessiva abstrao ou pela subjetividade mais declarada. No caso dos verbos:

    deve-se eleger aqueles que traduzem: a) ao; b) movimento; c) elocuo.

    Assim, verbos que reportam situaes pouco tangveis devem ser evitados

    (como o caso de sonhar).

    Sobre escola, imprensa e registro verbal de prestgio

    A linguagem jornalstica tem papel de prestgio entre as referncias para o

    exerccio que acaba por desembocar em algo que se pe (ou se impe) como padro

    culto de linguagem escrita. A mdia e, mais especificamente, a imprensa escrita no

    instauram uma regra, mas repercutem e balizam um perfil, marcadamente arbitrrio,

    acerca do que deve ser um registro padro culto de linguagem. Citelli (2006),

    investigando o uso da linguagem verbal nos meios de comunicao, mostra claramente

    o exerccio de negociao permanente entre a diversidade lingustica do pas e as

  • 7/23/2019 1 Cap - Jornal Nacional e Alfabetizao_nada a Ver - Juvenal

    5/11

    11

    caractersticas dos meios, tendo, como pano de fundo, os ditames normativos do

    idioma (p.53).

    Sob o ponto de vista do ensino de lngua materna, autores como Marcuschi

    (1998) e Perini (1991 e 1995) tomam com entusiasmo a ideia de se tomar a linguagem

    de imprensa como referncia de gramtica para uma linguagem padro. Perini, porexemplo, assim justifica sua opinio:

    [...] no s as formas e construes encontradas nos jornais erevistas so as mesmas dos compndios e livros cientficos, mas tambmno se percebem variaes regionais marcadas: um jornal de Recife usasensivelmente a mesma lngua de um jornal de Porto Alegre ou de Cuiab.Isto , existe um portugus-padro altamente uniforme no Pas; e podemoscontar encontr-lo nos textos jornalsticos e tcnicos. claro que tambmencontramos obras literrias escritas estritamente segundo esse padro; masno podemos contar com isso a priori: muitas obras literrias fogem a ele,utilizando variedades coloquiais ou mesmo pessoais. Sou de opinio de queos dados que fundamentaro a gramtica devem ser retirados desse padrotcnico-jornalstico.

    ...Argumenta-se que uma das finalidades do ensino gramatical conscientizar o estudante de sua lngua da lngua que ele deve aprender amanejar, seja lendo, seja escrevendo. Mas certamente muito poucosestudantes chegaro a produzir textos literrios; digo mais: poucos chegaroa adquirir o hbito de ler textos literrios. Mas certamente necessrio(embora ainda estejamos terrivelmente longe de consegui-lo) que elescheguem a manejar a linguagem tcnica e jornalstica, pelo menos comoleitores...

    No pretendo com essas consideraes diminuir a importncia doestudo da literatura, ou do domnio da linguagem literria. Mas acho que, emum sistema educacional que to frequentemente deixa de alcanar o mnimo, importante colocar objetivos mais realistas para o ensino da lngua.

    por razes como essas que gostaria de sugerir que a gramticaseja (pelo menos em um primeiro momento) uma descrio do portugus-padro tal como se manifesta na literatura tcnica e jornalstica. (1991,p.86-8)

    O exerccio de tomar o texto de imprensa como referncia de uma linguagem de

    prestgio percebido desde meados do sculo 19 (ALENCASTRO, 1997). As diretrizes

    curriculares apontam no mesmo sentido. Dino Preti (1997) admite esse quadro, algo

    que, segundo ele, acaba por endossar propostas pedaggicas como a de Perini.

    Os Parmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para o ensino de Lngua

    Portuguesa, em que pese a sugesto de diversidade de textos a serem explorados, do

    lugar de destaque aos gneros informativos de imprensa. Esse destaque se verifica nos

    PCNs voltados s primeiras sries (BRASIL, 1997) e tambm nas orientaes atinentes

    s demais sries do Ensino Fundamental (BRASIL, 1998). Embora no se diga com

    todas as letras acerca da priorizao da imprensa, trs grupos textuais surgem

  • 7/23/2019 1 Cap - Jornal Nacional e Alfabetizao_nada a Ver - Juvenal

    6/11

    12

    destacados nos PCNs: a literatura, a imprensa (quase que unicamente a escrita) e a

    divulgao cientfica (em boa parte reportada pela prpria imprensa). Tambm em

    termos aplicados, autores relevantes na rea de letramento no pas ancoram suas

    propostas de trabalho em textos de jornais e revistas (SOARES, 2002).

