203
Preencha a ficha de cadastro no final deste livro e receba gratuitamente inormações sobre os lançamentos e as promoções da Editora Campus. Consulte também nosso catálogo completo e últimos lançamentos em www.campus.com.br

!,&2%$/$!-/4!-%.%:%3 · Grosso (UFMT) e Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília. Publicou vários artigos em revistas especializadas em História

Embed Size (px)

Citation preview

Preencha a ficha de cadastro no final deste livroe receba gratuitamente inormações

sobre os lançamentos e as promoções da Editora Campus.

Consulte também nosso catálogocompleto e últimos lançamentos em

www.campus.com.br

© 2006, Elsevier Editora Ltda.

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998.Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora,poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados:eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros.

Copidesque: Ligia Capdeville da PaixãoEditoração Eletrônica: RR Donnelley MooreRevisão Gráfica: Marília Pinto de Oliveira

Elsevier Editora Ltda.A Qualidade da Informação.Rua Sete de Setembro, 111/16º- andar20050-006 Rio de Janeiro RJ BrasilTelefone: (21) 3970-9300 FAX: (21) 2507-1991E-mail: [email protected]ório São Paulo:Rua Quintana, 753/8º- andar04569-011 Brooklin São Paulo SPTel.: (11) 5105-8555

ISBN 13: 978-85-352-2024-7ISBN 10: 85-352-2024-7

Nota: Muito zelo e técnica foram empregados na edição desta obra. No entanto, podem ocorrer erros dedigitação, impressão ou dúvida conceitual. Em qualquer das hipóteses, solicitamos a comunicação à nossaCentral de Atendimento, para que possamos esclarecer ou encaminhar a questão.

Nem a editora nem o autor assumem qualquer responsabilidade por eventuais danos ou perdas apessoas ou bens, originados do uso desta publicação.

Central de atendimentoTel.: 0800-265340Rua Sete de Setembro, 111/16º- andar/Centro Rio de Janeiroe-mail: [email protected]: www.campus.com.br

M51j

Menezes, Alfredo da Mota,Integração regional : Blocos Econômicos nas Relações Interna-

cionais / Alfredo da Mota Menezes, Pio Penna Filho. – Rio de Janeiro :Elsevier, 2006.

Inclui bibliografiaISBN 85-352-2024-7

1. Integração econômica internacional. 2. Blocos econômicos.3. América - Integração econômica. I. Penna Filho, Pio. II. Título.

05-3941. CDD 337.1CDU 339

12.12.05 16.12.05 012594

CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte.Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ

ALFREDO DA MOTA MENEZES é Ph.D em História

da América Latina pela Tulane University,

Estados Unidos. Fez o pós-doutorado na mesma

universidade onde foi também professor visi-

tante. Autor de Herança de Stroessner: Brasil-

Paraguai, 1955-1980 (Papirus); Do sonho à

realidade: a integração econômica latino-

americana (Alfa-Omega) e Guerra do Paraguai:

como construímos o conflito (Contexto).

PIO PENNA FILHO é professor adjunto do Departamento

de História da Universidade Federal de Mato

Grosso (UFMT) e Doutor em História das

Relações Internacionais pela Universidade de

Brasília. Publicou vários artigos em revistas

especializadas em História e Relações Interna-

cionais e é especialista em estudos sobre a

África Contemporânea e América Latina.

O S AU TO R E S

A P R E S E N TA Ç Ã O

Este é um livro sobre as diversas tentativas de integrações econômicas emandamento no mundo. Conta-se a história de cada uma, seu corpo institu-cional, soluções e dificuldades encontradas, avanços e recuos e a impor-tância da geografia regional na aproximação dos países envolvidos. Dadosestatísticos também fazem parte do estudo.

Trabalha-se com União Européia, Nafta, Mercosul, ComunidadeAndina, Mercado Comum Centro-Americano, Alca, Caricom ou dos paí-ses do Caribe, com as integrações na Ásia por meio do estudo da Asso-ciação das Nações do Sudeste Asiático (Asean) e com a Conferência para aRegião da Ásia-Pacífico ou Apec. E ainda com a Ecowas e Sadc ou as atuaistentativas de integração da África Ocidental e Austral, de longe as maisimportantes do continente africano.

O livro tem ainda um capítulo sobre a teoria da integração econômi-ca. Como exemplo prático da teoria em contato com a realidade regional,os autores procuram mostrar o que houve com a antiga tentativa integra-cionista na América Latina da década de 1960, na chamada AssociaçãoLatino Americana de Livre Comércio ou Alalc.

Qualquer integração econômica no mundo hoje é um processo emandamento. Nada está acabado ainda. A que está em um estágio mais avan-çado, com resultados mais à mostra, é a União Européia, mas mesmo assimnão está concluída. Nem ali e nem em lugar nenhum. E há tentativa deintegração, como a da Alca, que, apesar das conversações e encontros inter-nacionais, ainda não está concretizada.

No Mercosul, como outro exemplo, há avanços e recuos a todomomento. Crises econômicas locais ou trazidas de fora atingiram países

membros dessa integração. Quando isso ocorreu, seja nesse ou naqueleparceiro integrado, na busca de solucionar problemas imediatos surgidos,apareceram entraves que frearam a abertura comercial entre os parceiros.

Contudo, apesar dos inúmeros percalços, as tentativas de integraçãotêm avançado. A prova desses avanços são os números comerciais entre osparceiros integrados. Em todos os casos, os dados nessa área são mais posi-tivos do que o inverso. É claro que existem momentos de emperramentoou até de retrocesso nas trocas, mas, no cômputo geral, ao longo dos anos,o processo integracionista tem sido positivo. Além de ser uma realidadepolítica e econômica incontestável do atual momento mundial.

O que deve ficar claro é que todas as integrações econômicas tratadasneste livro ainda estão em construção; estão sofrendo alterações e ajusta-mentos. O que é natural. O livro não as trata como se estivessem prontas econcluídas. Mesmo assim, apresenta um quadro o mais próximo possíveldo estágio de suas negociações econômicas e políticas.

Para facilitar a leitura, os autores optaram por não colocar rodapés oucitações no final do livro ou de cada capítulo. Optou-se por um estudobibliográfico selecionado por tópicos, com citações e comentários de livrose artigos sobre as diversas integrações. Ali está o material completo queajudou na elaboração deste livro.

Como é um processo em formação, uma das ferramentas úteis na pes-quisa foi a Internet. Citam, ao final, os sites nos quais se pode buscar infor-mações e estatísticas sobre as tentativas integracionistas pelo mundo. Essesdados são encontrados nos sites de cada grupo integrado de países e emdiversas outras fontes ou links que podem ajudar a entender melhor essaou aquela integração regional.

Integração econômica regional é filha da globalização, é um fato darealidade mundial do momento. É um acontecimento que se reflete nasrelações internacionais dos países. Muitas decisões hoje são tomadas deforma conjunta nos fóruns internacionais pelos países que pertencem auma integração econômica regional. A geografia está ditando esse cami-nho. Povos que vivem em uma mesma região tendem a integrar suas eco-nomias e, a partir daí, buscam um entendimento maior em suas relaçõesexternas diretas e também com os de fora da área integrada. É um passoenorme e diferente nas relações internacionais.

Integração RegionalX

Apesar da importância desse fato na vida de povos e nações, é quasenula a bibliografia no Brasil que trabalhe o tema de forma global como fazeste livro. Esperamos que esta obra possa ajudar aos interessados no assun-to a encontrar material para conhecimento geral ou, quem sabe, até parasubsidiar pesquisas sobre este fato da atualidade.

Alfredo da Mota Menezes

Pio Penna Filho

Novembro de 2005

Apresentação XI

I n t e g ra ç ã o Eco n ô m i c a : Te o r i a e P r á t i c a

Um pouco da teoria de integração

Antes da análise das várias tentativas de integração econômica em anda-mento, talvez seja interessante entender o significado e as alternativas dessenovo fator nas relações internacionais. Na primeira parte dessa análise, sãomostrados alguns dados teóricos sobre integração econômica. Em umasegunda etapa, como um exemplo prático ligado ao lado teórico, mostram-se a história e os problemas encontrados pela Associação Latino Americanade Livre Comércio, Alalc, uma antiga tentativa de integração regional que,por motivos diversos, acabou não prosperando.

As opiniões e interpretações variam quanto ao conceito de integração.Para alguns, a integração econômica se verifica quando os preços de todosos produtos iguais são equiparados em uma dada região. Haveria um sómercado em que se cobraria o mesmo preço para o mesmo bem. Para ou-tros, a integração seria simplesmente a eliminação de barreiras econômicasentre duas ou mais economias. Um terceiro entendimento vê a integraçãocomo resultado da eliminação de todos os impedimentos para o comércioentre mais de um país e que, além disso, haja alguns mecanismos de coor-denação geral nas economias integradas; o principal sinal da integraçãoentre países seria a inexistência de alfândegas e postos de cobranças entreos parceiros integrados. Outros argumentam ainda que integração econô-mica é nada mais do que a divisão do trabalho em uma região.

Existe, no entanto, uma espécie de escala ou gradação para definir ascaracterísticas ou a profundidade de uma integração econômica. Pode-se

tentar, desde o início, um tipo de integração mais definitiva e completa, oque é difícil. No geral, é preciso passar antes por pequenos passos e ajusta-mentos. O primeiro seria um acordo preferencial de tarifas entre certospaíses. As taxações entre os membros envolvidos seriam menores do que ascobradas de outros países não participantes da integração. Haveria reduçãoou eliminação de barreiras alfandegárias para o comércio dentro da zonaintegrada. A diferença aqui seria que os países signatários do acordo nãoadotariam uma tarifa externa comum, que seria aplicada igualitariamentea países não membros da integração. O comércio seria aberto e as trocasfacilitadas, mas cada país manteria suas taxações específicas para as transa-ções com terceiros de fora da área integrada. A união aduaneira já é umpasso mais avançado e é um pouco mais complicada, principalmente naintegração entre países em desenvolvimento. Nela, além da eliminação deentraves alfandegários para o comércio entre os participantes, tambémexiste uma tarifa externa comum aos países integrados a ser aplicada deforma igual a países de fora da integração. Uma integração econômica realcomeça nesse momento. Sem a tarifa externa comum, é possível que a uni-dade econômica enfrente problemas, podendo, muitas vezes, premiar aineficiência de um dos lados.

Suponhamos que não exista entre os parceiros uma tarifa externacomum. Sem ela, o acordo fica desigual. Um país, por exemplo, cobra taxade importação menor de matéria-prima para fabricar um determinadotipo de medicamento. O outro, por fatores internos, tem uma taxaçãomaior para o mesmo produto. O remédio fabricado no primeiro país, terápreço menor do que no segundo, porque pagou menos para importar amatéria-prima usada para fabricar o mesmo medicamento. Se os dois paí-ses estivessem integrados, o produto circularia livremente entre os parcei-ros da integração. É claro que um lado sai perdendo. Pode-se até mesmoestar premiando um fornecedor menos eficiente. A competição, no exem-plo, é desigual; tudo porque não havia uma tarifa externa comum. Aindano caso da união aduaneira, os parceiros da integração devem participardas negociações sobre tarifas com outros países como se fosse uma únicaentidade. Tudo que foi aplicado a um terá de ser aplicado ao outro.

O mercado comum é um estágio ainda mais avançado do que a uniãoaduaneira. Eliminam-se barreiras ao comércio, adota-se uma tarifa exter-

Integração Regional2

na comum e acrescenta-se a livre circulação de capital, serviços e até mão-de-obra. É um passo enorme na união de dois ou mais países. Na uniãoaduaneira ou até mesmo na zona de livre-comércio, há circulação de capi-tal, mas não como no mercado comum. Nesse último, acrescenta-se umfator novo e de grande controvérsia, que é a circulação livre de mão-de-obra. Não é nada fácil chegar a ela. Por exemplo, as legislações sociais dosmembros da integração não podem ser muito díspares, pois o trabalhadorsempre vai preferir se estabelecer onde houver mais benefícios. Se muitosfizerem isso, a economia escolhida poderia enfrentar algum tipo de proble-ma. Entre países em desenvolvimento, a questão da circulação livre demão-de-obra ainda não é um assunto bem aceito. Existem inúmeros fato-res que atuam contra, incluindo aspectos comportamentais e culturais, quefazem de um mercado comum completo um objetivo um pouco distantepara esse tipo de economia.

Além ainda do mercado comum, está a união econômica. Ela deve terlivre-comércio, tarifa externa idêntica, circulação de fatores produtivos,mais a harmonização das políticas fiscal e monetária, e até a criação de umamoeda comum. Os países integrados, nesse momento, chegaram a umponto de relacionamento econômico em que é impossível se mover sem ooutro. E, por fim, tem-se a união econômica completa. É quase como sefosse em um só país. Existe uma autoridade ou governo central que é supe-rior, em muitos aspectos, aos próprios governos nacionais. Esse tipo finalde integração teria, portanto, a eliminação de barreiras comerciais, tarifaexterna comum, livre circulação de mão-de-obra, capital e serviços, unida-de nas políticas fiscal, monetária, industrial e social, e ainda um órgão con-trolador unificado investido de poderes para fazer funcionar a entidadeintegrada, agora em seu estágio máximo. Contudo, quando se fala em inte-gração econômica é comum entendê-la de forma simples. Seria aquela emque os produtos entre os países integrados circulariam livremente, semtaxação especial.

No entanto, o assunto vai muito além disso. Existem passos e diferen-ciações marcantes dentro do processo global de integração econômica, epara se chegar a etapas mais avançadas deve-se superar não só barreirasalfandegárias. E, frente aos entraves de cada situação e momento, se nãohouver apoio e entendimento interno, em que a população deve participar

Integração Econômica: Teoria e Prática 3

e dar suporte, o processo todo pode não andar. São inúmeros os obstácu-los, e entre países em desenvolvimento alguns aspectos de uma verdadeiraintegração até parecem impossíveis de serem atingidos. Só por meio doesclarecimento, com a aprovação e a percepção do cidadão de que podeganhar com a integração, é que se acredita que o processo possa ter vidalonga. Integração sem participação e apoio da maioria, como ocorreu naAmérica Latina na década de 1960, devido às naturais dificuldades do pro-cesso, pode levar a outros fracassos.

Tomemos como exemplo a questão da circulação livre de mão-de-obra para entendermos como pode ser complicada uma tentativa de inte-gração. Imaginemos uma longa seca no Nordeste do Brasil, com umamigração forte e que, por problemas peculiares do momento, a geração deempregos não fosse grande o suficiente para absorver o excesso de mão-de-obra. Além disso, imaginemos que existisse, no caso, uma integraçãoeconômica em andamento em que fosse permitida a circulação de mão-de-obra. Milhares de brasileiros poderiam ir, por exemplo, para a Argentinaem busca de trabalho. Os argentinos, com melhores salários e legislaçãosocial diferente, poderiam recusar essa leva maciça de imigrantes sem qua-lificação e que poderia exercer pressão nos setores de educação, treinamen-to e saúde do país. Esse assunto é problemático não só entre países emdesenvolvimento, como também na desenvolvida Europa. Países comoAlemanha, França e Holanda pressionam Portugal e Espanha para nãopermitirem a entrada fácil de brasileiros, africanos e hispano-americanoscujo objetivo é se beneficiar da integração européia. Sabemos o que issosignifica para brasileiros que emigram para Portugal.

O tema é tão importante que existe até pressão para aumentar o con-trole demográfico entre os membros integrados. Um país, como exemplo,tem um bom controle de natalidade e outro não. Ao longo do tempo, pes-soas deste último imigrariam para aquele, o que poderia aumentar os pro-blemas nos setores sociais. Até mesmo o controle da natalidade, em termoscompatíveis com a história e a realidade de cada país, é recomendável emuma boa integração. Descontrole demasiado pode não ser bem aceito pelosdemais parceiros. Instabilidade econômica é outro fator de desequilíbrio.No momento em que uma economia entrasse em crise e a outra não, se acirculação da mão-de-obra fosse livre, poderia desencadear algum tipo de

Integração Regional4

problema ou desentendimentos. As direções sindicais de diferentes paísesintegrados, principalmente em nossa região, deveriam ter interesse em par-ticipar e tentar encontrar possíveis alternativas para esse importante aspec-to da integração.

Uma integração deve acrescentar ganhos econômicos e melhora nobem-estar social dos povos integrados. O objetivo principal é que as pes-soas sintam que estão tendo mais vantagens dentro do que fora de um pro-cesso de integração. E se uma integração funcionar, essa é uma realidadepossível. Não é uma panacéia, uma fórmula milagrosa que, da noite para odia, resolverá todos os problemas dos países integrados. Não se pode fazeruma integração acreditando que, desde o primeiro momento, já seja pos-sível sentir os resultados altamente positivos das economias integradas.Não existe fórmula mágica. Entretanto, é consenso que é possível alcançarmuitos ganhos ao longo do tempo. Alguns fatores próprios de uma inte-gração levam à essa conclusão.

Com a expansão do mercado, poderia ser aplicada a economia deescala em algumas atividades econômicas, com aumento da produção, me-lhor preço e até qualidade. Também a união de várias economias daria aogrupo mais força de barganha nas negociações no comércio internacional.Apareceria ainda a especialização como resultado da competição, trazendomais eficiência na produção e permitindo até competir com outras econo-mias de fora da integração. Com mercado maior, economia de escala ecompetição estabelecida, a tecnologia avançaria e as economias estariamem condições de participarem mais do processo. Os preços dos produtostenderiam a ser estáveis, com circulação favorável na região em que fossemproduzidos a custos menores. Em um mercado amplo, o salário do traba-lhador e a geração de emprego poderiam ser maiores. No plano político, astensões e os desentendimentos podem diminuir por causa da aproximaçãoproveitosa, e as fricções menores não perturbariam as relações entre osparceiros. No aspecto cultural, se a integração funcionar, será mais fácilentender a vivência interna dos países integrados. Ela pode quebrar barrei-ras entre países vizinhos e ajudá-los no crescimento econômico.Principalmente no atual estágio mundial, não é possível que países de umamesma região continuem a se ignorar no plano comercial e histórico. Obom senso recomenda uma aproximação. É comum ouvir que esse ou

Integração Econômica: Teoria e Prática 5

aquele país latino-americano não possui quase nada para comercializar,que sua produção desde o período colonial está voltada para mercadosexternos. É quase impossível que um país não possua nada em sua produ-ção que não satisfaça a outro. Se não existir, deve-se buscar meios paradiversificar internamente a produção e tentar entrar no outro mercado.Muitas vezes, é o receio pela mudança que provoca esse tipo de opinião.Uma parte da elite de um país qualquer, acostumada ao controle econômicolocal, com pequenos ganhos e status, em geral, prefere que tudo continuecomo está. Nem se tenta produzir um bem diferente que poderia ter mer-cado certo no outro parceiro. Nesse caso, pode-se argumentar que falta-riam recursos para essa transição. É verdade. Entretanto, talvez pudessefuncionar internamente, nos países ou até mesmo entre os membros inte-grados, algum mecanismo de financiamento a fim de facilitar uma mudan-ça de rumo na produção. De forma geral, portanto, é comum aceitar queuma integração econômica pode trazer mais benefícios aos parceiros inte-grados do que o contrário.

Integrar países em um estágio como os da Europa é diferente de ten-tar isso na África ou na América Latina. Na maioria das vezes, os países emdesenvolvimento produzem e vendem no mercado internacional produtosprimários e compram bens manufaturados. Aparentemente, estamos dian-te de uma situação complicada para se buscar uma integração. Entretanto,ela poderia vir para tentar mudar essa situação, e só a perspectiva demudança talvez já cause um impacto que sirva de estímulo. Afinal, o queseria melhor? Continuar em um modelo estagnado ou tentar algo quepudesse, mesmo com certa dificuldade, trazer alternativas favoráveis demudanças e ganhos?

Com um mercado interno maior, os custos de produção podem cair.Dessa forma, sobrariam mais recursos para outros investimentos. Em eco-nomias em que a falta de meios financeiros é uma constante, é impossíveldesprezar esse ganho. Existem estudos sobre integração econômica empaíses em desenvolvimento que mostram esse aspecto positivo. Foramutilizados alguns produtos na análise da tentativa de integração daAmérica Latina com a Alalc e também em certos países asiáticos. Mesmocom o fracasso da integração, principalmente no caso latino-americano,chegou-se à conclusão de que a unidade econômica traria benefícios à

Integração Regional6

área em termos de custos na produção e de que sobraria um pouco maisde recursos que poderiam ser investidos nos mesmos setores produtivosou em outros.

Outro benefício da integração entre países em desenvolvimento é quea unidade, se sincera e objetiva, fortalece o grupo em sua barganha comer-cial e de tarifas com outros países de fora da área integrada. O poder depressão na arena internacional é maior e só o aumento dele talvez já justi-ficasse a existência de uma integração. Os países desenvolvidos, em buscade maiores lucros, possivelmente teriam mais interesse em negociar comum grupo de países integrados, com mercado mais amplo, do que deforma individualizada. E um país emergente sozinho raramente conseguenegociar um acordo vantajoso. No mundo dos negócios, não existem filan-tropias, o jogo é duro e, para melhorar de posição, é preciso oferecer algoem troca. Em grupo fica mais fácil. O poder conjunto, por exemplo, dospaíses do Mercosul é bem maior. Pode-se até mesmo, em alguns momen-tos, impor condições, o que, desde o período colonial, a região não temcomo fazer. Uma abertura, uma pequena brecha favorável, no mercadointernacional pode gerar ganhos a um grupo de países em desenvolvimen-to. A unidade, se efetiva, ajuda também nas decisões de política internacio-nal. Um país sozinho votando em um fórum mundial tem menos força doque um grupo falando a mesma linguagem em uma disputa.

Insiste-se mais uma vez que uma integração não é nenhuma fórmulamágica. Sua existência, por si só, já não causa, obrigatoriamente, transfor-mações que levarão os países de fora da área integrada a ouvir com maisatenção os novos participantes do jogo internacional. Isso toma tempo,trabalho de unidade, esforço coletivo para mostrar que o processo estámesmo acontecendo. No caso latino-americano, a demonstração de que seestá no caminho certo é fundamental. Já se fracassou antes. Uma nova ten-tativa tem de ser coerente e efetiva para ganhar credibilidade.

Uma integração também pode ajudar a manter mais recursos regio-nalmente. Com o mercado ampliado, é quase certo que se venderá e secomprará mais na região. Com isso, recursos destinados a comprar de ter-ceiros circulariam internamente. Não estamos falando em fechar o merca-do ou não permitir competição com países de fora da área integrada. Acompetição deve existir e ajuda na eficiência. Uma área não pode querer só

Integração Econômica: Teoria e Prática 7

vender aos parceiros internos nem impedir a presença de terceiros. Seriaum erro, pois os outros também se fechariam e as regras que gerem ocomércio internacional são contra esse tipo de procedimento. Propõe-sesempre crescer o comércio mundial e não restringi-lo. É útil vender e com-prar dentro de uma integração, uma vez que mais recursos circulariam embenefício dos países integrados. O caso Brasil-Argentina hoje é um exem-plo. O comércio entre os dois lados aumentou sem que, no entanto, apare-cesse até agora nenhuma fobia contra países de fora da integração. Alémdisso, não se tem notícia de reclamação de organismos internacionais deque aqui se pratica discriminação comercial. Os dois parceiros estão ga-nhando e sem desviar comércio. Portanto, podemos dizer que são nume-rosos os ganhos em uma integração. Em teoria, pode-se afirmar que umaunidade econômica é mais benéfica do que o contrário, porém não custanada continuar destacando mais alguns problemas relacionados à integra-ção entre países em desenvolvimento.

Os obstáculos são muitos: físicos, políticos, comportamentais e tantosoutros. Montanhas, rios e florestas colocam muitas vezes os países de cos-tas um para o outro. Voltam-se para o litoral, e o mar, em geral, é o ca-minho que liga uma região aos grandes centros mundiais. Os obstáculosnaturais existem, em primeiro lugar, por falta de um comércio interno. Seele for lucrativo, pode surgir algum recurso para se abrir estradas. Sem umcomércio mais efetivo, não há meios de transportes adequados, e, com isso,os preços dos produtos tendem a ficar mais altos. No período da Alalc,como veremos adiante, era preferível comprar bens de fora da área, comcustos de transportes menores, do que de vizinhos. O pequeno comércioregional, de forma geral, era feito pelo mar. Quando esse é o principal meiode transporte, as cidades portuárias levam vantagem sobre o restante dopaís em termos de produção e distribuição. Portanto, a existência de meiosde transportes eficientes é muito importante na integração

Também é necessária certa estabilidade. Muita trepidação nessecampo pode complicar o processo. Se cai um governo, o novo, em busca deapoio, poderá fazer concessões a grupos de pressão interna que estavam sesentindo prejudicados com algum aspecto da integração. Outro governo,grupo diferente, e tudo que o antecessor apoiava, quem sabe, poderá serdestruído e não haveria continuidade. O melhor seriam governos eleitos e

Integração Regional8

com estilos aproximados, democracia, Congresso e imprensa livres e sindi-catos atuantes. Não que todos os países atuassem politicamente da mesmaforma, a história de um e outro são diferentes. Contudo, seria importanteque houvesse, pelo menos, alguma unidade de princípios entre os partici-pantes. Ditaduras, de esquerda ou de direita, atrapalham. É um pequenogrupo que manda, não há uma participação efetiva da maioria, e semsuporte na sociedade fica difícil consolidar um processo que, por si só, já écomplicado.

Em teoria (e na prática), é evidente que é útil viabilizar meios deaumentar o número de pessoas ao mercado consumidor. A distribuição derenda é importante. Não estamos falando em transferir do rico para opobre, e sim em encontrar, dentro de cada economia nacional, mecanis-mos próprios para não acentuar o acúmulo de riqueza nas mãos de pou-cos, o que prejudicaria a integração.

É complicado também o relacionamento das economias maiores emenores em uma integração entre países emergentes. Um país deve parti-cipar de uma integração para ganhar e não só para perder. A balança comer-cial entre os lados não pode ser eternamente favorável para as economiasmaiores, porque déficit crônico nas trocas é morte certa do processo.Internamente, nos países, surgirão reclamações, mexe-se com o nacionalis-mo e levantam-se grupos contra a tentativa de unidade econômica. Não éum problema de fácil solução, uma vez que a economia maior é mais atra-tiva ao capital internacional para investimentos. Uma fábrica de tratores,por exemplo, preferirá se instalar no Brasil do que no Paraguai. Mercadomais amplo, meios de transportes e comunicações mais adequados, e outrosfatores fariam do Brasil um local com certas vantagens, aumentando, porconseqüência, a distância entre os membros da integração.

Até os bancos de fomento muitas vezes irão preferir emprestar di-nheiro às economias maiores, nas quais as garantias aos recursos empres-tados são maiores. Os países de economias menores, no geral, não possuemindústrias, produzem matérias-primas e nas trocas estariam, a princípio,em desvantagem. E, de forma geral, os países em desenvolvimento quasesempre produzem bens idênticos. Fica difícil até para a economia maiorcomprar algum produto. No entanto, a teoria da integração econômica dizque se deve buscar alternativas de integração com os vizinhos, mesmo que

Integração Econômica: Teoria e Prática 9

tenham economias menores. Não seria lógico que uma região se integras-se somente entre economias maiores. Vizinho eternamente pobre é preju-dicial. O caso de Portugal e Espanha na comunidade européia é o exemplopositivo. O caso Brasil-Bolívia, apesar deste último país ainda não perten-cer ao Mercosul, merece referência. A Bolívia, se estivesse na integração,poderia ter déficits quase constantes com o Brasil, como aliás ocorre hoje.O país possui poucos produtos que interessariam ao Brasil; entretanto como acordo do gás, que permitiria que esse bem fosse vendido aqui, a Bolíviateria condições de participar melhor do Mercosul. Compraria do Brasil,mas teria ganho também na venda do seu gás. A troca seria mais equilibra-da e ajudaria a diminuir o descontentamento com o problema da balançacomercial deficitária.

Existem fórmulas para que as economias menores possam participare ter ganhos na distribuição de benefícios. Por exemplo, bancos de fomen-to poderiam dar preferência a investimentos em infra-estrutura nas eco-nomias menores. É verdade que, na prática, é um pouco difícil. Às vezes,as economias consideradas maiores também são pobres e é complicadoabrir mão de prováveis recursos em favor de outros países. Todavia, emteoria, isso é possível. Outra opção seria criar entre os países membros umfundo especial ou até mesmo um banco de investimento para ajudar naintegração, dando alguma preferência aos países de economias menores.Digamos que os países concordassem em colocar no fundo o equivalentea 0,25% do seu orçamento ou do PIB. Uma economia maior, é óbvio, teriauma participação mais acentuada. O difícil seria estabelecer o ponto deequilíbrio na redistribuição futura. Quem contribui com mais deve ter,em princípio, direito a um saque maior, porém deveria ser em um pata-mar que não prejudicasse os demais parceiros. A verdade é que o cresci-mento da economia menor será benéfico para a maior. Caso uma sufoquea outra, todos perdem.

As economias menores poderiam ter ainda alguns benefícios tari-fários, por tempo estipulado. Com preferências para exportar e mercadolivre no parceiro, seus produtos primários teriam facilidades para entrarnas economias maiores. Também seria importante permitir que as econo-mias menores impusessem algum controle nas importações. Não restri-ções absurdas, mas certos mecanismos que ajudassem na balança comer-

Integração Regional10

cial. Uma proteção adequada, não excessiva, seria aceitável. Não se podeperpetuar isso, pois estaria sendo sacrificado o principio básico da integra-ção, que é a liberdade comercial e suas conseqüências nos campos da pro-dução, tecnologia e circulação de capital.

Além disso, a economia menor não seria obrigada a comprar produ-tos industrializados do parceiro integrado que tivessem preços e qualida-des bem diferentes daqueles encontrados no mercado internacional, e atémesmo poderiam ter algum tipo de financiamento do país vendedor. Nãoseria justo prender as economias menores nesse círculo de fogo. No passa-do, no caso da Alalc, essa foi uma das maiores queixas. O resultado foirompimento.

Uma planificação econômica mínima entre os países integrados po-deria ser útil também. Não é manietar o processo econômico, o que nãodeu certo em economias centralizadas. É ter um direcionamento, definirum caminho e sinalizar pelo menos o rumo, o resto fica para as forças demercado. Com certa planificação e unidade, evitam-se sobressaltos desne-cessários, economizam-se tempo e recursos. É quase impossível integrarsem que os parceiros tenham ao menos noção dos passos econômicos futu-ros do outro. Um problema na Argentina pode afetar o Brasil e vice-versa.Daí a importância do diálogo para planejar alguns caminhos de formaconjunta.

O mais importante de tudo, porém, é a vontade de concretizar a inte-gração, uma decisão política forte, que deve ter o apoio da maioria. NaEuropa, a questão da integração fez parte de grandes disputas eleitorais, emdiferentes países. No voto, depois de debatido o assunto, em eleições nor-mais ou em plebiscitos específicos, o povo definiu o caminho. A decisãopolítica foi da maioria. Já o caso da América Latina é mais complicado. Oassunto integração econômica regional nunca fez parte da agenda de umagrande disputa eleitoral no Brasil. Uma integração efetiva afetaria a vida demilhões de pessoas e seria lógico que fosse mais debatida em todo país.

Mesmo com todos os problemas, acredita-se que uma integração eco-nômica é mais benéfica do que o contrário. O trabalho em conjunto deuma região tem um alcance político, econômico e cultural muito maior doque se pode imaginar. A tentativa de integração econômica, através daAssociação Latino Americana de Livre Comércio, é um exemplo de como,

Integração Econômica: Teoria e Prática 11

na teoria, poderia ocorrer uma unidade regional. Entretanto, na prática,frente à realidade regional encontrada, tudo caminhou na direção contrá-ria àquela imaginada pelos criadores desse processo integracionista.

A Associação Latino Americana de Livre Comércio

A formação de blocos econômicos é um fato concreto. Contudo, édifícil acreditar que países distantes buscariam meios de se integrar.Imaginar que o Brasil um dia poderá se integrar com a Coréia do Sul éirrealista. O comércio entre os dois lados pode aumentar, mas acreditarque haverá uma aproximação mais efetiva, como requer uma integraçãoeconômica, vai uma distância maior do que os oceanos que nos separam.A proximidade geográfica, meios de transportes adequados, atividadecomercial anterior, algum laço histórico e cultural ajudam a facilitar ummaior entendimento econômico em uma região. Os exemplos de antes ede agora são a União Européia, o Mercosul, a Comunidade Andina, oCaricom, o MCCA, o Nafta, a Alca e as integrações na África e na Ásia.Assuntos que este livro trata em capítulos diferentes.

São tentativas de integração que, com maior ou menor velocidade,buscam uma unidade econômica, em beneficio de países de uma mesmaregião. Umas, apesar dos tropeços, tiveram mais acertos, outras não chega-ram ao patamar desejado. Na América Latina, antes de se chegar às inte-grações em andamento, tentou-se, a partir da década de 1960, uma unida-de econômica regional na América Central, com o Mercado ComumCentro-Americano e outra, mais ampla, que incluiu todos os países daAmérica Latina, na Associação Latino Americana de Livre Comércio. Nãoprosperaram, tiveram problemas e morreram anos depois. No entanto, nãodeixaram de ser úteis como aprendizado para uma região que, desde operíodo colonial, não pratica um comércio regional ativo. Os fatos suge-rem que as integrações em andamento na América Latina tiraram liçõesdos acertos e erros ocorridos naquelas tentativas de integração.

Em janeiro de 1960, foi criada a Associação Latino Americana deLivre Comércio, ou Alalc, e, em dezembro, o Mercado Comum CentroAmericano. Fazia parte da primeira todos os países da América do Sul

Integração Regional12

mais o México, da América do Norte. O MCCA era composto pelos cincopaíses da América Central. Um órgão da ONU, Comissão Econômica paraa América Latina, ou Cepal, dava suporte e incentivo para todo o proces-so. A idéia básica da Cepal era que, para crescer economicamente, a regiãodeveria se industrializar e não só vender bens primários. Na teoria cepali-na, os mercados nacionais ainda eram pequenos para a produção de benscom tecnologias mais sofisticadas. Com a integração, o mercado se am-pliaria e seria mais fácil aplicar a economia de escala. Dessa forma os bensteriam qualidade e preço e poderiam até mesmo competir com os produ-zidos fora da zona integrada. Era uma bela teoria, porém fora da realida-de local. Vejamos o que ocorreu na Associação Latino Americana de LivreComércio.

Ela deveria obedecer a certos princípios gerais. Em primeiro lugar,todos os países latino-americanos, exceto os da América Central, fariamparte do projeto, e todas as mercadorias produzidas dentro da região seriamincluídas nas trocas futuras. Estabelecia-se também que países de menordesenvolvimento relativo teriam tratamentos diferenciados e que pode-riam ser criadas restrições temporárias às importações por parte de um ououtro membro integrado. A especialização industrial e a competitividadedeveriam estar presentes como resultados do livre jogo econômico. Acei-tava-se, para o futuro, uma tarifa externa comum nas transações com oresto do mundo. A Cepal também pretendia estabelecer na região um sis-tema de créditos e assistência técnica e propunha-se ainda a criar um corpoconsultivo com os países da integração e alguma forma institucionalizadapara esclarecer dúvidas, inclusive sobre a procedência de produtos. Aoobservar esses princípios, do ponto de vista histórico, vê-se que, desde asua formação, a proposta era muito ambiciosa e difícil de implantar.Barreiras e restrições aqui, cláusulas e grupos especiais ali mostram que oprocesso todo, quando em contato com a dura realidade regional, seriabastante complicado. Foi o que ocorreu.

Naquele momento, a tentativa de integração chegou com fanfarras eesperanças. Conseguiu algumas vitórias, porém a proposta, com dificulda-des e aos tropeções, morreu alguns anos depois. Só boa vontade, sem res-paldo nos fatos e no cotidiano latino-americano, não foi suficiente e o pro-jeto fracassou. Foram inúmeros os obstáculos.

Integração Econômica: Teoria e Prática 13

O comércio entre os países da zona integrada era raquítico. No iníciodo processo era menos de 6% do total do comércio da área com outros paí-ses, principalmente os da Europa e os Estados Unidos. O comércio regio-nal, desde o período colonial, estava voltado para os grandes centros con-sumidores. Com a Alalc, depois de muitos esforços, as trocas subiram paracerca de 10% do total. Na Europa, quando começou a integração, já estavamem torno de 40%. Os países da América Latina, de forma geral, produziamquase os mesmos bens no campo, as economias eram mais competitivas doque complementares. Os melhores mercados para os produtos da área con-tinuavam a ser os tradicionais centros consumidores de antes.

Como secularmente esse fato fazia parte da realidade local, os siste-mas de transportes internos eram deficitários. As diminutas ligações porrodovias, ferrovias e hidrovias praticamente inviabilizavam o aumento nastrocas. Se os maiores mercados compradores estavam fora da zona integra-da, era até natural que internamente houvesse poucos investimentos emmeios de transporte. Os portos, por conseqüência, passavam a ser quase oúnico meio para se comprar e vender produtos. Além da falta de investi-mentos no setor, havia ainda desconfianças e históricos desentendimentosregionais entre mais de um membro. Como exemplo, os sistemas de bito-las das ferrovias argentinas e brasileiras eram diferentes. As linhas férreasnão podiam entrar no território do outro, pois pressupostamente levariamproblemas para o vizinho. Sem transportes adequados, a tentativa de inte-gração econômica já começava com um gargalo impeditivo na melhoradas trocas regionais. Algumas vezes, por exemplo, era preferível a um paísda região comprar minério do Chile vindo do porto de Nova Orleans, nosEstados Unidos, do que diretamente. Para aquele porto, havia cargas com-pletas em ambas as direções, o que diminuía os custos. Não era o caso entreos muitos países da região.

O comércio pelo mar, concentrado quase que exclusivamente em por-tos, é ruim para um processo de integração econômica. Navios chegam,descarregam, recebem cargas e voltam, sem qualquer contato maior. Osbenefícios do comércio e da integração acabam centrados em determina-das cidades. Isso não é saudável para o processo. A Cepal acreditava que, sea integração deslanchasse, as forças econômicas iriam buscar alternativaspara melhorar os meios de transportes da área. Em princípio e em teoria,

Integração Regional14

estava correta outra vez, mas, frente à realidade concreta da vida regional,não foi o que aconteceu.

Entre os membros da Alalc, houve ainda muita fricção. Os países deeconomias menores tinham receio de abrir as portas para o comércio eserem sufocados pelas maiores. Argentina, Brasil e México já possuíamcerta industrialização. Dentro de uma integração, é natural que os mem-bros integrados procurem sempre aumentar internamente as trocas. Aíestava o problema. Os bens industrializados aqui produzidos, por falta detecnologia e do excessivo protecionismo, tinham custo final mais alto. Osmesmos bens de outros lugares, além de custos mais adequados, possuíammelhor qualidade e, muitas vezes, com financiamentos dos próprios paísesprodutores. As economias menores começaram a reclamar. Para que a ten-tativa não naufragasse, foram surgindo diferentes concessões. A partir decerto momento, o Equador e o Paraguai ganharam proteção extra. Logodepois, países de porte médio como Venezuela, Colômbia, Chile e Perupediam o mesmo. Com tantas exceções, era previsível que o comérciolocal, em vez de aumentar, fosse restringido. Um pressuposto negativo àidéia da zona de livre-comércio.

Tentou-se de todas as formas que a integração fosse em frente. As eco-nomias maiores concordaram em abrir seus mercados para a venda de pro-dutos das economias menores. Umas poderiam impor restrições, outrasnão. Ocorreu que as economias menores, mesmo com alguma boa vontade,não possuíam muitos bens para comercializar. Quase todos tinham produ-tos primários. Setor, aliás, um tanto quanto competitivo entre os parceiros.Para produzir outros bens, precisariam de fortes investimentos em infra-estrutura para o crescimento; entretanto, energia, estradas e fábricas nãosurgem do dia para a noite. Além disso, os bancos de fomento pediam tan-tas garantias que os melhores investimentos acabavam indo para as econo-mias maiores, o que acentuava o desequilíbrio. Também o capital interna-cional preferia investir mais em países como o Brasil, do que no Paraguai ouna Bolívia. Mercado, mão-de-obra e meios de comunicação faziam a dife-rença. As economias menores foram ficando para trás.

No meio disso tudo, entra o nacionalismo. Ou, se não tanto, a explo-ração do mesmo por setores da economia que se sentissem prejudicados.Perdendo na competição e no comércio direto, não era difícil conquistar

Integração Econômica: Teoria e Prática 15

parte da opinião pública contra aquela espécie de invasão. E não se podeesquecer, no caso da Alalc, que estamos falando da década de 1960, perío-do interessante da história regional. A instabilidade política era crônica, osânimos estavam extremados, a Guerra Fria no auge. Mesmo se o governode um certo país, na busca sincera de uma integração, procurasse seguir asdiretrizes corretas do processo, encontraria fortes dificuldades internas.Um setor descontente procuraria meios, quais fossem, para impedir possí-veis perdas; não queria competição de fora. Como muitos dos governos daárea não se assentavam em verdadeiras bases democráticas, em que opoder estivesse embasado na vontade da maioria, era fácil sacudi-lo, ame-drontá-lo ou até derrubá-lo. E quando isso ocorria, os novos donos dopoder podiam ter opiniões diferentes sobre o processo em andamento. Afalta de continuidade nos acordos feitos, mesmo internacionais, tem sidouma característica interessante da região. Portanto, a falta de legitimidadepopular, associado aos reflexos da Guerra Fria trazidos para a AméricaLatina, ajudou também a enfraquecer o processo de integração.

Além desses aspectos, havia ainda a instabilidade econômica, quaseendêmica na área. Não é impossível, mas é bastante difícil integrar países cominflação em patamares distorcidos e diferentes entre si. Déficits comerciais oude balanços de pagamentos também atrapalhavam a boa vontade geral. Oprocesso já era difícil, principalmente para aquele momento, e ficar à mercêde problemas econômicos graves tornava tudo um sonho distante.

Um outro erro daquela tentativa foi a idéia de integrar todos os paí-ses ao mesmo tempo. Houve propostas, como a brasileira em uma reuniãono Panamá em 1959, que procuravam mostrar que a integração deveriacomeçar com blocos menores e entre países mais próximos um do outro.A sugestão não foi aceita e todos os países foram integrados de uma só vez.Foi um complicador. Quais meios de comunicações, por exemplo, existiamentre o Equador e o Brasil? Países de uma mesma sub-região poderiam termais facilidades nas trocas. Ou, ao longo do tempo, pelo menos seria maisfácil suprir as necessidades de transportes. A Cepal não aceitou esse cami-nho, talvez acreditasse que o desequilíbrio aumentaria. Tantos anos depois,percebe-se que, através do Mercosul e outras tentativas de integração naregião, a melhor alternativa é mesmo a busca de parceiros comerciais maispróximos uns dos outros.

Integração Regional16

Quando analisamos um pouco melhor os passos da Alalc, economiasmaiores, como as da Argentina, Brasil e México também não mostravamgrandes interesses na integração. Os mercados consumidores nacionaisestavam em expansão. Empresários, com mercados cativos e em crescimen-tos, cercados de protecionismos por todos os lados, não iam querer abrir-separa a competição. Não fizeram grandes esforços. Pelo contrário, com opassar do tempo e com as dificuldades crescentes da Alalc, procuraram ficardistantes e mostrar, com críticas, o que estava acontecendo.

Estamos, como já dissemos, na década de 1960. Momento em que ospaíses, pelo menos os maiores da área, buscavam a auto-suficiência na pro-dução de certos bens como aço, petroquímica, carros, fertilizantes e outros.O correto, em teoria, talvez fosse que o Brasil procurasse ser um fornece-dor confiável de aço da área, pois possuía boas reservas minerais. AArgentina, com petróleo sobrando, poderia ser a base da petroquímica.Contudo, com os militares no poder aqui e lá, com o nacionalismo falan-do mais alto, com desentendimentos antigos entre os dois países, é difícilacreditar que isso pudesse ocorrer. Todos os países começaram a tomardinheiro no mercado internacional, a fim de criar suas infra-estruturaspara o crescimento, mesmo com custos mais elevados. O Chile, por exem-plo, não possuía um mercado interno que justificasse um alto investimen-to em siderurgia, mas ainda assim o fez. Não queria ficar dependente depaíses da área. Sem entendimento adequado, surgiu mais um complicadorcontra a atuação da Alalc.

Talvez fosse preciso também tentar algumas reformas, desconcentrarrenda, para se agregar mais consumidores ao mercado. Este, mesmo am-pliado, não era tão atrativo. Falar em reforma agrária naquele período eraaté perigoso, governos caíam. E sem incorporar, aos poucos, mais pessoasno processo produtivo e consumidor, tem-se outro empecilho ao desenvol-vimento de uma integração econômica.

A Alalc desapareceu e, em seu lugar, foi criada, em 12 de agosto de1980, a Aladi ou Associação Latino Americana de Integração, também comsede em Montevidéu. O novo organismo foi a alternativa encontrada paradizer formalmente que a tentativa de integração econômica continuava aexistir. Flexibilizaram tudo, não havia mais prazos fixos para eliminaçõesalfandegárias, não se impunha mais nada. Os sócios não tinham mais obri-

Integração Econômica: Teoria e Prática 17

gações firmes entre si. A Aladi teve morno desempenho, quase ninguémpercebeu sua atuação.

Pode-se afirmar também que não era adequado o momento em quese tentava a integração econômica da América Latina. A conjuntura local emundial trabalhava contra. A idéia era interessante, bonita no papel, masfrente à realidade da época a caminhada tornou-se difícil. Todavia, écomum aceitar que a tentativa foi válida, serviu de experiência. O pior serianem ter tentado. O aprendizado com o passado, a partir dos erros e acer-tos, é útil para as tentativas de integração sub-regionais em andamento.Hoje, tenta-se fugir dos equívocos de antes. E, para facilitar, tem-se, nomomento, uma situação regional e mundial mais favorável. Os ventos daglobalização sopram na direção da formação de blocos econômicos.Também na região a estabilidade econômica agora é mais concreta, e aabertura política, com eleições regulares, dá mais legitimidade àqueles nopoder. A Alalc fracassou, mas pelo menos serviu como escola para o atualmomento.

Antes daquele desfecho, em maio de 1969, em Cartagena naColômbia, como resultado da crescente insatisfação dentro da Alalc, ospaíses dos Andes, com o Pacto Andino, criaram uma outra integração.Chile, Colômbia, Venezuela, Bolívia, Peru e Equador eram os membros.Por serem economias mais ou menos nos mesmos patamares de desenvol-vimento, acreditava-se que a integração ocorreria de maneira mais equâni-me. No início até foi assim, porém não demorou muito e quase os mesmosproblemas existentes na Alalc começaram a surgir ali também. Choques deinteresses, nacionalismo, instabilidades política e econômica, mercados defora mais atrativos, falta de capital e tecnologia, produção local com altocusto e ainda desentendimentos entre as economias de porte médio com asmenores. Enfim, problemas latino-americanos característicos e seculares.Nesse caso, a proposta integracionista também teve problemas. Em anosmais recentes, como é mostrado mais adiante, essa integração tenta se reer-guer e recuperar o tempo perdido.

Na América Central, houve outro fracasso. Em uma região que, emteoria, poderia fazer funcionar o processo. Mesmo povo, língua, religião,costumes, história, economias pequenas e comunicações supostamentemais adequadas. Puro engano. Os choques foram constantes. Economias

Integração Regional18

menores do que as outras, como a de Honduras e a da Nicarágua, logopediram proteção extra contra a maior agressividade da Guatemala e de ElSalvador. Aumentavam-se as restrições, trocas de acusações, recuos eameaças que mostravam que os caminhos da liberalização econômica daárea tinham muitos obstáculos. Dois fatores podem ser citados comovilões maiores para a quebra da unidade econômica naquela área.Primeiro, as economias integradas produziam, no campo, quase os mes-mos bens. Segundo, a região passou a ser foco de disputa internacional,com a ex-União Soviética de um lado e os Estados Unidos do outro. Hoje,outra vez, depois do sofrido aprendizado, tentam recomeçar a caminhada.

Desde algum tempo, portanto, povos de diferentes regiões, uns comsucesso e outros nem tanto, tentam eliminar entraves ao comércio regionalcom a intenção de incentivar o crescimento econômico e melhorar o bem-estar das populações. Com o fim da Guerra Fria, com o bloco socialistadando passos em direção à economia de mercado, a questão da integraçãoé parte da agenda mundial de agora. A União Européia, como exemplodessa nova realidade, estará, aos poucos, incorporando países que antesfaziam parte do bloco soviético ou do antigo Comecom, ou Conselho deAssistência Econômica Mútua, que existia no bloco socialista, um contra-ponto à integração das economias da Europa Ocidental. Com os gruposeconômicos formados ou em formação, espera-se que o comércio mundialaumente. Aliás, isso é pressuposto forte na OMC, o comércio sempre temde aumentar e não o inverso.

Integração Econômica: Teoria e Prática 19

A I n t e g ra ç ã o n a E u r o p a

A União Européia

Entre todos os processos de integração em andamento no mundo atual, omais adiantado e profundo é o da União Européia, que envolve 22 países.Sua principal característica é que se trata de um esquema de integraçãoarrojado, o mais complexo e avançado em todo o planeta. Assim, a integra-ção européia tem servido de exemplo e inspiração para vários outrosesquemas de integração, como o Mercosul, por exemplo. Na Europa, nãose pretende apenas criar uma ampla zona de livre-comércio ou uma uniãoaduaneira, mas sim criar um modelo de integração com objetivos econô-micos e políticos com amplos reflexos sociais. Por se tratar de um esquemade integração ao mesmo tempo pioneiro e profundo, um verdadeiro pro-jeto político, este capítulo assume uma importância evidente no âmbitodeste trabalho.

Atualmente, as pessoas olham para a Europa e ficam admiradas quan-do observam os grandes avanços obtidos desde a assinatura do tratado quecriou a Comunidade Européia do Carvão e do Aço, embrião da UniãoEuropéia. Isso porque o processo de integração vem dando certo, uma vezque se pode afirmar que, no espaço europeu, já há um espírito de comuni-dade implementado. Os europeus conseguiram, com um processo gradati-vo e persistente, criar mecanismos que colocaram em marcha um progra-ma consistente e bem-sucedido de integração, pensando a Europa nãomais exclusivamente pelo prisma do nacionalismo e das divergências polí-ticas que tantos males causaram àquele continente e ao mundo. Agora,

apesar dos percalços naturais inerentes a qualquer programa de integração,é quase impensável imaginar uma volta ao passado nos moldes de umafalência da integração européia. Além do mercado comum, os europeus jáatingiram a união econômica e monetária e estão construindo a uniãopolítica, o último estágio para uma integração completa e a superação ouremodelação da forma de organização econômica e política baseada nomodelo do Estado-nação, muito difundido desde o século XIX. Assim, oque está acontecendo na Europa pode ser uma visão do futuro, no sentidode uma redefinição dos espaços econômicos, que agora estariam passan-do por uma fase de ampliação das tradicionais fronteiras nacionais, em um processo de reconstrução do modelo tradicional que poderá levar a umcrescente regionalismo.

Mesmo admitindo uma série de ressalvas com relação à afirmação daexpansão do fenômeno do regionalismo, não se pode deixar de considerara força desse fenômeno desde pelo menos o início da segunda metade doséculo XX. Em todos os continentes, há processos de integração em anda-mento, e uma parte deles se inspira justamente no modelo europeu. Issonão quer dizer que já exista um futuro predeterminado e que o futuro dahumanidade será a superação pura e simples do nacionalismo pelo regio-nalismo, com a criação de novas identidades. O que se pode observar, comelevado grau de segurança para generalizações desse porte, é que essa éuma tendência universal.

A seguir, abordaremos as origens da União Européia, contextualizan-do sua criação para, em seguida, traçarmos um quadro de sua evolução. Ocapítulo terminará com uma análise do estágio atual da integração naEuropa.

O contexto histórico europeu mais recente, isto é, durante o séculoXX, foi marcado por uma diversidade política e ideológica de largoalcance. Ao contrário dos dias atuais, momento em que vemos umaEuropa mais unida e tendendo ao equilíbrio entre os países membros, emmomentos históricos anteriores, sobretudo na primeira metade do séculoXX, o quadro era completamente diverso. A Europa viu o nascimento doséculo XX profundamente marcada por divergências políticas e econômi-cas, sem contar que havia também um exacerbado sentimento naciona-lista, geralmente de caráter xenófobo.

Integração Regional22

A competição econômica entre as potências européias de então, queviviam em um mundo paradoxal – ao mesmo tempo liberal e bastante pro-tecionista–, foi um dos fatores que levou ao conflito generalizado conheci-do como a Grande Guerra, ou Primeira Guerra Mundial. Naquele período,o estranhamento e a competição ditavam a tônica das relações inter-euro-péias; tanto é assim que a Guerra foi tida como inevitável e suas propor-ções atingiram uma dimensão nunca antes vista, sendo os principais ato-res os Estados mais fortes da Europa.

Logo após o conflito, que terminou em 1918, a Europa continuoudividida. A Alemanha, peça-chave no contexto europeu, saiu derrotada ehumilhada da guerra, obrigada a assinar uma rendição absurda e que foivista, mesmo por alguns de seus contemporâneos, como impossível de serhonrada e, o que é pior, geradora de conflitos futuros. O Tratado deVersalhes, que selou a paz com a Alemanha (na verdade, uma espécie derendição incondicional do país), era uma verdadeira agressão à economiae ao orgulho do povo alemão. Como resultado disso, a economia alemãmergulhou em uma crise de grandes proporções, experimentando o paísum processo de hiperinflação com poucos paralelos na história econômi-ca mundial.

