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ANO 6 NÚMERO 68 MARÇO DE 2018 • PROFESSORES RESPONSÁVEIS: FLÁVIO RIANI & RICARDO RABELO EXPEDIENTE Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais: Grão-Chanceler – Dom Walmor Oliveira de Azevedo | Reitor – Professor Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães | Vice-Reitora – Professora Patrícia Bernardes | Assessor Especial da Reitoria – Professor José Tarcísio Amorim | Chefe de Gabinete do Reitor – Professor Paulo Roberto Souza | Chefia do Departamento de Economia – Professora Ana Maria Botelho | Coordenação do Curso de Ciências Econômicas – Professora Ana Maria Botelho | Coordenação Geral – Professor Flávio Riani e Professor Ricardo F. Rabelo Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais: Prédio 14, sala 103 | Avenida Dom José Gaspar, 500 | Bairro Coração Eucarístico CEP: 30535-901 | Tel: 3319.4309 www.pucminas.br/Paginas/conjuntura-economica.aspx | [email protected] 1 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS Às 9h34 do dia 16 de novembro do ano passado, o ministro Gilmar Mendes convidou todos os cinco colegas a se sentar para dar início a mais uma sessão do Tribunal Superior Eleitoral.Um minuto e 18 segundos depois, todos começaram a se levantar para ir embora, fazendo jus cada um a R$ 1.012,89. Esse é o valor pago a cada ministro por comparecimento às reuniões do julgamento da corte eleitoral. Na sessão relâmpago de 2017 - talvez a mais rápida da história do tribunal-, a fase do julgamento em si durou 21 segundos. “ Eu julho, mês de férias dos magistrados e período em que não foi realizada nenhuma sessão, todos eles receberam o pagamento integral de R$ 8.1203,12, como se tivessem comparecido às oito sessões ordinárias do mês”. “ STF tem 88 folgas ao ano além dos fins de semana “ Ambas informações extraídas de Jornal Folha de São Paulo, domingo 1º de abril de 2018, página A8 poder e A4. Poderia ser uma brincadeira de primeiro de abril mas não é. Esse mesmo jornal no dia 18 de março de 2018 apresenta um relatório constatando que as concessões do Refis alcançaram R$ 11,7 bilhões. Tais fatos demonstram dois blocos de privilégios existentes no campo das finanças públicas que deveriam fazer parte das discussões sobre o ajuste fiscal necessário no âmbito do setor público brasileiro. A Rússia e a China apresentaram uma tendência de aceleração do crescimento em 2017 , ao contrário da Índia, devido a refeitos negativos de uma reforma monetária do governo. Esse desempenho promissor, que deveria se repetir em 2018, está ameaçado agora por uma guerra comercial desencadeada pelo Governo Americano, com imposição de tarifas sobre importação de commodities como aço e alumínio, cujo efeito sobre as economias emergentes será certamente negativo. 2 - CONCESSÕES FINANCEIRAS GERADAS PELOS REFIS Prof. Flávio Riani Segundo informações divulgadas pelo Jornal Folha de São Paulo nos períodos mencionados nas considerações iniciais, as mil maiores dívidas inscritas no Refis tiveram descontos de 32%, sendo que os bancos e o setor de bebidas foram os segmentos que alcançaram mais benefícios. O uso do mecanismo do Refis é extremamente prejudicial às conta públicas, sobretudo quando utilizados de forma permanente.

2 - CONCESSÕES FINANCEIRAS GERADAS PELOS … · da corte eleitoral. ... 5 - Combustível 52,2 BR Distribuidora 61,2 ... Banco rural Banco Safra Banco Alfa Gráfico 1 -Benefícios

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ANO 6 – NÚMERO 68 – MARÇO DE 2018 • PROFESSORES RESPONSÁVEIS: FLÁVIO RIANI & RICARDO RABELO

