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2 Revisão Bibliográfica
2.1 Gesso natural
Os termos “gipsita”, “gipso” e “gesso” são usados frequentemente como
sinônimos. Os termos gipsita e gipso podem ser usados para denominar o mineral
em estado natural, enquanto o termo gesso indica o produto industrial calcinado a
160-180°, hemidrato, minerlógicamente conhecido como bassanita (CaSO4.0,5
H2O).
A gipsita é um sulfato de cálcio di-hidratado (CaSO4.2H2O) cuja
composição teórica é mostrada na Tabela 1. A gipsita cristaliza-se no sistema
monoclínico, a dureza varia de 1,5 a 3 e a densidade relativa é 2,32, não sendo
considerado um mineral de elevado peso específico. Estas e outras propriedades
são apresentadas na Tabela 2.
Tabela 1 – Composição química teórica do mineral gipsita
Composto Composição (%)
CaO 32,5
SO3 46,6
H2O 20,9
Tabela 2 – Propriedades físicas do mineral gipsita [1]
Propriedade física Característica
Cor Variável, podendo ser incolor ou branca.
Brilho Vítreo, nacarado ou sedoso.
Dureza (Escala de Mohs) 2
Densidade 2,3
Hábito Prismático
Clivagem Em quatro direções.
Morfologia de tamanho dos cristais Varia de acordo com as condições.
Revisão Bibliográfica 16
O gesso caracteriza-se pela sua forte reação exotérmica com água. O gesso
rápido ou gesso de Paris, utilizado com revestimento, é um aglomerante aéreo
(endurece quando exposto ao ar) proveniente da gipsita, como única matéria-
prima. De acordo com a NBR13207 [2] o gesso para construção civil é um
material moído em forma de pó, obtido da calcinação da gipsita, constituído
predominantemente de sulfato de cálcio, podendo conter aditivos controladores do
tempo de pega.
2.1.1 Importância econômica
As reservas mundiais de gipsita correspondem a 2360 milhões de toneladas
e são da ordem de 25 vezes o consumo mundial, que se encontra atualmente em
torno de 97 milhões de toneladas por ano. Os principais produtores são Estados
Unidos (17%), Canadá (8%), China, França, Irã (10%), Japão, Tailândia, México
(7%) e Espanha (6,8%). O Brasil possui a maior reserva mundial, mas só
representa 1,4% da produção mundial [3].
O Estado de Pernambuco responde por 98% da produção nacional tendo 24
das 30 minas em atividade no País. O aproveitamento destas reservas, nos
municípios de Araripina, Bodocó, Exu, Ipubi, Ouricuri e Trindade, gerou um
conjunto de atividades empresariais com forte reflexo na economia local,
constituindo um ‘cluster’ bastante dinâmico e que recebeu a denominação de Pólo
Gesseiro do Araripe [4].
O mineiro gipsífero do Pólo Gesseiro do Araripe classifica-se como de
excelente qualidade industrial, devido a uma consistente concentração de sulfatos,
da ordem de 95%, onde as impurezas de origem terrígena se apresentam em
quantidades desprezíveis, raras vezes ultrapassando a 0,5% da composição do
minério. Embora a gipsita seja predominante, também se fazem presentes
quantidades de anidrita, em geral de 4 a 7%, mas podendo, ás vezes, chegar até
14% [5].
Em termos mundiais, a indústria cimenteira é a maior consumidora deste
bem mineral, enquanto nos países desenvolvidos a indústria de gesso e seus
derivados absorvem a maior parte da gipsita produzida. As reservas brasileiras de
Revisão Bibliográfica 17
gipsita são quase o dobro das existentes nos Estados Unidos, principal produtor
mundial. Em 2004, a produção americana foi de 18 milhões toneladas, contra
1,515 milhões toneladas do Brasil [6].
Em 2005 a produção brasileira de gipsita bruta foi de 1,58 milhões de
toneladas. Estima-se que 60% foram calcinadas para produção de gesso, 34% foi
usada na forma natural para produção de cimento e 6% foi utilizada como
corretivo de solo [7].
2.1.2 Obtenção de gesso
Existem três tipos de minerais na Natureza: o di-hidratado (CaSO4.2H2O), o
hemi-hidratado (CaSO4.0,5H2O) e a anidrita (CaSO4). Dos três tipos, os mais
abundantes na natureza são os di-hidratado e a anidrita, sendo o hemi-hidratado o
mais raro [8].
O gesso é obtido em geral, pelo beneficiamento da gipsita. Este processo é
de grande importância para que o gesso possua as propriedades adequadas para
ser usado como aglomerante na indústria da construção civil.
O processo industrial da fabricação do gesso consiste na desidratação
térmica da gipsita, moagem do produto e seleção em frações granulométricas em
conformidade com sua utilização, que pode ser: construção civil como pré-
moldados e revestimentos, moldagem de artes e indústrias [9].
Quanto mais rico em hemi-hidrato, maior será seu poder aglomerante, pois o
di-hidratado e a anidrita funcionam como material inerte não possuindo nenhum
valor aglutinante [8].
A gipsita tem a propriedade de perder e recuperar a água de cristalização.
No processo de calcinação, a uma temperatura entre 125 e 180 °C, a gipsita perde
parte da água de cristalização e assume a forma de hemi-hidrato (gesso) [1].
CaSO4.2H2O ↔ CaSO4.0,5H2O
gipsita 125 – 180°C gesso
A desidratação total da gipsita ocorre em temperaturas acima de 180°C e
resultam nas diferentes formas de anidrita (CaSO4 ) [10]:
Revisão Bibliográfica 18
Entre 180 e 250 °C forma-se anidrita III ou anidrita ativa, produto
solúvel, instável e ávido por água, que pode absorver umidade
atmosférica e passar a formar hemi-hidrato. Essa propriedade torna a
anidrita III um produto com características apropriadas para uso
como acelerador do tempo de pega.
Na faixa de temperatura entre 300 e 700 °C obtém-se a anidrita II,
um produto totalmente desidratado, insolúvel, com natureza
mineralógica semelhante à anidrita natural;
Entre as temperaturas de 700 e 900°C forma-se um produto inerte,
sem aplicação industrial;
A partir dos 900 °C ocorre a dissociação do sulfato de cálcio com
formação de CaO livre.
A gipsita pode ser calcinada em fornos sob pressão atmosférica ou em
autoclaves, obtendo-se gesso β e gesso α respectivamente, ambos com uma ampla
variedade de aplicações industriais. O preço de hemi-hidrato α é cerca de 6 vezes
maior do que o do hemi-hidrato β [11].
2.1.3 Uso e funções
A forma natural da gipsita é amplamente utilizada na fabricação de cimento
Portland e na agricultura. Na indústria cimenteira, a gipsita é adicionada ao
clínquer durante a moagem, na proporção de 3 a 5 %, para retardar o tempo de
pega do cimento. Na agricultura, a gipsita pode atuar como agente corretivo de
solos ácidos, como fertilizante, e como condicionador de solos [12].
O hemi-hidrato (gesso) obtido a partir de um minério com pureza superior a
75% é empregado na construção civil. A calcinação produz um hemi- hidrato β
que, dependendo do processo, pode ser do tipo A (gesso de fundição) ou do tipo B
(gesso de revestimento). A partir desses tipos de gesso são obtidos diferentes
produtos: [1].