Um dos resultados do hiato que separava os países e povos europeus,conseqüência de um sistema econômico excludente, foi o surgimento demovimentos políticos contrários ao status quo. Assim, nasceu o fascismo,na Itália, e seu congênere germânico, o nazismo. Entretanto, não só a Itáliae a Alemanha experimentaram sistemas políticos contestadores do libera-lismo clássico e do comunismo nascente. Espanha e Portugal, por exemplo,não tardariam em experimentar suas próprias ditaduras de cunho fascista,todas elas explorando o nacionalismo como meio para atingir a coesãointerna. Da mesma forma, em vários outros países europeus, verificou-se aexistência de correntes de pensamento afins ao nazismo e ao fascismo.Mesmo que não tenham chegado ao poder, mantiveram-se política e ideo-logicamente ativos, animando o pensamento e a ação nacionalista duranteas décadas de 1920 e 1930.

Do ponto de vista econômico, portanto, nada na Europa do início doséculo indicava que aquele continente fosse, um dia, passar por um proces-so de integração econômica. Muito pelo contrário. Envolvidos em um cres-

A Integração na Europa 23

cente contexto de rivalidade, os Estados europeus acabaram entrando emum novo, mais dramático e devastador conflito, que foi a Segunda GuerraMundial. Novamente, como atores de grande importância, estavam aFrança e a Alemanha. Muito embora não possamos reduzir as causas daSegunda Guerra às rivalidades políticas entre esses dois países, com certe-za a evidente instabilidade política na Europa passava pelas aspiraçõesentão divergentes entre esses dois atores.

No interregno entre a Primeira e a Segunda Guerra mundiais, o con-texto político e econômico europeu era complexo e com posições ideoló-gicas excludentes. A ascensão e consolidação do nazi-fascismo, nas décadasde 1920 e 1930, marcaram época e acirraram o clima tenso no centro dosistema capitalista. Um clima nada propício para qualquer processo deintegração econômica. A Segunda Guerra mundial, na perspectiva da inte-gração, serviu para evidenciar para a liderança política e intelectual euro-péia a necessidade de um reordenamento nas relações entre os Estadoseuropeus. Ademais, é interessante observar que foi naquele contexto deguerra e rivalidades que políticos e estadistas europeus começaram a pen-sar de modo efetivo na integração como solução para as dramáticas fra-turas políticas, geralmente motivadas por sentimentos nacionalistas e aspi-rações hegemônicas, por parte de alguns dos atores mais importantes docontinente europeu.

1950: O Início da Integração

No alvorecer da década de 1950, o continente europeu encontrava-se àbeira do abismo. A Guerra Fria fazia pesar a ameaça de um conflito entre asgrandes superpotências e, bem no meio delas, estava a maior parte dos paí-ses europeus. Cinco anos após o término da Segunda Guerra Mundial, aaliança esdrúxula e paradoxal que colocou lado a lado capitalismo e comu-nismo, criando uma incrível aliança ideológica, já demonstrava o quão frá-gil havia sido essa costura política, criada pelo imperativo de deter o avan-ço da Alemanha nazista, sedenta de poder e de vontade de redefinir profun-damente as relações internacionais e todo o jogo ideológico então vigente.

Como evitar os erros do passado e criar condições para uma pazduradoura entre os principais rivais continentais continuava sendo uma

Integração Regional24

questão crucial a ser resolvida. A falha da Liga das Nações em conseguircriar condições para a manutenção da paz entre os Estados era um indica-tivo forte nesse sentido. Além disso, o problema central permanecia prati-camente o mesmo, ou seja, o problemático e conturbado relacionamentoentre a França e a Alemanha. Era necessário criar uma relação forte entreesses dois países e reunir em torno deles outros países europeus, sobretu-do ocidentais, a fim de construir conjuntamente uma comunidade comum sentimento de destino em comum. Foi nesse contexto que Jean Monet,experiente negociador e construtor da paz, propôs ao ministro de NegóciosEstrangeiros francês, Robert Shuman, e ao chanceler alemão, KonradAdenauer, a idéia de criar interesses comuns entre os seus países, ou seja, agestão, sob o controle de uma autoridade independente, do mercado docarvão e do aço, setor estratégico para o desenvolvimento econômico deambos. A proposta, formulada em maio de 1950 pela França, foi aceita porAlemanha, Itália, Holanda, Bélgica e Luxemburgo.

Assim, o Tratado que celebrou a primeira Comunidade Européia, de-signada Comunidade Européia do Carvão e do Aço (CECA), foi assinadoem abril de 1951, após um ano de negociações. A CECA abriu caminhopara o futuro da integração européia, constituindo-se, portanto, em ummarco importante da atual União Européia.

É sempre bom lembrar que a integração dos países europeus tambémrespondia a imperativos de ordem política e estratégica. A supremacianorte-americana e a divisão bipolar do mundo, com a União Soviéticacomo a outra superpotência, colocavam os países europeus em uma posi-ção secundária no cenário internacional.

De atores principais no mundo multipolar do século XIX até pelomenos o final dos anos 30, após a Segunda Guerra Mundial, os Estadoseuropeus estavam enfraquecidos e passaram a exercer um papel coadju-vante na política e na economia mundiais. Assim, tomados como atoresindividuais, sua capacidade de influência internacional sofria constrangi-mentos estruturais. A união, via integração, foi também uma maneira demanter a Europa como espaço importante do centro decisório da políticae da economia internacional.

Dessa forma, a idéia de integração regional correspondia a objetivosinternos e externos. No plano interno, havia a necessidade de consolidar

A Integração na Europa 25

espaços econômicos consistentes que pudessem alavancar as combalidaseconomias européias, além de se constituir também um importante ele-mento político, no sentido de proporcionar mais coesão às nações do con-tinente europeu. Já no plano externo, tratava-se de uma tentativa, a médioe longo prazos, de resgatar a importância da Europa como ator internacio-nal de peso em um contexto inicialmente desfavorável, tendo em vista aordem bipolar em franca expansão.

1957: A Comunidade Econômica Européia

O Plano Shuman, idealizado por Robert Shuman, tinha dado origema uma comunidade especializada em dois domínios estratégicos, mas limi-tados: o carvão e o aço. Sob a pressão da Guerra Fria, foram tomadas ini-ciativas nos domínios da defesa e da união política, mas a opinião públicaainda não estava preparada para aceitá-las e nem tampouco parte expres-siva das lideranças políticas européias, mesmo porque o sistema bipolarcolocava, como mencionado anteriormente, constrangimentos para a açãointernacional dos Estados europeus. Os seis Estados membros da CECAescolheram, portanto, uma nova e mais importante área de integração nodomínio econômico: a criação de um mercado único, idéia que avançavadiante dos limitados objetivos iniciais de uma integração promovida embases setoriais. Todavia, é importante observar o elemento estratégico daintegração setorial, que pode ser encarado como uma etapa natural doprocesso de regionalização na Europa.

O Tratado de Roma, assinado em 25 de março de 1957, previa acriação de mais duas comunidades no espaço europeu, a ComunidadeEconômica Européia (CEE) e a Comunidade Européia de Energia Atô-mica (Euratom). O Tratado também criou instruções e mecanismos detomada de decisão que permitiram dar expressão tanto aos interessesnacionais quanto a uma visão mais ampla, assentada em bases comuni-tárias. A Comunidade Européia constituiu o eixo principal em torno doqual se organizou a construção européia, baseada inicialmente em trêscomunidades.

De 1958, ano de entrada em vigor dos dois Tratado de Roma, a 1970,a abolição dos direitos aduaneiros teve repercussões consideradas espeta-

Integração Regional26

culares pela maior parte dos analistas: o comércio intracomunitárioaumentou seis vezes, ao passo que as trocas comerciais da CEE com o restodo mundo aumentaram apenas três. No mesmo período, o PIB médio daCEE aumentou cerca de 70%. Seguindo o padrão dos grandes mercadoscontinentais, como o dos Estados Unidos, os agentes econômicos europeusaproveitaram a dinamização, resultante da abertura das fronteiras, parapromover um verdadeiro salto adiante em termos de realização produtivae econômica.

Como desdobramento de tais avanços, os consumidores europeuspassaram a ter uma gama cada vez maior de produtos importados, primei-ro do próprio espaço europeu e, depois, do incremento do comércio comoutras áreas do planeta. Com o avanço do processo de integração, a dimen-são européia começou a se tornar uma realidade, construída de forma cau-telosa mas crescente, até atingir, em 1986, a assinatura do Ato Único, quepossibilitou a abolição de outras restrições, de ordem regulamentar e fis-cal, que ainda atrasavam a criação de um mercado interno genuíno, total-mente unificado.

Um novo e grande salto foi dado em 28 de novembro de 1995, quan-do 15 países da União Européia e 12 do sul do Mediterrâneo estabeleceramuma parceria que está levando à consolidação plena de uma zona de livre-comércio combinada com acordos de cooperação nos domínios social, cul-tural, humano e político. Trata-se de mais um passo no caminho da unifi-cação política do espaço europeu, agora mais ampliado, incluindo os atéentão excluídos Estados do leste do continente.

Como expressão política de uma iniciativa de largo alcance, é muitoprovável que no século XXI se veja a afirmação da Europa como grandepotência internacional, desde que a União promova a estabilidade e odesenvolvimento nos grandes grupos regionais que a envolvem. Graças aopapel que desempenha nas trocas comerciais mundiais e a seu peso econô-mico, a União já é um parceiro muito respeitado nas grandes instânciasinternacionais, tais como a Organização Mundial do Comércio, e tambémem suas relações com outros países e blocos econômicos. Daí, naturalmen-te, o seu peso no comércio internacional e como zona inovadora em ter-mos tecnológicos. A expressão que mais evidencia essa importância cres-cente reside, por exemplo, nas várias iniciativas de outros blocos econômi-

A Integração na Europa 27

cos em tentar negociar acordos preferenciais de comércio com a Europa,como é o caso do Mercosul. Assim, os europeus podem servir como con-traponto à pujança da economia e do mercado norte-americanos, sejacomo parceiro comercial ou no campo dos investimentos, muito emboraem vários aspectos políticos haja convergências entre a Europa e os EstadosUnidos, nem sempre compatíveis ou saudáveis para os países subdesenvol-vidos ou em desenvolvimento.

Progressivamente, a União apóia-se no seu potencial econômicopara desenvolver a sua influência política e afirmar-se com uma só voz,mesmo que esse caminho esteja sendo marcado por avanços e recuos,aliás uma característica absolutamente normal quando se trata de umprojeto dessa natureza. O Tratado da União Européia, que entrou emvigor em 1993, fixou o objetivo e as modalidades de uma Política Externae de Segurança Comum (PESC), que inclui, a médio e longo prazos, adefinição de uma política de defesa comum. Entretanto, os europeus de-verão ainda envidar numerosos esforços para harmonizar a sua diploma-cia e a sua política de segurança. É esse o preço, que pressupõe uma von-tade política real dos Estados membros, para que a União possa defenderos seus interesses e contribuir como elemento definidor da política inter-nacional contemporânea e do modelo econômico que rege as relaçõesinternacionais.

1973: Expansão da Comunidade Européia

A União Européia encontra-se aberta a praticamente todos os paíseseuropeus que respeitem os compromissos assumidos nos tratados da fun-dação e que subscrevam os mesmos objetivos fundamentais, entre eles ademocracia, eleita como condição essencial para que qualquer candidatopossa vir a se tornar um membro efetivo do bloco. Existem duas condiçõesque determinam a aceitação de uma candidatura à adesão: a localização nocontinente europeu e a prática de todos os procedimentos democráticosque caracterizam o Estado de direito. Vale lembrar que a idéia de Europafoi-se ampliando cada vez mais para o leste, uma vez que, como visto, osmembros fundadores e o plano original estavam mais restrito aos Estadospertencentes ao que comumente chamamos de Europa ocidental.

Integração Regional28

Paulatinamente, contudo, como acabou acontecendo no final do séculoXX, houve uma expansão para a região central e do leste europeu.Entretanto, a expansão dos participantes foi um processo gradual, pautadopor uma série de pré-requisitos obrigatórios aos novos membros. A inten-ção era, e permanece sendo, a de não comprometer os avanços já obtidospelos países membros, a fim de evitar reveses na integração.

Com os avanços verificados entre o final dos anos 50 e início dosanos 70, houve a adesão de novos membros. Assim, a Inglaterra, aDinamarca e a Irlanda aderiram à Comunidade em 1 de janeiro de 1973.A essas adesões seguiu-se um alargamento ao sul do continente, duranteos anos 80, com a Grécia, a Espanha e Portugal, que se tornaram naçõesdemocráticas, após um longo período de ditaduras. A terceira vaga deadesões, ocorrida em meados da década de 1990, traduz a vontade dospaíses da Europa escandinava e central de se juntarem a uma União quevem consolidando o seu mercado interno e se afirmando como o únicopólo de estabilidade no continente, após a desintegração do bloco sovié-tico e a débâcle dos países da Europa oriental, desvinculando-se um a umdos regimes socialistas implantados após o fim da Segunda GuerraMundial.

De seis para nove, de doze para quinze membros, a Europa comuni-tária gradativamente ganhou influência e prestígio no plano internacional.Para sua consolidação e expansão, deve manter um modo de decisão efi-caz, capaz de gerir o interesse comum em proveito de todos os seus mem-bros, preservando simultaneamente as identidades e as especificidadesnacionais e regionais que constituem a sua riqueza o que, diga-se de pas-sagem, não é uma tarefa das mais fáceis. O maior desafio atual é acolhernos próximos anos os países da Europa Central, balcânica, mediterrânica ebáltica, que apresentaram a sua candidatura. Como encontrar os recursosnecessários que lhes permitam atingir o nível econômico e estrutural dospaíses da União Européia no prazo mais curto? Como adaptar as institui-ções para que possam continuar a cumprir as suas missões em benefício deuma União de mais de 25 Estados membros? São as missões históricas queaguardam futuramente os Estados da União e que já começaram, efetiva-mente, a ser colocadas em prática, o que demonstra o enorme esforço quevem sendo desenvolvido desde a década de 1990.

A Integração na Europa 29

1979: Eleições Diretas do Parlamento Europeu por SufrágioUniversal

O Parlamento Europeu desempenha um papel fundamental no equi-líbrio institucional da comunidade: representa os povos da Europa e carac-teriza a natureza democrática do projeto europeu. Desde a sua criação,dotado de poderes de controle do ramo executivo, o Parlamento dispõeigualmente de poder legislativo, sob a forma do direito de ser consultadosobre os principais textos comunitários, poder que se ampliou progressi-vamente para se transformar em um verdadeiro direito de co-decisão legis-lativa. Além disso, o Parlamento partilha com o Conselho da União Euro-péia o poder de definição do orçamento da União.

Compreender os mecanismos de funcionamento do ParlamentoEuropeu é importantíssimo para entender o grau de complexidade e com-prometimento dos Estados membros com a idéia comunitária. Como sãodesignados os deputados europeus? Até 1979, os membros do ParlamentoEuropeu eram membros dos parlamentos nacionais, nomeados para repre-sentá-los em Estrasburgo, cidade onde são realizadas as sessões plenáriasmensais do Parlamento. A partir daquele ano, os parlamentares da Comu-nidade passaram a ser eleitos por sufrágio universal direto em cada um dospaíses da União, para cumprirem mandatos de cinco anos. Os cidadãosescolhem, assim, os deputados que terão assento, não em delegações nacio-nais, mas em grupos parlamentares transnacionais, representativos dasgrandes correntes de pensamento político existentes no continente.

A ambição de criar entre os Estados membros uma relação especial,que lhes permita gerir os seus interesses e as suas diferenças segundo asmesmas regras de direito e os mesmos procedimentos de arbitragem queunem os cidadãos de um Estado democrático, é totalmente revolucionáriana prática das relações internacionais. “Não coligamos Estados, unimos aspessoas”, dizia Jean Monnet, um dos fundadores da idéia de uma Europaunida. Assim, as instituições européias, por meio da articulação e concilia-ção permanente dos interesses dos cidadãos, necessitam ser legítimas eequilibradas. A dialética sutil que funciona há cerca de cinqüenta anos,entre o Conselho da União Européia, o Parlamento Europeu, a ComissãoEuropéia e o Tribunal de Justiça da União Européia, representa uma aquisi-

Integração Regional30

ção crucial para a visão de uma Europa unificada. Todavia, vale a pena lem-brar que o alargamento da União Européia, mesmo que levado a efeito demaneira gradativa, não teve, de imediato, uma resposta tão eficiente assimdas instituições comunitárias, que afinal foram se adaptando lentamente àsnovas realidades advindas do dinamismo da integração. Foi muito freqüen-te, e de certa forma ainda o é, o descontentamento de alguns Estados mem-bros com relação à adaptação das instituições à realidade política e econô-mica da União Européia. Da mesma forma, é comum observarmos setoresda sociedade civil se organizando e, eventualmente, se colocando de formacontrária à aspiração de algumas lideranças políticas nacionais mais com-prometidas, talvez pela visão de Estado, com o processo de integração.

1986: O Ato Único Europeu

O objetivo do Tratado de Roma de criar um Mercado Comum haviasido parcialmente realizado nos anos 60, graças à supressão dos direitosaduaneiros internos e das restrições quantitativas às trocas comerciais. Noentanto, os autores do Tratado haviam subestimado todo um conjunto deoutros obstáculos às trocas comerciais, obstáculos sofisticados e escamo-teados sob a forma de regulamentações, que constituíam barreiras fre-qüentemente intransponíveis e muito comuns a todos os processos de inte-gração regional. Geralmente, essas barreiras trazem em seu bojo salvaguar-das para defender setores econômicos nacionais, em uma perspectiva umtanto recalcitrante e natural na formação de blocos regionais. Portantohavia, para alguns setores, a sensação de que o processo de integraçãoeuropeu estava estagnado, pelo menos desde a década de 1970.

O diagnóstico da real situação do Mercado Comum Europeu veio à tonacom a publicação do Livro Branco sobre a Conclusão do Mercado Interno. Pormeio desse estudo, a Comissão determinava as dimensões do mercado europeue as medidas necessárias para a concretização do Mercado Comum. Assim, aComissão que redigiu esse documento estabelecia que deveriam ser tomadaspelo menos as seguintes medidas para que houvesse avanço na integração:

a) Eliminação dos entraves comerciais de natureza técnica.b) Proteção jurídica nos setores da indústria e dos direitos autorais.

A Integração na Europa 31

c) Liberalização do setor de encomendas públicas.d) Reforma no sistema de telecomunicações.e) Liberdade de residência.f) Livre fluxo de capitais.g) Regulamentação do setor de prestação de serviços.h) Liberação nos transportes.i) Harmonização fiscal.

A Comissão das Comunidades, sob a direção de Jacques Delors, tomouuma iniciativa audaciosa que levou à adoção do Ato Único. Fixou 1º- dejaneiro de 1993 como a data-limite para a plena realização do mercadointerno e, graças ao alargamento da votação por maioria, forneceu às insti-tuições européias os meios para que fossem adotadas as cerca de 300 novasdiretivas necessárias para a consolidação, de fato, do mercado unificado.

A atitude de lançar o Ato Único não foi consensual. Alguns Estadosmembros reagiram acidamente à decisão, principalmente aqueles mais fra-cos que temiam a concorrência das economias mais avançadas. No fundo,as resistências emanavam principalmente de empresas acostumadas a sub-venções estatais e que temiam a competitividade que seria proporcionadapela entrada em vigor da liberalização comercial e de outras medidas libera-lizantes que constavam do ato. Entretanto, não só das economias menosdesenvolvidas vinham as vozes discordantes. A Alemanha, país mais desen-volvido e com o maior PIB da Europa, e que detinha, à época, cerca de 19%da população da Comunidade e era responsável por aproximadamente 25%do seu PIB, foi um dos países que manifestou preocupação com a decisão.Os alemães temiam, especialmente, que o mercado interno pudesse interfe-rir no alto grau de seguridade social e trabalhista que caracterizava sua polí-tica social. É importante lembrar que em 1986 ainda não havia uma diretrizimpondo uma política social comunitária, o que, de fato, só veio a ocorrer,de maneira mais sólida, a partir do final de 1989. Esse aspecto assumeimportância tendo em vista que aumentava a sensação de perda por partedaqueles Estados que já praticavam políticas sociais mais benevolentes.

Ao objetivo do grande mercado interno, o Ato Único associou estrei-tamente outro de grande importância: o da coesão econômica e social. Essapreocupação já era antiga e se acentuava à medida que a integração avan-

Integração Regional32

çava. Sempre é bom lembrar que na Europa buscava-se uma integraçãovisando à criação de uma comunidade, o que pressupunha, para o seusucesso, políticas convergentes que extrapolassem o nível unicamente eco-nômico. Os europeus criaram, então, políticas estruturais em benefício dasregiões consideradas mais atrasadas ou que tinham sido afetadas pormutações tecnológicas e industriais relevantes. Promoveram, igualmente, acooperação em matéria de investigação e de desenvolvimento científico.Finalmente, levaram em consideração a dimensão social do mercado inter-no: no espírito dos governantes da Comunidade, o bom funcionamento domercado interno e uma concorrência sadia entre as empresas e países sãoindissociáveis do objetivo permanente, que consiste na elevação das condi-ções de vida e de trabalho dos cidadãos europeus.

Em suma, o Ato Único, assinado pelos então 12 Estados membros daComunidade, reafirmou o propósito da criação da União Política e promo-veu o revigoramento do processo de integração na Europa. Não é exageroafirmar que, até a assinatura do Tratado de Maastricht, o Ato foi a maisimportante e decisiva reforma da Comunidade. Como mais um exemplo,pode-se observar que, assim como no campo econômico, houve significati-vos avanços no campo político, como a reforma das atribuições doParlamento europeu, que foram sensivelmente ampliadas. Verifica-se que é apartir desse momento que ele passa a ter um verdadeiro papel legislativo emtodas as questões associadas ao objetivo de realizar o mercado único. Novaspolíticas comuns também foram lançadas no âmbito do revigoramento daComunidade, com a política regional, de investigação científica, de coopera-ção econômica e monetária e outras voltadas para a questão ambiental.

1993: A União Européia

Com a entrada em vigor, em 1º- de novembro de 1993, o Tratado daUnião Européia, assinado em 7 de fevereiro de 1992, em Maastricht(Holanda), conferiu uma nova dimensão à construção da unidade euro-péia. A Comunidade Européia (o Tratado de Maastricht substituiu o nomeComunidade Econômica Européia por União Européia), essencialmenteeconômica nas suas aspirações e nos seus objetivos, embora já com um pla-nejamento estratégico voltado para outros campos, como o político, o

A Integração na Europa 33

social e o cultural, passou a estar integrada na União Européia com baseem três pilares.

O pilar comunitário, baseado na Comunidade Européia e naComunidade Européia da Energia Atômica, era regido por mecanismos ins-titucionais clássicos e fazia interagir a Comissão, o Parlamento, o Conselhoe o Tribunal de Justiça. Seu objetivo principal era gerir essencialmente omercado interno e as políticas comuns com mais enfoque no campo econô-mico, embora devamos considerar também outras áreas não tão essenciaiscomo aquela.

Os outros dois pilares envolvem os Estados membros em domínioscaracterizados até então como sendo de competência exclusivamentenacional: por um lado, a política externa e de segurança e, por outro, osassuntos internos, como a política de imigração e de asilo, a polícia e a jus-tiça. Trata-se de um progresso importante, na medida em que os Estadosmembros consideram que é do seu interesse cooperar mais estreitamentenesses domínios, como forma de afirmar a identidade européia no mundoe de assegurar uma melhor proteção aos seus cidadãos contra a criminali-dade organizada e o tráfico de drogas, assim como de todos os ilícitostransnacionais – grande ameaça que veio associada ao processo de globa-lização e explodiu, por assim dizer, durante a a década de 1990. Além disso,há toda uma preocupação social que é permanente no caso europeu, prin-cipalmente com relação à questão do desemprego.

Entretanto, o que os cidadãos europeus recordarão do Tratado deMaastricht será provavelmente a decisão que teve maior impacto práticona sua vida quotidiana: a realização da União Econômica e Monetária(UEM). A partir de 1º- de janeiro de 1999, a UEM reuniu todos os paísesque cumpriram um determinado número de critérios econômicos destina-dos a garantir a sua boa gestão financeira e a assegurar a estabilidade futu-ra da moeda única: o euro. Nesse sentido, acordou-se que a necessária dis-ciplina econômica e financeira deveria ser implementada pelos Estadosmembros que optassem pela implementação da moeda única, tópico dis-cutido mais adiante. Todavia, ficou decidido também que seria assegurado,democraticamente, a vontade das nacionalidades, ou seja, a UEM não seriaimposta a nenhum Estado membro que não manifestasse interesse na ado-ção da moeda única.

Integração Regional34

Como uma das últimas etapas da realização plena do mercado inter-no, a introdução da moeda única, pelas repercussões pessoais que implicapara cada cidadão e pelas conseqüências econômicas e sociais de que ne-cessariamente se reveste, tem um alcance eminentemente político e econô-mico. Na verdade, a conscientização da necessidade da estabilidade mone-tária veio como uma das conseqüências da assinatura do Ato Único, umavez que, quando da decisão de consolidar o mercado único, isso implicoua obrigatoriedade da convergência macroeconômica entre as economiaseuropéias e a limitação das flutuações das taxas de câmbio de suas moedas.Um mercado integrado não pode funcionar ao sabor de políticas nacionaisde desvalorização cambial, mais uma dura lição para outros blocos regio-nais menos dinâmicos e que se espelham na União Européia como mode-lo a ser seguido.

A adoção da moeda única acabou tendo um alcance que extrapolouem muito as fronteiras européias. É importante destacar, por exemplo, quedesde a Segunda Guerra Mundial o dólar não teve uma moeda concorren-te de peso no cenário econômico internacional. Do ponto de vista político,poderá mesmo considerar-se que o euro será futuramente um dos símbo-los mais concretos da União Européia. Ele já está sendo utilizado em subs-tituição às demais moedas na maioria dos países membros, desde 1º- dejaneiro de 2002. Essa nova moeda, que circula em cédulas e moedas, emcurso na comunidade financeira internacional, já se consolidou e se afir-ma, a cada dia, como alternativa ao dólar norte-americano nas transaçõescomerciais. Hoje, a cotação do euro já supera a do dólar. Ressalte-se, con-tudo, que isso não significa que o euro tenha se transformado na principalmoeda das transações internacionais. Muito embora a nova moeda ajude afirmar e consolidar a economia da Europa, ainda vivemos sob a hegemo-nia do dólar e talvez essa situação perdure por muito mais tempo, hajavista o dinamismo e a força da economia norte-americana.

Embora possa ser considerado um grande sucesso em termos deavanço no processo da integração européia, a adoção de uma moeda únicanão foi consensual entre os membros da União Européia. Três países aindaresistem ao fim da emissão de sua própria moeda: Inglaterra, Suécia eDinamarca. Temem as conseqüências da perda da soberania. É bem possí-vel, contudo, que o avanço e a consolidação de um mercado financeiro

A Integração na Europa 35

completamente integrado e a tendência de valorização da moeda acabemse constituindo em um elemento de universalização européia de sua ado-ção, dadas as suas vantagens, no âmbito da União Européia, da adoção doeuro por todos os países membros. Deve-se ressaltar, também, que inicial-mente a Grécia não pôde adotar o euro não por vontade própria, mas simpor não ter conseguido cumprir os critérios macroeconômicos acordadosem Maastricht para a adoção da moeda única. Nesse caso, porém, apósesforços do governo grego, esse impedimento foi removido e, em junho de2000, o Conselho aprovou a adesão do país à chamada zona do euro.

Até o presente momento, não há dúvidas quanto ao sucesso do eurocomo moeda européia forte, lastreada em economias poderosas, que passaa competir com o dólar norte-americano no mercado internacional emcondições de igual aceitação. Como levantado anteriormente, a tendênciaé, inclusive, de que a médio prazo ele consiga substituir ou se impor aodólar. Todavia, isso dependerá de uma série de injunções e desdobramen-tos econômicos e políticos de difícil previsão e amplas variáveis, que nãodependem exclusivamente da vontade e da capacidade dos europeus.

Por fim, ressalte-se que para admissão à União Econômica eMonetária o país membro da União Européia deve atender aos seguintespré-requisitos:

a) Déficit público máximo de 3% do PIB.b) Inflação baixa e controlada.c) Dívida pública de no máximo 60% do PIB.d) Moeda estável, dentro da banda de flutuação do Mecanismo

Europeu de Câmbio.e) Taxa de juro de longo prazo controlada.

1997: O Tratado de Amsterdã

O penúltimo Tratado assinado pelos Estados europeus, até o momen-to, foi o Tratado de Amsterdã. Assinado em outubro de 1997, o tratado pas-sou a vigorar a partir de maio de 1999 e consolidou os avanços obtidos noTratado de Maastricht, dando especial atenção à temática social (emprego,direitos fundamentais, saúde, imigração etc.), além de fortalecer e avançarna política ambiental comunitária. Foram criadas também as bases para o

Integração Regional36

fortalecimento da Política Externa e de Segurança Comum, instauradapelo Tratado de Maastricht, e lançado o primeiro passo para a implemen-tação progressiva de uma política de defesa comum. Naturalmente, todosesses temas discutidos em Amsterdã são polêmicos e pouco consensuais, edeve-se considerar igualmente que os seus resultados costumam surgir demaneira gradativa e pouca perceptiva.

Além desses avanços, o Parlamento Europeu teve seu papel reforçadopelo novo tratado, com a extensão do número de domínios em que as deci-sões são tomadas conjuntamente com o Conselho de Ministros, o chama-do poder de co-decisão. A dimensão econômica e a estrutura institucionalda União Européia, contudo, permaneceram praticamente inalteradas.

Com a abertura, em 1998, de uma nova etapa na ampliação da UniãoEuropéia fez-se necessário lançar, no início de 2000, uma ConferênciaIntergovernamental sobre a reforma das instituições comunitárias, com oobjetivo de permitir o funcionamento futuro da União Européia ampliada,tema essencial para a continuidade e eficácia da União.

Em uma análise geral, pode-se concluir que o Tratado de Amsterdãnão conseguiu, em decorrência de várias divergências internas, promoveras reformas institucionais consideradas indispensáveis para o alargamen-to da União Européia, haja vista que já estava em discussão a ampliaçãopara cerca de 30 membros no total da União com a adesão de países doleste europeu. Assim, permaneceram vários problemas cuja solução foiadiada, entre eles uma espécie de confusão jurídica que havia se instaladono âmbito da União Européia, fato que acabava prejudicando o avanço daintegração.

Pode-se dizer que houve avanços e dificuldades em Amsterdã. Por umlado, reforçou-se o processo democrático no plano parlamentar e reinte-graram-se aos tratados comunitários discussões sobre políticas policiais etemas relativos às fronteiras, além de acrescentar e aperfeiçoar mecanismosvoltados para a proteção social, tendo como foco principal a questão doemprego. Por outro lado, não houve entendimento que permitisse grandesavanços no plano institucional, mantendo-se desequilíbrios antigos, muitoembora tenhamos de considerar que, pelo menos, houve a retomada e aampliação das discussões relativas às causas que tendiam a paralisar oudificultar a continuidade do processo de integração.

A Integração na Europa 37

2001: O Tratado de Nice

Diante do desafio do alargamento da União Européia e com o objeti-vo de adaptar o funcionamento das instituições comunitárias à entrada denovos Estados, em 26 de fevereiro de 2001, foi assinado, pelos chefes deEstado e de Governo, o Tratado de Nice.

O Tratado, concluído politicamente no Conselho Europeu de Nice de11 de dezembro de 2000 pelos Chefes de Estado e de Governo e assinadoem 26 de fevereiro de 2001, foi o resultado de onze meses de negociaçõesdecorridas no quadro da Conferência Intergovernamental. Entrou emvigor em 1º- de fevereiro de 2003, depois de ter sido ratificado pelos quin-ze Estados membros da União Européia, no respeito pelas respectivasregras constitucionais. Assim, em Nice os europeus marcaram um novopasso na preparação do alargamento da União Européia aos países daEuropa Central, Oriental, Mediterrânica e Báltica. As principais decisõestomadas pelo Tratado de Nice passam pelas seguintes áreas:

• Dimensão e composição da Comissão Européia.• Composição do Parlamento Europeu.• Ponderação dos votos dos Estados membros no Conselho.• Alargamento das votações por maioria qualificada.• Cooperações reforçadas.

A convocação da Conferência Intergovernamental de 2000 estavaprevista de forma explícita no Tratado de Amsterdã, pelo Protocolo rela-tivo às instituições na perspectiva do alargamento da União. De fato, eleprevia que, pelo menos um ano antes da data em que a União Européiapassasse a ser constituída por mais de vinte Estados membros, seria con-vocada uma Conferência de representantes dos governos dos Estadosmembros, com o objetivo de realizar uma revisão global das disposiçõesdos tratados relativas à composição e ao funcionamento das instituições.Além disso, três Estados membros (Bélgica, França e Itália) conseguiramque fosse inserida uma declaração segundo a qual o reforço das institui-ções era uma condição indispensável para a conclusão das primeirasnegociações de adesão.

Integração Regional38

No centro das discussões em Nice estava, portanto, a questão do alar-gamento da União Européia. No entanto, muitos outros assuntos tambémforam contemplados, como alterações no Tratado da União Européia,relacionados a diversas temáticas nas áreas de segurança, política de pro-teção social, investimentos, estatuto do Parlamento e partidos políticos,acordos internacionais, cooperação judiciária e em matéria penal.

Em Nice, os europeus retomaram a discussão sobre o futuro da UniãoEuropéia. Nesse sentido, durante a Conferência, foi aprovada a DeclaraçãoRespeitante ao Futuro da União, que se constitui em uma peça anexa ao tra-tado. Por essa declaração, o Conselho manifestou o desejo de que fosse ini-ciado um debate mais amplo e aprofundado sobre o futuro da UniãoEuropéia, no qual fossem incluídos os Parlamentos nacionais e a opiniãopública européia, assim como os países candidatos a novos membros daUnião. As linhas mestras definidas para o debate que se desejava instaurarforam ancoradas em quatro pontos:

1. Estabelecer uma delimitação mais precisa das competências entre aUnião Européia e os Estados membros.

2. Definir o Estatuto da Carta dos Direitos Fundamentais da UniãoEuropéia.

3. Simplificação dos tratados, a fim de torná-los mais claros e com-preensíveis, sem alterar o seu significado.

4. Definir o papel dos parlamentos nacionais na arquitetura européia.

Ainda com relação ao Tratado de Nice, deve-se ressaltar que os seusresultados acabaram por descontentar boa parte dos Estados membros,sobretudo os “grandes” – França e Alemanha –, haja vista que as reformasimplementadas significaram a diminuição de sua influência no ConselhoEuropeu, maior órgão de tomada de decisões da União Européia. Enfim,nessas circunstâncias, os europeus chegaram ao campo das possibilidades,deixando para o futuro importantes definições, como a aprovação daConstituição européia.

A Integração na Europa 39

A Política Agrícola Comum e suas implicações para aUnião Européia e seu relacionamento com outros paísese blocos

Quando foi criada a Comunidade Européia, em 1957, os seis Estadosmembros fundadores (Alemanha Ocidental, Bélgica, França, Itália,Luxemburgo e Países Baixos) sentiram a necessidade de promover umapolítica agrícola equilibrada. O objetivo era fazer frente às debilidades daagricultura européia do pós-guerra e proporcionar condições de desenvol-vimento mais eqüitativas a todas as suas economias, uma vez que enten-diam que o setor agrícola possuía um caráter estratégico para o blocorecém-formado.

Como a agricultura sempre foi um setor prioritário na integração daEuropa, o Tratado de Roma preconizava a adoção de uma Política AgrícolaComum como uma das medidas necessárias para estabelecer um mercadocomum entre os Estados membros.

Os principais objetivos no campo do setor agrícola, descritos noartigo 33º- (artigo 39º- originalmente) do Tratado de Roma, foram osseguintes:

• Aumentar a produtividade da agricultura, assegurando o desenvol-vimento racional da produção agrícola, assim como uma utilizaçãootimizada dos fatores de produção.

• Assegurar um nível de vida eqüitativo à população agrícola, desig-nado pelo aumento do rendimento individual dos agricultores.

• Estabilizar os mercados.• Garantir a segurança dos abastecimentos.• Assegurar preços razoáveis aos consumidores.• Proteção ambiental.• Desenvolvimento acelerado das regiões menos favorecidas.

As discussões envolvendo a Política Agrícola Comum se tornaram, aolongo do tempo, um tema crucial para o relacionamento externo da UniãoEuropéia. A instituição dos subsídios agrícolas e da proteção desse setorpelos países membros, realizada de forma comunitária, ou pontos de atri-

Integração Regional40

to entre países em desenvolvimento que têm no setor agrário-exportadoruma importante fonte de receitas. Além disso, na maior parte dos casos, assuas vantagens comparativas se resumem justamente a esse campo econô-mico, por não terem conseguido desenvolver setores que exigem tecnolo-gia mais sofisticada.

Mais recentemente, com o incremento da pressão internacional con-tra a política de subsídios agrícolas, adotada não só pela União Européiamas também por economias ricas como a norte-americana, que vem secristalizando sobretudo no âmbito da OMC, os europeus têm adotadouma nova perspectiva, ou seja, estão desenvolvendo novos conceitos quevisam a amparar a continuidade desse tipo de política, como o conceito de“multifuncionalidade”, que seria uma forma de contornar as demandascontra essa prática de distorção econômica. Nesse sentido, multifunciona-lidade é entendida pelos europeus como uma idéia que visa a associar a ati-vidade agrícola à preservação ambiental e à manutenção do estilo de vidarural, por exemplo, que estariam ameaçados na Europa pela competiçãoeconômica com outros países. Registre-se, todavia, que já não há mais con-senso mesmo entre os Estados membros da União Européia com relação àmanutenção da política de subsídios agrícolas.

Na verdade, pode-se observar claramente que a introdução de novosconceitos como esse da multifuncionalidade não resolve o problema cen-tral da questão dos subsídios no setor agrícola. As demandas dos países nãoplenamente desenvolvidos continua sendo um ponto de atrito em suasrelações com a União Européia e, via de regra, com os Estados Unidos daAmérica. Embora já não haja consenso no seio das lideranças políticaseuropéias e norte-americanas em torno da idéia de se manter os subsídiosno setor como forma de amparar os produtores europeus e norte-ameri-canos, a realidade é que bilhões de dólares continuam sendo gastos anual-mente em medidas protecionistas nesse campo, prejudicando outros paí-ses. Atualmente, a pressão sobre a União Européia e os Estados Unidos temse deslocado do campo bilateral para o multilateral, transformando o temaem um dos mais delicados nas rodadas de negociações de OrganizaçãoMundial de Comércio.

A Integração na Europa 41

Dilemas atuais da integração na Europa

São vários os dilemas atuais da integração européia. Como visto, aintegração na Europa não é um processo acabado, é um programa emconstrução e que, como tal, passa por avanços e recuos. A Europa aindatem problemas políticos e econômicos, alguns dos quais de difícil solu-ção. Recentemente, ocorreu um episódio bastante revelador. A recusa dosfranceses, seguida pelos holandeses, com relação à Constituição Européiademonstra que ainda há um longo caminho a ser percorrido para que asonhada união política se transforme em realidade. Do ponto de vistaeconômico, em reunião ocorrida em Bruxelas, em junho de 2005, ficoutambém patente as divergências entre a Inglaterra e os seus parceiroscontinentais, especialmente os países que desejam aumentar o ritmo daintegração na Europa e que, para tanto, até se dispõem a implantar modi-ficações nos valores das contribuições dos Estados membros.

Talvez um dos maiores problemas da União diga respeito à integra-ção de países da Europa central e do leste europeu, que até pouco tempoatrás faziam parte do mundo socialista. Como há um espírito comuni-tário no âmbito da União Européia, e como o processo de integração jáestá em estágio bastante avançado entre os Estados membros mais anti-gos (aqueles que adotaram o euro, por exemplo), a idéia é que essas eco-nomias não podem ser simplesmente agregadas ao bloco, como se aUnião Européia fosse apenas uma zona de livre-comércio. Para que essesnovos membros não promovam maiores desequilíbrios na economia ena política européias, faz-se necessário um período de preparação paraque pelo menos os indicadores macroeconômicos básicos entrem emrota de convergência com a política econômica européia. Outro aspectoimportante é que, tendo em vista as características específicas dessespaíses, que se encontram – pelo menos em termos comparativos com osEstados membros da Europa Ocidental – em uma condição econômicadesvantajosa, os Estados mais desenvolvidos promovam uma política deincentivos para que mais investimentos, tanto públicos quanto privados,sejam carreados para aquela região. O objetivo é minimizar os efeitoscolaterais de sua integração ao bloco. Por exemplo, a modernizaçãoindustrial desses países ajudaria a evitar sua ruína econômica ao mesmo

Integração Regional42

tempo em que evitaria expressivas ondas migratórias em direção àEuropa ocidental.

Um exemplo de um tipo de problema atual da União Européia, quemostra dissenso interno e dificuldades no processo de integração, foi ocaso já citado da rejeição à Constituição Européia pelos franceses e holan-deses. Nesse caso, ficou patente que há um grau relativamente elevado dedescontentamento com a questão social e as incertezas com relação aofuturo. A desaceleração econômica e o nível de desemprego geram temo-res para as populações dos países já integrados e acabam afetando a enge-nharia política de construção da União Política. O “não”, verificado no ple-biscito de junho de 2005, estava ligado, segundo analistas da UniãoEuropéia, ao medo do corte de benefícios sociais que poderia e pode ocor-rer, caso haja uma forte onda de imigração dos países pobres em direção àEuropa ocidental. O curioso é que não se trata mais de um temor contra asondas migratórias de populações pobres dos países em desenvolvimento,mas sim dos novos membros do leste da própria Europa, que agoraganham direito de acesso aos mercados, inclusive o de trabalho, da Europamais desenvolvida.

Contudo, ainda há vários outros pontos importantes que devem serconsiderados quando pensamos o futuro da União Européia e seu papel nomundo. Como um dos três mais importantes centros da economia mun-dial, a projeção internacional da Europa é fato incontestável e, como tal, aUnião Européia tem um papel político importante a desempenhar nocenário internacional. Um exemplo dessa atuação, no caso em questãorelativo à decisão dos Estados Unidos da América de intervirem no Iraque,revela pelo menos dois aspectos da sua atuação na política mundial. O pri-meiro aspecto é que a União Européia ainda não é um ator internacionalque age de forma integrada e homogênea, mesmo porque o projeto deUnião Política ainda não está totalmente consolidado. Assistimos, porexemplo, a perspectivas diferentes no caso do Iraque: Alemanha e Françacolocaram-se contra a decisão norte-americana de intervenção diretanaquele país; Itália, Espanha e, principalmente, Inglaterra colocaram-se afavor dos Estados Unidos, fato que gerou mal-estar entre algumas lideran-ças da União Européia. Aliás, vale notar que a Inglaterra é um país que vemresistindo o quanto pode à integração ao espaço europeu. É comum, e até

A Integração na Europa 43

freqüente, assistirmos a vários exemplos de como Londres tem resistido,seja à integração econômica (por exemplo, não adotou o euro), seja à inte-gração política. O segundo aspecto para o qual gostaríamos de chamar aatenção e que está, mesmo que de forma indireta, relacionado à políticainternacional dos Estados Unidos da América, diz respeito ao crescentegrau de descontentamento de vários atores internacionais com relação àpolítica internacional que esse país vem adotando, sobretudo após os aten-tados de 11 de setembro que expuseram ao mundo a força do terrorismointernacional. Dessa forma, está ficando cada vez mais óbvio para os euro-peus a necessidade do desenvolvimento efetivo de uma Política Externa ede Segurança Comum (PESC), desvinculada dos Estados Unidos. Os aten-tados que agitaram a Espanha podem ser citados como mais um exemplode que os europeus podem vir a pagar como resultado de uma política quenão necessariamente reflete os interesses da Europa.

E não é somente no campo da segurança que os europeus têm adota-do políticas próprias, de sentido comunitário. Mesmo considerando quenão existe ainda uma política externa unificada, que congregue todos osinteresses da União Européia, há vários campos nos quais podemos obser-var uma ação cada vez mais coordenada como, por exemplo, no que dizrespeito às negociações comerciais internacionais promovidas no âmbitoda OMC e de acordos de comércio com outros países ou blocos regionais,como a Asean e o Mercosul. Também é importante destacar o fato de aUnião Européia ir se constituindo como uma alternativa em termos depossibilidades para negociações que envolvam outros blocos regionais, oumesmo países, quando observamos o comportamento desses atores vis-à-vis os Estados Unidos da América. Trata-se, nesse sentido, de um podero-so bloco que tem muito a oferecer em termos de comércio e investimentose que se constitui de extrema importância para áreas subdesenvolvidas ouem desenvolvimento, como é o caso da América Latina e da África. Assim,no campo econômico, existem posições que colocam a União Européia emposição de confronto com os Estados Unidos da América, principalmenteno campo do protecionismo comercial e da competição econômica pormercados em desenvolvimento que estão fora da área da União. A Alca,para citarmos mais um exemplo, é vista por alguns setores europeus e porparte de setores políticos, empresariais e intelectuais latino-americanos

Integração Regional44

como uma tentativa dos Estados Unidos de consolidar sua posição hege-mônica sobre o vasto espaço econômico da América Latina, consideráveltanto em termos de PIB, quanto populacionais.

Em outros setores, além dos estritamente econômicos, as políticasemanadas da União Européia também servem de inspiração para o restodo planeta. Se observarmos a importância dada pelos europeus a camposcomo o meio ambiente e os direitos humanos, temos aí mais um contra-ponto relativo às posturas geralmente adotadas pelos Estados Unidos. Háinclusive, nesses setores, fortes divergências com os norte-americanos,como ficou patente no caso do Tribunal Penal Internacional e no esforçoeuropeu para a aplicação do Protocolo de Kyoto.

Não se está afirmando aqui pura e simplesmente que esteja em anda-mento um projeto político autônomo por parte dos países europeus,congregados na União Européia para servir de contraponto ao podernorte-americano. Na verdade, no atual cenário internacional, há muitomais convergências entre a Europa e os Estados Unidos do que divergên-cias. Todavia, está ficando cada vez mais claro para amplos setores euro-peus de diversas nacionalidades que, em algumas matérias de peso na eco-nomia e na política mundiais, é mais interessante para os europeus perse-guirem seus próprios objetivos do que permanecerem como uma espéciede apêndice da América do Norte.

No fundo, na Europa há debates com três perspectivas distintas comrelação ao seu futuro, em termos de opções em economia política e de suasrelações com os Estados Unidos. Esses três grupos seriam os seguintes:

a) Os setores mais liberais que aceitam o atual modelo econômicoregido pela onda neoliberal e “globalizante” e, para os quais, a lide-rança norte-americana é natural e desejável.

b) Os setores liberais, que também aceitam o modelo econômicovigente, mas que, em termos políticos, preferem uma Europa mais,autônoma e independente das posições norte-americanas, princi-palmente a tendência verificada desde a primeira eleição de GeorgeW. Bush.

A Integração na Europa 45

c) Os setores que preconizam que a Europa deve adotar um modeloeconômico mais social e, portanto, menos excludente e “neolibe-ral”. Naturalmente, não se trata da luta por um projeto de tiposocialista, mas um projeto que contemple um compromisso socialentre o capital e o trabalho, e que as relações exteriores da UniãoEuropéia sejam pautadas por princípios democráticos, sem a utili-zação de medidas de força, como as que foram empregadas contrao Iraque, por exemplo.

Finalmente, é preciso considerar que quando estudamos a UniãoEuropéia estamos diante de um projeto ousado e relativamente bem-suce-dido de integração regional, mesmo que ainda incompleto. Há, como afir-mado anteriormente, um longo caminho ainda a ser percorrido no senti-do da unificação plena que contemple, além da integração econômica emonetária, a unificação política, a qual implicaria, em última instância,execução de políticas externa e de defesa totalmente unificadas. De fato,quando observamos o comportamento da União Européia como atorinternacional, é prematuro afirmar que os países do bloco já pratiquemuma política desse tipo. Por outro lado, é inegável, conforme demonstra-do, que estamos assistindo a uma remodelação profunda, no espaço euro-peu, do conceito clássico de Estado-nação, que paulatinamente vem dandolugar a uma entidade cada vez mais supranacional, em um movimento queé ao mesmo tempo ousado e pioneiro, talvez indicador de uma tendênciapara o futuro das relações internacionais.

Integração Regional46

A I n t e g ra ç ã o n a s A m é r i c a s

O Mercado Comum do Sul: Mercosul

História e Momento

No dia 26 de março de 1991, em Assunção, os presidentes do Paraguai,Andrés Rodrigues, do Uruguai, Luís Alberto Lacalle Herrera, da Argentina,Carlos Saul Menem e do Brasil, Fernando Collor de Mello, assinaram oTratado de Assunção que deu origem ao Mercado Comum do Sul ouMercosul ou ainda, em espanhol, Mercosur. Quatro países de uma mesmaregião aceitavam criar um mercado comum até o dia 31 de dezembro de1994. Nessa data, nos termos do acordo, a maioria dos bens produzidos emqualquer dos países deveria circular livremente dentro da região integradasem taxações ou impedimentos extras. Integrava-se uma área com 11 mi-lhões de quilômetros quadrados, mais da metade da América do Sul, cujapopulação passava dos 200 milhões de habitantes. Um fato interessante éque os países integrados são os mesmos que se envolveram, no século XIX,na Guerra do Paraguai. O Mercosul abrange cerca de 70% do território,64% da população e 60% do PIB da América do Sul.

A Argentina possui 2,7 milhões de km2 de território, o Brasil 8,5 mi-lhões de km2, o Paraguai mais de 406 mil km2 e o Uruguai 176 mil km2. Em2004, segundo um relatório do Banco Mundial, a população da área inte-grada já estava acima dos 220 milhões de habitantes. A Argentina tinha37,9 milhões de habitantes, o Brasil chegava quase a 175 milhões de pes-soas, o Paraguai estava com 5,5 milhões e o Uruguai com 3,4 milhões de

habitantes. Bolívia e Chile, como membros associados da zona de livre-comércio (não entraram na união aduaneira), também são citados nasestatísticas do Mercosul. No momento, vamos trabalhar somente com osquatro membros efetivos dessa tentativa de integração regional. O PIB decada país, principalmente da Argentina e do Brasil, variou muito nos últi-mos anos, mais em função de planos econômicos do que de outras razões.Quando o peso argentino foi equiparado ao dólar, o PIB do país estavaalto. Depois da desvalorização da moeda local, ficou menor, associado àdiminuição do ritmo da economia argentina que se seguiu àquela defini-ção. O caso brasileiro se assemelha um pouco ao argentino. Na criação doPlano Real, a moeda nacional esteve até mais forte do que o dólar. Naquelemomento, o PIB mostrava-se mais robusto. A moeda, aos poucos, foi per-dendo valor e, como resultado, o PIB foi diminuindo. No relatório doBanco Mundial de 2004, o PIB do Mercosul chegava a quase 600 bilhões dedólares.

É comum afirmar que o Brasil detém em torno de 75% do PIB doMercosul, a Argentina um pouco menos de 23% e o restante é distribuídoentre o Uruguai (1,5%) e Paraguai (0,7%). A produção de manufaturas naárea é 78% brasileira, 20% argentina, 1,3% uruguaia e 0,4% do Paraguai.O Brasil é dois terços do Mercosul em território, população e PIB. Para opadrão latino-americano é uma área integrada de certo valor, principal-mente porque estão juntas as duas maiores economias da América do Sul.Entretanto, não foi fácil chegar a esse patamar. Um pouco de históriaregional mostrará isso.

O Brasil e a Argentina, principais parceiros do novo bloco econômi-co, passaram décadas em conflitos reais ou imaginários. Essa situaçãoocorre desde o período colonial. Portugal, em 1817, já com a família realno Brasil, tentou anexar o Uruguai à coroa portuguesa. Esse fato não erabem visto pelos argentinos, principalmente os portenhos ou habitantesde Buenos Aires, onde estava o principal porto do país. O Uruguai lutoupela independência, recebeu ajuda da Argentina e, em 1828, emItuzaingó, travou uma batalha que tirou o Brasil do país. A Inglaterra,mais tarde, apoiou a independência do Uruguai, e o novo país se tornouuma espécie de colchão de segurança entre os interesses do Brasil e daArgentina na região do Prata.

Integração Regional48

No entanto, o Brasil, manteve sempre presença política e diplomáticana área, com receio de algum tipo de expansionismo argentino. Com JuanManuel de Rosas no governo do país vizinho, entre 1829 e 1852, a preocu-pação brasileira aumentou. Temia que Rosas estendesse sua presença paraMontevidéu ou para todo o Uruguai e até mesmo para o Paraguai.Comentava-se que a elite portenha desejava restabelecer o antigo vice-rei-nado do Prata que incluía o Uruguai e o Paraguai.

Em 1852, Justo José de Urquiza, governador da província de EntreRios, com ajuda do Brasil, derrubou o governo Rosas. A vida política localnão foi tranqüila, houve constantes choques entre liberais e conservadores,entre a capital e o interior do país. Até que, em Pavón, o governador daprovíncia de Buenos Aires, Bartolomeu Mitre, derrotou Urquiza e assumiuo controle da nação. A história argentina do período foi caracterizada pelabusca de unidade do país. Por seu lado, o Brasil, com o Império, tinhamaior estabilidade política e estava sob controle de uma autoridade centrala partir do Rio de Janeiro.

Na verdade, a região do Prata, da independência à Guerra do Paraguai(1864-1870), esteve cheia de conflitos e desentendimentos. Com Mitre nogoverno da Argentina, por causa de sua postura liberal, ocorreram cho-ques com o partido Blanco do Uruguai, inimigo político dos Unitários deMitre. Também os paraguaios não viam o governo argentino com bonsolhos, tinham reclamações dos portenhos desde o período colonial.Buenos Aires era praticamente a porta de entrada e saída dos produtosparaguaios, e, algumas vezes, as autoridades argentinas tentaram perturbara vida econômica e política do país vizinho. Mitre, no poder, com pensa-mento político diferente dos dirigentes paraguaios, passou a ser tambémuma espécie de inimigo. O Brasil, por seu lado, tinha desavenças territoriaise de navegação com o Paraguai.