    Se, por um lado, possvel argumentar que o registro de linguagem de prestgioest nos jornais impressos, por outro, tambm sustentvel a ideia de que o JN guarda

    caractersticas do mesmo registro (PRETI, 1997) e de modo ainda mais acessvel ao

    pblico maior. A escolha especfica do JN para a abordagem de vocabulrio se deve

    ainda a fatores de ordem pedaggica. Uma delas diz respeito ao fato de que,

    diferentemente do ensino de lnguas estrangeiras, quando um vocabulrio-base

    inerente a qualquer mtodo de estudo, no ensino de lngua materna, leva-se em conta

    outro princpio: conta-se com o fato de que, como o domnio do cdigo vernculo est

    profundamente associado experincia de vida das pessoas, faz prevalecer o estudo degneros textuais, ou dos modos a partir dos quais se utiliza determinado vocabulrio.

    Por outro lado, na escola, deixa-se a questo do vocabulrio por conta da ao do

    professor, sem que, para isso, haja orientao formal. No entanto, o estudo de

    vocabulrio pode se tornar um aliado do professor, levando-se em conta a

    multiplicidade de gneros textuais em evidncia, sobretudo, a partir do avano das

    novas tecnologias e da prpria diversificao dos formatos miditicos.

    Embora esvaziada de autocrtica, a obra de Bonner (2009) sobre o modo de

    produo do JN elucidativa de um perfil de linguagem produzido com requinte,

    mesmo que parea simples. Segundo o autor, o telejornal (JN) volta-se a um espectador

    modelo, cujo perfil definido da seguinte maneira: [...] um chefe de famlia

    trabalhador, protetor, classe mdia, nvel intermedirio de instruo, cansado, ao fim do

    dia (BONNER, 2009, p. 223). Essa definio rendeu polmica acirrada na imprensa

    brasileira, pois um dos exemplos utilizados por Bonner para concretizar esse

    espectador estaria na imagem do personagem Homer Simpson, do conhecido desenho

    animado da televiso, mas a linguagem pretendida pelo JN revela perfil mais complexo.

    A despeito da roupagem de coloquialidade que se pe nos telejornais, tem-se cuidadosa

    seleo de elementos, que extrapolam a componente coloquial incluindo-se

    dinamismo, nfase, andamento e ritmo fugindo-se do plano da oralidade e

    pondo-se efetivamente no plano da escrita, como sugere Preti (1991).

    O trabalho sistemtico com esse perfil de linguagem na escola implicaria,

    portanto, o acesso: a) ao dilogo com um vocabulrio requintado, mas prximo da

  • 7/23/2019 1 Cap - Jornal Nacional e Alfabetizao_nada a Ver - Juvenal

    7/11

    13

    coloquialidade; b) ao perfil de lngua materna compartilhada pela maioria dos

    brasileiros e construda no dia a dia da vida poltica e social do pas e no nos

    gabinetes da academia ou da prpria escola; c) ao registro de linguagem que torna

    possvel a compreenso do universo poltico, ainda que em plano genrico. Enfim, ao

    identificarmos o vocabulrio empregado no JN, em parte estamos descortinando umalinguagem corrente, mais prxima da relao entre as pessoas e as instituies no

    Brasil relao essa que demanda um perfil de linguagem necessariamente mais

    apurado.

    Mas qual seria o perfil de linguagem do JN? Em busca dessa resposta,

    empreendemos uma pesquisa de vocabulrio desse telejornal, partindo das seguintes

    regras:

    a)

    Tomamos as edies integrais do JN publicadas nos meses de agosto de

    2010 e de janeiro de 2011, em um total de 55 edies. Esses meses foramescolhidos de forma aleatria.

    b)

    Nos textos coletados, foram aproveitados apenas os substantivos, os

    adjetivos e os verbos, por estes melhor caracterizarem o domnio de conceitos

    acerca da linguagem e por serem aqueles termos menos ligados s construes

    lingusticas em si (como os diticos, s plenamente compreensveis no

    contexto do discurso). Ainda assim, diversas opes foram feitas. Foram

    desprezados nomes prprios de qualquer natureza (incluindo siglas),

    patronmicos e palavras pertencentes originariamente a outras classes verbais,

    mesmo na suposta condio de substantivos ou adjetivos.

    c)

    Substantivos e adjetivos foram levados forma do masculino singular e

    os verbos, forma do infinitivo impessoal. No caso de palavras com sentido

    diferente entre as verses do gnero feminino e masculino, optou-se por

    preservar as duas acepes. Mesmo verbos no particpio foram levados forma

    do infinitivo, exceto nas formas mais correntemente marcadas, como em

    passado. Importante frisar que o interesse esteve principalmente na ideia de

    campo semntico e no de um significado em si.

    d) Uma vez configurados nas formas consideradas primrias, os termos

    foram tabulados em planilha especfica.

    e)

    Em virtude da enorme variedade de termos, razovel observar uma

    margem de 5% de erro para a lista, o que significa a possibilidade de palavras

  • 7/23/2019 1 Cap - Jornal Nacional e Alfabetizao_nada a Ver - Juvenal

    8/11

    14

    se apresentarem em maior nmero ou de serem contadas equivocadamente a

    menos.