(1) Gesso de fundição utilizado para a confecção de pré-moldados;
(2) Placas para rebaixamento de tetos, com produção artesanal com
máquinas automáticas com sistemas de alimentação de pasta;
Revisão Bibliográfica 19
(3) Blocos para paredes divisórias;
(4) Gesso para isolamento térmico e acústico;
(5) Gesso para portas corta fogo;
(6) Gesso de revestimento de aplicação manual, utilizado para paredes e
tetos,;
(7) Gesso de projeção, para aplicação mecanizada de revestimento de
parede;
(8) Gesso com pega retardada, para aplicação de revestimento manual;
(9) Gesso cola, para rejunte de pre-moldados em gesso;
A partir dos hemi-hidratos α e β e dependendo da aplicação pode ser obtido
o gesso industrial, produto de maior pureza e valor agregado [1].
(1) Cerâmica: A pasta obtida a partir da rehidratação do hemi-hidrato α
(ou mistura de hemi-hidratos α e β) tem importante uso na produção
de moldes e matrizes para enchimento com barbotinas na produção
de porcelana, cerâmica sanitária, grés, etc.;
(2) Indústria de Vidro: O gesso é utilizado como fonte de cálcio e de
enxofre em substituição ao sulfato de sódio;
(3) Carga Mineral: O gesso tem sido utilizado como carga de alta
qualidade ou diluente na fabricação de papel, plásticos, adesivos,
tintas, madeira, têxteis e alimentos entre outros materiais. Em geral,
o gesso carga é produzido a partir do hemi-hidrato do tipo β.
(4) Indústria farmacêutica: o gesso possui características favoráveis ao
uso farmacêutico, como facilidade de compressão e desagregação,
devendo atender às normas e especificações exigidas para produtos
de alimentação e remédios;
(5) Decoração: Utilizado para confecção de elementos decorativos como
estatuetas e imagens, sendo obtido a partir de gesso β de fundição;
(6) Escolar (giz): Utilizado em salas de aula e produzido a partir do
gesso β de fundição, com o uso de aditivos;
(7) Ortopédico: Obtido a partir do gesso α, após a adição de produtos
químicos;
(8) Dental: Usados para confecção de moldes e modelos;
(9) Bandagens de alta resistência: Produto obtido a partir de gesso α;
Revisão Bibliográfica 20
(10) Outros usos: Indústria automobilística, fabricação de fósforos,
fabricação de cerveja, indústria eletrônica, etc.
Cada uma dessas variedades de produto requer condições específicas para
sua obtenção, tipo de gipsita, tipo de forno, condições de calcinação e tratamento
posterior.
No Brasil, 34% da gipsita produzida, em 2003 foram consumidas na sua
forma natural pela indústria cimenteira, enquanto 61% foram utilizadas na
produção de gesso e 5% para gesso agrícola [1].
2.2 Gessos sintéticos, industriais ou residuais
Indústrias como as de produção de ácidos, de extração de cloreto de sódio e
as de tratamento de resíduos industriais dão origem a sulfatos residuais:
fluorgesso, borogesso, organo-gessos (citrogesso, formogesso, tartarogesso),
salgesso, titanogesso, sodogesso, sulfitogesso e gessos de neutralização de
resíduos ácidos [13].
2.2.1 Fosfogesso
Gesso formado no processo industrial de produção de ácido fosfórico pela
rota sulfúrica a partir de concentrados de apatita, predominantemente fluorapatita
no caso de minérios brasileiros, segundo a reação [13]:
Ca(PO4)6F2 + 10H2SO4 + H2O → CaSO4.2H2O + 6H3PO4 + 2HF
apatita fosfogesso
No âmbito mundial e em termos de tonelagem produzida, o fosfogesso é o
mais importante dos gessos residuais. Para as indústrias de fertilizantes o
fosfogesso se constitui num problema, pois, além de ser gerado em grande
quantidade, possui uma fina granulometria, elevado grau de umidade, é de difícil
manuseio e poluente.
No Brasil, atualmente, já é aproveitado mais de 45% do fosfogesso gerado
pela indústria de ácido fosfórico (4-5 Mt/ano), principalmente na agricultura,
Revisão Bibliográfica 21
como fertilizante/corretivo de solos (cerca de 1,7 Mt/ano), e na indústria do
cimento (0,7 Mt/ano, aproximadamente) [13].
2.2.2 Dessulfogesso-Gesso FGD
Gesso FGD é a designação dada ao sulfato de cálcio formado no processo
de dessulfurização de gases de combustão, obtido como subproduto do processo,
está finamente dividido, é cristalino e de elevada pureza de sulfato de cálcio di-
hidratado (CaSO4.2H2O).
Especificamente é produzido no processo de dessulfurização de gases de
combustão, onde o SO2 é separado da corrente gasosa por contato com uma
suspensão aquosa de calcário, em uma unidade absorvedora ou lavador de gases,
formando sulfito de cálcio posteriormente oxidado a sulfato por aeração. Após
dum processo de separação, lavagem e secagem o resíduo sólido originado é o
sulfato de cálcio hidratado.
Em países fortemente industrializados, como EUA, Alemanha, Grã-
Bretanha, China e Japão, em que a energia térmica não nuclear tem grande peso
na matriz energética, o processo de dessulfurização de gases de combustão é (ou
deveria ser) uma prática comum por razões ambientais.
Uma composição típica, citada por Ozkul [14], referente a uma amostra de
dessulfogesso originária da usina Cayirham, próxima a Ankara na Turquia, é
apresentada na Tabela 3.
Tabela 3 – Composição duma amostra de dessulfogesso de Cyrtham, Turquia
Elementos % em peso
SiO2 2,03
Al2O3 0,52
Fe2O3 0,21
CaO 31,91
MgO 0,42
SO3 43,13
Perda ao fogo 20,88
Revisão Bibliográfica 22
2.2.3 Fluorogesso
O fluorogesso é um gesso químico, co-produto da produção de ácido
fluorídrico a partir do mineral fluorita, como representado na equação a seguir
[13]:
CaF2 + H2SO4 → CaSO4 + 2HF
fluorita fluorogesso
A fluorita (CaF2) é misturada em forno rotativo com H2SO4 gerando o gás
(HF). O ácido produzido é lavado e condensado para produzir HF anidro. Após
adição de água no processo, forma-se HF aquoso que é o produto final. A fase
mineral de maior proporção no fluorogesso é a anidrita. É utilizado na indústria
cimenteira como aditivo retardador do tempo de pega do cimento Portland. A
produção brasileira de ácido fluorídrico, em 2004, foi de 12,424 toneladas [15].
2.2.4 Borogesso
O borogesso é o resíduo resultante da filtração no processo de produção de
ácido bórico a partir da colemanita. É utilizado principalmente como aditivo na
fabricação do cimento Portland.
O ácido bórico é produzido na Europa, principalmente na Turquia, e é
obtido pelo ataque sulfúrico do minério, seguindo a reação [13]:
2CaO3B2O3.5H2O + 2H2SO4 + 6H2O => 2CaSO4.2H2O + 6H3BO3
Colemanita borogesso
O Anuario da Indústria Química Brasilera-ABIQUIM não faz referência à
produção de ácido bórico em Brasil.