O Uruguai, também fronteira com o Brasil, enfrentou por longosanos uma série de guerras civis entre os partidos Blanco e Colorado e queperturbava os interesses da província brasileira do Rio Grande do Sul.Por ali, o Brasil tinha suas queixas. Os parceiros hoje do Mercosul passa-ram vários anos, no século XIX, em quase total desarmonia. Um dia tudodesmoronou, veio a Guerra do Paraguai, a região lutou por cinco anos.Uniram-se Brasil, Argentina e Uruguai, depois da invasão brasileira a este

A Integração nas Américas 49

último país, contra o Paraguai. Por circunstâncias históricas, houve umaunião entre Argentina e Brasil. Terminada a guerra, cada país tomou seurumo.

A Argentina, com mais unidade e com boa produção agropecuária,cresceu economicamente. No Brasil, com a queda do Império, a situaçãopolítica se complicou. O Uruguai com carnes, grãos, lãs e mais estabilida-de política estava estribado em bons índices de desenvolvimento. OParaguai, ainda amargando os resultados da guerra, caminhava a passosmais lentos. Era uma região com fronteiras comuns e com países de costasum para o outro. Suas preocupações econômicas e culturais estavam vol-tadas mais para a Europa e os Estados Unidos. O ciúme entre a Argentinae o Brasil por liderança regional era uma constante. O comércio entre oslados era pequeno.

No início da década de 1960, a região do Prata, com exceção doParaguai de Alfredo Stroessner, entrou em crise política. A situação acaboulevando os militares ao poder. Era o auge da Guerra Fria que terminouenvolvendo toda a área. A direita e a esquerda política, cada uma com seusobjetivos, chegaram a ponto de uma verdadeira guerra civil.

Mesmo no caos político do momento, em dezembro de 1960, sob aus-pícios da Cepal ou Comissão Econômica para a América Latina, nascia aAssociação Latino Americana de Livre Comércio. Não deu certo, mas ser-viu como parâmetro para futuras tentativas de integração econômica. Emnovembro de 1979, a Argentina e o Brasil assinaram um protocolo deintenções para terminar os constantes atritos entre os dois países. Issoocorreu na seqüência das acaloradas discussões sobre as usinas de Itaipu,Corpus e Yacerita. O Paraguai, fiel da balança nesses empreendimentos,estava se beneficiando do jogo por liderança na área, e aqueles dois paísesresolveram instituir um mecanismo de consultas permanentes. A partirdaí, as relações melhoraram, culminando com os acordos e protocolos deintegração econômica nos governos de Raul Alfonsin e José Sarney.

A proporção de produtos industrializados no total das exportaçõesbrasileiras para a Argentina vinha crescendo. Na década de 1970, essaexportação ficou em torno de 55%. Na década seguinte, a exportação demanufaturados subiu para 65% do comércio total e 35% para os bens pri-mários. As exportações argentinas para o Brasil eram diferentes. Na

Integração Regional50

mesma década de 1970, a Argentina exportou para o Brasil aproximada-mente 65% de produtos primários e semifaturados e 35% de bens indus-trializados. Na outra década, passou a ser exportado 75% de bens primá-rios e semifaturados e 25% de manufaturados. Algumas pessoas naArgentina temiam, e ainda temem, que ocorresse uma divisão de trabalhona região em que o país se especializaria em produzir e exportar matérias-primas e alimentos, e o Brasil bens industriais. É interessante também osignificado econômico de um país para o outro. Até 1985, antes da assina-tura dos atos de integração, com variações normais em anos diferentes, oBrasil estava entre o segundo e o quarto comprador dos produtos argen-tinos e na mesma proporção como supridor de suas necessidades. AArgentina estava entre o sexto e o oitavo supridor das necessidades brasi-leiras e entre o décimo primeiro e o décimo segundo como mercado paraa venda de produtos nacionais. Depois do Mercosul isso mudou, aArgentina passava a ser o segundo mercado comprador, só atrás dosEstados Unidos, dos bens produzidos aqui.

Por vários fatores, mas também porque o comércio Brasil-Argentinahavia deteriorado entre 1980 e 1985, Alfonsin e Sarney buscaram umamaior aproximação entre os dois países. Começou em agosto de 1985 eculminou em 30 de novembro daquele ano com a Declaração de Iguaçu.Através de comunicados e declarações oficiais, os dois presidentes, pelaprimeira vez na história dos dois países, expressaram pontos de vistas con-juntos sobre vários assuntos e que, a partir dali, ambos passariam a atuarunidos em suas decisões no campo internacional. Um momento impor-tante para o relacionamento sul-americano. No mesmo encontro, Alfonsine Sarney concordaram ainda que trabalhariam para a integração futura dospaíses latino-americanos. Reafirmam, naquele ato, fé no processo demo-crático pelo qual passava a região. Como havia sempre uma pontinha dedesconfiança entre os dois interesses, também assinaram uma declaraçãoconjunta sobre política nuclear. Foram aos poucos derrubando os motivosdos ciúmes históricos entre os novos parceiros.

Em 30 de julho de 1986, em Buenos Aires, Alfonsin e Sarney assina-ram a Ata para a Integração Argentino-Brasileira e Protocolos.Convidaram ainda o presidente do Uruguai, Júlio Sanguinetti, para parti-cipar do encontro, analisar as propostas e, no futuro, associar-se ao proje-

A Integração nas Américas 51

to. A participação do Uruguai, uma economia relativamente menor, pode-ria ser um treinamento para que não se repetissem, como no passado, osmesmos atritos entre economias maiores e menores. A ata definia os deta-lhes e princípios da integração pretendida e mostrava uma enorme preo-cupação em não repetir os erros de antes. A tentativa da Alalc mostrara ocaminho.

Finalmente ocorria a aproximação da Argentina e do Brasil. A neces-sidade de cooperação e ampliação do comércio empurrou os dois países namesma direção. Uma integração entre as duas economias era possível. Nosprodutos do campo, elas são complementares, um com produtos mais declima temperado e outro tropical. No lado industrial, poderia haver acor-dos de complementação entre setores diferentes, aproveitando as váriasmultinacionais que atuam nos dois países. Contudo, desde o início, resol-veram trazer o Uruguai para perto do acordo. Uma economia menor juntocom duas maiores poderia trazer de volta os mesmos problemas que antesajudaram a enterrar a Alalc. O Uruguai, segundo o entendimento, deveriafazer parte do acordo aos poucos e não como estava ocorrendo entre Brasile Argentina. O exemplo uruguaio, mais tarde, poderia ser útil para se fazero mesmo com outras economias menores da área. O dado positivo era queo Uruguai possuía uma economia complementar à brasileira no campo. Oacordo previa 10 anos para a integração entre Brasil e Argentina se com-plementar, com o Uruguai como convidado. Com Collor e Menem naspresidências, apressaram-se os passos para a integração, resultando noTratado de Assunção de 1991. Primeiro, o prazo para a integração foiencurtado para 31 de dezembro de 1994. Segundo, o Uruguai não era maissó um convidado, e sim um membro efetivo e, por último, acrescentaramo Paraguai como novo parceiro. Foi uma surpresa.

Os fatos sugerem que a idéia inicial de ter o Uruguai na integraçãocom Brasil e Argentina serviria para analisar com cuidado a participaçãode uma economia menor junto a duas maiores. A partir daí, aos poucos,estender a integração para outros países. A situação agora mudou, eincluía-se uma outra economia menor ainda. O exemplo da Alalc vemlogo à mente. E o caso paraguaio era, em princípio, complicado. Sua eco-nomia, no setor agropecuário, compete com a brasileira, o maior parcei-ro da integração. Produz café, algodão, soja, mate, menta, carne e madei-

Integração Regional52

ra; bens em que o Brasil é auto-suficiente e dos quais é até exportador. Nocampo industrial, no qual poderia haver complementação e alguma atua-ção conjunta, a produção paraguaia é negligenciável. E existem ainda maisproblemas.

No Paraguai, desde 1974, pode-se importar produtos industrializadosde qualquer parte do mundo pagando-se pouca taxa de importação. Foiuma medida tomada no governo de Alfredo Stroessner, na época da apro-ximação com o Brasil. No início, a medida deveria beneficiar somente ospaíses vizinhos. Vendo que a economia paraguaia poderia ser sufocada pelabrasileira, principalmente na compra de produtos industrializados, e for-çado pelos comerciantes locais, a administração Stroessner estendeu obenefício para qualquer país do mundo. Já que o Brasil estava ganhandocom exportações para o Paraguai, este país encontrou um meio para ga-nhar também. Os paraguaios montaram praticamente um shopping cen-ter ali ao lado para os brasileiros. Com esse tipo de comércio, principal-mente nas cidades fronteiriças de Ciudad del Este e Pedro Juan Caballero,eles ganham muito. É um tipo de atividade que pesa na balança comercialdo país e é uma fonte de renda nada desprezível. Com a integração econô-mica, no futuro, isso pode ser alterado.

A tarifa externa comum um dia deverá ser de fato adotada no Merco-sul. Chegará um momento em que todos os bens produzidos no Mercosulcircularão livremente, e a TEC deverá vigorar no comércio entre a região eo resto do mundo. Os membros integrados teriam, então, uma taxa únicapara importar produtos de outros países. Nesse momento, provavelmente,o Paraguai terá dificuldades em vender produtos industrializados deoutros países para os brasileiros. Se a taxação para importar de fora da áreafor igualada, não se precisará mais ir até o país vizinho para comprar brin-quedos, jeans, chocolates, produtos eletrônicos e outros bens. Os preçosdaqui serão praticamente iguais aos de lá. Se isso ocorrer, poderá haver rea-ção dos comerciantes paraguaios; não se sabe até que ponto a estruturapolítica local poderia suportar tal pressão.

A longo prazo, a integração no Mercosul trará mais benefícios aoParaguai do que a situação atual. As reclamações deverão ser mais pelasperdas de curto prazo. Também no setor agropecuário, o Paraguai pode-rá enfrentar problemas. Talvez tenha de diversificar um pouco sua pro-

A Integração nas Américas 53

dução de bens que poderiam ser mais facilmente vendidos aos parceirosintegrados. É difícil para o Paraguai competir com a produção brasileirano campo. Só conseguiria se fosse estabelecido um sistema de cotas.Todavia, a longo prazo, isso também poderia não dar certo, porque ooutro parceiro, com mais tecnologia e investimentos, poderia ter umaprodução maior e mais barata. O Paraguai continuaria enfrentando difi-culdades. A economia paraguaia deveria ser incentivada e até financiadapara produzir outros tipos de bens, com mais fácil aceitação no mercadoregional. O difícil será convencer a elite agrária local da necessidade de talmudança, uma vez que, acostumada por décadas a uma determinadaprodução, dificilmente gostaria de mudar de rota. Só se os incentivos fis-cal, financeiro e de mercado fossem mais atrativos. A mudança não éfácil, mas é possível e desejável.

No campo industrial, algumas fábricas do Brasil e da Argentina pode-riam ir para o Paraguai. Aproveitando mão-de-obra, energia farta, incenti-vos fiscais, uma ou outra fábrica poderia se interessar em produzir lá e ven-der na área integrada. Soluções, em teoria, existem, o difícil é a fase de tran-sição e adaptação. No entanto, os mentores da integração resolveram ousare aceitaram o Paraguai como membro fundador do Mercosul desde o iní-cio. A vantagem dessa aproximação é que, diferente do que ocorrera naAlalc, os quatro países que buscavam a integração são geograficamentepróximos, pertencem a uma mesma região.

A verdade é que até agora não houve nenhuma ação concreta de ou-tros membros do Mercosul, principalmente do Brasil, para ajudar a econo-mia paraguaia. Isso ficou claro recentemente, quando a diplomacia brasi-leira reclamou da presença de soldados norte-americanos naquele país. Aimprensa e o Congresso do Paraguai, ao rebater essas reclamações, falaramclaramente que a participação do país no Mercosul, até o momento, tinhasido uma decepção. Afirmaram que o país não havia ganhado quase nadae que havia uma descrença interna em relação à integração. Um fato queera previsto desde o início, se nada fosse feito para alterar a pauta de pro-dução e exportação do país vizinho. Alguns temem que, frente a uma situa-ção dessa, o Paraguai possa se ligar a economias de fora da região que lheofereçam vantagens e não se preocupar muito com os passos futuros doMercosul ou até mesmo abandoná-lo.

Integração Regional54

Bem antes disso, no dia 26 de março de 1991, os presidentes dos qua-tro países do Prata assinaram o Tratado de Assunção para a criação de ummercado comum até 31 de dezembro de 1994. O tratado diz que a amplia-ção do mercado é fundamental para o crescimento econômico, a mesmatese da Cepal na década de 1950. Não funcionou antes, mas a colocação éacertada. Se o mercado é ampliado, produz-se em economia de escala,aumentando a competitividade com economias de fora da área. O tratadofala em crescimento econômico com justiça social e, diferente dos temposda Alalc, enfatiza a preservação do meio ambiente, a construção de maisestradas e a aceitação dos princípios da flexibilidade. Existem prazos aserem cumpridos, mas, se necessário, poderá haver interrupções, recuos eavanços na hora certa. A experiência adquirida antes ajudava na nova ten-tativa integracionista.

Os formuladores do tratado entendem que o mundo caminha para aformação de grandes blocos econômicos e deve-se procurar meios para nãoficar de fora. E, apesar de não expor isso claramente no documento, sabemque o poder de barganha do grupo aumentaria frente a outros blocos. Voltalá em 1980, no tratado que criou a Aladi, e diz que o mesmo previa avançosna integração latino-americana, o que estaria ocorrendo naquele momen-to. A introdução é simples, de acordo com os novos tempos, e aproveita-seo que ocorreu no passado e espera-se que os erros não se repitam agora.

Itens do Tratado de Assunção

O tratado é dividido em capítulos, artigos e vários anexos. O acordoprevê livre circulação de bens, serviços e fatores de produção. É um poucoousado, mas está dentro dos princípios corretos para criar um mercadocomum. Entretanto, não é fácil aceitar que a livre circulação de mão-de-obra não especializada ocorra tão cedo entre os países membros. No Nafta,que na verdade é uma zona de livre-comércio, na qual a circulação do ca-pital é incentivada, o fator mão-de-obra foi tratado de forma diferente,adaptando-se a uma realidade concreta do momento. A livre circulaçãodos fatores de produção, portanto, consta no tratado do Mercosul.Também prevê a eliminação de barreiras alfandegárias e a livre movimen-tação de mercadorias entre os membros integrados.

A Integração nas Américas 55

Estabelece ainda a intenção de adotar uma política comercial comumfrente a outros países. Se ocorrer, será usada uma só linguagem, de formacoordenada, nas relações comerciais com países e blocos econômicos de ou-tras regiões. Um dos objetivos de uma integração é, no momento da barga-nha econômica internacional, usar argumentos comuns, pois não usar essavantagem seria um erro. Erro que a América Latina vem cometendo desdemuito tempo. São economias pequenas e de força reduzida no plano mun-dial. Ao propor falar em conjunto, adquire-se uma força maior, o poder depressão na barganha comercial aumenta e, quem sabe, pode-se garantirganhos adicionais no comércio internacional para os países do Mercosul.

No tratado, também é prevista a coordenação das políticas fiscal,monetária, cambial, de comércio exterior e de capital visando a assegurarcondições de competição justa entre os membros integrados. Outra vez, noplano teórico da integração, os passos propostos estão corretos, porém sãomedidas complexas e que só poderão ser concretizadas com esforço emuita boa vontade. A reciprocidade é outro dos pressupostos do tratado,sem a qual, aliás, uma integração teria dificuldades para funcionar.

Haveria um período de transição desde a assinatura do tratado até 31de dezembro de 1994. Nesse meio tempo, os anexos II, III e IV, que tratamda origem, soluções de controvérsias e salvaguardas, seriam a base para oentendimento. Deveriam ser impedidas, pelas legislações nacionais,importações de países de fora da área que tenham subsídios, dumping ou“qualquer outra prática desleal”. A idéia é assegurar condições iguais nocomércio. Se um país compra produtos subsidiados do exterior, a compe-tição interna fica desigual.

Criou-se um programa de liberação comercial gradual e eliminaçãoprogressiva de barreiras alfandegárias até se chegar à tarifa zero, em 31 dedezembro de 1994. Partia-se de um patamar preestabelecido de cortealfandegário de 47%, em 30/6/1991. Em 31/12/1991, subiria para 54% eem 30/6/1992, chegaria a 61%, aumentaria para 68%, em 31/12/1992, eatingiria 75%, em 30/6/1993. Seis meses depois, em 31/12/1993, estarianum patamar de 82%, no meio do próximo ano, em 30/6/1994, o percen-tual seria de 89% e no fim do ano, em 31/12/1994, no momento da entra-da do tratado em vigor, teria de ser de 100% a eliminação alfandegária namaioria dos produtos comercializados na área.

Integração Regional56

Existem listas de exceções apresentadas por cada um dos quatro paí-ses. A da Argentina possuía 394 itens, a do Brasil 324, o Paraguai apresen-tou 439 e o Uruguai 960. As duas economias menores apresentaram listasmaiores, mas deveriam também, até 31/12/1995, eliminar as taxas deimportação sobre as mesmas. As listas de exceções, motivos de grandesdiscussões e controvérsias, estão também, desde o início do tratado, sub-metidas a um cronograma de redução tarifária. Para o Brasil e aArgentina, a redução seria de 20% ao ano, desde 31/12/1991. Para oParaguai e o Uruguai, o caminho era um pouco mais suave. Seria 10% naassinatura do tratado, mais 10% até 31/12/1991, e, a partir daí, cada ano,no dia 31/12, a redução deveria ser de 20%, chegando-se, portanto, em31/12/1995, aos 100% previstos. Em linha geral, os participantes teriam deseguir esse cronograma; entretanto, o tratado é flexível e recuos poderiamocorrer de comum acordo.

O tratado prevê ainda coordenação de políticas macroeconômicas etambém a existência de uma tarifa externa comum para ser aplicada a paí-ses não membros. Impostos e taxações, continua o tratado, devem ser osmesmos para todos os produtos provenientes de qualquer um dos paísesintegrados. Não se poderia, portanto, taxar um produto argentino noBrasil de forma exagerada, com um imposto desproporcional em relaçãoàquele aplicado ao produto nacional. Não se poderia também realizaracordos paralelos de um só membro com outros países, mesmo daAmérica Latina, que pudessem prejudicar os termos do tratado. Se, porexemplo, houver vantagens em um entendimento entre a Argentina e aVenezuela, isso deverá ser estendido também aos demais membros.

O mercado comum em formação teria uma estrutura de comandoque seria dividida em dois segmentos: Conselho do Mercado Comum eGrupo Mercado Comum. O conselho era o órgão regulador da integra-ção e tomaria as decisões com o objetivo de assegurar o cumprimentodas metas e prazos estabelecidos no tratado. Seria composto pelos minis-tros das Relações Exteriores e da Economia dos respectivos países. Devese reunir quando necessário e também deve contar com a participaçãodos presidentes dos países pelo menos uma vez por ano. A presidência doconselho seria ocupada de forma rotativa, a cada seis meses, em ordemalfabética.

A Integração nas Américas 57

O órgão executivo do mercado comum em andamento era o GrupoMercado Comum, coordenado pelos ministros das Relações Exteriores dospaíses envolvidos. O Grupo, depois das decisões do conselho, trabalha nosdetalhes e pelo cumprimento dos acordos estabelecido, sendo, portanto, aparte executiva do tratado. Teria quatro membros titulares e quatrosuplentes que deveriam vir dos Ministérios do Exterior, da Economia e doBanco Central. Haveria, ainda, uma secretaria executiva, e a sede, comoacontecera antes com a Alalc e a Aladi, seria em Montevidéu. As decisõesfinais deveriam ser tomadas por consenso e com a presença de todos osparticipantes. Os idiomas usados seriam o espanhol e o português. O tra-tado teria duração indefinida e entraria em vigor 30 dias depois da data emque o terceiro instrumento de ratificação fosse entregue. O governo doParaguai ficou encarregado de recebê-los.

Outros países membros da Aladi poderiam aderir ao mercadocomum que estava em formação. Contudo, ressalva que a solicitação seriaexaminada só depois de “cinco anos da vigência deste tratado”. O objetivoera fortalecer o grupo antes de estender o tratado a outros. Apesar do casoparaguaio, era provável que estivessem tentando evitar o que ocorrera naAlalc. No entanto, deixaram uma pequena brecha nesse mesmo artigo, quetrata desse assunto ao dizer que aquele prazo poderia ser alterado, casoalgum membro da Aladi, que não pertencesse a nenhum outro pacto deintegração sub-regional ou de fora da área, quisesse participar. Era umaabertura clara para o Chile, que não fazia parte do Pacto Andino e estaria,portanto, em condições de ser mais um parceiro do Mercosul. O tratadodiz também que o novo membro não podia estar integrado fora daAmérica Latina.

Um parceiro da integração poderia se afastar do acordo. Deve comu-nicar isso de forma clara e, a partir de 60 dias do afastamento formal, nãoestaria mais sujeito aos direitos e obrigações próprias do tratado. As nor-mas sobre a origem do bem a ser comercializado dentro da área descem adetalhes para especificar quais produtos podem ter o benefício da integra-ção. Os produtos totalmente elaborados no território de qualquer dosmembros têm origem certa e segura. Também os bens de origens mineral,vegetal e animal podem sair do território de qualquer dos países integra-dos. E, ainda, os produtos do mar, mesmo que de fora de águas territoriais

Integração Regional58

do país, teriam de ser transportados por barcos com bandeira de um paísmembro.

Para o tratado, um produto que só fosse maquiado, embalado oumontado dentro de um país, tendo procedência de fora da área, não seriaconsiderado de origem local. Será considerado da área integrada, mesmoque a matéria-prima não pertença ao país, quando o processo de transfor-mação lhe dê uma individualidade própria. Essa questão da origem doproduto é um dos aspectos mais controversos e mereceu longos debates.O Uruguai, por exemplo, queria um pouco mais de flexibilidade nisso,Argentina e Brasil não. O Uruguai, por sua situação geográfica e tipo demão-de-obra, poderia ser um paraíso para fábricas maquiadoras produ-zirem e venderem nos dois países maiores. Os artigos sobre esse aspectodo tratado descem aos detalhes para identificar a origem do bem, e pro-põem uma análise minuciosa para entender a característica essencial doproduto.

São previstas também algumas excepcionalidades que, se ocorrerem,devem ser passageiras. Se demorassem, poderiam ser denunciadas por umdos membros. Até os produtos elaborados nas zonas francas devem obede-cer às regras do regime de origem. Outro item sugestivo é sobre a soluçãode controvérsias. Um problema entre mais de um membro deve tentar serresolvido de forma direta. Se não for possível, o impasse é levado para oGrupo Mercado Comum, que tem 60 dias para dar o parecer. Se aindaassim não se chegar a bom termo, leva-se o assunto ao Conselho doMercado Comum.

Existem ainda as cláusulas de salvaguardas. Um país membro quemostrasse que a importação de determinado produto poderia causardanos graves ao seu mercado em conseqüência do aumento de importa-ções teria o direito de solicitar ao grupo executivo meios para eliminar essasituação. O grupo teria de apresentar respostas dentro de 20 dias corridos.Se a salvaguarda solicitada estiver dentro de parâmetros reconhecidos,seria concedida; porém, não eternamente. O tempo previsto é de um anoe poderia ser renovado por mais um ano.

Em 17 de dezembro de 1994, foi assinado um “protocolo adicional aoTratado de Assunção sobre a estrutura institucional do Mercosul”, queficou conhecido como Protocolo de Ouro Preto, firmado nessa cidade

A Integração nas Américas 59

mineira. Ali foram definidos com clareza os órgãos que compõem oMercosul, uns vêm desde o início e outros foram acrescentados para darmaior agilidade e funcionalidade ao acordo de integração regional. Aestrutura do Mercosul ficou maior. Tem-se hoje, como antes, o Conselhodo Mercado Comum, órgão máximo da integração, que o conduz politica-mente e é formado pelos ministros das Relações Exteriores e da Economiados países membros. O Grupo Mercado Comum continua como o órgãoexecutivo e é composto pelos ministros das Relações Exteriores de cadapaís. Acrescentou-se a Comissão de Comércio do Mercosul que ficouencarregada de dar assistência ao Grupo Mercado Comum na questão dapolítica comercial dos países membros. Criou-se ainda uma ComissãoParlamentar Conjunta, no qual os parlamentos dos países integradosteriam assento. Os setores econômico e social foram contemplados com oForo Consultivo Econômico e Social. E, por fim, faz parte dessa estruturauma Secretaria Administrativa, responsável por prestar serviços para todosos outros órgãos do Mercosul. A sede continuaria em Montevidéu. OProtocolo de Ouro Preto, que cria esses órgãos, também os define, esta-belece a função de cada um e como deveriam atuar. São longas e detalha-das essas colocações no protocolo.

O Mercosul, na sua formação inicial e mesmo depois de sua formali-zação em Ouro Preto, aproveita o aprendizado da época da Alalc. Falamuito em Aladi mas, na verdade, a base do acordo tem sua origem noserros e acertos ocorridos entre 1960 e 1980, com a Alalc. O grupo coorde-nador da proposta aprendeu a lição e espera-se que, desta vez, funcione.Aliás, esse parece ser o melhor caminho para os países da região. Não épossível que países vizinhos vivam no século XXI como se estivessem aindano século XIX. Comercializar com o mundo lá fora é importante, mas nãose pode deixar de dar alguma preferência a uma economia de dentro daárea integrada. E isso tem acontecido; o comércio tem crescido na região.

Avanços, Recuos e Negociações

Em 1990, o comércio entre os países hoje integrados estava em tornode quatro bilhões de dólares, um ano depois passou dos cinco bilhões. Em1992, chegava a sete bilhões, no ano seguinte já ultrapassava os dez bilhões.

Integração Regional60

Continuou subindo para chegar, em 1997 e 1998, a mais de 20 bilhões dedólares em trocas na área integrada. Crises locais e “importadas” fizeramcom que o comércio caísse nos anos posteriores, chegando a 15,1 bilhões,em 1999, e subindo outra vez, no ano 2000, para algo próximo de 17,6bilhões. Oscilou mais ainda na enorme crise econômica enfrentada pelaArgentina, depois da desvalorização do peso em relação ao dólar. Para per-ceber a extensão desse problema, veja o exemplo das exportações do Brasildentro do Mercosul, nos anos de 2000 e 2001.

Com a Argentina, ela caiu mais de 19%, com o Paraguai mais de 13%,e com o Uruguai acima de 4%. O Brasil também comprou menos naqueleperíodo. Com a Argentina, a queda foi de mais de 9%, com o Paraguai, decerca de 14%, e do Uruguai, importou-se 16% a menos. A exportação doBrasil dentro do Mercosul já chegou a ser 14% do total dos bens exporta-dos pelo Brasil para o mundo. Com as crises e as seguidas quedas nocomércio regional, em 2001, a exportação para o Mercosul correspondia a12,37% do total do país para o mundo. A situação piorou ainda mais: em2002, apenas 5,9% da exportação global foi para o Mercosul. As importa-ções nacionais do Mercosul, em 2001, foram de 13,13% e, no ano seguin-te, caíram para 12,82%. Esse dado mostra que o Brasil, apesar das crisesenfrentadas pelos parceiros do Mercosul, principalmente a Argentina,ainda manteve um patamar alto de importação dentro da área integrada,em comparação com os parceiros. Um dado interessante na relação comer-cial do Brasil com a Argentina é que, em 1994 e 1995, o país teve superávitcomercial. Daí para frente, mesmo nos piores momentos da crise econômi-ca Argentina, o Brasil sempre teve déficit comercial. Recentemente, o Brasilvoltou a ter superávit com o país vizinho. Com o Paraguai, o Brasil tevesuperávit de 1994 a 2002. Com o Uruguai, varia um pouco. Teve superávitem 1994 e 1995, déficit comercial de 1996 a 1998, e superávit em 1999,2000 e 2001. Em 2002, teve déficit outra vez. Uma gangorra interessante,diferente do caso argentino em que o Brasil teve déficit comercial quaseconstante no mesmo período.

Um dado importante sobre o Mercosul é que, apesar de ter aumentadoas trocas internas, o comércio com outros países também aumentou. Nãohouve, como recomenda a OMC, desvio de comércio. Em 1990, a participa-ção do Mercosul no comércio mundial era de 2% do total. Em 1991 e 1992,

A Integração nas Américas 61

subiu para 2,1%, e aí foi subindo seguidamente até chegar ao maior patamar,em 1997, com 2,9% do comércio internacional, um acréscimo de quase 50%sobre ano de 1990. Passou, no total das importações mundiais, em númerosredondos, de 29 bilhões de dólares, em 1991, para 98 bilhões, em 1998. Outravez as crises que abalaram as economias da região, principalmente as duasmaiores, acabam resultando na diminuição da participação internacional.

O que mais tem chamado a atenção na integração dos países doMercosul é que, até agora, os problemas surgidos têm sido resolvidos deforma negociada. Era comum imaginar que, na primeira desavença, o pro-cesso seria interrompido. Mesmo com muita choradeira de um ou outromembro, nenhum rompimento ocorreu. Por exemplo, como a tarifa exter-na comum não tinha ainda condições de ser aplicada, os países integradostransferiram as datas estabelecidas. Reclamações sobre os sistemas auto-motivos de Brasil e Argentina levaram os países a um entendimento, como objetivo de harmonizar os mesmos. O chamado “acordo sobre a políticaautomotiva do Mercosul” é um exemplo. Deveria entrar em vigor a partirde 1º- de fevereiro de 2001 e era um substituto ampliado de um outro acor-do, de 30 de junho de 2000. Os detalhes previstos no acordo automotivoimpressionam. Cada item, cada componente, cada fator na construção doautomóvel ou sua venda posterior estão previstos. O que queremos desta-car aqui é que os países integrados, basicamente Argentina e Brasil, semprebuscaram alternativas para que a integração não morresse, apesar dosvários casos levantados por um ou outro país. E não foram poucos: dosprodutos lácteos, autopeças, tecidos, quem vai ter assento no Conselho deSegurança da ONU ou a desvalorização cambial no Brasil, de 1999, quequase azedou de vez as relações regionais. Além da paridade cambial e dadesvalorização na Argentina, que também ajudaram a pôr mais lenha nafogueira dos assuntos regionais. Havia a possibilidade, real ou imaginada,de algum país da área integrada passar a ser membro do Nafta, abandonan-do o Mercosul. Não foram poucos os desentendimentos entre os membrosintegrados; é só pesquisar nos jornais da época para se ver a quantidade deassuntos conflitantes entre os lados, principalmente nas relações do Brasilcom a Argentina.

Para o Brasil, o Mercosul tem sido importante economicamente, oque é comprovado pelos números do comércio. Contudo, essa integração,

Integração Regional62

sugerem os fatos, tinha um objetivo maior. A intenção era manter a inte-gração para buscar novas adesões na América do Sul, principalmente daComunidade Andina, e então, em conjunto, ter uma conversa mais apro-priada com os propositores da Alca ou Área de Livre Comércio dasAméricas. Seria mais inteligente defender os pontos de vista em conjunto,se não toda a América do Sul, pelo menos os países do Mercosul. Até issofoi colocado em dúvida em diversas ocasiões, quando membros da integra-ção ameaçavam debandar para outros lados ou apelavam para conversasbilaterais. No entanto, nas discussões finais da Alca, em Miami, em 2003, ePuebla, em 2004, viu-se um Mercosul unido, com uma linguagem únicanas discussões e decisões a serem tomadas. O trabalho dos membros inte-grados, principalmente do Brasil, teve resultados concretos na unificaçãodos objetivos daquela discussão de integração continental. Um fato desa-creditado por muitos, tal a quantidade de problemas e assuntos surgidosentre os países do Mercosul. O poder de barganha dos integrados aumen-tou. Quando as conversas maiores na Alca se complicam, como mais umexemplo, fala-se no “quatro mais um” ou o Mercosul tentar se entenderdiretamente com os Estados Unidos.

É em conjunto, também, que a área mantém entendimento comJapão, México, Comunidade Andina e União Européia. Com esta última,as conversas, apesar dos problemas conhecidos, foram avançando.Praticamente os mesmos assuntos que emperraram o andamento da Alcaaparecem na negociação entre o Mercosul e a União Européia. Por algummotivo especial, algumas vezes esse entendimento conseguia fluir umpouco melhor do que as conversas do bloco sul-americano na Alca. Traçosculturais e históricos mais próximos talvez ajudem nisso ou, quem sabe, amaior força dos Estados Unidos assuste um pouco. Ou, ainda, porque osnegociadores do Mercosul decidiram acelerar os entendimentos com aUnião Européia para forçar uma barganha comercial mais adequada como gigante da Alca, os Estados Unidos. Os subsídios agrícolas também estãono centro das discussões. Os negociadores da União Européia, um poucodiferente do que ocorria na Alca, concordaram em pelo menos aumentar acota de importação de bens agrícolas do Mercosul, sem, no entanto, acabarde vez com os subsídios ao setor. A grande preocupação dos negociadoresdo Mercosul é abrir mercado fora para os produtos agrícolas, daí a luta

A Integração nas Américas 63

para a retirada ou diminuição dos subsídios. É uma busca justa, somoscompetitivos nessa atividade econômica.

Todavia, o exemplo do México no Nafta deveria ser analisado commais cuidado e poderia ser um parâmetro a seguir. Aberturas em algumasatividades econômicas que não puderam ser feitas desde o início daquelaintegração foram adiadas. A fórmula encontrada para dar seguimento àintegração, ainda em estágio embrionário, era não interromper o processoquando um aspecto comercial não evoluía. Com o objetivo de obter maisvantagens e aberturas comerciais na área agrícola, os negociadores doMercosul algumas vezes não usavam a mesma ênfase na busca de abertu-ras maiores no setor industrial, em setores em que os países são competi-tivos também. No entanto, as conversas com a União Européia andavamjuntamente com as do Mercosul com a Alca. Existe uma pequena históriapor trás dessa tentativa de aproximação.

Em dezembro de 1995, o Mercosul e a União Européia assinaram ochamado “acordo-quadro inter-regional de cooperação”, que eram meca-nismos de transição para se chegar, mais tarde, a uma Associação Inter-Regional ou a uma integração mais efetiva entre os lados. Em 28 de junhode 1999, no Rio de Janeiro, os chefes de Estado dos governos do Mercosule da União Européia lançaram as negociações reais entre os dois blocos. OComitê de Negociações Birregionias, ou CNB, se reuniu pela primeira vezem abril de 2000, em Buenos Aires. Na segunda reunião, em Bruxelas, em12 de novembro de 2003, aprovaram as diretrizes que orientariam as nego-ciações diretas entre os dois interesses. Dali para cá, foram realizados váriosencontros para tentar liberar o comércio e ainda para se estabelecer regrassobre outros setores de atividade como serviços, investimentos ou proprie-dade intelectual. É uma discussão ampla, que inclui praticamente todos osaspectos no rumo de uma integração econômica entre o Mercosul e aUnião Européia. Entre dezembro de 2003 e julho de 2004, foram realizadascinco reuniões do CNB e ainda dois encontros ministeriais, em maio eoutubro de 2004. Pretendia-se terminar essa fase, que daria início a umaintegração entre os dois blocos, até outubro de 2004. Nessa data, termina-ria o mandato da Comissão Européia que fazia as negociações, e uma novaeleição poderia atrasar os entendimentos finais entre os dois lados. Oentendimento final não ocorreu. Foi transferido para depois, já com novos

Integração Regional64

membros na Comissão Européia. A que saiu, frente aos impasses entre osdois lados, não quis formalizar um acordo que talvez fosse contestado oucriticado pelos novos negociadores daquela integração.

Talvez possa ser especulado também que este assunto poderia estarassociado ao que estava ocorrendo nas conversas entre o Mercosul e a Alca.Uma conclusão da integração entre o Mercosul e a União Européia antes daconclusão das conversas com a Alca talvez desse mais munição aos negocia-dores do bloco sul-americano nas suas conversas com o principal integran-te da Alca, os Estados Unidos. E, outra vez, chama a atenção a unidade de lin-guagem dos membros do Mercosul na busca dessa alternativa integracionis-ta com parte da Europa. Derrubava por terra a crença de que isso não ocor-reria, que um ou outro membro da integração acabaria quebrando a unida-de do bloco. Até agora isso não ocorreu. A unidade, ao longo do tempo, ren-deu frutos. O que o Brasil sempre buscara – atuação conjunta nas discussõesfuturas da Alca e com a União Européia – acabou acontecendo. Cada itemdas propostas apresentadas aos negociadores europeus ou norte-america-nos, ou que de lá vinham era estudado em conjunto pelos representantes doMercosul, com preponderância de brasileiros e argentinos. Essa atuação con-junta fez um contraponto interessante às conversas com a Alca. Enquantonela o andamento era mais devagar, os entendimentos do Mercosul com aUnião Européia por algum tempo caminharam com mais vigor.

Enfim, a necessidade regional e mundial do momento empurrou osmembros integrados na mesma direção. Vive-se, na verdade, uma grandenovidade histórica entre os quatro vizinhos desta parte do mundo. Tãointeressante e intensa que até o México, lá da América do Norte e membrodo Nafta, e também a Venezuela se entusiasmaram a fazer parte desse blocosul-americano.

Esse entusiasmo regional se estendeu a uma outra vertente integracio-nista mais ampla. Uma nova tentativa que procura unir toda a América doSul ou, mais precisamente, a unidade entre os países do Mercosul e daComunidade Andina. Em Cusco, Peru, em dezembro de 2004, houve a assi-natura do acordo para se criar a Comunidade Sul Americana de Nações, ouCSN. Pertencem a ela todos os países da América do Sul, com exceção daGuiana Francesa. Ela cobre um território de 17 milhões de quilômetrosquadrados, com uma população total que passa de 360 milhões de habitan-

A Integração nas Américas 65

tes e com um PIB acima de 970 bilhões de dólares no momento de sua cria-ção. A CSN, de acordo com o estabelecido em Cusco, baseia-se em trêspontos: diálogo político permanente, acordo comercial entre a CAN e oMercosul, e a sonhada integração da infra-estrutura física da região, umatentativa que vem desde o governo Fernando Henrique Cardoso. A siglapara essa importante parte do acordo é IIRSA ou Integração da Infra-estrutura Regional Sul Americana.

É mais uma tentativa. É cedo para saber se vai dar certo ou não.Integrações menores e de países geograficamente mais próximos, como osdo Mercosul, já enfrentam muitas dificuldades para ir em frente. Uma inte-gração mais ampla, com interesses variados e com economias tão dísparesentre si, é uma empreitada que depende não só de boa vontade. Entretanto,é uma tentativa válida; mostra que há um interesse em unir as economiasdessa parte do mundo. Como exemplo de dificuldades futuras, naqueleencontro em Cusco, três presidentes de países do Mercosul, com alegaçõesdiferentes, não foram ao evento que criou a CSN: Nestor Kirchner, daArgentina; Jorge Battle, do Uruguai; e Nicanor Duarte Frutos, do Paraguai.

A Comunidade Andina: CAN

História e Encontros Presidenciais

Em 26 de maio de 1969, um grupo de países dos Andes, através doAcordo de Cartagena, conhecido como Pacto Andino, resolveu estabeleceruma integração entre suas economias. Faziam parte, inicialmente, Bolívia,Chile, Colômbia, Equador e Peru. A Venezuela passou a pertencer ao grupoem 1973, e o Chile afastou-se em 1976. Augusto Pinochet, já no governochileno, argumentava que o comércio do seu país era maior com o resto domundo, não havendo, portanto, incentivo para que participasse. Talvez omotivo tenha sido político. O Chile, com a derrubada do governo SalvadorAllende, em setembro de 1973, passava por pesada ditadura, com duras crí-ticas do exterior. A formação do Pacto Andino é motivada por desentendi-mentos dentro da Associação Latino Americana de Livre Comércio. A Alalclutou bravamente para manter a integração da área. Uma tentativa frustra-

Integração Regional66

da, no entanto. A separação do grupo andino, em 1969, foi o tiro de mise-ricórdia nessa intenção integracionista.

Uma das razões para isso foi a reclamação das economias menores deque não teriam ganhos. Equador, Bolívia e Paraguai estavam nesse grupo.A Alalc fez concessões especiais a esses países, mas não foi suficiente.Depois de algum tempo, as economias médias, como Colômbia, Chile eVenezuela, também passaram a reclamar que a integração beneficiava os“três grandes”, ou seja, Argentina, Brasil e México, que estavam em umprocesso de industrialização maior e onde, por motivos vários, as multi-nacionais tinham mais interesses em investir do que nas economiasmenores ou médias da região. Os governos dessas economias achavamque as concessões que estavam sendo feitas, basicamente na área indus-trial, acabariam beneficiando esses três países. Decidiram criar uma inte-gração sub-regional.

O começo do cisma foi uma carta de Eduardo Frei, presidente doChile, a quatro economistas que dirigiam instituições internacionais volta-das para a América Latina. Naquela época, ainda se acreditava que era pos-sível coordenar o desenvolvimento de um país ou região através do traba-lho planificado e sob a ótica dos economistas. Como a tentativa de integra-ção contava com forte apoio da Cepal, do BID e outros organismos volta-dos para área, Frei enviou a carta a Raul Prebish, diretor do Instituto dePlanificação Econômica e Social Latino Americano; a Felipe Herrera, pre-sidente do BID; a José Antonio Mayobre, diretor-executivo da Cepal; e aCarlos Santa Maria, chefe do Comitê Interamericano da Aliança para oProgresso. A carta, em síntese, procurava mostrar que os termos doTratado de Montevidéu, que criou a Alalc, não provocariam a integraçãoeconômica regional, que eram injustos e que beneficiariam alguns paísesmais do que outros. O presidente da Colômbia, Carlos Lleras Restrepo,junta-se a Frei e juntos encabeçam o movimento que resultará na criaçãodaquele grupo sub-regional.

O Acordo de Cartagena previa liberação comercial, coordenação napolítica de desenvolvimento industrial, tratamento especial para as multi-nacionais, programa unificado para importações, criação de uma corpo-ração de fomento, atuação em conjunto na pesquisa científica e na educa-ção, criação de uma tarifa externa comum, coordenação e harmonização

A Integração nas Américas 67

de suas políticas econômicas e investimentos em infra-estrutura. Pro-punha ainda buscar “uma integração completa com os países da Alalc e detoda América Latina”. Com o aprendizado na tentativa integracionistaanterior, um grupo de países pertencentes a uma mesma região e de eco-nomias não tão díspares entre si concordaram em criar essa integraçãoeconômica.

Em síntese, os objetivos gerais daquela integração previam: aumentaro crescimento econômico dos países envolvidos; criar mais empregos; pro-mover desenvolvimento equilibrado e harmônico entre seus membros,prevalecendo a cooperação econômica e social; buscar, ao longo do tempo,uma integração regional ou a formação do mercado comum latino-ame-ricano; procurar diminuir a vulnerabilidade externa dos países membros;e, por fim, envidar esforços para melhorar o nível de vida dos habitantesda região. Os termos são genéricos, como é regra em muitos documentosque tratam da integração econômica regional. O conteúdo do Acordo deCartagena também vai nessa direção. Há uma diferença muito grandeentre as palavras de boa vontade e a realidade regional.

Com a integração e um mercado ampliado, esperava-se que houvessemais investimentos na produção. Contudo, o capital de fora não se animoumuito e, na dúvida, tende a investir onde houver retorno mais garantido.Não era o caso ainda dessa integração iniciante. Além disso, o capital pri-vado nacional e regional era escasso, e o poder público tinha suas limita-ções. Equador e Bolívia, vendo que ali também perderiam, começaram areclamar, nos moldes do tempo da Alalc, em que as economias menores eas médias achavam que Brasil, México e Argentina ganhariam mais com aintegração.

A integração, seja a andina ou da Alalc, dedicava mais atenção àindustrialização da área do que a outras atividades econômicas. Com mer-cado ampliado, acreditava-se ser possível chegar à economia de escala,além de outras motivações que interessariam ao capital de fora. Era maisdifícil caminhar para uma integração efetiva no setor agrícola. De formageral, os países, em qualquer das integrações, produziam quase os mesmosbens. Eram economias competitivas no campo. A ênfase no setor industrialtinha um objetivo maior ainda. Se ocorresse, como sonhavam alguns lati-no-americanos, principalmente os técnicos da Cepal, faria com que a

Integração Regional68

região comprasse menos bens industrializados de fora, mantendo, assim,mais dinheiro interno. Ela ainda aumentaria e melhoraria a qualidade dosempregos nas áreas integradas. Em tese, o ponto de vista está correto, naprática, a situação se mostrou diferente.

Todavia, apesar do choque com a realidade regional, os países andi-nos, nos anos posteriores, tentaram criar um melhor entendimento econô-mico entre eles. O avanço foi lento e difícil. Por longo tempo, depois dafanfarra inicial em torno do Acordo de Cartagena, a tentativa de integra-ção nos Andes ficou parada. Mais tarde, recomeça uma nova fase, e hoje aunidade do grupo passou a ser chamada de Comunidade Andina.

Talvez o fator mais importante para que a Comunidade Andina che-gasse aonde chegou tenha sido as decisões tomadas nos diversos encontrospresidenciais. Os impasses, ao longo dos anos, foram surgindo, houvemomentos em que praticamente tudo parou, principalmente nas enormesdiscussões sobre tarifas internas. O processo integracionista teve de serempurrado por decisões tomadas nos fóruns de presidentes.

Em fevereiro de 1989, em Caracas, os presidentes resolveram dar umareviravolta na integração que, àquela altura, encontrava-se em um impas-se devido ao emperramento nas discussões sobre liberalização tarifária. Eraum recomeço. No mesmo ano, em maio, houve um novo encontro, emCartagena de Índias, na tentativa de fazer realmente funcionar o programade liberalização comercial que estava parado. E, em dezembro daquelemesmo ano, aconteceu mais um encontro nas ilhas Galápagos. Busca-semelhorar o entendimento e tornar mais efetivas as conversações dentro dogrupo, sinalizando o desejo de estabelecer uma integração latino-america-na. Portanto, em um ano, resolveram fazer o barco andar de novo.

Em maio de 1990, reuniram-se em Machu Pichu para institucionali-zar certos mecanismos que dariam mais dinâmica aos trabalhos do grupo.Em julho do mesmo ano, em Lima, reúnem-se outra vez e decidem exami-nar em conjunto a proposta norte-americana de “iniciativa para asAméricas”. Em agosto daquele ano, em Bogotá, aceitam a proposta dosEstados Unidos, mas enfatizam que ela deve trazer benefícios a todos,reforçam o valor das integrações em andamento, destacando que as nego-ciações seriam feitas através delas. Em La Paz, em novembro de 1990, já sefala em zona de livre-comércio, tarifa externa comum, união de transpor-

A Integração nas Américas 69

tes e telecomunicações. A proposta norte-americana acabou provocandouma movimentação maior dentro da CAN. Em maio de 1991, agora emCaracas, em uma nova reunião, decidem aprofundar ainda mais os laçoscomerciais entre os membros integrados. Em Cartagena de Índias, emdezembro do mesmo ano, em mais um encontro presidencial, decidemsobre a zona de livre-comércio e ainda sobre a tarifa externa comum daunião aduaneira desejada.

Voltam a se reunir em Quito, em setembro de 1995. Os argumentossão quase os mesmos dos encontros anteriores, mas reforçam a idéia deaprofundar ainda mais a integração. Em março de 1996, em Trujillo, dãosentido institucional à CAN, com a secretaria-geral e a incorporação dosConselhos Presidenciais e dos ministros de Relações Exteriores. Em Sucre,em abril de 1997, decidiram criar o mercado comum. Em abril do próxi-mo ano, 1998, reúnem-se em Guayaquil e a definição mais importante foia de aceitarem defender uma política externa comum. Os presidentes vol-tam a Cartagena de Índias, em maio de 1999, e reafirmam a idéia do mer-cado comum, que deveria ser concretizado, no mais tardar, até 2005 e insis-tem que manterão a decisão anterior sobre política externa comum. Lima,capital do Peru, recebe a reunião de junho de 2000, em que é aprovado umplano de ação para o estabelecimento do mercado comum. Em Valência,Venezuela, em junho de 2001, apareceu um plano com preocupaçõessociais, que visava a enfrentar os graves problemas de pobreza e de desi-gualdade social na área. Em julho do mesmo ano, em Machu Pichu, porcausa da posse de Alejandro Toledo, no Peru, os presidentes se reúnemoutra vez e enfatizam a luta contra a pobreza e pela manutenção do pro-cesso democrático na região. Em Santa Cruz de la Sierra, em 30 de janeirode 2002, decidem consolidar a zona de livre-comércio, melhorar os passosrumo à união aduaneira, harmonizar políticas macroeconômicas e, maisuma vez, falam em aplicar uma política externa comum.

É preciso dar ênfase a algumas formulações ocorridas naquelesencontros presidenciais. O primeiro exemplo é a criação da Zona de LivreComércio (ZLC), em 1991, quando Venezuela, Colômbia, Bolívia e Equador,depois de anos de complicadas negociações, terminaram as discussõessobre tarifas intra-regionais e abriram seus mercados à circulação de bensdos países membros. Mantiveram, porém, suas tarifas para países de fora

Integração Regional70

da área integrada. O Peru somente se incorpora à ZLC em julho de 1997 e,assim mesmo, continuou a liberar seu comércio dentro da integração deforma gradual. Em 1995, cria-se a União Aduaneira Andina, com uma tari-fa externa comum, característica maior de uma integração nesse estágio.Ela deveria entrar em funcionamento definitivo, de acordo com aDeclaração de Santa Cruz, entre janeiro de 2002 e 31 de dezembro de 2003.É previsto um tratamento especial para a Bolívia, menor economia daregião.

Criou-se ainda o Parlamento Andino que deveria ajudar no processode integração. Os representantes seriam eleitos nos respectivos países parapertencer àquele fórum. Na área política, merece citação um protocoloadicional ao Acordo de Cartagena, chamado de “compromisso daComunidade Andina pela democracia”, de 10 de junho de 2000, que ratifi-cava uma decisão anterior de Bogotá, de agosto de 1998. Em síntese, defen-dem os princípios democráticos. A região havia passado por tantas adver-sidades políticas e institucionais em anos anteriores que agora, frente a umnovo mundo e sem mais Guerra Fria, entendiam que o melhor caminho aseguir seria o da democracia. Está previsto, depois de etapas diferentes denegociações, que um país membro que infringir pressupostos democráti-cos poderia até, no caso extremo, ser excluído da Comunidade Andina.

Em junho de 2001, os países andinos decidem permitir a livre circu-lação de pessoas na área integrada. A movimentação de pessoas já era pre-vista desde 1977, com a decisão sobre imigração de trabalhadores e pre-vidência social. Seja esta ou a de 2001, não são permissões abertas para quetrabalhadores possam sair de seus respectivos países e ir trabalhar livre-mente em um outro país da região em integração. A permissão de 2001 émais para reconhecer os documentos nacionais de identificação e permitirque pessoas dos países membros possam viajar “pela região na qualidadede turistas”. Abria-se uma pequena exceção ao dizer que profissionais daárea técnica, com formação educacional adequada, poderiam trabalhar emoutro país. Acorda-se também em reconhecer os diplomas universitáriosdos países integrados. Não é uma circulação, portanto, de qualquer traba-lhador em qualquer nível de trabalho. É correto, apesar de ferir os princí-pios da teoria da integração econômica. Se houvesse abertura para quepessoas pudessem circular livremente em busca de trabalho em toda a

A Integração nas Américas 71

região, poderia haver algum tipo de desequilíbrio regional. Um país queoferecesse mais condições de trabalho seria inundado com trabalhadoressem emprego de um outro país da integração, o que provocaria lamúrias econtestações de habitantes do país recebedor. Entretanto, essa circulaçãolivre de mão-de-obra estava prevista para ocorrer mais adiante.

Os países da Comunidade Andina decidiram ainda caminhar para umMercado Comum, o “mais tardar até 2005”. Ele, em teoria, caracteriza-sepela livre circulação de bens, serviços, capitais e até de pessoas. A circula-ção de bens é a que está mais adiantada pois, desde 1991, com a ZLC,depois de acertar a liberação tarifária entre os membros integrados, já vemsendo realizada de forma crescente. Na área de serviços, que deve ser partede um mercado comum, passos mais concretos foram dados nos setores detelecomunicação e transportes, enquanto outros ainda engatinham. Prevê-se harmonizar e regularizar o sistema bancário e financeiro, e acena-se coma possibilidade de entendimento entre as Bolsas de Valores dos respectivospaíses. Assuntos complicados em uma região integrada como a andina.Espera-se que um dia isso ocorra, o que é difícil na atual realidade dos paí-ses membros. Ao longo dos anos e dos encontros presidenciais, a CANtambém foi se reestruturando. Foi criado o Sistema Andino de Integração,com uma secretaria-geral em Lima, Peru. Também o Conselho Presiden-cial e de Ministros das Relações Exteriores e ainda a Corporação Andina deFomento (CAF), o Fundo Latino Americano de Reservas e um ConselhoConsultivo Empresarial e outro dos Trabalhadores.

A Comunidade Andina também aprovou uma política externacomum. A intenção é ter uma voz única em fóruns internacionais.Acreditam que unidos podem ter mais peso nos assuntos externos. E, aolongo do tempo, em matérias diversas, estão atuando nessa direção. Emtemas como combate a drogas, tráfico de armas, terrorismo ou corrupção,falam em uma linguagem única. Caminham com unidade também quan-do buscam integração econômica com outros países.

Citemos alguns desses acordos como exemplos. Em maio de 1997, aComunidade Andina estabelece um acordo com o Mercado ComumCentro Americano, composto por Costa Rica, Nicarágua, Honduras,Guatemala e El Salvador. Até um entendimento mais limitado, em marçode 2002, foi estabelecido entre CAN e Guatemala, El Salvador e Honduras

Integração Regional72

que pertencem a uma unidade econômica chamada de “triângulo norte”. Aproliferação de “integrações” é uma realidade do momento latino-ameri-cano. Aumentou bastante depois da movimentação em torno da Alca.Essas divisões menores, em princípio, não seriam recomendáveis, mas,frente ao passado de comércio restrito e difícil, qualquer tentativa queajude a melhorar as relações comerciais entre vizinhos, que por anos nãomantêm portas abertas, é um avanço.