– EXPEDIENTE – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais: Grão-Chanceler – Dom Walmor Oliveira de Azevedo | Reitor – Professor Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães | Vice-Reitora – Professora Patrícia Bernardes | Assessor Especial da Reitoria – Professor José Tarcísio Amorim | Chefe de Gabinete do Reitor – Professor Paulo Roberto Souza | Chefia do Departamento de Economia – Professora Ana Maria Botelho | Coordenação do Curso de Ciências Econômicas – Professora Ana Maria Botelho | Coordenação Geral – Professor Flávio Riani e Professor Ricardo F. Rabelo Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais: Prédio 14, sala 103 | Avenida Dom José Gaspar, 500 | Bairro Coração Eucarístico CEP: 30535-901 | Tel: 3319.4309 www.pucminas.br/Paginas/conjuntura-economica.aspx | [email protected]

1 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS Às 9h34 do dia 16 de novembro do ano passado, o ministro Gilmar Mendes convidou todos os cinco colegas a se sentar para dar início a mais uma sessão do Tribunal Superior Eleitoral.Um minuto e 18 segundos depois, todos começaram a se levantar para ir embora, fazendo jus cada um a R$ 1.012,89. Esse é o valor pago a cada ministro por comparecimento às reuniões do julgamento da corte eleitoral. Na sessão relâmpago de 2017 - talvez a mais rápida da história do tribunal-, a fase do julgamento em si durou 21 segundos. “ Eu julho, mês de férias dos magistrados e período em que não foi realizada nenhuma sessão, todos eles receberam o pagamento integral de R$ 8.1203,12, como se tivessem comparecido às oito sessões ordinárias do mês”. “ STF tem 88 folgas ao ano além dos fins de semana “ Ambas informações extraídas de Jornal Folha de São Paulo, domingo 1º de abril de 2018, página A8 poder e A4. Poderia ser uma brincadeira de primeiro de abril mas não é. Esse mesmo jornal no dia 18 de março de 2018 apresenta um relatório constatando que as concessões do Refis alcançaram R$ 11,7 bilhões. Tais fatos demonstram dois blocos de privilégios existentes no campo das finanças públicas que deveriam fazer parte das discussões sobre o ajuste fiscal necessário no âmbito do setor público brasileiro. A Rússia e a China apresentaram uma tendência de aceleração do crescimento em 2017 , ao contrário da Índia, devido a refeitos negativos de uma reforma monetária do governo. Esse desempenho promissor, que deveria se repetir em 2018, está ameaçado agora por uma guerra comercial desencadeada pelo Governo Americano, com imposição de tarifas sobre importação de commodities como aço e alumínio, cujo efeito sobre as economias emergentes será certamente negativo. 2 - CONCESSÕES FINANCEIRAS GERADAS PELOS REFIS

Prof. Flávio Riani

Segundo informações divulgadas pelo Jornal Folha de São Paulo nos períodos mencionados

nas considerações iniciais, as mil maiores dívidas inscritas no Refis tiveram descontos de 32%, sendo que os bancos e o setor de bebidas foram os segmentos que alcançaram mais benefícios.

O uso do mecanismo do Refis é extremamente prejudicial às conta públicas, sobretudo quando utilizados de forma permanente.

O sistema fiscal brasileiro já apresenta uma série de deficiências nos seus mecanismos de controle que acaba amenizando o risco da sonegação. Tal fato aliado a permanentes programas de anistia fiscal contribui para que seja cada vez mais elevado o grau de sonegação fiscal no país, sobretudo nas áreas de produção e consumo de bens e serviços. Na realidade com o uso desse mecanismo, num momento de grandes dificuldades financeiras, o governo privilegia segmentos importantes da sociedade que, na maioria das vezes, deveriam ser penalizados e não beneficiados pelo não pagamento de tributos, uma vez que não se trata de recursos deles, mas sim a eles transferidos pelos consumidores ao adquirirem seus produtos, o que torna a situação ainda mais grave. Os dados apresentados a seguir servem para dar uma dimensão desses privilégios tributários, num conjunto extremamente obscuro de benefícios concedidos pelo governo brasileiro pelos seus três níveis, a diversos segmentos da sociedade. Uma primeira dimensão desses benefícios pode ser visualizada através da tabela 1 que destaca as dez maiores adesão aos benefícios do Refis, com o volume de suas dívidas totais e com os benefícios alcançados por esse programa. Tabela 1 - 10 Maiores adesões ao REFIZ - Brasil - Governo Federal - 2017

Dívida Total Descontos com Descontos com parc.