    Ainda que esbarremos na redundncia, recapitule-se que a escolha do JN

    deveu-se aos seguintes fatores: a) trata-se do programa de televiso com maioraudincia mdia na histria da televiso brasileira; b) o principal veculo de

    informao noticiosa entre os brasileiros j h dcadas, fenmeno que persiste mesmo

    nos dias de hoje, quando existe enorme competio miditica; c) em virtude da

    necessidade de comunicao em um pas heterogneo como o Brasil, o JN apresenta

    linguagem compreendida por milhes de expectadores, dos mais diversos extratos

    culturais e econmicos, algo que o torna representativo do registro verbal de prestgio

    no pas.

    Para que servem os resultados?

    Para a presente discusso, observamos apenas alguns dados. Diferentemente da

    ideia comum de que o vocabulrio de maior prestgio tambm o mais difcil, o JN se

    destaca por linguagem simples, com termos genricos e, sobretudo, fceis de ler em voz

    alta. Entre as duzentas palavras mais recorrentes, menos de 10% delas contam com mais

    de trs slabas. Se se leva em conta que entre as palavras que mais aparecem nas edies

    de agosto, mais de 60% delas tambm esto entre as mais recorrentes em janeiro, isso

    implica a existncia de um vocabulrio comum ao dia a dia do telejornal. Observe-se a

    lista abaixo, onde constam os vocbulos mais comuns entre os meses de agosto de 2010

    e janeiro de 2011, em ordem decrescente de frequncia, das colunas da esquerda para as

    da direita:

    Ser

    Ter

    Ser/irEstar

    Ir

    Ano

    Fazer

    Dizer

    Poder

    Casa

    HaverPessoa

    Ficar

    Dia

    Chegar

    Cidade

    Presidente

    Regio

    EstadoChuva

    gua

    Governo

    Ver

    Gente

    Pas

    Morador

    LevarConseguir

    Passar

    rea

    Dar

    Voltar

    Comear

    Conta

    SairAfirmar

    Parte

    Hora

    Tempo

    Nacional

  • 7/23/2019 1 Cap - Jornal Nacional e Alfabetizao_nada a Ver - Juvenal

    9/11

    15

    Dever

    Receber

    Mundo

    Filho

    AtingirCarro

    Querer

    Encontrar

    Trabalho

    Famlia

    Vir

    Precisar

    MorrerEquipe

    Tentar

    Pedir

    Ministro

    Explicar

    Mulher

    Novo

    Perder

    Mostrar

    ltimo

    Saber

    Deixar

    Semana

    Ministrio

    Vida

    Ms

    Homem

    Federal

    Polcia

    Passado

    Declarar

    Brasileiro

    Local

    Rua

    Problema

    EntrarVtima

    Continuar

    Contar

    Primeiro

    Tragdia

    Pblico

    Meio

    SituaoNoite

    Dono

    Ajudar

    Usar

    Chover

    Momento

    Municpio

    Viver

    Provocar

    Sade

    Fechar

    Mdico

    Direito

    Risco

    Nmero

    Acabar

    Hospital

    Falar

    Matar

    Esperar

    Ponto

    Acontecer

    Causa

    Caso

    Faltar

    CairAjuda

    Bombeiro

    Anunciar

    Reprter

    Civil

    Reprter

    Civil

    PrximoMe

    Lado

    Defesa

    Tomar

    Fim

    Lugar

    Difcil

    Forte

    Trabalhar

    Informar

    Seguir

    Parar

    Prefeitura

    Fora

    Sistema

    Preso

    Pai

    Morto

    Metro

    Achar

    Abrir

    Segurana

    Deciso

    Maior

    Justia

  • 7/23/2019 1 Cap - Jornal Nacional e Alfabetizao_nada a Ver - Juvenal

    10/11

    Embora haja a palavras conhecidas pelos estudantes desde a experincia familiar

    e social, que podem ser reiteradas no trabalho escolar, existe tambm um conjunto mais