Em abril de 1998, foi estabelecido um acordo de livre-comércio entrea CAN e o Panamá. Com os países do Caribe, na integração conhecidacomo Caricom, há um tratado de integração também. E ainda com aUnião Européia, pelo acordo estabelecido em dezembro de 2003. Talvez omaior passo dessa integração tenha sido dado na aproximação com oMercosul, porque, se realmente concretizado, praticamente faria a integra-ção da América do Sul, intenção que vem desde a década de 1960 com aAlalc. As negociações seriam por etapas; começou com um protocolo deentendimento entre os lados em 16 de abril de 1998. Em agosto de 1999, aCAN e o Brasil estabeleceram acordo de preferência tarifária. O mesmo foifeito com a Argentina, em junho de 2000. Agora, com a Alca, passos maisdiretos foram tomados pelos países dos Andes e do Mercosul para efetiva-rem uma integração entre suas economias e formarem uma área de inte-gração sul-americana.

A Alca é um assunto extremamente importante no momento na áreaandina. Participam das discussões de forma conjunta, procuram tomardecisões com certa unidade de linguagem. Existe um estudo, feito por umconsultor norte-americano, da Universidade do Colorado, de setembro de2003, que procura mostrar que a participação da CAN na Alca não trariaquase nenhum resultado econômico positivo para seus membros. Diz queos países integrados já concedem hoje benefícios tarifários entre si.Possuem ainda um acordo preferencial de tarifas com os Estados Unidos eque o mesmo, com a Alca, seria estendido a todos da área, diminuindo,como conseqüência, o ganho da CAN nesse mercado. O mesmo estudoalerta, no entanto, que a Comunidade Andina poderia ter benefíciosnaquela integração na transferência de conhecimentos, liberdade maiorpara o setor de serviços, nos investimentos de fora e ainda na qualidade dosprodutos. Fatores que devem também ser levados em consideração em

A Integração nas Américas 73

uma integração econômica. Contudo, no comércio direto, frente ao que setem hoje e pelo tamanho das economias andinas, elas não teriam muito aganhar na integração através da Alca, diz o estudo.

Como mencionado antes, os encontros presidenciais fizeram renascera integração entre os países dos Andes. Sem eles, talvez o processo, quecomeçara com certa euforia no fim da década de 1960 e pouco depoisesmaecera, não tivesse chegado aonde chegou. As decisões tomadas naque-les encontros foram, muitas vezes, repetitivas. No entanto, apesar disso,ajudaram a estabelecer um entendimento mais harmonioso entre os par-ceiros integrados. Tudo fizeram, portanto, para que o processo iniciado em1969, ao se desligarem da Alalc, não morresse. A luta foi enorme, dificul-dades surgiam a todo momento, seja no campo econômico ou no político.A liberalização comercial, o dado mais importante para uma integraçãoiniciante, foi um parto complicado. O que se alegava antes sobre a Alalc,que algumas economias ganhariam mais do que outras, aconteceu em umplano menor dentro da nova tentativa. Equador e, principalmente, Bolíviaqueriam decisões que os beneficiassem como economias menores. Capitalde fora ou mesmo regional terá mais interesse em investir em uma econo-mia mais robusta, com população maior e meios de comunicações adequa-dos do que em uma sem essas vantagens. Como era esperado e como acon-teceu na Alalc, isso tende a provocar desequilíbrios entre os parceiros inte-grados. Todavia, apesar das dificuldades, não se pode negar que se criouum cenário diferente e positivo na região andina, quase que do zero. Nãoé o que se imaginava, mas existe hoje uma unidade econômica maior entreos povos dessa área sul-americana. E, por fim, é preciso ressaltar o traba-lho da Corporação Andina de Fomento. Essa agência, com suporte técnicoe financeiro, tem sido o motor da tentativa de integração econômica.

Números de uma Integração

Alguns números talvez mostrem que o caminho tentado, apesar de difí-cil, foi útil aos interesses dos países integrados. Um relatório do BancoMundial, publicado em 2004, mostra que a Comunidade Andina possuía,em conjunto, cerca de 117 milhões de habitantes. A Venezuela tinha 25 mi-lhões de habitantes; o Peru 26,7 milhões; o Equador 13 milhões; a Colômbia

Integração Regional74

43,7 milhões; e Bolívia 8,8 milhões, vivendo em um território de 4.721.000de quilômetros quadrados. O mesmo relatório mostra que o PIB regionalestava acima dos 250 bilhões de dólares e a renda per capita da área estavaacima dos 2.000 dólares. O PIB da Venezuela estava em quase 95 bilhões dedólares, o da Colômbia em 80,9 bilhões, o do Peru em 56 bilhões, o doEquador em quase 13 bilhões e o da Bolívia em 7,8 bilhões de dólares.

Um documento chamado “principais indicadores de integração edesenvolvimento da Comunidade Andina”, publicado pela própria integra-ção, mostra o que aconteceu, em números, naquela área integrada, entre1970 e 2001. Sugere que todo o desenvolvimento ocorreu por causa daintegração. Nem tanto; deve-se levar em conta o crescimento interno nor-mal de cada país. Não se pode deixar de concordar, porém, que a integra-ção foi útil a esses países. Vamos citar os números encontrados na pu-blicação. Muitas vezes, eles não batem com os dados do Banco Mundialcitados mais adiante ou nas tabelas anexas no final deste livro. É uma difi-culdade concreta a questão de estatísticas na América Latina. Em umamesma região integrada são díspares e quase nunca coincidem entre si asestatísticas publicadas nos países da integração e outras mostradas pelosórgãos que gerem a mesma integração e também por organismos mun-diais, como Banco Mundial, BID, Cepal.

O documento da Comunidade Andina diz que a população da áreaduplicou entre 1970 e 2001; que o PIB aumentou quase dez vezes; que ocomércio fora da zona integrada cresceu nove vezes; que as exportaçõesdentro da integração aumentaram, naquele período, mais de 50 vezes; queos investimentos externos cresceram 25 vezes; que aumentou cinco vezes oturismo interno; que caiu a menos da metade a mortalidade infantil e quea esperança de vida subiu de 60 para 69 anos no período. Em númerosdiretos, a publicação é mais explícita.

O PIB regional, em 1970, era de 28,571 bilhões, chegando, em 2001, a283 bilhões de dólares ou quase dez vezes mais. A renda per capita regio-nal, nos mesmos anos, era de 515 dólares e subiu para cerca de 2.200 dóla-res. As exportações para países fora da integração cresceram nove vezes, de5.380 bilhões para 50.173 bilhões, em 2001. As importações também cres-ceram, de 4.100 bilhões, em 1970, para 44.778 bilhões, em 2001. A dívidaexterna total da área, que estava um pouco acima de 8 bilhões de dólares,

A Integração nas Américas 75

saltou para 116 bilhões ou 14 vezes mais. A dívida pública, que antes era de3,7 bilhões, em 2001, foi para 78 bilhões, 21 vezes maior. A dívida externaprivada que era de 4,3 bilhões de dólares, chega a 37,9 bilhões 21 anosdepois, nove vezes maior. O turismo também cresceu, passou de 133 milturistas para 623 mil, ou cinco vezes mais. Os investimentos estrangeirosna área passaram de 3,4 bilhões de dólares para 84,5 bilhões, ou 74 vezesmaior. Também os investimentos internos cresceram, passando de 15milhões para 1,1 bilhões de dólares.

O grande salto, na verdade, foi na exportação dentro da ComunidadeAndina: passou de 111 milhões para 5.631 bilhões de dólares ou 94 vezesmaior. É, de fato, um importante mercado para o comércio regional. Em2001, como exemplo, a Bolívia destinou 27% de suas exportações para aComunidade, sendo que, no ano anterior, havia destinado 21%. Colômbiavendeu 22%, em 2000, acima dos 17% do ano anterior. Equador destinou18% de toda sua exportação para a CAN, que no ano anterior fora de 14%.Peru aumentou de 7% para 8%, entre o ano 2000 e 2001. A Venezuela man-teve seus 5% nos dois anos citados. Os dados mostram que as vendas inter-nas aumentaram substancialmente desde que a CAN foi reativada, principal-mente depois que se chegou ao entendimento sobre as tarifas alfandegárias.

Apesar dos percalços naquela tentativa de integração, com paradas eretomadas, erros e acertos, retóricas e fatos concretos, é impossível nãoreconhecer que algo de positivo, não só no lado econômico, acabou aconte-cendo entre os países andinos. Hoje, frente à globalização e à formação dediversos blocos econômicos, aquela região estaria com mais problemas senão estivesse unida e falando linguagem única. Valeu a pena a longa viagem.

O Mercado Comum Centro Americano: MCCA

Na década 1960, a Comissão Econômica para a América Latina,Cepal, órgão ligado à ONU, com sede em Santiago do Chile, espelhando-se no que ocorria na Europa desde meados de 1950, colocou-se como con-dutora das tentativas de integração econômica na América Latina. A Cepalacreditava que a América Latina deveria se industrializar, em vez de sereternamente vendedora de matérias-primas. Os países da área, de forma

Integração Regional76

individualizada, com raras exceções, não tinham mercado interno sufi-ciente para atrair empresas industriais em estágios mais adiantados. Eranecessário ter mais mercado comprador. A integração econômica regionalou sub-regional poderia ampliar o tamanho do mercado. Nesse caso, ocapital, nacional ou internacional, se sentiria atraído a investir em indús-trias não só de consumo, mas também de bens de capital. A idéia era inte-ressante, válida do ponto de vista teórico, mas havia uma distância enormeentre o sonho de muitos técnicos e políticos e a realidade latino-americana.No momento em que a teoria encontrasse a prática do cotidiano de povose países, o assunto não deslancharia facilmente. Contudo, no fundo, a ten-tativa foi útil, não deu certo por fatores diferentes, mas foi válida. Foi umdos maiores atos próprios da região, talvez o maior de todos. Não foi emfrente, mas quem sabe deu base para passos futuros rumo à unidade e àintegração de economias de uma mesma região, que historicamente sem-pre estiveram de costas uma para a outra.

Uma das tentativas da Cepal foi na América Central. O tratado foiassinado entre as pequenas repúblicas dessa região, em dezembro de 1960.No início da integração, a população da área toda, ou algo como 420 milquilômetros quadrados, estava em torno de 8,5 milhões de habitantes.Nicarágua, o maior país do istmo centro-americano, possui 130 mil quilô-metros quadrados, ou 28,2% de toda a área. Honduras, o segundo emextensão, tem 112 mil quilômetros quadrados, ou 27,2% do total. AGuatemala tem 108 mil quilômetros quadrados, ou 26,5% do istmo. CostaRica tem um pouco mais de 50 mil quilômetros quadrados, ou 12,4% daregião e, por último, vem El Salvador com 21 mil quilômetros quadrados,ou 5,1% do total.

Na época, a renda per capita regional estava pouco acima dos 200dólares. O comércio entre os países que se integravam era extremamentepequeno. Em 1950, o comércio entre eles correspondia a 3% do total daárea com o resto do mundo; em 1954, subiu para 3,3%, chegando a 3,6%,em 1957. Inexpressivo, na verdade. A região, produtora de matéria-prima,como frutas, café, madeira, cacau, tinha, como teve desde o período colo-nial, os países de fora como compradores de seus produtos. Vendiam o queproduziam para Europa e Estados Unidos, e não inter-regionalmente. Aidéia da Cepal era que esse comércio, não só em bens primários, fosse subs-

A Integração nas Américas 77

tancialmente aumentado e, como resultado da produção e venda local,mais dinheiro ficaria na região, aumentando a riqueza e o trabalho. Emteoria, estava correto, na prática os rumos foram outros.

Em Manágua, no dia 13 de dezembro de 1960, foi assinado o TratadoGeral de Integração Econômica Centro-Americano por Guatemala,Honduras, Nicarágua e El Salvador. Costa Rica entrou em 1962. O tratadopossuía 33 artigos e 11 capítulos. O capítulo I falava da criação de umaunião aduaneira em cinco anos. Olhando historicamente decisões comoessa, vemos como eram otimistas os propositores da integração. A tarifaexterna comum, base para uma integração naquele estágio, é um dos pas-sos mais complicados em uma integração, e a da América Central já a colo-cava como meta a ser atingida em um período extremamente curto. Nadadisso acontecerá, mostram os fatos à frente. O capítulo seguinte trata daliberação comercial entre os países membros integrados. Dá destaque tam-bém à origem dos bens produzidos.

O capítulo III e seus artigos tratam dos subsídios à exportação e ocomércio desleal. O próximo capítulo é sobre trânsito e transporte e diziaque os países signatários deveriam garantir liberdade de trânsito de mer-cadorias em seu território. As empresas de construção recebem tratamen-to especial no capítulo V. Todas as empresas, em qualquer país, deveriamser tratadas como nacionais. A intenção seria melhorar a infra-estruturada área.

No capítulo VI, veio talvez a decisão mais polêmica de todas. Criou-se um “regime de indústrias centro-americanas de integração”. As indús-trias que fossem consideradas de integração gozariam de benefícios fiscaise financiamento. Desejava-se, portanto, uma industrialização da área deforma coordenada e orientada. Algo que o capital, principalmente o defora, não aceitará. O capítulo seguinte é sobre os incentivos fiscais para aimplantação das indústrias, que se imaginava que seriam criadas nessa árealatino-americana. Daí para a frente, o tratado mostra como seria a institu-cionalização da integração.

O órgão dirigente maior seria o Conselho Econômico CentroAmericano. Criava-se ainda um Conselho Executivo, com uma secretaria,chamada Sieca, com sede na cidade da Guatemala. O tratado não falava emsalvaguardas e nem em tratamento diferenciado às economias menores.

Integração Regional78

Acreditava-se que em uma região em que as economias eram mais oumenos iguais, em que não havia uma diferença profunda entre elas, não seprecisaria dizer que um ou outro membro teria certas vantagens em rela-ção a outros, por ser uma economia menor. Os fatos à frente mostrarãoque Honduras e Nicarágua se sentirão prejudicados com o andamento daintegração e pedirão garantias especiais. Fato que ocorreu na Alalc e tam-bém na Comunidade Andina.

A duração do Tratado Centro-Americano era de 20 anos, sendoprorrogável quantas vezes se quisesse. Estabelece ainda que só depois dessetempo um membro integrado poderia apresentar denúncia contra o trata-do. Os idealizadores da integração sabiam que a região tinha um passadode disputas muito forte entre os países, ora integrados. E que, se fossempermitidas interpretações e mudanças no acordo estabelecido, não se iamuito longe naquela idealizada integração econômica.

A integração, por mais problemas que apresentasse, ajudou a melho-rar as trocas regionais. No entanto, essa lua-de-mel não durou muito.Logo países reclamaram que estavam sendo prejudicados, o nacionalismointerno se movimentou, e barreiras foram levantadas ao longo do tempo.Contudo, por um período, o sucesso foi marcante. O comércio da regiãoestava em torno de 8 milhões de dólares, em 1950, chegou, em 1960, a 30milhões. A partir daí, começou a dar saltos estatísticos enormes. Em 1965,pulou para 132 milhões de dólares e, em 1970, estava em 286 milhões. Em1960, o comércio intra-regional era 6% do total da área com o mundo echegou a magníficos 23%, em 1970. Foi a indústria que ajudou no aumen-to do intercâmbio. No campo, as economias eram competitivas, produ-ziam quase os mesmos bens. Na área industrial, pelo menos nos bens defabricação mais simples, houve um avanço no comércio entre os paísesmembros. O crescimento médio anual foi de 8%. A indústria, que tinha13% do PIB, saltou, em 1970, para algo como 17,5%. Entre 1962-1970, oPIB da região cresceu 7% e, segundo análises, 1% disso foi motivado pelaintegração.

Para se consolidar, a integração dependia muito da melhoria da infra-estrutura regional. Ela era precária, pois quase todos os produtos vendidos,desde a época colonial, iam para países de fora da área. Os melhores por-tos e rodovias estavam voltados para a exportação. Precisava-se melhorar

A Integração nas Américas 79

os meios de transportes, a telecomunicação e a energia. O capital, além deescasso, encontrava barreiras e desconfianças na hora de ser distribuído.Qualquer direcionamento para um ou outro país, mesmo que beneficiassea todos mais tarde, receberia reclamações. A infra-estrutura melhorou umpouco, mas não no tamanho e na velocidade desejados.

Fatos diversos, além dos já citados, atrapalharam o andamento dessatentativa de integração. Em 1969, aconteceu a chamada “guerra do futebol”entre Honduras e El Salvador. O fator imediato foram partidas de futebolentre os dois países nas eliminatórias para a Copa de 1970. Acontecimentosanteriores levaram a isso, no entanto. Camponeses de El Salvador estavamentrando em terras hondurenhas e, além disso, a balança comercial entreesses dois vizinhos apresentava déficit constante para Honduras. O nacio-nalismo se levantou, e o estopim foi a decisão no futebol. Um conflito desseporte, apesar de não ter havido muitas mortes, acabou complicando o pro-cesso integracionista. Os lados em conflito procuraram colocar barreiras eentraves ao comércio entre os países. Quem mais perdeu foi El Salvadorque com indústrias-maquiadoras se transformara rapidamente em supri-dor de parte da área, principalmente para Honduras.

Além disso, a Guerra Fria estava no auge. Estados Unidos e ex-UniãoSoviética em lados opostos, idéias socialistas versus capitalismo. A regiãoterá conflagração constante. De um lado, os donos de terras ou a elite decada país, mais os militares, com apoio direto norte-americano. Do outro,grupos intelectuais ou da classe média descontente, querendo uma partici-pação maior no processo político e nos ganhos econômicos da região,colocam-se em defesa das causas camponesas e indígenas, maioria da po-pulação local, e tinham claro apoio do exterior ou mesmo dali de perto, deFidel Castro. Sandinistas na Nicáragua, Frente Farabundo Marti em ElSalvador, crise política constante na Guatemala desde a derrubada do pre-sidente Jacobo Arbenz em 1954. A elite local, com apoio do exército, porlongos anos, comanda uma repressão interna brutal. O processo de inte-gração da região já tinha seus problemas normais e foi exacerbado pordiferentes assuntos internos e até do exterior.

A integração começa a diminuir o ritmo, mas, apesar de tudo, mos-tram os números, deu resultados durante um certo período. O comércioregional chegou a um valor máximo de 1,2 bilhão de dólares. Daí para

Integração Regional80

frente, começou a queda. Em 1985, o comércio ficou em 538 milhões dedólares. Morria aos poucos a tentativa da Cepal do início da década de1960. Todavia, não deixou de ser válida. Do quase nada fez-se algo que aju-dou a modificar hábitos e posturas regionais, dando base talvez para que,no futuro, alguns tropeços e desavenças não sejam repetidos. O projetoteve pouca participação da sociedade local. Sem ela e sem apoio da maio-ria da população, só com decisões de cima para baixo, qualquer integraçãoeconômica fica praticamente inviável.

A integração econômica na América Central sofreu uma interrupção,portanto. Foram vários os fatores, mas um em especial deve ser citado. Aregião passou a ser palco de duras lutas políticas com apoio externo. OsSandinistas, na Nicarágua, em 1979, derrubaram o regime de AnastácioSomoza. Nos Estados Unidos, Ronald Reagan assumiu o governo no lugarde Jimmy Carter. Reagan chegou com uma agenda conservadora e com acrença de que deveria enfrentar ainda mais a expansão do socialismo, nãosó na América Latina, mas em qualquer lugar. Os Estados Unidos vinhamde uma seqüência de acontecimentos negativos, como o assassinato deJohn Kennedy e seu irmão Robert, também o de Martin Luther King, oescândalo de Watergate, a derrota no Vietnã, a dura competição industrialda Alemanha e do Japão e a crise do petróleo, que acabou abalando a con-fiança do país. Reagan chegou ao governo com a intenção de reverter essequadro, dar novo ânimo à nação. E, entre esses fatores, estava também oenfrentamento ideológico.

A América Central foi um dos lugares em que ele exercitou essa mus-culatura. Para combater os Sandinistas, deu apoio para instalar emHonduras uma base de ataque à Nicarágua, com os chamados “contras”.Um país membro da integração econômica dando guarida a nicaragüensese mercenários no ataque ao vizinho. Em El Salvador, a Frente FarabundoMarti quase botava fogo no país, com reflexos em toda a área. NaGuatemala e em Honduras, ditaduras militares faziam enorme repressãopolítica. Na verdade, naquele momento, o que mais funcionou na regiãofoi uma integração nos serviços de segurança e informações, em quealguém carimbado como rebelde em um país, também o era em todos daconflagrada área. Somente a Costa Rica ficou imune ao entrevero geral.Talvez porque, anos antes, havia abolido as forças armadas do país. Não

A Integração nas Américas 81

havia condições mínimas para, frente a uma realidade complicada comoaquela, funcionar uma integração econômica. Os países voltam-se para osantigos ou para novos acordos bilaterais de comércio.

Passos rumo a uma unidade econômica só vão ocorrer mais tarde. Em22 de julho de 1992, Honduras, El Salvador, Nicarágua e Panamá assinamo Protocolo de Tegucigalpa, que dará novo impulso à idéia de integraçãodo istmo centro-americano. A Guatemala se junta ao grupo em 13 de agos-to de 1993 e a Costa Rica em 26 de junho de 1995. Os países dessa regiãolatino-americana talvez tenham sido empurrados à essa nova tentativa porcausa da “iniciativa para as Américas”, lançada pelo presidente GeorgeBush em 1990. O bom senso recomendava que buscassem negociar emconjunto e não de forma individualizada.

O novo acordo fala em promover o desenvolvimento econômico dospaíses integrados e manter os princípios democráticos. Em 29 de outubrode 1993, na Guatemala, houve um reforço ao protocolo de Tegucigalpa,sendo assinado um documento mais amplo e detalhado chamado Tratadode Integração Econômica Centro Americano, no qual termos como cresci-mento econômico, bem-estar da população e democracia são uma cons-tante. O protocolo da Guatemala precisaria ainda ser ratificado mais tarde,depois de ser debatido no Congresso de cada país. Alguns países assim ofizeram até 16 de agosto de 1995, e a vigência plena ocorreu em 19 de maiode 1997, quando todos o ratificam de forma oficial. Quem comanda ospassos dessa integração é o Conselho de Ministros de Integração Econô-mica. Faz parte do corpo dirigente ainda uma série de iniciativas, como oparlamento centro-americano, a corte de justiça, a secretaria de integraçãoeconômica ou Sieca e ainda participações oficiais de presidentes e até device-presidentes. Montaram, como antes, uma estrutura institucional paraa nova tentativa em andamento.

A população da área integrada, agora acrescida do Panamá, em 2004,estava em quase 38 milhões de pessoas, assim distribuídas: Guatemala com12,1 milhões de pessoas, El Salvador com 6,5 milhões, Honduras com 6,7milhões, Nicarágua com 5,3 milhões, Costa Rica com 4,2 milhões e oPanamá com 3,1 milhões de habitantes. O PIB da área toda é algo em tornode 65 bilhões de dólares, de acordo com uma publicação do BancoMundial, de 2004.

Integração Regional82

O comércio intra-regional aumentou com a integração em andamento.Entre 1999-2002 cresceu 17% e as exportações entre os membros integradoschegou a mais de 3 bilhões de dólares em 2002. Nesse período, os países quemais aumentaram suas exportações para a área foram Guatemala com 15%,Costa Rica e El Salvador com 18%. As vendas dentro da integração, em por-centagem, são: Guatemala com uma fatia de 37%, El Salvador com 26%,Costa Rica com 24%, Honduras com 7% e Nicarágua com 6%. As comprasentre eles mostram que El Salvador comprou regionalmente 28% do total,Guatemala 27%, Honduras 19%, Nicarágua 16% e Costa Rica 10%. A situa-ção da Nicarágua, agora como na tentativa integracionista da década de1960, continua complicada. Exporta pouco e importa relativamente muito.

O antigo sonho de realizar a integração dessa região latino-americana,através do Mercado Comum Centro Americano, nas décadas de 1960 e1970, está sendo revitalizado agora com essa nova tentativa integracionista.O mundo globalizou-se, caiu o Muro de Berlim, as ditaduras regionaisrefluíram, os civis retornaram ao poder e o surgimento da Área de LivreComércio das Américas, ou Alca, ajudam a empurrar a região na direção daunidade econômica. Frente a tudo isso, não era possível que a AméricaCentral, com economias não tão distantes uma da outra, não se mostrassedisposta a enfrentar novas tentativas rumo à integração regional. E que,além disso, pudesse ajudar os países a terem linguagem única nas discussõessobre a Alca e sobre como participar dela com ganhos efetivos para a região.

Desde janeiro de 2003, a América Central discutia com os EstadosUnidos um tratado de livre-comércio. As primeiras conversas foram naCosta Rica entre 27 e 31 daquele mês. O segundo encontro se deu emCincinnati, entre 24 e 28 de fevereiro, e um terceiro ocorreu em 12 dedezembro de 2003. Tudo resultará mais tarde em um tratado oficial entreos dois interesses chamado Cafta ou Central América Free TradeAgreement. Os Estados Unidos já estavam usando, portanto, a flexibiliza-ção permitida no encontro da Alca em Miami, naquele ano.

No entanto, a situação na América Central, apesar de avanços, se com-parados com o passado, continua difícil. A falta de meios de transportes é umexemplo. Mesmo em um lugar territorialmente pequeno, não se têm meiosadequados conectando os países, que ajudem a fluir com custos menores osbens produzidos. Tem um documento específico sobre esse assunto, concluí-

A Integração nas Américas 83

do em abril de 1997, com o título “o setor de transporte para a competição eintegração centro-americana”. Ele foi complementado por um plano de açãopara o setor, em 30 de março de 2001. Ali se analisa tudo, é dado o diagnósti-co da situação, mostram-se os pontos fracos e propõem-se formas de resolvertecnicamente o problema dos meios de transportes na região. Apresenta-sesolução para tudo, mas esbarra-se, como o próprio documento explicita, nafalta de recursos públicos ou privados para realizar as obras necessárias.

O que impressiona é a facilidade que, no geral, a América Latina tempara fazer diagnósticos, criar planos de curto, médio e longo prazo pararesolver problemas que já duram cinco séculos na região. No caso específicodo plano centro-americano, nem o capital de fora mostrou disposição emassumir as obras propostas para melhorar o transporte regional. Os investi-dores não sentem incentivos de ganho futuro e, como dizem os documentos,não têm confiança em colocar recursos em uma situação jurídica local nãomuito clara. E, sem transportes adequados que diminuam custos para selevar bens de um lugar para outro, fica difícil acreditar que, apesar da boavontade e de planos diversos, que a área possa realmente ser um mercadointegrado. Não é só ali. A América do Sul, apesar de ser menos pobre do quea América Central, também quase não possui ligações efetivas entre os paísesda região. Eles estão voltados para dentro de si e para seus portos que, comoos da América Central, estão voltados mais para Europa e Estados Unidos doque para o mercado interno. Fato que vem desde o período colonial.

Tomemos o caso do Brasil como exemplo. Uma economia até fortepara o padrão latino-americano e que, até hoje, não possui uma ligaçãomaior em transportes com os países andinos ou, indo mais além, com asonhada saída para o Pacífico. Existem diversos planos e propostas, unspatrocinados pela OEA, outros pela CAF, por órgãos de transportes decada país da região ou até por governos estaduais, mas que não deslan-cham. Diagnósticos, alternativas, mapas, tudo que é necessário, em teoria,para solucionar a falta de meios de transportes entre os países sul-ameri-canos. Os últimos governos brasileiros falam constantemente em integraressa parte do mundo, mas não deram um passo mais concreto na busca deuma integração física real da área. Esquecendo por um momento a saídapelo Pacífico e se concentrando apenas em um possível comércio amplia-do com os países da Comunidade Andina, talvez fosse interessante, não só

Integração Regional84

para o governo brasileiro, mas de todos os países da área, tentar alterar oquadro atual de falta de transportes para melhorar o comércio regionalentre os lados e interesses.

A Comunidade Caribenha: CARICOM

A integração econômica dos países do Caribe ou CaribbeanCommunity and Commom Market foi criada em 4 de julho de 1973, peloTratado de Chaquaramas. Esse tratado, porém, só entrou efetivamente ematividade em fevereiro de 2002, e a integração hoje é chamada simplesmen-te de Caribbean Community ou Caricom. São seus membros: Antigua eBarbuda, Bahamas, Barbados, Belize, Dominica, Granada, Guiana, Haiti,Jamaica, Montserrat, St.Kitts e Nevis, Santa Lúcia, São Vicente eGranadinos, Suriname e Trinidad e Tobago. Bahamas é parte da comuni-dade, mas não do mercado comum que se pretende criar ali. Fazem parteainda da integração: Anguila, que entrou em 4 de julho de 1999; Bermuda,em 2 de julho de 2003; Ilhas Virgens Britânicas, em 2 de julho de 1991;Ilhas Caimã, em 15 de maio de 2002, e Ilhas Turcas em 2 de julho de 1991.Na integração, Barbados, Guiana, Jamaica, Suriname e Trinidad e Tobagosão considerados países de economias mais desenvolvidas, todos os outrossão denominados economias menos desenvolvidas. Até no Caribe, onde aseconomias são pequenas, aparece também a tentativa de criar mecanismosespeciais para uma aproximação mais adequada entre os países integrados.

Tem uma história por trás da formação do Caricom. Em 1958, foicriada a chamada Federação das Índias Ocidentais Britânicas. Participaramdez ilhas da região. Não durou muito, somente quatro anos, terminandoem 1962. Entretanto, foi o primeiro passo na busca de algum tipo de enten-dimento econômico regional. O ano de 1962 é importante para a região,pois, em agosto, Jamaica e Trinidad e Tobago conseguiram suas indepen-dências políticas. Foi o governo de Trinidad e Tobago que, em 1963, con-vocou a primeira reunião de chefes de Estado para criar de fato uma inte-gração na área. Compareceram líderes de Barbados, Guiana Britânica,Jamaica e, claro, Trinidad e Tobago. Em julho de 1965, houve um novoencontro de chefes de Estado. Em dezembro desse ano, assinam o acordo

A Integração nas Américas 85

da Baía de Dickenson, para criar a Caribbean Free Trade Association ouCarifta. A nova tentativa de integração começou a funcionar efetivamenteem 1º- de maio de 1968, com a participação desses países, que estiveram naprimeira reunião de chefes de Estado convocados por Trinidad e Tobago.Com a criação da Carifta, entram na integração, em julho de 1968,Dominica, Granada, St. Kits e Nevis, Santa Lúcia e, em agosto, Jamaica eMontserrat. Honduras Britânicas e Belize entram em maio de 1971.

Foram criados ainda uma secretaria-geral para a integração em maiode 1968 e o Banco de Desenvolvimento Caribenho em outubro do mesmoano. Em 1972, a integração se transforma oficialmente em um mercadocomum. Primeiro, como é a regra na região, cria-se uma entidade sem aparticipação efetiva na prática. Um mercado comum é um passo maior emuma integração e que implica até a existência de uma tarifa externacomum. Assunto um tanto complicado em uma área com tantos paísesparticipando e que tinham ainda vínculos fortes e históricos com países defora da região. Os passos rumo à integração, porém, continuam. Outrosmembros foram se associando, incluindo o Haiti, que tem o francês comolíngua oficial em uma região em que o inglês é dominante. Esse país pas-sou a ser membro em 4 de julho de 1998, mas com participação efetivasomente a partir de julho de 2002.

Foi também criado, em março de 1990, um parlamento para acomunidade em integração, que entrou de fato em funcionamentosomente em maio de 1996, com uma reunião em Barbados. Elaborou-se,em 1992, uma carta com princípios civis que visava a dar força àimprensa livre e à democracia; a fazer funcionar o parlamento; a mora-lizar os assuntos públicos; a respeitar os direitos civis, econômicos, polí-ticos e culturais; a respeitar os direitos das mulheres e crianças e dasdiferentes religiões; e, por fim, a combater a corrupção, pois os governosdeveriam ser transparentes e prestar contas à sociedade. A preocupaçãocom a corrupção é uma constante nos tratados de integração de toda aregião. É um fato dolorido da realidade regional que, com palavras deboas intenções, e até em acordos comerciais, tenta-se combater. O trata-do de integração, as decisões das reuniões de chefes de estados, o traba-lho da secretaria-geral, tudo faz parte da tentativa de melhorar o comér-cio e as relações entre os países em integração, melhorar a qualidade de

Integração Regional86

vida de suas populações e de buscar uma política externa comum.Palavras e intenções idênticas em praticamente todos os processos inte-gracionistas da área.

É preciso pontuar que outros países do Caribe, até com economiasmaiores, não fazem parte dessa integração. Cuba é um exemplo. Aliás, essepaís não fez parte de nenhuma tentativa de integração da área. Nem daAlalc, no início da década de 1960, nem agora da Alca ou da atual tentati-va de integração no Caribe. Tem somente uma associação recente com aVenezuela, na chamada Alba ou Alternativa Bolivariana para as Américas.Outro país que está fora do Caricom é a República Dominicana, que, noentanto, tem um acordo com a área integrada, de dezembro de 2001, cha-mado Tratado de Livre Comércio Caricom-República Dominicana. Não háum igual com Cuba. O Caricom também participa de forma conjunta nasdiscussões sobre a Área de Livre Comércio das Américas e também naOrganização Mundial de Comércio.

O Tratado de Chaquaramas de 4 de julho de 1973 que criou aCaribbean Community, ou Caricom, é longo e cheio de detalhes. Fala emabertura comercial, quem são os membros, como participar, define o queé país menos desenvolvido, estabelece que as decisões serão tomadas pelosingle undertaking, especifica os principais órgãos, sua composição e ofuncionamento deles. Os órgãos ou instâncias de decisões do Caricom sãoos encontros de chefes-de-estados e os de conselho de ministros. Criaram-se também vários outros conselhos: para comércio e desenvolvimento eco-nômico; para relações exteriores da comunidade; para desenvolvimentosocial e humano; e para finanças e planejamento.

Os objetivos dessa integração sub-regional talvez mostrem com maisclareza quais são as intenções dos países integrados. Falam em melhorar onível de vida das populações; emprego para todos; acelerar o desenvolvi-mento; expansão do comércio com outros países; criar níveis de competi-tividade suficientes para enfrentar países de fora da área; aumentar produ-ção e produtividade; em conjunto, buscar meios para tratar economica-mente com outros países ou grupos de países, com benefícios efetivos paraa região; uma política externa comum; buscar todos os meios possíveispara beneficiar as populações integradas em vários campos, incluindo asáreas de saúde, educação, transportes e telecomunicações.

A Integração nas Américas 87

A integração econômica de quase todos os países da região do Caribe,com as dificuldades e tropeços próprios desse novo aprendizado, está ocor-rendo. Não há como não ir em frente. Em momento de globalização, éimportante que países vizinhos procurem meios de aumentar o comércioentre eles. Além disso, também devem buscar alternativas para trabalharem conjunto os casos de política externa, em que se teria uma linguagemcomum e mais efetiva nos fóruns e debates internacionais, bem como pro-curar ter unidade de atuação quando forem tratar com diferentes entida-des e órgãos sobre comércio e outras atividades econômicas que ajudem adesenvolver aquele pedaço do mundo. É o que se tenta agora nessa região.Ela, em termos de população, comércio e economia, se comparada comoutras regiões do globo, ou mesmo da América Latina, é pequena. Os nú-meros a seguir mostram isso, mas não é porque é pequena para o padrãode outras integrações que essa área não deva buscar todas as formas possí-veis para, em conjunto, ter uma voz mais efetiva nas questões internacio-nais, principalmente no comércio. Publicações da Caricom e outra doBanco Mundial, de 2004, mostram a realidade regional em números.

A área toda tem menos de 500 mil km2, ou metade do tamanho doestado de Mato Grosso. Tem aproximadamente 15 milhões de habitantes.Antigua e Barbados tem 442 km2, com uma população estimada, em 2004,de 76 mil habitantes, com um PIB de quase dois bilhões de dólares cari-benho. Um dólar norte americano valia, em março de 2004, aproximada-mente 2,7 dólares caribenho. E a renda per capita estava em quase 25.500dólares local ou mais de nove mil dólares norte-americano. As Bahamastêm um território de quase 14 mil km2, com 312 mil habitantes e um PIBde 4,8 bilhões de dólares norte-americano. O que daria uma renda percapita perto de 15 mil dólares. Barbados tem 431 km2, com quase 270 milhabitantes, sua densidade populacional é a maior da área, com mais de600 habitantes por km2. Seu PIB, em 2004, estava em 2,7 bilhões de dóla-res, com renda per capita também alta, de quase dez mil dólares. Belizetem quase 23 mil km2, possui menos de 240 mil habitantes, com um PIBde 805 milhões de dólares e renda per capita, em 2004, de 2.940 dólares.

Dominica possui 750 km2, com 71 mil habitantes, em 2004, com PIBde 248 milhões de dólares e renda per capita de mais de 3.000 dólares.Granada tem 344 km2, 103 mil habitantes em 2004, PIB no mesmo ano de

Integração Regional88

414 milhões de dólares e renda per capita de 3.600 dólares. A Guiana pos-sui 214 mil km2, 766 mil habitantes, PIB de mais de 700 milhões de dóla-res e renda per capita, em 2004, de 860 dólares. Haiti tem 27,7 mil km2, comuma população de 8,4 milhões de pessoas, com 3,7 bilhões de dólares dePIB e renda per capita de 440 dólares no ano de 2004. Jamaica possui quase11 mil km2, 2,6 milhões de habitantes, um PIB de 7,9 bilhões de dólares erenda per capita, em 2004, de 2.700 dólares. Montserrat tem 102 km2, comquase nove mil habitantes em 2004, PIB de 29 milhões de dólares e rendaper capita de 3.400 dólares. São Cristóvão e Nevis possui 269 km2, popula-ção de 46 mil pessoas, PIB de 356 milhões de dólares e renda per capita demais de 6.500 dólares. Santa Lúcia possui 616 km2, 159 mil pessoas viviamali em 2004, com um PIB de 660 milhões de dólares e renda per capita,também em 2004, de 3.750 dólares.

São Vicente e Granadinos tem 389 km2, população de 110 mil habi-tantes em 2004, PIB de 360 milhões de dólares e renda per capita de 2.800dólares. Suriname possui um território até grande para os padrões locais,com 163 mil km2, com 433 mil habitantes, em 2004, PIB de 950 milhões dedólares e renda per capita de 1.900 mil dólares. Trinidad e Tobago tem 5 milkm2, uma população 1,3 milhão de habitantes em 2004, PIB de 9,6 bilhõesde dólares e renda per capita de 6.700 dólares.

As exportações totais da área integrada estavam em quase 18 bilhõesde dólares no ano de 2002. Os maiores exportadores são Guiana, Jamaicae Trinidad e Tobago. Os maiores importadores são Bahamas, Barbados,Guiana, Haiti, Jamaica e Trinidad e Tobago. O comércio regional é aindafraco. Quem mais exporta na região é Trinidad e Tobago, com quase doisbilhões de dólares caribenhos em 2002. Para ver a distância desse país emrelação aos outros, o segundo lugar em exportação intra-regional estácom Barbados, com apenas 268 milhões de dólares regionais em 2002.Outros países têm participação ainda menor, chegando a apenas 1,3milhão no caso das Bahamas e de Montserrat. Quem mais importa regio-nalmente é a Jamaica, com quase 1,2 bilhão de dólares, Barbados vem aseguir com 406 milhões de dólares regionais em 2002. Trinidad e Tobagoimporta da região somente 204 milhões de dólares. Como tem umaexportação robusta regionalmente, mostra-se com mais ganhos entretodos os países dali.

A Integração nas Américas 89

É preciso ressaltar que a região, de forma geral, tem no turismo suaprincipal fonte de renda, o que não é um fator não exportável. As econo-mias locais são, nesse ponto, competitivas entre si. Entretanto, indepen-dente do tamanho delas, não deixa de ser sugestiva a tentativa da área nabusca de uma unidade econômica. Há avanços e recuos, acertos e erros,mas, no final, acaba sendo útil aos interesses da maioria dos países integra-dos. Ajuda a manter o processo democrático e ainda dá alguma força à áreanas discussões em outros fóruns. O caso do Haiti, em fevereiro de 2004, naqueda do governo de Jean Bertrand Aristide, teve a atuação conjunta dosministros de Relações Exteriores do Caricom, tentando encontrar, juntocom os Estados Unidos e a França, soluções adequadas para a conturbadasituação política que passava um dos membros da integração. Antes nãohavia nada disso.

Acordo de Livre Comércio da América do Norte: NAFTA

História e Números

Em 11 de junho de 1990 os presidentes George Bush, dos EstadosUnidos, e Carlos Salinas de Gortari, do México, decidem estabelecer umacordo comercial mais profundo entre os dois países, criando uma zonade livre-comércio. Os dois países já possuíam tratados preferenciais de co-mércio desde o século XX, o que se propunha agora era aprofundar oslaços da relação econômica. Era uma tentativa ousada e diferente, atravésdos anos o relacionamento entre os dois lados tinha sido um tanto quan-to tumultuado. Existia algum ressentimento, principalmente por partedos mexicanos. Na guerra de 1848, o México perdeu em torno de umterço do seu território para o vizinho do norte. Os Estados Unidos tam-bém, já no século XX, tomaram o porto de Veracruz e mandaram umaexpedição militar caçar Pancho Villa dentro do México, fatos que machu-caram a soberania da nação. Contudo, apesar disso, por proximidade enecessidade de comércio, os dois países mantinham um certo entendimen-to. Até que, levados por circunstâncias do momento, resolveram aprofun-dar as relações.

Integração Regional90

Foi, como escreveu alguém, um passo para esquecerem o que ocorreuno Álamo. O nacionalismo mexicano, não sem reclamações, acabou acei-tando esse desafio diferente. Talvez a crise geral da década de 1980 tenhaajudado a empurrar o país para esse novo caminho. Problemas na políticade substituição de importação, da crescente complicação nas companhiasestatais e ainda a questão da dívida externa possivelmente levaram o Méxicoa aceitar uma integração econômica com os Estados Unidos. A dívida exter-na do México, em 1982, estava em 86 bilhões de dólares, e o déficit dogoverno chegava a 17% do PIB. Em 1985, houve um terremoto na cidadedo México e, em 1986, o preço do petróleo despencou. Um terremoto piordo que o anterior. Miguel de la Madri era o presidente. O governo decidiudar uma guinada. Salinas de Gortari, que o substitui, continuou na mesmadireção; pavimentava-se o caminho rumo a uma zona de livre-comércio.

O México corria atrás do que já ocorria entre os Estados Unidos e oCanadá. Esses países, desde 1º- de janeiro de 1989, haviam praticamentecriado uma zona de livre-comércio. Foram estabelecidos dez anos para aeliminação total de barreiras alfandegárias e também outros detalhes pró-prios do início de uma integração econômica. O Canadá já era o princi-pal parceiro econômico dos Estados Unidos. Em 1990, estava em torno de176 bilhões de dólares o comércio entre os dois lados; em 1992, subiu para189 bilhões. O total de produtos norte-americanos exportados para oCanadá ficou acima de 90 bilhões e significava uns 20% da exportaçãonorte-americana para o mundo. O Canadá, por sua vez, exportava para osEstados Unidos em torno de 100 bilhões de dólares, ou 19% da importa-ção norte-americana. A exportação canadense para os Estados Unidosestava acima de 75% do total exportado pelo país, e o Canadá compravamais de 60% de suas importações do seu vizinho. O que os EstadosUnidos exportavam para o Canadá era quase a mesma quantidade quevendia para a Comunidade Européia, que possuía 12 membros e 340milhões de habitantes. Um comércio realmente impressionante, queaumentará ainda mais, como mostraremos mais adiante.

Os Estados Unidos são a maior economia do mundo e o Canadá aoitava. Os dois países fazem parte do G-7. O poder de compra das duaspopulações é bastante alto. O Canadá é o país em que os Estados Unidostêm o maior volume de investimentos, em torno de 80 bilhões de dólares.

A Integração nas Américas 91

E os Estados Unidos é onde os canadenses também mais investiram noexterior, com um total aproximado de 40 bilhões de dólares. Esses investi-mentos, claro, geram empregos de lado a lado. A economia dos EstadosUnidos é quase 10 vezes mais forte do que a canadense. A Califórnia sozi-nha tem PIB superior ao do Canadá. Hoje a população americana beira290 milhões de habitantes, e o Canadá possui cerca de 31 milhões. OsEstados Unidos têm um PIB acima de 10 trilhões de dólares, e os canaden-ses ficam com uns 700 bilhões. Como são países de raízes e tradições ingle-sas, a aproximação fica mais fácil. Língua, direito, religião, identidade eco-nômica, mais geografia e segurança empurram os dois lados para umentendimento. O que ocorreu em 1989 foi quase que natural.

O que não era muito natural era uma aproximação com o México, comaspectos culturais e comportamentais bem diferentes e com uma história dechoques e desentendimentos. Entretanto, outra vez, a proximidade geográfi-ca ditaria os rumos. O México, em transações comerciais, era o terceiro par-ceiro mais importante dos Estados Unidos, com vendas em torno de 80bilhões de dólares em ambas as direções, isso até pouco antes da crise mexi-cana, de dezembro de 1994. O Canadá era o primeiro parceiro comercial dosEstados Unidos, o Japão o segundo e o México, um país subdesenvolvido,com renda menor, o terceiro. O México, como o Canadá, dependia e depen-de fortemente do mercado norte-americano: aproximadamente 75% daexportação e um pouco mais de 70% de toda sua necessidade de importa-ção. Além disso, 85% dos turistas estrangeiros no México são norte-ameri-canos, e algo como 60% dos investimentos externos também eram prove-nientes dos Estados Unidos. É uma ligação muito forte, quase inescapável.

Em 1992, os Estados Unidos exportaram 40,6 bilhões e importaram35,2 bilhões do México. Continuou mais ou menos assim até a crise dedezembro de 1994, quando então começaram a comprar menos dosEstados Unidos. Os norte-americanos vendiam para o México principal-mente máquinas elétricas de todos os tipos, carros e equipamentos de tele-comunicação. Do México, os Estados Unidos importavam mais petróleo ederivados, máquinas, carros, frutas e vegetais.

Para se perceber o tamanho das exportações norte-americanas paraMéxico e Canadá, no momento anterior ao Nafta, é interessante compararcom o que foi exportado para o resto das Américas em 1993, um ano antes

Integração Regional92

da entrada em vigor do Nafta. O Canadá importou 56% do total, o México24%, os terceiros, Brasil e Venezuela, receberam apenas 3% do total expor-tado pelo país. A Argentina e a Colômbia importaram 2% cada, e os outroscorrespondem a mais 10%. O México sozinho comprou mais produtosnorte-americanos do que praticamente todo o resto da América Latina.Veja ainda o caso do comércio entre os Estados Unidos e o Canadá. Essepaís tinha uma população de cerca de 27 milhões de habitantes, e a daAmérica Latina estava por volta dos 450 milhões e, apesar disso, o Canadásozinho importou mais do que toda a região junta. O México, por sua vez,com uns 88 milhões de habitantes, na época, importou mais dos EstadosUnidos do que os demais 360 milhões de toda a área. De 1986 até a crisede dezembro de 1994, que teve maior reflexo no ano seguinte, os EstadosUnidos cresciam suas exportações para o México a uma porcentagemperto de 19% ao ano. O que impressiona mais nesse comércio é que arenda per capita do Canadá estava em torno de 21 mil dólares e a doMéxico era de apenas 3 mil.

A maioria dos produtos industriais, agora exportados pelo Méxicopara os Estados Unidos, é de maquiadoras. A quase totalidade dessas fábri-cas é norte-americana e está nas cidades mexicanas fronteiriças com osEstados Unidos. São fábricas que precisam de muita mão-de-obra e cujosgastos com o trabalhador ficam bem abaixo do que custariam nos EstadosUnidos. Por volta de 1982, havia umas 600 maquiadoras; 10 anos depois,às vésperas da criação oficial do Nafta, esse número saltara para mais deduas mil. Isso gerava, no México, mais de 500 mil empregos, com saláriosmuitas vezes superior ao do resto do país. São as maquiadoras que impor-tam mais produtos dos Estados Unidos e também são as que exportammais. É um fenômeno interessante, que provoca desequilíbrios e reaçõesinternas na questão da unidade sindical. O norte, perto dos EstadosUnidos, tem um relacionamento com o capital um pouco diferente do queocorre em outras partes do país.

Mesmo que a distância entre essas duas economias seja gigantesca, ageografia mais uma vez está influenciando os passos de uma integração. Eos Estados Unidos, além do que foi colocado, teriam outros ganhos nesserelacionamento com o México. Uns 2% do total de empregos geradosinternamente vêm das vendas para esse país. E, comprando no país vizi-

A Integração nas Américas 93

nho, pensavam os mentores da integração, os norte-americanos atingiriamtambém outros objetivos. Em primeiro lugar, geraria mais empregos noMéxico e, como conseqüência, diminuiria a pressão da imigração de me-xicanos para os Estados Unidos. E a imigração é um problema grande. Nogeral, vão para os Estados Unidos pessoas pobres e sem qualificação pro-fissional. Ao chegarem lá, precisam de treinamentos, educação e assistên-cia. Fatores que pressionam os números dos orçamentos de estados comoCalifórnia e Texas. Frente a situação como essa, tempos atrás, foi até apro-vada, em plebiscito, na Califórnia, a chamada provisão 187 que, se aplica-da, negaria educação, assistência médica e outros detalhes para os imigran-tes ilegais e, em muitos casos, inclusive para seus filhos. Com a integraçãoeconômica, esperava-se que o México exportasse mais, criasse novosempregos e que o número de imigrantes diminuísse. Em segundo lugar,comprando e vendendo mais para o México, os Estados Unidos têm umcontrole maior da economia do vizinho. Uma potência do porte da norte-americana não quer surpresas. Uma crise econômica e social no Méxicopode ter conseqüências em empregos e de novos imigrantes para osEstados Unidos. Frente a todos esses fatores, desde junho de 1991, os doispaíses caminharam para um entendimento mais sólido.

O Canadá, com o primeiro-ministro Brian Mulroney, três mesesdepois, também concordou em participar da discussão para a criação deuma zona de livre-comércio na América do Norte. Reuniram-se emToronto, depois Seattle e finalmente no México. George Bush, pai, nessemomento, era o presidente dos Estados Unidos. Com a vitória de BillClinton, em 1992, o processo não foi interrompido e desembocou, depoisde acaloradas discussões, na aprovação do North American Free TradeAgreement (Nafta) ou, em português, Acordo de Livre Comércio da Amé-rica do Norte, com entrada em vigor em 1º- de janeiro de 1994. Criou-se,naquele momento, um mercado de 370 milhões de pessoas, com um PIBde quase oito trilhões de dólares. O Canadá e o México juntos eram, naverdade, cerca de 15% da economia dos Estados Unidos. Em 2004, dezanos depois do início da integração econômica, a população da área todaestá acima de 420 milhões de habitantes, com um PIB de mais de 11 tri-lhões de dólares.

Integração Regional94

Alguns Dados do Tratado

O acordo que criou o Nafta é longo e detalhado. As tarifas seriam eli-minadas em um período de 15 anos. A eliminação de tarifas seria feita porfases e até por produtos, desde o corte imediato até o máximo de 15 anospara alguns bens. Em 1º- de janeiro de 1994, cerca de 60% dos bens esta-riam livres para venda e circulação. Até 1998, esse número cresceria para75% e assim sucessivamente, até a livre circulação de todos os produtos dostrês países agora integrados. Não discutiremos aqui meandros de todo otratado, mas alguns detalhes devem ser considerados.

A definição das regras sobre a origem do produto é um item a ser des-tacado. Um bem produzido fora da área integrada não teria tratamentoespecial dentro do Nafta, forçando-se que a produção seja localizada.Existem critérios efetivos para saber ou definir a origem de um produto. Seo bem é totalmente produzido dentro da região, como os agrícolas, animale mineral, não há o que discutir, está definido. É permitido incorporarmaterial de fora do Nafta, mas ele deve ser processado dentro da integra-ção. Tem de ter um certo valor intrínseco, uma determinada percentagempara ser considerado de origem local ou não. Os bens provenientes dos paí-ses membros devem ter tratamento igual, como se fossem nacionais.

As normas sobre proteção à saúde, ao meio ambiente e ao consumi-dor deveriam ser compatibilizadas. O país menos desenvolvido que aindanão tinha atingido índices aceitáveis, como os dos países mais desenvolvi-dos, se comprometia a melhorá-los. Os três países deveriam manter cons-tante comunicação sobre qualquer norma que pudesse afetar o sócio. Nadase faria de surpresa. Haveria um comitê específico sobre normas. O trata-do também previa certas salvaguardas. Um país, por exemplo, poderia, deforma não permanente, suspender a redução da tarifa alfandegária e voltaràs taxas de antes quando houvesse aumento nas importações que colocas-se em perigo, digamos, um setor da indústria nacional. A salvaguarda, noentanto, só poderia ser solicitada uma vez para um determinado artigo esomente por um período de três anos. Há um tribunal formado por cincopessoas para arbitrar desentendimentos sobre aspectos do comércio entreos membros. Se um país deixar de cumprir uma decisão, isso poderá sermotivo até de rompimento do tratado. Salvaguardas, tribunal, origem do

A Integração nas Américas 95

produto, obrigatoriedade de cumprir decisões, tempo para eliminação debarreiras, enfim, o tratado trabalha com os detalhes para o bom funciona-mento do acordo global entre as partes.

Outros aspectos mereceram observações especiais. O meio ambientefoi motivo de consideração pela primeira vez em um acordo comercialinternacional dos Estados Unidos. Para a aprovação do acordo, o Con-gresso, pressionado pelos ambientalistas, acrescentou medidas para a pro-teção do meio ambiente. Acreditava que as leis mexicanas de proteçãoambiental eram fracas e, no geral, não cumpridas. Por esse motivo, oMéxico seria o lugar ideal para o estabelecimento das firmas poluidorasnorte-americanas que desejassem escapar das leis mais rígidas dos EstadosUnidos ou Canadá. Foram criados mecanismos próprios e destinadosrecursos para ajudar o México nessa questão ambiental.