EMPRÊSAS SETORES R$ milhões parcelamento sobre dívida total %

Petrobras Petróleo e gás 6.598,70 2.990,30 45,3

JBS Alimentício 3.239,10 1.093,50 33,8

Marfrig Alimentício 1.010,30 318,8 31,6

Docas do R.J. Logística 415,40 0,00 0,0

Amazonas Ind. e Com. Calçados 310,30 0,00 0,0

Alimentos Zaeli Alimentício 251,60 0,00 0,0

BRF Alimentício 455,50 222,5 48,8

Beidas Tatuzinho Bebidas 218,80 0,00 0,0

Renault Automobilístico 379,50 164,6 43,4

Usinas Itamarati Sucroalcooleiro 196,80 0,00 0,0

Total 13.076,00 4.789,70 36,6

Fonte: Jornal Folha de São Paulo, 18/03/2018 ( mercado)

A tabela 1 destaca o volume da dívida total dos dez maiores contribuintes que aderiram ao programa do Refis em 2017. Além da Petrobrás, surge a JBS , que apesar de seus envolvimentos em diversos episódios danosos à sociedade ainda consegue benefícios tributários do governo, fazendo com que tivesse um perdão de 33,8% de suas dívidas com a União. Os dados da tabela 1 mostram ainda que 36,6% é a representação relativa média dos descontos dados a esse conjunto de devedores, perfazendo a bagatela de R$ 4,8 BILHÕES.

O demonstrativo dos percentuais de benefícios agregado por setores estão destacados na tabela 2. Tabela 2 - Refis - benefício por setor

Brasil - 2017 - %

Setor/ em % da

Empresas dívida total

1 - Setor Financeiro 52,6

Banco Itaú 56,8

Banco Santander 54,1

Banco rural 52,5

Banco Safra 50,5

Banco Alfa 49,3

2 - Petroquímico e químico 55,0

Braskem 55,0

3 - Automobilístico 57,9

Volkswagen 57,9

4 - Bebidas 49,9

Heineken Brasil 56,6

Ambev 51,0

Cervejaria Petrópolis 42,2

5 - Combustível 52,2

BR Distribuidora 61,2

Transpetro 43,1

Média 56,9

Fonte: Jornal Folha de São Paulo, 18/03/2018 ( mercado) Os valores destacados na tabela 2 e nos gráficos 1 e 2 subseqüentes mostram que a média dos benefícios concedidos pelo Refis ultrapassaram a metade da dívida devida. Ou seja, do valor total da dívida 56,9% foram “perdoados pelo governo”. Para uma melhor visualização dessas informações estão apresentados a seguir os gráficos 1 e 2 que destacam o valor médio concedido ao sistema financeiro (o mais lucrativo no país nos últimos anos) e o concedido as diversos setores da economia brasileira.