2.2.5 Citrogesso
O ácido cítrico é obtido, na indústria, por fermentação da sacarose realizada
por um microrganismo, Aspergillus niger. Dos fermentadores de germinação, o
Revisão Bibliográfica 23
líquido é enviado aos fermentadores principais, onde se realiza a produção do
ácido cítrico, por meio de um processo aeróbico. Terminada a fermentação, que
dura de 7 a 8 dias, separa-se o fungo, e o ácido cítrico é então precipitado como
citratotricálcico. A suspensão do citrato é concentrada e posteriormente
decomposta com H2SO4 para formar ácido cítrico e o precipitado de CaSO4
(citrogesso). O ácido cítrico, então, passa pelas etapas de purificação em carvão
ativado e depois é cristalizado e centrifugado [13].
Para cada 5 mil toneladas de ácido cítrico produzido são geradas, como
rejeito, 8 mil toneladas de gesso (citrogesso). Em 2004, foram produzidas, no
Brasil, 56,212 toneladas de ácido cítrico, esta produção indica que foram geradas
cerca de 90 mil toneladas de citrogesso naquele ano [15].
2.2.6 Titanogesso
Gesso “red”, como é comumente conhecido pela cor avermelhada
transmitida pelo mineral ilmenita (FeTiO3). É um subproduto do processo
industrial para a produção de dióxido de titânio (TiO2). O titânio é extraído a
partir da ilmenita por digestão com ácido sulfúrico, posteriormente a solução é
neutralizada com carbonato de cálcio produzindo o titanogesso como resíduo.
Normalmente este resíduo é descartado em aterros sanitários ou deixado
como pilhas próximas à planta. Estima-se uma produção de 400 000 toneladas por
ano desse material, só na Malásia [16].
2.3 Dessulfurização
A remoção de dióxido de enxofre dos gases de combustão, provavelmente,
tem sido objeto de maior investigação do que qualquer outra operação de
purificação de gás. O maior impacto chegou com as normas de controle de
poluição, provocando um crescimento explosivo no número e instalações de
sistemas de dessulfurização de gases. Uma vez que a grande maioria das emissões
de SO2 a partir de combustível fóssil são as caldeiras em centrais de energia, estas
fontes têm sido amplamente controladas.
Revisão Bibliográfica 24
Em 1970 aplicou-se de maneira extensiva o processo molhado de FGD nos
Estados Unidos e no Japão, já na década de 1980 foi aplicado em Alemanha e no
resto de Europa. Modelos mais atuais têm perto de 100% de confiabilidade e
eficiência de remoção de SO2 (90 a 98%) [17].
Os processos de via úmida são mais comumente usados para
dessulfurização de gases de combustão (FGD). Além do SO2 e SO3, HCl e HF,
material particulado fino e algumas toxinas do ar podem ser removidas
simultaneamente. As tecnologias do processo úmido podem ser agrupadas em
base ao adsorvente utilizado: cálcio, magnésio, potássio ou sódio ou adsorventes a
base de amônio. Em particular, os processos baseados em calcário são as mais
utilizadas em plantas de carvão. O adsorvente calcário é barato e amplamente
disponível. O processo é altamente confiável e mais importante ainda, a eficiência
atinge até 99%. Além, disso produz um sub-produto (gesso FGD), que pode ser
utilizado na indústria da construção civil.
É importante notar que a suspensão aquosa de calcário usada no processo de
dessulfurização, além de remover enxofre, remove também elementos voláteis,
tais como F, Cl, As, Se e Hg, presentes nas emissões de gases de combustão ou
condensado no material particulado que escapa dos precipitadores eletrostáticos.
Da mesma forma pode remover outros oligoelementos presentes no material
particulado que afetam o meio ambiente, tais como Cd, Cr, Cu, Ni, Pb, Zn, Ba, Sb
e Mo.
Uma série de reações acontecem durante o processo de lavagem em contra-
corrente do gases de combustão com a suspensão aquosa de calcário para remover
o dióxido de enxofre e produzir gesso FGD [18]:
SO2 (g) ↔ SO2 (aq)
SO2 (aq) + H2O ↔ H2SO3 (aq)
H2SO3 (aq) ↔ HSO3- + H
+
O2 (g) ↔ O2 (aq)
HSO3-+ ½ O2 (aq) ↔ SO4
2- + H
+
CaCO3 (s) ↔ CaCO3 (aq)
CaCO3 (aq) + 2H+ ↔ Ca
2+ + CO2 + H2O
Ca2+
SO42-
+ 2H2O ↔ CaSO4.2H2O
Revisão Bibliográfica 25
CaSO4.2H2O → Crescimento do cristal
O gás de combustão é misturado com a suspensão calcária, o licor da reação
resultante é re-circulado através um circuito de bombeamento para aumentar o
tempo de residência. Neste processo, o sulfito de cálcio insolúvel é produzido
quando a reação tem lugar a um pH de 7-8. Logo o pH é reduzido para 5 e o
sulfito de cálcio é convertido em bissulfito de cálcio solúvel. Em seguida, o
bissulfito de cálcio é oxidado pelo oxigênio atmosférico soprado ou aspergido
dentro de um tanque, na parte inferior da torre de absorção. Isto completa a reação
de oxidação para produzir o gesso de dessulfurização de gases de combustão
(gesso FGD). A solução de gesso é continuamente purgada do circuito de
bombeamento e desidratado usando ciclones e centrifugas para a produção de
gesso seco.
2.4 Cimento Portland
O cimento Portland é um material constituído de silicatos e aluminatos de
cálcio e ferro praticamente, sem cal livre. Esses silicatos e aluminatos complexos,
ao serem misturados com água, hidratam-se e produzem o endurecimento da
massa, que pode então oferecer elevada resistência mecânica. Resulta da moagem
de um produto denominado clínquer, obtido pelo cozimento até fusão incipiente
(+/- 30% da fase líquida) de uma mistura de calcário e argila convenientemente
dosada e homogeneizada, de tal forma que toda a cal se combine com os
compostos argilosos, sem que depois do cozimento, resulte cal livre em
quantidade prejudicial. Após a queima, é feita uma pequena adição de sulfato de
cálcio, de modo que o teor de SO3 não ultrapasse 3,5%, a fim de regular o tempo
de início das reações do aglomerante com água.
Os principais componentes do clínquer são o calcário, argila e gesso. O
calcário e a argila são as matérias-primas mais comuns como fontes de CaO, SiO2,
Al2O3 e o minério de ferro a principal fonte de Fe2O3. O gesso é o produto de
adição final na fabricação do cimento Portland, adicionado com o fim de regular o
tempo de pega por ocasião das reações de hidratação.
Revisão Bibliográfica 26
2.4.1 Componentes do clínquer
Os constituintes do clínquer podem ser subdivididos em três grupos:
Silicatos cálcicos, compostos mais abundantes, são normalmente cristais
bem formados, gerados nas últimas etapas do processo de clinquerização e
que não sofrem fusão durante sua formação.
Aluminatos e ferro-aluminatos cálcicos, a fase intersticial que representa a
fase fundida na temperatura de clinquerização correspondente a
temperatura de cristalização dos silicatos.
Compostos menos frequentes como o periclásio (MgO), cal livre (CaO),
langbeinita [(K2Ca2(SO4)3)], aphititalita [K3Na(SO4)2], arcanita (K2SO4),
entre outros.