Ao entrar em vigor o tratado, os antigos acordos ou convênios bila-terais sobre cotas e limitações à importação de produtos têxteis do Méxicoforam deixados de lado. Também aqui a questão da origem deve ser obser-vada. Os mexicanos não poderiam comprar tecidos da China ou da Coréiado Sul para revenderem no Nafta. Como assinala o acordo, é preciso haverum mínimo de processamento do produto dentro da área integrada. Éuma medida acertada, não só em relação a tecidos, mas a qualquer outroproduto. Para aproveitar as vantagens da integração e do mercado amplia-do, firmas internacionais montariam, em conjunto com os mexicanos ousozinhas, simples montadoras no México e venderiam internamente naintegração. Com o controle da origem, fica mais difícil driblar o controle,e companhias estrangeiras são forçadas a se estabelecer de forma clara den-tro de um dos países integrados para produzir. Isso é vantajoso, pois geraempregos, paga impostos e obriga a compra de parte da matéria-primalocalmente. O acordo previa que 45% das exportações têxteis do Méxicopara os Estados Unidos ficariam livres de taxas de importação tão logo otratado entrasse em vigor. A taxação de exportações dos Estados Unidospara o México cairia só 20%. Uma pequena ajuda a uma economia menosdesenvolvida no setor em que ela pode competir. Os Estados Unidos tam-bém ganham. A produção desse bem, com o custo da mão-de-obra inter-na, faria o preço final do produto ser bastante alto. Com aberturas assim,além de outros fatores como mão-de-obra e transportes mais baratos, o

Integração Regional96

México poderia ser um bom lugar para a produção de tecidos e roupas deexportação para os Estados Unidos. Também está previsto permitir salva-guardas caso a abertura prejudique um setor da indústria têxtil. Como jámencionado, uma só vez e por apenas três anos.

O setor agrícola também recebeu considerações especiais. Reconhece-se que existe uma diferença acentuada na produção do campo nos três paí-ses. Na verdade, é impossível comparar a produção de Estados Unidos eCanadá com a mexicana. Foram previstas salvaguardas para proteger osetor agrícola que estivesse em dificuldades. Seriam cortadas taxas alfande-gárias em 61% dos produtos mexicanos exportados para os EstadosUnidos, e o Canadá aceitou diminuir em 88% as taxas de exportaçõesagropecuárias do México. Esse país, por sua vez, retiraria as taxas deimportação de produtos do campo dos Estados Unidos em 36% e apenas4% dos provenientes do Canadá. De forma geral, todas as barreiras alfan-degárias deveriam ser eliminadas em dez anos. Há uma ressalva sobre aimportação de milho e feijão – base da alimentação mexicana – peloMéxico e de suco de laranja e açúcar para os Estados Unidos, que teriamcinco anos adicionais para o ajuste final ou 15 anos no total. A produçãode laranja e cana-de-açúcar no México poderia crescer ao longo dos anos,tornar-se um forte competidor do Brasil nesses setores. O México partici-pa de um mercado integrado, tem proximidade geográfica, solo e mão-de-obra. Tudo isso pode fazer o produto mexicano, com acréscimo de algumatecnologia, ser concorrente difícil.

Os subsídios aos bens agropecuários deveriam, aos poucos, ser elimi-nados. Se existir subsídio, o outro país poderia acrescentar uma taxa com-pensatória aos produtos subsidiados. Tomam-se também medidas nosaspectos sanitários e de pragas. O acordo, porém, ressalva que não se podeusar eternamente o argumento de doenças e problemas sanitários para res-tringir o comércio. Certas regiões seriam consideradas livres de doenças epragas, e o comércio dali não teria problemas. São interessantes os passosdo tratado. São dois países desenvolvidos integrando-se a um em desenvol-vimento. Em termos de defesa do consumidor, um lado está muito maisavançado do que o outro. Portanto, são necessárias medidas visando a umaprodução mais sadia. O México teria de se adaptar ao longo dos anos. Aintegração, nesse caso, ajuda a modificar a forma como a economia menor

A Integração nas Américas 97

produz e, como conseqüência, ajuda também a melhorar a qualidade doproduto consumido pela população mexicana.

O setor de carros mereceu atenção especial. Os Estados Unidos e oCanadá aceitaram eliminar em 100% as barreiras alfandegárias sobre osautomóveis fabricados no México. Caminhões teriam as taxas fixadas em10% e, em cinco anos, a eliminação seria total. A economia menor reduzi-ria em 50% as taxas alfandegárias para importar automóveis e as elimina-ria, de forma gradual, em dez anos. Para caminhões, a redução seria tam-bém de 50%, inicialmente, e em cinco anos o restante. Outros tipos de veí-culos teriam taxas livres em dez anos. Carros usados é uma exceção, oprazo seria de 15 anos, além dos dez, para a abertura total. Os 25 totaisanos são compreensíveis, uma vez que, se o México se abrisse à importa-ção de carros usados norte-americanos, a produção local de carros novossofreria um forte impacto. Peças de carros do México para Estados Unidose Canadá teriam taxas reduzidas em 80% e desses países para o Méxicosomente em 20%. Tudo, no entanto, deveria estar sem taxação em dez anos.

Para os veículos, as regras de origem são ainda mais duras. Para serconsiderado como produção regional, um veículo deveria ter, já no iní-cio da vigência do tratado, 50% dos seus componentes produzidos naregião integrada. Após dez anos, teria de ser 62,5% para automóveis,caminhões pequenos, motores e transmissores. Os demais veículos deve-riam ter, em dez anos, 60% de conteúdo regional. Fábricas estrangeirasnão poderiam estabelecer no México só montadoras de partes e peçasque viriam de fora. Para garantir os benefícios das preferências tarifáriasda integração, a maioria dos componentes do produto deveria ser produ-zida no país. As fusões ou compras de empresas nacionais de autopeçaspodiam ser de 40%, desde o início do contrato, e de 100%, em cinco anos.O setor de transportes terrestres teria liberação gradual. Em três anos, ôni-bus de passageiros poderiam circular livremente na região. As empresas detransportes de cargas somente em seis anos. Esse setor mereceu discussõesacaloradas.

As empresas mexicanas não estavam preparadas para enfrentar ascompanhias gigantes de transportes do Estados Unidos. Em seis anos, noentanto, o mercado deveria estar aberto. Depois de sete anos da vigência doacordo, seria permitida a presença de empresas de transportes com 50% de

Integração Regional98

capital estrangeiro e, em dez anos, podia-se chegar aos 100%. Empresasferroviárias de Estados Unidos e Canadá poderão ter terminais e construirferrovias no México. Além disso, desde a entrada em vigor do tratado,podem investir em infra-estrutura portuária. Telégrafos, satélites e telefo-nes ficaram fora do acordo.

Nos setores de energia e petroquímica, falaram mais alto os interessese o nacionalismo mexicano. É uma área sensível. O governo mantinha omonopólio na produção e comercialização de petróleo, gás e petroquími-ca dentro do país. A Pemex não ficou obrigada a estabelecer contrato derisco com ninguém. Poderia prestar serviços, mas em contratos específicose não com base nos termos da integração. Não seria também permitida apresença de postos de combustíveis estrangeiros no México. O governomexicano não estaria obrigado a garantir o abastecimento de petróleo paraos Estados Unidos. Venderia no mercado aberto e ao melhor preço. Qual-quer exportação de petróleo, gás natural ou de produtos da petroquímicasó poderia ser feita pela Pemex. Contudo os três países podem construir eoperar usinas para a geração de eletricidade.

A questão energética no tratado do Nafta é um exemplo prático sobreos rumos de uma integração econômica. É claro que muitas das restriçõesimpostas são contrárias aos princípios de uma integração real. Entretanto,as economias maiores entenderam a importância do petróleo na vida me-xicana. Não só nos aspectos econômico e estratégico, mas também históri-co e político, e como isso toca o nacionalismo. Uma pressão forte paraabrir o setor poderia levantar um clamor interno no México, que talvezcomplicasse os passos do tratado proposto. Não seria justo, em uma inte-gração econômica, forçar o parceiro a aceitar medidas que trarão outrostipos de conseqüências.

O setor de serviços abriria gradualmente. Depois de dez anos do trata-do em vigor, deveria ser suprimido o requisito de residência para fornecerlicenças a prestadores de serviços, que deverão receber tratamento igual emqualquer dos países como se fossem nacionais. Existem disposições espe-ciais para a aceitação de diplomas profissionais e títulos. As compras efetua-das pelos governos dos três países integrados deveriam também ser libe-radas e feitas de forma igual. Uma licitação pública teria de ser livre à par-ticipação de qualquer dos países, sem discriminação. O México teria o direi-

A Integração nas Américas 99

to de não licitar uma pequena percentagem das aquisições do seu governo,principalmente aquelas relacionadas à segurança nacional.

A pessoa que investir em um país não poderá ser discriminada, teráde ser tratada como se fosse nacional. Para se investir não se pode exigirníveis de exportações ou importações mínimos. O câmbio e a conversãoserão livres e de acordo com o mercado. Não se pode expropriar bens depessoas estrangeiras, a não ser em caso de utilidade pública, sempre dentroda lei e pagando-se justa indenização. É o velho receio dos norte-america-nos em ter problemas na América Latina devido aos altos e baixos da polí-tica. Os monopólios estatais não podem proteger mercados e discriminarcertos tipos de inversões. O caso do petróleo, como já mencionado, é àparte e diferente. É um capítulo estranho aos modos de uma integração,mas que foi aceito pelos participantes.

Na questão de bancos, bolsas de valores, casas de câmbio ou outrasinstituições de créditos, mais um setor sensível, a discussão foi longa, masao final chegou-se a um entendimento. No início da vigência do tratado, aparticipação estrangeira no setor financeiro seria só de 8% e subiria para15%, até 2000. Depois disso, deveria haver abertura do mercado. Bolsas devalores estrangeiras poderão se estabelecer nos países, porém, como nocaso anterior, isso seria de forma paulatina. Deveria ser só de 10% a 20%até 2000, daí para frente estaria livre. Existe cláusula de salvaguarda para aárea financeira. Se houver problemas, os prazos poderão ser prorrogados.Companhias de seguros do Canadá e dos Estados Unidos poderiam seassociar às mexicanas em até 30%, a partir da data do início do acordo.Subiria para 51%, até 1998, e a 100%, a partir do ano 2000.

Liberava-se o capital, mas restringia-se a circulação de mão-de-obra. Éuma zona de livre-comércio e não um mercado comum. É outra concessãodos signatários com base na história e na realidade atual de seus membros.Nesse caso, as restrições se aplicam mais aos mexicanos. O problema de imi-gração de mexicanos para os Estados Unidos é complicado. Para as pessoasmais pobres do México, o vizinho aparece como uma alternativa. Isso, toda-via, provoca muitas reclamações, pois os imigrantes competem com a mão-de-obra local, exercendo pressão nos setores de educação, saúde, segurança,meio ambiente e treinamento. Se fosse liberada a imigração, como no casodo capital, poderia aumentar a presença de mexicanos nos Estados Unidos.

Integração Regional100

Portanto, decidiu-se restringir a imigração. Há reclamações de que foi per-mitida a abertura para um dos fatores de produção que beneficia as econo-mias maiores e que o outro, mais favorável ao México, não o foi. Mas deci-diu-se assim proceder. Uma integração econômica pode ser adaptada às cir-cunstâncias e história dos membros integrados.

Cada país, continua o tratado, tem o direito de aplicar suas leis e nor-mas às pessoas dos outros países membros. Seria facilitada a movimenta-ção de visitantes temporários, comerciantes, pessoas transferidas dentro deuma companhia e certas categorias profissionais. Resolveram, outra vez,aceitar restrições que podem ser vistas como não benéficas ao México. Apropriedade intelectual possui garantias específicas. Direitos autorais,patentes, marcas, programas de computadores serão protegidos. Prevêm-se punições para quem fizer mau uso deles.

A prioridade é agilizar as trocas e facilitar a circulação de bens entreos países integrados. Aspectos burocráticos, papéis e carimbos devem serrestritos ao mínimo necessário. Não se pode atrapalhar o comércio comoperações alfandegárias que, ao final, poderiam encarecer o produto parao consumidor.

O tratado está dividido em 22 capítulos, cada um com seus váriosartigos, analisando os mínimos detalhes. Além dos capítulos e artigos, háum número bastante alto de anexos que tratam de aspectos mais específi-cos. Existe também um acordo paralelo, mas parte do corpo do tratadomaior, sobre cooperação ambiental e trabalhista, dois temas sensíveis e quetiveram grandes debates, principalmente nos Estados Unidos.

É interessante a tentativa de integração na América do Norte com aparticipação do México. Uma economia relativamente menos desenvolvi-da junto a duas potências econômicas. O caso mexicano, suas alternâncias,recuos e avanços, deveria ser observado com cuidado pelos países latino-americanos. O México é uma espécie de cobaia. Se houver, no futuro, umaintegração econômica maior de toda a região, os erros e acertos da tentati-va do Nafta podem funcionar como parâmetros. Deveriam ainda ser ana-lisados com mais cuidado os termos do acordo do Nafta na discussão sobrea Alca. Os passos deveriam ser dados de forma paulatina. Os fatores nãoforam todos integrados desde o início. O que foi possível fazer logo, foifeito. Ao que era mais complicado foi dado tempo, criaram-se salvaguar-

A Integração nas Américas 101

das, para que, mais tarde, esse ou aquele setor da economia também parti-cipasse do processo integracionista. Não se teve receio nem de discutir ecolocar no tratado normas futuras sobre serviços, propriedade intelectuale até compras governamentais. Até para a agricultura, tema sensível na dis-cussão da América Latina com os Estados Unidos, foram encontradasalternativas que satisfizeram a todos os interesses.

Benefícios e Reclamações

Talvez seja interessante colocar alguns dados e números sobre o quehouve na integração econômica entre Estados Unidos, México e Canadánesses dez anos de integração. Dez anos de comércio regional talvez dêemuma idéia de como foram os passos. Publicações do Nafta dizem que ocomércio entre os sócios integrados, desde a entrada em vigor do Tratado,em 1994, cresceu 128%, de 297 bilhões de dólares, em 1993, para 676 bilhões,no ano 2000. Dizem ainda que os membros integrados comercializam algocomo 1,8 bilhão de dólares por dia. De 1991 a 1994, o México teve déficitcomercial com os Estados Unidos, de 1995 a 2001, teve superávit.

Hoje o México passou a ser o terceiro parceiro comercial dos EstadosUnidos, atrás só do Canadá e da China. O comércio do México dentro doNafta, de 1993 ao ano 2000, cresceu 238%, chegando a 154 bilhões de dóla-res. Nos últimos sete anos, as exportações contribuíram com mais da meta-de do crescimento real do PIB do país. O comércio total do México com osEstados Unidos saiu de cerca de 50 bilhões de dólares, em 1991, e chegou,no ano 2000, aos 250 bilhões. O México exporta para os Estados Unidosalimentos e animais vivos, produtos químicos, bebidas e tabacos, azeitesvegetais e animais, combustíveis, diferentes produtos manufaturados, masa concentração maior, algo como 75% do total exportado, é de máquinas eveículos. Os Estados Unidos investiram bastante no México, de um pata-mar de dez bilhões de dólares, em 1990, para mais de 50 bilhões, em 2001.O Banco Mundial diz que, sem o Nafta, o comércio entre o os dois paísestalvez estivesse 25% menor do que antes e os investimentos do vizinho noMéxico teriam sido 40% menores.

Talvez o resultado mais interessante dessa integração esteja no setorde empregos gerados no México. Documentos relativos aos dez anos da

Integração Regional102

integração mostram que mais da metade dos empregos criados no perío-do estavam vinculados ao setor exportador, e que os empregos voltadospara a exportação pagam aproximadamente 40% mais do que o resto daindústria manufatureira. O crescimento do emprego no setor das maquia-doras passou de 400 mil, em 1991, para mais 1,2 milhão, em 1999, e caiuum pouco em 2001 e 2002.

No entanto, nem só de elogios vive o Nafta. Nos dez anos de sua exis-tência sofreu também muitas críticas. Os números dessa integração sãoespetaculares em ambas as direções. Os dados sobre comércio e investi-mentos estão no lado positivo, porém, como fato negativo, vê-se que apobreza mexicana continua a mesma, quase igual a de décadas atrás.Dizem os críticos que um pequeno número de mexicanos se beneficioucom a integração, os empregos gerados, perante a necessidade do país, nãoforam suficientes e quem ganhou mais foram algumas multinacionaisvoltadas para a exportação, que aproveitaram a mão-de-obra barata doMéxico. Regiões do país, mais ao sul, como Chiapas, não apresentaramqualquer melhora, que a prostituição e a violência, nas cidades de frontei-ras com os Estados Unidos, onde se concentra a quase totalidade dasmaquiadoras, aumentaram consideravelmente.

A imigração ilegal, um dos motivos da criação do Nafta, continuaem patamares altos, um sinal de que nem tudo está caminhando como oscriadores da unidade econômica imaginavam. Outro dado, também bas-tante criticado, é que a ligação muito forte da economia mexicana aosEstados Unidos acaba restringindo o poder de manobra em sua vida eco-nômica. Do jeito que está hoje, uma crise na economia norte-americanatem reflexos imediatos na mexicana. A atuação do país nos fóruns inter-nacionais, por mais que os mexicanos demonstrem sua soberania, tam-bém poderá ser afetada. Qualquer boicote dos Estados Unidos por causade um entrevero internacional traria sérias conseqüências para a econo-mia mexicana.

A proximidade geográfica aproximou esses dois países. Os prós e oscontras sempre vão existir nesse abraço de um gigante econômico comuma economia menor. Com a globalização, com as barreiras físicas, econô-micas e financeiras sendo demolidas no mundo, era difícil imaginar quedois países vizinhos continuassem a se ignorar. Já que o passo foi dado, e

A Integração nas Américas 103

dificilmente será interrompido, o melhor caminho para o México seriaconseguir, cada dia mais, benefícios para sua população, não só no relacio-namento com os Estados Unidos, mas também com o Canadá.

O México deve ainda fazer seu dever de casa e tentar encontrar meiospara desconcentrar renda e fazer com que a população mais pobre se bene-ficie também dos ganhos gerados pela integração. A concentração de rendana América Latina é de estarrecer. México e Venezuela, como exemplo, ven-dem há muito tempo petróleo no mundo. Mesmo assim, essa riquezanacional não chega à maior parte da população. Os países árabes, quecomeçaram a participar da vida moderna até mais tarde do que esses doispaíses, conseguiram, apesar da concentração de riqueza ali existente, fazeruma melhor distribuição. A pobreza desses dois países latino-americanosimpressiona. Nos países árabes produtores de petróleo, ela é aparentemen-te menor, e a população recebe alguns benefícios diretos e mais adequados.

Não se pode negar que o PIB mexicano cresceu desde o início do Naftae passou a ser o maior da América Latina, desbancando o Brasil. O empregotambém aumentou um pouco, os salários são melhores, o México é o cam-peão de exportação na América Latina (sua exportação talvez seja hoje maiordo que a dos quatro países do Mercosul juntos); enfim, não se pode negarque a economia tenha sofrido uma reviravolta. Os dados são claros. Sugeremque agora chegou a hora de encontrar meios de levar essa riqueza até asmãos de um maior número de pessoas. É um problema que os mexicanosterão de resolver sozinhos. Os números mostram que a integração econômi-ca regional pode ajudar a melhorar a qualidade de vida do povo da região.

Um dado curioso sobre a integração é que talvez ela tenha ajudado amodificar a política interna do país. Um partido só, Partido Revolu-cionário Institucional, PRI, dominava a política mexicana desde 1929.Com a abertura econômica, com um olhar mais crítico do mundo sobre apolítica interna mexicana, os fatos indicam uma mudança positiva. O PRIcedeu, em eleição, a presidência a um outro partido, fato quase impensávelanos atrás, quando a máquina partidária, montada através dos anos, haviacriado ali uma espécie de ditadura de um partido só. Acredita-se ainda quea integração tenha ajudado a ter uma imprensa mais livre e investigativa.Com isso, a corrupção, mal enraizado na vida da nação, começou a sofrercombate frontal nesses últimos dez anos.

Integração Regional104

O Canadá, depois de dez anos de Nafta, acredita que a integraçãotenha sido vantajosa. Números mostram que metade da exportação demanufaturados do país vai para o Nafta, quase tudo para os EstadosUnidos, na verdade. Mais de 40% do PIB do país corresponde ao setorexportador, um dado maior do que qualquer dos outros países do G-7. Umem cada quatro empregos criados no país vem desse setor. O Nafta é a basede tudo. Em 2004, 86,6% do total exportado do país ia para a área integra-da. Foram criados 2,3 milhões de empregos no Canadá desde 1994, repre-sentando um aumento de 17,5% sobre o período anterior ao Nafta. O paísvem crescendo a uma média de 3,6% ao ano desde a integração da Américado Norte, e esse crescimento é maior do que qualquer país do G-7.

Dá para perceber que a distribuição dos benefícios do Nafta noCanadá atinge um número maior de habitantes do país, tanto no empre-go, quanto na qualidade, e ainda nos serviços que o país oferece à suapopulação como saúde e educação gratuitas. Não é ainda o caso mexicano.É claro que a população desse país é maior e o grau de pobreza antes eagora era mais alto do que no Canadá. Contudo, os números mostram que,de forma geral, a riqueza do México está aumentando. Se é um fato, pode-se supor que uma parte dela deveria ir para um número maior de habitan-tes do país. A realidade local não é essa, porém.

Área de Livre Comércio das Américas: ALCA

Em junho de 1990, George Bush, presidente dos Estados Unidos,falou pela primeira vez na Iniciativa para as Américas. Foi planejada prati-camente em silêncio e lançada com alguma fanfarra. A intenção seria criaruma área de livre-comércio que abarcasse todo o continente americano, doAlasca à Patagônia. A iniciativa norte-americana provocou um alvoroçoem toda a região. Tratados de comércio e de integração entre países come-çaram a aparecer ou a serem reativados. Não exclusivamente por causa daproposta norte-americana, mas empurrada por ela, o Brasil e a Argentinaderam passos mais determinados rumo a uma integração. Juntos comUruguai e Paraguai, caminharam para a criação do Mercado Comum doSul ou Mercosul. Em uma das primeiras manifestações daquele novo

A Integração nas Américas 105

momento, os presidentes Fernando Collor de Mello e Carlos Menem con-cordam em analisar em conjunto a proposta lançada pela administraçãoGeorge Bush.

Em março de 1991, com o Tratado de Assunção, surge de fato oMercosul. Ele nasce por motivos próprios de uma época, mas talvez possaser afirmado que a proposta do governo dos Estados Unidos de integraçãocontinental tinha apressado os passos da integração regional. Em junho de1991, no Jardim das Rosas, em Washington, foi assinado o acordo 4+1 ouo início das conversações entre os países do Mercosul e os Estados Unidospara uma futura integração. Esse acordo, com o passar do tempo, foi dei-xado de lado. A idéia prevalente durante muito tempo seria a de integra-ção global de toda a região. Depois do encontro de Miami, de novembrode 2003, em que se permitia a integração entre países ou grupos deles, oacordo volta a ter o valor imaginado inicialmente. Portanto, um dos fatosmais importantes na unificação inicial dos países do Cone Sul, com exce-ção do Chile que continuou em um movimento pendular entre o Nafta eo Mercosul, foi que eles decidiram encarar a proposta de integração quenascia nos Estados Unidos de forma conjunta. Uma novidade para umaregião que historicamente sempre vivera sem unidade ou linguagemcomum em ações externas. O aprendizado não será fácil. Fatos inespera-dos, tropeços e desentendimentos surgiram ao longo do tempo. Uma aulade história ao vivo.

Nessa busca de unidade econômica regional, aparece, em 1993, nogoverno Itamar Franco, a sugestão brasileira para a criação da Área deLivre Comércio Sul Americana ou Alcsa. O Mercosul apresentava proble-mas, fato normal em uma integração inicial, e o governo brasileiro enten-dia que era preciso ter uma linguagem maior e unificada regionalmentepara iniciar conversações mais efetivas com os Estados Unidos. A Alcsa,como o nome indica, previa a integração de toda a América do Sul. Ou,em palavras mais diretas, entre o Mercosul e os países dos Andes que esta-vam integrados no acordo da Comunidade Andina. Uma integração detoda a área seria o ideal para um diálogo mais produtivo com os norte-americanos. Não se concretizou naquele momento, mas era uma decisãointeressante na busca de unidade regional. De acordo com o conceito dainiciativa para as Américas, não seria adequado estabelecer acordos

Integração Regional106

comerciais separadamente com os Estados Unidos e com o Nafta. A dife-rença entre a economia dos Estados Unidos e a dos demais países daregião é gigantesca. Mesmo em conjunto, a diferença continua abissal. Doponto de vista do Brasil, portanto, seria pior se esse diálogo acontecessebilateralmente entre cada país e os Estados Unidos. A Alcsa daria maiorliderança ao Brasil em toda a região e daria também maior peso a todosem negociações futuras.

Muitos argentinos argumentavam que o Mercosul para o Brasil, oumesmo a imaginada Alcsa, eram armas políticas para negociação futuracom os norte-americanos e que a integração regional era mais importantenesse aspecto do que no econômico. Os números mostram que o Mercosulfoi útil para o comércio externo do Brasil, mas os fatos posteriores sugeremque o que o país queria era usar o Mercosul, ou qualquer outra integraçãomaior na área, como arma de barganha para enfrentar mais tarde osEstados Unidos, e até mesmo a União Européia, em uma conversaçãocomercial. Não foi fácil ter unidade nas decisões e nas ações do Mercosul.Inúmeros assuntos, comerciais ou não, apareceram para atrapalhar a buscada unidade. O que é até natural e explicável em um processo inicial de inte-gração regional. Ao longo do tempo, sentindo necessidade de unir forçasfrente a novos fatos do momento regional e internacional, os países doMercosul, principalmente o Brasil e a Argentina, resolveram atuar em con-junto nas discussões finais sobre a Alca (e também com a União Européia).

O tempo passou. Da Iniciativa para as Américas caminhou-se, emdezembro de 1994, em Miami, no governo Bill Clinton, que substituiria ode George Bush, para a criação da Área de Livre Comércio das Américas ouAlca. Trinta e quatro países da região mandaram representantes. Do Brasil,foram o presidente Itamar Franco e também Fernando Henrique Cardoso,que tomaria posse menos de um mês depois. Cuba, desde o início, estevefora. A alegação é de que não professava princípios democráticos e a eco-nomia de mercado. Talvez o desentendimento histórico entre Cuba eEstados Unidos, que vem desde a década de 1960, esteja por trás dessaexceção. Nenhum país foi contra a idéia. Preferem o mercado norte-ame-ricano ao da pequena ilha do Caribe. Os países que estiveram presentes emMiami foram Canadá, Estados Unidos, México, Bahamas, Jamaica, Haiti,República Dominicana, São Vicente e Granadinas, Trinidad e Tobago,

A Integração nas Américas 107

Granada, Barbados, Dominica, Santa Lúcia, Antigua e Barbuda, St. Kits eNevis, Belize, Guatemala, El Salvador, Nicarágua, Honduras, Costa Rica,Panamá, Guiana, Suriname, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia,Chile, Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai. Há uma grande diferençaentre as economias da área, principalmente entre os Estados Unidos e cadauma delas ou mesmo com todas juntas.

O PIB dos Estados Unidos está acima de dez trilhões de dólares. Osoutros países juntos chegam a cerca de 2,5 trilhões de dólares. O gigantenorte-americano sozinho corresponde a aproximadamente 77% da Alca,as outras economias, incluindo a do Canadá, ficam com os 23% restantes.É uma diferença estonteante. A renda per capita também mostra uma dis-paridade enorme. Nos Estados Unidos, ela está acima dos 31 mil dólares,no Canadá, beira os 20 mil e daí para frente desaba. Argentina, Brasil,México, Chile, Uruguai e Venezuela mantêm uma renda per capita entrecinco mil e três mil e quinhentos dólares. A partir daí, vai caindo até che-gar ao patamar de 500 dólares na Nicarágua e no Haiti. Também a popu-lação dos Estados Unidos é maior, com quase 290 milhões de habitantesou algo como 34% do total da área de quase 800 milhões de pessoas. Ogap entre os lados é grande também em tecnologia, poderio militar einfluência cultural. Essa disparidade assusta, e alguns falam em anexaçãoe não em integração, ou seja, temem que a economia maior acabe engo-lindo as menores.

Todavia, a globalização é uma realidade. Ela é empurrada por avançostecnológicos, velocidade nas transações financeiras e comerciais, meios detransportes cada dia mais sofisticados e custos menores, onde quer queseja, para produzir. Se é um fato irreversível, a região, apesar de seu dimi-nuto tamanho perante o comércio mundial ou mesmo continental, terá deencontrar fórmulas para tirar proveito do processo em andamento. Nãodeve se entregar às economias maiores, mas buscar alternativas adequadasque beneficie cada nação da área ou o conjunto delas. E, neste momento, aunidade regional parece ser importante nessa empreitada dos temposmodernos. Quando geograficamente economias e culturas menores estãoem contato com outra maior, o mais correto é tirar proveito da situação.Ficar o tempo inteiro com o estilingue retesado e em seguidos conflitos tal-vez não seja o caminho mais recomendado. Não se podem abrir as portas

Integração Regional108

à invasão de produtos e bens de toda qualidade do parceiro maior, mas, nodiálogo e na pressão que o conjunto possa exercer, encontrar alternativaspara fazer com que os lados ganhem. Em uma integração, todos devemsentir que estão ganhando, caso contrário ela não deslancha. Levantam-seo nacionalismo ou os interesses de grupos internos, principalmente naseconomias e governos mais frágeis, que podem atrapalhar o avanço da uni-dade econômica. Não é fácil fazer uma integração entre economias tão dís-pares e em estágios tão diversos de desenvolvimentos. No entanto, o piortalvez fosse nem tentar dar passos efetivos nessa direção e andar na contra-mão dos fatos da atualidade.

Em dezembro de 1994, portanto, reuniram-se em Miami 34 gover-nantes das Américas. Como qualquer evento diplomático desse porte, foiprecedido por encontros anteriores entre diplomatas da região, com oobjetivo de estabelecer uma proposta para a futura integração continental.No encontro, foi apresentado o chamado Plano de Ação. Ele será a basepara futuras conversações e para muitos outros encontros. Suas propostas,desde aquele evento, permanecem as mesmas, mas acrescidas de tempo emtempo por algum dado diferente, frente a alguma novidade regional oumesmo mundial. O plano é grandiloqüente e cheio de detalhes. Todos osaspectos de uma imaginada vivência comum são tratados. E, no fundo, nãopodia ser diferente. Não seria possível criar inicialmente um plano quefalasse a linguagem e refletisse as necessidades só de um ou outro lado.Deveria ser a média de interesses dos países envolvidos naquele encontroem Miami. O Plano de Ação, nascido na Primeira Cúpula das Américas, éminucioso e procura explicitar o que cada proposta tentará atingir. Suasmetas são colocadas a seguir para se vê de onde originam todos os outrosplanos e ações dos encontros posteriores.

Planos de Ação

1. Preservação e fortalecimento da comunidade democrática dasAméricas.

a. Fortalecimento da democracia.b. Promoção e proteção dos direitos humanos.c. Revigoramento da sociedade e participação comunitária.

A Integração nas Américas 109

d. Promoção dos valores culturais.e. Combate à corrupção.f. Combate ao problema de drogas ilícitas e crimes conexos.g. Eliminação da ameaça do terrorismo nacional e internacional.h. Fortalecimento da confiança mútua.

O Plano de Ação mostra como seria implementado cada um dositens. Por exemplo, quando trata do lado político, busca suporte nos trata-dos anteriores que visam a fortalecer o processo democrático regional.Fala-se ainda em eleições limpas e reconciliação nacional, e coloca-se aOEA como observadora e carro-chefe para fazer funcionar e manter ademocracia na região. A proposta inicial quer abranger tudo, inclusivecriar democracia e governos estáveis de cima para baixo.

O plano pretende ainda garantir os direitos humanos de todos os tra-balhadores imigrantes e de suas famílias, adotar medidas necessárias paracorrigir as condições desumanas e reduzir ao mínimo o número de prisio-neiros à espera de julgamento. Cada item da proposta é desmembrado. Acorrupção, por exemplo, tanto no setor público quanto no privado, enfra-quece a democracia e destrói a legitimidade dos governos. A promoçãocultural deve ser conduzida pela OEA e pelo BID. O combate às drogastambém mereceu atenção especial. Naquele momento, esse aspecto talveztenha sido o que mais de perto interessava aos Estados Unidos. O outro,combate ao terrorismo, seria bastante útil depois do atentado terrorista emWashington e Nova York. O plano prevê até “fortalecer a confiança mútuaque contribua para a integração econômica e social dos nossos povos”.

2. Promoção da prosperidade por meio da integração econômica e dolivre-comércio.

a. Livre-comércio nas Américas.b. Desenvolvimento e liberalização dos mercados de capitais.c. Infra-estrutura hemisférica.d. Cooperação no campo da energia.f. Infra-estrutura de telecomunicação e informação.g. Cooperação em ciência e tecnologia.h. Turismo.

Integração Regional110

Neste item, está a base real do encontro de Miami: livre-comércio emeios para alcançá-lo. Desde o início, são citados com ênfase os acordoscomerciais existentes na região, ressaltando a necessidade de se obedecer àsregras da OMC. Ou seja, tudo seria feito sem ferir as leis e decisões já exis-tentes sobre, comércio regional e mundial. Não parece novidade, portanto,que um ou outro país, no momento de se fazer alguma concessão, chamea atenção para as conversações em andamento na OMC. É tópico que vemdesde 1994. A proposta de liberalização do mercado de capitais, de integra-ção dos mercados financeiros, “tanto nacional como internacionalmente”,é um passo ousado e mais difícil de ser concretizado. Não se pode ter inte-gração econômica que funcione se não houver alternativas para escoarprodutos a preços competitivos. Para isso, é preciso meios de transportesadequados. O Plano de Ação também trata dessa complicada realidade.Defende que o meio ambiente deve ser preservado durante esse processo.Não se explica com clareza como conseguir os recursos necessários paraconectar fisicamente a região. Esse item do plano fala ainda em cooperaçãoem ciência e tecnologia, também no campo da energia e na infra-estrutu-ra de telecomunicação e informação. Os governos devem tomar decisõesem todos os assuntos. Recomenda-se a participação da iniciativa privada,uma vez que, a cada dia, os recursos internacionais para resolver esse quaseimpasse regional estavam mais escassos. O turismo, por fim, “é importan-te para nossas economias e valioso para a promoção da compreensãoentre os povos das Américas”. O plano é cheio de frases assim. Os governosdos Estados Unidos e do Canadá concordam com todas as propostas.Concentram-se em alguns aspectos que lhes interessam especialmente epermitem que os demais países ajam como queiram.

Talvez possa ser dito que os Estados Unidos não estavam muito preo-cupados com as propostas dos encontros da Alca. Sabiam que, mais tarde,o assunto deveria ser discutido no Congresso do país no momento daaprovação do fast track. Nas discussões em torno de uma aprovação dessa,os congressistas costumam pautar os passos futuros dos negociadores.Mostram o que pode e o que não pode ser negociado. Quando aprovado,o assunto não volta mais para discussões no Congresso. Frente a isso, osparlamentares, antes de aprová-lo, procuram dar limites e rumos à atua-ção dos negociadores. Bill Clinton não conseguiu aprová-lo. Fato usado

A Integração nas Américas 111

por países latino-americanos, incluindo o Brasil, para diminuir o ritmonos trabalhos da Alca, pois sabiam que, se não fosse aprovada aquelamedida, o governo norte-americano não podia dar passos concretos e efe-tivos rumo à integração. Mais tarde, com George W. Bush, filho de GeorgeBush, foi aprovado o Trade Promotion Authority, que estabelece a direçãoe base para as negociações do país com o restante do continente. Nosencontros da Alca, sugerem os fatos, os Estados Unidos jogavam para asregras da OMC os assuntos mais complicados e deixavam que outrostemas fossem construídos ao sabor de cada momento e situação. Talvezpossa ser dito que seria difícil aquele país aceitar mudar certas regras decomércio ou cortar subsídio à agricultura por decisão de um fórum regio-nal, como no caso da Alca. Para que mudanças mais profundas fossemaceitas internamente, seria necessária uma ampla discussão e em umorganismo do porte da OMC.

O Plano de Ação tratava ainda de outros aspectos.

3. Erradicação da pobreza e da discriminação no nosso hemisfério.a. Acesso universal à educação.b. Acesso eqüitativo aos serviços básicos de saúde.c. Fortalecimento do papel da mulher na sociedade.d. Estímulo à pequena e média empresa.e. Capacetes brancos ou corpo de emergência e desenvolvimento.

Como podemos ver, promete-se tudo para erradicar a pobreza.Maiores “investimentos no capital humano são mecanismos importantespara ajudar a eliminar a pobreza”. Boa vontade não falta. Não que não sejaimportante, mas a maior parte do proposto parece bastante óbvio. Comomostra essa outra frase, “o fortalecimento e apoio à pequena empresa e amicro empresa é elemento essencial para o desenvolvimento sustentável eeqüitativo”. As propostas presentes no documento inicial para a criação daAlca tocam em fatos concretos, como a enorme pobreza no hemisfério.No entanto, é difícil querer erradicá-la só com boa vontade e exercício delinguagem. Naquele momento, no entanto, a idéia de uma quase revolu-ção na região contagiava a todos. Foi proposta até a criação de um corpode voluntários para ajudar em ações humanitárias ou em desastres natu-

Integração Regional112

rais nos próprios países ou em outros, que serviria inclusive “para asNações Unidas”.

4. Garantia do desenvolvimento sustentável e conservação do nossomeio natural para as gerações futuras.

É a defesa do meio ambiente. Assunto importante na pauta de qual-quer reunião de interesse coletivo na atualidade.

O documento pede ainda a participação ativa da OEA, do BID, daCepal, além do Banco Mundial e outras instituições das Nações Unidas,que atuam no hemisfério para ajudar a concretizar o que foi proposto emdezembro de 1994, em Miami. Os organismos que atuam na AméricaLatina (OEA, BID e Cepal) é que fariam os serviços práticos para as futu-ras conversações sobre a Alca. Organismos importantes para a região, mascom prestígio quase nulo nos Estados Unidos.

Encontros e Decisões

Depois do evento em Miami, em dezembro de 1994, chamado dePrimeira Cúpula das Américas, houve uma sucessão de encontros nos anosseguintes, chamados de “reunião ministerial sobre comércio”. Tratam de tu-do, mas agora com mais ênfase no aspecto comercial. A amplitude de von-tades e desejos ficou mais nos termos do encontro de Miami. Em 30 dejunho de 1995, em Denver, Colorado, ocorreu a primeira reunião. A segundafoi em Cartagena, Colômbia, em 21 de março de 1996. Em 16 de maio de1997, em Belo Horizonte, ocorria a terceira reunião de ministros responsá-veis pelo comércio. Em São José, Costa Rica, em 19 de março de 1998, aquarta. A quinta foi em Toronto, Canadá, em 4 de novembro de 1999. EmBuenos Aires, em 7 de abril de 2001, houve a sexta reunião sobre comércio.Em 1 de novembro, de 2002, em Quito, Equador, ocorria a sétima delas. Ea oitava foi em Miami, em 20 de novembro de 2003. Houve ainda trêsencontros de chefes de Estados que foram chamados de “Cúpulas dasAméricas”. A primeira foi aquela de Miami, em dezembro de 1994; a segun-da em abril de 1998, em Santiago, Chile; e a terceira, em Quebec, Canadá,em abril de 2002.

A Integração nas Américas 113

Em Denver, já começam a aparecer conversações mais claras sobre osobjetivos da Alca. Pretende-se eliminar progressivamente as barreiras aocomércio e aos investimentos, e declara-se que as negociações estarão con-cluídas o “mais tardar até o ano 2005”. Falam em respeitar os acordos sub-regionais e bilaterais existentes na região e que a Alca será compatível com asregras da Organização Mundial do Comércio. Cita-se a importância de res-peitar cada acordo existente na área. Comentam sobre a união aduaneira doMercosul que entrara em vigor em 1º- de janeiro de 1995 e sobre a existênciada tarifa externa comum entre os países dos Andes a partir de 1º- de feverei-ro de 1995. Tratam ainda dos acordos de livre-comércio estabelecidos, todosem 1º- de janeiro de 1995, entre México e Costa Rica, entre México e Bolívia,entre o Chile e o Equador e entre os países do Grupo dos Três (México,Colômbia e Venezuela). Cita-se inclusive desmembramentos futuros, comoo caso das conversações para a adesão do Suriname à Comunidade doCaribe, prevista para 4 de julho de 1995. Pela primeira vez, reconhecem-se asdiferenças de desenvolvimento e tamanho das economias da região. Fala-seem dar oportunidades às economias menores no processo. O documentopreocupa-se também com a estabilidade macroeconômica regional. Naquelemomento, os países lutavam nessa direção. É só lembrar que, começava noano anterior o Plano Real no Brasil, que tentava controlar a inflação. Alémdisso, também há uma preocupação com o aspecto ambiental e a proteçãodos direitos dos trabalhadores.

São criados vários grupos de trabalho, todos voltados para os aspec-tos reais de uma integração. Os grupos de trabalho, que teriam um coor-denador de cada país, também já designados, recebiam uma síntese do quedeveriam fazer:

1. O grupo de trabalho sobre “acesso a mercados” deveria construirum banco de dados referente às barreiras de acesso ao mercado emtodos os países, abrangendo os produtos industriais e agrícolas.

2. O de “procedimentos alfandegários e regras de origem” teria defazer um inventário completo sobre os meios alfandegários de todaa região e publicar um guia sobre isso.

3. O grupo designado para trabalhar na questão de “investimentos”teria de levantar os tratados e acordos existentes na área.

Integração Regional114

4. Quem estudasse os “padrões e barreiras técnicas ao comércio” de-veria se preocupar em aumentar a transparência na atuação comer-cial regional.

5. Aqueles que fossem analisar as “medidas sanitárias e fitossanitárias”deveriam inventariar tudo que existisse sobre isso nos diversos paí-ses. As recomendações iam mais longe ao sugerir buscar normas daOMC sobre o mesmo assunto.

6. O grupo de trabalho sobre “subsídios, antidumping e direitos com-pensatórios” é abrangente e fala em subsídio à exportação agrícola,distorção do comércio e conformidade com as regras da OMC.Deveriam compilar ainda os dados sobre dumping e subsídios, deforma geral, na região.

7. Trata das “economias menores” e é talvez um dos mais interessan-tes dos grupos criados. Avaliaria “os fatores que afetam a participa-ção das economias menores na Alca”. É um dos principais proble-mas em uma integração econômica.

Como compatibilizar essas diferenças e fazer com que todos os parti-cipantes ganhem em uma integração regional? Não é fácil conseguir isso.A economia maior, em tese, tende a ganhar mais porque dispõe de maisbens e serviços. As menores, porém, não podem ficar de fora, pois, tambémem tese, se houver uma integração real em uma região, elas poderiam per-der até mais se não participarem. Encontrar um meio para que participeme ganhem é um jogo de equilíbrio complicado. A integração, através daAlca, não pode deixar de se preocupar com os números da realidade eco-nômica e social da região. Aquele grupo, portanto, ficou encarregado deencontrar meios para fazer as economias menores ganharem. Tudo isso foidefinido no encontro de Denver.

No ano seguinte, em Cartagena, teve-se a segunda reunião ministerialsobre comércio. Na declaração final, reforçam o que já havia sido definidono encontro anterior. Falam da importância dos acordos regionais emandamento, que as negociações devem terminar o mais tardar em 2005,que a Alca deve estar em consonância com os princípios da OMC, que eladeve ser “equilibrada e abrangente” em seu tamanho e alcance e que nãodeve impor barreiras a outras nações. Reafirmam a preocupação com as

A Integração nas Américas 115

economias menores e com os esforços que devem ser feitos para “aumen-tar seus níveis de desenvolvimento”. Dão destaque à participação da inicia-tiva privada nos trabalhos da Alca. Citam o Foro Empresarial das Américascomo fator importante nos trabalhos dessa integração. Os grupos de tra-balho, criados em Denver, apresentaram seus resultados nesse novo encon-tro. E, naquele momento, foram criados grupos de trabalhos adicionais nasáreas de direito de propriedade intelectual e serviços, compras governa-mentais, política de concorrência e um sobre solução de controvérsias. Sãotemas fortes e importantes em uma integração econômica.

Como nos encontros anteriores, já ficaram definidas todas as atri-buições.

1. O grupo de trabalho sobre “compras governamentais” teria decompilar as legislações e normas das compras de governo central edas estatais dos países da área em integração. Deveria realizar estu-dos que sugerissem meios de como facilitar a participação de todos.E tudo deveria estar de acordo com as normas da OMC.

2. O grupo que faria estudos sobre “propriedade intelectual”, baseadotambém nas regras da OMC, faria um inventário do que existisse naárea nesse assunto e recomendaria alternativas que ajudassem nospassos futuros da construção da Alca.

3. O grupo sobre “serviços” estudaria as normas que tratam do tema,além de recomendar meios para melhorar essa atividade nohemisfério.

4. O grupo de trabalho sobre “política de concorrência”, como os ou-tros, teria de inventariar todos os dados existentes na região e su-gerir passos futuros que a Alca deveria seguir nesta área.

O grupo de trabalho sobre “soluções de controvérsias” foi estabeleci-do na reunião de 1997, em Belo Horizonte, e teria como meta buscar osacordos e tratados que tratam disso na região e também na OMC.

Em Belo Horizonte, na declaração ministerial, reafirmam, como naanterior, os tópicos que devem ser base da integração continental.Reafirma-se que os assuntos devem estar em consonância com as normasda OMC, que os acordos regionais em andamento devem ser respeitados,

Integração Regional116

que a Alca deve estar concluída até 2005, que deve ser ampla e que não sepode restringir o comércio com países de fora da área integrada. Fala-sena importante participação do empresariado, que as economias menoresdevem participar com ganhos na Alca, preocupa-se com o meio ambien-te e aprova-se ali mesmo uma série de documentos sobre legislação e nor-mas dos diversos países, elaborados pelos grupos de trabalho anterior-mente designados. Ressalta-se o apoio dado pela OEA, BID e Cepal. Essesorganismos conduzirão e oferecerão o apoio necessário para muitos dosfuturos passos em direção à Alca. Entretanto, talvez o tópico mais impor-tante do encontro tenha sido estabelecer que o “consenso constitui o prin-cípio fundamental da tomada de decisão no processo da Alca”. Decide-seali que todos os assuntos seriam regidos pelo single undertaking. Tudo temde ser aprovado por todos. E toca ainda em um ponto que tem geradocontrovérsias.

Diz que Alca coexistirá com acordos bilaterais ou regionais desde que“os direitos e obrigações assumidos ao amparo desses acordos não estejamcobertos pelos direitos e obrigações da Alca ou os ultrapassem”. Onde nãoexistem normas da Alca, os acordos regionais prevalecem. Ou, como nocaso do Mercosul, a sua união aduaneira, que ultrapassa o alcance da Alcaque é só uma área de livre-comércio, também deveria prevalecer. Os fatossugerem, porém, que se e a Alca for concretizada, apesar da boa vontade dosacordos e intenções, ao longo do tempo, ela provavelmente poderia sobre-por-se às integrações em andamento. Passaria a ser a base maior do enten-dimento comercial regional, pois, com ela, todos os países da área estariamintegrados. O acontecimento ou integração maior poderia se impor nasrelações regionais. Contudo, nas declarações ministeriais, seria permitida aexistência de integrações menores e paralelas à Alca. Naquele encontro deBelo Horizonte, além de reafirmar que a Alca seria compatível com os acor-dos da OMC, diz também que os países poderiam “negociar e aderir à Alcaindividualmente ou como membros de um grupo de integração sub-regio-nal que negocie como uma unidade”. O que sempre quis o Brasil com oMercosul. Ou até mesmo a idéia de ser ter uma unidade econômica sul-americana, em uma união da Comunidade Andina com o Mercosul e maiso Chile. Dessa forma e em conjunto, seria mais interessante negociar den-tro da Alca com economias do porte da norte americana.

A Integração nas Américas 117

A declaração ministerial de São José, Costa Rica, em 1998, como asoutras, reafirma todos os princípios que devem nortear a Alca. Ainda é oti-mista, apesar de fazer menção às crises enfrentados pela área. Começa aaparecer, com mais ênfase, a questão agrícola; a intenção seria “eliminar ossubsídios agrícolas que afetam o comércio no hemisfério”, incluindo aque-les que têm efeitos equivalentes aos dos subsídios às exportações agrícolas.Era, até certo ponto, uma medida inócua, pois em todos os documentosfala-se em seguir as regras da OMC em todos os aspectos do comérciomundial. Seria o fórum para acabar com qualquer tipo de subsídio.

Estabelece-se, naquele encontro, quais países exercerão a presidênciae a vice-presidência da Alca. De maio de 1998 a outubro de 1999, a presi-dência ficaria com o Canadá e a vice com a Argentina. De novembro de1999 a abril de 2001, a Argentina e Equador, respectivamente. De maio de2001 a outubro de 2002, Equador e Chile, e, finalmente, de novembro de2002 a dezembro de 2004 haveria uma co-presidência de Brasil e EstadosUnidos. Diz ainda o documento que os dois países exerceriam a presidên-cia até a conclusão das negociações. É interessante observar que foi nesseencontro que surgiram os objetivos gerais da Alca, que, em princípio, de-veriam ter sido introduzidos no encontro de Miami. Eles resumem o quese pretende com a integração econômica:

1. Promover a prosperidade mediante crescente integração econômicae livre-comércio entre os países do hemisfério como fatores-chavepara elevar o nível de vida, melhorar as condições de trabalho dospovos das Américas e proteger melhor o meio ambiente.

2. Estabelecer uma área de livre-comércio em que serão progressiva-mente eliminadas as barreiras ao comércio de bens e serviços e aoinvestimento, concluindo-se as negociações no mais tardar até 2005e alcançando progressos concretos para realizar esse objetivo até ofim do século.

3. Maximizar a abertura de mercados mediante altos níveis de disci-plina, por meio de um acordo equilibrado e abrangente.

4. Proporcionar oportunidades para facilitar a integração econômicadas economias menores no processo da Alca, visando a concretizarsuas oportunidades e aumentar seu nível de desenvolvimento.

Integração Regional118

5. Fazer com que nossas políticas de liberalização comercial e ambien-tais se apóiem mutuamente, levando em conta os trabalhosempreendidos pela OMC e por outras organizações internacionais.

6. Assegurar, conforme as nossas respectivas leis e regulamentos, aobservância e a promoção dos direitos trabalhistas, renovando nos-sos compromissos de respeitar as normas trabalhistas fundamen-tais, internacionalmente reconhecidas, e levando em conta que aOrganização Internacional do Trabalho é a entidade competentepara estabelecer essas normas e delas ocupar-se.

Deram ênfase especial a este último item. Apareceram comentários, àépoca, de que os Estados Unidos queriam aprovar atos de comércio conec-tados a mudanças no tratamento ao trabalhador. Essa citação específicatalvez tenha sido a reação latino-americana à tentativa norte-americana.

No ano seguinte, 2000, o encontro ministerial foi em Toronto. Aregião enfrentava crises econômicas e o otimismo deu lugar a preocupa-ções, como mostra o documento final do evento. A agricultura é tema cadavez mais citado nos encontros. Decide-se que a questão dos subsídios deveser discutida formalmente na OMC, contrariando o que havia sido discu-tido no encontro anterior. A impressão é de que os Estados Unidos joga-vam assuntos como esse para a OMC, porque uma decisão desse órgãotende a ser mais aceita pela população do que decisões tomadas em umfórum menor. Além disso, os norte-americanos reclamam que a Europa eo Japão dão mais subsídios à agricultura. Aceitam discuti-los e até mudá-los, se outros países assim fizerem. Ou, como está no documento ministe-rial elaborado em Quito, em 2001, deve-se “obter resultados satisfatóriosna eliminação das práticas de terceiros países que distorcem o comérciomundial de produtos agrícolas”. Indicam os fatos, então, que não adianta-va aprovar esse tema em um espaço de discussão como a Alca, a decisão de-veria ser tomada em um organismo maior e mais abrangente. Aliás, isso foio que decidiu a OMC, em Doha, no Catar, em novembro de 2001.

Na reunião de Buenos Aires, em 7 de abril de 2001, a declaração dosministros segue o padrão normal de reconhecer fatos em andamento, deaceitar documentos pedidos anteriormente, de sugerir novos rumos.Citam-se sempre o meio ambiente, as economias menores, a OMC, a

A Integração nas Américas 119

transparência, a participação da sociedade civil, os prazos, a aberturacomercial e tudo aquilo que vinha sendo discutido nos outros encontros.Estabelecem também que até 1º- de abril de 2002 deveriam ser apresenta-dos estudos conclusivos sobre subsídio à agricultura. Estudos, ainda deacordo com as normas da OMC, sobre dumping e medidas compensató-rias. Até 1º- de novembro de 2001, deveriam ser apresentadas bases e dire-trizes para ajudar no desenvolvimento e na participação mais efetiva daseconomias menores no processo da Alca.

Talvez a medida mais sugestiva aprovada na reunião de Quito, emnovembro de 2001, tenha sido o Programa de Cooperação Hemisférica.Seria, digamos, o estatuto de ajuda e cooperação para as economias meno-res. É cheio de boa vontade. Fala em apoio técnico, financeiro, for-talecimento da capacidade produtiva, aumento da competitividade,“melho-rar os mecanismos de respostas aos choques econômicos” e muitas outrassugestões. Dois itens, no entanto, seriam fundamentais: abertura comercialmais favorável às economias menores e financiamento para seu fortaleci-mento. Não se fala, portanto, em comércio mais vantajoso para as economiasmenores. Os financiamentos deveriam ser dos países participantes e suasagências de cooperação, instituições acadêmicas e entidades do setor priva-do e ainda de fundações e organismos regionais de financiamento. OsEstados Unidos, que em tese poderiam colaborar com essa diminuição dadistância econômica entre países, se colocam olimpicamente fora disso.