56,8

54,1

52,5

50,549,3

44

46

48

50

52

54

56

58

Banco Itaú BancoSantander

Banco rural Banco Safra Banco Alfa

Gráfico 1 - Benefícios do Refiz% sobre total da dívida - 2017

52,6

55,0

57,9

49,952,2

444648505254565860

Gráfico 2 - Benefícios do Refis por Setor% sobre o total da dívida - 2017

3 - O BLOCO DOS PRIVILÉGIOS – Um exemplo Analistas econômicos que tratam da questão fiscal sabem que os mecanismos para promoção dos desequilíbrios fiscais passam por ajustes na arrecadação, buscando alternativas para aumentá-las principalmente nas situações deficitárias, e pelo controle do nível de gastos públicos, diminuindo-os também nesses casos. A grande dificuldade que surge nesses casos é a identificação das possibilidades de melhorias na obtenção das receitas e das alternativas de diminuição nos gastos do governo. Em várias situações identificam-se áreas de grandes desigualdades de tratamento, como nos casos da estrutura remuneratória do legislativo e do judiciário, e a sociedade, por desconhecimento e por desinteresse, permite que tais privilégios se mantenham sob o falso argumento de que para esse grupo as remunerações e os privilégios têm que ser mantidos dada a importância da função que exercem. Cabe saber se também não deveria ser esse o caso para professores, médicos, policiais, etc e para outra gama de importantes função executadas no âmbito do setor público. Será justa uma remuneração de R$ 1.012,89 por uma sessão de pouco mais de um minuto enquanto milhares de servidores públicos recebem menos do que isso por um período de 30 dias? Porque esses milhares de servidores usufruem férias de 30 dias enquanto na parte de outros poderes atinge quase noventa dias?

4- A RECUPERAÇÃO RECENTE DA ECONOMIA DOS PAÍSES EMERGENTES

Prof. Ricardo F. Rabelo

Ao contrário do processo de desaceleração e recessão que ocorreu com as economias emergentes até 2016, o ano passado e o atual apontam para uma recuperação generalizada das economias emergentes, embora seja ainda um processo tímido e limitado. Com exceção da Índia, que não viveu anteriormente um processo de desaceleração, as principais economias emergentes como China e Rússia mostram uma efetiva tendência de recuperação do crescimento, demonstrando um insuspeitado vigor que parece ter feito acender a luz vermelha um dos seus principais inimigos - os EUA - que desencadeou uma verdadeira guerra comercial de feição global, mas claramente voltada para deter o avanço econômico das economias emergentes, onde até a economia brasileira se torna um alvo da política atual do Governo americano sob Trump.

4.1 - A EVOLUÇÃO RECENTE DA ECONOMIA CHINESA

A economia chinesa cresceu 6,9% em 2017, dando sinais de uma conjuntura mais favorável. Essa é a primeira vez desde 2010 que o crescimento da economia chinesa acelera em relação ao ano anterior. A China superou a própria meta do governo de expansão de cerca de 6,5% em 2017 e ultrapassou o crescimento de 6,7% registrado em 2016, que foi o menor em 26 anos.A China é, desde 2009, o maior parceiro comercial do Brasil. Entre 2006 e 2016, a corrente de comércio triplicou, de US$ 16 bilhões para mais de US$ 58 bilhões. Segundo o Escritório de Estatísticas da China, o crescimento econômico da China avançou no quarto trimestre, com alta de 6,8%.

Gráfico 4

Fonte: Escritório de Estatísticas da China

A expansão da economia chinesa em 2017 tem como fatores dinâmicos o crescimento do setor de infraestrutura, o aumento dos investimentos no mercado imobiliário e a expansão do crédito, que permitiu estimular, sobretudo, o consumo.O governo desenvolveu uma política de redução investimentos industriais em setores com superprodução, além de adotar medidas seletiva de controle do crédito para evitar o crescimento das dívidas públicas e privadas do país - que superam 250% do PIB – e fez estipulou certas restrições ao setor imobiliário para evitar que os preços subissem demais nas grandes cidades. Além disso, o governo desenvolveu uma campanha antipoluição, que determinou a redução das atividades ou mesmo o fechamento de usinas obsoletas e poluidoras do norte do país para tentar melhorar o meio ambiente.

4.2 - A VOLTA DO CRESCIMENTO NA ECONOMIA RUSSA

De acordo com a agência de estatísticas Rosstat, a economia russa teve uma queda de crescimento de 0,2% , menor que as projeções do próprio governo de -0,6%. A economia russa apresentou taxa positiva de crescimento no quarto trimestre de 2016 de 0,3% (na comparação anual) após dois anos de recessão de acordo com o Banco Central russo.