Para facilitar o estudo dos compostos principais do clinquer é corrente
identifica-os com as abreviaturas: C3S (Ca3SiO5), C2S (Ca2SiO4), C3A (Ca3Al2O6)
e C4AF (Ca2AlFeO5). Essas abreviaturas são válidas somente para as fases puras,
o que normalmente não ocorre em clinqueres industriais.
2.4.1.1 Silicato Tricálcico (C3S)
Composto do clínquer que se apresenta sob grande número de
polimorfos, porém que apresentam pouca variação da sua estrutura
cristalina. É um dos constituintes essenciais do clinquer (40 a 70%), com
importante papel no endurecimento e na resistência mecânica do cimento.
A alita, nome genérico para os polimorfos de C3S, pode apresentar até 4%
de impurezas sendo que o silicato tricálcico puro contém 73,7% de CaO e
26,3% de SiO2. Ao entrarem em contato com água produzem silicatos de
cálcio hidratado (CHS) [19].
2.4.1.2 Silicato Bicálcico (C2S)
O C2S apresenta cinco polimorfos bem definidos, com estruturas cristalinas
nitidamente diferentes. A belita é a denominação dada à solução sólida
envolvendo o silicato bicálcico em suas diferentes fases, que são estabilizadas
Revisão Bibliográfica 27
dependendo das condições de resfriamento e da presença de óxidos menores
(Al2O3, Fe2O3, MgO, Na2O, K2O, SO3, entre outros) em sua estrutura cristalina. É
também um dos constituintes principais do clínquer (14 a 35%), com contribuição
significativa nas resistências mecânicas do cimento em idades mais longas. Esta
fase pode apresentar de 4 a 6% de óxidos substituintes ou impurezas, sendo Al2O3
e Fe2O3 os principais. O C2S hidrata a uma velocidade menor que o C3S [19].
2.4.1.3 Aluminato Tricálcico (C3A)
O C3A é um dos compostos formados a partir da cristalização do material
que se funde durante o processo de clinquerização; seu conteúdo é variável, entre
0 e 10%. Sua estrutura cristalina pode conter óxidos como Fe2O3, MgO, SiO2,
TiO2, Na2O e K2O, entre outros, em proporções de até 10% em peso, sendo que a
incorporação de elementos alcalinos pode modificar sua simetria. A reação do
C3A com água é imediata com liberação de uma grande quantidade de calor. Esta
reação instantânea causa perda de trabalhabilidade da mistura, adiciona-se
pequena quantidade de gipsita para retardar este efeito [19] [20].
2.4.1.4 Ferroaluminato Tetracálcico (C4AF)
Brownmilerita é a denominação dada ao ferroaluminato tetracálcico,
(4CaO.Al2O3.Fe2O3), e conhecido também como ferrita; corresponde a um ponto
da solução sólida continua compreendida entre os extremos C2F (ou Ca2Fe2O5) e o
C2A (ou Ca2Al2O5). Supõe-se que C4AF seja a composição mais estável, então
utilizada para representar a solução sólida como um todo.
Seu teor no clínquer comum ocorre entre 10 e 12%. Considerado de baixa
reatividade hidráulica, mais lenta que a do C3A, tem como propriedade principal
imprimir resistência à corrosão química do cimento [19].
2.4.1.5 Cal livre
A cal livre forma-se através da calcinação dos carbonatos cálcicos e
permanece no clínquer devido a alguma condição inadequada do processo de
Revisão Bibliográfica 28
clinquerização. Apresenta-se em media 1% e é considerada indesejável a partir de
2%. Sua presença é usada como parâmetro para o controle das condições de
fabricação. Podem provocar expansão no cimento Portland durante a hidratação
convertendo-se em portlandita [Ca(OH)2], com um aumento em volume da ordem
de 97,6 %.
2.4.1.6 Periclásico
Produzido a partir de calcários magnesianos, com teor de MgO superior a
2%, em que o excedente se cristaliza como periclásico. É um componente de
baixa atividade hidráulica, sendo uma fase praticamente inerte no processo de
hidratação do cimento e, por isso, indesejável.
2.4.1.7 Sulfatos alcalinos
Os três sulfatos alcalinos mais frequentemente encontrados nos clínqueres
Portland são a langbeinita cálcica [K2Ca2(SO4)3], a arcanita (K2SO4) e a aphtitalita
[K3Na(SO4)2]. Podem aumentar a solubilidade das fases nas reações iniciais de
hidratação apesar de serem compostos de menores proporções.
2.4.2 Fabricação do cimento Portland
A fabricação do cimento Portland envolve as seguintes operações:
2.4.2.1 Preparo e dosagem da mistura crua
Calcário e argilas, em proporções pré-determinadas, são enviadas ao moinho
de cru onde se processa o início da mistura das matérias primas e, ao mesmo
tempo, a sua pulverização das partículas para reduzir u diâmetro a 0,050 mm em
media. A moagem poder ser por via úmida ou seca.
A determinação da porcentagem de cada matéria prima na mistura crua
depende essencialmente da composição química das matérias primas e da
Revisão Bibliográfica 29
composição que se deseja obter para o cimento Portland, quando terminado o
processo de fabricação [21].
2.4.2.2 Homogeneização
No processo de fabricação por via úmida, a matéria prima é moída com água
e sai dos moinhos sob a forma de uma pasta contendo geralmente de 30% a 40%
de água, e é bombeada para grandes tanques cilíndricos, onde se processa durante
várias horas a operação de homogeneização.
No processo por via seca a matéria prima sai do moinho já misturado,
pulverizada e seca. O cru é transportado mecânica ou pneumaticamente para o silo
homogeneizador, onde também, eventualmente, se corrige a composição da
mistura [21].
2.4.2.3 Clinquerização
A matéria prima uma vez pulverizada e misturada na dosagem conveniente
sofre um tratamento térmico. A Tabela 4 mostra as temperaturas dos diferentes
processos deste tratamento.
Tabela 4 – Tratamento Térmico do Cimento Portland [21]
TEMPERATURA PROCESSO REAÇÃO
Até 100 °C Evaporação de água livre Endotérmica
500 °C e acima Desidroxilação dos minerais argilosos Endotérmica
900 °C e acima Cristalização dos argilo-minerais
decompostos Exotérmica
900 °C e acima Decomposição do carbonato Endotérmica
900 °C a 1200 °C Reação do CaO com os sílico-
aluminatos Exotérmica
1250 °C a 1280 °C Inicio de formação da fase vítrea Endotérmica
Acima de 1280 °C Formação de vidrio e dos compostos do
cimento (clinquerização)
Provavelmente
Endotérmica
No processo por via úmida, todo o processamento termoquímico necessário
à produção do clinquer se dá em um forno rotativo. No processo por via seca, até
Revisão Bibliográfica 30
a temperatura da ordem de 900°C a 1000°C, o processamento da mistura crua se
dá em trocadores de calor do tipo ciclone ou de contra-corrente e o processamento
restante realiza-se no forno [21].
2.4.2.4 Resfriamento
Como resultado do tratamento térmico sofrido no forno, a matéria prima
transforma-se em clínquer. O material sai do forno em forma esferoidal a uma
temperatura de 1200 °C a 1300 °C e passa para a etapa de resfriamento. Sua
finalidade é reduzir a temperatura pela passagem de uma corrente de ar frio no
clinquer, que sai do esfriador com temperatura entre 50 °C e 70 °C, em média.
Após do resfriamento o clinquer é transportado e estocado em depósitos [21].