No encontro seguinte, em Miami, na declaração ministerial consta adecepção de todos com o apoio e, principalmente, com a falta de financia-mento para as economias menores. Sugerem-se apoios financeiros “não-reembolsáveis” para que as economias menores cumpram com o estabele-cido no documento sobre cooperação hemisférica. Só boa vontade. Émedianamente claro que até economias como as de Brasil e Argentina nãolutariam para arrumar financiamento para outros países. Precisam detodos os centavos internamente. Não fizeram esforço nessa direção, muitomenos os Estados Unidos.

A reunião ministerial de Miami, em novembro de 2003, talvez tenhasido a que mais recebeu atenção da imprensa. Brasil e Estados Unidos co-presidiam o evento e era o momento de definir pontos concretos sobre ofuturo da Alca. Foi quando surgiu a palavra flexibilização. Aceita-se que a

Integração Regional120

Alca deve ser abrangente e equilibrada, mas “reconhecem a necessidade deflexibilidade a fim de que sejam levadas em consideração as necessidades eas sensibilidades de todos os parceiros”. O governo brasileiro alegou terconquistado uma vitória nessa decisão, a partir da qual os Estados Unidospassaram a aceitar a proposta de flexibilização que permite que países ougrupos de países estabelecessem acordos comerciais no âmbito da Alca.Entretanto, a flexibilização ia além disso.

Decidiu-se que qualquer dos 34 países que participam da integraçãopoderiam optar por não negociar com todos os demais a liberalização docomércio em setores em que não sentissem preparados para fazer a aber-tura. O Brasil lutou por essa fórmula. Alegava que sua economia está emum estágio diferente de muitas outras da região e que o que for acordadopara uma determinada economia poderia não ser adequado para o casobrasileiro. A decisão do país era que assuntos como propriedade intelec-tual, compras governamentais ou investimentos deveriam ser tratadosdepois que esses tópicos fossem equacionados na OMC. O Brasil fazia oque os Estados Unidos faziam. Nos muitos encontros da Alca, os norte-americanos sempre procuraram jogar para a OMC decisões sobre subsí-dios agrícolas. O Brasil resolveu fazer o mesmo com outros temas. Oassunto, no entanto, não era pacífico. Canadá, México e Chile advogavamuma espécie de punição àqueles países que se negassem a aprofundar asnegociações em certas áreas, e que a abertura em outros setores seria pro-porcional à abertura que o país fizesse, à disposição do parceiro em abrirem outras áreas. A decisão final sobre esse e outros temas foi jogada para oinício de fevereiro de 2004, no encontro de Puebla, México, que terminousem definição. Foi marcado um outro para abril na mesma cidade dePuebla. Encontro que acabou não se concretizando.

Diálogos e Preocupações

Em uma reunião preparatória, em Buenos Aires, no início de abril de2004, chegou-se à conclusão de que nada mudara desde Puebla e que nãoadiantaria muito realizar nova reunião naquela cidade mexicana. Noencontro de Buenos Aires, começa-se a falar com mais força que a data pre-vista para o início da Alca, 2005, não seria mais viável. Os assuntos de sem-

A Integração nas Américas 121

pre emperravam as discussões. O Mercosul queria uma maior abertura dosetor agrícola dos Estados Unidos, os norte-americanos lutavam por maisaberturas nos setores de serviços, compras governamentais e propriedadeintelectual. Eles queriam, como sempre defenderam, que o assunto agríco-la fosse primeiro discutido e decidido na OMC. Gostariam que a decisãofinal incluísse o Japão e a União Européia, alegavam que produtos agríco-las europeus subsidiados poderiam ser futuramente vendidos na AméricaLatina e os deles não. Os interlocutores da área, principalmente os dosMercosul, contra-argumentavam que, se isso ocorresse, os bens agrícolasimportados da União Européia poderiam receber uma taxação extra. Nãoconvenceram o gigante norte-americano. O Mercosul, por seu lado, conti-nuou a defender que itens de interesse dos membros da integração tam-bém deveriam ser discutidos no âmbito da OMC.

Como mencionado anteriormente, para escrever sobre integraçãoeconômica, no momento que elas estão acontecendo, deve-se ter cuidadosextras. É um assunto ainda não finalizado, em que as discussões estão emandamento e, por conseqüência, seus rumos se alteram constantemente. Éuma ressalva feita nos comentários iniciais deste livro. Ao tratar do assun-to específico da Alca, frente aos seus avanços e recuos, é importante refor-çar o argumento.

Independente do andamento das discussões na Alca, desde 2003, osEstados Unidos estavam formalizando acordos comerciais com os países daAmérica Central, com os membros da Comunidade Andina e ainda com ospaíses do Caribe e com o Chile. Na verdade, praticamente só faltaria umaaproximação maior com o Mercosul. Essa movimentação norte-americanaaumentou depois do encontro de Miami de novembro de 2003 e acelerouum pouco mais em 2004. Como exemplo recente, foi aprovado noCongresso dos Estados Unidos o Tratado de Livre Comércio da AméricaCentral ou, em inglês, Central America Free Trade Agreement, ou CAFTA.

É sugestiva essa movimentação dos Estados Unidos para estabeleceracordos em separado com países da região. O receio é que o Brasil, ao usaro Mercosul como arma para futuras discussões no âmbito da Alca, sejaneutralizado e acabe aceitando mais tarde um acordo com os EstadosUnidos não tão vantajoso como o desejado. Fala-se muito na formação deuma unidade econômica sul-americana, com a integração dos países da

Integração Regional122

Comunidade Andina com os do Mercosul. Se ocorrer, seria a criação dasonhada Alcsa, rebatizada de Comunidade Sul-Americana de Nações, ouCSN, em um encontro de dezembro de 2004 em Cuzco, Peru, e que dariamais peso aos países em negociações comerciais futuras, principalmente naAlca. Contudo, o interessante é que países como Peru, Chile e Colômbiaformalizaram algum tipo de entendimento comercial maior com osEstados Unidos e ao mesmo tempo fariam parte da integração sul-ameri-cana proposta. Não está ainda claro como é que esses diferentes jogos inte-gracionistas se harmonizarão futuramente.

Os acordos bilaterais, estabelecidos pelos Estados Unidos com paísesda área, preocuparam a Federação das Indústrias do Estado de S. Paulo. Emnovembro de 2004, o Conselho de Comércio Exterior da Fiesp apresentouum estudo sobre as preferências tarifárias dadas pelo Chile, em seu acordocomercial com os Estados Unidos. Era superior aos concedidos ao Brasil eos industriais paulistas acreditavam que, a médio prazo, no confronto comos norte-americanos, poderiam perder na venda de produtos para aquelemercado. Pediram até que o governo brasileiro fizesse uma revisão do acor-do do Chile com o Mercosul. O estudo da Fiesp mostra que acordos bilate-rais como esse acabariam prejudicando as exportações da indústria paulis-ta e poderiam até isolar o Brasil comercialmente. Critica a posição doItamaraty na negociação da Alca, defendendo que esta deveria ser aprofun-dada e que ela ajudaria o Brasil a entrar mais no mercado regional. Pareceque o Itamaraty tinha conseguido uma vitória às avessas no encontro denovembro de 2003 em Miami. Quem estava aproveitando o emperramentonas negociações comerciais eram os Estados Unidos e não o Mercosul.

Chama a atenção nos acordos regionais dos Estados Unidos as cláusu-las sobre investimentos e serviços que, em princípio, beneficiam os norte-americanos. Contudo, como contrapartida, nos acordos estabelecidos, ospaíses signatários teriam acesso mais privilegiado ao mercado de bens norte-americano em troca das concessões. Os países que assinaram os acordosmostravam que não concordavam, como queria o Brasil, que alguns paísestivessem acesso igual ao mercado norte-americano com um custo menor. Amaioria dos países achava que as negociações deveriam ser casadas e não iso-ladas. A diplomacia brasileira tentava separar as negociações em níveis dife-rentes, alegando que um não influenciaria o outro. Por outro lado, os

A Integração nas Américas 123

Estados Unidos e seus aliados queriam que o Mercosul seguisse o que já eranorma entre eles. A flexibilização definida no encontro de Miami, em que ospaíses não estariam obrigados a entrar em negociação em setores da econo-mia em que não estivessem preparados, sem que lhes fosse negado o direitode negociar em outros setores, não foi seguida à risca como se imaginava.

O Brasil continua a pedir queda nos subsídios agrícolas nos EstadosUnidos, uma espécie de calcanhar-de-Aquiles dos negociadores norte-americanos. É importante que o Brasil defenda a eliminação ou a diminui-ção desses subsídios, mas um estudo publicado pela Embaixada do Brasilem Washington mostra que esse setor não era a base do comércio entre osdois países, e sim os produtos industrializados.

Uma integração dos Estados Unidos com o Mercosul deve aumentaro comércio do país com o Brasil, o que é uma pretensão norte-americana.A exportação, no ano 2002, representava apenas 1,15% do total das expor-tações norte-americanas para o mundo. O Canadá importa acima de19%, e o México já ultrapassa os 11% das importações. A diferença éenorme. No entanto, o mercado norte-americano é também atrativo parao Brasil. Em 2002, os Estados Unidos passaram a frente da União Européiacomo principal mercado para os produtos brasileiros. As vendas chega-ram a 15,5 bilhões de dólares. Segundo documento da embaixada brasi-leira em Washington, isso significou 25,7% das exportações brasileiras,com um crescimento de 8%, se comparado com 2001. As exportaçõespara a Europa chegaram a 25,04% do nosso total para o mundo. O Brasilteve um superávit comercial com os Estados Unidos de 5 bilhões de dóla-res ou quase 40% do saldo da balança comercial, naquele ano. O maisimportante de tudo é que os Estados Unidos são os maiores compradoresde produtos industrializados do Brasil. Em 2002, receberam 35,6% dasvendas nacionais. A União Européia comprou menos da metade, ou16,47%, de bens manufaturados. Os nossos produtos exportados para osEstados Unidos têm melhor qualidade e valor agregado. Não é um merca-do desprezível. Se a Alca vier para melhorar ainda mais essa atual situaçãoseria interessante. Os Estados Unidos, em uma futura integração, quertambém aumentar suas vendas para o Brasil. Hoje a balança comercial éfavorável ao nosso país. Os dois lados têm, portanto, interesses diretos noprocesso em andamento.

Integração Regional124

A reclamação do Brasil e dos demais países do Mercosul na Alca, é sobreos subsídios agrícolas nos Estados Unidos. A atuação dos negociadores dobloco é basicamente nessa direção. Entretanto, talvez esteja faltando um tra-balho mais coordenado e direto dentro dos Estados Unidos para tentar alte-rar a prática norte-americana. Paul Krugman, um dos mais importantes eco-nomistas daquele país, em artigo para o jornal The New York Times, levantouum dado que poderia ser mais explorado pelos membros do Mercosul naluta pela quebra do subsidio agrícola nos Estados Unidos. Ele diz que, alémdo fator econômico, outro argumento interno para manter o subsidio seriapreservar uma parte importante da cultura norte-americana que não podedesaparecer, que no campo estariam fortes valores culturais e de comporta-mento do país. Ele fez uma pesquisa nas regiões agrícolas sobre alcoolismo,divórcio, violência e outros itens da atualidade e comparou com zonas urba-nas e populosas do país. Chegou à conclusão de que elas estão praticamenteno mesmo patamar que outras partes do país. Seu ponto de vista é que atéesse antigo argumento não justifica mais o subsidio. O que talvez falte parao Mercosul é um trabalho de lobby nos Estados Unidos para explorar aspec-tos como esse. O México fez isso na época da discussão do Nafta.

A Alca está ainda em desenvolvimento. Não será efetivada em curtoespaço de tempo. É só olhar o que ocorreu na Europa, onde as economias sãomais equilibradas entre si e os meios de transportes ajudavam na integração,para perceber o quanto ainda precisamos andar na busca de uma efetivaintegração continental. Avanços e recuos, pressões, aberturas, ganhos e per-das farão parte do processo. Haverá ainda muito choro e reclamações. A dife-rença entre as economias da região é muito grande, o que é um fator preo-cupante. Sugerem os fatos atuais que a situação pode estar piorando para amaioria dos países. É claro que o comércio abrangente e positivo pode aju-dar no crescimento econômico regional, e espera-se que isso realmente ocor-ra. Todavia, os números da atualidade latino-americana preocupam.

Na Cúpula Extraordinária das Américas, em Monterrey, México, emjaneiro de 2004, a OEA apresentou um documento sobre a atual situaçãoda América Latina que chamou a atenção. Mostrou que, apesar das refor-mas econômicas realizadas nas últimas duas décadas, a pobreza aumentoue a desigualdade também. Diz que os encontros da Alca têm se preocupa-do com essa desigualdade, mas que nada de efetivo ainda ocorreu, que o

A Integração nas Américas 125

gap entre os lados está aumentando e que poderia até mesmo ameaçar ademocracia na área. A renda se concentrou mais, as desigualdades aumen-taram em uma população de mais de 550 milhões de pessoas. Diz o docu-mento que 220 milhões de pessoas, ou 44% da população, vivem na po-breza. Desse número, um quinto está na extrema pobreza. Os 10% mais ri-cos da população ficam com 48% da renda, enquanto os 10% mais pobresdividem apenas 1,6% da riqueza regional. O documento diz ainda que 58milhões de pessoas na região estavam desempregadas e que 80 milhõesestão na economia informal. O documento da OEA enfatiza que o princi-pal problema da área é a pobreza, mas ela não apresenta sugestões adequa-das que ajudem a tirar parte da população regional dessa situação. Quemsabe a integração econômica, se for bem feita e equilibrada, em que todosos lados ganhem e não somente as economias mais fortes, poderia ser umdos caminhos para a melhora de condições de vida de milhões de pessoasde toda a região. A Alca, uma das poucas alternativas em andamento, passaa ser assunto importante do momento regional.

Entretanto, o assunto ainda não deslanchou. O exemplo mais recentefoi o encontro de novembro de 2005, em Mar Del Plata, Argentina, de diri-gentes de países latino-americanos, exceto de Cuba, para discutir aspectosda Alca e formas de aumentar emprego e melhorar a qualidade de vida damaioria das pessoas da região.

No encontro, o impasse entre o Mercosul e os Estados Unidos sobrea Alca continuou. As questões agrícolas, de serviço e propriedade intelec-tual emperraram uma vez mais os trabalhos dessa tentativa de integraçãoeconômica. Empurraram aquelas decisões para o encontro da OMC emdezembro daquele ano, em Hong Kong.

Dois fatos naquele encontro chamaram a atenção. Um deles foi o fatode 29 países, entre os 34 presentes, terem aceitado continuar a discussãosobre a Alca. Vicente Fox, presidente do México, foi o porta-voz dessa deci-são. Ficaram de fora os quatro países do Mercosul, mais a Venezuela. Umoutro fato foram as falas de Hugo Chaves, presidente da Venezuela, de quea Alca estava “morta”. Propunha em seu lugar a Alba ou AlternativaBolivariana para as Américas, que tem Venezuela e Cuba como parceiros.A Venezuela, em dezembro de 2005, em encontro ocorrido emMontevidéu, foi incorporada ao Mercosul.

Integração Regional126

A Integração nas Américas 127

Os Estados Unidos estão fazendo acordos comerciais em toda aregião, incluindo os países dos Andes, onde se situa geograficamente aVenezuela. Começando a ficar isolado, Chaves buscou abrigo no Mercosule, ao seu estilo, já falava em nome dessa integração. Na verdade, o encon-tro de Mar del Plata mostrou que não existe ainda clima adequado paraseguir com a Alca. Brasil e Estados Unidos dividiam, na reta final dosentendimentos, o comando do processo, e os dois países não fizeram esfor-ços para chegar a um acordo total.

O receio é que mais à frente a maior parte dos países latinos-america-nos faça acordos com os Estados Unidos, que talvez sejam extensivos aoutros da região, e que o Brasil e o Mercosul fiquem de fora. Se ocorresse,sem tratado especial de integração que modificasse tarifas para o comér-cio, o país poderia ter dificuldades em exportar para a área.

A I n t e g ra ç ã o n a Á s i a

A Ásia e a Economia Internacional: Expansão e Crise

O continente asiático vem despertando, já há algumas décadas, um grandeinteresse entre acadêmicos, economistas, historiadores, jornalistas, empre-sários, estadistas, enfim, em todos que se interessam em entender o mundocontemporâneo e as tendências futuras, tanto políticas e econômicas quan-to tecnológicas. Não resta dúvida, portanto, para a maior parte dos expertsem diversas áreas do conhecimento, de que a Ásia se transformou e se con-solidou como uma região sumamente importante e muito dinâmica paraa economia internacional.

Um informe do Banco de Desenvolvimento da Ásia (BDA), por exem-plo, apresentado durante sua trigésima Assembléia, em Fukuoka, no Japão,realizada a 12 de maio de 1997, informa que aproximadamente 25% doPIB mundial poderá concentrar-se na região asiática nas décadas iniciaisdo século XXI. E, indo mais além, afirma que os países de industrializaçãorecente do continente, especialmente Coréia do Sul, Cingapura, Taiwan e azona de Hong Kong poderão alcançar, por volta de 2025, quase os mesmosníveis do PIB per capita dos Estados Unidos. Estima ainda que cerca de46% desses mesmos índices poderão ser alcançados também por Filipinas,Indonésia, Malásia e Tailândia, o que significa um crescimento notávelpara uma região que era, até bem pouco tempo atrás, considerada subde-senvolvida em sua quase totalidade, sobretudo nos indicadores econômi-cos e sociais. O mesmo documento estipula, ainda, que a elevação dessespaíses a patamares melhores de distribuição de renda entre suas popula-

ções, provocará uma verdadeira revolução em termos econômicos, políti-cos e sociais, colocando, de forma indelével, a região como um dos maio-res e mais dinâmicos centros da economia mundial. Apesar disso, estima-se que esse fenômeno irá gerar uma forte dose de urbanização – calcula-seque, pela tendência atual, esse fenômeno levará a uma exacerbada concen-tração urbana e provocará o surgimento de várias megacidades formadaspor até 30% de toda a população do continente – o que seria desastroso,caso não haja uma política muito bem dirigida para que esse crescimentonão aconteça, de uma maneira minimamente organizada.

Desde meados da década de 1970, enquanto a maior parte das econo-mias nacionais entrou em crise ou diminuiu o ritmo de crescimento, nocontinente asiático verificou-se um fenômeno diferente. Gradativamente,o Japão, a China e outros países da região acabaram entrando em um cicloeconômico virtuoso, que vem estimulando e realimentando o dinamismoeconômico e comercial na Ásia. Esse fato já gerou várias análises indican-do que possivelmente o centro mais dinâmico do sistema capitalista tenhainiciado o seu deslocamento dos Estados Unidos da América e da Europaocidental para a Ásia, que, enfim, poderá se constituir como o grande cen-tro da economia mundial no século XXI.

Ainda é cedo para especulações de tal magnitude, haja vista que é nomínimo questionável a idéia de uma crise sistêmica do capitalismo norte-americano, indubitavelmente o mais dinâmico da economia internacional,pelo menos desde meados do século XX, e que, ainda hoje, dá mostras devigor e prosperidade. No entanto, não há como negar a importância cadavez maior de países como Japão, China, Índia e Coréia do Sul na economiae política mundiais.

Como resultado desse ciclo de expansão, algumas economias asiáti-cas têm conseguido atrair cada vez mais investimentos internacionais,além de alcançarem altas taxas de crescimento do Produto Interno Bruto,destacando-se entre elas a China e a manutenção do ciclo de crescimentoe de dinamismo econômico e tecnológico do Japão. Assim, do ponto devista econômico, é impossível desconsiderar os grandes avanços obtidospelos países asiáticos. O fenômeno da globalização, especialmente a aber-tura dos mercados nacionais para o comércio internacional, em certosentido potencializou um crescimento que já vinha de décadas atrás.

Integração Regional130

O mundo assistiu a um verdadeiro salto adiante das economias de váriospaíses, sobretudo daqueles que passaram a ser conhecidos como os TigresAsiáticos (Coréia do Sul, Hong Kong, Taiwan, Cingapura, Indonésia,Malásia, Tailândia e Filipinas) – os quais souberam não desperdiçar aoportunidade concedida pela política de liberalização comercial, verifica-da nas décadas de 1980 e 1990.

Entretanto, vale destacar que o crescimento dessas economias vem deantes da abertura comercial verificada em larga escala durante a década de1980. Esses países asiáticos foram capazes de reunir condições específicasque promoveram, durante um bom período, altas taxas de crescimento doPIB. Em comum, essas economias apresentaram elevadas taxas de pou-pança interna, capacidade para atrair investimentos estrangeiros, conside-ráveis investimentos em educação – melhorando o perfil geral de suaforça de trabalho (mesmo que não em um nível muito elevado) – e umapolítica agressiva de integração ao mercado mundial via incentivos àsexportações. O sucesso desses países fomentou, inclusive, uma espécie demodelo que muitos analistas consideravam que deveria ser seguido poroutros países, valorizando especialmente o fato de as economias asiáticasbuscarem o crescimento ancoradas no mercado externo. Ou seja, suasplantas industriais priorizavam as exportações, à medida que, interna-mente, valorizavam-se a poupança e o consumo moderado, em geral con-dicionado por taxas salariais relativamente baixas. Vale mencionar tam-bém que ao Estado foi reservado um papel de coordenador do desenvol-vimento, sem que se aplicasse um programa amplo de estatização assen-tado em bases nacionalistas.

Amparados por um contexto econômico internacional favorável e emsistemas econômicos eficientes, os ganhos de produtividade, associadosgeralmente a baixos salários e altas taxas de poupança interna, como já res-saltado, acabaram promovendo uma quase revolução em suas economiasnacionais. O papel dos dois gigantes econômicos regionais foi e continuasendo de extrema importância para esse ciclo de crescimento. Tanto oJapão quanto a China desempenham, portanto, um papel essencial para odinamismo regional. Contudo, não é de se desprezar a importância de eco-nomias menores, mas não menos dinâmicas. Assim, a Coréia do Sul, porexemplo, quase conseguiu atingir um nível de desenvolvimento econômi-

A Integração na Ásia 131

co e social, comparável ao das nações mais desenvolvidas do planeta, tendoconseguido, inclusive, desenvolver tecnologias sensíveis em alguns setoreseconômicos estratégicos (vide, por exemplo, equipamentos eletrônicos eautomóveis que disputam mercados com empresas multinacionais ouempresas atuantes nos países mais desenvolvidos).

Há que se observar, todavia, que o desenvolvimento econômico alcan-çado por políticas comerciais agressivas, não gerou, por si só, uma melhorcondição social para a maior parte da população dos países asiáticos.Como dito anteriormente, o nível salarial ainda é baixo (fator estimulantepara os investimentos diretos estrangeiros na região, uma vez que amplia amargem de lucro para quem quer produzir com um custo menor) e asdesigualdades sociais são de grandes proporções, com índices de desenvol-vimento humano que deixam muito a desejar. Países como a Índia, e quasetodos do sudeste asiático, apresentam um quadro social preocupante, dedifícil solução em curto ou médio prazos. Suas mazelas sociais ficaram bas-tante evidentes na época do maremoto (Tsunami) que atingiu a região noinício de 2005, mostrando quão frágeis ainda são esses países no planosocial.

A questão política também não é das mais estáveis. A Ásia é um con-tinente explosivo. Além de persistirem problemas antigos relativos a deli-mitações de fronteiras (por exemplo, Índia e Paquistão, Índia e China), háoutros de ainda maior complexidade, como questões étnicas e religiosas,que trazem enorme grau de instabilidade nacional e regional. Divergênciaspolíticas que remontam à época da Guerra Fria também são uma realida-de problemática para a região: a manutenção do regime “comunista” naCoréia do Norte e sua intenção de desenvolver um programa nuclear comfinalidades bélicas e agressivas, especialmente visando o Japão e a Coréiado Sul, é alarmante, para citar o exemplo talvez mais grave.

Além da Coréia do Norte – embora seja ainda duvidosa sua capacida-de nuclear –, é importante salientar que outros países asiáticos já possuemarsenais nucleares. Paquistão, Índia e China são consideradas potênciasnucleares e não escondem sua capacidade atômica. Ao contrário, esses paí-ses participam de uma verdadeira corrida nuclear, cada qual buscandomaior desenvolvimento e autonomia nesse campo. Aliás, a China já foi aléme visa também a conquista espacial. O ponto mais problemático, nesse sen-

Integração Regional132

tido, está relacionado com as disputas fronteiriças e ideológicas entre osdiferentes regimes que comandam os três países citados (o Paquistão équase uma República Islâmica; a Índia, um regime hinduísta que, se nãopossui pretensões de confronto, também não aceita a expansão islâmicasobre suas fronteiras; e a China, uma República Popular de tipo comunista,muito embora esteja a cada dia se tornando mais e mais capitalista).

A existência dessas potências de caráter regional e suas respectivasdivergências políticas, ideológicas e religiosas acabaram extrapolando oslimites desses três Estados e contaminando quase toda a região. Entre ou-tros fatores, e talvez o mais importante, esse quadro gerou uma espécie decorrida armamentista que levou a Ásia a se transformar no maior merca-do de armamentos do mundo, incluindo todo tipo de armas convencionaisdisponíveis no mercado internacional, desde pequenas armas até os maissofisticados artefatos.

À parte todas essas questões sensíveis de natureza política, do ponto devista econômico, e tendo em mente o avanço e o dinamismo dos mercadosasiáticos, os países da região buscaram estabelecer formas de cooperaçãoeconômica e integração regional. Como foco deste trabalho, analisaremoscomo ocorreu a formação dos dois principais blocos do continente asiáticoe da área da Ásia-Pacífico, seus objetivos e estágio atual de desenvolvimento.

Associação das Nações do Sudeste Asiático: Asean

A Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean) foi fundada em1967, tendo sido o primeiro bloco econômico formado por países asiáti-cos. O objetivo dos fundadores do bloco foi estabelecer condições para a cooperação e assistência mútua entre os Estados membros. Originalmente,cinco Estados participaram da fundação da Asean: Indonésia, Malásia,Filipinas, Cingapura e Tailândia. Reunidos em Bangkok, capital daTailândia, em 1967, os ministros das Relações Exteriores desses cinco paí-ses assinaram a Declaração de Bangkok, primeiro documento a formalizara criação do grupo.

A Declaração de Bangkok abria a possibilidade de inclusão de novosmembros no bloco em formação, almejando mesmo, no futuro, a partici-

A Integração na Ásia 133

pação de todos os países do sudeste asiático que tivessem interesse em par-ticipar do esquema de cooperação, ainda em fase de nascimento. Assim,mais tarde, outros cinco países aderiram ao grupo original, chegando aAsean aos atuais dez membros, com a adesão de Brunei (1984), Vietnã(1995), Laos (1997), Myanmar (1997) e Camboja (1999). Além desses paí-ses, Papua Nova Guiné tem o status de observador, preparando-se parafuturamente aderir como membro pleno. Da mesma forma, é possível vis-lumbrar, para um futuro não muito remoto, a entrada de Timor Leste,novo Estado criado a partir da autonomia obtida frente à Indonésia.

O estabelecimento da Asean, em 1967, baseado na Declaração deBangkok (também conhecida como Asean Declaration) – não previa umesquema de integração profundo, como o caso europeu. A idéia inicial erabastante realista para os padrões regionais e até mesmo para o contextointernacional da época, marcado profundamente não só pela Guerra Fria,mas também e principalmente por tratar-se de uma região na qual a“guerra quente” estava em pleno desenvolvimento – no caso a Guerra doVietnã somada à experiência prévia da Guerra da Coréia e da divisão dopaís – e igualmente condicionada pela existência dos regimes comunistaschinês e norte-coreano. A intenção era formar um esquema de assistênciamútua e de cooperação para resolução de problemas comuns aos paísesda região, muitos deles ligados ao subdesenvolvimento e às graves ques-tões sociais daí decorrentes. É importante destacar também, o fato de acooperação aparecer, aos olhos dos dirigentes dos países da região, umanecessidade urgente, em oposição ao desolador quadro de instabilidadepolítica gerado pela Guerra do Vietnã e seus desdobramentos nos planosregional e internacional.

Assim, no momento da criação da Asean, seus objetivos indicavamclaramente o caminho da cooperação política, buscando obter um climade paz no sudeste da antiga Indochina, ao mesmo tempo em que almejavaencontrar elementos aglutinadores frente ao avanço da ideologia comunis-ta na região, vista pela maior parte dos países como uma espécie de inimi-go comum. Como ressaltado, o cenário da Guerra Fria e sua implicaçãodireta no contexto regional – marcado por conflitos e tensões com o Vietnãe a República Popular da China, além da situação extremamente conturba-da vivenciada pelo Laos e Camboja – acabaram por se constituir pontos

Integração Regional134

primordiais da agenda de cooperação política entre os Estados membrosque, naquele momento, começava a tomar corpo. Existiam, portanto, algu-mas afinidades políticas voltadas para o campo defensivo, e essas afinida-des começaram a gerar áreas de convergência, reforçadas por similaridadessociais e econômicas dos países membros. A idéia inicial, nessa etapa doprocesso de constituição da Asean, assumiu uma perspectiva especial natarefa de encontrar mecanismos de solução pacífica de controvérsias, daí aênfase na segurança regional como elemento aglutinador.

Ainda com relação aos objetivos e propósitos inicialmente lançadosno processo de formação da Asean, destacam-se como elementos aglutina-dores, além da questão da segurança regional, os seguintes pontos:

a) Acelerar o crescimento econômico, o progresso social e o desenvol-vimento cultural na região.

b) Promover a paz e a estabilidade regional (aspectos voltados para ocampo da segurança).

c) Promover uma colaboração e assistência mútua, ativa em matériasde interesse comum nos campos econômico, social, cultural, técni-co, científico e administrativo.

d) Prover assistência mútua na forma de facilidades para treinamen-to e investigação nas esferas educacional, profissional, técnica eadministrativa.

e) Colaborar mais efetivamente para a maior utilização de suas ativi-dades agrícolas e industriais, a expansão do seu comércio exterior,incluindo o estudo dos problemas do comércio internacional decommodities, melhorias nos sistemas de transportes e comunica-ções e a elevação do nível de vida de suas populações.

f) Promover estudos sobre a região do sudeste asiático.g) Manter uma cooperação mais ativa e positiva com organizações

internacionais e regionais, com objetivos de criar condições para oestreitamento dos seus laços com a Asean.

Em essência, a Declaração de Bangkok enfatizava que a cooperaçãonos campos econômico, social, cultural, tecnológico e educacional figura-vam como objetivos primordiais da criação da Associação. Ademais, a pro-

A Integração na Ásia 135

moção da paz e estabilidade na região também eram vistas como condiçãosine qua non para que os Estados da região pudessem alcançar algum nívelde prosperidade econômica.

A evolução econômica dos países do sudeste asiático, que em muitossentidos apresentava um nível similar, foi muito importante para a imple-mentação da cooperação regional. Essas economias, desde meados dadécada de 1960, figuram entre as que apresentam maior taxa de crescimen-to no plano mundial, com uma taxa variando entre 6% e 10%, no períodode 1965 a 1980. Com exceção de Cingapura, todos os países da região pos-suem recursos naturais variados, sendo que, em sua pauta de exportações,produtos primários como estanho, azeite de palma, produtos de coco eseus derivados, arroz, açúcar, petróleo e gás natural, sempre tiveram gran-de importância em seu comércio exterior.

As autoridades da Asean tiveram o cuidado de evitar, no início do pro-cesso de formação do bloco, a utilização do termo “integração econômica”.Tratava-se de uma medida realista, haja vista que o ritmo da cooperação eda integração nunca foi imposto aos países membros. Era preciso, primei-ro, se dedicar à construção da idéia de comunidade, muito fraca na região.Dessa forma, em seus primeiros anos de vida, não se registraram grandesprogressos no que tange à cooperação orgânica, porém, ampliou-se grada-tivamente uma concertação política no plano intergovernamental.

A primeira fase para a criação da Zona de Livre Comércio foi o esta-belecimento de tarifas preferenciais comuns, em um esquema iniciado em1992, com a assinatura da Declaração de Cingapura, portanto, vários anosapós a criação do bloco. Decidiu-se que a Zona de Livre Comércio deveriaestar em pleno funcionamento em um período de 15 anos, o que demons-tra um certo realismo por parte do negociadores. Ficou definido tambémque a redução tarifária seria gradual e resultados concretos, no sentido deampliar substancialmente o comércio intrabloco, deveriam estar ocorren-do em 2008.

Contudo, em uma análise mais crítica, pode-se facilmente observarque a Asean não conseguiu, pelo menos em suas duas primeiras décadas deexistência, aprofundar os laços cooperativos e de desenvolvimento harmô-nico na área do sudeste asiático. Dificuldades de naturezas diversas, massobretudo condicionadas pelo grupo heterogêneo de países da região, mal-

Integração Regional136

grado suas similaridades no plano econômico, e agravados pela bipolariza-ção ideológica dos anos da Guerra Fria, fizeram com que a evolução daintegração regional no âmbito da Asean assumisse um ritmo lento. Dequalquer forma, a evolução do bloco regional não se distinguiu tanto dosdemais, pelo menos não nessa fase histórica. A única exceção, de fato, foi oprocesso de integração ocorrido na Europa, como visto em outro capítulo.

Ao longo dos anos 70 e 80, contudo, a situação começou a se alterarem boa parte do sudeste asiático, e cada vez em ritmo mais acelerado.Enquanto a maior parte dos países da América Latina e da África, ou seja,das regiões caracteristicamente subdesenvolvidas do globo, mantinhamum nível pífio de crescimento econômico, um grupo de países daquelaregião iniciou um processo de desenvolvimento acelerado e contínuo,dando origem ao que mais tarde se chamou de “Tigres Asiáticos”.

Nesse ponto, faz-se necessária uma observação em termos compara-tivos da região do sudeste asiático com outras áreas do hemisfério sul.Embora boa parte dos países da América Latina e alguns africanos tenhamconseguido manter taxas relativamente altas de crescimento econômico,principalmente durante a década de 1970, o modelo de desenvolvimentoadotado pelos países dessas regiões logo deu mostras de esgotamento,tendo sido a década seguinte, ou seja, a de 1980, considerada uma quase-catástrofe em termos econômicos e sociais. Enquanto isso, e aí está o dife-rencial entre a Ásia e a América Latina e a África, a maior parte das econo-mias asiáticas continuou crescendo. E mais, incentivados direta e indireta-mente pela expansão das economias da China e do Japão, houve um ciclode crescimento acima da média mundial.

O processo de desenvolvimento, entretanto, não levou automatica-mente ao aprofundamento do processo de integração econômica duranteaquelas duas décadas, de 1960 e 1970. Somente com o fim da Guerra Friae o avanço do processo de globalização, é que a Asean, como Bloco, reno-vou-se. Com efeito, o novo contexto internacional, tendo como pano defundo a nova fase de internacionalização do capital conhecida comoGlobalização, praticamente forçou os Estados-nação, para se adaptarem amundo cada vez mais competitivo e liberalizado, a reforçar os laços deintegração, que, ao mesmo tempo, visavam a esquemas de cooperaçãoregional para promoção do desenvolvimento econômico e inserção inter-

A Integração na Ásia 137

nacional menos desvantajosa em um mundo extremamente agressivo doponto de vista comercial e financeiro.

A cooperação econômica entre os países membros da Asean só come-çou a tomar uma direção mais firme a partir de 1976. Nos dias 23 e 24 defevereiro daquele ano ocorreu, em Bali (Tailândia), a primeira Reunião dosChefes de Estado na qual os países membros firmaram dois documentosfundamentais para o aprofundamento da integração: o Tratado de Amizadee Cooperação e a Declaração de Bali.

Ambos os documentos, que formalizaram acordos que já estavam emnegociação, visavam a consolidar o processo de integração. Destarte, ospaíses membros se comprometeram a adotar uma política de respeitomútuo, relativo à soberania de cada nação, ou seja, prevaleceu o mecanis-mo tradicional de não interferência nos assuntos internos dos Estados par-ticipantes, uma fórmula que visava a respeitar os diferentes regimes políti-cos adotados pelos países membros. Além disso, comprometeram-se tambéma buscar soluções pacíficas para eventuais disputas regionais e esta-beleceram políticas de cooperação em vários outros campos, como educa-cional, científico, técnico e profissional, reafirmando posturas previamen-te discutidas no momento da formalização do bloco.

Vale reafirmar a idéia de que a adoção de uma política de respeitomútuo e de não interferência em assuntos internos dos países foi um pontode grande destaque para que a integração regional pudesse prosseguir.Com efeito, o grupo de países que formam a Asean caracteriza-se, antes detudo, por ser bastante heterogêneo, com várias diferenças em diversos seto-res, como o cultural, social, político, étnico e religioso.

Com relação às iniciativas comerciais houve, igualmente, importantesavanços, pelo menos no plano das idéias. Os membros se comprometerama colocar em pauta a discussão da liberalização comercial, mesmo que aprevisão fosse de longo prazo. No cerne dessas discussões estava a forma-lização de acordos preferenciais de comércio, baseados em princípios maisflexíveis para atender a interesses específicos das economias nacionais. Ocombinado foi, inclusive, que não seriam fixadas metas ou prazos para aliberalização comercial e nem tampouco decidiu-se concretamente pelaformação de uma zona de livre-comércio, muito embora essa fosse umameta a ser buscada.

Integração Regional138

Acabou prevalecendo, entre as lideranças da Asean, uma grande preo-cupação com relação a aspectos relativos à temática da segurança. Isso emdetrimento, naturalmente, de políticas comerciais mais concretas. O propó-sito do Tratado de Amizade ainda se baseava na idéia de paz perpétua ecooperação, assumindo uma feição um tanto idealista. Os princípios funda-mentais definidos pelo Tratado de Amizade ilustram bem essa preocupação:

a) Respeito mútuo pela independência, soberania, igualdade, integri-dade territorial e identidade nacional entre os Estados membros.

b) O direito de cada Estado de definir sua política nacional, livre deinterferências ou coerções externas, e a não interferência em assun-tos internos de outros Estados.

c) Solução de disputas por meios pacíficos e a conseqüente renúnciaà ameaça e ao uso da força na solução de controvérsias.

d) Cooperação efetiva entre os Estados membros.

Assim, nos anos 90, a Asean buscou renovar-se, seguindo a tendênciamundial de fortalecimento dos esquemas regionais de integração. Partindode uma perspectiva positiva e ancorada nos altos índices de crescimentoverificados nas décadas anteriores e procurando não perder o dinamismoalcançado, os países membros decidiram promover a criação de uma Zonade Livre-Comércio. Iniciou-se um planejamento visando à eliminação debarreiras tarifárias e não-tarifárias que persistiam e dificultavam um maiorintercâmbio comercial intrabloco. Além disso, havia a perspectiva de que aZona de Livre-Comércio poderia propiciar maior atração de investimentosestrangeiros para as economias nacionais.

Os países membros da Asean apresentam um quadro de disparidadestanto no plano econômico quanto no político. Alguns seguem modelospolíticos mais abertos, até mesmo democráticos, enquanto outros pos-suem regimes mais fechados, de tipo comunista, como é o caso do Vietnã.Em termos econômicos, há uma grande diferença no que tange ao nível dedesenvolvimento econômico, sendo que algumas economias são maisdinâmicas, competitivas e complexas do que outras.

No que diz respeito às disparidades econômicas e ao diferenciadonível de desenvolvimento econômico citado anteriormente, este é o padrão

A Integração na Ásia 139

universal, não havendo nenhuma especificidade com relação aos demaisblocos regionais. Do ponto de vista político, contudo, os países membrosda Asean assumem de forma natural suas diferenças de regimes e não bus-cam criar nenhum parâmetro uniforme ou homogeneizador. Não há,como no Mercosul, na Alca ou na União Européia, por exemplo, nenhumtipo de cláusula democrática que imponha a democracia aos participantes.Aliás, desde a sua fundação, o consenso referia-se ao respeito à autonomianos assuntos políticos internos de cada Estado membro, não admitindo-seingerências do bloco nesse campo.

A Conferência Econômica para a Região da Ásia-Pacífico:Apec

Outro bloco que se destaca no contexto internacional de formação deblocos regionais é o designado Cooperação Econômica para a Região daÁsia-Pacífico, Apec. Criada em 1989, em Camberra, Austrália, e contandoatualmente com 21 membros, a Apec é o maior bloco econômico do pla-neta. Assim como a Asean, conta com países de diferentes regimes de go-verno e de variada dimensão em termos de desenvolvimento econômico,sendo alguns de seus membros bastante desenvolvidos e outros ainda emestágio prematuro de desenvolvimento econômico e social. De qualquerforma, mesmo com um quadro tão heterogêneo, o bloco possui uma capa-cidade produtiva impressionante, sendo responsável por cerca de 46% dasexportações mundiais e detentor de um nível populacional estimado emmais de 2,5 bilhões de pessoas.

O surgimento da Apec esteve relacionado a um fórum de conversa-ções que envolvia os países membros da Asean e outros parceiros econô-mico-comerciais da região do sudeste asiático, além de englobar as eco-nomias desenvolvidas dos Estados Unidos e do Japão. Foi somente em1994, que os países envolvidos na formulação do bloco decidiram daruma feição mais institucional ao arranjo de integração, na Conferênciade Seatle, nos Estados Unidos. Naquela ocasião, seus representantes deci-diram promover, na vasta região do Pacífico, uma ampla área de livre-comércio.

Integração Regional140

Não resta dúvida de que um dos fatores que mais impulsionou a cria-ção da Apec foi o grau de desenvolvimento econômico alcançado pelaseconomias de parte do sudeste asiático, durante as décadas de 1970 e 1980,conforme visto com relação aos países membros da Asean no item ante-rior. Deve-se igualmente considerar como decisivo o fato de a região con-tar com a presença de economias em expansão como a chinesa, e com apresença estratégica do Japão, por si só um ator de grande dinamismo eco-nômico e tecnológico. Além disso, os interesses dos Estados Unidos naregião são antigos e estratégicos, o que também potencializou o interessedo país na criação de um bloco econômico que pudesse promover seusinteresses comerciais na área em foco.

Naturalmente, o contexto de criação da Apec também estava forte-mente relacionado ao processo de internacionalização e regionalizaçãoretomados com mais vigor desde a década de 1980. Não se devedesconsiderar o interesse dos Estados Unidos na região, haja vista suapotencial rivalidade com o Japão, concorrente de peso dos norte-america-nos nos mercados regionais. Além do Japão, a expansão dos investimentos,principalmente em Hong Kong, China, Coréia do Sul e Taiwan, foi outrofator que definitivamente chamou a atenção dos Estados Unidos para aárea do pacífico.

Temas relativos à segurança regional, e mesmo internacional, foramfatores importantes para a elaboração do esquema de cooperação regionalvia integração econômica. Como já destacado anteriormente, o continen-te asiático não é caracterizado somente pela expansão do capital e pelo seudinamismo econômico, mas também por ser uma região de conflitosideológicos, étnicos, religiosos e, até certo ponto, nacionalistas. A milita-rização e o perigo decorrente de enfrentamentos bélicos, em área providapor armamentos nucleares, necessariamente colocaram na agenda dasrelações internacionais, tanto políticas quanto econômicas, o imperativode algum tipo de mecanismo de cooperação para o entendimento políti-co naquela área.

Do ponto de vista estritamente econômico, a Apec tem como meta,como todo processo negociado de integração econômica, promover odesenvolvimento das economias dos seus membros. Assim, a idéia dacriação da zona de livre-comércio não visa, nem mesmo a longo prazo,

A Integração na Ásia 141

ao aprofundamento do processo de integração comparado à UniãoEuropéia ou ao Mercosul, por exemplo, mas sim criar condições paraampliar o comércio intrabloco, promovendo arranjos institucionais paraa incorporação de economias pujantes como a norte-americana, a chine-sa e a japonesa.

A criação e o desenvolvimento da Apec como bloco econômico têmsido um processo lento e baseado no consenso. Na verdade, a idéia de cria-ção de um bloco tão heterogêneo impõe certas condições que, naturalmen-te, demandam um longo tempo de maturação e exaustivas negociações. Noentanto, uma análise da evolução do bloco permite observar que muitosavanços foram conseguidos pelos países membros, em diversos setores.

Entre os aspectos positivos da criação da Apec, está o desenvolvimen-to das economias dos países membros que expandiram seus mercados,sendo que, hoje em dia, além de terem conseguido significativo aumentode produtividade, o bloco é responsável por cerca de 50% das exportaçõesmundiais. Como a maior parte dos Estados membros é asiática, deve-senotar também que houve uma grande aproximação entre a economianorte-americana e a dos países do Pacífico, além de esquemas que propi-ciaram o aumento do intercâmbio com a União Européia e o crescimentoda Austrália como exportadora de matérias-primas para outros paísesmembros do bloco.

No entanto, existem também alguns aspectos negativos na Apec, nosentido em que resultam em problemas para a concretização de um blocoeconômico mais integrado e harmonizado. Entre esses aspectos negativos,saliente-se que um de seus maiores problemas, senão o maior, é uma gran-de dificuldade em fazer coincidir os interesses dos países membros maisimportantes da Ásia e dos Estados Unidos da América com alguns dosinteresses relacionados a outros países do próprio bloco, como Peru, NovaZelândia, Filipinas e mesmo o Canadá, mais próximos dos norte-america-nos tanto em termos geográficos quanto econômicos. Além disso, o blocoteve, até pouco tempo atrás, pequena participação em relação à Organi-zação Mundial do Comércio, mesmo sendo responsável por produzir emovimentar grande parte do comércio mundial.

Esse aspecto, na verdade, já pode ser considerado superado, pelomenos em termos de seus princípios, uma vez que, além da mudança no

Integração Regional142

enfoque de suas relações com a OMC, todos agora já participam destaorganização. No último encontro da Apec, por exemplo, ocorrido emPusan, na Coréia do Sul, em novembro de 2005, os líderes do bloco foramenfáticos ao solicitar à OMC que reavivasse a Rodada Doha sobre liberali-zação comercial, com o objetivo de reduzir os entraves ao pleno desenvol-vimento do comércio mundial. Estabeleceram que o desejável, inclusive,seria que a Rodada Doha pudesse alcançar resultados efetivos antes do fimde 2006.

No contexto das iniciativas para o livre-comércio, os ministros da Apeccolocaram que, entre as medidas práticas a serem adotadas para atingir oobjetivo da liberalização, iriam trabalhar para simplificar as transaçõesalfandegárias e reduzir os custos das transações regionais. Aproveitaramtambém para criticar a postura européia com relação à política de subsídiosagrícolas, que consideram altamente prejudicial para o pleno desenvolvi-mento do comércio internacional, sobretudo porque provoca desvios decomércio e trava a pauta de negociações no âmbito da OMC.

Assim, atuando como um organismo intergovernamental de consultae cooperação econômica, a Apec constitui-se em um bloco econômico quevisa a promover a abertura dos mercados para dar início à integração entrevinte países, incluindo o território de Hong-Kong. Foi institucionalizadaem 1993 com a pretensão de criar uma zona de livre-comércio planejadapara estar operando em 2020, meta considerada por muitos analistas ambi-ciosa, a despeito de sua projeção de longo prazo, haja vista a marcante hete-rogeneidade do bloco e de algumas de suas características específicas, prin-cipalmente pelo fato de agregar economias tão diversas.

Respondendo por cerca de metade do PIB mundial e detendo aproxi-madamente 40% do comércio mundial, é sem dúvida um poderoso blocoeconômico, se pensarmos em termos de números. Além disso, o bloco con-grega uma população de mais de 2,5 bilhões de pessoas, alcançando umPIB em torno de US$18.589,2 trilhões, exportações de US$2.891,4 trilhõese importações de US$3.094,5 trilhões.

Ao longo do seu processo de formação, os representantes das econo-mias membros do Apec mantiveram discussões aprofundadas sobre diversostemas, entre os quais estiveram a definição de uma política de comércioaberto e a contribuição ao sistema de comércio multilateral, a promoção

A Integração na Ásia 143

da liberalização e facilitação do comércio e investimentos, fomento àcooperação econômica e técnica, e a continuação da nova economia e docomércio eletrônico. Ou seja, assuntos que visavam ao aperfeiçoamentodos mecanismos de integração entre os membros do bloco. Além disso,assuntos de natureza não puramente econômica também fazem parte daagenda do bloco, como, por exemplo, a discussão sobre formas de comba-te ao terrorismo internacional e problemas específicos que dizem respeitoao meio ambiente e à propagação de doenças como a recente “gripe aviá-ria”, que, além de ser uma ameaça à vida humana, se constitui também emimportante risco econômico.

Contudo, não há dúvida de que o mais importante no âmbito da Apecdiz respeito ao comércio. As economias dos Estados membros do blocoocupam uma posição vital no sistema de comércio multilateral mundial.Algumas dessas economias, que estão agora apenas se recuperando da crisefinanceira asiática, expressaram suas preocupações com o lento crescimen-to econômico mundial, com a nova tendência ao regionalismo e bilatera-lismo comercial, e com o surgimento do protecionismo comercial, issoporque a maior parte delas, já há algum tempo, se caracteriza por umainserção econômica internacional moldada em agressivas políticas deexportação, muitas vezes em detrimento dos seus respectivos mercadosinternos, limitados por uma série de fatores.

As economias membros da Apec alcançaram o consenso de que exis-te uma necessidade urgente de promover a liberalização e a facilitação docomércio e investimentos, de elevar a cooperação econômica e técnica ede apoiar o lançamento de uma nova rodada de conversações da OMC,com o objetivo de superar as dificuldades atuais e promover o crescimen-to econômico na região da Ásia e do Pacífico, sempre com um viés libera-lizante. Como afirmado anteriormente, trata-se, na verdade, de tentarconsolidar a perspectiva de desenvolvimento, amparado fortemente nomercado externo, uma vez que o ciclo virtuoso das economias asiáticas estáestreitamente associado a sua capacidade de atrair investimentos diretos,ligados ao sistema produtivo que visa, em última instância, aos mercadosexternos.

Devido às grandes diferenças entre as economias membros da Apecem matéria de sistema econômico, desenvolvimento, comércio e nível de

Integração Regional144

A Integração na Ásia 145

liberalização dos investimentos, o equilíbrio de interesses entre os mem-bros desenvolvidos e em desenvolvimento se tornou uma questão-chaveno desenvolvimento da cooperação econômica e comercial multilateralregional. Nesse sentido, as dificuldades de harmonização são enormes edificilmente se poderia pensar em um esquema de integração diferenciadodo modelo que vem sendo adotado no âmbito da Apec, por si só extrema-mente ambicioso.

Naturalmente, a Apec, como qualquer outro bloco, deve levar emconsideração os interesses de cada economia membro. Em particular, aseconomias desenvolvidas devem dar mais ajuda às economias em vias dedesenvolvimento, por meio da cooperação econômica e técnica, paraalcançar um desenvolvimento coletivo, como salientou Alexander V.Karpitch, representante de um dos membros do bloco, a Rússia. O que vemacontecendo na prática, contudo, é que algumas economias têm sido maisbeneficiadas do que outras, sempre dentro da lógica do mercado. Os paí-ses do sudeste asiático, por exemplo, têm se destacado nesse processo decooperação, haja vista que podem contar com esquemas de cooperaçãotanto na órbita da Asean quanto da Apec, sem contar que há um interesseum pouco mais saliente por parte do Japão naquela região, o que ajuda aconsolidar ainda mais os esquemas de cooperação técnica, científica, disse-minação de tecnologias e no plano dos investimentos diretos.

A Apec está realizando atualmente um plano estratégico para o seufortalecimento, incluindo o primeiro grupo de seis programas, visando apromover a capacidade das economias em desenvolvimento do bloco eparticipar da nova rodada de conversações da OMC, ao mesmo tempo quevisa também a realizar os acordos amparados por essa Organização. A for-mulação do marco estratégico, “e-Apec: Construção de uma SociedadeDigital”, foi levada em consideração pelos Estados membros, os quais tam-bém insistem em impulsionar a cooperação econômica e técnica geral emcomércio eletrônico, o que pode ser considerado uma novidade em termosde processos de integração, uma vez que as discussões nesse campo, secomparadas aos demais blocos, estão em um estágio relativamente avança-do. Isso decorre, em parte, de características mais específicas do bloco que,como já salientado, adota uma perspectiva fortemente amparada naexpansão comercial de suas economias.

Em junho de 2000, durante uma reunião de Ministros Responsáveisde Comércio (MRC), os representantes da Apec presentes à reunião alcan-çaram consenso sobre uma ampla gama de assuntos relacionados à novarodada de conversações multilaterais da Organização Mundial doComércio (OMC), a cooperação econômica e técnica, nova economia ecomércio eletrônico. O pano de fundo que animou essa reunião estavarelacionado à preocupação dos membros da Apec sobre a consolidação doprocesso de abertura econômica mundial e sua regulamentação no âmbi-to da OMC. Interessa à maior parte dessas economias que seja mantida aliberalização comercial no plano mundial e que a OMC de fato funcione.

Assim, os delegados das economias da Apec reiteraram a sua posturafirme a favor do sistema de comércio multilateral e pediram que uma novarodada de negociações da OMC fosse lançada, ao mesmo tempo em queapoiaram o acesso da China àquela organização. Essa iniciativa foi renova-da recentemente, em fins de 2005, quando os ministros do bloco reafirma-ram sua preocupação com a efetiva liberalização do comércio mundial.