Em 2016, a recessão, portanto, desacelerou. O déficit público cresceu, alcançando 3,3% do PIB. Com o objetivo de reduzir este déficit o governo privatizou parte da Rosneft, o líder russo de produção petrolífera. A medida não afetou a produção de petróleo pois a produção diária bruta, em 2016, alcançou seu maior nível nos últimos 25 anos (11,2 milhões de barris por dia).

A dívida do Estado não representa um grande problema, pois o país tem significativas reservas cambiais, além de importantes ativos de fundos soberanos. O governo, no orçamento para 2017 incluiu aumento das despesas sociais, importante instrumento para ampliar a demanda interna.

A Rússia enfrenta muitos desafios: dificuldades na competitividade internacional, nível baixo de investimento, uma ainda reduzida capacidade de produção, e grande dependência de importação de matérias-primas, mas conseguiu superar a recessão provocada pela perda de dinamismo do modelo exportador, agravada pelas sanções internacionais e a crise da Ucrânia.

4.3 - 2017: O FIM DA RECESSÃO

A economia russa voltou a crescer em 2017, após dois anos de recessão, mas a expansão ficou aquém da meta do governo, segundo dados da Agência Oficial de Estatísticas . O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,5% em 2017, após recuar 2,8% em 2015 e 0,2% em 2016 de acordo com a agência Rosstat.

GRÁFICO 5

Fonte: Agência Rosstat

O governo Putin havia anunciado uma expansão de 2%. Entretanto, a economia apresentou uma desaceleração no quarto trimestre em especial na produção industrial. O crescimento de 2017 significa o fim da recessão de 2015 e 2016, que levou a uma rápida queda dos rendimentos e foi provocada por uma queda nos preços do petróleo em 2014, bem como por sanções internacionais impostas à Rússia nos quadros do modelo exportador. A expansão de 2017 é, portanto, tímida principalmente se compararmos com crescimento de mais de 7% no período de 2000 a 2008, mas é significativa porque representa a retomada do crescimento em parte devido a fatores dinâmicos internos.

4.4 - ÍNDIA DO FORTE CRESCIMENTO EM 2016 À DESACELERAÇÃO EM 2017.

O produto interno bruto da Índia em 2016/2015 cresceu 7,9% em relação ao ano anterior. Em 2016, o PIB chegou a 2.045.704 milhões de euros, o que significa que a Índia é a 6ª economia no ranking dos 195 países que divulgam dados sobre o PIB. O valor absoluto do PIB na Índia cresceu 162.306M € em comparação com 2015.O PIB per capita da Índia em 2016 foi de € 1.545, 106 € superior ao de 2015, que foi de € 1.439. Há dez anos atrás, em 2006 o PIB per capita na Índia era de € 647.

4.5 - ÍNDIA EM 2017: A DESACELERAÇÃO

Ao contrário das demais economias emergentes, a economia indiana apresentou uma desaceleração em 2017. Aparentemente isso se deve apenas à política de reforma monetária do governo, pois a economia mantém o dinamismo do setor de serviços, que é o mais dinâmico da economia.

O governo neoliberal de Narendra Modi implantou uma reforma monetária, em razão da qual que deixaram de ter valor legal as notas de 500 e 1.000 rúpias (6,5 – 13 euros, 7 – 14 dólares), que eram as de maior valor e que representavam 86% do dinheiro líquido em circulação. Essa medida tinha como objetivo reduzir a evasão fiscal e tornar parte integrante da economia indiana uma parcela importante do expressivo setor informal da economia indiana.

GRÁFICO 6

Fonte: FMI

A reforma foi implementada de forma inadequada, produzindo inclusive um forte pânico bancário provocado pela crise de liquidez, e uma importante desaceleração do consumo no país. Em suas últimas previsões, o Fundo Monetário internacional (FMI) diminuiu drasticamente em um ponto percentual suas projeções de crescimento para Índia em 2016-17(6,6%). Para o Governo Indiano a estimativa de crescimento para 2017 é de 6,5%, mas os dados oficiais ainda não foram divulgados. A desaceleração deste ano é atribuída, além das medidas monetárias do governo, a uma queda de crescimento nos setores de agricultura e indústria.