2.4.2.5 Adições finais e moagem
O clínquer e seus aditivos passam ao moinho para a moagem final, onde se
assegura ao produto a granulometria conveniente, de acordo com as normas
técnicas. O gesso é destinado para o controle do tempo de inicio de pega, e sua
quantidade adicionada está limitada também pelas normas brasileiras.
2.4.2.6 Estoque
O cimento Portland resultante é transportado para os silos de cimento onde é
estocado. Após os ensaios finais de qualidade ele poderá ser comercializado.
O cimento Portland é um produto de características bem definidas em suas
normas aprovadas pela ABNT. Os tipos de Cimento de fabricação corrente no
Brasil estão apresentados na Tabela 5.
Revisão Bibliográfica 31
Tabela 5 – Características dos diferentes tipos de Cimento Portland do acordo à
ABNT
Cimento Portland (ABNT) Tipo
Clinquer + Gesso (%)
Escória siderúrgica
(%)
Material pozolânico
(%) Calcário (%)
CP I Comum 100 - - -
CP I – S Comum 95 - 99 1 - 5 1 - 5 1 – 5
CP II - E Composto 56 - 94 6 - 34 - 0 – 10
CP II - Z Composto 76 - 94 - 6 - 14 0 – 10
CP II - F Composto 90 - 94 - - 6 – 10
CP III Alto-forno 25 - 65 35 - 70 - 0 – 5
CP IV Pozolânico 45 - 85 - 15 - 50 0 – 5
CP V – ARI Alta
resistência inicial
95 - 100 - - 0 – 5
2.4.3 Hidratação do cimento Portland
Os compostos presentes no cimento Portland são anidros, mas, quando
postos em contato com a água, reagem com ela, formando produtos hidratados. A
evolução da reação de hidratação está diretamente relacionada à evolução das
propriedades do material como módulo de elasticidade, resistência, fluência,
retração, etc., evolução esta que pode ser denominada pelo termo
“envelhecimento” do cimento.
O processo de hidratação do cimento é extremadamente complexo e ainda
hoje não é totalmente compreendido, existindo várias teorias sobre alguns dos
fenômenos envolvidos.
O desenvolvimento da reação de hidratação corresponde ao aumento
progressivo do número de hidratos que formam o esqueleto poroso
proporcionando o aumento da rigidez e da resistência do material. De acordo com
Carvalho [19] a hidratação do cimento Portland pode ser analisada como a soma
de todas as reações dos compostos individuais do cimento, sendo que estas
reações ocorrem simultaneamente, proporcionando assim uma sobreposição e
interação entre cada uma delas. Pinto (citado por Carvalho [19]) representou
esquematicamente a evolução do calor de hidratação em relação ao tempo, gráfico
Revisão Bibliográfica 32
que segundo Faria [20] pode ser subdividido em cinco estágios, como é mostrado
na Figura 1.
Figura 1 – Estágios do processo de hidratação [20]
Nos primeiros 15 a 20 minutos (estágio I), o cimento começa a ser
dissolvido na água formando uma suspensão de íons, dentre os quais o Al3+
reage
instantaneamente com o gesso e a água do sistema, liberando uma grande
quantidade de calor, promovendo o primeiro pico exotérmico. Desta reação
resulta uma camada constituída por pequenas agulhas chamada etringita. Quando
os íons de cálcio e de hidróxido alcançam concentrações críticas, a cristalização
de silicato de cálcio hidratado (CSH) e de hidróxido de cálcio (CH) começa. Este
advento é seguido pelo estágio II (2 a 4 horas), chamado período dormente ou de
indução, onde o cimento ainda permanece plástico. A etringita continua sendo
formada em forma mais lenta enquanto houver gesso na forma de íons SO42-
na
solução, ficando a camada que cobre os íons de Al3+
mais espessa, impedindo o
seu contato com o SO42-
e a água. A dissolução dos minerais do cimento é
concluída, aumentando a concentração de íons na solução. O CH cristaliza da
solução e o CSH se desenvolve na superfície do C3S, formando uma cobertura. A
reação se transforma em difusão controlada, com o aumento de espessura dessa
cobertura e do tempo que a água leva para penetrar na mesma. O C2S hidrata a
uma taxa mais lenta porque é um componente menos reativo. Por isso se nota uma
Revisão Bibliográfica 33
baixa liberação de calor neste estágio. Com o desaparecimento do SO42-
na
solução vem a instabilidade da camada de etringita, causando sua desintegração e
dando fim ao período dormente [19] [20].
O estagio III (4 a 8 horas) é marcado pela concentração crítica de íons e a
consequente retomada das vigorosas reações nas quais principalmente os íons
Ca2+
estão envolvidos na formação e precipitação do CSH e do CH. A taxa
máxima de reação acontece nesta fase, promovendo uma forte liberação de calor
que dá origem ao segundo pico exotérmico. A pega chega ao final e o
endurecimento se inicia [20].
Após o segundo pico exotérmico, ocorre à conversão da etringita em
monossulfato pela sua reação com os íons Al3+
não reagidos, consolidando o
estágio IV (8 a 12 horas). Os íons Al3+
remanescentes reagem formando novos
hidratos que, juntamente com os hidratos precipitados dos íons Ca2+
, formam uma
proteção em torno do grão de cimento, impedindo o contato da água livre com a
sua parte não hidratada. Inicia-se, assim, o último estágio, o V (12 a 14 horas),
também chamado de controle de difusão. Neste estágio, a temperatura tem pouco
efeito na hidratação [20].
Existem dois fatores principais que influenciam a reação de hidratação
inicial do cimento; o primeiro é a velocidade de dissolução do sulfato de cálcio,
isto é, suas formas de dihidrato, hemi-hidrato e anidrita. Em segundo lugar é a
reatividade dos minerais de clínquer, especialmente alita, C3A e C4AF, reatividade
que é fortemente influenciada pelo grau de queimadura do clínquer [21] [22] [23].
As principais reações de hidratação dos compostos do cimento estão
representadas graficamente na Figura 2 [24].
O aluminato tricálcico no estado puro (C3A), reage com água muito
rapidamente (ao fim de alguns minutos), conduzindo a uma pega rápida ou
instantânea, acompanhada por desenvolvimento de calor, do acordo à reação
seguinte [24]:
3CaO.Al2O3 + 6H2O → 3CaO.Al2O3.6H2O
Para moderar ou retardar esta reação é necessário juntar ao cimento um
sulfato (cerca de 3 a 4%). O mais econômico é o gesso natural. Este reage
energicamente com a água e a C3A formando-se uma camada de pequenas agulhas
chamadas etringita (sulfoaluminato de cálcio hidratado):
Revisão Bibliográfica 34
3CaO.Al2O3 + 3(CaSO4.2H2O) + 26H2O → 3CaO.Al2O3.3CaSO4.32H2O
O período dormente caracterizado por uma reatividade baixa é causado pela
formação de etringita e sua precipitação sobre a superfície do C3A. O fim deste
período parece ser devido ao desaparecimento da camada de proteção que envolve
o C3A, começando então a formação de produtos de hidratação CSH a partir dos
componentes do cimento.