    complexo para o entendimento, com o qual a escola pode contribuir. o caso de

    palavras-conceito, como presidente, governo, ministrio, municpio,

    prefeitura e justia, civil, entre outros.Esse exerccio no significa que o professor deva transformar sua aula em um

    grande glossrio ou algo do tipo, mas sim que a escola deve tambm investir, de

    diferentes formas, em situaes de aprendizagem que busquem fazer com que o aluno

    domine a linguagem empregada em veculos de maior prestgio. Isso significa que esse

    vocabulrio de prestgio precisa ser explorado no isoladamente, mas em textos

    autnticos, pois, segundo Marcuschi (1998), os dialetos, bem como as variedades so

    igualmente respeitveis, todavia o ensino deve ocorrer preferencialmente no dialeto

    considerado como variedade padro. Tal regra vale at mesmo para o perodo queantecede a alfabetizao plena do aluno.

    Tambm no se pretende que o JN seja tomado como ponto de partida para a

    roteirizao desse processo. Ns utilizamos desse representativo suporte, para mostrar a

    potencialidade do trabalho que envolva os textos miditicos de maior prestgio. Em outro

    estgio de formao, poderia haver investimento na compreenso do registro dos

    principais jornais impressos e portais de informao.

    Enfim, prudente lembrar que palavras como presidente e governo so

    complexas mesmo para um adulto. Seu entendimento pleno se d apenas no estgio das

    operaes formais, em uma perspectiva piagetiana, ou no estgio de formao de

    conceitos, na concepo scio-histrica vygotskiana, algo que, em tese, ocorreria na

    adolescncia. Isso significa que pouco produtivo fazer com que a criana domine

    termos como governo, mesmo que o termo aparea em textos acessveis aos pequenos.

    Enfim, o que se quer frisar, no entanto, o complexo papel que exerce o professor no

    exerccio da instruo. Ele deve ser capaz de propiciar e discernir continuamente acerca

    da viabilidade de compreenso dos textos, assim como auxiliar no exerccio de

    entendimento. Ajudar o aluno a se locomover por registros de linguagem de maior

    prestgio, como o da imprensa, no apenas exerccio para a plena compreenso de

    telejornais ou de jornais diversos, mas passo concreto na preparao para a cidadania.

  • 7/23/2019 1 Cap - Jornal Nacional e Alfabetizao_nada a Ver - Juvenal

    11/11

    17

    Referncias bibliogrficas

    ALENCASTRO, L. F. Vida privada e ordem privada no Imprio. In: ______ (org.).

    Histria da Vida Privada no Brasil: Imprio. So Paulo: Companhia das Letras, 1997.

    BAHIA, J.Jornal, histria e tcnica: as tcnicas do jornalismo. So Paulo: tica, 1990.BONNER, W.Jornal Nacional: modo de fazer. Rio de Janeiro: Globo, 2009.

    BRASIL, Secretaria de Educao Fundamental. Parmetros Curriculares Nacionais:

    lngua portuguesa. Braslia: MEC, 1997.

    ______. Secretaria de Educao Fundamental. Parmetros Curriculares Nacionais:

    terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: lngua portuguesa. Braslia: MEC/SEF,

    1998.

    ______. Secretaria de Educao Fundamental. Parmetros Curriculares Nacionais

    Introduo: 5 a 8 sries. Braslia: MEC/SEF, 1998b.CITELLI, A.Palavras, meios de comunicao e educao. So Paulo: Cortez, 2006.

    ERBOLATO, M. L. Tcnicas de codificao em Jornalismo. 5.ed. So Paulo: tica,

    1991.

    MACIEL, P.Jornalismo de Televiso. Porto Alegre: Sagra/DC Luzzatto, 1995.

    MARCUSCHI, L. A. Nove teses para uma reflexo sobre a valorizao da fala no ensino

    de lngua.Revista da ANPOLL, n. 4, p.137-156, jan./jun. 1998.

    PERINI, M. A.Para uma nova gramtica do Portugus. So Paulo: tica, 1991.

    PRETI, D. A linguagem da TV: o impasse entre o falado e o escrito. In: NOVAES, A.

    (org.) Rede Imaginria: televiso e democracia. So Paulo: Companhia das Letras;

    Secretaria Municipal de Cultura, 1991.

    ______. A propsito do conceito de discurso urbano oral culto: a lngua e as

    transformaes sociais. In: ______. (org.) O Discurso oral culto. So Paulo: Humanitas

    Publicaes/ FFLCH-USP, 1997.