20080627 a Psicanalise e Seu Duplo

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    A PSICANLISE

    E SEU DUPLO

    A viagem: da literatura psicanlise, de Noemi Moritz Kon. So Paulo, Companhia das Letras, 2003,416 pp .

    Tales Ab'Sber

    Em 1899, quando se preparava para publicar A interpretao dos sonhos, Freud escreveu umpequeno ensaio acerca de um outro fenmeno dedefesa que a sua recm-criada psicanlise haviaidentificado. Tratava-se de mais uma das mnimas einteis formas psquicas da vida cotidiana que tantoderam valor e riqueza nova disciplina, a qual eleento chamou de "lembrana encobridora". Paraenfrentar o problema terico que lhe interessavademonstrar o do uso deslocado e psiquicamente

    muito investido de lembranas infantis ligadas emfalso a um acontecimento central, esse sim emocio-nalmente significativo e que por isso mesmo caaem esquecimento , Freud construiu uma pequenapea de fico literria, talvez a primeira apariodo dilogo de mtuo reconhecimento e descon-fiana entre a literatura e a psicanlise, campos quesempre foram algo afins e algo distantes. Eledescreveu uma sesso analtica com um pacienteinteligente, "de nvel universitrio", mas que "traba-

    lhava num campo muito distante" daquele do seuanalista, o narrador Freud. Homem sensvel, apren-dia muito da forma de desdobramento do humanoprpria ao inconsciente freudiano por meio de suaprpria anlise com Herr Professor. Aprendia mes-mo a aceitar as formas psquicas por ele propostas,

    a fazer psicanlise e a pensar psicanaliticamente

    com o primeiro dos psicanalistas.Ora, aquela sesso, apresentada como se tivesseocorrido de fato, no passou de uma boa construode fico freudiana como a conscincia literriacontempornea tem nomeado o fenmeno. Pelomenos naquela forma de clnica e dilogo psicanal-tico em transferncia, nada daquilo jamais ocorreu,pois o paciente que trazia o seu sintoma mediantelembranas encobridoras ao analista Freud era narealidade o prprio homem Freud. a histria de vida

    de Freud e sua construo psquica de uma lembran-a encobridora infantil digna de anlise que soapresentadas, na fico literria da sesso, como sefossem de um outro, um paciente inteligente esensvel que, segundo o narrador Freud, "passou a seinteressar por questes psicolgicas desde a ocasioem que consegui livr-lo de uma leve fobia por meioda psicanlise"1.

    Essa curiosa construo, em que Freud analisaFreud numa pea de fico que passa perfeitamentepor real, na qual borgianamente ele se depara consi-go mesmo como se fosse um outro, um pacientenuma sesso de anlise, d forma literria sinttica intensidade do prprio processo de auto-anlise emostra o quanto Freud aprendia teoricamente desdesi mesmo, ao mesmo tempo que tentava ensinar aoleitor a forma ideal de se comportar diante do atento desconhecido dispositivo analtico. Trata-se deuma rica reflexo freudiana construda como umconto, forjada como um sonho, em que todos oselementos presentes correspondem ao sujeito sonha-dor , embora muito simples e precisa em ato e emforma, sobre a imbricao fantasmtica entre o espa-

    (1) Freud, Sigmund. "Lembranas encobridoras". In: Ediostandard das obras psicolgicas completas, vol. III. Rio deJaneiro: Imago, 1987, p. 276.