Cerca de 24 horas depois, o gesso já foi totalmente consumido, o
desaparecimento de SO42-
da fase líquida define a instabilidade da estringita e o
consequente colapso da camada de agulhas, descobrindo partes não reagidas. Os
elementos dissolvidos a partir da desintegração da estringita reagem com os íons
restantes de C3A não reagidos e água livre, facilmente se convertendo em
monossulfato, que é um dos produtos finais da hidratação dos cimentos Portland.
3CaO.Al2O3.3CaSO4.32H2O + 2(3CO.Al2O3) + 4H2O → 3(4CaO.Al2O3.CaSO4.12H2O)
A medida que a estringita é consumida também se forma aluminato
hidratado de cálcio hexagonal que pode formar uma solução sólida com o
monosulfatoaluminato ou individualizar-se em cristais.
A hidratação do aluminoferratotetracálcico (C4AF) verifica-se durante o
mesmo período de hidratação do C3A e também envolve um composto intermédio
com gesso. Os produtos finais da hidratação de C4AF parecem ser aluminatos
tricálcicos hidratados e uma fase amorfa ferrítica. É possível também que parte de
óxido de ferro (Fe2O3) esteja pressente em solução sólida nos aluminatos
tricálcicos hidratados [24].
A alita ou silicato tricálcico C3S ao reagir com a água liberta hidróxido de
cálcio, uma parte da qual fica em solução, outra cristaliza. O silicato ao perder
cálcio origina o bissilicatotricálcico hidratado. O produto desta reação (C3S2H3) é
muitas vezes referido simplesmente como silicato de cálcio hidratado CSH e é
responsável pela resistência atingida no cimento endurecido. A hidratação da alita,
leva à formação de hidróxido de cálcio, que corresponde a 40% do total dos
produtos de hidratação da alita (18% na belita).
Revisão Bibliográfica 35
2(3CaO.SiO2) + 6H2O → 3CaO.2SiO2.3H2O + 3Ca(OH)2
O silicato bicálcico (C2S), ao reagir com a água também liberta hidróxido de
cálcio, embora em menor quantidade (cerca de 1/3 do libertado pelo silicato
tricálcico) e transforma-se num outro silicato de cálcio hidratado.
2(2CaO.SiO2) + 4H2O → 3,3CaO.2SiO2.3,3H2O + 0,7Ca(OH)2
A belita (C2S) reage mais lentamente que o C3S, mas os produtos da reação
são idênticos (CSH). A contribuição desta reação para o calor de hidratação é
reduzida.
O endurecimento do cimento é lento, sobretudo da belita, pelo que em geral
nunca se considera que as reações se complementaram, mas que se atingiu um
determinado grau de hidratação.
Figura 2 – Desenvolvimento típico dos produtos de hidratação em pasta de
cimento Portland [24].
A influenza da proporção água / cimento na hidratação precoce do cimento
Portland é mostrada por Bensted [25]. A relação água/cimento é um fator
importante que rege a força à compressão da argamassa para uma determinada
Revisão Bibliográfica 36
idade e temperatura de curado. À medida que esta relação aumenta mais espaço se
torna disponível para o crescimento dos diferentes produtos de hidratação do
cimento, principalmente o silicato de cálcio hidratado (CSH). Os resultados foram
interpretados em base à formação de etringita. Mostrou-se que a formação de
etringita aumentou em todas as idades entre cinco minutos a duas horas, com o
aumento progressivo da relação água/cimento desde 0,3 até 0,4 e logo 0,5. Não foi
detectado o silicato de cálcio hidratado até o final do período das duas horas de
hidratação. A formação da etringita surge por um mecanismo através da solução
envolvendo o transporte de íons cálcio e sulfato no meio aquoso para as
superfícies de aluminato e a fase ferrita, onde a reação preferencial tem lugar. À
medida que a relação água/cimento aumenta, existe mais meio aquoso para a
dissolução e transporte dos íons. Tal influência, além da fornecida pela
temperatura de moagem do clínquer-gesso e a área da superfície, demonstram
como a hidratação do cimento Portland é sensível às condições em que ocorre
[25].
2.4.4 Tempo de pega
Pega é a perda de fluidez da pasta. Ao se adicionar, por exemplo, água a um
aglomerante hidráulico, depois de certo tempo, começam a ocorrer reações
químicas de hidratação, que dão origem à formação de compostos, que aos
poucos, vão fazendo com que a pasta perda sua fluidez, até que deixe de ser
deformável para pequenas cargas e se torne rígida.
Do acordo a Carvalho [19], desde o ponto de vista físico, o processo de
endurecimento da pasta de cimento pode ser expresso, simplificadamente, por três
períodos: a ante-pega, a pega e a após pega.
No primeiro período ante-pega, a mistura é constituída por um líquido
visco-plástico (pasta constituída por uma suspensão concentrada de água, cimento,
aditivos, etc), que evolui com o tempo e pouco a pouco vai formando uma
estrutura rígida, dando lugar no momento da pega a um esqueleto rígido.
Durante a ante-pega, acontece o fenômeno denominado de retração Le
Chatelier, que se deve ao fato do volume de hidratos formados ser inferior à soma
Revisão Bibliográfica 37
dos volumes iniciais de cimento anidro e de água. A contração se reduz à medida
que começa a se formar o esqueleto rígido que se opõe a esta retração.
A duração do período de ante-pega, além das características do cimento,
pode influenciar o processo de formação do esqueleto rígido, e por consequência
as suas propriedades mecânicas e sua durabilidade [19].
Quando se fala de pega de uma pasta de cimento, distingui-se começo da
pega e fim de pega, o que significa que a pega tem certa duração. O início e o fim
da pega são padronizados através do ensaio com a agulha de Vicat. A capacidade
desta agulha de penetrar numa argamassa determina nominalmente o começo e o
fim da pega. Neste período, a pega representa a passagem da pasta de cimento de
uma suspensão a um corpo rígido. O começo da solidificação é dito início de
pega, e marca o ponto no tempo em que a pasta de cimento se torna não
trabalhável. Á passagem do estado plástico ao estado sólido é denominado limiar
de percolação (Acker, 1988, citado em [19]). O período de tempo de pega é
influenciado pelo período ante-pega, relação água/cimento, temperatura, natureza
e finura do cimento, assim como das adições minerais e dos aditivos químicos.
Durante o último período, após-pega, a evolução das propriedades
mecânicas da mistura está intimamente ligada ao desenvolvimento do corpo
poroso da pasta de cimento endurecida, resultado do prosseguimento da
hidratação do cimento ou dos aditivos minerais. No momento de pega, temos
uma porosidade inicial (P0) constituída essencialmente de capilares que será
preenchida durante a fase de após-pega pelos hidratos formados durante esta fase.
A porosidade final (Pj) da pasta endurecida será então função dos hidratos
formados durante a após-pega e das condições nas quais eles serão formados, e
também do tipo, da reologia e da porosidade destes hidratos [19].
Com relação ao tempo de início de pega, os cimentos são classificados em
cimentos de pega normal, onde o início de pega se dá num tempo superior à uma
hora e o fim de pega ocorre de 5 a 10 horas após a adição de água, e cimentos de
pega rápida onde o fenômeno de pega se inicia e termina em poucos minutos.
A ABNT adotou como Norma Brasileira a norma MERCOSUL NM
65:2002 [26], que estabelece o método de determinação do tempo de pega da
pasta de cimento Portland utilizando o aparelho Vicat. Nesta norma define-se os
tempos de início e fim de pega:
Revisão Bibliográfica 38
Tempo de início de pega. É, em condições de ensaio normalizadas, o
intervalo de tempo transcorrido desde a adição de água ao cimento
até o momento em que a agulha de Vicat correspondente penetra na
pasta até uma distância de (4 ± 1) mm da placa base.