4.6 - A GUERRA COMERCIAL DO GOVERNO TRUMP

As recentes medidas adotadas pelo Governo Trump significam o fim do ciclo comercial da "globalização" que pretendeu ampliar as vantagens para a economia americana com os avanços tecnológicos da indústria e a possibilidade de exploração de vastos mercados de consumo e de força de trabalho gerados pela ampliação das políticas de abertura comercial e financeira pelos países desenvolvidos e emergentes e pela transição ao capitalismo da Ex-União Soviética. O Governo Trump decidiu implantar tarifas de 25% sobre todo aço importado pelos EUA e de 10% sobre o alumínio. As medidas são fundamentadas na defesa da "segurança nacional" dos EUA e objetivam uma redução significativa do déficit comercial da economia americana. De acordo com o Departamento de Comércio americano, o déficit no comércio internacional de bens e serviços dos Estados Unidos aumentou para US$ 566,6 bilhões em 2017, 12,1% a mais que em 2016 e o maior em nove anos. Em dezembro de 2017, a alta do déficit foi de 5,3%, até US$ 53,91 bilhões, acima dos US$ 52 bilhões previstos pelos analistas. Tanto as importações, com um aumento de 6,7%, como as exportações, que subiram 5,5%, registraram avanços ao longo do último ano. Por sua parte, o déficit com a China ficou em US$ 375 bilhões, o que representou um recorde histórico, enquanto o registrado com o México subiu para US$ 71 bilhões. De acordo com os últimos dados divulgados, referentes a janeiro de 2018, o déficit na balança comercial americana cresceu 5% em relação ao mês anterior, para o valor sazonalmente ajustado de US$ 56,6 bilhões em janeiro, atingindo o maior patamar desde outubro de 2008, segundo o Departamento de Comércio. As exportações tiveram uma redução de 1,3% em janeiro ante o mês anterior, totalizando US$ 200,91 bilhões, o que reflete uma queda nas exportações de bens de capital e dos produtos industriais, enquanto as importações ficaram estáveis, em US$ 257,51 bilhões, com um avanço nas compras de petróleo contrabalançado por reduções em outras categorias. Em função desta preponderância do déficit americano com a China, o governo Trump decidiu impor tarifas sobre US$ 60 bilhões em produtos chineses. O valor representa cerca de 10% das exportações chinesas para os EUA. Outra linha de ação do governo é tomar medidas para restringir o investimento chinês em empresas nos EUA,

que, segundo o governo, estaria sendo feito de forma desleal, com o objetivo de absorver tecnologia americana. O valor de US$ 60 bilhões corresponde à suposta perda anual de receita por empresas americanas no mercado asiático, em função das aquisições e transferências forçadas de tecnologia, segundo a estimativa do Departamento de Comércio. O governo americano também pretende ingressar com ações na OMC (Organização Mundial do Comércio), questionando supostas práticas discriminatórias da China contra empresas dos EUA.

As tarifas de importação serão aplicadas a uma lista de produtos chineses, definida pelo Escritório de Representação Comercial dos EUA (USTR, na sigla em inglês), que será aberta a consulta pública pelos próximos 15 dias. As alíquotas impostas serão de 25%.

4.7 - A RETALIAÇÃO CHINESA Em resposta às restrições anunciadas pelo Governo Trump a China definiu a imposição de taxas para um conjunto de 128 produtos americanos, com um valor comercial que corresponde aos US$ 50 bilhões que o governo americano quer obter, atingindo produtos importantes de exportação dos EUA, como soja, carne congelada, algodão e outras commodities agrícolas importantes. Além disso, a China notificou a OMC sobre medidas retaliatórias equivalentes a US$ 611,5 milhões sobre importações dos Estados Unidos que somam US$ 2,75 bilhões em resposta às sobretaxas dos EUA sobre as importações de aço e alumínio. Tudo indica que esse novo quadro internacional afetará a performance da economia da China e, portanto, dos países emergentes, pois a China é parceiro comercial de muitos deles, inclusive do Brasil.