Michael Moore, que foi diretor-geral da OMC, indicou que a Apec“tem um papel crucial no comércio mundial e que a Organização ofereceboa oportunidade aos membros do bloco para conseguir que sejam reco-nhecidas suas respectivas posturas e demandas, o que é significativo para aagenda do lançamento de uma nova rodada de negociações comerciais daOMC”. Nesse sentido, há um consenso entre os membros da Apec de queum ambiente econômico e comercial estável, associado também a um nívelmínimo de estabilidade política, podem ajudar a consolidar uma inserçãoeconômica internacional favorável para os membros do bloco e ajudar napromoção de uma ordem econômica mundial, que tenha entre os seuspilares a liberalização comercial.

São países membros da Apec: Austrália, Brunei, Canadá, Chile, China/Hong Kong, Cingapura, Coréia do Sul, Estados Unidos da América, Filipinas,Indonésia, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Papua Nova Guiné,Peru, Rússia, Taiwan, Tailândia e Vietnã.

Integração Regional146

A I N T E G R A Ç Ã O N A Á F R I C A

Ecowas e Sadc – África Ocidental e Austral: IntegraçãoEconômica Regional e Instabilidade Política

O presente capítulo aborda a questão da integração regional no continen-te africano, especificamente nas regiões da África Ocidental e da ÁfricaAustral. É discutido, portanto, o fenômeno da formação de blocos regio-nais em seu contexto político e econômico e suas perspectivas no contextoda globalização e das incertezas do mundo atual, sobretudo no últimodecênio do século XX.

O continente africano é tido, geralmente, como um caso perdido paraa humanidade. “Cemitério de países” e “terra sem esperança” são algumasformulações apreendidas pelo senso comum em praticamente todo omundo quando se faz referência à África, de forma coletiva ou individua-lizada. Mesmo transformações positivas e mais recentes, em termos histó-ricos, que têm superado as piores expectativas que indicavam alta probabi-lidade de aguda tensão social e guerra civil, como tem sido a superação doregime do apartheid na África do Sul, vêm sendo abordadas de forma ne-gativa. Sobretudo, quando se diz que, no caso, o país está se “africanizan-do”, uma expressão negativa que alude ao caos, à ausência de serviçospúblicos eficientes e à deterioração da qualidade de vida, isto é, a referên-cia à eficiência da África do Sul sob o regime branco contrasta com a ine-ficácia e incompetência dos novos governantes sul-africanos.

A grave crise que assola o continente africano não é, naturalmente,exclusividade dos africanos. No entanto, é naquele continente que a huma-

nidade defronta-se com seus mais terríveis níveis de desigualdade so-cial, miserabilidade, falta de perspectiva, desestruturação econômica esocial, guerras, fome, epidemias, morte. No Relatório da Organização dasNações Unidas sobre Desenvolvimento Humano, referente ao ano de 1998,por exemplo, os últimos quinze países que apresentaram piores índices sãoafricanos (Uganda, Malawi, Djibouti, Chade, Guiné-Bissau, Gâmbia,Moçambique, Guiné, Eritréia, Etiópia, Burundi, Mali, Burkina Faso, Nígere, por último, Serra Leoa). Como explicar um quadro tão desalentador ecomplexo como esse? Quais serão os fatores de desagregação que mais pre-judicam o desenvolvimento e o bem-estar das populações da região?

A história do continente africano nos últimos quinhentos anos podeser considerada, em múltiplos aspectos, dramática. A chegada dos euro-peus se, por um lado, marcou a intensificação dos contatos entre as civili-zações da Europa e da África, por outro, significou o início da desestrutu-ração de sociedades autóctones que haviam criado instituições próprias eque funcionavam com certa estabilidade há muito tempo. Significou tam-bém a intensificação da nefasta atividade da escravidão, que exauriu a Áfri-ca de braços e mentes por mais de três séculos. Após a escravidão, o domí-nio físico e a instituição do sistema colonial retardaram em pelo menosmeio século a retomada das instituições e seu desenvolvimento próprio,oprimindo, barbarizando e colonizando territórios e seres humanos, dimi-nuídos a coadjuvantes de sua própria história.

O processo de descolonização, acentuado após a Segunda GuerraMundial, coroa um longo processo de resistência e faz o continente comoum todo entrar em efervescente período de atividade política. Isso resul-tou, efetivamente, na esperança de dias melhores e na chance de se provarao mundo a capacidade africana de autodeterminação com iniciativa paragerir os próprios assuntos e promover o bem-estar de sua população.

Durante os anos 50, portanto, inicia-se uma nova fase na históriapolítica do continente africano, com o começo das independências. A prin-cípio, os novos Estados africanos iniciaram um período de otimismo, bus-cando aprofundar laços preexistentes e iniciando o processo de integraçãoregional. Além disso, houve euforia com as possibilidades de desenvolvi-mento econômico, modernização, liberdade política e exacerbou-se o sen-timento nacionalista no mosaico étnico africano.

Integração Regional148

A integração regional caracterizou-se pela associação formal de paísesgeograficamente próximos e com forte tendência a aproveitar o legado dei-xado pela era colonial. As primeiras associações efetivaram-se, portanto,em regiões colonizadas por uma mesma metrópole e com algum tipo devinculação econômica que vinha da era anterior à independência. Issoimplicou a manutenção dos laços econômicos entre os países africanos e asex-metrópoles européias, muito embora o desejo manifesto por várioslíderes da África expressasse a idéia de independência total.

Foi na África Ocidental, entendida aqui como a área formada por 16países que formam a ECOWAS ou Economic Community of West AfricanStates (Bênin, Burkina Faso, Cabo Verde, Costa do Marfim, Gâmbia, Gana,Guiné, Guiné-Bissau, Libéria, Mali, Mauritânia, Níger, Nigéria, Senegal,Serra Leoa e Togo) e que inaugurou o processo de descolonização na Áfri-ca negra, que surgiram os primeiros agrupamentos entre os novos Estadosafricanos. A região sofreu o colonialismo proveniente de quatro metrópo-les européias: Inglaterra, França, Portugal e Espanha. As duas primeirasdestacaram-se pela presença mais pujante em número de colônias, inten-sidade da exploração e expressão internacional. Assim, influenciaram aregião por muito mais tempo e profundidade do que Portugal e Espanha.Pode-se dizer que ainda hoje boa parte dos países dessa região sofreinfluências diretas de Paris e Londres.

Mesmo que se intente uma divisão dos países da África Ocidental emgrandes agrupamentos forjados na base colonial, ou seja, uma zona ingle-sa e outra francesa, percebe-se claramente a profunda diversidade dos paí-ses de cada área. Existem, por exemplo, na África Ocidental de colonizaçãoinglesa, países populosos e abundantes em recursos naturais, destacando-se a Nigéria; e países pequenos, de baixa população e com moderadosrecursos naturais, como a Gâmbia. Na área francesa, cite-se, por um lado,o caso da Costa do Marfim, com indicadores econômicos relativamenteelevados para os padrões da região; e, por outro, Burkina Faso, um paíscom indicadores econômicos e sociais muito modestos. Sem contar adiversidade cultural e religiosa, um fenômeno nada desprezível em umcontinente marcado por conflitos que têm em sua raiz fatores inter-étnicose questões religiosas. No que diz respeito a esse último fator, é necessáriolevar em conta a contínua expansão do Islã sobre vastas regiões da África,

A Integração na África 149

o que implica em um projeto que não é meramente religioso, mas queinfluencia consideravelmente o destino político dos países que recebem talinfluxo.

Utilizando uma abordagem ampliada no que diz respeito ao conceitogeográfico e que, no âmbito deste trabalho, compreende todos os paísesmembros da SADC (Southern African Development Community), a ÁfricaAustral apresentou evolução histórica diferenciada quando comparadacom a África Ocidental. Muito embora não se possa encontrar coesão entrepaíses tão diversos (são membros da SADC: Angola, África do Sul,Botsuana, Lesoto, Malauí, Maurício, Moçambique, Namíbia, RepúblicaDemocrática do Congo, Seicheles, Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia eZimbábue), com sistemas de colonização e características culturais especí-ficas, além de um vasto território que é inclusive considerado um subcon-tinente, os países dessa região se associaram inicialmente com o objetivo deformar uma frente unida contra a proeminência econômica sul-africana,que os colocava em uma condição de extrema dependência, o que era agra-vado pela política de apartheid praticada pela África do Sul.

O fim do regime racista sul-africano possibilitou o ingresso da Áfricado Sul na comunidade e a ampliação do processo de integração. A partirdaí, há uma revisão dos princípios iniciais do movimento e busca-se aconstrução de um espaço comum, para juntos conseguirem superar os gra-ves problemas estruturais que assolam e entravam o desenvolvimento deuma das mais ricas regiões do continente africano.

Entre as duas regiões – a África Ocidental e a Austral – , o que há demais em comum na atualidade é o quadro de instabilidade política, guer-ras internas com freqüente envolvimento de outros Estados, falta de pers-pectiva para um crescimento econômico sustentado em um futuro próxi-mo e a enorme dificuldade de inserção na economia internacional.Entretanto, os países de ambas as regiões conseguiram entabular um pro-cesso de integração econômica que visa, sobretudo, à superação do quadrosupracitado. É à análise dos dois principais blocos econômicos regionais docontinente africano que iremos nos dedicar a seguir.

Integração Regional150

Integração Econômica no Continente Africano:Ecowas e Sadc

A Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental(Ecowas)

A Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental foi esta-belecida oficialmente em 28 de maio de 1975, quando representantes de 15Estados da África Ocidental (o único país ausente e que faz parte do grupoatual foi Cabo Verde, aceito como membro em 1976) assinaram o Tratadode criação da Comunidade em Lagos, Nigéria. O Tratado entrou em vigorem julho do mesmo ano, após a ratificação do mesmo por sete membros.Em 1976, ocorreu o primeiro encontro entre os chefes de Estado e minis-tros do Exterior da região no âmbito da Comunidade, o que, na prática,marca o início de funcionamento do bloco.

Na verdade, a Comunidade Econômica dos Estados da ÁfricaOcidental foi resultado dos esforços de integração regional iniciados nadécada de 1960. Na gênese da Comunidade, estariam basicamente quatrodiferentes iniciativas:

a) Projeto liberiano, que preparou a Organização Interina para aCooperação Econômica da África Ocidental.

b) Conferência para Coordenação Industrial, realizada em Bamako,capital do Mali, e patrocinada pela Comissão Econômica para Áfri-ca e pela Organização para Agricultura e Alimentação (ECA/FAO-ONU), que visava principalmente ao estabelecimento da indústriasiderúrgica na região.

c) Conferência de Niamey, capital do Níger, igualmente patrocinadapela Comissão Econômica para a África (ECA-ONU), que objetivouaumentar o alcance da integração econômica regional, ampliando aatuação da Comunidade Econômica da África do Oeste (CEAO),organização então atuante nos ex-territórios franceses.

d) A iniciativa conjunta patrocinada pela Nigéria e pelo Togo, quefinalmente levou à criação da Ecowas em 1975.

A Integração na África 151

A iniciativa da Libéria, datada de 1964, foi a que consubstanciou aidéia de promover a comunidade econômica entre os países da ÁfricaOcidental. Como desdobramento dessa iniciativa, teve lugar em Monróvia,em 1968, a Conferência dos Chefes de Estado e Governo dos países da Áfri-ca Ocidental, na qual estiveram representados nove países (Gâmbia, Gana,Guiné, Libéria, Mali, Mauritânia, Nigéria, Senegal e Alto Volta, atualBurkina Faso), ocasião em que se discutiu a necessidade de maior coope-ração entre os Estados da região e de promover a integração econômica,assentando as bases da criação do bloco econômico. Assim, da Conferênciade Monróvia resultou a adoção de um protocolo estabelecendo a constitui-ção de um grupo regional africano, com o objetivo precípuo de estreitar acooperação regional em vários campos. Além disso, discutiu-se a necessi-dade de reduzir as barreiras tarifárias entre os países da região, visandoà formação, em última instância, de um Mercado Comum na ÁfricaOcidental.

Apesar de todos os esforços envidados pelos países participantes, aausência de quatro países – Togo, Daomé, Níger e, principalmente, Costa doMarfim – comprometeu o sucesso da iniciativa, que ficou limitada em ter-mos regionais. A estabilidade econômica da Costa do Marfim e seu poten-cial como segundo país mais rico da região revestiam de grande importân-cia sua participação para o estabelecimento da futura comunidade.

A Conferência de Monróvia ainda não havia alcançado a harmoniza-ção necessária entre os países francófonos e anglófonos para a integraçãoeconômica regional, sobretudo porque as resistências da Costa do Marfima uma aproximação com os países anglófonos eram muito fortes. Alémdisso, entre 1968 e 1972, uma série de acontecimentos políticos agitou osprincipais países da região, resultando em golpes militares – como emGana e no Togo – e na mundialmente conhecida Guerra de Biafra, quedesestabilizou por determinado período a política e a economia da Nigéria(sem dúvida o país mais rico da África Ocidental), comprometendo mo-mentaneamente a capacidade do governo nigeriano, fator considerado desuma importância, de articular a formação do bloco regional. Não bastas-se isso, com a fase dos governos militares na região, os assuntos domésti-cos acabaram ganhando proeminência sobre os assuntos regionais, o quetambém ajudou a conter possíveis avanços no processo de integração.

Integração Regional152

Os entendimentos entre os governos da Nigéria e do Togo, que ama-dureceram propostas no sentido de aprofundar a cooperação econômica ede promover o incremento das trocas comerciais, deram novo ânimo e ini-ciaram nova fase na história da formação da Ecowas. Em 1973, portanto 5anos após a Conferência de Monróvia, e sob intenso esforço dos governosda Nigéria e do Togo, houve nova conferência de ministros das RelaçõesExteriores dos países da região, em Lomé, capital do Togo. Nesse encontro,os representantes de 13 Estados da África Ocidental (os únicos ausentesforam Gâmbia e Guiné, sendo que Guiné-Bissau, em franco processo dedescolonização, foi representada por membros do movimento de liberta-ção nacional, vinculados ao Partido Africano da Independência da GuinéBissau e Cabo Verde, PAIGC) discutiram e elaboraram o esboço do trata-do de criação da Ecowas. O Tratado foi, finalmente, celebrado em Lagos,então capital da Nigéria, em 28 de maio de 1975, após novas rodadas denegociações e discussões ocorridas durante o ano de 1974, em Acra (Gana)e Niamey (Níger).

Com a criação da Ecowas, formalizada através do Tratado de Lagos, ospaíses da África Ocidental deram início a amplo projeto de cooperação.Entre as principais atribuições conferidas à Comunidade, estava o objetivode promover a integração econômica em diversos campos, tais como: indús-tria, transporte, telecomunicações, energia, agricultura, recursos naturais,comércio, assuntos financeiros e monetários e questões sociais e culturais.

Do ponto de vista institucional, a organização da Comunidade estru-turou-se de maneira a tentar dinamizar os projetos, adotando a distribui-ção das funções entre vários órgãos, sendo eles:

a) Conselho dos Chefes de Estado e Governo.b) Conselho de Ministros.c) Parlamento Comunitário.d) Conselho Econômico e Social.e) Corte de Justiça da Comunidade.f) Secretaria Executiva.g) Fundo para Cooperação, Compensação e Desenvolvimento.h) Agência Monetária da África Ocidental.i) Comissões Técnicas Especializadas.

A Integração na África 153

As mais importantes dessas instituições são, sem dúvida, o Conselhodos Chefes de Estado e de Governo; o Fundo para Cooperação, Compen-sação e Desenvolvimento e a Secretaria Executiva. O Conselho dos Chefesde Estado e de Governo, naturalmente, é o mais elevado órgão no proces-so decisório e o que dá a última palavra nas questões mais importantes ati-nentes ao futuro da Comunidade, como a determinação de implementarpolíticas comuns. O Fundo para Cooperação, Compensação e Desenvolvi-mento é o responsável pela elaboração de políticas comuns nas áreas maissensíveis ao conjunto dos países e pelo desenvolvimento de projetos envol-vendo países membros. Com o apoio da Secretaria Executiva, o Fundo é oencarregado de perseguir, portanto, objetivos de extrema importância paraas economias da região, uma vez que cabe a ele planejar e executar projetosque propiciem a integração física da região, como a construção e moder-nização dos sistemas de transportes e telecomunicações regional (atual-mente estão em vias de conclusão duas importantes rodovias que interli-garão vários países da região, a Trans West African Highway – ligando Lagosa Nuakchott – e a Trans-Sahelian Highway – de Dakar a N’djamena).

Outro setor que vem merecendo atenção por parte da comunidade éo de informática, principalmente no que diz respeito à modernização e àinterligação do sistema de comunicações da região. Nesse sentido, em 1986,o Conselho de Ministros da Ecowas aprovou a resolução C/DEC.2/6/86, aqual instituiu o “Centro de Computação Comunitária”, com o objetivo dedotar a Comunidade de meios eficientes de troca de informações para faci-litar o desenvolvimento dos projetos conjuntos, sobretudo na área finan-ceira e comercial. Dessa forma, importante atividade destinada ao Centrode Computação está sendo a implementação de softwares desenvolvidospara agilizar as transações comerciais entre os países membros, dissemi-nando informações sobre comércio e oportunidades na África Ocidental.

Os projetos de cooperação econômica e desenvolvimento de infra-estrutura em andamento no âmbito da Ecowas têm em vista, principal-mente, atingir o objetivo último da Comunidade, ou seja, o estabelecimen-to da União Econômica e Monetária entre os membros do bloco. Além dosinvestimentos em infra-estrutura e informatização, já foram iniciados osdebates para promover a harmonização das políticas macroeconômicasadotadas pelos países da África Ocidental. Os principais parâmetros eco-

Integração Regional154

nômicos estabelecidos para os membros são os seguintes: a) déficit orça-mentário menor do que 5%, b) taxa de inflação anual de até 10%, c) limi-te para a flutuação cambial de até 5%. Segundo as previsões dos econo-mistas da comunidade, uma vez alcançados esses critérios, os países daregião teriam formado as bases que permitiriam crescimento estável edesenvolvimento sustentável.

Trata-se, acima de tudo, de objetivos amplos e ambiciosos, ainda maisconsiderando-se que, na região, existem importantes desníveis entre aseconomias nacionais e graves problemas de origem política e étnica, o queinevitavelmente provoca conseqüências negativas no plano econômico.Some-se a isso o fato de a indústria dos países da região – de fraca expres-são – não fabricar produtos de alto valor agregado e o setor mais impor-tante continuar sendo o primário, com evidentes danos à economia nacio-nal devido à tradicional deterioração dos termos de troca. Ainda no campodas fragilidades econômicas da Ecowas, registre-se o baixo nível atingido,até o momento, no cômputo do comércio intra-regional, que não passados 11%, segundo estimativas do governo norte-americano. Esse númeroé um forte indicativo de que as economias nacionais dos países da ÁfricaOcidental – e no geral isto vale para todo o continente africano – conti-nuam presas ao esquema tradicional de produzir para o mercado externo,geralmente com a pauta de exportações reduzida e dirigida para os merca-dos da Europa, de onde importam os bens industrializados. Não há, por-tanto, grau satisfatório de complementaridade entre as economias daregião, o que indubitavelmente dificulta o avanço da integração econômi-ca regional.

Em perspectiva ampla, a Comunidade Econômica dos Estados daÁfrica Ocidental atravessou longo período de indefinições e parcos resul-tados. Os objetivos originais, estabelecidos no Tratado de Lagos, de 1975,muito embora tenham sido mantidos, não tiveram a concretização espera-da inicialmente.

O bloco econômico da África Ocidental, assim como praticamentetodos os processos de integração regional em formação, ressurgiu comforça somente no início dos anos 90. A intensificação do processo de inte-gração regional nessa época é sintomática e revela, com precisão, os avan-ços registrados com o processo de globalização em franca ascensão. A glo-

A Integração na África 155

balização, compreendida aqui como uma fase do processo de internacio-nalização, tem acentuada característica econômica e que, muito emboraseja um fenômeno universal, apresenta impactos diferenciados sobre asdiversas regiões do globo. No caso da África, e isso vale também para ospaíses ditos “emergentes”, o impacto tem sido negativo, sobretudo pelaincapacidade dos Estados nacionais de fazerem frente à agressividade co-mercial dos países ricos, à liberação dos fluxos financeiros e à contençãodos pressupostos neoliberais.

Dessa forma, em julho de 1993, representantes dos países membros daEcowas, reunidos em Cotonou (Benin), fizeram a revisão do Tratado deLagos, o que resultou na assinatura de um novo tratado (designado de“Revisão do Tratado da Comunidade Econômica dos Estados da ÁfricaOcidental”), o qual mantém os mais importantes princípios contidos noanterior e faz a adaptação do Tratado aos novos tempos. O ponto maisimportante proposto pela Revisão do Tratado de Lagos foi a confirmaçãodo desejo de integração e da necessidade de cooperação entre os Estadosmembros para promover o desenvolvimento regional, reafirmando, des-tarte, a intenção dos países da região em atingir a zona de livre-comércio,promover a união aduaneira e alcançar a união econômica e monetária,com um cronograma de eventos previamente definido.

Embora esteja explícita a articulação entre os membros da Comu-nidade de Estados da África Ocidental para promover urgentemente aintegração econômica regional, há que se considerar que o processo, pornatureza, requer um tempo que geralmente vai muito além do idealizadopara sua plena consecução. Os problemas regionais, em quase todos as par-tes da África, são de tal modo complexos que o idealismo de alguns setoresconfronta-se com a dura realidade, o que evidentemente impõe limites àsaspirações, as quais, embora legítimas e prementes de execução, têm de seajustar à realidade objetiva.

No caso da Ecowas, há uma diferença considerável quando se compa-ram os objetivos estipulados e a realidade dos fatos. Em primeiro lugar,como salientado, os membros da Comunidade acordaram em remover asbarreiras tarifárias e não-tarifárias para promoção da zona de livre-comér-cio. Na prática, porém, as barreiras persistem, sobretudo em decorrênciada fragilidade econômica dos Estados membros, uma vez que temem per-

Integração Regional156

der a principal fonte de recursos de que dispõem e pelo risco embutido dedéficit na balança comercial.

Há um aspecto, contudo, que vem contribuindo muito para propagara idéia de se buscar a todo custo promover a estabilidade política na região,imprescindível para qualquer aspiração de desenvolvimento econômico ede integração regional. Várias iniciativas da Ecowas indicam claramente atentativa de garantir a democracia nos Estados membros, inclusive utili-zando-se de uma força militar de manutenção da paz, com poderes deintervenção. A ECOMOG (West African Monitoring Group), criada noâmbito da Ecowas, constitui-se em uma força militar que já entrou trêsvezes em ação em casos de agitação, distúrbio e golpes de Estado em paí-ses da região (Libéria, Serra Leoa e Guiné-Bissau) com o objetivo de socor-rer governos desestabilizados pela força de golpes militares ou rebeliõescivis que visavam à tomada do poder. Com controvérsias, haja vista que aECOMOG foi muito criticada pela brutalidade de sua ação, sobretudo nocaso da intervenção na Libéria, em 1996, a força militar da Ecowas tentagarantir um mínimo de paz na região – e, conseqüentemente, a estabilida-de dos mercados. Tarefa difícil em um quadro social marcado pela misériae em um plano político confuso, com atuação de vários grupos e interessesdesestabilizadores.

O exemplo da Libéria ilustra as dificuldades da implementação depolíticas de segurança regional. Por exemplo, o comportamento excessi-vamente violento das tropas da ECOMOG, mal treinadas e mal prepara-das, que não filtravam de uma forma minimamente condizente sua ação,buscando distinguir a repressão aos rebeldes da população civil, colocousob suspeita, perante a comunidade internacional, a capacidade de inter-venção da Ecowas que levasse em conta o respeito aos direitos humanos.De qualquer maneira, saliente-se que para a comunidade internacional,sobretudo para os Estados Unidos e alguns países europeus (as antigasmetrópoles), a existência de uma capacidade regional para tentar manteralgum nível de estabilidade, mesmo que a custo de algum desrespeito aosdireitos humanos, ainda é mais importante do que a anarquia geral e afalência do Estado-nação.

Enfim, o bloco econômico dos países da África Ocidental vem seesforçando, desde 1975, para promover a integração regional em uma das

A Integração na África 157

regiões mais pobres da África (o PIB do bloco, por exemplo, aproxima-sedos 73 bilhões de dólares, enquanto o do Mercosul, para uma ilustração, éde mais de dez vezes esse valor) e com graves problemas políticos, econô-micos e sociais. O esforço é válido, principalmente pela tentativa de articu-lação regional, para o desenvolvimento econômico e para a superação dosconflitos, ainda mais considerando a tendência demonstrada pelas potên-cias internacionais de afastamento dessas áreas.

A Comunidade para o Desenvolvimento da ÁfricaAustral: SADC

A Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral, SADC, foiinstituída em 1992, quando 12 países da África Austral, reunidos emWindhoek (Namíbia), assinaram o ato de criação da Comunidade. Naverdade, a SADC significa o coroamento de uma iniciativa anterior: aConferência para a Coordenação do Desenvolvimento da África Austral(SADCC), que compreendia nove países da região, a saber: Angola,Botsuana, Lesoto, Malawi, Moçambique, Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia eZimbábue.

A iniciativa da formação de um bloco regional na região da ÁfricaAustral esteve intimamente relacionada a fatores específicos vinculados àquestão da República da África do Sul, que adotou, até bem pouco tempoatrás, política baseada no apartheid e que significava ameaça real aosEstados africanos geograficamente mais próximos.

A história recente da África Austral é, com efeito, dramática. AlgunsEstados daquela área, como Angola e Moçambique, conseguiram alcançara independência em um processo tardio e violento (1975) e, muito embo-ra tenham se desvinculado da antiga metrópole, os conflitos internoscontinuaram: em Moçambique, até o final dos anos 80, e em Angola, atéhoje. A história da independência de Zimbábue e da ascensão dos nativostambém atravessou uma fase conturbada e violenta, com dois importantesgrupos (União Nacional Africana do Zimbábue – ZANU, e União Africanado Povo do Zimbábue – ZAPU) lutando contra o governo de minoriabranca de Ian Smith e pela promoção de um governo genuinamente negro,

Integração Regional158

o que só foi conseguido em 1980, com a vitória parlamentar de RobertMugabe (Zanu); mas, mesmo assim, os conflitos internos continuaram atépelo menos 1985. Na Namíbia, a história não foi diferente: a Organizaçãodos Povos do Sudoeste da África (SWAPO) travou longa luta contra adominação sul-africana que, desde o final da Primeira Guerra Mundial,ocupava o território em substituição ao poder colonial alemão, desalojadode suas colônias africanas após a derrota na guerra. A paz só foi estabeleci-da na Namíbia em 1990, com a independência.

O cenário da África Austral, portanto, foi marcado por grande insta-bilidade durante pelo menos trinta anos, de 1960 ao final dos anos 80. Esseperíodo coincide com a Guerra Fria e certamente as ingerências da bipola-ridade exerceram influência nos rumos políticos da região. Contudo, ofator mais importante de desestabilização regional certamente se encontra-va na própria África Austral. Sem embargo, a República da África do Sul,sob governo de minoria branca, foi o principal instigador e financiador dosconflitos internos existentes nos países vizinhos, como Moçambique,Angola e Zimbábue. Os sul-africanos sentiam-se cada vez mais cercadospor Estados governados pelos próprios africanos, que haviam feito a opçãopelo alinhamento com o bloco socialista – na verdade, as circunstânciashostis os empurraram nessa direção. A maneira encontrada pela África doSul foi, então, promover a desestabilização desses países, praticamenteinviabilizando os novos governos. Forneceu armas e deu suporte financei-ro, por exemplo, ao movimento guerrilheiro Resistência Nacional deMoçambique (RENAMO) e à União Nacional para Independência Totalde Angola (UNITA), de Jonas Savimbi. Em Angola, houve, inclusive, envol-vimento direto no conflito, com envio de tropas durante os anos 70 e 80.Na Namíbia, era a África do Sul a própria expressão da dominação. Dessaforma, as intermináveis guerras internas colocavam em xeque as econo-mias nacionais dos países recém-independentes.

Uma das medidas tomadas pelos países da África Austral para fazerfrente às incursões cada vez mais freqüentes da “estratégia total” sul-africa-na, que visava a desestabilizar e a inviabilizar política e economicamente ospaíses da África Austral, foi a criação da SADCC. Em abril de 1980, osEstados da Linha de Frente, assim denominados justamente por serem osmais próximos à África do Sul, assinaram a Declaração de Lusaka, que ins-

A Integração na África 159

tituía o bloco regional. Constava na Declaração, como principais objetivosdo grupo, maior autonomia face à África do Sul, liberação econômica edesenvolvimento integrado das economias nacionais. O programa de açãoconcretizava-se sobre a premissa de que era imprescindível aos Estadosafricanos próximos à África do Sul a união de suas forças para superar oquadro histórico de dependência com relação à economia mais forte docontinente. Dessa maneira, buscaram os Estados fundadores da SADCC acooperação em várias áreas econômicas, como agricultura, alimentação,indústria, energia, comércio, turismo, mineração e recursos humanos.Havia, ainda, a compreensão de que o ponto mais importante, e que refle-tia o maior grau de dependência, encontrava-se especificamente nos seto-res de transportes e comunicações, daí a prioridade concedida a essasáreas, o que exigiria um enorme esforço por parte das fracas economiasnacionais.

Ao longo da década de 1980, a SADCC pouco pôde fazer para supe-rar a dependência dos Estados da Linha de Frente vis-à-vis a África do Sul.O conflito em Angola continuava crescendo, com envolvimentos externoscada vez mais graves; em Moçambique, a RENAMO continuava atuante,derrubando uma das mais fracas economias continentais. O histórico deconflitos continuava em Zimbábue e na Namíbia, portanto, eram poucosos Estados com alguma capacidade de investimento. Por sua vez, a econo-mia sul-africana igualmente dava sinais de desgaste, fato acirrado pelo iso-lamento internacional cada vez mais forte imposto pelas sanções interna-cionais. O quadro econômico regional só apresentaria alguma melhoraquando a conjuntura política sofresse profunda alteração.

Os eventos internacionais ocorridos no final dos anos 80 indicaramclaramente a impossibilidade de a África do Sul manter por muito maistempo a segregação racial interna e a pressão sobre os países vizinhos. Aqueda do muro de Berlim, o colapso do bloco soviético e a nova fase de globalização econômica mundial forçaram mudanças substanciais nosubcontinente africano. O início da atual década presenciou a independên-cia da Namíbia, a pacificação em Moçambique, a esperança em Angola –embora efêmera – e, principalmente, as negociações entre o CongressoNacional Africano, de Nelson Mandela, e o Partido Nacional, da minoriabranca na África do Sul. Esses eventos certamente influenciaram decisiva-

Integração Regional160

mente na transformação da SADCC em SADC, redefinindo objetivos eampliando o campo para a cooperação.

O ano de 1989 já demonstrava a tendência à mudança. Reunidos emHarare, capital do Zimbábue, os chefes de Estado dos países membros daSADCC elaboraram um Memorando de Entendimento visando à assina-tura de novo instrumento diplomático entre os países da região. Estavaaberto o caminho que levaria à criação da SADC. Em 1992, em Windhoek,capital da Namíbia, os países participantes assinaram o novo tratado cujosprincípios básicos são os seguintes:

• Soberania e igualdade entre os Estados membros.• Solidariedade, paz e segurança.• Direitos humanos, democracia e observância da lei.• Eqüidade, equilíbrio e benefício mútuo.

No que tange aos assuntos econômicos, os princípios da SADC pre-gam muito mais a cooperação entre os Estados membros do que, porexemplo, a criação do Mercado Comum ou da União Aduaneira, comovisto no caso da Ecowas, que institucionalizou essa proposta na âmbito doTratado. Seria esse um ponto fraco ou realista na busca da integração eco-nômica regional? É verdade, no entanto, que os países da região almejam aformação de uma zona de livre-comércio, com o objetivo de estimular oincremento comercial entre os países da região. A Zona de Livre-Comércio,conforme previsto pelo Protocolo de Comércio, de 1996, assinado portodos os membros da SADC, entraria em vigor em 2004, o que, de fato,acabou não ocorrendo de forma plena. A expectativa é de que, com oincremento do livre-comércio, o bloco amplie sua capacidade de atrairinvestimentos externos e haja, de fato, maior integração entre as economiasnacionais. Na verdade, os países da África Austral possuem realidades eco-nômicas e sociais bastante diversas e heterogêneas. Além do mais, há umanítida diferença entre a estrutura econômica sul-africana e a dos demaispaíses. Enquanto o PIB da África do Sul, por exemplo, situa-se em torno de127 bilhões de dólares, o PIB total dos países da SADC, incluindo a própriaÁfrica do Sul, chega a quase 176 bilhões de dólares. Esses númerosdemonstram, naturalmente, a folgada posição sul-africana perante seus

A Integração na África 161

parceiros na Comunidade, o que causa sempre certo temor de absorção ouaprofundamento da dependência econômica dos menos desenvolvidospelo mais desenvolvido. No caso da África do Sul, houve ainda uma situa-ção mais delicada, uma vez que, com o fim do regime do apartheid e o sur-gimento da “nova” África do Sul, com a ascensão de Nelson Mandela e todoo seu prestígio mundial, esse fato acabou gerando um sentimento de des-conforto para as lideranças “tradicionais” da África Austral que se viramofuscadas pela projecão mundial do líder sul-africano.

Uma das estratégias adotadas pelos países menos desenvolvidos paracontornar tal temor foi a estruturação da SADC, em um esquema em quecada país se responsabiliza por determinada coordenação setorial, comotransportes, recursos hídricos, telecomunicações etc. No entanto, se, porum lado, esta característica aparentemente lhes garante a sensação deigualdade no trato dos assuntos comunitários, por outro ajudou a “buro-cratizar” a Comunidade, tornando mais lento o processo decisório e difi-cultando a dinamização das atividades.

No plano político é que se localizam os problemas mais graves para aintegração regional. O recente conflito na República Democrática doCongo colocou os Estados da região diante de um grave dilema. Quandoos rebeldes do Congo, liderados por Laurent Kabila, derrubaram o ditadorMobuto Sese Seko e encontraram fortes resistências por parte de etniasregionais para estabelecer o governo nacional, isso levou a uma escaladamilitar comprometedora na África Austral, sobretudo porque o conflito noex-Zaire extrapolou o plano das fronteiras internas. De um lado, Angola,Namíbia e Zimbábue enviaram tropas para auxiliar o governo de Kabila;de outro, Ruanda e Uganda são os principais envolvidos com os rebeldes,concedendo-lhes suporte bélico e territorial para as incursões contra astropas governamentais. A conjuntura no Congo colocou em lados opostosos governos de Congo, Angola, Zâmbia e Zimbábue e o governo doCongresso Nacional Africano, sob a presidência de Mandela, o qual foipublicamente acusado de omissão, favorecimento aos rebeldes e desejo deexercer hegemonia regional.

Não bastasse isso, o envio de tropas sul-africanas e botswanas paracontrolar a rebelião ocorrida no Lesoto, em setembro de 1998, engendrounovas declarações por parte dos descontentes com o governo da África do

Integração Regional162

Sul contra o que consideraram ser demonstração da política de potênciaregional adotada pelo país. Por trás dos desentendimentos governamen-tais, está a visão sul-africana de construção do processo de paz regional,que difere substancialmente do ponto de vista dos demais líderes da Áfri-ca Austral. O governo angolano, por exemplo, que deu substancial suportea Kabila, tinha motivos históricos e pragmáticos para tirar Mobuto de cenae substituí-lo por um governo que pudesse promover a interrupção doauxílio proveniente do território congolense aos guerrilheiros da UNITA.Outro ponto que causou fricção entre os governos de Angola e da Áfricado Sul foi a continuidade das vendas de armas para a UNITA, mesmo sobo governo do Congresso Nacional Africano. Naturalmente, não era ogoverno o agente de tal comércio, mas causou mal-estar a falta de contro-le sobre essas atividades, que continuaram acontecendo quase que livre-mente no interior da África do Sul. Soma-se a isso o envolvimento emvários países da região de grupos mercenários, provenientes principalmen-te da África do Sul, atividade que carrega consigo imagem extremamentenegativa para o país de origem.

Em termos políticos, portanto, a imagem da SADC é a de umaComunidade fragmentada e dividida com relação a certos aspectos, prin-cipalmente com relação a alguns conflitos e ao papel de lideranças polêmi-cas, como o presidente do Zimbábue, Robert Mugab. Assim, ao mesmotempo em que se intenta o aprofundamento da integração econômicaregional, fatores políticos indicam o rumo contrário, com quadro de insta-bilidade e possibilidade de fragmentação territorial em alguns países.

Dificuldades e Estímulos à Integração Regional na ÁfricaOcidental e Austral: um balanço da atual conjuntura

Extrapolando os limites da África Austral, outros países do continenteafricano apresentam possibilidades concretas de fragmentação territorial,advindas de seus dissensos internos e da instabilidade política, inclusiveregional. É o caso, por exemplo, do Senegal, onde setores da etnia predomi-nante na região de Casamance, no sul do país, organizaram o Movimentode Força Democrática de Casamance, o qual luta pela separação territorial

A Integração na África 163

Integração Regional164

justificada em termos históricos, culturais e políticos. A guerrilha, que comcerta freqüência ultrapassa o território em busca de refúgio na vizinhaGuiné-Bissau, vem provocando desgaste do governo de Dacar e contri-buindo para a instabilidade regional. Outro exemplo que pode ser citadocomo fator de desagregação é a disputa entre o Marrocos e a Argélia peloterritório do Saara Ocidental, até hoje monitorado pelas Nações Unidas.Naquela região, antiga zona colonial espanhola, há também um movimen-to autonomista que luta pela emancipação do Saara Ocidental, tentandoconvertê-lo em um novo país. As diferenças entre o Marrocos e a Argéliacom relação ao território em questão resultam em um forte empecilhopara que o bloco regional do países do Maghreb, a chamada União ÁrabeMaghreb, consiga, de fato, deslanchar.

Entretanto, os conflitos não param por aí. Em diversas regiões daÁfrica, persiste um clima de tensão e, eventualmente, de guerra, em algunscasos de conflitos que já perduram há décadas. No Sudão, por exemplo, aomesmo tempo em que se busca uma solução para as disputas entre oNorte, islamizado, e o Sul, animista e cristão, explode um outro conflito,agora na região de Darfur, área fronteiriça com o Chade. Na Somália, oEstado e suas instituições tradicionais praticamente desapareceram, fican-do o país fragmentado e governado por clãs, o que o torna uma regiãoinsegura e economicamente inviável. Na região da África Central, o antigoZaire, atual República Democrática do Congo, vive há anos sob forte climade instabilidade política, ficando o país dividido e sem um controle centralefetivo. Disso resulta, também, mais dissenso entre alguns dos mais impor-tantes Estados membros da Comunidade para o Desenvolvimento da Áfri-ca Austral, visto que há diferentes perspectivas para a solução desse confli-to por parte das lideranças nacionais da República da África do Sul, deAngola, do Zimbábue e da Namíbia. Esses três últimos, inclusive, enviaramtropas para a região, o que contrariou a posição sul-africana de tentar umasolução negociada, sem o uso de força ou intervenção militar.

Assim, são diversas as regiões da África que vivenciam conflitos arma-dos e falência dos Estados nacionais. Embora se tenha verificado uma ten-dência à superação de vários conflitos no final dos anos 90, ainda é cedopara um diagnóstico otimista para o contexto africano. Isso sem contaroutros aspectos relacionados à segurança que envolvem a região como, por

A Integração na África 165

exemplo, a segurança alimentar e os aspectos relativos às doenças e epide-mias, de grande impacto econômico para o desenvolvimento africano.

O ponto que mais interessa quando se destaca a questão da instabili-dade política na África é que ela acaba afetando diretamente o desenvolvi-mento econômico e social do continente. No interior de todos os blocoseconômicos existentes na África, há algum tipo de conflito em andamentoe, na maioria das vezes, em mais de um país. No caso da África Ocidental(Ecowas) e da África Austral (SADC), esse quadro acaba comprometendoa capacidade de articulação política e agregamento entre os Estados mem-bros, haja vista que uma característica importante das guerras africanas ésua capacidade efetiva de desestabilização regional, o que acaba impelindoos Estados mais desenvolvidos a adotar algum tipo de política intervencio-nista, a fim de evitar o transbordamento do conflito e a conseqüente deses-tabilização regional.

Em um balanço geral, o fim da Guerra Fria e a diminuição da interfe-rência estrangeira não foram capazes de levar a estabilidade às diversasregiões africanas. Os conflitos continuam, e a África permanece margina-lizada no contexto internacional. Entretanto, como demonstrado, osEstados africanos lutam contra toda sorte de adversidade no sentido deencontrarem soluções conjuntas para a superação da defasagem industriale tecnológica e, acima de tudo, melhorarem o desempenho social, o que sóconseguirão se primeiro atingirem a paz e conseguirem promover um ciclovirtuoso que possibilite um crescimento econômico minimamente susten-tado. Nesse sentido, o esforço de integração no continente africano assumeuma importância estratégica vital para o futuro da região mais pobre doplaneta, haja vista que só o desenvolvimento econômico sustentado serácapaz de levar à superação dos seus graves problemas políticos e sociais.

A n á l i s e B i b l i o g r á f i c a

Integração Econômica – Aspectos Teóricos

EL-AGRAO, Ali M. (Ed.). International Economic Integration. Londres:The MacMillan Press Ltda, 1988. São 14 artigos sobre integração econômi-ca. Cobrem da teoria econômica aos aspectos particulares das tentativas deintegração econômica no mundo.

BALASSA, Bella. The Theory of Economic Integration. Ilinois, 1961.Como o próprio título diz, trata particularmente da teoria da integraçãoeconômica. O mesmo autor publicou Economic Development and Integration(México, 1965), em que trabalha com os problemas da integração econô-mica entre países subdesenvolvidos.

HUFBAUER, Gary Clyde; SCHOTT, Jeffrey J. Western HemisphereEconomic Integration. Washington: Institute for International Economics,1994. Analisa as integrações em andamento naquele período, principalmen-te o Nafta, o Mercosul e perspectivas de integração futura da região.

MELO, Jaime de; PANAGARIVA, Arvind (Ed.). New Dimensions inRegional Integration. Cambridge University Press, 1993. São 13 artigos deautores diferentes que dão ênfase à questão da integração regional.

BETIOL, Laércio Francisco. Integração Econômica e União PolíticaInternacional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1968. É uma históriapequena sobre as várias tentativas de integração no mundo.

JOVANOVIC, Miroslav N. International Economic Integration. Londres:Routledge, 1992. Faz um estudo detalhado do que é união aduaneira, mer-cado comum e união econômica completa.

STREETEN, Paul. Economic Integration – Aspects and Problems.Leyden: A W. Sythoff, 1964. Estuda mais os aspectos da integração européia.

ROBSON, Peter. The Economics of International Integration. Londres:Allen e Unwin, 1987. Também analisa todos os passos de uma integraçãoeconômica, desde a zona de livre-comércio até a integração mais comple-ta. Trabalha ainda com a teoria da integração e a integração entre países emdesenvolvimento.

BELAUS, Richard S.; HARTLEY, Rebecca S. (Ed.). The Growth ofRegional Trading Blocs in the Global Economy. Washington: NationalPlaning Association, 1990. Fala dos blocos econômicos regionais e suasparticipações no comércio internacional.

DELL, Sidney. Trade Blocs and Common Markets. New York: Alfred A.Knopf, 1963. Uma análise sobre as várias tentativas de integração. Dá ênfa-se à integração entre países em desenvolvimento.

União Européia

A União Européia, por seu pioneirismo e destacada importância no con-texto das integrações e da política mundial, é um dos processos de integra-ção mais estudados no Brasil. Assim, o leitor encontrará, disponível emportuguês, publicações atualizadas sobre esse processo de integração; além,é claro, de notícias e informações quase cotidianas na imprensa e em revis-tas nacionais. A seguir, citamos os livros e artigos que consideramos maisimportantes para a compreensão da nova Europa.

ARBUTHNOTT, Hugh; EDWARDS, Geoffrey. Guia do Mercado Comum.Rio de Janeiro: Edições 70, 1990. Análise sobre o Mercado Comum em umaperspectiva econômica, com uma visão geral do seu funcionamento.

D’ARCY, François. União Européia: Instituições, Políticas e Desafios. Rio deJaneiro: Fundação Konrad Adenauer, 2002. Permite uma visão ampla do pro-cesso de integração na Europa, sobretudo sob a perspectiva institucional.

DINAN, Desmond. Ever Closer Union: an introduction to EuropeanUnion. Boulder: Lynne Rienner, 1998. Explora a integração européia, des-tacando os avanços no caminho da integração política.

Integração Regional168

HENDERSON, Karen. Back to Europe: Central and Eastern Europe andthe European Union. London: UCL Press, 1999. A autora centra sua análisenos aspectos relativos à ampliação da União Eropéia em direção à Europacentral e do leste, temas de grande destaque durante a década de 1990.

HITIRIS, Theo; VALLÉS, José. Economia de la Unión Europea. Madrid:Prentice Hall, 1999. Estudo centrado nos aspectos mais econômicos daUnião Européia, analisando suas características mais importantes.

KOTLOWSKI, Dean J. (Ed.). The European Union: From Jean Monet tothe Euro. Introduction. Athens: Ohio University Press, 2000. Obra compostade vários capítulos que abordam diversos aspectos da União Européia comoo seu histórico, evolução, economia, política e instituições.

LESSA, Antonio Carlos Moraes. A Construção da Europa: a últimautopia das relações internacionais. Brasília: IBRI, 2003. Trata-se de umaintrodução aos fundamentos e à evolução das integrações econômicas epolíticas da Europa.

LUNDESTAD, Geir. “Empire” by Integration: the United States andEuropean Integration, 1945-1997. New York-Oxford: Oxford UniversityPress, 1998. Livro que mostra as relações entre os Estados Unidos e a UniãoEuropéia, em um tipo de estudo comparativo.

PFETSCH, Frank R. A União Européia: história, instituições, processos.Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2002.

PROCÓPIO, Argemiro (Org.). Relações Internacionais - os excluídosda Arca de Noé. São Paulo: Hucitec, 2005. Livro sobre Relações Internacio-nais, dividido em 7 capítulos que apresentam discussões relevantes paracompreender o mundo atual, em uma perspectiva econômica e política. Ocapítulo utilizado nesse trabalho foi o Capítulo 6, “Geopolítica do imperia-lismo contemporâneo”, de Samir Amin.

SMITH, Anthony E. “National Identity and European Unity”. In:International Affairs, vol. 68, nº- 1, 1992, p. 55-76. Artigo no qual o autorexplora uma questão essencial para um processo de integração profundo,como o da União Européia, ou seja, a questão das identidades nacionaisfrente à criação de estruturas supranacionais.

SODER, José. A União Européia. História, organização, funcionamen-to. São Leopoldo: Unisinos, 1995. Livro que analisa os aspectos históricos,institucionais e funcionais da União Européia.

Análise Bibliográfica 169

SARAIVA, José Flávio Sombra (Org.). Relações Internacionais: doisséculos de História (entre a ordem bipolar e o policentrismo, de 1947 a nossosdias). Brasília: IBRI/Funag, 2001. Obra coletiva que dá ao leitor uma visãodo contexto internacional no qual foi criada a União Européia, assim comoos demais blocos. Leitura obrigatória para se compreender as RelaçõesInternacionais contemporâneas.

SILGUY, Yves-Thibault de. El Euro: historia de una idea. Barcelona:Planeta, 1998.

URWIN, Derek W. The Community of Europe: a History of EuropeanIntegration Since 1945. London-New York: Longman, 1995. Livro queaborda a história da criação da União Européia.

BUENO, Clodoaldo. “A Diplomacia Brasileira e a Formação doMercado Comum Europeu”. In: Revista Brasileira de Política Internacional,ano 36, nº- 2, 1993, p. 93-100. O autor observa que os processos de integra-ção podem significar a criação de barreiras ao comércio internacional, edestaca como a diplomacia brasileira preocupou-se com os efeitos negati-vos que a criação do Mercado Comum Europeu poderia significar para aseconomias latino-americanas.

LANDAU, Alice. “As Dimensões Externas e os DeterminantesGeopolíticos da Construção Européia”. In: Revista Brasileira de PolíticaInternacional, ano 38, nº- 2, 1995, p.5-30. Analisa, em perspectiva histórica,o avanço do processo de integração na Europa, dando destaque aos fatoresgeopolíticos inerentes ao período da Guerra Fria.

VENTURA, Deisy; ALQUIÉ, Philippe. “O Euro e as Relações Exte-riores da União Européia”. In: Revista Brasileira de Política Internacional,ano 41, nº- 1, 1998, p. 39-55. O texto analisa os aspectos político, jurídico einstitucional da construção da União Econômica e Monetária européia,do euro e seu impacto nas formações políticas e econômicas dos Estadosmembros.

SOARES, Frederico Lamego de Teixeira. “Análise Econômica daParceria Brasil-Alemanha no Contexto das Relações entre o Mercosul e aUnião Européia”. In: Revista Brasileira de Política Internacional, ano 43,nº- 2, 2000, p. 87-107. O artigo analisa os motivos do declínio da coopera-ção para o desenvolvimento entre o Brasil e a Alemanha, e as suas perspec-tivas em um contexto de integração regional.

Integração Regional170

SAVINI, Marcos. “As Negociações Comerciais entre o Mercosul e aUnião Européia”. In: Revista Brasileira de Política Internacional, ano 44,nº- 2, 2001, p.109-125. O autor demonstra que as negociações entre oMercosul e a União Européia são complexas e que a Política AgrícolaComum adotada pela União Européia é um fator de constrangimento parauma aproximação mais consistente entre os dois blocos.

SARAIVA, Miriam Gomes. “A União Européia como Ator Inter-nacional e os países do Mercosul”. In: Revista Brasileira de PolíticaInternacional, ano 47, nº- 1, 2004, p. 84-111. A autora examina a habilidadeda União Européia em agir como um ator internacional nos diálogos inter-regionais, por meio de seu comportamento com os países do Mercosulentre 1991 e 2003.

Por último, gostaríamos de dizer que há farto material sobre o proces-so de construção e a evolução da União Européia, além de dados estatísti-cos atualizados em vários sites da Internet, indicados mais adiante, e queconstituem valioso material de consulta para os interessados nesse blocoeconômico.

MERCOSUL

“The new word’s newest trade bloc”, Business Week, 4 de maio de1992. Chama atenção para o novo bloco econômico, o maior e mais ricoda América do Sul.

“U.S. signs trade – investment pact with the four Mercosur nations”,Business America, v.112, 1º- de julho de 1991. Mostra os aspectos do acordoassinado em 19 de junho de 1991, entre os Estados Unidos e os quatro paí-ses do Mercosul.

“The Mercosur countries are potentially a huge market”, BusinessAmerica, v.113, 23 de março de 1992. Outra análise sobre as possibilidadesdo Mercosul. Mostra que o novo mercado é duas vezes maior do que ocanadense.

MENEM, Carlos Saul. Integración Americana. San Isidro: EditorialCeyne, 1991. É o ex-presidente argentino a favor da integração. Também

Análise Bibliográfica 171

constam atas e decisões sobre a integração, inclusive sobre a hidroviaParaguai-Paraná.

“Latin America free trade for all”, The Economist, v. 322, 4 de janeirode 1992. Fala das diversas integrações em andamento na América Latina,incluindo o Mercosul. Acredita que uma integração global nas Américas sóocorrerá se a ligação México-Estados Unidos der certo.

“The business of the American hemisphere”, The Economist, v. 320, 24de agosto de 1991. Outro comentário favorável à criação do Mercosul.

ARAGÃO, José Maria. La armonización de politicas macroeconomicasen el Mercosur. Buenos Aires: Intal, 1993. Analisa os passos e etapas para afutura harmonização macroeconômica do Mercosul.

BERKERMAN, M. (Coord.). Mercosur – la oportunidad y el desafio.Buenos Aires: Editorial Legasa, 1992. São artigos sobre o Mercosul. Éfavorável. Bons gráficos e dados.

MERCOSUR – Tratado para la constituición del Mercado Comum.Buenos Aires: Intal, 1991.

ABINZANO, Roberto C. Mercosur: um modelo de integración.Missiones: Editorial Universitária,1993. Inclui pactos de integração, fala daAlalc e Aladi até chegar no Mercosul.

DEL CASTILLO, Santiago Perez. “Mercosur: history and aimes”. In:International Labour Review, v. 132, nº- 5 e 6, 1993, p.639-653. É sobre acriação do Mercosul, seu objetivo e faz análises sobre partes do tratado.

OLIVEIRA, Marcelo Fernandes de. Mercosul: atores políticos e gruposde interesses brasileiros. São Paulo: Editora da Unesp, 2003. Trata doMercosul dentro do contexto internacional do momento. Tem histórico daconstituição do Mercosul e sua estrutura funcional.

MENEZES, Alfredo da Mota. A Herança de Stroessner: Brasil-Paraguai(1955-1980). São Paulo: Papirus,1987. Mostra as raízes da aproximaçãoentre o Brasil e a Argentina, e a maior presença do Brasil no Paraguai.

DIETER, W. Benneck. “Relación entre Unión Europea y Mercosur”.Geosur, Montevidéu, 21:236, janeiro e fevereiro de 2000, p. 3-13. Trabalhaos interesses divergentes entre os dois lados e as possibilidades de um acor-do entre as partes.

GONZÁLEZ, Flavio Floreal. “Mercosur: the incompatibilities betweenits instituition and the need to complete the customs union. a proposal

Integração Regional172

reform”. Integr. Trade, nº- 9, setembro/dezembro de 1999, p.83-104. Analisaas dificuldades rumo a uma união aduaneira. Afirma que as pessoas envol-vidas nas discussões sobre tarifas estão mais preocupadas em defender seuspaíses do que nos objetivos maiores da integração.

EMARCON, Ramón. El Mercosur de la gente. Buenos Aires: FundaciónPromoción Humana/Ediciones del Incasur, 2000. É um livro que analisa aestrutura do Mercosul. Conta ainda um pouco de sua história.

VAN DIJCK, Pitou; WIESEBRON, Marianne. (Ed.). Ten years of Mercosur.Amsterdã: Centre for Latin American Research and Documentation, 2002.É uma coleção de nove artigos sobre o Mercosul, em um seminário emHaia. Tratam dos aspectos econômico, político e social da integração.