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    o analtico e o espao literrio, entre a criao deformas de self prprias ao continente psicanaltico dasesso e a experincia imaginativa apresentada pela

    literatura, que no texto configuram um nico espao.Podemos lembrar aqui que alguns anos depois Lukcspensaria como a literatura ganhara conscincia, naprpria forma (o romance), da incompletude dosujeito e de seu processo histrico ainda antes que apsicanlise que se constitua no mesmo fenme-no, fruto do mesmo processo histrico viesse asurgir da com a sua prpria fico eficaz.

    essa senda da dimenso do que ficcional nateoria cientfica do psiquismo elaborada por Freud

    num contexto histrico em que muitas ficesliterrias falavam da necessidade objetiva de umapoca de criar teorias da alma humana que este

    A viagem vem retomar. Em seu elaborado visfoulcaultiano, a autora nos remete relao maisntima da psicanlise com o seu tempo originrio.Deixando um pouco de lado o j to conhecidoespetculo terico e epistemolgico que foi a emer-gncia da disciplina freudiana em seu momentoherico, ela demonstra a profunda correspondncia

    de formas e hipteses, bem como o fascnio culturalpela alma humana e sua complexidade moderna,que a psicanlise partilhava no com a cincia maisdura e rigorosa do seu tempo, mas com o campo doseu duplo cultural, que sempre assombrou Freud esua disciplina: a literatura e os "poetas" como elegostava de se referir, genericamente, aos homens deletras.

    Um dos campos privilegiados do pensamentopsicanaltico contemporneo, a pesquisa das rela-

    es entre psicanlise e arte encontra em NoemiMoritz Kon uma de suas principais formulaes entrens. Numa rea de estudos que revela grande aden-samento e uma forte tradio local, lembremos ape-nas trs nomes que se dedicaram questo: osmestres Isaas Melsohn, Renato Mezan e Joo Frayze-Pereira. E no de surpreender que a mais jovem eno menos radical analista tenha freqentado, naintimidade de sua formao, o pensamento dos trs,para no falar de Luiz Alfredo Garcia-Roza, igualmen-

    te mestre de teoria psicanaltica e de escrita literria.O trabalho mais amplo de Moritz Kon, que inclui

    estudos sobre Proust, Paul Klee, Clarice Lispector eSebastio Salgado, tem como fundamento o livroFreud e seu duplo 2 , em que ela examina a complexae ambgua relao de Freud com a arte. Ali a autorafoi levada pelo fio hermenutico da psicanalista

    francesa Monique Schneider, para quem "a decistomada repetidamente por Freud de estudar a obde arte como uma produo fantasmtica [...] se da

    como uma defesa contra um dos poderes da arreenviar ao psicanalista uma viso recusada demesmo"3. Esse um ponto terico que, como vermos, retornar com toda a fora em A viagem, masme parece importante apontar desde j que aquprimeiro trabalho de questionamento da complerelao entre psicanlise e arte desaguava no penmento psicanaltico de Donald Winnicott e sua pantosa criao da "terceira zona da experinchumana", definida pelo grande analista ingls co

    aquela que, em estado de paradoxo, no nemrealidade interna nem mundo externo. Passemosento ao avano conceitual, articulado a essas pquisas anteriores, que representa A viagem.

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    Moritz Kon parece convencida de que a literara uma modalidade de formulao no sentidodar forma e criar modelos para a experincsubjetiva que no deixa a dever ao trabalho anlorealizado em outros campos da cultura, como o psicanlise, que por sua vez, em sua forma conceit

    historicamente constituda, responde a problemasliteratura de seu tempo de origem. Esse pontoimportante, pois assinala a historicidade e a partilaridade epistemolgica do conhecimento psicantico, que no universal ou a-histrico ou mesmreal em si, consistindo antes num mtodo expermental de produo terica de um significante pum significado desconhecido como pensou LStrauss que teria correspondncia profunda comprprio trabalho da fico e sua especfica concep

    do humano.Essa perspectiva, que iguala imaginariamente

    trabalho da fico freudiana ao das demais ficfantsticas correntes na poca de sua emergncia,quais tambm se detinham no mistrio da almhumana como os contos e novelas de Edgar AlPoe, Robert Louis Stevenson, Machado de AssisGuy de Maupassant , duplamente importante matria de A viagem, pois essa conexo quepermitir a Moritz Kon passar do plano do conte

    do problema ao fascinante plano da forma de sprpria obra. Para operar e demonstrar essa corr

    (2) Kon, Noemi M. Freud e seu duplo: reflexes entre psicanlisee arte. So Paulo: Edusp, 1996.