Tempo de fim de pega. É, em condições de ensaio normalizadas, o
intervalo de tempo transcorrido desde a adição de água ao cimento
até o momento em que a agulha de Vicat penetra 0,5 mm na pasta.
A duração de pega é influenciada pelos seguintes fatores [21]:
Cimentos ricos em C3A, este composto reage rapidamente com água,
devendo ser corrigido o tempo de início de pega com a adição de
gesso para formar o sulfoaluminato que retarda a hidratação;
A duração de pega varia na razão inversa do grau de moagem. Os
cimentos moídos muito finos dão início de pega mais rápido e fim de
pega mais demorado que os menos finos.
A pega é influenciada pela quantidade de água empregada na
confecção da pasta, verificando-se tempos de início de pega
menores, para maiores quantidades de água de amassamento.
O aumento de temperatura diminui o tempo de pega. Temperaturas
próximas de Ø °C retardam as reações, e pouco abaixo deste valor as
paralisam.
Certos compostos solúveis aceleram a pega, como o cloreto de
cálcio, em porcentagem superior a 0,5%.
2.4.5 Resistência do cimento
A contribuição dos compostos hidratados individualizados para o
desenvolvimento da resistência do cimento está apresentada na Figura 3 [19] [24]
[27].
Revisão Bibliográfica 39
Figura 3 – Desenvolvimento da resistência nos compostos puros de cimento
Portland [24].
A hidratação do cimento leva à formação de um gel rígido constituído
essencialmente de partículas de silicatos cálcicos hidratados (CSH), que são
partículas muito pequenas e, portanto com superfície específica muito elevada. As
forças de coesão dependem das propriedades da superfície das partículas e,
portanto aumentam com o aumento de superfície específica. A resistência
mecânica do cimento após a pega é, portanto, sobretudo devida à elevada
superfície específica do gel de cimento [24].
A resistência à compressão é uma das características mais importantes do
cimento Portland e é determinado em ensaio normal descrito na NBR 7215 [28].
A velocidade de hidratação depende da finura do cimento. Como as reações
de hidratação começam desde a superfície dos grãos para o interior, o grau de
moagem influirá sobre a rapidez da hidratação, e consequentemente, sobre o
desenvolvimento de calor, retração e aumento de resistência com a idade. Assim,
quando se pretende uma resistência elevada aos primeiros dias é necessário que o
cimento tenha uma elevada finura. Este fato não afeta à resistência em longo
prazo. Ver Figura 4.
Revisão Bibliográfica 40
Figura 4 – Resistência à compressão a diferentes idades e finura do cimento [24].
Nota-se que um aumento da finura leva a que se aumente a quantidade de
gesso a juntar ao clínquer em virtude de haver mais C3A disponível no início da
hidratação [29].
Sendo a finura uma propriedade importante do cimento é necessário que
seja cuidadosamente controlada. Um método cômodo e rápido para determinar a
finura é utilizar peneiras, mas, as normas atuais preconizam a determinação da
superfície específica, definida como a área superficial das partículas por unidade
de massa do cimento (expressa, por exemplo, em m2/kg). A partir de uma curva
granulométrica se pode determinar a superfície específica das partículas do
cimento.
2.5 Gessos sintéticos como aditivo retardador do tempo de pega do cimento Portland
Na indústria do cimento o gesso é adicionado com o fim de regular o tempo
de pega do cimento retardando a reação rápida entre o C3A e a água.
Convencionalmente o gesso natural é o mais consumido nesta indústria. No
entanto, em alguns países as enormes proporções de rejeitos industriais motivaram
a industrialização de gessos sintéticos como novas fontes de gesso para a indústria
Revisão Bibliográfica 41
civil. Vários gessos obtidos como subproduto tais como fosfo-, fluoro-, citro-,
titano-, tártaro, e dessulfogesso têm a mesma composição química que o gesso
natural. Além disso, existem outros produtos a base de gesso, tais como placas de
gesso, gesso de fundição, e outros obtidos a partir da hidratação de gesso de Paris,
que podem ser considerados também subprodutos de gesso porque têm
composições químicas similares ao gesso natural [30].
A quantidade de gesso usada no clínquer varia de 3 a 5% em peso,
dependendo do seu grau de pureza. A utilização de gessos sintéticos para
substituir o gesso natural como retardador do cimento é limitado, principalmente
devido à variação do teor de umidade e impurezas que podem interferir com a
trabalhabilidade do cimento. Dois fatores críticos que influenciam o tempo de
pega e a resistência à compressão do cimento são a área específica Blaine e o teor
de sulfato (SO3). A fim de fazer comparações significativas entre os efeitos dos
diferentes tipos de gesso no cimento, é importante que a área superficial e o teor
de sulfato do cimento contendo gesso sintético sejam comparáveis ao do cimento
contendo gesso natural [31].
Gesso é constituído de diversas quantidades de CaSO4.2H2O (di-hidratado),
CaSO4.0,5H2O (hemi-hidrato) e CaSO4 (anidrita). A relação em que estas formas
de sulfato de cálcio ocorrem no gesso pode ter um profundo efeito sobre o
comportamento de tempo de pega do cimento, porque suas respectivas
solubilidades na água são significativamente diferentes uma de outra. A forma
hidratada é preferencialmente requerida no cimento [32].
Na moagem realizada a temperaturas entre 115 °C e 130 °C, o di-hidrato
pode desidratar na forma hemi-drato e em menor medida a sulfato de cálcio,
anidrita, que após da mistura com água forma uma solução supersaturada de di-
hidrato. Isto leva à precipitação de gesso e ao endurecimento da argamassa, o que
torna necessário adicionar mais água para sua trabalhabilidade e resultando na
diminuição das suas propriedades de resistência. Este processo é referido como
“Setting False” [32]. As relações entre as diferentes formas de sulfato de cálcio no
produto final são cruciais para a indústria do cimento.
Strydom [32] e Potgieter [31] avaliaram se existe diferença no
comportamento de desidratação do gesso natural e fosfogesso a diferentes
temperaturas, e os efeitos que ele poderia ter em aplicações práticas na indústria
do cimento. Mostraram como era de se esperar, que a uma temperatura maior,
Revisão Bibliográfica 42
mais rapidamente aumenta a área superficial do gesso natural. A mesma tendência
foi observada para a amostra de fosfogesso, mas para tempos de exposição mais
longos é obtida uma área superfícial máxima, após da qual cai para todas as
temperaturas acima de 110 °C. Isto indica que os mecanismos de desidratação do
fosfogesso são diferentes daquele do gesso natural, e que algumas impurezas do
fosfogesso poderia influenciar em o seu mecanismo de desidratação. O
comportamento de cada material utilizado nesta indústria deve ser estudado
separadamente para se obtiver uma indicação da composição de di-hidrato no
gesso, uma vez que isto teria um efeito importante no produto final. Os diferentes
tipos de gesso provenientes de diferentes rotas de processo, plantas e condições
operacionais diferentes, podem influenciar também no processo de desidratação
dos mesmos [32].