VAZ, Alcides da Costa. Cooperação, integração e processo negociador: aconstrução do Mercosul. Brasília: IBRI, 2002. Obra na qual o autor analisao processo de integração no Cone Sul, chamando a atenção para o proces-so negociador no âmbito do bloco. Além de uma discussão profunda sobrea integração na região, o livro também possui uma apropriada discussãoteórica sobre regionalismo econômico.

MEDEIROS, Marcelo Almeida. “Relações externas do Mercosul: umaabordagem brasileira”. In: Revista Brasileira de Política Internacional, ano38, nº- 2, 1995, p.31-58. Artigo no qual o autor contempla as relações exter-nas do Mercosul, analisando suas relações com as principais regiões geo-gráficas do globo, como a América Latina, a América do Norte, a EuropaOcidental e a Ásia.

GUIMARÃES, Samuel Pinheiro. “Aspectos econômicos do Mercosul.”In: Revista Brasileira de Política Internacional, ano 39, nº- 1, 1996, p. 19-47.O artigo versa sobre as questões econômicas e institucionais do Merco-sul; discute também o grau e o caráter do relacionamento com outrasentidades regionais, como o NAFTA e a União Européia, e a participaçãodo Mercosul no processo hemisférico de livre-comércio. O autor defen-de que o futuro do bloco depende de uma convergência de perspectivasentre o Brasil e a Argentina no quadro do sistema político e econômicointernacional.

VIGEVANI, Tullo; VEIGA, João Paulo. Mercosul: interesses e mobili-zação sindical. In: Revista Brasileira de Política Internacional, ano 39, nº- 1,1996, p. 48-71. Artigo no qual os autores discutem as motivações que têm

Análise Bibliográfica 173

impulsionado a participação do movimento sindical dos quatro países doMercosul, com particular atenção ao Brasil.

CASTRO, Maria Silvia Portella de. A estratégia da ação sindical noMercosul. In: Revista Brasileira de Política Internacional, ano 39, nº- 2,1996, p. 51-73. Outro artigo sobre a questão sindical, no qual a autoraanalisa a participação das forças sindicais no processo de integração daAmérica Latina, ressaltando a crescente debilidade dos trabalhadores emface da afirmação das tendências neoliberais nas políticas econômicasnacionais e nos próprios modelos de integração.

VARGAS, Everton Vieira. “Átomos na integração: a aproximaçãoBrasil-Argentina no campo nuclear e a construção do Mercosul.” In:Revista Brasileira de Política Internacional, ano 40, nº- 1, 1997, p.41-74.O artigo dá ênfase à importância da aproximação entre o Brasil e aArgentina no campo nuclear, ocorrida na segunda metade da décadade 1980 e no início dos anos 90, como fundamento para a construçãode um relacionamento novo que suplantou a rivalidade histórica entreambos.

OLIVEIRA, Odete Maria de. “A integração bilateral Brasil-Argentina:tecnologia nuclear e Mercosul.” In: Revista Brasileira de Política Interna-cional, ano 41, nº- 1, 1998, p.5-23. A autora destaca o complexo processode integração bilateral Brasil-Argentina, desdobrando-o em sua duplaabrangência: a cooperação pacífica da tecnologia nuclear e a constituiçãode um mercado comum.

GIAMBIAGI, Fabio. “Moeda única do Mercosul: notas para o deba-te.” In: Revista Brasileira de Política Internacional, ano 41, nº- 1, 1998, p. 24-38. Nesse artigo, o autor comenta algumas críticas feitas à proposta decriação de uma moeda única para o Mercosul. Esclarece que a propostadeve ser entendida como uma meta a ser alcançada após a concretizaçãode uma série de pré-requisitos, e que a interpretação de que a proposta sóinteressa à Argentina não parece correta.

MEZA, Raúl Bernal. “As relações entre Argentina, Brasil, Chile eEstados Unidos: política exterior e Mercosul.” In: Revista Brasileira dePolítica Internacional, ano 41, nº- 1, 1998, p. 89-107. O artigo apresentauma reflexão de teoria política, que busca inserir a análise da política exte-rior dos três países latino-americanos no quadro das relações hemisféri-

Integração Regional174

cas, no caso com os Estados Unidos da América. Do mesmo autor:“Políticas exteriores comparadas de Argentina e Brasil rumo aoMercosul.” In: Revista Brasileira de Política Internacional, ano 42, nº- 2,1999, p. 40-51. Nesse artigo, o autor analisa o Mercosul sob a perspectivadas políticas exteriores de Brasil e Argentina, e a influência sobre a con-formação do bloco.

VEGAS, Jorge Hugo Herrera. “Impactos da desvalorização do realsobre o comércio entre Brasil e Argentina.” In: Revista Brasileira de PolíticaInternacional, ano 42, nº- 2, 1999, p.5-17. Análise de um tema crucial paraa consolidação do Mercosul. O autor examina os impactos da desvalori-zação do real sobre o comércio bilateral dos dois mais importantes parcei-ros do bloco, e tece considerações relativas às perspectivas futuras dessecomércio.

GOMES, Miriam Saraiva; ALMEIDA, Fernando Roberto de Freitas.“A integração Brasil-Argentina no final dos anos 90.” In: RevistaBrasileira de Política Internacional, ano 42, nº- 2, 1999, p. 18-39. Nesseartigo, os autores explicam a situação das relações entre Brasil eArgentina no final dos anos 90, contemplando quatro campos conside-rados mais relevantes: econômico, de política externa e de segurança,científico e cooperação energética.

VAZ, Alcides Costa. “Parcerias estratégicas no contexto da políticaexterior brasileira: implicações para o Mercosul.” In: Revista Brasileira dePolítica Internacional, ano 42, nº- 2, 1999, p. 52-80. O autor destaca a con-formação de parcerias dentro do amplo contexto da política exterior doBrasil, enfatizando seus aspectos bilaterais e sua relação com o Mercosul.Além disso, o autor conclui que as negociações no âmbito da Alca deve-rão fortalecer o perfil comunitário do Mercosul frente a seus interlocuto-res no continente.

ALMEIDA, Paulo Roberto de; CHALOULT, Yves. “Avanços da regio-nalização nas Américas: cronologia analítica.” In: Revista Brasileira dePolítica Internacional, ano 42, nº- 2, 1999, p. 144-160. Os autores apresen-tam uma cronologia analítica dos processos de regionalização nasAméricas com objetivos didáticos.

Análise Bibliográfica 175

NAFTA e ALCA

“U.S.-Mexico Free Trade Agreement”, Congressional Digest, v. 71, feve-reiro de 1992. Tudo sobre os dois países. Bons números e dados estatísticos.

“North American Free Trade Agreement”, Congressional Digest, v. 72,novembro de 1993. Trata das relações Estados Unidos-Canadá-México. Dáas principais linhas do acordo.

BROWN, D. K.; STERN, R.M. “North American Integration”, TheEconomic Journal, v. 102, nº- 415, novembro de 1992. É uma análise sobreas possibilidades do Nafta, do ponto de vista de economistas. Cheio dedados e fórmulas econômicas.

FRY, Earl H. “Negotiations toward a North American Free TradeAgreement”, Journal of State Government, v. 64, nº- 4, outubro/dezembro de1991. Útil nos aspectos sobre comércio, população, PIB. Conta também ahistória inicial dos entendimentos.

PORRUA, Miguel Angel. Hacia un tratado de libre comércio en Américadel Norte. México: Grupo Editorial, 1991. São 12 artigos escritos por mexi-canos e que aceitam a possibilidade de uma integração da América do Norte.

PAZOS, Luis. Libre Comércio: México-Estados Unidos. Mitos y hechos.México: Editorial Diona, 1993. Todos os dados e comentários, do pontode vista mexicano, sobre as relações de comércio entre os dois países.Tem um útil comentário sobre o texto do tratado de integração.

KRUGMAN, Paul. “The uncomfortable truth about Nafta”, ForeignAffairs, v. 72, nº- 5, novembro/dezembro de 1993, p. 13-20. O benefício daintegração para os Estados Unidos será pequeno. Acredita que estarãomesmo ajudando um vizinho a crescer política e economicamente.

HAKIM, Peter. “The enterprise for the Americas Initiative – whatWashington wants”, The Brookings Review, v. 10, nº- 4, outono de 1992. AAmérica Latina está mudada, sem guerrilhas, ditaduras, com democracia.Entende que alguma coisa de diferente tinha de ser feita por Washingtonpara aproveitar o momento e, claro, manter a liderança das iniciativas nasAméricas com os Estados Unidos.

MORICI, Peter. “Free trade with Mexico”, Foreign Policy, nº- 87, verãode 1992, p. 88-104. Todos os dados do comércio e as implicações de umaintegração. Uma boa análise.

Integração Regional176

BOUZAS, Roberto; LUSTINHG, Nora(Ed.). Liberación comercial yintegración regional – de Nafta a Mercosur. Buenos Aires: Grupo EditorLatino-americano, 1992. São sete artigos escritos por autores diversos, emque se analisa a possibilidade de integração dos vários grupos em forma-ção na América Latina com o Nafta.

GREEN, Roy (Ed.). The enterprise for the Americas Initiative: issues andprospects for a free trade agreement in the Western Hemisphere. Connecticut:Praeger, 1993. O título do livro diz praticamente tudo. É um estudo sobre aspossibilidades de integração global da área mais tarde.

WEINTRAUB, Sidney. Nafta: what comes next?. Connecticut: Praeger,1994. Dados e números sobre o comércio Estados Unidos-Canadá-México.Analisa o aprofundamento do Nafta. É a favor.

Tratado de Libre Comércio de América del Norte – Texto Oficial.México: Secofi, 1994. O texto oficial tem 1.218 páginas.

ORNE JR., William. “Nafta: myths versus facts”, Foreign Affairs, v. 72,nº- 5, novembro/dezembro de 1993. Acredita que, ao longo dos anos, oNafta será benéfico para os Estados Unidos e o México.

ARELLANO, Sergio Berumen. Análisis de Mexico y el tratado de librecomercio de América del Norte (Tlcan). México: Ediciones Taller Abierto,1999. É um estudo pequeno, mas didaticamente útil, sobre os passos maisimportantes do acordo do Nafta.

BATRES, Roberto E. “A Mexican view of the North American FreeTrade Agreement”. Columbia J. World Bus, 26:2, verão 1991, p. 79-90.Defende que o acordo criará mais empregos nos Estados Unidos, que ele étambém estratégico para as nações participantes.

OBEZO, René Vidaurrázaga. “El impacto del Tratado de LibreComercio entre México, Estados Unidos y Canadá en ele sector agropecua-rio de Coahuila”. Estud. Front., nº- 39, janeiro/fevereiro, 1997, p.9-36. É umaanálise específica sobre uma região do México. Acredita que a produção docampo não terá condições de competir.

WEINTRAUB, Sidney. “The depth of economic integration betweenMexico and the United States”. Washington Q./TWQ, 18:4, outono de 1995,p. 173-184. É um artigo que procura mostrar que a integração México-Estados Unidos não vai atingir por si só altos índices de ganhos, mas que elaé necessária para justamente tentar aumentar os ganhos. Sem ela seria pior.

Análise Bibliográfica 177

ROZENTAL, Andrés. “La nueva etapa en las relaciones Mexico-Estados Unidos”. Mex. Polit. Exter., nº- 44, outono de 1994, p. 7-13. Entendeque o México no Nafta pode provocar mudanças positivas nas relaçõesEstados Unidos-México.

ALDÁS, Francisco R. Dávila. “El Tratado de Libre Comércio México-Estados Unidos y el desarrollo de México”. Estudios Politicos/UNAM, 4:4julho/setembro de 1994, p. 63-95. Examina o impacto do Nafta noMéxico, principalmente depois da crise macroeconômica da década de1980.

GONZÁLEZ, Maria Cristina Rosas. “El Tratado de Libre Comercio deAmérica del Norte: factores estratégicos”. Ciclos Hist.Econ.Soc., 4:4, 1994, p.95-118. Discute as diferenças entre os três parceiros integrados. Entendeque tem potencial a integração do México com o Canadá.

SCHOTT, Jefrey J.; HUFBAUER, Gary C. “Free trade areas, theEnterprise for the Americas Initiative and the multilateral trading system”(Strategic options for Latin America in the 1990s, Washington: Inter-American Development Bank, 1992, p. 249-277). Analisa o Nafta e aIniciativa para as Américas, e quais os impactos que trariam para as váriasintegrações sub-regionais em andamento.

BARBOSA, Rubens Antonio. “A Alca e o futuro da integração regio-nal: a visão brasileira”. In. Revista Brasileira Comércio Exterior, 13:55, abril/junho de 1998, p. 4-13. Ele era embaixador do Brasil em Londres e analisaas implicações da participação do Brasil naquela integração.

PANAGARIYVA, Arvind. “The free trade area of the Americas: goodfor Latin America?”. World Econ., 19:5, setembro 1996, p. 485-515. Examinaos custos e benefícios da Alca e conclui que essa integração traria impactosnegativos para a América Latina.

FERNANDEZ, Wilson. Mercosur, Estados Unidos, Alca: globalización yregionalizacion en el cambio del siglo. Montevidéu: Fundación de CulturaUniversitaria, 2000. Tem boa base teórica na análise. Dá alguma ênfase aorelacionamento um tanto quanto conflituoso entre os Estados Unidos e aAmérica Latina.

VEIGA, Pedro da Motta. “Mercosur and the construction of the Ftaa”.Integr. Trade, 1:3, setembro/dezembro 1997. Examina a construção da Alcae como isso pode coincidir com os interesses do Mercosul.

Integração Regional178

VIGEVANI, Tullo; MARIANO Marcelo Passini. Alca: o gigante e osanões. São Paulo: Senac, 2003. Trata dos passos rumo à Alca. Preocupa-secom a forte presença norte-americana nessa futura integração.

RATTNER, Henrique. Mercosul e Alca: o futuro incerto dos países sul-americanos. São Paulo: Edusp, 2002. Fala do momento mundial e das crisesnos países do Mercosul, principalmente a da Argentina. Nesse contexto esituação, a Alca não seria interessante nesse tipo de unidade econômica.

GOVOS JR., Durval de Noronha. Ensaios sobre Direito Internacional.São Paulo: Observador Legal, 1999. São artigos e palestras de um advoga-do sobre OMC, Mercosul e Alca. É crítico sobre uma integração com osEstados Unidos; aponta os motivos.

Da Embaixada do Brasil em Washington veio, em 2003, Barreiras aProdutos e Restrições a Serviços e Investimentos nos EUA. São Paulo: EdiçõesAduaneiras, 2003; em que fala dos fatos, meios, alternativas e complicaçõessobre todos os produtos do Brasil exportados para os Estados Unidos. Temuma apresentação, feita pelo então embaixador, Rubens Barbosa, de novem-bro de 2003, mostrando as vendas em bens industrializados para aquele país.

MCCA, Comunidade Andina e CARICOM

MENEZES, Alfredo da Mota. Do sonho à realidade: a integração eco-nômica latino-americana. São Paulo: Alfa Omega, 1990. Trata da históriadas tentativas de integração econômica na Alalc, no Pacto Andino e noMCCA, como nasceu e motivos de seus fracassos.

ESCAITH, Hubert. “Los países del Mercado Común Centroamericanofrente a los desafios de una zona de libre comercio hemisférico: el grado depreparación macroeconômica”. Integr.Comer., 1:1, janeiro/fevereiro de 1997,p. 41-64. É um estudo de economista, com dados sobre a realidade dos paí-ses da América Central frente à proposta da Alca. Defende que a Costa Ricaé o país melhor preparado, não Honduras ou Nicarágua.

LIZANO, Eduardo; HUERTAS, Maritza. Bibliografia sobre elMercado Común Centroamericano”. San José: CSUCA/ESC, 8:24, setem-bro/dezembro de 1979, p. 271-330. É uma bibliografia completa sobre essaintegração econômica até 1977, com 498 referências.

Análise Bibliográfica 179

JUNQUERA, Fernando Rueda. La reactivación dele Mercado ComúnCentroamericano. Burgos: Universidad de Burgos/ Servicio de Publicaciones,1999. É uma tese acadêmica e trata, como o próprio título diz, dos passosmais recentes na integração dos países dessa região.

PADILLA, Ramon.“El comercio intraindustrial en el Mercado ComúnCentroamericano”. Comer.Exter., 48:11, novembro de 1998, p.896-902.Analisa o comércio industrial de 1978 a 1979, e de 1994 a 1995. Defendeque esse comércio é relativamente alto em Guatemala, El Salvador e CostaRica, e baixo em Honduras e Nicarágua.

BULMER-THOMAS, Victor. “The Central American CommonMarket: from closed to open regionalism”. World Development, 26:2,fevereiro 1998, p. 313-322. Afirma que a recente integração é diferenteda anterior, e é mais voltada para exportar do que em substituir impor-tação.

ZENDER, Ignacio Basombrio; VIGIL, Fernando Gonzalez. El Peru yele Grupo Andino: elementos para un debate nacional. Lima: CentroPeruano de Estudios Internacionales, 1993. Analisa os passos cautelosos doPeru na Comunidade Andina. Recomenda que o país deve permanecernessa integração.

FLORES, Rubén. “Negociacones Comunidad Andina de Naciones y elMercado Común del Sur”. Ecuad. Debate, 47, agosto de 1999, p. 99-127.Estuda as negociações entre os países andinos e os membros do Mercosul,incluindo a que foi feita antes entre o Brasil e a Comunidade Andina.

Comunidad Europea, Pacto Andino: hacia la profundización de las rela-ciones birregionales. Madri: Instituto de Relaciones Europeo-Latino-americanas, 1993. Trata, com profundidade, as relações econômicas e polí-ticas entre a União Européia e a Comunidade Andina depois do acordoassinado entre os dois lados, em 1992.

Las economias andinas: evolución y perspectivas. Lima: FundaciónFriedrich Elbert del Peru, 1993. É um livro que mostra cerca de 20 anos doscaminhos econômicos percorridos pela Comunidade Andina.

AXLINE, Andrew. From Carifta to Caricom: deepening Caribbean inte-gration in Caribbean Freedom: society and economy from emancipation tothe present. Kingston: Ian Randle Publishers, 1993, p. 476-487. Examina aintegração no Caribe desde o tratado de 1968.

Integração Regional180

HOPE, Kempe; WALTERS,R.M. Recent performance and trends in theCaribbean economy: a study of selected Caribbean countries. University of WestIndies: Institute of Social and Economic Research, 1980. Estuda a economiade Guiana, Barbados, Jamaica e Trinidad e Tobago. Apresenta alternativaspara o futuro econômico dos quatros países.

“Ampliación del processo de integración del Caribe”. UNECLAB/B,1974, p. 79-85. Analisa a formação do Caricom e também os problemas dospaíses da área ainda não filiados.

CARIBBEAN COMMUNITY SECRETARIAT. The Caricom Biblio-graphy, Georgetown, Guiana, 1981. É a bibliografia sobre a integração atéaquela data.

KING, Kurleigth. “Caribbean regional integration: the strenghts andweaknesses of the Caribbean Community”. In: Perspectives on Caribbeanregional identity. Liverpool: Center for Latin American Studies, 1984, p. 29-38. Examina vários aspectos dessa tentativa de integração, incluindo asquestões de disparidades entre as economias da região e a vulnerabilidadeaos fatores externos.

STARK, Jeffrey. The challenge of change in Latin America and theCaribbean. Boulder: Lynne Reinner Publishers, 2001. É um estudo doCentro Norte-Sul, em Coral Gable. São nove artigos que tratam da situa-ção dos países da área frente à integração. Destaque para os tópicos sobreBrasil, Argentina, Costa Rica e Trinidad e Tobago.

Ten years of Caricom, Georgetown: Inter American Bank, 1984. Comoo título diz, analisa os dez anos da integração no Caribe.

RAMSARAN, Ramesh. Caricom: the integration process in crisis. JWTL,12:3, maio/junho de 1978, p. 208-217. Estuda a crise de um momento quan-do a Jamaica e a Guiana restringiram suas importações da área.

Ásia (ASEAN – APEC)

O continente asiático é o menos estudado no Brasil. Tal fato acabarefletindo-se nas análises sobre os processos de integração nessa importan-te região. Assim, a bibliografia mais especializada disponível está, geral-mente, em língua inglesa, embora exista alguma literatura em português,

Análise Bibliográfica 181

sobretudo análises específicas sobre certas economias asiáticas. Entre aseconomias asiáticas, a China e o Japão são os dois casos mais estudados,haja vista sua importância econômica, não só para a região, mas tambémpara todo o planeta. Nesse sentido, citaremos os estudos mais importantesdisponíveis em português e alguns de destaque em língua inglesa.

ABI-SAD, Sérgio Caldas Mercador. A Potência do Dragão: A EstratégiaDiplomática da China. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1996. Fazuma análise detalhada da inserção internacional da China dando destaquepara a atuação da sua diplomacia, descrevendo aspectos políticos e comerciais.

HAESBAERT, Rogério. China: Entre o Oriente e o Ocidente. São Paulo:Ática, 2000. Breve estudo contendo dados sobre a economia chinesa.

LEITE, José Roberto Teixeira. A China no Brasil. Campinas: Unicamp,2000. Analisa aspectos da presença chinesa no Brasil.

MEZZETTI, Fernando. De Mao a Deng: A Transformação da China.Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2000. Estudo de fôlego; o autoranalisa como se formou a atual potência chinesa e sua importância econô-mica e política no cenário internacional.

OLIVEIRA, Carlos Tavares de. O Despertar da China. A Abertura paraa Economia de Mercado. São Paulo: Aduaneiras, 1997. Analisa o períodocontemporâneo e os avanços econômicos alcançados pela China, comênfase na política de exportação do país.

PINTO, Paulo Antonio Pereira. A China e o Sudeste Asiático. PortoAlegre: UFRGS, 2003. Um dos maiores especialistas brasileiros na regiãodo Sudeste Asiático. O autor mostra o dinamismo da região através doolhar de quem viveu um bom período nessa região.

POMAR, Wladimir. China – O Dragão do Século XXI. São Paulo:Ática, 1996. Leitura introdutória, defendendo a idéia de que a economiachinesa ainda vai se expandir consideravelmente ao longo do século XXI,sendo provavelmente a principal potência mundial. Ainda sobre a China,destacam-se duas dissertações de mestrado defendidas na Universidade deBrasília: CAICHIOLO, Carlos Ricardo. Relações Brasil-China: do PeríodoQuente da Guerra Fria à Abertura da China ao Ocidente. Universidade deBrasília. Brasília, Departamento de História, dissertação de mestrado,2001. O autor faz uma análise considerando o histórico do relacionamen-to bilateral entre Brasil e China, utilizando-se de documentação diplomá-

Integração Regional182

tica brasileira e de uma série de outros dados, inclusive estatísticos, econsidera estratégico uma aproximação entre ambos. HANWU, Zhang.China-Brasil: Relações Bilaterais no Período de 1974 a 1990. Universidade deBrasília, Departamento de Relações Internacionais, dissertação de mestra-do, 1991. Analisa as relações entre os dois países sob uma perspectiva estra-tégica, considerando aspectos de cooperação.

CABRAL, Severino. “Encontro entre Brasil e China: Cooperação parao século XXI”. Revista Brasileira de Política Internacional, ano 43, nº- 1,2000, p. 24-42. O autor ressalta a importância estratégica para o Brasil deuma aproximação com a China. Do mesmo autor e seguindo a mesmalinha de raciocínio, temos também: “Brasil e China: Aliança e Cooperaçãopara o Novo Milênio”, Seminário Brasil-China, Rio de Janeiro, 18-19novembro de 1999, MRE/FUNAG/IPRI, 26 p.

HENGMIN, Yin. “Desenvolvimento do Relacionamento da ParceriaEstratégica Sino-Brasileira Rumo ao Século XXI”. Trabalho apresentado noSeminário Brasil-China, Rio de Janeiro 18-19 de novembro de 1999,MRE/FUNAG/IPRI, 8 p. O autor, igualmente, segue uma perspectiva decooperação para o desenvolvimento.

UEHARA, Alexandre Ratsuo. A Política Externa do Japão no final doséculo XX. O que faltou? São Paulo: Annablume/Fundação Japão, 2003. Fazuma análise da inserção internacional do Japão na virada do milênio, buscan-do identificar as principais linhas de ação da política externa daquele país.

SHANG, Deliang.“Political Cooperation Between China and Brazil vsMultipolarization”. Trabalho apresentado no Seminário Brasil-China, Riode Janeiro, 18-19 de novembro de 1999, MRE/FUNAG/IPRI, 19 p. O autorenfatiza as vantagens de uma cooperação política entre Brasil e China.

SILVA, Ricardo Luis Pires Ribeiro. “O Relacionamento Brasil-China:Uma Dimensão Histórica” In: MRE/IPRI, Ensaios de História Diplomáticado Brasil (1930-1986). Brasília: MRE, Cadernos do IPRI, nº- 2, 1989. Análisehistórica do relacionamento bilateral entre Brasil e China.

CHU, Yun-Han et al. “Conflict Displacement and Regime Transitionin Taiwan: a Spatial Analysis.” World Politics, v. 48, nº- 4, julho de 1996, p.453-481. E também: FREEMAN, Jr., Chas. W. “Preventing War in theTaiwan Strait”. Foreign Affairs, v. 77, nº- 4, julho/agosto de 1998, p. 6-11.Analisam a questão de Taiwan, dando destaque ao plano da segurança

Análise Bibliográfica 183

internacional para esse importante aliado ocidental na região do sudesteasiático, sobretudo frente à China.

KUX, Dennis. “India´s Fine Balance”. Foreign Affairs, v. 81, nº- 3, p. 93-106. Artigo sobre a Índia, dando destaque ao crescimento econômico.

NUNES SOBRINHO, Geraldo. “Atores Institucionais e Políticas de C& T na formação de recursos humanos de alto nível: casos do Brasil e daCoréia do Sul”. p. 121-177. In: BAUMGARTEN, Maíra (Org.). A Era doConhecimento. Matrix ou Ágora. Brasília/Porto Alegre: UnB/ UniversidadeFederal do Rio Grande do Sul, 2001. Estudo comparativo sobre Brasil eCoréia do Sul, importante para entender o alto grau de desenvolvimentoalcançado pela Coréia do Sul.

SCHWARZ, Adam. “Indonesia after Suharto”. Foreign Affairs, v. 76, nº-4, julho/agosto de 1997, p. 119-134. Artigo que analisa a situação econômi-ca e política da Indonésia após a queda do ditador Suharto.

O´BRIEN, Terence. “A Nova Zelândia e a ASEAN: Perspectivas Atuais eFuturas”. Parcerias Estratégicas, v. 1, nº- 3, junho de 1997, p. 155-177. Faz umaanálise de como a Nova Zelândia (assim como a Austrália), um país não-asiá-tico em termos culturais, se relaciona e se insere no contexto asiático.

HENDERSON, Jeannie. “Reassessing ASEAN”. London, InternationalInstitute for Strategic Studies, Adelphi Papers, nº- 328. Trabalha com a perspectiva da retomada do processo de integração no âmbito da Asean.

HESSE, Helmut; AURIA, Laura. “The Financial Crisis in SoutheastAsia: Causes and Effects on the Global Economy”. Economics. A BiannualCollection of Recent German Studies. Tübingen: Institut für WissenschaftlicheZusammearbeit, v. 57, 1998, p. 45-70. Muito bom artigo, analisando a crisedas economias asiáticas que colocou em xeque as perspectivas de cresci-mento extraordinário da região.

KRUGMAN, Paul. “O mito do milagre asiático”. Política Externa, v. 3,nº- 4, março de1995, p. 91-104. O autor tece ponderações sobre o cresci-mento das economias asiáticas; bastante equilibrado e realista, ou seja,contra a idéia de otimismo exagerado muito comum durante a primeirametade da década de 1990.

MANNING, Robert A.; STERN, Paula. “O mito da Comunidade doPacífico”. Política Externa, v. 3, nº- 4, novembro/dezembro de 1994. p. 112-124. Artigo crítico, que ressalta as diferenças entre os países da região, tanto

Integração Regional184

em termos políticos quanto econômicos, mostrando as desigualdadesregionais e as dificuldades da criação de uma verdadeira comunidade naregião asiática.

MENON, Rajan; WIMBUSH, S. Enders. “Asia in the 21st Century”.The National Interest. nº- 59, primavera de 2000. p. 78-86. Os autores anali-sam as perspectivas asiáticas para o século XXI, destacando a dinâmicaeconômica e a possibilidade de continuidade de crescimento.

MEYER, Arthur V. Correa. “A região da Ásia-Pacífico no limiar doSéculo XXI: O papel da APEC e da ASEAN”. Política Externa, v. 5, nº- 1,junho de 1996, p. 109-114. Bom artigo, um apanhado geral sobre a Ásia/Pacífico e como os blocos regionais asiáticos se inserem no contexto dodesenvolvimento regional.

OLIVEIRA, Amaury Porto de. “Duas Visões da APEC (ConselhoEconômico Ásia-Pacífico)”. Revista Brasileira de Política Internacional, ano38, nº- 1, 1995, p. 99-116. Bom e acessível artigo sobre a APEC. Discute,entre outras questões, o papel dos Estados Unidos e do Japão na APEC.Do mesmo autor, ver também: “O leste asiático em tempos de monopola-ridade”. In: Revista Brasileira de Política Internacional, ano 39, nº- 2, 1996,p. 5-32. Neste artigo, o autor versa sobre a questão da reformulação dapolítica de segurança na região da Ásia-Pacífico, envolvendo EstadosUnidos, Rússia e países asiáticos, com ênfase no Japão e na China no con-texto pós-Guerra Fria.

África – ECOWAS e SADC

ONWUKA, Ralph I. Development and Integration in West African: Thecase of the Economic Community of West African States (Ecowas). Ile Ife,Nigéria: University of Ife Press, [s.d.], p.53-88. Analisa a gênese da Ecowas e oprocesso diplomático de construção da Comunidade até o início dos anos 80.

NWABUZOR, E.J.O. “Politics of African Economic Integration”. In:EDOZIEN, E. C.; OSAGIE, E. Economic Integration of West Africa. Ibadan,Nigéria: Ibadan University Press, 1982. Neste capítulo, os autores analisamos processos de integração no continente africano, além da Ecowas.Contudo, o livro, como indica o título, dá ênfase no processo de integração

Análise Bibliográfica 185

da África Ocidental. Sobre o processo de formação da SADCC e seus des-dobramentos ver: PORTO, Valéria. SADCC: Coordenação Política eEconômica dos Governos de Maioria da África Austral na Luta contra oApartheid. Brasília: UnB, 1991. Dissertação de Mestrado.

LEISTNER, Erich; ESTERHUYSEN, Pieter (Ed.). South Africa inSouthern Africa. Economic Interaction. Pretória: Africa Institute of SouthAfrica, 1988.

LAVERGNE, Réal (Ed). Regional Integration and Cooperation in WestAfrica. A multidimensional perspective. Trenton (NJ): Africa World PressInc, 1997. Livro dividido em três partes, sendo 16 capítulos no total.Apresenta uma visão bastante ampla sobre a integração na ÁfricaOcidental, contemplando aspectos econômicos, políticos, sociais, culturaise institucionais sobre a Ecowas. Leitura obrigatória para quem quiser apro-fundar os estudos sobre a integração nessa região da África.

KAMARCK, Andrew M. A Economia da África. Lisboa: PublicaçõesDom Quixote, 1971. Estudo sobre o desenvolvimento econômico da Áfri-ca, a partir de uma perspectiva histórica e passando pela análise dos diver-sos setores da economia africana, como agricultura, mineração, industria-lização, infra-estrutura e investimentos estrangeiros no continente.Naturalmente, há de se considerar que se trata de uma obra não atualiza-da, mas que possibilita entender a formação da economia africana e o seuestágio de desenvolvimento no período inicial da era pós-colonial.

OJO, O.; ORWA, D.K.; UTETE, C.M.B. African InternationalRelations. London: Longman, 1990. Obra com ênfase nas relações interna-cionais do continente africano, abordando temas políticos e econômicosda sua agenda internacional. A integração econômica é contemplada nocapítulo 10, que faz um histórico dos esforços de cooperação e integraçãoregional no período pós-colonial.

OJO, Olatunde J.B.“Nigéria and the Formation of Ecowas”. InternationalOrganization, v. 34, 1980. Trata-se de uma análise da importância e do papelda Nigéria na formação da Ecowas, haja vista ser esse país o mais desenvolvi-do da região e possuir interesses regionais amplos.

YANSANE, A. Y.“West African Economic Integration: is Ecowas the ans-wer?” Africa Today, 24 (3), 1977. Estudo crítico sobre o processo de integraçãona África Ocidental; questiona se o processo de integração pode ter sucesso.

Integração Regional186

LAREMONT, Ricardo René (Ed.). The Causes of War and theConsequences of Peacekeeping in Africa. Portsmouth: Heinermann, 2002.Importante livro para compreender as causas dos conflitos africanos nofinal do século XX. Permite discutir as dificuldades da integração econô-mica em um continente marcado por diversos conflitos armados, que afe-tam não só os Estados nacionais, mas também os contextos regionais.

DI TELLA, Torcuato S. (Org.). África Sur/Mercosur. Buenos Aires:Nuevohacer/Grupo Editor Latinoamericano, 2000. Livro dividido em novecapítulos, sendo que dois tratam das possibilidades comerciais e de apro-ximação entre a Argentina e a África Austral. Os demais capítulos versamsobre o processo de integração no âmbito da SADC, com ênfase na Áfricado Sul e em análises específicas sobre Zimbábue e Angola.

Na seqüência, descreveremos artigos sobre a África disponíveis naRevista Brasileira de Política Internacional os quais podem ser, inclusive,acessados pela Internet:

SARAIVA, José Flávio Sombra. “Cooperação e Integração noContinente Africano: dos sonhos pan-africanistas às frustrações domomento”. In: Revista Brasileira de Política Internacional, ano 36, nº- 2,1993, p. 28-45. Neste artigo, o professor Saraiva busca acompanhar a ten-tativa africana de cooperação e integração ao longo do século XX, indican-do que a idéia de integração tem um forte apelo político.

DOPCKE, Wolfgang. “Uma Nova Política Exterior depois doApartheid? Reflexões sobre as relações regionais da África do Sul, 1974-1998. In: Revista Brasileira de Política Internacional, ano 41, nº- 1, 1998, p.132-160. O autor demonstra que as relações regionais na África Australsofreram uma mudança dramática, que transformou essa região de confli-to em uma zona de relativa paz e segurança entre os Estados, e discute quea região vive entre o compromisso com a integração e um clima de guerracomercial, tendo a África do Sul como principal ator.

DOPCKE, Wolfgang. “Há Salvação para a África? Thabo Mbeki e seuNew Partnership for African Development”. In: Revista Brasileira dePolítica Internacional, ano 45, nº- 1, 2002, p. 146-155. Procede uma análisedo NEPAD (New Partnership for African Development) proposto pelopresidente da África do Sul, Thabo Mbeki, e por outros líderes africanos,com o objetivo de erradicar a marginalização e o subdesenvolvimento

Análise Bibliográfica 187

africanos e promover o crescimento econômico através da integraçãocontinental.

PIMENTEL, José Vicente de Sá. “Relações entre o Brasil e a ÁfricaSubsaárica”. In: Revista Brasileira de Política Internacional, ano 43, nº- 1,2000, p. 5-23. O artigo avalia as ênfases diplomáticas brasileiras nos planosbilateral e multilateral frente ao continente africano, explorando a novaestratégia seletiva brasileira para aquele continente, com ênfase nas rela-ções do Brasil com África do Sul, Angola e Nigéria.

PENNA FILHO, Pio. “Segurança Seletiva no Pós-Guerra Fria: umaanálise da política e dos instrumentos de segurança das Nações Unidaspara os países periféricos. O caso africano”. In: Revista Brasileira de PolíticaInternacional, ano 47, nº- 1, 2004, p. 31-50. Análise de como as operações depaz das Nações Unidas vêm atuando nos conflitos africanos, fatores de ins-tabilidade política e subdesenvolvimento econômico.

Busca na Internet

Como as integrações econômicas estão ainda sendo concretizadas,uma das fontes mais adequadas e recomendadas para buscar informaçõesdo momento, ou até mesmo dos passos históricos das diversas tentativasem andamento, são os sites na Internet. Ali se encontram muitas informa-ções sobre as diversas integrações econômicas. Os dados mais importantestalvez sejam os referentes ao comércio de cada integração com o mundo ouentre os parceiros integrados, assim como análises teóricas diversas sobreos blocos ou assuntos correlatos.

Sites em Destaque

Ministério das Relações Exteriores do Brasil (Itamaraty), com linkspara outros sites:

www.mre.gov.brMinistério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, com

links organismos internacionais:www.desenvolvimento.gov.br/sitio/secex/neginternacionais/omc/gatt.php

Integração Regional188

RelNet. Site Brasileiro de Referência em Relações Internacionais. É amaior base de dados disponível em português sobre Relações Interna-cionais, inclusive contendo vários artigos sobre economia internacional eintegração regional. Possui, por exemplo, o Portal “União Européia”, quedivulga notícias e informações atualizadas sobre a integração européia.http://www.relnet.com.br

Blocos Econômicos

ALCA: www.ftaa-alca.org

NAFTA: www.sice.oas.org/summary/nafta

CAFTA: www.cafta.gob.sv/

MERCOSUL: www.mercosul.gov.br

COMUNIDADE ANDINA: www.comunidadandina.org

MERCADO COMUM CENTRO AMERICANO: www.sieca.org.gt

COMUNIDADE DO CARIBE: www.caricom.org

APEC: www.apecsec.org.sg

ASEAN: www.aseansec.org

ECOWAS: www.cedeao.og

SADC: www.sadc-usa.net

UNIÃO EUROPÉIA: www.europa.eu.int e http://euobserver.com

Organismos Internacionais

Fundo Monetário Internacional: www.imf.org/

Conferência da ONU sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD):http://www.unicc.org/unctad/

Organização Mundial do Comércio (OMC): www.wto.org/

Banco Mundial: www.bancomundial.org

Comissão Econômica para a América Latina: www.cepal.org

Análise Bibliográfica 189

Integração Regional190

Organização dos Estados Americanos: www.oas.org e www.iadb.org

Divisão da União Européia e Negociações Extra-regionais:[email protected]

Site da CIA, com informações sobre países e blocos, inclusive estatís-ticas: www.cia.gov/cia/publications/factbook/geos/hk.html

Sobre o México, comércio e Nafta: www.economia.gob.mx

No site Google, busca-se de tudo. Exemplo: digita-se Nafta ou Tlcan etêm-se todas as informações na integração da América do Norte:www.google.com

Siglas

ALADI – Associação Latino-americana de Integração

ALALC – Associação Latino-americana de Livre Comércio

ALCA – Área de Livre Comércio das Américas

APEC – Conferência Econômica para a Região da Ásia Pacífico

ASEAN – Associação das Nações do Sudeste Asiático

BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento

CAF – Corporação Andina de Fomento

CAN – Comunidade Andina de Nações

CARICOM – Comunidade do Caribe (ou Comunidade Caribenha)

CEAO – Comunidade Econômica da África do Oeste

CECA – Comunidade Européia do Carvão e do Aço

CEE – Comunidade Econômica Européia

CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina

CSN – Comunidade Sul-Americana de Nações

ECA/ONU – Comissão Econômica para a África

ECOMOG – Grupo de Monitoramento da Ecowas

ECOWAS – Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental

EUA – Estados Unidos da América

EURATOM – Comunidade Européia de Energia Atômica

FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

FMI – Fundo Monetário Internacional

G-7 – Grupo dos Sete (Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, França,Itália, Alemanha e Japão)

MCCA – Mercado Comum Centro-Americano

MCE – Mercado Comum Europeu

MERCOSUL – Mercado Comum do Sul

MPLA – Movimento Popular para Independência de Angola

MRE – Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty)

NAFTA – Acordo de Livre Comércio da América do Norte

OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

OEA – Organização dos Estados Americanos

OMC – Organização Mundial do Comércio

ONU – Organização das Nações Unidas

PAC – Política Agrícola Comum

PESC – Política Externa e de Segurança Comum

PIB – Produto Interno Bruto

PNB – Produto Nacional Bruto

RENAMO – Resistência Nacional de Moçambique

SADC – Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral

SADCC – Coordenação do Desenvolvimento da África Austral

SWAPO – Organização dos Povos do Sudoeste da África

TEC – Tarifa Externa Comum

UE – União Européia

UEM – União Econômica e Monetária

UNITA – União Nacional para a Independência Total de Angola

ZLC – Zona de Livre-Comércio

Análise Bibliográfica 191

A N E XO S

APEC – (COOPERAÇÃO ECONÔMICA DA ÁSIA-PACÍFICO)

INTEGRANTES ÁREA POPULAÇÃO PIB RENDA CRESCIMENTO(km2) (Milhões (Milhões PER CAPITA ANUAL DO

de habitantes) de US$) (US$) PIB %

AUSTRÁLIA 7.682.300 19,5 368,7 19.900 4,1

BRUNEI 5.765 341 mil 4,8 24.100 1,0

CANADÁ 9.970.610 31,3 694,5 31.930 2,9

CHILE 756.626 15,6 64,2 4.250 6,8

CHINA 9.536.499 1.294 1,15 tri 890 10,3

CINGAPURA 641 4,2 85,65 21.500 7,8

CORÉIA DO SUL 99.237 47,4 422,2 9.460 5,7

ESTADOS UNIDOS 9.372.614 288,5 10,1 tri 34.280 1,5

FILIPINAS 300.000 78,6 71,4 1.030 3,3

HONG KONG 1.078 7.394 186,0 26.000 -3

INDONÉSIA 1.948.732 217,5 145,3 690 4,2

JAPÃO 372.819 127,5 4,1 tri 35.610 1,3

MALÁSIA 329.758 23 88 3.330 7

MÉXICO 1.972.547 100,9 637,2 5.910 3,1

NOVA ZELÂNDIA 270.534 3,8 50,4 13.250 3

PAPUA NOVA GUINÉ 462.840 5 2,95 580 4

PERU* 1.285.215 26,7 56,5 2.020 4,7

RÚSSIA* 17.075.400 143,8 309,5 1.750 -4,8

TAIWAN (FORMOSA) 36.202 22,3 313,9 14,188 8

TAILÂNDIA 513.115 64,3 114,7 1.940 4,2

VIETNÃ* 329.566 80,2 32,7 410 7,9

TOTAL 62.322.098 2.602,835

Fonte: Relatório do Banco Mundial (2004), The World Fact Book

(CIA – Disponível em http://www.cia.gov/cia/publications/factbook/geos/hk.html)

* Admitidos em 1997

ASEAN – (ASSOCIAÇÃO DAS NAÇÕES DO SUDESTE ASIÁTICO)

INTEGRANTES ÁREA POPULAÇÃO PIB RENDA CRESCIMENTO(km2) (Milhões (Milhões PER CAPITA ANUAL DO

de habitantes) de US$) (US$) PIB %

BRUNEI 5.765 0,341 4,8 24.100 1

CAMBOJA* 181.035 13,8 3,4 270 4,8

CINGAPURA 641 4,2 85,6 21.500 4,8

FILIPINAS 300.000 78,6 71,4 1.030 3,3

INDONÉSIA 1.948.732 217,5 145,3 690 4,2

LAOS 236.800 5,5 1,8 300 6,5

MALÁSIA 329.758 23 88 3.330 7

MIANMAR 678.033 49 63,0 755 6,6

TAILÂNDIA 513.115 64,3 114,7 1.940 4,2

VIETNÃ* 329.566 80,2 32,7 410 7,9

TOTAL 4.523.445 536,441

Fontes: Relatório do Banco Mundial (2004), Fundo Monetário Internacional.

* Admitido em 30 de abril de 1999.

Integração Regional194

CARICOM – (MERCADO COMUM DO CARIBE)

INTEGRANTES ÁREA POPULAÇÃO PIB RENDA CRESCIMENTO(km2) (Milhões (Milhões PER CAPITA ANUAL DO

de habitantes) de US$) (US$) PIB %

ANTÍGUA E BARBUDA 442 76,485 721 9.720 3,76

BAHAMAS 13.864 312 mil 4,8 14.960 4,5

BARBADOS 431 269 mil 2,75 9.750 4,1

BELIZE 22.965 236 mil 805 2.940 10,2

DOMINICA 751 71,079 mil 247,6 3.0 0,5

GRANADA 344 103,5 mil 414,1 3.530 6

GUIANA 214.970 766 mil 717,4 860 -0,7

HAITI** 27.400 8,3 3,4 440 -0,6

ILHAS TURKS E CAICOS* 430 19,350 231 9.600 4,9

ILHAS VIRGENS BRITNICAS* 153 21.730 320 16.000 1

JAMAICA 10.991 2,6 7,9 2.690 0,5

MONTSERRAT* 102 8,995 29 3.400 -1

SANTA LÚCIA 616,7 159,1 mil 659,8 3.750 2

SÃO CRISTÓVÃO E NEVIS 269 46,710 mil 356,3 6.540 2,6

SÃO VICENTE E GRANADINAS 389 109,2 mil 360,6 2.820 2,3

SURINAME 163.820 433 mil 952,1 1.940 -7,3

TRINIDAD E TOBAGO 5.123 1,3 9,6 6.750 3

TOTAL 463.060,7 14.934,000

Fonte: Relatório do Banco Mundial (2004), The World Fact Book

(CIA – Disponível em http://www.cia.gov/cia/publications/factbook/geos/hk.html).

* As Ilhas Virgens Britânicas, Turks e Caicos são considerados Membros Associados.

** O Haiti foi aceito como membro da Comunidade, no entanto, ainda consta como Membro Interino, até que a

Comunidade decida sobre os termos e condições para seu ingresso definitivo. O Haiti pode, por enquanto, participar das

deliberações dos Órgãos da Comunidade, tendo o status de Membro Provisório.

*** São considerados observadores os seguintes países: Anguilla, Aruba, Bermuda, Ilhas Caymã, Colômbia, República

Dominicana, México, Antilhas Holandesas, Porto Rico e Venezuela.

Anexos 195

ECOWAS – (COMUNIDADE ECONÔMICA DOS ESTADOS DA ÁFRICA OCIDENTAL)

INTEGRANTES ÁREA POPULAÇÃO PIB RENDA CRESCIMENTO(km2) (Milhões (Milhões PER CAPITA ANUAL DO

de habitantes) de US$) (US$) PIB %

BÊNIN 112.622 6,6 2,4 380 4,7

BURKINA FASO 274.200 12,2 2,5 220 4,9

CABO VERDE 4.033 0,430 496 1.200 5,0

COSTA DO MARFIM 322.463 16,0 9,3 660 3,5

GÂMBIA 11.295 1,3 416 340 2,4

GANA 238.538 20,2 5,3 290 4,3

GUINÉ 245.857 8,4 3,0 410 4,3

GUINÉ BISSAU 36.125 1,2 206 160 1,1

LIBÉRIA 111.369 3,3 522 140 -5

MALI 1.240.142 12 2,6 230 3,8

MAURITÂNIA 1.030.700 2,7 989 410 4,2

NÍGER 1.186.408 11,6 1,95 180 2,4

NIGÉRIA 923.768 120 41,4 240 2,4

SENEGAL 196.722 9,9 4,6 490 3,6

SERRA LEOA 71.740 4,9 647 140 -4,7

TOGO 56.785 4,6 1,5 330 2,3

TOTAL 6.062.767 235,33

Fontes: Relatório do Banco Mundial (2004) e página oficial da Ecowas na Internet.

Integração Regional196

NAFTA – (ACORDO DE LIVRE COMÉRCIO DA AMÉRICA DO NORTE)

INTEGRANTES ÁREA POPULAÇÃO PIB RENDA CRESCIMENTO(km2) (Milhões (Milhões PER CAPITA ANUAL DO

de habitantes) de US$) (US$) PIB %

CANADÁ 9.970.610 31,3 694,5 21.930 2,9

ESTADOS UNIDOS 9.372.614 288,5 10,1 tri 34.280 3,5

MÉXICO 1.972.547 100,9 637,2 5.910 3,1

TOTAL 21.315.771 420,7 11.112,3

Fonte: Relatório do Banco Mundial (2004).

MERCOSUL – (MERCADO COMUM DO SUL)

INTEGRANTES ÁREA POPULAÇÃO PIB RENDA CRESCIMENTO(km2) (Milhões (Milhões PER CAPITA ANUAL DO

de habitantes) de US$) (US$) PIB %

ARGENTINA 2.780.092 37,9 102,2 4.060 4,3

BOLÍVIA* 1.098.581 8,8 7,8 900 4

BRASIL 8.547.403,5 174,5 452,4 2.830 2,9

CHILE* 756.626 15,6 64,2 4.250 6,8

PARAGUAI 406.752 5,5 5,5 1.170 2,2

URUGUAI 176.215 3,4 12,1 4.340 3,4

TOTAL 13.765.669,5 245,7

* Fonte: FIESP/CIESP, Relatório do Banco Mundial (2004).

Membros associados. Assinam tratados para a formação da zona de livre-comércio, mas não entram na União

Aduaneira.

Anexos 197

COMUNIDADE ANDINA DE NAÇÕES

INTEGRANTES ÁREA POPULAÇÃO PIB RENDA CRESCIMENTO(km2) (Milhões (Milhões PER CAPITA ANUAL DO

de habitantes) de US$) (US$) PIB %

BOLÍVIA 1.098.581 8,8 7,8 900 4

COLÔMBIA 1.141.748 43,7 80,9 1.820 3

EQUADOR 283.561 12,8 24,3 1.490 1,8

PERU 1.285.215 26,7 56,5 2.020 4,7

VENEZUELA 912.050 25,1 94,3 4.080 1,6

TOTAL 4.721.155 117,1

Fonte: Relatório do Banco Mundial (2004).

MCCA (MERCADO COMUM CENTRO-AMERICANO)

INTEGRANTES ÁREA POPULAÇÃO PIB RENDA CRESCIMENTO(km2) (Milhões (Milhões PER CAPITA ANUAL DO

de habitantes) de US$) (US$) PIB %

COSTA RICA 51.100 3,9 16,8 4.070 5,3

EL SALVADOR 21.041 6,4 14,3 2.110 4,7

GUATEMALA 108.889 12,0 23,3 1.760 4,1

HONDURAS 112.088 6,8 6,6 930 3,2

NICARÁGUA 130.682 5,3 4 710 3,5

TOTAL 423.800 34,4

Fonte: Relatório do Banco Mundial (2004).

Integração Regional198

SADC – (COMUNIDADE DA ÁFRICA AUSTRAL PARA O DESENVOLVIMENTO)

INTEGRANTES ÁREA POPULAÇÃO PIB RENDA CRESCIMENTO(km2) (Milhões (Milhões PER CAPITA ANUAL DO

de habitantes) de US$) (US$) PIB %

ANGOLA 1.246.700 13,9 9,5 500 1,3

ÁFRICA DO SUL 1.223.201 44,2 113,3 2.820 2

BOTSUANA 581.730 1,6 5,2 3.100 4,7

LESOTO 30.355 2,2 792 570 7,2

MALAUÍ 118.484 11,8 1,7 160 3,8

MAURÍCIO 2.045 1,2 4,5 3.830 5,3

MOÇAMBIQUE 799.380 19,0 3,6 210 6,4

NAMÍBIA 824.292 1,8 3,1 1.960 4,1

REP. DEMOCR. CONGO 2.344.885 54,3 5,2 80 -5,1

SEICHELES 455 0,80 535 6.420 2,0

SUAZILÂNDIA 17.364 0,948 1,25 1.300 3,3

TANZÂNIA 939.470 36,8 9,3 270 2,9

ZÂMBIA 752.614 10,9 3,6 320 0,5

ZIMBÁBUE 390.759 13,1 9,05 480 2,5

TOTAL 9.271.734 212,548

Fontes: Relatório do Banco Mundial (2004) e página oficial da SADC na Internet.

Anexos 199

UNIÃO EUROPÉIA

INTEGRANTES ÁREA POPULAÇÃO PIB RENDA CRESCIMENTO(km2) (Milhões (Milhões PER CAPITA ANUAL DO

de habitantes) de US$) (US$) PIB %

ALEMANHA 356.733 82,0 1,8 tri 23.560 1,5

ÁUSTRIA 83.859 8,1 188,5 23.940 2,1

BÉLGICA 30.518 10,3 229,6 23.850 2

CHIPRE 9.250 0,780 15,71 20.300 3.2

DINAMARCA 43.093 5,3 161,5 30.600 2,5

ESLOVÊNIA 20.250 2,0 27,7 11.920 2,5

ESPANHA 505.945 39,9 581,8 14.300 2,5

ESTÔNIA 45.226 1,332 19,2 14.300 6,0

FINLÂNDIA 338.145 5,2 120,85 23.780 2,8

FRANÇA 543.965 59,7 1,3 tri 22.730 1,7

GRÉCIA 131.957 10,6 117,2 11.430 2,1

HOLANDA 41.526 16,0 380,1 24.330 2,8

HUNGRIA 93.030 10,0 149,3 14.900 3,9

IRLANDA 70.285 3,9 103,3 22.850 7,3

ITÁLIA 301.302 57,4 1,1 tri 19.390 1,6

LETÔNIA 64.589 2,29 26,53 11.500 7,6

LITUÂNIA 65.300 3,5 18,2 4.500 9,0

LUXEMBURGO 2.586,4 0,448 18,5 39.840 8,5

MALTA 0.316 0,398 7,22 18.200 1,0

POLÔNIA 312.7 38,2 209,6 5.280 3,7

PORTUGAL 91.985 10 109,8 10.900 2,7

REINO UNIDO 244.100 59,7 1,4 tri 25.120 2,5

REPÚBLICA TCHECA 78.870 10,2 89,7 7.150 3,1

REPÚBLICA ESLOVACA 48.845 5,4 32,5 4.940 4,2

SUÉCIA 449.964 8,8 209,8 25.400 1,0

TOTAL 3.235.963,4 377,348

Fontes: Sites do Banco Mundial, da União Européia e da CIA.

Integração Regional200