    (3) Schneider, Monique. "La realit et la rsistence 1'imaginaire", apud ibidem.

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    pondncia histrica a autora radicaliza o plano daanalogia, fazendo passar o prprio pensamentofreudiano para o interior de uma fico, uma novela

    fantstica em que o mdico vienense interessado

    na histeria viaja com seus colegas literatos contem-porneos igualmente interessados nas dissociaes eformas estranhas da vida psquica humana de seutempo. Alm de articular numa nica forma, numnico novo sonho o da novela A viagem , apsicanlise e a literatura fantstica, na seo tericado livro Noemi discutir tanto os passos da criao dapsicanlise quanto a natureza e a teoria da literaturafantstica.

    assim que o problema terico levado radical-

    mente a srio pela analista parece exigir mesmo aforma ficcional, em lugar do tradicional discursodesencantado do campo analtico. Tal campo passa aser o de uma fico operativa correspondente scriaes dos literatos como o livro demonstra compreciso , mas que se tornou fenmeno desen-cantado na psicanlise pela forma positiva da razoiluminista, fora interior de carter filosofante que fezda criao imaginativa freudiana uma cincia. Aoreunir em um vago de trem que vai de Paris ao

    interior da Frana os escritores de relatos fantsticose o primeiro psicanalista, todos contemporneos,para uma viagem pelas figuras e modelos anlogosda alma humana, Noemi faz perder a fronteira entrea cincia e fico como Freud sempre intuiu etemeu , no apenas porque essa a matria de seuestudo no plano do contedo, mas porque a prpriaforma imaginativa de sua novela (que ela chama emdado momento de "fico instrumental") demonstraem ato e experincia a profundssima relao, de

    forma mesmo, entre a psicanlise e a construoliterria.Ao lermos a fico terica de Kon no diferen-

    ciamos mais o Freud dos primeiros tempos de seuscolegas escritores contemporneos, no apenas por-que reconhecemos conceitualmente que eles nave-gam nas mesmas guas ou trilhos , mas porquetemos reconstitudo o fundamento humano maiscomplexo e verdadeiro de tal campo em corres-pondncia com o tempo, o que s a forma literria

    pode dar , que tambm o verdadeiro lugar ondeacontece uma anlise: o gesto especulativo criadorfundado profundamente sobre o sentido da experi-ncia do sujeito. E exatamente nessa direo queFreud, ao fim de sua vida criativa, vai definir a noode construo em anlise, no mais como certeza

    objetiva de uma matria que est l, sob o recalque,para ser lembrada, mas como algo que deve sercriado vivamente desde aquela vida especfica, umaconstruo que analista e paciente operam juntos, e

    que tem real efeito subjetivante na vida psquica dopaciente, a partir de um nico ndice de sua verdade a convico de que as coisas foram assim, naspalavras de Freud. E nesse ponto ele obrigado apensar a relao entre teoria psicanaltica e delrio,pois ainda a se depara com o carter ficcional, eeficaz, de toda a sua construo.

    J avanada no tempo histrico e epistemolgicops-freudiano, com a presena desalienante e encan-tatria de Foucault, Merleau-Ponty e Winnicott em

    seu pensar, Noemi Moritz Kon no necessita mais daestrutura racionalista do pensar freudiano clssico,operando criticamente como seus mestres tericos,mas a seu modo muito particular uma verdadeira"dialtica do esclarecimento" no interior mais pro-fundo da psicanlise, disciplina que, ela prpria e aseu tempo, iniciou o giro da razo na direo de seucontrapelo. Nessa dialtica da psicanlise ela radica-liza a sua prpria hiptese inicial numa construoterica para fora do campo da razo. Se o duplo