A maioria de pesquisas tem se concentrado no fosfogesso, que contem
algumas impurezas que podem afetar as propriedades do cimento, mas não
alteram o desenvolvimento da força à compressão. Singh [33] testara misturas de
gesso natural com adições de fosfogesso e fluorogesso que poderia compensar o
efeito adverso das impurezas que contem estes gessos sintéticos. As impurezas de
P2O5, F, matéria orgânica, e álcalis presentes no fosfogesso podem afetar
adversamente o tempo de pega e endurecimento do cimento. Com a diluição de
impurezas por a adição de gesso natural o tempo de pega fica acelerado e a
resistência à compressão melhora consideravelmente. Notou-se neste estudo que
as impurezas de flúor contidas no fluorogesso não retardam acentuadamente a
hidratação do cimento e não afeta o desenvolvimento da resistência.
Uma série de pesquisas foi feita para remover o estabilizar as impurezas
químicas dos gessos sintéticos que podem afetar o ambiente o as propriedades do
cimento. Na Turquia foram testadas as propriedades mecânicas do borogesso e
comparadas com o gesso natural utilizado na indústria do cimento. A resistência à
compressão foi encontrada ser mais elevada do que a obtida com gesso natural.
Além disso, o tempo de endurecimento também foi maior e sugere-se que
borogesso pode ser usado como retardador de até 10% em peso de cimento [34].
A hidratação precoce do cimento Portland contendo vários gessos sintéticos
também foi estudado. Verificou-se que era formado mais etringita com estes
gessos no processo de hidratação inicial do cimento, desenvolvendo também uma
força de compressão satisfatória. Cimentos contendo tártaro e titanogesso foram
Revisão Bibliográfica 43
respectivamente hidratados e comparados com um cimento Portland que contem
gesso natural hidratado semelhantemente. O cimento que conteve o tartarogesso
produziu mais da etringita que esses que contiveram o titanogesso e o gesso
natural [35].
Da mesma maneira cimentos Portland contendo boro-, citro-, e desulfogesso
foram hidratados e comparados com um cimento que conteve gesso natural.
Descobriu-se que os cimentos com boro e citrogesso produziram mais etringita do
que esses que contiveram desulfogesso e o gesso natural pelo menos durante as
duas primeiras horas de hidratação. A análise de infravermelho desses cimentos
mostrou evidencia de que até duas horas de hidratação não tem sido formado CSH
nem qualquer hidróxido de cálcio ou calcita. Além disso, apesar de que o tempo
de pega fora estendido para todos os casos em que o gesso natural foi substituído,
e o desenvolvimento da força de compressão foi satisfatória, nenhuma relação
definitiva foi discernível entre o grão de etringita formada e o desenvolvimento da
força de compressão e o tempo de pega do cimento [36].
Na Turquia (1999), testaram e compararam também a utilização de citro e
desulfogesso como retardadores na indústria do cimento em substituição do gesso
natural. Após a secagem dos gessos sintéticos, é obtido geralmente um pó
finamente dividido. No entanto a indústria do cimento acostuma usar o gesso
natural na forma seca e irregular e, por esta razão, a forma de gesso em pó pode
causar problemas com o seu manuseamento ou com o seu armazenamento. Neste
estudo a aglomeração de gesso por compactação foi proposta para evitar estes
problemas, avaliando a resistência à compressão e à flexão nas duas formas
diferentes de gesso, em pó e aglomeradas. Os resultados mostraram que a
aglomeração não alterou significativamente a resistência à compressão destas
misturas. Em comparação com o gesso natural, a mistura com desulfogesso
causou uma redução na força à compressão em idades precoces (3 e 7 dias). No
entanto, a aglomeração aumentou a resistência do cimento depois dos 28 dias. Por
outro lado, a mistura com citrogesso deu resultados satisfatórios em todas as
idades, exceto sob a forma de pó com a idade de 3 dias, que exibiu uma
resistência à compressão menor do que a referência [14].
Mais de 120 milhões de toneladas de borogesso são produzidas como
subproduto industrial da produção de ácido bórico na Turquia. Este material é
constituído principalmente por gesso, B2O3 e algumas impurezas, provocando
Revisão Bibliográfica 44
vários problemas ambientais e de armazenagem. Tem sido investigado o efeito de
borogesso, calcinado até a formação de hemidrato, sobre as propriedades físicas
do cimento Portland. Verificou-se que o cimento preparado com 5% de borogesso
tem propriedades de resistência à compressão similar às obtidas com gesso
natural, enquanto que na mistura contendo 5% de hemidrato borogesso observou-
se uma resistência à compressão 25% do que a do cimento Portland normal ao fim
de 28 dias. Quando a água reage com hemidrato borogesso pode gerar uma maior
resistência à compressão do que aquela obtida com o borogesso devido a que as
partículas de hemihidrato estarem em contato estreito e os cristais produzidos
formam uma massa densa e endurecida. No entanto, com a adição de hemidrato
borogesso na composição do cimento, o retardo do tempo de pega foi mais
acentuado que com o produzido com borogesso [37].
Outra fonte importante de gesso sintético é o material residual do processo
de dessulfurização de gases de combustão, o desulfogesso. Este sulfato de cálcio
isolado ou em misturas tem sido testado como retardador alternativo para o
cimento. Tzouvalas e outros pesquisadores analisaram sua influência sobre as
propriedades físicas e mecânicas do cimento. Encontraram que a melhor
porcentagem de SO3 relativo à resistência à compressão foi de 3,5% para cimentos
tanto com gesso natural ou com gesso FGD. Também as diversas misturas gesso
natural e gesso FGD mostraram os mesmos valores no que diz respeito à
resistência à compressão. Foi observado também que o gesso FGD é melhor
retardador que o gesso natural, embora ambos contenham o mesmo composto
químico, CaSO4.2H2O. A presença de cristais hexagonais arredondados indica a
formação de anidrita solúvel. Além disso, a maior solubilidade do gesso FGD
pode ser um fato que prolonga o processo de pega, e ainda mais, com a pequena
porcentual de CaSO3.0.5H2O [38].
Comparado com o gesso natural, o gesso FGD pode substituir ao gesso
natural sem qualquer efeito negativo sobre a resistência à compressão, além de
aumentar o tempo inicial de pega do cimento. Foi observado um aumento de cerca
de uma hora no tempo de pega em comparação com o gesso natural para amostras
industriais do cimento. A presença das diferentes formas de sulfato tem um efeito
positivo sobre a resistência à compressão, a hemidrita é consideravelmente mais
significativa que o resto das formas de sulfato. Altos teores de umidade do gesso
Revisão Bibliográfica 45
FGD (aproximadamente 10%) poderiam causar problemas de manuseamento e
alimentação quando é usado em grandes porcentagens [39].
Além das sustâncias sintéticas que regulam o tempo de pega do cimento, a
anidrita natural também tem atraído interesse dos pesquisadores nos últimos anos.
Assim mesmo, a anidrita produzida desde produtos ricos em sulfato de cálcio, tal
como o fosfogesso, foi avaliada como aditivo para o cimento. Estudos mostram
que a anidrita é uma alternativa como retardador de pega do cimento, mostra pelo
menos semelhante comportamento ao gesso no desenvolvimento da resistência à
compressão, especialmente para uma adição ótima de 3,5% de SO3. As misturas
de gesso e anidrita parecem ser também vantajosas para o controle do tempo de
pega do cimento [39].