    negativo que demonstrava os limites racionalistas dapsicanlise freudiana em seu primeiro tempo era aarte, como o livro de 1996 j apontava, agora aanalista avana para a oposio epistemolgica cen-tral entre as teorias da alma dos literatos de fins dosculo XIX e aquela de Freud, que se tornou hege-mnica: enquanto aqueles mantinham as estranhasformas da experincia psquica, que conheciam tobem quanto Freud, sob a gide do sentido encan-tatrio do "fantstico", o psicanalista transformavatoda experincia psquica, por mais estranha quechegasse a ser, em um jogo de formas positivas epensveis, em um campo para a fala vitoriosa darazo, na esfera de um ltimo desencantamento, o daprpria natureza opaca da vida subjetiva.

    Diante dos mesmos fenmenos, enquanto Freudenunciava "onde h id faa-se ego" os escritorespareciam suportar um lugar de indefinio e deabertura intensidade do sentido nas formas radicaisde dissociao e fatos psquicos inexplicveis, o qual

    no se capturaria sob nenhuma reduo ao conceito.Na esfera da literatura e da arte chegava-se mesmo apropor modelos acerca da natureza e funcionamentoda alma humana alguns muito prximos aos daprpria psicanlise, outros ainda aos de uma psica-nlise at mesmo ps-freudiana , mas os artistas

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    cultivavam a noo de mistrio, mantendo opaco erecndito um certo ncleo sintetizador da experin-cia e da produo de sentido humanas, segredo que

    a postura epistemolgica de Freud tendia a devassar.Desse modo, o trabalho de Noemi repe umadas questes epistemolgicas centrais endereadas psicanlise ao longo de seu primeiro sculo: a ordemdas razes que organiza o discurso freudiano, aestrutura de sua prpria enunciao, de carter po-sitivo e iluminista, de extrao essencialmente ps-kantiana, seria uma fora epistemolgica estrangeira prpria natureza do inconsciente psicanaltico? Ditode outra maneira, at onde a psicanlise, com sua

    abertura outridade do sentido humano, pode estarlimitada e distorcida pela natureza histrica das cate-gorias de sua enunciao, seu positivismo e materia-lismo de fundo biologizante e seu princpio metaf-sico de questionamento de seu objeto, ao manter algica de diferenciao entre o sujeito, o objeto e seuconceito?

    Tal crtica a uma possvel interiorizao norma-tiva da razo na esfera do inconsciente tem longahistria. Como a autora indica, o prprio Freud teria

    sido um dos primeiros a realiz-la em Alm do princpio do prazer, de 1920, ensaio construdo deforma radical e originria para a prpria disciplinasobre uma outra ordem de razes. Podemos lembraraqui o clebre trabalho de Georges Politzer, Crticados fundamentos da psicologia (1928), marco dacrtica operao objetivante da psicanlise, e oespinhoso conjunto de fragmentos sobre a disciplinaem Minima moralia (1951), em que Adorno questi-ona os limites epistemolgicos e crticos da psica-

    nlise, bem como seu malfadado destino pblico. Aquesto foi retomada de forma surpreendente porFoucault, j nos anos 1970, no primeiro volume desua Histria da sexualidade, no qual ele aponta ohorizonte epistmico da modernidade em que, bemao contrrio do que Freud engenhosamente cons-truiu para a ideologia de sua cincia, sobre o sexualse devia falar sempre e mais e mais, transformando-o em um campo de apropriao e controle das for-mas do poder e sua ordem de razo, em face do qual

    a psicanlise no seria uma construo inteiramenteisenta, mas, bem ao contrrio, condizente.No interior da prpria disciplina h uma histria

    de reencantamento do sentido psquico, de revalori-zao do mistrio, que vai pelo menos de Grodeck eseu humor terico, de Ferenczi e sua anlise mtua ede Binswanger e sua exigncia de integridade huma-

    nstica a Freud at Winnicott e Bion, que superaracada qual a seu modo, os limites da enunciapositiva do inconsciente freudiano. Mesmo o lti

    Lacan, aquele dito o da clnica do real, parecetrabalhar com abstraes tericas as mais radicpara permitir a emergncia radical do no-saber eparadoxo como formas igualmente produtoras sentido humano.

    No estudo de Noemi Moritz Kon o problemreaparece sob outra forma: a do estrangeirisradical da percepo da realidade psquica do consciente pelos literatos pr-psicanalticos, qmantm a ordem do mistrio e do fantstico l o

    Freud, crendo nos poderes emancipatrios da razquis ver um enigma cujos elementos constitutipoderiam ser localizados e ordenados como inveno cientfica no caos da natureza humana. face dessa velha iluso do mestre iluso histcamente necessria para a prpria constituio disciplina Moritz Kon acentua o carter sintticfantstico da epistemologia literria que ela cria pa psicanlise de Freud: "A forma literria, assim coo sonho, parece poder presentificar de golpe, ntodo, mltiplas linhas entrelaadas; configuradensa ou, em outros termos, condensada, guaespao para a manifestao concomitante de upluralidade de vozes e permite operar mais prxda simultaneidade, da no-linearidade prpria trabalho inconsciente. Mantm assim um asperobusto, multidimensional, hologrfico, que o penmento analtico, num movimento contrrio, budestrinchar e inserir no domnio da lgica identite da determinabilidade. Entre o pensamento anaco e o pensamento sinttico h um desencontro,talvez uma oposio, que preciso sublinhar; eso, de certa maneira, como a teoria e a clnica canalticas, como a inspirao e a expirao de ser: sua respirao" (p. 312).

    Diante desse n terico abordado no lontrabalho do livro pelo cotejo de Freud com soutros colegas, os romancistas das teorias da almNoemi relembra a necessidade de operao defora sinttica, propositiva de formas e da em

    gncia imanente do sentido, prpria s formado inconsciente, aos sonhos, aos chistes e obraarte, e prope a noo literria de fantstico,esquecida pelo nosso tempo prtico, para operasua prpria clnica psicanaltica: "Essa literatdemarca um ncleo duro no bosque do maravilhouma casamata, uma trincheira que no se de

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    invadir ou derrubar. Nesse ponto as duas formas de'teorias da alma', a literrio-sinttica e a literrio-psicanaltica, parecem buscar e atingir alvos dife-rentes. H algo que na via literrio-sinttica no

    necessita, no deve ou no pode ser demonstradoou aplacado. [...] O fantstico territrio misto, detransicionalidade; instala-se no evanescente, napassagem, na fronteira, gerando um curto-circuitona mquina da razo. momento de crise no qualno h conforto possvel. Constri sua morada noponto de desequilbrio. Opera um apagamento delimites entre sujeito e objeto, questiona a existnciade uma oposio irresistvel entre real e irreal, entrerealidade e fantasia" (p. 328). Aos leitores versados

    na teoria psicanaltica contempornea ser sensvelnesse ponto a presena conceituai e espiritual deWinnicott, o primeiro grande renovador terico da

    psicanlise exatamente nessa mesma direo to-mada por Noemi.

    Essa viagem criativa pela histria da psicanlisevem sendo tramada de longe, pelo menos desde os

    anos 1940, e agora alcana uma de suas estaes maisbelas, a das correspondncias sensveis e reversveisda psicanlise com a literatura. No por acaso queNoemi Moritz Kon no apenas uma grande analistae terica da disciplina, mas provavelmente, ao ladode Renato Mezan, a maior escritora de psicanliseque pude reconhecer entre ns. A viagem , em seusmuitos tempos e a um tempo, a divertida e complexacomprovao dessa qualidade.

    Tales A. M. Ab'Sber membro do Departamento de Psi-canlise do Instituto Sedes Sapientiae e pesquisador doPrograma de Psicopatologia do Naippe-USP.

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